Infancia_e_nostalgia

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infância e nostalgiainfância e nostalgia

Andréa Maciel AquinoAndréa Maciel Aquino

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NOSTALGIAo que é?

Nostos (voltar para casa) + algos (dor)

1688, Suíça

Século XIX, uso generalizado

Século XX, nostalgia como interesse da psiquiatria: do espaço para o tempo

Voltar para casa não é voltar a um lugar, mas a um tempo (a infância, por exemplo)

Mas o tempo não volta! Nostalgia como reação a “essa triste realidade”

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PASSADO IMAGINADOna nostalgia...

Experiências idealizadas através da memória e do desejo

Inversão histórica (Bakhtin apud Hutcheon, 1998): o ideal que não é vivido no presente é projetado no passado

Insatisfação com o presente, idealização do passado

Passado “memorializado”; cristalizado em “momentos preciosos” e esquecimentos; passado ordenado, bonito, compreensível, em oposição ao presente anárquico, feio e difícil

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MEUS OITO ANOS (Casimiro de Abreu, 1857)

Oh! que saudades que tenhoDa aurora da minha vida,Da minha infância queridaQue os anos não trazem maisQue amor, que sonhos, que

flores,Naquelas tardes fagueiras,A sombra das bananeiras,Debaixo dos laranjais. Como são belos os diasDo despontar da existênciaRespira a alma inocência,Como perfume a flor;O mar é lago sereno,O céu um manto azulado,O mundo um sonho dourado,A vida um hino d’amor! Que auroras, que sol, que vidaQue noites de melodia,Naquela doce alegria,Naquele ingênuo folgarO céu bordado de estrelas,A terra de aromas cheia,As ondas beijando a areiaE a lua beijando o mar!

Oh dias de minha infância,Oh meu céu de primavera!Que doce a vida não eraNessa risonha manhãEm vez das mágoas de agora,Eu tinha nessas deliciasDe minha mãe as caríciasE beijos de minha, irmã!

Livre filho das montanhas,Eu ia bem satisfeito,Pés descalços, braços nus,Correndo pelas campinasA roda das cachoeiras,Atrás das asas ligeirasDas borboletas azuis! Naqueles tempos ditososIa colher as pitangas,Trepava a tirar as mangasBrincava beira do mar!Rezava as Ave Marias,Achava o céu sempre lindoAdormecia sorrindoE despertava a cantar!

Oh que saudades que tenhoDa aurora da minha vidaDa, minha infância queridaQue os anos não trazem maisQue amor, que sonhos, que

flores,Naquelas tardes fagueiras,A sombra das bananeiras,Debaixo dos laranjais!

Infância:

- Vida livre em meio à natureza

- Felicidade gratuita, alma inocente

- Amor e carinho dos mais íntimos

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Recife Não a Veneza americanaNão a Mauritsstad dos armadores das Índias

OcidentaisNão o Recife dos MascatesNem mesmo o Recife que aprendi a amar depois -

Recife das revoluções libertáriasMas o Recife sem história nem literaturaRecife sem mais nadaRecife da minha infância

A Rua da União onde eu brincava de chicote-queimado e partia as vidraças da casa de dona Aninha Viegas

Totônio Rodrigues era muito velho e botava o pincenê na ponta do nariz

Depois do jantar as famílias tomavam a calçada com cadeiras, mexericos namoros risadas

A gente brincava no meio da ruaOs meninos gritavam:

Coelho sai!Não sai!

[...] Rua da União...Como eram lindos os nomes das ruas da minha

infânciaRua do Sol(Tenho medo que hoje se chame de dr. Fulano de

Tal)

[...] Me lembro de todos os pregões:Ovos frescos e baratosDez ovos por uma pataca

Foi há muito tempo... A vida não me chegava pelos jornais nem pelos

livros

[...] A vida com uma porção de coisas que eu não entendia bem

Terras que não sabia onde ficavamRecife...

Rua da União... A casa de meu avô...

Nunca pensei que ela acabasse!Tudo lá parecia impregnado de

eternidadeRecife...

Meu avô morto.Recife morto, Recife bom, Recife

brasileiro como a casa de meu avô.

EVOCAÇÃO DO RECIFE (Manuel Bandeira, 1925)

Infância:

- Brincadeiras

- Criança no espaço urbano

- Interação entre gerações

- Comunicação sem mediação

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“PRIMEIRA INFÂNCIA” pontos em comum

Nostalgia com referência a lugares físicos (natureza ou espaço urbano/Recife/casa do avô)

Nostalgia com referência a pessoas (mãe/irmã ou avô)

Brincadeiras e interações não-midiatizadas com o mundo

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“NOVA INFÂNCIA”ainda a nostalgia

JOÃO E MARIA(Chico Buarque e Sivuca, 1977)

Agora eu era o heróiE o meu cavalo só falava inglêsA noiva do cowboyEra vocêAlém das outras trêsEu enfrentava os batalhõesOs alemães e seus canhõesGuardava o meu bodoqueE ensaiava um rockPara as matinês [...]

Camone Boy! Apesar de tudo, o herói resiste.(Jornal do Commercio, 27 de dezembro de 1987)

[...]O «Camone Boy» continua sendo a grandemagia do heroísmo nas brincadeira infantis,resiste a tudo e foi certamente esta incrívelcapacidade de sobreviver que encheu ChicoBuarque de nostalgia quando ele contou ecantou as brincadeiras de «Camone Boy»: agoraeu era o herói e meu cavalo só falava inglês... EChico ainda resumiu de forma magistral todos osvalores de uma época, «pela minha lei eu eraobrigado a ser feliz [sic]». Sim, a lei e a ordemvinham de um senso natural de justiça. Serbandido «não é direito» setenciou um garoto emplena brincadeira de mocinho. Bons temposaqueles, dizem com saudade os cinquentões.De qualquer forma, o «camone boy» resistecomo brincadeira ocidental e democrática, épuro heroísmo mágico, insuperável, que asnaves espaciais, as pistolas a laser, os robôs ouos detetives super equipados não conseguem superar. Eles imitam o velho e solitário cowboy,com outras roupagens, mas certamente com menos charme. [...]

Infância:

- Tempo de fantasia/brincadeiras

- Referência à mídia

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NOSTALGIA CRIANÇAanos 80 e 90

“Este vídeo foi criado para as pessoas que tiveram sua infância nestas décadas tão maravilhosas... Pode ser nostalgia, mas o que importa é relembrar os brinquedos e brincadeiras, os filmes e seriados, os desenhos animados, as novelas, as músicas e bandas, as guloseimas e muito mais. O vídeo está aberto a sugestões, opiniões e críticas. Portanto, não deixe de dar o seu comentário.”

Comentários: “O que posso dizer?? Simplesmente maravilhoso, mostrei aos

meus filhos o que foi ser criança na década de 80 e 90” “Indiferente de ser nostalgia, amo me sentir assim como me sinto

agora depois de ver isso e me lembrar de minha infância toda. obrigada querido lindo lindo”

“Apesar das imagens passarem muito rápido, adorei e mostrei para os meus filhos e eles o tempo todo falando:O que é isso mãe??”

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ARES DE CONCLUSÃOque infâncias são essas?

Memória midiática Uso dos produtos como gatilho para trazer ao presente

sentimentos/lembranças/idealizações da infância em oposição aos conflitos da vida adulta

Reação ao discurso “década perdida”? Negociação entre memórias coletivas e individuais através de uma

base comum: o consumo Elementos constitutivos da memória individual e coletiva:

acontecimentos, personagens, lugares e PRODUTOS MATERIAIS E SIMBÓLICOS

INFÂNCIA (Drummond, 1930)Meu pai montava a cavalo, ia para o campo. Minha mãe ficava sentada cosendo. Meu irmão pequeno dormia. Eu sozinho menino entre mangueiras. lia a história de Robinson Crusoé, comprida história que não acaba mais.

[...] E eu não sabia que minha história era mais bonita que a de Robinson Crusoé.

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HUTCHEON, Linda. Irony, Nostalgia, and the Postmodern. Disponível em: <http://www.library.utoronto.ca/utel/criticism/hutchinp.html>. Acesso em: 22 nov 2009.

FONTES, Maria Helena Sansão. Mensagem: a nostalgia e o mito. O Marrare, Rio de Janeiro, n. 7, p. 59-66, 2006. Disponível em: <http://www.omarrare.uerj.br/numero7/pdfs/artigos08.pdf>. Acesso em: 22 nov 2009.

POLLAK, Michael. Memória e identidade social. Estudos históricos, Rio de Janeiro, v. 5, n. 10, p. 200-212, 1992.

______________. Memória, esquecimento, silêncio. Estudos históricos, Rio de Janeiro, v. 2, n. 3, p. 3-15, 1989.

REFERÊNCIAS