Imortalidade da alma

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Imortalidade da Alma

Dentro de seu significado mais comum, alma é o ser imaterial e individual que “reside” em nós. Seria assim o princípio espiritual do homem.

Os que assim creem são chamados espiritualistas. Porém há grande diversi-dade entre os espiritualistas, e neste estudo pretendemos investigar várias pro-postas diferentes para o tema imortalidade da alma de acordo com as diferenças religiosas.

Seria a alma preexistente à vida física? Continuaria existindo após o fenôme-no que denominamos morte? E se sim, qual a sua sorte?

Um dos livros mais antigos da humanidade, a Bíblia Hebraica (Torá), no cap 2 versículo 7 do gênesis (Bereshit), relata que Deus formou o homem (“adam”) da gleba, da argila do solo, do barro (hebraico “adamah”, grego “antropos”); e insuflou-lhe nas narinas um hálito de vida, e o homem tornou-se ser vivente. Ser vivente traduz o hebraico nefesh, que designa o ser animado pelo sopro ou princípio vital.

A tradução do texto ficaria assim:

“E formou IHVH Deus o homem do pó da terra, soprou em suas narinas um hálito de vida e o homem se tornou um ser vivente” (Gn, 2: 7). Algumas traduções falam em alma vivente.

Portanto, dentro desta conceituação alma não é uma parte do ser, é o próprio ser.

Não somos assim, um corpo que tem uma alma, mas uma alma que proviso-riamente tem um corpo.

Quanto à imortalidade – disse Pascal – importa-nos de tal forma, e tão profun-damente nos toca, que é preciso ter perdido todo o senso para ficar indiferente ao seu co-nhecimento.1

A necessidade de saber sobre a sorte da alma tem levado várias gerações a emitir seus pensamentos sobre o assunto. Todavia se a filosofia tem apresenta-do propostas várias, a ciência, que tem alcançado sucesso em melhorar nossa vida material, tem deixado uma lacuna quanto a estas questões tão necessárias para a felicidade da humanidade de um modo geral.

O homem tem um componente psíquico, é um ser pensante; quanto a isso cremos não haver dúvida. Estas qualidades são de tal forma desenvolvidas ne-le, que faz dele o único ser ético em nosso orbe. Entretanto, só isso não basta pa-ra saciar sua necessidade de entendimento. Como questionamos anteriormente, seria essa individualidade imortal? Sobreviveria esse psiquismo ao trespasse físico?

1 Delanne, 1984, pág. 15

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Desde a antiguidade os povos situados na Ásia e na Grécia já tinham como certa a imortalidade da alma. Na Índia – que tem sido provavelmente o centro mais importante de influência religiosa na Ásia – com a chegada dos arianos por volta de 1500 AEC nasceu o Hinduísmo. Este desde o princípio adotou a crença de que a alma diferia do corpo e de que esta sobreviveria à morte. Os hindus praticavam o culto dos antepassados e ofereciam alimentos à alma dos mortos.

Mais tarde, provavelmente entre o oitavo e sétimo séculos AEC, quando da invasão da sociedade nômade eurásica à Índia, estas tribos eurásicas trouxeram consigo a idéia da transmigração da alma.

Combinando a transmigração com o que é conhecido como lei do carma ou lei de causa e efeito, alguns sábios hindus desenvolveram a teoria da reencarna-ção encontrando assim a solução para os problemas do mal e do sofrimento en-tre os homens. O bem e o mal praticados em uma vida seriam recompensados em outra.

Paralelamente, ou mesmo antes, desenvolvia-se num pequeno círculo intelec-tual no norte da Índia, o conceito filosófico de “Brahman-Atman” (o Brâmane supremo e eterno, a Suprema Realidade). Esta idéia combinada com a da reen-carnação define para os hindus o verdadeiro objetivo da vida: ficar livre do ciclo das transmigrações, a fim de unir-se à Suprema Realidade.

No Bhagavad Gita encontramos passagens que refletem bem essa idéia: Quem pensa que é a Alma, o Eu, que mata, ou o Eu que morre, não conhece a Verdade. O Eu não pode matar nem morrer.

O Eu nunca nasceu nem jamais morrerá. E uma vez que existe, nunca deixa-rá de existir. Sem nascimento, sem morte, imutável, eterno - sempre ele mes-mo é o Eu, a alma. Não é destruído com a destruição do corpo (material).

Quem sabe que a alma de tudo é indestrutível e eterna, sem nascimento nem morte, sabe que a essência não pode morrer, ainda que as formas pereçam.

Assim como o homem se despoja de uma roupa gasta e veste roupa nova, as-sim também a alma incorporada se despoja de corpos gastos e veste corpos novos. (Canto II)

Continuando mais adiante: Fácil é atingir a suprema perfeição quando o homem anda na minha presença, constantemente consciente de Mim, em todos os caminhos de sua vida e a-lheio a outros deuses.

Essas grandes almas, conscientes da sua união comigo, não tornarão a nascer para esta vida perecível de sofrimentos, mas vêm a mim, a eterna Beatitude.

Esses mundos todos, ó Arjuna, desde o mundo de Brahma, estão sujeitos a um retorno ao nascimento; mas o homem que chegou a Mim nunca mais será exposto ao renascimento, ó filho de Kuntî. (Canto VIII)

Ainda hoje a doutrina dos renascimentos é o suporte principal do hinduís-mo. O filósofo hindu Nikhilananda afirma:

Alcançar a imortalidade não é prerrogativa de uns poucos escolhidos, mas o direito inato de todos, é a convicção de todo bom hindu.

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Os gregos, mesmo os anteriores a Sócrates e Platão, criam que a alma sobre-vivia à morte. Pitágoras, famoso matemático que viveu no séc. VI AEC , já di-vulgava que a alma era imortal e que estava sujeita ao ciclo dos renascimentos. Segundo Delanne (1984, pág 23) ele tinha duas doutrinas, uma reservada aos iniciados e outra destinada ao povo. Para os primeiros a ascensão era gradual e progressiva, sem regressão às formas inferiores; enquanto que para o povo en-sinava que as almas más deveriam renascer em corpos de animais.

Antes, porém , de Pitágoras, Tales de Mileto achava que a alma imortal não existia apenas em homens animais e plantas, mas também em objetos como o imã já que este tem o poder de mover o ferro.

Foi com Platão que a idéia da palingenesia (grego pálin de novo; grego géne-sis,eµs 'fonte, origem, início', der. do v. gígnomai de sentido original nascer) ga-nhou maior destaque. Segundo ele no Fédon, havia duas razões para defender esta idéia. A primeira é que na natureza, a morte sucede à vida, portanto, será lógico que a vida sucedesse à morte, pois nada pode nascer do nada; e se os se-res que morrem não voltassem mais à Terra, tudo acabaria por se absorver na morte. A segunda razão baseia-se nas lembranças. Para o Platão, aprender é re-cordar; ora, se nossa alma se lembra de já haver vivido, antes de descer ao corpo, por que não acreditar que em o deixando, poderá ela animar sucessivamente muitos outros?

Como os hindus Platão também pensava que com os renascimentos a alma se livrava de suas imperfeições, e que quando se tornasse santa não viria mais à Terra.

Na antiga Pérsia (hoje Irã), no século sétimo AEC, surgia Zoroastro.

Zoroastro também falava da imortalidade através de uma forma de adoração que ficou conhecida como zoroastrismo.

As escrituras zoroastrianas afirmam que, na imortalidade, a alma do justo estará sempre em alegria, mas a alma do mentiroso estará certamente em tormento.

Todavia a idéia da alma imortal já fazia parte da religião persa mesmo antes de Zoroastro, pois as antigas tribos do atual Irã cuidavam de oferecer comida e roupa para as almas dos falecidos, a fim de auxilia-los no mundo do além.

Também para os egípcios era fundamental a crença na imortalidade. Segun-do estes a alma após a morte seria julgada por Osíris, o deus principal do mun-do do Além.

Um papiro egípcio supostamente do Séc. XIV AEC, mostra Anúbis, deus dos mortos, levando a alma do escriba Hunefer até Osíris. Numa balança, o coração do escriba, que representava sua consciência, era pesado tendo como referência a pena que Tot, a deusa da verdade e da justiça usava na cabeça. Como o cora-ção de Hunefer pesava menos que a pena, devido este não ter culpa, ele poderi-a, deste modo, entrar no domínio de Osíris. Caso assim não acontecesse, ou seja,

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se houvesse culpa, o escriba ou qualquer outro falecido seria devorado por um monstro feminino que ficava parado ao lado da balança de verificação.

Outro costume egípcio que denota sua crença na imortalidade era o hábito de mumificar os mortos preservando assim, os corpos dos faraós; pois acreditavam que a sobrevivência da alma dependia da preservação do corpo.

Outra religião que tem por berço a Índia é o budismo. Sua fundação se deu por volta do ano 500 AEC, e seus ensinos são de certa forma similares aos do hinduísmo. Para os budistas a vida é um ciclo contínuo de renascimentos e mortes. A vida atual é conseqüência da anterior, e o objetivo maior do ser é a-tingir um estado superior de consciência – nirvana – cessando assim a necessi-dade do ciclo de renascimentos.

O budismo se espalhou por vários lugares na Ásia, ajustando-se assim, às crenças locais; porém, em todas as suas formas, a idéia da imortalidade é uma realidade para os seus seguidores.

Antes da chegada do budismo ao Japão este povo praticava uma religião, po-rém sem nome. Com a chegada do budismo surgiu a necessidade de diferenciar a religião do Japão da estrangeira, assim designaram a antiga crença de xinto-ísmo, de “xintó”, “caminho dos deuses”.

Segundo o xintoísmo a alma que partiu conserva a sua personalidade. Quan-do os que aqui ficaram realizam ritos em memória do falecido, a alma é purifi-cada a ponto de vencer a maldade. Assim ela assume um caráter pacífico e be-nevolente, alcançando com o tempo a posição de deidade ou guardião celestial.

Outra religião importante originária da Ásia é o taoísmo, fundado por Lao Tzu (Lao Tsé), na china, provavelmente no século sexto AEC. Para o taoísmo o objetivo da vida é a harmonização por parte do ser com o Tao (o caminho da natureza).

O Tao é o princípio governante do Universo, não teve princípio nem terá fim. Por se viver segundo o Tao, a pessoa participa nele e se torna eterna.

Por tentar estar sempre em conexão com a natureza, os taoístas, ficaram inte-ressados em sua perenidade. Diziam eles, que talvez, por se viver em harmonia com Tao, adquiriam deste modo, os segredos da natureza e se tornavam imunes a danos físicos, doenças, e até mesmo à morte.

Outra religião de grande importância, e uma das que mais influenciou a hu-manidade atual, é o Judaísmo. Pode-se dizer que hoje, em comparação com to-da a humanidade terrestre, o judaísmo não é uma das maiores religiões em nú-mero de seguidores, porém historicamente sua importância é fundamental e foi ela a base de grandes religiões de hoje como o cristianismo e o islamismo.

A imortalidade da alma e a vida após a morte, é também no judaísmo um de seus princípios fundamentais. Dizem os judeus que se acreditamos na Justiça Divina, conseqüentemente acreditamos também na imortalidade da alma. De que outra forma poder-se-ia conciliar o fato de tantas pessoas justas sofrerem nesta vida?

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Segundo os judeus após a morte física há um julgamento da alma, uma ava-liação espiritual que ocorre durante o primeiro ano após a “partida”. O julga-mento principal acorre em Gehinam, esfera onde, para poder receber o galardão eterno a alma é branqueada e purificada em fogo espiritual. A idéia de inferno eterno não é um conceito judaico.

Somente as almas dos justos, têm condições de ascender rapidamente pela dimensão espiritual e atingir níveis espirituais elevados. Neste tocante foi dito ao profeta: " Se andares nos meus caminhos e se observares as minhas ordenanças, também tu julgarás a minha casa e também guardarás os meus átrios, e te darei lugar entre os que estão aqui.” (Zacarias 3:7).

Algumas autoridades religiosas do judaísmo afirmam que aquilo que os sá-bios chamam de Olam HaBá, ou mundo vindouro, refere-se à dimensão espiri-tual à qual a alma ascende após deixar o corpo. A maioria, entretanto, considera Olam HaBá, um estágio novo e completo da vida terrena, ao qual o homem será conduzido somente após a era messiânica e a ressurreição dos mortos.

Há entre os judeus também uma crença reencarnacionista. Seria, talvez, um exagero dizer que a reencarnação é um princípio básico do judaísmo, porém há entre eles, seguidores que têm na reencarnação uma certeza da justiça divina.

Segundo estes, quando uma alma deixa seu corpo, adentra esse mundo das almas, onde permanece, em estado de repouso. Durante esse período, experi-menta um sublime deleite. Seu nível, no mundo das almas, também é determi-nado por suas realizações, da mesma forma como o será em sua recompensa final. No entanto, a verdadeira perfeição destinada aos que desta são dignos, não é atingida somente pelo corpo ou pela alma, mas por ambas as partes, em conjunto, após a ressurreição. (Ver R. Bachya ad loc) (De Kidushin 71ª).

Uma mesma alma humana pode ser reencarnada várias vezes, em corpos di-ferentes, tendo dessa maneira oportunidade de retificar danos feitos em encar-nações anteriores ou de atingir a perfeição não alcançada previamente. Em sua origem, a alma é parte da Essência Divina, sendo totalmente pura. Mas, em sua vida terrestre, pode desviar-se. Será, pois, necessário voltar para retificar os er-ros ou para tentar ascender a níveis espirituais mais elevados.

Ao cabo de todas essas encarnações, a alma é, finalmente, julgada. E esse jul-gamento depende de tudo o que aconteceu em suas várias encarnações, ou seja, de sua condição como ser vivente em cada uma destas.2

Dissemos anteriormente que também o islamismo foi influenciado pelo juda-ísmo, isso porque, o Alcorão, que é o livro sagrado dos muçulmanos, cita de forma positiva tanto as escrituras hebraicas como o próprio Evangelho.

2 (Ver Site na Internet: http://www.morasha.com.br)

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O Alcorão ensina que o homem tem uma alma e que esta continua viva após a morte. Seu destino futuro depende do que fez enquanto habitou no corpo físi-co.

Os muçulmanos aceitam a idéia da ressurreição dos mortos, de um dia de ju-ízo e destino final da alma. Sustentam ainda que a alma de uma pessoa falecida vai para o Barzakh, que é o lugar ou estado em que as pessoas estarão após a morte e antes do julgamento. A alma fica consciente durante este período de “punição do túmulo”. Se tiver sido má, sofre; senão, desfruta da felicidade. Mesmo os fiéis sofrem algum tormento por causa dos poucos pecados que tive-rem cometidos. Este estado intermediário só termina no dia do juízo, quando cada um é avaliado e adquire seu destino eterno.

Para falarmos em imortalidade da alma sob o ponto de vista do cristianismo temos de levar em conta as divergências existentes entre os seguidores desta que se tornou a maior religião ocidental.

Os primeiros cristãos, aqueles que estiveram mais próximos de Jesus, pensa-vam de um modo, mais tarde os que se denominaram católicos acrescentaram outras maneiras de pensar; o mesmo tendo acontecido com os seguidores da reforma protestante. Hoje há espíritas, espiritualistas e seguidores de religiões de origem africanas que também se qualificam de cristãos.

De um modo geral todas têm a alma como uma entidade imaterial, espiritu-al, imortal, que não está sujeita a decomposição nem à separação das partes, pois não as tem. A alma ou espírito (como preferem alguns) é que é responsável pelas ações do indivíduo, é ela que está sujeita às penas e gozos futuros de a-cordo com a sua conduta quando unida ao corpo físico.

Segundo alguns pensadores os primeiros cristãos não tinham a crença na i-mortalidade da alma como os atuais seguidores do mestre nazareno. Dizem es-tes estudiosos que ao tempo de Jesus havia uma maior influência judaica no pensamento dos cristãos e estes criam na ressurreição da carne à maneira judai-ca. Porém, é o apóstolo Paulo, o maior divulgador do cristianismo, que contesta essa opinião sobre a ressurreição na 1ª Epístola aos Coríntios no capítulo 15.

Segundo outros analistas os primeiros cristãos eram reencarnacionistas. Se-gundo estes, Jesus havia autorizado o ensinamento da reencarnação quando a-firmara que João Batista era Elias reencarnado (Cf. Mateus, 17: 10 a 13). Dizem ainda que a reencarnação só deixou de ser uma crença cristã no Concílio de Constantinopla no ano 553 EC. O fato se deu deste modo segundo alguns histo-riadores:

O imperador da época era Justiniano. Sua esposa Teodora tinha muita influ-ência nos assuntos do governo do marido e até mesmo no que se referia a teolo-gia. Ela havia sido anteriormente, prostituta, e suas ex-colegas se sentiam orgu-lhosas, pois a atual rainha havia também sido uma delas. Teodora não gostava

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disso, o que achava uma desonra. Por essa causa mandou matar todas as prosti-tutas que assim diziam.3

Os cristãos da época protestaram chamando-a de assassina e afirmando que em existências futuras ela seria assassinada várias vezes, fruto da lei de causa e efeito. A partir daí Teodora tomou pavor da doutrina da reencarnação, e como era muito influente politicamente e junto ao papa da época, desencadeou enor-me perseguição aos defensores da idéia reencarnacionista, até que no referido concílio conseguiu extinguir a doutrina da reencarnação dos princípios cristãos oficiais. Deste modo o Concílio decretou:

Todo aquele que defender a doutrina mística da preexistência da alma e a con-seqüente assombrosa opinião de que ela retorna, seja anátema.

A partir daí ficou extinto dos dogmas da igreja a doutrina da reencarnação. E hoje os cristãos sejam seguidores da igreja de Roma ou os filiados à escola pro-testante têm como crença a eternidade das penas e dos gozos futuros.

Segundo os primeiros são três as possibilidades, o Céu para os que viveram em plena harmonia com os preceitos da igreja, o inferno para os que praticaram o mal de modo extremo, e o purgatório para os que não fizeram tanto mal mas têm ainda algo a expiar; no dia do juízo estes serão salvos.

Os seguidores da reforma por sua vez não adotam a idéia do purgatório, pa-ra estes após a morte do corpo todos passam por estado de sono profundo, sono este que durará até o dia do juízo, quando então os que estiveram ajustados aos ensinamentos de Jesus serão ressuscitados para a vida eterna.

PROPOSTA ESPÍRITA

Como mostramos no decorrer deste estudo a imortalidade da alma foi ensinada por várias doutrinas espiritualistas, porém coube ao espiritismo comprovar esta evidência através de fatos e dar ao estudo deste tema um formato claro, didáti-co e científico.

Para o espiritismo alma e espírito são basicamente a mesma coisa. Pode-se tentar filosoficamente, segundo a conceituação kardequiana, diferenciar um do outro conforme querem alguns, porém neste estudo, para sermos mais simples, vamos colocá-los como sinônimos conforme orientação do próprio codificador do espiritismo:

…por isso chamamos alma ao ser imaterial e individual que em nós reside e sobrevive ao corpo. ( O Livro dos Espíritos, Introdução.)

Ou ainda em outro livro: Há, pois, no homem três elementos essenciais:

3 Segundo J. R. Chaves, 1998, foram 500 as prostitutas assassinadas.

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1.° A alma ou Espírito, princípio inteligente em que residem o pensamento, a vontade e o senso moral;

2.° O corpo, invólucro material que põe o Espírito em relação com o mundo exterior;

3.° O perispírito, invólucro fluídico, leve, imponderável, servindo de laço e de intermediário entre o Espírito e o corpo. ( O que é o Espiritismo cap. 2 item 10)4

Segundo a filosofia espírita a origem do espírito é o princípio espiritual, que em última instância, é a própria Substância Divina, pois desta origina toda a Criação Divina.

Os Espíritos são na verdade os seres inteligentes da criação5 e o espiritismo co-meça por estudá-los a partir de sua existência na matéria. São os próprios Espí-ritos codificadores quem afirmam:

É assim que tudo serve que tudo se encadeia na Natureza, desde o átomo pri-mitivo até o arcanjo, que também começou por ser átomo. Admirável lei de harmonia, que o vosso acanhado espírito ainda não pode apreender em seu conjunto!6 (Grifo Nosso)

Quando estes mesmos Espíritos afirmam na obra citada, questão 85 que o mundo espírita preexiste a tudo, eles deixam claro que os espíritos existiam an-tes da matéria, porém a fase evolutiva inicia na matéria, o que aconteceu antes ainda é uma incógnita para qual o espiritismo apresenta algumas propostas, porém sem uma universalidade em matéria de conclusão. É o próprio Kardec quem repete várias vezes que a origem de tudo ainda é para nós um grande mis-tério.

Deste modo, consideramos em nosso estudo a evolução no sentido matéria-espírito.

Em síntese podemos dizer que os Espíritos vêm de Deus e para Ele retorna-rão pela harmonização com a Lei Suprema Universal. São, na origem da escala-da evolutiva, simples e ignorantes, passaram segundo a orientação dos próprios Espíritos, pelos reinos inferiores da criação, e ao ingressarem no reino hominal ampliam com suas conquistas morais seu livre arbítrio tornando-se assim, artí-fice de seu próprio destino.

Assim, o estudo da imortalidade da alma e da continuidade de sua individu-alidade nos revela a existência de outras leis como a da reencarnação, da evolu-ção, do livre arbítrio, da lei de causa e efeito entre outras.

Só levando em conta essas realidades é que podemos considerar a Criação Divina uma obra inteligente e harmoniosa.

A vida passa a ser uma só onde cada encarnação é um momento consequente do anterior e preparatório dos próximos. O objetivo do Espírito é o seu aperfei-

4 Desta forma, a partir deste momento usaremos tanto a expressão alma como espírito com o mesmo

significado. 5 O Livro dos Espíritos, questão76

6 Ibidem, questão 540.

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çoamento moral e tudo que lhe é ofertado deve ser considerado como instru-mento didático visando sua educação para uma vida superior, vida essa que é conquistada dia a dia pela superação de suas próprias imperfeições.

Dentro desta proposta teológica céu e inferno passam a ser estados transitó-rios de alma, e a eternidade das penas são relativas à eternidade do mal prati-cado, pois o efeito de qualquer ação só pode durar enquanto são permanecidas as causas que o geraram, quando essas cessam, cessam do mesmo modo as con-seqüências.

Assim, a partir destas singelas e despretensiosas colocações podemos conclu-ir que segundo a teoria espírita a alma é una, indestrutível, imortal, perfectível, responsável por suas atitudes, e só a ela cabe a sua sorte futura. E que saúde e felicidade são estados naturais do ser, e o que separa o homem atual destes es-tados em definitivo é apenas o tempo e a capacidade deste de ensiná-lo a obe-decer aos desígnios superiores que governam todo o Cosmos.

BIBLIOGRAFIA:

CHAVES, J. R. A Reencarnação Segundo a Bíblia e a Ciência. Ed. Martin Claret, SP

1998.

DELANNE, Gabriel. A Reencarnação. 9ª ed., Brasília, FEB, 1994.

KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. 50a ed., Rio de Janeiro, FEB, 1980

Que Acontece Conosco Quando Morremos. Revista Publicada pela Associação Torre de

Vigia de Bíblias e Tratados, SP, 1998.

SILVA, Celestino da. Analisando as Traduções Bíblicas. Núcleo Espírita Bom Samari-

tano, João Pessoa, 2000.