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JOVENS AGRESSORES INTERVENÇÃO PSICOLÓGICA COM Daniel Rijo I Nélio Brazão Diana Ribeiro da Silva I Paula Vagos Prefácio do Prof. Doutor José Pinto Gouveia Posfácio da Prof.ª Doutora Teresa Ferraz da Silva

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Daniel Rijo I Nélio BrazãoDiana Ribeiro da Silva I Paula Vagos

JOVENS AGRESSORES• Avaliação psicológica de jovens agressores• Modelos cognitivo-comportamentais do comportamento antissocial• Entrevista motivacional com jovens agressores• Estratégias comportamentais, cognitivas e relacionais• Programas de intervenção em grupo• Intervenções em contexto escolar

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ISBN 978-989-693-072-1

Os jovens com problemas de comportamento representam um dos grupos mais desafiantes para intervenção em psicoterapia. Habitualmente, demonstram grande resistência ao tratamento e negam ou minimizam os seus problemas. No entanto, a patologia do comportamento tende a associar-se a défices ao nível do sucesso académico, ao consumo de substâncias psicoativas e ao envolvimento em comportamentos de risco, podendo conduzir ao primeiro contacto destes jovens com o sistema de justiça. Trata-se, portanto, de um grupo de indivíduos com elevadas necessidades de intervenção. A investigação científica tem mostrado que as intervenções cognitivo-comporta-mentais possuem eficácia demonstrada na reabilitação de jovens com patologia do comportamento, incluindo jovens agressores em contacto com a justiça. Este livro, resultante da experiência dos autores na investigação, ensino e inter-venção com jovens agressores, foi pensado para auxiliar os psicólogos que avaliam e intervêm nesta população, tanto num setting de intervenção individual como em contexto de grupo. Tendo em conta os fatores de manutenção desta problemática, são também apresentadas estratégias de intervenção adequadas ao trabalho com pais e professores.

AUTORES

DIRETOR DE COLEÇÃO

Mauro PaulinoCoordenador da Mind | Instituto de Psico-logia Clínica e Forense. Psicólogo Forense Consultor do Instituto Nacional de Medicina Legal e Ciências Forenses. Coordenador da pós-graduação em Psicologia Forense da Uni-versidade Autónoma de Lisboa.

Guias práticos que privilegiam o saber-fazer nos vários domínios da ciência psicológica. Com estudos de caso e exemplos vários que ajudam o leitor a enquadrar, operacionalizar e concre-tizar uma intervenção técnica e cientificamente fundamentada.

Prefácio do Prof. Doutor José Pinto GouveiaPosfácio da Prof.ª Doutora Teresa Ferraz da Silva

Daniel Rijo Psicólogo clínico, doutorado em Psicologia Clínica e Professor na Faculdade de Psicolo-gia e de Ciências da Educação da Universidade de Coimbra. Investigador do Centro de Investi-gação do Núcleo de Estudos e Intervenção Cognitivo-Comportamental (CINEICC).

Diana Ribeiro da SilvaPsicóloga clínica e doutoranda em Psicologia Forense na Faculdade de Psicologia e de Ciên-cias da Educação da Universidade de Coimbra. Investigadora do Centro de Investigação do Núcleo de Estudos e Intervenção Cognitivo--Comportamental (CINEICC).

Nélio Brazão Psicólogo clínico, doutorando em Psicologia Forense e docente na Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade de Coimbra. Investigador do Centro de Investi-gação do Núcleo de Estudos e Intervenção Cognitivo-Comportamental (CINEICC).

Paula VagosPsicóloga clínica, doutorada em Psicologia e Professora na Universidade de Aveiro. Inves-tigadora de Pós-Doutoramento no Centro de Investigação do Núcleo de Estudos e Inter-venção Cognitivo-Comportamental (CINEICC) da Universidade de Coimbra.

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16,5 x 21cm 16,5 x 21cm10 cm 10 cm

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ORReservados todos os direitos. Esta publicação não pode ser reproduzida, nem transmitida, no todo ou em parte, por qualquer

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Copyright © 2017, PACTOR – Edições de Ciências Sociais, Forenses e da Educação ® Marca registada da FCA – Editora de Informática, Lda.ISBN edição impressa: 978-989-693-072-11.ª edição impressa: setembro de 2017

Paginação: Carlos MendesImpressão e acabamento: Tipografia Lousanense, Lda. – LousãDepósito Legal n.º 430647/17Capa: José Manuel Reis

Todos os nossos livros passam por um rigoroso controlo de qualidade, no entanto, aconselhamos a consulta periódica do nosso site (www.pactor.pt) para fazer o download de eventuais correções.

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Os nomes comerciais referenciados neste livro têm patente registada.

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Sobre a Coleção VIIOs Autores IXPrefácio XIIntrodução XV

1. O Modelo Cognitivo-Comportamental 11.1 Comportamento Antissocial: Características Clínicas e Patologias Associadas 11.2 A Perspetiva do Modelo dos Fatores de Risco (“Big Eight”) 61.3 A Perspetiva Cognitivo-Comportamental 10

1.3.1 Crenças Nucleares Disfuncionais: A Visão do Eu e dos Outros 111.4 A Manutenção do Comportamento Antissocial: Processos Disfuncionais 18Considerações Finais 22

2. Avaliação Cognitivo-Comportamental 252.1 Entrevista Clínica e Formulação de Caso 252.2 Instrumentos de Avaliação 30

2.2.1 Entrevistas Clínicas 312.2.2 Questionários de Autorresposta 35

Considerações Finais 41

3. A Entrevista Motivacional e o Modelo Transteórico da Mudança 433.1 Entrevista Motivacional 433.2 Modelo Transteórico da Mudança 44

3.2.1 Pré-Contemplação 463.2.2 Contemplação 47

Índice

Intervenção Psicológica com Jovens Agressores

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3.2.3 Preparação para a Ação 493.2.4 Ação 513.2.5 Manutenção da Mudança 523.2.6 Recaída 53

3.3 Princípios da Entrevista Motivacional 543.4 A Resistência à Mudança 57

3.4.1 Estratégias para Lidar com a Resistência 58Considerações Finais 64

4. Estratégias Comportamentais 674.1 A Pertinência das Estratégias Comportamentais 674.2 O Que são Contingências Operantes: Reforço e Punição 704.3 O Reforço Positivo e o Reforço Negativo 714.4 A Punição Positiva e a Punição Negativa 754.5 O Caso do Time Out 784.6 A Combinação de Diversas Estratégias Operantes 80

4.6.1 Programas de Economia de Fichas (Token Economy) 814.6.2 Contratos Comportamentais 86

4.7 O Contributo dos Agentes de Mudança: Treino de Pais e Professores no Manejo de Contingências 89Considerações Finais 90

5. Estratégias Cognitivas 935.1 Intervenções Cognitivas: Modificação da Atribuição de Significado e das Crenças Disfuncionais 945.2 Lidar com o Evitamento e a Compensação do Esquema 955.3 Estratégias Focadas nos Produtos Cognitivos 1015.4 Estratégias Focadas nas Distorções Cognitivas 1065.5 Estratégias Focadas nos Esquemas Cognitivos 109Considerações Finais 119

6. Estratégias Relacionais 1216.1 A Interação Terapeuta-Adolescente 122

6.1.1 O Terapeuta Enquanto Participante-Observador 1246.2 A Reparentização Limitada e a Confrontação Empática 125Considerações Finais 127

Índice

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7. Intervenções em Grupo: Critérios para a Seleção de Programas 1297.1 Programas de Intervenção em Grupo: Dados e Estatísticas 1307.2 Teoria e Base Empírica 1317.3 Nível de Risco 1317.4 Fatores de Vulnerabilidade como Alvos de Mudança 1337.5 Alvos Múltiplos 1337.6 Sensibilidade 1347.7 Integridade 1357.8 Contexto Comunitário 136Considerações Finais 136

8. Programa de Prevenção de Comportamentos Agressivos em Contexto Escolar 1398.1 Enquadramento Teórico e Conceptual 139

8.1.1 O Ciclo Interpessoal do Comportamento Agressivo em Contexto Escolar 1398.1.2 O Modelo de Processamento de Informação Social Aplicado ao Comportamento Agressivo 141

8.2 Diretrizes de Intervenção 1458.3 Uma Abordagem Sociocognitiva Universal à Intervenção 147

8.3.1 Destinatários do Programa 1488.3.2 Estrutura e Conteúdos do Programa 149

8.4 Estudos de Eficácia 155Considerações Finais 157

9. O Programa “Gerar Percursos Sociais” 1599.1 “Gerar Percursos Sociais”: Criação e Conceito 1599.2 Porquê um Novo Programa? 1609.3 Bases Conceptuais, Estrutura, Conteúdos e Metodologia 1639.4 Acerca dos Terapeutas 1699.5 Contextos de Aplicação e Estudos de Eficácia 171Considerações Finais 172

Conclusão 173Posfácio 175Referências Bibliográficas 179Índice Remissivo 185

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Bem-vindo à Coleção Intervenção em Psicologia!

Fazendo jus à sua essência, a PACTOR, marca editorial do Grupo LIDEL, dedi-cada à publicação de livros nas áreas das Ciências Sociais, Forenses e da Educação, propôs-se lançar no mercado livros que aliem essencialmente a componente prática, isto é, de intervenção na área da Psicologia, a uma escrita de elevado rigor científico, sem que tal constitua um obstáculo ao prazer da leitura e da aprendizagem, ou da renovação de conhecimentos. Tal iniciativa é digna de registo, pois é demonstrativa do reconhecimento crescente que a Psicologia assume na atualidade e nos seus mais diversos domínios de especialização, justificando por parte de um grupo editorial a audácia de investir nesta área de conhecimento, mas também um sinal claro da neces-sidade e dever que os profissionais e estudantes de Psicologia têm de uma atualização constante. Com base no Código Deontológico da Ordem dos Psicólogos Portugueses, a bússola por excelência da atividade profissional em Psicologia, esta coleção pretende guiar os psicólogos no sentido de práticas de excelência, garantindo que a referência do exercício profissional é o expoente máximo e não o mínimo aceitável. Como alerta o mesmo Código, no âmbito do Princípio Geral da Competência, os psicólogos têm como obrigação exercer a sua atividade de acordo com os pressupostos técnicos e cien-tíficos da profissão, a partir de uma formação pessoal adequada e de uma constante atualização profissional, de forma a atingir os objetivos da intervenção psicológica, pois de outro modo acresce a possibilidade de prejudicar o cliente (i.e., qualquer pes-soa, família, grupo, organização e/ou comunidade com os quais os psicólogos exer-çam atividades no âmbito dos seus papéis profissionais, científicos e/ou educacionais enquanto psicólogos) e de contribuir para o descrédito da profissão. A competência

Sobre a Coleção

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será o reconhecimento de que os psicólogos devem estar conscientes que têm como obrigação fundamental funcionar de acordo com as boas-práticas baseadas em conhe-cimentos científicos atualizados, pretendendo esta Coleção ser um préstimo útil, de referência ímpar e seguro ao cumprimento de tal obrigação ética. Por fim, refira-se que apesar de ser assumidamente uma Coleção direcionada para profissionais e estudantes de Psicologia, a emergência da interdisciplinaridade torna-a também recomendável a outras áreas de saber, sem prejuízo das competências e saberes de cada uma, bem como dos deveres e responsabilidades de outros profissionais.

Mauro Paulino Diretor de Coleção

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Daniel RijoPsicólogo clínico, doutorado em Psicologia Clínica e Professor na Faculdade de Psico-logia e de Ciências da Educação da Universidade de Coimbra. Investigador do Cen-tro de Investigação do Núcleo de Estudos e Intervenção Cognitivo-Comportamental (CINEICC) na área das perturbações da personalidade e do comportamento antisso-cial. Autor de artigos e capítulos de livros de circulação nacional e internacional.

Nélio BrazãoPsicólogo clínico, doutorando em Psicologia Forense, Professor na Faculdade de Psi-cologia e de Ciências da Educação da Universidade de Coimbra e na Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias. Investigador do Centro de Investigação do Núcleo de Estudos e Intervenção Cognitivo-Comportamental (CINEICC) na área do comportamento antissocial. Autor de artigos e capítulos de livros de circulação nacio-nal e internacional.

Diana Ribeiro da SilvaPsicóloga clínica, mestre em Medicina Legal pela Universidade do Porto e doutoranda em Psicologia Forense na Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Uni-versidade de Coimbra. Investigadora do Centro de Investigação do Núcleo de Estudos e Intervenção Cognitivo-Comportamental (CINEICC) na área da psicopatia. Autora de artigos e capítulos de livros de circulação nacional e internacional.

Os Autores

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Paula VagosPsicóloga clínica, doutorada em Psicologia e Professora na Universidade de Aveiro. Investigadora de Pós-Doutoramento no Centro de Investigação do Núcleo de Estudos e Intervenção Cognitivo-Comportamental (CINEICC) da Universidade de Coimbra, com projetos no âmbito da fobia social e da agressividade em adolescentes. Autora de artigos e capítulos de livros de circulação nacional e internacional.

Diretor de Coleção

Mauro PaulinoCoordenador da Mind | Instituto de Psicologia Clínica e Forense. Psicólogo Forense Consultor do Instituto Nacional de Medicina Legal e Ciências Forenses. Coordena-dor da pós-graduação de Psicologia Forense da Universidade Autónoma de Lisboa. Membro do Laboratório de Avaliação Psicológica e Psicometria (PsyAssessment Lab) da Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade de Coimbra. Autor e coordenador de diversos livros. Docente convidado em várias universidades nacionais e internacionais.

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A Terapia do Comportamento, nos anos 60, procurava aplicar os princípios expe-rimentais de aprendizagem à resolução dos problemas psiquiátricos e psicológicos. Endossava padrões científicos rigorosos e um dos postulados que guiava a sua prática era o reconhecimento da necessidade de avaliar os resultados e a eficácia das suas intervenções terapêuticas. A tradição comportamental deu origem nos anos 80/90 às chamadas Terapias Cognitivo-Comportamentais que mantiveram a prática de avaliar rigorosamente a eficácia das suas intervenções.

Não será assim de estranhar que atualmente um grande número de intervenções cognitivo-comportamentais esteja elencado nas listas de terapias apoiadas por evidên-cias ou nas guidelines internacionais mais reconhecidas. Como resultado, têm sido publicados manuais de intervenções cognitivo-comportamentais para as mais diver-sas perturbações psicológicas. Poderá mesmo dizer-se que será difícil encontrar um quadro psicopatológico do adulto para o qual não tenha sido desenvolvido um pro-grama cognitivo-comportamental e tenham sido publicados manuais para apoiar essa intervenção. Embora em número mais reduzido, o mesmo acontece com os manuais destinados a apoiar os psicólogos nas intervenções cognitivo-comportamentais em crianças e adolescentes com problemas de comportamento. Contudo, há uma área em que esse apoio é quase inexistente e são escassas as publicações sobre o tema: a inter-venção com agressores juvenis. Não deixa de ser estranho esta escassez, pois trata-se de um grupo que requer particulares cuidados no que toca à avaliação e intervenção psicológica, tendo em conta a invalidação associada a patologia tão severa, bem como as dificuldades que coloca aos terapeutas, pois muitas das suas dificuldades de autor-regulação estão presentes no contexto da terapia.

Prefácio

Intervenção Psicológica com Jovens Agressores

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O livro Intervenção Psicológica com Jovens Agressores, publicado pelo Prof. Daniel Rijo e colaboradores, constitui, pois, uma exceção no panorama atual, nomeadamente no contexto dos países de língua portuguesa e oferece aos psicólogos e a outros técni-cos de saúde mental um conjunto vasto de estratégias de avaliação e intervenção, par-ticularmente úteis com jovens que apresentam problemas de comportamento severos.

Ao optarem por uma abordagem baseada nos modelos cognitivo-comportamen-tais, os autores tiveram em conta o suporte empírico para a eficácia das intervenções desta natureza. Se, no caso dos agressores juvenis, a maior parte da investigação dis-ponível testou a eficácia de intervenções em grupo, nos últimos anos têm surgido ou-tros estudos sobre a eficácia de intervenções cognitivo-comportamentais em formato individual.

Os autores desta obra, membros e colaboradores do CINEICC – Centro de Inves-tigação do Núcleo de Estudos e Intervenção Cognitivo-Comportamental –, estão liga-dos aos dois formatos de intervenção em jovens com problemas de comportamento. O seu trabalho, nomeadamente os estudos enquadrados em projetos de doutoramento, pós-doutoramento e projetos de investigação plurianual, tem sido maioritariamente dedicado à problemática da agressividade, desde a sua manifestação em contexto es-colar até ao estudo do impacto de programas estruturados de intervenção com agres-sores, não descurando a questão da prevalência das perturbações mentais em contexto de justiça, uma questão fundamental na interface entre a psicologia clínica e a psico-logia forense.

Neste livro, o leitor poderá encontrar um referencial teórico atualizado, que per-mite uma compreensão da origem e manutenção dos problemas de comportamento de um ponto de vista cognitivo-comportamental. Partindo do paradigma do proces-samento de informação, a obra integra contributos das abordagens motivacionais e sublinha a importância das variáveis relacionais na intervenção com jovens agressores. Fornece uma descrição detalhada dos principais instrumentos de avaliação com uti-lidade neste tipo de situações, mas é sobretudo dedicada a estratégias de intervenção clínica, individual ou em formato de grupo. Tendo em conta a investigação que mostra existir uma elevada prevalência de perturbações mentais nos jovens em contacto com o sistema de justiça, esta obra contribuirá certamente para aproximar as intervenções clínicas de contextos onde as mesmas são tão necessárias.

Penso que os autores estão de parabéns não só pela iniciativa desta publicação, mas também pela qualidade dos seus conteúdos.

Prefácio

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O livro está organizado em nove capítulos que abordam de forma clara e eficaz desde os referenciais teóricos para a intervenção cognitivo-comportamental com jo-vens agressores, os aspetos de avaliação por questionários de autorresposta e entrevista até às estratégias comportamentais, cognitivas e relacionais para a intervenção. As par-ticularidades da intervenção em grupo são abordadas no Capítulo 7 e o importante aspeto da prevenção dos comportamentos agressivos em contexto escolar no Capítulo 8. Finalmente, no Capítulo 9 é apresentado o programa estruturado de intervenção “Gerar Percursos Sociais”, programa que tem obtido resultados positivos prometedo-res com jovens agressores.

É, pois, com imenso gosto que prefacio e recomendo este livro cujos autores inte-gram a linha de investigação do CINEICC que coordeno: Processos Cognitivos e Com-portamentais e Mudança: Saúde e Psicopatologia em Diferentes Contextos, cujo foco principal é a investigação da psicopatologia e o desenvolvimento de intervenções em-piricamente validadas através de estudos de eficácia. Esta obra é um bom exemplo da qualidade que resulta da interação da investigação com a clínica, pois traduz o fruto do diálogo entre trabalho de investigação, desenvolvimento de intervenções estruturadas e a experiência clínica dos autores.

José Augusto da Veiga Pinto GouveiaProfessor Catedrático da Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da

Universidade de Coimbra (FPCEUC) e Coordenador do Centro de Investigação do Núcleo de

Estudos e Intervenção Cognitivo-Comportamental (CINEICC)

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Os menores com problemas de comportamento e, no limite, os menores agressores que apresentam um padrão de comportamento antissocial claramente identificado, representam um dos grupos mais desafiantes para intervenção em psicoterapia. Trata--se de um grupo de indivíduos resistentes ao tratamento, estando-lhe associado não só psicopatologia como também défices em diferentes áreas (problemas familiares, aban-dono escolar, dificuldades ao nível do emprego, associação a problemas de álcool e dependências, etc.). A estas dificuldades juntam-se ainda, frequentemente, problemas com a justiça e danos para terceiros, inclusive com possíveis vítimas. Por todas estas consequências, trata-se de um grupo de indivíduos com elevadas necessidades de in-tervenção, nomeadamente por parte das instituições e serviços com responsabilidades na saúde mental e, mais especificamente, na saúde mental infantil e juvenil.

As intervenções cognitivo-comportamentais têm oferecido o quadro teórico mais estudado e com eficácia demonstrada na reabilitação de delinquentes juvenis. A maio-ria das intervenções, com resultados positivos cientificamente comprovados, foi im-plementada na reabilitação de jovens agressores, sob tutela ou em acompanhamento por serviços de justiça juvenil. Mesmo neste grupo de menores mais severamente perturbados, foi possível demonstrar a eficácia deste tipo de intervenções na redução significativa das taxas de reincidência criminal. Este indicador de eficácia, importante para legitimar a escolha dos programas de reabilitação destinados a menores agresso-res, fez com que muitos trabalhos de investigação se debruçassem sobre a eficácia de programas de natureza cognitivo-comportamental, estruturados e aplicados em for-mato de grupo. Mais recentemente, diversos autores têm vindo a chamar a atenção para a necessidade de se estudarem os mecanismos ou processos de mudança nes-tas populações, isto é, quais os alvos de intervenção onde devemos focar os nossos

Introdução

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esforços terapêuticos e que mais fortemente se associam à mudança dos padrões de comportamento agressivo. Por outro lado, as próprias terapias cognitivo-comporta-mentais têm conhecido importantes desenvolvimentos (quer ao nível dos modelos conceptuais quer ao nível das estratégias de intervenção), que obrigam forçosamente ao estudo e teste empírico de novos modelos explicativos e da capacidade dos mes-mos para produzirem intervenções eficazes. Estes novos contributos permitem propor novas formas de intervenção na delinquência juvenil e obrigam a novos olhares sobre os determinantes e fatores de manutenção de padrões de comportamento agressivo.

Acresce ao que foi descrito que o comportamento agressivo, quando toma a forma de um padrão de conduta ou de um estilo de comportamento nas relações sociais, tende a ser de natureza desenvolvimental. Isto é, quando um menor manifesta, já na adolescência, características e comportamentos que permitem o diagnóstico de uma Perturbação Desafiante de Oposição, de uma Perturbação de Comportamento, ou de ambas, tais padrões de comportamento tiveram usualmente início em fases preco-ces da vida do indivíduo. Importa, portanto, saber intervir no comportamento deso-bediente e agressivo, mesmo antes de este assumir uma gravidade tal que permita o preenchimento dos critérios de diagnóstico das perturbações anteriormente referidas. A investigação tem também evidenciado, de forma robusta, que o início precoce dos problemas de comportamento tende a estar associado a formas mais severas de com-portamento agressivo no futuro. Dentro das formas mais severas de patologia do com-portamento, o desenvolvimento de traços psicopáticos em menores tem vindo a ser cada vez mais estudado. A mais recente edição do DSM-5 – “Manual de Diagnóstico e Estatística das Perturbações Mentais” (Diagnostic and Statistical Manual of Mental Di-sorders, APA, 2013) propõe um especificador para a Perturbação de Comportamento, que permite identificar um grupo mais severamente perturbado de menores que, re-cebendo este diagnóstico, apresentam “emoções prossociais limitadas”. Este especifi-cador contempla características como a ausência de remorsos ou culpa, indiferença/ /falta de empatia, despreocupação com o seu desempenho escolar ou profissional, su-perficialidade/pouca genuinidade do afeto. Todas estas características correspondem ao que tem vindo a ser descrito como traços de frieza e calosidade emocional, uma das mais estudadas dimensões do constructo de psicopatia. A necessidade de avaliar a presença destas características, nos menores diagnosticados com Perturbação do Comportamento, traz para a psicoterapia outros desafios: adequada identificação dos indivíduos em que estas características estão presentes, necessidade de avaliar estes

Introdução

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traços de forma fidedigna e desenvolvimento de intervenções capazes de produzir mu-dança em menores com estas problemáticas.

Este livro foi pensado para auxiliar todos os psicólogos que intervêm em jovens com problemas de comportamento. Muita da informação contida nesta obra destina--se a apoiar as intervenções psicológicas com menores agressores ou com problemas de comportamento, num setting de intervenção individual, seja esta realizada numa clínica, num serviço hospitalar, numa escola ou num outro qualquer contexto de in-tervenção. No entanto, e tendo em conta a relevância e o impacto que as intervenções estruturadas em formato de grupo desempenham nesta área, são também apresen-tados os programas de intervenção com eficácia demonstrada e que habitualmente são implementados em contextos institucionais (escolas, centros de acolhimento ou unidades de reeducação na área da justiça juvenil). Tendo em conta a relevância que fatores externos podem ter na manutenção do comportamento agressivo, sobretudo em indivíduos de menor idade, são também apresentadas estratégias de intervenção que devem integrar o trabalho com pais e professores.

Uma vez que as perturbações disruptivas são consideradas patologias mentais que usualmente são diagnosticadas pela primeira vez na infância e na adolescência, este manual inclui uma listagem de entrevistas clínicas estruturadas que podem auxiliar o clínico no estabelecimento de um diagnóstico e na identificação da severidade do mesmo. São também descritos os principais instrumentos de autorresposta com uti-lidade para avaliar dimensões do comportamento agressivo e antissocial ou variáveis psicológicas a ele associadas (e.g., dimensões da raiva ou crenças disfuncionais asso-ciadas ao comportamento antissocial).

Na explicitação dos modelos cognitivo-comportamentais do comportamento agressivo e antissocial, foi decisão dos autores incluir contributos teóricos oriundos das abordagens comportamentais e dos modelos cognitivos. Tendo em conta a sua uti-lidade para a intervenção com menores resistentes ao tratamento, será dada particular enfase às estratégias de intervenção oriundas do modelo da entrevista motivacional.

Esta obra, resultante da experiência dos autores na investigação, ensino e inter-venção com menores que manifestam comportamento agressivo, foi pensada para ser um roteiro e um auxiliar para todos os colegas que se dedicam à intervenção clínica em crianças e adolescentes com patologia do comportamento. Este manual resulta ainda da necessidade de intervenção clínica, cientificamente baseada e, sobretudo, eficaz na capacidade de produzir mudança. As intervenções baseadas na evidência

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demonstraram que conseguem alcançar resultados significativos, expressivos e que os mesmos se mantêm estáveis ao longo do tempo. Todas as estratégias e programas apresentados neste livro possuem, em diferentes graus e com base num número di-versificado de estudos, eficácia empiricamente demonstrada. Por estes motivos, cre-mos que esta obra se pode constituir como um auxiliar relevante para apoiar a seleção das intervenções psicológicas em jovens com problemas de comportamento, podendo também servir como um manual de estudo e aperfeiçoamento para todos os que rea-lizam formação nesta área.

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Neste capítulo introdutório, apresentamos o modelo conceptual das origens e da manutenção do comportamento antissocial, com base nos modelos cognitivo-comportamentais. Estes modelos, com forte evidên-cia empírica, têm procurado identificar os fatores predisponentes ou de vulnerabilidade (sobretudo cognitiva) e os fatores de manutenção (cog-nitivos, emocionais, comportamentais e interpessoais) do comporta-mento antissocial, oferecendo uma visão integradora e compreensiva do mesmo.

1.1 Comportamento Antissocial: Características Clínicas e Patologias Associadas

O comportamento antissocial é frequentemente definido como um padrão estável de desrespeito pelos direitos dos outros e/ou de violações das normas e regras sociais próprias de uma determinada cultura. Incluídos nesta definição tão abrangente en-contram-se problemas muito diversos, que vão desde comportamentos de desafio e de oposição até aqueles que são qualificados pela lei como crime. O termo “compor-tamento antissocial” tem sido amplamente utilizado para descrever as características de três perturbações mentais: a Perturbação Desafiante de Oposição, a Perturbação do

1O Modelo Cognitivo-Comportamental

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Comportamento e a Perturbação Antissocial da Personalidade. Enquanto as duas pri-meiras designações são utilizadas para descrever patologia desta natureza na criança e no adolescente, a última aplica-se a indivíduos adultos.

De acordo com o DSM-5 (APA, 2013), a Perturbação Desafiante de Oposição ca-racteriza-se por um padrão de humor zangado/irritável, comportamento conflituoso/ /desafiante ou comportamento vingativo. Este padrão de comportamento tem uma duração de menos seis meses e ocorre durante a interação da criança ou do adoles-cente com pelo menos um indivíduo, que não seja irmão ou irmã. Importa referir que a frequência e a persistência destes comportamentos são critérios que devem ser usa-dos para distinguir um comportamento que se encontra dentro dos limites normais daquele que caracteriza um padrão de comportamento patológico. Assim, e de acordo com as diretrizes do DSM-5 (APA, 2013), para crianças com menos de cinco anos de idade, o comportamento desafiante de oposição deve estar presente durante a maioria dos dias, por um período de pelo menos seis meses. Já para crianças com cinco anos ou mais, o comportamento deve ocorrer pelo menos uma vez por semana, durante pelo menos seis meses. Enquanto estes critérios são orientadores de um nível de frequência mínimo para definir o sintoma, outros fatores devem ser considerados, tais como a frequência e a intensidade do comportamento estarem para além dos limites norma-tivos para um indivíduo de nível de desenvolvimento, género e cultura comparáveis. Quer isto dizer que o comportamento desafiante de oposição deve refletir um padrão de funcionamento interpessoal que se afasta daquilo que é considerado normativo para indivíduos de uma determinada faixa etária, numa determinada comunidade.

Por sua vez, a Perturbação do Comportamento refere-se a padrões graves e persis-tentes de violação dos direitos dos outros ou de importantes normas sociais, conside-rados como uma forma mais severa de comportamento antissocial, comparativamente ao padrão comportamental característico da Perturbação Desafiante de Oposição. De acordo com o DSM-5 (APA, 2013), são vários os fatores que concorrem entre si de forma a estabelecer um diagnóstico de Perturbação do Comportamento. Por um lado, é necessária a ocorrência de três ou mais sintomas de uma lista de 15 (e.g., agressão a pessoas e animais, destruição de propriedade, falsificação ou roubo, violação grave de normas) os quais devem ser observados em diversos contextos (e.g., em casa e na escola), apresentar uma certa estabilidade temporal (e.g., durem há pelo menos seis meses) e causar défices clinicamente significativos no funcionamento social, acadé-mico ou ocupacional do indivíduo. Outro aspeto que deve ser rigorosamente avaliado

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Neste capítulo, apresentamos diferentes tipos de orientações para apoiar os técnicos na avaliação de casos de perturbações do compor-tamento. Numa primeira secção, serão abordados aspetos relevantes da avaliação clínica e da formulação cognitivo-comportamental de caso. Numa segunda seção, apresentamos vários instrumentos com utilidade clínica, incluindo entrevistas estruturadas com vista à avaliação rigorosa para estabelecimento de diagnóstico e também um conjunto de escalas e instrumentos de autorresposta que avaliam problemas de comporta-mento (incluindo a avaliação dimensional dos traços psicopáticos) ou dimensões importantes do funcionamento dos indivíduos com este tipo de perturbação (e.g., correlatos cognitivos e emocionais das perturba-ções de comportamento).

2.1 Entrevista Clínica e Formulação de Caso

A entrevista de avaliação cognitivo-comportamental visa obter informação deta-lhada do caso clínico que permita:

� Estabelecer um diagnóstico com segurança;

Avaliação Cognitivo-Comportamental2

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� Realizar o diagnóstico diferencial, sempre que a delimitação dos problemas ou sintomas possa ser difícil ou diferentes patologias possam enquadrar as quei-xas e dificuldades do doente;

� Elaborar um conjunto de hipóteses articuladas que permitam compreender a aquisição de vulnerabilidades específicas para determinada patologia, os fato-res que terão tido um papel relevante na precipitação do problema e variáveis que possam desempenhar um papel importante na manutenção do mesmo.

Para estabelecer um diagnóstico com segurança, o avaliador deve ter um conhe-cimento aprofundado de psicopatologia e, no caso da avaliação de menores agres-sores, da patologia habitualmente diagnosticada pela primeira vez na infância e na adolescência. Como vimos no capítulo anterior, para além da Perturbação Desafiante de Oposição e da Perturbação de Comportamento, outras patologias podem estar presentes em menores agressores e que devem ser alvo de avaliação e de intervenção clínica (e.g., Perturbação Pós-Stress Traumático, Fobia Social). Quando observamos e avaliamos menores com acentuados problemas de comportamento, sobretudo quando os avaliamos no âmbito de medidas tutelares educativas, poderá existir uma tendência para a ênfase em queixas externalizantes e o clínico, sem que se aperceba, valoriza problemas desta natureza enquanto, simultaneamente, subvaloriza possíveis queixas internalizantes. Muitos jovens agressores apresentam problemas de ansiedade social clinicamente significativa (o medo e o evitamento de situações de desempenho são apenas uma faceta deste tipo de problemas), sem que esses problemas sejam muitas vezes detetados na avaliação psicológica. Noutros casos, estão deprimidos (embora nem sempre os sintomas necessários ao diagnóstico de Perturbação Depressiva Major sejam facilmente avaliados, pois os jovens agressores tendem a esconder e/ou a camu-flar queixas desta natureza) e este tipo de dificuldades não são detetadas nem interven-cionadas. Acresce a estas particularidades, a necessidade de identificarmos diferentes graus de Perturbação de Comportamento, sendo que um subgrupo, como foi anterior-mente salientado, pode apresentar emoções prossociais limitadas ou traços psicopáti-cos, o que exige uma intervenção diferenciada e adequada às necessidades desses mes-mos jovens. Por todas estas particularidades, uma avaliação de caso, cuidada e atenta, é fundamental de modo a diminuirmos o erro de diagnóstico. Apenas uma delimita-ção clara da natureza dos problemas de cada jovem permitirá definir adequadamente um plano de intervenção individualizado. Este plano deve priorizar problemas e áreas

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Os agressores juvenis apresentam, frequentemente, elevados níveis de resistência. Esta resistência dificulta a adesão a qualquer processo de in-tervenção psicológica e os terapeutas devem ser capazes de a identificar e ultrapassar. Para além da resistência inicial, nos indivíduos com dificul-dades mais severas, a resistência à mudança far-se-á sentir também em fases mais avançadas da intervenção. A entrevista motivacional oferece um conjunto de princípios e de estratégias de intervenção que em muito auxilia os terapeutas quer na redução da resistência inicial, quer na redu-ção da resistência em diversos momentos do processo terapêutico. Neste capítulo, será apresentado o modelo transteórico da mudança, no qual se identificam e caracterizam as diferentes fases da mudança e as respetivas estratégias de intervenção adequadas a cada uma dessas fases.

3.1 Entrevista Motivacional

A entrevista motivacional pode ser descrita como uma abordagem promotora da mudança, indicada para ser utilizada em diversos contextos nos quais técnicos da área social, psicólogos, psiquiatras e profissionais da reabilitação lidam com in-divíduos resistentes à mudança. Mesmo quando os técnicos possuem competências

3A Entrevista Motivacional e o Modelo Transteórico da Mudança

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de intervenção especializadas e/ou trabalham em formatos de intervenção bem de-finidos e validados, quando se deparam com indivíduos resistentes à mudança (que negam possuir um problema e resistem perante a necessidade de mudar qualquer aspeto no seu comportamento), tais estratégias tendem a falhar uma vez que não está garantido um aspeto fundamental para o sucesso da intervenção: que o indiví-duo reconheça a necessidade de mudar e que se envolva ativamente num processo de mudança.

O paradigma do empowerment (frequentemente utilizado em contextos de reabi-litação de agressores) tem salientado a necessidade de envolver os agressores, os téc-nicos e as próprias organizações nos esforços de mudança. Não obstante, perante in-divíduos que não reconhecem a necessidade nem as vantagens da mudança, qualquer abordagem desta natureza pode ficar comprometida nos efeitos que pretende alcançar. Por esta razão, o uso da entrevista motivacional e da sua abordagem para diminuir a resistência à mudança (consultar estratégias para lidar com a resistência na secção 3.4.1), pode ser extremamente útil em todos os contextos de intervenção psicossocial, sendo particularmente relevante na intervenção com agressores.

A entrevista motivacional é um modelo de intervenção que pode ser utilizado de diversas formas e em diversos timings. Tanto pode ser implementado como uma fase prévia ao envolvimento dos sujeitos num programa terapêutico, de formação profissional ou de desenvolvimento pessoal e social, como pode e deve ser utilizado ao longo de todo o processo de mudança, ajudando técnicos e indivíduos-alvo da intervenção a lidarem melhor com as dificuldades do processo de mudança e com as possíveis recaídas ao longo do mesmo. É, pois, fundamental que todos os técnicos que procuram promover a mudança em agressores juvenis conheçam o modelo de mudança subjacente à entrevista motivacional, sendo capazes de aplicar competen-temente os seus princípios e respetivas estratégias ao longo de todo o processo de intervenção.

3.2 Modelo Transteórico da Mudança

O modelo apresentado por Prochascka e DiClemente (1982) tornou-se um grande impulsionador para o desenvolvimento de uma abordagem especificamente orientada

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As estratégias comportamentais englobam um conjunto de estraté-gias e técnicas de intervenção que tiveram a sua origem nos modelos comportamentais do comportamento humano. Várias destas estratégias integram os atuais protocolos de intervenção cognitivo-comportamen-tal em diversas patologias. Para além da sua utilidade nas intervenções com crianças e nos treinos de pais e professores, várias estratégias com-portamentais estão presentes em programas de tratamento residencial para jovens agressivos. Se adequadamente manejadas pelos terapeutas, podem ainda ser utilizadas no contexto da relação terapêutica como forma de extinguir comportamento interpessoal desajustado e promover comportamento interpessoal ajustado. Neste capítulo, são apresentadas as principais estratégias comportamentais com utilidade nas interven-ções psicológicas com agressores.

4.1 A Pertinência das Estratégias Comportamentais

Os modelos comportamentais foram os primeiros a produzir estratégias de inter-venção que ainda hoje influenciam a clínica cognitivo-comportamental. As chamadas técnicas de exposição, que resultaram inicialmente dos modelos de condicionamento

4 Estratégias Comportamentais

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clássico para aquisição e extinção de medos – por exemplo, a exposição em ima-ginação ou a dessensibilização sistemática –, integram a maioria dos protocolos de intervenção atuais, para diversas patologias, e são descritas em manuais de concep-tualizações teóricas mais recentes. Outro grupo de estratégias, muito difundidas nas intervenções com crianças e adolescentes, inclui as estratégias operantes. De acordo com o paradigma do condicionamento operante, a duração, a frequência e/ou a in-tensidade de um qualquer comportamento existente no repertório do indivíduo está sobretudo dependente da consequência que esse mesmo comportamento opera no contexto.

O comportamento agressivo, o qual numa certa frequência e intensidade é próprio de crianças pequenas, pode vir a manifestar-se persistente com a idade se alcançar reforço do meio ambiente. Isto é, se pelo recurso à agressão e coação a criança alcança do meio envolvente (pais, professores etc.) aquilo que pretende naquele contexto e naquele momento, está a ser reforçada por comportamentos ou sequências de com-portamentos manipulativos e agressivos, sem que aqueles que a reforçam (cedendo às suas vontades expressas por comportamentos agressivos) se apercebam disso. Na ori-gem de um padrão de comportamento agressivo e antissocial (tendo em conta que se trata de um padrão desenvolvimental, com origem mais ou menos precoce e que tende a agravar-se ao longo do desenvolvimento) pode estar um conjunto considerável de mecanismos operantes, através dos quais os comportamentos que mais tarde acabam por assumir uma forma patológica são, naquela fase da vida, funcionais e capazes de alcançar reforço. Por exemplo, uma criança que, através de birras e ameaças, consegue que os pais lhe ofereçam o presente que anteriormente lhe haviam recusado.

A compreensão sobre o modo como as contingências operantes atuam, de forma a manter comportamentos disfuncionais, é importante na intervenção com jovens agressores a vários níveis e por vários motivos. Ao intervirmos com crianças, grande parte do seu comportamento pode ser determinado pela reação dos outros ao mesmo. Isto é, os pais e os cuidadores, que são habitualmente os que reagem de modo mais expressivo ao comportamento da criança, podem tomar decisões conscientes sobre as consequências desse mesmo comportamento. Em linguagem operante, os pais e cui-dadores são, portanto, os que mais frequentemente podem decidir sobre a administra-ção de reforços e punições. Nestas idades, ao intervirmos sobre crianças e adolescentes com problemas de comportamento, fica claro que grande parte da intervenção deve

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Tomando em consideração os vários níveis de funcionamento do aparelho cognitivo, neste capítulo serão propostas estratégias mais foca-das nos produtos cognitivos, procurando questionar (e, posteriormente, modificar) a confiança do sujeito nas leituras que faz da realidade, mas também estratégias que visam a identificação e correção de erros de pen-samento (distorções cognitivas). O modelo cognitivo identifica crenças ou esquemas disfuncionais (estruturas cognitivas) como os responsáveis pela manutenção de um padrão de comportamento disfuncional. Deste modo, as intervenções cognitivas não devem limitar-se à modificação da atribuição de significado, mas devem focar-se igualmente na modifi-cação das crenças disfuncionais associadas aos problemas de comporta-mento. De facto, são estas crenças que, através das distorções cognitivas, conduzem a produtos cognitivos disfuncionais. Quando a alteração des-tas crenças não é um alvo de intervenção, o indivíduo poderá mais fa-cilmente recair e voltar às suas atribuições de significados disfuncionais quanto à realidade intra e interpessoal.

5Estratégias Cognitivas

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5.1 Intervenções Cognitivas: Modificação da Atribuição de Significado e das Crenças Disfuncionais

As intervenções cognitivas constituem o grupo de estratégias que tem gerado maior volume de estudos de efeito, estando largamente demonstrada de forma empírica a sua eficácia em variadas perturbações mentais, incluindo as perturbações da personali-dade em contextos forenses. Entendendo o cérebro humano como um processador de informação, a perspetiva cognitiva das perturbações emocionais (consultar o Capí-tulo 1) encara os padrões disfuncionais de reação emocional, bem como os compor-tamentos desajustados, como resultantes do processamento distorcido de informação. Por outras palavras, nós reagimos, não aos eventos per se, mas sim à visão que temos dos mesmos. Assim, intervir no processamento de informação é intervir procurando modificar a atribuição de significado disfuncional, particularmente em contextos in-terpessoais. Ora, a maior parte do comportamento agressivo e antissocial ocorre em contextos relacionais. Mesmo que a agressão se dirija a estímulos não relacionais (e.g., destruição de uma casa ou de um carro), é sabido que tais comportamentos são muitas vezes reativos a perceções distorcidas sobre a intenção ou comportamento prévio de terceiros e visam causar determinado impacto no outro.

O território das relações humanas, pela complexidade de informação que está pre-sente, presta-se a frequentes mal-entendidos e é muito fácil, mesmo para alguém sem psicopatologia, reagir de forma excessiva ou desproporcionada a eventos interpessoais, a partir de leituras precipitadas ou enviesadas de pistas sociais. É o que parece ocorrer nos jovens agressores, sendo que nestes a intensidade e frequência com que distorcem a informação social disponível é bastante maior. Como referimos anteriormente, a in-vestigação que identifica maior presença de distorções no processamento de informa-ção social em jovens agressores é vasta, e alguns trabalhos, embora em menor número, identificam também crenças ou esquemas disfuncionais especificamente associados ao comportamento antissocial. Por isso, com base nas conceptualizações cognitivas existentes e no estado da arte da investigação sobre este tema, é possível propor diver-sas estratégias cognitivas adequadas à intervenção psicoterapêutica com estes jovens.

De acordo com as mais recentes conceptualizações cognitivas do comportamento antissocial, para além de um conjunto de crenças disfuncionais subjacentes, é igual-mente relevante identificar as estratégias de evitamento de esquemas e os processos de compensação que tipicamente estão presentes em indivíduos com um padrão de

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Os terapeutas cognitivo-comportamentais dispõem atualmente de um conjunto diversificado de estratégias de intervenção que permitem definir protocolos de intervenção não apenas para diferentes psicopato-logias, mas também tendo em conta características do sujeito, tais como a idade, competências metacognitivas ou estilo interpessoal. No caso dos jovens agressores, diferentes sujeitos podem requerer diferentes estraté-gias de intervenção. Diferentes graus de resistência à mudança podem, por exemplo, exigir do terapeuta maior investimento em estratégias re-lacionais num caso, e maior trabalho ao nível das estratégias cogniti-vas noutro. Os contextos em que ocorre a intervenção podem também influenciar a escolha das estratégias. Num jovem intervencionado em contexto de reclusão, para além da intervenção cognitiva e motivacio-nal, o terapeuta pode recorrer, com maior facilidade, a estratégias com-portamentais. Contudo, se se tratar de um jovem que vive em meio aberto e sem uma família estruturada, que apoie o processo de mudança, os esforços terapêuticos são sobretudo centrados na mudança intrapsí-quica do sujeito. Independentemente destas variantes, as intervenções com jovens agressores exigem particular atenção à relação terapêutica e à aliança terapeuta-jovem. Por este motivo, neste capítulo daremos parti-cular atenção à utilização de estratégias relacionais e baseadas na relação de ajuda, enquanto ingrediente ativo da mudança terapêutica.

6 Estratégias Relacionais

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6.1 A Interação Terapeuta-Adolescente

Os adolescentes antissociais possuem habitualmente histórias de vida em que vá-rias das suas necessidades de calor e afeto, de vínculo e de aceitação pelos outros não foram totalmente satisfeitas. Nasceram e foram criados em famílias pouco estrutu-radas, com figuras de cuidadores frios e distantes, ausentes ou inconstantes na sua presença e, muitas vezes, incapazes de fornecerem cuidados e afeto de forma adequada (e.g., Patterson et al., 1992). Para além disso, provêm frequentemente de territórios e bairros problemáticos, onde as necessidades de proteção e segurança não foram devi-damente acauteladas. Estas adversidades estarão, habitualmente, relacionadas com a formação de esquemas de abandono, privação emocional e desconfiança/abuso, que influenciam e consubstanciam a visão negativa que estes jovens têm dos outros. De facto, muitos agressores juvenis tendem a ver os outros como distantes, desligados e indisponíveis, incapazes de se interessarem por si e desinteressados em fornecer su-porte e afeto. Outros atuam segundo uma crença condicional que decreta que é melhor não se aproximarem emocionalmente de ninguém, pois sofrerão ainda mais quando essa pessoa os abandonar. Outros ainda, devido ao elevado grau de experiências de abuso e maus-tratos de que foram vítimas desde cedo na vida, apresentam-se na re-lação com uma atitude de desconfiança e suspeita permanentes. Estas crenças consti-tuem, por isso, mais um desafio considerável a contemplar na intervenção terapêutica. A possível presença deste tipo de esquemas deve ser avaliada pelo terapeuta a partir da experiência relacional com o adolescente nas primeiras sessões, e estes mesmos padrões devem ser alvo de intervenção terapêutica. Uma forma eficaz de promover essa mudança consiste em oferecer oportunidades para a experiência de um vínculo relacional saudável com o terapeuta, que permita ensaiar novas formas de estar em relação com o outro, infirmando expetativas disfuncionais acerca dos sentimentos e atitudes do outro em relação a si.

Tendo em conta que as crenças anteriormente referidas orientam o processamento de informação social por parte do jovem, levando-o a selecionar informação con-gruente com o esquema em causa num vasto leque de contextos relacionais e in-terpessoais importantes, o terapeuta deve estar atento à natureza interpessoal destes mesmos esquemas disfuncionais. Neste sentido, recomenda-se que o terapeuta adote com estes jovens uma posição de participante-observador. Enquanto participa da interação com o adolescente, deve dar-se conta das tendências para a ação que o

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Os programas de intervenção em grupo têm constituído uma forma privilegiada de intervenção com menores e adultos agressores quer em contextos de prevenção, quer em contextos de reabilitação. Têm sofrido uma evolução considerável desde que foram criados os primeiros pro-gramas e têm vindo a complexificar-se não só no que diz respeito aos seus conteúdos, como também no que se refere aos métodos de traba-lho e estratégias de intervenção adotadas. As propostas mais recentes são baseadas no modelo cognitivo-comportamental do comportamento desviante. Os seus conteúdos, módulos e sessões trabalham uma série de défices (cognitivos, de regulação emocional e comportamental) que a in-vestigação das últimas décadas tem sistematicamente mostrado estarem presentes em indivíduos com um padrão de comportamento agressivo ou antissocial. Os estudos de eficácia destes programas têm atestado a sua capacidade para reduzirem a reincidência criminal de modo consis-tente. Deste corpo de conhecimento, resultou um conjunto de critérios a que os programas devem obedecer e que são habitualmente referidos como princípios das intervenções eficazes. Neste capítulo, cada um des-tes princípios será apresentado e explicitado.

7 Intervenções em Grupo: Critérios para a Seleção de Programas

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7.1 Programas de Intervenção em Grupo: Dados e Estatísticas

Desde a década de 80 do século passado, vários têm sido os estudos de meta-aná-lise1 que se têm dedicado ao estudo da eficácia dos programas de reabilitação em grupo na redução das taxas de reincidência criminal. A investigação realizada nesta área tem concluído que estes programas são claramente eficazes. Os primeiros estudos robustos encontraram uma redução média de 10% na reincidência criminal em agressores que participaram nestes programas, comparativamente a agressores que não frequentaram qualquer tipo de programa. Estes resultados podem parecer, numa primeira análise, bastante modestos. Ainda assim, é sobre semelhante amplitude, na redução de um ou vários sintomas físicos ou fisiológicos, que surge justificada, por parte das autoridades competentes, a comercialização de diversos fármacos e medicamentos. Por outras pa-lavras, a eficácia da psicoterapia em grupo parece ser em tudo semelhante à eficácia obtida a partir de fármacos, o que deveria, então, justificar pelo menos o mesmo in-vestimento na divulgação e promoção das iniciativas dirigidas à promoção da saúde mental e reabilitação pela via da psicoterapia.

Para além disso, importa referir que os estudos de meta-análise abrangem diver-sos tipos de programas; ao utilizarem um número considerável de estudos de eficá-cia, incluem programas de diversa natureza, duração variável e modelo conceptual de base distinto. Há, portanto, razões fortes para sustentar que estes resultados podem ser melhorados com intervenções prolongadas no tempo (de duração suficiente para promover e reforçar as mudanças alcançadas), com uma estratégia progressiva de mu-dança (que atue ao nível cognitivo e emocional e, finalmente, na alteração de padrões atitudinais/interpessoais disfuncionais).

Atualmente, existe um consenso alargado de que é possível maximizar a magnitude do efeito destas intervenções na redução da reincidência criminal. Por outras pala-vras, pensa-se que as intervenções eficazes possuem certas características em comum que podem contribuir para efeitos bem maiores. A investigação recente tem sugerido que é possível atingir um efeito médio de 53% na redução da reincidência criminal

1 Uma meta-análise permite a conjugação dos resultados estatísticos de um conjunto de estudos numa única base de dados em que os resultados são analisados coletiva, em vez de individualmente. Para uma revisão dos estudos de meta-análise dos programas de reabilitação para agressores, consultar McGuire (2011).

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O programa de prevenção de comportamentos agressivos em con-texto escolar1, apresentado neste capítulo, tem como objetivo e inovação um enquadramento sociocognitivo, baseado nos modelos de processa-mento de informação social, para a compreensão e explicação da agres-sividade, conjugado com uma aplicação de cariz universal. O presente capítulo detalha o seu enquadramento teórico, bem como as suas com-ponentes e diretrizes de intervenção, e, por fim, os estudos sobre a sua eficácia desenvolvidos até ao momento.

8.1 Enquadramento Teórico e Conceptual

8.1.1 O Ciclo Interpessoal do Comportamento Agressivo em Contexto Escolar

O comportamento agressivo pode ser definido como o comportamento que ten-ciona causar dano ou dor a outros, os quais percebem dano ou dor como consequência

1 Foi desenvolvido por Paula Vagos, Daniel Rijo (afiliados ao Centro de Investigação do Núcleo de Estu-dos e Intervenção Cognitivo-Comportamental da Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação da Universidade de Coimbra) e Isabel M. Santos (afiliada ao Departamento de Educação e Psicologia da Universidade de Aveiro).

8 Programa de Prevenção de Comportamentos Agressivos em Contexto Escolar

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do comportamento do agressor. Este tipo de comportamento é, cada vez mais, uma experiência comum na adolescência, seja na sua forma relacional, verbal ou física (Vagos, 2016a). A forma relacional do comportamento agressivo inclui comporta-mentos manipulativos e encobertos, pelos quais o agressor tem a intenção de da-nificar o estatuto social, relações ou obtenção de apoio social por parte da vítima. Já a forma aberta do comportamento agressivo inclui as formas verbais e físicas da agressão, que consistem numa forma mais face a face e identificável da agressão. O comportamento agressivo tem igualmente sido classificado com base nas funções que serve. Pode representar uma forma de expressar impulsivamente a própria frus-tração ou raiva, como reação a uma provocação percebida (i.e., agressividade reativa), ou pode revelar-se um meio racional e premeditado de obter um determinado fim (i.e., agressividade proativa).

Para além desta diversidade inerente ao próprio comportamento agressivo, são também diversos os indivíduos que podem estar envolvidos na dinâmica interpessoal que caracteriza o desenvolvimento e manutenção do comportamento. São eles não só o agressor e a vítima, mas também o observador. A agressividade é um comporta-mento eminentemente dinâmico, que é mantido e reforçado pelas hierarquias sociais que mantêm os papéis de agressor e de vítima e que contribuem para climas escolares hostis (Salmivalli et al., 2011). Assim, a mudança estável e generalizada deste com-portamento implica a ativação de atores sociais, nomeadamente os pares do agressor, que atuam como observadores pares dos comportamentos agressivos praticados, e que reforçam o agressor e/ou apoiam a vítima e, dessa forma, assumem um papel indireto, mas determinante, na consecução da agressão.

Uma análise compreensiva de trabalhos anteriores documentou que intervenções holísticas, que incluam como objetivos de intervenção a reorientação comportamen-tal e cognitiva e o treino de competências sociais, produzem efeitos mais genera-lizados, contribuindo, em última análise, para o maior ajustamento pessoal, social e escolar. O formato de intervenção universal, que tem como alvo de intervenção todos os alunos de uma escola ou turma, parece ser o mais eficaz, particularmente se conjugado com programas dirigidos a sujeitos específicos, previamente sinalizados, apresentando um risco acrescido para a prática de comportamento agressivo (Wilson & Lipsey, 2007).

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Neste capítulo, será apresentado um programa de prevenção e de reabilitação para indivíduos com comportamento agressivo ou antisso-cial. Trata-se de um programa que acrescenta às competências habitual-mente trabalhadas noutros programas o trabalho ao nível da promoção de competências de regulação cognitiva e emocional. Tendo em conta a investigação que mostra que os programas que incluem componentes cognitivas tendem a apresentar maior eficácia na redução da reincidên-cia criminal, o programa “Gerar Percursos Sociais” – GPS (Rijo et al., 2007) dedica grande parte das sessões à modificação de distorções no processamento de informação social e flexibilização de estruturas cogni-tivas subjacentes aos padrões de comportamento agressivo. Neste capí-tulo, serão abordados a estrutura, os conteúdos, a dinâmica das sessões do GPS, bem como os resultados da sua aplicação em contextos forenses.

9.1 “Gerar Percursos Sociais”: Criação e Conceito

“Gerar Percursos Sociais” – GPS (Rijo et al., 2007) – é um programa de prevenção e reabilitação psicossocial para indivíduos considerados em risco ou que apresentem comportamentos desviantes. Foi concebido de forma a ser utilizado em contextos de

9 O Programa “Gerar Percursos Sociais”

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prevenção do comportamento antissocial, assim como em contextos de reabilitação para jovens e adultos com comportamento desviante. O programa surgiu no âmbito de um projeto mais vasto, financiado pela Iniciativa Comunitária EQUAL, a qual finan-ciou programas e intervenções destinadas a incrementar a igualdade entre cidadãos da Europa comunitária, e resultou do esforço e da cooperação entre várias instituições sediadas em Ponta Delgada, Açores: Instituto de Apoio à Criança, Instituto de Reinser-ção Social, Instituto de Ação Social e Kairós. Este projeto teve como objetivo principal desenvolver uma proposta inovadora no domínio da formação socioprofissional de jovens em situação de exclusão social e/ou abandono escolar, numa tentativa clara de promover a integração social dos mesmos. Abrangeu jovens entre os 15 e os 22 anos que, vítimas de maus-tratos, em situação de delinquência, sob coabitação institucional ou coabitando com o núcleo de origem, não completaram a escolaridade mínima obri-gatória, por força de uma frágil inserção escolar, nem frequentaram, em alternativa, qualquer esquema de formação profissional, factos que os fragilizavam num percurso de acesso ao mercado de trabalho. Estes motivos revelaram-se determinantes para que tais indivíduos não acedessem a um estatuto ou a uma identidade social sã (Rijo & Sousa, 2004; Rijo et al., 2007).

9.2 Porquê um Novo Programa?

A decisão de construir o GPS surgiu por razões de diversa ordem. Em primeiro lugar, vários dos autores tinham já experimentado programas disponíveis ou adapta-ções dos mesmos, quer em contextos de prevenção, quer em contextos de reabilitação. O conhecimento aprofundado deste tipo de programas e a experiência acumulada gerou um debate que, juntamente com uma reflexão baseada em trabalhos teóricos e de investigação, revelou a necessidade de adaptar o mais possível a prática de um programa de intervenção às características particulares da população-alvo. Para além disso, foi objetivo dos autores tentar superar algumas das limitações com que se depa-raram na sua experiência com os programas ou adaptações já conhecidas.

Muitos programas de prevenção e/ou reabilitação psicossocial mostram-se lacuna-res e inadequados para utilizar com adolescentes e jovens adultos, na medida em que trabalham diversas competências, que se consideram deficitárias nos indivíduos com

JOVENSAGRESSORES

INTERVENÇÃOPSICOLÓGICA COMCOLEÇÃO INTERVENÇÃO EM PSICOLOGIA

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Daniel Rijo I Nélio BrazãoDiana Ribeiro da Silva I Paula Vagos

JOVENS AGRESSORES• Avaliação psicológica de jovens agressores• Modelos cognitivo-comportamentais do comportamento antissocial• Entrevista motivacional com jovens agressores• Estratégias comportamentais, cognitivas e relacionais• Programas de intervenção em grupo• Intervenções em contexto escolar

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ISBN 978-989-693-072-1

Os jovens com problemas de comportamento representam um dos grupos mais desafiantes para intervenção em psicoterapia. Habitualmente, demonstram grande resistência ao tratamento e negam ou minimizam os seus problemas. No entanto, a patologia do comportamento tende a associar-se a défices ao nível do sucesso académico, ao consumo de substâncias psicoativas e ao envolvimento em comportamentos de risco, podendo conduzir ao primeiro contacto destes jovens com o sistema de justiça. Trata-se, portanto, de um grupo de indivíduos com elevadas necessidades de intervenção. A investigação científica tem mostrado que as intervenções cognitivo-comporta-mentais possuem eficácia demonstrada na reabilitação de jovens com patologia do comportamento, incluindo jovens agressores em contacto com a justiça. Este livro, resultante da experiência dos autores na investigação, ensino e inter-venção com jovens agressores, foi pensado para auxiliar os psicólogos que avaliam e intervêm nesta população, tanto num setting de intervenção individual como em contexto de grupo. Tendo em conta os fatores de manutenção desta problemática, são também apresentadas estratégias de intervenção adequadas ao trabalho com pais e professores.

AUTORES

DIRETOR DE COLEÇÃO

Mauro PaulinoCoordenador da Mind | Instituto de Psico-logia Clínica e Forense. Psicólogo Forense Consultor do Instituto Nacional de Medicina Legal e Ciências Forenses. Coordenador da pós-graduação em Psicologia Forense da Uni-versidade Autónoma de Lisboa.

Guias práticos que privilegiam o saber-fazer nos vários domínios da ciência psicológica. Com estudos de caso e exemplos vários que ajudam o leitor a enquadrar, operacionalizar e concre-tizar uma intervenção técnica e cientificamente fundamentada.

Prefácio do Prof. Doutor José Pinto GouveiaPosfácio da Prof.ª Doutora Teresa Ferraz da Silva

Daniel Rijo Psicólogo clínico, doutorado em Psicologia Clínica e Professor na Faculdade de Psicolo-gia e de Ciências da Educação da Universidade de Coimbra. Investigador do Centro de Investi-gação do Núcleo de Estudos e Intervenção Cognitivo-Comportamental (CINEICC).

Diana Ribeiro da SilvaPsicóloga clínica e doutoranda em Psicologia Forense na Faculdade de Psicologia e de Ciên-cias da Educação da Universidade de Coimbra. Investigadora do Centro de Investigação do Núcleo de Estudos e Intervenção Cognitivo--Comportamental (CINEICC).

Nélio Brazão Psicólogo clínico, doutorando em Psicologia Forense e docente na Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade de Coimbra. Investigador do Centro de Investi-gação do Núcleo de Estudos e Intervenção Cognitivo-Comportamental (CINEICC).

Paula VagosPsicóloga clínica, doutorada em Psicologia e Professora na Universidade de Aveiro. Inves-tigadora de Pós-Doutoramento no Centro de Investigação do Núcleo de Estudos e Inter-venção Cognitivo-Comportamental (CINEICC) da Universidade de Coimbra.

9 789896 930721

16,5 x 21cm 16,5 x 21cm10 cm 10 cm

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