INSTITUTO DE ENSINO E PESQUISA - Grupo Santa Casa … Maria de... · IEP do Grupo Santa Casa de...

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1 INSTITUTO DE ENSINO E PESQUISA - IEP Programa de Pós-graduação stricto-sensu Medicina e Biomedicina Juliana Maria de Melo Esteves FAZENDO ARTE NO AMBULATÓRIO DE OBESIDADE INFANTIL: A contação de histórias como recurso pedagógico na enfermagem Belo Horizonte 2014

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INSTITUTO DE ENSINO E PESQUISA - IEP

Programa de Pós-graduação stricto-sensu

Medicina e Biomedicina

Juliana Maria de Melo Esteves

FAZENDO ARTE NO AMBULATÓRIO DE OBESIDADE INFANTIL: A contação de

histórias como recurso pedagógico na enfermagem

Belo Horizonte

2014

2

JULIANA MARIA DE MELO ESTEVES

FAZENDO ARTE NO AMBULATÓRIO DE OBESIDADE INFANTIL: A contação de

histórias como recurso pedagógico na enfermagem

Dissertação apresentada ao programa de pós-

graduação do Instituto de Ensino e Pesquisa –

IEP do Grupo Santa Casa de Belo Horizonte

para obtenção do título de Mestre em

Educação em Diabetes

Orientadora: Prof. Dra. Janice Sepúlveda Reis

Belo Horizonte

2014

3

Esteves, Juliana Maria de Melo.

E75f Fazendo arte no ambulatório de obesidade infantil: A contação

de histórias como recurso pedagógico na enfermagem. / Juliana

Maria de Melo Esteves. – Belo Horizonte/MG, 2014.

70f.; il. enc.

Orientadora: Prof. Dra. Janice Sepúlveda Reis

Dissertação (Apresentada ao Programa de Pós-graduação Stricto

Sensu em Educação em Diabetes).

1. Pediatria. 2. Obesidade Pediátrica. 3. Cuidados de

Enfermagem. 4. Qualidade de vida I. Esteves, Juliana Maria de

Melo. II. Título. III. Grupo Santa Casa de Belo Horizonte. IV. IEP.

CDD: 618.92

4

FOLHA DE APROVAÇÃO

5

Dedico este trabalho a todos os anônimos Contadores de

Histórias, pessoas que acreditam no poder mobilizador de

uma história cuidadosamente escolhida, nesse incrível

momento, em que ela adentra o coração da criança,

proporcionando alegria, encantamento, e por fim,

transformando formas de pensar. Em especial, dedico às

pessoas que colaboraram grandemente para a realização

deste estudo: minha irmã Dani e minha filha Mel,

incentivadoras incondicionais, leitoras, revisoras, ouvintes

e peças fundamentais para o enriquecimento dessa pesquisa

e meu filho Pedro, por sua atenciosidade em me auxiliar

com o computador nos momentos de sufoco.

6

AGRADECIMENTOS

Aos meus filhos Pedro e Melissa, por me fazerem perceber a grandiosidade da vida, por

darem sentido ao meu viver.

À minha mãe e irmãs, Dilu, Dani e Brenda, flores da minha vida.

Ao meu João, companheiro de vida, meu “namolado”, como diziam nossos filhos. Marido,

amor e meu porto de sanidade.

À Dra Janice, principal responsável por minhas experiências nesse estudo.

Às Doutoras Ana Cristina e Marcella Consoli, pela colaboração e incentivo.

À Dra Roberta Rocha, e seus residentes endocrinologistas, que abertamente, proporcionaram

momentos profundos de vivência para mim e para as crianças que foram encaminhadas.

À Dra Regina Calsolari, não só pelo grande incentivo, nem por me mandar a São Paulo no

XVIII Congresso de Educação em Diabetes divulgar e dar ao livro o “Selo ANAD”, mas

principalmente, por acreditar na educação voltada para crianças como forma de prevenção.

À Dra Simone Cardoso Pereira, pela valiosa contribuição, sem a qual meu trabalho seria

insipiente.

Ao velho amigo Lair Amaro (Faria, 2011), que cito no trabalho por seu profundo

conhecimento histórico que me auxiliou na pesquisa sobre a Contação.

À Dra Flávia Gazzinelli, aos amigos Marconi e em especial à Isabel, que me ajudaram a

perceber mais do que eu tinha visto.

Aos amigos incentivadores do Hospital Municipal de Contagem, todos.

E por fim, eu nem sei se Ele existe, nem se lê dissertações, e quem sabe foi loucura minha

sentir a presença d’Ele me amparando e fortalecendo meu espírito a cada dificuldade, mas

agradeço- e sempre- a Deus por todos os dias de minha vida, por ter a oportunidade de

aprender a cada dia, por estar viva. “sempre viva”.

7

RESUMO

Este estudo teve como objetivo analisar e descrever o desenvolvimento de um trabalho de

educação em saúde com crianças do ambulatório de obesidade infantil por meio de um plano

de atividades lúdicas como recurso pedagógico. Trata-se de uma pesquisa de intervenção de

caráter descritivo e abordagem quantiqualitativa com um grupo de 18 crianças apresentando

sobrepeso ou obesidade, idade entre quatro e 10 anos e assistido pelo ambulatório de

obesidade infantil no Centro de Especialidades Médicas da Santa Casa de Misericórdia de

Belo Horizonte. A coleta de dados foi realizada por meio de entrevista face a face,

empregando-se questionários semi-estruturados para os responsáveis e as crianças na pré-

intervenção; e questionários não-estruturados para os responsáveis e as crianças na pós-

intervenção. Levantaram-se dados relativos ao grau de parentesco, práticas alimentares e

atividade física dos responsáveis; e os seguintes dados das crianças: práticas alimentares,

atividade física, o brincar (diversão favorita) e o conhecimento sobre a ida ao médico. O

critério para anotações foi a observação não participante, que além das respostas à entrevista,

incluem postura corporal, pausas nas falas, movimentos e expressões significativas

relacionadas às emoções. A intervenção consistiu de contação de história e uso de atividades

lúdicas, desenho e pintura. Realizaram-se análises descritivas, por meio do EPI-INFO 3.5.2 e

análise de conteúdo de Bardin. Resultados levantados sobre o perfil alimentar das crianças

não mostrou variação quanto às preferências, evidenciando o consumo diário de alimentos

como pães, bolos, doces, salgadinhos fritos e refrigerantes. Os pais mostraram adotar os

mesmos hábitos alimentares que seus filhos. Percebeu-se um empenho com relação à adesão

familiar às discussões e a observação do que pode ser o início de uma modificação do

pensamento, por parte de várias crianças, um enfrentamento; o qual se considera um grande

passo para uma tomada de atitude frente à adoção de novos hábitos. Concluiu-se que o

emprego da contação de histórias e a representação gráfica foram recursos interessantes e

eficazes de abordagem em educação em saúde. Foi observado a importância do papel do

enfermeiro educador como facilitador dessa abordagem, favorecendo e despertando a reflexão

crítica da criança.

Palavras chave: Obesidade Pediátrica. Narração. Enfermagem Pediátrica. Educação em

Saúde. Terapia Recreacional.

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ABSTRACT

This study aimed to analyze and describe the development of a health education work with

children of child obesity clinic through a plan of play activities as a teaching resource. This is

a descriptive intervention research and Quantitative and qualitative approach with a group of

18 children presenting overweight or obese, aged four to 10 years and assisted by child

obesity clinic at the Medical Specialty Center of Santa Casa de Misericordia de Belo

Horizonte. Data collection was conducted through face to face interview, using semi-

structured questionnaires for actors and children in the pre-intervention; and unstructured

questionnaires for actors and children in post-intervention. Rose data on kinship, eating habits

and physical activity of those responsible; and the following children's data: eating habits,

physical activity, play (favorite entertainment) and knowledge about going to the doctor. The

criterion for notes was non-participant observation, that in addition to the interview responses,

include body posture, pauses in speech, movement and meaningful expressions related to

emotions. The intervention consisted of storytelling and use of recreational activities, drawing

and painting. We conducted descriptive analyzes, using the Epi-INFO3.5.2 and Bardin

content analysis. Results raised about the dietary profile of children showed no variation in

the preferences, showing the daily consumption of foods such as breads, cakes, pastries, fried

snacks and soft drinks. Parents showed adopt the same eating habits than their children.

Realized is a commitment with regard to family membership to the discussions and the

observation of what could be the beginning of a change of thinking on the part of several

children, a confrontation; which is considered a major step towards making attitude to adopt

new habits. It was concluded that the use of storytelling and plot were interesting and

effective review of health education approach. The important role of the nurse educator as

facilitator of this approach, encouraging critical reflection and awakening the child was

observed.

Keywords: Pediatric Obesity. Narration. Pediatric Nursing. Health

Education. Recreational Therapy.

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LISTA DE TABELAS

TABELA 1 – CARACTERIZAÇÃO DAS CRIANÇAS PARTICIPANTES DA PESQUISA-------24

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LISTA DE FIGURAS

FIGURA 1 –DESENHO DO ESTUDO “FAZENDO ARTE NO AMBULATÓRIO DE OBESIDADE INFANTIL:

A CONTAÇÃO DE HISTÓRIAS COMO RECURSO PEDAGÓGICO NA ENFERMAGEM .......................... 24

FIGURA 2–INVESTIGAÇÃO SOBRE A RELAÇÃO DA CRIANÇA COM SEU MODO DE BRINCAR ......... 32

FIGURA 3 - CONHECIMENTO DA CRIANÇA SOBRE O MOTIVO DA CONSULTA AO

ENDOCRINOLOGISTA ............................................................................................................. 35

FIGURA 4: PINTURA LIVRE COM TINTA PARA PINTURA A DEDO EM FOLHA DE PAPEL A3............ 40

11

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ................................................................................................... 13

2 OBJETIVOS ....................................................................................................... 16

2.1 OBJETIVO GERAL .............................................................................................. 16

2.2 OBJETIVO ESPECÍFICO ....................................................................................... 16

3 REFERENCIAL TEÓRICO ................................................................................ 17

3.1 A OBESIDADE INFANTIL ...................................................................................... 17

3.2 A EDUCAÇÃO EM SAÚDE ..................................................................................... 19

3.3 A CONTAÇÃO DE HISTÓRIAS ................................................................................ 20

3.4 O PAPEL DO ENFERMEIRO COMO EDUCADOR ......................................................... 22

3.5 AS REPRESENTAÇÕES SOCIAIS ........................................................................... 23

4 METODOLOGIA ................................................................................................ 24

4.1 TIPO DE ESTUDO E CASUÍSTICA .......................................................................... 24

4.2 CENÁRIO E SUJEITOS DO ESTUDO ...................................................................... 25

4.3 TAMANHO DA AMOSTRA ..................................................................................... 26

4.4 COLETA DE DADOS ............................................................................................ 26

4.5 ANÁLISE DE DADOS ........................................................................................... 27

4.6 INTERVENÇÃO EDUCATIVA ................................................................................. 28

4.7 ASPECTOS ÉTICOS ............................................................................................ 29

5 RESULTADOS ....................................................................................................... 30

5.1 RESULTADOS SOBRE O “BRINCAR” – A INTEGRAÇÃO DA CRIANÇA COM O MEIO ..... 31

5.2 TENSÕES NO AMBIENTE FAMILIAR ....................................................................... 33

5.3 AVALIAÇÃO PÓS-INTERVENÇÃO COM A CRIANÇA .................................................. 36

5.3.1 RESULTADO DA PRIMEIRA PERGUNTA DA ENTREVISTA ......................................... 36

5.3.2 RESULTADOS DAS PERGUNTAS Nº2 E Nº3 DA ENTREVISTA .................................... 37

5.4 AVALIAÇÃO DOS RESULTADOS DE CONTAÇÃO DE HISTÓRIAS NO AMBULATÓRIO ..... 38

5.5 O DESENHAR, PINTAR, COLORIR NA PERSPECTIVA DO ESTUDO .............................. 39

6 DISCUSSÃO ...................................................................................................... 41

7 CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................... 48

12

7.1 LIMITAÇÕES DO ESTUDO .................................................................................... 49

REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 50

ANEXOS ................................................................................................................... 53

ANEXO A – PARECER DO CEP (COMITÊ DE ÉTICA E PESQUISA) .................... 54

ANEXO B – DECLARAÇÃO DE AUTORIZAÇÃO DO ESTUDO NO ESPAÇO DO

CEM (CENTRO DE ESPECIALIDADES MÉDICAS) ................................................ 58

ANEXO C - INFORMAÇÕES ADICIONAIS DO LIVRO ............................................ 58

ANEXO D - FICHA CATALOGRÁFICA DO LIVRO TRABALHADO ....................... 59

APÊNDICES ............................................................................................................. 61

APÊNDICE A - TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO ............ 61

APÊNDICE C - QUESTIONÁRIO PÓS INTERVENÇÃO(Adulto) ............................ 64

APÊNDICE D-AVALIAÇÃO INICIAL COM A CRIANÇA.......................................... 65

APÊNDICE E - AVALIAÇÃO PÓS INTERVENÇÃO COM A CRIANÇA .................. 66

APÊNDICE F - A HISTÓRIA ..................................................................................... 67

APÊNDICE G - CAPA E CONTRACAPA DO LIVRO INFANTIL ............................. 66

13

1 INTRODUÇÃO

O sobrepeso e a obesidade infantil são hoje uma epidemia mundial que vem atingindo altas

prevalências (ROKHOLM, BAKER, SORENSEN, 2010). Um estudo Europeu confirmou a

alta prevalência de sobrepeso e obesidade em crianças em idade escolar (BRUG, VAN

STRALEN, TE VELDE, CHINAPAW, DE BOURDEAUDHUIJ, LIEN, BEREET al, 2012).

No Brasil, a Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF 2008-2009) realizada pelo Instituto

Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em parceria com o Ministério da Saúde revelou

que a população brasileira (crianças, adultos e adolescentes) tem aumentado de peso em

velocidade acelerada. O excesso de peso atinge metade da população adulta, e uma em cada 3

crianças na faixa etária de 5 a 9 anos de idade. Sendo assim, a obesidade é um importante

problema de saúde pública tanto em países desenvolvidos, quanto em desenvolvimento.

A obesidade infantil tem consequências na adolescência e na vida adulta. Ela diminui a

qualidade e esperança média de vida (entre 5 a 8 anos), uma vez que aumenta o risco do

aparecimento de doenças como hipertensão, diabetes, problemas cardiovasculares, alterações

hormonais, metabólicas, psicológicas, estéticas, dentre outras (PÊGO-FERNANDES,

BIBAS,DEBONI,2011). A obesidade, também, leva a situações de nervosismo, irritação,

fraqueza, bem como ao isolamento (PÊGO-FERNANDES, BIBAS, DEBONI, 2011).

Em um estudo prospectivo acerca dos fatores de risco para a obesidade em crianças, do

nascimento aos 9,5 anos de idade, identificaram-se importantes fatores de risco, dentre eles: a

obesidade dos pais, a não preocupação dos pais com o estado nutricional dos filhos, o

temperamento das crianças, o desejo das crianças em comer alimentos calóricos, entre outros

(AGRAS,HAMMER, MCNICHOLAS, KRAEMER,2004).

Vários fatores desempenham um papel preponderante no desenvolvimento e manutenção da

obesidade dentre eles os culturais, biológicos, comportamentais e ambientais. Sendo que os

fatores comportamentais e ambientais estão ligados aos hábitos, preferências, práticas

alimentares, enfim, o modo de vida da família (BOOG, 2013).

14

Estudos têm demonstrado a necessidade de abordar o sobrepeso e a obesidade em crianças

como uma forma de prevenção a futuras complicações oriundas desse processo de acúmulo de

fatores de risco, e consequente melhora da qualidade de vida e da saúde (OMS, 2009; ADA,

2013; LAKE, 2013). Faz-se necessário a utilização de estratégias que sirvam de ponte entre a

criança e a informação e o conhecimento, de forma dialógica, emancipadora, participativa e

criativa, levando em conta a sua formação, seu cotidiano, bem como suas representações

sociais. As representações permitirão conhecer a maneira como as pessoas pensam e agem

em relação a um determinado assunto, e uma vez conhecendo as pessoas é possível direcionar

uma intervenção para as reais necessidades dos mesmos (MOSCOVICI, 2009).

É preciso uma ponte entre as informações e o sujeito. Esta ponte é a Educação em saúde, parte

essencial para a promoção da saúde, que é um processo que visa a autocapacitação de vários

grupos sociais para lidar com problemas fundamentais da vida, como por exemplo a

alimentação. Os profissionais de saúde em geral, em especial os enfermeiros, são um dos

principais mediadores para que isto ocorra (BRASIL, 2007). Trabalhar educação em saúde na

Enfermagem com crianças exige um empenho criativo que seja capaz de envolvê-las, sem

aprisioná-las com regras preestabelecidas de condutas em saúde e prevenção de doenças

(ESTEVES; BENTO, 2012).

Uma maneira de envolver as crianças é por meio da arte e das atividades lúdicas, que

propõem conduzir o participante a atingir os objetivos propostos. Acredita-se que a proposta

lúdica e atrativa como desenho, pintura e a contação de histórias sejam instrumentos viáveis e

interessantes que proporcionarão à criança momentos de entrosamento, contribuindo para que

ela vivencie oportunidades de reflexão sobre a adoção de hábitos que são fundamentais para

uma vida mais saudável, e consequentemente, promover o encontro com o pensamento crítico

e o envolvimento com seu processo de adesão a uma proposta terapêutica, sendo uma das

tarefas do enfermeiro, atuar na prevenção e promoção da saúde de forma a atingir mais

eficientemente a compreensão do público (RAVELI, 2005).

Diante deste contexto, este trabalho justifica-se pelo fato de existirem poucos estudos e

métodos pedagógicos que ofereçam à criança, meios para lidar com as mudanças necessárias

no tratamento da obesidade infantil, bem como pela escassez de materiais e propostas de

métodos em educação em diabetes que promovam a adesão da criança ou que pelo menos a

15

ajude a refletir sobre seu processo saúde/doença, sobre a promoção da alimentação saudável e

a importância da adoção de novos hábitos.

Acredita-se que contação de histórias pode ser uma importante ferramenta em Educação e

Saúde para futuras investigações acerca da implementação de métodos para sensibilizar a

criança obesa ou com sobrepeso sobre os cuidados com sua saúde tornando-as sujeitos ativos

de seu tratamento. Acredita-se, também, que a adoção dessas ferramentas pela enfermagem

pode viabilizar a comunicação entre o profissional de saúde e o universo infantil,

proporcionando a expressividade e a oportunidade de verbalização por parte da criança

(SUNDERLAND, 2005), e contribuir com os pressupostos de orientação clínica já validada

no ambiente hospitalar para que a criança possa se inserir nesse processo de controle

necessário ao seu próprio tratamento (BRASIL, 2011).

16

2 OBJETIVOS

2.1 Objetivo geral

Analisar e descrever o desenvolvimento de um trabalho de educação em saúde com crianças

do ambulatório de obesidade infantil por meio de um plano de atividades lúdicas como

recurso pedagógico.

2.2 Objetivo específico

Empregar a contação de história e representação gráfica (desenhos, pintura, colagem)

na intervenção com crianças priorizando a importância de escolhas saudáveis de

atividade e alimentação, tendo como recurso o livro infantil produzido pela

pesquisadora;

Mostrar a importância da contação de história como uma estratégia de educação em

saúde para crianças;

Verificar o que a atividade lúdica proporciona às crianças com relação a mudanças de

comportamento, atividade física e hábitos alimentares;

Levantar questionamentos que possam surgir ao longo da pesquisa sobre a relação da

criança frente à necessidade de atividade física e mudanças alimentares.

Abordar possibilidades variadas de atuação do enfermeiro educador em diabetes em

relação ao cuidado de crianças com sobrepeso ou obesidade.

17

3 REFERENCIAL TEÓRICO

3.1 A obesidade infantil

A obesidade infantil é uma doença crônica, complexa, de etiologia multifatorial, caracterizada

pelo aumento da gordura corporal ou excesso de gordura no tecido adiposo, numa extensão

em que a saúde pode ser prejudicada. Emerge como consequência perversa da nova lógica

econômica adotada pela civilização (SBP, 2012).

Na maioria dos casos a obesidade se desenvolve pela associação de fatores genéticos,

ambientais e comportamentais e se expressa pelo sedentarismo vicioso e por hábitos

alimentares incompatíveis com a existência saudável, sendo que o consumo excessivo de

alimentos ricos em gordura saturada, bebidas hipercalóricas e baixos níveis de atividade

física, determinaram uma pandemia de sobrepeso e obesidade, e suas consequentes

comorbidades, as doenças cardiovasculares isquêmicas e diabetes (RIBEIRO, 2006; SBP,

2012).

O diagnóstico da obesidade é clínico, baseado na história clínica e nutricional (quantitativa e

qualitativa), no exame físico detalhado, que busca de sinais relacionados e distúrbios

nutricionais, e em dados antropométricos. Os exames subsidiários podem ser utilizados para

obtenção de dados mais precisos sobre a composição corporal, para investigação de possíveis

causas da obesidade e para diagnóstico das repercussões metabólicas mais comuns da

obesidade, entre as quais estão diabetes, dislipidemias, alterações do metabolismo,

hipertensão arterial, doença hepática gordurosa não alcoólica, síndrome da apneia obstrutiva

do sono, entre outras (SBP, 2012).

Em Belo Horizonte, um inquérito epidemiológico com 1.450 estudantes de 6 a 18 anos, em

que foram aferidos os dados: peso, altura, pressão arterial (PA), espessura de pregas cutâneas,

circunferência da cintura, atividade física, colesterol total (CT), LDL-c, HDL-c, e hábitos

alimentares, mostrou que estudantes com sobrepeso ou obesos, assim como os estudantes com

baixos níveis de atividade física ou sedentários apresentaram níveis mais elevados de PA e

perfil lipídico de risco aumentado para o desenvolvimento de aterosclerose (RIBEIRO, 2006).

18

A obesidade vem crescendo em proporções alarmantes em todo o mundo, tanto em adultos,

quanto em adolescentes e crianças, gerando limitações significativas no direito à saúde nas

distintas faixas etárias, além de custos orçamentários relevantes para o tratamento das

comorbidades correlatas (BARROS FILHO, 2004).

A obesidade infantil tem alcançado índices preocupantes e sua ocorrência na população

brasileira tem adquirido grande significância na área da saúde, principalmente devido ao

impacto que causa na vida das crianças, trazendo conseqüências físicas, sociais, econômicas e

psicológicas. Estudos enfatizam a depressão, a ansiedade, a competência social, distúrbios

hormonais e os problemas comportamentais, dentre os múltiplos fatores relacionados à

obesidade infantil (LUIZ, 2005). A obesidade infantil está mobilizando profissionais da

saúde, autoridades, escolas e sociedade em geral na busca por soluções preventivas.

(GOMES, 2012).

A obesidade infantil tem fortes ligações com aspectos emocionais das crianças (SBP, 2012). É

o emocional que motiva e faz com que essa criança brinque mais e exponha-se mais no

mundo (MELLO, 2004). A criança obesa sofre reações em diversos ambientes. Nas lojas, não

existem vitrines que se pareçam com ela, no universo dos brinquedos, não há bonecas ou

heróis modelos de atividade física que sejam parecidos com a imagem que ela vê, refletida no

espelho.

Na escola, muitas vezes sofrem segregação em brincadeiras de correr ou de bola quando

ocorrem competições. Algumas crianças relatam serem os últimos a serem escolhidos por

repetidas vezes. Mas não estamos fazendo aqui um resgate estético dos problemas da

obesidade, estamos sim, tentando elencar vários fatores que acarretam desgaste emocional

para a criança obesa, e a segregação do grupo é um desses fatores, pois é nas interações que a

criança vai construir sua identidade enquanto sujeito (VIANA, 2002).

Um estudo realizado em Portugal nos fala que as crianças obesas tendem a tornar-se jovens e

adultos obesos e, especialmente nos casos extremos de excesso de peso, o risco de

aparecimento futuro de doenças cardiovasculares é superior ao da população em geral. Para

além das consequências na saúde propriamente dita, interessa considerar ainda as implicações

sociais e psicológicas do excesso de peso. As crianças obesas tendem a ser isoladas pelo

19

grupo, tendem a desenvolver menor autoestima e tendem a serem menos convidadas para

participar em jogos desportivos (VIANA, 2002).

Existem também crianças que lidam muito facilmente com essa problemática, que não

apresentam qualquer manifestação de conflito entre a imagem corporal desejada e a real.

Porém, mesmo as crianças que não são discriminadas, estão passíveis de desenvolver outras

complicações da obesidade infantil, como as comorbidades associadas ao aumento do peso

corporal já citadas (LAKE, 2013).

Percebe-se assim, que o tratamento da obesidade deve levar em conta todos os aspectos

relacionados ao indivíduo, e necessita de um trabalho multidisciplinar. O indivíduo necessita

de uma assistência integrada, que o perceba como ser pleno de emoções que podem interferir

na aceitação ou não de um tratamento ou proposta terapêutica. É importante salientar que o

fator emocional vem trazer ao processo terapêutico um peso que pode ser decisivo na

aceitação da proposta de um tratamento (SOUSA, 2010).

Uma das ferramentas que devem ser utilizadas nas atividades da equipe de saúde, para

auxiliar no tratamento da obesidade é a educação em saúde, em que é possível realizar

intervenções com as crianças, levando em consideração a necessidade real de cada uma e o

mundo lúdico em que está inserida. Seus medos, anseios e necessidades devem ser respeitados

para que ela seja capaz de aceitar o tratamento de forma mais efetiva. Importante salientar que

a necessidade de uma expressividade voltada para atividades lúdicas é um grande instrumento

que pode ser um aliado no processo terapêutico (SIMÕES, 2008).

3.2 A educação em Saúde

Segundo a WHO (1998) a educação em saúde é entendida como uma combinação de ações e

experiências de aprendizado planejado com o intuito de habilitar as pessoas a obterem

controle sobre fatores determinantes e comportamentos de saúde.

A educação em saúde relaciona-se com a aprendizagem, e é desenhada para alcançar a saúde,

deste modo é necessário que esta seja voltada a atender a população de acordo com sua

realidade. “Isto porque a educação em saúde deve provocar conflito nos indivíduos, criando

20

oportunidade da pessoa pensar e repensar a sua cultura, e ele próprio transformar a sua

realidade (OLIVEIRA; GONÇALVES, 2004, p. 761).

Existem várias formas de se passar uma mensagem sobre educação em saúde. Podemos usar

os meios tradicionais, também importantes e indispensáveis, como a orientação formal, a

prescrição da dieta adequada, o reforço verbal da importância da adesão ao tratamento, mas

podemos também, envolver a criança e seu cuidador nesse processo de compreensão,

utilizando formas de se chegar a esse conhecimento que contemplem as necessidades visuais,

cognitivas e motivacionais da criança (RAVELI, 2005).

De acordo com a afirmação supracitada, podemos pensar que o uso de ferramentas capazes de

envolver emocionalmente a criança, que auxiliem em seu processo de compreensão do

tratamento e que a torne participante direta no seu processo de restabelecimento da saúde, são

instrumentos de apoio no processo de educação em saúde da criança.

A inserção da arte no cotidiano da saúde, bem como a contação de história, têm sido abordada

de forma interessante em trabalhos recentes. Estudo realizado com crianças hospitalizadas na

Santa Casa de Misericórdia de São Paulo indicou os efeitos positivos da atividade lúdica com

um grupo de 15 crianças com idade entre cinco e dez anos. Constatou-se alterações positivas

na maioria das crianças observadas, depois da atividade lúdica desenvolvida pelos contadores

de histórias, tendo ocorrido um aumento da interação das crianças com seus pais presentes no

hospital, com outras crianças do quarto ou dos quartos vizinhos, um aumento nas suas

movimentações, maior aceitação dos alimentos, uma diminuição do número de reclamações,

uma auto avaliação de diminuição de dor e um estado emocional mais alegre e/ou calmo

(MUSSA, 2008).

3.3 A contação de histórias

Desde a antiguidade, antes mesmo do surgimento da escrita, as tradições orais eram passadas

de gerações a gerações. Algumas histórias eram contadas nas paredes das cavernas através do

registro de símbolos. A contação fortalecia os laços sociais à medida em que reunia em torno

dos contadores toda uma comunidade tribal. Ainda, nosso modelo ocidental cristão perpetuou-

se devido à manutenção da oralidade entre povos. Mantinha-se aí uma identidade cultural de

uma sociedade. Após o surgimento da escrita, as histórias eram registradas também por

21

símbolos gráficos e podiam ser lidas sistematicamente. A exemplo disso, podemos citar a

mitologia, as lendas, parlendas, parábolas, que atravessaram o tempo. A contação de histórias

fazia parte do cotidiano familiar (FARIA, 2011).

Em se tratando do cotidiano familiar, ainda nos tempos de hoje, mesmo diante de toda

tecnologia e acesso a meios de comunicação eletrônicos cada vez mais sofisticados, toda

criança gosta de ouvir histórias, não só pela narrativa em si, mas pelo contato afetivo que está

envolvido no processo de contação e escuta. Sua curiosidade natural é aguçada por narrativas

que abordam temas conhecidos (ligados ao seu cotidiano) e desconhecidos (universos

fantásticos que as atraem e encantam). Além disso, ler para as crianças, desde as mais tenras

idades, é muito mais do que uma forma de entretê-las. É uma atividade prazerosa que pode, de

fato, beneficiar o seu aprendizado (SUNDERLAND, 2005).

A mesma autora supracitada coloca que a contação de história pode ser um momento

terapêutico em que a criança tem a oportunidade de internalizar uma história, reconhecer-se

como parte dela e refletir sobre o conteúdo, integrando-se ao processo de contação,

beneficiando-se da completude do momento, que propicia seu posicionamento frente a

problemas vividos, conscientes ou não.

Além disto, a contação de histórias pode ser uma ferramenta interessante para se trabalhar

questões da educação em saúde, e quando realizada de forma dirigida e organizada para

atender a um objetivo direcionado, pode ser um valioso instrumento na construção de uma

proposta sólida de trabalho voltada para crianças, as quais poderão apoderar-se do

conhecimento trabalhado e colocando-o em prática (ESTEVES, BENTO, 2012). Esta

ferramenta pode ajudar os profissionais de saúde na promoção da saúde.

As histórias podem ser contadas a partir de textos, revistas, álbuns seriados, apresentações de

slides em sofisticados mecanismos de reprodução, e por fim, contadas a partir de livros, que

mesmo diante de toda tecnologia, ainda se faz um poderoso instrumento de educação. O livro,

enquanto veículo transmissor de uma narrativa ou história abre uma porta para o mundo, in-

troduzindo o pequeno leitor ou ouvinte a uma imensidão de coisas novas e interessantes. A

relação que as crianças pequenas estabelecem com o livro é essencialmente lúdica. Um campo

de descobertas se apresenta à criança que exercita o contato com o livro (MUSSA, 2008).

22

3.4 O papel do enfermeiro como educador

O Enfermeiro desempenha função importante para a população, uma vez que participa de

programas e atividades de educação em saúde. Sendo assim, ele precisa “identificar os níveis

de suas ações no processo educativo, refletindo a necessidade de se desvincular da sua prática

assistencial, colocando-se como educador justamente pela ação recíproca da reflexão das

pessoas, entendendo que ele não é o dono do saber e sim um cooperador que partícipe deste

processo transformador” (OLIVEIRA, GONÇALVEZ, 2004, p.763).

Como profissional de saúde, o enfermeiro está inserido no contexto que norteia a Educação

em Saúde, por sua proximidade com esta prática, visto que é necessário orientar a população,

mostrando alternativas para que esta tome atitudes que lhe proporcione mais saúde. Ele deve,

como educador em saúde, contribuir para a conscientização individual e coletiva,

questionando as responsabilidades e os direitos à saúde (OLIVEIRA, 2004).

Para que esta conscientização aconteça é preciso que o enfermeiro enxergue o paciente como

um ser humano capaz, que direciona sua história de vida, que pode e deve apoderar-se dessa

história, pois ele tem suas marcas, vivências e significados, tem seus medos, mitos e

recriações. O paciente obeso, no caso a criança, traz consigo todo um aparato mental que

molda e conduz seus hábitos e atitudes. Para a compreensão desse contexto, tão amplo e tão

complexo, faz-se necessário considerar as Representações Sociais envolvidas, que é um passo

essencial para lidar com os envolvidos no processo. É preciso ver o ser humano como um ser

ativo e produtor de seu conhecimento e sua história (MOSCOVICI, 2009).

O enfermeiro deve atentar-se para a completude da situação em que a criança está inserida,

proporcionando momentos de reflexão, sem, contudo, penalizar a criança por sua obesidade

ou sobrepeso. A criança deve ser ouvida, em suas argumentações, deve ser respeitada em seus

hábitos e para que alcancemos uma mudança de comportamento é preciso tocar mais fundo ao

coração da mesma. É preciso mexer com seus sonhos, seus desejos, e objetivos. Não obstante

os pais também devem fazer parte desse processo, visto que são os provedores dessa

alimentação e são também os motivadores (ou desmotivadores) da adoção de uma vida mais

ativa e mais saudável (ANGELI, 2012).

23

3.5 As Representações Sociais

A representação social é uma construção mental da realidade que torna possível compreender

e organizar o mundo. É uma forma de conhecimento do senso socialmente compartilhado e

elaborado. Este conhecimento é criado, difundido e recriado pelos sujeitos por meio da

comunicação, e a maneira como as representações são comunicadas implicam em diferenças

nos conteúdos e estruturas representacionais (MOSCOVICI, 2009).

Em seu conjunto as representações sociais se constituem um sistema aberto, heterogêneo,

marcado por acordos e conflitos entre os sujeitos. Elas são concebidas como estruturantes das

práticas e definem o que é lítico ou inaceitável dentro de um determinado contexto social

(GAZZINELLI; REIS; PENNA, 2004).

As representações são modos de sentir a realidade no senso comum, elaborado e

compartilhado por outros socialmente semelhantes. A alimentação e a prática de atividade

física têm relação com o universo psíquico, cognitivo e cultural dos sujeitos, os quais irão

influenciar o comportamento dos mesmos. O comportamento é orientado pelas

representações sociais, e contribui para construir novas representações (MOSCOVICI, 2009).

Segundo Gazzinelli, Reis e Penna (2004, p. 203) “as representações devem ser consideradas

nos processos educativos e, quanto a isso, não existe qualquer questionamento. Trabalhos

educativos que não se preocupam em levantar as noções que os sujeitos têm sobre

determinado fenômeno são vistos como ultrapassados e equivocados com relação ao modo

como efetivamente se dá o processo de conhecer”.

24

4 METODOLOGIA

4.1 Tipo de estudo e casuística

Trata-se de um pesquisa interventiva de caráter descritivo e com uma abordagem

quantiqualitativa. O desenho do estudo é mostrado na figura 1.

Figura 1 – Desenho do estudo “Fazendo arte no ambulatório de obesidade infantil: A

contação de histórias como recurso pedagógico na enfermagem”

Fonte: Dados da Pesquisa

25

Esta pesquisa foi dividida em três fases: pré-intervenção, intervenção e pós-intervenção. Na

pré-intervenção ocorreu entrevista face a face com os pais e as crianças. Utilizou-se um

questionário semi-estruturado contendo dados sobre grau de parentesco, práticas alimentares e

atividade física dos pais. O questionário das crianças continha dados relativos às suas práticas

alimentares e atividade física, o brincar (diversão favorita) e o conhecimento sobre a ida ao

médico. A intervenção educativa consistiu na contação de história, e um momento pós-

contação, em que a criança irá verbalizar o que entendeu da história.

A terceira fase, pós-intervenção, ocorreu aproximadamente 1 mês após a contação de história.

Um mês foi o período aproximado de retorno da criança ao ambulatório. Nesta fase as

crianças fizeram uma recontação da história do coelhinho e logo após a expressão plástica.

Também foi realizada uma outra entrevista com os pais em que se levantou a impressão que

tiveram em relação à intervenção e uma entrevista com a criança para averiguar a sua

identificação com a história e possibilidade de novos posicionamentos. Ambas as entrevistas

foram feitas com a utilização de um questionário não-estruturado.

4.2 Cenário e Sujeitos do Estudo

Os sujeitos desta pesquisa foram 20 crianças em tratamento de sobrepeso e obesidade, com

idade entre quatro e dez anos, acompanhadas pelas mães ou responsáveis.

Estas crianças foram atendidas no Ambulatório Infantil de obesidade do Centro de

Especialidades Médicas- CEM da Santa Casa de Misericórdia de Belo Horizonte, MG. O

referido Centro de Especialidades atende a um público diversificado em suas demandas e

referente à idade. Possui atendimento especializado em Endocrinologia, com profissional

específico a diferentes fases da vida, sendo este estudo realizado no ambulatório de obesidade

infantil.

As crianças eram pesadas e medidas pelo endocrinologista antes das consultas, vestindo

roupas leves, e sem calçados. Utilizou-se a balança antropométrica tradicional mecânica que

fica na entrada do consultório. A pesquisadora acompanhava a tomada dos dados

antropométricos de cada criança, registrando-os a cada tomada, junto ao médico

endocrinologista.

26

Foram utilizados como Critérios de seleção: Crianças de quatro a 10 anos em tratamento de

sobrepeso ou obesidade, que fazem acompanhamento ambulatorial com endocrinologista no

Centro de Especialidades Médicas da Santa Casa de Misericórdia de Belo Horizonte.

Os critérios de exclusão foram: crianças com algum déficit nas funções cognitivas que impeça

de responder o questionário de forma adequada.

As crianças menores de quatro anos de idade foram excluídas por apresentarem estágios de

desenvolvimento cognitivo diferentes, não possuindo ainda a capacidade avaliativa,

associativa e psicoemocional para a compreensão da história proposta (RAVELI, 2005).

4.3 Tamanho da amostra

Para o tamanho da amostra tomou-se como base o estudo de Mussa (2008), que contou com

um total de 15 crianças e que foram empregadas atividades lúdicas em uma enfermaria da

Santa Casa de São Paulo.

4.4 Coleta de dados

A coleta de dados se deu semanalmente, por meio de entrevista face a face, nas quintas feiras

dos meses de agosto a novembro de 2013. Após avaliar se as crianças atendiam aos critérios

de inclusão os pais e responsáveis pelas mesmas foram convidadas pelo Endocrinologista a

participarem da pesquisa.

Utilizou-se ainda dois questionários semi-estruturados aplicados na pré-intervenção, com os

responsáveis (APÊNDICE B) e as crianças (APÊNDICE D). Estes questionários continham

questões relativas às preferências alimentares, atividade física dos pais e preferências

alimentares, atividade física, diversão favorita, com objetivo de conhecer o perfil de interesse

da criança e sua relação com o “brincar” e movimentar-se.

Na pós-intervenção utilizou-se dois questionários não estruturados, em que se entrevistou,

face a face os responsáveis (APÊNDICE C) e as crianças (APÊNDICE E). O questionário dos

responsáveis continha perguntas relacionadas à opinião dos responsáveis sobre a intervenção

e o questionário da criança questões em que a mesma pode expressar sua opinião sobre o que

entendeu da contação de história.

27

Para as atividades lúdicas que englobaram expressividade plástica por meio de desenhos das

crianças foi utilizado giz de cera colorido, lápis de cor, tinta para pintura a dedo, folhas de

papel A3.

Paralelamente às entrevistas utilizou-se a observação não participante em que o pesquisador

observa e anota gestos, sinais e sentimentos expressos pelos entrevistados ao longo do período

da realização dos encontros, que ajudam na interpretação das informações (ROBLES, 2008).

Este foi o critério utilizado para anotações, que incluem postura corporal, pausas nas falas,

movimentos e expressões significativas relacionadas às emoções das crianças.

4.5 Análise de dados

A análise das falas coletadas foi realizada por meio da observação não participante e houve a

aplicação do método de análise de conteúdo de Bardin.

Com relação à análise de Bardin, esta consiste em descobrir os núcleos de sentido que

compõem uma comunicação cuja presença ou frequência signifiquem alguma coisa para o

objetivo analítico visado (BARDIN, 2011). É composta de três fases: Pré-análise (permite

organizar e sistematizar as ideias iniciais, e se decompõem em: leitura flutuante, constituição

do corpus, reformulação de hipóteses e objetivos); Exploração do material (análise sistemática

do texto em função das categorias formadas); Tratamento dos resultados, inferência e

interpretação (as categorias são submetidas a operações estatísticas, depois são feitas

inferências e as interpretações previstas no quadro teórico e/ou sugerindo outras

possibilidades teóricas) (BARDIN, 2011).

Por intermédio do peso e da altura, calculou-se o índice de massa corporal (IMC) – para

idade, que “expressa a relação entre o peso da criança e o quadrado da estatura. É utilizado

para identificar o excesso de peso entre crianças e tem a vantagem de ser um índice que será

utilizado em outras fases do curso da vida” (BRASIL, 2011).

Para o cálculo do IMC utilizou-se a fórmula:

28

Para a classificação do IMC empregou-se os valores medidos em percentis propostos pela

Organização Mundial da Saúde, tanto para menores de 5 anos (WHO, 2006), como para

crianças a partir dos 5 anos (WHO, 2007).

Considerou-se os pontos de corte de IMC-para-idade para crianças menores de 5 anos com

sobrepeso valores maiores que o Percentil 97 e menores ou igual ao Percentil 99,9 e com

obesidade valores acima do Percentil 99,9 (WHO, 2006).

Para crianças dos 5 aos 10 anos de idade com sobrepeso, considerou-se os pontos de corte de

IMC-para-idade maiores que - Percentil 85 e menores ou iguais ao Percentil 97, com

obesidade valore maiores que Percentil 97 e menores ou iguais ao Percentil 99,9 e obesidade

grave valores acima do Percentil 99,9 (WHO, 2007).

Análises descritivas (média e desvio padrão) dos dados foram feitas utilizando o software Epi-

Info3.5.2.

4.6 Intervenção Educativa

A intervenção aconteceu semanalmente, nas quintas feiras dos meses de agosto a novembro

de 2013, com duração aproximada de 25 minutos, em uma sala de reuniões e atividades em

grupo que fica ao lado dos consultórios. As crianças foram atendidas em duplas ou

individualmente, devido ao fluxo de recebimento de pacientes.

A intervenção foi realizada por meio da contação de uma história, baseada no livro infantil “O

coelhinho fofinho” de Esteves (2012) (APÊNDICES F e G). Este livro vem mostrar, de forma

lúdica e simples, a importância do cuidado com a saúde, da atividade física, da alimentação

saudável, do enfrentamento de problemas e da autonomia do sujeito como construtor de sua

história (ESTEVES, 2012).

A história conta sobre um coelhinho lindo e fofo que vence desafios que incluem o sobrepeso

e obesidade, ao perceber a dominação à qual estava sendo levado e coletivamente busca

soluções para a resolução de problemas. Baseado no modelo transteórico, observam-se no

livro que o coelhinho passa por todos estágios deste modelo:a falta de consciência no

problema enfrentado, a intenção, a decisão, a alteração e a manutenção do comportamento

frente a alimentação e a atividade física.

29

Os personagens do livro vão viver desconfortos e problemas relacionados à alimentação

inadequada e ao sedentarismo. Nota-se que a busca pela fase de resolução é feita

coletivamente e este fator vem contribuir para a fase de manutenção, por ser uma construção

coletiva traçada com estratégias baseadas no diálogo, e na definição de papéis, cada um

fazendo sua parte para a coesão do grupo para o enfrentamento (ESTEVES, 2012).

Ao término da contação as crianças iniciavam um processo de verbalização, o momento pós

contação, que favorecia a ambientalização da criança. Nas consultas de retorno, além do

resgate da história feito pela recontação, ocorria o trabalho de produção plástica que era

acompanhado pelo incentivo à verbalização da criança.

4.7 Aspectos Éticos

Após aprovação no Comitê de Ética e Pesquisa através do Parecer 380.803 (ANEXO A),

foram realizadas orientações sobre o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido que devia

ser assinado pelos responsáveis e crianças acima de oito anos (APÊNDICE A).

30

5 RESULTADOS

O estudo iniciou-se com um total de 20 crianças, foram excluídas da avaliação, duas crianças

que embora tenham participado das atividades lúdicas junto às demais, apresentavam

distúrbios neurológicos que necessitavam de uma abordagem diferente da que foi empregada

para crianças com capacidade cognitiva e expressiva.

Todas as crianças participantes frequentavam a escola regularmente, a maioria era

acompanhada da mãe, utilizando-se ainda do Sistema Único de Saúde.

Ao se conversar sobre a alimentação, percebeu-se que o perfil alimentar das crianças

entrevistadas não variou quanto às preferências, evidenciando o consumo diário de alimentos

com alto valor energético como pães, bolos, doces, salgadinhos fritos e refrigerantes.

Sobre o consumo alimentar dos pais, ficou evidente a preferência pelos mesmos alimentos

que as crianças, porém, aparece um “pezar” na fala desses pais, que demonstraram ter

consciência dos malefícios do consumo desse tipo de alimentação, em contrapartida à

insistência da criança em consumir os alimentos industrializados de sua escolha, como os

biscoitos recheados e refrigerantes.

Evidenciou-se aqui o assentimento dos pais com relação a um consumo alimentar inadequado,

visto que a criança não adquire nem prepara seu próprio alimento, sendo os pais figuras

importantes na mudança de hábitos.

O perfil antropométrico das crianças é apresentado na Tabela 1, destacando-se a ocorrência de

44,44% de obesidade e 33,33% de obesidade grave, de acordo com o indicador IMC para

idade.

31

Tabela 1 – Caracterização das crianças participantes da pesquisa

Variáveis Média ± DP / n (%)

n=18

Idade (anos) 7,94 ± 2,10

Sexo

Masculino

Feminino

7 (38,9)

11 (61,1)

Peso (kg)

42,89 ± 12,60

Altura (m)

137,22± 17,09

IMC Kg/m²

22,16 ± 2,51

Classificação Peso

Sobrepeso

Obesidade

Obesidade grave

4 (22,2)

8 (44,4)

6 (33,3)

Fonte: Dados cedidos pelo endocrinologista. Produção do autor

Percebe-se, de acordo com a tabela 1, que a maioria das crianças é do sexo feminino (61,1%,

n=11), com idade média de sete a nove anos.

5.1 Resultados sobre o “brincar”- A integração da criança com o meio

Após análise dos dados da pergunta: “Qual a sua diversão favorita?” Obteve-se três categorias

em relação ao modo de brincar:

1) coletivas: realizadas em dupla ou grupo, ao ar livre;

2) mistas: quando a criança costuma realizar atividades variadas entre coletivas e

individuais;

3) individuais: nas quais a criança se relaciona pouco com o meio externo e com

amigos.

Com esta pergunta pode-se verificar como a criança se relaciona com o brincar.

A maioria das crianças, 55,56% (n=10), relatou ter preferência por atividades individuais

(Figura 2). Percebeu-se que a relação com o brincar traz para o universo infantil um peso

maior do que aparenta. Muitas das falas foram reticentes, apresentando pausas, ao responder

32

que preferiam brincar sozinhas. Nesse tipo de fala, percebeu-se através da observação não

participante, que a criança já apresenta algum grau de limitação relacionado à sua participação

nas brincadeiras, evidenciando-se a necessidade de estudos mais aprofundados para a

compreensão dos mecanismos de defesa envolvidos nesse processo.

Figura 1–Investigação sobre a relação da criança com seu modo de brincar

Fonte: Produção do autor

Com relação à intervenção e entrevista com os pais, percebeu-se uma disponibilidade em

cooperar com as atividades, levando para sua vida privada os assuntos trabalhados e relatando

posteriormente suas experiências com as crianças, algumas dessas, muito bem sucedidas-

relacionadas à movimentação e atividade física e outras já não tão eficazes quando no

contexto ocorre uma competição entre atividade física e televisão.

Os pais mostraram-se favoráveis a adotar uma adaptação individual da história trabalhada

para inserir a discussão no dia a dia da criança. Houve predominância de falas que, a nosso

ver, pedia auxílio e orientação sobre como lidar com o sobrepeso e hábitos da criança.

Resultaram das análises das entrevistas, segundo o método de Bardin, a identificação de

categorias que emergiram das falas dos responsáveis entrevistados, representando, assim, os

elementos considerados, pelos envolvidos como de fundamental importância neste processo:

33

1) promoção da saúde por meio do emprego de atividades lúdicas (n=94,44%);

2) a importância da formação de hábitos saudáveis de vida por meio do trabalho

educativo em que os pais possam participar (n=66,67%);

3) o cuidar como elemento presente no trabalho de promoção da saúde na abordagem

à criança (n=83,33%);

4) a orientação aos pais sobre como agir e como trabalhar com a criança de forma

lúdica (n=88,89%).

A exemplo do exposto, vejamos a fala de um responsável, carregada de pausas, tentativas de

explicações e justificativas de que deseja muito “ajudar o filho”, de dez anos, obeso e inativo

com relação a atividade física:

[...] eu quero que o meu filho mude, mas eu não “tô” vendo como... Eu quero fazer,

eu queria fazer essas coisas assim... Mas a gente não sabe. Tinha que ter uma

orientação assim de vocês pra ajudar os pais, vocês podem contar comigo, no que eu

puder ajudar é só me ensinar que eu faço, mas assim... Eu brigo com ele pra ele não ficar sentado o tempo todo... (suspiro) mas não adianta, eu já cansei de brigar.

A fala se estende no sentido de explicar os motivos dos desentendimentos, outros

responsáveis se colocam na mesma situação, verbalizando a dificuldade de promover a

atividade física.

Foi observado nas falas dos entrevistados, que a necessidade de atividade física parece ser um

ponto de tensão e de conflito entre pais e filhos. Percebeu-se que existe um conflito entre a

forma que os responsáveis vêm conduzindo a promoção da atividade física, com a

necessidade dessa ser uma atividade prazerosa, que convide a criança a realizá-la por diversas

vezes, promovendo sensações de bem estar.

5.2 Tensões no ambiente familiar

Com base nas falas dos pais entrevistados e através da análise do material e registro dos

mesmos, percebeu-se alguns sinalizadores de conflito que podem vir a desestruturar um

ambiente harmônico familiar. Convencer a criança dos benefícios da atividade física pareceu

ser um grande desafio para os pais entrevistados.

As orientações sobre alimentação saudável, rotineiras em várias consultas com diversos

profissionais pareceu-nos ter sido mais eficazes, pois os pais relatavam esse conhecimento

34

prévio, porém a atividade física parece ter sido deixada em segundo plano, não sendo

entendida como um pilar do tratamento de seu filho.

O conflito é evidenciado também na fala da criança quando diz que “[...] ele só quer que eu

faça coisa chata, que eu não gosto. Eu não gosto desse negócio de caminhar, dá uma

canseira na gente. Aí eu vou só quando é pra tomar sorvete”.

A representação de que a atividade física é chata e que quem “convida para” também está

sendo uma pessoa chata, pareceu ser um entrave para a adoção de novos hábitos.

Além do problema identificado, alguns responsáveis relatam que essa situação extrapola os

limites quando um dos cônjuges acaba responsabilizando o outro pela ociosidade da criança,

gerando novos conflitos familiares. Percebeu-se aí um conflito pessoal em não

responsabilizar-se pela alteração do peso corporal da criança; uma necessidade em

responsabilizar o outro, acusando-o por ser o responsável e muitas vezes responsabilizando a

própria criança, gerando desconforto emocional, mágoas profundas e desarmonia familiar.

Na fala da criança, em especial as meninas, notou-seque as mesmas aparentam um

desconforto grande e sofrem com o distanciamento do padrão estabelecido de beleza visto

pela silhueta fina de suas bonecas. Um exemplo deste fato é a fala de uma criança durante a

entrevistaquerevela uma lacuna em sua vida pessoal, gerada por um acontecimento na escola.

A criança fez o seguinte comentário quando perguntada sobre a diversão preferida, em que

respondeu: dançar. “Eu até ia dançar na escola, mas a professora fez as saias de encaixar,

ela fez uma grande pra mim, mas não deu.” (CNS, 9 anos).

Frente aos resultados encontrados, ficou perceptível na fala de pais e filhos a angústia vivida,

muitas vezes escondida por brincadeiras e satirizações relacionadas ao peso. Algumas vezes

os pais brincam, buscando mascarar talvez, uma situação que talvez considerem fora do

controle.

Ridicularizar a situação pareceu-nos ser uma saída inconsciente dos pais e da criança para

aliviar as pressões, sem colocar em pauta o dano que pode ser gerado na psique da criança,

que fica cada vez mais a mercê da mídia e da validação do modelo estético, sem tomar

consciência do cuidado com a saúde.

35

Ao serem questionadas se sabiam por que estavam indo ao médico, as crianças tiveram

respostas diferentes, não constituindo um grupo coeso com relação a saber o porquê da

consulta.

Das 18 crianças (Figura 3), 55,56 (n=10) não sabiam o motivo de estar fazendo

acompanhamento médico, evidenciando-se, dessa forma, um distanciamento entre a

comunicação dos pais, o conhecimento destes a respeito da necessidade de informar a criança

seu tratamento e suas necessidades, e principalmente, em tornar a mesma o sujeito de sua

própria história.

Figura 2 - Conhecimento da criança sobre o motivo da consulta ao endocrinologista

Fonte: Produção do autor

Sobre o conhecimento do motivo que levou a criança a estar em um consultório médico, ficou

evidente que as relações de comunicação podem ser efetivas ou não, no seio familiar (FIG. 3).

Quando a criança responde com convicção que sabe o porquê de estar ali, num ambulatório de

obesidade infantil, acredita-se que houve em sua casa, no mínimo uma breve explicação sobre

onde estariam indo e o que fariam no local. Isso demonstra que alguns pais conseguem ter um

canal aberto de comunicação efetiva com essa criança, e frente a afirmações, como as listadas

na tabela, notou-se a importância desse contato prévio, a fim de promover uma interação

dessa criança com seu tratamento e acompanhamento.

36

A resposta obtida pela criança n°06, que contempla a frase interrogativa: “Pra ver o dodói?”,

foi considerada como resposta evasiva, devido ao fato não apenas da criança desconhecer o

motivo da consulta, mas também, responder com uma nova pergunta. Notou-se que a criança

responde com base em suas representações de que precisaria estar doente para ir ao médico.

Percebeu-se que seis crianças com idade a partir de oito anos respondem adequadamente

sobre saberem o motivo de estar indo a uma consulta médica, contrapondo-se às 10 crianças

que relataram não saber o motivo de estarem ali. Observa-se a necessidade de orientação aos

pais sobre como conduzir o tratamento desde o início, discutindo com a criança sobre o

tratamento proposto, sobre a necessidade do controle do peso e os benefícios que a criança

terá com o possível sucesso do tratamento clínico.

5.3 Avaliação pós-intervenção com a criança

A entrevista pós-intervenção consistiu em três perguntas abertas:1- Escolha um personagem

da história e uma qualidade para ele; 2) O que você aprendeu com a história do coelhinho; 3)

Você pretende fazer novas escolhas ao se alimentar e se divertir?. Estas perguntas apresentam

possibilidades de diversas respostas, não havendo uma resposta pronta, ideal, que deva ser

esperada na fala da criança.

5.3.1Resultado da 1ª pergunta da entrevista

Na primeira pergunta: “Escolha um personagem da história e uma qualidade para ele”, a

criança inicia sua fala colocando-se na história, percebendo características dos personagens e

identificando-se.

As meninas geralmente relataram identificar-se com a personagem Dorinha e os meninos com

o Coelhinho, mas ao adentrarem na história essa tendência dissipava-se, e a criança relatava

estar inserida no contexto da história. Ao identificar-se com os personagens da história, ocorre

uma fusão entre: O “eu” real e o lúdico. Ao ouvir a história, percebeu-se que a criança

transporta-se mentalmente para o cenário, fazendo parte do enredo ou posicionando-se como

uma expectadora das fantasias vividas.

Quando convidadas a escolher um personagem da história e uma qualidade para ele, as

respostas foram variadas.

37

Se em sua maioria as meninas se identificaram com o universo do feminino humano

representado pela personagem “Dora”, notou-se um destaque a respeito da atitude adotada

pela personagem. Algumas crianças observaram a postura da personagem em consumir os

doces e salgadinhos, mas em quantidade moderada, sem exageros e em contrapartida,

movimentando-se, divertindo-se, enfim, fazendo atividade física.

Algumas falas demonstram a conotação simbólica que a história permite abordar: “Ahhhh eu

sei, esse coelhinho aí não é coelho não, isso é pra gente! Eu quero ser igual à Dorinha,

porque ela é linda, charmosa e se cuida.” (CRIANÇA 09, nove anos).

Percebeu-se nessa representação, que a criança considera que é possível “se cuidar” brincando

e fazendo exercícios. Na narrativa do livro infantil trabalhado, notou-se que a criança passa

por outros conceitos: o da liberdade em consumir alguns produtos, porém com a

responsabilidade em adequar-se às quantidades propostas na dieta e aos exercícios físicos

adequados para sua faixa etária.

5.3.2 Resultados das perguntas n°2 e n°3 da entrevista

Na pergunta de 2 do questionário: “O que você aprendeu com a história do Coelhinho?”

percebeu-se uma integração da criança com a história contada, em especial as crianças

maiores de oito anos apresentaram maior compreensão da história, chegando a fazer analogias

práticas voltadas para o seu próprio cotidiano, tal como podemos perceber na fala que diz:

“Essa história na verdade não é sobre coelhos, né? Ela é para nós.” (L.M.S, 10 anos)

Sobre o contexto da história, pareceu-nos razoável que algumas crianças relatassem o desejo

de correr mais, brincar e se divertir como os coelhos faziam. As falas foram reduzidas em

unidades de registro, desta vez por recortes semânticos. Quando questionadas sobre o tema

central da história e sua ligação com esse cenário, obteve-se como unidades de registro as

palavras e expressões: brincar mais, correr, pular (BARDIN,2011).

Ao questionar “Você pretende fazer novas escolhas ao se alimentar e se divertir? Quais?” não

ousou-se fazer uma análise temática, visto que seriam necessários outros elementos e um

maior rigor metodológico, mas próximo a isso, buscou-se recortar as ideias constituintes, em

enunciados e em proposições portadores de significações isoláveis. Fazer uma análise

38

temática consiste em descobrir “os núcleos de sentido” que compõem a comunicação e cuja

presença ou frequência de aparição podem significar alguma coisa para o objetivo analítico

escolhido (BARDIN, 2011).

Diante desse esclarecer de ideias chegou-se muito próximo a uma análise das falas,

considerando a frequência com que os significados surgem. Apareceram assim, elementos

relacionados a escolhas das brincadeiras, que manifestam desejo de relacionar-se mais com o

meio. Evidenciou-se a motivação pela atividade e não foram encontrados registros prevalentes

de mudanças alimentares.

As falas foram agrupadas de acordo com seu sentido, exprimindo valores e motivações, um

exemplo é afala:“Eu vou ser igual ao Coelhinho, vou correr e pular muito!” (S.L.A.,10

anos).

Em relação ao exposto, observou-se que a oportunidade de reflexão por meio da contação de

histórias proporcionou à criança, momentos de reflexão sobre a modificação de atitudes.

Houve a liberação da sua expressividade através da arte, em que a criança desenhou, pintou

ou recontou histórias, portanto, a criança entrou em conexão com o propósito do trabalho aqui

proposto: o de refletir, integrar-se e apoderar-se de seu acompanhamento de saúde.

5.4 Avaliação dos resultados da contação de histórias no ambulatório

Como o livro utilizado trata de assuntos voltados para a temática “promoção da saúde”,

falando de um coelhinho que estava obeso e conseguiu reverter o quadro com muitas

brincadeiras e equilíbrio para se alimentar, percebeu-se que ao se identificar com os

problemas vivenciados pelo grupo de coelhos, a criança demonstrou capacidade elaborativa e

percepção do conteúdo, independentemente da idade.

Considerou-se como “capacidade elaborativa” a possibilidade de compreensão e discussão da

história, havendo aqui uma diferenciação nesse processo, conforme cada faixa etária, visto

que crianças de quatro anos expressaram-se mais livremente e as próximas de dez anos

ficavam bastante pensativas, porém consideramos que a Contação de Histórias contemplou a

faixa etária proposta (ESTEVES; BENTO, 2012).

39

Percebeu-se, portanto, a grande disponibilidade da criança para ouvir histórias, mas, além

disso, observou-se sua capacidade de “se colocar na história”, de fazer parte do enredo,

questionar e sugerir estratégias para solução de problemas. Notou-se, na frequência das falas

das crianças após a contação, que houve uma autocrítica sobre sua própria relação com o

brincar. Crianças que anteriormente relataram brincar sozinhas demonstraram interesse em

optar por atividades coletivas. A frase seguinte representa uma verbalização do incômodo não

falado anteriormente e sentido por B.S.C., de dez anos: “Agora eu vou fazer que nem o

coelhinho, não vou mais ficar só sentada no sofá, vou brincar mais com minhas amigas lá

fora...”

Esta afirmação, carregada de significado, mostrou-nos a necessidade de estímulo ao exercício

físico, a práticas de atividade física que sejam prazerosas para a criança em sua faixa etária.

Foi observada uma pequena ponta do que a criança carrega consigo junto à sua obesidade ou

sobrepeso.

Interessante colocar que não houve, nesse tempo, uma preocupação nesse estudo com a

alteração de peso, visto que as crianças já estavam sendo devidamente acompanhadas pelo

profissional endocrinologista e não é este o objetivo do estudo. Nosso intuito consistiu na

observação de uma reflexão para modificação de atitude, pois houve por parte de várias das

crianças um enfrentamento, o qual se considerou um grande passo para uma tomada de atitude

frente à adoção de novos hábitos.

5.5 O desenhar, pintar, colorir na perspectiva do estudo

Utilizou-se a expressividade pela representação plástica (desenho e pintura) como ferramentas

na abordagem da criança, enfocando a importância de escolhas saudáveis de atividade e

alimentação.Com relação a essas atividades plásticas, que compuseram o contexto da

intervenção com as crianças, sendo elas a pintura a dedo com tinta apropriada para este tipo

de pintura e o desenho livre, utilizando-se do giz de cera e lápis de cor, percebeu-se o grande

elo entre o potencial da arte como força motivadora e a promoção da saúde (Figura 4).

40

Figura 3: Pintura livre com tinta para pintura a dedo em folha de papel A3.

Fonte: Dados da pesquisa.

Ao ser perguntada sobre o que escolheu desenhar ou pintar, a criança reconta sua história,

algumas vezes inserindo-se no contexto da trama. Quando a criança responde: “O coelho

conversando com os amigos dele e eu” (L.B.F, 09 anos), mostra-nos a realidade dessa

inserção, que vai além de uma expressão, ela de fato, entra na história.

Obteve-se grande êxito referente à aceitação da proposta do uso da atividade lúdica para a

promoção da saúde. As crianças recontam a história, criam novos finais, facilitando

estratégias, colocando suas expectativas e medos no papel. Houve uma prevalência das falas

em se inserir no contexto da história, assumindo papéis preexistentes ou criando novos

personagens.

41

6 DISCUSSÃO

Diversos estudos falam da urgência em transformar hábitos de vida. Os programas de

intervenção elaborados para redução ou manutenção do peso corporal devem estimular os pais

a incentivar os filhos a se deslocarem para escola de forma ativa, reduzir o tempo despendido

em frente à TV/computador e aumentar a participação em esportes, atividades recreativas e

outras atividades físicas de intensidade moderada a vigorosa no tempo livre (SILVA, 2007).

De acordo com Gomes, (2011) em virtude da maneira como as famílias se organizam e das

características e hábitos que cultivam, o espaço que a criança encontra no seio familiar

privilegia as atividades sedentárias, já que têm poucas possibilidades de sair de casa. É

preciso considerar o ambiente em que essa criança está inserida, suas possibilidades e

disponibilidades, para, a partir daí intervir de forma coerente com o estilo de vida da família.

A urgência em se transformar hábitos de vida é imperiosa. Diversos estudos nos falam sobre

esse paradigma. Os programas de intervenção elaborados para redução ou manutenção do

peso corporal devem estimular os pais a incentivar os filhos a se deslocarem para escola de

forma ativa, bem como reduzir o tempo despendido em frente a TV/computador e aumentar a

participação em esportes, atividades recreativas e outras atividades físicas de intensidade

moderada a vigorosa no tempo livre (SILVA, 2007).

Pensando-se em atividades recreativas, percebe-se a ligação entre o potencial da arte como

força motivadora e a promoção da saúde, observa-se que há a interação da criança com os

elementos da história e a inserção de si no contexto trabalhado, sendo as atividades lúdicas

um campo fértil para a atuação do enfermeiro (NEDER, 2009).

O enfermeiro enquanto educador atuante na promoção da saúde individual e coletiva deve

dispor de elementos criativos capazes de motivar seu público a ouvir, falar, discutir e mais

aPensar em educação em saúde, em educação em diabetes, requer um embasamento teórico

capaz de nortear a ação proposta, que nos mostre a amplitude dos fenômenos envolvidos

nesse processo (RAVELI, 2005).

O enfermeiro atua em diversos campos, sendo em sua maioria uma atuação – de alguma

forma – ligada à educação e este papel não pode ser deixado de lado se pensarmos que a

42

assistência de enfermagem vai além da execução de técnicas, deve estar em sintonia com os

propósitos da assistência integral.

A educação em saúde se insere no contexto da atuação da enfermagem como meio

para o estabelecimento de uma relação dialógico-reflexiva entre enfermeiro e

cliente, em que este busque conscientizar-se sobre sua situação de saúde-doença e

perceba-se como sujeito de transformação de sua própria vida (SOUSA, 2010).

Quando o enfermeiro assume um papel de cuidador, de educador, ele amplia essa sua prática,

sendo capaz de perceber necessidades mais profundas do que se possa imaginar, ele se torna

um parceiro no processo de construção do conhecimento (VASCONCELOS, 2009).

No cotidiano da Enfermagem, é possível deparar com diversos desafios a serem transpostos,

cabe ao profissional posicionar-se quanto ao seu papel diante de uma assistência focada no ser

humano como um ser integral.

O enfermeiro deve atentar-se para a completude da situação em que a criança está inserida,

proporcionando momentos de reflexão, sem, contudo, penalizar a criança por sua obesidade

ou sobrepeso. A criança deve ser ouvida, em suas argumentações, deve ser respeitada em seus

hábitos e para que alcancemos uma mudança de comportamento é preciso tocar mais fundo ao

coração dessa criança. É preciso mexer com seus sonhos, seus desejos, e objetivos. Os pais

também devem fazer parte desse processo, visto que são os provedores dessa alimentação e

são também os motivadores (ou desmotivadores) da adoção de uma vida mais ativa, mais

saudável (ANGELI, 2012).

Especificamente na Enfermagem, o cuidar do outro é a essência da dicotomia entre ciência e

arte, que são os nossos pilares profissionais. Cuidar é estar aberto ao outro, utilizar-se do

conhecimento técnico, científico e expressivo, relacionar-se com o outro com respeito, com

sensibilidade, expressando-se num toque, num olhar, no cantarolar de uma canção, contando

uma história ou quem sabe brincando. (RAVELI, 2005).

Ao ouvir uma história, a criança passa para uma faixa vibratória de alerta e concentração no

que há por vir, tenta adivinhar consequências das cenas e desfechos para personagens de seu

interesse. Podemos pensar nessa criança como uma potencial construtora de suas próprias

histórias (SUNDERLAND, 2005).

43

Percebe-se que o uso do livro “O Coelhinho Fofinho” e a contação de histórias suscitou à

discussão sobre alimentação saudável e a atividade física, levantando questionamentos acerca

da alimentação e sua influência corporal, levando a criança a refletir sobre processos que

estão envolvidos no ato de alimentar-se, bem como a visão da atividade física como uma

necessidade positiva e prazerosa. Frente à escassez de literatura infantil que aborde

objetivamente este assunto de interesse público, pretende-se também reafirmar a necessidade

de intervenções voltadas para a criança, em sua linguagem e suas cores.

No estudo também se pensa sobre a importância da criação de materiais lúdicos que abordem

o tema em questão. A criança necessita ser atendida com um enfoque peculiar, que contemple

sua fase de desenvolvimento. Como o foco desta pesquisa é a contação de histórias como

ferramenta, não nos aprofundamos neste, que parece ser um mundo interessante de se

conhecer, porém fica aqui relatada a necessidade de novos estudos voltados para a temática.

A contação de histórias e o emprego de atividades lúdicas pode ser o gatilho para o despertar

de uma reflexão, mas deve ser acompanhada de um trabalho multiprofissional capaz de

manter o estímulo, para que não se caia apenas no campo das ideiasque é sim o primeiro

passo, mas que precisa “vir a ser: ação” (SUNDERLAND, 2005).

O livro infantil utilizado é um meio, uma ferramenta capaz de despertar reflexões. O

atendimento à criança com sobrepeso ou obesa deve sempre ser focado em suas vivências,

para a partir daí, fazer-se um esforço por compreender suas dificuldades, ansiedades, desejos

e pulsões. Acredita-se que é na infância que devemos agir a fim de atuar na prevenção das

complicações futuras dessas patologias tão frequentes na sociedade contemporânea.

Com relação às tensões no ambiente familiar, verificou-se que as crianças não fazem

atividade física rotineiramente nem de forma prazerosa, e não são incentivadas pelos pais, que

a colocam-na como uma imposição, fazendo com que as crianças não tenham interesse pela

mesma. A promoção e a prática de atividade física é um meio importante de intervenção para

melhoria e motivação para a criança adquirir gosto e assiduidade pela atividade de sua

escolha, fazendo dela uma prática necessária para sua saúde em todos os aspectos (SOUZA et

al, 2011). Observa-se assim que a atividade física parece ser um ponto de tensão entre pais e

filhos.

44

Quando um dos cônjuges começa a procurar “culpados” da obesidade do filho, há uma

incitação de agressão verbal que culmina com reações também agressivas. É interessante

colocarmos aqui, o quão complexa é esta relação em que se precisa transferir a “culpa” para o

outro e não se pensa em também responsabilizar-se pela condução das práticas alimentares no

âmbito familiar.

Frente a essa imensidão de possibilidades que esses responsáveis nos sinalizam, podemos

pensar na importância do desenvolvimento de estratégias futuras para se trabalhar mais

profundamente esses aspectos. Ao levar a criança a uma consulta no ambulatório de

obesidade infantil, os pais estão cuidando de seus filhos, mas percebemos que esse cuidado

pode ser ampliado com relação ao fator emocional e de responsabilização, em que a criança

também se envolve no processo, acreditando-se ser este um caminho interessante a ser

percorrido, na tentativa de tirar a criança do papel de objeto para o de sujeito participante e

ativo.

Outro ponto a ser discutido neste estudo é que, questões de gênero são aqui levantadas: a

imposição da mídia a um ideal de magreza que escraviza mulheres desde as mais tenras

idades. O enfoque no controle do peso se dá de forma suave, não impositora tal como vemos

na mídia. No livro trabalhado, essas questões aparecem representadas por Dorinha,

personagem criada para explorar essas possibilidades nos mostra que é possível ser “fofinha”,

ser bela, controlar o peso, consumir os alimentos de sua preferência com cuidado e

moderação.

Falar a uma criança obesa que ela não deve mais comer seus alimentos preferidos, pode gerar

um pesar ou uma rejeição que não sabemos as proporções a que isso pode alcançar, incluindo-

se aí a não adesão ao tratamento, visto que se deve abrir mão de uma grande fonte de prazer: a

comida. Ouvindo histórias a criança se coloca frente a desafios hipotéticos que a fazem

construir conceitos e valores. Neder (2009) fala sobre a importância da contação de histórias

no ambiente escolar, e coloca que a contação pode alcançar mais do que o ambiente da escola,

ela faz parte da vida da criança.

A criança obesa carrega não somente o peso corporal, mas junto a isso, vem toda uma

imposição da mídia, da família e da sociedade, sem colocar os reais benefícios de uma vida

mais saudável. Em consequência muitas vezes do bullying sofrido cotidianamente, ou de não

45

sentir-se à vontade em participar de brincadeiras coletivas, ou quem sabe por realmente não se

interessar por brincadeiras que exigem esforço físico, seja qual for o motivo, a criança parece

se afastar das brincadeiras em grupo, buscando na TV seu refúgio para o mundo lúdico.

Segundo Silva (2007), levantamentos representativos em crianças e adolescentes têm

apresentado associações entre tempo gasto assistindo TV e o excesso de peso (SILVA, 2007).

A acomodação no sofá traz consigo um conjunto de fatores que não nos arriscamos aqui em

explorar devido à sua magnitude, mas não podemos deixar de perceber que a livre colocação

da criança é uma representação do que ela vive, do que enfrenta, do que ouve e sente.

Levantamentos epidemiológicos demonstram que as crianças que assistem TV por mais de

duas horas/dia apresentam maior prevalência de sobrepeso/obesidade e menor prática de

atividade física quando comparadas àquelas que assistem menos de duas horas de TV/dia

(SILVA, 2007).

Estes comportamentos são apresentados por crianças em todo o mundo, e são provenientes da

vida dita “moderna”. Diante disto pensa-se em ferramentas que possam interferir no

comportamento da criança, sendo esta uma tarefa complicada, e, quiçá, audaciosa, visto que

nenhuma ferramenta sozinha será capaz de modificar hábitos do cotidiano. Muitas vezes esses

hábitos estão tão arraigados ao convívio familiar que se confundem com o modo de viver das

pessoas.

De acordo com Toral, (2007) sabemos que:

O comportamento alimentar é determinado por diversas influências, que incluem

aspectos nutricionais, demográficos, econômicos, sociais, culturais, ambientais e

psicológicos de um indivíduo ou de uma coletividade. A interação existente entre as

dimensões cognitivas e emocionais que estão envolvidas no comportamento

alimentar torna-se, portanto, evidente.

Diante dessa premissa, devemos entender as atividades lúdicas, a leitura, a contação de

histórias, como uma possibilidade, uma ferramenta que pode “somar” ao processo de

retomada de hábitos de vida mais saudáveis.

Em relação ao brincar. Estudos enfatizam o papel do brincar nos atendimentos de

profissionais da área da saúde. A criança que encontra a possibilidade de brincar durante o

contato com esses profissionais consegue se apropriar da situação vivenciada e significar o

46

tratamento pelo qual está passando, elaborando suas dificuldades. O que ocorre é o

reconhecimento de si como sujeito da ação e não como mero objeto.

Um trabalho realizado no município de São Paulo no ano de 2011, em que foram investigadas

crianças escolares de sete a dez anos com diagnóstico nutricional de obesidade, matriculadas

nos ambulatórios de um hospital escola da rede pública teve como foco a investigação não só

da maneira como essas crianças brincam, como também seus interesses em relação ao campo

lúdico e cultural revelando algumas relações com o brincar, em que crianças mostravam-se

abertas e interessadas no processo do lúdico (GOMES, 2011).

Neste estudo pode-se perceber muitos momentos de reflexão sobre a modificação de atitudes,

liberação da expressividade através da arte e da recontação histórias pelas crianças e uma

conexão com o propósito do trabalho. Isto veio mostrar que o lúdico deve ser utilizado como

ferramenta diária nas atividades da equipe de saúde, contribuindo para o desenvolvimento de

uma assistência de qualidade (Simões, 2008).

Percebeu-se neste estudo que a obesidade infantil é um desafio para a criança, sua família e

para o profissional de saúde que trabalha com esse público, pois contém fatores que vão além

da mensuração do peso corporal. Engloba elementos múltiplos que vão além do plano

biológico, afeta campos do imaginário infantil, com suas emoções e sentidos.

O uso de material lúdico para trabalhar educação em saúde com crianças vem sendo aceito

amplamente pela comunidade científica e pode contribuir para a melhor compreensão sobre a

necessidade de adoção de hábitos saudáveis pela criança.

O plano de ação desenvolvido neste estudo pode contribuir para o desenvolvimento de

escolhas e hábitos mais saudáveis, focando no cuidado corporal e alimentar. Pode ser

adaptado por diferentes profissionais que desejem realizar uma abordagem lúdica, sendo

moldado de acordo com cada ambiente ou recursos disponíveis.

Por fim, deseja-se registrar aqui alguns questionamentos que foram feito ao longo do estudo,

alguns foram levantados, acerca do papel dos pais, do brincar infantil, e assim vamos tecendo

esse emaranhado de pontos interligados para construir uma reflexão que contemple de forma

mais ampla possível o assunto em questão.

47

Os hábitos sedentários de vida devem ser combatidos pelos pais?

De que forma esses pais de crianças obesas ou com sobrepeso devem agir diante da

necessidade de movimentação da criança?

As crianças obesas não gostam de atividades físicas, ou não encontraram ainda formas

prazerosas de brincar?

Se os pais são os responsáveis pela escolha do alimento e provisão do mesmo em suas

casas, como devem agir diante das escolhas inadequadas feitas pela criança na

aquisição desse alimento?

Como os pais devem estimular a adoção de hábitos alimentares saudáveis?

Existe alguma fórmula eficiente para auxiliar os pais na adoção de hábitos de vida

saudáveis por parte das crianças?

Surgiram, também, questionamentos que abrangem uma grande complexidade envolvida; são

questionamentos que nos apontam para situações cotidianas que poderiam influenciar a

relação dessa criança com seu meio. Pensa-se nas razões pelas quais essa criança prefere

brincar sozinha. Com base nessa premissa, pode-se elencar algumas possibilidades, como:

Será que as crianças obesas são acolhidas pelas demais crianças com afeto e respeito?

Será que elas se cobram o mesmo desempenho com relação a fôlego e agilidade?

As crianças que não conseguem obter a mesma agilidade e desempenho são rejeitadas

no grupo?

Essa criança se sente à vontade nas brincadeiras de correr, pular e brincar?

Será que os profissionais da educação infantil têm integrado as crianças obesas junto

às demais, nas brincadeiras que exigem grande vigor físico?

Quais motivos levam a criança a preferir brincar sozinha?

Essa criança realmente prefere brincar sozinha?

Os pais sabem dessa “preferência”? Como costumam lidar com isso?

O que os pais podem fazer quanto a isso? O que não devem fazer?

Diante de tudo isto, pensa-se, portanto, na atuação dos profissionais de saúde frente a este

problema multifatorial que é a obesidade infantil. Que formas podem ser utilizadas para

trabalhar com essa problemática?

48

7 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Considerou-se que este estudo alcançou-se os objetivos a que se propôs: Analisar e descrever

o desenvolvimento de um trabalho de educação em saúde com crianças do ambulatório de

obesidade infantil por meio de um plano de atividades lúdicas como recurso.

Observou-se que a contação de história e a representação gráfica foram importantes recursos

para proporcionar uma reflexão sobre escolhas saudáveis de atividade e alimentação. Ao se

pensar na criança obesa como provável adulto obeso, podemos avaliar a importância dessa

abordagem para a prevenção das comorbidades vindouras com o tempo.

O livro pode ser um instrumento fabuloso de transformação, bem como, pode ser um amigo

inseparável da criança. A contação de histórias pode gerar um pensamento crítico maior do

que podemos supor, pois as crianças têm uma grande habilidade em abstrair e mergulhar no

conteúdo lúdico para, a partir daí, construir seu conhecimento.

Percebeu-se que o enfermeiro, bem como, outros profissionais de saúde, podem ser

instrumentos de mudança na vida das crianças obesas e com sobrepeso, seja realizando a

contação de histórias, seja utilizando-se de outros recursos igualmente importantes para

ampliar a abordagem a essa criança e proporcionar momentos de descontração aliados à

reflexão.

É importante frisar que o enfermeiro é um profissional educador, que deve lançar mão de

recursos para trabalhar a educação em saúde e diante disto, convida-se aqui todos os

profissionais de saúde a utilizarem, sem receio, das técnicas, e dos recursos terapêuticos

capazes de proporcionar à criança momentos únicos de expressividade.

A contação de histórias, como uma atividade lúdica, é uma ferramenta, que pode abrir portas

para momentos de discussão, de questionamentos e principalmente de posicionamento do

sujeito frente ao seu tratamento. Sujeito esse que, mesmo crianças, devem ser auxiliadas a

perceber a importância de seus hábitos para a promoção de uma vida saudável.

49

A atividade lúdica como um todo, contação, desenho, pintura e expressividade plástica livre

proporcionaram às crianças deste estudo um momento de reflexão e interação com a história,

viabilizando relatos de desejo de mudanças de hábitos, em especial de atividade física.

Os questionamentos levantados abrangeram uma grande complexidade envolvida e apontaram

para situações cotidianas que poderiam influenciar a relação dessa criança com seu meio.

7.1 Limitações do estudo

Encontrou-se no presente estudo alguns fatores dificultadores para o processo de ampliação

do trabalho, como por exemplo a não vinculação dos pacientes a um grupo, sendo este um

fator de suma importância para o bom andamento da terapêutica de forma global. Os

pacientes tinham consultas de retorno, mas como muitos vinham de pequenas cidades do

interior do Estado de Minas Gerais, torna-se complicado o retorno dos mesmos as atividades

regulares em um grupo terapêutico que utilizasse a arte como recurso para a manifestação de

sentimentos.

Acreditamos que vincular-se a um trabalho grupal pode ser valioso para a criança obesa e com

sobrepeso, grupo este que permitiria trabalhar sentimentos, posicionamentos no mundo.

Os responsáveis que acompanhavam suas crianças mostravam-se algumas vezes tensos

durante as intervenções devido ao horário, pois estavam utilizando o transporte de seus

municípios de origem, isso acabava gerando uma abreviação do processo de expressividade

da criança e do próprio responsável.

Um dos pais participantes do estudo, demonstra o exemplo citado acima dizendo que “Eu

queria ter mais tempo pra falar sobre isso mesmo, tem um monte de coisas que eu quero que

ela ouça (referindo-se à criança) mas eu tenho que estar lá na frente daqui a dez minutos, que

o transporte é do município e eles não vão ficar esperando.”

Percebe-se nesta fala que a existência de um grupo regular é considerada importante pelo

responsável, porém as limitações logísticas impedem tal participação ainda que o grupo venha

a se formar. Mesmo com a criação e manutenção dessa abordagem, muitos pais que vem de

municípios vizinhos, alguns até mesmo rurais, estariam segregados desse processo devido à

impossibilidade de locomoção constante.

50

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53

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SUNDERLAND, Margot. O valor terapêutico de contar histórias: para as crianças: pelas

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Length/height-for-age, weight-for-age,weight-for-length, weight-for-height and body

mass index-for-age.Methods and development. WHO (nonserial publication). Geneva,

Switzerland: WHO, 2007.

54

ANEXOS

55

ANEXO A – PARECER DO CEP (COMITÊ DE ÉTICA E PESQUISA)

56

57

58

ANEXO B – DECLARAÇÃO DE AUTORIZAÇÃO DO ESTUDO NO ESPAÇO DO

CEM (CENTRO DE ESPECIALIDADES MÉDICAS)

59

ANEXO C - INFORMAÇÕES ADICIONAIS DO LIVRO

Editor responsável: Thiago da Cruz Schoba

Coordenador editorial: João Lucas da Cruz Schoba

Capa: Francis Manolio

Diagramação: Francis Manolio

Revisão: Marluci Longarez

O livro foi impresso em São Paulo, em maio de 2012, pela Prol Editora Gráfica para a Editora

Schoba.A fonte usada no miolo é Adobe Jenson Pro, corpo 20/28.

Impresso em papel Offset 150 g/m².

Proibida a reprodução total ou parcial, de qualquer forma e por qualquer meio mecânico ou

eletrônico, inclusive através de fotocópias e de gravações, sem a expressa permissão do autor.

Todo o conteúdo desta obra é de inteira responsabilidade do autor.

ISBN 978-85-8013-127-7

60

ANEXO D - FICHA CATALOGRÁFICA DO LIVRO TRABALHADO

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)

Angélica Ilacqua CRB-8/7057

Índices para catálogo sistemático:

1. Educação infantil

2.Saúde

Esteves, Juliana Maria de Melo

O coelhinho fofinho/Juliana Maria de Melo Esteves. --

SãoPaulo:Schoba,2012.

32 p. : il.

ISBN 978-85-8013-127-7

1. Educação infantil2. Saúde I. Título

CDU37:613.95

CDD 371.71

61

APÊNDICES

APÊNDICE A - TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

62

63

APÊNDICE B- QUESTIONÁRIO INICIAL (Adulto)

data: ____/____/____

Nome:_____________________________________________idade_____________

Peso:__________ altura: ________

Grau de parentesco com a criança:

( )pai ( )mãe ( )responsável com parentesco ( ) cuidador sem parentesco

Preferências alimentares pessoais:

( )massas, macarrão ( )bolos e doces ( )salgados fritos ( )refrigerantes

( )sucos, chás ( )saladas ( )pães, biscoitos ( )cereais, grãos ( )carnes com gordura

( )peixes ( )carnes magras

Atividade física:

( )pratica atividade física regular ( )não pratica nenhuma atividade física

Discriminar qual atividade:____________________________________

Com que frequência? _____________________________

De forma simples e com suas palavras, descreva como costuma orientar a criança quanto à

alimentação?_________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

64

APÊNDICE C - QUESTIONÁRIO PÓS INTERVENÇÃO(Adulto)

data: ___/___/____

Como avalia o desempenho de sua criança com relação à proposta didática da Contação de

Histórias?

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

__________________________________________________________________

Quais intervenções com a criança você acredita que pode fazer em casa?

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

__________________________________________________________________

Você acha que houve alguma modificação no comportamento da criança?

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

Gostaria de registrar algo?

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

_________________________________________________________________

Assinatura: _______________________________________________

65

APÊNDICE D-AVALIAÇÃO INICIAL COM A CRIANÇA

data: ____/____/____

Nome:_____________________________________________idade_____________

Ano escolar:___________ Peso:__________ altura: ________

Preferências alimentares:

( )massas, macarrão ( )bolos e doces ( )salgados fritos ( )refrigerantes

( )sucos, chás ( )saladas ( )pães, biscoitos ( )cereais, grãos ( )carnes com gordura

( )peixes ( )carnes magras ( )outros ______________________________________

Diversão favorita:__________________________________________________

_________________________________________________________________

Atividade física:

( )pratica atividade física regular ( )não pratica nenhuma atividade física

Discriminar qual atividade__________________________________________

________________________________________________________________

Com que frequência?______________________________________________

____________________________________________________

Você sabe por quê está vindo ao médico? ( )sim ( )não

Se sim, fale porque_______________________________________________

_______________________________________________________________

66

APÊNDICE E - AVALIAÇÃO PÓS INTERVENÇÃO COM A CRIANÇA

data: ____/____/____

Escolha um personagem da história e uma qualidade para ele

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

__________________________________

O que você aprendeu com a história do Coelhinho?

___________________________________________________________________________

_______________________________________________________

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

_____________________________________________________________________

Você pretende fazer novas escolhas ao se alimentar e se divertir? Quais?

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

67

APÊNDICE F - A HISTÓRIA

O Coelhinho Fofinho

Fofinho? Fofinho nada! Eu já estava ficando obeso mesmo. Vou contar como tudo

aconteceu... Era uma vez uma linda ninhada de coelhinhos, nunca existiu uma ninhada tão

bonita no parque onde morávamos. Havia muita comida, sempre saíamos para procurar o que

comer e voltávamos com a barriguinha cheia de frutinhas, legumes, folhas... Hummmmm, que

delícia, tudo fresquinho...

Falando em coisas boas, toda história tem que ter uma linda mocinha, não é mesmo? Nesse

caso, a princesa de nossa história se chama Dora, mas eu gosto de chamá-la de Dorinha.Ela é

a coelhinha mais linda do mundo inteiro, e de qualquer outro planeta que tenha coelhos. Um

dia ainda vou dar um beijinho no rosto dela e fugir, rapidinho, antes que ela me dê um tapa,

mas tenho certeza de que ela nunca esquecerá do meu beijo roubado.

Mas e eu? Eu sou, eu era, não sei... o galã desta história, o cara todo especial por quem as

outras coelhinhas suspiravam.Forte, saradão, com meu jeitão de quem faz a festa,sempre fui

admirado pela minha agilidade. Corria mais do que qualquer gato do mato, sempre me dava

bem nas corridinhas do parque, só que agora é diferente, eu não posso dizer que “um dia”

tudo mudou, pois tudo foi modificando-se lentamente.

Nas festinhas coelhais eu era quem mais dançava,dava atenção a todas as coelhinhas que

adoravam dançar comigo, era muito divertido. Quando cansávamos de dançar, saíamos

procurando uma frutinha fresca e coisas saudáveis para comer, mas...

Chegou na festa um Coelhão marrento, de óculos escuros (e nem precisava porque estava

anoitecendo) oferecendo umas bolinhas deliciosas de todas as cores... Tinha uma salgadinha

recheada com amendoim, outras eram puro chocolate com uma casquinha colorida por fora...

Nossa, eu achei que estava no paraíso!

Aos poucos não saíamos mais para procurar comidinhas, não nos esticávamos mais para

escolher os talos das folhas mais verdinhas e nem precisávamos sair dali. O marrento Coelhão

levava sacos e sacos daquelas coisas gostosíssimas para nós, que comíamos sem saber direito

o que era, mas como era gostoso, a gente mandava pra dentro de nossas pequenas

68

barriguinhas. Mas de onde será que saíam tantas bolinhas com cheiro gostoso, umas de

queijo, outras de chocolates? Comecei a ficar curioso...

O Coelhão Marrento expulsou uma família de coelhos que morava perto do lago,dizendo que

queria aquela casa para ele,caso contrário não levaria mais os doces e salgadinhos deliciosos...

E foi aí que fiquei intrigado. Ninguém reclamou.

Percebi que ele já mandava em nosso parque,tinha tudo o que queria, em troca nos dava

aquelas bolinhas gostosas. Cada vez mais ficávamos dependentes, e o Coelhão Marrento,cada

vez mais poderoso. Já não podíamos nem escolher o sabor das bolinhas... Era ele quem

determinava o que devíamos comer. Percebi que aquelas coisinhas que eu nem sabia o nome

nem estavam tão saborosas assim, mas mesmo assim, nós queríamos comer sempre mais e

mais.

É muito difícil querer comer sempre, e muito,alguma coisa que pensamos ser boa para nós, e

quando não podemos comer, nos sentimos até irritados com aqueles que mais amamos.Muitas

vezes acabamos sendo mal educados, mas sempre precisamos esfriar a cabeça e pedir

desculpas quando isso acontece.

Voltando a falar da coelhinha mais linda do mundo, a Dorinha... Ahhhhhhh como ela é

charmosa... Acho que ela é o sonho de todo coelho da minha idade. Mas, como eu ia

dizendo,Dorinha gosta de dançar, de caçar borboletas no jardim e também de brincar com

suas amigas. Ela é superinteligente e adora ler, mas se um dia souber tudo isso que escrevi,

vou morrer de vergonha.

Um dia, Dorinha brincava com suas amigas de apostar corrida pelos lugares mais distantes do

nosso parque. Com essa brincadeira gostosa ela gastava muita energia, só que nem ligava

porque estava se divertindo. Quando nadava no lago, sempre chegava ao outro lado bem

contente e não reparava que estava ficando cada vez mais disposta, além de bonita.

Até com os doces que o Coelhão trazia, a Dorinha foi a única que não exagerou, ela até comia

um pouco, mas não deixou de comer muitas folhas. Isso impediu que Dorinha ficasse do

tamanhão que eu fiquei; aí foi que eu bolei um plano... Um plano de coelho esperto.

69

Eu precisava me libertar e também libertara coelhada toda daquele Coelhão marrento que

estava oferecendo coisas que são gostosas, mas fazem mal, como salgadinhos e doces

colorido sem grande quantidade. O Coelhão queria obter vantagens fazendo-nos dependentes

daquelas gostosuras que engordam e nos deixam doentes.

Para colocar meu plano em ação, ninguém melhor do que a Dorinha, que além de linda, é

inteligente.Só os coelhos inteligentes são capazes de perceber o perigo. Se não fizermos nada,

em pouco tempo estaremos dominados completamente. Isso não pode acontecer!

Ao ver a Dorinha, até esqueci o que ia falar, de tão linda que ela é, mas como eu estava muito

preocupado com a situação, me concentrei e fui direto ao assunto. Dorinha sugeriu que nós

fizéssemos uma reunião, colocando em pauta os assuntos mais importantes, como os coelhos

que ficaram sem suas casas por causa do Coelhão, as verduras que todos acabaram

esquecendo-se de plantar por causa da facilidade de comer os doces do Coelhão, a

indisposição que todos estavam sentindo por causa do excesso de peso depois de tantos doces,

e por fim, o mais perigoso: a dificuldade para correr e fugir dos predadores era o que mais nos

preocupava...

Comendo aqueles doces e salgadinhos nosso corpinho gordo já não conseguia fugir do perigo!

Todos foram convidados para a reunião, Dorinha iniciou falando de tudo que havíamos

programado, aos pouquinhos foram agendadas novas reuniões. Pensamos em aproveitar o

momento para voltar a fazer nossas corridinhas, plantar nossas verdurinhas, brincar, enfim,

voltar ater diversão.

Foi virando uma festa, as verduras foram crescendo lindas e viçosas, fazíamos campeonatos

de corridas como nos velhos tempos, mas como todo mundo sabe não se consegue a vitória de

uma hora para outra, então fizemos o acordo de sempre nos reunirmos para “agitar” ao invés

de “engordar”.

Os resultados foram aparecendo, aos poucos. O Coelhão foi procurar outros bobos para

dominar, porque nós, coelhos, escolhemos o que queremos comer sem deixar ninguém

mandar no pedaço. Gostamos muito das verduras e legumes, mas isso não quer dizer que não

podemos comer alguns doces. Podemos sim, só que sempre gastamos energia para

compensar.

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As reuniões foram ficando cada vez mais alegres, mais ativas... E um dia, ao brincar de

esconde-esconde, sabe quem se escondeu na mesma toca que eu estava?

Mas esta já é uma outra história, agora vou falar baixinho para ninguém nos ver escondidos

aqui!

Fim

71

APÊNDICE G - CAPA E CONTRACAPA DO LIVRO INFANTIL

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