INFORMATIVO SÃO VICENTE - Província Brasileira da … · 2017-06-23 · bem da Igreja e de apelo...
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INFORMATIVO SÃO VICENTE Boletim de circulação interna da
Província Brasileira da Congregação da Missão
Ano XLVII - No 294
Janeiro Fevereiro de 2013
Rua Cosme Velho, 241
22241-125 Rio de Janeiro - RJ
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Equipe responsável pelo Informativo São Vicente - Pe. Vinícius Augusto R. Teixeira - Pe. Paulo Eustáquio Venuto Formatação e Impressão: - Cristina Vellaco - Equipe de Mecanografia do Colégio São Vicente de Paulo
São Vicente e a Fé
“Somente as verdades eternas são ca-
pazes de nos encher o coração e de
conduzir-nos com segurança. Crede-
me, basta alguém apoiar-se forte e so-
lidamente sobre alguma das perfeições
de Deus, como sobre sua bondade, sua
providência, sua verdade, sua imensi-
dão etc., basta, digo, estabelecer-se
sobre estes fundamentos divinos, para
se tornar perfeito em pouco tempo.
Não quer isto dizer que também não
seja bom convencermo-nos por razões
fortes e convincentes que sempre po-
dem servir, mas com subordinação às
verdades da fé. A experiência nos ensi-
na que os pregadores que pregam con-
forme as luzes da fé operam mais nas
almas do que os que enchem seus dis-
cursos de raciocínios humanos e de ra-
zões filosóficas, porque as luzes da fé
são sempre acompanhadas de certa
unção celeste que se espalha secreta-
mente nos corações dos ouvintes. Daí
podemos julgar se é ou não necessário,
tanto para nossa própria perfeição
como para procurar a salvação das
almas, acostumarmo-nos a seguir
sempre e em tudo as luzes da fé”.
(SV XI, 31).
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Sumário .
Editorial .................................................................................
Voz da Igreja ..........................................................................
Superior Geral .......................................................................
Palavra do Visitador ..............................................................
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05
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Olhar Teológico
A renúncia de Bento XVI: um prece-
dente evangélico .................................
Maria Clara Lucchetti Bingermer
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Herança Vicentina
Como São Vicente abre para nós a
Porta da Fé .........................................
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Espiritualidade
Para entender-se na fecundidade de
uma vida no Espírito de fidelidade
criativa para a Missão ........................
Pe. Eli Chaves dos Santos
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Meditação Ano da Fé ...........................................
Site internacional das Filhas da Cari-
dade.
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Família Vicentina
Notícias
Santas Missões Populares Vicentinas I..
Pe. Vinícius Augusto R. Teixeira
Santas Missões Populares Vicentinas II
Pós-Missão ............................................
................................................................
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Editorial
O ano vai amadurecendo. Os anseios, as expectativas vão, bem ou
mal, tomando corpo, apesar dos sustos, das surpresas, das decepções e
desilusões. Em meio a esse escorrer da vida, o Informativo São Vicente re-
torna com a sua missão de informar, formar, unir e integrar.
Logo, de início, somos estimulados por São Vicente a nos apoiarmos
nos atributos divinos da bondade, providência, verdade para levar essa
vida àquela mais perfeita que se aproxima da do Criador.
Diante das imperfeições que a vida apresenta, a doença é a que nos
acompanha mais de perto. Somos, então, solicitados pelo Papa a ver nos
doentes a imagem viva e transparente do Cristo sofredor; a buscar no
amor de Deus, através de um relacionamento intenso com Ele na oração,
a força para viver no dia a dia uma solicitude para com aqueles que so-
frem, física e espiritualmente; a solidarizar-nos com eles, como o próprio
Cristo se solidarizou com os sofrimentos da humanidade.
Aí, podemos encontrar um dos meios concretos de evangelizar, den-
tro do caminho a ser trilhado na “Igreja imaginada pelo Vaticano II”. Uma
Igreja do diálogo, participativa, aberta às realidades do mundo, principal-
mente do mundo dos pobres. É o que o Padre Gregory, nosso Superior
Geral, mostrou no último Sínodo, apontando três momentos (de presen-
ça, de escuta e de serviço) e dois caminhos (para o serviço por virtude e
para a ação) para que a Nova Evangelização aconteça. A todos os Missio-
nários da Congregação, ele apresenta os objetivos e as estratégias para se
alcançar a fidelidade criativa para a missão, seguindo a Cristo evangeliza-
dor dos Pobres.
Apanhada de surpresa, como todos nós, a teóloga Maria Clara Bin-
gemer tece considerações a respeito do gesto lúcido e audacioso do Papa
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Bento XVI ao anunciar sua renúncia. Com um olhar perspicaz e atento de
quem ama e acompanha a caminhada da Igreja, percebe aí “o sopro e o
impulso do Espírito”. E, como nós todos, vê, nesse gesto humilde e signifi-
cativo, “a autoridade do testemunho”, que “entra na esfera daquela hu-
mildade que deve ser mais forte e presente nos que detêm cargos de
mando, tal como ensinou o Mestre Jesus de Nazaré”.
Hoje, muitas pessoas se dizem “espirituais, mas não religiosas”. Nos-
sa espiritualidade e nosso ser vicentinos podem ser para elas a porta de
entrada para a fé e ponto de encontro com Deus através do serviço volun-
tário e generoso com os pobres. Para isso, somos convidados a buscar o
primeiro amor e a alargar nossa tenda “na fidelidade criativa para a mis-
são (...), colocando-nos no lugar certo e percorrendo o caminho certo.
Nosso futuro e nossa vitalidade dependem muito dessa atitude, retoman-
do o ideal, a utopia que transformou a vida de São Vicente e que deve
transformar nossa vida”. É o que nos ensina o Padre Eli Chaves, a partir de
sua experiência missionária.
Também a Irmã Suzanne Guillemin, saudosa Superiora Geral das Fi-
lhas da Caridade, deixou-nos a receita para bem celebrar o Ano da Fé:
uma fé simples, esclarecida, humilde, intrépida e ativa. Assim, ela se ex-
pressou no Ano da Fé de 1967, proclamado por Paulo VI. Receita ainda
com validade para o atual Ano da Fé, declarado por Bento XVI.
Certamente, essa é a fé que os nossos missionários encontraram du-
rante as Santas Missões Populares Vicentinas, no mês de janeiro, junto do
bom povo da Paróquia de Furquim (MG) e da Comunidade Santo André,
na Paróquia de Pedra de Guaratiba (RJ), e na Pós-missão em Coronel Mur-
ta, no Vale do Jequitinhonha. É só conferir.
Vejam, amigos(as) leitores(as), como temos tantos motivos e muita
esperança em acreditar que este ano promete. Mesmo porque já come-
çou recheado de bons alvitres.
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Voz da Igreja Mensagem do Papa Bento XVI
para o 21º Mensagem do Papa Bento XVI para o 21º Dia Mundial do Doente
(11 de fevereiro de 2013)
“Vai e faz tu também o mesmo” (Lc 10,37).
Amados irmãos e irmãs!
1. No dia 11 de fevereiro de 2013, memória litúrgica de Nossa Senhora de
Lourdes, celebrar-se-á de forma solene, no santuário mariano de Altöt-
ting, o XXI Dia Mundial do Enfermo. Este dia constitui, para os doentes, os
operadores sanitários, os fiéis cristãos e todas as pessoas de boa vontade,
“um momento forte de oração, de partilha, de oferta do sofrimento pelo
bem da Igreja e de apelo dirigido a todos para reconhecerem na face do
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irmão enfermo a Santa Face de Cristo que, sofrendo, morrendo e ressusci-
tando, operou a salvação da humanidade” (João Paulo II, Carta de institui-
ção do Dia Mundial do Doente, 13 de Maio de 1992, 3). Nesta circunstân-
cia, sinto-me particularmente unido a cada um de vós, amados doentes,
que, nos locais de assistência e tratamento ou mesmo em casa, viveis um
tempo difícil de provação por causa da doença e do sofrimento. Que che-
guem a todos estas palavras tranquilizadoras dos Padres do Concílio Ecu-
mênico Vaticano II: “Sabei que não estais (…) abandonados, nem sois inú-
teis: vós sois chamados por Cristo, a sua imagem viva e transparente”
(Mensagem aos pobres, aos doentes e a todos os que sofrem).
2. Para vos acompanhar na peregrinação espiritual que nos leva de Lour-
des, lugar e símbolo de esperança e de graça, ao Santuário de Altötting,
desejo propor à vossa reflexão a figura emblemática do Bom Samaritano
(cf. Lc 10,25-37). A parábola evangélica narrada por São Lucas faz parte
duma série de imagens e narrações tomadas da vida diária, pelas quais Je-
sus quer fazer compreender o amor profundo de Deus por cada ser hu-
mano, especialmente quando se encontra na doença e no sofrimento. Ao
mesmo tempo, porém, com as palavras finais da parábola do Bom Samari-
tano – “Vai e faz tu também o mesmo” (Lc 10,37) –, o Senhor indica qual é
a atitude que cada um dos seus discípulos deve ter para com os outros,
particularmente se necessitados de cuidados. Trata-se, por conseguinte,
de auferir do amor infinito de Deus, através de um intenso relacionamen-
to com Ele na oração, a força para viver diariamente uma solicitude con-
creta, como o Bom Samaritano, por quem está ferido no corpo e no espí-
rito, por quem pede ajuda, ainda que desconhecido e sem recursos. Isto
vale não só para os agentes pastorais e sanitários, mas para todos, inclu-
indo o próprio enfermo, que pode viver a sua condição numa perspectiva
de fé: “Não é o evitar o sofrimento, a fuga diante da dor que cura o ho-
mem, mas a capacidade de aceitar a tribulação e nela amadurecer, de en-
contrar o seu sentido através da união com Cristo, que sofreu com infinito
amor” (Enc. Spe salvi, 37).
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3. Diversos Padres da Igreja viram, na figura do Bom Samaritano, o pró-
prio Jesus e, no homem que caiu nas mãos dos salteadores, Adão, a hu-
manidade extraviada e ferida pelo seu pecado (cf. Orígenes, Homilia sobre
o Evangelho de Lucas XXXIV, 1-9; Ambrósio, Comentário ao Evangelho de
São Lucas, 71-84; Agostinho, Sermão 171). Jesus é o Filho de Deus, Aquele
que torna presente o amor do Pai: amor fiel, eterno, sem barreiras nem
fronteiras; mas é também Aquele que “Se despoja” da sua “veste divina”,
que baixa da sua “condição” divina para assumir forma humana (cf. Fl 2,6-
8) e aproximar-Se do sofrimento do homem até ao ponto de descer à
mansão dos mortos, como dizemos no Credo, levando esperança e luz. Ele
não Se vale da sua igualdade com Deus, do seu ser Deus (cf. Fl 2, 6), mas
inclina-Se, cheio de misericórdia, sobre o abismo do sofrimento humano,
para nele derramar o óleo da consolação e o vinho da esperança.
4. O Ano da fé, que estamos a viver, constitui uma ocasião propícia para
se intensificar o serviço da caridade nas nossas comunidades eclesiais, de
modo que cada um seja bom samaritano para o outro, para quem vive ao
nosso lado. A propósito, desejo recordar algumas figuras, dentre as inú-
meras na história da Igreja, que ajudaram as pessoas doentes a valorizar o
sofrimento no plano humano e espiritual, para que sirvam de exemplo e
estímulo. Santa Teresa do Menino Jesus e da Santa Face, “perita da scien-
tia amoris” (João Paulo II, Carta Ap. Novo millennio ineunte, 42), soube vi-
ver “em profunda união com a Paixão de Jesus” a doença que a levou “à
morte através de grandes sofrimentos” (Audiência Geral, 6 de Abril de
2011). O Venerável Luís Novarese, de quem muitos conservam ainda hoje
viva memória, no exercício do seu ministério sentiu de modo particular a
importância da oração pelos e com os doentes e atribulados, que acom-
panhava frequentemente aos santuários marianos, especialmente à gruta
de Lourdes. Movido pela caridade para com o próximo, Raul Follereau de-
dicou a sua vida ao cuidado das pessoas leprosas mesmo nos cantos mais
remotos da terra, promovendo entre outras coisas o Dia Mundial contra a
Lepra. A Beata Teresa de Calcutá começava sempre o seu dia encontrando
Jesus na Eucaristia e depois saía pelas estradas com o rosário na mão para
encontrar e servir o Senhor presente nos enfermos, especialmente naque-
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les que não são “queridos, nem amados, nem assistidos”. Santa Ana Schäf-
fer, de Mindelstetten, soube, também ela, unir de modo exemplar os seus
sofrimentos aos de Cristo: “o seu quarto de enferma transformou-se nu-
ma cela conventual, e o seu sofrimento em serviço missionário (...). Forta-
lecida pela comunhão diária, tornou-se uma intercessora incansável atra-
vés da oração e um espelho do amor de Deus para as numerosas pessoas
que procuravam conselho” (Homilia de canonização, 21 de outubro de
2012). No Evangelho, sobressai a figura da Bem-aventurada Virgem Maria,
que segue o sofrimento do Filho até ao sacrifício supremo no Gólgota. Ela
não perde jamais a esperança na vitória de Deus sobre o mal, o sofrimen-
to e a morte, e sabe acolher, com o mesmo abraço de fé e de amor, o Fi-
lho de Deus nascido na gruta de Belém e morto na cruz. A sua confiança
firme no poder de Deus é iluminada pela Ressurreição de Cristo, que dá
esperança a quem se encontra no sofrimento e renova a certeza da pro-
ximidade e consolação do Senhor.
5. Por fim, quero dirigir um pensamento de viva gratidão e de encoraja-
mento às instituições sanitárias católicas e à própria sociedade civil, às di-
oceses, às comunidades cristãs, às famílias religiosas comprometidas na
pastoral sanitária, às associações dos operadores sanitários e do volunta-
riado. Possa crescer em todos a consciência de que, “ao aceitar amorosa e
generosamente toda a vida humana, sobretudo se frágil e doente, a Igreja
vive hoje um momento fundamental da sua missão” (João Paulo II, Exort.
Ap. Pós-sinodal Christifideles laici, 38).
Confio este XXI Dia Mundial do Doente à intercessão da Santíssima
Virgem Maria das Graças venerada em Altötting, para que acompanhe
sempre a humanidade que sofre, à procura de alívio e de esperança firme,
e ajude todos quantos estão envolvidos no apostolado da misericórdia a
tornar-se bons samaritanos para os seus irmãos e irmãs provados pela en-
fermidade e o sofrimento, enquanto de bom grado concedo a Bênção
Apostólica.
Vaticano, 2 de janeiro de 2013.
BENEDICTUS PP XVI
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Superior Geral
CONGREGAZIONE DELLA MISSIONE
CURIA GENERALIZIA
Via dei Capasso, 30 Tel. (39) 06 661 3061 00164 Roma – Italia Fax (39) 06 666 3831 e-mail: [email protected]
Chaves para a Nova Evangelização Comunicação do Padre Gregory Gay, C. M.,
Superior Geral, ao Sínodo dos Bispos
Roma, outubro de 2012
O documento Instrumentum Laboris para a Nova Evangelização ofe-
rece uma verdade central: “Esta tarefa de anúncio e proclamação não es-
tá reservada só a alguns nem a poucos escolhidos. É um dom oferecido a
cada homem que responde ao chamado da fé” (n. 92).
Esta verdade se fez viva para mim há uns trinta anos, quando fui
chamado à nossa missão vicentina na República do Panamá. Ali, experi-
mentei uma Igreja viva, uma Igreja que fazia sinceros esforços para adap-
tar os ensinamentos do Vaticano II à realidade da vida na América Latina.
A formação dos leigos era concretizada com os esforços de congregações
religiosas, clero diocesano e bispos. Ao experimentar a Palavra de Deus
viva nas Comunidades Cristãs de Base, fui testemunha da entusiasta vi-
vência de sua fé pelas pessoas simples.
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Então, eu dizia: “Esta é a Igreja de que desejo fazer parte. Esta é a
Igreja imaginada pelo Vaticano II”. Fui privilegiado ao trabalhar durante
mais de duas décadas naquela parte do mundo. Trabalhar colegialmente
com bispos, clero diocesano, homens e mulheres, religiosos e leigos, para
conseguir um bem comum, no serviço da Igreja e do mundo, foi não ape-
nas a promessa, mas também o dom do Vaticano II para mim. A Igreja da
América Latina continua inculturando o Evangelho, como se pode ver em
seus documentos, de Medellín a Aparecida, este último o mais recente e o
mais citado neste Sínodo. Esses tempos me deram energia e vida como
missionário, pertencente a uma Congregação, e agora como Superior Ge-
ral.
Para proclamar o dom da fé e fortalecer a renovação da Igreja, há
que considerar três momentos de encontro e dois caminhos cruciais para
a Nova Evangelização.
Um momento de presença: A presença tem duas dimensões: a pri-
meira é essa presença que chamamos Deus e a outra é a presença
que encontramos quando nos abrimos aos outros. Os que Deus põe
em nosso caminho nos revelam a pessoa de Jesus Cristo, especial-
mente os pobres, os marginalizados e os abandonados. Na presença
de Deus, todos os membros do Corpo de Cristo conseguimos força
para estar presentes de uma forma valente e profética.
Um momento de escuta: A escuta tem também dois momentos con-
templativos: um interior e outro exterior. O momento interior se dá
na Palavra de Deus, na Eucaristia, na oração da Igreja e na experiên-
cia dos pobres. Nesta “morada interior” de nossa alma, acolhemos a
pessoa de Jesus que entra no silêncio de nossos corações para
acompanhar-nos em nosso caminho diário. Isso nos leva a espaços
de relação mais profunda com o mundo e entre nós. Antes de ensi-
nar e pregar, temos que escutar.
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Um momento de serviço: A presença e a escuta permitem que a gra-
ça de Deus nos guie para o serviço. A Nova Evangelização nos chama
e nos une com um elemento indelével de nossa fé: o amor de Deus e
o serviço do próximo. “Que vos ameis uns aos outros como eu vos
amei” (Jo 13,34). O serviço em nome de Jesus é ação e promoção,
não só em nome dos pobres, mas juntamente com os pobres. No cri-
sol do serviço, a Igreja encontra sua verdadeira identidade e salva-
ção.
Um caminho para o serviço por virtude: evangelizamos quando en-
tramos no mundo dos pobres e crescemos nas virtudes de humilda-
de, simplicidade, caridade e justiça. Isso está no coração de nossa he-
rança vicentina. A opção preferencial pelos pobres é fundamental
para a Nova Evangelização. Na experiência da comunidade, fazemos
visível e crível a pessoa de Jesus, promovendo uma civilização do
amor. Ao viver estas virtudes, nós nos aproximamos de Deus, torna-
mo-nos mais próximos uns dos outros e dos pobres, nossos senhores
e mestres.
Um caminho para a ação: com o amor a Deus e ao pobre, que repre-
senta o Filho Jesus, podemos realizar a Nova Evangelização, revitali-
zando as missões populares. Colaborando com os religiosos, o clero,
o laicato, evangelizamos com nossa presença, escutando e servindo
no estilo de Jesus Cristo, o primeiro evangelizador. Seguindo os ca-
minhos da virtude, da ação e da promoção, não só pregamos e ensi-
namos a Boa Nova, mas fazemo-nos Boa Notícia para o mundo. As
palavras de Jesus ao jovem que curou serão também verdadeiras pa-
ra nós: “Vai para casa, para junto dos teus e anuncia-lhes tudo o que
o Senhor, em sua misericórdia, fez por ti” (Mc 5,19).
Neste Sínodo, confio humildemente estes pensamentos e nossos es-
forços a Jesus Cristo, Evangelizador dos pobres, e a Maria, sua Mãe, Nossa
Senhora da Medalha Milagrosa.
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25 de janeiro de 2013 Festa da Fundação
A todos os membros da Congregação da Missão Meus queridos Missionários, A graça e a paz de Nosso Senhor Jesus Cristo encham seus corações ago-ra e sempre! Quando a Igreja celebra a Festa da Conversão de São Paulo, nós ce-lebramos o aniversário de nossa fundação, como se vê nesta experiência de conversão de São Vicente em Folleville:
“Mas eram tantos os que vinham, que eu não podia atender só com o outro padre que me ajudava... Padre Portail, outro padre e eu nos es-tabelecemos no Colégio de Bons Enfants... Dali, íamos os três por to-da a região, pregando e dando missões” (Conf. 180).
Neste dia, recordamos com gratidão o carisma e a comunidade a nós
confiados por São Vicente. Hoje, o desafio que temos pela frente é este: Como podemos seguir melhor a Cristo, evangelizador dos pobres?
O tema da Assembleia Geral de 2010: Fidelidade criativa para a Mis-são se plasmou nas Linhas de Ação, a fim de guiar nossa Congregação pa-ra frente. A Cúria traçou um plano estratégico com um tema e objetivos anuais para difundir as Linhas de Ação em nossas Províncias e Obras. O Dia da Fundação é um momento oportuno para revisar e renovar nosso compromisso com este plano estratégico.
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Fidelidade Criativa para a Missão e Ministérios, seguindo a Cristo, Evangelizador dos Pobres, é o tema guia dos cinco anos deste plano es-tratégico, com objetivos e estratégias concretas, cada ano, para Visitado-res, Províncias e Missionários.
É possível encontrar também o plano completo na página web www.cmglobal.org (depois, direi algo mais sobre esta página web revisa-da). Hoje, centro-me nas estratégias e objetivos para 2013: Diálogo com os pobres e Reconfiguração: caminho para a criatividade. A seguir, uma breve explicação de cada um com seus pontos principais.
2012-2016: DIÁLOGO COM OS POBRES. Para que os Missionários pos-sam escutar as vozes dos pobres e tornar práticos os esforços perma-nentes de participar em suas vidas, as estratégias específicas das Linhas de Ação incluem:
Preferir Obras que promovam a mudança de estruturas na socieda-de;
Proporcionar assistência legal para defender os pobres e promover a justiça;
Criar programas que combatam o tráfico humano e promovam o a-cesso universal à assistência sanitária, a defesa do meio ambiente, a dignidade da mulher e das crianças e os direitos dos imigrantes.
2013: RECONFIGURAÇÃO: UM CAMINHO PARA A CRIATIVIDADE EM NOSSOS MINISTÉRIOS. Valorizar a necessidade da reconfiguração regio-nal e provincial, com a conferência de Visitadores e conselhos provinciais. Depois de receber as sugestões dos Missionários, agir com decisão. As es-tratégias específicas das Linhas de Ação incluem:
Fazer da reconfiguração uma estratégia local, provincial e interpro-vincial para nosso futuro;
Cultivar um sentido vital de pertença para além das Comunidades lo-cais e provinciais;
Fomentar a disponibilidade e a mobilidade pessoais para participar em novos projetos missionários;
Criar colaboração interprovincial, partilhando recursos administrati-vos e financeiros.
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Neste Dia da Fundação 2013, peço aos Visitadores, Províncias, Co-munidades locais e Coirmãos que se centrem neste duplo objetivo de Diálogo com os Pobres e Reconfiguração. Reflitam seriamente sobre os meios que possam aplicar em suas Comunidades locais, apostolado, Província e Região. Este plano foi feito para benefício de nossa Congre-gação e é facilmente adaptável.
Além da grande festa de hoje, temos outro motivo para "alegrar-nos
no Senhor” (Fl 4,4). Depois de árduo trabalho, “CM Global”, nossa pági-na web revisada vai virulenta hoje. Está localizada em www.cmglobal.org. Disponível em inglês, francês e espanhol, com no-vos e emocionantes detalhes. Meu agradecimento à Senhorita Beth Ni-col, ao técnico em computação e aos Missionários John Freund, César Álvarez e Bernard Massarini, pelo intenso trabalho e frutífera colabora-ção. Digitalizando tudo em três distintos continentes, criaram um gran-de recurso que ajudará a extender nosso carisma vicentino.
Ao agradecer pelo dom de nossa vocação vicentina, vemos, na vida e
exemplo de nosso Santo Fundador, uma pessoa de grande talento para fazer o “prático e possível” com grandes probabilidades. Pela interces-são de Nossa Senhora da Medalha Milagrosa, que sejamos criativos na fidelidade à nossa missão e ministérios, seguindo a Cristo, o Evangeli-zador dos pobres.
Sinceramente, em São Vicente,
G. Gregory Gay, C. M.
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Palavra do Visitador
Quebrar preconceito e conquistar a pessoa
Todo autêntico relacionamento entre duas pessoas deixa em ambas marcas que não se apagam. Sensação de simpatia ou antipatia, atração ou aversão, conquista ou rejeição. São consequências óbvias e inevitáveis.
Querendo ou não, o ser humano
tem uma tendência (necessidade) ina-ta de atrair, cativar, fascinar, conquistar o próximo. O desejo de conquis-tar está sempre presente nos relacionamentos interpessoais. O modo de consegui-lo pode variar em gênero, número e caso.
Tomemos como exemplo o encontro de Jesus com Natanael, tal co-
mo está relatado em Jo 1,45-47: “Filipe se encontrou com Natanael e dis-se: ‘Encontramos aquele de quem Moisés escreveu na Lei e também os profetas: é Jesus de Nazaré, o filho de José’. Natanael disse: ‘De Nazaré pode sair coisa boa?’ Filipe respondeu: ‘Venha, e você verá’. Jesus viu Na-tanael aproximar-se e comentou: ‘Eis aí um israelita verdadeiro, sem falsi-dade’”.
Considerações oportunas:
1. Curiosamente, Jesus não se indispõe com a opinião de Natanael cla-ramente preconceituosa. Ele não se sentiu ofendido. Não permitiu que tal opinião o ferisse.
2. Jesus entende que Natanael expressou o que sentia. Não o questio-nou, nem o acusou de culpado por danos morais ou coisa que o va-lha. Simplesmente o acolheu com sincera serenidade.
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3. Desta reação de Jesus, podemos deduzir alguns princípios muito úteis na arte de viver com nosso próximo e de conquistá-lo para o bem. Por exemplo:
a. Acolher seus sentimentos e ouvir suas palavras sem pré-julgamento;
b. Não se assustar, nem perder o autocontrole com o que o outro pensa e diz;
c. Não se apavorar, nem se escandalizar com as palavras dos outros; d. Distinguir o que a pessoa é do que a pessoa faz. Nosso ser é supe-
rior ao nosso agir; e. Entender que vem para fora o que está no interior. A boca fala do
que está no coração; f. Não querer imaginar ou adivinhar o que o outro sente e pensa,
mas pedir e esperar que ele se expresse.
4. Jesus praticou de modo exemplar estes princípios. Sobressai sua ati-tude de caridade incondicional. Por isso, ele valoriza e elogia Nata-nael, pela sinceridade e autenticidade dele. Procura e acha o que ele tem de bom e o faz merecedor de elogio: “É um verdadeiro israelita, sem falsidade”.
5. Enquanto Natanael tem de Jesus um conceito negativo, Jesus toma um caminho inverso. Procura ver nele, antes de tudo, o que há de bom e positivo. É uma atitude inteligente, de profunda sabedoria. Deste fato, podemos deduzir mais alguns princípios para ganhar uma pessoa, tais como:
a. Descobrir suas qualidades e dizer-lhe; b. Responder as atitudes de desprezo recebidas com palavras e ati-
tudes de valorização da pessoa; c. Não perder uma oportunidade para reconhecer e elogiar a bon-
dade presente nela; d. Iniciar a conversa com um elogio e nunca com uma crítica; e. Interessar-se por ela: “Antes que Filipe te chamasse eu te vi,
quando estavas debaixo da figueira”; f. Interessar-se pela pessoa não só quando está junto ou próximo,
mas também quando estiver distante; g. Levar em conta seus gestos e interesses.
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Com bastante tranquilidade, podemos concluir que:
6. Se Jesus agisse impulsivamente o desfecho seria trágico. O encontro teria terminado em desencontro. Uma grande briga seria inevitável e a atitude inicial de Natanael serviria de justificativa incontestável.
7. A reação inesperada de Jesus mudou radicalmente a tônica da con-versa. Natanael não só foi conquistado por Jesus, mas decidiu tam-bém ser seu discípulo. De agressor, converteu-se em seguidor: “Rabi, tu és o Filho de Deus, tu és o rei de Israel”.
8. O resultado final não podia ser melhor: Jesus ganhou Natanael.
9. Um dia Jesus disse: “Aprendam de mim...”. Aprendam o sentido da vida e também como quebrar preconceitos e conquistar uma pessoa para o caminho do bem, vendo, ouvindo, reconhecendo, valorizando, elogiando seus pontos positivos.
Pe. Geraldo Ferreira Barbosa, C. M.
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Olhar Teológico
A renúncia de Bento XVI:
um precedente evangélico Maria Clara Lucchetti Bingemer Teóloga e professora (PUC-Rio)
Eram oito horas da manhã quando o telefone tocou. Em pleno carna-val, descansando fora do Rio, eu dormia até mais tarde. A voz vinha de longe e lentamente ativava as sinapses de meu cérebro. Quando escutei “a renúncia do Papa Bento XVI ao cargo”, o choque de adrenalina me fez acordar de vez. Pedi um tempo para me inteirar da situação. E fui verifi-car. Era verdade. Em meio às plumas e paetês das escolas de samba, a notícia da re-núncia do Papa começou a ganhar volume e espaço. E a assombrar a to-dos! Nunca antes... Jamais se viu... Como pode ser... Por quê? Lembrei-me de outras ocasiões, quando minha mãe me avisou: “O Papa morreu”. E eu lhe disse que se enganava por pensar que se referia a Paulo VI. E era João Paulo I, o Papa sorriso. Ali também, havia a surpresa e o sabor do inespe-rado. Ali também experimentávamos perplexidade. Bento XVI não morreu. E isto faz toda a diferença. Foi um papa lú-cido e em plena posse de suas faculdades mentais que anunciou na Praça São Pedro sua decisão inabalável de renunciar ao cargo de bispo de Roma
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e de sucessor de Pedro. Marcou data e prazo: 28 de fevereiro. Agradeceu a todos que o ajudaram em seus quase oito anos de papado, pediu per-dão pelos erros e... entregou a Igreja nas mãos de seu Supremo e Único Pastor, Jesus Cristo, assim como ao cuidado maternal de sua mãe Maria. Surpresa como todos diante do inesperado gesto de Bento XVI, aos poucos fui sentindo o peso e a importância desta decisão e deste anúncio. Parece-me de uma grandeza impressionante, de uma coragem enorme e de uma inspiração evangélica. Nunca durante este pontificado senti tão presentes o sopro e o impulso do Espírito como neste anúncio dado no úl-timo dia 11 de fevereiro. A decisão livre e minuciosamente refletida e pensada de Bento XVI pode ter um enorme significado para a Igreja. Porque se o Papa pode dei-xar seu cargo por motivos de idade, por sentir que lhe faltam as forças e o vigor físicos para exercer como deveria a posição que ocupa, a mesma in-terpelação se abre para outros segmentos eclesiais. Por que não teriam de fazer o mesmo os superiores das ordens e congregações religiosas masculinas e femininas? Por que se eternizam em cargos de chefia tantos coordenadores de movimentos leigos que não se mostram dispostos a dar um passo para liberar o caminho aos mais jovens? Antes do Papa, a Igreja havia já assistido à renúncia do superior ge-ral dos jesuítas, o holandês Peter Hans Kolvenbach. Depois de 25 anos à frente da Companhia de Jesus, a ordem mais forte da Igreja, Pe. Kolven-bach apresentou sua renúncia. Já vinha tentando fazê-lo desde o pontifi-cado de João Paulo II, que nunca a aceitou. No entanto, depositou-a nas mãos do Papa Ratzinger, que entendeu perfeitamente seu desejo e sua decisão. O “Papa Negro” – como é chamado o geral dos jesuítas – ao renun-ciar, prenunciava esta outra renúncia, a do Papa, sucessor de Pedro. Em ambos, a mesma atitude de fundo: liberdade interior e desapego do po-der. Sair porque vê conscientemente seus limites. Afastar-se do cargo porque reconhece humildemente não ter condições objetivas de exercê-lo. Deixar o poder que lhe foi outorgado pelo colégio cardinalício e reco-nhecido por toda a Igreja nas mãos desse mesmo colégio para que esco-lha um sucessor. No dia 28 de fevereiro, Bento XVI se retirará à sede de Castelgan-dolfo, no sul de Roma, e deixará o governo após quase oito anos de papa-do. Depois de eleito seu sucessor, viverá na cidade do Vaticano, dedican-do-se àquilo que ama fazer: ao estudo, à escrita, à oração.
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Com sua atitude nitidamente na contramão da lógica do poder, Bento XVI abre o caminho a uma reformulação do papado, que já deveria há muito ter sido feita na Igreja Católica. Seu sucessor, seja ele quem for, encontrará esse precedente aberto e isso certamente deverá impactar em seu comportamento, em seu estilo de governar e na compreensão que te-rá de seu cargo e ministério. Com seu gesto extremamente humilde e realista, Bento XVI deixa a autoridade que lhe foi conferida como Papa, mas permanece investido de outra autoridade, mais evangélica, mais inspirada e inspiradora, mais pe-rene: a autoridade do testemunho. Foi um confessor – como os do cristi-anismo primevo – aquele que, fragilizado pela idade e pelo cansaço, com a voz tênue e quase inaudível, reconheceu seus limites e abdicou do po-der que detinha. Assim entrava na esfera daquela humildade que deve ser mais forte e presente ainda nos que detêm cargos de mando, tal como ensinou o Mestre Jesus de Nazaré. Se faltasse ainda algo para convencer-nos da beleza do aconteci-mento que ungiu a Igreja inteira com a renúncia do Papa, talvez fosse im-portante prestar atenção ao respeito atento e admirativo que esta des-pertou naqueles que mais divergiam de suas ideias e de seu magistério. O teólogo brasileiro Leonardo Boff, por exemplo, declarou que a atitude de Bento XVI merece toda admiração e respeito. Assim também o teólogo suíço Hans Küng, com quem Ratzinger teve alguns embates bem conheci-dos: "A decisão de Bento XVI merece grande respeito, é legítima, compre-ensível e também corajosa. Nunca esperei que este Papa conseguisse me surpreender, algum dia, de maneira tão positiva". A nós, que somos espectadores e testemunhas deste evento histó-rico-teologal, que a atitude do Papa nos inspire e ilumine nesta Quaresma que agora começamos.
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Herança Vicentina
Como São Vicente abre para nós a Porta da Fé
A força da mensagem vicentina para a evangelização, hoje
Os santos que marcaram profunda-
mente a humanidade, e também a Igreja,
o fizeram porque revelaram uma nova
dimensão do cristianismo, uma nova ma-
neira de viver a mensagem de Jesus e
uma nova maneira de ler o Evangelho.
Mesmo que a época mude, esta maneira
continuará sendo válida. São Vicente não
via a santidade como um tipo de caminho
direto para Deus, mas como um caminho
que leva numa direção, depois para ou-
tra; de um empobrecido a outro, até en-
contrar Deus. Hoje, especialmente no
mundo ocidental, muitas pessoas se in-
cluem na categoria “espiritual, mas não
religiosa”, mesmo sendo privada de direitos. No entanto, elas se ofere-
cem como voluntárias e vêm até nós porque querem servir os pobres –
esta é sua porta de entrada. A pastoral social é a parte da vida de fé que
faz sentido para elas. O serviço é o ponto de encontro.
As verdades de Fé de São Vicente
A Evangelização não pode ficar limitada ao anúncio da Palavra, mas deve ser realizada através de obras.
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Viver a fé em atos de caridade pode nos proteger da tentação e nos levar a ver as verdades de fé com clareza.
Cristo identificou-se com os pobres e a única maneira de amá-lo efe-tivamente é amando o nosso próximo e fazendo-o amar Jesus Cristo.
Quando alguém vê pessoas que se dedicam ao serviço daqueles que são pobres, é obrigado a admitir que Deus é bom.
Cada um de nós tem um relacionamento pessoal com a santidade di-vina, mas também temos um relacionamento com a santidade da comunidade.
Já que poucas pessoas parecem ter uma experiência pessoal de Deus, é necessário que a educação cristã inclua uma iniciação à expe-riência mística, à oração e à meditação.
O Ano da Fé e a Vida de São Vicente
São Vicente ensinou a Fé a todos, especialmente aos pobres
São Vicente viu a multidão de pobres camponeses e trabalhadores
“que se condenavam por não conhecer as verdades necessárias à sua sal-
vação e pela falta de confissão”. Ele decidiu fazer da evangelização dos
pobres o foco principal de seu sacerdócio. Começou a organizar missões
populares (quase 1.000 missões na casa de São Lázaro) e logo percebeu
que os padres mesmos não conheciam o suficiente a fé para oferecer as-
sistência espiritual (por exemplo, alguns não sabiam a fórmula da absolvi-
ção, etc.). Então, Vicente criou os seminários e organizou retiros para os
ordinandos. São Vicente foi, também, um influente promotor do aposto-
lado leigo para os ricos e bem educados: ele fundou as Senhoras da Cari-
dade e, entre 1635 e 1660, aproximadamente 20.000 pessoas fizeram re-
tiro em São Lázaro (condes, nobres, advogados, conselheiros, marqueses,
presidentes, membros do Parlamento, soldados, juízes, comerciantes, pa-
jens e criados).
São Vicente teve uma crise de Fé
Nesta época, São Vicente sofreu terrivelmente. Algo como a noite
escura da alma descrita por São João da Cruz veio sobre ele. Ele não con-
seguia recitar o Credo; escreveu-o, então, e o costurou no forro de sua
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batina. Contou que cada vez que colocava sua mão sobre ele, desejava
reafirmar sua fé. Ao mesmo tempo, dedicou-se a ações que eram contrá-
rias aos impulsos da tentação: viver a fé em atos intensos de caridade
através de visitas diárias aos doentes no hospital. E este estilo de vida lhe
trouxe a maior descoberta de sua vida: a decisão de dedicar toda a sua vi-
da ao serviço dos pobres por amor de Nosso Senhor Jesus Cristo. Mal ha-
via decidido fazer isso quando as sugestões do mal desapareceram. Assim,
este homem, que até então tinha sido um sacerdote sem grandes ideais,
tornou-se um santo. Oh, feliz noite escura! Quando Vicente contou aos
outros sobre sua crise de fé e como a tinha superado, ele fez isso para le-
vá-los a usar semelhantes remédios e obter alívio nas provações pelas
quais estavam passando.
Ele sempre uniu a assistência espiritual ao serviço corporal
São Vicente escreveu “um turco ou idólatra podem cuidar do corpo, mas
vós deveis assistir os pobres doentes espiritualmente”.
Ele uniu Fé e Ação
De acordo com São Vicente, “não há nada mais de acordo com o
Evangelho do que acumular luzes e forças para sua alma na oração, na lei-
tura e na solidão e ir, em seguida, comunicar este alimento espiritual aos
homens (...). Eis como devemos fazer, eis como devemos testemunhar a
Deus, através de nossas obras, que o amamos” (SV XI, 41).
Ele manteve a Fé num ambiente hostil
Durante seus dois anos de cativeiro em Túnis, Vicente esteve cercado
por pessoas convencidas de que o cristianismo era perigoso. Isto não é
muito diferente de nossa própria situação, onde nos encontramos rodea-
dos pela indiferença. Vicente não apenas perseverou em sua fé, mas aju-
dou seu mestre, que tinha decidido se converter ao Islã, a retornar à fé
cristã.
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A Igreja e São Vicente
São Vicente começou um novo estilo de comunidade religiosa
São Vicente trouxe as mulheres consagradas para fora dos muros e
das grades do convento, e as enviou para o vasto campo da vida real dos
homens e das mulheres para servir em autêntica comunhão com eles em
seus sofrimentos e necessidades. Este novo estilo de comunidade estava
destinado a um futuro esplêndido na Igreja.
São Vicente lutou contra a heresia
São Vicente sempre precisou se assegurar de que sua fé era a fé da
Igreja. Um dia, ele explicou aos Missionários: “Durante toda a minha vida,
eu receei me encontrar no nascimento de alguma heresia (…). Sempre tive
medo de encontrar-me envolvido nos erros de alguma nova doutrina antes
que pudesse percebê-la” (SV XI, 22). Assim, podemos entender a oposição
de Vicente ao jansenismo, uma heresia da época. Como membro do Con-
selho de Consciência, ele lutou firmemente contra essa doutrina. Teve um
papel importante na condenação feita pelo Papa Inocêncio às cinco pro-
posições do jansenismo.
São Vicente e sua nova visão de santidade
Vicente acreditava que a santidade, a união com Deus, só poderia ser
alcançada através do amor. Deus é amor e a pessoa humana é capaz de
amar com o amor divino que foi derramado em nossos corações através
do Espírito Santo (cf. Rm 5,5). Esta realidade levou Vicente a afirmar que o
aspecto importante da santidade não era simplesmente fazer a vontade
de Deus, mas sim fazer a vontade de Deus por amor a Ele. A santidade
humana para São Vicente é um encontro do amor humano com o amor
divino na pessoa do Pobre.
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Para a pessoa consagrada ou crente que talvez possa se sentir
fraco na Fé.
A epidemia de descrença que experimentamos hoje pode contami-
nar as pessoas de fé também. Voluntários e doadores, talvez perguntem a
si mesmos: Eu mantenho minha generosidade nos compromissos, mas
sem arriscar falar sobre Deus? Eu visito os pobres em suas casas, mas es-
queço de evangelizar os que são visitados? Falamos de solidariedade e
justiça sem nenhuma referência a Deus? Para enfrentar nossa tendência a
uma secularização interna, devemos recordar as palavras de São Vicente
aos Missionários: “A vida interior é essencial; ela tem que ser nosso an-
seio; se faltamos nisso, faltamos em tudo”.
Citações
“Se houver alguém entre nós que pense estar na Missão para evangelizar
os pobres e não para socorrê-los, para remediar suas necessidades espiri-
tuais e não as temporais, respondo que devemos assisti-los e fazê-los as-
sistir de todas as maneiras, por nós e por outros, se quisermos ouvir estas
consoladoras palavras do soberano Juiz dos vivos e dos mortos: “Vinde,
benditos de meu Pai; possuí o reino que foi preparado para vós, porque ti-
ve fome e me destes de comer; estava nu e me vestistes; doente, e me so-
correstes”. Fazer isto é evangelizar por palavras e por obras e é o mais
perfeito e foi também o que Nosso Senhor praticou e o que devem fazer
aqueles que o representam na terra, como os Padres” (SV XII, 8-87).
“…Há muitos que, por terem o exterior bem composto e o interior repleto de grandes sentimentos de Deus, param nisso; e, quando se chega aos fa-tos e chega a hora de agir, ficam sem ação. Eles se vangloriam de sua imaginação aquecida; contentam-se com os doces colóquios que têm com Deus na oração; falam mesmo dele como anjos; mas, ao sair dali, se é preciso trabalhar por Deus, sofrer, mortificar-se, instruir os pobres, ir pro-curar a ovelha perdida, achar bom que lhes falte alguma coisa, aceitar as doenças ou alguma outra desgraça, infelizmente, desaparecem e a cora-gem lhes falta. Não, não, não nos enganemos: Totum opus nostrum in operatione consistit (Toda a nossa missão consiste em agir)”. (SV XI, 40)
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“Santo Tomás propõe esta questão, a saber: quem merece mais, aquele que ama Deus e negligencia o próximo, ou quem ama o próximo pelo amor de Deus? E, dando, ele mesmo, a solução a essa dúvida, conclui que é mais meritório amar o próximo pelo amor de Deus, do que amar a Deus sem atenção ao próximo. Ele prova, assim, o que parece um paradoxo: “Ir ao coração de Deus”, diz ele, “limitar a isso todo o seu amor, isso não é o mais perfeito, porque a perfeição da lei consiste em amar a Deus e ao pró-ximo.” Dai-me uma pessoa que ama somente a Deus, uma alma elevada em contemplação que não repercute sobre seus irmãos, oh! essa pessoa, encontrando gosto muito agradável nessa maneira de amar a Deus, que lhe parece o único a ser amado, se detém em saborear essa fonte infinita de doçura. E eis outro que ama o próximo, por mais grosseiro e rude que seja, mas que o ama por amor a Deus. Qual é, por favor, desses amores o mais puro e o menos interessado? Sem dúvida é o segundo e assim ele cumpre a lei mais perfeitamente” (SV XII, 261).
Tradução: Irmã Carolina Mureb, F. C. Fonte: Site internacional da Família Vicentina: http://vinformation.famvin.org
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Espiritualidade
Ao longo das 8 últimas edições, o ISV foi enriquecido com uma série de reflexões
do Pe. Eli Chaves dos Santos, diligentemente preparadas para o Retiro Provincial de
2011, com o intuito de fazer ressoar as Conclusões da Assembleia Geral de 2010.
Com o presente texto, concluímos a série de artigos e externamos o preito de nos-
sa gratidão pela gentileza com que o autor aceitou compartilhar os textos nascidos
de sua oração e reflexão com os leitores de nosso Informativo. Obrigado, Pe. Eli!
“Para ‘estender-se’ na fecundidade de uma Vida no Espírito
de fidelidade criativa para a Missão”
Pe. Eli Chaves dos Santos, C. M. Assistente Geral (Roma)
Mt 28, 6-11
Jesus Ressuscitado manda seus discípulos irem para a Galiléia. Lá, o encontrarão. Esta ordem de Jesus está presente em Mc 16,7 e em Lc 24,6. João 21, 1 termina o evangelho com a narração da aparição de Jesus Ressuscitado na Galiléia (mar de Tiberíades). Na Galiléia, os discípulos experimentarão e encontrarão o Cristo Ressuscitado. Galiléia tem aqui um sentido profundo. É o lugar do chamado, do primeiro seguimento. Aí, os discípulos foram chamados, conviveram com
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Jesus, receberam a instrução. Voltar à Galileia, local do seguimento pré-pascal, significa retomar a história de Jesus, convertendo-a em princípio e sentido de vida nova. Os discípulos são chamados a voltar ao “primeiro amor”, a retomar e refazer a caminhada de Jesus. Ainda, a Galiléia é também chamada Galiléia dos gentios, povo que jazia nas trevas da morte. É a terra dos pobres, dos marginalizados. Região de grande movimento comercial, estava livre ou nas margens das tradições judaicas, fora do controle do judaísmo oficial. Ser galileu era ser provinciano, ser um judeu marginalizado religiosamente. A salvação de Jesus vem da graça, do dom, e não do mérito, do judaísmo oficial, das tradições religiosas. A vida nova vem da margem, dos pobres. Ao contrário, Jerusalém, lugar do poder, do templo, do culto oficial, é o lugar do “sepulcro vazio” – Ressuscitou, não está aqui! Jerusalém é o lugar do vazio religioso, enquanto a Galileia é o lugar da manifestação da vida nova, do Cristo Ressuscitado. E os discípulos são convocados a experimentar e testemunhar esta vida nova, refazendo, retomando a caminhada de Jesus. No AT, Isaias convida o povo a retornar ao Deus da Aliança, pois nele encontram as forças para restaurar Jerusalém e torná-la fecunda. Jesus situa a Galileia como lugar do primeiro amor, a partir de onde os discípulos devem retomar o seguimento e testemunhar a salvação conquistada na cruz. Hoje, também nós, Missionários Vicentinos, somos convidados a buscar nossa “Galileia”, para uma fecunda fidelidade criativa para a missão. Herdeiros do testemunho de São Vicente e de seus companheiros, precisamos voltar a Folleville e a Chatillon, para aí nos impregnar deste primeiro amor. O alargamento de nossa tenda na fidelidade criativa para a missão é dom e graça do Espírito, mas precisamos estar abertos a ela, colocando-nos no lugar certo e percorrendo o caminho certo. Nosso futuro, nossa vitalidade depende muito dessa atitude, retomando o ideal, a utopia que transformou a vida de São Vicente e que deve transformar nossa vida.
A Assembleia arriscou sonhar um perfil e um horizonte para a Congregação do futuro: “Sonhamos com o futuro da Congregação e com a Congregação do futuro: mais enraizada na experiência de Deus; mais comprometida com a sorte dos pobres e com a formação de sacerdotes e leigos; mais identificada com a unidade e diversidade da Trindade (X, art. 20); mais mística e profética; mais audaz e engenhosa; menor, mas com um estilo de vida mais testemunhal e animador... em vista de
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construirmos o Reino de Deus entre os pobres” (AG 2010, Doc. Linhas de Ação, II, § 3).
O tempo possibilitará verificar o acerto ou não desta projeção. No entanto, este sonho se faz com olhos bem abertos e pés bem firmes no hoje de nossos tempos e aponta para elementos fundamentais e para exigências urgentes e atuais a serem assumidos para uma vida de fidelidade criativa no serviço vicentino. Na Congregação (Províncias, Comunidades e Coirmãos), convivem forças de crescimento e forças de resistência. A Assembleia renova suas convicções vicentinas e aposta nas forças de crescimento, em vista de uma fidelidade criativa. Para isso, convoca-nos a assumir atitudes e pistas de ação que atualizem o ideal vicentino e nos tornem coerentes e dinâmicos neste mesmo espírito. A fidelidade criativa consiste em colocar-se no movimento espiritual-missionário iniciado por São Vicente e seus companheiros, hoje revestido de novas exigências e matizes. Um movimento que supõe um espírito próprio, fruto da graça e do empenho das pessoas, que consiste em seguir Cristo evangelizador dos pobres: - Sendo dócil ao Espírito, que continua agindo na Congregação e dinamizando-a em sua vocação missionária; - Deixando-se modelar pela voz da Palavra, a criação e a história; pelo rosto da Palavra, Jesus Cristo e os pobres; pela casa da Palavra, a Igreja e a comunidade; pelos caminhos da Palavra, a Missão; - Atenta aos sinais dos tempos, escutando especialmente os pobres, que nos interpelam como pessoas concretas com necessidades e sofrimentos reais; - Vencendo o medo, a nostalgia do passado e a desilusão;
- Como discípulos-missionários de Cristo e num processo de conversão pessoal e comunitária, inaugurando novos caminhos de missão e caridade; - Descobrindo e reconhecendo Cristo ressuscitado, que caminha conosco dando sentido ao que vivemos nos últimos anos e sendo força para os projetos e sonhos futuros. Dentro deste espírito próprio e em conformidade com ele, a Assembleia apresenta várias propostas, para concretizar a fidelidade criativa. Sobretudo no texto Linhas de Ação, as inúmeras sugestões apresentadas indicam um longo e fecundo caminho, de conversão e dinamização da vocação vicentina, que consiste em assumir e desenvolver as forças de crescimento e assumir e transformar as forças de resistência
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em forças de crescimento. Certamente, as linhas de ação apresentadas podem não ser completas e conter limites. Importa, porém, nos diversos níveis de vida e ação da Congregação e na diversidade dos apelos de cada realidade, processá-las, enriquecê-las e daí ensaiar novos e fecundos passos de recriação do carisma.
Estas forças de crescimento com suas respectivas propostas contêm em seu interior, em níveis diversos de amadurecimento e desenvolvimento, verdadeiros processos de revitalização da Congregação da Missão. Não são ações isoladas ou pontuais, nem remédios, com efeito imediato, para sanar problemas. São verdadeiros processos que precisam ser animados, assumidos, aprofundados e concretizados; são um horizonte a ser trilhado, sonhado e buscado para uma revitalização da missão vicentina na Congregação da Missão.
Para concluir, uma história interessante que Kierkegaard contava:
Um europeu viajou curioso pelo Oriente e conheceu uma jovem chinesa,
pela qual se apaixonou profundamente. No entanto, havia um sério pro-
blema. Como não sabia falar chinês, não podia conversar com ela. Então,
voltou ao seu país e se pôs a estudar chinês para poder se comunicar com
sua amada. Depois de muitas dificuldades, mergulhou no estudo da língua
chinesa e se esforçou tanto que chegou a ser um perito e eminente sinó-
logo, dando conferências pelo mundo inteiro sobre a língua e a cultura
chinesa. No começo, escrevia à sua namorada que lhe respondia feliz. De-
pois, seus estudos, viagens e compromissos não lhe permitiam ir visitar
sua amada, nem mais tempo tinha para escrever-lhe. Ela também deixou
de lhe escrever, pois não sabia mais para onde enviar suas cartas. Tornou-
se tão importante que se esqueceu da mulher por quem aprendeu o chi-
nês.
Também nós podemos perder, em meio aos compromissos e outros
afazeres, a razão de nosso ser vicentino, podemos perder o nosso primei-
ro amor. Por isso, três elementos finais para nos ajudar a estender-nos na
fecundidade de uma vida no Espírito de fidelidade criativa para a Missão,
com uma tenda alargada, estacas bem firmes e cordas bem esticadas,
buscando como nos sugere São Vicente, “ver as coisas tal como estão em
Deus” e “ter confiança, deixando-nos conduzir pela Providência”.
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a) Aos que aderiram à sua proposta, Jesus adverte: “Vigiai” (Mc
14,38; Lc 21,36). A vida missionária precisa ter seus pés bem firmes nos
passos de Cristo para não se acomodar e sucumbir. Precisa ter contato di-
reto com os pobres, pessoas concretas e não conceitos abstratos. Precisa
manter suas mãos abertas para o serviço em Cristo, para não se fechar no
egoísmo, precisa configurar-se nos sentimentos, palavras e atitudes de
Cristo para não se desviar nos ‘desejos da carne’, precisa manter seus
olhos abertos e voltados para Cristo de modo a não cair na cegueira do
pecado e fechar-se aos apelos de Deus na vida e na história. Precisa sinto-
nizar seu espírito e seu coração com o espírito e o coração de Cristo para
não se contentar com o passageiro e supérfluo e deixar de buscar e tes-
temunhar a vida na gloriosa liberdade dos filhos de Deus.
b) “Coragem, eu venci o mundo!” (Jo 16,33). Jesus deixa claro aos
seus seguidores que a vida de fé e esperança, na vivência e testemunho
missionário do Evangelho, exige lutas, esforços e passa por perseguições e
sofrimentos. Mas, por sua Encarnação e Ressurreição, Ele dá a certeza da
vitória de Deus, que realiza um mundo novo: “Eis que faço novas todas as
coisas” (Ap 21,5). Na força do Ressuscitado, o cristão, o Missionário, deve
se colocar, alegre e confiadamente, numa dinâmica pascal para viver ‘em
novidade de vida” (Rm 6,9). Tão somente a partir de Cristo, com Cristo e
em Cristo, o cristão, o Missionário, encontra ânimo, forças e luzes, para
deixar o Espírito do Ressuscitado fazer desabrochar em si e no mundo a
vida em abundância, a vida na plenitude do amor.
c) Jesus, sua vida e ministério são uma parábola. “A parábola é sempre paradoxal, tem como objetivo dar um choque e fazer as pessoas pensarem e mudarem suas concepções a respeito de Deus, da vida, da religião e da forma de agir...”1. Jesus é a parábola do Pai compassivo para com os pobres e, na vocação vicentina, ele nos chama a ser parábola de seu testemunho evangelizador junto aos pobres. A Assembleia Geral, naquilo que viveu e comunicou e na medida em que suas propostas são assumidas, pode nos ajudar a ser uma parábola viva de Cristo, dando um choque de qualidade na vida missionária vicentina e ajudando a
1 GOMES, Paulo Roberto. O seguimento de Jesus Cristo na “pós-modernidade”. Convergência, n. 432, p. 386-395, junho de 2010.
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Congregação a ser um sinal de solidariedade e serviço aos pobres no mundo de hoje. Demos um choque de qualidade em nossa vida vicentina e frutifiquemos abundantemente em favor de uma vida fraterna, justa e humana para os pobres!
Oração pelas Vocações Vicentinas
Esperança de Israel, Salvador nosso no tempo da aflição, lançai sobre nós o vosso olhar propício. Vede e visitai esta vinha, inundai de águas fe-cundas os seus sulcos, multiplicai os seus rebentos, tornai-a perfeita, pois a vossa mão direita a plantou. Na verdade, a messe é grande, mas os ope-rários são poucos. Nós vos rogamos, pois, Senhor da Messe, multiplicai a família e fazei crescer a alegria para que sejam restaurados os muros de Jerusalém. É vossa esta casa, Senhor nosso Deus, é vossa esta casa! Não haja nela nenhuma pedra que a vossa mão não tenha colocado. Mas aqueles que chamastes, guardai-os no vosso Nome e santificai-os na ver-dade. Amém.
Leia, medite e reze:
Sl 19(18); 91(90)
Lc 5, 1-11; Cor 4, 1-18
Que resoluções tomar para dar um choque de qualidade vicentina em
sua vida de consagração vicentina, de modo que esta seja sempre mais
um sinal vivo e alegre de Cristo evangelizador dos pobres e da utopia de
seu Reino de justiça e amor?
“Vocês não têm apenas uma história gloriosa para recordar e contar, mas
uma grande história para construir. Ponham seus olhos no futuro, para
onde o Espírito os impele para continuar fazendo com vocês grandes coi-
sas” (Vita Consecrata, n. 110).
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Meditação
Em 1967, o Papa Paulo VI declarou um Ano da Fé, semelhante a este que estamos celebrando a convite do Papa Bento XVI. Naquela ocasião, Irmã Suzanne Guillemin, então superiora geral das Filhas da Caridade, dirigiu uma circular a toda a Compa-nhia, versando sobre o tema da fé. Eis aqui alguns trechos (com leves adaptações) que poderão inspirar nosso caminho como membros da Família Vicentina.
A fé é a base da vida espiritual, o princípio de nossa relação com Deus e o manancial da caridade a que somos chamados.
1. Uma Fé simples
Podemos começar a meditação sobre a fé, afirmando, simplesmente, que é preciso acolher a fé depositada em nós pelo batismo. Tenhamo-lo recebido precoce e inconscientemente no seio de uma família cristã ou nos tenha sido conferido depois das lutas de uma conversão pessoal em plena idade adulta, o dom da fé é o dom inicial que condiciona a devoção de comemorar o aniversário do Batismo. Celebremos esse dia com ação de graças, na meditação do benefício fundamental da vida teologal e num sério exame sobre o modo como o colocamos em prática. Se nossa fé é límpida e sem nuvens, agradeçamos ao Senhor que nos poupou das mais tormentosas lutas espirituais e sirvamo-nos dessa fé simples e luminosa para aclarar o caminho daqueles que conhecem a dúvida e a angústia.
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2. Uma Fé esclarecida
Preocupemo-nos com o nosso estado em relação à fé! Não permane-çamos numa silenciosa inconsciência a esse respeito, pois todo progresso espiritual a que tendemos só pode ser fruto de um progresso na fé. Te-nhamos o sincero e firme desejo de ser esclarecidos e aquecidos pela chama da fé. Torne-se esse desejo uma vontade firme. Que ele seja exer-citado numa oração contínua e numa assídua e fervorosa vida sacramen-tal. Os sacramentos da Penitência e da Eucaristia, celebrados com boas disposições, aumentam em nós a fé, a esperança e a caridade, como pe-dimos depois de cada uma das nossas comunhões. A oração e os sacra-mentos são as fontes perenes em que se deve alimentar nossa vida teolo-gal.
3. Uma Fé humilde
A graça da fé não está em segurança, senão nos corações humildes, intimamente convictos de sua fragilidade e, por isso mesmo, tudo espe-rando de Deus. A humildade exerce um atrativo irresistível sobre o Se-nhor, que se compraz em comunicar-se com os humildes e atender a seus desejos. Seja a nossa fé humilde e simples, recebida com imensa gratidão, como inapreciável benefício de que não somos dignos e que devemos va-lorizar. Que o humilde conhecimento de nós mesmos nos mantenha nu-ma oração contínua pelo aumento da fé e que a fundamentemos no ensi-no oficial da Igreja.
4. Uma Fé intrépida
Não pensemos que as bases da humildade e da obediência signifi-quem uma atitude isenta de responsabilidade e compromisso pessoal. A vida segundo a fé é um combate contínuo e exige grande coragem. Não sabemos até onde Deus nos conduzirá se formos fiéis e o ato de fé inicial foi, justamente, o de aceitar essa incerteza e de nos comprometermos em seguir o Cristo sem a possível previsão do futuro. “Como de nossa prega-ção recebestes o Senhor Jesus Cristo, vivei nele, enraizados e edificados nele, inabaláveis na fé em que fostes instruídos, com o coração a trans-bordar de gratidão!” (Col 2,6-7).
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5. Uma Fé ativa
O dom da fé, como qualquer outro, não nos foi dado somente em
vista do nosso encontro individual com Deus. Ele foi dado à Igreja para a
salvação de todos e somos responsáveis por nossos irmãos, devendo fazer
que a nossa fé se estenda até eles (…). Lembremo-nos da promessa feita a
Santa Catarina, nossa Irmã, promessa que nos compromete, de que “Deus
se serviria das duas famílias (a Congregação da Missão e a Companhia das
Filhas da Caridade) para reanimar a fé”. Saibamos também que, desde a
nossa origem, o ensino das verdades da fé foi considerado como dever in-
separável de toda ação caridosa. Disso tiramos, para o momento presen-
te, uma grande lição: todos devemos ser, onde Deus nos colocou, cate-
quistas da fé, não somente junto aos pobres, mas de todos aqueles com
os quais trabalhamos ou nos encontramos.
Leiamos com os olhos da fé a vida de Maria e peçamos-lhe, insisten-
temente, o dom de uma fé semelhante à sua: “simples, esclarecida, hu-
milde, intrépida, paciente e ativa”.
Fonte: Site internacional das Filhas da Caridade: http://filles-de-la-charite.org
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Família Vicentina
Santas Missões Populares Vicentinas I Regional Belo Horizonte – Paróquia de Furquim (MG)
De 13 a 27 de janeiro de 2013, as Santas Missões Populares Vicenti-
nas tiveram lugar na Paróquia do Senhor Bom Jesus do Monte, em Fur-
quim, distrito de Mariana (MG), uma das mais antigas paróquias de Minas
Gerais, cujas origens remontam ao começo do século XVIII (1706). A bucó-
lica localidade, ornada de exuberante vegetação e pontilhada por muitas
fontes naturais de água, é circundada de casarios coloniais, tendo ao cen-
tro a imponente igreja matriz. Pouco se conserva dos tempos agitados em
que Furquim atraía a
cobiça de ávidos mine-
radores à cata de ouro.
Atualmente, o que se
pode encontrar ali é um
singelo patrimônio his-
tórico-cultural, mantido
graças à identificação
afetiva de sua gente.
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Foi, com efeito, por causa desse bom povo que a Família Vicentina armou
sua tenda em Furquim.
Sabíamos estar pisando nas pegadas de outros Missionários Vicenti-
nos, a começar do venerando Dom Antônio Ferreira Viçoso, passando por
outros Padres Lazaristas, que, em distintas épocas, ali estiveram anunci-
ando a Boa Nova aos pobres. Atualmente, a paróquia é constituída de
apenas 6 comunidades, perfazendo uma população de aproximadamente
2 mil habitantes. Desprovida da presença de um padre residente e de um
acompanhamento pastoral mais assíduo, a paróquia é sustentada e dina-
mizada pela fé orante e engajada de leigos e leigas, especialmente mulhe-
res, preocupados e comprometidos
com o florescimento da comunidade.
Carências e urgências pastorais,
bem como negligências no tocante às
políticas públicas e ao atendimento
de demandas indispensáveis da popu-
lação foram amplamente constatadas
nas andanças que preencheram todos
os 15 dias das Santas Missões. Tal
como em Folleville e Châtillon para
Vicente de Paulo, também em Fur-
quim os apelos à missão e à caridade
ecoaram nos corações dos missioná-
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rios e missionárias, suscitando
perplexidades, despertando in-
tuições e mobilizando iniciati-
vas. Além das costumeiras visi-
tas, indispensáveis ao desen-
volvimento das Missões, foram
realizados, em todas as comu-
nidades, celebrações da Euca-
ristia e da Palavra, encontros
temáticos com crianças, jo-
vens, idosos e lideranças, momentos de diálogo e oração com outros gru-
pos específicos e até mesmo uma noite cultural, com o intuito de integrar
gerações e valorizar expressões artísticas do lugar. Em tudo, procurou-se
alentar o desejo e o esforço de construir uma Igreja verdadeiramente
missionária, enraizada na Palavra de Deus, alimentada pelos sacramentos,
enriquecida pelo protagonismo dos leigos, empenhada na construção do
Reino e na transformação da realidade.
Mais uma vez, os leigos e
leigas da Família Vicentina fo-
ram os principais artífices de
nossas Missões, encantando-
nos e interpelando-nos pela li-
berdade, ardor e despojamento
com que se lançam à obra da
evangelização, movidos por
aquela paixão por Cristo e pelos
pobres que crepitava no coração de São Vicente. As Filhas da Caridade da
Província de Belo Horizonte, significativamente representadas por um
grupo de 12 Irmãs, testemunharam, com indescritível largueza de coração
e criatividade apostólica, o significado e o alcance do lema inscrito por
Santa Luísa no selo da Companhia: A caridade de Cristo Crucificado nos
impele, podendo ver realizar-se o que, certa vez, escreveu a santa funda-
dora às primeiras Irmãs: “Quanto desejo que o povo vos ame! Isso é abso-
lutamente necessário para poderdes fazer o bem nos lugares onde a Divi-
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na Providência vos chama!” (SL C. 488). Os seminaristas da Congregação
da Missão não deixaram por menos e edificaram a todos pela disponibili-
dade, zelo e entusiasmo com que abraçaram esta obra de Deus. De Fur-
quim, todos trouxeram preocupação e gratidão. Esperamos agora divisar
os caminhos pelos quais o Espírito do Senhor nos conduzirá para ofere-
cermos nossa contribuição na formação dos leigos e na animação missio-
nária das comunidades.
Na Missa de encer-
ramento, emoldurada pe-
lo evangelho que motiva
e ilumina a missão vicen-
tina (Lc 4,14-21), foi en-
tronizada uma nova ima-
gem de São Vicente, que
será colocada num dos
altares laterais da igreja
matriz como marco das
Santas Missões. Dali, o
insigne pai dos pobres e incansável formador do clero haverá de recordar
aos que passam e aos que permanecem a comprometedora novidade do
Evangelho: “A Igreja é comparada a uma grande messe que necessita de
operários, mas operários que trabalhem. Não há nada mais conforme ao
Evangelho do que reunir, por um lado, luzes e forças para a alma na ora-
ção e, em seguida, ir repartir este alimento espiritual com os outros. É fa-
zer como Nosso Senhor fez e, depois dele, seus apóstolos (...). Eis como de-
vemos fazer e eis como devemos demonstrar a Deus, com nossas obras,
que o amamos” (SV XI, 40-41).
Pe. Vinícius Augusto Ribeiro Teixeira, C. M.
Pela Coordenação Regional da Família Vicentina
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Na mencionada noite cultural promovida pelos Missionários, a jovem Nayra Francisca do Rosário Silva declamou esta singela poesia de sua autoria:
Boa noite, minha gente! Missionários vieram nos alegrar,
trouxeram a Palavra de Deus e a comunidade prestigiar.
Houve encontro com crianças, jovens e famílias,
trazendo para todos muita paz e alegria.
Também houve brincadeiras, momentos de oração.
O importante nesta vida é ter Jesus no coração.
Parabéns a todos vocês que vieram evangelizar.
Sentiremos muitas saudades, mas sei que um dia vão voltar.
Padres e seminaristas, Irmãs e leigos presentes,
que Deus sempre os abençoe e também os que estão ausentes.
Educação, saúde, lazer, todos nós queremos ter.
Antes de tudo isso, em Deus temos que crer.
Deus é meu patrão, São Vicente meu gerente. Com os dois ao meu lado,
faço feliz muita gente.
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Santas Missões Populares Vicentinas II Regional Rio de Janeiro – Paróquia de Pedra de Guaratiba
“Jesus chamou os doze e começou a enviá-los dois a dois” (Mc 6,7).
Comunidade Santo AndréParóquia São PedroPedra de Guaratiba - RJ
Queridos irmãos e irmãs, é com grande alegria e fé que venho comu-
nicar-lhes mais uma bela experiência missionária vivenciada por nós, mis-
sionários vicentinos!
Realizamos, de 15 a 30 de janeiro de 2013, as Santas Missões Popula-
res Vicentinas, na Comunidade de Santo André, uma das 22 comunidades
da Paróquia de São Pedro, situada em Pedra de Guaratiba,
um bairro de classe média baixa da Zona Oeste da cidade do Rio de Janei-
ro, com uma população de aproximadamente 9.500 habitantes. Com um
grupo de 24 missionários vicentinos, dentre eles 2 Padres, 5 seminaristas
e 4 Filhas da Caridade, realizamos mais uma etapa de nossa caminhada de
fé, como cristãos que buscam seguir Jesus Cristo nas pegadas de São Vi-
cente de Paulo. Uma missão em favor dos pobres e em prol da construção
de um mundo mais justo e solidário.
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Durante os 15 dias de
missão, pudemos perceber algu-
mas necessidades pastorais da
comunidade local, a saber: maior
atenção às pastorais existentes,
revigoramento de atividades que
antes eram realizadas, animação
da juventude e formação de lide-
ranças. As visitas domiciliares, ini-
cialmente, foram extremamente
desafiadoras, pois muitas famílias estavam se mostrando resistentes em
acolher os missionários. Havia pouca receptividade e acolhida, muitos nos
recebiam às portas de suas casas, sem convite para entrar. No entanto,
com perseverança, fomos adiante no diálogo e na oração com as famílias
que nos recebiam. Em nível comunitário, realizamos as seguintes ativida-
des: celebrações da Eucaristia, encontros temáticos com crianças, jovens
e adultos, momentos de oração e, por fim, uma noite cultural, com o in-
tuito de interagir com os membros da comunidade e levá-los a ver a im-
portância do ser missionário nos dias de hoje.
A oração foi o alicerce que
nos impulsionou para entrarmos
na intimidade de nosso Deus e
agirmos em nome dele. Durante as
Missões, pudemos testemunhar o
quanto Deus ama o seu povo,
agindo verdadeiramente no mun-
do através daqueles que estão
dispostos a responder positiva-
mente ao seu chamado a seguir
Jesus Cristo como discípulos missionários. Com fé, encontramos em Cristo
o impulso para a construção de um mundo de solidariedade e repleto do
amor de Deus.
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Percebemos que os leigos e leigas da Família Vicentina foram os pro-
tagonistas da Missão. Fizeram e fazem a diferença por onde passam, pois,
com sua alegria, entusiasmo e disposição, levam a Boa Nova aos pobres,
através do testemunho e do anúncio, colocando seus respectivos talentos
a serviço do Reino, por amor a Deus e ao próximo. Gratificante foi estabe-
lecer contato e diálogo com irmãos de outras Igrejas, que se mostraram
cheios de fé e agraciados pelo trabalho realizado onde moram.
Na Missa de encerra-
mento, foi salientado o senti-
do da missão na Igreja e a
importância de sermos pes-
soas preocupadas com o Rei-
no de Deus, procurando me-
lhorar, cada vez mais, o mun-
do em que vivemos, com nos-
so testemunho de seguidores
de Jesus Cristo. Pois bem, que
sejamos missionários, que nos sintamos enviados em missão, onde quer
que estejamos, para realizar o projeto de Deus. Como bem falou São Vi-
cente: “De nada valerão nossas obras, se não forem vivificadas e anima-
das pela intenção de Deus” (SV XI, 154). Façamos em nossa vida o que
Deus nos pede e peçamos humildemente que sua graça esteja sempre
conosco, a fim de renovarmos nosso ardor missionário e vivermos nossa
vocação e missão onde ele nos chamar e enviar.
Vinícius Alves de Oliveira (3º ano de Filosofia)
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Pós-Missão Paróquia de Coronel Murta (MG)
A última etapa da Pós-Missão teve lugar na paróquia de Coronel Murta (MG), verdejante de alegria pelas chuvas que co-meçaram a cair depois de pro-longada seca. Assim, coroamos o projeto das Santas Missões Po-pulares Vicentinas, ali iniciado há mais de um ano. Desta vez, in-tensificamos o trabalho de for-
mação das lideranças, visitando as comunidades rurais, reunindo seus animadores, celebrando a Eucaristia, refletindo sobre as prioridades pas-torais da paróquia, estimulando a centralidade da Palavra, a vivência da liturgia, o exercício da caridade, o desenvolvimento da consciência crítica, tendo como pano de fundo o Ano da Fé. Éramos uma equipe pequena, bem entrosada, feliz por estar a serviço de um povo tão bom, acolhedor e cheio de esperança. Na vibração das lideranças e na vitalidade das comu-nidades, foi possível perceber muitos rebentos das sementes lançadas nas Santas Missões de janeiro de 2012, na Semana Santa Missio-nária e nas etapas precedentes da Pós-Missão. Aninha-se em nossos corações algo do que se expressa na intuição poética de Cora Coralina: “Se temos de es-perar, que seja para colher a semente boa que lançamos no solo da vida”.
Pe. Vinícius Augusto Ribeiro Teixeira, C. M. Pela Coordenação Regional da Família Vicentina BH
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Notícias
I – Notícias do Visitador
1. Dia 4 de fevereiro de 2013, Pe. Agnaldo Aparecido de Paula tomou posse do ofício de Diretor do Colégio São Vicente de Paulo, Rio Janeiro, substituindo o Pe. Lauro Palú. Ao Pe. Agnaldo, nossos votos de sucesso nesta nova mis-são. Ao Pe. Lauro, um sincero agradecimento pelo grande serviço prestado à Província como diretor desta escola durante quase 20 anos.
2. Dia 5 de janeiro de 2013, em reunião realizada no Caraça, Pe. João Donize-te Dombroski, por motivo de saúde, pediu para deixar o cargo de adminis-trador da Casa. Pe. Luís Carlos do Vale Fundão, que já vinha substituindo o Pe. Donizete, por causa de sua enfermidade, foi convidado e aceitou as-sumir oficialmente este serviço. Ao Pe. Luís Carlos, nossos votos de suces-so neste seu novo ofício e, ao Pe. João Donizete, nosso sincero agradeci-mento por seu eficiente trabalho realizado no Caraça.
3. Pe. Sebastião de Carvalho Chaves, além de seu ofício de superior da Ca-sa Dom Viçoso, aceitou assumir os serviços que Pe. Luís Carlos presta-va no economato do Instituto São Vicente de Paulo (Trevo), na admi-nistração do Centro Social Padre Raimundo Gonçalves e na formação dos Nossos, em parceria com Pe. Juarez Carlos Soares.
4. Pe. Edmir José da Silva prometeu e cumpriu. Terminou sua missão em Pacajá (PA) e retornou à Província. Chegou no dia 8 de janeiro de 2013. Está residindo em Brasília (DF), na Paróquia Nossa Senhora das Graças da Medalha Milagrosa (Asa Norte). Assumiu a função de vigário paro-quial.
5. Colocações:
a. Pe. Getúlio Mota Grossi: Casa Dom Viçoso, em Belo Horizonte (MG). Aí, sua ocupação principal será a tradução das Obras Completas de São Vicente de Paulo. E, na medida do possível, ajuda na Paróquia do Pai Misericordioso.
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b. Pe. João Donizete Dombroski: Paróquia Nossa Senhora da Medalha Milagrosa, em Campina Verde (MG). Aí, assumirá em breve a fun-ção de pároco, em substituição ao Pe. Onésio Moreira Gonçalves, atualmente administrador paroquial.
c. Pe. Lauro Palú: Santuário Nossa Senhora Mãe dos Homens (Cara-ça), com o ofício de ajudar na animação e coordenação de várias frentes, a saber: religião, cultura, turismo, educação e meio ambi-ente.
6. Missão-Paróquia Nossa Senhora da Conceição, em Francisco Badaró
(MG): na reunião do Conselho Provincial de 29 de janeiro de 2013, aprovamos o pedido dos Coirmãos aí residentes para que esta Casa deixe de ser adida à Casa Provincial e passe a ser ad instar domus. Pe. Raimundo João da Silva foi nomeado Coordenador.
7. A paróquia São Sebastião, de Jenipapo de Minas (MG), foi entregue ao
bispo diocesano de Araçuaí, Dom Marcelo Romano. A Província conti-nua com Francisco Badaró, paróquia formada por 37 comunidades, destinatárias de nossa Missão no Vale do Jequitinhonha.
8. Pe. Manoel Bonfim da Conceição terminou seu 2º mandato de Coor-
denador da região missionária de Brasília (DF). Para essa função, no-meamos o Pe. José Debórtoli.
9. Pe. Pedro Dias de Lima está participando da Escola de Espiritualidade
promovida pela CLAPVI, de 2 de fevereiro a 3 de março de 2013, em Curitiba (PR).
10. Pe. Manoel Bonfim da Conceição e Pe. João Donizete Dombroski irão
participar do curso Herança Vicentina, promovido pelo CIF, em Paris, de 5 de abril a 2 de maio de 2013.
11. O tomo II das Obras Completas de São Vicente de Paulo já está im-presso e pode ser adquirido na Editora O Lutador.
Televendas: 0800-031-7171, e-mail: [email protected]. Livraria online: www.olutador.org.br.
Pe. Geraldo Ferreira Barbosa, C. M.
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II – Nova Visitadora da Província de BH
No dia 12 de dezembro de 2012, após um período de consultas na
Província, a Superiora Geral das Filhas da Caridade, Irmã Evelyne Franc,
nomeou Ir. Caetana Luíza Heleno Gomes como Visitadora da Província de
Belo Horizonte.
Cito as palavras de Irmã Caetana, na Missa que marcou o início de
sua missão de Visitadora: “O dia 12 de dezembro de 2012, Festa de Nossa
Senhora de Guadalupe, Padroeira da América Latina, tornou-se marcante
em minha vida. Por isso, olho para Maria, ‘aquela que acreditou’, que se
deixou conduzir pela ação divina. Mesmo consciente de sua pequenez
frente ao tamanho da missão que o Pai lhe confiou, das dificuldades e de-
safios que iria enfrentar, disse SIM e se dispôs a SERVIR com esperança,
assumindo com coragem o plano do Pai sobre si. Portanto, ela me encora-
jou a dizer sim ao plano de Deus, Pai Misericordioso, que chegou até mim
através do pedido de nossa Superiora Geral e de cada uma de vocês, Filhas
da Caridade da Província de Belo Horizonte. Estou consciente de que tudo
nada mais é que a ação de Deus. Reconhecendo minhas limitações, desejo
cultivar, diariamente, o ‘estado de caridade’, para que eu possa servir,
com amor, à Companhia, à Província de Belo Horizonte, a cada Irmã em
particular e a todos os pobres que Deus colocar em meu caminho, pois,
segundo São Vicente de Paulo, ‘só com o amor se move a vida’, sobretudo,
a vida de uma Filha da Caridade”.
Diletos Coirmãos, as Filhas da Caridade são verdadeiramente nossas
irmãs! Tenho sido testemunha do quanto elas prezam os Padres Lazaris-
tas, pois nos acompanham com suas orações e sempre pedem notícias.
Portanto, peço que, como irmãos, rezemos pela Ir. Caetana, para que sua
missão de Visitadora seja muito fecunda.
Pe. Francisco Ermelindo Gomes, C. M.
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III – Seminário Interno Interprovincial
No dia 15 de janeiro de 2013, deu-se a abertura do Seminário Interno
Interprovincial, em Campina
Verde (MG), na igreja matriz de
Nossa Senhora da Medalha Mi-
lagrosa, com a celebração euca-
rística presidida pelo Padre Lau-
ro Palú, representando o Visita-
dor da PBCM, Pe. Geraldo Ferrei-
ra Barbosa. Outros Coirmãos
presentes: da Província de Forta-
leza, Pe. Sílvio Mitoso, e da Pro-
víncia de Curitiba, Pe. Ilson Hüb-
ner e Pe. Marcos Gumieiro.
Pe. Onésio Moreira, diretor do Seminário Interno, acolheu, junta-
mente com a comunidade paroquial, os 4 seminaristas admitidos para es-
ta nova etapa da formação. São eles: Adalberto Silva Costa (PBCM), natu-
ral de Campina Verde; Arthur Ricardo da Silva Filho (PFCM), de Maceió
(AL); Cristiano Paulo da Costa (PFCM), de Triunfo (PB); e Leandro Maeski
(CMPS), de Campo Largo (PR).
Nesta ocasião, estiveram presentes também alguns paroquianos
membros da Família Vicentina. Com esta celebração, pedimos a Deus que
nos oriente e acompanhe nesta etapa de formação para que, a exemplo
de São Vicente de Paulo, tenhamos disponibilidade e coragem para o se-
guimento de Jesus Cristo, evangelizador e servidor dos pobres. Após a ce-
lebração eucarística, foi servido um almoço festivo, estreitando os laços
de amizade e convívio fraterno.
Adalberto Silva Costa (PBCM)
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IV – Retiro das Casas de Formação de BH
“Assim como o sol, por suas influências, contribui para a produção de todos os bens
da terra, o mesmo se dá com os retiros espirituais. É o que tudo conserta”
(SV X, 634).
De 31 de janeiro a 3 de fevereiro de 2013, os formandos das Casas de
Formação de Filosofia e Teologia, com seus respectivos formadores, reu-
niram-se para um retiro espiritual, tendo como orientadora a Irmã Maria
Lygia, F.C., no Retiro Vicente de Paulo, em Igarapé (MG).
Foram dias intensos de reflexão e meditação, agradecendo a Deus
pelas coisas boas que aconteceram em nossas vidas, realizando exercícios
de perdão para com os outros e para conosco, buscando a vontade de
Deus, conhecendo melhor nossa missão. Refletimos também sobre as
tentações (ter, poder e prazer) e procuramos fazer a experiência do Cristo
Ressuscitado em nossa vida. Tivemos ainda a oportunidade de celebrar
diariamente a Santa Missa,
rezar a Liturgia das Horas, re-
alizar uma adoração eucarís-
tica e recitar o Terço maria-
no, “contemplando o rosto de
Cristo na escola de Maria”.
Enfim, foram dias de intimi-
dade com Deus, permane-
cendo a sós com Ele, pedindo
que sejamos transformados e
solicitando forças para nossa
caminhada missionária no serviço aos pobres, “nossos mestres e senho-
res”. Somos homens de Deus, portanto, precisamos ser homens de fé pro-
funda.
Gustavo Alivino Silva (2º ano de Teologia)
-
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V – Abertura do semestre letivo das Casas de Formação
No dia 15 de fevereiro de 2013,
o Instituto São Vicente de Paulo (Propedêutico e Filosofia) e o Se-minário São Justino de Jacobis (Te-ologia), ambos em Belo Horizonte, deram início às atividades do se-mestre letivo. Presidida pelo Visi-tador, Pe. Geraldo Barbosa, e con-celebrada por alguns Coirmãos, a
Eucaristia, ápice de nossa peregrinação cristã e impulso de nossa vida missionária, foi celebrada num espírito de comunhão e esperança. Na homilia, ao mencionar a renúncia do Papa Bento XVI, Pe. Geraldo salien-tou que esse ato se reveste de grandeza profética, impelindo-nos à vivência dos valores evangélicos, tão relativizados neste tempo em que nos toca viver. Ressaltou tam-bém a relevância de aprofundar-mos o significado de nossa voca-ção batismal, num contexto de pulverização das convicções religi-osas. Faz-se necessário, portanto, avançarmos sempre mais no conheci-mento de nossas motivações para assumirmos, com autenticidade e li-berdade, a vida consagrada, atentos aos desafios de maior alcance nos cenários social, eclesial e congregacional. Assim, ser-nos-á possível vis-lumbrar, em meio à crise contemporânea, o suave e lúcido despertar do Reino de Deus. O seminarista Gustavo Alivino da Silva emitiu o Bom Propósito e os seminaristas Hélio Correia Maia, João Paulino da Silva Neto, Paulo Cezar Velo-zo, Walter Fabián Prieto Méndez renovaram-no. Contemplando as cinco dimensões basilares do processo formativo (humana,
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comunitária, espiritual, apostólica e vicentina), ofertamos ao Senhor da Messe, com o Pão e o Vinho, o percurso que desejamos fazer nesta Pe-quena Companhia. A Celebração se estendeu numa fraterna confraterni-zação, na qual estiveram presentes amigos, professores e colaboradores.
Lucas de Souza Santos (3º ano de filosofia)
VI – CPF – Janeiro de 2013
“O amor é inventivo ao infinito” (S. Vicente de Paulo)
O Projeto CPF (Construindo e Preparando o Futuro) saudou a chega-da de 2013 com a realização de mais um módulo nos Municípios de Chapada do Norte, Jenipapo de Minas e Francisco Badaró, no Médio Jequitinhonha-MG.
Trabalhamos em duas frentes, a saber:
1. Chapada do Norte: Em parceria com a Prefeitura, realizamos o segundo módulo do Projeto de Formação Continuada de Professores da rede municipal. Depois da sondagem e rápido conhecimento da realidade local, em julho de 2012, no primeiro módulo, desenvolvemos com os professores o Projeto “Escola Ativa”, adotado pelo município para os próximos anos. Procuramos fazê-lo utilizando a metodologia do método “VER – JULGAR – AGIR”, metaforicamente falamos em CORPO – ALMA – CORAÇÃO. Foi apenas um começo de conversa, ou como se diz em Minas, “um dedo de prosa”, porque a conversa vai continuar nos próximos módulos. Na avaliação perceberemos os avanços e os desafios que teremos pela frente.
Ainda em Chapada, na comunidade de Cachoeira do Norte, encontramos dois gru-pos, apicultores e costureiras, com os quais iniciamos, ainda de maneira tímida, uma parceria para ajudá-los a se organizar no trabalho de cooperativa. Os apicultores já possuem todos os instrumentos para beneficiar o mel, o que
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lhes falta é somente a estrutura física, ou seja, a construção da casa do mel. A partir do que vimos, a apicultura pode funcionar como alternativa e meio de “segurar” o trabalhador em sua comunidade, para não deixa-lo sair para o corte de cana. Já com as mulheres costureiras, o que lhes falta é maior apoio para tornar seu trabalho conhecido e divulgado para consegui-rem vender seus produtos e assim puderem complementar a renda familiar. Precisamos de voluntários para trabalhar com estas mulheres! Venha conosco!
2. Francisco Badaró e Jenipapo de Minas: neste módulo trabalhamos mais
uma vez com adolescentes e jovens. Sentimos que o que fascina e atrai o público juvenil é a novidade. Eles não têm paciência para projetos e atividades longas. Cada módulo é um desafio para nós: O que podemos fazer de novo, mas que seja útil ao desenvolvimento das habilidades, dons e aptidões dessa turma? Por isso, na avaliação vamos pesar bem se continuaremos por mais um módulo com a mesma metodologia ou se fecha-remos o trabalho com mais um módulo para pensar em outras possibilidades. Ainda em Badaró, levamos uma oficina de dança, que funcionou à noite. Levando em conta as particularidades do lugar, a participação foi razoável. Pode ser um bom caminho para desenvolver um bom trabalho com a população da “melhor idade”. A avaliação poderá nos dizer isso.
Deixamos aqui nossa gratidão a todos os VOLUNTÁRIOS VICENTINOS e colaboradores do Projeto CPF. Este sonho só é possível com a participação generosa de vocês. Deus lhes pague e abençoe!!!! Até a próxima!
Pe. Emanoel Bedê Bertunes, C. M.