INSCRIÇÕES ROMANAS DO CONVENTUS PACENSIS · 2013. 11. 8. · (5) Introdução ao Estudo da...

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INSCRIÇÕES ROMANAS FACULDADE DE LETRAS DE COIMBRA INSTITUTO DE ARQUEOLOGIA DO CONVENTUS PACENSIS JOSÉ D'HNCARNAÇAO COIMBRA 1984 Versão integral disponível em digitalis.uc.pt

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INSCRIÇÕES ROMANAS

FACULDADE DE LETRAS DE COIMBRA

I N S T I T U T O DE A R Q U E O L O G I A

DO CONVENTUS PACENSIS

JOSÉ D'HNCARNAÇAO

C O I M B R A 19 8 4

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(c) Instituto de Arqueologia da Faculdade de Letras de Coimbra e José d,Encarnação

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INSCRIÇÕES ROMANAS DO CONVENTUS PACENSISSUBSÍDIOS PARA O ESTUDO DA ROMANIZAÇÃO

JO SÉ D’ENCARNAÇÃO

DISSERTAÇÃO DE DOUTORAMEN TO HM V R É - -HISTÓRIA E ARQUEOLOGIA APRESENTADA

À FACULDADE DE LETRAS DE COIMBRA

INSTITUTO DE ARQUEOLOGIA DA FACULDADE DE LETRASCOIMBRA /1984

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Subsidiaram esta edição:

Conselho Directivo da Faculdade de Letras de CoimbraFundação Calouste GulbenkianFundação da Casa de BragançaInstituto Português do Património CulturalServiço Regional de Arqueologia da Zona SulMuseu Nacional de Arqueologia e EtnologiaMuseu de Arqueologia e Etnografia do Distrito de SetúbalAssociação Arqueológica do AlgarveJeannette U. S. Nolen e William H. D. NolenDr. G. C. M. KolfGovernos Civis de Beja e FaroCâmaras Municipais de: Almeirim, Aljustrel, Alpiarça, Alter do Chão, Alvito,

Alzejur, Arronches, Avis, Beja, Castelo de Vide, Chamusca, Coruche, Crato, Ferreira do Alentejo, Fronteira, Gavião, Loulé, Marvão, Monforte, Moura, Odemira, Olhão, Ponte de Sor, Portei, Portimão, S. Brás de Alportel, Serpa, Silves, Vidigueira e Vila do Bispo.

C. O. M. — Centro de Organização e Microfilmagem, Lda.Microsistemas — Organização e Desenvolvimento do Microfilme, Lda.

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A M EUS P A IS

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INTRODUÇÃO

Ao pretendermos elaborar o catálogo das inscrições romanas do conventus Pacensis, não é nossa intenção fazer a história da ocupação romana entre Tejo e Guadiana nem tão pouco discutir os limites geográficos desta divisão administrativa, tema que de vez em quando apaixona os estudiosos, sem resultados concretos (1). Queremos, isso sim, fornecer, o mais rigorosamente possível, os dados epigráficos capazes de esclarecer essa história e de trazer luz a essa discussão: será que, do ponto de vista epigráfico, o Tejo e o Guadiana constituíram, de facto, fronteiras «conventuais» ? (2).

Omitimos, conscientemente, a pesquisa sistemática doutros domínios, ainda que eles pudessem considerar-se, à partida, elementos comparativos importantes.

Na verdade, as fontes historiográficas têm sido muito utilizadas, mormente para detectar fases da conquista e para localizar terras e povos. É uma discussão que se faz desde há muito e onde pouco se tem passado do campo da simples hipótese, quer porque as informações são escassas, quer porque se tem revelado difícil ultra­passar a esfera estritamente conjectural.

No que se refere à Arqueologia, as informações são esparsas, insuficientemente documentadas, de apressada interpretação; por isso, não procurámos relacionar sistema­ticamente com elas os dados epigráficos. Talvez fosse o caso de especificarmos em pormenor o contexto arqueológico dos achados. Mas, também aqui, as informações são tão pobres que até a sua localização administrativa, por freguesias e concelhos, amiúde nos pôs problemas. Aponte-se, como exemplo, todo o espólio da colecção Cená-

( 1) Gfr . G a r c i a I g l é s i a s (L.), H A n t II 1972 p . 165-177. O Tejo e o G u a d i a n a s ã o o s l i m i t e s

t r a d i c i o n a i s , n a s e q u ê n c i a d a p a s s a g e m de P l í n i o (IV 117) que r e f e r e a d i v i s ã o d a L u s i t â n i a e m

t r ê s conventus ( c f r . A l b e r t i n i , Les divisions... 1923 p . 102-103). V e r , a i n d a , S i l l i è r e s (P.)} MCV X V IIl/l 1982 p . 437-448, e W i e g e l s , MM 17 1976 p . 258-284.

(2) Exemplificando: considerando as inscrições que referem a tribo Papíria, diríamos que Veiros (n.os 442, 461), Juromenha (449), Eivas (576) e Vila Boim (584) pertenciam ao conventus Emeritensis; se, no miliário da Terrugem (n.° 670), a distância se conta a partir de Mérida, aqui seria ainda território da colónia. Portanto, poder-se-á apontar como fronteira a estrada do Redondo à Terrugem e a ribeira de Lucefeci?

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culo, cujas dificuldades estão muito longe de solução: de CIL II 73, nomeadamente, só conseguimos saber a proveniência depois de definitivamente incluída no nosso catá­logo com o n.° 349.

O nosso objectivo é, por consequência, pôr à disposição dos historiadores e dos arqueólogos, com o maior rigor possível, o material epigráfico existente. E se Raymond Bloch preconiza que todo o epigrafista deve ser também historiador, nós preferimos, aqui, ser sobretudo epigrafista para, mais tarde, sermos nós, ou outros, historiadores mais ilustrados.

Preocupámo-nos em ver os monumentos, por mais dispersos que eles se encon­trassem em capelas ou herdades; remexemos indefinidamente as pedras dos museus (onde não raro colhemos inesperados frutos); vasculhámos catálogos, manuscritos, notí­cias de jornais; multiplicámos a correspondência, batemos às portas, em demanda duma pista. E, salvo rarissimas excepções, todas as portas se abriram, toda a carta recebeu resposta. E podem contar-se pelos dedos os monumentos detectados que não foram fotografados e vistos mais do que uma vez. Comentámos a quase totalidade das leituras até hoje apresentadas, conferindo-as, num retorno total à pedra — e cremos ser esta a principal inovação da nossa pesquisa (1).

A inexistência de bons catálogos; a referida dispersão dos monumentos; a escassez ou incorrecção das fontes aliadas à sua indiscriminada utilização desprovida de espírito crítico; o sistemático desinteresse dos investigadores pelos fragmentos e pelo monumento epigráfico total (quanta vez só da inscrição dispomos, e mal ...) — mais do que obstá­culos ao nosso trabalho foram, ao invés, saudáveis estimulantes.

Tendo concebido este corpus como actualização do CIL, optámos pela manutenção do seu critério de apresentação. Todos os critérios comportam, naturalmente, vanta­gens e pontos fracos. Competia-nos seleccionar o mais adequado. Mostrar a epigrafia do conventus Pacensis como um todo, dando prioridade às categorias textuais, equivaleria a menosprezar os cambiantes regionais, sempre tão presentes por todo o Império. Cingirmo-nos às divisões administrativas actuais seria colaborar no levantamento arqueo­lógico local mas desconhecer que a realidade hodierna não é a realidade romana. Seguir Hiibner às cegas era absurdo, mais não fosse proque o próprio epigrafista alemão por diversas vezes admite possibilidade de erro, dadas as condições em que teve de realizar o seu trabalho.

Por conseguinte, os textos vão agrupados pelos capítulos do CIL, devidamente reformulados quer em função da geografia quer em função de núcleos epigráficos. Assim, no cap. I, Ossonoba, em que Hiibner incluíra achados desde Olhão até Lagos, preferimos — por uma questão de características epigráficas — fazer um subcapítulo que agrupasse toda a epigrafia em torno de Ossónoba, um segundo dedicado exclusi­vamente à Quinta do Marim e um terceiro com o Algarve Ocidental (incluindo Sagres,

(1) Gomo afirmou Louis Robert, no discurso inaugural do VII Congresso Internacional de Epigrafia, a respeito da necessidade de se fazerem correcções e eliminações de textos anteriormente publicados: «C’est une oeuvre de critique plaisante à Pesprit et une oeuvre de salubrité, qui évite des divagations» («Actes...» 1979 p. 33).

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erradamente posto por E. Hubner em Mértola) que conta, agora, textos dispersos e sem unidade aparente. Agrupámos ao redor de Beja e de Évora os concelhos adjacentes a cada uma destas cidades, área em que o próprio Hubner reconhece a sua ignorância (cfr. introdução a Beja).

Tentámos, desta forma, conciliá-lo com as divisões administrativas actuais e, pela introdução dos capítulos de síntese, acaba-se por dar uma panorâmica global da epigrafia pacense segundo a tradicional divisão em textos votivos, funerários, honorí­ficos... Aliás, dentro de cada capítulo, é essa divisão que se segue: primeiro, os textos votivos por ordem alfabética de teónimos; depois, as dedicatórias imperiais por ordem cronológica dos imperadores; em seguida, os textos honoríficos, os monumentais e os funerários. Dentre estes, demos importância ao estatuto social (senadores, cavaleiros, militares, sacerdotes, magistrados municipais), à indicação da profissão e da naturalidade, seguindo sempre a ordem alfabética dos nomes (nomen ou cognomen quando o nomen não exista) (1).

Salvo um caso particular (n.° 288), excluímos todos os dados referentes a instru­mentum (2) e a legendas monetárias (do âmbito da numismática). Incluímos, porém, por ordem decrescente do número de letras visíveis, todos os fragmentos de que tivemos conhecimento, mesmo quando nenhuma palavra pudemos reconstituir.

O estudo de cada peça, identificada com um número árabe, segue grosso modo os moldes de Fouilles de Conimbriga II. Começa por indicar-se o local de achamento e o actual paradeiro. Seguem-se: a descrição (3) e as dimensões do monumento e do campo epigráfico (4). A leitura interpretada segue as normas que sugerimos em 1980 (õ). Damos

(1) Nem sempre é fácil uma arrumação deste género, que importa fazer só no final, quando já não haja dúvidas de leitura. Adoptámos, por isso, uma numeração inicial de código geográfico, que transformámos em numeração seguida quando considerámos o catálogo completo. Apesar de tudo, haverá sempre, aqui e ali, acertos a fazer. As epígrafes recém-descobertas, que lográmos incluir, detêm um número seguido duma letra (333a, por exemplo).

(2) Julgamos que isso implica uma recolha sistemática (ainda não afectuada) mais ligada, por exemplo, ao âmbito da ceramologia.

(3) Tentámos adoptar a terminologia descritiva das molduras proposta por J. N. Bonneville («Faventia» 2/2 1980 p. 75-98). Trata-se, porém, dum domínio em que só agora se dão as primeiras passadas, de forma que algumas imprecisões haverá a corrigir. No entanto, foi nossa preocupação dar, sempre que possível, a fotografia do monumento — a comparação da fotografia com a descrição permitirá detectar eventuais anomalias.

(4) Damo-las em centímetros, na seguinte ordem: altura x largura x espessura. Sendo difícil medir exactamente pedras de forma irregular, anotamos dum modo geral as dimensões máximas, que não devem, por conseguinte, ser entendidas aí como valores extraordinariamente rigorosos. Sempre que as nossas medições apenas diferiam escassos milímetros das apontadas pelos autores antecedentes, preferimos manter estas últimas, a fim de se evitarem constantes ajustamentos em matéria que não tem, em Epigrafia, papel primordial; quando, porém, a discrepância for muito grande assinalá-lo-emos. Para além das medidas da decoração, que julgamos de interesse na definição duma tipologia, daremos das aras as do capitel, fuste e base.

(5) Introdução ao Estudo da Epigrafia Latina, p. 15. O método preconizado pela Academia de Berlim (H. K r u m m r e y e S. P a n c i e r a , «Miscellanea» 1980 p. 205-215) oferece dificuldades tipo­gráficas e mesmo de interpretação que não nos parecem fáceis de transpor (cfr. a nossa recensão in «Conimbriga» XXI 1982 p. 208-209).

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também a tradução, inclusive da onomástica, a fim de melhor se compreender o conteúdo do texto; adoptamos, todavia, uma linguagem o mais aproximada possível da linguagem epigráfica. Altura das letras, medida dos espaços interlineares, biblio­grafia, variantes de leitura, comentário paleográfico (paginação e caracteres) e histórico— são os pontos referidos a seguir.

O comentário paleográfico incidirá sobre dificuldades de leitura, aspectos da pagi­nação e da grafia dignos de realce. O comentário histórico sublinhará a importância do monumento como fonte histórica, deixando para os capítulos de síntese a sua melhor integração na panorâmica global da epigrafia do conventus.

Esses capítulos, que formam como que uma resenha do conteúdo do catálogo,estão assim distribuídos: o primeiro trata dos aspectos político-administrativos; traçamos, no segundo, uma panorâmica das componentes sociais detectadas — senadores, cavaleiros, burguesia municipal, libertos, escravos, a população em geral... — detendo-nos também em elementos de índole demográfica e de vida quotidiana; o terceiro agrupa os dados relativos às divindades clássicas, indígenas e orientais, bem como ao culto dos mortos; finalmente, o quarto reúne as questões propriamente epigráficas — os monumentos (tipo- logia e decoração) e o texto (paginação, a língua, características das várias linguages...).

Complementam o catálogo, além do álbum fotográfico, os vários índices — que tentámos fazer exaustivos e claros — e as tábuas de correspondência. A bibliografia, por ordem alfabética de autores, precede o catálogo, sendo ela própria precedida dalista de abreviaturas e siglas utilizadas, onde incluímos fundamentalmente a identi­ficação das publicações periódicas (x), das obras de conjunto e dalguns autores ou livros mais frequentemente referidos. Desta sorte, as citações de artigos terão, após o nome do autor, a indicação da revista ou da obra de conjunto em que foram inseridos; os livros identificam-se pelo título (parcial na maior parte das vezes) e, fundamentalmente, pela data da edição.

* *

Algumas conclusões tirámos. Outras — muitas — haverá ainda por tirar. Ousámos seguir, titubeantes, algumas pistas novas derivando das já calcorreadas há muito. Outras se hão-de ainda rasgar.

Mas a nossa caminhada nunca teria sido tão firme se tantos braços não houvera a servirem-nos, fortes, de bordões. Em primeiro lugar, o Prof. Jorge Alarcão, com quem trabalhamos desde 1975: o orientador sempre exigente e solícito, que se multiplica incansável para que a tarefa chegue a bom termo.

Depois, a equipa do Centre Pierre Paris (Universidade de Bordéus III), designa­damente o seu director, Prof. Robert Étienne, que acompanhou muito de perto a elaboração deste trabalho. Sob sua orientação aí estagiámos em 1977-78, seis meses de

(1) Sempre que possível, usámos as siglas convencionais vulgarizadas pelo «Année Philologique».

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verdadeira iniciação nos meandros aliciantes do monumento epigráfico. A Robert Étienne e à sua equipa (1) devemos, em larga medida, a perspectivação deste trabalho, Epigrafia entrecruzada de História.

Guilherme Cardoso e Delfim Ferreira foram insuperáveis, acompanhando-nos gosto­samente por tudo o que era sítio com inscrição romana: herdades, montes, casas particulares, museus. Companheiros de muitas jornadas, nunca regatearam esforços para obterem as melhores fotografias, trabalhando, por vezes, dia e noite, repetindo chapas atrás de chapas — e o resultado aí está. Mas este levantamento fotográfico de qualidade não teria também sido possível sem o protocolo assinado entre o Instituto de Arqueologia da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra e o Instituto Português do Património Cultural, pelo qual ficou garantido o seu quase total finan­ciamento.

Os nossos agradecimentos igualmente aos directores de museus e proprietários de colecções particulares, que nos permitiram a fotografia e estudo dos monumentos confiados à sua guarda (2), bem como ao Doutor Walter de Medeiros, do Instituto de Estudos Clássicos da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra pelas clarivi­dentes e sempre amáveis directrizes, que nos deu, para a melhor tradução da termi­nologia epigráfica (3).

(1) Seja-nos permitido referir as inúmeras trocas de impressões havidas com Alain Tranoy, Patrick Le Roux, Georges Fabre, Jean-Pierre Bost, e a solicitude, nunca desmentida, de Anne-Marie Demailly no aperfeiçoamento conjunto do ficheiro epigráfico do Centre Pierre Paris.

(2) Entre outros, Dr.a Alice Chicó, do Museu Regional de Évora; Prof. Pinheiro e Rosa, do Museu de Faro; funcionários dos museus de Beja, Eivas, Santiago do Cacém e Vila Viçosa; Fernando José Soares Gomes, do Museu Municipal de Alcácer do Sal; Joaquina Tavares da Silva, do Museu de Arqueologia e Etnografia do Distrito de Setúbal; Isabel Pereira, do Museu Municipal da Figueira da Foz; funcionários do Museu do Carmo, em Lisboa; directores (Dr. J. M. Bairrão Oleiro e, depois, Francisco Alves) do Museu Nacional de Arqueologia e Etnologia e seus funcionários; Dr. Fernando Nunes Ribeiro, P.e António Serralheiro, José Furtado e Januário, Eng.° Ruy Freire de Andrade; proprietários das várias herdades em que se encontram inscrições...

Penhoradamente manifestamos o nosso vivo reconhecimento a quantos tornaram possível a edição deste trabalho: ao Instituto de Arqueologia, na pessoa do Doutor Jorge Alarcão — que a promoveu; ao Conselho Directivo da Faculdade de Letras, à Fundação Calouste Gulbenkian, ao Ministério da Cultura (designadamente, o Instituto Português do Património Cultural), ao Museu Nacional de Arqueologia e Etnologia, à Associação Arqueológica do Algarve, às entidades públicas e privadas e às autarquias do Sul de Portugal cujo nome figura na pág. 4 — que prontamente acederam a dar-nos o seu imprescindível patrocínio. Sublinhamos também o apoio incansável e o profissionalismo exemplar do pessoal da Gráfica de Coimbra; assim como o carinho e o entusiasmo com que os técnicos do COM (Centro de Organização e Microfilmagem, Lda.) e da Microsistemas (Organização e Desenvolvimento do Microfilme, Lda.), de Lisboa, se empenharam nesta conseguida experiência-piloto de apresentar em microfichas a totalidade do nosso álbum fotográfico: ao Eng. Joaquim da Costa Abraúl, seu director, o nosso abraço de muita amizade.

(3) Também neste domínio o nosso trabalho esbarrou com as dificuldades normais dum empreendimento novo: queríamos adaptar o mais possível a nossa linguagem à linguagem sucinta e sincopada das epígrafes. E foram as constantes trocas de impressões com o Doutor Walter de Medeiros que nos possibilitaram a inovação.

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Um corpus de quase 700 inscrições, cobrindo todo um conventus com as características político-económicas do Pacensis, fornece necessariamente infindas pistas de análise. Indicámos boa parte delas, ao comentar cada um dos textos no catálogo; retomámos, nos capítulos de síntese, algumas que nos pareceram mais importantes; muitas outras há, todavia, que ficaram sem realce ou nem sequer foram abordadas.

A sensação que temos, ao dar por concluído este trabalho, é que, em boa verdade, agora é que ele devia começar. Ou, dizendo doutra forma: agora é que ele vai começar— na correcção das falhas, no limar das arestas, no clarificar das questões, na integração, enfim, desta periférica parcela no todo que foi o Império Romano.

Uma tarefa comum a que, em humildade, tentámos dar singelo contributo.

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Atenção particular merece a expressão heres per sucessionem, justamente posta em

relevo por Álvaro d’Ors, pois se opõe à forma, muitíssimo mais frequente, ex testamento. Segundo este autor, Atiliano poderia ser um herdeiro ab intestato, ou seja, sem testa­mento (1).

A ausência da invocação aos Manes, o uso do dativo e a simplicidade da fórmula

final — apontam para uma datação remota, o séc. i da nossa era.

151 — Foto *

Ach: Santiago do Cacém.Par: Ruínas de Miróbriga, na colina, sobre uma base.

Pedestal paralelepipédico, em «mármore» de S. Brissos, com inscrição dedicatória. Alisado nas quatro faces, polido à frente. Tem na parte superior uma cavidade destinada possivelmente à fixação duma estátua ou busto e, na inferior, um ferro cuja finalidade seria segurar o bloco a uma base. O campo epigráfico situa-se ao nível da superfície facial, com moldura em forma de cordão reentrante. Linhas auxiliares. A moldura da base é constituída por duas golas reversas separadas por filete reverso.

Dimensões: 112 χ 54 X 41. Base: 30 X 61/83 X ?Campo epigráfico: 64 χ 35,3.

G(aio) · AGRIO · RV/FO · SILONIS (filio) / ADLECTO ITALICENSI · / 5 M(arcus) CASTRICI/VS · LVCANIO · ET · / C(aius) VALERIVS · / PAEZON AMI/CO OPTIMO ·

A Gaio Ágrio Rufo, filho de Silão, adoptado como cidadão de Itálica. Marco Cas-

trício Lucanião e Gaio Valério Paezão ao óptimo amigo.

Alt. das le tra s: 1. 1 a 7: 5,5 (O: 1. 3 = 3, 1. 6 = 2,6); 1. 8: 4,5 (O = 2,7); 1. 9: 4 (O = 2,3). Espaços: 1: 2,8; 2 a 8: 2; 9: 1; 10: 0,7.

A l m e i d a , R u ín a s ... 1964 p. 55 = AE 1964 276 = H AE 2685.

V arian tes: 1. 1/2: RV /PO (AE, HAE).

Tendência p a ra a linham ento segundo um eixo de sim etria, nem sem pre conseguido; a 1. 2 começa na m esm a direcção da 1. 4, um pouco avançadas em relação às dem ais. A pontuação triangular, de traços alongados, u tilizada de form a irregular, pois nem o aspecto estético nem o lógico se respeitaram (inútil ao fim da 1. 6, necessária na 1. 8). Caracteres bem gravados e nítidos, em cap ita l q u ad rada dotem po dos Severos: o G enrola p a ra den tro , A esguio e coroado, R feito a p a r tir do P. Recorreu-se porq ua tro vezes a um O de módulo m ais pequeno.

Já analisámos a ocorrência do gentilicio Agrius (n.° 1) e do cognome Rufus (n.° 10)

na Península. O patronímico, Silonis, vem depois dos tria nomina, como há outros

casos (CIL II p. 1200), omitindo-se a palavra filius, como também é frequente na Lusitânia

(1) Epigrafia... 1953 p. 405. Sobre a problemática das heranças importam as p. 405-409.

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(CIL II p. 1200). Silo é cognome que se encontra um poucó por toda a parte, na

Hispânia, nomeadamente atestado como patronímico («Zephyrus» X V II 1966 p. 127);

em Alenquer, numa estela cujo contexto onomástico é indígena, encontramos mesmo

um Rufus S ilon is f. (RArq II 1934 p. 110-113). No conventus Pacensis, detectamo-lo em

Avis (n.° 436a) e em Monforte (n.° 578), textos não indicados no referido mapa da

«Zephyrus». Gaio Ágrio foi considerado cidadão adoptivo de Itálica (x), através duma

adlectio, certamente por decreto dos decuriões, o que lhe conferiu a possibilidade de

ser eleito para cargos municipais (2). Os dois amigos serão, pelos seus cognomes, libertos

ou descendentes de libertos; Castricius não é frequente na Península (3) ; Valerius está

bem documentado em Miróbriga e mesmo no conventus Pacensis. Lucanio supomos

ser esta a primeira vez que se encontra; deverá ter-se formado a partir do gentilicio

Lucanius, de origem itálica (4). Paezon , cognome grego (embora não referido por Solin)

que em Roma se regista seis vezes, nomeadamente como nome de escravos e libertos

(cfr. CIL VI, índices), ocorre, na Península, em Cádis (CIL I I 1386 — ILE R 2964) e em

Tarragona como cognome dum séxviro (CIL II 4288 = IL E R 5581 = RIT 407): rela­

ciona-se com o verbo παίζω no sentido de «brincalhão» (5).

Gaio Ágrio Rufo, que pertencia ao estrato indígena peninsular (atendendo à forma

como é indicada a filiação), elevado à categoria de cidadão de Itálica, foi homenageado

em Miróbriga por dois «amigos» ligados às mais importantes famílias da localidade.

Qual o motivo da homenagem? Que laços existiriam entre as populações destas duas

povoações ? Que via as poria em comunicação ? — São questões que este importante

texto deixa em aberto.

152 — Foto *

Ach: «Francisquinho», S. Cruz, Santiago do Cacém.Par: Museu de Santiago do Cacém.

Placa funerária em mármore branco. Apresenta o canto superior esquerdo partido até ao começo do D (1. 1); do lado direito, em baixo, uma pequena falha. Campo epigráfico rebaixado em relação à moldura de um toro e «filete», com ranhura exterior e diagonais marcadas aos cantos.

Dimensões: 37 X 44 χ 5,5.Campo epigráfico: 24,2 χ 30,8.

(1) Perto de Sevilha. Cfr. T o v a r (A.), lberische Landeskunde II 1976 p. 163 e passim.(2) Cfr. a este propósito, D e R u g g i e r o , s.v. «Allectio», nomeadamente I p. 415-416. Não

detectámos, contudo, outro exemplo em que a palavra adlectus não fosse seguida da preposição inter ou in com acusativo; expressão comparável é civis allectus; CIL II 4227 — ILER 1626 — RIT 291, de Tarragona, menciona um T. Mamilius Praesens, Silonis filius, decurialis allectus Italicam.

(3) Reconstituimo-lo dubitativamente noutra inscrição de Miróbriga (n.° 159). Registamo-loem CIL II 5456 = ILER 4091 (Écija), 1304 = 196 (Jerez), 1183 = 6494 (Sevilha), EE IX 80 = ILER4763 (Mérida).

(4) Fouilles II 1976 p. 62-63.(5) B r o i l o ( F . ) , Iscrizioni... 1980 p . 1 2 1 .

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Ό(is) (hedera) M(anibus) (hedera) S (aerum) (hedera) / C (aius) · PORCIVS SEVE/RVS

MIROBRIGEN(szs) / CELT(icws) · ANN (orum) · LX (sexaginta) · / 5 H(ic) · S(itas) · E(st) ·

S(iZ) · T(ibi) · T(erra) · L(em) ·

Consagrado aos deuses Manes. Aqui jaz Gaio Pórcio Severo, mirobrigense céltico,

de sessenta anos. Que a terra te seja leve.

Alt. das letras: 1. 1: 3; 1. 2: 3 (E = 2,6); 1. 3: 2,8/3; 1. 4: 3; 1. 5: 2,7/3. Espaços: 1: 1,1; 2: 1,5; 3: 2/1,5; 4: 1,7/1,6; 5: 1/1,6; 6: 2/2,5.

A l m e i d a , Ruínas... 1964 p. 14-15. T o v a r , «Zephyrus» XV 1964 p. 157. T o v a r , Iberische Landeskunde II 1976 p. 212 (referência). H. G a l s t e r e r , Untersuchungen... 1971 p. 46 nota 72.

Paginação deficiente, sem alinhamentos; os espaços irregulares; 1. 2 e 3, de traçado ondulante; pontuação variada: desde as heras de traçado barroco de longo pecíolo em ângulo (esquecido no final da 1. 1), ao ponto triangular da 1. 2, aos inusitados triângulos das 1. 4 e 5.

O traçado das letras é muito nítido, observando-se na 1. 3: um nexo ainda não documentado desta forma f1); na 1. 5, o E com a barra mediana curta; e, na 1. 4, um A sem barra, o que se estranha numa epígrafe de tão precioso acabamento.

Porcius registamo-lo no n.° 115, de Mértola; Severus é também muito frequente

no conventus Pacensis e na Península — em Valência (CIL II 3754 = ILER 4805 e

IRV 45) documenta-se mesmo um L. Porcius Severus.Como bem frisaram D. Fernando de Almeida, H. Gallsterer e A. Tovar, o grande

interesse do texto é o facto de o defunto se dizer mirobrigensis celticus, o que daria o

nome da cidade, Miróbriga Celticum, de acordo com o texto de Plínio (Nat. Hist. IV 118)

«Mirobricenses qui Celtici cognominantur». Tovar refere, contudo, que ao monumento

estão inerentes limitações devido à natureza de inscrição funerária. Efectivamente, se a

análise paleográfica nos deixa algumas dúvidas, sabemos, por outro lado, que, normal­

mente, quando alguém morre na sua localidade de origem, não indica a naturalidade, seria

desnecessário; por outro lado, sendo mirobrigense na sua própria terra, que necessidade

haveria de especificar a sua qualidade de «céltico»? Além disso, tendo-se posto tanto

empenho em fazer notar a naturalidade do defunto, não houve igual intenção de afirmar

para a posteridade a sua condição de homem livre, indicando a filiação. Acresce que

também a molduração sai fora dos cânones habituais. Poder-se-ia, pois, suspeitar da

autenticidade deste monumento, eventualmente forjado com a intenção de bem especificar

o nome da povoação cujas imponentes ruínas se encontram em Santiago do Cacém.

A adjunção ao topónimo de um etnónimo, em genitivo, documenta-se no mundo

romano (Venta Silurum , Lutetia Parisiorum...) inclusive na Península: Forum Bibalorum,

Ossigi Latonium , Sacili Martialium... Seria, pois, admissível uma Miróbriga Celticum,

que, a partir dos Flávios, deveria ter mudado o nome para Flavia Miróbriga ou, melhor,

Flavia Miróbriga Celticum, designação um pouco estranha. CIL II 880 regista um

Celtico Flavianus que, embora se refira a uma desconhecida Celtico Flavia , poderia

(1) Terá o lapicida esquecido o E, recorrendo portanto a este expediente para o incluir?

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abonar, por analogia, um topónimo semelhante. No entanto, só o aparecimento duma

epígrafe honorífica ou monumental é que poderá confirmar de forma convincente o

nome e o estatuto político de Miróbriga.

A invocação aos deuses Manes e a paleografia sugerem para esta epígrafe uma

datação do séc. n.

153 — Foto

Ach: Villa romana de Couqueiros, Alvalade-Sado, Santiago do Cacém.Par: No local?

Esteia de topo triangular, em xisto cinzento-esverdeado da regiào.Dimensões: 65 X 41x6 .

AVNIA · BROCINA / ARCONIS · F(ilia) · AN(norum) · XXXV (quinque et triginta)I Η(ιic) * S(ita) · [E(st) ·] S(it) · T(ibi) · T(erra) · L(evis)

Aqui jaz Áunia Brocina, filha de Arcão, de trinta e cinco anos. Que a terra te

seja leve.

Alt. das letras: 1. 1: 5,5; 1. 2: 4,5/4; 1. 3: 4. Espaços: 0,5.

B a r r e t o (M.R. Santos) e A m a r o (Clementino J.G.), A «villa* de Conqueiros e seu enquadramento arqueológico (comunicação, inédita, apresentada ao IV Congresso Nacional de Arqueologia, Faro 1980).

Variante: 1. 1: MVNA

Não pudemos observar o monumento, cujos caracteres nos pareceram, pela foto­

grafia, finamente rasgados, actuários, esguios. Preferimos ler Aunia, de que há outro

exemplo em Vila Viçosa (n.° 444). igualmente em contexto indígena; Brocina regista-se

em Ourique (n.° 127); Arco atesta-se como patronímico no conventus, sempre também

em contexto pré-romano. Note-se a existência, pelo menos aparente, de dois antro-

pónimos habitualmente considerados cognomes — mas Aunia exerce aqui funções de

gentilicio; contudo, a aculturação onomástica não é ainda profunda, pois o patro­

nímico vem no fim.

Será, pelas características textuais, um monumento de finais do séc. i.

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154 — Perdido

Apenas André de Resende teria visto o monumento que descreve como uma «mesa de pedra» colocada sobre o altar da capela de S. Brás. Será, pois, uma placa.

G(aio) · C0CILIC[I]0 · FVSCO / PATRI / E X · TEST(amento) · COCILICI/A

PASTOS [sic] [HERES · F (aciendum) · C(uravit)?]

A Gaio Cocilício Fusco, seu pai, por disposição testamentária, Cocilícia Pastos (?),

(a herdeira, mandou fazer?).

Resende I 1790 p. 247. Hubner, Notícias p. 29 (versão de Grutero 726, 9). Levy 212, 478. CIL II 26. LV, AP XIX 1914 p. 316. Almeida, Ruínas... 1964 p. 54. ILER 1519.

\ rariantes: 1. 1: COCILICO (todos os autores, com excepção de Grutero que traz COCILÍCIO).

Como Hubner salienta, apesar de somente referido por André de Resende, o texto

não deve ser falso — «sola Resendii fide nititur, nec tamen videtur ficta esse». Aliás,

a única anomalia apontada por aquele epigrafista é a inusitada terminação em -icus do

gentilicio (Cocilicus) que, afinal, ele próprio considera de somenos, dado o aparecimento,

na mesma zona, de Pagusigus que se lhe assemelha: «nam quale Cocilici est, talia nomina

in his terris consolita puisse docent tituli η. 22 27 28». Efectivamente, o gentilicio é um

«hapax», segundo cremos; mas não será por isso de rejeitar a inscrição, dado o seu carácter

despretensioso e porque nem se afasta da terminologia habitual em Santiago de Cacém: uso

do dativo, ausência da invocação aos Manes, referência à disposição testamentária. Por

outro lado — e seguindo uma sugestão de Resende, que escreve Cocilicia (tudo pegado),

e de Grutero, que indica COCILÍCIO para a 1. 1 — supomos que o nomen é, preferen­

temente, Cocilicius. De semelhante, encontramos somente Cocilius, em Roma (CIL

V I 11670 e 15945). Discordamos, pois, dum cognomen *Apastos (CIL II p. 1078), ainda

que indígena: «V. 4 male descriptus est; requiritur cognomen Cocilici iunioris, fortasse

peregrinum» — escreve Hubner. A 1. 4, incompleta, conterá de facto o cognome, talvez

o aposto heres e a fórmula dedicatória; mas houve apenas erro de leitura. Qual o cognome

feminino, aí presente, não o ousamos reconstituir; Pastus está documentado, no

masculino ( K a j a n t o , p. 353)— contudo, o texto não o incluirá; será decerto latino,

como o é Fuscus, frequente no conjunto do CIL ( K a j a n t o , p. 228) e mesmo na

Península (ILER p. 697) — encontramo-lo numa dedicatória a Endovélico (n.° 534) e

em Marvão (n.os 608, 627 e 632). A ausência indicada, o inusitado gentilicio seguido

dum cognome bem latino, a correcta transmissão dos nomes — sugerem-nos para as

personagens deste texto o estatuto de peregrini.O uso do dativo, a omissão da invocação aos Manes e a simplicidade do formulário

apontam como data o séc. i.

Ach: Santiago do Gacém.Par: Desconhecido.

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155 — Foto

Placa funerária em mármore branco. Muito fragmentada, foi cuidadosamente reconstituída e encaixilhada, de sorte que apenas falta um fragmento sensivelmente a meio da moldura superior; a inscrição foi afectada aqui e ali — houve reconstituições nas 1. 2 (FH emvez de FIL) e 3 e no final da 1. 4. O campo epigráfico situa-se no mesmo plano da muldura, constituída por ranhura e uma espécie de garganta reversa. São visíveis as linhas auxiliares, algumas erradas.

Dimensões: 52,3 X 72,5 x 5,8.Campo epigráfico: 42,5 x 63.

NORBANA · MO/DESTI FIL(m) MODES/TA · SIBI · ET · SVIS (hedera) FACIENDVM · CV/5RAVIT (hedera)

Norbana Modesta, filha de Modesto, mandou fazer para si e para os seus.

Alt. das letras: 1. 1: 7,5 (O = 4,5); 1. 2: 7 (T = 7,9); 1. 3: 6,8 (T = 7,4); 1. 4: 6,6 (F = 7,2) 1. 5: 5,5. Espaços: 1: 2,1; 2: 2; 3: 2; 4: 2,1; 5: 1/0,6; 6: 0,4/0,5.

A l m e i d a , Ruínas... 1964 p. 53-54.

Variantes: 1. 2: F (ilia) H (eres) (Almeida).

Apesar da excelência da gravação e da agradável impressão do conjunto, não foi seguido pelo ordinator qualquer critério de alinhamento. Sente-se a preocupação de dar a cada letra um acabamento requintado, seguindo mesmo a sugestão das linhas auxiliares, como se vê na forma de fazer as bases, que muita vez se ligam à letra seguinte. De vez em quando, recorreu-se ao uso de letras maiores (T nas 1. 2 e 3, F na 1. 4) e a exiguidade do espaço determinou as pequenas proporções do O final da 1. 1. A hesitação do segundo T da 1. 3 e do F da 1. 4 não impede que o texto se apresente em caracteres monumentais quadrados elegantíssimos dos começos do Império. A pontuação é triangular, excepto no fim das 1. 3 e 5 onde se gravaram heras bem recortadas, verticais e de caule para a direita. Na 1. 2, a análise da pedra permitiu-nos resolver definitivamente a questão levantada por D. Fernando de Almeida: trata-se, sem dúvida, da abreviatura FIL, tendo sido ignorada a barra do L.

A onomástica patente nesta epígrafe liga-se à parte oriental da Lusitânia: o genti­licio Norbanus é característico de Cáceres e de Mérida (l); o cognome Modestus, -α, é comum na epigrafia do nordeste alentejano; e a forma de indicar a filiação através do cognome do pai, é frequente também nessa zona — num texto de Trujillo (ILER 4008) há mesmo, como aqui, a identificação de cognomes: Norba[na] Rufini f(ilia) Rufina. Esta família poderia, pois, ter migrado daí. Norbana é uma indígena romanizada.

Saliente-se a fórmula sibi et suis — indicativa de sepultura familiar —, a correlativa ausência da menção da idade e o desejo de ostentação patente na preocupação de escrever por extenso a fórmula final faciendum curavit.

A ausência da invocação aos Manes, a paleografia e a simplicidade do formulário sugerem o séc. t.

Ach: Miróbriga.Par: Museu de Santiago do Cacém. N.° 459.

(1) Na inscrição n.° 385, de Évora, Júlia Norbana diz-se «emeritense»; nessa cidade se documenta um outro Norbanus (n.° 400). Ver, a respeito da ocorrência deste antropónimo, BRAH CLIX 1966 p. 287-288.

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156 — Foto

Ach: Santiago do Cacém.Par: O monumento original perdeu-se; na parede do chafariz de N.a Senhora do Monte (Santiago

do Cacém) encontra-se uma cópia em mármore.

Não há uma descrição precisa do original, cuja forma (placa) e paginação podem ou não ter sido respeitadas na cópia, imitando o que era legível na pedra.

Dimensões: 89 X 51.

PAGVSIGAE / L(ucii) · F(iliae) · FUNDA/NAE C(aius) · PAGV/SICVS LVCI/5ANVS · SORO/RI OPTVMAE

Gaio Pagúsico Luciano à óptima irmã, Pagúsiga Fundana, filha de Lúcio.

Alt. das letras: 4,5/5.

CIL II 28. LV, AP XIX 1914 p. 316. A l m e i d a , Ruínas... 1964 p. 50 e 52. ILER 4720.

Variantes: tratando-se duma cópia, as variantes referem-se à pontuação e à confusão G-C do copista, que os autores interpretam como acham melhor. Há, na pedra, evidentes falhas provocadas pelo cuidado do copista em gravar o que lia: a haste inferior do E curta (1. 1), I em vez de L (1. 4), T em vez de I e L em vez de E (1. 6).

A cópia apresentada por Hiibner (transcrita de Cenáculo) parece ter de considerar-se a mais próxima do original. A forma do G, atendendo às hesitações do copista, dificilmente se reconstitui; contudo, o P não seria fechado, o A apresentaria barra — no conjunto, poder-se-ia pensar numa escrita em capital quadrada.

Dois elementos da gens Pagusica, localizada em Santiago do Cacém, ambos de cognome latino: Fundanus é frequente no conventus Pacensis. No feminino, é bastante atestado em África ( K a j a n t o , p. 182); a ocorrência de Lucianus não é muito grande na Península (1) nem no mundo romano: Kajanto assinala-o como cognome de 3 sena­dores, 61 homens livres, 2 escravos/libertos e 5 mulheres.

Num total de três inscrições relativas à gens Pagusica não é, todavia, exequível uma árvore genealógica englobando os indivíduos nelas referidos; efectivamente, apesar de em todas surgir o prenome Gaio ele se refere sempre a indivíduos diferentes. Veri­fica-se, todavia, pela inscrição n.° 157, ter havido uma relação (de parentesco?) entre a gens Pagusica e a gens Scribonia, de que a inscrição n.° 158 menciona dois elementos, pai e filho. Serão famílias autóctones que, devido à sua riqueza, assumiram onomástica latina, obtendo concomitantemente uma posição jurídica de peregrini? Ou correspon­derão preferentemente a estratos vindos doutras regiões do Império? A ausência do gentilicio Pagusicus noutras zonas induz-nos a preferir a primeira hipótese.

A falta da invocação aos deuses Manes levar-nos-ia a colocar a epígrafe no séc. i; contudo, o nome do defunto em dativo, o adjectivo optuma e a inexistência de fórmula final podem sugerir uma data mais tardia: a segunda metade do séc. n?

(1) A leitura de CIL II 1026 = ILER 963 (não 983) é duvidosa e o que nos índices de ILER vem não corresponde a este antropónimo mas a Lupianus (ILER 5708 = 4505 = CIL II 2644). O texto RIT 618 é muito duvidoso também.

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lo? — Foto

Ach: Santiago do Cacém.Par: MNAE. N.° 7096. O original perdeu-se; o monumento que se encontra no museu é uma

cópia.

Cipo em calcário fossilífero com inscrição funerária gravada numa das faces com moldura de um toro. Na parte superior, uma cavidade com vestígios de chumbo; pregos de ferro foram cravados na superfície, com certa regularidade: sinal de utilização do bloco ou simples imitação do que o monumento primitivo (pedestal?) ostentaria? Afeiçoado em todas as faces. Campo epigráfico polido e não rebaixado.

Dimensões: 88 X 50 χ 42,5.Campo epigráfico: 80 χ 42,5.

G (aio) PAGVSICO / VALERIANO / EX TESTAMEN(to) / SVO SCRIBO/5NIA G(aii) · F(ilia) · MAXI/MA HERES F(aciendum) C(uravit)

A Gaio Pagúsico Valeriano. Por disposição testamentária, a herdeira, EscribóniaMáxima, filha de Gaio, mandou erigir.

Alt. das letras: 5. Espaços: 1: 10; 2 e 3: 3,1; 4: 3,3: 5 e 6: 3; 7: 25,5.

CIL II 27. LV, AP XIX 1914 p. 316. LV, AP XXVIII 1929 p. 225 n.° 31. A l m e i d a , Ruínas...1964 p. 53. L a m b r i n o , AP III s ér i e I 1967 p. 147-148 n.° 67 . ILER 1520.

Variantes: por se tratar de cópia, as variantes dizem respeito à pontuação e à leitura do Gpor C (ou vice-versa). Na 1. 3, CIL refere o nexo NT que efectivamente poderá ter existido no original.Na 1. 4: a falta de C na transcrição de Almeida deve ter-se em conta de gralha.

Em 1914, LV afirmava «estou igualmente muito suspeitoso de que é cópia», após haver referido as outras cópias do chafariz de N.a Senhora do Monte; ao elaborar o catálogo, em 1929, não aludiu, porém, ao problema; Lambrino, baseando-se na afirmação de LV, escreve: «é uma cópia dum original perdido». D. Fernando de Almeida não tece a tal respeito qualquer consideração, podendo mesmo depreender-se do seu texto que considera o monumento autêntico e original. Há, portanto, a fazer uma análise dos argumentos justificativos da classificação como «cópia»:

1.°) a pontuação: ausente onde ela raramente falta (após o praenomen, após o F da fórmula final), mal colocada (no cimo da linha) quando não havia qualquer motivo para isso — dá-nos a entender que o copista só viu esses dois pontos (1. 5) eventualmente até bem a meio;

2.°) a forma semelhante do G e do G, ambos, aliás, gravados inusitadamente— o G apresenta-se em baixo mais fechado que o C í1);

3.°) As barras medianas do E e do F são mais curtas do que as outras — essa circunstância, que observámos como corrente por exemplo na epigrafia da Dácia, na Lusitânia é normalmente um dos índices de não-autenticidade.

4.°) não encontrámos a fórmula EX TESTAMEN registada noutros locais abre­viada assim, pelo que supomos ter existido no original o nexo habitual NT, como vem no CIL, de acordo com a cópia de Cenáculo.

(1) O mesmo equívoco na inscrição n.° 156.

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Tal como sucede com os monumentos n.os 145 e 147, a paginação e os nexos devem ter sido respeitados, depreendendo-se que o texto poderia ter constituído uma «caixa» dado o seu alinhamento à esquerda e à direita. A letra seria monumental quadrada.

Pagusicus é gentilicio próprio de Miróbriga, registado também na inscrição n.° 145 e que vem acompanhado aqui do cognome latino, Valerianus, muito frequente ( K a j a n t o , p. 35, 157), mesmo na Península Ibérica (ILER p. 761). No conventus encontramo-lo no n.° 395; Scribonius, -a, nomen documentado também no n.° 158, indicará porventura uma das importantes famílias de Miróbriga; não é muito frequente na Península: exemplos em Gártama (Málaga — CIL II 1951 = ILER 423), Gartagena (CIL II 3437 = ILER 1412), Valência (CIL II 3743 = ILER 5569), Tricio (Logrofio — CIL II 5806 = ILER 4099), Eivas (EE IX 21 = n.° 596); foi reconstituído, ainda que dubitativamente, em Espera (Arcos de la Frontera — EE VIII 277); e numa telha da Boca do Rio (Budens, Vila do Bispo), figura aparentemente como cognome: G. Aemili Scriboni (CIL II 62525 = = ARA I 1971 p. 90). O cognome Maxima é latino. Estamos, portanto, em presença de pessoas de onomástica latina, eventualmente peregrinos; a diferença de gentilicios, apesar de Scribonia se dizer filha de Gaio (prenome de Pagúsico), não nos autoriza a considerá-la sem mais a filha legítima do defunto — pode ser, por exemplo, sua sobrinha ou filha natural.

Documentando a execução duma prescrição testamentária pelo herdeiro, o texto deve ser posto ao lado doutros da mesma proveniência, que atestam, por consequência, no seu conjunto, a importância que tiveram, em Santiago do Cacém, os hábitos jurídicos romanos.

O nome do defunto em dativo, sem invocação aos Manes, o formulário simples, desprovido de qualquer adjectivo — tudo nos leva a crer estarmos em presença dum texto do séc. i.

158 — Foto

Ach: Santiago do Cacém.Par: O monumento original perdeu-se; na parede do chafariz de N.a Senhora do Monte

(Santiago do Cacém) encontra-se uma cópia em mármore.

Não há descrição precisa do original, cuja forma (placa) e paginação do texto foram eventual­mente respeitadas.

Dimensões: 98 χ 51.

Q(uinto) · SCRIBONIO / L(ucii) · F(ilio) · QVIRI(raa tribu) / PATERNO / L(ucius) SCRIBONIVS / 5 SATVRNINVS / PATER

A Quinto Escribónio Paterno, filho de Lúcio, da tribo Quirina, o pai Lúcio Escri- bónio Saturnino.

Alt. das letras: 1. 1: 5; 1. 2 e 3: 4,5: 1. 4 e 5: 4; 1. 6: 5.

CIL II 29 = ILER 4192 e p. 841. LV, AP XIX 1914 p. 316. A l m e i d a , Ruínas... 1964 p. 52-53.

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Variantes: má divisão de linhas (ILER); 1. 5: omissão de Saturninus (ILER 4192, corrigida na p. 841).

Reputamos como figurando no original o nexo NI (1. 1) e a inclusão do S no V (final da 1. 4). São erros do copista, na 1. 2 : E por F, D por I ou IN. Atendendo à utilização do nexo e da inclusão, poder-se-á mesmo perguntar se o nome da tribo não estaria gravado por extenso com nexo NA. Os caracteres poderão classificar-se como monumentais quadrados, não obstante a barra horizontal do L ter movimento ondulante; Q bem circular, de haste curta e oblíqua; P não fechado; B de curvatura inferior levemente mais pronunciada que a de cima. LTma paleografia denotando a época de Trajano?

A menção repetida da filiação deve ser considerada como ponto de honra: o dedi- cante quis, seguindo as regras oficiais da identificação, frisar bem o carácter de homem livre e de cidadão romano do seu filho. Estamos, aliás, perante uma nomenclatura caracteristicamente latina relacionável, contudo, pelos cognomes, com substratos nativos. Scribonius é gentilicio cuja escassa ocorrência na Península comentamos no n.° anterior; Paternus e Saturninus são apontados exactamente como ligados à antroponímia pré-romana por Kajanto (p. 18): Paternus em áreas célticas — Península Ibérica e Gálias (CIL XII e XIII), 239 exemplos num total de 381 (ibidem p. 304); Saturninus em África (1163 exemplos num total de 2507 — ibidem p. 55 e 213).

Perante a única inscrição de Miróbriga onde a tribo vem mencionada, seríamos tentados a atribuir à localidade a tribo Quirina, tentação a que cedeu Hubner (CIL II p. LXV) até porque, atendendo à inscrição CIL II 25 (n.° 150) onde M. F. foi interpre­tado como m(unicipium) f(lavium), tal conviria à tese que considera a atribuição da tribo Quirina apanágio dos Flávios (1).

159 — Foto

Ach: Santiago do Cacém.Par: Museu de Santiago do Cacém. N.° 461.

Canto inferior esquerdo duma placa funerária em mármore. Campo epigráfico à altura da restante superfície, dela separado por duas ranhuras. Notam-se as linhas auxiliares.

Dimensões: 27 X 23,5 X 2,5.Campo epigráfico: 2 1 x 1 8 ,5 .

[tria nomina do defunto, cognome do paij / FIL(ms) · AN(norum) · LV[...?] (<quinquaginta quinque ?] [M(arcws?)] / CASTRI[CIVS MAXI ?]/MVS · ET C[ASTRICIA?] / M(arei) · F(ilia) * MA[XIMA? ET] / 5 P (ublius) · VALE[RIVS...] / HER(es) F(aciendum) C (uraverunt)

...filho de..., de (pelo menos) cinquenta e cinco anos... Marcos( ?) Castrício Máximo( ?) e Castrícia (?) Máxima (?), filha de Marcos, e Públio Valério (...), herdeiro, mandaram fazer.

(1) Ver, a este propósito, as considerações de R. É t i e n n e e G. F a b r e , «Conimbriga» XI 1972 p. 200-203. A . T o v a r (Iberische Landeskunde II 1976 p. 212) não alude sequer à questão.

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de existirem na Lusitânia mais duas famílias senatoriais com esse gentilicio: a de Évora (do texto anterior) e a de Lisboa (GIL II 4994). A hipótese de Stein (em PIR2) tem como argumento a existência, em Conimbriga, duma Caecilia Avita (Fouilles II n.° 2 p. 20-21); Lambrino justifica a não identificação pelo facto de não serem inscrições da mesma época.

O cognome Avitus, α, é bastante frequente no conventus Pacensis.O monumento honraria, pois, a memória dum senador em princípio de carreira: ser

membro da comissão de dez encarregada de julgar os conflitos relacionados com o estado civil dos cidadãos era uma das funções do vigintivirato. A riqueza do jazigo — que este simples fragmento faz supor — está de acordo com o que sabemos dos senadores eborenses, da sua situação material e social (cfr. Lambrino, art. cit., p. 228-231).

884 — Foto

Ach: Évora.Par: Fragmento A: Museu de Évora, n.° 1831. Fragmento B: Pátio de S. Miguel, Évora.

O fragmento Β ajusta-se ao outro que, entretanto, apareceu, formando um lintel em mármore branco do tipo Estremoz-Vila Viçosa. A parte superior é levemente côncava e o texto encontra-se na superfície abaixo do toro. O fragmento Β está partido obliquamente e parte do toro à direita foi danificada.

Dimensões: (A) 14,7 X 64 χ 17/15; (B) 14 X 93,5 X 38.Campo epigráfico (altura): 7,5.

L(ucius) · IVLIVS · PHILOMVSVS · L(ucius) ■ IVLIVS FRO[NTO ?...]

Lúcio Júlio Filomuso, Lúcio Júlio Frontão...

Alt. das letras: 5,7. Espaços: 1: 0,7; 2: 1.

LV, AP IV 1898 p. 122 = EE IX 15. Barata, Catálogo... 1903 p. 46 n.° 93. Encarnação (José d’), «Humanitas» XXIX-XXX 1977-78 p. 75-77 (foto).

Paginação correcta. Caracteres bem gravados, em capital quadrada do séc. I: o gravador quis aproveitar o jogo da luz, como se pode ver por exemplo no M, onde as hastes da direita são mais acentuadamente gravadas que as da esquerda. O traço que se segue ao P — e que LV inter­pretou como I — é a haste esquerda do H, por onde a pedra foi partida.

O texto, de carácter monumental, poderia ter mais nomes para a direita. Estes dois personagens, ambos com o mesmo prenome e gentilicio, serão provavelmente libertos, de forma que a inscrição documentará, decerto, a dádiva que eles fizeram à comunidade, construindo a expensas suas o edifício (ou parte) em que esta pedra se colocara. A possi­bilidade de serem membros dalgum colégio — seviri, por exemplo — não é despicienda. Philomusus é, de facto, um cognome de origem grega que bem quadraria a um liberto; Fronto, ao invés, se a nossa interpretação for correcta, é latino.

O monumento — datável, segundo a paleografia, do séc. i — interessa, pois, sobre­maneira, já pela onomástica já pela possibilidade de ter pertencido a um importante edifício da Évora romana, com o aliciante de se tratar de membros duma gens Iulia.

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885 — Fotos

Árula de mármore branco com inscrição funerária. O fuste é separado da base e do capitel por uma moldura em toda a volta: filete directo e moldura de gola encurtada em cima, filete reverso moldura de gola reversa em baixo. Sobre a cornija foi esculpido um frontão semicircular, ladeado de dois toros lisos, um de cada lado, adossados: só na parte da frente os contornos circulares dos toros foram marcados. As duas primeiras linhas da inscrição foram gravadas uma na cornija e outra já na moldura; de resto, a última linha também se encontra já na moldura da base. Graciosamente esculpidos em relevo, os objectos rituais: a pátera, com umbo saliente e pega para baixo, do lado direito, e um jarro com pé, pega à esquerda paralela ao longo colo, boca larga, do lado esquerdo.

31.2 15Dimensões: 71 X 26,8 X 10,3 . Pátera: 15,2 X 7,3. Jarro: 13,5 X 6,5.

31.2 15Campo epigráfico: 29 X 26,8.

Ach: Évora.Par: Museu Regional de Évora. N.° 1706.

D(is) · M (anibus) · S (acrum) · / IVL (ia) / NORBANA / EMER^tettsis) · AN(norum) \ 5 XXXV (triginta quinque) · H(íc) · S (ita) / E (st) S (it) T (ibi) T (erra) L (evis) · FVN/DÃNVS · VXO(ri) I P (ientissimae vel piissimae) · F(aciendum) · C(uravit) ·

Consagrado aos deuses Manes. Aqui jaz Júlia Norbana, natural de Emerita, de trinta e cinco anos. Que a terra te seja leve. Fundano mandou fazer (este monumento) à esposa modelo de piedade.

Alt. das letras: 1. 1 e 2: 3,5; 1. 3: 4,7 (O = 4,5); 1. 4 e 5: 4,5 (X = 4,7); 1. 6: 4,5 (1.° T = 4,7);1. 7: 4,5 (l.o Y = 4,2); 1. 8: 4. Espaços: 4: 0,7/1; 5 e 6: 1; 7: 1/1,7; 8: 1/1,3; 9: 1/0,5.

Espanca, Inventário... 1966 p. 123. Encarnação (José d’), «Humanitas» XXIX-XXX 1977-78 p. 85-89 (fotos).

Variantes (Espanca): Diferente divisão de linhas; omite 1. 2; 1. 6/7: FVNDAIVS; 1. 8: D.

Tendo optado por um tamanho de letra inadequado à extensão do texto e à exiguidade do espaço epigráfico, o ordinator foi forçado a utilizar as molduras para a gravação. Se se tratasse apenas da fórmula inicial, ainda se poderia pensar numa preocupação de efeitos estéticos; contudo, a gravação sobre as molduras propende-nos, antes, para uma inabilidade em esculpir os caracteres num tamanho menor. No fuste, houve alinhamento à esquerda, tendo a ocorrência de nexos obviado à necessidade de cortar palavras de forma incorrecta. Contudo, a abreviatura VXO (1. 7) só seexplica pela inopinada falta de espaço. Os caracteres são capitais de tipo monumental; se bem que,de um modo geral, a sua gravação não saia do normal, há, todavia, pormenores denotando hesitação de ductus: a uma tendência para a verticalidade (1. 2) sucede-se a nítida inclinação para a esquerda do X (1. 5) ou para a direita (F da 1. 6). E se, por outro lado, os acabamentos mereceram certa atenção, é desajeitada a forma como se unem as hastes do Μ, o modo como se relacionam entre si as primeiras letras da 1. 6, a proporção das barras do F da 1. 6 também. Em suma, apesar da pontuação triangular elegante (e talvez porque não foi colocada convenientemente), o conjunto do texto resulta medíocre.

A onomástica aqui patente é usual no conventus, mesmo o gentilicio Iulius assim abreviado; de Fundanus há vários exemplos (cfr. n.° 156) e o cognome Norbanus já nos mereceu comentário a propósito da inscrição n.° 155. Curioso, porém, verificar que se

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trata de mais uma Norbana e que se diz natural de Mérida, cidade em cuja área este cognome se documenta muito, como vimos. Não é de estranhar a vinda dum elemento da gens lulia de Mérida para Évora, se atendermos a que uma via ligava as duas cidades entre si facilitando as comunicações. CIL II 504 tem sido interpretado também na linha dessas relações: refere-se a uma Publicia residente em Évora mas nascida em Mérida; o texto carece, porém, de revisão, por enquanto impossível, dado que o seu para­deiro se ignora; é que, na verdade, a seguir a Publicia lê-se EM que foi interpretado EM[ERITA NATA] — o que se nos afigura um pouco forçado; EM pode ser o começo dum cognome. Em todo o caso, a presente árula reveste-se, para o estudo das migrações, duma importância relevante.

A invocação aos deuses Manes e a paleografia sugerem os finais do séc. ii-prin- cípio do ui.

886 — Foto

Ach: Desconhecido (1).Par: Museu de Évora. N.° 1819.

Fragmento de placa funerária em mármore branco do tipo Estremoz/Vila Viçosa. Resta a moldura do lado esquerdo e menos de metade do texto das três últimas linhas. Campo epigráfico rebaixado em relação à moldura que, limitada por ranhura, é do tipo gola directa.

Dimensões: 60 X 35 X 10 (aprox.).Campo epigráfico (altura): 40,5.

[ . . . ] / EBOR (ensis) · PE [...] / SEPVLT[A EST? S (it) T (ibi) T (erra) L (em )?] / T(itus) CALLA[EVS ... F(aciendum) C(uravit)]

(Aqui está sepultada) ... natural de Évora. (Que a terra te seja leve) (?). Tito Caleu ... (mandou fazer).

Alt. das letras: 1. 2 e 3: 4,5; 1. 4: 4 (T = 5,5). Espaços: 2 a 4: 2,4; 5: 7.

CIL II 5199. Barata, Catálogo... 1903 p. 41 n.° 80. Pereira (Gr.), Estudos Eborenses I 1961 p. 17 n.° 17. Espanca (T.), Inventário... 1966 p. 123.

Variantes: 1. 2: PL (CIL, Pereira), L (Barata), L... EBOR · P · L... (Espanca). Hubner indica uma 1. 5.

Cremos aceitável a hipótese de faltar só uma linha no começo, sendo um pouco mais amplo o primeiro espaço interlinear ou as letras de módulo maior. Já não se distingue o L aí assinalado por Gabriel Pereira — talvez dele reste a barra inferior apenas perceptível na fractura ao nível do B. O texto poderia estender-se bastante em comprimento: a identificação do defunto, que apenas sabemos

(1) Admitindo que a naturalidade não se menciona, quando se morria na própria terra, teríamos uma inscrição funerária recolhida noutro sítio e trazida por algum «antiquário» para Évora, por mencionar o nome da cidade.

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ser eborensis, nas 1. 1 e 2; sepultus, α est seguido quiçá de S*T*T‘L, na 1. 3; o nome do dedicantee F-C·, na 1. 4. A letra final da 1. 2 pode ser E ou L, pois a fractura ocorreu justamente ondepoderia estar a barra intermédia; na 1. 4, nota-se ainda o arranque do A. Não nos parece que hajaoutra linha a seguir, como sugere Hubner. A paginação parece ter obedecido a um eixo de simetria;pontuação triangular cuidada. Caracteres magnificamente gravados, em capital monumental quadrada: note-se a correcta circularidade do O, a elegância do B e do R, o cuidado em elevar o T.

Julgamos plausível a reconstituição do gentilicio Callaeus, registado em Tavira (n.° 86) e outra vez em Évora (n.° 390). Estamos perante uma onomástica latina, identificando gentes bem romanizadas.

A paleografia sugere-nos, como datação, o séc. i.

887 — Fotos

Ach: Desconhecido.Par: Museu de Évora. N.° 1836.

Ara funerária em mármore de Trigaches claro, muito cheio de incrustrações e alterações super­ficiais, pátina muito intensa. Esmurrada nas arestas e na base (à direita). Trabalhada nas quatro faces. Sobre a cornija, o fóculo e frontão semicircular ladeado por dois toros lisos, um de cada lado. Moldura de gola directa e filete separam o capitel do fuste. Na face lateral esquerda, foi esculpido um jarro, de pé, asa arqueada, boca voltada para a direita. À direita, uma pátera também em relevo, com a pega para cima em forma de cauda de peixe, bordo muito amplo e umbo central.

2°Dimensões: 66 χ X 17 . Jarro: 16 X 11,5 (boca). Pátera: 16 X 10.

32,5 23

Campo epigráfico: 22,5 X 26,5.

D(ís) · M(anibus) · S(acrum) / A (ntonia?) · FVNDANA [?] / [AN(norw/n)?] · XXI (viginti unius) · M (ensium) / III (trium) D (iei) I (unius) · H(ic) S (ita) E (st) [?]

Consagrado aos deuses Manes. Aqui jaz Antónia (?) Fundana (?), de vinte e umanos, três meses e um dia.

Alt. das letras: 1. 1 : 3,2; 1. 2 a 4 : 4. Espaços: 1: 0,5/1; 2: 1; 3 e 4: 1,5; 5: ?

Inédita?

Pelo pouco que se pode julgar, a tendência para um eixo de simetria parece evidente, mormente se tivermos em conta a 1. 1, onde a fórmula inicial se distingue bem. Na 1. 2, afigura-se-nos possível ler Fundana (documentado na epigrafia eborense, n.° 385), havendo antes espaço para um gentilicio em sigla. A seguir ao D, o A poderá estar, ou não, em nexo com o N seguinte. Nas 1. 3 e 4, parece-nos de reconstituir a idade pormenorizada; na 1. 3, hesitámos entre AN(norum) e V(ixit) A(nnos). Antes do H, afigura-se-nos existir um traço vertical, cujo significado nos escapa, e, tanto pela foto comopela análise da pedra, a última letra mais parece S que E.

Um monlimento do séc. II?

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387a — Não ilustrado

Placa funerária em calcário da região, partida no canto superior direito. Rudemente desbas­tada atrás. Campo epigráfico muito rebaixado, moldura do tipo gola directa com meio-redondo côncavo exterior. Do texto, muito gasto pela erosão, só se vê a 1. 1.

Dimensões: 53,5 X 71 X 7,5.Campo epigráfico: 38,5 X 54,5.

M (arcus) APPVLEIV[S] M (arci) F (ilius) / [...]

(Aqui jaz) Marco Apuleio filho de Marco...

Alt. das letras: 6. Espaço 1: 3,5.

Inédita.

O texto teria certamente umas quatro linhas. M largo, P aberto, A simétrico e com barra.

Recordaria um membro da gens latina Appuleia, de que há outros testemunhos no conventus: em Alcácer (n.° 190) e em Avis (n.° 437).

Ach: Herdade da Machoqueira, N.a Sr.a de Machede, Évora.Par: No monte da herdade (Agosto 1982).

388 — Fotos

Ach: Évora.Par: Museu Regional de Évora. N.° 1813.

Cipo funerário em mármore cinzento-claro de Trigaches. Moldurado nas quatro faces, encontra-se bastante deteriorado pela reutilização: os entalhes laterais sugerem que foi usado como peso de lagar; nesse caso, até o próprio topo poderia ter sido aplanado aquando dessa reutilização. O texto — larga­mente danificado — situa-se no fuste, dentro dum campo epigráfico limitado por ranhura. Na face lateral esquerda, foi esculpido em relevo um vaso alongado (de bojo quase lanceolado), de quedesapareceu a boca — a asa mal se distingue. Na face da direita, uma pátera larga, sem umbo, decabo para baixo, cortado acima do meio pelo entalhe.

64 42Dimensões: 110 X 61 X 32. Jarro: 27 X 12. Pátera: 16 X 18,5.

73 41Campo epigráfico: 47 X 50.

D (is) · M (anibus) · S (acrum) / [ASJINIVS / [FJLORENTIN/VS A[NN]0 (rum) · X X X X V (quadraginta quinque) / 5 H(rc) S (itus) E(s£) S (it) T (ibi) T (erra) L (evis)

Consagrado aos deuses Manes. Aqui jaz Asinio Florentino, de quarenta e cinco anos. Que a terra te seja leve.

Alt. das letras: 1. 1: 5; 1. 2: 6; 1. 3: 5; 1. 4: 4,5 (0 = 2,7); 1. 5: 4,5/5. Espaços: 1: 3;2: 2; 3: 2,5; 4: 3,5; 5: 3; 6: 7,5.

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CIL II 116. Barata, Catálogo... 1903 p. 69 n.° 177. Pereira (G.), Estudos Eborenses I 1916 p. 19 n.° 28. Espanca (T.), Inventário... 1966 p. 121 e 123 (repetição). ILER 3208 = 6189.

Variantes: 1. 2: ASINIVS (CIL, Barata, Pereira, Espanca), ASMINIVS (ILER 3208, que corrige no índice); 1. 4: XXXV (Pereira, Espanca).

Parece ter havido intenção de alinhar o texto à esquerda. A fórmula inicial está encostada à direita: dá a impressão de que se pensara inicialmente apenas em D-M, sem o S. Supomos que, de início, o texto esteve muito mais claro, pois já Cornide assinalava no seu tempo «hoy no se lee». De facto, ao nível das 1. 2 a 4, toda a metade esquerda, pelo menos, mais se consegue adivinhar que ler. Na 1. 4 — apesar de seguirmos a leitura já tradicional — não rejeitamos a hipótese de o que nos parece ser um O mais pequeno não passar de uma hedera arredondada.

O gentilicio — Asinius — tem poucos e inexpressivos exemplos peninsulares (1). Florentinus é cognome latino que Kajanto (p. 189) inclui entre os formados a partir do nome de cidades: há mais de centena e meia de exemplos no conjunto do CIL, sendo mais frequente nas províncias; na Península, meia dúzia de testemunhos (2). Se consi­derarmos como certa a ausência do praenomen, o defunto apenas se identifica pelo nomen e cognomen, omitindo a filiação — será, decerto, um indígena romanizado.

A invocação aos deuses Manes e a paleografia sugerem os finais do séc. n.

889 — Foto

Ach: Évora.Par: Museu de Évora. N.° 1828.

Árula funerária em mármore branco do tipo Estremoz/Vila Viçosa, praticamente intacta, pois só lhe foi arrancada uma lasca do lado direito do fuste, ao nível das 1. 1 e 2. Trabalhada nas quatro faces. Sobre o plinto que encima a cornija, um fóculo circular (diâmetro = 9) ladeado por dois toros lisos. Sob a cornija, uma moldura do tipo garganta encestada seguida de filete directo. A inscriçãoocupa o fuste. Na base, um filete reverso e moldura do tipo garganta reversa.

17 11,5Dimensões: 33 X 14 χ 8,8

17 12Campo epigráfico: 14,7 X 14.

• D(is) · M(anibus) · S(acrum) / h(ucius) · CAE-SI-VS · CAE-SI-fANVS]/ A(nnorum) · LX (sexaginta) · GAE-SI-A · VER-NA-CLA / LI-BER-TA · P (onendum) · C(uravit) · /5 H(ic) · S (itus) · E(s£) S (it) T (ibi) · T (erra) · L (evis) ·

Consagrado aos deuses Manes. Aqui jaz Lúcio Césio Cesiano, de sessenta anos. Césia Vernacla, liberta, mandou colocar. Que a terra te seja leve.

(1) Asinius Ausivos Rutili f. (Alava, CIL II 5817 = 2358), M. Asinius Triarius (Badajoz, CIL II 976 = ILER 6134), Asini (Maiorca, CIL II 3675 = ILER 4653).

(2) CIL II 2274 = ILER 3865 (Córdoba), CIL II 3196 = ILER 2606 (Valera — Cuenca), CIL II 4122 = ILER 1311 = RIT 140 e CIL II 4320 = ILER 550 = RIT 395 (Tarragona), CIL II 4564 = ILER 4943 (Barcelona), EE VIII 40 = ILER 3156 (Mérida).

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CIL II 5190. Barata, Catálogo... 1903 p. 76 n.° 199. Pereira (G.), Estudos Eborenses I 1916 p. 18 n.° 26. Espanca (T.), Inventário... 1966 p. 123. ILER 6187. Mangas 1971 p. 334.

Variantes: 1. 3: AVERNACIA (Barata), VERNACIA (Pereira, Espanca); 1. 4: F (CIL, Espanca, ILER); 1. 5: CIL omite um T.

Paginação segundo um eixo de simetria; o ordinator diminuiu o módulo das letras nas 1. 2 e 3 para aí colocar muitos dados, recorrendo, contudo, por outro lado, à pontuação intersilábica que, apesar de não ocupar espaço devido à boa escolha da sua localização, podia ter dificultado a inte­ligibilidade da epígrafe. De resto, a pontuação, que é triangular e de bom recorte, exerce no texto mais uma função decorativa que utilitária, faltando incompreensivelmente (ao contrário, do que Hubner sugere) na 1. 5, após o E e o S. Visível, aqui e ali, a presença das linhas auxiliares. Caracteres actuários, esguios, de vértices sublinhados por pequenos traços: T de barra bastante ampla, H largo, L final cursivo. Na 1. 4, foi gravada a princípio a barra superior do F, mas, advertindo o lapso, o lapicida traçou depois a curvatura do P — foi o ponto triangular, colocado, naturalmente, um pouco mais abaixo do normal, que induziu em erro Hubner e os demais, que leram F.

O gentilicio Caesius é frequente em toda a Península (ILER p. 673); no feminino, surge por diversas vezes como cognome (cfr. n.° 458, de Juromenha). De Caesianus há outros exemplos: em Guadiaro (CIL II 1941 = ILER 1556), na região de Cazlona (CIL II 3322 = ILER 4748) e em Zafra (ILER 5963). M. L. Albertos («Emerita» XL 1972 p. 24) aponta a possibilidade de estes nomes serem indígenas, mas não nos parece muito viável. Vernacla, us, é cognome latino que se regista, por exemplo, noutro texto de Évora (n.° 398). É perfeita a transmissão dos nomes: a liberta tem o genti­licio do patrono, Caesianus formou-se a partir do gentilicio.

A beleza do monumento, sobretudo se atendermos às suas excelentes proporções, pequena dimensão e perfeito acabamento, é índice de cuidadosa oficina epigráfica, denotando também o bom gosto de quem o mandou lavrar.

A presença da invocação aos Manes, a forma simples como são indicados os laços entre a dedicante e o homenageado e a própria paleografia — apontam para os inícios do séc. ii.

Alt. das letras: 1. 1 : 2,2; 1. 2 a 5: 2. Espaços: 1: 1,3; 2 a 5: 0,8; 6: 1.

390 — Foto

Ach: Na muralha romana de Évora.Par: Museu de Évora. N.° 1823.

Ara funerária em mármore cinzento de Trigaches. Trabalhada nas quatro faces, tem destruída a maior parte da frente do capitel, mormente do lado esquerdo. Sobre a cornija, um fóculo amplo,ladeado por toros lisos de voluta em relevo no topo. Encima o fuste uma moldura de gargantadirecta; o campo epigráfico é simplesmente cavado, sem molduração; a base, com moldura de gargantareversa, foi danificada na parte inferior.

35 21,5Dimensões: 73 X 30 X 18,5

36,5 23Campo epigráfico: 26,5 X 23.5.

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T (itus) · GALLEVS / MARCIANVS / AN(norttm) · XX (oiginti) · H(ic) S(àiw) · E(rf) · S(à) · T(£6£) · T (erra) · L(erá) / CAS(sia) · MARGELLA / 5 SOB · PIN [?] · F(aaemfcm) · C(uravit) / ITEM · AMICI / NEMESIACI / EX LAPIDE 'S(estertii) N(ummi) II (rfuo) // NEMESIACI

Aqui jaz Tito Caleu Marciano, de vinte anos. Que a terra te seja leve. Cássia Marcela (...) mandou fazer e também os Amigos Nemesiacos (deram) para o sepulcro (?) dois sestércios. Nemesiacos (?).

Alt. das letras: 1. 1: 2,7; 1. 2 a 6: 2/2,5; 1. 7: 2,5; 1. 8: 2/2,5. Espaços: 1: 1; 2: 0,5/1;3 a 5: 0,5; 6: 0,5/0,7; 7: 0,5/1; 8: 0,3/0,5; 9: 2/2,8. Inscrição da base: alt. das letras — 3/3,5 (último I = 4,7); espaços: 1: 4; 2: 6.

CIL II 5191. Barata, Catálogo... 1903 p. 74 n.° 193. Pereira (G.), Estudos Eborenses I 1916 p. 17 n.° 14. García y Bellido, BRAH CXLVI 1960 p. 144, 145, n.° II, fig. 10. Espanca (T.), Inventário... 1966 p. 122. García y Bellido, Les Réligions... 1967 p. 92 n.° 11. ILER 4792. Alarcão, Port. Rom. 1974 p. 175. Mantas (V.), «Conimbriga» XXI 1982 p. 39-40.

Variantes: Os nexos não são assinalados por nenhum autor (excepto o da 1. 4, indicado por Hubner); 1. 3: ANN (Barata); G. y Bellido une as 1. 5 e 6; 1. 5: SOBRINA (CIL, Barata, Pereira, Espanca), SOB-RINA (G. y Bellido); 1. 7: VEMESIACI (Pereira, Espanca); 1. 8: Exlapidesnii (Pereira); 1. 9: Barata omite-a.

Paginação com alinhamento à esquerda. Pontuação através de pontos circulares (excepto talvez na 1. 5 depois do B), apenas inexistentes na 1. 8; nexos AN (1. 2 e 3) e MA (1. 4) da forma habitual; barra horizontal sobre o N da 1. 8 a indicar abreviatura. Caracteres actuários de altura irregular:V e M muito largos, de vértices inferiores mal definidos; LA (1. 4) de traçado quase cursivo; S geralmente vertical e simétrico; O (1. 5) redondo e mais pequeno, B excelentemente gravado.

A leitura da 1. 5 parece-nos clara: é nítido o ponto e não há vestígio da perna oblíqua do possível R nem do nexo NA. Há, pois, duas possibilidades de interpretação. A primeira, adoptada pela generalidade dos comentadores, aponta para a leitura Sobrin(a), tendo à conta de lapsos do lapicida ou do paginador a colocação indevida do ponto, o esquecimento da perna do R e a omissão do A final. A segunda, inovadora, mas também ela eriçada de dificuldades, procura sobretudo ser mais fiel à leitura, atendendo a que não há no texto interpunctio sy liabar is e havia espaço para o A final: não se poderá ver em sob-pin- uma expressão de certo modo cabalística, própria quiçá dos rituais funerários secretos desta confraria? Não sabemos que significado poderia atribuir-se-lhe: não temos exemplos de sob, em vez de sub, e vocábulos começados por pin -, eventualmente enquadráveis neste contexto, só pinax, quadro, pintura (o retrato do morto?), pinus, com o sentido de coroa de pinheiro, ou o adjectivo pinguis usado, por exemplo, na expressão pingues arae, altares banhados de sangue (sacrifícios rituais?).

Na base da ara encontra-se o vocábulo EMESIACI, que julgamos poder considerar-se apócrifo: não se justifica a falta do N a não ser pelo facto de não ser nítida para quem a quis copiar em baixo a primeira letra da penúltima linha do texto; o M tem forma significativamente diferente dos demais, a barra intermédia do segundo E é mais breve; o S, deitado, mais parece um F cursivo; os II são injustificadamente longos e inclinados. Parece-nos, pois, que se trata duma gravação posterior, destinada quiçá a identificar o conteúdo do monumento.

O sentido da 1. 8 também não é claro e para ela não encontrámos ainda paralelo: a palavra lapis significa, nas inscrições, ora o sepulcro ora a pedra escrita que o cobre: «Lapis cineres iste / recondit sit ergo / tibi terra levis...» (CIL II 617); «collegium Herc(ulis)

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ex collato lapidem p(osuit)» (CIL IX 3383); «(...) lapidem ponendum curavit» (CIL XIII 1981). Assim sendo, os dois sestércios a que se faz referência poderão ser, pelo menos, duas coisas: o custo do monumento (pago por todos) ou a quota com que cada um entrou para a sua aquisição. A primeira hipótese afigura-se-nos mais viável. De qualquer modo, será interessante encontrar outros termos de comparação que nos permitam responder mais cabalmente a esta e outras questões eventuais: por exemplo, teria esta comunidade um mausoléu ou um recinto para sepultura dos seus membros?

Calleus é gentilicio que encontramos em Tavira (n.° 86), identificando Callaea Severina, filha dum Tito, e que poderá reconstituir-se noutro texto de Évora (n.° 386); G. y Bellido (1967) atribui-lhe características indígenas, aproximando-o de antro- pónimos como Calaitis, mas não nos parece aceitável. Marcianus é cognome latino que se regista também em Tavira (n.° 80). Seguimos Hubner na reconstituição do genti­licio Cassia, de que há exemplos no conventus (cfr. n.° 76); Marcellus, α, também se documenta várias vezes (cfr. n.° 103). Pela onomástica (latina) e forma de identi­ficação, à maneira romana, somente omitindo a filiação — poderão ser considerados indígenas romanizados.

O texto assume, pois, particular importância devido à referência feita aos amici nemesiaci, co-dedicantes da homenagem. A expressão tem sido interpretada como designativa duma espécie de confraria, sob a invocação de Némesis, divindade abstracta de origem grega, protectora dos jogos agonísticos, confraria que parece também ter tido, pelo menos aqui, funções funerárias, como diz García y Bellido (1967 p. 92): «A morte prematura de Calleus (...) leva-nos a pensar que estes amici Nemesiaci de Évora, que participaram no seu enterro, formavam um collegium iuvenum Nemesiorum», como o collignium iuvenum Nemesiorum referido no texto CIL XII 22, de Vindium, na Gália Narbonense. Por isso, este monumento é citado entre os poucos testemunhos do culto a Némesis na Península (cfr. G. y B e l l i d o 1967 p. 82-95). No entanto, A. dOrs não se lhe refere no capítulo em que trata das «confradías funeraticias» (Epigrafia Jurídica... p. 384-9).

Não dispomos de dados peremptórios para uma datação. As características textuais (ausência de invocação aos Manes, uso da fórmula F-C) parecem, porém, apontar para a l .a metade do séc. n.

391 — Foto

Ach: Évora, no antigo Convento de S. Paulo.Par: Museu Regional de Évora. N.° 1830.

Ara funerária de calcário. Base e capitel moldurados rudemente, com dois filetes seguidos. O capitel está bastante deteriorado: é possível que nele tivessem existido um frontão triangular com toros laterais eventualmente ladeando um fóculo. A fórmula inicial foi gravada na cornija entre a moldura e o capitel propriamente dito, e a final na moldura da base.

Dimensões: 32,5 χ 14 (cornija e base) X 9,6 (cornija) 7,5 (fuste) 10 (base).Campo epigráfico: 16,3 X 11,6.

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D(w) M (anibus) S (acrum) / CALPVRNI(a) / TITI FILIA / RVFINIA/5NA VIX(ô) AN (nis) I X X XIII (triginta tribus) POS(uti) / CECIA PRIS/CA FIL<I>E P I/E N T (irâae) H(ic) S(ita esi) (sii tibi) T (erra) L(evis)

Consagrado aos deuses Manes. Aqui jaz Calpúrnia Rufiniana, filha de Tito. Viveu trinta e três anos. Cécia Prisca colocou (este monumento) à filha muito piedosa. Que a terra (te seja) leve.

Alt. das letras: 1. 1: 1,2; 1. 2: 1,7 (A = 1,8; L = 1,8); 1. 3: 1,7 (F = 2; I = 1,2); 1. 4: 2 (V = 1,7); 1. 5: 1,7; 1. 6: 1,7 (O = 1; S = 2); 1. 7: 1,7 (E = I = 1,5); 1. 8: 1,5/1,7; 1. 9 : 1 (S = 1,3). Espaços: 2: 0,6; 3: 0,5; 4: 0,8/1,3; 5: 0,5/0,7; 6 a 8: 0,5/0,3; 9: 1,3/0,8.

Encarnação (José d’), «Humanitas» XXIX-XXX 1977-78 p. 78-80 (foto).

Há a sensação de que o texto era demasiado grande para uma ara tão pequena. Aliás, os conhecimentos do gravador não deviam ser fortes, já porque escreveu por extenso uma 1. 3, que poderia ter vindo em siglas, já porque se enganou na fórmula final (ou teria sido de propósito porque lhe faltava espaço?). Por outro lado, houve má compreensão do texto eventualmente dado em minuta: só assim se justificam erros de gravação como I por L (1. 2), A só com uma perna (1. 4), I por P (1. 7), ausência do I (1. 8), G por T (1. 9). No conjunto, uma grande irregularidade de gravação e de paginação, num texto onde as características cursivas são acentuadas (ver os F, os A sem barra, o S, a inclinação geral para a direita).

Calpurnia é gentilicio frequente (cfr. n.° 18), de que há outros exemplos em Evora (inscrições 382 e 399). Rufiniana é cognome que, segundo supomos, surge aqui pela primeira vez na Península; Kajanto (p. 154 = 229) refere três elementos da ordem senatorial com este cognome, 37 exemplos no masculino e uma mulher registados nos volumes do CIL, dos quais 16 no CIL VIII. Cecia ou Caecia é antropónimo que não encontrámos nos índices das grandes colecções epigráficas peninsulares nem mesmo no TLL; Caeciae é o nome dado a duas ilhas do Golfo Sarónico (P l in . 4, 57), por Caecias é conhecido o vento nordeste (G e l l . 2, 22, 24), Caecina é o nome dum ramo da gens Licinia; Schulze (p. 423) regista Ceccius com exemplos no CIL VI (14 625, 32 903, 35 364...) e Caecius (p. 75) com exemplos em Faventia (CIL XI 640), Puteoli (CIL VI 2379a) e outros na Península Itálica. O cognome Priscus documenta-se no conventus (cfr. n.° 231). Estamos, pois, perante uma onomástica latina, apontando até para uma origem itálica remota.

Para além da filiação por extenso — vontade de acentuar o carácter de pessoa livre ? — o texto apresenta como aspecto anómalo a fórmula final reduzida.

A irregularidade com que foram gravados os caracteres, a presença da invocação aos deuses Manes e do adjectivo pientissima apontam para o séc. m.

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Pela sua colocação, o etnónimo refere-se ao patrono da defunta.Onomástica latina: Optatus e Aelius documentam-se no conventus Pacensis;

Scapula não é frequente no mundo romano ( K a j a n t o , p. 225) e os índices do CIL II (p. 1091) apenas registam três exemplos peninsulares: 214 = ILER 3527 e 244 = ILER 5059, ambas de Lisboa, e a marca 49709.

Anote-se que a liberta (1) se identifica apenas mediante o cognome, circunstância que se compreende, se atendermos a que o patrono vem citado com dois nomes (cfr. CILII p. 1200, a que se deverá acrescentar este caso).

Mais um exemplo dum imigrante cluniense (não mencionado por C. Garcia Merino 1975) no nordeste do conventus.

680 — Foto

Ach: Cerca do Convento de S. António, Alter do Chão.Par: Na Quinta da Cerca, a servir de tampo de mesa.

Placa funerária em mármore branco do tipo Estremoz/Vila Viçosa com muita pátina, aqui e além danificada nos bordos. Campo epigráfico praticamente ao mesmo nível da moldura que é do tipo gola directa com ranhura exterior.

Dimensões: 49 X 67 X 10.Campo epigráfico: 33 X 51,7.

SEVERVS / AVITI · F (ilius) / ANN (orum) · XX (viginti) · H(ic) * S(itus) · E (st) / S(it) · T(ibi) · T(erra) · L(evis) · PATER · F (aciendum) * C(uravit)

Aqui jaz Severo, filho de Avito, de vinte anos. Que a terra te seja leve. O pai mandou fazer.

Alt. das letras: 6. Espaços: 1: 1; 2 a 4: 1,5; 5: 5,5.

Saa (Mário), As grandes vias... I 1956 p. 180 (referência). Timóteo (M. F. F. V. Abranches)et alii, «Actas das III Jornadas...» 1978 p. 282 fig. 15.

Paginação cuidada, com alinhamento à esquerda. Pontuação circular, correcta, Caracteres actuários, verticais, regulares: S simétrico; P e R abertos, tendo este último na 1. 4 a perna rectilínea e pouco oblíqua; F esguio.

A epígrafe documenta um estádio avançado de romanização, um segundo estádio diríamos, porque, apesar de vir identificado à maneira indígena, o defunto e seu paiusavam uma onomástica latina, frequente nas zonas de grande influência pré-romana:Avitus abunda no nordeste do conventus, Severus documenta-se por exemplo no concelho de Fronteira (n.° 463).

Pelas características tipológicas e textuais (sem consagração aos Manes, simpli­cidade) — é monumento da segunda metade do séc. i.

(1) J. Mangas não inclui esta inscrição no seu catálogo de libertos (1971) e inclui, ao invés, o n.° 632 — julgamos que houve equívoco no n.° do CIL.

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631 — Foto

Esteia funerária, possivelmente em grauvaque, cinzento-escura, rudemente afeiçoada.Dimensões: 100 χ 65 X 8.

SICAE / MÃELONIS · F (Mae) / H(ic) · S(ita) · E (st)

De Sica, filha de Melão. Aqui jaz.

Alt. das letras: 1. 1: 6,5/7,5; 1. 2 e 3: 6/7,5. Espaços: 1: 6/6,5; 2: 2,5/3; 3: 4,5; 4: 63.

CIL II 169. P ires, AP VI 1901 p. 216-7 = EE IX p. 19. U ntermann, Atlas... 1965 mapa 52 n.° 9. ILER 2430.

Variantes: 1. 2: MELONIS (CIL).

Inscrição colocada na parte superior da face epigrafada para facilitar a leitura, disposta sem qualquer alinhamento, obedecendo porém a distribuição em linhas à lógica do texto. Pontuação circular correcta. Lascou o primeiro L, o nexo MA está claro, E (1. 3) grafado como F. Caracteres actuários: M de vértices arredondados, S esguio e simétrico, O redondo.

Considerámos Sicae em genitivo, atendendo a outros testemunhos dos primórdios do Império; também poderia ser dativo.

Não há muitos exemplos do antropónimo Sica , pelo que esta inscrição é citada frequentemente; discute-se a sua etimologia: para Kajanto, que refere apenas este exemplo (p. 342), será de origem latina, proveniente do nome comum sica, punhal, designando aqui uma personagem masculina ou feminina; para os celtistas — H o l d e r (II col. 1538, s.v. «Sica»), P a l o m a r L a p e s a (O. Lus. 1957 p. 98) e M. L. A l b e r t o s (O. Hisp. 1966 p. 206) — é de origem indoeuropeia, pertencendo a um conjunto de vocábulos com o significado de «vencer», «vitória» (M. L. Albertos). Contudo, os textos que Lapesa cita como paralelos não nos parecem probatórios: CIL II 2737 inclui uma forma Sice de duvidosa leitura; em CIL II 4212 = ILER 1633 = RIT 272, Sige é nome de liberta, possivelmente de origem grega; e Sigerus (CIL II 2752 = ILER 4752), atestado aliás noutras zonas do Império ( A l b e r t o s , O. Hisp. 1966 p. 207), só de longe se poderá correlacionar com Sica . Um testemunho não referido até agora é o doutro Sica, dedicante do voto a uma ninfa, achado talvez no termo de Palência (ILER 625). Supomos que outros achados confirmarão a etimologia pré-romana do antropónimo, tanto mais que Maelo, o patronímico, é claramente lusitano ( U n t e r m a n n , Atlas 1965 mapa 52).

A simplicidade do texto, a paleografia e o uso do genitivo (ou dativo) — apontam para a primeira metade do séc. i.

Ach: Ermida de S. Pedro, Alter Pedroso, Alter do Chão (1).Par: Museu de Eivas.

(1) Tomás Pires indica como local de procedência o «sítio de S. Pedro, próximo de Castelo de Vide». Seguimos a informação de Cornide, veiculada por Hubner; é possível que haja confusão, por parte de Tomás Pires, entre Castelo de Vide e Cabeço de Vide, que se situa próximo de Alter Pedroso.

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632 — Foto

Ach: S. Salvador de Aramenha, Marvão.Par: A metade inferior encontra-se na Quinta do Deão, S. Salvador, na parede à direita da

porta, no pátio da casa do rendeiro (Agosto 1982).

«Cippus ornatus rosa, quae effracta est ex parte dimidia», no dizer de Langsdorf (segundo Hubner), e que o Duque de Lafões ainda teria visto completo; dele resta hoje a metade inferior. É em granito róseo. A fractura ocorreu, em cima, a meio da 1. 2, e levou, em baixo, parte da última linha. Como noutras «esteias» de Ammaia, o campo epigráfico é limitado lateralmente por uma ranhura.

Dimensões: 53 X 44,5.Campo epigráfico: 53 X 36,9.

[L (ucius) · VOCONIVS] / FVSÇVS · H (ic) · S (itus) · E (st) / S (it) · T (ibi) · T (erra) · L (evis) I L (ucius) VOCONIVS / 5 TERTIVS FRAT(ri) / D(e) S (ua) V(ecunia) F(aciendum) C (uravit)

Aqui jaz Lúcio Vocónio Fusco. Que a terra te seja leve. Lúcio Vocónio Tércio mandou fazer para o irmão, a expensas suas.

Alt. das letras: 1. 2: ?; 1. 3: 6; 1. 4 e 5: 5,5 (nexos = 8); 1. 6: 7/8. Espaços: 3: 1,5/2;4: 3,5/4; 5: 3,5; 6: 4/4,5; 7: ?

CIL II 164 e p. L. Jalhay, «Brotéria» XLY 1947 p. 628. Mangas 1971 p. 313. ILER 4669e p. 842. Étienne, AEA 49 1976 p. 218.

Variantes: 1. 2: TVSCVS (todos os autores).

No índice, apesar do «recte puto» com que alude à versão de Langsdorf, Hubner prefere Tuscus. A credibilidade de Langsdorf não nos parece de pôr em dúvida, confirmada aliás por Levy (238, 551), que também lê VOCONVS FVSCVS e pela barra nítida que se vê na pedra; HSE já não está muito claro. A 1. 3 não oferece dúvidas; vê-se mal o L da 1. 4; a 1. 5 lê-se bem e, na 1. 6, é clara a barra do F.

Paginação segundo um eixo de simetria. Curiosos os nexos da 1. 5: F no prolongamento do Re T encimando o A. Caracteres actuários, bem gravados, regulares, muito semelhantes aos do n.° 620, onde há também o nexo NI e o R, fechado, tem a perna de traçado ondulante; O circular.

O cognome Fuscus documenta-se em Ammaia (n.os 608 e 627). Os Voconii parecem ter sido importantes na Península: aos exemplos referidos nos índices do GIL II(p. 1076) (1) haverá a acrescentar, entre outros, o texto de Armuna del Almanzora(Almería), que documenta a oferta dumas termas à República Tagilitana feita por Voconia Avita (Pedro R e s i n a S o l a e M. P a s t o r M u n o z , «Zephyrus» XX VIII-X XIX 1978 p. 333-336). Tertius, cognome latino muito frequente ( K a j a n t o , p. 292), regista-se aqui pela primeira vez na epigrafia do conventus.

(1) Acerca de CIL II 3605, cfr. a correcção de leitura feita por G. Alfõldy (ZPE 53 1983 p. 103-111).

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Ach: Fortios, Portalegre.Par: MNAE. N.os E 3435 e E 7090 (nao encontrámos).

«Bloco de granito».Dimensões: 84 x 43 X 22.

[...] VGGO [ . . . ] / [HE]LVIORVM / [Ll]B(erto) · AN (norum) · III (trium) / H (ic) · S(itus) · E (st) · S(it) · Ύ(ώί) · T(erra) · L(evis)

Aqui jaz..., liberto dos Hélvios, de três anos. Que a terra te seja leve.

Alt. das letras: 1. 1 a 3: 7; 1. 4: 6. Espaços: não indicados.

Lambrino, AP III s. I 1967 p. 215-6 n.° 153 (desenho) = AE 1969-70 240.

Segundo Lambrino, na 1. 1, poder-se-á ler GG ou CG; na 1. 2, só se vê, claramente, a barra horizontal do L; O, mais pequeno.

Não é reconstituível o antropónimo da 1. 1. Helviorum é provável — como assinalam os comentadores do A E — «se a criança morreu mesmo aos três anos, teria sido libertada à nascença por vários Helvii».

634 — Não ilustrado

Ach: Termo de S. António das Areias, Marvão.Par: Museu (em formação) de S. António das Areias.

Paralelepípedo em granito da região, alisado para reutilização lateralmente e em cima onde, aliás, foi aberta uma fenda de secção quadrangular. Campo epigráfico escavado. Do lado esquerdo, uma espécie de espiral gravada: do lado direito, uma «palma» estilizada, ocupando toda a altura da pedra. Uma e outra nos parecem decorações apócrifas, quiçá actuais.

Dimensões: 23/28 X 36 X 18.Campo epigráfico: 26 X 30.

SONTIVS / SEVERAE F (ilius) / ANN(orwwi) X III (tredecim) [vel AN(norum) L X III (trium et sexaginta)] / [...]

Sôntio, filho de Severa, de treze (ou sessenta e três) anos...

Alt. das letras: 1. 1: 5,8/6; 1. 2: 5/5,7; 1. 3: 5. Espaços: 1: 2,5; 2: 3; 3: 3,5; 4: ?

Em publicação.

Caracteres actuários, esguios; S simétrico; O circular. Na 1. 3, do AN só se vê o arranque— torna-se, porém, difícil saber se a letra seguinte é L ou N ; do X resta mais de metade.

A filiação é indicada através do cognome materno — cognome, aliás, comum no conventus inclusive em contexto indígena. O antropónimo Sontius, ainda não documen­tado (que saibamos) na epigrafia peninsular, vem por duas vezes referido em Schulze: na

688 — Não ilustrado

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p. 335, relacionando-o com Sunturius, tal como Hortorius se relaciona com Hortius; na p. 561, citando CIL VI 9847 e relacionando Sontius com uns campos da Lucânia citados por Plínio (N.H. 3, 98) designados Sontiní. Sontius é também nome de rio na Itália superior. À primeira vista, não parece, pois, ter parentesco com a antroponímia pré-romana — deixando-nos na dúvida quanto à sua origem étnica.

635 — Foto

Ach: Local chamado Passareira, Seda, Alter do Chão.Par: Numa arrecadação do Monte de Vila Formosa, Seda (Agosto 1982).

Ara votiva (?) em granito róseo da região, trabalhada nas quatro faces. Capitel liso, com dois toros lisos, como as aras de Marvão. Moldura do capitel constituída por três toros; a base não tem moldura, assentando sobre uma almofada que poderia ter servido para encaixe.

Dimensões: 60 χ ^ χ40 30/25

Campo epigráfico: 38 X 40/38.

TANGINV[S] / LVBAECI F(ilius) / Y(otum) [ ?] A(nimo) [ ?] L(ibens) [ ?] S(olvit) ?]

Tangino, filho de Lubeco, cumpriu o voto de livre vontade.

Alt. das letras: 1. 1 e 2: 6,5/5; 1. 3: 6,5. Espaços: 1: 1; 2 e 3: 3; 4: 13.

Timóteo (M.a Fernanda F. V. A.) et alii, «Actas das III Jornadas...» I 1978 p. 281 fig. 14 (invertida).

Variantes: os editores não leram o monumento.

Na 1. 1, parece-nos claro o antropónimo hispânico Tanginus ou Tancinus — A de barra oblíqua, só o S mal se vê, até porque a seguir ao V há um sulco paralelo. Na 1. 2, depois do V pode ser P ou, de preferência, B cuja metade inferior foi desbastada; AE são hipotéticos — toda a segunda parte do patronímico desapareceu quase por completo. Na 1. 3, a nossa proposta é também hipotética: ο V afigura-se-nos bastante provável; a seguir também podia ser B; o demais pouco se vê. Paginação com alinhamento à esquerda; caracteres actuários, mal desenhados.

635a — Foto

Ach: Valado, Monte das Braguinas, Mártires, Crato.Par: Numa parede, junto duma fonte no Monte das Braguinas (1).

Parte inferior duma esteia funerária em granito da região. Contornos irregulares; não alisada atrás, apresentando maior espessura na parte média.

Dimensões: 47 X 38 X 15/20.Campo epigráfico: 43 X 32.

(1) A solicitação nossa, Maria Helena Frade estudou in loco o monumento. A ela se devem todos os elementos descritivos, que muito agradecemos, assim como a fotografia.

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[ . . . ] / AN (norum) · VII (septem) / H(íc) · S (itus) · E(s<) · S (it) (tibi) · T (erra) · L (evis) / PATER / F (aciendum) · C(uravit) ·

Aqui jaz de sete anos. Que a terra te seja leve. O pai mandou fazer.

Alt. das letras: 1. 1: 9; 1. 2 e 3: 8/7,5; 1. 4: 8/7. Espaços: 1: 2,5/5; 2: 3,5; 3: 4/3,5; 4: 4; 5: 3/1.

S aa (Mário), As grandes vias.,. VI 1967 p. 86.

Variante: 1. 2: S-T-T-L-

Paginação com alinhamento à esquerda. Caracteres actuários, de tamanho irregular, bastante sumidos pela erosão.

Nas linhas que faltam estaria o nome do(a) defunto(a) seguido do patronímico, como é hábito na epigrafia da região em que o monumento se enquadra cabalmente, sendo comparável à esteia da jovem Cílea proveniente do mesmo local.

Note-se a omissão dum T na fórmula funerária.

636 — Foto

Ach: Termo de Marvão.Par: Museu de Marvão.

Fragmento em granito duma epígrafe, cuja tipologia e características se torna difícil definir. Alisada do lado direito, em baixo, e grosseiramente desbastada na face posterior, contém parte da última linha duma inscrição.

Dimensões: 29 X 110 X 10,5.

[ . . . ] / [ . . . ]NIO · TAPO RO

Alt. das letras: 6/7. Espaço 2: 19.

P aço (A.) e A lmeida (F.), RG 72 1962 p. 149-150 = HAE 2139 = AE 1963 147 = ILER 932.

Variantes: [...]ANO (Paço et alii).

Está pouco nítido o começo da linha: parece-nos distinguir metade dum N e a parte inferior dum I. O A é muito aberto e de travessão paralelo à perna da esquerda (não será um V?); P aberto, como um gama grego maiúsculo, O redondo, R aberto.

Somos tentados a interpretar na pedra o antropónimo — e não teónimo, como Vives supôs — Taporus, documentado no conventus Pacensis, porventura exercendo funções de cognome.

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XII — ARITIUM VETUS E SEU TERMO

CIL II p. 22 e 810.T o v a r , Iberische Landeskunde II 1976 p . 268.

Tem-se identificado Aritium Vetus com Alvega, mormente devido ao achamento do n.° 647. Incluímos neste capítulo toda a área norte do conventus, na margem esquerda do rio Tejo e abarcando os concelhos de Abrantes, Gavião, Ponte de Sor, Nisa, Almeirim e Chamusca.

Excluímos do catálogo as três epígrafes seguintes:

A) EE IX 22 e 23

Duas placas funerárias, expostas no MNAE (sem n.°), colocadas por Hubner no capítulo de Aritium Vetus. Foram achadas, no entanto, em Mouriscas (Abrantes), a norte do Tejo — no conventus scallabitanus, portanto.

Estudámo-las com J. Candeias Silva na revista «Abrantes» n.° 1 1982 p. 28-31.

B) Lambrino 1967 n.° 38

Por estar, no MNAE, entre os monumentos do Alentejo, Scarlat Lambrino (AP III s. I 1967 p. 123-4 n.° 38) considerou proveniente daquela região a ara votiva em granito leucocrata de duas micas que diz: REBYRRVS / TAI (filius) · IOVI OP/TIMO MA/XVMO / V(otum) S(olvit). Desco­nhecia, porém, o artigo de LV («Biblos» X 1934 p. 24-25) que a dá como proveniente de Aldeia do Mato, Vale Formoso, Covilhã (conventus Scallabitanus).

Outra bibliografia: AE 1969-70 237 (procedência a corrigir).

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637 — Foto

Ara votiva em granito de grão médio moscovítico de cor beije, trabalhada nas quatro faces. Capitel com foco circular em relevo, ladeado à esquerda e à direita por um toro liso não muito elevado. Moldura de listei simples e chanfro directo; na base, algo danificada, a moldura é de chanfro reverso.

26,5 25Dimensões: 54 X 21,5 X 19

30 26Campo epigráfico: 24 X 21,5.

P(iiMiiw) CARMINI/VS MACER / EX VOTO

Públio Carmínio Mácer, por voto.

Alt. das letras: 1. 1: 2,5; 1. 2: 2 (R = 2,5); 1. 3: 2/2,4. Espaços: 1: 0; 2 e 3: 0/0,3; 4: 15/15,7.

LV, AP XXIX 1933 p. 178 = AE 1934 21 = Figueiredo (José F.), Monografia... 1956 p. 2. Lambrino, AP III s. I 1967 p. 216 n.° 154. Encarnação (José d’), «Conimbriga» XVI 1977 p. 65-6 fotos 5 e 6 (que sintetizamos).

Variantes: 1. 1/2: CARMI[NI]VS (LV), CARMIN[I]VS (Lambrino).

No final da 1. 1, a falha fez desaparecer o N quase por completo: supomos ser admissível o nexo NI. Paginação medíocre: espaços quase inexistentes, ausência de pontuação, translineação incorrecta. Caracteres gravados sem segurança; R (1. 2) não fechado e de haste muito oblíqua.

Não há vestígio de utilização posterior que nos permita pensar ter havido na pedra um teónimo. Decerto a ara fora colocada no santuário a uma divindade bem conhecida, indígena ou não. O dedicante identifica-se com os tria nomina: pelo gentilicio, Carminius, pode estar relacionado com o legado de Tibério, a que se refere o n.° 615; Macer ocorre outra vez na zona (n.° 618, Aramenha) (2). Pela onomástica é, pois, um texto da segunda metade do séc. i.

Ach: Tapada de Pai Eanes, N.a Sr.a da Graça de Póvoa e Meada, Castelo de Vide (1).Par: MNAE. Sem n.°.

(1) Habitualmente dada como proveniente de Nisa, incluímo-la neste capítulo porque só tardia­mente, depois de toda a numeração feita, colhemos em Castelo de Vide a informação de que a Tapada de Pai Eanes pertencia a este concelho. Deveria ter o n.° 611a. Os n.os 637 a 640 possivelmente dedicados a Júpiter Repulsor, vão ordenados pelo nome dos dedicantes.

(2) Sobre a sua ocorrência na Península, ver V. Mantas, «Conimbriga» XXI 1982 p. 64.

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888 — Fotos

Ara votiva em granito biotítico de grão fino, trabalhado nas quatro faces. Na face superior, um fóculo central circular rodeado lateralmente por dois toros lisos, à frente e atrás por frontões triangulares levemente danificados. Moldura de listei simples um tudo-nada oblíquo seguido de garganta directa; na base, três toros paralelos, com a parte inferior destinada à fixação da ara num soco.

26 23Dimensões: 65 X 21,5 X 20

24 23Campo epigráfico: 28 χ 21,5.

GELTIVS / TONGI / F (Mus) · IOVI R/EPVLSO(™) / 5 A(nimo) L(ibens) V(otum) · S (olvit)

Céltio, filho de Tôngio, cumpriu de bom grado o voto a Júpiter Repulsor.

Alt. das letras: 1. 1: 3,5/4; 1. 2 e 3: 3/3,5 (F = 4); 1. 4: 3,5/3,6 (P = 4, S = 5); 1. 5: 4,5/5,5. Espaços: 1: 2; 2: 1,2/1,5; 3: 1/1,7; 4: 1,5/1,7; 5: 1,7/2; 6: 1,2/1,5.

LV, AP XXIX 1933 p. 183-4 = AE 1934 22. Pflaum (H. G.), AlPhO X III 1953 p. 450. Lambrino, AP III s. I 1967 p. 217. Encarnação (José d’), «Conimbriga» XVI 1977 p. 59-61 e 62.

Houve preocupação de ocupar todo o espaço disponível, com alinhamento à esquerda e à direita, mesmo sacrificando uma translineação correcta. Ao teónimo IOVI poderia ter sido dado maior relevo, isolando-o na 1. 3. O nexo VL não impediu que o vocábulo ficasse incompleto. Pontuação, nem sempre existente, de pequenos pontos. Caracteres actuários, de traçado tremido e duetos irregulares: vejam-se o R e o O da 1. 4, por exemplo.

O dedicante é um indígena, a cuja onomástica, de raiz céltica e tipicamente lusitana, se referiu recentemente M. L. Albertos («Estúdios dedicados... 1979, p. 4 5 — Celtius— e p. 48 — Tongius). O teónimo vem depois. Juppiter Repulsor teria, decerto, um santuário na região. Fórmula final clássica.

Ach: Herdade de Pero Galego, Montalvão, Nisa.Par: MNAE. Sem n.°.

639 — Foto

Ara votiva em granito róseo, grão médio, de duas micas, trabalhada nas quatro faces. Capitel e base de volumosas proporções em relação ao fuste, eixo ântero-posterior maior que o transversal. Capitel desgastado na zona central — restam os toros laterais, lisos. São notórias as semelhanças com as aras de Póvoa e Meadas (ver n.° 612). Só do lado direito se apercebe um pouco a molduração do capitel: três toros seguidos de filete directo? Na base parece haver um filete reverso bastante pronunciado em largura, a que se poderão ter seguido dois toros paralelos, actualmente muito danificados.

34 43Dimensões: 64 X 23,5 X 32

34 43Campo epigráfico: 26 χ 23,5.

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CIRME / CRI · SE R / VOTVM / SOLVIT

... cumpriu a promessa...

Alt. das letras: 1. 1: 5/5,5; 1. 2: 5/6,5; 1. 3: 4,5/5,5; 1. 4: 4/5. Espaços: 1 a 4: 0,3/1; 5: 0.

Encarnação (José d5), «Conimbriga» XVI 1977 p. 66-67 foto 7 = AE 1977 371.

Toda a face foi ocupada pela inscrição. Os caracteres, rudemente gravados, de duetos extre­mamente irregulares, não se distinguem bem uns dos outros nas duas primeiras linhas.

A leitura apresentada continua a ser hipotética. Votum solvit lê-se bem. Antes, estará o nome da divindade e a identificação do dedicante ou apenas uma destas indi­cações — se atendermos ao monumento n.° 637, o teónimo poderá ter sido omitido.

640 — Foto

Ach: Herdade de Pero Galego, Montalvão, Nisa.Par: MNAE. Sem n.°.

Ara votiva em granito moscovítico de grão médio, trabalhada nas quatro faces (moldura dedois toros). Capitel elegante: fóculo bem côncavo ao centro, dois toros laterais, frontão triangular adiante e atrás.

Dimensões: 52 χ 30,5 X 21.Campo epigráfico: 25 X 59.

TANGINVS / DOCQVIRI F (ilius) IO/VI REPVLSORI / [ANI]MO [LIBE]/5NS\y(otum) S (olvit)?]

Tangino, filho de Doquiro, cumpriu de boa vontade o voto a Júpiter Repulsor.

Alt. das letras: 1. 1 e 2: 3; 1. 3 a 5: ? Espaços: 1: 1; 2 a 5: ? ; 6 : 5,3.

LV, AP XXIX 1933 p. 184 (referência). Làmbrino, AP n.s. III 1956 p. 63. Encarnação (José d’), «Conimbriga» XVI 1977 p. 61-62 fotos 3 e 4.

Variantes (Làmbrino): 1. 2: não lê IO; 1. 3: IVI[...]IVSCE; 1. 4: I-A-[VS]; 1. 5: NT A-S-I-

Paginação com alinhamento à esquerda e à direita (nas primeiras quatro linhas). Gravação rude e pouco intelegível devido ao material. Distinguem-se bem o nome do dedicante e o patronímico, o mesmo não acontecendo com o teónimo cuja leitura continuamos a apresentar com reservas — como, aliás, a da fórmula votiva.

Exemplo de Tanginus e Docquirus, dois conhecidos antropónimos de origem pré-romana com outros testemunhos no conventus, a epígrafe é mais um documento do culto prestado por indígenas a Júpiter Repulsor.

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Composto e impresso na Gráfica de Coimbra 800 ex.— Julho de 1984

Depósito legal n.° 5722/84

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