Interdisciplinaridade Na TEOLOGIA
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Interdisciplinaridade na teologia
Prof. Lino Rampazzo
Diálogo, interdisciplinaridade, integração: estes termos, nos dias de hoje, são
usados, com muita frequncia, para indicar o método com o qual se quer caracterizar a
a!ordagem do "sa!er#.
$alileu, no s%culo &'((, te)e o m%rito de tornar*se o pai da cincia moderna,
determinando o objeto espec+fico da in)estigação e o método com o qual se atingia este
tipo de conhecimento. as a cincia moderna, com seu m%todo, reduzia o campo da
análise do sa!er, limitando*se aos dados pr-imos, imediatos, percept+)eis pelos
sentidos ou por instrumentos: quer dizer, os dados da ordem material e f+sica. /l%m
disso, esta "cincia# fazia nascer muitas "cincias#, com campos de especialização
sempre mais delimitados e uma conseq0ente fragmentação do conhecimento. 1oje, %
muito dif+cil contar o n2mero de especializaç3es criadas pela cincia moderna.
4e tudo isso, sem d2)ida, foi uma riqueza para a humanidade e produziu o
a)anço cient+fico e tecnol-gico, por outro lado, criou um cientista preso no seu campo
de conhecimento, possuidor de um saber parcial, desarticulado e incompleto. /l%m
disso, não raramente os produtos da tecnologia manifestaram atitudes de "destruição#,
seja do homem, como do meio am!iente. 5omo não pensar, a t+tulo de eemplo, 6s
emiss3es glo!ais de gases do efeito estufa 7P844(9( ;/R51(<=9>/(98, ?@@ABC =u
a toda a pro!lemática am!iental, da qual se falou acimaC
= que tudo isso tem a )er com a teologiaC
ma das caracter+sticas fundamentais da modernidade foi o desencantamento
do mundo, que permitiu a inter)enção e manipulação da natureza. 8sta, es)aziada desua dimensão sacral , foi fragmentada e reduzida a recursos naturais a ser)iço da
eploração humana. 8ssa )isão ala)ancou o progresso t%cnico*cient+fico e a
industrialização moderna trazendo para a humanidade, ao mesmo tempo, !enef+cios,
catástrofes e danos.
1oje, o processo de desencantamento e fragmentação atinge o pr-prio ser
humano. /s poss+)eis aplicaç3es no campo da gen%tica são promissoras para a cura de
in2meras doenças e trarão grandes !enef+cios para a humanidade. as no rasto destasterapias )irão, certamente, manipulaç3es gen%ticas não mais teraputicas, mas !aseadas
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em desejos narcis+sticos ou em pretens3es eugnicas. 8 não serão leis jur+dicas que
poderão impedir estes des)ios porque irão responder a demandas su!jeti)as criadas pela
mentalidade cultural e transformadas em direitos com respaldo jur+dico.
<oi o processo moderno de secularização que es)aziou o significado do
sagrado 7E9$84, ?@@F, p. GH*GGB. Diante disso, a natureza não foi mais considerada
como algo de sagrado a ser respeitado. (sso reduziu a natureza a pura quantidade,
sujeita a interesses mercadol-gicos e, consequentemente, le)ou ao desastre ecol-gico.
Pergunta*se, agora, que tipo de desastre antropol-gico poderá ocasionar uma
cincia, inclusi)e a nano!iotecnologia, que não dialoga com o sagrado. / cincia
gen%tica %, pois, muito importante para ser deiada somente aos cientistas 7P844(9(,
?@@FB.
/ "reconstrução# do mundo passa, então, o!rigatoriamente, por uma no)a
concepção do homem que aceita apenas uma ci)ilização a ser)iço do homem e nunca
contra ele.
8stas refle3es questionam o objeto e o objetivo do sa!er.
/ "cincia#, que reduziu o seu campo de eploração aos fenImenos do mundo
material, sens+)el, precisa redesco!rir o significado originário do mesmo "termo# que a
define. "5incia#, significa, antes de tudo, "conhecimento#, "sa!er#. 8 este "sa!er# tem
como objeto o ser, tudo o que eiste: não pode, pois, reduzir ou fragmentar o seu campo
de conhecimento, esquecendo toda a riqueza da "realidade#.
'erdade % "aquilo que %#, "aquilo que eiste#. 8 o homem, que procura a
)erdade, simplesmente analisa a "realidade#, "aquilo que eiste#.
/ceitando esta perspecti)a, em que o objeto do saber % simplesmente o ser ,
"tudo aquilo que eiste#, o cientista de hoje precisa dialogar com as outras áreas do
sa!er, sempre mais con)encido de que ningu%m tem o monop-lio da )erdade. /ssim, as
"cincias# começam a dialogar entre elas: nasce a "interdisciplinaridade#.8, num diálogo mais amplo que procura )oltar 6 "unidade do sa!er#,
conseq0ncia da "unidade do ser#, há a preocupação de rece!er contri!uiç3es de todo
tipo de análise da realidade: seja por parte do sa!er popular, como tam!%m daquele
filos-fico, teol-gico, est%tico, m+tico etc.
as qual pode ser, a esse respeito, a contribuição específica da teologiaC
9a tradição cristã da cultura ocidental a epressão de 4anto /nselmo 7J@KK*
JJ@B fides quaerens intelectum, quer dizer, "a f% que procura a razão#, aponta para om%todo da teologia: esta, a partir dos dados da f%, seu o!jeto espec+fico, procura um
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diálogo com a razão. Por eemplo, precisa definir seus conceitos atra)%s dos quais
apresenta os dados da f% refere*se a determinadas fontes emprega um m%todo de
eata comunica!ilidade 7/L4M8$1N <L(5O, JAB. 8m outros termos, a teologia %
a f% que assume o discurso da razão para melhor compreender o seu o!jeto: faz parte
do "D9/# da f% dialogar com a razão. / teologia representa, pois, um eforço
constante de uma determinada comunidade de f% )isando permanecer em contato
com o mundo e seus pro!lemas, suas d2)idas e projeto: confronta a f% com os
pro!lemas no)os que a humanidade enfrenta 7L/>=R8LL8, JFJ, p. JA*JFB.
Diferencia*se, pois, tanto do racionalismo, como do fide+smo. = primeiro aceita
como )erdadeiro apenas o que pode ser demonstrado racionalmente e o segundo se
caracteriza por uma adesão religiosa não fundamentada racionalmente.
/tra)%s do diálogo, am!as, a f% e a razão, podem se enriquecer
reciprocamente.
m simples olhar para a hist-ria da filosofia ocidental mostra que o contato
do cristianismo com a filosofia troue para esta no)os olhares, tais como a dignidade
da pessoa humana, a igualdade entre os homens, a li!erdade, a fraternidade etc.
<icando apenas com o primeiro eemplo, o conceito de pessoa aplicado a todo
ser humano, totalmente estranho 6 filosofia grega, foi desen)ol)ido a partir do
cristianismo: no começo para definir quest3es trinitárias e cristol-gicas, quer dizer,
apenas teol-gicas. Depois, a partir de /gostinho, perce!eu*se que tal conceito podia ser
aplicado ao homem: e o conceito de pessoa se estende, pois, da teologia para a
antropologia. 9o fundo, o olhar da f% estimula a razão para se entender melhor.
8ste princ+pio, que nasceu historicamente de um "diálogo# entre teologia e
filosofia, aca!ou sendo acolhido na área jur+dica 7R/P/MM=, ?@@B.
/ con)icção de que o diálogo entre cincia e f% pode fa)orecer um
enriquecimento rec+proco, % apresentada, de maneira interessante, no 9. J dodocumento Ex corde ecclesiae, que fala, por um lado, do contri!uto da teologia 6s
cincias e, por outro, do enriquecimento que a >eologia rece!e das outras disciplinas.
/ 5onstituição /post-lica Ex corde Ecclesiae, apro)ada pelo Papa Eoão Paulo
((, constitui como que a "magna charta# das ni)ersidades 5at-licas, para cuja redação
contri!u+ram todas as uni)ersidades cat-licas do mundo, por meio de uma consulta que
começou em JFG 7E== P/L= ((, ?@@@B.
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5omo todos os documentos oficiais da (greja, este tam!%m tem por t+tulo as
primeiras pala)ras do teto latino: Ex corde ecclesiae, quer dizer, 7nascidaB do coração
da (greja.
'eja*se, pois, o teto que interessa.
/ >eologia desempenha um papel particularmente importante nain)estigação de uma s+ntese do sa!er, !em como no diálogo entref% e razão. /l%m disso, ela dá um contri!uto a todas as outrasdisciplinas na sua in)estigação de significado, ajudando*nos aeaminar o modo como suas desco!ertas influirão so!re as
pessoas e so!re a sociedade, mas tam!%m fornecendo uma perspecti)a e uma orientação não contidas em suas metodologias.Por sua )ez, a interação com as outras disciplinas e suasdesco!ertas enriquece a >eologia, oferecendo*lhe uma melhor compreensão do mundo de hoje e tornando a in)estigação
teol-gica mais adaptada 6s eigncias de hoje. 7E== P/L= ((,?@@@, p. JF*JB.
= teto fala de "uma perspecti)a e uma orientação não contidas em suas
metodologias#. Pode*se eemplificar. 9enhum microsc-pio de alta capacidade nos le)a
a desco!rir a dignidade da pessoa humana, ou o )alor da fam+lia. = conhecimento
cient+fico %, pois, limitado. 9ão eplica os mist%rios da dor, da morte, do mal não
oferece sentido completo 6 )ida humana. 9o fundo, o conhecimento teol-gico ajuda o
conhecimento racional a perce!er mais seus limites.Por outro lado, a teologia se enriquece atra)%s do diálogo com a razão: %
ajudada a compreender "o mundo de hoje#, a sistematizar seus dados, a apresentá*los
com conceitos adequados.
<ala)a*se, antes, da modernidade que es)aziou o mundo de sua dimensão
sacral . 8 isso te)e, como consequncia, o desrespeito da natureza e, particularmente, do
ser humano. (sso le)a 6 importante ligação entre religião e %tica.
/ )isão religiosa do mundo, na qual Deus se insere, nasce do fato que o ser humano procura a solução do pr-prio mist%rio eperimenta uma sensação de plenitude
atra)%s da )i)ncia do sagrado e nasce tam!%m de uma relação com o mundo humano e
material, na procura de uma harmonia interna que o!edece a uma tendncia natural para
a totalidade.
= homem % um ser !io*psico*s-cio*espiritual. 8ssas quatro dimens3es !ásicas
constituem sua estrutura eperimental 7aspecto geo!iol-gicoB, eperiencial 7aspecto
psicoemocionalB, eistencial 7aspecto socioam!ientalB e transcendental 7aspecto sacro*
transcendentalB.
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9ão se pode pensar a pessoa humana ecluindo qualquer dessas dimens3es.
ma das origens etimol-gicas do termo "religião# % o )er!o latino relegere 7re*
lerB. = termo aponta para a atitude de re*ler a realidade, )i)enciando o diálogo com o
diferente, a solidariedade como epressão máima do humanismo, a ecologia como
)i)ncia harmInica entre o homem e a natureza ou am!iente. Dentro dessa )isão,
entramos necessariamente no conceito de ética como epressão profunda do respeito
pelo =utro, entendido como >udo que nos cerca e dentro do qual somos, nos mo)emos
e eistimos.
Religião, nesse conteto, não inclui o conceito de Deus num primeiro momento
e se torna a epressão da )i)ncia do outro pela comunhão e re)erncia com o outro,
seja ele o homem, a mulher, as plantas, os animais e, por meio dessa re*leitura, tudo se
torna sagrado. 8sta!elece*se, assim, a religião, como o lugar do diálogo, da
solidariedade, da ecologia.
Desco!rir o sagrado das coisas % desco!rir o caminho da solidariedade entre os
homens. 4agrado e %tica tornam*se a dupla que dá sentido 6 eperincia humana. 9ão %
poss+)el pensar uma moral social comunitária sem pensar o sagrado. = sagrado % o
constituti)o da moral 7R(;8(R=, ?@@HB.
5omo se pode perce!er, a partir da análise do que % teologia especificamente
cristã, passou*se a refletir so!re o !em mais amplo fenImeno religioso, com seus
refleos tam!%m no campo %tico.
as a estrutura antropológica existencial e transcendental, da qual se falou
acima, pode ser analisada tam!%m atra)%s da estrutura antropol-gica do "diálogo#. (sso
porque, antes de falar da eperincia religiosa, % preciso partir da eperincia de
homens que falam entre si e falam entre si porque pensam. 1á, pois, antes de tudo,
homens que pensam e que falam e, depois, homens crentes.
Para os homens falarem e dialogarem entre si, pressup3e*se que o "outro# seja
um ")alor#. 8 o diálogo eiste quando o "assunto# interessa 6s duas, ou mais, partes e
pode melhorar os seres humanos, seja do ponto de )ista pessoal, como social.
as o dialogo tem suas dimens3es: o "estar entre#, o "estar com#, o "estar
para# e o "estar in#.
= "estar entre# aponta para uma relação humana po!re, sem interação:acontece tam!%m entre os o!jetos. = "estar com# indica, ao in)%s, a disponi!ilidade
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quando o "outro# aparece para dizer que eiste. as este outro depois se afasta e o
diálogo não prossegue. = "estar para# % um tipo de relação de quem, li)remente, quer
ajudar o outro a ter, reciprocamente, a mesma atitude e % retri!u+do nisso. Q a
eperincia da amizade sincera. = "estar in# % uma categoria 2nica porque diz respeito
somente ao "di)ino#, resposta 2ltima ao mist%rio da )ida humana. / eperincia
religiosa autntica, pois, aponta para uma )i)ncia humana mais profunda, que pode
ajudar a "re*ler# a realidade e a desco!rir nela outros aspectos a serem )alorizados. 9o
fundo cada uma destas etapas % uma re*leitura, a n+)eis sempre mais profundos, da
realidade 7'(>=L=, ?@@FB.
ma análise atenta dos termos acima apresentados le)a a questionar
profundamente as atitudes que se manifestam no fenImeno do Bullying . 9este não seencontra nem a )i)ncia do sagrado, nem dos consequentes princ+pios %ticos do
cuidado, da solidariedade, da co*responsa!ilidade e da alteridade. >emos, pelo contrário,
a incapacidade do diálogo, de considerar o "outro# como ")alor#, de "estar com# o
outro e "para# o outro.
Referências
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R/P/MM=, Lino. / contri!uição da teologia patr+stica na formulação do conceito de pessoa: !ase para o reconhecimento jur+dico. (n: R/P/MM=, Lino 4(L'/, Paulo5esar da 7=rgs.B. 'essoa, (ustiça $ocial e Bioética. 5ampinas: /l+nea, ?@@. 5ap. J. p.JJ*H?.
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