Impacto dos desastres naturais sobre a saúde de crianças e ...

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i UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE INSTITUTO DE ESTUDO EM SAÚDE COLETIVA PÓS-GRADUAÇÃO EM SAÚDE COLETIVA Impacto dos desastres naturais sobre a saúde de crianças e adolescentes. Um estudo de caso. MARIANO ANDRADE DA SILVA Rio de Janeiro Maio/2015

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO

CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE

INSTITUTO DE ESTUDO EM SAÚDE COLETIVA

PÓS-GRADUAÇÃO EM SAÚDE COLETIVA

Impacto dos desastres naturais sobre a saúde de crianças e adolescentes.

Um estudo de caso.

MARIANO ANDRADE DA SILVA

Rio de Janeiro

Maio/2015

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO

CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE

INSTITUTO DE ESTUDO EM SAÚDE COLETIVA

PÓS-GRADUAÇÃO EM SAÚDE COLETIVA

Impacto dos desastres naturais sobre a saúde de crianças e adolescentes.

Um estudo de caso.

Dissertação de mestrado

apresentado ao Programa de Pós-

Graduação em Saúde Coletiva do

Instituto de Estudos de Saúde

Coletiva da Universidade Federal do

Rio de Janeiro, como parte dos

requisitos necessários à obtenção do

título de Mestre em Saúde Coletiva.

Orientadora: Profa. Carmen Ildes Rodrigues Fróes Asmus, MD, MsC, PhD

Rio de Janeiro

Maio/2015

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CIP - Catalogação na Publicação

Elaborado pelo Sistema de Geração Automática da UFRJ com os dados fornecidos pelo(a) autor(a)

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FOLHA DE APROVAÇÃO

MARIANO ANDRADE DA SILVA

Impacto dos desastres naturais sobre a saúde de crianças e adolescentes.

Um estudo de caso.

Dissertação de mestrado

apresentado ao Programa de Pós-

Graduação em Saúde Coletiva do

Instituto de Estudos de Saúde

Coletiva da Universidade Federal do

Rio de Janeiro, como parte dos

requisitos necessários à obtenção do

título de Mestre em Saúde Coletiva.

Aprovada em 05/05/2015

_____________________________________________________________

CARMEN ILDES RODRIGUES FRÓES ASMUS

PROFESSORA ADJUNTO DO INSTITUTO DE ESTUDOS EM SAÚDE

COLETIVA/UFRJ

_____________________________________________________________

GABRIEL EDUARDO SCHÜTZ

PROFESSOR ADJUNTO DO INSTITUTO DE ESTUDOS EM SAÚDE

COLETIVA/UFRJ

_____________________________________________________________

CARLOS MACHADO DE FREITAS

PESQUISADOR TITULAR DA ESCOLA NACIONAL DE SAÚDE PÚBLICA SÉRGIO

AROUCA (ENSP)

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v

AGRADECIMENTOS

À minha orientadora Profª. Drª. Carmen Ildes Fróes, pela imensa generosidade, dedicação,

compreensão e brilhantes contribuições teóricas e metodológicas. Obrigada por ter me

aceitado como seu orientando.

À toda equipe do Laboratório de Ensino a Distância (LABEAD/IESC), pela oportunidade e

formação de minha carreira profissional, por todo o apoio, companheirismo e carinho;

Às professoras Maria Imaculada Medina (Macu) e Maria Izabel Filhote. Agradeço ao carinho e

ensinamentos que levarei para minha vida.

Aos professores doutores Gabriel Eduardo Schütz, Carlos Machado De Freitas e Ronir

Raggio Luiz pelas grandes contribuições na banca de qualificação do projeto.

Aos professores da área Interfaces entre produção, ambiente e o processo saúde e doença

do IESC;

Aos funcionários do IESC/UFRJ, os quais foram solícitos quando precisei: Roberto Unger e

Sheila Ferreira da biblioteca, Fátima Gonçalves e Nadja Oliveira da secretaria do Programa

de Pós-Graduação do IESC/UFRJ.

À minha tia Ana Célia Pessoa, pelas horas de dedicação e auxílio na produção deste material.

Por último, mas não menos importante, agradeço aos meus pais, minha mãe Ana Maria, meu

pai Agilberto Pessoa pela pessoa que sou hoje e o amor incondicional em todos os momentos

de minha vida. Agradeço a toda minha família, tios, avó e namorada (Typhaine Prélaz) tão

importante e compreensiva nessa jornada.

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RESUMO

Impacto dos desastres naturais sobre a saúde de crianças e adolescentes.

Um estudo de caso.

Introdução: Ocorrências de eventos climáticos ou atmosféricos são evidenciados

em todas as regiões do mundo. Ameaças ou perigos dessa natureza e sua inter-relação

com a sociedade pode transformar tais eventos em desastres com graves consequências

na saúde e no funcionamento social. No Brasil foram registradas 31.909 ocorrências a partir

de 1990, nas quais, estima-se que mais de 96 milhões de pessoas foram afetadas. Crianças

e adolescentes são particularmente vulneráveis diante da complexidade apresentada

durante situações de emergência. Suas características motoras e seu desenvolvimento

biológico associadas às condições de vulnerabilidade socioambiental fazem com que este

grupo populacional seja mais vulnerável ao impacto dos desastres, demandando ações

específicas. Este trabalho traz uma abordagem dos aspectos conceituais que englobam o

entendimento das ameaças naturais e vulnerabilidade do grupo alvo frente a ocorrência de

desastres e seus riscos à saúde.

Objetivo: Analisar o impacto dos desastres naturais sobre a saúde de crianças e

adolescentes de 0 a 14 anos residentes no estado do Rio de Janeiro.

Material e Métodos: Estudo observacional do tipo seccional. A população sob estudo

constitui-se da população de 0-14 anos atingida por desastres naturais no estado do Rio de

Janeiro no período de 2000 a 2012. Por meio de análise exploratória dos dados, buscou-

se verificar as prevalências, na população alvo, das variáveis de desfecho estudadas.

Resultados: Os municípios do estado do Rio de Janeiro decretaram situação de

emergência (SE) ou estado de calamidade pública (ECP) 312 vezes devido a desastres

naturais de natureza distinta. Mais de 5 milhões de pessoas foram afetadas no Estado,

sendo 1.429.905 (28%) menores de 15 anos. Crianças e adolescentes foram

proporcionalmente mais afetados que adultos. Inundação brusca e movimento de massa

determinaram a ocorrência dos desfechos de maior gravidade na população. Inundação

gradual está caracterizado por desfechos menos graves.

Conclusão: A análise dos dados sugere que crianças e adolescentes residentes do estado

do Rio de Janeiro constituem um grupo populacional mais vulnerável ao impacto dos

desastres.

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ABSTRACT

Impact of natural disasters on children and adolescents health.

Case study.

Introduction: Weather or atmospheric events are reported in every region of the world. In

Brazil 31.909 events were registered since 1990. It is estimated that more than 96 million

people were affected by those events. Children and adolescents are particularly vulnerable

when facing complex emergency situations. The characteristics of stage of biological

development combined with socio-environmental drawbacks make this population group

more vulnerable to disasters with major impact on their health. Therefore specifics actions

are needed for this population group. This work brings an approach of the conceptual

aspects that encompass the understanding of the natural threats and vulnerabilities of the

target group regarding the occurrence of disasters and their health risks.

Objective: To analyse the impact of natural disasters on the health of children and

adolescents from 0 to 14 years old living in Rio de Janeiro State, Brazil.

Material and methods: Observational, cross-sectional study. The population under study

consisted of the population from 0 to 14 years old affected by natural disaster in Rio de

Janeiro State from 2000 to 2012. By means of an exploratory data analysis, it was aimed to

verify the frequency of defined outcome variables in the target population.

Results: The municipalities of State have enacted 312 times emergency situation (SE) or

situation of public disaster (ECP) due to natural disaster of different Rio de Janeiro natures.

More than 5 million people where affected in the State, 1.429.905 (28%) whom were less 15

years old. Children and adolescents were proportionally more affected than adults. Sudden

flood and mass movements resulted in the most severe impact on children and young

people. Gradual flood is characterized by less serious impacts.

Conclusion: The analysis of the data suggests that children and adolescents living in Rio

de Janeiro State constitute a population group that is more vulnerable to disaster impact.

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Quadro 1 - Classificação dos desastres, segundo a Política Nacional da Defesa

Civil, (Brasil, 2007). .......................................................................................... 11

Quadro 2 - Relação da vulnerabilidade de acordo com a idade específica da

população infantil ............................................................................................. 35

Quadro 3 - Registros de danos humanos. Período: 1991 a 2010. ................... 62

Quadro 4 _ Renda per capita média da população vulnerada à pobreza, no ano

de 2010 ............................................................................................................ 80

Quadro 5 - Porcentagem populacional nas categorias de pobreza, nos anos

2000 e 2010. .................................................................................................... 81

Quadro 6 - Porcentagem populacional infantil nas categorias de pobreza, nos

anos 2000 e 2010. ............................................................................................ 81

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Figura 1- - Evolução do número de ocorrências de desastres naturais. .......... 12

Figura 2 -- Número de vítimas e ocorrências de desastres no período de 1990 a

2012. ................................................................................................................ 14

Figura 3 -Total de desastres registrados no Brasil, no período de 1991 a 2010.

......................................................................................................................... 18

Figura 4 - Percentual de desastres naturais mais recorrentes no estado do Rio

de Janeiro, no período de 1991 a 2010. ........................................................... 22

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Tabela 1- Os principais tipos de desastres registrados no Brasil no período de

1991 a 2010 com número de afetados, morbidade e expostos por tipo de

evento. ............................................................................................................. 17

Tabela 2- Número de registros segundo os desfechos observados e faixa

etária, no período de 2000 a 2012. Estado do Rio de Janeiro. ........................ 47

Tabela 3- Frequência anuais segundo os desfechos analisados na faixa etária

de 0-14 anos, no Estado do Rio de Janeiro. Período: 2000 a 2012. ............... 49

Tabela 4 - Efeitos saúde decorrentes de desastres naturais na população de 0-

14 anos, no estado do Rio de Janeiro. Período de 2000 – 2012...................... 50

Tabela 5-– Proporção da categoria “afetados” por grupo etário e ano de estudo

(2000 a 2012) no estado do Rio de Janeiro. .................................................... 51

Tabela 6- - Registros segundo desfechos analisados/ tipo de desastres na faixa

etária de 0-14 anos, período de 2000 a 2012, no estado do Rio de Janeiro. ... 52

Tabela 7 - Registros de ocorrência nas mesorregiões do estado do Rio de

Janeiro, no período 2000 a 2012. ..................................................................... 52

Tabela 8 - Registros de ocorrência dos tipos de desastres analisados nas

mesorregiões do estado do Rio de Janeiro, nos anos 2000 - 2012. ................ 53

Tabela 9 - Frequência de ocorrência das categorias estudas da população de

0-14 anos nas mesorregiões do estado, do ano 2000 a 2012. ........................ 55

Tabela 10 - Analise de correlação do índice de GINI municipal e os registros de

afetados na população de 0-14 anos, durante o período de estudo. ............... 56

Tabela 11 - Domicílios particulares em aglomerados subnormais, por

características topográficas, período de 2010. ................................................. 68

Tabela 12 - Taxa de crescimento populacional acumulada nos períodos de

1991/2000/2010. .............................................................................................. 72

Tabela 13 - Divisão populacional entre áreas urbanas e rural do estado do Rio

de Janeiro, nos períodos 1991/2000/2010. ...................................................... 73

Tabela 14 - Taxa de crescimento populacional acumulada entre áreas rurais e

urbanas no estado do Rio de Janeiro, nos anos 1991/2000/2010. .................. 74

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Tabela 15 - Situação censitária nas mesorregiões do estado do Rio de Janeiro,

ano 2010. ......................................................................................................... 76

Tabela 16 - Situação censitária da população infantil de 0-14 anos nas

mesorregiões do Estado, no ano de 2010. ....................................................... 77

Tabela 17- Renda per-capita da população fluminense nos anos 1991/2000/ e

2010. ................................................................................................................ 79

Tabela 18 - distribuição da renda adquirida pelos quintis de renda da população

fluminense no ano de 2010 .............................................................................. 80

Tabela 19 - Proporção de crianças a partir do rendimento familiar per-capita,

nos anos de 2000 e 2010. ................................................................................ 82

Tabela 20- Proporção de crianças em domicílios em que ninguém tem o ensino

fundamental completo, nos anos de 2000 e 2010. ........................................... 83

Tabela 21- Proporção de crianças fora da escola de acordo com a idade, nos

anos 2000 e 2010. ............................................................................................ 84

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Sumário

1. -Introdução: .......................................................................................... 6

-Revisão bibliográfica ..................................................................... 9

2.1-Desastres ....................................................................................... 9

2.2-Cenário Internacional ................................................................... 12

2.3-Cenário Nacional .......................................................................... 16

2.4- Estado do Rio de Janeiro (ERJ) .................................................. 18

2.4.1-A Defesa Civil do Estado ........................................................... 23

2.5-Produção X Ambiente ................................................................... 26

2.6 – Risco e Desastres .................................................................. 28

2.7-Vulnerabilidade ............................................................................. 30

2.8- Grupos Vulneráveis ..................................................................... 32

2.8.1-Vulnerabilidade Infantil ........................................................... 34

-Justificativa .................................................................................. 39

3.1Hipótese ........................................................................................ 41

-OBJETIVO GERAL ...................................................................... 41

4.1- OBJETIVOS ESPECÍFICOS ....................................................... 41

-METODOLOGIA .......................................................................... 42

6. RESULTADOS ............................................................................. 45

7. DISCUSSÃO................................................................................. 57

CONCLUSÃO ............................................................................... 85

9. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ............................................. 87

1. Anexo I ................................................................................... 96

Page 13: Impacto dos desastres naturais sobre a saúde de crianças e ...

6

1. -Introdução:

A ocorrência frequente de desastres de grande magnitude, principalmente

a partir dos anos 70, contribuiu para que houvesse mudança na forma de pensar

e lidar com a problemática. Antes considerados apenas como eventos

excepcionais da natureza, os efeitos negativos sobre a população, ambiente e o

patrimônio público ou privado levaram os governos a mudarem seus

paradigmas. Os desastres, principalmente os naturais, passaram a ser vistos

pelos pesquisadores e órgãos governamentais como consequência direta de um

desenvolvimento insustentável, influenciados especialmente por ingerência

política e inexistência de planejamento urbano.

Parte dos desastres naturais ocorre como consequência dos impactos de

eventos climáticos, que fazem parte dos ciclos da terra (PNUMA, 1995). A outra

parte é atribuída à influência da intervenção humana na natureza. Essas

intervenções nem sempre são criteriosas e tendem a promover ações

prejudiciais ao ambiente e ao homem, aumentando a intensidade, magnitude e

frequência com que ocorrem os impactos dos eventos climáticos naturais

(KOBIYAMA, , et al., 2006).

Em outras palavras, um evento climático não será necessariamente um

desastre, para tal, ele deverá afetar o cotidiano de determinada sociedade

(KOBIYAMA, , et al., 2006). O termo desastre costuma ser aplicado a um

fenômeno natural, combinado com seus efeitos nocivos. Desastres de origem

natural como os ciclones, tornados, enchentes, furacões, ondas de calor ou frio

e secas estão relacionados com distúrbios do clima (OFDA/CRED, 2013). Já as

inundações, deslizamentos, desmoronamentos e enxurradas são também

influenciados pelas características regionais, tais como solo, tipo de rocha,

urbanização, condições meteorológicas, entre outros (KOBIYAMA, , et al., 2006)

Desastres naturais são evidenciados em todas as regiões do mundo.

Enchentes, inundações e tormentas tropicais são as ocorrências mais comuns,

sendo os maiores registros observados no continente Asiático. Secas e

estiagens são registradas em menor número, exceto no continente africano,

onde comprova-se um padrão crônico para este tipo de evento (CRED, 2013).

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7

Os grandes desastres naturais são caracterizados por registrar um

número elevado de óbitos, além de afetarem a vida de uma grande parcela da

população. Por exemplo, para cada pessoa que morre em um terremoto, mais

de 19 mil pessoas podem ser atingidas por consequência deste evento (THE

WORLD BANK, 2013).

No Brasil foram registradas 31.909 ocorrências a partir de 1990. Deste

total, apenas 8.671 são atribuídos à última década do século passado. O restante

(23.238) é imputado à primeira década do século XXI. Nesses 20 anos estima-

se que mais de 96 milhões de pessoas foram afetadas de algum modo.

Comparando essas duas décadas, verifica-se um aumento de 73% nas

ocorrências. Estiagens e secas são os eventos que mais atingem a população

brasileira (53%), mas os desastres geofísicos são responsáveis pelo maior

número nos registros de óbito (CEPED/SC, 2012).

Algumas regiões foram mais afetadas em função da magnitude dos

fenômenos e da vulnerabilidade do sistema social (MARCELINO, 2008). Os

desastres abarcam zonas e grupos vulneráveis em diferentes magnitudes,

diferenciando-se o impacto de acordo com as condições econômicas, sanitárias

e sociais em que a população vulnerada se encontra. A identificação dessas

particularidades em um dado território deve ser usada para melhorar a gestão

do risco, da assistência humanitária em saúde e a aplicação dos recursos

(OPAS, 2000).

A vulnerabilidade humana é definida levando em conta diversos fatores,

permitindo ser calculada a partir do grau de exposição dos segmentos sociais,

famílias, comunidades e sociedades frente a uma ameaça. Em outras palavras,

a vulnerabilidade é uma condição promovida pelos modos de produção de um

determinado grupo social ou comunidade (BLAIKIE, P. ET AL., 1996).

ALCÁNTARA-AYALA (2002) considera a vulnerabilidade como fruto da relação

entre os sistemas naturais e humanos. Este autor divide vulnerabilidade natural,

que trata de áreas propensas naturalmente à terremotos, inundações, tsunamis

e furacão, e vulnerabilidade humana, que é retrato dos sistemas sociais,

econômicos e culturais.

Diante desta perspectiva, pode-se inferir que alguns grupos populacionais

são mais vulneráveis que os demais. Crianças e adolescentes são

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8

particularmente vulneráveis diante da complexidade apresentada durante

situações de emergência. Este grupo é o primeiro e o mais afetado dentre os

demais, sendo rotineiramente os números mais expressivos no total de vítimas

(MOSS ET AL, 2006).

O Brasil, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE,

2013), possui 24% do total de habitantes residentes na faixa etária de 0-14 anos.

O estado do Rio de Janeiro, apresentou 2.328.255 milhões de pessoas entre 0

a14 anos, percentual equivalente a 23 % do total da população.

Considerando o acima exposto, objetivamos avaliar o impacto da

ocorrência de desastres naturais no estado do Rio de Janeiro, na população

entre 0 e 14 anos, entre os anos de 2000 a 2012. Tendo por base a discussão

das características de vulnerabilidade socioambiental associadas a este grupo

etário.

Page 16: Impacto dos desastres naturais sobre a saúde de crianças e ...

9

-Revisão bibliográfica

2.1-Desastres

Existe consenso na comunidade acadêmica que a dissertação de Samuel

Príncipe (1920) sobre a explosão Halifax, ocorrida em 1917 no Canada, foi o

primeiro estudo sobre desastres realizado no mundo. Uma década depois, Carr

(1932) foi o primeiro a descrever as catástrofes como uma alteração significativa

da vida social. O aumento no número deste tipo de estudos sobre a ocorrência

de desastres ocorreu a partir da década de 1950, principalmente, com a criação

do Centro de Pesquisa de Desastres (DRC- Disaster Research Center), na

Universidade do estado americano de OHIO, no ano de 1963. O campo de

estudo se consolidou a partir da década de 1970 (Perry, 2007 in Rodríguez, et al

2007).

O Glossário da Defesa Civil Nacional define os desastres como:

“Resultado de eventos adversos, naturais ou provocados pelo homem, sobre

um ecossistema (vulnerável), causando danos humanos, materiais e/ou

ambientais e consequentes prejuízos econômicos e sociais”. Onde, “a

intensidade de um desastre depende da interação entre a magnitude do evento

adverso e o grau de vulnerabilidade do sistema receptor afetado” (CASTRO,

1998)

A Agência das Nações Unidas, “United Nations Office for Disaster Risk

Reduction” (UN-ISDR) define os desastres como “uma perturbação grave do

funcionamento normal de uma comunidade ou sistema, cujos efeitos nas

pessoas, assim como as perdas e danos materiais ou ambientais, superam a

capacidade de resposta e a recuperação dessa comunidade” (UN-ISDR, 2009).

Como podemos perceber, o desastre é o resultado de um perigo, seja ele

natural, como exemplo, o padrão de ocorrência climático regional, ou derivado

dos riscos de uma área produtiva. Dessa forma, compreende-se que o evento

ou perigo deve ser entendido como os fenômenos causadores do desastre.

Page 17: Impacto dos desastres naturais sobre a saúde de crianças e ...

10

Assim, a intensidade de um desastre depende da interação entre a magnitude

do evento adverso e o grau de vulnerabilidade do sistema receptor afetado

(CASTRO, 1998).

Para Freitas et al., (2014) a ocorrência de desastres naturais é resultado

da interação entre: 1- a ocorrência de um evento; 2- existência de uma população

exposta; 3- condições de vulnerabilidade social e ambiental; 4- insuficiente

capacidade de resposta frente a ocorrência.

O ponto crucial para entender os desastres é que este conceito não se

refere exclusivamente aos eventos naturais climáticos. Eles também são produto

de uma realidade socioambiental, política, econômica e cultural, derivada da

organização e estrutura de vida dos diferentes grupos de pessoas residentes na

localidade, assim como os perigos afetam pessoas de diversas maneiras e com

diferentes intensidades (ALCÁNTARA-AYALA, 2002). Portanto, a

vulnerabilidade é resultado das características sociais e geológicas presentes

em uma região, determinando assim o grau de magnitude do desastre perante a

resiliência das populações afetadas (BLAIKIE, P. ET AL., 1996).

Para que um perigo, identificável no tempo e no espaço, seja considerado

um desastre, este deve promover um impacto identificável na comunidade

afetada, alterando a normalidade de seus hábitos cotidiano e resultando em

vidas perdidas ou danos nas propriedades públicas e privadas, atingindo,

principalmente, os serviços básicos e impedindo o cumprimento das atividades

triviais da sociedade. No consenso geral, o conceito de desastre é entendido

como um perigo que gera prejuízos materiais e perdas humanas devido ao seu

impacto (WISNER, ET AL., 2003).

Neste tocante a Organização Pan-americana de Saúde (OPAS, 2014)

ressalva a importância de considerar as características dos desastres que

podem ser intensivos ou extensivos. Os desastres intensivos possuem padrão

mundial de ocorrência reduzida, porem são geograficamente concentrados e

caracterizados pelo alto potencial de perdas, danos e mortes associado. Já os

desastres extensivos são os mais comuns e correspondem a 95% de todos os

desastres registrados no mundo. Os desastres extensivos são caracterizados

por causarem baixa severidade de perdas e danos, no entanto, apresentam altas

frequências de eventos.

Page 18: Impacto dos desastres naturais sobre a saúde de crianças e ...

11

A classificação do Sistema Nacional de Defesa Civil (SINDEC) destaca

três categorias de desastres: naturais; humanos ou antropogênicos; e mistos.

Também os classifica quanto a sua evolução e intensidade (quadro 1) (BRASIL,

2007). Salientamos que tal classificação é fundamentalmente consolidado por

meio de uma análise economicista.

Quadro 1 - Classificação dos desastres, segundo a Política Nacional da Defesa Civil, (Brasil, 2007).

CLASSIFICAÇÃO DOS DESASTRES

Evo

luçã

o

Desastres súbitos: caracterizam-se pela velocidade com que o processo evolui, assinalados por eventos de grandes magnitudes e ocorrência súbita. Exemplos: enxurrada com inundações, vendavais e deslizamentos de encostas.

Desastres graduais: caracterizados por evoluírem progressivamente, assinalados com atenuação de seus efeitos de forma gradual. Exemplo: secas, enchentes cíclicas de bacias hidrográficas

Desastres por somação de efeitos parciais: caracterizam-se pela soma de eventos de pequeno porte ou acidentes que ocorrem em consequência de uma causa comum. Exemplo: desastres rodoviários, acidente no transporte de cargas perigosas.

INTE

NSI

DA

DE

Nível Intensidade Situação

I Desastres de pequeno porte, também chamados de acidentes, onde os impactos causados são pouco importantes e os prejuízos pouco vultuosos (menores que 5% do PIB municipal).

Facilmente superáveis com os recursos do município.

II De média intensidade, no qual os impactos são de alguma importância e os prejuízos são significativos, embora não sejam vultuosos (entre 5% e 10% do PIB municipal).

Superável pelo município, desde que envolva uma mobilização e administração especial.

III De grande intensidade, com danos importantes e prejuízos vultuosos (entre 10 e 30% do PIB municipal).

A situação de normalidade pode ser restabelecida com recursos locais, desde que complementados com recursos estaduais e federais. (Situação de Emergência – SE).

IV De muito grande intensidade, com impactos muito significativos e prejuízos muito vultuosos (prejuízos maiores que 30% do PIB municipal).

Não é superável pelo município sem que receba ajuda externa. Eventualmente, necessita de ajuda internacional (Estado de Calamidade Pública – ECP).

OR

IGEM

Desastres naturais: aqueles provocados por fenômenos e desequilíbrios da natureza. São produzidos por fatores de origem externa que atuam independentemente da ação humana e subdivididos em 3 (três) grupos:

•Desastres naturais relacionados com a geodinâmica terrestre externa. Exemplos: vendavais, tempestades, nevascas. •Desastres naturais relacionados com a geodinâmica terrestre interna. Exemplos: terremotos e vulcões. •Desastres de origem sideral. Exemplos: meteoritos e cometas.

Page 19: Impacto dos desastres naturais sobre a saúde de crianças e ...

12

Desastres Humanos ou Antropogênicos: aqueles provocados pelas ações ou omissões humanas, causando grandes danos à natureza, ao habitat humano e ao próprio homem. Podem ser de natureza social, biológica ou tecnológica. Exemplo: acidentes de trânsito.

Desastres Mistos: ocorrem quando as ações e/ou omissões humanas contribuem para intensificar, complicar ou agravar os desastres naturais. Além disso, caracterizam-se também pela interação de fenômenos adversos naturais sobre condições ambientais degradadas pelo homem que provocam desastres.

Fonte: Adaptado de (KOBIYAMA, , et al., 2006) e Sistema Nacional de Defesa Civil (SINDEC). (BRASIL, 2007)

2.2-Cenário Internacional

Nas últimas décadas verifica-se um aumento da ocorrência de desastres

naturais no mundo (Figura 1). A partir da década de 70, conforme destaca

Tominaga, et al. (2009), o número de registros elevou-se de uma média anual

de 50 para 350 registros, em 2008, tendo sido registrado o pico de 500 eventos

no ano de 2005.

Figura 1- - Evolução do número de ocorrências de desastres naturais.

Fonte: (OFDA/CRED, 2013)

Page 20: Impacto dos desastres naturais sobre a saúde de crianças e ...

13

Nesse período, a China, os Estados Unidos, a Filipinas, a Índia e a

Indonésia constituem, juntos, os 5 países mais atingidos por desastres naturais

(OFDA/CRED, 2013). Do total de desastres registrados no mundo, 36,5%

estiveram concentrados em 8 países da América Latina, sendo o México e o

Brasil os mais afetados deste grupo (HADDAD, ET AL., 2011).

No ano de 2013, desastres naturais foram registrados 330 vezes,

frequência menor do que as observadas no período de 2003 a 2012, quando,

em média, ocorreram 388 eventos por ano (Figura 2). Neste ano, China, Estados

Unidos, Indonésia, Filipinas e Índia permaneceram como os 5 principais países

afetados. A China experimentou seu maior número de desastres naturais da

última década. O país foi atingido por 17 inundações e deslizamentos de terra,

15 tempestades, 1 terremoto, 7 movimentos de massa de origem geológica, uma

seca e um período de temperaturas extremas (CRED, 2014).

Entretanto, em 2013, houve redução significativa no número de óbitos

(21.610) em relação à média anual entre 2003-2012 (106.654). Foram afetadas

em todo o mundo 96,5 milhões de pessoas, também abaixo da média anual no

período de 2003-2012, que foi de 216 milhões de pessoas afetadas por ano. Os

danos econômicos foram estimados em 118 bilhões dólares (CRED, 2014).

Page 21: Impacto dos desastres naturais sobre a saúde de crianças e ...

14

Figura 2 -- Número de vítimas e ocorrências de desastres no período de 1990 a 2012.

Fonte: (CRED, 2014).

Entre os 10 países com maiores taxas de mortalidade por desastres, cinco

países são classificados como economias em desenvolvimento. Filipinas e Índia

responderam por 88% da mortalidade mundial relatada em 2013. Em apenas

dois desastres registrou-se mais de 10.000 vítimas: o ciclone Haiyan nas

Filipinas, em novembro (7.354 mortes) e inundações na Índia (6.054 mortes)

(CRED, 2014).

A redução do número de desastres ocorrida em 2013, em comparação

aos anos 2003-2012, foi, principalmente, devido a um número menor de eventos

hidrológicos e climatológicos, 18% e 45% abaixo da sua média de ocorrência

anual, respectivamente. Desastres hidrológicos representaram a maior parte das

ocorrências de desastres naturais em 2013 (159 - 48,2%), seguidos por

desastres meteorológicos (106 - 32,1%) climatológicos (33 - 10%)e geofísicos

(32 - 9,7%) (CRED, 2014).

O ano de 2013 registrou o maior número de pessoas mortas por

inundações (9.819) da década, sendo o número de mortos por tempestades

(8.583) o segundo mais alto. As mortes por inundações representaram 45,4% da

Page 22: Impacto dos desastres naturais sobre a saúde de crianças e ...

15

mortalidade global por desastres no ano, enquanto as mortes por tempestades

representaram 39,7% (CRED, 2014).

Quanto à distribuição geográfica dos desastres, a Ásia foi o continente

mais atingido por desastres naturais, em 2013 (40,7%), seguida das Américas

(22,2%), Europa (18,3%), África (15,7%) e Oceania (3,1%). Esta distribuição

regional da ocorrência de desastres repete o perfil observado no período de 2003

a 2012. Em 2013, a ocorrência de desastres na Ásia (156) foi semelhante a

média anual no período passado (155). Inversamente, as ocorrências de

desastres foram abaixo da média na África (-38,6%), Oceania (-26,2%),

Américas (-19,8%) e Europa (-17,7%) (CRED, 2014).

Alcántara-ayala (2002) salienta que, apesar do padrão de distribuição

mundial dos desastres não estar caracterizado pelas condições econômicas da

região, a distribuição das mortes causadas por estes eventos está.

Mundialmente 95% de todas as mortes causadas pelos desastres foram

registradas nos países que apresentaram desenvolvimento tardio. Segundo

Freitas et al. (2012), mais de 3,3 milhões de óbitos ocorreram nos países mais

pobres e em desenvolvimento e a cada ano mais de 226 milhões de pessoas

são afetadas pelos desastres naturais.

Diferenças nos registros de ocorrência entre os países sugerem que

alguns países possuem políticas de prevenção mais eficientes que os demais.

Por exemplo, o contraste entre o número de mortos no Haiti e República

Dominicana, países que compartilham território semelhante na mesma ilha e

sofrem com os mesmos tipos de ocorrência (tempestades, terremotos, etc.)

indicam uma realidade onde os desastres e seus danos são influenciados ou

amenizados pela estrutura de proteção social presente no território (THE

WORLD BANK, 2013). Ou seja, políticas governamentais são capazes de reduzir

os danos resultantes de um evento, mesmo em países pobres, onde as

características dos perigos existentes em um determinado território não podem

ser alteradas.

Page 23: Impacto dos desastres naturais sobre a saúde de crianças e ...

16

2.3-Cenário Nacional

No Brasil, os principais desastres naturais são derivados de distúrbios

climáticos, sob influencias de elevados volumes de precipitações ou ausência,

tais como, inundações e enchentes, secas e estiagens, escorregamentos de

solos e/ou rochas e tempestades (tabela-2). Os desastres hidrológicos são,

proporcionalmente, os eventos mais danosos à população e ocorrem,

normalmente, como resultado de eventos pluviométricos intensos e prolongados

(KOBIYAMA, , et al., 2006). No entanto, as ocorrências mais frequentes são

decorrentes de distúrbios climatológicos como, secas e estiagem. Tais

ocorrências possuem perfil crônico no centro oeste brasileiro e no semiárido

nordestino, representando 52% dos eventos registrados entre 1991 e 2010

(CEPED, 2012) (tabela 1).

Segundo Marcelino (2008), do total de desastres registrados para o Brasil,

84% ocorreram a partir da década de 70. O Brasil encontra-se entre os países

do mundo mais atingidos por inundações e enchentes1, tendo registrado 94

eventos no período de 1960 a 2008, com 5.720 mortes (TOMINAGA, ET AL.,

2009). Considerando somente os desastres hidrológicos que englobam

inundações, enchentes e movimentos de massa, em 2008 o Brasil esteve em

10º lugar entre os países do mundo em número de vítimas, com 1,8 milhão de

pessoas afetadas (OFDA/CRED, 2009).

Os municípios mais atingidos por desastres naturais localizam-se nos

estados de São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Espírito Santo, Santa

Catarina, Paraná, Bahia, Pernambuco, Alagoas, Sergipe, Paraíba e Ceará

(KOBIYAMA, , et al., 2006)

1 A inundação é definida pelo Manual de Desastre Natural como “um transbordamento de água proveniente de

rios, lagos e açudes, cuja principal causa é a precipitação anormal de água que, ao ocorrer o transbordamento dos leitos dos rios, lagos, canais e áreas represadas, invadem os terrenos adjacentes, provocando danos”.

Estas áreas planas próximas aos rios sobre as quais as águas extravasam são chamadas de planícies de inundação. São também áreas de preservação permanentes (APP), geralmente ocupadas indevidamente. Entretanto, na ocorrência de elevação do nível do rio, sem que o mesmo extravase seu leito, tem-se uma enchente, e não uma inundação. Por essa razão, os termos “inundação” e “enchente” devem ser usados com distinção.

Page 24: Impacto dos desastres naturais sobre a saúde de crianças e ...

17

Tabela 1- Os principais tipos de desastres registrados no Brasil no período de 1991 a 2010 com número de afetados, morbidade e expostos por tipo de evento.

DESASTRE TOTAL DE EVENTOS

AFETADOS MORTALIDADE MORBIDADE

Categoria Tipo de evento 28.601.719

(29.7%) 1.106

(32.4%) 157.621

(32.4%)

Hidrológico (33.3%)

Inundação brusca e alagamento

6.771 (21.7%)

Inundação gradual 3.673 (11.7%)

10.234.538 (10.6%)

461 (13.5%)

150.953 (31%)

Climatológico (57.1%)

Estiagem e seca 16.444 (52.4%)

48.436.605 (50.3%)

257 (7.5%)

163.110 (33.5%)

Granizo 1.329 (4.2%)

1.262.235 (1.3%)

26 (0.7%)

3.378 (0.7%)

Geada 28 (0%)

115.077 (0.12%)

0 (0%)

347 (0.07%)

Incêndio florestal 109 (0.4%)

54.164 (0.05%)

0 (0%)

748 (0.15%)

Meteorológico

(7.3%)

Vendaval e/ou ciclone 2.249 (7.2%)

4.067.232 (4.2%)

156 (4.5%)

4.654 (1%)

Tornado 41 (0.1%)

53.157 (0.05%)

5 (0.1%)

303 (0.06%)

Geofísico ou Geológico

(2.3%)

Movimento de massa 454 (1.4%)

2.113.098 (2.2%)

1.397 (41%)

2.492 (0.5%)

Erosão linear 125 (0.4%)

1.245.481 (1.3%)

3 (0.08%)

2.933 (0.6%)

Erosão fluvial 85 (0.3%)

84.036 (0.08%)

3 (0.08%)

8 (0%)

Erosão marinha 61 (0.2%)

101.444 (0.1%)

0 (0%)

97 (0.02%)

TOTAL 31.369 96.368.786 3.414 486.644

Fonte: (CEPED/SC, 2012)

Page 25: Impacto dos desastres naturais sobre a saúde de crianças e ...

18

O aumento no número de desastres observado na figura 3 pode ser justificado

pelo acentuado processo de urbanização, muitas vezes ocasionado pelo assentamento

populacional em áreas de risco (TOMINAGA, ET AL., 2009). Entretanto, deve-se levar

em consideração a fragilidade dos sistemas de registros, presentes antes do ano 2000,

ocorrendo, provavelmente, sub-registro para este período (CEPED/SC, 2012).

Figura 3 -Total de desastres registrados no Brasil, no período de 1991 a 2010.

Fonte: (CEPED/SC, 2012)

2.4- Estado do Rio de Janeiro (ERJ)

O (ERJ) pertence à Região Sudeste do Brasil, e localiza-se entre os paralelos

20ºS e 23ºS e os meridianos 40ºW e 44ºW. O Estado apresenta uma extensão territorial

de 43.696,054 km². Ao todo possui 92 municípios que de acordo com suas

características geográficas são divididos em sete mesorregiões, Sul Fluminense, Rio

de Janeiro, Centro Fluminense, Norte Fluminense, Noroeste Fluminense com uma

população de 1.062.237, 12.578.485, 481.357, 849.515 e 317.493 habitantes,

respectivamente (METRÓPOLES, 2010). Os melhores indicadores econômicos são

encontrados na região Metropolitana e Norte Fluminense e os piores se encontram na

região Noroeste Fluminense.

Page 26: Impacto dos desastres naturais sobre a saúde de crianças e ...

19

Mapa 1 - Estado do Rio de Janeiro - Regiões

Fonte: (METRÓPOLES, 2010)

O relevo do ERJ tem acentuada variação, apresentando desde escarpas

elevadas a planícies, além de um extenso planalto que ocorre ao oeste do território. No

estado encontram-se duas principais unidades de relevo, denominadas baixada

Fluminense e planalto Fluminense; a primeira, ao longo da costa atlântica, ocupa

praticamente metade do território estadual, e a segunda se estabelece no interior do

mesmo (CEPED/SC, 2012).

Os regimes pluviométricos, de outubro a março, sendo esta a estação chuvosa,

são de 70% a 80% do total registrado. A estação seca ocorre entre os meses de abril

a setembro, com 20% a 30% do índice pluviométrico anual. O relevo fluminense

apresenta influência marcante no regime de precipitação. Na área de relevo mais plano,

ao leste do Estado, a média de chuvas anuais é de 1.250 mm. Já entre a baixada

Fluminense e o planalto, áreas de intenso uso antrópico, a média é de aproxima-

damente 2.200 mm ao ano. Nos planaltos prevalece o clima tropical de altitude, com os

índices pluviométricos variando de 1.500 a 2.000 mm anuais. Os ambientes

Page 27: Impacto dos desastres naturais sobre a saúde de crianças e ...

20

fluminenses onde se instala a Floresta Ombrófila Densa, possuem precipitações em

torno de 1.500mm, sem período seco (CEPED/SC, 2012).

O Estado apresenta população de 16.369.179 habitantes, destes 3.390.697 são

representados por crianças e adolescentes de 0 a 14 anos (21%), crianças menores de

5 anos de idade representam 7.5% do total e crianças de 6-14 anos 13.7% do total.

Mais de dois milhões de pessoas residem em aglomerados subnormais (favelas)

representando 14% do total (2.023.744) sendo que 27% desta parcela é composto de

crianças de 0-14 anos, montante equivalente a 18% das crianças do estado (IBGE,

2013).

A situação habitacional é variada, 96,7% da população é urbana e 3,3% rural.

Crianças urbanas <5 anos representam 7,5% e >5 anos representam 13,6%. Já no

meio rural, crianças <5 anos representam 8,4% e >5 anos representam 15,9%. (IBGE,

2013).

A densidade demográfica do Estado é de 365,23 hab/km² e no período analisado,

a população apresentou taxa de crescimento de 3,13% (IBGE, 2012). A região das

Baixadas Litorâneas foi a que apresentou maior crescimento populacional, quase 4%

ao ano. A região Norte Fluminense apresentou crescimento populacional de 2,05%,

enquanto a região Sul cresceu 1,3%. As demais regiões do Estado, inclusive a

metropolitana, apresentaram crescimento abaixo de 1% ao ano (METRÓPOLES,

2010).

O estado do Rio de Janeiro é a segunda unidade da federação em relação ao

Produto Interno Bruto que foi de R$ 462.376 milhões em 2011, com crescimento real

de 2,1% em 2011 e 4,5% em 2010 (METRÓPOLES, 2010). O ERJ respondeu em 2011

por 11,2% do PIB do país, sendo superado apenas por São Paulo (32,5%) e seguido

por Minas Gerais (9,4%). Sua renda per capita foi de R$ 28.696,42, inferior, apenas a

do Distrito Federal (R$ 63.020,02) e a de São Paulo (R$ 32.449,06) (CEPERJ, 2011).

Em relação a distribuição de renda no estado, o índice de Gini médio é de 0,50,

(limite superior é de 0,53 e o inferior é de 0,48). No estado, 32% da população é definida

como famílias pobres e ou de renda inferior a linha de pobreza (IBGE, 2012). O déficit

habitacional, no ano de 2008, foi de 426.518 domicílios, dos quais 420.853 estavam

localizados nas áreas urbanas e 5.665 nas áreas rurais (CEPED/SC, 2012).

Page 28: Impacto dos desastres naturais sobre a saúde de crianças e ...

21

O setor de serviços é responsável por 69,2% da economia, seguido pelo setor

de petróleo que aumentou a participação, passando de 9,8% para 14,5 %. (CEPERJ,

2011).

Segundo PNUD (2013), o índice de desenvolvimento humano do Estado do Rio

de Janeiro foi de 0,832, quarta colocação em relação aos demais estados do Brasil. Os

indicadores de analfabetismo e educação são melhores que os observados em outras

regiões do país. No entanto, o estado possui 39,4% da população acima de 25 anos

sem o ensino fundamental completo (FGV, 2011).

Nos últimos anos, o setor saúde apresentou melhorias significativas, com

decréscimo de 6,8% das taxas de mortalidade infantil entre 2006 e 2008. Houve

aumento da qualidade das moradias através de edificações de alvenaria e do

fornecimento de luz elétrica, relacionados aos incentivos federais aplicados, Programa

de Aceleração do Crescimento (PAC) e pelo Programa Minha Casa Minha Vida (FGV,

2011).

Em relação à ocorrência de desastres naturais no ERJ, registrados entre os anos

de 1991 a 2010, os principais foram inundação brusca, com 260 registros, inundação

gradual, com 155 registros; e movimento de massa, com 140 registros. Entretanto,

outros eventos naturais adversos também foram registrados: estiagens e secas (11

registros), vendavais e/ou ciclones (41 registros), tornados (2 registros), granizos (8

registros), incêndios florestais (8 registros), e erosão marinha (1 registro), conforme

apresentado na figura 4 abaixo (CEPED/SC, 2012).

Page 29: Impacto dos desastres naturais sobre a saúde de crianças e ...

22

Figura 4 - Percentual de desastres naturais mais recorrentes no estado do Rio de Janeiro, no período de 1991 a 2010.

Fonte: (CEPED/SC, 2012)

Segundo o Centro Universitário de Estudos e Pesquisas Sobre Desastres da

Universidade Federal de Santa Catarina (CEPED/SC, 2012), os municípios localizados

nas mesorregiões Norte, Noroeste Fluminense e a Metropolitana do Rio de Janeiro

foram os mais atingidos. Os registros de inundações bruscas e movimentos de massa

ocorrem com maior frequência em municípios de áreas com relevo mais acidentado,

enquanto que as inundações graduais ocorrem em áreas situadas às margens das

bacias hidrográficas e a jusante dos rios de maior porte. As estiagens e secas estiveram

concentradas nos municípios localizados ao norte do Estado do Rio de Janeiro.

O município que apresentou o maior número de registros no período foi

Petrópolis, com 28 eventos, sendo 17 desastres por movimentos de massa, 6 por

inundações bruscas, e 5 por inundações graduais. Em segundo lugar aparece o

município de São Gonçalo, com 27 ocorrências com os mesmos tipos de eventos:

inundações gradual e brusca e movimentos de massa. Em terceiro, com 22 ocorrências

cada, estão os municípios de Campos dos Goytacazes e Guapimirim, com maior

diversidade de eventos: inundações gradual e brusca, movimentos de massa,

vendavais e/ ou ciclones, incêndio florestal e estiagem (CEPED/SC, 2012).

Ao longo dos vintes anos analisados por CEPED/SC (2012), os desastres

naturais afetaram, de forma direta ou indireta, número equivalente a 24,7% da

11%

42%25%

22%

outros

inundação brusca

inundação gradual

movimento de massa

Page 30: Impacto dos desastres naturais sobre a saúde de crianças e ...

23

população do ERJ. Neste período foram registradas 1.783 mortes, 7.762 enfermos, 382

gravemente feridos, 12.161 levemente feridos, 247 desaparecidos, 21.003 deslocados,

74.790 desabrigados e 348.829 desalojados, com um total de 3.943.268 fluminenses

afetados. O município com o maior número de pessoas afetadas foi o município de

Petrópolis, com 517.681, o qual representa 1,7 vezes mais que o número de sua

população atual, de 295.917 habitantes.

2.4.1-A Defesa Civil do Estado

A primeira iniciativa de estrutura do governo nacional criada para auxílio da

população em momentos de emergência ocorreu em 1943, denominada de Defesa

Passiva Antiaérea executou ações no campo de Defesa Civil. Em dezembro de 1966 é

organizada no Estado da Guanabara a primeira Defesa Civil estadual do Brasil. Em

1967 foi criado o Ministério do Interior, com a competência de assistir as populações

atingidas por calamidades públicas em todo território nacional. No final da década de

60, foram instituídos no Ministério do Interior, o Fundo Especial para Calamidades

Públicas (FUNCAP) e o Grupo Especial para Assuntos de Calamidades Públicas

(GEACAP) com incumbência de prestar assistência e defesa permanente contra as

calamidades públicas (MINISTÉRIO DA INTEGRAÇÃO, 2015).

A lei maior é a Constituição promulgada em 1988. Nela encontramos,

especificamente, a ligação do Corpo de Bombeiros com a Defesa Civil, o que só tinha

sido citado em legislações do Antigo Estado da Guanabara e do atual Estado do Rio de

Janeiro (DGDEC-RJ, 2015). O Decreto nº 97.274 de 16 de dezembro de 1988, o

primeiro na atual vigência Constitucional, organiza um Sistema Nacional de Defesa

Civil”. O atual SINDEC, foi instituído pelo Decreto nº 895 de 16 de agosto de 1993.

Neste decreto encontramos conceitos atualizados, inclusive os de defesa civil e o de

desastre (DGDEC-RJ, 2015).

O Decreto nº 21.258 de 01 de janeiro de 1995 extinguiu a Secretaria de Estado

da Defesa Civil, atribuindo a competência da SEDEC, no primeiro momento, à

Coordenadoria Geral do Sistema de Defesa Civil da Governadoria do Estado. O

Decreto nº 21.501 de 19 de junho de 1995, altera e consolida a estrutura da Secretaria

de Estado de Segurança Pública, sendo criado o Departamento Geral de Defesa Civil

Page 31: Impacto dos desastres naturais sobre a saúde de crianças e ...

24

– DGDEC. Neste Decreto temos como competência do Corpo de Bombeiros, também,

as atividades de defesa civil (DGDEC-RJ, 2015).

O Decreto nº 22.305 de 28 de junho de 1996 instituiu o Sistema Estadual de

Defesa Civil, estabelecendo que o Departamento Geral de Defesa Civil seria o Órgão

Central do Sistema, cabendo-lhe a Presidência do Conselho Estadual de Defesa Civil,

representando a Secretaria de Estado de Segurança Pública. As Comissões Regionais

de Defesa Civil – REDEC, seriam os Órgãos Regionais, pertencentes a estrutura do

Corpo de Bombeiros Militar (DGDEC-RJ, 2015).

Pelo Decreto nº 25.162 de 01 de janeiro de 1999, foi reestruturado o Governo do

Estado, sendo recriada a Secretaria de Estado da Defesa Civil, tendo como ente

vinculado o Corpo de Bombeiros Militar (DGDEC-RJ, 2015).

A Política Nacional de Proteção e Defesa Civil nº 12.608 foi publicada no Diário

Oficial da União nº 70, de 11 de abril de 2012 orienta que o gerenciamento de riscos e

de desastres deve ser focado nas ações de prevenção, mitigação, preparação, resposta

e recuperação e demais políticas setoriais Nesta é promulgada o Sistema Nacional de

Proteção e Defesa Civil (SINPDEC) constituído pelos órgãos e entidades da

administração pública federal, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios e pelas

entidades públicas e privadas de atuação significativa na área de proteção e defesa

civil (MINISTÉRIO DA INTEGRAÇÃO, 2015):

Órgão consultivo, Conselho Nacional de Proteção e Defesa Civil - CONPDEC

Órgão central, Secretaria Nacional de Proteção e Defesa Civil do Ministério da

Integração Nacional, responsável por coordenar o planejamento, articulação e

execução dos programas, projetos e ações de proteção e defesa civil.

Órgãos regionais de proteção e defesa civil responsáveis pela articulação,

coordenação e execução do SINPDEC em nível regional.

Órgãos estaduais e do Distrito Federal de proteção e defesa civil responsáveis

pela articulação, coordenação e execução do SINPDEC em nível estadual.

Órgãos municipais de proteção e defesa civil responsáveis pela articulação,

coordenação e execução do SINPDEC em nível municipal.

Órgãos setoriais dos 3 (três) âmbitos de governo abrangem os órgãos,

envolvidos na ação da Defesa Civil.

Page 32: Impacto dos desastres naturais sobre a saúde de crianças e ...

25

No Brasil, as informações oficias sobre desastres podem ocorrer pela emissão

de dois documentos distintos, não obrigatoriamente dependentes: o formulário de

notificações preliminares de desastres (NOPRED) e/ou formulário de avaliação de

danos (AVADAN). Quando um município encontra-se em situação de emergência ou

calamidade pública, um representante da defesa civil do município preenche o

documento e o envia simultaneamente para a Coordenadoria Estadual de Defesa Civil

(CEDC), a CEDC, e para a Secretaria Nacional de Defesa Civil (MINISTÉRIO DA

INTEGRAÇÃO, 2015).

O relatório de danos foi utilizado pela defesa civil até o ano de 1990,

posteriormente, foi substituído pelo AVADAN. Os documentos são armazenados em

meio físico sob a responsabilidade da Coordenadoria Estadual de Defesa Civil.

O Formulário de Avaliação de Danos (AVADAN) (anexo 1), que tem por finalidade

informar com precisão ao Sistema Nacional de Defesa Civil (SINDEC) sobre as

características dos desastres, assim como avaliar danos e relacionar os prejuízos

resultantes. Deve ser preenchido pela equipe da Agência Municipal de Defesa Civil. “A

competência para avaliar os danos consequentes de um desastre é do município, por

intermédio de sua Agência Municipal de Defesa Civil”, SEDEC (2005) apud Art. 18

Decreto Federal no 5.376 de 17/02/2005. O AVADAN preenchido acompanhará,

obrigatoriamente, o eventual processo de declaração de Situação de Emergência ou

de Estado de Calamidade Pública.

O formulário AVADAN refere-se ao registro das características intrínsecas do

desastre, da área afetada, dos danos humanos, materiais e ambientais e dos prejuízos

econômicos e sociais provocados pelo desastre (anexo 1). Deve ser preenchido no

prazo máximo de 120 horas (5 dias) após a ocorrência do desastre, e encaminhado aos

órgãos de coordenação do SINDEC.

No Estado do Rio de Janeiro a Defesa Civil iniciou em 1991 os registros de desastres.

Até o ano de 2013, estes registros foram realizados utilizando o formulário de

notificação AVADAN. Neste período, segundo o banco de dados da defesa civil, os

principais eventos de ocorrência no estado são ocasionados por meio de influência

pluviométrica: inundação brusca; inundação gradual; movimento de massa úmida e

estiagem. Mais de 5 milhões de pessoas foram afetados (5.097.160), 19.410

deslocados, 119 desaparecidos, 62.779 desabrigados e 1.470 vítimas.

Page 33: Impacto dos desastres naturais sobre a saúde de crianças e ...

26

2.5-Produção X Ambiente

O final do século XX foi marcado por mudanças conceituais na relação da

humanidade com os ciclos da natureza. Vinte e dois anos após a divulgação da agenda

21, documento que pactua objetivos claros na busca da sustentabilidade global, estes

não se restringem apenas à preservação do meio ambiente, mas ao “desenvolvimento

sustentável” que releva a equidade social em âmbito global, buscando reverter o

equilíbrio perdido nos últimos 200 anos.

Na realidade, o mundo ainda é marcado por um processo vicioso que dissocia

desenvolvimento econômico do desenvolvimento humano e, como consequência,

degrada as condições naturais de equidade global (PORTO, 2012).

O Brasil é um bom exemplo deste modelo. O sistema nacional apresenta uma

importante rede industrial-agrária, entretanto seu modelo de desenvolvimento é

caracterizado pela extrema concentração de renda, desigualdades sociais e a formação

de “zonas de sacrifícios” municipais e interestaduais, realidade que adimite a formação

de assentamentos populacionais em áreas de risco (MINAYO, 2002).

O modelo de produção praticado pela economia brasileira, tal processo industrial

é dependente de recursos naturais e gerador de poluente devido a tecnologia

empregada é caracterizado por possuir um processo de trabalho insalubre e perigoso.

O desenvolvimento empregado é resultado de um processo de industrialização forçada,

favorecido pela vigência de legislações ambientais e trabalhistas menos rigorosas,

comumente praticado em países onde a população e os trabalhadores se encontram

fragilizados pelas precárias condições de vida e dispostos a “pagar o preço” em troca

de uma fonte de renda, processo este denominado “Dumping” (RIGOTTO, 2008).

O Dumping social e ambiental reflete a divisão internacional do trabalho e dos

riscos derivados da industrialização dos países subdesenvolvidos, facilitado por

mecanismos regulatórios frágeis ou omissos em questões de relevância, como exemplo

à proteção da população e do ambiente, pagadores referenciável da conta do progresso

(FREITAS e PORTO, 2006). Vale salientar que este processo pode ocorrer dentro de

um limite territorial (RIGOTTO, 2008).

A distribuição internacional do trabalho e dos riscos é o principal aspecto

influenciador na geração de vulnerabilidade e situações de injustiças sociais, que está

Page 34: Impacto dos desastres naturais sobre a saúde de crianças e ...

27

diretamente relacionada com a chamada globalização. A globalização transpôs as

fronteiras geográficas, enquanto os movimentos sociais de resistência ainda

permanecem restritos aos países industrializados e com ampla gama da população já

sensibilizada (PORTO, 2012). Este enfatiza ainda: “com a globalização, a relação local-

global torna-se mais complexa e problemática, pois faz com que os centros das

decisões e do poder estejam cada vez mais distantes dos territórios onde os riscos

atingem as populações, o que produz a desterritorialização, ou seja, a influência dos

centros de poder por parte de elites econômicas e políticas que não vivem no território

em que decisões fundamentais são tomadas sobre a vida do mesmo” (Porto, 2012:

127).

Partindo de um modelo simplificado dos riscos sociais, Briggs et al, (1996)

afirmam que as pressões existentes em dado território afetam a integridade do

ambiente e dos ecossistemas e, consequentemente, agravam os riscos ambientais,

sejam eles naturais, como eventos climáticos cíclicos, ou pressões exercidas pelo

desenvolvimento econômico. Tais “pressões” são influências diretas das “forças

motrizes”, ou seja, desenvolvimento econômico, crescimento populacional e larga

utilização de tecnologias, que resultam em pressões sobre um ambiente já impactado.

Neste contexto destacam-se a relevância das desigualdades sociais na distribuição das

vulnerabilidades aos desastres.

Em muitos países com baixos níveis de industrialização, o fetiche do

desenvolvimento econômico a qualquer preço é o fator que influencia a promoção das

forças motrizes em nível mundial. Nesta interpretação, mais uma vez, aparece a

denotação dos países subdesenvolvidos e em desenvolvimento com sua inexorável

busca de atingir os caminhos já trilhados pelos países industrializados do eixo EUA-

Europa (FREITAS e PORTO, 2006). A promoção de políticas que incentivam o rápido

crescimento econômico, metrificado através do aumento do PIB, não levam em conta

a preservação da saúde da população e do ambiente, como resultado temos um

consumo insustentável dos recursos ambientais e degradação social (RIGOTTO,

2008).

Diante do apresentado, reforçamos a teoria que os processos sociais são, em

grande parte, responsáveis em um aumento e redução da vulnerabilidade local aos

desastres. Tais processos são influência das forças motrizes e pressões que se

Page 35: Impacto dos desastres naturais sobre a saúde de crianças e ...

28

relacionam aos modelos de desenvolvimento econômico e social predominantes 2

(OPAS, 2014). As Forças Motrizes correspondem aos fatores que em escala macro

influenciam os vários processos ambientais que poderão afetar a saúde humano. Ou

seja, as Forças Motrizes e Pressões integram processos de determinação social e

ambiental que resultam na vulnerabilidade socioambiental.

Por exemplo, Decorrentes da “força motriz”, a expropriação social e ambiental é

consequência direta do desenvolvimento, sendo responsável por gerar “pressões”.

Neste cenário, as “pressões” são mitigadas no contexto de redução dos riscos

iminentes, no entanto, os governos cometidos por este processo não são capazes de

reverter ou amenizar os aspectos essenciais do problema. Isto pode ser expresso de

diferentes formas, por exemplo, a urbanização desenfreada é consequência do modelo

insustentável de desenvolvimento que produz injustiças ambientais por gerarem riscos

inadmissíveis. Consequente a este processo, as populações afetadas são vulneradas

com a conivência do governo e órgãos de prevenção, fiscalização, controle e,

principalmente, das agências de fomentos que liberam capital desconsiderando os

impactos ambientais e sociais (PORTO, 2012). (CORVALÁN, BRIGGS e

KJELLSTROM, 1996) (OPAS, 2000)

Diante deste contexto, a Organização Pan-americana de Saúde (OPAS) (2000),

salienta que a probabilidade de que um determinado sistema ou população ser afetado

pelos perigos é expressa como risco. O risco é consequência das pressões econômicas

e características ambientais e geográficas, quando é aumentada a vulnerabilidade a

uma determinada ameaça, seja ela natural ou antropológica, o risco de ocorrência de

um perigo é aumentado de acordo com o perfil de vulnerabilidade característico de cada

região.

2.6 – Risco e Desastres

Partindo de um modelo simplificado, o desastre é o produto da convergência, em

um tempo e lugar, de dois fatores: Risco e Vulnerabilidade.

2 Os termos Forças Motrizes, Pressão, Situação, Exposição e ação correspondem ao marco

Driving-forces-pressures-state-exposure-effect-action (DPSSEA) desenvolvido pela OMS como um modelo hierárquico que descreve a ação de diversas causas que intervêm, diretamente ou indiretamente, nos resultados das condições ambientais, e de saúde ou comportamento humano.

Page 36: Impacto dos desastres naturais sobre a saúde de crianças e ...

29

Em outras palavras, o risco dos desastres e a produção social de vulnerabilidade

precisam ser considerada com o mesmo grau de importância que se dedica a

compreender e enfrentar os perigos naturais. Desastres são resultado da interação

entre risco e vulnerabilidade, ou seja, não haverá um desastre se não houver riscos. A

mesma relação pode ser apontada para vulnerabilidade, onde é praticamente nulo a

possibilidade de ocorrência de um desastre se não houver uma população vulnerável

e exposta ao risco (WISNER, ET AL., 2003) (CORVALÁN, BRIGGS e KJELLSTROM,

1996). Por risco entendemos qualquer fenômeno, natural ou humano, que resulte em

modificações no ambiente ocupado por uma comunidade específica que é vulnerável a

este fenômeno. Por vulnerabilidade vamos denotar a incapacidade de uma comunidade

de "absorver" os efeitos de uma dada alteração no seu ambiente, a sua incapacidade

de se adaptar a essa mudança, ou seja, um risco (WISNER, ET AL., 2003).

Portanto, o risco ao desastre reflete uma combinação: pessoas vivendo em

condição vulnerável e o perigo específico da ocorrência de um evento. Desta forma,

constitui três elementos primordiais: Perigo (desastre), vulnerabilidade e risco. Destaca-

se que o termo "Perigo" refere-se aos eventos naturais, que podem afetar diferentes

lugares em diferentes épocas. Um desastre ocorre quando pessoas vulneradas, ou não,

experimentam um perigo e sofrem danos graves e / ou interrupção do cotidiano normal

da comunidade, de tal maneira que é improvável uma recuperação sem auxílio externo

(BLAIKIE, P. ET AL., 1996).

Os desastres quando não remediados intensificam a vulnerabilidade de alguns

grupos da sociedade. Imbuídos por esta percepção, alguns autores advogam que os

desastres simplesmente não ocorrem como resultado de um evento natural isolado do

sistema social. Por outro lado, situações específicas que afetam particularmente as

condições de resiliência, muitas vezes, incentivam situações que elevam a

vulnerabilidade aos impactos dos perigos futuros (WISNER, ET AL., 2003), são os

casos da frequência ocorrência de desastres extensivos que, ao longo prazo, reduzem

a resiliência e aumentam a vulnerabilidade local.

Os setores da economia que apresentem retorno financeiro em curto prazo são

os principais influenciadores da promoção dos riscos na sociedade, são exemplo:

desmatamento, agricultura realizada de forma inadequada, pastoreio e especulação

Page 37: Impacto dos desastres naturais sobre a saúde de crianças e ...

30

imobiliária em encostas íngremes e em planícies de inundação, habitações com lotação

acima do adequado (BLAIKIE, P. ET AL., 1996).

Podemos constatar que em um sistema com alta resiliência, as ameaças naturais

são atenuadas e o risco da população ser afetada será mínimo. Neste âmbito, Freitas

et al. (2012) frisa que, um evento será mais ou menos grave a depender da

vulnerabilidade, fator de propensão de uma dada comunidade de sofrer de forma mais

intensa os efeitos dos perigos, que são fenômenos cíclicos.

Diante desta perspectiva, podemos sugerir que os riscos de uma população ser

afetada por um desastre se constituem socialmente através das dinâmicas do

desenvolvimento econômico e social, bem como da proteção sócio ambiental

(FREITAS, ET AL., 2012).

2.7-Vulnerabilidade

Vulnerabilidade é um conceito recorrente na sociedade contemporânea sendo

aplicado em diferentes contextos. No âmbito da gestão de risco de desastres,

vulnerabilidade é entendida como: “Um conjunto de processos e condições resultantes

de fatores físicos, sociais, econômicos e ambientais que aumentam a suscetibilidade

de uma comunidade ao impacto dos perigos3” (UN-ISDR, 2004).

Em documentos normativos nacionais, vulnerabilidade é entendida como a

probabilidade de uma determinada comunidade ou área geográfica ser afetada por um

perigo ou risco potencial de desastre, estabelecida a partir de estudos técnicos

(BRASIL, 2007).

Atualmente as Nações Unidas focam na vulnerabilidade como o determinante da

suscetibilidade de uma comunidade ao impacto de eventos perigosos. Uma vez que o

perigo decorre de um determinado desastre natural cíclico, o objetivo é minimizar a

exposição à ameaça por meio da promoção de capacidades individuais, institucionais

e da coletividade que possam contrapor-se aos perigos e aos danos (UN-ISDR, 2004).

3 Qualquer condição potencial ou real que pode vir a causar morte, ferimento ou dano à

propriedade.

Page 38: Impacto dos desastres naturais sobre a saúde de crianças e ...

31

Em outras palavras, o termo vulnerabilidade pode ser entendido quando uma

pessoa ou uma comunidade apresente formas organizacionais que reduzem sua

capacidade de antecipar, lidar com, resistir e recuperar-se do impacto de um perigo

natural. O termo envolve uma combinação de fatores que determinam o grau em que

os hábitos cotidianos, sua forma de inserção no mercado de trabalho, imóveis e outros

bens são colocados em risco por um evento (ou uma série de tais eventos) na natureza

e na sociedade (Wisner, et al . 2004).

O conceito de vulnerabilidade envolve claramente magnitudes diferenciadas

onde, algumas pessoas experimentam níveis mais elevados do que outros. Alguns

grupos são mais propensos a danos, perda ou sofrimento, quando exposto a diferentes

ameaças. Estes grupos podem ser distinguidos pela sua classe social, escolaridade,

ocupação, etnia, gênero, estado de saúde, idade e status de imigração, bem como a

natureza e a extensão das redes sociais. Tais variáveis explicam os diferentes graus

de acometimento de determinadas populações (Wisner, et al . 2004).

O conceito de vulnerabilidade tende a incorporar elementos sociais, políticos,

econômicos e culturais na análise da propensão de certas ocorrências (ALCÁNTARA-

AYALA, 2002). De modo geral, o termo é adotado visando caracterizar grupos

populacionais específicos, comumente atingidos ou fragilizados por aspectos sociais,

como a pobreza, sexo, faixa etária, etnia ou região que habitam, são os chamados

determinantes sociais ou socioambientais da saúde (PORTO, 2012).

Normalmente, a vulnerabilidade está intimamente relacionada com a posição

socioeconômica. Neste tocante, a vulnerabilidade possui uma dimensão temporal:

podendo ser avaliada quanto a possibilidade de danos aos meios de vida futuros, e não

apenas com o resultado de um único evento que venha a modificar os meios de vida e

os bens materiais. Os grupos vulneráveis são também aqueles que se encontram em

maior dificuldade de reconstrução de suas vidas após a ocorrência de um desastre, e

esta realidade, por sua vez, torna-os mais vulneráveis aos efeitos dos desastres no

futuro (Wisner, et al . 2004).

Embora a vulnerabilidade não possa ser diretamente entendida como pobreza e

iniquidade os dois estão comumente correlacionados. Um indivíduo, família ou outro

grupo social que possua uma maior renda ou acesso a recursos que possam ser usados

Page 39: Impacto dos desastres naturais sobre a saúde de crianças e ...

32

para a reconstrução de sua vida terá um gral de acometimento diferenciado dentro da

realidade de um evento (WISNER, ET AL., 2003).

Corroborando com esse entendimento pode-se destacar o exemplo dos

terremotos que atingiram o Haiti e o Chile. Embora o terremoto que ocorreu no Chile,

em fevereiro de 2010, tenha liberado uma quantidade de energia 550 vezes maior que

do Haiti, o Chile, que possui renda per capita de aproximadamente 9.800 dólares/ano,

teve 519 vezes menos vítimas humanas, representado por 577 vítimas fatais. Já o

evento ocorrido em janeiro de 2010 no Haiti, que possui renda per capita de 650

dólares/ano, resultou em 300 mil vítimas fatais (FREITAS, ET AL., 2012).

Nesse tocante compreendemos a crise social e ecológica moderna a partir das

premissas hegemônicas da globalização, que têm por consequência os processos

decisórios excludentes através das decisões políticas, que promovem áreas ricas e

“salubres” para uma minoria e isolam bolsões de pobreza, sem infraestrutura básica de

serviços, perigosas e insalubres para a população menos favorecida (PORTO, 2012).

2.8- Grupos Vulneráveis

Na ocorrência de um desastre, sendo natural ou não, é constatado que uma

parcela da população sofre seus efeitos de forma mais danosa que as demais. Tal

relação é evidenciada quando analisamos as condições de risco existentes presentes

na localidade. Em outras palavras, áreas vulneráveis e populações em situações

vulneráveis são as mais afetadas (MEDINA, 2003). Deve-se também enfatizar que é

diante da ocorrência de uma situação de emergência que são evidenciadas as

debilidades e a capacidade de resposta da sociedade. Segundo Sapir et al. (2012), os

desastres naturais causam mais vítimas humanas nos países em desenvolvimento que

nos países desenvolvidos, este fato pode ser explicado devido as maiores condições

de vulnerabilidade em que a população se encontra.

Segundo Medina (2003), as três causas fundamentais para que a ocorrência de

um evento derive para um desastre são as vulnerabilidades sociais, a degradação

ambiental e a expansão territorial. Neste caso, a vulnerabilidade não implica apenas na

exposição a agentes químicos e a ambientes potencialmente perigosos, mas também

em outros aspectos, tais como: a debilidade particular das pessoas e sua predisposição

Page 40: Impacto dos desastres naturais sobre a saúde de crianças e ...

33

de serem afetadas; a falta de segurança; a desvantagem crônica que deriva da

distribuição iníqua dos recursos e maneiras de respostas ao perigo; a falta de resiliência

e sua limitada capacidade de evitar, suportar, mitigar e ou recuperar-se após os

eventos. Em outras palavras, a vulnerabilidade é o retrato da sociedade de classes,

iníqua e segregada que perdura no modelo produtivo atual.

Peek & Stough (2010) afirmam que o risco de desastres é socialmente distribuído

de forma que reflita as desigualdades pré-existentes na sociedade, estando alguns

grupos mais propensos à morte, lesão, perda econômica e comprometimento

psicológico, comparativamente aos demais. A vulnerabilidade é multidimensional e

deve ser analisada através de diferentes aspectos, vulnerabilidades físicas,

econômicas, sociais e governamentais, podendo também ser referida quanto ao

gênero, etnia, classe social, idade e certos grupos laborais. Também podemos tratar

vulnerabilidade como forma de distinção de países frente aos demais, e aos distintos

setores sociais (saúde, educação, moradia, transporte, etc.).

Neste contexto a vulnerabilidade depende, especificamente, do grupo social em

análise, sua capacidade de resposta, os riscos enfrentados e todas as peculiaridades

que tangem e definem semelhanças próprias de dado segmento populacional

(MEDINA, 2003). As crianças, os idosos, as mulheres, as minorias raciais, os indivíduos

de baixa renda, as pessoas com deficiência física ou mental, e os imigrantes compõem

os grupos especialmente vulneráveis aos impactos nocivos dos desastres e possuem

necessidades específicas diante de situações de emergência (PNUMA, 2004).

Embora estes grupos difiram um dos outros, de muitas maneiras, quando vistos

através dos indicadores sociais, todos têm em comum a falta de acesso aos serviços

sociais vitais e autonomia limitada (PEEK e STOUGH, 2010).

O Programa de Refugiados das Nações Unidas corrobora com os dados

apresentados, afirmando que estes grupos populacionais, quando afetados, têm maior

dificuldade de se recuperar e prevenir-se, criando ciclos viciosos de perda de resiliência

e aumento da vulnerabilidade (UNHCR, 1998 apud MOSS ET AL, 2006).

Particularmente, ao analisar a vulnerabilidade da população infantil, estudos salientam

que os indicadores mais relevantes para análise são: faixa etária específica, classe,

raça, gênero e etnia (PNUMA, 2004) (OPAS, 2003).

Page 41: Impacto dos desastres naturais sobre a saúde de crianças e ...

34

As pesquisas sobre as populações vulneráveis afetadas por desastres tendem a

ser analisadas apenas com os indicadores de raça, sexo, situação socioeconômica.

Peek & Stought (2010), ressalvam que a investigação de alguns indicadores

negligenciados, como a idade específica, sua localização geográfica, estrutura familiar,

perfil socioeconômico, capacidade física e mental e nacionalidade poderiam determinar

a probabilidade de certos grupos em sofrer um dano ou evento específico.

Nosso enfoque da vulnerabilidade será sustentado na necessidade de

compreensão das diferenças presentes na sociedade, na defesa dos direitos e da

proteção das pessoas, especialmente do grupo social na faixa etária de 0-14 anos.

2.8.1-Vulnerabilidade Infantil

Até o final do século 20, os desastres afetaram 67 milhões de crianças por ano em

todo o mundo. Existe a tendência de que este número seja triplicado nas próximas

décadas, principalmente devido ao crescimento da população em áreas de risco e a

crescente ocorrência de desastres (BARTLETT, 2008)

No geral, o grupo etário infantil é o mais afetado, representando, em média, 30- 50%

da população acometida por esses eventos (MOSS ET AL, 2006). Esta elevada

proporção é relevante, principalmente, quando tratamos da América Latina e Caribe,

pois crianças representam um terço da população total (OPAS, 2003).

A convenção das Nações Unidas sobre os direitos de crianças, de 1989, definiu que

este grupo etário infantil era formado pelas pessoas com até 18 anos de idade. No

Brasil, o Estatuto da Criança e do Adolescente, disposto na Lei no 8.069, de

13.07.1990, define como criança a pessoa com até 12 anos de idade incompletos, e

adolescente a pessoa com idade de 12 a 18 anos, enquanto o Estatuto da Juventude,

instituído pela Lei no 12.852, de 05.08.2013, considera jovens as pessoas de 15 a 29

anos de idade. Nosso foco será dado ao segmento etário de 0- 14 anos de idade.

Segundo o Censo realizado pelo IBGE (2003), 24,9% da população brasileira é

composta por crianças de 0-14 anos (IBGE, 2013).

Segundo o manual do Ministério da Integração Nacional / Secretaria Nacional de

Defesa Civil “Redução das Vulnerabilidades aos Desastres e Acidentes na Infância”

(BRASIL, 2002), o grupo infantil constituído por menores de quinze anos é o estrato

Page 42: Impacto dos desastres naturais sobre a saúde de crianças e ...

35

populacional mais vulnerável aos desastres. O manual demonstra que, quanto mais

jovem e imatura for a criança, menor sua percepção de risco e maior sua

vulnerabilidade e, consequentemente, mais dependente de terceiros (quadro 2). As

características biológicas desta faixa etária como o nível de coordenação de seu

sistema nervoso, aptidão motora, senso de percepção de risco e da necessidade de

proteção influenciam na sua condição de vulnerabilidade (Brasil, 2002).

Quadro 2 - Relação da vulnerabilidade de acordo com a idade específica da população infantil

Grupo Etário

Características Hábitos Efeitos dos Desastres

0 a 4 anos

Coordenação nervosa e a habilidade motora são mínimas, e a criança depende dos adultos para a satisfação de suas necessidades, inclusive as relacionadas com sua própria segurança. Aumento da motilidade e a crescente atividade exploratória intensificam os riscos ambientais.

Permanecer quase que exclusivamente em seu habitat natural Em idade avançada, começa a sair de casa, inicialmente acompanhada, e a explorar quintais, praças, parques e playgrounds.

Segurança do subgrupo depende totalmente de terceiros e, caso essas crianças não recebam absoluta prioridade de salvamento, fatalmente perecerão.

4 a 8 Anos

Capacidade motora encontra-se plenamente desenvolvida

Intensificam as saídas de casa

Prioridade no ocorro, pois ainda depende de terceiros, podendo, no entanto, ser conduzida, caso a rota de fuga não seja difícil.

8 a 15 Anos

Capacidade motora plenamente desenvolvida

Grupo etário apresenta uma menor dependência dos adultos para fins de socorro, se houver uma maior preocupação com seu treinamento, na fase de preparação

FONTE: (Brasil, 2002)

Crianças estão entre os grupos mais vulneráveis às consequências ambientais

negativas sobre a saúde (ASMUS ET AL, 1996). Apesar de adultos e crianças estarem

expostas aos mesmos riscos, as crianças possuem respostas fisiológicas e metabólicas

específicas aos fatores e condições do meio ambiente em que vivem (GUIMARÃES e

ASMUS, 2010), especialmente os menores de 5 anos (MOSS ET AL, 2006).

Este pressuposto é consumado diante da estimativa de que 30% das doenças

ocorridas na faixa etária infantil estão ligadas aos fatores ambientais (MAZOTO ET AL,

Page 43: Impacto dos desastres naturais sobre a saúde de crianças e ...

36

2011). Corroborando com os autores, a Organização Mundial de Saúde (2003) afirma

que, em média, 5 milhões de crianças são acometidas a cada ano devido a

enfermidades relacionadas a má qualidade ambiental (OPAS, 2003).

Menores de 14 anos são mais vulneráveis às condições ambientais deficitárias, tais

como a má qualidade da água para consumo e do ar, a presença de substâncias

químicas, entre outras (OPAS, 2003). Isto se deve, principalmente, aos fatores

relacionados com seus hábitos, fisiologia e a etapa de desenvolvimento em que se

encontram, assim como, sua condição social (PNUMA, 2004).

Até o ano de 2012, o Brasil apresentou 47,3% das crianças com até 14 anos de

idade residindo em domicílios em que, pelo menos um serviço de saneamento (água,

esgoto ou lixo) não era adequado. Isto é, ou não havia abastecimento de água por meio

de rede geral, e/ou o esgotamento sanitário não se dava via rede geral, ou fossa séptica

ligada à rede coletora, e/ou o lixo não era coletado (IBGE, 2012).

As crianças, ao longo de seu desenvolvimento, apresentam comportamentos e

características de exposição diferenciadas, tornando-as mais suscetíveis e vulneráveis

aos agentes químicos, ambientais e físicos, presentes no meio. Sua capacidade

enzimática de metabolização e defesa imunológica, especialmente nos primeiros

meses de vida, é imatura e incapaz de responder da mesma maneira do que é

observado nos adultos (GUIMARÃES e ASMUS, 2010). Elas possuem características

fisiológicas específicas desta faixa etária, possuindo uma menor capacidade de

metabolizar, desintoxicar, excretar substâncias tóxicas e combater agentes biológicos

(PNUMA, 2004) (GUIMARÃES e ASMUS, 2010). Suas funções renais, tampouco, estão

desenvolvidas dificultando sua capacidade de excreção e reabsorção de xenobióticos

e metabólitos (OPAS, 2003).

Crianças apresentam condições fisiológicas específicas, ingerem maior quantidade

de alimento e bebida em relação ao seu peso corporal, possuem uma taxa respiratória

mais acentuada, e, através de brincadeiras possuem uma relação mais íntima com os

meios ambientais, estando, proporcionalmente, mais expostos aos contaminantes

presentes na água, alimentos, solo, etc. (OPAS, 2003) (GUIMARÃES e ASMUS, 2010)

(MAZOTO ET AL, 2011). Crianças experimentam crescimento e desenvolvimento muito

intensos, desde sua etapa fetal até seus primeiros anos da adolescência e

interferências ambientais podem determinar graves sequelas durante este processo

Page 44: Impacto dos desastres naturais sobre a saúde de crianças e ...

37

(OPAS, 2003) (GUIMARÃES e ASMUS, 2010) (MAZOTO ET AL, 2011). Os sistemas

nervoso central, imunológico e endócrino são os mais vulneráveis e considerados

sistemas críticos, devido à importância que estes possuem na formação e

desenvolvimento desta etapa do crescimento (OPAS, 2003). Tais características

sugerem que crianças estão mais expostas aos agentes biológicos, físicos e químicos

presentes nos meios ambientais, ar, água e solo e também nos alimentos e nos

domicílios.

O agravamento da condição ambiental em situação de desastres podem produzir

transtornos importantes devido a sua velocidade de ocorrência, a ausência de

capacidade de resposta e a proporção com que são afetados (MOSS ET AL, 2006).

Entre as condições adversas apresentada na atenção das vítimas infantis em “abrigos

destacam-se a má nutrição, as diferentes condições de falta de acesso a serviços de

saúde, a precariedade da qualidade de vida nos abrigos, a ausência de serviços de

fornecimento de água potável e sistema de saneamento, carência de informação e

compreensão dos riscos apresentados, situação de abandono temporário e a ausência

de medidas de prevenção e proteção contra doenças infecciosas (MEDINA, 2003).

Moss et al . (2006) corrobora com Medina (2003) afirmando que as principais causas

de morbidade e mortalidade apresentadas durante uma situação de emergência não

diferem dos padrões normais de adoecimento observados neste grupo populacional,

ou seja, é comum que ocorram surtos de doenças diarreicas agudas, infecções

respiratórias, sarampo e desnutrição. No entanto, a severidade e magnitude dos casos

diagnosticados são comumente exacerbados, necessitando tratamento de grande

número de enfermos nos abrigos. Equipes médicas de emergência devem ter maior

atenção a este grupo populacional, principalmente em ambientes confinados, realidade

comumente encontrada nos abrigos e centros de acolhimento, pois é elevado o risco

de ocorrência de uma enfermidade de grandes proporções (MOSS ET AL, 2006).

Recentes eventos ocorridos ilustram a vulnerabilidade da população infantil durante

a ocorrência de desastres. O terremoto seguido de tsunami, ocorrido no oceano Índico

em 2004, custou a vida de mais de 60.000 crianças e jovens que residiam na região da

Indonésia, Sri Lanka, Índia e Tailândia. Mais de 18.000 crianças paquistanesas vieram

a óbito no terremoto ocorrido em 2005, o evento resultou no colapso do sistema

educacional do país destruindo mais de 10.000 escolas. No ano de 2008, um terremoto

Page 45: Impacto dos desastres naturais sobre a saúde de crianças e ...

38

na China causou a morte de aproximadamente 10.000 crianças. O furação Katrina

determinou, nos estados americanos da Louisiana e Mississipi, mais de 160.000

afetados do grupo etário infantil. Durante a ocorrência, a maioria dos afetados foram

deslocados de sua habitação e impedidos de frequentar a escola, sendo relatados altas

taxas de impacto emocional e problemas de comportamento e baixo acesso à

assistência médica (PHILLIPS ET AL., 2010).

O momento pós-desastre depende de rápida resposta governamental,

principalmente devido à rápida evolução dos casos de surtos virais e bacterianos que,

nessas condições, apresentam altas taxas de mortalidades, tais como sarampo, cólera,

shigelose e meningite. Dentre os casos fatais diagnosticados em abrigos, as taxas mais

expressivas apresentadas são registradas na população da faixa etária de 0-5 anos,

principalmente em crianças menores que 1 ano (TOOLE & WALDMAN, 1997). Os

autores relatam altas taxas de mortalidade ocorrida entre refugiados curdos durante a

migração ocorrida entre Iraque e a Turquia em 1991: 63 % do total de vítimas fatais

relatadas foram crianças menores de 5 anos de idade. Embora este grupo

representasse apenas 18% da população total.

Moss, et al ., (2006) relatam diversos outros casos a respeito das condições de vida

em abrigos de refugiados, com altas taxas de mortalidade na faixa etária de 0-5 anos,

durante a ocorrência de situações de emergência complexas. A mortalidade infantil em

campos de refugiados na Tailândia, Somália e Sudão, durante a década de 80, foi duas

vezes mais elevada em crianças menores de 5 anos, quando comparado ao total de

vítimas, representando 32,6 óbitos a cada 10.000 habitantes por dia. Em fevereiro de

1985, refugiados de conflitos ocorridos na Etiópia, sitiados no Sudão, apresentaram

taxa de mortalidade de 85 óbitos a cada 10.000 habitantes por dia, sendo que em

menores de 5 anos de idade foram registrados 22 óbitos a cada 10.000 habitantes por

dia. Em refugiados hondurenhos, entre 1984 e 1987, a taxa de mortalidade infantil

registrada foi de 42 % do total, sendo que destes 54% foram registrados em menores

de 5 anos. Durante a “Grande Fome” registrada na Somália em 1992, 74% das crianças

menores de 5 anos albergadas em abrigos temporários faleceram ao longo dos meses

que seguiram.

De acordo com os dados apresentados, percebe-se, notoriamente, a dimensão e

necessidade de atuação crescente em relação aos desastres de origem natural, tanto

Page 46: Impacto dos desastres naturais sobre a saúde de crianças e ...

39

no âmbito de políticas de Estado, como para pesquisadores e sociedade civil. Este

trabalho visa contribuir para o aumento do conhecimento no tema e para a proposição

de ações.

-Justificativa

Segundo Carmo (2014) o Brasil é um caso paradigmático, quando comparado aos

demais países latinos, em relação a como o processo de industrialização e

desenvolvimento econômico ocasionou impacto social e ambiental. O crescimento

econômico regional, agrega e diversifica um aumento ao Produto Interno Bruto (PIB),

porem também pode resultar em grande aumento da populacional, atraída pelas

oportunidades de trabalho. O rápido processo de urbanização não planejada

intensificam as pressões locais e contribuem na degradação ambiental atenuando a

resiliência populacional (OPAS, 2002).

O processo de urbanização que ocorreu no Brasil na segunda metade do século XX

foi caracterizado pela forte desigualdade em sua estruturação interna, visivelmente

constatado na segregação do espaço urbano, onde cada estrato social ocupa áreas

específicas das cidades. A desigualdade na sociedade pode ser facilmente evidenciada

segundo dois diferentes tipos de assentamentos habitacionais: “setores subnormais”,

caracterizados por conglomerados domiciliares de baixa renda conhecidos

popularmente como favelas; e “assentamentos urbanos normais”, caracterizados por

habitações de baixa e alta renda, distintas das favelas por não apresentarem condições

precárias. Vale salientar que os setores subnormais representam 5% do total de setores

censitários do país, nos quais habitam 6 % da população nacional (CARMO, 2014).

O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, 2013) apresentou no

censo 2013 que a população brasileira alcançou o total de 201 milhões de habitantes.

A faixa etária de 0-14 anos representou 48 milhões, equivalente a 24% do total de

habitantes.

No Brasil, 2.065 municípios declararam ter sido atingidos por alagamentos nos

últimos cinco anos, ou seja, 37,1% do total dos municípios brasileiros. A maior

concentração ocorreu nas Regiões Sudeste (45,2%) e Sul (43,5%), e a menor, no

Centro-Oeste (19%) (IBGE, 2013). Em todo o território nacional, 97,4% dos municípios

Page 47: Impacto dos desastres naturais sobre a saúde de crianças e ...

40

com mais de 500.000 habitantes registraram alagamentos (IBGE, 2013). Entre os

municípios do estado do Rio de Janeiro registrou-se, de 1999 a 2012, 260 eventos de

inundação brusca e 155 de inundação gradual (CEPED/SC, 2012). O estado do Rio de

Janeiro, segundo o censo 2012 (IBGE, 2013), tinha uma população de 2.328.255 na

faixa etária de 0-14 anos. Durante o período amostrado pelos relatórios de avaliação

de danos da Defesa Civil do estado (AVADAN), 1.429.905 crianças de 0-14 anos foram

afetadas de alguma maneira pela ocorrência dos desastres. Os eventos de inundação

gradual são o tipo de desastre natural que tiveram maior impacto sobre esta faixa etária,

no entanto, os eventos de movimentos de massa foram os mais letais.

Estes dados reforçam a necessidade de desenvolvimento de estudos específicos

referentes a faixa etária de 0 a14 anos. As características de desenvolvimento e

crescimento biológico associadas as condições de vulnerabilidade socioambiental

indicam que este estrato é mais vulnerável ao impacto dos desastres sobre a sua saúde

necessitando de ações específicas de prevenção e promoção pelos órgãos gestores.

Page 48: Impacto dos desastres naturais sobre a saúde de crianças e ...

41

3.1Hipótese

Crianças e adolescentes constituem um estrato populacional que apresenta

condições de vulnerabilidade socioambiental específicas aos impactos da ocorrência

dos desastres naturais.

-OBJETIVO GERAL

Analisar o impacto dos desastres naturais sobre a saúde de crianças e adolescentes

de 0 a 14 anos residentes no estado do Rio de Janeiro no período de 2000 a 2012.

4.1- OBJETIVOS ESPECÍFICOS

1. Descrever o perfil de ocorrência dos desastres naturais no Estado.

2. Analisar os desfechos sobre a saúde decorrentes dos desastres naturais no período

estudado.

3. Determinar os tipos de desastres com maiores efeitos na população pesquisada.

4. Identificar as mesorregiões do Estado que apresentaram maior impacto decorrente

dos desastres naturais no período analisado.

5. Verificar a existência de associação entre condições de vulnerabilidade

socioambiental e o impacto dos desastres naturais na população pesquisada

Page 49: Impacto dos desastres naturais sobre a saúde de crianças e ...

42

-METODOLOGIA

Base populacional e desenho do Estudo

Estudo observacional do tipo seccional. A população sob estudo (grupo de

estudo) constitui-se da população de 0-14 anos afetada por desastres naturais no

estado do Rio de Janeiro constante no Registro de Notificação de desastres da Defesa

Civil do Estado no período de 2000 a 2012.

Fontes de Dados

Formulário de avaliação de Danos (Avadan) do Registro de Notificação de

desastres da Defesa Civil da Coordenadoria Geral de Defesa Civil do estado do Rio de

Janeiro.

As informações referentes as populações municipais foram extraídas da base de

dados do Instituto Brasileiro de Geografia e estatística (2014) e do Banco de Dados do

Departamento de Informática do Sistema Único de Saúde (Datasus, 2014).

Variáveis do Estudo:

Variáveis de exposição:

Categorias de desastres:

Inundação Gradual - (enchentes, alagamentos e inundações graduais);

Inundação Brusca - (Enxurradas ou inundações bruscas);

Movimento de Massa - (escorregamentos, movimento de massa e

deslizamentos);

Secas - (secas e Estiagem).

Outros - (granizo, tornados e trombas d’équas)

Variáveis de desfecho (tipo de efeito):

Afetadas,

Desalojadas,

Desabrigadas,

Deslocadas,

Desaparecidas,

Page 50: Impacto dos desastres naturais sobre a saúde de crianças e ...

43

Vítimas Fatais,

Enfermas,

Levemente feridas

Gravemente feridas

Análise estatística dos dados

O software Excel (pacote Office 2013) foi utilizado para análise exploratória e de

correlação.

Inicialmente foi realizada uma análise exploratória dos dados, sendo os

resultados apresentados através das frequências, porcentagens e prevalências dos

desfechos, tanto globalmente, como segundo o tipo de desastre e a frequência de

ocorrência. As análises abordaram diferentes níveis de abrangências: estado,

mesorregião administrativa e municípios. A seguir verificaram-se as diferenças entre as

prevalências das variáveis de desfecho estudadas na população alvo e na população

geral.

A análise de correlação entre condições de vulnerabilidade socioambiental por

meio do indicador de desigualdade e distribuição de renda (GINI) e os registros de

impacto dos desastres naturais na população de 0 a 14 anos, foi realizada ao nível

municipal. Por meio de análise de regressão linear simples foi obtido o coeficiente de

determinação ou explicação (r).

Aspectos Éticos

Neste estudo os dados serão utilizados de forma agrupada de modo que não

serão descritas características individuais. Cabe ressaltar ainda que os dados

agrupados, da forma como serão tratados pelo estudo, são aqueles de domínio público

e disponibilizados pelos diferentes órgãos públicos.

Benefícios Esperados

Os benefícios esperados com a realização deste trabalho são todos de cunho

coletivo. A verificação do impacto dos desastres naturais pode ser utilizado para a

tomada de decisões no enfrentamento das questões de saúde ambiental infantil. Desta

forma, não haverá benefício individual que justifique a comunicação individual dos

resultados da pesquisa para os sujeitos.

Page 51: Impacto dos desastres naturais sobre a saúde de crianças e ...

44

Quanto à transferência de resultados, o projeto contempla a divulgação dos

resultados da pesquisa.

Page 52: Impacto dos desastres naturais sobre a saúde de crianças e ...

45

6. RESULTADOS

Os municípios do estado do Rio de Janeiro decretaram situação de emergência

(SE) ou estado de calamidade pública (ECP) 312 vezes devido a desastres naturais de

natureza distinta, no período de 2000 a 2012. Os eventos registrados no Estado

atingiram, ao todo, 86 municípios. O tipo de desastre natural mais frequente foi

enxurradas ou inundações bruscas com 117 eventos, seguido por enchentes ou

inundações graduais, 109 registros, e escorregamentos ou deslizamentos, 47 registros.

O Estado apresentou média anual de 24 desastres registrados no período. Os

anos que apresentaram número de ocorrências acima desta média foram 2008, 2010,

2003, 2009 e 2007, sendo respectivamente, 28, 35, 36, 38 e 48 eventos (figura 5).

Figura 5- Registros de ocorrência de desastres no período de 2000-2013.

Fonte: Banco de dados da Defesa Civil do estado do Rio de Janeiro.

Nos anos de 2007, 2008 e 2009 o tipo de desastre mais frequente foi inundação

gradual enquanto nos anos de 2003 e 2010 a ocorrência mais frequente foi inundação

brusca (figura 6).

6

16

3

36

17

24

15

48

28

3835

2422

0

10

20

30

40

50

60

2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012

Page 53: Impacto dos desastres naturais sobre a saúde de crianças e ...

46

Figura 6- Distribuição Temporal dos eventos no período 2000 a 2012

Fonte: Banco de dados da Defesa Civil do estado do Rio de Janeiro.

A população total afetada por desastres naturais no estado do Rio de Janeiro, no

período, foi cerca de 5 milhões, sendo 63% na faixa etária de 15 a 64 anos, 28%

menores de 15 anos e 8% acima de 65 anos. O tipo de desfecho mais frequente foi

“desabrigados” atingindo 62.779 pessoas, sendo 17.937 (29%) de 0 a 14 anos. No

Estado, 19.410 pessoas foram deslocadas, crianças representando 33% (6.420) do

total. Em relação aos tipos de desfecho de maior gravidade, 119 pessoas

desapareceram e 1.470 morreram em consequência dos desastres, crianças

representando 18% (22) e 24% (349), respectivamente. Neste grupo etário, os efeitos

diretos mais frequentes sobre a saúde física foram “levemente feridos” 4.384 (36%) e

“enfermos” 4.310 (40%) pessoas (tabela 2).

21

011

21

2 23

2 21 1

2 221

21 1

15

1

10

6

21

5

7

0

76

11

5

20

14 14

9

2

14

1

5

1

21

78

4

11

7

11

18

15

3

1

6

12

1

4

21 1

0

5

10

15

20

25

2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012

Estiagens Granizos Tornados e Trombas d´Águas

Esgorregamento ou deslizamento Enchente ou Inundações Graduais Enxuradas ou Inundações Bruscas

Outros

Page 54: Impacto dos desastres naturais sobre a saúde de crianças e ...

47

Tabela 2- Número de registros segundo os desfechos observados e faixa etária, no período de 2000 a 2012. Estado do Rio de Janeiro.

Desfecho 0-14 % 15-64 % >65 % Total

Afetados 1.429.905 28% 3.164.516 63% 423.668 8% 5.097.160

Deslocados 6.420 33% 10.998 57% 1.775 9% 19.410

Desaparecido 22 18% 85 71% 12 10% 119

Desabrigados 17.937 29% 37.828 61% 5.601 9% 62.779

Vítimas Fatais

349 24% 1.068 73% 50 3% 1470

Levemente Ferida

4.384 36% 5.954 49% 1.831 15% 12221

Gravemente ferida

66 15% 303 71% 59 14% 428

Enfermas 4.310 40% 5.315 50% 1.069 10% 10861

Fonte: Banco de dados da Defesa Civil do estado do Rio de Janeiro.

A tabela 3 apresenta a frequência anual dos desfechos registrados na população

de 0 a 14 anos, por ano do período estudado. O ano de 2005, embora não tendo um

número de ocorrências de desastres acima da média anual, foi o que apresentou o

maior percentual de crianças e adolescentes afetados: 40% da totalidade dos registros.

Adicionalmente, o ano de 2001, embora com apenas 16 eventos, registrou 45% de

todas as crianças e adolescentes desaparecidos e 63% dos enfermos, durante o

período de estudo. No entanto, o maior número de registros referentes às categorias

deslocados (30%) e desabrigados (23%) ocorreu no ano de 2007, quando também foi

observada a maior frequência de desastres, 48 eventos.

Os anos em que se observa grande ocorrência de desastres tipo “Inundação

brusca ou enxurrada” são os que apresentam impactos mais graves sobre a saúde de

crianças e adolescentes. O maior percentual de vítimas fatais nesta faixa etária (59%)

ocorreu no ano de 2011 (15 eventos); a maior ocorrência de “gravemente feridos” (32%)

e de “desaparecidos” (55%) foi durante o ano de 2010 que registrou a segunda maior

frequência deste tipo de evento (18); o ano de 2003 que teve o maior número de

eventos tipo “inundação brusca ou enxurrada” (20) registrou o terceiro maior percentual

de “gravemente feridos” (15%). O maior percentual de crianças e adolescentes

Page 55: Impacto dos desastres naturais sobre a saúde de crianças e ...

48

“levemente feridos” (59%) e o segundo maior percentual de “gravemente feridos” (21%)

foi registrado no ano de 2009 que apresentou 11 eventos deste tipo.

Page 56: Impacto dos desastres naturais sobre a saúde de crianças e ...

49

Tabela 3- Frequência anuais segundo os desfechos analisados na faixa etária de 0-14 anos, no Estado do Rio de Janeiro. Período: 2000 a 2012.

Ano/ Desfecho

Registros

AFET % DESLOC % DESAP % DESAB % VF % LEVE. FERIDO

% GRAVE. FERIDO

% ENF %

2000 6 9208 1% 171 3% 0 0 431 2% 3 1% 0 0% 0 0% 24 1%

2001 16 18274 1% 200 3% 10 45% 713 4% 16 5% 146 3% 7 11% 2695 63%

2002 3 6069 0% 454 7% 0 0% 71 0% 6 2% 5 0% 0 0% 0 0%

2003 36 22244 2% 927 14% 0 0% 1027 6% 10 3% 385 9% 10 15% 240 6%

2004 17 4323 0% 53 1% 0 0% 237 1% 1 0% 14 0% 0 0% 3 0%

2005 24 574644 40% 277 4% 0 0% 608 3% 3 1% 35 1% 0 0% 138 3%

2006 16 15731 1% 31 0% 0 0% 166 1% 2 1% 56 1% 0 0% 1 0%

2007 48 198521 14% 1900 30% 0 0% 4062 23% 8 2% 43 1% 2 3% 447 10%

2008 28 75414 5% 549 9% 0 0% 2119 12% 4 1% 31 1% 3 5% 18 0%

2009 38 125043 9% 386 6% 0 0% 1727 10% 9 3% 2565 59% 14 21% 188 4%

2010 35 310597 22% 1323 21% 12 55% 3168 18% 76 22% 934 21% 21 32% 60 1%

2011 22 25180 2% 45 1% 0 0% 2668 15% 205 59% 145 3% 9 14% 482 11%

2012 22 44657 3% 104 2% 0 0% 940 5% 6 2% 25 1% 0 0% 14 0%

Total 312 1429905 100% 6420 100% 22 100% 17937 100% 349 100% 4384 100% 66 100% 4310 100%

Média 24 119159 - 536 - 2 - 1495 - 29 - 365 - 6 - 359 -

DP 13 399034 - 1732 - 7 - 4736 - 105 - 1321 - 18 - 1314 -

Fonte: Banco de dados da Defesa Civil do estado do Rio de Janeiro.

Legenda : / AFET –afetado / DESLOC –deslocados / DESAP- desaparecido”/ VF- Vítimas Fatais / DESAB –Desabrigado” / LEVE. FERIDO: Levemente ferido

/ GRAVE. FERIDO –gravemente ferido” / Enf -ENFERMOS

Page 57: Impacto dos desastres naturais sobre a saúde de crianças e ...

50

Em relação ao perfil de ocorrência dos desfechos à saúde, houveram 8.760

registros, no período, na população de 0 a 14 anos. Os anos de 2001 (33%) e 2009

(32%) foram os que apresentaram maior número de registros. As categorias “levemente

feridas” (50%) e “enfermas” (49%) representaram 99% de todos os registros (tabela 4).

Tabela 4 - Efeitos saúde decorrentes de desastres naturais na população de 0-14 anos, no estado do Rio de Janeiro. Período de 2000 – 2012.

Ano/Desfechos LF % GF % E % Total %*

2000 0 0% 0 0% 24 1 24 0%

2001 146 5% 7 0% 2695 95% 2.848 33%

2002 5 100% 0 0% 0 0 5 0%

2003 385 61% 10 2% 240 38% 635 7%

2004 14 82% 0 0% 3 18% 17 0%

2005 35 20% 0 0% 138 80% 173 2%

2006 56 98% 0 0% 1 2% 57 1%

2007 43 9% 2 0% 447 91% 492 6%

2008 31 60% 3 6% 18 35% 52 1%

2009 2565 93% 14 1% 188 7% 2.767 32%

2010 934 92% 21 2% 60 6% 1.015 12%

2011 145 23% 9 1% 482 76% 636 7%

2012 25 64% 0 0% 14 36% 39 0%

Total 4384 50% 66 1% 4310 49% 8.760

Fonte: Banco de dados da Defesa Civil do estado do Rio de Janeiro. Legenda: LF- “Levemente Ferida” / GF – “Gravemente Ferida” / E- “Enfermas”; % - frequência percentual;

%*- frequência percentual do total de registros apresentados.

Ao analisarmos o número de “afetados” em relação à população geral, por faixa

etária (de 0 a 14 anos e de 15 a 64 anos) por ano do estudo, observamos que,

proporcionalmente, houve maior número de “afetados” no grupo populacional até 14

anos, em relação ao grupo de 15 a 64 anos, nos anos de 2005, 2007, 2009, 2010 e

2011 (tabela 5).

Page 58: Impacto dos desastres naturais sobre a saúde de crianças e ...

51

Tabela 5-– Proporção da categoria “afetados” por grupo etário e ano de estudo (2000 a 2012) no estado do Rio de Janeiro.

Ano População Afetada

0-14 População Afetada

15-64 População Afetada

>65

2000 0% 0% 0%

2001 0% 0% 0%

2002 0% 0% 0%

2003 1% 1% 1%

2004 0% 0% 0%

2005 15% 13% 1%

2006 0% 0% 1%

2007 5% 4% 4%

2008 2% 2% 2%

2009 3% 2% 3%

2010 9% 6% 16%

2011 1% 0% 1%

2012 1% 1% 1%

Fonte: Banco de dados da Defesa Civil do estado do Rio de Janeiro.

O tipo de desastre classificado como “inundação gradual” foi o que apresentou o

maior número de registros nas categorias “levemente ferido” (31%) “afetados” (17%)

deslocados (40%) e desabrigados (54%) na população alvo. No entanto, as

“inundações bruscas” são os eventos com efeito lesivo mais grave sobre a população.

Observa-se que o maior percentual das categorias “vítimas fatais” (49%), “gravemente

ferido” (61%) e “enfermos” (64%) ocorre neste tipo de desastre. “Movimento de massa”

também é um tipo de evento com impacto de grande gravidade pois tem o segundo

maior percentual de “vítimas fatais” (42%) e “desaparecidos”, 18%. A categoria de

desastres denominado Outros registrou 50% dois afetados do Estado (tabela 6).

Page 59: Impacto dos desastres naturais sobre a saúde de crianças e ...

52

Tabela 6- - Registros segundo desfechos analisados/ tipo de desastres na faixa etária de 0-14 anos, período de 2000 a 2012, no estado do Rio de Janeiro.

Tipo de desastre / Desfecho

IB % IG % MM % ES % Outros Total

Afetados 236946 17% 329390 23% 135590 10% 5804 0% 722175 50% 1.429.905

Deslocados 2686 42% 2572 40% 720 11% 0 0% 442 7% 6.420

Desaparecido

8 36% 10 45% 4 18% 0 0% 0 0% 22

Desabrigados

5125 29% 9677 54% 3120 16% 0 0 257 2% 18.179

Vítimas Fatais

172 49% 26 7% 147 42% 0 1% 4 0% 349

Levemente Ferida

1350 31% 2914 66% 114 3% 0 0% 6 0% 4.384

Gravemente Ferida

40 61% 19 29% 7 11% 0 0% 0 0% 66

Enfermas 2764 64% 1099 25% 267 6% 0 0% 180 4% 4.310

Fonte: Banco de dados da Defesa Civil do estado do Rio de Janeiro.

Legenda : IB=Enxurrada ou Inundação Brusca/ IG – Enchente ou Inundação Gradual / MM – Escorregamento ou

movimento de massa / ES - Secas ou estiagens.

Ao analisarmos a distribuição da ocorrência de desastres por mesorregiões do

estado do Rio de Janeiro, observamos que, as regiões “Noroeste” (23%), “Centro”

(18%) e “Metropolitana” (16%) foram as mais atingidas. A região da Baixada (5%)

apresentou o menor percentual (tabela 7).

Tabela 7 - Registros de ocorrência nas mesorregiões do estado do Rio de Janeiro, no período 2000 a 2012.

Região / Frequência

Frequência Absoluta Frequência Percentual

Baixadas 17 5%

Serrana 38 12,5%

Norte 38 12%

Sul 42 13%

Metropolitana 49 16%

Centro 57 18%

Noroeste 71 23,5%

Total 312 100%

Fonte: Banco de dados da Defesa Civil do estado do Rio de Janeiro.

Page 60: Impacto dos desastres naturais sobre a saúde de crianças e ...

53

O tipo de desastre “inundação gradual ou enchente” ocorreu em média 16 vezes

nas mesorregiões do estado, sendo que as regiões “metropolitana” (21%), “Norte”

(20%) e “Noroeste” (30%) apresentaram os maiores registros. O desastre “inundação

brusca ou enxurradas” ocorreu em média 17 vezes, as maiores frequências registradas

foram nas regiões “Centro” (22) e “Noroeste” (20). Movimento de massa é uma

ocorrência mais frequente nas regiões “Sul” (28%), “Serrana” (23%) e “Centro” (23%)

(tabela 8).

Tabela 8 - Registros de ocorrência dos tipos de desastres analisados nas mesorregiões do estado do Rio de Janeiro, nos anos 2000 - 2012.

Tipo de desastres/ Região

IG % IB % MM % Outros %

Metropolitana 23 21% 16 14% 6 13% 4 10%

Serrana 5 5% 21 18% 11 23% 1 3%

Sul 6 6% 19 16% 13 28% 3 8%

Baixadas 6 6% 3 3% 0 0% 8 21%

Centro 14 13% 26 22% 11 23% 6 15%

Norte 22 20% 8 7% 1 2% 7 18%

Noroeste 33 30% 23 20% 5 11% 10 26%

Total 109 100% 116 100% 47 100% 39 100% Fonte: Banco de dados da Defesa Civil do estado do Rio de Janeiro Legenda : IB=Enxurrada ou Inundação Brusca/ IG – Enchente ou Inundação Gradual / MM – Escorregamento ou movimento de massa / ES - Secas ou estiagens. %-= frequência percentual.

Na tabela 9 apresentamos as frequências registradas na faixa etária de 0-14

anos dos desfechos para as mesorregiões do estado do Rio de Janeiro. A região

“Metropolitana”, a mais populosa dentre as demais, apresentou os maiores registros

para os desfechos “afetados” (55%), “gravemente feridos” (61%), e desaparecidos

(50%). A região também apresenta elevados percentuais nas categorias dos efeitos

diretos à saúde “levemente feridos” (88%) e “enfermos” (73%). A região Serrana,

apesar de apresentar apenas 5% de todas as crianças e adolescentes afetados, é

responsável por 70% das ocorrências de vítimas fatais e 45% de todos os

desaparecidos registrados. A mesorregião Centro é responsável por 29% de todos os

registros na categoria “deslocados” e 15% na categoria “gravemente feridos”. A região

Norte apresenta 29% dos “desabrigados” registrados.

Page 61: Impacto dos desastres naturais sobre a saúde de crianças e ...

54

Page 62: Impacto dos desastres naturais sobre a saúde de crianças e ...

55

Tabela 9 - Frequência de ocorrência das categorias estudas da população de 0-14 anos nas mesorregiões do estado, do ano 2000 a 2012.

Região/ Desfecho

MT SRR S BX CT N NO Total

N % N % N % N % N % N % N %

Afetados 784302 55% 76070 5% 137594 10% 148042 10% 45671 3% 125378 9% 112848 8% 1429905

Deslocados 861 13% 1073 17% 686 11% 7 0% 1862 29% 848 13% 1083 17% 6420

Desaparecido 11 50% 10 45% 1 5% 0 0% 0 0% 0 0% 0 0% 22

Desabrigados 4816 26% 2744 15% 1197 7% 274 2% 1678 9% 5315 29% 2155 12% 18179

Vítimas Fatais

74 21% 243 70% 17 5% 0 0%

11 3% 1 0% 3 1% 349

Levemente Ferida

3879 88% 174 4% 18 0% 3 0%

62 1% 72 2% 176 4% 4384

Gravemente Ferida

40 61% 9 14% 6 9% 0 0%

10 15% 1 2% 0 0% 66

Enfermas 3151 73% 331 8% 24 1% 2 0% 18 0% 589 14% 195 5% 4310

Fonte: Banco de dados da Defesa Civil do estado do Rio de Janeiro.

Legenda: MT- Região Metropolitana; SRR- Região Serrana; S- Região Sul; BX- Região baixadas; CT- Região Centro; N- Região Norte; NO- Região Noroeste; DP- Desvio Padrão; CV- Coeficiente de variação.

Page 63: Impacto dos desastres naturais sobre a saúde de crianças e ...

56

Na tabela 10 demostramos a análise da ocorrência da categoria “afetados” na

faixa etária de 0 a 14 anos, em relação ao Índice de Gini por mesorregião do Estado

observa-se uma correlação positiva e estatisticamente significativa na mesorregião

norte (r = 0,772; p <0,05) e na mesorregião metropolitana (fraca) no ano de 2010 (r =

0,440; p <0,077).

Tabela 10 - Analise de correlação do índice de GINI municipal e os registros de afetados na população de 0-14 anos, durante o período de estudo.

2000 2010

Mesorregião r p r p

Metropolitana 0.321 0.740 0.440 0.077

Serrana -0.010 0.855 0.445 0.236

Sul 0.247 0.432 0.189 0.621

Baixadas 0.497 0.159 0.366 0.366

Centro 0.050 0.976 0.398 0.165

Norte 0.541 0.203 0.772 0.025

Noroeste 0.039 0.938 0.065 0.951 Fonte: Banco de dados da Defesa Civil do estado do Rio de Janeiro (afetados de 0-14); Datasus –(Índice de Gini 2000 e 2010).

Desta forma evidenciamos que crianças são proporcionalmente mais afetados

que adultos. Inundação brusca e movimento de massa demonstrou ser as categorias

mais impactante na população infantil. Inundação gradual está caracterizado pelos

desfechos menos graves. As regiões metropolitana e serrana testemunham os

impactos mais graves na população alvo, no entanto, os maiores registros de

ocorrência foram registrados nas regiões noroeste e centro.

Page 64: Impacto dos desastres naturais sobre a saúde de crianças e ...

57

7. DISCUSSÃO

Os resultados do presente estudo apresentam, em média, 30% dos desfechos

analisados (afetados, deslocados, desaparecidos, desabrigados, vítimas fatais)

ocorrendo na faixa etária de 0 a 14 anos, no estado do Rio de Janeiro. Quanto aos

desfechos com impacto direto sobre a saúde da população (levemente feridos,

gravemente feridos e enfermos) este percentual está entorno de 40% na população

alvo.

Os resultados obtidos corroboram com os dados aferidos na literatura, (MOSS

ET AL, 2006) (OPAS, 2003), que relatam média de 30 a 50% dos desfechos

decorrentes dos efeitos dos desastres ocorrendo na faixa etária de 0 a 14 anos.

Os desfechos deslocados e desabrigados devem ser analisados com maior

critério. A população que em consequência dos desastres fica impossibilitada de

permanecer em sua habitação é alocada pelas autoridades em centros de acolhimentos

e abrigos temporários. Compreende-se que a situação de desastres não se restringe

ao evento em si (momento de ocorrência do impacto), mas inclui o período depois do

ocorrido em que expõem a população aos reflexos sociais, psicológicos e materiais

(SANTOS, ET AL, 2014).

O período após o desastre demanda intervenção imediata cabendo aos três

níveis de governo as ações de resposta e intervenção. A Portaria nº 372, de 10 de

março de 2005, do Ministério da Saúde, constitui o Programa Nacional de Vigilância em

Saúde Ambiental dos Riscos Decorrentes dos Desastres Naturais (Vigidesastres) com

finalidade de executar as atividades de planejamento, gerenciamento,

acompanhamento, monitoramento e avaliação das ações de saúde no tocante ao

atendimento emergencial aos estados e municípios acometidos por desastres naturais

e/ou antropogênicos, de acordo com os princípios e diretrizes do Sistema Único de

Saúde (SUS).

É fundamental ainda destacar algumas ações a serem adotadas logo após a

situação de emergência e/ou desastre. A resolução Nº 145, de 15 de outubro de 2004,

do Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, constitui a Política

Nacional de Assistência Social (PNAS) que tem, entre seus objetivos, “prover serviços,

Page 65: Impacto dos desastres naturais sobre a saúde de crianças e ...

58

programas, projetos e benefícios de proteção social básica e/ou especial para famílias,

indivíduos e grupos que deles necessitarem”. Cabe à Assistência Social a gestão dos

abrigos, devendo assegurar que em cada abrigo tenha coordenação e apoio de outros

profissionais, estando atenta à necessidade de estabelecer atendimento em regime de

plantão a famílias e indivíduos, sem interrupções.

A Política Nacional de Proteção e Defesa Civil (PNPDEC) destaca a competência

dos órgãos de defesa civil na garantia da redução dos desastres por meio de: a) ações

de prevenção, b) mitigação, c) preparação, d) resposta e e) recuperação (BRASIL,

2012). O período após a ocorrência dos desastres, conhecido como fase de resposta e

recuperação, pode ter consequências drásticas sobre a saúde da população em geral.

O deslocamento populacional em situações de emergência e a vida em

alojamento provisório são caracterizados pela superlotação, condições caóticas, falta

de privacidade e colapso da rotina. Tais situações podem contribuir para situações de

descontroles psicológicos, frustração, violência, assédio e abuso sexual. Os efeitos

acumulativos de tais condições físicas e sociais podem afetar o desenvolvimento infantil

em todas as fases (BARTLETT, 2008).

O momento após o desastre apresenta altas taxas de mortalidade. Segundo a

Organização Mundial da Saúde (2008), a taxa de mortalidade para crianças geralmente

é o dobro registrado quando comparado à população adulta. Condições precárias

apresentadas durante acolhimento são os principais fatores de adoecimento.

As principais causas de mortalidade e morbidade em crianças, durante situações

de emergência são diarreias, infecções respiratórias agudas, sarampo, malária,

deficiências nutricionais e de micronutrientes (TOOLE e WALDMAN, 1997) graves

infecções bacterianas, lesões traumáticas, injuria, queimaduras e envenenamentos

(WHO, 2008).

A faixa etária infantil está entre as mais prejudicadas durante o acolhimento em

centros de referência. Menores de 14 anos são vulneráveis às condições ambientais

deficitárias encontradas nos abrigos, tais como a má qualidade da água para consumo

e do ar, alimentação escassa e baixa qualidade nutricional (OPAS, 2003),

especialmente quando se trata de menores de 5 anos (MOSS ET AL, 2006).

Page 66: Impacto dos desastres naturais sobre a saúde de crianças e ...

59

Menores de 14 anos, apresentam sistemas imunológico imaturo, e enzimático em

formação e encontram-se em estágios de desenvolvimento corporal que determinam

maior possibilidade de absorção dos contaminantes existentes nos meios ambientais

através da inalação, ingestão ou absorção dérmica (OPAS, 2003) (GUIMARÃES e

ASMUS, 2010) (MAZOTO ET AL, 2011). Equipes médicas de emergência devem ter

maior atenção a este grupo populacional, principalmente, em ambientes confinados,

realidade comumente encontrada nos abrigos e centros de acolhimento, pois é elevado

o risco de adoecimento (MOSS ET AL, 2006).

Situações adversas encontradas nos abrigos tendem a produzir maiores transtornos

nas crianças. Os centros de referências são caracterizados pela grande concentração

de pessoas, escassez de recursos vitais, maior ocorrência de surtos virais e bacterianos

(MOSS ET AL, 2006). Entre as condições adversas a que crianças podem ser

submetidas destacam-se a má nutrição, a falta de acesso a serviços de saúde, a

precariedade da qualidade de vida nos abrigos, a ausência de fornecimento de água

potável e saneamento inadequado, carência de informação e compreensão dos riscos

apresentados, situação de abandono temporário e a ausência de medidas de

prevenção e proteção contra doenças infecciosas (MEDINA, 2003).

Bartlett (2008) afirma que dentre as enfermidades possíveis de ocorrerem nos

centros de acolhimento, as doenças diarreicas são causas comuns de adoecimento

infantil durante a fase de resposta a um desastre e, em algumas situações, resultam

em altas taxas de mortalidade. Segundo este autor, o acesso a água limpa e segura é

agravado onde as condições de infraestrutura são colapsadas em decorrência do

evento.

A falta de abastecimento de água potável e de saneamento adequado é um fator

importante tanto em eventos extremos (ocorrência brusca) como em eventos de longa

duração (estiagens e secas). De acordo com a Organização Mundial de Saúde (WHO,

2008), as doenças diarreicas, como resultado de contaminação de fontes de água

ocasiona maiores taxas de mortalidade que o desastre em si. Neste tocante, a higiene

ocorre de forma precária mediante a ausência ou escassez de água potável e adequada

para o consumo, a limpeza e desinfecção em geral estará comprometida influenciando

em maior adoecimento da população (BARTLETT, 2008).

Page 67: Impacto dos desastres naturais sobre a saúde de crianças e ...

60

Segundo a Organização Mundial de Saúde (WHO, 2008) infecções respiratórias

e surtos bacterianos são causas comuns de adoecimento infantil em condições de

superlotação e aglomeração. O manejo e prevenção das infecções respiratórias agudas

em crianças durante situações de emergência são baseados em evidências

provenientes de situações de rotina, por exemplo, contra o sarampo, a difteria, etc.

Condições de vida em abrigos estão associados a maior transmissão de tuberculose,

doenças diarreicas, sarampo, doença meningocócica, ocorrendo, principalmente, em

populações com baixos níveis de cobertura de vacinação.

Uma das áreas mais vulneráveis durante a fase de resposta é o atendimento

psicológico das crianças (OPAS, 2002). Segundo a Organização Pan-americana de

Saúde, em geral, os profissionais especializados da área não estão preparados para

auxiliar as crianças afetadas durante desastres, genocídios, massacres, guerras e

deslocamento populacional. Reações pós-traumáticas que podem ocorrer em crianças

e adultos devem ser tratadas rapidamente. A ausência de atenção ao problema está

relacionada a maior ocorrência de adoecimento na população infantil.

Adicionalmente à situação de acolhimento, alguns tipos de desastres são

caracterizados por apresentarem grande número de crianças desacompanhadas e/ou

órfãs (SAPIR, 1993) apud (MOSS ET AL, 2006). Os autores apontam altas taxas de

mortalidade documentadas, em 1994, entre crianças refugiadas desacompanhadas

durante a guerra civil em Ruanda. A maioria das mortes infantis (85%) ocorreu dois dias

após a chegada nos centros. Neste tocante, os autores relatam redução significativa na

mortalidade infantil quando executada uma estratégia de assistência social adequada,

reduzindo a morbimortalidade ao patamar semelhante ao registrado em crianças

acompanhadas de seus pais.

O percentual de 40% das ocorrências com impacto direto sobre a saúde, aferido

no presente trabalho, na população infantil (levemente feridos, gravemente feridos e

enfermos) alerta para os aspectos de vulnerabilidade funcional e organizacional da rede

hospitalar. Segundo a Organização Pan-Americana de Saúde (OPS, 2006 apud

(OLIVEIRA, 2009, p. 3)).

Page 68: Impacto dos desastres naturais sobre a saúde de crianças e ...

61

“cerca da metade dos 15.000 hospitais existentes na América

Latina e Caribe estão localizados em zonas de alto risco. Em

alguns casos devido à própria susceptibilidade da região em ser

afetada por fenômenos naturais, mas em outros, porque a

seleção da localização da obra foi inadequada em função da

falta de um estudo de alternativas apropriadas”

Neste contexto, os aspectos de vulnerabilidade funcional e organizacional

hospitalar se referem à distribuição geográfica, aos serviços médicos e de apoio

especializados, assim como aos processos administrativos. Durch e Lohr (1993)

definem assistência médica emergencial infantil como cuidados especializados,

prestados por médicos, enfermeiros, paramédicos, técnicos, fisioterapeutas, entre

outros, que abrange uma vasta gama de serviços, incluindo prevenção, atendimento

pré-hospitalar, estabilização e atendimento em diversos regimes de internação e

reabilitação.

Durch e Lohr (1993) relatam que o atendimento prestado as crianças, durante

os desastres, nem sempre é adequado. Crianças têm necessidades clínicas exclusivas,

dificultando que elas sejam atendidas por serviços assistenciais projetados para

adultos. Bebês e crianças muito jovens são mais suscetíveis à internações do que

crianças mais desenvolvidas. Até 12 anos, em média, as crianças são acometidas,

principalmente, por enfermidades do aparelho respiratório, de origem imunológica ou

infecciosa, que podem determinar hospitalizações com maior frequência do que devido

a ferimentos. No presente estudo observa-se que 99% dos registros referentes ao

impacto direto sobre a saúde, nesta faixa etária, abrangem a categoria “enfermos (49%)

e “levemente ferido (50%).

O presente estudo apontou mais de 5 milhões de afetados por desastres naturais

no estado do Rio de Janeiro, durante os anos de 2000 a 2012, sendo 28% (1.429.905)

do total referente a ocorrências na faixa etária de 0-14 anos. Um estudo realizado pelo

CEPED/SC* (Centro Universitário de Estudos e Pesquisas Sobre Desastres)

(CEPED/SC, 2012), demostrou que a região Sudeste é a terceira região mais afetada

por desastres no Brasil, no período, com 6.418 registros e 20.528.477 de pessoas

Page 69: Impacto dos desastres naturais sobre a saúde de crianças e ...

62

afetadas. Destes pouco menos de 4 milhões correspondiam apenas ao estado do Rio

de Janeiro (quadro 3).

Quadro 3 - Registros de danos humanos. Período: 1991 a 2010.

Desfecho / Região Região sudeste*

1991-2010

Rio de Janeiro*

1991 - 2010

Presente Estudo**

2000-2012

Afetados 20.528.477 3.943.268 5.097.160

Vítimas Fatais 2.346 1.783 1.470

Desaparecido -- 247 119

Desalojados 988.444 21.003 19.410

Desabrigados 267.853 74.790 62.779

Deslocadas 277.090 348.829 19.410

Enfermas 35.140 7.762 10.861

Gravemente ferida 833 382 428

Levemente feridas 17.424 12.161 12.221

Fonte: * (CEPED/SC, 2012) utilizou como fonte de dados os documentos oficiais das três esferas de

governo (Relatório de Danos; AVADAN; NOBRED; Decretos e Portarias) abrangendo os anos de 1991 a 2010.

**Banco de dados da Defesa Civil do estado do Rio de Janeiro

Não obstante os dados apresentados, salientamos que os desfechos estudados

possivelmente não representam de forma fidedigna a população atingida por desastres

em ambos os estudos. Os sistemas de notificação são utilizados pelos gestores

municipais em situações onde o município reconhece uma situação de anormalidade,

no entanto, diversas outras ocorrências de menor porte não são notificadas. Segundo

Blaikie et al (1996) os prejuízos decorrentes da soma dos pequenos eventos, aqueles

que não são notificados, podem ser superiores aos de um grande desastre. Cada

evento de grande magnitude tem, em média, 300 pequenos e médios desastres

paralelos, cujos danos acumulados, não registrados nas bases de dados globais,

podem chegar a duplicar as cifras, de modo que os níveis de perdas econômicas e

sociais são muito maiores.

Segundo os dados aferidos no presente estudo, os anos de maior impacto dos

desastres sobre a população infantil, no estado do Rio de Janeiro, foram os anos 2001,

Page 70: Impacto dos desastres naturais sobre a saúde de crianças e ...

63

2003, 2005, 2007, 2009,2010 e 2011. Os elevados registros nos anos 2003, 2005,

2007, 2009 e 2010 sugerem associação com o fenômeno “El nino”. Segundo WHO(

2012) quando “El Niño” e “La Niña” estão atuando, eventos climáticos extremos

ocorrem com maior frequência, podendo resultar em desastre quando as comunidades

apresentam baixa resiliência. (WHO E WMO, 2012).

Os anos 2005/ 2007 / 2009/ 2010, registraram os maiores percentuais de

prevalência de afetados na população infantil, respectivamente 15%, 5%, 3% e 9%

(tabela 5). Nestes anos ocorreram 85% de todas as crianças afetadas (tabela 3)

Os anos de 2005/07/09, foram caracterizados pela predominância de inundações

graduais e movimentos de massa. Segundo os estudos do CEPED/SC (2011), as

ocorrências de inundação gradual tiveram picos no território brasileiro, na década de

2000, registrando 72% de todos os eventos durante o período de 1990 a 2010. Os anos

de 2010 e 2011foram caracterizados por inundações bruscas (figura 6). Nestes anos

também registraram-se 81% de todos os óbitos infantis durante o período do estudo

(tabela 3).

O tipo de desastre inundação gradual apresentou o maior percentual de crianças

afetadas, deslocadas, desalojadas e desabrigadas (Tabela 6). No estudo realizado pelo

CEPED/SC, os principais desfechos analisados também foram os supra citados para

este tipo de desastre, independente da região administrativa analisada.

A análise dos dados sugere associação entre o tipo de desastre inundação

brusca e movimento de massa e os desfechos de maior impacto na população (vítimas

fatais, desaparecidos e gravemente feridos). Estes tipos de desastres foram os que

mais vitimaram a população infantil, representando 92% do total de vítimas fatais nesta

faixa etária (tabela 6). A literatura corrobora com os dados apresentados (CEPED/SC,

2012) (BRASIL, 2013) (KOBIYAMA, , et al., 2006)

Os tipos de desastres naturais mais frequentes no estado do Rio de Janeiro

durante o período de estudo, Inundação Gradual, Inundação Brusca e Movimento de

Massa, foram, predominantemente, causados por influências hidrológicas (tabela 6).

Page 71: Impacto dos desastres naturais sobre a saúde de crianças e ...

64

Desastres de influência hidrológica, como os registrados no Rio de Janeiro, são as

ocorrências mais comum no mundo (OFDA/CRED, 2013).

Os desastres de influência hidrológica estão associados intimamente com o

zoneamento urbano e áreas de riscos nas cidades de grande densidade populacional

(BLAIKIE, P. ET AL., 1996). A fim de compreender o risco em termos de nossa análise

de vulnerabilidade podemos abordar duas teorias norteadoras, segundo (WISNER, ET

AL., 2003). Salientamos que não esgotaremos o tema neste momento, os fatores

causais do desastre serão discutidos ao longo do texto. O modelo de liberação de

pressões e o modelo de acesso.

O modelo de pressão ocorre quando os perigos naturais afetam pessoas

vulneráveis. Sua vulnerabilidade está enraizada em processos sociais e

as causas são geradas independentes do evento em si. A ideia base para

a compreensão deste modelo é que um desastre é a intersecção de duas

forças opostas: os processos econômicos e sociais, que geram

vulnerabilidade, e o perigo (evento natural). A ideia de "libertação" é

incorporada ao conceituar o processo de redução dos impactos dos

eventos: afim de aliviar a pressão, a vulnerabilidade, necessariamente,

tem de ser reduzida. O modelo enfatiza que o evento ocorre de forma

independente e distinto das condições de risco, no entanto, a magnitude

do impacto estará fortemente atrelada à vulnerabilidade, alterando a

capacidade de recuperação dos diferentes grupos sociais.

O segundo modelo, "modelo de acesso ', é uma análise ampliada dos

principais fatores aplicados no modelo anterior, este está também

relacionado com a vulnerabilidade humana e sua exposição aos riscos

físicos, e concentra-se no processo pelo qual os impactos dos eventos

naturais sobre as pessoas são resultado de suas capacidades de

respostas. É uma análise ampliada de como a vulnerabilidade é

inicialmente gerada por processos econômicos, sociais e políticos, e que,

em seguida, influencia em como um desastre afeta a comunidade.

Page 72: Impacto dos desastres naturais sobre a saúde de crianças e ...

65

Baseando-se nos modelos apresentados poderemos analisar os fatores

deletérios à saúde da população infantil. Durante as chuvas fortes ou prolongadas,

segundo os modelos apresentados, a ocorrência de inundações, sejam elas bruscas

ou graduais gera impacto direto à população, sendo mais provável de ocorrer em

comunidades que estão localizadas em áreas inundáveis, ou seja, vulneráveis e de

baixa resiliência.

O processo de urbanização tem seu início nas áreas mais baixas da bacia

hidrográfica, áreas quais possuem um melhor acesso e condições para a construção,

permitindo a instalação das comunidades e atividades produtivas. Após a ocupação

das áreas mais planas, a urbanização se expande para as regiões mais altas,

substituindo a vegetação natural por áreas impermeáveis e, assim, dificultando a

retenção das águas de chuva (JÚNIOR, 2014). A magnitude e frequência das

inundações ocorrem em função da intensidade e distribuição da precipitação, da taxa

de infiltração de água no solo, do grau de saturação do solo e das características

morfometrias e morfológicas da bacia de drenagem (TOMINAGA, ET AL., 2009).

Tominaga, et al . (2009), destacam que os fatores condicionantes do processo

de inundação não são oriundos apenas dos fatores antrópicos: uso e ocupação irregular

nas planícies e margens de cursos d’água e alterações nas características da bacia

hidrográfica e da vazão dos cursos d’água vazão. Eles advêm também das

características naturais da bacia hidrográfica em questão, como as formas do relevo,

as características da rede de drenagem da bacia hidrográfica, a intensidade,

quantidade, distribuição e frequência das chuvas, as características do solo e o teor de

umidade, a presença ou ausência da cobertura vegetal e o intenso processo de erosão

dos solos e de assoreamento dos cursos d’água.

Com a elevação dos níveis hídricos, a rede de esgoto e as fossas alagadas são

bloqueadas e, consequentemente, os níveis mínimos de drenagem são sobrepostos. O

esgoto e os resíduos são espalhados por toda a área, a contaminação fecal, difícil de

evitar em áreas densamente povoadas, ocorrerá. No Peru, após as inundações

relacionadas com o El Niño ocorridas em 1997-1998, as internações hospitalares de

crianças por diarreia triplicaram (BARTLETT, 2008).

Page 73: Impacto dos desastres naturais sobre a saúde de crianças e ...

66

Doenças transmitidas por roedores (como leptospirose), por exemplo, tendem a

aumentar durante as enchentes ou chuvas fortes, especialmente onde há esgotos a

céu aberto. Após as inundações em Mumbai, em 2000, 2001 e 2005, a incidência de

leptospirose na população infantil aumentou em oito vezes. Surtos foram associados

principalmente com crianças brincando na água da enchente ou deslocando-se até à

escola (BARTLETT, 2008).

Alteração nos padrões de temperatura e precipitação, no nível local, influenciam

no ciclo de uma gama de vetores, fenómenos meteorológicos extremos também pode

contribuir para situações como o crescimento de infecções por bactérias, vírus, mofo e

bolor. Vetores, como mosquitos e ocorrências de encefalite transmitida por carrapatos

se tornando mais frequentes, e sua incidência é estimada em duas vezes para crianças

entre cinco e 10 anos. A febre da Dengue, outra doença transmitida por mosquitos,

afeta as crianças mais velhas e adultos com mais frequência, mas as crianças são mais

propensas a experimentarem mudanças sintomáticas severas (BARTLETT, 2008).

Em estudo de coorte realizado em Bangladesh após as inundações de 1998, as

crianças menores de cinco anos que haviam sido expostos foram comparadas com

aquelas em vilarejos não expostos. Os dados foram coletados em 2, 8 e 15 meses após

o fim do evento, indicando que as crianças expostas ao evento apresentaram maior

ocorrência de baixo peso e menor estatura. As famílias foram incapazes, ao longo do

período do estudo, de conseguir compensar a escassez de alimentos decorrente da

enchente. (BARTLETT, 2008).

As alterações dos índices de precipitação determinam aumento natural na

contagem de pólen, crescimento demasiado de fungos e bolores, aumento de ozônio

na atmosfera e de outros poluentes que influenciam o aumento dos problemas

respiratórios infantis, como pneumonia e asma (BARTLETT, 2008).

No estado do Rio de Janeiro, segundo o banco de dados da defesa civil, o tipo

de desastre que ocorreu com maior frequência foi inundações bruscas e enxurradas,

sendo as regiões mais afetadas o Centro (26 eventos), Noroeste (23 eventos), Serrana

(21 eventos) e Sul (19 eventos). Este tipo de ocorrência foi a que mais deslocou,

desabrigou e causou vítimas fatais na população infantil. A região serrana foi a que

Page 74: Impacto dos desastres naturais sobre a saúde de crianças e ...

67

mais registrou crianças na categoria “vítimas fatais” e o segundo maior registro de

desaparecidos no estado.

Os municípios de Teresópolis (44%), Nova Friburgo (42%) e Petrópolis (11%)

detém 97% do total de registros de vítimas fatais na faixa etária de 0 a 14 anos. Em

Petrópolis foram registrados 100% dos desaparecidos da região serrana, nesta faixa

etária.

Tominaga (2009) ressalva que em condições naturais, quando a vegetação está

presente, o escoamento superficial das águas das chuvas é lento e a taxa de infiltração

é elevada. Já nas áreas com modificações antrópicas, como exemplo as áreas urbanas,

a velocidade de escoamento tem se intensificado por consequência da

impermeabilização do solo, retificação e assoreamento de cursos d’água. O modelo de

urbanização praticado no Brasil, com a ocupação das planícies de inundação e

impermeabilizações ao longo das vertentes, mesmo em cidades de topografia

relativamente plana, onde, teoricamente, a infiltração seria favorecida, tem propiciado

a ocorrência deste tipo de desastre.

A categoria de desastre classificada como “movimento de massa” foi a segunda

ocorrência com maior registro de “vítimas fatais” na população infantil, no presente

estudo. Sua distribuição no Estado é mais frequente nas áreas montanhosas, ou seja,

a região Serrana e Centro (23 eventos registrados), seguido da região Sul (13 eventos

registrados), Os municípios mais atingidos foram Angra dos Reis na região Sul, os

municípios de Petrópolis e Teresópolis na região Serrana e na região centro os

municípios de Sapucaia e Nova Friburgo. Os dados apresentados pelo estudo

CEPED/SC (2012) também apontam maior frequência de movimento de massa deste

tipo de desastres nas regiões montanhosas do estado.

A ocupação de áreas de aclives acentuados caracteriza o rápido processo de

urbanização brasileiro. Segundo Carmo (2014), a urbanização foi marcada pela

ocupação de áreas que necessariamente deveriam permanecer desocupadas, seja

pelo risco de ocupar áreas instáveis, ou pelo interesse na preservação ambiental, como

áreas de várzeas. Em consequência da negligencia do Estado em ordenar a ocupação

Page 75: Impacto dos desastres naturais sobre a saúde de crianças e ...

68

do solo urbano afim de atender a demanda do crescimento populacional nas cidades,

as soluções habitacionais ficaram sob a responsabilidade das famílias que tiveram que

se submeter às possibilidades do mercado de terras urbanas.

Na tabela 11 demonstramos os municípios com o maior número de domicílio em

aglomerados subnormais. Observa-se que os municípios de Belford Roxo, Niterói,

Petrópolis, Teresópolis e Volta Redonda, onde existe mais de 50% deste tipo de

assentamento em áreas de aclives/ declives acentuados, indicando regiões possíveis

de ocorrência de movimento de massa.

Tabela 11 - Domicílios particulares em aglomerados subnormais, por características topográficas, período de 2010.

Municípios/ características topográficas

Total Plano Aclive/declive

moderado Aclive/declive

acentuado

N N % N % N %

Angra dos Reis 18290 8981 49% 4813 26% 4496 25%

Araruama 6086 5309 87% 634 10% 143 2%

Belford Roxo 10397 2276 22% 566 5% 7555 73%

Cabo Frio 12287 10534 86% 1182 10% 571 5%

Campos dos Goytacazes 4588 4588 100% --- --- --- ---

Duque de Caxias 18321 11993 65% 1511 8% 4817 26%

Macaé 11404 10626 93% 421 4% 357 3%

Magé 5584 4614 83% 896 16% 74 1%

Niterói 24278 1249 5% 4437 18% 18592 77%

Petrópolis 7268 211 3% 821 11% 6236 86%

Rio de Janeiro 426479 243475 57% 118372 28% 64632 15%

São João de Meriti 14453 7206 50% 1288 9% 5959 41%

Teresópolis 12586 2391 19% 1504 12% 8691 69%

Volta Redonda 10142 2974 29% 2075 20% 5093 50% Fonte: IBGE, censo demográfico 2010 (IBGE, 2012)

Segundo Tominaga et al ., (2009), a ocorrência deste tipo de desastre está ligada

aos fatores naturais da região, tais como, geologia, geomorfologia, aspectos climáticos

e hidrológicos, vegetação e ação do homem relativa às formas de uso e ocupação do

solo, principalmente ligado ao crescimento demográfico e ordenamento populacional.

Segundo o relatório do perfil dos municípios brasileiros (IBGE, 2013), em todo o

território nacional, 97,4% dos municípios com mais de 500 000 habitantes registraram

Page 76: Impacto dos desastres naturais sobre a saúde de crianças e ...

69

alagamentos, enquanto, os menores índices foram registrados na classe de municípios

com até 5 000 habitantes.

Segundo CEPED/SC, (2012) este tipo de desastre é característico da região

Sudeste, onde foram registrados mais de 82% dos movimentos de massa e 92% dos

afetados por esse tipo de desastre no Brasil. Sua ocorrência é característica nos meses

de verão e fim da primavera. No presente trabalho verifica-se que 41% do total de

mortes infantil ocasionadas pelos desastres ocorreram em função dos movimentos de

massa

Segundo Kobiyama (2006), o crescimento da ocupação desordenada em áreas

de encostas leva a um aumento no número de acidentes associados a

escorregamentos. A ação do homem é um importante agente modificador da dinâmica

natural do relevo e, por conseguinte, da estabilidade das vertentes. As interferências

antrópicas, através dos desmatamentos, cortes e aterros, alterando a estabilidade do

terreno, aumenta a probabilidade de desencadear um escorregamento. Segundo IBGE

(2013) os municípios com áreas de taludes e encostas sujeitas a escorregamentos ou

deslizamentos e com ocupações irregulares concentraram 48% dos eventos desta

natureza.

Escorregamentos ou deslizamentos são resultante da expansão horizontal das

áreas urbanas, com a consequente ocupação e intervenção em terrenos e em

ecossistemas de equilíbrio frágil, e são cada vez mais frequentes e de maior magnitude

(IBGE, 2013). Segundo o autor, 895 municípios foram atingidos por movimentos de

massa de solos, rochas ou detritos em morros, taludes e encostas, tendo como causa

principal a infiltração de água das chuvas combinada com mudanças nas condições

naturais do relevo, como cortes para construção de moradias, rodovias, aterros e outras

obras, de 2008 a 2013. As áreas de ocorrências são particularmente importantes, pois

estão associadas ao planejamento urbano, às condições de moradia, e à existência ou

não de planos de gestão de risco.

As cidades brasileiras se expandiram sem o devido planejamento urbano,

expressando, em sua maioria, contradições e desigualdades sociais, caracterizada por

favelas e bairros periféricos, resultado das segregações socioespaciais. O

Page 77: Impacto dos desastres naturais sobre a saúde de crianças e ...

70

ordenamento existiu, no entanto, foi gerido de acordo com o interesse do capital

imobiliário, restritivo e especulativo, sem participação efetiva do Estados (SANTOS, ET

AL, 2014). Dentre as negligencias estatais, os autores apontam a baixa aplicação da

lei de uso e ocupação do solo e a falta de fiscalização das áreas de proteção ambiental

(APA) que são ocupadas não somente pelas populações economicamente menos

favorecidas mas, também, por grandes corporações imobiliárias por meio da

construção de condomínios luxuosos em áreas de risco.

Canholi (2005), caracteriza os processos de urbanização das encostas,

influenciadores dos deslizamentos e movimentos de massa, com a problemática da

drenagem hídrica. Segundo o autor, inundações decorrem da rápida expansão da

população urbana, do baixo nível de conscientização do problema, da inexistência de

planos diretores, da utilização precária; e de medidas não estruturais; da manutenção

inadequada dos sistemas de controle das inundações. Os impactos causados estão

associados as modificações antrópicas nas bacias hidrográficas e a progressiva

ocupação das áreas naturais de várzea. A urbanização caótica associada ao uso

inadequado do solo provoca a redução da capacidade de permeabilização. São

consequências dos fatores de ocupação das margens e encostas a retirada da

cobertura vegetal; a diminuição da capacidade de vazão do canal (consequência da

lixiviação de particulado); e o aumento da quantidade de resíduos sólidos e carga

orgânica no sistema de drenagem. A exposição crítica dessas comunidades aos fatores

relacionados promove maior risco de ocorrência de inundações e de eventos de

grandes magnitudes.

No Brasil, o processo de urbanização leva parte da população menos favorecida

a ocupar áreas inadequadas para a moradia, as quais oferecem, muitas vezes, riscos

à vida, principalmente nas encostas e margens dos rios. Como decorrência, temos esta

parcela da população vulnerada ao risco de ocorrência de acidentes envolvendo danos

materiais e vítimas fatais. Vale salientar que, os perigos naturais ameaçam qualquer

pessoa da mesma maneira, mas na prática, proporcionalmente, atingem os menos

favorecidos, devido a conjunção dos fatores supracitados. Neste tocante, a estratégia

de redução de desastres, em nível local, precisa ser acompanhada da equidade

socioeconômica e de um criterioso gerenciamento ambiental, devendo ser construída

Page 78: Impacto dos desastres naturais sobre a saúde de crianças e ...

71

uma política que leve em conta os tipos de perigos existentes no ambiente e planos

estratégicos para redução dos riscos (ALCÁNTARA-AYALA, 2002) (KOBIYAMA, , et

al., 2006).

Neste tocante, no Brasil, dos 39 municípios com mais de 500.000 habitantes,

61,5% apresentaram desastres tipo deslizamentos e movimentos de massa. Na Região

Sudeste localizam-se 454 de um total de 1.668 municípios com processos erosivos.

Movimentos de massa são espacialmente melhor distribuídos pelas grandes regiões

brasileiras, em comparação com os eventos de alagamentos. Tais processos

concentram-se nos municípios com tamanho acima de 500.000 habitantes. (IBGE,

2013).

O presente estudo possibilitou identificar as mesorregiões do Estado que foram

mais afetadas pelos desastres. Observamos que as regiões “Noroeste” (23%), “Centro”

(18%) e “Metropolitana” (16%) foram as mais atingidas. A região da Baixada (5%)

apresentou o menor percentual.

Na realidade brasileira, o modelo de urbanização determina maior pressão na

ocorrência e nos danos dos desastres. O Brasil apresentou um aumento significativo

de sua população urbana a partir da década de 40 do século XX. Em 1940, 12,8 milhões

(31%) de pessoas residiam no meio urbano, sendo que a população rural ainda

representava 69% do total nacional (85 milhões); em 1991, mais de 110 milhões de

habitantes residiam em áreas urbanas, passando para 137,9 milhões em 2000. Ou seja,

no ano 2000, apenas 18,7% da população nacional vivia em áreas rurais - cerca de

31,8 milhões de pessoas (BAENIGER, 2003).

Esse fluxo de pessoas para o meio urbano se destinou às regiões metropolitanas

no período de 1970-1980, correspondendo a 22,5% da migração intermunicipal

nacional. Este panorama concentrador de redistribuição interna da população foi se

montando ao longo de quase meio século, indicando a rapidez das transformações

urbanas no Brasil (BAENIGER, 2003).

Segundo Santos (2013), as aglomerações brasileiras com mais de 100 mil

habitantes eram apenas 18, em 1940, alcançando 142, em 1980. Em 1991, 183

municípios contavam com mais de 100 mil habitantes. A expansão do consumo, a

Page 79: Impacto dos desastres naturais sobre a saúde de crianças e ...

72

elevação dos níveis de renda e a difusão dos meios de transporte, junto com a divisão

do trabalho mais acentuada, fazem com que as funções dos centros regionais

(metrópoles) passem a exigir maiores níveis de concentração demográfica e de mão

de obra disponível. Em 1960, as cidades com mais de 1 milhão de pessoas eram

apenas 2 (São Paulo e Rio de Janeiro), cinco em 1970, dez em 1980 e doze em 1991.

Hoje o país conta com nove regiões metropolitanas de maior porte, Belém, Fortaleza,

Recife, Salvador, Belo Horizonte, Rio de Janeiro, São Paulo, Curitiba e Porto Alegre.

A cidade do Rio de Janeiro, por exemplo, é retrato desta transformação

populacional, o estado da Guanabara possuía aproximadamente de 3,2 milhões de

habitantes, na década de 60, aumentando este número para quase o dobro no último

censo realizado pelo (IBGE, 2012) apresentando mais de 6,3 milhões de habitantes.

Este processo de intenso crescimento populacional não foi gerido de forma adequada

pelo estado, acarretando uma série de problemas relacionados à ocupação

desordenada dos espaços e criação de aglomerados subnormais.

Na tabela 12 demostramos o crescimento acumulado das mesorregiões

estudadas do estado do rio de janeiro. Dentre a série de dados, destaca-se o

crescimento da população nos municípios da região Baixadas e Norte. Em média, os

municípios do Estado apresentaram crescimento de 12,4% de 1991 a 2000 e 11,1%

nos anos de 2000 a 2010.

Tabela 12 - Taxa de crescimento populacional acumulada nos períodos de 1991/2000/2010.

Região População total Crescimento Acumulado

1991 2000 2010 1991-2000* 2000-2010**

Metropolitana 9.775.581 10.849.983 11.825.040 11.0% 9.0%

Serrana 602.894 684.419 743.077 13.5% 8.6%

Baixadas 306.319 464.382 700.842 51.6% 50.9%

Sul 803.753 933.983 1.062.237 16.2% 13.7%

Centro 434.325 461.911 491.725 6.4% 6.5%

Noroeste 273.062 297.696 317.493 9.0% 6.7%

Norte 611.782 698.912 849.515 14.2% 21.5%

Total do Estado 12.807.716 14.391.286 15.989.929 12.4% 11.1%

Legenda: * Razão de crescimento (pop 1991/pop2000) -1. ** Razão de crescimento (pop 2000/pop2010)-1.

Fonte: (PNUD, 2013)

Page 80: Impacto dos desastres naturais sobre a saúde de crianças e ...

73

Analisando o perfil de ocupação das áreas urbanas e rurais do Estado, 97% da

população é urbana, destacando-se as mesorregiões Sul e Metropolitana (tabela 13).

Tabela 13 - Divisão populacional entre áreas urbanas e rural do estado do Rio de Janeiro, nos períodos 1991/2000/2010.

Região 1991 2000 2010

Rural Urbana Rural Urbana Rural Urbana

Metropolitana 1% 99% 1% 99% 0% 100%

Serrana 17% 83% 17% 83% 14% 86%

Baixadas 15% 85% 12% 88% 11% 89%

Sul 10% 90% 8% 92% 5% 95%

Centro 22% 78% 18% 82% 16% 84%

Noroeste 32% 68% 21% 79% 17% 83%

Norte 21% 79% 15% 85% 12% 88%

Total do Estado 5% 95% 4% 96% 3% 97% Fonte (DATASUS, 2010)

A população urbana não necessariamente estará exposta integralmente aos

fatores de risco do desastre, que decorre da resiliência da população em questão.

Estudos relacionados ao tema associam uma parcela da população estando mais

propensa a sofrer os efeitos de forma mais intensa que os demais. Tal relação é

evidenciada quando analisamos as condições de risco existentes na localidade, ou

seja, áreas vulneráveis e populações em situações vulneráveis são as mais afetadas

(MEDINA, 2003) (ALAM &COLLINS, 2010) (BLAIKIE, P. ET AL., 1996) (KOBIYAMA, ,

et al., 2006) (WISNER, ET AL., 2003).

Em média, o estado do Rio de Janeiro apresentou decréscimo populacional nas

áreas rurais a partir da década de 2000, com aumento médio da população urbana de

12,5% a partir da década de 1990. Destacam-se o crescimento urbano das

mesorregiões Baixada, Noroeste e Norte do Estado (tabela 14).

Page 81: Impacto dos desastres naturais sobre a saúde de crianças e ...

74

Tabela 14 - Taxa de crescimento populacional acumulada entre áreas rurais e urbanas no estado do Rio de Janeiro, nos anos 1991/2000/2010.

Região

Crescimento Acumulado Crescimento Acumulado

1991-2000 1991-2000 2000-2010 2000-2010

Rural* Urbana** Rural* Urbana**

Metropolitana 1% 11% -24% 9%

Serrana -12% 14% -9% 12%

Baixadas -18% 57% 40% 52%

Sul 4% 18% -29% 17%

Centro 12% 11% -8% 10%

Noroeste 39% 26% -11% 11%

Norte 22% 23% -3% 26%

Total do Estado 7% 13% -8% 12% Legenda: * Razão de crescimento (pop 1991/pop2000) -1. ** Razão de crescimento (pop 2000/pop2010)-1.

Fonte (PNUD, 2013)

Normalmente, a vulnerabilidade está relacionada com a posição socioeconômica

e avaliada quanto a possibilidade de danos aos meios de vida futuros, e não apenas

com o resultado de um único evento que venha a modificar os meios de vida e os bens

materiais. Os grupos vulneráveis são também aqueles que se encontram em maior

dificuldade de reconstrução de suas vidas após a ocorrência de um desastre, e esta

realidade, por sua vez, torna-os mais vulneráveis aos efeitos dos desastres no futuro

(WISNER, ET AL., 2003). Ou seja, a população em situação financeira mais precária e

carente de recurso disponível para a reconstrução e aprimoramento da resiliência.

As cidades brasileiras evidenciam a vulnerabilidade por meio da existência de

dois tipos de assentamentos populacionais que podem ser traduzidos em:

Assentamentos precários: compostos a partir da reunião de domicílios onde residem populações de baixa renda, geralmente caracterizados por ocupar espaços sujeitos à inundação, a deslizamentos de encostas ou áreas contaminadas. Em geral, esses domicílios não possuem documentação formal de titularidade da terra. Esses assentamentos constituem setores censitários (unidade espacial de obtenção e divulgação de dados) do IBGE com a denominação de “setores subnormais”, que quando agrupados formam os “aglomerados subnormais”, conhecidos também como “favelas”, dentre outras denominações regionais;

Page 82: Impacto dos desastres naturais sobre a saúde de crianças e ...

75

Assentamentos urbanos “normais”: grupo heterogêneo que incorpora significativas diferenciações internas e que pode ser subdividido em dois outros grupos: um formado por habitações de população de baixa renda, mas que são distintas das favelas por não serem precárias; outro formado por domicílios residenciais de alta renda, geralmente reunidos em condomínios fechados, verticais ou horizontais.

(CARMO, 2014, p. 04)

Segundo Carmo (2014), a dinâmica que está na base do processo recente de

urbanização brasileira se traduz por meio da inserção de uma parcela da população,

excluída dos centros urbanos, a se estabelecerem fora de áreas permitidas pelo poder

público. O processo está na gênese da concepção do “desastre como um processo

socialmente construído”.

Segundo o censo realizado em 2010 pelo IBGE (2010) os aglomerados

subnormais, que constituem o setor mais vulnerável da sociedade, correspondiam a

6% (11,4 milhões) da população brasileira, distribuídos por 323 municípios (6% do

total), sendo os estados de São Paulo e do Rio de Janeiro (2,0 milhões) os que

apresentavam maior população nesta condição.

Segundo o Instituto Moreira Passos (IPP, 2013), a população que vivia em

aglomerados no município do Rio de Janeiro aumentou entre 1991 e 2000 em quase

200 mil pessoas, passando de 896.565 para 1.092.476 habitantes. Em outros termos,

o percentual da população residindo em aglomerados subnormais passou de 16,4% em

1991 para 18,6% em 2000, em relação à população total.

A população do Rio de janeiro apresentou aumento de 8 %. O crescimento

registrado nos setores censitários subnormais foi de 19% e o da população do setor

normal foi de 5%. Atualmente, a população encontrada nos setores subnormais é de

aproximadamente 1,4 milhões de pessoas (IPP, 2013).

Assentamentos precários ou subnormais são ocupações habitadas por famílias

de baixa renda, nas quais a maioria dos serviços públicos essenciais é inexistente. Em

geral se instalam em áreas públicas não ocupadas, áreas de proteção ambiental ou de

preservação permanente. É comum receberem a denominação de favelas ou

assentamentos populares, especialmente quando as moradias são construídas por

Page 83: Impacto dos desastres naturais sobre a saúde de crianças e ...

76

meio da utilização de materiais improvisados (madeira, zinco, plásticos, lonas, etc)

(CANHOLI, 2005).

Segundo KOBIYAMA (2006), as áreas de assentamento urbano precário, estão

associadas a diversos tipos de riscos ambientais, destacando-se os riscos associados

a escorregamentos e inundações. Tais eventos proporcionam maior risco de haver de

vítimas fatais quando estes eventos ocorrem em áreas densamente povoadas.

Os municípios do estado do Rio de Janeiro, durante o período de estudo,

apresentavam, em média, mais de 3 moradores por domicílio localizado em

assentamentos precários (IBGE, 2012). A mesorregião metropolitana destaca-se com

1045 setores anormais e 15% da população residente nestas áreas. Em média, 14%

da população do estado do Rio de Janeiro se encontra residindo em setores anormais.

Em média, 13% dos domicílios do Estado localizam-se em aglomerados subnormais,

destacando-se a região Serrana com 22% (tabela 15).

Tabela 15 - Situação censitária nas mesorregiões do estado do Rio de Janeiro, ano 2010.

Região

Número de aglomerados subnormais

População residente em domicílios particulares

ocupados em aglomerados subnormais

Porcentagem da população

residindo em aglomerados subnormais

Domicílios particulares

ocupados em aglomerados subnormais

Porcentagem Domicílios

particulares ocupados em aglomerados subnormais

Unidades Pessoas % Unidades %

Metropolitana 1045 1673336 15% 521.258 13%

Serrana 48 73353 11% 21.869 22%

Baixadas 60 70481 17% 19.101 16%

Sul 127 108649 13% 33.017 14%

Centro 6 5850 3% 1.898 3%

Noroeste - - - -

Norte 39 52010 8% 16.008 8%

Total do Estado

1.325 1983679 14% 613.151 13%

Fonte: * (IBGE, 2012)

Em relação à população de 0 a 14 anos o estado do Rio de Janeiro apresenta

em média 18 % residindo em situação precária de moradia “aglomerados subnormais”.

Os maiores percentuais de crianças habitando assentamentos precários encontram-se

nas regiões Metropolitana, Serrana e Baixadas (tabela 16).

Page 84: Impacto dos desastres naturais sobre a saúde de crianças e ...

77

Tabela 16 - Situação censitária da população infantil de 0-14 anos nas mesorregiões do Estado, no ano de 2010.

Região Residentes em Aglomerados subnormais

0 a 4 anos

(%) 5 a 9 anos (%) 10 a 14 anos

(%) Total 0-14 anos

(%)

Metropolitana 136609 19% 147125 19% 168125 19% 451859 19%

Serrana 5547 34% 6439 20% 7481 14% 19467 19%

Baixadas 5953 21% 6416 21% 7528 22% 19897 21%

Sul 4308 9% 9491 17% 7824 11% 21623 12%

Centro 336 10% 436 3% 552 3% 1324 4%

Noroeste - - - - - - - -

Norte 4857 10% 4847 10% 5344 9% 15048 10%

Total do Estado 157610 19% 174754 18% 196854 18% 529218 18% Legenda: - %*frequência percentual;

Fonte: IBGE cidades@ - http://www.cidades.ibge.gov.br

A rápida urbanização no estado do Rio de Janeiro determinou que grupos

populacionais estivessem sob maior risco que os demais, mas, fundamentalmente, os

seres humanos não são igualmente capazes de acessar os recursos e oportunidades,

nem estão igualmente expostos aos perigos (WISNER, ET AL., 2003). Os processos

sociais também têm importante papel na determinação de quem está mais ou menos

em risco. Para Wisner et al (2003), o risco de desastre se dá por uma combinação de

fatores que determinam o potencial para que as pessoas sejam expostas a diferentes

tipos de desastres. Estes dependem, fundamentalmente, de como os sistemas políticos

e econômicos operam em escalas nacionais, e até mesmo internacionais. São esses

fatores que definem como grupos de pessoas tem acesso à saúde, renda, segurança

da edificação, local de trabalho, e assim por diante.

Alcántara-Ayala (2002), coaduna com Wisner et al ., (2003) ao afirmar que dentre

os tipos de vulnerabilidade os fatores causais em comum podem ser definidos por

processos sociais, econômicos, políticos e culturais que influenciam em como os

perigos afetam pessoas de diversas maneiras e com diferentes intensidades. Assim, a

vulnerabilidade é resultado de baixa resiliência e características geológicas presente

em uma região, determinando assim o grau de magnitude do desastre, o nível de

resiliência e o processo de recuperação.

Page 85: Impacto dos desastres naturais sobre a saúde de crianças e ...

78

Segundo Wisner et al (2003), pessoas em situações econômicas adversas,

vulneradas socialmente, habitando regiões afetadas por desastres naturais, sejam elas

as planícies de inundação dos rios, as encostas instáveis ou zonas de risco ao

terremoto são influenciadas não só por fatores políticos e econômicos. Existem

influencias menos óbvios que fundamentam o impacto dos desastres, por exemplo, a

maneira pela qual os ativos, a renda e o acesso a outros recursos, como o

conhecimento e a informação, são distribuídos na sociedade.

O presente estudo analisou a relação entre a desigualdade (distribuição de renda

por meio do coeficiente de GINI) e o número de registros na categoria “afetados” na

população de 0 a 14 por mesorregião do Estado. Observa-se uma correlação positiva

e estatisticamente significativa na mesorregião norte e na mesorregião metropolitana

(fraca) no ano de 2010.

Uma desvantagem do uso do coeficiente de Gini é que este indicador mede

apenas a desigualdade de renda, mas não a desigualdade de oportunidade (IPECE).

Ademais, economias com coeficiente de Gini similares ainda podem ter uma

distribuição de renda muito diferente. Por exemplo, se dois países analisados

apresentam o mesmo coeficiente de Gini, no entanto um é considerado pobre e outro

rico, o indicador estaria medindo no primeiro caso a desigualdade na qualidade de vida

material, enquanto no segundo o demonstrativo seria relacionado a divisão do luxo

além das necessidades básicas.

Neste tocante, a análise da distribuição de renda ao nível do ordenamento

censitário e/ou por meio da análise do coeficiente do GINI não retrata por completo os

problemas urbanos que afligem outras partes das cidades, além dos aglomerados

subnormais.

Para Carmo (2014) a variabilidade na capacidade de resposta diante do

problema de ordenamento urbano é decorrente dos diferentes potenciais de

movimentação dos ativos pelos indivíduos e pelas famílias, e de certa forma este é o

fator crucial de estabelecimento da vulnerabilidade da população. Tomaremos neste

momento a definição de Alcántara-Ayala (2002) na contextualização dos “ativos” que

são concebidos pelo conjunto das capacidades econômicas, sociais, políticas e

Page 86: Impacto dos desastres naturais sobre a saúde de crianças e ...

79

culturais de cada grupo populacional. Neste contexto, Kaztman (2000) coloca que os

ativos são definidos a partir da análise de três tipos de capital: Físico, Humano e Social.

Dentre os capitais Físicos, podemos distingui-lo em duas categorias o capital

financeiro (bens e ativos) e o capital físico propriamente dito. O capital financeiro se

refere aos recursos providos de renda, tais como, ganhos monetários, rendas, ações,

bônus trabalhístico, etc. E os capitais físicos estão relacionados aos bens materiais que

incluem a moradia, animais, maquinarias, meios próprios de transporte e de produção.

Para as famílias mais pobres a terra e seu meio de produção independente são os tipos

de capital físico por excelência. No entanto, a medida que a dependência de um grupo

social se dá por meio de seus bens de capitais físico faz com que seu grau de

vulnerabilidade se eleve. A ocorrência de um evento e ou uma desvalorização súbita

de sua produção torna-o mais vulnerável.

Tabela 17- Renda per-capita da população fluminense nos anos 1991/2000/ e 2010.

Renda per capita 1991 2000 2010 1991/2000* 2000/1991**

Metropolitana 385.92 572.49 731.84 0.48 0.28

Serrana 349.58 564.07 667.77 0.61 0.18

Baixadas 340.65 581.70 756.88 0.71 0.30

Sul 384.81 538.99 701.01 0.40 0.30

Centro 305.99 482.15 592.67 0.58 0.23

Noroeste 283.78 441.29 574.36 0.56 0.30

Norte 283.03 432.81 623.93 0.53 0.44

Média do Estado 333.39 516.21 664.06 0.55 0.29 Legenda: * crescimento (renda 1991/renda2000) -1. ** Razão de crescimento (renda 2000/ renda 2010)-1.

Salário mínimo referência é o valor do ano de 2010

Fonte (PNUD, 2013)

Analisando a renda média da população fluminense pode-se observar que

embora a renda per-capita da população fluminense seja de R$ 664,06 (tabela 17), os

20% mais pobres da população dispõem de apenas R$ 136,8, enquanto os 10% mais

ricos dispõem, em média, de R$2.629,5 (tabela 18). Estes valores representam

diferença média de 19 vezes entre o ganho da população mais pobre, em comparação

ao ganho da população mais rica.

Page 87: Impacto dos desastres naturais sobre a saúde de crianças e ...

80

Tabela 18 - distribuição da renda adquirida pelos quintis de renda da população fluminense no ano de 2010

Região Q1 Q2 Q3 Q4 Q5 D9

Diferença Q1/D9

Metropolitana 145.3 298.2 470.8 745.3 2.000.3 2.820.5 19.4

Serrana 136.4 274.4 421.2 633.4 1.886.8 2.755.4 20.2

Baixadas 148.3 296.9 459.9 730.2 2.151.4 3.090.2 20.8

Sul 149.8 294.9 451.8 690.8 1.916.9 2.752.4 18.4

Centro 130.1 261.6 398.4 590.1 1.586.0 2.257.3 17.3

Noroeste 123.8 243.1 372.7 553.6 1.581.0 2.280.8 18.4

Norte 123.9 256.5 400.4 616.9 1.710.8 2.449.9 19.8

Média do Estado 136.8 275.1 425.0 651.5 1.833.3 2.629.5 19.2

Legenda: Q1 – representa os 20% menos bem remunerados dos assalariados, Q2-representa os 20% seguintes e

assim por diante. D9-representa os 10% mais bem remunerados da população.

Fonte (PNUD, 2013)

Analisando a população menos favorecida do estado do Rio de Janeiro,

evidenciamos que a renda da população extremamente pobre no estado, em média, se

apresenta na quantia de R$ 34,00 per-capita. Segundo a classificação de níveis de

pobreza do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD, 2013)

(Vulneráveis à pobreza - Média da renda familiar per-capita igual ou inferior a R$255,00

mensais), os 20% mais pobre da população(Q1), se encontram, vulnerável a pobreza

(quadro 4).

Quadro 4 _ Renda per capita média da população vulnerada à pobreza, no ano de 2010

Região Extremamente pobres Pobres Vulneráveis à pobreza

Metropolitana 35.13 90.10 167.21

Serrana 33.86 91.04 166.06

Baixadas 34.39 93.63 168.22

Sul 33.62 93.87 169.51

Centro 30.80 92.00 166.53

Noroeste 34.53 93.64 166.11

Norte 35.65 88.94 162.03

Média do Estado 34.00 91.89 166.53 Legenda: Extremamente pobres –Média da renda familiar per-capita das pessoas com renda igual ou inferior a R$70,00 mensais. Pobres - Média da renda familiar per-capita das pessoas com renda igual ou inferior a R$140,00 mensais. Vulneráveis à pobreza - Média da renda familiar per-capita das pessoas com renda igual ou inferior a R$255,00 mensais (o universo de indivíduos se limitam aqueles que residem em domicílios particulares permanentes). Fonte (PNUD, 2013)

Page 88: Impacto dos desastres naturais sobre a saúde de crianças e ...

81

No quadro 5, demonstramos o percentual da população dentro das categorias

de pobreza, segundo o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD,

2013). Segundo este órgão, 29% da população fluminense se encontra vulnerada à

pobreza e a categoria de extremamente pobre abrange pouco menos que 3% da

população.

Quadro 5 - Porcentagem populacional nas categorias de pobreza, nos anos 2000 e 2010.

Região/ Ano Extremamente pobres Pobres Vulneráveis à pobreza

2000 2010 -2000 2010 2000 2010

Metropolitana 5.00 2.73 17.56 9.14 39.85 27.13

Serrana 4.59 2.75 18.09 10.06 41.23 28.76

Baixadas 4.91 2.32 16.85 8.62 39.42 26.17

Sul 4.76 2.04 19.00 8.34 42.28 25.66

Centro 5.87 3.00 22.18 11.28 46.79 31.77

Noroeste 6.79 3.03 25.50 12.03 52.62 34.56

Norte 7.30 3.87 24.56 12.40 51.43 32.77

Estado Rio de Janeiro

5.60 2.82 20.53 10.26 44.80 29.54

Legenda: Extremamente pobres – Proporções de indivíduos que possuem renda igual ou inferior a R$70,00 mensais. Pobres - Proporções de indivíduos que possuem renda igual ou inferior a R$140,00 mensais. Vulneráveis à pobreza - Proporções de indivíduos que possuem renda igual ou inferior a R$255,00 mensais (o universo de indivíduos se limitam aqueles que residem em domicílios particulares permanentes). Fonte (PNUD, 2013)

No entanto, ao analisar o percentual da população infantil dentro das categorias

de pobreza, segundo o PNUD (2013), praticamente 50% da população infantil se

encontra vulnerada à pobreza, 19% das crianças são pobres e mais de 5% das crianças

se encontram dentro da categoria extremamente pobre (quadro 6).

Page 89: Impacto dos desastres naturais sobre a saúde de crianças e ...

82

Quadro 6 - Porcentagem populacional infantil nas categorias de pobreza, nos anos 2000 e 2010.

Região/ Ano Extremamente pobres Pobres Vulneráveis à pobreza

2000 2010 2000 2010 2000 2010

Metropolitana 8.48% 4.96% 27.07% 16.54% 53.97% 42.36%

Serrana 8.66% 5.53% 30.30% 20.20% 58.31% 46.62%

Baixadas 8.82% 4.02% 26.85% 15.31% 54.39% 40.96%

Sul 8.83% 3.96% 30.85% 16.13% 57.80% 41.84%

Centro 10.77% 5.57% 36.29% 21.54% 63.46% 50.30%

Noroeste 12.52% 5.24% 40.09% 22.19% 68.15% 52.79%

Norte 12.57% 6.82% 37.30% 22.01% 65.54% 48.16%

Média do Estado 10.09% 5.16% 32.68% 19.13% 60.23% 46.15%

Legenda: Extremamente pobres – Proporções de indivíduos menos de 14 anos que possuem renda igual ou inferior a R$70,00 mensais. Pobres - Proporções de indivíduos menos de 14 anos que possuem renda igual ou inferior a R$140,00 mensais. Vulneráveis à pobreza - Proporções de indivíduos menos de 14 anos que possuem renda igual ou inferior a R$255,00 mensais (o universo de indivíduos se limitam aqueles menores de 14 anos que residem em domicílios particulares permanentes). Fonte (PNUD, 2013)

Em média, 48% da população infantil fluminense possuía renda familiar per-

capita inferior a ½ salário mínimo no ano 2010, sendo que este percentual ultrapassava

os 60% no ano 2000. Em contrapartida, o percentual de crianças que possuíam renda

per-capita <1/4 de salário mínimo reduziu de 31%, no ano 2000, para 18%, em 2010

(tabela 19).

Tabela 19 - Proporção de crianças a partir do rendimento familiar per-capita, nos anos de 2000 e 2010.

Região / Renda

2000 2010

_<_1/2_SM _<_1/4_SM _<_1/2_SM <_1/4_SM

Metropolitana 55.95 27.71 45.88 18.79

Serrana 58.82 28.38 48.19 19.25

Baixadas 55.59 26.69 43.29 15.64

Sul 58.69 29.45 43.81 16.05

Centro 64.25 33.88 51.56 19.47

Noroeste 68.34 37.06 53.95 19.77

Norte 66.19 36.03 50.23 21.91

Média do Estado 61.120 31.314 48.129 18.697

Legenda: < 1/2 SM - Proporção (%) de crianças (menores de 14 anos) residentes com renda domiciliar mensal per capita de até meio salário mínimo. ; < 1/4 SM - Proporção (%) de crianças (menores de 14 anos) residentes com renda domiciliar mensal per capita de até um quarto de salário mínimo.(O salário mínimo de referência, salário mínimo de 2010, é de R$ 510,00) Fonte: (DATASUS, 2010)

Page 90: Impacto dos desastres naturais sobre a saúde de crianças e ...

83

Conforme aponta Kaztman (2000) seguindo a análise dos ativos, o “capital

humano” possui menor liquidez que o capital físico. Neste contexto, são relevados ao

nível individual as condições de saúde, as qualificações, destrezas e habilidades,

condições de inserção no mercado de trabalho e disponibilidade de trabalho ao nível

familiar.

No sentido de atentar para o diferencial regional de vulnerabilidade,

considerando o capital humano expresso em termos de educação, demonstramos na

tabela 20 a proporção de crianças que vivem em habitações onde não residem pessoas

com o segundo grau completo. Este grupo compõe a população mais vulnerável,

considerando a perspectiva de Kaztman (2000). Em média, o Estado apresentava

quase 50% das crianças nessa condição, no ano de 2000, já no ano de 2010, pouco

menos de 30% se encontrava nesta condição.

Tabela 20- Proporção de crianças em domicílios em que ninguém tem o ensino fundamental completo, nos anos de 2000 e 2010.

Região (2000)* (2010)*

Metropolitana 40.84 24.33

Serrana 50.81 32.90

Baixadas 50.27 26.71

Sul 46.87 27.03

Centro 51.67 34.66

Noroeste 51.19 30.72

Norte 55.16 31.07

Média do Estado 49.545 29.631 Legenda – *Razão entre crianças de até 14 anos que residem em domicílios onde nenhum dos moradores possuem ensino fundamental completo. Fonte: (PNUD, 2013)

Na tabela 21, demostramos a proporção de crianças menores de 14 anos que

não possuíam vínculo escolar. Na faixa etária de 6 a 14 anos, o sistema de ensino

alberga mais de 98% das crianças, com redução significativa a partir do ano 2000 para

o ano 2010. A reduzida inserção escolar na faixa etária de 0 a 5 anos possivelmente

está ligada a um défice de creches e pré-escolas no Estado.

Page 91: Impacto dos desastres naturais sobre a saúde de crianças e ...

84

Tabela 21- Proporção de crianças fora da escola de acordo com a idade, nos anos 2000 e 2010.

Região / Ano

Crianças de 0 a 5 anos fora da escola Crianças de 6 a 14 fora da escola

2000 2010 2000 2010

Metropolitana 72.65 56.21 5.55 3.09

Serrana 70.99 54.42 4.08 2.01

Baixadas 67.98 51.90 5.19 2.03

Sul 70.64 55.29 3.31 2.44

Centro 67.47 49.40 4.32 2.67

Noroeste 62.87 45.23 4.60 1.92

Norte 59.27 46.89 4.48 2.05

Média do Estado 67.4 51.3 4.5 2.3 Fonte: (PNUD, 2013)

Quanto ao capital social, em relação ao grau de vulnerabilidade da população,

Kaztman (2000) define-o ao nível individual e dos grupos sociais. Ao nível individual,

este é composto pelas relações e abrangências que o indivíduo possui na comunidade,

está fortemente ligada, em ambas as partes, ao capital físico e humano, fortalecendo a

inserção no mercado de trabalho, a noção de entendimento dos riscos e os meios de

organizações sociais. Ao nível comunitário, o capital social é definido nas normas

sociais, na confiança no grupo e nas instituições de referência. Neste contexto, o capital

social possui diversas semelhanças em relação a definição de ativos culturais

referenciado pelo autor Alcántara-Ayala (2002).

Finalmente, evidenciamos no Estado indicadores sociais que, segundo a

literatura, refletem a desigualdade no sistema social. A população fluminense apresenta

iniquidade nos diversos sistemas analisados: habitacional; educacional; econômico. A

faixa etária de 0 a 14 anos se encontra proporcionalmente mais vulnerável aos

desastres, pois é nesta faixa etária que se apresentam os piores indicadores. O estado

do Rio de Janeiro apresenta vários fatores que podem influenciar a ocorrência e o

impacto dos desastres nas populações estudadas.

Page 92: Impacto dos desastres naturais sobre a saúde de crianças e ...

85

CONCLUSÃO

A análise dos dados disponíveis para o período de 2000 a 2012 sustenta a

hipótese que crianças e adolescentes constituem um grupo populacional mais

vulnerável ao impacto dos desastres. Destaca-se que, em média, um terço do conjunto

de desfechos analisados ocorreu na população de 0 a 14 anos.

O tipo de desastre que apresentou maior frequência de ocorrência no estado do

Rio de Janeiro, Inundação Brusca, se caracterizou por ocasionar os desfechos de maior

gravidade na população infantil. Outro tipo de desastre frequente, Inundação Gradual,

determinou maior número de “desabrigados” e “deslocados” neste grupo etário e a

ocorrência dos eventos tipo “Movimento de Massa”, leva a um maior número de óbitos.

As regiões Noroeste e Centro do Estado sofreram com o maior número de

desastres. A região metropolitana apresentou os maiores registros de afetados e os

desfechos de impacto direto à saúde. A região Serrana testemunhou os desfechos mais

graves, apresentando o maior número de desaparecidos e óbitos infantis. As regiões

que apresentaram maior impacto na população infantil foram as regiões metropolitana

e Serrana.

A inequidade na distribuição de renda presente no Estado pode representar um

processo de redução da resiliência e aumento da vulnerabilidade ao longo prazo.

Page 93: Impacto dos desastres naturais sobre a saúde de crianças e ...

86

O estado do Rio de Janeiro apresentou processo de urbanização pautado na

exclusão de parte da população à área mais vulnerável aos impactos dos desastres,

com parte do setor habitacional localizando-se em área de risco. A baixa precisão ou

ausência de dados indicando localidades do município impactadas, descritas no

relatório de danos AVADAN, dificulta ações governamentais específicas.

Pôde-se observar que existe legislação que visa a redução de riscos de

desastres, o que falta é fiscalização ao desrespeito às leis, levado pela falta de

oportunidades ou puramente especulação.

Page 94: Impacto dos desastres naturais sobre a saúde de crianças e ...

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1. Anexo I

1. Tipificação Indique o código (alfabético e numérico) e a denominação do desastre de acordo com a Classificação Geral dos Desastres e com o CODAR (Anexos à Política Nacional de Defesa Civil).

2. Data de Ocorrência Registre o dia, mês e ano e, quando possível, o horário do desastre.

3. Localização Registre a sigla do Estado correspondente e o nome do Município afetado pelo desastre.

4. Área Afetada Descreva a(s) área(s) afetada(s) delimitando-a(s), com o máximo de precisão. Anexe mapa ou croqui representando-a(s).

5. Causa do Desastre Descreva o evento adverso que provocou o desastre, informando sobre suas características intrínsecas e magnitude.

6. Estimativa de Danos Danos Humanos

Informe a quantidade de pessoas vitimadas, de alguma forma, em consequência do desastre, discriminando:

Gestantes mulheres de qualquer idade, em qualquer período da gestação

Desalojadas pessoas cujas habitações foram danificadas ou destruídas mas que, não necessariamente, precisam de abrigo temporário

Desabrigadas pessoas desalojadas que necessitam de abrigo temporário

Deslocadas pessoas que migram da área afetada pelo desastre (retirantes)

Desaparecidas pessoas não localizadas ou de destino desconhecido, em circunstância do desastre

Mortas pessoas falecidas, em consequência do desastre

Enfermas pessoas doentes, em consequência do desastre

Levemente Feridas pessoas feridas que não necessitam de hospitalização

Gravemente Feridas pessoas feridas que necessitam de hospitalização

Afetadas total de pessoas vitimadas, de alguma forma, em consequência do desastre. Uma pessoa pode sofrer mais de um tipo de dano, ou não se enquadrar em nenhum dano especificado acima. Exemplos:

1. A pessoa que foi desabrigada e ferida (2 vezes atingida) é contada como 1 afetada. 2. A pessoa que teve sua casa atingida por inundação e não se enquadra em nenhum dos danos humanos é contada como 1 afetada.

Em conseqüência, o número de pessoas afetadas não é, obrigatoriamente, o somatório dos danos humanos.

Danos Materiais Informe a quantidade de edificações danificadas e destruídas pelo desastre, o custo, em Mil Reais, para recuperar ou reconstruir, discriminando:

Residenciais Populares casas ou habitações de famílias de baixa renda (até 2 salários-mínimos)

Residenciais - Outras casas ou habitações de famílias com maior capacidade econômica e que podem recuperá-las sem apoio do governo

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Públicas de Saúde instalações públicas de saúde : hospitais, postos de saúde e outros

Públicas de Ensino instalações públicas de ensino: escolas, colégios, faculdades e outros

Infraestrutura Pública pontes, pontilhões, viadutos, bueiros e outras

Obras de Arte pontes, pontilhões, viadutos, bueiros e outras

Estradas todas estradas: vicinais, municipais, estaduais e federais dentro do Município danificadas pelo desastre

Pavimentação de Vias Urbanas

vias urbanas com todo tipo de pavimento, primário, asfalto, paralelepípedo e outros

Particulares de Saúde instalações particulares de saúde, como hospitais e centros médicos

Particulares de Ensino instalações particulares de ensino: colégios e outros

Comunitárias instalações comunitárias: centros de convivência, creches e outras

Rurais instalações rurais: silos, paióis, armazéns, galpões e outras

Industriais instalações e plantas industriais: fábricas, indústrias e outros

Comerciais instalações comerciais e outras instalações prestadoras de serviços: lojas, bancos, supermercados e outros

Danos Ambientais Marque com um X a intensidade dos danos ambientais provocados pelo desastre, de acordo com uma escala variável ( Sem Danos, Baixa, Média, Alta e Muito Alta ) e o custo, em Mil Reais, para a recuperação dos ecossistemas afetados, discriminando:

Água informe se as reservas de água de superfície ou de subsuperfície foram afetadas e o grau de poluição e/ou contaminação pelos agentes relacionados ou por outras fontes de poluição

Solo informe se o solo foi afetado pelos fatores mencionados ou por outros mecanismos de degradação

Ar informe se a qualidade do ar foi afetada pelos agentes relacionados ou por outros mecanismos de poluição ou contaminação

Flora informe se a biota foi afetada pelos fatores mencionados ou outros agentes de degradação

Fauna informe se a fauna foi afetada por Caça Predatória ou por outros fatores.

Prejuízos Econômicos Registre os prejuízos econômicos, discriminando a quantidade, observando a unidade de cada item, e o valor do prejuízo correspondente, em Mil Reais, discriminando:

Agricultura informe a quantidade da produção afetada, em toneladas, para os diversos tipos de lavoura

Pecuária informe a quantidade de animais mortos ou doentes, em função do desastre

Indústria informe a quantidade de produção industrial afetada

Serviços informe a quantidade de prestadores de serviços prejudicados pelo desastre

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Prejuízos Sociais Registre os serviços essenciais que foram prejudicados ou interrompidos pelo

desastre, quantificando-os e o custo estimado, em Reais, da recuperação de cada

parte que compõem os sistemas prestadores desses serviços:

Abastecimento d´água informe os danos na Rede, Estação e no Manancial

Energia Elétrica informe os danos na Rede e o número de pessoas prejudicadas pela falta de energia provocada pelo desastre.

Transporte informe os danos na vias (malha viária), Terminais, e Meios

Comunicações informe os danos na Rede e Estações retransmissoras

Esgoto informe os danos na Rede Coletora e Estação de Tratamento.

Gás informe os danos na Geração e na Distribuição

Lixo informe os danos na Coleta e no Tratamento

Saúde informe os danos no atendimento preventivo e de assistência médica.

Educação Informe os danos no atendimento à comunidade escolar, produto do nº de alunos x (vezes) o nº de aulas perdidas

Alimentos Básicos informe, em toneladas, a quantidade de alimentos básicos (arroz, feijão, leite em pó, açúcar, sal e óleo) estragados/destruídos pelo desastre.

Informações sobre o Município Informe a população, os indicadores econômicos do município afetado pelo desastre, segundo fontes oficiais

População informe o número de habitantes, segundo o último Censo do IBGE

Orçamento registre o Orçamento Municipal, valor em Reais, aprovado na Lei Municipal

PIB registre o valor, em Reais, do Produto Interno Bruto - PIB, apurado no ano anterior

Arrecadação registre o valor, em Reais, da Arrecadação Anual, apurada no ano anterior

Avaliação Conclusiva sobre a Intensidade do Desastre

Analise os danos e prejuízos, segundo os critérios preponderantes e agravantes.

Critérios Preponderantes Marque com um X o valor ponderado dos critérios preponderantes, de acordo com uma escala de intensidade crescente:

Intensidade dos Danos a intensidade dos danos humanos, materiais e ambientais varia em função da capacidade de atendimento do município afetado pelo desastre.

Vulto dos Prejuízos o vulto dos prejuízos econômicos e sociais varia em relação à capacidade de atendimento do Município, medida pelos seus indicadores econômicos.

Necessidade de Recursos Suplementares

a necessidade de recursos suplementares varia em função da capacidade do município para atendimento do desastre.

Critérios Agravantes Marque com um X o círculo correspondente a cada um dos critérios agravantes, de acordo com a escala de intensidade crescente e variável, discriminando:

Importância dos Desastres Secundários

a ocorrência de desastre(s) que surgiu(ram) como conseqüência do desastre principal

Despreparo da Defesa Civil Local o nível da defesa civil local, quanto ao despreparo ou incapacidade financeira ou técnica de atendimento do desastre

Grau de Vulnerabilidade do Cenário

as características desfavoráveis do cenário que contribuem para agravar o desastre

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Grau de Vulnerabilidade da Comunidade

o despreparo da comunidade para enfrentar o desastre

Padrão Evolutivo do Desastre o padrão de desastre: Gradual e Previsível; Gradual e Imprevisível; Súbito e Previsível, e Súbito e Imprevisível

Tendência para agravamento se o desastre apresenta tendência para agravamento da situação atual.

Conclusão Com base na Classificação Geral dos Desastres, conclua avaliando o nível de intensidade do desastre:

Nível de Intensidade do Desastre I - Desastre de Pequeno Porte ou Acidente II - Desastre de Médio Porte III - Desastre de Grande Porte IV - Desastre de Muito Grande Porte

Instituição Informante identifique o nome da Instituição e do responsável pelas informações, seu cargo , telefone e a data da informação.

Instituição Informadas indique as agências do SINDEC que foram informadas sobre o desastre.

Informações Complementares informe a moeda utilizada para o preenchimento e a taxa de conversão para o dólar americano, na data da ocorrência do desastre para possibilitar a soma de valores históricos.