Ilhas e Pontes

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Ilhas e Pontes Desafios para uma sociedade intercultural

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Uma visão sobre a interculturalidade, na metáfora de Ilhas e de Pontes

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Ilhas e PontesDesafios para uma sociedade

intercultural

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ILHAS ?

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3John Donne (1572-1631)

• A humanidade inteira tem um único Autor, e é um Volume único (..) Nenhum homem é uma ilha, completa em si; todos os homens são fragmentos de um Continente, partes de um todo(...) a morte de qualquer homem diminui-me; porque eu sou parte da Humanidade; por isso nunca queiras saber por quem os sinos dobram; é por ti que dobram”

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4 Amos Oz, Contra todos os fanatismos

• “Nenhum homem é uma ilha, disse John Donne, mas atrevo-me humildemente a acrescentar: nenhum homem e nenhuma mulher é uma ilha, mas cada um de nós é uma península, com uma metade unida a terra firme e a outra a olhar para o oceano – uma metade ligada à família, aos amigos, à cultura, à tradição, ao país, à nação, ao sexo, e à linguagem e a muitas outras coisas, e a outra metade a desejar que a deixem sozinha a contemplar o oceano. Penso que nos deviam deixar continuar a ser penínsulas. Todo o sistema político e social que converte cada um de nós numa ilha e o resto da humanidade em inimigo ou rival é uma monstruosidade. Mas ao mesmo tempo, todo o sistema ideológico, político e social que apenas nos quer transformar em moléculas do continente, também é uma monstruosidade.”

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• “Ao contrário das árvores, as estradas não surgem da terra, ao acaso das sementes. Tal como nós, têm uma origem. Origem ilusória já que uma estrada nunca tem um verdadeiro começo; antes da primeira curva, lá para trás, já havia outra curva e ainda outra. Origem inatingível, pois que a cada encruzilhada se juntam outras estradas, que vêm de outras origens...”

• Amin Malouf, Origens,2004

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"Há portugueses pobres e portugueses ricos; portugueses que não sabem ler e portugueses de cultura; portugueses exploradores e portugueses explorados, portugueses cuja vida na América é uma miséria e portugueses que só na América encontram dignidade.

Há americanos obtusos e americanos compreensivos, americanos que exploram o português e americanos que o ajudam, americanos que odeiam o português e americanos que o admiram, americanos estúpidos e americanos inteligentes.

Não concluam, portanto, o que são os portugueses e o que são os americanos.Falem-me do João e da Teresa. da Susan e da Mary..."

Pedro D´Orey da Cunha, “Entre dois mundos”

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Demasiado diferentes?

Ou “demasiado” iguais?

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“como são muitos dos seus costumes tão remotos, peregrinos e alongados dos nossos que quasi parece

incrível poder haver tão opósita contradição em gente de tanta polícia, viveza de engenho e saber

natural como têm.

(..)nós usamos do preto por dó; e os japões do branco”.

Fróis, L. “Europa , Japão – Um diálogo civilizacional no séc. XVI” , CNCDP, pag. 61

Demasiado diferentes?....

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“Ele humilhou-me, impediu-me de ganhar meio milhão, riu dos meus prejuízos, zombou dos meus lucros, escarneceu de minha nação, atravessou-se-me nos negócios, fez que

meus amigos se afastassem, encorajou meus inimigos.E tudo, por quê? Por eu ser judeu.

Os judeus não têm olhos? Os judeus não têm mãos, órgãos, dimensões, sentidos, inclinações, paixões? Não ingerem os mesmos alimentos, não se ferem com as armas, não

estão sujeitos às mesmas doenças, não se curam com os mesmos remédios, não se aquecem e refrescam com o mesmo verão e o mesmo inverno que aquecem e refrescam

os cristãos? Se nos espetardes, não sangramos? Se nos fizerdes cócegas, não rimos? Se nos derdes veneno, não morreremos? E se nos ofenderdes, não devemos vingar-nos?

Se em tudo o mais somos iguais a vós, teremos de ser iguais também a esse respeito. Se um judeu ofende a um cristão, qual é a humildade deste? Vingança. Se um cristão

ofender a um judeu, qual deve ser a paciência deste, de acordo com o exemplo cristão? Ora, vingança.

Hei-de pôr em prática a maldade que me ensinaste, sendo de censurar se eu não fizer melhor do que a encomenda”.

"O Mercador de Veneza", de Willian Shakespeare - Acto III, Cena I

...ou demasiado iguais?

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Pontes!

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• Pontífice vem de Pontifex que significa "construtor de pontes" (pons + facere). Na Roma antiga, era o funcionário que tinha a seu cuidado a ponte sobre o rio Tíber. Mais tarde a expressão tomou outro significado, referindo-se aos homens que pertenciam ao conselho religiosos supremo da antiga Roma, o Colégio dos Pontífices.

In Wikipedia.pt

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• São Bento (Bénézet), o Construtor de Pontes (1163-1184), - Santo da Igreja Católica, considerado o fundador da Irmandade dos

Construtores de Pontes. Segundo a lenda, teve uma inspiração divina para construir a Ponte sobre o Reno

em Avignon.

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13Ponte S. Benezet, Avignon

(antes da destruição no sec. XVII e actual)

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14Ponte de Mostar, construída em 1556

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9 Novembro 1993

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Esta cidade é famosa pela sua ponte velha (século XVI) sobre o rio Nereteva, situada na parte velha da cidade, que foi reconstruída em 2004 após a sua destruição em 1993 devido à guerra sentida na região. A reconstrução e reabertura da ponte é tida para os habitantes de Mostar como um sinal de esperança para o futuro de uma cidade dividida entre croatas e muçulmanos, que têm tido uma relação conturbada ao longo dos tempos. A ponte velha e o centro histórico de Mostar foram classificados como Património Mundial da UNESCO em 2005.

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Sete regras dos Pontífices

1. Reconhecer a existência de margens e os obstáculos a ultrapassar - O ponto de partida exige o prévio reconhecimento da existência de margens e a ter a intenção de as unir, ultrapassando os obstáculos que as separam.

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2. Conhecer bem as margens a unir: cada margem tem as suas características, que condicionam todo o plano de construção. A sua geologia, a orografia, os locais certos para construir, os terrenos sensíveis,...

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3 - Planear bem a construção: definir o objectivo a alcançar, desenhar as etapas a percorrer e estratégias referentes a cada uma delas..

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4 - Competência técnica (e relacional) de arquitecto e engenheiro: construir pontes não é simples, um erro pode deitar tudo a perder...

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5 - Respeito das regras da “mecânica” e da “física”, não inventar; a gravidade é sempre gravidade..

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6 - A polinização das margens após a construção da ponte: estimular a utilização bidireccional da ponte, com a troca interactiva de saberes e a partilha de tradições e costumes. A hibridação de culturas..

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7 - A manutenção da ponte: não chega construir, nem utilizar bem – é necessário cuidar da manutenção…. <

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Tipo de multiculturalismo

Etnicidade(anos 70)

Equidade(anos 80)

Cívico(anos 90)

Focalização Exaltação das diferenças

Fomento da igualdade

Convivência

Ponto de referência Cultura Estrutura Construção da sociedade

Mandato 

Etnicidade Relações raciais Cidadania

Problemática Preconceitos Discriminação sistemática

Exclusão

Solução da problemática

Sensibilidade cultural

Igualdade no emprego

Inclusão

Metáfora chave 

“mosaico” “nivelação” “Pertença”

 Adaptado de Fleras, A; Elliot, J. L. 2002 Unequal relations: An introduction to race and ethnic relations in Canada. Prentice Hall. Toronto

Evolução do modelo multicultural canadiano