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CENTRO UNIVERSITÁRIO BARÃO DE MAUÁ HELDER ROBERTO DE CARVALHO INFLUÊNCIA E DINHEIRO: um olhar sobre Iria Alves Ferreira e as relações políticas em Ribeirão Preto nos tempos áureos do café (1896 – 1920) Ribeirão Preto 2009

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Este trabalho pretende analisar os mecanismos utilizados por Iria Alves Ferreira para conquistar e manter o poder nos tempos áureos do café em Ribeirão Preto. Acreditamos que suas relações econômicas, políticas e sociais foram fundamentais para que, mesmo sem a possibilidade de ocupar cargo público, Iria pudesse conquistar e manter o título de ‘Rainha do Café’.

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CENTRO UNIVERSITÁRIO BARÃO DE MAUÁ HELDER ROBERTO DE CARVALHO

INFLUÊNCIA E DINHEIRO: um olhar sobre Iria Alves Ferreira e as relações políticas em Ribeirão

Preto nos tempos áureos do café (1896 – 1920)

Ribeirão Preto

2009

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HELDER ROBERTO DE CARVALHO

INFLUÊNCIA E DINHEIRO: um olhar sobre Iria Alves Ferreira e as relações políticas em Ribeirão

Preto nos tempos áureos do café (1896 – 1920)

Monografia apresentada ao Centro Universitário Barão de Mauá como pré-requisito para obtenção do grau de Licenciatura Plena em História, sob orientação do Professor Ms. Fábio Augusto Pacano.

Ribeirão Preto 2009

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FICHA CATALOGRÁFICA

94 Carvalho, Helder Roberto de. C324p Influência e dinheiro: um olhar sobre Iria Alves Ferreira e as relações políticas em Ribeirão Preto nos tempos áureos do café (1886 – 1920) / Helder Roberto de Carvalho. Ribeirão Preto, 2009. 69 fl.: il.

Trabalho de Conclusão de Curso ( Graduação em História, Licenciatura Plena) – Centro Universitário Barão de Mauá. Ribeirão Preto. (SP)

Orientador: Ms. Fabio Augusto Pacano. 1. História 2. Articulações Políticas 3. Iria Alves Ferreira.

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HELDER ROBERTO DE CARVALHO

INFLUÊNCIA E DINHEIRO: um olhar sobre Iria Alves Ferreira e as relações políticas em Ribeirão

Preto nos tempos áureos do café (1896 – 1920)

Monografia apresentada ao Centro Universitário Barão de Mauá como pré-requisito para obtenção do grau de Licenciatura Plena em História, sob orientação do Professor Ms. Fábio Augusto Pacano.

Aprovado em: ___/___/____ Licenciado em História

Banca Examinadora

Orientador: _______________________________________________ Professor Ms. Fábio Augusto Pacano Centro Universitário Barão de Mauá Examinador: _______________________________________________ Professor Dr. Humberto Perinelli Neto Centro Universitário Barão de Mauá Examinador: _______________________________________________ Professor Ms. Rafael Cardoso de Mello Fundação Educacional de Fernandópolis - FEF

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Dedico este trabalho à minha esposa, meus pais, minhas irmãs e meus sogros.

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AGRADECIMENTOS Agradeço àqueles que, diretamente ou indiretamente, auxiliaram no andamento, na execução e desenvolvimento deste trabalho, que compartilharam informações e conhecimentos para que os objetivos fossem atingidos. O conhecimento do professor e orientador Ms. Fabio Augusto Pacano foi fundamental nessa pesquisa. Agradeço-o por ter confiado no projeto, apoiado a execução deste trabalho e principalmente pelas importantes dicas bibliográficas, essenciais para o enriquecimento da pesquisa e para meu crescimento pessoal. Agradeço à minha esposa Leticia Ricci Aparicio de Carvalho pelo amor, carinho, dedicação, apoio, diversas leituras, comentários e principalmente paciência quando da execução deste trabalho. Aos meus pais Paulo e Filomena pelo amor, carinho e apoio incondicional em todas as horas, em toda a minha formação. Às minhas irmãs Marcela e Pollyanna por toda a força nessa caminhada e aos meus sogros Vanderlei e Cecília pelo apoio e confiança. Agradeço ao Ms. Rafael Cardoso de Mello pelas dicas e informações compartilhadas. Ao professor Ms. Carlo Guimarães Monti pelo auxílio no projeto de pesquisa, à professora Dra. Nainôra Maria Barbosa de Freitas pela amizade e pelas conversas sobre projetos de pesquisa, à professora Ms. Lílian Rodrigues de Oliveira Rosa pelo gosto por história local e ao professor Dr. Humberto Perinelli Neto por despertar a vontade da busca de uma melhor escrita. À São Paulo Film Comission e aos seus integrantes, representados aqui na pessoa de Edgard de Castro, pelo apoio e confiança nas pesquisas que também me serviram ao longo desse trabalho. Aos funcionários do Arquivo Público e Histórico de Ribeirão Preto, em especial à Michelle Cartolano que esteve sempre à disposição, auxiliando no trato com as fontes, imagens e informações disponíveis. Agradeço também ao Pe. Marcelo Campioni que disponibilizou acesso aos arquivos da Catedral Metropolitana de Ribeirão Preto, além das conversas sobre história que contribuíram para uma melhor compreensão dos documentos presentes nos arquivos. Aos meus amigos, amigas, professores, colegas, alunos e enfim, a todas as pessoas que me acompanharam ao longo da elaboração desta pesquisa, e tornaram meus momentos de lazer divertidos e agradáveis. Enfim agradeço à Deus pelo dom da vida e pela vitória nessa etapa da minha caminhada.

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RESUMO Este trabalho pretende analisar os mecanismos utilizados por Iria Alves

Ferreira para conquistar e manter o poder nos tempos áureos do café em

Ribeirão Preto. Acreditamos que suas relações econômicas, políticas e sociais

foram fundamentais para que, mesmo sem a possibilidade de ocupar cargo

público, Iria pudesse conquistar e manter o título de ‘Rainha do Café’.

Palavras-chave: História, articulações políticas, Iria Alves Ferreira.

ABSTRACT This work discusses the mechanisms used by Iria Alves Ferreira to gain

and maintain power in the heyday of coffee in Ribeirão Preto. We believe that

their economic, political and social factors were key to that, even without the

possibility of holding any public office, would could win and keep the title "Queen

of Coffee '.

Keywords: History, joints policies, Iria Alves Ferreira.

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LISTA DE IMAGENS Imagem 01 – Capa da Revista Brazil Magazine........................................................ 16

Imagem 02 – Apresentação da Revista Brazil Magazine ......................................... 17

Imagem 03 – Fazenda do Pau Alto - Terreiro de secagem de Café........................ 25

Imagem 04 – Fazenda do Pau Alto - Vista geral de uma das colônias.................... 26

Imagem 05 – Fazenda do Pau Alto - Passeio de visitantes nos cafezais................ 27

Imagem 06 – Cel. Joaquim Diniz da Cunha Junqueira – Quinzinho da Cunha........ 28

Imagem 07 – Corso Carnavalesco – 1915................................................................ 39

Imagem 08 – Carro da Família Inecchi enfeitado para o Carnaval........................... 40

Imagem 09 – Busto do Cel. Joaquim da Cunha Diniz Junqueira............................. 41

Imagem 10 – Busto de Joaquim Camilo de Mattos................................................... 42

Imagem 11 – Placa e obelisco em homenagem ao Dr. Fábio de Sá Barreto............ 42

Imagem 12 – Monumento a Dr. João Alves Meira Junior.......................................... 43

Imagem 13 – Altar em Honra à Nossa Senhora das Dores...................................... 44

Imagem 14 – Detalhes da lateral do altar em Honra à Nsa Senhora das Dores....... 45

Imagem 15 – Frente do cartão enviado por Iria a Washington Luiz.......................... 46

Imagem 16 – Verso do cartão enviado por Iria a Washington Luiz........................... 47

Imagem 17 – Recorte do Jornal ‘O Pasafuso’........................................................... 48

Imagem 18 – Visita de Hermes da Fonseca à Iria Alves Ferreira............................. 50

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LISTA DE QUADROS Quadro 1 – População total do Município de Ribeirão Preto (1874-1920)…….…... 16

Quadro 2 – Porcentagens dos principais produtos de exportação brasileiros......... 18

Quadro 3 – Coronéis dentre os vereadores de Ribeirão Preto (1890-1929)............ 22

Quadro 4 – Dez maiores saldos positivos dos negociantes de imóveis que

efetivaram compras e/ou vendas em RP (1874-99) .............................. 29

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SUMÁRIO

Introdução............................................................................................. 09

Capítulo 1 – Ribeirão Preto: seu contexto, seus títulos, seus “nobres”... 13

1.1 – Ribeirão Preto: “Le Pays du Café”............................................... 14

1.2 – Cenário Político............................................................................ 19

Capítulo 2 – O “Palácio Rural” e a Rainha do Café.............................. 23

2.1 – Fazenda Pau Alto......................................................................... 24

2.2 – Iria Alves Ferreira......................................................................... 28

Capítulo 3 – Poder: articulações e estratégias...................................... 33

3.1 – Iria e o mundo público.................................................................. 34

3.2 – Iria e a Igreja Católica................................................................. 35

3.3 – Iria e as relações de parentesco e amizade................................ 45

3.5 – Iria e a Modernidade.................................................................... 53

Capítulo 4 – A última batalha................................................................ 58

4.1 – Dúvidas e lamentos..................................................................... 59

Considerações finais............................................................................. 63

Fontes e bibliografia.............................................................................. 66

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Quando pensamos em relações políticas preocupamo-nos sempre em

compreender as “entrelinhas do poder”. Entende-se por entrelinhas de poder não só

os objetivos que o grupo de poderosos procura atingir, mas também as articulações

e estratégias políticas, contextos, dificuldades e ações veladas que podem estar

ligadas a esse grupo.

Nos tempos áureos do café, Ribeirão Preto reunia todas as condições para a

existência de grandes movimentações no que se refere às “entrelinhas do poder”.

Pela importância histórica, consideramos que existe pouca bibliografia que trata a

respeito de tais movimentações, seja através de análises gerais do contexto

econômico, social e político, seja através dos personagens principais que

contribuíram para o desenvolvimento da cidade. Dentre esses poucos, os que

utilizam personagens que não eram, por algum motivo, o padrão de poderosos em

sua época são ainda mais raros.

Entre as décadas de 1880 e 1920, período em que o café foi o produto que

mais gerou riqueza na região, destacamos Iria Alves Ferreira, mulher que sem

ocupar cargo público, teve participação de modo singular na política de Ribeirão

Preto. Dos muitos sentidos da palavra política, sempre que relacionada à Iria neste

trabalho, consideraremos a definição utilizada pela professora Joan Scott, quando

escreve que política se refere às relações de poder mais gerais e às estratégias

visadas para mantê-las e contestá-las1.

Contar história política através de uma personagem feminina significa

concordar com vários historiadores que também buscam o crescente campo da

história das mulheres, buscando por meio de uma análise de estruturas sociais

compreender o processo de dominação por símbolos e ideologias que, embora não

menos importantes, foram preteridos durante muito tempo dentro da historiografia à

questões puramente relacionadas à dominação pelo controle sobre os meios de

produção.

Ainda sobre a história das mulheres, acreditamos na importância deste campo

de estudos, uma vez que nos faz refletir sobre uma sociedade em que a atuação das

mulheres aparentemente era diferente da atuação dos homens, e isso por vários

motivos, entre eles desigualdade de condições políticas e sociais. Para além de

apenas requerer espaço político e reconhecimento de uma categoria social para as

1 SCOOT, J. História das Mulheres. In. BURKE, P. (Org.). A Escrita da História: novas perspectivas. Tradução de Magda Lopes. São Paulo: UNESP, 1992. p. 66.

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mulheres, como os movimentos feministas pressupunham, a história das mulheres

vem confirmar esta categoria atuante na política e na sociedade, trazendo à luz “sua

existência antes do movimento contemporâneo, suas necessidades inerentes, seus

interesses e suas características, dando-lhe uma história2.

Influência e Dinheiro pretende analisar os mecanismos utilizados por Iria

Alves Ferreira para conquistar e manter o poder nos tempos áureos do café em

Ribeirão Preto. Após a morte do seu marido por volta de 18963, Iria Alves Ferreira

tem sob sua responsabilidade o gerenciamento de suas fazendas, necessitando

para isso, adentrar ao mundo público e nele interagir politicamente. Dessa forma

utiliza-se de sua habilidade política para cumprir tal responsabilidade, até que em

1920, um crime diminui consideravelmente suas possibilidades de atuação. Essas

duas datas, justamente por delimitarem o principal período de atuação política de

Iria, constituem nosso recorte temporal.

No tocante às fontes, utilizamos a Revista Brasil Magazine de 1911, o Jornal

A Cidade, o Jornal O Parafuso, Publicações de Memorialistas e Arquivos da Câmara

Municipal de Ribeirão Preto.

Para conhecer Iria Alves Ferreira, além das fontes, utilizamos os trabalhos

dos historiadores Rafael Cardoso de Mello e Janes Jorge. Para compreender as

relações políticas e econômicas de Iria Alves Ferreira, recorremos à conceitos da

História, se apoiando nas demais ciências humanas, como Antropologia, Sociologia,

Ciência Política e Economia, através de autores como Roberto DaMatta, Max

Weber, Nicolau Maquiavel, Richard Sennett, Raymundo Faoro, José Ênio

Casalecchi, Renato Leite Marcondes.

No primeiro capítulo, contextualizaremos a importância de Ribeirão Preto para

a política nacional. Escolhemos os artigos de Luis Pereira Barreto sobre as

qualidades de ‘Terra Roxa’ para iniciar esta história, pois acreditamos que foi a

partir destes artigos, aliada à queda da produção no Vale do Paraíba e

posteriormente à chegada da Ferrovia Mogiana que surgiu a possibilidade da cidade

se tornar o ‘Eldorado do Café’ e, consequentemente, se tornar o berço dourado de

uma Rainha do Café. Num segundo momento deste capítulo, analisaremos o cenário

2 SCOOT, J. História das Mulheres. In: BURKE, P. (Org.). A Escrita da História: novas perspectivas. Tradução de Magda Lopes. São Paulo: UNESP, 1992. p. 83-84. 3 Difícil de ser datada com precisão. Consideramos essa data a partir dos estudos do Historiador Rafael Cardoso de Mello, com base nas publicações ‘Revista Brazil Magazine de 1911’ e ‘Ruas e Caminhos de Ribeirão Preto’.

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político local, considerando a atuação no Estado de São Paulo do PRP (Partido

Republicano Paulista), a mentalidade paulista, o coronelismo e as relações políticas

entre coronéis e governo.

No segundo capítulo, apresentaremos a fazenda de Iria Alves Ferreira,

denominada aqui de Palácio Rural, bem como sua majestade a Rainha do Café,

personagem pelo qual vamos procurar compreender a sistemática do poder em

Ribeirão Preto durante o período estudado. Essa narrativa não tem uma

preocupação biográfica fundamental, procurando fornecer ao leitor apenas

elementos necessários à compreensão do seu modo de atuação política.

No terceiro capítulo, buscamos perceber o modo de atuação de Iria no mundo

público após a morte de seu marido em fins do século XIX e quais foram os

elementos e símbolos por ela utilizados para conseguir e manter seu poder nesse

mundo predominantemente masculino. Para tal, evidenciamos as relações entre Iria

Alves Ferreira e a Igreja Católica, investigando as vantagens que essas relações

poderiam render à Iria, assim como suas relações de parentesco e amizade e a

apropriação dos modernismos republicanos que poderiam lhe garantir poder.

No quarto capítulo, que compreende dos anos de 1920 até a morte de Iria em

1927, abordaremos como ficou o poder de Iria Alves Ferreira ao ter sua imagem

prejudicada pelo “Crime de Cravinhos” e seus suspiros na tentativa de reparar sua

imagem pública e alvejar o nome de seus filhos e de sua família.

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Não era qualquer terra; era a Terra Roxa. Não era qualquer café. Era o Café Bourbon.

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1.1 - Ribeirão Preto: “Le Pays du Café”4

Entre os dias 2 e 10 de Dezembro de 1876, nas páginas do Jornal “A

Província de São Paulo”, uma série de artigos escritos pelo Dr. Luiz Pereira

Barreto alude à existência de uma terra de constituição física em estado

granuloso, pulverulento, encaroçado do terreno roxo, e que o faz mole, fofo,

permeável e perfeitamente esponjóide. Além dessas características, destaca a

espessura dessa terra, que a torna sem rivais no mundo e que distancia a perder

de vista a sua lavoura da do resto do Império.

A província de São Paulo possui grande número de municípios do mais alto valor em terras de cultura; e é difícil mesmo a um lavrador, que vem de fora saber a qual deve dar preferência. Mas, quando mesmo não possuísse o Ribeirão Preto, ainda assim seria ela a primeira província do Império. Só este era bastante para colocá-la acima de tudo quanto a imaginação pode conceber de mais surpreendente. É ali que a natureza tropical condensou todas as forças de sua fecundidade e derramou à profusão todas as maravilhas de sua onipotente criação O Ribeirão Preto é o vasto repositório em que a “Flora Brasileira” se ostenta em sua mais enérgica e deslumbrante expressão. É a esse município que eu aconselharia uma visita a todos aqueles que aprenderam a achar um supremo gozo nos grandes contatos com o mundo criador, no grandioso espetáculo da natureza viva5.

Porém, nessas terras já existia café6. Em 1870, Henrique Dumont - que veio a

se tornar o primeiro “Rei do Café” de Ribeirão Preto - comprou terras na região, e em

1873, Martinho Prado já plantava café em sua fazenda, assim como João Franco de

Moraes Otávio. O café utilizado na plantação era o comum nacional, conhecido

como Typica. Pelas mãos do Dr. Luiz Pereira Barreto, em 1876, na fazenda

Cravinhos, foi introduzido na região o café Bourbon, que nasceu da experiência de

fecundação por hibridação do café Libéria (vindo da África) e do café comum

nacional. Em pouco tempo, a maioria das fazendas da região produziam o café

Bourbon.

4 Brazil Magazine. Revista Ilustrada d‘Arte e Atualidades. Publicação de Propaganda Brazileira no Estrangeiro. Rio de Janeiro, Anno V, Número 57, 1911,p. 3. 5 A Terra Roxa - “A Província de São Paulo”- 10/12/1876. 6 Para maiores informações sobre a formação do município de Ribeirão Preto assim como a história da cidade anteriormente à 1870 consultar: CIONE, R. História de Ribeirão Preto. (V5). 1. ed. Ribeirão Preto: IMAG, 1987. e LAGES, J. A. Ribeirão Preto: da Figueira à Barra do Retiro - o povoamento da região pelos entrantes mineiros da primeira metade do século XIX. Ribeirão Preto: VGA Editora e gráfica, 1996.

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A excelência do café Bourbon era evidente. Porém, para que o café produzido

na região de Ribeirão Preto tivesse competitividade para exportação, era preciso que

todo o café produzido chegasse ao porto de Santos com maior rapidez. Para isso

Henrique Dumont, que havia sido engenheiro de obras públicas em Diamantina e

havia trabalhado nas obras da Ferrovia Central do Brasil, utilizou de sua experiência

e instalou em sua fazenda vários quilômetros de estradas de ferro. Em pouco tempo,

chegava à Ribeirão Preto a Ferrovia Mogiana, ligando a cidade à São Paulo e ao

porto de Santos. Por esses trilhos eram transportados café, produtos importados,

imigrantes, aventureiros, coronéis e sinhás, indo e vindo, gerando riquezas, trazendo

novidades, força de trabalho e diversão para a cidade, como nos é indicado na

citação a seguir:

As ferrovias, por seu turno, aceleraram os ritmos temporais e os circuitos de trocas mercantis e ampliaram as redes internacionais de negócios, e, com elas, as “maravilhas” do mundo moderno, que chegavam até os rincões mais longínquos do Estado, “civilizando” a caipirada e desenvolvendo ou mesmo “semeando” urbes7.

Com o sucesso dessa combinação entre Terra Roxa e Café Bourbon, aliado

ao declínio das plantações de café no Vale do Paraíba e à chegada da Ferrovia

Mogiana em 1883, Ribeirão Preto torna-se o “Eldorado do Café”.

Em 1899, Francisco Schimidt, imigrante alemão e conhecido por aqui como o

segundo “Rei do Café”, possuía 12 fazendas em Ribeirão Preto e região, somando

mais de 3.413.910 cafeeiros8.

O aumento da produção nas fazendas de café, gerando crescimento

econômico ao município, fomentou um ativo comércio na cidade, além de pequenas

profissões e indústrias. Percebeu-se também importante crescimento demográfico,

conforme podemos verificar na tabela a seguir:

7 MATOS, O. N. Café e ferrovias: a evolução ferroviária de São Paulo e o desenvolvimento da cultura cafeeira. 2. ed. São Paulo: Alfa-Ômega, 1974, p. 152. Apud: PAZIANI, R. R.; PERINELLI NETO, H.; MELLO, R. C. Civilização e Barbárie no Imaginário Cultural da cidade: o caso do “Almanach Illustrado de Ribeirão Preto”de 1913.(Revista de História e Estudos Culturais. Vol 5. Ano 5. N. 2). 8 JORGE, J. A vida turbulenta na capital d’Oeste: Ribeirão Preto, 1880-1920. História & Perspectivas, Uberlândia, v.nº 29, p. 129-157, 2003.

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Quadro 1

População total do Município de Ribeirão Preto (1874-1920)

Município 1874 1886 1900 1920 Ribeirão Preto 5.552 10.420 59.195 68.838 Fonte: BACELLAR, C. A. P.; BRIOSCHI, L. R. (orgs.). Na estrada do anhanguera: uma visão regional da história paulista. São Paulo: Humanitas FFLCH/USP, 1999. Apud: MELLO, R. C. Um “Coronel de saias” no interior paulista: a “Rainha do Café” em Ribeirão Preto (1896-1920). 2009. 210f. Dissertação de Mestrado em História – Faculdade de História, Direito e Serviço Social, Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”, Franca, 2009, p. 67.

O aumento populacional proporcionou um expressivo incremento no número

de construções na zona sul – o quadrilátero central – e nos crescentes bairros, bem

como o surgimento de jornais e revistas. Sobre o progresso da cidade e suas

manifestações, Leticia Ricci Aparício afirma que:

O progresso atingia todos os setores da vida pública e se manifestava das mais diferentes possíveis. Nas revistas e jornais eram publicadas imagens deste “progresso” e desta “civilização”, contudo, elas não sugeriam somente os ideais das famílias ricas, mas também, ligavam aquelas imagens às ‘potencialidades’ agrícolas do município e à influência de suas principais lideranças9.

Em 1911, o número 57 da Revista Brasil Magazine, ‘publicação de

propaganda Brazilieira no estrangeiro’ impressa em Paris, escrita em Português e

Francês, denomina Ribeirão Preto como ‘Le Pays du Café (Imagem 01), além de em

sua apresentação tecer elogios à cidade e aos seus chefes políticos e econômicos

(Imagem 02):

IMAGEM 01 Capa da Revista Brazil Magazine

Fonte: Brazil Magazine. Revista Ilustrada d‘Arte e Atualidades. Publicação de Propaganda Brazileira no Estrangeiro. Rio de Janeiro, Anno V, Número 57, 1911, p. 01.

9 APARÍCIO, L. R. Forma e aparência: análise da moda feminina e seus sentidos sociais na Ribeirão Preto da Belle Époque (1883/1930). Monografia de conclusão de Curso. CUBM: Ribeirão Preto, 2007.

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IMAGEM 02 Apresentação da Revista Brazil Magazine

Fonte: Brazil Magazine. Revista Ilustrada d‘Arte e Atualidades. Publicação de Propaganda Brazileira no Estrangeiro. Rio de Janeiro, Anno V, Número 57, 1911, p. 04.

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Segundo Marcondes, em 1868 no apogeu da cafeicultura no Vale do Paraíba,

a colheita média chegava a 3.496 arrobas de café; em Ribeirão Preto nos anos de

1916/17 a colheita média foi de 8.358 arrobas e, no mesmo período, Campinas

colheu 2.851 arrobas e Jaú 2.633 arrobas. Do cruzamento dessas informações,

pode ser analisado que a produção em Ribeirão Preto em 1916/17 era três vezes

maior do que a de Campinas, a segunda localidade do Estado de São Paulo em

produção. Além disso, a produção de café em Ribeirão Preto nesse período foi

239% maior do que a produção do Vale do Paraíba em pleno auge da cafeicultura,

em 186810.

Esses números demonstram a importância econômica da cidade no período

áureo do café, afinal, como demonstra a tabela abaixo, desde os Barões do Vale do

Paraíba, o café era o principal produto de exportação do Brasil.

Quadro 2 Porcentagens dos principais produtos de exportação brasileiros:

FONTE: SODRÉ, N. W. História da burguesia brasileira. Rio de Janeiro: Ed. Civilização Brasileira, 1964, p.78. Apud: DOIN, J. E. M. A formação do Estado-Nação, a gênese da modernização conservadora e da dívida pública: questões preliminares, Boletim do CELA (Centro de Estudos Latino-Americanos), Ano III, n. 3., 1993, p.51.

10 MARCONDES, R. L. O café em Ribeirão Preto (1890-1940). In: História Econômica & História de Empresas (2007), 171-192.

1821-1830 Açúcar................................................................................................30,10% Algodão..............................................................................................20,60% Café....................................................................................................10,40% Couros e Peles...................................................................................13,60%

1841-1850 Café....................................................................................................41,50% Açúcar................................................................................................26,70% Algodão................................................................................................7,50% Couros e Peles.....................................................................................3,50%

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1.2 - Cenário Político

A produção de Ribeirão Preto, colaborando junto à produção do restante do

Estado, consolidava a tradição rural paulista, e se traduzia em poder. No Estado de

São Paulo os proprietários rurais sabiam como transformar seu poder econômico

em efetivo poder político, como podemos observar:

Dos republicanos paulistas, em 1878, mais de 30% eram proprietários rurais; na província do Rio eles representavam menos de 2%, enquanto profissionais liberais (advogados, jornalistas, professores, médicos, engenheiros, etc.) representavam mais de 60%11.

O PRP (Partido Republicano Paulista) foi o partido mais importante de São

Paulo durante a República Velha. De uma reunião em abril de 1873 na casa do

então deputado Prudente de Moraes, em Itu, o partido foi criado por políticos de

várias regiões que tinham como um dos objetivos organizarem-se para enfrentar a

decadência econômica do Vale do Paraíba e defender-se das imposições da

monarquia.

Não foi mero acaso encontrar-se em São Paulo o mais forte e unido Partido de oposição à Monarquia: o republicano. O desenvolvimento material pedia na década de 1860 algumas providências. Entre elas, com destaque, a necessidade de desenvolver o “espírito associativo dos paulistas” para se defenderem das mazelas resultantes da centralização monárquica12.

Já proclamada a República, o PRP revezava com o PRM (Partido

Republicano Mineiro) a indicação de presidentes da República, sendo um dos pólos

da tão conhecida ‘política café com leite’.

Dos políticos indicados pelo PRP podemos citar Prudente de Moraes

(Presidente do Brasil 1894-1898); Campos Salles (Presidente do Estado 1896-1897;

Presidente do Brasil 1898-1902); Rodrigues Alves (Presidente de Estado 1900-1902;

Presidente do Brasil 1902-1906); Dr. Washington Luis (Presidente do Estado 1920-

1924 e Presidente do Brasil 1926-1930) e Altino Arantes (Presidente do Estado

1916-1920).

Para efetivar nas urnas essas indicações, o sistema de poder vigente, através

dos chefes políticos, orientava os eleitores a votarem em tais candidatos, além de

11 CASALECCHI, J. E. O partido republicano paulista: política e poder (1889-1926). Editora Brasiliense: São Paulo, 1987, p. 46. 12 CASALECCHI, J. E. O partido... Op. Cit., p. 47.

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20

que frequentemente as mesas receptoras já eram preparadas para divulgar

resultados nem sempre concordes com os votos depositados naquela seção. Caso

as duas primeiras precauções não se mostrassem suficientes, e nas capitais ou

cidades importantes ocorressem à eleição de um ‘indesejável’ oposicionista, a

Câmara e o Senado realizavam a chamada ‘Verificação dos Poderes’ dos

candidatos a serem empossados. O resultado dessa verificação era a invalidação

dos mandatos dos candidatos oposicionistas. Segundo FARHAT, esse ato era

vulgarmente conhecido como ‘degola’13.

O PRP se destacava nessa rede de poder por contar com representantes nos

principais municípios paulistas. Esses representantes formavam, cada qual em sua

região, uma rede de influências e interdependências que garantia a realização dos

interesses do partido e dos próprios representantes.

O poder econômico e social dos proprietários de terra, traduzido em efetivo poder político oligárquico, impõe uma ampla teia de submissão e dependência que envolve o eleitor, o coronel, o partido e o Estado. O liberalismo político, construído por uma sociedade basicamente agrária, não superou a sua ambigüidade com a instalação do novo regime: ao pretender ser liberal, a República era, ao mesmo tempo, oligárquica 14.

Essa República oligárquica na política se traduzia através dos caciques e

chefes políticos, que por sua vez faziam uso de uma estrutura de poder patrimonial,

chamada coronelismo.

Se para alguns historiadores o período das grandes navegações tenha sido

um marco do início da Idade Moderna, para nós, brasileiros, foi a inauguração de

uma sina, herdada de Portugal, na qual, segundo FAORO, “o sistema patrimonial, ao

contrário dos direitos, privilégios e obrigações fixamente determinados do

feudalismo, prende os servidores numa rede patriarcal, no qual eles representam a

extensão da casa do soberano”15.

O problema não seria pertinente a este ensaio se o feudalismo não houvesse deixado, no seu cortejo funerário, vivo e presente legado, capaz de prefixar os rumos do Estado moderno. Patrimonial e não feudal o mundo português, cujos ecos soam no mundo brasileiro atual, as relações entre o

13 FARHAT, S. Dicionário parlamentar e político: o processo político e legislativo no Brasil. São Paulo: Melhoramentos; Fundação Peirópolis, 1996. p. 323. 14 CASALECCHI, J. E. O partido... Op. Cit., p. 13. 15 FAORO, R. Os Donos do Poder: formação do patronato político brasileiro. 1 v. Porto Alegre: Editora Globo, 1976, p. 20.

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21

homem e o poder são de outra feição, bem como de outra índole a natureza econômica, ainda hoje persistente, obstinadamente persistente16.

Embora instaurada a República no Brasil em 1889, o coronelismo reflete

essas características coloniais citadas acima.

O coronelismo, o compadrazzo latino americano, a “clientela” na Itália e na Sicília participam da estrutura patrimonial. Peças de uma ampla máquina, a visão do partido e do sistema estatal se perde no aproveitamento privado de coisa pública17.

Essa contradição entre a República moderna, que busca uma separação

entre público e privado e o sistema coronelista, que celebra em si o anti-modernismo

que mistura entre público e privado, se faz mais vigorosa em Ribeirão Preto pelo

excesso de dinheiro gerado pela exportação de café. Conforme nos indica

Raymundo Faoro o “coronel utiliza seus poderes públicos para fins particulares,

mistura, não raro, a organização estatal e seu erário com bens próprios”18.

Aqui, coronéis e fazendeiros como Franscisco Schimidt e Joaquim Diniz da

Cunha Junqueira, lideranças do PRP no município, utilizavam do seu poder

econômico, da violência, da máquina pública e das relações sociais para manter seu

poder e seu dinheiro.

Da Sexta (1890-1892) a Vigésima Legislatura (1936-1939), em média, oito em cada dez pessoas que ocuparam uma cadeira na Câmara Municipal de Ribeirão Preto qualificavam-se como fazendeiros ou detentores (de direito, por tradição ou prestígio) de alguma patente militar, na maioria das vezes, a de coronel19.

Pode-se dizer que quando os próprios coronéis não estavam presentes na

política local, havia seus representantes, indicados ou apadrinhados políticos que

defendiam seus interesses. Geralmente os apadrinhados eram bacharéis

(advogados, médicos, engenheiros, etc.) que, ao regressar dos estudos na capital

ou no exterior, logo se tornavam pares dos políticos importantes na região. A seguir,

podemos verificar a tabela que ilustra essa predominância dos fazendeiros e

coronéis na política durante o período estudado:

16 FAORO, R. Os Donos do Poder: formação do patronato político brasileiro. 1 v. 10 ed. São Paulo: Editora Globo, 2000,. 1v. p. 17-18. 17 Ibidem.. 2 v. p 259. 18 Ibidem. 2v. Op. cit., P. 259-260. 19 SANTOS, R. Da república dos coronéis à república dos locutores: o surgimento do homem de mídia como sujeito na política eleitoral ribeiraopretana.

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Quadro 3 Coronéis dentre os vereadores de Ribeirão Preto (1890-1929)20.

Legislatura Vereadores

Total Fazendeiro Outros

06.a => 1890 – 1892 13 (5) 11 (3) 02 (2) 07.a => 1892 – 1896 08 (7) 07 (5) 01 (2) 08.a => 1896 – 1899 08 (8) 05 (7) 03 (1) 09.a => 1899 – 1902 07 (1) 06 (0) 01 (1) 10.a => 1902 – 1905 08 (1) 07 (0) 01 (1) 11.a => 1905 – 1908 08 (2) 08 (1) 00 (1) 12.a => 1908 – 1911 11 (6) 10 (4) 01 (2) 13.a => 1911 – 1914 10 (0) 09 (1) 00 (0) 14.a => 1914 – 1917 10 (2) 09 (1) 01 (1) 15.a => 1917 – 1920 10 (1) 09 (0) 01 (1) 16.a => 1920 – 1923 10 (2) 07 (1) 03 (1) 17.a => 1923 – 1926 10 (0) 08 (0) 02 (0) 18.a => 1926 – 1929 10 (1) 07 (0) 03 (1)

Fonte: Elaborado a partir do documento Legislaturas Municipais de 1874 a 1947, da Câmara Municipal de Ribeirão Preto. In: SANTOS, R. Da república dos coronéis à república dos locutores: o surgimento do homem de mídia como sujeito na política eleitoral ribeiraopretana.

Posto ser o café, nessa época, a principal fonte do poder político, o

crescimento da lavoura representa dessa maneira o efetivo crescimento de tal poder.

Por isso o espírito expansionista dos coronéis, como nos é indicado por Maria Luisa

Albieiro Vaz, quando afirma que:

Reivindicando o monopólio da tradição bandeirante, esses paulistas de “400 anos” viveram o paradoxo de exercer uma atividade de extrema mobilidade geográfica (a abertura de novas fazendas e a expansão das fronteiras agrícolas) e econômica (a constituição de novas formas de riqueza, tais como investimentos financeiros em títulos e ações)21.

Por esse espírito expansionista o crescimento do número de fazendas em

Ribeirão Preto e na região foi muito grande. Das diversas fazendas destinadas à

produção de café, destacaremos no próximo capítulo a Fazenda “Pau Alto”, de

propriedade de Luiz Antonio da Cunha Junqueira e Iria Alves Ferreira.

20 Nas colunas de dados, o primeiro número representa o de vereadores eleitos e, o número dentre parênteses o de suplentes que assumiram o mandato. Na categoria fazendeiros foram incluídos os parlamentares referenciados por patentes militares nas atas da casa, ou cuja profissão era a de fazendeiro nos termos de posse. 21 VAZ, M. L. A. Mulheres da Elite Cafeeira: conciliação e resistência – 1890/1930. Dissertação – Mestrado: História Social. Universidade de São Paulo, 1995, p. 42.

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2.1 - Fazenda Pau Alto A fazenda Pau Alto (onde hoje se localiza o município de Cravinhos) era

considerada uma das maiores fazendas locais22. Distanciava-se cerca de meia hora

da Estação de ‘Villa Bonfim’ (em Bonfim Paulista, distrito de Ribeirão Preto), que

através dos quatro trens diários ligava-se à Ribeirão Preto, num percurso total de

treze quilômetros. A ligação com a capital do Estado era realizada por dois trens

diários, num total de dez horas de viagem23. Era uma fazenda internacionalmente

conhecida, principalmente após a revista ‘Brazil Magazine’ dedicar mais de quatro

páginas à descrição da propriedade, como podemos verificar no trecho a seguir:

É uma das melhores propriedades do Município cuja importância se impõem pelo seu desenvolvimento de mil e trezentos alqueires de terras de cultura abrigando perto de um milhão e meio de árvores de café. Produsindo uma media annual de cem mil arrobas, baseada numa estatística destes últimos seis anos. Ao lado de uma pittoresca construcção em forma de chalet e que serve de residência a proprietária e as pessoas da família, começam os immensos terreiros ladrilhados, occupando o vasto perímetro de dezesseis mil metros quadrados, sendo os macadam de egual dimensão 24.

De fato, era uma grandiosa fazenda. Contava com cerca de um milhão e meio

de cafeeiros, produzindo uma média anual de 100 mil arrobas de café. Essa vasta

propriedade dispunha ainda de tulhas para armazenamento dos grãos de café além

de trilhos ‘Decauvilles’25 que, suportando dezenas de vagonetes, encontravam se

espalhados por toda a fazenda, facilitando o serviço ativo e constante de remoção

do café.

Podemos observar na próxima imagem alguns funcionários da fazenda, um

imenso terreiro de secagem de café, os grãos dispostos em pequenos montes, os

vagonetes de transporte (ao fundo) e uma das tulhas de armazenagem. Ao lado do

terreiro, observamos grande quantidade de grãos de café, dispostos em seis

22 MELLO, R. C. Uma coronel de saias no interior paulista: Iria Alves Ferreira – a Rainha do Café. Anais do XIX Encontro Regional de História: Poder, Violência e Exclusão. ANPUH/SP-USP. São Paulo, 08 a 12 de setembro de 2008. Cd-Rom. 23 Brazil Magazine. Revista Ilustrada d‘Arte e Atualidades. Publicação de Propaganda Brazileira no Estrangeiro. Rio de Janeiro, Anno V, Número 57, 1911,p. 63-64. 24 Brazil Magazine. Revista ... Op. Cit. p. 64. 25 Trilho Decauville é um trilho composto de boleto (parte superior do Trilho), alma (fica entre o boleto e o patim e patim (base do trilho). Sua principal diferença em relação ao trilho comum (Vignole) é que o Decauville é muito leve, empregado em via férrea para vagonetas. Disponível em Glossário Ferroviário: < http://www.antf.org.br/cgi-bin/PageSvrexe.exe/Get?id_sec=72 >. Acesso em 15 de setembro de 2009.

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montes, esperando assim a desocupação do terreiro para o início do processo de

secagem:

IMAGEM 03 Fazenda Pau Alto - Terreiro de secagem de Café

Fonte: Brazil Magazine. Revista Ilustrada d‘Arte e Atualidades. Publicação de Propaganda Brazileira no Estrangeiro. Rio de Janeiro, Anno V, Número 57, 1911,p. 63.

A fazenda também era dotada do mais moderno maquinário possível para a

época e utilizava energia elétrica fornecida pela Companhia Força e Luz, tanto para

a iluminação geral da propriedade como para movimentar as máquinas. É importante

salientar que mesmo antes da instalação elétrica por meio da Companhia Força e

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26

Luz, a fazenda Pau Alto já utilizava energia elétrica, por meio de geradores

particulares26.

Aproximadamente mil empregados trabalhavam na operação das máquinas,

no terreiro de secagem e no transporte do café. Em meio aos cafezais havia mais de

cento e quarenta e três construções destinadas a abrigar em torno de cento e vinte

famílias de colonos. Na figura a seguir podemos verificar uma dessas colônias:

IMAGEM 04

Fazenda Pau Alto - Vista geral de uma das colônias.

Fonte: Brazil Magazine. Revista Ilustrada d‘Arte e Atualidades. Publicação de Propaganda Brazileira no Estrangeiro. Rio de Janeiro, Anno V, Número 57, 1911,p. 65.

Anexo à lavoura de café, existia uma cultura de cana de açúcar para consumo

interno. A fazenda dispunha ainda de uma serraria e uma olaria que forneciam

madeiramento e tijolos usados para novas construções dentro da fazenda e para a

manutenção das construções existentes. Na figura a seguir, observamos visitantes

passeando por uma das ruas de café da fazenda: 26 MELLO, R. C. Um “Coronel de saias” no interior paulista: a “Rainha do Café” em Ribeirão Preto (1896-1920). 2009. 210f. Dissertação de Mestrado em História – Faculdade de História, Direito e Serviço Social, Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”, Franca, 2009. p. 107.

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27

IMAGEM 05 Fazenda Pau Alto - Passeio de visitantes nos cafezais.

Fonte: Brazil Magazine. Revista Ilustrada d‘Arte e Atualidades. Publicação de Propaganda Brazileira no Estrangeiro. Rio de Janeiro, Anno V, Número 57, 1911, p. 62.

Esta fazenda era de propriedade de Luiz da Cunha Diniz Junqueira e Iria

Alves Ferreira. Luiz da Cunha Diniz Junqueira, que foi Presidente da Câmara de

Ribeirão Preto de 1883 a 188627, era considerado um dos mais influentes membros

da família Junqueira28 além de ser irmão do importante Coronel Joaquim da Cunha

Diniz Junqueira, o Quinzinho da Cunha. Além de ostentar o título de coronel,

Quinzinho era latifundiário, produtor de café e foi vereador de 1890 a 1892 pelo

Partido Republicano Paulista, do qual era o chefe em Ribeirão Preto, com ativa

participação nas decisões eleitorais29.

27 Arquivos da Câmara Municipal de Ribeirão Preto. 28 Brazil Magazine. Revista... Op. cit., p. 59. 29 MATTOS, J. A. J. Família Junqueira: sua história e genealogia. Rio de Janeiro, Família Junqueira, 2004. v.1, p. 478.

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IMAGEM 06 Coronel Joaquim Diniz da Cunha Junqueira – Quinzinho da Cunha

Fonte: Álbum de Família. In: MATTOS, J. A. J. Família Junqueira: sua história e genealogia. Rio de Janeiro, Família Junqueira, 2004.

Com o falecimento de Luiz da Cunha Diniz Junqueira, a fazenda passou a ser

administrada por Iria Alves Ferreira.

2.2 – Iria Alves Ferreira

Filha de Antônio Honório Alves Ferreira e Maria Tereza Ferreira30, Iria Alves

Ferreira nasceu em 13 de julho de 1853, na cidade de Santo Antônio do Machado,

MG. Tinha apenas um irmão, João Honório Alves Ferreira.

A família Alves Ferreira chega a Ribeirão Preto em meados do século XIX,

vinda de Minas Gerais em busca de ganhar a vida no Estado de São Paulo. Antônio

Honório Alves Ferreira foi vereador na Câmara Municipal de Ribeirão Preto entre os 30 MATTOS, J. A. J. Família Junqueira… Op.cit, p. 471.

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anos de 1896 e 189931, situação que revela o sucesso de sua inserção na sociedade

ribeirãopretana. Na tabela abaixo podemos verificar também sua ativa participação

na economia da cidade:

Quadro 4 Dez maiores saldos positivos dos negociantes de imóveis que efetivaram compras

e/ou vendas em Ribeirão Preto entre 1874-99 (em valores reais).

Negociante Saldo

Francisco Schimidt + 2.868:844$748

Antônio Barbosa Ferraz Junior + 601:295$027

Henrique Dumont + 542:934$192

Antonio de Barros + 362:277$711

Francisco de Moraes e Souza + 217:836$164

Joaquim da Cunha Bueno + 216:078$174

Galdino Álvares Correa + 207:105$497

Antônio Honório Alves Ferreira + 195:165$754

Elysio de Campos Pinto + 192:123$137

Gustavo Etierne + 181:196$830

Fonte: MARCONDES, R. L.; OLIVEIRA, J. H. C. Negociantes de imóveis durante a expansão cafeeira em Ribeirão Preto (1874-1899); Tempo. Revista do Departamento de História da UFF, v. 8, n. 15, p. 111-133, 2003.

A inserção do patriarca na sociedade e a sua ativa participação na economia

do município, garantiram aos Alves Ferreira boa condição material. O historiador

Rafael Cardoso de Mello ao analisar o testamento deixado pelo pai de Iria, confirma

a boa condição material dos Alves Ferreira, além de trazer à luz indícios de status

perante a sociedade da época:

O testamento permite-nos observar a rede de sociabilidade que o pai de Iria construiu em vida, e que permitirá a jovem Iria aprender os jogos políticos dentro de casa. Contudo, para além da tessitura de uma rede de compadrio, também é possível verificar a considerável divisão de contos de réis para seus familiares, indícios de que os Alves Ferreira gozavam de status e de boa condição material 32.

31 CÂMARA MUNICIPAL DE RIBEIRÃO PRETO. Memória: as legislaturas municipais de 1874 a 2004. Ribeirão Preto: Editora COC, 2001, p.24. 32 MELLO, R. C. Um “Coronel de saias” no interior paulista: a “Rainha do Café” em Ribeirão Preto (1896-1920). 2009. 210f. Dissertação de Mestrado em História – Faculdade de História, Direito e Serviço Social, Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”, Franca, 2009. p. 41.

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30

Ainda segundo Rafael Cardoso de Mello, a rede de sociabilidade do pai,

permitiu a Iria “aprender os jogos políticos dentro de casa”33.

Ao se casar, passa a fazer parte de uma das mais importantes famílias da

região, os Junqueira. A família Junqueira já possui nessa época recursos materiais e

símbolos que agregam poder a seus membros. Além disso, já era uma família

tradicional, diferentemente dos Alves Ferreira. Nicolau Sevcenko comenta a

importância das referências ao passado quando se pretende agregar poder e

prestígio a algo ou alguém:

Mais curioso ainda, nessa miscelânea de emblemas que traduzem as novas relações de poder e prestígio, assumem um papel de maior importância as referências ao passado, e, quanto mais remoto melhor, como efeito da insegurança crônica de uma nova gente que não tendo história por trás de si, precisa criar uma ilusão dela utilizando símbolos e recursos materiais num emergente mercado de ‘títulos honoríficos’e ‘peças de época’ 34.

Do casamento com Luiz da Cunha Diniz Junqueira foram gerados seis filhos:

Maria Luzuria Junqueira, Innocência Junqueira, Antonio Junqueira, Augusto

Junqueira, Anna Junqueira de Carvalho, Dr. Francisco da Cunha Diniz Junqueira e

José da Cunha Junqueira35.

Casada e com filhos, segundo a revista Brazil Magazine, Iria Alves Ferreira foi

mãe “attenta e extremosa” e “consagrou-se de corpo e alma à educação de seus

filhos” 36. Dedicava maior tempo aos filhos e a administração do lar, tendo nas idas

à Igreja e nas obras de caridade um breve contato com o mundo alheio às questões

estritamente privadas.

Na Igreja, as mulheres tinham espaço garantido para empreenderem obras

sociais e até galgarem um respeito além dos limites do privado, o que, por não

poder ocupar cargos políticos na época, não lhes era possível nas esferas do mundo

público. Diferentemente da burca que cobre todo o rosto da mulher mulçumana, o

véu que as mulheres católicas usavam ao entrarem na Igreja as identificava como

senhoras dedicadas à religião, ao lar e aos filhos, porém permitia que suas faces

fossem reveladas ao público. No sentido figurado, esse véu pode ser a 33 MELLO, R.C. Um coronel ... Op. cit., p. 42. 34 SEVCENKO, N. A Capital irradiante: técnica, ritmos e ritos do rio. In: SEVCENKO, N. (coord.). História da vida privada no Brasil: República: da Belle Époque à Era do Rádio. São Paulo: Companhia das Letras, 1998, vol. 3. p. 534. 35 Testamento de Iria Alves Ferreira. 1º. Ofícil Civil. Cx. 228-A. Arquivo Público e Histórico de Ribeirão Preto. 36 Brazil Magazine. Revista... Op. cit., p. 60.

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representação política da própria Igreja, que permite à mulher aparecer no mundo

público sem que adentrem a este mundo feroz e que tampouco percam as

características amáveis do mundo privado.

Por volta de 1896, com a morte do seu primeiro marido, Iria se dedicará

também ao gerenciamento da fazenda Pau Alto, tornando-se a Rainha do Café.

Adentra ao mundo público, defendendo os interesses seus e de sua família. Sempre

trabalhando suas relações políticas (que serão analisadas no próximo capítulo) Iria

se mantém atuante nesse espaço predominantemente, quase exclusivamente

masculino até que um crime faz ruir toda sua imagem pública, trazendo abaixo muito

do seu poder, muito de sua força, muito de seu prestígio.

Tal crime ficou conhecido como “Crime de Cravinhos” 37 e teria sido planejado

por Iria Alves Ferreira junto com o administrador geral de suas fazendas, Alexandre

Silva38. A possível vitima era um francês, que fora casado com uma das filhas de

Iria, e teria vindo da França para reclamar sua parte na herança.

O crime teve grande repercussão nos jornais da época. O sensacionalista ‘O

Parafuso’, por exemplo, tinha como características principais a ironia e o

sarcasmo39. O ‘Estado de São Paulo’, inicialmente endossava a versão da polícia,

contrária à Iria. Porém, a partir da influência de Paulo Duarte, mudou sua abordagem

sobre o crime:

Em meados de setembro, contudo, tais reportagens foram interrompidas. A partir de então, o que O Estado de São Paulo veiculava, com bastante destaque, era principalmente a matéria paga dos advogados de defesa e uma série de artigos favoráveis a Iria Alves Ferreira, publicados em outros jornais, e que, selecionados por Paulo Duarte, eram reproduzidos em suas páginas. Fossem eles do Diário Espanhol, da Gazeta ou qualquer outro periódico, a mensagem era inequívoca 40.

37 Sobre detalhes do Crime de Cravinhos,seus desdobramentos, demais versões consultar: MELLO, R. C. Um “Coronel de saias” no interior paulista: a “Rainha do Café” em Ribeirão Preto (1896-1920). 2009. 210f. Dissertação de Mestrado em História – Faculdade de História, Direito e Serviço Social, Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”, Franca, 2009; JORGE, J. O crime de Cravinhos: oligarquia e sociedade em São Paulo. 1920-1924. Dissertação de Mestrado em História Social. FFLCH, USP, 1998; CHIAVENATO, J. J. Coronéis e Carcamanos. 2. ed. Ribeirão Preto, SP: FUNPEC Editora, 2004 ; MEIRA JUNIOR, J. A.; BARRETO, F. S.; MATTOS, J. C. M. O crime de Cravinhos: razões de recurso e memorial dos recorrentes. (Tribunal de Justiça de São Paulo). Ribeirão Preto: Typografia Selles, 1920. Biblioteca Nacional. 38 JORGE, J. O crime de Cravinhos: oligarquia e sociedade em São Paulo. 1920-1924. Dissertação de Mestrado em História Social. FFLCH, USP, 1998, p.09. 39 MELLO, R.C. Um coronel ... Op. cit., p. 161. 40 JORGE, J. O crime... Op. cit. p.119.

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Iria assumiu nunca ter matado alguém, nem em pensamento41. O Tribunal de

Justiça de São Paulo julgou improcedente a denúncia contra Iria Alves Ferreira,

libertando-a sem a necessidade de julgamento42.

A acusação pelo crime cometido em suas terras gerou grande desgaste para

a imagem de Iria, como observa o historiador Rafael Cardoso de Mello:

A “Rainha do Café” tinha ganhado um novo apelido – a “Rainha dos Bandidos”. E com ele, devemos rever toda a caracterização de Iria e de Ribeirão Preto, enquanto uma cidade racional e civilizada, preocupada com a limpeza e higiene de seus espaços públicos, rica e desenvolvida pelo capital cafeeiro e as negociatas do café 43.

Mesmo livre e inocentada, Iria Alves Ferreira nunca mais voltou a viver em

Ribeirão Preto, passando a viver na cidade de São Paulo. Aproveitamos as palavras

da própria Iria para definir o que o crime causou à sua vida pública:

Dias sem luz porque vejo apenas as trevas que envolvem a minha dor, as trevas que alumbram este caso misterioso que me sepultou em vida, encarcerada na sociedade depois de infamada, caluniada e flagiciada como uma ré criminosa a quem se deu a liberdade por comiseração e por piedade! (Grifos nossos)44.

Seu derradeiro suspiro ocorreu em São Paulo no ano de 1927 45, tendo seus

restos mortais sido depositados num imponente túmulo no Cemitério da

Consolação, Q. 69, T. 13 46.

Em toda a sua vida pública, Iria utilizou estratégias e articulações políticas

que já existiam antes do seu nascimento e que continuaram a existir depois de sua

morte. No próximo capítulo, analisaremos algumas dessas estratégias.

41 Carta ditada por Iria Alves Ferreira. ao Padre Antônio Carbella em 21 de novembro de 1927, na cidade de Vespasiano (MG). In: CIONE, R. Revivescências na História de Ribeirão Preto. Editora Legis Summa: Ribeirão Preto, 1994, p.198-199. 42 JORGE, J. O crime... Op. cit. p.121. 43 MELLO, R.C. Um coronel ... Op. cit., p. 164. 44 Carta de Iria Alves Ferreira para Washington Luis de 27 de setembro de 1922. Arquivo Whashington Luis. In: JORGE, J. O crime de Cravinhos: oligarquia e sociedade em São Paulo. 1920-1924. Dissertação de Mestrado em História Social. FFLCH, USP, 1998, p.132. 45 ROSA, L. R. O.; REGISTRO, T. C. Ruas e caminhos: um passeio pela história de Ribeirão Preto. Ribeirão Preto: Editora e Gráfica Padre Feijó Ltda., 2007. 46 MELLO, R.C. Um coronel ... Op. cit., p. 52.

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3.1 – Iria e o mundo público

No final do século XIX, após a morte do marido, Iria Alves Ferreira assumiu o

gerenciamento da fazenda Pau Alto. Mais por necessidade do que por escolha, Iria

adentrou de uma vez por todas o espaço público que era predominantemente

masculino como nos indica Roberto DaMatta:

Assim é que equacionamos simbolicamente a mulher com a comida e o doce com o feminino, deixando o salgado e o indigesto para estarem associados a tudo o que nos “cheira” a coisas duras e cruéis. Ao mundo difícil da “vida”, da “rua” e do trabalho em geral, esses universos que são profundamente masculinos e, por conseguinte, estão longe das cozinhas, dos temperos e das boas mesas e camas, onde só pode exercer uma comensalidade enriquecedora. Num plano mais filosófico e universal, sabemos que cru se liga a um estado de selvageria (a um estado de natureza), ao passo que o cozido se relaciona ao universo socialmente elaborado que toda sociedade humana define como sendo o de sua cultura e ideologia. Sabendo que o cru e o cozido exprimem mais que dois processos “naturais”, podemos agora entender por que falamos que “o apressado come cru...”. É que, com tal metáfora (ou associação entre o cru e a pressa), estamos nos referindo a esse elo entre a selvageria ou sofreguidão da pressa e o lado selvagem, ruim ou cru das coisas e da vida47.

Estando no espaço público, descrito acima como um ‘estado de selvageria ou

estado de natureza’, descobriu rapidamente os motivos que levaram Hobbes48 a

determinar a existência nesse estado da ‘Bellum omnia omnes’ 49, ainda que sob a

máscara da sociedade moderna, que foge à enxergar o espaço público tal como ele

é, cru, selvagem e amoral. Justamente sobre a moralidade inferior do espaço

público que Richard Sennett se referiu ao escrever:

Usando as relações familiares como padrão, as pessoas percebiam o domínio público não como um conjunto limitado de relações sociais, como no Iluminismo, mas consideravam antes a vida pública como moralmente inferior. A privacidade e a estabilidade pareciam estar unidas na família; é em face dessa ordem ideal que a legitimidade da ordem pública será posta em questão50.

47 DAMATTA, R. - O que faz o brasil, Brasil?, Rio de Janeiro: Ed. Rocco, 1986. p. 34. 48 WEFFORT, F (org.). Os Clássicos da Política. São Paulo: Ática, 1998. Ao leitor mais interessado sugiro a seguinte bibliografia: HOBBES, T. O Leviatã. São Paulo: Abril cultural, 1988; RIBEIRO, R. J. Ao leitor sem medo: Hobbes escrevendo contra o seu tempo. São Paulo: Brasiliense, 1984. 49 Tradução em Latim da expressão: Guerra de todos contra todos. 50 SENNETT, R. O Declínio do Homem Público: as tiranias da intimidade. Tradução: Lygia Araújo Watanabe. São Paulo: Companhia das Letras, 1988. p. 35.

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Para sobreviver nesse território e nele obter sucesso, Iria lançou mão de

expedientes e estratégias políticas próprias dos homens da sua época. O título de

Rainha do Café vem coroar o sucesso desta empreitada nos negócios e na política,

legitimando cada vez mais o uso do poder, do dinheiro e da força para, mesmo sem

a possibilidade de ocupar cargo político, estabelecer com o Estado uma relação de

influências e pressões, e assim fazer valer seus interesses no jogo político. Para tal

empreitada se valeu de vários expedientes que serão analisados a seguir.

Iniciaremos verificando as relações entre Iria e a Igreja Católica.

3.2 – Iria e a Igreja católica A Igreja foi um importante elemento tanto para a formação e sustentação da

imagem de Iria, quanto para que ela pudesse conquistar o respeito público e poder

político. Podemos observar na publicação Brazil Magazine, de 1911, a relação entre

Iria e as qualidades que estavam ligadas à Igreja:

Christã fervorosa e sincera, muito deve a Igreja e o Bispado, ao valioso auxílio da senhora Dona Iria, e nas diversas obras pias, e religiosas do Município ella tem sido uma incansável collaboradora, pelas importantes contribuições que tem fornecido. Para a construcção desse admirável templo catholico que var ser a bellissima e imponente Cathedral, o nome de Dona Iria, ache-se gravado em letras d’ouro pelo muito que ella tem por elle feito; e como dádiva suprema consagrada ao throno de Deus, ella offerece na sua dedicação piedosa de crente, essa maravilha d’arte, que lavrada em finos mármores de Carrara, constitue o sumptuoso e rico altar-mór, destacando-se pela imponência da sua magestade, em meio da nave imensa e grandiosa, constantemente banhada pela luz suave e mistyca, dos vitraux coada num amalgama colorido, atravez as columnatas do templo. Estas são as qualidades primordiaes desta excellente senhora [..]51.

É importante destacar que a Revista Brazil Magazine de 1911 conta com 147

páginas, sendo um capítulo de oito páginas exclusivo ao Bispado de Ribeirão Preto

e ao Bispo diocesano da época D. Alberto José Gonçalves. Excluindo as páginas

sobre o bispado, somente nas páginas - também em número de oito - sobre a

fazenda Pau Alto e sua proprietária Iria Alves Ferreira é que se encontra a palavra

Igreja, assim como as qualidades relacionadas à religiosidade.

51 Brazil Magazine. Revista Ilustrada d‘Arte e Atualidades. Publicação de Propaganda Brazileira no Estrangeiro. Rio de Janeiro, Anno V, Número 57, 1911,p. 62-63.

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Além da revista de circulação internacional, numa terça feira de 1918, o Jornal

A Cidade também não deixou de desdobrar as qualidades religiosas de Iria,

revelando a imagem da distinta senhora em relação ao povo de Ribeirão Preto:

A veneranda d. Iria Alves Ferreira, senhora de grande animo, acaba de fazer a nossa Catedral mais um importante donativo de varios contos de reis, destinados a construcção do altar de Nossa Senhora das Dores. O povo de Ribeirão Preto já se acostumou a estes atos de alta munificencia com que a illustre senhora, de quando em vez, da folga aos seus elevados sentimentos de piedade religiosa e caridade christã. Em frente da nave principal de nossa Sé, ostenta-se o sumptuoso altar mór, de artistico acabamento, com que a sua generosidade dotou, ainda ha pouco, o nosso Templo (...) D. Iria é hoje a bemfeitora capital da magestosa Igreja. (Grifos nossos) 52.

Neste momento, para além da publicidade forjando a imagem de Iria através

de suas qualidades de caráter religioso e de suas benfeitorias à Igreja, cabe refletir

qual a vantagem política dessa imagem. Na obra O Príncipe, Niccolò Machiavelli

ensina que o príncipe inteligente procura não irritar os nobres e, por outro lado,

manter satisfeito o povo. Ao exemplificar, o autor analisa o Estado Francês da

época, onde o Rei instituiu o Parlamento para agir como um juiz. Este, sem se referir

ao Rei poderia oprimir os notáveis e favorecer os fracos, que, satisfeitos não se

rebelariam contra o Estado ou contra o Rei. Dessa maneira o soberano se afasta da

imagem de tirano, sendo sempre lembrado pelo povo como benevolente. A seguir,

nas palavras de Maquiavel, segue a lição tão bem conhecida por Iria:

Podemos tirar outra conclusão disso: os príncipes devem transferir toda a responsabilidade das punições para os outros e tomar para si apenas a benevolência. Relembro, mais uma vez, que um príncipe deve tratar seus nobres com respeito e consideração e, ao mesmo tempo, deve evitar que possa se tornar odiado por seu povo53.

“Excelente!” - Esse foi o comentário do Imperador Napoleão Bonaparte ao ler

os escritos de Machiavel54. Parece-nos incontestável que politicamente é importante

que se tenha uma imagem benevolente para com o povo para poder manter com

mais facilidade o poder, sem precisar recorrer frequentemente à violência. No caso

52 JORNAL A CIDADE. Valioso donativo para a Cathedral. Anno XIV. Data 12.02.1918. p. 1. 53 MAQUIAVEL,N. O Príncipe: a natureza do poder e as formas de conservá-lo. Tradução de Cândida Sampaio Bastos. Golden Books: São Paulo, 2008. p. 183. 54 MAQUIAVEL,N. O Príncipe…Op. cit.,p. 183. (Notas)

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de Iria especificamente, usar a violência sem perder o prestígio político era

impossível. Isso porque, como foi abordado anteriormente, a participação de Iria no

Estado naquele período não podia ser direta. Para Max Weber, o Estado acontece

quando “uma comunidade humana que, dentro de determinado território (...)

reivindica o monopólio do uso legítimo da violência física” 55. Consequentemente, ao

não participar diretamente do Estado, era vetado a ela o uso legítimo da violência

física.

Citar o uso ‘legítimo’ da violência física nos remete à reflexões sobre a

legitimidade também no uso do poder. Nas condições em que vivia, como era

possível a Iria legitimar seu poder?

Iniciaremos essas reflexões recordando o conceito de dominação, também na

obra de Max Weber, segundo a mestre em sociologia política Lílian L. da Silva e o

mestre em filosofia política Wellington L. Amorim:

[…] motivos pelos quais os indivíduos aceitam legitimamente a submissão a um poder político. A dominação pode ser tradicional (fundada na tradição), carismática (fundada nas qualidades do líder) ou racional-legal (fundada na obediência a normas estabelecidas).É importante assinalar que o político pode ser qualificado como um “líder carismático”, alguém capaz de liderar a multidão por suas qualidades pessoais56.

Em busca de legitimidade, acreditamos que Iria exercia a dominação

tradicional. E por esse motivo, é que utilizou-se da Igreja - instituição tradicional na

época - para que, através das manifestações e festas religiosas, seu poder fosse

legítimo.

De acordo com Roberto DaMatta ‘são inúmeras as situações em que a festa

promove a descoberta do talento, da beleza, da classe social, do preconceito e da

alegria’57. No caso de Iria, seguramente a Igreja contribuiu para que o povo de

Ribeirão Preto conhecesse sua classe social. Como podemos observar a seguir,

DaMatta classifica as festas religiosas como ‘ritos de reforço’, mantendo e

promovendo as distinções sociais presentes na sociedade:

Daí por que, em outro lugar (no meu livro Carnavais, malandros e heróis), chamei os carnavais de “ritos de inversão” e os festivais da ordem de “ritos

55 WEBER, M. Ciência e Política duas vocações. São Paulo: Cultrix, 1967. p. 56. 56 SILVA, L. L.; AMORIM, W. L. Política, democracia e o conceito de “representação política” em Weber. Blumenal: Revista Interdisciplinar Científica Aplicada, Blumenau, v.2, n.4, Sem II. 2008, p.06. 57 DAMATTA, R. - O que faz…Op. Cit., p. 55.

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de reforço”. Minha idéia era salientar essas propriedades estruturais de um e outro momento solene: o carnaval promovendo a igualdade e a supressão de fronteiras, e as festas cívicas e religiosas promovendo a sua glorificação e manutenção. Desse modo, os rituais religiosos partem de igrejas e locais sagrados, pretendendo ordenar o mundo de acordo com os valores que são ali articulados como os mais básicos58.

Concordamos que a ordem do mundo pode ser influenciada de acordo com

os valores mais básicos que partem das Igrejas e locais sagrados. Iria mantendo

uma imagem de distinção e poder dentro da Igreja, fatalmente essa mesma imagem

de poder e distinção seria projetada à sociedade, à esfera pública.

Para reforçar essa teoria sobre ‘ritos de reforço’ e ‘ritos de inversão’,

destacamos os comentários do historiador Rafael Cardoso de Mello, que abordou

importante questão acerca do comportamento de Iria Alves Ferreira em uma festa

carnavalesca, ocorrida em 1915.

Sendo o carnaval o momento de permissividade, os elementos do corso se vestem com fantasias, maquiagem, brincando o carnaval com a permissão da sociedade que fecha os olhos para a profanação legal.[…] Tais extravagâncias poderiam ter sido vividas por Iria que preferiu participar marginalmente, fora do carro, de vestido branco, cabelos presos e mãos seguras na frente do corpo. A não presença junto aos integrantes que estão ao centro da fotografia sugere um posicionamento interessante: a convivência com os hábitos da cidade, da família, dos jovens que estão no corso, porém, a localização marginal desta situação. O fotógrafo ‘imortalizou’ um evento que carrega a “Rainha do Café” sem que ela esteja no foco das atenções do responsável. Não é Iria a que chama a atenção, é o carnaval (ou a carnavalização) materializado no corso, nas flores, nos enfeites, nos chifres e nas fantasias. A posição marginal de Iria nos permite compreender uma dada relação com a realidade que será reavaliada em diversos momentos do texto. A permanência de seus valores tradicionais está presente no vestido branco, representativos do discurso da virgem, da pureza; sua postura enquanto “Rainha do Café”, cujas mãos fechadas, uma segurando a outra, formam uma proteção (talvez defesa, ou apenas distância) em relação a situação. Enfim, elementos que constroem um painel de argumentos que destoam do discurso da imagem – a exuberância e extravagância da festa – e revelam uma característica de Iria que devemos nos reportar: uma lógica conservadora para lidar com o mundo59.

A imagem seguinte foi a que permitiu que o historiador realizasse tais

comentários:

58 DAMATTA, R. - O que faz…Op. Cit., p. 55. 59 MELLO, R. C. Um “Coronel de saias” no interior paulista: a “Rainha do Café” em Ribeirão Preto (1896-1920). 2009. 210f. Dissertação de Mestrado em História – Faculdade de História, Direito e Serviço Social, Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”, Franca, 2009. p. 136.

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IMAGEM 07 Corso carnavalesco - 1915

Fonte: Álbum de Família. In: MATTOS, José Américo Junqueira de. Família Junqueira: sua história e genealogia. v.1. Rio de Janeiro, Familia Junqueira, 2004.

Sobre essa imagem é importante acrescentar que participar de um rito de

inversão, seria suprimir as fronteiras sociais com os demais participantes. Porém, no

carro encontram-se familiares60 e a filha de D. Iria Alves Ferreira. Acreditamos que

sendo o desfile num corso privilégio da elite, a família Junqueira não poderia deixar

de estar presente, ostentando seu automóvel e suas luxuosas fantasias.

O perspicaz leitor pode estar se perguntando por que Iria não poderia igualar-

se aos demais participantes, sendo que os demais também eram membros da elite.

60 De acordo com o livro de onde foi retirada essa imagem, os participantes do corso que se encontram dentro do carro são: Inocência Diniz Junqueira, Donguita Junqueira Penteado, Maria da Conceição Junqueira Galo (Zica Junqueira) e o motorista Antônio Junqueira da Veiga. Os demais participantes não foram identificados. No livro em que tais informações foram retiradas, identificaram Iria Alves Ferreira dentro do carro, ao lado do motorista. Claramente essa informação não pode ser verdadeira, pois em 1915, data da foto, Iria Alves Ferreira contava aproximadamente com mais de 60 anos, idade muito superior à que aparenta a jovem ao lado do motorista.

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Justifica-se o questionamento do leitor, considerando que Iria Alves Ferreira era de

uma família tradicional, ainda mais quando se verifica a imagem a seguir:

IMAGEM 08 Carro da Família Inecchi enfeitado para o Carnaval – Década de 1910.

Fonte: Arquivo Público e Histórico de Ribeirão Preto. F. 152.

Nesta imagem observamos o carro da ‘Casa Innecchi’ decorado para um

corso de carnaval. Domingos Innecchi está em destaque no primeiro plano central

foto (de terno, chapéu e bigode), enquanto Paschoal Innecchi encontra-se entre as

duas crianças apoiadas na lateral do carro.

O leitor pode verificar que os chefes da família - Domingos e Paschoal

Innecchi - estão dentro do carro, participando de um rito de inversão, igualando-se

aos demais membros de sua tradicional família. Retomando o questionamento

anterior, porque Iria não poderia ter atitude semelhante aos demais chefes de família

e participar do corso igualando-se aos demais membros da elite? Para tais

questionamentos realizaremos duas considerações. No caso de Domingos e

Paschoal Innecchi, sendo homens, poderiam encontrar outros meios como a política

ou o comércio para promoverem suas imagens públicas. Participar de um rito de

inversão não contradiz a imagem ilustre destes senhores, pois eles poderiam ser

iguais a todos os outros homens da elite que também tinham um carro para exibir

em tais festas. Ao contrário, Iria não poderia deixar um rito de inversão contradizer a

sua imagem distinta, ligada à Igreja e seus ritos de reforço. Afinal, quando o

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historiador Rafael Cardoso de Mello analisa a imagem e destaca em Iria a

permanência de seus valores tradicionais, assim como a lógica conservadora para

lidar com o mundo, parece que ele está destacando as características da Igreja

Católica até os dias de hoje. A segunda consideração é que, a participação de Iria

num corso de carnaval seria permitir uma igualdade que não poderia ser admitida ao

se tratar da ‘Rainha do Café’.

Ao comentarmos que a mulher, Iria Alves Ferreira utilizou a Igreja para

legitimar seu poder público, podemos verificar também o uso da Igreja para garantir

a autoridade. Richard Sennett se propôs a estudar os laços afetivos da sociedade

moderna e suas conseqüências políticas. O primeiro livro dos quatro ensaios inter-

relacionados sobre os laços afetivos é dedicado inteiramente à compreensão da

problemática relacionada à autoridade. Deste ensaio destacamos:

Tanto na sociedade quanto na vida privada, queremos um sentimento de estabilidade e ordem, benefícios que são supostamente trazidos por um regime dotado de autoridade. Esse desejo aparece nos monumentos erguidos à autoridade na vida pública: imensas igrejas, santuários e prédios governamentais, todos eles símbolos de que a ordem do poder dominante durará além da geração que hoje governa e da que hoje obedece61.

Podemos encontrar pela cidade de Ribeirão Preto monumentos em

homenagem a vários homens que tiveram alguma autoridade no período estudado.

A seguir relaciono alguns monumentos em homenagem a pessoas que de alguma

forma, ou em algum período estiveram relacionadas à Iria Alves Ferreira62.

IMAGEM 09

Busto do Cel. Joaquim da Cunha Diniz Junqueira (Cunhado de Iria)

Fonte: Arquivo Pessoal

61 SENNET, R. Autoridade. Tradução de Vera Ribeiro. Record: Rio de Janeiro, 2001. p. 31-32. 62 Para verificar mais monumentos presentes na cidade de Ribeirão Preto, acessar: <http://www.pmrp.com.br/principaln.asp?pagina=/scultura/arqpublico/monumentos/i14monumentos1.php.>.

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Imagem 10 Busto de Joaquim Camilo de Mattos (Um dos advogados que defenderam Iria Alves

Ferreira na ocasião do processo relacionado ao Crime de Cravinhos)

Fonte: Arquivo Pessoal

Imagem 11 Placa e obelisco em homenagem ao Dr. Fábio de Sá Barreto (Um dos advogados

que defenderam Iria Alves Ferreira na ocasião do processo relacionado ao Crime de Cravinhos)

Fonte: Arquivo público e Histórico de Ribeirão Preto.

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Imagem 12 Monumento a Dr. João Alves Meira Junior (Um dos advogados que defenderam Iria

Alves Ferreira na ocasião do processo relacionado ao Crime de Cravinhos)

Fonte: Arquivo Pessoal

Embora Richard Sennett esteja se referindo às instituições que exercem

autoridade na vida pública como a Igreja e o Estado, consideramos que a teoria

também é verdadeira no tocante às pessoas que exercem autoridade e desejam

perpetuar essa ordem de dominação.

Embora possamos perceber muitas homenagens a pessoas que tiveram

ligação com Iria, não existe no espaço público da cidade de Ribeirão Preto uma só

homenagem a Iria, no que se refere à monumentos, bustos, placas, ou estátuas63.

Entretanto, ao adentrarmos a Catedral Metropolitana de Ribeirão Preto, à direita da

Nave observaremos o altar-mór - em honra a Nossa Senhora das Dores - que foi

doado por Iria Alves Ferreira. Mesmo que embora não seja uma homenagem a Iria,

na parte inferior da lateral direita está o seu nome, escrito no mesmo mármore de

fino acabamento que compõe o restante do altar:

63 Existe em Bonfim Paulista uma rua denominada Iria Alves Ferreira e também uma Escola Municipal de Ensino Infantil, denominada EMEI Dona Iria Alves Ferreira.

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Imagem 13 Altar em Honra à Nossa Senhora das Dores – Catedral de Ribeirão Preto

FFonte: Arquivo Pessoal – Foto do Autor

Imagem 14 Detalhes da lateral direita do altar em Honra à Nossa Senhora das Dores - Catedral

de Ribeirão Preto

Fonte: Arquivo Pessoal – Foto do Autor

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Dessa forma Iria consegue, através do espaço privado da Igreja, solucionar

as dificuldades enfrentadas pelas mulheres para manter sua presença no espaço

público.

Outro expediente utilizado por Iria foram suas relações de parentesco e

amizade, como poderemos verificar na seqüência.

3.3 - Iria e as relações de parentesco e amizade Sobre as relações de parentesco de Iria Alves Ferreira nos importa

primeiramente que, embora o seu pai Antônio Honório Alves Ferreira tivesse sido

vereador, possuísse ativa participação na economia da cidade e relativo sucesso ao

inserir-se na comunidade é somente ao casar-se em primeiras núpcias com Luiz da

Cunha Diniz Junqueira que Iria passa realmente a fazer parte de uma família com

tradição política na região. Seu cunhado, Joaquim da Cunha Diniz Junqueira era (e

foi durante muito tempo) o líder político do PRP em Ribeirão Preto que conforme

comentado no capítulo inicial era uma cidade importante tanto politicamente quanto

economicamente.

Através do seu parentesco, pôde tecer uma rede de reações políticas que

permitiram à Iria a possibilidade de influência no Estado, tanto na esfera Municipal

quanto Estadual. Além disso, nota-se o poder de influência de Quinzinho nas

escolhas realizadas dentro do PRP. Sobre isso, o Historiador Rafael Cardoso de

Mello nos lembra que os advogados de Iria, todos ligados ao PRP, ao defendê-la no

caso do Crime de Cravinhos, se projetam politicamente:

Camilo de Matos carregou no currículo o cargo de Prefeito da cidade e presidente da Câmara. Quando foi afastado da política, assumiu o cargo de consultor jurídico das “Usinas Junqueira” e Diretor Presidente do Educandário “Cel. Quito Junqueira”. Já Fábio Barreto, elegeu-se deputado federal em 1924, também assumiu a Prefeitura de Ribeirão Preto como o amigo (Camilo de Matos), e participou da construção de uma das maiores avenidas da cidade (a Avenida Francisco Junqueira). Meira Júnior foi Deputado Estadual e Federal, além de ser Senador. Também foi Delegado de Polícia, e assim como Camilo de Matos, ocupou o cargo de Presidente da Câmara de Ribeirão Preto64.

O mesmo historiador em outros momentos escreve sobre alguns personagens

que participavam da rede social de Iria, e sobre esse assunto conclui que faz-se 64 MELLO, R. C. Um “Coronel... Op. Cit., p. 172-173.

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assim “um conjunto de personagens atrelados a “Rainha do Café” que nos permite

tecer uma rede de sociabilidade específica, ou seja, essas as quais ao se relacionar,

conseguiu negociar e tirar seus proveitos” 65.

Um documento que nos chama a atenção é um bilhete de felicitações enviado

em 01 de Maio de 1920 por Iria Alves Ferreira ao então presidente do Estado

(governador) Washington Luiz:

Imagem 15 Frente do cartão enviado por Iria Alves Ferreira a Washington Luiz

Fonte: Fundo Washington Luís. AESP. In: MELLO, R. C. Um “Coronel de saias” no interior paulista: a “Rainha do Café” em Ribeirão Preto (1896-1920). 2009. 210f. Dissertação de Mestrado em História – Faculdade de História, Direito e Serviço Social, Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”, Franca, 2009. p. 176.

“Iria Alves Ferreira mious sinceros parabéns a Exma. Sr. Dr. Washington Luiz; faz votos

pela felicidade completa Ribeirão Preto”

65 MELLO, R. C. Um “Coronel... Op. Cit., p. 169.

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Imagem 16 Verso do cartão enviado por Iria Alves Ferreira a Washington Luiz

Fonte: Fundo Washington Luís. AESP. In: MELLO, R. C. Um “Coronel de saias” no interior paulista: a “Rainha do Café” em Ribeirão Preto (1896-1920). 2009. 210f. Dissertação de Mestrado em História – Faculdade de História, Direito e Serviço Social, Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”, Franca, 2009. p. 176.

“de seu quatriemio gover_ ernamental.

1 de maio de 1920”

Aproximadamente seis meses depois de enviar o bilhete de felicitações, Iria

novamente se dirige a Washington Luiz, dessa vez por intermédio de uma carta

aberta que fora reproduzida e publicada em 26 de Novembro de 1920. Tal carta

ocupava 1/3 da primeira página do jornal. A seguir, os principais trechos:

“Se, no dia em que fui posta em liberdade, tivesse Deus me dado as mesmas forças que em sua bondade me concedeu para resistir a todas as infâmias com que fui ultrajada, ao deixar o cárcere onde tanto soffri, physica e moralmente, eu teria ido até v.exa. para, de viva voz, pedir a justa reparação que me é devida. Doente, alquebrada por tamanhos soffrimentos, tentei, mas não consegui fazel-o (...). Infelizmente, essa justiça não se me fez. Deus sabe que soffri innocente; os homens, porém, na sua covardia, no seu egoísmo e na sua maldade, não acreditam em mim. E não lhes posso tapar a boca. Não fui absolvida da

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culpa infamente, fui apenas posta em liberdade por falta e indícios de minha apregoada criminalidade. Não é a mesma cousa. (...) Eis porque ao pedido dos meus advogados junto o meu, dirigido por este meio a v.exa., a quem imploro e supplico a abertura de novas e severas investigações policiaes em torno do facto que me arrastou as grades da prisão, e acredite v. exa, não as temo, antes confio em que, havendo argúcia, habilidade e imparcialidade, serão os próprios auxiliares de v.exa que proclamarão, bem alto, a minha innocencia e também a culpa das autoridades ineptas e prevaricadoras que me colheram na trama desse processo que deshonrou o meu nome e de toda a minha família, mas que nada honra a policia paulista e fez descrer da civilisação do Estado de São Paulo. Iria Alves Ferreira, São Paulo, 24 de novembro de 1920”66. (Grifos nossos)

Essa carta demonstra tal a confiança de Iria na solidez do relacionamento seu

e do seu grupo com Washington Luiz. Acusar publicamente as autoridades de

ineptas e prevaricadoras, lançar dúvidas sobre a honra da polícia e descrer da

civilidade do Estado de São Paulo - ‘liberal, republicano e moderno’ – é sinal de

evidente força política, colocando o seu nome e de sua família acima do Estado e do

seu comandante, o próprio governador.

Tal força é confirmada quando, não por coincidência, pouco tempo depois,

“Accacio Nogueira perderia o posto de chefe do Gabinete de Investigações e

Capturas, o delegado regional de Ribeirão Preto, Silva Carvalho, e o promotor

público da comarca seriam transferidos, e o subdelegado Ramos demitido” 67.

Na imagem seguinte podemos verificar o desgaste político enfrentado por

Washington Luiz ao permitir que tais relações interferissem no Estado.

Imagem 17 Recorte do Jornal ‘O Pasafuso’.

Fonte: O Parafuso. 15 de Dezembro de 1920. APHRP. In: MELLO, R. C. Um “Coronel... Op. Cit., p. 177.

66 Jornal A Cidade. 26 de Novembro de 1920, p. 1. 67 Jornal O Estado de São Paulo. “O crime de Cravinhos”. 26.11.1920, p.12.

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O reflexo da atuação (ou omissão) de Washington Luiz é denunciado no

terceiro ‘box’ que sai do título, onde está escrito em destaque: “O sr. Washington

Luiz é o único responsável pela impunidade dos bandidos milionários”.

Sob essa acusação e outras acusações, o governo do Estado publicou a

seguinte nota informativa no Jornal Correio Paulistano, que era um órgão oficial do

Partido Republicano Paulista, e que foi reproduzida por outros jornais paulistas,

neste caso, o Jornal O Estado de São Paulo:

Levantada a acusação de ter sido abafado o inquérito sobre o crime de Cravinhos, demonstramos, com a citação de datas, que esse inquérito, com todas as provas acumuladas em numerosas diligências policiais, com todos os indiciados presos, em virtude de mandado de prisão preventiva, fora oportunamente encaminhado à justiça de Ribeirão Preto, e fez o respectivo sumário, no qual todos os denunciados foram pronunciados. [..] Levantada nova acusação de terem sido concedidas licenças e feitas remoções das autoridades policiais que funcionaram no inquérito, [...] demonstramos que em tais atos administrativos, perfeitamente legais, é a administração o único juiz da respectiva oportunidade, desde que não ofendam direito individual, nem a coletividade; e que a ocasião foi oportuna em vista do estado da Comarca, profundamente abalada, profundamente apaixonada neste caso, tendo-se em vista a serenidade e a calma da localidade68.

Tal resposta nos sugere que o governo do Estado de São Paulo da época era

influenciado pelas relações políticas com o grupo em que Iria fazia parte. Foi mais

fácil (ou conveniente) explicar o inexplicável do que romper tais relações.

A recíproca também era verdadeira. Em artigo do Jornal O Estado de São

Paulo, os advogados de Iria Alves Ferreira defendem a autoridade e a integridade

moral do então governador ao dizer que “o governo que tem à sua frente a

autoridade de um Washington Luis, não seria capaz de praticar o ato ignóbil de

ocultar a Justiça, por conveniências políticas, aquilo que ela deve ser” 69.

A Revista Brazil Magazine, de 1911 nos indica que a rede social de Iria, em

1920, já vinha sendo construída de longo período, conforme a imagem a seguir:

68 Jornal O Estado de São Paulo O crime de Cravinhos: A propósito do Inquérito Policial sobre o mesmo”, 07.04.1921, p. 3. _______“ O crime de Cravinhos: A propósito da remoção do delegado regional de Ribeirão Preto. 03.04.1921, p.3. In: JORGE, J. O crime de Cravinhos: oligarquia e sociedade em São Paulo. 1920-1924. Dissertação de Mestrado em História Social. FFLCH, USP, 1998, p.123-124. 69 Jornal O Estado de São Paulo. O crime de Cravinhos. Quem é a vítima. 22.09.1920, p. 08. In: JORGE, J. O crime de Cravinhos: oligarquia e sociedade em São Paulo. 1920-1924. Dissertação de Mestrado em História Social. FFLCH, USP, 1998, p.125.

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Imagem 18 Visita de Hermes da Fonseca à Iria Alves Ferreira

. Fonte: Brazil Magazine. Revista Ilustrada d‘Arte e Atualidades. Publicação de Propaganda Brazileira no Estrangeiro. Rio de Janeiro, Anno V, Número 57, 1911,p. 60.

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Receber em sua fazenda o Dr. Fonseca Hermes, irmão do então Presidente

da República (1910-1914) Marechal Hermes Rodrigues da Fonseca70, demonstra

uma grande força política. Além disso, ao atentarmos pela ordem da legenda

estabelecida para identificar os fotografados, verificamos que não existe uma

seqüência linear nas apresentações, o que nos sugere ordem de importância

política, classificando Iria Alves Ferreira imediatamente após o visitante, acima dos

seus filhos (entre eles o Dr. Francisco Junqueira, que chegou a ser deputado

estadual em diversas legislaturas pelo PRP, além de ter ocupado cargo de vereador

e de presidente da Câmara Municipal da cidade) e o administrador geral das

fazendas de Iria, Sr. Alexandre Silva.

O historiador Rafael Cardoso de Mello faz importante análise sobre o ‘modus

operandi’ de Iria na política, no que se refere às relações de cordialidade:

Iria foi conhecedora e praticante desta específica forma de fazer política – a bucaneria e a cordialidade. Elas sempre estiveram presentes no lidar de Iria com o mundo, lembrando que sendo mulher, suas articulações não poderiam ocorrer fora de uma esfera conservadora. Teve desde sua infância uma “escola” que a formou assim: seja pelo modelo paterno, ou pelo próprio marido (primeiro) que vestiram cargos públicos, aglutinou as lições da infância em tempos onde ocupou o trono do café. [...] A mulher que pode ser vista a partir de tantas ligações, entre elas o próprio presidente do Estado e futuro presidente da República, é uma mulher que articulou-se em todos os momentos da vida a partir do compadrio, das amizades, da cordialidade... da bucaneria71.

Dessa maneira, Iria nunca estava sozinha em sua vida pública. Sempre

contava com os parentes, com os amigos. E justamente sobre essas relações entre

familiares e amigos, Roberto DaMatta escreve:

Daí por que ligamos intensamente a comida com os amigos. Pois quem nos ampara quando “comemos da banda podre” e quem nos pode conseguir uma “boca” ou uma “comilança no Estado ou no Governo”? Certamente que são os amigos, esses nossos eternos companheiros de bródio, gosto e mesa... Companheiros. O nome é rico para o que falamos. Pois há quem diga que a palavra deriva do latim com pão: quer dizer, aqueles que juntos comem o pão. E por isso estão relacionados72.

70 Informações obtidas no Site Oficial da Presidência da República Federativa do Brasil. <http://www.presidencia.gov.br/info_historicas/galeria_pres/galhermes/galhermes/integrapresidente_view/ > Acesso em 17 de outubro de 2009 às 23h50m. 71 MELLO, R. C. Um coronel... Op. cit., p.177. 72 DAMATTA, R. O que faz… Op. cit., p. 42.

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No caso de Iria, quando os ‘eternos companheiros de mesa’ garantem

privilégios no Estado ou na vida pública é sinal que ocorre uma mistura do que é

público com o que é privado. Essa mistura é que permitiu a Iria os usos e desusos

das relações sociais na política

A constante movimentação política através de relações privadas de quem

está no poder e seus pares, torna o mundo público cada vez mais promíscuo,

permitindo que este se torne moralmente inferior, como nos indica DaMatta:

Usando as relações familiares como padrão, as pessoas percebiam o domínio público não como um conjunto limitado de relações sociais, como no Iluminismo, mas consideravam antes a vida pública como moralmente inferior. A privacidade e a estabilidade pareciam estar unidas na família; é em face dessa ordem ideal que a legitimidade da ordem pública será posta em questão73.

Como já foi evidenciada no primeiro capítulo, a confusão entre as esferas

publica e privada é uma marca que acompanha a política brasileira desde a época

do descobrimento. Segundo Raymundo Faoro essa mistura é uma herança de

Portugal:

Há um jogo de pressões e influências recíprocas, que associam o predomínio do soberano nas rendas mais altas e nos misteres mais humildes. A propriedade do Rei – suas terras e seus tesouros – se confundem nos seus aspectos público e particular. [...] O problema não seria pertinente a este ensaio se o feudalismo não houvesse deixado, no seu cortejo funerário, vivo e presente legado, capaz de prefixar os rumos do Estado moderno. Patrimonial e não feudal o mundo português, cujos ecos soam no mundo brasileiro atual, as relações entre o homem e o poder são de outra feição, bem como de outra índole a natureza econômica, ainda hoje persistente, obstinadamente persistente74.

Ao escrever ‘ainda hoje persistente’, Raymundo Faoro revela que

politicamente pouca coisa mudou no que se refere à relação entre homem e poder,

assim como no seu modo de atuação política. Sobre isso, Richard Sennett explica

que:

73 FAORO, R. Os Donos do Poder: formação do patronato político brasileiro. 1 v. 10 ed. São Paulo: Editora Globo, 2000,. 1v. p. 35. 74 FAORO, R. Os Donos do Poder… Op. cit.,p. 8,17-18.

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Na política moderna, seria suicídio para um líder insistir em dizer: esqueçam a minha vida privada; tudo o que precisam saber a meu respeito é se sou bom legislador ou bom executivo e qual a ação que pretendo desenvolver no cargo [...] Essa ‘credibilidade’ política é a superposição do imaginário privado sobre o imaginário público e, também nesse caso, surgiu no século passado, como resultados de confusões comportamentais e ideológicas entre os dois âmbitos75.

Nesse momento, nos fica claro o entendimento de porque muitas vezes os

interesses privados se sobrepõem aos interesses públicos, como foi no caso do

afastamento das autoridades policiais citadas anteriormente, como foi no caso da

ascensão política dos advogados de Iria, como foi no caso dos advogados de Iria

defenderem o governador e como é, em tantos outros casos da nossa política atual,

sem que a sociedade brasileira consiga compreender esse tipo de relação. Sobre a

sociedade brasileira, Roberto DaMatta questiona:

Por que isso é assim? Minha resposta indica que o Brasil é uma sociedade interessante. Ela é moderna e tradicional. Combinou, no seu curso histórico e social, o indivíduo e a pessoa, a família e a classe social, a religião e as formas econômicas mais modernas76.

‘Moderna e tradicional’. Essa é a melhor explicação para a sociedade

brasileira. Ao mesmo tempo em que a República era instaurada no Brasil, com suas

modernas promessas de total separação entre público e privado, era a mesma

República anti-moderna ao permitir que tais esferas se misturassem a tal ponto de

se confundirem.

Ainda que atada pelas reminiscências anti-modernas que permeavam as

entranhas da sociedade no início do século XX, a República da modernidade chegou

à Ribeirão Preto. E rapidamente, Iria Alves Ferreira se apropriou dos modernismos

que poderiam lhe garantir no poder, como veremos a seguir.

3.4 – Iria e a modernidade Numa sociedade em transformação é preciso que pelo menos na aparência

ou no modo de atuação, os mecanismos de dominação também se transformem. Até

mesmo para administrar a fazenda era preciso novas técnicas, ainda mais se

considerarmos a recente libertação dos escravos, ocorrida em 1888. Os fazendeiros

75 SENNETT, R. O Declínio do Homem Público: as tiranias da intimidade. Tradução: Lygia Araújo Watanabe. São Paulo: Companhia das Letras, 1988. p. 41. 76 DAMATTA, R. - O que faz… Op. Cit., p. 80.

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da época tinham que adaptar-se a uma nova maneira de mando para com os

empregados. Era preciso despertar neles, mais do que um sentido de obrigação pelo

trabalho e pelo dinheiro recebido, um sentimento de busca de ideal. Esse trabalho

foi facilitado, pois ao fugirem dos conflitos existentes na Europa, principalmente na

Alemanha e Itália por sua unificação, os imigrantes buscavam ‘fazer América’, que

significa obter fortuna para poder voltar à Europa e acompanhar as mudanças que lá

estavam ocorrendo.

A Modernidade chega a Ribeirão Preto pelas linhas do trem, geralmente

encomendadas pelas famílias poderosas da cidade. Estar próximo ao que é

moderno trazendo para si a representação do moderno na região, causa uma

admiração nas pessoas, que costumam tomar o ‘ser moderno’ como um ideal.

Richard Sennett comenta sobre dinâmica das formas de dominação:

A dominação, em outras palavras, está em toda parte. Os que lideram as revoluções são tão senhores quanto os que defendem a Igreja e o Rei. A liberdade provém de expulsar o “senhor que está dentro de si”, sejam quais forem suas exigências 77.

A liberdade comentada por Sennett torna-se cada vez mais difícil quando se

trata de tomarmos a ‘obsessão’ pela modernidade como senhor. Isso porque a

ilusão de que é possível alcançar o auge do moderno, nos leva sempre a uma falsa

esperança, que é alimentada continuamente por nós mesmos, tendo como modelos

os mais modernos que nós. Conferimos ao representante do moderno um poder sem

necessitar de outro fator para que seja legitimado. O simples fato do dominante estar

mais próximo ao que é moderno, já o faz um ícone. Esse ícone não pode perder seu

poder, pois não é ele o senhor, mas representa o senhor (obsessão pelo moderno)

que está dentro de nós.

Embora moderna, podemos fazer um paralelo dessa representação de poder

com a representação dos faraós do Egito, que ao tomar para si a representação dos

deuses (nesse caso, se toma para si a representação do moderno, onde o moderno

é deus e senhor), já não precisavam de nenhum atributo para manter o poder senão

essa ligação que seus súditos acreditavam que o dominante tivesse com os deuses.

77 SENNET, R. Autoridade. Tradução de Vera Ribeiro. Record: Rio de Janeiro, 2001. p. 63.

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Iria Alves Ferreira também tomou para si a representação da Modernidade,

como podemos ver a seguir:

A “RAINHA DO CAFÉ”: - Cercada do aroma de flores raras e valiosa,residia defronte a um lago, em luxuoso ‘chalet’, na fazenda Pau Alto, Dona Iria Alves Ferreira (Iria Junqueira), que recebeu o título de ‘Rainha do Café’, formando com o Cel. Francisco Schmidt a famosa dupla real da cafeicultura mundial. Com cerca de 1.300 alqueires de terra, possuía 1.500.000 pés de café, que anualmente rendiam cem mil arrobas. A fazenda de D. Iria Alves Ferreira dispunha de energia elétrica para o trabalho noturno e contava com mais de 200 casas para residência dos trabalhadores. O seu café era jogado em um tanque cheio de água que por meio de canaletas cimentadas, levavam os grãos para o terreiro de secagem. Introduzindo processo novo, transportavam café para beneficiamento através de vagonetas que deslizavam sobre trilhos especiais 78.

Como bem verificou Rafael Cardoso de Mello ao “implementar estes símbolos

do novo tempo, Iria se mostra aberta a ganhar com as tecnologias, a modificar a

produção para ganhar mais velocidade no processo” 79.

Ao revelar em suas páginas que os machinismos para beneficiar são os mais

modernos e aperfeiçoados sistemas 80, a Revista Brazil Magazine não deixou de

fazer referência aos aspectos modernos da fazenda Pau Alto, nem tampouco deixou

de evidenciar a iniciativa de Iria Alves Ferreira ao instalar em outra fazenda uma

moderna indústria de laticínios:

Nas margens do imponente Rio Pardo, possue também a senhora Dona Iria uma outra vasta propriedade com seiscentos alqueires de terras em mattas virgens e nas quaes já está iniciada uma bella lavoura cafeeira de cem mil pés e uma grande indústria pastoril com quinhentas cabeças do melhor e mais puro gado caracu, que pasta vigoroso e lusidio nas viçosas invernadas que margeam o grande rio. A industria de lacticínios e a creação, ahi se desenvolvera de um modo practico e moderno e de acordo com a grande iniciativa da intelligente proprietária81.

Fazer referência à iniciativa de Iria é conferir a ela a total responsabilidade por

tudo o que é moderno em sua fazenda. Essa responsabilidade pelo que é moderno

78 CIONE, R. História de Ribeirão Preto. (V5). 1. ed. Ribeirão Preto: IMAG, 1987. p.197. 79 MELLO, R. C. Um coronel... Op. cit., p.107. 80 Brazil Magazine. Revista Ilustrada d‘Arte e Atualidades. Publicação de Propaganda Brazileira no Estrangeiro. Rio de Janeiro, Anno V, Número 57, 1911, p. 65. 81 Brazil Magazine. Revista Ilustrada… Op. cit. p .66.

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traduz justamente o que escrevemos anteriormente sobre ‘tomar para si’ a

representação da modernidade. Ao empreender tais iniciativas, Iria demonstrou

possuir um conhecimento deste mundo – moderno – que seduzia e amedrontava a

todos.

Repetindo, mais uma vez, a idéia de que a fazenda Pau Alto era uma

esplêndida propriedade cafeeira, cuja organização moderna e perfeita faz honra à

actividade de sua digna proprietária 82, somos tomados pelo temor de que o leitor

fique com a impressão que buscamos convencê-lo a qualquer custo sobre a atuação

moderna de Iria ao administrar sua propriedade. Devemos alertá-lo que antes de

nós, pelas páginas da Revista Brazil Magazine, a própria Iria buscava convencer aos

leitores do Brasil e exterior sobre sua abertura a alguns dos modernismos que

acompanhavam a modernidade. Além das citações anteriores, a revista também

menciona despolpadores, tulhas e diversos depósitos fazendo parte do conjunto de

tecnologias da fazenda.

Dentre essas tecnologias, que foram citadas no capítulo anterior,

relembremos a existência na fazenda de Iria dos trilhos ‘decauvilles’, que eram

utilizados para transporte de café dentro da fazenda. Nos dias de hoje, quase um

século depois de Iria utilizar trilhos e vagonetes para deixar o transporte mais rápido

e eficiente, empresas de comunicação, transportadoras e empresas de logística do

mundo atual ao realizarem sua publicidade enfatizam como principal diferencial

competitivo nada mais que rapidez e eficiência! É o que nos revela a citação a

seguir:

Com muito tempo de estrada, nos consideramos uma empresa de valor que busca, a cada dia, a excelência no atendimento, rapidez e eficiência em coletas e entregas. Temos valor porque valorizamos nossos clientes […] Somos uma empresa preocupada com o aprimoramento constante de nossos serviços, sendo assim, estamos sempre atentos às novas tecnologias, proporcionando segurança e comodidade aos nossos clientes 83.

No mundo moderno quem pode imaginar qualquer processo de produção em

grande escala sem utilização de energia elétrica? Na fazenda de Iria, antes mesmo

82 Brazil Magazine. Revista Ilustrada… Op. cit. p .64. 83 Site da Empresa FRILOG – Transporte, logística e distribuição. Disponível em: < http://www.frilog.com.br/servicos.php >. Acesso em 24 de Outubro de 2009 às 03:23.

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da Companhia de Força e Luz fornecer energia elétrica, existiam geradores para

movimentar as máquinas e garantir iluminação noturna para que o trabalho não

fosse interrompido após o pôr do sol. Já no início do século XIX, a lua que fora atriz

principal da noite caipira por essas bandas, acostumou-se em ser coadjuvante,

observando o labor dos trabalhadores da fazenda Pau Alto que transportavam,

beneficiavam, separavam e ensacavam os grãos de café que, quiçá sob o luar,

seriam consumidos na Europa.

Poder, dinheiro e força são resultados do uso político dos elementos citados

nesse capítulo. Essa afirmação é verdadeira, pois ao perder parte desses

elementos, a manutenção do poder, da força e também do dinheiro fica

comprometida, como demonstraremos no próximo capítulo.

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4.1 – Dúvidas e lamentos

Durante toda sua vida pública, Iria utilizou livremente os elementos elencados

no capítulo anterior como forma de obter legitimidade ao seu mando, como forma de

obter e manter o seu poder, o seu dinheiro e a sua força. Porém, como abordado no

segundo capítulo deste trabalho, o ‘Crime de Cravinhos’ faz ruir sua imagem pública,

desgastando muito do seu prestígio, muito das suas relações políticas, muito de sua

autoridade, impossibilitando-a de continuar a manipular os elementos que garantiam

o poder. Richard Sennett recorda que o poder tem relação com a legitimidade e à

confiança conferidas ao governante:

Uma das marcas mais profundas deixadas pela Revolução Francesa no pensamento moderno foi convencer-nos de que devemos destruir a legitimidade dos governantes para alterar seu poder. Destruindo a confiança neles, podemos destruir seus regimes. E, se houve um acontecimento isolado que atestou essa crença, foi a execução de Luis XVI em 1793. Ele não foi morto por ser, como pessoa, uma ameaça para o despontar da nova ordem: governante passivo e ineficiente, deixou em seu cunhado José II, da Áustria, a impressão de ser estúpido, fraco e sem nenhuma arrogância que o redimisse. Mas a majestade do seu cargo era uma ameaça; a aura de autoridade do rei, enquanto houvesse um rei, inibia os revolucionários na mudança das estruturas fundamentais da sociedade84.

Sabendo que o poder de Iria e consequentemente de sua família estava

ameaçado, os advogados de defesa prontamente argumentaram que as acusações

contra Iria tinham uma motivação política, considerando que seu cunhado,

Quinzinho da Cunha, era líder político incontestável na região, conforme Janes

Jorge relata:

Em 1919, Schimidt, juntamente de seu filho Guilherme, organizou um novo partido em Ribeirão Preto, que, com o consentimento de Quinzinho, elegeu dois entre os dez vereadores da cidade. Mas, em 1920, cometeu um erro fatal pois apoiou a Álvaro de Carvalho que tentava ser indicado pelo PRP ao governo estadual, em detrimento de Washington Luis, ao qual se alinhara Joaquim da Cunha. Nesse ano, os eleitores das propriedades da Cia. Agrícola Francisco Schimidt foram desclassificados judicialmente alegando-se irregularidades, e o rei do café, desolado, retirou- se para a capital do Estado. Daí em diante, Ribeirão Preto não conheceria grandes confrontos políticos. Houve uma certa acomodação das forças locais pois ficara evidente que nenhum agrupamento conseguiria sobrepor-se ao de Joaquim da Cunha. É claro que ele sempre teria adversários, e eles, seu espaço de atuação no município. Mas, indiscutivelmente, houve um amalgamento dos principais membros da elite de Ribeirão Preto ao redor de Joaquim da

84 SENNETT, R. Autoridade. Trad. Vera Ribeiro. Rio de Janeiro: Record, 2001. P. 62.

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Cunha, e a oligarquia local tornou-se uma das mais inexpugnáveis de São Paulo85.

Atingir Iria Alves Ferreira era atingir indiretamente Quinzinho da Cunha e o

PRP, maior partido político do município, além de prejudicar o nome da família

Junqueira. Talvez por ter plena consciência disso, Iria defendesse tanto a sua

inocência.

Iria tenta a todo custo se valer das velhas relações para tentar recuperar o

prestígio. Em 1922, envia uma carta a Washington Luiz com a intenção de

convencê-lo a chancelar uma versão do caso favorável a ela:

Já não é a primeira vez que eu venho a presença de V Exª implorar, num apelo dolorido ao seu coração de pai amantíssimo, um momento de atenção para o meu sofrimento. Já não é mais ao Chefe de Estado que imploro justiça: é uma súplica de mãe na sua desgraça desamparada! V Exª que talvez ainda tenha Mãe e Pai, medite um pouco na dor cruciante que me empolga há dois anos, vendo o sofrimento dos filhos que me rodeiam, quando as crianças me apontam na rua!... As horas passam para mim como lustros e os dias como séculos! E que dias! Dias sem luz porque vejo apenas as trevas que envolvem a minha dor, as trevas que alumbram este caso misterioso que me sepultou em vida, encarcerada na sociedade depois de infamada, caluniada e flagiciada como uma ré criminosa a quem se deu a liberdade por comiseração e por piedade! Está em mãos de V.Ex um relatório completo relativo a este negregoso ‘crime de Cravinhos.’ Soube que meu filho foi pedir a V. Ex que se interessasse por este caso triste que me tem enchido a vida de amarguras (...)Pois bem: venha juntar ao pedido dele, em caráter privativo, a minha súplica dolorida, nesse transe desesperado da minha existência nunca descri das energias e da firmeza do seu caráter e conto os dias do governo de V. Excª com uma alvoroçada aflição, porque, a mim se me afigura que, findo o seu quatriênio, pesará a atmosfera de desinteresse, o silêncio que verá apagar no meu coração a crença, a esperança que eu deposito em V. Exª de se desvendar essa trevosa história que me envenenou para sempre os dias, e me fez passar com meus filhos o mais doloroso calvário que criatura humana jamais passou” 86.

O leitor pode observar como o discurso desta carta é deveras menos

agressivo do que o discurso da carta enviada por Iria ao mesmo destinatário em

Novembro de 1920, que foi citada e reproduzida no capítulo anterior. Acreditamos

que passados quase dois anos da carta de 1920, Iria havia percebido o quanto seu

poder já não era tão legítimo como fora outrora e que, depois de maculada como

85 JORGE,J. A vida turbulenta na capital d’oeste: Ribeirão Preto, 1880-1920. Revista História e Perspectivas , Uberlândia, (29 e 39): 129-157. Jul/Dez. 2003 / Jdn.jun/2004. p. 156. 86 Carta de Iria Alves Ferreira para Washington Luis de 27 de setembro de 1922. AWL. In: JORGE, J. O crime de Cravinhos: oligarquia e sociedade em São Paulo. 1920-1924. Dissertação de Mestrado em História Social. FFLCH, USP, 1998, p. 131.

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‘Rainha dos Bandidos’, suas relações políticas com o governador já não eram

sólidas como nos tempos em que era a própria ‘Rainha do Café’.

De 1920 até sua morte, Iria descobriu paulatinamente como o poder é

efêmero. Um ano antes de deixar o mundo dos vivos, possivelmente sabendo que

até o dia derradeiro jamais voltaria a atuar ativamente no mundo público, Iria Alves

Ferreira ainda busca alvejar a honra de sua família e de seus filhos. Na cidade de

Vespasiano-MG, dita ao Padre Antônio Carbella em 21 de novembro, a seguinte

carta:

Não quero deixar este mundo sem deixar para meus filhos e meus netos as minhas mais puras bênçãos e sem dizer-lhes que não há nada no mundo que se compare a consciência pura, à tranqüilidade da alma. Resiste-se a todos os martírios, a todos os sofrimentos, que a perversidade dos homens atira sobre a gente. Juro diante de Deus e Maria Santíssima que vão receber minha alma inocente e pura de todas as calúnias, que nunca matei ninguém. Nunca nem em pensamento, mal ou pequeno ou grande fiz ao meu próximo, e nem pensei em fazê-lo. Na minha vida simples da fazenda só tinha um ideal: trabalhar para meus filhos e para que meus filhos pudessem fazer felicidade de suas famílias. Socorri a todos que a mim recorriam, como vocês, meus filhos bem o sabem e viram, e aos necessitados que precisavam e não podiam vir até mim. E quantas vezes fui até eles levar o meu pequeno auxílio, o meu consolo, inclusive para aqueles que, talvez, depois, muitos até me apedrejaram. Por que me caluniaram e por que me difamaram e me perseguiram, eu, inocente, sem compreender o que me estava acontecendo? Não sei. Devem sabê-lo as autoridades que deram mão forte aos meu ocultos inimigos, os quais não pensava tê-los, pois nunca fiz mal a ninguém. Devem sabê-lo o Promotor carrasco que se arvorou no meu mais monstruoso perseguidor, e também os delegados Accácio e João Ramos. Deve sabê-lo o Juiz Laudo Ferreira de Camargo, que é marido, que é pai, que era meu companheiro para carregarmos juntos o Nosso Senhor Jesus Cristo, nas procissões da Semana Santa, perseguindo e crucificado pelos seus inimigos, como ele, Dr. Laudo me perseguiu e crucificou a mim, inocente como Nosso Senhor Jesus Cristo. E só Jesus pode saber e compreender o que me fizeram. A Humanidade é muito pequenina para compreender a monstruosidade que me fizeram! Meus filhos, vocês sabem quais são os monstros, os algozes de tua mãe. E, se o mundo ainda os conhece, Deus os apontará um a um. Chorei muito e chorarei até depois de morta. E estas lágrimas de uma velha mãe inocente, caluniada e perseguida, estas lágrimas cairão uma a uma, com a justiça de Deus, nos meus ferozes algozes, se eu não os perdoar. Aos meus filhos, peço que sejam sempre amigos e unidos como bons irmãos que são e bons filhos para esta pobre mãe. Estarei na eternidade, com minha alma pura rogando pelos meus filhos, clamando justiça de Deus a todos os inocentes que, como eu neste mundo, foram vítimas das calúnias de perseguições dos homens e da própria justiça, como eu fui. Em nome de Deus e de Maria Santíssima, abençôo a todos os meus filhos, aos meus netos, as minhas boas noras. Tenham sempre fé e esperança na Justiça Divina. Que Deus perdoe os meus perseguidores, como eu os perdôo agora. Desta inocente e caluniada mãe, Iria Alves Ferreira87.

87 CIONE, R. Revivescências na História de Ribeirão Preto. Editora Legis Summa: Ribeirão Preto, 1994, p.198-199.

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Para Iria talvez esse seja um testamento moral, uma tentativa de que seus

filhos e netos não vivessem à sombra das acusações que pesaram sobre ela. Para

nós, é a confirmação de que ela tinha consciência do que perdeu politicamente com

o crime.

Ao escrever “socorri a todos que a mim recorriam, como vocês, meus filhos

bem o sabem e viram, e aos necessitados que precisavam e não podiam vir até

mim”, Iria busca relembrar a imagem benevolente. Ao escrever “deve sabê-lo o Juiz

Laudo [...] que era meu companheiro para carregarmos juntos o Nosso Senhor

Jesus Cristo, nas procissões da Semana Santa”, revela não se conformar em haver

perdido, após o crime, as relações de amizade com o juiz Laudo de Camargo e mais

que isso, ligações amalgamadas pelos laços fraternos da religião. Através do seu

discurso, percebemos que para ela era inconcebível alguém que faz parte do mesmo

grupo religioso pôr em dúvida sua inocência, independente de qualquer elemento

contrário. Ao escrever “chorei muito e chorarei até depois de morta” Iria faz a

referência ao sofrimento de uma inocente que, por toda eternidade, chorará quando

sua inocência for questionada.

Com este breve comentário dessa carta escrita por Iria, a última carta que

conhecemos, finalizamos este capítulo considerando que a carta e a sua morte

compõem a derradeira batalha política, que será travada eternamente dentro de

cada um de nós, ora nos trazendo dúvidas sobre sua improvável inocência, ora

confirmando sua improvável culpa.

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Através deste trabalho buscamos analisar quais foram os elementos utilizados

por Iria Alves Ferreira para conseguir e para manter seu poder, numa sociedade em

que as mulheres não eram livres para exercer diretamente o mando na esfera

pública.

Analisar as habilidades políticas de Iria em busca do poder, é revisitar obras

de renomados autores que analisaram política. Foi muito satisfatório observar as

ações e estratégias políticas de Iria, com base em textos de Max Weber, Raymundo

Faoro, Richard Sennett, Nicolau Maquiavel, entre outros.

Posto que o historiador estude o passado ao se inquietar com as ocorrências

do seu tempo, ao investigar sobre relações políticas buscamos compreender como

essas relações se mantém até os dias de hoje em que, muitos políticos em meio à

escândalos, crimes e desmandos, assim como demonstrado neste trabalho, acabam

por terem abalados os pilares que o sustentam no poder. Do mesmo modo, muitas

vezes, provocam tais impressões sobre seus adversários, para que estes tenham

seu poder diminuído. Talvez pela dinâmica política, ou talvez pela falta dela (no caso

de alguns coronéis da modernidade) em alguns casos, os crimes e a ficha suja de

alguns políticos atuais em nada modificam seu poder.

Outro fator pontual foi analisar a mulher no poder. Nossa principal dúvida era

se o fator gênero era responsável por alterar a forma de conquistar e manter o

poder. Observamos que no caso de Iria, pela sua impossibilidade de exercício de

cargo ou função pública, ela se valeu de outros meios em que o fato de ser mulher

lhe trouxe alguma facilidade para adentrar ao mundo público e, estando no mundo

público, seu comportamento em nada, ou em muito pouco se diferenciou do

comportamento dos coronéis da época. Dessa forma, acreditamos que ainda hoje o

poder e o espaço público são masculinos, independentemente se exercido ou

ocupado por homem ou mulher.

O historiador Rafael Cardoso de Mello observa que estando viva ou não, Iria

sempre será a Rainha, seja do café, seja dos bandidos. O autor completa que o

“importante é que nunca esqueceremos de Iria Alves Ferreira, das plantações de

café, da riqueza e da pobreza da Ribeirão Preto moderna, do Crime do Espraiado e

do mundo em que viveu” 88.

88 MELLO, R. C. Um “Coronel de saias” no interior paulista: a “Rainha do Café” em Ribeirão Preto (1896-1920). 2009. 210f. Dissertação de Mestrado em História – Faculdade de História, Direito e Serviço Social, Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”, Franca, 2009. p. 188.

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Não esqueceremos Iria, pois na política atual, as estratégias utilizadas por ela

ainda são muito utilizadas, seja por homens ou mulheres, e a cada dia que passa,

nossa república continua cada vez mais moderna na aparência e anti-moderna na

essência.

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FONTES E BIBLIOGRAFIA

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