Importância do Controle de Qualidade do Concreto no Estado Fresco

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INTRODUÇÃO A qualidade final de uma estrutura de concreto armado depende tanto do controle de suas proprie- dades no estado fresco como no seu estado endureci- do. Erroneamente, muitas vezes, o controle tecnológico se restringe aos ensaios de resistência à compressão simples (concreto endurecido), como se este parâmetro, isoladamente, pudesse garantir a qua- lidade do concreto. O concreto, e mesmo a sua comercialização, ao ser regido exclusivamente pela resistência caracterís- tica (fck) pode não apresentar propriedades tais que o levem a um bom desempenho e a uma durabilidade satisfatória. Dessa forma, outros aspectos devem ser levados em consideração quando se deseja obter con- cretos de qualidade; entre eles o controle das propri- edades do concreto fresco, pois estes são fundamentais à execução das estruturas e às propriedades da estru- tura de concreto endurecido. O controle do concreto no estado fresco tam- bém não pode depender exclusivamente do Ensaio de Abatimento do Tronco de Cone (Slump Test), pois esta metodologia avalia apenas um parâmetro da mis- tura que é a sua consistência. Outras características igualmente responsáveis pela qualidade final do con- creto devem ser verificadas no material antes de seu processo de endurecimento, dentre as quais pode-se Prof. Dr. André Luiz Bottolacci Geyer Professor Doutor, Escola de Engenharia Civil da Universidade Federal de Goiás -UFG. Eng. Rodrigo Resende de Sá Mestre em Engenharia Civil. Importância do Controle de Qualidade do Concreto no Estado Fresco citar a trabalhabilidade, a coesão, a segregação, a exsudação e o ar incorporado como sendo as mais importantes. A qualidade das estruturas acabadas está intima- mente ligada à sua qualidade no estado fresco, deter- minando ou não, a presença de falhas de concretagem, segregação, exsudação e vazios no con- creto. Neste informe técnico serão apresentados alguns dos principais parâmetros que devem ser verificados em um concreto fresco, quer seja em centrais de con- creto, ou em obras. Buscar-se-á mostrar que resulta- dos isolados de resistência a compressão, ou mesmo de slump, não são suficientes para garantir um bom desempenho do concreto, devendo ser também veri- ficados outros fatores que vão desde a dosagem ade- quada do concreto até a sua cura. TRABALHABILIDADE A Trabalhabilidade adequada em cada situação de concretagem é fundamental para a obtenção de um produto final de qualidade. Segundo o ACI 116R- 90, a trabalhabilidade é uma propriedade do concre- to recém misturado que determina a facilidade e a homogeneidade com a qual o material pode ser mis- turado, lançado, adensado e acabado. A obtenção de um concreto com trabalhabilidade adequada, ao contrário do que se imagina, não depende unicamente da quantidade de água utilizada. Nem sempre o acréscimo de água na mistura leva a uma maior trabalhabilidade, podendo, muitas vezes, levar à exsudação, à segregação, ou sim- plesmente, a um aumento do abatimento. A trabalhabilidade depende de uma seleção e propor- ção adequada dos materiais e muitas vezes do uso de adições e aditivos. Os teores de pasta, de argamassa e de agregados, em função da trabalhabilidade deseja- da, devem ser compatibilizados. Isto se consegue me- diante o conhecimento das características de cada componente e de seu proporcionamento correto na mistura. Av. W-6, Área 34, CEP 74.922-790 - Aparecida de Goiânia - Go Telefax: (62) 3282-0400 - www.realmixconcreto.com.br - [email protected]

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INTRODUÇÃO

A qualidade final de uma estrutura de concretoarmado depende tanto do controle de suas proprie-dades no estado fresco como no seu estado endureci-do. Erroneamente, muitas vezes, o controletecnológico se restringe aos ensaios de resistência àcompressão simples (concreto endurecido), como seeste parâmetro, isoladamente, pudesse garantir a qua-lidade do concreto.

O concreto, e mesmo a sua comercialização, aoser regido exclusivamente pela resistência caracterís-tica (fck) pode não apresentar propriedades tais queo levem a um bom desempenho e a uma durabilidadesatisfatória. Dessa forma, outros aspectos devem serlevados em consideração quando se deseja obter con-cretos de qualidade; entre eles o controle das propri-edades do concreto fresco, pois estes são fundamentaisà execução das estruturas e às propriedades da estru-tura de concreto endurecido.

O controle do concreto no estado fresco tam-bém não pode depender exclusivamente do Ensaiode Abatimento do Tronco de Cone (Slump Test), poisesta metodologia avalia apenas um parâmetro da mis-tura que é a sua consistência. Outras característicasigualmente responsáveis pela qualidade final do con-creto devem ser verificadas no material antes de seuprocesso de endurecimento, dentre as quais pode-se

Prof. Dr. André Luiz Bottolacci GeyerProfessor Doutor, Escola de Engenharia Civil da Universidade Federal de Goiás -UFG.

Eng. Rodrigo Resende de SáMestre em Engenharia Civil.

Importância doControle deQualidade doConcreto noEstado Fresco

citar a trabalhabilidade, a coesão, a segregação, aexsudação e o ar incorporado como sendo as maisimportantes.

A qualidade das estruturas acabadas está intima-mente ligada à sua qualidade no estado fresco, deter-minando ou não, a presença de falhas deconcretagem, segregação, exsudação e vazios no con-creto.

Neste informe técnico serão apresentados algunsdos principais parâmetros que devem ser verificadosem um concreto fresco, quer seja em centrais de con-creto, ou em obras. Buscar-se-á mostrar que resulta-dos isolados de resistência a compressão, ou mesmode slump, não são suficientes para garantir um bomdesempenho do concreto, devendo ser também veri-ficados outros fatores que vão desde a dosagem ade-quada do concreto até a sua cura.

TRABALHABILIDADE

A Trabalhabilidade adequada em cada situaçãode concretagem é fundamental para a obtenção deum produto final de qualidade. Segundo o ACI 116R-90, a trabalhabilidade é uma propriedade do concre-to recém misturado que determina a facilidade e ahomogeneidade com a qual o material pode ser mis-turado, lançado, adensado e acabado.

A obtenção de um concreto comtrabalhabilidade adequada, ao contrário do que seimagina, não depende unicamente da quantidade deágua utilizada. Nem sempre o acréscimo de água namistura leva a uma maior trabalhabilidade, podendo,muitas vezes, levar à exsudação, à segregação, ou sim-plesmente, a um aumento do abatimento. Atrabalhabilidade depende de uma seleção e propor-ção adequada dos materiais e muitas vezes do uso deadições e aditivos. Os teores de pasta, de argamassa ede agregados, em função da trabalhabilidade deseja-da, devem ser compatibilizados. Isto se consegue me-diante o conhecimento das características de cadacomponente e de seu proporcionamento correto namistura.

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Segundo Neville (1997) não existe um ensaioaceitável que determine diretamente atrabalhabilidade do concreto. No entanto, inúmerastentativas têm sido feitas para correlacionar atrabalhabilidade com alguma grandeza física fácil deser determinada. Dentre os ensaios que indicam indi-retamente a trabalhabilidade dos concretos conven-cionais e bombeados pode-se citar o Ensaio deAbatimento do Tronco de Cone.

Ensaio de Abatimento do Tronco de Cone (SlumpTest)

O Ensaio de Abatimento do Tronco de Conemede a consistência e a fluidez do material, permitin-do que se controle a uniformidade do concreto. Aprincipal função deste ensaio é fornecer umametodologia simples e convincente para se controlara uniformidade da produção do concreto em diferen-tes betonadas. Desde que, na dosagem, se tenha obti-do um concreto trabalhável, a constância doabatimento indicará a uniformidade datrabalhabilidade.

No Brasil este ensaio é regulamentado pelaNBRNM67 (1998) – Determinação da Consistênciapelo Abatimento do Tronco de Cone. As Figuras 1,2 e 3 mostram como é realizado o ensaio. Basicamen-te consiste no preenchimento de um tronco de coneem três camadas de igual altura, sendo em cada ca-mada dados 25 golpes com uma haste padrão. O va-lor do abatimento é a medida do adensamento doconcreto logo após a retirada do molde cônico.

A noção de trabalhabilidade é, portanto, mui-to mais subjetiva que física, e o componente físicomais importante da trabalhabilidade é a consistência,termo que, aplicado ao concreto, traduz proprieda-des intrínsecas da mistura fresca, relacionadas com amobilidade da massa e a coesão entre os elementoscomponentes, tendo em vista a uniformidade e acompacidade do concreto, além do bom rendimentodurante a execução da estrutura.

Misturas com consistência rijas têm abatimentozero, de modo que não se consegue nestes casos ob-servar variações de trabalhabilidade. Já misturas ri-cas, como as comumente utilizadas nos concretos paraa construção civil, podem ser aferidas satisfatoriamentecom este ensaio. Neville (1997) indica correlaçõesentre o ensaio de abatimento e trabalhabilidade, con-forme mostra a Tabela 1.

Tabela 1 – Relação entre trabalhabilidade e gran-deza de abatimento.

Figuras 1, 2 e 3 – Ensaio de Abatimento do Tronco de Cone sendo realizado.

Considerando-se as especificações dos concre-tos utilizados na construção civil, embora o ensaioapresente limitações, devido à facilidade de sua reali-zação, torna-se muito útil para o controle da qualida-de do concreto no estado fresco. No entanto, deve-seter a garantia que o concreto foi dosado adequada-mente e verificada a trabalhabilidade durante o seupreparo.

Ensaios de Controle de Aceitação do Concretono Estado Fresco

De acordo com a NBR 12655 (1996) deve-serealizar o Ensaio de Abatimento do Tronco de Cone(Slump Test) para a aceitação do concreto fresco, deforma que atenda as especificações de projeto e exe-cução da estrutura.

Para concretos preparados pelo executante daobra devem ser realizados ensaios sempre que for al-terada a umidade dos agregados, na primeira amassa-da do dia, após interrupções na produção de 2 horasou na troca de operadores. Para concretos fornecidos

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Como se pode observar na Tabela 3, a alte-ração do abatimento pela adição de água conduz asignificativas reduções na resistência à compressão sim-ples do concreto.

Outros Ensaios

Existem vários outros ensaios (alguns delessão citados abaixo) que indiretamente avaliam atrabalhabilidade do concreto. Em Centrais de Con-creto e em Estudos de Dosagem sugere-se que sejamutilizados também outros parâmetros além do Slump,para a avaliação dessa trabalhabilidade.

· Ensaio de Fator de Adensamento: É um dosensaios mais apropriados para se medir atrabalhabilidade. Usa uma abordagem inversa dosdemais, ou seja, determina-se o grau de adensamentoobtido quando se aplica uma quantidade de traba-lho.

· Ensaio de Remoldagem: Uma mesa de golpesé utilizada para avaliar a trabalhabilidade com baseno trabalho necessário para mudar a forma de umaamostra de concreto. É um bom ensaio de laborató-rio, principalmente para avaliação de misturas secas.

· Ensaio de Espalhamento: pode ser executadopor uma pessoa e exige poucos materiais, o que o ha-bilita a ser utilizado em canteiros de obra e, não so-mente em laboratórios. É composto por uma base, aqual deve ser um quadrado de 1000 x 1000 milíme-tros, que não absorva água e nem provoque atrito como concreto, e por um tronco de cone com materiaisde mesmas características da base. Este ensaio é indi-cado para avaliação da trabalhabilidade de concretosauto-adensáveis ou fluídos. O Ensaio deEspalhamento é utilizado para medir a capacidade doconcreto auto-adensável fluir livremente sem segre-gar. A medida de fluidez a ser obtida do CAA é odiâmetro do círculo formado pelo concreto. Para con-cretos convencionais, a trabalhabilidade é medida pelaNBR NM 67(Associação Brasileira de NormasTécnicas, 1998b): Concreto – Determinação daConsistência pelo Abatimento do Tronco de Cone –Método de Ensaio, ou pela NBR NM 68 (ABNT,1998c): Concreto – Determinação da Consistênciapelo Espalhamento na Mesa de Graff. A determina-ção da consistência do concreto pelo espalhamentoda mesa de Graff é aplicável para misturas que atin-jam o espalhamento mínimo de 350 milímetros, maslimitado ao tamanho da mesa, de 700 milímetros.Pode-se afirmar, a grosso modo, que o slump flow testé uma adaptação destes dois ensaios, para um con-creto excessivamente fluido.

por empresas de concretagem (concreteiras) devemser realizados ensaios a cada betonada que chega àobra. A aceitação ou não dos resultados obtidos noEnsaio de Abatimento do Tronco de Cone deve obe-decer aos critérios da Tabela 2.

Tabela 2- Tolerâncias para aceitação do concretono estado fresco pelo Ensaio de Abatimento do Tron-co de Cone.

A NBR 7212 (1984) - Execução de Con-creto Dosado em Central, estabelece que em algunscasos o abatimento pode ser corrigido na obra atra-vés da adição de água, sendo que essa correção, so-mente pode ser realizada antes do início da descargado caminhão e nas seguintes condições:

a) O abatimento inicial tem que ser igual ousuperior a 10 mm;

b) A correção não pode aumentar o abatimen-to em mais de 25 mm;

c) O abatimento, após a correção, não pode sersuperior ao especificado;

d) O tempo transcorrido entre a primeira adi-ção de água e o início da descarga não pode ser supe-rior a 15 minutos.

Adições de água em demasia, ou abatimen-tos superiores aos especificados podem trazer grandesprejuízos à trabalhabilidade, bem como às proprieda-des do concreto endurecido. Na Tabela 3 apresenta-se um exemplo do efeito na resistência à compressãosimples de aumentos de abatimento em um mesmoconcreto.

Tabela 3 – Efeitos do aumento do abatimentopor adição de água na resistência à compressão aos28 dias de um concreto.

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COESÃO

Uma propriedade muito ligada à trabalhabilidadeé a coesão. A falta de coesão da mistura pode acarre-tar a desagregação do concreto no estado fresco, alte-rando sua composição física e sua homogeneidade. Oconcreto ideal é aquele que apresenta coesão etrabalhabilidade adequadas.

Concreto coeso é aquele que se apresenta ho-mogêneo e sem separação de materiais da mistura emtodas as fases de sua utilização, quer seja na produ-ção, no transporte, no lançamento, ou mesmo no seuadensamento durante a concretagem da estrutura.

A coesão depende muito da proporção de partí-culas finas na mistura e, em especial, nas misturas combaixos teores de cimento, deve ser dada atenção àgranulomentria na extremidade fina da curvagranulométrica. Muitas vezes é necessário fazer vári-as misturas experimentais com diferentes proporçõesentre agregados graúdos e miúdos para se encontraruma mistura com coesão adequada.

As Figuras 4 e 5 mostram, respectivamente, umconcreto coeso e não coeso, identificados no momen-to da realização do Ensaio de Abatimento do Troncode Cone (Slump test).

ma que sua distribuição não seja mais uniforme. Exis-tem, basicamente, duas formas de segregação. A pri-meira, típica de concretos pobres e secos, os grãosmaiores do agregado tendem a separar-se dos demaisdurante as operações de lançamento com energiademasiada ou vibração excessiva. A segunda, comumnas misturas muito plásticas, manifesta-se pela nítidaseparação da pasta da mistura, sendo também conhe-cida por exsudação.

A exsudação é uma forma particular de segrega-ção, em que a água da mistura tende elevar-se à su-perfície do concreto recentemente lançado. Essefenômeno é provocado pela impossibilidade dos cons-tituintes sólidos fixarem toda a água da mistura e de-pende, em grande escala, das propriedades do cimento.

Como resultado da exsudação, tem-se o apareci-mento de água na superfície do concreto após o mes-mo ter sido lançado e adensado, além do surgimentoe da manifestação de inúmeros outros problemas comoo enfraquecimento da aderência pasta-agregado (zonade transição), aumento da permeabilidade do con-creto e, se a água for impedida de evaporar, pela ca-mada que lhe é superposta, poderá resultar em umacamada de concreto fraca, porosa e de pouca durabi-lidade.

As Figuras 6 e 7 mostram exemplos de exsudaçãoem um ensaio de abatimento e em uma estrutura naqual se constatou a ocorrência da segregação.

Figuras 4 e 5 – Concreto coeso e concreto não coeso (HELENE e TERZIAN, 1993).

Não existem ensaios normalizados para se me-dir, de uma forma simples, a coesão de uma mistura.Porém, testes práticos como o de se bater com a has-te do ensaio de abatimento, lateralmente, no con-creto, podem indicar, empiricamente, a coesão domaterial. Recomenda-se que sejam verificados estesaspectos na realização da dosagem experimental ena execução dos ensaios de abatimento em obra.

SEGREGAÇÃO E EXSUDAÇÃO

A segregação é definida como sendo a separa-ção dos componentes do concreto fresco de tal for-

Figura 6 – Exsudação verificada noensaio de abatimento e espalhamento.

Figura 7- Segregação constatada emuma estrutura após o endurecimentodo concreto.

Não existem ensaios normalizados para de me-dir a segregação. Dessa forma, a observação visual dacoesão do concreto no estado fresco ou endurecido ea extração de testemunhos do concreto endurecidosão indicados para a avaliação do comprometimentoda estrutura por este fenômeno. Salienta-se, também,que concretos mal dosados conduzem a eventuais se-gregações e exsudações.

Quanto à exsudação, existe um ensaio normali-zado pela ASTM para ser realizado em laboratório,que consiste na colocação do concreto fresco em umrecipiente de 250 mm de diâmetro e 280 mm de altu-ra. Neste ensaio, a água de exsudação é retirada da

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superfície do concreto em intervalos de tempo deter-minados e a exsudação é determinada como sendo arelação entre a quantidade de água retirada da super-fície e a água total da amostra.

Conforme Mehta e Monteiro (1994) combina-ções de consistência inadequada com agregados demassa específica muito alta ou muito baixa, poucaquantidade de partículas finas e métodos inadequa-dos de transporte, lançamento e adensamento são asprincipais causas da segregação e exsudação do con-creto.

A segregação e exsudação podem ser reduzidasou eliminadas através de um controle maior da dosa-gem e de métodos de lançamento e adensamento doconcreto mais eficientes e bem executados.

AR INCORPORADO

De acordo com Methta e Monteiro (1994)pode-se encontrar vazios preenchidos por ar den-tro do concreto de duas formas: através debolhas de ar incorporado ou através devazios de ar aprisionado.

As bolhas de ar incorporado pos-suem dimensões entre 100um e 1mm dediâmetro, enquanto os vazios de ar apri-sionado são maiores, ficando entre 1mme 10 mm.

Os vazios de ar aprisionado, que na maioria dasvezes são causados por deficiência nas dosagens e es-colha dos materiais, são nefastos à qualidade final doconcreto, podendo comprometer as propriedadesmecânicas de resistência à compressão e módulo deelasticidade. Outro aspecto negativo em relação àpresença de vazios de ar aprisionado no concreto é aaparência final, com a formação de macro-bolhas su-perficiais. No caso de concreto aparente a presençade macro-bolhas superficiais é totalmente indesejá-vel.

Quanto às bolhas de ar incorporado, podem terduas origens. A primeira, com a natural incorporaçãode pequenas quantidades de ar, disseminadas atravésde micro-bolhas na massa do concreto. A segunda,através da utilização de aditivos incorporadores de arao concreto.

A incorporação denominada natural, bem comoa presença de vazios de ar incorporado advém de fa-tores como tipo e finura dos aglomerantes e agrega-dos miúdos, dosagem dos materiais, tipo e grau de

adensamento aplicado, temperatura e tempo de mis-tura do concreto.

A incorporação através de aditivos se dá em ca-sos especiais com os objetivos de redução do tama-nho das macro-bolhas (vazios de ar aprisionado),aumento da trabalhabilidade do concreto, reduçãodo consumo de cimento e melhoria da qualidade doconcreto quanto a ação de gelo e degelo. Dentro delimites aceitáveis, para incorporações de até 6% atra-vés de aditivos, a cada incremento da incorporaçãode ar em 1% pode-se permitir a redução da água damistura em até 3% e a percentagem de areia em até1% levando a melhorias na resistência à compressãosimples do concreto.

O controle do teor de ar incorporado é funda-mental ao controle da qualidade do concreto, querseja para verificar limites máximos e mínimos desejá-veis de ar incorporado, ou para identificar teores devazios de ar no concreto. No Brasil a NBR 11686/1990 – Concreto Fresco – Determinação do Teor deAr pelo Método Pressométrico, é o ensaio utilizadopara a obtenção do valor do ar incorporado e/ou apri-sionado no concreto.

Na Figura 8 apresenta-se o equipamento utili-zado para realização do ensaio de medição do ar in-corporado no concreto, o qual consiste de umrecipiente hermeticamente fechado, que é preenchi-do com concreto fresco. Através de orifícios é injeta-da a água no recipiente fechado, de forma a expulsaro ar do concreto. Na saída do ar, manômetros detec-tam o teor liberado e indicam o percentual de ar namistura.

A Figura 9 mostra todos os materiais e equipa-mentos utilizados no ensaio e as Figuras 10 a 15 ilus-tram a seqüência de procedimentos adotados para arealização do ensaio de medição de ar incorporado,de acordo com a NBR 11686/1990.

Figura 8

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Concretos convencionais contêm no seu inte-rior, mesmo sem o uso de aditivos incorporadores dear, 1 a 3% do seu volume em ar aprisionado, devidoao processo de mistura e a sua consistência. Nos casosde concretos produzidos em centrais e transportadospor caminhões betoneira este percentual pode che-gar à ordem de 4%. Percentuais de ar incorporadoacima de 5% podem trazer prejuízos ao desempenhomecânico do material.

A aplicação de aditivos incorporadores de ar aoconcreto torna possível transformar as macro-bolhasincorporadas na mistura em micro-bolhas, além deelevar o teor de ar no concreto. Nestes casos as bo-lhas geradas são pequenas, em torno de 0,2 mm, epodem contribuir muito para a trabalhabilidade doconcreto, sem necessariamente trazer reduções de re-sistências.

Para concretos convencionais a incorporação dear, via aditivos, pode ser benéfica com melhorias glo-bais ao material. Já para concretos de alto desempe-nho (CAD) o ACI (Instituto Americano doConcreto) sugere que devido à redução da resistên-cia à compressão os aditivos não sejam utilizados.

O teor de ar no concreto é, portanto, um temade extrema importância à sua qualidade final. O con-trole dos percentuais de ar no concreto fresco permi-te aferir as dosagens, as adições de aditivos e, comoconseqüência, garantir a qualidade do material. Va-lores de ar acima dos previstos na dosagem do materi-al indicam que o concreto poderá sofrer prejuízosmecânicos, como reduções de resistência à compres-são e módulo de elasticidade, ou estéticos como a for-mação de macro-bolhas superficiais.

No caso da utilização de aditivos incorporadores,a questão se inverte, pois valores de incorporação dear abaixo dos estimados podem comprometer a

Figura 9 - Aparelho medidor de ar incorporado ao concreto.

Figura 10 – Amostra de concreto sendo retirada do caminhão betoneira.

Figura 13 – Injeção de água noequipamento.

Figura 14 – Injeção de ar noequipamento.

Figura 15– Leitura do teor de ar incorporado.

Figura 11 – Detalhe da amostra deconcreto.

Figura 12– Adensamento do concreto.

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trabalhabilidade e a resistência às ações de gelo e de-gelo (comuns em países de clima frio ou em casos deobras especiais como câmaras frigoríficas).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A qualidade do concreto quanto às suas propri-edades no estado fresco e, por conseguinte, tambémno estado endurecido, bem como a exatidão dos vo-lumes preparados e fornecidos, passam, necessariamen-te pelo rigoroso controle das característicasespecificadas para o concreto no estado fresco.

A REALMIX possui equipamentos de últimageração para a realização dos ensaios tecnológicos deconcreto fresco e os utiliza em todos os procedimen-tos de dosagem e preparo de concreto, tanto na Cen-tral quanto nas obras. A utilização em caráterpermanente destes controles na dosagem, preparo efornecimento contribuem para a garantia da qualida-de do concreto.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

HELENE, P. R. L.; TERZIAN, P. Manual de Dosa-gem e Controle do Concreto. São Paulo:PINI, 1993.

MEHTA, P. K.; MONTEIRO, P. J. M. Concreto –Estrutura, propriedades e materiais. São Paulo,1994.

NEVILLE, A. M. Propriedades do Concreto. Trad.Savador E. Giamusso. Ed. Pini, São Paulo, 1997.

NBR 7212 (1984) – Execução de concreto do-sado em central.

NBRMN67 (1998) – Determinação da Consis-tência pelo abatimento do tronco de concreto.

NBR 11686/1990 – Concreto Fresco – Deter-minação do teor de Ar pelo Método Pressométrico.

NBR 12655 (1996) – Concreto – Preparo, con-trole e recebimento.

NBR NM 67 (1998): concreto – Determinaçãoda consistência pelo abatimento do tronco de cone -método de ensaio.

NBR NM 68 (ABNT, 1998): concreto – Deter-minação da consistência pelo espalhamento na mesade Graff.

ASSOCIADA A:

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DICIONÁRIO DO CONCRETO

Este pequeno dicionário não esgota toda a terminologia que o usu-ário do concreto deve conhecer, mas pretende explicar, o quanto possível,os principais termos relativos aos serviços de concretagem, às suas opera-ções, bem como as características do concreto dosado em central, seusapesctos e sua correta utilização.

TERMINOLOGIA

Abatimento – Ensaio normalizado para a determinação da medidada consistência do concreto fresco. Permite verificar se não há excesso oufalta de água no concreto.

Abrasão – Desgaste superficial do concreto.

Adensamento – Processo manual ou mecânico para compactaruma mistura de concreto no estado fresco, com o intuito de eliminar vaziosinternos da mistura ( bolhas de ar) ou facilitar a acomodação do concretono interior das fôrmas.

Aditivo – Produto adicionado ao concreto em pequenas quantida-des, proporcional ao teor de cimento, no instante da pesagem dos compo-nentes ou durante a mistura do concreto, para modificar suas propriedadesantes ou após a aplicação.

Agregados – Materiais granulares(brita, areia, etc.) que são unidospela pasta de cimento no preparo do concreto.

Reação álcali-agregado – Reação química entre compostos do ci-mento (álcalis) e certos agregados reativos, ocorrendo expansões danosasou fissuras.

Bombeamento – Transporte do concreto por meio de equipamen-tos especiais, bombas de concreto e tubulações, que transportam o concre-to do caminhão- betoneira até ao local de concretagem.

Capeamento - Revestimento com pasta de cimento ou com umamistura composta de material pulverulento e enxofre derretido, que regu-lariza os topos de um corpo-de-prova com o objetivo de distribuir uniforme-mente a carga durante o ensaio.

Central dosadora – Local de dosagem ou mistura do concreto pormeio de instalações e equipamentos especiais, sendo o mesmo transporta-do ao local de aplicação por caminhões-betoneira.

Cobrimento – Espessura de concreto entre a superfície da armadu-ra e a superfície do concreto.

Consistência – É a medida da mobilidade da mistura (plasticidade),isto é, maior ou menor facilidade de deformar-se sob a ação de cargas. Éexpressa pelo ensaio de abatimento do tronco de cone (slump test).

Consumo de cimento – Quantidade dosada, em massa (kg), paraproduzir um metro cúbico de concreto.

Corpo-de-prova – Amostra de concreto endurecido, especial-mente preparado para testar propriedades como: resistência à compressão,módulo de elasticidade, etc.

Cura – Procedimentos para a manutenção das condições favoráveisde umidade e temperatura nas primeiras idades do concreto que possibili-tam o desenvolvimento de sua resistência e de outras propriedades.

Desmoldante – Substância química utilizada para evitar a aderên-cia do concreto à fôrma.

Desvio Padrão – Medida da dispersão de um conjunto devalores. Dispersão entre a média e os valores individuais.

Dosagem – Estabelecer as quantidades ótimas dos compo-nentes do concreto para atender a determinadas características oupropriedades pré-estabelecidas.

Ensaio – Realização de testes para avaliar propriedades físicasou químicas de um material ou peça.

Escoramento – Reforços executados na fôrma para que su-porte o seu próprio peso e também do concreto fresco lançado, ga-rantindo uma perfeita moldagem da peça concretada.

Espaçadores – Dispositivos colocados entre a armadura e aface interna da fôrma de modo a garantir o cobrimento necessário.

Exsudação – Migração de parte da água da mistura para asuperfície da peça concretada. É causada pela acomodação dosmateriais sólidos da mistura de concreto.

Fissuração – São pequenas rupturas que aparecem no con-creto que podem ser provocadas por atuação de cargas ou por retração,devido à rápida evaporação da água.

Hidratação – Formação de compostos pela combinação daágua com o cimento portland. Processo de endurecimento de pas-tas, argamassas e concretos.

Lançamento – Processo de colocação e adensamento doconcreto. Modo de transporte e colocação do concreto na fôrma aser concretada.

Massa específica – Relação entre a massa e o volume de umcorpo (densidade).

Moldagem – Especificamente sobre concretos ou argamas-sas de cimentos portland, refere-se a um procedimento normalizadode confeccionar corpos-de-prova.

Nichos (bicheira) de concretagem – Falhas deconcretagem que ocasionam “buracos” no concreto, devido, princi-palmente, à falta de vibração.

Pega – Condição de perda da plasticidade da pasta, argamas-sa ou concreto, medida pela resistência à penetração ou deforma-ção em ensaios padronizados.

Resistência característica do concreto à compressão (fck)-Esforço resistido pelo concreto, estimado pela ruptura de corpos-de-prova cilíndricos em prensas especiais.

Segregação – Mistura heterogênea. Fato que também ocorrecom misturas de concreto por excesso de vibração durante oadensamento ou lançamento em alturas elevadas.

Sílica Ativa – Material pulverulento composto de partículasextremamente finas de sílica amorfa 100 vezes mais fina que o grãode cimento, utilizado na dosagem de concretos especiais.

Traço – Especificamente em relação à misturas compostas decimento portland ou outro tipo de aglomerante, é a forma de expri-mir a proporção entre os componentes dessas misturas. (FonteABESC.)