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DILCE REJANE PERES DO CARMO INTERFACE DO CONTEXTO SOCIAL E O CONSUMO DE BEBIDAS ALCOÓLICAS POR ADULTOS: FENOMENOLOGIA SOCIAL RIO GRANDE - RS 2016

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DILCE REJANE PERES DO CARMO

INTERFACE DO CONTEXTO SOCIAL E O CONSUMO DE BEBIDAS

ALCOÓLICAS POR ADULTOS: FENOMENOLOGIA SOCIAL

RIO GRANDE - RS

2016

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE (FURG)

ESCOLA DE ENFERMAGEM

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENFERMAGEM

CURSO DE DOUTORADO EM ENFERMAGEM

INTERFACE DO CONTEXTO SOCIAL E O CONSUMO DE BEBIDAS ALCOÓLICAS

POR ADULTOS: FENOMENOLOGIA SOCIAL

DILCE REJANE PERES DO CARMO

Tese apresentada ao Programa de Pós-Graduação em

Enfermagem da Escola de Enfermagem da

Universidade Federal do Rio Grande (FURG), como

requisito para obtenção do título de Doutora em

Enfermagem - Área de Concentração: Enfermagem e

Saúde. Linha de Pesquisa: Tecnologias de

enfermagem/saúde a indivíduos e grupos sociais.

Orientadora: Profª Drª Marlene Teda Pelzer

Coorientadora: Profª Drª Francisca Lucélia Ribeiro de

Farias

RIO GRANDE - RS

2016

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DILCE REJANE PERES DO CARMO

INTERFACE DO CONTEXTO SOCIAL E O CONSUMO DE BEBIDAS ALCOÓLICAS

POR ADULTOS: UM ESTUDO NA FENOMENOLOGIA SOCIAL DE ALFRED

SHULTZ

Esta tese foi submetida ao processo de avaliação pela Banca Examinadora para a obtenção

do Título de Doutora em Enfermagem e aprovada na sua versão final em 29/11/2016,

atendendo às normas da legislação vigente da Universidade Federal do Rio Grande, Programa de

Pós-Graduação em Enfermagem, Área de Concentração Enfermagem e Saúde.

Coordenadora do Programa de Pós-Graduação em Enfermagem (FURG)

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AGRADECIMENTOS

Durante o desenvolvimento dessa pesquisa, experimentei mudanças no meu mundo vida, as quais

já vinham acontecendo. No entanto meus motivos porque mantiveram a cautela necessária para

que os motivos para se desvelassem num tempo fenomenológico, ou seja, um tempo que é meu.

Dito isso, reconheço a atenção, o carinho, a paciência e o amor que influenciaram minhas

escolhas rumo a evolução nessa vida. Assim reconheço e agradeço aos colegas, amigos,

familiares, consciências que seguem compartilhando suas melhores energias em momento de

transformação.

Muito Obrigada!

Ao amparo de luz e fé que iluminou o caminho, alinhando pensamentos e sentimentos gerando as

melhores energias para o trabalho e a vida. Vocês? (Mãe e Pai).

Em especial aos meus amados e especiais amigos de tantas vidas, Cléo Filho e Manuela. Filhos

que me escolheram para me ajudar a “ser” melhor com e por vocês. Dessa forma sigo aprendendo

e... sigo devagar porque já tive pressa... e quero estar-com agora e sempre.

A você Carol, filha escolhida pela aproximação que o amor do Cléo Filho, fez refletir em

“nosso” mundo, você tem parte nessa história.

Ao meu companheiro de vida, Cléo, que do seu jeito achou um meio de me motivar a ir em

busca. Amigo capaz de compreender minhas escolhas e por ou apesar delas estar-com em meu

mundo vida nesse momento especial aqui.

A mãe que me escolheu e acolheu, que é minha sogra Vó Bitita. Dos almoços de quarta-feira e

domingos que mais que o tempero (amor) da chefe, foi fonte de luz, paz e aconchego,

fortalecendo-me para seguir no caminho.

As minhas irmãs amadas Dalva e Dulvia, pelos ensinamentos de suas vivencias e experiências

compartilhadas, amo vocês. Também irmãs dessa vida Núbia (cunhamana) e Andréia (primana)!

Companheiras na vida e nos momentos de lazer, “obrigavam-me” a ir, largar tudo e curtir a

diversão, dança, o brinde da saúde e da amizade. Enfim compartilhar experiências de amor, paz e

alegria em nosso mundo vida. Devolviam-me recarregada!

Meu irmão caçula, Rogério, você se revela gigante diante das consequências de suas escolhas em

seu mundo vida, forte e frágil, compartilhando conosco experiências que nos levam a refletir,

apreender e compreender os motivos de nossas ações nessa vida.

Ao irmão do meio, que foi pai amigo e amoroso em momento de escolha e tomada de decisão na

vida, Renã cujo coração não cabe em si, pronto para cuidar do outro, de mim, por vezes

esquecendo de si. A família lhe mobiliza a ser cada vez melhor, sempre. Te amo meu irmão!

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Manos amados! Vou deixar aqui uma questão para a vida. O que significa a vivencia do mano

Geio e o que essa experiência tem representado no mundo vida de cada um de nós? Tenhamos

lucidez e discernimento nessa avaliação que pode mudar nossas vidas. As melhores energias para

todos!

Aos queridos colegas de Curso de Doutorado e Professores da Universidade Federal do Rio

Grande (FURG), Cezar e Stela e a Enfermeira Rita (na época chefe do PS no Hospital

Universitário/FURG). Em plena atividade profissional, revelaram-se fortes e capazes de mover

obstáculos na busca de seus sonhos. Sua determinação foi exemplo motivador para o alcance

dessa conquista.

A colega e amiga do Curso de Doutorado – FURG, Enfermeira Denise Lopes Quatrim,

companheira de viagens, idas e vindas Rio Grande/Santa Maria. Como eu, vê na vida

possibilidades.

A colega querida também de Curso de Doutorado/FURG, já Drª Silvana Cogo - UFSM, que

mesmo após o termino das aulas manteve a disposição em realizar parcerias de trabalho apoiando

a proposta de tese.

Aos colegas e amigos, Professores Doutores da Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto

(EERP), em especial a Professora Drª Enfermeira Jacqueline de Souza, querida amiga que

reencontro nessa vida, com seu olhar positivo de mundo me ofereceu seu precioso tempo e o seu

ombro em momentos delicados e decisivos na vida. Sou grata por que você ainda me aproximou

da Juliane (Ju), Regina e Arthur (mãe e filho) e Joab, amigos queridos que não permitiram que eu

me sentisse só em espaço distante de casa, ou seja, Ribeirão Preto- Sanduiche FURG-ÉERP.

Teatro, Bares, casas de show e praias do Norte de SP maravilhosas me foram apresentadas por

esses seres especiais que surgiram em minha vida e hoje fazem parte da minha historia.

As queridas amigas e colegas Amanda e Daiana colegas do Grupo de Ensino e Pesquisa de

Cuidado as Pessoas, famílias e Sociedades (PEFAS-UFSM) profissionais que se revelam

melhores a cada dia como seres especiais e profissionais. A disposição e o carinho no

atendimento desinteressado mantêm e fortalecem o meu estar-com no mundo.

A Amiga e colega Lionara, parceira de produções e de escuta ativa, amorosa e esclarecedora:

“Dilce! Tudo passa e pode ficar melhor!”

A colega, amiga e irmã nessa vida Janete Severo de Carvalho iluminada pela energia da família

“me fortalece”, se mantém presente além dos espaços dessa vida, tua presença transcende esses

limites minha Amiga! “Estamos juntas, sempre”.

A Professora Enfermeira Dra Hedi Crecência Hekler de Siqueira - FURG, por seu acolhimento,

compartilhando experiências e conhecimentos junto ao seu Grupo de Pesquisa: Gerenciamento

Ecossistêmico em Enfermagem (GEES).

A colega e amiga, Professora Ennfermeira Drª Diana Cecagno/UFPEL e membro do

GEES/FURG, me guiou pelas dunas de Natal. Quando a vontade foi desistir, ouvi: Veste o

avental de Doutora, tu é boa guria!

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Professora Enfermeira Dra Claudia Zamberlan – UNIFRA e membro do GEES/FURG, a própria

alegria na disposição em dividir conhecimentos e seu lar, aliado aos carinhosos cuidados com o

Gui (seu filho) pura energia.

A elegante Orientadora Professora Enfermeira Dra Marlene Teda Pelzer - FURG, líder do Grupo

de Ensino e Pesquisa em Gerontologia (GEPGERON) pelo acolhimento carinhoso em momento

de mudança e transformação. Sua disposição em aceitar o desafio da proposta em questão, tornou

possível chegar aqui. A elegância no trato e o cuidado de si são exemplos a serem seguidos na

vida.

A Coorientadora Professora Enfermeira Dra Francisca Lucélia Ribeiro de Farias que aceitou

fazer parte desse projeto, compartilhando seus conhecimentos específicos da temática. Obrigada!

A Professora Enfermeira Dra Marlene Gomes Terra, que por sua elevada evolução nessa vida,

revelou-se sensível ao compreender os entraves institucionais apresentados no processo e mesmo

assim me manteve em seu Grupo de pesquisa e seu Projeto Sobre Drogas CRR - UFSM,

reconhecendo a relevância da minha pesquisa me acolhendo em seu mundo vida. Sua

disponibilidade em compartilhar conhecimentos e acolher-me em seu Grupo de Estudos, foi

fundamental para que esse momento se concretizasse. Seu carinho me fortalece e sua evolução é

exemplo para a vida.

A Professora Enfermeira Dra Sandra Cristina Pillon pelo acolhimento na Escola de Enfermagem

de Ribeirão Preto e sua preocupação com meu bem estar naquele espaço que era desconhecido.

Aceitando-me como pioneira no Doutorado Sanduiche no país, reconhecendo a relevância da

pesquisa e na parceria Quali/Quanti. Foi desenvolvida nessa oportunidade a análise dos dados da

pesquisa dando origem a dois dos três artigos submetidos para o momento da defesa e mais uma

produção em construção. Ainda, nessa oportunidade foi enviado e aprovado material que foi

selecionado entre os melhores em Evento Internacional. Sua disponibilidade em compartilhar seu

espaço e os conhecimentos acumulados pela reconhecida experiência na área do estudo foi

fundamental e enriquecedora. Conhecer e viver outra realidade proporcionou além da rica

vivencia, vinculo entre as Instituições de Ensino Superior FURG/EERP. Sou grata ainda pela

aproximação ao Professor Filosofo Dr. Manoel Antônio dos Santos, parceiro de produções.

Aos Grupos de Ensino e Pesquisa: GEES/FURG; GEPGERON/FURG; PEFAS/UFSM, espaços

de discussões e troca de informações relacionadas as propostas da pesquisa. As possibilidades de

produção do conhecimento e projetos de intervenção junto as pessoas de diferentes faixas etárias,

as famílias nas mais diferentes formações atuais, e na sociedade que vivemos revelam a

relevância desses grupos. O objeto dessa pesquisa foi desdobrando-se nesses espaços de estar-

com no mundo da vida.

Ao Programa de Pós-Graduação em Enfermagem da Universidade Federal de Rio Grande

(FURG), representado pelas Docentes Professoras Enfermeiras Drªs Mara Regina Santos da Silva

e Marlene Teda Pelzer e a todos docentes do Curso de Doutorado desta IES. Também, aos

funcionários Bento e Nivea da secretaria e aos bolsistas que contribuíram para a concretização

deste trabalho. Em especial ao estagiário Gustavo Porciúncula estagiário do PPGENF/FURG.

A UFSM por acolher-me em seu grupo de ensino e pesquisa PEFAS e ao Projeto de extensão

CRR o qual faço parte da equipe de professores sob a coordenação da Profª Drª Marlene Gomes

Terra.

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A EERP (SP) que me acolheu, como aluna pioneira em Doutorado Sanduiche no país,

oportunizando que outros pesquisadores possam conhecer e viver novas realidades.

A Fundação de Apoio a Pesquisa do Rio Grande do Sul (FAPERGS) que me acolheu por seleção

proporcionando-me a bolsa de estudos.

Aos Professores Doutores que aceitaram meu convite para compor a banca de avaliação da

pesquisa. Seus saberes possibilitaram ver o que já não vislumbrava e seus olhares orientaram-me

o caminho.

Destaco o profissional necessário a vida, o Psicoterapeuta. Conhecer por meio de um colega

querido o Psicólogo Tiago Campello foi mesmo um presente nessa vida. A atenção desse

profissional me fez ver o quanto minhas ideias e pensamentos estavam desorganizados (palavras

do profissional). A partir desse acompanhamento profissional, fui construindo novos caminhos e

(des) cobri as capacidades que são minhas. Agora, mais segura e responsável por minhas

escolhas, sou capaz de tomadas de decisões necessárias. Tiago tem me acompanhado desde então

e a ele sou extremamente grata. Chegar aqui tem muito haver com o cuidado deste atento

profissional. Precisamos desenvolver em nós a capacidade de reconhecer que precisamos de

ajuda e, buscá-la.

Encerro com a sensação de que me esqueci de reconhecer e ser grata a alguma consciência.

Assim a incluo carinhosamente aqui, junto aos sujeitos da pesquisa, seres especiais que se

afastaram de si propondo-se a conhecer os motivos da sua ação no mundo social em relação ao

consumo de bebidas alcoólicas no pub. Essa contribuição além de proporcionar um olhar para si

diante dessa ação pode auxiliar e mobilizar novos olhares sobre essa mesma ação no mundo vida

de outros.

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RESUMO

CARMO, Dilce Rejane Peres do. Interface do Contexto Social e o Consumo de Bebidas Alcoólicas Por

Adultos: fenomenologia social. 2016. 110p. Tese (Doutorado em Enfermagem). Programa de Pós-

Graduação em Enfermagem, Universidade Federal do Rio Grande, Rio Grande, RS.

O consumo de bebidas alcoólicas passa a ser cada vez mais difundido no convívio social e faz parte da

vida do homem há milênios e universalmente pelos mais diferentes motivos. Percebe-se, no entanto que a

função do álcool nas relações sociais ainda é pouco investigada. O objetivo deste estudo foi compreender

as motivações atribuídas por adultos ao consumo de bebidas alcoólicas em contexto social; conhecer os

motivos para e os motivos porque da ação de consumir bebidas alcoólicas em contextos sociais e

descrever as características típicas, ou seja, o típico da ação do consumo de álcool por adultos que

compartilham espaços sociais, o que pode levar profissionais da saúde, família e sociedade em geral a

reconhecerem, no contexto, a base para a conduta. O estudo teve como tese: o fácil, livre e motivado

acesso ao álcool em ambientes de congregação social promove o seu uso na contemporaneidade. O

consumo de bebidas alcoólicas em contexto social apresenta-se como uma ação intersubjetiva revestida de

intencionalidade. As motivações para o consumo de bebidas alcoólicas pelo adulto requer a compreensão

dos profissionais da saúde, das pessoas, da família e da sociedade, em respeito ao seu livre arbítrio. Pesquisa de abordagem fenomenológica, à luz do referencial teórico-metodológico de Alfred Schütz, que

foi realizada em cinco bares no estilo pub de um município do estado do Rio Grande do Sul, Brasil. Os

dados foram coletados, no período de dezembro de 2015 a fevereiro de 2016, por meio da entrevista

fenomenológica com 14 adultos que frequentavam esse espaço de encontro social. A situação biográfica

dos participantes mostrou que todos possuem grau de instrução igual ou maior que o ensino médio; com

idades acima dos 18 anos e frequentavam o pub ao menos uma vez no mês. Os resultados mostraram os

motivos porque como espaço permissivo para o consumo de bebidas alcoólicas e de interações sociais; e,

os motivos para sendo a busca por diversão, pertencimento a um grupo e livre arbítrio. Desvelou-se como

o típico da ação: pub como espaço de sociabilidade; influência do contexto para o consumo de bebidas

alcoólicas; padrão de consumo abusivo, uma atitude natural; satisfação no convívio social do pub;

consumo de bebidas alcoólicas no pub: uma ação social; ato de dirigir veículos automotivos após consumo

de bebidas alcoólicas no pub uma atitude natural. Conclui-se que o estudo permitiu extrair da realidade

empírica e subjetiva um tipo ideal de ação e pessoa em determinada situação típica, considerando os

motivos presentes na ação social. Nas relações desenvolvidas no pub, permeadas pela intersubjetividade,

relações de trabalho e nas trocas ali realizadas surgem possibilidades de prevenir os riscos relacionados ao

consumo de bebidas alcoólicas no contexto social. É preciso que essas oportunidades sejam reconhecidas

e valorizadas, para que possam ser acionadas pelos profissionais da saúde, pessoas, famílias e sociedade

como meio de influenciar a promoção da saúde. Futuras pesquisas são necessárias sobre o consumo de

álcool em contextos sociais permissivos, como os pubs, abrangendo outras regiões do país, para que se

possa explorar as nuances de cada realidade local. Destaca-se o papel da enfermagem no âmbito da

prevenção nos diversos cenários sociais.

Descritores: Bebidas alcoólicas; Consumo de bebidas alcoólicas; Adulto; Enfermagem.

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ABSTRACT

CARMO, Dilce Rejane Peres do. Interface of Social Context and Alcohol Drinking by Adults: social

phenomenology. 2016. 110 sheets. Thesis (Doctorate in nursing). Nursing Scholl, Post-Graduate Program

of Nursing, Federal University of Rio Grande, Rio Grande, RS.

The consumption of alcoholic beverages is becoming more widespread in social life and has been a part of

man's life for millennia and universally for different reasons. However, it can be seen that the role of

alcohol in social relations still not investigated. Thus, this study aims to understand the motivations

attributed by adults for the consumption of alcoholic beverages in a social context; to know the reasons for

and the reasons why of the action of consuming alcoholic drinks in social contexts; to describe the typical

characteristics of alcohol consumption by adults who share social spaces, which may lead health

professionals, family and society in general to recognize, in the context, the basis for the conduct. It is a

research that use the phenomenological approach, in the light of the theoretical-methodological reference

of Alfred Schütz. The study take the thesis that: 'the easy, free and motivated access to alcohol in social

congregation environments promotes its use in the contemporary world'. 'The consumption of alcoholic

beverages in a social context permeated by the intersubjectivity of relations requires the understanding of

health professionals, people, family, and society, since the motivations for this action comes from the self-

interest, that is, the intentionality of the subject'. Five pub-style bars in a city in the central region of Rio

Grande do Sul, Brazil, were the used for this study. The participants were 14 adults: nine men, and five

women, who attended this social meeting space, from December 2015 to February 2016. The data were

collected through the phenomenological interview. The biographical situation of the participants showed

that all of them have a equal degree of education to or higher than high school; all were over 18 years or

older and frequented the pub at least once a month. As a result, the reasons why are permissive space and

social interactions, and the reasons to are: the pursuit of fun, belonging to a group and drinking. Faced

with this, we found the typical action between them: pub as a space of sociability, influence of the context

of the consumption of alcoholic beverages; abusive consumption pattern like a natural attitude;

satisfaction in the pub's social life; consumption of alcoholic beverages in the pub: a social action; act of

drinking and driving as a natural attitude in the pub. Finally, it is concluded that the study allowed, as

proposed by the adopted framework of Schütz's Social Phenomenology, to extract from empirical and

subjective reality an ideal type of action and person in a certain typical situation, considering the motives

present in social action. In the relations developed in the pub, permeated by intersubjective, labor relations

and in the exchanges made there arise possibilities to prevent the risks related to the consumption of

alcoholic beverages in the social context. Opportunities like these need to be recognized and valued so that

health professionals, individuals, families, and society can act as a means of influencing, that is health

promotion. Further research on alcohol consumption in permissive social contexts, such as pubs, covering

other regions of the country, so that one can explore the nuances of each local reality. Thus, it is worth

emphasizing the role of nursing in the scope of prevention in the various social settings.

Keywords: Alcoholic beverages; alcohol drinking; adult; nursing.

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RESUMEN

CARMO, Dilce Rejane Peres do. La interfaz del contexto social y el consumo de bebidas alcohólicas:

Fenomenología Social. 2016. 110p. Tesis (Doctorado en Enfermeria). Programa de Postgrado en

Enfermería, Universidad Federal de Rio Grande, Rio Grande, RS.

El consumo de bebidas alcohólicas pasa a ser cada vez más difundido en el convivio social y forma parte

de la vida del hombre hace milenios y universalmente por los más diferentes motivos. Se percibe, sin

embargo, que la función del alcohol en las relaciones sociales todavía es poco investigada. De esta forma,

este estudio tiene como objetivo comprender las motivaciones atribuidas por los adultos al consumo de

bebidas alcohólicas en el contexto social; conocer los motivos para y los motivos porque de la acción de

consumir bebidas alcohólicas en contextos sociales y describir las características típicas, es decir, lo típico

de la acción del consumo de alcohol por adultos que comparten espacios sociales, lo que puede llevar los

profesionales de la salud, la familia y la sociedad en general a conocer, en el contexto, la base para este

tipo de conducta. Se trata de una investigación de abordaje fenomenológico, de acuerdo con el referencial

teórico metodológico de Alfred Schütz. El estudio tiene como tesis que ‘el fácil, libre y motivado acceso

al alcohol en ambientes de congregación social promueve su uso en la contemporaneidad’. ‘El consumo

de bebidas alcohólicas en el contexto social en contacto con la intersubjetividad de las relaciones requiere

la comprensión de los profesionales de la salud, de las personas, de la familia y de la sociedad, ya que las

motivaciones para esa acción parten del propio interés, o sea, de la intencionalidad del sujeto’.

Constituyeron el escenario de este estudio cinco bares del tipo pub de un municipio de la región central

del Rio Grande del Sur, Brasil. Los participantes fueron 14 adultos, nueve hombres y cinco mujeres, que

frecuentaban ese espacio de encuentro social, en el período de diciembre de 2015 a febrero de 2016. Los

datos fueron recolectados por medio de entrevista fenomenológica. La situación biográfica de los

participantes mostró que todos ellos poseen grado de instrucción igual o mayor que la secundaria; que

tenían edad superior a 18 y que frecuentaban el pub por lo menos una vez al mes. Como resultado, los

motivos porque encontrados son: espacio permisivo y de interacciones sociales y, los motivos para son: la

búsqueda por diversión, el sentido de pertenencia a un grupo y beber. Ante esos resultados, se encontró lo

típico de la acción entre ellos: pub como espacio de sociabilidad; influencia del contexto para el consumo

de bebidas alcohólicas; patrón de consumo abusivo, una actitud natural; satisfacción en el convivio social

del pub; consumo de bebidas alcohólicas en el pub: una acción social; acto de conducir automóviles

después del consumo de bebidas alcohólicas en el pub una actitud natural. Al final, se concluye que el

estudio permitió, así como lo propuesto por el referencial adoptado de la Fenomenología Social de Schütz,

extraer de la realidad empírica y subjetiva un tipo ideal de acción y persona en determinada situación

típica, considerando los motivos presentes en la acción social. En las relaciones desarrolladas en el pub,

influenciado por la intersubjetividad, relaciones de trabajo y en los cambios allí realizados, surgen

posibilidades de prevenir los riesgos relacionados al consumo de bebidas alcohólicas en el contexto social.

Es necesario que esas oportunidades sean reconocidas y valoradas, para que puedan ser utilizadas por los

profesionales de la salud, personas, familias y sociedad como medio de influenciar, para la promoción de

la salud. Futuras investigaciones son necesarias sobre el consumo de alcohol en contextos sociales

permisivos, como los pubs, abarcando otras regiones del país, para que se pueda explorar los matices de

cada realidad local. Así, vale destacar el papel de la enfermaría en el ámbito de la prevención en los

diversos escenarios sociales.

Descriptores: Bebidas alcohólicas; Consumo de bebidas alcohólicas; Adultos; Enfermería.

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LISTA DE QUADROS

Quadro 01 - Princípios para construção de tipos ideais em Schütz....................................... 50

Quadro 02 - Base Fenomenológica Social para elaboração de Tipos Ideais......................... 67

Quadro 03 - Apreensão das falas dos sujeitos e seus desdobramentos compreensivos......... 75

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SUMÁRIO

APRESENTAÇÃO...................................................................................................... 13

MUNDO DE VIDA DA AUTORA............................................................................ 16

1 MUNDO VIDA DOS SUJEITOS/ATORES SOCIAIS............................................ 19

1.1 Objeto de pesquisa....................................................................................................... 22

1.2 Questão de pesquisa.................................................................................................... 22

1.3 Objetivos....................................................................................................................... 22

1.3.1 Objetivo geral................................................................................................................ 22

1.3.2 Objetivos específicos..................................................................................................... 22

1.4 Tese............................................................................................................................... 23

1.5 Prioridades de pesquisa em saúde............................................................................. 23

2 COMPREENDENDO AS QUESTÕES RELACIONADAS AO ÁLCOOL NO

MUNDO DA VIDA.....................................................................................................

26

2.1 Breve história do álcool no mundo............................................................................ 26

2.2 O problema da saúde: epidemiologia........................................................................ 29

2.3 Como é tratada as questões do álcool e outras drogas: teoria e legislação............ 32

2.4 Conhecendo de forma sistemática o que foi produzido sobre o tema..................... 37

3 FENOMENOLOGIA SOCIAL DE ALFRED SCHÜLTZ COMO

REFERENCIAL TEÓRICO......................................................................................

48

4 TRAJETÓRIA METODOLÓGICA......................................................................... 53

4.1 Tipo de pesquisa.......................................................................................................... 53

4.2 Etapa de campo da pesquisa...................................................................................... 53

4.2.1 Cenário da pesquisa...................................................................................................... 54

4.2.2 Participantes da pesquisa............................................................................................... 55

4.2.3 Produção das informações............................................................................................. 56

4.3 A entrevista fenomenológica: relação face a face..................................................... 59

4.4 Dimensões éticas e legais da pesquisa........................................................................ 60

4.5 Ambientação................................................................................................................ 61

4.6 Analise e interpretação dos dados.............................................................................. 62

5 ANALISE COMPREENSIVA................................................................................... 64

5.1 Situação biográfica: mundo vida dos sujeitos/atores sociais................................... 64

5.2 Categorias concretas do vivido................................................................................... 68

5.2.1 Categorias concretas do vivido dos motivos porque..................................................... 76

5.2.2 Categorias concretas do vivido dos motivos para......................................................... 78

6 O TÍPICO DA AÇÃO DE CONSUMIR BEBIDAS ALCOÓLICAS EM

CONTEXTO SOCIAL: tipo ideal.............................................................................

81

7 CONCLUSÃO………………………………………………………………………. 89

REFERÊNCIAS…………………………………………………………………….. 91

APÊNDICE A – Roteiro para a Entrevista............................................................... 101

ANEXO A - Termo de Consentimento Livre e Esclarecido.................................... 102

ANEXO B - Termo de Confidencialidade................................................................. 105

ANEXO C - Parecer consubstanciado do CEP......................................................... 106

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APRESENTAÇÃO

A pesquisa foi realizada sob a luz do Referencial Teórico-metodológico da

Fenomenologia Social de Alfred Schultz. Assim, a realidade é construída pelos sujeitos para si

próprios, a partir de suas experiências intersubjetivas. Desse modo, compreender as motivações

atribuídas por adultos ao consumo de bebidas alcoólicas em contexto social na perspectiva

fenomenológica é só uma forma de contextualizar a questão diante da sua complexidade em

tempos modernos. A dinâmica das inter-relações e suas nuances acontecem pelo mundo afora e

contam com a presença do álcool permeando suas vidas nos mais diversos ambientes. Nesse

estudo os bares de estilo pub foram o local de busca pelo sujeito da pesquisa. O desenvolvimento

do trabalho foi dividido em tópicos, os quais passam a ser apresentados a seguir:

MUNDO VIDA DA AUTORA - consta a aproximação da autora com o tema de Pesquisa, um

pouco da historia pessoal/profissional revelando a inquietação sobre o tema proposto. Encerrando

este momento com um sucinto e breve comentário sobre as transformações na regulação e

controle do uso do cigarro pela sociedade, outra droga de livre e fácil acesso, alertando para

possibilidades de ampliação das políticas de regulação e controle a partir do movimento social.

1 MUNDO VIDA DOS SUJEITOS/ATORES SOCIAIS – Introduz brevemente ao método da

pesquisa, apresenta o estado da arte e alguns elementos que subsidiaram a investigação, conta

com os subitens:1.1;1.2;1.3;1.4;1.5.

1.1 Objeto de pesquisa: delimita o tema de pesquisa

1.2 Questões de pesquisa: Apresenta a síntese da proposta a ser alcançada

1.3 Objetivos específicos: Apresentam um desdobramento do objetivo geral

1.4 Tese: Apresenta o tema a ser defendido nessa pesquisa

1.5 Prioridades de pesquisa em saúde: Conta um pouco da criação da Agenda de

Prioridade de Pesquisas em Saúde, mostrando a necessidade das pesquisas e suas relevâncias para

o ensino, assistência e pesquisa. Destacando que o tema em questão nesse estudo encontra-se

como prioridade na subagenda de numero 2 alinhando-se a subagenda de número 18 sob o olhar

da contextualização do álcool com o contexto social.

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14

2 COMPREENDENDO AS QUESTÕES RELACIONADAS AO ÁLCOOL NO MUNDO

DA VIDA- Este será desenvolvido nos subitens 2.1; 2.2;2.3; 2.4.

2.1 Breve historia do álcool no mundo: pretende localizar o leitor sobre como e quando

esta substancia passou a fazer parte do mundo da vida dos sujeitos pelo mundo.

2.2 Um Problema da saúde: epidemiologia - mostra de que forma essa especialidade

(epidemiologia) desenvolve estudos em populações especificas revelando potencial de ação para

uma melhor qualidade de vida do individuo e sociedade.

2.3 Como é tratada as questões do álcool e outras drogas: teoria e legislação -

desenvolve os aspectos legais relacionado ao tema no âmbito social.

2.4 Conhecendo de forma sistemática o que foi produzido sobre o tema: apresenta um

estudo sistemático sobre as produções que abordam a temática da pesquisa, revelando uma lacuna

no que tange a interface do álcool em contextos sociais.

3 FENOMENOLOGIA SOCIAL DE ALFRED SCHÜLTZ COMO REFERÊNCIAL

TEÓRICO. Lança o olhar da autora sobre o referencial teórico, pretendendo aproximar o leitor

dessa especificidade fenomenológica, ou seja, a fenomenologia social. Revela a que esse método

de estudo se propõe, e apresenta os princípios (Quadro 01) a serem seguidos.

4 TRAJETÓRIA METODOLÓGICA: Esta será apresentada no desenvolver dos subitens 4.1;

4.2 (4.2.1; 4.2.2; 4.2.3); 4.3; 4.4; 4.5; 4.6.

4.1 Tipo de pesquisa: apresenta os cenários, os quais, a pesquisa se desenvolveu;

4.2 Etapa de campo da pesquisa: descreve o local em que foi selecionado o cenário de

busca dos sujeitos da pesquisa;

4.2.1 Cenário da pesquisa: descreve o modelo de bar pub e suas ofertas;

4.2.2 Participantes da pesquisa;

4.2.3 Produção das informações: descreve de que forma foram produzidas as informações;

4.3 A entrevista fenomenológica: descreve como foi desenvolvida essa relação face a

face da entrevista fenomenológica;

4.4 Dimensões éticas e legais da pesquisa: descreve os aspectos éticos e legais da

pesquisa;

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4.5 Ambientação: descreve como foi o processo de aproximação e observação no cenário

da pesquisa, os pubs;

4.6 Análise e interpretação dos dados: descreve o processo a que foram submetidas as

informações de pesquisa de acordo com a fenomenologia social.

5 ANÁLISE COMPREENSIVA: esta será apresentada nos subitens 5.1; 5.2 ( 5.2.1; 5.2.2).

5.1 Situação biográfica: mundo vida dos sujeitos - localização e identificação dos

sujeito em seu mundo vida;

5.2 Categoria concreta do vivido;

5.2.1 Categoria concreta do vivido dos motivos porque: lança um olhar no passado;

5.2.2 Categoria concreta do vivido dos motivos para: lança um olhar para o futuro;

6 TÍPICO DA AÇÃO DE CONSUMIR BEBIDAS ALCOÓLICAS EM CONTEXTO

SOCIAL – Revela o que é comum entre os sujeitos que compartilham o contexto social, o que é

típico desse grupo de pessoas, sem a intenção de que seja um modelo a ser seguido, um dever ser.

7 CONCLUSÃO: Aqui pretende-se deixar claro a que veio o estudo, o que se pode fazer de

posse das informações obtidas, em que irá auxiliar e o que se propõe para lidar com o problema.

REFERÊNCIAS: Constam livros, revistas e textos legais consultados que serviram para dar

sustentação a esta pesquisa. Apresento o Apêndice A, o Termo de Consentimento Livre e

Esclarecido, assim como o Anexo, o Parecer Consubstanciado do Comitê de Ética em Pesquisa

com 14 Sujeitos da FURG, a respeito do projeto encaminhado para a realização desta pesquisa e

o Atestado do Doutorado Sanduiche realizado em Ribeirão Preto - SP.

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MUNDO VIDA DA AUTORA

Minha aproximação com a temática do consumo de álcool ocorreu ainda na graduação em

Enfermagem, em 1997, ao desenvolver o trabalho final “Projeto Borboleta: educando

adolescentes, professores e familiares sobre o álcool e outras drogas”. Este projeto objetivou

desenvolver atividades educativas relacionadas ao álcool e outras drogas com adolescentes e seus

respectivos familiares e professores, em uma escola de uma comunidade do interior do estado do

Rio Grande do Sul. Os resultados evidenciaram déficit na capacitação dos profissionais de ensino

e pouco conhecimento dos pais e adolescentes sobre o tema do estudo.

No ano seguinte, em 1998, assumi a responsabilidade técnica como enfermeira

concursada na antiga Fundação Estadual para o Bem Estar do Menor (FEBEM), hoje Fundação

de Atendimento Sócio Educativo (FASE), na qual prestei assistência aos adolescentes que

cumprem medida socioeducativa de internação, na sua maioria usuários de abuso de álcool e

outras drogas. Naquele momento, considerei ser este o principal problema a ser enfrentado e,

assim, foi necessário algum tempo para perceber que usar/abusar da droga1 era mais uma

consequência das diversas situações vividas e experienciadas por aqueles adolescentes em seu

mundo vida. Diante desta compreensão, busquei na capacitação profissional, possibilidades de

desenvolver estratégias educativas que atribuíssem foco ao adolescente e sua família e não mais à

droga.

No ano de 2000, iniciei a Especialização em Projetos Assistenciais da série

Especialização em Enfermagem da Região Sul (ESPENSUL), da Universidade Federal de Santa

Catarina (UFSC) em parceria com a Universidade Federal de Santa Maria (UFSM). Desenvolvi o

trabalho de conclusão de curso intitulado “Sistematização da Consulta de Enfermagem em

Unidade de Atendimento da FEBEM”, utilizando como referencial a teoria da Enfermagem

Humanística. Este estudo revelou a consulta de enfermagem como instrumento fundamental para

encaminhamentos relacionados a questões de uso, abuso e dependência de drogas. No ano

seguinte, fui selecionada pela Escola Nacional de Saúde Pública (ENSP) para realizar

especialização em Educação Profissional na Área de Saúde, a qual me possibilitou ampliar o

1 Neste estudo a palavra droga será utilizada referindo-se a substâncias psicoativas (SPA) ou psicotrópicas que

“compreendem aquelas que atuam diretamente no Sistema Nervoso Central (SNC), independentemente da via de

administração, ocasionando mudanças no psiquismo”, por exemplo, o álcool (MARCOLAN; CASTRO, 2013).

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conhecimento sobre o uso de drogas por adolescentes infratores. Ao término desta especialização,

apresentei o trabalho “Implantando Grupo Terapêutico de Educação em Saúde junto aos

Adolescentes Temporariamente Infratores”, cujos resultados evidenciaram o trabalho em grupos

como mais uma possibilidade de assistência aos adolescentes infratores.

Assim, após nove anos de prática assistencial e docência na área de álcool e outras drogas,

ingressei no Curso de Mestrado do Programa de Pós-Graduação em Enfermagem da

Universidade Federal de Santa Maria (UFSM). No decorrer do mestrado, ampliei meu olhar para

o ser adolescente e desenvolvi a Dissertação que objetivou “compreender o ser adolescente que

cumpre a medida socioeducativa”; esses adolescentes, em sua maioria, faziam uso/abuso de

drogas. Nos depoimentos, eles relataram a presença constante do álcool como parte de seu mundo

vivido, junto aos familiares. Os achados desvelaram o envolvimento com drogas desde a infância,

sugerindo, que tal proximidade favoreceu que iniciassem o uso. Nas palavras de um deles, “ao se

juntar com os outros saía e aprontava". Nesse sentido, a droga emergiu como uma escolha

comum entre eles, uma forma de viver no mundo (CARMO, 2010).

A essas observações, acresce-se o fato de, desde 1998, participar como voluntária do

Conselho Municipal de Entorpecentes (COMEN) de Santa Maria, vivência que tem me

propiciado acompanhar de perto a problemática do álcool. Observo tratar-se de um problema que

tem se agravado na região e no mundo, necessitando de atenção. Também colaborei para

elaboração do Plano Integrado Sobre Álcool e Outras Drogas do Município, no intuito de alertar

para essa necessidade. Na condição de docente colaboradora do Centro Regional de Referência

ao Enfrentamento ao Crack e outras Drogas (CRR) da UFSM, convivi com profissionais da área

e usuários adultos, o que revelou os prejuízos relacionados tanto ao déficit na capacitação

profissional quanto aos comprometimentos individuais e coletivos decorrentes do uso/abuso e

dependência do álcool (BRASIL; CRR/UFSM, 2010).

Destaco ainda minha participação no Grupo de Pesquisa “Cuidado à Saúde das Pessoas,

Famílias e Sociedade” (PEFAS/UFSM), na linha de pesquisa “Políticas e Práticas de Cuidado na

Saúde Mental e Dependência Química”, em que pude observar aumento das produções nesta área

e maior interesse em responder a essa crescente demanda. Como membro do Grupo de Pesquisa –

(GEPGERON-FURG) apreende-se pesquisas nessa área junto a populações de idosos. Aliado a

isto, a docência em sala de aula e supervisionada na área de Saúde Mental, de 1998 a 2012,

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mostrou o pouco interesse dos futuros profissionais a respeito do tema, o que corrobora a

necessidade de mais preparo para essa atenção.

Percebe-se assim, que, em quase duas décadas de experiências e vivências nas questões

relacionadas ao álcool e outras drogas, esta temática ganhou espaço, em destaque as drogas

ilícitas. No entanto, outras perspectivas também se abriram em relação às drogas lícitas, por

exemplo, o cigarro que a partir de um movimento social que assumiu a responsabilidade diante

dos riscos e prejuízos ao usuário e seu entorno, possibilitou uma transformação no

comportamento daqueles que optam pelo seu consumo. Uma alteração na legislação mudou a

regulação e o controle para o uso dessa droga em ambiente público.

Contudo, vale destacar minha vivencia como mãe de jovem cantor. A experiência de

acompanhá-lo em shows, festas e bares noturnos, onde se apresentava, possibilitaram-me o

convívio com o público desses espaços de diversão. Nesses ambientes a bebida alcoólica

compunha os elementos atrativos e por vezes servia de companhia a alguns. A frequência de ao

menos uma vez no mês, nesses locais, tornava o acesso as bebidas alcoólicas facilitado pelo meio

e pelas companhias que ali se encontravam.

Desse modo, reconheço na bebida alcoólica um elemento de fácil, livre e motivado

acesso, em espaços de diversão, como em casas de shows e bares, destacado nesse estudo o pub.

A escolha de consumir a bebida alcoólica e a forma de consumo pode ser regulada pelo sujeito.

No entanto exige, um olhar atento da sociedade a exemplo do cigarro, para a efetivação e criação

de mecanismos eficientes de regulação e controle, auxiliando aqueles que têm a intenção para o

consumo, considerando a licitude dessas substancia/droga.

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1 MUNDO VIDA DOS SUJEITOS/ATORES SOCIAIS

Há de se reconhecer que, assim como o consumo de álcool em excesso, por si só, pode

gerar prejuízos, essa substância também aparece como coadjuvante nas mais variadas formas de

relações sociais no mundo vida dos sujeitos. Salienta-se assim, que não só a problemática do

álcool precisa ser amplamente investigada na busca por melhor compreensão deste fenômeno,

mas há de se levar em conta a função que essa substancia representa em contextos sociais, o que

denota ai um fecundo campo a ser investigado.

Desse modo encontra-se em Schütz (1972) os caminhos para essa busca, a partir da

realidade empírica, analisando os motivos porque (passado) e para (futuro) presentes em uma

determinada ação de um determinado grupo social, e coloca que o típico dessa ação somente

pode ser produzido pelo estudo da subjetividade presente no mundo da vida, ou seja, a partir de

contatos com sujeitos pode-se objetivar o que há de comum ou estruturante (típico) nos

fenômenos investigados considerando os motivos. Assim, o pesquisador somente formata o tipo a

partir de um tipo ideal de pessoa, ação e situação.

Chegar ao típico da ação ou o tipo ideal não consiste em oferecer um modelo a ser

seguido “dever ser”, qual seja, tipo ideal é uma espécie de caminho, de método, em que ideal

concerne ao mundo das ideias, das representações originadas dos fenômenos que surgem no

mundo da vida. O tipo ideal não é único, ou seja, podem-se construir diferentes tipos acerca de

um dado fenômeno a partir das tipificações trabalhadas e identificadas pelo pesquisador.

Nesse sentido, busca-se conhecer diferentes realidades a fim de sustentar a tese a ser

defendida. Desse modo, flexibilizar a atenção, exercitar a inclusão do sujeito no seu processo de

escolha sobre consumir ou não a droga/álcool, permite que ele seja o centro da atenção podendo

diminuir assim, riscos e vulnerabilidade deste sujeito, bem como de suas famílias e sociedades

(MARCOLAN; CASTRO, 2013).

Dito isso, encontra-se evidencias que as pessoas começam a consumir álcool cada vez

mais cedo, diante da permissividade legal caracterizada pelo livre e fácil acesso a essa substancia,

tal postura pode aumentar os riscos para o abuso e a dependência na idade adulta. Assim,

reconhece-se que, na maior parte das vezes, o álcool poderá vir a fazer parte do mundo da vida do

sujeito (SOARES, 2010; JOMAR, 2012; OLIVEIRA, 2013). Por meio de uma compreensão

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dessa conduta como ação social, pode-se alertar e prevenir os prejuízos promovendo a

conscientização relacionada ao consumo levando em conta as relações, o espaço e os fins para,

onde a ação de consumir bebidas alcoólicas se desenvolve.

Estudos indicam ainda a carência de investigações sobre o comportamento de uso e

dependência na população em geral, assim como a respeito do que as drogas representam nas

vidas dos diversos grupos populacionais. Destacam-se as evidências de que o beber moderado, de

forma responsável, não é uma regra entre os que o fazem trata-se, na verdade, de uma forma de

beber de risco ou beber em binge (PINSKY; ZALESKI; LARANJEIRA, 2010; INPAD, 2012).

Sob tal perspectiva, parece não haver um limite seguro entre o beber moderado e o beber de risco,

ficando a critério dos sujeitos reconhecerem as próprias capacidades, desenvolvendo em si o

controle e a regulação do seu uso.

Pesquisa realizada no ano de 2012 pelo Instituto Nacional de Políticas Públicas do Álcool

e Outras Drogas (INPAD) revelou dados sobre o hábito de ingerir bebidas alcoólicas. Em relação

aos hábitos de consumo, a pesquisa evidenciou que 64% dos homens e 39% das mulheres adultas

consumiam álcool regularmente (pelo menos uma vez por semana); afirmaram beber em binge

(quatro doses para mulheres e cinco ou mais para homens), a cada duas horas, 66% dos homens e

49% das mulheres adultas. Enquanto metade da população era abstêmia, 32% bebiam

moderadamente e 16% consumiam quantidades nocivas de álcool. Cerca de dois a cada dez

bebedores (17%) apresentavam critérios para abuso e/ou dependência de álcool (INPAD, 2012;

WHO, 2014).

A pesquisa supracitada também evidenciou que 32% dos adultos que bebem referiram já

não terem sido capazes de cessar o consumo de álcool, 10% mencionaram que alguém já se

machucou em consequência deste consumo, 8% admitiram que o uso de álcool já prejudicou o

seu trabalho, 4,9% já perderam o emprego e 9% reconheceram o efeito prejudicial na sua família

ou em relacionamentos. O estudo revelou ainda forte associação entre abuso de álcool e

depressão, e que duas (02) a cada dez (10) tentativas de suicídio estavam relacionadas ao uso de

álcool. Foi destacado que, embora não tenha aumentado o número de pessoas que bebem álcool

no Brasil, aquelas que já o faziam aumentaram consideravelmente a sua frequência, fato que pode

contribuir para o agravo de problemas relacionados (INPAD, 2012; WHO, 2014).

No entanto, destaca-se que o consumo de bebidas alcoólicas só passou a ser foco da

atenção de pesquisadores nos últimos dois séculos, visto que antes predominavam o estigma e o

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preconceito que mantinham o usuário à margem das ações de saúde para prevenção, promoção e

tratamento. Hoje, diante do conhecimento produzido em relação ao álcool e outras drogas, novos

conceitos e olhares evoluem progressivamente e fundamentam-se na relação do sujeito com o

álcool, por ser uma substância reconhecidamente de uso mais difundido, milenar, universal e

livre em nossa sociedade (LARANJEIRA, 2012; WHO, 2014).

No Brasil, a licitude dessa substância lhe confere um status social, de modo que é

consumida com frequência nos mais diversos espaços de convivência, fazendo parte do cotidiano

social dos sujeitos. A escolha de frequentar esses espaços, bem como de consumir a bebida

alcoólica, é de seu livre arbítrio, e pode ser compreendida levando em conta a sua

intencionalidade, pois toda a ação intenta para um propósito (SCHÜTZ, 1979).

Assim, ao tencionar uma ação, prevê-se um comportamento ligado a determinado

momento e aos elementos nele envolvidos. Sob esta perspectiva, o álcool, sendo um elemento

comum a estes espaços, parece ter sua função relacionada ao propósito de congregação e

compartilhamento social e, portanto, deve-se compreender a perspectiva daqueles que convivem

nesse cotidiano social, ou seja, os atores sociais.

Contudo, reconhece-se que a tendência ao consumo abusivo de álcool por adultos

aumenta entre ambos os sexos, em especial entre as pessoas mais jovens, justificado pelo

consumo excessivo associado às características do contexto individual e coletivo (MOURA;

MALTA, 2011). Esta hipótese é corroborada por estudo cujos resultados mostram que o ato de

consumir bebidas alcoólicas e a sua relação com os espaços compartilhados parecem ser

influenciados pelos estímulos encontrados nesses contextos (festas e bares), nos quais há música

alta e pessoas bebendo (HAUCK FILHO; TEIXEIRA, 2012). Na socialização, revela-se,

portanto, uma forma de dividir o tempo e o espaço, de modo que os sujeitos podem influenciar e

serem influenciados para uma determina conduta (SCHÜTZ, 1979).

Este pensamento vem ao encontro do que se observa na práxis em relação às questões que

envolvem o tema de pesquisa. A pesquisadora tem realizado um exercício de observação e

reflexão diante da realidade vivida, no sentido de apreender a presença do álcool permeando o

contexto das relações sociais, bem como o significado daqueles que compartilham desse espaço e

da experiência do consumo de bebidas alcoólicas.

Dessa forma, apresenta-se, a seguir, o objeto de estudo, questão de pesquisa, objetivo

geral e específicos e a tese a ser defendida nessa pesquisa.

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1.1 Objeto de pesquisa

A partir das considerações realizadas até aqui, tem-se como objeto de estudo: As

motivações atribuídas por adultos ao consumo de bebidas alcoólicas em contextos sociais.

1.2 Questão de pesquisa

É necessário repensar tudo que já foi investigado em relação ao consumo de álcool por

adultos. Há de se levar em conta a função que essa substancia desempenha no mundo vida dos

sujeitos/atores sociais. Por isso, focaliza-se como questão de pesquisa o conhecimento e o sentido

pautados no mundo vida dos sujeitos: Quais as motivações atribuídas ao consumo de bebidas

alcoólicas por adultos em contextos permeados pela subjetividade das relações sociais?

1.3 Objetivos

1.3.1 Objetivo geral

A importância desta temática está orientada para despertar novas possibilidades na

Assistência (prevenção e promoção da saúde) ensino e pesquisas, relacionadas ao consumo de

álcool em espaços de compartilhamento social, ou seja, contextos de livre, fácil e motivado

acesso pelo fim social.

Assim, para uma melhor compreensão do fenômeno esta pesquisa tem como objetivo:

Compreender as motivações atribuídas ao consumo de bebidas alcoólicas por adultos em

contextos permeados pela subjetividade das relações sociais.

1.3.2 Objetivos específicos

- Identificar os motivos para e os motivos por que da ação de consumir bebidas alcoólicas

em contextos sociais;

- Descrever as características típicas da ação de consumir bebidas alcoólicas por adultos

que compartilham espaços sociais.

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1.4 Tese

O fácil, livre e motivado acesso ao álcool em ambientes de congregação social promove o

seu uso na contemporaneidade. O consumo de bebidas alcoólicas em contexto social apresenta-se

como uma ação intersubjetiva revestida de intencionalidade. As motivações para o consumo de

bebidas alcoólicas pelo adulto requerem a compreensão dos profissionais da saúde, das pessoas,

da família e da sociedade, em respeito ao seu livre arbítrio.

1.5 Prioridades de pesquisa em saúde

As questões relacionadas ao álcool têm suscitado inquietações para responder às

necessidades elencadas na Agenda de Prioridades do Ministério da Saúde, em especial a de

número dois, relacionada à Saúde Mental, que trata das estratégias de prevenção e redução de

danos para uso abusivo de álcool e outras drogas lícitas e ilícitas (BRASIL, 2008).

A referida Agenda é parte fundamental da Política Nacional de Ciência, Tecnologia e

Inovação em Saúde, cujo objetivo é aumentar a seletividade e capacidade de indução, bem como

as iniciativas de fomento à pesquisa no Brasil que se proponham a responder às necessidades de

saúde da população brasileira (BRASIL, 2008). Destaca-se que o debate sobre a importância e a

implicação do desenvolvimento científico e tecnológico na saúde, propondo uma discussão

política entre saúde, pesquisa e sociedade, teve início durante a 1ª Conferência Nacional de

Ciência e Tecnologia em Saúde, em 1994.

A Agenda Nacional de Prioridades de Pesquisa em Saúde tem como pressuposto

“respeitar as necessidades nacionais e regionais de saúde e aumentar a indução seletiva para a

produção de conhecimentos e bens materiais e processuais nas áreas prioritárias para o

desenvolvimento das políticas sociais” (BRASIL, 2008, p. 13). Essa agenda constituiu-se como o

primeiro exercício de definição de prioridades de pesquisa em saúde realizada no Brasil. A

ANPPS está composta por 24 subagendas de pesquisa em saúde (Ministério da Saúde, 2008): (1)

saúde dos povos indígenas; (2) saúde mental; (3) violência, acidentes e traumas; (4) saúde da

população negra; (5) doenças não transmissíveis; (6) saúde do idoso; (7) saúde da criança e do

adolescente; (8) saúde da mulher; (9) saúde dos portadores de necessidades especiais; (10)

alimentação e nutrição; (11) bioética e ética na pesquisa; (12) pesquisa clínica; (13) complexo

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produtivo da saúde; (14) avaliação de tecnologias e economia da saúde; (15) epidemiologia; (16)

demografia e saúde; (17) saúde bucal; (18) promoção da saúde; (19) doenças transmissíveis; (20)

comunicação e informação em saúde; (21) gestão do trabalho e educação em saúde; (22) sistemas

e políticas de saúde; (23) saúde, ambiente, trabalho e biossegurança; (24) assistência

farmacêutica (BRASIL, 2008).

Entretanto a partir dos resultados da pesquisa, visualizando possibilidades de intervenção

em espaços além daqueles destinados ao usuário já em situação de risco e comprometido em sua

saúde, há de se destacar a subagenda de número 18 da promoção da saúde que consiste em

proporcionar aos povos os meios necessários para melhorar sua saúde e exercer um maior

controle sobre a mesma, visto o álcool ser oferta de livre e fácil acesso, presente nos mais

diversos espaços de convívio social. O texto da Agenda Nacional diz que, para alcançar um

estado adequado de bem-estar físico, mental e social um indivíduo ou grupo deve ser capaz de

identificar e realizar suas aspirações, de satisfazer suas necessidades e de modificar

favoravelmente o meio ambiente (BRASIL, 2008). Nesse sentido, a saúde deve ser percebida,

não como o objetivo, mas em constante busca de qualidade e bem estar na vida. Trata-se,

portanto, de um conceito prático, que valoriza os recursos sociais e pessoais, bem como as

capacidades físicas. Assim, “a promoção da saúde não é responsabilidade exclusiva do setor

saúde, e vai para além de um estilo de vida saudável, na direção de um bem-estar global” (OPAS,

1987, p. 1).

Nesse sentido, reconhecer que o álcool faz parte do mundo vida dos sujeitos, permeando

as relações nos mais diversos espaços de convívio, pode contribuir para novos olhares em relação

a esse fenômeno e suas contextualizações, auxiliando os sujeitos em suas escolhas quanto ao

consumo dessa substancia. Esse documento, alerta ainda, que toda escolha sugere renúncias,

consequências e responsabilidades, porém essa escolha pode ser desenvolvida exclusivamente.

Destaca seu papel, ao se pautar por critérios de racionalidade econômica ou por um conjunto de

valores éticos e sociais de interesse público comprometidos com um propósito claro de melhorar

a vida de contingentes importantes da população (SANTOS, 2008; FLEURY, 2011).

Desse modo, e fazendo a opção implicada e comprometida com as necessidades sociais,

as agendas de pesquisa precisam refletir perguntas que interroguem qual política ou qual

procedimento seria mais eficaz e mais efetivo em determinado contexto, diante de problemas

específicos e para qual população (GUIMARÃES et al., 2010; SANTOS et al., 2010). Assim, os

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resultados da pesquisa revelam sua contribuição ao revelar aspectos relacionados ao fenômeno do

álcool em consonância com tema elencado pela subagenda de número dois.

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2 COMPREENDENDO AS QUESTÕES RELACIONADAS AO ÁLCOOL NO MUNDO

DA VIDA

(...) mundo da vida agora se dá à nossa experiência e interpretação. Toda interpretação

deste mundo se baseia num estoque de experiências anteriores dele, as nossas próprias

experiências e aquelas que nos são transmitidas..., as quais, na forma de ‘conhecimento à

mão’, funcionando como um código de referência (SCHÜTZ, 1979, p. 72).

2.1 Breve história do álcool no mundo

O problema filosófico da intersubjetividade é a chave para a compreensão da realidade

social. Os atores sociais se estruturam em orientação para o outro, o que constitui a

intersubjetividade (SCHÜTZ, 1974). Assim, conhecer um pouco da história do álcool pelo

mundo nos aproxima da realidade do mundo vida dos sujeitos/atores sociais que participaram

desse estudo.

O álcool faz parte da vida dos sujeitos há milênios e universalmente, pelos mais diferentes

motivos, desde ritualísticos religiosos até a busca pelo prazer. Nesse sentido, uma representação é

dada pelo Deus Grego Dioniso, Baco para os romanos, um deus alegre, esfuziante, que

proporcionava prazer aos homens pelo consumo de bebida alcoólica. Os rituais dionisíacos

buscavam a transcendência, a ligação com o divino por meio da dança e do vinho (MCGOVERN,

2009; DIEHL; CORDEIRO; LARANJEIRA, 2011; WHO, 2014).

Esta característica encontrada na mitologia talvez tenha motivado a manutenção da

conduta de beber para se divertir ao longo dos tempos pelo mundo (LINS; SCARPARO, 2010;

WHO, 2014). Registros da existência do álcool no Egito datam de 10000 a.C, na China de 7000,

e na Índia entre os anos 3000 e 2000. Portanto, o costume de compartilhar espaços sociais para

encontros que podem levar ao consumo de bebidas alcoólicas tem origem ainda em séculos

passados e acompanha a vida do homem desde então (DIEHL; CORDEIRO; LARANJEIRA,

2011; WHO, 2014).

No período moderno, marcado por revoluções religiosas, como a Reforma Protestante, a

bebida alcoólica se estabeleceu como um presente dos deuses, devendo, porém, ser usada com

moderação para o prazer e a saúde, pois consumi-la de maneira abusiva era visto como pecado.

Também foi neste período, em meados do século XVI, que tal substância foi vastamente utilizada

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para fins médicos (ESCOHOTADO, 2005; DIEHL; CORDEIRO; LARANJEIRA, 2011; CISA,

2014).

Durante o século XVII, Franciscus Sylvius (ou Franz de la Boe), professor de medicina na

Universidade de Leyden, após descobrir que poderia fazer destilados com grãos, criou gin ou

junever, como era conhecido na época. Para os franceses, Genièvre, termo alterado pelos ingleses

para "Genebra", sendo depois modificado para o "gin". Desenvolvido para ser utilizado na

medicina, o gin, para fins sociais, não foi bem aceito inicialmente. No entanto, em 1690,

decorridos quatro anos, a produção de bebidas destiladas alcançou a marca de um milhão de

litros, a maioria gin, fato motivado pela iniciativa da Inglaterra de criar um Ato para o Incentivo

da Destilação de Brandy e Destilados do Milho (EDWARDS; MARSHALL; COOK, 2005;

DIEHL; CORDEIRO; LARANJEIRA, 2011; WHO, 2014).

Mais tarde, já no século XVIII, o parlamento inglês aprovou uma lei que promovia o uso

de grãos para a destilação de espirituosos, como eram denominadas as bebidas alcoólicas,

relacionando-as aos espíritos. Assim, por serem de valor muito baixo, elas conquistaram grande

espaço no mercado e alcançaram a alta mais elevada nos meados desse século. No entanto, no

final desse século e com o início da Revolução Industrial, ocorreram mudanças demográficas e

comportamentais na Europa que levaram algumas pessoas à concepção do uso excessivo de

bebida como doença ou desordem. Dizia-se sobre o álcool destilado, que o século XVI o criou; o

século XVII o consolidou, e o XVIII o popularizou (EDWARDS; MARSHALL; COOK, 2005;

DIEHL; CORDEIRO; LARANJEIRA, 2012; WHO, 2014).

No século XIX, o consumo moderado de álcool foi reconhecido como uma transformação

de atitude, em parte promovida pelo movimento anti alcoolismo, que culminou numa campanha

de proibição total. Nos Estados Unidos, por exemplo, uma lei foi aprovada em 1920 proibindo a

fabricação, venda importação e exportação de bebidas alcoólicas. Conhecida como Lei Seca, foi

considerada um desastre para a saúde pública e economia americana, pois fomentou o tráfico de

bebidas alcoólicas até 1933, quando a proibição foi suspensa (WHO, 2014). Gradativamente, na

metade desse século, o vinho ganhou destaque em estudos que evidenciavam a diferença entre

destilados e fermentados (FONSECA; BASTOS, 2012; WHO, 2014).

Durante o século XX, países como a França passam a estabelecer a idade mínima de 18

anos para o consumo de álcool. No Brasil, a Lei Nº 12.760, fruto do Projeto de Lei Nº 5.607-A,

apresentado na Câmara dos Deputados, estabeleceu alterações no Código de Trânsito Brasileiro

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especialmente em relação ao crime e à infração administrativa de trânsito por embriaguez ao

volante (OLIVEIRA, 2013; WHO, 2014; CISA, 2014).

Assim, percebe-se que no decorrer da história a simbologia e os significados atribuídos às

bebidas alcoólicas sempre estiveram vinculados às relações sociais do mundo da vida dos

sujeitos, tanto por aspectos religiosos como pela promoção de diversão, bem-estar e prazer. De

modo geral, a presença constante de bebidas alcoólicas passou a fazer parte dos costumes, das

crenças e das condutas pessoais.

Vale destacar que o século XXI tem sido marcado por frequentes debates sobre a questão

do álcool e outras drogas, no intuito de manter a atenção na estruturação e revisão das Políticas

Públicas criadas especificamente sobre essas temáticas (MARCOLAN; CASTRO, 2013;

OLIVEIRA, 2013; WHO, 2014).

A discussão atual no Brasil, traz a tona a descriminalização do uso da canabis, questões de

mercado a exemplo de países próximos como o Uruguai que desde 2014 experimenta um

mercado regulador desse uso e com retorno financeiro capaz de prover a assistência de qualidade

necessária aqueles que procurarem ajuda, mostram resultados positivos (PELEGRINE, 2015).

Entretanto, e não menos importante, destaca-se nesse contexto o respeito ao livre arbítrio

daqueles que optam pelo uso, contando com mecanismos de controle e regulação efetivos para

garantir sua plena liberdade e a qualidade do produto oferecido.

Diante dessa realidade, reconhece-se na fragilidade desses mecanismos, em especial no

Brasil, um fator que pode estar contribuindo para o agravo das questões relacionadas ao consumo

pesado, sobretudo entre os mais jovens.

No entanto, há de se reconhecer que o costume de consumir drogas, em especial o álcool

como já citado, acompanha a história humana, assim como tantas outras necessidades básicas

(comidas e bebidas), as quais, da mesma forma dependendo da forma como são usadas, podem

vir a causar sérios prejuízos a saúde do sujeito. Porém, comidas e bebidas não levam ninguém a

ser preso, o prejuízo se limita a própria saúde do individuo (CARNEIRO, 2002). Mais uma vez

aparece a regulação e controle como forma de conter os riscos e prejuízos em relação aos

excessos quanto ao uso de qualquer produto e ou substancias.

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2.2 O problema da saúde: epidemiologia

Dentro de nossas experiências atuais, ou nós poderíamos viver puramente direcionados

aos objetos dela, ou nós nos direcionaríamos às nossas experiências a partir de uma

atitude reflexiva, e nos-perguntaríamos: a respeito do seu sentido (SCHÜLTZ, 1993, p.

62).

Estudos epidemiológicos possibilitam a melhoria das condições de saúde da população,

pois, por meio de investigações do processo saúde/doença e dos determinantes em grupos

humanos, novas estratégicas de atenção à saúde de uma determinada população podem ser

reveladas.

No que tange as questões do álcool, entretanto, é importante sinalizar que somente no ano

de 1952, após publicação da primeira edição do DSM-I (Diagnostic and Statistical Manual of

Mental Disorders), o alcoolismo passou a ser tratado como doença (DSM-I, 1993). Mais tarde,

em 1967, o conceito de doença do alcoolismo foi incorporado pela Organização Mundial de

Saúde à Classificação Internacional das Doenças (CID-8), durante a 8ª Conferência Mundial de

Saúde (BRASIL, 2004b). No CID-8, os problemas relacionados ao uso de álcool foram inseridos

em uma categoria mais ampla de transtornos de personalidade e neuroses (WHO, 2014;

SIQUEIRA, 2015).

Tais problemas foram divididos em três categorias: dependência, episódios de beber

excessivo (abuso) e beber excessivo habitual. Caracterizou-se dependência de álcool pelo uso

compulsivo de bebidas alcoólicas e pela manifestação de sintomas de abstinência após a cessação

do uso, abuso ou uso nocivo como padrão que cause danos à saúde pessoal, familiar e social

(EDWARDS; MARSHALL; COOK, 2005; DIEHL; CORDEIRO; LARANJEIRA, 2011; WHO,

2014).

No caso específico do consumo de álcool, observa-se aumento exponencial de 70% nas

décadas de 70 e 90, tendo sido responsável por mais mortes e prejuízos de diversas naturezas do

que o tabaco e as drogas ilícitas. Isso impôs custos significativos para a maioria das sociedades,

principalmente em países em desenvolvimento (MARCOLAN; CASTRO, 2013; WHO, 2014;

OMS, 2014).

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É fato que o consumo excessivo do álcool causa, a cada ano, 2,5 milhões de mortes,

grande parte de jovens. Em relação ao gênero, é crescente o consumo em ambos os sexos (OMS,

2014). Estudos revelaram ainda que quase 4% de todas as mortes no mundo são atribuídas ao

uso, abuso e à dependência do álcool, número que supera aquelas ocasionadas por HIV/Aids,

violência ou tuberculose (OMS, 2014; WHO, 2014).

O Brasil ocupa a 80ª posição quando comparado a outros 185 países em termos de

consumo anual de litros de álcool puro por habitante com idade superior a 15 anos. Estima-se

aproximadamente dois bilhões de consumidores de bebidas alcoólicas no mundo, o que coloca o

país na 25ª posição em termos de aumento do consumo de bebidas alcoólicas (OMS, 2014;

WHO, 2014). Faz-se, portanto, necessário ampliar os olhares sobre essa realidade em prol da

promoção da vida, considerando a acessibilidade fácil e livre.

A Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS, 2007), em um estudo multicêntrico

realizado em dez países, revelou que os homens pesquisados mostraram prevalências de beber

pesado, episódico, de duas a cinco vezes mais do que as mulheres, exceto para o Brasil. Neste

país ocorre que a prevalência para as mulheres é cerca de dois terços a dos homens. O Brasil

apresentou também a mais elevada prevalência de consumo excessivo de álcool em geral e para

ambos os sexos: mais da metade da população (57,40%), mais de dois terços dos homens

(65,52%) e quase metade das mulheres (46,32%) relataram pelo menos um episódio de

embriaguez nos 12 meses anteriores à entrevista. O Brasil é seguido pelo Canadá, que apresenta

prevalência geral de 48,26%, sendo 63,45% entre os homens e 36,7% entre as mulheres (WHO,

2014).

No 1º Levantamento Domiciliar Sobre o Uso de Drogas Psicotrópicas, realizado no ano

de 2001 nas 107 maiores cidades do Brasil, observou-se aumento do número de pessoas que se

tornaram dependentes do álcool: passaram de 11,2% para 12,3% da população (CARLINI et al.,

2002). No 2º Levantamento, no ano de 2005, dessa vez nas 108 maiores cidades brasileiras,

Carlini et al. (2006) pontua o álcool como a substância psicoativa mais consumida pela população

e estima que 74,6% das pessoas com idade entre 12 e 65 anos já consumiram bebidas alcoólicas

pelo menos uma vez na vida (CARLINI et al., 2002). Esses levantamentos também alertaram

para o problema do consumo de álcool em faixas etárias cada vez mais jovens (DUARTE;

STEMPLIUK; BARROSO, 2010; WHO, 2014).

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Outro achado importante foi que, apesar da diferença dos critérios adotados nos estudos e

da dificuldade de comparação entre eles, houve consenso sobre prejuízos e consequências

negativas decorrentes do uso pesado do álcool. Os bebedores pesados de álcool apresentaram

elevado risco individual para diversos problemas sociais e de saúde em geral, como envolvimento

em acidentes; também tornam-se mais vulneráveis a assaltos, abuso sexual, atividade sexual não

planejada e violência em geral (VIEIRA, 2014; SIQUEIRA, 2015).

Em relação à intensidade do consumo de bebidas alcoólicas, o estudo de Carlini et al.

(2006) indica que 24% da população fazem uso frequente (pelo menos uma vez por semana) e de

forma pesada (cinco ou mais doses de bebidas alcoólicas para os homens e quatro ou mais doses

para as mulheres). Entre os homens, 40% relataram uso pesado episódico de álcool pelo menos

uma vez no último ano, assim como 18% das mulheres (DUARTE; STEMPLIUK; BARROSO,

2010; WHO, 2014).

Em 2007, o 1º Levantamento sobre Padrões de Consumo de Álcool na População

Brasileira, realizado com uma amostra representativa dos municípios, inclusive de áreas rurais,

revelou que 52% da população acima de 18 anos consumiam alguma quantidade de bebida

alcoólica pelo menos uma vez ao ano. Do conjunto de homens adultos, 11% bebiam todos os dias

e 28% de uma a quatro vezes por semana (LARANJEIRA et al., 2007). Além disto, em extensa

revisão de estudos epidemiológicos sobre uso pesado e uso pesado episódico de álcool,

encontrou-se beber pesado em adultos no Brasil maior entre homens e associado com o início do

uso de álcool antes dos 15 anos, baixa renda e baixo nível educacional, indivíduos não brancos e

tabagistas pesados. Nas mulheres, o beber pesado foi prevalente em todas as idades e concentrou-

se entre as solteiras (MOREIRA et al., 2002; COSTA et al., 2012; ALMEIDA-FILHO et al.,

2004; PRIMO; STEIN, 2004; SILVEIRA et al., 2007).

O Ministério da Saúde, por meio da Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para

Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico (VIGITEL), também monitora o consumo de álcool

da população das capitais brasileiras e do Distrito Federal. Dados dos anos de 2006 a 2010

apontam que, embora a prevalência de uso e abuso de álcool seja superior entre homens em todos

os anos, observa-se aumento do consumo entre mulheres adultas. O percentual de mulheres que

declararam ter excedido o consumo de quatro doses de bebidas alcoólicas em uma única ocasião

passou de 8,2% para 10,6% (p<0,001), no período analisado (SOCCOL, 2011; OLIVEIRA;

DELLÄGNOLO; BALLANI; CARVALHO; PELLOSO, 2012; MACHADO et al., 2013).

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Entretanto, em 2011, foi observada ligeira queda na frequência deste indicador,

impedindo que, estatisticamente, continuasse a ser registrada uma tendência ascendente das

mulheres que excederam o consumo de risco naquele período. Contudo, os achados mostraram

que a cidade de Belo Horizonte, no referido ano, ocupou a 7ª posição em uso pesado episódico de

álcool por mulheres adultas - prevalência de 11,6% (Intervalo de Confiança - IC 95%: 8,9-14,2)

(SOCCOL, 2011; OLIVEIRA; DELLÄGNOLO; BALLANI; CARVALHO; PELLOSO, 2012

MACHADO et al., 2013).

As pesquisas destacam ainda a importância de atentar para a capacitação profissional, pois

a resistência ao tratamento frequentemente apresentada pelos sujeitos/usuários prejudica o

acolhimento por parte dos profissionais de saúde (VIEIRA, 2011; SOCCOL, 2011; FONSECA;

BASTOS, 2012; SIQUEIRA, 2015). Acolher o outro independente da sua escolha pode melhorar

a aproximação do usuário aos sistemas de saúde, caso seja compreendido que ele quer melhorar

aspectos da sua saúde, mas também quer continuar consumindo a bebida alcoólica em uso de seu

livre arbítrio.

Os dados apresentados demonstram que o foco das pesquisas residem nos prejuízos e no

consequente tratamento dos usuários. Poucos estudos dirigem-se ao álcool e seus aspectos sociais

e, portanto, o emergir de novos olhares como o estudo em questão se mostra necessário para

ampliar tais discussões, alinhando-as a realidade atual. O álcool permeia a vida das pessoas nos

mais diferentes contextos e a aproximação ao consumidor social começa a ser necessária. A

pesquisa em questão corrobora assim com o alerta para a necessidade de constante revisão das

políticas/medidas de controle e regulação da oferta e da rede de apoio social levando em conta a

licitude da droga e prioritariamente ‘como o sujeito significa’ o consumo em seu mundo vida.

2.3 Como é tratada as questões do álcool e outras drogas: teoria e legislação

Por muito tempo os sujeitos/usuários de álcool e outras drogas sofreram preconceito,

estigma de desvio de caráter e foram responsabilizados pela vontade e falta de controle quanto ao

uso de bebidas alcoólicas. A partir da criação das Políticas Públicas que imprimiram diretrizes

para as questões relacionadas ao álcool e outras drogas, deu-se início a uma transformação lenta,

mas fecunda no sentido de ampliar as discussões sobre o tema. Foi então que, no ano de 2002, em

atendimento às recomendações da 3ª Conferência Nacional de Saúde Mental, o Ministério da

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Saúde admitiu o álcool como problema, o que levou à implementação do Programa Nacional de

Atenção Comunitária Integrada aos Usuários de Álcool e outras Drogas (BRASIL, 2004a).

A Secretaria Nacional Antidrogas (SENAD) promoveu um efetivo debate sobre a Política

Nacional Antidrogas, mediante a realização de fóruns regionais e nacional, com o envolvimento

da comunidade científica e de diversos segmentos da sociedade civil (BRASIL/SENAD, 2009).

Dessa forma, foi constituída uma política pública específica para a atenção às pessoas que fazem

uso de álcool ou outras drogas, que reconhece o problema do uso prejudicial de substâncias como

importante problema da saúde pública em virtude dos prejuízos ao campo da saúde em geral.

Essa política apresenta como estratégias a ampliação do acesso ao tratamento, a compreensão

integral e dinâmica do problema, a promoção dos direitos e a abordagem de redução de danos

(BRASIL, 2004; BRASIL, 2005; SENAD, 2009; KANTORSKI, 2014; BRASIL, 2015).

As questões relacionadas ao álcool foram incluídas na Política Nacional de Promoção da

Saúde em 2006, que propôs a garantia da integralidade do cuidado à saúde, por meio de diretrizes

e estratégias com vistas à organização das ações de promoção da saúde nas três esferas de gestão

do Sistema Único de Saúde (SUS). Nesse sentido, esta política tem como meta a redução da

morbimortalidade em decorrência do uso abusivo de álcool, assim como de outras drogas.

Alterou-se sua denominação de Política Antidrogas para Política Pública Sobre Drogas (PPD),

com o propósito de destacar o sujeito/usuário e não mais a droga (BRASIL, 2006a).

Nessa perspectiva, a Política Nacional apresenta ações para grupos específicos como

crianças e adolescentes, jovens e motoristas de trânsito, por meio da produção e distribuição de

material educativo. Além disto, promove campanhas de prevenção e ações de redução de danos

destacando a corresponsabilização da população com base em informações relacionadas aos

riscos e danos envolvidos na associação entre o uso abusivo de álcool e outras drogas. Também

apoia a restrição de acesso a bebidas alcoólicas de acordo com o perfil epidemiológico de

determinado território, a fim de proteger segmentos vulneráveis (BRASIL, 2015).

Importante destacar também o Decreto nº 6.117/2007, que dispõe sobre as medidas para

redução do uso indevido de álcool, por meio do qual se instituiu a Política Nacional Sobre o

Álcool que contém princípios fundamentais à sustentação de estratégias para o enfrentamento

coletivo dos problemas relacionados ao consumo de álcool. Essa Política traz, em seu bojo, a

intersetorialidade e a integralidade de ações para redução de danos sociais, à saúde e à vida,

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causados pelo consumo desta substância, bem como das situações de violência e criminalidade

associadas ao uso prejudicial de bebidas alcoólicas na população (BRASIL, 2007).

A Política supracitada trata de aspectos referentes ao consumo de bebidas alcoólicas e

associação álcool e transito no Brasil. Há também recomendações para ampliação da oferta de

tratamento na rede do SUS, dentre outras. O Decreto prevê, ainda, o monitoramento e a

fiscalização da propaganda e publicidade de bebidas alcoólicas como estratégias de regulação e

controle do uso (BRASIL, 2007). No entanto, sua efetivação é frágil não respondendo a previsão

da lei.

Entretanto, o Brasil tem se mostrado à frente nas questões relacionadas ao álcool, por

exemplo, com a implantação da “Lei Seca”, Lei nº 11.705, de 19 de junho de 2008, que

modificou o limite de alcoolemia aceito para os motoristas de 0,6 gramas de álcool por litro de

sangue para zero. No entanto, foi necessário revisar a redação considerada falha na primeira

versão atentando para uma fiscalização mais efetiva, porém ainda frágil em sua execução.

Atualmente, a Lei Nº 12.760 de 2012 prevê, de acordo com o Código de Trânsito Brasileiro,

penalidade administrativa para o motorista que dirigir embriagado: pagamento de multa no valor

de R$ 1.915,00, anotação de 7 pontos na Carteira Nacional de Habilitação e suspensão do direito

de dirigir por 12 meses, além da retenção do veículo (BRASIL, 2012).

Essas alterações na Lei, no sentindo de torná-la mais rigorosa e incorporar outros critérios

para comprovação da embriaguez do motorista, como o uso de imagens e de testemunhas e não

somente o teste do bafômetro e exame de sangue como de início, pretendem motivar a reflexão

sobre a perigosa associação álcool e direção (BRASIL, 2012). Os resultados da aprovação e da

aplicação da Lei Seca provam que uma legislação efetiva pode contribuir para redução de eventos

que necessitam ser evitados com relação ao consumo de bebidas alcoólicas (DUALIBI; PINSKY;

LARANJEIRA, 2007; BRASIL, 2012; WHO, 2014).

Nesse sentido, compreender no consumo de bebidas alcoólicas uma conduta social pode

favorecer a estruturação e futuras revisões das Políticas Públicas sobre o álcool e outras drogas

alinhadas a realidade social da oferta fácil de livre acesso, irrestrito aos ambientes de encontros

com fins de diversão/social. A antiga denominação “Política Antidrogas” sinalizava o foco da

atenção nas drogas quando o pertinente é refletir sobre o usuário e suas escolhas. Assim, ao

mesmo tempo em que a Política Pública Sobre Drogas (PPD) se estrutura, o Brasil tem a Política

de Atenção Integral ao Usuário de Álcool e Drogas do Ministério da Saúde com princípios e

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diretrizes que divergem das proposições da PPD. A Política de Atenção Integral do Ministério da

Saúde preconiza que a assistência nessa área seja pautada por ações de prevenção, tratamento e

educação (BRASIL, 2004a).

Essas ações precisam estar na interface do Ministério da Saúde com outros ministérios e a

sociedade organizada, de modo que todos reconheçam o consumo dessas substâncias como um

problema de saúde pública que impõe às sociedades de todos os países elevada carga de agravos

indesejáveis e extremamente dispendiosos, que acometem os indivíduos em todos os domínios de

sua vida (BRASIL, 2004b). Destaca-se aqui, o exemplo do cigarro, produto/droga de livre e fácil

acesso como o álcool, que a partir de novos olhares, sob movimentos sociais, foi proporcionado

ações efetivas de regulação e controle sobre o seu uso.

Nesse contexto, a Política de Redução de Danos (PRD) emerge como estratégia aos

Centros de Atenção Psicossocial Álcool e Drogas (CAPS ad) e às Redes de Assistência

(BRASIL, 2004). Encontra-se, assim, nos dispositivos extra-hospitalares, a possibilidade de

cuidados embasados no conceito de “território”, que compreende a rede e a lógica ampliada da

redução de danos, o que justifica enfatizar o caráter intersetorial. Com a efetivação dos CAPS,

que oferecem atendimento diário e serviços para a comunidade, o enfoque das campanhas

preventivas começa a mudar e não se observa mais a associação do uso de drogas e álcool a

questões únicas de caráter (BRASIL, 2007).

Outro aspecto importante foi o rompimento com as metas de abstinência, exigência que

gerava fragilidade no acompanhamento daquele sujeito/usuário que optasse por manter o

consumo controlado da substância de escolha. Este novo modelo de atenção passou a reconhecer

o direito de escolha, ou seja, o livre arbítrio do sujeito/usuário para o uso de drogas, colocando-o

no centro da atenção. Esses serviços, de caráter substitutivo, têm a garantia, por parte do

Ministério, de financiamento específico para os CAPS ad (BRASIL, 2007).

Essa política constitui um programa de relevância no contexto das drogas, por exigir que

os profissionais atuantes nessas questões assumam posturas compreensivas e inclusivas, com

vistas à redução dos danos que tais substâncias podem causar às pessoas e à sociedade. O estudo

revelou ainda que a PRD tenha sido pouco articulada nos espaços comunitários, pois, no período

investigado, foram observadas poucas intervenções no ambiente social, aspecto considerado um

ponto frágil nos serviços (PASSOS; SOUZA, 2011; SOUZA; KANTORSKI; LUIS; OLIVEIRA,

2012; SIQUEIRA, 2015).

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Destaca-se que a Redução de Danos (RD) vem se fortalecendo como estratégia mais

realista no campo da prevenção e promoção de saúde, visto que apresenta uma abordagem menos

reducionista e mais pragmática. Assumem-se, dessa forma, a complexidade e os diversos

processos presentes no uso de drogas, de modo a propor soluções adequadas a cada realidade, o

que favorece um modelo de atenção à saúde em que os usuários possam se sensibilizar diante das

contradições sociais e da existência de elementos necessários para distinções transformadoras da

realidade vivida (PASSOS; SOUZA, 2011; FORTESKI, 2013).

A PRD tem se apresentado como amplo movimento social que expressa os contrassensos

sociais presentes na origem do fenômeno do consumo de drogas. Esta abordagem encontra-se

amparada teórica e politicamente pela Política do Ministério da Saúde para Atenção Integral aos

Usuários de Álcool e outras Drogas e fortaleceu a rede de assistência que engloba serviços de

saúde e serviços sociais, tendo como estratégia a redução de danos para a reabilitação e

reinserção social dos usuários (FORTESKI, 2013; KANTORSKI, 2014).

A formulação da Política de Atenção Integral aos Usuários de Álcool e Drogas

(PAIUAD) reflete, em seu texto, a disposição da Coordenação de Saúde Mental em ser a

protagonista, em parceria com gestores locais, universidades e sociedade civil, na construção de

respostas às demandas decorrentes dessa área. A apropriação da Política de Álcool e Drogas,

referida no âmago da Política Nacional de Saúde Mental, é inegavelmente um fato marcante e

necessário. No entanto, vale destacar:

O atual fluxo das políticas públicas segue como uma pirâmide, no seu topo estão os

responsáveis pelo planejamento e decisões e com recursos para a realização das

diretrizes; no meio, encontram-se os técnicos responsáveis pela execução e

implementação de um programa já elaborado; e na base, existem os numerosos usuários

do programa, os que “recebem” a política (LINS; SCARPARO, 2010, p. 36).

Diante do exposto, destaca-se que, desde 1990 até a contemporaneidade, a política sobre

drogas no Brasil desenvolve-se simultaneamente em duas perspectivas contrapostas: a de Guerra

às Drogas, sendo esta perspectiva hegemônica e, atualmente, a da Redução de Danos, uma

proposta emancipatória que se revela compreensiva ao fenômeno em questão na atualidade.

Percebe-se, nesta última, a motivação para que sejam fortalecidas as redes de compromisso e

corresponsabilidades, integrando as ações dos diferentes poderes: público, privado e comunitário,

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todos numa mesma direção (MARCOLAN; CASTRO, 2013; WHO, 2014). Em destaque aqui, a

valorização do mundo vida dos sujeitos.

Contudo, há de se destacar a fragilidade de união entre os serviços, os quais, na maior

parte das vezes tomam partido por um ou outro modelo de atenção, deixando de incluir no

contexto aquele que mais tem interesse no cuidado, ou seja, o sujeito/usuário. A noção de que o

sujeito tem acesso livre ao álcool, diante de uma oferta sem limites nos mais diversos ambientes

parece não ser concebida por grande parte dos profissionais dos serviços de assistência. Assim,

há de se reconhecer que o usuário possa ter se excedido e busque ajuda, mas que ele deve ser

respeitado no seu direito de escolha, exigindo do profissional, competência para atuar nesse

modelo de atenção que orienta/educa para melhorar a consciência do cuidado de si,

desenvolvendo a capacidade de responsabilidade diante da intenção do sujeito para voltar a

beber.

2.4 Conhecendo de forma sistemática o que foi produzido sobre o tema

Inicialmente, percebeu-se a necessidade de uma maior aproximação ao conhecimento já

produzido e relatado na literatura sobre o tema, o que possibilitou avançar na discussão e

identificar aspectos que auxiliaram no processo de investigação.

Assim em primeiro momento, em janeiro de 2014, a fim de conhecer o que foi produzido

sobre o tema, realizou-se uma revisão narrativa da literatura de modo sistemático. A princípio,

com o objetivo de conhecer as tendências dos estudos, teses e dissertações produzidas acerca do

usuário de álcool e outras drogas, realizou-se busca no Banco de Teses e Dissertações da

Coordenação de Aperfeiçoamento Pessoal de Nível Superior (CAPES).

Para selecionar as produções, inicialmente estabeleceram-se os seguintes critérios de

inclusão: estudos provenientes de Programas de Pós-Graduação em Enfermagem,

disponibilizados na íntegra no Banco da CAPES, que abordassem o usuário de álcool e outras

drogas. E, como critério de exclusão, estudos não provenientes de Programa de Pós-Graduação

em Enfermagem e pesquisas cujo procedimento metodológico fosse a revisão de literatura. O

recorte temporal para seleção das teses/dissertações foi de 2004-2014, tendo como marco a

Política do Ministério da Saúde para a Atenção Integral a Usuários de Álcool e outras Drogas

(BRASIL, 2004b).

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Foram encontradas 45 teses/dissertações, das quais 33 não abordavam a temática; 02

publicações não estavam disponíveis na íntegra; 04 estudos não eram provenientes de Programa

de Pós-Graduação em Enfermagem; 01 publicação tinha como procedimento metodológico a

revisão de literatura; e 01 publicação era anterior ao ano de 2004. Assim, o corpus de análise

contou com quatro estudos, sendo uma tese e quatro dissertações.

Desenvolveu-se a análise de conteúdo em três etapas: pré-análise, exploração do material

e interpretação dos resultados (BARDIN, 2009). A primeira etapa possibilitou uma visão

abrangente do conteúdo dos artigos por meio de leitura. A etapa de exploração do material foi

desenvolvida após a transcrição dos resultados e de trechos significativos. Mediante uma leitura

exaustiva dos textos, fez-se a codificação dos achados e foram elaboradas categorias temáticas,

com referências dos autores e análise sintética dos textos. Após, na fase de interpretação dos

resultados, foram observadas as convergências e divergências existentes à luz de diferentes

autores.

Dentre os quatro estudos selecionados, apenas um era tese de doutorado. Em relação ao

ano das produções, prevaleceu o de 2012. Evidenciou-se que os estados brasileiros de

procedência dessas produções foram São Paulo e Recife. Os cenários dos estudos foram Centro

de Atenção Psicossocial Álcool e Drogas, Unidade Básica Distrital de Saúde, Pronto-Socorro de

hospitais e Centro de Atenção Psicossocial.

A análise dos resultados das produções alerta para um enfoque das pesquisas sobre o

usuário já em tratamento, ou seja, com foco no problema de saúde já instalado, deixando de lado

outros aspectos relevantes da vida desse sujeito/usuário. Esses resultados levam a enxergar uma

lacuna relacionada ao consumo de álcool em contextos sociais, além dos da assistência a saúde,

desse modo, há de se reconhecer o livre e fácil acesso a essa substancia, bem como os costumes

sociais e históricos pelo mundo vida dos sujeitos.

Em um segundo momento, a revisão narrativa da literatura direcionou-se para as

produções científicas sobre o tema, divulgadas sob forma de artigos. Assim, fez-se busca

bibliográfica nas seguintes bases de dados: Biblioteca Virtual de Saúde (BVS-BIREME),

Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS) e Medical Literature

Analysis and Retrieval System Online (MEDLINE), com os “descritores”: ("consumo de bebidas

alcoólicas" or "bebidas alcóolicas" and "adulto") [Descritor de assunto] and "2003" or "2004" or

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39

"2005" or "2006" or "2007" or "2008" or "2009" or "2010" or "2011" or "2012" or "2013"or

“2014” [Ano de publicação] and "ESPANHOL" or "INGLES" or "PORTUGUES" [Idioma].

Constituíram critérios de inclusão: publicação sob forma de artigo, disponibilidade do

texto completo em suporte eletrônico, publicado em periódicos nacionais. E, critérios de

exclusão: teses, capítulos de teses, livros, capítulos de livros, anais de congressos ou

conferências, relatórios técnicos e científicos e documentos ministeriais.

Na LILACS encontrou-se um total de 507 estudos, dos quais 202 foram selecionados,

sendo utilizados cinco (05) artigos neste estudo; na MEDLINE, 654 artigos, dos quais foram

selecionados 292 e utilizados 18. Para chegar a essa amostra foram lidos os títulos e os resumos,

sendo excluídos aqueles divergentes da temática. Por fim, analisou-se nesta revisão um total de

23 artigos, todos lidos na íntegra.

Para acesso ao texto completo, optou-se por utilizar os seguintes recursos: link disponível

diretamente na base de dados LILACS e MEDLINE, busca no portal do periódico em que o

artigo foi publicado, busca no portal CAPES. Dos 23 artigos selecionados, a maioria tem relação

com padrão de consumo, perfil do usuário e ambiente/local, sendo que um deles alerta para a

compreensão deste fenômeno como ação social.

A análise dos 23 artigos revelou diferenças no padrão de consumo de bebidas alcoólicas e

mostrou que, entre adultos e idosos, o uso foi mais frequente, sobretudo adultos homens e jovens

com padrão de maior risco – um alerta, portanto, à necessidade de atenção à promoção da saúde

(FERREIRA; SALES; CASOTTI; JR; JR, 2011; WHO, 2014). Quanto aos prejuízos relacionados

ao consumo de bebidas alcoólicas, Galduroz e Caetano (2004) evidenciaram que o álcool

interfere de maneira significativa na etiologia de problemas sociais, econômicos e de saúde no

Brasil.

Destaca-se que pesquisas adicionais que investiguem os efeitos, em longo prazo, e

diferenciais de gênero, etnia e classe social sobre o uso de álcool podem contribuir para explicitar

o papel do álcool como causa das desigualdades sociais em saúde (ALMEIDA-FILHO; LESSA;

MAGALHÃES; ARAÚJO; AQUINO; KAWACHI; JAMES, 2007). Percebe-se assim, que

elementos sociais e culturais podem determinar padrões locais de consumo de bebidas alcoólicas.

Além disto, estudo realizado com homens russos em idade produtiva sobre

comportamentos de consumo perigoso e a relação com aspectos socioeconômicos mostrou

elevada prevalência e significativa associação entre estes e uso quase diário de bebidas alcoólicas

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e destaque os destilados (LEON; SABUROVA; TONKINS; ANDREV; KIRANOV; MCKEE;

SHKOLNIKOV, 2007). Os autores pontuam a necessidade de se investigar diversos fatores, e

não apenas a frequência e quantidade de consumo, visto que o álcool pode afetar outras áreas que

vão além da saúde. Este estudo indica ainda, a probabilidade para o efeito negativo sobre o

desenvolvimento da economia russa.

No entanto, Grittner, Gustafsson e Bloomfield (2009) investigaram sobre a redução de

preços aliada à fácil oferta da bebida alcoólica e o quanto isso estaria relacionado a um maior

consumo desse produto na época, não encontrando, porém, qualquer evidência que corroborasse

com a hipótese. Nesse contexto, Kerr, Greenfield e Rehm (2009) em análises de tendência para o

consumo do álcool, mostraram que para os sujeitos com idade acima dos 26 anos, a tendência era

a diminuição do consumo, no entanto entre aqueles com idades entre os 18 a 25 houve um

aumento substancial tanto em volume quanto em frequência (cinco ou mais dias). Foi adotado

nesse inquérito o modelo idade-período-corte, indicando um potencial efeito de corte positivo

entre os nascidos após 1975.

No que se refere às mulheres, a data de nascimento 1956-1960 emergiu, dos estudos

analisados, como de consumo significativamente maior do que entre aquelas nascidas pouco

antes ou depois. No entanto, não é possível descartar levantamentos anteriores a esse período que

revelaram constante alteração nesse comportamento (KERR; GREENFIELD; REHM, 2009).

Dessa forma, outros indicadores do consumo de álcool se fazem necessários para avaliar

plenamente as consequências de possíveis mudanças no acesso ao álcool - preços, impostos e

disponibilidade do produto, por exemplo (GRITTNER; GUSTAFSSON; BLOOMFIELD, 2009).

O aumento pesado do uso de álcool já preocupava os estudiosos, sobretudo entre jovens

adultos, o que tem sido descrito em pesquisas atuais e representa um desafio significativo para a

política de álcool (BRASIL, 2007; KERR, GREENFIELD, 2009). Em relação aos países

americanos, o estudo de Gustafsson (2010) evidenciou que, embora não tenham ocorrido grandes

alterações no número de pessoas que relatam problemas com o álcool, a tendência geral, em

dados para várias subpopulações, é de diminuição no Sul e aumento no Norte dos Estados

Unidos. Nesta última, o maior consumo de álcool entre homens veio acompanhado de aumento

dos problemas relacionados, os quais, segundo os índices adotados na análise, seguiram um

padrão semelhante ao consumo de álcool, mas menos divergentes. A versão da teoria de Skog

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aplicada sobre as dificuldades envolvendo o álcool não poderia confirmar que tais problemas não

se alteraram em conjunto no seio da população (GUSTAFSSON, 2010).

Já em relação ao perfil dos usuários regulares de álcool, houve predomínio de homens,

sujeitos com menos de 39 anos, os que trabalham consomem mais do que aqueles que não

possuem emprego, indivíduos com mais de 8 anos de estudo e renda superior a R$ 1.738,00, com

saúde regular, boa ou muito boa, e menores índices para a depressão entre aqueles que fazem uso

regular do álcool. Este estudo destaca que as Políticas do Ministério da Saúde propõem, como

meta para os anos seguintes, a apreensão do fenômeno contemporâneo do uso abusivo,

dependência em álcool e drogas (BORTOLUZZI; TRAEBERT; LOQUERCIO; KEHRIG, 2010).

Outra investigação desenvolvida com a população brasileira evidenciou alto grau de

abstinência do consumo de álcool nessa população, no entanto, aqueles que já bebem, o fazem de

maneira abusiva (LARANJEIRA; PINSKY; SANCHES; ZALESKI; CAETANO, 2009). Assim,

o beber moderado não pode ser considerado regra na população brasileira, considerando a

presença do beber de risco ou pesado (PINSKY; ZALESKI; LARANJEIRA, 2010).

Em pesquisa que investigou as tendências do consumo de álcool na Finlândia no período

de 1982- 2008 foram avaliados os efeitos de uma redução significativa nas cotações do álcool no

ano de 2004 sobre tal consumo em diferentes subgrupos populacionais. Foram entrevistadas

pessoas com idade entre 25 e 64 anos (n = 79.100) que responderam pesquisas anuais, enviadas

por correio e representativas em nível nacional (média taxa de resposta - 72%). Prevaleceram

entrevistados que tinham bebido pelo menos oito doses de álcool na semana anterior, no caso de

homens, ou cinco doses, para mulheres. Houve predomínio de bebedores moderados a pesados e

de pessoas que, na semana (homens) ou no mês (mulheres) beberam seis ou mais doses numa

única ocasião (bebedores episódicos pesados), o equivalente a um drink contendo etanol 11-13g

(HELAKORPI; MÄKELÄ; UUTELA, 2010).

O estudo supracitado evidenciou que, na Finlândia, após a redução de preço do álcool em

2004, aumentou o consumo entre pessoas com menor escolarização, bem como na população de

homens e mulheres entre 45 e 64 anos. No caso dos homens, o beber moderado, o beber pesado e

o beber pesado episódico aumentaram no menor grupo educacional. Entre as mulheres, o beber

moderado e o beber pesado aumentaram, sobretudo, nos grupos educacionais mais baixos e

intermediários, enquanto os maiores aumentos de beber pesado episódico foram nos grupos

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educacionais intermediários e maiores grupos educacionais do sexo feminino (HELAKORPI;

MÄKELÄ; UTELA, 2010).

Estudo desenvolvido com a população tailandesa contou com a participação de 11.348

famílias, em um total de 26.633 entrevistados de 29 províncias. Os resultados evidenciaram

informações sobre as consequências e o padrão do consumo de álcool, utilizando-se o Alcohol

Use Disorder Identificação Test (AUDIT). Identificou-se que, na faixa etária de 12 a 65 anos,

63% dos participantes eram abstêmios (homens 40,9% e mulheres e 81,5%). A prevalência de

bebedores atuais (definidos como indivíduos que bebiam pelo menos 10 g de álcool nos 12 meses

antecedentes à pesquisa) foi de 28,6% (homens 48,4% e mulheres 12,7%)

(ASSANANGKORNCHAI; SAM-ANGSRI; RERNGPONGPAN; LERTNAKORN, 2010). Com

base na pontuação AUDIT, 6,7% da população tailandesa podem ser classificados como

bebedores de risco, 0,9% bebedores nocivos e 0,6% como prováveis dependentes de álcool. Já a

intensidade média de beber foi de 50,8g, em homens, e 25,4g em mulheres

(ASSANANGKORNCHAI; SAM-ANGSRI; RERNGPONGPAN; LERTNAKORN, 2010).

O estudo evidenciou ainda que, após o ajuste para outras variáveis, os preditores de serem

consumidores de risco prejudiciais ou provavelmente dependentes incluíram o sexo masculino,

faixas etárias de 20-24 e 25-44 anos, não casados e residentes em Bangkok. O estudo destacou

também as diferenças de sexo e idade em padrões de consumo e as consequências de beber na

Tailândia, aspectos que devem ser considerados no planejamento de medidas preventivas para

redução do consumo de álcool e problemas relacionados (ASSANANGKORNCHAI; SAM-

ANGSRI; RERNGPONGPAN; LERTNAKORN, 2010).

Outras interações significativas foram descritas, por exemplo, o consumo individual

apontando relação mais forte entre consequências e quantidades habituais entre os consumidores

dos países com menor consumo, mais bebedores atuais e escores mais altos de Produto Interno

Bruto (PIB) e Índice de Desenvolvimento Humano (IDH). Conclui-se que ambos os sexos e

países precisam ser levados em consideração quando se avaliam as consequências adversas Do

consumo de álcool. Medidas individuais das variáveis de consumo de álcool e de nível nacional

estão associadas à vivência de tais consequências. Além disso, a variável ao nível do país afeta a

força da relação entre a quantidade habitual consumida por indivíduos e consequências adversas

(GRAHAM; BERNARDO; GMEL, 2011).

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Outro estudo demonstrou que a influência do gênero varia com a idade, sendo que quanto

maior ela for maiores serão os efeitos em relação a essa influência. Os autores pontuam que a

convergência de gêneros tende a ter ligação com fatores ambientais e recomendam que os

programas de prevenção e tratamento, bem como as políticas públicas, atentem para esta questão.

Destacam, mais uma vez, a necessidade de contemplar os problemas relacionados ao uso, abuso e

dependência do álcool, que são expressivos, considerando as diferenças regionais (WOLLE;

SANCHES; ZILBERMAN; CAETANO; ZALESKI; LARANJEIRA; PINSCKY, 2010).

Na China foi comprovada a prevalência de consumo por homens (55,6%), seguidos por

mulheres (15,0%) e o total de consumo de 35,7%. Em média, os homens consumiam 47,8 g de

álcool por dia, enquanto as mulheres, 19,1 g. Os números médios de episódios anuais (bebedeira)

eram 5.6 para bebedores do sexo masculino e 2,4 do feminino. Entre os bebedores atuais, as

proporções de consumo excessivo de álcool, binge drinking e beber frequente foram 62,7%,

26,3%, 57,3% para os homens e 51,0%, 7,8%, 26,6% para as mulheres, respectivamente. Assim,

beber em excesso, beber frequente e apresentar comportamento binge drinking atingiram

proporções epidêmicas entre os bebedores na China, de modo que estratégias de saúde pública

culturalmente apropriadas para reduzir este comportamento foram suscitadas (LI; JIANG;

ZHANG;YIN; FAN; ZHAO, 2011).

No que se refere ao sexo, a tendência de consumo abusivo de álcool aumenta entre ambos

os sexos, em especial entre indivíduos mais jovens, o que alerta para a permissividade do

consumo excessivo associada às características do contexto individual e coletivo. Nesse sentido,

defende-se que sejam implementadas ações de assistência e gestão, além de políticas regulatórias

para o consumo no Brasil (MOURA; MALTA, 2011). Quanto ao gênero, analisaram-se suas

diferenças, bem como a de países, no que diz respeito às consequências negativas do consumo de

álcool, às taxas das distintas consequências e aos preditores de nível nacional de consequências

(GRAHAM; BERNARDO; GMEL, 2011).

Este estudo revelou também que mais homens do que mulheres endossaram todas as

consequências, mas as diferenças de gênero foram maiores para as consequências associadas com

consumo crônico e implicações sociais relacionadas aos papéis masculinos. A maior prevalência

de consequências foi constatada em Uganda e a menor no Uruguai. Observou-se que

consequências pessoais e sociais eram mais prováveis em países com maior variedade de

costume, menos bebedores atuais e pontuações mais baixas no PIB e IDH (GRAHAM;

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BERNARDO; GMEL, 2011). Entre as mulheres adultas, analisaram-se os fatores associados ao

consumo, sugerindo atenção das políticas públicas para a prevenção do consumo abusivo, em

especial entre as jovens, fumantes, escolarizadas e que não vivem em união estável (MACHADO

et al., 2013).

Entre os bebedores nos EUA, 50,4%, ou cerca de 25% da população total, já foram

classificados como bebedores de alto risco. Assim, os autores sugeriram aumentar os impostos

sobre as bebidas alcoólicas, o que poderia levar a uma redução de 9,2% no consumo, incluindo

uma redução de 11,4% no consumo excessivo (DALEY; STAHRE; NAIMI, 2012).

No total, os grupos que pagaram mais por bebida alcóolica em termos de impostos

líquidos foram: brancos, do sexo masculino, idade entre 21 e 50 anos, rendimentos ≥ US $ 50.000

por ano, empregados e com diploma universitário. Assim, com base nesses dados, o estudo revela

que um aumento de imposto de 25 centavos de dólar por bebida alcoólica reduziria o consumo

excessivo, e os bebedores de alto risco pagariam a maior parte desse imposto (DALEY;

STAHRE; NAIMI, 2012).

Ressalta-se, no entanto, que pesquisas futuras necessitam avaliar o impacto das políticas e

intervenções que visam reduzir a venda de álcool e considerar seu caráter não linear no que diz

respeito aos efeitos (THEALL; LANCASTER; KISHORE, 2011). Em outra investigação, o

ambiente foi apresentado como fator impactante significativo na situação de risco para o

consumo de álcool entre os bebedores afro-americanos, destacando que programas de tratamento

e prevenção devem levar em conta o ambiente físico e a concentração de bares em bairros de

minorias, pois apresentam riscos potenciais de saúde para os moradores locais (THEALL;

LANCASTER; KISHORE, 2011).

Outro estudo evidenciou que aqueles que bebiam com pouca frequência (14 ou menos

dias por mês) consumiam, nesses dias, quantidade significativamente maior que os bebedores

frequentes. Estavam, portanto, mais propensos a ultrapassar os limites definidos pelas Diretrizes

Alimentares dos EUA (41,0% versus 9,7%) e possuíam maior proporção de dias de consumo,

incluindo o binge drinking (13,4% versus 4,3%). Bebedores pouco frequentes também

apresentaram maior prevalência de 13 dos 15 fatores de risco avaliados. Os resultados de análises

das pessoas com idade ≥40 anos foram semelhantes (NAIMI; XUAN; BROWN; SAITZ, 2012).

Percebe-se, então, que, entre aqueles com consumo de álcool médio/baixo, os bebedores

pouco frequentes que ingeriam maior quantidade nos dias em que eventualmente consumiam

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bebidas apresentavam perfis desfavoráveis para fatores de risco em comparação com quem fazia

uso frequente. O estudo sugere que isso pode contribuir para associações entre o consumo de

álcool "moderado" e o aumento da frequência de beber, tal como observado em estudos não

randomizados (NAIMI; XUAN; BROWN; SAITZ, 2012).

Da mesma forma, não se sabe se os bebedores mais pesados são mais ou menos sensíveis

aos efeitos de intoxicação do álcool, ou se os efeitos do álcool no viés atenção estão associados

ao comportamento subsequente em busca da substância. Para investigar tal aspecto, estudo

administrou, a 55 bebedores sociais, 0,4 g de álcool/kg ou placebo em medidas repetidas, designe

experimental duplo-cego. Os participantes completaram uma tarefa visual sob a monitorização do

movimento dos olhos (para medir viés atenção) e um teste de gosto falso (para medir álcool) em

ambas as sessões - de álcool e placebo (FERNIE; CHRISTIANSEN; COLE; ROSE; CAMPO,

2012).

Todos, voluntariamente, consumiram mais cerveja durante o teste de gosto após a

administração do álcool em comparação com o placebo, o que levou à constatação de que os

efeitos do álcool no viés atenção não estavam relacionados ao seu consumo. Os resultados

condizem com o desenvolvimento de tolerância, mais do que a sensibilização, para os efeitos

agudos da substância sobre desvios de atenção em bebedores pesados. No entanto, os aumentos

induzidos pelo álcool no viés atenção não estavam relacionados aos seus efeitos sobre a

motivação para beber (FERNIE; CHRISTIANSEN; COLE; ROSE; CAMPO, 2012).

Diante de tais resultados, os pesquisadores encontraram relação não linear entre a

densidade de saída do álcool e o seu consumo excessivo; a associação foi mais forte em regiões

com mais de 80 pontos de venda por metro quadrado. Estimou-se a prevalência Binge drinking

em 13% em 130 pontos de venda, de 8% para 80 pontos de venda, e 8% em 20 pontos de

comercialização por metro quadrado (AHER; MARGERISON-ZILKO; HUBBARD; GALEA,

2013).

Na mesma linha de investigação, estudo evidenciou maior probabilidade de beber extremo

e fazer uso pesado de álcool entre pessoas que residiam <1 versus ≥ 1 km de um bar.

Longitudinalmente, uma diminuição de> 1 km para ≤1 km de distância foi fracamente associada

a um odds ratio (OR) 1,18, intervalo de confiança de 95% (CI) 0,98-1,41] de extrema ocasião de

beber e uso pesado (1,12, IC de 95% 0,97-1,29). Dentro-individual, o OR para se tornar um

usuário pesado foi de 1,17 (IC 95% 1,02-1,34), por 1 km de diminuição no log-transformado em

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distância contínuo, e o correspondente para uma ocasião de beber extremo foi CI 1,03 (95% 0,89-

1,18). Assim, o local de residência próximo ou distante de um bar parece estar associado a

pequeno aumento correspondente ou à redução de comportamentos de risco em álcool

(KIVIMÄKI; VIRTANE; PENTTI; SUBRAMANIAN; KAWACHI; VAHTERA, 2012).

Nessa perspectiva, no que se refere ao ambiente, região, indivíduos que residem em

bairros desfavorecidos relataram, consequências do beber significativamente mais negativas do

que moradores de bairros mais ricos. O consumo de bebidas de alto teor alcoólico e o conteúdo

das normas facilitadoras media essa relação, e o uso de destilados pesados/licor era um mediador

significativo de outras características da vizinhança. Viver em um bairro afro-americano, por

exemplo, foi relacionado ao aumento do consumo de bebidas alcoólicas e, por sua vez, às

consequências negativas do beber mais (JONES-WEBB; KARRIKER-JAFFE, 2013).

Em relação às expectativas das pessoas quanto ao uso de álcool, estas foram associadas ao

comportamento de beber com embriaguez. Parece que essa forma de beber tem relação com as

expectativas criadas, o que aponta para a necessidade de compreendê-las, a fim de prevenir tal

comportamento (CAVARIANE; OLIVEIRA; KERR-CORRÊA; LIMA, 2012). Também devem

ser observados os diversos fatores motivadores para o consumo, por exemplo, os estímulos

encontrados em festas e bares, os quais foram relatados em uma amostra como incentivos ao uso,

no caso música alta e diversas pessoas bebendo (ALMEIDA FILHO; TEIXEIRA, 2012).

Alguns estudos propõem alternativas para prevenir este comportamento, tal como ocorreu

na Suécia, onde, por meio de um anúncio político, apresentou-se o componente social como

apoio para redução e mudança de consumo. Em diversos países, após a introdução de medidas

para reduzir o hábito de beber pesado, foram observados efeitos positivos, com queda em todos

os níveis de consumo globais, entre homens e mulheres, inclusive com menos de 50 anos de

idade. O declínio foi menor nos grupos com maior consumo, e entre aqueles com mais de 50 anos

(RANINEN; LEIFMAN; RAMSTEDT, 2013).

Além das medidas descritas nos estudos aqui apresentados, há inúmeras outras estratégias

de regulação do consumo de álcool e incentivo ao uso moderado, ou até mesmo à abstinência

durante encontros sociais. Alguns estudiosos atentam para o comportamento humano, tendo em

vista a composição e as funções da rede social de convívio, sendo que as relações têm chamado

atenção de maneira especial. Os sujeitos vivem relacionados de forma interpessoal e, nesse

sentido, “toda a pessoa é responsável por sua vida perante as demais” (SANICOLA, 2015, p.82).

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Diante do exposto, na apresentação de diferentes concepções teóricas e na revisão na

literatura, o que se mostra é a reafirmação da necessidade de melhor investigação sobre o

consumo de bebidas alcoólicas, com vistas a apreender as motivações atribuídas por adultos a

este consumo em contexto de relações sociais, bem como a intencionalidade para desenvolver

essa conduta. Acredita-se que a compreensão desses aspectos pode ajudar profissionais da saúde,

família e sociedade em geral a reconhecerem, no contexto, a base dessa conduta.

Para tanto, desenvolveu-se uma abordagem compreensiva, baseada no referencial teórico-

metodológico da Fenomenologia Social de Alfred Schütz. O referencial teórico da

Fenomenologia Social se revela apropriado para nortear esta investigação, pois possibilita

aprofundar o conhecimento da realidade social como um mundo social, compartilhado por atores

sociais e seus semelhantes. Permite apreender a ação subjetiva dos sujeitos que compartilham

espaços sociais permeados pela presença do álcool. Sob tal perspectiva, fundamenta-se a busca

dos significados das ações com base nas consciências dos sujeitos, neste caso específico, no

consumo de bebidas alcoólicas por adultos e sua interface com o contexto social.

Reconhece-se que o fenômeno drogas motivou e motiva constantes transformações no

sistema político, econômico, sociocultural e, especialmente de saúde, o que requer novos olhares

e entendimentos adequados ao mundo da vida contemporânea. No decorrer do tempo, mudanças

paradigmáticas devem ser acompanhadas pelos profissionais das mais diversas áreas, em

destaque a Enfermagem/Saúde.

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3 FENOMENOLOGIA SOCIAL DE ALFRED SCHÜLTZ COMO REFERENCIAL

TEÓRICO

Alfred Schütz nasceu em Viena no ano de 1899 e faleceu em 1959, em Nova Iorque.

Estudou Direito e Ciências Sociais e, interessado pela Sociologia de Max Weber e pela filosofia

de Edmund Husserl, contribuiu para estabelecer os fundamentos de uma Fenomenologia

Sociológica (SCHÜTZ, 1979, p. 5). Pensador austríaco encontrou apoio na metodologia das

ciências sociais e na fenomenologia para atingir seu propósito de constituir os fundamentos de

uma sociologia fenomenológica compreensiva, elaborando assim sua teoria, a qual propõe a

análise das relações sociais recíprocas que envolvem pessoas (ZEFERINO; CARRARO, 2013).

Salienta as características próprias de cada relação, cujas ações ocorrem de maneira

intencional, ou seja, consciente, colocando em discussão a relação entre essa consciência e a

ação, que tem um significado para o sujeito. Desse modo, os sujeitos agem em função de

motivações dirigidas a objetivos, motivos para (futuro), e as razões para as suas ações estão

arraigadas em sua historia passada, vivida, naquilo que construiu durante a vida, sendo estes os

motivos porque (SCHÜTZ, 1979, 2012).

Schütz também aceita os principais conceitos da sociologia compreensiva, como:

Vertehen: Necessidade de se estudar os fatos sociais a partir do significado subjetivo, ou seja, a

compreensão interpretativa. Ação Social: Conduta humana orientada para o outro. Motivos:

Critério que permite a criação dos tipos puros de ação social, orientada para fins, valores, tradição

ou afeto. Subjetividade: A ação social deve ser estudada inicialmente pelo significado que

apresenta para o sujeito que a cria e para aqueles nela envolvidos. Objetividade: Para a ciência

social adquirir status científico é necessário ser capaz de projetar seus resultados de forma mais

ampla. Racionalização: Conceito-chave em Weber - deve-se buscar o racional em todo o foco de

estudo, não por sua predominância na sociedade, mas por ser o tipo de ação e estrutura de

pensamento de mais fácil acesso. Típico: Estruturas frequentes presentes na sociedade

aparecendo de forma recorrente. Causalidade: Não é possível definir leis universais para o mundo

social, mas é necessário estabelecer conexões de sentido entre as ações que se processam nesse

meio.

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A Fenomenologia Social de Alfred Schütz apresenta uma concepção de consciência

voltada para o outro, ou seja, o alter ego. Trata-se de uma proposta que estuda a individualidade

da intencionalidade da consciência, assim como o mundo intersubjetivo, a fim de investigar as

relações sociais. Volta-se aos significados advindos da vivência intersubjetiva, do encontro ‘face

a face’, buscando, assim, o entendimento das ações sociais que têm um significado

contextualizado, além de individual.

Não importa quão singular sejam os fenômenos, os mesmos são produtos de antecedentes

relacionados causalmente. Tipo puro (ideal): Método de referência para análise dos fenômenos

sociais, construído para identificar a forma mais racional da ação e, com base neste modelo,

atribuir à irracionalidade as causas de desvio da conduta prevista. Dever ser: Não se deve

construir ou confundir o tipo ideal como “dever” ser axiológico, ou seja, modelo de perfeição ou

forma correta de se realizar uma ação. O tipo é um método de análise racional e não uma fórmula

para alcance de sucesso, indicando o melhor caminho.

O emprego da Fenomenologia Social na pesquisa em Saúde/Enfermagem permite a

adoção de seus principais conceitos, para o possível aprofundamento da compreensão em relação

a dimensões pouco abordadas de determinado fenômeno. Nesta perspectiva, Alfred Schütz

descreve a estrutura total da experiência vivida e a percepção dos indivíduos sobre suas

vivências, caracterizando-se por ser um método intuitivo (VIEIRA, 2011).

Assim, uma vez que se busca a intencionalidade das ações de um grupo social, ou seja, de

pessoas que compartilham espaços de encontro social onde há a livre oferta de bebidas alcoólicas,

é preciso que se estabeleçam os fundamentos de uma fenomenologia social (SCHÜTZ, 1979).

Esta é compreendida como atitude natural, em que a subjetividade não é considerada um

problema de constituição que se resolve na esfera transcendental, mas sim um dado do mundo da

vida, relacionado à questão da comunicação interpessoal, corporal e cultural (CAPALBO, 1998).

Schütz, conforme Capalbo (1998), apropriou-se de conceitos básicos da fenomenologia de

Husserl, como intencionalidade, intersubjetividade e Lebenswelt (mundo vivido), além dos

conceitos weberianos de ação, ação social e compreensão, tendo, então, a tarefa de esclarecer o

sentido objetivo e o sentido subjetivo da ação (CASTRO, 2012). Emerge o conceito de

intersubjetividade, essencial na linha de pensamento de Schütz, e construído inicialmente por

Husserl. No entanto, este conceito não foi suficiente para contemplar o problema da

intersubjetividade por meio da fenomenologia transcendental. Assim, Schütz ao ponderar a

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intersubjetividade como uma categoria ontológica da existência humana, supera tal barreira.

Soluciona o problema da intersubjetividade, uma vez que é algo já dado aos sujeitos que

vivenciam o mundo da vida ou mundo da vida cotidiana (CAPALBO, 2000).

Schütz, assim fundamentou a sua teoria e levou a fenomenologia para o mundo da vida

onde o sujeito vive e convive, o mundo da vida social (SCHÜTZ, 1979, 2012). Entretanto,

embora reconheça-se a influência de autores de referencia nas idéias de Schütz, neste estudo

opta-se por utilizar somente os princípios propostos por ele, Alfred Schütz (Quadro 01).

Quadro 01 - Princípios para construção de tipos ideais em Shültz

COERÊNCIA

LÓGICA

Definição: os princípios da lógica formal, devem guiar os cientistas na

construção dos tipos ideais estabelecendo assim uma relevância cientifica.

Validação: esse postulado avaliza os objetos de estudo de pesquisadores nas

sociais, essa constituição lógica é que permite apontar os objetos de

pensamento científico dos objetos de pensamento do senso comum

construídos no mundo vida cotidiano.

INTERPRETAÇÃO

SUBJETIVA

Definição: é quando o pesquisador questiona sobre o modelo mental a ser

construído e quais são os conteúdos típicos a serem atribuídos a a partir de

uma relação compreensiva.

Validação: essa etapa avaliza a possibilidade de mencionar os diferentes

tipos de ação humana ou sua consequência ao sentido subjetivo

ADEQUAÇÃO

Definição: Toda a construção de um modelo típico da ação humana deve ser

compreensível em toda a sua magnitude para aquele que realizou a ação

quanto para seus pares na significação de mundo vida.

Validação: este postulado avaliza a afinidade das construções do científico

social com as da experiência de sentido comum da realidade social.

Fonte: Adaptado de Schütz (1974a, p. 67-68).

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A conformação dos contextos de experiência, por sua vez, constitui o que Schütz (1979)

compreende como a base da ação social, ou seja, o espaço intersubjetivo propriamente dito, por

meio do qual as condutas são reguladas. O mundo da vida como mundo social é o objeto das

Ciências Sociais, visto que o objeto da pesquisa sociológica é obtido por cortes na realidade

social. Nesta, busca-se a constituição de uma totalidade relativa, mas significativa para o estudo

de um conjunto determinado de fatos sociais (SCHÜTZ, 1979).

Schütz (1979) expressa que a interpretação de um dado fenômeno é função da

subjetividade e corresponde aos elementos de sua situação biográfica e a maneira pela qual o

sujeito define sua condição e, sob este aspecto, sua ação pode constituir um dado para a

investigação. Tocantins e Souza (1997) referem que essa abordagem considera, para a

compreensão de determinado fenômeno, além da subjetividade, a vivência, as experiências

vividas e a intencionalidade do sujeito ao realizar uma ação, buscando significá-las.

Para compreender a ação humana, Schütz propõe apreender os motivos da ação.

Conceitualmente, ‘motivo’ refere-se ao “estado de coisas, o fim, em função do qual a ação foi

levada a cabo” (SCHÜTZ, 1979, p. 124). Este estudo visa compreender as motivações atribuídas

por adultos ao consumo do álcool que caracterizam as ações das pessoas não só no contexto

individual da ação, mas também num mundo de relações com os outros e tem, portanto, um

significado intersubjetivo, contextualizado no mundo social.

Define-se tipo ideal em Schütz (1972) como sendo um método de pesquisa objetivo,

passível de ser construído por um pesquisador que extrai da realidade empírica e subjetiva um

tipo ideal de ação e pessoa em determinada situação típica, ou seja, o típico da ação,

considerando os motivos presentes na ação social, nesse caso o consumo de bebidas alcoólicas

em contexto de encontro social por adultos.

Para tanto, Schütz (1972) propõe caminhos para a construção de um tipo ideal com base

na realidade empírica, analisando os motivos porque (passado) e para (futuro) presentes em uma

ação social. Segundo ele, o tipo somente pode ser produzido pelo estudo da subjetividade

presente no mundo da vida, ou seja, baseando-se em contatos com sujeitos pode-se objetivar o

que há de comum ou estruturante (típico) nos fenômenos investigados considerando os motivos.

Assim, o pesquisador somente irá formatar o tipo com base em um tipo ideal de pessoa, ação e

situação.

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Ressalta-se que os tipos ideais de pessoas e ações são elaborados considerando,

principalmente, aspectos temporais e espaciais. Ou seja, não é possível construir um tipo baseado

em relações sociais que se processaram entre pessoas em uma época passada ou futura. O tipo

ideal ocorre e pode ser empregado na contemporaneidade. Assim, as tipificações válidas para

construção de um tipo são aquelas efetuadas entre pessoas que vivem na mesma época,

contemporâneas, ou sujeitos que, além de partilharem essa realidade temporal, convivem

frequentemente em um dado espaço, sendo denominados consócios.

Todavia, essa noção de contemporaneidade não limita temporalmente o emprego do tipo,

somente o relaciona às tipificações de uma determinada época, pois, na medida em que as

relações sociais se modificam, o tipo também pode ser atualizado com base nas novas tipificações

socialmente vigentes.

Assim, das falas dos sujeitos em relação ao seu mundo vida, foi possível apreender as

suas tipificações, designadas como construtos de primeiro grau, o que levou a compreensão da

realidade social. A função da Fenomenologia Social é a elaboração dos construtos de segundo

grau, que a partir dos primeiros construtos, constroem-se, os tipos vividos, sendo que estes

esquemas interpretativos do mundo social devem estar de acordo com a compreensão do mundo

científico e do senso comum, para serem válidos cientificamente (SCHÜTZ, 1979, 2012).

Nesse sentido, ao desenvolver uma investigação fenomenológica fundamentada no

referencial teórico filosófico de Alfred Schütz, buscou-se estudos que apontassem

operacionalizações metodológica embasadas em suas ideias, encontrando-se dois, Castro (2012) e

Zeferino e Carraro (2013), os demais estudos localizados por esse referencial não utilizavam os

fundamentos em Schütz, mas sim em autores clássicos, nacionais e internacionais, experts em

métodos de análise compreensiva, para direcionar a análise de suas pesquisas.

No entanto, nessa pesquisa, reconhecendo que Schütz oferece caminhos para a

composição completa da pesquisa, optou-se por seguir os princípios do referencial teórico-

metodológico da sociologia fenomenológica de Alfred Schütz.

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4 TRAJETÓRIA METODOLÓGICA

Para a realização desta pesquisa, a metodologia utilizada foi a qualitativa, à luz da

Fenomenologia Social de Alfred Schütz. A etapa de campo da pesquisa foi desenvolvida desde a

delimitação dos sujeitos e do cenário da pesquisa, a fundamentação dos procedimentos éticos da

pesquisa, a ambientação nos cenários, até o desenvolvimento das entrevistas. Conforme descrito

nos tópicos seguintes.

4.1 Tipo de pesquisa

Trata-se de uma pesquisa de abordagem qualitativa a luz da Fenomenologia Social de

Alfred Schütz sobre o fenômeno das motivações para o consumo de bebidas alcoólicas em

contexto social.

O mundo da vida enquanto mundo social é o objeto das Ciências Sociais, uma vez que o

objeto da pesquisa sociológica é obtido por cortes na realidade social, onde se busca a

constituição de uma totalidade relativa, mas significativa para o estudo de um conjunto

determinado de fatos sociais (SCHUTZ, 1979). Nesse sentido a pesquisa qualitativa busca

descortinar facetas desta realidade social, a partir dos elementos que se mostram significativos

para o/a pesquisador/a focalizados no cotidiano dos sujeitos.

Schütz (1979) diz que a interpretação de uma dada situação é função da subjetividade e

corresponde aos elementos de sua situação biográfica, e a maneira pela qual o ator define sua

situação e sua ação pode se constituir um dado para a investigação. Esta abordagem considera,

para a compreensão de determinado fenômeno, a subjetividade, a vivência, as experiências

vividas e a intencionalidade do indivíduo ao realizar uma ação em seu cotidiano, buscando o

significado desta (TOCANTINS; SOUZA, 1997).

4.2 Etapa de campo da pesquisa

Os cenários desta pesquisa se localizam no Município de Santa Maria da ‘boca do monte’,

conhecida como ‘Cidade Cultura’, pelo grande número de Instituições de Ensino Superior (IES),

sendo uma federal e cinco privadas. Possui uma população flutuante de estudantes que residem

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no município durante os cursos preparatórios e no período de graduação e pós-graduação.

Quando se fala em Santa Maria, geralmente se refere a uma ´cidade universitária´, ‘cidade

coração do Rio Grande’. Mais recentemente, ficou conhecida também pela tragédia na boate

Kiss, que vitimou 242 jovens, muitos deles estudantes universitários.

O município é reconhecido pólo cultural regional, por possuir seis IES e promove um

aumento considerável da população adulta em período escolar, motivando assim a frequente

abertura/disponibilidade de pontos de encontro (pubs), nos quais há oferta livre de álcool.

Contudo, apesar deste perfil e do cenário propício, não há estudo específico que tenha

investigado a interface do uso de álcool e os contextos sociais deste público frequente na cidade.

Embora alguns projetos tenham sido implementados em parceria com as IES do município e o

Ministério da Saúde, por meio do Centro Regional de Referência no Enfrentamento do Crack e

Outras Drogas (CRR - UFSM), o foco, esteve na formação permanente de profissionais com

vistas a atenção ao tratamento dos usuários já comprometidos. Não houve, portanto, uma

investigação sistematizada acerca das motivações para o uso de álcool por adultos em contextos

sociais.

O cenário constitui-se dos bares de modelo pub como reconhecido ponto de encontro

social localizados neste Município.

4.2.1 Cenário da pesquisa

Pub, na Inglaterra, este modelo de bar se destaca pelo estilo próprio e por conservarem

características medievais, como, luz baixa e atrativos que tornam o ambiente acolhedor, como

reconhecido ponto de encontro. Ainda podem oferecer música ao vivo, jogos no local ou

transmitidos por meio eletrônico (www.significados.com.br). Este estilo de bar pub no modelo

britânico, traduz-se por public house, ou seja, casa publica. No Brasil alguns bares tentam se

aproximar desse modelo e das suas características originais, porém é comum que se adaptem as

diferentes realidades socioculturais do local em que se instalam. No Município em que foi

realizado a pesquisa, encontrou-se cinco bares nesse modelo para a observação e aproximação

aos sujeitos/participantes da pesquisa, os quais apresentavam a característica original de

reconhecido ponto de encontro social. Espaço aconchegante, luz baixa, climatização agradável,

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mesas e aparadores para copos e garrafas, cadeiras e bancos, uma cozinha discreta, um bar de

canto bem equipado e abastecido com vários tipos de bebidas e alguns petiscos, estes últimos

eram servidos até às 23h a partir desse horário somente as bebidas eram vendidas durante todo o

funcionamento do bar. Possui ainda, um palco discreto para apresentação de shows e música ao

vivo, banheiros (feminino e masculino) e uma equipe de garçons que mais parecem amigos dos

frequentadores pelo vinculo de proximidade observado (já conhecem os gostos e preferências dos

frequentadores), antecipando a oferta e não permitindo que os copos se esvaziem, mantendo o

abastecimento de bebidas continuamente sem que seja necessário chamar.

4.2.2 Participantes da pesquisa

Participaram homens e mulheres que frequentavam os pub, nos quais bebidas alcoólicas

estão disponíveis para venda. O número de participantes não foi pré-determinado, visto que, em

pesquisas de natureza fenomenológica, deve-se, na etapa de campo, considerar a essência do que

se revela, assim participaram da pesquisa 14 adultos, dentre estes cabe destacar que dois

participantes possuíam idades superiores aos 60 anos, ou seja, idosos conforme o Estatuto do

idoso, lançando possibilidades de pesquisa com essa população no que diz respeito a temática da

pesquisa em questão.

Os critérios de inclusão do estudo foram: pessoas com 18 anos ou mais, portanto, na

maioridade, conforme o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA, 2000), e que frequentassem

os bares no estilo pub, o que foi observado por meio de uma aproximação prévia. Como critério

de exclusão, adotou-se não ser frequentador do pub, estando ali apenas de passagem.

O parâmetro para definição da amostra decorre da inquietação da pesquisadora, visto que

as diversas bibliografias consultadas neste estudo investigaram, em sua maior parte, o padrão de

consumo sem relação com o contexto social, o perfil dos sujeitos e o ambiente/local mediado por

consumo excessivo de álcool capaz de gerar prejuízos relacionados e, consequente tratamento

com foco no problema. Salienta-se que não houve a intenção de analisar, e tampouco

compreender, o consumo de bebidas alcoólicas como uma ação social que media relações

estabelecidas no mundo vida dos sujeitos com base nas suas escolhas e seu livre arbítrio.

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Logo, uma ação racional pressupõe uma escolha entre dois ou mais meios para se chegar a

um fim, ou mesmo entre dois fins diferentes, e uma seleção do mais apropriado (SCHÜTZ,

1979). Nesta perspectiva, a ação voluntária é o critério da conduta significativa, o ‘significado’

dessa conduta só consiste na escolha, na liberdade para se comportar de uma maneira ou de outra.

“Isto significa não só que a ação é ‘livre’, mas que os fins dos atos se conhecem apenas no

momento da decisão, em síntese, existe uma livre escolha entre os possíveis fins” (SHULTZ

1972, p. 96).

Assim, cabe ao sujeito escolher livremente qual, dentre as diversas possibilidades, será

concretizada. A liberdade confere à ação um caráter subjetivo. Contudo, em se tratando da

temática do álcool na vida dos sujeitos, há de se levar em conta a função da enfermagem/saúde

nos mais diferentes contextos, a aproximação com o sujeito consumidor de bebidas alcoólicas em

contextos sociais pode ser uma possibilidade de atenção a ser revelada.

4.2.3 Produção das informações

A entrevista teve início pela questão orientadora: “Quais as suas expectativas ao

frequentar o pub?” No decorrer da entrevista foram formuladas questões empáticas, a fim de

evitar induzir respostas, destacando questões expressas pelos próprios participantes, que

precisavam ser aprofundadas para melhor compreensão dos possíveis significados apontados, por

exemplo: ao falar sobre bebida alcoólica, abriu-se espaço para questionar sobre (expectativas /

quantidade/qualidade e forma/padrão de consumo e os riscos assumidos). Para encerrar a

entrevista foi desenvolvido um feedback, dando a chance para o participante acrescentar algo,

caso desejasse.

As entrevistas foram realizadas período de dezembro de 2015 a fevereiro de 2016. A maioria

foi gravada em formato de áudio e, posteriormente, transcritas na íntegra e literalmente.

Realizou-se um pré-teste do instrumento com cinco voluntários para testagem do

procedimento, que não foram incluídos na pesquisa. Essa etapa auxiliou a identificar os ajustes e

adequações necessárias.

Para a análise compreensiva dos depoimentos foram desenvolvidos os passos a fim de

compreender os motivos “para” e os motivos “porque” dos sujeitos para consumir bebidas

alcoólicas no contexto social à luz do referencial da sociologia fenomenológica de Alfred Schütz.

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Foram realizadas as seguintes etapas: transcrição dos depoimentos audiogravados, leitura

atentiva das informações, releitura das informações para selecionar e agrupar as unidades de

sentido, trechos que contivessem aspectos significativos semelhantes da ação dos sujeitos,

identificadas as estruturas essenciais unidades de significação da situação vivenciada e os

motivos “para” e os motivos “porque” dos sujeitos consumirem bebidas alcoólicas no contexto

social. A partir dos construtos de primeiro grau, ou seja, dessas informações, foram construídos

os construtos de segundo grau, categorias concretas que abrigam o ato dos sujeitos; a partir das

características, foi estabelecido o significado da ação dos sujeitos, buscando descrever o típico da

ação de freqüentarem os pubs e consumirem bebidas alcoólicas, representando a essência, o que é

comum a esse grupo social. Os resultados foram interpretados por meio das concepções da

Fenomenológica Social.

Na presente pesquisa, a preocupação central foi captar o sentido que o sujeito atribui à

ação, ou seja, como ele significa essa atitude, não como algo que se dá de forma isolada, mas na

relação direta com sua situação biográfica. Assim, para compreender as ações do sujeito é

necessário apreender os significados atribuídos à sua ação, que de certo modo indicam o modo de

ser desse sujeito.

A entrevista fenomenológica possibilita acessar o vivido do ser humano, por meio de um

movimento de compreensão (CARVALHO, 1987). Para que esta seja possível acontecer se fez

necessário um ambiente adequado e acolhedor, onde o participante ficou à vontade, pois a

entrevista fenomenológica acontece a partir de um encontro existencial, mediada pela empatia e

subjetividade (BOEMER, 1994; PADOIN; TERRA; SOUZA, 2011).

Considerando que os pubs são ambientes que em sua maioria oferecem musica ao vivo e

que os frequentadores consomem bebidas alcoólicas frequentemente, não pareceu possível

realizar a entrevista nesse local, nem pelas condições do ambiente e nem mesmo pelo risco do

participante estar alterado pelo efeito do álcool e sem condições de responder. Assim, o convite

foi realizado em área externa ao bar, quando o sujeito se afastava para fumar ou “tomar um ar”

como eles diziam. Foram convidados a participar de uma pesquisa relacionada ao seu costume de

frequentar o pub, sobre as relações ali desenvolvidas e sobre os elementos que constituem essa

situação. Houve o cuidado de não falar especificamente do elemento álcool a fim de não criar

desconfiança ou preocupação, considerando que a intenção da pesquisadora era que os motivos

para o consumo de bebidas alcoólicas por adultos em contexto social fossem revelados, ou seja,

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surgissem na contextualização do vivido e experienciado pelo sujeito naquele espaço de encontro

permeado pela livre oferta dessa substancia. Logo após aceitarem o convite, foi oferecida uma

sala pública de fácil acesso com as condições necessárias para o encontro/entrevista, ou seja, um

espaço tranquilo e sem interferências externas, oferecendo conforto e segurança para um encontro

agradável.

No entanto ao abrir a possibilidade para um local de sua preferência, todos os

participantes preferiram essa opção, nove das entrevistas foram realizadas no ambiente de

trabalho (sala própria e adequada) e cinco nas próprias residências, também em local adequado

viabilizando esse momento sem problemas. O uso do gravador foi mediante a autorização dos

sujeitos, porém quatro participantes preferiram não gravar, por não se sentirem a vontade com o

equipamento, assim os registros foram realizados imediatamente após, com vistas a não se perder

a experiência compartilhada do momento da produção das informações.

Em seguida foram propostas as questões orientadoras da entrevista: Qual a sua

expectativa ao ir no pub? Como você vê o pub? Com que frequência você vai? Como você chega

até o pub? Com quem você vai ou se encontra no pub? Quais bebidas ou alimentos consome? Das

bebidas qual a quantidade em média? Quando começa a beber e (conforme a informação obtida)

quando para?

No que se refere ao tempo de duração das entrevistas, este foi livre, conforme a

necessidade de cada participante. Importante relembrar que constituiu critério de exclusão não

consumir bebida alcoólica, porém, quem frequentasse o pub poderia ser convidado a participar da

pesquisa. No entanto, todos os participantes frequentavam o pub e por consequência consumiam

bebidas alcoólicas ao menos uma vez no mês.

O quantitativo de participantes nas entrevistas não foi pré-definido, visto que, na

abordagem fenomenológica, ele se encerra quando há repetição significativa das informações

com relação ao objetivo da pesquisa, pois o que se busca obter é a variação e a amplitude do

fenômeno e não a sua quantificação (BOEMER, 1994), respondendo ao objetivo da pesquisa.

Desse modo, pôde-se encerrar a fase de entrevistas com 14 participantes, os quais são

identificados pela letra 'P', seguida do número correspondente à ordem em que a entrevista foi

realizada (P1, P2, P3 e assim sucessivamente).

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4.3 A entrevista fenomenológica: relação face a face

O encontro aconteceu numa relação face a face, uma relação ‘Nós’, entre pesquisadora-

participante, em que ambos tiveram consciência um do outro, estabelecendo essa orientação. Essa

relação possibilitou a aproximação e a interação com os participantes do estudo, o que permitiu

apreender as motivações presentes no mundo da vida dos sujeitos (SCHÜTZ, 2012).

Aqueles que não estão em situação ‘face a face’ comigo, somente coexistindo no tempo,

são os contemporâneos. Para compreender a figura do contemporâneo no mundo da vida, é

essencial ter em mente o relacionamento ‘Nós’ e a situação ‘face a face’. Para Schütz (1974b, p.

46), analisando o relacionamento ‘Nós’ em uma situação ‘face a face’, os semelhantes são

experimentados em diferentes níveis de intimidade e distintos graus de caráter direto. No aspecto

imediato temporal e espacial dado pela situação ‘face a face’, comprova-se que as diferenças que

caracterizam a experiência do outro são aspectos constitutivos do relacionamento ‘Nós’

propriamente dito.

Destaca-se, assim, que os critérios utilizados por Schütz (1972) para chegar à existência

de diferentes tipos de alter ego são temporalidade e espacialidade. Nesse sentido, existem no

mundo da vida os predecessores, ou seja, indivíduos que existiram em um tempo anterior ao meu

nascimento, em uma realidade passada. Somente sabe-se de sua existência, isto é, toma-se

consciência de sua história, por leituras ou relatos de outros. Não há compartilhamento de

realidade temporal e espacial. Os contemporâneos, estes sim, são indivíduos que estão em uma

mesma realidade temporal, ou seja, no presente.

Quando se encontra uma pessoa ‘face a face’, ela se permite conhecer em um momento

único de experiência e, enquanto esse relacionamento ‘Nós’ permanece intacto, os atos

intencionais do outro encontram-se abertos e acessíveis. Durante determinado período de tempo,

ambos envelhecem juntos, vivenciando o fluxo de consciência um do outro, numa espécie de

posse mútua íntima (SCHÜTZ, 1979, p. 217).

Por sua vez, com o contemporâneo não se apreende a experiência do outro. Todo o

conhecimento é mediado e descritivo. Nesse tipo de conhecimento, as características do outro são

inferidas e não experienciadas. Há duas formas de se apreender um saber imediato de um

contemporâneo: por experiências anteriores com a pessoa em questão, ou pelo depoimento da

pessoa com quem se fala (SCHÜTZ, 1979).

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A possibilidade de encontro espacial é remota, mas sempre existe, já que as pessoas

vivem no mesmo mundo da vida. Consócios são indivíduos que convivem diretamente na mesma

realidade temporal e espacial, apresentando, em maior grau, relacionamento ‘Nós’, em situações

‘face a face’, assim pela situação ‘face a face’, que possibilita elevado grau de intimidade, um

contemporâneo pode vir a ser um consócio. Sucessores são os indivíduos que viverão após a

morte dos contemporâneos e permanecerão anônimos a eles eternamente. Não há

compartilhamento temporal e espacial, tal como ocorre com os predecessores, com a diferença

que jamais será possível conhecer dados sobre a sua existência.

Dessa forma, entre os contemporâneos, processam-se atos intencionais orientados para

‘Eles’ e, com consócios, atos intencionais orientados para ‘Tu’, envolvendo experiências diretas.

Nesta orientação para ‘Eles’, as pessoas vão ficando mais anônimas e pode-se reconhecê-las por

sínteses de reconhecimento ou tipificações. Logo, no decorrer da vida, as pessoas vivem com

consócios se transformando em contemporâneos e vice-versa, em função das variações da

situação ‘face a face’ (SCHÜTZ, 1979).

No presente estudo, buscou-se conhecer os sujeitos frequentadores de pubs, por meio da

aproximação e ambientação, em uma relação ‘face a face’. Reconheceu-se, nestes espaços, a

possibilidade do relacionamento ‘Nós’. Na ambientação como pesquisadora no cenário do estudo

deu-se início à etapa de campo, neste momento marcado pelo estabelecimento de relações e

interações com os ‘consócios’, hoje ‘contemporâneos’.

4.4 Dimensões éticas e legais da pesquisa

Para a realização deste estudo, foram respeitados os preceitos éticos da Resolução n.

466/12 do Ministério da Saúde, que trata da pesquisa envolvendo seres humanos, assim como o

disposto no Código de Ética dos Profissionais de Enfermagem de 20072, capítulo III (do ensino,

2 Cap. III (das responsabilidades e deveres): Art. 89. Atender às normas vigentes para a pesquisa envolvendo seres

humanos, segundo a especificidade da investigação. Art. 90. Interromper a pesquisa na presença de qualquer perigo à

vida e à integridade da pessoa. Art. 91. Respeitar os princípios da honestidade e fidedignidade, bem como os direitos

autorais no processo de pesquisa, especialmente na divulgação dos seus resultados. Cap. III (das proibições): Art. 94.

Realizar ou participar de atividades de ensino e pesquisa, em que o direito inalienável da pessoa, família ou

coletividade seja desrespeitado ou ofereça qualquer tipo de risco ou dano aos envolvidos. Art. 98. Publicar trabalho

com elementos que identifiquem o sujeito participante do estudo sem sua autorização.

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da pesquisa e da produção técnico-científica), artigos 89, 90 e 91, que tratam das

responsabilidades e dos deveres, e artigos 94 e 98.

Cada participante assinou em duas vias o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido

(TCLE). Nele constou a participação voluntária do sujeito, esclarecimentos dos objetivos desta

pesquisa e o direito de retirar seu consentimento em qualquer fase do trabalho, sem prejuízo

pessoal, e, em conformidade com os princípios éticos da autonomia, beneficência, não

maleficência, justiça e equidade. Após anuência, solicitou-se a assinatura em duas vias impressas,

sendo que uma delas ficou em posse do participante e a outra da pesquisadora. Junto, foi entregue

a cada participante o Termo de Confidencialidade.

Após aprovação em processo de qualificação, a proposta foi encaminhada ao Comitê de

Ética em Pesquisa da Área Saúde (CEPAS), sendo aprovado. Assim, a etapa de campo da

pesquisa foi desenvolvida mediante a aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa da

Universidade Federal do Rio Grande/RS, sob o Parecer nº 1393882 (Anexo C).

4.5 Ambientação

A ambientação da pesquisadora no cenário de produção dos dados inaugura a etapa de campo

propriamente dita (SIMÕES; SOUZA, 1997). Configurando assim, um momento essencial para o

desenvolvimento da investigação. Após a aprovação do CEPAS/FURG deu-se inicio à aproximação

do cenário (PADOIN, 2006, p. 86; PAULA, 2008, p.73), realizando-se visitas por um período de três

meses (aos finais de semanas) aos cinco bares com características próximas ao pub. Conforme Padoin

(2006) é o momento de constituir relações com os sujeitos que frequentam esse espaço.

Buscou-se ainda, entender a dinâmica e o funcionamento de trabalho desses

ambientes/contexto social, a intenção de compreender o contexto e a dinâmica de trabalho convergiu

à necessidade de caracterizar as construções do senso comum utilizadas pelos sujeitos em sua vida

cotidiana (SCHÜTZ, 1962). Nesse sentido, a situação biográfica determinada, com um envolvimento

físico e sociocultural desenvolvido por eles, se dá em um espaço, neste caso o pub, onde os sujeitos

interagem, se relacionam, e se influenciam quanto ao seu modo de ser e agir.

A aproximação com os bares pubs aconteceu no mês de dezembro de 2015 a fevereiro de

2016. Salienta-se que esse ambiente já era conhecido da pesquisadora desde os tempos que seu filho

cantava em banda e fazia apresentações noturnas, as quais ela assistia e vivenciava essa experiência

geradora de parte da inquietação para o tema da pesquisa.

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4.6 Análise e interpretação dos dados

Para a análise e interpretação das informações, foram realizadas entrevistas fenomenológicas,

as mesmas foram encerradas no 14º encontro, ao ser percebido a suficiência de significados para o

alcance do objetivo proposto, possibilitando apreender o típico da ação dos sujeitos que frequentavam

os pub, na intersubjetividade das relações, na intencionalidade do sujeito para o consumo bebidas

alcoólicas mediando essas relações, e nos motivos atribuídos por eles para essa ação em contexto

social. A tipificação caracteriza o ato em processo, sob a forma de abstração que leva ao conceito

mais ou menos padronizado, embora vago do pensamento do senso comum, “isso é assim porque

nossa experiência é organizada desde o principio, a partir de certos tipos” (SCHÜTZ, 1979, p. 200).

Destaca-se que com os dados em mãos, foi realizado uma experiência de doutorado sanduiche

pioneira no país, realizada na Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto (EERP) no período de março

a maio de 2016, com objetivo de realizar a análise compreensiva dos dados junto a profissional com

vasta experiência na temática da pesquisa, ou seja, a Professora Enfermeira Doutora Sandra Cristina

Pillon.

O método fenomenológico é, primeiramente, uma atitude fundamentada na filosofia

fenomenológica e, posteriormente, um conjunto de procedimentos para se desvelar a essência dos

fenômenos. Em se tratando dessa questão da atitude, Husserl (2006, p. 144) afirma que a

fenomenologia precisa: “[...] de um método antes mesmo de todo método de determinação das

coisas, isto é, de um método para trazer à apreensão do olhar o campo de coisas da consciência

transcendental pura; não apenas porque nela é preciso desviar laboriosamente o olhar dos dados

naturais de que não se cessa de ter consciência e que, portanto, estão, por assim dizer,

entrelaçados àqueles novos dados que se tenta alcançar, e assim é sempre iminente o risco de

confundir uns com os outros.

Após os depoimentos, realizou-se a transcrição literal das falas gravadas, seguida de

leitura, releituras atentivas e exaustivas, a fim de selecionar e agrupar as unidades de sentido,

fazer a marcação cromática dos trechos que continham aspectos significativos da ação dos

sujeitos, identificar as estruturas essenciais e transformá-las em unidades de significação da

situação vivenciada, contemplando os "motivos para” e os "motivos porque” dos sujeitos

consumirem bebidas alcoólicas no contexto social. Com base no conteúdo das falas, ou seja, as

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categorias concretas de primeiro grau, foi possível identificar os motivos porque (passado) como

os motivos para (futuro).

Dessa forma, por meio das leituras das falas buscou-se, identificar a relação das categorias

entre si, alcançado o típico da ação dos sujeitos que frequentam o pub e consomem bebidas

alcoólicas, aquilo que representa a essência, o que é comum a esse grupo social. Os resultados

foram interpretados em concepções teóricas da Fenomenologia Social de Alfred Schütz

(SCHUTZ, 1974; 1979).

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64

5 ANÁLISE COMPREENSIVA

5.1 Situação biográfica: mundo vida dos sujeitos/atores sociais

Dizer que uma situação é biograficamente determinada é afirmar que ela possui uma

historia, ela é a sedimentação de todas as experiências prévias do indivíduo, organizadas como

uma posse que está facilmente disponível em seu estoque de conhecimento e, enquanto uma

posse exclusiva trata-se de algo que é dado a ele e somente a ele (SCHÜTZ, 2012).

Em relação a situação biográfica dos participantes, foram nove homens e cinco mulheres,

com idades entre 20 e 72 anos; dentre estes, em relação a sua situação civil, dez estavam

solteiros, dois estavam casados e dois informaram ter parceiro. Quanto ao grau de escolaridade,

nove deles possuíam ensino médio completo (quatro com curso técnico), três cursavam a

graduação e dois tinham completado pós-graduação (Mestrado e Doutorado). Sobre a situação

profissional, oito estavam trabalhando, três trabalhando e estudando, e outros três somente

estudavam. Quanto a moradia, sete informaram morar com os pais, dois com amigos, outros dois

com seus parceiros e três sozinhos. Destes, todos frequentavam o pub ao menos uma vez ao mês,

a maioria uma ou mais vezes na semana.

Homem, 24 anos, o primeiro de dois irmãos, solteiro, mora com os pais, concluiu

graduação e trabalha (média de 4 salários mínimos). Costuma ir ao pub ao menos uma vez

na semana, para encontrar colegas e amigos. Consome bebidas alcoólicas e tem

preferência por cerveja. Trabalha e estuda na semana, fim de semana quer relaxar. Vai e

volta de carro, ou pega carona com amigos que consomem bebidas alcoólicas. (P1)

Homem 20 anos, filho único, tem três irmãos por parte de pai, solteiro, mora com o pai

que exige cuidados especiais, tem ensino médio completo, recebe uma pensão da mãe que

faleceu (media de quatro salários mínimos) até completar 21 anos, frequenta o pub ao

menos uma vez na semana, por vezes mais de uma e gosta muito de beber de tudo, às

vezes arruma encrenca. (P2)

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Homem 27 anos, o terceiro de três irmãos, concluiu Doutorado e trabalha (média de cinco

salários mínimos). Mora com a parceira e frequenta o pub ao menos uma vez no mês, às

vezes vai com a família (mãe, pai, irmã) que também gostam muito de curtir, beber. (P3)

Mulher 26 anos, concluiu Mestrado, trabalha (média de cinco salários mínimos), mora

com o parceiro e frequenta o pub ao menos uma vez no mês pra sair com o companheiro,

já que ambos trabalham e no final de semana é pra curtir e beber todas (P4)

Mulher 29 anos, segunda de dois irmãos, estuda (graduação) trabalha (média de cinco

salários mínimos), solteira, mora com os pais. E frequenta o pub ao menos uma vez na

semana pra curtir, lá encontra amigas e colegas de curso e trabalho. Adora! (P5)

Homem, 32 anos, possui curso técnico, primeiro de dois irmãos, solteiro, trabalha

(comissionado, média de seis salários mínimos). Costuma ir ao pub ao menos uma vez no

mês, consome bebidas alcoólicas, bebe destilados, mas prefere cerveja. Às vezes leva a

companheira, mas prefere ir com os amigos. Lá pode beber! (P6)

Homem 25 anos, solteiro, segundo de três irmãos, estuda (graduação), trabalha/ estagio

(média de meio salário mínimos), mora com os pais e frequenta o pub ao menos uma vez

na semana. (P7)

Homem 25 anos, solteiro, segundo de três irmãos, estuda (graduação), trabalha/estagio

(200,00), mora com os pais e vai ao pub todo o final de semana com a turma que sempre

passa em sua casa pra começar a beber e depois vão pro pub de preferência com a turma,

lugar que avaliam como seguro. (P8)

Mulher, 56 anos, casada, possui curso profissionalizante, não trabalha atualmente é mãe

de três filhos. Mora com o marido. Costuma ir ao pub ao menos uma vez no mês, gosta de

ir em parceria com os filhos, genros e noras. Lá eu viajo mesmo, diz que às vezes e

incomoda com a filha que acha que ela bebe muito, mas ela vai para beber mesmo. Adora!

(P9)

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Homem 28 anos, estuda (graduação), solteiro, mora com os pais e vai ao pub ao menos

uma vez no mês, as vezes na semana, é lá que encontra a turma e conhece pessoas, vai

sempre com os amigos. (P10)

Homem 21 anos, estuda (graduação), solteiro, mora com os pais e vai ao pub ao menos

uma vez no mês, as vezes na semana, para encontrar com colegas e amigos, vê nesse

espaço uma possibilidade de encontrar e conhecer outras pessoas. (P11)

Mulher, possui curso técnico, 34 anos, separada há 6 anos, hoje solteira, mãe de dois

filhos, mora sozinha, trabalha autônoma (média de cinco salários mínimos). Frequenta o

pub todo final de semana com as amigas. Namora, dança, fica, se diverte, trabalha a

semana toda. Prefere destilado, mas bebe cerveja. Vai e volta de carro, ela que da carona.

(P12)

Mulher 24 anos, solteira, filha única, cursa graduação, mora com os pais e acompanha os

amigos no pub ao menos uma vez no mês, as vezes na semana, vai sempre com o grupo,

fazem um esquenta e saem pro pub. (P13)

Homem 72 anos, casado, primeiro de cinco irmãos, possui curso técnico, aposentado

(media de quatro salários min.) pai de três filhos, mora com a esposa. Tem o hábito de

frequentar o pub ao menos uma vez por semana como ponto de encontro fixo com um

grupo de amigos. (P14)

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Para melhor compreensão desta etapa da pesquisa, os conceitos da fenomenologia social

constituem a base para a construção de tipos ideais, o típico da ação humana. O quadro a seguir

ilustra essa afirmação (Quadro 02).

Quadro 02 - Base Fenomenológica Social para elaboração de Tipos Ideais

MUNDO VIDA Consócios

EGO

Intersubjetividade Relacionamento Nós

ALTEREGO

Contemporâneos

Orientação para ‘tu’ Orientação para ‘Eles’

Situação Biográfica de Vida Motivo ‘por que’

Acerco de Conhecimento ao Alcance Ação Social Racional

Possibilidades Problemáticas

Motivo ‘para

ESQUEMA TÍPICO IDEAL Objetivação dos motivos

Ação Sujeito Situação Categorias concretas do vivido

Fonte: Adaptado de Schütz (1972)

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5.2 Categorias concretas do vivido

Dessa forma, após a submissão das informações a análise compreensiva sob os princípios

da Fenomenologia Social de Alfred Shültz, foi possível descrever as categorias concretas de

primeiro grau, ou seja, o dito sobre o vivido em pubs pelos participantes da pesquisa, decifrando

seus vividos para os motivos por que e os vividos para os motivos para em Shültz. Seguindo esse

processo de análise, a pesquisadora descreve também as categorias concretas de segundo grau,

chegando ao o típico da ação, aquilo que é comum entre eles e caracteriza os sujeitos que

frequentavam os pubs permeados pelo álcool na intersubjetividade das relações que aquele

ambiente promovia, naquele momento de convívio social - naquele tempo - naquele espaço.

Não importa quão singular sejam os fenômenos, os mesmos são produtos de antecedentes

relacionados causalmente. Dessa forma, a partir das informações obtidas surgem as categorias

concretas de primeiro grau, ou seja, o vivido e experiênciado pelo sujeito em seu mundo vida, o

que ele mesmo diz sobre isso.

Dessas categorias a pesquisadora construiu as categorias concretas de segundo grau,

extraindo assim o tipo puro (ideal), o típico da ação, sendo este o método de referência para

análise dos fenômenos sociais, construído para identificar a forma mais racional da ação e, com

base neste modelo, atribuir à irracionalidade as causas de desvio da conduta prevista. Não se deve

construir ou confundir o tipo ideal como “dever” ser axiológico, ou seja, modelo de perfeição ou

forma correta de se realizar uma ação. O tipo é um método de análise racional e não uma fórmula

para alcance de sucesso, indicando o melhor caminho. Assim, a partir das informações obtidas,

ou seja das categorias de primeiro grau, foram construídas as categorias de segundo grau.

Pub como espaço de sociabilidade; satisfação no convívio social do pub.

P1. Em busca de diversão! Quer encontrar o pessoal, os amigos, a turma, dançar, a gente quer curtir, na

verdade o que me importa é isso, sabe, se for para ir sozinho eu nem vou, vou pra estar com eles, com a

turma com os meus amigos, colegas, o pessoal. Às vezes, a gente se reúne ainda aqui em casa, vêm os

meus amigos, amigos do meu irmão, minha irmã, algumas amigas dela, eu gosto de sair com eles. Agente

começa a beber aqui em casa mesmo.

P2. Tu vai pra curtir, vai com amigos, encontra outros por lá, sei lá, conhece pessoas, vai pra beber,

ficar, dançar e encontrar amigos. As gurias ligam, já reservam lugar, aí vamo embora! Muito bom, tu

encontra até o pessoal de casa, a minha irmã e o meu cunhado também gostam!

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P3. Me divertir, curtir, encontrar o pessoal.

P4 Há, a gente vai pra...curtir né, dançar, vê gente bonita, esquecer dos problemas. Lá tu te solta, bebe,

relaxa e borá se divertir (risos).

P5. A expectativa geralmente é a cia dos meus amigos, dos meus familiares, eu gosto de sair com

o meu irmão, com a minha namorada com os meus primos pra mim é essa a alegria que eu vo

encontra lá, de eu pode dividir esse momento com eles. tanto que se fosse pra mim ir sozinho eu

não iria.

P6. De me divertir assim, eu gosto de sair com os amigos, se é pra ir sozinho ou com alguém que

não é tão próximo assim eu acho que não vale a pena sabe, eu gosto de me divertir mesmo, ta

com os amigos ali é seguro.

P7. Olha eu acho legal sempre gostei de festa, ontem o tema era mais gais e lesbicas então foi

bem diferente do que eu já tinha visto. eu não tenho preconceito nenhum, mas fui lá pela

primeira vez, foi bem legal. gostei muito. virei fã kkkkkkkkk. a gente se diverte muito. as vezes

vou com as meninas minhas amigas ou até sozinha e la encontro o pessoal.

P. O pessoal?

P7. Haham, amigas e amigos, tão sempre lá, nesse outro que a gente costuma ir o pessoal que

vai sempre.

P8. A minha expectativa por estudar toda semana é da uma descontraída, sai um pouco.

encontrar os amigos conhecer gente nova! Tu vai La já te enturma, conhece pessoas que tu

nunca viu, mas lá parece que todo mundo já se conhece sabe? bem legal.

P9. Me diverti, fazer festa com meus amigos, tranquilo sem confusão nem nada pra me diverti

mesmo, fim de semana neh, aproveitar.

P. Aproveitar, como assim?

P9. Há...da risada, bebe kk, normal neh, encontrar com pessoas que tu não vê na semana, tu

trabalha, as vez estuda também, como os guri aqui (se referindo a dois irmão gêmeos que o

acompanhavam) as vez tu espera o final de semana pra encontrar essas pessoas, amigos de fé

neh.

P10. De público, eu espero um ambiente que não tenha brigas, confusões, é a primeira coisa que

a gente quer, eu e os guris (amigos) que saem comigo sabem a gente prioriza um lugar que não

vai ter confusões e um publico legal que seja divertido e se enturme com todo mundo .

P10. É geralmente acaba querendo ou não se enturmando por causa da bebida neh, então a

gente acaba bebendo até o momento, acredito que todos devem ter um momento, pelo menos eu,

até um momento que eu fico feliz, e ali todo mundo começa a ficar mais aberto pras relações, pra

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poder conversar com o outro mesmo sem nem conhecer a pessoa e a gente acaba conversando,

fazendo amizade. tanto que a gente já fez esse ano amizade nas próprias festas .

P11. Bom! eu quero me divertir, é isso, me divertir.

P. Se divertir?

P11. Simmm. fazer festa, beber, dançar, cantar, zoar sabe?

P. Zoar?Como assim.

P11. Bah, tu passa a semana no tranco, só em casa, ouvindo queixa desse queixa daquele,

sempre tem alguma coisa sabe, eu trabalho em casa já viu neh? enche, ai tens dias na semana

que eu tiro pra mim.

P12. Olha as minhas expectativas são de cunho politico cultural compreende?

P. Como assim.

P12. Olha eu vou no bar quase todos os dias, pra não dizer todos. é um encontro marcado há

mais de 20 anos, antes era no bar da esquina, hoje é no, como é que tu disse ai?

P. PUB?

P12. Isso, pub, porque la oferecem a mesa de jogo a musica ao vivo, e um lugar agradável para

se conversar não é. então a gente só trocou de lugar, mas as razões que nos movem ao encontro

é o q te falei, politica e cultura., lazer também claro, mas é só um grupo de homens q bebem e

falam das suas ideias, das viagens que fizemos, os shows que frequentamos, dos rumos do pais

do mundo, enfim é um espaço pra formular nossas ideias, pensamentos, dali surgem grandes

projetos, parcerias e até decisões político partidárias e viagens.

P.curtir?

P13. É curtir, dançar, beber, namorar kkkk. afinal tu trabalha toda a semana pesado neh eu

trabalho das 9 as 9, ainda tem a casa, os filhos, sabe com é neh. também sou filha de deus, final

de semana é meu.

P14. Espero encontrar pessoas, algumas conhecidas, outras que possa conhecer, sou solteira

hoje sabe? fui casada 15 anos e me separei faz 4, tive um namorado ai me incomodei um pouco,

cara chato sabe, não gosta a de sair, se divertir, fechadão, mas ai tu gosta, acha que vai

engrenar um romance, mas não eras, até já ficamo um tempo, moramos juntos, ai deu um rolo eu

sai de casa, resolvi que nunca mais quero morar com ninguém, prefiro assim. mas é isso, no pub

eu espero encontrar pessoas pra me divertir, beber e curtir, ficar kkkkkkkkk.olha, eu curto muito

musica ao vivo sabe, então o pub tem isso, bandas diversificadas, cada dia é um estilo de musica,

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lugar legal seguro, tu já conhece quase todo mundo que vai, as vez até conhece alguém novo. há

eu vou muito. ver gente bonita, alegre, é bom neh. fazer amigos.faz bem!

P. Faz bem é? Quer falar mais sobre isso?

P14. Sim, faz bem pra da uma alegrada na vida kkkk, tu vai lá e esquece o resto, as vezes tu ta

malsão, nem ta querendo muito ir, ai vem um parceiro e te carrega, chegando lá tu vai tomando

umas e outras e quando vê já ta soltinho. curtindo tudo, a festa, a musica as pessoas ao redor,

sei lá, tu te deixa levar é isso.

Influência do contexto para o consumo de bebidas alcoólicas.

P1. Há...a turma ali bebendo, as vezes tu nem quer, masss(risos) ai foi, bebe e bebe a noite toda,

depois que começa é ruim de parar

P2. Tem musica, dança, ai fica ali, até nem vai pra beber, mas é quente e passa uma ceva gelada

(risos) os amigos todos bebendo

P3. (risos) tu vai decidido, hoje eu não vou beber. Até parece(risos) quando vê já eras, e ai não

para mais(risos)

P4. Se tu paga o ingresso antecipado tem openbar (bebida liberada) ai não tem como não beber

(risos).

P5. Geralmente, agora? agora ! há umas 4/6 vezes no mês, sábado e as vezes no meio da

semana tem alguma coisa...tu nem pensa em beber, mas ai...a turma ta lá, bebendo e... e rola,

quando viu já bebeu (risos)

P. Rola?

P5. É! uma banda, um show legal com ceva liberada kkkkkk.

P. Ceva liberada, como assim?

P5. É, eles fazem umas promoção, onde tu paga um valor antecipado e a ceva é liberada toda a

noite (risos) ai é ruim de não beber

P6. Depende, todo final de semana saio, quando não tem festa até gosto de juntar os amigos na

casa de alguém sabe.. mas a gente acaba sempre indo pra um pub kkkkkk. então acaba que é

todo findi as vez sexta e sábado. Ai a turma la bebendo, um show rolando, só bebendo(risos)|

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P7. É todo findi a gente vai e as vezes se encontra lá no pub mesmo, na quarta tbm tem um

sertanejo legal sabe, e eu e as gurias curtimo, os guris já não curtem muito sertanejo, ai é a noite

das gurias (risos0. Todo mundo bebe né, difícil é não beber, tu jura que não vai beber...mas bebe

P8. A música, a turma, e tudo ali te leva ao trago (risos) tu gosta e o lugar facilita (risos) vamo

bebe, o pub já é pra isso né lá pode, é todo mundo grande (risos).

P9. Bah, esse findi eu não queria beber, até avisei o povo, tava bem decidida...até que, me

ofereceram um copo, ceva bem gelada, um calorão(risos) já era, ai tu não para mais (risos)

P10. Olha tu vai pra te divertir, encontrar a turma, as vezes nem pensa na bebida, mas o lugar

oferece, a turma bebe, ai tu não vai ficar fora, faz parte (risos)

P11. Beber não é o principal, mas faz parte disso, da festa, do show, afinal tu sai pra que, vamo

bebemorar (risos) musica, dança, a turma, tudo de bom. Adoro!

P12. No pub, tu vai pra isso, conversar, trocar idéias, a cerveja é parte disso, tu vai conversando

e bebendo, fica mais leve as discussões (risos) e melhora o raciocínio (risos)

P13. Eu gosto de me encontrar lá, a gente se organiza, vê até o que vai beber por causa da

grana, divide, as vezes sai mais em conta o destilado...um bebe todos bebem (risos)

P14. As gurias todas bebem, ai tu até pensa hoje não vou beber, amanhã tem que acordar cedo e

tals, mas tu tá ali, tudo acontecendo, só na alegria e tu fora?

P. FORA?

P14. É fora, só tu sem beber, tu já não curte como elas, não te solta, ai tu começa a beber e ai vai

a noite, não adiante, se não quer beber nem vai (risos), afinal tu sai pra isso, te divertir...

Ato de dirigir veículos automotivos após consumo de bebidas alcoólicas no pub

P1. Vou de carro hora, sempre tem alguém que quer carona, as vez divide os gastos (risos)

Mas de carro, ida e volta, sempre, tranquilo!

P2. Há! Carona direto, os guris tem carro NE, então a gente se junta e...(risos) o melhor dirige

(risos).

P3. Sempre de carro, ou moto, ai não da carona NE (risos).

P4. Super perto, umas 4 quadras eu acho, mais ou menos, vou a pé, se vou cedo neh, se não

chamo taxi, na volta as vezes rola uma carona kkkkk (q3). é tu fica com o cara e ele de repente te

leva em casa, se tiver carro neh kkkkkk.

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P5. Se eu vou de carro, volto de carro claro ou de taxi na volta, mas quase sempre de carro.

(ergue os olhos com ar de reprovação, puxa a boca, risos...).

P6. Ultimamente assim, ou alguém (familiar) leva ou algum amigo que tem carro, leva, mas

sempre de carro, quase sempre com amigos, risos...

P7. Mais ou menos, uns 7 km, vou de carro, por que sai tarde né, na volta as vezes rola uma

carona (risos)... é tu fica com o cara e ele de repente te leva em casa, se tiver carro(risos).

P8. Da um km, km1/2, de carro claro (risos)

P9. Depende geralmente vou de carro, carona na ida e na volta (risos).

P10. As vez o pai leva, mas voltar a gente volta sempre de carona com os amigos né, (risos).

P11. Há! a gente agora tem ido mais de taxi mesmo, porque a gente bebe mesmo sabe, então ou

carona ou taxi, melhor taxi por que as vezes a carona também bebe neh, (risos)

P12. De carro, sempre de carro. agora to comprando um imóvel bem próximo aqui, ai acho que

vou ir a pé, vamos ver.

P13. Mais de carona, mas de carro também, depende da cia., quem vai ir, da turma.

P14. Há uns, acho que não da 2 km, será?..é ali no xx onde tu falou comigo lembra? acho que

não da 2km quase sempre com amigos/ conhecidos de carona ou taxi. a volta é sempre de taxi,

pq a carona bebe neh, risos...

Consumo de bebidas alcoólicas no pub: uma ação social.

Padrão de consumo de risco, uma atitude natural.

1. A cerveja, sempre, não gosto de destilados, mas ceva hummm, essa sim (risos)

2. Olha, beber todo mundo bebe né (risos) a gente se passa um pouquinho, passa mal, mas tudo

bem, lá é pra isso...

3. Drinks, adoro (risos), destilados, prefiro...(risos)

4. Cerveja, cerveja e cerveja (risos),as vez exagera, fica ruim, mas tudo bem, passa (risos) e

volta melhor (risos), sem problemas (risos)

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P5. Particularmente cerveja, muita cerveja, bastante variedade normalmente, além de cerveja,

whisky, vodka esse tipo de coisa, essas coisas assim que o pessoal gosta mais também refri,

agua, comida, comida é muito difícil viu , praticamente é mais bebida que tem mesmo.

P6. Há eu sou bem variado assim, eu bebo aqueles drinks, samba neh com vodka,, tipo uma

bebida doce ou cerveja assim é o que eu tomo quase sempre assim outras coisas eu não gosto

muito.

P7. Lá tem mais bebidas, até as 23 servem alguma coisa, depois só trago...eu bebo cerveja, da

muita sede, muito calor, a gente dança muito, pula, (risos) gasta energia.

P8: Olha dependendo da festa sim, mas geralmente dentro da festa não pq aqui em sm ta muito

mais mais rigida neh a legislação quanto ao uso de drogas então eles conseguem, com revista

fica difícil de entrar dependendo da casa , mas na rua sem duvida, na rua rola livre eles não tem

controle . eu cerveja.

P9. Claro (risos). eu prefiro cerveja e vodka com energético., tipo com alguma coisa pra

misturar

P10. Destilado, não gosto de cerveja. umas 8/ 9 tulipas (copos longos).

P11. Cerveja, chopp às vezes uma caipira pra abrir os trabalho e ne kkkk. e um aperitivo, tipo

batata. mandioquinha frita, azeitona, queijo essas coisas...pra segurar a onda neh, se não o

trago pega logo.

P12. Olha até 8 anos atrás eu bebia muita cerveja, eu preferia, mas tive um problema renal,

operei um rim e ai diminui um pouco, hoje bebo umas duas doses de whisky e depois a cerveja,

ai pedimos um aperitivo pra degustar, ovos de codorna, canapés enfim, coisas que o bar oferece.

A cerveja sempre.

P13. Drinks, destilado, caipira, whisky com energético essas coisas, as vezes cerveja, mas gosto

de drinks.

14. Depende da grana, drinks são mais caros, mais eu gosto, vodka com energético, mas cerveja

rola toda a noite (risos)...na parceria!

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Quadro 03 – Apreensão das falas dos sujeitos e seus desdobramentos compreensivos

Categorias concretas de

primeiro grau

Unidades de

significação

Motivos

para

Motivos

porque

Categorias concretas de

segundo grau

[...] alegria; em busca de

diversão! [...]

]...] as vezes tu nem vai

beber, ai o copo passa,

todo mundo bebendo, ai

quando vê já eras

(risos)[...]

Alegria; diversão;

Busca por

diversão

Espaço de

interações

sociais

Pub como espaço de

sociabilidade; satisfação

no convívio social do

pub.

Influência do contexto

para o consumo de

bebidas alcoólicas

[...] quero encontrar o

pessoal, os amigos, a

turma, dançar, a gente

quer curtir, na verdade o

que me importa é isso[...]

[...] sabe, se for para ir

sozinho eu nem vou, vou

pra estar com eles, com a

turma com os meus

amigos, colegas, o

pessoal[...]

Encontrar amigos;

Dançar;

Curtir;

Estar

com...turma...

colegas...pessoal;

Pertencimento

a um grupo

Espaço de

interações

sociais

.

Consumo de bebidas

alcoólicas no pub: uma

ação social;

[...] há, vai pra beber, tu

bebe, bebe todas né, lá

pode (risos). Eu adoro!

[...] as vezes tu passa mal,

mas sempre tem alguém

que ajuda sabe, ai tu volta

e bebe todas (risos).

beber;

lá pode

passa mal;

bebe todas

Livre arbítrio

Espaço

permissivo para

o consumo de

bebidas

alcoólicas

Padrão de consumo de

risco, uma atitude

natural;

[...] vou de carro hora e

volto de carro claro, tem

que leva o pessoal [...]

Vou de

carro...volto de

carro

Ato de dirigir veículos

automotivos após

consumo de bebidas

alcoólicas no pub: uma

atitude natural

Fonte: Elaborado pala autora a partir dos dados da pesquisa.

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5.2.1 Categorias concretas do vivido dos motivos porque

Os motivos porque se referem aos acontecimentos já concluídos, que representam alguns

aspectos da realização das ações, tendo um recorte temporal voltado para o passado e revela ao

observador um significado objetivo (SCHÜTZ, 2012). Apresenta-se, em sequência, a

interpretação das categorias concretas do vivido dos motivos por que: espaço permissivo ao

consumo de bebidas alcoólicas e espaço de relações sociais.

Os motivos para a procura de diversão no pub pelo sujeito têm haver com a sua situação

biográfica, a qual revela o momento da vida em que ele se encontra, as influências de suas

experiências vividas relacionadas ao consumo de bebidas alcoólicas. Desse modo, os motivos

constituem um processo temporário e dinâmico do mundo vida dos sujeitos, relacionados às suas

vivências, experiências e relações intersubjetivas, sendo que essas experiências podem se revelar

como positivas ou negativas atualmente (SCHÜTZ, 2012). Nesta pesquisa, o consumo de bebidas

alcoólicas por adultos em contextos sociais, parte de uma experiência positiva que foi

desencadeada pelas expectativas de prazer e alegria.

Ao frequentarem o pub, os sujeitos (re) lembram as experiências positivas ali

compartilhadas, e reconhecem ali um espaço de relações e, no livre e fácil acesso ao álcool, a

permissividade para o consumo, revelando que reconhece ai uma experiência positiva. Dessa

forma, buscam no pub, ter e criar novas relações sociais e aproveitar a permissividade desse

ambiente para um consumo livre de bebidas alcoólicas junto aos demais.

A compreensão é sempre a consciência de algo para um significado. Dessa forma, tudo

que é compreendido, remete a um significado. Os sujeitos interagem entre si de maneira bem-

sucedida apenas na medida em que eles compreendem reciprocamente os motivos e intenções do

outro (SCHÜTZ, 2012). Assim, ao identificar as motivações do adulto para o consumo de

bebidas alcoólicas em contexto social, pode-se compreender a intencionalidade dessa ação que

permeada pelas relações se reveste em ação social, e assim, passa a ter significado para eles.

Entretanto, há de se reconhecer no contexto social mais um espaço de atenção a saúde para a

enfermagem/saúde.

Ao lançar um olhar para o passado, com a intenção de compreender as motivações da

ação de consumir a bebida alcoólica nesse ambiente de pub, os sujeitos relatam com alegria

esfuziante, a possibilidade de encontro, diversão e descontração, destacam seus amigos, colegas e

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familiares, os quais também já frequentavam esse espaço, revelando sentimentos de confiança,

carinho e alegria em poder (re) velos, assim como conhecer outras pessoas.

A relação face a face é um tipo de relação que configura-se como um modo de

aproximação, de interação e intersubjetividade, é considerada uma experiência direta entre

pessoas, um encontro social que ocorre no mesmo espaço e tempo (SCHÜTZ, 2012). Nesse

sentido, os sujeitos se encontram no pub, se divertem, curtem, namoram e bebem juntos, brincam,

dançam e relaxam, desenvolvendo um tipo de relação face a face, dividindo esse espaço e

usufruindo do que lhes é comum nesse ambiente, no caso, a musica, a dança, o encontro, tudo

isso permeado pelo álcool.

Os sujeitos, ao se darem conta das experiências vividas, seu estoque de conhecimento à

mão dada pela sua situação biográfica, revelam um vivido de relações sociais, que envolvem seus

antecessores, sucessores e contemporâneos. O estoque de conhecimento a mão ou bagagem de

experiências vividas tem haver com a sua historia de vida, sua personalidade, a qual possibilita a

sua interpretação do seu mundo vida. Sendo assim, conhecendo a situação biográfica de cada

sujeito, é possível que a partir de seu passado, suas ações presentes e futuras sejam

compreendidas (SCHÜTZ, 2012).

As relações se dão entre pessoas, no mundo vida dos sujeitos essas relações acontecem

entre seus antecessores, sucessores e contemporâneos, estando todos conscientes de si e do outro.

Desse modo, o antecessor é a relação social vivida como modo passado, o sucessor é o vivido

como perspectivas que anteabre a um futuro e o contemporâneo é aquele com o qual realizo uma

troca, um intercâmbio social atual (SCHÜTZ, 2012). A relação face a face se da entre estes num

mesmo tempo e espaço.

No mundo da vida ocorrem as relações sociais, sendo um mundo intersubjetivo, significa

que ele não é particular, mas ao contrario, é um mundo comum a todos, aos quais se estabelecem

entre si distintas relações e por ser compartilhado, vivenciado e interpretado pelo próprio sujeito e

também pelos outros que desse mundo compartilham. Essa experiência de mundo vida significa

conviver de forma interrelacional com sujeitos distintos, em complexas redes de relacionamentos

sociais (SCHÜTZ, 2012). Assim, o envolvimento no mundo da vida dos sujeitos adultos que

consomem bebidas alcoólicas em pub revelou que no pub, o sujeito se sente a vontade para beber,

lá pode!

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A orientação-pelo-Tu em Schütz, é quando uma pessoa encontra reciprocidade por parte

da outra e ambas referem-se uma à outra intencionalmente, desdobrando assim a relação-do-Nós,

a qual é expressa na percepção recíproca do outro, e estabelece uma participação simpática na

vida do outro, mesmo que por um período breve (SCHÜTZ, 2012). Nesse caso a experiência dos

sujeitos que compartilham o pub, os quais têm influência nas motivações dos sujeitos

consumirem bebidas alcoólicas nesse espaço. No entanto, para compreender tais motivações é

preciso fazer uma reflexão do sujeito sobre o que ele pensa sobre a sua própria ação (SCHÜTZ,

2012). Nesse momento, às categorias concretas do vivido dos motivos porque se revelaram

como: espaço permissivo para o consumo de bebidas alcoólicas e espaço de interação social.

5.2.2 Categorias concretas do vivido dos motivos para

Os motivos para tem haver com à perspectiva de futuro, o que se deseja obter com

determinada ação, desvelando um significado subjetivo da ação. Os sujeitos, ao lançarem seu

olhar para o futuro, com o intuito de compreender os motivos para da ação, têm a

intencionalidade de frequentar o pub em busca de diversão, de pertencer a um grupo e de exercer

o seu livre arbítrio, desejando usufruir assim da alegria que o momento oferece, deixando o

estresse e o cansaço do trabalho e ou estudo para traz. Considerando que toda a ação é revestida

de intencionalidade, qual seja propriedade mais básica da consciência, a consciência assim é

sempre consciência de algo (SCHÜTZ, 2012). Para isso, eles têm a intencionalidade de consumir

bebida alcoólica ao frequentar o bar pub em busca de diversão e interação social, com-vivio.

Em busca de diversão! Quer encontrar o pessoal, os amigos, a turma, dançar, a gente quer curtir, na

verdade o que me importa é isso, sabe, se for para ir sozinho eu nem vou, vou pra estar com eles, com a

turma com os meus amigos, colegas, o pessoal. Às vezes, a gente se reúne ainda aqui em casa, vêm os

meus amigos, amigos do meu irmão, minha irmã, algumas amigas dela, eu gosto de sair com eles. Agente

começa a beber aqui em casa mesmo. (P1)

Uma atitude intencional é qualquer ação no qual e pelo qual o sujeito experiência um

objeto, podendo ser este físico ou ideal. É com o sujeito que o próprio objeto é cognitivamente

estabelecido (SCHÜTZ, 2012). O consumo de bebida alcoólica pelo adulto em contexto social

pode ser considerada como o objeto intencional da ação, na qual o sujeito usa a substância e dá

um significado positivo à experiência do consumo. O objeto intencional é avaliado e significado

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pelo sujeito que vivencia, ele é deixado entre parênteses para depois de um tempo voltar a ele

numa perceptiva cognitiva.

O consumo de bebidas alcoólicas em contexto social passou a ser reconhecido como um

costume construído socialmente, no qual os sujeitos aderiram ao hábito, como um modo de

interação social. Isso ocorre porque o sistema de costumes define um padrão em que o grupo

interno estabelece sua situação (SCHÜTZ, 2012). Destaca-se que, no mundo da vida, o sujeito

nasce em um mundo físico e sociocultural que já existia antes de seu nascimento, sendo a herança

social transmitida às crianças que nascem e crescem dentro de um grupo social. Salienta-se que o

álcool permeia a vida do homem a milênios e seu uso é de livre e fácil acesso.

Desse modo, uma serie de tipificações e modos de tipificar são admitidos no âmago do

grupo social em que nascemos e crescemos. São costumes, hábitos e maneiras típicas de se

comportar para conseguir certos fins típicos a cada cultura e cada sociedade (SCHÜTZ, 2012).

Diante dessas considerações, percebe-se que os sujeitos tiveram suas ações influenciadas pelos

componentes do seu grupo social, com o qual aderiram o costume de consumirem bebidas

alcoólicas em determinado contexto, pois esse costume faz parte e permeia as suas relações.

Salienta-se que só existe verdadeira relação social se a pessoa responder de algum modo à

consciência que tem do outro. Os sujeitos nessa relação estão mutuamente conscientes, possuem

implicações especiais para a interação social que desenvolvem (SCHUTZ, 2012).

Tu vai pra curtir, vai com amigos, encontra outros por lá, sei lá, conhece pessoas, vai pra beber, ficar,

dançar e encontrar amigos. As gurias ligam, já reservam lugar, aí vamo embora! Muito bom, tu encontra

até o pessoal de casa, a minha irmã e o meu cunhado também gostam! (P2)

Assim, a partir da peculiaridade de uma relação face a face passou-se a estabelecer os

motivos para (futuro) relacionados ao consumo de bebidas alcoólicas em contexto de relações

sociais pub: a busca por diversão o pertencimento a um grupo e o livre arbítrio.

Contudo, a partir dos resultados da pesquisa, em que o excesso do consumo foi destacado

nas falas dos sujeitos, revelando ser esse um padrão de consumo natural entre eles. Destaca-se

que o sujeito volta ao pub ao menos uma vez no mês e por vezes na semana. O próprio

comportamento da pessoa em relação ao outro é baseado, em primeira instância, a propósito de

motivos não questionados a despeito destes, serem ou não, seus reais motivos (SCHÜTZ, 2012).

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Essa questão suscita novos estudos na temática apresentada, considerando os resultados

alcançados.

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6 O TÍPICO DA AÇÃO DE CONSUMIR BEBIDAS ALCOÓLICAS EM CONTEXTO

SOCIAL: tipo ideal

De posse das características encontradas, apreendeu-se o significado da ação dos

participantes, buscando descrever o típico da ação daqueles que frequentavam os pubs e

consumiam bebidas alcoólicas. Esse significado representa a essência, o que é comum a esse

grupo social naquele ambiente (pubs), ou seja, as categorias concretas de segundo grau, o tipo

ideal.

Nesse sentido, o significado subjetivo que o grupo social tem para seus membros se

estabelece no conhecimento de uma situação comum com o vigente sistema de tipificações e

relevâncias. Essa situação dispõe de sua própria história e biografias dos membros, na qual, o

sistema de tipificação e relevâncias determina a situação que consiste a concepção relativamente

natural do mundo que é compartilhado. O sistema de tipificações e relevâncias.

A ação social, conforme já mencionado, é o fio condutor da pesquisa fenomenológica

social, assumindo, desse modo, um papel central na mesma. A ação social é a prática da

intencionalidade da consciência humana a partir da orientação para o outro, ou seja, o ser humano

sabe que sua ação não impacta somente a si mesmo, mas também ao seu alter ego. Um conceito

bem próximo ao da ação social, na concepção de Schütz (1972), é o de racionalidade, pois o autor

centrou seus estudos na ação social orientada para fins.

Para compreender os motivos “para” e os motivos “porque” dos sujeitos para o consumo

de bebidas alcoólicas no contexto social, chegando ao típico da ação foram seguidos os princípios

da Fenomenologia Social de Alfred Schütz (Quadro 01): atitude desinteressada do observador

científico; normas de relevância sociológica; coerência lógica; interpretação subjetiva; adequação

e racionalidade lógica científica (SCHÜTZ, 1979, 2012).

A partir dessa trajetória, foi construído o tipo ideal, no processo de apreensão das falas

(categorias concretas de primeiro grau) e seus desdobramentos compreensivos, chegou-se a

tipificação da ação (categorias concretas de segundo grau), ou seja, o tipo ideal, o que é comum

entre os sujeitos/atores sociais identificado nas informações descritas revelaram: A alegria que o

encontro no pub propõe, a influência do contexto e dos elementos ali presentes como a musica e

as pessoas bebendo para o consumo de bebidas alcoólicas; o consumo excessivo de bebidas

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alcoólicas mesmo quando não se planejava beber; consumo de bebidas alcoólicas: uma ação

social no contexto dos pubs; assumir condutas de risco, como dirigir embriagado. Atitude natural!

Schütz (1974b, p. 20-21) aponta que a possibilidade de se estudar o mundo social deve

partir do princípio que todos os fenômenos sociais podem ser descritos de acordo com um dos

quatro esquemas de referência, a saber: a personalidade social, o ato social, o grupo social, as

relações sociais. Em outras palavras, quando o observador científico decide estudar o mundo

social desde um marco de referência objetivo ou subjetivo delimita, desde o início, qual setor do

mundo social pode ser estudado por um esquema definitivamente elegido.

Na contemporaneidade, os lugares de convivência comunitária como, clubes, centros

comunitários e esportivos, locais que oferecem oportunidades de lazer e recreação, ao longo do

tempo foram, se tornando escassos e paulatinamente reduzidos a espaços protegidos como os

pubs. As categorias concretas do vivido foram construídas com base na situação biográfica dos

participantes, assim constituindo o típico da ação dos sujeitos.

De modo geral, o pub foi descrito pelos participantes como um ambiente de sociabilidade,

que propicia encontros e fomenta a convivência (estar com amigos, colegas da turma e

familiares), o que potencializa sentimentos agradáveis relacionados ao bem-estar e à felicidade

individual. O consumo de álcool é o ingrediente fundamental que integra as ações e confere

sentido às vivências suscitadas pelo convívio social no pub.

Além disto, pelo próprio convívio com os familiares, amigos e colegas, também percebem

no pub um lugar seguro e tranquilo, no qual é possível relaxar, se divertir e se relacionar, sem o

risco de se envolver em confusão.

Das falas dos participantes, emergiu a cerveja como a bebida favorita, cujo consumo se

revelou pesado e intenso (a noite toda), levando à perda do controle. Também foi observado que

alguns participantes realizavam tentativas fracassadas de autocontrole para conter o consumo

contínuo. Nesse sentido, a perda de controle parece influenciada pelas relações sociais daquele

espaço e momento. Nota-se que, mesmo diante de indícios de rebaixamento de consciência e

comprometimento físico, os participantes tiveram dificuldades para diminuir ou cessar seu

consumo.

O fato de continuarem frequentando o pub e, portanto, manterem-se na roda das relações

com os amigos, parece potencializar, aumentar a expectativa para o consumo de bebidas

alcoólicas nesse espaço.

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Alguns participantes revelaram que, em determinada noite, tinham a expectativa de não

consumirem bebidas alcóolicas, mas o fizeram motivados pelo contexto propício e os amigos ali

bebendo. Assim, a circulação de bebidas (ampla disponibilidade e fácil acesso), aliada aos

elementos do ambiente (amigos bebendo e se divertindo), fez com que agissem de maneira

contrária à planejada, seguindo seu livre arbítrio.

O álcool, substância reconhecida por favorecer a socialização, parece facilitar e aproximar

os relacionamentos interpessoais, criando uma atmosfera de fraternidade, acolhimento e

congraçamento entre os participantes. Nota-se, inclusive, um desinteresse ou crítica a respeito dos

efeitos nocivos do “consumo social do álcool”, em especial de um dos sujeitos, que apresenta

comprometimento físico (problema renal).

Os participantes revelaram consumo excessivo, compatível com intoxicação alcoólica ou

embriaguez, a ponto de passarem mal pelo efeito cumulativo do álcool no organismo. Esse

padrão de consumo é ritualizado e naturalizado, de tal modo que não causa estranhamento e passa

despercebida pelos demais frequentadores do pub. Trata-se de uma situação frequente e

considerada “normal”, como se o indivíduo estivesse no controle.

O consumo excessivo é uma ação que se repete com frequência pelo menos uma vez por

mês, por vezes na semana. Schütz (2012), define ação como a conduta humana projetada pelo

sujeito de maneira intencional, dotada de propósito, ou seja, “a fim de”. Observa-se, assim, na

intencionalidade do sujeito que frequenta o pub um consumo compatível com o beber nocivo,

pois, apesar das consequências negativas, o padrão de uso se mantém e tende a se perpetuar. Esta

atitude natural revela que a conduta, ao contrário do comportamento, é consciente, de modo que

prazer e desprazer, bom e mau, estão igualmente presentes e na mesma medida.

Destaca-se que, durante as entrevistas, todos os 14 entrevistados expressaram satisfação,

alegria e entusiasmo em meio a sorrisos e muita animação ao relatarem as suas vivências no

contexto do pub, embora fosse perceptível nos trejeitos, caras e bocas reconhecerem os riscos de

dirigirem após beber, assumiam esse risco e achavam graça desse comportamento comum entre

eles, vangloriando-se por nunca ter acontecido nada, diziam alguns. Destacaram o estar-com e o

encontrar outros naquele contexto, permeado pelo álcool, reafirmando sua satisfação em

frequentar este espaço significativo em seu mundo vida.

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Para os sujeitos, o aspecto positivo de frequentar o pub relaciona-se à busca por diversão

ocasional (fins de semana); destacam essa associação com significados positivos, incluindo o

beber como motivação para o convívio naquele espaço (TERROSO, 2016). Nota-se que

identificam o pub como meio favorável à interação social e esta é sua intenção: estar-com

naquele espaço mediado pelos elementos ali presentes, dentre eles a bebida alcoólica.

Argumentos positivos fundamentam as motivações para frequentarem o pub, afinal o local

permite o encontro com amigos, colegas e familiares; essa parece uma motivação para, a qual,

entretanto, desconsidera o beber e passar mal.

Nesse sentido, vale ressaltar que a OMS destaca o uso nocivo de álcool com um dos

cinco principais fatores de risco para doença, invalidez e morte em todo o mundo (OMS, 2010;

LI et al., 2011). No entanto, este costume nesse padrão de uso se perpetua por gerações, de modo

que passou a representar um desafio para uma sociedade permissiva e motivadora de um

consumo cada vez mais arriscado dessa substância (OMS, 2014).

Segundo Schütz, experiência e ação são atos correlacionados que “não resultam de uma

mente produtora de sentidos, mas da conexão entre diversas mentes, em interação no processo

social” (CASTRO, 2012, p. 54). Schültz refere-se à compreensão da ação de pessoas no mundo

da vida, nesse caso no pub, na relação intersubjetiva, social, vivida pelos sujeitos conscientes do

mundo que estão inseridos (WAGNER, 2012).

Nas palavras de um dos participantes, no pub ele pode passar mal e ele afirma que, nestas

situações, conta com a ajuda dos amigos. A ação de beber no pub aparece, entre outras

atividades, de forma natural, inclusive quando o sujeito revela passar mal. A conformação dos

contextos de experiência, por sua vez, constitui o que Schütz compreende como a base da ação

social, ou seja, o espaço intersubjetivo propriamente dito, por meio do qual as condutas são

reguladas.

A influência cultural dita as normas de conduta, ou seja, em contextos específicos, ocorre

o que se espera dos sujeitos; no caso do pub, espera-se naturalmente que eles bebam. O consumo

de bebidas alcoólicas torna-se uma representação da ação social do sujeito/grupo que a torna

homogênea nesse contexto, abstendo-se das características individuais (WEBER, 2012). A

escolha por frequentarem o pub e beber com os outros é expressa por linguagem significativa,

podendo ser reconhecida e compreendida por aqueles que vivenciam esta mesma experiência.

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No pub os sujeitos se divertem consumindo vários tipos de bebidas, dançam e

desenvolvem suas relações e interações, por vezes dividem as despesas numa socialização

planejada para, de modo que beber é só mais uma ação social a ser desenvolvida naquele espaço,

uma ação esperada naturalmente para aquele contexto.

Na atualidade, o consumo de bebidas alcoólicas é relatado com sentido ambivalente, ou

seja, ora dá prazer, promove a sociabilidade, ora é visto como um mau comportamento que gera

prejuízos. Em geral, em se tratando de contextos sociais as pessoas consomem bebidas alcoólicas

para relaxar e se divertir; para muitos, significa companhia e, na maior parte das vezes, seu

consumo implica riscos relativamente baixos, tanto para quem bebe como para terceiros (OMS,

2014).

Contudo, a OMS assinala que o beber responsável não é uma prática comum e, nesse

contexto, o livre e fácil acesso a bebidas alcoólicas tem incentivado os sujeitos a um padrão de

consumo cada vez mais arriscado, a ponto de ao se excederem, recorrerem ao pronto-atendimento

por vezes. No entanto, a ida ao pub intenciona o consumo de bebidas alcoólicas, pois o bar é para

isso desde sempre e, portanto, é esperado que se comportem em conformidade com as normas

sociais daquele contexto, assim tornando-se mais iguais, independentemente das diferenças que a

sociedade imprime (HAUCK FILHO; TEIXEIRA, 2012).

Os modelos de bar diferem conforme a época e as realidades apresentadas, mas os

propósitos sempre envolvem lazer, diversão, relações e interações diversas, regadas a muita

bebida/álcool. Assim, o consumo de bebidas alcoólicas em ambiente social passa a ser

reconhecida ação social, cultural, naturalizada para esse fim. No entanto, faz-se necessário

reconhecer que além desses espaços essa conduta vem se destacando pelos prejuízos individuais,

familiares e sociais, merecendo mais atenção, visto que por vezes esses prejuízos possam ter

começado pelo consumo social.

Percebe-se essa possibilidade quando em resposta à questão: Qual o meio de locomoção

até o pub e como você volta pra casa? A maioria dos entrevistados (10) relatou ir e voltar com o

carro próprio, os demais (4) arriscam caronas com quem também já bebeu, assim eles consideram

natural, beber e dirigir, ignorando, portanto, o risco dessa atitude para si e para os outros.

Observa-se ainda, que o consumo de qualquer bebida alcoólica representa, para os

sujeitos, algo "normal", ainda que ultrapassem os “limites”. Há aceitação no consumo excessivo

de bebidas alcoólicas pela maioria dos entrevistados. No contexto social pesquisado, os

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significados sinalizam para o núcleo representado por um beber excessivo, concebido como

“normal”, atitude natural que não impede o ato de dirigir.

Em um dos depoimentos, o participante mencionou ir e retornar de carro porque, segundo

ele, a distância entre o pub e a sua casa era pequena. Diante dos abusos sobre essa questão, no

ano de 2012, o CTB foi atualizado com a Lei 12.760, a qual determinou limite zero de álcool ao

condutor de veículo automotor, e na Seção II – dos crimes em espécies – o artigo 306 limitou a

seis decigramas de álcool por litro de sangue e ampliou as formas de obtenção de provas.

Contudo, segundo a OMS, o déficit de pessoal para fiscalização impede a redução dos

índices de acidentes de carro, sobretudo nos feriados e fins de semana. Dessa forma, para

compreender as ações do sujeito é necessário apreender os significados de sua ação, os quais, de

certo modo, sinalizam para um modo de ser, irresponsável quando decidem por dirigirem

embriagados e não reconhecerem conscientemente o risco, embora deva assumir as

consequências que podem ser fatais.

O Código de Trânsito Brasileiro, com a redação dada pela Lei 11.705/2008, constitui a

primeira lei que pune severamente o indivíduo que dirige alcoolizado no país (BRASIL, 1976). A

referida lei também dispõe sobre a venda e a propaganda de bebidas alcoólicas nas rodovias

federais. De acordo com as pesquisas realizadas pelo II LENAD, a alteração na legislação mudou

o comportamento do brasileiro ao dirigir e, de modo geral, houve redução de 21% no número de

motoristas que dirigiam alcoolizados entre os anos de 2006 a 2012 (LARANJEIRA, 2012).

No entanto, entre os entrevistados desta pesquisa, esta legislação parecer não ter tido uma

repercussão tão positiva. Em um dos depoimentos, o participante revela, entre outros aspectos,

ausência de distinção entre beber para se divertir e o beber de risco. O problema, então, envolve

não apenas o fator biológico (passar mal), mas também o aspecto cultural, por gerar condutas que

ultrapassam as normas legais, colocando em risco a vida (OMS, 2014). Ficou claro que eles

dirigem e oferecem carona, por vezes sob efeito de alta concentração de álcool no sangue, sem

reconhecerem no CTB algum impedimento.

Outro participante revelou ir de carro e quase sempre ser o motorista da vez (aquele que,

em tese, deveria ficar sem beber para garantir a segurança dos demais que estariam livres para

consumir bebidas alcóolicas). No entanto, embora ciente deste “acordo”, ele não o cumpre. Sob

este aspecto, a preocupação central foi captar o sentido que o sujeito da ação atribui ao seu ato,

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não como algo que se dá de forma isolada, mas na relação direta com sua situação biográfica, ou

seja, é natural, “entre eles”, beber e dirigir.

A escolha de frequentar o pub, bem como a decisão de consumir ou não bebidas

alcoólicas em determinados contextos, implica condutas que dependem, em última instância, do

livre arbítrio do sujeito, mas que podem ser compreendidas por sua intencionalidade, pois toda a

ação intenta para um propósito (a fim de), com base em sua biografia, ou seja, em sua história de

vida (SCHÜTZ, 1979). Dessa forma, compreende-se que as interações sociais acontecem por

meio de ações do sujeito que é parte do mundo social e resultam em condutas realizadas com um

determinado fim.

Neste caso, com o propósito de se divertir e relaxar, mas sem abrir mão da companhia de

outras pessoas, o sujeito vai ao pub e, neste ambiente de relações e interações no encontro com

familiares, amigos e colegas, satisfaz um conjunto de necessidades psicológicas e sociais. O

comportamento do beber emerge de forma natural em meio a essas atividades e necessidades de

prazer associadas ao lazer, conferindo contornos às relações que ali se estabelecem (HAUCK

FILHO; TEIXEIRA, 2012). Vale citar que o álcool é reconhecido como uma droga que leva à

desinibição social, o que favorece a socialização.

O fenômeno do uso abusivo do álcool é um problema multideterminado que não pode ser

simplesmente dimensionado pela relação que suscita no sujeito, mas, sim, pelas interações que

essa relação desencadeia em determinado contexto social e cultural, dependendo dos valores e

das crenças do indivíduo (PRATA; SANTOS, 2009).

Entre os fatores de vulnerabilidade psicossocial que potencializam os riscos relacionados

ao consumo de álcool destaca-se o contexto social (INPAD, 2012; WHO, 2014). Neste caso, o

pub, com seus elementos característicos (música em volume alto, bebidas diversas e pessoas

interagindo), dispõem de motivações potencializadoras para que seus frequentadores consumam

bebidas alcoólicas e, assim, obtenham uma sensação ilusória de segurança e bem-estar (HAUCK

FILHO; TEIXEIRA, 2012).

A disponibilidade e facilidade de acesso às bebidas alcoólicas têm sido foco de interesse

da literatura, principalmente das políticas públicas (DUALIBI; VIEIRA; LARANJEIRA, 2011).

No Brasil, estudos evidenciam lacunas na legislação e deficiências de fiscalização no

cumprimento da lei que regulamenta a propagada, venda e comercialização de produtos

alcoólicos (DUALIBI; VIEIRA; LARANJEIRA, 2011; PINSKY; SAMI, 2008). O consumo é

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fortemente naturalizado, de modo que tem sido um desafio reconhecer que essa conduta pode se

tornar um comportamento potencial de risco para diversos problemas, que vão além das questões

individuais (SOCCOL et al., 2014).

Destaca-se que o grau de risco para os danos relacionados ao uso de álcool varia de

acordo com a idade do bebedor, o gênero, os fatores familiares, as condições socioeconômicas e

biológicas, como peso e nível de vascularização, bem como o comportamento do bebedor e a

exposição ao álcool (padrão de uso, em termos de quantidade e frequência) e a qualidade do

produto consumido (LARANJEIRA; ROMANO, 2004; WHO, 2014). Assim, reconhecer esse

padrão de consumo como de risco alerta para um comportamento que merece atenção e

celeridade nas políticas de prevenção.

No presente estudo, os relatos sugerem que o hábito de frequentar o pub parece estar

associado ao consumo abusivo de álcool de maneira complexa. Por essa razão, essa relação entre

ir regularmente ao pub e o beber de risco não pode ser reduzida a uma única motivação, mas deve

ser compreendida à luz da intersubjetividade e da relação singular que o sujeito estabelece com o

contexto e a bebida. Para Schütz (1979), o sujeito é capaz de ser influenciado pelo contexto, mas

também é motivado a influenciar, o que leva à compreensão de que as pessoas vivem em seu

mundo vida conscientes do mundo onde estão inseridas.

No entanto sendo que o álcool representa, em determinados contextos, como os pubs a

droga de maior aceitação e seu uso se torna cada vez mais difundido e estimulado, é coerente

destacar que evidencias revelam que os efeitos provocados a curto, médio e longo prazo, diretos

ou indiretos, pelo consumo de risco desta substância são consideráveis, incluindo prejuízos

sociais, à saúde e à sociedade em geral (WHO, 2014).

Vale ponderar ainda, que o meio é relevante na pesquisa não por influenciar os sujeitos no

tocante a formulação e realização de uma determinada ação social, não foi pretendido adentrar no

mérito dessa questão. O meio aqui, ou seja, o contexto dos pubs foi compreendido como um

ambiente dotado de aspectos típicos, comuns e passíveis de universalização na temática da

pesquisa. No mais, Schütz (1974b, p. 57) deixa manifesto que cada esquema típico pode sobrepor

outro. Quantos mais tipos ideais existirem acerca de um fenômeno, mais anônimo este será,

ampliando assim sua aplicação.

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7 CONCLUSÃO

Esta pesquisa permitiu, tal como proposto pelo referencial adotado da Fenomenologia

Social de Schütz, extrair da realidade empírica e subjetiva um tipo ideal de ação e pessoa em

determinada situação típica, considerando os motivos presentes para a ação investigada.

A compreensão que emerge desta pesquisa viabilizou a inserção no mundo dos pubs.

Perceber a singularidade do sujeito mostrou-se uma forma de aproximação a esse modo de ser,

eles consomem bebidas alcoólicas, deixando-se influenciar pelo contexto e pelas pessoas ali

presentes, que normalmente estão bebendo e interagindo uma com as outras, exercem seu livre

arbítrio para o consumo em prol de uma integração intersubjetiva que lhe oferece alegria e bem

estar dando sentido ao seu mundo vida social.

Diante da tipificação da ação e da pessoa que freqüenta o pub, a alegria do encontro e os

elementos ali envolvidos como a música ao vivo e as bebidas alcoólicas servem de motivação

para repetir essa ação ao menos uma vez ao mês, por vezes uma ou mais vezes na semana em

busca de diversão, afinal ele trabalha e ou estuda tosos os dias e quer relaxar, ele dirige mesmo

após ter passado mal por ter se excedido na forma de beber, acha graça nesse comportamento e

não percebe riscos para si ou para o outro.

A repetição desse comportamento exige o desenvolvimento de capacidades individuais e

de grupo para a regulação e o controle do consumo de bebidas alcoólicas em contexto social.

Algumas ações como a diminuição de pontos de venda, redução do horário de fechamento dos

bares durante alguns dias da semana, o aumento de impostos sobre o produto e a cessação da

oferta de bebidas pelos profissionais de bares para aquele sujeito com sinais de embriagues são

práticas já desenvolvidas pelo mundo e que podem ser avaliadas e adaptadas ao contexto local.

Tais medidas necessárias podem contribuir para que os frequentadores do pub reconheçam em si

a capacidade de auto regulação e também o padrão de risco, que podem levar a diversos

problemas de saúde, familiares e sociais, inclusive a dependência.

Assim, as categorias concretas do vivido, desveladas pelo sentido da ação dos sujeitos,

possibilitaram construir o típico da ação, o que não significa que são experiências únicas e

singulares, mas de um grupo que compartilha o mesmo contexto social. Nas relações

desenvolvidas no pub, permeadas pela intersubjetividade, nas relações de trabalho (pensemos nos

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profissionais do pub) e nas trocas ali realizadas surgem possibilidades de prevenir os riscos

relacionados ao consumo de bebidas alcoólicas no contexto social.

No entanto, revelou-se importante que esses contextos sejam contemplados nas ações de

políticas públicas de prevenção e promoção à saúde. É preciso que essas oportunidades sejam

reconhecidas e valorizadas, para que possam ser acionadas pelos profissionais da saúde, pessoas,

famílias e sociedade como meio de influenciar a promoção da saúde.

Pessoas com hábito de consumir bebidas alcoólicas em diferentes padrões de uso, que se

tornam frequentadores de estabelecimentos diferenciados socialmente, muitas vezes, constituem

um desafio para as campanhas de prevenção, justamente por buscarem uma fonte de socialização

e lazer após um dia de trabalho, fazendo uso de seu livre arbítrio.

A pesquisa oferece possibilidades para o ensino, ao revelar o padrão de uso de risco em

contexto social, exigindo ampliar conteúdos que abordem sobre a temática do álcool em

ambientes de intersubjetividade social, preparando o acadêmico de enfermagem/saúde para atuar

também nesta realidade. Sugere-se ainda, extensão e assistência ao compreender a função social

que o álcool representa no mundo vida dos sujeitos, no intuito de orientar/educar para uma

consciência critica e responsável para o consumo social de bebidas alcoólicas, levando em conta

a licitude que reveste a representação social para essa substancia em nosso mundo vida.

Apresenta ainda possibilidades de novas investigações em espaços, locais, tempo e

públicos diferentes. Atenta-se, como exemplo de resultados positivos relacionados a outra droga

de caráter lícito no país para efetivação da mobilização social na transformação do

comportamento social relacionado ao uso do cigarro em espaços públicos.

Esta pesquisa apresenta limitações próprias de um estudo qualitativo, contextualizado em

termos de cenário e temporalidade no qual foi desenvolvido. O propósito não é generalizar os

resultados, mas aprofundar a análise sobre o tema investigado. Futuras pesquisas são necessárias

sobre o consumo de álcool em contextos sociais permissivos, como os pubs, abrangendo outras

regiões do país, para que se possam explorar as nuances de cada realidade local. Por fim, vale

destacar o papel da enfermagem no âmbito da prevenção nos diversos cenários sociais.

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101

APÊNDICE A – Roteiro para a Entrevista

Título do estudo: “Motivações Atribuídas ao Consumo de Bebidas Alcoólicas Por Adultos: uma

conduta social.”

Pesquisadora responsável: Profª Drª Marlene Teda Pelzer

Entrevista Nº: Data: Código:

1 Situação Biográfica dos participantes:

1.1 Idade:

1.2 Sexo:

1.3 Ocupação/Profissão:

1.4 Estado civil:

1.5. Escolaridade:

1.6. Moradia:

2 Questões orientadoras na entrevista:

Qual a sua expectativa ao ir no pub? Como você vê o pub? Com que frequência você vai?

Como você chega até o pub? Com quem você vai ou se encontra no pub? Quais bebidas ou

alimentos consome? Das bebidas qual a quantidade em média? Quando começa a beber e

(conforme a informação obtida) quando para?

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102

ANEXO A – Termo de Consentimento Livre e Esclarecido

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE

DEPARTAMENTO DE ENFERMAGEM

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

Título do estudo: Interface do contexto social e o consumo de bebidas alcóolicas: um estudo

na Fenomenologia Social de Alfred Shultz.

Pesquisadora responsável: Profª Drª Marlene Teda Pelzer.

Instituição/Departamento: Universidade Federal do Rio Grande/Programa de Pós Graduação

em Enfermagem.

Telefones para contato: (53)33328855-(53) 32338800

Local da coleta de dados: pubs

Prezado Participante:

Você está sendo convidado a participar desta pesquisa de forma esclarecida, voluntária e

gratuita. Serão respeitados seus valores culturais, sociais, morais, religiosos e éticos. Porém, antes

de concordar e responder a entrevista é importante que você compreenda as informações contidas

neste documento, pois as pesquisadoras deverão responder todas as suas dúvidas. Além disto,

você tem o direito a garantia de plena liberdade de recusar-se a participar ou retirar seu

consentimento, em qualquer fase da pesquisa, sem penalização alguma.

A pesquisa é intitulada “Motivações Atribuídas ao Consumo de Bebidas Alcoólicas Por Adultos:

uma conduta social” cujo objetivo é: Compreender as motivações atribuídas ao consumo de

bebidas alcoólicas na conduta social do adulto.

Justificativa: Conhecer essas motivações pode levar profissionais da saúde, pessoas, família e

sociedade a reconhecer no contexto a base dessa conduta, auxiliando de forma positiva no papel

de regulação social que o contexto desempenha.

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103

Procedimentos: sua participação nesta pesquisa consistirá em participar de uma entrevista

(conversa), individual, registrada em gravador digital em que a pesquisadora fará algumas

perguntas. Caso você não desejar que o gravador seja utilizado, sua vontade será respeitada. O

dia e horário para realização da entrevista será marcado com você conforme a sua

disponibilidade. O tempo de duração da entrevista será conforme você desejar. A entrevista será

realizada em um local público no centro do município de Santa Maria-RS, em uma sala

previamente reservada ou em algum local da sua escolha.

O que você falar será digitado (transcrito) e será guardado por cinco anos, por

determinação ética da pesquisa sob a responsabilidade da Profa. Enfa. Dra. Marlene Teda Pelzer

em um armário exclusivo para pesquisa, no 4º andar do Prédio Acadêmico da Área da Saúde da

Universidade Federal de Rio Grande. Após este período, os dados (transcrições) serão destruídos.

Somente as pesquisadoras envolvidas nesta pesquisa terão acesso à gravação a qual será destruída

logo após a sua digitação (transcrição). Os dados coletados, depois de organizados e analisados,

serão divulgados e publicados, ficando as professoras responsáveis, comprometidas em

apresentar o relatório da pesquisa para o serviço no qual foi realizada a pesquisa.

Benefícios: não haverá custos ou benefícios financeiros pela participação na pesquisa. Para você,

os benefícios serão indiretos, pois as informações coletadas fornecerão subsídios para a

construção de conhecimento em saúde e enfermagem, bem como para novas pesquisas a serem

desenvolvidas sobre essa temática.

Riscos: você poderá sentir cansaço e desconforto pelo tempo que envolve a conversa e por ter de

relembrar algumas vivências que possam ter causado algum tipo de sentimento. Caso isto venha

acontecer, a entrevista será encerrada a fim de retomar seu bem estar, podendo ou não ser

retomada, isso vai depender da sua vontade.

Sigilo: ao final desta pesquisa, os resultados serão divulgados e publicados na forma de artigos

em Revistas da Área da Enfermagem. Sendo assim, as informações fornecidas por você terão sua

privacidade garantida pelas pesquisadoras responsáveis. A sua identificação pessoal será

preservada, e na pesquisa os seus depoimentos serão codificados letra ‘P’, que é a inicial da

palavra participante seguida de um número (P1, P2, P3 e, assim sucessivamente). Este termo será

assinado em duas vias sendo que uma ficará com você e outra com as pesquisadoras. As

pesquisadoras, ainda, se comprometem em seguir a Resolução Nº 466/2012 do Conselho

Nacional de Saúde, bem como do cumprimento das exigências nela contidas.

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104

Custos. Os gastos que você possa ter no translado até a sala de entrevista será custeado pela

pesquisadora, você não terá custo algum caso concorde em participar.

É importante salientar, que se você tiver alguma dúvida sobre a ética desta pesquisa, entre em

contato com:

Comitê de Ética em Pesquisa na Área da Saúde – CEPAS/FURG.

Rua Visconde de Paranaguá, 102. CEP. 96201-900

Hospital Universitário 3º Andar - Campus Cidade.

Rio Grande do Sul – Brasil

Eu, ____________________________________________ estou ciente e de acordo com o que

foi anteriormente exposto, aceito participar desta pesquisa, assinando este consentimento em duas

vias, ficando em posse de uma delas.

Santa Maria, ____ de ___________________ de 2015.

______________________________

Assinatura da participante da pesquisa

_________________________

Aassinatura da pesquisadora

Profa. Enfa Dra. Marlene Teda Pelzer

______________________

Assinatura da pesquisadora

Enfª Ddª Dilce Rejane Peres do Carmo

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ANEXO B - Termo de Confidencialidade

Título do estudo: Interface do contexto social e o consumo de bebidas alcoólicas: um estudo

na Fenomenologia Social de Alfred Shultz.

Pesquisadora responsável: Profª Drª Marlene Teda Pelzer

Instituição/Departamento: Universidade Federal do Rio Grande/Programa de Pós

Graduação em Enfermagem.

Telefones para contato: (53)33328855-(53) 32338800

Local da coleta de dados: sala em espaço público (cafeteria) ou a livre escolha dos participantes.

As pesquisadoras do presente projeto se comprometem a preservar a privacidade dos

participantes, homens e mulheres, que estão nos pubs, cujos dados serão coletados por meio da

entrevista fenomenológica. Para tanto, será utilizado como cenário uma sala disponível em local

público no centro da cidade. Concordam, igualmente, que estas informações serão utilizadas

somente para execução do presente projeto de pesquisa e para compor um banco de dados para

possíveis releituras com outros referenciais. As informações somente poderão ser divulgadas de

forma anônima e serão mantidas em arquivo confidencial no computador por um período de 5

anos sob a responsabilidade da Dra. Marlene Teda Pelzer, na sua sala de estudos, em

compartimento com chave de sua posse, localizado no prédio da área acadêmica da FURG no 3º

andar. Após este período, os dados serão destruídos. Este projeto de pesquisa foi revisado e

aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da FURG em / / com o número do

CAAE____________ Rio Grande, de de 2015.

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ANEXO C – Parecer consubstanciado do CEP

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