Introdução à Simbologia - Rosacruz AMORC (Rev)

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    INTRODUO SIMBOLOGIA

    BIBLIOTECA AMORC

    ORDEM ROSACRUZ AMORC

    GRANDE LOJA DO BRASIL

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    TTULO ORIGINAL: SYMBOLS: THEIR NATURE AND FUNCTION

    1 EDIO EM LNGUA PORTUGUESA JULHO DE 1992

    TODOS OS DIREITOS RESERVADOS PELA

    ORDEM RASACRUZ AMORC

    GRANDE LOJA DO BRASIL

    COMPOSTO E IMPRESSO NA GRANDE LOJA DO BRASIL

    RUA NICARGUA, 2620 CAIXA POSTAL, 307 TEL: (041) 254-3033

    80.000 CURITIBA PARAN - BRASIL

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    Sumrio

    INTRODUO ............................................................................................................4 CAPTULO I: DEFINIO, COMPOSIO, CLASSIFICAO E FINALIDADES DOS SMBOLOS..................................................................................................................9 CAPTULO II: SMBOLO, SIGNO E SINAL NATUREZA SIMBLICA DA PERCEPO............................................................................................................19 CAPTULO III: RELAO ENTRE FORMA E SIGNIFICADO DE UM SMBOLO SMBOLOS INDIVIDUAIS E SMBOLOS ARQUTIPOS..........................................30 CAPTULO IV: SMBOLOS NATURAIS E ARTIFICIAIS O PROCESSO DE SIMBOLIZAO SIMBOLISMO E A LEI DOS OPOSTOS ....................................40 CAPTULO V: SIMBOLIZAO: UMA FUNO BSICA DA MENTE....................50 CAPTULO VI: ORIGEM DOS SMBOLOS ...............................................................61 CAPTULO VII: MODALIDADE DE TRANSFOMAO SIMBLICA SMBOLOS MSTICOS.................................................................................................................69 CAPTULO VIII: SIMBOLISMO E A LINGUAGEM VERBAL METFORA E ANALOGIA................................................................................................................80 CAPTULO IX: O JARDIM SIMBLICO ....................................................................94 CAPTULO X: A MONTANHA SIMBLICA.............................................................111 CAPTULO XI: A RVORE SIMBLICA .................................................................121 CAPITULO XII: SIMBOLISMO DA RVORE E DA FLOR ......................................135 CAPTULOXIII: SIMBOLISMO NO ANTIGO EGITO ...............................................146 CAPTULO XIV: SMBOLOS PSQUICOS E SMBOLOS MSTICOS.....................157 CAPTULO XV: FUNO PSICOLGICA E FUNO MSTICA DOS SMBOLOS PERIGOS DA SIMBOLIZAO ..............................................................................171 CAPTULO XVI: EXEMPLOS DE SMBOLOS MSTICOS - HEINRICH KHUNRATH, ROBERT FLUDD, E MICHEL MAIER .....................................................................180 CAPTULO XVII: MICHAEL MAIER E O SIMBOLISMO ROSACRUZ DO SCULO DEZESSETE...........................................................................................................190 CAPTULO XVIII: ARTE E SIMBOLISMO ...............................................................195 CAPTULO XIX: POESIA E SIMBOLISMO .............................................................204 CAPITULO XX: CONCEITOS BSICOS DO SIMBOLISMO MSTICO...................216

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    INTRODUO

    A Grande Loja do Brasil tem especial satisfao em poder oferecer aos seus estudantes esta pequena obra sobre SMBOLOS, dada a grande importncia deste assunto para todos aqueles que esto trilhando a senda Rosacruz do

    autoconhecimento e do desenvolvimento pessoal. Algumas afirmaes bsicas,

    como as que fazemos a seguir, so suficientes para dar uma idia da relevncia do

    tema e do valor do contedo deste livro para os Fratres e Sorores.

    "Criar e usar smbolos uma funo bsica e natural

    da mente humana. Esta funo se manifesta em religio, arte,

    na conversa comum, e em cincia. Sem smbolos, ou sem

    simbolizar, no podemos pensar sequer sobre a nossa

    conscincia de simples relaes fsicas, ou express-las."

    "A funo humana de simbolizar essencial

    atividade da fase subconsciente da mente. A ignorncia ou a

    represso dessa funo simbolizadora torna-a inconsciente e,

    portanto, fora do controle do indivduo, podendo lev-lo a um

    relacionamento inadequado com o ambiente e os seus

    semelhantes (por confundir ele, inconscientemente, o seu mundo interior com a realidade objetiva)."

    "A compreenso de si mesmo e do no-Eu

    expressa por smbolos; ao usarmos tais smbolos, estamos

    tambm ajudando a aprofundar a nossa compreenso. Os

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    smbolos so um produto da compreenso e um valioso e

    eficaz recurso para a mesma."

    "A percepo e a memria dependem parcialmente

    da simbolizao."

    "Smbolos mitolgicos formulam conceitos sobre a

    natureza do universo e do homem; comunicam esses conceitos

    sob a forma de mitos, e essa comunicao, com sua vividez,

    ajuda a instruir e lembrar. " "A nica maneira de o homem expressar sua

    conscincia de impresses e experincias psquicas e msticas

    pela simbolizao. Smbolos de harmonizao, iluminao, e

    unio mstica, so usados para fins de meditao."

    Vemos, portanto, que os smbolos cumprem diversas finalidades

    psicolgicas essenciais na nossa vida em geral e, em particular, no nosso

    desenvolvimento como msticos na Senda Rosacruz. Dentre essas finalidades,

    podemos citar:

    ordenao mental da vida, pelo homem;

    comunicao;

    reflexo;

    preservao do conhecimento;

    expresso criadora;

    recurso de memorizao e instruo;

    recurso de concentrao e meditao.

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    Em linhas gerais, os captulos deste livro cobrem os seguintes pontos

    principais do tema:

    Definio de smbolo. Natureza dos smbolos: sua composio; noes da

    psicologia da simbolizao; smbolos e a Lei do Tringulo. Classificao de

    smbolos. Funes dos smbolos: compreenso, expresso, comunicao, etc.

    Origem dos smbolos. Definies de signo e sinal; diferena entre signo, sinal, e

    smbolo. Nveis de significado de smbolos. Finalidades dos smbolos: ordenao

    mental da vida humana, reflexo, preservao do conhecimento, etc. Simbolismo e a

    Lei dos Opostos; tipos de simbolizao. Simbolizao: maneira como o homem se

    relaciona com o seu ambiente e ordena suas percepes. Simbolizao e

    visualizao. Modalidades de simbolizao: mitologia e religio, magia, arte, cincia,

    filosofia, misticismo. Funo psicolgica da natureza simblica da linguagem verbal:

    simbolizao atravs da metfora, da analogia, da alegoria, da parbola, da poesia.

    Smbolos psquicos e msticos: anlise psicolgica. Diferena entre funes

    psquicas e funes psicolgicas e msticas. Simbolismo e arte: definio mstica de

    arte; papel da arte no desenvolvimento psicolgico e mstico. Simbolismo e poesia

    mstica. Conceitos bsicos do simbolismo mstico.

    Este livro, portanto, constitui um pequeno tratado introdutrio ao estudo

    de smbolos e da funo simbolizadora da mente humana; por isto o intitulamos

    "Introduo Simbologia". Os Captulos de I a VIII (inclusive) versam sobre a Natureza e a Funo dos Smbolos. Nestes Captulos, predomina uma anlise

    psicolgica do tema. Mesmo os estudantes Rosacruzes menos afeitos a este gnero

    de empenho intelectual devem envidar esforos para estudar esta parte do livro. Isto

    h de afetar ou modificar positivamente sua estrutura psquica, preparando-a para

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    melhor apreciao e aproveitamento da parte descritiva desta Introduo. E, se essa

    modificao for suficientemente profunda, poder exercer maravilhoso e poderoso

    efeito em sua conscincia, iluminando-a para melhor compreenso e aproveitamento

    de impresses e experincias psquicas e msticas. Essa nova compreenso da

    natureza e da importncia dos smbolos, bem como das funes que os mesmos

    cumprem (na nossa vida em geral e em nosso desenvolvimento mstico em particular), h tambm de atuar como forte estmulo a um interesse mais profundo pelo simbolismo Rosacruz. Isto ser particularmente valioso e til, para os

    estudantes Rosacruzes, no tocante ao melhor aproveitamento dos smbolos que

    compem os Templos Rosacruzes e o Sanctum dos prprios estudantes, como

    eficazes recursos psicolgicos para meditao.

    Do Captulo IX ao XIII (inclusive), so amplamente analisados os seguintes smbolos de interesse mstico: O Jardim, a Montanha, A rvore, e A Flor (com destacada referncia Rosa e ao Lotus). O Captulo XIII trata especificamente do simbolismo no Egito Antigo. Os Captulos XIV e XV fazem uma anlise

    psicolgica de smbolos psquicos e msticos. Os Captulos XVI e XVII apresentam

    exemplos de smbolos msticos, de Heinrich Khunrath, Robert Fludd e Michael Maier,

    com quatro reprodues de gravuras originais. O Captulo XVIII versa sobre

    Simbologia e Arte. Este particularmente interessante para pessoas envolvidas em

    atividades artsticas, destacando tambm a importncia destas atividades para o

    desenvolvimento psicolgico e mstico. O Captulo XIX trata de Simbolizao e

    Poesia Mstica, com apresentao de alguns poemas inspirados (Alexander Pope, John Keats, etc.), muito estimulantes na busca do xtase mstico prprio da Harmonizao Csmica. Finalmente, o Captulo XX analisa e comenta Conceitos

    Bsicos da Simbologia Mstica.

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    E j que estamos introduzindo um texto sobre smbolos, seja-nos permitido um fecho simblico, visto que de outro modo nossa mensagem final seria

    impossvel: A verdade mstica do Universo e da Vida como um Canto de Sereia

    Csmica: sedutora, enigmtica e inexprimvel. S pode ser conhecida por

    experincia direta e, mesmo quando assim conhecida, no pode ser dita ou descrita.

    Aquele que a conhece enche-se de Luz na Vida do Ser, e seu Clice transborda de

    Amor a tudo. Em seu anseio ento, de expressar sua sublime experincia e

    comunic-la ao seu semelhante, s pode ele entoar tambm o Canto de Sereia que

    aprendeu de sua mstica unio. No Jardim excelso em que vive, no alto da

    Montanha, desfrutando o gozo inefvel do maravilhoso Fruto da rvore do Conhecimento, faz ecoar esse Canto, que vai tanger o corao dos homens do Vale,

    e seduzi-los e ench-los do sacrossanto desejo de escalar a Montanha, para entrar no Jardim e nele viver, em sagrada e universal comunho. E esse Canto de Mistrio,

    vibrao mgica que do mago do mstico realizado se irradia, fragrncia

    maravilhosa que da Rosa plenamente desabrochada se exala, sobre as Rosas do

    Vale cai como Divino Orvalho e as toca e vitaliza, impelindo seu mstico desabrochar

    na Cruz!

    Assim que o Jardim, no alto da Montanha, vai se tornando um

    encantado Jardim de Rosas, vitalizadas pela Luz do Divino Sol, regadas pela gua Pura e Santa da Conscincia Csmica, e respirando o Ar Puro da Divina Essncia

    que se f az TUDO!

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    CAPTULO I: DEFINIO, COMPOSIO, CLASSIFICAO E FINALIDADES DOS SMBOLOS

    Uma das coisas que distinguem o homem dos animais a capacidade

    humana de simbolizar. Memria, imaginao e impresses psquicas, empregam a

    funo mental simbolizadora. Religio, cincia, misticismo e mitologia, tambm

    fazem uso de smbolos, bem como sonhos, alegorias, contos de fadas, e rituais. Um

    templo sagrado no apenas contm smbolos, mas, ele prprio um smbolo.

    Uma montanha ou uma escada podem simbolizar ascenso ao Csmico.

    Uma esfera ou bola representa o mundo, o universo, ou o todo. Um livro simboliza

    conhecimento. Uma corrente ou uma escada representam a hierarquia da Criao.

    Uma utopia, o Paraso, os Campos Elsios, ou as Ilhas dos Bem-

    aventurados, so projees simblicas da vida ideal, da vida que o homem gostaria de viver na Terra. Um jardim, quer negligenciado como em Hamlet, quer perfeito como o bblico Jardim do den, simboliza as idias do homem a seu prprio respeito.

    Gestos so atos simblicos. O Sinal da Cruz Rosacruz representa o

    compromisso do iniciado. O dedo indicador levado aos lbios representa silncio.

    Usamos um gesto para indicar "entre", e outro para indicar "saia".

    O objeto, a idia, e o gesto, so usados para representar uma outra coisa que est com eles de algum modo relacionada. Isto constitui a forma do smbolo,

    seu componente objetivo, material, ou perceptivo. Nos exemplos acima, a bola, a montanha, a corrente, os Campos Elsios, o jardim e o Sinal da Cruz, constituem a forma. Assim, a bola a parte do smbolo que cumpre a funo de representar.

    A forma da bola simboliza o mundo ou o todo. E isto o que ela significa.

    O significado o fator subconsciente, psquico, ou conceptual e emocional, que

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    representado pela forma. A montanha significa ascenso; a escada e a corrente

    significam a hierarquia da Criao.

    Um smbolo completo compe-se de forma e significado. Em termos da

    Lei do Tringulo, a forma a primeira ponta; o significado, a segunda, e, o prprio

    smbolo, a terceira. A forma do significado pode ser realizada na mente, do mesmo

    modo como um sonho lembrado mas no contado a outrem. Podemos pensar no

    Sinal da Cruz sem express-lo ou us-lo. Mas a forma, ou o significado, ou ambos,

    podem ser expressos de algum modo, por exemplo fazendo-se uma descrio da

    montanha e do seu significado, ou desenhando-se a forma da montanha ou do

    tringulo. No ltimo caso, pode-se explicar o significado ou deixar que o observador

    o apreenda. (Vide pgina 18, Figura 1.) J aprendemos que um smbolo um objeto, uma idia, uma emoo, ou

    um ato, usado para representar um outro objeto, uma outra idia, etc.; que ele se compe de forma e significado, que so os seus elementos objetivo e subconsciente, ou material e psquico. J aprendemos, tambm, que um smbolo

    pode ser expresso ou simplesmente realizado na mente.

    Os smbolos psquicos, isto , aqueles que fazem parte de nossas

    impresses e experincias psquicas, devem ser expressos em termos de

    fenmenos objetivos, materiais, para que possamos tomar conscincia dos mesmos e compreend-los. Devem ser expressos numa forma, para que no permaneam

    totalmente subconscientes. Uma idia recebida numa impresso psquica

    aparentemente ouvida em palavras ou vista numa imagem mental. Podemos chamar

    isto de forma psquica, para distingui-la do tipo de forma da bola material. Mas ela

    uma forma; a parte do smbolo que representa o significado.

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    Simbolizar um processo automtico e muitas vezes inconsciente, que

    primariamente subconsciente. A verdadeira simbolizao uma funo

    subconsciente, e no objetiva. Os smbolos so transmitidos e usados pelas funes objetivas da mente. A forma da bola ou da escada percebida, apreendida objetivamente, e se torna parte da memria do subconsciente. Esta memria subconsciente associada ao significado ou parte subconsciente do smbolo. esta funo que integra ou unifica as duas partes (a forma e o significado) num todo.

    A forma redonda da bola como o mundo; subconscientemente

    associada ao mundo e se torna um smbolo do mesmo. A montanha associada a

    altura e escalada ou alpinismo e, portanto, a ascenso; unificada ao significado

    pelo subconsciente e se torna um smbolo.

    A conscincia objetiva apreende e usa o smbolo falando a seu respeito, realizando rituais, e de muitos outros modos. Se o smbolo se torna

    predominantemente objetivo, passa a constituir um sinal ou signo. Smbolos religiosos, por exemplo, tendem a se tornar sinais de reaes mentais ou

    emocionais, acabando por serem entendidos literalmente, ao invs de

    simbolicamente. Smbolos msticos, como a Rosa-Cruz, smbolos psicolgicos, como

    os de alguns sonhos, e smbolos psquicos, tendem a degenerar para sinais ou

    signos empregados objetivamente. Devem ser mantidos subconscientemente vivos, para que conservem um equilbrio, ou uma harmonia de seus componentes objetivo e subconsciente. Se eles so smbolos vivos, no s expressam desenvolvimento

    mstico, mas, tambm promovem esse desenvolvimento.

    Um smbolo, ento, consiste em forma e significado e uma funo das

    fases objetiva e subconsciente da mente. Os smbolos nascem no subconsciente e constituem parte da base de outros processos mentais, como a imaginao, a

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    memria, e mesmo a percepo. Embora um smbolo tenha origem subconsciente,

    deve ser uma funo harmoniosa de todos os processos mentais.

    Usando novamente a Lei do Tringulo, o smbolo, ou a terceira ponta,

    resulta da forma percebida pelos sentidos objetivos e unificada subconscientemente ao significado. Os componentes objetivo e subconsciente so a primeira e a segunda pontas do tringulo. A unio dos dois componentes necessria para que

    se tenha um smbolo vivo. Eles devem funcionar de modo equilibrado ou

    harmonioso. (Vide pgina 18, Figura 2.) O homem tem conscincia da dualidade de reino mundano e reino

    Csmico, ou reino material e reino psquico. Tem tambm conscincia do Eu e do

    no-Eu, como uma dualidade. E de vrios modos relaciona o Eu e o no-Eu.

    Primeiro, atravs dos seus sentidos, percebe a si mesmo e ao mundo que no ele

    prprio. Apreende a ambos. Neste tringulo, o Eu a primeira ponta, o no-Eu a

    segunda, e a realidade do homem, ou sua conscincia do Eu e do no-Eu, a terceira

    ponta, que resulta das outras duas e as unifica. (Vide pgina 18, Figura 3.) Quando vejo uma rosa, recebo e percebo um estmulo vibratrio, e sinto

    que a rosa bela. Esse estmulo a primeira ponta de um outro tringulo e, a

    reao emocional, a apreenso de beleza, a segunda ponta. A rosa pode ento

    ser um smbolo de beleza, e este smbolo a terceira ponta. As reaes mentais e

    emocionais constituem a segunda maneira em que relacionamos o Eu com o no-

    Eu.

    O duplo tringulo desenhado no fim da pgina 18 deste Captulo integra

    os dois tringulos simples num nico smbolo, cujos pontos opostos esto relacionados entre si. O Eu est relacionado com reao, o estmulo vem do no-Eu,

    e o smbolo parte da nossa realidade e uma expresso da mesma.

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    A terceira maneira em que relacionamos o Eu e o no-Eu o processo

    simbolizador do que tem sido chamado de transformao simblica. Transformamos

    nossa experincia em smbolos realizados mentalmente ou expressos. Estas trs

    maneiras em que relacionamos o Eu e o no-Eu esto inter-relacionadas e so

    interdependentes. No podemos simbolizar sem perceber, sentir e pensar. Os

    smbolos afetam nossas percepes e emoes, e nossas idias e emoes

    influenciam nossas percepes e os smbolos que criamos.

    A rosa na Rosa-Cruz (cruz com uma s rosa no centro) um smbolo derivado de percepes objetivas de rosas, bem como de idias e emoes suscitadas por rosas. A rosa e seu desabrochar esto associadas no subconsciente

    personalidade anmica ou personalidade-alma, que constitui o significado ou

    componente subconsciente. A forma da rosa e o significado a ela associado esto

    fundidos num smbolo. A percepo da rosa um modo de relacionar o Eu e o no-

    Eu; os sentimentos a respeito da rosa so um outro modo; e o smbolo o terceiro

    modo.

    A quarta maneira em que o homem relaciona o Eu e o no-Eu atravs

    do seu comportamento, daquilo que ele faz e de como o faz. O comportamento de

    um indivduo caracteriza-o e, de certo modo, simboliza esse indivduo para ele

    prprio e para os outros. Seu jeito de andar, de reagir a situaes e problemas, seus gestos, todas estas coisas so expresses e smbolos do Eu e sua relao para com

    o mundo que o cerca.

    Os smbolos podem ser classificados de vrios modos. No livro,

    "Smbolos Antigos e Sagrados", de Ralph M. Lewis, editado pela AMORC, so eles

    classificados como naturais ou artificiais. Podem tambm ser divididos em objetivos, subjetivos, e subconscientes, conforme a natureza do significado.

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    Por exemplo, quando usamos a bola ou o crculo para representar o

    mundo ou o universo, este smbolo significa algo objetivo. Quando usamos a bola ou o crculo para simbolizar o todo ou algo completo, damos ao smbolo um significado

    subjetivo, uma idia. Se a rosa representa beleza, o significado tambm subjetivo. Quando ela representa a personalidade-alma, um smbolo subconsciente. A

    terceira categoria poderia ser chamada de arqutipos ou smbolos Csmicos. Esta

    categoria inclui muitos smbolos comuns, como o jardim e a montanha, que sero examinados em captulos posteriores.

    A cruz, usada para simbolizar as quatro direes do espao um smbolo

    objetivo. Quando representa perseguio, um smbolo subjetivo. Usada na Rosa-Cruz, um smbolo subconsciente. Analogamente, o desenho de um farol pode ser

    usado objetivamente para representar um farol de fato; subjetivamente, para representar conhecimento; e, subconscientemente, para simbolizar intuio ou

    Conscincia Csmica. A classificao, neste caso, no depende da forma, e sim do

    significado.

    Os smbolos podem ser considerados como individuais, coletivos, ou

    Csmicos. Um smbolo que derivado da prpria experincia do indivduo e lhe

    peculiar, um smbolo individual. Uma jia, por exemplo, pode ter um significado simblico particular, devido a algum evento ou sentimento a ela associado. Smbolos

    coletivos so aqueles que so usados por grupos de carter religioso, ordens

    fraternais, grupos sociais, e grupos educacionais ou desportivos. Smbolos polticos,

    como as bandeiras, so smbolos coletivos, tais como o smbolo da ONU. Smbolos

    Csmicos ou arqutipos so aqueles que so comuns a muitas pessoas em

    diferentes pocas e lugares. A cruz em suas muitas formas, smbolos de rvores, e a

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    montanha simblica, todos transcendem o uso individual ou coletivo, embora

    apaream em vrias formas.

    Como a simbolizao fundamental para muitas funes mentais,

    usada para formular idias, emoes, etc. Sem smbolos, o homem seria incapaz de

    compreender leis naturais e Csmicas fundamentais. Suas crenas religiosas e

    filosficas dependem de sua capacidade para simbolizar. A realidade particular de

    cada indivduo depende dos smbolos que ele usa e dos significados que lhes

    atribui.

    Uma lngua, falada ou escrita, um sistema de signos e smbolos.

    Gestos, linguagem por sinais, e outras formas de comunicao, tambm so

    baseadas em smbolos. Sem smbolos, a comunicao humana estaria limitada a

    gritos e sinalizaes animais. Um poeta, um pintor, ou um msico, transformam

    simbolicamente sua experincia em obra artstica.

    Algumas formas de comunicao constituem, parcial e basicamente, um

    meio de preservar filosofia, sistemas polticos, cincia, etc., para futuras geraes.

    Sem algum sistema lingstico ou outros sistemas, essa herana cultural no poderia

    ser transmitida de uma poca para outra ou de um lugar para outro.

    Os meios de comunicao que acabamos de mencionar so usados, no

    somente para o indivduo transmitir suas idias e emoes a outrem, mas, tambm

    para fim de expresso pessoal. A transformao simblica realizada conforme haja ou no uma outra pessoa para apreci-la.

    Os smbolos so usados como recursos de memorizao, de instruo, e

    durante prticas de meditao e concentrao. So empregados para estes fins nos

    ensinamentos, nas iniciaes e nos rituais, em geral, dos Rosacruzes.

  • 16

    Smbolos so produtos da natureza psicolgica e psquica do homem.

    Expressam seu Eu emocional e seu Eu psquico, mas estes, por sua vez, afetam seu

    desenvolvimento no sentido da integrao psicolgica e da unio mstica. Simbolizar

    uma funo importante do ser humano, mas uma funo que influencia suas

    habilidades, seus poderes, e sua capacidade criadora.

    Os smbolos podem ter origem na tradio cultural ou na experincia

    pessoal. Bandeiras, smbolos e rituais religiosos, e smbolos de "status", so de

    origem cultural. A Rosa-Cruz , neste sentido, um smbolo culturalmente concebido.

    No entanto, a cruz pode ter forma e significado compreensveis para um dado

    indivduo, tornando-se ento um smbolo tambm pessoal.

    A cruz, em algumas formas, passou de um grupo para outro, ou foi

    assimilada de uma cultura para outra. Esta a terceira maneira de criao de

    smbolos. Um smbolo como a cruz ou a rvore pode, no decurso de sua histria, ser

    derivado das trs fontes, pessoal, cultural, e por assimilao ou "emprstimo".

    Falando de um ponto de vista psquico e mstico, os smbolos podem se

    originar numa experincia psquica intuitiva; podem ser recebidos telepaticamente, e

    podem ter origem na memria de encarnaes passadas.

    SUMRIO

    Smbolo um objeto, uma idia, uma emoo, ou um ato, usado para representar um outro objeto, uma outra idia, etc. Compe-se de forma e significado, ou componente objetivo e componente subconsciente.

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    O homem relaciona o Eu e o no-Eu atravs dos sentidos, de reaes

    mentais e emocionais, da simbolizao, e do comportamento.

    Os smbolos se classificam em:

    1. Naturais e artificiais.

    2. Objetivos, subjetivos, e subconscientes. 3. Individuais, culturais ou coletivos, e Csmicos.

    Os smbolos so usados para diversos fins, como:

    1. Formular idias, emoes etc.

    2. Na comunicao.

    3. Na preservao de filosofia, cincia etc.

    4. Na expresso pessoal.

    5. Como recurso de instruo e memorizao.

    6. Em meditao e concentrao.

    7. Para promover integrao psicolgica e unio mstica.

    Os smbolos tm origem na tradio cultural ou na experincia pessoal;

    atravs de migrao (transmisso) e por assimilao ou "emprstimo"; por intuio e experincia psquica; na comunicao teleptica, e em encarnaes anteriores.

  • 18

    Figuras 1, 2 e 3

  • 19

    CAPTULO II: SMBOLO, SIGNO E SINAL NATUREZA SIMBLICA DA PERCEPO

    Um smbolo representa alguma outra coisa. Um livro, por exemplo, pode

    representar conhecimento, porque livros so uma das fontes de conhecimento. A

    corrente e a escada tm sido usadas para representar a hierarquia da Criao, do

    plano material ou mundano para o plano Csmico, porque associamos sries de

    coisas a elos ou degraus, e porque, especialmente no caso da escada, associamos

    ascenso sua finalidade.

    Um signo identifica ou indica alguma coisa, ou aponta para ela. Um signo,

    numa loja, identifica a loja. Um rtulo numa garrafa um signo que identifica seu contedo. Um signo pode ser definido como um smbolo que indica ou identifica algo

    percebido ou concebido, seja no mundo objetivo, seja na mente; tende a identificar, mais do que representar.

    Um sinal implica uma reao por parte do usurio ou observador. Um

    sinal num cruzamento de linha frrea usado para induzir o motorista a parar

    quando um trem est para passar; implica uma reao da parte da pessoa que est

    dirigindo o carro. Um gesto de silncio a algum que est falando um sinal. Um

    sinal pode ser definido como um signo usado para sugerir ou induzir uma dada

    reao em quem o v.

    A palavra vermelho, significando uma cor, um signo; usada para

    representar raiva ou calor, um smbolo; mas, quando esta cor empregada num

    semforo, um sinal.

    H duas espcies de signos. A primeira derivada do mundo material ou

    objetivo. Um "X" com significado de cruzamento de linha frrea derivado da

  • 20

    aparncia do cruzamento da linha frrea com a rua. O livro, encarado como smbolo,

    derivado do livro concreto.

    A segunda espcie de signo uma degenerao de um smbolo original;

    isto , de incio era um verdadeiro smbolo, que representava algo diferente dele

    prprio e no era um simples rtulo. Por uso constante e habitual, um smbolo pode

    degenerar e tornar-se morto, transformando-se num signo que apenas faa

    referncia a alguma coisa. Originalmente, uma bandeira representa um pas e os

    sentimentos dos cidados para com o mesmo; tem um significado complexo e vai

    muito alm de rotular o pas (como acontece com o nome deste ltimo). Com o passar do tempo e o uso, pode vir a no significar mais do que um rtulo e, neste

    caso, o smbolo torna-se um signo. Fica, de certo modo, estagnado e degenerado.

    Muitos smbolos religiosos tendem a se tornar signos, em lugar de smbolos

    verdadeiros.

    Um signo tende a ter um significado simples, ao passo que um smbolo

    tende a ter um significado mltiplo em qualquer uso particular. Uma caveira com dois

    ossos cruzados, no rtulo de uma garrafa, significa que o contedo venenoso.

    Neste caso, o signo significa isto e somente isto. A mesma imagem, porm, pode ser

    usada para representar a morte, e ento o significado se torna complexo ou mltiplo,

    apresentando-se em vrios nveis.

    Um signo, em geral, conscientemente apreendido e usado, enquanto

    um smbolo, com mais freqncia, total ou parcialmente inconsciente. Por

    exemplo, podemos estar mais ou menos inconscientes do fato de que uma pessoa,

    pelo exemplo da sua vida, tenha se tornado para ns um smbolo de virtude. Os pais

    chegam a ter significao simblica para seus filhos, porm, tanto os pais como os

    filhos so muitas vezes inconscientes disto.

  • 21

    O homem toma conscincia de si mesmo e do seu ambiente atravs da

    percepo dos seus cinco sentidos, e reage a essas percepes com idias e

    emoes que nele so despertadas ou que ele associa s percepes. Os signos

    esto precipuamente baseados no nvel perceptual da experincia. Os smbolos

    esto precipuamente baseados nos nveis de reao, nas idias e emoes.

    As diferenas entre signo e smbolo podem ser assim relacionadas:

    Signo

    1. Significado simples

    2. Identifica ou indica

    3. Tende a ser consciente

    4. Baseado no nvel perceptual.

    Smbolo

    Significado mltiplo

    Representa

    Tende a ser inconsciente

    Baseado nos nveis de reao

    O processo de simbolizao pode ser explicado atravs da percepo e

    da reao que so aspectos fundamentais da constituio do homem. Quando

    percebemos um objeto, o estmulo vibratrio incide sobre nossas faculdades sensoriais. Ondas luminosas, por exemplo, so recebidas por nossos olhos e vemos

    rvores, gramados e prdios. O estmulo das vibraes resulta numa percepo,

    numa imagem mental que faz parte da experincia. Neste sentido, a palavra imagem

    se refere a qualquer imagem perceptiva, seja visual, auditiva, tctil, ou de qualquer outra natureza. Inclui tambm a conscincia de estmulos psquicos.

    Temos assim uma percepo que corresponde parte da atualidade1 que

    a causou. Essa percepo, no sentido mais amplo do termo smbolo, j um smbolo. No o prprio objeto, mas corresponde ao mesmo e de certo modo o

    1 Atualidade - Na concepo Rosacruz, a natureza (vibratria) das coisas, consideradas em si mesmas, independentemente da humana percepo e interpretao.

  • 22

    representa. Faz parte da realidade que existe na nossa mente e corresponde

    atualidade que existe no mundo.

    Quando vemos agradveis gramados, rvores e belos prdios, isto

    desperta em ns certas emoes e idias. Gostamos destas coisas e nos sentimos

    bem com relao s mesmas. E a elas associamos outros lugares ou cenas

    semelhantes. Estas so reaes s percepes. Temos conscincia dessas reaes

    e as associamos s percepes, porm, elas no fazem parte das prprias

    percepes, nem dos objetos. Dizemos algo que expressa nossas idias e emoes, bem como as

    percepes que as originaram. Vamos chamar isto de resposta. Respondemos

    nossa experincia com algum tipo de comportamento (palavras, gestos, uma pintura, gemidos, etc.). Estas reaes so respostas, que representam as percepes, as idias ou as emoes (ou uma combinao de tudo isto). As respostas simbolizam os nveis perceptivo c de reao da nossa experincia; representam esses nveis.

    Uma resposta, ento, o comportamento resultante da percepo e da

    reao. Pode consistir em palavras, exclamaes, uma obra de arte, uma expresso

    facial, mas constitui tambm um smbolo. Muitas dessas respostas so

    essencialmente signos ou sinais, e no smbolos verdadeiros, porm, todas tm

    natureza simblica. Por sua vez, so observadas e percebidas, e novamente

    despertam reaes a que respondemos. Assim, a seqncia, percepo, reao,

    resposta, at certo ponto perpetua a si mesma, tendendo a prosseguir

    indefinidamente.

    Quando vemos um smbolo, a forma p estmulo e derivada do mundo

    objetivo ou material. percebida pelos olhos e uma imagem formada na mente. Esta percepo um elo entre a forma objetiva e o significado, mas, tambm parte

  • 23

    vital do significado. A imagem na mente corresponde forma, porm, a base do

    significado. Vemos um crculo que simboliza totalidade. A imagem ou percepo

    corresponde ao crculo real, mas a base do significado, ou seja, a totalidade. A idia de totalidade uma reao percepo. Trata-se de uma idia na

    mente, que associada percepo; portanto, uma parte essencial do significado.

    Se pensamos nesse conceito de totalidade do ponto de vista mstico, ele pode

    despertar um sentimento de harmonizao ou deleite. Isto tambm est associado

    percepo e se torna parte do significado.

    Estas relaes podem ser assim resumidas:

    Forma

    Objetiva Significado

    Perceptivo

    Reativo

    A natureza e a funo de um smbolo devem incluir todos ou a maioria de

    certos aspectos. Estes sero esboados e depois discutidos. Se um ou mais desses

    aspectos esto ausentes ou so deficientes, o smbolo tende a se tornar um signo

    ou um sinal.

    1. Mesmo tratando-se de um smbolo cultural ou coletivo, deve ter um

    significado individual.

    2. Deve ter origem nas funes subconscientes da mente.

    3. As duas polaridades, a forma e o significado, devem ser harmoniosas.

    4. A forma e o significado, pelo menos at certo ponto, devem ser reversveis.

  • 24

    5. Um smbolo deve ter mais de um nvel de significado, se no efetivamente em

    algum uso particular, pelo menos em potencial.

    6. O significado projetado para a forma e novamente assumido pelo indivduo que percebe o smbolo, para ser reprojetado etc.

    7. O smbolo transmite significado queles que o empregam e transmuta sua

    conscincia ou experincia.

    A Rosa-Cruz, a cruz com uma s rosa no centro, usada por um grupo;

    portanto, um smbolo cultural. Tem um significado comum a todo o grupo e que ele

    compreende. A cruz representa um homem de p com os braos estendidos para os

    lados, bem como as tribulaes e experincias da vida. A rosa representa o Eu

    interior, a personalidade-alma. Todavia, a menos que este smbolo tenha tambm

    um significado especial para o indivduo que o empregue, tender a ser um signo.

    Ele deve ter um significado individual, para ser um smbolo vivo, ativo.

    Um verdadeiro smbolo tem origem subconsciente. Sua forma derivada

    do mundo objetivo, mas o smbolo como um todo o que devido ao contedo do subconsciente que se relaciona com a forma. A forma e o significado tornam-se um

    smbolo, ou so criados ou unificados, como parte das funes subconscientes. Para

    um smbolo permanecer significativo, deve ser mantido vivo, pensando-se nele,

    meditando-se sobre ele, a fim de que no se torne demasiadamente objetivo. Uma forma, com sua natureza objetiva, pode ser encarada como o fator

    negativo, e o significado, que primordialmente subconsciente, o plo positivo. As

    duas polaridades, a forma ou polaridade negativa, e o significado ou polaridade

    positiva, so fundidas num smbolo porque nelas h um elemento comum ou

    elementos comuns; elas so associadas por determinada razo, e tm origem em

  • 25

    alguma harmonia ou algum equilbrio entre si. Se uma das duas polaridades, a forma

    ou o significado, torna-se predominante, o smbolo tende a se transformar em signo

    ou sinal ou, por assim dizer, desintegra-se, de modo que o smbolo, propriamente,

    deixa de existir, ou o significado passa a ser associado a uma outra forma.

    A rosa representa o Eu interior, de maneira que associamos uma coisa

    outra e uma lembra a outra. At certo ponto, elas podem ser substitudas uma pela

    outra; a forma e o significado so reversveis. Quando algo acontece num dado

    lugar, seja agradvel ou no, o evento e os sentimentos a ele associados tornam-se um significado ligado quele lugar, que a forma objetiva do smbolo. Mais uma vez, porm, uma coisa pode lembrar a outra; o lugar lembra o sentimento e, este, lembra

    o lugar. A forma e o significado so reversveis.

    Diz-se que a alegoria, que uma forma de simbolismo, apresenta

    diferentes nveis de significado. E isto pode ser dito de qualquer smbolo. H um

    significado literal ou objetivo, um significado psicolgico, e um significado psquico ou mstico. Em qualquer uso particular, um smbolo pode ter somente um significado

    psicolgico, por exemplo, mas deve ter todos os trs nveis, potencialmente. Os

    significados que no so evidentes, so implcitos no smbolo, por associao.

    Na escrita figurativa ou hieroglfica, a figura de um homem representa um

    homem, a de uma ave representa uma ave. Estas figuras tm significado objetivo. A figura da ave pode ser usada para representar vo ou a alma, caso em que tem

    significado psicolgico. A ave representa uma funo ou concepo, com ela

    relacionada por uma dada razo. A ave, como a lendria fnix, pode simbolizar

    renascimento e regenerao, que so conceitos msticos. A simples figura ou

    imagem da ave tem assim trs diferentes nveis de significado. Pode ter somente um

    deles em determinado caso, mas os outros esto implcitos.

  • 26

    O significado de um smbolo uma projeo da mente do homem. Trata-se de uma projeo da realidade do indivduo para a forma do smbolo. Quando compreendemos o significado da Rosa-Cruz, projetamos este significado da mente para a forma. Um templo um prdio sagrado e um smbolo do que sagrado,

    porque projetamos as idias e os sentimentos da nossa conscincia para a forma do templo. Sem o significado, a forma apenas material, at que realmente projetamos para ela o significado.

    Essa projeo objetivada e considerada como se pertencesse forma; e um smbolo exatamente isto. A projeo objetivada, mais a forma, compem o smbolo em seu todo. Mas esse significado objetivado, por sua vez, assumido pela pessoa que o projetou, a qual torna o significado parte de si mesma. isto que mantm o smbolo vivo, evitando que ele degenere para um signo ou sinal. No

    processo em que assumido, o smbolo transmutado e modificado. Quando ele

    assumido e se torna de novo parte da conscincia do indivduo, no exatamente o

    mesmo smbolo de antes.

    Este processo se repete muitas vezes. O elemento subconsciente

    projetado para a forma e depois assumido, re-projetado e reassumido. Por concentrao e meditao num smbolo, o mstico se toma o smbolo,

    tanto em forma como em significado. Quando ele projeta e assume o significado, produz em seu prprio mago novas fases de significado, que so outra vez

    projetadas para a forma e reassumidas. Esta a parte bsica do processo de desenvolvimento psquico ou mstico, seja consciente ou inconsciente, e quer a compreendamos ou no. Mas a apreenso consciente e a compreenso ajudam o prprio processo e o desenvolvimento.

  • 27

    Um smbolo, por sua natureza, transmite aquilo que representa. Transmite

    informao ou conhecimento de uma pessoa para outra, de um grupo para outro, do

    Csmico para o homem. O smbolo menos importante transmite alguma coisa

    pessoa que o v, ouve, ou de algum outro modo o percebe. Mesmo um sinal como o

    de um cruzamento de linha frrea, ou um signo como um letreiro de loja, fazem isto. Um smbolo transmite essa informao ou esse conhecimento de modo

    diferente de um signo. Um signo o faz por indicao direta; um smbolo, por meios

    indiretos, ou por representao. Transmite ainda algo diferente do que transmite um

    signo. Um smbolo, ao contrrio de um signo, tem nveis de significado, porque surge

    do subconsciente, onde foi criado, e traz consigo elementos subconscientes.

    Quando um smbolo degenera para um signo, perde estes elementos, e perde o

    poder de transmitir esses significados.

    Um smbolo tambm um agente de transmutao. Altera nossas idias

    ou emoes, ou nos modifica psiquicamente. Quanto mais do elemento

    subconsciente tem o smbolo, mais ele um agente transmutador, ou seja, mais promove nosso desenvolvimento mstico. Essa transmutao, deve-se notar,

    devida, pelo menos parcialmente, projeo e assuno que j examinamos. Como exemplo desse fator de transmutao, ns, como seres humanos,

    apreendemos Deus somente em nosso Eu psquico, conhecendo-O e amando-O por

    harmonizao. Esse conhecimento e esse amor s podem ser expressos, mesmo

    para o prprio indivduo, em smbolos que nascem subconscientemente e de que a

    conscincia objetiva se torna ciente. Tais smbolos so representaes, no do prprio Deus, e sim da nossa apreenso de Deus, do nosso conhecimento e do

    nosso amor.

  • 28

    Projetamos o conhecimento de Deus e o amor a Deus, e os assumimos; projetamos os smbolos para Deus e depois os assumimos. Tanto o conhecimento e o amor, como os smbolos que os representam, esto continuamente renascendo,

    porm, eles renascem parcialmente atravs de renovao da experincia direta e,

    em parte, atravs de projeo e assuno dos smbolos que esto ligados a Deus na mente do mstico. Os smbolos, assim, ajudam a transmutar o mstico, a promover o seu desenvolvimento.

    Se comeamos a encarar os smbolos como fato ou experincia literal,

    reduzimo-los a signos ou sinais, e destrumos nossa prpria experincia de

    harmonizao mstica. somente como smbolos que eles transmutam, psicolgica ou misticamente.

    Um antigo smbolo do ciclo de vida e morte a semente. A semente

    germina, cresce, a planta morre, e a semente germina de novo. Isto no s

    representa ciclos reais de crescimento, declnio e renascimento, mas, tambm de

    crescimento e renascimento espirituais.

    A ttulo de exerccio, medite o leitor sobre o significado da semente e o

    amplie de modo que se aplique ao homem individualmente, ao homem

    coletivamente, natureza, e vida espiritual, ou s metas do misticismo. Isto

    tambm pode ser feito com a flor, o fruto e a semente. Poder considerar as

    seguintes perguntas: Que forma tem o smbolo para voc? Que significado voc

    projeta para a forma? Como a forma se modifica quando voc medita sobre ela posteriormente?

  • 29

    SUMRIO

    Um smbolo representa uma outra coisa. Um signo identifica ou indica

    alguma coisa. Um sinal implica uma reao por parte de quem o emprega. H duas

    espcies de signos. A primeira derivada do mundo objetivo; a segunda um smbolo degenerado.

    Este Captulo aponta as diferenas que existem entre um signo e um

    sinal.

    A percepo corresponde parte da atualidade que a causou. No sentido

    mais amplo do termo, um smbolo. Reagimos a percepes com idias e emoes.

    Uma resposta o comportamento resultante da percepo e da reao. A

    percepo o elo entre a forma objetiva e o significado, mas tambm parte do significado.

    Aspectos essenciais a um smbolo so apresentados neste Captulo, bem

    como um exerccio de meditao sobre a semente como um smbolo.

  • 30

    CAPTULO III: RELAO ENTRE FORMA E SIGNIFICADO DE UM SMBOLO SMBOLOS INDIVIDUAIS E SMBOLOS ARQUTIPOS

    Um smbolo e aquilo que ele representa, ou a forma e o significado, esto

    relacionados de trs modos possveis: por associao, por sugesto, ou pela lei das

    correspondncias.

    A cor branca traz mente a idia de pureza; a montanha associada a

    altura e ascenso; a rvore associada vida. A forma e o significado do smbolo

    esto associados porque so de algum modo semelhantes. A cor branca

    associada a pureza porque parece limpa e pura. O fato de a cobra abandonar sua

    pele semelhante a nascer de novo, de maneira que ela simboliza renascimento.

    As coisas so associadas tambm devido a dessemelhana; mesmo

    assim, porm, pertencem mesma categoria. Branco e preto so associados porque

    so opostos, mas ambos pertencem categoria das cores. Polaridades opostas

    tendem a simbolizar uma outra, como, por exemplo, os aspectos fsico e mental do

    ser humano, o tomo e o universo.

    Forma e significado podem ser associados em funo de atributos

    naturais, como o leo e sua fora, a raposa e sua astcia. Analogamente, um objeto pode ser simblico devido sua natureza ou funo. A montanha, como j foi dito, simboliza ascenso e altura. O Sol representa a vida e iluminao mstica.

    Coisas que acontecem no mesmo lugar so associadas, e uma se torna

    um smbolo da outra. O lugar de um acidente torna-se um smbolo, no apenas do

    acidente, mas, dos sentimentos a ele associados. Do mesmo modo associamos

    sentimentos agradveis a certos lugares.

  • 31

    Celebraes ou rituais do Ano Novo dependem do tempo; so

    essencialmente cclicos. A forma, que consiste no evento e nas atividades, e o

    significado, esto associados devido ao comeo de um novo perodo ou ciclo de

    tempo.

    Muitos dos smbolos usados por um indivduo vm de sua famlia, seus

    professores, e outros elementos do grupo cultural em que ele vive. Smbolos

    derivados de escrituras sagradas so aceitos pelo indivduo e atuam como

    sugestes para ele. Aprendemos que certa bandeira representa o pas em que

    vivemos, e aceitamos isto. A publicidade comercial contm a sugesto de smbolos

    que aceitamos. Uma cena agradvel ou uma bela jovem, ligadas ao nome de um produto, atuam como um smbolo, ou so usadas com esta inteno. Pretende-se

    que o pblico associe prazer e beleza ao produto.

    O terceiro modo em que a forma e o significado so relacionados pela

    lei das correspondncias, e isto usado no sentido mstico segundo expressa o

    axioma hermtico: "assim como em cima, em baixo". Isto ilustrado pelo

    smbolo da escada cujos degraus representam a hierarquia ou os nveis da Criao. Cada srie de degraus, ou cada seo da escada, guarda correspondncia com as

    demais.

    Em outras palavras, o grande mundo, ou o universo, corresponde ao

    pequeno mundo, ou o homem. O reino csmico ou divino corresponde ao mundano.

    Na pea de Shakespeare, "Hamlet", o prncipe diz que vive demais ao Sol. Ele est

    usando o Sol para simbolizar o rei, j que os dois so elementos correspondentes de duas sries. O Sol, no universo, corresponde ao rei na sociedade. O que Hamlet

    quer dizer que ele passa muito tempo na presena do rei. A rosa e o ltus

  • 32

    simbolizam o Sol porque so tidos como correspondentes a este astro no reino das

    flores.

    Temos ento o seguinte esboo da maneira como a forma e o significado

    esto relacionados:

    1. Associao

    Semelhana

    Dessemelhana

    Atributos ou funes naturais

    Espao

    Tempo

    2. Sugesto

    3. Correspondncia

    O pensamento e a comunicao dos seres humanos so baseados em

    signos e smbolos. O processo de simbolizao necessrio em cincia,

    matemtica, religio, arte, e filosofia. Sem smbolos, o homem no pode pensar em

    termos do passado e do futuro. A linguagem verbal, o meio primordial de

    comunicao, um sistema de signos e smbolos.

    Os smbolos cumprem vrias finalidades. O homem precisa de ordem no

    seu mundo, e essa ordem conseguida em larga escala por meio de smbolos. As

    percepes sensoriais so traduzidas em palavras ou outros smbolos. Experincias

    emocionais so expressas em forma simblica, seja linguagem verbal, pintura, ou msica. Precisamos de signos e smbolos para expressar conceitos cientficos e

    filosficos (ou para usar na conversa comum sobre os acontecimentos do dia).

  • 33

    A segunda finalidade a necessidade de comunicao com os outros.

    Isto s pode ser feito por meio de signos, sinais, ou smbolos, de alguma espcie.

    Mas, no nos comunicamos somente com os outros; temos o que pode ser chamado

    de autocomunicao. Falamos a ns mesmos, por assim dizer, formulando nossas

    idias e nossos sentimentos por meio de palavras.

    Em terceiro lugar, os smbolos, alm de nos ajudarem na comunicao, constituem um meio de preservao do conhecimento. Sejam cientficos, religiosos, ou artsticos, os smbolos passam da cultura de uma poca para a seguinte.

    Em quarto lugar, a atividade criadora e a expresso pessoal so em si

    mesmas simblicas, mas tambm so baseadas em smbolos. Palavras, figuras, e

    melodias, representam algo que resultou da atividade criadora de um indivduo ou

    um grupo de indivduos. Elas comunicam e so os instrumentos necessrios ao

    homem para satisfazer sua necessidade de se expressar.

    A quinta finalidade consiste em auxiliar a memorizao e a instruo. Um

    smbolo pode ser a representao grfica de uma lei, imprimindo essa lei na mente

    do estudante, de modo que ele a compreenda e possa record-la. Assim, uma

    frmula cientfica um smbolo grfico.

    Em sexto lugar, smbolos so recursos para meditao e concentrao.

    Podemos meditar, como foi sugerido num captulo anterior, sobre a semente

    simblica, ou sobre a Rosa-Cruz, para aumentar nossa compreenso ou conseguir

    harmonizao.

    Finalmente, meditando sobre um smbolo, mantendo-o vivo e significativo,

    podemos promover nosso desenvolvimento psicolgico e mstico. A unio mstica se

    faz duplamente: pela integrao das fases do Eu, e pela unio com o Csmico ou

  • 34

    Deus. Os smbolos importantes para um indivduo so, ao mesmo tempo, um

    produto desse desenvolvimento e um agente que promove o desenvolvimento.

    Alguns smbolos fazem parte de tradies cientficas, religiosas, polticas

    e culturais; por exemplo, figuras de Buda, Krishna e Zoroastro, bandeiras nacionais,

    frmulas qumicas e equaes matemticas.

    Muitos outros smbolos, como impresses de sonhos, so pessoais ou

    individuais. Os fatores culturais e individuais no podem ser facilmente separados;

    muitas vezes esto combinados. Na verdade, um smbolo cultural, para ser vivo e

    significativo, deve ter significado pessoal ou individual. O poder dos smbolos

    provm precipuamente de sua natureza e funo subconscientes, e precisa ser

    renovado pela meditao. As fontes dos elementos subconscientes tanto so

    pessoais como culturais.

    A diferena no significado de Beatriz na "Divina Comdia", e de Helena no

    "Fausto", at certo ponto decorre do ambiente cultural de Dante e Goethe, mas,

    tambm resulta das idias, emoes e experincias pessoais dos dois autores.

    Tanto Beatriz como Helena representam o Eu interior, ou a personalidade-alma, a

    auto-integrao, o casamento espiritual, ou a unio a Deus.

    As tradies culturais e os smbolos que elas estimulam a criar fazem

    parte do ser e da experincia do homem. Sua fonte exterior ao prprio homem.

    Smbolos individuais, por outro lado, nascem no mago do seu ser. Em ambos os

    casos, embora as origens sejam diferentes, o homem projeta o significado, de si mesmo para a forma. Smbolos, ento, so o que so em funo do que o

    indivduo, do que ele projeta do Eu interior para a atualidade ao seu redor. Smbolos individuais ou pessoais so aqueles que tm significado

    especial para um indivduo, mas no necessariamente para outros. Uma jia s

  • 35

    vezes torna-se um smbolo da pessoa que a usa. Um bem, ou uma posse muito

    estimada, usualmente tem significado simblico. Os membros de uma famlia s"o

    simblicos para os prprios indivduos da famlia.

    Smbolos culturais so os smbolos comuns a um grupo, seja uma famlia, ou um grupo religioso, social, ou poltico. Um smbolo csmico ou arqutipo aquele

    que tem um padro bsico, primordial, caracterstico do pensamento e da

    criatividade do homem; mas esse padro um padro csmico que percebido e

    usado por seres humanos.

    A cruz ao mesmo tempo um smbolo cultural e csmico. comum a muitos povos do mundo e aparece em muitas pocas. Sua forma e seu significado

    particulares tm elementos culturais e talvez pessoais. Ela encontrada no Egito

    antigo numa forma e, nas igrejas crists contemporneas, numa outra. um smbolo csmico ou arqutipo porque o padro de sua forma corresponde a princpios e

    padres csmicos e os expressa. derivada da compreenso humana da ordem csmica, corresponde a essa ordem e a expressa.

    A montanha e a rvore so smbolos comuns porque so objetos de experincia freqente. A montanha e a rvore sagradas so, como a cruz,

    encontradas em muitas partes do mundo. Surgem espontaneamente na

    simbolizao feita pelo homem; portanto, podem ser classificadas como smbolos

    arqutipos. Os homens muitas vezes criam montanhas artificiais como smbolos

    sagrados, como no caso do ziggurat babilnio e das pirmides egpcias.

    O jardim, com suas variaes, tambm um smbolo csmico ou arqutipo. O Jardim das Hesprides, os Campos Elsios, o Campo de Juncos

    Egpcio etc., so exemplos, bem como o jardim de rosas dos alquimistas.

  • 36

    Smbolo csmico ou arqutipo aquele cuja forma e cujo significado bsicos so comuns a muitos povos. Ele comum, no apenas a um grupo, mas, a

    muitos grupos bem distanciados; um smbolo que, de certo modo, comum

    humanidade. Embora sua forma e seu significado variem, ambos tm elementos

    comuns onde quer que sejam encontrados. Muitos smbolos pertencem aos trs tipos: pessoal, cultural, e arqutipo. A cruz, como j foi salientado, encerra tanto elementos culturais como arqutipos. Este o caso da Rosa-Cruz ou da Cruz

    Hermtica, mas a cruz tem de apresentar tambm um nvel pessoal de significado,

    ou degenera para um smbolo esttico ou morto.

    Povos que migram levam smbolos culturais e pessoais, compartilhando-

    os e modificando-os em seu contato com outros povos. Smbolos budistas, por

    exemplo, foram transferidos de seu ponto de origem para muitas partes do mundo.

    Smbolos cristos tambm foram difundidos, de uma rea relativamente pequena,

    para todo o mundo (s vezes to modificados que refletiram os perodos e lugares em que foram usados).

    Figuras arqutipas comuns, como a rvore csmica e a cruz, tanto podem

    ser culturais como pessoais. Mas os smbolos tambm podem surgir

    espontaneamente, porque so comuns a toda a humanidade. Carl Gustav Jung

    mostrou sua importncia em sonhos, fantasias, e obras de arte. As mesmas figuras

    so encontradas em muitas pocas e muitos lugares. Fazem parte da natureza

    humana e nascem espontaneamente, apenas porque os seres humanos simbolizam

    naturalmente em certos significados e formas comuns.

    Mesmo objetos culturais comuns, como o Monte Olimpo ou o Monte Horeb, podem ter fortes elementos pessoais. Esse significado individual evidente

    em "A Montanha Mgica", de Thomas Mann. A rosa, tanto no "Fausto" de Goethe

  • 37

    como na "Divina Comdia" de Dante, origina-se em tradies culturais, mas tem

    tambm um nvel pessoal de significado, sem o qual no seria to eficaz.

    Os smbolos so objetivos, subjetivos, ou subconscientes, dependendo do nvel de conscincia em que atuam. Quando atuam precipuamente de modo

    objetivo, tendem a ser signos ou sinais, e no smbolos verdadeiros. Por exemplo, quando uma linha em ziguezague usada para representar um relmpago,

    predominantemente objetiva e tende a ser um signo que identifica o relmpago. No entanto, quando simboliza Jpiter ou Zeus, na mitologia grega, funciona

    precipuamente no nvel subconsciente e um smbolo verdadeiro.

    Uma criana faminta pode ser um smbolo de pobreza, carncia, ou de

    um organizao beneficente. O nvel de conscincia depende tanto do indivduo que

    usa este smbolo como do prprio smbolo. Para uma pessoa, ele pode ser apenas

    um sinal para dar dinheiro ou alimento. Para uma outra, pode ser mais emocional e,

    portanto, subjetivo. E pode tambm funcionar subconscientemente, em especial se a pessoa que usa o smbolo viveu aquela condio de pobreza.

    Assim como os smbolos podem ser individuais, culturais e arqutipos,

    podem ser tambm objetivos, subjetivos e subconscientes. Eles se originam subconscientemente, porm, funcionam nos trs nveis, mesmo que um nvel

    predomine. Smbolos arqutipos, como a cruz ou a montanha, so usualmente

    subconscientes em funo, mas podem ser predominantemente subjetivos ou mesmo objetivos. Neste caso, perderam o significado e a funo mais profundos.

    Durante sua rotina diria, preste ateno aos smbolos. Observe

    particularmente aqueles que possam ser classificados como objetivos. Depois selecione os que sejam principalmente subjetivos e, finalmente, os subconscientes. Considere todas as formas do smbolo, como a verbal, a artstica etc. Verifique se a

  • 38

    forma e o significado esto relacionados por associao, sugesto, ou

    correspondncia.

    SUMRIO

    A forma e o significado de um smbolo esto relacionados dos seguintes

    modos:

    1. Associao

    Semelhana

    Dessemelhana

    Atributos ou funes naturais

    Espao

    Tempo

    2. Sugesto

    3. Correspondncia

    Os smbolos cumprem vrias finalidades: necessidade de ordem,

    comunicao, preservao de conhecimento, auto-expresso, recordao e

    instruo, meditao e concentrao, promoo de desenvolvimento psicolgico e

    mstico.

  • 39

    Smbolos individuais so aqueles que tm significado especial para um

    indivduo, mas no necessariamente para outros. Smbolos culturais so comuns a

    um grupo, seja a famlia, ou um grupo religioso, social, ou poltico. Smbolos arqutipos apresentam um padro bsico, primordial, que

    corresponde a princpios csmicos e caracterstico do pensamento humano.

    Os smbolos migram com os povos e so assimilados no contato entre

    povos. Podem tambm surgir espontaneamente.

    Os smbolos so objetivos, subjetivos, ou subconscientes, dependendo do nvel de conscincia em que atuem ou funcionem.

    O exerccio proposto neste Captulo consiste em observar quais os

    smbolos que so objetivos, quais os que so subjetivos, e os que so subconscientes, e como a forma e o significado esto relacionados.

  • 40

    CAPTULO IV: SMBOLOS NATURAIS E ARTIFICIAIS O PROCESSO DE SIMBOLIZAO SIMBOLISMO E A LEI DOS OPOSTOS

    O livro "Smbolos Antigos e Sagrados", de Ralph M. Lewis, classifica os

    smbolos em naturais e artificiais:

    "Smbolos naturais so principalmente decorrentes

    de sugesto. H algo na forma do signo que lembra um

    elemento ou elementos de algum grupo anterior de idias da

    nossa experincia. Por associao, o smbolo est

    continuamente trazendo essas outras idias nossa

    conscincia. Uma nuvem escura, por exemplo, um smbolo

    natural. Sugere tudo o que est associado a uma tempestade.

    Obviamente, os smbolos naturais tm aceitao bastante

    generalizada, porque esto relacionados com experincias

    humanas comuns.

    Por outro lado, h smbolos artificiais, que um

    homem ou um grupo de homens podem criar para representar

    suas prprias noes. Tais smbolos artificiais so relacionados

    com experincias particulares do indivduo ou do grupo, e

    podem no ter significado algum para um outro grupo de

    pessoas. Por exemplo, temos os signos que so usados por

    fsicos e engenheiros eletricistas para representar

    componentes de um circuito eltrico".

  • 41

    A montanha e a rvore, que sero analisadas posteriormente, so

    smbolos naturais. O jardim, por outro lado, natural e artificial; compe-se de elementos naturais artificialmente plantados e dispostos no terreno. A cruz um

    smbolo artificial, mas est baseada em fenmenos naturais e, provavelmente, de

    incio representava esses elementos naturais. derivada, pelo menos em parte, da Terra e das quatro direes, que formam a concepo humana de uma espcie de

    ordem. Naturalmente, a rosa, na Rosa-Cruz, um smbolo natural, de modo que a

    prpria Rosa-Cruz uma combinao de smbolo natural e artificial.

    Os smbolos podem tambm ser classificados como comunicativos,

    artsticos e ritualsticos. Smbolos comunicativos so o que o nome j indica, ou seja, aqueles que so usados especificamente para comunicar conhecimento ou

    informao. claro que todos os smbolos comunicam. O que queremos dizer com esta categoria que h smbolos que so destinados precipuamente a transmitir

    conceitos, idias, emoes, etc. A linguagem usada num livro de texto um sistema

    de signos e smbolos que transmite conhecimento ou informao ao leitor. Smbolos

    msticos so s vezes usados para instruir o estudante em certos princpios. O

    smbolo, ento, mstico e comunicativo.

    Smbolos artsticos so aqueles que so usados em formas de arte, para

    fins estticos. A qualidade da arte no um critrio para decidir se um smbolo

    artstico. Se o smbolo usado em pintura, escultura, arquitetura, ou literatura, um

    smbolo artstico. Um smbolo pode ser comunicativo num uso e artstico num outro,

    ou pode ser uma combinao das duas categorias. Quando ensinado ao estudante

    que a Rosa-Cruz representa a personalidade-alma e as tribulaes da vida, o

    smbolo est sendo usado na categoria de comunicativo. Mas a Rosa-Cruz pode ser

    usada num poema ou numa pintura e, ento, um smbolo artstico.

  • 42

    Smbolos ritualsticos so aqueles que so usados, ou propriamente num

    ritual, ou para evocar um ritual na mente do iniciado. Rituais de Ordens fraternais

    usam smbolos, como nos rituais religiosos, polticos e sociais. Tais smbolos

    abrangem os objetos usados durante a cerimnia, as perambulaes, os gestos, e smbolos verbais. Usualmente, um ritual tambm um smbolo coletivo ou cultural,

    mas no necessariamente. Pode ser um smbolo pessoal, ou um smbolo com

    significado individual.

    A natureza psicolgica e mstica da simbolizao com freqncia no tem

    sido explicada. J dissemos que um smbolo um objeto, uma idia, emoo ou ao, que representa um outro objeto, uma outra idia, etc., e que estas coisas so relacionadas por associao, sugesto e correspondncia.

    Quando vemos um objeto, temos uma imagem perceptiva do mesmo em nossa mente. Esta percepo associada a idias, emoes, conceitos, etc., que j fazem parte da conscincia. A percepo e os conceitos, as idias e emoes, so

    relacionados, como j explicamos, por associao, sugesto e correspondncia. A percepo est relacionada com a forma; os conceitos, as idias e emoes, com o

    significado. Os elementos comuns nos dois fatores tornam-se a base do smbolo, e

    so unificados subconscientemente. Essa unio torna-se o smbolo expresso ou

    objetivado, que pode consistir em palavras, numa pintura, num drama, numa dana, em sonhos etc.

    O processo pode ser iniciado ou estimulado por qualquer um dos dois

    fatores ou das duas polaridades, a forma e o significado. Em outras palavras, o

    estgio inicial pode ser objetivo ou subconsciente. O smbolo criado ou unificado no subconsciente, porm, num uso particular, pode comear nas funes objetivas ou nas funes subconscientes. Um objeto percebido, ou uma forma geomtrica,

  • 43

    pode estimular a projeo de um significado que no associvamos a essa forma. Isto ocorre com freqncia quando o estudante comea a compreender a filosofia

    mstica. As formas, quer tenham sido conhecidas previamente, ou no, subitamente

    adquirem significado. Isto pode ser esquematizado das seguintes maneiras,

    lembrando que estes esquemas so teis mas so muito simplificados:

    Objeto ou estmulo Percepo Smbolo Objetivao Estmulo Percepo Reao Resposta simblica

    O processo pode comear ou ser estimulado pelos prprios processos

    mentais. Este o caso do que podemos entender como um significado em busca de

    uma forma, porm, muitas vezes no temos conscincia do processo. A

    necessidade de representar o significado produz uma imagem mental muito parecida

    com uma imagem perceptiva. Se o indivduo se tornar suficientemente cnscio disto,

    h de explicitar a imagem e criar o smbolo, quer na sua mente, ou de modo objetivo em palavras, num desenho etc. Esquematizando isto, temos:

    Significado Imagem mental Objetivao

    O segundo tipo de simbolizao o mais comum dos dois e pode surgir

    por intuio, telepatia, harmonizao, experincias psquicas, ou memria da

    encarnao atual ou de encarnaes anteriores. O primeiro tipo se tornar mais

    facilmente um signo ou sinal, porm, ambos os tipos consistem na forma, para a

    qual foi projetado o significado.

  • 44

    Em ambos os processos, a percepo no o objeto, e o smbolo no a percepo nem o objeto. Todas estas coisas fazem parte de um nico processo e formam uma unidade.

    Em outras palavras, a forma no o significado. o elemento objetivo, percebido pela mente. Nem a forma em si mesma nem a sua imagem perceptiva

    constituem o significado, e este no a forma. A forma e o significado esto

    associados ou ligados, mas no so idnticos, e resultam de diferentes funes

    mentais e nveis de conscincia.

    O objeto e a forma so elementos materiais, negativos. As idias, as emoes e os conceitos que constituem o significado so os elementos

    subconscientes, positivos. O smbolo se compe destes dois elementos.

    Smbolo

    Objeto, forma Idias, emoes, conceitos, ou significado

    A forma expressa de um smbolo pode ser:

    1. Um objeto, como a Rosa-Cruz ou a esfera 2. Uma pintura, um desenho, ou uma escultura

    3. Palavras, como num ensaio, num poema, ou numa histria

  • 45

    A expresso do smbolo em alguma forma objetiva completa o seu ciclo de criatividade, e estimula o indivduo a assumir e projetar o significado, mantendo-o assim vivo e evolutivo. O homem projeta o significado para o smbolo e o assume novamente.

    Projeo

    Homem

    Smbolo

    Assuno

    Um smbolo deve ser considerado como uma polaridade. Um par de

    opostos consiste em duas coisas contrrias entre si. Consideramos a escurido

    como a ausncia de luz; assim tambm, a fealdade a ausncia de beleza. No

    entanto, objetivamente, a escurido tem tanta realidade quanto a luz, e a fealdade to real quanto a beleza.

    O elemento negativo de um par de opostos a ausncia do outro, o

    positivo. Luz e trevas so os aspectos positivo e negativo do mesmo todo. As trevas

    so apenas um aspecto desse todo, de que a luz o outro aspecto. A trade

    completada pela unificao dos dois opostos.

    Unio

    Negativo Positivo

    Smbolo

    Forma Significado

  • 46

    A lei dos opostos pode ser assim resumida:

    1. Objetivamente, o homem concebe que um par de opostos se compe de duas coisas contrrias entre si.

    2. Subconscientemente, um dos elementos do par a ausncia do outro.

    3. Cosmicamente, apreendemos a unificao dos opostos; eles formam

    uma unidade.

    Cosmicamente Subconscientemente Objetivamente ___________________________________________________________________

    + e

    So um s

    + predomina - predomina

    No tocante a smbolos, isto significa que a forma, ou o elemento negativo,

    predomina objetivamente; o significado, ou a polaridade positiva, predomina Subconscientemente; e, Cosmicamente, a forma e o significado so um s e assim

    so apreendidos no fenmeno de conscincia Csmica.

    Objetivamente, a forma encarada como o prprio smbolo, porque isto o que predomina. Subconscientemente, a forma a ausncia do significado; o

    elemento negativo a ausncia do positivo. Portanto, o significado tende a perder a

    forma. A degenerao do smbolo, ou sua perverso, leva substituio do positivo

    pelo negativo, ou vice-versa. O smbolo, ento, entendido literalmente, ao invs de

    simbolicamente. Por exemplo, a mscara dramtica perde a emoo que representa

    e se torna a coisa em si mesma, ou o significado perde a forma da mscara e se

  • 47

    torna a prpria forma ou toma o seu lugar. Em ambos os casos, o smbolo tende a

    ser encarado literalmente, em lugar de simbolicamente.

    Um smbolo degenerado perde a polaridade de forma e significado;

    usado objetivamente e perde sua funo nos nveis de conscincia mais profundos. Quando o smbolo da cruz degenera, a forma no mais do que um sinal para uma

    reao emocional ou conceptual. Ento, a forma predomina. Quando o smbolo

    degenera de modo que o significado predomina, a emoo (ou o conceito) torna-se um gatilho automtico para a forma objetiva. Em ambos os casos, uma das polaridades est morta ou no funciona devidamente. Quando o significado do

    smbolo perde a forma, ele prprio se torna de certo modo objetivado; o significado no mais est funcionando nos nveis subconscientes.

    Cosmicamente, a forma e o significado so um s, de modo que a

    meditao sobre o smbolo ajuda a manter a unio das polaridades funcionando com harmonia. importante compreender os elementos pessoal, cultural e arqutipo dos smbolos. Por isto recomendamos que o leitor escolha um smbolo comum, como a

    luz, e esquematize os elementos que so derivados de um grupo e compreendidos

    pelos componentes desse grupo. Depois, pergunte o que o smbolo significa para si

    mesmo, pessoalmente. Por fim, verifique se ele tem tambm um fator arqutipo.

    A luz um smbolo que aparece em muitas formas, como o Sol, a Lua,

    uma lmpada, um archote. Assim, tanto a forma como o significado podem pertencer

    a qualquer um dos trs tipos.

  • 48

    SUMRIO

    Os smbolos podem ser classificados em naturais e artificiais; ou em

    comunicativos, artsticos e ritualsticos.

    A percepo est relacionada com a forma; as idias, as emoes e os

    conceitos, com o significado. O processo de simbolizao pode comear com o

    elemento objetivo ou com os prprios processos mentais. Os smbolos do primeiro tipo, que so estimulados pelas funes objetivas, mais facilmente se tornam signos ou sinais.

    Em ambos os processos, a percepo no o objeto, nem o smbolo a percepo ou o objeto, porm, todas estas coisas fazem parte do mesmo processo. A forma no o significado, e este no a forma.

    O fato de se expressar o smbolo em alguma forma objetiva vem completar seu ciclo de criatividade, e estimula o indivduo a assumir e projetar o significado.

    A lei dos opostos, aplicada aos smbolos, refere-se forma como

    polaridade negativa e ao significado como polaridade positiva.

    Cosmicamente Subconscientemente Objetivamente ___________________________________________________________________

    + e

    So um s

    + predomina - predomina

  • 49

    A degenerao de um smbolo leva substituio da polaridade positiva

    pela negativa, ou vice-versa.

    O exerccio deste Captulo consiste em analisar a luz como smbolo, para

    identificao de elementos pessoais, culturais e arqutipos.

  • 50

    CAPTULO V: SIMBOLIZAO: UMA FUNO BSICA DA MENTE

    A simbolizao a maneira bsica em que o homem se relaciona com o

    seu ambiente e pela qual ele ordena aquilo que percebe de si mesmo e do no-Eu.

    Trata-se do processo mental sem o qual o homem no seria humano. O senso de

    passado e futuro, a memria do passado, a simples percepo, o conhecimento do

    universo astronmico, os fenmenos psquicos e msticos, tudo isto est baseado,

    direta ou indiretamente, no uso de smbolos pelo homem.

    Criar e usar smbolos uma funo bsica e natural da mente humana e,

    como todas as funes (sejam fsicas, mentais, ou psquicas), esta se cumpre naturalmente e quer estejamos dela conscientes ou no. Ela se cumpre em religio, arte, na conversa comum, e em cincia. A simbolizao no apenas uma

    ferramenta que a mente utiliza, e sim uma fora motivadora que produz rituais,

    contos de fadas, romances, smbolos pessoais e psquicos, smbolos geomtricos,

    etc.

    Antes de estudarmos o que podemos chamar de metafsica e psicologia

    dos smbolos, precisamos diferenciar trs termos. O que chamo de no-Eu tudo

    aquilo que est situado fora do nosso Eu individual, seja este Eu considerado uma unidade fsica, uma unidade psquica, ou ambas. O no-Eu tudo o que no o Eu.

    O que chamo de ambiente tudo o que nos rodeia imediatamente. Normalmente,

    isto inclui nosso lar e nossa famlia, a vizinhana ou a cidade onde vivemos, nossa

    igreja, nosso clube, etc. O terceiro termo campo e, como ele menos familiar, no sentido em

    que aqui usado, ser explicado mais extensamente. Campo a parte do no-Eu

  • 51

    com que o indivduo tem uma interao ou inter-relao definida. O campo, o

    ambiente, e o no-Eu, no so sinnimos; no so a mesma coisa.

    Nada existe como uma unidade ou entidade fechada, totalmente parte

    ou isolada. O eltron funciona num campo; a Terra tem um campo magntico que a

    relaciona com o seu ambiente; o ser humano tem uma aura, que psquica e fsica.

    O homem se relaciona biolgica e psicologicamente com o seu campo. A idia de

    campo, seja em Fsica, Biologia, Psicologia, Comunicao, ou Misticismo, est baseada neste fato fundamental, de que cada coisa que existe tem um campo que

    se relaciona com ela prpria e com o ambiente ou o no-Eu.

    O ser humano vive em seu campo fisicamente, e pode ser estudado do

    ponto de vista das cincias fsicas. Ele respira ar e ingere alimentos, e assim usa

    seu campo biologicamente. O homem e seu campo esto relacionados

    biologicamente. O homem funciona em seu campo psicologicamente. Ele percebe o

    mundo ao seu redor; toma conscincia de objetos, plantas, animais, e outras pessoas. Sua conscincia expandida de modo a incluir um certo campo sua

    volta.

    O homem est relacionado com o seu campo tambm psquica e

    misticamente. Isto inclui a aura, fenmenos para-psicolgicos, harmonizao,

    conscincia Csmica. Temos assim quatro aspectos ou modalidades bsicas do

    campo: fsica, biolgica, psicolgica, e psquica. Mas estas modalidades so

    diferenciadas somente porque precisamos consider-las desta maneira para pensar

    a seu respeito e analis-las.

    importante compreender que o campo constitui uma s unidade e, alm disso, que o homem e o campo formam uma unidade. O sistema homem-campo

    uno. Esta a metafsica bsica do misticismo.

  • 52

    A personalidade humana pode ser entendida como uma unidade psquica,

    funcionando num campo com que o homem est basicamente unificado. O homem

    o ncleo ou centro individual e mutvel de um campo mutvel. O sistema homem-

    campo uma unidade modelada no sistema espao-tempo. A extenso dessa

    unidade, tanto no espao como no tempo, varivel. O padro dessa relao est

    constantemente mudando. O ncleo, ou polaridade positiva da unidade o ser

    humano individual, o homem em processo de mudana. A clula exterior, ou o

    campo, o elemento negativo. Este prprio elemento tambm est mudando; o

    campo nunca o mesmo. Mas a percepo que o homem tem do campo tambm se

    modifica. A parte humana do sistema homem-campo, ou seu elemento positivo,

    igualmente muda; o que ele percebe e o campo tambm se modificam, mas as trs

    coisas mudam como uma unidade inter-relacionada.

    Os elementos do sistema homem-campo esto relacionados de vrios

    modos. Primeiro, h a interao fsica, em que o homem modifica o seu ambiente. A

    segunda maneira em que esses elementos so relacionados pelas funes

    biolgicas do homem. A terceira, por suas funes psicolgicas; por exemplo,

    atravs de percepes sensoriais, emoes, raciocnio, imaginao etc. A quarta,

    por meio de comunicao, como na linguagem verbal. A quinta, por ao ou

    comportamento.

    Devido sua natureza especial e s suas funes, a aura tambm

    relaciona o homem e o campo, e isto constitui a sexta maneira. Sentimos auras ao

    nosso redor, usamos auras em psicometria ou para sentir coisas atravs das mos.

    O stimo tipo de relacionamento entre o homem e o campo se faz por fenmenos

    parapsicolgicos, como telepatia, intuio etc. O oitavo por harmonizao. A

    experincia mstica expande a conscincia e, com isto, amplia o campo at que o

  • 53

    sistema homem-campo se torna o Csmico. A harmonizao, o estado de unificao

    da experincia mstica, consiste em que o indivduo se torne um sistema homem-

    campo expandido, at alcanar a unio final. Finalmente, e na base de todos estes

    modos de relacionamento, est o prprio processo de simbolizao.

    A simbolizao fundamental para a nossa conscincia da relao

    homem-campo. Sem smbolos, no podemos pensar sequer sobre a nossa

    conscincia de simples relaes fsicas, ou express-las. Sem smbolos, algumas

    dessas relaes absolutamente no existem. Alm disso, os smbolos exercem uma

    influncia ativa em muitas dessas relaes.

    A harmonizao, por exemplo, pode ser expressa em smbolos; mas os

    smbolos, por sua vez, pela meditao, afetam o nosso desenvolvimento psquico e

    fortalecem e expandem a harmonizao. O homem misticamente uno com o

    campo e, misticamente, o campo todo-abrangente. A unio mstica pode ser

    entendida como uma incluso do Csmico no prprio campo, de modo que a

    conscincia passa a ser percepo do Csmico.

    Quanto mais a conscincia inclui o campo ou est com ele harmonizada,

    mais psquica e misticamente desenvolvido o indivduo. O desenvolvimento

    mstico, ento, um processo de ampliao do sistema homem-campo.

    Os smbolos msticos e os rituais simblicos constituem um modo de

    afetar o sistema homem-campo e ampliar ou expandir a conscincia. Esses

    smbolos assumem muitas formas; podem ser visuais ou auditivos, e incluem

    mantras, ou slabas e palavras sagradas, que atuam como smbolos.

    Quando visualizamos algo que desejamos, ou visualizamos para curar, ou para transmitir um pensamento a algum, a imagem visualizada atua como um

    smbolo. Pela criao desse smbolo e a concentrao no mesmo, estamos dirigindo

  • 54

    o Eu ou o campo em que estamos trabalhando, ou ambos. Se estamos visualizando

    algo que desejamos, estamos controlando tanto o Eu quanto o campo. Se estamos curando algum, estamos dirigindo uma outra pessoa, que faz parte do nosso

    campo, no momento, onde quer que ela esteja. Se usamos auto-sugesto, o Eu que estamos controlando. Quando usamos sugesto sobre algum, ou transmitimos

    uma mensagem a algum, estamos controlando ou dirigindo essa outra pessoa

    como parte do nosso campo.

    O seguinte esquema representa esta relao:

    Visualizador, ou

    Concentrao no

    smbolo

    Controle do Eu Controle do campo

    A relao entre o controle do Eu e o controle do campo indireta, atravs

    da concentrao no smbolo visualizado. Tambm a ao direta se faz da

    concentrao no smbolo para o elemento controlado, mas h ainda uma influncia

    do Eu controlado ou do campo controlado para a pessoa que visualiza o smbolo.

    Algo projetado do visualizador para o Eu controlado ou o campo controlado, e algo por outro lado assumido do Eu controlado ou do campo controlado.

  • 55

    O elemento, significado, do smbolo, pode ser dividido no que podemos

    chamar de ordem e contedo. A ordem o padro arqutipo, csmico, ou psquico,

    o ritmo ou a harmonia a que a forma corresponde parcialmente e que ela expressa

    ou manifesta. O contedo consiste nas idias, emoes etc., que a forma

    representa. A forma e o contedo so apreendidos na mente e projetados para a forma.

    O fator ordem, do significado, o padro inerente forma e a ela

    correspondente, mas a ordem tambm corresponde ao contedo, ou s idias e

    emoes representadas pela forma. Neste sentido, a ordem, ou o padro, um

    mediador entre o contedo e a forma. aquilo com que tanto o contedo como a forma esto relacionados. o elemento arqutipo, porm, expresso em forma material. o prottipo psquico da forma.

    A forma da rosa material que desabrocha no jardim, a rosa pintada e assim usada como smbolo, e a rosa que existe na mente, so diferentes. A forma

    de cada qual depende da manifestao material. A ordem, que o padro arqutipo,

    semelhante nestas formas, e fundamental para o significado. A ordem contm

    elementos bsicos necessrios ao significado. Todas as trs rosas so smbolos da

    personalidade-alma, porque tm a mesma ordem bsica, ou o mesmo padro

    psquico, que corresponde personalidade-alma e a representa.

    Num smbolo objetivado, a ordem manifesta na forma fsica. Num smbolo psquico, a ordem manifesta na imagem que apreendida na mente. O

    smbolo psquico pode ou no ser expresso numa forma fsica, como palavras ou um

    desenho.

    A ordem, no smbolo psquico, apreendida graas traduo de

    estmulos psquicos para percepes ou imagens. No smbolo objetivado, ela

  • 56

    apreendida pela traduo da ordem csmica para a forma e, depois, para a

    percepo.

    Cabe lembrar que a forma, ou o elemento material, e a ordem e o

    contedo, ou o elemento psquico, so ambos tradues de impresses vibratrias.

    So vibraes diferentes e so traduzidas por diferentes rgos receptores. Um

    captulo posterior desta srie explicar os smbolos psquicos. Recomendamos que

    o leitor revise ento este captulo.

    A ordem bsica para a forma e para o contedo. A forma no existiria

    sem uma ordem fundamental, csmica. Mas o contedo tambm depende da ordem

    csmica. A ordem o mediador entre a forma e o contedo, mas ela prpria

    csmica ou arque tipa.

    Cabe ainda lembrar que, embora dividamos o smbolo em elementos ou

    componentes, ele um s smbolo e funciona como uma unidade.

    A simbolizao usa funes psicolgicas como a emoo, o raciocnio e a

    imaginao, para produzir smbolos. E ao mesmo tempo uma base destas funes,

    porque elas usam smbolos ou sistemas simblicos como a linguagem verbal.

    O sistema de psicologia de Carl Gustav Jung usa quatro funes:

    sensao, sentimento, pensamento, e intuio. Este sistema no reconhece a

    imaginao, que um dos aspectos mais importantes do pensamento humano. O

    termo sentimento pode significar emoo e mesmo sensao, de modo que seria

    melhor usar a palavra emoo. Misticamente, a intuio a chave, ou a funo

    central. O diagrama da ltima pgina deste Captulo representa estas funes e sua

    relao.

    O crculo maior representa o campo objetivo; o crculo intermedirio representa o subconsciente; e o crculo menor, central, representa a funo intuitiva

  • 57

    do subconsciente. Chamaremos o crculo pequeno superior (nmero 2) de imaginao; o da direita (nmero 5) de sensao; o inferior (nmero 4) de emoo; e, o da esquerda (nmero 3), de raciocnio.

    Note-se que todas as quatro ltimas funes esto situadas parcialmente

    no campo objetivo e parcialmente no campo subconsciente, e que isto representa sua funo dual. Normalmente, todo esquema deste tipo uma supersimplificao,

    que coloca as funes em "compartimentos" demasiadamente precisos. No

    obstante, serve para ajudar a compreender as funes e o fato de que a mente uma unidade, atuando como um todo num ser humano que tambm uma unidade

    completa em si mesma. Dando mais um passo, podemos afirmar que a conscincia

    que a base da unio do sistema homem-campo.

    A relao entre as cinco funes no a mesma em quaisquer dois

    indivduos, e a funo predominante em cada pessoa varia conforme sua natureza e

    suas atividades. Ela pode usar precipuamente o raciocnio numa atividade, porm,

    sua reao pode ser principalmente emocional, numa outra atividade. A ordem,

    ento, e a funo predominante, no so fixas, e o tamanho dos crculos tambm

    no fixo, j que a importncia, que esse tamanho representa, igualmente sofre variao.

    O processo de simbolizao depende de todas as funes e dos nveis

    objetivo e subconsciente. Estes nveis e funes so necessrios para o homem simbolizar, e a simbolizao necessria para que os nveis e as funes atuem.

    O prprio diagrama um smbolo que representa certas funes

    psicolgicas e a relao existente entre elas. uma representao objetiva e espacial de coisas que absolutamente no so espaciais. Pode nos ajudar a compreender a ns mesmos, mas deve ser entendido simbolicamente.

  • 58

    A sala em que voc est lendo no apenas existe; voc tem conscincia

    da mesma e fala a seu respeito. Voc pode sonhar com ela. Pode escrever para

    algum a seu respeito. Nenhuma destas coisas pode ser feita sem simbolizao.

    Recomendamos que medite sobre as maneiras como simboliza esta sala e, depois,

    medite sobre outras relaes homem-campo.

    SUMRIO

    A simbolizao a maneira essencial em que o homem se relaciona com

    o ambiente e o campo. uma funo bsica e natural da mente, que se cumpre em religio, arte, conversao, cincia etc.

    O campo a parte do no-Eu com o qual o indivduo tem uma interao

    ou inter-relao definida.

    O homem existe num campo qudruplo:

    1. Fsico

    2. Biolgico

    3. Psicolgico

    4. Psquico

    O homem e o campo esto relacionados por:

    1. Interao fsica

    2. Funes biolgicas

  • 59

    3. Funes psicolgicas

    4. Comunicao

    5. Ao ou comportamento

    6. Auras

    7. Fenmenos parapsicolgicos

    8. Harmonizao

    9. Simbolizao

    Os smbolos nos permitem pensar em nossa conscincia mesmo de

    relaes e funes fsicas simples, e express-las. So necessrios a certos

    relacionamentos como a comunicao, e a funes psicolgicas como a imaginao

    e a memria. Exercem influncia ativa no desenvolvimento emocional e psquico.

    O sistema homem-campo forma uma unidade. O desenvolvimento mstico

    um processo de ampliao da unio entre o homem e o campo.

    A imagem visualizada atua como um smbolo e afeta ou controla o Eu e o

    campo.

    O significado de um smbolo consiste em ordem, que o padro arqutipo

    ou psquico, e contedo, ou as idias e emoes que a forma representa. A ordem

    est relacionada com a forma e o contedo, e atua como mediadora entre estes dois

    ltimos elementos. Num smbolo objetivado, manifesta-se na forma fsica. Num smbolo psquico, manifesta-se na imagem mental.

    O diagrama da pgina seguinte simboliza as relaes entre as funes

    objetivas e as funes subconscientes, bem como entre intuio, imaginao, raciocnio, emoo, e sensao.

    O exerccio do Captulo consiste na anlise da relao homem-campo.

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    1. Intuio

    2. Imaginao

    3. Raciocnio

    4. Emoo

    5. Sensao

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    CAPTULO VI: ORIGEM DOS SMBOLOS

    E freqente acreditar-se que, como os mesmos smbolos ou smbolos

    semelhantes so encontrados em diferentes partes do mundo, eles devem ter uma

    origem comum num dado pas e em certa poca. Embora alguns smbolos de fato

    migrem d