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Revista Inbox | Centro Universitário Metodista IPA Ano 9 | #10 | 2014.2 página 6 Cyberbullying: como acontece e o que fazer Nomofobia: mais de 1 milhão de reféns página 4

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A Revista Inbox está na sua segunda edição e traz os trabalhos realizados pelos alunos do segundo semestre do Curso de Jornalismo do Centro Universitário Metodista IPA. Nas disciplinas de Projeto Experimental II e de Planejamento e Produção Gráfica e Editorial II, os estudantes foram desafiados a planejar a revista, passando por todas as etapas naturais desse processo, ou seja, tiveram de pensar nas editorias, nas pautas e seus desdobramentos, na produção das matérias e reportagens, bem como elaborar a diagramação dos seus trabalhos. Não foi uma tarefa fácil, especialmente para quem está iniciando o curso. Mas houve o empenho, a dedicação de todos, resultando em um produto de qualidade, o que pode ser observado nas próximas páginas. Boa leitura

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Revista Inbox | Centro Universitário Metodista IPA Ano 9 | #10 | 2014.2

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Cyberbullying:como acontecee o que fazer

Nomofobia: mais de 1 milhão de reféns

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IPA - INSTITUTO PORTOALEGRE DA IGREJA METODISTA

Conselho Superior de Administração - Consad

presidente

Stanley da Silva Moraes

vice-presidente

Nelson Custódio Fér

secretário

Nelson Custódio Fér

vogais

Paulo Roberto Lima Bruhn, Augusto Campos de Rezende, Aureo Lidio Moreira Ribeiro, Kátia Santos, Marcos Sptizer, Ademir Aires Clavel e Oscar Francisco Alves

suplentes

Regina Magna Araujo e Valdecir Barreros

diretor superintendente do cogeime

Wilson Zuccherato

Centro Universitário Metodista IPA

reitor

Roberto Pontes da Fonseca

Revista elaborada pelos estudantes do2º semestre do curso de Jornalismo IPA

coordenador de curso

Fabio Berti

professsores(as)Letícia Carlan Maria Lúcia Melão

diagramação

Turma do 2º semestre noturno do curso de Jornalismo IPA

revisão

Letícia Carlan Maria Lúcia Melão

foto de capa

Vivian Leal

edição da foto de capa

Andressa Souza

AJor - Agência Experimental de Jornalismo IPA

supervisora da ajor

Profa. Lisete Ghiggi

arte-final

Carlos Tiburski

contato

Rua Dr. Lauro de Oliveira, 71 - Rio Branco - POA/RS51 3316.1269 | [email protected]

impressão

Gráfica Odisséia (1.000 exemplares)

Esta revista foi impressa em papel Reciclato como parte do programa de consumo consciente dos recursos naturais e colabora, assim, com a redução dos danos ambientais.

SumárioQUALIDADE DE VIDA | Cyberbulling: crime virtual, sentimento real .......................... 4QUALIDADE DE VIDA | Os benefícios de uma amizade milenar ............................................ 5QUALIDADE DE VIDA | Nomofobia: mais de 1 milhão de reféns .......................................... 6TECNOLOGIA | A tecnologia a favor da praticidade .............................................................................................. 8CULTURA | Uma alternativa, alternativa .............................................................................................................................................. 9CULTURA | O guerreiro do underground ................................................................................................................................. 10CULTURA | Os encatamentos de Cuba .......................................................................................................................................... 12CULTURA | Os Tápes, o elo perdido da música

latino americana no sul do Brasil .................................................................................................................. 14MEIO AMBIENTE | Pneus nas paisagens de Itapuã ........................................................................................ 16POLÍTICA | Horário eleitoral gratuito? .............................................................................................................................................. 18ESPORTE | Conquistando jardas ................................................................................................................................................................... 20ECONOMIA | Ficção britânica e realidade argentina ...................................................................................... 22

Editorial

A Revista Inbox está na sua segunda edi-ção e traz os trabalhos realizados pelos

alunos do segundo semestre do Curso de Jornalismo do Centro Universitário Meto-dista IPA. Nas disciplinas de Projeto Expe-rimental II e de Planejamento e Produção Gráfica e Editorial II, os estudantes foram desafiados a planejar a revista, passando por todas as etapas naturais desse processo, ou seja, tiveram de pensar nas editorias, nas pautas e seus desdobramentos, na produ-ção das matérias e reportagens, bem como elaborar a diagramação dos seus trabalhos. Não foi uma tarefa fácil, especialmente para quem está iniciando o curso. Mas houve o empenho, a dedicação de todos, resultando em um produto de qualidade, o que pode ser observado nas próximas páginas. As edi-torias presentes nesta edição são: Qualida-de de Vida, Tecnologia, Meio Ambiente, Po-lítica, Esporte, Economia e Cultura. Na Edito-ria Qualidade de Vida, o bullying na rede, ou cyberbullying, é discutido por Alina Schmitt e Jéssica Gamarra em Cyberbullying: crime virtual, sentimento real. César Manoel, Le-tícia Caimi e Rosângela Ludke abordam a importância da relação do ser humano com os animais, em especial com os bichinhos de estimação, em Os benefícios de uma amizade milenar. Uma doença dos tempos atuais e da era dos dispositivos móveis é o foco de Nomofobia: mais de 1 milhão de reféns, de Juliana Villeroy e Luciana Rabas-sa. Na editoria Tecnologia, Mariana Mota e

Eduarda Kroeff destacam a impressão 3D, e a possibilidade de um acesso fácil por conta de equipamentos mais baratos, em A tec-nologia a favor da praticidade. Na editoria Meio Ambiente, o resultado da ideia de 4 amigas que está florindo as ruas de uma comunidade, em Pneus nas paisagens de Itapuã, de Juliana Costa e Sabrina Dias. Na Editoria Política, Moisés Machado e Diler-mando Dias, em Horário eleitoral gratuito?, apresentam dados que mostram que esse espaço não é nada gratuito. Bruno Biguá e Fábio Gonçalves, na Editoria Esporte, mos-tram o futebol americano nos campos de Porto Alegre. Na Editoria Economia, Juliana Pereira e Vivian Leal, em Ficção britânica e realidade argentina, resgatam as crises eco-nômicas pelas quais o país vizinho passou até chegar nos dias atuais. Na editoria Cultu-ra, o universo dos brechós é o foco de Uma alternativa, alternativa, de Joana Troian e João Vieira. O guerreiro do Underground, de Lucas Reis e Mateus Rister, destaca o hea-vy metal em Porto Alegre e a importância de Flávio Soares no cenário desse gênero musical na capital. Cuba e suas belezas na visão da fotógrafa Lisette Guerra estão em Os encantos de Cuba, de Danglar Duarte e Fabrício Hamester. A história e o pioneiris-mo de um dos mais importantes grupos da música gaúcha pode ser conhecida em Os Tápes, o elo perdido da música latino ame-ricana no sul do Brasil, de Tiago Fernandes.

Boa leitura

Letícia Carlan e Maria Lúcia MelãoPorto Alegre, dezembro de 2014

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Antigamente, dentro de escolas, nas ruas e até mesmo em condomínios, as crian-

ças e adolescentes implicavam umas com as outras por qualquer motivo. Com o passar dos anos, esse ato passou a ter novos con-tornos e cresceu em termos de números de ataques e, principalmente, na forma como acontece. Ganhou até um “nome próprio”: bullying (em inglês bully = valentão), que é o ato de agredir verbal ou fisicamente alguém, com muita frequência.

Hoje, é possível perceber que essa ação deixou o mundo real e passou também a fre-quentar o mundo virtual, ou seja, a Internet. Com a criação do acesso ilimitado a qualquer fonte, um indivíduo tem a capacidade de uti-lizar essa ferramenta, através das redes sociais, para atingir um alvo, uma pessoa. De violência ‘cara a cara’ (bullying), os ataques passaram a ser através de uma máquina. Surge, então, o cyberbullying, que é o bullying através da rede. Esse novo modo de atingir alguém vir-tualmente é mais preocupante, pois o que é dito (insultos) se multiplica mais rápido.

De 2013 para 2014, o número de aces-sos a aplicativos cresceu, fazendo com que tanto crianças quanto adolescentes tivessem contato com o mundo virtual. Um dos pro-gramas mais comentados desse ano virou capa de jornais. Isso porque a ideia original do Secret foi deturpada. De um apli-cativo de auto-ajuda, onde se podia contar um segredo sem ser identi-ficado, além de colocar uma ima-gem como plano de fundo, pas-sou a ser utilizado pelos usuários para divulgar fotos e segredos íntimos de amigos e inimigos. Conectado ao Facebook, o Secret permitia saber quem estava por trás dos relatos, mesmo não conseguindo ver o nome do usuário, o que gerou grande revolta em quem era citado e nem possuía o programa. Segundo o Delega-do de Polícia Emerson Wendt, os aplicativos são “ um mero meio

de comunicação, um mensageiro” e por is-so podem ser utilizados de forma errada. “O Facebook, o Secret e o Twitter são bastante mencionados como meios de cometimento de crimes relacionados a conteúdo, ou seja, contra a honra, ameaças, racismo e injúria racial, dentre outros”, diz o delegado.

Ao navegar pelas redes sociais e aplicati-vos, é possível acompanhar pessoas que gos-tam de compartilhar comentários odiosos e de graça. Os ataques acontecem em diversas plataformas na web. O que facilita esses ata-ques é o pensamento do agressor, de que não será identificado, por isso se sente impune e grandioso. Mas todo aparelho digital tem como ser rastreado através do IP (Protocolo da Internet). “Em regra e em tese, consegue-se chegar à máquina de onde partiu o acesso

criminoso, po-rém, po-

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ser difícil identificar o autor quando ele aces-sa, por exemplo, a internet de um local sem controle na web”, conta o delegado Wendt.

Quem faz esse tipo de ação é conhecido como “hater” (em uma tradução mais livre: odiadores). Para a psicóloga Fernanda Soibel-man, os haters “são adolescentes sem limites, insensíveis, insensatos, inconsequentes e em-páticos”. Na maioria das vezes, os pais não têm noção de que os filhos são alvo dos ataques, ou atacam, pois não contam por medo de serem repreendidos.

Segundo o delegado Wendt, a situação piora quando os pais não possuem perfis em redes sociais e não conseguem acompanhar a rotina das crianças “ O ideal é que pelo me-nos um deles, pai ou mãe, acompanhe a vida digital dos filhos”, destaca. Para a psicóloga Fernanda, os pais devem estabelecer regras, que não podem tirar a privacidade total das crianças. “Elas não podem ser impostas como punições, devem ser inseridas como algo po-sitivo, uma proteção para seu próprio bem”, complementa a psicóloga.

Para o delegado Emerson Wendt, os praticantes de Cyberbullyng realizam tal ato por inúmeros motivos. Na maioria dos casos, os agressores são pessoas que tam-bém precisam de ajuda, que não possuem o apoio familiar e não têm limites. No entanto, também é possível encontrar aqueles que “ agem somente para serem reconhecidos neste meio virtual, além de possíveis ata-ques que ocorrem sobre caráter financeiro ou político”, diz ele. Com o aumento deste

tipo de delito, foram criadas delegacias especializadas em crimes cibernéticos.

Elas têm condições de lidar com situações de maior potencial

ofensivo e fazem o acompa-nhamento de certos casos,

antes da denúncia ser efe-tuada, visto que,em regra, não depende da vontade da vítima para iniciar o

procedimento policial, como é o caso da pe-dofilia.

Cyberbullying: crime virtual, sentimento realCom a alta VIRALIZAÇÃO na internet, indivíduos têm o propósito de constranger e FERIR outras PESSOASALINA SCHMITT E JÉSSICA GAMARRA

Alina Schmitt

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CÉSAR MANOELLETICIA CAIMIROSANGELA LUDKE

O dia a dia frenético de um trabalhador, um estudante, de todo cidadão é uma das principais causas dos problemas de saúde da vida moderna. Para evitar que essas dificuldades se agravem e resultem em irreversíveis consequências, toda a ajuda é bem vinda. E ela pode vir por meio de um carinho, uma lambida ou até mesmo de uma massagem de quatro patas bem peludas, isto é, do bichinho de estimação. Essa relação é bem antiga. Há registros desse tipo de amizade desde a pré-história, quando o homem e o animal dividiam a comida em troca de proteção. Atualmente, especialistas reconhecem que essa amizade pode trazer um pouco de leveza ao cotidiano. Para o psicólogo Maurício Pinto Marques, o animal traz diversos benefícios, como auxiliar a pessoa a dar e receber afeto, ser menos egoísta e a ter responsabilidades.

Os animais, diferente do ser humano, amam e se doam por completo, sem

ligar para aparências e sem pré-julgamentos. Eles só esperam uma retribuição em forma de cuidados e carinho. Isso é consenso pa-ra grande parte da sociedade e endossado por especialistas. A médica veterinária Viviane Marques Guyotti, coordenadora do curso de Medicina Veterinária da UniRitter, destaca, ain-da, o afeto, o companheirismo, a fidelidade e o amor que o mascote pode dar. Porém, é uma via de duas mãos, pois os bichinhos também precisam receber atenção de seus donos.

Entretanto, essa parceria, baseada na tro-ca mútua de favores, não elimina problemas. Os animais estão sujeitos ao estresse, seja por falta de carinho, amizade e companheirismo, seja por conta do excesso de barulho ou por situações fora da normalidade do seu habitat, além, é claro, da falta de comida e água. É nes-sa hora que o dono, como um líder protetor, deve intervir para que seu amigo de estima-ção não sinta esses desconfortos. Segundo Viviane, promover o essencial já é um bom começo para uma relação de amizade sadia e duradoura para ambos.

Os benefícios de uma amizade milenar

Quando se estabelece uma relação mí-nima de convívio, e o próprio bicho de esti-mação reconhece e começa a obedecer seu dono, o vínculo de amizade entre os dois se fortalece. Todavia, é importante que existam alguns limites nessa relação, pois não faz bem ao dono ser submisso ao seu mascote, seja por ter que estar sempre à disposição do animal e deixar de receber visitas ou de fazer deter-minados programas.

A psicóloga Cristiane Berto Felipe, do Sep (Serviço Escola de Psicologia do Ipa), desta-ca que “a vida não é compartimentada, cada pessoa é diferente, logo não existe um limite estabelecido, isso é muito pessoal.” O que mais se aproxima de um limite, segundo Cristiane, é a obsessão, pois tudo que nos faz obsessivos, nos causa prejuízos. “Não há problemas em o dono levar seu mascote para dormir com ele. Isso não é algo errado, desde que ele le-ve também um livro, filme, ou uma pessoa para dormir junto com ele também”, afirma Cristiane. Ela destaca que um tempo mínimo de atenção é exigido para que o animal de estimação seja bem cuidado, mas o mascote não pode virar um transtorno para seu do-

no, privando-o de ter vida social nas diversas atividades do seu dia a dia. “Não podemos esquecer de que animais são animais, e seres humanos são seres humanos: a natureza e o convívio social exigem que alguns hábitos não se misturem e se distinguem entre si”, complementa a veterinária Viviane.

José Carlos Lussani e sua família são apai-xonados por animais. Em casa, eles têm um cachorro, o Piti, e uma gata, a Nina, que convi-vem harmoniosamente. Segundo José Carlos, o carinho e a amizade são recíprocos. O cachor-ro cuida da casa, a gata é carinhosa e a família retribui com os cuidados básicos e muito amor.

Entre o dono e seu pet, essa troca de carinho e afeto traz benefícios para ambos. Para o homem, o alívio que a companhia do seu bichinho funciona como uma forma de recuperar as energias perdidas durante o dia a dia, assim como o ajuda a valorizar momen-tos simples, como o de apreciar estar ao lado do seu fiel companheiro. Ao mesmo tempo, o dono, como recompensa da fidelidade e parceria, deve retribuir o mesmo carinho e atenção para garantir uma vida longa e feliz ao seu parceiro de quatro patas.

César Manoel

Família Lussani e seus amigos de quatro patas

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JULIANA VILLEROY LUCIANA RABASSA

O celular aproximou pessoas que estão a longa distância, colaborou no ofício de diversos profissionais e é uma das ferramentas tecnológicas mais completas atualmente. De acordo com a Agência Nacional de Telefonia (ANATEL), o ano de 2013 terminou com mais de 270 milhões de linhas móveis ativas e, para cada grupo de cem pessoas, o número de acessos é de 136,45, ou seja, alguns indivíduos têm duas ou mais linhas em funcionamento. Segundo pesquisa realizada pelo site G1 em agosto deste ano, só nos primeiros cinco meses de 2014 foram vendidos mais de 28 milhões de celulares, o que representa um aumento de 8% comparado ao mesmo período de 2013.

O grande desenvolvimento tecnológico tornou a população mundial depen-

dente de equipamentos, como o aparelho móvel, que oferece inúmeras funções. Tal de-pendência fez surgir uma nova palavra no jar-gão da psicologia: adicção psicológica e com-portamental, uma espécie de vício, causada, principalmente, pela necessidade de viver em função do celular. Essa submissão exagerada em relação ao dispositivo foi batizada pelos britânicos de Nomofobia (no+mobile+fobia).

Apesar de muitas pessoas utilizarem de-masiadamente o Smartphone, isso não confi-gura uma doença, uma vez que o nomofóbico possui características específicas e um histó-rico de problemas psicológicos. “A patologia se revela em pessoas que, quando ficam sem seu celular, acabam apresentando sintomas e alterações comportamentais e/ou emocio-nais, e os sintomas mais frequentes, são, entre outros, nervosismo, ansiedade, desconforto e angústia”, explica a Psicóloga, Doutora em Saúde Mental e pesquisadora pioneira da Nomofobia no Brasil, Anna Lucia Spear King.

Nomofobia: mais de 1 milhão de reféns

Ana Carolina Araújo, 20 anos, estudante de Web Design, teve sua vida profundamente atingida pela subordinação ao celular. Com o uso descontrolado do aparelho, ela se sentia independente, mesmo sendo escrava das uti-lidades da ferramenta. “Eu usava ele o dia todo: na aula, no banheiro, nas refeições e quando estava reunida com a família. Detestava que alguém falasse comigo quando eu estava me-xendo no celular. Eu brigava mesmo”, conta a estudante. Segundo a psicóloga Anna Lucia, antes de qualquer tratamento, uma pessoa que usa muito o celular precisa ser analisada para a identificação do eventual distúrbio. “Quando o uso é patológico, o tratamento é realizado com a reunião da terapia cogni-tivo-comportamental e/ou medicação para orientar o indivíduo com novas formas de uso de tecnologias que não sejam prejudiciais, direcionado para o transtorno primário que foi detectado”.

“Meu mundo estava dentro do celular. Podia passar o dia todo somente com o te-lefone, que eu não me sentia sozinha. Todos

esses medos me fizeram criar um mundo só meu”, relata Ana Carolina.

A estudante Ana Carolina procurou um tratamento psicológico e descobriu que o ví-cio pelo Smartphone teve origem nos proble-mas de relacionamento que ela possui desde a infância. “Sou extremamente tímida, tinha dificuldade de fazer amizade na faculdade e na escola era assim também. Meu mundo estava dentro do celular. Podia passar o dia todo so-mente com o telefone, que eu não me sentia sozinha. Todos esses medos me fizeram criar um mundo só meu”, relata ela. A jovem fez cinco meses de tratamento e ainda utiliza o celular com frequência, porém, consegue ter controle, pois se relaciona melhor com as pes-soas e, agora, tem uma vida fora do aparelho.

É comum que o nomofóbico, por não reconhecer o vício, afirme que utiliza o dis-positivo móvel de forma saudável. Patrick Paz, 14 anos, estudante e usuário obsessivo das tecnologias, garante que não sofre do pro-blema. Ele conta que começou a utilizar o celular aos sete anos de idade, época em que

Fotos: Juliana Villeroy

O uso exagerado do celular interferiu no comportamento das pessoas

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nomofóbico pode ficar ainda mais ansioso. Para a psicóloga Simone Queli Lima, que

trabalha com atendimento online na Psico-link, o comportamento obsessivo não pode ser considerado uma doença e sim uma de-pendência psicológica ou compulsiva (adic-ção), tendo como características a perda de controle e de interesse por outras atividades, o uso excessivo do aparelho e a interferência na vida cotidiana. Visto que o tempo de utilização dos celulares não aponta um problema ou ví-cio, é preciso cuidado na hora de um diagnós-tico. Ainda segundo Simone, somente casos em que o uso esteja distorcendo objetivos pessoais, familiares e/ ou profissionais é que se deve buscar um tratamento.

O celular serve como instrumento facili-tador da comunicação, mas o mau uso deste tem causado a dependência de tal tecnologia. De acordo com uma reportagem realizada

Os nomofóbicos tendem a se isolar e criar um mundo próprio, totalmente online

Acesse o site www.grupodelete.com e conheça os dez passos para o uso consciente das tecnologias. Para orien-tação psicológica, contate ajuda atra-vés do site www.psicolink.com.br.

ganhou um aparelho do pai, para se distrair e não atrapalhar a rotina doméstica da família. Desde então, o estudante está conectado 24h por dia, e não consegue ficar longe do telefo-ne. “Sou uma pessoa calma, mas se fico sem bateria, sem sinal, ou até mesmo sem o celular, me sinto nu. Não tem nada mais irritante do que isso”, disse o estudante, que completou: “É a pior sensação do mundo”. Patrick destaca que os aparelhos celulares têm cada vez mais funções e que, através deles, pode fazer tudo. “Posso assistir a filmes, ouvir músicas, acessar as redes sociais, comprar produtos, efetuar pagamentos, jogar e outras mil coisas sem precisar levantar do sofá”, complementou.

Assim como em outros transtornos psi-quiátricos, o portador da Nomofobia busca frequentemente disfarçar o problema. Ao per-ceber que todos à sua volta já começaram a notar alterações no seu comportamento, o

pelo site G1, em julho deste ano, psicólogos da Universidade de Gênova, na Itália, pedi-ram formalmente que a Nomofobia fosse incluída como uma patologia no manual de diagnósticos de transtornos mentais DSM-V. Estima-se que 20% da população mundial so-fra da doença, a maioria jovens entre 18 e 24 anos. Em situações mais complexas, em que o paciente necessite utilizar medicamentos para o controle da ansiedade, o psicólogo e o psiquiatra devem trabalhar juntos para um tratamento bem sucedido.

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A tecnologia a favor da praticidadeDivulgação/PUCRS

Rodrigo Krug apresenta suas criações

A tecnologia de impressão 3D foi criada por Charles Hull, em 1984. Mas apenas

na última década é que as impressoras fica-ram mais simples e com preços acessíveis. O mercado de prototipagem rápida é crescente e promissor, já que a tecnologia é ampla e pode ser utilizada em diversas áreas.

Um grupo de cinco estudantes Porto Ale-grenses se uniu para produzir a impressora 3D com menor custo e de fácil utilização do Brasil. Somente três anos após a ideia é que o projeto foi aprovado, pela Incubadora Raiar (PUCRS), para o início da produção. Um ano e meio depois, em Julho de 2013, mais de 100 unidades já haviam sido vendidas, e os números só aumentaram.

A equipe é liderada desde o início por Ro-drigo Krug, 27, técnico em mecatrônica. As

expectativas quanto ao uso da CL1, como foi denominada a impressora, são diversas. Com valor abaixo da média, R$ 4.650,00 , o equipa-mento precisa apenas de um cartão de memó-ria para iniciar a confecção de algum produto, que pode atingir 180mm de altura, largura e profundidade, aproximadamente do tamanho de um tablet de 7 polegadas. E a impressão não é cara, custando R$ 0,14 o centímetro cúbico.

Os usos mais comuns têm sido para o estudo de produtos de design e decoração, quando a produção deve ser feita de forma ágil e barata. Peças para aparelhos antigos, ou peças muito pequenas e delicadas tam-bém podem ser produzidas com facilidade. Roberto Fontoura, colecionador de jogos e brinquedos antigos, alugou uma máquina de impressão 3D para uma feira de usados que

realizou no início do ano. “Os jogos antigos, por mais bem cuidados que sejam, sempre acabam perdendo algumas peças ao longo dos anos” explica ele, que pode reproduzir peças perdidas, até miniaturas de brinquedos para recordações.

Maria de Lourdes, 32 anos, alugou a má-quina com o valor que vinha guardando para o aniversário de sete anos de seus filhos. “O aluguel não saiu tão caro quanto imaginava, e pude imprimir miniaturas de desenhos que as crianças fizeram durante a festa. Foi muito di-vertido e com certeza inesquecível!”, conta ela.

Com a constante evolução da tecnolo-gia, logo as impressoras tridimensionais serão item básico na casa dos brasileiros. A facilida-de de aprendizado e oportunidades de renda serão incalculáveis. Viva o futuro!

MARIANA MOTAEDUARDA KROEFF

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JOÃO VIEIRA JOANA TROIAN

Incluídos no cotidiano da sociedade, os bre-chós se constroem a partir do que foi esque-

cido. Muitos os descrevem como, muitas ve-zes, local de velharias, colocando em prática um pré-conceito que ainda hoje é bastante comum. Algumas pessoas, quando pensam em brechó, logo veem araras desordenadas, higienização precária, desleixo para com a organização. Um lugar que, sem dúvida, deve ser evitado. No entanto, a pós-modernida-de vem revertendo esses antigos padrões, tornando-os novas alternativas de negócio, arrecadação de renda e de benefícios para o consumidor.

De forma criativa e com estilo bem dife-rente daqueles que costumamos encontrar em lojas normais, o brechó Casa da Traça traz uma nova percepção de reaproveitamento da moda.

Em uma mistura de moda, música e ar-te, a Casa da Traça expõe diversas opções de roupas e acessórios retrô, vintage e alternati-vo. A dona, a empresária de 28 anos, Bárbara Andrade, conta que a ideia partiu de uma necessidade própria, e logo se transformou na oportunidade certa: “Essa necessidade pes-soal foi sendo percebida em outras pessoas, e pude ver a existência de um público tão carente quanto eu. Que de cara se identificou com a proposta” contou Bárbara.

Para quebrar o tabu que muitas pessoas ainda têm em relação aos brechós, Bárbara explica o processo pelo qual os “modelitos” passam até estarem prontos para a venda, como a higienização, reparos e a etiquetagem dos produtos. A proprietária ainda ressalta a importância de selecionar peças de estilos variados, que sigam um padrão de conser-vação e pertencimento ao local: “Nosso pú-blico é muito abrangente e é imprescindível que as peças estejam em perfeito estado e encaixem-se em algum dos nossos segmen-tos.”, diz Bárbara.

Com a intenção de expor uma ideia prévia do estabelecimento, A Casa da Traça conta com um ambiente que mescla diferentes es-tilos e épocas, proporcionado ao público uma viagem no tempo. A vitrola de variados hits embala uma temática descolada e repleta de

Uma alternativa, alternativa

cores que o local. Partindo desde a casuali-dade à irreverência que suas peças possuem. Este cuidado, segundo Bárbara, surge a partir de características bastante singulares, pois a empresa “mais do que um negócio, é a repre-sentação de um estilo de vida, aqui está tudo que eu, meus amigos e clientes gostamos e buscamos para nossas vidas”, diz Bárbara.

Outra opção bastante inovadora é o Pi-nUp Brechó de Griffe. Focado num público moderno e casual, a proprietária Andrea Dias, de 35 anos, está sempre de olho nas tendên-cias da moda. Sempre que viaja, Andrea traz não apenas roupas e acessórios, mas também

muitas ideias para o seu brechó. Com frases temáticas e uma decoração aconchegante, o PinUp Brechó de Griffe recebe suas clien-tes de forma VIP e acolhedora: “Temos muito cuidado não só com as peças que vendemos, mas principalmente com nosso público. Mi-mo minhas clientes com cafezinho e bolinhos (Risos).” afirmou a proprietária.

Lá as peças estão dividias em duas partes: o “brechó” com os modelos usados, e a parte outlet, que se trata de peças de fábricas pas-sadas diretamente ao brechó. Calvin Klein e Louis Vuitton estão entre as principais marcas que o PinUp Brechó de Griffe trabalha.

Antigamente, locais onde encontrar peças

interessantes eram bagunçados e sem um

conceito específico.”

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LUCAS REISMATEUS RISTER

Porto Alegre. Início dos anos 80. Brasil pré-Ro-ck in Rio e da ditadura. O Heavy Metal ainda

é desconhecido por aqui. É nesse cenário que Flávio Soares retorna à capital gaúcha. O ado-lescente recém-chegado de Taquara, e ainda sem conseguir fazer novas amizades, começa a focar seu tempo e o dinheiro da mesada para conhecer as músicas e as bandas que mudariam a sua vida. O interesse no Heavy Metal fez surgir a banda Leviaethan, umas das mais tradicionais do Brasil e que ainda hoje, 31 anos depois, está em atividade. Foi com o lançamento da primei-ra demo e com a formação estabilizada, que a banda começou a chamar a atenção.

Cantando em inglês, impressionaram os res-ponsáveis pela recém-inaugurada gravadora Ro-ck Brigade Records, que lançou os dois primeiros, e únicos, discos da Leviaethan: “Smile”, de 1989, e “Disturbed Mind”, de 1992. A morte do guitarrista Alexandre Colletti em um acidente de carro, a saída do baterista Danilo Pizzato, além das mu-danças de mercado, fizeram a banda encerrar as atividades, mesmo com material pronto para a gravação do terceiro álbum.

Flávio Soares não iria desistir facilmente da música. Para sobreviver na cena do metal, jogou todas as suas energias na loja de discos e artigos de Metal, a Madhouse, que montou um pouco an-tes do lançamento do segundo disco e que mar-cou presença no cenário musical porto alegrense até 2002. Esse ano também foi importante para o Flávio, pois marca a volta da banda Leviaethan.

Mergulhando de vez no backstage, organiza a primeira edição de próprio festival, o True Metal Fest, e começa a articular a criação da sua produ-tora. Nasce, assim, a True Metal Press & Manage-ment, que está há quase dez anos no mercado e conta com várias bandas no seu cast.

Com toda a sua experiência, Flávio Soares encontrou caminhos para tornar menos tortuoso o inicio de novos grupos. Através da True Metal, consegue oportunidades antes impensáveis para jovens bandas da cena metálica nacional: lança, por aqui e no velho continente, material dos no-

vatos, além de programar turnês pela Europa. Tu-do isso acontece graças a uma parceria de pouco mais de 2 anos com a gravadora inglesa Secret Service Records. “O dono da Secret Service é um antigo cliente da loja Madhouse que está moran-do na Europa há muito tempo”, explica Flávio. Esse parceiro tinha um sonho de lançar bandas brasileiras na Inglaterra, que acabou se tornando realidade com os primeiros lançamentos.

Flávio não tem um critério muito particular para escolher as bandas que farão parte do cast da True Metal. “Mesmo bandas que fogem um pou-co do conceito de “True Metal”, se eu vejo que a banda trabalha direito e tem interesse em crescer, tem interesse em “pegar” junto”, pode ganhar uma chance na produtora. Acredita que uma banda não pode achar que a gravadora faz milagres, e que não precisa se esforçar. “Não funciona desse jeito, a banda tem que estar consciente de que é um serviço em conjunto”, reforça o músico. Só dessa maneira é que a True Metal tem condições de fazer a sua parte, que é assessorar, permitindo que a banda fique conhecida e possa receber convites.

Um baita exemplo do auxilio prestado pela True Metal é a banda carioca Revengin, que voltou há pouco tempo da primeira turnê na Europa, resultado da parceria da True Metal com a Secret Service. Essa excursão serviu como teste para a própria Leviaethan, que terá também seu material lançado na Europa, com projeção de um tour em um futuro próximo.

Para Flávio, hoje com 50 anos, a cena atual do Heavy Metal na capital gaúcha enfrenta uma nova baixa de mercado, apesar dos avanços que conquistou. “Está melhor pela facilidade que hoje a gente tem. Tem as dificuldades que são cíclicas, de violência, de falta de grana. Já tínhamos passa-do por isso com o plano cruzado, ninguém tinha dinheiro”. Para o músico, fatores externos, como as brigas, afastaram o público dos shows. Além disso, segundo ele, outros elementos também colaboram para essa baixa. Uma frequência maior de shows internacionais em Porto Alegre, que faz com que os fãs deixem de comprar ingressos pa-ra espetáculos locais. “Quando começamos, não se tinha essa perspectiva de muitos shows aqui,

O guerreiro do underground

Smile -1989 Disturbed Mind - 1992

Discocrafia da Leviaethan

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Cast atual da True Metal

mas tinha outras tendências, como o Grunge que atrapalhou para caram-ba, a disco também na época, as ca-sas se fecharam para quem fazia Rock And Roll ou Metal”, explica. Mesmo com a realidade atual, Flávio está oti-mista, pois novas bandas continuam surgindo. Para ele, isso tem tudo a ver com as novas tecnologias. “Hoje, pela internet, tu tens referências de qualquer tipo de som, coisas que a gente não tinha quando começa-mos”, conclui.

Esses são os meios encontrados por Flávio para renovar o cenário do metal gaúcho e nacional, e também manter vivo o legado de sua própria banda, a mítica e pioneira Leviaethan. O musico pode ser considerado um verdadeiro guerreiro do metal, pois há mais de trinta anos vem fazendo tudo por esse estilo musical, que aca-bou tornando-se sua vida. Mesmo com todas as dificuldades encontra-das pelo caminho, segue em frente, e está cada vez mais forte, com novos recursos e com um exército cada vez maior e mais organizado ao seu la-do, como as bandas Netherbound, El Diablo e M19. Assim, os headban-gers gaúchos podem ter certeza que a chama do Heavy Metal se manterá acesa em nosso solo. Isso enquanto tivermos guerreiros como Flávio Soa-res lutando por ela.

Foto de Aline Jechow

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Os encantamentos de CubaAndré Guimarães Antunes/Divulgação

Histórica, hospitaleira, harmoniosa, en-volvente, cativante, Cuba possui essas e

muitas outras faces. Cobiçado por america-nos, o país tem, em sua história, rebeliões e guerras pela mudança no poder. Mas nem só de lutas vive Cuba, que carrega em suas raízes influência espanhola, expressada em seus prédios históricos, principalmente na capital, Havana, e nas crenças trazidas pelos africanos. Prédios arquitetônicos e belíssimas praias compõem a paisagem cubana. Dessas praias, Varadero é a mais famosa, por possuir uma grande extensão de areia fina e branca, banhada por um calmo mar azul turquesa. Todas essas peculiaridades transformam o país em um dos lugares mais desejados por turistas que buscam novas culturas e, tam-bém, festas badaladas.

A fotógrafa Lisette Guerra, que foi mais de uma vez à ilha, é uma dessas turistas que literalmente se encantaram com a beleza

cubana. Lisette conta que foi a Cuba pela primeira vez para dançar salsa e ficou ma-ravilhada com o País. Segundo ela, estar em Cuba é estar dentro de um filme que não precisa de nenhuma produção, já está tudo pronto para fotografar. “Então como fotógrafa, você se encanta pela vida cotidiana, pelo povo cubano, que se parece muito com o brasileiro, pelas cores e pela paisagem, foi isso que me encantou” - relata a artista.

E, todo esse encantamento causado pe-lo país fez com que ela o explorasse através da arte que escolheu como profissão: re-gistrou em belas imagens momentos mar-cantes, mesclados em cores, danças, praias, prédios e carros antigos. Presentes também nos registros da fotógrafa estão os homens e mulheres que vivem na ilha de Fidel de Castro. A artista revela que preferiu não re-gistrar em seu trabalho nada político, mas o contexto social do cotidiano dos cubanos.

“Quis mostrar a musicalidade e a alegria, que, apesar de todas as dificuldades, eles trazem estampada em seus rostos”- complementa a fotógrafa.

Os registros realizados no país caribenho entre 2009 e 2013 renderam a Lisette Guer-ra, que também é formada em jornalismo e publicidade, quatro exposições com o mes-mo título: CUBA. O trabalho da artista, que foi apresentado ao público pela primeira vez em 2011, no Centro Cultural CEEE Érico Verís-simo, também já passou pelo Museu Nacional do Conjunto Cultural da República e Teatro Nacional Cláudio Santoro, em Brasília. Além das exposições, a artista lançou um livro, on-de em suas 300 páginas, estão traduzidas as imagens de seu encantamento por Cuba. A obra, que levou quatro anos para ficar pron-ta, foi vencedora do Décimo Prêmio Gaúcho de Excelências Gráficas, na categoria Livros Culturais e de Arte, em 2014.

FABRÍCIO HAMESTERDANGLAR DUARTE

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TIAGO FERNANDES

A história da música folclórica gaúcha converge com a trajetória de Os Tápes, que figurou no cenário musical regional e nacional entre 1971 e 1982.

Em 1971, na pacata cidade de Tapes, dis-tante 100 km de Porto Alegre, os primos

Cláudio Boeira Garcia e José Waldir Garcia, ao lado do amigo José Cláudio Machado, resol-veram montar um grupo musical com a ideia de participar da primeira Califórnia da Canção Nativa de Uruguaiana. Este foi o início de Os Tápes, que acabaram não sendo um grupo, mas sim um movimento musical.

E foi justamente na 1ª Califórnia da Can-ção que chamaram a atenção da mídia e do público, ao apresentarem uma música de 25 minutos. Vida, Cisma e Canto de um Farra-po narrava, através de um farrapo fictício, as várias etapas e fatos da Revolução Farroupi-lha. Pela originalidade da apresentação, Os Tapes receberam o prêmio de Melhor Pes-quisa Musical no evento. “Através desse prê-

mio nasceria a mística de que Os Tápes era um grupo de pesquisa musical. Na verdade, a nossa pesquisa era o nosso saber, o nosso conhecimento coletivo. Não era propriamen-te uma pesquisa”, afirma o fundador do grupo, Cláudio Boeira Garcia, que hoje é professor universitário em Ijuí.

Nos anos subsequentes, o grupo volta a participar da Califórnia. Com nova formação, o conjunto apresentou canções como Gauchê, Funeral guarani e Pedro Guará. Saiu como o grande vencedor da 2ª Califórnia com quatro prêmios: Melhor Conjunto Vocal, Melhor Con-junto Instrumental, Melhor Pesquisa Musical e levou o principal troféu: a Calhandra de Ouro, pela canção Pedro Guará. Também chamaram a atenção por usarem flautas primitivas, con-feccionadas pelo grupo.

Ao longo de sua trajetória, Os Tápes criou espetáculos musicais para retratar diversos temas. Além de serem itinerantes, os espetá-culos funcionavam como uma peça de teatro, ficando em cartaz por um certo tempo em determinados locais.

Um ponto importante na trajetória musical do conjunto ocorreu em 1979, com o convite

para participar do festival Horizonte, em Ber-lim, na Alemanha. O convite partiu da própria organização do evento, que bancou a viagem do grupo, com mediação do Consulado Ale-mão de Porto Alegre. “Fomos todos no mesmo avião, todos os grupos. O Quinteto Violado era um grupo mais sério, mas conversava bastante conosco. O Gilberto Gil e a banda dele foram proseando com a gente o tempo inteiro, pes-soas finíssimas. No meu ver, a viagem para a Europa foi o momento mais inesquecível en-quanto estive nos Tápes”, afirmou Garcia.

Na década de 1980, Waldir Garcia, Beto Gonçalves, Acy Terres, Tuio Rebelo e Darcy Pacheco deixaram o grupo. Airton Madeira (gaitas, violão e voz), Otacílio Alves, o “Ota” (violão, viola e voz), Bira (percussão) e Pedri-nho (percussão) foram alguns dos músicos que integraram o grupo até o final das ativi-dades. A formação durou pouco tempo, logo após o lançamento do seu terceiro disco em 1982, intitulado “Os Tapes”. A obra foi publi-cada pelo selo Cantares, de Martin Coplas, e figuraram canções como Versos de Itapoã a São José, Um doutor, Zamba sem porto (Cláu-dio B. Garcia), Olegário (Ota Alves Meireles),

Contracapa do primeiro disco do grupo lançado pela Marcus Pereira discos e gravado em São Paulo em 1975

Os Tápes, o elo perdido da música

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Virgenes del sol (domínio público, popular andina), entre outras.

Na metade da década de 1980 o grupo encerrou suas atividades. Segundo Cláudio, o grupo chegou ao fim devido à dificuldade de manter pessoas voltadas para aquilo. “Chega uma hora que a coisa cansa, como eu, por exemplo, que participei do início ao fim. Can-sa fisicamente, cansa reconstituir sempre o grupo. Terminou também porque as pessoas tinham que seguir outro caminho” desaba-fou. Apesar do fim do grupo, Cláudio ressalta que o espírito dos Tápes ainda permanece, pois muitos fizeram da música um caminho, juntando-se a outros grupos, atividades ou carreira solo.

A escolha do nome Os Tápes, segundo o fundador do grupo Cláudio Boeira Garcia, remete a uma miscelânea de referências: o nome da cidade natal, os índios Tapes, a Ser-ra dos Tapes, região ao sul do Estado que foi reduto de índios e conflitos entre espanhóis e portugueses na colonização, e por último o barco Tapes pertencente a Coronel Patrício Vieira Rodrigues, charqueador que tinha terras onde hoje está a cidade.

Andriano Pinzon/Arquivo Pessoal

Confira alguns dos espetáculos apresentados pelo grupoO primeiro espetáculo foi Canto da Gente,

realizado em 1972. Este espetáculo trazia as pri-meiras composições do grupo, como Pedro Gua-rá, Funeral Guarani e Gauchê. Em 1975 e 1976, apresentaram o elogiado Americanto, que tra-tava sobre o índio americano chacinado pelos espanhóis e portugueses no século XVIII. Com vestimentas brancas e com a cruz missioneira ao peito, relembrando o traje usado pelos índios durante as Missões Jesuíticas, o espetáculo con-tava com canções de inspiração indígena, como as de autoria própria do grupo Tema do sabiá, Dança da lagoa do sol, Kaingang, Cheraçar y Apacuy, Funeral Guarani, Continente America-no, entre outras; e músicas de domínio público, como El condor e Virgenes del sol.“O indígena aparece como cristianizado, levando uma cruz no peito, pendurada sobre as vestes brancas. Os pés descalços. A cabeça baixa, sempre pesada sob o peso da reflexão saudosa. Os Tápes conse-gue transmitir toda uma ideia de índio (enten-da-se como povo) dominado e descaracterizado à força”, afirmou.

Em 1976, o grupo apresentou o espetáculo

Temas de América Andina e Pampeana, com músicas de inspiração rural e gaúcha, com can-ções próprias, como Menino de Sacola e Velho Menino Velho. Fruto de uma pesquisa dos Tápes e do antropólogo Norton F. Corrêa, em 1977 nas-ceu o espetáculo Não tá morto quem peleia. O título é uma alusão à persistência das músicas populares em permanecerem vivas, sem serem influenciadas por culturas industrializadas e/ou estrangeiras. Este espetáculo daria origem, em 1980, ao segundo disco gravado pelo grupo, Não tá morto quem peleia.

Em 1978, Os Tápes voltou com novo espe-táculo, Chão, Estrada, Canção, que tinha como tema o êxodo rural. Além das canções, a apre-sentação possuía texto e argumentação de Cláudio Boeira Garcia e do historiador e jornalis-ta Luiz Carlos Golin, o Tau Golin. Cantos e Andan-ças, de 1979, foi um espetáculo de 26 músicas que comemorava os oito anos de existência do grupo. Todos os espetáculos tinham início com uma temporada no Teatro de Câmara Túlio Piva, em Porto Alegre, e depois passavam por outras cidades do Estado e do País.

latino americana no sul do Brasil

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Pneus nas paisagens de ItapuãCom suas BELEZAS NATURAIS, praias, morros e lagos, Itapuã, o pequeno distrito de Viamão (RS) vem ganhando um toque especial pelas MÃOS de alguns MORADORES.

Logo na entrada do distrito é possível saber que se está chegando a Itapuã. As ruas, que antes passavam despercebidas pelos moradores e veranistas, ganharam flores e cores. O projeto Florir Itapuã, que iniciou em dezembro de 2013, foi uma ideia de quatro amigas - Lexa Ilha, Eliane Guimarães, Ivete Zimermman e Adriana Gomes, que se uniram para realizar um sonho: “Entrei nesse projeto Florir porque eu viajava e todo lugar é bem florido e só aqui não tinha. Era meu sonho ver Itapuã florido e hoje estou realizada”, conta Lexa.

Alexandra Rocha, José Nues e Lexa Ilha no principal canteiro do projeto

JULIANA COSTASABRINA DIAS

Sabrina Dias

O desejo de ver a paisagem do local colorida por flores fez com que Le-

xa procurasse alternativas na internet. Foi quando descobriu o pneu descartado, um dos maiores poluidores do meio ambien-te. O projeto reutiliza pneus velhos doados por Edilberto Sirne, morador mais antigo do local e proprietário da borracharia do Beto, e também pela borracharia do Gordo, de Porto Alegre.

Para Edilberto, ou Beto como é conheci-do, o projeto foi uma saída para um proble-ma que enfrentava há muitos anos. Ele tinha dificuldade em descartar corretamente os pneus: “Eu chegava a acumular 200 pneus, pois a prefeitura, responsável pela coleta, não buscava”, conta Beto.

Mas o sucesso do projeto iria depender da ajuda de voluntários e de mais doações. “Lembro que era um domingo, uma amiga

buscou os pneus na borracharia do Beto, fui pedindo restos de tintas aos vizinhos e, no fim do dia, tínhamos 26 pneus lavados e pintados”, lembra Lexa, que também ganhou materiais, como tintas e mudas de flores, do comércio local. “Cheguei à madeireira e o moço disse que eu podia escolher as cores de tintas, eu nem sabia quais cores escolher (risos)” – conta.

Entusiasmada com seu projeto, Lexa Ilha também decidiu colorir sua casa. Logo na en-trada, pequenas floreiras chamam a atenção. Mas essa não foi a única área a receber cor. Na rádio Itapuã, onde Lexa trabalha, as flores também embelezam o local.

Uma ideia que começou com 4 pessoas agora está maior. Em 2014, novos amigos do verde se juntaram ao Florir, o José Nunes e a Alexandra Rocha, que têm conhecimento em jardinagem. Diariamente, eles formam o time que cuida dos canteiros. São os parceiros

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Você sabia?• Com um crescimento considerável no comércio de pneus, a preocupação com a reciclagem deste

material aumentou, já que não há tempo determinado para degradação, e seu descarte incorreto pode virar um local para acúmulo de doenças, como dengue e malária. A reciclagem do pneu pode se transformar em energia, asfalto modificado com borracha e reutilização do aço e decoração.

• Um carro para cada 4 habitantes e uma motocicleta para cada 11, são no total 635.588.51 milhões de veículos de passeio no Brasil. E se calcularmos a quantidade de pneus utilizados nesses veículos devido a manutenção, ficaremos um bom tempo tentando assimilar o que é feito com os restos de borrachas que não servem para serem utilizados nas vias públicas. (Dados DENATRAN e IBGE 2013).

• Mesmo com a lei 258/99, que exige que a cada pneu vendido um deve ser reciclado, não há uma fiscalização rígida que monitore o descarte correto pois as pequenas borracharias não tem o cuida-do e consciência que o meio ambiente necessita nos dias de hoje.

• O 7° maior produto do país, o pneu, teve venda de 68,8 milhões no Brasil em 2013, um aumento de 7% na venda em relação ao ano anterior. Segundo a Associação Nacional da Indústria de Pneumá-ticos (ANIP), a venda de pneus representa 1% do Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil.

fiéis de Lexa. Segundo José Nunes, a única decepção que tem é chegar aos canteiros e ver que algumas flores foram roubadas: “Não é preciso roubar, podem pedir muda que nós damos”, comenta ele.

O reconhecimento do trabalho do proje-to é o que mais motiva o grupo. Em dezembro de 2013, a Câmara de Vereadores de Viamão aprovou, por unanimidade, uma Moção de parabenização aos realizadores do Florir Ita-puã. Além disso, recebem muitos elogios no distrito. “Quando estamos nos canteiros são só buzinas. Tem gente do Paraná, que, através do Facebook, conheceu o Florir e pede para enviar mudas das flores”, diz Lexa.

Para dar continuidade ao projeto, Lexa quer espalhar o Florir por todo o distrito, e quem sabe expandir para outras cidades. O mais importante de tudo, no entanto, é reali-zar o sonho de tornar o Florir Itapuã uma ONG.

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MOISÉS MACHADODILERMANDO DIAS

Em busca do seu galã favorito, a dona de casa liga seu televisor e, na tela, nem Tony

Ramos, nem Rodrigo Lombardi. Lá está Tiriri-ca, apenas um de tantos personagens, alguns sérios, outros nem tanto, substituindo o galã da novela das nove. Em uma novela da vida real, eles são os personagens centrais de uma trama que envolve humor, dramas , promes-sas de amor e luta, disputando, segundo a segundo , a atenção e a preferência do eleitor.

E essa atenção é obrigatória para quem não tem TV a cabo, por exemplo. Desde 1965, existe o Código Eleitoral Brasileiro, que institui o horário eleitoral gratuito. Por conta desse espaço, alianças homéricas e contraditórias são formadas em busca de maior tempo no rádio e na televisão. Isso tem gerado certo co-ronelismo eletrônico, uma vez que as alianças detentoras do maior número de parlamen-tares possuem mais tempo de veiculação. Ao todo, a campanha de 2014, apenas no primeiro turno, gerou cerca de 90 horas de candidatos na tela.

País deixa de arrecadar R$ 839 milhões com

horário eleitoral

Segundo estimativa da Receita Federal, a

Horário eleitoral gratuito?Dilermando Dias/Divulgação

Os 11 candidatos presidenciáveis do pleito de 2014, em seus respectivos programas eleitorais na TV

União deixou de arrecadar, em 2014, R$ 839 milhões em tributos em função da campanha para presidente, governadores, senadores e deputados. Isso porque as emissoras de rádio e de televisão de sinal aberto têm desconto de impostos por terem sido obrigadas a veicular o horário eleitoral, conforme determina a lei. Prevista no Projeto de Lei Orçamentária Anual (Ploa), a renúncia fiscal é tratada como gasto tributário. Já o horário eleitoral é elencado como direito à cidadania, ao lado de fundos como o da Criança e do Adolescente e do Idoso que, juntos, receberam, em 2014, R$ 380 milhões em isenções, anistias, subsídios e benefícios tributários e financeiros.

A lei

O horário eleitoral gratuito de rádio e televisão no Brasil completou 52 anos com as eleições de 2014. O espaço para propa-ganda dos candidatos a cargos legislativos e executivos surgiu com a lei 4.115, de 22 de agosto de 1962, sancionada pelo presi-dente João Goulart, e que foi aplicada pela primeira vez nas eleições de 7 de outubro daquele ano. O artigo 11, parágrafo 3º, da lei destinava um espaço diário de duas horas à propaganda eleitoral em todas as emissoras de rádio e TV aberta durante os 60 dias ante-riores às 48 horas de cada pleito. Essas duas horas eram divididas em quatro blocos de

30 minutos, iniciados às 13h, 18h, 20h e 22h. Desde então, as regras foram alteradas pelas leis 4.737/65, 9.100/95 e, finalmente, pela lei 9.504/97. O período de propaganda eleitoral de rádio e TV foi reduzido para os 45 dias an-teriores à antevéspera da eleição de 1º turno e foram incluídas na regra as emissoras de TV por assinatura sob responsabilidade dos poderes legislativos. Também foi modificado o tempo de propaganda eleitoral do 1º tur-no para dois blocos diários de 50 minutos nas eleições gerais e 30 minutos nas eleições municipais, exceto aos domingos. Em caso de 2º turno, o horário eleitoral só retorna após 48 horas da divulgação oficial dos resultados, com 20 minutos diários para todos os cargos executivos, inclusive aos domingos, cessando na antevéspera da eleição.

Especialistas afirmam que o horário eleitoral é a principal fonte de informação ao eleitor

Embora com o avanço da internet e prin-cipalmente das redes sociais como fonte de obtenção de informação, o horário eleitoral ainda se mantém como principal meio de divulgação de campanha e fonte de refe-rência para grande parte do eleitorado. É o que garantem especialistas no assunto. “O alcance televisivo e radiofônico é um

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CuriosidadesAs propagandas eleitorais de Leonel Brizo-

la tinham como trilha sonora, de fundo e de

abertura, a Grande Fantasia Triunfal sobre o Hi-

no Nacional Brasileiro, de Louis Moreau Gotts-

chalk (1829-1869).

Entre 1976 e 1984, o modo de fazer propa-

ganda eleitoral nas eleições municipais foi mo-

dificado pela Lei Falcão (nº 6.339/76), que limi-

tava os candidatos a mencionar legenda, currí-

culo e número de registro.

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O quadro acima mostra como foi feita a divisão de tempo para os presidenciáveis em 2014

Fonte: Youtube

Fernando Henrique Cardoso, presidente eleito em 1994 e Lula, presidente eleito em 2002

diferencial. É ali que as pessoas vão, efeti-vamente, colher informações específicas sobre seus candidatos”, garante o cientista político Cláudio Gonçalves Couto. Ele ainda define a propaganda em rádio e TV como um momento decisivo. “A eleição começa a se definir a partir do início da propaganda eleitoral gratuita”, afirma.

Outro especialista que reforça a tese é o doutor em ciências políticas José Antô-nio Guimarães Lavareda Filho. Ele reafirma o franco crescimento da internet nos últimos pleitos, em especial os últimos dois, porém ainda longe de atingir o alcance de rádio e TV. “Além do avanço da utilização da internet, hoje há, cada vez mais, a convergência das plataformas, televisão e internet, que se as-sociam. Então, boa parte da informação que os brasileiros recebem sobre política e espe-cialmente sobre a disputa eleitoral ocorre na exposição à televisão”, destaca.

Ainda sobre as campanhas, Lavareda observa que, além dos dois blocos diários de propaganda eleitoral, há também as in-serções, exibidas nos intervalos comerciais, que acabam por alcançar praticamente toda a audiência da emissora. “Dificilmente ou-tro método de comunicação conseguirá se aproximar do impacto que rádio e TV pos-suem”, afirma.

Programa para quem ver?

No final de agosto de 2014, uma pesquisa do Instituto MDA, a pedido da Confederação Nacional do Transporte (CNT), verificou que apenas 11,5% dos entrevistados afirmaram que a propaganda eleitoral tem alguma in-fluência sobre suas decisões. Já na pesquisa de intenções de voto divulgada em 23 de setembro, o mesmo instituto revelou que 34,4% dos entrevistados nunca assistem ao horário eleitoral, que 32% assistem ou ouvem a propaganda poucas vezes na semana, 18% alguns dias e 15% todos os dias.

Líder de audiência

O horário eleitoral registra índices de au-diência maiores que muitos programas de algumas emissoras. Segundo IBOPE, somando todas as cinco emissoras no horário noturno (Globo, SBT, Band, Record e RedeTV!), o horá-rio eleitoral ultrapassa 30 pontos, mais que a novela das 21h da Rede Globo, que, no dia 03/09, registrou 29.7 pontos de audiência e que o Jornal Nacional, no mesmo dia, regis-trou 20.7 pontos.

Na RedeTV!, o horário eleitoral perde ape-nas para o TV Fama, que vem imediatamen-te antes, mas vence os programas que vão ao ar na sequência. Enquanto a propaganda eleitoral marca 1.4 de média na emissora, o RedeTV! News, que vem na sequência, alcança apenas metade, 0.7. A situação do Superpop, que vem logo em seguida, é ainda pior, 0.5.

Para o sociólogo João Paulo Aço, rádio e TV, especialmente a televisão, ainda têm a maior força. “Muitas vezes, a média da po-pulação tem escolhido o ‘cabeça de chave’, que são Presidente da República, Governador, talvez o Senador, mas esses outros, Deputado Federal, Estadual, muitas vezes é na última hora que acaba decidindo e nisso o rádio e a TV ajudam muito“, diz Aço.

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Conquistando jardas

Muito difícil acreditar que as crianças gaúchas trocariam o futebol brasileiro,

o soccer, pelo futebol americano, um dos prin-cipais esportes dos Estados Unidos. Mas, hoje, é possível perceber vários garotos se mexendo para tentar espalhar a febre do Super Bowl, a fase final milionária do campeonato norte-a-mericano também aqui no Rio Grande do Sul.

O jogo

No futebol americano, a equipe é for-mada, em média, por 55 jogadores, mas, em campo, só atuam 11 para cada lado, como no futebol jogado com os pés. Já o número de substituições não é igual, pois neste esporte é possível o revezamento de jogadores a qual-quer momento. O jogo é muito simples, com os times tentando somar mais pontos do que o adversário. Para isso, a cada jogada, a equipe

que tem a posse da bola tem de atravessar o território inimigo e chegar a end zone, uma área retangular demarcada no fundo campo.

A partida começa com um chute inicial, que é dado em direção ao campo adversário. A intenção é chegar até a end zone do time contrário, o mesmo acontecendo com a outra equipe. Até que isso aconteça, o jogo se torna uma verdadeira batalha pela conquista de jar-das (uma jarda equivale a 0,9144 metros). Em Porto Alegre, duas equipes conhecem muito bem esse esporte norte-americano.

Como o sonho começou

Porto Alegre Pumpkins, pioneiro no fute-bol americano de Porto Alegre, iniciou com apenas alguns garotos colegas do Colégio Far-roupilha. Certo dia, um deles levou uma bola oval para o intervalo da aula e começaram a

tentar jogar futebol americano. Depois desse primeiro encontro, muitos outros vieram e com eles o fascínio que crescia pelo esporte. O passo natural foi criar uma página no anti-go Orkut para mostrar a novidade dos guris. Logo, outros garotos queriam participar da equipe porto alegrense, que cresceu bastante, resultando, em 2005, na fundação oficial do Porto Alegre Pumpkins. Nestes nove anos de história, tornou-se a maior equipe de futebol americano do Rio Grande do Sul.

São José BULLS foi o segundo time a surgir na capital gaúcha. E a equipe foi criada por conta de divergências no Pumpkins. Em 15 de junho de 2007, apareceu o POA Predadores, que mudou de nome para Bulls, em 2010, e para São José Bulls, em 2014, após parce-ria com o Esporte Clube São José, de Porto Alegre. Essa associação possibilitou ao Bulls a utilização do estádio e da academia do clube.

Fábio Gonçalves

O percurso dentro de campo é trabalhoso para os garotos gaúchos

BRUNO BIGUÁFÁBIO GONÇALVES

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Dificuldades, todo esporte tem. Ain-da mais quando se está falando de futebol americano no Brasil. Há quem diga que é es-porte de animais. Outros dizem que não tem muita lógica. O país do futebol ainda reluta em aceitar esse esporte badalado dos EUA, mas muita gente está se rendendo aos seus encantos. É um esporte coletivo e de muita tática. Os jogadores que o digam. Esgotam-se nos treinamentos, quase desumanos. É muito ár-duo para quem pratica. A guri-zada que quiser jogar em uma equipe de futebol americano tem de ralar muito. Dedicação é a al-ma do negócio. Não basta querer, tem que poder: “Os garotos vêm para o esporte achando que é só bater nos outros. Só que violên-cia e força, sem inteligência, não serve para nada. O jogo exige um forte condicionamento físico que só quem está acostumando, aguenta”, alega Pedro Gonzaga Jaime, 32 anos, treinador do São José Bulls.

Outra dificuldade enfrentada pelos organi-zadores dessa modalidade de competição é o

ego dos atletas. “Infelizmente, o futebol ameri-cano no Brasil tem muito ego. Por exemplo, o garoto entra no time e não consegue se afirmar como titular, porque tem outro garoto melhor.

Então vai para outro time, mesmo que

seja um time pior, e lá ele se afirma. Briga com o técnico, vai para outro time. Funda um time novo e isso vira uma bola de neve”, diz Pedro Jaime. As dificuldades são variadas, mas uma solução que as equipes encontraram são as

“peneiras”, uma espécie de seleção para des-cobrir talentos que agreguem mais qualidade aos times, fato ainda muito escasso no RS.

Para o diretor de comunicação do Porto Alegre Pumpkins, a tentativa de populariza-

ção do futebol americano vem sendo tratada de forma semia-madora em Porto Alegre. Arthur Perez entende que algumas em-presas poderiam entrar com re-curso financeiro para alavancar o esporte na capital, mas não há muita procura por parte delas. A equipe já teve patrocínios, que não duraram muito tempo.

A Lei de Incentivo ao Es-porte é um ponto que deveria ser aproveitado pelos times. O Pumpkins, por exemplo, tem uma proposta sendo analisada pelas autoridades competentes. “Nós temos um projeto de Lei de Incentivo ao Esporte, que está

em análise na área administrativa. Espera-mos conseguir aprovação [risos]. Sabe como é que é né: sem contato político fica difícil”, ironiza Arthur Perez, diretor de comunicação do Pumpkins.

Joel Vargas

Concentração é tudo dentro das quatro linhas

As marcas de jogo estão expostas no equipamento

Barreiras a enfrentar

Fábio Gonçalves

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JULIANA PEREIRAVIVIAN LEAL

O ano é 1949. A insatisfação com a derroca-da de um socialismo stalinista e a ascen-

são do totalitarismo deu a George Orwell ins-piração mais do que suficiente para a criação de uma das obras literárias mais pessimistas do período pós-guerra. Em 1984, o mundo retratado é dividido em três superestados. Vez ou outra, unidos por algum tipo de aliança, trazem a tona não o desejo de vencer o inimi-go, mas, sim, de manter o poder centralizado em um grupo dominante. Em todos os luga-res da cidade, há um cartaz com a imagem do grande irmão e o seguinte dizer: The Big Brother Is Wathing You (Tr. O Grande Irmão Zela Por Ti). Isso, para mostrar aos habitantes que sua onipresença é incontestável e que tudo é de seu conhecimento.

Coincidentemente, em 1949, nossos her-manos argentinos passavam por uma refor-ma constitucional. Esta incorporou direitos

aos trabalhadores, às famílias e aos idosos, o direito de propriedade privada, com uma função social, e do capital a serviço da eco-nomia nacional. Tal reforma foi sugerida pelo então presidente Juan Domingo Perón, eleito por sua grande influência sobre as massas e pelo carisma pessoal, após o fim de um regi-me militar promovido pelos generais Pedro Pablo Ramirez e Edelmiro Farrel.

Com novo governo, nova constituição e um longo trajeto pela frente, a Argentina teria tudo para se tornar o país dos sonhos. As pro-postas eram voltadas para os “descamisados”, como Perón se referia à população. O governo atuava diretamente na economia, monopoli-zando o comércio exterior e nacionalizando outras áreas. Com o poder de intervenção estatal, aliado ao notável desenvolvimento econômico, um cenário marcado por baixos preços e altos salários se tornou a realidade do povo argentino.

A fama do discurso peronista a respei-to dessa justiça social acabou dando nome

ao seu estilo de governo, conhecido como justicialista. Os elementos paternalistas e na-cionalistas de Juan Perón andavam de mãos dadas com um governo repressor, que não aceitava protestos públicos e aniquilou a oposição política através de um sistema unipartidarista. As festas cívicas, que antes se mostravam espontâneas, passaram a in-tegrar o regime, sendo, então, convocadas com o apoio dos sindicados e dos meios de transportes. Comemoravam o regime e ex-pressavam, teoricamente, a unidade da na-ção, ao mesmo tempo em que desafiavam uma oligarquia irritada.

Uma realidade vivida na ficção. Em 1984, Orwell deixa claro que o objetivo do Partido era suprimir a individualidade, com o pro-pósito de destinar toda a vida dos cidadãos aos interesses do Estado. Então, para manter a população entorpecida e influenciada, os eventos com fachadas políticas e patrióticas eram frequentes. Os “Dois minutos do ódio” era um momento em que todos na cidade

Ficção britânica e realidade argentina

Site: http://paulomoreiraleite.com

A tensão aumenta entre Argentina e os credores abutres com a chegada do fim de ano

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posicionavam-se diante de Teletelas, que eram utilizadas para exibição de mensagens e músicas em apologia ao Grande Irmão, e extravasavam suas emoções de ódio e fúria. No painel, aparecia a imagem de supostos inimigos do Partido. Essas manifestações faziam as pessoas esquecerem suas vidas e amar apenas ao Grande Irmão.

Na vida real, na Argentina de 1949, tudo ia bem até os primeiros sinais da crise co-meçarem a aparecer. Na verdade, ficaram mais evidentes, pois desde o crash de 29, que abalou o mundo economicamente, es-se país já carregava resquícios de sérios pro-blemas financeiros. A popularidade de Perón continuou firme, conquistando, inclusive, um segundo mandato, em 1951. Só que a cri-se econômica desencadeada nesse mesmo ano foi suficiente para romper o vínculo que o ditador mantinha com o povo. Acontece que o papel intervencionista do Estado aca-bou gerando uma ampla dívida pública, não sobrando recursos para o desenvolvimento da indústria pesada e de bens não-duráveis. O aumento da inflação não demorou mui-to a aparecer e a estagnação da economia obrigou o governo Perón a tomar medidas impopulares, que regulavam o consumo e congelavam os salários.

Período superado, em 1976 a Argentina sofre, novamente, com uma ditadura, cha-mada de “Processo de Reorganização Nacio-nal” pelos militares. Essa foi uma das maiores tragédias ocorridas no país, que contabilizou cerca de 30 mil desaparecidos. Consequência do golpe de estado que destituiu María Este-la Martinez, viúva de Perón, da presidência. Isabelita, como era conhecida, foi a primeira mulher presidente da Argentina, ocupando o cargo após a morte de seu marido. Seguindo este exemplo, a atual presidente do país, Cris-tina Kirchner, também assumiu o poder, em uma eleição, após seu marido, Néstor Kirchner, vir a falecer em 2007.

Quando assumiu a presidência, Cristina carregava em seus ombros uma dívida ex-terna pública que superava US$ 102 bilhões. O débito foi renegociado em 2005, durante o governo de Néstor Kirchner, que acertou o pagamento em 25% dos valores devido aos banqueiros e a fundos internacionais. Em 2010, uma nova renegociação foi proposta, porém, a minoria dos credores, que detinham 8% dos títulos, não aceitou a diminuição do valor integral. Em 2012, o juiz federal norte-a-mericano Thomas Griesa decidiu que a Argen-tina deveria fazer o pagamento integral dos juros até 15 de dezembro do mesmo ano, num total de US$ 1,3 bilhão, devidos a Fun-dos de Investimento. A Argentina recorreu da

decisão, pois os fundos abutres, assim deno-minados por sua prática de comprar títulos em calote por preços baixíssimos e depois tentar receber seu valor integral, receberam US$ 1 bilhão entre 2005 e 2010. Porém, tais fundos temiam que os bônus e os juros sobre seus títulos não fossem pagos, caso a decisão fosse revogada. E não foram. Atualmente, a Argentina está sendo processada por 14 cre-dores, que cobram, na Justiça, o pagamento, à vista, de US$ 1,3 bilhão.

A suspensão do pagamento está come-çando a afetar diretamente a vida da popu-lação. Cerca de um terço dos argentinos vive em condições vulneráveis (de 1 a 4 dólares por dia) e 11% estão num estado de extrema pobreza. Pobreza essa que não é vista na ca-pital, Buenos Aires, e cidades metropolitanas, mas, sim, no interior do país, onde a situação está um tanto precária. “Quem tem dólar hoje é milionário. As pessoas põem cartazes em estabelecimentos comerciais dizendo que aceitam a moeda. Estamos vivendo na eco-nomia do dólar”, garante a brasileira Marília Miñoz, que reside na Argentina há quatro anos. “Nos últimos três anos, passamos por uma mudança brusca. Lembro que, no iní-cio, eu comprava duas fatias de pizza e um refrigerante por trinta pesos. Hoje, gasto qua-se cem na mesma compra. Aqui tudo sobe.”. completa Marília. O economista e professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Pedro César Fonseca, explica: “Existe o dólar oficial, que tem valor estipulado pelo governo, e existe um dólar paralelo, que parte de um câmbio não oficial, o qual é pago pelo mercado. Quanto mais incertezas existirem sobre a economia, mais há diferença entre o valor dos dois. Pois a rigor, num mundo ideal, teria um dólar só, do governo e do mercado. E à medida que o governo argentino intervém nesse mercado, não deixando o dólar subir, mais incertezas surgem e a moeda não oficial acaba tendo valor muito superior ao oficial”.

O professor ainda destaca: “o país precisa de dólar para pagar suas contas, mas como ele não tem, tenta impedir que a moeda saia de seu território. Por isso, são criadas regras para prender a moeda. Esse assunto é discutível em economia, se deve ou não haver alguma dose de controle; às vezes é necessário, mas, às vezes, se torna exagerado”.

A inflação, segundo o Índice Congresso, que tem a mesma função do IPEA (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) brasileiro, mas sem nenhuma ligação com o governo, chegará a 40% neste ano. Segundo o Banco Mundial, um choque econômico agora pode levar 40% dos argentinos à pobreza, por causa de uma economia abalada pela queda nas reservas estatais, que diminuíram de US$ 52 bilhões, em 2011, para os atuais 28 bilhões. No final de julho de 2014, o governo Kirchner teve o pagamento da dívida bloqueado pelo juiz americano Thomas Griesa. Isso aconte-ceu porque apenas uma parcela da dívida seria quitada, o que foi considerado ilegal, já que o acordo estipulava pagamento inte-gral aos fundos abutres. O resultado foi que o país acabou caindo em um novo default por inadimplência. Em uma atitude deses-perada, durante um encontro com o Papa Francisco, Cristina pediu que ele interviesse contra os Fundos.

Pois bem. Em 1984, a história permane-ce e o fim do Grande Irmão é inexistente. O totalitarismo, a manipulação do povo e a predominância de um poder central se faz valer até o fim das 416 páginas do romance. Destino esse que não esperamos que aconte-ça com a nossa vizinha argentina. A respeito disso, o Professor Pedro César ainda comenta: “A manipulação de dados é algo comenta-do, pois é difícil provar se existe ou não, por exemplo, se taxa de inflação divulgada pelo governo é realmente a verdadeira taxa de in-flação. Então, à medida que a sociedade passa a desconfiar dos índices, acaba prejudicando a economia, que dificulta os investimentos no país e acaba gerando mais incerteza. In-certeza é muito ruim para a economia. As pessoas não sabem qual é a regra do jogo estabelecido”.

A situação da Argentina é incomum. Po-de ser que fique mais difícil para ela e suas empresas emitirem novas dívidas, já que ne-nhum credor gosta de negociar com um país em default (calote). Prever como os negócios serão daqui para frente é prever o incerto, mas a expectativa é de que a moratória seja resolvida e nossos hermanos voltem a ter a vida que levavam, com seu tango, seu charme e todo aquele clima de guerra e paz, que só acontece entre grandes irmãos.

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