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A D IVERSIDADE DA G EOGRAFIA B RASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO DE 9 A 12 DE OUTUBRO 6245 INTRA-CENTRALIDADES URBANAS NO MUNICÍPIO DE BLUMENAU-SC EMANUELA FRANCISCA WENNING 1 Resumo: O município de Blumenau/SC, localizado na região nordeste de Santa Catarina, têm seu espaço alterado devida a intensa urbanização sofrida nos últimos anos. A área central da cidade de Blumenau, confinada em uma rua principal de cunho comercial, trouxe problemas de saturação viária. Dessa maneira, um processo de descentralização das atividades, que apresentou-se já nos primórdios da cidade, toma impulso e também uma nova forma, surgiram dessa maneira novas Intra-Centralidades. Somado aos problemas que as catástrofes naturais causam, um novo direcionamento de expansão vem se apresentando e as novas intra-centralidades acabam por serem atraídas por esse novo fluxo. Palavras-chave: Espaço Urbano; Intra-Centralidade; Blumenau. Abstract: The city of Blumenau / SC, located in the northeast region of Santa Catarina state, have their space changed due to intense urbanization suffered in recent years. The central area of the city of Blumenau, confined in a main street of a commercial nature, brought problems of road saturation. In this way, a process of decentralization of activities, which showed up already in the city's early days, it takes impulse and also a new form, coming on this way new Intra-Centralities. In addition to the problems that natural disasters cause, a new expansion direction has been performing and new intra- centrality end up being attracted to this new flow. Key-words: Urban Space; Intra-Centrality; Blumenau. 1 Introdução O município de Blumenau, no estado de Santa Catarina, teve um rápido desenvolvimento econômico que contribuiu para um acelerado desenvolvimento urbano, constituindo-se na terceira maior cidade do estado em termos populacionais, e também como uma cidade central para toda a região do Vale do Itajaí. Não só a centralidade regional, como toda cidade capitalista, ela apresentou um centro comercial concentrando suas atividades comerciais e de serviços. Entretanto, devido à sua evolução urbana e problemas com seu sítio físico, foi-se necessária uma descentralização das atividades. Portanto o presente trabalho procura analisar a gênese e evolução de novas intra-centralidades urbanas e um novo fluxo de desenvolvimento no município de Blumenau, no estado de Santa Catarina. 1 - Acadêmica do Programa de Pós-Graduação em Geografia da Universidade Federal de Santa Catarina. E- mail de contato: [email protected]

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A DIVERSIDADE DA GEOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO

DE 9 A 12 DE OUTUBRO

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INTRA-CENTRALIDADES URBANAS NO MUNICÍPIO DE BLUMENAU-SC

EMANUELA FRANCISCA WENNING1

Resumo: O município de Blumenau/SC, localizado na região nordeste de Santa

Catarina, têm seu espaço alterado devida a intensa urbanização sofrida nos últimos anos. A área central da cidade de Blumenau, confinada em uma rua principal de cunho comercial, trouxe problemas de saturação viária. Dessa maneira, um processo de descentralização das atividades, que apresentou-se já nos primórdios da cidade, toma impulso e também uma nova forma, surgiram dessa maneira novas Intra-Centralidades. Somado aos problemas que as catástrofes naturais causam, um novo direcionamento de expansão vem se apresentando e as novas intra-centralidades acabam por serem atraídas por esse novo fluxo.

Palavras-chave: Espaço Urbano; Intra-Centralidade; Blumenau.

Abstract: The city of Blumenau / SC, located in the northeast region of Santa Catarina state, have

their space changed due to intense urbanization suffered in recent years. The central area of the city of Blumenau, confined in a main street of a commercial nature, brought problems of road saturation. In this way, a process of decentralization of activities, which showed up already in the city's early days, it takes impulse and also a new form, coming on this way new Intra-Centralities. In addition to the problems that natural disasters cause, a new expansion direction has been performing and new intra-centrality end up being attracted to this new flow.

Key-words: Urban Space; Intra-Centrality; Blumenau.

1 – Introdução

O município de Blumenau, no estado de Santa Catarina, teve um rápido

desenvolvimento econômico que contribuiu para um acelerado desenvolvimento

urbano, constituindo-se na terceira maior cidade do estado em termos populacionais,

e também como uma cidade central para toda a região do Vale do Itajaí.

Não só a centralidade regional, como toda cidade capitalista, ela apresentou

um centro comercial concentrando suas atividades comerciais e de serviços.

Entretanto, devido à sua evolução urbana e problemas com seu sítio físico, foi-se

necessária uma descentralização das atividades. Portanto o presente trabalho

procura analisar a gênese e evolução de novas intra-centralidades urbanas e um

novo fluxo de desenvolvimento no município de Blumenau, no estado de Santa

Catarina.

1 - Acadêmica do Programa de Pós-Graduação em Geografia da Universidade Federal de Santa Catarina. E-

mail de contato: [email protected]

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2 – Discussão e Metodologia

Ao longo dos anos o espaço urbano têm sido alvo de estudo de vários

pesquisadores, de diferentes campos disciplinares, inclusive da geografia. Esta por

sua vez, procura dar a interpretação através de seu objeto de estudo o espaço

geográfico. Portanto, ao estudar o espaço urbano, considera-se a produção e a

configuração do espaço urbano, entendido a partir de certas lógicas sociais.

A metodologia utilizada para estudos do espaço urbano, e do presente

trabalho, é a sugerida por Henri Lefebvre em que se parte da datação de momentos

e marcos históricos importantes que moldaram o presente. A esta, soma-se a coleta

de dados quantitativos em órgãos como a Secretaria de Planejamento da Prefeitura

Municipal de Blumenau (SEPLAN). Para interpretação destes, recorre-se à

bibliografia de geografia urbana e centralidades urbanas confeccionada por

estudiosos que têm no espaço urbano seu principal objeto de estudo.

Através desses estudos foi possível identificar certos padrões em cidades

capitalistas. O centro da cidade, por exemplo, é um elemento que sempre emerge,

por motivos que relacionam-se entre si. Segundo Marx (1980) o próprio capitalismo

tem como pré-requisito para o seu desenvolvimento a “acumulação primitiva” e a

concentração de terras e meios de produção nas mãos de uma seleta parcela da

população. Da mesma maneira, Lênin (1985) afirma que a divisão social do trabalho

e o crescente número de trabalhadoras incentivará a criação de um mercado interior

de acordo com a demanda capitalista.

Corrêa (1982) conclui, portanto, que as centralidades, ou localidades centrais,

“são estruturas territoriais necessárias ao processo de acumulação capitalista” pois

são através dessas estruturas que os assalariados “têm seus salários drenados via

comércio varejista e rede bancária” (p.54). Sendo assim, a cidade concebida como

foco de reprodução do sistema capitalista, um local de produção, circulação e

consumo, elege consequentemente uma área central, onde se concentra as

principais atividades comerciais e de serviços da gestão pública e privada

(CORRÊA, 1993). Lefebvre (1999) vai mais longe e afirma que a existência de um

centro comercial é o que dá sentido à realidade urbana.

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Entretanto, com o aumento da densidade demográfica e da importância

econômica das cidades, fenômenos de dispersão da área central podem ocorrer

(SANTOS, 1989). De fato, com a contínua urbanização e com a especialização das

atividades econômicas, certos locais ganham a possibilidade de sobressaírem-se de

acordo com as vantagens que estes podem ofertar. Esses locais podem repetir-se

mais de uma vez seguindo características do centro principal, mas sempre em

caráter de complementaridade deste (POMPÍLIO, 1987).

Villaça (2001, p. 293) define de maneira objetiva essas estruturas

O subcentro consiste, portanto, numa réplica em tamanho menor do centro principal, com o qual ocorre em parte sem, entretanto, a ele se igualar. Atende aos mesmos requisitos de otimização de acesso apresentados anteriormente para o centro principal. A diferença é que o subcentro apresenta tais requisitos apenas para uma parte da cidade, e o centro principal cumpre os para toda a cidade.

Fica claro de maneira similar que muitas cidades vão adquirindo novas

centralidades conforme elevação do grau de importância que atinge, pois estas são

diretamente proporcional ao crescimento urbano, portanto dependentes da

ampliação dos fluxos de bens, pessoas e mercadorias e também da evolução dos

transportes.

Contudo, analisando o objeto de estudo deste trabalho, a cidade de Blumenau

teve por muito tempo a maioria de suas atividades comerciais e de serviços

concentradas no centro comercial, entretanto já no início de seu desenvolvimento

pode ser constado a existência de centralidades secundárias no seu espaço intra-

urbano, as intra-centralidades.

3 – Resultados

A cidade de Blumenau foi fundada a 02 de setembro de 1850 (figura 01).

Partiu da iniciativa do farmacêutico alemão e doutor em química Hermann Otto

Bruno Blumenau. Como muitas outras cidades do sul do Brasil, teve na base de sua

constituição a imigração europeia. Nesta, mais especificamente, a imigração

germânica.

A medida que os imigrantes chegavam, eles puderam adquirir um lote de

tamanho médio, com cerca de 25 a 30ha. Os lotes foram distribuídos

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perpendicularmente à certas linhas traçadas, que futuramente tornaram-se as

principais vias de circulação. Uma configuração diferenciada da maioria da nação

brasileira onde a propriedade privada distribuiu-se através de latifúndios.

Figura 01: Mapa de Localização do Município de Blumenau. Fonte: Secretaria de Planejamento do Município de Blumenau, 2004.

Sem escala.

Nesse período, a então colônia de Blumenau tinha sua economia assentada

na pequena produção agrícola com mão-de-obra familiar, novamente diferenciando-

se do restante do Brasil onde a monocultura e a mão-de-obra escrava dominava a

esfera econômica. A característica meio físico onde Blumenau está inserida não

propicia uma atividade agrícola extensiva.

Sendo assim segundo Hering (1987, p. 47) “o colono foi obrigado a dedicar-se

intensamente à exploração do solo, articulando finalmente, a policultura com o

mercado”. O excedente gerado era vendido e distribuído regionalmente. Hering

destaca que “de toda a produção colonial, o milho, a cana-de-açúcar, a mandioca e

o fumo geravam produtos comercializáveis; a demais produção servia quase

exclusivamente para o consumo da família” (1987, p.43).

Enquanto chegassem novos imigrantes haveria mercado consumidor para os

já estabelecidos. Conforme a população foi se adensando, a possibilidade de uma

divisão social do trabalho foi surgindo. Aos poucos uma economia artesanal foi se

diferenciando da atividade puramente agrícola (MORETTI, 2006).

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Hering (1987, p. 43) também afirma que “de toda a produção colonial, o milho,

a cana-de-açúcar, a mandioca e o fumo geravam produtos comercializáveis; a

demais produção seria exclusivamente para o consumo da família”, via-se então um

comportamento de produzir o máximo possível, para comprar o mínimo possível. A

chegada de mais imigrantes propiciava também um mercado consumidor para esse

excedente, que igualmente era distribuído regionalmente (MORETTI, 2006).

Os imigrantes que aqui chegavam vinham de uma Alemanha já

industrializada. Muito deles moravam em grandes cidades alemãs e tinham uma

profissão aprendida ou eram inclusive donos de pequenos estabelecimentos

comerciais. Dessa maneira, junto com os imigrantes vinha o conhecimento de

técnicas ainda não dominadas no Brasil.

Assim sendo, a pequena acumulação primitiva de capital que a venda do

excedente agrícola possibilitou foi investida no surgimento das primeiras indústrias

blumenauenses. Indústrias estas inicialmente de natureza têxtil, que alguns anos

mais tarde conferiram a Blumenau o título de pólo têxtil nacional. Estas indústrias

obtiveram um sucesso relativamente precoce, e este processo acabou sendo alvo

de estudo de diversos pesquisadores como Singer (1986) e Mamigonian (1965).

Esse último, divide a industrialização de Blumenau em três períodos, e a

observação destes é feita acompanhada da análise da evolução urbana, pois a

industrialização e a urbanização estão diretamente relacionas (SANTOS, 1989).

Um primeiro período de industrialização compreende o intervalo entre os anos

de 1880 e 1914. É marcada pelas primeiras iniciativas industriais que surgem

apenas 30 anos depois do início da colonização. A primeira a surgir é a Companhia

Hering (1880) seguida pelas indústrias Karsten (1882) e Garcia (1885). Foi uma

época de puro pioneirismo e espírito de iniciativa, pois os recursos eram limitados,

não havia energia elétrica disponível e a maquinaria passível de ser utilizado, os

teares, foram comprados de segunda mão (MAMIGONIAN, 1965).

Em termos urbanísticos, este foi um período de exploração e ocupação do

território colonial. A distribuição dos lotes, iniciada em 1852, e a abertura das “Linhas

Coloniais” direcionou o crescimento e a direção dos fluxos da cidade para a região

sul. Em 1894 ocorre a elevação de Blumenau à categoria de cidade,

desmembrando-se do município de Itajaí, com a Lei Municipal nº 197.

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Também ocorre neste período uma tentativa de retificação da principal rua da

cidade, XV de Novembro, em 1902 para circulação de veículos motorizados, e a

introdução da energia elétrica em Blumenau, com a construção da Usina Salto, a

única no Rio Itajaí Açu, em 1905, e a usina hidrelétrica no Gaspar Alto, em 1909. A

inauguração da iluminação pública ocorreu em 1908.

Um segundo período de industrialização é marcado pela eclosão da primeira

guerra mundial e pela grande crise que, marcada pelo período pós-guerra,

“expulsou” mais alemães que vieram estabelecer-se no Brasil. É um período de

consolidação das indústrias já existentes, surgimento de novas como a Teka (1926),

a Artex (1936), a Altenburg (1922), a Haco Etiquetas (1928) e a W. S. Cremer

(1935), e surgimento de iniciativas diferenciadas das têxteis como a Eletro Aço

Altona (1923), a Gaitas Hering (1923) e a Cia. Hemmer (1915). Todas estas

aproveitaram-se de medidas governamentais tomadas pelo então presidente Getúlio

Vargas que almejava industrializar o Brasil frente à crise mundial.

No terceiro período de industrialização, a segunda guerra mundial é

responsável por trazer imigrantes que ao estabelecerem-se em Blumenau,

contribuíram com o seu trabalho para que esta recebesse o título de Pólo Têxtil

nacional. Surgem indústrias como a SulFabril (1947), a Dudalina (1968) e a Cristais

Hering. As indústrias surgidas em períodos anteriores passam por períodos de

expansão de suas unidades para outras regiões e algumas chegam a “aventurar-se”

diversificando sua produção.

Nessa época a malha urbana da cidade de Blumenau começa a tomar forma

e a chegada de mais imigrantes fugidos da guerra é um potencializador do processo.

Contudo, a posição do Brasil durante a segunda guerra fez com medidas

nacionalistas fossem tomadas com o intuito de enfraquecimento do poder político

dos imigrantes. Uma delas foi a série de desmembramentos ocorridos do território

blumenauense, que ao originar diversos municípios rurais ao seu entorno, aumentou

seu caráter urbano industrial e adquiriu uma posição de município central

regionalmente (MAMIGONIAN, 1965). No mais a região sul da cidade continua a ser

mais ocupada, gerando um adensamento urbano maior do que na região norte.

Um último período de industrialização é observado pós década de 1980, que

apesar da nação apresentar diminuição do PIB, os números das indústrias de

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Blumenau apresentavam crescimento. Situação revertida com a década de 1990

com a política neoliberalista de abertura comercial e sobrevalorização da moeda

com o Plano Real. Muitas indústrias tiveram que fechar unidades, verticalizar a

produção e algumas chegaram a entrar em processo falimentar ou foram adquiridas

por empresas forâneas. Na última década, Blumenau passa a ver no setor de

informática uma alternativa frente ao cenário econômico nacional, e o presente

contato dessas empresas de informática com a Alemanha permite que essas

empresas possam competir a nível internacional. Atualmente esse é o “carro chefe”

da economia blumenauense.

Em termos urbanísticos as indústrias não ditam mais tanto a evolução urbana.

Desta vez as catástrofes naturais aparecem como protagonistas. As enchentes de

1983 e 1984 fez com que o centro da cidade, local vulnerável a enchentes fosse

esvaziado residencialmente e a enchente mais os deslizamentos de 2008 fez com

que a região sul, mais acidentada, sofresse um decréscimo de crescimento, e a

região norte, portadora de terras mais planas, fosse mais procurada tanto pela

população, quanto pela iniciativa privada.

Voltando às centralidades, Blumenau teve na sua constituição um molde

diferenciado da maioria das cidades brasileiras. Enquanto estas, influenciadas pela

imigração portuguesa, estabelecem seu centro a partir de uma igreja católica com

uma praça, as cidades de colonização alemã tem seu centro estabelecido a partir de

uma rua principal de cunho comercial (PELUSO, 1991).

No caso da cidade de Blumenau, a rua XV de novembro ganhou logo o status

de “rua do Comércio” e passou a abrigar a maioria dos estabelecimentos comerciais

e de serviço. Esse modelo de centralidade, confinado a uma rua só satura-se

depressa, e a Rua XV necessitou de vias paralelas e perpendiculares para auxiliar

no fluxo e propiciar mais locais para empresas.

Contudo, já era possível identificar pequenos centros comerciais em locais

mais afastados para atender a população que se desenvolvia à sua volta. Pode-se

citar como exemplo a “Cia. Hemmer Indústria e Comércio S/A”, no Bairro Badenfurt,

onde Heinrich Hemmer, proprietário do estabelecimento, vendia seus produtos e

comprava de outros fabricantes, mostrando uma variedade de transações

comerciais já no ano de 1903.

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Outro exemplo é o caso da família Zimdars, que imigrou da Alemanha para o

Brasil em 1887, instalando-se na Itoupava Rega, localidade do distrito da Vila

Itoupava, que fica a 25 km do centro. Franz Zimdars, então com 17 anos, trabalhava

como ajudante do engenheiro agrimensor Emil Odebrecht, o que fazia com que

Franz tivesse contato contínuo e direto com o centro da colônia. Nesse período, os

agricultores da Itoupava Rega pediam que Franz trouxesse vários produtos do

centro da colônia para eles, fazendo com que esse tivesse a ideia de implantar uma

casa comercial para atender a essas famílias. O negócio cresceu e Franz passou a

produzir também alguns produtos coloniais, como linguiças por exemplo. O comércio

permanece em funcionamento ainda hoje.

Contudo, o centro principal durante todo o desenvolvimento da cidade de

Blumenau, concentrou grande parte das atividades comerciais e de serviços. Porém,

com o aumento da cidade demográfico e econômico da cidade, e o modelo saturado

de centro germânico confinado em uma única rua, fez-se necessário a

descentralização de atividades econômicas para os bairros. Este processo é

inclusive estimulado pelo plano diretor de 1977 (SIEBERT, 1999), mas realizado

timidamente (BACK, 2004).

Em termos de expansão urbana, a catástrofe de 2008 refletiu-se nos dados

demográficos da cidade. Bairros como a Itoupava Central, situada na região norte da

cidade, apresentou um aumento de 346% no período de 1980 à 2010 (passou de

5284 habitantes para 23596 habitantes), enquanto bairros na região sul mais

suscetíveis à catástrofes naturais como o bairro Boa Vista apresentou diminuição de

35% no período de 1980 à 2010 (passou de 2183 habitantes para 1402 habitantes).2

O mesmo aumento pode ser observado em bairros da região norte, como o

Salto do Norte, Itoupavazinha, Itoupava Norte etc., enquanto em bairros da região

sul, como o bairro da Velha, Bom Retiro, Itoupava Seca apresentaram diminuição ou

um tímido crescimento. Observa-se dessa maneira um novo direcionamento de

expansão da cidade.

As novas centralidades acompanham esse fluxo e os dados podem

comprovar esse fato. Enquanto em 1980 o bairro da Boa Vista apresentava um total

2 Dados da Secretaria de Planejamento (SEPLAN) da Prefeitura Municipal de Blumenau.

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de 79 estabelecimentos comerciais e de serviços esse número cai para um total de

50 em 2010. Já no bairro da Itoupava Central o número cresce de 88 em 1980 para

757 estabelecimentos comerciais e de serviços em 2010 (figura 02).3

Um fenômeno urbano, cada vez mais característico e presente na sociedade

capitalista, são os Shoppings Centers. A Associação Brasileira de Shopping Centers

(ABRASCE) define sinteticamente um "shopping center" como sendo um

empreendimento constituído por um conjunto planejado de lojas, podendo estas

serem de ramos diversificados e de prestação de serviços, operando de forma

integrada, sob administração única e centralizada.

O shopping center é o sucessor da loja de departamentos, que por sua vez é a sucessora da loja geral, de meados do século XIX. Têm em comum o fato de basear-se na economia de aglomeração e na variedade de produtos que se complementam (em oposição à especialização). Isso aliás, todos esses tipos de estabelecimentos têm em comum com as áreas comerciais diversificadas tradicionais – os subcentros (VILLAÇA, 2001, p. 303).

Para Silva e Gonçalves (2012), a gênese dos shoppings centers está nas

“necessidades de adaptação do comércio varejista às mudanças macro-econômicas

da sociedade capitalista, tendo em vista a urbanização acelerada, o papel do capital

financeiro no urbano, compra e o acesso ao automóvel” (p.67). Sposito (1998) afirma

que os shoppings produzem novas centralidades, buscando vazios intraurbanos.

Villaça (2001) também ressalta que a variedade de comércio e serviços

concentrados gera o atrativo do deslocamento mínimo para atender o maior número

possível de necessidades.

Desde 1993 o município de Blumenau conta com um shopping center no

centro da cidade, localizado na rua Sete de Setembro, denominado “Shopping

Neumarkt”. Com a evolução urbana da cidade, mais dois shoppings se instalaram

nos últimos anos, ambos na região norte. O “Norte Shopping”, inaugurado em maio

de 2011, localiza-se na BR-470 no bairro Salto do Norte, e o “Shopping Park

Europeu”, por sua vez, que foi inaugurado em dezembro de 2011, localizando-se na

Via Expressa Paul Fritz Kuehnrich, no bairro Itoupava Norte.

3 Idem 2

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Figura 02: Mapa do território urbano de Blumenau com a divisão de bairros. Fonte: Secretaria de Planejamento da Prefeitura Municipal de Blumenau, 2004.

Sem escala.

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4 – Conclusão

De fato, a cidade de Blumenau adquiriu uma importância econômica, que

durante muitos anos foi incompatível com sua configuração urbana. O modelo

germânico de área central saturou-se depressa e a alternativa foram as intra-

centralidades para desafogar o fluxo de mercadorias, serviços e pessoas.

Apesar de uma descentralização já ser observada nos primórdios da história

blumenauense, foi apenas com o crescimento econômico e demográfico da cidade

que essa descentralização pôde ganhar uma nova perspectiva e uma nova forma.

Sendo assim, comércios e serviços passam a crescer em áreas antes

esquecidas por eles. Numa conjuntura mais recente, os shoppings centers mostram

uma nova perspectiva de centralidade frente ao atual cenário do capitalismo

mundial. Tanto um, quanto o outro estão submissos ao novo direcionamento da

cidade, advindo após catástrofes naturais da década de 1980 e do ano de 2008.

Dessa maneira, a cidade procura adequar-se às novas demandas que seu

desenvolvimento impõe.

5 – Referências Bibliográficas

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