IMPACTOS DA IMPLANTAÇÃO DA FERROVIA … · The Plaster Pole Region of Araripe (Polo Gesseiro do...
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UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO
CENTRO DE TECNOLOGIA E GEOCIÊNCIAS
Programa de Pós-Graduação em Engenharia Civil
JOÃO JOSÉ DOS SANTOS
IMPACTOS DA IMPLANTAÇÃO DA FERROVIA
TRANSNORDESTINA NO POLO GESSEIRO DO
ARARIPE: CENÁRIO E PERSPECTIVAS DOS
STAKEHOLDERS REGIONAIS.
Recife
2015
JOÃO JOSÉ DOS SANTOS
IMPACTOS DA IMPLANTAÇÃO DA FERROVIA TRANSNORDESTINA NO POLO
GESSEIRO DO ARARIPE: CENÁRIO E PERSPECTIVAS DOS STAKEHOLDERS
REGIONAIS.
Dissertação de Mestrado apresentada ao
Programa de Pós-graduação em Engenharia
Civil na área de Transporte e Gestão das
Infraestruturas Urbanas da Universidade
Federal de Pernambuco, como requisito para a
obtenção do título de Mestre em Engenharia
Civil.
Orientador: Prof. Dr. Ing. Oswaldo Cavalcanti
da Costa Lima Neto.
Co-Orientador: Prof. Dr. Mauricio Oliveira de
Andrade
Recife
2015
Catalogação na fonte
Bibliotecária Valdicéa Alves, CRB-4 / 1260
S237i Santos, João José dos.
Impactos da implantação da ferrovia transnordestina no polo gesseiro
do araripe: cenário e perspectivas dos stakeholders regionais. / João José
dos Santos - Recife: O Autor, 2015.
171folhas.; Il., Abr., Sig. e Tab.
Orientador: Prof. Dr. Ing. Oswaldo Cavalcanti da Costa Lima Neto.
Coorientador: Prof. Dr. Mauricio Oliveira de Andrade.
Dissertação (Mestrado) – Universidade Federal de Pernambuco. CTG.
Programa de Pós-Graduação em Engenharia Civil, 2015.
Inclui Referências e Apêndices
1.Engenharia Civil. 2. Polo gesseiro. 3. Ferrovia transnordestina.
4. Transporte ferroviário. 5. Crescimento econômico. 6. Desenvolvimento Regional.
I. Lima Neto, Oswaldo Cavalcanti da Costa. (Orientador). II. Andrade, Mauricio
Oliveira de. III. Título.
UFPE
624 CDD (22. ed.) BCTG/2015-158
UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA CIVIL
A comissão examinadora da Defesa de Dissertação de Mestrado
IMPACTOS DA IMPLANTAÇÃO DA FERROVIA
TRANSNORDESTINA NO POLO GESSEIRO DO ARARIPE:
CENÁRIO E PERSPECTIVAS DOS STAKEHOLDERS REGIONAIS
defendida por
João José dos Santos
Considera o candidato APROVADO
Recife, 16 de abril de 2015.
Orientadores:
___________________________________________
Prof. Dr. Oswaldo Cavalcanti da Costa Lima Neto – UFPE
(orientador)
__________________________________________
Prof. Dr. Maurício Oliveira de Andrade - UFPE
(co-orientador)
Banca Examinadora:
___________________________________________
Prof. Dr. Oswaldo Cavalcanti da Costa Lima Neto – UFPE
(orientador)
__________________________________________
Prof. Dr. Joaquim José Guilherme de Aragão– UnB
(examinador externo)
__________________________________________
Prof. Dr. Enilson Medeiros dos Santos – UFRN
(examinador interno)
AGRADECIMENTOS
Acima de qualquer coisa, agradeço a DEUS pela oportunidade de realização de mais uma
importante etapa em minha vida.
Duas pessoas são de extrema importância para a conclusão desse trabalho: a minha MÃE que
com apenas o primário, sempre valorizou os estudos, incentivando a mim e meus três irmãos;
a minha ESPOSA que durante o período da pesquisa e confecção da dissertação, incentivou e
apoiou, me substituindo nas atenções com os filhos, durante as minhas ausências. Para essas
duas mulheres, os meus mais sinceros e gratificantes agradecimentos.
Agradeço ao professor Dr. Anísio Brasileiro que no início da pós-graduação deu o start
quando falou que seria importante uma pesquisa sobre a Ferrovia Transnordestina.
Ao professor Dr. Ing. Oswaldo Lima Neto, meu orientador, que me fez ir e vir durante várias
vezes até atingir o foco principal da pesquisa.
Ao professor Dr. Mauricio Andrade que deu muita contribuição na concretização da
dissertação, tornando-se parceiro na produção de artigos para participação em Congressos de
transportes.
Aos estatísticos Ricardo Galdino e Auridenes Alves. O primeiro com a sua experiência
contribuiu para a análise dos dados coletados. Auridenes tornou-se meu amigo, pois esteve
comigo durante a realização da pesquisa e auxiliou bastante com seu conhecimento do SPSS e
nas sugestões durante a análise dos resultados.
Ao amigo Msc. José Augusto Lima de Souza pela revisão do trabalho e sugestões para que o
mesmo ficasse menos técnico e mais compreensível.
Aos amigos Prof. Dr. Rômulo César de Carvalho e o MBA Manoel André Barroso que
sempre me apoiaram nesta tarefa.
Ao mestrando Roberto Leite que efetuou a revisão no texto e do Abstract.
Ao Msc. Adriano Amorim e Msc. Sílvio Roberto França pelo apoio à conclusão da
dissertação.
Ao Sr. Josias Inojosa Filho, Vice-Presidente do SINDUSGESSO, pela colaboração na
pesquisa e fornecimento de informações que subsidiaram este trabalho.
A Andréa Negromonte, pelo apoio administrativo durante o tempo de mestrado.
A todos que sempre ficaram torcendo pela conclusão desse Mestrado.
Ontem é história,
Amanhã é mistério,
Hoje, uma dádiva,
Por isso é chamado presente...
Autor desconhecido
RESUMO
O Polo Gesseiro do Araripe (PGA) é um importante polo econômico nordestino que, apesar
de ser o maior produtor nacional de gipsita e gesso, enfrenta problemas que impedem o seu
potencial de desenvolvimento. O mais relevante destes problemas é a situação do transporte
da sua produção para os mercados consumidores de insumos e de produtos acabados. Este
trabalho procurou detectar os possíveis impactos que a Ferrovia Transnordestina poderá
provocar no polo gesseiro; também investigou o que os atores locais esperam dela e como eles
estão se preparando para a sua chegada. O trabalho efetuou um levantamento das expectativas
dos stakeholders envolvidos direta ou indiretamente com a cadeia produtiva do gesso. Os
stakeholders que formaram o universo desta pesquisa foram: especialistas da área de
transportes e economia, empresários e a sociedade civil dos municípios do polo. Na análise
foi utilizado o método estatístico descritivo e inferencial, cujos resultados possibilitaram
sugerir aos stakeholders um processo de planejamento e o desenvolvimento de atividades
econômicas no polo, bem como a adoção de estratégias que possam aproveitar melhor as
oportunidades e se defender das ameaças ou dos riscos do projeto. Constatou-se que as teorias
econômicas apresentadas no trabalho se aplicaram à situação do polo. O trabalho conclui com
a apresentação dos possíveis impactos e suas externalidades provocadas pela implantação da
Ferrovia Transnordestina no Polo Gesseiro e na região sob a visão dos stakeholders
estabelecidos. Finalizando, sugerem-se recomendações que auxiliem no planejamento
estratégico direcionado ao desenvolvimento econômico da região do PGA.
Palavras-chave: Polo gesseiro. Ferrovia transnordestina. Transporte ferroviário.
Crescimento econômico. Desenvolvimento regional. Stakeholders.
ABSTRACT
The Plaster Pole Region of Araripe (Polo Gesseiro do Araripe - PGA) is an important
northeastern economic hub region which, although being the greatest national producer of
crude gypsum and plaster, has faced problems that hinder its development potential. The most
significant of these problems is the state of the production transport for the inputs and finished
products to the consuming markets. This research tried to detect the possible impacts that the
Transnordestina Railroad will possibly cause in the plaster pole region, as well as it
investigated what the region players expect out of it and how they are getting ready for the
railroad arrival. The research effected a survey on the expectations of the - directly or
indirectly - involved stakeholders with the plasters' productive chain. The stakeholders that
formed the universe of this research were: local specialists in transport and economy,
entrepreneurs and the civil society of the cities in the pole region. In the analysis it was used
the descriptive and inferential statistics method, whose findings made it possible to suggest to
stakeholders a planning process and the development of economic activities in the pole
region. It suggests also the adoption of strategies that can make a better use of opportunities,
as well how to protect against the threats or the risks of the project. As a result, it was
evidenced that the presented economic theories in the work all applied to the pole region
situation. The work concludes with the presentation of the possible impacts and its
externalities provoked by the implantation of the Transnordestina Railroad in the plaster pole
region through the established vision of stakeholders. Finally, recommendations are made to
help the strategical planning for economic development of the plaster pole region of Araripe
(PGA).
Keywords: Plaster pole region. Transnordestina railroad. Railroad transport. Economic
growth. Regional development. Stakeholders.
LISTA DE FIGURAS
FIGURA 2.1 O Triplo papel para a dinâmica e desenvolvimento da infraestrutura no Brasil... 40
FIGURA 3.1 Representação do projeto Ferrovia Transnordestina............................................. 50
FIGURA 3.2 Representação dos Vetores Logísticos de acordo com o PNLT........................... 58
FIGURA 3.3 Portos do Nordeste Setentrional e os principais produtos exportáveis com
projeção para 2031................................................................................................
60
FIGURA 3.4 Infraestrutura logística de Pernambuco através do PAC....................................... 64
FIGURA 3.5 Representação da área produtiva (agricultura e minérios) do estado do Piauí...... 66
FIGURA 3.6 Cadeias produtivas do Estado de Pernambuco.................................................. 69
FIGURA 3.7 Projetos estruturantes beneficiados pela Ferrovia Transnordestina..................... 70
FIGURA 3.8 Localização das usinas de açúcar e bioetanol no Brasil...................................... 76
FIGURA 4.1 Representação de gipsita................................................................................. 79
FIGURA 4.2 Representação da cadeia produtiva do APL do gesso no Araripe de
Pernambuco.....................................................................................................
87
FIGURA 4.3 Localização do Polo Gesseiro do Araripe........................................................... 88
LISTA DE GRÁFICOS
GRÁFICO 3.1 Projeção da Matriz de Transporte Brasileira para o período de 2005 a 2025.. 57
GRÁFICO 3.2 Produção brasileira de carne de frango (milhões ton.).................................. 72
GRÁFICO 4.1 Representação da distribuição das empresas por setores na cadeia produtiva
do gesso.....................................................................................................
88
GRÁFICO 5.1 Percentual de Empresários do polo gesseiro entrevistados por município...... 101
GRÁFICO 6.1 Custo médio gastos com transportes pelos Empresários do polo gesseiro...... 111
GRÁFICO 6.2 Regiões de destino da produção do polo gesseiro pernambucano................... 112
GRÁFICO 6.3 Principais problemas encontrados no polo gesseiro vistos pelos Empresários 114
GRÁFICO 6.4 Principais problemas encontrados no polo gesseiro vistos pela Sociedade
civil...........................................................................................................
115
GRÁFICO 6.5 Principais problemas encontrados no polo gesseiro vistos pelos
Especialistas...............................................................................................
117
GRÁFICO 6.6 Percentual dos problemas críticos do polo gesseiro na visão dos três
Stakeholders.....................................................................................................
118
GRÁFICO 6.7 Crescimento dos setores do polo gesseiro com implantação da Ferrovia
Transnordestina (Expectativas dos Empresários)............................................
127
GRÁFICO 6.8 Crescimento dos setores do polo gesseiro com implantação da Ferrovia
Transnordestina (Expectativas da Sociedade Civil).........................................
129
GRÁFICO 6.9 Crescimento dos setores do polo gesseiro com implantação da Ferrovia
Transnordestina (Expectativas dos Especialistas)............................................
130
GRÁFICO 6.10 Crescimento dos setores do polo gesseiro com implantação da Ferrovia
Transnordestina (Expectativas dos três Stakeholders)..................................
131
GRÁFICO 6.11 Expectativas dos Empresários em relação aos possíveis impactos da
ferrovia na economia do polo gesseiro........................................................
136
GRÁFICO 6.12 Expectativas da Sociedade Civil em relação aos possíveis impactos da
ferrovia na economia do polo gesseiro........................................................
138
GRÁFICO 6.13 Expectativas dos Especialistas em relação aos possíveis impactos da
ferrovia na economia do polo gesseiro........................................................
139
GRÁFICO 6.14 Expectativas dos Stakeholders em relação aos possíveis impactos da
ferrovia na economia do polo gesseiro.........................................................
140
LISTA DE QUADROS
QUADRO 1.1 Resumo dos problemas encontrados no Polo gesseiro do Araripe...................... 20
QUADRO 2.1 Estimativas de elasticidade do produto interno bruto ao montante de capital
público...........................................................................................................
38
QUADRO 2.2 Vantagens e desvantagens do modo ferroviário................................................. 43
QUADRO 2.3 Extensão em quilômetros da Transnordestina Logística S/A.............................. 44
QUADRO 3.1 Investimentos em infraestrutura do PAC no período 2007/2010.......................... 61
QUADRO 3.2 Produção brasileira de cana-de-açúcar segundo as regiões................................... 75
QUADRO 3.3 Comparativo da produção sucroalcooleira nos estados do Norte/Nordeste safra 2013/2014......................................................................................................
76
QUADRO 3.4 Produção brasileira de leite por regiões 2008-2012........................................... 78
QUADRO 3.5 Ranking dos municípios pernambucanos de maior produção anual de leite........ 78
QUADRO 4.1 Resumo das principais características dos Municípios do polo gesseiro.............. 91
QUADRO 5.1 Representação do estrato Especialistas............................................................. 100
QUADRO 5.2 Representação do estrato Sociedade Civil......................................................... 101
QUADRO 6.1 Teste de Normalidade de Kolmogorov-Smirnov para o problema transporte...... 119
QUADRO 6.2 Teste H de Kruskall-Wallis para o problema transporte.................................... 120
QUADRO 6.3 Teste de Tukey para o cálculo da Diferença Mínima Significativa (DMS) entre
as médias dos grupos para o problema transporte..............................................
120
QUADRO 6.4 Teste de Normalidade para implantação da ferrovia como fator de crescimento
do polo gesseiro..............................................................................................
132
QUADRO 6.5 Teste H de Kruskall-Wallis para implantação da ferrovia como fator de crescimento do polo gesseiro...............................................................................
133
QUADRO 6.6 Teste de Tukey para o cálculo da Diferença Mínima Significativa (DMS) entre
as médias dos grupos como influência da ferrovia no Crescimento do polo
gesseiro..................................................................................................................
134
QUADRO 6.7 Teste de Normalidade sobre ocorrência dos impactos no polo gesseiro com
implantação da Ferrovia Transnordestina.........................................................
141
QUADRO 6.8 Teste H de Kruskall-Wallis sobre ocorrência dos impactos no polo gesseiro com implantação da Ferrovia Transnordestina..................................................
141
QUADRO 6.9 Teste de Tukey para o cálculo da Diferença Mínima Significativa (DMS) entre
as médias dos grupos sobre ocorrência dos impactos no polo gesseiro com implantação da Ferrovia Transnordestina.........................................................
142
QUADRO 7.1 Impactos no crescimento do polo gesseiro no segmento “Extração e transporte
de gipsita” com a Ferrovia Transnordestina......................................................
150
QUADRO 7.2 Impactos no crescimento do polo gesseiro no segmento “Surgimento de polos em outras regiões” com a Ferrovia Transnordestina..........................................
151
QUADRO 7.3 Impactos no crescimento do polo gesseiro no segmento “Indústria de
transformação local” com a Ferrovia Transnordestina.......................................
152
QUADRO 7.4 Impactos no crescimento do polo gesseiro no segmento “Surgimento de outras
atividades” com a Ferrovia Transnordestina.....................................................
152
QUADRO 7.5 Impactos nos indicadores socioeconômicos do polo gesseiro no segmento
“Crescimento e ofertas de empregos” com a Ferrovia Transnordestina...............
153
QUADRO 7.6 Impactos nos indicadores socioeconômicos do polo gesseiro no segmento
“Nível de renda dos trabalhadores” com a Ferrovia Transnordestina..................
154
QUADRO 7.7 Impactos nos indicadores socioeconômicos do polo gesseiro no segmento “Qualidade de vida urbana” com a Ferrovia Transnordestina............................
155
QUADRO 7.8 Impactos nos indicadores socioeconômicos do polo gesseiro no segmento
“melhoria da Qualidade Ambiental” com a Ferrovia Transnordestina.................
155
LISTA DE TABELAS
TABELA 2.1 Distribuição da Matriz do Transporte de Cargas............................................... 39
TABELA 3.1 Extensão e trechos da Ferrovia Transnordestina............................................... 51
TABELA 3.2 Trechos da Ferrovia Transnordestina no estado de Pernambuco.......................... 54
TABELA 4.1 Reserva e produção Mundial de gipsita em 2013.............................................. 81
TABELA 4.2 Consumo energético mensal do polo gesseiro por fonte de energia e
setor produtivo............................................................................................
92
TABELA 4.3 Necessidade e custos de energéticos para a produção de 1 tonelada de gesso..... 93
TABELA 4.4 Evolução da produção de gipsita no Brasil e em Pernambuco............................. 94
TABELA 5.1 Distribuição de Empresários entrevistados por ramo de atividade...................... 101
TABELA 5.2 Tamanho das amostras obtidas e amostras estimadas........................................ 104
TABELA 5.3 Classificação da Confiabilidade a partir do Coeficiente α de Cronbach.............. 106
TABELA 6.1 Distribuição dos Empresários que opinaram por Crescimento Expressivo de
acordo com o ramo de atividade considerando a implantação da Ferrovia
Transnordestina................................................................................................
128
TABELA 6.2 Distribuição dos Empresários que consideram muito importante para os
indicadores socioeconômicos a implantação de ferrovia de acordo com o ramo
de atividade....................................................................................................
137
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
ADDIPER Agência de Desenvolvimento Econômico de Pernambuco
ADECE Agência de Desenvolvimento do Estado do Ceará
ADENE Agência de Desenvolvimento do Nordeste
ANTT Agência Nacional de Transportes Terrestres
APL Arranjo Produtivo Local
BNDES Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social
BNB Banco do Nordeste do Brasil S/A
CDL Clube Diretores Lojistas
CENTRAN Centro de Excelência em Engenharia de Transportes.
CFN Companhia Ferroviária do Nordeste
CIPP Complexo Industrial Portuário de Pecém
CNT Confederação Nacional de Transportes
CONAB Companhia Nacional de Abastecimento
CONDEPE/FIDEM Agência Estadual de Planejamento e Pesquisas de Pernambuco
CONFAZ Conselho Nacional de Política Fazendária
CSN Companhia Siderúrgica Nacional
CSP Companhia Siderúrgica do Pecém
DER-PE Departamento de Estradas de Rodagem de Pernambuco
DNIT Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes
DNPM Departamento Nacional de Produção Mineral
EFC Estrada de Ferro de Carajás
FDI Foreign Direct Investment (investimento estrangeiro direto)
FINOR Fundo de Investimentos do Nordeste
GEIPOT Empresa Brasileira de Planejamento de Transportes
GLEN/UFC Grupo de Estudo e Pesquisa em Infraestruturas de Transportes e
Logística da Energia.
IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
IDH-M Índice de Desenvolvimento Humano Municipal
INFRAERO Empresa Brasileira de Infraestrutura Aeroportuária
IPEA Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada
ITEP Instituto de Tecnologia de Pernambuco
MAPA Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento.
MD Ministério da Defesa
MDIC Ministério de Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior.
MMA Ministério do Meio Ambiente
MME Ministério de Minas e Energia
MT Ministério dos Transportes
PAC Programa de Aceleração do Crescimento
P&D Pesquisa e Desenvolvimento
PNLT Plano Nacional de Logística e Transportes
PPM Produção da Pecuária Municipal
PRODEST Programa de Desenvolvimento do Setor de Transportes
RFFSA Rede Ferroviária Federal Sociedade Anônima
SDEC-PE Secretaria de Desenvolvimento Econômico de Pernambuco
SEBRAE Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas
SENAI Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial
SESI Serviço Social da Indústria
SINDUSGESSO Sindicato das Indústrias de Extração e Beneficiamento de Gipsita,
Calcários, Derivados de Gesso e de Minerais não metálicos do Estado
de Pernambuco.
SPSS Statistical Package for Social Sciences
SUDENE Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste
TLSA Transnordestina Logística S.A
VLT Veículo Leve sobre Trilhos.
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO..........................................................................................................................18
1.1 CONSIDERAÇÕES INICIAIS .........................................................................................................18
1.2 CARACTERIZAÇÃO DO PROBLEMA .........................................................................................20
1.3 HIPÓTESE .......................................................................................................................................21
1.4 OBJETIVOS DA DISSERTAÇÃO ..................................................................................................22
1.4.1 OBJETIVO GERAL .........................................................................................................................22
1.4.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS ...........................................................................................................22
1.5 RELEVÂNCIA E CONTRIBUIÇÕES DO ESTUDO......................................................................22
1.6 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS .....................................................................................23
1.7 LIMITAÇÕES DA DISSERTAÇÃO ...............................................................................................24
1.8 ESTRUTURA DA DISSERTAÇÃO .................................................................................................25
2 INFRAESTRUTURA DE TRANSPORTES E DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO ...............27
2.1 INFRAESTRUTURA, CRESCIMENTO E DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO. ...................27
2.2 TRANSPORTE E ECONOMIA REGIONAL .................................................................................29
2.2.1 TEORIA DA LOCALIZAÇÃO DE INDÚSTRIAS .........................................................................30
2.2.2 TEORIA DO POLO DE CRESCIMENTO ......................................................................................30
2.2.3 TEORIA DA BASE DE EXPORTAÇÃO.........................................................................................31
2.3 INFRAESTRUTURA DE TRANSPORTE ......................................................................................32
2.3.1 OBJETIVOS DOS TRANSPORTES ...............................................................................................33
2.3.2 EXTERNALIDADES DOS TRANSPORTES ..................................................................................33
2.3.3 REDUÇÃO NOS CUSTOS DOS TRANSPORTES .........................................................................34
2.3.4 MELHORIAS NO SETOR DE TRANSPORTES ............................................................................35
2.4 INVESTIMENTOS EM INFRAESTRUTURA DE TRANSPORTE ..............................................36
2.5 INFRAESTRUTURA DE TRANSPORTES NO BRASIL ...............................................................39
2.6 TRANSPORTE FERROVIÁRIO .....................................................................................................41
2.6.1 CARACTERÍSTICAS DO MODO FERROVIÁRIO ......................................................................41
2.7 INFRAESTRUTURA FERROVIÁRIA EM PERNAMBUCO ........................................................44
2.8 DEMAIS INFRAESTRUTURAS DE TRANSPORTES NO ESTADO DE PERNAMBUCO ........45
3 FERROVIA TRANSNORDESTINA: HISTÓRICO, CARACTERÍSTICAS E POSSIBILIDADES
DE IMPLANTAÇÃO. ...................................................................................................................................48
3.1 HISTÓRICO E CARACTERÍSTICAS DA FERROVIA TRANSNORDESTINA .........................48
3.2 A FERROVIA TRANSNORDESTINA EM PERNAMBUCO ........................................................54
3.3 FATORES DE DESENVOLVIMENTO DO MODO FERROVIÁRIO NO NORDESTE ..............55
3.3.1 PLANO NACIONAL DE LOGÍSTICA DE TRANSPORTE – PNLT ............................................55
3.3.1.1 CARACTERÍSTICAS GERAIS.........................................................................................................55
3.3.1.2 O PNLT E O INVESTIMENTO EM INFRAESTRUTURAS............................................................56
3.3.1.3 O PNLT EM PERNAMBUCO ..........................................................................................................59
3.3.2 PROGRAMA DE ACELERAÇÃO DO CRESCIMENTO (PAC): EIXO TRANSPORTES ..........60
3.3.2.1 O PAC-1 ............................................................................................................................................60
3.3.2.2 O PAC-2 ............................................................................................................................................62
3.3.2.3 O PAC EM PERNAMBUCO.............................................................................................................63
3.4 POTENCIALIDADES ECONÔMICAS NA ÁREA DE INFLUÊNCIA DA FERROVIA
TRANSNORDESTINA .................................................................................................................................64
3.4.1 POTENCIALIDADES ECONÔMICAS NO ESTADO DO PIAUÍ .................................................64
3.4.2 POTENCIALIDADES ECONÔMICAS NO ESTADO DO CEARÁ ..............................................67
3.4.3 POTENCIALIDADES ECONÔMICAS NO ESTADO DO PERNAMBUCO ................................69
3.4.3.1 O POLO GESSEIRO ........................................................................................................................70
3.4.3.2 PLATAFORMA MULTIMODAL DE TRANSPORTES EM SALGUEIRO ........................................70
3.4.3.3 POLO AVÍCOLA ..............................................................................................................................71
3.4.3.4 O SETOR SUCROALCOOLEIRO DA ZONA DA MATA PERNAMBUCANA ..................................74
3.4.3.5 BACIA LEITEIRA DE PERNAMBUCO ............................................................................................77
4 A GIPSITA E O POLO GESSEIRO DO ARARIPE .......................................................................79
4.1 A GIPSITA E O GESSO ...................................................................................................................79
4.1.1 GIPSITA ...........................................................................................................................................79
4.1.1.1 HISTÓRICO ......................................................................................................................................80
4.1.1.2 RESERVA E PRODUÇÃO MUNDIAL DE GIPSITA ......................................................................81
4.1.1.3 RESERVA E PRODUÇÃO NACIONAL DE GIPSITA ......................................................................82
4.1.1.4 IMPORTAÇÃO E EXPORTAÇÃO DE GIPSITA .............................................................................82
4.1.2 GESSO ..............................................................................................................................................83
4.1.3 CADEIA PRODUTIVA DO GESSO ................................................................................................85
4.2 POLO GESSEIRO DO ARARIPE - PGA ........................................................................................87
4.2.1 LOCALIZAÇÃO GEOGRÁFICA ...................................................................................................87
4.2.2 PERFIL DOS MUNICÍPIOS DO POLO GESSEIRO .....................................................................89
4.2.3 CONSUMO ENERGÉTICO DO POLO GESSEIRO ......................................................................91
4.2.4 ESTATÍSTICAS PRODUTIVAS DA GIPSITA E DO GESSO .......................................................94
4.2.5 PERSPECTIVAS DO POLO COM O ADVENTO DA FERROVIA ..............................................94
4.2.6 DIAGNÓSTICO LOGÍSTICO DO POLO GESSEIRO ......................................................................95
5 METODOLOGIA DE PESQUISA ...................................................................................................97
5.1 ESTUDO DE CASO..........................................................................................................................97
5.1.1 PESQUISA DE CAMPO ..................................................................................................................98
5.2 MÉTODO DA PESQUISA ...............................................................................................................99
5.2.1. TIPO DE PESQUISA .......................................................................................................................99
5.2.2. UNIVERSO DA PESQUISA.............................................................................................................99
5.2.3. PROCEDIMENTOS DE COLETA DE DADOS .......................................................................... 102
5.2.4 PLANO AMOSTRAL .................................................................................................................... 103
5.2.5 PROCEDIMENTOS DE ANÁLISE DOS DADOS ....................................................................... 104
5.2.6 INSTRUMENTO DE COLETA DE DADOS ................................................................................ 105
5.2.7 EXPLICAÇÃO DO QUESTIONÁRIO .......................................................................................... 107
5.3 ESTRUTURA DA APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS ....................................................... 108
5.3.1 APRESENTAÇÃO DAS ANÁLISES DESCRITIVA E INFERENCIAL ..................................... 108
6 ANÁLISE DESCRITIVA E INFERENCIAL DOS RESULTADOS ............................................. 110
6.1 APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS ...................................................................................... 110
6.2 ANÁLISE DOS RESULTADOS DA PESQUISA .......................................................................... 111
6.2.1 ANÁLISE DESCRITIVA DO CENÁRIO ATUAL DO POLO GESSEIRO ................................. 111
6.2.1.1 ANÁLISE DESCRITIVA DOS PROBLEMAS DO POLO NA VISÃO DOS EMPRESÁRIOS ....... 113
6.2.1.2 ANÁLISE DESCRITIVA DOS PROBLEMAS DO POLO NA VISÃO DA SOCIEDADE CIVIL ..... 114
6.2.1.3 ANÁLISE DESCRITIVA DOS PROBLEMAS DO POLO NA VISÃO DOS ESPECIALISTAS ..... 116
6.2.1.4 ANÁLISE DESCRITIVA DOS PROBLEMAS DO POLO: VISÃO GERAL DOS TRÊS
STAKEHOLDERS ....................................................................................................................................... 118
6.2.2 ANÁLISE INFERENCIAL DOS PROBLEMAS DO POLO......................................................... 119
6.2.3 ALTERNATIVAS SUGERIDAS COMO SOLUÇÃO PARA O POLO GESSEIRO ................... 121
6.2.3.1 ALTERNATIVAS SUGERIDAS PELOS EMPRESÁRIOS ............................................................ 121
6.2.3.2 ALTERNATIVAS SUGERIDAS PELA SOCIEDADE CIVIL ......................................................... 123
6.2.3.3 ALTERNATIVAS SUGERIDAS PELOS ESPECIALISTAS ............................................................ 124
6.2.4 CRESCIMENTO DOS SETORES DO POLO GESSEIRO COM IMPLANTAÇÃO DA
FERROVIA TRANSNORDESTINA .......................................................................................................... 126
6.2.4.1 ANÁLISE DESCRITIVA DO CRESCIMENTO DOS SETORES COM A IMPLANTAÇÃO DA
FERROVIA TRANSNORDESTINA ............................................................................................................ 126
6.2.4.2 ANÁLISE INFERENCIAL DO CRESCIMENTO DOS SETORES COM A IMPLANTAÇÃO DA
FERROVIA TRANSNORDESTINA ............................................................................................................ 132
6.2.5 IMPACTOS NA ECONOMIA DO POLO GESSEIRO COM A FERROVIA
TRANSNORDESTINA ............................................................................................................................... 135
6.2.5.1 ANÁLISE DESCRITIVA DOS IMPACTOS NA ECONOMIA DO POLO GESSEIRO COM A
FERROVIA TRANSNORDESTINA ............................................................................................................ 135
6.2.5.2 ANÁLISE INFERENCIAL DOS IMPACTOS NA ECONOMIA DO POLO GESSEIRO COM A
FERROVIA TRANSNORDESTINA ............................................................................................................ 140
7 CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES ....................................................................................... 144
7.1 CONCLUSÕES ............................................................................................................................... 144
7.2 RECOMENDAÇÕES ..................................................................................................................... 156
REFERÊNCIAS .......................................................................................................................................... 158
APÊNDICES ............................................................................................................................................... 166
18
1 INTRODUÇÃO
1.1 CONSIDERAÇÕES INICIAIS
A importância dos transportes para o desenvolvimento quer no setor econômico e social, quer
no político, geográfico e cultural foi, desde sempre, evidenciada. A infraestrutura de
transportes possibilita as conexões necessárias para o transporte de pessoas e mercadorias,
além de promover o desenvolvimento econômico e a integração regional (IPEA, 2010).
Não há dúvida que a estrada de ferro seja uma das mais extraordinárias criações da
humanidade. Em virtude da necessidade de ligação e integração entre províncias, vilas,
distritos, municípios, cidades e estados, os transportes de passageiros e de cargas por via
férrea representaram no Brasil um fator de sustentação econômica e um forte agente de
formação de núcleos urbanos. Num grande número de cidades por onde passava, a ferrovia
teve um papel preponderante no desenvolvimento dessas regiões. Destaca-se que as ferrovias
brasileiras foram implantadas para atender às necessidades de uma economia exportadora de
produtos primários, permitindo uma integração nacional através do comércio entre os portos e
as regiões interioranas (BARAT, 1978; RODRIGUEZ, 2004).
A primeira estrada de ferro do Brasil foi idealizada pelo Barão de Mauá. Possuía um trajeto de
18 quilômetros, e ligava Rio de Janeiro a Petrópolis. Um marco histórico que continuou o seu
desenvolvimento de maneira isolada no território brasileiro, até a criação em 1957 da Rede
Ferroviária Federal S/A (RFFSA), que promoveu a unificação da malha ferroviária nacional.
Na década de 1990, em virtude da escassez de recursos para financiamentos dos
investimentos no setor de transportes, as ferrovias estatais encontravam-se em déficits
econômicos e operacionais. Buscando ampliar o aumento da oferta e da melhoria dos
serviços, o governo federal transferiu à iniciativa privada - via concessão -, a malha
ferroviária nacional (CNT, 2011).
Por ser um país de dimensões continentais, o Brasil, necessita de uma base logística que sirva
de suporte para fomentar o crescimento da economia. De acordo com o Plano Nacional de
19
Logística e Transportes – PNLT (2007), o investimento em infraestrutura dos transportes
tende a aumentar a participação do Brasil nas exportações mundiais, tornando-o mais
competitivo. Para a região Nordeste do Brasil, a implantação da Ferrovia Transnordestina
poderá propiciar a exportação da produção agrícola do cerrado do sul do Piauí e da produção
mineral da região, especialmente da gipsita no Araripe em Pernambuco.
A Ferrovia Transnordestina, idealizada desde o tempo do Império, teve, depois de muitas
paralizações, nova atenção a partir de 2006, durante o Governo de Luiz Inácio “Lula” da
Silva. A implantação deste eixo ferroviário tem como objetivo integrar o Nordeste com as
demais regiões do Brasil, estimular sua economia, impulsionar o desenvolvimento da região e
dos três estados envolvidos, possibilitando ainda, o escoamento da produção desses estados.
De acordo com a Transnordestina Logística S.A - TLSA (2011), dentre os objetivos desta
nova ferrovia, há o interesse em elevar a competitividade da produção agrícola e mineral da
região de sua abrangência e, neste contexto, encontra-se a possibilidade do escoamento da
produção de gipsita e do gesso da região do Araripe em Pernambuco. Na concepção do
projeto, a TLSA destaca em seu site como justificativa de sua viabilidade econômica:
“Até se chegar à concepção do traçado atual, foram contratadas experientes consultorias em pesquisas agrícolas e minerais para identificar cargas
potenciais que pudessem dar suporte ao crescimento da ferrovia. O que mais
chamou a atenção foi o crescimento agrícola no cerrado nordestino e a
dificuldade futura para escoar toda a produção, fato que poderia estancar o crescimento regional. No meio do caminho, uma imensa e já conhecida
jazida de gipsita ganha também um sopro de competitividade capaz de
revitalizar a região” (TLSA, 2011).
O Governo do Estado de Pernambuco em (2007) já havia definido como de interesse
estratégico a implantação do chamado “Ramal do Gesso”, uma nova linha férrea que partiria
de Salgueiro e atingiria as cidades de Araripina e Trindade. Em Salgueiro, essa linha se
fundiria com a linha ferroviária existente.
O Polo Gesseiro na região do Araripe em Pernambuco, segundo o SINDUSGESSO (2011)
apresenta como entraves para o seu desenvolvimento e escoamento da produção de gipsita e
seus derivados, a falta dos seguintes elementos de infraestrutura: a) Fontes energéticas
sustentáveis para o processo de mineração e de calcinação; b) Confiabilidade e
economicidade nos meios de transportes para redução de custos de distribuição e ampliação
20
dos mercados; c) Sistemas de comunicações eficientes para dar suporte à comercialização; e
d) Regularidade no fornecimento de água para os processos industriais de beneficiamento do
minério. (ver Quadro 1.1).
Quadro 1.1 – Resumo dos problemas encontrados no Polo gesseiro do Araripe.
PROBLEMAS CONSEQUÊNCIAS
Fontes Energéticas Para o processo de mineração e de calcinação
Transportes Para redução de custos de distribuição e ampliação de mercados
Comunicações Para dar suporte à comercialização
Água Para os processos industriais de beneficiamento
Fonte: SINDUSGESSO (2012). Elaboração do autor.
A abordagem deste trabalho foca na infraestrutura de transportes, onde o modo ferroviário,
com a implantação da nova Ferrovia Transnordestina, citado como mola propulsora do
desenvolvimento econômico nordestino, será analisado sob a perspectiva dos stakeholders1
regionais para detectar as expectativas dos impactos e suas externalidades para o polo
gesseiro.
1.2 CARACTERIZAÇÃO DO PROBLEMA
Esta dissertação visa observar como os atores principais, beneficiários diretos e indiretos do
projeto da Transnordestina na cadeia da gipsita, percebem possíveis externalidades positivas
ou negativas, decorrentes da implantação desta infraestrutura em sua região. A partir deste
enfoque, pretende-se responder aos seguintes questionamentos voltados à percepção dos
stakeholders envolvidos direta e indiretamente no Arranjo Produtivo Local (APL) do gesso,
com relação aos seguintes aspectos:
a) Quais as expectativas dos stakeholders do polo gesseiro com relação ao ganho que
esta ferrovia poderá trazer para o setor e para a própria região?
1 São chamados stakeholders os indivíduos ou grupos que possuem interesse no processo ou nos resultados de
um projeto. Chama-se a atenção que todos os projetos possuem stakeholders e que projetos complexos possuem
vários (SLACK et al. ,2009).
21
b) Como a economia do setor e da região se prepara para aproveitar as vantagens da
melhoria na infraestrutura dos transportes?
c) Há planos locais para se defender de uma possível competição na produção industrial
dos derivados do gesso, com outras regiões melhores localizadas em relação aos
mercados consumidores e ao suprimento de energia e água?
1.3 HIPÓTESE
A literatura sobre a economia regional destaca que melhorias nas infraestruturas de
transportes tanto podem dinamizar como esvaziar uma região. Em outras palavras, aproveita o
que cada região produz melhor ou transfere parte da produção para outra região melhor
provida de infraestrutura, de mão de obra ou mais próxima dos mercados consumidores. A
presença da ferrovia tende a reduzir os custos de transportes; essa condição poderá ser mais
significativa para o setor de mineração que para o setor da indústria de transformação, em
função da possibilidade de deslocamento da concentração industrial hoje existente, para
outras regiões do Estado e do País.
A partir dessas condições, toma-se como hipótese desta dissertação, que a Ferrovia
Transnordestina irá impactar positivamente na acessibilidade à região do polo gesseiro do
Araripe, e que desta forma irá ampliar significativamente a competitividade do mercado da
gipsita (aumento da produção mineral), mas poderá produzir em contrapartida, uma
redistribuição das atividades de industrialização do gesso para outras regiões, provocando
assim, impactos na criação de emprego e renda local.
22
1.4 OBJETIVOS DA DISSERTAÇÃO
1.4.1 Objetivo Geral
O objetivo principal desta dissertação será levantar e sistematizar os possíveis impactos
decorrentes da implantação da Ferrovia Transnordestina sobre o polo gesseiro de acordo com
a visão dos stakeholders, subsidiando esses atores para o planejamento e o desenvolvimento
das atividades econômicas do referido polo.
1.4.2 Objetivos Específicos
Constituem-se em objetivos específicos desse trabalho:
Analisar a situação atual da região efetuando um diagnóstico da realidade do polo
gesseiro com relação às condições de logística;
Investigar os possíveis impactos que a Ferrovia Transnordestina irá provocar na região
do polo gesseiro do Araripe Pernambucano;
Detectar se esses impactos serão de ordem favorável ou desfavorável para as
atividades econômicas da região;
Detectar a percepção ou o sentimento dos stakeholders na relação Ferrovia e o
desenvolvimento do polo gesseiro;
Sistematizar as expectativas dos stakeholders com a implantação da Ferrovia
Transnordestina.
1.5 RELEVÂNCIA E CONTRIBUIÇÕES DO ESTUDO
A movimentação de mercadorias é de grande importância para a economia de qualquer país,
seja no mercado local, seja no mercado externo. O transporte sobre trilhos tem papel
23
estratégico na movimentação de cargas: baratear custos, aumentar a competitividade dos
produtos e gerar divisas.
Justifica-se o presente trabalho pela importância que o transporte ferroviário representa, desde
os primórdios da ferrovia no Brasil, para o desenvolvimento da região por ele atendida. Neste
trabalho pretende-se mostrar que o modo de transporte ferroviário é de grande importância
para o desenvolvimento econômico do Nordeste, através da interligação entre os estados, de
acordo com os ramais existentes, os ramais restaurados e os que podem ser criados através da
Ferrovia Transnordestina. Este trabalho vai ressaltar a importância dessa ferrovia dentro do
Estado pernambucano, com ênfase no polo gesseiro através do escoamento da produção
extrativa mineral e do produto final da indústria de transformação.
Por tratar-se de um levantamento de expectativas, este trabalho poderá ser útil para dar
suporte a um planejamento estratégico do polo gesseiro, seja no setor extrativo, seja no setor
de industrialização, além de propiciar aos stakeholders locais (diretos ou indiretos), a adoção
de estratégias que possam aproveitar melhor as oportunidades e se defender das ameaças ou
dos riscos do projeto.
1.6 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
A metodologia desse trabalho possui uma abordagem na forma de pesquisa exploratória,
visando proporcionar o conhecimento existente relacionado ao tema proposto.
Quanto aos objetivos a pesquisa foi exploratória, pois buscou conhecer o problema visando
torná-lo explícito e poder construir hipóteses, através de levantamento bibliográfico e
entrevistas com atores com conhecimento do assunto (empresários, especialistas, população
local). Foi também descritiva, pois procurou descrever as características da população
estudada, do fenômeno e as relações entre as variáveis.
Quanto aos procedimentos foi realizado um levantamento bibliográfico, constituído
principalmente por livros que abordem o assunto prolatado, em artigos de periódicos, em
revistas, jornais, documentos técnicos e em relatórios disponibilizados em meio virtual como
24
fonte de dados para embasar o que vai ser estudado e analisado nessa dissertação. Foram
efetuadas também visitas a órgãos do Governo Estadual e Municipal, a exemplo do IBGE,
ADENE, CONDEPE/FIDEM e Secretarias, no intuito de coletar dados que endossassem o
assunto em questão. Foram coletadas também informações em revistas especializadas ou
correlacionadas à área de infraestrutura de transportes. Foram também importantes as
consultas através de sítios eletrônicos aos jornais do nosso estado, aos órgãos e entidades de
toda esfera pública nacional.
A pesquisa, quanto à natureza, foi quantitativa e também qualitativa. Na forma quantitativa,
procurou mensurar através dos métodos e técnicas estatísticas, as opiniões, atitudes e
preferências dos atores que formaram a amostra populacional, classificando e analisando as
informações. Foi qualitativa, pela necessidade de entender detalhadamente as razões das ações
ou dos pensamentos dos atores envolvidos, no sentido de desenvolver e aperfeiçoar as ideias
sobre o assunto estudado.
1.7 LIMITAÇÕES DA DISSERTAÇÃO
Apesar de esse trabalho fazer referência à infraestrutura dos transportes como impulsionador
do desenvolvimento de uma região, esta dissertação limitar-se-á a dar ênfase ao modo
ferroviário. Mesmo que esse modo de transporte apresente uma densidade de 3,5% (km de
estrutura ferroviária / km2
de área do País) dentro do território nacional (CNT, 2011),
adotaremos a abordagem de forma restrita a uma determinada região dentro do Estado de
Pernambuco, tendo como consequência a repercussão que esta infraestrutura provocará nessa
região.
No levantamento de dados para elaboração da dissertação, surgiram algumas dificuldades:
a) Acesso a documentos estratégicos, seja de origem pública ou privada, que apresentassem os
estudos de viabilidade econômica dessa ferrovia.
b) Falta de dados atualizados relativos a frete ferroviário do gesso e da gipsita, que
possibilitasse uma comparação com o frete rodoviário.
c) O deslocamento aos locais de pesquisa, por vezes, situados em área rural e distantes, sem
uma infraestrutura adequada durante o período da pesquisa.
25
d) Receio e desconfiança dos empresários durante a pesquisa de campo para a coleta de
dados, o qual forçou a redução no tamanho da amostra, porém sem prejuízo na margem de
erro amostral.
1.8 ESTRUTURA DA DISSERTAÇÃO
Esta dissertação está formada por sete capítulos, juntamente com as referências bibliográficas
e os apêndices.
O primeiro capítulo, introdutório, faz uma breve apresentação do tema da pesquisa,
caracteriza o problema, e estabelece a linha de pesquisa da dissertação, apresenta seus
objetivos gerais e específicos, aborda resumidamente a forma de metodologia da pesquisa,
bem como as limitações do trabalho.
O segundo capítulo apresenta a influência dos investimentos em infraestrutura de transportes
e sua relação com o crescimento e o desenvolvimento econômico de uma região, fazendo uso
também de teorias econômicas relacionadas ao desenvolvimento regional. Como o tema deste
trabalho está relacionado ao projeto de implantação da Ferrovia Transnordestina, neste
capítulo o modo ferroviário é apresentado até chegar à situação atual da infraestrutura
ferroviária no estado de Pernambuco.
O terceiro capítulo é o objeto norteador deste trabalho, onde é apresentado o desejo de
implantação da Ferrovia Transnordestina a partir do tempo do Império – modo político
brasileiro -, suas paralisações e concepção atual, no qual foi feito um diagnóstico econômico e
social, político e de gestão. Como forma de justificativa à sua implantação, este capítulo
mostra também os incentivos governamentais voltados para a infraestrutura dos transportes,
em particular o da ferrovia. Em seguida, mostra as possibilidades econômicas que poderão ser
viabilizadas através desta nova Ferrovia.
O quarto capítulo, refere-se à região de estudo e análise deste trabalho, apresenta o polo
gesseiro em todas as suas nuances: o minério extraído e seus derivados, seu histórico, sua
26
cadeia produtiva, estatísticas de produção, demandas e consumos. Faz um retrato do
diagnóstico atual e apresenta os possíveis impactos na região, disponibilizados na literatura.
O quinto capítulo refere-se ao estudo de caso, com apresentação das informações técnicas e
estatísticas de como foram feitos os estudos: a metodologia, o plano amostral, forma de coleta
de dados e instrumento de análise.
O sexto capítulo será dedicado à analise dos resultados, proporcionada pelos dados coletados
na pesquisa, fazendo uso das estatísticas descritiva e inferencial com o objetivo de referendar
o problema e a hipótese.
Após a análise, são apresentadas as conclusões, bem como as recomendações para futuros
estudos a partir deste trabalho.
27
2 INFRAESTRUTURA DE TRANSPORTES E DESENVOLVIMENTO
ECONÔMICO
Este capítulo tem o objetivo de apresentar como os investimentos em infraestrutura - em
particular a dos transportes -, podem impactar positivamente no desenvolvimento de uma
região e consequentemente contribuir para o crescimento econômico do Estado ou País a que
esta região pertença.
A infraestrutura de transporte analisada neste trabalho é o projeto de implantação da Ferrovia
Transnordestina. Então, inicia-se com uma apresentação conceitual relacionada à
infraestrutura de transportes e sua relação com o desenvolvimento econômico através dos
conceitos do desenvolvimento regional. Apresenta o transporte ferroviário e um resumo das
principais características desse modal. Em seguida, dá ênfase ao diagnóstico do setor
ferroviário no estado de Pernambuco.
2.1 INFRAESTRUTURA, CRESCIMENTO E DESENVOLVIMENTO
ECONÔMICO.
A eficiência da economia de um país ou região é evidenciada através da infraestrutura. De
forma geral, o termo infraestrutura pode ser conceituado como o conjunto de instalações e
equipamentos físicos, estruturas organizacionais e institucionais, ou fundações econômicas e
sociais, voltados para operação da sociedade, servindo de base para o desenvolvimento de
outras atividades (PINTO JÚNIOR, 2010). Na concepção de Pêgo Filho et. al (1999, pag. 9),
infraestrutura pode ser conceituada como “bens e serviços que podem exigir alta escala de
produção com difícil exclusão do consumo, o que potencializa retornos constantes ou mesmo
crescentes de escala”.
Uma infraestrutura adequada, segundo Caixeta-Filho e Martins (2011), potencializa ganhos de
eficiência no sistema produtivo, e não só às empresas de forma individual. Segundo esses
autores, o aumento do produto final provoca um incremento na produtividade, ao mesmo
tempo em que reduz o custo por unidade de insumo.
28
Além de melhorar a eficiência na produção, no transporte e nas comunicações, o
desenvolvimento de infraestrutura ajuda a fornecer incentivos econômicos aos participantes
dos setores público e privado. O desenvolvimento de infraestrutura melhora a produtividade
de uma nação, torna as empresas mais competitivas e dá novo impulso à economia da região.
Uma região com infraestrutura acessível e de qualidade propicia as decisões de investimentos
de empresas nacionais além de tornar-se atraente para investidores internacionais. Vê-se a
partir daí, o impacto significativo da infraestrutura sobre a produtividade geral da economia,
no crescimento e no desenvolvimento econômico de uma nação.
Dentro da corrente de economistas não há consenso na definição entre crescimento e
desenvolvimento econômico. A primeira corrente, de cunho teórico, considera crescimento
como sinônimo de desenvolvimento, enquanto a outra, mais empírica, apresenta o
crescimento como condição primordial para o desenvolvimento, mas não condição suficiente
(SOUZA, 2009). Como distinguir a diferença entre crescimento e desenvolvimento
econômico? Gremaud et al. (2011) apresentam o crescimento econômico como uma variação
quantitativa do produto, através do crescimento contínuo da renda total e per capita ao longo
do tempo. Em contrapartida, o desenvolvimento econômico é visto através das alterações no
modo de vida das pessoas, das instituições, das estruturas produtivas, da alocação dos
recursos pelos diferentes setores da economia, visando a melhoria nos indicadores de bem-
estar socioeconômicos do conjunto da população.
Souza (2009, pag.6) apresenta autores de orientação crítica – “os economistas do
desenvolvimento” - a exemplo de Celso Furtado, Paul Singer entre outros, pertencentes à
corrente estruturalista da economia, onde pregam que o desenvolvimento econômico provoca
transformações nas estruturas econômicas, sociais, políticas e institucionais, com o objetivo
de elevar a produtividade e a renda média da população.
Um processo de desenvolvimento econômico deve ao longo do tempo apresentar algumas
características econômicas e sociais: O aumento do bem-estar econômico, que pode ser
medido por indicadores de natureza econômica, a exemplo do produto nacional total e do
produto nacional per capita; e no âmbito social deve-se ser observada a diminuição dos níveis
de pobreza, desemprego e desigualdade, além da melhoria das condições de saúde, nutrição,
educação, moradia e transporte (GREMAUD et al, 2011).
29
Pêgo Filho e Campos Neto (2010) relatam que, nos trabalhos efetuados pelo IPEA, o conceito
de infraestrutura pode ser desmembrado em duas linhas de estudo de acordo com o foco a ser
dado. A primeira linha, denominada de infraestrutura social e urbana, cuja preocupação é
voltada para a habitação, saneamento e transporte urbano, procura dar suporte aos cidadãos e
seus domicílios. A outra linha, infraestrutura econômica, tem como foco prioritário dar apoio
às atividades do setor produtivo, englobando os setores de rodovias, ferrovias, portos,
aeroportos, energia elétrica, petróleo e gás natural, biocombustíveis e telecomunicações.
Ao focar sobre o setor de transportes, o tema de estudo deste trabalho abordará com mais
ênfase ao da infraestrutura econômica, sem deixar de observar a sinergia que há com a
infraestrutura social e urbana.
2.2 TRANSPORTE E ECONOMIA REGIONAL
Existem diversas abordagens teóricas relacionadas com a economia regional, onde cada autor
tenta capturar toda a complexidade da dinâmica econômica no espaço e sua relação com o
desenvolvimento regional. Por tratar-se de uma região carente de transportes, distante do
mercado consumidor de sua produção, o presente trabalho apresenta de forma resumida as
teorias de Alfred Weber, François Perroux e Douglas North e analisa a correlação existente
entre essas teorias com a base de pesquisa deste estudo.
Nos estudos desses teóricos, o fator transporte é um item presente e peça fundamental que
propicia o crescimento regional. Na estrutura dessa pesquisa, foi efetuada uma analogia das
teorias com o que ocorre ou poderá ocorrer na região do polo gesseiro com o advento da
implantação da Ferrovia Transnordestina.
30
2.2.1 Teoria da Localização de Indústrias
A teoria de localização industrial de Alfred Weber (1868 – 1958) tem como objetivo obter a
localização ideal para minimização dos custos de transportes. Segundo essa teoria as
atividades industriais tendem a situar-se em conformidade com a ponderação de três fatores:
a) Fator regional relacionado ao custo de transporte;
b) Fator regional relacionado ao custo da mão-de-obra;
c) Fator local estabelecido pelas ofertas de serviços, tais como energia elétrica, água, etc.,
consequência das forças de aglomeração e desaglomeração (forças que provocam
concentração ou dispersão em uma região).
Segundo afirma essa teoria, quando a matéria-prima existe em apenas um ponto, a localização
seria definida em função dos custos de transporte. Ou seja, se o custo de transporte da
matéria-prima for superior ao custo de transporte do produto final, a atividade localizar-se-ia
o mais próximo possível da fonte de matéria-prima; caso contrário, mais próximo possível do
mercado consumidor (MONASTERIO e CAVALCANTE, 2011).
2.2.2 Teoria do Polo de Crescimento
Nos estudos sobre polo de crescimento do economista francês François Perroux, a proposta é
explorar as relações estabelecidas entre as indústrias motrizes e indústrias movidas. Segundo
Perroux as indústrias motrizes têm a propriedade de aumentar as vendas e as compras de
serviços de outras indústrias, enquanto as indústrias movidas têm suas vendas aumentadas em
função das indústrias motrizes. Assim, Perroux conceitua polo de crescimento como um
agrupamento de indústrias motrizes capazes de criar efeitos de polarização fundamentais, que
determinam o crescimento ou a enclavidade regional (MONASTERIO e CAVALCANTE,
2011).
Para que as indústrias motrizes promovam o desenvolvimento regional, segundo Perroux, é
necessária a presença das seguintes formas de polarização:
31
a) Polarização técnica, que destaca os efeitos do encadeamento entre a indústria motriz e
outras empresas;
b) Polarização econômica, que estimula a geração de empregos e rendas devido à
implantação da indústria motriz;
c) Polarização geográfica, provocada pelos impactos nos sistemas urbanos do
desenvolvimento da cidade onde está instalada a indústria motriz;
d) Polarização psicológica, que se refere aos investimentos decorrentes do clima de
otimismo gerado pelo sucesso da indústria motriz.
As formas de polarização conceituadas por Perroux estão relacionadas com o presente estudo,
pois os possíveis impactos que serão efetuados pela Ferrovia Transnordestina poderão
provocar a minimização dos custos de transporte e a criação de economias externas e de
aglomeração.
O crescimento do polo, segundo o SINDUSGESSO (2012), tem suas limitações para
expansão, principalmente no que se refere à logística. A carência de transporte na região é
objeto deste trabalho, fazendo análises de expectativas dos stakeholders com a implantação da
Ferrovia Transnordestina que poderá estimular na criação de novos eixos de desenvolvimento.
A ferrovia propicia ganhos de produtividade e dá novos horizontes de expansão do polo até o
seu esgotamento, donde passará a gerar novos polos em outras regiões.
2.2.3 Teoria da Base de Exportação
O historiador e economista Douglass North desenvolveu o conceito de base de exportação
com o objetivo de designar coletivamente os produtos exportáveis de uma região fossem eles
primários, secundários ou terciários. A teoria de North tem as exportações como um fator
determinante da taxa de crescimento da região, onde o desenvolvimento regional ocorre
através de um processo exógeno que tem origem a partir de um impulso externo à região,
onde seus produtos são demandados por outras regiões ou países (LIMA e SIMÕES, 2010).
32
A Base de Exportação é fundamental para determinar o nível de renda absoluta e per capita da
região, tendo como consequência a determinação da quantidade de atividades locais,
secundárias e terciárias, proporcionando à região o desenvolvimento econômico.
Em sua teoria North informa que é possível ocorrer o desenvolvimento regional a partir do
surgimento de uma atividade de exportação baseada em fatores locacionais específicos. As
atividades ligadas a esse setor são chamadas de base exportadora e estas provocam efeitos
indiretos sobre a economia local. Nesse processo a atividade de exportação induz o
surgimento de polos de distribuição e cidades, nas quais começam a se desenvolver atividades
de processamento industrial e serviços associados ao produto de exportação. Para North, a
diversificação setorial é o resultado do sucesso das atividades de base e não o resultado do
esgotamento do setor primário. Ou seja, a ocorrência de industrialização na região não garante
que o desenvolvimento regional continuará, uma vez que ela é, na verdade, o resultado do
sucesso da base exportadora (MONASTERIO e CAVALCANTE, 2011).
Continuando, North acrescenta que são necessários quatro fatores para o crescimento das
exportações de base:
a) Maior desenvolvimento dos meios de transportes,
b) Crescimento da renda e da demanda em outras regiões;
c) Progresso tecnológico;
d) Participação do governo na criação de benefícios sociais básicos.
2.3 INFRAESTRUTURA DE TRANSPORTE
A sinergia entre transportes e o desenvolvimento é destacada por Barat e Pavan (2010),
quando afirma que o transporte como atividade meio de apoio à produção de bens e serviços,
é essencial para o aproveitamento do potencial produtivo de uma região, país ou associação de
países, com influência direta no processo econômico nas suas dimensões temporal
(desenvolvimento) e espacial (organização territorial, regional e urbana).
33
2.3.1 Objetivos dos Transportes
Para atingir os objetivos do desenvolvimento econômico ou social, faz-se necessário a
participação dos transportes (SOUZA, 2009a). Quando uma nação ou região, melhora sua
logística de transportes o consumo interno aumenta, devido a eficiência no escoamento dos
bens entre produtor e consumidor; há crescimento do produto interno bruto (PIB) e também
da oferta de empregos. Para Andrade (1994) isto é evidente, quando afirma que o setor de
transportes exerce papel fundamental, no funcionamento do sistema econômico através da
criação de novos níveis de produção a partir das unidades produtivas que são encontradas no
espaço econômico.
Os transportes são planejados para atingir objetivos econômicos e não econômicos. Podemos
destacar alguns objetivos econômicos dos transportes: a exploração dos recursos naturais, o
aumento da produtividade agrícola, a elevação do rendimento industrial e o aumento do
consumo per capita. Dentre os objetivos não econômicos, a promoção da unidade política, o
reforço à defesa do país e a elevação dos padrões sociais (CAIXETA-FILHO e MARTINS,
2011).
De forma mais ampla, o administrador público, dentro da política dos transportes, busca
equacionar os principais objetivos dos transportes: proporcionar a integração da
nacionalidade; promover uma igualdade inter-regional; proporcionar novas oportunidades de
especialização produtiva; preservar o meio ambiente; promover a racionalização do uso de
insumos energéticos; ser eficiente no atendimento às exigências advindas da modernização e
aumento na escala de produção (BARAT e PAVAN, 2010).
2.3.2 Externalidades dos Transportes
Em economia, ocorrem externalidades, quando a produção ou o consumo de um bem provoca
efeitos sobre outros indivíduos, e esses efeitos (custos ou ganhos) não se refletem nos preços
(GREMAUD et al., 2011).
34
Os impactos produzidos pelos investimentos em infraestrutura de transportes, segundo
Berechman (1995) podem gerar externalidades positivas ou negativas. Quando o impacto é
benéfico, a externalidade é positiva, produzem efeitos positivos, tais como a criação de
emprego, aumento de renda e crescimento econômico. Quando o impacto gerado é adverso, a
externalidade produzida gera efeitos negativos, como por exemplo, a poluição do ar,
congestionamentos, acidentes, o deslocamento da comunidade. Este autor ainda ressalta que é
consenso entre os estudiosos do assunto, que a melhoria da acessibilidade deve ser o objetivo
principal dos investimentos de transporte, e que na maioria dos casos, a capacidade estimada
de um projeto para gerar outros impactos positivos é considerada como a principal motivação
para a realização do investimento.
2.3.3 Redução nos Custos dos transportes
A melhoria em infraestrutura resulta na redução dos custos de transportes, consequentemente
nos custos de produção. Como exemplo, podemos mostrar que estradas mais bem
pavimentadas levam à redução da manutenção dos caminhões aumentando a sua vida útil,
diminui o tempo de transporte de produtos e insumos, levando a uma redução também no
valor dos fretes. Quando os investimentos em infraestrutura são voltados também para a
criação de modos alternativos, a exemplo de ferrovias e cabotagem, visando ao escoamento da
produção, há a possibilidade da redução dos custos logísticos da empresa, da elevação do
potencial de produção e ampliação da sua eficiência. Ao tratarmos sobre logística e transporte,
destacamos a assertiva de Pêgo Filho e Campos Neto (2010):
Uma melhoria das condições das estradas e modais alternativos pode
possibilitar o alcance de áreas remotas, o que pode gerar um aumento na oferta de mão de obra pela possibilidade de deslocamento populacional;
ampliar a demanda pelos mais diversos produtos, graças ao aumento da
capacidade de escoamento; ou simplesmente facilitar o escoamento da produção para os mercados interno e externo (PÊGO FILHO e CAMPOS
NETO, 2010, cap. 2, p.18).
35
2.3.4 Melhorias no setor de transportes
Ballou (2011) afirma que com a disponibilidade de melhores serviços de transportes a
estrutura econômica começa a assemelhar-se à de uma economia desenvolvida. O setor de
transporte representa o elemento mais importante do custo logístico, pois promove a
interligação entre todos os componentes de uma cadeia logística. A melhoria neste setor
possibilita a redução de custos, tornando os fretes mais baratos. Assim, de acordo com o autor
em questão, a melhoria no setor dos transportes contribui para:
a) Aumentar a competição no mercado
Na ausência de um bom sistema de transporte, o crescimento das atividades produtivas
restringe-se à região local. A maioria das empresas tende naturalmente a instalar-se nas
proximidades dos centros mais bem dotados de infraestrutura.
Transporte mais barato encoraja a concorrência direta e indiretamente incentiva a competição,
pois possibilita a distribuição de bens a novos mercados.
b) Garantir a economia de escala de produção
Um transporte economicamente eficiente ajuda a aumentar a expansão de economia de
mercado, aumentando a escala de produção. A elevação dessa produtividade estimula o
investimento, o emprego e consequentemente o desenvolvimento regional e internacional de
um país. Transporte barato provoca o fortalecimento da produção ligando as áreas de
produção às de consumo e exportação. Gera também liberdade para a escolha de localização
industrial mais adequada para usufruir vantagens geográficas.
c) Reduzir preços das mercadorias
Transporte barato também contribui para reduzir o preço dos produtos, possibilitando às
sociedades condições de obter produtos produzidos em outros mercados. A redução nos
custos dos transportes provoca a redução nos custos das mercadorias, provando que os
transportes podem romper monopólios, provocados pelo isolamento geográfico, na produção
e na comercialização de mercadorias.
36
2.4 INVESTIMENTOS EM INFRAESTRUTURA DE TRANSPORTE
Investimento tanto público quanto privado é fator determinante do crescimento e
desenvolvimento econômico de um país. Especificamente, no caso dos transportes,
investimento é pré-condição para prover a logística da produção de bens e serviço do país.
Historicamente, a infraestrutura econômica, e em particular a de transporte, sempre foram
consideradas como pré-requisitos para o crescimento econômico. Nos países em
desenvolvimento, as infraestruturas de transportes são essenciais para que estes estabeleçam
condições necessárias para a promoção do desenvolvimento econômico e social. Berechman
(1995) salienta que os investimentos em infraestrutura de transporte (incluindo rodovias,
ferrovias, portos e aeroportos) podem gerar acessibilidade, impactos econômicos, ambientais
e sociais. Andrade (1994) ressalta que o investimento em transportes é condição necessária,
mas não suficiente para acelerar o desenvolvimento econômico.
Na intenção de aumentar o emprego e promover o desenvolvimento econômico, os governos
de muitos países tendem a alocar verbas em infraestrutura de transporte. Os recursos
disponíveis para prover tais infraestruturas básicas geralmente são limitados, e necessitam da
atuação direta do Estado (KUWAHARA, 2008). Esta assertiva é reforçada por Souza (2009)
quando afirma que faz parte do Estado, o papel essencial na organização do esforço de
desenvolvimento através da implantação da infraestrutura básica; da regulação do crédito; na
oferta dos serviços sociais básicos, como saúde, educação e segurança. Como exemplo,
podemos citar a China - atualmente considerada uma das maiores potências econômicas -, que
destinou recursos públicos para a expansão e modernização de suas malhas ferroviárias. O
pacote de investimentos na área de transportes, lançado pelo governo chinês em 2007,
destinou US$ 292 bilhões para as construções ferroviárias (PINTO JÚNIOR, 2010).
Para o endosso do assunto relacionado à necessidade da participação do Estado nos
investimentos em infraestrutura, Pinto Júnior (2010) destaca que o papel do Estado é
fundamental na definição das regras de exploração dos serviços de infraestrutura, na
regulação de cada setor, bem como na criação dos mecanismos de coordenação dos agentes
públicos e privados, operadores dos setores relacionados.
37
Na promoção do desenvolvimento, os investimentos em transportes desempenham um papel
passivo e dinâmico. Ao atender às demandas atuais e imediatamente previsíveis da
agricultura, indústria e comércio, o setor de transportes é passivo. Quando altera as relações
de preços entre os fatores de produção, é dinâmico, pois possibilita a redução dos custos de
distribuição através da construção de ferrovias, rodovias, portos, etc., facilitando a exploração
de recursos não utilizados ou mal utilizados (FROMM, 1968).
Os autores Caixeta-Filho e Martins (2011) também relatam que os investimentos contínuos
em transportes exercem papéis ativos e passivos para atingir os objetivos de desenvolvimento.
Os transportes assumem o papel ativo quando propicia o desenvolvimento de uma região
estagnada ou quando viabiliza determinada fronteira agrícola. A não provisão dos transportes
em uma região destaca o seu papel passivo, pois pode ocorrer o retardo no crescimento de sua
economia, visto que este está estritamente ligado às possibilidades de abertura de novos
mercados (CAIXETA-FILHO e MARTINS 2011).
Os investimentos adequados em infraestrutura estimulam a criação de novos investimentos
privados, caracterizando um fenômeno denominado na literatura como crowding-in. Quando
um país não mede esforços em se capacitar em infraestrutura econômica, capital humano,
tecnologia, pesquisa e desenvolvimento (P&D) e aparato institucional, torna-se um país
atrativo para investimentos privados levando-o a uma tendência de crescimento econômico,
esse mecanismo é denominado crowding-in (PEGO FILHO et al., 1999). Investimentos em
modais de transportes (rodovias, ferrovias, portos e aeroportos), sistemas de comunicação e
suprimento de energia, atraem mais investimento privado. Ampliam as oportunidades de
investimento e possibilitam o aumento do retorno do investimento privado.
Citamos novamente como exemplo a China, que com investimentos voltados para melhorar a
sua infraestrutura, juntamente com políticas pró-negócio e mão-de-obra barata fez do país um
mercado atrativo ao investimento estrangeiro direto (foreign direct investment – FDI). Em
2006, conseguiu atrair US$78 bilhões de investimentos estrangeiros (GRAEFE e
ALEXEENKO, 2008).
Blumenschein (2008) relata que as evidências internacionais indicam que na ocorrência de
investimentos em infraestrutura (energia, transporte e comunicação), há a elevação do produto
final e o aumento da produtividade dos investimentos privados, provocando a diminuição dos
38
custos da produção final. Ainda, de acordo com Pêgo Filho et al.(1999), o retorno privado
pode ser elevado, quando existem melhores sistemas de comunicação, modais de transportes e
suprimento de energia. À medida que crescem os retornos aos investimentos, há estímulos
para novos investimentos. No Brasil e em outros países em desenvolvimento, os
investimentos em infraestrutura mostram que os retornos sobre o PIB são positivos, ou seja,
quanto maior a aplicação do capital público, maior poderá ser a produção nacional, com
elasticidade2 que pode chegar a 1,12 conforme Quadro 2.1, apresentado abaixo, baseado em
estudos do World Bank (1994) e autores nacionais e internacionais.
Quadro 2.1 – Estimativas de elasticidade do produto interno bruto ao montante de capital público.
Fontes: World Bank (1994); Ferreira (1994); Ferreira (1996); Malliagros (1997).
Paiva (2007) informa que investimentos em infraestrutura provocam impactos sobre o
crescimento da economia e no conjunto dos setores da infraestrutura, principalmente energia e
transportes e que também a elasticidade da infraestrutura brasileira, situada entre 0,55 e 0,61 é
considerada aceitável.
2 Elasticidade é uma medida de resposta ou sensibilidade que compara a mudança percentual em variável
dependente (Y) devido a uma mudança percentual em uma variável explicativa (X).
39
2.5 INFRAESTRUTURA DE TRANSPORTES NO BRASIL
Os gastos públicos com investimentos em infraestrutura e logística ficaram estagnados por
mais de 20 anos no Brasil, em virtude da dificuldade de execução. Na década de 1980, a crise
econômica instalada e os reflexos de diversas crises externas, acarretaram em um longo
período sem contratação de investimentos, dificultando a execução do planejamento por parte
do setor público. Nos anos 1990, o governo buscando impor o pensamento liberal que
hegemonicamente existia na época, deu mais ênfase às “reformas do Estado” com a criação,
por exemplo, da Lei de Responsabilidade Fiscal, da Lei de Licitações, do poder discricionário
do Ministério Público que tornaram entraves robustos ao gasto público (CARDOSO JÚNIOR,
2011).
A infraestrutura dos transportes promove a integração regional e o desenvolvimento
econômico e social de um país, pois permite as conexões necessárias entre a origem e destino
no transporte de bens e pessoas. No caso do Brasil - um país em desenvolvimento -, a sua
infraestrutura deficitária impede o seu crescimento econômico e deixa-o em desvantagem,
comparando-o a outras nações desenvolvidas. Na sua distribuição modal, conforme
apresentada pela CNT (2014) na Tabela 2.1, em seu boletim estatístico de novembro de 2014,
vê-se claramente que no Brasil há um grande desequilíbrio entre os modos e uma ampla
dependência do modo rodoviário.
Tabela 2.1 – Distribuição da Matriz do Transporte de Cargas.
Modal Milhões (TKU) Participação (%)
Rodoviário 485.625 61,1
Ferroviário 164.809 20,7
Aquaviário 108.000 13,6
Dutoviário 33.300 4,2
Aéreo 3.169 0,4
TOTAL 794.903 100
Fonte: Boletim Estatístico da CNT (2014).
Para que ocorra qualquer modificação representativa permitindo um equilíbrio modal, a
alocação de recursos deve ser prioritária nos investimentos em infraestrutura.
40
Pinto Júnior et al.(2010) nos apresenta o papel triplo necessário, para o entendimento da
dinâmica dos investimentos em infraestrutura no Brasil, representado na Figura 2.1, onde
esses fatores concorrem para o desenvolvimento e a organização dos setores.
Figura 2.1 – O Triplo papel para a dinâmica e desenvolvimento da infraestrutura no Brasil.
Fonte: Elaboração Projeto PIB (apud PINTO JR. et al. , 2010)
Na visão Macroeconômica, o capital investido para a expansão dos setores de infraestrutura
estimula o crescimento econômico em curto e médio prazo, além de ser um fator que induz ao
crescimento do PIB. Sob o ponto de vista Microeconômico, leva-se em conta a
disponibilidade e a qualidade da infraestrutura, que infere diretamente na competitividade
internacional do país. Se estas qualidades estão presentes, provocam externalidades positivas
nos demais setores da economia. Caso contrário, a infraestrutura insuficiente e ineficiente
resulta em custos mais elevados para a economia. No caso do Brasil, a predominância do
modal rodoviário na matriz de transporte nacional, demonstra que a sua infraestrutura
logística é ineficiente e deficitária, acarretando a redução do potencial de competividade de
sua economia, haja vista a sua dimensão continental. Completando, o enfoque espacial e/ou
territorial permite que as formas de expansão da infraestrutura condicionem as decisões de
localização industrial e a exploração dos recursos naturais, consequentemente proporciona o
desenvolvimento regional e local.
O Governo Federal, ciente que o crescimento econômico do País requer investimentos em
infraestrutura, principalmente em transportes, estabeleceu tratamento fiscal diferenciado para
tais investimentos. Visando a um sistema de alta capacidade para o transporte de carga,
lançou programas voltados aos modais ferroviários e hidroviários, visto que estes apresentam
41
menores custos de operação e fretes. Ao lançar a Lei nº 11.772/2008, o governo busca
modernizar a malha ferroviária - através da ampliação, recuperação e preservação do
patrimônio existente - que ligará zonas de produção econômica, inclusive áreas de expansão
da fronteira agrícola e mineral, aos portos nacionais e aos centros de processamento e
consumo, para que dentro de duas décadas possa equacionar a atual e desbalanceada matriz de
transportes (PASSOS, 2010).
2.6 TRANSPORTE FERROVIÁRIO
2.6.1 Características do Modo Ferroviário
De acordo com a ANTT e a CNT (2009), a característica fundamental do modo ferroviário3 é
a sua alta competitividade relacionada à capacidade de transportar grandes volumes, com
elevada eficiência energética, em deslocamentos a média e grandes distâncias, além de ser
seguro, econômico e pouco poluente.
Outra característica da ferrovia, através dos pontos de vista histórico, econômico e geográfico,
é a interligação de áreas de produção agrícola e de exploração mineral do interior do País aos
portos, ponto primordial de exportação de mercadorias (CNT, 2010).
O modo ferroviário, por sua natureza, contribui para a integração nacional e intercontinental,
além de proporcionar a competitividade nas exportações e fomentar o desenvolvimento da
sociedade, tornando-se um meio de relevância estratégica para o País.
3 A definição do modo ferroviário parte do conceito dado por Keedi (2008): “transporte ferroviário é um modo
de transporte com os veículos circulando em vias com uma superfície de rolamento de ferro formada por um par
de trilhos equidistantes”.
42
O transporte ferroviário no Brasil, é hoje o segundo meio de transporte de cargas mais
utilizado, é vantajoso por possibilitar a consolidação de cargas e também o transporte com
maior segurança em longas distâncias.
De acordo com alguns autores, a exemplo de, Mendonça e Keedi (1997), Chopra (2003),
Schoppa (2005), Keedi (2008), Ballou (2011), ANTT (2009) e CNT (2011), o modo
ferroviário apresenta vantagens e desvantagens - que representam respectivamente, os pontos
fortes e fracos relacionados à ferrovia - que podem ser elencadas de acordo com o Quadro 2.2
a seguir.
43 Quadro 2.2 – Vantagens e desvantagens do modo ferroviário.
PRINCIPAIS VANTAGENS DO MODO FERROVIÁRIO
Maior capacidade
de transporte Menor Consumo
energético Menor Frete Menor espaço
físico Maior segurança Qualidade
Ambiental Integração
Intermodal Rendimento
Crescente
A capacidade para cargas pesadas faz do
transporte ferroviário um meio ideal para transportes de grandes volumes, pesados, com vários vagões. Um vagão pode transportar de 25 a 100 toneladas. No Brasil, a carga
média por trem é de mil tku (tonelada quilômetro útil), o que equivale a 50 caminhões de 20 toneladas.
O trem gasta menos combustível por
unidade de tráfego produzida. O combustível normalmente utilizado é o diesel o que importa em menor custo de transporte e menor degradação
ambiental.
O frete ferroviário é mais barato que
o rodoviário, só perdendo para o hidroviário.
Devido a sua maior capacidade de
transporte, o trem exige menor espaço físico que o transporte rodoviário para atender a mesma demanda, seja de passageiros ou de cargas.
O transporte ferroviário é o meio
que apresenta o menor custo de seguro e menor perda de carga. Comparando-o com o modo rodoviário, apresenta maior segurança em virtude
do menor índice de acidentes e menor incidência de furtos e roubos.
O transporte ferroviário é o que
menos polui o ambiente, pois emite menores quantidades de gases poluentes, contribuindo para uma menor degradação ambiental e menor
impacto no aquecimento global.
O modo ferroviário é adequado para a
utilização de combinação entre os modais rodoviário e hidroviário nas diversas etapas da cadeia de transporte.
A escala no transporte ferroviário
é fundamental para a diluição dos custos fixos e o aumento da margem de lucro das ferrovias, uma vez que os retornos são crescentes até que se atinja a capacidade
máxima de operação.
PRINCIPAIS DESVANTAGENS DO MODO FERROVIÁRIO
Maior rigidez Alto custo de
implantação Exploração
estatal Baixa Velocidade Diversidade na
largura de bitolas Necessidade de
Transbordo
Flexibilidade do
trajeto
Uma ferrovia implantada
para atender determinada demanda, dificilmente pode adaptar-se a outras situações. Quando especializada para transportar minério de ferro, só com grandes investimentos pode
adaptar-se para atender o mercado de cargas em geral.
Uma ferrovia só
pode entrar em operação quando implantada a sua via permanente: pátios, terminais, oficinas, centros de controle, após receber o material rodante e
demais equipamentos.
Por exigir um
elevado capital fixo, as ferrovias em quase todo o mundo são estatais e a administração pública apresenta muitos
inconvenientes.
As vias permanentes
atuais apresentam restrições de peso e comprimento (bitola). No Brasil, a velocidade média é de 25 km/h em virtude das condições atuais da via férrea.
Os diferentes tamanhos de
bitolas existente na malha ferroviária nacional dificultam a circulação e integração operacional entre as empresas concessionárias, impedindo a formação de um sistema nacional
integrado.
Em virtude dos grandes
volumes transportados pela ferrovia e o manuseio da carga exigir uma atenção mais específica, é necessária a construção de terminais de carga e descarga bastante eficientes, com o uso de
vagões apropriados que permitam agilizar as operações, buscando baratear os custos.
Diferentemente do
modo rodoviário, as ferrovias são rígidas quanto a alterações locacionais que possam vir a ocorrer nos mercados produtores ou consumidores.
Fonte: Mendonça e Keedi (1997), Chopra (2003), Schoppa (2005), Keedi (2008), Ballou (2011), ANTT (2009) e CNT (2011). Elaboração do Autor.
44
2.7 INFRAESTRUTURA FERROVIÁRIA EM PERNAMBUCO
Atualmente no estado pernambucano, o modo rodoviário como em todo o país é
predominante. As rodovias são as principais formas de locomoção.
Em relação ao serviço de transporte ferroviário de carga, a operação da malha pernambucana
tem como responsável a empresa Transnordestina Logística S/A (TLSA). De acordo com a
ANTT (2010), a concessão da Malha Nordeste pertencente à Rede Ferroviária Federal S.A.,
foi outorgada à Companhia Ferroviária do Nordeste – CFN em julho de 1997. A CFN iniciou
a operação dos serviços de transporte ferroviário de cargas em 01/01/98. Nesse período, foram
declarados como sub-utilizados os trechos de Salgueiro (PE) a Recife (PE) e o de Paula
Cavalcanti (PB) a Macau (RN) devido à falta de cargas. Em fevereiro de 2008, a ANTT
aprovou a alteração da denominação social de Companhia Ferroviária do Nordeste para
Transnordestina Logística S.A (TLSA).
Atualmente a TLSA é uma ferrovia que abrange sete estados da região nordeste: Maranhão,
Piauí, Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco e Alagoas. Possui uma malha com
4.207 km de extensão, sendo 4.189 km (99,5%) em bitola métrica e 18 km (0,5%) em bitola
mista (1,00 m e 1,60 m), distribuída pelos estados que atua, conforme apresentado no Quadro
2.5 abaixo. Sua estrutura logística e posição estratégica permitem interconexões com os
portos: Pecém (CE), Mucuripe (CE), Itaqui (MA), Natal (RN), Cabedelo (PB), Recife (PE) e
Suape (PE), além de pontos de interconexões com a Estrada de Ferro de Carajás (EFC) no
Ramal Itaqui/Pombinho no Maranhão e com a Ferrovia Centro-Atlântica (FCA), em Propriá,
no estado de Sergipe.
Quadro 2.3 - Extensão em quilômetros da Transnordestina Logística S/A.
ESTADOS EXTENSÃO (Km)
Alagoas 390
Ceará 1.168
Maranhão 459
Paraíba 660
Pernambuco 926
Piauí 240
Rio Grande do Norte 364
TOTAL 4207
Fonte: ANTT.
45
Nos estudos realizados pelo GLEN/UFC, coordenados por Arruda (2012), foi detectado que
muitos trechos da antiga malha da RFFSA estão desativados, sendo considerados primordiais
a sua reativação com vistas à aumentar a densidade da malha ferroviária regional. Destaca,
porém, que para essas intervenções fazem-se necessários estudos de viabilidade.
Observa-se ainda, que em Pernambuco, através da parceria entre a CSN e o Governo Federal
a malha ferroviária poderá ser ampliada com a implantação da nova Ferrovia Transnordestina
com destaque para a construção dos trechos Salgueiro/PE – Trindade/PE (163 km) e
Salgueiro/PE – Porto de Suape/PE (522 km), com previsão de operação para o final de 2015
conforme descrito no 7º Balanço do PAC-2 (MT, 2013).
2.8 DEMAIS INFRAESTRUTURAS DE TRANSPORTES NO ESTADO DE
PERNAMBUCO
Em relação às demais infraestruturas de transportes existentes no estado de Pernambuco, que
poderão proporcionar condições de intermodalidade entre a Ferrovia Transnordestina e os
outros modos de transportes, são apresentadas abaixo.
De acordo com o Departamento de Estradas de Rodagem de Pernambuco (DER-PE) e o
DNIT, destacamos abaixo as principais rodovias federais que cruzam o estado de
Pernambuco:
a) BR-101 - Tem início na divisa de Pernambuco com a Paraíba e termina na divisa com
Alagoas. Com 213,9 km de extensão passa por Goiana, Igarassu, Recife, Prazeres,
Escada, Ribeirão, Palmares.
b) BR-232 – Parte do Recife ao interior, no sentido Leste-Oeste, chegando ao
entroncamento com a BR-316, no município de Parnamirim. Possui uma extensão de
563,7 km e atravessa os municípios de Vitória de Santo Antão, Gravatá, Bezerros,
Caruaru, São Caitano, Belo Jardim, Pesqueira, Arcoverde, Custódia, Serra Talhada,
Bom Nome, Salgueiro e Parnamirim.
46
c) BR-316 – Com uma extensão de 444,1 km, começa na divisa de Pernambuco com
Piauí e termina na divisa com Alagoas. Passa por: Araripina, Trindade, Ouricuri,
Parnamirim, Cabrobó, Belém do São Francisco, Floresta, Inajá.
d) BR-110 – Começa na divisa de Pernambuco com Paraíba e termina na divisa com
Alagoas. Com seus 261,8 km de extensão, passa por São José do Egito, Sertânia,
Cruzeiro do Nordeste, Ibimirim.
e) BR-116 – Com 91,6 km, começa na divisa de Pernambuco com Ceará e termina na
ponte sobre o Rio São Francisco, na divisa com a Bahia. Passa por Salgueiro.
O transporte do modo aéreo é efetuado por dois aeroportos operados pela INFRAERO:
a) Aeroporto Internacional dos Guararapes – considerado o maior da região nordeste em
capacidade anual de manutenção de passageiros. Com uma área de 52.000 m2 possui a
maior pista de pouso e decolagem do nordeste, com 3.305 metros. O boletim
estatístico do mês de julho de 2014 da Infraero apontou este aeroporto como o terceiro
colocado em movimentação de cargas de todo o Brasil, com 9,54% nas modalidades
importação, exportação e cargas nacionais. Nesta última modalidade transportou 2.966
toneladas;
b) Aeroporto de Petrolina – localizado na BR 235, possui uma das maiores pistas de
pouso do Nordeste. É utilizado para o transporte da produção de frutas do Vale do São
Francisco para o exterior. De acordo com o boletim estatístico de julho/2014, o
aeroporto de Petrolina teve a participação de 0,46% em relação a totalidade de
movimentação de carga da Infraero.
No modo aquaviário, segundo informações obtidas na Secretaria de Desenvolvimento
Econômico (SDEC) e Banco do Nordeste do Brasil S/A (BNB), Pernambuco conta com dois
portos marítimos importantes: o Porto de Suape e o Porto de Recife, além do porto fluvial de
Petrolina, todos administrados pelo Governo de Pernambuco. O acesso aos portos marítimos
se dá através de rodovias e ferrovia internas.
a) Porto de Suape – situado no município de Ipojuca, possui localização estratégica com
rotas marítimas diretas a mais de 160 portos situados na Europa, América do Norte e
África. É um porto concentrador e distribuidor de cargas para toda a América do Sul.
Atualmente existem mais de 100 empresas implantadas, responsáveis por mais de 25
mil empregos diretos. Tem como grandes movimentações granéis líquidos e carga
conteinerizada, além dos derivados de petróleo, produtos químicos e álcool;
47
b) Porto de Recife – considerado um dos mais tradicionais do país, iniciou suas
operações em 1918. Possui mais de três quilômetros de cais, e está localizado na zona
leste da cidade. No mercado interno, sua área de influência abrange os estados de
Paraíba, Rio Grande do Norte, Alagoas, Sergipe, sul do Ceará e Bahia. No mercado
externo está dentro da rota de navegação do MERCOSUL e com ligação direta para a
América do Norte, Europa, Ásia e África. Possui cinco terminais: o açucareiro, o de
coque de petróleo, o de malte de cevada, o de cereais e o de trigo. As principais cargas
movimentadas são açúcar barrilha, coque, fertilizantes, malte, melaço, milho, trigo e
contêineres, de acordo com site do porto do recife em 2014;
c) Porto de Petrolina – situado na margem esquerda do Rio São Francisco, dentro dos
1.300 km da Hidrovia do São Francisco. Há projetos do governo de Pernambuco em
criar o modal hidroviário/ferroviário, efetuando a interligação da hidrovia com a
Ferrovia Transnordestina.
48
3 FERROVIA TRANSNORDESTINA: HISTÓRICO, CARACTERÍSTICAS E
POSSIBILIDADES DE IMPLANTAÇÃO.
O objetivo desse capítulo visa apresentar o histórico existente em torno da criação da Ferrovia
Transnordestina até a sua última concepção, iniciada durante o Governo Lula em 2006.
Buscar-se-á também apresentar as ações paralelas que contribuem para a efetivação desta
ferrovia, destacadas pelos últimos investimentos realizados.
Neste capítulo far-se-á um resumo das ações complementares dos governos Federal e
Estadual voltadas para a utilização do modo ferroviário no Brasil e na Região Nordeste com
ênfase para o Estado de Pernambuco. Fará ainda um resumo das principais potencialidades
econômicas de cada estado correlacionadas com a Ferrovia Transnordestina. No caso de
Pernambuco esse levantamento será mais detalhado visando detectar as oportunidades de
desenvolvimento, destacando as atividades econômicas do Estado que poderão ser
beneficiadas por um modo de transporte para produtos em grandes volumes e a custos
reduzidos.
3.1 HISTÓRICO E CARACTERÍSTICAS DA FERROVIA TRANSNORDESTINA
Contexto Histórico
Paradoxalmente a Ferrovia Transnordestina teve o seu projeto datado na época do Império,
pensado por D. Pedro II em 1847. A primeira tentativa surgiu em 1852, através da ideia dos
irmãos Mornay que pretendiam construir uma estrada de ferro ligando o Recife ao vale do São
Francisco, margeando o rio até a Vila de Santa Maria, hoje município de Santa Maria (PE),
porém esse projeto não foi concluído devido a uma epidemia de cólera que chegou a vitimar
cerca de trinta e oito mil pessoas, inclusive alguns engenheiros ferroviários ingleses, fato este
que fez os irmãos Mornay desistirem do projeto (RFFSA, 1995). Essa foi a primeira
paralisação dessa ferrovia que, desde o seu início, caracteriza-se como um projeto de suma
importância para o desenvolvimento socioeconômico do Nordeste.
49
No evento denominado “Encontro de Salgueiro”, em 1958 - uma discussão de alternativas
para o desenvolvimento econômico e social da região nordeste -, que serviu de base para a
criação da Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste (SUDENE) em 1959, o
Governo Federal da época, decidiu autorizar a construção do ramal ferroviário entre os
Municípios de Serra Talhada e Salgueiro, juntamente com a implantação de outros trechos
que possibilitassem a ligação desses dois municípios pernambucanos à Missão Velha e
Aurora no estado do Ceará. Mais uma vez este projeto não saiu do papel, devido a falta de
recursos. Só teve a autorização e nada foi concretizado.
No início da “Nova República (1985-1989)”, o Ministério dos Transportes, resgatou parte do
Plano Nacional de Viação, estabelecido pela Lei nº 5.917 de 10 de setembro de 1973
juntamente com os projetos oriundos de estudos do GEIPOT da década de 1980 e lançou em
1987, a proposta de projeto da Ferrovia Transnordestina cujo traçado previa a construção de
867 km de ferrovias. Além da reconstrução do trecho de Iaçu a Senhor do Bonfim na Bahia -
que se encontrava abandonado – esse projeto previa a construção de três novos trechos
ferroviários: a) De Salgueiro (no oeste de Pernambuco) a Missão Velha (sul do Ceará); b) De
Piquet Carneiro (centro do Ceará) a Crateús (no Ceará, próximo à divisa do Piauí); c) De
Petrolina, no rio São Francisco, a Salgueiro (PE) onde se interligava com a malha da RFFSA.
Nesse projeto estava previsto também a recuperação de 1635 km de ferrovias já existentes.
Vale destacar que os estudos da Empresa Brasileira de Planejamento de Transportes
(GEIPOT) indicavam um fluxo de carga de quase 2,5 milhões de toneladas anuais, com a
construção de um pátio de transbordo multimodal em Petrolina, ponto de convergência da
hidrovia e do trecho ferroviário da região. Nessa proposta, o Governo de Pernambuco definiu
como de interesse estratégico, do qual desenvolveu o projeto básico, ao chamado “Ramal do
Gesso”, partindo de Salgueiro atingindo as cidades de Araripina e Trindade. (GOVERNO DE
PERNAMBUCO, 2007). O custo desse projeto da nova ferrovia era de US$ 951,3 milhões,
mas infelizmente não saiu do papel.
Em janeiro de 1991 foram iniciadas as obras de construção do trecho Petrolina – Salgueiro
(326 km) pela RFFSA e paralisadas em dezembro de 1992 devido a uma suspeita de
superfaturamento. Os recursos foram suspensos e o serviço paralisado (RFFSA, 1995).
Após quase duas décadas dessa paralisação, o projeto da Ferrovia Transnordestina foi
novamente incentivado. Em 2006, o então presidente Luiz Inácio da Silva, retoma esse
50
projeto através de um financiamento de R$ 4,5 bilhões, com recursos do PAC, sendo parte do
governo e parte da iniciativa privada (MT, 2007).
O Projeto.
O projeto da nova Ferrovia Transnordestina, conforme apresentado na Figura 3.1, refere-se à
construção de uma ferrovia com extensão de 1.753 km percorrendo os estados do Ceará,
Pernambuco e Piauí e também a remodelação de 550 km de via férrea entre os estados de
Alagoas (Colégio Porto Real) e Pernambuco (Porto de Suape).
Figura 3.1 – Representação do projeto Ferrovia Transnordestina.
Fonte: http://www.odebrechtonline.com.br/complementos/02901-03000/2943/?lang=pt
A visão da Transnordestina Logística é se tornar líder em logística no Nordeste, ligando o
cerrado do Nordeste aos portos de Suape (PE) e Pecém (CE), tendo como principais cargas
grãos, fertilizantes e minérios. Tem o objetivo de construir uma solução logística integrada
para atender as regiões nordeste e centro oeste do Brasil com foco no agronegócio e na
indústria mineral.
51
Extensão e Trechos da Ferrovia
Dentro dos 1753 km de extensão da nova Ferrovia Transnordestina, por questões estratégicas
de construção, a ferrovia foi seccionada em vários trechos de acordo com as prioridades. A
Tabela 3.1 apresenta os trechos e suas respectivas extensões da Ferrovia Transnordestina. Em
seguida, a apresentação das características de cada trecho.
Tabela 3.1 – Extensão e trechos da Ferrovia Transnordestina.
Trechos Extensão (Km)
Missão Velha (CE) – Salgueiro (PE) 96
Missão Velha (CE) - Pecém (CE) 527
Salgueiro (PE) – Suape (PE) 544
Salgueiro (PE) – Trindade (PE) 163
Eliseu Martins (PI) – Trindade (PE) 423
TOTAL 1753
Fonte: TLSA (2014).
O trecho entre Missão Velha, na região do Cariri (CE) e Salgueiro em Pernambuco, possui 96
km de extensão em bitola mista, sendo que desse trecho, 81 km estão no Ceará. De acordo
com 7º Balanço do PAC 2, este trecho foi concluído em 28 de fevereiro de 2013. (BRASIL,
MT, 2013).
O trecho Missão Velha (CE) a Pecém (CE), possui 527 km de extensão e está situado entre o
município de Missão Velha e o município de São Gonçalo do Amarante (Porto de Pecém). A
previsão de conclusão, segundo o Ministério dos Transportes (2014) está prevista para 2016.
O trecho que liga o município de Salgueiro (PE) ao Porto de Suape (PE) possui 544 km de
extensão em bitola larga e prevê a travessia em 27 municípios pernambucanos pertencentes às
regiões do Sertão, Caatinga e Agreste bem como os situados nas microrregiões de Vale do
Ipojuca, Brejo Pernambucano, Mata Meridional até ao porto de Suape. O ramal portuário de
Suape terá um pátio formado por 67,5 km de linha férrea em bitola mista para cruzamento e
manobras, além de uma pera ferroviária4 com 3,75 km.
4 Pera ferroviária é uma linha férrea em formato de pera utilizada para a realização do descarregamento dos
vagões e manobras dos trens. Ela permite que ao mesmo tempo um trem efetue descarregamento e o outro possa
fazer uma manobra de saída, sem prejuízo do pleno funcionamento da operação.
52
O trecho que liga os municípios de Salgueiro a Trindade, possui extensão de 163 km em
bitola larga e mista, percorre os municípios de Salgueiro, Terra Nova, Parnamirim, Bodocó,
Ouricuri e Trindade. Com objetivo de viabilizar o polo gesseiro, está previsto também a
construção de uma pera ferroviária no município de Trindade (PE) formada por 3 linhas,
totalizando 4,35 quilômetros.
O trecho Eliseu Martins (PI) – Trindade (PE), com 423 km de extensão em bitola larga,
atravessa 20 municípios, sendo 18 municípios do estado do Piauí e 2 municípios do estado de
Pernambuco (Araripina e Trindade). Em Eliseu Martins também está prevista uma pera
ferroviária de 6,35 km composta por 3 linhas.
Engenharia Financeira
No início, durante a primeira versão do projeto executivo, os custos para implantação da
ferrovia somavam 8 bilhões de reais. Segundo MAWAKDIYE (2012), devido diversas
pressões, o projeto passou por adequações em sua limitação orçamentária. Assim, em 2006, a
engenharia financeira proporcionada para viabilização na nova ferrovia estabeleceu
investimentos para o período de 2007 a 2010 na ordem de R$ 4,5 bilhões inseridos no
Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), com previsão de conclusão em 3 anos, o que
infelizmente não aconteceu devido a entraves políticos, ambientais, financeiros e
principalmente de gestão.
Em 2008, devido às correções da inflação e alegações da empresa privada (TLSA) em relação
ao preço de quilômetro ferroviário abaixo do valor real, o orçamento da obra sofreu um
acréscimo de R$ 900 milhões, e saltou para R$ 5,4 bilhões com dinheiro oriundos da CSN,
FINOR, Governo Federal, VALEC e empréstimos junto à SUDENE, BNDES e BNB. De
acordo com informações da TLSA (2012) a previsão de conclusão da ferrovia passou a ser no
final de 2014, sendo o trecho entre Suape e Eliseu Martins para o final de 2013.
Segundo o 7º Balanço do PAC 2, o governo federal anunciou um aumento de R$ 2,1 bilhões
sobre o último orçamento da engenharia financeira da Ferrovia Transnordestina, onde o custo
total das obras passou para R$ 7,5 bilhões, com aumento do financiamento público, por meio
de bancos oficiais e fundos regionais. Um valor bem próximo do estimado no planejamento
executivo inicial de 2004. A data de conclusão da ferrovia passa a ser final de 2015, no trecho
53
Eliseu Martins (PI) – Suape (PE) e final de 2016 a ligação entre Salgueiro (PE) e Pecém (CE)
(BRASIL, MT, 2013).
Mudanças e alterações no Projeto Executivo
Citamos a seguir algumas interferências como: desapropriações, realocação de moradores,
licenças ambientais, entre outras, que ocorreram e provocaram modificações nos projetos
executivos originais, causando alterações nos prazos de conclusão e aumento nos valores de
investimentos iniciais:
a) Criação de uma nova rota no município de Custódia (PE), visto que o projeto da
ferrovia passava pela Igreja São Luiz Gonzaga, no Sítio Fazendinha, considerada
patrimônio histórico na região (DIARIO DE PERNAMBUCO, 2013);
b) Falhas de planejamento e comunicação entre a Transnordestina Logística e o Governo
do Estado de Pernambuco em 2011, provocou modificações em doze quilômetros de
linha férrea construídas, que ligavam os municípios de Bonito a Palmares em virtude
da construção da barragem de Serro Azul pelo governo estadual, tornando a obra R$
35 milhões mais cara por causa do aumento de 35 quilômetros no traçado, com
acréscimo de vias e mais desapropriações (DIARIO DE PERNAMBUCO, 2013);
c) Entraves na desapropriação em municípios pernambucanos provocaram em 2013
novas mudanças de traçado, com o objetivo de livrar a passagem da ferrovia pelos
centros urbanos das cidades de Gameleira, Escada e Ribeirão (DIARIO DE
PERNAMBUCO, 2013);
d) A quarta intervenção refere-se ao desvio em relação ao centro do município do Cabo
de Santo Agostinho, onde inclusive, está sendo implantado o projeto Convida Suape,
cidade planejada para 100 mil habitantes (DIARIO DE PERNAMBUCO, 2013);
e) Há, ainda, entraves para desapropriações entre as cidades Aurora e Pecém, no Ceará
(477 km) (DIARIO DE PERNAMBUCO, 2013).
Impactos e Perspectivas da ferrovia
A Transnordestina Logística apresenta em seu sítio eletrônico, justificativas da sua viabilidade
e os impactos que a nova Ferrovia Transnordestina poderá provocar nas áreas próximas do
seu trajeto (TLSA, 2011):
a) Redução do custo logístico de transportes para produtos exportados;
54
b) Fortalecimento e organização na produção agrícola;
c) Atração de novos empreendimentos para a região;
d) Valorização fundiária e imobiliária nas regiões do Sertão e Cerrado Nordestinos;
e) Surgimento de novos projetos, a exemplo de produção de biodiesel, de minérios
ferrosos e não ferrosos;
f) Geração de emprego e renda em áreas pobres;
g) Aumento na arrecadação de impostos pelos municípios beneficiados que poderão
efetuar melhorias na área social (saúde, educação, infraestrutura, etc.).
A Confederação Nacional dos Transportes (CNT), em sua pesquisa ferroviária de 2011,
destaca:
A nova malha ferroviária atenderá os setores de mineração, com destaque
para a extração de gipsita e minério de ferro, e agricultura, com a produção de soja, milho, algodão, frutas, entre outros produtos, além de manter o
transporte das mercadorias com demanda já existente, representando uma
variedade de cargas capaz de contribuir com a rentabilidade do
empreendimento (PESQUISA CNT DE FERROVIAS 2011, p.39).
3.2 A FERROVIA TRANSNORDESTINA EM PERNAMBUCO
Segundo apresentado no sítio eletrônico da TLSA e complementado pelo Ministério dos
Transportes (2013) através do PAC, a Ferrovia Transnordestina em seu projeto, atravessa 19
municípios no Piauí, 21 municípios no Ceará e 36 municípios no Estado de Pernambuco. No
estado de Pernambuco a Ferrovia Transnordestina foi dividida em dois trechos:
Trindade/Salgueiro (163 km) e Salgueiro/Suape (544 km), seccionada entre os municípios
relacionados na Tabela 3.2 a seguir.
Tabela 3.2 – Trechos da Ferrovia Transnordestina no estado de Pernambuco.
Trecho Extensão (Km)
Salgueiro/Pesqueira 239,00 Pesqueira/Salgueiro 306,00
Salgueiro/Parnamirim 63,82
Parnamirim/Trindade 99,06 Trindade/Divisa PE-PI 28,22
Total PE 736,10
Fonte: Secretaria de Desenvolvimento Econômico de Pernambuco – SDEC/PE (2011).
55
Os municípios que formam o polo gesseiro, são os maiores beneficiados com o advento da
nova ferrovia. Estima-se que esta ferrovia vai possibilitar o transporte do produto bruto ou
beneficiado com menos custo, pois atualmente a região tem pouca infraestrutura de
transporte. Além da gipsita, há a expectativa que a ferrovia também amplie a produção
agrícola, predominante na região. Nos estudos efetuados pelo SEBRAE (2008) denominados
“Cenários econômicos e estudos setoriais” a importância da ferrovia dentro do estado de
Pernambuco é destacada:
A construção da ferrovia viabilizará a posição de Suape como porto
concentrador de carga (...) facilitando e barateando o transporte da gipsita do Araripe, e permitindo o abastecimento de milho da indústria avícola
pernambucana e o escoamento de grãos – em especial soja e milho – dos
cerrados brasileiros (SEBRAE, 2008, p.32).
3.3 FATORES DE DESENVOLVIMENTO DO MODO FERROVIÁRIO NO
NORDESTE
A proposta neste tópico é apresentar algumas ações complementares dos governos Federal e
Estadual voltadas para a utilização do modo ferroviário no Brasil e na Região Nordeste com
ênfase para o estado de Pernambuco. Demonstrar que a Ferrovia Transnordestina irá interferir
de alguma forma dentro do Polo Gesseiro encontrado na Região de Desenvolvimento do
Sertão Pernambucano.
3.3.1 Plano Nacional de Logística de Transporte – PNLT
3.3.1.1 Características Gerais
O Programa de Desenvolvimento do Setor de Transportes – PRODEST, idealizado pelo
GEIPOT em 1985, buscava, nesta época, efetuar um planejamento consistente e integrado no
país. A necessidade de retomar um processo de planejamento com base cientifica semelhante
56
ao PRODEST, fez com que o Ministério dos Transportes criasse o Plano Nacional de
Logística de Transporte – PNLT.
O PNLT foi concebido em abril de 2007, sendo desenvolvido pelo Ministério dos Transportes
– MT, em parceira com o Ministério da Defesa – MD, através do CENTRAN – Centro de
Excelência em Engenharia de Transportes. Trata-se de um processo de planejamento com
visão de médio a longo prazo, cujos fundamentos baseiam-se em implementar um método de
planejamento científico baseado em análise macroeconômica, através de dados
georeferenciados, como também a utilização de modelos adequados de simulação e projeção
de transportes (MT, 2009).
O Ministério de Transportes (2009) destaca os objetivos a seguir como de grande relevância:
a) identificar, otimizar e racionalizar os custos envolvidos em toda a cadeia logística adotada
entre a origem e o destino dos fluxos de transportes;
b) adequar a atual matriz de transportes de cargas no País, buscando a permanente utilização
das modalidades de maior eficiência produtiva.
Por tratar-se de um plano indicativo, em processo de reavaliação periódica, relacionado com o
desenvolvimento do setor dos transportes visualizando as futuras demandas associadas com a
evolução da economia nacional e sua inserção no mundo globalizado, o PNLT busca a
formalização e a continuidade dos instrumentos de análise, sob a ótica logística, com a
finalidade de dar suporte ao planejamento de intervenções públicas e privadas na
infraestrutura e na organização dos transportes (MT, 2009).
3.3.1.2 O PNLT e o Investimento em Infraestruturas
Na relação entre o PIB e o Investimento, a meta do PNLT é recuperar níveis adequados de
investimentos em infraestrutura, destinando pelo menos 1% do PIB, no período de 2008 a
2023, para o setor de transportes, até atingir entre 4% e 6% do PIB, percentuais semelhantes
de outros países em desenvolvimento, a exemplo da China, Índia, Rússia, entre outros. Com
isso, o PNLT estima num horizonte de 20 anos racionalizar e equilibrar a matriz de
transportes, hoje desbalanceada, fazendo do modo ferroviário o meio estrutural dessa matriz.
57
Pela projeção efetuada no PNLT, o modo rodoviário sofrerá uma redução dos atuais 58% para
30%, o modo ferroviário aumentará a sua participação de 25% para 35%, aumentam também,
o aquaviário de 13% para 29%, o dutoviário de 3,6% para 5% e o aéreo de 0,4% para 1%. O
Gráfico 3.1 a seguir apresenta a projeção da matriz de transporte brasileira para o período de
2005 a 2025 (PERRUPATO, 2012).
Gráfico 3.1 - Projeção da Matriz de Transporte Brasileira para o período de 2005 a 2025.
Fonte: Perrupato (2012).
O PNLT fazendo uso de moderna tecnologia de planejamento para a construção de cenários
futuros aplicada ao planejamento de transportes, efetuando a associação de uma modelagem
macroeconômica a uma modelagem de transportes, através da análise de 110 produtos
responsáveis por 90% do PIB (incluindo itens de carga em geral), distribuídas em 558
microrregiões homogêneas, criou um portfolio de investimentos voltado para a área logística,
onde mostra a relação entre o setor de transportes e o desenvolvimento econômico. Os estudos
buscaram detectar os espaços da produção, da demanda, dos fluxos internos e da exportação,
conhecer como se comporta a diversidade econômica brasileira com vistas a dirimir as
desigualdades regionais, resultando assim no termo “Vetores Logísticos”5. (PERRUPATO,
2012).
Na concepção de vetores logísticos, o PNLT fez uso dos critérios macrorregional;
microrregional e setorial; corredores de transportes e sustentabilidade ambiental para
configurar a nova espacialização da economia brasileira. Da análise elaborada pelo PNLT
surgiu a nova configuração espacial da economia brasileira, a qual resultou em sete
5 Vetor Logístico, na visão de Colombini (2011), é um conceito de divisão territorial onde são considerados os
fatores logísticos, as relações econômicas e seus rebatimentos na função transportes.
58
agrupamentos vetoriais logísticos: Amazônico, Centro Norte, Nordeste Setentrional, Nordeste
Meridional, Leste, Centro Sudeste e Sul (Figura 3.2).
Figura 3.2 – Representação dos Vetores Logísticos de acordo com o PNLT.
Fonte: Perrupato (2012).
O PNLT tem ainda como metas, enquadrar e validar os projetos de transportes em vetores
logísticos, estruturantes do desenvolvimento econômico e social do País, para que alcancem
os seguintes objetivos (PERRUPATO, 2012):
a) Aumentar a eficiência produtiva em áreas consolidadas (AEP)
Os projetos são voltados para o aumento de capacidade de infraestrutura viária (duplicação e
faixas adicionais), dragagem e vias de acesso portuário com a eliminação dos conflitos entre
ferrovias e zonas urbanas (contornos, passagens de nível). Com essas ações, pretende-se
contribuir para a eficiência do escoamento da produção e do abastecimento de insumos nas
áreas com maior solidez de desenvolvimento em sua estrutura produtiva.
b) Induzir o desenvolvimento de áreas de expansão de fronteira agrícola e mineral (IDF)
Neste item, os principais projetos são de pavimentação ou de reconstrução de rodovias e
também implantação de novos eixos ferroviários, na direção das novas áreas de fronteira
agrícola e nas regiões de exploração de riquezas minerais estimulando a expansão do
desenvolvimento;
59
c) Reduzir as desigualdades sociais em áreas reprimidas (RDR)
Os projetos baseiam-se especificamente, na implantação ou melhoramentos na infraestrutura
viária e na recapacitação de portos, viabilizando as atividades econômicas potenciais
dependentes dessa infraestrutura. A partir daí, espera-se reduzir as desigualdades entre as
regiões do País, despertando o potencial de desenvolvimento em regiões que hoje apresentam
indicadores econômicos e sociais abaixo dos valores médios da nação.
d) Integração regional sul-americana (IRS)
Os principais projetos são a implantação ou melhoramentos na infraestrutura viária, em
regiões próximas à fronteira, onde a construção de pontes internacionais merece destaque.
Essas ações buscam reforçar e consolidar a ligação do Brasil com os países limítrofes através
da infraestrutura na América do Sul, viabilizando a realização de trocas comerciais,
intercâmbio cultural e social entre o Brasil e demais países vizinhos.
Observa-se que os itens a, b, e c são aplicáveis ao tema desse trabalho.
3.3.1.3 O PNLT em Pernambuco
Como dito anteriormente, o Ministério dos Transportes com a criação do PNLT, pretende
modificar a Matriz de Transportes, investindo prioritariamente nos modos ferroviários e
hidroviários para que resultem em menores custos de operação e frete por tonelada por
quilômetro útil (tku) dessas modalidades em relação ao rodoviário.
A Região Nordeste, como se observa na Figura 3.2 acima, está representada por dois vetores
logísticos e o estado de Pernambuco está inserido no Vetor Nordeste Setentrional. Conforme
descreve Colombini (2011) as atividades predominantes do Nordeste Setentrional encontram-
se na administração pública, no comercio e serviços de baixa especialização. Este vetor é
geograficamente formado em sua maioria por biomas da Caatinga e por uma Mata Atlântica
litorânea. Possui seis estados litorâneos com uma boa quantidade de portos favoráveis para
exportações de diversos produtos. Os produtos demandadores por transportes são
apresentados abaixo com a representação das cargas transportadas no ano de 2010 e a
projeção para o ano de 2031 (Figura 3.3).
60
Figura 3.3 - Portos do Nordeste Setentrional e os principais produtos exportáveis com projeção para
2031.
Fonte: Colombini (2011).
O Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), baseado nos estudos efetuados pelo
PNLT, visa dar continuidade aos investimentos em transportes. Nele destaca-se a “Expansão
da malha ferroviária”, ao qual encontramos a implantação da Ferrovia Transnordestina e dos
“Estudos de ferrovias para Integração Intermodal”, onde está prevista a integração de 596 km
de ferrovias entre a Ferrovia Transnordestina e a Ferrovia Norte-Sul, a partir de Eliseu
Martins (PI) até Estreito (MA) (PERRUPATO, 2012).
3.3.2 Programa de Aceleração do Crescimento (PAC): Eixo Transportes
3.3.2.1 O PAC-1
O governo federal brasileiro lançou em 22 de janeiro de 2007, através do Decreto nº 6.025/07,
o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), um programa executivo de investimentos,
com horizonte de realização focado no período de 2007-2010. As medidas do PAC, visando
contribuir para a elevação das taxas de crescimento econômico do país, foram organizadas em
cinco blocos: a) Investimentos em Infraestrutura; b) Estímulo ao Crédito e ao Financiamento;
c) Melhora do Ambiente de Investimento; d) Desoneração e Aperfeiçoamento do Sistema
Tributário; e) Medidas Fiscais de longo prazo (BRASIL, MT, 2007).
61
As medidas estabelecidas procuram atingir os principais entraves do crescimento: a)
Insuficiência da infraestrutura (principalmente de transportes e energia); b) Baixo nível de
crédito e de recursos para o financiamento dos investimentos; c) Aspectos regulatórios, fiscais
e tributários.
Dentre os objetivos do PAC, os investimentos em infraestrutura aparecem como prioridades
para estimular um crescimento mais consistente da economia brasileira. Neste quesito, o PAC
tem como objetivos: eliminar os principais gargalos que podem restringir o crescimento da
economia; estimular o aumento do investimento privado; reduzir custos e aumentar a
produtividade das empresas; e principalmente reduzir as desigualdades regionais. Tem como
meta o crescimento econômico de 5% ao ano. Os eixos de investimentos, considerados
primordiais dentro do programa de aceleração são: a) Infraestrutura Logística, que envolve a
construção e ampliação de rodovias, ferrovias, portos, hidrovias e aeroportos; b) Infraestrutura
Energética, através da geração e transmissão de energia elétrica, produção exploração e
transporte de petróleo, gás natural e combustíveis renováveis; e c) Infraestrutura Social e
Urbana, que engloba saneamento, habitação, metrôs e trens urbanos, programa Luz para
Todos e recursos hídricos. Os investimentos em ações de infraestrutura previstos para o
quadriênio 2007/2010 foram de R$ 503,9 bilhões distribuídos nas áreas de transportes,
energia, infraestrutura social (habitação e saneamento) e recursos hídricos, conforme o
Quadro 3.1 abaixo. (BRASIL, MT, 2007).
Quadro 3.1 – Investimentos em infraestrutura do PAC no período 2007/2010.
Fonte: Portal do Governo, MT (2007).
De acordo com o 11º Balanço do PAC-1, dentro dos seus primeiros quatro anos (período de
2007 a 2010), o PAC gerou 8,2 milhões de empregos e ajudou a dobrar os investimentos
públicos brasileiros, que passou de 1,62% do PIB de 2006 para 3,27% em 2010.
62
3.3.2.2 O PAC-2
O PAC em sua segunda edição, por meio de investimentos em infraestrutura, tem tornado
possível acelerar o desenvolvimento sustentável do País, buscando superar entraves
econômicos, estimulando a produtividade e reduzindo as desigualdades regionais e sociais.
No seu lançamento, ocorrido em 2011, o Ministério de Transportes apresentou uma previsão
preliminar de investimentos para o período de 2011 a 2014 e pós 2014. Para o período entre
2011 e 2014, o PAC 2 teve uma previsão de investimento na ordem de R$ 958,9 bilhões. No
período pós 2014, a estimativa de investimentos atinge a cifra de mais R$ 631,6 bilhões em
obras. Os focos de atuação para esses investimentos são: logística, energia e área social-
urbana, os mesmos da primeira etapa, iniciada em 2008 (BRASIL, MT, 2011).
Em relação aos transportes o PAC-2 prevê ações nas áreas de rodovias, ferrovias, portos,
hidrovias, aeroportos, equipamentos para estradas vicinais. O investimento previsto para o
setor de transportes é de 104,5 bilhões de reais (2011-2014) e 4,5 bilhões de reais (pós-2014),
buscando atingir a seguinte meta: consolidar e ampliar a rede logística, interligando os
diversos modais, garantindo qualidade e segurança (BRASIL, MT, 2010).
O investimento no valor de R$ 50,4 bilhões em rodovias está voltado para propiciar a
expansão do sistema rodoviário, garantir a manutenção e a segurança rodoviária, bem como
efetuar estudos e projetos.
No caso das Ferrovias, as principais ações são voltadas para a Expansão da malha ferroviária;
Revisão do modelo regulatório; realização de Estudos e Projetos para a integração
multimodal; e Estudos de viabilidade do Trem de Alta Velocidade (TAV), onde serão
investidos durante o período, 46 bilhões de reais.
Em relação aos demais modos de transportes, destacamos que, de acordo com o Governo
Federal (MT, 2010), do total dos investimentos em portos, R$ 4,8 bilhões serão efetuados até
2014 e os R$ 300 milhões até 2020. Para hidrovias serão destinados R$ 2,6 bilhões nos
próximos quatro anos e R$ 100 milhões nos anos seguintes. Para aeroportos e equipamentos
63
para estradas vicinais só há previsão de gastos até 2014 – R$ 3 bilhões e R$ 1,8 bilhões,
respectivamente.
Conforme descrito no 10º Balanço do PAC-2 de 2014, continuam sendo uma das prioridades
do PAC 2 os investimentos em logística e transportes, através da ampliação e a diversificação
da malha brasileira, com vistas a: reduzir os custos logísticos; promover a integração regional
diminuindo as desigualdades regionais e sociais; superar os gargalos da economia
possibilitando a sua expansão através do estímulo ao aumento da produtividade; e facilitando
a circulação da população. (MT, 2014).
3.3.2.3 O PAC em Pernambuco
Preocupado com a infraestrutura logística do estado de Pernambuco, o governo federal através
do PAC buscou ampliar a infraestrutura existente destacando as seguintes prioridades (ver
Figura 3.4):
a) Com o intuito de dar suporte ao novo Polo de Refino, Petroquímico e Naval estabeleceu a
dragagem e acesso rodoferroviário ao Porto de Suape, a duplicação da BR-101, como também
a duplicação da BR-408.
b) Com o objetivo de escoar a produção regional para consumo interno e exportação,
novamente contamos com a duplicação das BR-101, BR-408, dragagem do acesso
rodoferroviário ao Porto de Suape, bem como duplicação da BR-104 e construção da
Ferrovia Transnordestina;
c) Pensando no Turismo, o PAC estabeleceu a reformulação do Aeroporto de Recife e a
duplicação da BR-101.
64
Figura 3.4 – Infraestrutura Logística de Pernambuco através do PAC.
Fonte: 4º Balanço do PAC-1 (2011).
3.4 POTENCIALIDADES ECONÔMICAS NA ÁREA DE INFLUÊNCIA DA
FERROVIA TRANSNORDESTINA
Em seus 1.753 quilômetros de via férrea destinados à implantação da Ferrovia
Transnordestina, há três estados nordestinos inseridos em sua área de influência que serão
beneficiados: Piauí, Pernambuco e Ceará. Com o objetivo de justificar que a implantação
desta ferrovia, em um cenário futuro, poderá contribuir para o crescimento e o
desenvolvimento da região nordeste, em especial o estado de Pernambuco, este tópico efetua
um mapeamento das potencialidades econômicas em sua área de influência.
3.4.1 Potencialidades econômicas no Estado do Piauí
De início o impacto positivo da Ferrovia Transnordestina no estado do Piauí, como nos
demais estados envolvidos com essa ferrovia, é em relação a geração de empregos durante o
período de construção. Os quatro lotes de obras iniciados em 2010, contemplando os
municípios de Eliseu Martins, Simplício Mendes e Itaueira, foram contratadas duas mil
pessoas.
65
Como o novo traçado da ferrovia passará pela região do cerrado piauiense, que tem se
destacado pela produção de grãos, principalmente a soja, cuja exportação gerou US$ 80,9
milhões em divisas para o Estado no ano de 2010. Segundo dados da CONAB (2010) apud
Portal do Governo do Piauí, estima-se que esse valor será aumentado, haja vista que o
caminho férreo eliminará os gargalos no escoamento, contribuindo para aumentar o volume
de embarque. De acordo com a CONAB a safra de 2010, para soja foi de 805,6 mil toneladas,
o equivalente a 38% da produção nacional, enquanto o milho teve uma safra de 430,8 mil
toneladas representando 28% da produção.
Conforme o IBGE (2012), em sua 12ª estimativa da safra nacional de cereais, leguminosas e
oleaginosas, o Piauí, responsável por 1,4% da produção nacional em 2011, ocupou a terceira
posição na produção de grãos do Nordeste, atrás apenas da Bahia (4,5%) e Maranhão (1,9%) e
em todo o país considerado o 11º maior produtor nacional.
O governo do Piauí planeja junto ao governo federal, através do PAC, construir uma ferrovia
para ligar o município de Simplício Mendes à capital Teresina e Parnaíba. Em outro projeto,
fazendo uso do modelo de Parceria Público Privada (PPP), o governo piauiense pretende
programar a “Transcerrados” (PI 397), uma rodovia com 337 km de extensão, que fará a
ligação dos municípios de Sebastião Leal (no entroncamento com a PI 247) e Monte Alegre
(no entroncamento da PI 254), beneficiando diretamente o polo Uruçuí-Gurguéia, onde se
concentra a maior parte da produção de grãos do Piauí (SEPLAN-PI, 2011).
A Ferrovia Transnordestina, de acordo com o PORTAL DO GOVERNO PIAUIENSE (2011)
destacado no item “Potencialidades do Piauí”, tende a beneficiar o Estado, principalmente na
região dos Cerrados (Figura 3.5), pois dentre os produtos agrícolas produzidos na região, a
exemplo da soja, milho, arroz, algodão e frutas, além de óleos vegetais, chegarão aos grandes
mercados consumidores, com fretes mais competitivos.
66
Figura 3.5 – Representação da área produtiva (agricultura e minérios) do estado do Piauí.
Fonte: TLSA (2011).
Segundo dados do Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM) de 2011, órgão
vinculado ao Ministério das Minas e Energia, o Piauí assume a segunda posição entre os dez
maiores do país com incidência de minérios. Destacando-se os minérios de ferro, diamantes,
fósforo, níquel, mármore, calcário, argila opala, entre outros.
Na região de Paulistana, a 474 km de Teresina, capital piauiense, existe uma reserva de
minério de ferro estimada em 400 milhões de toneladas, com projetos de pesquisas e
exploração em evolução. A Transnordestina Logística destaca que o minério de ferro,
juntamente com a produção de grãos e do gesso pernambucano, serão a base do negócio da
nova malha ferroviária. Esta empresa estima ainda que o minério de ferro será sua maior
carga, tendo um potencial de extração da jazida de 15 milhões de toneladas por ano. No
município de Coronel Gervásio Oliveira, destaca-se o níquel com reservas estimadas em 88
milhões de toneladas, com investimentos do governo piauiense em pesquisas e instalação de
uma usina piloto na casa dos US$ 50 milhões. A mina Morro do Brejo, considerada uma das
maiores mineradoras do mundo, possui uma jazida de níquel avaliada em 25 milhões de
toneladas, em uma área com quatro quilômetros de extensão, dois quilômetros de largura e
cento e vinte metros de altura.
Na cidade de Gilbués, no extremo sul do Estado, existe uma mina de diamantes com uma
jazida estimada em dois milhões de quilates. O DNPM, juntamente com o Kimberley – órgão
criado pela Organização das Nações Unidas (ONU) para atestar diamantes quanto à sua
67
origem e legalidade - já certificou o diamante piauiense como puro A única reserva de opala
nobre do Brasil, encontra-se na região de Pedro II, a 195 km ao norte da capital. Em Quixabá,
no município de Pio IX, existem mármores de vários tipos com excelente qualidade na textura
e na cor. Há indícios também da existência de gás na Bacia do Rio Parnaíba. (PORTAL DO
GOVERNO DO PIAUI, 2011).
Está em construção no litoral piauiense, o porto de Luís Correia que em seu projeto prevê um
sistema de intermodalidade mais completo do país, por poder utilizar os modos rodovia,
aerovia, ferrovia e hidrovia, possibilitando ao estado do Piauí, contar com uma excelente
opção para escoamento da produção regional para todo o país e para o mercado externo. A
Ferrovia Transnordestina dará a sua contribuição, permitindo a ligação por via férrea entre as
cidades de Altos a Luís Correia (PORTAL DO GOVERNO PIAUIENSE, 2011).
3.4.2 Potencialidades econômicas no Estado do Ceará
A Agência de Desenvolvimento do Estado do Ceará (ADECE, 2011) tem desenvolvido
estudos para a criação de dez entrepostos com o objetivo de estimular a produção local e
permitir o escoamento dos produtos até o porto para o embarque rumo ao exterior. Nos
estudos buscam-se descobrir as localidades adequadas que poderão abrigar os dez entrepostos,
construindo-os ao longo do trecho cearense da ferrovia, entre Missão Velha e Pecém, que tem
527 quilômetros de extensão. Após conclusão dos estudos, serão definidos os investimentos
no empreendimento.
Também faz parte dos planos da ADECE (2011), a construção de um ramal ferroviário
ligando os municípios de Piquet Carneiro e Crateús, uma distância de aproximadamente 200
quilômetros. Vale ressaltar que esse ramal já fez parte dos estudos efetuados pelo GEIPOT. O
interesse nesse projeto é grande porque beneficiaria uma região que abriga a mina Santa
Quitéria, em Itataia, descoberta em 1976, que possui jazidas de fosfato, utilizado na produção
de fertilizantes, e de urânio. A Usina de Itataia localiza-se na região do Sertão Central do
Ceará, é um empreendimento avaliado em US$ 375 milhões. A estimativa de produção de
fosfato é de 240 mil toneladas ao ano, o que possibilitará produtividades competitivas, haja
vista que o Brasil, atualmente, importa 90% do total consumido, cerca de US$ 500 milhões na
68
importação desse material. A maior jazida de urânio que se concentra em Itataia, possui
produção estimada em 1.600 toneladas anuais que será utilizada pela usina nuclear Angra III.
Outra potencialidade mineral encontrada no Ceará é as imensas e diversificadas jazidas de
carbonatos de cálcio (calcários). A região é rica, também, em pedras ornamentais, a exemplo
de mármore e granito.
O Complexo Industrial Portuário de Pecém (CIPP), localizado no município de São Gonçalo
do Amarante, já possui uma infraestrutura instalada com acessos marítimo, rodoviário e
ferroviário, além da disponibilidade de energia elétrica, abastecimento d’água e sistema de
descarte de efluentes, que o torna atrativo para investimentos de grandes empreendimentos.
Um exemplo disso, conforme destacado pela ADECE (2011), é a parceria entre a empresa
brasileira Vale e as coreanas Dongkuk Steel e Posco que construirá neste complexo portuário
a Companhia Siderúrgica do Pecém – CSP, a primeira usina integrada da região Nordeste com
previsão de inicio de operação para 2015 e estimativa de na primeira fase de operação,
produzir três milhões de placas de aço por ano (CSPECEM, 2011). Outro empreendimento
previsto no complexo é a refinaria Premium II, já considerada uma das maiores refinarias de
petróleo do mundo, com estimativas de produção de 300 mil litros de barris por dia. A
Petrobrás informa que os investimentos previstos serão da ordem de US$ 11 bilhões e que já
estão previstos em seu orçamento. De acordo com a Petrobrás, os principais derivados de
petróleo produzidos serão o diesel e QAV (combustível de avião). A produção de diesel
servirá para exportação e mercado nacional (CSPECEM, 2011).
No município de Barbalha, próximo a Missão Velha, existe a Bom Sinal uma fábrica de trem
que foi fundada em 1999, e que nesse boom ferroviário, passou a construir o Veículo Leve
sobre Trilhos (VLT) que atualmente faz a linha entre Juazeiro e Crato. Essa empresa conta
hoje com encomendas de Maceió, Natal, João Pessoa e Recife para a construção desse
veículo. Há intenção do governo cearense em montar, devido a existência dessa fábrica, um
polo ferroviário, aproveitando o projeto da Ferrovia Transnordestina para atrair fornecedores
de insumos. (ADECE, 2011).
69
3.4.3 Potencialidades econômicas no Estado do Pernambuco
De acordo com o Governo de Pernambuco através da sua Secretaria de Desenvolvimento
econômico (SDEC-PE), existem projetos denominados estruturadores que visam a criação de
Distritos Industriais voltados para criar o estímulo às Cadeias Produtivas das regiões de
desenvolvimento do estado, conforme apresentado na Figura 3.6. A seguir serão apresentados
alguns polos e projetos que juntamente com a implantação da nova Ferrovia Transnordestina
poderão ser estimulados pelo escoamento da produção, como também pelo recebimento de
insumos que ajudarão no desenvolvimento das atividades de cada cadeia produtiva.
Figura 3.6 - Cadeias produtivas do Estado de Pernambuco.
Fonte: Cunha (2011). Elaboração do Autor.
A empresa Transnordestina Logística destaca na Figura 3.7 a seguir, os principais projetos
estruturantes que juntamente com a Ferrovia Transnordestina e o Complexo Portuário de
Suape permitirão que Pernambuco atinja um novo ciclo de dinamismo econômico (TLSA,
2011).
Polo Gesseiro Polo Avícola Plataforma Logística
de Salgueiro
Bacia leiteira
Porto de
Suape
Fruticultura
Polo Automotivo
Polo Têxtil
Cana-de-açúcar
70
Figura 3.7 - Projetos Estruturantes beneficiados pela Ferrovia Transnordestina.
Fonte: TLSA (2011).
Neste trabalho estão destacados alguns polos ou projetos que possivelmente terão alguma
correlação com a Ferrovia Transnordestina.
3.4.3.1 O Polo Gesseiro
Por ser objeto de estudo deste trabalho, este assunto será abordado no capítulo seguinte com
as informações mais detalhadas sobre o polo gesseiro.
3.4.3.2 Plataforma Multimodal de Transportes em Salgueiro
De acordo com o Governo do Estado de Pernambuco, através da ADDIPER (2011), essa
Plataforma será implantada no município de Salgueiro, a 520 quilômetros da capital
pernambucana, com o objetivo de torná-lo em um polo logístico global. A plataforma,
segundo o Governo Pernambucano, combina o conceito de central de inteligência logística
com o de multimodalidade, telemática e otimização de fretes.
A plataforma de 301,5 hectares tem sua localização prevista no município de Salgueiro,
considerado o “Coração do Nordeste”, que fica no entroncamento das BR-232 com a BR 116,
71
e é rota da Ferrovia Transnordestina, será o centro articulador da nova fronteira agrícola do
nordeste colocando-se numa posição favorável aos empreendimentos que têm como objetivo
atender a mercados de bens e serviços das regiões Nordeste e Centro Oeste através da
interligação com a ferrovia Norte-Sul (VALOR, 2009).
Ainda segundo a ADDIPER (2011), a Plataforma logística multimodal, possibilitará ao
município de Salgueiro, fazer parte de uma rede logística nacional integrada com a
participação dos modos rodoviários, ferroviário, aeroportuário, articulado com o marítimo no
Complexo Industrial Portuário de Suape, e num segundo momento – dependendo das ações
do governo Federal - com o hidroviário em Petrolina, município do Sertão do São Francisco.
A plataforma em questão, além da rede logística nacional integrada, estará próxima dos
principais mercados de consumo do Nordeste, equidistante da maioria das capitais
nordestinas, em média 596 km, abrangendo os Estados de Sergipe, Alagoas, Paraíba, Rio
Grande do Norte, Ceará, Maranhão, Piauí e a apenas 530 km do Recife e do Porto de Suape.
Em estudo da ADDIPER de 2008, a Plataforma Multimodal de transporte, dentro da sua
estrutura operacional, numa área total de 301,5 hectares, deverá conter as seguintes
atividades:
a) Central de Cargas Rodoviárias;
b) Terminal Ferroviário de cargas;
c) Terminal Aéreo de Cargas;
d) Estação Aduaneira Interior;
e) Centro Comercial e de Serviços;
f) Centro Administrativo;
g) Distrito Agroindustrial.
3.4.3.3 Polo Avícola
De acordo com Oliveira et al (2008), a definição de avicultura é considerada como uma
atividade econômica integrante do setor primário da economia que adota procedimentos
industriais devido ao seu desenvolvimento tecnológico. Atividade esta, considerada um dos
72
componentes importantes da produção agropecuária mundial, com destaque para o
fornecimento de carne e de ovos, elementos ricos em proteínas destinados para a alimentação
humana.
A carne de frango é uma fonte de proteína animal mais acessível quanto à oferta às
populações de diversos países, a exemplo do Brasil, é a segunda mais produzida e também a
mais consumida mundialmente. O Brasil é o terceiro maior produtor de carne de frango no
mundo, perdendo apenas para os Estados Unidos e China, sendo responsável por 40% da
venda do produto em 154 países (UBABEF, 2014).
A União Brasileira de Avicultura (UBABEF) informa em seu Relatório Anual de 2014 que a
produção brasileira de carne de frango em 2013 foi de 95% de frango in natura e 5% de
industrializados. O desempenho da produção no período de 2000 a 2013 encontra-se
representado no Gráfico 3.2 abaixo (UBABEF, 2014).
Gráfico 3.2 - Produção brasileira de carne de frango (milhões ton.).
Fonte: UBABEF, Relatório Anual 2014.
No mercado Nacional o setor de carnes de aves representa aproximadamente 22,5% do
Produto Interno Bruto Brasileiro e gera 4,5 milhões de empregos. As estimativas para 2020
apontam que as vendas no mercado internacional do agronegócio brasileiro superem as cifras
dos US$ 200 milhões. A perda da competitividade do agronegócio negócio brasileiro no
mercado internacional ocorre em virtude de três causas evidentes: custo da mão de obra, custo
logístico e custo fiscal/tributário (ARENÁZIO, 2012).
73
Ainda segundo a UBABEF (2014), a maior produção de frango se concentra nos estados do
sul país. A região nordeste possui cerca de 160 empresas avícolas, na maioria formada por
pequenos e médios produtores e apenas 15 de grande porte, responde por 8% da produção de
frangos de corte e 15% da produção de ovos no País. Dentre os estados nordestinos,
Pernambuco ocupa a segunda posição na produção de carne de frango (perdendo apenas para
a Bahia) e de ovos (perdendo apenas para o Ceará).
A avicultura pernambucana é o segmento mais importante do agronegócio, responsável por
28% do PIB da atividade e 2,53% do PIB estadual. Está presente em quase todas as regiões de
Pernambuco, concentrando-se em sua maioria no Agreste Central, no Pajeú e na Mata Norte.
(SEBRAE, 2008; UBABEF, 2014).
O município de São Bento do Una, localizado no agreste pernambucano, fica a 206
quilômetros da capital e possui mais de 3,6 mil propriedades rurais trabalhando com
avicultura. É considerado o principal produtor de aves e ovos do estado de Pernambuco. Já
chegou a produzir 2,7 milhões de ovos por dia e 350 mil frangos por semana. Ocupa a 17ª
posição no ranking nacional (UBABEF, 2014). Além de São Bento do Una, tem-se a
produção avícola nos municípios pernambucanos de Lajedo, Pesqueira, Belo Jardim,
Cachoeirinha, Sanharó e Tacaimbó. Essas cidades são responsáveis por 60% da produção de
ovos e frangos do Estado.
A perda da competitividade da avicultura pernambucana em relação aos demais estados
ocorre devido a dois grandes problemas: a seca do nordeste e a questão logística que
encarecem os custos de produção.
Em relação aos custos logísticos os avicultores pernambucanos freiam sua produção devido
aos preços dos grãos (milho e soja), pois praticamente, 100% desses grãos para ração das aves
são importados dos estados das regiões centro-oeste e sul do País, sul da Bahia, Maranhão e
Piauí, com transporte pago pelos próprios produtores (AVIPE, 2014). A Avipe acredita que
com a chegada da Ferrovia Transnordestina, poderá ocorrer a redução no custo do frete do
preço dos grãos oriundos das novas fronteiras agrícolas do Nordeste, representadas pelo Oeste
baiano, sul do Maranhão e Piauí, o que permitiria que a atividade avícola pernambucana
competisse com a carne de frango produzida no Sul e Sudeste do País.
74
3.4.3.4 O Setor Sucroalcooleiro da Zona da Mata Pernambucana
A cana-de-açúcar foi introduzida no Brasil durante o período colonial e se transformou em
uma das principais culturas presentes na sua economia. Foi introduzida na costa nordestina,
especialmente em Pernambuco, por intermédio de Duarte Coelho, comandante da Capitania
de Pernambuco em 1534, não só pela qualidade do solo, mas principalmente pela localização
que facilitava o escoamento do açúcar produzido para a Europa. O ciclo da cana-de-açúcar
perdurou entre os séculos XVI e XVII, tornando-se uma monocultura de grande importância
na economia brasileira dessa época (FURTADO, 2005).
O Brasil é considerado o maior produtor e exportador de açúcar no mundo e líder em etanol
de cana-de-açúcar, a cada ano aumenta a área de cultivo da matéria- avança também em
relação ao seu processamento (REETZ et al., 2013). De acordo com Cunha (2013) o Brasil
tem know-how consolidado no setor, é considerado o maior produtor mundial de cana-de-
açúcar, segundo maior produtor de etanol e maior exportador de açúcar no mercado mundial.
Ultimamente procura conquistar o mercado internacional com o uso do biocombustível como
alternativa energética.
Existem dois períodos distintos de safra no Brasil, para o cultivo e produção de cana-de-
açúcar em termos regionais: No Norte-Nordeste a safra ocorre no período de setembro a
março; No Centro-Sul de abril a novembro. Com isso a produção de etanol no país, ocorre
praticamente durante todo o ano.
No Quadro 3.2 apresenta-se a produção brasileira de cana-de-açúcar distribuída por regiões,
referente à safra de 2013/2014, segundo dados da CONAB apud Reetz et.al.(2013).
75
Quadro 3.2 - Produção brasileira de cana-de-açúcar segundo as regiões.
Fonte: CONAB, levantamento de agosto de 2013, apud Reetz et.al.2013.
Em relação à área total destinada ao cultivo da cana-de-açúcar e à atividade sucroalcooleira, a
safra para 2014/2015 está estimada em 9,1 mil hectares, distribuídas em sete estados
brasileiros, que são responsáveis por 91,9% da produção nacional da seguinte maneira: São
Paulo com 51,7% sendo atualmente o maior produtor nacional, seguido por Goiás com 9,3%,
Minas Gerais com 8,9%, Mato Grosso do Sul com 7,4%, Paraná com 6,7%, Alagoas com
4,7% e Pernambuco com 3,2%. Os demais estados produtores estão abaixo de 3% e possuem
áreas menores (CONAB, 2013).
A Figura 3.8 a seguir, apresenta-se em destaque, a localização das usinas canavieiras do país,
concentrando-se na Zona da Mata, na região Nordeste, e no estado de São Paulo, na região
76
Sudeste. Geralmente, as áreas de cultivo da cana-de-açúcar localizam-se em média, num raio
de 25 km das usinas, por motivos relacionados ao custo do transporte.
Figura 3.8 - Localização das usinas de açúcar e bioetanol no Brasil.
Fonte: CTC – NIPE (2005) apud www.novacana.com
Em relação à região nordeste os maiores estados produtores são Alagoas, Pernambuco e
Paraíba, conforme apresentado no Quadro 3.3, referente ao comparativo entre os estados do
Norte/Nordeste efetuada pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA).
Quadro 3.3 - Comparativo da produção sucroalcooleira nos estados do Norte/Nordeste safra 2013/2014.
Fonte: Base de dados do MAPA, apud SINDAÇÚCAR, 2014.
77
O cultivo da cana-de-açúcar em Pernambuco, devido a fatores climáticos e históricos
concentra-se em duas regiões do litoral: Zona da Mata (74%) e Metropolitana de Recife
(23%). As demais regiões têm participação residual. A produção sucroalcooleira de
Pernambuco é em sua maioria voltada para o mercado externo (GOMES, 2006).
No Porto de Suape, conexão com a Ferrovia Transnordestina, está previsto para operar em
2015 um Terminal Açucareiro, como concessão, para operação durante 25 nos. Suape já opera
com a movimentação de açúcar, com a chegada do terminal ocorrerá a ampliação e
modernização do processo, significando a consolidação de Pernambuco como referência no
setor para a região Nordeste. O novo Terminal Açucareiro deverá atrair fabricantes de açúcar
da região, a exemplo de Alagoas – maior produtor e exportador de açúcar – tornando-o um
diferencial logístico do setor no Nordeste. O Sindaçúcar ressalta que a distância média das
unidades produtoras de Alagoas até Suape é equivalente à metade da distancia media das
unidades do estado de São Paulo ao Porto de Santos, embora que até hoje não há ligações
ferroviárias em Pernambuco.
3.4.3.5 Bacia Leiteira de Pernambuco
Segundo dados do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (United States
Departament of Agriculture – USDA), os cinco maiores produtores mundiais de leite são:
União Europeia, Índia, Estados Unidos, China e Rússia. O Brasil ocupa a sexta posição e no
ano de 2012 a produção brasileira foi de 32.304 bilhões de litros de leite, gerando R$ 26.797
bilhões em valor. A produção de leite do Brasil em 2012 por regiões encontra-se no Quadro
3.4 abaixo. A região sudeste é a maior produtora, concentrando 35,9% da produção de leite,
em seguida a região sul com 33,2%, Centro-Oeste com 14,9%, Nordeste com 10,8% e o Norte
com 5,1% (IBGE – PPM, 2012).
78
Quadro 3.4 - Produção brasileira de leite por regiões 2008 – 2012.
Fonte: IBGE, Produção da Pecuária Municipal – PPM, 2012 (volume 40).
Segundo dados do IBGE /PPM (2012), na região nordeste, Pernambuco ocupa a segunda
posição na produção de leite, depois da Bahia. As principais bacias leiteiras de Pernambuco
encontram-se nas regiões: Agreste (73% da produção estadual), Sertão (20%), Vale do São
Francisco (3%), Zona da Mata (3%) e Região metropolitana do Recife (1%). Os principais
municípios pernambucanos produtores de leite são: Itaíba, Buíque, Bom Conselho, Venturosa,
Sanharó, Pedra, Arcoverde, São Bento do Una, Belo Jardim, Capoeiras, Correntes, Águas
Belas, Pesqueira, Tupanatinga e Altinho. O Quadro 3.5 apresenta o ranking e a variação na
produção nos anos de 1999 e 2008 dos municípios pernambucanos produtores de leite, de
acordo com levantamento da Produção da Pecuária Municipal – PPM do IBGE de 2010.
Quadro 3.5 - Ranking dos municípios pernambucanos de maior produção anual de leite.
Fonte: IBGE, Produção da Pecuária Municipal, 2010.
79
4 A GIPSITA E O POLO GESSEIRO DO ARARIPE
Neste capítulo será destacado o minério, a gipsita (Figura 4.1), que representa a base de
economia da região do Araripe. Serão apresentadas suas características e formas de
beneficiamento, reservas e estatísticas, cadeia produtiva, perspectiva e diagnóstico logístico
do polo.
4.1 A GIPSITA E O GESSO
4.1.1 Gipsita
De acordo com estudos do Departamento Nacional de Produção Mineral - DNPM (2001),
órgão vinculado ao Ministério Brasileiro de Minas e Energia:
A gipsita, mineral abundante na natureza, é um sulfato de cálcio hidratado
cuja fórmula química é CaSO4.2H2O, que geralmente ocorre associado à anidrita, sulfato de cálcio anidro CaSO4, que tem pouca expressão
econômica. O mineral gipsita, geralmente é encontrado em granulação fina e
média, estratificada ou maciça, coloração em tons claros de amarelo e
marrom, constituindo as denominadas rochas gipsíferas. (DNPM, 2001).
Figura 4.1 - Representação de gipsita.
Fonte: Google imagens.
80
Complementa esse estudo, que os termos “gipsita”, “gipso” e “gesso”, são frequentemente
usados como sinônimos. Porém, para representar o mineral em seu estado natural usamos a
denominação gipsita bruta, enquanto o termo gesso é utilizado para designar o produto
calcinado.
A gipsita é um mineral de baixo valor unitário e deve ser comercializado em grandes
volumes. Tem reservas distribuídas em mais de noventa países. Considera-se mundialmente,
que a tendência de consumo é efetuada no próprio país produtor. Um exemplo disso são os
Estados Unidos da América, que é ao mesmo tempo, o maior produtor e o maior consumidor
mundial de gipsita, cujo mercado interno é atendido também com a produção dos países
vizinhos Canadá e México, entre outros, conforme destaca Araújo (2004) em sua pesquisa:
Segundo dados do USGS, no ano 2000, entre os meses de janeiro a agosto,
os EUA compraram cerca de 635 mil toneladas de gipsita da Espanha, 1,29 milhões toneladas do México e 3,92 milhões toneladas do Canadá; ainda
figuram como países fornecedores dos EUA: a Austrália, com 16.700 t e a
Inglaterra, com 213 t. Outros países vendem esse produto àquele país, no
entanto, em pequenas quantidades e em épocas variáveis (ARAÚJO, 2004).
4.1.1.1 Histórico
A extração da gipsita em Pernambuco teve início na década de 1960. Nessa época a produção
de gesso era realizada ainda de forma artesanal utilizando fornos de farinha de mandioca para
calcinação da gipsita. A formação da base industrial ocorreu na década de 1970, a partir de
incentivos de órgãos governamentais e investimentos privados, possibilitando a instalação de
empresas de grande porte com alta capacidade de produção e inovação tecnológica. Nos anos
1980, as indústrias locais passaram a produzir produtos mais constantes e uniformes, a partir
da introdução de fornos “rotativos”, considerados uma nova tecnologia em relação aos fornos
do tipo “panela”, utilizados para calcinação.
A década de 1990 foi marcada por inovações mercadológicas, investimentos em melhoria de
processos e desenvolvimento de produtos com maior valor agregado, a partir daí, o mercado
da construção civil passou a absorver melhor os produtos de gesso.
81
Em 2003 este centro industrial se consolidou como um dos principais polos de
desenvolvimento de Pernambuco, pela produção e distribuição de gesso e derivados
(ASSOGESSO, 2012).
4.1.1.2 Reserva e Produção Mundial de gipsita
Segundo o Sumário Mineral de 2014, efetuado pelo Departamento Nacional de Produção
Mineral (DNPM), órgão vinculado ao Ministério de Minas e Energia do Brasil, as
informações sobre as reservas de gipsita bruta de alguns países ainda são incertas, mas estima-
se que as cinco maiores reservas em volume, encontram-se nos seguintes países: China,
Estados Unidos, Irã, Tailândia e Espanha.
Ainda de acordo com o sumário mineral de 2014 (DNPM, 2014), a produção mundial de
gipsita em 2013, foi de 160 milhões de toneladas. A Tabela 4.1 a seguir, apresenta a reserva e
a produção de gipsita no mundo, onde a China continua sendo o maior produtor deste mineral,
na faixa de 50 milhões de toneladas, que em termos percentuais representa 31,3% de toda a
produção mundial em 2013. Dentre os países da América do Sul, o Brasil é o maior produtor,
e o 11º do mundo, com uma produção de 3,3 milhões de toneladas, representando 2,1% do
total mundial.
Tabela 4.1 - Reserva e Produção Mundial de gipsita em 2013.
Fonte: DNPM – Sumário Mineral 2014.
82
4.1.1.3 Reserva e Produção Nacional de gipsita
No Brasil, de acordo com o DNPM, as reservas de gipsita oficialmente confirmadas estão
localizadas nas bacias sedimentares das regiões norte, nordeste e centro-oeste, distribuídas da
seguinte forma: Bacia Amazônica (Amazonas e Pará); Bacia do Parnaíba (Maranhão e
Tocantins); Bacia Potiguar (Rio Grande do Norte); Bacia Sedimentar do Araripe (Piauí, Ceará
e Pernambuco); e Bacia do Recôncavo (Bahia). A gipsita no Brasil apresenta uma relação
entre reserva e produção anual suficiente para atender a demanda por mais de 700 anos
(LYRA SOBRINHO, 2011). Há registros de ocorrência de gipsita, ainda em prospecção, nos
estados de Sergipe, Rio de Janeiro, Acre e Rondônia.
De acordo com o Sumário Mineral 2014 do DNPM, a produção brasileira de gipsita bruta
atingiu 3.300 mil toneladas em 2013. Apesar da existência do mineral em 9 (nove) estados
brasileiros, as jazidas encontradas na Bacia sedimentar do Araripe apresentam grande volume
e excelente qualidade, sendo consideradas as de melhores condições no aproveitamento
econômico. Segundo o DNPM (2014), Pernambuco é o principal estado produtor de gipsita
do Brasil, foi responsável por 87,6% da produção nacional em 2013, seguido do Maranhão
(9,1%), Ceará (2,5%), Amazonas (0,6%) e Pará (0,2%).
4.1.1.4 Importação e Exportação de gipsita
Segundo o Sumário Mineral de 2014 (DNPM, 2014), a importação brasileira de gipsita e seus
derivados atingiu no ano de 2013, a casa de 243.916 toneladas configurando um valor total de
US$ 33,1 milhões. Noventa e seis por cento das importações de gipsita, gesso e seus
derivados são compostas basicamente por manufaturados, cujo destaque são as “Chapas não
ornamentadas”. Os maiores fornecedores de chapas não ornamentadas para o Brasil são:
Espanha (52%), Argentina (22%), México (14%), Turquia (4%) e China (3%).
Em 2013 o Brasil exportou 31.626 toneladas de gipsita e seus derivados, o equivalente a US$
2,1 milhões, representando menos de 1% da produção nacional. Do total das exportações,
99,5% foram de manufaturados e o restante foi representado pela venda de bens primários. Os
83
países importadores de manufaturados brasileiros são: Paraguai (86%), Equador (6%),
Colômbia (3%), Venezuela (1%) e Nigéria (1%). Quanto aos bens primários o único destino
dos bens exportados foi para o Paraguai (DNPM, Sumário Mineral 2014).
4.1.2 Gesso
A gipsita pernambucana é explorada à céu aberto, possui excelentes qualidades físico-
químicas, e um teor de pureza de quase 95%, considerada a de melhor qualidade do mundo.
Na sua forma natural é usada principalmente na fabricação de cimento e, na agricultura como
nutriente e condicionador dos solos (gesso agrícola). Na forma calcinada (transformada em
gesso) é bastante utilizada na construção civil como pré-moldados, na fundição de peças
cerâmicas e metalúrgicas, na medicina e odontologia.
O gesso ocorre da transformação da gipsita através do processo de calcinação. Para ocorrer
esse processo, a gipsita precisa ser aquecida a uma temperatura de mais ou menos 160º C,
através da ação do fogo sobre os fornos, fazendo-a perder até 25% da água combinada,
transformando-a em um hemidrato, uma camada protetora conhecida como gesso.
Os diversos tipos de fornos e os respectivos combustíveis para a geração da energia térmica
utilizados para o aquecimento e consequentemente a calcinação, são:
a) Fornos tipo Panela – tem a forma de panelões de aço, são circulares, abertos, de
grande diâmetro e de pequena altura. São assentados sobre uma fornalha de alvenaria,
onde se utiliza lenha para combustão. Esse tipo de forno encontra-se em processo de
extinção na região do Araripe.
b) Fornos tipo Marmita – possui a forma de panelões de aço fechados e para o seu
aquecimento utiliza-se óleo diesel, óleo BPF ou lenha. As grandes empresas utilizam
os fornos marmitas rotativos de tecnologia francesa, de aquecimento indireto com uma
eficiência térmica em torno dos 45%.
c) Fornos tipo Rotativo Tubular – tem a forma de um tubo giratório, são de aço e
material refratário, de grande extensão e com uma pequena inclinação. Esses
equipamentos funcionam opcionalmente com lenha em toras, lenha picada ou coque.
84
As grandes empresas do polo utilizam esses fornos que possuem tecnologia espanhola
com aquecimento direto e eficiência térmica em torno de 85%.
d) Fornos tipo Marmita Vertical - Tem a forma de um tubo giratório, são de aço e
material refratário, sua extensão depende do volume de produção. Em alguns casos,
tem seus controles automatizados que seguem rigorosamente as instruções
preestabelecidas através de gerenciamento por computadores e em outros são operados
empiricamente. É de tecnologia alemã e possui uma eficiência térmica em torno dos
65%;
e) Fornos tipo Marmita Rotativos Descontínuos por Batelada – São fabricados por
indústrias locais, instaladas no Araripe. Esses tipos de fornos estão presentes em mais
de 120 empresas do polo e funcionam com lenha picada, lenha em toras e coque.
Possuem eficiência térmica de 45%, próxima a dos fornos de tecnologia importada.
De acordo com estudos da ATECEL (2006), o consumo de energia térmica (através da
queima de lenha, coque, óleo BPF, óleo diesel) ocorre somente durante a etapa de calcinação
enquanto o consumo de energia elétrica ocorre na calcinação e também na fabricação de
artefatos de gesso.
Da gipsita calcinada obtêm-se três tipos de gesso: gesso in natura, gesso tipo alfa e gesso tipo
beta, resultantes de processo industrial individual e particular que gera uma maior ou menor
agregação de valor ao produto final. O gesso in natura trata-se da gipsita micro granulada,
muito usada na fabricação de cimento e na agricultura como gesso agrícola. O gesso tipo alfa
resulta de um processo de calcinação diferenciado, com pressão elevada que conserva a
estrutura cristalina da gipsita, transformando-a em produto mais nobre com um maior valor
agregado, cujas aplicações do gesso fabricado são voltadas para fins odontológicos e
ortopédicos, para moldes de peças cerâmicas e joias, para contra-pisos autonivelantes no
formato de argamassa especial. O gesso tipo beta é utilizado principalmente no setor da
construção civil, substituindo a argamassa e o tijolo. Apresenta-se na forma de pré-moldados,
é aplicado em divisórias e revestimentos, como paredes, forros, blocos, placas e painéis.
O consumo anual de gesso no Brasil em relação aos demais países, ainda é baixo e
subutilizado, atualmente é de 22 kg por habitante, enquanto na Argentina é de 29 kg/hab., no
Chile é 42 kg, Espanha, 49 kg e Estados Unidos, maior consumidor de gesso do mundo atinge
a casa dos 113 kg por habitante (SINDUSGESSO / APL MINERAL, 2012).
85
Procurando seguir a tendência internacional e aumentar o consumo per capita de gesso, o
mercado de gesso brasileiro tem apostado em novas tecnologias e na modernização da
construção civil com a aplicação do gesso no formato de placas para formar o drywall6, dando
um maior valor agregado ao gesso.
A tecnologia drywall é utilizada no Brasil desde 1995, usada pelas construtoras nos mais
modernos empreendimentos residenciais e comerciais, principalmente no sul e sudeste do
País.
Segundo a Associação Brasileira de Drywall (2014), houve um crescimento de 13,5% no
consumo de chapas de gesso para drywall durante o período entre 2012 e 2013. O consumo
médio anual por habitante de chapas para gesso drywall no Brasil é atualmente de 0,25 m2,
enquanto nos Estados Unidos o consumo médio anual é de aproximadamente 10 m2.
A distribuição do consumo de drywall por regiões brasileiras, de acordo com Associação
Brasileira de Drywall (2014), é da seguinte forma:
a) Juntas, as regiões Sudeste e Sul representam 76% do total, tendo o estado de São
Paulo como maior consumidor;
b) A região Centro-Oeste consome 15%;
c) A região Nordeste consome 9%.
4.1.3 Cadeia Produtiva do Gesso
O Ministério de Desenvolvimento Indústria e Comércio Exterior - MDIC apresenta a
definição de Cadeia Produtiva como: “O conjunto de atividades que se articulam
6 Drywall é o sistema para construção de paredes e forros, mais utilizada na Europa e nos Estados Unidos. Por
fora, parece uma parede de alvenaria. Porém, internamente combina estruturas de aço galvanizado com chapas
de gesso de alta resistência mecânica e acústica, produzidas com rigoroso padrão de qualidade. Com o drywall
também é possível a execução de revestimentos e mobiliários integrados (GYPSUM, 2013).
86
progressivamente desde os insumos básicos até o produto final, incluindo distribuição e
comercialização, constituindo-se em segmentos (elos) de uma corrente”.
Dessa forma, a Cadeia produtiva abrange todas as etapas da produção de um bem desde o
planejamento e design do mesmo até a entrega ao consumidor. O conjunto dessas etapas
implica em uma crescente divisão e transformação do bem, resultando em nova divisão de
trabalho, onde o conjunto de atores envolvidos ou um agente individual do processo
especializa-se em distintas etapas do processo produtivo. Uma cadeia produtiva pode ser de
âmbito local, regional, nacional ou mundial (BRITO, 2002).
O APL do gesso, encontrado na região pernambucana do Araripe, concentra-se em três
formas produtivas: mineração do minério bruto (gipsita), calcinação e transformação da
gipsita em gesso e fabricação de componentes pré-moldados com utilização do gesso.
A mineração consiste na extração, elaboração e beneficiamento do minério gipsita. Tem início
a partir da pesquisa mineral para em seguida efetuar a exploração das minas. Para execução
das atividades de mineração são necessários: marteletes para perfuração, explosivos de média
potência (dinamite, cordel detonante, etc.), transporte para matéria-prima (caminhões,
carregadeiras), bombas d’água, óleo lubrificante, óleo combustível, etc.
No processo de calcinação são utilizados fornos que advêm em parte de metalúrgicas locais e
municípios adjacentes. As grandes empresas utilizam os fornos adquiridos no exterior. Para
esse processo são necessários os serviços de metalurgias, mecânica e eletricidade.
A fabricação de pré-moldados possui baixo custo de implantação e proporciona elevado valor
agregado ao produto final, tornando-se uma forte atração econômica na região. Neste
processo merecem destaque os moldes em silicone e maquinários especializados.
Sintetizando, a partir da mineração, seguido das indústrias de beneficiamento do gesso e da
transformação do gesso em pré-moldados, conforme apresentado na Figura 4.2, estão
envolvidos na cadeia produtiva do gesso: a comercialização e distribuição do gesso e seus
derivados; empresas da construção civil; indústria química; indústrias de máquinas e
ferramentas; oficinas mecânicas, retíficas e metalúrgicas; fabricantes de explosivos;
fabricantes de embalagens; transportadoras.
87
Figura 4.2 - Representação da cadeia produtiva do APL do gesso no Araripe de Pernambuco.
Fonte: SINDUSGESSO (2012).
4.2 POLO GESSEIRO DO ARARIPE - PGA
4.2.1 Localização geográfica
O Polo Gesseiro do Araripe pernambucano está localizado no epicentro do semiárido
nordestino, extremo oeste de Pernambuco, faz fronteira com os estados do Piauí e Ceará. Este
polo é formado pelos municípios de Araripina, Bodocó, Ipubi, Ouricuri e Trindade (Figura
4.3) e está a cerca de oitocentos quilômetros equidistante de sete capitais brasileiras: Recife,
Salvador, Fortaleza, Aracaju, Maceió, Natal e João Pessoa.
88
Figura 4.3 - Localização do Polo Gesseiro do Araripe.
Fonte: SINDUSGESSO (2012).
No estado de Pernambuco encontramos 40% das reservas nacionais de gipsita e em relação à
produção de gesso destaca-se no cenário nacional e internacional, atendendo a
aproximadamente 90% da demanda do gesso consumido no mercado interno.
O polo, segundo o SINDUSGESSO (2012), possui 42 mineradoras, 169 calcinadoras e 450
fábricas de pré-moldados (Gráfico 4.1), onde são gerados 13.800 empregos diretos e 69 mil
empregos indiretos e tem faturamento anual estimado em US$ 364 milhões.
Gráfico 4.1- Representação da distribuição das empresas por setores na cadeia produtiva do gesso.
Fonte: Sindusgesso, 2012.
89
4.2.2 Perfil dos Municípios do Polo Gesseiro
Neste tópico serão vistas as principais características dos cinco municípios produtores de
gipsita (Quadro 4.1), cujos dados e principais indicadores socioeconômicos, foram extraídos
da CONDEPE/FIDEM (2014).
O Município de Araripina, pertence à Região de Desenvolvimento Sertão do Araripe, dista em
683,8 km da capital, é formado pelos Distritos de Araripina, Bom Jardim do Araripe,
Gergelim, Lagoa do Barro, Morais, Nascente e Serrânia. Possui uma área de 1.892,588 km2,
uma densidade demográfica de 40,84 habitantes por quilômetro quadrado. A população
segundo o Censo 2010 do IBGE era de 77.302 habitantes, onde 61% pertenciam à área urbana
e 39% à área rural. As três principais culturas agrícolas (mandioca, tomate e castanha-de-caju)
atingiram em 2012 um valor total de produção agrícola de R$ 1.129.000,00. Os principais
rebanhos são de bovinos, ovinos e suínos. Em relação ao Produto Interno Bruto (PIB) o valor
de 2011 foi de 442.552 mil reais e o PIB per capita de R$ 5.689,00, representando uma
participação de 0,42% em relação ao Estado. O Índice de Desenvolvimento Humano
Municipal (IDH-M) foi de 0.602 em 2010.
O Município de Bodocó, pertence à Região de Desenvolvimento Sertão do Araripe, dista em
642,6 km da capital, é formado pelos Distritos de Bodocó, Claranã e Feitoria. Possui uma área
de 1.616,494 km2, uma densidade demográfica de 21,75 habitantes por quilômetro quadrado.
A população segundo o Censo 2010 do IBGE foi de 35.158 habitantes, onde 36% pertenciam
à área urbana e 64% à área rural. As três principais culturas agrícolas (mandioca, castanha de
caju e fava) atingiram em 2012 um valor total de produção agrícola de R$ 363.000,00. Os
principais rebanhos são de bovinos, ovinos e suínos. O PIB de 2011 foi de 173.500 mil reais e
o PIB per capita de R$ 4.898,00, representando uma participação de 0,17% em relação ao
Estado. O Índice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDH-M) foi de 0.565 em 2010.
O Município de Ipubi, pertence à Região de Desenvolvimento Sertão do Araripe, dista em
668,6 km da capital, é formado pelos Distritos de Ipubi, Serra Branca e Serrolândia. Possui
uma área de 861,415 km2, uma densidade demográfica de 32,64 habitantes por quilômetro
quadrado. A população segundo o Censo 2010 do IBGE foi de 28.120 habitantes, onde 61%
pertenciam à área urbana e 39% à área rural. As três principais culturas agrícolas (mandioca,
90
abacaxi e castanha de caju) atingiram em 2012 um valor total de produção agrícola de R$
1.129.000,00. Os principais rebanhos são de bovinos, ovinos e suínos. Em relação ao Produto
Interno Bruto (PIB) o valor de 2011 foi de 442.552 mil reais e o PIB per capita de R$
5.689,00, representando uma participação de 0,42% em relação ao Estado. O Índice de
Desenvolvimento Humano Municipal (IDH-M) foi de 0.602 em 2010.
O Município de Ouricuri, pertencente à Região de Desenvolvimento Sertão do Araripe, dista
em 623,9 km da capital, é formado pelos Distritos de Ouricuri, e Barra de São Pedro. Possui
uma área de 2.422,882 km2, uma densidade demográfica de 26,56 habitantes por quilômetro
quadrado. A população segundo o Censo 2010 do IBGE foi de 64.358 habitantes, onde 51%
pertenciam à área urbana e 49% à área rural. As três principais culturas agrícolas (mandioca,
tomate e feijão) atingiram em 2012 um valor total de produção agrícola de R$ 476.000,00. Os
principais rebanhos são ovinos, bovinos, e caprinos. O PIB de 2011 foi de 342.374 mil reais e
o PIB per capita de R$ 5.272,00, representando uma participação de 0,33 % em relação ao
Estado. O Índice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDH-M) foi de 0.572 em 2010.
O Município de Trindade, pertencente à Região de Desenvolvimento Sertão do Araripe, dista
em 649,1 km da capital, é formado pelos Distritos de Trindade. Possui uma área de 229,545
km2
e uma densidade demográfica de 113,77 habitantes por quilômetro quadrado. A
população segundo o Censo 2010 do IBGE foi de 26.116 habitantes, onde 86% pertenciam à
área urbana e 14% à área rural. O valor total de produção agrícola em 2012 de foi R$
146.000,00 distribuídos entre mandioca, castanha-de-caju e feijão. Os principais rebanhos são
bovino, suíno e ovino. O PIB de 2011 foi de 162.800 mil reais e o PIB per capita de R$
6.158,00, representando uma participação de 0,16% em relação ao Estado. O Índice de
Desenvolvimento Humano Municipal (IDH-M) foi de 0.595 em 2010.
91
Quadro 4.1 - Resumo das principais características dos municípios do polo gesseiro.
Fonte: CONDEPE/FIDEM (2014). (Elaboração do Autor)
4.2.3 Consumo Energético do Polo Gesseiro
As principais fontes energéticas presentes na cadeia produtiva do polo gesseiro representadas
na Tabela 4.2, são: eletricidade, lenha, coque, óleo diesel, óleo BPF (óleo de baixo ponto de
fluidez), óleo residual e casca de babaçu (ATECEL, 2006).
92
No diagnóstico energético do setor industrial do polo gesseiro efetuado pela ATECEL (2006)
a energia elétrica, pela sua abrangência, participa de todas as etapas da cadeia produtiva do
gesso, porém a sua contribuição no consumo total energético é de apenas 3%.
A lenha é a maior fonte de energia consumida no polo gesseiro e responsável pelo
desmatamento da região provocando problemas ambientais. O consumo de lenha representa
73% do total do consumo energético.
O óleo diesel é um combustível derivado do petróleo, com odor forte e característico. É um
óleo combustível leve, muito utilizado nas mineradoras do polo gesseiro. Representa 5% do
consumo energético da cadeia produtiva.
O coque é um sub-produto do petróleo que resulta do processo de craqueamento de óleos
residuais pesados (coqueamento), muito utilizado nas calcinadoras do PGA representando
10% do consumo energético total. É importado do Canadá e possui alto teor de enxofre.
O óleo BPF (ou de baixo ponto de fluidez) é um combustível derivado do petróleo, também
chamado óleo combustível pesado ou óleo combustível residual. É apropriado para produzir
calor em fornos e caldeiras destinados à geração de energia térmica. O consumo de óleo BPF
no PGA representa 8% do consumo energético total.
Tabela 4.2 - Consumo energético mensal do polo gesseiro por fonte de energia e setor produtivo.
CONSUMO ENERGÉTICO MENSAL DO POLO GESSEIRO
Fontes de energia Consumo (%) Setores produtivos
Eletricidade 3% Toda cadeia produtiva
Lenha 73% Calcinação
Óleo diesel 5% Mineração e calcinação
Coque 10% Calcinação
Óleo BPF 8% Calcinação
Óleo residual 1% Calcinação
Fonte: ATECEL (2006).
93
As fontes de energia utilizadas no PGA segundo os setores produtivos (ver Tabela 4.2) são:
a) Na mineração utiliza-se a energia elétrica e o óleo diesel.
b) Na calcinação utiliza-se a lenha, óleo diesel, óleo BPF, eletricidade, coque, óleo residual e
casca de babaçu. É a etapa que apresenta maior consumo de energia. Na fabricação do gesso
alfa o consumo energético é em média três vezes maior que na produção do gesso tipo beta. A
lenha é a fonte de energia predominante na calcinação.
c) Na fabricação de pré-moldados, a fonte de energia utilizada é a elétrica, para o processo de
mistura da água e do gesso. Outra fonte é o óleo BPF que algumas fábricas utilizam na estufa
para secagem.
Em relação aos custos, referentes ao consumo energético, das empresas do polo gesseiro para
a produção de energia térmica, o SINDUSGESSO (2014) apresenta na Tabela 4.3 abaixo a
necessidade e custos energéticos para a produção de 1 tonelada de gesso:
Tabela 4.3 – Necessidade e custos de energéticos para a produção de 1 tonelada de gesso.
Fonte: SINDUSGESSO (2014).
Verifica-se pela tabela acima que a fonte energética que proporciona menor custo é a lenha.
Esta fonte é responsável pela produção de energia térmica e bastante utilizada no setor de
calcinação. O polo gesseiro responde pelo maior consumo de lenha entre as indústrias
pernambucanas. Em virtude dos custos, as pequenas empresas utilizam 100% de lenha.
94
4.2.4 Estatísticas Produtivas da Gipsita e do Gesso
O setor gesseiro é o principal segmento da economia da região, o incremento em novas
tecnologias e a crescente tendência de utilização do gesso em diversas áreas da construção
civil, tem aumentado a produção tornando o segmento uma grande oportunidade de
desenvolvimento. A Tabela 4.4 a seguir, apresenta a evolução da produção de gipsita/gesso
no Brasil e em Pernambuco, além de mostrar o percentual da participação de Pernambuco na
produção nacional. Apesar do evidente crescimento do polo econômico nas últimas décadas, o
SINDUSGESSO (2012) destaca que há limitações para sua expansão, principalmente no que
se refere às condições logísticas.
Tabela 4.4 - Evolução da produção de gipsita no Brasil e em Pernambuco.
EVOLUÇÃO DA PRODUÇÃO DE GIPSITA NO BRASIL E EM PERNAMBUCO 2003-2013
ANOS 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013
Brasil (BR) 1592 1475 1582 1748 1923 2187 2348 2750 3229 3750 3330
Pernambuco (PE) 1393 1313 1414 1561 1712 2006 2178 2613 2954 3360 2917
% PE/BR 87,5 89,0 89,4 89,3 89,0 91,7 92,8 95,0 91,5 89,6 87,6
Fonte: DNPM (2014). (Elaboração do Autor).
4.2.5 Perspectivas do polo com o advento da Ferrovia
A extração da gipsita e o beneficiamento do gesso e seus derivados é a base da economia local
da região do Araripe e a causa do seu desenvolvimento recente. Este trabalho procura
investigar, dentro da ótica dos stakeholders da região e especialistas da área de transportes, se
a Ferrovia Transnordestina irá estimular a exportação dos produtos dessa região. A falta de
uma logística eficiente impede a competitividade do gesso no mercado internacional em
relação aos concorrentes localizados no exterior. A ferrovia vem reforçar as vantagens da
exportação ampliando significativamente a presença do gesso pernambucano no mercado
internacional. A evolução dessa atividade estimula outras atividades que reforçam o
crescimento da região do polo gesseiro.
95
De acordo com Cunha (2010), caso a ferrovia seja implantada, o valor da tonelada para
exportação que hoje custa na faixa de US$ 25, poderia ter uma redução de quase 50%
passando a custar entre 12 e 15 dólares por tonelada o que permitiria melhores condições de
competitividade no mercado nacional e internacional.
Segundo o SINDUSGESSO (2014), através da Ferrovia Transnordestina, o polo gesseiro
poderá ter maior acesso ao mercado consumidor, seja ele interno e externo. Em contrapartida,
consideram como ameaça a possibilidade de migração das indústrias calcinadoras para outros
locais.
4.2.6 Diagnóstico logístico do Polo Gesseiro
Atualmente a forma de transporte utilizada para o escoamento e produção da gipsita e gesso é
por caminhões. Segundo o Sindusgesso (2012a - APL Mineral), os valores por tonelada
transportada variam em função da distância e da sazonalidade. O transporte de gesso agrícola
e da gipsita in natura, produtos de menor valor agregado, chega a ser até 3 vezes mais caro em
virtude da falta de modalidade de transporte, haja vista que esses produtos são
comercializados em grandes volumes e uma boa alternativa seria por ferrovia, pela
possibilidade de redução nos fretes.
Para atingir outros mercados, o polo tem como principais eixos de ligações as seguintes
rodovias:
a) Em direção ao norte (Ceará, Rio Grande do Norte e Maranhão) a principal rodovia é a
PE-70;
b) Em direção ao sul (Bahia, Minas Gerais, Rio de Janeiro e São Paulo) a BR 122;
c) Em direção à capital pernambucana as BR 316 e BR 232.
Hoje, sem a ferrovia, os empresários das indústrias do gesso têm de vencer mais de 800
quilômetros de rodovia para efetuar o transporte de suas produções às regiões metropolitanas
do nordeste e quase 3 mil quilômetros para as capitais da região sudeste, onde o estado de São
Paulo representa o seu principal consumidor. Neste cenário, segundo o presidente do
96
SINDUSGESSO, o custo de transporte acaba pesando demais no bolso dos produtores, que
perdem competitividade (MAWAKDIYE, 2012).
97
5 METODOLOGIA DE PESQUISA
5.1 ESTUDO DE CASO
A Ferrovia Transnordestina de acordo com o seu projeto, irá atravessar todo o estado de
Pernambuco. Terá inicio em Eliseu Martins no Piauí, até Salgueiro (PE). A partir de
Salgueiro, poderá seguir até ao Porto de Pecém (CE) ou ao Porto de Suape (PE). Observa-se
que seguindo para Suape, a ferrovia atravessará todo o estado de Pernambuco, percorrerá do
sertão ao litoral, de oeste a leste, abrangendo diretamente 36 municípios pernambucanos. De
acordo com os estudos de viabilidade econômica efetuados pela TLSA e interesse do Governo
de Pernambuco, apenas o Ramal do Gesso é fato concreto dentro do estado pernambucano.
Diante dessa condição, esse estudo procurou detectar os possíveis impactos que esta ferrovia
poderá provocar no polo gesseiro, investigar o que os atores locais esperam dela, descobrir
como eles estão se preparando para a chegada dessa ferrovia, conforme descrito na
caracterização do problema, e que poderá recusar ou refutar as hipóteses levantadas neste
trabalho. Por não ter um empreendimento ferroviário análogo que pudesse fazer um estudo
comparativo, este trabalho efetuou um levantamento de expectativas através dos stakeholders
envolvidos direta ou indiretamente com o projeto. Para um melhor entendimento da pesquisa
de campo, ficaram definidos três tipos de stakeholders estratificados em:
a) Empresários – Proprietários, diretores ou gerentes, responsáveis por empresas
localizadas nos municípios do polo gesseiro, elementos primordiais envolvidos no
APL do gesso. Indivíduos que, acredita-se, poderão perceber as possíveis
externalidades, provocadas pela implantação da ferrovia Transnordestina;
b) Sociedade Civil - refere-se à população dos municípios do polo gesseiro dependente
direta ou indiretamente do APL do gesso. A pesquisa foi direcionada aleatoriamente
aos elementos da área política, educacional e comercial, possíveis formadores de
opinião de cada município do APL do gesso;
c) Especialistas – Intelectuais e estudiosos dos setores de transportes, economia e áreas
afins, bem como representantes de órgãos, empresas e consultorias dos setores de
98
economia, transportes, construção civil e mineral, localizados e estabelecidos na
Região Metropolitana do Recife.
5.1.1 Pesquisa de Campo
A pesquisa de campo realizada buscou a observação de fatos e fenômenos existentes na
realidade da região, efetuou a coleta dos dados sem influenciar o ambiente. Foram utilizados
questionários com linguagem simples e direta, sendo realizados por dois entrevistadores do
curso de estatística.
Para a coleta dos dados fez-se uso do método de pesquisa survey, com aplicação de
questionários junto aos stakeholders. A pesquisa survey, trata-se de uma pesquisa de opinião
pública que permite realizar levantamento em condições controladas a partir de amostras
selecionadas ao acaso ou em função de características particulares. É um método de coleta de
dados ou informações sobre características, ações e opiniões de um determinado grupo de
pessoas (FREITAS et. al., 2000).
No método survey os dados possuem caráter quantitativos passíveis de análise e de
generalizações, que possa descrever ou explicar grupos e pessoas no próprio ambiente.
Atualmente, esse método é utilizado em economia, política, marketing, meio ambiente, saúde,
ciências sociais e nas mais diversas áreas do conhecimento. A coleta de dados é feita por meio
de questionários estruturados através de entrevistas pessoais ou por telefone; enviados pelo
correio ou fazendo o uso da internet com o envio de e-mails.
99
5.2 MÉTODO DA PESQUISA
5.2.1. Tipo de Pesquisa
A pesquisa, quanto à natureza, foi classificada como uma Pesquisa Descritiva Quantitativa,
pois procurou mensurar estatisticamente as opiniões, atitudes e preferências dos stakeholders
entrevistados, traduzindo em números e percentuais estas opiniões, classificando e analisando
os dados coletados. Consideramos também a ocorrência de uma Pesquisa Qualitativa, pois na
aplicação dos questionários, foi necessário entender detalhadamente as razões das ações ou
dos pensamentos dos stakeholders e desenvolver e aprimorar as ideias sobre o assunto
analisado.
5.2.2. Universo da Pesquisa
O universo desta pesquisa foi composto por stakeholders pré-estabelecidos, que direta ou
indiretamente estão voltados ou envolvidos para o tema deste trabalho: área de transportes,
economia e polo gesseiro.
O espaço geográfico utilizado para o levantamento dos dados em relação aos stakeholders foi:
a) Para os estratos Empresários e Sociedade Civil, adotou-se o Polo Gesseiro do Araripe,
formado pelos municípios de Araripina, Bodocó, Ipubi, Ouricuri e Trindade, localizados no
extremo oeste de Pernambuco, a 700 km da capital. b) Quanto ao estrato Especialistas, a
referência espacial adotada foi a Região Metropolitana do Recife, local que absorve a
existência das Universidades, órgãos públicos e empresas de consultorias.
Como Especialistas foram considerados docentes da Universidade Federal de Pernambuco,
lotados nas áreas de engenharia de transportes, economia e áreas afins; diretores de órgãos e
de empresas de consultorias da área econômica da capital; secretários e diretores de
secretarias e órgãos do governo do estado de Pernambuco; diretores, engenheiros e
100
representantes de empresas públicas e privadas do modo ferroviário, entre outros, conforme
apresentado no Quadro 5.1.
Quadro 5.1 – Representação do estrato Especialistas.
ESPECIALISTAS
Empresas / Órgãos CARGO/FUNÇÃO Entrevistados
UFPE - Universidade Federal de Pernambuco Docentes 2
RFFSA - Rede Ferroviária Federal S/A Chefe de Operações da SR-1 1
TLSA - Transnordestina Logística S/A Coordenadores Comercial, Operacional e de
Trafego; Supervisores. 5
SINDUSGESSO / ASSOGESSO Presidentes 2
ITEP - Instituto de Tecnologia de Pernambuco Gestor e Pesquisador 2
SDEC/PE - Secretaria de Desenvolvimento Econômico
de Pernambuco Gerente 1
DNPM - Departamento Nacional de Produção Mineral Geólogo 1
CREA - Conselho Regional de Engenharia e
Arquitetura Gerente Regional 1
CNO - Construtora Norberto Odebrecht Engenheiro 1
Consultorias das áreas de economia e transportes Diretores, Engenheiro 4
TOTAL DE ENTREVISTADOS
20
Fonte: Elaboração do Autor.
O estrato Empresários foi formado por proprietários, diretores, gerentes e engenheiros das
empresas localizadas nos municípios de Trindade, Ouricuri, Ipubi e Araripina. As empresas
entrevistadas poderiam explorar os setores de mineração ou calcinação ou fábrica de pré-
moldados ou ambos (Gráfico 5.1).
Gráfico 5.1 - Percentual de Empresários do polo gesseiro entrevistados por Município.
Fonte: Elaboração do Autor
101
A distribuição do estrato Empresários que foram entrevistados, de acordo com o ramo de
atividade, estão representados na Tabela 5.1 abaixo.
Tabela 5.1 – Distribuição de empresários entrevistados por ramo de atividade.
RAMO DE
ATIVIDADE Mineração Calcinadoras
Fábrica de Pré-moldados
Mineração e Calcinadoras
Calcinadoras e Pré-moldados
Mineração + Calcinadoras + Pré-moldados
TOTAL
Quantidade 3 12 5 1 21 7 49
% 6,1 24,5 10,2 2,0 42,9 14,3 100,0
Fonte: Elaboração do Autor.
O estrato Sociedade Civil representado no Quadro 5.2, foi composto por pessoas residentes ou
atuantes nos municípios de Trindade e Araripina. Estas pessoas foram estratificadas em áreas
estratégicas e formadoras de opinião, a exemplo da área, política, educacional, comercial,
hospedagem, saúde, entre outras. Para a realização da pesquisa, foram escolhidos os
municípios de Trindade e Araripina, por serem os municípios possuidores de maiores
quantidades de empresas do ramo do gesso.
Quadro 5.2 - Representação do estrato Sociedade Civil.
SOCIEDADE CIVIL (POPULAÇÃO) sendo 32 de Araripina e 21 de Trindade
ÁREA ÓRGÃO/EMPRESA CARGO/FUNÇÃO Entrevistados
1. Política Prefeituras, Secretarias e Câmaras
Municipais.
Vice-prefeito (1), Presidente de Câmara (1),
Vereadores (3), assessores de comunicação (2),
Secretários (2), Chefe de Gabinete (1), Chefe da
Guarda Municipal (1), Bibliotecário (1)
12
2. Educacional Faculdades, SENAI, SEBRAE, Centro
Tecnológico, Escolas Públicas e Privadas,
Pesquisador (1), Gestor Escolar (4), Docentes (5)
Coordenador Pedagógico (2), Secretária (1), Estudante
de extensão (1)
14
3. Comercial Supermercados, Armazém de Construção,
Oficinas Metalúrgicas, Farmácias, Posto
de Gasolina, Comércio em geral.
Proprietários (7), Gerentes (5)
12
4. Hotelaria e
Alimentação
Restaurantes, Hotéis e Pousadas. Proprietários (2), Gerentes (2)
4
5. Saúde Unidade Mista de saúde Enfermeiro chefe 1
6. Outras CREA, SEBRAE, CDL, IPA, ITEP,
Igreja, Emissoras de rádio.
Pesquisadores (2), Analistas (3), Fiscais (2),Padre (1),
Radialistas (2), 10
TOTAL 53
Fonte: Elaboração do Autor
102
5.2.3. Procedimentos de Coleta de dados
A pesquisa junto aos empresários e sociedade civil foi efetuada em duas etapas. A primeira
etapa foi realizada no período de 30 de novembro a 02 de dezembro de 2012. Nesta etapa foi
efetuado um mapeamento da região a ser estudada, analisadas as possíveis barreiras para a
concretização da pesquisa. Foram aplicados alguns questionários-testes que atenderam a
expectativa inicial.
Em virtude das possíveis dificuldades detectadas (deslocamento em virtude das distâncias
entre as empresas e pouca receptividade por parte dos empresários), adotou-se o método de
pesquisa survey com a utilização de e-mails, apenas direcionados para os empresários. Na
aplicação desse método foram adotados os seguintes procedimentos: a) Fazer um
levantamento das empresas do ramo gesseiro, através do Sindusgesso, Assogesso e pesquisa
pela internet; b) Efetuar contatos telefônicos com as empresas pesquisadas para saber os
endereços eletrônicos dos possíveis respondentes; c) Enviar o questionário por e-mail e
aguardar resposta. Como poucos empresários responderam ao questionário, deu-se
prosseguimento à segunda etapa.
A segunda etapa foi realizada no período de 20 a 25 de maio de 2013, durante os horários das
8 às 17h, nos municípios de Trindade, Ipubi e Araripina, onde um pesquisador efetuava a
pesquisa com os empresários locais, deslocando-se por veículo entre as mineradoras e fábricas
(calcinação e pré-moldados) localizadas na zona rural, no Distrito Industrial de Araripina e ao
longo da BR-316 e das rodovias PE-576 e PE-630. Neste mesmo período, o outro pesquisador
efetuava a pesquisa junto à população previamente estratificada, localizada nos centros dos
municípios de Trindade e Araripina. Nesta etapa também foi utilizado o método de pesquisa
survey através de entrevistas pessoais.
Em relação aos Especialistas a pesquisa foi efetuada através de entrevistas pessoais agendadas
previamente e por envio de e-mails, após prévio contato telefônico, para aqueles que tinham
uma agenda mais ocupada. Lembramos que os especialistas entrevistados encontravam-se na
região metropolitana da capital pernambucana.
103
5.2.4 Plano Amostral
Para garantir que uma determinada amostra seja representativa dentro de um universo
pesquisado com certo nível de confiança e dentro de um erro amostral controlado, faz-se uso
das técnicas de amostragem. Diante dessa assertiva, apresenta-se a seguir, o plano amostral
adotado na pesquisa.
A amostragem foi estratificada de acordo com cada stakeholder. Utilizou-se o método de
amostra aleatória simples em cada estrato para um nível de confiança de 90% admitindo-se
um erro amostral de 10%. Para a composição do tamanho da amostra adotou-se a fórmula
abaixo, usada para a “proporção populacional”:
(1)
Onde:
n - é o tamanho da amostra
Z - é o valor crítico que corresponde ao nível de confiança desejado
p - proporção populacional de indivíduos que pertencem a categoria estudada
q - proporção populacional de indivíduos que não pertencem a categoria estudada
e - erro máximo permitido
Durante a pesquisa de campo foram encontrados alguns problemas na coleta de dados:
a) Em relação aos Empresários, além da dificuldade de acesso às minas e indústrias da região,
foi difícil convencer os proprietários dessas empresas, que a visita se tratava de uma pesquisa
de cunho científico, não havendo intenções fiscalizadoras e/ou punitivas. Outro empecilho foi
conciliar a agenda dos empresários com o período da pesquisa.
b) Em relação à Sociedade Civil (população local), procurou-se entrevistar as pessoas que
indiretamente seriam impactados pela existência da nova ferrovia em seus negócios como:
comércio, hotéis, restaurantes, etc., e no município, área política, educacional, entre outras,
buscando detectar o seu ponto de vista em relação a esta infraestrutura.
c) Além da impossibilidade de conciliar a agenda dos Especialistas em virtude de viagens e
outros fatores, muitos alegaram estar desatualizados em relação ao tema proposto.
104
Devido a esses problemas, foi efetuado o cálculo amostral a partir da amostra obtida, sem
perda da confiabilidade e margem do erro amostral, para quantificar a amostra estimada,
fazendo uso da proporção da amostra obtida por cada stakeholder (SIQUEIRA CAMPOS,
2013).
Assim, na Tabela 5.2 apresenta-se a amostra obtida na pesquisa de campo e a amostra
estimada, como também o percentual representativo da amostra obtida em relação à amostra
estimada, com a aplicação da fórmula (1), utilizada no cálculo amostral on line disponível em
Siqueira Campos (2013) (Ver Apêndices A, B e C).
Tabela 5.2 - Tamanho das Amostras obtidas e Amostras estimadas.
ESTRATOS
Amostra Obtida na pesquisa
Nível de Confiança
Erro Amostral
Proporção (p) da amostra obtida
por estrato
Amostra Estimada
Percentual da amostra
obtida
Empresários 49 90% 10% 40,2% 66 74,2
Especialistas 20 90% 10% 16,4% 38 52,6
Sociedade Civil 53 90% 10% 43,4% 67 79,1
TOTAL 122 - - 100% 171 71,3
Fonte: Elaboração do Autor.
Observa-se na Tabela 5.2 acima, que não foi obtido o tamanho de amostra estimada, calculado
pelo método da proporção, em sua totalidade. Porém, a amostra obtida torna-se representativa
através do percentual relacionado em cada estrato: 74,2% da amostra para os empresários;
mais da metade da amostra (52,6%) relacionada aos especialistas e quase 80% da amostra
relacionada à Sociedade civil.
5.2.5 Procedimentos de Análise dos dados
Os questionários foram tabulados utilizando a ferramenta estatística Statistical Package for
Social Sciences (SPSS) versão 17.0, usado para calcular as estatísticas descritiva, inferencial e
de correlação.
105
O SPSS é um software apropriado para a elaboração de análises estatísticas de dados. O seu
uso permite gerar relatórios tabulados, gráficos e dispersões de distribuições utilizadas, na
realização de análises descritivas e de correlação entre variáveis.
5.2.6 Instrumento de Coleta de Dados
Foram confeccionados três tipos de questionários estruturados não disfarçados, onde as
perguntas-bases estavam inseridas em cada tipo, diferenciando apenas no quantitativo de
questões de acordo com os stakeholders definidos, para atender os objetivos da pesquisa.
As questões dos questionários aplicados foram claras, objetivas e precisas, com uma
linguagem acessível, sem a necessidade de realização de cálculos. Foram utilizadas questões
do tipo fechadas, abertas, semi-abertas, dicotômicas e por ordem de preferência. Este último
tipo de questão, buscou obter a possibilidade de escolha por ordem de interesse e perspectiva
dos entrevistados.
O questionário do tipo 1 foi formado por quatro questões e aplicado junto ao estrato
Sociedade civil. Essas quatro questões formam a base do questionário e fazem parte dos
demais tipos. O questionário tipo 2, além das quatro questões do tipo 1, teve o acréscimo da
quinta questão e foi voltado para os Especialistas. Para o estrato Empresários, além das cinco
questões do questionário do tipo 2, acrescentou-se mais quatro questões específicas e
direcionadas a estes. (Ver Apêndices D, E e F).
Validação dos Questionários
O questionário é um instrumento quantitativo que metrifica a qualidade de um produto ou
processo e utiliza-se de técnicas estatísticas para chegar a conclusões. Para ter certeza que um
determinado questionário seja preciso e eficiente, utilizam-se duas características de medição
que devem ser consideradas no seu desenvolvimento: a validade e a confiabilidade. Para
estimar a confiabilidade e a validade dos questionários aplicados (isto é, a avaliação da
consistência interna dos questionários), utilizamos a estatística denominada Coeficiente Alfa
106
de Cronbach. Em outras palavras, este coeficiente mede a correlação entre as respostas e a
análise do perfil das respostas dadas pelos respondentes em um questionário (HORA et al.,
2010).
Para o cálculo do Coeficiente α de Cronbach é necessário que todos os itens do questionário
utilizem a mesma escala de medição. Ele é calculado a partir do somatório da variância dos
itens individuais e da soma das variâncias entre os itens, utilizando a seguinte equação:
(2)
Onde:
k corresponde ao número de itens (perguntas) do questionário;
S i 2
corresponde à variância de cada item;
S t 2
corresponde à variância total do questionário (soma das variâncias dos avaliadores).
A variação do valor de α pode ser de 0 a 1 e quanto mais próximo de 1, maior confiabilidade
entre os indicadores. A classificação da confiabilidade para análise do coeficiente alfa de
Cronbach através das escalas, encontra-se apresentadas na Tabela 5.3.
Tabela 5.3 - Classificação da Confiabilidade a partir do Coeficiente α de Cronbach.
Confiabilidade Muito baixa Baixa Moderada Alta Muito alta Valor de α α ≤ 0,30 0,30< α ≤0,60 0,60< α ≤0,75 0,75< α ≤0,90 α>0,90
Fonte: Hora et. al. (2010).
Comentários dos Questionários da Pesquisa
Com o intuito de validar os questionários aplicados, utilizamos o Coeficiente Alfa de
Cronbach em três perguntas comuns aos stakeholders. Essas perguntas foram avaliadas
usando o mesmo parâmetro ou escala, requisito exigido para avaliação de validade e
confiabilidade da consistência interna do questionário.
As questões 1, 3 e 4 foram respondidas através de notas variando de 1 a 10 e tabuladas através
de intervalos dessas notas, representando atributos conforme solicitados na respectiva
pergunta.
107
Assim, utilizando o SPSS tiveram-se como resultados de validação dos questionários
aplicados para este trabalho, os seguintes percentuais, comparados com os valores estimados
na Tabela 5.3 de confiabilidade:
a) Para a primeira questão, o percentual encontrado foi igual a 0,78, o que representa
confiabilidade alta, de acordo com a Tabela 5.3;
b) Para a terceira questão, o coeficiente de Cronbach foi igual a 0,66, uma confiabilidade
considerada moderada;
c) A quarta questão, teve um percentual alto de confiabilidade (α = 0,84) dentro da escala de
classificação de Cronbach.
Portanto, houve segurança em efetuar as inferências e medições necessárias dentro da análise
estatística empregada na pesquisa.
5.2.7 Explicação do Questionário
As duas primeiras questões do questionário apresentam a situação atual do polo gesseiro: os
entraves impeditivos do seu desenvolvimento vistos pelos stakeholders, em seguida as
sugestões de melhoramento que eles veem como primordiais.
A questão número 1, buscou investigar sob a ótica de cada stakeholder, os principais
problemas que inviabilizam o desenvolvimento do APL do gesso. Previamente foram
elencados 9 (nove) possíveis problemas e solicitados quais outros existiam, na opinião dos
entrevistados, além dos que foram elencados. A cada problema apresentado os entrevistados
atribuiriam uma nota na escala de 1 a 10, onde a maior nota estava relacionada à maior
gravidade do problema.
Na questão nº 2 os entrevistados opinavam livremente apontando as suas necessidades, que
possivelmente melhorariam a situação do setor gesseiro, bem como a região como um todo.
As questões nº 3 e 4 estimulavam aos stakeholders a emitirem suas opiniões considerando a
Ferrovia Transnordestina já implantada, formando assim um cenário futuro. Tal qual a
108
primeira questão, as questões 3 e 4 eram representadas por notas de 1 a 10. A terceira questão
buscava detectar a opinião dos entrevistados em relação aos setores produtivos da região,
onde a maior nota representava que “ocorreria um crescimento expressivo” e a menor nota, o
contrário. Analogamente, na questão 4 as notas 1 a 10, representavam uma menor ou maior
“importância” que a ferrovia significava para os indicadores sociais e estruturais da região.
5.3 ESTRUTURA DA APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS
5.3.1 Apresentação das análises descritiva e inferencial
Para cada questão foram efetuados dois tipos de análise: a) Análise descritiva, com o objetivo
de demonstrar e apresentar os resultados coletados na pesquisa; b) Análise inferencial para
justificar o comportamento da população através da amostra coletada.
Na análise descritiva, foi efetuada a representação gráfica e percentual de cada questão; e
baseado no que foi coletado e observado durante as entrevistas, foi feita a análise registrando
os sentimentos de cada stakeholders.
Na análise inferencial, foi utilizada a Análise de Variância de um fator (One way ANOVA).
Este tipo de análise tem por objetivo verificar se existe uma diferença significativa entre as
médias e se os fatores exercem influência em alguma variável dependente ou de interesse.
A análise de variância (ANOVA) constitui-se de um conjunto de técnicas estatísticas para
apontar fatores (variáveis independentes) que produzem mudanças sistemáticas em alguma
variável de interesse (variável dependente). O principal objetivo da ANOVA é descobrir se
um grupo é, estatisticamente, diferente do outro, ou não. A partir daí, se a hipótese nula
(médias iguais) é rejeitada a um determinado nível de significância, conclui-se que o fator
considerado tem influência sobre a variável em estudo. Em outras palavras, sabe-se então que
existe, pelo menos, uma das médias de um grupo que difere de outra (GUERRA e DONAIRE,
1991).
109
A análise de variância assume que as observações são independentes e normalmente
distribuídas com a mesma variância para cada tratamento. Assim, para o cálculo da ANOVA
de um fator, é necessário atender os seguintes pressupostos:
a) Os dados devem ser provenientes de amostras aleatórias simples e independentes (não
são emparelhados);
b) As populações devem ter distribuições que são aproximadamente normais;
c) As variâncias devem ter a propriedade da homoscedasticidade, ou seja, a variância de
cada amostra é assumidamente igual.
Caso uma dessas condições não seja atendida, utiliza-se um teste alternativo não-paramétrico
equivalente a ANOVA de um fator. Neste trabalho foi adotado o Teste H de Kruskall-Wallis,
que pode ser usado para comparar várias amostras independentes.
Após a realização da análise de variância (ANOVA), ou no caso não-paramétrico o teste H de
Kruskall-Wallis, é necessário efetuar testes post hoc (ou testes de localização) para identificar
quais dos pares de grupos diferem, pois estas análises não dizem dentre as médias dos fatores,
qual média é diferente. No estudo em questão, foi efetuado o método da Diferença Mínima
Significativa (DMS) através do Teste de Tukey utilizado para comparação de médias. Este
método permite testar qualquer contraste, sempre, entre duas médias. Ou seja, permite avaliar
a magnitude destas diferenças, através de comparações múltiplas dessas médias.
Para interpretar os resultados, o programa SPSS (utilizado neste trabalho) e demais programas
estatísticos apresentam no final, a probabilidade chamada de p-valor. O p-valor quantifica a
discrepância entre os dados e a hipótese nula. É a probabilidade, sob a hipótese nula H0, da
ocorrência do valor particular observado para a estatística de teste, ou de valores mais
extremos. A probabilidade de significância de um teste mede a força da evidência contra H0,
em uma escala numérica. Um p-valor pequeno indica uma forte justificativa (evidência) para
a rejeição de H0. Ou seja: Se p-valor < α, rejeita-se H0. (SOUZA et. al, 2002).
110
6 ANÁLISE DESCRITIVA E INFERENCIAL DOS RESULTADOS
Conforme descrito na introdução deste trabalho, na concepção da hipótese e na caracterização
do problema, que é verificar o impacto que a ferrovia poderá causar na região do polo, iremos
pesquisar a influência do fator transporte no cenário atual sem a ferrovia e em um possível
cenário futuro com a ferrovia implantada.
Neste capítulo é feita a análise descritiva dos dados pesquisados, representando graficamente
e percentualmente os resultados e, ao mesmo tempo descrita através de uma análise
quantitativa e qualitativa dos dados pesquisados. Em seguida será efetuada uma análise
inferencial das mesmas questões com o objetivo de referendar o que surgiu na análise
descritiva, identificando as relações entre as variáveis das questões e opiniões dos
stakeholders.
6.1 APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS
Inicialmente será apresentada a análise referente às perguntas efetuadas exclusivamente aos
empresários acerca dos custos relacionados aos transportes, aos destinos da produção do polo
e as suas expectativas em relação aos custos considerando a ferrovia em operação.
Em seguida serão analisadas as quatro perguntas comuns aos três stakeholders. Nas duas
primeiras perguntas do questionário aplicado, o objetivo foi identificar a situação atual, onde
os stakeholders diagnosticaram os problemas que enfrentam no polo através de três aspectos
(pouco grave, relevante e crítico) em relação à gravidade dos problemas e apontaram
possíveis soluções segundo o ponto de vista de cada um.
As duas últimas perguntas levaram os stakeholders a um cenário futuro contando com a
Ferrovia Transnordestina em funcionamento e procuraram detectar as expectativas dos
entrevistados em relação ao crescimento econômico do setor na região e ao grau de
importância dos impactos socioeconômicos possíveis de acontecer.
111
6.2 ANÁLISE DOS RESULTADOS DA PESQUISA
6.2.1 Análise Descritiva do Cenário atual do Polo Gesseiro
Na pesquisa efetuada, ficou comprovada que a logística existente na região é toda voltada
para o transporte rodoviário. Todos os empresários entrevistados confirmaram a dependência
do modo rodoviário e lamentam a demora na conclusão da ferrovia. Essa dependência foi
evidenciada no Gráfico 6.1, quando a maioria (47%) informou que os custos médios gastos
com transporte rodoviário atingem mais de cinquenta por cento em relação aos preços de
venda.
Gráfico 6.1 – Custo médio gastos com transportes pelos Empresários do polo gesseiro.
Fonte: Elaboração do Autor.
A maioria dos empresários acredita que com a ferrovia em funcionamento poderá haver
redução nos custos dos transportes tornando o setor competitivo. Espera-se uma economia de
custos na faixa de 15% a 35% em relação ao modo rodoviário. Outra esperança é em relação
à redução dos fretes nos insumos e produtos acabados como: gás natural, diesel, chapas,
motores, etc., na viagem de retorno.
4% 12%
16%
12% 8%
47%
Custo médio (%) gastos com transportes no Polo Gesseiro (2013)
Menos de 10%
De 11 a 20 %
De 21 a 30%
De 31 a 40%
De 41 a 50%
Mais de 50%
112
Durante as entrevistas foram observados alguns comentários efetuados por alguns
empresários: Os mais céticos acreditam que só haverá redução para o transporte do minério
bruto, pois a implantação da ferrovia não viabilizará o transporte do gesso calcinado. Outros
acham que poderão ter aumento nos custos, mas em compensação poderá ter uma maior
demanda com maior lucratividade.
No questionamento aos empresários em relação aos destinos de maiores demandas de sua
produção, merecem destaque as regiões sul-sudeste com uma demanda de 58% em relação ao
total, uma afirmação já destacada durante muito tempo. Com um percentual de 39%, ficou
confirmada a região Sudeste como maior consumidora, onde os estados de São Paulo e Minas
Gerais, com 35% e 33% respectivamente, são os maiores consumidores da produção do polo
gesseiro pernambucano. Porém, nessa pesquisa, surge um fato novo, a região Nordeste com
um percentual de 34%, é a segunda região maior consumidora do produto gesseiro,
demonstrando que o gesso está sendo absorvido pela construção civil local como uma boa
alternativa. Na região nordeste os maiores estados consumidores foram Pernambuco com 20%
e Bahia com 18%.
A seguir, no Gráfico 6.2, apresentamos os principais destinos da produção do polo gesseiro
pernambucano dentro das regiões brasileiras.
Gráfico 6.2 – Regiões de destino da produção do polo gesseiro pernambucano.
Fonte: Elaboração do Autor.
19%
39%
34%
5% 4%
Distribuição da produção do polo gesseiro segundo a
região em 2013.
Sul
Sudeste
Nordeste
Centro-Oeste
Norte
113
Do total de empresas pesquisadas, apenas 4 (quatro) informaram que exportam os seus
produtos para o Paraguai.
6.2.1.1 Análise Descritiva dos problemas do polo na visão dos Empresários
Os principais problemas diagnosticados pelos Empresários dos municípios do polo gesseiro,
estão apresentados no Gráfico 6.3. Neste gráfico, verificou-se a opinião dos empresários em
relação aos problemas encontrados no polo gesseiro classificados através de três aspectos em
relação à gravidade, sendo na análise ordenados segundo os mais críticos. São eles:
a) Impactos ambientais - de acordo com 92% dos empresários os impactos ambientais são
provocados pela industrialização (calcinação) com o uso de coque e óleo BPF; e
desmatamento pela utilização das madeiras da região. Muitas fábricas informais usam lenha
nativa de forma ilegal, visando a redução de custos, provocando desmatamento na região.
Poucas fábricas fazem a destinação correta dos resíduos.
b) Fornecimento de água - 76% das empresas têm dificuldades na obtenção de água de boa
qualidade para beneficiamento industrial. No período de estiagem, algumas fábricas efetuam
compras de carros-pipa.
c) Mão-de-obra qualificada – 67% informam que há carência de mão-de-obra qualificada,
necessária para atuar nas novidades tecnológicas do ramo gesseiro.
Um fator que provoca a escassez da mão-de-obra, visto pelos empresários, é o excesso de
assistencialismo efetuado pelo governo federal através do Bolsa-família.
d) Baixos preços de venda em relação aos custos de produção - 65% dos empresários
informam ter prejuízo na relação preços e custos, tornando a taxa de retorno muito pequena.
Observam que além da ausência de suporte do governo, há ainda a falta de união do
empresariado local.
e) Fonte de energia – 53% informam que há inadequação na matriz energética para atender
as necessidades de beneficiamento da gipsita e seus derivados. Na região ocorre muita
interrupção de energia. É necessário que a atual operadora faça um estudo de demanda de
consumo, criando um ramal específico para as indústrias.
Os demais problemas estão abaixo de 50% em relação à criticidade.
114
Surpreendentemente, o problema de transporte - preocupação levantada pela pesquisa-, na
situação atual, está em segundo plano na opinião dos empresários, pois apenas 39% o
consideraram como problema crítico.
Apesar disso, lembram que a localização do polo encarece o frete, inviabilizando uma melhor
distribuição da produção. Atualmente, conforme descrito pelos empresários, na negociação
das vendas o transporte fica por conta do comprador. Outro fato que torna o item transporte
um problema é a falta sazonal de caminhões durante a safra de grãos da região centro-oeste,
que ocorre geralmente no período de janeiro a fevereiro e no período de agosto a setembro,
aumentando ainda mais o valor do frete na região.
Além dos problemas apresentados na pesquisa, os empresários reclamaram da acentuada
sonegação fiscal por parte de alguns empresários, na região.
Gráfico 6.3 – Principais problemas encontrados no polo gesseiro vistos pelos Empresários.
Fonte: Elaboração do Autor.
6.2.1.2 Análise Descritiva dos problemas do polo na visão da Sociedade civil
Na opinião do estrato Sociedade civil dos municípios do polo gesseiro, conforme verifica-se
no Gráfico 6.4, o problema considerado mais crítico dentro da região é o impacto ambiental,
% % % % % % % % %
Mão-de-obra Recursos Transportes Energia Água Meios deComunicação
Mercado Preços xCustos
ImpactosAmbientais
8
33
29 29
12
41 47
8
4
25 20
33
18 12
18
27 27
4
67
47
39
53
76
41
27
65
92 Principais Problemas (%) do polo gesseiro
na Visão dos Empresários
Pouco grave Relevante Crítico
115
pois 88% dos entrevistados informaram que o problema é devido à utilização de combustão
tóxica pelas fábricas prejudicando a saúde da cidade. A população reclama da poluição
provocada por algumas fábricas, do desmatamento e da degradação do meio ambiente. Há
fábricas quase dentro da cidade. A falta de políticas públicas na fiscalização das indústrias
provoca um aumento nesse impacto.
Outro problema considerado crítico com um percentual de 51% é o fornecimento de água. A
região sofre com a falta de chuva no período da seca. Alguns locais sofrem com a falta de
tratamento da água, além de insuficiente não possui qualidade para consumo. A cidade tem
crescido e as politicas públicas não tem acompanhado esse crescimento.
Para a população, o item mercado é considerado um problema sem gravidade. Cinquenta e
três por cento acreditam que o mercado é bom e competitivo. Na realidade falta organização
no setor.
Fora os problemas elencados na pesquisa, a população pesquisada citou a sonegação fiscal
empresarial que prejudica a arrecadação municipal; falta de segurança pública em face da
prostituição infantil e o uso de drogas; e, falta de divulgação dos produtos do gesso
produzidos na região.
Gráfico 6.4 – Principais problemas encontrados no polo gesseiro vistos pela Sociedade civil.
Fonte: Elaboração do Autor.
% % % % % % % % %
Mão-de-obra Recursos Transportes Energia Água Meios deComunicação
Mercado Preços xCustos
ImpactosAmbientais
32
44
32
28 23
51 53
36
6
36
26 26 30
26 28 28 30
6
32 30
42 42
51
21 19
34
88
Principais problemas (%) do Polo gesseiro na Visão da Sociedade Cvil
Pouco grave Relevante Crítico
116
6.2.1.3 Análise Descritiva dos problemas do polo na visão dos Especialistas
De acordo com a opinião dos Especialistas os problemas mais críticos, representados no
Gráfico 6.5, são:
a) Impactos ambientais - 75% dos entrevistados observam que ocorre forte impacto na
caatinga pelo uso clandestino da madeira para a queima nos fornos. A extração da madeira na
região provocou uma desertificação e já desmatou-se uma área equivalente ao estado de
Alagoas. Outro motivo que causa o impacto ambiental é a falta de destinação dos resíduos.
b) Transportes - 75% dos entrevistados informam que este item provoca custos elevados
devido a existência de apenas um modal: o rodoviário. A falta de um transporte ferroviário
encarece o frete não dando margem a explorar o comercio exterior. O gasto com frete, hoje, é
superior ao preço do gesso.
c) Matriz Energética - 60% dos entrevistados observam que há uma forte dependência do
carvão vegetal e da madeira. É necessário buscar formas alternativas (gasoduto, energia solar
ou eólica) que possam ser utilizadas por um produto de baixo valor agregado, como é o caso
da indústria do gesso.
d) Água - 60% dos entrevistados consideram como grave esse problema, porque o segmento
produtivo exige elevado consumo de água. A transposição do rio São Francisco seria uma boa
alternativa para a região.
e) Preço versus Custos - 50% dos especialistas entrevistados alegam que os custos na
produção são elevados em relação ao preço de venda do produto.
Os demais problemas, em relação à criticidade estão abaixo dos 50%.
Foi observado que na opinião dos especialistas, o problema recursos é considerado relevante,
pois 55% destes, afirmam que falta apenas um planejamento integrado que defina um aporte
de recursos coerente com cada produtor e um planejamento voltado para atrair novos
investidores.
117
Em relação ao Mercado do gesso, 60% dos especialistas classificam-no como pouco grave,
pois o consideram como um mercado consolidado, com demandas bem definidas e em
expansão. Apesar de ser o maior produtor no Brasil, o polo enfrenta forte concorrência,
sobretudo da Espanha. A concorrência com fornecedores estrangeiros tem dificultado uma
maior inserção do produto no mercado internacional, principalmente devido à ineficiente
logística.
Além dos problemas elencados pela pesquisa os especialistas destacaram a falta de
planejamento estratégico e operacional por parte do governo (estadual e/ou federal) para o
desenvolvimento do polo de forma a torná-lo organizado e competitivo. Há falta de
planejamento para o desenvolvimento do País com os respectivos rebatimentos no Estado e
nos municípios, incluindo o polo gesseiro. Destacaram também a sonegação fiscal por parte
de alguns empresários e a falta de inovação tecnológica das indústrias da região.
Gráfico 6.5 – Principais problemas encontrados no polo gesseiro vistos pelos Especialistas.
Fonte: Elaboração do Autor.
% % % % % % % % %
Mão-de-obra Recursos Transportes Energia Água Meios deComunicação
Mercado Preços x Custos ImpactosAmbientais
30 30
15
25
20
50
60
30
15
25
55
10
15
20
35
15 20
10
45
15
75
60 60
15
25
50
75
Principais Problemas (%) do polo gesseiro na Visão dos Especialistas
Pouco grave Relevante Crítico
118
6.2.1.4 Análise Descritiva dos problemas do polo: Visão geral dos três Stakeholders
Na reunião dos dados, os problemas mais críticos apontados pelos três stakeholders, estão
relacionados abaixo e representados no Gráfico 6.6:
a) Impactos ambientais - é a opinião unânime entre os stakeholders, pois 87,7%
consideram-no como um grande problema existente na região do polo gesseiro;
b) O item água obteve uma grande representação pelos três stakeholders, pois 62,3%
dos entrevistados elegeram esse item como problema grave ao desenvolvimento;
c) Os itens Energia e Preços versus custos obtiveram, respectivamente, o percentual de
49,2% dentre os entrevistados como sendo problemas críticos para o polo;
d) Qualificação da mão-de-obra - foi classificada na quarta colocação entre os
problemas mais graves na opinião de 48,4% dos entrevistados;
e) Transportes, objeto deste trabalho, surpreendentemente ocupou a quinta posição
dentre os problemas, pois atingiu o percentual de apenas 45,9% na opinião dos três
estratos de entrevistados.
Gráfico 6.6 – Percentual dos problemas críticos do polo gesseiro na visão dos três stakeholders.
Fonte: Elaboração do Autor.
É importante observar que dentre os stakeholders, apenas os especialistas, em virtude de seus
estudos e expertise relacionados ao tema, consideram o fator “transportes” como um grave
problema. Isso é uma hipótese a ser testada através da análise inferencial.
0 10 20 30 40 50 60 70 80 90
Impactos Ambientais
Água
Preço versus Custos
Energia
Mão-de-obra
Transportes
Recursos
Meios de Comunicação
Mercado
87,7
62,3
49,2
49,2
48,4
45,9
34,4
27,9
23
Problemas críticos do Polo Gesseiro na visão dos três stakeholders (%)
119
6.2.2 Análise Inferencial dos Problemas do Polo
O objetivo da primeira questão foi verificar se o transporte é considerado o maior problema
existente no polo de acordo com a visão de cada stakeholder. Neste trabalho foi utilizado o
modelo da inferência estatística, denominado Análise de Variância de um fator e caso não seja
possível por não atender os pressupostos requisitados, a análise foi efetuada pelo Teste H de
Kruskall-Wallis.
Assim, as hipóteses estabelecidas (nula e alternativa), ao nível de significância α = 0,10
foram:
H0: Não existe diferença significativa de opinião sobre o transporte ser um problema no polo
gesseiro;
H1: Existe diferença significativa de opinião sobre o transporte ser um problema no polo
gesseiro.
O primeiro requisito para aplicação da ANOVA é atendido, pois a amostra é aleatória e
independente. Para verificar se a questão possui distribuição normal, foi aplicado o teste de
normalidade, usando o Teste de Kolmogorov – Smirnov, utilizando a ferramenta SPSS.
Assim, o teste de normalidade com as hipóteses: Hn0- a distribuição é normal; Hn1- a
distribuição não é normal; tem-se como resultado o apresentado no Quadro 6.1 abaixo.
Quadro 6.1 – Teste de Normalidade de Kolmogorov-Smirnov para o problema transporte.
Verificado que o seu p-valor é menor que α = 0,10, conclui-se que a hipótese de normalidade
da distribuição da variável transporte é rejeitada. Ou seja, a distribuição não é normal. Assim
não se aplica a ANOVA.
120
Como as amostras dos três stakeholders não seguem uma distribuição normal faz-se
necessário o uso de um teste menos sensível à normalidade dos dados em substituição à
ANOVA: o teste H de Kruskall-Wallis.
Assim, temos abaixo o Quadro 6.2 que representa o teste H de Kruskall-Wallis:
Quadro 6.2 – Teste H de Kruskall-Wallis para o problema transporte
O p-valor, apresentado no quadro acima, indica que a hipótese nula H0, para a variável
transporte deve ser rejeitada, ou seja, existe diferença estatisticamente significativa de opinião
entre os stakeholders, sobre o transporte ser um problema no polo gesseiro.
Conforme apresentado anteriormente, existe diferença de opinião entre os stakeholders,
porém o teste H não identifica qual que difere, assim faz-se uso do teste de Tukey. O
resultado da estatística do teste de Tukey ao nível de significância α = 10%, com utilização do
SPSS, é dado no Quadro 6.3 a seguir:
Quadro 6.3 – Teste de Tukey para o cálculo da Diferença Mínima Significativa (DMS) entre as
médias dos grupos para o problema transporte.
Tukey HSD
(I) Tipo (J) Tipo Diferença
Média (I - J) Desvio P – Valor
Intervalo com 90% de
confiança
Limite inferior
Limite
superior
Empresários Especialistas -1,769 0,692 0,032 -3,20 -0,33
Sociedade Civil 0,578 0,510 0,495 -0,48 1,63
Especialistas Empresários 1,769 0,692 0,032 0,33 3,20
Sociedade Civil 2,347 0,686 0,002 0,92 3,77
Sociedade Civil Empresários -0,578 0,510 0,495 -1,63 0,48
Especialistas -2,347 0,686 0,002 -3,77 -0,92
121
Os valores p-valor em negrito representam os casos em que a diferença entre as médias é
significativa ao nível de α = 0,10. Isto é, quando p-valor é menor que α.
Assim, de acordo com o quadro 6.3 acima, verifica-se que a probabilidade p-valor representa
na comparação entre os estratos, que existe diferença significativa entre duas médias de cada
dois estratos e que, essa DMS ocorre entre o estrato Especialistas e os demais estratos. Com
esse resultado, ficou constatado que o fator transporte é um problema grave existente no polo
gesseiro, sendo mais significante na visão do stakeholder Especialistas.
Conclui-se, no caso da pesquisa, que existe discordância de opinião entre os Especialistas e os
demais stakeholders, no que se refere ao fator transporte. Em outras palavras, os Especialistas,
baseados na teoria e expertise, observam que o problema transporte exerce influência para o
desenvolvimento do polo gesseiro.
6.2.3 Alternativas sugeridas como solução para o Polo Gesseiro
A segunda questão tratava-se de uma questão aberta onde cada entrevistado poderia expressar
a sua opinião livremente, sugerindo soluções voltadas para a região ou para o setor produtivo.
As sugestões apresentadas pelos entrevistados na pergunta: “Em sua opinião, o que precisaria
ser feito para melhorar/otimizar os resultados para a região e para esse setor?” abrangeram
diversas áreas. Tais sugestões são apresentadas a seguir de acordo com cada stakeholder.
6.2.3.1 Alternativas sugeridas pelos Empresários
Os empresários destacaram as seguintes sugestões de acordo com as áreas:
Política: Foi sugerida a presença do poder público no planejamento de políticas públicas de
apoio ao setor gesseiro, através dos investimentos em infraestruturas; investimentos
financeiros governamentais (federal, estadual ou municipal) e também privados.
122
Educacional: a sugestão mais frequente foi a qualificação e capacitação da mão-de-obra
local, através de suprimento de nível técnico satisfatório (mecânica, elétrica, eletrônica,
química, computacional) visando formar profissionais para aplicação e desenvolvimento de
produtos do polo em diversas áreas, além da construção civil.
Foi sugerida também a qualificação dos empresários para melhorar o nível de gestão dos
diretores das empresas do polo, conscientizando-os para uma reorganização do setor com
relação aos preços versus os custos. As empresas de pequeno porte sugerem união em torno
da criação de uma cooperativa para ajudar os pequenos produtores.
Matriz Energética: Há uma preocupação em relação à poluição ambiental. Visando reduzir
essa poluição, os empresários sugerem melhoramento de fonte energética, que seja
sustentável, a exemplo da energia solar ou eólica. Aguardam ações governamentais no sentido
de suprir a região com o gasoduto, gás GLP ou GNC. Solicitam também o tratamento da água
do sub-solo da região.
Fiscalização: Neste quesito, foi sugerida uma política fiscal adequada visando combater a
sonegação fiscal existente, além de mitigar e formalizar a informalidade.
Infraestrutura de transportes: A expectativa é grande em relação à implantação da Ferrovia
Transnordestina, pela capacidade de transporte e principalmente pela redução do custo de
frete. Com a nova ferrovia vislumbram a multimodalidade, com a criação de possíveis rotas
alternativas pelos modais aéreo e hidroviário.
Mercado: Os empresários almejam uma maior abertura de mercado, proporcionada pela ação
do governo e união empresarial. Querem a valorização do gesso e divulgação mais ampla do
polo (reportagens e eventos periódicos). Para ampliar o mercado, sugerem ações de incentivos
pelo governo para desenvolvimento tecnológico da matéria-prima, criando novas
perspectivas.
123
6.2.3.2 Alternativas sugeridas pela Sociedade Civil
De forma semelhante, a sociedade civil sugeriu algumas alternativas nas seguintes áreas:
Política: Segundo as opiniões dos moradores das proximidades do Polo Gesseiro, há
necessidade da participação e investimentos do governo (estadual e municipal) em
infraestruturas, educação e saúde na cidade.
A abertura de linhas de créditos desproporcionais à realidade financeira dos pequenos
empresários, também é um fator negativo destacado pela população.
Educacional: Em relação à qualificação dos profissionais da cidade, a população deseja a
criações de novas instituições e de investimentos nas já existentes nos cursos de capacitações
técnicas e profissionalizantes (ITEP, SENAI, SEBRAE, etc.). Outra recomendação foi a
criação de cursos necessários para atender o mercado local (arquitetura, engenharias, gestão
ambiental) para que haja valorização e qualificação da mão-de-obra dos profissionais do
gesso.
Matriz Energética: A população deseja uma matriz energética que não prejudique o meio
ambiente, propõe o uso de gasoduto com utilização de gás GNC ou GLP. Precisa de adutora
para a água.
Fiscalização: Com base nas pesquisas com os moradores das proximidades do polo gesseiro,
foram notados vários descontentamentos em relação à fiscalização nas fábricas, por parte
principalmente da Secretária da Fazenda. Pois os moradores acreditam que com a fiscalização
adequada nas fábricas, a valorização do gesso melhorará e diminuirá a evasão fiscal que vem
ocorrendo constantemente.
Infraestrutura de transportes: De acordo com a opinião da população do polo gesseiro, em
relação à infraestrutura de transportes é necessário ampliar e manter a malha rodoviária
existente. Uma boa parte deseja a implantação da ferrovia, desde que ligue os entrepostos às
indústrias e possibilite o comércio exterior. A outra parte acredita que a ferrovia servirá
apenas para atender mais o sul do Piauí devido ao ferro e a soja.
124
Marketing e divulgação do polo: A população vê a necessidade de mais pesquisa
relacionada com a exploração da gipsita na região e os impactos causados no ser humano em
relação à saúde. Precisa de mais divulgação do polo, pois de acordo com o Clube Diretores
Lojistas (CDL) da região, são gerados aproximadamente 65 milhões de reais na realização
anual da Expogesso.
Mercado: A população vê a necessidade de melhorar a união entre as empresas para que
ocorra a organização do setor como uma categoria única e forte, pois deveria comandar o
mercado, mas infelizmente quem manda no mercado são os compradores. Os empresários
precisam ter uma conscientização cooperativista.
Meio Ambiente: Há uma enorme preocupação com o meio ambiente. Além de exigir uma
matriz energética mais saudável para a região, a população deseja uma reeducação ambiental
das indústrias, visando uma maior preocupação com as questões ambientais. Em algumas
situações seria necessário realocar as fábricas para longe da cidade.
6.2.3.3 Alternativas sugeridas pelos Especialistas
Seguindo o mesmo raciocínio os especialistas sugerem alternativas nas seguintes áreas:
Política: Estabelecer políticas de desenvolvimento para a consolidação do polo e de apoio à
utilização do gesso como material de construção e específica para o desenvolvimento do polo
gesseiro. Construir um programa de desenvolvimento do polo com base na nova condição de
transporte, associada à resolução do problema de energia e de fornecimento de água bruta
para o processo industrial com redução dos problemas ambientais atualmente existentes pela
falta destes importantes insumos. Dotar a região do Araripe de forma sustentável, trabalhando
na busca de soluções para os problemas, através do Governo, Sindicato, Empresários,
Academia (Universidades, Escolas técnicas, Centros Tecnológicos), Sistema “S” (Sesi, Sesc,
Senai).
125
Educacional: Promover o intercâmbio entre as universidades e escolas técnicas com a
indústria, visando o desenvolvimento de novos produtos de maior valor agregado. Iniciar
processo de qualificação de mão-de-obra especializada, investindo em capacitação para
atendimento às novas tecnologias voltadas aos produtos do gesso.
Fiscalização: É necessário combater a sonegação fiscal existente na região. Uma boa
alternativa seria tirar da informalidade as pequenas empresas. Verifica-se que mais de 50% de
riqueza que são geradas na região não passam pelo controle do Fisco, que apenas controla as
maiores empresas.
União Empresarial: As partes envolvidas diretamente deverão formar um bloco coeso e
focarem o objetivo, ou seja, cada um sentar na mesma mesa e discutir conjuntamente o seu
problema, para que não haja enfraquecimento nem dispersão do conjunto.
Matriz Energética: Ampliar ações na área ambiental com investimentos em novas fontes de
energia, dotando as empresas de uma matriz energética que não impacte o meio ambiente.
Desenvolver uma alternativa de suprimento energético à base de energias renováveis: solar,
eólica e biomassa (produzida a partir do cultivo de espécies nativas ou exóticas). Melhorar a
disponibilidade de água, combustíveis e transporte ferroviário para o Araripe.
Infraestrutura de Transportes: É necessário o quanto antes, viabilizar a Ferrovia
Transnordestina com vistas à redução nos custos de produção. Melhorar as demais
infraestruturas da região. Pensar no transporte aquaviário pelo rio São Francisco para atingir
também o mercado do sudeste. A implantação da nova ferrovia irá proporcionar uma
demanda maior de gesso, gipsita e outros minérios que poderão ser explorados nesta região,
com isso melhora a condição de vida da população e aumenta e economia dos municípios.
Vale a pena ressaltar que a Transnordestina não eliminará o transporte rodoviário na origem e
destino em muitos casos.
Mercado: É preciso pesquisar e conhecer melhor o mercado externo visando incrementar as
exportações.
126
6.2.4 Crescimento dos Setores do Polo Gesseiro com implantação da Ferrovia
Transnordestina
A pergunta nº 3 procurou detectar de que forma a nova ferrovia é vista e como ela poderá
alterar o crescimento dos setores econômicos existentes na cadeia produtiva: “Com a
implantação da Ferrovia Transnordestina, indique nos setores abaixo, o que o(a) sr.(a) acha
que poderá ocorrer, através de uma nota de 1 (não haverá crescimento) a 10 (que haverá
crescimento expressivo)”.
Para um melhor entendimento dos resultados, as respostas foram tabuladas da seguinte forma:
notas menores que 4 indicavam “baixo crescimento no setor”; notas 5 e 6, “haverá
crescimento”; notas acima da nota 7, representavam que “haveria crescimento expressivo”. Os
comentários dos resultados referem-se às maiores notas, que representam a possibilidade de
crescimento expressivo.
6.2.4.1 Análise Descritiva do Crescimento dos Setores com a implantação da Ferrovia
Transnordestina
Expectativas dos Empresários
Na opinião dos empresários foi encontrado nos resultados, que 83,7% dos entrevistados
acreditam que no setor de mineração ocorrerá aumento na produção extrativa da gipsita (ver
Gráfico 6.7) e, consequentemente possibilidade de exportação em virtude da presença da
Ferrovia Transnordestina, visto que a perspectiva para se chegar ao porto mais próximo
poderá provocar uma redução no custo de transporte da mina ou fábrica até ao porto.
Com a presença da ferrovia, 59,2% dos empresários, veem a possibilidade de surgir novo
polo gesseiro em outras regiões mais bem servida de infraestrutura necessária a transformação
e beneficiamento do minério bruto. Nos comentários durante a pesquisa, alguns consideram
como possível ameaça, outros descartam essa possibilidade por terem know-how em relação
ao setor e até na possibilidade de eles mesmos criarem o setor em outros locais.
127
Quanto à situação das indústrias de transformação locais, 42.9% dos empresários acreditam
num crescimento expressivo desse setor.
Da mesma forma 53,1% acreditam que outras atividades complementares surgirão na região.
Dentre as possíveis atividades, os empresários citaram a possibilidade de crescimento nas
atividades: comerciais e serviços (restaurantes, hotéis, shopping, imobiliária, etc.); atividade
agrícola (cultivo da mandioca); indústria cerâmica em virtude da qualidade da argila da
região; exploração do minério de ferro de São José do Belmonte; surgimento de mais
indústrias (cimento, têxtil, couro), crescimento da avicultura pela possibilidade de chegada de
insumos.
Gráfico 6.7 – Crescimento dos setores do polo gesseiro com implantação da Ferrovia Transnordestina
(Expectativas dos Empresários).
Fonte: Elaboração do Autor.
Na Tabela 6.1 encontra-se a distribuição dos Empresários entrevistados que expressaram suas
expectativas por crescimento expressivo dos setores com implantação da Ferrovia
Transnordestina de acordo com o ramo de atividade.
Extração eTransporte deminério bruto
Indústria detransformação
local
Relocalização ousurgimento de
outros pólos emoutras regiões
Outras Atividades
6,1
28,6
6,1 8,2 10,2
26,5 28,6
24,5
83,7
42,9
59,2 53,1
0 2,0
6,1
14,3
Crescimento dos Setores (%) com a implantação da Ferrovia Transnordestina
(Expectativas dos Empresários)
Baixo Crescimento Haverá crescimento Crescimento Expressivo n/s n/r
128
Tabela 6.1 – Distribuição dos Empresários que opinaram por Crescimento Expressivo de acordo com
o ramo de atividade considerando a implantação da Ferrovia Transnordestina.
SETORES
Extração e Transporte de minério bruto
Indústria de transformação local
Relocalização e surgimento de outros polos em outras
regiões
RAMO DE ATIVIDADE Quant. % Quant. % Quant. %
Mineração 3 7,3 2 9,1 2 6,3
Calcinadoras 10 24,4 6 27,3 9 28,1
Fábricas de pré-moldados 4 9,8 3 13,6 3 9,4
Mineração e Calcinadoras 1 2,4 1 4,5 1 3,1
Calcinadoras e Pré-moldados 17 41,5 8 36,4 12 37,5
Mineração, Calcinadoras e Pré-moldados
6 14,6 2 9,1 5 15,6
TOTAL 41 100 22 100 32 100
Fonte: Elaboração do Autor.
Observa-se na tabela acima (Tabela 6.1) que os empresários que mais acreditam que ocorrerá
crescimento expressivo nos setores discriminados exploram o ramo de atividade Calcinadoras
e pré-moldados, seguidos dos que exploram apenas as calcinadoras e dos que exploram as três
atividades.
Expectativas da Sociedade Civil
A sociedade civil, representada pela população entrevistada nos municípios de Araripina e
Trindade (Gráfico 6.8), em sua maioria, 81%, também acredita que haverá crescimento
expressivo na extração e transporte de minério bruto (gipsita) para exportação com a
utilização da ferrovia, mas ressalta que poderá ser bom apenas para o setor de mineração. Para
o polo como um todo será prejudicial.
Vislumbram também crescimento expressivo das indústrias locais, segundo opinião de 64%
dos entrevistados.
Sessenta e dois por cento (62%) da população acreditam na possibilidade de surgimento de
indústrias gesseira em outras regiões melhores estruturadas, recebendo a matéria-prima para
beneficiamento através da ferrovia.
129
Com relação ao crescimento expressivo das outras atividades na região 64%, da população
entrevistada destaca: uma maior valorização na área de comércio (hotéis, restaurantes,
artesanato); surgimento de novos serviços e turismo; desenvolvimento agrícola (mandioca,
apicultura e pecuária); surgimento de novas indústrias (siderúrgica, metalúrgica, construção
civil, energia solar e logística).
Gráfico 6.8 – Crescimento dos setores do polo gesseiro com implantação da Ferrovia Transnordestina
(Expectativas da Sociedade Civil).
Fonte: Elaboração do Autor.
Expectativas dos Especialistas
Na opinião de 70% dos Especialistas relatam que a ferrovia possibilitará menor custo nos
transportes, consequentemente viabilizará o mercado externo que hoje não é atendido. No
mercado interno opinam que não mudará muita coisa. A logística de distribuição é um
problema, entretanto, outros gargalos mais graves existem e devem ser resolvidos, a exemplo
da matriz energética. Ou seja, não adianta implantar apenas a ferrovia, é necessário a
implementação de ações complementares.
10
20
30
40
50
60
70
80
90
Extração eTransporte deminério bruto
Indústria detransformação
local
Relocalização ouSurgimento de
outros pólos emoutras regiões
outrasatividades
13
21 21
13
6
15 17
9
81
64 62 64
13
Crescimento dos Setores (%) com a implantação da Ferrovia Transnordestina
(Expectativas da Sociedade Civil)
Baixo Crescimento Haverá crescimento Crescimento Expressivo n/s n/r
130
Os especialistas afirmam que a ferrovia é um vetor de desenvolvimento e em relação ao polo
gesseiro, 55% acreditam que há a possibilidade de surgimento de outros polos em outras
regiões em locais com melhores condições logísticas e de fornecimento de energia (a exemplo
do gás). As indústrias poderiam, por exemplo, se estabelecer nos portos de Suape e Pecém.
Quanto às indústrias locais 45% dos Especialistas entrevistados acreditam que haverá a
ampliação do parque industrial com o aumento da demanda.
Com o aquecimento da economia regional, criado pela ferrovia, 65% dos Especialistas
entrevistados acreditam que surgirão novos negócios como comércio, serviços e rede
hoteleira. Outra atividade seria a agricultura irrigada e a expansão do consumo de gesso
agrícola na zona da mata. No Gráfico 6.9 encontra-se a representação desses resultados.
Gráfico 6.9 – Crescimento dos setores do polo gesseiro com implantação da Ferrovia Transnordestina
(Expectativas dos Especialistas).
Fonte: Elaboração do Autor.
Visão Geral dos três stakeholders
No cenário futuro, considerando a Ferrovia Transnordestina já instalada, os stakeholders
estabelecidos no plano amostral, acreditam que ocorrerá crescimento expressivo (onde
atribuíram as maiores notas) nos seguintes setores (Gráfico 6.10):
10
20
30
40
50
60
70
Extração eTransporte deminério bruto
Indústria detransformação
local
Relocalização ousurgimento de
outros pólos emoutras regiões
OutrasAtividades
15 20 20
10 15
35
25 20
70
45
55
65
5
Crescimento dos Setores (%) com a implantação da Ferrovia Transnordestina
(Expectativas dos Especialistas)
Baixo Crescimento Haverá crescimento Crescimento Expressivo n/s n/r
131
a) Extração e transporte de minério bruto - 80,3% dos stakeholders informaram que o setor de
mineração terá um crescimento maior que os demais, pela possibilidade de a matéria-prima
(gipsita) poder ser transportada pela ferrovia;
b) Relocalização ou surgimento de outros polos em outras regiões - 62,3% dos stakeholders
acreditam na possibilidade da ferrovia transportar a matéria-prima para região de melhores
serviços de infraestruturas e mais próxima do mercado consumidor;
c) Apesar das duas opiniões acima, 52,5% dos stakeholders entrevistados apostam no
crescimento da indústria de transformação local, pois a ferrovia poderá criar a possibilidade
de trazer insumos e tecnologias para a região.
d) Em relação ao surgimento de outras atividades, além da gesseira, 57,4% dos stakeholders
entrevistados afirmam que é possível surgir novas atividades na região do polo gesseiro.
Gráfico 6.10 – Crescimento dos setores do polo gesseiro com implantação da Ferrovia
Transnordestina (Expectativas dos três Stakeholders).
Fonte: Elaboração do Autor.
0
10
20
30
40
50
60
70
80
90
Extração e Transportede minério bruto
Surgimento de outrospólos em outras
regiões
Outras atividades Indústria detransformação local
80,3
62,3 57,4 52,5
Crescimento Expressivo dos Setores (%) com implantação da Ferrovia
Transnordestina (Expectativas dos três Stakeholders)
132
6.2.4.2 Análise Inferencial do Crescimento dos setores com a implantação da Ferrovia
Transnordestina
Nesta questão, a análise inferencial aplicada, foi analisar as opiniões de cada stakeholder e
verificar se considerando a Ferrovia Transnordestina já implantada, haverá crescimento
expressivo em algum dos setores estabelecidos na pesquisa.
Semelhante a primeira questão, foram estabelecidas as seguintes hipóteses ao nível de
significância α = 0,10:
H0: Não existe diferença significativa de opinião sobre o transporte (implantação da
Ferrovia Transnordestina) ser um fator de crescimento do polo gesseiro;
H1: Existe diferença significativa de opinião sobre o transporte (implantação da Ferrovia
Transnordestina) ser um fator de crescimento do polo gesseiro.
a) Primeiro o teste de normalidade de Kolmogorov – Smirnov (Quadro 6.4):
Hn0 – A distribuição é normal; Hn1 – A distribuição não é normal.
Quadro 6.4 – Teste de Normalidade para implantação da ferrovia como fator de crescimento do polo gesseiro.
Nos três casos a hipótese de normalidade é rejeitada, pois a probabilidade de significância (p-
valor) é menor do que α = 0,10.
Assim, faz-se necessário o uso de um teste menos sensível à normalidade dos dados: o teste H
de Kruskall-Wallis.
Na aplicação do Teste de Kruskall-Wallis utilizando-se o SPSS, para verificar dentre as
variáveis propostas se o fator transporte (implantação da ferrovia) exerce alguma influência,
de acordo com a opinião dos stakeholders, tem-se o seguinte Quadro 6.5:
133
Quadro 6.5 – Teste H de Kruskall-Wallis para implantação da ferrovia como fator de crescimento do
polo gesseiro.
Extração e Transportes de
minério bruto para exportação
Indústrias de transformação
local
Relocalização ou surgimento de outros polos industriais em
outras regiões.
Qui - Quadrado (Estatística do Teste)
3,636 6,469 2,979
Graus de Liberdade 2 2 2
P - Valor 0,162 0,039 0,226
Analisando a probabilidade de significância das variáveis propostas, tem-se que p-valor < α =
0,10 só ocorre na variável Indústria de transformação local. Observa-se então, que a hipótese
H0 não deve ser rejeitada para as questões “Extração e transporte de minério bruto para
exportação” e “Relocalização ou surgimento de outros polos industriais em outras regiões”, o
que significa que os stakeholders têm opinião comum em relação a essas variáveis.
Entretanto, a hipótese é rejeitada na questão “Indústrias de transformação local”. Isto é, existe
diferença estatisticamente significativa de opinião entre os stakeholders sobre a influência da
implantação da ferrovia Transnordestina no crescimento dos setores do polo gesseiro em
relação ao desenvolvimento das Indústrias de transformação da região.
Portanto, pelo Teste H de Kruskall-Wallis, existe diferença significativa de opinião entre os
stakeholders sobre a possibilidade de implantação de a Ferrovia Transnordestina ser um fator
de crescimento do polo gesseiro: seja pela exportação de matéria-prima, seja pelo
desenvolvimento das indústrias locais ou pelo surgimento de outros polos em outras regiões
de acordo com cada stakeholder.
Como o teste H não identifica qual que difere, assim faz-se uso do teste de Tukey para
identificar qual dentre os stakeholders diverge dos demais. O resultado da estatística do teste
de Tukey ao nível de significância α = 10%, com utilização do SPSS, é dado no Quadro 6.6 a
seguir:
134
Quadro 6.6 – Teste de Tukey para o cálculo da Diferença Mínima Significativa (DMS) entre as
médias dos grupos como influência da ferrovia no Crescimento do polo gesseiro.
Tukey HSD
Questão (I) Tipo (J) Tipo Diferença
Média (I - J) Desvio P - Valor
Intervalo com 90%
de confiança
Limite
inferior
Limite
superior
Extração e
Transportes de
minério bruto
para exportação
Empresários Especialistas 0,123 0,607 0,977 -1,134 1,381
Sociedade Civil -0,232 0,453 0,865 -1,171 0,707
Especialistas Empresários -0,123 0,607 0,977 -1,381 1,134
Sociedade Civil -0,356 0,600 0,824 -1,599 0,888
Sociedade Civil Empresários 0,232 0,453 0,865 -0,707 1,171
Especialistas 0,356 0,600 0,824 -0,888 1,599
Indústrias de
transformação
local
Empresários Especialistas -0,625 0,688 0,636 -2,051 0,801
Sociedade Civil -1,186 0,515 0,059 -2,254 -0,118
Especialistas Empresários 0,625 0,688 0,636 -0,801 2,051
Sociedade Civil -0,561 0,679 0,687 -1,968 0,845
Sociedade Civil Empresários 1,186* 0,515 0,059 0,118 2,254
Especialistas 0,561 0,679 0,687 -0,845 1,968
Relocalização ou
surgimento de
outros polos
industriais em
outras regiões.
Empresários Especialistas 0,991 0,628 0,259 -0,311 2,293
Sociedade Civil 0,697 0,466 0,297 -0,269 1,664
Especialistas Empresários -0,991 0,628 0,259 -2,293 0,311
Sociedade Civil -0,294 0,617 0,883 -1,573 0,986
Sociedade Civil Empresários -0,697 0,466 0,297 -1,664 0,269
Especialistas 0,294 0,617 0,883 -0,986 1,573
A probabilidade p-valor menor que α = 0,10 (em negrito) representa os casos em que a
diferença entre as médias é significativa ao nível de α = 0,10 e que só é encontrada no
stakeholder Sociedade civil que, no caso, diverge principalmente em relação ao stakeholder
Empresários.
Comparando com a análise descritiva, verifica-se que 64% do estrato Sociedade civil
informaram que o polo terá crescimento expressivo nas indústrias de transformação local com
a chegada da ferrovia, enquanto a opinião dos demais stakeholders ficou abaixo de 45%.
Conclui-se então, que na opinião da Sociedade civil, a ferrovia Transnordestina terá influência
significativa no crescimento das indústrias de transformação local.
135
6.2.5 Impactos na economia do Polo Gesseiro com a Ferrovia Transnordestina
Na pergunta nº 4 buscava-se avaliar as expectativas dos stakeholders em relação aos
indicadores socioeconômicos que serão impactados com o surgimento da ferrovia.
A pergunta era a seguinte: “Além do setor do gesso/gipsita, indique o grau de importância
nos aspectos abaixo, dos impactos que a ferrovia provocará na região. Escolha uma nota de
1 (será pouco importante) a 10 (será muito importante).
Para compreensão dos resultados as notas foram tabuladas de acordo com os intervalos: notas
de 1 a 4 receberam o atributo “pouco importante”; notas 5 e 6 receberam o atributo “não vai
mudar”; notas de 7 a 10 receberam o atributo “muito importante”.
6.2.5.1 Análise Descritiva dos Impactos na economia do Polo Gesseiro com a Ferrovia
Transnordestina
Expectativas dos Empresários
Os empresários acreditam que considerando a ferrovia já implantada, ocorrerão impactos
positivos na qualidade de vida urbana, pela possibilidade de a ferrovia propiciar a chegada de
uma matriz energética eficiente e sustentável, em substituição ao uso desordenado da lenha,
onde 75,5% das notas foram atribuídas à possibilidade de a ferrovia ser muito importante para
a qualidade de vida urbana da região.
Da mesma forma, 69,4% das notas foi atribuída à possibilidade de a ferrovia ser muito
importante para o aumento na oferta de empregos, devido à perspectiva de crescimento das
indústrias locais e surgimento de outras atividades como: hotéis, restaurantes, comércio,
serviços, etc., possibilitando o desenvolvimento da região.
136
Em relação ao nível de renda dos trabalhadores, 59,2% das notas, na opinião dos
Empresários, foi considerada muito importante, pela possibilidade de provocar um
encadeamento na economia local.
O meio ambiente também teria sua importância na visão dos Empresários, pois 53,1% das
notas são consideradas muito importantes para a melhoria da qualidade ambiental da região.
Estas opiniões estão representadas no Gráfico 6.11, abaixo.
Gráfico 6.11 – Expectativas dos Empresários em relação aos possíveis impactos da ferrovia na economia do polo gesseiro.
Fonte: Elaboração do Autor.
Na Tabela 6.2 encontra-se a distribuição dos Empresários entrevistados que expressaram suas
expectativas em relação à importância da implantação da Ferrovia Transnordestina nos
indicadores socioeconômicos da região de acordo com o ramo de atividade.
0
10
20
30
40
50
60
70
80
Crescimento e ofertade Empregos (%)
Nível de Renda dosTrabalhadores (%)
Qualidade de Vidaurbana (%)
Qualidade Ambiental(%)
12,2 10,2 10,2 16,3 18,4
30,6
14,3
30,6
69,4
59,2
75,5
53,1
Possíveis Impactos (%) na Economia Local
(Expectativas dos Empresários)
Pouco Importante Não vai mudar Muito Importante
137
Tabela 6.2 – Distribuição dos Empresários que consideram muito importante para os indicadores
socioeconômicos a implantação de ferrovia de acordo com o ramo de atividade.
INDICADORES Crescimento e
oferta de empregos
Nível de renda dos
trabalhadores
Qualidade de Vida Urbana
Qualidade Ambiental
RAMOS DE ATIVIDADE Quant. % Quant. % Quant. % Quant. %
Mineração 2 5,9 1 3,4 3 8,1 2 7,7
Calcinadoras 8 23,5 7 24,1 10 27,0 5 19,2
Fábricas de pré-moldados
3 8,8 3 10,3 3 8,1 2 7,7
Mineração e Calcinadoras
1 2,9 1 3,4 1 2,7 1 3,8
Calcinadoras e Pré-moldados
16 47,1 14 48,3 16 43,2 13 50,0
Mineração, Calcinadoras e Pré-moldados
4 11,8 3 10,3 4 10,8 3 11,5
TOTAL 34 100 29 100 37 100 26 100
Fonte: Elaboração do Autor.
Observa-se na tabela acima (Tabela 6.2) que os empresários que mais acreditam na
importância da Ferrovia Transnordestina para os indicadores socioeconômicos da região
exploram o ramo de atividade Calcinadoras e pré-moldados, seguidos dos que exploram
apenas Calcinação e dos que exploram os três ramos de atividade.
Expectativas da Sociedade Civil
De forma semelhante a Sociedade civil representada no Gráfico 6.12 vê como mais
importante, o impacto da ferrovia no crescimento e oferta de empregos, pois atribuíram 70%
às maiores notas, considerando como muito importante a chegada da ferrovia para esse
segmento.
Ocorrendo o aumento na oferta de empregos, a Sociedade civil atribuiu 64% às maiores notas
considerando que a chegada da ferrovia será muito importante para o aumento no nível de
renda dos trabalhadores.
Atendidos esses dois itens, a população crê que na melhoria da qualidade de vida urbana, pois
atribuíram 51% às maiores notas, pois acham que a chegada da ferrovia será muito
importante.
138
É interessante observar que a população não acredita que a chegada da ferrovia trará
benefícios ambientais à região, pois 42% deram notas baixas, considerando como pouco
importante a chegada da ferrovia como solução para melhoria da qualidade ambiental.
Gráfico 6.12 – Expectativas da Sociedade Civil em relação aos possíveis impactos da ferrovia na
economia do polo gesseiro.
Fonte: Elaboração do Autor.
Expectativas dos Especialistas
Na opinião dos especialistas, conforme apresentado no Gráfico 6.13, a ferrovia terá grande
importância em possibilitar o crescimento e oferta de empregos locais, pois foi dada às
maiores notas o percentual de 60% como sendo muito importante para a região considerando
a ferrovia em funcionamento.
Em seguida, a tendência do grau de importância da ferrovia, será na qualidade de vida urbana,
onde 50% referem-se às maiores notas, como sendo muito importante a presença da ferrovia
para esse segmento.
Em relação ao aumento no nível de renda dos trabalhadores, os especialistas ressaltam que vai
depender dos donos das empresas, pois a ferrovia não tem como provocar impactos neste
0
10
20
30
40
50
60
70
Crescimento e ofertade Empregos (%)
Nível de Renda dosTrabalhadores (%)
Qualidade de Vidaurbana (%)
Qualidade Ambiental(%)
13 17 17
42
17 19
32 32
70 64
51
26
Possíveis Impactos (%) na Economia local
(Expectativas da Sociedade Civil)
Pouco Importante Não vai mudar Muito Importante
139
quesito, por isso os percentuais representativos ficaram divididos entre não vai mudar e será
muito importante, ambos com 40%.
Da mesma forma, a melhoria da qualidade ambiental dependerá exclusivamente da
conscientização ambiental dos empresários, pois apenas 40% foram atribuídas às maiores
notas como sendo muito importante a presença da ferrovia para a qualidade ambiental da
região.
Gráfico 6.13 – Expectativas dos Especialistas em relação aos possíveis impactos da ferrovia na
economia do polo gesseiro.
Fonte: Elaboração do Autor.
Visão Geral dos três stakeholders
Em relação aos possíveis impactos socioeconômicos na economia local tendo a nova ferrovia
já implantada (Gráfico 6.14), apontados pelos entrevistados como muito importante, através
das maiores notas atribuídas a cada item, os stakeholders consideram que:
a) A oferta e crescimento de emprego na opinião dos entrevistados, que atribuíram o
percentual de 68% às maiores notas, consideradas como muito importantes, terão
impactos positivos com a implantação da ferrovia sendo a mesma de suma
importância para o desenvolvimento da região;
0
10
20
30
40
50
60
Crescimento e ofertade Empregos (%)
Nível de Renda dosTrabalhadores (%)
Qualidade de Vidaurbana (%)
Qualidade Ambiental(%)
25
20
35
30
15
40
15
30
60
40
50
40
Possíveis Impactos (%) na Economia Local
(Expectativas dos Especialistas)
Pouco Importante Não vai mudar Muito Importante
140
b) Da mesma forma em relação à qualidade de vida urbana, os entrevistados atribuíram
61% às maiores notas, pois veem como positivos os impactos provocados pela
presença da ferrovia que poderá criar a possibilidade de investimentos em
infraestruturas urbanas, melhorias na educação, na saúde, etc., devido a arrecadação de
impostos pelos municípios;
c) Como consequência da melhoria da oferta de emprego, as maiores notas obtiveram o
percentual de 58% na opinião dos stakeholders, pois acreditam que haverá
naturalmente um aumento na renda dos trabalhadores em virtude da especialização da
mão-de-obra, e da inserção de novas atividades na região;
d) Os stakeholders acreditam que devido aos investimentos propiciados pela implantação
da ferrovia, poderá ocorrer melhoria na qualidade ambiental da região. Pois atribuíram
o percentual de 39% às maiores notas, consideradas muito importante para melhoria
ambiental da região.
Gráfico 6.14 – Expectativas dos Stakeholders em relação aos possíveis impactos da ferrovia na economia do polo gesseiro.
Fonte: Elaboração do Autor.
6.2.5.2 Análise Inferencial dos Impactos na economia do Polo Gesseiro com a Ferrovia
Transnordestina
Semelhante às questões anteriores, foram estabelecidas as seguintes hipóteses ao nível de
significância α = 0,10:
0,0 10,0 20,0 30,0 40,0 50,0 60,0 70,0
Crescimento e oferta de Empregos (%)
Qualidade de Vida urbana (%)
Nível de Renda dos Trabalhadores (%)
Qualidade Ambiental (%)
68
61
58
39
Possíveis Impactos (%) na Economia local (Expectativas dos três Stakeholders)
141
H0: Não existe diferença significativa de opinião sobre o transporte (implantação de ferrovia
Transnordestina) provocar impactos no polo gesseiro;
H1: Existe diferença significativa de opinião sobre o transporte (implantação de ferrovia
Transnordestina) provocar impactos no polo gesseiro.
Primeiro verifica-se se a amostra adotada possui distribuição normal, através do teste de
Kolmogorov – Smirnov conforme apresentado no Quadro 6.7, onde: Hn0 – A distribuição é
normal; Hn1 – A distribuição não é normal.
Quadro 6.7 – Teste de Normalidade sobre ocorrência dos impactos no polo gesseiro com implantação da Ferrovia Transnordestina.
Como o p-valor é menor que α = 0,10, a hipótese de normalidade é rejeitada nos quatro
casos, concluímos que os stakeholders têm opiniões diferentes sobre ocorrência dos impactos
no polo gesseiro considerando a ferrovia já implantada.
Como as amostras divergem no teste de normalidade, utiliza-se o recurso não-paramétrico,
substituto da ANOVA: Teste H de Kruskall-Wallis. Assim, o Teste H de Kruskall-Wallis é
apresentado no Quadro 6.8:
Quadro 6.8 – Teste H de Kruskall-Wallis sobre ocorrência dos impactos no polo gesseiro com implantação da Ferrovia Transnordestina.
.
142
Pelo teste H, verifica-se que o efeito entre os grupos é aceito nas questões Crescimento e
oferta de empregos e Nível de renda dos trabalhadores e rejeitado nas questões de Qualidade
de vida urbana e Qualidade ambiental.
Conclui-se que entre os stakeholders há divergência de opinião de que a implantação da
Ferrovia Transnordestina irá provocar impactos na qualidade de vida urbana e na qualidade
ambiental da região do polo gesseiro, nas outras duas variáveis as opiniões são convergentes.
Para verificar quais dos stakeholders divergem de opinião em relação às questões que sofrerão
impactos com a implantação da Ferrovia Transnordestina, foi utilizado o teste de Tukey
(Quadro 6.9).
Quadro 6.9 – Teste de Tukey para o cálculo da Diferença Mínima Significativa (DMS) entre as
médias dos grupos, sobre ocorrência dos impactos no polo gesseiro com implantação da Ferrovia
Transnordestina.
Tukey HSD
Questão (I) Tipo (J) Tipo
Diferença Média (I - J)
Desvio P - Valor
Intervalo com 90% de confiança
Limite inferior
Limite superior
Empregos
(crescimento e
oferta)
Empresários Especialistas 0,554 0,663 0,682 -0,82 1,93
Sociedade Civil 0,185 0,486 0,923 -0,82 1,19
Especialistas Empresários -0,554 0,663 0,682 -1,93 0,82
Sociedade Civil -0,369 0,656 0,840 -1,73 0,99
Sociedade Civil Empresários -0,185 0,486 0,923 -1,19 0,82
Especialistas 0,369 0,656 0,840 -0,99 1,73
Nível de Renda
dos trabalhadores
Empresários Especialistas 0,375 0,604 0,809 -0,88 1,63
Sociedade Civil 0,173 0,443 0,919 -0,74 1,09
Especialistas Empresários -0,375 0,604 0,809 -1,63 0,88
Sociedade Civil -0,202 0,597 0,939 -1,44 1,04
Sociedade Civil Empresários -0,173 0,443 0,919 -1,09 0,74
Especialistas 0,202 0,597 0,939 -1,04 1,44
Qualidade de vida
urbana
Empresários Especialistas 1,184 0,607 0,129 -0,07 2,44
Sociedade Civil 1,014* 0,445 0,063 0,09 1,94
Especialistas Empresários -1,184 0,607 0,129 -2,44 0,07
Sociedade Civil -0,170 0,600 0,957 -1,41 1,07
Sociedade Civil Empresários -1,014
* 0,445 0,063 -1,94 -0,09
Especialistas 0,170 0,600 0,957 -1,07 1,41
Qualidade
Ambiental
Empresários Especialistas 0,634 0,620 0,564 -0,65 1,92
Sociedade Civil 1,548* 0,455 0,003 0,61 2,49
Especialistas Empresários -0,634 0,620 0,564 -1,92 0,65
Sociedade Civil 0,915 0,613 0,299 -0,36 2,19
Sociedade Civil Empresários -1,548
* 0,455 0,003 -2,49 -0,61
Especialistas -0,915 0,613 0,299 -2,19 0,36
143
Através do Teste de Tukey, de acordo com a probabilidade p-valor destacada em negrito, no
Quadro 6.9, percebe-se que existem divergências nas questões referentes à Qualidade de vida
urbana e Qualidade ambiental entre empresários e sociedade civil. Ou seja, para os
empresários a chegada da ferrovia será muito importante para que ocorram melhorias nestes
aspectos na região do polo, enquanto a população não acredita tanto nisso, pois acha que antes
de tudo os empresários deveriam ter uma conscientização ambiental.
144
7 CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES
7.1 CONCLUSÕES
A presente dissertação discorreu sobre os possíveis impactos que poderão ocorrer na região do
Polo Gesseiro do Araripe, a partir das expectativas reveladas pelos stakeholders regionais,
como consequência da implantação da Ferrovia Transnordestina. A extração da gipsita e o
beneficiamento do gesso e seus derivados são a base de economia da região do Araripe de
Pernambuco, que passa por problemas infraestruturais, que lhe impedem o desenvolvimento
econômico pleno.
Esta região produtiva é atendida apenas pelo modo rodoviário. Desta forma, a ferrovia
anunciada como a redenção do polo gesseiro surge como solução logística. Como não há uma
ferrovia na região que pudesse efetuar um estudo comparativo relacionado com o polo
gesseiro, neste trabalho decidiu-se realizar um levantamento de expectativas junto aos
empresários do ramo gesseiro e à população da região, como também procurou-se detectar o
ponto de vista de estudiosos da área de transportes e economia, denominados especialistas,
com o intuito de responder às questões estabelecidas na caracterização do problema dessa
dissertação, bem como sua hipótese e os objetivos.
De acordo com Barat (2007), a expansão na infraestrutura de transporte influencia na decisão
da localização industrial e na exploração dos recursos naturais; atua sobre a organização
territorial, regional e urbana, proporcionando o desenvolvimento regional e local. Outra
possibilidade é provocar o esvaziamento dessa região, transferindo parte da produção para
outra região melhor provida de infraestrutura, de mão de obra ou mais próxima dos mercados
consumidores.
Assim, esta dissertação apresenta as suas conclusões baseadas nos enfoques apresentados na
contextualização e principalmente nos tópicos principais propostos pela pesquisa.
145
I - À luz das teorias da geografia econômica apresentadas neste trabalho, chegou-se às
seguintes conclusões relacionadas com o Polo Gesseiro:
a) Teoria de Localização Industrial de Alfred Weber
Esta teoria de localização industrial destaca que três fatores influenciam as escolhas
locacionais: custo de mão de obra, custo de transporte e a disponibilidade de fatores de
produção. Atualmente no PGA estes fatores ainda não aparecem em suas condições mais
favoráveis, pois ainda é alto o custo com transportes, pela carência de opções de modos de
transportes mais adequados. Há ainda carência de mão-de-obra especializada, o que eleva o
custo da produção. A carência de oferta de serviços públicos, tais como energia e
fornecimento de água, cria situações que também provocam elevações de custos de produção.
A operação da Ferrovia Transnordestina, segundo essa linha teórica, deverá modificar o
equilíbrio entre custos de transportes de matérias primas e de produtos industrializados,
podendo induzir a novas localizações otimizadas, de parte da atividade econômica da cadeia
industrial do gesso, no sentido de uma maior aproximação com o mercado consumidor.
b) Teoria de Polo de Crescimento de François Perroux
O caso do Polo Gesseiro do Araripe caracteriza-se como um Polo de Crescimento, segundo a
Teoria de Perroux, por apresentar na sua origem, uma grande fonte de matérias primas, que
propiciou o surgimento de um setor industrial e de mineração (indústrias motrizes), que
estruturou a economia da região sob a sua influência direta. Este conjunto de empresas
mineradoras induziu à implantação de agrupamento de indústrias de transformação de base na
região, que por sua vez influiu na consolidação urbana, com fixação da população e o
crescimento de outras atividades econômicas que lhes dão suporte.
Apesar do evidente crescimento deste polo econômico nas últimas décadas, o
SINDUSGESSO (2012) destacou que há limitações para sua expansão, principalmente no que
se refere às condições logísticas. Em 2014, num levantamento de ameaças ao PGA, o
Sindicato já se preocupava com a possibilidade do surgimento de concorrentes em outras
regiões e na migração das indústrias calcinadoras para outros locais com o advento da
Ferrovia Transnordestina. Havia ainda um temor em relação ao crescimento da produção de
146
um substituto (gesso sintético ou fosfogesso) e/ou da entrada de produtos manufaturados
importados.
A carência de transporte na região é evidente. Com a implantação da Ferrovia
Transnordestina, a teoria dos polos de crescimento sugere que inicialmente haverá um
crescimento endógeno, pelo aumento da produtividade decorrente da redução dos custos de
transportes e pelo estímulo ao surgimento de outras atividades econômicas de apoio, que
reforçam o crescimento da região. Esse impulso de expansão e as externalidades geradas
poderão levar a um movimento de descentralização industrial, que induzirá a geração de
unidades produtoras no entorno do polo original, criando novos polos de desenvolvimento em
outras regiões.
c) Teoria da Base de Exportação de Douglass North
O Polo Gesseiro do Araripe apresenta as principais características definidas na Teoria da Base
de Exportação: i) disponibilidade de uma grande fonte de matéria prima estratégica que
possibilitou o desenvolvimento na região de uma atividade de base, com excedentes
exportáveis; ii) um conjunto de cidades que compõem o polo desenvolveu atividades de
serviços de suporte, viabilizando a estruturação urbana e também uma rede rodoviária de
apoio; e iii) um conjunto de empresas industriais de transformação em escala regional. A
referida teoria destaca que representam fatores de desenvolvimento da base, o fortalecimento
da infraestrutura de transportes; o crescimento da renda e o aumento na demanda dos
mercados, inclusive pela inserção de novas tecnologias; além do apoio governamental na
melhoria das infraestruturas.
Neste contexto, a Ferrovia Transnordestina, com forte apoio de financiamento governamental,
deverá fortalecer as atividades econômicas da região, principalmente mineradoras de
exportação, elevando a renda per capita local. Este crescimento também impulsionará as
atividades das empresas de suporte e das indústrias de transformação, mas sem retirar da
indústria de base de exportação, a primazia da liderança no processo de desenvolvimento.
147
II – Conclusões referentes ao cenário atual do Polo Gesseiro
De acordo com os resultados obtidos na pesquisa e na análise estatística efetuada, em relação
aos problemas enfrentados pelo Polo Gesseiro, podem-se destacar as seguintes conclusões:
A ação do poder público juntamente com a iniciativa privada (construção de uma ferrovia),
gera um conjunto de expectativas positivas, que, no entanto são relativizadas, por um
conjunto de outros problemas estruturais existentes.
A região em estudo (PGA) apresenta forte necessidade de investimentos em transportes, mas
a percepção dos stakeholders locais é que outras carências nas estruturas econômicas como
mão-de-obra e infraestruturais, a exemplo de energia e água, são igualmente ou mais
importantes, para superarem os gargalos da produção. Foi destacada a importância da
presença da Ferrovia Transnordestina para a região, porém para atingir o desenvolvimento
econômico regional, além do investimento em transportes, faz-se necessário mitigar outros
problemas nas demais infraestruturas, que ainda são entraves para o crescimento do polo
gesseiro.
No diagnóstico dos problemas existentes, de acordo com a visão geral dos atores envolvidos,
o problema da infraestrutura de transporte situou-se na quinta colocação. Ficou evidente para
os stakeholders entrevistados a prioridade de investimentos em outras infraestruturas,
principalmente na melhoria dos recursos hídricos e fontes energéticas renováveis, além de
investimentos para qualificação da mão-de-obra local.
Diante deste cenário apresentado, baseado na assertiva de Andrade (1994), conclui-se que:
“Investimento em transportes é condição necessária, mas não suficiente para acelerar o
crescimento e desenvolvimento econômico de uma região”.
Como apresentado nesta dissertação alguns problemas existem que impedem o crescimento
do polo gesseiro. A seguir são apresentados comentários e sugestões para alguns desses
problemas.
148
Mão-de-obra
Há realmente uma preocupação, pois este é um dos empecilhos para o crescimento, por não
ter qualificação especializada e adequada à necessidade do ramo gesseiro, nem tampouco
quantidade disponível necessária. Os entrevistados atribuem esta dificuldade quantitativa de
mão de obra, ao assistencialismo do governo federal e ao êxodo de trabalhadores locais para
regiões produtoras em determinados períodos do ano.
Sugere-se então, aos empresários, estimular a qualificação da mão-de-obra procurando firmar
parcerias com a FIEPE, através do SENAI. Com a qualificação profissional estabelecer uma
nova política salarial, estimulando a atratividade para o setor e ampliando a base de
profissionais atuantes na região do polo.
Financiamento
A pesquisa mostrou que 53% dos entrevistados não acham que o fator financiamento seja um
problema atualmente, pois a demanda existente e as receitas decorrentes atendem as
necessidades da região. Os grandes produtores que tem recursos suficientes, podem até pensar
em ampliar seu mercado, mas pela dificuldade de obtenção de mão-de-obra especializada
preferem aguardar mais um pouco. Os que não possuem esses recursos tem dificuldade de
obter financiamentos.
Com a implantação da ferrovia, pelo crescimento dos negócios que deverá ser gerado, a
questão do financiamento passa a ser mais relevante. Então se conclui que todo setor da
região tem que se preparar para este cenário. É necessário que as instituições ou associações
empresariais do setor, tais como, FIEPE e SINDUGESSO e ASSOGESSO, procurem planejar
um programa de financiamento para as empresas, através de instituições de fomento, tais
como, BNB e BNDES e FINAME.
Transportes
Verificou-se que hoje para 61% dos empresários, o transporte não é problema crítico, apesar
de 47% deles, revelar que despendem com transporte mais de 50% do custo de produção. Esta
149
situação sugere certa aceitação dessa realidade, já que de qualquer forma a demanda atual está
sendo atendida.
Num cenário futuro que demande uma produção bem maior do que a atual, esses empresários
tenderão a mudar este julgamento e as condições de transporte poderão se tornar para eles
mais relevantes.
Energia
De acordo com a opinião de 49,2% dos entrevistados, a situação referente ao fornecimento de
energia ocupa a 3ª colocação em relação aos problemas mais críticos. Devido às constantes
ocorrências de interrupções no fornecimento de energia e a grande dependência da lenha para
aquecimento dos fornos industriais, faz-se necessário ações urgentes, para atender ao aumento
da demanda produtiva em um cenário futuro.
Uma ação urgente a ser efetuada é procurar a intercessão do governo estadual junto à
operadora de energia, para que sejam feitos novos estudos de demanda que atendam as
necessidades do polo. Também, buscar parcerias junto a FIEPE e ao governo do Estado para
viabilizar alternativas de energia, a exemplo da solar, da eólica e biomassa. Com a utilização
desses tipos alternativos de energia, o problema de impactos ambientais seria de certa forma,
resolvido. Outra possibilidade é a ferrovia transportar insumos para gerar energia térmica para
uso nos fornos. As instituições representantes dos empresários do APL do gesso devem
buscar apoio junto às Universidades, Institutos técnicos e tecnológicos, quanto ao
desenvolvimento de equipamentos industriais utilizados pelas calcinadoras e fábricas de pré-
moldados.
Água
Além da carência foi verificado na pesquisa que há problema também na qualidade da água da
região, conforme 62,3% dos entrevistados. Como solução sugere-se fazer análises do subsolo
e gerar prospecção de poços artesianos. Também, incentivar a instalação de indústrias de
dessalinização na região, com tecnologias para efetuar o tratamento da água, deixando-a em
boa qualidade com condições de ser utilizada pelas empresas do polo gesseiro.
150
III – Considerando o cenário futuro, tendo a ferrovia em questão totalmente implantada,
apresentam-se neste tópico as conclusões sobre os impactos da Ferrovia Transnordestina
no crescimento e desenvolvimento regional do polo gesseiro de acordo com cada segmento:
Exportação e transporte do minério bruto
Baseando-se na teoria de North, a ferrovia considerada como eixo-base para a exportação, cria
efeitos indiretos através da expansão das atividades econômicas das empresas do polo,
obrigando os empresários a serem competitivos, através do aumento de sua eficiência. As
empresas exportadoras aumentam as compras de produtos necessários à expansão de sua
produção, os trabalhadores adicionais gastam suas rendas na economia local, criando um
efeito multiplicador sobre a renda regional.
Quadro 7.1 – Impactos no crescimento do polo gesseiro no segmento “Extração e transporte de gipsita” com a Ferrovia Transnordestina.
STAKEHOLDERS IMPACTOS
NEGATIVOS
IMPACTOS POSITIVOS
Extr
açã
o
e T
ran
sport
e d
e m
inér
io
bru
to
(gip
sita
)
Sociedade Civil
Não influencia
positivamente no
aumento de empregos
no setor da indústria
local.
81% acreditam que haverá
crescimento expressivo para
exportação.
Empresários
84% acreditam que ocorrerá
aumento na produção e na
exportação e, consequentemente
redução no custo de transporte.
Especialistas
Gera uma indiferença
ao mercado local.
A ferrovia possibilitará menor custo
nos transportes na opinião de 70%
deles.
Neste segmento, conforme apresentado no Quadro 7.1 acima, 80,3% dos stakeholders
informaram que para o setor de mineração, o impacto será positivo. Porém, têm ressalvas,
pois enquanto os especialistas não veem mudanças endógenas, uma parcela da população vê
151
esse crescimento como nocivo para a região em relação aos empregos nas indústrias locais,
ratificando a hipótese da dissertação.
Relocalização e Surgimento de polos em outras regiões
As condições econômicas atuais da região do polo gesseiro reforçam os conceitos de Perroux,
ao prever que externalidades negativas, como danos ambientais ou estrangulamentos na oferta
de transportes poderão propiciar a expansão das oportunidades criadas pelo polo para outras
regiões em melhores condições ou com menos restrições. Na pesquisa ficou evidente que os
stakeholders não acreditam que a ferrovia possa provocar impactos positivos na economia da
região (Quadro 7.2).
Quadro 7.2 – Impactos no crescimento do polo gesseiro no segmento “Surgimento de polos em outras
regiões” com a Ferrovia Transnordestina.
STAKEHOLDERS IMPACTOS NEGATIVOS
Rel
oca
liza
ção
e
surg
imen
to
de
ou
tros
polo
s em
ou
tras
regiõ
es
Sociedade Civil 62% Acreditam na possibilidade de surgimento de
indústrias gesseira em outras regiões melhor estruturadas.
Empresários 59,2% Veem a possibilidade de surgir novo polo gesseiro
em outras regiões mais bem servida de infraestruturas.
Especialistas Para 55% há a possibilidade de surgimento de outros
polos em outras regiões, em locais com melhores
condições logísticas e de fornecimento de energia.
Mais uma vez a hipótese da dissertação é ratificada. Neste segmento os impactos são vistos
como negativos, pois 62,3% dos stakeholders acreditam na possibilidade da ferrovia
transportar a matéria-prima para região de melhores serviços de infraestruturas e mais
próxima do mercado consumidor. Os Especialistas acrescentam que as novas indústrias
poderiam até se estabelecer nos espaços dos portos de Suape e Pecém.
Impactos nas indústrias locais de transformação
De acordo com a opinião dos stakeholders não haverá impactos negativos para as indústrias
locais, apesar de estas crescerem menos que as indústrias de mineração, o Quadro 7.3 mostra
que os entrevistados ainda esperam que elas cresçam.
152
Quadro 7.3 – Impactos no crescimento do polo gesseiro no segmento “Indústria de transformação local” com a Ferrovia Transnordestina.
STAKEHOLDERS IMPACTOS POSITIVOS
Ind
úst
ria
de
tran
sform
açã
o
loca
l
Sociedade Civil 64% Acreditam no Crescimento expressivo das indústrias
locais.
Empresários 42.9% Acreditam no crescimento expressivo desse setor.
Especialistas 45% Acreditam que haverá a ampliação do parque
industrial com o aumento da demanda.
Contrariando a hipótese estabelecida nessa dissertação, 52,5% do total de stakeholders
entrevistados apostam que haverá crescimento da indústria de transformação local, porque a
ferrovia poderá criar a possibilidade de trazer insumos e tecnologias para a região.
Surgimento de outras Atividades
Segundo a teoria de Douglass North, quando uma região aumenta suas exportações, as
empresas exportadoras aumentam as compras de produtos intermediários e de serviços
oriundos de outras empresas.
Quadro 7.4 – Impactos no crescimento do polo gesseiro no segmento “Surgimento de outras
atividades” com a Ferrovia Transnordestina.
STAKEHOLDERS IMPACTOS POSITIVOS
Su
rgim
ento
de
ou
tras
ati
vid
ad
es
Sociedade Civil 64% destacam uma maior valorização na área de comércio;
surgimento de novos serviços e turismo.
Empresários 53,1% acreditam que outras atividades complementares
surgirão na região.
Especialistas 65% acreditam que surgirão novos negócios como comércio,
serviços e rede hoteleira.
Mais uma vez a hipótese da dissertação é negada, conforme apresentado no Quadro 7.4, pois
57,4% dos stakeholders entrevistados afirmam que é possível surgir novas atividades na
região do polo gesseiro. Mesmo tendo impactos negativos nos segmentos de extração e
transporte de gipsita e relocalização de beneficiamento do gesso, a sociedade civil vê a
153
possibilidade de ocorrer o desenvolvimento agrícola e o surgimento de novas indústrias a
exemplo de siderúrgicas, metalúrgicas e construção civil. Os empresários acham que com a
ferrovia além da atividade agrícola podem surgir outras indústrias e como exemplos citam a
indústria cerâmica, a avicultura, a têxtil e a cimenteira.
IV- Ainda vislumbrando o cenário futuro com a ferrovia em plena operação, neste tópico
são apresentadas as conclusões voltadas para a melhoria dos indicadores socioeconômicos
da região:
Verificou-se na pesquisa que a Ferrovia Transnordestina viabilizará a exportação e o
incremento da produção do minério bruto (gipsita) proporcionando melhorias nos indicadores
da região do Araripe a exemplo do crescimento e oferta de empregos, aumento no nível de
renda dos trabalhadores e na qualidade de vida urbana, consequentemente o desenvolvimento
da região produtora.
Crescimento e oferta de Empregos
Pela percepção dos stakeholders neste segmento, a Ferrovia Transnordestina não provocará
impactos negativos, pois acreditam que a ferrovia poderá propiciar o surgimento de novas
atividades no polo, diversificando as opções profissionais. No Quadro 7.5 estão representadas
as opiniões dos stakeholders em relação aos impactos referentes ao indicador
socioeconômico: crescimento e oferta de empregos.
Quadro 7.5 – Impactos nos indicadores socioeconômicos do polo gesseiro no segmento “Crescimento
e ofertas de empregos” com a Ferrovia Transnordestina.
STAKEHOLDERS IMPACTOS POSITIVOS
Cre
scim
ento
e
ofe
rta
de
Em
pre
gos
Sociedade Civil 70% Consideram como muito importante a chegada da
ferrovia para esse segmento.
Empresários 69,4% acreditam que a ferrovia será muito importante
devido à perspectiva de crescimento das indústrias locais e
surgimento de outras atividades.
Especialistas 60% acreditam ser muito importante para este segmento e
para a região, considerando a ferrovia em funcionamento.
154
Do total dos stakeholders entrevistados, 68% acreditam que o segmento crescimento e oferta
de empregos terá impacto positivo, sendo a ferrovia considerada de suma importância para o
desenvolvimento da região.
Nível de renda dos trabalhadores locais
No Quadro 7.6 a seguir, verifica-se que apenas os Especialistas veem com indiferença os
impactos que a Ferrovia Transnordestina poderá provocar no polo gesseiro.
Quadro 7.6 – Impactos nos indicadores socioeconômicos do polo gesseiro no segmento “Nível de renda dos trabalhadores” com a Ferrovia Transnordestina.
STAKEHOLDERS
IMPACTOS
NEGATIVOS
IMPACTOS POSITIVOS
Nív
el
de
ren
da
do
s
trab
alh
ad
ore
s
Sociedade Civil Para 64% Será muito
importante.
Empresários Para 59,2% Será muito
importante.
Especialistas Para 60% deles não vai
mudar. Depende dos
empresários.
Como consequência da melhoria da oferta de emprego, 58% dos stakeholders entrevistados
acreditam que haverá naturalmente um aumento no nível de renda dos trabalhadores em
virtude da especialização da mão-de-obra, e da inserção de novas atividades na região. Porém,
os especialistas ressaltam que para ocorrer melhorias no nível de renda dos trabalhadores
locais vai depender dos donos das empresas, pois a ferrovia não tem como provocar impactos
neste quesito.
Qualidade de Vida urbana
O Quadro 7.7 apresenta os impactos que a ferrovia poderá provocar na qualidade de vida
urbana da região do polo gesseiro, conforme opinião dos stakeholders.
155
Quadro 7.7 – Impactos nos indicadores socioeconômicos do polo gesseiro no segmento “Qualidade
de vida urbana” com a Ferrovia Transnordestina.
STAKEHOLDERS IMPACTOS POSITIVOS Q
uali
dad
e d
e vid
a
urb
an
a
Sociedade Civil Para 51% a ferrovia será muito importante.
Empresários Para 75,5% a ferrovia será muito
importante.
Especialistas Para 50% a ferrovia será muito importante.
Em sua totalidade, 61% dos stakeholders veem como positivos os impactos provocados na
qualidade de vida urbana da região pela dinamização da economia local devido à presença da
ferrovia, que poderá criar a possibilidade de investimentos em infraestruturas urbanas,
melhorias na educação, na saúde, etc., por consequência do aumento na arrecadação de
impostos pelos municípios.
A população vê como um encadeamento natural a ocorrência da oferta de empregos, nível de
renda e melhoria da qualidade de vida urbana. Os empresários atribuem a melhoria pela
possibilidade de a ferrovia propiciar a chegada de uma matriz energética eficiente e
sustentável, em substituição ao uso desordenado da lenha.
Qualidade Ambiental
Neste segmento há divergência entre os stakeholders, principalmente entre a sociedade civil e
os empresários, conforme visto na análise inferencial e apresentado no Quadro 7.8 a seguir.
Quadro 7.8 – Impactos nos indicadores socioeconômicos do polo gesseiro no segmento “melhoria da
Qualidade Ambiental” com a Ferrovia Transnordestina.
STAKEHOLDERS IMPACTOS NEGATIVOS IMPACTOS POSITIVOS
Qu
ali
dad
e A
mb
ien
tal Sociedade Civil Para 74% a ferrovia terá pouca
importância.
Empresários Para 53,1% a ferrovia será
muito importante.
Especialistas 60% acham a ferrovia pouco
importante ou não vai mudar.
156
Apenas o stakeholder Empresários vê a presença da ferrovia como impactos positivos, pois
acreditam que devido aos investimentos propiciados pela implantação da ferrovia, poderá
ocorrer melhoria na qualidade ambiental da região. Porém, os especialistas ressaltam que esta
melhoria dependerá exclusivamente da conscientização ambiental dos empresários. A
população não acredita que a chegada da ferrovia trará benefícios ambientais à região.
Observa-se, de acordo com o que se prega na teoria, quanto a possibilidade de investimentos
em infraestrutura provocar ganhos de produtividade de forma ampla, que apesar da ferrovia
possibilitar uma mudança sustentável na matriz energética, há uma baixa percepção dos
ganhos ambientais segundo a maioria dos stakeholders.
7.2 RECOMENDAÇÕES
A partir de 2017 há a possibilidade de mudanças no cenário atual do polo gesseiro com a
Ferrovia Transnordestina já em funcionamento. Diante desse fato, esta dissertação apresenta
duas formas de recomendações: uma voltada para os stakeholders locais ligados ao polo
gesseiro e outra voltada para estudos futuros por parte da linha acadêmica.
I – Recomendações aos Stakeholders do Polo Gesseiro:
Durante a pesquisa foi verificado que, apesar dos esforços do SINDUSGESSO, não está clara
a existência de um planejamento integrado voltado para o desenvolvimento do polo. Assim
faz-se necessário, efetuar urgentemente um planejamento estratégico buscando parcerias e
incentivos do Governo estadual, de órgãos fomentadores de financiamentos, de Universidades
e Institutos Federais, com a finalidade de implementar as seguintes ações:
a) Criar uma matriz de necessidades e soluções para mitigar os problemas do polo e
apresentar aos órgãos e governo para que ocorra a implementação dessas ações;
b) Criar políticas de incentivos para que não ocorra a dispersão ou desaparecimento
de empresas do polo em virtude da ampliação da exportação do minério bruto;
c) Criar políticas sociais visando à qualificação e manutenção dos empregos na
região.
157
d) Promover a divulgação do polo através de Seminários, Simpósios, etc. na região
metropolitana. Firmar parcerias junto a Universidades para que sejam efetuados
mais estudos sobre a região e produtos da mesma.
Na pesquisa foi lembrada a falta de união entre os empresários na busca de atender as
necessidades que o polo precisa. Assim, a ASSOGESSO e o SINDUSGESSO deveriam
promover a união dos empresários do polo através da criação de uma cooperativa no distrito
industrial de Trindade com o objetivo de facilitar a distribuição da produção gesseira e
recebimento de insumos, através da nova ferrovia, como também estudar em conjunto a
destinação dos resíduos do gesso;
II – Recomendações para estudos futuros:
Para esta dissertação o estudo baseou-se em um levantamento de expectativas dos
stakeholders envolvidos com o APL do gesso por não ter uma ferrovia análoga que pudesse
fazer um estudo comparativo. Concluído este estudo, sugere-se a seguinte recomendação para
trabalhos futuros: Estudos comparativos da situação do polo gesseiro antes e depois da
ferrovia, onde poderão ser utilizadas as expectativas dos stakeholders apresentadas nesta
dissertação.
Nos estudos relacionados à economia dos transportes e geografia econômica sugere-se:
Estudos de Análises econômicas em relação ao desenvolvimento regional dos Estados
e Municípios na área de influência da nova ferrovia, com base nas teorias econômicas
apresentadas nesta dissertação;
Estudo comparativo entre o frete rodoviário e ferroviário que passar a ser adotado
pelos empresários do polo gesseiro.
Nos estudos relacionados aos impactos ambientais recomenda-se:
a) Estudos na área ambiental considerando o antes e depois da ferrovia na região;
b) Estudos ambientais considerando a destinação dos resíduos do gesso, com a
criação ou não da cooperativa do polo.
158
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166
APÊNDICES
Apêndice A – Cálculo do tamanho amostral para os Empresários.
Apêndice B – Cálculo do tamanho amostral para os Especialistas.
169
Apêndice E – Questionário aplicado aos Especialistas.
PESQUISA DO ALUNO DE MESTRADO DA UFPE JOÃO JOSÉ DOS SANTOS TEMA: INFLUÊNCIA DA FERROVIA TRANSNORDESTINA NO POLO GESSEIRO.
APRESENTAÇÃO: Olá, estou fazendo uma pesquisa para saber a opinião de empresários, pessoas da região e especialistas
conhecedores do assunto, sobre os impactos que a Ferrovia Transnordestina poderá provocar nos municípios pertencentes ao
polo gesseiro. Necessito apenas que expressem o seu ponto de vista em relação ao tema, podendo colocar as observações
necessárias. Posso começar?
1) É sabido que atualmente o Polo Gesseiro enfrenta alguns entraves considerados empecilhos para o seu crescimento. Nos itens abaixo indique a gravidade que cada problema representa em relação a possibilidade de crescimento do polo gesseiro. Dê nota de 1 (não há gravidade) a 10 (o problema é muito grave).
PROBLEMAS DO POLO GESSEIRO NOTA OBSERVAÇÃO
Mão-de-obra
Recursos/Capitais
Transporte
Energia
Água
Meios de Comunicações (Telefonia, Internet, etc)
Mercado
Preços VERSUS Custos
Impactos Ambientais
Outros. Quais?
2) Na sua opinião, o que precisaria ser feito para melhorar/otimizar os resultados para a região e para o polo gesseiro?
Resposta:
3) Com a implantação da Ferrovia Transnordestina, indique nos setores abaixo, o que o(a) sr.(a) acha que poderá ocorrer, através de uma nota de 1 (não haverá crescimento) a 10 (que haverá crescimento expressivo).
SETORES DE CRESCIMENTO NOTA OBSERVAÇÃO
Extração e Transportes de minério bruto para exportação
Indústrias de transformação local
Relocalização ou surgimento de outros polos industriais em outras regiões.
Outras atividades econômicas. Quais?
4) Além do setor do gesso/gipsita, indique o grau de importância nos aspectos abaixo, dos impactos que a ferrovia provocará na região. Escolha uma nota de 1 (será pouco importante) a 10 (será muito importante)
.
GRAU DE IMPORTÂNCIA COM A FERROVIA NOTA OBSERVAÇÃO
Empregos (crescimento, oferta)
Nível de Renda dos trabalhadores
Qualidade de vida urbana (infraestrutura, educação, saúde, etc.)
Qualidade Ambiental
NOME: ________________________________________________________ EMPRESA/ÓRGÃO: _____________________________________________ CARGO QUE OCUPA: ___________________________________________ DATA: ______/___________/_______.
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5) O Sr. (a) sabe informar se no processo de planejamento da Ferrovia Transnordestina houve participação de representantes
desse órgão/empresa? ( ) SIM ( ) NÃO ( ) NÃO SABE.
Apêndice F – Questionário aplicado aos Empresários.
PESQUISA DO ALUNO DE MESTRADO DA UFPE JOÃO JOSÉ DOS SANTOS
TEMA: INFLUÊNCIA DA FERROVIA TRANSNORDESTINA NO POLO GESSEIRO.
APRESENTAÇÃO: Olá, estou fazendo uma pesquisa para saber a opinião de empresários, pessoas da região e especialistas
conhecedores do assunto, sobre os impactos que a Ferrovia Transnordestina poderá provocar nos municípios pertencentes ao
polo gesseiro. Necessito apenas que expressem o seu ponto de vista em relação ao tema, podendo colocar as observações
necessárias. Posso começar?
1) É sabido que atualmente o Polo Gesseiro enfrenta alguns entraves considerados empecilhos para o seu crescimento. Nos itens abaixo indique a gravidade que cada problema representa em relação a possibilidade de crescimento do polo gesseiro. Dê nota de 1 (não há gravidade) a 10 (o problema é muito grave).
PROBLEMAS DO POLO GESSEIRO NOTA OBSERVAÇÃO
Mão-de-obra
Recursos/Capitais
Transporte
Energia
Água
Meios de Comunicações (Telefonia, Internet, etc)
Mercado
Preços VERSUS Custos
Impactos Ambientais
Outros. Quais?
2) Na sua opinião, o que precisaria ser feito para melhorar/otimizar os resultados para a região e para esse setor? Resposta:
3) Com a implantação da Ferrovia Transnordestina, indique nos setores abaixo, o que o(a) sr.(a) acha que poderá ocorrer,
através de uma nota de 1 (não haverá crescimento) a 10 (que haverá crescimento expressivo).
SETORES DE CRESCIMENTO NOTA OBSERVAÇÃO
Extração e Transportes de minério bruto para exportação
Indústrias de transformação local
Relocalização ou surgimento de outros polos industriais em outras regiões.
Outras atividades econômicas. Quais?
SETOR A QUE PERTENCE O ENTREVISTADO: Marque com um X, uma ou mais opção. ( ) EXTRAÇÃO/MINERAÇÃO ( ) CALCINADORAS ( ) FÁBRICAS PRÉ MOLDADOS. NOME: _______________________________________________________________________________ CARGO QUE OCUPA: ___________________________________________________________________ NOME DA EMPRESA: ___________________________________________________________________ MUNICIPIO: _______________________________ DATA: _______/__________________/__________
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4) Além do setor do gesso/gipsita, indique o grau de importância nos aspectos abaixo, dos impactos que a ferrovia provocará na região. Escolha uma nota de 1 (será pouco importante) a 10 (será muito importante) .
GRAU DE IMPORTÂNCIA COM A FERROVIA NOTA OBSERVAÇÃO
Empregos (crescimento, oferta)
Nível de Renda dos trabalhadores
Qualidade de vida urbana (infraestrutura, educação, saúde, etc.)
Qualidade Ambiental
5) O Sr. (a) sabe informar se no processo de planejamento da Ferrovia Transnordestina houve participação de representantes do setor? ( ) SIM ( ) NÃO ( ) NÃO SABE
6) Atualmente, qual o custo médio gastos com transportes, em relação aos preços de venda?
( ) Menos de 10 por cento ( ) De 11 a 20 por cento ( ) De 21 a 30 por cento
( ) De 31 a 40 por cento ( ) De 41 a 50 por cento ( ) Mais de 50 por cento
7) Qual a sua expectativa em relação aos custos de transportes, com a implantação da Ferrovia Transnordestina?
Resposta:
8) Qual (is) o(s) destino(s) da sua produção?
Resposta:
9) De que forma, a sua produção é transportada hoje?
( ) Rodoviário ( ) Rodoviário + Porto ( ) Outro modo.