INFLUÊNCIA DA MARAVALHA NO RENDIMENTO DE BIOGÁS...

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RICARDO MÜLLER INFLUÊNCIA DA MARAVALHA NO RENDIMENTO DE BIOGÁS GERADO A PARTIR DO EFLUENTE DA BOVINOCULTURA DE LEITE CASCAVEL PARANÁ – BRASIL FEVEREIRO - 2015

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RICARDO MÜLLER

INFLUÊNCIA DA MARAVALHA NO RENDIMENTO DE BIOGÁS GERADO A

PARTIR DO EFLUENTE DA BOVINOCULTURA DE LEITE

CASCAVEL

PARANÁ – BRASIL

FEVEREIRO - 2015

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RICARDO MÜLLER

INFLUÊNCIA DA MARAVALHA NO RENDIMENTO DE BIOGÁS GERADO A

PARTIR DO EFLUENTE DA BOVINOCULTURA DE LEITE

Dissertação apresentada à Universidade Estadual do Oeste do Paraná, como parte das exigências do Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Energia na Agricultura, para obtenção do título de Mestre. ORIENTADOR: Prof. Dr. Armin Feiden

CASCAVEL

PARANÁ – BRASIL

FEVEREIRO - 2015

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1. Dados Internacionais de Catalogação-na-Publicação (CIP)

FICHA CATALOGATÓRIA M924i

Müller, Ricardo

Influência da maravalha no rendimento de biogás gerado a partir do efluente da bovinocultura de leite./Ricardo Müller. Cascavel, 2015.

37 p.

Orientador: Prof. Dr. Armin Feiden

Dissertação (Mestrado) – Universidade Estadual do Oeste do Paraná. Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Engenharia de Energia na

Agricultura 1. Biogás - Pesquisa. 2. Metano. 3. Bovinocultura leiteira. 4. Maravalha. 5.

Resíduo lignocelulosico. 6. Energia – Fontes alternativas. I. Universidade Estadual do Oeste do Paraná. II. Título.

CDD 21.ed. 665.70724

Ficha catalográfica elaborada por Helena Soterio Bejio – CRB 9ª/965

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AGRADECIMENTOS

Agradeço a minha família por ter me apoiado durante esta jornada, em especial a

minha mãe Maria Luiza Schefer por me encorajar nesta conquista e confiar em

minhas escolhas.

Ao professor, Dr. Armin Feidem, por ter aceitado ser meu orientador em um

momento tão delicado desta trajetória, sendo imparcial, profissional e

categoricamente um excelente orientador. Fazendo-me eternamente grato por sua

pessoa.

Ao meu grande amigo Luis Thiago Lúcio, que dividiu moradia em Cascavel e

principalmente por ter oportunizado desenvolver as análises laboratoriais deste

trabalho no laboratório do CIbiogás.

Aos meus amigos Angelo Gabriel Mari e Felipe Souza Marques, pelos preciosos

conselhos profissionais, acadêmicos, pessoais e pela concretização deste trabalho.

À CAPES, pela cessão da bolsa de estudos em um período parcial deste trabalho.

Ao CIbiogás por fomentar as análises laboratoriais deste trabalho.

À secretária Vanderléia L. S. Schmidt pela gentileza e atenção.

Também gostaria de agradecer a todos, de intensões boas outros nem tanto, que

estiveram envolvidos nesta etapa, pois nada é por acaso, sendo assim,

humildemente peço as desculpas daqueles que ofendi e ou tenha faltado com o

respeito.

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LISTA DE FIGURAS E TABELAS

Tabela 1: Vantagens e desvantagem de normas reconhecidas internacionalmente

para teste de biodigestão em batelada.......................................................................7

Tabela 2: Estimativa de produção de efluente da fazenda Star Milk........................11

Tabela 3: Valores de ST, SV e pH por batelada.......................................................16

Tabela 4: Valores de rendimento de biogás por ST e ST por batelada....................17

Tabela 5: Produção específica diária de biogás e metano no biodigestor................18

Tabela 6: Porcentagem média de metano por tratamento........................................18

Tabela 7: Produção máxima de biogás e metano.....................................................19

Tabela 8: Estatística de regressão............................................................................20

Tabela 9: ANOVA dos dados experimentais.............................................................20

Tabela 10: Delineamento da equação.......................................................................21

Figura 1: Esquema metabólico da digestão anaeróbia................................................4

Figura 2: Substratos potenciais de produzir biogás.....................................................9

Figura 3: Tanque de homogeneização......................................................................12

Figura 4: Caixa de passagem. ..................................................................................12

Figura 5: saída da extrusora......................................................................................12

Figura 6: Amostras identificadas. ..............................................................................12

Figura 7: (a) Unidades do eudiômetro; (b) detalhamento do eudiômetro..................15

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MÜLLER, Ricardo M.e, Universidade Estadual do Oeste do Paraná. Fevereiro de

2015. Influência da maravalha no rendimento de biogás gerado a partir do

efluente da bovinocultura de leite. Professor Orientador Dr. Armin Feiden.

RESUMO

O desenvolvimento de tecnologias para tratamento de efluentes da agroindústria tem sido impulsionado principalmente pela auto suficiência energética, seja térmica ou elétrica, a partir do biogás. O processo de produção de biogás apresenta-se bem solucionado comercialmente, no entanto, a heterogeneidade dos efluentes agroindustriais no Brasil demanda melhor entendimento. A fazenda escolhida para coleta do efluente faz um tratamento primário por meio de uma extrusora, antes do processo de biodigestão, que acaba por gerar um material pastoso composto basicamente por maravalha. Nesse contexto este trabalho objetivou avaliar a influência da maravalha, usada como cama para as vacas em lactação, na produção de biogás, assim, para entender o comportamento do efluente antes e após o processo de extrusão na produção de biogás, foram delineados 4 tratamentos, sendo: efluente bruto, sem qualquer processo de separação (T1); efluente líquido extrusado (T2); efluente pastoso extrusado (T3); e o branco controle, composto por apenas inóculo (T4). As amostras foram coletadas nos meses de maio e abril e encaminhadas ao laboratório do CIbiogás-ER, denominado Labiogás, onde analisou-se: Sólidos Voláteis (SV); Sólidos Totais (ST); pH; produção máxima de biogás e metano; e produção específica de biogás e metano, pelo método da norma alemã VDI 4630 (2006) em eudiômetros de batelada durante 31 dias. Os resultados obtidos indicaram que o T1 teve predominantemente resultados mais satisfatórios que os demais tratamentos com exceção da produção máxima de biogás e de metano, no qual o T3 teve 94% mais eficiência em relação a T1, T2 e 99% ao T4, apresentando produção máxima de biogás de 0,054m³/kg de substrato e 0,030m³/kg para metano, tornando evidente a capacidade da maravalha em absorver nutrientes essenciais para o processo de digestão anaeróbia. Houve diferença (P<0,05) entre os tratamentos para a produção máxima de biogás e com 99,4% delimitou-se o modelo de regressão linear múltipla ajustado “Y=13,499 + 63,256*ST + 20,485*SV - 459,234*Rend. + 485,772*Prod.” que pode ser usado na predição de resultados.

PALAVRAS-CHAVES: Metano, bovinocultura leiteira, maravalha, resíduo lignocelulosico, energia na agricultura.

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MÜLLER, Ricardo Msc, Universidade Estadual do Oeste do Paraná. February de 2015. Wood shavings of influence on the generated biogas yield from the effluent from dairy cattle. Adviser Dr. Armin Feiden.

ABSTRACT

The development of technologies for treatment of agroindustry effluents has been primarily driven by auto sufficiency energy, either thermal or electric, from biogas. The biogas processes are well resolved commercially in Brazil. However, the heterogeneity of the agroindustrial effluents demand better understanding, especially of dairy cattle. The selected farm for effluent collects does a primary treatment by means of an extruder, before the digestion process, who turns out to generate a pasty material composed primarily of wood shavings. In that context, this study aimed to evaluate the influence of wood shavings, used as bedding for the cows lactating and the production of biogas, thus, to understand the behavior of the effluent before and after the extrusion process were outlined four treatments: raw effluent, without any separation process (T1); extruded liquid effluent (T2); paste extruded effluent (T3); and white control, with only inoculum (T4). The samples were collected the months of May and April and sent to the lab CIbiogás-ER, called Labiogás where analyzed: Volatile Solids (SV); Total solids (TS); pH; maximum production of biogas and methane; and specific production of biogas and methane, by the method of German VDI 4630 (2006) in eudiômetros batch for 31 days. The results indicated that the T1 predominantly had better results than the other treatments except for the maximum production of biogas and methane, in which T3 had 94% more efficiency compared to T1, T2 and T4 to 99%, with maximum production of biogas 0,054m³ / kg substrate and 0,030m³ / kg for methane, pointing to the ability of wood shavings to absorb nutrients Essential to the process of anaerobic digestion. There were differences (P <0.05) between treatments for maximum biogas production and 99.4% was delimited the adjusted multiple linear regression model “Y=13,499 + 63,256*ST + 20,485*SV - 459,234*Rend. + 485,772*Prod.” That can be used in the prediction results.

KEYWORDS: Methane, dairy cattle, shavings, lignocellulosic waste, energy in

agriculture.

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ÍNDICE

FOLHA DE APROVAÇÃO………………………………………………………….…........ii

AGRADECIMENTOS …………………………………………………………………........iii

LISTA FIGURAS E TABELAS.....................................................................................iv

RESUMO ....................................................................................................................v

ABSTRACT ................................................................................................................vi

1. INTRODUÇÃO .................................................................................................. 1

2. REVISÃO DE LITERATURA ............................................................................. 2

2.1. Bovinocultura e o potencial energético ............................................................. 2

2.2. Digestão anaeróbia; .......................................................................................... 3

2.3. Teste de biodigestão em batelada .................................................................... 5

2.4. Biogás a partir da cama de bovinocultura de leite ............................................ 8

3. MATERIAL E MÉTODOS ............................................................................... 10

3.1. Local da coleta ................................................................................................ 10

3.2. Planejamento experimental ............................................................................ 11

3.3. Coleta de amostras ......................................................................................... 13

3.4. Teste em batelada .......................................................................................... 14

4. RESULTADOS E DISCUSSÃO ...................................................................... 16

4.1. Rendimento de biogás e metano por SV adicionados .................................... 17

4.2. Produção específica diária de biogás ............................................................. 18

4.3. Produção máxima de biogás e metano por kg de substrato ........................... 19

4.4. Análise de Regressão Múltipla ....................................................................... 20

5. CONCLUSÃO ................................................................................................. 22

6. SUGESTÃO PARA TRABALHOS FUTUROS ................................................ 23

7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ............................................................... 24

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1. INTRODUÇÃO

A amplitude do impacto do efluente da agroindústria pode ser minimizada

com a adoção de sistemas de reciclagem energética, no entanto é essencial

conhecer mais a fundo o efluente e assim propor métodos de manejo, principalmente

quando objetiva-se à produção de biogás. O método de biodigestão anaeróbia é

potencialmente eficaz no tratamento dos dejetos da agroindústria, pois estabiliza a

matéria orgânica, reduz o número de microrganismos patogênicos, melhora as

propriedades fertilizantes dos dejetos além de produzir o biogás, que é uma fonte

alternativa de energia (AL-MASRI, 2001).

No processo de biodigestão, para obter-se principalmente metano e dióxido

de carbono, ocorre uma complexa interação de microrganismos que atuam na

degradação de diversos componentes orgânicos presentes no efluente, resultando

em uma forma mais estabilizada e com potencial de produzir biogás (ORRICO

JUNIOR et al., 2012).

A operação e eficiência do biodigestor pode ser potencializado quando,

simultaneamente com o dejeto, outro substrato biodegradável é agregado ao

biodigestor, ou seja, promovendo a co-digestão, pois reduz o volume e o custo do

biodigestor uma vez que se equaliza a disponibilidade de nutrientes do o processo

de digestão anaeróbia, consequentemente se obtém uma maior produção de biogás

por m³ de biodigestor (ALVAREZ, LIDÉN, 2008).

No que tange ao conhecimento sobre digestão anaeróbia há muito que ser

feito, além de um amplo e crescente nicho de aplicações dado às inúmeras

atividades agroindustriais, o que justifica as necessidades energéticas e de

tratamento de resíduos (BERSMANN, RAUSCHENBACK e SUNDMACHER, 2013).

Portanto, este estudo tem como principal objetivo apontar qual a influência

de um processo de separação de sólido, por extrusão, em efluente da bovinocultura

de leite rico em material lignocelulosico, maravalha, em função da produção de

biogás em cada um dos tratamentos e se há diferença significativa por meio de uma

análise multivariada.

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2. REVISÃO DE LITERATURA

2.1. Bovinocultura e o potencial energético

A bovinocultura leiteira, além de um dos setores mais importantes do

agronegócio brasileiro, também é muito influente na economia nacional. O maior

rebanho comercial do mundo pertence ao Brasil, sendo ainda o maior exportador de

carne bovina e sexto maior produtor de leite (USDA, 2014). Esta atividade

movimentou no ano de 2010 cerca de R$ 23 milhões (EMBRAPA, 2011). Sendo

responsável por aproximadamente 5 milhões de contratações diretas do setor

primário, somente a produção de leite responde por 1,35 milhões (IBGE, 2006).

O Estado do Paraná é o terceiro maior produtor de leite do Brasil, com 3,9

bilhões de litros por ano e representa a cadeia produtiva mais importante para a

agricultura familiar do Estado (EMATER, 2014). O Paraná conta com um rebanho de

vacas ordenhas de 1.615.916 animais. Na região oeste do Paraná concentra-se

aproximadamente 20% dos produtores rurais que, juntos, são responsáveis por 22%

da produção estadual (IPARDES, 2014).

Para atender a crescente demanda por alimentos com a capacidade de

produção animal das fazendas faz com que os produtores optem cada vez mais por

instalações tecnicamente otimizadas e por processos de confinamento intensivo de

produção animal. No confinamento controla-se as condições ambientais na área de

alojamento aumentando a produtividade (PERISSINOTTO et al., 2009).

A técnica comumente utilizada é o galpão free-stall, na qual os animais são

dispostos em baias individuais com cama, permitindo que saiam e entrem

livremente. Porém apresenta o inconveniente da geração de resíduos, que

constituem-se de: dejetos, material usado nas camas, água com produtos utilizados

na limpeza, de restos de animais (pelos e células mortas). Sendo tradicionalmente

utilizado como cama para as baias a serragem, o capim seco, a palha de café, o

esterco seco, entre outros (NATZAKE; BRAY; EVERETT, 1982).

Na bovinocultura leiteira, dado à natureza fisiológica das vacas em lactação,

elimina-se cerca de 33% da energia consumida nos alimentos. Isto aporta ao dejeto

da bovinocultura altos teores de nutrientes que, se manejados adequadamente,

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podem agregar alto valor quando utilizados como fertilizantes na produção vegetal

(VAN HORN et al., 1994). A carga orgânica do dejeto da bovinocultura é equivalente

a 16 vezes a carga orgânica produzida pelo dejeto humano, considerando que no

Brasil, uma pessoa elimina em média 54 g DBO5/dia (VON SPERLING, 2005).

Considerando a produção de dejetos de vacas leiteiras igual a 18,25

t/animal/ano (SIQUEIRA, 1991). O rebanho estadual tem a produção estimada de

dejetos neste ano de 29,49 milhões de toneladas de dejetos. Segundo Lucas Junior

(1987) o dejeto da bovinocultura leiteira com 8% de ST, quando submetido ao

processo de biodigestão, produz 0,049m³ de biogás/kg de dejeto adicionado ao

biodigestor, portanto, somente o Estado do Paraná teria potencial de produzir cerca

de 1,45 milhões de m³ de biogás.

2.2. Digestão anaeróbia;

Os sistemas de biodigestão podem ser definidos como câmaras que

favorecem o desenvolvimento de microorganismos com capacidade de digerir

matéria orgânica em um meio anaeróbio ideal e transformar em compostos mais

simples, que são metabolizados resultando em biogás (LUCAS JUNIOR, 1994).

O tratamento de resíduos orgânicos com sistemas de biodigestão anaeróbia

pode ser resumido a um processo natural de fermentação, que produz

principalmente metano e dióxido de carbono por meio de bactérias que decompões

a matéria orgânica, resultando no biogás e biofertilizante. Sendo considerado um

método eficiente de tratar consideráveis quantidades de resíduos, reduzindo o seu

poder poluente e os riscos sanitários (HILLS, 1980).

O tratamento de resíduos orgânicos, normalmente, é realizado em

processos de digestão anaeróbia no qual ocorre a produção de biogás e do

biofertilizante. A adoção de sistemas de biodigestão para tratamento de esterco com

foco na produção de biogás é um dos usos mais promissores da biomassa residual,

pois aporta uma generosa fonte de energia e resolve simultaneamente problemas

ambientais. Segundo Alvares (2007) a fermentação anaeróbica do esterco para a

produção de biogás não prejudica o aporte nutricional do biofertilizante (ALVAREZ,

2008).

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O biogás é um combustível valioso que pode ser usado para fornecer calor,

energia elétrica, ou ainda combustível veicular. No entanto, para obter este produto

a matéria orgânica passa por uma sequência de quatro etapas: hidrólise,

acidogênese, acetogênese e metanogênese, como pode ser observado na Figura 1

(MASSE e DROSTE, 2000; RISBERG et al., 2013).

Figura 1: Esquema metabólico da digestão anaeróbia. Fonte: Adaptado de Chernicharo (2007).

Essas etapas dependem de três grupos de microorganismos: bactérias

fermentativas (acidogênicas), bactérias sintróficas (acetogênicas) e microorganismos

metanogênicos. As bactérias acidogênicas são responsáveis por transformar,

através de hidrólise e fermentação, compostos orgânicos complexos em compostos

mais simples, como ácidos orgânicos, hidrogênio (H2) e dióxido de carbono (CO2). O

segundo grupos, acetogênico, transforma compostos orgânicos intermediários em

acetatos, H2 e CO2. A fase final da digestão anaeróbia é um processo biológico de

Compostos Orgânicos Complexos Lipídios, Carboidratos e Proteínas

Compostos Orgânicos Simples Açucares, Aminoácidos e Peptídeos

Acetato H2+CO2

Bactérias Fermentativas Hidrólise

CH4+CO2

Bactérias Fermentativas Acidogênese

Arqueas Metanogênicas

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metanogênese, em que as arqueas metanogênicas utilizam os produtos

intermediários das etapas anteriores e os convertem em metano (CH4) e dióxido de

carbono (CHERNICHARO, 1997).

A eficiência da digestão anaeróbia depende de fatores como: nutrientes,

tempo de retenção hidráulica, parâmetros físicos químicos do efluente, entre outros,

estão diretamente relacionados com a eficiência da digestão anaeróbia, pois

influencia no desenvolvimento dos microorganismos (YADVIKA et al., 2004)

Portanto a digestão anaeróbia está diretamente relacionada com controles

ambientais do biodigestor. Os diversos modelos de biodigestor podem alterar a

qualidade do biogás e do biofertilizante, por isso, é importante observar que tanto os

procedimentos de operação quanto o sistema de biodigestão seja escolhido

conforme as especificidades do efluente, a fim de aumentar a produção de biogás

com qualidade (EL-MASHAD et al, 2006).

O biogás é uma fonte de energia renovável que pode ser aproveitada como

energia térmica, elétrica e/ou veicular e tem se mostrado uma atividade

economicamente interessante para os produtores rurais, quando associado aos

custos evitados na própria atividade agropecuária, diminuindo os custos da

produção.

As fontes de energia convencionais apresentam constantes aumentos no

seu custo, assim o biogás apresenta-se como uma alternativa quanto à produção

energética (MIRANDA, 2005). O biogás na propriedade rural ainda pode ser

considerado um mecanismo de emergência, uma vez que a transmissão de energia

no meio rural apresenta certa instabilidade, seja por motivos técnicos ou provocados

por desastres naturais como inundações, vendavais, deslizamentos ou

escorregamento de terra, entre outros fenômenos.

2.3. Teste de biodigestão em batelada

A biodigestão anaeróbia de batelada pode ser considerada o estado da arte

para estimar o potencial de produção de metano de diversos substratos, havendo

uma grande gama de trabalhos de cunho científico com digestores operando

simultaneamente com dois ou mais substratos.

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O tratamento simultâneo de dois ou mais substratos biodegradáveis pela

digestão anaeróbia, pode ser denominado co-digestão. Este processo melhora o

rendimento de biogás do biodigestor, pois equaliza a disponibilidade de nutrientes do

processo de digestão anaeróbia (ALVAREZ, LIDÉN, 2008).

Os testes em batelada possuem execução simples se comparado com os

contínuos, e permitem avaliar os efeitos de diferentes condições, como

determinados tipos de pré-tratamento sobre a eficiência do processo de digestão

anaeróbica (Adl et al., 2012).

Segundo PHAM et al., (2013) as aplicações do biogás vem tomando espaço

em países em desenvolvimento como: Filipinas, Tailândia, Nepal, Brasil, entre

outros. Por isso é necessário desenvolver e validar métodos para assegurar a

produção de biogás, tomando como partida laboratórios mais instrumentados e a

validação de processos metodológicos para estimar o potencial de produção de

biogás, de forma a assegurar resultados úteis para a aplicação do biogás.

A norma alemã VDI 4630 (VDI, 2006) é adotada como metodologia para

digestão anaeróbia de materiais orgânicos, caracterização, amostragem e coleta de

substratos. Esta norma pode ser aplicada tanto para testes em digestão anaeróbia

em batelada, assim como para processos contínuos.

Esta norma estabeleceu um critério até pouco tempo indefinido pelos

pesquisadores: o ponto de interrupção do experimento. Neste caso, o experimento

deverá ser conduzido até que a produção diária de gás seja inferior a 1% da

produção total de gás. Este ponto é conhecido como critério 1%. Para Koch e

Drewes (2014) esta abordagem é aplicável para qualquer tipo de substrato e ocorre

com maior frequência com experimentos em batelada.

Outro parâmetro bastante relevante para avaliar a produção de biogás nos

experimentos de digestão anaeróbia é o ensaio denominado “Biochemical Methane

Potential” (BMP). Este ensaio mede a capacidade máxima de produção de metano

de cada matéria-prima sendo um parâmetro chave na concepção e operação de

uma usina de biogás em escala real(PHAM et al., 2013). O BMP pode ser executado

utilizando diversos métodos, dentre eles: Moller et al. (2004), a ISO 11734 (2006) ,

Hansen et al. (2004) e a VDI 4630 (VDI, 2006).

Segundo PHAM et al. (2013), que comparou as metodologias de Moller,

Hansen e a VDI 4630 para efluentes de suínos e bovinos, o método de Hansen

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proporciona uma biodegradabilidade ligeiramente maior, mas as diferenças não é

significativa perante análises estatísticas.

O ensaio BMP traz algumas limitações que podem mascarar o real

comportamento do efluente no biodigestor, pois avalia isoladamente o substrato em

função de um inóculo ideal, mantido em condições ideais e por trabalhar com

digestores de baixo volume (250 mL) (WOODY et al., 2011). E ainda assim o ensaio

de BMP com duração de 30 dias ou mais é sugerido como uma excelente alternativa

na avaliação inicial do potencial de um determinado substrato para produção de

metano, fornecendo dados valiosos quando se considera a aptidão dos materiais

para tratamento em digestores anaeróbios (THYGESEN et al., 2014; SPEECE,

2008).

As instituição de pesquisa e ensino de países em desenvolvimento,

geralmente, dispõem de recursos financeiro limitados, inviabilizando a aquisição,

instalação e operação de laboratórios robustos, consequentemente a implementação

de metodologias reconhecidas internacionalmente, como é caso do Brasil. A Tabela

1 traz as principais vantagens e desvantagens de promover teste de biodigestão em

batelada adotando metodologias reconhecidas internacionalmente, como: a ISO

11734 (2006) , Hansen et al. (2004), VDI 4630 (VDI, 2006), entre outras.

Tabela 1: Vantagens e desvantagem de normas reconhecidas internacionalmente para teste de biodigestão em batelada.

Sem reconhecimento internacional

Vantagens Desvantagens

Oportuniza a co-digestão;

Condições pouco controladas;

Baixo custo;

Operação relativamente simples.

Falta de normatização;

Metodologias não reconhecidas;

Baixa instrumentação.

Com reconhecimento internacional

Vantagens Desvantagens

Instrumentos com especificação técnica

clara;

Facilita a reprodução do experimento

Procedimento metodológico bem definido.

Dados confiáveis

Alto investimento;

Não é de fácil operação;

Pode não ser de livre acesso;

Limitados a baixos volumes;

Limitado a substrato homogêneo.

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2.4. Biogás a partir da cama de bovinocultura de leite

A utilização de cama na bovinocultura leiteira tem como principal objetivo

proporcionar conforto para os animais em lactação e reduzir o estresse provocado

pela variação de temperatura e umidade. A cama é uma forração aplicada sobre a

superfície das baias e consiste em uma mistura de dejeto, ração, água e o material

base, que pode ser: maravalha, capim seco, serragem, palha, entre outros.

A produção de biogás, conforme apontado por MOLLER et al. (2004), está

diretamente relacionada com características químicas dos compostos orgânicos,

entre eles os carboidratos, lipídios e proteínas, contidos nas fezes, urina e nas

camas, que constituem o efluente como um todo.

Estudo conduzido por Weber et al. (2014) constatou que o processo de

biodigestão anaeróbia no tratamento de dejetos da bovinocultura de leite é eficiente

do ponto de vista energético. No entanto o material deste estudo não portava cama

(maravalha), sendo apenas o dejeto bruto, uma vez que pequenos produtores de

leite, entre 10 e 60 animais, não utilização a técnica free-stal em suas instalações.

Segundo Junqueira e Junior Lucas (2012), separação a fração sólida do

dejeto de bovinos, pode favorecer a redução do tempo de retenção hidráulica do

biodigestor, permitindo um menor volume de biodigestor por biogás gerado. O dejeto

deste estudo também não portava cama, sendo o material resultante da separação

fibras não digeridas pelos animais.

No entanto o potencial energético deste efluente, o dejeto da bovinocultura

misturado com maravalha, ainda é pouco explorado, havendo carência de trabalhos

de cunho científico.

Woody et al. (2011) determinou, por meio de ensaio de Biochemical

Methane Potential (BMP), a produção máxima de biogás de diversas biomassas

previamente selecionada e concluiu que a co-digestão pode aumentar a produção

de metano, consequentemente de biogás. Como apresentado na Figura 2, com

exceção dos dejetos brutos, os demais substratos, inclusive a maravalha, podem

favorecer um rendimento significativo de biogás no biodigestor.

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Figura 2: Substratos potenciais de produzir biogás. Fonte: adaptado de Moody et al. (2011).

Moller et al. (2004) obteve resultados similares aqueles apresentados por

Moody et al. (2011), quanto ao potencial de produção de metano a partir de efluente

de bovino com palha; observou que para cada quilo de palha acrescentado por

estrume ocorreu um aumento na produtividade de metano em 10%.

A separação da fração sólida do dejeto da bovinocultura pode proporcionar

uma maior produção de biogás. Portanto, o presente estudo tem como objetivo

identificar a influência de um processo de separação de sólidos, por extrusão, no

efluente da bovinocultura de leite com maravalha, assim como seu potencial de

produção de biogás e metano.

Dejeto suíno

Dejeto bovino (extensivo)

Processamento de milho

Dejeto bovino (confinado)

Casca de batata

Processamento de leite

Casca de beterraba

Silagem de alfafa

Unidade de abate (lodo)

Maravalha

Restos de alimentos

Feno de capim-amarelo

Cama de frango

Palha de milho

Casca de aveia

Gordura de alimentos

Potencial de metano em massa húmida (m³ CH4/1000)

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3. MATERIAL E MÉTODOS

3.1. Local da coleta

O material para substrato foi coletado no município de Céu Azul - Paraná, na

fazenda de pecuária de leite Star Milk. Possui com 1.100 animais em confinamento,

sendo 820 animais em lactação, situada nas coordenadas 25º02’08”S latitude e

53º45’48”W longitude. Dos 820 animais em confinamento da propriedade, 70

encontram-se em processo de pré-parto e 750 em lactação. Os 280 animais fora do

regime de confinamento consistem em novilhas e bezerros que ficam em outras

instalações da propriedade.

O Clima da região é Subtropical Úmido Mesotérmico (Cfa), de verões

quentes, geadas pouco frequentes e chuvas com tendência de concentração nos

meses de verão, temperatura média anual em torno de 20ºC, altitude 620 metros,

chuvas entre 1.300 e 1.700 mm e umidade relativa do ar de 75% sem deficiência

hídrica (IPARDES, 2003).

O manejo adotado atualmente dar-se por raspagem da cama até as

canaletas que cercam os galpões. Dado a grande proporção de sólidos no efluente,

este não escoa para o tanque de homogeneização sendo necessário utilizar água de

reuso para dissolver os sólidos.

No tanque de homogeneização o efluente permanece aproximadamente 5

horas e é dissolvido com água de reuso. Antes de o efluente ser encaminhado aos

sistemas de tratamento ele é misturado por um motor elétrico com hélice, como pode

ser observado na Figura 3.

A fazenda Star Milk possui 3 sistemas de tratamento de efluente distintos.

Um biodigestor modelo de mistura completa, um biodigestor modelo canadense e

uma lagoa anaeróbia. Os sistemas recebem efluente filtrado por uma extrusora da

marca WAM, modelo: SEPP161065270231.

Os experimentos para produção de biogás foram conduzidos no município

de Foz do Iguaçu - PR, no laboratório Labiogás do CIbiogás-ER, instalado no

Parque Tecnológico de Itaipu (PTI).

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O manejo dos animais adotado pelo empreendimento é o Free Stall, sistema

baseado em confinamento dos bovinos em galpão de livre acesso dos animais, com

cama de borracha e sobreposto com cama de serragem para cada animal. O animal

levanta-se basicamente para alimentar-se e passa o restante do dia deitado

ruminando.

Estimou-se, com dados fornecidos pelo CIbiogás, a produção de efluente na

propriedade em 52,44 m³/dia, considerando apenas os animais em regime de

confinamento, como pode ser observado na Tabela 1.

Tabela 2: Estimativa de produção de efluente da fazenda Star Milk

Bovinos Quantidade de animais

Confinado Peso médio dos animais

(kg)

Estimativa de dejetos

(m³ h-1 animal-1)

Estimativa de dejetos

m³ dia-1

Lactação 750 Sim 635 0,00266 47,97 Pré-parto 70 Sim 600 0,00266 4,48

Novilhas 128 Não -- -- --

Bezerros 152 Não -- -- --

Total 1.100 0,00533 52,44 Fonte: CIBIOGÁS, 2013.

3.2. Planejamento experimental

O delineamento experimental foi realizado em blocos casualizados, com dois

blocos implantados em épocas diferentes. Cada bloco possui quatro tratamentos,

com três repetições cada, totalizando 12 unidades amostrais por bloco e 24

unidades amostrais no experimento todo. Os tratamentos são:

T1 -- Efluente bruto+inóculo: considerou-se como efluente bruto o material coletado

no tanque de homogeneização a montante da extrusora, sem qualquer

processo de separação de fases;

T2 -- Efluente extrusado líquido+inóculo: considerou-se como efluente extrusado

líquido o substrato processado pela extrusora, coletado na caixa de

passagem;

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T3 -- Efluente extrusado pastoso + água + inóculo: considerou-se como efluente

extrusado pastoso a fração sólida retida na extrusora. Esta fração apresenta

consistência pastosa;

T4 -- Branco (apenas inóculo).

As amostragens realizadas nos pontos: tanque de homogeneização, caixa

de passagem e na saída da extrusora são apresentados nas Figuras 3, 4 e 5

respectiva, a Figura 6 retrata as amostras coletadas e identificadas.

Figura 3: Tanque de homogeneização. Figura 4: Caixa de passagem.

Figura 5: saída da extrusora. Figura 6: Amostras identificadas.

Adotou-se análise de multivariada, por meio do modelo de regressão linear

múltipla para interpretar os dados deste estudo. Foi definido como variável

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dependente, o volume de biogás (m³) produzido por 1 kg de substrato, e como

variáveis independentes ST, SV, pH, rendimento biogás/SV e produção específica

de biogás. As comparações das médias foram efetuadas pelo teste de t de Student

(P<0.05) e o programa estatístico utilizado foi o “Excel”.

3.3. Coleta de amostras

A coleta das amostras ocorreram nos dias 01 de abril e 09 de maio de 2014

as 8 horas da manhã, pois nesse horário é acionada a extrusora e assim, coletou-se

o substrato ainda fresco.

Foram utilizados para realizar a coleta, o armazenamento e o transporte dos

substratos os seguintes itens: luvas, frasco de plástico ou vidro (estéril para

microbiologia), funil, etiqueta para identificação, ficha para identificação da amostra,

caixa de isopor, gelo gel e termômetro;

A coleta das amostras seguiu as regras e recomendações do Labiogás

(2012). A amostragem foi realizada por um técnico disponibilizado pelo Labiogás. A

coleta do substrato do T1 deu-se na entrada do tanque de homogeneização situado

a montante da extrusora. A amostragem do T2 foi realizado em uma caixa de

passagem a montante dos sistemas de biodigestão. A coleta do T3 deu-se na boca

de saída da extrusora. O T4 foi obtido no Labiogas, na proporção de 1:1 de dejeto

suíno e bovino de acordo com os procedimentos operacionais do laboratório.

Para realizar a coleta dos substratos foi utilizado um recipiente com volume

de 1.000 mL e, com auxílio de um funil, a amostra foi colocada no frasco de plástico,

previamente identificado. As amostras foram armazenadas em uma caixa de isopor

a 4º C, conservadas sob refrigeração até o laboratório e entregues no laboratório no

mesmo dia da coleta.

Em seguida, as amostras foram encaminhadas ao laboratório de biogás,

Labiogás, instalado no Parque Tecnológico de Itaipu (PTI), em Foz do Iguaçu - PR.

O estudo foi conduzido em sistemas de digestão descontínuo (eudiômetro) segundo

a norma VDI 4630 (2006).

Para caracterização dos substratos foi realizada análises laboratoriais para

quantificar sólidos totais (ST), sólidos voláteis (SV) e pH. Os teores de ST e SV das

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amostras coletadas durante os ensaios de caracterização e biodigestão anaeróbia

foram determinados de acordo com metodologia descrita por APHA (1995).

3.4. Teste em batelada

Os ensaios da produção específica do Biogás em laboratório, sob condições

de fermentação controlada foram realizadas de acordo com a norma VDI 4630

(2006). As análises químicas, físicas e biológicas do efluente e do biogás foram

realizadas em triplicata. No eudiômetro mediu-se a massa da amostra a ser

encaminhada e a massa do inóculo adicionado. O eudiômetro permaneceu em

Banho-Maria com temperatura controlada de 37,0 ± 2,0 °C durante todo o

experimento.

O eudiômetro possui 3 células de medição, compostas por um tubo de

ensaio com capacidade de 250 mL e tubo de coleta de gás conectado. O coletor de

gás, que é preenchido com líquido de barreira (NaCl, acidificada com ácido cítrico), é

conectado a um recipiente de compensação na extremidade inferior. O biogás

produzido nos eudiômetros desloca o líquido da barreira do tubo de coleta de gás

para o recipiente de compensação, assim sendo possível a leitura da quantidade de

biogás. O eudiômetro conta com agitador magnético, o conteúdo do fermentador é

misturado durante 10 minutos a um intervalo de 30 minutos. A Figura 7 apresenta o

equipamento utilizado.

Os efluentes analisados foram pesados e em uma proporção de 1:3 para

que o inóculo, fornecido pelo laboratório, fosse adicionado, não sendo permitida a

utilização de outro inóculo. O inóculo consistem em 50% de biodigestor de

bovinocultura e 50% de suinocultura, cultivado em anaerobiose no Labiogás, sob

temperatura controlada para manter a atividade microbiana.

Para preservar o inoculante, mantendo uma elevada atividade microbiana,

utilizou-se uma variante de celulose (branco) em triplicata. A produção na celulose

encontra-se entre 740 e 750 Ln / kg.ST (litros normal / quilograma de massa seca).

A leitura do pH foi realizada por meio de um pHmetro de bancada, modelo

PHS-3B, assim que as amostras chegaram no laboratório.

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Figura 7: (a) Unidades do eudiômetro; (b) detalhamento do eudiômetro, sendo: A - Frasco digestor (volume de 250 mL); B - Tubo do eudiômetro, diâmetro 30 mm, graduação da escala em 5 mL; C - Tubo de conexão, diâmetro cerca de 6 mm; D - Marca zero; E - Separador ou conexão de orifícios entre tubos internos e externos; F - Conexão de mangueira; G - Recipiente de nível, capacidade de 750 mL; H - Válvula de cone unidirecional. Fonte: CIbiogás, 2014; VDI 4630, 2006.

As analises são concluídas, quando a taxa diária de biogás for menor que

1% do volume total de biogás produzido. Para isto foi necessário 31 dias de tempo

de retenção hidráulica.

A quantidade do biogás produzido foi mensurado a partir de escala (mL) do

digestor, sua composição em proporção de metano (CH4), utilizando o analisador

portátil de gases “Drager X-am 7000”, o modelo “Multiple Gas Analyzer #2” da GC-

SRi Instruments.

(a) (b)

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4. RESULTADOS E DISCUSSÃO

O experimento foi conduzido em duas bateladas (B1 e B2) utilizando

efluente da mesma propriedade coletado em condições climáticas semelhantes,

temperatura entorno de 24º C e sem incidência de chuva no lapso de uma semana,

no mesmo horário e dia da semana. No entanto, observou variações nos valores do

pH, que pode ser resultado do manejo empregado na higienização das instalações,

conforme apresentado na Tabela 3.

Tabela 3: Valores de ST, SV e pH por batelada, sendo: T1 - Efluente bruto; T2 – Efluente extrusado líquido; T3 – Efluente extrusado pastoso; e T4 – Branco controle (inóculo)

Parâmetros *(kg kg-1 substrato)

T1 T2 T3 T4

B1 B2 B1 B2 B1 B2 B1 B2

ST* 0,012 0,016 0,004 0,005 0,234 0,362 0,044 0,044

SV* 0,756 0,771 0,689 0,687 0,956 0,931 0,067 0,067

pH 7,90 7,57 7,98 7,36 8,07 7,77 7,95 8,01

Fonte: adaptado de CIBIOGÁS, 2014.

O pH manteve-se com valores próximos, variando entre 7,36 e 8,07, estando

parcialmente dentro da faixa aceitável de 6,0 a 8,0 sem prejudicar o processo

(KUNZ, 2010), sendo a faixa recomendada para a digestão anaeróbia, de 6,8 a 7,2

(YADVIKA et al., 2004). No entanto, a maravalha pode ter influenciado nos valores

obtidos, pois pode ter aportado matéria orgânica seca digerível ao processo de

digestão anaeróbia, assim favorecendo o T3, como pode ter absorvido parte dos SV

do T2.

O volume de ST teve considerável alteração, em média 1,4%, 0,5% e 30%

para T1, T2 e T3 respectivamente e os teores de SV tiveram alteração proporcional

ao volume de ST, isto também ocorreu no estudo conduzido por Orrico Júnior et al.

(2010) que avaliou a viabilidade técnica de se utilizar a biodigestão anaeróbia no

tratamento dos resíduos cama de frangos.

Os valores de SV no T3 são um tanto quanto interessantes do ponto de vista

de produção de biogás, mas os valores de ST tornam o processo de biodigestão

mais limitado, em virtude da baixa instrumentação dos biodigestores implantados no

Brasil. Segundo Vandevivere et al. (2002) resíduos com elevado teor de fibras de

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celulose, como é caso da maravalha, se faz necessário biodigestores mais robustos,

com multiestágio, agitadores, controle de temperatura, dessulfurizarão biológica,

entre outros instrumentos.

4.1. Rendimento de biogás e metano por SV adicionados

O rendimento de biogás e de metano por SV, apresentado na Tabela 4, teve

melhor resultado para o T1, sendo mais eficiente em relação ao T3 e ao T2 que

apresentou o menor rendimento.

Tabela 4: Valores de rendimento de biogás por ST e ST por batelada

Parâmetros (m³ kg-1)

T1 T2 T3 T4

B1 B2 B1 B2 B1 B2 B1 B2

Biogás / SV 0,377 0,310 0,228 0,229 0,235 0,234 0,047 0,048 Metano / SV 0,240 0,199 0,145 0,142 0,127 0,125 0,031 0,031 Biogás / ST 23,809 14,479 37,640 30,777 0,959 0,603 0,071 0,072

Metano / ST 15,183 9,304 24,003 19,073 0,518 0,322 0,047 0,046

Fonte: adaptado de CIBIOGÁS, 2014.

A baixa concentração de ST pode ter prejudicado o rendimento do T2. Para

Kunz (2011) a quantidade de água a ser utilizada no manejo das instalações

representa um fator importante na produção de biogás no biodigestor, pois efluentes

extremamente diluídos favorecem o baixo rendimento do biodigestor quanto a

produção de biogás.

O rendimento de biogás e de metano por ST foi maior para T2. Este

comportamento deve estar associado ao processo de extrusão, que pode ter

alterado as propriedades físicas da maravalha, aumentando a disponibilidade de

nutrientes para o processo anaeróbico. Para Junqueira e Junior Lucas (2012), uma

possível explicação para o baixo rendimento do T3 se dá, pois na fração extrusada

(T2), há uma maior proporção de nutrientes solúveis disponíveis do que em relação

à fração não extrusada, em que a matéria orgânica (fibras) ocupava a maior parte do

volume.

Os valores encontrados na Tabela 4 se assemelham com de outros

pesquisadores, como: Weber et al. (2014) que encontrou rendimento biogás por SV

de 0,627 m³ kg-1, já Budiyono (2010) estudando o rendimento de biogás por SV

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adicionados a partir de dejeto bovino, obteve dados que variaram de 0,548 a 0,186

m³ kg-1, tendo o melhor rendimento com 9,2% de ST; Analisando o teor médio de

metano produzido a partir de esterco bovino Ismail (2013) obteve rendimento de

biogás e metano por SV adicionados de 0,346 e 0,190 m³ kg-1.

4.2. Produção específica diária de biogás

A produção específica diária de biogás e metano por m³ de biodigestor, é

apresentado na Tabela 5, observa-se que T1 e T3, apresentaram as maiores

produções com 0,284 e 224 m³ dia m-³, respectivamente. Estudos semelhantes ao

T1, foi conduzido por Weber et al. (2014) que encontrou produção especificar de

biogás diária de 0,171 m³.dia.m-3.

Tabela 5: Produção específica diária de biogás e metano no biodigestor

Parâmetros (m³ dia m-3 biodigestor)

T1 T2 T3 T4

B1 B2 B1 B2 B1 B2 B1 B2

Biogás 0,284 0,239 0,157 0,158 0,224 0,218 0,003 0,003

Metano 0,181 0,153 0,100 0,098 0,121 0,116 0,002 0,002

Fonte: adaptado de CIBIOGÁS, 2014.

A Tabela 6 mostra a média de metano no biogás, onde T1 apresentou o

maior valor, 64,01%, e T3 o menor, 53,69%. Ambos os valores estão próximos da

faixa encontrada por Mendonça (2009), que estudou o tratamento anaeróbio de

dejetos de bovinocultura de leite em biodigestor tubular e encontrou concentração

média de metano de 66,46%.

Tabela 6: Porcentagem média de metano por tratamento Parâmetro T1 T2 T3 T4

Teor de metano 64,01% 62,87% 53,69% 65,30%

O efluente da bovinocultura é rico em lignina, dificultando a degradação

anaeróbia (NIELSEN e AGELIDAKI, 2008), podendo não degradar ou ser muito lenta

a ação das bactérias (ANN e WILKIE 2005). Portanto, o alto teor de lignina poderá

diminuir a biodegradabilidade do resíduo e, consequentemente, o T3 terá menor

eficiência na produção de metano.

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Os dados da Tabela 5 e Tabela 6 estão relacionados com a viabilidade de

um biodigestor, pois implicam na dimensão do reator em função do tempo de

retenção hidráulica e do volume de efluente. Podendo tornar, ou não, sua

construção economicamente viável de acordo com aplicação do biogás.

4.3. Produção máxima de biogás e metano por kg de substrato

Analisando os dados apresentados na Tabela 7, o T3 apresenta os

melhores indicadores para produção máxima de biogás e metano, podendo produzir

até 17,6 vezes mais biogás em relação aos demais tratamentos, chegando a 0,055 e

0,036 m³ kg-1 respectivamente, enquanto os tratamentos T1 e T2 alcançaram 0,003

e 0,002 m³ kg-1.

Tabela 7: Produção máxima de biogás e metano

Parâmetros (m³ kg-1 de substrato)

T1 T2 T3 T4

B1 B2 B1 B2 B1 B2 B1 B2

Biogás 0,003 0,003 0,003 0,003 0,053 0,055 0,000 0,000

Metano 0,002 0,002 0,002 0,002 0,024 0,036 0,000 0,000

Fonte: adaptado de CIBIOGÁS, 2014.

Segundo Lucas Junior (1987) o dejeto da bovinocultura leiteira produz 0,049

m³ de biogás por kg de dejeto adicionado ao biodigestor. Resultado semelhante foi

encontrado por Oliveira (2001) com 0,038 m³ de biogás por kg de dejeto adicionado.

Considerando que o efluente utilizado na literatura não possui maravalha,

uma possível explicação para o baixo rendimento do T1 e do T2 é a hipótese de que

a maravalha pode ter absorvido parte dos sólidos digeríveis no processo anaeróbio

reduzindo o potencial de produção de biogás em aproximadamente 90%.

No T3 o processo de extrusão possivelmente deve ter alterado as

propriedades físicas da maravalha, como a redução da granulometria, podendo ser

considerado um processo de pré-tratamento, e como apontado por Moody et al.

(2011) a maravalha proporcionou um aumento na produções de biogás em relação

ao apontado pela literatura.

Segundo Moller et al. (2004), que estudou a produtividade de metano do

esterco bovino associado a palha volumétrica utilizada como cama, a produção de

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metano é maior e para cada quilo de palha acrescentado por estrume obteve-se um

aumento na produtividade de metano em 10%.

Os trabalhos na área indicam que pré-tratamento para resíduo

lignocelulósico antes de ser adicionado ao biodigestor, como a exemplo a moagem,

pode aumentar a eficiência das atividades dos microorganismos e oferece um

grande potencial para produção de biogás (KRATKY e JIROUT, 2011; WANG et al.,

2009).

No caso específico da maravalha, não existem estudos da produção de

biogás associado ao efluente bovino, mas os dados apresentados na Tabela 7,

assim como os da literatura correlacionada, indicam que pode ser interessante para

a Fazenda Star Milk investir em uma planta de biogás mais instrumentada e

aproveitar o potencial máximo de biogás dos seus efluentes.

4.4. Análise de Regressão Múltipla

A regressão linear múltipla obteve R², acima de 0,9978, para as variáveis

analisadas, indicando que o modelo desenvolvido ajusta-se com precisão ao

comportamento da produção máxima de biogás/kg de substrato observado durante o

experimento como pode ser observado na Tabela 8, Houve diferença significativa

(P<0,05) entre os tratamentos como pode ser observado na Tabela 9. Delimitou-se o

modelo de regressão linear múltipla ajustado com as variáveis previamente

estabelecidas na Tabela 10, pois, as demais variáveis quando inseridas no modelo

interferiram negativamente no ajuste do modelo.

Tabela 8: Estatística de regressão

R múltiplo 99,7%

R-Quadrado 99,5%

R-quadrado ajustado 99,4%

Erro padrão 1,886

Observações 24

Tabela 9: ANOVA dos dados experimentais

gl SQ MQ f f de significação

Regressão 4 12637,4 3159,355 887,87 0,000

Resíduo 19 67,6 3,558343

Total 23 12705,0

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Tabela 10: Delineamento da equação

Coeficientes Erro padrão Stat t valor-P

95% inferiores

95% superiores

Interseção 16,499 3,012 5,5 0,000 10,19 22,80

ST 63,256 11,060 5,7 0,000 40,11 86,40

SV 20,485 3,820 5,4 0,000 12,49 28,48

Rendimento biogás /SV -459,234 51,004 -9,0 0,000 -565,99 -352,48

Prod. específica biogás 485,772 62,389 7,8 0,000 355,19 616,35

Delimitou-se o modelo de regressão linear múltipla ajustado:

Equação: Y = β0+ β1x1+ β2x2+...

Portanto: Y = 13,499 + 63,256*ST + 20,485*SV - 459,234*Rend. + 485,772*Prod.

Por não haver trabalhos científicos com efluente nas características deste

estudo, ou seja, dejeto de bovinocultura com maravalha, esta regressão pode dar

suporte para outros estudos na predição da produção máxima de biogás.

Também permite que outros pesquisadores compreendam o comportamento

da produção máxima de biogás conforme a concentração dos ST e dos SV,

influenciadas principalmente pela diluição do efluente.

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5. CONCLUSÃO

O processo de separação de sólidos por meio de extrusão pode reduzir em

94% o potencial de produção de biogás por kg de efluente no TRH de 31 dias,

tornando o biodigestor menos eficiente do ponto de vista energético. Portanto, o

efluente da bovinocultura de leite com teor de ST entorno de 0,5% apresenta

resultados pouco satisfatórios para o processo de biodigestão anaeróbia. Com

rendimento de 0,003 biogás por kg substrato.

Os dados deste estudo trazem melhor entendimento do baixo rendimento de

biogás em efluente que contem alto teor de resíduo lignocelulósico submetido a

processo de separação de sólido sem pré-tratamento, em especial a maravalha que

é amplamente utilizada em bovinocultura leiteira.

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6. SUGESTÃO PARA TRABALHOS FUTUROS

Sugere-se a realização de estudos voltados a biodegradabilidade deste

efluente em diferentes processos de moagem e também com concentrações de

sólidos mais próximas, objetivando estimar qual o teor de sólidos em função da

granulometria ideal e crítica na produção de biogás.

Para melhor entendimento do modelo de regressão linear múltipla seria

interessante conduzir estudos com um maior número de variáveis.

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