Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do Rio de Janeiro ... · A vegetação é própria da...

95
Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do Rio de Janeiro Escola Nacional de Botânica Tropical COMPOSIÇÃO E DISTRIBUIÇÃO DAS FORMAÇÕES DE MUSGOS DAS ÁREAS DE DEGELO ADJACENTES À BAÍA DO ALMIRANTADO, ILHA REI GEORGE, ANTÁRTICA Filipe de Carvalho Victoria 2005

Transcript of Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do Rio de Janeiro ... · A vegetação é própria da...

Page 1: Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do Rio de Janeiro ... · A vegetação é própria da tundra, composta ... Zona Antártica Marítima ou Antártica gelada, segundo Longton

Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do Rio de JaneiroEscola Nacional de Botânica Tropical

COMPOSIÇÃO E DISTRIBUIÇÃO DAS FORMAÇÕES DE MUSGOS DAS ÁREAS

DE DEGELO ADJACENTES À BAÍA DO ALMIRANTADO, ILHA REI GEORGE,ANTÁRTICA

Filipe de Carvalho Victoria

2005

Page 2: Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do Rio de Janeiro ... · A vegetação é própria da tundra, composta ... Zona Antártica Marítima ou Antártica gelada, segundo Longton

Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do Rio de JaneiroEscola Nacional de Botânica Tropical

COMPOSIÇÃO E DISTRIBUIÇÃO DAS FORMAÇÕES DE MUSGOS DAS ÁREAS

DE DEGELO ADJACENTES À BAÍA DO ALMIRANTADO, ILHA REI GEORGE,ANTÁRTICA

Filipe de Carvalho Victoria

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-graduação em Botânica, Escola Nacional de BotânicaTropical do Instituto de Pesquisas Jardim Botânicodo Rio de Janeiro, como parte dos requisitosnecessários à obtenção do título de Mestre emBotânica.

Orientadores:Dra. Denise Pinheiro da Costa (IPJBRJ)Dr. Antonio Batista Pereira (ULBRA)

Rio de Janeiro2005

Page 3: Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do Rio de Janeiro ... · A vegetação é própria da tundra, composta ... Zona Antártica Marítima ou Antártica gelada, segundo Longton

Victoria, Filipe de Carvalho

Composição e distribuição das formações de musgos das áreas de

degelo adjacentes à Baía do Almirantado, Ilha Rei George,

Antártica./Filipe de Carvalho Victoria – Rio de Janeiro, 2005.

vi, 111 p. il.

Dissertação (Mestrado em Botânica) Escola Nacional de Botânica

Tropical – ENBT/IPJBRJ, Pós-Graduação em Botânica, 2005.

Orientadora: Denise Pinheiro da Costa

1. Ecologia de comunidades 2. Musgos 3. Antártica I. Filipe de

Carvalho Victoria II. ENBT – Pós-Graduação III. Título

Page 4: Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do Rio de Janeiro ... · A vegetação é própria da tundra, composta ... Zona Antártica Marítima ou Antártica gelada, segundo Longton

AGRADECIMENTOS

À meus pais, Jorge e Helena, pelo amor, carinho e apoio que me deram duranteminha vida, principalmente pelo incentivo para progredir em meus estudos.

À minha esposa, Margéli, minha inspiração de vida, por sua alegria e confiançaque nunca deixaram que as dificuldades afetassem na busca do sucesso. Este trabalhotambém é seu.

Aos meus segundos pais, Aidê e Daltro, pelo carinho, incentivo e força paraprosseguir os estudos, mesmo tão longe de casa.

Ao meu irmão, Alexandre Félix, pelo conforto nas estadas em casa e pelaspalavras de ânimo.

À Dra. Denise Pinheiro da Costa, minha orientadora, pelos ensinamentospassados durante a realização deste trabalho.

Ao Dr. Antônio Batista Pereira, que desde a graduação até o momento sempreabriu as portas para que eu pudesse viver a ciência.

Ao Dr. Gilberto M Amado. Filho pela leitura crítica e às valorosas sugestõesincorporadas.

Ao Dr. Lubomir Kovacik, da Universidade de Commenius-Eslovakia, pelo apoioem campo e por disponibilizar suas magníficas fotos para ilustrar o presente trabalho.

Ao MMA, CNPq, PROANTAR e a Capes pelo apoio financeiro e oportunidadede iniciar a carreia profissional.

Agradeço a todos que, de alguma forma contribuíram para a realização destetrabalho, cuja lembrança sempre estará preservada comigo para sempre.

IV

Page 5: Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do Rio de Janeiro ... · A vegetação é própria da tundra, composta ... Zona Antártica Marítima ou Antártica gelada, segundo Longton

RESUMOA Ilha Rei George, localizada no arquipélago Shetland do Sul, Antártica

(61º50`- 62º15`S e 57º30`- 59º00`W), possui 65 km de comprimento, largura variando

de 4 a 40 km e temperaturas médias de 0,1 a -3,6°C. A distribuição das comunidades

vegetais e formas de crescimento dos musgos da Antártica dependem da luz,

temperatura, ventos, precipitação, brisa marinha e proximidade às colônias de aves,

acrescido das condições pedogeomorfológicas, como estabilidade da superfície, tipo de

rocha e erosão eólica. Estabelece-se assim nítidos limites de sobrevivência, fazendo

com que certas espécies de musgos sejam altamente especializados a geomorfologia

local. Durante os verões austrais 2002/2003 e 2003/2004 foram realizadas coletas

aleatórias e estudos fitossociológicos, nas áreas de degelo adjacentes a Estação

Brasileira Comandante Ferraz e a Estação Polonesa Henri Arctowski, ambas na Baía do

Almirantado, no interior da Ilha Rei George, objetivando estudar a estrutura das

comunidades de musgos nas áreas de degelo. Foram amostrados 39 espécies no estudo

fitossociólogico, sendo 28 espécies de musgos, 6 espécies de fungos liquenizados, 2

fanerógamas e uma espécie de macroalga continetal. As famílias mais representativas

foram Bryaceae, Polytrichaceae, Andreaeaceae e Pottiaceae. As espécies mais

freqüentes foram Sanionia uncinata (Hedw.) Loeske e Polytrichum juniperinum Foi

possível descrever as associações de musgos na região de Arctowski, constatando a

ocorrências de cinco formações principais. Dentro destas formações foram reconhecidas

e descritas as associações entre as espécies mais freqüentes e abundantes da

amostragem. Foram observados quatro tipos de formas de vida e suas respectivas

freqüências, tufos (59%), coxim (31%), tapete (7%) e trama (3%). Os tapetes, tufos e

tramas predominam nas regiões próximas ao nível do mar e em áreas alagadas pelo

degelo, devido a maior disponibilidade de substrato estável. Os coxins são mais

freqüentes a partir dos 100 m, principalmente nos afloramentos rochosos, uma vez que

esta forma de crescimento é mais resistente a ação dos ventos. Mais da metade das

espécies apresenta uma forma de vida, enquanto que 15% duas formas e 3% três

formas, o que era esperado devido as condições limítrofes da região. São apresentados

os resultados desta abordagem na forma de quatro artigos científicos.

V

Page 6: Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do Rio de Janeiro ... · A vegetação é própria da tundra, composta ... Zona Antártica Marítima ou Antártica gelada, segundo Longton

ABSTRACTThe Island King George, located in the Shetland archipelago of the South, Antarctica

(61º50` - 62º15`S and 57º30` - 59º00`W), possess 65 km of length, the 40 width varying

of 4 km and average temperatures of 0,1 -3,6°C. The distribution of the vegetal

communities and life-forms Antarctic mosses depend on the light, temperature, winds,

precipitation, sea breeze and proximity to the colonies of birds, increased of the

geomorphologic conditions, as stability of the surface, type of rock and aeolian erosion.

One establishes thus clear limits of survival, making with that certain species of mosses

highly are specialized the local geomorphology. During austral summers 2002/2003 and

2003/2004 random collections and ecological studies had been in the ice-free areas

adjoining the Brazilian Station Commander Ferraz and the Polish Station Henri

Arctowski, both in the Admiralty Bay, inside of the King George Island, objectifying to

study the structure of the communities of mosses in the ice-free areas. Were found 39

species in the phytossociologycal approach, 28 mosses, 6 lichens, 2 phanerogams and

one continental algae. Bryaceae, Polytriochaceae, Andreaceae and Pottiaceae were the

most frequent families found in this study. Sanionia uncinata (Hedw.) Loeske and

Polytrichum juniperinum were most abundant species in the area. It was possible to

describe the associations of mosses in the region of Arctowski, being evidenced the

occurrences of five main formations. Inside of these formations they had been

recognized and described the associations between the species most frequent and

abundant of the sample. Four types of life-forms and its respective frequencies had been

observed, tufts (59%), cushion (31%), carpet (7%) and tram (3%). The carpets, tufts and

trams predominate in the regions next to the level to the sea and in areas flooded for the

thawing, which had the biggest steady substratum availability. The cushions are more

frequent from the 100 m, mainly in the rocky outcrops, a time that this form of growth

is more resistant the action of the winds. More than a half of species presents only one

life-form, while that 15% two forms and 3% three forms, what he was waited due the

bordering conditions of the region. The results of this boarding in the form of four

scientific articles are presented.

VI

Page 7: Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do Rio de Janeiro ... · A vegetação é própria da tundra, composta ... Zona Antártica Marítima ou Antártica gelada, segundo Longton

SUMÁRIO

AGRADECIMENTOS...............................................................................................................IV

RESUMO......................................................................................................................................V

ABSTRACT................................................................................................................................VI

1.INTRODUÇÃO.........................................................................................................................9

1.1 Estudos Botânicos Antárticos.................................................................................10

1.2 Flora Antártica........................................................................................................11

1.3 Estrutura das comunidades vegetais antárticas...................................................12

2.MATERIAL E MÉTODOS....................................................................................................14

2.1 Área de estudo..........................................................................................................14

2.2 Trabalho de Campo.................................................................................................15

2.2.1. Amostragem.........................................................................................................15

2.2.2. Análise dos dados.................................................................................................16

2.2.3. Coleta de material................................................................................................16

2.3 Identificação das coletas..........................................................................................17

3.CAPÍTULO I - Characterization of plant communities in ice-free areas adjoining the Polish

Station H. Arctowski, Admiralty Bay, King George Island, Antarctic. ...............................18

3.1 Introduction.............................................................................................................19

3.2 Material and Method...............................................................................................20

3.3 Results.......................................................................................................................20

3.4 References.................................................................................................................22

4. CAPÍTULO II – Composição e distribuição das formações de musgos nas áreas de degelo

adjacentes a região de Arctowski, Ilha Rei George, Antártica..............................................23

4.1 Introdução................................................................................................................24

4.2 Materiais e Métodos................................................................................................26

4.3 Resultados.................................................................................................................28

4.5 Referências...............................................................................................................42

5. CAPÍTULO III – Associações Líquens - Musgos nas áreas de degelo adjacentes a Punta

Thomas e Italia Valley, Ilha Rei George, Antártica................................................................45

5.1 Introdução................................................................................................................46

5.2 Materiais e Método..................................................................................................47

5.3 Resultados.................................................................................................................48

5.4 Referências...............................................................................................................52

5.5 Anexos.......................................................................................................................55

7. CAPÍTULO VI – Formas de vida das espécies de musgos nas áreas de degelo da Ilha Rei

George, Antártica.......................................................................................................................59

Page 8: Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do Rio de Janeiro ... · A vegetação é própria da tundra, composta ... Zona Antártica Marítima ou Antártica gelada, segundo Longton

6.1 Introdução................................................................................................................61

6.2 Materiais e Métodos................................................................................................63

6.3 Resultados e Discussão............................................................................................64

6.4 Referências...............................................................................................................72

6.5 Anexos.......................................................................................................................75

7. CONSIDERAÇÕES FINAIS.................................................................................................79

8. REFERÊNCIAS BIBLIOGÁFICAS....................................................................................81

9. ANEXOS I..................................................................................................................87

10. ANEXOS II..............................................................................................................94

8

Page 9: Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do Rio de Janeiro ... · A vegetação é própria da tundra, composta ... Zona Antártica Marítima ou Antártica gelada, segundo Longton

1.INTRODUÇÃO

A Antártica compreende todas as terras localizadas abaixo do paralelo 60O. Foi o

último continente a ser descoberto pelo homem e, por isso, o conhecimento dos recursos

naturais e biológicos está ainda em fase inicial de exploração. Ao mesmo tempo

representa a possibilidade de que erros cometidos durante a exploração de outros

continentes sejam evitados, permitindo que o ambiente natural seja preservado com o

mínimo de perturbações. Por esta razão, nos termos do Tratado Antártico, a Antártica é

definida como o “continente para ciência” (ATCPs, 1996).

Segundo Ochyra (1998), a Antártica é a única região do mundo que possui biota

terrestre compreendendo quase que unicamente organismos de nivel organizacional

menos complexos (principalmente microorganismos, fungos, algas e briófitas). Existem

na Antártica apenas duas fanerógamas nativas, Deschampsia antarctica Desv. (Poaceae)

e Colobanthus quitensis Kunth (Caryophylaceae), ocorrendo somente nas áreas mais

quentes do continente (Lewis-Smith, 1984a).

O bioma antártico pode ser dividido em zonas latitudinais, que correspondem a

regiões climáticas distintas (Fig. 1). Esta divisão têm sido interpretada de diversas

formas (Skottsberg, 1960; Godley, 1960; Wace, 1960), mas até o momento o sistema

apresentado por Greene (1964) e detalhado por Lewis-Smith (1984b), exposto a seguir,

tem tido ampla aceitação.

(1) Zona Subantártica, ou Antártica fria, segundo Longton (1988), compreende

oito grupos de pequenas ilhas isoladas a oeste da Georgia do Sul e a leste da Ilha

Macquarie, incluindo também as ilhas Marion e Prince Edward, Ilha Crozet, Ilha

Kerguelen, Ilha Heard e Ilhas MacDonald, dispersas no vasto oceano do Sul. Apresenta

clima oceânico temperado fresco (Rakuza-Suszczewski et al. 1993) com padrões de

temperatura acima do ponto de congelamento por pelo menos metade do ano e com

precipitações superiores a 90 cm por ano. A vegetação é própria da tundra, composta

principalmente por ervas lenhosas e criptógamas.

(2) Zona Antártica Marítima ou Antártica gelada, segundo Longton (1988),

compreende a costa oeste da Península Antártica e os arquipélagos vizinhos (Shetlands

do Sul, Orkney dos Sul e Ilhas Sandwich do Sul), bem como a Ilha Bouvetøya (aprox.

55° S). Possui clima oceânico gelado e úmido, com médias mensais excedendo 0°C,

principalmente nos meses de inverno, e precipitações de 35-50 cm anuais, sendo as

9

Page 10: Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do Rio de Janeiro ... · A vegetação é própria da tundra, composta ... Zona Antártica Marítima ou Antártica gelada, segundo Longton

chuva comuns no verão austral. Possui somente duas espécies de plantas vasculares e

com floras de musgos e liquens relativamente ricas e diversas.

(3) Zona Antártica Continental ou Antártica frígida, segundo Ochyra (1998),

compreende as demais regiões do continente, incluindo a costa oriental da Península

Antártica e as regiões mais ao sul da Ilha Alexander. O clima é particularmente árido

com temperaturas médias mensais nunca excedendo o ponto de congelamento e

precipitações ca 10-15 cm anuais. Esta zona é muito pobre floristicamente, sendo as

plantas vasculares ausentes e as criptógamas esparsas, representadas quase unicamente

por liquens.

1.1 Estudos botânicos na Antártica

O primeiro trabalho botânico na Antártica foi realizado por J. Torrey (1823

Apud Putzke & Pereira, 2001), quando descreveu uma espécie de Usnea (líquen). J.

Eights, entre 1829-1830, foi o primeiro a coletar liquens, briófitas, algas marinhas e

gramíneas na Antártica Marítima.

Em 1843, J. D. Hooker realizou coletas na recém descoberta Ilha Cockburn

próximo à Península Trinity, enquanto participava da Expedição Antártica de Ross,

tendo sido publicados os resultados em Hooker &Wilson (1844).

Na Expedição Polar Alemã, empreendida entre 1882-83, foram realizadas

importantes coletas de material botânico nas Georgias do Sul, por H. Will e Mosthaff,

especialmente junto a Royal Bay. Este material foi remetido a C. Müller, o qual

publicou o resultado em 1890 (Putzke & Pereira, 2001), e ao "Institut für Systematische

Botanik”, da Universidade de Graz, Áustria, onde permaneceu ignorado até meados do

século XX.

Após a expedição de J. D. Hooker, novas coletas na Antártica foram realizadas

por Racowitza, botânico da Expedição Antártica Belga de 1897-1899. O material

incluía quinze espécies e duas variedades de musgos descritas por Cardot (1900, 1901).

Carl Skottsberg fez inúmeras coletas em sua viagem com a Expedição Antártica

Sueca entre 1901 e 1903, as quais serviram de base ao trabalho de Cardot (1908), onde

são incluídos também resultados de coletas realizadas por outras expedições, gerando a

primeira lista de espécies de musgos para a região.

O Ano Geofísico Mundial de 1957-1958, importante evento científico que

estabeleceu a cooperação internacional na exploração do Pólo Sul (ATCPs, 1993),

aumentou em muito o trabalho com a vegetação na Antártica, especialmente porque

10

Page 11: Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do Rio de Janeiro ... · A vegetação é própria da tundra, composta ... Zona Antártica Marítima ou Antártica gelada, segundo Longton

especialistas se encarregaram das coletas. Surgiu, então, a primeira lista de briófitas,

publicada por Steere (1961) e suplementada por Greene (1968). Finalmente, o trabalho

de Dodge (1973), reuniu a totalidade de liquens conhecidos para as áreas de degelo da

Antártica Marítima até o final da década de 60.

1.2 Flora Antártica

Na Antártica, as Magnoliophyta, estão representadas apenas por Deschampsia

antarctica Desv. (Poaceae) e Colobanthus quitensis (Kunth) Bartl. (Caryophyllaceae).

A brioflora está dividida em dois grupos taxonômicos, Marchantiophyta (hepáticas),

com 22 espécies e Bryophyta (musgos), com aproximadamente 60 espécies. Muitos

outros nomes já foram citados para a região, que, em sua maioria, representavam erros

na identificação (Ochyra, 1998; Putzke & Pereira, 2001). Estes nomes dificultam os

trabalhos florísticos, especialmente no gênero Bryum, onde a quantidade de nomes

inválidos ou sinonimizados é muito grande. Entretanto, os trabalhos de Ochyra & Ochi

(1986) e Kanda (1986), esclarecem a taxonomia deste grupo.

A maioria das hepáticas da região é de fácil identificação utilizando os trabalhos

de Ochyra & Vána (1989a) e Bednarek-Ochyra et al. (2000), que apresentam chaves,

ilustrações e descrições para as espécies que ocorrem na Antártica.

Os musgos são mais numerosos que as hepáticas, possuem maior biomassa no

continente, participando de extensas formações e associações, e, portanto, são melhor

estudados. A primeira tentativa de reunir o que havia sido publicado sobre a brioflora

foi feita por Steere (1961), que elaborou uma revisão preliminar das briófitas da

Antártica. Greene (1968) apresenta uma lista dos musgos até então conhecidos, porém

Robinson (1972), foi quem realizou um dos primeiros trabalhos sobre os musgos da

Antártica com chaves para identificação.

Na década de 70/80, os musgos antárticos passaram a ser mais intensamente

estudados e surgem, então, os trabalhos de: Ando (1973, 1976), Bell (1973a,b,c; 1974;

1976, 1977a,b), Clark (1973a,b), Greene (1973, 1975), Greene et al. (1970), Matteri

(1977a,b), Newton (1974a,b,c; 1977a,b; 1979a,b), Ochi (1976, 1979).

Na década de 80, muitos trabalhos foram elaborados com os musgos antárticos,

destacando-se: Kanda (1987), Ochyra (1985), Ochyra & Ochi (1986), Ochi (1982), que

descrevem as espécies de musgos para pequenas áreas da Antártica Marítima. Para a

Ilha Rei George, Putzke & Pereira (1990) citam 39 (trinta e nove) espécies, com chaves,

descrições, ilustrações e dados ecológicos. Somente no final da década de 90, surge a

11

Page 12: Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do Rio de Janeiro ... · A vegetação é própria da tundra, composta ... Zona Antártica Marítima ou Antártica gelada, segundo Longton

primeira compilação de dados sobre os musgos de uma grande região da antártica com o

trabalho de Ochyra (1998), que apresenta uma monografia sobre os musgos da Ilha Rei

George, reconhecendo 58 espécies para a região.

Em relação aos demais criptógamos, apenas um gênero de algas macroscópicas

terrestres é conhecido para a Antártica, com apenas duas espécies: Prasiola crispa

(Lightfoot) Menegh., que é ornitocoprófila e P. cladophylla (Carmich.) Menegh., que é

ornitocoprófoba. Os fungos macroscópicos, segundo Pereira (1990), estão

representados, até o momento, por 10 espécies, já para os fungos liquenizados, segundo

Øvstedal & Lewis-Smith (2001), são conhecidas 360 espécies.

1.3 Estrutura das comunidades vegetais antárticas

A distribuição das comunidades vegetais e as formas de vida dos musgos da

Antártica, conforme Putzke et al. (1995), dependem principalmente da luz, uma vez que

tem-se um período de verão com aproximadamente 20 horas/ luz por dia e um período

de inverno com apenas duas horas/dia de luz. Segundo Allison & Lewis-Smith (1973), a

temperatura, ventos, precipitação, brisa marinha e colônias de aves, são condições que

associadas a fatores locais, tais como a estabilidade da superfície, tipo de rocha e erosão

eólica, são críticos para sua ocorrência, estabelecendo nítida definição nos limites de

sobrevivência, fazendo com que certas espécies sejam altamente especializadas e os

seus nichos, às vezes, tão restritos que podem ser bons indicadores das mudanças

ambientais.

Segundo Redon (1985), as formações vegetais possuem um grande número de

espécies com centro de dispersão localizado na Península Antártica, nas Shetlands do

Sul, na Geogia do Sul e ocasionalmente nas Ilhas Malvinas e Terra do Fogo. Para

Lewis-Smith (1972) estes centros são caracterizados por três tipos de formações de

briófitas: 1- Formação de tufos de musgos (onde raramente são encontradas grandes

tufos, com predomínio de espécies do gênero Polytrichum Hedw.; 2-Formação de

tapetes de musgos, composto especialmente por Sanionia uncinata (Hedw.) Loeske,

Warnstorfia sarmentosa (Wahlenb.) Hedenäs e W. laculosa (Müll. Hal.) Ochyra &

Matteri; 3- Formação de musgos aquáticos, composta por Bryum pseudotriquetrum

(Hedw.) Schwaegr. e W. sarmentosa, encontrados em lagos ricos em guano. Além de

formações mistas.

Estas formações geralmente ocorrem na Antártica marítima. As similaridades

florísticas deste domínio foram abordadas por diversos autores (Lewis-Smith, 1972;

12

Page 13: Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do Rio de Janeiro ... · A vegetação é própria da tundra, composta ... Zona Antártica Marítima ou Antártica gelada, segundo Longton

Lewis-Smith & Giminham, 1976; Allison & Lewis-Smith, 1973; Kanda, 1986, 1987).

Ochyra (1998), comenta sobre estas formações na Ilha Rei George, citando um breve

apanhado destas, mas não aborda as similaridades com outras regiões da Antártica.

Todas estas formações são diretamente e indiretamente afetadas pela presença

do homem. A manutenção da vida de pesquisadores e militares dentro e fora das

estações e refúgios no continente antártico envolve um alto consumo de combustíveis e

produção de resíduos em solo austral, que mesmo quando devidamente tratados, deixam

marcas na biota antártica que ainda não foram claramente estudadas (ATCPs, 1993).

Portanto para estudar as formações vegetais é necessário a priori conhecer a

composição da vegetação da região (Pereira & Putzke, 1990). Para a Ilha Rei George

isto é possível utilizando os trabalhos de Ochyra & Vaña (1989a e b) e Bednarek-

Ochyra et al (2000) para hepáticas e Redon (1985) e Dodge (1973) para liquens, e como

só existem duas espécies fanerogâmicas para a região, pode-se estudar esta vegetação,

descobrindo como estão relacionadas através de levantamentos fitossociológicos. A

primeira tentativa de descrever a estrutura das comunidades vegetais antárticas foi

realizado por Skottberg (1912), que reconheceu e classificou algumas comunidades de

liquens e musgos na Antártica, utilizando principalmente a fisionomia da formação.

Somente três décadas depois as caracterizações receberam uma abordagem analítica e

quantitativa (Allison & Lewis-Smith, 1973).

Lewis-Smith & Grimngham (1976), apresentam as comunidades de musgos

antárticos separados em três unidades hierárquicas principais.

A. Formações: Categoria mais abrangente na hierarquia, o critério fisionômico é

usado como base para a delimitação, onde também a forma de vida é muito

importante.

B. Sub-formações: a unidade base desta categoria é a forma de vida do componente

predominante em diferentes sítios de amostragem. Para os musgos são

distinguidos os acrocárpicos (eretos) e os pleurocárpicos (prostados). Para os

liquens são conhecidas as formas crostosas, foliosas e fruticulosas.

C. Associações: Baseada na ocorrência de um ou mais espécies em dominancia em

um determinado número de amostras. Aparentemente, grandes manchas de

vegetação podem apresentar uma única associação, sendo as diferenças

representadas por espécies pouco freqüentes. Assim sendo, a composição

específica e a preferência por habitat demonstram pequenas variações.

13

Page 14: Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do Rio de Janeiro ... · A vegetação é própria da tundra, composta ... Zona Antártica Marítima ou Antártica gelada, segundo Longton

D. Sociation: Baseada na dominância de uma ou mais espécies em associação

dentro das amostras. Furmanczyk & Ochyra (1982) preferem usar o termo

variante para esta unidade.

Hu (1998) classifica as comunidades baseado nas espécies dominantes em cada

amostra, não fazendo referência a forma de vida, ao contrário dos autores acima. As

formações são baseadas na espécie(s) mais freqüente(s) em um dado número de

amostras. Este esquema facilita comparar as relações dos vegetais em áreas distintas,

pois elege as associações como a identidade das comunidades.

O presente trabalho reuniu atividades de campo e laboratório que visaram realizar o

estudo fitossociológico utilizando a técnica de quadrados (Braun-Blanquet, 1932), a fim de:

- descrever as formações de musgos que ocorrem na área de estudo, bem como as

associações observadas em cada formação;

- descrever as formas de vida das espécies de musgos que ocorrem nas adjacências

da estação poloneza Henrik Arctowski e na Península Keller, baseando-se nas coletas

realizadas, na revisão de material coletado em expedições antárticas anteriores e nas

descrições das espécies de musgos da região apresentadas na literatura usual.

- subsidiar o Projeto “Composição florística e distribuição das comunidades vegetais

em áreas de degelo adjacentes à Baia do Almirantado, Ilha Rei George, Antártica”, na

elaboração de mapas das formações vegetais da região, bem como na reunião de dados

sobre as plantas que crescem em áreas de degelo na Antártica que possam contribuir

para a compreensão dos ecossistemas antárticos como um todo;

2. MATERIAL E MÉTODOS

2.1 Área de estudo

2.1.1 A Ilha Rei George

A Ilha Rei George situa-se entre as coordenadas 61°50` - 62°15`S e 57°30`- 59°

00`W, no setor oeste da Península Antártica (Fig. 2). Seu clima é determinado pela

passagem de sucessivos sistemas ciclônicos, transportando o ar aquecido e úmido, fortes

ventos e grande volume de precipitação (Bintanja, 1992). As características da região

são típicas de um clima marítimo, com pequena variação na temperatura atmosférica

14

Page 15: Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do Rio de Janeiro ... · A vegetação é própria da tundra, composta ... Zona Antártica Marítima ou Antártica gelada, segundo Longton

durante o ano, alta umidade relativa do ar e grande cobertura de nuvens (Rakusa-

Suszczewski et al., 1993). Segundo Ferron et al. (2001), o clima pode ser classificado

como polar oceânico do hemisferio sul (de a cordo com a classificação de Koppen).

Segundo Ochyra & Vãna (1989a), a vegetação de Rei George é típica do Norte

da Antártica marítima, possuindo estreita afinidade com as demais ilhas do arquipélago

Shetland do Sul, com as Ilhas Orcadas do Sul e com as ilhas a noroeste da Península

Antártica. A região é destituída de extensiva cobertura de fanerógamas, somente

comunidades dominadas por criptógamas são encontradas, em sua maioria

desenvolvendo-se sob influencia das condições oceânicas, ocupando as praias e as faces

das montanhas voltadas para o mar (Ochyra, 1998). Entretanto a vegetação de Rei

George, difere daquelas encontradas em regiões onde ainda existe atividade vulcânica

(Dixon, 1920; Longton & Holdgate, 1967; Lewis-Smith, 1984a, 1984b), como nas Ilhas

Sandwich e na Ilha Deception, onde a vegetação se desenvolve ao redor de fumarolas,

geralmente dominadas por espécies ainda não conhecidas em outras regiões da

Antártica como Anisothecium hookeri (Müll Hal.) Broth. e Marchantia beteoana Lehm.

& Lindb. (Ochyra, 1998; Putzke & Pereira, 2001).

A cobertura vegetal mais luxuriante é encontrada na Baía do Almirantado (Fig.

3), a maior baía da ilha. Sua topografia contribui para a formação de condições

microclimáticas favoráveis ao desenvolvimento das comunidades vegetais. Segundo

Marsz & Rakusa-Suszczewski (1987) a cadeia de montanhas ao redor da Baía do

Almirantado protege a área da ação de ventos e da precipitação, além de servir de

escoamento da água oriunda do degelo, disponibilizando assim, quantidade considerável

de áreas para a colonização das plantas (Ochyra, 1998, Rakusa-Suszczewski, 2002).

2.2 Trabalho de Campo

Foram estudadas as áreas de degelo nas adjacências da Baía do Almirantado,

durante a Operação Antártica XXI e XXII, no período do verão austral entre os meses

de dezembro e janeiro dos anos 2002-2003, nas regiões da Península Keller e

Arctowski, respectivamente. A partir do levantamento, utilizando-se o método de

quadrados de Braun-Blanquet (1932), adaptado às condições da Antártica (Putzke et al.,

1995), foram amostradas as comunidades de musgos na região da estação polonesa

Henrik Arctowski (Fig. 4).

2.2.1 Amostragem

15

Page 16: Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do Rio de Janeiro ... · A vegetação é própria da tundra, composta ... Zona Antártica Marítima ou Antártica gelada, segundo Longton

Foram dispostos 240 quadrados na região estudada, utilizando os seguintes

critérios: fisionomia, cobertura vegetal e a geomorfologia. Em pequenas manchas de

vegetação, foram dispostos quadrados amostrais utilizando-se um acetato com um

quadrado de 25x25 cm impresso, também quadriculado em 2,5x 2,5 cm, posicionando-

se em pé nas proximidades da mancha de modo a esta ficar sobreposta ao acetato, e com

base em uma tabela de números aleatórios fixava-se os quadrados de amostrais. Nas

manchas maiores utilizou-se transectos de 100m (Fig. 6) onde a cada 10 m era disposto

um quadrado (Fig. 7), o número de transectos variou de acordo com o tamanho do

campo de musgos.

2.2.2 Análise dos dados

Nos quadrados foram avaliados o grau de cobertura e a freqüência contando a

porcentagem de área que as espécies ocupavam no quadrado. O grau de cobertura foi

medido em cada quadrado individualmente, segundo Kanda (1986), com adequações ao

método de Braun-Blanquet (1932), como segue: grau 5 - de 100 a 75% de cobertura da

espécie no quadrado; grau 4 – de 75 a 50% de cobertura; grau 3 – 50 a 25% de

cobertura; grau 2 – 25 a 10% de cobertura; grau 1 – de 10 a 1% de cobertura. Nos caso

de ocorrerem espécies em cobertura inferior a 1% lhes eram atribuídas grau 0,5.

Para comparar a composição das formações de musgos observadas no estudo,

além da frequência e grau de cobertura, foram calculados os indice de diversidade de

Shannon-Weaner (H’), considerando tanto o número de espécies por formação como a

equabilidade entre elas.

O calculo dos parâmetros diversidade e riqueza foi realizado através do softwareEstimateS (Colwell, 2003)

2.2.3 Coleta de material

A coleta e identificação das espécies de musgos e liquens presentes nos

quadrados foram realizadas paralelamente. Também foram coletadas eao acaso,

espécimes nos arredores dos quadrados, principalmente se estas não ocorriam nos

quadrados, objetivando conhecer a distribuição das espécie.

As amostras de briófitas foram obtidas utilizando-se faca, com exceção para as

espécies saxícolas que foram coletadas com auxílio de martelo de geólogo e em ambos

os casos teve-se o cuidado de sempre retirar parte do substrato juntamente com os

16

Page 17: Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do Rio de Janeiro ... · A vegetação é própria da tundra, composta ... Zona Antártica Marítima ou Antártica gelada, segundo Longton

espécimes. A metodologia de coleta, herborização e preservação do material seguiu a

descrita por Yano (1984).

Além dos estudos fitossociológicos as formações vegetais e associações foram

localizadas através de coordenadas utilizando GPS e mapa geomorfológico da região.

Na Península Keller (Fig. 5) foram somente coletadas espécies de musgos e avaliadas

suas formas de vida, bem como em que condições de substrato estas se desenvolviam.

2.3 Identificação das espécies coletadas

O sistema de classificação adotado para a Divisão Bryophyta é o de Buck &

Goffinet e para a Divisão Marchantiophyta é o de Crandall-Stotler & Stotler (in Shaw &

Goffinet 2000).

Para a identificação dos musgos e outros briófitos, foram avaliados os caracteres

de importância taxonômica, baseada nos trabalho de Crum (1976), Dixon (1920),

Hooker & Wilson (1844), Ochyra & Vãna (1989a, b) e utilizando as chaves artificias de

identificação, encontradas em Bednarek-Ochyra et al. (2000), Ochyra (1998), Pereira &

Putzke (1994) e Putzke & Pereira (1990 e 2001). Para identificar as espécies de liquens

foram utilizados os trabalhos de Dodge (1973) Øvstedal & Smith (2001) e Redon

(1985).

Parte complemetar da metodologia, bem como os resultados e a discussão desta

dissertação estão apresentadas na forma de artigos científicos, divididos em capítulos,

como segue:

Artigo 1. Characterization of plant communities in ice-free areas adjoining the

Polish Station H. Arctowski, Admiralty Bay, King George Island, Antarctic (Aceito

para publicação nos Anais do V° Simpósio Antártico y I° Latino americano de

investigaciones antárticas, Buenos Aires, Argentina).

Artigo 2. Composição e distribuição das comunidades de musgos nas áreas de

degelo adjacentes a região de Arctowski, Ilha Rei George, Antártica (A ser submetido

ao The Journal Hattory Botanical Laboratory).

Artigo 3. Associações Líquens - Musgos nas áreas de degelo adjacentes a Punta

Thomas e Italia Valley, Ilha Rei George, Antártica (A ser submetido à revista Pesquisa

Antártcia Brasileira).

Artigo 4. Formas de vida das espécies de musgos nas áreas de degelo da Ilha Rei

George, Ilhas Shetland do Sul, Antártica (A ser submetido à revista Polar Biology).

17

Page 18: Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do Rio de Janeiro ... · A vegetação é própria da tundra, composta ... Zona Antártica Marítima ou Antártica gelada, segundo Longton

CAPÍTULO I. Characterization of plant communities in ice-free areas adjoining the

Polish Station H. Arctowski, Admiralty Bay, King George Island (Isla 25 de Mayo),

Antarctic.

(Artigo aceito para publicação nos Anais do Vº Simpósio Antártico argentino y Iº

Simpósio latinoamericano de pesquisas antárticas, Buenos Aires, Argentina)

18

Page 19: Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do Rio de Janeiro ... · A vegetação é própria da tundra, composta ... Zona Antártica Marítima ou Antártica gelada, segundo Longton

Characterization of plant communities in ice-free areas adjoining the PolishStation H. Arctowski, Admiralty Bay, King George Island (Isla 25 de Mayo),

Antarctic.Victoria, F.C.1; Costa, D.P.1;Pereira, A.B.2

1Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do Rio de Janeiro. 915 Pacheco Leão St., Rio de Janeiro, RJ,

Brasil.2Universidade Luterana do Brasil, Biology Department. 101Miguel Tostes St., Canoas, RS, Brasil.

Research developed with funds from MMA/CNPq/CIRM, through PROANTAR.

Palavras-Chaves: Comunidades Vegetais, áreas de degelo, Antártica.

Keyword: Plant Communities, ice-free areas, Antarctica.

ResumoDurante a Operação Antártica XXIII foram realizados estudos botânicos nas

áreas de degelo adjacentes a Estação Polonesa Henrik Arctowski, na Baía do

Almirantado, Ilha Rei George, Antártica. Por meio de coletas aleatórias e análises

fitossociológicas foi possível classificar a vegetação em quatro comunidades vegetais

distintas. É apresentado um mapa com a distribuição de cada comunidade na região.

AbstractDuring the XXIII Expedition Antarctica, botanical studies in the ice free areas

adjoining the Polish Station Henrik Arctowski, in the Admiralty Bay, King George Island,

Antarctica, had been made. Using random collections and phytossociological analysis

it was possible to classify the vegetation in 4 distinct plant communities. A map with the

distribution of each community in the region is presented.

IntroductionKing George Island (61º50`- 62º15`S and 57º30`- 59º00`W), located in the

South Shetland archipelago (Marine Antarctic), is approximately 65 km long and has

widths varying from 4 to 40km. The clime of the region is determined by the crossing of

cyclonic succeeding systems that transport moist warm air, seeing that the atmospheric

temperature varies little along the year (Ferron et al, 2001). The Polish Antarctic

Station Henrik Arctowski (62° 10´S - 58° 28´W) is facing the entrance of the Admiralty

Bay, in a sheltered area, with different climatic conditions from those found around the

island. The composition and distribution of plant communities are not well known there,

what justifies the aims of this work.

19

Page 20: Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do Rio de Janeiro ... · A vegetação é própria da tundra, composta ... Zona Antártica Marítima ou Antártica gelada, segundo Longton

Materials and MethodsIn order to map the plant communities of the region, during the XXIII Brazilian

Antarctic Expedition (2003/2004), botanical material were randomly and systematically

sampled, together with phytossociologic data survey of the ice-free areas adjoining H.

Arctowski station. Six sampled areas were outlined for this study: (1) A beach adjoining the

H. Arctowski Station; (2) Punta Thomas and adjoining scarps; (3) A beach adjoining the

Ecology Glacier; (4) Italy Valley; (5) The Ridges of Panorama Ridge and (6) Jardine Peak

and its adjoining ridges. The choice of those areas was based on Putzke et al. (1998).

Quadrats of 25x25cm were randomly thrown in those areas and the dominance degree of

each species found was calculated according to Braun-Blanquet (1964). In the areas of

low plant coverage and in communities found above 120m, only random samples were

made, followed by note taking of species occurrence associated with their substrate. The

characterization of the communities was based on species of highest abundance in the

samples (Kanda, 1986).

The collected species were identified based on the work of Bednarek-Ochyra et

al. (2000), Putzke & Pereira (2001), Ochyra (1998) and Redon (1985), and the

exsiccates were stored in the Herbarium of the Instituto de Pesquisas Jardim Botânico

do Rio de Janeiro (RB), with duplicates for eventual interchange.

ResultsFor the ice-free areas adjoining the H. Arctowski Station the following

communities were recognized (Fig. 1):

1. Communities of Cryptogam - Phanerogam

They have the largest diversity, mainly formed by phanerogams, lichens,

mosses and hepaticas growing associated in steady cryosoil and swampy soils. The

lichens can be fruticulose, crustose and muscicolous kind, and the most representative

species are: Usnea antártica Du Rietz and U. aurantiaco-atra (Jacq.) Bory which are

abundant in the rocky emergences, where there is also Rhizocarpon geographicum (L.)

DC., in places where the rocks have little or none vegetation at all. Among the mosses

it should mainly be noted carpets of Sanionia uncinata (Hedw.) Loeske, and some

cushions of Syntrichia princeps (De Not.) Mitt and Hennediella antarctica (Ångstr.)

Ochyra & Matteri. Other mosses like Polytrichum juniperinum Hedw., P. piliferum

Hedw., Pohlia sp and Bryum sp. may be found forming tufts in very small populations.

Phanerogams Deschampsia antarctica Desv. (Poaceae) and Colobanthus quitensis

(Kunth.) Bart. (Caryophylaceae), are abundant, specially, next to bird colonies, usually

in the beaches.

20

Page 21: Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do Rio de Janeiro ... · A vegetação é própria da tundra, composta ... Zona Antártica Marítima ou Antártica gelada, segundo Longton

2. Communities of Deschampsia - Cryptogams

Communities Deschampsia - cryptogams are typically from Skua Cliff and

Jersak Hills, between 60 –100m, forming a transition zone from cryptogams-

phanerogams communities. Characteristic in this communities are tufts of mosses of P.

juniperinum and large carpets of Sanionia uncinata, while Syntrichia príncipes (De

Not.) Mitt and S. saxicola (Card.) Zand. appear in rocky emergences, always

associated with Usnea aurantiaco-atra (Jacq.) Bory, U. antarctica Du Rietz and

cushions of Andreaea depressinervis Card. Among the hepaticas it should be pointed

out Cephaloziella cf varians (Gottsche) Steph. and Lophozia excisa (Dicks.) Dumort.

associated with carpets of S. uncinata and tufts of Chorisodontium acyphyllum (Hook. f.

& Wils.) Broth., usually in very wet areas where water from defrosting gets

accumulated. Here turfs of Colobanthus quitensis are rare.

3. Communities of Lichens - mosses

Mostly found above 120m, being very frequent in unstable rocks and soil,

specially in the walls of Jardine Peak, in the scarps of Jersak Hill, in moraines north of

Ecology Glacier and in the far north of Punta Thomas. Those communities are

characteristically saxicolous where there are hight densities of Usnea antarctica and U.

aurantiaco-atra. The predominant mosses are Schistidium antarctici (Card.) L. I. Savicz

& Smirnova, Syntrichia princeps, S. saxicola, Andreaea regularis Müll. Hal. and

Andreaea gainii Card., all happening in a cushion like shape. Due to the short

availability of soil or due its instability, Deschampsia antarctica or Colobanthus

quitensis is hardly found in those areas, as they are dependent of that substrate.

4. Fragment communities of Lichens – Cushions of mosses

Areas with isolated species or in very low density. It has with fragmented

distribution, probably happening in all recent exposed areas. The vegetation is mainly

cushions of Syntrichia princeps, S. saxicola and Andreaea sp., and fruticulose lichens

such as Usnea antarctica and U. arantiacoatra, all developing in unstable cryosoils or even

in the moraines, present from 5 to 100m. Those fragments are well visible especially in the

beach facing Ezcurra small bay, where there is also isolated turfs of Deschampsia

antarctica and Colobanthus quitensis, and in small patches next to Ecology Glacier, seeing

that in other parts they are less clear due the layer of ice and snow that cover the adjoining

areas. Possibly those fragments show up when defrosting is well ahead.

21

Page 22: Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do Rio de Janeiro ... · A vegetação é própria da tundra, composta ... Zona Antártica Marítima ou Antártica gelada, segundo Longton

ReferencesBednarek-Ochyra, H. Vãna, J., Lewis-Smith, R. I., Ochyra, R., 2000. The liverwort of

Antarctica. Polish Academy of Science, Institute of Botany, Cracow, 237 pp.

22

Fig. 1 Plant communities distribution map in the ice-free areas adjoining H. Arctowski Station. I- Cryptogams-Phanerogamscommunities. II- Lichens-mosses communities. III- Deschampsia-Cryptogams communities. IV- Lichens-cushions of mossesfragments.

62° 10´

Page 23: Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do Rio de Janeiro ... · A vegetação é própria da tundra, composta ... Zona Antártica Marítima ou Antártica gelada, segundo Longton

Braun-Blanquet, J., 1964. Pflanzensociologie. 3. Aufl. Wien, Springer, 865 pp.

Ferron, F. A., Simões, J. C., Aquino, F. E., 2001. Série Temporal de Temperatura

atmosférica para a Ilha Rei George, Antártica. Revista do Departamento de Geografia,

14: 25-32.

Kanda, H., 1986. Moss communities in some ece-free areas along the Söya Coast, East

Antarctica. Memoirs of National Institute of Polar Researche, Special Issue, 44: 229-

240.

Ochyra, R., 1998. The Moss Flora of King George Island, Antarctica. Polish Academy of

Science, Institute of Botany, Cracow, 279 pp.

Putzke, J., Lopes-Putzke, M. T. & Pereira, A. B., 1997. Mosses communities of Rip Point

in Northern Nelson Island, Antarctica. Pesquisa Antártica Brasileira Rio de Janeiro, RJ:

3: 104-115.

Putzke, J. & Pereira, A. B., 2001. The Antarctic Mosses with special reference to the

Shetland Island. Canoas, 196 pp.

Redon, J., 1985. Líquenes Antárticos. I.N.A.C.H. Santiago de Chile. 165 pp

CAPÍTULO II. Composição e distribuição das formações de musgos nas

áreas de degelo adjacentes a região de Arctowski, Baía do Almirantado,

Ilha Rei George, Antártica.

(Artigo a ser submetido ao The Journal of Hattori Botanical Laboratory)

23

Page 24: Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do Rio de Janeiro ... · A vegetação é própria da tundra, composta ... Zona Antártica Marítima ou Antártica gelada, segundo Longton

COMPOSIÇÃO E DISTRIBUIÇÃO DAS FORMAÇÕES DE MUSGOSNAS ÁREAS DE DEGELO ADJACENTES A REGIÃO DE

ARCTOWSKI, BAÍA DO ALMIRANTADO, ILHA REI GEORGE,ANTÁRTICA.

Filipe de Carvalho Victoria1

Antonio Batista Pereira2

Denise Pinheiro da Costa1

Abstract: The phytosociology of the moss vegetation in the ice-free areas of Aldmiralty Bay

(King George Island, South Shetland Islands, Antarctica) was investigated during the 2003/2004

summer season. A total 7 of formations are recognized and 12 associations defined in the

Antarctic moss tundra and the Antarctic moss swamp. These are described and their distribution

in the area, as well given the species richness and diversity index for each formation found in

this study.

INTRODUÇÃO

A Ilha Rei George (61o 50´S, 62o 15´W) está localizada no Arquipélago

Shetlands do Sul (Antártica Marítima). No interior da ilha localiza-se a Baía do

Almirantado, uma região abrigada com microclima muito distinto do encontrado em

outras partes da ilha, especialmente em relação aos ventos (Pereira & Putzke 1994). Em

1 Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do Rio de Janeiro, Pacheco Leão St., Rio de Janeiro. Brazil.2Universidade Luterana do Brasil, Miguel Tostes 101, Canoas. Brazil.

24

Page 25: Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do Rio de Janeiro ... · A vegetação é própria da tundra, composta ... Zona Antártica Marítima ou Antártica gelada, segundo Longton

consideração a intensa atividade humana, foi criada nesta região a Área Antártica

Especialmente Gerenciada (Antarctic Special Managed Area -ASMA) da Baía do

Almirantado (Fig. 1), objetivando minimizar o impacto sobre a biota (Simões et al.,

2001).

As áreas de degelo adjacentes a Estação Antártica Polonesa Henrikk Arctowski

na costa oeste da Baía do Almirantado, apresentam um gradiente altitudinal que varia

do nível do mar (praias) atingindo ca. 500 msm (Jardine Peaks). As praias de Arctowski

são formadas, principalmente, por rochas e sedimento vulcânico, sendo observadas

ossadas de baleias ao longo da praia. Estas ossadas são remanescentes da indústria do

óleo de baleia, muito comum na região entre os séculos IX e XX (Cardot 1910,

Holdgate 1964, Hooker 1847). Principalmente no verão a Baía do Almirantado é

habitada por inúmeras espécies de animais, como focas, pingüins e outras aves

marinhas. Os musgos e os liquens desenvolvem-se no verão, após a neve do inverno

anterior desaparecer (Putzke et al. 1995). Segundo Rakusa-Suszczewski (2002), as

temperaturas médias pouco variam durante o ano, estando geralmente em torno dos 0º

C, porem a região possui uma variação diurna alta (Cygan, 1981), no verão a

temperatura varia de –5º C a 13º C, podendo chegar a -30° C no inverno. Segundo

Kowalski (1985), os ventos e a umidade podem abaixar significantemente a sensação

térmica.

Estudos com comunidades vegetais na Antártica possuem uma história muito

recente quando comparadas com os estudos em regiões tropicais e temperadas.

Entretanto, existem áreas com excelentes descrições de sua vegetação, como por

exemplo, as Ilhas Shetlands do Sul (Lindsay 1971, Furmanczy & Ochyra 1982, Hu

1998), Ilhas Signy (Lewis-Smith 1972), Ilha Nelson (Putzke et al. 1995), Ilha Elephante

(Allison & Lewis-Smith 1973, Pereira & Putzke 1994), entre outras. Em geral estes

autores descreveram as unidades de vegetação em suas fisionomias, agregando os dados

de estudos florísticos e, às vezes, ecológicos (como em Allison & Lewis-Smith 1973,

Pereira & Putzke 1994 e Hu 1998). Entretanto nenhum trabalho apresenta mapas com a

distribuição destas comunidades em suas respectivas áreas, exceto Furmanczy &

Ochyra (1982) que apresentam mapas com a distribuição de parte das comunidades

vegetais da Baía do Almirantado.

Geralmente as descrições das comunidades vegetais em áreas de degelo da

Antártica marítima não fornecem dados que possibilitem comparar estas sob o ponto de

vista fitossociológico. A estimativa visual não demonstra nem qualitativa, tampouco

25

Page 26: Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do Rio de Janeiro ... · A vegetação é própria da tundra, composta ... Zona Antártica Marítima ou Antártica gelada, segundo Longton

quantitativamente, a abundância e freqüência das espécies dentro das comunidades, o

que dificulta identificar como estas relacionam-se e estão agrupadas dentro destas

comunidades.

A partir dos dados publicados por Furmanczy & Ochyra (1982) e Kanda (1986),

reconhece-se que as comunidades vegetais nas áreas de degelo da Antártica possuem

um caráter fisionômico de fácil identificação, onde a espécie dominante destaca-se seja

pela sua forma de vida ou mesmo por sua coloração, como por exemplo, os tapetes de

Sanionia uncinata (Hedw.) Loeske, com ampla distribuição na Baía do Almirantado, ou

ainda os tufos de Polytrichum juniperinum Hedw. que são facilmente reconhecidos nos

terraços marinhos da região de Arctowski (Ochyra 1998). Porém existem muito mais

além do observado superficialmente. Alguns sítios podem apresentar espécies que a

primeira vista não parecem figurar na amostra, ou ainda esconder importantes

associações, na maioria das vezes duas ou mais espécies de musgos com aspecto e

coloração parecidos. Estes detalhes somente são identificados através de um método de

amostragem, que, com maior fidelidade, demonstrem quais são os membros dominantes

dentro da comunidade, e ainda quem aparece associado, em menor e maior grau, a estes.

Com uma análise criteriosa destes dados é possível entender como as espécies

envolvidas no estudo estão relacionadas entre si e com o ambiente em que estão

inseridas, bem como o nível em que estas relações estão ocorrendo.

O objetivo deste trabalho é descrever e discutir as formações de musgos

dominantes e suas respectivas associações nas áreas de degelo da região de Artctowski.

MATERIAL E MÉTODOS

Para a realização deste trabalho, a equipe do Projeto “Comunidades vegetais das

áreas de degelo da Antártica”, participantes da Operação Antártica XXII do Programa

Antártico Brasileiro (PROANTAR), durante o verão austral 2003/04, estudaram as

comunidades de criptógamos, com ênfase nas comunidades de briófitas adjacentes a

estação poloneza H. Arctowski e da praia próxima ao Glaciar Ecology (Fig.2), as quais

foram devidamente mapeadas e identificadas. Foram realizados levantamentos

fitossociológicos em um gradiente altitudinal de 0 à 250 msm, seguindo o método de

amostragem de Braum-Blanquet (1932), adaptados às condições da Antártica. Para tanto

foram utilizando quadrados de 25 x 25 cm, subdivididos em 100 quadrículas de 2,5 x 2,5

cm, estes quadrados foram dispostos 10 metros de distância um do outro seguindo a

marcação de um transecto de 100 metros, totalizando 20 transectos com 200 quadrados.

26

Page 27: Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do Rio de Janeiro ... · A vegetação é própria da tundra, composta ... Zona Antártica Marítima ou Antártica gelada, segundo Longton

Em áreas com menor biomassa vegetal ou em pequenas manchas de vegetação os

quadrados forma dispostos com auxílio de uma matriz de acetato (25 x 25 cm), com base

em uma tabela de números aleatórios, totalizando 40 quadrados assim dispostos. Ambos os

procedimentos de coleta de dados serviram para verificar cobertura e freqüência das

espécies de musgos nas áreas de degelo. O grau de cobertura seguiu Kanda (1986) e a

freqüência (Putzke et al., 1995). Foi adotado o esquema de caracterização de Hu (1998)

para a determinação do tipo de comunidade, principalmente por utilizar as associações

como a unidade básica para a classificação das comunidades, diferente dos demais autores

que utilizam as formas de vida (fisionomia) para este fim. Concomitantemente com a

amostragem fitossociológica foram realizadas coleta dos musgos que ocorriam em cada

quadrado para estudo de laboratório, para identificar os taxa a nível específico.

Para a identificação das briófitas utilizou-se Putzke & Pereira (1990), Putzke &

Pereira (2001), Ochyra (1998) e Bednarek-Ochyra et al (2000).

27

Page 28: Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do Rio de Janeiro ... · A vegetação é própria da tundra, composta ... Zona Antártica Marítima ou Antártica gelada, segundo Longton

Fig. 1. Localização da área de estudo. Acima o continente Antártico, destacando as Shetlands do Sul. Abaixo

à esquerda a Ilha Rei Geoge e à direita a Baía do Almirantado, mostrando os limites da Área Antártica

Especialmente Gerenciada (linha tracejada) e os limites da Área de Interesse Científico Especial (linhas

paralelas). (Adaptado de Simões et al. 2004)

28

Page 29: Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do Rio de Janeiro ... · A vegetação é própria da tundra, composta ... Zona Antártica Marítima ou Antártica gelada, segundo Longton

Foram utilizadas análises estatísticas, com o auxílio do programa EstimateS 5.0

para obtenção dos índices dos parâmetros fitossociológicos (Chaos 2004, Colwell

2003). Foi adotado o índice de Shannon, para estimar a diversidade e seu

correspondente índice de equabilidade, de acordo com Hu (1998), para fins de comparar

os resultados obtidos com os deste autor.

Para ilustrar a importância das espécies na amostragem total, foi utilizado o

índice de importância ecológica (Lara & Mazimpaka 1998), que combina os parâmetros

de abundância (cobertura e freqüência) sendo o indíce assim discriminado:

IIE= F(1+C)

Onde:

F é a freqüência relativa da espécie na área ou habitat, é dado pelo número de

ocorrências (x) dividido pelo número total das amostras consideradas (n): F=100x/n

C é a cobertura média da espécie nas amostras: C=Σ(ci)/x; onde ci é a classe de

cobertura e x o número de pontos amostrais que a espécie ocorre, são similares aos

usados por Braun-Blanquet (1964).

Os nomes das localidades apresentadas neste trabalho seguem a nomenclatura

oficial de acordo com Simões et al (2004).

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Foram observadas 40 espécies na amostragem dos quadrados, sendo 28 de

musgos, 2 hepáticas, 2 angiospermas, 1 alga e 7 espécies de fungos liquenizados.

Sanionia uncinata (Hedw.) Loeske a espécies de musgo mais importante na análise total

das amostras (240 quadrados), apresentando o maior índice de importância ecológica

(Tabela 1).

A família com maior riqueza de espécies foi Bryaceae, com sete (7) espécies,

seguida de Andreaeaceae, Polytrichaceae e Pottiaceae com três espécies amostradas

cada uma (Fig. 2). O gênero Bryum ocorreu com maior número de espécies amostradas

(4), seguida de Andreaea e Pohlia, com três espécies cada, Polytrichum e Syntrichia

apresentaram duas espécies nas amostras. As famílias e suas respectivas espécies mais

freqüentes foram Amblystegieaceae, com a ocorrência de Sanionia uncinata,

Polytrichaceae, com Polytrichum juniperinum, Bryaceae, com Bryum pseudotriquetrum,

Pottiaceae, com Syntrichia princeps e Andreaceae, com Andreaea gainii como espécie

mais freqüente.

29

Page 30: Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do Rio de Janeiro ... · A vegetação é própria da tundra, composta ... Zona Antártica Marítima ou Antártica gelada, segundo Longton

LISTA DE ESPÉCIES

BRYOPHYTA

AMBLYSTEGIACEAE

Sanionia uncinata (Hedw.) Loeske

ANDREAEACEAE

Andreaea depressinervis Card.

Andreaea gainii Card.

Andreaea regularis Müll. Hal.

BARTRAMIACEAE

Bartramia patens Brid.

Conostomum magellanicum Sull.

BRACHYTHECIACEAE

Brachythecium austrosalebrosum (Müll. Hall.) Kindb.

BRYACEAE

Bryum amblyodon Müll. Hall.

Bryum orbiculatifolium Card. & Broth.

Bryum pallescens Schelich. ex Schwägr.

Bryum pseudotriquetrum (Hedw.) P. Gaertn., B. Mey. & Scherb.

Pohlia cruda (Hedw.) Lindb.

Pohlia drummondii (Müll. Hall.) A.L. Andrews

Pohlia nutans (Hedw.) Lindb.

DICRANACEAE

Chorisodontium aciphyllum (Hook. f. & Wilson) Broth.

DITRICHACEAE

Ceratodon purpureus (Hedw.) Brid.

Ditrichum hyalinum (Mitt.) Kuntze

Ditrichum lewis-smithii Ochyra

30

Page 31: Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do Rio de Janeiro ... · A vegetação é própria da tundra, composta ... Zona Antártica Marítima ou Antártica gelada, segundo Longton

GRIMMIACEAE

Racomitrium sudeticum (Funck) Bruch & Schimp.

Schistidium falcatum (Hook. f. et Wils.) B. Bremer

MEESIACEAE

Meesia uliginosa Hedw.

POLYTRICHACEAE

Politrichastrum alpinum (Hedw.) G.L.Smith

Polytrichum juniperinum Hedw.

Polytrichum piliferum Hedw.

POTTIACEAE

Hennediella heimii (Hedw.) R. H. Zander

Syntrichia princeps (De Not.) Mitt

Syntrichia saxicola (Card.) R. H. Zander

SELIGERACEAE

Dicranoweisia brevipes (Müll. Hall.) Card.

MARCHANTIOPHYTA

CEPHALOZIELLACEAE

Cephaloziella varians (Gottsche) Steph.

LOPHOZIACEAE

Lophozia excisa (Dicks.) Dumort.

ALGAS

Prasiola crispa (Lightfoot) Menegh.

31

Page 32: Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do Rio de Janeiro ... · A vegetação é própria da tundra, composta ... Zona Antártica Marítima ou Antártica gelada, segundo Longton

FANERÓGAMAS

Colobanthus quitensis (Kunth) Bartl

Deschampsia antarctica Desv.

LIQUENS

Caloplaca sp

Cladonia sp

Cornicularia sp

Leptogium sp

Rizocarpum geograficum (L.) DC

Usnea antarctica Du Rietz

Usnea aurantiaco-atra (Jacq.) Bory

Onze espécies apareceram como dominantes em uma ou mais vezes na

amostragem (Tabela 1) e 10 espécies foram observadas na amostra em freqüência e

abundânica baixa, figurando nas comunidades como espécies eventualmente

encontradas (Tabela 2), estas freqüentemente apresentavam cobertura menor que 1%.

Os restantes das espécies observados ocorreram com maior freqüência, mas em baixa

cobertura e, execetuando-se Colobanthus quitensis, nenhuma destas apareceu em

dominância nos quadrados. Os musgos foram as espécies dominantes em 75% dos

quadrados dispostos no estudo, nas demais amostras ou liquens ou a gramínea

Deschampsia antarctica possuíam cobertura dominante. Polytrichum juniperinum S.

uncinata e D. antarctica, ocorreram como dominantes mais de uma vez na mesma

amostra.

32

Page 33: Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do Rio de Janeiro ... · A vegetação é própria da tundra, composta ... Zona Antártica Marítima ou Antártica gelada, segundo Longton

Tabela 1. Espécies mais importantes na abordagem fitossociológica realizada na

região de Arctowski. Nº de quadrados = número de quadrado em que a espécie foi

observada; Qdominante = quantidade de quadrados que a espécie ocorreu em cobertura

dominante; F = freqüência das espécies em 240 quadrados amostrados; IIE = índice de

importância ecológica da espécie na amostra total.

Espécies Nº Quadrados Qdominante F (%) IIEMusgosSanionia uncinata 177 76 74 215,20Polytrichum juniperinum 146 29 60 153,54Syntrichia princes 21 6 8,75 22,96Bryum pseudotriquetrum 55 18 22,51 52,4Andreaea gainii 18 5 7,5 24,54Ditrichum hyalinum 13 1 5,4 11,1Bartramia patens 6 1 2,5 1,625OutrosDeschampsia antarctica 190 55 79,17 245,8Usnea antarctica 66 25 27,5 77,29Usnea aurantiaco-atra 16 5 6,66 15Chephaloziella varians 8 0 3,33 7,05

Tabela 2. Espécies eventualmente encontradas na amostragem. Nº de quadrados

= quantidade de quadrados que a espécie foi observada; Cr = Cobertura da espécie nos

quadrados amostrados; F = freqüência das espécies na amostragem; IIE = índice de

importância ecológica da espécie na amostra total.

Espécies Nº Quadrados Cr (%) F(%) IIEAndreaea depressinervis 1 15 0,41 1,25Bryum amblyodon 1 5 0,41 0,83Cladonia aff metacularifera 1 3 0,41 0,83Cornicularia sp 1 4 0,41 0,83Lophozia excisa 1 2 0,41 0,83Pohlia drumondii 1 2 0,41 0,83Schistidium falcatum 1 2 0,41 0,83Brachythecium austrosalebrosum 2 5-10 0,83 1,66Chorisodontium aciphyllum 2 10-25 0,83 2,03Dicranoweisia brevipes 2 10-25 0,83 2,03Pohlia cruda 2 5-10 0,83 1,66

FORMAÇÕES DE MUSGOS OBSERVADAS NA REGIÃO DE ARCTOWSKI

Foram reconhecidas 5 formações de musgos na região de estudo (Tabela 3),

sendo que quatro destas ocorrem em áreas bem drenadas e rochosas (tundra antártica).

33

(Cont. Tabela 2)

Page 34: Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do Rio de Janeiro ... · A vegetação é própria da tundra, composta ... Zona Antártica Marítima ou Antártica gelada, segundo Longton

Somente uma formação foi observada em áreas alagadas (pântano antártico), como

segue:

1. Formação Sanionia uncinata.

Sanionia uncinata é a espécie com maior biomassa na Ilha Rei George,

ocorrendo em um gradiente geomofológico, desde os topos de planaltos até as encostas,

bem como nas praias. Na região de Arctowski esta espécie forma extensos tapetes na

praia adjacente a estação polonesa (Fig. 3I). Entretanto, a formação aqui evidenciada

ocorre somente em áreas com substrato estável, composta por 24 táxons (E= 0,75203;

H’= 2,39). São freqüentemente observadas as seguintes associações nesta formação.

1.1 Associação Sanionia uncinata – Deschampsia antarctica

Possui ampla distribuição, ocorrendo desde o nível do mar até 120 msm,

principalmente próximo a Pingüim Ridge e Skua Cliff, ao redor das colônias de Skua e de

pingüim Adélia (Pygoscelis adeliae). Está bem representada no limite da tundra com o

pântano antártico.

Associação mais freqüente na área de estudo, com ampla distribuição, exceto nas

áreas de afloramento rochoso. Ocorre em ambiente relativamente úmido, com linhas de

drenagem próximas que alimentam pequenos lagos ou poças, onde as espécies se

desenvolvem. Sanionia uncinata possui cobertura em torno de 70% nos quadrados,

enquanto Deschampsia antarctica varia entre 20 a 30%. Não são raros liquens fruticulosos,

como Usnea antarctica e U. aurantiaco-atra próximos a esta associação, principalmente

próximo às encostas, porém a cobertura destes liquens não excede 15%. Também são

encontrados coxins de Syntrichia princeps e tufos de Polytrichum juniperinum e P.

piliferum em cobertura aproximada de 15%, e alguns poucos indivíduos de Brachythecium

austrosalebroum, Ditrichum hyalinum, ambos com cobertura menor que 5%.

1.2 Associação Sanionia uncinata – Polytrichum juniperinum

Distribuída principalmente em torno das encostas de Skua Cliff, caracteriza-se pela

ocorrência próximos aos ninhos de Skua da região. Ocorre sobre substrato pedregoso com

muitos afloramentos, mas com partes de solo estável bem drenado. A cobertura de S.

uncinata fica em torno dos 50%, cobrindo o solo entre as rochas, já P. juniperinum recobre

25%, principalmente nas rochas adjacentes aos tapetes de S. uncinata. É comum ocorrerem

entre os tufos de P. juniperinum, Chorisodontium acyphyllum e Cephaloziella varians,

34

Page 35: Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do Rio de Janeiro ... · A vegetação é própria da tundra, composta ... Zona Antártica Marítima ou Antártica gelada, segundo Longton

sempre associados, cobrindo cerca de 20% do quadrado, quando presentes. Está é uma

associação tipicamente ornitocoprófila, por ocorrer junto aos ninhos de Skua, porém podem

também ocorrer em fragmentos na praia, próximos a associação anterior, em menor

freqüência.

1.3 Associação Sanionia uncinata – Usnea antarctica

Esta associação é a menos freqüente da formação, estando limitada às partes mais

altas das encostas próximas a praia (ca. 70msm), principalmente na face de Skua cliff

voltada para a estação H. Arctowski. Sanionia uncinata ocorre em menor freqüência em

relação as associações anteriores, com cerca de 35% de cobertura. Já Usnea antarctica

ocorre nas rochas soltas ou não que circundam os tapetes dos musgos, em uma cobertura de

15%. Podem ocorrem outros liquens, como Rizocarpum geographicum e Usnea

aurantiaco-atra, porém raramente com cobertura superior a 5%.

1.4 Associação Sanionia uncinata – Andreaea gainii

Esta associação ocorreu apenas nas amostras lançadas em Ornithologists Creeck

(5/40), proxímo a praia, junto a ninhos de skuas. Alguns líquens muscícolas ocorrem

associadas a estas duas espécies de musgos dominantes, sendo os mais importantes

Usnea antarctica e Caloplaca sp. Andreaea gainii ocorre entre o tapete de S. uncinata,

sobre pequenos fragmentos de rocha. Esta mesma associação foi registrada em

formações de Sanionia uncinata da Ilha Nelson, ilha vizinha a Rei George (Putzke et al.

1995).

1.5 Associação Sanionia uncinata – Colobanthus quitensis

Encontrada em apenas três sítios amostrados. A cobertura do musgo está em torno

de 30% enquanto de C. quitensis pode atingir os 25%. Nesta associação S. uncinata

freqüentemente ocorre em tufos, podendo ser encontrados tufos de P. piliferum entre as

duas espécies, mas em cobertura muita baixa, cerca de 1%.

1.6 Associação Sanionia – Deschampsia – Cladonia

Associação limitada ao bordo dos afloramentos sobre pequenos fragmentos de

rocha, geralmente os tapetes de S. uncinata estão sobre a rocha e os céspedes de D.

antarctica sobre a camada orgânica formada por indivíduos mortos de musgo. O líquen

fruticuloso Cladonia sp está associado aos tapetes de musgo, porém fixados na rocha

35

Page 36: Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do Rio de Janeiro ... · A vegetação é própria da tundra, composta ... Zona Antártica Marítima ou Antártica gelada, segundo Longton

abaixo. S. uncinata possui a maior cobertura da associação, cerca de 60%, podendo, às

vezes, ocorrer em freqüência igual à máxima observada para Cladonia sp, em torno de

30%. Deschampsia antarctica apresenta céspedes vistosos, que podem dar a falsa

impressão de dominância na associação, mas na contagem dos quadrados foi observado que

a cobertura desta espécies varia entre 15% e 20%.

1.7 Associação Bartramia patens – Deschampsia antarctica

Ocorreu em um único quadrado com ambas as espécies dominantes

apresentando cobertura aproximada de 25%. Além destas ocorrem também

Polytrichastrum alpinum, Polytrichum juniperinum, P. piliferum, Sanionia uncinata,

Syntrichia princeps, Messia uliginosa todas com cobertura não superior a 5%. Duas

espécies de liquens ocorreram nesta amostra, Leptogium sp e Cladonia sp, com a

mesma cobertura das espécies de musgos não dominantes nesta associação. A hepática

Lophozia excisa é encontrada em conjuntos compactos e enegrecidos entre os tufos de

Bartramia patens, sempre com cobertura menor que 1%.

2. Formação Sanionia uncinata –Deschampsia antartica – Polytrichum juniperinum

Esta formação é típica de Rakusa Point e Ornithologists creek (Fig. 3.II). Devido

ao substrato mais estável das áreas mais próximas a praia, S. uncinata e D. antarctica

desenvolvem-se abundamente, utilizando o substrato ricamente ornitogênico para se

fixarem. Polytrichum juniperinum ocorre entre os céspedes de D. antarctica, em solos

com inúmeras partículas de rocha. Foram observadas 18 espécies (E= 0,73001;

H’=2,11), porém somente 3 espécies ocorriam associadas, como descrito abaixo.

2.1 Associação Sanionia uncinata -Deschampsia antarctica -Polytrichum juniperinum

Esta bem representada em toda a formação, com as mesmas características da

fisionomia acima, com distribuição limitada as encostas entre Rakusa Point e

Ornithologist creek. S. uncinata, D. antarctica e P. juniperinum apresentam coberturas

similares, variando de 25 a 30% para cada espécie. São comuns também os coxins de

Syntrichia princeps e Hennediela antarctica, porém ambas nunca excedendo os 5% de

cobertura. Os liquens são raros, mas podem ocorrer Cladonia sp crescendo sobre S.

uncinata, geralmente matando o musgo.

3. Formação Polytrichum juniperinum

36

Page 37: Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do Rio de Janeiro ... · A vegetação é própria da tundra, composta ... Zona Antártica Marítima ou Antártica gelada, segundo Longton

Formação limitada as áreas mais altas de Skua cliff, ca. 100 msm (Fig. 3III),

ocorrendo em sítios bem drenados e de substrato rochoso, com alguma deposição de

solo nas fendas entre rochas. Foram observadas 21 espécies nesta formação

(E=0,79487; H’=2,42), em duas associações distintas.

3.1 Associação Polytrichum juniperinum

Formada praticamente pelos tufos de Polytrichum juniperinum, com cobertura

próxima aos 40%. Geralmente ocorrem diversos liquens, com cobertura menor que 1%

e geralmente estes crescem em fragmentos de rochas próximos aos tufos do musgo

supra citado. Podem ocasionalmente ocorrer, pequenos tufos de Sanionia uncinata e

Bartramia patens, mas nunca com cobertura superior aos 5%. Cephaloziella varians

também ocorre, sua cobertura é igual a dos demais musgos da associação. Coma

exceção de P. juniperinum, geralmente as demais espécies ocorrem em solo pedregoso

ou diretamente sobre rocha, uma vez que o solo é escasso.

3.2 Associação Polytrichum juniperinum – Sanionia uncinata- Usnea antarctica

Associação mais freqüente, com a mesma distribuição da formação, facilmente

observada, visto que os tufos de P. juniperinum são exuberantes em contraste com os

liquens, formando um degrade do verde para o cinza. Sanionia uncinata ocorre em tufos

lado a lado com P. juniperinum e Usnea antarctica recobre as rochas expostas. P.

juniperinum apresenta cobertura de ca. 25%, enquanto Sanionia uncinata e Usnea

antarctica nunca ultrapassam os 20%. Andreaea gainii pode ocorrer junto a esta

associação, geralmente próximo aos talos de Usnea antarctica, sobre as rochas, sua

cobertura varia entre 5% a 25%. São raros, mas podem ocorrer o líquen Rizhocarpum

geographicum e a cariofilacea Colobanthus quitensis, em cobertura de 1% e 5%

respectivamente.

4. Formação Syntrichia princeps – Deschampsia antarctica – Prasiola crispa

Formada principalmente por coxins de Syntrychia princeps, próximos às

colônias de pingüins Adélia de Rakusa Point (Fig. 3IV). Uma formação pequena

representada, por 8 espécies (E=0,88004; H’=1,83), sendo que 5 espécies foram

observadas ocorrendo eventualmente nas amostras. É comum em Rakusa Point, onde

ocorrem uma das maiores colônias de Pingüins Adélia da região. Somente a associação

entre Syntrichia princeps, Deschampsia antarctica e a alga Prasiola crispa foi

37

Page 38: Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do Rio de Janeiro ... · A vegetação é própria da tundra, composta ... Zona Antártica Marítima ou Antártica gelada, segundo Longton

observada. O musgo apresentando 20% de cobertura, enquanto a angiosperma D.

antarctica cerca de 15% e a alga continental P. crispa cerca de 10%.

5. Formação Bryum pseudotriquetrum

Formação das áreas alagadas e interior das linhas de drenagem da região de

Arctowski. Esta distribuída por toda a face sul desta área, am altitudes inferiores aos 30

msm, ocorrendo principalmente nas praias adjacentes ao glaciar Ecology (Fig. 3V). O

substrato destas praias é predominatemente rochoso, isto deve-se principalmente a

ausência ou escassez de vegetais acumuladores de materia orgânica, como Colobanthus

quitensis, Deschampsia antarctica e Sanionia uncianta, sendo os dois últimos

apresentando somente individuos pequenos, em cobertura abaixo dos 1%. A diversidade

desta formação é baixa se comparadas às comunidades de tundra de mesma altitude (E=

0,62554; H’1,50), sendo observadas 11 espécies crescendo geralmente ao redor das

linhas de drenagem. A espécie dominante desta formação é Bryum pseudotriquetrum é

encontrada tanto no interior de linhas de drenagem como em suas margens, com

cobertura entre 40-60%.

5.1 Associação Bryum pseudotriquetrum

Esta associação ocorre, principalmente, nas adjacências de pequenas linhas de

drenagem ou ao redor de lagos originados do degelo na face mais ao sul da Estação

polonesa, com a mesma distribuição da formação supra (Fig. 2V). Geralmente se

destacam os tufos de musgos, sendo Bryum pseudotriquetrum a espécie dominante,

frequentemente acima dos 50% de cobertura, freqüentemente associada aos musgos

Bryum pallecens e Syntrichia princeps e a alga continental Prasiola crispa. Dentro das

linhas de drenagem somente foram observados os tufos de B. pseudotriquetrum.

5.2 Associação Bryum pseudotriquetrum - Sanionia uncinata

Associação comum nas linhas de drenagem mais ao sudoeste da região, na

porção de praia mais próxima do glaciar Ecology. Nesta área a vegetação dispõem-se

em fragmentos esparsos de baixa diversidade, freqüentemente em conjuntos formados

por 3 espécies associadas. Geralmente são observados os musgos Bryum

pseudotriquetrum e Sanionia uncinata associados, em cobertura não superior aos 25%

cada, junto com Deschampsia Antarctica ou Pohlia nutans ou ainda Colobanthus

38

Page 39: Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do Rio de Janeiro ... · A vegetação é própria da tundra, composta ... Zona Antártica Marítima ou Antártica gelada, segundo Longton

quitensis, em cobertura igual ou inferior aos 1% cada, porém raramente estas são

encontradas juntas na mesma amostra.

5.3 Associação Bryum pseudotriquetrum - Cephaloziella varians

Associação rara onde o musgo Bryum pseudotriquetrum e a hepática

Cephaloziella varians observada em dois quadrados dispostos no pântano presente na

praia anexa à Ecology. Desenvolve-se no interior de um pequeno lago, entre a faixa de

praia, composta por seixo e outras rochas, e a associação descrita acima. Cerca de 40%

da amostra e composta pelo musgo, enquanto a hepática cobre entre 10 e 25% dos

quadrados amostrados com esta associação presente.

5.4 Associação Conostomum magellanicum - Sanionia uncinata

Associação presente na praia entre Ornithologist Creek e o glaciar Ecology, em

uma região pedregosa de pouca drenagem. Conostomum magellanicum ocorre em

cobertura próxima aos 50% rodeado por tapetes de S. uncinata. Esta última espécie

ocorre com cobertura aproximada de 25%, a maior cobertura deste musgo amostrada em

área alagada. O substrato onde estas duas espécies de musgos são encontradas é

formado por rochas que, provalvelmente, foram carreadas dos terraços marítimos

próximos (por exemplo, Skua Cliff). Geralmente estas rochas são facilmente removidas

junto com S. uncinata quando esta é coletada, evidenciando a importância desta espécie

em agregar partículas de rocha para a consolidação do substrato. Em uma pequena

camada de solo entre as rochas, são encontrados tufos enegrecidos de Cephaloziella

varians, que, pela coloração, confundem-se facilmente com o solo e as rochas ao redor.

5.5 Associação Pohlia drummondii - Cephaloziella varians - Sanionia uncianta

Associação encontrada em um único quadrado na margem de uma linha de

drenagem entre Skua Cliff e as morainas ao norte da geleira Ecology, em um fragmento

isolado de vegetação a ca. 40 m da associação acima descrita. Os dados coletados nesta

amostra foram comparados com o restante da vegetação em redor, sendo constatado que

se tratava de um conjunto associado desta três espécies e, apesar de uma única amostra,

resolvemos descrevê-la. Tufos de Pohlia drummondii recobriam cerca de 75% do

quadrado, enquanto as demais espécies da associação em torno de 25%. A hepática

ocorria em tufos frouxos entre os musgos, ao contrário dos demais sítios onde esta foi

39

Page 40: Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do Rio de Janeiro ... · A vegetação é própria da tundra, composta ... Zona Antártica Marítima ou Antártica gelada, segundo Longton

observada. O substrato, composto por solo e grandes fragmentos de rocha, com maior

drenagem comparado aos sites das demais associações de áreas alagadas.

A brioflora da Baía do Almirantado é bem conhecida (Putzke & Pereira 1990,

Putzke & Pereira 2001, Ochyra 1998), sendo citadas 58 espécies de musgos para a

região. Destas somente 28 espécies foram observadas no levantamento fitossociológico,

em um total de 240 quadrados amostrados, evidenciando as diferenças entre as

abordagens florísticas e fittosiológicas. Já eram esperados que o maior número de

pertencessem às famílias Andreaeaceae, Bryaceae, Polytrichaceae e Pottiaceae, uma vez

que são as famílias mais ricas na Antártica Marítima (Allison & Lewis-Smith 1973). A

família Grimmiaceae apresenta 11 espécies conhecidadas para as Ilhas Shetlands do Sul,

porém somente duas espécies foram encontradas. Isto pode estar relacionado com a

maior ocorrência desta família, principalmente do gênero Schistidium, em áreas de

substrato rochoso acima dos 250 msm (Ochyra 1998), que não foram amostradas neste

trabalho. Sanionia uncinata e Polytrichum juniperinum foram as espécies de musgos

mais freqüentes na amostragem, o que já era esperado devido S. uncinata ser a espécie

com maior biomassa na Antártica Marítima (Putzke & Pereira 2001) e P. juniperinum,

que para Ochyra (1998), possui sua maior população na Baía do Almirantado.

Das formações de musgos encontradas, duas ocorrem em outras áreas já

estudadas da Península Antártica. A formação Sanionia uncinata foi observada por

Putzke et al. (1995), na Ilha Nelson (como Sanionia uncinata “sociation”) e por Hu

(1998) na Península Fields (Ilha Rei George). A formação Bryum pseudotriquetrum foi

observada por Kanda (1986), sob a denominação de Bryum pseudotriquetrum

“sociation”.

Furmanczy & Ochyra (1982) estudaram a vegetação de Jasnorzewski Gardens,

concentrando seus esforços na praia adjacente a estação polonesa, descrevendo a

vegetação desta área como algo parecido com a formação Sanionia uncinata–

Deschampsia antarctica – Polytrichum juniperinum, porém não são apresentados dados

quantitativos. Portanto, na ausência dos índices fitossociológicos, não pode ser

comparado a formação apresentada por este autor com a formação Sanionia unicinata

observada neste presente trabalho.

As demais formações e suas respectivas associações são diferentes das descritas

nos trabalhos sobre este tema.

40

Page 41: Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do Rio de Janeiro ... · A vegetação é própria da tundra, composta ... Zona Antártica Marítima ou Antártica gelada, segundo Longton

As formações distribuídas em áreas montanhosas, com predominância de

substrato rochoso apresentam elevados índices de riqueza, equabilidade e diversidade de

espécies e as formações encontradas próximo ao nível do mar, embora mais viçosas,

possuem índices mais baixos (Tabela 3.). Isto é claramente exemplificado comparando

os índices de diversidade das formações Sanionia uncinata e Polytrichum juniperinum.

A primeira formação possui maior distribuição, desde de Skua Cliff até as proximidades

da estação polonesa, sendo observadas 24 espécies (H’=2,39). A formação Polytrichum

juniperinum está limitada às encostas de Skua Cliff, com distribuição inferior

comparada a formação Sanionia uncinata, onde foram observadas 21 espécies

(H’=2,42).

Hu (1998) obteve resultados semelhantes com a distribuição das comunidades de

musgos na Península Fields, também na Ilha Rei George, porém com maior

similaridade de espécies dominantes nas formações de tundra e nos pântanos, o que não

acontece na região de Arctowski.

Em formações próximas as colônias de pingüins e as linhas de drenagem a

diversidade e a riqueza foram nitidamente menores que nas áreas secas ou sem colônias

de aves ativas. Nestas áreas a diversidade é geralmente menor em função do substrato.

Próximo às colônias de aves o solo é rico em nitratos, devido à concentração de guano,

portanto somente as poucas espécies tolerantes ao guano desenvolvem-se nestas áreas.

As formações de áreas alagadas estão restritas as praias adjacentes à geleira Ecology,

ocorrendo em linhas de drenagem estreitas que recebem a água do degelo das encostas e

platô anexos, como Skua Cliff e Ornithologist creek. A água entra como fator limitante

para a diversidade nestes sítios uma vez que neste substrato prevalecem as espécies que

sobrevivem por longos períodos submersos na água do degelo. Segundo Kanda et

al.(1991), a colonização deste substrato implica em um conjunto de adaptações

morfológicas, portanto somente as espécies que possuem esta condição conseguem se

desenvolver, a exemplo de Bryum pseudotriquetrum que é tratado por este autor como

uma espécie altamente adaptada a vida aquática ocorrem em abundância nas linhas de

drenagem da região estudada.

Tabela 3. Número de espécies (R), equabilidade (E) e diversidade específica

(H’) para as formações de musgos encontradas na região de Arctowski.

Formação R E H’ Sanionia uncinata. 24 0,75203 2,39Sanionia uncinata –Deschampsia antartica – Polytrichum juniperinum 18 0,73001 2,11

41

Page 42: Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do Rio de Janeiro ... · A vegetação é própria da tundra, composta ... Zona Antártica Marítima ou Antártica gelada, segundo Longton

Polytrichum juniperinum 21 0,79487 2,42Syntrichia princeps – Deschampsia antarctica– Sanionia uncinta 8 0,88004 1,83Bryum pseudotriquetrum 11 0,62554 1,50

Estudos como estes são necessários para o monitoramento ASMA da Baía do

Almirantado, contribuindo com o mapeamento das comunidades vegetais nesta região e,

podendo assim, subsidiar o planejamento das atividades humanas na região

minimizando o impacto sobre a vegetação.

Fig. 2. Representatividade de riqueza e freqüência das famílias nos quadrados amostrados na região de

Arctowski, Baía do Almirantado, Ilha Rei George, Antártica.

42

Punta Rakusa

EnseadaEzcurra

Ecology

Jardine

58° 30´

62° 10´

Glaciar

Punta Thomas

Jersak Hills

Skua Cliff

H. Arctowski

I

III

V

Ornithologist creek

Panorama

I

II

IV

0

1

2

3

4

5

6

7

8

Amblyste

giace

ae

Andrea

eace

ae

Bartram

iacea

e

Brachy

thecia

ceae

Bryace

a

Dicran

acea

e

Ditrich

acea

e

Grimmiac

eae

Meesia

ceae

Polytric

hace

ae

Pottiac

eae

Selige

racea

e

Lique

nsAlga

s

Nº d

e es

péci

es

0

10

20

30

40

50

60

70

80

Rep

rese

ntat

ivid

ade

(%)

RiquezaFrequência

Page 43: Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do Rio de Janeiro ... · A vegetação é própria da tundra, composta ... Zona Antártica Marítima ou Antártica gelada, segundo Longton

Fig. 3. Sudoeste da Baía do Almirantado, destacando as formações de musgo da região de Arctowski.I. Formação Sanionia uncinata. II. Formação Polytrichum juniperinum. III. Formação Sanioniauncinata – Deschampsia Antarctica – Polytrichum juniperinum. IV. Formação Syntrichia princeps –Deschampsia antarctica – Sanionia uncinata. V. Formação Bryum pseudotriquetrum.

AgradecimentosAs atividades de campo para este estudo somente foram possíveis devido ao apoio da

Secretaria da Comissão Interministerial para os Recursos do Mar (SECIRM), do Ministério da

Marinha do Brasil, órgão este que gerencia as atividades de pesquisas de brasileiros no continente

antártico por meio do Programa Antártico Brasileiro (PROANTAR). Gostaríamos de agradecer as

agências de fomento CAPES e CNPq pela bolsa de pós-graduação para o primeiro autor deste

trabalho e ao apoio a pesquisa, também agradecemos a coordenação da Escola Nacional de Botânica

Tropical, Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do Rio de Janeiro, pelo apoio a dissertação de

mestrado na qual este trabalho esta incluído.

REFERÊNCIAS

Allison, J. S. & R. I. Lewis-Smith. 1973. The vegetation of Elephant Island, South

Shetland Islands. Brit. Antarct. Surv. Bull. 33-34: 185 - 212.

Bednarek-Ochyra, H., J. Vãna, R. I. Lewis-Smith & R. Ochyra. 2000. The liverwort of

Antarctica. Polish Academy of Science, Institute of Botany, Cracow.

Braun-Blanquet, J. 1932. Plant Sociology: The study of plant communities. McGraw-

Hill, New York.

Cardot, J. 1910. Musci. Note sur les mousses rapportées par l´Expédition du “Nimrod”.

British Antarctic Expedition, 1907-09. Rep. Scient. Invests. Bio. 1(4): 77-79.

Chao, A. 2004. Species richness estimation. In N. Balakrishnan, C. B. Read & B.

Vidakovic, (eds.). Encyclopedia of Statistical Sciences. Wiley, New York.

Colwell, R. K. 2004. EstimateS: Statistical estimation of species richness and shared

species from samples. Version 7. User's Guide and application published at:

http://purl.oclc.org/estimates.

Cygan, B. 1981. Charactristics of meteorological conditions at the Arctowski Station

during yhe summer season of 1979/1980. Pol. Polar Res. 2:35-46.

43

Page 44: Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do Rio de Janeiro ... · A vegetação é própria da tundra, composta ... Zona Antártica Marítima ou Antártica gelada, segundo Longton

Furmanczm, K. & R. Ochyra. 1982. Plant communities of the Admiralty Bay (King

George Island, South Shetland Islands, Antarctic) I. Jasnorszewski Gardens. Pol.

Polar Res. 3(1-2): 25-39.

Holdgate, M. W. 1964. Terrestrial Ecology in the Marine Antarctic. In R. Carrik, M. W.

Holdgate & J. Prévost (eds.), Biologie Antarctique: 181-194. Hermann, Parris.

Hooker, J. D. 1847. The Botany of the Antarctic voyage of H.Mdiscovery ships Erebus

and Terror in the years 1839-1843.I. Flora Antarctica. Reeve Brothers, London.

Hu, S-S. 1998. Moss communities types and species diversity of Southern Fields

Peninsula (King George Island, South Shetland Islands) Antarctica. J. Hattori Bot.

Lab. 84: 187-198.

Kanda, H. 1986. Moss communities in some ice-free areas along the Söya Coast, East

Antarctica. Mem.Natl. Inst. Polar Res., Special Issue. 44: 229-240.

Kanda, H. & S. Ohtani. 1991 Morphology of the aquatic mosses collected in lake

Yukidori, Langhovde, Antarctica Proc. NIPR Symp. Polar Biol. 4, 114-122

Kovalski, D. 1985. Wind structure at the Arctowski Station. Pol. Polar Res. 20: 203-

220.

Lara, F. & V. Mazimpaka. 1998. Sucession of epiphytic bryophytes in a Quercus

pyrenaica forest from Spanish Central Range (Iberian Peninsula). Nova Hedwigia

67: 125-138.

Lewis-Smith, R. I. 1972. Vegetation of the South Orkney Island with particular

references to Signy Island. Brit. Antarc. Surv. Bull. 33-34: 89-122.

Lindsay, D. C. 1971. Vegetation of the South Shetland Island. Brit. Antarc. Surv. Bull.

25: 59-83.

Ochyra, R. 1998. The moss flora of King George Island Antarctica. Polish Academy of

Sciences. Cracow.

Pereira, A. B. & J. Putzke. 1994. Floristic composition of Stinker Point, Elephant

Island, Antarctica. Kor. J. Polar Res. 5(2): 37-47.

Putzke, J. & A. B. Pereira. 1990: Mosses of King George Island, Antarctica. Pesq.

Antárt. Bras. 2(1): 17-71.

Putzke, J. & A. B. Pereira. 2001. The Antarctic Mosses, with special references to the

Shetland Islands. Canoas. Ed. ULBRA.

_______, M. T. L. Putzke & A. B. Pereira. 1995. Moss communities of Rip Point in

Northern Nelson Island, South Shetland Islands, Antarctica. Polar Biol. 2: 20 –40.

44

Page 45: Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do Rio de Janeiro ... · A vegetação é própria da tundra, composta ... Zona Antártica Marítima ou Antártica gelada, segundo Longton

Rakusa – Suszczewski, S. 2002. King George Island. South Shetland Islands, Maritime

Antarctic. In Beyer, L. & M. Bölter (eds.) Geoecology of Antarctic Ice-Free

Coastal Landscapes. Ecologycal Studies. vol. 154, Berlin.

Simões, J. C., F. A. Ferron, M. Braun, J. Arigony-Neto & F. E. Aquino. 2001. A GIS

for the Antarctic Specially Managed Area (ASMA) of Admiralty Bay, King

George Island, Antarctica. Geo-Spatial Inf. Sc.Quar. 2: 8-14.

__________, J. Aragony-Neto & U. F. Bremer. 2004. Uso de mapas antárticos em

publicações. Pesq. Antárt. Bras. 4: 191-197.

45

Page 46: Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do Rio de Janeiro ... · A vegetação é própria da tundra, composta ... Zona Antártica Marítima ou Antártica gelada, segundo Longton

CAPÍTULO III. Associações líquens-musgos nas comunidades vegetais do sudoeste daBaía do Almirantado, Ilha Rei George, Antártica.

(Artigo a ser submetido a Revista Pesquisa Antártica Brasileira)

Associações Líquens-Musgos nas Comunidades Vegetais do Sudoeste daBaía do Almirantado, Ilha Rei George, Antártica.

(Associações/Comunidades Vegetais/Antártica)

Filipe de C. Victoria1, Margéli P. de Albuquerque1, Antonio Batista Pereira2

1Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do Rio de Janeiro, 22460-030 Rio de Janeiro, RJ, Brasil.2Universidade Luterana do Brasil, 92420-280 Canoas, RS, Brasil.

AbstractThe phytosociology of the plant communities in the Admiralty Bay ice-free areas (King George

Island, South Shetland Islands, Antarctica) was investigated during the 2003/04 summer seasons. In this

study was found association among lichen and mosses, where the lichens species are dominance in the

samples. A total of 10 associations are recognized. For each association found in this work are given

descriptions and comments for ecology and distribution of these in study area.

46

Page 47: Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do Rio de Janeiro ... · A vegetação é própria da tundra, composta ... Zona Antártica Marítima ou Antártica gelada, segundo Longton

Introdução

Considerando a fisionomia e a composição florística das comunidades vegetais

das áreas de degelo da Baía do Almirantado (62o 03’ 40” – 62o 05’ 40” S e 58o 23’ 30” –

58o 24’ 30” W), constata-se que estas são muito diferentes das encontradas em outras

ilhas da Antártica Marítima, pois o ambiente abrigado desta região (Fig. 1) faz com que

as comunidades vegetais sejam influenciadas por condições climáticas muito diferentes

de áreas expostas, principalmente, aos ventos e a brisa marinha, determinando um

microclima com características peculiares (Ferron et al. 2001). Segundo Rakusa-

Suszczewski et al. (1993), a localização geográfica da Baia do Almirantado juntamente

com a configuração geomorfológica das áreas adjacentes, com elevações entre 150 e

600 m, influenciam a meteorologia local e as condições climáticas locais. O clima da

região também sofre influência das correntes oceânicas e ventos provenientes do oeste

(Marsz & Rakusa-Suszczewski, 1987).

Na antártica o verão é curto e frio, com temperatura máxima em torno de 0º C,

ocorrendo, durante este período, incessantes chuvas e precipitação acentuada de neve

(Cygan, 1981, Rakusa-Suszczewski et al., 1993).

Para Pereira & Putzke (1994), estas condições, em conjunto com as impostas

pelo inverno escuro e prolongado limitam a ocorrência de espécies vegetais na região,

especialmente plantas com flor, uma vez que estas condições impedem o ciclo

reprodutivo. Por isso, apenas duas espécies de Angiospermas são conhecidas na

Antártica, Deschampsia Antarctica Desv. e Colobanthus quitensis Kunth. Já em relação

as espécies de musgos e liquens estes são mais resistentes, desenvolvendo-se bem sob

as condições polares, sendo justamente por isso são os principais constituintes da flora

antártica (Ochyra & Vána, 1989; Putzke & Pereira, 2001).

Os liquens possuem grande representatividade na Antártica, foram ,até o

momento, pouco estudados se considerada sua contribuição na composição florística

das áreas de degelo na Antártica (Pereira, 1990). Os trabalhos de taxonomia e

fitossociologia são geralmente parciais, sendo que Redon (1985) e Øvstedal and Lewis-

Smith (2001) são os trabalhos mais abrangentes, possibilitando a identificação da

maioria das espécies.

As comunidades liquênicas estão bem representadas na tundra antártica, sendo

seu principal componente os liquens fruticulosos (Ochyra, 1998; Pereira & Putzke,

1994). Na Baía do Almirantado estas comunidades são floristicamente muito diversas

47

Page 48: Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do Rio de Janeiro ... · A vegetação é própria da tundra, composta ... Zona Antártica Marítima ou Antártica gelada, segundo Longton

(Ochyra, 1998), compreendendo associações entre liquens ou liquens-musgos em ampla

distribuição na região, geralmente ocupando as faces das rochas expostas dos terraços

marinhos soerguidos (Schaeffer et al., 2002) e nas rochas próximas as colônias de aves

(Pereira & Puztke, 1994). Segundo Giminghan & Lewis-Smith (1970), uma

característica destas associações é a quase ausência de musgos, que, quando presentes,

geralmente são coxins de espécies nitrófilas que se desenvolvem freqüentemente em

fendas nas rochas, como por exemplo, Hennediella antarctica (Ångstron) Ochyra &

Matteri, Syntrichia princeps (De Not.) Mitt., Schistidium antarctici (Card.) L.I. Savicz

& Smirnova (Ochyra,1998), ou ainda outras espécies com nichos similares (Lewis-

Smith & Córner, 1973).

Para complementar o conhecimento das comunidades vegetais nas áreas de

degelo da Baía do Almirantado, são apresentadas e descritas as comunidades entre

liquens e musgos observadas no estudo fitossociológico realizado na região.

Material e Métodos

Foram estudadas as comunidades vegetais das adjacências da Estação Antártica

Polonesa Henrik Arctowski, durante o verão austral 2003/2004. O estudo das

comunidades vegetais iniciou a partir do levantamento de dados fitossociológicos,

utilizando-se o método de quadrados de Braun-Blanquet (1932), adaptado às condições

da Antártica (Kanda, 1986 e Putzke et al. 1995). A partir do lançamento de 240

quadrados de 25 x 25 cm, em um gradiente altitudinal que variou desde o nível do mar

até ca. 250 msm, foram caracterizadas as associações com base nos quadrados onde os

liquens apresentavam cobetura dominante em relação às demais espécies vegetais.

As amostras de liquens foram obtidas, sempre que possível, de espécimes com

ascomas bem desenvolvidos (apotécios ou peritécios). A coleta das espécies saxícolas

foi realizada com auxílio de martelo de geólogo e das muscícolas e/ou terrícolas,

utilizando-se faca, para que parte do substrato fosse retirada juntamente com os

indivíduos. Foram coletadas as espécies de musgos que possuíam a maior cobertura ou

que apareceram com maior freqüência associado a uma das espécies de líquen

dominante. Para a determinação das amostras foram utilizados os trabalhos de Dodge

(1968), Redon (1985), Ochyra (1998), Putzke et al. (1995) e Putzke & Pereira (1990).

O material coletado foi herborizado e depositado no herbário do Instituto de

Pesquisas Jardim Botânico do Rio de Janeiro (RB).

48

Page 49: Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do Rio de Janeiro ... · A vegetação é própria da tundra, composta ... Zona Antártica Marítima ou Antártica gelada, segundo Longton

A descrição das associações liquens-musgos seguiu o proposto por Kanda

(1986), Pereira & Putzke (1994) e Putzke et al. (1995), com as modificações feitas por

Hu (1998).

Resultados

Dos 240 quadrados dispostos no sudoeste da Baía do Almirantado, 35

compreendiam associações entre liquens e musgos. Em sua maioria o líquen dominante

foi do tipo fruticuloso, mas também foram encontrados liquens fruticosos e talosos.

Geralmente estas associações ocorreram em terrenos pedregosos e rochosos, com boa

drenagem, salvo as associações com o líquen Leptogium sp, que freqüentemente

estavam próximas a linhas de drenagem. Foram encontradas 11 associações entre

liquens e musgos, descritas a seguir.

Associação Usnea aurantiaco-atra - Andreaea gainii

Freqüente nas encostas de Jersak Hills, entre rochas ou sobre estas, estando

limitada a áreas bem drenadas, esta associação somente foi observa acima dos 250 msm.

A região apresenta relevo montanhoso, com alguns picos, dificultando o acúmulo de

neve, contribuindo assim para a boa drenagem da área. Usnea aurantiaco-atra (Jacq.)

Bory foi encontrada em todos os quadrados dispostos nesta região, com cobertura entre

25-50%, geralmente sobre afloramentos rochosos (Fig. 2a). Os talos deste líquen, bem

vistosos, destacam-se das demais espécies de liquens da área. O musgo Andreaea gainii

Card. foi observado junto ao líquen dominante na maioria das amostras, com cobertura

próxima aos 20%, freqüentemente crescendo em coxim, porém foram encontrados

alguns tufos entre as rochas. Outros musgos como Schistidium antartici (Card) L.I.

Savicz & Smirnova e Pohlia cruda (Hedw.) Lindb. foram também observados próximos

a esta associação, ocorrendo geralmente em fendas o que dificultou estimar a cobertura

destas espécies.

Associação Usnea antarctica - Polytrichum juniperinum - Andreaea gainii

A partir dos 150 msm e em direção ao nível do mar foi observado que U.

aurantiaco-atra foi reduzindo em freqüência sendo substituída gradualmente por Usnea

antarctica. Du Rietz. Entre 150 e 30 msm tornou-se freqüente amostras deste líquen

associado à Polytrichum juniperinum Hedw. e Andreaea gainii (Fig. 2b), geralmente em

encostas, ou ainda nos afloramentos rochosos dos terraços marinhos da região. O líquen

49

Page 50: Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do Rio de Janeiro ... · A vegetação é própria da tundra, composta ... Zona Antártica Marítima ou Antártica gelada, segundo Longton

dominava as amostras, com cobertura próxima aos 50%, ocorrendo sobre rocha ou

fragmentos desta enterrados no substrato. Os musgos, com cobertura próxima aos 25%

cresciam associados, sendo que P. juniperinum em tufos sobre o solo entre rochas e A.

gainii em coxim, diretamente sobre a rocha. Esta associação geralmente ocorria em

terreno de boa drenagem, ás vezes esta ocorreu em rochas no interior de linhas de

drenagem, freqüentemente nas partes mais altas de Skua Cliff. O líquen dominante

ocorria diretamente na rocha, junto a coxins de A. gainii, em cobertura

significantemente reduzida ao quadrados amostrados em áreas drenadas. P. juniperinum

ocorreu no interior da linha de drenagem, geralmente na base das rochas onde o líquen

fixava-se, associado a pequenos tufos de Sanionia uncinata (Hedw.) Loesk. com

cobertura nunca superior aos 10%. Além das espécies dominantes, eventualmente foram

observados outras espécies nos quadrados onde esta associação ocorreu. Em áreas mais

úmidas foram constatadas Chorisodontium acyphyllum e Cephaloziella varians

(Gottsche) Steph., ambas espécies em cobertura inferior a 1%. Nas áreas mais secas

também ocorreram Bryum amblyodon Müll. Hal. e Cladonia sp com cobertura

relativamente baixa, em torno de 5% cada uma.

Associação Usnea spp - Syntrichia princeps - Polytrichum juniperinum

Associação freqüente nas áreas mais baixas de Skua Cliff (ca.. 50 msm),

podendo ser encontrada ao nível do mar, principalmente nas proximidades das colônias

de pingüim papua (Pygoscelis papua). Os liquens U. antarctica e U. aurantiaco-atra

ocorrem em abundância nas rochas e nas encostas desta região, ambas dividiram a

cobertura nas amostras, como algo em torno de 45%. Nas amostras lançadas mais

próximas as colônias de pingüins (Fig. 3a), estas espécies de liquens diminuíram em

freqüência e cobertura até 10metros do início da pinguneira, depois disso não foram

mais amostradas. Os musgos mais freqüentes desta associação foram Syntrichia

princeps (De Not) Mitt. e Polytrichum juniperinum, com cobertura próxima a 15% e

20% respectivamente. Geralmente entre as espécies dominantes encontram-se tapetes de

Sanionia uncinata e céspedes de Deschamspsia antarctica Desv., com cobertura média

de 10% para cada espécie. A alga continental Prasiola crispa ocorreu nas amostras mais

próximas às colônias de pingüins, geralmente associada aos liquens, em cobertura

menor que 5%, entretanto nas amostras onde não ocorrem liquens esta alga foi a espécie

dominante, geralmente associada a D. antarctica.

50

Page 51: Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do Rio de Janeiro ... · A vegetação é própria da tundra, composta ... Zona Antártica Marítima ou Antártica gelada, segundo Longton

Associação Cladonia sp – Sanionia uncinata - Polytrichum juniperinum

Pequena associação encontrada no platô a sudoeste da estação polonesa, nas

proximidades da Cruz de Puchalski. As espécies mais freqüentes foram Cladonia sp, S.

uncinata, sempre associados (Fig. 3b) e pequenos tufos isolados de Polytrichum

juniperinum, com cobertura próxima a 30% e 25% respectivamente. Além das espécies

dominantes também foram encontradas U. antarctica, em pequenos talos sobre

fragmento de rocha, Ditrichum hyalinum (Mitt.) Kuntze, associado aos tufos de P.

juniperinum, e Andreaea depressinervis Card., esta última somente em um único

quadrado e com cobertura inferior a 10%. As demais espécies que figuraram nesta

associação possuíam cobertura entre 10 e 15%.

Associação Usnea antarctica – Syntrichia princeps

Ocorrendo de forma descontínua, desde a face de Skua Cliff voltada à estação H.

Arctowski, até as proximidades de Rakusa Point. Usnea antarctica ocorre sobre

afloramentos rochosos, com cobertura aproximada aos 50%, enquanto Syntrichia

princeps ocorre associada a Prasiola crispa, sobre substrato pedregoso (Fig. 4a). Estas

espécies foram observadas em cobertura próxima dos 15%, 5% respectivamente. Em

algumas amostras S. princeps ocorria intimamente associada a D. Antarctica, mas raro

esta última espécie em cobertura maior que 5%. A descontinuidade desta associação

pode estar relacionada com a presença das colônias de aves, uma vez que S. princeps e

P. crispa ocorrem preferencialmente próximos (ca. 10m) as nidificações das aves

antárticas, como em Rakusa Point (Fig. 4b). U. antarctica e D. antarctica também

ocorrem próximas as colônias de aves, porém a maiores distancias.

Associação Usnea antarctica– Schistidium spp

Encontra-se em uma área de vegetação fragmentada, onde as espécies ocorrem

distantes umas das outras. Situada a oeste da estação polonesa a cerca de 350 msm, em uma

encosta que segue de Jersak Hills até a parte mais baixa de Jardine Peak (Fig. 5a-b).

Figuram nesta associação duas espécies de musgos, Schistidium falcatum (Hook. f. et.

Wills) B. Bremer e Schistidium urnulaceum (Müll Hal.) B.G. Bell, e uma espécie de líquen,

Usnea antarctica (Fig 6a), aparentemente, mais abundante. Como se trata de uma

comunidade dispersa, com baixa densidade de indivíduos, foi difícil a amostragem

fitossociológica, portanto não pode ser aferida a cobertura das espécies.

51

Page 52: Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do Rio de Janeiro ... · A vegetação é própria da tundra, composta ... Zona Antártica Marítima ou Antártica gelada, segundo Longton

Associação Usnea antarctica-Cladonia sp-Polytrichum juniperinum

Confunde-se fisionomicamente com a associação Cladonia sp – Polytrichum

juniperinum, porém as duas associações possuem orientações distintas. A descrita

anteriormente ocorreu nas amostras voltadas para a Punta Thomas. A associação Usnea

antarctica – Cladonia sp – Polytricum juniperinum (Fig. 6b) ocorreu nas amostras mais

ao sul, voltadas para a praia do glaciar Ecology. As duas espécies de liquens que

dominam esta associação ocupam os espaços entre os tufos de P. juniperinum, seja na

rocha, como no caso de U. antarctica, seja sobre outros musgos como no caso de

Cladonia sp. Esta última geralmente cresce sobre tapetes secos de S. uncinata, ou

mesmo na base de caulídios de P. juniperinum. Cladonia sp. possui cobertura em torno

de 50%, enquanto U. antarctica 70%. Os tufos de P. juniperinum possuem cobertura

média de 20%, as demais espécies observadas não ultrapassam os 10% de cobertura na

amostra.

Associação Leptogium – Sanionia uncinata – Liquens.

Associação encontrada na face de Skua Cliff voltada para Rakusa Point, em

áreas com pouca ou nenhuma drenagem, sobre substrato pedregoso. Leptogium sp

ocorre sobre musgos (Fig. 7a), principalmente Polytrichastrum alpinum e Andreaea

gainii, com cobertura maior que 50%, enquanto os musgos em média apresentam 20%

de cobertura. S. uncinata ocorre associada a outro líquen que geralmente ocasiona a

necrose do musgo (Fig. 7b). Este líquen foi observado em todas as amostras em início

de desenvolvimento, não sendo assim possível sua determinação. A cobertura desta

associação variou de 5% a 50%. Tapetes de S. uncinata também são encontrados

submersos em pequenas poças d´agua oriundas do degelo, porém em cobertura menor

do que quando associada com o líquen.

Associação Leptogium sp - Polytrichum juniperinum

Está bem representada no platô anterior a Rakusa Point, em uma área encharcada

devida a confluência de inúmeras linhas de drenagem do local. É comum encontrar

Leptogium sp. copetindo com o musgo Sanionia uncinata, onde geralmente o líquen foi

encontrado somente sobre musgo sem vida. A cobertura média observada para

Leptogium sp. foi de 75%. Polytrichum juniperinum foi observado crescendo sobre

substrato orgânico, úmido e enegrecido, provalvelmente resultante da deposição de

matéria orgânica carreada das regiões mais altas, pela ação da água de degelo. Este

52

Page 53: Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do Rio de Janeiro ... · A vegetação é própria da tundra, composta ... Zona Antártica Marítima ou Antártica gelada, segundo Longton

musgo foi observado na área com cobertura em torno de 20%. Ainda podem ocorrer

associados aos tufos de P. juniperinum, Bryum pseudotriquetrum (Hedw.) Schwaegr.,

Polytrichum piliferum Hedw. e pequenos céspedes de D. Antarctica, geralmente com

cobertura inferior a 1%.

Associação Usnea antarctica - Polytrichum piliferum

Esta associação foi encontrada em Ornithologist Creek, em amostras lançadas

em uma pequena faixa entre a praia e uma pinguineira, ocorrendo sobre substrato

pedregoso em encostas da região. Usnea antarctica possuí cobertura próxima aos 75%,

enquanto Polytrichum piliferum em média 10%. Ainda podem ser encontras entre os

talos do líquen, Hennediella antarctica, Bartramia patens Brid. e Bryum pallecens

Schelich, com cobertura em torno de 4%. Acima das encostas, onde foram encontradas

estas espécies, existem colônias de Petrel gigante (Macronectes giganteus), sendo que

no lado oposto a esta formação foram observadas associações somente entre musgos,

estando provavelmente a associação Usnea Antarctica – Polytricum juniperinum

limitada a esta área.

Referências Bibliográficas

Braun-Blanquet J. 1932. Plant Sociology: The study of plant communities: New York,

McGraw-Hill, 439 p.

Cygan B. 1981. Charactristics of meteorological conditions at the Arctowski Station

during yhe summer season of 1979/1980. Pol Polar Res 2:35-46.

Dodge CW 1968. Lichenological notes on the flora the Antarctic Continent and the

subantarctic island VII and VIII. Nova Hedwigia 15 (2 - 4): 285 - 332.

________1973. Lichen Flora of the Antarctic Continent and adjacent Islands. Phoenix

Publishing, Canaan, New Hamshire, 398 p

Ferron FA, Simões JC and Aquino FE. 2001. Série Temporal de Temperatura

atmosférica para a Ilha Rei George, Antártica. Revist Dep Geo 14: 25-32.

Hu SS. 1998. Moss communities types and species diversity of Southern Fields

Peninsula (King George Island, South Shetland Islands) Antarctica. J Hattori Bot

Lab 84: 187-198.

53

Page 54: Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do Rio de Janeiro ... · A vegetação é própria da tundra, composta ... Zona Antártica Marítima ou Antártica gelada, segundo Longton

Kanda H. 1986. Moss communities in some ice-free areas along the Söya Coast, East

Antarctica. Mem Natl Inst Polar Res Spec Issue 44: 229-240.

Lewis-Smith RI and Corner RWM. 1973. Vegetation of the Arthur Harbour- Argentine

Islands region of the Antarctic Peninsula. Br Antarct Surv Bull 33 and 34: 89-122

Marsz A and Rakusa-Suszczewski S. 1987. Charakterystyka ekologiczna rejonu Zatoki

Admiralicji. Kosmos (Warsaw) 36(1): 103-127.

Ochyra R. and Vãna J. 1989. The hepatics of King George Island, South Shetalnd

Islands, Antarctica, with particular references to the Admiralty Bay region. Pol

Polar Res 10(2): 183-210.

Ochyra R. 1998. The Moss Flora of King George Island, Antarctica. Polish Academy of

Science, Institute of Botany, Cracow, 279 p.

Øvstedal, DO and Lewis-Smith RI. 2001. Lichens of Antarctica and South Georgia.

British Antarctic Survey. London, 190 p.

Pereira AB. 1990. A new occurence of Usnea in Antarctica. Pesq Antárt Bras 2(1): 1-4.

Pereira AB. and Putzke J. 1994. Floristic composition of Stinker Point, Elephant Island,

Antarc. Korian Journ Polar Res 5(2):37-47.

Putzke J. and Pereira AB. 1990. Mosses of King George Island. Pesq Antárt Bras

2(1):17-71.

_________. 2001. The Antarctic Mosses with special Reference to the South Shetland

Islands. Canoas, RS: Editora da ULBRA. 196 p.

_________, Lopes-Putzke MT and Pereira AB. 1995. Mosses communities of Rip Point

in Northern Nelson Island, Antarctica. Pesq Antárt Bras 3(1): 104-115.

Rakusa-Suszczewski S, Mietus M and Piasecki P. 1993. Weather and climate. In

Rakusa-Suszczewski, S. The maritime Antarctic Coastal Ecosystem of Admiralty

Bay. Polish Academy of Sciences. Crakow. p. 17-25.

Redon J. 1985. Liquens Antarticos. Publicação do Instituto Antártico Chileno (INACH),

Santiago de Chile. 123 p.

Schaeffer CER, Francelino MR, Simas FNB and Albuquerque-Filho MR. (orgs.). 2002.

Ecossistemas terrestres da Baía do Almirantado - Monitoramento ambiental na

Antártica marítima. NEPUT. Viçosa. Minas Gerais. 95 p.

54

Page 55: Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do Rio de Janeiro ... · A vegetação é própria da tundra, composta ... Zona Antártica Marítima ou Antártica gelada, segundo Longton

55

Page 56: Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do Rio de Janeiro ... · A vegetação é própria da tundra, composta ... Zona Antártica Marítima ou Antártica gelada, segundo Longton

Fig. 1. Região estudada (linha tracejada) na Baía do Almirantado, Ilha Rei George, Antártica.

(Adaptado de Simões et. al. 2004)

56

Page 57: Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do Rio de Janeiro ... · A vegetação é própria da tundra, composta ... Zona Antártica Marítima ou Antártica gelada, segundo Longton

Fig. 2. A Associação Usnea aurantiaco-atra – Andreaea gainii. B. Associação Usnea Antarctica – Andreaea – Polytrichum

juniperinum.(Fotos: Filipe Victoria)

Fig. 3. A. Colônia de Pygoscelis Papua em Ornithologist Creek, onde foi observada a associação Usnea spp – Syntrichia princeps

- Polytrichum juniperinum. B. Talo Cladonia sp, associado a Sanionia uncinata. (Fotos: Filipe Victoria)

57

A B

BA

Page 58: Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do Rio de Janeiro ... · A vegetação é própria da tundra, composta ... Zona Antártica Marítima ou Antártica gelada, segundo Longton

Fig. 4. A. Syntrichia princeps e Prasiola Crispa crescendo sobre pequenos fragmetos de rocha. B. Colônia de Pygoscelis adeliae em

Rakusa Point, região onde é encontrada a associação Usnea Antarctica – Syntrichia princeps. (Fotos: Lubomir Kovacik)

Fig. 5. Jardine Peak (a esquerda) e Jersak Hill (a direita) sites onde foram observadas a associação Usnea aurantiaco-atra –

Schistidium spp. (Fotos: Filipe Victoria)

58

A B

A B

Page 59: Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do Rio de Janeiro ... · A vegetação é própria da tundra, composta ... Zona Antártica Marítima ou Antártica gelada, segundo Longton

Fig. 6. A.Associação Usnea antarctica – Schistidium spp. B. Associação Usnea Antarctica – Cladonia sp – Polytrichum

juniperinum. (Fotos: Filipe Victoria)

Fig. 7. A Leptogium sp (mais escuro) associado à Andreae gainii (em maior abundância na imagem) e Polytrichastrum

alpinum (ao centro). B. Sanionia uncinata como hospedeiro de um líquen não determinado.

(Fotos: A. Filipe Victoria; B . Lubomir Kovacik)

59

A

BA

B

Page 60: Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do Rio de Janeiro ... · A vegetação é própria da tundra, composta ... Zona Antártica Marítima ou Antártica gelada, segundo Longton

CAPÍTULO IV. Formas de Vida das Espécies de Musgos nas Áreas de Degelo da IlhaRei George, Ilhas Shetland do Sul, Antártica.

(Artigo a ser submetido à Revista Polar Biology)

FORMAS DE VIDA DAS ESPÉCIES DE MUSGOS NAS ÁREAS DE DEGELO DA

ILHA REI GEORGE, ILHAS SHETLAND DO SUL, ANTÁRTICA.

Filipe de Carvalho Victoria1

Denise Pinheiro da Costa1

60

Page 61: Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do Rio de Janeiro ... · A vegetação é própria da tundra, composta ... Zona Antártica Marítima ou Antártica gelada, segundo Longton

Antonio Batista Pereira2

1Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do Rio de Janeiro, Rua Pacheco Leão 915,

22460-030, Rio de Janeiro, RJ, Brasil; e-mail: [email protected]

2Laboratório de Micologia, Universidade Luterana do Brasil, Rua Miguel Tostes 101,

Sala 121, São Luiz, Canoas, RS, Brasil

Abstract. The distribution of the bryophyte species and life-forms of mosses of

Antarctica depend on the light, temperature, winds, precipitation, sea breeze and

proximity to birds colonies, increased of the surface conditions, as stability of the

surface, type of rock and erosion. One establishes thus clear limits of survival, making

with that certain species of mosses are highly specialized to geomorphology means.

During austral summers 2002/2003 and 2003/2004 random collections and

phytosociologycal studies adjoining the Brazilian Station Comandante Ferraz and the

Polish Station Henrik Arctowski, both in the Admiralty Bay, inside King George Island,

objectifying to study the structure of the communities of mosses in the ice-free areas.

More than half of the species presents only one growth-form, while that 15% two forms

and 3% three forms, what he was waited due the bordering conditions of the region. It is

presented a scheme for characterization of growth-forms to moss species of ice-free

areas.

Key-words. Life-forms, Mosses, Antarctic.

INTRODUÇÃO

61

Page 62: Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do Rio de Janeiro ... · A vegetação é própria da tundra, composta ... Zona Antártica Marítima ou Antártica gelada, segundo Longton

A terminologia “forma de crescimento” foi primeiramente utilizado por Meusel

(l935), que o define como toda a característica de uma planta que somente possa ser

determinada por uma analíse de sua morfologia. Segundo Warming (1896, Apud

Mägdefrau 1982), entende-se como forma de vida o hábito de uma planta em harmonia

com suas condições de vida. A literatura botânica mescla os dois termos forma de

crescimento e forma de vida, Giesenhagen (1910, Apud Mägdefrau 1982) e Herzog

(1916, Apud Mägdefrau 1982), por exemplo, usam o termo forma de crescimento no

sentido de forma de vida, de acordo com a definição de Meusel (1935). Segundo

Mägdefrau, (1982) esta confusão, pode ser evitada se adotarmos como forma de

crescimento no sentido de Mesuel (1935), ou seja, como um termo estritamente

morfológico baseado em homologia, e forma de vida segundo Warming (1896, Apud

Mägdefrau 1982),, no sentido ecológico, baseado em analogias.

Segundo Gimingham & Robertson (1950), a classificação das formas de vida

das briófitas foi amplamente utilizada para análise dos tipos de comunidades de

briófitas nos mais variados ambientes. Ainda para este autor as comunidades derivadas

de habitats similares, embora visivelmente diferindo na composição específica, exibem

alguma uniformidade estrutural expressa pelos vários tipos de formas de vida, como por

exemplo, tramas, tufos, tapetes entre outros. Já as comunidades de habitats distintos

tendem, a mostrar tipos estruturalmente divergentes, em que as formas de vida podem

ser diferentes, tal como os coxins em campos rupestres e campos de altitude, e os

tapetes e tramas em florestas, existindo assim certa dependência entre as formas de vida

e os seus habitats (Gimingham & Lewis-Smith 1970).

Podemos então distinguir para as espécies de musgos aquelas que se

desenvolvem verticalmente a partir do substrato, conhecidos como musgos ortrotrópicos

e aqueles que crescem horizontalmente ao substrato conhecidos como plagiotrópicos,

62

Page 63: Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do Rio de Janeiro ... · A vegetação é própria da tundra, composta ... Zona Antártica Marítima ou Antártica gelada, segundo Longton

formas de vida caracterísiticas. Por exemplos os musgos plagiotrópicos geralmente

desenvolvem-se em tapetes e tramas, assim como musgos ortotrópicos usualmente

crescem em tufos e coxins, porém muitos podem mudar sua forma de crescimento,

devido a pressões ambientais ou a própria plasticidade fenotípica (Schofield 2001).

A classificação das formas de vida proposta por Gimingham & Robertson

(1950), foi criada principalmente para simplificar a classificação morfológica proposta

por Meusel (1935). Uma característica essencial é de estar baseada somente na

morfologia, e assim livre dos caracteres estruturais adaptativos. Logo, para estes

autores, as formas de vida e o tipo de substrato não estão relacionados, uma vez que o

sistema utilizado não considera a forma observada na natureza com as condições

observadas em campo, com exceção de Mägdefrau (1982) e Bates (1998), que ainda

tentam relacionar estes parâmetros. Portanto, a idéia de discutir as formas de vidas

encontradas em uma amostragem fitossociológica realizada na Ilha Rei George, em um

ambiente de estresse, como a tundra antártica, parte da tentativa de responder como

estas formas de vida estão distribuídas nos distintos substratos encontrados nesta região.

MATERIAL E MÉTODOS

A Ilha Rei George, localizada no arquipélago Shetland do Sul, Antártica

(61º50`- 62º15`S e 57º30`- 59º00`W), possui 65 km de comprimento, largura variando

de 4 a 40 km e temperaturas médias de 0,1 a -3,6°C.

Durante os verões austrais 2002/2003 e 2003/2003 foram realizadas coletas de

musgos, através de levantamentos fitossociológicos seguindo o método de amostragem

de Braum-Blanquet (1932), adaptados às condições da Antártica (Kanda 1986), nas

áreas de degelo adjacentes as estações antárticas Comandante Ferraz (Brasil) e Henrik

Arctowski (Polônia), ambas na Baía do Almirantado (Fig. 1). Foram amostrados 100

63

Page 64: Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do Rio de Janeiro ... · A vegetação é própria da tundra, composta ... Zona Antártica Marítima ou Antártica gelada, segundo Longton

quadrados em um gradiente altitudinal, partindo da praia, seguindo em direção as

localidades de maior altitude, onde ainda o relevo permitia esta abordagem (ca. 250

msm). A partis dos 250 msm somente foram realizadas coletas aleatórias. Em cada dos

quadrados foram observadas a forma de vida que as espécies de musgos apresentavam,

bem como e o tipo de substrato em que ocorriam. Os resultados obtidos em campo

foram complementados com dados de Kanda (1987), Ochyra (1998) e Puztke & Pereira

(2001), principalmente para aquelas espécies que se conhece a ocorrência para a região

estudada, mas não foram amostradas.

A classificação das formas de vida seguiu Gimingham & Birse (1957),

Gimigham & Lewis Smith (1970) e Mägdefrau (1982), com modificações (Tab. 1).

Para uma melhor visualização e ilustração das formas de vida observadas, foram

realizados cortes em diferentes direções, com auxílio de lâmina, para expor a inserção

dos gametófitos, bem como o ponto de fixação destes no substrato (Fig. 2).

A distribuição das espécies e formas de vida observadas neste estudo, em função

do substrato rochoso e orgânico foi analisada pelo teste T-student (Zar, 1984) através do

Software Statistica 6.0 (Statsoft, 2001).

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Para as 58 espécies de musgos que ocorrem na área estudada foram

caracterizadas quatro (4) formas de vida: coxim, tufo, tapete e trama (Tabela 1),

predominando tufos (59%) e coxins (31%). Este predominio relaciona-se com o tipo de

substrato dispónivel nas áreas de degelo da região (Tabela 2), uma vez que estas formas

de vidas ocorrem preferêncialmente em terrenos rochosos e pedregosos (Kanda, 1986).

Tabela 1. Caracterização das formas de vida dos musgos nas áreas de degelo adjacentes as estaçõesantárticas Henrri Arctowski e Comandante Ferraz.

CoximEixos partindo de um ponto central, crescendo

(a) Coxim grande. Geralmente atingindo diâmetrosmaiores que 5 cm. Ex. Andreaea regularis,

64

Page 65: Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do Rio de Janeiro ... · A vegetação é própria da tundra, composta ... Zona Antártica Marítima ou Antártica gelada, segundo Longton

radialmente, resultando em uma hemisféra mais oumenos compacta. Geralmente crescendo emafloramento rochosos ou particulas deste.

Syntrichia princeps. (b) Coxim pequeno. Nunca atingindo diâmentros

maiores que 5 cm. Ex. Andreaea gainii,Andreaea depressinervis, Schistidium antarctici.

TufoEixos principais eretos com ramos similares,paralelos ao eixo principal, formando tufos contínuos.Crescem em solo ou sobre partículas finas de rocha.

(a) Tufo curto. com altura menor que 1 cm. Podemser denso, quando ocorrem muito próximos e osfílidios das plantas vizinhas misturam-se com asda outra, ou ainda esparso, quando aindividualidade de cada planta é facilmentereconhecida. Ex. Brachytheciumaustrosalebrosum, Bryum pseudotriquetrum.

(b) Tufo alto. Tufos com altura superior a 1 cm.Geralmente esparsos. Ex. Andreaea gainii,Polytrichum juniperinum, Polytrichum strictum,Polytrichastrum alpinum.

TapeteEixos principais e secundários longos, densos,rastejantes, com crescimento horizontal ascendente,rizóides, se presentes, restritos à porção basal do eixoprincipal. Crescem em áreas alagadas pelo degelo,freqüentemente sobre solo rochoso.

Ex. Brachythacim austrosalebrosum, Sanioniauncinata, Warnstorfia laculosa.

TramaEixo principal crescendo horizontalmente aosubstrato, freqüentemente ramificado, bem aderido efixo por rizóides e ramos secundários. Geralmentecom crescimento limitado.

Ex. Orthotheciella varia, Platydictyajungermannioides.

Tapetes e tramas são menos freqüentes nas regiões polares, devido às condições

encontradas para o desenvolvimento destas formas de vida na região (Lewis-Smith &

Gimingham 1976). A maior parte da Baía do Almirantado constitui-se de terrenos

irregulares e pedregosos, com exceção de Sanionia uncinata, as demais espécies de

musgos que formam tapetes, só ocorrem assim sobre seixo. No total 7% das espécies da

região podem ocorrer como tapetes e apenas 3% como trama (Fig. 3).

A maioria das espécies apresenta uma única forma de vida, contudo foram

observadas 10 espécies com mais de uma forma de crescimento (Fig. 4), como

Andreaea gainii que foi observada em duas formas distintas, e Platydictya

jungermannioides, que não foi observada na amostragem, mas segundo Ochyra (1998),

ocorre em três formas de vida distintas.

65

Page 66: Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do Rio de Janeiro ... · A vegetação é própria da tundra, composta ... Zona Antártica Marítima ou Antártica gelada, segundo Longton

Tabela 2. Lista das espécies de musgos nas áreas de degelo adjacentes as Estações H. Arctowski

e Comandante Ferraz, com suas formas de vida e respectivos substratos e local de ocorrência.

Espécie Forma

de vida

Substrato Local

Andreaea depressinervis Card. Coxim,

Tufo

Afloramentorochoso; Seixo.

Encostas; Praiaa ± 20m

Andreaea gainii Card. Coxim,

Tufo

Afloramentorochoso;Fendas emrochas; Seixo.

Picos;Encostas; Praiaa ± 20m

Andreaea regularis Müll. Hal. Coxim,

Tufo

Afloramentorochoso;Fendas emrochas; Seixo.

Picos;Encostas; Praiaa ± 20m

Anisothcecium cardotii (R. Br. bis.) Ochyra Tufo Seixo e Solo Platô, Encostase Praia ±20m

Bartramia patens Brid. Tufo Solo; Seixo; Praia a ± 20m;Encostas

Brachythecium austrosalebrosum (Müll. Hal.) Kindb. Tufo,

Tapete

Solo; Seixo Praia a ± 20m;Platô

Brachythecium glaciale Shimp. Tapete Solo; Seixo Praia a ± 20m;Platô

Bryum amblyodon Müll. Hal.. Tufo Solo; Seixos Praia a ± 20m;Platô; margemde linhas dedrenagem

Bryum argenteum Hedw. Tufo Solo; Seixos Praia a ± 20m;Encostas;Fendas emrocha

Bryum orbiculatifolium Cardot & Broth. Tufo Solo; Seixos Praia a ± 20m;Platô; margemde linhas dedrenagem

Bryum pallescens Schelich. ex Schwägr. Tufo Solo; Seixos Praia a ± 20m;Platô; margemde linhas dedrenagem

Bryum pseudotriquetrum (Hedw.) P. Gaertn., B. Mey. & Scherb. Tufo Solo; Seixos Margem delinhas dedrenagem;Interior delinhas dedrenagem

Campylium polygamus (Schimp.) C. E. O. Jensen. Trama Solo Praia ±20mCeratodon purpureus (Hedw.) Brid. Tufo Solo; Seixos Praia a ± 20m;

Platô; margemde linhas dedrenagem

Chorisodontium aciphyllum (Hook. f. & Wilson) Broth. Tufo Seixo PlatôConostomum magellanicum Sull. Tufo Solo; Seixo Praia a +20m;

Platô; margemde linhas dedrenagem

Dicranoweisia brevipes (Müll. Hal.) Cardot Tufo Seixo, Fendasem rochas

Platô, Encostas

Dicranowesia crispula (Hedw.) Milde Coxim Afloramentos, Platô, Encostas

66

(Cont. Tabela 2)

Page 67: Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do Rio de Janeiro ... · A vegetação é própria da tundra, composta ... Zona Antártica Marítima ou Antártica gelada, segundo Longton

Seixo e fendasem rochas

Dicranowesia grimmiaceae (Müll. Hal.) Broth. Coxim Afloramentos,Seixo e fendasem rochas

Platô, Encostas

Didymodon gelidus Cardot Tufo Seixo e Solo Praia +20m,Platô, Encostas

Distichium capillaceum (Hedw.) Bruch & Schimp. Tufo Seixo e Soloe Platô e Praia a+20m

Ditrichum hyalinum (Mitt.) Kuntze Tufo Seixo, Fendasem rochas

Encostas ePraia a +20m

Ditrichum lewis-smithii Ochyra Tufo Seixo; Fendasem rocha

Platô; Encostas

Encalypta rhaptocarpa Schwägr. Tufo Seixo, Fendasem Rohas

Platô eEncostas

Grimmia reflexidens Müll. Hal. Tufo,

Coxim*

Seixo, Fendasem Rochas

Platô, Encostase praia a +20m

Hennediella antarctica (Ångström) Ochyra & Matteri Coxim Seixo;Afloramentosrochosos

Platô; Encostas

Hennediella heimii (Hedw.) R. H. Zander Tufo,

Coxim

Seixo; Fendasem rochas;Afloramentosrochosos

Platô,Encostas; Picos

Holodontium strictum (Hook. f. & Wilson) Ochyra Tufo Seixo e Solo Platô eEncostas

Hypnum revolutum (Mitt.) Lindb. Coxim Afloramentos Platô eEncostas

Meesia uliginosa Hedw. Tufo Seixo; Solo Praia a +20m;Platô; margemde linhas dedrenagem

Muelleriella crassifolia (Hook. f. & Wilson) Dusén Coxim Afloramentos Platô e Praia ±20m

Orthotheciella varia (Hedw.) Ochyra Trama Seixo e Solo PraiaPlatydictya jungermannioides (Brid) H.A. Crum Tufo*,

Tapete*,

Trama*

Solo Praia

Pohlia cruda (Hedw.) Lindb. Tufo Seixo; Fendasem Rochas

Encostas

Pohlia nutans (Hedw.) Lindb. Tufo Seixo, Fendasem rochas

Encostas; Praiaa ±20m;Margem daslinhas dedrenagem

Polhia wahlenbergii (F. Weber & D. Mohr.) A.L. Andrews Tufo Seixo e Solo Platô e Praia ±20m

Polhia. drummondii (Müll. Hal.) A.L. Andrews Tufo Seixo e Solo Platô e Praia ±20m

Politrichastrum alpinum (Hedw.) G.L.Sm. Tufo Seixo; Solo Platô, EncostasPolytrichum juniperinum Hedw. Tufo Seixo; Solo Platô;

Encostas; Praiaa ±20m

Polytrichum piliferum Hedw. Tufo Seixo; Solo Platô;Encostas; Praiaa ±20m

Polytrichum strictum Menzies ex Brid. Tufo Seixo, Solo,Fendas em

Praia ±20m,Platô e

67

(Cont. Tabela 2)

Page 68: Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do Rio de Janeiro ... · A vegetação é própria da tundra, composta ... Zona Antártica Marítima ou Antártica gelada, segundo Longton

rochas EnconstasRacomitrium sudeticum (Funck) Bruch & Schimp. Coxim Afloramentos Platô e

EncostasSanionia uncinata (Hedw.) Loeske Tufo,

Tapete

Seixo; Solo Praia; Praia a ±20m; Platô;Encostas

Schistidium amblyophyllum (Müll. Hal.) Ochyra & Hertel Coxim Seixo;Afloramentosrochosos

Encostas; Picos

Schistidium antarctici (Cardot) L.I. Savicz & Smirnova Coxim Seixo;Afloramentosrochosos

Encostas; Picos

Schistidium cupulare (Müll. Hal.) Ochyra Coxim Seixo;Afloramentosrochosos

Encostas; Picos

Schistidium falcatum (Hook. f. & Wilson) B. Bremer Tufo Tufo Seixo;Afloramentosrochosos

Encostas; Picos

Schistidium halinae Ochyra Coxim Seixo;Afloramentosrochosos

Encostas; Picos

Schistidium occultum (Müll. Hal.) Ochyra & Matteri Coxim Seixo;Afloramentosrochosos

Encostas; Picos

Schistidium rivulare (Brid.) Podp. Tufo Seixo;Afloramentosrochosos

Encostas; Picos

Schistidium steerei Ochyra Coxim Seixo;Afloramentosrochosos

Encostas; Picos

Schistidium urnulaceum (Müll. Hal.) B. G. Bell Coxim Seixo;Afloramentosrochosos

Encostas; Picos

Stegonia latifolia (Schwägr.) Venturi ex Broth. Tufo Solo, Fendasem rochas

Praia ao níveldo mar

Syntrichia filaris (Müll. Hal.) R.H. Zander Tufo,

Coxim

Seixo;Afloramentosrochosos

Encostas; Picos

Syntrichia princeps (De Not.) Mitt Tufo,

Tapete,

Coxim

Seixo;Afloramentosrochosos

Encostas;Picos; Praia a ±20m

Syntrichia saxicola (Cardot) R.H. Zander Coxim Seixo;Afloramentosrochosos

Encostas; Picos

Warnstorfia laculosa (Müll. Hal.) Ochyra & Matteri Tufo,

Tapete

Seixo Praia ±20m

Warnstorfia sarmentosa (Wahlenb.) Hedenas Tapete Seixo Praia ±20m

*Dados não observados em campo, somente encontrados na literatura.

A distribuição das formas de vida em relação do substrato evidenciou uma

preferência das espécies em coxins pelo substrato rochoso (t=9,03, gl=6, p=0,012), o

que ocorre também com os tufos (t=12,63x, gl=6, p=0,006), apesar das diferenças

68

(Cont. Tabela 2)

Page 69: Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do Rio de Janeiro ... · A vegetação é própria da tundra, composta ... Zona Antártica Marítima ou Antártica gelada, segundo Longton

encontradas para esta forma de vida terem sido menores (Fig. 5). Os tapetes ocorreram

preferencialmente em substrato orgânico (t=38,5, gl=6, p=0,0001), o que também foi

observado para as espécies em trama que foram coletadas (t=25,42, gl=6, p=0,0001).

As regiões estudadas apresentaram pequenas diferenças na distribuição das

formas de vida, relacionadas principalmente pelo substrato prevalente ao nível do mar.

Em Arctowski (Fig. 1a) há maior disponibilidade de solo nas praias, quando comparada

a Península Keller, que apresenta em sua faixa litorânea subtrato rochosos e seixos

(Putzke & Pereira 1990). Segue abaixo alguns comentários sobre as formas de vida

encontradas em cada região.

Região de Arctowski

Ao nível do mar predominam os tapetes, tufos e tramas, principalmente em áreas

alagadas pelo degelo, devido a maior estabilidade do substrato, presença de matéria

orgânica e disponibilidade de água. Nas proximidades da estação polonesa existe um

extenso campo de musgos, composto principalmente por Sanionia uncinata, Bryum

pseudotriquetrum, Syntrichia princeps, Warstorfia laculosa associada a liquens e a

gramínea Deschampsia antarctica Desv. (Furmanczy & Ochyra 1982). Os tapetes de S.

uncinata são mais freqüentes e sobrepõem os demais tapetes da tundra, como

Brachythacim austrosalebrosum. Também ocorrem tapetes de W. laculosa em

associação com os tufos de Bryum pseudotriquetrum e Bryum amblyodon, sempre em

linhas de drenagem ou em pequenos lagos alimentados pelo degelo, como por exemplo

nas encostas de Skua cliff. O único coxim encontrado nesta região foi de S. princeps,

ocorrendo mais próximas as pinguineiras, geralmente em fragmentos rochosos

circundados por inúmeros céspedes de D. antarctica.

69

Page 70: Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do Rio de Janeiro ... · A vegetação é própria da tundra, composta ... Zona Antártica Marítima ou Antártica gelada, segundo Longton

Acima dos 150 msm, no planalto de Jersak Hills e nas encostas de Jardine Peak,

são freqüentes os coxins de Schistidium, sendo S. antarctici o coxim mais freqüente

nesta área, principalmente nos afloramentos rochosos, uma vez que esta forma de vida é

mais resistente à ação dos ventos e necessita de uma área reduzida para sua fixação. Nas

encostas próximas a Panorama Ridge e em Itália Valley as espécies do gênero

Andreaea estão bem representadas, geralmente ocorrendo em coxins, eventualmente em

tufos no interior das fendas das rochas. Pohlia cruda foi o único tufo que ocorre em

maior altitude na região, encontrado em fendas a uma altura superior aos 120 msm, no

Pico de Jardine Peaks. Acima dos 130 m somente formam observados coxins de

Andreae regularis, geralmente esparsos e em associação com o líquen fruticuloso

Usnea au1rantiaco-atra (Jacq.) Bory.

Península Keller

Na Península Keller (Fig. 1b) Polytrichastrum alpinum impera nas formações

rochosas próximas ao nível do mar e até ca. do 100 msm, formando ou tufos altos e

esparsos, nas áreas com melhor drenagem como em Denais Stack, como também podem

ocorrer em tufos curtos e densos em fendas ou entre rochas, em depósitos de substrato

orgânico. São freqüentes tufos das espécies dos gênero Bryum e Pohlia, de uma forma

geral entre os céspedes de D. antarctica e Colobanthus quitensis, próximos ao nível do

mar em toda a extensão da praia.

Coxins não são raros próximos a estes tufos, porém são limitados ao substrato

mineral, mais frequente aos 120 msm, onde já não ocorrem fanerógamas, sendo comum

coxins de A. regularis e A. depressinervis, associadas a diversos líquens fruticulosos,

porém estes são menores e quebradiços e facilmente se rompem ao serem retirados do

substrato. Em Punta Plaza são comuns os tapetes como B. austrosalebrosum e S.

70

Page 71: Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do Rio de Janeiro ... · A vegetação é própria da tundra, composta ... Zona Antártica Marítima ou Antártica gelada, segundo Longton

uncinata, este ultímo se estende até as proximidades da estação brasileira, formando

tapetes quase contínuos, ocorrendo sobre rocha fragmentada e até mesmo sobre ossadas

de baleia, muito comuns na região. Os tapetes geralmente não ocorrem em altitudes

superiores aos 60 msm, principalmente por esta região apresentar maior extensão de

substrato mineral em comparação com a região de Arctowski.

Estes resultados já eram esperados, visto que as formas de vida das briófitas

relacionam-se com as condições ambientais, como por exemplo natureza do substrato,

umidade e intensidade luminosa, entre outros (Horikawa & Ando, 1952; Gimingham &

Brise, 1956). Segundo Mägdefrau (1982), a luz inibe o prolongamento dois eixos dos

talos, por esta razão tufos curtos e coxins ocorrem com maior freqüência nos habitats

com maior incidência luminosa, uma vez que possui o crescimento de eixo principal

menor em relação aos ramos secundários. Na tundra úmida são comuns as tramas e os

tapetes devido esta formas apresentarem maior número de rizóides, que possibilita a

retenção da água do degelo e da precipitação (Allison & Lewis-Smith 1973). Tufos

densos também são comuns na tundra, pois estas formas apresentam muitos rizóides,

possibilitando maior capilaridade (Longton 1988).

Segundo Vitt (1989), espécies de musgos pleurocárpicos estão melhores

adaptadas aos ambientes mesoúmidos, ocorrendo geralmente como trama ou tapete,

uma forma que possibilita o aproveitamento de água e nutrientes lixiviados pelo degelo

(Pereira & Putzke 1994), uma vez que ocupa maior área sobre o substrato, na região de

Arctowski temos o exemplo de S. uncinata que praticamente domina estes substratos. Já

espécies acrocárpicas, ocorrem com maior freqüência sobre forma de tufos e coxins, que

possibilita o acúmulo de água e nutrientes próximos aos rizóides e reduz o movimento

de ar próximo aos filídios (Gimingham & Birse 1957; Longton 1988). A condução de

água nos tecido em musgos acrocárpicos é aparentemente mais eficiente em substratos

71

Page 72: Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do Rio de Janeiro ... · A vegetação é própria da tundra, composta ... Zona Antártica Marítima ou Antártica gelada, segundo Longton

bem drenados em relação aos tecidos de musgos pleurocárpicos (Frey, 1971 Apud

Robinson et al., 1989), tornando estes musgos mais tolerantes ao estresse hídrico.

As análises estatísticas demostraram a preferência dos coxins e tufos nas

encostas e afloramentos rochosos, e uma significativa redução na freqüencias destas

formas de vida quando o substrato é predominantemente orgânico e úmido, onde os

tapetes e tramas ocorrem em maior quantidade. Por isso os tufos e os coxins de musgos

são mais freqüentes, nas áreas de degelo das áreas estudadas, em virtude do substrato

mineral, com baixa retenção hídrica, prevalecer nesta região. Em contra partida são os

tufos e coxins que contribuem para a consolidação do subtrato orgânico (Longton,

1982), propiciando o estabelecimento das espécies pleurocárpicas, com forma de vida

prostada ao substrato.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Allison SE, Lewis-Smith RI (1973). The vegetation of Elephant Island, South Shetland

Island. Brit Antarct Surv Bull 33-34: 185-212.

Bates JW (1998). Is “Life-form”a useful concept in Bryopjyte ecology? Oikos 82: 223-

237

Braun-Blanquet J (1932). Plant Sociology: The study of plant communities. New York,

McGraw-Hill.

Furmanczyk K, Ochyra R (1982). Plant communities of the Admiralty Bay (King

George Island, South Shetland Islands, Antarctic) I. Jasnorszewski Gardens. Pol

Polar Res 3(1-2): 25-39.

Gimingham CH, Birse EM (1957). Ecological studies on growth-form in Bryophytes.

Journ Ecol 45: 533-545.

72

Page 73: Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do Rio de Janeiro ... · A vegetação é própria da tundra, composta ... Zona Antártica Marítima ou Antártica gelada, segundo Longton

Gimingham CH, Robertson ET (1950). Preliminary Investigations on the Structure of

Bryophitic Communities. Trans Brit Bryol Soc 1: 330-344

Gimingham CH, Lewis-Smith RI (1970). Bryophite and lichen communities in the

maritime Antarctic. In: Holdgate R. Antarctic ecology. Acad Press, London, pp

752-785.

Horikawa Y Ando H (1952). A short study on the groth-form of bryophytes and its

ecological significance. Hikobia 1: 119-129.

Kanda H (1986). Moss communities in some ice free areas along the Soya Coast, East

Antarctica. Mem Natl Inst Polar Res Tokyo Special Issue 44: 229-240.

Kanda H (1987). Handbook of Antarctic mosses. National Institute of Polar Research,

Tokyo, pp 1-83.

Longton RE (1982). Bryophyte vegetation in polar regions. In: Smith AJE (ed).

Bryophyte Ecology. Chapman and hall, London, pp 123-165.

________(1988). Life-history strategies among bryophytes of arid regions. J Hattori Bot

Lab 64: 15-28.

Mägdrefrau K (1982). Life-forms of bryophytes. In: Smith AJE (ed). Bryophyte

Ecology. Chapman and Hall, London, pp 45-58

Meusel H (1935). Wuchsformen und Wuchstypen der europäischen Laubmoose. Nova

Acta Leopold NF 3-123.

Ochyra R (1998). The moss flora of King George Island Antarctica. Polish Academy of

Sciences. Cracow

Pereira AB, Putzke J (1994). Floristic composition of Stinker Point. Elephant Island,

Antarctica. Kor Journ Polar Res 5(2): 37-47

Putzke J, Pereira AB (1990). Mosses of King George Island. Pesq Antárt Bras 2(1): 17-

71.

73

Page 74: Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do Rio de Janeiro ... · A vegetação é própria da tundra, composta ... Zona Antártica Marítima ou Antártica gelada, segundo Longton

Putzke J, Pereira AB (2001). The Antarctic Mosses with special reference to the

Shetland Island. Canoas. Ed. ULBRA.

Robinson AL, Vitt DH, Timoney KP (1989). Patterns of community structure and

morphology of bryophytes and lichens relative to edaphic gradients in the subarctic

forest-tundra of Northwestern Canada. Bryologist 92(4): 495-512.

Schofield WB (2001). Introduction to bryology. The Blackburn Press, New Jersey

Statsoft Inc (2001). Statistical data analysis software system. Version 6.

www.statsoft.com

Vitt DH (1989). Distribution patterns, adaptative strategies and morphological changes

of mosses along elevational and latitudinal gradients on South Pacific Islands. In:

Crovello T, Nimis PL (eds.) Advances in Quantitative Phytogeography. The Hague

Zar JH (1999). Biostatistical Analysis. Fourth Edition. Prentice Hall, New Jersey

74

Page 75: Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do Rio de Janeiro ... · A vegetação é própria da tundra, composta ... Zona Antártica Marítima ou Antártica gelada, segundo Longton

75

B

A

A

B

Page 76: Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do Rio de Janeiro ... · A vegetação é própria da tundra, composta ... Zona Antártica Marítima ou Antártica gelada, segundo Longton

Fig. 1. Localização da área de estudo. Acima o continente Antártico evidenciando as Shetlandsdo Sul (retângulo) e em destaque a Ilha Rei George. Abaixo a Baía do Almirantadado, onde asáreas cinzas representam as áreas de degelo da região, A. Região de Arctowski. B. Península

Keller (Adpatado de Simões et al. 2004)

76

A B

C D

E F

Page 77: Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do Rio de Janeiro ... · A vegetação é própria da tundra, composta ... Zona Antártica Marítima ou Antártica gelada, segundo Longton

Fig. 2. Formas de vida das áreas de degelo da Baía do Almirantado, Ilha Rei George Antártica.A. Coxim. B. Coxim (secção transversal). C. Tufo curto. D. Tufo alto. E. Tapete (detalhe). F.Tapete (secção transversal). (Fotos: Filipe Victoria).

59%

31%

7%3%

0

10

20

30

40

50

60

70

Tufo Coxim Tapete Trama

Fig. 3. Porcentagem de espécies de musgos pela forma de vida das áreas de degelo da Baía doAlmirantado, Ilha Rei George, Antártica.

77

Page 78: Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do Rio de Janeiro ... · A vegetação é própria da tundra, composta ... Zona Antártica Marítima ou Antártica gelada, segundo Longton

82%

15%

3%

Espécies com uma forma de vidaEspécies com duas formas de vidaEspécies com três formas de vida

Fig. 4. Porcentagem das espéciesde musgos com uma, duas e três formas de vida, nas áreas dedegelo da Baía do Almirantado, Ilha Rei George, Antártica.

78

05

10152025303540

SppCoxim

Spp Tufo SppTapete

SppTrama

RochosoOrgânico

p=0,012p=0,012dp=14,4dp=14,4

p=0,006p=0,006dp=7,77dp=7,77

p=0,001p=0,001dp=0,77dp=0,77

p=0,001p=0,001dp=0,77dp=0,77

Page 79: Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do Rio de Janeiro ... · A vegetação é própria da tundra, composta ... Zona Antártica Marítima ou Antártica gelada, segundo Longton

Fig. 5. Número de espécies por forma de vida em relação do substrato encontrado nas áreas de degelo daBaía do Almirantado, Ilha Rei George Antártica (dp= desvio padrão).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

São conhecidas 58 espécies de musgos para a Ilha Rei George, distribuídas em

16 famílias e 36 gêneros, sendo Bryaceae, Grimmiaceae e Pottiaceae as famílias com

maior número de espécies (Ochyra, 1998). Destes musgo somente 28 espécies foram

encontradas na amostragem fitossociológica realizado nas áreas de degelo do sudoeste

da Baía do Almirantado (região de Arctowski). As famílias mais freqüentes na

amostragem foram Bryaceae, Polytrichaceae, Andreaeaceae e Pottiaceae. As espécies de

musgos mais freqüentes na amostragem foram Sanionia uncinata (Hedw.) Loeske e

Polytrichum juniperinum, isto já era esperado, pois S. uncinata é a espécies de maior

biomassa na Antártica (Putzke & Pereira, 2001) e P. juniperinum ocorrem em maior

abundância na Baía do Almirantado (Ochyra, 1998). Foram reconhecidas para a Baía do

Almirantado, 5 formações de musgos, utilizando o esquema de classificação de Hu

(1998), sendo possível a comparação dos resultados obtidos neste trabalho com os

obtidos pelo autor supra citado. As formações encontradas no domínio da tundra seca

compreendiam espécies com maior biomassa e ampla distribuição na região, ocorrendo

desde o nível do mar até próximo aos 250 msm. As formações encontradas nas áreas

alagadas possuíam menor diversidade específica e estão restritas as praias.

Os resultados obtidos corroboram com os trabalhos de Allison & Lewis-Smith,

1973; Furmanczyk & Ochyra, 1982; Lewis-Smith & Corner, 1973; Putzke & Pereira,

1994 e Hu 1998, de que existe, sob o aspecto fisionômico, uma estreita relação de

79

Page 80: Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do Rio de Janeiro ... · A vegetação é própria da tundra, composta ... Zona Antártica Marítima ou Antártica gelada, segundo Longton

similaridade na composição florística das áreas de degelo entre as ilhas do arquipélago

Shetland do Sul, ocorrendo as mesmas espécies e praticamente nas mesmas condições.

Entretanto somente duas formações reconhecidas no presente trabalho foram

encontradas em outras regiões da Antártica Marítima. Isto demonstra que, apesar de

fisionomicamente parecidas, as formações de musgos possuem relações diferentes,

associando-se com as demais espécies vegetais e líquens de modos distintos,

influenciados pelas condições microclimáticas estabelecidas em cada ilha.

Como uma área abrigada, dos ventos e da ação direta das precipitações, a Baía

do Almirantado, oferece condiçõe especiais para o desenvolvimento das espécies

vegetais observadas (Pereira & Putzke, 1990). Portanto esperava-se que as associações

encontradas nesta região fossem distintas das encontradas em áreas desabrigadas como

na Ilha Nelson (Putzke, et al. 1995) e na Península Fields (Hu, 1998).

As formações de musgos que possuíam maiores índices de diversidade

encontram-se em áreas de maior disponibilidade de subtrato rochoso, como nas encostas

rochosas e nos seixos litorâneos, assim como as áreas de maior ocorrência de espécies

em tufos e coxins. A formação Sanionia uncinata e a formação Polytrichum

juniperinum apresentaram maior riquezade específica (24 e 21, respectivamente).

Apesar de menor número de espécies e menor área de ocorrência, a formação

Polytrichum juniperinum apresentou-se mais diversa (H’=2,42), principalmente por

estar distribuída nas áreas de maior concentração de substrato rochoso.

Foram caracterizadas 10 associações entre líquens e musgos, geralmente com

maior cobertura dos líquens fruticulosos, seguido dos coxins de musgos.

As formas de vida observadas na região de estudo distribuiem-se de modo

diferenciado de acordo com o substrato. Os coxins os tufos matêm dependência o

subtrato rochoso (Allison & Lewis-Smith, 1973 e Longton, 1982), ocorrendo nos

afloramentos próximos ao nível do mar até as enconstas ca. 250 msm. Os tapetes e as

tramas dependem da disponibilidade de solo para se fixarem, por isso são comuns nas

áreas proximas ao nível do mar, onde ocorre a maior parte da deposição do restos

orgânicos e minerais oriudos das áreas de maior diversidade, como as encostas e os

platôs. Nesta áreas ocorrem agrupametos significativos de líquens que iniciam o

processo de degradação da rocha, fornecendo minerais as espécies de musgos próximas

(Longton, 1984). Estes musgos acumulam estes mineriais e quando os indivíduos

morrem seus resíduos são carreados pela água do degelo que correm nas linhas de

drenagens, sendo levados as próximidades das praias ou então acumulando nas raízes de

80

Page 81: Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do Rio de Janeiro ... · A vegetação é própria da tundra, composta ... Zona Antártica Marítima ou Antártica gelada, segundo Longton

Deschampsia antarctica que estão pelo caminho (Davis, 1981), contribuíndo com a

consolidação do substrato orgânico (Longton, 1982).

São nestas linhas de drenagens onde ocorrem formações de musgos muito

particulares (Longton, 1982; Ochyra, 1998). As espécies que ocorrem nestas áreas estão

adaptadas a vida áquatica, pelo menos por curtos períodos, e, segundo Kanda (1991) são

estas mesmas espécies que acumulam a matéria orgânica para a formação do solo.

Fica notório nesta discussão a importância de cada formação no ambiente

terrestre. Espera-se, assim que os dados compilados neste trabalho fornecem subsídios

para o planejamento e a organização das ativídades científicas dos pesquisadores e

militares envolvidos com o Programa Antártico Brasileiro.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Allison, J. S. & Lewis-Smith, R.I. 1973. The vegetation of Elephant Island, South

Shetland Islands. British Antartic Survey Bulletin 33/34: 185 - 212.

Ando, H. 1973. Studies on the genus Hypnum Hedw. II. Journal of Science of the

Hiroshima University, Series B, Div. 2 (Botany) 14(3): 165-207.

_______ 1976. Studies on the genus Hypnum Hedw III. Journal of Science of the

Hiroshima University, Series, B, Div. 2 (Botany) 16(1): 1- 46.

ATCPs. 1993. Protocol on Environmental Protection to the Antarctic Treaty, with

Annexes. Polar Record 29(170): 256-275; SCAR Bulletin 110, July 1993.

ATCPs. 1996. A proposal prepared by Brazil and Poland, in co-ordination with Ecuador

and Peru, that AdmiraltyBay, King George Island (South Shetland Island) be

designated as an Antarctic Specially Managed Area (ASMA). Twentieth

Antarctic Treaty Consultative Meeting, Utrecht, 29 April – 10 May 1996.

Bednarek-Ochyra, H. Vanã, J., Lewis-Smith, R. I. & Ochyra, R. 2000. The liverwort of

Antarctica. Polish Academy of Science, Institute of Botany, Cracow, 237p.

Bell, B. G. 1973a. Notes on Antarctic bryophytes: 1. New records from the Antarctic

botanical zone. British Antarctic Survey Bulletin 36: 131-132.

81

Page 82: Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do Rio de Janeiro ... · A vegetação é própria da tundra, composta ... Zona Antártica Marítima ou Antártica gelada, segundo Longton

______ 1973b. A synoptic flora of South Georgian mosses: II. Chorisodontium,

Dricanoloma, Dicranum, Platyneurum and Conostonum. British Antarctic

Survey Bulletin 37: 33-52.

______ 1973c. Notes on Antarctic bryophytes : II. Records of Racomitria from the

Antarctic botanical zone. British Antarctic Survey Bulletin 37: 91-94.

______ 1974. A synoptic flora of South Georgian mosses: V. Willia and Racomitrium.

British Antarctic Survey Bulletin 38: 73-101.

______ 1976. Notes on Antarctic bryophytes: VI. The Genus Dicranoweisia on Signy

IsIand, South Orkney Islands. British Antarctic Survey Bulletin44: 07-100.

______ 1977a. Notes on Antarctic bryophytes: VIII. Two species of Campylopus

originally described from South Georgia. British Antarctic Survey Bulletin 46:

136-137.

______ 1977b. Notes on Antarctic bryophytes.: IX. A previously unreported botanical

collection made on South Georgia during the German International Polar-Year

Expedition , 1882-83 . British Antarctic Survey Bulletin 46: 137-139.

Bintanja, R. 1992. Glaciological and meteorological investigations on Ecology Glacier,

King George Island, Antarctica (summer 1990-1991). Circump Journal 1-2: 59-

71.

Braun-Blanquet, J. 1932. Plant Sociology: The study of plant communities. New

York, McGraw-Hill, 439p.

Cardot, J. 1900. Note préliminaire sur les moussesrecueillies par l’Expédition

Antarctique Belge. Revue Bryology 27(3):38-46.

________ 1901. Mosse et coup d’oeil sur la flore bryologique des Terre Magellaniques.

Results Voyage S.Y. Belgique 6. Botanique, 44p.

________ 1908. La flore bryologique des Terres Magelaniques, de la Géorgie du Sud et

de l’Antarctique, Wissenschafftliche Ergebnisse Scwedischen Súdpolar-

Expedition 4 (8): 298p.

Clarke, G. C. S. 1973a. A synoptic flora of South Georgian mosses: III. Leptotheca,

Philonotis, Mielichhoferia and Pohlia. British Antarctic Survey Bulletin 37: 53-

79.

________ 1973b. Notes on Atarctic bryophytes: III. The type specimen of Pohlia (C.

Muell.) Wijk et Marg. British Antarctic Survey Bulletin 37: 97-98.

82

Page 83: Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do Rio de Janeiro ... · A vegetação é própria da tundra, composta ... Zona Antártica Marítima ou Antártica gelada, segundo Longton

Colwell, R. K. 2004. EstimateS: Statistical estimation of species richness and shared

species from samples. Version 7. User's Guide and application published at:

http://purl.oclc.org/estimates.

Crum, H. 1976. Mosses of the Great Lakes Forest. Michigan, Rev. Ed., University of

Michigan, 404p.

Davis, R.C. 1981. Structure and function of two Antarctic terrestrial moss communities.

Ecological Monographs 51: 125-143.

Dixon, H. N. 1920. Contributions to Antarctic bryology; mosses of Deception Island.

Bryologist 23 (5): 65-71.

Dodge, C. W. 1973. Lichen flora of the Antarctic Continent and adjacent islands.

Phoenix Publishing, Canaan New Hampshire, 398p.

Ferron, F. A., Simões, J. C. & Aquino, F. E. 2001. Série Temporal de Temperatura

atmosférica para a Ilha Rei George, Antártica. Revista do Departamento de

Geografia 14: 25-32.

Furmanczyk, K. & Ochyra, R. 1982. Plant communities of the Admiralty Bay (King

George Island, South Shetland Islands, Antarctic) I. Jasnorszewski Gardens.

Polish Polar Research 3(1-2): 25-39.

Godley, E. J. 1960. The botany of southern Chile in relation to New Zealand and the

Subantarctic. In: A. Pantin (ed.), A discussion on the biology of the southern cold

temperate zone. Proceedings of the Royal Society of London, Series B. 152: 457-

475.

Greene, S. W. 1964. Plants of the land. In: R. Priestley, R.J. Adie & G. de Q. Robin

(eds.), Antarctic research. A review of British scientific achievements in

Antarctica, London, Butterworth, 239-253.

_______ 1968. Studies in Atarctic bryology: 1. A basic check: list for mosses. Revue

Bryologiqhe et Lichénologique, Nouvelle Série 36(1-2):132-138.

_______ 1973. A synoptic flora of South Georgia mosses: I. Dendroligotrichum,

Polytrichum and Psilopilum. British Antarctic Survey Bulletin. 36: 1-32.

_______ 1975. The Antarctic moss Sarconeurum glaciale (C. Muell.) Card. et Bryhn in

southern South America British Antarctic Survet Bulletin 41/42: 187-191.

Greene, D. M., Brown, P. D. & Pacey, J. M. 1970. Antarctic moss flora: I. The genera

Andreaea, Pohlia, Polytrichum, Psilopidum and Sarconeurum. British Antarctic

Survey Scientific Reports 64: 1-118.

83

Page 84: Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do Rio de Janeiro ... · A vegetação é própria da tundra, composta ... Zona Antártica Marítima ou Antártica gelada, segundo Longton

Hooker, J. D. & Wilson, W. 1844. Musci Antarctici, being characters wit brief

descriptions of the new species of mosses discovered during the voyage of H. M.

Discovery Ships, Erebus and Terror, in the southern circumpolar regions, together

with those of Tasmania and New Zealand Lond. Journal of Botany 3: 533-556.

Hu, S-S. 1998. Moss communities types and species diversity of Southern Fields

Peninsula (King George Island, South Shetland Islands) Antarctica. Journal of

the Hattori Botanical Labotatory. 84: 187-198.

Kanda, H. 1986. Moss communities in some ice free areas along the Soya Coast, East

Antarctica. Memoirs of National Institute of Polar Research, Special Issue

44: 229-240.

________ 1987. Catalog of moss specimen from Antarctica and adjacent regions.

National Institute of Polar Research. Tokyo Press. 186p.

Lewis-Smith, R. I. 1872. Vegetation of the South Orkney Island with particular

references to Signy Island. British Antarctic Survey Scientific Reports 68: 1-124

________ 1984a. Terrestrial plant biology of the sub-Antarctic and Antarctic. In: R. M.

Laws (ed.), Antarctic Ecology, vol 1. London, Academic Press: pp. 61-162.

________ 1984b. Colonization and recovery by criptogams followin recent volcanic

activity on Deception Island, South Shetland Islands. British Antarctic Survey

Bulletin 62: 25-51.

________ & Gimingham, C.H. 1976. Classification of cryptogamic communities in the

maritime Antarctic.British Antartic Survey Bulletin 33-34: 89-122.

Longton, R. E. 1982. Bryophyte Vegetation in Polar Regions. In: A. J. E. Smith (ed.)

Bryophyte Ecology. Chapman and Hall, London, p. 122-165.

_______ 1988. The biology of polar bryophytes and lichens. Cambridge-Sydney,

Cambridge University Press. 391p.

_______ & Holdgate, M.W. 1967. Temperature relationship of Antarctic vegetation. In:

Smith J.E. (ed.). A discussion of the Antarctic terrestrial ecossystem.

Philosophical trasactions os the royal Society of London, Series B 252: 237-

250.

Marsz, A. & Rakusa-Suszczewski, S. 1987. Charakterystyka ekologiczna rejonu Zatoki

Admiralicji. Kosmos. (Warsaw) 36(1): 103-127.

Matteri, C. M. 1977a. A synoptic flora of South Georgian mosses: VII. Pottia. British

Antarctic Survey Bulletin 46: 23-28.

84

Page 85: Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do Rio de Janeiro ... · A vegetação é própria da tundra, composta ... Zona Antártica Marítima ou Antártica gelada, segundo Longton

_________ 1977b. Notes on Antarctic Bryophytes: X. The genus Pottia from the

Antarctic Botanical Zone. British Antarctic Survey Bulletin 46: 140-143.

Newton, M. E. 1974a. A synoptic fllora of South Georgian mosses: IV. Bartramia and

Breutelia. British Antarctic Survey Bulletin 38: 59-71.

_________ 1974b. Taxonomic notes on Cheilothela (Lindb.) Broth. and Dicranella (C.

Muell.) Schip. Journal of Bryology 8 (2): 265-268.

_________ 1974c. Notes on Antarctic Bryophytes: IV. Encalypta Hedw. British

Antarctic Survey Bulletin 39: 1-6.

_________ 1977a. A synoptic flora of South Gerorgian mosses: VI. Cheilothela,

Dicranella, Distichum, Myuriella and Catagonium. British Antarctic Survey

Bulletin 46: 1-21.

_________ 1977b. Notes on Antarctic Bryophytes: VII. The occurrence of Distichum

B.S.G. and Dicranella (C. Muell.) Schimp. In the Antarctic Botanical Zone.

British Antarctic Survey Bulletin 46: 131-135.

_________ 1979a. A taxonomic assessment of Brachythecium on South Georgia.

British Antarctic Survey Bulletin 48: 119-132.

_________ 1979b. A synoptic flora of South Gerorgian mosses: VIII. Caliergon and

Brachytecium. British Antarctic Survey Bulletin 48: 133-157.

Ochi, H. 1976. On the taxonomic status of Bryum inconexum in Antarctica. Miscelanea

Bryology Lichenology 7(6): 116-117.

________ 1979. A taxonomic review of the genus Bryum, Musci in Antarctica.

Memoirs of National Institute of Polar Research, Special Issue 11: 70-80.

________ 1982. A revision of the Bryoideae, Musci in Southern South America.

Journal Faculty Education Tottori University Natural Sciences 31: 11-47.

Ochyra, R. 1985. On the Antarctic species of the family Orthotrichaceae. Lindbergia

11: 141–146.

_______ 1998. The moss flora of King George Island Antarctica. Polish Academy of

Sciences. Cracow, 279p

_______ & Ochi, H. 1986. New or otherwise interesting species of the genus Bryum

(Musci, Bryaceae) in the Antarctic. Acta Botanica Hungarica 32 (1 - 4): 209-219

_______ & Vãna, J. 1989a. The hepatics of King George Island, South Shetalnd

Islands, Antarctica, with particular references to the Admiralty Bay region. Polish

Polar Research 10(2): 183-210

85

Page 86: Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do Rio de Janeiro ... · A vegetação é própria da tundra, composta ... Zona Antártica Marítima ou Antártica gelada, segundo Longton

_______ 1989b. The hepatics reported from the Antarctic and an outline of their

phytogeography. Polish Polar Research 10(2): 211-229.

Øvstedal, D.O. & Lewis-Smith, R.I. 2001. Lichens of Antarctica and South Georgia.

British Antarctic Survey. London, 190 p.

Pereira, A. B. 1990. A new occurence of Usnea in Antarctica. Pesquisa AntárticaBrasileira 2(1): 1-4.

_________ & Putzke, J. 1994. Floristic composition of Stinker Point. Elephant Island,

Antarctica. Korian Journal of Polar Research 5(2): 37-47.

Putzke, J. & Pereira, A. B. 1990. Mosses of King George Island. Pesquisa Antártica.

Brasileira 2(1): 17-71.

_______, Lopes-Putzke, M. T. & Pereira, A. B. 1995. Mosses communities of Rip Point

in Northern Nelson Island, Antarctica. Pesquisa Antártica Brasileira 3(1). 104-

115.

_______ & Pereira, A. B. 2001. The Antartic Mosses with special reference to the

Shetland Island. Canoas. Ed. ULBRA. 196p.

Rakusa-Suszczewski, S. 2002. King George Island. South Shetland Islands, Maritime

Antarctic. In: Beyer, L. & Bölter M. (eds.) Geoecology of Antarctic Ice-Free

Coastal Landscapes. Ecologycal Studies, vol. 154, Berlin.

_________, Mietus M. & Piasecki, J. 1993. Weather and climate. In: S. Rakusa-

Suszczewski (ed.), The Maritime Antarctic coastal ecosystem of Admiralty

Bay. Warsaw, Department of Antarctic biology, Polish Academy of Sciences, p.

19-25.

Redon, J. 1985. Liquenes Antárticos. Publicação do Instituto Antártico Chileno

(INACH), Santiago de Chile. 123p.

Robinson, H. E. 1972. Observations on the origin and taxonomy of the Antarctic moss

flora. In: Llano G. A. (ed.) Antarctic terrestrial biology. Antarctic Research

Series. Vol. 20. Washington, American Geophysical Union. 163-177.

Shaw, A. J. & Goffinet, B. 2000. Bryophyte Biology. Cambridge University Press,

England. 476p.

Skottsberg, C. 1912. Einige Beemrkungen über Die Vegetationsverhältnisse des

Graham-Landes. In: Skottbergs, C. Wissenschaftliche Ergebmisse der

Schwedisches Südopolar-Expedition 1901-1903. Vol. 4(13). Stockholm,

Lithograohiches Institu des Generalstabs. 16p.

86

Page 87: Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do Rio de Janeiro ... · A vegetação é própria da tundra, composta ... Zona Antártica Marítima ou Antártica gelada, segundo Longton

__________. 1960. Remarks on the plant geography of the southern cold temperate

zone. In: Pantin A. (ed.), A discussion on the biology of the southern cold

temperate zone. Proceedings of the Royal Society of London, Series B 152: 447-

457.

Steere, W. C. 1961. A preliminary review of the bryophytes of Antarctica. In: Science

in Antarctica Part 1. The life science in Antarctica. Washington, D.C. National

Academy of Science – National Research Concil, p. 20-33.

Wace, N. M. 1960. The botany of the southern islands. In: Pantin A. (ed.), A discussion

on the biology of the southern cold temperate zone. Proceedings of the Royal

Society of London, Series B 152: 475-490.

Yano, O. 1984. Briófitas. In: Fidalgo O. & Bononi V.L.R. (Coords.), Técnicas de

coleta, preservação e herborização de material botânico. Manual 4. Instituto de

Botânica, São Paulo, p. 27-30.

87

Page 88: Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do Rio de Janeiro ... · A vegetação é própria da tundra, composta ... Zona Antártica Marítima ou Antártica gelada, segundo Longton

ANEXOS I

88

Page 89: Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do Rio de Janeiro ... · A vegetação é própria da tundra, composta ... Zona Antártica Marítima ou Antártica gelada, segundo Longton

Fig. 1. Zona climáticas do Pólo Sul, indicando a localização da área de estudo (ponto cinza) na

Zona Antártica Marítima (Adaptado de Ochyra, 1998).

89

Antártica Marítima

Antártica Continental

Subantártica

Page 90: Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do Rio de Janeiro ... · A vegetação é própria da tundra, composta ... Zona Antártica Marítima ou Antártica gelada, segundo Longton

Fig. 2. Acima a Península Antártica, destacando a Ilha Rei George (elipse) e abaixo o

arquipélago das Shetland do Sul, com a Baía do Almirantado.

(Cedido por NUPAG-UFRGS)

90

Page 91: Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do Rio de Janeiro ... · A vegetação é própria da tundra, composta ... Zona Antártica Marítima ou Antártica gelada, segundo Longton

Fig. 3. ASMA Baía do Almirantado, Ilha Rei George, Antártica. As setas indicam as áreas

estudadas (Cedido por NUPAG-UFRGS)

91

Page 92: Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do Rio de Janeiro ... · A vegetação é própria da tundra, composta ... Zona Antártica Marítima ou Antártica gelada, segundo Longton
Page 93: Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do Rio de Janeiro ... · A vegetação é própria da tundra, composta ... Zona Antártica Marítima ou Antártica gelada, segundo Longton

Cobertura vegetal

N

Fig. 5. Mapa de cobertura vegetal da Península Keller, Baía do Almirantado, Ilha Rei George,

Antártica (coordenadas geográficas estão em UTM). (Cedido Carlos Shaeffer-UFV)

92

92

Page 94: Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do Rio de Janeiro ... · A vegetação é própria da tundra, composta ... Zona Antártica Marítima ou Antártica gelada, segundo Longton

Fig. 6. Transecto sendo disposto na região de Arctowski, Baía do Almirantado, Ilha Rei George,

Antártica. (Foto: Filipe Victoria)

Fig. 7. Exemplo de amostragem por quadrados realizado na região de Arctowski, Baía do Alirantado, Ilha

Rei George, Antártica. (Foto: Filipe Victoria)

93

93

Page 95: Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do Rio de Janeiro ... · A vegetação é própria da tundra, composta ... Zona Antártica Marítima ou Antártica gelada, segundo Longton

ANEXOS II

(Normas para publicação)

94

94