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A QUANTAS ANDAMOS - O debate sobre o conhecimento epidemiológico da epidemia do VIH e de SIDA em Portugal Publicamos neste número a resposta do Prof. Henrique Barros - recebida em finais de Novembro p.p. - ao artigo que publicámos no número 8 do Acção e Tratamentos, Janeiro/Fevereiro de 2008, com o título "Perguntas que gostaríamos ver os epidemiologistas responder". Era nosso objectivo, quando publicámos o artigo, chamar a atenção para as dúvidas e possíveis leituras contraditórias dos vários dados, indicações e informações diversas e dispersas referentes à evolução e caracterização de alguns aspectos da infecção pelo VIH e da epidemia de SIDA em Portugal. Dúvidas hoje ainda mais pertinentes pois são cada vez mais frequentes as alusões e referências à "melhoria da situação" e "ao controlo da epidemia" enquanto que o prometido novo sistema de vigilância de segunda geração (SI.VIDA) continua em fase de desenvolvimento, o último relatório, o número 138, do sistema de primeira geração de vigilância epidemiológica que consta no site da Coordenação corresponde à situação em 31 de Dezembro de 2007 e a reorganização do site (e dos serviços?) do INSARJ tornaram (ainda) mais opaco e difícil o acesso público aos dados epidemiológicos (se é que ainda lá estão!). Saudamos a iniciativa de resposta do Prof. Henrique Barros - habituados como estamos a décadas de olímpica sobranceria, à desvalorização dos nossos comentários e a vermos ignoradas as nossas questões. Reconhecemos e aceitamos muitos dos problemas, limites e dificuldades que, na sua resposta, levanta e aponta à existência de um sistema eficiente de monitorização e avaliação - mesmo quando e se os não descrevemos de forma tão "diplomática". Agradecemos algumas das importantes chamadas de atenção e explicações que, como seria de esperar, tão claramente faz. Entre todas, é particularmente relevante, a fórmula concisa e sintética como distingue incidência - medida de mudança de estado - e prevalência - medida de estado - e das dificuldades de estabelecer esta distinção em epidemias com diferentes formas de transmissão e períodos assintomáticos, longos como o VIH. Igualmente relevantes o questionar do interesse e da validade da informação recolhida, tanto na "cobertura" dos casos quanto na acuidade da sua caracterização, as proporções variadas e desconhecidas do efeito de múltiplos determinantes individuais e sociais (políticas dos serviços de saúde, da tomada de atitudes preventivas, realização do teste, entrada nos cuidados de saúde, declaração das diferentes fases da infecção e análise e divulgação apropriada da informação. Todos quantos, com os habituais erros de linguagem e pensamento ou voluntarismos político, se louvam ou têm louvado de notificações que atentem bem. Mas então não percebemos, com todos estes cuidados e alertas, como se pode, como faz Henrique Barros, insistir na ideia de que "estaremos numa fase de maior controlo da epidemia" ou de "defervescência da infecção". Conselho Editorial Editorial pág. 3 VIH/SIDA, vigilância epidemioló- gica, recolha e protecção de infor- mação individual pág. 5 Relatório Europeu de 1 de Dezem- bro 2008 pág. 6 Ver e Olhar, ou os limites da epi- demiologia pág. 8 Co-infecção VHC/VIH pág. 9 VIH Portugal 2009 pág. 12 Impressões do Sommet Européen Diagnostic pág. 13 Cannabis é a substância mais utilizada pág. 14 Calvário de Jesus, 33 anos, heroi- nómano, em Lisboa pág. 15 Os Suíços votam a favor do pro- grama legal da heroína pág. 16 Gilead ensaia em humanos medi- camento potenciador de anti-re- trovirais Raltegravir - aprovação de uso em doentes naïves pág. 17 O tratamento da candidose ou “sapinhos” pág. 18 Tesamorelin um medicamento para a lipodistrofia pág. 19 Para a minha amiga de olhos azuis, 43 anos, 2CD4 Índice Ficha Técnica: Director: Pedro Silvério Marques Conselho Editorial: Conceição Barraca, Guilherme Bandeira de Campos, João Paulo Casquilho, Luís Mendão, Marco Pina e Silva, Maria José Campos, Nuno Velho, Ricardo Fernandes e Rui Elias Colaboraram neste número: Ana Zegre, Henrique Barros, Manuel P., Mariela Kumpera, Marta Maia Distribuição: Ana Pisco, José Pedro Zegre Concepção Gráfica: Modjo Design, Lda Impressão: DPI Cromotipo Rua Passos Manuel, 78 A - B, 1150-260 Lisboa Tiragem: 22 500 exemplares ISSN: 1646-6381 Depósito Legal: 000000000 Edição GAT Apartado 8216 • 1803-001 Lisboa Tel: 309 712 825 Fax: 309 731 409 E-mail: [email protected] O Acção & Tratamentos é editado, impresso e distribuído com o apoio da CNIVIH e ainda com o apoio para distribuição das filiais nacionais da Abbott, Boehringer Ingelheim, Gilead, Pfizer, Roche, Schering-Plough e Tibotec. Estas entidades não têm qualquer controlo sobre o conteúdo da publicação.

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A QUANTAS ANDAMOS - O debate sobre o conhecimentoepidemiológico da epidemia do VIH e de SIDA em Portugal

Publicamos neste número a resposta do Prof. Henrique Barros - recebidaem finais de Novembro p.p. - ao artigo que publicámos no número 8 doAcção e Tratamentos, Janeiro/Fevereiro de 2008, com o título "Perguntasque gostaríamos ver os epidemiologistas responder".

Era nosso objectivo, quando publicámos o artigo, chamar a atenção paraas dúvidas e possíveis leituras contraditórias dos vários dados, indicaçõese informações diversas e dispersas referentes à evolução e caracterizaçãode alguns aspectos da infecção pelo VIH e da epidemia de SIDA emPortugal.

Dúvidas hoje ainda mais pertinentes pois são cada vez mais frequentesas alusões e referências à "melhoria da situação" e "ao controlo daepidemia" enquanto que o prometido novo sistema de vigilância desegunda geração (SI.VIDA) continua em fase de desenvolvimento, oúltimo relatório, o número 138, do sistema de primeira geração devigilância epidemiológica que consta no site da Coordenação correspondeà situação em 31 de Dezembro de 2007 e a reorganização do site (e dosserviços?) do INSARJ tornaram (ainda) mais opaco e difícil o acessopúblico aos dados epidemiológicos (se é que ainda lá estão!).

Saudamos a iniciativa de resposta do Prof. Henrique Barros - habituadoscomo estamos a décadas de olímpica sobranceria, à desvalorização dosnossos comentários e a vermos ignoradas as nossas questões.Reconhecemos e aceitamos muitos dos problemas, limites e dificuldadesque, na sua resposta, levanta e aponta à existência de um sistemaeficiente de monitorização e avaliação - mesmo quando e se os nãodescrevemos de forma tão "diplomática".

Agradecemos algumas das importantes chamadas de atenção e explicaçõesque, como seria de esperar, tão claramente faz. Entre todas, éparticularmente relevante, a fórmula concisa e sintética como distingueincidência - medida de mudança de estado - e prevalência - medida deestado - e das dificuldades de estabelecer esta distinção em epidemiascom diferentes formas de transmissão e períodos assintomáticos, longoscomo o VIH.

Igualmente relevantes o questionar do interesse e da validade da informaçãorecolhida, tanto na "cobertura" dos casos quanto na acuidade da suacaracterização, as proporções variadas e desconhecidas do efeito demúltiplos determinantes individuais e sociais (políticas dos serviços desaúde, da tomada de atitudes preventivas, realização do teste, entradanos cuidados de saúde, declaração das diferentes fases da infecção eanálise e divulgação apropriada da informação.

Todos quantos, com os habituais erros de linguagem e pensamento ouvoluntarismos político, se louvam ou têm louvado de notificações queatentem bem.

Mas então não percebemos, com todos estes cuidados e alertas, comose pode, como faz Henrique Barros, insistir na ideia de que "estaremosnuma fase de maior controlo da epidemia" ou de "defervescência dainfecção".

Conselho Editorial

Editorialpág. 3VIH/SIDA, vigilância epidemioló-gica, recolha e protecção de infor-mação individual

pág. 5Relatório Europeu de 1 de Dezem-bro 2008

pág. 6Ver e Olhar, ou os limites da epi-demiologia

pág. 8Co-infecção VHC/VIH

pág. 9VIH Portugal 2009

pág. 12Impressões do SommetEuropéen Diagnostic

pág. 13Cannabis é a substância maisutilizada

pág. 14Calvário de Jesus, 33 anos, heroi-nómano, em Lisboa

pág. 15Os Suíços votam a favor do pro-grama legal da heroína

pág. 16• Gilead ensaia em humanos medi-

camento potenciador de anti-re-trovirais

• Raltegravir - aprovação de usoem doentes naïves

pág. 17O tratamento da candidose ou“sapinhos”

pág. 18Tesamorelin um medicamentopara a lipodistrofia

pág. 19Para a minha amiga de olhosazuis, 43 anos, 2CD4

Índice

Ficha Técnica:

Director:Pedro Silvério MarquesConselho Editorial:Conceição Barraca, Guilherme Bandeira de Campos,João Paulo Casquilho, Luís Mendão, Marco Pina eSilva, Maria José Campos, Nuno Velho, RicardoFernandes e Rui EliasColaboraram neste número:Ana Zegre, Henrique Barros, Manuel P., MarielaKumpera, Marta MaiaDistribuição:Ana Pisco, José Pedro ZegreConcepção Gráfica:Modjo Design, LdaImpressão:DPI CromotipoRua Passos Manuel, 78 A - B, 1150-260 LisboaTiragem:22 500 exemplaresISSN:1646-6381Depósito Legal:000000000EdiçãoGATApartado 8216 • 1803-001 LisboaTel: 309 712 825Fax: 309 731 409E-mail: [email protected]

O Acção & Tratamentos é editado, impresso e distribuído com o apoio da CNIVIH eainda com o apoio para distribuição das filiais nacionais da Abbott, BoehringerIngelheim, Gilead, Pfizer, Roche, Schering-Plough e Tibotec. Estas entidades não têmqualquer controlo sobre o conteúdo da publicação.

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Acção

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Intervenção de Luís Mendão,pelo Fórum Nacional da Socieda-de Civil (FNSC) na reunião públi-ca com a delegação do EuropeanCenter Disease Control em8/09/2008

Introdução ao papel,princípios e objectivosda comunidade

No campo da saúde, a históriados desacordos entre os respon-sáveis pela recolha de informa-ção e a comunidade de pessoasafectadas não tem sido fácil.Não quero trazer de novo essehistórico à discussão, mas osinvestigadores nem sempre es-tavam no lado certo.

Incompreensões e desacordosprecisam de ser abordados eresolvidos. O caminho é atravésde um diálogo significativo esustentado (e avaliação e moni-torização) baseado em princípiosclaros; conhecimento, ética erespeito pelos direitos humanoscolectivos/individuais de modoa garantir a promoção da saúdepública/individual.

Sem informação completa e deconfiança, é impossível fazer es-colhas certas e eficazes nas polí-ticas de saúde.

Em Portugal, costumamos dizerque nos especializámos em"achar", mas políticas de saúdebaseadas em "achismo" tendema ser muito caras financeiramen-te e, pior, resultam em perdase danos de vidas.

Em sociedades democráticas,respeitando direitos colectivose individuais, o poder políticodeve basear as suas escolhasde saúde pública no melhorconhecimento e provas disponí-veis e ser responsável pelasdecisões tomadas (ou não). Esteprocesso democrático de tomada

de decisões deve ter um fóruminstitucional para consultar todosos interessados (incluindo nós)num modo atempado, transpa-rente e público com regras co-nhecidas.

Gostaria de chamar a atençãopara o facto de que a epidemiado VIH atinge mais os imigrantes(particularmente os indocumen-tados), mulheres dos gruposmais vulneráveis, pessoas queusam drogas injectadas, homensque têm sexo com homens, pes-soas em prisões, trabalhadoresdo sexo e seus clientes,transgenders, pessoas de"minorias étnicas" ou que vivemem bairros e zonas marginaliza-dos.

O primeiro papel da comunidadee das organizações da sociedadecivil deve ser monitorizar eavaliar a aquiescência do sistemapara com a ética, os direitos hu-manos colectivos/individuais eo respeito da protecção de infor-mação pessoal.

Atrevo-me a dizer que na Europa,53/54 países? (e pode aumentarde facto, ver Ábcazia e Ossétiado Sul, colocando novos proble-mas) a epidemia do VIH naEuropa é predominantementede tipo concentrado em algumasáreas e populações, sendo debaixa prevalência na populaçãogeral, tal torna o envolvimentoactivo do PLWH e de pessoasdas populações mais afectadascrucial. A situação actual, a dinâ-mica e os determinantes da epi-demia (ou o quadro e o filme,como costumo dizer) não podemser conhecidos sem nós. Grandeprioridade deve ser colocada emáreas geográficas onde asvulnerabilidades são acumula-das, incluindo pobreza. Neces-sitamos melhorar e validar asmetodologias, melhorar conheci-mentos diferentes (incluindo onosso), especialmente "amostras

derivadas de respondentes" empopulações de difícil alcance. Énecessária uma metodologiaconsiderando contextos pessoaise relações.

Relações recentemente iniciadasentre o Centro Europeu de Con-trolo de Doenças (ECDC) e o Fó-rum Europeu da Sociedade Civil(ECSF) sobre o VIH/SIDA, com-promissos no Plano Nacional deLuta contra a SIDA (embora ain-da não iniciado) não deixam quea esperança morra.

Quais são os compro-missos a nível Europeu?

A declaração de Dublin -Parcerias para lutar contrao VIH/SIDA na Europa e naÁsia Central subscrita por 84países que se comprometem(Ponto 17.) ao "Financiamento,melhoramento e harmonizaçãodos sistemas de vigilância, emlinha com os padrões internacio-nais, para localizar e monitorizara epidemia, comportamentos derisco e vulnerabilidade aoVIH/SIDA";

O plano de acção da UniãoEuropeia para combater oVIH/SIDA dentro da UniãoEuropeia e em países vizi-nhos, 2006-2009, que com-promete a UE a "Aumentar odesenvolvimento de uma vigilân-cia epidemiológica do VIH/SIDA,incluindo a informação sobre ocomportamento e os problemassociais" (ponto 3.3.2.).

A vigilância é vital para se forne-cer aos decisores da saúde públi-ca uma informação atempada ecorrecta para poderem antecipara dimensão e a natureza da epi-demia e das tendências ao longodo tempo. Deve prestar informa-ção contínua e comparável sobrecomportamentos de risco, infor-mação sobre a prevenção, cuida-dos, serviços de tratamento e

VIH/SIDA, vigilância epidemiológica, recolha e protecçãode informação individual - os objectivos e preocupações dacomunidade Portuguesa

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Acçãodeve também ligar a informaçãode várias fontes relevantes paramostrar o quadro da epidemiano seu todo. Ao mesmo tempo,a vigilância deve-se conformarcom os padrões éticos e protegeros direitos dos indivíduos sobela. Sistemas de vigilância deboa qualidade são uma pré-con-dição para uma resposta efectivaao VIH/SIDA. Infelizmente, mes-mo dentro da União Europeia,os sistemas de vigilância sãovariáveis de um país para o outroe a informação é insuficiente eincompleta.

O Plano de Acção calendarizaespecificamente os seus compro-missos e prazos, indica osresultados esperados e os princi-pais participantes nas váriasacções a desenvolver, emboranem Dublin, nem o Plano deAcção da EU se comprometamespecificamente com a neces-sidade de se envolver a Socieda-de Civil (e é um erro).

Gostaria de saber se acreditamque a obtenção de informaçãode confiança, recolha de dadoscomportamentais e vigilânciapor sentinelas (em comunidadescom contextos de maior risco,como preferimos) é possível semnós.

Situação Portuguesa

Em 2005, foi calculada que aincidência da notificação emPortugal era de 251,1 casos por1 milhão de habitantes (somosmais orientais do que ocidentais).

De acordo com o EuroHIV 2007,Portugal reporta uma incidênciade 205 novos casos por milhão,uma das taxas mais altas daUE27, depois da Estónia.

A nossa perspectiva epreocupações

Embora tenhamos há 3 anoscomo coordenador da SIDA, umreconhecido expert em epide-miologia, tanto quanto sei, ne-nhuma das estratégias para atin-

gir o ponto 1.1 do Plano Nacionalde Acção para a Infecção VIHestá ainda em vigor. Houve noentanto, avanços relacionadoscom parcerias com instituiçõespúblicas (ICS) e fez-se um in-quérito à população Portuguesa(ou pessoas a viver em Portugal,como preferiríamos), mas nãohá um consenso sobre se são"ferramentas de medida váli-das", e foi feita uma projecçãoabusiva, sem dados válidos oucomparáveis, para os MSM comuma amostra ridícula com trintae poucas pessoas.

Necessidades

Necessitamos que a maioria darecolha de vigilância e de dadoscom que o Plano se comprome-ta, esteja no seu lugar.

Necessitamos de dados fiáveissobre a mortalidade e sobre acausa de morte (continuamos amorrer mais do que na UniãoEuropeia, talvez seja essa arazão por que "achamos" que aprevalência continua baixa, ape-sar da incidência).

Necessitamos de números fiáveissobre doentes em tratamento(20,000?), co-morbilidades, qua-lidade de tratamento e cuidados,disponibilidade e eficácia deprogramas anteriores, testes epolítica de testes, que cumpramcom o sistema e o direito deprotecção da informação pessoalde saúde.

O nosso sistema de saúde nãocumpre com este direito indivi-dual (as nossas serologias, cargaviral e contagem das populaçõeslinfocitárias estão disponíveisem todos os computadores nomeu hospital com a passworduniversal), mas é muito bomem não ter ou esconder os dadoscolectivos de saúde.

Questões que gostaríamos queo ECDC e as autoridades de saú-de respondessem:

1. Como podem ser analisadosos números disponíveis sobrenovas infecções em mulheres?Estão a aumentar? Podemos

falar de feminização da epidemiana Europa?2. Será legítimo avaliar a evolu-ção da epidemia, baseando-nosem informação dos últimos 5anos, e particularmente, do últi-mo ano, baseados em notifica-ções? Porque, pelo menos emPortugal, sem contar com a sub-notificação que podemos consi-derar estável, existe um grandeatraso na chegada ao Centro deVigilância Epidemiológica até 5anos depois.3. Os dados disponíveis permi-tem-nos dizer que a situaçãoepidémica está sob controlo, se-ja em Portugal ou na Europa?4. Porque é que há uma reduçãodos números de notificação doscasos de transmissão por viaendovenosa em Portugal e naEuropa Ocidental nos últimos10 anos? Será a mudança doshábitos de consumo? Será dosprogramas de "troca de serin-gas"? À visibilidade política esocial dada a todas as políticassobre o uso de drogas e a redu-ção de danos? Ao aumento dotratamento de substituição? Atodas estas razões? Precisamosdestas análises validadas paraserem propostas em vários paí-ses de modo a replicar boas prá-ticas e experiências.5. Estamos a enfrentar uma epi-demia que é generalizada, em-bora ainda de baixa prevalência,na população geral na Europaou em parte da Europa? Comopoderemos avaliar atempada eeficientemente a evolução destasituação? Com que indicadoressentinela? Estarão os decisoresdas políticas de saúde a permitir(de facto) que a epidemia sigao seu curso natural? Existiráalgum nível de "saturação" noqual a epidemia ficará estávelpara depois iniciar um novo ciclode crescimento? O que irá custarnão fazer nada de efectivo? Quemodelos da prevenção da trans-missão são validados (populaçãogeral, grupos em risco, trata-mento de pessoas com VIH,acesso a testes e referência,acesso precoce aos cuidados desaúde)?6. O ECDC tem opinião (ou estãoa estudar) sobre a eficácia, emtermos de prevenção, sobre a

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Acçãocriminalização crescente datransmissão do VIH na Europa?Prevêem problemas relacionadoscom o respeito pelo direito daprotecção da informação pessoalde saúde em algum país euro-peu?7. Com o número crescente depessoas a migrarem clandestina-mente para a Europa e dentroda Europa, muitos deles de gru-pos em alto risco (trabalhadoressexuais i.e.) e exactamente por

viverem em clandestinidade comuma vulnerabilidade acrescidaà infecção por VIH, outros oriun-dos de áreas com alta prevalên-cia, o que recomendaria o ECDCem termos da promoção da Saú-de Pública aos Governos Euro-peus? Quando irá estar disponí-vel o estudo?8. Existem algumas recomenda-ções por parte do ECDC sobreprevenção com eficácia compro-vada da transmissão do VIH

entre MSM?

Gostaria de agradecer a todasas pessoas da comunidade quereviram esta apresentação, emparticular ao Pedro SilvérioMarques.

NOTA: O ECDC vai produzir umrelatório sobre a situação emPortugal que será, esperamos,devidamente divulgado.

No Dia Mundial da SIDA de 2008, a OMS Europa e o Centro Europeu para o Controlo ePrevenção de Doenças (ECDC) lançaram o seu primeiro relatório conjunto de vigilânciasobre o VIH/SIDA na região europeia da OMS. Embora limitado por relatos incompletos,o relatório realça que a infecção do VIH é de grande importância na saúde pública naEuropa. Na Europa Ocidental, o modo predominante de transmissão é a partir de sexoentre homens; na Europa Oriental, é o da partilha de material de injecção no uso dedrogas.

Os pontos mais importantes do relatório são:

• Em 2007, foram reportados 48 892 casos de diagnóstico de Infecção por VIH em 49 dos 53países da região europeia da WHO (não há dados disponíveis para a Áustria, Itália, Mónaco eFederação Russa). As taxas mais altas de incidência, prevalência e novos diagnósticos de infecçãopelo VIH foram reportadas pela Estónia, Ucrânia, Portugal e República da Moldávia. Nos 44 paísesque forneceram dados de modo consistente desde 2000, o número anual de novos casosdiagnosticados aumentou de 21 787 para 41 949. Cinco mil, duzentos e quarenta e quatro doscasos de SIDA foram reportados por 48 países.• Em 2007, 26 279 novos casos de infecção por VIH foram reportados nos países da UniãoEuropeia (UE) e da European Free Trade Association (EFTA). Neste grupo as taxas mais altasforam reportadas pela Estónia, Portugal e Letónia; as mais baixas pela Eslováquia, RepúblicaCheca e Roménia.• Nos países da EU/EFTA, o modo predominante de transmissão é o sexo entre homens, seguidoda transmissão heterossexual, mesmo tendo em conta que cerca de 40% dos casos de transmissãoheterossexual são reportados entre pessoas originárias de países com epidemias generalizadasde VIH.• A partilha de material no uso de drogas injectáveis ainda é o principal modo de transmissãode VIH na parte oriental da OMS Europa. Na parte central, o modo predominante de transmissãoé heterossexual, embora o número de casos de VIH reportados entre os homens que têm sexocom homens também tenha aumentado.• Ao todo, apesar dos relatos incompletos, o número de casos de infecção pelo VIH que foramreportados em 2007 aumentou enquanto o número de casos diagnosticados de SIDA continuoua diminuir. No entanto, na Europa de Leste e Ásia Central o número de casos de SIDA continuaa aumentar.

Tradução Ana Zegre

Relatório Europeu de 1 de Dezembro 2008

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AcçãoAcção

0 - Em números recentes doA&T, Pedro Silvério Marquesindagava com arguta justeza oslimites da informação de quedispomos para agir. No entanto,as perguntas que ficaramultrapassam em muito o âmbitodo sistema de informação deque dispomos, para registar osóbitos e para a vigilânciaepidemiológica de primeirageração. Mesmo que fosse deimpoluta qualidade. Vão até paralá dos limites de um bomsistema de vigilância de segundageração que começa lentamentea ganhar forma. As respostassó poderão surgir de um sistemaeficiente de monitorização e ava-liação, a nascer também, quese articule com produção científi-ca "externa" de grande qualida-de. Mas porque são inteligentespedem um quadro de referênciaclaro e esse é o da ciência epide-miológica, não raro erradamenteconfundida com a arte de resol-ver problemas, chamada saúdepública.

Foram também muitas as per-guntas e por isso este texto é,no limite do espaço razoável,um primeiro esboço de resposta.A perguntas que, mesmo exigin-do respostas políticas, eram dodomínio do conhecimento epide-miológico.

Diferentes ciências têm comoobjecto o estudo da doença oudo processo de adoecer. O quecaracteriza a epidemiologia é ofacto de estudar a ocorrênciados fenómenos de saúde e dasdoenças e tem como uma dassuas tarefas essenciais quantifi-car essa ocorrência. Por isso, osmétodos, a prática e o uso daepidemiologia interessam umnúmero crescente de gruposprofissionais no universo dasaúde e até de leigos. Dão umaperspectiva quantitativa ondenos movíamos pela qualidade

da perda, da dor ou do alívio,mostram-nos um ponto es-sencial de partida - adoecer nãoé um fenómeno do acaso, umaexpiação ou má-sorte mas o re-sultado de uma interacção entregenética e estilos de vida, com-plexa e em larga medida modifi-cável.

1 - Em 1976, Gary Freidman,publicou na prestigiada revistaAnnals of Internal Medicine umanota que se viria a transformarem artigo clássico. Reflectindoa preocupação com o uso inapro-priado dos conceitos que funda-mentam a ciência e a práticaepidemiológica, Freidman, comironia, escreveu que a formamais fácil de distinguir um clínicode um epidemiologista é pelamaneira incorrecta como o clíni-co usa o termo "incidência", eque esse descuido era reconheci-do pelo editor do jornal como amais frequente imprecisão nalinguagem dos médicos autoresde artigos científicos.

A confusão entre incidência(medida da mudança deestado; exemplo: ser-se VIH-negativo e tornar-se VIH-positivo) e prevalência(medida de estado; exemplo:ser-se VIH-positivo) perma-nece um dos mais habituaiserros (de linguagem e, claro,de pensamento) entre profis-sonais e leigos quando sereferem a medidas de fre-quência em saúde.

Mas o mesmo editor reconheciatambém que esta confusão sótinha como rival a que seestabelecia entre "caso" e"doente", ou seja, entre apresença de uma característica(exemplo: anticorpos contra oVIH) e um quadro clínico (exem-plo: sintomas associados à infec-ção).

Como se vê, a infecção VIH viveas atribulações dos mais comunsdos erros na forma de comuni-car, em que se amalgamam con-ceitos e quantificações, primeiropasso para nada compreenderda dinâmica da infecção e dadoença.

Quando falamos de casos novosde infecção - "casos incidentes"- estamos sobretudo a falar emcasos prevalentes, sobretudo seassintomáticos, pois a infecçãopode ter ocorrido há um númerode anos que dificilmente pode-mos identificar! No caso dos uti-lizadores de drogas injectadaspode aproximar-se (numa con-venção útil) o ano de infecçãocomo o do início da injecção,mas em relação a outras formasde transmissão essas aproxima-ções são excessivamente impre-cisas e portanto inúteis. Não háum denominador preciso parareferir na dimensão tempo. Aimportância deste facto, bemreconhecida há muito na epide-miologia do cancro e na análisedo efeito dos rastreios, torna-se mais evidente quando se pro-move uma política activa dedetecção da infecção - hoje facili-tada pelo recurso aos chamados"testes rápidos".

A generalização do acesso aoteste fará numa fase inicial - éa sua "obrigação" - crescer onúmero de diagnósticos nessesanos. Depois, então sob umapressão constante de uso, podeverdadeiramente falar-se de ten-dência para a evolução dos casosincidentes. Actualmente, aindaque sem a desejável segurança,é possível estimar laboratorial-mente se um caso diagnosticadocorresponde a uma infecção re-cente, isto é, adquirida há menosde 6 meses, mas esses procedi-mentos não fazem parte daspráticas do dia-a-dia.

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AcçãoCorolário desta primeira ideia:

o sistema de informação derotina para vigilância (portu-guês e europeu) não geradados para medir incidência,um termo que se deve ape-nas aplicar quando de factomedimos a taxa (por unidadede tempo em risco) de novoseventos. Assim, o conjuntodos casos que em cada anoidentificamos de novo é umamistura muito heterogéneade casos prevalentes com di-ferentes durações da infec-ção. Não medimos portantoo risco (a probabilidade) deinfectar e só muito indirecta-mente podemos aferir se es-tá ou não a mudar.

No entanto, se isto nos dificultaas interpretações não as impe-de: temos simplesmente de sa-ber ao que nos referirmos ecomparar o comparável.

2 - Uma das preocupações re-correntes, associada à ideia deum aumento relativo da infecçãoentre os heterossexuais (sim,relativo porque não há evidênciade aumento em número absolu-to nos últimos anos, nem umamodificação na razão de sexosquando analisamos os casos emque é identificada transmissãoheterossexual), é a de se estara viver uma situação de generali-zação da epidemia. Não há qual-quer evidência que o apoie, an-tes pelo contrário. A prevalênciada infecção entre mulheresgrávidas tem permanecido emtorno de 0,3% e diminuído aproporção de casos que sãoidentificados pela primeira veznos rastreios da gravidez e parto,actualmente efectuado a maisde 99% das grávidas.

Em Portugal, onde o acesso acuidados pré-natais é gratuitoe os partos são hospitalares,sem variações geográficas rele-vantes ou barreiras sociais evi-dentes, a prevalência da infecçãoentre grávidas é um excelenteindicador do risco de transmissãoheterossexual nas população de15 a 49 anos e mostra-nos quea generalização da epidemia não

é um cenário de risco.

Daqui decorre um segundo coro-lário: o sistema de informaçãocom base nas declarações (epouco importa se voluntário ounão, sobretudo na ausência deum conjunto eficaz de medidasque penalizem a não notifica-ção!) é apenas uma das peçasnas quais nos devemos basearpara compreender a evoluçãoda infecção, as pessoas, os luga-res e o tempo da sua ocorrência.Os inquéritos populacionais (àsgrávidas, mas também a dife-rentes populações vulneráveisou a amostras sentinela) são in-dicadores indispensáveis de aler-ta e correcção das estimativasbaseadas em dados de notifica-ção ou de declarações de óbitos.

3 - A vigilância epidemiológicada infecção pelo vírus da imuno-deficiência humana realizou-seem Portugal, desde os anosoitenta, tendo por base a notifi-cação voluntária dos casos. Em2005, a infecção, nas suas dife-rentes fases, passou a integraro conjunto das chamadas "doen-ças de declaração obrigatória".

Acumulou-se uma enorme quan-tidade de dados, isto é, juntou-se muita informação mas mani-festamente saiu dela poucoconhecimento e menos ainda anecessária sabedoria para agir.

Um sistema estável de informa-ção leva anos a consolidar eaquilo que pode fornecer depen-de do modelo da sua implemen-tação e de regras transparentespara a sua utilização e inquirição.Não há ainda uma história donosso sistema, escrita e divul-gada, que permita pelo menoso início de um escrutínio externoindependente.

A primeira pergunta para a qualimporta obter resposta é: quala validade da informação recolhi-da ao longo dos anos? E isto,tanto na extensão da "cobertura"dos casos quanto na qualidade,ou seja, na acuidade, da sua ca-racterização. E, claro está, nointeresse da informação que seprivilegiou recolher enquanto

orientação para agir. Se na ver-dade, em cada ano, a naturezado erro (que sempre existe masimporta conhecer) fosse seme-lhante, as inferências seriamaceitáveis. Ou seja: se pudés-semos estar seguros de que oatraso da notificação era razoa-velmemte constante - expressopor exemplo na proporção decasos diagnosticados em cadaano sobre o número de casosnotificados nesse ano - as infe-rências para a estimativa dastendências eram imediatas e ro-bustas, podendo até inferir-separa números absolutos de ca-sos. Infelizmente, estamos mui-to longe disso, e até a eventualaparência de regularidade, quesossegava os cálculos, reflecte,em proporções variadas e es-sencialmente desconhecidas, oefeito de múltiplos determinan-tes individuais e sociais (que in-cluem as políticas dos serviçosde saúde), da tomada de atitu-des preventivas e em direcçãoà realização do teste para a iden-tificação da infecção, à entradanos cuidados de saúde, à de-claração da infecção nas suasdiferentes fases e finalmente àanálise e divulgação apropriadada informação.

Seja permitido então um terceirocorolário: é necessariamenteinseguro responder a perguntasque exijam previsões finas quan-do o material de que dispomospara ensaiar as respostas nãodeixa ajustar modelos comple-xos ou não somos capazes degarantir que evitamos a máximaprimeira do labor epidemiológico,o chamado "gigo" (garbage in,garbage out: se utilizamosinformação de baixa qualidade,só podemos produzir conheci-mento inútil).

Vale a pena então deixar antesuma pergunta: se o número depessoas em tratamento aumen-tou evidentemente (reflectido,por exemplo, no gasto com anti-retrovíricos que cresceu de cercade 85 para 170 milhões de eurosde 2004 para 2008), se os CADduplicaram o número de testesrealizados, de 2006 para 2008,se as declarações cresceram no

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AcçãoAcção

Enquanto pessoa que vive comco-infecção VIH/VHC, activista(velho) e defensor dos direitosdos doentes, agradeço, à APEF,o convite para apresentar a nos-sa visão, objectivos e trabalhona área da co-infecção das hepa-tites víricas e VIH/Sida.O GAT, fundado em 2001, é umaorganização de pessoas de dife-rentes comunidades e organiza-ções infectadas e afectadas peloVIH e doenças associadas.Procuramos aumentar as capaci-dades destas pessoas para influí-rem no processo de desenvolvi-mento, testagem, aprovação eacesso universal aos tratamen-tos, testes de diagnóstico e no-

vas tecnologias preventivas.

Pensamos que o controlo destasepidemias, para ser eficaz, temde envolver o melhor conheci-mento científico, político, médicoe comunitário. Pensamos que oconhecimento e o envolvimentodas pessoas afectadas/infecta-das são essenciais (seja na pre-venção, como no tratamento)para respostas rápidas, eficazese com maior respeito dos direitoshumanos.

A co-infecção VIH/hepatites víri-cas, em particular a co-infecçãocom VHC, está no centro dasnossas prioridades porque:

• Afecta milhares de pessoasque vivem com infecção VIH emPortugal;• A doença hepática e a tubercu-lose é a nossa maior causa demorte;• Não há vacina;• Os tratamentos disponíveispara a hepatite C crónica levama uma resposta virológica sus-tentada em menos de metadedos doentes com VIH e têm efei-tos adversos graves a nível psi-cológico/psiquiátrico;• Em Portugal, o acesso aotransplante hepático para doen-tes co-infectados começa a daros primeiros passos;• A maioria das novas infecções

último ano em função da contra-tualização, ou seja, se a propor-ção escondida do "iceberg" deve-rá ser menor, e se os grandesserviços hospitalares reconhe-cem uma inequívoca diminuiçãodo número de casos de infecçãoque lhes chegam, não há indica-ção bastante de que estaremosnuma fase de maior controlo daepidemia?

Uma das preocupações re-correntes, associada à ideiade um aumento relativo dainfecção entre os heteros-sexuais, é a de se estar aviver uma situação de gene-ralização da epidemia. Nãohá qualquer evidência que oapoie, antes pelo contrário.A prevalência da infecçãoentre mulheres grávidas tempermanecido em torno de0,3% e diminuído a propor-ção de casos que são identifi-cados pela primeira vez nosrastreios da gravidez e parto,actualmente efectuado amais de 99% das grávidas.

4 - Não se pode naturalmenteconfundir a produção (outputs)com os resultados (outcomes).A verdade é que aumentou a

proporção de pessoas que reali-zaram o teste para detecção dainfecção pelo VIH (entre os utili-zadores de drogas em primeiraconsulta nos CAT mais do queduplicou em 2007 e 2008, com-parado com os anos anteriores),aumentou a proporção de pes-soas que utilizaram preservati-vos na "última relação sexual",aumentou um pouco a idade deinício das relações sexuais, distri-buíram-se cerca de 5 milhõesde preservativos gratuitos em2008, mais de 50 mil preservati-vos femininos, houve uma des-cida clara do preço dos preserva-tivos nas grandes superfíciescomerciais. Está-se longe doideal, claro, pode até dizer-secom razão que partíamos cominegável atraso e que muito hápara melhorar para além do maisfácil de fazer. Não se pode éconfundir o caminho com o obje-ctivo: estamos numa fase dedesejada defervescência dainfecção, que o descuido com aprevenção e a educação, a desa-tenção ou qualquer falso senti-mento de triunfo imediatamentereverterão. Os resultados sãoainda níveis de infecção muitomais altos que o desejado masnos quais, pelo menos, não se

confundam notificações comnovos diagnósticos!Como Marguerite Yourcenarescreveu sobre as pessoas, pelafigura do seu imperador Adriano,não podemos pedir ao sistemade notificação uma sensibilidadeque não tem e respostas quenão pode dar. Mas deve tirar-sedele o que possui de melhor -uma orientação com que con-frontar a realidade.

Corolário final: o que os clínicosvêem, o que os activistas obser-vam e pressentem na comunida-de serve para criticar a informa-ção, pedir-lhe respostas. Sos-segos ou desassossegos só acoerência de todas as fontes deinformação nos podem dar. Emesmo isso, quando somoscapazes de garantir a qualidadedo que produzem.

A perguntas com perguntas seresponda: onde estão as provas,melhor dito, os indícios, de queo risco de infecção está a cres-cer? É que é por aí, por essesindícios, que sempre a investiga-ção epidemiológica se inicia.

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Acçãoé contraída por partilha de mate-rial de injecção ligado ao uso dedrogas. Esta população estánuma situação de marginaliza-ção e discriminação que a tornaainda mais vulnerável.

Procuramos por isso ser parcei-ros, em igualdade, com os ou-tros intervenientes nesta área.Porque acreditamos que temosde conhecer e adaptar(benchmarking) o que de melhorse faz fora de Portugal, fundá-mos uma rede de activistas daEuropa do Sul (Portugal, Espa-nha, França e Itália) na área daco-infecção (SENCA - mais infor-mações em www.eatg.org),onde a prevalência desta é maiore que definiu como prioridades:• Um estudo sobre as causasque determinam o atraso ou nãoreferenciamento das pessoasco-infectadas que precisam detransplante hepático;• Promover a elaboração deguidelines para o tratamento daco-infecção VHC/VIH e o acessoao transplante hepático, e quehaja harmonização destasguidelines no Sul da Europa;• Estabelecer relação privilegiadacom o European Register of LiverTransplant in Coinfected People.Procurámos também, em reu-niões internacionais, dialogarcom médicos, investigadores,companhias farmacêuticas e asautoridades reguladoras, de ondesaiu uma declaração conjunta,a «Declaração de Stiges». Estareconhece o valor acrescentadoda participação dos activistas:• Na elaboração de linhas orien-tadoras para o desenvolvimentode novos medicamentos;• No desenvolvimento de ensaiosclínicos;• Em reuniões regulares com ospatrocinadores.

Pensamos que um Plano Estraté-gico Nacional para as hepatitescom carácter transversal é im-prescindível.

Em prevenção as prioridades doGAT são:• Tratamentos de substituição emanutenção opiácea - ofertauniversal, incluindo para quemfalhou as outras opções, de

manutenção em heroína (sobvigilância médica);• Universalidade e sustentabili-dade do programa de acesso amaterial de injecção seguro,i n c l u i ndo , é c l a ro , o sestabelecimentos prisionaisenvolvendo os grupos pro-fissionais que lidam com a saúdenas prisões.• Salas de consumo seguro(vulgo de chuto) - somos a favorda implementação e adaptaçãodas boas experiências internacio-nais.• Campanhas de prevenção es-pecíficas para populações emrisco - sabendo que mesmo nospaíses em que o acesso aos pro-gramas de substituição é fácil,mais de 50% dos UDI (utilizado-res de drogas injectáveis) estãofora, e bem fora, dos serviçosde saúde, pelo que as equipasde rua devem ter um papel fun-damental na redução das taxasde transmissão da infecção VIHe VHC e na sua aproximação aoSNS. Estas campanhas, progra-mas e intervenções não podemcontribuir para a estigmatizaçãoe marginalização das pessoas aque se destinam, devem terexactamente o resultado oposto.Devem garantir informação rigo-rosa e completa sobre o uso dedrogas e de como evitar contraira infecção. Devem disponibilizartodo o material de injecção einalação (e sexual) (os kits in-completos e o racionamento têmefeitos trágicos sobre a dissemi-nação das infecções). Devemalmejar à cobertura universal.• Folheto de divulgação Deveráser elaborado um folheto deampla divulgação para o públicoem geral, infectados e médicosnão especialistas, sobre o pro-blema da doença hepática nainfecção VIH. De abordar, tam-bém, os temas da co-infecção(VHB, VHC), prevenção (VHA,VHB, VHC, consumo de álcool,obesidade), transplante hepáti-co, risco oncológico.• Rastreio anti-VHC deverá serimplementado de forma deter-minada, nos grupos em risco. Orastreio tem intuitos preventivos,não só para o próprio, mas tam-bém para terceiros. As hepatites,particularmente a hepatite C,

que infecta cerca de 80% daspessoas que usam drogas, équase sempre assintomática. Ostratamentos têm uma eficácia(cura) em cerca de 40% dos co-infectados e 60% dos monoinfe-ctados. Precisamos de testes dedespistagem rápidos.

Nos tratamentos as nossasprioridades são:- Guidelines - deverão existirguidelines dinâmicas, consen-suais, que sejam tornadas públi-cas, revistas de forma periódicae que incluam a consulta às as-sociações de doentes. As formasde actuação, que dão origemnão raramente a gastos de re-cursos muito avultados, devemenquadrar-se, tanto quanto pos-sível, nas regras de boa prática.As guidelines para a abordagemdo VIH deverão incluir a doençahepática.- Transplante hepático - dadonão ser uma contra-indicaçãono co-infectado e a doença he-pática ser sempre mais graveneste, com maior risco de mor-talidade, como deve ser a suainclusão na lista de transplante?Será necessário um esquemade prioridades alternativo? Oscritérios que seleccionam osdoentes em lista para transplan-te devem ser claros, públicos,objectivos e imparciais. Qual aimportância do sistema MELDou outros afins? Quais os crité-rios seguidos em Portugal nostrês centros de transplante hepá-tico? Só Lisboa começa a funcio-nar. A situação actual é inaceitá-vel. Olhe-se para a Espanha, aFrança, ou a Itália.

Em conclusão: «Precisamos demedicamentos novos e eficazespara doentes sem opções (comoeu). Precisamos de medicamen-tos a custos comportáveis paragarantir acesso universal numadoença que para muitos é curá-vel. Se houve comportamentosou situações de risco faça-se oteste.

Publicado na edição de Setembro2008 do Boletim "Liver today"

da APEF

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AcçãoAcção

Conferência VIH Portugal 2009Trabalhar em conjunto para o diagnóstico e

cuidados precoces da infecção VIH

Comissão de Honra

Presidente da República Aníbal Cavaco SilvaPrimeiro-ministro José SócratesPresidente da Assembleia da República Jaime Gama

6ª Feira manhã - 27 Março

08h00 Registo dos conferencistas

08h30 Pré-meeting: VIH em Portugal - Vigilância epidemiológica em Portugal: prioridadesChair: Jorge Torgal IHMT - UNL

Carlota Louro FCM -UNLHenrique Barros Coordenador Nacional VIH/sidaPedro S. Marques EATG/CEIC

09h30 Sessão de AberturaChairs: Ana Jorge Ministra da Saúde

Maria de Belém Presidente Comissão SaúdeModeração: Rui Marques/Luís Mendão

Francisco Ramos Secretário Adjunto e da SaúdeMaria do Céu Machado Alta Comissária para a SaúdeHenrique Barros Coordenador Nacional VIH/sidaRicardo Fernandes Fórum Nacional da Sociedade Civil para o VIH/SIDA

10h15 Painel 1: VIH em Portugal - A visão das Instituições internacionaisChairs: Constantino Sakellarides* ENSP

Wim Vandevelde EATG European Civil Society Forum on HIV/AIDSPalestrantes: Jeffrey Lazarus OMS Europa

Denis Haveaux ONUSIDALucas Wiessing OEDTWolfgang Philipp DG Sanco / Comissão Europeia

11h45 Conferência: HIV treatment - the earlier the better?Chair: Saraiva da Cunha H.U.Coimbra - UC

Anton Pozniak Chelsea and Westminster Hospital

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Acção

Sábado manhã - 28 Março

09h00 Chair: Kamal Mansinho H. E. Moniz - UNLConferência: HIV testing and patient outcomesJens Lundgren HIV Europe / University of Copenhagen

9h45 Chair: Paulo Ferrinho IHMT - UNLConferência: Optimizar os cuidados de saúde e tratamentosRui Marques H.S. João

10h30 Chair: Francisco George* Direcção Geral de SaúdeConferência: Early testing promotion: the Swiss experienceRoger Staub Office de Santé Publique - Suíça

11h00 Leitura de conclusões RelatoresDiscussão das conclusõesApresentação das recomendações e compromissos

12H3013h00

Sessão de EncerramentoPresidente Manuel Pizarro Secretário da Saúde

6ª Feira tarde - 27 Março

13H30 Painel 2: Custo benefício do diagnóstico e do acesso precoce aos cuidadosde saúde e tratamentosChair: João Pereira ENSP - UNL

Julian Perelman ENSP - UNLEduard Beck ONUSIDA

14H30 Painel 3: VIH em Portugal: apresentação de dois estudosChair: Francisco Antunes H.S. Maria - ULAna Cláudia Miranda H.E. Moniz - CHLO Demografia e estadiamento clínicoCláudia Carvalho H.S. João - FM - UP Acesso, práticas e barreiras ao teste VIH

15h45 Painel 4: Teste VIH: das políticas à práticaChair: Rui Sarmento e Castro H. J. UrbanoMesa: António Sarmento H. S João - FM - UP Teste: universal ou selectivo?Jessica Deblonde Ghent University - Teste VIH na EuropaLeonie Prasad FM - UP O caso suiço

17h00 Breakout session I: Vigilância epidemiológica e teste em populações emmaior riscoChair: Alexandre Lourenço ACSSMesa: Sónia Dias IHMT - UNL Fernanda Feijão IDT Manuel Lapão - CPLPRelatora: Raquel Lucas SE - UP

17h00 Breakout session II: Teste: Confidencialidade, aconselhamento e discriminaçãoChair: Khalid Fekhari Instituto PiagetMesa: Marta Maia CRIA Helena Monteiro ARS Algarve Fátima Vidinha CAD deFaro Céu Rueff - Jurista João Silveira ANF Célia Rosa JornalistaRelator: João Paulo Casquilho GAT

17h00 Breakout session III: Orientações, escolhas técnicas e definições, epidemiaconcentrada e SNSChair: Luís Pisco* APM Clínica GeralMesa: Henrique Botelho C.S. Terras de Bouro Joana S. Ferreira ARS NorteIrene Santo* CAD da LapaRelator: Dr. João Rodrigues*

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AcçãoAcção

No quadro da preparação daorganização da conferência VIHPortugal 2009, que deverá terlugar nos dias 28 e 29 de Marçode 2009, assisti, com o LuísMendão, no passado dia 21 deNovembro, à Cimeira Europeiasobre o Diagnóstico do VIH(Sommet Européen Diagnostic),realizada em Paris com o apoioda Presidência Francesa.

Regressámos muito satisfeitospelas aprendizagens e encontrosque nos proporcionou o SommetEuropéen Diagnostic, assimcomo pela forma fluida e eficazcom que decorreu a cimeira,onde todos respeitaram oshorários, os tempos de palavra,os objectivos da cimeira e apalavra do outro. Estavam pre-sentes activistas, investigadorese profissionais de saúde de vá-rios países europeus, do Canadáe dos Estados Unidos. Todos semostraram de acordo com o be-nefício do diagnóstico precocee com a necessidade de banali-zar o teste e melhorar a suaoferta, num contexto de respeitopelos direitos humanos.

O diagnóstico tardio da infecçãopor VIH tem um impacto negati-vo quer para as pessoas querpara o Sistema Nacional de Saú-de. Como explicou DominiqueCostaglila,

o diagnóstico e o acesso aoscuidados de saúde precocesrepresentam um benefícioindividual e colectivo,

garantem uma melhor relaçãocusto - eficácia em termos derecursos financeiros e humanos,e benefícios em termos de redu-ção da morbilidade e da mortali-dade das pessoas infectadas.

Um benefício individual porque

se o diagnóstico for feito antesdo sistema imunitário estar mui-to debilitado e se o paciente be-neficiar de cuidados de saúdeadequados, há um menor riscode morbilidade e de mortalidade.Um benefício colectivo porqueos comportamentos de risco sãomuito menores quando as pes-soas sabem que estão infectadase porque os cuidados de saúdeprestados às pessoas diagnosti-cadas precocemente são menosdispendiosos para o Sistema Na-cional de Saúde do que os quetêm de ser prestados às pessoasdiagnosticadas tardiamente, jáque estas têm o sistema imuni-tário muito debilitado, morbilida-des associadas, um maior riscode mortalidade e menores hipó-teses de eficácia dos tratamen-tos.

O teste rápido deve ser encora-jado pois oferece maiores pos-sibilidades de adesão, afirmouMark Wainberg (Canadá), quetambém sublinhou a importânciada luta contra a estigmatizaçãoe a discriminação das pessoasseropositivas assim como contraa penalização da transmissãoviral.

A estigmatização e a discrimina-ção dos seropositivos desencora-jam a realização do teste,

além de constituírem um desres-peito pelos direitos humanos. Omesmo se pode dizer das penali-zações da transmissão.

Também estava presente o mé-dico e investigador suíço BernardHirschel, coordenador do estudoque aponta para a não infecciosi-dade, em determinadas circuns-tâncias e excluída a prática desexo anal, das pessoas sobtratamento, e cuja divulgaçãoque deu azo a várias interpreta-

ções e reacções - críticas daparte de uns e louvores da partede outros.

Julio Montaner (Espanha) apre-sentou um estudo prospectivoque mostra que o custo do dia-gnóstico e tratamento precocesé menor do que o da não utiliza-ção de tratamentos anti-retrovi-rais, ou seja, não recorrer aostratamentos fica mais caro amédio e longo prazo. O cenáriode diagnóstico e tratamento pre-coces representa também, comoé óbvio, um benefício em termosde saúde pública.

Abordaram-se também as ques-tões dos diagnósticos opt-in/opt-out1, de ofertas de testes dediagnóstico que procurem che-gar às pessoas mais vulneráveis,das dificuldades de acesso aodiagnóstico e aos cuidados desaúde das populações maisvulneráveis, nomeadamente osimigrantes em situação deilegalidade, da responsabilizaçãodas pessoas e da promoção datolerância, da solidariedade edo respeito pelos direitos huma-nos.

Jean-Marie Le Gall (França)mostrou-nos o quanto o proble-ma da estigmatização dos sero-positivos continua sendo umproblema grave. Permanecemos discursos de culpabilizaçãodas pessoas infectadas, os dis-cursos moralistas, uma intromis-são da vida íntima e um trata-mento judicial da transmissãomuitas vezes longe dos conheci-mentos científicos (temos, emPortugal, excelentes exemplosdisso...).

François Bourdillon (França)abordou os obstáculos ao teste,que podem ser individuais (comoo medo da estigmatização ou o

1 - Opt-in: sistema em que cada teste para o VIH só é feito com o consentimento expresso da pessoa; caso contrário assume-se que não houveconsentimento e o teste não pode ser realizado. Opt-out: sistema em que a pessoa é informada que o teste é realizado como rotina e só Nãoserá feito caso haja uma recusa expressa da pessoa; caso contrário assume-se automaticamente que houve consentimento.

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desconhecimento do dispositivode diagnóstico), ligadas ao siste-ma de saúde (por exemplo, oshorários dos centros de despista-gem), ou relativas ao teste (co-mo a realização do teste pormédicos não biologistas).

Jens Lundgren (Dinamarca) par-tilhou com a assistência a suaanálise lúcida da realidade quetão bem parece conhecer, numalinguagem límpida, e deixoupistas para a definição de linhasde acção que tornem possíveis

o diagnóstico precoce e o acessoaos tratamentos: entre outros,o estudo da epidemiologia, oconhecimento da realidade daprevalência, a compreensão dasbarreiras ao teste, a quantifica-ção dos problemas de estigmati-zação, a avaliação dos impactosda criminalização da transmissãoviral e replicação as boaspráticas dos outros paíseseuropeus...

A nível europeu, o diagnósticoprecoce do VIH/sida é uma preo-

cupação e vários países estão adefinir linhas de acção para odiagnóstico e os cuidados desaúde precoces. De lembrar queo Parlamento Europeu adoptourecentemente uma resoluçãonesse sentido.

Rendez-vous a 27 e 28 de Março,em Lisboa, para a o VIH Portugal2009, no Centro Cultural deBelém!

Acção

Cannabis é a substância maisutilizada

Aumentou o número de portugue-ses que já experimentaram dro-gas. A percentagem de portugue-ses que consumiu drogas algumavez na vida aumentou de 7,8 para12%, entre 2001 e 2007. A drogaque prevalece, segundo os dadosapresentados pelo presidente doInstituto da Droga e Toxicodepen-dência (IDT), é a cannabis. Maso consumo continuado destassubstâncias decaiu na generalidade.

Adultos

No universo da população quetem entre os 15 e os 64 anos, adroga mais usada é a cannabis,consumida por 7,6% da populaçãoem 2001 e por 11,7% em 2007.

Os dados indicam que o ecstasy,a heroína e a cocaína, que há seteanos eram consumidos por menosde um por cento da população,ultrapassaram este valor em 2007,tendo o consumo de heroína al-cançado 1,1%, o de cocaína 1,9%e o de ecstasy 2,6 desta população.

Jovens adultos

Na população de jovens e jovensadultos - entre os 15 e os 34 anos- os índices de consumo de estu-pefacientes, pelo menos uma vezna vida, passaram de 12,6 em2001 para 17,4% em 2007?.

A cannabis continua a ser a drogapredominante, que subiu de 12,4

para 17%, mas regista-se tam-bém um aumento considerável dacocaína, que aumentou de 1,3para 2,8% cento nos seis anosanalisados.

Consumos continuados- quedas e aumentos

No que toca à continuidade nosconsumos, registou-se uma quedaconsiderável: há sete anos, 44%das pessoas que disseram terconsumido uma droga pelo menosuma vez afirmaram ter voltado afazê-lo no último ano, valor quedesceu para 31% em 2007.

A cannabis continua a ser a drogamais consumida também nestegrupo, mas igualmente com umaredução de 43 para 31%, entre2001 e o ano passado. Neste caso,as drogas em que houve maisreincidência no consumo foram acocaína (com uma descida de 34para 32%) e a heroína (26 para24%), enquanto o ecstasy obtevea maior descida - de 54 para 33%.

Na população entre os 15 e os 34anos, há um aumento considerá-vel na continuação do consumode heroína: em 2001 os consumi-dores que disseram ter voltado ausá-la eram 28%, mas no anopassado esse valor subiu para 35,a única subida registada nas dro-gas mais usadas.

Neste grupo, a cannabis baixou

de 50 para 40%, a cocaína de 46para 41% e o ecstasy de 60 para35%.

Experiências e reincidên-cias

Ao nível da União Europeia, Portu-gal aparece em oitavo lugar, numalista de 11 países, quando é anali-sada a percentagem de pessoasque consumiu droga pelo menosuma vez na vida (11,7%), com aAlemanha a liderar (42,4%) e Chi-pre na cauda, com apenas 6,6%,embora neste caso os valores serefiram aos anos de 2003 e 2007.

No grupo em que o período dereincidência numa droga ocorreuno último mês, Portugal sobe umlugar (para sétimo) com 2,4% adizer que voltaram a consumirnos últimos 30 dias, num quadroliderado pela Espanha (7,6%),seguida da Alemanha (6,5%) eInglaterra/País de Gales (5,2%).No fim da lista, surgem a Lituânia(0,7), Chipre e Hungria (1,4).

Estes valores parecem tranquilizaros nossos governantes mas, paraquem se ocupa de VIH e hepatiteC, os dados referentes aos consu-mos de heroína e cocaína não de-viam tranquilizar ninguém.

Luís Mendão baseado no artigoda Agência Lusa de 12.11.2008

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Tratamentos

O Jesus bateu-nos à porta numanuma terça-feira, às 4 da tarde.Não fazemos atendimentos, maso Jesus parecia tão frágil e de-samparado que furei a regra eatendi-o pessoalmente na nossasede.

O Jesus é um consumidor deheroína, tinha trabalhado váriosanos em informática (julgo queé verdade, resolveu-me um pro-blema no computador e maistarde ofereceu-me um pequenoestojo cheio de coisas, UBS enão sei o quê que os especialis-tas do GAT dizem ser o estadoda arte).

O Jesus veio ao GAT, porqueouviu com uns amigos uma con-versa nossa sobre drogas naesplanada do café e pensaramque éramos especialistas. Depoisda minha conversa com ele,pensámos os dois que o melhorera tentar o programa de meta-dona de baixo limiar das car-rinhas.

Gosto de seguir as regras e tele-fonámos para o 1414 - a linhadroga do IDT. Do telefone doGAT, um 309, não consegui -parece que não têm contrato,disseram-me depois - lá conse-gui ligar do meu telemóvel. Amenina que me atendeu erasimpática, disse-me que o Jesusdevia ir à carrinha da Praça deEspanha para ser atendido e queo horário à tarde era das 18h00às 19h 30 e que lhe dariam logoa metadona.

Pareceram-me demasiadas facili-dades, insisti que o Jesus nãotinha registo, nem número, senão era necessária uma consultaprévia, exames.... - Não, issofaz depois. Ainda insisti que per-guntasse aos colegas que confir-massem e 4 ou 5 minutos depoisconfirmou que os colegas confir-mavam a informação e, pela pri-meira vez, senti-lhe alguma im-

paciência na voz.

Eram quase 6h da tarde, per-guntei ao Jesus (com uma pontade má-fé minha - é que comonão sou crente) se precisava dedinheiro para o táxi. Não. Nãoe lá foi. Telefonei-lhe quando jáme encontrava a caminho decasa, pelas 21 horas e soubeque não, na carrinha sem ternúmero nada feito, que tinhaque ir no dia seguinte ao outroGAT (Gabinete de Apoio à Toxi-codependência). Talvez o nomeexplique alguma diferença, nóssomos GAT (Grupo ActivistasTratamentos).

Disse-lhe que se aguentasse,no dia seguinte telefonei-lhe de

novo, sabia que o Gabinete deApoio à Toxicodependência fe-chava às 14 horas. O Jesus pare-cia cada vez mais desamparado- nada Luís, dormi mal, chegueilá à um quarto para a uma edisseram-me que já lá não estavaquem podia fazer o encaminha-mento e que voltasse amanhã.

- Aguenta-te, Jesus.

Fiz o meu dever de cidadão, te-lefonei para o 1414 do telemóvelpara dizer que corrigissem ainformação sobre o acessodirecto às carrinhas, que - sabe,esta gente é difícil, se lhes criamfalsas expectativas perdem apaciência. A menina disse queia tentar saber o que se passava,mas a informação que tinhamera aquela. Verifiquem, insisti.

Quinta-feira, ao meio dia, oJesus bate à porta, ainda maistransparente, mas barbeado ecom roupa lavada.

- Desculpe Luís mas não sei oque fazer, querem pôr-me numalista de espera, parece que o

programa está fechado. Já nãome aguento. Telefonei para oGAT (o do apoio à toxicodepen-dência). - Sim esse senhor este-ve aqui, foi um bocado arrogan-te, depois do atendimento nãonos quis deixar o contacto parao registar no programa e sercontactado.

Disse-lhes que me parecia estra-

Fotografia de Miguel ... feita no programa de troca de seringas do MAPS no Algarve.Pequeno apoio simbólico ao trabalho (em risco) do MAPS e

homenagem à memória da Anabela Martins

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Tratamentos

Com aprovação da esmagadoramaioria dos eleitores Suíços(68%) o mais compreensivo pro-grama legal de manutenção emheroína tornou-se permanente.

O programa da heroína, iniciadoem 1994, é oferecido em 23centros por toda a Suíça. Temajudado a eliminar o cenário depessoas a injectarem-se em par-ques que caracterizou algumascidades Suíças nos anos 80 e90. O plano é creditado com aredução de crime e a melhoriada saúde e das vidas diárias dosdependentes de heroína.

As quase 1 300pessoas selec-cionadas, que haviam experi-

mentado outras terapêuticasmas sem sucesso, visitam umdos centros duas vezes por diapara receberem uma dose deheroína produzida num laborató-rio aprovado pelo governo.

Sob a supervisão de uma enfer-meira usam o seu equipamento- que mantêm em copos rotula-dos com os seus nomes - e agu-lhas limpas - quatro de cada vez- para se injectarem e recebemaconselhamento de psiquiatrase de assistentes sociais. O obje-ctivo é ajudá-los e integrá-losna sociedade.

Os Estados Unidos e o Conselhode Narcóticos das Nações Unidas

têm criticado o programa porter a potencialidade de fomentaro abuso de drogas, mas estetem atraído a atenção de outrosgovernos que, nos últimos anos,inspirados no sistema Suíço, têmdado ou pensam dar início aosseus próprios programas.

A Holanda iniciou um programaem 2006 que serve cerca de600 doentes. O Reino Unido,que, desde os anos 20, permiteque médicos individuais prescre-vam heroína, tem, nos últimosanos executado experiências se-melhantes à Suíça. A Bélgica, aAlemanha, a Espanha e o Cana-dá também estão a executarprogramas experimentais.

nho que o programa estivessefechado e pedi que dessem essainformação à linha de apoio 1414para não criarem falsas expecta-tivas a quem a eles recorre. -Mas o programa não está fecha-do, está suspenso e reabre aqualquer momento. Não pode-mos andar a telefonar todos osdias para dizer o que se passa.- Então, pelo menos, no 1414digam que não sabem e dêemo vosso contacto para que infor-mem os utilizadores. Disse eu.

E agora? Telefonei ao 1414,repeti a minha lengalenga, epedi o contacto da carrinha egabinete de apoio da área orien-tal de Lisboa (é a carrinha esta-cionada ao lado da esquadra deSta. Apolónia). Telefonei para ooutro gabinete de apoio e per-guntaram-me onde morava oJesus - Neste momento, por aí.- Não, nós só atendemos resi-dentes na zona oriental. Pergun-tei ao Jesus que morada tinhanos documentos. - Praça deLondres - disse-me ele. - Oficial-mente, ele reside na Praça deLondres, disse eu, já com algu-ma esperança. - Praça de Lon-

dres onde? - Praça de Londresem Lisboa, Avenida de Roma,Estados Unidos, está a ver? Pa-rece-me que é na zona oriental.A menina disse-me - se é essaPraça de Londres, de facto éaqui. Mas o nosso programatambém está mais ou menos fe-chado.

Perdi um pouco a paciência,disse-lhe que íamos pedir umadeclaração escrita em como nãoaceitavam o Jesus, disse-meque iam ver, que talvez tivessemvaga, e quando é que ele poderiapassar pelo gabinete. Disse-lheagora e ela respondeu que teriade ser entre as 13:00 e as 14.00horas.

O Zé, o distribuidor do "Acção& Tratamentos", ficou encar-regue de o levar, procurámos amorada no Google e era maisou menos no fim do mundo. Masconseguiu lá chegar e foi atendi-do. Telefonei-lhe à noite e disse-me que ia começar na terça-feira. Ao fim-de-semana não erapossível iniciar a toma e segun-da-feira tinham que tratar depapéis para ter as 20 mg na ter-

ça.

Uma semana tinha passado. Jul-go que o Jesus voltou à heroínano fim-de-semana.

Quarta-feira tornámos a falar. -Parece que vou passar para 40mg, mas isto não chega Luís.

Sexta-feira falámos de novo. -Fui buscar uns tarecos ao quartoque tinha no Cacém e chegueidepois da hora da toma.

Falámos na segunda-feira e ti-nham-lhe reduzido a dose para20 mg por não cumprimento doesquema.

Noutro momento, falarei doJesus para dar notícias, masconvenhamos, este sistema quedeveria procurar activamente osutilizadores de droga e aprovei-tar todos os momentos (poucos)em que é procurado activamen-te, funciona mal.

Jesus encontrou um activistain(con)formado que o apoiou.Os mortais, penso, desistem pe-lo caminho.

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Tratamentos

A Gilead ensaia em humanos medicamentopotenciador de anti-retrovirais

A Gilead, a empresa produtorados dois medicamentos para oVIH mais vendidos no mundo,tenofovir e emtricitabina, anun-ciou que está a realizar, em hu-manos, estudos de um produtoque poderá substituir o ritonavir,enquanto agente anti-retroviralpotenciador (booster) em algu-mas combinações de doses fixas.

O GS 9350, sigla pela qual oproduto é conhecido, é um com-posto de toma única diária, está-vel à temperatura ambiente quepode ser co-formulado com ou-tros ARVs incluindo o tenofovire o inibidor da integrase elvite-gravir (que actualmente deveser potenciado com ritonavirpara manter níveis elevados nosangue e se encontra em ensaioclínico de Fase III).

O GS 9350 está a ser testadonum estudo clínico de Fase 1para ajuste de dose. O estudopretende avaliar a segurança,tolerabilidade, farmacocinéticae farmacodinâmica de doses úni-cas e crescentes de GS 9350em voluntários saudáveis.

O ritonavir (Norvir®), um inibi-dor da protease produzido pela

Abbott, tem uma capacidadeextraordinária de potenciar osníveis plasmáticos da maioriados medicamentos anti-retrovi-rais processados através do cito-cromo P450.

O ritonavir potencia os níveisdos medicamentos tornandomais lento o processamentoatravés desta via e provocando,portanto, níveis mais elevadosdo outro medicamento no orga-nismo. O ritonavir é o inibidormais potente conhecido do cito-cromo P450 CYP 3A4, a via pelaqual os inibidores da proteasesão metabolizados.

No entanto, há efeitos negativosprovocados pelo uso do ritonavircomo potenciador. O ritonavir,mesmo em doses baixas, causaum aumento dos triglicéridosque, por vezes, tem de ser con-trolado com medicação ou, até,obrigar a uma mudança paraoutra combinação de medica-mentos. Pode também provocarproblemas gastrointestinais, taiscomo diarreia, flatulência e náu-seas nos doentes que tomaminibidores da protease.

Todos os inibidores da protease

actualmente no mercado, exceptoo nelfinavir (Viracept®), sãogeralmente potenciados com do-ses baixas de ritonavir e o inibi-dor da protease lopinavir (daAbbott) é co-formulado comuma dose baixa de ritonavir nomedicamento Kaletra®. O factode a Abbott deter os direitos doritonavir tem tornado impossívelà concorrência co-formular osseus produtos com ritonavir. Oobjectivo da Gilead é o de co-formular o GS 9350 num únicocomprimido com o seu inibidorda integrase em investigação,elvitegravir e com o tenofovir eemtricitabina (uma 1ª linha emmonopólio?). Esperemos que aconcorrência entre potenciadorespermita facilitar futuras co--formulações, atazanavir(Reyataz®) da Bristol Myers-Sqibb e o darunavir (Prezista®)da Janssen-Cilag Tibotec sãocandidatos óbvios assim comoo meio esquecido saquinavir,Invirase® da Roche.

Baseado no texto de Keith AlcornAIDSmap Traduzido por Mariela

Kumpera

O raltegravir, que tem como no-me comercial Isentress® é oprimeiro anti-retroviral da classedos inibidores de integrase. Oprocesso para aprovação emdoentes naïves foi aceite estemês pela entidade reguladorados Estados Unidos, a FDA.

A Merck está também a subme-ter pedidos para ensaios clínicos

em doentes naïves na Europa.No entanto, a suspensão emmeados de Dezembro, por faltade eficácia, dos protocolos 032e 033 - que estudavam a segu-rança, tolerabilidade e eficáciada substituição de um regimebaseado em Kaletra® por umregime baseado em raltegravirem pessoas com supressão viro-lógica sustentada com o primeiro

regime - levou à suspensão oureavaliação dos pedidos em cur-so.

Actualmente o Isentress® éutilizado, com bons resultados,em combinação com outrosmedicamentos numa Terapêuticade Base Optimizada (OBT), emdoentes em falência terapêuticanos Estados Unidos e na Comu-

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Tratamentosnidade Europeia.

No resumo das característicasdo medicamento (RCM, vulgo,bula) o Isentress® é indicadopara o tratamento, em associa-ção com outros medicamentosanti-retrovirais, da infecção porvírus da imunodeficiência huma-na (VIH-1) em doentes adultossujeitos a tratamento préviomas, apesar da terapêutica anti-retroviral em curso, com evidên-cia de replicação do VIH-1.

Esta indicação baseia-se nos da-dos de segurança e eficácia dedois estudos. E a Autorizaçãode Introdução no Mercado (AIM)foi também concedida com basenuma análise de custo-utilidade,em que a intervenção terapêuti-ca associada à utilização deraltegravir (em utilização adicio-nal à OBT) revelou ser custo

efectiva face à intervenção as-sociada à utilização de placebo(também em utilização adicionalà OBT), dentro dos valoresusualmente considerados aceitá-veis.

Situação em Portugal

Em Portugal, o Infarmed deuautorização de utilização paradoentes em falência terapêuticaem 23 de Julho de 2008.

No entanto, o acesso ao medica-mento no mercado hospitalarfoi objecto de um contrato entreo INFARMED e o titular de AIM,pelo qual a utilização de ralte-gravir no SNS ficou condicionadaà obtenção de novos dados quecomprovem a mais-valia domedicamento, dados que serãointegrados num novo estudo deavaliação económica, exigência

que julgamos ser, no panoramada U.E. exclusivamente nossa.

Em Portugal os doentes com in-dicação para raltegravir (ou qual-quer novo medicamento com asmesmas condições de aprova-ção) continuam por isso a neces-sitar de uma autorização casoa caso dada por cada Adminis-tração Hospitalar - que podemlevar meses a ser concedidas.

Sabemos que há aindaprocessos pendentespara o primeiro doenteem alguns hospitais.

Sabemos também que algunsdoentes morreram sem ter aces-so ao raltegravir e que outrosmorreram pouco depois de te-rem visto o seu uso autorizado.Não é aceitável.

De acordo com um estudo efec-tuado na Tanzânia e publicadosna revista Clinical InfectiousDiseases uma dose única de 750mg de fluconazole é tão eficazna cura da candidose (quandopresente apenas na boca e naparte superior da garganta)como a administração tradicionalde 150 mg de fluconazole duran-te 14 dias consecutivos.

A candidose, também conhecidacomo "sapinhos", é o sinal dealerta mais frequente de altera-ções no sistema imunitário daspessoas infectadas com VIH epode assumir formas mais gra-ves e difíceis de tratar. Localiza-se geralmente na cavidade bocalacima da faringe e é muito mais

frequente quando a contagemdas células CD4 desce abaixodas 200 cópias.

A candidose envolvendo o esófa-go, traqueia ou pulmões é defini-dora de SIDA.

A descoberta referida pode levarà modificação das actuais orien-tações terapêuticas (14 dias defluconazole 150 mg) e à diminui-ção dos custos associados aotratamento. As alternativas aofluconazole incluem nistatin,quetoconazole e miconazole.

Candidose Sistémica

É uma doença invasiva causadapela candida spp, especialmente

a candida albicans que se mani-festa por septicemia, endocardite(infecção do endocárdio e dasválvulas do coração), doençahepatoesplénica (infecção porcandida spp do fígado e dobaço), meningite (inflamaçãodas meninges, incluindo a pia-máter e a membrana-aracnóide,e do líquido cefalorraquideano)ou osteomielite (inflamação ós-sea).

Etiologia, Incidência ePatologia

A candidose superficial afectamuitas pessoas em todo o mun-do e as pessoas com infecçãopelo VIH são particularmentevulneráveis. Doentes com neu-

Importante: A informação contida nesta publicação não substitui aquela que é prestada pelomédico. As decisões relacionadas com o tratamento devem ser sempre tomadas em conjunto como médico. Verificar sempre a data de edição desta publicação. A informação poderá ficar desactualizada.

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Tratamentostropenia (devida a leucemia ououtras neoplasias), com catete-res EV, são propensos à septice-mia por candida spp.

Sintomas e Sinais

A endocardite por candida lem-bra a doença bacteriana, comfebre, sopro cardíaco, espleno-megalia (aumento do volumedo baço) e anemia. A infecçãorenal é encontrada em exameslaboratoriais e na necropsia. Asepticemia por candida parece-se com a sepsia por Gram-nega-tivo nos sintomas de febre, ure-mia, oligúria, insuficiência renale evolução fulminante. A retiniteou panoftalmite é uma complica-ção que pode resultar em ce-gueira. A meningite por candidaé crónica, como a meningite porcriptococose, mas com a diferen-ça de não evoluir tão frequente-mente para morte na ausênciade tratamento. A pielonefrite(infecção do trato urinárioascendente que atingiu a pelvedo rim ou bacinete) por candidae a doença pulmonar são menoscaracterísticas. A osteomielite,espondilodiscite (infecção do dis-co intervertebral) foram descri-tas em utilizadores de drogasendovenosas.

Diagnóstico

Os testes de anti-corpos paracandida não são úteis porquepodem ser positivos tambémnas pessoas saudáveis e nãocomprovam que a candida sejacausa de doença.

As pessoas com sintomas esofá-gicos podem ser tratadas direc-tamente para a infecção porcandida dado que esta é a maiscomum das causas de infecçõesde garganta ente as pessoascom infecção VIH.

Candidose resistente

A resistência aos medicamentosanti-fúngicos é comum em pes-soas com doença avançada. Umrelatório norte-americano indicaque 5 a 10% da candidose oralnão responde ao fluconazole.

Tratamentos comple-mentares

Em casos de candidose modera-da, algumas terapêuticas com-plementares podem ajudar:eliminar o consumo de açúcarrefinado, farinha branca e ami-dos. Quando se escolhe estaopção, o médico deve ser

informado para evitar consumoinsuficiente de calorias. O iogurtenão pasteurizado pode ajudar,uma vez que a bactéria lactoba-cilos lactobacillus compete coma candida. Usar apenas iogurtede origem certificada.

Candidose e TAR (Tera-pêutica Anti-Retroviral)

O tratamento anti-retroviral re-duziu a prevalência das infecçõesorais, incluindo a candidose en-tre as pessoas com SIDA. Noentanto, há provas de que osinibidores da protease inibem amultiplicação da candida porqueinibem a enzima da protease dacandida.

Fontes: Hamza OJM et al. Single-dose fluconazole versus standard

2-week therapy fororopharyngeal candidiasis in

HIV-infected patients: arandomized, double-blind,

double-dummy trial. ClinicalInfectious Diseases 47: 1270-

6, 2008.Aidsmap - candida

Tesamorelin um medicamento paraa lipodistrofia

A empresa Theratechnologiesapresentou em Novembro, nodécimo International Workshopon Advers Drug Reactions andLipodystrophy realizado emLondres (e onde esteve presenteIsabel Nunes do GAT e daSERES), os resultados dos en-saios de fase III que indicamque a administração diária dedois miligramas de tesamorelinreduz o tecido adiposo visceral(VAT em inglês) em doentes cominfecção VIH, independentemen-te do regime terapêutico anti-retroviral (ART em inglês), usadono tratamento da infecção peloVIH.

Os vários ensaios incluíram 816doentes tratados com os seguin-tes regimes ART: 45% com inibi-dores da transcriptase reversanucleósidos + inibidor daprotease (NRTI/PI em inglês),33% com in ib idores datranscriptase reversa nãonucleósido + inibidores datranscriptase reversa nucleósidos(NNRTI/NRTI em inglês), 10%com NNRTI/NRTI/PI, 5% comNRTI em monoterapia e 7% comoutras combinações. O tempomédio desde o diagnóstico dainfecção pelo VIH foi de 13 anos,com uma duração média deterapêutica ART de 4,5 anos. Os

doentes que participaram nestesestudos tinham um diagnósticode sindroma de lipodistrofia comuma média de 3,9 anos. No glo-bal, o VAT desceu 13% em rela-ção ao valor basal nos doentestratados com tesamorelin às 26semanas de tratamento (p<0,001 vs. placebo), enquantoque o grupo em placebo aumen-tou o VAT 2,3% em média emrelação ao valor basal. Não hou-ve diferenças clínicas significati-vas nos diferentes regimes ARTnem no tecido adiposo subcutâ-neo ou níveis de gordura nosmembros e a massa corporalmuscular aumentou também,

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Tratamentos

In memoriamI hold it true, whate'er befall;I feel it when I sorrow most;'Tis better to have loved andlostThan never to have loved atall.

Tennyson

Uma amiga comum, a das tran-ças a quem telefono porque ou-tros amigos comuns me dizem- se anda a "portar mal" - diz-me depois de confessar que sim,se anda a portar mal - Luís, sa-bes como sou fraca - e de comorecorda com alegria os tempospassados juntos no internamen-to do Egas - Luís, lembras-te da"Joana" dos olhos azuis que tam-bém lá estava? Morreu - Prome-to vê-la, marcar encontro, aindanão o fiz, dou-lhe "bons conse-lhos" desligo.

A morte acompanha-nos sempremas esta chicoteia-me. Volto aotrabalho.

Mais tarde chega uma mensa-gem do "Gay Tranquilo", a nossaconversa foi também publicadaaqui - Obrigado, gostei do resul-tado da entrevista, gostei aindamais por saber-te, também, umadmirador da poesia deConstatino Cavafis e o facto de

o teres mencionado, é um dosmeus preferidos.

Tão Longe

Desta memória eu quereriadizer...Tão apagada agora... quasenada restaporque ficou tão longe, nos meusanos primeiros de ser homem.

Uma pele como de jasmim... Nanoitede Agosto... Era de Agosto?...Mal relembroos seus olhos... Eram, suponho,azuis...Ah sim, azuis. Azuis como safira.

CONSTANTINO CAVAFIS -(tradução de Jorge de Sena)

Este poema que quase tinhaesquecido e que muito amo traz--me a dos olhos azuis (ai estecansaço de vaguear entre a bele-za dos dois sexos).

Decido lembrá-la aos que talveztenham lido a conversa delacomigo aqui publicada mesesatrás. Cito:

"Já lá estava quando fui interna-do, chega para jantar, magrís-sima, pequena, um vime, sem

idade. Olhos azuis intensos, ves-tígios de ter sido bonita que sevêem na filha de 15 anos que avem ver no dia seguinte. A doen-ça, omnipresente, fez estragos,mas não nos olhos, no porte ena voz."....

"Voltemos à dos olhos Azuis,que são, para mim, em azul, osolhos pretos da amada peloAntónio Nobre... Que são empreto os olhos verdes deJoaninha... A Joaninha dos olhosverdes era a do Almeida Garrett.

A história da, chamemos-lhe,Joana é simultaneamente iguale única entre tantas outras, masdemais, demais, em Portugal. Éinteligente, teve um único amorcomeçado aos 14 anos, umavida partilhada até que a morte,tão cedo, aos trinta e sete anos,dos olhos dela o levou (o quefaz aqui o Camões? e o Kavafy,o poeta obcecado com as idades...para Amónio, que morreu comvinte e nove anos, em 610... natradução do Sena).

Quererá a dos olhos azuis quede cá cedo a levem a vê-lo?"

Levaram-na. Que se reencon-trem.

independentemente do regimeterapêutico ART.

O Dr. Marsolais da equipa deinves t igação c l í n i ca daTheratechnologies diz: "Feliz-mente, com os desenvolvimen-tos do tratamento, os doentescom infecção pelo VIH conse-guem controlar a replicação dovírus e vivem mais tempo; noentanto, com o aumento da lon-gevidade, torna-se importantetratar as doenças associadas aostratamentos ART, tais como oexcesso de gordura abdominalassociado à lipodistrofia. É im-portante que nestes estudos o

tesamorelin se mostre eficaz in-dependentemente da terapêuticaART e se apresente prometedorno tratamento da gorduraabdominal excessiva em doentescom lipodistrofia."

Yves Rosconi disse que "o factode quase todos os doentes esta-rem a ser tratados com NRTI, emais de metade a ser tratadoscom inibidores da protease, su-gere que estas classes conti-nuam a ser basilares nos actuaisregimes terapêuticos para oVIH". Estes dados parecemcontribuir para um forte perfildo tesamorelin como um medi-

camento que pode ser benéficoe por isso ser aprovado pelasautoridades reguladoras dosmedicamentos dentro e fora dosEstados Unidos.

Informação detalhada foipublicada no Journal of the

International AIDS Society em2 de Setembro de 2008 com otítulo Long term safety results

from the first Phase 3 Study.

Traduzido e adaptado por MarielaKumpera e Luís Mendão

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Os CAD - Centros de Aconselhamento e Detecção VIH/SIDA são centros de diagnóstico quepremitem o acesso voluntário, confidencial e gratuito ao teste do VIH e funcionam nos

seguintes locais:

CGD - 0035 0802 00004464 230 30CGD - 0035 0802 00004464 230 30

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