Impacto Ambiental - Junho 2013

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Junho de 2013 - Distribuição Gratuita - Uma experiência em Jornalismo Ambiental ENCHENTES Quais são os fatores que levam Bauru a sofrer tanto com as chuvas? Lixo • Por que produzimos tanto? Consumismo • Comprar, comprar e comprar. Onde isso vai nos levar?

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Enchentes: Quais são os fatores que levam Bauru a sofrer tanto com as chuvas? Lixo: Por que produzimos tanto? Consumismo: Comprar, Comprar e comprar. Onde isso vai nos levar?

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Junho de 2013 - Distribuição Gratuita - Uma experiência em Jornalismo Ambiental

ENCHENTESQuais são os fatores que levam

Bauru a sofrer tanto com as chuvas?Lixo • Por que produzimos tanto?

Consumismo • Comprar, comprar e comprar. Onde isso vai nos levar?

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Como queremos que 2013 fique marcado?EDITORIAL

ExpedientePublicação realizada por alunos de Jornalismo, Design e Relações Públicas da Faculdade de Arquitetura, Artes e Comunicação (FAAC) da UNESP, com apoio da Pró-Reitoria de Extensão Universitária (PROEX) e em parceria com o JC na Escola.

Diretor Administrativo e Marketing: Renato De-licato ZaidenDiretor Industrial e de Tecnologia: Marco Anto-nio C. OliveiraGerente de Produtos Editoriais: João JabbourJornalista Responsável: Gisele HilárioEditora Executiva: Marcia DuranGerente Industrial: Célio MarcosGerente Comercial e Marketing: João Carlos do AmaralGerente de Tec. Da Informação: Evandro Fer-reira CampanhaCoordenador do JC na Escola: Sérgio Roberto de Moura Purini

Orientadores: Pedro Celso Campos (MTB 186) e Angelo Sottovia Aranha (MTB 12870)Editor: João Pedro FerreiraCoordenadora de Reportagem: Isabela GiordanGestão Estratégica: Graziela Loures e Ju-liana Arbulu Diagramação: Cristina Corat e Fernanda SousaInfográficos: Fernanda Sousa e Henrique CatalaniIlustrações: Danilo Rodrigues, Miguel An-dré Portezani e Yuri CamposFotografia: Julia Germano e Monique Nas-cimentoReportagem: Ana Beatriz Ferreira, Agnes Sofia, Higor Boconcelo, Isabela Giordan, Heloísa Santos, Isabela Romitelli, Lucas Za-netti, Jéssika Elizandra, João Pedro Ferrei-ra, Jorge Salhani, Letícia Ferreira, Marcos Cardinalli, Paula Nishi e Thales Valeriani.

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Fale com a gente! Você pode mandar sua sugestão, dúvida, ou

reclamação para o jornal:

[email protected]/jornalimpactoambiental

A primeira edição deste ano do Impacto traz à tona em sua matéria principal os problemas das en-chentes que atingiram Bauru no pri-meiro semestre, especialmente no mês de março, com a Avenida Nações Unidas fechada por alagamentos por diversas vezes. Esse é um velho problema da ci-dade, agravado pela falta de ações públicas para combatê-lo, além da falta de consciência geral, quando alguém joga lixo na rua e faz com que os atuais e precários sistemas de escoamento fiquem entupidos e sobrecarregados. Uma onda de protestos tem sido vista em todo o país, pedindo por mudanças nas esferas políticas. Mas temos que ir a frente dos protestos e mudar nossas atitudes também. A mudança geral começa em cada ação individual. Cada um precisa fazer sua parte quando se quer uma trans-formação. Se quisermos que 2013 fique na história como um ano em que o país voltou a lutar pelas suas causas ur-gentes, e mais do que isso, conseguiu uma mudança, precisamos a colocar em prática as lições de cidadania que aprendemos. E a causa ambiental tem muito a ver com isso! Se pergunte na eleição do ano que vem qual político propõe práticas que envolvem a sustentabi-lidade e geram uma melhor quali-dade de vida para a população. Ve-rifique a ficha dos que já estão lá pra ver se merecem continuar. Lute pelas causas que você acha que são certas na sua casa, na sua escola, no seu bairro. Veja como elas seri-am viáveis, peça ajuda. Acredite que você não está sozinho. O “gigante” só está esperando para acordar. Que tal fazer o barulho pra despertá-lo?

Boa leitura,A redação. Acesse também: www.mundodigital.unesp.br/ImpactoAmbiental

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ENCHENTES

É pau, é pedra, é inconsciênciaSem obras preventivas para chuvas, Bauru continua vulnerável a tempestades de verão

Texto: Thales Valeriani e Agnes Sofia Infográfico: Fernanda Sousa

Em Bauru, as chuvas de verão causam transtornos à cidade todos os anos e, em 2013, não está sendo diferente. As enchentes trazem prejuízos financeiros e de saúde para a cidade e seus cidadãos. Os moradores perdem carros e têm suas ca-sas alagadas, enquanto o município tem ruas e canos de esgoto danificados. O secretário de obras de Bauru, Sidnei Rodrigues, deu declarações à imprensa bauruense afirman-do que a Prefeitura chega a gastar, em média, cinco mil reais por dia só para arrumar danos causados pela chuva. Em relação a obras pluviais, a Diretora de Serviço de Tratamento de Esgoto do DAE, Giselda Giafferis, disse que desde 2002 a ci-dade de Bauru vem construindo interceptores nas margens do Rio Bauru e seus 12 afluentes. “Estes interceptores ficam na malha urbana do município. Até agora foram construídos 73 km, só falta construir na altura da Nuno de Assis”, afirmou. Estes interceptores coletam

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a água do esgoto in natura (não tratado) e o levam para a estação de tratamento. Segundo a Diretora, além de melhorar a qualidade da água dos rios, um volume menor de água é despejado, o que deixa o rio mais vazio. Giselda também disse que a qualidade da água dos rios é monitorada desde 2008 através de uma parceria que o DAE fez com a Unesp. “Fizemos análises antes e depois da implantação dos interceptores. As águas que estavam sem peixes e flora já têm alguma vida”, comemora. Em relação à saúde pública, a água das enchentes, geralmente proveniente de canos de esgotos estourados e água de rios poluí-dos, além de terem a sujeira do lixo jogado nas calçadas e ruas da cidade, transmitem várias doenças. As mais comuns são leptospirose, hepa-tites A e E, febre tifoide e cólera (Veja os sinto-mas e tratamento de cada uma no infográ fico da página 5). Há também um aumento na pro-

liferação dos vetores de doenças, como ratos e mosquitos da dengue, e de picadas de ani-mais peçonhentos, como aranhas, escorpiões e cobras. A maioria das infecções ocorre pelo con-tato com a água ou devido a sua ingestão. Para evitá-las, recomenda-se não entrar em contato com as águas da enchente e, quando ela baixar, lavar o que foi molhado com clo-ro. É preciso ainda usar repelente nos dias seguintes, só beber água clorada ou filtrada e comer alimentos que não tenham entrado em contato com as águas da enchente.

Chuvas: consequências Mas se a violência das águas assustou a população, não houve surpresas no que acon-teceu em março, segundo o meteorologista do Ipmet Fernando Tavares. Ele explica que o problema é o intervalo de tempo em que o nível pluviométrico esperado é atingido: “em abril, atingimos o índice esperado antes da metade do mês. A chuva possui uma variabi-lidade muito grande, ao contrário da tempera-tura mas, mesmo assim, essa variabilidade ainda é estável”. No site do IPMET há um banco de dados em que é possível ver o registro de desastres naturais em determinada época. Até junho, três ocorrências de chuvas que geraram pro-blemas foram registradas. Jandira Talamoni é professora do Depar-tamento de Ciências Biológicas do campus de Bauru da Unesp. Ela lidera um grupo de Edu-cação Ambiental na Unesp e é especialista em Recursos Hídricos. Sobre as regiões da cidade mais atingidas pelas chuvas, ela destaca as moradias periféricas, localizadas às margens do rio Bauru, mas ela lembra que mais áreas acabam sendo afetadas devido ao transbor-damento do rio em sua cabeceira, o que leva a água para outros lugares. “Muitas cidades nasceram por causa de um vale, e não foi diferente com Bauru. A po-pulação se instalou de forma muito rápida, o que acelerou o processo de impermeabiliza-

Tempestade inunda Av. Nações Unidas e causa transtorno no trânsitoFonte: Jornal da Cidade

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ENCHENTES

Chuva leva parte da encosta do Rio BauruFonte: Jornal da Cidade

ção do solo, um dos grandes fatores das enchentes. O problema é que essa popu-lação que vive à beira dos rios, além de sofrer com um saneamento básico pre-cário, não recebe orientações sobre a água suja que ela acaba consumindo depois das chuvas, já que as pessoas esquecem que vivemos longos períodos de ausência plu-vial, e quando as águas chegam, elas carre-gam toda a sujeira daquele solo que estava seco há meses”, ela explica. No entanto, a educação ambiental não é o suficiente, segundo a professora. Ela lembra que projetos como “Minha casa minha vida” dão melhores oportunidades para quem vive em áreas de risco, mas não resolvem o problema, já que outras famílias acabam ocupando as casas aban-donadas. “Logo, temos um problema so-cial, e podemos ver como o meio ambiente ref lete outros problemas da sociedade”, ela conclui.

Cultura do desperdício Para Talamoni, embora a sociedade enfrente problemas como falhas no plane­jamento urbano e a ausência de programas de educação ambiental para a população, ela acredita que a população possui sua parcela de culpa: “Infelizmente, temos uma cultura de desperdício, já que somos um país rico em recursos naturais, logo, nin–

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guém se preocupa em economizar água, e jo­gar o lixo em lugares que ele não possa se tor­nar dejetos de rios”, lamenta. Giafferes concorda com a professora e lembra que um dos maiores problemas enfren­tados pelo DAE é a relação das pessoas com o sistema de esgoto da cidade: é muito comum, nas casas, haver uma conexão direta que leva a água obtida por regime pluvial ao sistema de esgoto, o que gera o transbordamento, causa direta das enchentes: “Isso é proibido por lei. A água, que deveria sair nas bocas­de­lobo, acaba saindo nos tubos de esgoto, e os dejetos que deveriam passar por eles acabam sendo levados às ruas, o que gera a contaminação de doenças”. Segundo ela, o departamento tenta resolver o problema por meio de multas, mas isso ainda não resolve, o que compromete os trabalhos da Estação de Tratamento de Esgo­to. Uma iniciativa de ação conjunta com a população seria as cisternas: um decreto já foi aprovado para que haja a instalação de cisternas de coleta de água da chuva nas residências bauruenses. “O projeto pretende que a água de chuva seja captada por cister-nas dentro das residências e das empresas para reutilizar esta água e esvaziar as galeri-as de água”, assim galerias receberão menos água da chuva e demorarão mais para en-cher- o quê diminui o risco de enchente”, ela explica.

E a populAÇÃO? Desde as chuvas de março, houve aumento na procura por postos de saúde e pronto-so-corros da região, seja pelas doenças cau-sadas diretamente pela chuva, seja por out-ra que embora seja consequência de outras fatores, encontra no período pós-chuvoso o ambiente adequado para sua proliferação: a dengue. Até agora, foram confirmados 3.151 casos da doença, incluindo dois óbitos. A Dengue também é outro exemplo de inconsciência ambiental. Embora as chu-vas influenciem a proliferação da doença, o acúmulo de entulhos em terrenos baldios e o lixo jogado nas ruas são problemas que deve-riam ser evitados pelos próprios moradores. Revoltada, a ambulante Maria Inês Fan-eco pichou o muro da própria casa com os dizeres: “Quantas pessoas terão que morrer para que você limpe o seu quintal?”. Na mes-ma época, vários grupos da sociedade civil se uniram, e isso gerou a campanha “Limpa Geral”, em que 30 caçambas foram distribuí-das pela cidade, para recolher entulhos.Está na hora de Bauru reagir.

Tente não pegar panf letos distr i -buídos na rua, a não ser que o as-sunto t ratado realmente interesse a você. S e não, passe adiante ao invés de jogá- lo fora .

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ENCHENTES

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Leptospirose

• Transmissão: é uma doença transmitida principalmente pela urina de ratos. A bactéria se reproduz na água e em solos úmidos e penetra na pele e nas mucosas dos seres humanos quando estes entram em contato com a água ou com a lama das enchentes.• Sintomas: febre, náuseas, diarréia, dores musculares e de cabeça (muito parecidos com os da dengue). A in-fecção se torna grave quando atinge os rins, o fígado e o baço, podendo ser fatal em alguns casos.• Prevenção: evitar ter contato com água e lama contaminadas e nunca consumir água ou alimentos que tiveram contato com a enchente. Medidas de combate aos ratos e prevenção contra as inundações também são eficazes.

Hepatites A e E

• Transmissão: água e alimentos contaminados ou de uma pessoa para outra.• Sintomas: febre, pele e olhos amarelados, náusea e vômitos, mal-estar, dores abdominais, falta de apetite, urina escura e fezes esbranquiçadas.• Prevenção: saneamento básico adequado, tratamento da água para consumo humano e ingestão somente de alimentos bem lavados ou cozidos..

Cólera

• Transmissão: água e alimentos contaminados.• Sintomas: a bactéria libera uma toxina que causa intensa diarréia.• Prevenção: saneamento básico com tratamento adequado da água e do esgoto.

Dengue

• Transmissão: por meio da picada da fêmea do mosquito Aedes aegypti.• Sintomas: febre alta, fortes dores musculares, nas articulações e de cabeça. Manchas vermelhas no corpo,

inchaço, podendo haver sangramentos. A forma hemorrágica é a mais grave e pode ser fatal.• Prevenção: combate ao mosquito transmissor interrompendo seu ciclo de vida. Evitar manter locais com

água parada, que é onde a fêmea coloca seus ovos.

Febre Tifóide• Transmissão: por meio de água e alimentos contaminados ou contato com pessoas doentes. Doença exclu-

siva dos seres humanos, cuja única porta de entrada é o sistema digestório.• Sintomas: febre, dor de cabeça, cansaço, sono agitado, náusea, vômito, sangramentos nasais, diarréia. Se não

tratada, pode levar à morte por hemorragia intestinal.• Prevenção: saneamento básico adequado, tratamento da água para consumo, não acumular lixo e manter as

pessoas doentes em isolamento.

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Na ordem crescenteQuando a preocupação ambiental começa pelos menores

Considerados super-heróis, ou até mesmo os melhores amigos, os pais costumam refle-tir para seus filhos bons exemplos, buscando educá-los da melhor maneira possível. Nos ensinam como devemos agir, nos portarmos, as noções de certo e errado e uma infinidade de valores positivos para nossa formação ci-dadã. Entretanto, na medida em que vamos crescendo, aprendendo e adquirindo consci-ência, a nossa vez de ensinarmos aos mais velhos não tarda em chegar. É o que pode ser chamado de fluxo contrário de virtudes: onde os pais, acostumados a ensinar, começam a aprender com seus filhos valores mais éticos. A cobrança dos filhos por posturas e atitudes ambientalmente mais éticas é um exemplo desse f luxo inverso. Segundo Regina Helena Munhoz, doutora em Edu-cação para a Ciência, os valores ambien-tais são difundidos no ambiente escolar e, além disso, “os meios de comunicação - principalmente a televisão e a internet - colaboram muito para isso”.

Atualizados sobre a situação ambiental do planeta, os filhos acabam desenvolvendo pos-turas ambientais muitas vezes mais sustentá-veis do que a dos próprios pais. Laura Santos, de apenas onze anos, diz ter aprendido com a professora de inglês sobre preservação am-biental e, a partir daí, começou a desenvolver suas atitudes sustentáveis. “Fecho a torneira para escovar os dentes e apago as luzes quan-do saio do quarto. Eu queria fazer uma hor-tinha no meu quintal”, conta. A postura da garota contagiou também a mãe, Ana, que diz ter aprendido com a filha “a importância da reciclagem correta (como a do óleo de cozi-nha), e os danos do lixo jogado nas praias”. Se o fluxo inverso de valores já se faz pre-sente na infância, na adolescência ele con-tinua a todo vapor. Letícia Lambertini, 19, estudante de arquitetura, também contribui para a conscientização ambiental dentro e fora de casa. Em seu lar, a futura arquiteta se-para o lixo reciclável do orgânico, “do pacoti-nho de bolacha recheada até as garrafas pets”.

I ndependentemente da ofer ta de saco -l inhas plást icas descar táveis nos merca-dos, tenha sempre em mãos sacolas re -c ic láveis de uso retornável . Para os usos caseiros, você pode reut i l izar os saqui-nhos dos legumes e f rutas.

Ilustração: Danilo Rodrigues

GERAÇÕES

Além disso, a estudante precisou ser pacien-te para explicar aos pais seus hábitos alimen-tares. Vegana, a jovem abre mão de qualquer produto alimentício que venha de origem animal. “No começo fiquei preocupada, mas hoje vejo isso como uma opção de vida dela. Acho um esforço feito pelo meio ambiente, e fico orgulhosa por ela conseguir manter sua postura, apesar de ser muito questio-nada”, explica Selma, mãe da estudante. Para aqueles que não sabem como agir em relação aos mais velhos, Letícia dá a dica. “Começar explicando o objetivo de tais atitu-des é o primeiro caminho. Sobre a consequ-ência de se poluir tanto, gastar muita água, desperdiçar alimentos, etc; lembrando e fa-zendo os pais se acostumarem, aos poucos, criando uma nova rotina, que não seja tão complicada de seguir”, aconselha a jovem. Entretanto, a missão da conscientização ambiental, mesmo que necessária, pode não ser tão simples, independentemente do fluxo que essa irá seguir, direta ou inversa-mente. “A ideia de conscientização, que no ambiente escolar é muitas vezes utilizada, pode esvaziar seu sentido se não for cons-truída e vivida no dia a dia. Entendemos que a conscientização vai além de compreender que alguma coisa é importante. Uma pessoa consciente sobre algo reflete isso nas ações que desenvolve diariamente”, afirma Regina Helena Munhoz. “Não adianta dizer que sabemos que a água é um recurso natural importante, que somos constituídos por cerca de 70% dela, que só temos 2% da po-tável no mundo, e continuarmos escovan-do os dentes ou lavando louças com a tor-neira aberta ao longo da ação”, completa.

Texto: Higor Boconcelo

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P o r q u e p r o d u z i m o s t a n t o l i x o ?Brasileiros produzem em média um quilo de lixo por dia. Tanto rejeito torna o

consumo um vilão contra o meio ambiente

Tenha sempre na bolsa ou no carro uma sacolinha para colocar o lixo quando estiver passeando. Assim, mesmo sem uma lixeira por perto, você não terá desculpas para jogar lixo em locais indevidos.

Quem não gosta de consumir? Trocar de celular, ter uma televisão nova em seu quar-to, trocar aquele computador velho, com-prar um caderno novo mesmo com o do ano anterior ainda pela metade. Tudo isso produz lixo. E muito. Por isso, uma das principais preocupações ambien-tais do século XXI é o destino de todo este rejeito, que se acumulou devido aos padrões de consumo excessivo da sociedade. Quando não precisamos de algo e trata-mos como lixo, jogamos nas lixeiras e o ca-minhão de lixo leva embora. Mas será que acaba aí? O que acontece com ele depois de levados de nossas casas? O que acontece com os lixos perigosos de indústrias e hospitais? E com eletrônicos, celulares, computadores e geladeiras? É necessário ter consciência, uma vez que os resíduos são um dos principais meios de poluição e deterioração ambiental, e quando não tratados corretamente oferecem inúme-ros riscos ao ser humano. Quando não é corretamente descartado, o lixo produz gases que poluem o ar e causam o efeito estufa, além de serem tóxicos ao ser humano. O lixo também produz chorume (líquido que é produzido a partir da matéria orgânica dos resíduos), poluindo o solo, o lençol freático, os rios e lagos, prejudicando a biodiversidade do local. Nas ruas, o lixo provoca enchentes e atrai animais que causam doenças, como ratos e moscas. O lixo hospitalar pode causar do-enças sérias, como infecções e exposição à radiação além do contato não intencional entre pessoas e medicamentos. O mais danoso, o lixo eletrônico, possui metais pesados como o mercúrio e o chumbo, que são muito perigosos ao meio ambiente e à saúde. O mercúrio, em contato com o ser humano, causa danos cerebrais e no fígado. A exposição em larga escala com o chumbo causa vômitos, diarréia e convulsões. Mesmo assim, no Brasil, uma pessoa pro-

duz em média um quilo de lixo por dia, se-gundo pesquisa da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP). Portanto, só aqui, pro-duzimos cerca de 190 milhões de quilos de lixo por dia. Imagine o mundo inteiro produ-zindo lixo em um ano ou dez. São quantida-des absurdas de dejeto. Como, então, a Terra não virou uma lata de lixo ambulante e ainda conseguimos conviver com todo esse lixo? Para evitar todo esse transtorno, e impedir que a Terra vire essa lata de lixo ambulante, existem meios de acabar com o lixo produzi-do, sem os quais seria impossível destinar os resíduos sem contaminação e extrema polui-ção ambiental. Um deles é a reciclagem, que é basicamente o reaproveitamento desses materiais. Na reciclagem, o lixo é limpo, derretido,

remodelado e devolvido à sociedade. Com isso, além de minimizar a quantidade, é pos-sível reduzir a extração de novos materiais, ou seja, preservação em dobro. Os rejeitos orgânicos sofrem a compos-tagem, que é um processo biológico onde a matéria se decompõe enriquecendo a terra com nutrientes, servindo de adubo. No caso do lixo hospitalar a incineração é o procedi-mento mais indicado. De acordo com a Política Nacional de Re-

ESPECIAL

Texto: Lucas Zanetti Infográfico: Fernanda Sousa

Aterro de Bauru, local que produz o chorume, que pode contaminar o solo,o lençol freático e os rios, além de produzir gases poluentes.

(Crédito: EMDURB)

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ESPECIALsíduos, as fabricantes de eletrô-nicos têm total responsabilidade pelo destino do lixo produzido por elas. Os descartes eletrôni-cos devem ser devolvidos pelo consumidor para as empresas e nunca misturadas com o lixo co-mum. Quando não há nenhuma maneira de se reciclar ou rea-proveitar, ele sofre o co-proces-samento, usado, geralmente em empresas grandes e que produ-zem muito lixo. O especialista em gerenciamento de resíduos Sr. Vanderlei Araújo explica que o co-processamento destrói to-talmente o rejeito: ‘’O forno, que é usado na produção de cimen-to, onde o resíduo é levado, gera uma temperatura tão elevada que destrói o resíduo. A destrui-ção total garante que o gerador (do lixo) não tenha mais respon-sabilidade, pois a cinza vira um produto inerte, ou seja, não vai poluir o ambiente nem danificar o a saúde humana.’’ Entretanto, ‘’o custo do co-processamento gira em torno de 1800 a 2000 re-ais a tonelada, que é muito caro para pouco lixo, então as empre-sas não optam pelo co-processa-mento devido a este custo alto.’’ Entretanto, para que os pro-cedimentos citados ocorram e que essa produção absurda de lixo seja não seja descartada no ambiente e cause os danos já descritos, é necessário a consci-ência da população em separar corretamente seu lixo entre re-ciclável, não reciclável e, no caso do primeiro é importante deixá-lo sempre limpo. Em várias par-tes do país, inclusive em Bauru, já existem os ecopontos, que são lugares onde o lixo eletrônicos e entulhos com até 1m² podem ser devolvidos. Há um esforço do poder pú-blico em diminuir a poluição e a quantidade de lixos, mas é ne-cessário informar e instruir a po

pulação sobre estas políticas públicas, para que seja algo em conjunto com intuito de mini-mizar o problema. Contudo, segundo o site do Governo Federal, o Brasil perde oito bilhões de reais por ano por não reaproveitar seus resíduos, que são descartados em aterros e lixões. Em contrapartida, 70% das cidades brasileiras não possuem nenhuma política de reaprovei-tamento de resíduos. O especialista Vanderlei Arau-jo justifica que ‘’é um problema muito mais de órgão público contra órgão publico. Funciona assim: existe a lei federal, a lei estadual e a lei municipal. En-tão quando se chocam essas três instâncias a tendência é não acontecer nada porque o órgão federal não vai muitas vezes in-terditar o aterro (causador da poluição). É o que acontece em Bauru, que possui um aterro municipal. Esse aterro tem pro-blemas, e vazamento de choru-me. Entretanto, a CESTESB [Com-panhia Ambiental do Estado de São Paulo] autorizou para que ele funcione durante mais dois anos, então essas instâncias bu-rocráticas impedem com que as decisões sejam tomadas de for-mas mais rápidas e mais efica-zes. É um entrave muito mais burocrático do que funcional, porque a lei existe. E, também, tem um segundo ponto impor-tante que é o custo disso: quem é que vai arcar com a manuten-ção de uma usina de reciclagem, quem é que vai tratar de um lo-cal e uma área?’’ Devido a todos estes proble-mas burocráticos, percebemos-que não se pode deixar a ques- tão do lixo apenas nas mãos do poder público. O primeiro passo na redução do lixo é a redução do próprio consumo.

Cuide bem dos seus aparelhos eletroeletrônicos. Mantenha-os protegidos do sol, secos e limpos, que assim eles duram mais. Pense também antes de descartá-los: o ideal é doá-los ou enviar a centros

de reciclagem especializados.

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ESPECIAL

EcopontosCaso a coleta não chegue ao seu bairro, você pode levar o lixo reciclável a um ecoponto de segunda-feira a sábado, das 8h às 12h e

das 13h às 17h.Os endereços são os seguin-

tes:

• Geisel/Redentor - Rua Noé Onofre Teixeira com Gu-mercindo da Cruz,

• Centro - Rua Sorocabana, quadra 1

• Núcleo Hab. Mary Dota - Rua Américo Finazzi, quadra 04

• Pousada I - Rua 41, qua-dra 1, próximo a Rua Joaquim Gonçalves Soriano

• Edson Francisco da Silva - Rua Dulce Carrijo, quadra 04

• Parque Viaduto - Rua Ber-nardino de Campos, quadra 28

• Parque Bauru - Av. Jorge Schneyder Filho, na esquina com a José Ursulini

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E d u c a ç ã o a m b i e n t a l p e r m a n e n t eAtitude, transformação e valores fazem parte dela

Texto: Letícia Ferreira As transformações ambientais que ocor-rem em todo o planeta não são preocupa-ções recentes. Desde a metade do século XX, a Organização das Nações Unidas (ONU) realiza encontros internacionais para deba-ter o tema, com o intuito de que mais países possam discutir e aderir às questões am-bientais. As discussões não são voltadas apenas para as medidas que podem ser tomadas pe-los governos, mas também buscam meios para despertar a consciência ambiental em outras áreas da sociedade. Esse foi o caso do encontro de Tbilisi de 1977, na Geórgia. A iniciativa partiu do Programa de Meio Am-biente da ONU (PNUMA) e da UNESCO. Dessa reunião saíram os objetivos e estraté-gias para o desenvolvimento dos conceitos ambientais em outra área, a educação. Apesar de existir um conceito, a educação ambiental é principalmente uma prática, como destaca Pedro Roberto Jacobi, soció-logo especializado em Ciências Ambientais: “ela resulta do engajamento de segmentos da sociedade em práticas que contribuem para a sensibilização, face à necessidade de proteger o meio ambiente”. Esse engaja-mento existe desde quando um adulto te diz que “lugar de lixo é no lixo”, até na escola, com o desenvolvimento de atividades espe-cíficas em diversas matérias.

Além de ser resultado de um desejo social, a educação ambiental tem um papel trans-formador, pois busca esclarecer que o ser humano é dependente da natureza, e nem sempre a relação entre eles precisa ser ne-gativa, ou de degradação. Como o geógrafo Aziz Ab’ Saber comenta em seu texto “Con-ceituando Educação Ambiental”, ela “garante um compromisso com o futuro, envolvendo uma nova filosofia de vida e um novo ideá-rio comportamental, tanto no âmbito indi-vidual, quanto no coletivo”. Esse novo tipo de educação não pretende criar “ecochatos”, mas sim sujeitos ecológicos, pessoas que têm consciência de serem responsáveis pelos processos que ocorrem no meio onde vivem, em vez de ficarem somente esperando medi-das do governo.

Lei para isso? Afim de promover novos comportamen-tos, o governo brasileiro criou, com a Lei nº 9.795, de 27 de abril de 1999, a Política Nacional de Educação Ambiental. Este do-cumento é uma orientação de como toda a sociedade pode aplicar e praticar a educação ambiental. Logo no 1º Artigo, o texto desta-ca a construção de valores sociais, habilida-des e conhecimento como objetivos, e consi-dera a educação ambiental um “componente essencial e permanente da educação nacio-

nal”, a partir do segundo artigo.

E a prática? O conteúdo deve ser abordado em todos os processos educacionais, formais ou não. Para isso, os próprios professores devem ser preparados ao realizar um curso universitá-rio ou participando de algum curso de aper-feiçoamento. Ainda no texto da lei, é ex-posta a responsabilidade governamental de firmar políticas que facilitem a implantação da educação ambiental. Quanto ao ensino, não deve ser feito a partir de uma matéria isolada. O conteú-do precisa fazer parte do currículo escolar e ter participação em todas as áreas de co-nhecimento de maneira integrada. A escola estadual Christino Cabral, em Bauru, é um exemplo no desenvolvimento da educação ambiental. O aprofundamento dos temas relacionados a ela depende de cada matéria. No caso de ciências, biologia e geografia a questão ambiental é inevitável, mas outras disciplinas também podem abordar o assun-to. No ensino de língua inglesa, por exemplo, a escola tem um projeto chamado “Rock no Aquecimento Global”. “Os professores traba-lham com músicas relacionadas ao assunto, à questão da poluição”, comenta a coordena-dora de curso do ensino fundamental, Emily Ionta. Até no ensino de matemática é possí-vel falar de meio ambiente, ao fazer cálculos de porcentagem tendo como exemplo água, ou quantidade de plantas, entre outras coi-sas. Esse tipo de ação ocorre tanto no ensino médio como no fundamental. Mesmo com esse tipo de iniciativa, o de-senvolvimento da educação ambiental é gra-dativo e precisa de maiores avanços. Para Jacobi, em alguns estados existem bons re-sultados, mas não é possível generalizar. O trabalho de organizações não governamen-tais, por exemplo, é ajudar a tornar essa prá-tica mais incisiva, o que não chega da mesma maneira em todos os espaços educacionais.

IDEIAS VERDES

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Crédito: Jornal de Sábado

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E n t r e v i s t a : K a t a r i n i M i g u e lNão se pode comer dinheiro

Texto: Isabela Giordan

Não alimente a venda de produtos piratas ou contrabandeados. Pagando um pouco mais você terá um material de ótima qualidade e ainda ajuda a gerar empregos estáveis e legalizados.

Quinta-feira, uma tarde fria e ventosa. A missão do dia é sair de casa, enfrentar esse tempo nada encorajador e entrevistar uma jornalista, professora universitá-ria e ambientalista. Não que isso seja algo incomum, mas é a minha primeira entrevista ao vivo e a co-res, então a ansiedade só contri-bui para que eu sinta mais as mu-danças climáticas da cidade. Minha entrevistada, que, assim como eu, nasceu em Bauru, chega ca-minhando de forma calma, vestindo um casaco marrom, um charmoso len-ço no pescoço, e com os cabelos curtos ao vento. E, claro, mexendo no celular! Timidamente chego e me apresento. E agora, onde po-demos conversar? “Ah, vamos ficar aqui fora nos bancos. Está um solzinho tão gosto-so!”, sugere Katarini Miguel, com um sorriso leve no rosto. Assim começamos nosso papo. Falando rápido (deve ser costume de jornalista, devido à necessidade de ter tudo pra já), ela se lembra de seus “áureos 18 anos” e conta que ficou em dúvida sobre qual profissão seguir. “Sempre quis ten-tar algum curso de jornalismo ou licenciatura. Imagina que você vai querer ser professor?”, ri de suas antigas dúvidas. “Mas hoje é o que eu mais quero ser: professora!”, completa com um ar determinado. O interesse pela carreira aca-dêmica nasceu quando decidiu fazer uma iniciação científica, nos seus primeiros anos de fa-culdade. Seu orientador, que por incrível que pareça é meu professor atualmente, suge-riu que ela conhecesse o Ins-t i tu to A mbienta l V id á g u a .

Ela não só conheceu, como se in-teressou pelo projeto e, a partir daquele momento - há 11 anos – vive um romance moderno com o jornalismo ambiental. “Entrei lá no começo de 2001 e só fui sair no final de 2011!”, conta ela, se dando conta e se assustando ao ver como tudo passou tão rápido. Apesar de ter se dedicado durante 10 anos ao projeto que preza pelo bom uso dos recursos natu-rais, confessa que, assim que entrou, não tinha muita no-ção da abrangência do assunto: “Há 10 anos eu imaginava que quem vai trabalhar com o meio ambiente vai defender f lores-tas e bichos”. Não! A causa ambiental vai muito a lém disso, ass im como o jor na-l ismo voltado a essa área . Katarini defende que ele não seja tratado como uma gaveta, como acontece em jornais que o sepa-ram em uma editoria, mas sim que o jornalismo ambiental seja uma ferramenta servindo a to-das as outras. Como pensar quais as melhores formas do país gerar energia elétrica sem levar em con-ta os impactos que a natureza vai sofrer em cada uma? Como esti-mular a economia, reduzindo o IPI da compra de automóveis, sem considerar o trânsito caó-tico nas metrópoles brasileiras? “Quando tratada pela grande mídia, a causa ambiental é, na maioria das vezes, ou dramatiza-da (‘se a poluição não diminuir, o mundo não terá mais salva-ção’) ou romantizada (‘como as belezas naturais, são os passa-rinhos em casais’)”, explica.

Foto: Jessica Mobílio

PERFIL

Se antigamente o que faltava era que a mídia cobrisse esses as-suntos, o que falta atualmente é a qualidade na abordagem. Segundo Katarini, isso re-f lete na atitude da juventude, que pouco se engaja nas ações pelo meio ambiente: a maioria não se envolve com o assunto, ou prefere só falar a respeito e deixar as atitudes, que são o mais importante, de lado.

E é quando começo a me despedir, quando reparo que o nervosismo foi embora e já nem sinto mais tanto frio, que Katarini me deixa, na forma de um antigo provérbio indígena, a reflexão abaixo. Espero que esta reflexão nos inspire a sermos jovens diferenciados, que não só falam, mas também fazem: “Somente quando for cortada a última árvore, pescado o último peixe, poluído o último rio, que as pessoas vão perce-ber que não podem comer dinheiro”.

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S a l v e , s a l v e !Como mudar o mundo por lentes underground

Dentre os materiais compostos por vidro, não são recicláveis es-pelhos, lâmpadas, cerâmicas, porcelanas, cristais e ampolas de

medicamentos.

Um dos principais expoentes desse novo jeito de fa-zer cultura é o projeto Fora do Eixo. Criado em 2005, objetivava juntar a força de pequenos produtores fo-nográficos de diversos estados. Hoje é um dos maio-res movimentos de cultura colaborativa da América Latina e não fica restrito apenas ao mundo da mú-sica: há intervenções em várias iniciativas culturais que ainda não têm o espaço merecido na mídia, como apresentações de dança de rua e festivais de música ou de teatro, por onde, inclusive, Marcelo Cabala fi-cou sabendo do projeto, em meados de 2010. O gaúcho acompanhava a cobertura do FE-TISM (Festival de Teatro Independente de San-ta Maria). Hoje, vive com o pessoal do Enxame Coletivo, um dos principais grupos culturais de Bauru e parte das conexões do Fora do Eixo. “A convivência é muito bacana e são experiências enriquecedoras, que se tornam mais rápidas e concretas quando se trabalha junto no dia a dia e se visualiza os resultados”, comenta Cabala. O grupo possui uma casa no centro de Bauru, onde sedia eventos como o Clube do Vinil e organiza ou-tros, como o Festival Canja.

CULTURA

Em plena era do consumo, há uma con-tracorrente que prega a socialização de ideias. Na internet, blogs e redes sociais são responsáveis pela livre transmissão de pensamentos. Vivemos, talvez, uma das maiores revoluções culturais do nosso sé-culo, responsável por uma vibe contagian-te de grandes sacadas, em que todos são atores. Afinal, estamos lidando com uma cultura colaborativa, nome dessa nova tendência cultural que aos poucos con-quista espaço nos principais meios ar-tísticos do país.

Com muito batuque As principais características desse novo modo de difusão artística são a independên-cia e a interatividade: uma se explica pela produção cultural fora de estúdios musicais, grandes editoras ou indústrias cinematográ-ficas; a outra é representada pelo contato rá-pido e maciço com o público-alvo, como, por exemplo, por meio das redes sociais.

Tudo em Bauru Em sua terceira edição, o diferencial do Canja foi aliar cultura e sustentabilidade. No evento, a comunidade bauruense teve acesso gratuito ou a preços populares à música, teatro e cinema em diversos pontos na cidade. Ao mesmo tempo, pôde acompanhar mesas redondas sobre meio ambiente, que tocavam em pontos como a pro-blemática do Cerrado, bioma presente na região e que sofre com o desenvolvimento de Bauru. Cabala salienta como o cenário cultural é efervescente na cidade: “Há vários cineclu-bes, como o CinExtinção e o Cine Ouro Verde. Além disso, temos shows de hip hop na Praça Rui Barbosa, e uma turma bacana de grafitei-ros e midialivristas, que divulgam bem toda essa cultura independente da cidade”. Intervenções culturais já estão virando objeto de estudo, principalmente entre os que pesquisam a Economia Criativa, como o grupo de estudos da Unesp Bauru orientado pelo professor Juarez Ta-deu de Paula Xavier. Como Cabala, ele reconhece a alta produção bauruense, e acredita que isso pode ser positivo para a comunidade não só de Bauru: “A cultura não se limita às manifestações culturais: ela está presente no comportamento social diá-rio, na forma de observar o mundo e de se posi-cionar ante a realidade social. É possível afirmar que há uma cultura universal do interior de São Paulo, nas cidades e em seu entornos, todas in-tercaladas, interconectadas e interligadas”. No site www.enxamecoletivo.org, há informa-ções sobre diversos eventos culturais promovi-dos pelo Enxame. Mas, lembre-se: a cultura está em todo lugar. Então, o que está pensando? Sal-ve, salve, galera, vamos agitar mais nossas ruas e dar mais cores à nossa cidade e ao nosso povo!

Texto: Agnes Sofia

Um dos principais grupos culturais da cidade, o Enxame tem uma casa no centro de Bauru (Crédio: Equipe CurtaBauru)

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C o m p r a r, c o m p r a r e c o m p r a rConsumindo no ritmo atual, a próxima espécie em extinção será a nossa

Texto: Jéssika Elizandra

Imprima somente o que precisa ser im-presso! Não desperdiçando papel e tinta você economiza e reduz lixo. Dê preferên-cia ao papel reciclado e utilize-o nos dois lados também, mesmo que com rascunho.

Domingo, 14h52. Estou eu lendo para a prova que faria na terça-fei-ra quando meu marca texto acaba. Como moro bem perto do Bauru Shopping, lá vou eu ao templo do consumo comprar outro. Chego lá e o lugar está tão cheio que chegar à loja é quase uma corrida de o bs-táculos. Pais, mães, filhos, tias, pri-mos, avôs, avós, gatos, cachorros, papagaios... Gente comprando, co-mendo, passeando... Ir ao shopping parece ser o passatempo preferido dos bauruenses no fim de semana. Ufa! Finalmente chego ao meu des-tino! Só que, quando encontro o tão necessário marca texto, dou de cara com um aviso: “PROMOÇÃO – leve 3, pague 2” e me dirijo ao caixa.

Enquanto aguardo na fila, entre tantas gostosuras nas gôndolas, não consigo tirar os olhos de um chocolate com uma embalagem linda. Tá baratinho... Vai pra casa comigo também! Saio da loja, só que pra ir embora do shopping preciso passar pela livraria ao lado da porta. Vejo o livro que eu quero por R$ 20,00 (ele costuma custar R$ 30,00). Paro e compro. E assim, em uma saidinha de 15 minutos, quando eu deveria ter gasto R$ 2,69, desembolsei R$ 30,38. Se identificou, né? Para viver precisa-mos consumir, isso é fato, só que nos dias de hoje, tendo a publicidade como princi-pal aliada, as indústrias nos fazem com-prar muito mais do que precisamos.

Infográfico: Henrique Catalani

CONSUMO

As consequências disso são ruins para o nosso bolso (ou para o dos nossos pais), para o nosso estado psicológico e para o meio ambiente.

Tô pagaaaaaaaaaaaando! O nosso bolso “sofre” porque a maioria dessas compras não são bons investimentos. Veja o caso dos três marca textos que comprei. Depois que cheguei em casa, fui ver a validade: Janei-ro/2013. A proximidade do ven-cimento foi o motivo da loja co-locá-los em promoção. Quando eu terminar de usar o primeiro, os outros dois provavelmente já terão secado. E mesmo que não fosse assim, eu preciso mesmo de três deles? Não seria melhor eu só comprar outro daqui a um ano, quando gastar o primeiro? E nosso estado psicológico? Como é afetado? “O consumismo não existiria sem a publicidade, que [...] apela para ilusões e sen-sações de que o consumo daquele determinado produto irá modificar nossas vidas de uma forma sempre positiva”, explica a designer pós-graduada em Gestão Ambiental, Jaqueline Macedo Gomes. Sabe quando você entra em uma loja, vê uma roupa bonita e resolve com-prá-la, porque acredita que com ela vai conseguir conquistar aquela pessoa da qual é a fim há tempos?

Você pensa assim porque várias propagandas mostram isso. A verdade então é que você não quer a roupa, mas sim a pessoa, e, ao contrário do que a publici-dade afirma, nada te garante que ela vai querer estar com você só porque você está vestindo de-terminada peça. Pior: vamos su-por que quisesse, você gostaria mesmo que alguém ficasse com você só por isso? “Passamos a ser avaliados por aquilo que consumimos, ou seja, pelo que vestimos ou calçamos, pelo carro que possuímos, pelo mo-delo de celular que utilizamos, etc. Há uma inversão de valo-res, em que nossa felicidade e qualidade de vida são medidas pelas nossas conquistas mate-riais”, analisa a especialista. Outro problema é que, como a mesma publicidade é veicu-lada para públicos de diversas classes sociais (tanto pessoas das classes A e B, quanto da D e E veem as mesmas propagan-das de televisão, por exemplo), ela acaba frustrando aquelas com menor poder aquisitivo. Nem todo mundo tem dinheiro para comprar o que a publici-dade mostra (e nos convence) que é de vital importância. Mas quem mais sofre com esse consumismo desenfreado que nos acomete é o meio ambiente.

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CONSUMO

Cuide bem do seu material esco-lar. Os livros e apostilas podem ser doados para as turmas seguintes, enquanto que canetas, réguas e lápis podem ser reutilizados por você mesmo até o seu limite.

Tudo o que compramos precisa de matéria pri-ma para ser feito: a maior parte das roupas é de algodão (fruto de uma planta); os celulares contêm plástico (geralmente feito de petróleo) e metais (encontrados no solo, nas rochas); etc. Assim, quanto mais compramos, mais gasta-mos os recursos que a natureza tem a nos ofe-recer. Segundo a edição de 2012 do Relatório Planeta Vivo, da WWF (ONG participante de uma rede internacional e comprometida com a conservação da natureza no contexto social e econômico brasileiro), a demanda de recursos naturais já superou em 50% a capacidade de re-generação da Terra. Também é bom pensar que tudo que compramos um dia vai para o lixo, assim “entulhamos” o planeta se temos muita coisa para jogar fora. Não estou dizendo que toda empresa tem um Senhor Burns –personagem do desenho animado “Os Simpsons”– que causa danos aos consumidores e ao meio ambiente de-liberadamente, em nome do lucro. Muitas vezes esses empresários simplesmente não conseguem fazer uma análise tão profunda da atividade que exercem, portanto é ne-cessário que nós, consumidores, o façamos. Isso, na verdade, não é uma tarefa fácil.

Não é tão simples Desde crianças somos “treinados” a sermos consumistas, por meio das propagandas, por exemplo, nos intervalos dos programas infantis, que nos mostram vários brinquedos, garantindo que, caso os tenhamos, seremos queridos pelos nossos amigos ou motivo de orgulho para nossa família. Só que, como a oferta de produtos nun-ca acaba (quando ganhamos uma coisa, a propa-ganda já está divulgando outra), nunca estamos satisfeitos. O desejo de compra passa a ser pelo ato de consumir em si, e não pelo produto comprado. Segundo pesquisa da empresa Intersciente, 80% da influência de compra dentro de uma casa vem das crianças e, por isso, as empresas investem tão fortemente nesse público. “Se eu faço uma criança ser mais precoce, eu tenho um consumidor mais cedo”, explica o jornalista Flá-vio Paiva, no documentário Criança, a alma do negócio.

E quando crescemos as estratégias mudam, mas continuam existindo. Por exemplo, as em-presas colocam o preço como R$ 2,99 em vez de R$ 3,00, porque o cérebro humano fixa os dígi-tos antes da vírgula e então temos a impressão de que o produto é mais barato do que ele de fato é; gastam rios de dinheiro para saber quais co-res dão fome no consumidor ou o deixam ansio-so, e utilizam-nas no logo da marca; aumentam o tamanho dos carrinhos e cestas de supermer-cado para termos a impressão de que estão mais vazios, ou seja, que estamos comprando pouco e podemos levar mais coisas (nos últimos cinco anos, o tamanho dos carrinhos dobrou, aumen-tando em 40% as vendas); entre muitas outras.

Consumo consciente Como, então, ser um consumidor consciente, com essa indústria investindo tão fortemente para nos fazer comprar tudo o que não precisa-mos? No quadro ao lado há algumas dicas.“Consumir conscientemente é consumir com res-ponsabilidade e parcimônia; é comprar porque re-almente há a necessidade e não por compulsão. O consumo é necessário à vida, já o consumismo a destrói, pois está acabando com os recursos natu-rais do planeta”, lembra Jaqueline Gomes.

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Texto: João Pedro Ferreira

DICAS CULTURAIS

Museu Ferroviário de Bauru O trem faz parte da história de Bau-ru, já que a cidade recebeu o maior entroncamento ferroviário do es-tado de São Paulo, trazendo grande desenvolvimento para toda a região. Conhecer como aconteceu tudo isso e fazer uma viagem de volta no tempo pode ser muito legal! E você pode fa-zer isso no Museu Ferroviário da ci-dade, aberto à visitação gratuita.Endereço:Rua 1º de Agosto, Quadra 1 Centro Telefone: (14) 3212-8262Horário de Funcionamento:Terça à Sexta das 8h30 às 12h00 e das 13h00 às 17h30;Sábados das 9h00 às 13h00.

Mundo Digital Quer encontrar um novo lugar para se informar sobre o que acontece não só em Bauru, mas também no Brasil e no mundo? Você pode acessar o Mun-do Digital da UNESP. Nele você en-contra o WebJornal e a Rádio UNESP Virtual. O primeiro cobre diversos as-suntos interessantes sobre a atualida-de, sempre com um olhar próximo e diferenciado. Na Rádio UNESP Virtu-al, além da programação musical, você tem programas de notícias, esportes e entretenimento durante o dia.Acesse:WebJornal: www.mundodigital.unesp.br/webjornalnovoRádio Unesp Virtual: www.radiovirtual.unesp.br

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PASSATEMPOS

CAÇA-PALAVRAS Procure as respostas das pergun-tas no caça palavras ao lado. A solu-ção você pode encontrar no site do Impacto Ambiental

1. Vidro não reciclável2. Material tóxico produzido pela decomposição do lixo orgânico3. País onde ocorreu o encontro de Tbilisi4. Tipo de papel que não é reciclável5. Principal forma de reciclagem de lixo orgânico6. Meio de transporte que faz parte da história de Bauru7. Tipo de expansão que será feita no aterro sanitário de Bauru 8. Fonte de 40% de todo o resíduo sólido do planeta 9. Pilha mais sustentável 10. Promove de forma colaborativa manifestações culturais em Bauru11. Locais que recebem lixo reciclável12. Tipo de coleta de lixo que atende somente 18% da população brasileira13. Principal ferramenta de estímulo ao consumismo14. Empresa responsável pela coleta de lixo comum na cidade (sigla)15. Nome do Festival que aconteceu na Casa Fora do Eixo16. Material metálico não reciclável (plural)17. Pessoas que a educação ambiental pretende criar são sujeitos...

P M E T A L I Z A D O T X Ã C V Â Q Q C E C O L Ó G I C O S Á G A Í Á M V H B J O Ó R Q V L A H Ç E N Â R Õ V O W L F I Á R F Ê Í I U Ó J Z E Ç S R P N R S C A Ç I C R C R A X N P Ê U E Y S C O A Ü V Í V O G Ç M X Ç Õ M C Í E R N V Q V Ê Ú M I G E A T Q E O Z L E S Ô Y Ò Ú O P A R I M I Ú U P À E C T Á Í É R C O M A O E Y Á N O Á T A R E Ô T E B S A M A C H Y À N Á I R U S Õ J M Ç T A P M O O Z Ò T D V R Ç P V H D Õ A M O B L R A Ê O T A E Ã E J X U M G B S I E I M Z S Ü Ú G O L I P R P E I J E T Z Ê V A N Ò Á C H H I B Ç M E S N I O T R E M T V I O H M E T A N O T V N Ó L G G Q E V Í F X O Â O T Á E O T H Ò P U B L I C I D A D E A Ü L L A K G U S Õ Ô L A T Q Ô Á Ü L Ú Í M L C B F Z I Ô D H P Ô F Õ L I X Õ E S