INSTITUIÇÕES PARTICIPATIVAS NO...
Transcript of INSTITUIÇÕES PARTICIPATIVAS NO...
INSTITUIÇÕES PARTICIPATIVAS NO BRASIL: UM BALANÇO CRÍTICO A PARTIR DE FONTES DE DADOS ADMINISTRATIVAS E NOVAS PERSPECTIVAS ANALÍTICAS
VI Seminário da Rede Brasileira de Monitoramento e Avaliação (RBMA)19, 20 e 21 de novembro de 2014, em Porto Alegre – RS
Roberto Rocha C. PiresJoana Luiza O. AlencarInstituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA)Diretoria de Estudos do Estado, das Instituições e da Democracia (Diest)
Contexto
⇒ Nos últimos 30 anos, o fenômeno da “participação social” (i.e. envolvimento de cidadãos e organizações da sociedade civil na produção de políticas públicas) passa por transformações importantes:
⇒ Deixa de ser baseado exclusivamente na mobilização social de cunho contestatório e anti-institucional...
⇒ E passa a ser também um fenômeno estatal, envolvendo, organizações, estruturas e instituições formais associadas ao aparato e aos procedimentos administrativos do Estado (vide CF 1988 e legislação subsequente).
Objetivos e percurso
⇒ Fazer um balanço crítico das instituições participativas (IPs) no Brasil, avaliando suas conquistas e desafios pendentes, a partir de dados e registros administrativos.
⇒ Em três etapas: Acompanhamento da evolução das instituições
participativas no Brasil (I); Avaliação da efetividade desses processos – exemplos (II); Discussão dos desafios ao seu fortalecimento (III).
(I) Disseminação e Institucionalização – nível municipal
Média de Conselhos por município (PIRES & VAZ, 2010):– 10, na gestão 1997-2000;– 14, na gestão 2001-2004;– 19 , na gestão 2005-2008;
Conselhos - Expansão temática:▫ Política urbana: 13,1% (2005); 18%(2008);▫ Habitação: 17,6% (2005); 30,7% (2008);▫ M. Ambiente: 36,7% (2004); 47,6% (2008)
OP em todas as regiões (Marquetti et al, 2008): – Mais de 200 cidades com OP em 2000
(estimativa atual = 500+)
Disseminação de conselhos nos municípios brasileiros, por área de atuação
2001 2002 2004 2005 2006 2008 2009Saúde 98% - - - - - - - - - - 98%Assistência Social 93% - - - - - - - - - - - -Criança e Adolesc. 77% 82% - - 93% 83% - - 91%Educação 73% - - - - - - 68% - - 71%Emprego/Trabalho 34% - - - - - - - - - - - -Turismo 22% - - - - - - - - - - - -Cultura 13% - - - - 21% 17% - - 25%Habitação 11% - - 14% 18% - - 31% 43%Meio Ambiente 29% 34% 37% - - - - 48% 56%Transporte 5% - - - - - - - - 6% 6%Política Urbana 6% - - - - 13% - - 18% - -Orçamento 5% - - - - - - - - - - - -Segurança Pública - - - - - - - - 8% - - 10%Defesa Civil - - - - - - - - 26% - - - -Esporte - - - - - - - - - - - - 11%Direitos da Mulher - - - - - - - - - - - - 11%Idoso - - - - - - - - - - - - 36%Juventude - - - - - - - - - - - - 5%Direito das P.c/Def. - - - - - - - - - - - - 9%
Fonte: Pesquisa MUNIC, IBGE.Nota: ‘- -‘ indica dados não disponíveis.
(I) Disseminação e Institucionalização – nível estadual
• Quantidades: Variação de 17 (RJ) a 10 (SE) Conselhos Estaduais em diferentes áreas;
• Média estadual = 14
Fonte: Estadic, IBGE - 2012
(I) Disseminação e Institucionalização – nível federal
Conselhos Nacionais (IPEA, 2010):
• 31 conselhos criados desde 1930, mobilizando mais de 1350 conselheiros titulares
• 10 conselhos criados na década de 1990 (33%)
• 16 criados na década de 2000 (50%), dos quais 15 foram criados entre 2003 e 2010
(I) Disseminação e Institucionalização – nível nacional
Conferências Nacionais (Ipea, 2013):
• 82 conferências nacionais de 2003-2011; totalizando 100 em 2013;
• Apenas 12 conferências até 1988;
• Média de 8 conferências por mandato presidencial em 1990;
• média de 41 por mandato entre 2003-2011
Gráfico 1. Distribuição das conferências típicas por área de política
Fonte: dados da pesquisa.
N = 69
64%13%
11%
12%
Políticas sociais
Garantia de direitos
Desenvolvimentoeconômico
Infraestrutura e recursosnaturais
(I) Disseminação e Institucionalização – nível nacional
Outras “interfaces socioestatais”:
• Ouvidorias: de 40 em 2003 para +/- 280 em 2014 (CGU);
• Consultas públicas;
• Audiências públicas;
• “Reuniões com grupos de interesse”
• Outros: portais, SAC; Disque denuncia, etc...
Percentual geral e por órgão de programas com interfaces socioestatais
2002 2010
Total80.7 92.1
Por Órgão Até 25%dos programascom interface
11.5 dos órgãos 0.0
25% - 50%46.2 2.9
50% - 75%30.8 1.7
Mais de 75%11.5 75.4
Total100 100
Análise de dados do SIGPlan (Sistema de Informações Gerenciais e de Planejamento do Plano Plurianual) – governo federal (Pires & Vaz, 2014):
(I) Disseminação e Institucionalização – conclusões parciais
• Disseminação expressiva: quantitativa + qualitativa
• IPs e outras formas de interface socioestatal se tornaram uma realidade inegável para a atividade governamental
• Integradas aos processos de formulação, implementação ou controle de políticas públicas
no entanto...
(II) Efetividade
- Participação social faz diferença?Se e sob que condições instituições participativas provocariam melhorias na atividades governamental, nas políticas públicas e na qualidade de vida e acesso a bens e serviços públicos por parte dos cidadãos;
- Avaliação de efetividade envolve 3 desafios:- Especificação dos resultados esperados - Capacidade de qualificar o processo participativo - Estabelecer os nexos causais entre processo e resultados
Livro:“Efetividade das Instituições Participativas no Brasil:estratégias de avaliação” (IPEA e PRODEP/UFMG, 2011)
(II) Efetividade - exemplos
Análise comparativa: municípios com um maiornúmero de IPs ativasapresentam maios gastos e desempenho em políticassociais – como saúde, educação e assistência social [Pires & Tomás (2007); Pires & Vaz (2010)]
Estudos econométricos: municípios que possuemOrçamento Participativo: a) gastam mais com saúde e saneamento; b) maior númerode OSCs ativas; c) menorestaxas de mortalidade infantil. (Touchton & Wampler, 2014)
(II) Efetividade - exemplos
Análise de atas e documentos:
- Como são escolhidos os conselheiros;- Processos decisórios;- Estrutura organizacional interna;- ambiente externo...
Tabela 11 - Quem define a pauta CMS CMAS CMDCA Total N % N % N % N %
Definição em reunião 16 32,65 4 13,79 3 6,67 23 18,70 Presidente 5 10,20 1 3,45 2 4,44 8 6,50
Mesa diretoria/ Sec. Executiva 5 10,20 6 20,69 18 40,00 29 23,58 Conselheiro, Mesa Diretora, Secretaria
Executiva e/ou Comissões 3 6,12 1 3,45 0 0,00 4 3,25
Conselheiros c/ aprovação Diretoria ou Presidência 3 6,12 3 10,34 0 0,00 6 4,88
Diretoria/Presidência c/ aprovação de Conselheiros 0 0,00 0 0,00 1 2,22 1 0,81
Com informação 32 65,31 15 51,72 24 53,33 71 57,72 Sem informação 17 34,69 14 48,28 21 46,67 52 42,28
Total 49 100 29 100 45 100 123 100 Fonte: PRODEP - Pesquisa Democracia, Desigualdade e Políticas Públicas no Brasil
(II) Efetividade - exemplos
5,2
21,610,4
30,5
53,3
32,9
52,6
21,1
47,3
11,64
9,4
0%
10%
20%
30%
40%
50%
60%
70%
80%
90%
100%
National Congress's agenda Policies of Ministry responsible forthe conference
Policies from other Ministries
High significance Significant Little significance No impactSource: Ipea (2012)
(III) Balanço Crítico e Desafios
Insuficiência:- Fragmentação;- “áreas intocadas”;- desarticulação;
Desarticulação:- Entre processos participativos (conselho, conferências, ouvidorias, consultas públicas, etc.)- Sinergias não aproveitadas- Conflitos, sobreposições, impasses, etc.
GRÁFICO 3 - Plano espacial de associação: classes temáticas e interfaces socioestatais
ot
Legenda: Tipos de Interface Socioestatal: cs- conselhos cf – conferências ap – audiências públicas cp – consultas públicas ov – ouvidorias rg – reuniões grupos de interesse ot – outros Áreas de Políticas Públicas (classes temáticas): PS – proteção e promoção social DE – desenvolvimento econômico IF – infraestrutura MA – meio ambiente e recursos naturais
DE
MA
PS
IF
cs cf
ov
rg cp ap
(III) Balanço Crítico e Desafios
Qualidade heterogeneidade dos processos participativos:
- Recursos...- carências operacionais
(planejamento, secretaria, disponibilização de informações básicas);
- estrutura organizacional; - Sistematização das
discussões, devolutivas, e apropriação pelos gestores do conhecimento coletivamente construído.
Conselhos, ouvidorias, audiências públicas...
Source: Ipea (2012)
(III) Balanço Crítico e Desafios
Acesso, Inclusão e representação:
- Ampliar acesso/participação de públicos sub-representados(mulheres, negros, indígenas, portadores de necessidades especiais, etc.)
- Qualificar relação entre conselheiros e suas “bases” adoção de “novas práticas” de interação e mobilização social –redes sociais, TI, metodologias de reunião e deliberação (versus práticas “verticalizadas”).;
- Ampliar a transparência, publicidade e comunicação com públicos mais amplos;
Fonte: Ipea (2012)
www.ipea.gov.br/participacao
Obrigado!
Contato:
Participação em Foco (Ipea)
ipea.gov.br/participacao