Início da Novena
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Início da Novena
05/10/2007
Como é comum nos eventos festivos do Congado em São
José do Triunfo, a novena antecedendo a Festa do Rosário
iniciou-se em frente a casa de Seu Zeca numa sexta-feira
pouco antes das dezenove horas com a reza de um Pai
Nosso. Em seguida, a banda cantou músicas fazendo
referências ao início da novena e a tomada da rua pela
irmandade. Daí deslocou-se até a Igreja onde realizar-se-ia
uma missa marcando o início da novena.
Antes mesmo que o grupo adentrasse na Igreja se cantou a
primeira música, que fazia referência à Maria mas não
tocava em nada no nome de Nossa Senhora do Rosário.
Neste momento, o padre também não havia realizado sua
entrada na Igreja, a missa iniciou-se com a entrada deste
junto aos ministros da eucaristia e de comentaristas da
celebração.
Posteriormente, o grupo de Congado adentrou pela Igreja com
seus tambores entoando músicas que remetiam ao “mito
fundador” da Festa. A entrada do grupo foi anunciada pela
comentarista da missa, que explicou sucintamente o sentido da
festividade, na primeira fala do padre o sentido da missa foi
ratificado, “início da novena de Nossa Senhora do Rosário,
nossa mãezinha do céu.”
Daí em diante os rumos da missa seguiram sentidos
completamente divergentes à festividade. Nem a primeira
leitura, nem o evangelho (e seus comentários pelo padre) ou as
preces, momentos da missa que fogem do rito comum de todos
os dias, fizeram referência ao grupo ou à N. S. do Rosário. A
irmandade durante o momento “oficial” da missa também não
se “manifestou” nenhuma vez. Somente após a benção final o
grupo pode fazer suas cantorias e realizar algumas
embaixadas, isto dentro da Igreja junto às pessoas que ainda lá
permaneciam, um número considerável.
Neste momento, após a missa, o grupo antes de recolher a
bandeira que encontrava-se junto a imagem da imagem de
Nossa Senhora do Rosário, cantou uma música que explicava
sobre este ato: “Minha bandeira, oh minha bandeirinha. Ela é
sagrada, salve Rainha.” Neste momento todos os
componentes da banda foram até a imagem da Santa,
tocaram-na e fizeram o sinal da cruz, alguns até beijaram-na.
Em seguida, as mulheres presentes e alguns homens que
não compunham a banda realizaram o mesmo ritual.
Ao sair da Igreja o grupo fez alguns desenhos espaciais em
seu pátio. Aí foi cantado: “Olha lá no céu, olha lá no céu.
Olha lá no céu, olha lá no céu. O Rosário de Maria olha lá no
céu.”
No momento em que eu observada a banda cantando esta música,
chegou perto de mim um homem que aparentava ter por volta de
trinta anos. Este, ao dirigir-me a palavra disse: “Como é linda está
coisa não é mesmo? Participar eu não participo, mas tudo que eu
posso fazer para ajudar eles pela prefeitura eu faço; tava querendo
até ver se eu fazia umas camisas pra eles este ano, mas não sei se
vai dar.” Até então este homem não tinha me dado chance de dizer
nenhuma palavra, ele aparentava ser morador do distrito e ser bem
próximo dos participantes da banda; também é negro e parece ter
algum vínculo empregatício com a prefeitura. Resmunguei qualquer
coisa concordando com a afirmação dele e ele prosseguiu: “E você
pensar que tem pessoas entre 77 e 3 anos na banda, é uma coisa
linda, e estes meninos então... Tem dias que não é período de Festa e
estes meninos saem na rua, uns quase vinte, batucando numas latas
e passeando por estas ruas tudo, diz que tão fazendo Festa”. Depois
disso ele se despediu de mim e disse que tinha de ir a um lugar
qualquer.
Juquita também aproximou-se de mim para fazer
elogios à banda. Neste momento, começou num tom
nostálgico a contar algumas das características antigas
da Festa. Contou ele que antigamente o grupo ia a pé
até Airões para o levantamento do mastro e para
participar da festa; contou que atravessavam toda
Viçosa com marmita na mão e que demoravam muito
para chegar até este destino. Juquita contou ainda que
no passado eles iam bastante até a Festa de São
Geraldo, mas que para esta localidade iam de trem,
quando este ainda circulava na região.
Questionei a Juquita sobre a confecção dos cartazes
fazendo propaganda da Festa deste ano em São José do
Triunfo. Ele contou que quem mandou confeccioná-los
foi a Igreja e que ele ficou muito satisfeito com o
resultado.
O grupo ao deixar o pátio da Igreja seguiu em cortejo até a
casa de Seu Dola e posteriormente até a de Seu Zeca. No
momento de chegada da banda em frente a casa deste último,
um carro começou a insistir grosseiramente para passar pela
rua que por hora era ocupada pela irmandade. Como ali
nenhum fiscal fazia-se presente, este processo tornou-se ainda
mais complicado. Seu Zeca foi quem tentou retirar a banda da
rua para que o terno não fosse cortado pelo carro, que
acelerava fazendo bastante barulho, mas sem sair do lugar.
Seu Zeca ficou muito nervoso falando bastante alto: “Por que
este carro não passa por outra rua? Tem que vir justamente
para esta que nóis tá?”
Ao finalizar o evento, o grupo rezou um Pai Nosso e uma Ave
Maria. Esta última oração rezaram em nome de Sirlei, irmã de
Dona Maria, Rainha Conga. Neste momento de finalização do
primeiro dia de novena o grupo cantou mais algumas músicas:
“Oh minha Nossa Senhora, Senhora da Conceição. Acabou a
nossa Festa, acabou a procissão.” “A banda vai, vai recolher. Com
muita alegria olê, lê; com muito prazer”.
O evento finalizou-se de vez com Seu Dola fazendo um discurso
chamando atenção para os compromissos necessários de se ter
com a Senhora do Rosário, já que era bastante reduzido o número
de componentes da banda presentes. Seu Dola puxou então uma
música: “A Senhora do Rosário, a mãe da consolação, merece
nosso respeito e consideração. Se vai sair um dia avisa por
caridade, o seu nome tá escrito no livro da irmandade.” Foi a
última manifestação da banda naquele dia.