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Fevereio 2012| ImunoSciene 1 Revista Mensal nº1 Janeiro 2012 ImunoScience Esclerose múltipla Múltiplos sintomas, uma esperança. 2,50 € fevereiro, 2012 ABC do Lúpus Eritematoso Saiba tudo sobre esta doença. Doença de Crohn Entrevista exclu- siva à Dra. Helena Vasconcelos.

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revista final de biologia

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Revista Mensal nº1 Janeiro 2012ImunoScience

Esclerose múltipla Múltiplos sintomas, uma esperança. 2,50 €

fevereiro, 2012

ABC do Lúpus Eritematoso Saiba tudo sobre esta doença.

Doença de Crohn Entrevista exclu-siva à Dra. Helena Vasconcelos.

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4EDITORIAL Um pequeno espaço para apresentarmos a nossa revista, onde damos as boas vindas a todos os nossos leitores

REPORTAGENSDois assuntos de extrema im-portância, onde são ambos abor-dados extensivamente

Revista da propriedade de:Judite ConstâncioMaria SilvaRita ElvasDiretoras:Ricardo RampazzoJudite ConstâncioMaria SilvaRita ElvasEditores: Ricardo RampazzoJudite ConstâncioMaria SilvaRita ElvasRedatores:Ricardo RampazzoJudite ConstâncioMaria SilvaRita ElvasRevisão científica:Ricardo RampazzoJudite ConstâncioMaria SilvaRita ElvasMorada: Rua da Restauração. lote 1 3ºfrente, Marinha Grande. 2430e-mail: [email protected]: men-salPreço (IVA incluído): 2.5€

NOTÍCIAS

Diversas notícias sobre a atualidade do mundo da medicina

ENTREVISTAEntrevista à Dra. Helena Vascon-clos, médica gastroenterologis-ta, sobre a Doença de Crohn

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Editorial

Caros leitores e leitoras, esta edição da Imuno-Science é o resultado de uma abordagem in-ovadora no campo do jornalismo científico. Nela estão focalizadas diversas doenças autoi-munes, recaindo prin-cipalmente sob a Es-clerose múltipla, Lúpus Eritematoso e Doença de Crohn. Mais do que informação, nestas reportagens so-bressai a necessidade de encarar estas doen-ças de um modo mais positivo e saudável e salienta-se a esperança que deve estar presente em todos os portadores destas doenças. Uma doença, por muito limitadora que se pos-sa vir a revelar, apenas deve incutir em quem a detém uma força ex-trema de modo a lidar com todos os obstácu-los que a acompanham. Na imunoScience acreditamos que da unificação da força e ajuda de profissionais da saúde, sai algo maior do que cada um é capaz

de produzir sozinho. O que nos faz trabalhar nes-ta revista são os nosso leitores. É para si que es-crevemos e por si que nos dedicamos e que expo-mos temas com os quais se poderá identificar e re-tirar disso novas filosofias de vida e modos de lidar com doenças que ainda que, por vezes, incapacit-antes, nunca poderão im-possibilitar e ser obstácu-lo para a concretização dos sonhos e projetos de vida de cada um.

Saudações, Judite Lopes Constâncio, Maria Pinto da Silva e Rita Vasconcelos Elvas.

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Notícia

Hormonas fazem ganhar peso nas mulheres que trabalham à noiteUm estudo da linha de pesquisa da Faculdade de Ciências Médicas (FCM) que avalia hor-monas que regulam o apetite, apontou re-sponsabilidade da gre-lina e da xenina (hor-monas recentemente descobertas) para o ganho de peso das tra-balhadoras do turno da noite, indo contra a ideia estereotipada de que estas engordam porque trabalham mui-to ou devido ao stress. Estas hormonas atuam de forma desregulada no hipotálamo (parte do cérebro que controla a fome e a saciedade) alterando o padrão de apetite dessas pessoas, que passam a consumir alimentos mais vezes e menos saudáveis. As consequências, além do ganho de peso, é que essas mulheres poderão ficar mais pre-dispostas a desenvolver a indesejada síndrome metabólica, que pro-move problemas como a hipertensão arterial, dislipidemia, diabetes e obesidade.O senso comum diz “tra-balhar à noite aumenta o stress e faz as pessoas comerem de forma er-rada”. Mas a fisiotera-peuta Daniela Schiavo diz mais: “depois da

obesidade estar instalada, é difícil as pessoas retomarem o seu peso original”.Trabalhadoras noturnas há mais de um ano, que ainda não tinham um ganho de peso relevante, foram entre-vistadas para se tomar con-hecimento do seu comporta-mento alimentar: como era a sua sensação de fome e de saciedade. O estudo apurou que elas sentiam dificuldades em reconhecer a fome ou a saciedade. Como é possível saber isso?!

As mulheres que trabalham no turno normal ficaram uma hora em repouso no Limed esperando a hora de comer, às 8 horas, que coincidiu com o lanche da manhã. O que Daniela Schiavo observou é que elas tiveram um pico de grelina pré-prandial na hora de comer e uma queda da grelina após a refeição. A

xenina caiu antes da refeição e subiu após dela.ausa do fenómeno de perda do ritmo biológico e da sen-sação de fome, sa-ciedade e provav-elmente por uma alimentação que passa a ser irregu-lar, contribuindo para um aumento de peso com o tem-po. A pessoa que não tem saciação, come pouco. Pas-sado pouco tempo, come mais uma vez e come de novo. Di-ficilmente faz uma refeição com ver-duras, legumes, ar-roz, feijão e carne, alimentos de quali-dade e com pou-caa calorias. O pior, conta o endocri-nologista, é que as trabalhadoras no-turnas são tratadas como as que gan-ham peso por causa desconhecidas ou incorretas.

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Notícia

Há outra forma de estudar DNA, RNA e proteínas

Equipa cria novo método ara o estudo de Biopolímeros en-volvendo investigadores da Universidade do Porto

Agostinho Antunes e Guill-ermin Aguero-Chapin, do Centro Interdisciplinar de Investigação Marinha e Am-biental, Universidade do Porto, desenvolveram com uma equipa de oito cientis-tas internacionais uma nova metodologia para o estudo de Biopolímeros.

O estudo de Biopolímeros é importante para “poder estudar genes e proteínas que apresentem uma elevada divergência sequencial e incluir na análise simulta-neamente a informação da sequência e estrutura dos genes”, explica Agostinho Antunes ao Ciência Hoje. Os métodos clássicos de análise de sequências de nucleótidos e aminoácidos são “pouco efectivos” para o estudo de genes e proteínas que apresentem uma el-evada divergência sequencial. Esse é o caso, por exemplo, da classe de genes ITS2 (internal transcribed spacer 2) nos seres vivos com células eucarióticas (DNA con-densado e consequentemente separado do citoplasma). Na investigação, publicada recentemente na revista internacional Plos One, foi de-senvolvida uma metodologia baseada em índices topológicos que sintetizaram a informação da sequência e estrutura dos genes ITS2. Esta nova metodologia “pode ser aplicada em estudos de genes/proteínas envolvi-dos em doenças genéticas, estudo de genes/proteínas de agentes infecciosos ou de organismos produtores de compostos bioactivos” e vai permitir a “utilização de informação sequencial e estrutural de biopolímeros em simultâneo”, afirma o geneticista. Na prática, “pode ser facilmente aplicada através de um software desenvolvido por nós e de livre acesso”, acrescenta.

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Reportagem

Tudo sobre o Lupus EritematosoO QUE É?

O Lúpus Eritematoso Sistémi-co (LES) é uma doença re-umática sistémica. Tal como na maioria das doenças re-umáticas, um dos principais sintomas é as dores nas ar-ticulações. É Sistémica uma vez que para além das ar-ticulações e músculos , afeta outros órgãos do corpo, po-dendo afetar praticamente qualquer órgão do corpo. É uma doença crónica. A palavra Lupus significa Lobo em Latim. Este nome foi dado à doença devido às lesões na pele que são muito comuns no LES. No século XIX, foi usada pela primeira vez a designação Lúpus Er-itematoso. Eritematoso quer dizer avermelhado e refere-se à coloração das lesões do LES na pele. As lesões de pele mais características do LES surgem na face, fazen-do lembrar a forma de uma borboleta – estendem-se so-bre o dorso do nariz (corpo da borboleta) com as asas estendendo-se pelos dois la-dos da face, sobre as maçãs do rosto. Existem dois tipos princi-pais de Lúpus Eritematoso: 1) Lúpus Eritematoso Cutâ-neo; 2) Lúpus Eritematoso Sistémico. O Lúpus cutâneo afeta sempre e só a pele, enquanto que o Sistémico afeta os órgãos internos e pode causar, ou não, lesões na pele. Todas as lesões de

pele que surgem no Lúpus cutâneo podem aparecer no LES, mas a lesão de borboleta facial é mais característica do LES. O Lúpus induzido por drogas é uma outra var-iedade de Lúpus. Refere-se a pessoas que desen-volvem manifestações típicas do LES, na pele ou nas articulações e outros órgãos internos, devido à toma de determinados medicamentos. São mais de 70 tipos diferentes de medicamentos que por vezes podem causar esta forma de Lúpus. No entanto, a doença desa-parece após deixar de tomar o medicamento em causa.

Há ainda o lupus neo-natal que se refere aos casos (raros) de bebés que nascem com lesões na pele típicas do Lúpus ou com alterações do ritmo dos batimentos do coração. Correm o risco de desenvolver este tipo de Lúpus, os filhos de mães que tenham na circulação sanguínea certos au-toanticorpos. Essas mulheres podem ter LES ou outras doen-ças aparentadas e nal-guns casos são porta-doras saudáveis, ou seja, possuem esses autoanticorpos sem qualquer manifes-tação da doença.

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Reportagem

O QUE ACONTECE AO LONGO DA EVOLUÇÃO DA DOENÇA?

Os doentes com LES podem so-frer períodos de agudização da doença (de gravidade variável, de ligeira a muito grave) e inter-valos entre crises em que pode não existir nenhum sintoma. A duração das crises é variável, de dias a anos, tal como os inter-valos entre elas. Cada doente pode ter sintomas muito difer-entes em cada crise e esta pode começar de forma súbita ou gradual. No início da crise, as al-terações podem ser detetáveis apenas nas análises. Em muitos doentes o LES nunca passa de uma gravidade ligeira, noutros casos pode ser uma

doença muito grave com risco de vida, no entanto ,cada caso é um caso e a evolução de cada um é imprevisível.

COMO SE TRATA?

O LES é uma das mais doenças mais compli-cadas que existem, por isso o seu diagnóstico e tratamento tem de ser orientado pelo especial-ista, se possível em con-sultas especializadas. A maioria dos doentes devem tomar de forma crónica a hidroxicloro-quina, que ajuda a es-tabilizar as alterações imunológicas, controlar diversos sintomas e re-duzir o risco de crises. Outros medicamen-tos são utilizados con-soante os sintomas e

No LES a inflamação não se deve

à infecão, mas sim a

uma anoma-lia do siste-

ma imunitário, que passa a atacar o

próprio corpo

táveis para diversos tipos de agudizações e imunos-supressores utilizados quando surgem compli-cações mais graves. Os imunossupressores inibem as reacções de au-toimunidade do LES e os mais comuns são: a aza-tioprina, a ciclofosfamida, omicofenolato mofetil, o metotrexato, a ciclospori-na.

QUEM CORRE O RISCO DE SOFRER DA DOENÇA?

O Lúpus Eritematoso é uma doença rara, no en-tanto qualquer pessoa pode vir a sofrer desta doença. Afeta pessoas de todas as origens étnicas e religiosas. No entanto, 9 em cada 10 doentes são

órgãos afectados, por períodos de dias a anos, servindo de exemplo: aplicação de cremes de corticosteróides (corti-sona) nas lesões da pele, antiinflamatórios orais para a artrite, corticos-teróides orais ou injec-

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Reportagem

mulheres. O início da doença é geralmente no adulto jovem, entre os 15 e os 44 anos de idade, sendo relativamente raro que a doença apareça antes dos 9 e depois dos 60 anos de idade. Estudos comprovam que existe uma tendência genética para o LES, mas é pou-co frequente que apareça nos filhos ou em irmãos de doentes, exceto no caso de gémeos idênticos. Na prática, não há forma de prever quem nem quando alguém pode desenvolver LES.

QUAL É A CAUSA?

O LES é uma doença inflamatória au-toimune, o que significa que existe in-flamação nos órgãos afetados, que é um tipo de reação do corpo aos mais variados tipos de agressões, como as infeções, pica-das de inseto ou arranhões. A inflamação causa dor, rubor ou vermelhidão, calor lo-

cal e alterações de fun-cionamento do órgão afetado. No LES a in-flamação não se deve a infecão, mas sim a uma anomalia do sistema imunitário, que passa a atacar o próprio corpo, ou seja, é autoimune. As células imunitárias pas-sam a produzir anticor-pos contra elementos situados no núcleo das suas próprias células – autoanticorpos anti-nucleares (ANA). Estes ANA contribuem para causar as lesões e sinto-mas do LES. A doença desenvolve-se em pes-soas com tendência genética, mas para pos-suir esta tendência é

preciso ser portador de combinações de muitos genes em simultâneo. Tal combinação de genes que conduz à doença varia de caso para caso. Nas pes-soas com tendência gené-tica, o inicio do LES parece dever-se à ação de fatores ambientais, que podem incluir a luz solar, infeções e produtos no ambi-ente (alguns produzidos pelo Homem e outros de produtos naturais).

QUAIS OS SINTOMAS MAIS COMUNS?

Os sintomas são muito variados, já que o LES pode afetar qualquer parte do corpo. Estes po-

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Reportagemdem aparecer em combinações muito diferentes e, por isso, não há dois doentes exatamente com os mesmos sintomas. A inflamação das articulações (artrite) é muito comum e causa dores e inchaço. A lesão em borboleta facial (eritema malar) é muito característica e frequente, mas pode ser simulada por outras doenças de pele. As lesões de pele podem aparecer após apanhar sol (fotossensibilidade). Po-dem surgir crises frequentes de aftas na boca ou nariz. O LES pode afetar os rins, as células do sangue, o sistema nervoso, as membranas que revestem os pulmões (pleura) e o coração (pericárdio), entre outros órgãos.

LUTAR CONTRA A DOENÇA

É muito importante que o doente aprenda a conviver com o LES. Ele é o protagoni-sta central para o sucesso do tratamento! Deste modo, há um conjunto de passos importantes que o doente deve seguir: 1. Se um médico lhe disser que tem LES ou tiver forte suspeita da doença, deve procurar ser observado pelo especialista a curto prazo, para confirmar (ou não) o diagnóstico e iniciar a vigilância apropriada e o tratamento;2. Tomar sempre a medicação e nunca a alterar sem indicação do especialista;3. Caso apareçam sintomas suspeitos de possível agudização do LES ou de efei-tos secundários da medicação, contactar rapidamente o médico;4. Evitar a exposição da pele ao sol e usar sempre protetor solar;5. Seguir hábitos de vida saudável: não fumar, fazer uma dieta equilibrada,

manter um peso normal, fazer exercício físico regu-larmente, evitar a ansie-dade e manter um espíri-to otimista no dia-a-dia , evitando a obsessão pela doença.6. Manter as vacinas em dia. São seguras, com exceção das que contém micróbios vivos. Além das obrigatórias, as vacinas contra a gripe e pneumo-nia podem ser aconsel-háveis;7. Discutir o planea-mento familiar com o seu médico: as pílulas podem ser perigosas em alguns ca-sos. Alguns medicamen-tos para o LES podem con-traindicar a gravidez . Uma gravidez com sucesso é possível na maioria dos ca-sos, desde que planeada para a altura certa e com vigilância apropriada.

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Notícia

National Geographic promove DouroA região do Douro associou-se à Na-tional Geographic Society para pro-mover a região, tendo sido criado um website interactivo e um mapa impresso. O projecto Geoturismo - Vale do Douro MapGuide, apresentado hoje em Alijó, pretende divulgar o património, cultura, história e pon-tos turísticos da região duriense, contribuindo, assim, para o desen-volvimento da sua economia através de um turismo sustentável.Os habitantes, organizações comu-nitárias, empresas locais e agentes de turismo poderão inscrever no website, de forma gratuita até 5 de Maio, pontos de interesses a visitar no Douro como quintas, adegas, museus, trilhos pedestres e uni-dades de alojamento.Posteriormente, os redactores do website analisarão as propostas e se forem distintivas e exclusivas do Douro serão integradas no portal eletrónico.O gestor de programação para Tu-rismo Sustentável da National Geo-graphic Society, Jim Dion, salientou que o website pretende atrair visi-tantes, maximizar a sua experiên-cia, preservar a bacia do Douro e melhorar as ofertas existentes na região.Assim, a “missão” da National Geo-graphic é convencer as pessoas a viajar pelo mundo e, neste caso con-creto, a visitar o Douro.No website, explicou, vão constar micros, pequenas e médias empre-sas existentes na região, pelo que o propósito é mostrar aos visitantes a “autenticidade” do Douro.Por seu lado, o chefe da Estrutura de Missão do Douro, Ricardo Magal-hães, um dos parceiros no projecto, frisou que a região duriense tem

de figurar nos destinos mundiais de ex-celência.E o website, segundo o responsável, irá agregar o Douro numa rede mundial e tornar os cidadãos activos e “parte” do processo de divulgação.“Temos de dar a conhecer o desconheci-do, o autêntico e o que de melhor se faz no Douro”, afiançou Ricardo Magalhães.O dirigente acredita que se o website conseguir projectar o Douro “além-fronteiras”, então a região passará de uma terceira divisão para uma Liga dos Campeões.António Martinho, presidente do Tu-rismo do Douro, explicou à Lusa que o website é “muito interactivo”, de fácil inserção de dados e pesquisa e possibili-ta a um habitante da Nova Zelândia con-hecer “as maravilhas” da região.Por isso, o director considera fundamen-tal a participação dos operadores e das empresas no projeto.

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NotíciaO presidente da Comunidade Intermunicipal (CIM) do Douro e também da Câmara de Alijó, Artur Cascarejo, ressalvou que pelo facto de o Douro ter uma “série” de marcas afirmadas, as pessoas pensam que não é necessário fazer mais nada para o promover, mas essa é uma ideia errada.O projecto vai permitir ao Douro, realçou, um “enorme” retorno económico desde o “mais pequeno” negócio familiar ao “mais complexo” e, assim, todos têm as mesmas oportunidades.“O que falta ao Douro é projecção internacional e, hoje, qualquer realidade tem de estar em força na internet e redes sociais”, ressalvou.O projeto tem um financiamento de 120 mil euros, comparticipado a 90 por cento por fundos comunitários e pelo Turismo de Portugal e dez por cento pelo Turismo do Douro.

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A Esclerose Múltipla (EM) é uma doença crónica que afeta o Sistema Nervoso Cen-tral (SNC).O SNC é composto pelo cérebro e espinal medula. Atua como um quadro de dis-tribuição, enviando mensagens elétricas, através dos nervos, para diversas partes do corpo.Estas mensagens controlam todos os movimentos conscientes e inconscientes do nosso corpo, assim como as várias modalidades sensitivas.Por exemplo quando segura esta revista e inicia a sua leitura, o seu SNC, realiza várias funções. Por exemplo, o SNC envia sinais de comando sobre como os seus braços devem segurar a revista e interpreta a informação proveniente dos seus olhos à medida que lê.Se existirem lesões no SNC, a localização da lesão determina a natureza dos sinto-mas resultantes.Os sintomas aparecem devido à interrupção da condução dos impulsos nervosos entre o SNC e o resto do corpo. Quanto maior for a lesão, maior será a proba-bilidade da ocorrência de sintomas. Quanto maior for a lesão, maior será a probabilidade da ocorrência de sintomas.

As células nervosas pos-suem uma fibra longa, fina e flexível que transmite im-pulsos. Estes impulsos são sinais elétricos conduzidos ao longo do comprimento do nervo. As fibras nervosas são longas, de forma a per-mitir que os impulsos sejam conduzidos entre partes dis-tantes do corpo, como a es-pinal medula e os músculos da perna.A maioria das fibras nervo-sas está envolvida por uma bainha isoladora constituí-da por proteínas e gordura denominada mielina, a qual atua de

Esclerose MúltiplaMúltiplos sintomas, uma esperança

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Reportagem

forma a acelerar a condução dos impul-sos.Na EM, a mielina é destruída e, por este motivo, a transmissão dos impulsos nervosos é atrasada ou impedida, pro-duzindo os sintomas da EM.A perda de mielina também pode originar um “curto-circuito” de impulsos nervos-os. Uma área onde a mielina foi destruída é denominada lesão ou placa.

Quais são as causas da EM ?

Ninguém sabe exatamente o que desencadeia a EM. No entanto, os neurologistas suspeitam da possi-bilidade de uma interação entre fa-tores genéticos e ambientais.Vários estudos científicos sugerem uma ligação genética. Em primeiro lugar, a EM é rara em orientais, in-dependentemente do local onde vivem. Em segundo lugar, estudos de taxas de ocorrência em gémeos mostram que é mais provável que a EM se desenvolva em gémeos idên-ticos que em gémeos não idênticos. Por fim, a EM é pelo menos 15 vezes mais comum em filhose irmãos de doentes do que na pop-ulação em geral.É improvável que a causa da EM

resida num único fator. Muitos neurologistas pensam que a ex-posição a um fator ambiental (p. ex., um vírus, bactéria ou toxina) durante a infância, poderá induzir uma reação autoimune em que o corpo é “enganado”, atacando o seu próprio SNC. Este ataque provoca lesões no revestimento externo isolante das células ner-vosas chamado bainha de mielina, provocando os sintomas da EM.Deste modo, assume-se que a EM possa surgir da interação entre fa-tores genéticos e ambientais.

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Reportagem

Quem pode sofrer de EM e até que ponto é comum?

A EM surge frequentemente entre os 20 e os 40 anos de idade. Poucas pessoas desenvolvem a EM durante a puberdade ou após os 60 anos.As mulheres têm o dobro da probabilidade de sofrer de EM relativamente aos ho-mens.A EM atinge mais a raça branca. É cerca de cinco vezes mais comum nas zonas tem-peradas do que nos trópicos sendo mais comum no Norte daEuropa e América do que na África do Sul e Extremo Oriente.Estima-se que aproximadamente 5 000 pessoas sofram desta doença em Portugal.

Como é diagnosticada a EM?Não existe nenhum ex-ame de diagnóstico es-pecífico para a EM. Os neurologistas usam uma combinação de exames clínicos e laboratoriais que devem demonstrar lesões que ocorram em momentos distintos e af-etem diferentes partes do SNC.O diagnóstico é difícil, porque a EM pode imitar os sintomas de outras doenças do SNC, além disso, os sintomas pre-sentes são

frequentemente inespecí-ficos e ocorrem apenas por breves períodos. O neurologista deve muitas vezes esperar por outro surto, para ter a certeza do diagnóstico.Um surto designa a ocor-rência de sintomas que persistem mais de 24 hor-as ou quando re-aparecem ou agravam os sintomas anteriores. O tempo en-tre um surto e o seguinte é extremamente imprevi-sível.Embora não exista

qualquer teste de diag-nóstico definitivo para a EM, os neurologistas usam vários exames para reforçar o seu di-agnóstico clínico, de que servem de exem-plo: - análise do líquido ce-falorraquidiano (líquido transparente e incolor que envolve o cérebro e a espinal medula) que fornece um dado vali-oso acerca do estado do cérebro e da espi-nal medula, revelando

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lesões, anomalias ou infeções como a meningite. As amostras de LCR são obtidas utilizando uma técnica de-nominada punção lombar; - Potenciais Evocados Visuais, tam-bém denominados PEVs, que me-dem o tempo que o cérebro neces-sita para receber e interpretar as mensagens com origem nos olhos.Há também potenciais evocados auditivos e sensitivos que medem a transmissão do impulso nervoso a esses níveis. Os resultados per-mitem ao médico verificar a existên-cia de anomalias no funcionamento do sistema nervoso.

- Ressonância Magnética Nuclear: antes da realização de uma RMN é injetada na corrente sanguínea uma substância de-nominada gadolínio, que ajuda a realçar as áreas lesadas do cérebro e é rapida-mente eliminada do corpo através da urina.A RMN fornece informações sobre a lo-calização e o tamanho das áreas lesadas no SNC. Pode igualmente revelar o grau de atividade da doença, num dado mo-mento e é um método rápido e objetivo para a avaliação do efeito dos tratamen-tos sobre a progressão da doença;

A EM apresenta quatro variantes:

EM benigna:Os surtos são escassos e, após a doen-ça ser diagnosticada, a incapacidade é inexistente ou muito reduzida durante vários anos.

EM por surtos de exacerbação-remissão:Esta é a forma mais comum de EM que se manifesta em doentes com idadeinferior a 40 anos. Os doentes sofrem surtos seguidos por períodos de re-missão com recuperação completa ou quase completa.

Os diferentes tipos de EM

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EM secundária-progressiva:Após um diagnóstico de EM por surtos, e à medida que otempo passa, torna-se mais provável que os doentes entremnuma segunda fase. Esta fase é conhecida por EM secundária-progressiva e além da recuperação dos períodos de remissão ser, quase sempre, incompleta, a doença pode agravar progressivamente sem haver evi-dência clara de surtos.

EM primária-progressiva:A incapacidade agrava-se continuamente e sem surtos desdeo início da doença. Esta forma de EM é a mais comum em doentesque só após os 40 anos de idade começar-am a sofrer os primeiros sintomas da doen-ça.

Quais são os sintomas da EM?A destruição da mielina provoca uma gama de sintomas, dependendo da localização das lesões no SNC. Os sin-tomas da EM usualmente aparecem e desaparecem de maneira imprevisível. Devido ao facto da EM afectar difer-entes partes do sistema nervoso, os sintomas da doença apresentam uma

grande variação de pessoa para pessoa. Por outro lado, os sintomas que cada portador de EM apresenta, irão também variar ao longo do tempo, em função da doença.A pessoa com EM não irá sofrer de to-dos os sintomas enumerados, mas estes poderão incluir:

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- Alteração da visãoA alteração da visão pode aparecer no início da doença, isolada ou acompanhando out-ros sintomas ou pode aparecer mais tarde, durante a evolução, numa recidiva.Se existirem lesões no nervo ótico, que es-tabelece a ligação entre os olhos e o cére-bro poderá aparecer visão turva ou mesmo perda acentuada da visão de um dos olhos.As alterações da visão podem ser precedi-das ou acompanhadas de dor no interior ou por trás do globo ocular provocadas pelo movimento do olho. Estas dores são habit-ualmente transitórias.Se existirem lesões nas áreas cerebrais que controlam o movimento dos olhos, poderá aparecer visão dupla ou movimentos rítmi-cos e involuntários dos olhos (nistagmo).

-FadigaA fadiga é um dos problemas comuns na EM. A sua origem não é bem conhecida e pode ser o único sin-toma incapacitante. A pessoa pode cansar-se mais facilmente do que as pessoas sau-dáveis e o cansaço durar mais tempo. Os sintomas de fadiga in-cluem: fraqueza mus-cular, falta de forças e menos tolerância ao esforço físico e in-telectual.

- DorEmbora a dor não seja dos sintomas mais frequentes, quando existe é inco-modativa.Esta pode variar desde uma dor facial súbita e intensa, até uma sensação de queimadura, dor-mência ou formigue-iro (também chama-do parestesias), mais f r e q u e n t e m e n t e sentidas nas pernas, nos pés, nos braços e nas mãos.

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Controlar a dor

A auto-ajuda pode ser uma parte importante do controlo da dor na EM, pelo que permanecer activo e manter uma atitude positiva po-dem ajudar muito a reduzir o impacto da dor na qualidade de vida. As seguintes sugestões podem ajudar neste controlo:- O exercício e a fisioterapia podem ajudar a aliviar os espasmos ea dor dos músculos- Terapias de relaxamento, como a meditação- Ultrasons- Massagens- Hidroterapia- TENS (transcutaneous electrical nerve stimu-lation - correntes eléctricas suaves através da pele)- Acupunctura e tratamento quiropráticoTodos estes tratamentos devem ser efec-tuados por terapeutas com experiência, de forma a evitar riscos.

-Perda do equilíbrio e dificuldade em coordenar os movimentos

Diversos tipos de lesões no SNC podem comprometer a estabilidade do corpo.Os problemas do equilíbrio podem di-minuir ou fazer perder diversas capaci-dades tais como caminhar de forma es-tável, estar de pé, ou ficar sentado sem precisar de apoio.Ao andar, as pernas abrem a base de sus-tentação e executam movimentosmal controlados (é a chamada ataxia).Se a lesão for no cerebelo vai provocar de-sordens nos gestos tornando-os bruscos, ex-cessivos e instáveis. Quando a pessoa está de pé ou quando anda, nota um forte tremor. Esta lesão também pode atingir os braços.

Espasticidade

A espasticidade é comum na EM e é responsável por uma grande percentagem da incapacidade associada a esta doença. Está associada com a rigidez e fraqueza dos músculos, limitando os movimentos dos membros. Um tratamento eficaz por uma equipa de especialistas pode conduzir a uma redução significativa dos prob-lemas, melhorando desta forma a mobilidade e qualidade de vida da pessoa.

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Problemas cognitivos

Uma vez que a EM afeta o cérebro, pode causar problemas no que designamos por pensamento: memória, razão, aprendizagem, etc. Cerca de metade dos portadores de EM relatam alguma alteração nas suas capacidades mentais, no entanto, na grande maioria dos casos, esta alteração não afeta as atividades diárias. Geralmente os sinais

são subtis e afetam o pensamento abstrato e resolução de prob-lemas, a memória, a atenção, a velocidade de processamento da

informação e a fluência verbal.

O efeito que estes problemas têm na vida das pessoas de-pende, em alguma parte, do grau de confiança que as pes-soas têm na sua memória e capacidade de pensar clara-mente. Mesmo assim, existem algumas estratégias que podem ser postas em prática para ajudar na memória e concentração:

- Evitar o stress e o cansaço, uma vez que estes po-dem prejudicar a concentração e conduzir a perdas de memória-Fazer listas de coisas a fazer - compras, etc. -Usar um calendário ou uma agenda para anotar os compromissos e dias especiais-Colocar pequenas notas em locais visíveis como no es-

pelho do quarto, em frente ao computador, na porta do frigorífico

-Organizar a casa e local de trabalho para que as coisas se mantenham em locais familiares-Procurar conversar em locais cal-mos para minimizar as distrações

-Repetir as informações e escrever os assuntos importantes

-Informar os amigos e familiares dos problemas, para que eles possam ajudar.

Problemas urinários

Muitos portadores de EM têm problemas da bexiga, sendo este por vezes o primeiro sinal da doença. Deve ser considerado que uma grande proporção da população também tem problemas de incon-tinência urinária.

Reportagem

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Reportagem

Nos portadores de EM, os sintomas são muito var-iáveis e podem ser devidos ao cansaço, à medicação ou à doença em si. Desta for-ma, os sintomas podem as-sumir a forma de urgência urinária (esvaziamento da bexiga assim que se sente a necessidade de urinar), de incontinência (esvaziamento involuntário da bexiga sem aviso e sem sentir necessi-dade de esvaziamento), ou de retenção urinária (dificul-dade em urinar ou em esvazi-ar completamente a bexiga). Todos estes sintomas podem ser controlados através de:

- Medicação- Inserção de um catéter quando necessário- Exercicíos para fortalecer os músculos que rodeiam a bexiga- Redução da ingestão de líquidos

Problemas intestinais

A obstipação é o problema intestinal mais comum na EM e pode ser controlado através do aumento do con-teúdo em fibras da alimen-tação, bem como do aumen-to da ingestão de líquidos, e se necessário através de lax-antes.

Alterações psicológicas

Os portadores de EM podem viver uma grande variedade de problemas psicológicos e emocionais. Alguns por-tadores de EM sofrem de depressão ou podem alter-

nar entre depressão e euforia (denominada depressão maníaca ou doença bipolar). As al-terações podem surgir sob a forma de (exem-plos):

- Mudança rápida de emoções- Choro- Riso descontrolado- Euforia- Ansiedade- Problemas sexuais- Irritabilidade- Dificuldades de rela-cionamento- Isolamento social

Problemas sexuais

Os principais sintomas sexuais na mulher são a falta de lubrificação vaginal e a perda da sensibilidade.O problema mais co-mum no homem é a perda de erecção.A dor, a fadiga, a de-pressão, uma fraca imagem de si próprio e a tensão podem tam-bém diminuir o estímu-lo sexual.

Factores que podem agravar os sintomas ou provocar surtos

Está testado que vári-os factores podem agravaros sintomas, ou mesmo desenca-dear surtos.

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Reportagem

Enumeram-se em seguida alguns dos factores que, ao longo do tempo, têm sido implicados no agravamento dos sintomas das pessoas com EM:

Alterações da temperatura

O aumento da temperatura ambiente ou corporal interfere com a conduçãonervosa em fibras desmielinizadas. É, assim, habitual que possa notar umagravamento dos sintomas quer quando exposto e elevadas temperaturasambientes, quer durante episódios de febre.A diminuição da temperatura é também um fator que pode potenciar ao agrava-mento da doença, uma vez que determina um aumento da espasticidade.

Exercício físico

O exercício físico inten-so agrava os sintomas e provoca, sobretudo, umgrau de fadiga extrema e desproporcionada.

Há estudos que reve-lam ainda que o stress psicológico e as in-feções podem desen-cadear surtos, uma vez que contribuem para o agravamento de deter-minados sintomas.

Quais são as possibili-dades de tratamento?

É sabido que, infeliz-mente esta doença não tem cura. No entanto, os portadores de EM dis-põem de duas formas diferentes de combater a sua doença:

Tratar os sintomas indi-viduais de modo a for-necer benefícios a curto prazo

A EM é uma doença mui-to variável. Os sintomas são imprevisíveis - variamao longo do tempo e al-

teram a sua gravidade e duração.É importante tratar os sin-tomas individuais, caso estes ocorram. A lista dos sintomas pos-síveis pode parecer as-sustadora, no entanto, ninguém apresenta todos os sintomas e muitos de-les podem ser atenuados utilizando medicamentos, fisioterapia, aconselha-mento, uma alimentação adequada ou mudanças simples no estilo de vida. Os medicamentos mais comuns, utilizados para atenuar os sintomas são os seguintes:

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Reportagem

- O baclofeno, para alívio da espasti-cidade- A oxibutinina e vários outros medi-camentos para a redução da frequên-cia e urgência urinária-A carbamazepina e a fenitoína para alívio da dor- A amantadina para a diminuição da fadiga

A administração de corticosteróides é uma forma geral de diminuir a gravi-dade e a duração dos surtos. Os corti-costeróides diminuem a inflamação e os mais utilizados são a metilpredni-solona e a prednisolona.No entanto, o uso destes medica-mentos pode causar diversos efeitos secundários que, ainda assim nem sempre estão presentes e quando ocorrem são normalmente bem tol-erados.

Atacar a doença subjacente de modo a fornecer benefícios a longo prazo

Tal como referido anteriormente, até agora, os médicos não encontraram uma cura para a EM, mas há conhecimento de que os sintomas são o resultado de lesões nas células nervosas. Através da investigação médica foram identificados medicamentos que conseguem proteger as células nervosas das lesões, tais como os interferões, o copolímero e as imunoglobulinas.

Os interferões são uma família de proteínas que se produzem naturalmente no organismo e que participam nas atividades do sistema imunitário. A sua produção envolve muitas células e proteínas especializadas na defesa do organismo contra infecções e doenças como a EM. Os interferões são administrados através de uma injecção.

O copolímero 1 ou acetato de glatirâmero simula a proteína básica da mielina.Reduz as exacerbações em pessoas com EM por surtos, embora a progressão da doença não seja alterada significativamente.O COP 1 é administrado diariamente através de injecção subcutânea.

As imunoglobulinas são normalmente administradas nas formas de EM com ex-acerbações que apresentam recidivas frequentes ou exacerbações mais incapaci-tantes.É um tratamento mensal. O medicamento é administrado em perfusão na cor-rente sanguínea (veia), e é utilizado em conjunto com outras terapêuticas.

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Entrevista

À conversa com Nuno Gonçalo

• Quais são os sintomas da Esclerose Múltipla?

A Esclerose Múltipla afecta o Sistema Nervoso Central e a espinal medusa (que faz parte desse mesmo sistema). Os sin-tomas são muito variados e de-pendem de pessoa para pessoa, secalhar os mais comuns serão o desequilíbrio, dormência, for-migueiros, questões cognitivas. De qualquer forma, os sintomas são muito variáveis e podem ser qualquer um, porque o Sistema Nervoso Central controla quase tudo, não tudo, mas quase tudo no nosso corpo, logo depend-endo da zona onde se formam as placas, pode afectar qualquer coisa. A problemática desta doença passa um bocado por aí, porque uma pessoa pode ter sin-tomas que, aparentemente, não têm nada a ver e uns são devidos à esclerose e outros até nem são. Uma pessoa tem que ver como é que é. Um sintoma muito co-mum é o cansaço, poderão ter algumas limitações no deporto devido a isso.

• Os doentes com Esclero-se Múltipla podem praticar de-

sporto? E ter filhos?

Em relação ao desporto, podem e devem até praticar, no entanto, como a esclerose múl-tipla provoca cansaço, como já disse, as pes-soas têm que adaptar quando é necessário, quando a pessoa está perfeita, ok, façam o seu desporto, no entanto há que ter em linha de conta que uma pessoa que tem problemas de equilíbrio, como eu, não pode fazer barras, não consegue. Se uma pessoa que sofre de cansaço, se eu, antigamente, não conseguia fazer 500m até a andar, obviamente que não vou correr a maratona, portanto as coisas têm que ser adaptadas, agora há desportos que eu posso fazer. Em relação à situação dos filhos, é uma coisa engraçada, porque costuma-se dizer que as mulheres, na maioria dos casos de Esclerose Múltipla, enquanto estão grávidas, praticamente que vivem num estado de graça, sem surtos, é como se a esclerose estagnasse. O grande perigo que existe, portanto uma pes-soa quando decide ter filhos, tem que pensar nisso, é o período pós-parto, a seguir ao parto pode acontecer a pessoa desencadear um sur-

Foi diagnosticado, há 19 anos, a Nuno Gonçalo, Esclerose Múlti-pla. Nesta entrevista, Nuno ex-plica como reagiu quando sobe que era doente e como lida com a doença. Um exemplo de vida, que merece ser reconhecido pela sua extrema coragem e esper-ança constantes no seu dia-a-dia e que se esforça por trans-mitir a todas as outras pessoas.

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Entrevistato até mais forte, ou não, portanto isso deve ser uma decisão acompanhada pelo médico. Isto porquê? Porque tam-bém tem que parar a medicação, ok, não há tanto problema de ter surtos, mas parou a medicação e o pós-parto pode desencadear um surto bastante forte e portanto tem que ponderar isso, de qualquer forma, a prática co-mum é não desaconselhar as pessoas a ter filhos, informando-as deste perigo.

• Esta doença é contagiosa?

A Esclerose Múltipla não é contagiosa. A Esclerose Múltipla é uma doença, como eu disse, do sistema nervoso central, acredita-se que pode ter alguma predisposição genética, acredita-se que pode ter a ver com questões ambi-entais, inclusivamente há quem levante a hipótese de poder ter a ver com infeções anteriores de algum vírus, que não se sabe que vírus é, mas será sempre um vírus de outra doença, por exemplo, sar-ampo. E portanto, quem fala de sarampo, fala de outra coisa qualquer, obviamente que quem tem esse vírus, não vai desenca-dear a Esclerose Múltipla, uma pessoa tem que ter a predisposição genética para desenvolver a doença e tem que viver em determinados sítios durante os primeiros anos da sua vida, sabemos que quanto mais nos aproximamos do Equador menos prevalência há, nós em Portugal temos o chamado risco médio de Esclerose Múltipla, o risco el-evado será nos países nórdicos, por aí fora. Portanto, uma pessoa que tenha vivido a sua infância em África, ao pé do equador, que não tenha apanhado infeção nenhuma e que não tenha pre-disposição genética, em princípio não

desenvolve a doença. Agora se reunir os pontos todos, ah então pode desen-cadear Esclerose Múltipla, ou não.

• É verdade que nunca mais será capaz de trabalhar ou de realizar tare-fas do dia-a-dia?

Não, eu disse não seguramente, emb-ora haja determinadas profissões que podem ter algumas condicionantes, de acordo como a forma como se desen-volve e se manifesta. Uma pessoa pode ter Esclerose Múltipla e fora os perío-

dos em que tem surtos, anda perfei-tamente, na minha experiencia pes-soal. De qualquer forma, eu neste momento estou a tirar o mestrado na universidade, es-tou a ter a minha vida, não digo per-feitamente normal, com algumas limi-tações, mas uma pessoa que tem Esclerose Múltipla deve tentar sem-pre manter a sua vida habitual, com

uma ou outra adaptação pontual. Que há casos, que são mínimos, em que as pessoas são fortemente condiciona-das, também é verdade.

• O que o incentiva a realizar o tratamento se sabe que a Esclerose Múltipla não tem cura?

(risos) A Esclerose Múltipla não tem cura?! Pois, até agora! Têm havido mui-tos desenvolvimentos. Fui diagnosti-cado em 1993 e já havia a esperança de haver muitos desenvolvimentos e não tem nada a ver com a esperança que há agora. Uma garantia que era dada, eu digo que era dada, porque agora nada

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Entrevistaé dado, “atenção tu não vais morrer de Esclerose Múltipla, tu vais morrer com a Esclerose Múltipla”. Ok, cá está, quem contrai herpes labial, também morre com herpes labial, não de her-pes labial.

• É necessário adaptar a sua ali-mentação por causa da doença?

Não, não é necessário adaptar a ali-mentação, ainda que se saiba que há determinadas dietas, que uma pessoa deve ter, quanto mais, isso é comum a toda a gente: quanto mais equilibrada for a dieta, melhor a pessoa se sente. É verdade que existem determinados alimentos que são mais aconselhados, no nosso caso, como é o caso dos ali-mentos ricos em Ómega3, alimentos que alimentam o nosso Sistema Ner-voso Central, alimentos que, even-tualmente podem controlar, eu digo eventualmente, porque a questão da dietética está a ser investigada, mas não está o suficiente, alimentos que possam recuar o nosso sistema imu-nitário, aaah e lá está, evitar determi-nadas comidas. Se eu sofro de equilí-brio, eu posso beber álcool, mas se

eu beber muito, mais desequilibrado ficaria, mas isso acontece com quase todas as pessoas (risos).

• Abandonou os seus projetos e sonhos para o futuro quando soube que era doente?

Não, não e sim. Tentei adaptá-los, no meu caso particular é um bocado con-fuso, porque é assim eu tentei manter a minha vida “normal”, se quisermos. Entretanto fui condicionado, fui fi-cando cada vez pior, mudei de profis-são e ao mudar de profissão tive uma queda tremenda nos rendimentos, no entanto, a progressão da doença mudou e ao ter mudado permite-me estar a fazer uma outra vida, portanto mudei. Não tinha sequer o 12º ano e hoje estou a tirar o mestrado, é uma mudança. Eventualmente podem ha-ver mudanças, mas não tem que ha-ver mudanças em todos os casos. Às vezes é necessário haver uma adap-tação.

• Como é viver com os sintomas?

Como é viver com os sintomas?! Às

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Entrevistavezes é um bocadinho difícil, particularmente no início, quando é recém diagnos-ticado e uma pessoa é confrontada com os sintomas ou até mesmo agora quando aparece um sintoma novo que atrapalha a minha vida e a forma como desempen-ho a minha vida, por exemplo, eu era escuteiro, fazia 20km, tive uma altura em que não conseguia fazer mais de 500m a pé. É complicado, mas lá está, a palavra-chave é adaptação de acordo com o estado da doença.

• Quando foi diagnosticado, qual foi o seu primeiro pensamento?

O primeiro não me lembro (risos), mas o segundo ou o terceiro, eu gosto de pen-sar que é uma situação atípica, embora não seja tão atípica como isso, hoje con-sigo perceber. Eu tentei na altura informar-me ao máximo, tentar saber tudo e mais alguma coisa acerca do que era a Esclerose Múltipla e depois, quando tive o meu diagnóstico de Esclerose Múltipla, fiquei muito aliviado, porque andei durante muitos anos a ter determinados sintomas, queixava-me dos sintomas ao médico e

ele dizia que não era nada, e uma pessoa fica com aquela ideia de que são manias minhas. De repente surge um diagnóstico que me diz que as placas estão aqui, nas imagens da ressonância magnética aparecem lá, e aí uma pessoa diz “ah afinal é por causa disto que eu estou como estou” e finalmente há um motivo para estar assim. Eu tive uma necessidade imensa de dizer a várias pessoas o que se passava comigo.

• Sente que a sociedade o apoia e respeita? Em que sentido?

A maioria das vezes não, mas também fui muito rápido com esta resposta. Exis-tem determinadas coisas que estão consagradas na lei, de proteção em relação ao doente crónico, ao doente com deficiência, no entanto é o que está escrito, outra coisa é a prática das pessoas, ainda há pouco falei da história mínima de estacionamento. Quantas vezes é que o estacionamento de deficientes está ocu-

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Entrevistapado por carros dos tais “defi-cientes mentais”?! Em relação a apoios, em termos legais não ex-istem tantos quanto nós quería-mos, de qualquer forma existem alguns, nomeadamente isenções de IRS, apoio para a compra de casa, a mim não me serve de nada porque eu não tenho din-heiro sequer para a entrada, mas há alguns apoios, que não são de forma nenhuma os suficientes. O problema é que nós temos uma deficiência, na maioria dos casos, é uma deficiência invisível, isto é as pessoas olham, e aparente-mente não tem nada, quer dizer se olharem para mim assim sen-tado, quanto muito olhando para mim eu estou “bêbedo”, se me virem a andar na rua estou “bêbedo”. No entanto, tirando isso, a deficiência é invisível, quer isto dizer que a maioria das pes-soas, aquelas que não tem se-quer 70% de invalidez, não têm qualquer apoio.

• Por vezes sente-se descriminado ou que se afastam de si?

Sim, muito. Quer pelos problemas que nós falamos das pessoas olharem e pen-sarem ou porque estou bêbedo ou mandrião, uma pessoa não faz porque sofre de cansaço, portanto logo o rótulo de mandrião não é adequado, e não só, se as pes-soas comprovarem, de facto sou mandrião, não dá mesmo para uma pessoa fazer e concentrar-se, e isso leva a uma discriminação tremenda, as pessoas não sabem o que se passa e têm tendência a afastar-se do que não percebem.

• Se pudesse gostaria de formar a sua própria instituição?

Pronto, essa é a tal questão. Eu fui para jornais, falava-se no meu caso e no dos out-ros, mas a minha cara estava presente em tudo. Eu, nessa altura, contactei a primeira pessoa que conheci na marinha, que foi um acontecimento curioso, quando conhe-ci outra pessoa com Esclerose Múltipla, tive uma noite com ela e começámos a per-ceber que falávamos a mesma língua, ou seja, aquele alívio que falei do diagnóstico, depois quando a conheci ainda mais aliviado fiquei. É tremendamente importante haver contacto entre doentes. Tem questões negativas, tem claro, porque natural-mente determinadas pessoas ao estarem sempre em contacto com doentes que têm sintomas diferentes, uma pessoa começa a sentir, os meus, os dos outros e começa a sentir todos os sintomas de todos os tipos. De qualquer forma os ganhos de nos reunirmos parecem-me ser maiores, e nessa altura nós contactamos a SPEM

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Entrevistae foi-nos proposto abrirmos a delegação de Leiria, coisa que nós fizemos. Reuni-mos mais uns “ma-nos” (risos) e fundá-mos a delegação. Ou seja, essa pergunta, eu já o fiz, não é uma instituição é uma del-egação de uma insti-tuição. Entretanto continuo a fazer parte da delegação, mas às tantas tenho uma unha do pé encravada e não vou pensar que é um sintoma, mas às vezes há gente que pensa isso. • E como o Dan-iel Oliveira termina as suas entrevistas, nós vamos terminar a

nossa: O que dizem os seus olhos?

Pronto, essa é a pergunta difícil. O que dizem os meus olhos?! Propositadamente, dizem muito pouco, não é?! Normalmente utilizo a boca para falar, mas às vezes utilizo outra coisa, mas o que eu gostaria que os meus olhos dissessem, neste caso específico, era transmitir uma grande mensagem de esperança aos doentes de Es-clerose Múltipla, aos recém diagnosticados de Esclerose Múltipla. Esta doença não é o fim do mundo, não é uma garantia de ir para uma cadeira de rodas. A evolução da ciência tem sido mais rápida do que eu julgava. Antigamente não acreditava numa cura para a Esclerose Múltipla, mas hoje começo a ponderar que vai daí nun-ca se sabe. Existem muitas coisas que podem ser feitas em termos terapêuticos/terapia para uma pessoa com Esclerose Múltipla, portanto os meus olhos devem dizer que há esperança e têm que se agarrar às coisas, tem que se “agarrar o boi pelos cornos” e seguir em frente.

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Animais idosos não perdem neurónios, indica estudo

Um estudo realizado por in-vestigadores da Universidade de São Paulo (USP) na espécie Cavia aperea, parentes próxi-mos do conhecido porquinho-da-índia (Cavia porcellus) mos-trou que, ao contrário do que se imaginava, os animais idosos não sofrem redução do número de neurónios do sistema nervo-so autónomo periférico – parte do sistema nervoso situada nos diversos órgãos do indivíduo e fora do cérebro. O trabalho corresponde à tese de mestrado conduzida por

Aliny Antunes Barbosa Lobo Ladd na Faculdade de Medicina Veterinária e Zootécnica (FMVZ) da USP, com Bolsa da FAPESP e sob a supervisão do pro-fessor António Augusto Coppi, respon-sável pelo Laboratório de Estereologia Estocástica e Anatomia Química (LSS-CA) do Departamento de Cirurgia da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootécnica da USP (FMVZ-USP).“Além disso, o trabalho teve o mérito de observar neurónios, de animais idosos, que se dividiam – algo que há alguns anos era considerado impossível na lit-eratura médica”, disse Coppi à Agência FAPESP.De acordo com Coppi, já é possível afir-mar que o envelhecimento não corre-sponde necessariamente à perda de células nervosas. Essa perda, segundo ele, era um dogma da neurociência há algumas décadas. “Iniciámos esta linha de pesquisa em 2002 e este é o sétimo trabalho inter-nacional que publicamos sobre o tema. Estamos a confirmar, por meio desses estudos, que o número de neurónios do sistema nervoso periférico não diminui

necessariamente durante o envelheci-mento. Pelo contrário, na maior parte das vezes mantém-se estável”, afirmou Coppi. “Por meio de métodos imuno-histo-químicos associados à estereologia, pu-demos detetar neurónios uninucleados e binucleados em pleno processo de divisão durante o envelhecimento dos animais. A única hipótese a ser consid-erada é o número de células nervosas que se dividem ser maior que o número de neurónios que morrem, e assim per-mite que o número total de neurónios permaneça estável”, disse Coppi.Apesar de algumas exceções, o conjun-to dos estudos mostra que na velhice é uma estabilidade ou aumento do núme-ro total de neurónios. “Esse dado por si só, quebra o dogma de que o número de neurónios deveria necessariamente diminuir”, terminou.

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Investigadores identificam compostos capazes de induzir mutações no DNADiversos agentes quími-cos, como aldeídos (com-posto químico orgânico) presentes no fumo do cigarro ou nos poluentes urbanos e industriais, produzem um conjunto de compostos no organ-ismo humano, conhecid-os como adutos, que são capazes de induzir mu-tações no DNA e podem causar o desenvolvimen-to do canco.Para medir e quantificar esses adutos, que em níveis elevados estão as-sociados a diversos tipos de cancro, pesquisadores do Instituto de Química (IQ) da Universidade de São Paulo (USP) estão a utilizar técnicas ultras-sensíveis como a espec-trometria de massas.De acordo com Marisa Helena Gennari de Me-deiros, professora do IQ (Instituto de Química) e coordenadora do pro-jeto, o seu grupo de pes-quisa tem conseguido detectar e quantificar adutos produzidos por aldeído tanto em células humanas (em cultura) como em tecidos do fí-gado, cérebro e pulmão de ratos expostos à po-luição.“De entre as técnicas que têm sido utilizadas, a es-pectrometria de massas é atualmente a mais im-portante e eficiente para

se detectar como quan-tificar adutos no DNA”, disse.O objetivo dos pesquisa-dores é utilizar esses adu-tos como marcadores biológicos (biomarca-dores) em situações clíni-cas para detectar o risco de desenvolvimento de um cancro ou para avaliar a exposição a diferentes poluentes urbanos e in-dustriais.Utilizando espectrome-tria de massas combi-nada com a técnica de marcação isotópica – em que uma substância é

“marcada” ao incluir isótopos pouco comuns na sua composição química – os pesquisa-dores demonstraram a formação de um aduto derivado do acetaldeí-do (composto químico orgânico).O estudo indicou que o composto produzido a partir da queima da madeira e do fumo de um cigarro pode ser um marcador biológico de exposição tanto à po-luição urbana.Parte dos resultados da pesquisa foi publicada

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Notíciano Journal of The American Chemical So-ciety e pode ser usada para explicar os mecanismos associados à exposição ao composto químico e os riscos de cancro.Segundo ela, o interesse pela pesquisa dos adultos começou a ser despertado nas últimas décadas quando surgiram di-versos casos de um cancro primário do fígado (hepatocarcinoma), muito raro, entre trabalhadores de uma indústria de

plástico nos Estados Unidos.Ao investigar a origem da doença, os especialistas identificaram na época que se devia à exposição dos operári-os a compostos cancerígenos, como o cloreto de vinila e o uretano, utiliza-dos na fabricação de polímeros (com-posto químicos de elevada massa mo-lecular).

Cancro visto em 3DUma das principais carac-terísticas das células can-cerosas é que determina-das regiões do seu DNA tendem a duplicar-se mui-tas vezes, enquanto out-ras são eliminadas. Essas alterações genéticas aux-iliam as células a tornar-se malignas, tornando-as mais aptas para crescer e para se espalharem pelo corpo. Um grupo de cientistas do Instituto de Tecno-logia de Massachusetts (MIT) e da Universidade Harvard, nos Estados Unidos, observou que a estrutura tridimensional do genoma das células tem um papel fundamen-tal na determinação das partes do DNA alterado das células tumorais.Os pesquisadores, lidera-dos por Leonid Mirny, do MIT, desenvolveram uma técnica para comparar a arquitetura em 3D da cromatina (complexo de DNA e proteínas dentro do núcleo celular) com aberrações cromossómi-cas frequentemente ob-servadas em células can-

cerosas.“Aparentemente, as aberrações cromossómicas no cancro são formatadas pela estrutura do cromosso-ma”, disse Mirny. Segundo ele, o estudo revela mecan-ismos que poderão ajudar a apontar locais que pos-suem genes causadores de cancro e, por enquanto, desconhecidos.Os cientistas pretendem analisar genomas em 3D de diferentes tipos de cancro, para verificar se existem alterações habituais nos tumores do fígado, de forma a verificar a diferença entre estes últimos e os pulmo-nares.

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Notícia

Governo rejeita beber água da torneira porque sai 30 vezes mais caraO Conselho de Administração da Assembleia da República mani-festou-se, mais uma vez, contra a introdução da água da torneira nas reuniões parlamentares, ar-gumentando que o seu custo é quase 30 vezes superior ao da água engarrafada. A ideia de acabar com as gar-rafas de água mineral no Parla-mento tem vindo a ser defend-ida pelo Partido Socialista, como um exemplo contra a produção desnecessária de resíduos. Uma primeira tentativa, em 2010, aplicável a toda a Assembleia da República, recebera um parecer desfavorável do Conselho de Administração.

Quercus diz que Portugal deve apoiar limitação de uso de petróleo de areias betuminosasA Quercus defende que Portugal deve apoiar a proposta da Comissão Europeia de limitar a uti-lização de petróleo não convencional, como de areias betuminosas, que dizem serem mais pol-uentes.“A Quercus considera importante que Portugal tenha nesta matéria uma posição de claro apoio à proposta da Comissão Europeia, afastando-se dealguns países europeus que põem em causa os benefícios ambientais da Directiva e contrariam os dados científicos que demonstram a poluição gerada pela produção de combustíveis a artir de fontes não convencionais”, salienta a asso-ciação ambientalista, em comunicado. Segundo a Quercus, a posição daqueles países “ameaça o cumprimento da meta de redução de emissões de gases com efeito de estufa imposta pela Directiva da Qualidade dos Combustíveis e a liderança da União Europeia na política climática global”.

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Entrevista

Doença de CrohnDra. Helena Vasconcelos (médica gas-troenterologista)A doença de Crohn é uma das principais doenças crónicas inflamatórias intestinais, que atinge geralmente o íleo e o cólon (mas pode afectar qualquer parte do tracto gastrointestinal). Muitos danos são causados por células imunológicas que ata-cam uma ou mais partes dos tecidos do tubo digestive. No entanto, não há ainda certezas de etiologia autoimune. Os sintomas e tratamentos dependem do doente, mas é comum a prensença de dor abdominal, diarreia, perda de peso e febre. Infelizmente ainda não há cura para esta doença, no entanto, e à semelhança de outras doenças, os tratamentos permitem alívio dos sintomas e melhoria de qualidade de vida dos doentes.

Nesta edição, na entrevista dada pela dra. Helena Vasconcelos poderá ficar a con-hecer mais acerca desta doença.

1- Relativamente à epi-demologia da doença, qual a idade mais comum em que a doença se manifesta? O maior pico de incidência é por volta dos vinte anos e afeta sobretudo adultos jovens.

2- Quais os fatores que po-dem desencadear a doença?Sabe-se que existem fatores externos que podem ajudar o aparecimento da doença, no-meadamente infeções.

3- Porque razão se afirma que não há certezas relativa-mente à etiologia autoimune desta doença?Na verdade não se sabe a ver-dadeira causa da doença e pensa-se que resulta da conju-gação de vários fatores: ambi-entais e genéticos, entre mui-tos outros. Porém dado que o tratamento assenta em medi-camentos que alteram a imuni-dade, a etiologia autoimune é a que parece ter mais força.

4- Quais os sintomas mais

comuns que se manifestam nos doentes?Os sintomas dependem da localização da doen-ça e da sua forma de apresentação mas os mais frequentes são diarreia , emagrecimento e dores abdominais. A doença pode localizar-se em qualquer segmento do tubo digestivo mas é mais frequente na parte final do intestino delgado (ile-on terminal ) e no inicio do intestino grosso. Tem frequentemente manifestações extra intestinais nomeadamente nos olhos, na pele e nas articu-

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Entrevistalações, e aí os sintomas são diferentes.

5- Como se procede ao diagnósti-co da doença? O diagnóstico é efetuado pela recolha de uma história clínica e complemen-tada por exames diagnósticos. Analis-es ao sangue e fezes, e exploração do tubo digestivo através da realização de colonoscopia complementada com biopsias endoscópicas são os mais im-portantes. Mas muitas vezes tem de se realizar ainda Ressonância Magnética, TAC e outros.

6- Infelizmente, não há ainda cura para esta doença. No entanto, quais são os tratamentos utilizados de modo a aliviar os sintomas e melhoria na quali-dade de vida dos doentes? Os medicamentos são sobretudo os que alteram a res-posta imunitária do indivíduo e são de-nominados de uma forma genérica de imunossupressores. Depois também se usam antibióticos e suplementos dietéticos, (tais como, o ferro, o ácido fólico) dado que o consu-mo destes elementos está aumentado e a sua absorção está comprometida.

7- Qual a carga emocional que o diagnóstico desta doença induz nos doentes? É terrível porque não tendo cura trans-porta um peso enorme para a vida dos doentes que perspectivam de imedia-to uma vida de sofrimento, o que fe-lizmente nem sempre assim é. Depois o diagnóstico é geralmente feito a jo-vens que não estão psicologicamente preparados para estar doentes dado

que ainda associamos doença à velhice.

8- Em complemento aos trata-mentos seguidos, os doentes têm que seguir alguma dieta especifica? A alimentação não altera o curso da doença e não existe dieta recomenda-da, mas quando o doente se encontra em crise é necessário restringir alguns alimentos sob pena de piorar a situação. Geralmente nas fases agudas exclui-se leite e derivados e frutas, legumes e cereais.

9- No seu consultório, depois de dar a notícia a um paciente, qual a sua reação ao saber que é portador da doença? Depende muito da per-sonalidade do doente. Alguns enfrentam muito bem, outros entram em negação , outros em re-volta e outros ainda em depressão. Mas a maio-ria fica aliviada quando se encontra uma causa para o seu sofrimento e aí tem esperança no tratamen-to. Só quando o curso da doença é muito agressivo é que vem o desânimo

e depressão. Os pais que geralmente acompanham os doentes esses sim, so-frem muito.

10- Quais os conselhos que quer deixar aos doentes, de modo a levá-los a encarar a doença de um modo mais positivo e saudável?Os conselhos são cumprir a medicação e tentar esquecer a doença. Fazer uma vida mais normal possível porque nada lhes é vedado. Não se centralizar na doença, não deixar que ela seja mais importante que tudo o resto. Aderir a associações de doentes para poder par-tilhar com outros a sua angustia e per-ceber que não são os únicos e os piores.

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NotíciaGoverno francês quer suspender na UE cultivo de milho estrangénico de Mon-santoO Governo francês pediu outra vez à Comissão Europeia para suspender a autorização do cultivo de milho transgénico MON810 da empresa Monsan-to. O pedido foi baseado em novos estudos científicos, disse nesta sexta-feira o Ministério do Ambiente francês.Uma moratória inicial ao cultivo de culturas transgénicas, lança-da pela França em Fevereiro de 2008, foi invalidada pelo Tribu-nal de Justiça Europeu no Lux-emburgo e pelo Conselho de Es-tado. O Governo anunciou a 28 de Novembro a oposição ao cul-tivo do MON810, e a ministra do Ambiente, Nathalie Kosciusko-Morizet, fez recentemente o pedido para bani-lo de novo antes do fim de Fevereiro. Este pedido, disse o Ministério num comunicado “é baseado em estudos científicos recentes”. E inclui uma revisão da Agên-cia Europeia para a Segurança Alimentar, publicada a 8 de Dezembro, que “mostra que o

cultivo de milho representa riscos significativos para o ambiente”. A opinião dada pela a agên-cia alimentar é sobre o milho transgénico Bt11, mas “defende-se que muitas das questões le-vantadas pelo B11 podem ser transpostas para [a variedade] da Monsanto”, disse a ministra à AFP. “Se a União Europeia não actua, isto pode levar a uma cláusula de salvaguarda”, como já fizeram seis países europeus, disse Ko-sciusko-Morizet.

Cientistas russos resuscitaram flor com 30 mil anosÉ uma história que faz lembrar o Jurassic Park, sem âmbar nem dinossauros mas com a ajuda de esqui-los pré-históricos: os cientistas russos conseguiram fazer crescer uma flor a partir de material vegetal congelado há 30 mil anos que foi guardado em bu-racos pelos pequenos mamíferos da época. Os re-sultados da investigação foram publicados agora na Proceedings of the National Academy of Sciences .

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