INFÂNCIA NA SOCIEDADE IRECEENSE: CONCEPÇÕES E … · contexto sócio-econômico-cultural no qual...

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24 MATOS, Joseane Conceição de.; CAMPOS, Naara Ferreira. INFÂNCIA NA SOCIEDADE IRECEENSE: CONCEPÇÕES E GARANTIA DOS DIREITOS. REVISTA DISCENTIS. 2ª EDIÇÃO. JULHO 2013. INFÂNCIA NA SOCIEDADE IRECEENSE: CONCEPÇÕES E GARANTIA DOS DIREITOS Joseane Conceição de Matos 1 Naara Ferreira Campos Edineiram Maciel 2 Joelma Bispo 3 Resumo: O presente artigo discute o surgimento e a construção do conceito de infância e como o direito de brincar é vivenciado na sociedade ireceense. Toma como pontos de partida estudos teóricos e observação em dois bairros na cidade de Irecê (Novo Horizonte e Centro). Neste sentido, entendemos ser pertinente conhecer o processo que o conceito de infância percorreu ao longo dos séculos, os direitos adquiridos pelas crianças respaldados em lei e conhecer como as brincadeiras acontecem em nossa cidade considerando a influência das tecnologias e da mídia, visto que na sociedade atual ambas vêm influenciando o desenvolvimento da infância. A questão principal desta pesquisa foi analisar como as crianças da sociedade ireceense vivenciam o brincar considerando o contexto sócio-econômico-cultural no qual estão inseridas, tendo como objetivo compreender o desenvolvimento da infância nesta realidade evidenciando as experiências vividas por crianças pertencentes a contextos diferentes e compará-las com mudanças que estão ocorrendo na contemponaneidade. O método aplicado durante a pesquisa foi qualitativo, através dele colhemos informações e intercalamos com os autores Ariès, Sarmento, Postman, Vygotsky, entre outros. Com o resultado da análise e o referencial teórico utilizado, percebemos como contextos diferentes, podem influenciar na maneira que as crianças vivem a sua infância. Palavras-chave: Criança; Infância; Mídia. INTRODUÇÃO Sabe-se que a infância compreende um universo muito relevante e abrange o fundamento da realidade evolutiva humana. E para compreendermos o conceito de infância existente na contemporaneidade, faz-se necessário que consigamos entender que este varia de acordo com a história e o contexto social em que as crianças estão inseridas. Na perspectiva de Borba “Se entendermos que a infância é um período em que o ser humano está se constituindo culturalmente, a brincadeira assume importância fundamental como forma de participação social e como atividade que possibilita a apropriação, a ressignificação e a reelaboração da cultura pelas crianças”. (BORBA, 2007, p.12) 1 Graduandas do 5° semestre do Curso de Pedagogia pela Universidade do Estado da Bahia - Departamento de Ciências e Tecnologias - Campus XVI- Irecê/BA. 2 Orientadora. Professora Mestre em Educação e Contemporaneidade pela Universidade do Estado da Bahia - Departamento de Ciências e Tecnologias - Campus XVI- Irecê/BA. 3 Orientadora. Professora Mestranda em Educação e Contemporaneidade pela Universidade do Estado da Bahia - Departamento de Ciências e Tecnologias - Campus XVI- Irecê/BA.

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INFÂNCIA NA SOCIEDADE IRECEENSE: CONCEPÇÕES E GARANTIA DOS

DIREITOS

Joseane Conceição de Matos

1

Naara Ferreira Campos

Edineiram Maciel2

Joelma Bispo3

Resumo: O presente artigo discute o surgimento e a construção do conceito de infância e como o

direito de brincar é vivenciado na sociedade ireceense. Toma como pontos de partida estudos teóricos

e observação em dois bairros na cidade de Irecê (Novo Horizonte e Centro). Neste sentido,

entendemos ser pertinente conhecer o processo que o conceito de infância percorreu ao longo dos

séculos, os direitos adquiridos pelas crianças respaldados em lei e conhecer como as brincadeiras

acontecem em nossa cidade considerando a influência das tecnologias e da mídia, visto que na

sociedade atual ambas vêm influenciando o desenvolvimento da infância. A questão principal desta

pesquisa foi analisar como as crianças da sociedade ireceense vivenciam o brincar considerando o

contexto sócio-econômico-cultural no qual estão inseridas, tendo como objetivo compreender o

desenvolvimento da infância nesta realidade evidenciando as experiências vividas por crianças

pertencentes a contextos diferentes e compará-las com mudanças que estão ocorrendo na

contemponaneidade. O método aplicado durante a pesquisa foi qualitativo, através dele colhemos

informações e intercalamos com os autores Ariès, Sarmento, Postman, Vygotsky, entre outros. Com o

resultado da análise e o referencial teórico utilizado, percebemos como contextos diferentes, podem

influenciar na maneira que as crianças vivem a sua infância.

Palavras-chave: Criança; Infância; Mídia.

INTRODUÇÃO

Sabe-se que a infância compreende um universo muito relevante e abrange o

fundamento da realidade evolutiva humana. E para compreendermos o conceito de infância

existente na contemporaneidade, faz-se necessário que consigamos entender que este varia de

acordo com a história e o contexto social em que as crianças estão inseridas. Na perspectiva

de Borba

“Se entendermos que a infância é um período em que o ser humano está se

constituindo culturalmente, a brincadeira assume importância fundamental

como forma de participação social e como atividade que possibilita a

apropriação, a ressignificação e a reelaboração da cultura pelas crianças”.

(BORBA, 2007, p.12)

1 Graduandas do 5° semestre do Curso de Pedagogia pela Universidade do Estado da Bahia - Departamento de

Ciências e Tecnologias - Campus XVI- Irecê/BA.

2 Orientadora. Professora Mestre em Educação e Contemporaneidade pela Universidade do Estado da Bahia -

Departamento de Ciências e Tecnologias - Campus XVI- Irecê/BA.

3 Orientadora. Professora Mestranda em Educação e Contemporaneidade pela Universidade do Estado da Bahia -

Departamento de Ciências e Tecnologias - Campus XVI- Irecê/BA.

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Dessa forma, a infância contribui para o desenvolvimento dos sujeitos, se for vivida de

maneira plena e real pelas crianças. Nesse sentido, pode ser considerada a fase mais

importante vivenciada pelo ser humano, pois é o inicio da construção gradativa do ser, visto

que solidifica o processo de formação desenvolvendo habilidades físicas, cognitivas e morais,

as quais são levadas pela vida inteira e são aperfeiçoadas no decorrer do tempo.

Segundo estudos realizados por Ariès, Sarmento, Postman, Vygotsky e artigos

estabelecidos pelo Estatuto da criança e do adolescente, uma maneira de viver a infância é

através da brincadeira. Além de ser um direito adquirido pelas crianças, o brincar é um

requisito essencial para o crescimento e desenvolvimento das mesmas, pois o aprendizado se

dá por meio das interações e do convívio com o outro, o que vai permitir a ampliação do

universo de informações, além de apropriar-se da cultura, construindo a sua identidade como

cidadã. Assim compreendemos que é indiscutível, a importância do brincar no processo de

construção do aprendizado e da apropriação da cultura pelas crianças.

Brincar é também um grande canal para o aprendizado, senão o único canal

para verdadeiros processos cognitivos. Para aprender precisamos adquirir

certo distanciamento de nós mesmos, e é isso o que a criança pratica desde

as primeiras brincadeiras transicionais, distanciando-se da mãe. Através do

filtro do distanciamento podem surgir novas maneiras de pensar e aprender

sobre o mundo. Ao brincar, a criança pensa, reflete e organiza-se

internamente para aprender aquilo que ela quer, precisa, necessita, está no

seu momento de aprender; isso pode não ter a ver com o que o pai, o

professor ou o fabricante de brinquedos propõem que ela aprenda.

(MACHADO, 2003, p.37)

De acordo com Ariès (1981), até a idade média não existia infância como a temos na

atualidade, as crianças eram percebidas pela sociedade da época como adultos em miniatura.

Só depois de muito tempo os adultos perceberam a necessidade de tratar as crianças de

maneira diferente, surgindo então a noção de “vergonha moralista” citada por Postman (1999)

onde a criança precisava ser protegida dos segredos e assuntos do mundo adulto, percebendo

também a necessidade de escolarização, cuidado e proteção à criança. Ao longo deste

processo de surgimento da infância, a criança adquiriu direitos e respeito às suas

individualidades.

Enquanto uma parcela pequena da sociedade tem uma condição financeira

considerável, outra grande parte não tem nem mesmo o direito a alimentação e moradia,

deixando visível uma diferença social existente entre os ricos e os pobres. Neste sentido

percebemos que as crianças são as grandes prejudicadas com os problemas sociais, por não

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conseguirem se defender sozinhas e por estarem expostas a todo tipo de vulnerabilidade

social.

A conquista de viver a infância e a garantia de direitos assegurados por lei aguçou a

nossa curiosidade em compreender acerca de como estas vivenciam a infância através do

brincar em nossa cidade, procurando evidenciar as experiências vividas por crianças

pertencentes a realidades sócio-econômica-culturais diferentes e compará-las com as

mudanças que estão ocorrendo na atual sociedade, intercalando com alguns direitos que são

assegurados às mesmas.

A partir dos estudos realizados e das informações obtidas é pertinente fazermos um

breve levantamento do processo de surgimento do conceito de infância e as possíveis

modificações que vem sofrendo levando em consideração a influência da mídia neste

percurso. Neste sentido, realizamos uma observação em dois bairros na cidade de Irecê para

percebermos como estas crianças vivenciam a infância e o brincar considerando as diferenças

existentes entre estes dois contextos sociais.

O SURGIMENTO DA INFÂNCIA E O SEU PROCESSO EVOLUTIVO

A noção de infância varia de acordo com o meio em que a criança está inserida. Na

idade média não existia a consciência de infância que temos hoje, nem tão pouco as

particularidades deste ser. As crianças eram tratadas como adultos em miniatura. Nesse

período a criança estava à margem da família, e só era considerada um sujeito quando

alcançava a maioridade, antes disso, elas eram desconhecidas, sendo de certa maneira

descriminalizadas.

Ariès (1981) realiza um estudo da formação e evolução da história social através da

arte, analisando imagens, quadros, retratos, monumentos desde o século XII, e constata que

até o fim do século XIII as crianças não são representadas como tais. Elas são mostradas em

atitudes e comportamentos adultos, e o próprio corpo das figuras infantis tinha as

características de um adulto. Evidencia-se dessa forma a indiferença sofrida pela infância e a

perda de suas características próprias.

Até por volta do século XII, a arte medieval desconhecia a infância ou não

tentava representá-la. É difícil crer que essa ausência se devesse à

incompetência ou à falta de habilidade. É mais provável que não houvesse

lugar para infância nesse mundo. (ARIÈS 1981, p.17).

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Neste período os adultos não consideravam a inocência das crianças e tinham a

“prática familiar de associá-las às brincadeiras sexuais dos adultos, isto fazia parte do costume

da época e não chocava o senso comum” (ARIÈS 1981, p.77). Visto que, eles não concebiam

diferença das características entre adultos e crianças: “no mundo das fórmulas românticas, e

até o fim do século XIII, não existem crianças caracterizadas por uma expressão particular, e

sim homens de tamanho reduzido” (ARIÈS, 1981, p. 51).

Ainda de acordo com Ariès, na idade média os adultos consideravam que

A primeira idade é a infância que planta os dentes, e essa idade começa de

quando nasce e dura até os sete anos, e nessa idade aquilo que nasce é

chamado de enfant (criança), que quer dizer não falante, pois nessa idade a

pessoa não pode falar bem nem formar perfeitamente as palavras. (ARIÉS,

1981, p. 36).

Neste sentido a infância era caracterizada pela falta de racionalidade e de

comportamentos adequados, sendo a criança vista como um ser incapaz de pensar.

A concepção de infância foi mudando ao longo dos séculos, e depois da idade média

surgiu a noção de vergonha moralista. O que foi significativo porque protegeu as crianças do

mundo adulto, especialmente da sexualidade, e posteriormente algumas famílias,

influenciadas pela religião, começaram a dar atenção à idade e ao crescimento da criança,

estabelecendo com isso novos significados para a noção de moralismo, o que ocasionou a

criação de escolas com intuito de ensinar virtudes, valores, os quais asseguraram a criança

como um ser diferente do adulto, com suas particularidades. Postman revela que

Os romanos começaram a estabelecer uma conexão, aceita pelos modernos,

entre a criança em crescimento e a noção de vergonha. Foi este um passo

crucial na evolução do conceito de infância. A questão é, simplesmente, que

sem uma noção bem desenvolvida de vergonha a infância não pode existir.

(1999, p.22 e23).

O autor afirma que com a invenção da prensa tipográfica houve uma separação

daqueles que sabiam ler, ou seja, os adultos, daqueles que ainda estavam se alfabetizando, as

crianças. Assim, houve outra mudança de estrutura social, e as crianças então passaram a

serem vistas não mais como uma miniatura de adulto, mas como um adulto ainda não

formado.

Depois da prensa tipográfica, os jovens teriam de se tornar adultos e, para

isso, teriam de aprender a ler, entrar no mundo da tipografia. E para realizar

isso precisariam de educação. Portanto a civilização europeia reinventou as

escolas. E ao fazê-lo, transformou a infância numa necessidade.

(POSTMAN, 1999, p.50).

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Esta invenção veio a contribuir para a diferenciação da vida adulta da fase infantil,

sendo um marco divisório importante entre estes dois mundos, com tantas diferenças e tão

pouco percebido anteriormente. Com isso a infância começava ter importância e as

particularidades infantis começavam a ser respeitadas.

A CONQUISTA DOS DIREITOS

No século XVIII o iluminismo contribuiu para anunciar a ideia de infância, desde

então tivemos contribuições importantes que nos ajudaram a compreender os estágios das

crianças. Vários teóricos trouxeram subsídios para que pudéssemos compreender o

desenvolvimento das mesmas, a exemplos das concepções a seguir.

John Locke entendia as crianças como tábulas rasas e dessa maneira os pais, mestres e

governo seriam responsáveis pelos escritos em suas mentes, por isso se uma criança viesse a

fracassar o fracasso seria dos pais.

Rousseau também estabeleceu que a vida intelectual e emocional da criança é

importante. Para ele a infância estabelece o estágio da vida em que o homem mais se

aproxima do seu estado de natureza demonstrando espontaneidade, pureza, vigor e alegria.

Freud revelou haver uma estrutura e conteúdos especiais na mente da criança, na sua

visão a mente das crianças está penetrada de complexo e pulsões psíquicos instintivos.

Os estudos de Piaget sobre o universo infantil revelaram que a lógica e formas de

pensar de uma criança são completamente diferentes da lógica dos adultos. O autor identifica

quatro estágios de evolução mental de uma criança, cada estágio é um período onde o

pensamento e o comportamento infantil é caracterizado por uma forma específica de

conhecimento e raciocínio. Sendo assim, vivenciar a infância é fundamental para estruturação

humana.

Na perspectiva de Vygotsky o convívio social é fundamental para a construção do

sujeito, pois fornece oportunidade de adquirir conhecimento a partir das trocas sociais. Nesse

sentido reconhece as crianças por suas individualidades e focaliza que o desenvolvimento das

mesmas ocorre através da interação entre os sujeitos. Diante disso acreditamos que essa

interação é um instrumento que favorece a aprendizagem ao longo da vida.

No decorrer deste processo a criança adquiriu reconhecimento, tornando-se um ser de

respeito, e formando-se dentro do convívio familiar como um ser especial, com necessidades

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diferentes dos adultos. Assim aos poucos foram se tornando cidadãs visíveis, com seus

direitos respaldados em leis e normas que asseguravam a sua proteção.

Durante o período de construção social e política do Brasil, foram constituídas leis que

favoreceram consideravelmente a sua transformação. A Constituição Federal de 1988 definiu

os direitos de todos os cidadãos, e favoreceu a criação do Estatuto da Criança e do

Adolescente – ECA (BRASIL, 2002). Com ele os beneficiados (as crianças) passaram a ser

vistos como pessoas em desenvolvimento, sujeitos de direitos e destinatários de proteção

integral. Os artigos 15, 16, 17 e 18 do ECA abrangem o direito à Liberdade, ao Respeito e à

Dignidade, direitos estes, que contribuem para mudanças nos comportamentos sociais e que

prevê a garantia de um crescimento físico, psíquico, intelectual e afetivo, com liberdade e

dignidade às crianças.

Apesar da Constituição e do ECA assegurarem os direitos da criança, os meios de

comunicação mostram diariamente fatos revelando o não cumprimento desses direitos, como

crianças morando nas ruas, escolas superlotadas, mal estruturadas, professores

despreparados e mal remunerados para exercer a função, preconceito de toda ordem, número

de homicídios de crianças e adolescentes altíssimos, exploração sexual, criminalidade

exercida por crianças, e consequentemente, projeto de redução da maioridade penal, dentre

muitos outros fatos. Esta triste e alarmante realidade nos leva a pensar que o previsto em lei

fica somente no papel não sendo aplicado em sua plenitude, deixando, em muitos casos, as

crianças à margem de uma sociedade que muitas vezes não contribui para o cumprimento

destes direitos.

A INFLUÊNCIA DA MÍDIA NO DESENVOLVIMENTO DA INFÂNCIA

A atual sociedade vive num contexto de inúmeras transformações, políticas,

econômicas, sociais e culturais. Em meio a essas mudanças, a mídia e as inovações

tecnológicas se transformaram em grandes mediadores sociais provocando impactos nas

relações entre os indivíduos, deslocando identidades e agregando novos valores. Neste cenário

de transitoriedade as crianças são os seres mais afetados, uma vez que o meio exerce

influência na construção do seu desenvolvimento. Segundo Vygotsky (1998) “o

desenvolvimento só se efetiva no meio social e é nele que a criança realiza a apropriação dos

comportamentos humanos”. Nesse sentido, a influência midiática pode estar construindo um

novo conceito de infância, limitando as crianças a ficarem “robotizadas” frente à suas

novidades tecnológicas.

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Após a invenção da prensa tipográfica, que possibilitou uma dicotomia entre o mundo

infantil e o mundo adulto, houve inúmeras e extraordinárias invenções tecnológicas das quais

podemos destacar a televisão, que veio modificar a divisão construída ao longo dos tempos

entre o que é permitido ou não ao público infantil. Segundo Postman

A televisão destrói a linha divisória entre infância e idade adulta porque não

requer treinamento para apreender a sua forma, não faz exigências

complexas nem à mente nem ao comportamento, e principalmente não

segrega seu público alvo. (1999, p. 94).

A televisão trata o público de maneira homogênea e o acesso a programas inadequados

se torna possível através da fácil manipulação do objeto e da falta de controle dos

responsáveis. Existe uma programação própria de acordo com o horário e a idade da criança,

no entanto, o desrespeito a essa classificação as deixam expostas aos segredos do mundo

adulto porque “biologicamente estamos todos equipados para ver e interpretar imagens e para

ouvir a linguagem que se torna necessária para contextualizar a maioria dessas imagens”

(POSTMAN, 1999, p. 94), o que permite que qualquer criança possa ter acesso a conteúdos

inadequados à sua idade através da televisão.

Neste contexto de inúmeras “inovações”, a criança recebe muitas informações

advindas da sociedade, dos meios de comunicação, em especial da televisão, a qual muitas

vezes limita o relacionamento entre as crianças, visto que ocorre uma interação do sujeito com

o objeto, o que pode impedir também o desenvolvimento social da criança. A televisão utiliza

de recursos de alta tecnologia que seduz as crianças, deixando-as cada vez mais dependentes

deste objeto, colocando as relações interpessoais e as brincadeiras com outras crianças em

segundo plano. A mídia no geral desperta curiosidade com programas inadequados para

crianças, exercendo fascínio sobre elas podendo terminar roubando a inocência típica da

idade.

Através dos programas televisivos inadequados para sua faixa etária, incentivam as

crianças a se vestirem semelhante aos adultos, as meninas em geral usam sapatos altos,

maquiagem excessiva. Até mesmo as festas de aniversário sofreram rupturas, os tempos

modernos levam todos para um salão de beleza onde fazem unhas, cabelos, meninas imitam

as top models; os imitam meninos os craques de futebol com penteados e cortes

extravagantes. Criam ídolos produzidos pela mídia, que muitas vezes não representam bons

exemplos, idealizam uma vida de celebridade para ganhar dinheiro, geralmente influenciados

pelos pais e valores midiáticos. Diante disso, parece que o mundo mágico das brincadeiras

infantis mudou o sentido e está ganhando outra roupagem.

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Segundo Vygotsky (1998) a criança precisa interagir com outras, através das

brincadeiras, pois este contato contribui para a construção dos sujeitos e de conhecimentos

que são adquiridos por meio das descobertas e significados por elas realizados, além de

contribuir no relacionamento da criança com os objetos. “A criança vê um objeto, mas age de

maneira diferente em relação ao que vê. Assim, é alcançada uma condição que começa a agir

independentemente daquilo que vê” (p. 127), fazendo uma relação diferenciada entre o ver e o

agir atribuindo significados advindos desta interação.

A INFÂNCIA NA SOCIEDADE IRECEENSE, E A CONTRIBUIÇÃO DO CONTEXTO

SOCIAL E CULTURAL

Observando as brincadeiras de crianças em dois bairros na cidade de Irecê (Centro e

Novo Horizonte). Escolhemos estes bairros como foco de pesquisa, pois partimos do

pressuposto que os indivíduos, enquanto seres que se constituem na relação com o outro,

podem ser influenciados e sofrem interferências da sociedade, neste sentido, escolhemos estes

bairros por serem opostos em relação a condição financeira e social. Constatamos que, mesmo

se tratando de uma única cidade, consequentemente uma mesma cultura, essas brincadeiras

ocorrem de forma desigual.

A cidade de Irecê tem uma população 66.181 habitantes, está situada a 478 km da

cidade de Salvador, localizada na Chapada Diamantina Setentrional, abrangendo toda a área

do Polígono das Secas e pertence à bacia do São Francisco. O município de Irecê é

reconhecido pelo grande potencial agrícola e agropecuário, tendo recebido na década de 1980

e 1990 o título de "Cidade do Feijão" pelas grandes safras colhidas nesta região, tendo sido

considerado o primeiro produtor de feijão do nordeste, e o segundo do País. (Rubem, 2006)

A economia do município e da região é baseada na produção agrícola de policultura,

tem como destaque além da produção de feijão, também há produção de alimentos por meio

da cultura irrigada de cebola, tomate, beterraba, cenoura e pinha. Além destes produtos

destaca-se a pecuária e o comércio local, que se tornou independente da produção agrícola,

tornando-se logo autossuficiente e crescendo cada dia mais. Seu comércio é destaque no

cenário estadual com muitas lojas de todos os segmentos e vários grupos empresariais

importantes, que só têm contribuído para o crescimento da cidade e da região, passando a ser

conhecida também como polo de vestuário, onde muitos comerciantes locais passaram a ser

atacadistas e varejistas, contribuindo assim para economia do município. O município

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também é polo de prestação de serviços na área de saúde, da rede bancária e empresas

estatais.

Na área da educação a cidade possui um campus da Universidade do Estado da Bahia

(UNEB), um campus do Instituto Federal de Educação Ciência e Tecnologia da Bahia

(IFBA), e um polo da Universidade Federal da Bahia (UFBA), contando ainda com

faculdades particulares - Anhanguera, Unidades de Ensino Superior do Sertão da Bahia

(UESSBA), Universidade Norte do Paraná (UNOPAR), Sistema Educacional de Ensino a

Distância (EADCON) e Faculdade de Tecnologias e Ciências (FTC) todas oferecendo ensino

na modalidade à distância. No ensino básico, conta com escolas públicas estaduais e

municipais, e ainda escolas particulares que também contribuem de forma significativa para a

formação das crianças de Irecê. Faz-se necessário destacar que no bairro Novo Horizonte

localizado na área periférica, não encontramos nas suas imediações nenhuma Universidade,

Escola Estadual ou Escola particular, o que pode demonstrar falta de interesse e descaso das

políticas públicas e sociais com as pessoas que moram num bairro periférico, esta perspectiva

favorece ainda mais para a legitimação das desigualdades sociais, afetando principalmente as

crianças que são os seres mais prejudicados com tais banalizações.

O trabalho de observação foi realizado nos bairros Novo Horizonte e Centro,

procurando perceber como as crianças vivenciam a infância nestes dois contextos diferentes.

O bairro Novo Horizonte é situado na parte periférica da cidade, e conta com mercadinhos,

um posto de saúde, bares e residências. Em algumas ruas a violência é frequente tirando a

segurança das pessoas, enquanto em outras ruas a violência é pouco percebida, assim as

crianças têm momentos de liberdade para brincar nas ruas e praças. Durante a semana as

crianças utilizam a praça para brincar, mas nos finais de semana, por terem em suas

imediações alguns bares, música muito alta e o consumo de bebidas alcoólicas, termina

impossibilitando o acesso de crianças a estes espaços, que geralmente não são adaptados às

brincadeiras infantis, por não possuir equipamentos que as auxilie na atividade do brincar.

Neste bairro não existe quadra poliesportiva e nem parquinho, deste modo a crianças têm

como opção somente as ruas sem segurança, as praças não equipadas, o âmbito familiar e um

terreno baldio que fica ao lado do bairro para realizar as suas atividades e brincadeiras.

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A grande maioria da população deste bairro tem pouco poder aquisitivo e

consequentemente, nem todos têm acesso às novas tecnologias que surgem no mercado.

Assim, as crianças pertencentes a esta realidade com tão pouco investimento, não têm acesso

a games, internet e brinquedos eletrônicos em suas casas, isso só vindo a acontecer quando

pagam para ter acesso em outros ambientes que disponibilizam estas tecnologias, e nem

sempre isto é possível pela falta de recursos financeiros. Por conta disto, as crianças deste

bairro buscam diversão através das brincadeiras ao ar livre, e na companhia dos colegas; vale

ressaltar que estas crianças revivem antigas brincadeiras o que é tão pouco visto nos dias

atuais. Desenvolvem brincadeiras como amarelinha, futebol, elástico, andam de bicicleta e

mais rotineiramente empinam pipa. Estas atividades ocorrem quase sempre no final da tarde,

brincam livremente e exploram bem a rua onde moram. Geralmente as brincadeiras reúnem

meninas e meninos, com idade de cinco a catorze anos, e quase sempre sem supervisão de

adultos. O relacionamento entre as crianças ocorre de forma harmoniosa e percebemos

afetividade nas relações e autonomia nas brincadeiras através de palavras e atitudes. Esses

momentos são relevantes para o desenvolvimento das crianças.

No centro da cidade estão situados vários estabelecimentos comerciais, praças, clínicas

particulares, bares, um hospital regional e residências. Apesar de o bairro ser bem localizado,

as suas praças (João XXIII, Góes Calmon, do Feijão, Caraíbas e do Regional) não são

atrativas para as crianças, pois não dispõem de recursos como parque, quadra, campo, ponto

cultural e objetos que representem o universo infantil, que permitam as crianças explorarem o

local como ponto de lazer. A infraestrutura das praças não concebe as crianças como seres de

direitos, e esse local público acaba sendo não adequado para crianças uma vez que nas

imediações estão situados comércio e bares. As referidas praças são utilizadas por jovens e

adultos como pontos de encontros.

Praça Novo Horizonte

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O centro geralmente é habitado por pessoas de poder financeiro um pouco mais

elevado que as classes populares, geralmente esse bairro recebe mais investimentos por parte

do poder público e dos setores privados.

Diferentemente do outro bairro estudado, registramos poucas crianças brincando nas

ruas. Ao longo de duas semanas de observação, somente por duas vezes, notamos a presença

de crianças brincando, uma vez de bola, na calçada, influenciadas por um jogo de futebol que

estava sendo transmitido na televisão. Em outro momento brincando com carrinhos também

na calçada da casa de uma das crianças em questão. Vale ressaltar que as brincadeiras eram

supervisionadas o tempo inteiro pela mãe de uma das crianças.

A observação nos mostra que a influência tecnológica e midiática pouco altera a vida

das crianças do bairro Novo Horizonte. Elas exercem o pleno direito do brincar o que

desenvolve suas habilidades físicas, sociais, intelectuais e afetivas, mas infelizmente o direito

assegurado pelo Artigo 18 do (ECA) “é dever de todos velar pela dignidade da criança e do

adolescente, pondo-os a salvo de qualquer tratamento desumano, violento” fica violado, pois

o bairro não oferece muita segurança. O bairro referido não tem recursos financeiros que lhes

permitem utilizar de brinquedos recreativos e das inovações atuais, e isso pode influenciar na

maneira que estas crianças vivenciam a infância, oportunizando uma maior interação com o

outro.

Falamos anteriormente das transformações tecnológicas e da influência midiática na

vida das pessoas, em especial das crianças, e ao observamos as brincadeiras das crianças no

centro da cidade de Irecê, nos parece haver alguns impactos da tecnologia na vida dessas

crianças. Visto estes aspectos, a observação no centro da cidade evidencia que, a infância

parece ter adquirido uma nova roupagem, a da tecnologia. Isso foi evidenciado, pois as

Praça João XXIII Praça do Regional

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crianças passam a maior parte do tempo livre dentro de casa onde provavelmente têm acesso a

jogos de computador, vídeo game e programação televisiva, as brincadeiras coletivas são

raras. Segundo Sarmento “a infância tem tempos múltiplos, em diferentes épocas, sociedades

e contextos, por isso a infância se caracteriza como infâncias, cada uma com diferente

significação e singularidade” (2001, p.14). Nesse sentido o conceito se torna variável

conforme a colocação da criança na classe social e na sociedade em geral. Essa nova

roupagem da infância, adquirida pelas novidades tecnológicas merece uma atenção acentuada,

pois estando envolvidas pela tecnologia, as brincadeiras das crianças acontecem de forma

solitária.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O objetivo deste trabalho foi perceber as características da infância através do brincar

das crianças de contextos sociais diferentes, procurando evidenciar as experiências vividas

pelas mesmas e compará-las com as mudanças que estão ocorrendo na atual sociedade,

intercalando com alguns direitos que são assegurados às crianças. Tendo como base teórica

Ariès, Postman, Machado, Vygotsky, Sarmento e o ECA, os dados colhidos foram

comentados a partir destes autores. As informações obtidas com a pesquisa evidenciaram que

o meio social em que a criança está inserida contribui na maneira como esta vivencia a

infância.

As inovações tecnológicas atuam de maneira presente na vida das crianças, em

especial das que moram no centro da cidade, que geralmente fazem parte das classes média e

alta. O alto poder aquisitivo das famílias favorece para que estas cresçam num meio de

inovações, que influenciam no desenvolvimento da infância e consequentemente na maneira

em que estas brincam. Agregados à nova roupagem tecnológica as crianças passam a maior

parte do tempo livre em frente à televisão e fazendo uso destes recursos. As brincadeiras ao ar

livre foram pouco vistas, ficando notório que estão cada vez mais restritas, acarretando em

uma transformação na maneira como vivenciam a infância.

As crianças residentes no bairro periférico, devido a pouca renda da família, não têm

acesso a novidades tecnológicas, o que de alguma forma possibilita que brinquem de maneira

livre e autônoma, devido a isso, estão rotineiramente revivendo brincadeiras antigas como

amarelinha, pula corda entre outras. A influência midiática não impede que as crianças

brinquem, e constatamos com a observação que estas interagem entre si, construindo elos

significativos que permitem usufruir de uma infância real a partir do meio social.

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Fica notório que a influência dos meios de comunicação, das tecnologias e da

televisão em especial, tem grande contribuição para o desenvolvimento da infância no centro

da cidade. Contrapondo a isto, a realidade vivida pelas crianças do bairro Novo Horizonte,

mostrou que estas vivenciam a infância de maneira diferente com pouca influência da mídia.

Diante disso, podemos dizer que "a infância está em processo de mudança, mas mantém-se

como categoria social, com características próprias" (SARMENTO, 2004, p.19).

Percebe-se que a ideia de infância foi mudando ao longo dos séculos, e ainda hoje

essas mudanças são reflexos dos contextos sociais. Diante das inúmeras inovações midiáticas

e tecnológicas tornou-se difícil identificar a melhor maneira das crianças vivenciarem a

infância, frente a esse novo paradigma. Sarmento (2006) revela que “o lugar da infância na

contemporaneidade é um lugar de mudança, em que a cada dia vai se reconfigurando e

ganhando novo significado". Diante disto cabe a nós entendermos este processo mutável, para

que possamos reconhecer e contribuir com os diferentes modelos de infâncias.

Esperamos a partir dos resultados obtidos colaborarmos com futuras pesquisas, que

assim como esta buscam mostrar como as crianças de dois contextos diferentes vivem a

infância.

REFERÊNCIAS

ARIÈS, Philippe. História Social da Criança e da Família. 2° ed. Rio de Janeiro: LTC,

1981.

BORBA, Ângela M. A brincadeira como experiência de cultura na educação infantil. In:

BRASIL/MEC – Revista Criança do professor de educação infantil – Brasília: Ministério da

Educação, Secretaria de Educação Básica, 2007. Disponível em

<http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/Educinf/revista44.pdf> Acesso em 11/03/2013.

BRASIL, Ministério da Justiça. Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente

- CONANDA. Estatuto da Criança e do Adolescente. Lei N.8.069/1990. Brasília, 2002.

Disponível em <http://portal.mj.gov.br/sedh/ct/conanda/eca3.pdf> Acesso em 02/12/2011.

MACHADO, M. M. O brinquedo-sucata e a criança. Edições Loyola, 2003.

POSTMAN Neil. O desaparecimento da infância; tradução de Suzana Menescal de Alencar

Carvalho e José Laurenio de Melo. – Rio de Janeiro: Graphia,1999.

RUBEM, Jackson. Um Pedaço Histórico da Bahia. Irecê, 2006. Disponível em

<http://irece.ba.gov.br/dados-geograficos> Acesso em 16/02/2012.

SARMENTO, M. J. As culturas da infância nas encruzilhadas da segunda modernidade.

In: SARMENTO, M.J.; CERISARA, A.B. Crianças e miúdos: perspectivas sociopedagógicas

da infância e educação. Porto/PT: Asa Editores, 2004.

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SARMENTO, M. J. A globalização e a infância: impactos na condição social e na

escolaridade. In GARCIA. São Paulo, 2006.

VYGOTSKY, L. S. Formação social da mente. Rio de Janeiro: Martins Fontes, 1998.