Introdução à Crítica da Razão Pura

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Introdução à Filosofia I - Aula 1 - 05/03/15 - Docente: Maurício Keiner Kant, I. Crítica da Razão Pura 1770 - Kant publica e anuncia sua obra seguinte, só completada 11 anos depois. Os especialistas chamam esse período de "década silenciosa". 1781 - Publicação da Crítica da Razão Pura Recepção: No Império da Prússia Leibniz era hegemônico; principalmente por influência de Christian Wolff [1679-1754]. Os discípulos de Kant esperavam que ele fosse escrever uma Metafísica, e também por isso a "Crítica" da Razão Pura não foi bem compreendida. 1783 - Publicação de Prolegômenos para toda metafísica futura que se apresente como ciência http://copyfight.me/Acervo/livros/KANT, Immanuel. Prolegômenos a Toda a Metafísica Futura.pdf 1785 - Publica Fundamentos para uma Metafísica dos Costumes http://charlezine.com.br/wp-content/uploads/Fundamentação-da- Metafísica-dos-Costumes-Kant1.pdf 1787 - Publicação da 2a Edição da Crítica da Razão Pura 1788 - Publicação da Crítica da Razão Prática 1790 - Publicação da Crítica da Faculdade do Juízo ***

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Observações gerais do curso de introdução à leitura da Crítica da Razão Pura

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Introduo Filosofia I -

Aula 1 - 05/03/15 -

Docente: Maurcio Keiner

Kant, I. Crtica da Razo Pura

1770 - Kant publica e anuncia sua obra seguinte, s completada 11 anos depois. Os especialistas chamam esse perodo de "dcada silenciosa".

1781 - Publicao da Crtica da Razo Pura

Recepo: No Imprio da Prssia Leibniz era hegemnico; principalmente por influncia de Christian Wolff [1679-1754]. Os discpulos de Kant esperavam que ele fosse escrever uma Metafsica, e tambm por isso a "Crtica" da Razo Pura no foi bem compreendida.

1783 - Publicao de Prolegmenos para toda metafsica futura que se apresente como cincia

http://copyfight.me/Acervo/livros/KANT, Immanuel. Prolegomenos a Toda a Metafisica Futura.pdf

1785 - Publica Fundamentos para uma Metafsica dos Costumes

http://charlezine.com.br/wp-content/uploads/Fundamentao-da-Metafsica-dos-Costumes-Kant1.pdf

1787 - Publicao da 2a Edio da Crtica da Razo Pura

1788 - Publicao da Crtica da Razo Prtica

1790 - Publicao da Crtica da Faculdade do Juzo

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Conceito de "Crtica". (Qual o seu sentido na histria da Filosofia?)- Coloca em questo a possibilidade de um conhecimento terico.

Cit. LEBRUN, G. Sobre Kant. So Paulo: Iluminuras, 1993. p.26-27.- sobre a hiptese do perodo ctico - " o papel do espao no sistema..."(qual o sentido exato do ceticismo nesse perodo? Significa ceticismo em relao metafsica clssica)Lebrun prefere falar em "embarao" da filosofia (o termo est no "Prefcio Primeira Edio" : "Ela [a razo humana] no tem culpa por cair nesse embarao" ) Kant parte do diagnstico de que faltam "garantias" aos discursos metafsicos (ou seja, aos discursos acerca das substncias, do infinito, do contnuo etc.).

O impasse Kant ser um cientista newtoniano que no reconhece no mundo os pressupostos do sistema newtoniano.

Kant no conseguia conciliar suas duas maiores influncias: LEIBNIZ e NEWTON.

LEIBNIZ | NEWTON(Espao Relativo)|(Espao Abstrato)Metafsica | Cincia

A impossibilidade de conciliar as duas influncias, metafsica e cincia, concomitante a uma crise do pensamento moderno [ocorrida nos sculos XVI e XVII]

Ref. KOYRE, A. Do mundo fechado ao universo infinito. Lisboa: Gradiva. p.5-7.Teoriza uma revoluo espiritual na Europa, da qual a cincia moderna seria "a raiz e o fruto".Fatores diversos:- Uma nova cosmologia substitui o mundo geocntrico dos gregos e o mundo antropocntrico medieval pelo mundo moderno descentrado e infinito.- A cincia deixa de ser contemplativa e se torna ativa, o homem se torna senhor da natureza.- H uma mecanizao da natureza (a ideia de "causa mecnica" aparece no sc. XVII)- Descoberta da subjetividade.- Secularizao da conscincia (sujeito moderno)

Para Koyr, h um processo mais profundo subjacente a esses fenmenos:1 - O homem perdeu seu lugar no mundo2 - O homem perdeu o prprio mundo3 - O homem teve de transformar as prprias estruturas do pensamento

A obra mais ambiciosa de Koyr, Estudos Galilaicos (Lisboa: D. Quixote, 1986), diagnostica duas grandes mudanas modernas:

a) destruio do Cosmos - fim do mundo como um todo infinito e ordenado (substituio da cosmologia aristotlica pela cincia moderna).

b) geometrizao do espao - o espao fsico passa a ser o equivalente do espao geomtrico.

Ref. [Curso de Heidegger sobre Kant] O que uma coisa? Lisboa: Edies 70, 2002. p.89-95.https://onedrive.live.com/view.aspx?cid=04EDE51A3D5B3B69&resid=4EDE51A3D5B3B69%21597&qt=sharedby&app=WordPdf&authkey=%21ACK2oYwSHsp7Qrk

- No conceito de "Physis", o movimento tem como princpio a natureza dos corpos (o corpo terreno se move para baixo, o corpo ardente se move par ao alto)- No mundo grego, o movimento circular mais perfeito e superior ao movimento em linha reta. - Para os gregos, o movimento era uma mudana na natureza do prprio corpo.[Passagem da Qualidade para a Quantidade por meio da Abstrao]-Para Aristteles, os corpos pesados caem mais rpido do que os leves. Galileu com o experimento da Torre de Pisa, (tenha ele ocorrido de fato ou no) provou o contrrio: os corpos caem todos mesma velocidade, sendo a existncia do ar o nico fator responsvel pela mudana na velocidade entre os corpos que caem.

Cit. de Galileu: "concebo um objeto movendo-se num plano horizontal e livre de qualquer obstculo" (ABSTRAO - no se trata de um dado observvel]"Todos os corpos so idnticos""Todos os momentos de tempo so idnticos"

Comparar a PHYSIS com o conceito de NATUREZA na filosofia kantiana

* trechos da Crtica da Razo Pura [ed. Vozes] que sero trabalhados no curso - 1o Prefcio [Ed. A, 1781]2o Prefcio [Ed. B, 1787]3a antinomia - conflito da Razo consigo mesma - NATUREZA X LIBERDADE [formulao da antinomia, p. 473-479/ soluo da antinomia, p.560-587]-Numerar os pargrafos

3 partes principais da Crtica da Razo Pura:

A. SensibilidadeB. Lgica - 1. analtica (VERDADE)/ 2. dialtica (APARNCIA) [ aqui que surge a 3a antinomia!]C. Metodologia

O Segundo Prefcio se estrutura a partir da ideia de uma Revoluo no modo de pensar

Leitura do 1o Prefcio:

Problema da metafsica - Num determinado gnero do conhecimento, a razo coloca questes que ela mesma no pode resolver (apesar de serem questes naturais a seu funcionamento) - [O que est em jogo, portanto, o conceito de "crtica".]Tais perguntas ultrapassam todas as faculdades da razo humana- ideia de LIMITE- conceito de "PRINCPIOS" - utilizados para pensar, ou seja, princpios que organizam a forma do pensar humano e que so ou no confirmados pela experincia.- tambm a experincia que impe "limites" ao uso da razo.- A razo procura naturalmente desvencilhar-se desses limites (Kant usa uma metfora espacial para descrever isso, ele diz que ela "sobe").

preciso fazer, portanto, uma distino entre 2 momentos:I - Princpios confirmados pela experincia (Cincia) [Ex: uma mesa de bilhar]II - Princpios para alm de toda experincia (Metafsica) - [ aqui que Kant situa o problema!]- [Ex: causa do mundo] aqui que Kant situa o problema!]A metafsica e seus impasses so ilustrados por uma imagem: um campo de batalha.

"O campo de batalha dessas interminveis querelas chama-se metafsica".

Kant compara a metafsica figura mitolgica de Hcuba [descrita nas Metamorfoses de Hesodo]. [Hcuba, na mitologia grega e romana, mulher de Pramo e me de dezenove filhos, entre os quais se contam Heitor, Pris e Cassandra. Assistiu, em Troia, morte de quase todos e viu serem trucidados seu esposo, sua filha Policena e seu neto Astanax. Levada para a Trcia como escrava, ali, segundo uma verso, cegou o rei Polimestor, que mandara matar seu filho Polidoro, e matou dois filhos do rei trcio, com a ajuda de outras escravas troianas. Apedrejada pelo povo, mordeu os que a atingiam, sendo, por isso, transformada em cadela, cujos uivos a todos impressionavam.]

No campo de batalha, em que no h vencedores, teramos dois partidos:- 1. Dogmticos - despticos- 2. Cticos - anarquistas e nmades

O professor chamou a ateno dos alunos para o modo como Kant articula as imagens que aparecem no prefcio (o campo de batalha ser transformado no "tribunal da razo" [pargrafo 5] - contudo, como se d esse movimento?).

A fisiologia do entendimento humano elaborada por Locke [An Essay Concerning Human Understanding (1690)] foi uma tentativa fracassada de solucionar o impasse.

Kant prope um movimento reflexivo (por meio do qual a razo se dobraria sobre si mesma) para quebrar o crculo vicioso, lanando luz sobre os princpios que orientam o prprio pensar.

Kant pergunta: por que a Metafsica no consegue ter fundamentos slidos como as outras cincias? Novamente chegamos aqui a ideia de limite. Poderamos pensar a Crtica da Razo Pura a partir da ideia de "limite".

No prefcio, Kant estabelece um diagnstico de poca que uma maneira de repensar a histria da filosofia.

Embora critique a indiferena em relao metafsica, conclui que essa indiferena tambm um efeito da "amadurecida capacidade de julgar [Urteilskraft] da poca", que no se deixa mais convencer por um saber ilusrio.Numa famosa nota de rodap no prefcio, Kant afirma que, segundo o "modo de pensar de nossa poca", tudo deve submeter-se ao livre e pblico exame, inclusive o Estado e a Igreja. Esse movimento de liberdade prprio do Esclarecimento.

Esse questionar um dado novo, ele indica o autoconhecimento da razo.No "Tribunal da Razo" a razo r e juza. E, nele, deve ser questionada a legitimidade dos princpios da razo por meio da seguinte pergunta: Quais so os limites das faculdades racionais?

Ref. LEBRUN, G. Kant e o fim da metafsica. So Paulo, Martins Fontes, 1995. p.4-5.