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INSTITUTO FEDERAL DO ESPÍRITO SANTO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA METALÚRGICA E DE MATERIAIS ANGELO ANTÔNIO REIS PARÂMETROS DE PROCESSAMENTO PARA TIXOCONFORMAÇÃO DE UMA LIGA Al-3,8%Si RECICLADA A PARTIR DE LATAS DE ALUMÍNIO Vitória 2013

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INSTITUTO FEDERAL DO ESPÍRITO SANTO

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA METALÚRGICA E DE

MATERIAIS

ANGELO ANTÔNIO REIS

PARÂMETROS DE PROCESSAMENTO PARA TIXOCONFORMAÇÃO DE UMA

LIGA Al-3,8%Si RECICLADA A PARTIR DE LATAS DE ALUMÍNIO

Vitória

2013

ANGELO ANTÔNIO REIS

PARÂMETROS DE PROCESSAMENTO PARA TIXOCONFORMAÇÃO DE UMA

LIGA Al-3,8%Si RECICLADA A PARTIR DE LATAS DE ALUMÍNIO

Dissertação apresentada ao Programa da Pós-Graduação em Engenharia Metalúrgica e de Materiais do Instituto Federal do Espírito Santo como requisito parcial para obtenção do título de Mestre em Engenharia Metalúrgica e de Materiais. Orientador: Prof. Dr. Estéfano Aparecido Vieira

Vitória

2013

R375p Reis, Angelo Antônio.

Parâmetros de processamento para tixoconformação de uma liga Al-3,8%Si reciclada a partir de latas de alumínio / Angelo Antônio Reis. – 2013.

128 f.: il. ; 30cm

Orientador: Estéfano Aparecido Vieira

Dissertação (Mestrado) – Instituto Federal do Espírito Santo, Programa de Pós-Graduação em Engenharia Metalúrgica e de Materiais.

1. Alumínio - Metalurgia. 2. Liga de Alumínio - Tratamento térmico. 3. Metais - Reaproveitamento. I. Vieira, Estéfano Aparecido. II. Instituto Federal do Espírito Santo. III. Título.

CDD: 669.722

(Biblioteca Nilo Peçanha do Instituto Federal do Espírito Santo)

ANGELO ANTÔNIO REIS

PARÂMETROS DE PROCESSAMENTO PARA TIXOCONFORMAÇÃO DE UMA

LIGA Al-3,8%Si RECICLADA A PARTIR DE LATAS DE ALUMÍNIO

Dissertação apresentada ao Programa da Pós-Graduação em Engenharia Metalúrgica e de Materiais do Instituto Federal do Espírito Santo como requisito parcial para obtenção do título de Mestre em Engenharia Metalúrgica e de Materiais.

Aprovada em 17 de junho de 2013

BANCA EXAMINADORA:

_________________________________

Prof. Dr. Estéfano Aparecido Vieira

Instituto Federal do Espírito Santo - IFES

Orientador

_______________________________________

Prof. Dr. Marcelo Lucas Pereira Machado

Instituto Federal do Espírito Santo - IFES

__________________________________________

Prof. Dr. Conrado Ramos Moreira Afonso

Universidade Federal de São Carlos - UFSCar

DECLARAÇÃO DO AUTOR

Declaro, para fins de pesquisa acadêmica, didática e técnico-científica, que a

presente Dissertação de Mestrado pode ser parcialmente utilizada desde que

se faça referência à fonte e ao autor.

Vitória, 17 de junho de 2013.

Ângelo Antônio Reis

Dedico este trabalho às minhas lindas filhas

Mila e Milena que me deram imensa perseverança,

inspiração e amor.

AGRADECIMENTOS

A Deus,

Agradeço em especial ao Professor Estéfano Aparecido Vieira pelo apoio e

inúmeras orientações.

A todos os professores que colaboram de forma direta ou indiretamente na

elaboração deste trabalho, o meu reconhecimento.

Aos meus colegas do mestrado Ronan, Edson, Armando, Thiago, Conceição,

Paula, Eric, Luciana pelas colaborações.

E por todo apoio e compreensão a minha esposa Ludmila, a minha mãe

Joaquina, aos meus irmãos João Batista, Humberto, Átila, aos meus sobrinhos e a

amiga Maria das Graças.

A Fundação de Amparo à Pesquisa do Espírito Santo – FAPES – pelo suporte

financeiro dado através do Termo de outorga 035/2009 e ao Conselho Nacional de

Desenvolvimento Científico e Tecnológico – CNPq – Edital N0.11/2009.

“É bom, sem dúvida, conhecer-se tudo o que

produziram os grandes homens dos outros

povos; porém muito melhor é saber servir-se do

que eles fizeram para fazer novas descobertas…"

Claude Henry Gorceix

RESUMO

Tixoconformação é a definição genérica utilizada para a conformação mecânica de

ligas no Estado Semi Sólido (ESS). O tixoforjamento é uma derivação da

tixoconformação e consiste em conformar uma liga fundida parcialmente em uma

matriz semelhante ao forjamento convencional cujo processamento se dá sob

frações de sólido superior a 0,5 (fs>0,5). O objetivo do presente trabalho foi

desenvolver uma nova liga de Al-Si adequada para processos de conformação no

ESS, mais especificamente o tixoforjamento. Uma nova liga metálica de Al com 3,8%

de Si foi desenvolvida a partir da reciclagem de latas de alumínio com adição de

silício comercialmente puro. Um aspecto importante nos processos de conformação

no ESS é a busca pela formação da estrutura globular, a qual confere propriedades

mecânicas relevantes quando comparado com a mesma liga com morfologia

dendrítica. O pré-tratamento o qual viabiliza a formação da estrutura globular é

chamado de condicionamento. Neste trabalho, foi estudado diferentes rotas de

condicionamento através de tratamentos termomecânicos (TTM). Foi determinado

que o melhor condicionamento para nova liga é a solubilização a 5300C por 4h

seguido de resfriamento em água e laminação a 3500C. No tixoforjamento de peças

foram estudados os principais parâmetros de processamento da liga, ou seja, fração

sólida e tempo de permanência no ESS. As peças obtidas foram termicamente

tratadas por solubilização seguido de envelhecimento artificial (T6). A condição para

o tratamento T6 foi previamente estudada. Para a solubilização, manteve-se a

mesma temperatura e tempo determinados previamente. Através do levantamento

de curvas de dureza chegou-se ao envelhecimento artificial que traz o melhor

resultado ou seja, 185 ºC por 3 horas. A partir das peças tixoforjadas e tratadas

termicamente, corpos de prova foram confeccionados e medidas realizadas

chegaram a um limite de resistência a tração de 334 MPa com alongamento de 14%.

Estes resultados são compatíveis com outros obtidos para ligas tixoconformadas,

porém, oriundas de processos que utilizam matérias primas com grau de pureza

superior, logo de maior custo. O trabalho apresenta de forma prática a possibilidade

de se criar ligas recicláveis para aplicações nobres na indústria automotiva.

Palavras-chave: Alumínio. Silício. Semi Sólido. Reciclagem. Tixoforjamento.

ABSTRACT

Thixoforming is the generic definition used for the mechanical forming of alloy in the

semi-solid state (ESS). The thixoforging is a derivation of thixoforming and it consists

in conforming a alloy partially molten into a matrix similar to the conventional forging

process whose processing occurs normally in solid fractions higher than 0.5 (fs> 0.5).

The goal of this study was to develop a new Al-Si alloy that is appropriate for forming

processes in the ESS, specifically thixoforging. A new Al alloy with 3.8% Si was

developed from recycled aluminum cans with the addition of commercially pure

silicon. An important aspect in the ESS forming process is searching for the formation

of the globular structure, which gives relevant mechanical properties when compared

to the same alloy with dendritic morphology. The pre-treatment which enables the

formation of the globular structure is called conditioning. Different routes of

conditioning through thermomechanical treatments (TTM) have been analyzed in this

study. It has been found that the better conditioning for new alloy is solubilisation at

530ºC for 4 hours followed by cooling in water and rolling 350ºC. The main alloy

processing parameters were studied in thixoforging of pieces, in other words, the

solid fraction and holding time in the ESS. The specimens were thermally treated for

solubilization followed by artificial aging (T6). The condition for the T6 treatment has

been previously studied. It has been kept the same temperature and predetermined

time for solubilization. Through the survey of hardness curves it was obtained the

artificial aging with the best result, 185 ºC for 3 hours. From thixoforging pieces that

were thermally treated specimens were fabricated and measurements have reached

a limit of tensile strength of 334 MPa, with elongation of 14%. These results are

consistent with those ones obtained for thixoforming alloys, however, they were

derived from processes that use raw materials with a higher purity degree, therefore

higher cost. This study presents in a practical way the possibility of creating

recyclable alloys for noble applications in the automotive industry.

Keywords: Aluminium. Silicon. Semisolid. Recycling. Thixoforging.

LISTA DE FIGURAS

Figura 1 - Típicas micrografias para liga Al-Si (a) microestrutura de uma amostra de

liga metálica dendrítica (b) microestrutura de uma amostra de liga metálica globular.

.................................................................................................................................. 18

Figura 2 - Sequência de fotos Ilustrando o comportamento mecânico de uma liga

metálica no estado semi sólido devido aos glóbulos sólidos estarem rodeados de

líquido em consequência da elevada temperatura do ESS. ...................................... 19

Figura 3 - Exemplos de interfaces durante o processo de solidificação de ligas (a)

interface difusa e (b) interface plana, lisa ou facetada. ............................................. 28

Figura 4 - Típicas microestruturas para liga A356 (a) Não modificada com a presença

de partículas de silício grosseiras na forma de agulhas e (b) Modificada

evidenciando a morfologia fibrosa do silício.. ............................................................ 32

Figura 5 - Rotas para o processamento no ESS. ...................................................... 37

Figura 6 - Condicionamento por agitação mecânica. (a) esquema construtivo e (b)

detalhe do rotor e cadinho. ........................................................................................ 38

Figura 7 - Condicionamento por agitação eletromagnética (MHD) (a) esquema

mostrando as linhas de fluxo durante o processo de solidificação e (b) esquema do

agitador eletromagnético mostrando as linhas de campo formadas para quebra das

dendritas.................................................................................................................... 39

Figura 8 - Esquema da câmara de deposição spray, mostrando a posição dos

termopares e pirômetro de medição das temperaturas. ............................................ 39

Figura 9 - Esquemas da Nova Reofundição (NRC) e (a) processo utilizando rampa

de resfriamento e (b) processo usando baixo super-aquecimento sem rampa de

resfriamento. ............................................................................................................. 40

Figura 10 - Modelo esquemático proposto por Doherty et al para quebra e

globularização de dendritas de uma liga no ESS sob agitação mecânica (a) criação

de forças cisalhantes entre líquido e sólido, (b) dobramento do braço da dendrita, (c)

formação condição para fragmentação onde a energia de superfície de contorno for

o dobro da tensão superficial líquido/sólido, (d) fratura de braço dendrítico por meio

de vigorosa agitação. ................................................................................................ 42

Figura 11 - Evolução da estrutura durante a solidificação sob vigorosa agitação: (a)

fragmento inicial de dendrita; (b) crescimento da dendrita; (c) e (d) estrutura de

roseta; (e) estrutura globular com pequena quantidade de líquido retido. ................ 43

Figura 12 - Micrografias (a, b) e mapas (c, d) usando a técnica EBSD da liga A356

condicionada por TTM (a, c) laminado (b, d) zero min no ESS .......................... ......45

Figura 13 - Esquema de uma dendrita deformada sendo dividida em várias

partículas globulares no ESS (deformação a quente T=350 ºC e frio à temperatura

ambiente). ................................................................................................................. 46

Figura 14 - Processo de conformação por tixofundição, (a) aquecimento até ESS; (b)

Inserção do material no ESS na máquina de injeção; (c) fundição injetada. ............. 49

Figura 15 - Mecanismo de Ostwald ripening ............................................................. 57

Figura 16 - Mecanismo de coalescência. .............................................................. ....57

Figura 17 - Concentração de soluto nas fases sólido e líquido. (a) condição de

equilíbrio; (b) condição descrita pela equação de Scheil..... ..................................... 60

Figura 18 - Típicos precipitados presentes em ligas de Al-Si-Mg-Cu-Ni. .................. 64

Figura 19 - Modelo de Orowan para discordâncias que contornam precipitados. ..... 69

Figura 20 - Partícula ordenada e posteriormente cortada por uma discordância

produzindo uma nova interface. ................................................................................ 70

Figura 21 - Fluxograma das atividades desenvolvidas .............................................. 72

Figura 22 - Latas de alumínio enfardadas. ................................................................ 74

Figura 23 - Aparato para fusão das latas de alumínio (a) forno de indução, (b)

cadinho de argila-grafite. ........................................................................................... 75

Figura 24 - Lingoteira utilizada para vazar o alumínio metálico (a) e típica placa bruta

de fusão de alumínio reciclado de latas. ................................................................... 76

Figura 25 - Típicas microestruturas brutas de fusão para liga de lata de alumínio

reciclada em (a) presença de precipitados com morfologia variada e no detalhe (b)

escrita chinesa .......................................................................................................... 77

Figura 26 - Módulo de análise térmica diferencial (DTA). ........................................ 79

Figura 27 - Processo de desgaseificação manual de ligas de alumínio (a) ilustração

esquemática do borbulhamento usando pastilhas de hexacloretano e (b) detalhe

mostrando a campânula de grafite utilizada para reter as pastilhas de hexacloretano

e gerar bolhas. .......................................................................................................... 82

Figura 28 - Forno de resistência elétrica utilizado para homogeneizar as placas

obtidas. ...................................................................................................................... 83

Figura 29 - Fluxograma para determinar a melhor rota de condicionamento por

termomecânico para conformação no ESS. .............................................................. 84

Figura 30 - Laminador duo não-reversível do laboratório de metalurgia do IFES. ... 87

Figura 31 - Croqui esquemático do aparato para solubilização e envelhecimento. ... 90

Figura 32 - Croqui da matriz utilizada para o tixoforjamento: a) conjunto montado (b)

partes da matriz; base e laterais e c) punção. ........................................................... 91

Figura 33 - Peças tixoforjadas (a) e conjunto de matriz e punção montado na prensa

hidráulica do Laboratório de Metalurgia do IFES. ..................................................... 94

Figura 34 - Desenho do corpo de prova de tração. ................................................... 94

Figura 35 - Conjunto de amostras laminadas. ........................................................... 97

Figura 36 - (a) microestrutura da liga Al3,8Si Bruta de fusão, (b) microestrutura da

liga Al3,8Si solubilizada a 5300C por 6h, evidenciando a dissolução de precipitados

diversos. .................................................................................................................... 99

Figura 37 - Detalhe mostrando típicos precipitados observados na nova liga

Al3,8%Si. (a) Liga bruta de fusão. (b) liga solubilizada a 5300C por 24h. Retirado do

trabalho e Wang e Davidson (c) e (d) detalhe mostrando a presença das fases -

AlFeMgSi, -AlFeSi e Si .......................................................................................... 105

Figura 38 - Fractografias da superfície faturada dos corpos de prova de tração (a) e

(b) lata reciclada bruta de fusão; (c) e (d) Al3,8%Si bruta de fusão; (e) e (f)

tixoforjada com fs=0,6; (g) e (h) tixoforjada com fs=0,8. A Esquerda aumento de 100

vezes. A direita aumento de 1000X ......................................................................... 107

Figura 39 - Microestruturas da liga Al3,8%Si, solubilizadas a 5300C por 6h mantidas

no ESS a T=610°C, fs=0,6, 20min (a) resfriada na água e laminada a quente,

deformada em 30% (b) resfriada na água, laminada a frio e deformada 20% (c)

resfriada no forno, laminada a quente e deformada 21% (d) resfriada no forno,

laminada frio e deformada 18% ............................................................................... 109

Figura 40 - Microestruturas da liga Al3,8Si laminada a 15% e tixoforjada: (a) com

fs=0,6, T=610°C e tempo de permanência no ESS de 10 min; (b) com fs=0,6,

T=610°C e tempo de permanência no ESS de 30 min; (c) com fs=0,8, T=580°C e

tempo de permanência no ESS de 10 min; (d) com fs=0,8, T=580°C e tempo de

permanência no ESS de 30min ............................................................................... 111

Figura 41 - Microestruturas da liga Al3,8Si laminada a 15% e tixoforjada após 30 min

de espera no ESS. Detalhes mostrando precipitados com diferentes morfologias (a)

fs=0,6 e (b) fs=0,8 .................................................................................................... 112

Figura 42 - Liga Al3,8%Si levada ao ESS até 6100C, fs=0,6 e tempo de permanência

de 10 min; em (a) liga apenas mantida no ESS e resfriada em água e (b) liga

tixoforjada após o tratamento T6 ............................................................................. 112

LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 1 - Evolução de reciclagem de latas de alumínio...... ................................... 26

Gráfico 2 - Diagrama de fases Al-Si (a) faixa de temperatura do patamar eutético, (b)

a temperatura ambiente. ........................................................................................... 28

Gráfico 3 - Energia livre de interface em função da fração de sítios “x” ocupados,

para diferentes valores de α. ..................................................................................... 30

Gráfico 4 - Diagrama de fases Al-i ilustrando o campo da reação peritética e

representação esquemática pra nucleação do alumínio a partir da reação L + Al3Ti →

(Al). ............................................................................................................................ 33

Gráfico 5 - Curvas tensão versus deformação obtidas sob compressão entre placas

paralelas em amostras da liga Al-4%Cu no ESS: bruta de fusão (D) e previamente

condicionada (C) ....................................................................................................... 35

Gráfico 6 - Comparação da relação desempenho x custo, entre os processos de

injeção, tixoforjamento e forjamento .......................................................................... 50

Gráfico 7 - Fração sólida comparando regra da alavanca com a equação Scheill para

liga de Al 3,5% em peso de Si. .................................................................................. 61

Gráfico 8 - Tempo de recozimento ótimo para uma liga AlSiMg........... .................... 67

Gráfico 9 - Endurecimento da partícula ordenada e posteriormente cortada por uma

discordância produzindo uma nova interface. ........................................................... 71

Gráfico 10 - Análise por DTA para liga bruta de fusão de latas..... ............................ 79

Gráfico 11 - Diagrama de fase obtido para as novas ligas Al-Si a partir de sucatas de

latas de alumínio. ...................................................................................................... 80

Gráfico 12 - Evolução da dureza com da nova liga Al3,8%SI com o tempo de

solubilização. ............................................................................................................. 86

Gráfico 13 - Curva de análise térmica obtida para a liga Al-3,8%Si. ......................... 88

Gráfico 14 - Fração sólida obtida com a regra da alavanca e a equação Scheill para

liga de Al 3,8% em peso de Si. .................................................................................. 89

Gráfico 15 - Influência da temperatura de deformação sobre a máxima deformação

para etapa de condicionamento. ............................................................................... 96

Gráfico 16 - Influência do modo de resfriamento sobre a máxima deformação para

etapa de condicionamento. ....................................................................................... 96

Gráfico 17 - Influência do tipo de resfriamento na evolução da dureza das ligas

condicionadas por trabalho mecânico e também mantidas no ESS por 10min a

6100C fs=0,6. ............................................................................................................. 98

Gráfico 18 - Influência do tipo de trabalho mecânico a quente – ESS-Q ou a frio –

ESS-F sobre a dureza final obtida após 10min de espera no ESS a 6100C – fs=0,6.

.................................................................................................................................. 98

Gráfico 19 - Envelhecimento natural da liga Al-3,8%Si. .......................................... 100

Gráfico 20 - Evolução da dureza para envelhecimento artificial da liga Al-3,8%Si para

diferentes temperaturas de tratamento ................................................................... 101

Gráfico 21 - Análise térmica por calorimetria diferencial - DSC da liga Al3,8%Si

reciclada solubilizada a 5300C por 24h mostrando a presença de uma transformação

exotérmica na temperatura aproximada de 2200C quando aquecida novamente ... 103

Gráfico 22 - Concentração de Mg nas dendritas em função da concentração de Mg

da liga na condição bruta de fusão e solubilizada – T4 ........................................... 104

Gráfico 23 - Limite de escoamento (σe) em função da fração sólida para liga

tixoconformada por 10 e 30min ............................................................................... 114

Gráfico 24 - Limite de resistência (σr) em função da fração sólida para liga

tixoconformada por 10 e 30min ............................................................................... 114

Gráfico 25 - Alongamento (ε) em função da fração sólida para liga tixoconformada

por 10 e 30min ........................................................................................................ 115

LISTA DE TABELAS

Tabela 1 – Propriedades tecnológicas do alumínio ...... ........................................... 24

Tabela 2 – Especificação da composição química da liga A356 . ............................. 33

Tabela 3 – Sequência de solidificação de uma liga A356 ....................................... 34

Tabela 4 – Composição química da sucata estimada e da liga após a fusão (% em

peso) ....................................................................................................................... 78

Tabela 5 – Composição química da nova liga Al3,8Si (% em peso) ....................... 83

Tabela 6 – Durezas relativas às amostras antes dos tratamentos térmicos de

envelhecimento ....................................................................................................... 99

Tabela 7 – Durezas das amostras após os tratamentos térmicos de envelhecimento .

............................................................................................................................... 101

Tabela 8 – Limite de escoamento (σe) em Mpa, limite de resistência a tração (σt) em

Mpa, e % alongamento (ε) para liga tixoforjada em diferentes condições de

processamento ...................................................................................................... 106

Tabela 9 – Propriedades mecânicas da liga A356-T6 obtidas por diferentes

processos de conformação ................................................................................... 116

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ...... ............................................................................................... 18

2 OBJETIVOS . ........................................................................................................ 22

2.1 OBJETIVO GERAL ........................................................................................... 22

2.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS ............................................................................. 22

3 REVISÃO DA LITERATURA ............................................................................... 23

3.1 PROPRIEDADES DO ALUMÍNIO ..................................................................... 23

3.2 COMPOSIÇÃO DA LATA DE ALUMÍNIO .......................................................... 23

3.3 A RECICLAGEM DE LATAS DE ALUMÍNIO ..................................................... 25

3.4 LIGAS DE Al-Si ................................................................................................. 27

3.4.1 Mecanismo de modificação de ligas Al-Si hipoeutéticas ......................... 28

3.4.2 Refino de grão da fase α para ligas de Al .................................................. 32

3.4.3 A liga A356 .................................................................................................... 33

3.5 CONDICIONAMENTO MICROESTRUTURAL .................................................. 34

3.5.1 Métodos para obtenção da estrutura globular .......................................... 36

3.5.1.1 Processos de preparação no estado líquido (condicionamento no estado

líquido) .................................................................................................................... 37

3.5.1.2 Processos de preparação no estado sólido (condicionamento no estado

sólido) ...................................................................................................................... 44

3.5.2 Parâmetros de controle para os processos de tixoconformação ............ 46

3.5.2.1 Tixofundição ou tixoinjeção ......................................................................... 48

3.5.2.2 Tixoforjamento ............................................................................................. 49

3.5.2.3 Tixoestrusão ................................................................................................ 53

3.5.2.4 Tixoestampagem e tixolaminação ............................................................... 54

3.6 EVOLUÇÃO MICROESTRUTURAL NO ESTADO SEMI SÓLIDO ................... 54

3.7 DETERMINAÇÃO DA FRAÇÃO SÓLIDA .......................................................... 58

3.8 CARACTERIZAÇÃO DE ESTRUTURAS SEMI SÓLIDAS ................................ 61

3.9 ENDURECIMENTO POR PRECIPITAÇÃO EM LIGAS DE ALUMÍNIO ............ 63

4 MATERIAIS E MÉTODOS ................................................................................... 72

4.1 MATERIAIS ....................................................................................................... 73

4.2 FUSÃO DAS LATAS ......................................................................................... 74

4.3 ELABORAÇÃO DA LIGA Al-3,8%Si .................................................................. 78

4.4 CONDICIONAMENTO DA LIGA ....................................................................... 83

4.5 TEMPERATURA DE TRABALHO ..................................................................... 87

4.6 TRATAMENTOS TÉRMICOS ........................................................................... 89

4.7 TIXOFORJAMENTO ......................................................................................... 90

5 RESULTADOS ..................................................................................................... 95

5.1 CONDICIONAMENTO ....................................................................................... 95

5.2 TRATAMENTO TÉRMICO – T6 ........................................................................ 99

5.3 ENSAIOS DE TRAÇÃO ................................................................................... 105

6 DISCUSSÃO ...................................................................................................... 108

7 CONCLUSÃO ..................................................................................................... 117

REFERÊNCIAS ..................................................................................................... 119

18

1 INTRODUÇÃO

O primeiro trabalho científico desenvolvido para ligas metálicas não dendríticas com

características reológicas que exibem um comportamento pseudoplástico e

tixotrópico foram feitos por Spencer et al (1972) no Instituto de Tecnologia de

Massachusetts (MIT). Os pesquisadores, medindo a viscosidade de ligas Sn-15Pb

no Estado Semi Sólido (ESS), conduziram dois tipos de testes, nos quais essas ligas

foram aquecidas acima da temperatura liquidus e depois resfriada até a fração de

sólido desejada. No primeiro experimento a liga metálica foi submetida a uma taxa

de cisalhamento de 0,16 s-1 sob um resfriamento contínuo, e no segundo a liga foi

cisalhada a uma taxa de 200 s-1, o resultado era inesperado porque as tensões de

cisalhamento do segundo experimento foram 3 ordens de grandeza inferiores se

comparados com o primeiro, devido à quebra da estrutura dendrítica que ia se

formando e posteriormente sofrendo um processo esferoidização. A morfologia

globular da fração sólida da liga em solidificação sob ação de forças cisalhantes

garante características especiais de escoamento capazes de reduzir sensivelmente

sua viscosidade, possibilitando grandes deformações na pasta, quando comparadas

com a morfologia dendrítica na mesma condição de fração sólida (FAN, 2002). A

figura 1 mostra a diferença entre as morfologias das microestruturas de uma liga

metálica dendrítica e globular.

Figura 1 - Típicas micrografias para liga Al-Si (a) microestrutura de uma amostra de

liga metálica dendrítica (b) microestrutura de uma amostra de liga metálica globular.

Fonte: Atkinson, 2005.

Após esses resultados surgiu a ideia de que a utilização de metais parcialmente

solidificados com estrutura globular poderia trazer melhorias sob o ponto de vista

19

dos esforços necessários à fabricação de peças. Assim surgiu a conformação no

estado semissólido, ou tixoconformação. A conformação no estado semissólido

apresenta grande interesse devido aos seus diversos méritos quando comparados

com os processos convencionais de conformação, tais como forjamento, fundição e

fundição sob pressão. A figura 2 ilustra como é o comportamento da pasta no ESS

que lembra a consistência de argamassas utilizadas na construção civil.

Figura 2 - Sequência de fotos Ilustrando o comportamento mecânico de uma liga

metálica no estado semi sólido devido aos glóbulos sólidos estarem rodeados de

líquido em consequência da elevada temperatura do ESS.

Fonte: Atkinson, 2005.

Assim, sob esta nova forma de conformar peças algumas das vantagens que

consolidaram a tixoconformação são:

Alta produtividade;

Quando comparado com o processo de injeção, tem-se o aumento da vida útil das

matrizes, pois, os processos no ESS tem lugar em temperaturas mais baixas do que

a injeção convencional;

Maior rendimento energético devido a menores temperaturas de conformação a

energia necessária para aquecer uma liga até sua fundição em molde é 35% maior

do que a energia para aquecer até conformação semissólida (KENNEY et al, 1998);

Fabricação de peças mais íntegras; as peças tixoconformadas possuem estrutura

uniforme, contém menos porosidade e no caso das ligas de alumínio, absorvem

20

menos hidrogênio porque parte do material está sólido. Sendo assim, podem ser

submetidas a tratamentos térmicos (T5 e T6) e soldagem;

Fabricação de peças com seção fina; devido às altas pressões utilizadas neste

processo é possível produzir peças complexas, também exibem menor contração

durante a solidificação que possibilita obter peças próximas a forma final (near net

shape);

As propriedades mecânicas e o acabamento final são excelentes, inferiores

somente ao forjamento (STYCKY et al, 1998);

Os esforços são reduzidos quando comparado com o forjamento.

Contudo, a fabricação de peças via tixoconformação também apresenta algumas

desvantagens, que são:

Alto custo do material de partida;

Altos custos de investimento para os equipamentos de processo;

Em alguns casos, tem-se difícil controle da microestrutura porque esta é muito

sensível à temperatura; sendo assim é necessário rigoroso controle da mesma

durante o processamento. A microestrutura afeta diretamente a viscosidade da pasta

no ESS e muda bastante as condições de fluxo;

Dependendo do processo existe a possibilidade de aparecimento de inclusões

devido à formação de óxidos.

Atualmente o processamento de ligas no ESS está bem consolidado na indústria

automobilística (FAN, 2002; ATKINSON, 2005, CHIARMETTA, 1996, CHIARMETTA,

2000). As ligas de alumínio são as de maior aplicação nos processos que envolvem

conformação no ESS e aquelas contendo silício apresentam destaque ocupando

cerca de 95% do mercado, enquanto que todas as outras somadas representam

somente 5% (CHIARMETTA, 2000; TORRES, 2009). Além das vantagens já citadas,

peças tixoconformadas em ligas de Al apresentam excelente resistência à fadiga

(BERGSMA et al, 2001; BROCHU et al, 2012). Também são adequadas para

aplicações críticas onde se exige máxima segurança. Nestas situações, o mínimo de

alongamento na ruptura especificado pela indústria automotiva é de 15%, um

obstáculo para peças fundidas convencionalmente, mas a tixoconformação

21

representa uma solução (SALLEH, 2012). Por essas razões a indústria

automobilística tem se mostrado como principal patrocinadora para o

desenvolvimento de novos processos para a produção de peças com materiais no

estado semissólido. Mas o principal motivo pelo qual o alumínio substitui o aço ou o

ferro fundido a cada dia nos automóveis é a necessidade de redução de peso.

Veículos leves impactam diretamente na redução do consumo de combustível com

menores níveis de emissão de gases e particulados. Assim, possibilita atender às

normas reguladoras em âmbito nacional e internacional que limitam a emissão de

poluentes tais como monóxido de carbono, hidrocarbonetos totais, óxidos de

hidrogênio, óxidos de nitrogênio, metano, hidrocarbonetos não metanos (CONAMA,

2002).

No Brasil, a tixoconformação, mais especificamente a de ligas de alumínio ainda

poderá vir a ocupar um lugar de destaque na produção de peças automotivas.

Assim, a justificativa deste projeto é viabilizar a produção de uma nova liga para

processos de tixoconformação utilizando-se matérias primas recicláveis. Escolheu-

se como matéria prima latas de alumínio, que apesar de terem uma composição

química restrita ao seu próprio ciclo tem a vantagem de ser estável. Os resultados

obtidos no processamento da nova liga sugerida possibilitam novas aplicações de

reciclagem de latas e até mesmo a produção de peças automotivas com alto valor

agregado.

22

2 OBJETIVOS

2.1 OBJETIVO GERAL

Desenvolver uma nova liga de Al-Si tixoconformável a partir da mistura das ligas

3004 e 5182 oriundas dos processos de reciclagem de latas de alumínio e comparar

a resistência mecânica com outras ligas comercialmente conhecidas.

2.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS

Para atingir o objetivo geral proposto, os seguintes objetivos específicos foram

necessários:

Fundir latas de alumínio em forno de indução para obter uma liga matriz.

Fazer a refusão da liga matriz com adição de 3,8% de Si obtendo-se uma

nova liga.

Investigar a faixa de temperatura para o campo semissólido usando um

módulo de análise térmica diferencial (DTA).

Investigar a melhor rota para condicionar a liga pelo processo termomecânico

deformação/recristalização.

Produzir peças tixoforjadas variando-se a fração sólida e o tipo de

microestrutura através da variação do tempo de permanência no ESS.

Produzir corpos de provas para ensaio de tração a partir das peças obtidas.

Realizar experimentos de solubilização e envelhecimento artificial (T6) e

investigar o melhor par tempo e temperatura os quais maximizem as propriedades

mecânicas.

Realizar ensaios mecânicos de dureza, microdureza e tração.

Registrar a evolução microestrutural de todas as etapas de processamento

usando microscopia ótica e ou microscopia eletrônica de varredura (MEV).

Comparar as propriedades mecânicas da nova liga com as principais ligas no

mercado usadas para este fim e especificar os melhores parâmetros de

tixoconformação.

.

23

3 REVISÃO DA LITERATURA

Neste capítulo será dada uma descrição geral sobre o alumínio e suas ligas, suas

características, aplicações e também um breve relato sobre reciclagem de latas de

alumínio. Posteriormente será dado ênfase aos tópicos relacionados com o

processamento de ligas no ESS.

3.1 PROPRIEDADES DO ALUMÍNIO

O alumínio é resistente, durável, flexível, impermeável, leve, bom condutor de

eletricidade e calor, não magnético, oxida-se com facilidade na temperatura

ambiente, porém tem-se rápida apassivação. Por todos estes motivos possui vasta

aplicação para uso industrial e humano. Na sua forma pura, apresenta uma

resistência mecânica considerada baixa de aproximadamente 70 MPa. Com a

adição de alguns metais tais como o cobre, manganês, silício, magnésio e o zinco

tem-se a elevação desta propriedade para valores da ordem de 200 a 300 MPa. A

adição de elementos de liga ao alumínio e outros procedimentos termomecânicos

permitem variar as suas propriedades mecânicas numa grande faixa, tornando estas

ligas uma das mais versáteis materiais utilizados na engenharia, arquitetura e

indústria em geral. Na Tabela 1 está relacionado um conjunto de propriedades que

justificam o valor e a importância do alumínio para a indústria e meio ambiente em

geral. (ABAL, 2009).

3.2 COMPOSIÇÃO DA LATA DE ALUMÍNIO

Os elementos de liga mais utilizados para conferir propriedades específicas ao

alumínio comercialmente puro são: cobre, silício e magnésio. Ainda com menor

frequência pode-se encontrar o manganês, ferro, zinco, níquel, bismuto e titânio. O

magnésio junto com o silício é responsável pelo aumento do limite de resistência e

dureza. O manganês tende a aumentar a resistência à corrosão e a ductilidade. O

zinco também confere melhorias no limite de resistência e ductilidade a temperatura

ambiente, contudo, este, assim como o ferro, normalmente aparece como impureza.

24

Tabela 1 - Propriedades tecnológicas do alumínio (ABAL).

Propriedade Descrição

Metal leve

Nos transportes representa menor consumo de combustível e menor desgaste, mais eficiência e capacidade de carga. Nas embalagens dá praticidade e portabilidade, por seu peso reduzido em relação a outros materiais.

Condutividade

Associada à leveza, a condutividade elétrica é um atributo fundamental para a aplicação do alumínio na transmissão de energia em fios e cabos. Nas embalagens, nenhum outro material é tão bom condutor térmico quanto o alumínio.

Impermeabilidade e opacidade

Especialmente importante no uso de embalagens pois com estas características evita a deterioração dos produtos, não permitindo a passagem de umidade, oxigênio e luz.

Alta relação resistência/peso

Nos transportes, confere desempenho excepcional a qualquer parte de equipamento de transporte que consuma energia para se movimentar. Aos utensílios confere durabilidade e manuseio seguro, com facilidade de conservação.

Resistência à Corrosão

Facilita a conservação e a manutenção das obras, em produtos como portas, janelas, forros, telhas e revestimentos usados na construção civil, bem como em equipamentos, partes e estruturas de veículos de qualquer porte. Nas embalagens é fator decisivo quanto à higienização e barreira à contaminação.

Moldabilidade e soldabilidade

Facilidade de conformação, devido à alta maleabilidade e ductilidade, possibilitando formas adequadas aos mais variados projetos.

Resistência e dureza

A robustez do alumínio se traduz em qualidades estruturais, com excelente comportamento mecânico, aprovado em aplicações como aviões e trens.

Possibilidade de muitos acabamentos

Anodização e pintura, assumindo a aparência exigida para aplicações em construção civil, por exemplo, com acabamentos que reforçam ainda mais a resistência natural do material à corrosão.

Reciclabilidade

Depois de muitos anos de vida útil, segura e eficiente, o alumínio pode ser reciclado, com recuperação de parte significativa do investimento e poupança de energia, como já acontece largamente no caso da lata de alumínio. Além disso, o meio ambiente é beneficiado pela redução de resíduos e economia de matérias primas propiciadas pela reciclagem.

Fonte: Alumínio para uma vida melhor, Revista ABAL, 2009.

No caso das latas, estas são fabricadas a partir de três diferentes ligas: o corpo que

corresponde a aproximadamente 75% da massa é composto pela liga 3004, esta

apresenta boa resistência à corrosão, boa conformabilidade e moderada resistência

mecânica. A tampa é composta pela liga 5182 e corresponde a aproximadamente

25

23% da massa da lata, a composição química será ilustrada na tabela 4 no item

sobre fusão das latas (4.2). A liga 5082 compõe o restante e o anel de abertura é

fabricado com esta liga. As ligas da série 5XXX são dúcteis no estado recozido, mas

endurecem rapidamente sob trabalho a frio devido a presença do Mg, possuem alta

resistência à corrosão e quanto maior os teores de Mg, maior a resistência mecânica

porém frágil, caracterizando assim a facilidade na abertura da lata.

3.3 A RECICLAGEM DE LATAS DE ALUMÍNIO

A reciclagem é um processo industrial que converte o lixo descartado em produto

semelhante ao inicial ou outro. O alumínio é um metal não-ferroso que pode ser

refundido inúmeras vezes sem nunca perder suas qualidades, desde que não

existam contaminações. O aproveitamento das sucatas reduz o consumo de

energia, preserva o meio ambiente e movimenta a economia. Enfim, gera empregos

e fonte de renda na coleta promovendo a educação dos cidadãos para o

desenvolvimento sustentado. Para cada tonelada de alumínio reciclado tem-se a

preservação de quatro toneladas de bauxita que seriam necessárias para a

obtenção de alumínio metálico primário. Conforme mencionado, embora as ligas de

alumínio possam ser recicladas inúmeras vezes, porém, se contaminada, não é

possível fazer o refino de forma economicamente viável como acontece com os

aços, onde através do sopro de oxigênio é possível remover um expressivo número

de elementos tais como Si, Mn, Cr, C, S, P entre outros. Ou seja, no caso das ligas

de alumínio, os elementos químicos não podem ser removidos por oxidação. As

únicas maneiras de amenizar a presença de elementos indesejáveis em ligas de

alumínio são através da diluição ou eletrólise. São processos de elevado custo. No

primeiro caso, exige-se o consumo de alumínio primário e no segundo tem-se um

processo caro com alto consumo energético e de difícil execução. Por isso, criar

alternativas para o uso de ligas recicladas é tão importante.

O Brasil alcançou novo recorde de reciclagem de latas de alumínio em 2011 com

98,3%, mantendo a liderança mundial desde 2001. Foram recicladas 248,7 mil

toneladas as quais são equivalentes a 18,4 bilhões de embalagens. Esse resultado

se apoia em uma cadeia de logística reversa estruturada há mais de 20 anos, que

26

garante uma demanda forte ao oferecer boas oportunidades e remuneração para

cooperativas e recicladores, gerando emprego e renda para milhares de pessoas.

Gráfico 1 - Evolução de reciclagem de latas de alumínio.

Fonte: ABAL, 2012.

Em 2011 a coleta de latas de alumínio para bebidas injetou R$ 645 milhões na

economia nacional. Tudo isso num setor que ampliou em 2012 a capacidade

produtiva de latas em 9,5% e tem boas perspectivas de continuar crescendo. Além

disso, em função do processo de reciclagem de alumínio consumir apenas 5% de

energia elétrica, quando comparado ao processo de produção de metal primário,

este resultado proporcionou uma economia de 3780 GWh ao País, número

equivalente ao consumo residencial anual de 6,5 milhões de pessoas, em dois

milhões de residências brasileiras (ABAL, 2012). O gráfico 1 mostra os dados mais

recentes. Por outro lado, podemos observar que os maiores índices de reciclagem

estão associados a países subdesenvolvidos ou a países onde se tem problemas

com gestão de espaço para descarte de materiais. Já para países desenvolvidos

como aqueles que constituem a Média Europa e os Estados Unidos os índices de

reciclagem são baixos e uma provável justificativa para estes índices é o baixo valor

comercial que se tem agregado a estas embalagens naqueles países, ou seja, não

existe “força motriz” para que as pessoas “catem” e reciclem latas. Este

comportamento fundamenta-se no que já foi explicado anteriormente, pois na

27

maioria das vezes ligas de alumínio reciclado contêm elevado índice de impurezas o

que limita a aplicação das mesmas, por isso, possuem alto valor agregado no Brasil,

mas não em países de maior poder econômico.

3.4 LIGAS DE Al-Si

As ligas de Al-Si possuem excelentes características de fundição devido à atrativa

combinação de boas propriedades físicas com sua ótima fundibilidade. A adição de

silício no alumínio aumenta a resistência mecânica, à corrosão, melhora a

usinabilidade, diminui a fragilidade a quente, aumenta a soldabilidade e diminui a

viscosidade da liga para teores crescentes de Si até o ponto eutético contendo

12,7%. Uma outra vantagem do Si é o fato deste metal ter uma densidade de

apenas 2,3 g/cm3, inferior ao do alumínio que é 2,7 g/cm3, portanto sua adição ao

alumínio não repercute no aumento da densidade da liga resultante. Mas a obtenção

de melhores propriedades mecânicas depende do controle de parâmetros de

processamento tais como tratamento do metal líquido, velocidade de solidificação,

teor de hidrogênio dissolvido no líquido, grau de modificação das fases oriundas da

transformação eutética, refino de grãos e processamentos posteriores tais como

tratamento térmico. As ligas de Al-Si mais importantes são as hipoeutéticas,

contendo de 7% a 11% Si. Há de se dar destaque para as ligas A356 e A357 que

possuem excelente resistência mecânica. Do ponto de vista da fluidez temos as

ligas com composições próximas ao ponto eutético, onde embora a resistência

mecânica seja prejudicada favorece-se a conformação de formas complexas. O

gráfico 2a mostra o diagrama binário formado entre o Al e o Si. A microestrutura das

ligas Al-Si hipoeutéticas é formada basicamente de dendritas de fase alumínio,

chamada de fase “alfa – ” constituída basicamente por alumínio quase puro com

alguma solubilidade de Si. No entorno das dendritas temos a presença das fases

oriundas do processo de transformação eutética composta pela mistura de “” e Si

metálico. No patamar eutético a solidificação se processa a partir de líquido

contendo 12,5% de Si e sob uma temperatura logo abaixo de 577°C é formada a

fase “” que é uma solução sólida de Al contendo 1,65%Si e cristais puros de Si. Na

temperatura ambiente, sob condições de equilíbrio, a solubilização diminui o teor

máximo de silício no alumínio “” não excede 0,00001%, em detalhe no gráfico 2b.

28

Então as ligas de Al-Si binárias são constituídas por uma mistura em proporções

variáveis de alumínio “” e silício metálico.

Gráfico 2 - Diagrama de fases Al-Si, (a) faixa de temperatura do patamar eutético,

(b) a temperatura ambiente.

Fonte: Kenney, M.P. et al, 1983; Thermocalc ®, 2012 (adaptado por Reis, 2013).

3.4.1 Mecanismo de modificação de ligas Al-Si hipoeutéticas

Conforme proposto por Jackson (1958) quando um núcleo sólido cresce durante a

solidificação a interface formada poderá ser do tipo difusa ou facetada. A figura 3

mostra estas duas situações:

Figura 3 - Exemplos de interfaces durante o processo de solidificação de ligas (a)

interface difusa e (b) interface plana, lisa ou facetada.

Fonte: Jackson, 1958 (adaptado).

~ 50 ÁTOMOS

SÓLID

O

LÍQUIDO

~ 5 ÁTOMOS

SÓLID

O

LÍQUIDO

(a) (b

)

29

No caso de crescimento difuso, para que a interface se estabilize é necessário que

pelos menos uma espessura contendo aproximadamente 50 átomos se forme. Já

para a interface facetada a presença de espessuras contendo 5 átomos já é

suficiente. Os dois tipos de interface podem ser correlacionadas com a energia livre

de formação da interface (JACKSON et al, 1966), esta por sua vez, depende da

proporção de átomos ordenados que a constituem assim:

x)(x(xxx)αx(NkT

δF

E

i 1ln)1ln1

Equação 1

Então para um plano na interface de solidificação, Fi é a variação de energia livre,

N é o número de sítios possíveis de serem ocupados por átomos ordenados ou não,

x é a fração de átomos ordenados, TE é a temperatura de equilíbrio, que no

processo de solidificação pode ser usada a temperatura de fusão da liga e k a

constante de Boltzmann que vale 3,3 x 10-24 cal/K. A constante “” pode ser dada

pela seguinte equação:

R

δSα i

Equação 2

Onde Si é a variação de entropia na interface e R é a constante dos gases. A

constante representa a fração da energia total de ligação que liga um átomo na

camada paralela a face do plano de outro átomo na camada. Seu valor é menor que

1 e superior a 0,5. O valor de “” é menor que dois para a maioria dos metais, está

entre 2 e 4 para os semicondutores e é superior a 4 para os materiais cerâmicos.

Quando o valor de “” é inferior a 2, a tendência é que se tenha uma interface do

tipo difusa. A gráfico 3 apresenta o valor da variação da energia livre em função da

fração de sítios “x” ocupados na interface de solidificação. Jackson et al (1966)

explicam que sendo “” menor que 2 o mínimo de energia livre da interface ocorre

em uma situação onde 50% dos sítios disponíveis estão ocupados por átomos.

Quando “” é superior a 2 este mínimo se desdobra em dois mínimos: o primeiro é

para uma pequena fração de átomos ordenados na interface e o outro para frações

de ordenamento próximas a 1. Sendo assim, nesta situação existe a possibilidade

da formação de interface facetada sob a condição de ordenamento de alguns

átomos apenas.

30

Gráfico 3 - Energia livre de interface em função da fração de sítios “x” ocupados,

para diferentes valores de α.

Fonte: Jackson et al, 1966 (adaptado por Reis, 2013).

Como a solidificação de ligas de Al-Si envolve a solidificação de um metal e de um

semi metal, então nesta situação diz-se que as características de crescimento do

alumínio e do silício eutéticos são do tipo anômala (CRIADO et al, 2003), ou seja,

respectivamente difusa e facetada. A entropia de fusão de um metal ou liga permite-

nos prever como será o comportamento da liga com relação à formação da interface

de solidificação. Os metais que possuem baixa entropia de fusão caem na situação

onde “α” é menor do que 2 e neste caso a tendência é que se forme interface difusa

e a maior parte dos metais possuem este comportamento. No caso dos não metais

onde “α” é maior do que 2 a interfase sólido-líquido é lisa e conforme já explicado é o

caso dos não metais que crescem com facetas cristalinas e a interface se estabiliza

com 90% de ordenação ou com menos de 10% de ordenação atômica conforme

mostra a setas indicativas no gráfico 3.

31

Nos sistemas em que dendritas podem crescer em ambas as fases formam-se

estruturas lamelares, dependendo da composição (CAMPOS e DAVIES, 1978). A

morfologia irá depender da composição química, taxa de resfriamento e gradiente de

temperatura. No caso de ligas Al-Si a morfologia do silício pode ser do tipo massiva,

acicular, placas hexagonais e fibrosa. Em 1921, Pacz (1921) descobriu

acidentalmente a modificação de cristais de Si em ligas de Al-Si e também notou

que as propriedades mecânicas melhoravam significativamente após o tratamento

do banho com fluoretos alcalinos a base de Na. A essa operação metalúrgica capaz

de promover um refinamento das partículas de Si deu-se a denominação de

“modificação do Si”. Em 1966, Crosley e Mondolfo (1966) descobriram a relação

entre os elementos modificadores e o fósforo, enquanto o fósforo engrossa as

partículas de Si os modificadores a refinam. O fosfeto de alumínio AlP favorece a

cristalização do silício numa temperatura aproximada de 580 ºC sob a forma de

cristais poliédricos. Prosseguindo o resfriamento a temperatura continua a abaixar e

o alumínio aparece na temperatura de 572 ºC em volta dos cristais de silício. A

cristalização do alumínio faz a temperatura subir para 578 ºC, e solidifica-se a

mistura eutética sob forma acicular com grandes lamelas não orientadas de silício. A

presença do sódio, dentro de um teor conveniente, agem sobre as partículas de AlP

neutralizando-as e torna estes embriões de cristalização de silício inativos

(OLIVEIRA e GANIVET, 1987).

Na verdade, atualmente é sabido que a morfologia do silício sofre uma transição na

presença de determinados elementos tais como o Na, o Sr e algumas terras raras.

Ensaios de espectroscopia Auger comprovam a preferência de associação do Na e

do Sr com o silício ao invés do Al. Uma das teorias para explicar o efeito de

refinamento do Si é a redução da tensão interfacial entre a fase eutética e o Si. A

grande vantagem do processo de modificação do Si é o fato de conseguir-se

aumentar a ductilidade e o alongamento melhorando ou mantendo-se os limites de

escoamento e resistência mecânica da liga. Os processos de modificação do Si não

só alteram a morfologia das partículas de silício como também a sua distribuição. A

figura 4 mostra a diferença entre uma microestrutura do tipo eutética acicular e do

tipo fibroso modificado.

32

Figura 4 - Típicas microestruturas para liga A356 (a) Não modificada com a presença

de partículas de silício grosseiras na forma de agulhas e (b) Modificada

evidenciando a morfologia fibrosa do silício.

Fonte: Gruzleski e Mohanty, 1995.

3.4.2 Refino de grão da fase α para ligas de Al

Como já é do nosso conhecimento, na maioria das vezes o objetivo do

refinamento de uma microestrutura é aumentar a resistência mecânica da liga. Grãos

menores promovem o aumento das interações de movimento de discordâncias com

contornos de grãos. Durante o processo de solidificação, o refino de grãos também

melhora a capacidade de alimentação interdendrítica e, portanto, diminui a tendência de

formação de trincas de solidificação melhorando a distribuição de segundas fases e de

quando for inevitável microporosidades (GRUZLESKI e MOHANTY, 1995). O refino de

grão através da adição de inoculantes ao metal líquido visa a criação de substratos para

promover a nucleação heterogênea da fase sólida. A eficiência de um inoculante irá

depender basicamente de dois fatores: o primeiro é associado ao grau de molhabilidade

com o metal líquido. Esta habilidade pode ser representada pela tensão interfacial entre

o substrato ou nucleante e o líquido. Quanto menor for tensão interfacial maior é o grau

de molhabilidade e, portanto tem-se maior eficiência de nucleação. O segundo fator é o

índice de epitaxia, este fator tem relação com o espaçamento interplanar do substrato e

da liga solidificada, quanto maior for a diferença do espaçamento interplanar do

substrato e do metal solidificado maior será o índice de epitaxia e maior será a eficiência

de nucleação. Um terceiro fator que tem influência no refino de grão é a distribuição das

partículas inoculantes no metal líquido, quando inseridas na liga sob a forma de

33

partículas finas e uniformes a eficiência aumenta. No caso de ligas de alumínio as ante

ligas de Ti e B são os refinadores químicos mais usados com adições típicas de 0,01 a

0,03% de Ti e 0,01% de B. Estes inoculantes favorecem a formação de partículas de

Al3Ti que nucleiam o alumínio através de uma reação peritética: Líquido + Al3Ti → Al,

conforme o gráfico 4.

Gráfico 4 - Diagrama de fases Al-Ti ilustrando o campo da reação peritética e

representação esquemática pra nucleação do alumínio a partir da reação L + Al3Ti → (Al).

Fonte: Gruzleski e Mohanty, 1995 (adaptado por Reis, 2013).

3.4.3 A liga A356

Dentre as ligas de Al-Si a liga A356 é uma das mais utilizadas na indústria por

apresentar uma das melhores combinações de propriedades mecânicas com boa

fluidez durante o processo de conformação por fundição. A tabela 2 mostra a típica

composição desta liga (KENNY et al, 1988).

Tabela 2 - Especificação da composição química da liga A356.

Si Fe Cu Mn Mg Zn Ti

6,5-7,5 0,20 máx 0,20 máx 0,10 0,25-0,45 0,10 0,20 Fonte: Kenny et al, 1988.

Do ponto de vista da tixoconformação a liga A356 possui características relevantes

tais como:

34

i) Um intervalo de aproximadamente 40 ºC entre as temperaturas solidus e liquidus,

valor este que permite um melhor controle dos parâmetros de processamento

durante a conformação no ESS.

ii) É uma liga de amplo uso comercial concentrado na indústria automobilística e

espacial, por apresentar boas propriedades mecânicas. Seu emprego em processos

metalúrgicos é excepcional, devido a sua boa fluidez no estado fundido.

iii) No ESS apresenta fácil identificação das fases, permitindo uma melhor

caracterização metalúrgica da pasta semi-sólida.

iiii) Logo que descoberta a liga A356 tinha sua aplicação muito restrita, porém

atualmente é muito utilizada e difundida. Seu uso e aplicações são estudados por

diversos autores, razão que permite a comparação com a liga elaborada neste estudo.

A sequencia de solidificação de uma liga A356 foi descrita por Backerud et al, 1990.

Primeiro ocorre a formação das dendritas de alumínio, depois a reação eutética

principal, Al-Si, em seguida dependendo da quantidade de impurezas as reações

eutéticas secundária e ternária.

Tabela 3 - Sequência de solidificação de uma liga A356.

Nº Reações Temperatura, 0C

1 L → dendritas de fase 615

2a L → + Si 575

2b L → + Al5FeSi 575

3a L → + Si + Al5FeSi 567

3b L + Al5FeSi → + Si + Al8Mg3FeSi6 567

4 L → + Mg2Si + Si 555

5 L → + Si + Mg2Si + Al8Mg3FeSi6 554 Fonte: Backerud et al, 1990.

3.5 CONDICIONAMENTO MICROESTRUTURAL

Já foi dito que para os processos de conformação no ESS o termo

“condicionamento” refere-se ao tipo de tratamento que é dado a liga para obter uma

microestrutura com partículas esféricas ou globulares como apresentado pela figura

1 (b). O objetivo é formar uma microestrutura composta por finos grãos equiaxiais os

quais proporcionem melhores condições de formabilidade e também boas

propriedades mecânicas. A formação de partículas globulares envoltas por líquido

35

permite redução dos esforços de conformação e este comportamento pode ser visto

na gráfico 5 (FREITAS e FERRANTE, 1999). O gráfico 5 compara os esforços

mecânicos para promover a deformação de pastas no ESS de uma liga Al4%Cu com

estrutura dendrítica “D6050C” e condicionada “C6050C”. Quando a estrutura é

condicionada e para uma temperatura fixa temos esforços reduzidos para promover

a deformação. Os resultados de Freitas e Ferrante (1999), também mostram que o

processamento da liga no ESS é sensível a temperatura e os esforços também

reduzem com o aumento da mesma. O que explica este comportamento é o

aumento da fração de líquido com o aumento da temperatura. Além da questão

relacionada com os esforços mecânicos também deve-se estar atento condições de

fluxo, e quando uma liga dendrítica é processada no ESS pode ocorrer segregação

de líquido devido ao emaranhamento dos ramos e braços dendríticos. Em situações

críticas podemos ter situações de preenchimento incompleto de moldes ou

cavidades.

Gráfico 5 - Curvas tensão versus deformação obtidas sob compressão entre placas

paralelas em amostras da liga Al-4%Cu no ESS: bruta de fusão (D) e previamente

condicionada (C).

Fonte: Freitas e Ferrante, 1999.

Nos trabalhos realizados por Spencer et al (1972), a estrutura globular foi obtida a

partir da intensa e vigorosa agitação da pasta metálica no ESS. Daí surgiu o termo

“Rheocasting” que em português pode ser traduzido para Reofundição. Atualmente é

36

comum o uso do termo Rheocasting ou Reofundição para abordar qualquer

processo que envolva a conformação no estado semi-sólido. De qualquer forma não

é o mais adequado como será explicado adiante. Posteriormente observando-se

que as ligas no ESS exibem um comportamento tixotrópico, ou seja, a viscosidade

diminui com o tempo sob agitação, então surgiram os termos com o prefixo “tixo”:

thixoforming, thixocasting, thixoforging. Que por sua vez podem ser traduzidos para

tixoconformação, tixofundição e tixoforjamento respectivamente.

3.5.1 Métodos para obtenção da estrutura globular

Como pode ser notada, a conformação de ligas no ESS pode ser abordada através

de muitas terminologias. Porém, estas terminologias podem ser melhor aplicadas em

função do tipo de processamento da liga no ESS. Assim, atualmente, existem

diversas técnicas para obtenção da estrutura globular, característica dos processos

para conformação no ESS. A gráfico 5 apresenta algumas possíveis rotas para o

processamento de ligas no ESS. O termo tixoconformação é o mais genérico de

todos e serve para qualquer processo que envolva a conformação no ESS. Mas, os

demais nomes mais específicos são aplicados conforme a rota de fabricação da

matéria prima e do produto:

• Reofundição: após a total fusão da liga, esta é resfriada sob agitação até o ESS e

imediatamente injetada na matriz. Nestes processos a liga não é solidificada antes

da conformação final.

• Tixofundição: parte-se de um material sólido previamente condicionado e

parcialmente refundido que após um tempo de espera (aproximadamente 20 ou 30

min) é injetado no molde normalmente com frações de sólido abaixo de (fs< 0,5).

Neste processo o material “condicionado” é a liga metálica no estado sólido que foi

previamente preparada para formar a estrutura globular, então conforme mostra a

figura 5, a liga pode ter sofrido algum trabalho mecânico, ou uma agitação vigorosa

até que se completasse total solidificação para posterior uso. Existem ainda mais

dois outros casos onde podemos condicionar a liga: i) o primeiro refere-se a troca da

agitação mecânica por agitação eletromagnética (MHD), este processo tem a

vantagem de impedir a formação de óxidos; ii) o segundo refere-se a vazamentos da

37

ligas sob condições controladas em baixas temperatura de modo a não permitir que

ser formem dendritas grosseiras, então a liga quando levada ao ESS terá uma

microestrutura globular.

• Tixoforjamento: processo idêntico ao da tixofundição utilizando matriz muito

semelhante a de forjamento convencional. Diferente dos anteriores este processo

requer altas frações de sólido (fs> 0,5). Os condicionamentos prévios descritos para

tixofundição também podem ser utilizados aqui neste tipo de processamento.

Figura 5 - Rotas para o processamento no ESS.

Solidificação parcial e agitação

Lingote deformado

Solidificação

Deformação

Refusãoparcial

Reofundição

Tixofundição 0,5fs <F

Tixoforjamentofs > 0,5F

Fonte: Vieira, 2004.

Os processos de conformação no ESS também podem ser subdivididos em função

do tipo de rota para o condicionamento prévio que a liga sofre e desta forma tem-se

duas grandes linhas: (i) processos de preparação no estado líquido e (ii) processos

de preparação no estado sólido.

3.5.1.1 Processos de preparação no estado líquido (condicionamento no estado

líquido)

Nos processos de condicionamento a partir da liga metálica no estado líquido o

objetivo final é sempre fragmentar a estrutura dendrítica do metal que está se

solidificando o máximo possível. Então, os meios mais comuns são a agitação

mecânica e a agitação eletromagnética (MHD), também é comum usar refinadores

38

de grão a estas técnicas para melhorar as condições de nucleação da fase sólida. A

agitação eletromagnética (MHD) industrialmente é mais comum, porém ainda

encontra restrições em relação aos diâmetros, pois existe uma limitação da

profundidade do campo magnético que restringe o tamanho do lingote produzido e

problemas associados com a falta de uniformidade pela não completa esferoidização

no interior de lingotes acima de 80mm de diâmetro. Inicialmente este processo foi

desenvolvido e descrito por uma série de patentes por Alumax Inc. A agitação

mecânica ou Reofundição, caso faça-se a injeção da liga imediatamente após o

processo de esferoidização, foi a primeira técnica de condicionamento e sua a

eficiência permite obter uma estrutura um pouco mais globular, mas o processo é

mais limitado devido a necessidade do contato entre o rotor e o metal líquido que

pode provocar a contaminação da liga e incorporar filmes óxidos, além de não ser

adequado para produção em escala industrial porque a superfície do rotor deve

estar próximo à superfície do cadinho (milímetros). As figuras 6 e 7 mostram os

equipamentos de agitação mecânica e eletromagnética, respectivamente.

Figura 6 - Condicionamento por agitação mecânica. (a) esquema construtivo e (b)

detalhe do rotor e cadinho.

Fonte: Brabazon, 2002.

Outra forma de obter o material condicionado é através do uso do chamado

“Osprey”. Neste processo o metal fundido é vazado por um bico situado no fundo de

um cadinho. Um jato a alta pressão de gás inerte (normalmente N2) faz com que o

líquido seja transformado em finas gotículas, rapidamente resfriadas em vôo (103 K s-1)

39

e depositadas em um substrato móvel. Este processo forma uma estrutura com finas

partículas caldeadas umas às outras, que quando reaquecidas até o ESS geram uma

estrutura também globular, adequada aos processos no ESS, mas uma das limitações

do processo é o custo de produção. A figura 8 esquematiza o processo.

Figura 7 - Condicionamento por agitação eletromagnética (MHD) (a) esquema

mostrando as linhas de fluxo durante o processo de solidificação e (b) esquema do

agitador eletromagnético mostrando as linhas de campo formadas para quebra das

dendritas.

Fonte: Vivès, 1994.

Figura 8 - Esquema da câmara de deposição spray, mostrando a posição dos

termopares e pirômetro de medição das temperaturas.

Fonte: Mingard; 1998.

40

Recentemente foi desenvolvido novos processos denominados Nova Reofundição,

New Rheocasting (NRC) (KAUFMANN et al, 2000). Estas técnicas visam provocar

um aumento da taxa de nucleação inicial a fim de promover a formação de núcleos

de maneira extensiva em todo o volume do material em solidificação. Assim,

suprime-se o crescimento dendrítico e obtém-se uma estrutura final refinada e não

dendrítica. A morfologia das partículas primárias, geralmente é do tipo “rosetas” ou

glóbulos irregulares. A liga quando reaquecida, adquire características para

operações de tixoconformação. O processo é bastante promissor e consegue efetiva

redução de custos operacionais e produção de material com bons padrões

microestruturais. Entretanto o principal obstáculo reportado pelas indústrias é obter

uma pasta metálica com consistência e uniformidade em larga escala de produção,

devido ao controle das frações sólidas ser sensível com a temperatura (FAN, 2002).

Figura 9 - Esquemas da Nova Reofundição (NRC) e (a) processo utilizando rampa de resfriamento e

(b) processo usando baixo super-aquecimento sem rampa de resfriamento.

Fonte: Haga, 2002.

Em linhas gerais o condicionamento pela Nova Reofundição consiste no

resfriamento da liga sob forma controlada e pode ser subdividido em duas variantes

(i) rampa de resfriamento (cooling slopee) (ii) vazamento em baixa temperatura (low

super heatcasting), também conhecido como (VBT). No primeiro caso a liga é

vazada sobre uma rampa na qual a mesma irá trocar calor formando a pasta semi-

41

sólida. No final da rampa o material terá a microestrutura globular no ESS e então

caíra em uma matriz fazendo-se a tixoconformação e tendo no final a peça desejada

conforme mostra a figura 9 (a). No segundo caso, não existe o uso da rampa e a liga

é vazada diretamente na matriz conforme mostra a figura 9 (b). Para os processos

apresentados na figura 9, existem variantes que consistem em não fazer a imediata

tixoconformação, ou seja, o material é reservado na sua forma condicionada para

posterior uso, onde será reaquecido até o ESS, fazendo-se o tixoforjamento ou a

tixofundição.

Para todos estes processos o importante é que se tenha durante o resfriamento a

convecção forçada associada a um controle de troca de calor correto de forma a

gerar estruturas finas e globulares. Mas o mecanismo de formação só pode ser

explicado indiretamente examinando a estrutura final da solidificação, porque

mesmo em meios transparentes a movimentação impede a observação direta.

Então, sob agitação, surgem várias hipóteses para explicar a transformação da

estrutura dendrítica em globular, sendo que as três principais são: i) dobramento e

fragmentação das dendritas; ii) refusão da raiz da dendrita e iii) mecanismo

controlado por crescimento. O modelo mais aceito é a formação de partículas a

partir dos braços dobrados do ramo principal das dendritas, sugerido por Doherty,

Lee e Feest (DOHERTY et al, 1984). Neste modelo o braço dendrítico curva-se

plasticamente dentro da força cisalhante criada pelo atrito entre o líquido e a fração

sólida, facilitada pela alta temperatura e existência de turbulência em micro escala.

Então ocorre o dobramento introduzindo grande mesorientação que provoca a

geração de discordâncias, que escalam e se alinham formando novos contornos de

grão. Para essa condição ser alcançada, ou seja, a dendrita fragmentar-se é

necessário que a energia interfacial sólido/sólido seja no mínimo o dobro da energia

interfacial sólido/líquido. Ângulos superiores a aproximadamente 20º de

desorientação entre o cristal e ramo dobrado são suficientes para que se tenha:

SLSS .2 Equação 3

onde SS é a energia interfacial entre uma interface sólido/sólido e SL é a energia de

interface entre o sólido/líquido. A figura 10 apresenta esquematicamente o

mecanismo proposto por Doherty e colaboradores, 1984.

42

Figura 10 - Modelo esquemático proposto por Doherty et al para quebra e

globularização de dendritas de uma liga no ESS sob agitação mecânica (a) criação

de forças cisalhantes entre líquido e sólido, (b) dobramento do braço da dendrita, (c)

formação condição para fragmentação onde a energia de superfície de contorno for

o dobro da tensão superficial líquido/sólido, (d) fratura de braço dendrítico por meio

de vigorosa agitação.

Fonte: Doherty, Lee e Feest, 1984.

Pelo modelo de Doherty os novos fragmentos formados se dispersam no líquido e

iniciam seu crescimento. A segunda teoria que explica a transformação de um

núcleo dendrítico original para a morfologia de uma roseta é proposta por Flemings

(FLEMINGS,1991). Então sob a condição de continuo cisalhamento e diminuição da

taxa de resfriamento ou isotermicamente, em ambos os casos na zona pastosa as

etapas sugeridas são:

Fratura do braço dendrítico, onde os braços são cisalhados pela força do fluxo do

líquido;

Refusão do braço na sua raiz, pelo efeito do acúmulo de soluto durante o ripening

ou engrossamento competitivo. A fusão da raiz do braço é acelerada por uma alta

concentração de soluto na mesma;

43

O fluxo de fluido, além de acelerar a difusão de soluto, se encarrega de remover o

fragmento para longe de seu ramo principal, este processo é agravado pela

turbulência resultante da convecção;

Fusão da raiz do braço é acelerada pela tensão imposta pela força do fluxo do

fluido;

Recristalização, como resultado da tensão induzida pela força do fluxo do fluido,

com rápida penetração do líquido ao longo dos novos contornos do grão

(FLEMINGS,1991).

A figura 11 esquematiza a evolução morfológica de uma dendrita onde os glóbulos

tornam-se esferoidais com uma pequena quantidade de líquido retido em seu

interior. O terceiro modelo sugere que o globularização se dará somente por

crescimento, ou seja, o coalescimento ou o crescimento competitivo de partículas e

esta situação será abordada no item 3.6.

Figura 11 - Evolução da estrutura durante a solidificação sob vigorosa agitação: (a)

fragmento inicial de dendrita; (b) crescimento da dendrita; (c) e (d) estrutura de

roseta; (e) estrutura globular com pequena quantidade de líquido retido.

Fonte: Flemings,1991.

44

3.5.1.2 Processos de preparação no estado sólido (condicionamento no estado

sólido)

Nestes processos uma das maneiras de se obter a estrutura globular é a partir de

uma liga solidificada convencionalmente, normalmente sua estrutura inicial é

dendrítica e sofre um tratamento termomecânico (TTM). A variante do processo

mais utilizada é o processo denominado SIMA (strain induced melt activated) que

consiste em uma deformação a quente (acima da temperatura de recristalização) e

depois a frio, para finalmente levar a liga ao ESS para posterior tixoconformação,

originalmente desenvolvido por Young et al em 1983 (KENNEY et al, 1988).

Uma modificação do processo foi realizado por Boyed e colaboradores (BOYED et

al, 1988; KIRKWOOD e KAPRANOS, 1989) trocando o trabalho a frio pelo quente,

porém abaixo da temperatura de recristalização para assegurar a introdução de

uma quantidade máxima de energia sob a forma de discordâncias na deformação.

Os fatores que mais influenciam são os níveis e as temperaturas de deformação,

devendo o primeiro ser de no mínimo 10%.

O reaquecimento da estrutura deformada causa a sua recristalização e ao atingir-se

a temperatura solidus, ocorre a fusão das fases secundárias presentes em

contornos de grãos originais. Conforme já explicado, se a energia dos contornos de

grãos recristalizados for maior que duas vezes a energia de interface sólido/líquido,

então irá seguir a equação 3 já apresentada e o sistema tenderá a reduzir a energia

interna promovendo a penetração de líquido entre as interfaces dos grão

recristalizados destruindo-se assim os contornos e formando duas novas superfícies

sólido/líquido. Estes novos grãs então irão crescer no líquido equiaxialmente,

formando a pasta reofundida. O mecanismo de recristalização é semelhante ao de

ruptura dendrítica proposto por Doherty, Lee e Feest. Então a condição para o

fenômeno ocorrer é dada pela equação 3:

SLSS .2 Equação 3

Vieira (2004) sugere que a formação de partículas equiaxiais ocorre por nucleação e

crescimento mesmo tendo pouca energia armazenada. A figura 12 apresenta uma

45

sequência de microestruturas investigadas através da técnica de difração de

elétrons retroespalhados (EBSD). Os resultados reforçam o proposto por Flemings

(1991). As hipóteses para formação de novas partículas são: ou através de

nucleação por migração de contornos de baixo ângulo ou por coalescimento de

subgrãos.

Figura 12 - Micrografias (a,b) e mapas (c,d) usando a técnica EBSD da liga A356

condicionada por TTM (a,c) laminado (b,d) zero min no ESS.

Fonte: Vieira, 2004.

A figura 13 mostra esquematicamente a evolução de uma dendrita deformada onde

a liga foi refundida até o ESS. O processo é semelhante ao proposto por (ZOQUI,

2001). Os novos grãos resultam da divisão dos braços dendriticos em partículas

sólidas recristalizadas e equiaxiais. As pastas resultantes deste processo

apresentam glóbulos bem definidos, com pequenas dimensões e sem a presença de

líquido retido em seu interior.

46

Figura 13 - Esquema de uma dendrita deformada sendo dividida em várias

partículas globulares no ESS.

Fonte: Reis, 2013.

3.5.2 Parâmetros de controle para os processos de tixoconformação

Conforme já foi explicado anteriormente, a ideia de conformar ligas no ESS surgiu

porque a principio, este processo exigiria menores esforços de conformação quando

comparado com o forjamento. Posteriormente verificou-se que estes processos de

conformação no ESS poderiam ser implementados utilizando a estrutura dos

processos já existentes no mercado utilizando-se assim, os equipamentos

convencionais com relativa facilidade, sem que sejam necessárias grandes

modificações. Nos processos de fabricação de peças, a tixoconformação pode ser

distinguida em duas etapas. A primeira trata do aquecimento do lingote até o ESS e

a segunda refere-se a sua introdução na matriz ou molde. A primeira etapa é comum

a todos os processos de tixoconformação e tem por objetivo refundir a liga

parcialmente. A segunda parte é o modo de processamento que é diferente para

cada técnica de conformação e sob diferentes condições, os produtos obtidos

exibem propriedades mecânicas distintas. Assim, os principais parâmetros que

podem ser controlados nos processos de tixoconformação são os seguintes:

47

Taxa de aquecimento ou resfriamento: altas taxas de aquecimento ou resfriamento

diminuem a Tsolidus e aumentam a Tliquidus, aumentado o intervalo de solidificação,

reduzindo a variação da fração líquida com a variação da temperatura e

consequentemente melhorando o processamento (KANG, 2005). Em condições de

quase equilíbrio, em algumas ligas, os intervalos de temperatura são da ordem de

umas poucas unidades, enquanto que para as mesmas ligas com altas taxas de

aquecimento ou resfriamento, os intervalos podem atingir algumas dezenas de graus

centígrados. Esse fato explica porque o método de aquecimento mais utilizado é por

indução, pois através dele se consegue uma rápida e uniforme refusão parcial do

material. Entretanto pode-se utilizar uma grande variedade de métodos de

aquecimento mediante transferência de calor por radiação ou convecção, a exemplo

podemos citar os fornos aquecidos com resistências elétricas (KANG, 2005). De

qualquer maneira, em todos os métodos de aquecimento, o controle de temperatura

deve ser rigoroso.

Intervalo de fusão ou solidificação: diferença entre a temperatura Tlíquidus e Tsólidus.

Geralmente, quanto maior for este intervalo melhor será a habilidade da liga se

processada no ESS. As ligas que possuem maior intervalo de solidificação

geralmente possuem melhores condições para fazer o controle da fração sólida “fs”

na etapa de conformação.

Tipo e teor de elementos adicionados: a adição de elementos de liga pode

aumentar ou diminuir o intervalo de fusão da liga a ser processada e também

mudar a sensibilidade da variação da fração líquida quando no ESS. Sendo assim,

cuidados deverão ser tomados ao se adicionar elementos nas ligas a serem

processadas. Além disso, caso seja adicionado algum elemento químico, deverá

haver compatibilidade para que as propriedades mecânicas não sejam

prejudicadas.

Tempo de espera no ESS: o tempo de espera no ESS é definido como sendo o

tempo no qual a liga fica mantida sob uma temperatura fixa no ESS antes de ser

tixoconformada, seu objetivo é esferoidizar as partículas e promover o molhamento.

Este tempo geralmente varia de 10 a 30min. Este parâmetro é muito importante

porque o mesmo repercute diretamente sobre dois aspectos: no primeiro tem-se o

48

grau de fluidez da liga, sob tempos de espera mais curtos a liga tende a ter um

comportamento reológico desfavorável ocorrendo maior segregação de líquido e

dificuldade para total preenchimento do molde. Por outro lado, o segundo aspecto é

a evolução microestrutural. O tempo de espera maior favorece uma melhor

molhabilidade das partículas e favorece melhores condições de fluxo, porém, implica

em maiores custos e maior tamanho de partícula final o que pode comprometer a

resistência mecânica final.

Será agora abordado com maiores detalhes os principais processos de

tixoconformação com potencial comercial, no entanto maior ênfase é dada ao

processo tixoforjamento pois foi o método empregado nesta pesquisa.

3.5.2.1 Tixofundição ou tixoinjeção

A tixofundição por injeção foi o processo pioneiro no desenvolvimento e aplicação da

tecnologia de conformação de metais em estado semissólido, sendo, portanto o

processo de tixoconformação mais amplamente dominado atualmente. O

equipamento comumente utilizado na tixofundição é a máquina injetora do tipo

horizontal, geralmente a capacidade é maior do que as convencionalmente utilizadas

em processos de injeção, já que os esforços necessários para o total preenchimento

de cavidades serão maiores. Associado à injetora tem-se os fornos de

reaquecimento da matéria-prima que previamente deverá ser condicionada para

garantir a morfologia globular (YOUNG, 1994).

Os atuais processos de tixofundição são realizados a partir de matéria prima

condicionada por reofundição. A liga reofundida é aquecida até a temperatura

desejada no ESS e em seguida faz-se a injeção após um intervalo de tempo que

pode variar de 10 a 20min de espera. Posteriormente faz-se a extração da peça

conforme mostra a figura 14. Caso a liga agitada mecanicamente seja injetada logo

após a etapa de globularização, sem haver a completa solidificação então o

processo irá chamar-se Reofundição.

49

Figura 14 - Processo de conformação por tixofundição, ( a) aquecimento até ESS;

(b) Inserção do material no ESS na máquina de injeção; (c) fundição injetada.

Fonte: Alves, 2011.

O processo de tixofundição é utilizado comercialmente para fabricação de

componentes para a indústria automotiva, como sistemas de freios com a liga A356,

sistemas de suspensão, estruturas de automóveis, entre outras e foi detalhado por

Chiarmetta (1994). As propriedades mecânicas das peças tixofundidas são melhores

ou no mínimo similares às obtidas pelo processo convencional de fundição sob

pressão (HIRT, 2000), pois permitem um melhor preenchimento do molde, melhor

acomodação das tensões internas e estruturas homogêneas. Estas características

do processo reduzem a ocorrência de trincas de contração e por fim viabiliza a

produção de peças livre de poros e inclusões. Outros trabalhos com maiores

detalhes sobre o emprego da tixofundição podem ser encontrados na literatura

(KUROKI, 2004; LIU et al, 2002; SVARE et al, 2002; CHIARMETA, 2000; e PITTS,

1998).

3.5.2.2 Tixoforjamento

O tixoforjamento ocupa o segundo lugar em termos de aplicação industrial de

processos de fabricação envolvendo pastas metálicas semi-sólidas. Os produtos

tixoforjados já conquistaram espaço no setor automotivo tais como produção de

peças de sistemas de freios, braços mecânicos, polias de carro, compartimento de

“air bag” e condutores de ar condicionado, (ROVIRA, 1996). No entanto, a expansão

da produção de peças nas indústrias está ainda limitada ao fornecimento de matéria

prima semissólida e na complexidade de produção de alguns componentes

50

mecânicos. Mas muitas pesquisas vêm sendo desenvolvidas e espera-se que a

conformação por forjamento de ligas no estado semissólido seja uma tecnologia de

ampla utilização comercial em um futuro breve. O gráfico 6 demonstra a

potencialidade de crescimento do processo de tixoforjamento onde é feita uma

comparação relacionando desempenho e custo. Podemos verificar que o processo

de conformação por tixoforjamento é promissor já que possui um custo relativo

médio associado a um desempenho próximo ao dos produtos forjados que por sua

vez, possuem custo elevado.

Gráfico 6 - Comparação da relação desempenho x custo, entre os processos de

injeção, tixoforjamento e forjamento.

Fonte: Flemings, 2000.

O forjamento de ligas no ESS pode ser realizado em matrizes abertas, isto é,

forjamento livre ou em matrizes fechadas. Em matriz fechada na maioria dos casos

são feitas peças com geometria mais simples, por exemplo, na forma de disco e são

classificadas segundo a teoria do forjamento como peças classe de forma 2

(LAPKOSWKI, 1992; ROBERT et al, 2000; STEINHOFF, 2000). Mas Kopp (2000),

produziu peças classe de forma 3, na forma alongada ou tipo alavanca, porém, o

trabalho visou particularmente aprimorar o projeto da ferramenta, sem se preocupar

em avaliar a estrutura e as propriedades do produto. Também não foi estudada a

maneira do escoamento do material durante o preenchimento da matriz.

51

Lourençato (2008), utilizando ligas AlSi0,5Mg com o Si variando de 1 a 7% em peso,

realizou o tixoforjamento em uma prensa do tipo excêntrica, com uma matriz do tipo

aberta, onde a força máxima aplicada no processo foi de aproximadamente 5 kN.

Utilizando uma fração sólida de apenas 45% houve uma maior facilidade de

preenchimento do que para as ligas com fração sólida de 60%. Este fato se justifica

tanto pela menor fração de sólido presente, como também pela viscosidade

aparente menor da pasta semissólida. O autor observou também que as ligas

contendo 4% de Si, foram as que apresentaram melhores resultados quanto ao

acabamento final. A razão para este resultado não foi bem esclarecida e pode ser

objeto de estudos futuros (ZOQUI, LOURENÇATO e BENATI, 2008).

Para obter um produto com boa qualidade em uma operação de tixoforjamento

inúmeros fatores influenciam, mas podemos destacar as seguintes variáveis:

Composição química da liga: a composição química irá delimitar a região

semissólida, portanto é o primeiro parâmetro a ser observado. Para que um liga

possa ser tixoconformada é necessário que o campo referente ao ESS tenha no

mínimo 150C de variação entre a linha liquidus e solidus.

Microestrutura da matéria-prima: as características da matéria prima devem estar

de acordo com o tipo de processo, ou seja, a microestrutura deve ser globular e

deverão ser controlados parâmetros microestruturais tais como: tamanho de

partícula ou glóbulo, fração sólida, contiguidade e fator de forma.

Características da ferramenta de trabalho: deve-se ter cuidado com a matriz de

forjamento mantendo-a a uma temperatura em que a liga no ESS não sofra um

resfriamento excessivo, o que reduziria sua fração de líquido e consequentemente

necessitaria de tensões maiores para a conformação podendo até provocar a

formação de trincas. As matrizes normalmente são fabricadas em aço da série H,

principalmente o AISI H13. Estes aços são próprios para trabalhar em processos

onde tem-se esforços sob temperaturas relativamente elevadas da ordem de 6000C.

Conforme já dito, um aspecto importante é que o tixoforjamento trabalha com

esforços reduzidos quando comparado com o forjamento convencional, portanto, a

possibilidade de usar matrizes cerâmicas é uma alternativa que pode ser viável.

52

Existem alguns trabalhos que abordam esta metodologia (PITTS, 1998; PELLA

,2002; BEHRENS et al, 2004). Estas matrizes são de custo baixo e possuem menor

condutividade térmica o que favorece a retenção do calor durante a

tixoconformação. Porém, são frágeis, os esforços finais de conformação deverão ser

limitados.

Taxa de deformação: Normalmente ligas para conformação no ESS quando na

condição estado semi sólido possuem comportamento pseudoplástico e segue a lei

das potências onde a viscosidade varia exponencialmente com a taxa de

cisalhamento. Portanto, o controle da tensão aplicada e do tempo de aplicação

dessa tensão é fundamental nestes processos, pois irá afetar diretamente a

viscosidade, consequentemente afeta também as condições de preenchimento do

molde repercutindo por fim na qualidade do produto.

Tempo e temperatura de trabalho: entende-se por tempo de trabalho, o tempo de

manutenção do material no ESS, o ideal seria trabalhar com tempos curtos, menor

que 1min, ou seja, o suficiente para que toda a massa esteja sob a mesma

temperatura. Este procedimento evita o crescimento excessivo das partículas

primárias, por isso recomenda-se o uso de fornos de indução para proceder o

aquecimento. Contudo, nem sempre isto é possível porque a liga quando no ESS,

necessita de um prazo para que as partículas fiquem envolvidas por uma camada de

líquido repercutindo na redução da viscosidade. Quando o tempo de espera é curto,

embora tenha-se partículas pequenas a condições de fluxo são desfavorecidas. A

temperatura de trabalho para o processo de tixoforjamento repercute nas frações

sólidas e esta tem forte influência sobre a viscosidade repercutindo nos esforços

necessários para o processo e também nas condições de fluxo.

Das variáveis discriminadas acima podemos dizer que a temperatura é uma das

mais importantes, pois, afeta diretamente a proporção da fração líquida no

processamento e repercute diretamente em todas as outras variáveis do processo

(GLENDA et al, 1987); (FLEMINGS, 1991). Portanto, a escolha deste parâmetro

deve ser feita com bom planejamento. Vários autores, entre eles, Winterbottom

(2000), concordam que a fração líquida para as ligas de alumínio deve estar no

intervalo de 0,3 a 0,5. Então eles definem que a fração líquida adequada para o

53

tixoforjamento deve ser próxima a 0,4. Porém, existem ainda outros fatores

operacionais que devem ser levados em conta entre os quais são: a posição da

pasta na câmara de aquecimento o qual poderá ser horizontal ou vertical; a razão

altura/diâmetro da peça a ser tixoforjada. Geralmente as peças esbeltas são menos

suscetíveis a tombar ou flambar quando posicionadas na vertical; a geometria e as

dimensões do componente a ser tixoforjado, sendo mais complexo e maior, maior

deverá ser a fração líquida. Finalmente busca-se controlar as condições de

solidificação minimizando-se os rechupes e a segregação. Como vantagens e

desvantagens do processo de tixoforjamento pode-se citar:

Boa reprodução da forma da matriz;

Facilidade para ser utilizado nas ligas de fundição Al-Si, pelo seu intervalo de

solidificação (> 40°C);

Viabilidades nas ligas com elevado ponto de fusão;

Elevada vida da matriz, devido às baixas temperaturas de conformação e ao

curto intervalo de tempo de permanência no molde;

Tamanho limitado dos lingotes (diâmetro);

Elevado custo do desenho especial que requer a estampagem;

Elevado custo dos lingotes de Reofundição;

Elevados investimentos de equipamentos;

Requere-se pessoal qualificado; e

As propriedades mecânicas são um pouco inferiores ao forjamento

convencional, (KANG, 2005).

3.5.2.3 Tixoextrusão

Os processos de tixoextrusão e tixolaminação tem sido testados a nível de pesquisa

em laboratórios, principalmente para ligas de chumbo e estanho e ligas de alumínio.

Na literatura especializada mostram a possibilidade de extrusão direta, inversa e

lateral de ligas semi-sólidas utilizando técnicas e equipamentos convencionais, não

havendo notificação do desenvolvimento de equipamentos especiais. Neste campo

podem ser mencionados os trabalhos de Gullo et al (2000) e Finke (2000). Quanto à

extrusão lateral Kopp et al (2000), obtém peças das ligas de alumínio AA356,

54

AA6082 e AA7075. Robert et al (2000), produziu produtos tixoextrudados da liga Al-

4,5Cu com boas propriedades estruturais.

3.5.2.4 Tixoestampagem e tixolaminação

Os processos de tixoestampagem e tixolaminação vem despertando o interesse dos

pesquisadores, mas ainda pouco pode ser encontrado sobre a aplicação desta

técnica. Adamiak e Robert (1999) foram uns dos primeiros pesquisadores a se

interessarem pelo assunto e estudaram o comportamento da liga AA 5052 no ESS

durante a estampagem profunda, analisando o comportamento estrutural,

conformabilidade e a mecânica da fratura dos produtos obtidos. Observaram a

possibilidade de estampagem de chapas no ESS com valores de força 50%

menores do que no caso da estampagem convencional; também observaram

maiores valores de deformação na estampagem, da ordem de 40% superiores nas

chapas no ESS comparativamente às chapas no estado laminado, mostrando a

possibilidade de conformação de geometrias mais complexas em um número menor

de passos.

Pires et al (2001) analisaram a possibilidade de estampagem destas mesmas ligas

no ESS. Os resultados indicam a viabilidade de produção por tixoestampagem a

partir de chapas de elevada espessura. Os autores observaram que a constituição

da pasta tixotrópica, contendo sólidos interconectados em arranjos tridimensionais,

permite a manutenção de sua integridade quando submetida a tensões de tração até

certo limite. Assim, foi demonstrada a possibilidade de fabricação por estampagem

no ESS de produtos de boa qualidade.

Kiuchi e Sugiyama (1994), estudaram a laminação no ESS para produção de chapas

da liga AA 7075. Mas devido ao difícil controle operacional da tixolaminação ainda

não foi desenvolvida uma aplicação industrial.

3.6 EVOLUÇÃO MICROESTRUTURAL NO ESTADO SEMI SÓLIDO

Visto os mecanismos de formação da pasta metálica no ESS e o seu

processamento, o mecanismo principal que envolve a globularização das estruturas

55

e sua evolução no ESS é o engrossamento. O engrossamento pode se dar por dois

mecanismos: i) o crescimento competitivo por Ostwald Ripening (OR) ou ii) O

mecanismo da coalescência. No primeiro, envolve a transferência de massa

preferencialmente de superfícies com pequenos raios de curvatura para outras

superfícies de maiores raios, e tendem a tornar as superfícies internas mais planas e

com maior raio de curvatura, aumentando a relação volume versus área superficial

(V/S), com o intuito de diminuir a sua energia superficial. No segundo, tem-se a

união de uma ou várias partículas pelo contato mútuo. Para ambos mecanismos, o

engrossamento, propicia um acréscimo no tamanho médio das partículas e um

decréscimo em número. Os fenômenos de Ostwald Ripening e a coalescência

operam simultaneamente e independentemente assim que o líquido é formado,

(TZIMAS e ZAVALIANGOS, 2000).

No caso do crescimento competitivo OR, devido a sua importância no

engrossamento, muitas pesquisas têm sido feitas para tratar o assunto tanto

teoricamente quanto na prática experimental. Em sistemas no ESS o crescimento de

partículas foi modelado por Voorhess e Gliksman (VOORHESS e GLIKSMAN, 1984).

A partir da adaptação da clássica equação desenvolvida por Lisfhitz, Slyozov e

Wagner (LSW) para crescimento de precipitados de segunda fase, (LIFSHITZ and

SLYOZOV, 1961), (DAVIES et al, 1980) e assim:

k.tRR n

0

n

Equação 4

onde R e R0 são o tamanho médio das partículas no tempo t e no tempo zero,

respectivamente, n é uma constante obtida experimentalmente geralmente seu valor

é 2 ou 3 e k uma constante cinética dada por:

)C(C9M

8Dk

LSL

Equação 5

Onde é o coeficiente de Gibbs-Thomson [m.K]; D é o coeficiente de interdifusão

no líquido [m2.s-1]; ML é a inclinação da curva liquidus [K.at-1.%elemento-1]; CL é a

concentração de soluto no líquido [%] e CS a concentração de soluto no sólido

[%].

56

Para usar a teoria LSW adaptada requer-se duas observações:

i) o elemento que difunde é o Al, já que a fase que está crescendo é Al-α; sendo

necessário neste caso calcular o coeficiente de auto-difusão;

ii) a constante cinética “k” deve ser modificada para “k1” e assim, levar em conta

situações com alta fração da fase que está em processo de crescimento.

Desse modo, a equação LSW fica:

)(kk1 sf f Equação 6

Onde f(fs) é uma função da fração sólida e é dada por:

3

3

-1)(

s

sf

f f

Equação 7

aqui α é um parâmetro calculado por Vorhees et al que irá assumir valores diferentes

em função da fração sólida, (HARDY e VOORHESS, 1988).

Segundo a teoria LSW o valor de n pode ser igual a 2, tendo como mecanismo

controlador do crescimento uma reação interfacial (dificuldade de os átomos

cruzarem as interfaces s/l e l/s), ou então igual a 3, onde a difusão de átomos de

soluto é a etapa controladora. Para sistemas semissólidos usa-se n=3, (VORHEES;

GLICKSMAN, 1984).

No caso de estruturas dendriticas, o mecanismo de Ostwald ripening consiste na

dissolução de ramos menores, difusão de soluto no líquido e incorporação de soluto

nos ramos mais grosseiros. O resultado deste mecanismo é a redução do número

de ramos e aumento da distância entre eles. Um esquema é mostrado na figura 15.

57

Figura 15 - Mecanismo de Ostwald ripening

Fonte: Kattamis et al, 1967.

Já o mecanismo de coalescência ocorre devido à deposição preferencial de soluto

em regiões próximas a superfície que resultam na supressão de superfícies de

separação aglomeração de ramos secundários, levando a coalescência de dois ou

mais braços em um só, de maior dimensão. Conforme a figura 16.

Figura 16 - Mecanismo de coalescência.

Fonte: Kirkwood, 1994; Young et al, 1975; Genda, et al, 1987.

Os dois mecanismos coalescência e crescimento competitivo são amplamente

debatidos em trabalhos diversos. Durante o processo em que um material é mantido

no ESS estes mecanismos podem eventualmente ocorrer em conjunto sendo muito

58

difícil distingui-los individualmente. O trabalho de Vieira1 (2004) sugere que esta

questão ainda permanece em aberto e estudos aprofundados necessitam ser feitos

para definir quais são as condições que determinam o mecanismo controlador. A

grande dificuldade está no controle e na observação das microestruturas que são

formadas, já que estas não podem ser observadas durante o processo de

crescimento no ESS. De qualquer forma a fase primária tende naturalmente a

globularizar devido a estes fenômenos os quais favorecem a redução de energia de

interface. Como resultado é obtido uma estrutura final com morfologia equiaxial,

geralmente irregular, às vezes contendo uma grande quantidade de líquido retido em

seu interior, devido aos fenômenos de coalescência dos ramos dendríticos

adjacentes e de glóbulos em contato. (REEVES e KATTAMIS, 1971; ROBERT,

1989; ZOQUI, 2001).

3.7 DETERMINAÇÃO DA FRAÇÃO SÓLIDA

Nos processos industriais, geralmente a solidificação ocorre sob condições fora do

equilíbrio termodinâmico. Contudo, para o modelamento do processo de

solidificação assume-se equilíbrio local na interface sólido-líquido. Na interface, as

concentrações de soluto no sólido cis e no líquido ci

l são dadas pelas linhas solidus e

liquidus do diagrama de equilíbrio. As concentrações de equilíbrio interface

relacionam-se através do coeficiente de partição β:

i

l

i

s

c

cβ Equação 8

Assumindo que a difusão de soluto no líquido não seja o fator limitante, três

aproximações podem ser usadas para calcular a fração de sólido na linha de

coexistência das duas fases:

(i) completa difusão na fase sólida: não existe gradiente de soluto nesta fase como

mostra a figura 17(a) (solidificação sob equilíbrio – regra da alavanca).

TT

TT

β1

1

c

cc

β1

1

F

L

l

0lsf Equação 9

59

co é a concentração de soluto na liga, T é a temperatura de interesse; fs, TF e TL

são a fração sólida, as temperaturas de fusão do solvente e a temperatura da linha

liquidus da liga, respectivamente.

(ii) sem difusão na fase sólida: o resfriamento é rápido e a difusão não é suficiente

para eliminar o gradiente de soluto na fase sólida. Neste caso considera-se que

existe um gradiente de concentração de soluto na fase sólida como mostrado na

figura 17 (b). Com essa aproximação foi deduzida a equação de Scheil:

1

LF

F1β

1

0

l

TT

TT1

c

c1

sf Equação 10

(iii) limitada difusão na fase sólida: Considera-se um parâmetro β e assume-se que a

taxa de solidificação seja parabólica (equação de Brody e Flemings).

1K

2α1

LF

F

TT

TT1

2α1

1

sf Equação 11

2

P

SS

d

tDα

Equação 12

Ds é o coeficiente de difusão do Si no sólido, ts é o tempo de solidificação local e dp o

espaçamento das dendritas primárias ou o diâmetro médio de grão.

60

Figura 17 - Concentração de soluto nas fases sólido e líquido. (a) condição de

equilíbrio; (b) condição descrita pela equação de Scheil

Fonte: Vieira, 2004.

No caso de sistemas no ESS, normalmente utiliza-se a equação de Scheil e

praticamente todos os pesquisadores concordam nessa escolha. Para as ligas

contendo vários elementos a fração sólida (fs) é calculada a partir da determinação

das temperaturas de início e fim de fusão da liga utilizando-se, por exemplo,

módulos de análise térmica diferencial (DTA) para este fim.

O gráfico 7 mostra as duas curvas de fs em função da temperatura para uma liga de

alumínio reciclado a partir de latada de alumínio contendo 3,5% de Si. Tanto a

equação de Scheil quanto a regra das alavancas são bastante precisas para se

estimar a fração sólida da liga e a diferença entre as mesmas diminui com o

aumento de temperatura, neste caso a diferença máxima foi de 12,5% para a

temperatura de 580ºC.

61

Gráfico 7 - Fração sólida comparando regra da alavanca com a equação Scheill para

liga de Al 3,5% em peso de Si.

Fonte: Alves, 2011 (adaptado por Reis, 2013).

3.8 CARACTERIZAÇÃO DE ESTRUTURAS SEMISSÓLIDAS

Já foi visto que a condição inicial da matéria prima e a técnica de condicionamento

são essenciais no processamento de ligas no ESS. No entanto a etapa de refusão

parcial cria condições de evolução microestrutural cujas consequências afetam

muito a conformabilidade do material e as propriedades mecânicas finais. Loué e

Suéry (1995) caracterizam a liga AlSi7Mg0,6 usando parâmetros tais como a fração

sólida, o tamanho dos glóbulos, a contigüidade e o fator de forma (LOUÉ e SUÉRY,

1995). Estes parâmetros são importantes porque repercutem nas condições de

processo e na qualidade do produto final. São parâmetros que podem ser medidos

de forma quantitativa para então estabelecer relações de processo com o produto

final de forma a buscar boa produtividade com qualidade e lucro. Assim, estes

62

parâmetros são dependentes em especial do tempo de espera no ESS e os eventos

que tem lugar na etapa de refusão são os seguintes:

Formação do líquido e penetração deste ao longo dos contornos de grão;

Isolamento total ou parcial das partículas, ou seja, diminuição da contiguidade

“Q”, definida pela equação 13:

TOT)(P

)(PQ

L

L Equação 13

Onde PL é o número de interceptos por unidade de comprimento de uma linha

traçada sobre uma micrografia e os substritos αα e TOT referem-se respectivamente

ao número de contatos partícula/partícula e número total de interceptos ou seja

partícula/partícula + partícula/líquido; Q vale zero para molhamento total e 1 se todas

as partículas estiverem interconectadas.

Crescimento das partículas;

Esferoidização, que pode variar de zero (forma de agullha) a um (forma de

esfera), a expressão para avaliar o parâmetro fator de forma ”F” é a seguinte:

2P

.A4.F

Equação 14

Onde A e P é a área e o perímetro médio dos glóbulos medidos respectivamente. O

fator de forma “F” será igual a ~1 se as partículas forem perfeitamente esféricas e ~0

caso tenha forma de agulhas. O fator de forma “F” também pode ser definido da

seguinte forma:

.A4.

PF

2

Equação 15

Considerando os mesmos parâmetros, agora neste caso “F” será igual a um número

grande caso a partícula tenha forma de agulha ou em um caso extremo será igual a

~∞.

63

Aprisionamento de líquido que é uma característica muito importante a ser

identificada, pois a fração líquida retida dentro das partículas é responsável pelo

aumento da fração sólida efetiva da amostra, aumentando a viscosidade da pasta

no ESS. A fração de líquido aprisionado “fla” pode ser definida pela seguinte

expressão:

Lt

Lala

V

Vf

Equação 16

Onde VLa é o volume de líquido aprisionado dentro das partículas e VLt é o volume

total de líquido.

A caracterização plena destes eventos é de fundamental importância uma vez que

influenciará no comportamento em termos de viscosidade e de conformabilidade da

pasta, (NIROUMANDI, 1998).

3.9 ENDURECIMENTO POR PRECIPITAÇÃO EM LIGAS DE ALUMÍNIO

As ligas de alumínio podem ter suas propriedades mecânicas melhoradas quando

submetidas a tratamentos térmicos de endurecimento e precipitação. Os principais

elementos químicos que possibilitam o endurecimento com significativa melhoria de

propriedades mecânicas são Cu, Si, Mg, Zn e o próprio Al combinado com outros

elementos. A figura 18 apresenta exemplos e geralmente, os precipitados de maior

interesse são Mg2Si e Al2Cu. Precipitados a base de Mn, Fe, Ni em conjunto com

outros elementos também se formam nos processos de solidificação ou tratamentos

térmicos, porém, nem sempre trazem benefícios para as ligas e podem até mesmo

prejudicar a performance. São exemplos destes precipitados o Al6(MnFe), Al5FeSi e

Al12(MnFe)6Si.

Existem também na literatura alguns estudos envolvendo ligas de Al-Ag que

permitem entender e explicar melhor as teorias envolvidas nos processos de

precipitação. Por exemplo, as zonas de Guinier–Preston (GP) apresentadas em

1938 são (pré)-precipitados coerentes metaestáveis que aparecem nos primeiros

64

estágios de decomposição das ligas e até hoje são objetos de estudos como os

exemplo feito por Li et al em 2010 (MURAYAMA e HONO, 1999; LI et al, 2010).

Figura 18 - Típicos precipitados presentes em ligas de Al-Si-Mg-Cu-Ni.

Fonte: Ammar et al, 2008 (adaptado por Reis, 2013).

Do ponto de vista de aplicação prática e industrial, as ligas mais estudadas são as

que compõem o sistema Al-Si-Mg e Al-Cu. Estas ligas pertencem a um grupo onde

são consideradas ditas “tratáveis termicamente”. Algumas ligas não formam

65

precipitados que promovem melhorias significativas, neste caso são consideradas

como ligas “não tratáveis térmicamente”. No caso especifico das ligas Al-Si é vasto o

número de estudos e muitos pesquisadores têm buscado explicar e desenvolver

tratamentos que possam maximizar as propriedades mecânicas (KLIAUGA, 2008;

SMITH, 1997; ROMETSCH e SCHAFFER, 2002; SHA et al, 2012; POGATSCHER,

2011; MÖLLER et al, 2010; EDWARDS et al, 1998; MAHATHANINWONG et al,

2012; GUPTA et al, 2000; RAN et al, 2007; GABER et al, 2006).

A resistência mecânica de um material depende diretamente das forças de ligação

entre os átomos, íons ou moléculas. No caso de ligas é possível estimar o limite de

escoamento em função da dureza e este é um parâmetro de grande importância

para estudar os processos de aumento de resistência que pode ocorrer também

devido ao trabalho a frio, átomos mantidos em solução, tratamentos especiais que

viabilizam a diminuição de tamanho de grão ou ainda através do aumento da

quantidade de defeitos na rede cristalina utilizando-se outras técnicas mais

específicas.

As ligas de Al-Mg-Si são largamente utilizadas em projetos de engenharia que

requerem solicitação mecânica mais severa. A relação resistência densidade destas

ligas as tornam muito atrativas comercialmente. Os tratamentos térmicos de

solubilização seguidos de envelhecimento artificial é uma prática comum visando

ganhos na resistência mecânica. Para estas ligas, a sequência de decomposição de

uma solução sólida super saturada (SSSS) é a seguinte (VISSERS, 2007; ZANDER,

2008; BUHA, 2008):

SSSS → (Mg + Si)cluster/GP-Ispherical → ”/GP-IIneedles → ’rods → (+Si)

Onde ’ e ’’ são precursoras de com ’ = Mg1,7Si e ’’ = Mg5Si6 e =Mg2Si o

equilíbrio. Normalmente considera-se que ’’ consiste apenas de Mg e Si, porém,

outros trabalhos tem mostrado a presença também de Al (BUHA, 2008;

VAUMOUSSE, 2003).

66

Para promover o processo de precipitação, a primeira etapa que deve ocorrer é o

tratamento de solubilização. O processo de solubilização consiste no aquecimento

da liga a uma temperatura próxima da temperatura solidus com a finalidade de

dissolver a maior quantidade possível de átomos de soluto na matriz de alumínio. A

liga é então resfriada bruscamente para impedir a difusão dos elementos químicos

formando uma SSSS. Este tratamento térmico é conhecido também como (T4) e no

caso de ligas Al-Si, além de promover a dissolução dos elementos de liga, pode

também homogeneizar a solução sólida, fragmentar o silício eutético e esferoidizá-

lo. A temperatura do tratamento deve ser controlada em uma faixa estreita, pois se

exceder é possível ocorrer a liquefação dos eutéticos secundários comprometendo

as propriedades mecânicas finais. Um aspecto importante nos processos de

solubilização de ligas é definir o tempo otimizado para solubilização. O gráfico 8

apresenta o resultado obtido por Dambauer et al (2012) para solubilização de ligas

AlSiMg com concentrações de Mg variando de 0,20 a 0,6%. Várias amostras foram

aquecidas até a temperatura de 5350C então para intervalos de tempos variando de

0 até 8h fez resfriamento brusco. Todas as amostras foram envelhecidas

artificialmente a 1650C por 6h visando promover o processo de precipitação. As

durezas foram então tomadas para todas as amostras o com isso foi possível

estabelecer o tempo ótimo. O interessante deste resultado é o aspecto de

concentrar-se no tratamento térmico de solubilização. Normalmente quando se

desconhece o tempo mínimo/ótimo para solubilizar uma liga o que se faz é utilizar

tempos longos, acima de 12h, o que nem sempre é a melhor opção já que conforme

mostra a ilustração 26 para este caso específico 5 horas apenas são suficientes

para se ter o material solubilizado ao máximo. Outros trabalhos da literatura

comparam tratamentos térmicos de solubilização longos com mais curtos como, por

exemplo, o desenvolvido por Ammar et al (2008). Descobriu-se que para uma liga

Al-Si 413 o tempo de solubilização de 24h não traz melhorias significativas do ponto

de vista de resistência mecânica quando comparado com o tempo de 4h. Porém, do

ponto de vista industrial os níveis de economia são elevados já que seriam 20h a

menos de peças sendo mantidas dentro do forno. Uma maneira simples para prever

aproximadamente qual é o tempo mínimo necessário para completa solubilização de

um determinado elemento é utilizar equação 17 (WEISS, 1996)

67

D

xt

2

2

Equação (17)

Esta equação estabelece o prazo necessário mínimo para que 1 átomo percorra

uma distância “x”. D é o coeficiente de difusão do soluto na matriz e “x” pode ser

substituído pela metade do tamanho de grão, ou o espaçamento interdendrítico

secundário da liga que se pretende solubilizar. Bromerschenckel et al (2008)

aplicaram esta equação para liga de Al4%Cu e obtiveram sucesso.

Gráfico 8 - Tempo de recozimento ótimo para uma liga AlSiMg.

Fonte: Dambauer et al, 2012 (adaptado por Reis, 2013).

Mas a dissolução dos elementos de liga por meio de resfriamento rápido mantida à

temperatura ambiente é de modo instável, sendo que o coalescimento de átomos de

soluto ou a precipitação de particulados pode começar ocorrer instantaneamente

depois do tratamento ou demorar dias. Esse fenômeno é conhecido como

envelhecimento natural. Porém a precipitação pode ser acelerada com o aumento do

processo de difusão dos elementos na liga através de um tratamento térmico à baixa

temperatura, cerca de 1/3 da temperatura da solubilização/recozimento conhecido

como envelhecimento artificial. O processo permite a obtenção de precipitados finos

e bem distribuídos. Eles agem como obstáculos ao movimento das discordâncias,

68

endurecendo a liga. Os precipitados devem ser pequenos o suficiente para manter a

coerência com a matriz, fundamental para manter o efeito máximo de endurecimento

para um determinado tempo de tratamento. Após o qual o crescimento excessivo

acarreta em perda de coerência dos mesmos com a matriz que leva à queda de

dureza denominada superenvelhecimento.

A resistência de uma liga endurecida por precipitação é governada pela interação

entre o movimento de discordâncias bloqueadas por precipitados. Os obstáculos nas

ligas endurecidas por precipitação que impedem o movimento das discordâncias

podem ser: i) tensões em torno das zonas GP (zonas de Guinier-Preston) ou ii) as

próprias zonas GP ou precipitados ou ainda ambos. Sendo assim as discordâncias

que seguem em direção a uma zona GP ou precipitados deverão ou cortar o

obstáculo ou contorná-lo. Dois modelos podem explicar o endurecimento devido a

precipitação:

i) os precipitados são impenetráveis e as discordâncias quando em movimento

precisam contorná-los:

Este mecanismo foi proposto por Orowan em 1948. Numa matriz dútil com partículas

de segunda fase impenetráveis as discordâncias que estiverem se movimentando

deverão se curvar em torno das mesmas na forma de semi-circulos e uma tensão

adicional será necessária para manter o movimento. Serão deixados para traz

“laços” em torno das partículas como mostra esquematicamente a Figura 19. A

tensão necessária para que uma discordância curve-se em torno de um precipitado

é dada pela seguinte expressão:

r

Gb

.2

Equação 18

Onde G é o módulo de cisalhamento, b é o módulo do vetor de burguers associado à

discordância e r é o raio da curvatura da discordância. O valor de r pode ser

substituído por metade da distância média entre os precipitados. Por fim, a tensão

necessária para que a discordância passe pelos precipitados “y” será dada pelo

69

somatório da tensão cisalhante da matriz isenta de precipitado “m” mais a parcela

““ assim:

r

Gbmy

.2

Equação 19

Este modelo é válido na situação onde temos partículas incoerentes com a matriz,

pois, nesta situação as tensões necessárias para que a discordâncias as cortem por

dentro são muito elevadas.

Figura 19 - Modelo de Orowan para discordâncias que contornam precipitados.

Fonte: Bromerschenkel; et al, 2008 (adaptado por Reis, 2013).

ii) os precipitados são penetráveis e as discordâncias podem atravessar por dentro

deles.

Nesta situação as partículas são cortadas pelas discordâncias por dentro como

mostra a figura 20. È um mecanismo que ocorre na situação onde a interface

partícula/matriz é coerente e irá ocorrer se:

r

Gbmy

.2

Equação 20

Precipitados

discordância

movendo-se discordância

deixando um anel

70

Portanto, podemos perceber que a resistência da partícula e a natureza da interface

partícula/matriz irão determinar se as discordâncias irão cortá-las ou não.

A contribuição relativa de cada um destes mecanismos depende do sistema de liga

particular, mas geralmente conforme já dito existe uma dispersão crítica onde tem-se

a resistência máxima e a gráfico 9 mostra esquematicamente este efeito. Quando

temos partículas pequenas estas são coerentes com a matriz e deformáveis a

medida que as discordâncias podem cortá-las, enquanto que para grandes

partículas estas são incoerentes e indeformáveis tendo em vista que as

discordâncias passam em volta das mesmas. No caso das partículas deformáveis,

as propriedades intrínsecas é o mais importante, ou seja, a gráfico 9 mostra que a

dureza da partícula tem forte influência sobre resistência. Já com relação ao

tamanho a resistência varia pouco. Para o caso de partículas não deformáveis em

que as discordâncias passam contornando-as a resistência da liga independe da

propriedade intrínseca das partículas e o tamanho das mesmas exerce grande

influência e a resistência decresce com o tamanho das partículas. O ponto de

transição de deformável para indeformável ou coerente para incoerente pode ser

observado pela microestrutura da liga e no caso de partículas coerentes observa-se

campos de tensões laminar sem turbulências no caso de partículas inderfomáveis

ocorre o inverso. Os precipitados incoerentes produzem uma grande quantidade de

emaranhado de discordâncias resultando em uma alta taxa de endurecimento

durante uma deformação a frio. Esta alta taxa de endurecimento é característica

para os sistemas endureciveis por dispersão.

Figura 20 - Partícula ordenada e posteriormente cortada por uma discordância

produzindo uma nova interface.

Fonte: Bromerschenkel et al, 2008.

partícula

ordenada

nova interface

plano de

escorregamento

(

a)

(

b)

71

O real mecanismo que atua numa dada liga depende de diversos fatores, tais como:

o tipo de partícula precipitada (isto é: zona, precipitado intermediário ou fase

estável); a magnitude da tensão e da temperatura de tensão. Então o grau de

endurecimento resultante depende da presença destes microprecipitados, da sua

distribuição na matriz e ainda da morfologia assumida durante o tratamento.

Compreender bem estes mecanismos é fundamental no desenvolvimento de ligas

para conformação no ESS já que uma das suas principais vantagens é o fato de

existir a possibilidade de se fazer este tipo de tratamento, o T6, solubilização

seguido de envelhecimento. Este tratamento é inviável para ligas de alumínio

fundidas, mesmo as tratáveis termicamente, porque em muitos casos o processo

acaba por deixar a liga com um teor de hidrogênio dissolvido elevado que se

manifesta na forma de bolhas durante a etapa de solubilização.

Gráfico 9 - Endurecimento da partícula ordenada e posteriormente cortada por uma

discordância produzindo uma nova interface.

Fonte: Bromerschenkel et al, 2008.

72

4 MATERIAIS E MÉTODOS

Neste capítulo será descrito com detalhes os materiais e as etapas realizadas para

desenvolver a nova liga de alumínio adequada para processos de conformação no

ESS. Inicialmente são abordados os materiais utilizados e posteriormente é feito

uma descrição detalhada de todas as etapas intermediárias. A figura 21 sumariza o

projeto. A partir de latas recicladas foi fundida uma nova liga contendo 3,8% de Si.

Através do levantamento de curvas de dureza de amostras solubilizadas determinou-

se o tratamento térmico adequado para maximizar as propriedades mecânicas.

Paralelamente foi feito a tixoconformação de peças variando-se a fração sólida e o

Figura 21 - Fluxograma das atividades desenvolvidas.

Fonte: Reis, 2013.

Preparação da matéria prima (fusão das latas)

Nova liga Al3,8%Si

Estabelcer melhores condições de solubilização/envelhecimento (T6)

TTM otimizado

fS = 0,6; fS = 0,7 e fS = 0,8

Tixoforjamento Tespera 10 min e 30 min

Ensaios de Tração

T6

AM

Estabelecer melhor condicionamento - TTM

DTA

AM

AM

AM

73

tempo de espera. Análise por calorimetria diferencial (DTA) permitiu determinar

as temperaturas de início e fim de fusão da nova liga para assim, controlar a

fração sólida a ser utilizada no processo. Tratamentos térmicos T6 otimizados

foram feitos nas peças obtidas e fez-se posterior ensaio de tração. Para todas

as etapas fizeram-se Análises Microestruturais (AM) para observar as

transformações envolvidas por microscopia ótica (MO) ou por microscopia

eletrônica de varredura (MEV).

4.1 MATERIAIS

A nova liga basicamente consistiu de uma mistura das ligas 3004 e 5182 onde

foi adicionado o Si metálico puro até atingir-se 3,8%. Os lingotes de alumínio

reciclado foram obtidos a partir da refusão de latas. Outros materiais utilizados

foram:

Mistura salina equimolar de NaCl e KCl como escorificante para liberação do

alumínio metálico;

Anteligas Al10%Sr e Al5%Ti1%B para modificação do Si e refino de grãos

respectivamente;

Pastilhas de hexacloretano para promover a desgaseificação da liga;

Na maioria dos casos a reciclagem de latas de alumínio inicia pela coleta manual.

Nas cooperativas de coleta, as impurezas são limpas grosseiramente e depois o

material é vendido para as revendedoras de matéria prima, onde é compactado em

fardos. As indústrias de reciclagem desenfardam e desmontam os blocos. Um

separador eletromagnético remove os metais ferrosos. As latas são picotas e nova

separação eletromagnética é feita. Outros resíduos são retirados por uma peneira

vibratória. Para este trabalho a quantidade de material utilizado foi pequena e,

portanto o processo de seleção das latas adquiridas foi feito manualmente. A

retirada do material ferroso foi realizada com um imã comum. A figura 22 mostra o

aspecto de fardos de latas de alumínio prontos para serem enviados a indústrias de

reciclagem.

74

Figura 22 - Latas de alumínio enfardadas.

Fonte: Verran et al, 2007.

4.2 FUSÃO DAS LATAS

A primeira etapa deste trabalho foi fundir as latas de alumínio. Foram

produzidos aproximadamente 10 kg de alumínio reciclado em um forno de

indução da marca inductotherm 100kVA, obtendo-se os lingotes primários

conformados em coquilha. Os fornos de indução têm a vantagem de trazer bom

rendimento metálico. Alguns estudos indicam a obtenção de até 90% de

rendimento na reciclagem de alumínio, em condições operacionais específicas

(VERRAN et al, 2007). Este rendimento é superior aos valores médios obtidos

pelas indústrias que trabalham com reciclagem de latas de alumínio usando

processos de fusão em fornos com queima de combustíveis. A figura 23

apresenta o forno de indução e o cadinho utilizados.

75

Figura 23 - Aparato para fusão das latas de alumínio (a) forno de indução, (b)

cadinho de argila-grafite.

Fonte: Reis, 2013.

O procedimento para a fusão foi o seguinte: inicialmente em um cadinho argila-

grafite, adicionou-se uma mistura equimolar de NaCl + KCl correspondendo a

aproximadamente 5% da carga. Depois as latas foram pré-aquecidas até

aproximadamente 2000C garantindo-se a total evaporação da umidade. Como não

foi feito um tratamento prévio para remoção de tintas e vernizes, estes foram

queimados durante a etapa de secagem gerando grande quantidade de fumaça. O

fluxo salino funcionou como a primeira massa líquida, ou seja, o "pé de banho”. A

mistura equimolar de NaCl+KCl tem a propriedade de dissolver o óxido de alumínio

que recobre a superfície das latas. Então o fluxo transforma esta camada em íons

dissolvidos no fluxo. Com a dissolução da alumina que recobre a superfície das

latas, então o alumínio metálico fundido é liberado e se une em gotas que também

se mistura ao sal. Com a formação de um número cada vez maior de gotas de

alumínio, ocorre a coalescência das mesmas e estas vão para o fundo do cadinho

promovendo incremento no rendimento do metal. Nas indústrias utiliza-se além da

mistura equimolar NaCl-KCl outros compostos químicos halogênicos, que favorecem

a aglomeração de impurezas não metálicas e absorção de óxidos, visando uma

melhor recuperação do metal. Neste trabalho fez-se uso apenas da mistura NaCl-

KCl já que o objetivo não era maximizar o rendimento. Porém, para melhorar o

processo adições de fluxo eram feitas à medida que era adicionado as latas de

alumínio chegando a uma proporção aproximada de 10% em peso de uso de fluxo

salino. Outro aspecto importante que ajuda na recuperação do alumínio metálico é a

agitação do banho. Nos fornos de indução o alumínio pode ser agitado através do

76

aumento da potência do forno já que o campo magnético gerado movimenta a

massa metálica líquida. Deve-se tomar cuidado para que a temperatura não suba

excessivamente, acima de 7500C. Caso isto ocorra, haverá maior formação de

óxidos diminuindo o rendimento do processo. Outra desvantagem da temperatura

elevada é o favorecimento da incorporação de hidrogênio no banho o que pode

acarretar em um desempenho mecânico ruim em peças conformadas. Neste

trabalho tomou-se o cuidado para que a temperatura não ultrapassasse 700ºC. No

entanto, o aumento da temperatura diminui a viscosidade do alumínio e possibilita

melhor separação metal escória. Alguns estudos sugerem que existe uma

temperatura onde se tem bom rendimento sem acelerar demasiadamente o

processo de oxidação (MAJIDI et al, 2007; VERRAN et al, 2007).

Após a total fusão das latas, a massa de metal líquida e o fluxo foram misturados por

um período aproximado de 5min. Para retirar a drosse formada foi utilizada uma

escumadeira de aço inox. Depois a liga foi vazada em uma lingoteira ou na forma de

tarugos “gotão” com aproximadamente 350cm3 de volume. A figura 24 apresenta a

lingoteira utilizada e o aspecto macroscópico de uma placa bruta de fusão.

Figura 24 - Lingoteira utilizada para vazar o alumínio metálico (a) e típica placa bruta

de fusão de alumínio reciclado de latas.

Fonte: Reis, 2013.

77

A figura 25 mostra típicas microestruturas da liga das latas bruta de fusão obtidas da

reciclagem, podemos observar que existe a presença de diversos tipos de

precipitados que a princípio não podem ser devidamente identificados sem utilizar

uma técnica mais acurada. Contudo, é certa a presença de Mg2Si, Al2Cu, além de

outros tipos a base de Fe, Mn e Si, ou seja, os elementos presentes na liga

conforme mostra a tabela 4. A ilustração 33b mostra um típico precipitado com

morfologia “escrita chinesa” que pode ser do tipo Mg2Si ou ainda outro contendo Fe

ou Mn semelhante ao observado por Ammar et al (2008). Para esclarecer estas

dúvidas análises por Energia Dispersiva de Raios–X (EDS) no Microscópio

Eletrônico de Varredura (MEV) poderia nos fornecer informações mais precisas.

Figura 25 - Típicas microestruturas brutas de fusão para liga de lata de alumínio

reciclada em (a) presença de precipitados com morfologia variada e no detalhe (b)

escrita chinesa.

Fonte: Reis, 2013.

Foram feitas analises química da liga obtida em um espectrômetro de emissão ótica

da marca Oxford Instruments Modelo Foundry Master PRO localizado no laboratório

de análise instrumental do IFES. A tabela 4 apresenta a composição química obtida.

Como é oriunda de uma mistura das ligas 3004 e 5182 respectivamente 75 e 25%

em peso então, esperava-se que a composição final fosse algo intermediário das

duas ligas e de fato este aspecto foi confirmado conforme mostra a tabela 4. O

balanço de massa das duas ligas mostra que a composição química da liga reciclada

78

é próxima ao previsto. Existem distorções com relação ao Zn apenas onde se

esperava teores da ordem de 0,25%. No caso do Mg o teor obtido ficou um pouco

abaixo do esperado mas, isto pode estar associado a perdas durante a etapa de

fusão já que o Mg possui maior afinidade ao oxigênio do que o alumínio. Por causa

deste efeito a perda de Mg nos processos de reciclagem de alumínio é comum. As

divergências encontradas na liga reciclada, ainda, podem ser justificadas pela

variabilidade das ligas comerciais e pelo fato de que as latas de alumínio para a

reciclagem geralmente encontram-se misturadas com o restante do lixo podendo

estar contaminadas com matéria orgânica, excesso de umidade, plástico, vidro, areia

e outros metais. Mas no caso desta fusão as razões de contaminação acima pouco

influenciaram porque o material foi selecionado manualmente de forma rigorosa.

Tabela 4 - Composição química da sucata estimada e da liga após a fusão (% em

peso)

LIGA Si Fe Cu Mn Mg Cr Zn Ti

3004- corpo 0,30 0,70 0,25 1,25 1,1 - 0,25 - 5182-tampa 0,20 0,35 0,15 0,35 4,5 0,10 0,25 0,10 Mistura 0,28 0,61 0,23 1,03 1,9 0,03 0,25 0,03

Analisada 0,20 0,56 0,12 0,77 1,7 0,017 0,033 0,027 Fonte: Reis, 2013.

4.3 ELABORAÇÃO DA LIGA Al-3,8%Si

A liga de alumínio oriunda do processo de reciclagem de latas não é adequada ao

processo de conformação no ESS porque seu intervalo de semissólido é muito curto

conforme mostra o gráfico 10. A análise térmica diferencial mostrou que o intervalo

de coexistência de líquido e sólido foi de apenas 32 0C. Isto não descarta totalmente

o uso desta liga para processos de conformação no ESS, porém, haverá limitações,

pois, o controle da fração sólida será mais difícil. Na figura 26 é apresentado o

Módulo de Análise Térmica Diferencial (DTA) da marca Shimadzu DTA50 utilizado

para determinar as temperaturas exatas de início e fim de fusão da liga. O

equipamento esta localizado no Departamento de Caracterização Instrumental do

Departamento de Engenharia Metalúrgica do IFES. A taxa de aquecimento utilizada

foi de 10ºC/min e o resfriamento foi feito no forno, desligado, de forma natural. O

cadinho utilizado foi de alumina com pureza de 99,99%.

79

Gráfico 10 - Análise por DTA para liga bruta de fusão de latas.

Fonte: Reis, 2013.

Figura 26 - Módulo de análise térmica diferencial (DTA).

Fonte: Reis, 2013.

Então para aumentar o intervalo de temperatura no ESS fez-se adição de Si metálico

comercialmente puro na liga reciclada. Para escolher a composição de 3,8% de Si

baseou-se no trabalho de Oliveira et al (2009). Oliveira et al (2009), partindo de uma

liga oriunda de sucatas de latas de alumínio elaborou novas ligas contendo teores

80

de Si variando de 0,2 a 7% em peso. Usando um DTA as amostras foram aquecidas

e resfriadas seguindo um ciclo semelhante ao apresentado pelo gráfico 11 e com

isto foi possível construir parte do diagrama de fase em função da variação do Si. A

variação dos demais elementos devido a adição do Si foi desprezada. Os dados

permitiram determinar as temperaturas de início e fim de fusão das ligas e o

resultado obtido foi o diagrama de fases apresentado pelo gráfico 11. Existe uma

faixa de composição e temperatura relativamente ampla para se trabalhar com uma

nova liga no ESS a partir da reciclagem de latas com a adição de Si. A partir do

gráfico 11 escolheu a composição com 3,8% de Si que apresenta um intervalo de

solidificação conforme o diagrama de Oliveira de aproximadamente 550C.

Gráfico 11 - Diagrama de fase obtido para as novas ligas Al-Si a partir de sucatas de

latas de alumínio

Fonte: Oliveira; et al, 2009 (adaptado por Reis, 2013).

A partir do alumínio obtido na primeira fusão fez-se a refusão novamente da liga no

forno de indução até uma temperatura aproximada de 690ºC. Um balanço de massa

foi feito e levou-se em consideração nos cálculos o silício inicial presente nas latas.

Para calcular a quantidade de liga matriz e Si a serem misturadas as seguintes

equações foram usadas:

81

MtBA Equação 21

100

cM

100

bBA Equação 22

onde B é a massa da liga matriz a ser adicionada, A é a massa de Si, M é a massa

total do lingote a ser fabricado e “b” e “c” correspondem a concentração de Si

contido na liga matriz e lingote respectivamente.

No caso do silício metálico aconteceu um problema relacionado com o fato do

mesmo estar sob uma granulometria muito fina. As partículas que eram

adicionadas no banho flutuavam sem dissolverem-se totalmente no alumínio.

Mas o problema foi resolvido com a elaboração de um aglomerado de partículas

de Si com alumínio. O processo consistiu em recobrir os fragmentos de Si com o

alumínio líquido dentro de um cadinho de grafite ou uma pequena coquilha. O

aglomerado Si com o alumínio reciclado era então adicionado ao banho para

atingir a composição desejada. A incorporação da anteliga criada era realizada

com a imersão da mesma no seio do metal líquido com a ajuda de uma

campânula perfurada (Figura 27 b).

Após a adição do Si, o banho foi agitado usando o próprio campo magnético do

forno e posteriormente com a diminuição da potência foi mantido sob temperatura

controlada mantendo-se a composição química homogênea. Para remover o

hidrogênio dissolvido foi feito a desgaseificação da liga por meio do borbulhamento

de gás ativo com adição de pastilhas de hexacloretano, na temperatura de 680 ºC. A

mesma campânula perfurada utilizada para a adição do Si foi aqui também utilizada.

O processo de desgaseificação durou aproximadamente 5 minutos. Este

procedimento além de eliminar o hidrogênio dissolvido favorece a limpeza do metal

líquido eliminando inclusões como, por exemplo, TiB2, Al2O3, MgO e Al4C3. A figura

27 (a) mostra o esquema de desgaseificação empregado e a figura 27 (b) apresenta

o detalhe da campânula fabricada de grafite puro no próprio IFES no Departamento

de Engenharia Metalúrgica.

82

Figura 27 - Processo de desgaseificação manual de ligas de alumínio (a) ilustração

esquemática do borbulhamento usando pastilhas de hexacloretano e (b) detalhe

mostranto a campânula de grafite utilizada para reter as pastilhas de hexacloretano

e gerar bolhas.

Fonte: Reis, 2013.

Após a etapa de desgaseificação e limpeza do banho, procedeu-se a remoção da

drosse formada com o auxílio de uma escumadeira de aço inox. Toda a superfície foi

limpa eliminando-se a possibilidade de retorno de impurezas para liga metálica. Em

seguida adicionou-se 0,5% de agente nucleante Al5%Ti1%B e 0,2% de Al10%Sr

com o objetivo de refinar o grão e favorecer a modificação do silício

respectivamente. Então a liga foi vazada na lingoteira apresentada na figura 24(a) e

foram produzidas 4 placas. Duas placas possuíam dimensões aproximadas de

16,5x10x5,0cm. As outras duas possuíam uma espessura de apenas 2,0cm. O

primeiro grupo ficou reservado para realizar tixoconformação de peças e estudar as

propriedades mecânicas. Já o segundo grupo foi utilizado para realizar estudos de

condicionamento da liga.

Uma nova análise química foi realizada para verificar as concentrações dos

elementos de liga. A tabela 5 mostra as porcentagens dos principais elementos

identificados. O equipamento utilizado para análise novamente foi o mesmo

espectrômetro de emissão ótica já descrito.

83

Tabela 5 - Composição química da nova liga Al3,8Si (%em peso)

Elemento (%) Al Si Fe Cu Mn Mg Cr Zn Ti

Nova liga AlSi 93,1 3,8 0,47 0,17 0,75 1,38 0,015 0,04 0,02

Fonte: Reis, 2013.

Como era esperado o Si e o Mg são em maior concentração nesta nova liga e o Fe é

a impureza mais preocupante. Em relação aos outros elementos observam-se

valores menos significativos que representam impurezas aceitáveis haja vista que o

material é reciclado. Todas as placas foram homogeneizadas em um forno de

resistência modelo INTI FL-1300 a uma temperatura de 530 ºC durante 24 h (figura

28).

Figura 28 - Forno de resistência elétrica utilizado para homogeneizar as placas

obtidas.

Fonte: Reis, 2013.

4.4 CONDICIONAMENTO DA LIGA

Já foi dito neste trabalho várias vezes que as ligas metálicas destinadas aos

processos de conformação no ESS precisam ser previamente preparadas ou

condicionadas para viabilizar a típica microestrutura globular. No condicionamento

microestrutural pelo método de preparação no estado sólido a deformação é a etapa

principal. A partir das placas de 2cm de espessura decidiu-se estudar diferentes

procedimentos termomecânicos para alcançar a melhor microestrutura para

conformação no ESS. O que se deseja são partículas pequenas e o mais globular

84

possível. Estas características certamente irão conferir melhores propriedades

mecânicas além de condições reológicas mais favoráveis.

Figura 29 - Fluxograma para determinar a melhor rota de condicionamento por

termomecânico para conformação no ESS.

Fonte: Reis, 2013.

Para fazer o estudo das melhores condições de condicionamento primeiro buscou-se

definir qual deveria ser o tempo mínimo de solubilização para a liga conformada. A

figura 29 mostra os tratamentos termomecânicos efetuados em dois grupos de

amostras obtidos a partir de uma das placas da etapa anterior. No primeiro o que se

desejava era investigar o tempo mínimo para solubilizar a nova liga e preparou-se 7

amostras com dimensões aproximadas de 1x2x1cm. As amostras foram então

85

solubilizadas a 5300C para os tempos de 1, 2, 4, 8, 12, 24 e 46h e resfriadas em

água. Após 24h tirou-se a dureza de todas as amostras.

O gráfico 12 apresenta resultados semelhantes aos obtidos por Dambauer et al

(2012). O resultado permitiu estabelecer que o tempo otimizado para solubilização

da nova liga é de aproximadamente 4 horas. Portanto, partindo-se das placas

homogeneizadas este seria o tempo de solubilização a partir do qual o tratamento

não é mais capaz de colocar átomos em solução. No trabalho de Dambauer et al

(2012), eles optaram por envelhecer as ligas artificialmente. Talvez, esta não seja a

melhor opção, porque nesta situação, o endurecimento não é causado somente por

átomos em solução, mas também devido a precipitação, que por sua vez, em alguns

casos poderá ser coerente ou incoerente e mudanças no perfil de dureza podem não

ser muito bem entendidos. Principalmente se a liga contiver muitos elementos como

é o caso deste trabalho. A vantagem de acompanhar a dureza sem fazer o

envelhecimento artificial é que o aumento da dureza se dará somente por átomos

em solução ou também por precipitação do tipo coerente de Al2Cu já que os demais

precipitados não possuem tendência de se formarem na temperatura ambiente.

Ressalva-se que como neste trabalho todas as durezas foram tiradas 24 horas após

o tratamento de solubilização então acredita-se que a parcela devido a precipitação

por Al2Cu não seja significativa. A parcela de precipitação que provavelmente

ocorreu para todas amostras certamente não atingiu estágios de

superenvelhecimento.

Outro aspecto interessante que também pode ser observado no gráfico 12 é que a

adição de 3,8% de Si na liga oriunda do processo de reciclagem de latas mais a

homogeneização a 5300C por 24h conduziu a um aumento na dureza de 53 HB para

88 HB. Este aumento da dureza pode ser explicado pelo aumento da quantidade de

Si e este provavelmente combinou com o Mg formando novos precipitados do tipo

Mg2Si. A posterior solubilização, provavelmente colocou boa parte destes

precipitados em solução, além disso, o tratamento de homogeneização provoca

mudanças na morfologia do silício do eutético tornando-o esférico (GARAT e

SCALLIET, 1978; ZHU et al, 1985; CLOSSET et al, 1986; SHIVKUMAR et al, 1990).

Os eventos somados resultou na maior dureza em relação a lata bruta de fusão.

86

Gráfico 12 - Evolução da dureza com da nova liga Al3,8%SI com o tempo de

solubilização.

Fonte: Reis, 2013.

Tendo sido definido o tempo mínimo de solubilização, então se tomou o segundo

grupo de amostras que por sua vez foram solubilizadas por 6 horas. Três

resfriamentos diferentes foram feitos: i) de forma rápida em água (ii) no ar e (iii) no

forno. Para cada tipo de resfriamento foi feito dois tipos de deformação: a

temperatura ambiente e sob a temperatura de 3500C. Todas as amostras foram

deformadas até que surgisse a primeira trinca em um laminador “Duo” não reversível

da marca Machine. A figura 30 apresenta o equipamento utilizado. A grande

vantagem deste método de condicionamento é a capacidade de produzir liga no

ESS com uma estrutura composta por glóbulos bem definidos, com pequenas

dimensões e sem a presença de líquido retido em seu interior. Este procedimento

permitiu testar seis rotas diferentes de condicionamento.

87

Figura 30 - Laminador duo não-reversível do laboratório de metalurgia do IFES.

Fonte: Reis, 2013.

4.5 TEMPERATURA DE TRABALHO

A fração sólida de uma liga é um dos fatores determinantes na escolha do método

de conformação de materiais no ESS. A temperatura de trabalho determina a

relação entre as quantidades de sólido e líquido presentes. Uma combinação errada

entre processo de conformação e fração sólida pode acarretar problemas no material

e comprometer as propriedades mecânicas do produto acabado. Também outros

parâmetros de processamentos são diretamente afetados com a temperatura de

trabalho, sendo que a escoabilidade do material na matriz e a formação mais rápida

da fase primária globularizada são as principais influências. Então normalmente para

ligas no ESS com fração sólida fs acima de 0,5 é indicado o processo de

tixoforjamento. Para fs, abaixo de 0,5 é comum indicar-se a injeção.

Para o presente trabalho, optou-se pelo tixoforjamento devido à maior facilidade de

manipulação da liga no ESS. A temperatura escolhida foi então definida em função

da fração sólida desejada 0,6; 0,7 ou 0,8. Os cálculos da fração sólida e líquida

podem ser feitos a partir da equação de Scheil ou usando-se a tradicional regra das

alavancas. Diferenças significativas podem aparecer principalmente para

temperaturas correspondentes a maiores frações sólidas. Para determinar as

temperaturas exatas de início e fim de fusão da liga foi usado novamente o Módulo

88

de Análise Térmica Diferencial (DTA) da marca Shimadzu DTA50. O gráfico 13

apresenta as temperaturas de início e fim de fusão.

Gráfico 13 - Curva de análise térmica obtida para a liga Al-3,8%Si.

Fonte: Reis, 2013.

Os dados obtidos mostram que as temperaturas de início e fim de fusão foram de

respectivamente 574,3ºC e 632,7ºC. Portanto o intervalo de ESS subiu de 320C para

aproximadamente 59ºC. Este resultado mostra uma melhor viabilidade para

trabalhar conformando-se peças no ESS.

Para estimar as frações sólida para os experimentos de tixoforjamento em função

das temperaturas foram feitos os cálculos usando as equações da regra da alavanca

e de Scheil (equações 7 e 8), o gráfico 14 apresenta os resultados.

89

Gráfico 14 - Fração sólida obtida com a regra da alavanca e a equação Scheill para

liga de Al 3,8% em peso de Si.

Fonte: Reis, 2013.

4.6 TRATAMENTOS TÉRMICOS

O objetivo desta etapa do trabalho foi buscar desenvolver tratamentos térmicos de

solubilização seguidos de envelhecimento artificial (T6) para maximizar as

propriedades mecânicas da nova liga desenvolvida para o processo de

tixoforjamento, aspecto muitas vezes limitado para as ligas injetadas ou fundidas.

Conforme já foi explicado, existe um par de tempo-temperatura otimizados para

atingir-se uma máxima resistência mecânica onde se obtém precipitados finamente

dispersos na matriz, o qual superado ou subestimado a liga perde parte do efeito de

endurecimento ou mesmo não o alcança.

Para fazer este estudo tomou-se uma das placas fundidas contendo 3,8% de Si e

foram feitos quatro grupos de amostras com dimensões aproximadas de 2x1x1cm

para o levantamento das curvas de solubilização/envelhecimento. Cada grupo

continha de 6 a 10 amostras que foram solubilizadas por 6h a 5300C. Posteriormente

90

esta amostras foram envelhecidas artificialmente sob temperaturas de 160, 185, 220,

275 0C. Também foi retirada uma amostra para analisar o envelhecimento natural. A

figura 31 apresenta esquematicamente o aparato experimental utilizado para fazer

os tratamentos térmicos, o controle da temperatura foi feito por meio de um termopar

Chromel-Alumel tipo “K”. As amostras foram inseridas em grupos por temperatura

dentro do cadinho de alumina que por sua vez foi inserido dentro do forno e retiradas

de acordo com a cronologia de tempo programado variando de 30min a 12h. Para

acompanhar a evolução do grau de precipitação nas amostras, mediu-se a dureza

Brinell dos conjuntos de amostras. Foram feitos pelo menos 3 impressões

suficientemente espaçadas em cada amostra visando uma melhor confiabilidade dos

resultados. A partir dos perfis de dureza levantados foi possível acompanhar a

evolução dos tratamentos térmicos aplicados, bem como comparar os valores

encontrados com os valores iniciais para as durezas das amostras antes dos

tratamentos. Este procedimento permitiu estabelecer o tratamento térmico mais

adequado para maximizar o limite de resistência da nova liga tixoforjada e o melhor

resultado foi o tratamento aplicado para as peças produzidas conforme será descrito

no próximo item 4.7 Tixoforjamento.

Figura 31 - Croqui esquemático do aparato para solubilização e envelhecimento.

Fonte: Reis, 2013.

4.7 TIXOFORJAMENTO

Tendo-se definido com precisão as temperaturas para atingir-se as frações sólidas

desejadas partiu-se então para a etapa de tixoforjamento. A figura 32 apresenta o

desenho esquemático mostrando a matriz utilizada, suas principais dimensões bem

como o modo de processamento. Sua construção foi em aço ferramenta AISI H13

91

para evitar a degradação da mesma. Pois esse material pode suportar as

temperaturas de preaquecimento e de operação durante o processamento da liga.

Basicamente dois estágios ocorreram para a etapa de tixoforjamento: i) o

aquecimento da matéria-prima até a temperatura da fração sólida pretendida no ESS

e; ii) a prensagem da pasta no ESS na matriz de tixoforjamento para obter as

peças.

Figura 32 - Croqui da matriz utilizada para o tixoforjamento: a) conjunto montado (b)

partes da matriz; base e laterais e c) punção.

Fonte: Reis, 2013.

Outras etapas preliminares ao processamento da liga foram:

92

Seccionamento das placas com 5cm de espessura obtidas na elaboração da

liga com base nas dimensões da matriz de tixoforjamento;

Condicionamento microestrutural das amostras utilizando a melhor rota

encontrada neste estudo, ou seja, a solubilização por 6 horas com posterior

resfriamento em água e laminação à quente, porém com deformação máxima

de 15% para evitar formação de trincas na matéria prima que poderiam

favorecer a formação de óxidos quando no ESS;

Perfuração de um pequeno orifício na borda das amostras para fixação de

termopar Chromel-Alumel tipo "K" com a finalidade de controlar a temperatura

e alcançar os tempos exatos de manutenção no ESS;

Programação do forno e preparação dos materiais de transferência da pasta

reofundida para matriz;

Limpeza, preparação e montagem da matriz de tixoforjamento;

A matriz de tixoforjamento foi fixada na base da mesa de uma prensa convencional

por meio de travessões de aço entre a base da própria matriz e a estrutura do

equipamento, o punção da prensa foi substituido pelo punção da matriz mas foi

necessário aumentar a área de contado do pino de travamento para conseguir o

alinhamento do conjunto. Embora a matriz tenha sido idealizada com forma

geometrica simples para garantir o correto preenchimento do molde para produzir

uma peça com tamanho suficiente para confeccionar 3 corpos de prova de tração,

houve nos tixoforjamentos a formação de gota fria na superfície da peça que é

provocado por um fluxo de material descontínuo gerando duas superficies que se

dobram uma contra outra, provavelmente provocado pela perda excessiva de calor

da pasta no ESS com a matriz fria ou ainda quando o material atravessa cantos

vivos que foi pouco provável neste caso. Para solucionar este problema foi feito um

preaquecimento da matriz com um queimador externo. A pressão exercida para o

tixoforjamento foi de 15 t. A temperatura de processamento foi controlada utilizando-

se um multímetro comum.

As três temperaturas escolhidas para o tixoforjamento foram respectivamente fs=0,6

(610ºC); fs=0,7 (595ºC) e fs=0,8 (580 ºC). Os testes iniciais deixaram evidente que a

liga no ESS com fração líquida maior exige menores pressões para promover total

93

preenchimento. Tentou-se fazer a tixoconformação no ESS para fs=0,6 (610ºC)

utilizando-se um tempo de manutenção no ESS de 50min. A pasta no ESS atingiu

um grau de fluidez que provocou perda de parte do material durante a etapa de

transferência para matriz. A liga no ESS deformou com seu próprio peso. Assim

decidiu-se produzir 6 peças variando-se o tempo de espera em 10 e 30 minutos

apenas.

A etapa de tixoforjamento foi realizada da seguinte forma: com a amostra já

devidamente condicionada esta era colocada dentro do forno para ser mantida no

ESS na temperatura e no tempo de espera desejado. A operação de tixoforjamento

foi executada por duas pessoas. A primeira ficava responsável pelo controle do forno

e transferência da pasta no ESS e a outra pela prensagem. Conforme já explicado,

antes de cada operação de tixoforjamento a matriz foi aquecida com um maçarico

para diminuir possíveis segregações ou evitar a formação de gota fria. A matriz foi

também levemente coberta com grafite spray isento de óleo para auxiliar na

desmoldagem posterior. Durante as operações a força de 15 t foi adotada porque foi

o valor que obteve maior facilidade de conformação sem forçar demasiadamente os

parafusos da matriz. A figura 33 mostra as peças obtidas através do tixoforjamento e

a pré-montagem do aparato.

O acabamento superficial das peças obtidas variou com a fração sólida e o tempo de

permanência no ESS. Os melhores resultados obtidos foram para as condições onde

o processamento ocorreu com menor fração sólida ou seja fs=0,6 (610ºC). Então as

peças obtidas pelo tixoforjamento foram levadas novamente para o forno de

resistência elétrica para proceder o tratamento térmico de solubilização seguido de

envelhecimento artificial (T6), onde a temperatura e o tempo empregado foram o

mais eficiente encontrado na investigação do tratamento. Após as peças terem sido

tratadas as mesmas foram encaminhadas para o Departamento de Engenharia de

Materiais – DEMa, oficina mecânica da UFSCar, com a finalidade de produção dos

corpos de prova, seguindo os critérios da norma ABNT NBR 7549: 2008 Versão

Corrigida 2012 (Alumínio e suas ligas - Produtos laminados, extrudados e fundidos -

Ensaio de tração), porém foi separada a peça cujo o processamento de

tixoforjamento foi interrompido, servindo para produzir amostras que puderam ser

realizadas micrografias e ensaios de microdureza. A figura 34 apresenta o desenho

94

dos corpos de prova de tração que foram confeccionados a partir das peças

produzidas.

Figura 33 - Peças tixoforjadas (a) e (b) conjunto de matriz e punção montado na

prensa hidráulica do Laboratório de Metalurgia do IFES.

Fonte: Reis, 2013.

Figura 34 - Desenho do corpo de prova de tração.

Fonte: Reis, 2013.

95

5 RESULTADOS

Neste capítulo será abordado inicialmente os principais resultados obtidos para a

etapa de condicionamento, posteriormente serão apresentados o levantamento das

curvas de dureza para o tratamento térmico T6 e finalmente tem-se os resultados de

tração obtidos para nova liga Al3,8%Si desenvolvida.

5.1 CONDICIONAMENTO

Conforme explicado no item 4.4 no total seis rotas diferentes de condicionamento

foram testadas e os gráficos 15 e 16 apresentam os resultados. O objetivo geral

foi maximizar a quantidade de defeitos sob a forma de discordâncias as quais

iriam conduzir a formação de grãos pequenos e equiaxiais quando a liga fosse

aquecida até o ESS (Kirkwood,1994). Os resultados mostram que

independentemente do tipo de resfriamento, se a liga for laminada a quente esta

terá sempre maior tendência a suportar maiores deformações sendo que as

diferenças são mais significativas quando o processo de solubilização for seguido

por um resfriamento brusco. Além disso, conforme mostra o gráfico 15, se o

processo de deformação for a quente a deformação total será maior para

amostras que foram resfriadas em água e no processo de deformação a frio estas

diferenças são menos relevantes. A figura 35 apresenta o aspecto macroscópico

das amostras laminadas. A formação de trincas na superfície das amostras em

diferentes deformações provavelmente é devido à quantidade, forma e

distribuição de precipitados e defeitos na liga. Nestas condições quando levadas

ao ESS as regiões com maior acúmulo de defeitos agirão como sítios para

nuclearem novos grãos e resta saber qual destas rotas favorece a formação de

uma microestrutura mais refinada. Para tentar mapear a amostra que acumulou

maior quantidade de defeitos fez medidas de durezas antes e depois de serem

levadas ao ESS.

96

Gráfico 15 - Influência da temperatura de deformação sobre a máxima deformação

para etapa de condicionamento (deformação a quente T=350 ºC e frio à temperatura

ambiente)

Fonte: Reis, 2013.

Gráfico 16 - Influência do modo de resfriamento sobre a máxima deformação para

etapa de condicionamento.

Fonte: Reis, 2013.

97

Figura 35 - Conjunto de amostras laminadas.

Fonte: Reis, 2013.

O primeiro aspecto importante é a comparação do processo de laminação a quente

com o processo de laminação a frio. Pelo gráfico 17, percebe-se que a frio o

incremento na dureza é sempre maior. Além disso, resfriar em água sempre conduz

a maior dureza nos processos de laminação. Estes resultados sugerem que a rota

que acumulou o maior número de defeitos foi resfriar a liga em água e conduzir a

laminação a frio. O resfriamento em água mantém grande quantidade de átomos em

solução, logo não permite a formação de precipitados grosseiros que funcionam

como nucleadores de trincas provocando a fragilização da liga e isto talvez explique

o fato de atingir-se até 30% de deformação. Se o processo é feito sob aquecimento,

embora tenha-se maior mobilidade das discordâncias o que poderia levar a uma

maior deformação total, por outro lado, tem-se o favorecimento da precipitação que

funcionam como núcleos para a formação de trincas.

As amostras quando colocadas no ESS por 10min a 6100C e fs=0,6, também

apresentaram níveis de dureza diferentes conforme a rota de condicionamento

usada. Podemos observar no gráfico 18 que a maior dureza atingida foi para a liga

resfriada em água e laminada a quente. Este resultado provavelmente esta

associado à formação de uma microestrutura final mais refinada. Embora o processo

de laminação a frio seja o que favoreceu os maiores níveis de dureza após a

deformação, por sua vez com menor deformação o processo não viabilizou a melhor

microestrutura conforme será discutido no item 6.

98

Gráfico 17 - Influência do tipo de resfriamento na evolução da dureza das ligas

condicionadas por trabalho mecânico e também mantidas no ESS por 10min a

6100C fs=0,6.

Fonte: Reis, 2013.

Gráfico 18 - Influência do tipo de trabalho mecânico a quente – ESS-Q ou a frio –

ESS-F sobre a dureza final obtida após 10min de espera no ESS a 6100C – fs=0,6.

Fonte: Reis, 2013.

99

5.2 TRATAMENTO TÉRMICO – T6

O tratamento térmico de solubilização, realizado a 530°C por 6 horas fez a dureza

sofrer um incremento de aproximadamente 35% devido à solubilização de

precipitados na matriz. A figura 36 mostra a microestrutura da nova liga antes e após

o tratamento de solubilização. Mas mesmo com a dissolução dos precipitados após

6h de tratamento comparando-se a figura 36(a) com a figura 36(b) verifica-se a

existência de alguns precipitados insolúveis como os ricos em ferro, o que era

esperado conforme a composição química realizada. A tabela 6 apresenta

comparativamente as durezas atingidas para lata bruta de fusão, a liga Al3,8%Si

bruta de fusão e Al3,8%Si solubilizada.

Tabela 6 - Durezas do alumínio reciclado e da nova liga Al3,8%Si .

Liga Dureza (HB)

Lata bruta de fusão 53

Al3,8Si bruta de fusão 69

Al3,8Si solubilizada (T4) (6h) 93

Fonte: Reis, 2013.

Figura 36 - (a) microestrutura da liga Al3,8Si Bruta de fusão, (b) microestrutura da

liga Al3,8Si solubilizada a 5300C por 6h, evidenciando a dissolução de precipitados

diversos

Fonte: Reis, 2013.

100

O gráfico 19 mostra o resultado encontrado para o tratamento de envelhecimento

natural. O monitoramento foi feito por 25 dias. Obteve-se, para este tratamento, T4,

um pico de dureza máxima de 95 HB para um tempo de 15 dias aproximadamente.

Já para o tratamento de envelhecimento artificial, T6, observa-se pelo gráfico 20 que

o par tempo-temperatura que atingiu maior dureza foi correspondente ao

envelhecimento a 185°C por 3 horas onde chegou-se a um pico de dureza de 121

HB. Para a temperatura de 1600C também foi obtido um bom resultado, porém, com

o tempo prolongado de 8h. Estes valores são equivalentes aos encontrados para

uma liga Al7SiMg não-dendrítica por Birol (2009). A tabela 7 apresenta todos os

resultados obtidos. Birol (2009), confirmou ainda que, para a liga Al7SiMg o efeito na

capacidade de endurecimento está mais ligado ao teor de Mg do que nas diferenças

de morfologia da microestrutura. Este aspecto justifica o fato de nesse trabalho ter-

se feito o mapeamento da melhor condição para proceder o T6 sob uma

microestrutura dendrítica e não globular. Esta segunda opção tornaria esta pesquisa

um pouco mais difícil de ser realizada, já que seria necessário produzir corpos de

provas específicos com estrutura globular para o referido ensaio.

Gráfico 19 - Envelhecimento natural da liga Al-3,8%Si.

Fonte: Reis, 2013.

101

Tabela 7 - Durezas das amostras após os tratamentos térmicos de envelhecimento.

Envelhecimento artificial (T6) Envelhecimento natural

Tempo, (h) Dureza, (HB) Tempo, (dias) Dureza, (HB) 1600C 1850C 2200C 2750C

0 91 91 91 91 0,0 89,8 0,5 96 96 94 86 1,3 90,9 1 98 102 96 71 2,5 89 2 100 115 95 66 3,8 90,2 3 102 121 92 65 7,9 90,5 4 103,5 118 85 64,5 9,2 93,6 6 109 111 - - 10,0 94,9 8 118,5 - - - 13,8 93,1 10 118 - - - 14,4 94,3 12 117 - - - 15,8 95 - - - - - 17,1 94,3 - - - - - 21,7 95 - - - - - 25,0 94,8 - - - - - 0,0 89,8

Fonte: Reis, 2013.

Gráfico 20 - Evolução da dureza para envelhecimento artificial da liga Al-3,8%Si para

diferentes temperaturas de tratamento.

Fonte: Reis, 2013.

Indiretamente estes resultados comprovam a existência de uma distribuição crítica

de dispersão de precipitados que depende do sistema da liga combinado com o

tamanho das partículas a qual podem produzir partículas coerentes e deformáveis

102

com a matriz quando as partículas são pequenas ou incoerentes e indeformáveis

quando as partículas são grandes que possibilita as discordâncias contorná-las.

Sabe-se que dentro da classe geral desta liga, por conter Mg e Si, então a formação

do composto intermetálico β’’ ou seja, fase metaestável de Mg5Si6 é o principal

responsável pelo endurecimento seguido por outras fases secundárias β’ Mg1,7Si

(BIROL, 2009). Além disso, espera-se também que tenha a existência de

intermetálicos frágeis como as agulhas de Al5FeSi-β e outros menos prejudiciais às

propriedades mecânicas como por exemplo o Al15(FeMn)3Si2-α. Portanto quando

empregado os parâmetros corretos de tratamentos térmicos de solubilização e

envelhecimento a liga fornece incrementos satisfatórios de dureza. No caso do

tratamento térmico realizado a 275 °C logo nos primeiros 30 minutos foi observado o

fenômeno de superenvelhecimento, evidenciado pela queda dos valores de dureza.

Isso decorre do fato de que a alta temperatura favorece a formação de precipitados

com interface incoerente.

Considerando as condições estudadas, a temperatura mais adequada para o

tratamento térmico de envelhecimento artificial da nova liga é 1850C por 3h. Esta

condição provavelmente correspondente a formação das principais reações de

precipitação das ligas Al-Si-Mg, β’’ e β’, e Si (KLIAUGA et al, 2007). O gráfico 21

apresenta a variação de energia em função do aquecimento de uma amostra

solubilizada e na temperatura de aproximadamente 2250C tem-se um pico

mostrando a formação de precipitados. Este resultado foi obtido em um equipamento

da marca NETZSCH - DSC 404 F3 Pegasus® com atmosfera de argônio a uma taxa

de aquecimento fixa em 100C/min até uma temperatura de 500ºC. Como a presente

liga é reciclada e existe a presença de diversos elementos, então existe a

possibilidade de aparecer vestígios de outros picos no aquecimento representando

uma superposição de formação de agregação de átomos de solutos e Si (WANG,

2001). Como as transformações de fase são fenômenos termicamente ativados

então a temperatura altera a cinética dos processos envolvidos. Normalmente a

temperatura de tratamento para produzir a maior dureza em uma liga de alumínio

deve ser menor do que as sugeridas pelo DSC. Neste trabalho aproximadamente

220 °C. A evolução da dureza com os parâmetros de tratamento de envelhecimento

artificial da liga Al-3,8%Si reciclada é semelhante a liga estudada por Birol (2009), e

os valores encontrados quando comparado com outros autores confirmam o pico de

103

dureza em tempos mais curtos do que aqueles comumente usados no tratamento T6

comerciais (ABIS et al, 1996; GUPTA et al, 2001; RIONTINO et al, 2008;

WISUTMETHANGOON et al, 2012).

Gráfico 21 - Análise térmica por calorimetria diferencial - DSC da liga Al3,8%Si

reciclada solubilizada a 5300C por 24h mostrando a presença de uma transformação

exotérmica na temperatura aproximada de 2200C quando aquecida novamente.

Fonte: Reis, 2013.

Um aspecto interessante no processo de solubilização/precipitação da nova liga está

relacionado como a concentração de Mg. Wang e Davidson (2001) mostram que

quando a concentração de Mg é superior a 0,5% em ligas Al7SiMg o processo de

solubilização não é capaz de dissolver todo o Mg. Nesta situação então o Mg

remanescente fica disponível e a tendência é que o mesmo forme a fase -

AlFeMgSi. A ilustração 57 mostra a concentração de Mg presente nas dendritas de

uma liga Al7SiMg com concentrações de Mg das ligas variando de 0,3 a 0,7% na

condição bruta de fusão e solubilizada – T4 comprovando-se que 0,5% de Mg é o

limite de solubilização para a referida liga (WANG e DAVDISON, 2001). A ilustração

58 compara micro regiões observadas por microscopia ótica da liga deste trabalho

com as obtidas por Wang e Davidson (2001). Embora neste trabalho, não tenha sido

feito a devida micro-análise utilizando a técnica por MEV, a composição da liga, em

104

conjunto com as micrografias obtidas sugerem que existe uma fração significativa da

fase , e também o Si metálico.

Gráfico 22 - Concentração de Mg nas dendritas em função da concentração de Mg

da liga na condição bruta de fusão e solubilizada – T4.

Fonte: Wang e Davidson, 2001.

105

Figura 37 - Detalhe mostrando típicos precipitados observados na nova liga

Al3,8%Si. (a) Liga bruta de fusão. (b) liga solubilizada a 5300C por 24h. Retirado do

trabalho e Wang e Davidson (c) e (d) detalhe mostrando a presença das fases -

AlFeMgSi, -AlFeSi e Si.

Fonte: Wang e Davidson, 2001.

5.3 ENSAIOS DE TRAÇÃO

Os ensaios de tração foram realizados no equipamento de tração, marca EMIC -

modelo DL10.000 com capacidade de 100 kN. A tabela 8 apresenta os resultados

obtidos. Para o limite de escoamento (σe) e resistência à tração (σt) houve um desvio

médio de ± 15 MPa, mas para o alongamento a dispersão foi grande, e como seu valor

depende da concentração de defeitos localizados foram considerados apenas os

melhores resultados. Antes de serem confeccionados os corpos de prova de tração, as

peças obtidas através do processo de tixoconformação foram submetidas a ensaios de

dureza utilizando-se o microdurômetro HVS-1000, marca DHT. Os resultados foram

uniformemente distribuídos, ou seja, tanto nas medidas verticais como horizontais ao

106

longo da secção da peça tixoforjada o valor médio obtido foi de 105 HV no interior do

grão e 115 HV nos contornos. Portanto não foi identificado gradiente de dureza na peça

e isto é bom pois comprova a uniformidade da mesma. Para observar as cavidades de

fratura obtidas nos ensaios de tração, as amostras foram levadas a um microscópio

eletrônico de varredura da marca JEOL, JSM-6610LV a fim de identificar as fraturas. A

figura 38 apresenta uma série de fractografias obtidas e observa-se que a liga que possui

maior quantidade de “dimples” mostrando a presença de maior deformação plástica

corresponde a liga tixoconformada sob uma temperatura de 6100C com o tempo de

espera igual a 10min. Yi et al (2006), através da análise de elementos finitos indicou que

há um acumulo de deformação plástica ao redor da interface entre as partículas de silício

e a matriz de alumínio dentro da microcélulas que interceptam a superfície do espécime.

Microtrincas são, possivelmente, iniciadas pela descoesão ou descolamento das

partículas de silício. Esta descoesão acelera a deformação plástica local dentro da

microcélula e leva a formação de uma pequena trinca dominante formada pela união

destas microtrincas. Na sequência esta trinca propaga-se através da matriz pelo

mecanismo de linhas de deslizamento (YI; et al, 2006). Comparando as figura 38e e 38f

com as figura 38g e 38h percebe-se que a liga tixoconformada sob um nível de

temperatura mais elevado apresentou maior tamanho de grão e isto justifica a menor

resistência mecânica. Porém, o aumento da temperatura favorece a dissolução de

precipitados os quais são mantidos dissolvidos no processo de conformação e isto resulta

em maior alongamento conforme mostra a tabela 8. Estas afirmações são hipótese, e

portanto, investigações específicas são necessárias para estabelecer com clareza como

se correlacionam as propriedades mecânicas com a evolução microestrutural resultantes

do processamento no ESS e também devido aos tratamentos térmicos subsequentes.

Tabela 8 - Limite de escoamento (σe) em MPa, limite de resistência a tração (σt) em

MPa, e % alongamento (ε) para liga Al3,8%Si tixoforjada em diferentes condições de

processamento.

fs=0,6 - 610ºC fs=0,7 - 595ºC fs=0,8 - 580ºC

Lata

(O)

Lingote

(T6)

10 min

(T6)

30 min

(T6)

10 min

(T6)

30 min

(T6)

10 min

(T6)

30 min

(T6)

σe 111,4 157,9 248,3 236,1 233,7 222,6 208,8 183,7

σt 150,5 213,3 334,7 319,8 300,0 286,0 280,8 262,1

%ε 6,0% 9,8% 14,4% 5,0% 3,7% 3,7% 4,3% 4,4% Fonte: Reis, 2013.

107

Figura 38 - Fractografias da superfície faturada dos corpos de prova de tração (a) e

(b) lata reciclada bruta de fusão; (c) e (d) Al3,8%Si bruta de fusão; (e) e (f)

tixoforjada com fs=0,6; (g) e (h) tixoforjada com fs=0,8. A Esquerda aumento de 100

vezes. A direita aumento de 1000X.

Fonte: Reis, 2013.

108

6 DISCUSSÃO

Conforme pode ser visto ao longo deste projeto, verifica-se que o controle da

microestrutura é de fundamental importância para viabilizar o processo de

conformação no ESS e esta deverá ser tal que: primeiro melhore as condições de

fluxo durante o processo de conformação e que posteriormente garanta boas

propriedades mecânicas, resistência e ductilidade. Parte das condições

consideradas acima depende da obtenção de uma estrutura com partículas

primárias globulares e de tamanho reduzido. A medida que se aumenta o grau de

deformação no condicionamento obtém-se um refinamento da microestrutura dos

grãos globularizados. A figura 39 ilustra o fenômeno descrito para esta liga obtido

sob diferentes deformações logo, condições diferentes de rotas de condicionamento.

O condicionamento no qual a liga foi deformada a quente em 30%, obtida a partir de

amostras solubilizadas a 5300C por 6h e resfriada em água, conforme mostra a

figura 39(a) foi a que apresentou a microestrutura mais refinada e por isto esta foi a

rota escolhida para condicionar a liga a ser processada no ESS. A figura 39(b)

apresenta a mesma liga deformada a frio em apenas 20%. Embora globularizada o

tamanho de partícula é consideravelmente maior o que certamente resultaria em

propriedades mecânicas mais modestas.

109

Figura 39 - Microestruturas da liga Al3,8%Si, solubilizadas a 5300C por 6h mantidas

no ESS a T=610°C, fs=0,6, 20min (a) resfriada na água e laminada a quente,

deformada em 30% (b) resfriada em água, laminada a frio e deformada 20% (c)

resfriada no forno, laminada a quente e deformada 21% (d) resfriada no forno,

laminada frio e deformada 18%.

Fonte: Reis, 2013.

Baseando-se nos resultados apresentados no item 5.1 foi escolhido como rota de

condicionamento o resfriamento à água após a solubilização, seguido de

deformação a quente chegando até aproximadamente 15% visando garantir que o

material não trincasse. Esta escolha se baseou no fato de que 15% esta acima do

mínimo necessário para globularizar a microestrutura da liga. Com este

procedimento, evitou-se formação de trincas visíveis que poderia ser herdadas

durante o tixoforjamento e consequentemente levar a formação de óxidos na peça

final trazendo maus resultados. O que é importante frisar aqui, é que comparando-se

os processos de condicionamento, após a etapa de solubilização, é possível

conduzir o trabalho mecânico a frio ou quente. Quando é conduzido a quente chega-

se até 30% de deformação. Se o trabalho mecânico for conduzido a frio então o

110

máximo de deformação possível é cerca de 20%. Neste caso não importa como o

lingote é resfriado, rápido, médio ou lento. Sob laminação a frio, a microestrutura

final obtida são similares e grosseiras, basta comparar a figura 39(b) com a figura

39(d), ambas sofreram deformações da ordem de 20% e foram laminadas a frio, o

modo de resfriamento não interferiu no resultado final.

Porém, se tomar a decisão de conduzir o processo de laminação a quente, então

utilizar a liga resfriada em água é a melhor opção, pois irá acumular maior

quantidade de defeitos. Além disso, os resultados sugerem que durante o

processo de deformação existe a formação de precipitados que funcionariam

como núcleos que viabilizam o refino da microestrutura. No caso de amostras

que são resfriadas lentamente no forno ou ao ar acredita-se que o processo

forme precipitações grosseiras antes de se acumular defeitos na rede cristalina,

estes por sua vez, impedem a deformação até níveis mais elevados e tem-se a

formação de trincas superficiais precocemente. De qualquer forma, acredita-se

ainda que para obter deformações superiores sem ocorrer a formação de trincas

no lingote seria necessário melhorar as condições de laminação. Poderia ser, por

exemplo, por meio de cilindros de maior diâmetro que evitariam empenos no

material. O processo laminação pode também ser melhorado aumentando-se a

relação largura/espessura.

Tendo sido escolhida a rota de condicionamento para as peças a serem

tixoconformadas então os parâmetros que passam a controlar a microestrutura final

da liga é a temperatura e o tempo na qual a mesma é mantida no ESS além das

condições de conformação. No caso da temperatura, esta não determina somente a

relação entre as quantidades de sólido e líquido presentes, mas determina também

a dinâmica de transformação das fases presentes, pois o aumento da temperatura

acarreta no aumento da taxa de difusão fazendo com que a fase primária seja

globularizada mais rapidamente (ROBERT,1989). A figura 40 mostra uma discreta

melhoria no fator de forma das partículas quando processada no ESS a 6100C

comparando com o mesmo processo a 5800C. Além disso, temperatura elevadas

favorecem a formação de partículas finais de maior tamanho. Este comportamento já

foi amplamente observado por diversos autores. Seja por coalescimento ou por

dissolução dos glóbulos menores em favor dos maiores, ou seja, crescimento

111

competitivo por “Ostwald Ripening”, tanto o aumento da temperatura quanto o tempo

de espera, são parâmetros que favorecem o crescimento de partículas (FERRANTE

e FREITAS, 1999; TZIMAS e ZAVALIANGOS, 2000; LOUÉ e SUÉRY, 1995). A

figura 41 apresenta os típicos precipitados encontrados e já eram esperados

conforme já discutido anteriormente.

Figura 40 - Microestruturas da liga Al3,8Si laminada a 15% e tixoforjada: (a) com

fs=0,6, T=610°C e tempo de permanência no ESS de 10 min; (b) com fs=0,6,

T=610°C e tempo de permanência no ESS de 30 min; (c) com fs=0,8, T=580°C e

tempo de permanência no ESS de 10 min; (d) com fs=0,8, T=580°C e tempo de

permanência no ESS de 30min.

Fonte: Reis, 2013.

112

Figura 41 - Microestruturas da liga Al3,8Si laminada a 15% e tixoforjada após 30 min

de espera no ESS. Detalhes mostrando precipitados com diferentes morfologias (a)

fs=0,6 e (b) fs=0,8.

Fonte: Reis, 2013.

A figura 42 compara a liga Al3,8%Si mantida no ESS por 10min a T=6100C e fs=0,6

com a liga tixoconformada sob as mesmas condições e submetida ao tratamento

térmico T6. Podemos observar que o tratamento térmico de solubilização deixa as

partículas de Si mais grosseiras, porém com morfologia equiaxial. Conforme já

explicado, neste trabalho a liga foi solubilizada por um período de 6h a 5300C, porém

se for usado tempos mais curtos pode-se ter a vantagem de se formar partículas

menos grosseiras as quais podem repercutir em melhores propriedades mecânicas.

Figura 42 - Liga Al3,8%Si levada ao ESS até 6100C, fs=0,6 e tempo de permanência

de 10 min; em (a) liga apenas mantida no ESS e resfriada em água e (b) liga

tixoforjada após o tratamento T6.

Fonte: Reis, 2013.

113

Os gráficos 23, 24 e 25 sumarizam os resultados já apresentados na tabela 7. O

primeiro aspecto é com relação ao tempo de espera no ESS. Podemos observar

que a pasta semi sólida sofre influência direta nos limites de escoamento e de

resistência quando aumenta-se o tempo de espera no ESS. A figura 42 e o

gráfico 23 mostram que o maior tempo de espera repercute em menor resistência

mecânica. O principal aspecto que justifica este comportamento é o fato do maior

tempo de espera favorecer o aumento do tamanho de partículas. Com relação a

fração sólida fs podemos observar que os limites de resistência diminui com o

aumento da mesma. Ou seja, maior temperatura de processamento favorece

maior resistência mecânica. Portanto, existem duas forças que trabalham em

sentido inverso. O aumento da temperatura favorece o aumento do tamanho de

partículas, este aspecto pode prejudicar o limite de resistência mecânica, no

entanto, por outro lado tem-se uma menor fração sólida que por sua vez favorece

a dissolução de precipitados, já que maior quantidade de líquido será formada. A

dissolução destes precipitados parece compensar o crescimento do grão. Quando

o processo é feito sob mesma temperatura, mudando-se o tempo de espera então

o fator do crescimento do grão tem predominância e a liga mais resistente será

aquela que ficou menos tempo no ESS. O gráfico 24 apresenta os resultados

para o alongamento dos corpos de prova e verifica-se que maiores temperaturas

favorecem maior alongamento. Porém, se o tempo de espera for muito grande

então esta tendência não é mantida. É muito difícil estabelecer com total clareza

como todas estas variáveis interagem entre si. No caso do alongamento não ficou

clara as relações que governam esta propriedade. No entanto, sabe-se que o

alumínio líquido é capaz de absorver significativas quantidades de H presente no

ar atmosférico, então, no caso da liga mantida por maior tempo no ESS estas

quantidades de H podem ter sido mais significativas prejudicando assim a

performance da mesma. Neste caso, dois aspectos colaboram para o pior

desempenho sob temperaturas mais elevadas de processamento no ESS. O

maior tamanho de partícula e a presença de H. Um aspecto que sustenta esta

ideia é o fato da liga bruta de fusão ter apresentado um alongamento de 9,8%

mesmo com um fraco desempenho de resistência mecânica. No caso da liga

bruta de fusão a mesma foi conformada logo após o processo de

desgaseificação.

114

Gráfico 23 - Limite de escoamento (σe) em função da fração sólida para liga

tixoconformada por 10 e 30min.

Fonte: Reis, 2013.

Gráfico 24 - Limite de resistência (σr) em função da fração sólida para liga

tixoconformada por 10 e 30min.

Fonte: Reis, 2013.

115

Gráfico 25 - Alongamento (ε) em função da fração sólida para liga tixoconformada

por 10 e 30min.

Fonte: Reis, 2013.

Também tem sido demonstrado por outros autores que na ausência de defeitos

grandes como por exemplo, os poros, partículas de silício do eutético assumem um

papel relevante na formação de pequenas trincas. Embora, frequentemente consta

na literatura que o ferro é o elemento deletério mais comum nas ligas de alumínio,

ocasionando a diminuição progressiva da ductilidade e da resistência à tração. No

caso desta liga provavelmente este precipitado está na condição mais compacta,

Al15(Fe,Mn)3Si2-α de morfologia do tipo escrita chinesa, junto aos cristais eutéticos

de Si massivos e atuam como aumentadores de tensão. As figuras 38(e) e 38(f) com

as fractografias do corpo de prova correspondente à peça tixoforjada com fs=0,6

pode reforçar esta análise, pois os micromecanismos de alvéolos (dimples)

apresentam-se mais homogêneos e arredondados. Quando correlacionado com sua

correspondente microestrutura, figura 40(a) fica evidenciada que o Si está ainda na

forma dispersa de uma fina rede. No entanto não seria prudente afirmar que

somente a forma e distribuição das partículas de segunda fase e ou das inclusões

são os responsáveis pela limitação da ductilidade do material, pois estas não

determinam os detalhes do processo de fratura, tais como, tamanho e distribuição

116

dos dimples, mas certamente desempenham um importante papel (HERTZBERG e

PELLINI, 1980).

Enfim, fazendo uma análise geral, os resultados obtidos são excelentes se

comparado com outros processos de conformação que fazem uso de ligas de

alumínio comercialmente reconhecidas. A tabela 9 apresenta os valores alcançados

com outros métodos de conformação (KIRKWOOD, 1994; STUCKY et al, 1998;

HAIZHI, 2003). Comparando o melhor resultado deste trabalho que foi limite de

escoamento de 248,4 MPa, resistência a tração de 334,7 MPa e alongamento de

14,4% percebe-se que são valores compatíveis com ligas consolidadas no mercado

para conformação no ESS estando somente o limite de escoamento um pouco

abaixo. Porém, o alongamento obtido foi excelente e estes resultados sugerem que

esta nova liga poderá ter um desempenho superior se for submetida a ensaios de

resistência a fadiga o qual é uma das principais aplicações para ligas que são

destinadas a indústria automobilística.

Tabela 9 - Propriedades mecânicas da liga A356-T6 obtidas por diferentes

processos de conformação.

Processo e (MPa) r (MPa) (%)

“Squeeze casting” * (HAIZHI, 2003) 265 309 5

Molde permanente, (KIRKWOOD, 1994) 186 262 5

Fundição em areia (STUCKY et al, 1998; KIRKWOOD, 1994)

150 180 3

SS (globular) (STUCKY et al, 1998) 257-280 318-344 6-13 * Squeeze casting – a liga é aquecida até a temperatura correspondente à linha líquidus. Logo que a mesma começa a solidificar entrando no campo do ESS, faz-se a conformação sob pressão em baixa velocidade (bem menor que o processo die casting) evitando fluxo turbulento.

117

CONCLUSÃO

O foco principal deste trabalho foi desenvolver uma nova liga para conformação no

ESS, tixoforjar peças testes e avaliar as propriedades mecânicas. Portanto, do ponto

de vista tecnológico os resultados mostram que é possível obter peças com boa

integridade física e propriedades mecânicas compatíveis com as exigidas pelo

mercado. Outras conclusões relevantes são as seguintes:

A reciclagem de latas de alumínio com adição de silício metálico comercialmente

puro mostra-se viável tecnicamente para promover o uso desta liga em processo

de tixoforjamento, sendo mais uma alternativa de reciclagem que pode ter

aplicação final com maior valor agregado.

O tempo otimizado para solubilização da nova liga obtida a partir da reciclagem

de latas de alumínio com 3,8% de Si foi de 4 horas para a temperatura de

tratamento de 530ºC.

Baseado nos níveis de deformações atingidos e nas durezas alcançadas a melhor

rota de condicionamento da liga foi quando a mesma sofreu solubilização a 5300C

por 6h seguida de resfriamento em água e laminação a quente. Estes

procedimentos garantem a obtenção de uma microestrutura o mais equiaxial e

refinada possível.

Os melhores parâmetros de tixoforjamento com a liga previamente condicionada

são os de fs=0,6 (T=610°C) e com a manutenção no ESS de 10 minutos. Nestas

condições após o tratamento T6 atingiu-se um limite de escoamento, limite de

resistência a tração e alongamento 248,3 MPa, 334,7 MPa e 14,4%

respectivamente.

Para a nova liga Al3,8%Si os pares otimizados de temperaturas e tempos para o

tratamento térmico T6 são respectivamente: mínio de 530ºC por 4 horas para

solubilização e 185°C por 3 horas para o envelhecimento artificial, onde chegou-

se a pico de dureza de 121 HB.

118

A liga sobubilizada a 530ºC por 6 horas sob envelhecimento natural apresentou

um pico de dureza após 384 horas ou 16 dias atingindo uma dureza máxima de

95HB.

O peça tixoforjada com a liga apresentou propriedades mecânicas excelentes se

comparado com outros processos de conformação que fazem uso de ligas de

alumínio comercialmente reconhecidas, inclusive com resultados melhores do que

os de conformação convencional. Sendo que as propriedades mecânicas

alcançadas são bem próximas daquelas forjadas convencionalmente.

119

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