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UNIVERSIDADE DE LISBOA FACULDADE DE CIÊNCIAS DEPARTAMENTO DE BIOLOGIA ANIMAL Influência da Densidade Bacteriana na Epistasia Luís Manuel Figueira Leónidas Correia Cardoso Dissertação Mestrado em Biologia Evolutiva e do Desenvolvimento 2013

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UNIVERSIDADE DE LISBOA

FACULDADE DE CIÊNCIAS

DEPARTAMENTO DE BIOLOGIA ANIMAL

Influência da Densidade Bacteriana na Epistasia

Luís Manuel Figueira Leónidas Correia Cardoso

Dissertação

Mestrado em Biologia Evolutiva e do Desenvolvimento

2013

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UNIVERSIDADE DE LISBOA

FACULDADE DE CIÊNCIAS

DEPARTAMENTO DE BIOLOGIA ANIMAL

Influência da Densidade Bacteriana na Epistasia

Luís Manuel Figueira Leónidas Correia Cardoso

Dissertação

Mestrado em Biologia Evolutiva e do Desenvolvimento

Tese orientada por

Professor Doutor Francisco Dionísio

2013

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I

AGRADECIMENTOS

Quero agradecer a todos os que me ajudaram ao longo da tese e a todos os que me

apoiaram, suportaram e torceram por mim ao longo da vida.

Começo por agradecer ao Professor Francisco Dionísio por ter apostado em mim e me ter

dado a oportunidade de realizar este trabalho, pela orientação, disponibilidade e paciência ao

longo da tese e pelo apoio e motivação constantes.

De seguida, agradeço a todos os elementos do grupo de Ecologia Evolutiva de

Microorganismos. Quero agradecer em particular ao Luís Carvalho pela ajuda valiosa na análise

estatística, nomeadamente na escolha dos testes adequados aos dados e às perguntas. À Sofia,

por me ter ensinado “tudo” sobre “o contacto”. Ao André, ao João e à Iolanda pelas ajudas,

pelo companheirismo e pelas gargalhadas.

Quero também agradecer aos meus colegas de mestrado, pelo ambiente descontraído e

pelo espírito de grupo e de equipa reinante durante as aulas que tivemos e os trabalhos que

fizemos em conjunto.

Quero agradecer à minha família, em particular aos meus pais, que me deram tudo, por

respeitarem e apoiarem as minhas decisões e por terem tido, ao longo deste ano de tese, uma

paciência e uma preocupação excepcionais. Aos meus avós paternos, pelos valores que me

passaram e pelo altruísmo e acompanhamento constantes, por estarem sempre presentes.

Aos meus avós maternos, ao tio Casimiro e à Têtê, por toda a atenção e dedicação que tiveram

para comigo e pelos exemplos que me deram em vida, através dos quais tiveram uma enorme

influência na pessoa que hoje sou.

Agradeço aos meus amigos, em especial ao Eduardo, meu “irmão” desde sempre, ao

Fradique, um autêntico poço de racionalidade e bom senso, e ao Barão, o meu grande

Padrinho. Agradeço também aos suppianos, por todos os momentos divertidos, pelo espírito

de solidariedade e pela boa disposição contagiante.

Deixo para o final um agradecimento especial. Agradeço à Margarida, minha namorada, por

ter sido para mim o maior suporte, a maior ajuda e a maior fonte de inspiração. Por Tudo.

A todos, Muito Obrigado.

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II

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III

RESUMO

A subsistência de bactérias multirresistentes a antibióticos pode ser devida a vários

factores, entre os quais a epistasia. Tem sido demonstrado que a epistasia pode variar com

mudanças ambientais. Descobriu-se recentemente que a bactéria Escherichia coli cresce mais

depressa em alta densidade bacteriana do que em baixa densidade, um fenómeno

denominado de vantagem no crescimento dependente do contacto (VDC). Este trabalho

demonstra que a VDC é capaz de alterar os perfis epistáticos entre mutações de resistência.

Reportamos aqui que a epistasia positiva, através da qual o efeito combinado de mutações

deletérias é menor do que o esperado na ausência de interacções genéticas, é mais prevalente

em alta densidade bacteriana. Também se demonstra que a epistasia de sinal, um tipo de

interacção genética na qual combinações deletérias podem em conjunto tornar-se benéficas, é

muito comum em combinações com epistasia positiva no início do crescimento exponencial.

No que diz respeito ao mecanismo de VDC, os nossos resultados sugerem que a magnitude

da vantagem em alta densidade não é dependente da taxa de crescimento dos mutantes,

beneficiando mais uma estirpe consoante quão menor é o seu fitness base.

Por último, é reportado que, em determinados contextos ecológicos, mutações de

resistência com um efeito deletério podem tornar-se benéficas e a multirresistência pode não

implicar custos.

Este trabalho demonstra que as interacções bióticas podem influenciar as relações

epistáticas entre mutações que conferem resistência a antibióticos. Deste modo, para as

bactérias, a presença ou ausência de uma desvantagem na multirresistência é dependente do

ambiente em que se encontram e de com que outras bactérias se encontram.

PALAVRAS-CHAVE: Densidade Bacteriana, Epistasia, Fitness, Resistência a Antibióticos.

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IV

ABSTRACT

The subsistence of multidrug resistant bacteria may be due to many factors, including

epistasis. It has been shown that epistasis may vary with environmental changes. Recently, it

has been revealed that the bacteria Escherichia coli grows faster in high bacterial density than

in low bacterial density, a phenomena named as contact dependent growth advantage (CDA).

This work shows that CDA is capable of changing epistatic patterns between resistance

mutations.

Here, we report that positive epistasis, where combined effects of deleterious mutations

are lower than expected in the absence of genetic interactions, is more prevalent in high

bacterial density. It is also shown that in the early exponential growth phase sign epistasis, a

type of genetic interaction in which combined deleterious effects may together become

beneficial, is pervasive in combinations with positive epistasis.

Regarding the CDA mechanism, our results suggest that the magnitude of the growth

advantage is not dependent of the mutant growth rate, benefiting more a strain the lower its

base fitness is.

Finally it is reported that, in some ecological contexts, resistance mutations with a low

deleterious effect may become beneficial and multidrug resistance may not imply costs.

This work highlights that biotic interactions may influence epistatic relations between

antibiotic resistance-conferring mutations. Therefore, to bacteria, the presence or absence of a

disadvantage in multirresistance is dependent on the environment in which they are and on

which bacteria are they with.

KEYWORDS: Antibiotic Resistance, Bacterial Density, Epistasis, Fitness.

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V

ÍNDICE

AGRADECIMENTOS......................................................................................................................... I

RESUMO ....................................................................................................................................... III

ABSTRACT ..................................................................................................................................... IV

I. INTRODUÇÃO ............................................................................................................................. 1

I. 1. Resistência a antibióticos, um problema grave e contemporâneo .................................... 1

I. 2. O papel da epistasia na manutenção das estirpes resistentes .......................................... 2

I. 3. Interacções bacterianas ..................................................................................................... 3

I. 3.1. Interacções dependentes do contacto ........................................................................ 4

I. 3.2. Interações bacterianas antagonistas dependentes do contacto ................................ 4

I. 3.3. VDC - Vantagem de crescimento dependente do contacto ........................................ 5

I. 4. Plasticidade fenotípica e fenómenos epistáticos ............................................................... 6

I. 4.1. VDC e Epistasia ............................................................................................................ 6

I. 5. Objectivos ........................................................................................................................... 7

II. MATERIAIS E MÉTODOS ............................................................................................................ 8

II. 1. Estirpes bacterianas utilizadas .......................................................................................... 8

II. 2. Condições de crescimento ................................................................................................ 9

II. 3. Ensaios de competição em baixa e em alta densidade bacteriana ................................... 9

II. 4. Estimativa do número de gerações ................................................................................. 10

II. 5. Cálculo do fitness e estimação dos valores de epistasia ................................................. 10

II. 6. Detecção de Epistasia de Sinal ........................................................................................ 12

II. 7. Tratamento estatístico .................................................................................................... 12

III. RESULTADOS .......................................................................................................................... 14

III. 1. Evidência da acção da densidade bacteriana na promoção do crescimento ................ 14

III. 2. Efeitos da densidade no fitness ...................................................................................... 16

III. 3. A distribuição dos valores de fitness evidencia mutações deletérias e sem custo ........ 17

III. 4. Evidência de epistasia positiva em alta densidade ........................................................ 20

III. 5. A densidade bacteriana influencia os perfis de epistasia .............................................. 21

III. 6. Os valores de epistasia variam com o custo das mutações ........................................... 25

III. 7. Epistasia positiva de sinal em baixa e em alta densidade bacteriana ............................ 28

IV. DISCUSSÃO ............................................................................................................................. 30

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IV. 1. A sensibilidade da epistasia à VDC ................................................................................. 30

IV. 1.1. A densidade bacteriana e a ocorrência de epistasia positiva ................................. 30

IV. 1.2. A prevalência da epistasia positiva de sinal em baixa e em alta densidade

bacteriana............................................................................................................................ 31

IV. 1.3. A relação entre a epistasia e o custo das mutações ............................................... 33

IV. 2. A ausência de custo das mutações e o melhoramento condicional do fitness ............. 34

IV. 3. O papel da VDC na manutenção da diversidade e da resistência a antibióticos ........... 35

IV. 4. Conclusões e perspectivas futuras ................................................................................. 37

V. BIBLIOGRAFIA .......................................................................................................................... 39

VI. ANEXOS .................................................................................................................................. 43

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I. INTRODUÇÃO

I. 1. Resistência a antibióticos, um problema grave e contemporâneo

O desenvolvimento e a utilização de antibióticos é um dos principais marcos médicos do

século XX. A sua utilização permitiu o controlo e o combate de várias doenças de origem

bacteriana, muitas das quais fatais até à sua descoberta (Cohen, 1992), bem como a prevenção

de infecções oportunistas em práticas médicas que entretanto se tornaram comuns (Martinez

et al., 2009). No entanto, ao longo do tempo tornou-se evidente que a utilização de

antibióticos promove o aparecimento de casos de resistência (Cohen, 1992).

A situação agravou-se com o aparecimento de casos de resistência múltipla, que permitem

a uma bactéria patogénica acumular meios de sobrevivência a diferentes tratamentos (Cohen,

1992, Levy & Marshall, 2004). Estes casos levaram a uma resposta da indústria farmacêutica,

originando-se novos antibióticos, inclusive alguns com novos alvos. Esta acção limitou-se a

adiar ou até a agravar o problema, uma vez que os casos de resistência, inclusive a estes novos

agentes, continuaram a aparecer (Neu, 1992). Deste modo, o problema da resistência aos

antibióticos, originado devido ao uso extensivo e excessivo destes ao longo de várias décadas

(Andersson & Hughes, 2011), tornou-se num dos maiores problemas de saúde pública (Cohen,

1992, Martinez et al., 2009) e poderá culminar na ineficácia dos tratamentos das infecções por

quimioterapia (Andersson & Levin, 1999) e no alastramento, a níveis epidémicos, de infecções

por bactérias resistentes (Bonhoeffer et al., 1997).

A resistência envolve, geralmente mutações cromossómicas espontâneas, que afectam as

vias metabólicas e os processos fisiológicos das células, ou a transmissão da resistência por

transferência horizontal de genes (por exemplo, através de plasmídeos conjugativos),

implicando a síntese adicional de ácidos nucleicos e proteínas (Zund & Lebek, 1980, Dasilva &

Bailey, 1986) devido à replicação e expressão de novos genes. Como consequência de ambas

as situações, a resistência a antibióticos implica, na maioria dos casos, um custo de fitness

associado, funcional ou energético, na ausência da pressão selectiva (Lenski, 1998). Tendo isto

em conta, os procedimentos adoptados para eliminar a resistência têm passado pelo

banimento do uso de antibióticos ineficazes até à recuperação da sua eficácia. No entanto, os

resultados desta política têm variado, havendo inclusive casos em que os níveis de resistência

aumentaram mesmo na ausência de utilização do antibiótico banido (Enne et al., 2001). De

facto, estudos baseados em simulações sugerem que as correntes campanhas de redução do

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consumo de antibióticos não irão necessariamente reduzir os casos de resistência (Kardas-

Sloma et al., 2013).

I. 2. O papel da epistasia na manutenção das estirpes resistentes

Como se pode então explicar a manutenção de estirpes resistentes se estas seriam, à

partida, piores competidoras quando comparadas com as suas estirpes wild-type?

A subsistência pode dever-se, em parte, a fenómenos intimamente ligados às mutações,

como o aparecimento de mutações de resistência com custo reduzido ou até mesmo sem

custo aparente (Andersson & Levin, 1999), o fenómeno raro de reversão (Bjorkman et al.,

2000), mutações compensatórias ((Schrag et al., 1997, Bjorkman et al., 2000, Gagneux et al.,

2006), que podem resultar quer de reversões secundárias (Schrag et al., 1997) quer de

compensações extra-génicas (Bjorkman et al., 2000) e possibilitam restaurar o fitness sem a

perda da resistência entretanto adquirida (Andersson & Hughes, 2011), e a epistasia (Jasnos &

Korona, 2007, Trindade et al., 2009).

A epistasia é um fenómeno de interacção genética através do qual o fenótipo de um alelo

num determinado locus é afectado pela presença de outro ou outros alelos em loci diferentes

(Zeyl, 2007). Pode ter consequências ao nível do fitness e influenciar a evolução. Considerando

mutações deletérias, a epistasia é designada como negativa se tiver um efeito sinergístico,

através do qual o efeito deletério de duas ou mais mutações em conjunto é superior ao que

seria esperado se as mutações fossem independentes, sendo o fitness menor.

Alternativamente, a epistasia é considerada positiva se tiver um efeito antagónico, devido ao

qual o custo das mutações em conjunto é inferior ao esperado, sendo o fitness maior.

Adicionalmente, a epistasia pode ser classificada como sendo de sinal se o efeito das mutações

é benéfico ou deletério consoante o background genético, sendo alternativamente classificada

como epistasia de magnitude se o seu efeito benéfico ou deletério se mantiver

independentemente do background genético (Weinreich et al., 2005).

Através de um estudo sobre a interacção entre mutações cromossómicas responsáveis pela

resistência aos antibióticos ácido nalidíxico, rifampicina e streptomicina, Trindade et al (2009)

demonstraram que em casos de resistência múltipla a antibióticos é frequente haver epistasia

positiva, havendo inclusive casos de epistasia positiva de sinal, nos quais o fitness do mutante

duplo é superior ao fitness de pelo menos um dos mutantes simples. Estes dados evidenciam

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que a epistasia entre mutações simples de resistência poderá promover a manutenção das

estirpes multirresistentes (Trindade et al., 2009).

Entretanto, Silva et al. (2011) verificaram a existência de relações de epistasia positiva de

sinal entre mutações cromossómicas de resistência a antibióticos e plasmídeos conjugativos

transportadores de genes de resistência, tendo relatado inclusive um caso em que o fitness de

uma estirpe com ambos os determinantes de resistência é maior do que o fitness de ambas as

estirpes com apenas um dos determinantes, constituindo um caso de epistasia positiva de

sinal recíproca. Tendo em conta que muitos plasmídeos são capazes de se transferir entre

organismos filogeneticamente distantes (Ochman et al., 2000, Norman et al., 2009), estes

resultados ajudam a explicar a rápida disseminação de casos de multirresistência e a justificar

a ineficácia do banimento dos antibióticos em uso em casos de resistência envolvendo

elementos genéticos móveis (Silva et al., 2011).

I. 3. Interacções bacterianas

As comunidades bacterianas são complexas e envolvem, frequentemente, a co-existência

de várias estirpes e espécies, bem como uma competição constante por recursos (Hibbing et

al., 2010). Nestas comunidades, desenvolveram-se mecanismos capazes de favorecer a

capacidade competitiva das estirpes. Entre estes mecanismos encontram-se diversos tipos de

interacções bacterianas, quer cooperativas quer competitivas (Hibbing et al., 2010).

As interacções bacterianas podem fazer-se com ou sem contacto directo entre as células

(Bassler & Losick, 2006). Entre as interacções sem contacto destacam-se a produção de

bacteriocinas, a produção de antibióticos e a sinalização por quorum sensing, que possibilita às

bactérias avaliar a densidade populacional e controlar o seu comportamento consoante a

mesma (Bassler & Losick, 2006). É de referir que os antibióticos não têm uma função

necessariamente antagonista, podendo ter um papel de comunicação como moléculas sinal

em concentrações sub-inibitórias (Goh et al., 2002, Romero et al., 2011), e que o quorum

sensing não promove necessariamente uma comunicação com efeitos cooperativos, podendo

estar envolvido em conflitos intraespecíficos e interespecíficos (Keller & Surette, 2006).

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I. 3.1. Interacções dependentes do contacto

Entre as interacções com contacto, conhece-se há já algum tempo algumas interacções não

antagonistas importantes, como o contacto mediado por pili na iniciação da transferência

horizontal de genes por conjugação (Perry et al., 2002), a sinalização C, necessária para a

formação do corpo frutificante em Myxococcus xanthus (Kim & Kaiser, 1990) ou a coagregação

(Rickard et al., 2003) e a coadesão na formação de biofilmes (Kolenbrander, 2000). Entretanto,

Wei et al demonstraram que a troca de lipoproteínas entre células de M. Xanthus requer

contacto célula a célula e que esta ligação só é estável em meio estruturado (Wei et al., 2011).

Por outro lado, Dubey e Ben-Yehuda (2011) descreveram uma forma de comunicação

bacteriana mediada por nanotubos, a qual permite a passagem de moléculas inclusive

plasmídeos não conjugativos, que possuem informação genética com transmissão usualmente

hereditária. Esta forma de comunicação possibilita ainda a estirpes susceptíveis adquirir

resistência transiente a antibióticos quando em contacto com estirpes resistentes se a

resistência for mediada através de proteínas citoplasmáticas (Dubey & Ben-Yehuda, 2011).

Estas descobertas juntam-se, assim, à crescente evidência do papel cooperativo que as

interacções directas entre células bacterianas podem assumir. No entanto, só recentemente se

descobriram interacções dependentes do contacto célula a célula com efeitos antagonistas.

I. 3.2. Interações bacterianas antagonistas dependentes do contacto

O primeiro mecanismo antagonista dependente do contacto entre células bacterianas a ser

descrito, o sistema CDI (contact dependent inhibition) foi descoberto por Aoki et al. (2005). O

sistema CDI permite que algumas estirpes de Escherichia coli, inclusive estirpes

uropatogénicas, inibam estirpes competidoras. A inibição é dependente da fase de

crescimento da estirpe inibidora, só ocorrendo quando este se encontra na fase exponencial,

mas afecta as células alvos independentemente da sua fase de crescimento. O mecanismo

consiste num sistema de secreção de dois componentes (Aoki et al., 2005), sendo classificado

como um sistema de secreção tipo V (Hayes et al., 2010). Mais recentemente, Hood et al

(2010) e Alteri et al (2013) demonstraram que os sistemas de secreção tipo VI também podem

estar envolvidos em interacções antagónicas dependentes do contacto entre bactérias (Hood

et al., 2010, Alteri et al., 2013). Já era sabido que várias espécies de bactérias didérmicas

(Gram negativas) patogénicas podem secretar agentes patogénicos para o interior de células

eucariotas, através de sistemas de secreção (Cornelis & Van Gijsegem, 2000, Cambronne &

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Roy, 2006), mas estas descobertas recentes permitiram “extender” os alvos do antagonismo

por via de sistemas de secreção a procariotas.

Entretanto, Lemonier et al (2008) descreveram também a existência de um outro

fenómeno de regulação do crescimento dependente do contacto, demoninado de SCDI

(stationary phase contact-dependent inhibition) e originado em E. coli através de substituições

no gene glgC, envolvido na via de síntese do glicogénio, ou através do efeito pleiotrópico

destas mutações. Este mecanismo actua apenas durante a fase estacionária e permite inibir os

genótipos ancestrais das linhas mutadas, podendo, a par do sistema CDI, facilitar a invasão de

habitats por parte de estirpes próximas das que os ocupam na natureza e até eliminar este

conjunto de competidores (Lemonnier et al., 2008).

I. 3.3. VDC - Vantagem de crescimento dependente do contacto

Alves (2010) reportou que alguns mutantes de E. coli resistentes a antibióticos

apresentavam uma desvantagem em relação ao wild-type quando a competir num rácio de 1:1

ou em maioria, apresentando no entanto vantagem em raridade, verificando-se um caso de

selecção dependente da frequência (Alves, 2010). Entretanto, Nunes (2012) verificou que a

vantagem na raridade destes mutantes é devida a um mecanismo de regulação de crescimento

dependente de contacto directo célula a célula, designado por VDC – vantagem no

crescimento dependente do contacto, graças ao qual as bactérias apresentam uma taxa de

crescimento superior quando presentes numa população em elevada densidade bacteriana do

que quando presentes numa população em baixa densidade. Esta vantagem parece estar

ligada a um encurtamento da fase lag, permitindo uma entrada mais rápida na fase

exponencial do crescimento (Nunes, 2012).

Segundo Nunes (2012), este mecanismo está presente quer em E. coli, uma espécie

bacteriana didérmica, quer em Staphylococcus aureus, uma espécie bacteriana monodérmica

(Gram positiva), o que sugere uma distribuição abrangente entre as espécies bacterianas. Por

outro lado, já tinha sido descrita a existência de um fenómeno semelhante no eucariota

unicelular Dictyostelium discoideum (Franck et al., 2008). No entanto, este tipo de mecanismo

não está presente em Enterococcus faecalis (Nunes, 2012), o que indica que uma vantagem

dependente do contacto não é universal. Ainda assim, a VDC tem a particularidade de ser,

entre os mecanismos de regulação do crescimento dependentes do contacto entre procariotas

até à data descobertos, o único com um papel de promoção do crescimento.

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I. 4. Plasticidade fenotípica e fenómenos epistáticos

Em estudos sobre a taxa de crescimento ou sobre o fitness bacteriano, é prática comum

testar o efeito de condições ambientais sobre um determinado genótipo. A possibilidade de

produção de fenótipos diferentes a partir do mesmo genótipo designa-se por plasticidade

fenotípica (Miner et al., 2005). Sabendo-se que o fenótipo de um gene pode estar sujeito a

plasticidade, é lógico pensar que o fenótipo da sua interacção genética também o possa estar.

Neste sentido, Remold e Lenski (2004) testaram o efeito conjunto do ambiente nutricional e da

epistasia entre mutações de inserção aleatória no fitness, tendo o cuidado de o fazer para 5

backgrounds genéticos distintos (para poder definir e excluir o seu efeito), e demonstraram

que algumas das mutações tinham efeitos epistáticos díspares consoante o ambiente

nutricional (Remold & Lenski, 2004). Este facto demonstra que epistasia não tem um impacto

fixo no fitness, podendo interagir com efeitos de plasticidade fenotípica e assim ter um

impacto variável consoante o ambiente.

Sabe-se que vários organismos expressam plasticidade em resposta a factores bióticos

(Miner et al., 2005). Deste modo, é expectável que os efeitos de interacções genéticas estejam

também sujeitos a plasticidade influenciada por factores bióticos como as interacções

bacterianas.

I. 4.1. VDC e Epistasia

Em bactérias, como em qualquer ser vivo, a selecção natural actua sobre a diversidade pré-

existente na população, pelo que o aparecimento de uma mutação que confere resistência é

independente do momento de aplicação da pressão de selecção (Luria & Delbruck, 1943,

Demerec, 1948). Desde modo, quando uma bactéria adquire uma resistência devido a uma

mutação, está inicialmente em baixa frequência em relação às restantes bactérias, mas

encontra-se em alta densidade, pelo menos até à utilização do antibiótico.

Sabe-se também que a densidade pode afectar o fitness de bactérias resistentes a

antibióticos através da vantagem dependente do contacto (Nunes, 2012) e, no caso particular

de Bacillus anthracis, através de quorum sensing (Jones et al., 2005).

Por outro lado, o efeito das mutações no fitness pode depender do ambiente, de

interacções genéticas ou de ambos (Remold & Lenski, 2004) pelo que a relação entre

densidade bacteriana e o fitness de bactérias que apresentam epistasia entre mutações pode

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ser complexa. Os padrões de epistasia podem, de facto, variar consoante o ambiente (Remold

& Lenski, 2004), sendo que neste caso particular, poderão variar consoante a densidade. Nesta

perspectiva é expectável que a densidade bacteriana, para além da vantagem de fitness que

por si só oferece, possa influenciar os níveis de epistasia de bactérias com resistências

múltiplas epistáticas.

I. 5. Objectivos

Neste trabalho teve-se como objectivo estudar a relação entre a vantagem de crescimento

dependente do contacto (VDC) e a epistasia entre mutações cromossómicas de resistência a

antibióticos.

Pretendeu-se verificar, em particular, se o perfil de epistasia de mutantes com resistência

múltipla a antibióticos se altera com a variação entre alta e baixa densidade bacteriana e assim

determinar se a epistasia pode interagir com este factor biótico.

Pretendeu-se também analisar os padrões de epistasia obtidos e determinar a existência de

uma tendência das interacções epistáticas em relação à densidade.

Tencionou-se ainda estudar a resposta do fitness relativo dos mutantes à VDC e verificar

qual a incidência de epistasia de sinal em ambas as condições.

Quer a densidade bacteriana quer a epistasia podem ter um papel na manutenção de

estirpes multirresistentes. Por esta razão, o estudo da interacção entre estes dois fenómenos

pode contribuir para a compreensão da manutenção da multirresistência a antibióticos no

panorama actual.

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II. MATERIAIS E MÉTODOS

II. 1. Estirpes bacterianas utilizadas

Foram utilizadas as estirpes E. coli K12 MG1655 e E. coli K12 MG1655 Δara, assim como

mutantes espontâneos derivados da estirpe ancestral E. coli K12 MG1655, resistentes aos

antibióticos ácido nalidíxico, rifampicina e streptomicina, bem como os respectivos duplos

mutantes.

Os mutantes foram previamente gerados e sequenciados para os genes gyrA, rpoB e rpsL

por Trindade et al. (2009). Estes genes estão envolvidos, respectivamente, na resistência ao

ácido nalidíxico, à rifampicina e à streptomicina.

Os mutantes simples foram obtidos após selecção com antibiótico em culturas derivadas da

estirpe ancestral. Os mutantes duplos resultaram da inserção do segundo gene de resistência

nos mutantes simples através da transdução com o fago P1. A transdução foi feita para

garantir que as mutações presentes no mutante duplo fossem as presentes nos mutantes

simples. Adicionalmente, a transdução poupou os mutantes duplos a uma segunda ronda de

selecção, o que poderia promover a aquisição de mutações compensatórias.

A estirpe E. coli K12 MG1655 Δara foi utilizada como estirpe de referência nos ensaios de

fitness. É isogénica à estirpe E. coli K12 MG1655, apresentando uma delecção no operão ara.

(Lenski et al., 1991). Esta delecção impede a metabolização e utilização da arabinose. Devido a

esta diferença, a estirpe E. coli K12 MG1655 e os mutantes resistentes, sendo ara+, formam

colónias brancas em agar com tetrazólio e arabinose (TA), enquanto que a estirpe E. coli K12

MG1655 Δara forma colónias vermelhas (Lenski et al., 1991).

A estirpe E. coli K12 MG1655 tem sido mantida em laboratório com o mínimo de

manipulação genética. Foi curada do fago lambda e do plasmídeo F e apresenta características

próximas da E. coli wild-type (Blattner et al., 1997).

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9

II. 2. Condições de crescimento

As estirpes foram incubadas em tubos de 50 ml com 10 ml de meio Luria Bertani líquido

(LB), a uma temperatura de 37°C com uma agitação constante (170 rpm) aquando do pré-

crescimento e das competições. Antes das competições, os tubos com meio LB foram pré-

aquecidos a 37°C overnight, de modo a diminuir a influência da temperatura ambiente do

laboratório no início das competições e a controlar contaminações.

Para efeitos de contagem, as estirpes foram encubadas em meio LB suplementado com

agar (LA) ou em meio com tetrazólio e arabinose suplementado com agar (TA). O meio LA

utilizado contém 1,5% de agar e 2% de LB. O meio TA utilizado contém 1,5% de agar, 1% de

peptona, 0,5% de cloreto de sódio, 0,1% de extracto de levedura, 0,005% de cloreto de 2,3,5-

trifeniltetrazólio e 1% arabinose.

Os mutantes resistentes foram obtidos a partir de riscados em placas em placas de LA e

sujeitos ao isolamento de colónias (duas vezes) em LA suplementado com os antibióticos para

o qual têm resistência, de modo a assegurar que os mutantes são monoclonais. As

concentrações de antibiótico utilizadas foram de 40 µg/ml de ácido nalidíxico, 100 µg/ml de

rifampicina e 100 µg/ml de streptomicina.

Para efeito da formação dos stocks, todas as estirpes foram incubadas em LB a 37°C, com

agitação constante e armazenadas individualmente em glicerol a 15% (V/V) a -20°C e a -80°C,

de modo a poder ser reutilizado em experiências futuras.

Todas as diluições foram feitas numa solução tampão de MgSO4 10-2 M.

II. 3. Ensaios de competição em baixa e em alta densidade bacteriana

Foram realizadas competições entre cada um dos mutantes, simples e duplos, e a estirpe

de referência em baixa e em alta densidade bacteriana. Em cada ensaio, uma estirpe mutante

e a estirpe de referência foram inoculados separadamente em meio LB overnight (cerca de 16

horas). De seguida, foram colocados a competir num rácio aproximado do 1:1. No caso da

competição em baixa densidade, para cada estirpe mutante, foram colocadas a competir cerca

de 100 bactérias resistentes com cerca de 100 bactérias da estirpe de referência, sendo estes

números obtidos através de diluições do pré-crescimento. Na competição a alta densidade,

para cada estirpe mutante, colocou-se a competir cerca de 107 bactérias resistentes com 107

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10

bactérias da estirpe de referência, sendo estes valores igualmente obtidos através de diluições

do pré-crescimento. A competição, em ambos os casos, foi feita em meio LB a 37°C com

agitação e teve a duração de 3 horas.

II. 4. Estimativa do número de gerações

De modo a se poder calcular o número de bactérias de ambas as estirpes no final da

competição foi feito um plaqueamento em TA. Este plaqueamento foi directo no caso da

competição em baixa densidade, tendo sido feito após as diluições apropriadas no caso das

competições a alta densidade.

O número de gerações para ambas as estirpes em competição foi então calculado através

da seguinte fórmula:

Em que Dm representa o número de gerações dos mutantes, Dr o número de gerações da

estirpe de referência, Nm(0) e Nm (t) correspondem respectivamente às unidades formadoras

de colónias (ufc) de bactérias resistentes no início e no final da competição e Nr (0) e Nr (t)

correspondem respectivamente às ufc da estirpe de referência no inicio e no final da

competição.

II. 5. Cálculo do fitness e estimação dos valores de epistasia

Após a contagem das ufc, o fitness relativo dos clones resistentes relativamente ao seu

competidor foi calculado segundo Lenski (1991):

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11

Em termos práticos, o fitness relativo é um ratio entre o número de gerações do mutante

(Dm) e da estirpe de referência (Dr).

Através de competições idênticas às realizadas nos ensaios de fitness, em baixa e em alta

densidade, entre a estirpe de referência e a estirpe wild-type, calculou-se os valores de fitness

da primeira. Os valores do fitness relativo dos mutantes foram então transformados de modo

a serem relativos ao wild-type, multiplicando os valores de fitness relativo dos mutantes pelo

valor do fitness do competidor.

Após a obtenção dos valores do fitness, para cada mutante duplo foi calculado o valor da

epistasia (ε) entre as duas mutações através de um modelo multiplicativo:

A epistasia também pode ser calculada através de um modelo aditivo, no qual a epistasia é

igual à subtração da soma dos fitnesses dos mutantes simples ao fitness do mutante duplo

( ). Para custos de fitness pequenos, os modelos devolvem valores de

epistasia semelhantes.

O valor do erro foi estimado a partir do método da propagação do erro:

Nos casos em que o valor de epistasia obtido estava dentro do valor do erro ([-σε,σε])

considerou-se que os alelos a e b não tinham epistasia significativa, sendo estes casos

classificados como ausência de epistasia (ε ≈ 0). Nos casos em que o valor obtido se encontrou

fora do intervalo do erro, a epistasia foi considerada positiva quando ε>σε e negativa se ε<-σε.

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12

II. 6. Detecção de Epistasia de Sinal

De modo a distinguir, entre os casos de epistasia positiva, os casos de epistasia de

magnitude dos de epistasia de sinal, comparou-se os valores de fitness dos mutantes duplos

com os valores dos respectivos mutantes simples. Quando o pressuposto da normalidade foi

cumprido utilizou-se o teste T de Student bilateral para amostras independentes para

determinar a presença de epistasia positiva de sinal, tendo sido utilizado o teste U de Mann-

Whitney para o mesmo efeito quando o pressuposto da normalidade não foi cumprido. Nos

casos em que o teste indicou um fitness do mutante duplo significativamente maior do que

apenas um dos respectivos mutantes simples, considerou-se a epistasia como positiva de sinal

parcial. Nos casos em que o teste indicou fitness significativamente superior a ambos os

mutantes simples, a epistasia foi considerada como sendo positiva de sinal recíproca. Nos

restantes casos de epistasia positiva, em que o fitness dos mutantes duplos não era

significativamente maior que o fitness de nenhum dos dois mutantes simples, classificou-se a

epistasia como positiva de magnitude.

II. 7. Tratamento estatístico

Todos os dados obtidos resultaram de experiências realizadas pelo menos em triplicado.

Após a sua obtenção realizaram-se testes para a normalidade dos resíduos (testes de Shapiro-

Wilk e de Kolmogorov-Smirnov), seguida das análises estatísticas adequadas. Nos casos em

que pelo menos um dos testes rejeitou a normalidade (p<0,05), tratou-se os dados com testes

estatísticos não paramétricos.

Utilizou-se o teste T de Student bicaudal para amostras emparelhadas para determinar se,

para cada mutante resistente a antibiótico, o número de gerações completado a competir em

baixa densidade bacteriana foi diferente do número de gerações a competir em alta

densidade. (Em dois casos, os dados não cumpriram o critério da normalidade dos resíduos,

tendo o resultado sido confirmado com o teste de Wilcoxon).

Utilizou-se o teste de Wilcoxon para amostras emparelhadas (Wilcoxon signed-rank test)

para determinar: (1) se para o conjunto dos mutantes, os números de gerações médios em

baixa densidade diferem dos números de gerações médios em alta densidade; (2) se há

diferenças entre o fitness do conjunto dos mutantes a baixa e a alta densidade. Estas análises

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13

foram repetidas para o subconjunto constituído pelos mutantes simples e para o subconjunto

constituído pelos mutantes duplos.

Utilizou-se o teste T de Student bicaudal para amostras independentes para verificar: (1) se

a epistasia média para cada alelo difere entre baixa e alta densidade; (2) se a epistasia média

absoluta para cada alelo difere entre baixa e alta densidade.

Utilizou-se o teste T de Student bicaudal para uma amostra com um intervalo de confiança

de 95% para testar se o fitness de cada mutante era significativamente diferente de 1, ou seja,

do fitness do wild-type. Mutantes para os quais a hipótese nula foi rejeitada foram

considerados como tendo um fitness inferior ao wild-type se o seu valor de fitness médio fosse

inferior a 1 e como tendo um fitness superior ao wild-type se o seu valor de fitness médio fosse

superior a 1.

Realizaram-se regressões lineares para determinar a existência de correlação e modelar a

relação entre: (1) o número de gerações médio dos mutantes a competir em alta densidade e

a competir em baixa densidade; (2) o fitness dos mutantes a competir em baixa e em alta

densidade; (3) o custo dos alelos e a epistasia média dos mesmos, quer em baixa quer em alta

densidade; (4) o custo dos alelos e a epistasia média absoluta dos mesmos quer em baixa quer

em alta densidade. Nos pontos 1 e 2 a análise foi repetida para o subconjunto constituído

pelos mutantes simples e pelo subconjunto dos mutantes duplos. Nestes mesmos pontos,

recorreu-se a regressões para representar a tendência das correlações. Nos pontos 3 e 4, as

regressões foram utilizadas com o propósito estatístico de demonstrar a dependência da

variável dependente relativamente à variável independente.

Realizaram-se ainda análises de bootstrap com 10000 amostras e um intervalo de confiança

de 95% para as medianas das distribuições de epistasia em baixa e em alta densidade.

Os testes T de Student para amostras independentes, para amostras emparelhadas e para

uma amostra e as regressões lineares foram realizados no programa Microsoft Excel 2007. Os

testes de normalidade, os testes U de Mann-Whitney, os testes de Wilcoxon, as estatísticas

das regressões, as análises de bootstrap, e as análises descritivas dos dados foram feitas com o

programa IBM SPSS Statistics 20.

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14

III. RESULTADOS

III. 1. Evidência da acção da densidade bacteriana na promoção do crescimento

Com esta tese pretendeu-se estudar a relação entre a densidade bacteriana e a epistasia

entre mutações que conferem resistência a antibióticos. Nesse sentido, começou-se por

determinar o número de gerações completado pelas estirpes de E. coli K12 resistentes a

antibióticos num ambiente de competição em baixa densidade (aproximadamente 100

bactérias mutantes contra 100 bactérias da estirpe de referência) e em alta densidade

(aproximadamente 107 contra 107). Ao fim de 3 horas, o conjunto dos mutantes simples e

duplos completou em média 5,04 (±0,42) gerações em baixa densidade e 5,80 (±0,44) gerações

em alta densidade, sendo a diferença estatisticamente significativa (p<0,001, teste de

Wilcoxon). Verifica-se que há uma correlação linear positiva entre o número de gerações dos

mutantes resistentes em alta densidade e o número de gerações em baixa densidade (r=0,92,

p=2,64 x 10-15, correlação de Pearson), o que indica que o número de gerações em alta

densidade varia de acordo com o número de gerações em baixa densidade. A equação da recta

da linha de tendência, y = 0,96x + 0,94, tem um declive muito próximo de 1, o que indica que a

vantagem em alta densidade tem uma acção semelhante para o conjunto dos mutantes,

promovendo o crescimento independentemente do seu número de gerações a baixa

densidade, o que é evidenciado na figura 1A.

Esta diferença no número de gerações é igualmente significativa se considerarmos quer

apenas os mutantes simples (p=0,011, teste de Wilcoxon) quer apenas os mutantes duplos

(p<0,001, teste de Wilcoxon). De facto, como se pode observar na figura 1B, a tendência é

semelhante para ambos os subconjuntos. Individualmente, 6 dos 9 mutantes simples e 19 dos

27 mutantes duplos apresentaram um aumento significativo do número de gerações quando

em alta densidade (testes T para amostras emparelhadas; em anexo, tabela S1).

Nenhum dos mutantes evidenciou um crescimento significativamente menor em alta

densidade do que em baixa densidade. Estes dados evidenciam a presença de uma vantagem

no crescimento a alta densidade, típica do efeito de VDC descrito por Nunes (2012).

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15

A B

Figura 1 - Evidência do efeito VDC nos mutantes de E. coli K12 MG1655 resistentes a antibióticos.

(A) Relação entre o número de gerações em alta densidade e o número de gerações em baixa

densidade. A linha contínua representa a linha de tendência, enquanto que a recta tracejada representa

o número de gerações esperado na ausência do efeito da densidade. (B) Discriminação do subconjunto

dos mutantes simples (círculos cheios) e do subconjunto dos mutantes duplos (triângulos vazios). A linha

de tendência contínua é calculada a partir dos dados dos mutantes simples, enquanto que a linha de

tendência tracejada resulta dos dados dos mutantes duplos.

De acordo com Nunes (2012), é esperado que a estirpe de referência também complete um

número maior de gerações em alta densidade do que em baixa densidade. De facto, a estirpe

E. coli K12 Δara completou em média 6,30 (±0,18) gerações em baixa densidade e 6,83 (±0,18)

gerações em alta densidade, sendo a diferença estatisticamente significativa (p=3,28 x10-6,

teste t de Student para amostras emparelhadas). Estes valores foram obtidos, para as duas

condições, através da média dos valores médios do número de gerações em cada competição

com cada mutante.

Competindo a estirpe E. coli K12 Δara com a E. coli K12 wild-type, verifica-se que não há

diferenças significativas entre os números de gerações de ambas, tanto em baixa (p=0,164,

teste T para amostras independentes) como em alta densidade (p=0,384, teste T para

amostras independentes). O valor do número de gerações da estirpe E. coli K12 Δara foi

ligeiramente superior ao da estirpe E. coli K12, quer em baixa (5,69±0,16 contra 5,5±0,22

gerações) quer em alta densidade (6,76±0,18 contra 6,64±0,17), mas dado não haver

diferenças significativas, conclui-se que o marcador ara- não implica um custo ou vantagem

0

1

2

3

4

5

6

7

8

9

0 2 4 6 8

me

ro d

e g

era

çõe

s al

ta d

en

sid

ade

Número de gerações baixa densidade

0

1

2

3

4

5

6

7

8

9

0 2 4 6 8

me

ro d

e g

era

çõe

s al

ta d

en

sid

ade

Número de gerações baixa densidade

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16

nas condições experimentais utilizadas (crescimento de 3 horas em meio LB a 37°C, com

agitação).

III. 2. Efeitos da densidade no fitness

Tendo em conta que a VDC é observável quer nos mutantes quer na estirpe de referência,

torna-se importante saber até que ponto pode a VDC beneficiar os mutantes resistentes

relativamente aos seus competidores que também possuem o mecanismo. Para responder a

esta questão, calculou-se o fitness dos mutantes (ver secção II.5 dos Materiais e Métodos) e

comparou-se os valores deste em baixa e alta densidade bacteriana.

O fitness médio do conjunto total dos mutantes é de 0,83 ±0,07 em baixa densidade e 0,86

±0,06 em alta densidade, sendo que esta diferença entre o fitness em ambas as condições é

significativa (p=0,003, teste de Wilcoxon). Isto indica que a VDC confere ao conjunto dos

mutantes uma vantagem competitiva relativamente à estirpe de referência. Há uma clara

correlação positiva entre o fitness em baixa e em alta densidade (r=0,97, p=4,41x10-22,

correlação de Pearson), indicando que o fitness em alta densidade varia de acordo com o

fitness em baixa densidade. Tendo em conta a equação da regressão, y= 0,9135x + 0,101, é de

notar que a vantagem no fitness em alta densidade diminui à medida que valores de fitness em

baixa densidade aumentam, o que é representado na figura 2A. O subconjunto dos mutantes

simples não apresenta diferenças significativas no fitness com a variação da densidade (0,90

±0,12 a baixa densidade e 0,91 ±0,12 a alta densidade; p=0,678, teste de Wilcoxon). É no

subconjunto dos mutantes duplos que se concentram as maiores diferenças de fitness, sendo

estas significativas (0,81±0,08 a baixa densidade e 0,85±0,06 a alta densidade; p=0,002, teste

de Wilcoxon). Estes dados indicam que os mutantes duplos são mais beneficiados pela VDC do

que os mutantes simples. As linhas de tendência dos dois subconjuntos têm declives

semelhantes e não se intersectam no intervalo de valores de fitness observado (figura 2B), o

que indica que a tendência dos benefícios no fitness devido à VDC é semelhante para os dois

subconjuntos.

A A

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17

A B

Figura 2 - Evidência do efeito da densidade bacteriana no fitness relativo. (A) Relação entre o fitness

dos mutantes com resistência em alta e em baixa densidade bacteriana. A linha contínua representa a

linha de tendência, enquanto que a recta tracejada representa o fitness esperado na ausência do efeito

da densidade. (B) Discriminação do subconjunto dos mutantes simples (círculos cheios) e do

subconjunto dos mutantes duplos (triângulos vazios). A linha de tendência contínua é calculada a partir

dos dados dos mutantes simples, enquanto que a linha de tendência tracejada resulta dos dados dos

mutantes duplos.

III. 3. A distribuição dos valores de fitness evidencia mutações deletérias e sem custo

A figura 3A e 3B apresentam a distribuição dos valores de fitness dos mutantes simples a

baixa e a alta densidade, onde é possível verificar que há dois alelos (rpsL K88E e rpoB R529H)

que se destacam dos restantes devido ao baixo fitness (de 0,50 e de 0,61, respectivamente, em

baixa densidade e de 0,60 e 0,57 em alta densidade). Os restantes mutantes simples têm um

custo mais atenuado, tendo todos um fitness superior a 0,90 em baixa densidade e a 0,95 em

alta densidade. De facto, devido ao custo residual ou inexistente, 5 dos 9 alelos em alta

densidade e 3 em baixa densidade não apresentam um fitness significativamente menor que o

do wild-type (p<0,05, teste T de Student de uma amostra), o que sugere que estes mutantes,

nestas condições, não sofrem um efeito deletério com estas mutações. Nenhuma das

mutações para o gene gyrA apresenta um fitness significativamente menor que 1 para ambas

as densidades bacterianas testadas, o que sugere que o custo de adquirir esta resistência é

muito baixo. Surpreendentemente, nestas competições de 3 horas o fitness dos mutantes gyrA

0

0,2

0,4

0,6

0,8

1

1,2

0 0,2 0,4 0,6 0,8 1 1,2

Fitn

ess

alt

a d

en

sid

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Fitness baixa densidade

0

0,2

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0,6

0,8

1

1,2

0 0,2 0,4 0,6 0,8 1 1,2

Fitn

ess

alt

a d

en

sid

ade

Fitness baixa densidade

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18

S83L e rpoB D516V em ambas as densidades bacterianas e o fitness dos mutantes gyrA D87G e

rpsL K88R em alta densidade são marginalmente superiores (p<0,05, teste T de Student de

uma amostra) ao do wild-type, o que sugere que, nestas condições de competição, estes alelos

poderão conferir uma vantagem competitiva. O impacto individual das mutações no fitness

nas competições de 3 horas em baixa e em alta densidade pode ser consultado como material

suplementar (em anexo, tabela S2).

Relativamente à distribuição dos valores de fitness nos mutantes duplos (figuras 3C e 3D),

verifica-se que há valores de fitness díspares, sendo distinguível dois conjuntos de valores. Os

valores mais baixos, num intervalo entre 0,41 e 0,76 em baixa densidade e num intervalo entre

0,36 e 0,80 em alta densidade, correspondem aos mutantes derivados dos alelos rpsL K88E e

rpoB R529H (sendo o mutante duplo para estes alelos o mutante com maior custo) e ao

mutante rpsL K43R- rpoB H526D. Os restantes mutantes têm um fitness mais elevado, com

custos menores ou inexistentes, num intervalo de valores de fitness superior a 0,80 em baixa

densidade e a 0,87 em alta densidade. Estes dados evidenciam que é bastante improvável que

o efeito muito deletério de uma mutação seja compensado na totalidade com uma segunda

mutação.

Quer em baixa quer em alta densidade, verificaram-se 12 combinações em que o fitness

não é significativamente menor que 1 (p<0,05, teste T de Student para uma amostra), sendo

que 10 casos são comuns para as duas condições (em anexo, tabela S3). É interessante

verificar que, com a excepção dos alelos rpsL K88E e rpoB R529H (como referido acima, muito

deletérios), os restantes alelos possuem combinações sem custo em ambas as densidades, o

que indica que, nestas condições de competição, as combinações entre mutações com um

custo baixo ou inexistente podem, elas próprias, não implicar um custo.

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19

A

B

C

D

Figura 3 - Distribuição dos valores de fitness dos mutantes simples em competições em baixa (A) e

em alta densidade bacteriana (B) e distribuição dos valores de fitness dos mutantes duplos em

competições em baixa (C) e em alta densidade bacteriana (D). Em (A) e (B) são distinguidas as

mutações que conferem resistência a streptomicina (preto), a rifampicina (cinzento escuro) e a ácido

nalidíxico (cinzento claro). Em (C) e (D) são distinguidas as combinações entre mutações

rifampicina/streptomicina (preto), rifampicina e ácido nalidíxico (cinzento escuro) e entre ácido

nalidíxico e streptomicina (cinzento claro).

0

1

2

3

4

me

ro d

e

mu

tan

tes

sim

ple

s

Fitness

Strep

Rif

Nal

0

1

2

3

4

5

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ro d

e

mu

tan

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Fitness

Strep

Rif

0

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2

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6

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Fitness

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Rif/Nal

Nal/Strep

0

1

2

3

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6

7

me

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e m

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nte

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Fitness

Rif/Strep

Rif/Nal Nal/Strep

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20

III. 4. Evidência de epistasia positiva em alta densidade

Na presença de epistasia positiva, o custo de duas mutações de resistência é menor do que

o previsto caso estas fossem independentes. Comparando os custos de fitness entre mutantes

simples e duplos, verifica-se que o custo médio dos duplos mutantes é praticamente igual a

duas vezes o custo médio dos mutantes simples em baixa densidade (0,188 contra 0,195), e

notavelmente menor em alta densidade bacteriana (0,152 contra 0,180). Este dado é um

primeiro indicador de uma tendência para a epistasia positiva em alta densidade. Os

resultados representados na figura 4 reforçam esta ideia. Em baixa densidade (figura 4A),

apenas 11 dos 27 mutantes duplos (41%) se encontram acima da linha que assume ausência

de epistasia. Em alta densidade (figura 4B), 17 dos 27 mutantes (63%) têm um valor de

epistasia positivo. É interessante verificar que, em ambas as densidades, um valor de epistasia

positivo parece ser mais frequente para valores de fitness mais baixos.

A B

Figura 4 - Relação entre o fitness observado para os mutantes duplos e o fitness que seria esperado na

ausência de epistasia em competições em baixa densidade (A) e em alta densidade bacteriana (B). Em

ambas as figuras, a recta a tracejado representa o fitness esperado. Em baixa densidade, 41% dos

valores observados são superiores ao esperado, enquanto que em alta densidade 63% dos valores são

superiores ao que seria esperado na ausência de epistasia.

A figura 5 representa a distribuição dos valores de epistasia para cada densidade

bacteriana. Em baixa densidade (figura 5A), a mediana é muito próxima de 0 (0,0015, intervalo

de confiança de 95% por bootstrap entre [-0,030;0,034]). Em alta densidade (figura 5B), a

mediana tem um valor superior (0,025, intervalo de confiança de 95% por bootstrap entre [-

0

0,2

0,4

0,6

0,8

1

1,2

0 0,2 0,4 0,6 0,8 1 1,2

Fitn

ess

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serv

ado

b

aixa

de

nsi

dad

e

Fitness esperado baixa densidade

0

0,2

0,4

0,6

0,8

1

1,2

0 0,2 0,4 0,6 0,8 1 1,2

Fitn

ess

ob

serv

ado

al

ta d

en

sid

ade

Fitness esperado alta densidade

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21

0,0025;0,054]). O valor mínimo do intervalo de confiança é praticamente 0, pelo que este teste

evidencia uma tendência marginal para a epistasia positiva em alta densidade. Comparando os

valores de epistasia em baixa e em alta densidade, observou-se que as diferenças entre as

médias não são estatisticamente significativas (p=0,238, teste T de Student para amostras

independentes). Este resultado é expectável, uma vez que as distribuições não denunciavam

um efeito forte e universal da densidade na epistasia. Nesta circunstância, o efeito da

densidade bacteriana deve ser analisado caso a caso.

A B

Figura 5 - Distribuição dos valores de epistasia em baixa (A) e em alta densidade bacteriana (B).

Apesar de a mediana dos valores das competições alta densidade ser mais elevada (0,025, intervalo de

confiança por bootstrap [-0,0025;0,054] contra 0,0015, intervalo de confiança por bootstrap

[0,030;0,034] para as competições em baixa densidade), as médias não são significativamente diferentes

(p=0,238, teste T de Student para amostras independentes).

III. 5. A densidade bacteriana influencia os perfis de epistasia

Através do método da propagação do erro (ver secção II.5 dos Materiais e Métodos),

determinou-se a presença ou ausência e o tipo de epistasia para cada par de alelos em cada

densidade bacteriana. Os perfis de epistasia obtidos, que podem ser consultados nas figuras

6A e 6B, variam entre baixa e alta densidade bacteriana num número razoável de combinações

alélicas (48% dos casos) (figura 6C). Este resultado é interessante, uma vez que indica que a

0

1

2

3

4

5

6

7

8

me

ro d

e m

uta

nte

s d

up

los

Epistasia baixa densidade

0

1

2

3

4

5

6

me

ro d

e m

uta

nte

s d

up

los

Epistasia alta densidade

Page 32: Influência da Densidade Bacteriana na Epistasia · A epistasia é um fenómeno de interacção genética através do qual o fenótipo de um alelo num determinado locus é afectado

22

epistasia é sensível ao factor densidade. O quadro da figura 6D indica o número de casos de

cada tipo de epistasia para cada densidade bacteriana. Em baixa densidade observou-se um

maior número de casos de epistasia negativa (37%, para 26% em alta densidade), bem como

de ausência de epistasia (33%, contra 22%). Em alta densidade verificou-se um maior número

de casos de epistasia positiva (52%) do que em baixa densidade (30%). Tendo em conta apenas

os casos de epistasia significativa em baixa densidade, apenas 42% têm epistasia positiva. Em

alta densidade, este valor sobe para 64%.

Ao nível das combinações entre genes verifica-se que para a combinação gyrA rpsL, 6 dos 9

mutantes duplos (67%) mantiveram o seu perfil de epistasia. Para a combinação rpoB rpsL o

perfil manteve-se em 5 dos 9 mutantes duplos (56%). Para a combinação gyrA rpoB, apenas 3

dos 9 mutantes duplos mantiveram o perfil de epistasia (33%) com a variação da densidade.

De facto, apesar de esta combinação apresentar predominantemente casos de epistasia

negativa ou de ausência de epistasia em baixa densidade (89%), sendo o mutante rpoB H526D/

gyrA D87Y o único caso de epistasia significativamente positiva para estes dois genes, em alta

densidade este conjunto de genes apresenta uma ligeira predominância de casos de epistasia

positiva (56% dos casos).

O alelo rpoB R529H é o mais variável, uma vez que 5 dos 6 duplos mutantes envolvendo

este alelo variam de perfil de epistasia entre baixa e alta densidade. O alelo rpsL K88E parece

ser o mais constante ao nível da epistasia entre as condições, tendo mantido todos os perfis de

epistasia excepto na combinação com rpoB R529H. No entanto, a existência de alelos de rpsL e

gyrA mais variáveis como rpsL K88R e gyrA D87Y (com a manutenção dos perfis em apenas 2

dos 6 mutantes duplos) indica que a mudança do perfil de epistasia com a densidade não é

dependente do gene.

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23

A

Baixa Densidade rpsL rpoB

K43R K88E K88R D516V R529H H526D

D87G +++ - - 0 0 0

gyrA S83L - ++ - - - 0

D87Y 0 ++ - - 0 +++

D516V 0 ++ -

rpoB R529H ++ + -

H526D - ++ 0

B

Alta Densidade rpsL rpoB

K43R K88E K88R D516V R529H H526D

D87G ++ - - - ++ 0

gyrA S83L ++ ++ - - ++ -

D87Y ++ ++ 0 ++ ++ +++

D516V 0 ++ 0

rpoB R529H ++ 0 +

H526D - + -

C

Perfis comuns rpsL rpoB

K43R K88E K88R D516V R529H H526D

D87G +++/++ - - 0

gyrA S83L ++ - -

D87Y ++ +++

D516V 0 ++

rpoB R529H ++

H526D - ++/+

D

Baixa

Densidade

Alta

Densidade

0 8 5

+ 1 2

++ 5 11

+++ 2 1

- 11 8

0 Ausência de epistasia

+ Epistasia positiva (magnitude)

++ Epistasia positiva de sinal parcial

+++ Epistasia positiva de sinal recíproca

- Epistasia negativa

Figura 6 – Perfis de epistasia de cada combinação alélica após as competições de 3 horas. (A) Perfis de

epistasia nas competições em baixa densidade. (B) Perfis de epistasia nas competições em alta

densidade. (C) Visualização das combinações alélicas com perfis comuns nas duas competições. (D)

Quadro resumo do tipo e número de interacções epistáticas verificadas em baixa e em alta densidade.

Page 34: Influência da Densidade Bacteriana na Epistasia · A epistasia é um fenómeno de interacção genética através do qual o fenótipo de um alelo num determinado locus é afectado

24

Na figura 6, verificou-se que algumas interacções epistáticas são específicas ao nível do

alelo, mantendo-se semelhantes em baixa e em alta densidade. Por exemplo, os mutantes com

o alelo rpsL K88E são, na sua maioria, casos de epistasia positiva em ambas as densidades,

enquanto que o alelo rpsL K88R tem predominância de epistasia negativa, não apresentando

nenhum caso de epistasia positiva em baixa densidade e tendo apenas um caso de epistasia

positiva em alta densidade. Na maioria dos casos, no entanto, os perfis não apresentam

interacções epistáticas específicas ao nível do alelo que sejam semelhantes nas duas

densidades. Dando um exemplo, os alelos gyrA D87Y e rpoB R529H têm uma alta proporção de

epistasia positiva em alta densidade (89%), o que poderia indica que as suas interacções têm

tendência para ser antagonistas, mas a proporção de epistasia positiva é, em ambos os casos,

metade em baixa densidade (44%). Deste modo, algumas interacções específicas do alelo em

alta densidade deixam de o ser a baixa densidade.

Esta situação também pode ser abordada ao nível dos valores de epistasia. Considerando-

se como valores médios positivos ou negativos aqueles que distam do valor 0 mais do que o

seu erro padrão, 5 dos 9 alelos (gyrA D87Y, rpsL K43R, rpsL K88E, rpoB R529H e rpoB D516V)

apresentam valores médios de epistasia positivos em alta densidade. No entanto, em baixa

densidade apenas o alelo K88E mantém níveis elevados de epistasia positiva. Os alelos gyrA

S83L e rpsL K88R apresentam valores médios de epistasia claramente negativos em baixa

densidade. Em alta densidade, ambos têm um valor médio de epistasia considerado como não

significativo (apesar de rpsL K88R apresentar um valor médio com sinal negativo). Estes dados,

expostos na figura 7, para além de corroborarem que um alelo pode ter tendência para um

determinado tipo de interacção epistática, indicam também que esta tendência pode ser

sensível a uma mudança de ambiente. Ainda assim, os altos valores do erro padrão indicam

que a epistasia tem uma variação considerável ao nível das combinações individuais de alelos.

Ao nível das combinações, os mutantes rpsL K43R/ gyrA S83L, rpoB R529H/ rpsL K88R, rpoB

R529H/ gyrA S83L e rpoB D516V/ gyrA D87Y destacam-se por serem casos de clara variação de

epistasia, uma vez que apresentaram epistasia negativa em baixa densidade e epistasia

positiva em alta densidade. Não se observou nenhum caso de epistasia positiva em baixa

densidade que apresentasse epistasia negativa em alta densidade. Curiosamente, verificou-se

que as 5 combinações em alta densidade e a única combinação em baixa densidade entre

mutações com fitness superior a 1 apresentaram epistasia negativa.

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25

Figura 7 – Valores de epistasia média para cada alelo em baixa e em alta densidade bacteriana. As

barras de erro correspondem a ± o erro padrão. Verifica-se uma maior incidência de epistasia média

positiva em alta densidade. O alto valor do erro reflecte a variação da epistasia consoante as

combinações alélicas.

III. 6. Os valores de epistasia variam com o custo das mutações

Num estudo envolvendo a previsão de estruturas secundárias de ácidos ribonucleicos (em

inglês ribonucleic acid - RNA) e a utilização de organismos digitais replicantes in silico, Wilke e

Adami (2001) propuseram que a pressão selectiva para diminuir os custos de uma mutação

actua também de modo a diminuir interacções epistáticas antagonistas, havendo um trade-off

entre o decaimento do custo e a epistasia antagonista (Wilke & Adami, 2001). Em termos

práticos, este cenário implica uma correlação positiva entre o custo de uma mutação e a

epistasia positiva. De modo a verificar se esta relação entre a epistasia e o custo das mutações

se verifica nas competições efectuadas, fez-se a regressão linear dos valores de epistasia

média em função do custo dos mutantes simples para ambas as densidades bacterianas

(figuras 8A e 8B). Verificou-se que a epistasia tem tendência a aumentar com o custo dos

alelos, quer em baixa (r=0,71, p=0,032, correlação de Pearson) quer em alta densidade

(r=0,673, p=0,047, correlação de Pearson). Deste modo, estes dados corroboram o estudo

referido e indicam que a epistasia beneficia mais os mutantes com maior custo, contribuindo

para a sua sobrevivência. Por outro lado, indicam também que esta tendência ocorre, quer em

baixa, quer em alta densidade.

-0,15

-0,1

-0,05

0

0,05

0,1

0,15

Epis

tasi

a M

éd

ia

Alelo

Baixa Densidade

Alta Densidade

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26

De seguida, para verificar se havia um efeito do custo de uma mutação sobre a magnitude

da epistasia, fez-se a regressão linear da epistasia média absoluta de cada mutação em função

do custo dos mutantes simples. Embora as regressões para ambas as densidades bacterianas

reflictam um crescimento da epistasia média absoluta a acompanhar o crescimento do custo, o

declive é significativo apenas na condição de alta densidade (r=0,77, p=0,015, correlação de

Pearson). O declive em baixa densidade é menos acentuado, o que, a par de uma maior

dispersão dos valores, poderá justificar a ausência de significância estatística (r=0,514,

p=0,157, correlação de Pearson). De notar também que em ambas as condições, os valores

absolutos de epistasia não intersectam a origem (p=2,9x10-6 para baixa densidade; p=1,5x10-7

para alta densidade), o que reflecte a existência de epistasia, mesmo que num menor grau, em

mutações com custo reduzido ou inexistente. Não há diferenças significativas entre a epistasia

média em baixa densidade relativamente a alta densidade (p=0,238, teste T variáveis

independentes) nem entre o módulo da epistasia média em baixa densidade relativamente a

alta densidade (p=0,432, teste T variáveis independentes).

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27

A B

C D

Figura 8 – Evidência do efeito do custo de fitness das mutações sobre a epistasia. (A) Efeito do

custo sobre a epistasia média de cada alelo em baixa densidade bacteriana. (B) Efeito do custo

sobre a epistasia média em alta densidade. O valor de epistasia média aumenta com o custo da

mutação quer em baixa (p=0,032, correlação de Pearson) quer em alta densidade (p=0,047,

correlação de Pearson). (C) Relação entre o custo e a epistasia média absoluta em baixa densidade.

(D) Relação entre o custo e a epistasia média absoluta em alta densidade. Em ambas as

densidades, o módulo de epistasia média tem um valor superior a 0 na ausência de custos origem

(p=2,9x10-6

para baixa densidade; p=1,5x10-7

para alta densidade). Em alta densidade verifica-se

uma correlação positiva entre o módulo da epistasia média e o custo (p=0,015, correlação de

Pearson), algo que não se verifica de modo estatisticamente significativo em baixa densidade

(p=0,157, correlação de Pearson).

y = 0,1616x - 0,0143 R² = 0,5057

-0,1

-0,08

-0,06

-0,04

-0,02

0

0,02

0,04

0,06

0,08

0,1

-0,2 0 0,2 0,4 0,6

Epis

tasi

a M

éd

ia

Custo

y = 0,1441x + 0,0123 R² = 0,4535

-0,04

-0,02

0

0,02

0,04

0,06

0,08

0,1

-0,2 0 0,2 0,4 0,6

Epis

tasi

a M

éd

ia

Custo

y = 0,0382x + 0,0662 R² = 0,2643

0

0,02

0,04

0,06

0,08

0,1

0,12

-0,2 0 0,2 0,4 0,6

Epis

tasi

a M

éd

ia A

bso

luta

Custo

y = 0,0481x + 0,0608 R² = 0,5916

0

0,02

0,04

0,06

0,08

0,1

-0,2 0 0,2 0,4 0,6

Epis

tasi

a M

éd

ia A

bso

luta

Custo

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28

III. 7. Epistasia positiva de sinal em baixa e em alta densidade bacteriana

A epistasia pode ser classificada como sendo de sinal se o efeito das mutações é benéfico

ou deletério consoante o background genético. No âmbito desta experiência, a epistasia de

sinal ocorre quando um mutante com duas mutações de resistência apresenta um fitness

maior que pelo menos um dos mutantes simples para as mesmas mutações de resistência.

Assim, compararam-se os valores de epistasia dos mutantes com epistasia significativamente

positiva com os valores de fitness dos mutantes simples respectivos. Os casos de epistasia

positiva de sinal verificados em baixa e em alta densidade encontram-se representados nas

figuras 9A e 9B, respectivamente.

Verificou-se um maior número de casos de epistasia positiva de sinal em alta densidade do

que em baixa densidade (12 contra 7). Curiosamente, entre os casos de epistasia positiva, a

incidência de epistasia de sinal é muito alta e muito semelhante para ambas as densidades –

88% (7/8) em baixa densidade, 86% (12/14) em alta densidade (figura 6A). Isto significa que

nestas competições de 3 horas, uma segunda mutação de resistência com efeitos antagónicos

tem uma probabilidade muito alta de ter um efeito positivo no fitness na presença de uma

primeira mutação. Esta situação pode promover a aquisição e manutenção de mutações de

resistência.

Entre os casos de epistasia positiva foram detectados 2 casos de epistasia positiva de sinal

recíproca em baixa densidade e 1 em alta densidade. Estas combinações epistáticas são as que

mais facilmente promovem resistência. Apesar de se registar a existência destes casos nestes

mutantes, a sua frequência é baixa, o que sugere que a sua ocorrência é rara.

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29

A

B

Figura 9 – Casos de epistasia positiva de sinal entre alelos que conferem resistência em baixa (A) e em

alta densidade bacteriana (B). Na presença de epistasia de sinal, os mutantes duplos apresentam um

fitness superior a pelo menos um dos mutantes simples com os alelos respectivos. Caso apresentem um

fitness superior a ambos, são considerados um caso de epistasia positiva de sinal recíproca. As barras de

erro correspondem a 2 vezes ± o erro padrão.

0,4

0,5

0,6

0,7

0,8

0,9

1

1,1

Fitn

ess

ob

serv

ado

b

aixa

de

nsi

dad

e

Genótipo

Mutante Simples 1

Mutante Simples 2

Mutantes Duplos

0,4

0,5

0,6

0,7

0,8

0,9

1

1,1

Fitn

ess

ob

serv

ado

al

ta d

en

sid

ade

Genótipo

Mutante Simples 1

Mutante Simples 2

Mutantes Duplos

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30

IV. DISCUSSÃO

IV. 1. A sensibilidade da epistasia à VDC

O objectivo desta tese foi verificar se a vantagem no crescimento dependente do contacto

(VDC) pode influenciar as relações epistáticas entre mutações que conferem resistência a

antibióticos e identificar tendências dessa variação. Estudos anteriores em E. coli, através da

manipulação do ambiente nutricional (Remold & Lenski, 2004) e em Pseudomonas aeruginosa,

através da presença ou ausência de antibióticos no meio (Ward et al., 2009) demonstraram a

dependência da epistasia da variação de condições ambientais em bactérias, evidenciando que

a epistasia está sujeita a plasticidade fenotípica. Foram observados diversos exemplos na

natureza de plasticidade fenotípica em resposta a factores bióticos, como a presença ou a

acção de predadores, competidores e conspecíficos (Miner et al., 2005) ou como a existência

de interacções mutualistas (Agrawal, 2001). Esta constatação levou à formulação da hipótese

de que as interacções genéticas poderiam exibir plasticidade relativamente a interacções

bióticas, como a VDC.

Os nossos resultados indicam que 48% das combinações sofreram variações no perfil de

epistasia com a variação da densidade. Estes resultados mostram que as interacções genéticas

são variáveis consoante o contexto em que o organismo se encontra, o que vai de encontro

com as observações feitas em vários estudos (Remold 2004, Ward 2009, Elena 2012).

Confirmam também que, em bactérias, a variação da epistasia pode depender de interacções

bióticas. Tendo em conta a diversidade verificada ao nível das interacções bióticas entre

bactérias e à multitude de funções que podem ter, esta constatação aponta para a

possibilidade de a epistasia poder estar sujeita a inúmeras situações ecológicas que afectem a

sua plasticidade, e assim, o seu efeito.

IV. 1.1. A densidade bacteriana e a ocorrência de epistasia positiva

Nas combinações estudadas observaram-se vários casos de epistasia positiva, tendo-se

verificado um número maior de casos de epistasia positiva em alta densidade (≈52%) do que

em baixa densidade (≈30%), tendo-se consequentemente observado um menor número de

combinações com ausência de epistasia e com epistasia negativa na primeira condição. Por

outro lado, a comparação de custos entre mutantes simples e duplos, o valor da mediana da

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31

distribuição da epistasia e a comparação entre o fitness esperado e observado indicaram a

existência de uma tendência para a epistasia positiva em alta densidade, mas não em baixa

densidade. Estes dados em conjunto indicam que, para as combinações alélicas estudadas, no

início do crescimento, é mais frequente os custos serem compensados através das interacções

genéticas em alta densidade do que em baixa densidade, o que promove uma maior

capacidade competitiva por parte de mutantes multirresistentes na primeira condição.

Os genes estudados, gyrA, rpoB e rpsL estão envolvidos, respetivamente, nos processos de

replicação (Nollmann et al., 2007), de transcrição (Zhou et al., 2013) e de tradução (Toivonen

et al., 1999). Um estudo in silico sobre as redes metabólicas de E. coli e de Sacharomyces

cerevisiae indica que os genes envolvidos em reacções essenciais interagem de modo

antagonista (He et al., 2010). A maior presença de epistasia positiva entre estes genes em alta

densidade sugere que a sua importância para as bactérias é maior nesse contexto.

Com a devida ressalva de se estar a subestimar as suas funções, pode-se considerar os

processos de replicação, transcrição e tradução como fazendo parte do mesmo processo

metabólico de construção de macromoléculas tendo em vista a divisão celular. Nesta

perspectiva, os dados obtidos indicam que, em alta densidade, condição na qual este processo

é promovido mais cedo, mutações deletérias que interfiram com o seu funcionamento têm

uma tendência mais antagonista. Segrè et al (2005), através de um estudo de epistasia

envolvendo o knockout in silico de genes metabólicos, sugeriram que mutações que afectem a

mesma via metabólica de modo a limitar o seu rendimento podem ter efeitos deletérios

redundantes e, deste modo, tendência a ter epistasia positiva (Segre et al., 2005). Estes efeitos

deletérios fazem-se sentir mais quando a via está mais activa. Deste modo, uma possível

explicação para a tendência mais positiva das interacções epistáticas em alta densidade pode

ser a sua relevância no crescimento, que em alta densidade ocorre mais depressa. Este facto é

demonstrado pelo maior número de gerações dos mutantes em alta densidade relativamente

ao número de gerações em baixa densidade.

IV. 1.2. A prevalência da epistasia positiva de sinal em baixa e em alta densidade

bacteriana

Entre os eventos de epistasia positiva observados, 88% (7/8) dos casos em baixa densidade

e 86% (12/14) dos casos em alta densidade foram de epistasia de sinal. Esta incidência é muito

alta e indica que, na fase lag e no início da fase de crescimento exponencial, a epistasia com

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32

efeitos antagónicos entre mutações deletérias tem uma tendência elevada para ter efeitos

benéficos para o fitness.

Este facto tem implicações importantes, porque nestes casos, o custo de ter duas mutações

que conferem resistência é menor do que o custo de ter uma destas mutações. Deste modo,

uma mutação de resistência deletéria tem uma probabilidade elevada de se tornar benéfica na

presença de outra mutação de resistência no contexto do início da fase de crescimento

exponencial. É de destacar que este efeito é independente da densidade bacteriana (uma vez

que, como foi visto, a elevada incidência de epistasia positiva de sinal acontece, quer em baixa,

quer em alta densidade), pelo que a compensação ou não de uma mutação deletéria não

depende de uma antecipação desta fase. Deste modo, este efeito benéfico ocorre, quer na

presença, quer na ausência de VDC.

Para além da vantagem imediata que confere a estirpes multirresistentes, a epistasia

positiva de sinal tem implicações evolutivas importantes para a sua manutenção. A epistasia

de sinal pode restringir a adaptação ao limitar o número de mutações capazes de aumentar o

fitness. (Weinreich et al., 2005, Carneiro & Hartl, 2010). Considerando um mutante

multirresistente, algumas reversões de mutações de resistência implicam uma diminuição do

fitness, pelo que a selecção não as favorece. Consequentemente, o mutante poderá aumentar

o seu fitness através de mutações compensatórias adicionais, mas não através destas

reversões, pelo que estas correspondem a “caminhos” evolutivos praticamente fechados.

Deste modo, a epistasia positiva de sinal promove a acumulação de mutações de resistência.

Por outro lado também restringe caminhos evolutivos que poderiam culminar num genótipo

com maior fitness do que a combinação multirresistente, sendo a principal solução para esta

situação a recombinação ((Weinreich et al., 2005).

Nos nossos dados verificou-se um maior número de casos de epistasia positiva de sinal em

alta densidade do que em baixa densidade. Isto indica que, através da variação da densidade,

mutantes com relações epistáticas benéficas entre as mutações podem, num contexto

ambiental diferente, ter um custo derivado da multirresistência. Esta constatação é

importante, porque indica que, pelo menos em alguns casos, o favorecimento da

multirresistência pela epistasia é reversível sem ser necessário recorrer à recombinação.

Num ambiente A para o qual uma combinação alélica seja vantajosa, a selecção actua no

sentido de manter essa combinação. Num ambiente B para o qual a combinação seja deletéria,

a selecção favorece reversões, pelo que os mutantes têm menos constrangimentos e podem

formar novas combinações alélicas. Entre estas, poderão estar combinações que sejam mais

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33

vantajosas no ambiente A do que a combinação inicial, pelo que a reversibilidade da epistasia

de sinal abre “caminhos” evolutivos, favorecendo a evolução em direcção a genótipos de

maior fitness. Uma vez que pode promover reversões, a reversibilidade da epistasia positiva de

sinal é uma boa notícia para o problema da multirresistência a curto prazo. Por outro lado, a

longo prazo pode permitir a exploração de genótipos de maior fitness, entre os quais poderá

estar uma nova combinação entre alelos determinantes de resistência. Deste modo, a

reversibilidade da epistasia de sinal complexifica o seu papel na manutenção de estirpes

multirresistentes.

É ainda de notar a existência de dois casos de epistasia de sinal recíproca em baixa

densidade e um caso em alta densidade. Nestas situações, o custo de possuir dois

determinantes de resistência é menor do que o custo de possuir apenas um deles, pelo que o

constrangimento evolutivo é maior, e consequentemente, a promoção de estirpes

multirresistentes é ainda maior. No entanto, o reduzido número de casos observado indica

que a incidência de epistasia positiva de sinal recíproca na fase de crescimento é rara, o que

reflecte a sua baixa ocorrência observada noutros estudos (Carneiro & Hartl, 2010).

IV. 1.3. A relação entre a epistasia e o custo das mutações

Os nossos dados evidenciam uma maior incidência de epistasia positiva em mutantes com

maior custo e uma correlação positiva entre a epistasia média e o custo das mutações. Isto

indica que a epistasia tende a ser mais antagonista à medida que o custo aumenta. Estes dados

vão ao encontro da previsão de um trade-off entre o decaimento do custo e a epistasia

antagonista feita por Wilke e Adami (2001). Deste modo, mutações mais deletérias sofrem

compensações maiores, o que contribui para a sua manutenção na natureza.

Quer em alta quer em baixa densidade, o valor do módulo de epistasia previsto na ausência

de custo é positivo. A par do erro elevado observado na análise dos valores de epistasia média

de cada alelo, esta constatação indica que apesar da tendência da epistasia se aproximar da

neutralidade à medida que o custo diminui, continua a haver valores díspares de epistasia para

algumas das combinações de mutações, o que evidencia que, mesmo na ausência de custos, a

epistasia continua a depender das relações entre alelos individuais. Os nossos dados indicam

ainda que o módulo da epistasia média em alta densidade, mas não em baixa densidade, varia

com o custo das mutações. Esta variação em alta densidade poderá ser o reflexo da maior

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força da epistasia antagonista para custos mais altos, que, devido a uma menor incidência em

baixa densidade, não tem um peso tão forte sobre a intensidade média da epistasia.

IV. 2. A ausência de custo das mutações e o melhoramento condicional do fitness

Nestas competições de 3 horas, vários alelos não implicam um fitness inferior ao wild-type,

e em alguns casos em ambas as densidades, apresentam mesmo um fitness superior. Tendo

em conta que em competições de 24 horas com uma densidade inicial intermédia nenhum

destes mutantes simples apresentou um fitness superior ao do wild-type (Trindade et al 2009),

este facto é surpreendente e indica que algumas mutações de resistência podem, em

competições de 3 horas, trazer um benefício em vez do custo observado em competições de

24 horas. De facto, é possível que os efeitos deletérios destas mutações apenas se façam sentir

na fase estacionária. Deste modo, trata-se de um caso de melhoramento condicional do fitness

(Weinreich et al., 2005), através do qual uma mutação de resistência é condicionalmente

benéfica quando a bactéria se encontra no início da fase exponencial.

Já foram descritos vários casos de melhoramento condicional do fitness (Weinreich et al.,

2005), entre os quais um caso em mutantes resistentes à streptomicina em Salmonella

typhymurium, que têm vantagem relativamente ao wild-type em ambiente pobres em fontes

de carbono por serem incapazes de induzir o factor sigma RpoS, regulador da fase estacionária

(Paulander et al, 2009). Estes casos indicam a importância de se medir os custos das mutações

de resistência em condições diferentes de modo a obter uma estimativa relevante do fitness

em cada situação e a definir em que situações os efeitos das mutações no fitness implicam,

efectivamente, uma desvantagem para a bactéria.

Em 12 das 27 combinações observadas, quer em baixa quer em alta densidade, 10 das

quais comuns nas duas condições, não se observou um fitness significativamente inferior ao

wild-type. Este facto é relevante, porque indica que para estas combinações, no início da fase

de crescimento, a multirresistência não implica um custo. Deste modo, em várias situações, o

custo baixo ou inexistente verificado entre os mutantes simples não implicou a presença de

um custo nos mutantes multirresistentes. O número de combinações sem custo é superior e

inclui, em ambas as densidades, as 3 combinações observadas por Trindade et al (2009) para

os mesmos mutantes. Isto sugere que, como no caso das mutantes simples, alguns custos

inerentes à resistência a antibióticos para os mutantes multirresistentes só se deveram

manifestar na fase estacionária.

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35

Para as combinações entre mutações simples condicionalmente benéficas, uma questão

formal que se pode colocar é se alguns dos casos observados de epistasia não deveriam ser

considerados como casos de epistasia entre mutações benéficas. Apesar de, por um lado,

todas as mutações simples terem efeitos deletérios no prolongamento da competição e por

outro, as vantagens observadas não serem elevadas, formalmente e para estas competições

em concreto, aceita-se que possam ser interpretadas como tal. Curiosamente, todas as

combinações entre mutações com efeitos benéficos apresentaram epistasia negativa quando

tratadas como deletérias (e portanto, positiva quando tratadas como benéficas), pelo que,

para todos os casos observados, a tendência epistática entre mutações quando ambas dão um

benefício são no sentido de diminuir o fitness. Esta tendência foi igualmente observada em

mutações benéficas à adaptação noutros estudos, quer em P. aeruginosa (MacLean et al.,

2010) quer em Methylobacterium extorquens (Chou et al., 2011) quer mesmo em E. coli (Khan

et al., 2011), e indica que a epistasia pode ter uma acção de diminuição da taxa de adaptação.

No caso particular das mutações de resistência, este facto é positivo, porque indica que numa

estirpe multirresistente, o aparecimento de uma mutação muito benéfica não terá um impacto

tão grande na sua capacidade competitiva como seria de esperar na ausência de interacções

com o seu background genético.

Observou-se também que alelos que possuem mutações muito deletérias não são capazes

de compensar totalmente o seu custo com uma só mutação adicional, o que indica que a

maior vantagem de a epistasia ser mais positiva para os mutantes de maior custo pode ser

permitir que subsistam mais tempo, até que este custo possa ser compensado várias vezes.

Esta hipótese é reforçada por um estudo baseado na literatura disponível que estima que há,

em média, 11,8 mutações compensatórias por cada mutação deletéria ((Poon et al., 2005).

Tendo em conta que a epistasia depende da história evolutiva (Angst & Hall, 2013), é possível

que as mutações que não apresentaram efeitos deletérios estejam a ser compensadas pelo

background genético da estirpe E. coli K12.

IV. 3. O papel da VDC na manutenção da diversidade e da resistência a antibióticos

O fenómeno de VDC foi descoberto recentemente e pouco se sabe sobre o modo como

actua. Para além de depender da densidade, Nunes (2012) demonstrou que a VDC pode ser

activada através do contacto com células em estado de latência, que não se trata de quorum-

sensing, que o seu efeito no crescimento passa por antecipar a saída da fase lag para a fase

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exponencial do crescimento. Apesar de ser claro que a VDC pode favorecer estirpes em

raridade quando estas se encontram em alta densidade e facilitar a invasão de certos habitats,

até agora não havia evidência de como poderia afectar as diferentes estirpes que a possuem

consoante a sua capacidade competitiva.

Este trabalho demonstra que a VDC promove de modo semelhante o número de gerações

de estirpes resistentes a antibióticos independentemente do seu número de gerações a baixa

densidade. Deste modo, qualquer estirpe que active a VDC pode receber um benefício sólido

no seu crescimento quando em alta densidade. Estando a vantagem presente, é intuitivo

pensar que tenha um papel mais importante na manutenção das estirpes com uma menor

capacidade competitiva.

De facto, os nossos resultados indicam que a VDC promove um maior fitness a alta

densidade e que a vantagem competitiva conferida relativamente à estirpe de referência vai

decrescendo à medida que o custo das mutações também decresce. Deste modo, como

esperado, a vantagem competitiva devida à VDC é maior para mutantes com fitness menor.

O fenómeno de VDC, ao conferir uma vantagem maior ao nível do fitness para os mutantes

com maior custo, torna-os mais difíceis de eliminar na natureza, actuando no sentido da

manutenção da diversidade. Deste modo, é igualmente capaz de promover a manutenção de

estirpes resistentes a antibióticos. Se a mutação cromossómica ou elemento móvel

responsável pela resistência implicar um custo, a estirpe em questão terá maiores

possibilidades de sobreviver até sofrer mutações compensatórias que diminuam ou eliminem

o custo ou até a comunidade bacteriana sofrer uma pressão selectiva para a qual os genes de

resistência sejam uma mais-valia.

Observou-se que a VDC teve um efeito no fitness significativo para os duplos mutantes mas

não para os mutantes simples. Este resultado é explicado pelo facto de os mutantes simples

terem um fitness médio mais alto do que os mutantes duplos, não conseguindo obter uma

vantagem competitiva tão alta quando a competir com a estirpe de referência. Este resultado

é importante porque demonstra empiricamente que a VDC pode ter um papel na manutenção

da multirresistência. Nos casos em que a multirresistência implique um custo, os mutantes

multirresistentes têm um benefício maior com a activação da VDC do que os competidores

susceptíveis que tenham maior fitness, permitindo a sua manutenção na população.

Cruzando os efeitos da VDC com os dados anteriormente expostos conclui-se que a

manutenção de estirpes multirresistentes em alta densidade pode resultar de vários factores.

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Verificou-se que nas competições de 3 horas efectuadas, a multirresistência pode não ter um

custo. Neste caso, o mutante está apto para competir com o wild-type até que o ambiente

ecológico sofra alterações. Se um mutante multirresistente tiver dois ou mais determinantes

de resistência dos quais resulte um custo, a maior presença de epistasia positiva em alta

densidade, associada à elevada probabilidade de esta epistasia ser de sinal torna possível a

compensação do custo de multirresistência. Caso o mutante multirresistente tenha um custo

menor relativamente aos seus competidores, em alta densidade, o efeito da VDC poderá

diminuir a diferença entre a capacidade competitiva do mutante multirresistente

relativamente aos seus competidores mais fortes. Deste modo, a acção das mutações

condicionalmente sem custo ou condicionalmente benéficas, da epistasia positiva de sinal e da

VDC podem ser complementares na manutenção de estirpes resistentes.

IV. 4. Conclusões e perspectivas futuras

Este trabalho demonstrou que a densidade bacteriana pode influenciar, quer o fitness de

mutantes resistentes a antibióticos, quer as relações epistáticas entre combinações alélicas

que conferem resistência. Esta influência está associada a um fenómeno de vantagem de

crescimento em alta densidade devida ao mecanismo de VDC, recentemente descoberto

(Nunes, 2012). Para além disto, os nossos resultados indicam que na fase de crescimento

exponencial a manutenção da multirresistência pode ser promovida não só pela VDC como

também pela ocorrência de mutações condicionalmente sem custo e por uma alta prevalência

de epistasia positiva de sinal.

Não se sabe muito sobre o fenómeno de VDC. Apesar de se ter uma ideia concreta sobre o

seu efeito, a identificação dos seus mecanismos fisiológicos e moleculares seria essencial para

a compreensão do seu modo de activação e actuação, bem como da extensão das suas

consequências. Também seria importante fazer um screening mais aprofundado da sua

ocorrência no mundo microbiano de modo a se ter noção da sua verdadeira distribuição.

Para os genes estudados, verificou-se uma maior incidência de epistasia positiva entre as

mutações que conferem resistência em alta densidade. Os genes estudados têm papéis

essenciais em processos importantes para a fase de crescimento exponencial. Embora a

abordagem com antibióticos fosse limitada, seria interessante estudar a existência ou ausência

e qual a tendência da variação de interacções epistáticas em genes que não são fundamentais

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para esta fase. Uma possibilidade seria a utilização de determinantes de resistência codificados

em elementos móveis, como plasmídeos.

Este estudo é subsequente e utiliza os mutantes gerados no estudo de Trindade et al

(2009), mas centrou-se na problemática do papel da densidade bacteriana na epistasia.

Comparar o fitness e os níveis de epistasia entre competições com a mesma densidade

bacteriana inicial e com duração diferente poderia indicar a existência da variação das relações

epistáticas entre as fases de crescimento. A comparação em vários time-points em particular,

exequível através de protocolos de curvas de crescimento, ajudaria a clarificar a dinâmica pela

qual as relações epistáticas se alteram consoante o ciclo de vida bacteriano.

Em suma, este trabalho demonstra que a variação ambiental, e em particular, a variação

mediada por interacções bióticas pode influenciar relações epistáticas entre mutações de

resistência a antibióticos. A existência de um custo e a relação entre mutações que conferem

resistência têm características complexas e variam facilmente com o contexto ecológico, pelo

que para as bactérias, a presença ou ausência de uma desvantagem na multirresistência

depende do ambiente onde se encontram e de com que outras bactérias se encontram.

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VI. ANEXOS

Tabela S1 - Número de gerações médio (±2 vezes o erro padrão) dos mutantes em baixa e em alta densidade, teste T de Student emparelhado para a diferença no número de gerações entre as condições e significância. (S – Significativo; NS – Não Significativo; p=0,05)

Mutante Baixa Densidade Alta Densidade Teste T Sig.

D87G 7,23±0,69 6,81±0,17 0,3 NS

S83L 6,69±0,14 8,12±0,08 1,63x10-8 S

D87Y 5,61±0,21 6,36±0,24 0,015 S

K43R 5,69±0,35 6,62±0,081 0,002 S

K88E 3,33±0,35 4,07±0,32 0,11 NS

K88R 6,33±0,23 7,57±0,094 1,1x10-5 S

D516V 6,79±0,18 7,21±0,22 9,35x10-3 S

R529H 3,8±0,53 4,36±0,28 0,19 NS

H526D 5,95±0,17 6,62±0,13 8,51x10-6 S

K88E-D87G 3,2±0,38 3,63±0,14 0,16 NS

R529H-D87G 3,58±0,55 5,26±0,33 8,4x10-3 S

K88E-R529H 2,46±0,26 2,52±0,45 0,75 NS

R529H-S83L 3,51±0,43 4,41±0,55 0,03 S

K43R-H526D 4,65±0,37 5,75±0,45 0,014 S

D516V-K43R 6,43±0,31 6,61±0,31 0,55 NS

K88R-D516V 5,13±0,38 6,63±0,19 5,8x10-3 S

K88R-H526D 6,22±0,27 6,58±0,11 0,047 S

K88R-D87Y 6,23±0,40 7,27±0,11 4,6x10-3 S

K43R-D87Y 6,02±0,62 7,15±0,42 0,054 NS

K88R-S83L 5,72±0,22 6,53±0,22 2,8x10-3 S

K88E-S87L 3,64±0,22 4,68±0,16 2,1x10-3 S

K88E-D87Y 3,53±0,34 4,67±0,40 0,18 NS

K43R-D87G 5,29±0,14 5,82±0,17 4,5x10-3 S

H526D-D87G 5,34±0,067 5,97±0,32 0,04 S

H526D-D87Y 6,22±0,22 6,54±0,40 0,015 S

H526D-S83L 4,9±0,23 6,11±0,18 8,4x10-3 S

R529H-K43R 4,67±0,50 4,61±0,16 0,806 NS

R529H-D87Y 3,51±0,28 4,26±0,22 0,031 S

D516V–D87G 6,16±0,14 7,07±0,15 1,6x10-3 S

D516V-S83L 5,17±0,33 5,82±0,26 0,032 S

D516V-D87Y 6,08±0,32 7,17±0,20 0,011 S

K88R-D87G 5,66±0,19 6,73±0,12 5,16x10-5 S

R529H-K88R 3,74±0,50 4,06±0,20 0,37 NS

K88E-D516V 4,79±0,25 5,38±0,21 0,025 S

K43R-S83L 5,67±0,11 5,83±0,60 0,56 NS

K88E-H526D 3,2±0,12 4,3±0,082 3,86x10-5 S

Page 54: Influência da Densidade Bacteriana na Epistasia · A epistasia é um fenómeno de interacção genética através do qual o fenótipo de um alelo num determinado locus é afectado

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Tabela S2 – Genótipo das mutações simples de resistência e impacto no fitness em competições de 3 horas em baixa e em alta densidade bacteriana. Os valores positivos indicam que a mutação conferiu um custo para o fitness, enquanto que os valores negativos indicam que a mutação conferiu um benefício. É indicado entre parêntesis o valor de duas vezes o erro padrão. É indicado o gene, a substituição nucleotídica e a mudança de aminoácido correspondente.

Gene Genótipo - mudança de

aminoácido; substituição nucleotídicas

%(2x EP) Custo a baixa densidade

% (2x EP) Custo a alta densidade

gyrA D 87 G ; GAC para GGC 4,1 (3,1) -2,5(1,8)

gyrA S 83 L; TCG para TTG -4,0 (2,6) -2,8(1,4)

gyrA D 87 Y; GAC para TAC 0,19 (2,0) 1,8(2,9)

rpsL K 43 R; AAA para AGA 3,4 (1,1) 3,7(1,5)

rpsL K 88 E; AAA para GAA 48,0 (5,3) 39,0(5,0)

rpsL K 88 R; AAA para AGA -0,85 (3,6) -2,6(1,1)

rpoB D 516 V; GAC para GTC -5,2 (2,5) -1,8(1,1)

rpoB R 529 H; CGT para CAT 36,4 (5,7) 42,4(3,3)

rpoB H 526 D; CAC para GAC 6,2 (2,3) 4,0 (1,4)

Tabela S3 - Comparação do fitness dos mutantes relativamente ao wild-type. As células vazias correspondem a combinações com fitness significativamente menor que o wild-type em ambas as densidades. As células com uma barra ao centro apresentam à esquerda da barra a comparação da combinação em baixa densidade e à direita da barra a comparação da combinação em alta densidade. A ausência de um símbolo indica fitness significativamente inferior ao wild-type, “1” indica fitness não significativamente diferente e” +” indica fitness significativamente superior.

rpsL

rpoB

K43R K88E K88R D516V R529H H526D

D87G 1|+

1|1

gyrA S83L 1|1

|1 1|1

1|

D87Y 1|1

1|1 1|1

+|+

D516V 1|1

1|1

rpoB R529H

-

H526D |1

1|