Introdução

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INTRODUÇÃO Esta pesquisa traz diversas narrativas de um Oficinar entrelaçadas na problematização dos processos transversalizados na clínica em saúde mental e álcool e outras drogas bem como no âmbito da assistência social. Aposta-se cartografar – por meio de narrativas, músicas, fotos, vídeos – os encontros e seus efeitos. O trabalho objetiva afirmar alguns modos, princípios de num determinado modo de Oficinar, suas modulações experimentos que foram possíveis. Bem como afirmar as oficinas 1 como um artifício na e da clínica. Num exercício de cartografar os efeitos do que se transversaliza nas Oficinas e suas relações com uma vida que é simultaneamente singular e atravessada pelo coletivo. Propomos acompanhar as modulações, repensando alguns modos de um Oficinar numa clínica que trans-borda os/nos estabelecimentos de assistência à saúde, à assistência social, à arte, e caminha por diversos campos e estabelecimentos, clínicas, abrigos, serviços substitutivos aos hospitais psiquiátricos... Abrindo novas possibilidades de espontanear, e expressar às novas formas de vida que pedem passagem. “O estilo é narrativo”. Trata-se de percursos realizados em diversas paisagens que foram percorridas desde o final do 1 Espaços destinados ao uso de atividades no cotidiano dos estabelecimentos de assistência à saúde e assistência social.

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introdução de minha dissertação

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Introduo

Esta pesquisa traz diversas narrativas de um Oficinar entrelaadas na problematizao dos processos transversalizados na clnica em sade mental e lcool e outras drogas bem como no mbito da assistncia social. Aposta-se cartografar por meio de narrativas, msicas, fotos, vdeos os encontros e seus efeitos. O trabalho objetiva afirmar alguns modos, princpios de num determinado modo de Oficinar, suas modulaes experimentos que foram possveis. Bem como afirmar as oficinas como um artifcio na e da clnica.

Num exerccio de cartografar os efeitos do que se transversaliza nas Oficinas e suas relaes com uma vida que simultaneamente singular e atravessada pelo coletivo. Propomos acompanhar as modulaes, repensando alguns modos de um Oficinar numa clnica que trans-borda os/nos estabelecimentos de assistncia sade, assistncia social, arte, e caminha por diversos campos e estabelecimentos, clnicas, abrigos, servios substitutivos aos hospitais psiquitricos... Abrindo novas possibilidades de espontanear, e expressar s novas formas de vida que pedem passagem.

O estilo narrativo. Trata-se de percursos realizados em diversas paisagens que foram percorridas desde o final do ano de 2005 e ainda hoje continuam suas efetuaes. Na linguagem dos contos de tradio oral trama-se enredos, hora fictcios mais que reais, hora reais na oralidade dos contos. Pela maioria das vivncias terem sido um mergulho nas intensidades do passado, para ressignific-las no presente, foi impossvel falar disso tudo impassvel e comportadamente. (ROLNIK, p.230)

Para tal narrativa lanamos mo da definio de personagens conceituais de Deleuze (1992). Descolado de um narrativa individualizante e os personagens e expem e/ou vivem os conceitos-ferramentas trabalhados, de forma que operam os movimentos que descrevem o plano de imanncia do autor, e intervm na prpria criao de seus conceitos. (p.85). (...) O personagem conceitual o devir ou o sujeito de uma filosofia (p.86). Aqui, os personagens conceituais e as figuras estticas misturam-se, ora em tipos psicossociais, ora em potncias de afectos e perceptos. (p.88).

Este trabalho foi configurado em trs planos narrativos. A superfcie narrativa nos modos da histria oral traz contornos aos fluxos e intensidades enviesadas nas experincias, enquanto as notas de rodap trazem traos de densidades conceituais e outros esclarecimentos que ajudam a entender as relaes feitos com o campo terico.

No plano 1: Narrativas Hbridas, traz uma descrio dos personagens Pedro Malasartes, um tpico matuto brasileiro, Sebasthian Rodrigues, um pesquisador-cartgrafo e Terapeuta Ocupacional e o Bicho-de-sete-cabeas. Aps se conhecerem num lugar chamado entre, nossos personagens vo correr mundo. Ambos os personagens vivem as histrias e narram por meio de cartas as experincias vivenciadas pelo autor.

H algum tempo um menino Pedro, arteiro, vadiava pelas ruas. Um dia numa de suas andanas foi surpreendido por um tal bicho-de-cabeas-patologizante. Este encontro foi uma marretada em sua existncia e o tirou do lugar. Os efeitos da marretada o amoleceram, sua ginga cadenciou e noutra levada sua dana fez movimentos diferentes. Num solo comum Pedro caminhou...

A tarde foi se transformando em noite... num lugar chamado entre aprendeu um ofcio e conheceu Tio, um cientista estrangeiro que com certo ar de superioridade vivia a pesquisar os modos de vida e a tica do entre, queria reproduzir as mandingas e vadiaes daquele povo. Na boca da noite ao redor de uma fogueira, contam histrias.

Tio comea descobrir aos poucos que no conseguir capturar por completo ou reduzir aquelas narrativas de vida a um modelo rgido. Acompanha processos. Cultiva uma ateno aos movimentos daquilo que processo, passa e foge. Entende e sente aos poucos quela tica. Pedro traz no corpo a capoeira e uma tica da vadiao, do improviso. Exercita seus afectos e perceptos numa lgica dos encontros.

Ao sair dali, afetados pelos encontros, cada um com sua ginga continuam trilhando seus ofcios e correspondem-se por cartas narrando os efeitos e seus encontros num oficinar. Falam de artifcios, apostas ticas, dispositivos, bricolagens hbridas para compor suas cartografias. Eles trazem fotos, poesias, msicas e relatos artifcios expressivos possveis nos processos e experincias em oficinas ocorridas num abrigo de populao em situao de rua e numa ONG de arte-educao e educao no-formal.

Pedro ao escrever as cartas, aprende a cartografar seus encontros. Tio aps conhecer Pedro, o entre e suas cartas exercita no corpo um afetar-se com aquilo que apenas racionalizava em seus relatos de pesquisa.

No segundo plano narrativo - Viagens no Recife, relata a experincia de imerso de durante 30 dias na rede de ateno psicossocial (RAPS). O projeto percursos formativos na RAPS: Intercmbio entre experincias e superviso clnico-institucional, um projeto da coordenao geral de sade mental, lcool e outras drogas do Ministrio da sade. O projeto do Ministrio da Sade Percursos formativos. A temtica neste plano est associada s demandas relacionadas ao lcool e outras drogas. Foi uma imerso na rede de ateno psicossocial do Recife. As cartografias realizadas foram registradas apartir dos diversos analisadores (fotos, vdeos, grafite contidos no territrio, num CAPS ad do Recife. Como ocorrem

Plano 3

Com os personagens Pedro Malasartes e Sebasthian Rodrigues, poderemos sobrevoar e caminhar entre as paisagens por eles contempladas. Vivenciar diversidades nos modos de estar na clnica com estes e outros personagens. Alm das histrias de vida, narram encontros no entre de seus ofcios. Ali, numa clnica que alguns a chamam de oficinas, atividades e terapia ocupacional. Contaro histrias de suas trajetrias e os efeitos dos encontros por eles vivenciados, cada um a seu modo. Dizem os que sabem que eles iro trocar cartas com outros personagens e visitar novos lugares, buscando caminhar nos interstcios de espaos que realizam e usam atividades com finalidades diversas caam curtos instantes revolucionrios num impulso experimentador, vido s novas trilhas... Ser?

Pedro Malasartes um tpico matuto brasileiro, anti-heroi, suas histrias esto espalhadas pelo Brasil afora e at pelo mundo. Contam que Malasartes percorreu vrios pases do mundo e recebeu diferentes nomes por onde passou. Na Espanha, ficou conhecido como "Pedro de Udermales". Na Alemanha existiu como "Till Eulenspiegel"; na Noruega o conhecido "Peer Gynt". Ficou Famoso tambm nas histrias rabes, onde recebeu o nome de "Nasrudin". Em Portugal era simplesmente "Malasarte". No Brasil j foi identificado tambm pelos que queriam captur-lo como: Besouro Preto de Mangang, um capoeira, temido pelos capites do mato. Recentemente ele reapareceu no cinema como Joo Grilo. Ao ouvir suas narrativas, h quem diga que ele no existiu, porm, alguns dizem que j o viram pessoalmente e at aprendeu como fazer uma Sopa de Pedra deliciosa.

O fato que o astuto e humilde Pedro Malasartes continua explorando o mundo em suas aventuras e peripcias. Ele, cheio de artifcios e artimanhas, enfrenta o que der e vier - principalmente se for diante de poderosos, vaidosos e avarentos - pessoas, coisas, e at bichos esquisitos que cruzarem seu caminho. Tolo, ingnuo, corajoso e louco-sbio, Pedro apresenta varias faces em suas narrativas, sempre disparando um pensar sobre as convenes e regras naturalizadas, que so seguidas sem serem questionadas.

Metodologia cartografia e historial oral

Espaos destinados ao uso de atividades no cotidiano dos estabelecimentos de assistncia sade e assistncia social.

Fazemos referncia ao filme nacional de Drama Bicho de cabeas - (2000),dirigido por Las Bodanzkye com roteiro de Luiz Bolognesi baseado no livro autobiogrfico de Austregsilo Carrano Bueno, Canto dos Malditos. O filme conta a histria de um jovem, que foi internado num manicmio pelos pais terem o encontrado com um cigarro de maconha. J o termo patologizante refere-se a um processo manicomial institucionalizante produtor de doena e alienao. Uma crtica aos estabelecimentos asilares e seus diversos modos de pensar-sentir-agir que atualizam e retroalimentam essa lgica manicomial de produo de doena. Uma espcie de... quem no louco acaba ficando.

Personagem do filme brasileiro: O Auto de Compadecida lanado e lanado em 2000, dirigido por Guel Arraes, baseado na pea teatral homnima lanado em 1955 e escrita por Ariano Suassuna. Acesso em 12/12/13, disponvel em: HYPERLINK "http://educacao.globo.com/literatura/assunto/resumos-de-livros/auto-da-compadecida.html"http://educacao.globo.com/literatura/assunto/resumos-de-livros/auto-da-compadecida.html

Um dos contos tradicionais brasileiros mais famosos que conta uma das aventuras de Pedro Malasartes.