Impacto do consumo de carne no meio ambiente

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Impacto do Consumo de Carne Conhecimento do impacto ambiental do consumo de carne e mudança comportamental U.C. – Comportamento Humano e Ambiente 2º Semestre 2009/2010 Docente: Discentes: Professor José Manuel de Palma Oliveira (no final do trabalho) 1

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Impacto do Consumo de Carne

Conhecimento do impacto ambiental do

consumo de carne e mudança comportamental

U.C. – Comportamento Humano e Ambiente

2º Semestre

2009/2010

Docente: Discentes:

Professor José Manuel de Palma Oliveira (no final do trabalho)

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Page 2: Impacto do consumo de carne no meio ambiente

ÍNDICE

Resumo/Abstract 5

Introdução 6

Método 18

Análise e Discussão de Resultados 20

Conclusão 23

Referências Bibliográficas 24

Anexos

2

Page 3: Impacto do consumo de carne no meio ambiente

ÍNDICE DE FIGURAS

Fig. 1 – Produção de metano nos Estados Unidos da América em 2007

pág.10

Fig. 2 - Consumo de água para 1 Kg de vários alimentos

pág.13

Fig. 3 - Emissões mundiais de gases com efeitos de estufa em 2005

Anexo II-a

Fig. 4 - Eco regiões afectadas pela indústria pecuária Anexo II-b

Fig. 5 – A pecuária como uma importante causa da ameaça da biodiversidade

em pontos sensíveis Anexo II-c

Fig. 6 – Alterações de temperatura a nível Global e Continental

Anexo II-d

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ÍNDICE DE TABELAS

Tabela 1 – Consumo de água no fabrico de alguns produtos de carne pág. 13

Tabela 2 – Consumo de água em instalações de indústria da carne para alguns

produtos pág. 14

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ÍNDICE DE ANEXOS

Anexo I – Estatísticas na Produção da Agropecuária: 1950-2008 (abate nos

Estados Unidos por espécie)

Anexo II-a – Emissões mundiais de gases com efeitos de estufa em 2005

Fonte: http://www.wri.org/chart/world-greenhouse-gas-emissions-2005

Anexo II-b – Eco regiões afectadas pela indústria pecuária

Fonte: http://www.fao.org/docrep/010/a0701e/a0701e00.HTM

Anexo II-c – A pecuária como uma importante causa da ameaça da

biodiversidade em pontos sensíveis

Fonte: http://www.fao.org/docrep/010/a0701e/a0701e00.HTM

Anexo II-d – Variação da temperatura (por Continentes e Global)

Anexo III-a – 1º Inquérito sobre hábitos alimentares de consumo de carne

Anexo III-b – 2º Inquérito sobre hábitos alimentares de consumo de carne

Anexo IV-a – Resultados do 1º inquérito

Anexo IV-b – Resultados do 2º inquérito

Anexo V – Transcrições pessoais das outras razões mais significativas para

não ter havido uma redução do consumo de carne

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Resumo

O Homem ao decidir o que come está também a tomar uma decisão que pode

ser (in)consciente sobre a sua influência no ambiente. Neste sentido

apresentamos uma revisão bibliográfica sobre o consumo de carne e o seu

impacto ambiental, evidenciando-o na indústria pecuária, como sejam a

emissão de gases com efeito de estufa, consumo e poluição da água,

desertificação dos solos e o seu impacto na biodiversidade. Procedeu-se

posteriormente a um estudo com o intuito de constatar o conhecimento

existente acerca do impacto do consumo de carne no meio ambiente e qual a

intenção inicial de redução do consumo de carne e posterior efectivação ou não

dessa intenção, quando confrontado com a informação do impacto ambiental.

O método utilizado foi o inquérito, tendo participado 838 pessoas na 1º fase e

225 numa 2º fase. Constatou-se que 64% das pessoas consideram possuir

conhecimentos acerca deste impacto e que inicialmente 81% dos inquiridos

tinha intenção de reduzir o consumo de carne mas só 28% concretizou

posteriormente essa intenção.

Palavras-chave: Ambiente; Consumo; Carne; Indústria Pecuária; Poluição

Abstract

When Man decide what to eat is also making a decision that could be

(un)conscious about its influence on the environment. In this sense we present

a bibliographical revision about the consumption of meat and its environmental

impact, based in the livestock farming industry, as the emission of harmful

gases, the consume of water and its pollution, land desertification and the

impact in the biodiversity. After we preceded to a study to verify the knowledge

about the impact of the consumption of meat in the environment, the initial

intention to reduce the consumption of meat and the subsequent

accomplishment or not of that intention, when confronted with the impact of the

consumption of meat in the environment. The approach used was the inquiry,

participated 838 people on the first phase and 225 on the second phase. The

results show that 64% of the people consider to have knowledge about this

impact and that initially 81% had the intention to reduce the consumption of

meat but only 28% has accomplished latter that intention.

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Page 7: Impacto do consumo de carne no meio ambiente

Key-words: Environment; Consumption; Meat; Industry Livestock farming;

Pollution

INTRODUÇÃO

Todos tomamos decisões que têm consequências ambientais. Estas reflectem-

se quando escolhemos conduzir, viajar de avião, comer alimentos orgânicos ou

reduzir a água que utilizamos, pois estamos a afectar o ambiente local e global.

Muitas vezes, estas escolhas reflectem dilemas, em que temos que escolher

entre os nossos próprios interesses e os do ambiente que nos envolve. Poder-

se-á dizer que estamos sobre o paradigma da interdependência humana, em

que decidimos sem saber com certeza qual será o resultado para nós ou para o

ambiente ou sequer quando é que este se manifestará.

A possível solução para este paradigma residirá em tornarmo-nos, a nós

próprios e aos outros, mais conscientes das decisões que tomamos e dos

eventuais impactos que estas terão no ambiente.

A nossa investigação prende-se precisamente com esta tomada de consciência

acerca do que comemos, quando falamos de carne, e do impacto que essa

dieta alimentar poderá ter a nível ambiental.

Quando falamos de alimentação e da possibilidade de retirar alguns alimentos

da nossa dieta alimentar e/ou acrescentar outros novos, a reacção das

pessoas é bastante diferente. Há quem aceite bem esta mudança, mas existem

também os chamados neofóbicos, ou seja, pessoas que têm receio de

experimentar alimentos novos e evitam esse contacto.

Porquê este neofobismo? Há autores como Milligan e colaboradores que, em

1997, verificaram, através de um estudo com estudantes australianos, que a

falta de informação acerca da composição dos alimentos poderia ser um dos

obstáculos a uma alimentação mais saudável, logo à introdução de novos

alimentos. Mas Brown & Ogden (2004) retaliam esta ideia defendendo que

seria essa uma justificação plausível não fossem as campanhas para a saúde

alimentar.

Assim sendo, coloca-se uma nova questão: como é que fazemos a nossa

selecção alimentar? Silva, I., Pais-Ribeiro, J.L. & Cardoso, H. (2008), referindo-

se a diversos autores, como Crossley & Khan (2001); Hamilton e tal. (2000);

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Page 8: Impacto do consumo de carne no meio ambiente

Boothle & Sheperd (1998); Ogden (2003); Brunstorm (2005); Fisher & Birch

(2002); Holland & Petrovich (2005); Pliner & Leowen (1997), entre outros,

levam-nos a concluir que não existe um consenso relativamente ao que nos

leva a preferir um determinado alimento em detrimento de outro.

Estes autores defendem que é a partir do nosso útero materno que as nossas

escolhas alimentares começam a formar-se, com base na familiaridade; isto

deve-se ao facto de ingerirmos parte do que a nossa mãe ingere. Este

reconhecimento alimentar prossegue o seu curso na fase da amamentação,

pois o leite materno terá o sabor relativo ao tipo de alimentação da mãe, como,

por exemplo, alho, baunilha, etc.

Ao longo do nosso desenvolvimento vamos sendo expostos a diversos

produtos alimentares, quer pelos nossos prestadores de cuidados, quanto pelo

nosso grupo de pares ou ainda pelos media, entre outros. Será então

consoante os reforços positivos ou negativos que recebemos (aprendizagem

associativa), relativos a determinado alimentos, que os vamos consumir ou

não. Este reforço positivo pode dar-se após o consumo do mesmo (como uma

recompensa) ou poderá ser o alimento em si (por exemplo: “se te portares bem

dou-te um rebuçado”).

No entanto há todo um processo de escolha prévio ao momento do consumo

do mesmo (depois sujeito ao reforço ou não). Na base deste processo de

escolha existem diversos modelos teóricos tais como os de Kahn, em 1981, de

Randall e Sanjur, em 1981 e de Booth e Shepherd, em 1988. Entre estes três

modelos podemos retirar alguma informação acerca do que é importante ter em

conta no que respeita àquilo que serão factores determinantes do

comportamento humano em relação à alimentação. Estes factores serão, por

exemplo: factores intrínsecos (modo de preparação do alimento e as suas

características – textura, sabor, entre outras); factores pessoais (personalidade,

humor, apetite, influência familiar, entre outros); factores culturais e religiosos;

factores biológicos; factores fisiológicos (ex: doença, como a diabetes); factores

psicológicos; factores extrínsecos (como a exposição aos media, factores

ambientais, estação do ano, entre outros) e factores de cariz socioeconómicos

(Crossy e Kahn, em 2001, concluíram no seu estudo que grupos sociais com

menor rendimento financeiro atribuem como factor da sua escolha alimentar o

preço dos alimentos).

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Page 9: Impacto do consumo de carne no meio ambiente

Também existem autores que defendem que o stress está relacionado com a

escolha alimentar, no que respeita ao tipo de alimentos ingeridos e à

quantidade respectiva; mas mesmo aqui não existe consenso, pois enquanto

que há quem defenda que o stress aumenta a ingestão da quantidade de

alimentos (mais snacks e menos refeições principais, no caso de estudos com

estudantes), há também autores que defendem que há uma diminuição do

consumo alimentar. Quem defende um aumento do consumo de alimentos

associa este aumento a pessoas que antes da exposição ao stress haviam

praticado alguma forma de dieta. Mas, também existem autores que dizem

nunca ter encontrado tal relação entre o stress e a alimentação, mesmo em

pessoas que praticavam dieta alimentar.

No nosso estudo referimo-nos exclusivamente à questão da opção de se

reduzir o consumo alimentar de um único tipo de alimento: a carne. Tendo em

conta todos os factores sociais, pessoais, culturais, etc., directamente ligados

ao consumo de carne, sabemos que esta será uma opção difícil para diversos

indivíduos. No entanto, existem soluções menos difíceis do que parecem à

partida. Se tivermos em conta, por exemplo a, aprendizagem social defendida

por Ogden (2003), sabemos que as pessoas são influenciadas pelo que vêem

outras pessoas comer, logo, se nós não estivermos a consumir o produto

carne, influenciaremos outras pessoas a também não o fazerem e, mais ainda,

se tivermos em conta o factor exposição, também defendido pelo mesmo autor,

sabemos que quanto mais vezes formos expostos repetidamente a

determinado alimento e o consumirmos, melhor será a sua aceitação (isto

aplicar-se-á a alimentos considerados alternativos à carne).

Historicamente sabemos que a segunda metade do século XX ficou marcada

por crescentes modificações na alimentação que tiveram lugar nos países ditos

desenvolvidos. Com o desenvolvimento das populações e com o exponencial

aumento demográfico, intensificou-se também as actividades agrícolas e

agropecuárias.

Para além do crescimento populacional e da proliferação das novas tecnologias

e do sistema económico liberalista vigente, as populações adquiriram também

um maior poder de compra, alterando os seus padrões de comportamento

alimentar. Por ter um peso fundamental na economia, o sector da agropecuária

tem sido fortemente explorado. Nos Estados Unidos, a produção de carne

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Page 10: Impacto do consumo de carne no meio ambiente

aumentou exponencialmente entre 1950 e 2007, tendo vindo a estagnar o

abate de animais em 9.5 mil milhões no ano de 2007 e 2008 (USDA, National

Agricultural Statistics Service, 2009). (ver anexo I – “Estatísticas na produção

agropecuária: 1950-2008: abate nos Estados Unidos por espécie”)

No entanto, não é unicamente a oferta de produção alimentar que determina os

gostos e as escolhas alimentares dos consumidores. Na nossa sociedade faz

parte do “senso comum” que a alimentação à base de carne de vaca, por

exemplo, seja parte integrante da cadeia alimentar humana. Comer um bife de

vaca é tão ”natural” na nossa sociedade como comer um bife de cão é tão

“natural” na China. Mas do ponto de vista dos ocidentais, esta ideia de comer

animais domésticos, como o cão e o gato, com os quais (normalmente) se

criaram fortes laços afectivos, origina repulsa, e em muitos casos, indignação,

pois a nossa sociedade não categoriza o cão como alimento, uma vez que é

convencionalmente doméstico (Joy, 2010). Para Melanie Joy, a inclusão de

carne na nossa alimentação é tão “natural” quanto a expectativa que se cria

para que os homens sejam “naturalmente” masculinos e para que as mulheres

sejam “naturalmente” femininas, ou seja, a percepção que as sociedades

ocidentais têm em relação aos animais e sobre a sua inclusão ou não na

alimentação, pode não ser considerada meramente “natural”, assim como não

pode ser desassociada de um conjunto de convenções, de códigos, crenças e

práticas culturais. Só os humanos têm a capacidade de produzir e reproduzir

valores culturais. A cultura “é o processo de produção de sentido que confere

sentido não só à realidade ou natureza exterior, mas também ao sistema social

de que ela faz parte e às identidades sociais e actividades diárias (como a

alimentação) das pessoas pertencentes a esse sistema” (Fiske, 1990). Os

sistemas de representação cultural parecem ter uma influência central nas

práticas alimentares dos indivíduos humanos porque legitimam modos de

socialização e posicionam o indivíduo de acordo com critérios e padrões. A

universalização da ordem cultural, motivada por questões económicas, torna-a

muito pouco mutável, fazendo com que pareça “natural” e assim, comem-se

determinados animais em detrimento de outros porque “faz parte da nossa

cultura”, pelo que não tem sido nem a ética nem a sustentabilidade, mas sim a

cultura quem tem estipulado ao homem aquilo que na natureza é “comestível” e

não “comestível”.

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Page 11: Impacto do consumo de carne no meio ambiente

A acção de comer carne, uma acção única por cada indivíduo, leva a um

conjunto imenso de acções semelhantes levadas a cabo por indivíduos

independentes e, face a isso, é fundamental mudar as acções/comportamentos

dos indivíduos ou de organizações no que respeita ao consumo de carne.

O relatório “Livestock’s long shadow environmental issues and options” da

Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO),

realizado em 2006, teve como objectivo, precisamente, identificar o impacto

ambiental da indústria pecuária.

Os principais impactos estudados foram na emissão de gases, na água, na

desertificação dos solos e na biodiversidade.

Emissão de gases com efeito de estufa

O ano de 2009 foi marcado pela Conferência das Nações Unidas em

Copenhaga sobre as Alterações climáticas, nomeadamente sobre o

aquecimento global e os gases com efeito de estufa.

A emissão de gases com efeito de estufa tem como consequências o aumento

da temperatura, o degelo dos glaciares, o aumento do nível dos Oceanos, as

mudanças nas correntes marítimas e as mudanças climatéricas, sendo, por

isso, considerado o maior desafio à raça humana.

A indústria pecuária é responsável por 18% das emissões de gases com efeito

de estufa, medidos em equivalência com o CO2, sendo de entre todos o sector

mais poluente. Dentro do valor atrás referido incluem-se:

- 9% do total de emissões de CO2;

- 65% antropogénico hemióxido (em grande parte produzido pelo estrume);

- 64% do amoníaco (contribui para chuvas ácidas e acidificação ecossistemas).

- 37% de todo o metano (em grande parte produzido pelo sistema digestivo dos

ruminantes - fermentação entérica);

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Figura 1 – Produção de metano nos Estados Unidos da América em 2007

Fonte: EPA Methane and Nitrous Oxide Emissions from Natural Sources April 2010.

http://www.epa.gov/methane/sources.htm

Consumo de carne e alterações climáticas – O efeito do Metano

O Word Resources Institute refere que o total de emissões de gases com efeito

de estufa cresceu 12.7% entre 2000 e 2005, uma média anual de 2,4% e

apresenta um gráfico com o total mundial dessas emissões (ver Anexo II-a –

“Emissões mundiais de gases com efeitos de estufa em 2005”). Nesse gráfico é

possível verificar que o indústria pecuária é o principal responsável pela

emissão do gás metano que, por ser 23 vezes mais prejudicial para o efeito de

estufa que o dióxido de carbono, faz com que esta actividade seja a principal

responsável pela emissão de gases com efeito de estufa. Este facto foi também

constatado no relatório da FAO, em 2006.

Investigadores, políticos, população em geral, todos se têm dedicado quase

exclusivamente à questão do dióxido de carbono (CO2), ignorando outros

gases com efeito de estufa, nomeadamente o metano (CH4), que tem um

impacto muito superior como referido anteriormente (FAO, 2006).

Embora a noção de que a redução das emissões de dióxido de carbono seja

uma prioridade, a que todos os países deveriam dedicar atenção e

investimento, a irrelevância atribuída ao metano é deveras preocupante, até

porque este seria, muito provavelmente, mais fácil de reduzir.

Embora as emissões de gás metano para a atmosfera sejam

consideravelmente inferiores às de dióxido de carbono, a sua influência nas

alterações climáticas é determinante e está rigorosamente documentada no

relatório “Livestock’s long shadow environmental issues and options”, da

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Page 13: Impacto do consumo de carne no meio ambiente

Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO),

realizado em 2006. Mais de metade das emissões de gás metano devem-se a

actividades humanas, enquanto para o dióxido de carbono essa proporção é

inferior a 5%. Assim, parece muito mais lógico que a redução das emissões

deste gás teria um impacto muito mais significativo na sua concentração na

atmosfera do que a redução das emissões de dióxido de carbono.

Mas de onde vem então as avultadas emissões de gás metano para a

atmosfera? A maior fonte de metano antropogénica é a agro-pecuária intensiva,

em particular o sistema digestivo dos ruminantes. A par, encontra-se a questão

da desflorestação de grandes superfícies florestais, como a Amazónia, que

desde 1970 tem sido brutalmente “despida”, o que contribui para o aumento

das emissões de dióxido de carbono para a atmosfera.

Em 2009, perante o Parlamento Europeu, Sir Paul McCartney, apoiado pelo

Prof. Rajendra Pachauri, Presidente do Painel Intergovernamental sobre as

Alterações Climáticas, assumiu a sua convicção de que a melhor forma de lutar

contra as alterações climáticas é promover activamente a redução do consumo

de carne.

Água

A produção de ração para o gado requer uma enorme quantidade de água,

resultando na escassez de água em certas áreas, como por exemplo nos

Estados Unidos, onde mais de metade da água consumida para todos os fins é

gasta na produção animal, segundo um relatório publicado pelo Programa das

Nações Unidas para o Meio Ambiente (PLUMA).

De acordo com esta Organização, lençóis de água como o gigantesco aquífero

Ogalalla (EUA), estão a ser rapidamente esgotados. Em paralelo, um dos

factores mais poluentes da água é a acumulação resultante das descargas de

resíduos animais, pois o nitrogénio proveniente destes resíduos é convertido

em amónia e nitrato. Estes, infiltrando-se nas águas do subsolo e na superfície,

não só poluem a atmosfera, como contaminam poços, rios e ribeiros,

eliminando muita da vida aquática. De acordo com a Agência de Protecção do

Meio Ambiente dos EUA, cerca de metade dos poços e todos os ribeiros do

país estão contaminados por poluentes oriundos da pecuária.

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Page 14: Impacto do consumo de carne no meio ambiente

A actual redução dos stocks de água a nível mundial faz estimar que em 2025,

64% da população mundial tenha problemas de consumo de água, divulgam os

dados da Agência de Protecção do Meio Ambiente.

A indústria pecuária é responsável por 8% do total de gasto de água feito pelo

homem, sendo provavelmente a maior fonte de poluição aquática. Para tal

contribuem principalmente os resíduos animais (estrume e carcaças), os

antibióticos, as hormonas, os fertilizantes e pesticidas usados nas plantações

para alimentação animal e sedimentos originados pela erosão dos solos das

pastagens. Não existem dados mundiais, mas os que se referem aos Estados

Unidos, estes apontam para que a produção de carne seja responsável por

55% da erosão e sedimentação dos solos, 37% do uso de pesticidas, 50 % do

uso de antibióticos e 30% de lançamento de nitrogénio e fósforo na rede

hídrica.

O sector afecta ainda o ciclo da água devido à compactação do solo, à redução

da permeabilidade do mesmo, à degradação dos lençóis de água e ao facto de

secar planícies.

Figura 2 - Consumo de água por 1 Kg de vários alimentos

Fonte: http://www.centrovegetariano.org

Segundo um estudo elaborado pela Secretaria do Meio Ambiente do Estado de

S. Paulo, na produção dos derivados de carnes, podem ocorrer consumos

significativos de água, tanto nos processos de limpeza dos equipamentos e das

próprias áreas produtivas, como na água utilizada no processo de produção.

Tabela 1 – Consumo de água no fabrico de alguns produtos de carne

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Page 15: Impacto do consumo de carne no meio ambiente

Fonte: Empresas do sector (CETESB, 2006, citado por Secretaria do Meio Ambiente do Estado de S. Paulo)

Tabela 2 – Consumo de água em instalações de indústria da carne para alguns produtos

(1) Linguiças, presuntos, bacon, etc

Fonte: Itália, 2001 apud IPPC, (2006 citado por Secretaria do Meio Ambiente do Estado de S. Paulo

Desertificação dos solos/Desflorestação

Desertificação é o empobrecimento dos ecossistemas áridos, semi-áridos e

sub-áridos provocado pelo impacto das actividades humanas. Todos os anos,

milhares de quilómetros quadrados de florestas tropicais são destruídos de

forma permanente ocasionando a extinção de muitas espécies de plantas e

animais.

A exploração e devastação constante de novos solos (muitas vezes

abandonados poucos anos depois) para criação de pastos para gado leva à

utilização excessiva da terra, o que resulta na contínua perda da camada fértil

do solo.

Esta desertificação dos campos e florestas foi responsável pela maior massa

migratória da História, levando as populações a viverem em áreas urbanas.

15

Page 16: Impacto do consumo de carne no meio ambiente

O sector da produção animal é de forma destacada, o maior utilizador dos

solos, sendo 70% do solo agrícola mundial usado para a alimentação animal

(Margulis, 2004).

A expansão deste sector é também o principal responsável pela desflorestação,

tendo especial impacto na América Latina onde 70% da desflorestação da

floresta amazónica se deveu à criação de pastagens para o gado e cultivo de

produtos para alimentação animal (Margulis, 2004).

A degradação dos solos afecta 20% das pastagens mundiais, subindo esse

valor para 73 % quando são consideradas somente as pastagens em solo

árido. Esta degradação é feita sobretudo pelo pastoreio intensivo e pela

compactação e erosão do solo.

Sérgio Margulis (2004) do Banco Mundial demonstrou que, desde 1970, 91%

da desflorestação na Amazónia Brasileira está ligada às necessidades da

indústria da carne, agravando os efeitos do aquecimento climático, que é um

dos maiores problemas actuais do planeta.

As regiões mais afectadas pela desertificação são as áreas produtoras de

gado, como já referimos, inclusive o Oeste Americano, a América Central e

América do Sul, a Austrália e a África Sub-Saariana.

Biodiversidade/Uso de recursos naturais

A actual diminuição de biodiversidade regista valores sem precedentes, sendo

que 15 dos 24 principais ecossistemas estão actualmente em declínio e das 33

regiões identificadas como estando em risco de perda de biodiversidade, 23

referiram a produção animal como contribuindo para essa situação (ver Anexo

II-b - “Eco regiões afectadas pela indústria pecuária”).

A indústria pecuária pode ser o principal factor para a perda de biodiversidade

dado que é o principal responsável pela desflorestação a nível mundial, e é

uma das principais origens da degradação dos solos, da poluição e das

alterações climáticas (ver Anexo II-c – “A pecuária como uma importante causa

da ameaça da biodiversidade em pontos sensíveis”).

Outro factor que contribui para a perda de biodiversidade é que 30% da área

ocupada pelo sector foi anteriormente habitat natural.

David Pimentel (1997) assinala que a produção de proteína animal necessita

de oito vezes mais energia de combustível fóssil que a produção de proteína

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Page 17: Impacto do consumo de carne no meio ambiente

vegetal, apesar da proteína animal ser 1,4 vezes mais nutritiva para humanos

do que a proteína vegetal.

Este professor e investigador da Universidade de Cornell, realça ainda que

toda a actual produção agrícola destinada ao consumo animal nos Estados

Unidos daria para alimentar directamente cerca de 800 milhões de pessoas.

Akifumi Ogino (2007) realizou um estudo no Japão sobre o impacto da

produção de carne no meio ambiente. Segundo o autor a produção de um

quilograma de carne é responsável por uma maior emissão de gases com

efeito de estufa que conduzir um carro durante três horas e deixar todas as

luzes de casa acesas durante esse mesmo período de tempo.

Segundo o World Resources Institute, actualmente a agricultura mundial

produz 4.600 quilocalorias por dia/habitante. No entanto, dado que 37% da

produção mundial de cereais dos países serve para alimentar o gado (56% nos

países ricos). Ou seja, deste total de 4600 quilocalorias, 1.500 são em média

dedicadas à alimentação dos animais, sendo que estes só restituem em média

500 calorias na mesa.

Outros dados e informações

Nos países desenvolvidos é impossível ignorar a relação entre a produção

animal e o impacto económico-ambiental. O custo da criação intensiva de

gado, aves, porcos, cabras, carneiros, etc., para alimentar uma população

humana excessiva e em contínuo crescimento, inclui o uso indevido de água e

do solo, o alto nível de contaminação produzido por fezes de animais e a

consequente desflorestação das florestas, que irão contribuir para a

desertificação, extinção de muitas espécies animais e vegetais, para o aumento

das emissões para a atmosfera dos gases com efeito de estufa e

consequentemente altamente responsáveis pela alteração climáticas

verificadas nos últimos anos – os 10 anos mais quentes alguma vez registados

foram nos últimos 14 anos (Intergovernmental Panel on Climate Change, 2007)

(ver anexo II-d – “Variação da temperatura (por Continentes e Global”).

Rajendra Pachauri (2008) presidente do painel intergovernamental de

especialistas para as alterações climáticas das Nações Unidas e vencedor do

prémio Nobel da paz em 2007, pelo seu trabalho relativamente ao combate às

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Page 18: Impacto do consumo de carne no meio ambiente

alterações climáticas, defende que “reduzir pouco a pouco o consumo de carne

é a opção mais atractiva para que cada um contribua de forma imediata para a

redução das emissões de CO2.”

Já Fernando Barros e Licco António abordam a questão da reciclagem dos

resíduos de origem animal. De acordo com Prandl (1994, citado por Barros e

Licco) estima-se que somente 68% do frango, 62% do porco, 54% do boi e

52% da ovelha/cabra são directamente consumidos pelo homem. Assim existe

uma grande quantidade de resíduos que se não forem correctamente

reciclados originam a degradação dos tecidos animais que pode servir de

matriz ideal para a transmissão e perpetuação de doenças, com o potencial de

atingir o homem e os próprios animais. Franco (2002, citado por Barros e Licco)

refere que dos vários processos de reciclagem: aterros, compostagem, queima,

incineração e reciclagem, esta última é a “mais equilibrada dos pontos de vista

sanitário, económico e ambiental”. Mas mesmo essa apresenta duas

desvantagens: um odor intensamente desagradável e o aumento do risco de

contracção de encefalopatias.

Gidon Eshel investigador da Universidade de Chicago, concluiu que “Se deixar

de comer carne, cada pessoa anualmente reduzirá numa tonelada e meia a

emissão de CO2”.

Nicholas Stern (2006) autor do maior e mais difundido relatório sobre Economia

e as Alterações climáticas: “Stern Review on the economics of climate change”,

defendeu numa entrevista ao The Sunday Times que “a produção de carne

origina um desperdício de água e emite gases nocivos, pondo uma enorme

pressão nos recursos naturais mundiais. Uma dieta vegetariana é mais

adequada.”

De acordo com Lukianocenko (2001), os consumidores estão a tornar-se cada

vez mais influentes, informados, específicos e exigentes em relação à escolha

de alimentos, procurando alimentos mais saudáveis, frescos, naturais e

saborosos. A crescente preocupação das pessoas em relação à saúde,

longevidade e segurança alimentar, a par com a preocupação com a

conservação do meio ambiente, tem resultado no crescimento da demanda por

produtos orgânicos livres de aditivos e ecologicamente correctos

(biodegradáveis, recicláveis e que gastem pouca água e energia (Lukianocenko

2001)).

18

Page 19: Impacto do consumo de carne no meio ambiente

Estudos referem que em relação à percepção de risco para o próprio, as

pessoas são unânimes quando questionados quais os produtos que mais

ofereciam risco ao consumidor ao incluírem a carne entre os três produtos com

maior percepção de risco (Pereira, 2005).

No nosso estudo pretendemos averiguar, por um lado, qual o consumo actual

de carne de cada participante e qual a percepção que estes têm da relação

entre as Indústrias de Carne e as alterações climáticas, por outro, a intenção

de reduzir o consumo de carne ou mesmo suprimi-lo da alimentação, face aos

dados disponibilizados aos participantes relativamente à influência do consumo

de carne para o Ambiente.

19

Page 20: Impacto do consumo de carne no meio ambiente

Método

O objectivo geral do trabalho é analisar o grau de intenção em efectuar uma

redução do consumo de carne, após ser prestada alguma informação

específica acerca do seu impacto ambiental. Este objectivo será posteriormente

complementado com a comparação entre essa intenção inicial e o nível

efectivo de concretização da mesma.

Para cumprir os objectivos atrás enunciados foram elaborados dois inquéritos:

O primeiro inquérito (ver anexo III-a – “1º inquérito sobre hábitos alimentares de

consumo de carne”) teve como premissa base obter resposta ao grau de

intenção da amostra em reduzir o consumo de carne, tendo sido dividido em

dois blocos:

1. Consumo actual de carne e grau de conhecimento geral, e

posteriormente o detalhado, do impacto do consumo de carne no

ambiente;

2. Intenção de redução do consumo de carne e sua relação com as

áreas de impacto; Opinião sobre a proposta nacional de privilegiar

o não consumo de carne num dia da semana; Grau de dificuldade

das razões que dificultarão a redução do consumo de carne.

Ao primeiro bloco responderam 838 pessoas distribuídas da seguinte forma:

20

Page 21: Impacto do consumo de carne no meio ambiente

Ao segundo bloco responderam 717 pessoas da amostra inicial, não tendo sido

possível confirmar a distribuição desta parte da amostra inicial, sendo no

entanto crível que se tenham mantido na generalidade as percentagens do 1º

bloco.

O segundo inquérito (ver anexo III-b - “2º inquérito sobre hábitos alimentares de

consumo de carne”) teve como objectivo obter resposta sobre o nível efectivo

de concretização da intenção inicial manifestada no primeiro inquérito. Para

registar tal efeito, este segundo inquérito foi distribuído à mesma população

uma semana após o primeiro.

Há a registar o muito menor número de pessoas que respondeu ao segundo

inquérito (225) em relação ao primeiro (838). Algumas hipóteses levantadas

para justificar tal facto foram, o 1º ter estado activo durante duas semanas e o

2º tê-lo estado somente uma semana; algumas pessoas poderem ter

considerado que já tinham feito a sua contribuição para esta investigação e não

se disponibilizarem para responder ao 2º inquérito; o facto de quem já não

consumia carne poder ter considerado que este 2º inquérito teria menos

importância ou ainda a possibilidade de algumas pessoas poderem prever que,

como no 2º inquérito iria ser questionada a implementação da intenção de

redução manifestada no 1º inquérito, e não a tendo feito, considerarem que não

valeria a pena responder.

A amostra de 225 pessoas que responderam ao 2º inquérito é caracterizada da seguinte forma:

21

Page 22: Impacto do consumo de carne no meio ambiente

ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS DO 1º INQUÉRITO

Da análise do consumo de carne constata-se que cerca de 65% da população

consome entre 4 a 11 refeições de carne por semana. Por outro lado, 30%

consome menos de 3 refeições, sendo que cerca de 15% não consome carne

de todo. No outro extremo estão 5% que consomem carne em todas ou

praticamente todas as refeições.

Quanto ao conhecimento do impacto que o consumo de carne tem no

ambiente, cerca de 41% da população refere ter algum conhecimento,

enquanto 20% não possui nenhum conhecimento sobre o assunto.

Relativamente ao conhecimento específico do impacto no ambiente, as

diversas áreas são vistas como recebendo genericamente a mesma influência.

Em termos de grau de influência do consumo de carne no ambiente, as

maiores percentagens são atribuídas ao grau “terem influência” (37%) ou

“terem muita influência” (31%). Uma percentagem residual (cerca de 2%)

admite que “não existe qualquer influência”.

No que se refere à intenção de redução do consumo de carne consoante os

diferentes impactos ambientais, os resultados são também semelhantes entre

as várias áreas. É de salientar no entanto o facto de 81% dos inquiridos ter

demonstrado intenção de reduzir o consumo de carne e somente 19% terem

referido que apesar de reconhecerem o impacto ambiental não terem intenções

de mudar os seus hábitos alimentares.

Também quanto à opinião sobre a proposta nacional de privilegiar a ausência

de consumo de carne durante um dia da semana, cerca de 85% concordaria

com essa situação, 10% seria indiferente e somente 5% discordaria.

Por fim, quanto às dificuldades em conseguir reduzir o consumo de carne, mais

de metade dos inquiridos refere em média que os pontos abordados não

dificultariam nada e quase 30% reconhece que em média existem situações

que criarão pequenas dificuldades. Descriminando as diversas razões: o prazer

em comer carne é a situação que acarretará as maiores dificuldades e no

extremo oposto estão, segundo ordem apresentada, a vergonha em assumir a

redução do consumo de carne e o prejuízo no convívio social. As restantes

hipóteses apontadas como limitadoras (ter de aprender a cozinhar refeições

22

Page 23: Impacto do consumo de carne no meio ambiente

sem carne, reduzidas opções de escolha nos restaurantes e receio de aumento

da despesa com a alimentação) recebem as percentagens intermédias no grau

de dificuldade que apresentarão.

(Anexo IV-a – “Resultados do 1º inquérito”)

ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS DO 2º INQUÉRITO

Da análise do gráfico do consumo de carne constata-se que tem sensivelmente

as mesmas percentagens de consumo que o registado no 1º inquérito, o que

por um lado mostra consistência nas amostras mas por outro pode indicar que

não existiu redução do consumo de carne.

Parecendo contrariar o dado anterior, o gráfico da redução do consumo de

carne na semana após o 2º inquérito, demonstra que 72% dos inquiridos refere

não ter alterado os seus hábitos alimentares, mas os restantes 28% alteraram

de algum modo esses hábitos, sobretudo passando para quantidades entre “4

e 7” e “1 e 3” refeições semanais.

Relativamente ao impacto ambiental médio das várias áreas de influência ele é

considerado entre o “influente” (32%) e o “pouco influente” (25%). Analisando

as várias áreas afectadas, regista-se que as diversas áreas não apresentam

diferenças significativas, havendo no entanto uma ligeira menor atribuição de

influência na emissão de gases com efeito de estufa, estando no extremo

oposto, apesar de ser por pequena diferença, a influência dos 5 impactos em

conjunto.

Quanto às dificuldades sentidas por aqueles que reduziram o consumo de

carne, mais de dois terços refere que em média não sentiu nenhumas

dificuldades, cerca 20% sentiu um pouco de dificuldades e os restantes 10%

sentiram bastante ou imensas dificuldades. Quanto à descriminação das

razões, a vergonha de assumir a redução do consumo de carne, praticamente

não é sentida como dificuldade, enquanto o prazer em comer carne está no

extremo das razões que mais dificultam a redução do seu consumo e o ter de

aprender a cozinhar refeições sem carne e ter reduzidas opções de escolha

nos restaurantes, são apontadas também como razões que dificultam bastante.

23

Page 24: Impacto do consumo de carne no meio ambiente

Por fim relativamente às razões que impediram 72% da amostra de reduzir o

consumo de carne, a mais apontada com 34% foi o prazer em comer carne,

seguindo-se com 15% as reduzidas opções de escolha nos restaurantes e com

12% o ter de aprender a cozinhar refeições sem carne. O receio no aumento

das despesas com a alimentação é a dificuldade apontada com o menor

impacto (8%). Com percentagens residuais, não sendo por isso consideradas

dificuldades, surgem o prejuízo no convívio social e a vergonha de assumir a

redução do consumo de carne. Existem ainda 27% de pessoas que apontam

outras razões onde há a realçar:

As dificuldades em harmonizar as preferências individuais com as da

família;

A crença de que uma alimentação equilibrada tem que conter carne;

A menor motivação para concretizar essa mudança;

A falta de alternativa de refeição nos refeitórios dos locais de trabalho;

A maior facilidade e comodidade na confecção das refeições;

O facto de já se considerar que come pouca carne;

Por ser um hábito alimentar;

(Anexo IV-b – “Resultados do 2º inquérito”)

(Anexo V – Transcrições pessoais das “outras razões” para não ter havido uma

redução do consumo de carne”)

24

Page 25: Impacto do consumo de carne no meio ambiente

25

Page 26: Impacto do consumo de carne no meio ambiente

Conclusões

Verificou-se que 80% dos inquiridos manifestaram nas suas respostas que

possuíam conhecimentos gerais sobre o impacto do consumo de carne no

ambiente. De forma discriminada o grau de conhecimento foi “Pouco” 16%;

“Algum” 41%; “Elevado” 17%; “Muito elevado” 5%.

Também em igual percentagem (80%) revelaram a intenção de reduzir o seu

consumo de carne, o que não vem contradizer a nossa hipótese de que o

conhecimento sobre o impacto ambiental do consumo de carne contribui para

uma mudança de atitude ambiental.

A confirmação da hipótese atrás referida é analisada nos resultados ao 2º

inquérito, onde 225 inquiridos (isto é, 31% dos sujeitos que responderam à

manifestação ou não manifestação de intenção de redução do consumo de

carne) é que revelaram se tinham ou não mudado de comportamento. Os

resultados obtidos demonstraram que 28% considerou que tinha mudado o seu

comportamento, reduzindo o seu consumo de carne (10% para 4 a 7 refeições;

14% para 1 a 3 refeições; 3% deixou de comer carne) numa semana. Este

valor permite-nos concluir que o conhecimento sobre o impacto ambiental do

consumo de carne não contribui apenas para alterações de intenções ou

atitudes, mas também de comportamento, confirmando assim a nossa hipótese

de trabalho.

Os resultados parecem-nos também sugerir, que de facto há um maior nível de

intenção em mudar comportamentos, do que a concretização dessa intenção.

Logo, é de todo relevante, operacionalizar a quantificação desta mudança, para

em futuros estudos tornar mensurável o nível de eficácia das campanhas de

informação sobre o impacto em estudo.

26

Page 27: Impacto do consumo de carne no meio ambiente

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28

Page 29: Impacto do consumo de carne no meio ambiente

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Page 30: Impacto do consumo de carne no meio ambiente

Anexos

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Page 31: Impacto do consumo de carne no meio ambiente

Anexo I

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Page 32: Impacto do consumo de carne no meio ambiente

Anexo II-aEmissões mundiais de gases com efeito de estufa em 2005

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Page 33: Impacto do consumo de carne no meio ambiente

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Page 34: Impacto do consumo de carne no meio ambiente

Anexo II-bEco regiões afectadas pela indústria pecuária

34

Page 35: Impacto do consumo de carne no meio ambiente

35

Page 36: Impacto do consumo de carne no meio ambiente

Anexo II-cA pecuária como uma importante causa da ameaça da

biodiversidade em pontos sensíveis

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Page 37: Impacto do consumo de carne no meio ambiente

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Page 38: Impacto do consumo de carne no meio ambiente

Anexo II-dVariação da temperatura (por Continentes e Global)

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Page 39: Impacto do consumo de carne no meio ambiente

Comparação de valores observados da temperatura continental, dos oceanos e global.

Resultados simulados por modelos climáticos usando forças naturais e antrópicas.

Anexo III-a

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Page 40: Impacto do consumo de carne no meio ambiente

1º Inquérito sobre hábitos alimentares de consumo de carne

O presente inquérito insere-se num trabalho de investigação sobre o tema: Impacto do consumo da carne no meio ambiente, no âmbito da unidade curricular Comportamento Humano e Ambiente, da Faculdade de Psicologia da Universidade de Lisboa (FP-UL).

O inquérito é anónimo, não tem respostas certas nem erradas, sendo solicitada unicamente a sua sinceridade.

O tempo estimado de preenchimento do mesmo é de 8 a 10 minutos.

Agradecemos antecipadamente a sua disponibilidade e colaboração.

1) 1. Sexo:

M

F

2) 2. Idade:

Até 24

25 a 34

35 a 44

45 a 54

55 a 64

Acima de 65

3) 3. Habilitações académicas:

Ensino Básico (até 4ª classe)

Ensino Preparatório (até 6º ano)

Ensino Secundário (até 9º ano)

Ensino Secundário (até 12º ano)

40

Page 41: Impacto do consumo de carne no meio ambiente

41

Page 42: Impacto do consumo de carne no meio ambiente

Anexo III-b

42

Page 43: Impacto do consumo de carne no meio ambiente

2º Inquérito sobre hábitos alimentares de consumo de carne

O presente inquérito insere-se na continuidade de um trabalho de investigação sobre o tema: Impacto do consumo da carne no meio ambiente, no âmbito da unidade curricular Comportamento Humano e Ambiente da Faculdade de Psicologia da Universidade de Lisboa (FP-UL).

Só deverá preencher este 2º Inquérito se respondeu ao 1º inquérito há 1 semana (aproximadamente).

O inquérito é anónimo, não tem respostas certas nem erradas, sendo solicitada unicamente a sua sinceridade.

O tempo estimado de preenchimento do mesmo é de 2 a 4’.

Agradecemos antecipadamente a sua disponibilidade e colaboração.

1) 1. Sexo:

M

F

2) 2. Idade:

Até 24

25 a 34

35 a 44

45 a 54

55 a 64

Acima de 65

3) 3. Habilitações académicas:

Ensino Básico (até 4ª classe)

Ensino Preparatório (até 6º ano)

Ensino Secundário (até 9º ano)

Ensino Secundário (até 12º ano)

43

Page 44: Impacto do consumo de carne no meio ambiente

Anexo IV-a

Resultados do 1º inquérito

Conhecimento específico sobre os impactos ambientais

Nada influente

Pouco influente

InfluenteMuito

influenteDe extrema influência

Emissão de gases nocivos 3% 18% 36% 28% 15%

Quantidade de água usada 2% 10% 37% 34% 17%

Poluição da água 1% 12% 33% 36% 18%

Desertificação dos solos 3% 15% 38% 28% 16%

Recursos naturais usados 1% 11% 43% 29% 15%

Média 2% 13% 37% 31% 16%

Intenção de redução do consumo de carne consoante impacto ambiental

44

Page 45: Impacto do consumo de carne no meio ambiente

Não reduziria o consumo

Reduziria para 8 a 11 refeições

Reduziria para 4 a 7 refeições

Reduziria para 1 a 3 refeições

Deixaria de comer carne

Emissão de gases nocivos 22% 3% 24% 29% 22%

Quantidade de água usada 20% 3% 23% 30% 24%

Poluição da água 19% 3% 22% 31% 26%

Desertificação dos solos 19% 4% 21% 30% 27%

Recursos naturais usados 21% 3% 21% 30% 25%

Pelos 5 impactos 16% 4% 21% 32% 27%

Média 19% 3% 22% 30% 25%

Opinião sobre a proposta nacional de privilegiar o não consumo de carne num dia da semana

Concordaria

Não concordaria

Seria indiferente

Emissão de gases nocivos 83% 6% 12%

Quantidade de água usada 85% 5% 11%

Poluição da água 86% 4% 10%

Desertificação dos solos 85% 4% 11%

Recursos naturais usados 85% 4% 11%

Pelos 5 impactos 88% 4% 8%

Média 85% 5% 11%

45

Page 46: Impacto do consumo de carne no meio ambiente

Dificuldade na redução do consumo de carne

Dificultaria imenso

Dificultaria bastante

Dificultaria um pouco

Não dificultaria

nada

Prazer em comer carne 12% 16% 39% 32%

Ter de aprender a cozinhar refeições sem carne 4% 14% 32% 50%

Reduzidas opções de escolha nos restaurantes 7% 18% 37% 38%

Prejuízo no convívio social 3% 8% 26% 63%

Vergonha de assumir a redução do consumo de carne

0% 0% 7% 93%

Receio de aumento da despesa com a alimentação 5% 14% 34% 48%

46

Page 47: Impacto do consumo de carne no meio ambiente

Anexo IV-bResultados do 2º inquérito

Influência das áreas de impacto ambiental, para quem reduziu o consumo de carne

Nada influente

Pouco influente Influente

Muito influente

De extrema

influência

Emissão de gases nocivos 22% 30% 27% 11% 10%

Quantidade de água usada 14% 31% 25% 19% 12%

Poluição da água 12% 22% 36% 15% 15%

Desertificação dos solos 12% 25% 36% 12% 15%

Recursos naturais usados 10% 27% 32% 17% 14%

Pelos 5 impactos 10% 17% 34% 21% 17%

Média 13% 25% 32% 16% 14%

Dificuldades sentidas na redução ou abstinência* do consumo de carne

Dificultou imenso

Dificultou bastante

Dificultou um pouco

Não dificultou

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Page 48: Impacto do consumo de carne no meio ambiente

nada

Prazer em comer carne 6% 3% 32% 59%

Ter de aprender a cozinhar refeições sem carne 3% 9% 34% 53%

Reduzidas opções de escolha nos restaurantes 5% 13% 37% 46%

Prejuízo no convívio social 1% 6% 21% 72%

Vergonha de assumir a redução do consumo de carne 1% 0% 5% 94%

Receio de aumento da despesa com a alimentação 2% 7% 27% 64%

Média 3% 6% 26% 65%

* Para o caso das pessoas que já não comiam carne antes de o estudo ser efectuado

Razões que impediram uma redução do consumo de carne

%

Prazer em comer carne 34%

Ter de aprender a cozinhar refeições sem carne 12%

Reduzidas opções de escolha nos restaurantes 15%

Prejuízo no convívio social 3%

Vergonha de assumir a redução do consumo de carne 1%

Receio de aumento da despesa com a alimentação 8%

Outra razão 27%

48

Page 49: Impacto do consumo de carne no meio ambiente

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Page 50: Impacto do consumo de carne no meio ambiente

Anexo V

Transcrições pessoais das outras razões mais significativas

para não ter havido uma redução do consumo de carne

“Marido gosta de carne e não estou para fazer 2 pratos diferentes nas poucas refeições que temos de carne."

“Não é um assunto neste momento da minha vida prioritário, pois acabei de fazer a mudança de cidade e acho que a última coisa que ia pensar neste momento era em alteração de hábitos alimentares.”

"Burrice."

"Receio em não ter uma alimentação variada."

"Como pouca carne, não tive necessidade de reduzir."

"Medo de anemia."

"O consumo moderado ou mesmo reduzido de carne e peixe é necessário à saúde do ser humano.”

"Indiferença, talvez por não me ter informado mais."

"Necessidade do organismo em comer carne."

"Do ponto de vista das intolerâncias alimentares que se verificam na família, não houve até agora alternativas que fossem viáveis! Por isso o tipo de alimentação que fiz, tive que manter os elementos principais."

"Neste momento já consegui reduzir até 7 vezes, será gradual (…). Vivo com a minha filha que é carnívora 100% e apesar de gostar muito de animais, não controla esse seu gosto de carne."

"Dificuldade de alterar hábitos alimentares de toda a família."

"Não ter tempo para fazer outro tipo de comida, acaba por ser mais rápido"

"Quase todos os pratos, incluem carne ou peixe"

"Porque já como pouca carne."

"Não me esforcei para qualquer redução, … (porque) … como muito pouca."

"Necessidade de alimentação variada"

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Page 51: Impacto do consumo de carne no meio ambiente

"O preenchimento do questionário 1, alertou-me para certas situações sobre a produção da carne para consumo, mas não foi suficiente para mudar os meus hábitos de consumo de carne. Penso é que a indústria deverá aperfeiçoar-se de forma a produzir mais e melhor, e com menor impacto no ambiente. "

"(Falta de) motivação para a mudança"

"Por fazer parte do habito alimentar e raras são as vezes que a consumo."

"Nenhuma em especial. Nem pensei nisso..."

"Estar integrada numa família com quem partilha as refeições e não ter vontade suficiente para uma tomada de decisão nesse domínio”

"Em casa os familiares consomem muita carne"

"A alimentação equilibrada deve conter carne."

"Nos dias em que almocei ou jantei na messe era sempre refeição de carne"

"No Exército não existem ementas vegetarianas"

"A carne é um alimento necessário ao corpo."

"Maior facilidade na confecção das refeições."

"Numa família (Pais e Filhos) o consenso é difícil!"

"Porque não sou eu quem decide as refeições."

"Impacto ambiental de menor expressão."

"Não há nenhuma razão que possa levar a deixar de comer carne. Se eu deixasse de comer as vacas não se iam extinguir e portanto elas para viver iriam usar na mesma recursos naturais, e por não acreditar nos dados do anterior questionário.”

"Já faço a minha cota parte na protecção do ambiente que outras pessoas nem sequer pensam em fazer, quanto mais por em prática. Em termos de saúde, de momento, não tenho nada que me impeça de comer carne."

"Eu não como muita carne, por isso não vi necessidade de nova redução.”

"Mudar os hábitos de muitos anos custa."

"Devido ao local onde me encontro e o que estou a fazer, não sou eu que faço as refeições, sendo na sua maioria carne.”

"Falta de empenho."

"Nenhuma em concreto. Hábito alimentar."

51

Page 52: Impacto do consumo de carne no meio ambiente

"Já como poucas vezes carne se reduzir ainda mais, há uma diminuição de ter uma dieta variada."

"Foi o que me deram para comer às refeições, não tinha outra escolha!!"

"Alteração dos hábitos alimentares."

"Porque não sou eu que cozinho em casa."

"Não considerar a redução do consumo (de carne) uma prioridade, nem uma opção."

"Ainda me é indiferente. Ficar dois meses sem comer carne não me choca, mas gosto de comer o que quero quando quero."

"Ter uma alimentação diversificada."

"Dificuldade em encontrar outras opções."

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Page 53: Impacto do consumo de carne no meio ambiente

Identificação do Grupo de Trabalho

Ana Paiva – nº 7965

A. Semião Contente – nº 7936

Cláudia Leitão – nº 7779

Inês Ribeiro – nº 7894

Pedro Garcia Lopes – nº 7486

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