Introdução á Sociedade de Informação
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INTRODUÇÃO. A SOCIEDADE DA INFORMAÇÃO Mito e desmistificação
“A tecnologia da informação está a mudar o mundo”
Muita gente tem poucas dúvidas quanto ao facto de as nações desenvolvidas
estarem a entrar numa nova fase, a sociedade da informação. São inúmeras as previsões
sobre os impactos sociais das novas tecnologias da informação (T. I.), em especial, as
que envolvem computadores e telecomunicações. Diz-se que velhas e reputadas
instituições sociais e estilos de vida estão a passar por uma profunda transformação.
Comprar a partir do domicílio, teletrabalho, indústria robotizada, escritórios
automatizados, edições electrónicas, emissões via satélite, bibliotecas digitais... seriam
alguns dos agentes em mudança. Daí que se fale em sociedade da informação.
Segundo David Lyon, considerar o futuro como moldado pela tecnologia, é laborar em
erro, porque, no mínimo, é não tomar em consideração dois importantes factores:
- Por um lado, as T.I. têm origens sociais, as quais, exercem uma influência decisiva no
seu desenvolvimento.
- Por outro lado, as T.I. nem sempre são aceites e assimiladas da mesma maneira, e de
uma forma passiva.
Aqueles que prevêem a emergência de um novo tipo de sociedade, estão a exagerar a
novidade das consequências sociais das T. I., ao mesmo tempo, que negligenciam
outros importantes factores, como por exemplo, desigualdades inerentes ao sistema de
mercado. Mas será que estamos no patamar de um novo tipo de sociedade?
É o que parece estar implícito nas discussões referentes à “sociedade das redes” ou
“riqueza da informação”.
Uma das previsões sociais optimistas, chega-nos de TOM STORNIER. Segundo este
autor, viver num mundo post-industrial, significa que somos mais ricos, mais poderosos
e menos propensos a guerras, como também mais atreitos á democracia. De facto, o
aumento da prosperidade é um dos temas mais comuns da sociedade de informação. E,
não existem dúvidas que as T.I. são um fenómeno tremendamente importante, portador
de um amplo potencial social. O alastramento dos computadores e dos novos sistemas
de comunicações, constituem um dos mais espantosos fenómenos das sociedades
avançadas do fim do século XX. Poucos serão capazes de negar o avanço tecnológico,
representado pela convergência entre informática e telecomunicações, uma
convergência baptizada com o nome de “Tecnologia da Informação”.
No entanto, a ideia de que esta convergência indicia o início de uma era da tecnologia
da informação, é, já mais questionável. E é tão questionável quanto ao facto de a
sociedade da informação fomentar o aparecimento de uma nova Economia e de novas
classes.
A pedra angular da tese popular da sociedade da informação consiste na
afirmação de que um novo sector da informação, no qual estão inseridos os
trabalhadores da informação, passou a ser um factor económico dominante das
sociedades avançadas. Porém, não será tanto assim. Os indícios disponíveis apontam
não para a existência de um sector da informação, mas sim para um aumento de todo
um leque de diversas actividades relacionadas com a informação, cujo significado
social depende de uma complexa série de variáveis. Igualmente errada, é a noção de
que novas classes podem estar a surgir, acompanhando o alastramento das tecnologias
da informação. De facto, os níveis de educação e de qualificação, estão a tornar-se
critérios cada vez mais importantes para a determinação da posição social, mas tal não
parece ter afectado as divisões sociais baseadas na propriedade. Da mesma forma, a
existência de classes continua a ser, claramente, uma importante característica das
sociedades contemporâneas, marcadas pelo alastramento das T. I.
Por outro lado, muito se fala em novas tecnologias, emprego, trabalho e
qualificação. Por pouco que saibamos sobre o impacto global das T.I. sobre o emprego,
o certo é que todos estão de acordo quanto à realidade desse impacto. Por outro lado,
estão a aparecer novos postos de trabalho relacionados com as T. I., mas é duvidoso
que estes possam compensar os que entretanto se vão perdendo, quanto mais
acompanharem uma procura de emprego sempre crescente. Um outro ponto é o de que
deverão ser proporcionadas uma educação e uma formação apropriadas a todos os
interessados, por forma a prepará-los para as mudanças nas condições de vida e de
trabalho. Não é difícil percebermos que as previsões sobre os efeitos sociais da
revolução tecnológica nas áreas do trabalho e do emprego, são exageradas. As T. I., no
entanto, estão a contribuir, significativamente, para o aumento da produtividade em
alguns sectores, bem como a melhorar a qualidade das vivências laborais. Contribuem
ainda para alterações quer nos modos de desempenho de tarefas, quer na sua
organização. O reverso da medalha, claro tem a ver com a perda inegável de postos de
trabalho, a desqualificação e clivagens geradas pelas T. I., normalmente ligadas ao sexo
e à raça. Portanto, alguns dos “sonhos digitais” sobre a vida laboral na sociedade de
informação, merecem ser rejeitados.
No entanto, é igualmente irresponsável afirmar que as perspectivas globais são
sempre sombrias.
Numa outra perspectiva, os sonhos de democracia electrónica dados à estampa,
têm que ser temperados pelo reconhecimento das actuais realidades tecnológicas e
políticas. Esses sonhos, esquecem-se que as novas tecnologias nunca contribuíram, só
por si, para o aperfeiçoamento da democracia e subestimam as tendências
antidemocráticas associadas à vigilância estatal. O “computador carcereiro”, é uma
realidade actual, tanto na administração e controlo estatais, como no potencial
resultante da ligação entre base de dados privados.
O conceito de sociedade da informação, terá de envolver um âmbito global, pois
a informatização há muito que deixou de ser um processo local. No entanto, a noção de
“aldeia global” terá de ser abordada com cautela. Até porque se ignora, com frequência,
as profundas divisões e conflitos que separam os países com capacidades no domínio
das T. I., e os que não as possuem. Normalmente assiste-se a um colonialismo
electrónico, levado a cabo por empresas transnacionais. (D. Bolter)
As T. I. contribuem, sem dúvida, para os desmoronamentos entre as categorias
clássicas da informação. Um mesmo meio electrónico pode transportar a voz, o vídeo,
dados técnicos ou financeiros, imagens fotográficas ou textos escritos. Daí que o termo
sociedade de informação, exprima a ideia de uma nova fase no desenvolvimento
histórico das sociedades avançadas. Não se trata, simplesmente, da emergência de uma
sociedade pós- industrial, mas sim do advento de novos padrões baseada, acima de
tudo, na tecnologia de microelectrónica.
Paradoxalmente, a noção de sociedade de informação, possui, ao mesmo tempo,
dimensão ideológica e utópica, e, nenhuma destas deve ser posta de lado. Em primeiro
lugar, noção de sociedade de informação traz muitas expectativas, que se baseiam em
argumentos económicos assaz dúbios sobre a predominância do chamado “novo sector
de informação”. A crescente dependência de todo tipo de actividades em relação a
microelectrónica, informática e telecomunicações, e o número cada vez maior de
trabalhadores da informação, sustentam esta ideia. Por outro lado, não é líquido que
esteja a surgir uma qualquer sociedade de informação com as características que lhe são
habitualmente atribuídas. O centralismo, os monopólios e as desigualdades do
capitalismo não estão em vias de desaparecimento. A democracia participativa, também
não parece encontrar-se ao virar da esquina. A sociedade de lazer, também não. Apesar
destas observações críticas, não deixa de ser verdade que o processo de informatização
da vida social, económica e cultural, coloca significativas questões.
Em segundo lugar, deve ser recordado em todo o discurso sobre sociedade de
informação, que potencial tecnológico não é o mesmo que destino social. Passar
directamente da discussão da novidade tecnológica, à proclamação dos seus benefícios
sociais, é metodologicamente inaceitável. Enquanto a noção de sociedade de
informação estiver informada pelo determinismo tecnológico, é necessário resistir à sua
aceitação. O desenvolvimento tecnológico, não tem efeitos sociais pré-estabelecidos,
universais. As escolhas sociais e pessoais, não poderão deixar de ser realçadas. De
facto, o factor humano, assume um papel fundamental.
A surpreendente velocidade com que estão a evoluir as tecnologias da
informação, irá provocar mutações políticas e sociais de tal envergadura que já se fala
numa terceira revolução industrial, que nos conduzirá á chamada sociedade de
informação. As potencialidades das futuras telecomunicações são enormes: um ciclo de
informação mundial, ao qual possam recorrer simultaneamente on-line, muitos milhões
de utilizadores, dá a possibilidade de encontrar mais rapidamente uma maior gama de
soluções para os problemas. Uma determinada questão, pode ser formulada numa rede
de dados mundial, que dispõe de informação disponível e especializada. A
probabilidade de encontrar uma resposta inovadora é muitas vezes superior, à da
informação disponibilizada pelos meios técnicos tradicionais, como os jornais, a TV e a
rádio. Uma outra vantagem, é o facto de a Internet permitir a viagem de dados, e não de
pessoas (através da videoconferência).
Tecnicamente, a sociedade de informação e as tecnologias de informação a ela
ligada conduz-nos à ideia de ser permitido o registo a baixos custos de grandes volumes
de dados em suportes de dados (por exemplo, através de scanners); armazenamento de
dados em memórias electrónicas de grande capacidade (por exemplo, discos duros),
computadores de alta velocidade para processamento de informação; tecnologias de
transmissão que permitam transferir dados com maior rapidez possível.
Teoricamente, com o acesso à informação armazenada em todo o mundo e,
sobretudo, com a capacidade de combinar e analisar grandes quantidades de dados, é
possível mais “conhecimentos”, que representam um valor acrescentado. De facto, a
informação torna-se o principal produto da sociedade da informação. Mas, e o
Conhecimento?
INFORMAÇÃO E CONHECIMENTO
A informação é-nos apresentada como acesso ao poder e à influência. O
vocábulo informação ganhou força em diversas áreas do saber. Devemos entender até
que ponto esta sociedade da informação, não está a endeusar a informação, a um nível
muito superior àquele que ela merecerá.
A informação é o resultado do meio que a produz, mas também a modifica. A
informação não é só parte de uma estrutura social, mas também a cria, na medida em
que ao produzir conhecimento, interfere no próprio meio que a envolve.
A informação que hoje nos é apresentada como protagonista da sociedade,
conduz à noção de que quem manipular a informação, terá acesso ao conhecimento e à
capacidade de dominar a realidade. É também assente que o domínio da informação
está (ou poderá estar) intrínsecamente ligado ao domínio do saber, e que essa mesma
informação, é fundamental no evoluir e modificar da sociedade.
Existe uma discordância considerável sobre se estamos a testemunhar uma
“nova revolução industrial”, equivalente à Revolução Industrial Inglesa, ou se as
Tecnologias de Informação são apenas o exemplo de uma evolução tecnológica normal.
Isto levanta, de imediato, a questão sobre o que constitui uma “Revolução”, e,
principalmente, se apenas consideramos inovações tecnológicas, tais como as T. I.,
verdadeiras revoluções, quando acompanhadas por uma transformação social profunda.
A revolução ao nível da informação, de facto, aconteceu. Será que assistimos a
um descontinuidade radical? Ou por outro lado, a uma mudança regular e evolutiva,
que não radicalmente com o passado? Será que as pessoas hoje são mais cultas?
Absorvem mais conhecimento? O que é certo é que absorvem mais informação.
Relativamente a este ponto, existem algumas perspectivas. Existem autores
como James Beniger que vêm os recentes desenvolvimentos das Tecnologias da
Informação, como um mero estádio num processo de crescimento. Para Beniger, as T.
I., são apenas parte da actual “revolução de controlo”, que data do século XIX. Esta
dinâmica social, terá sido criada por uma “crise de controlo” gerada pela Revolução
Industrial. Essa revolução, resultou numa aceleração do sistema de transformação de
matérias-primas, o que levantou grandes problemas de controlo na área de fabrico e
distribuição. As primeiras respostas a esta crise foram inovações tecnológicas, como o
telégrafo, a racionalização da informação e o desenvolvimento burocrático. Desde
1945, o desenvolvimento de novas tecnologias da informação, tal como o computador
assumiram um papel primordial nesta crise de controlo. Assim, para este autor, as T.I.,
são apenas uma nova fase do desenvolvimento contínuo da “Revolução de Controlo”.
Beniger crê que as novas tecnologias são uma consequência, e não uma causa das
alterações sociais. De facto, para este autor um dos resultados mais importantes da
Revolução de Controlo, foi o nascimento da “Sociedade da Informação”. Mas, e a
Sociedade do Conhecimento?
Segundo autores mais optimistas, a informação é desenvolvimento e niveladora
da sociedade. “O computador esmagará a pirâmide”. O acesso à informação, permitirá,
para estes optimistas, a liberdade para atingir as metas de autorealização que nos
propusermos, e talvez uma renascença religiosa em todo o mundo, caracterizada, não pela
crença num Deus sobrenatural, mas sim no temor e humildade perante o espírito humano
colectivo e sua sabedoria. A apologia dos computadores, atingiu o seu auge em 1982,
quando a revista TIME, elegeu o computador como o “Homem do Ano”. Os que estão
empenhados em promover as TI, estão também empenhados em conseguir os seus
objectivos: lucros, percentagens de mercado, bons salários. Para outro autor, Langdon
WINNER, o advento das novas tecnologias deu azo a rasgos de fantasia utópica. De
facto, aqueles que tem mais a beneficiar serão certamente, as grandes empresas
multinacionais. Onde, em todo este movimento, encontramos uma maior democracia?
pergunta WINNER. As T. I. irão aumentar o poder de quem já o têm e conduzirá à
retenção do poder. No entanto, é possível que a sociedade fortemente apoiada em
sistemas de computação e telecomunicações, possa tornar-se numa democracia
participativa, e atingir a igualdade. Porém, isto torna-se muito difícil, pois não existe
interesse em modelar a sociedade de informação a estes ideais. O único interesse é,
somente, o de fomentar ideais como “informação é conhecimento”; “conhecimento é
poder”, crença romântica no computador como fomentador de liberdade, democracia,
justiça. Infelizmente, para este autor, estes ideais são totalmente falsos. A crença de que
a utilização, em larga escala, dos computadores, fará cair hierarquias, anulará
desigualdades, fará florescer a participação e dissolverá o poder centralizado, não
sobrevive a uma análise profunda.
De facto, estamos convencidos, tal como Langdon WINNER, de que a informação
não é conhecimento, esclarecimento, compreensão, pensamento crítico, sabedoria
intemporal ou mente instruída.
A BIBLIOTECA NA SOCIEDADE DA INFORMAÇÃO
É evidente que algo de muito importante e que ainda não compreendemos bem,
está a acontecer na sociedade, com o influxo da tecnologia da informação (TI). É
vulgarmente aceite que as T. I. são uma tecnologia universal, tão importante, como,
pelo menos, a electricidade ou a energia a vapor. As sociedades, tornaram-se cada vez
mais complexas desde a Revolução Industrial. Isto criou a necessidade de processar
cada vez mais informação, e de desenvolver T.I. mais eficientes. Actualmente, fala-se
muito em Sociedade de Informação. Mas, então, o que é a Sociedade de Informação?
Como se pode defini-la?
Como vimos atrás, a Sociedade de Informação, é uma sociedade onde a
qualidade de vida, bem como as perspectivas de alteração social e desenvolvimento
económico, dependem de forma crescente da informação e sua exploração. Em tal
sociedade, os níveis de vida, padrões de trabalho e leitura, o sistema educativo e o
mercado, são todos marcados pelo avanço da informação e do conhecimento.
Mais um problema: informação e conhecimento. Duas palavras que suscitam
acesas discussões e amplos debates. Informação e conhecimento, serão sinónimos? E
qual o papel da Biblioteca, bem como o seu contributo para esta distinção? Como pode
a Biblioteca fornecer informação em face das novas Tecnologias de informação? E
como proporcionar conhecimento? Terão as T.I. um papel determinante? E então o
factor humano? A formação profissional? Qual o seu peso?
Estas pertinentes questões, só poderão ser esclarecidas, a partir do momento em
que se clarifique alguns conceitos.
No entanto, a única certeza que temos é a de que, apesar dos muitos defeitos que
se possam apontar ás sociedades industrializadas, o facto é que, foram as nações
tecnologicamente mais desenvolvidas, que permitiram o acesso a um vasto universo de
informação, que primeiro abandonaram as penas cruéis, permitiram a igualdade sexual,
racial e religiosa, a liberdade e direito á vida. E não existem dúvidas que a
democratização do acesso à informação, permitiram reforçar estes valores.
Vivendo a nossa sociedade, num mundo bastante competitivo, onde a
informação pode ser obtida em qualquer lugar (até no conforto das nossas casas!) e a
qualquer hora, torna-se imperativo que a Biblioteca, assuma uma posição fulcral, no
que se refere à sociedade da informação. Daí que, para cativar, um número cada vez
maior de público, a biblioteca, tenha que assumir um determinado número de
pressupostos, que visam, essencialmente, disponibilizar aos utilizadores, conforto,
rapidez na busca de informação, acompanhamento técnico àqueles que buscam
informação, um edifício e instalações atraentes, confortáveis e seguras, um fundo
documental adequado ás necessidades dos seus utilizadores, e, fundamentalmente,
permitir o acesso ás novas tecnologias da informação, a todos aqueles, que, por outro
meio, não teriam essa possibilidade. Mas, mais do que isso, julgamos ser absolutamente
necessário, apostar fortemente na formação dos recursos humanos da Biblioteca, para
que, os utilizadores, possam transformar todo o manancial de informação disponível,
seja ela documental ou electrónica, em Conhecimento útil para os utilizadores.
Considerando as actuais tendências para o registo e disponibilização da
informação em suporte digital, para a informação multimédia e para o aumento de
utilização de facilidades de rede para acesso e distribuição de produção e serviços de
informação de que é exemplo a Internet, conclui-se que continua a ser fundamental as
missões tradicionais de promoção da leitura e do acesso à informação. Mas,
actualmente, para que a Biblioteca Pública as possam desempenhar cabalmente, é
necessário que as suas colecções e serviços incluam, como refere o Manifesto da
UNESCO “todos os tipos de suporte e tecnologias modernas apropriadas, assim como
fundos tradicionais”.