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ÍNDICE Introdução ……………………………………………………………………………………….. 3 O que é a Reflexologia? ……………………………………………….………………………... 4 Origem da Reflexologia ………………………………………………………………..……….. 9 Benefícios da Reflexologia …………………………………………………………….……….. 10 Os pés e a Reflexologia ………………..………………….…………………………….……….. 12 As Sessões de Reflexologia – aplicação num caso ……………………………………. ……….. 15 Dia Zero ………………………………………………………………………………… 16 Dia Um ………………………………………………………………………….………. 18 Dia Dois …………………………………………………………………………………. 20 Dia Três …………………………………………………………………………………. 22 Dia Quatro ……………………………………………………………………………… 23 Relação entre a Reflexologia e a Enfermagem ………………………………………. ……….. 23 Conclusão ...…………………………………………………………………………….……….. 26 Referências Bibliográficas …………………………………………………………….……….. 27 Outras fontes consultadas………………………………………………………………………. 28

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ÍNDICE

Introdução ……………………………………………………………………………………….. 3

O que é a Reflexologia? ……………………………………………….………………………... 4

Origem da Reflexologia ………………………………………………………………..……….. 9

Benefícios da Reflexologia …………………………………………………………….……….. 10

Os pés e a Reflexologia ………………..………………….…………………………….……….. 12

As Sessões de Reflexologia – aplicação num caso …………………………………….……….. 15

Dia Zero ………………………………………………………………………………… 16

Dia Um ………………………………………………………………………….………. 18

Dia Dois …………………………………………………………………………………. 20

Dia Três …………………………………………………………………………………. 22

Dia Quatro ……………………………………………………………………………… 23

Relação entre a Reflexologia e a Enfermagem ……………………………………….……….. 23

Conclusão ...…………………………………………………………………………….……….. 26

Referências Bibliográficas …………………………………………………………….……….. 27

Outras fontes consultadas………………………………………………………………………. 28

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INTRODUÇÃO

A doença é algo que acompanha o Homem desde os primórdios da sua história, constituindo-se ao

mesmo tempo como um dos maiores flagelos e receios da Humanidade (COLLIÈRE, 1999). Flagelo

devido ao enorme sofrimento (quer físico, quer psicológico e social) que acarreta não só para os que

dela padecem, mas igualmente para as pessoas significativas dos doentes. Ela não destrói apenas

unicamente um ser, pode também, por exemplo, destruir toda uma família ao retirar-lhe o seu “ganha-

pão” ou inclusivamente aniquilar cidades e dizimar civilizações (como aconteceu com os surtos de

peste bubónica durante a Idade Média). Por outro lado, a doença suscita muitos medos, sendo talvez o

maior de todos relativo à morte que lhe pode sempre seguir. A morte, esse grande desconhecido que já

suscitou tantas questões e debates filosóficos e à qual o ser humano procura incessantemente escapar.

Os meios e as técnicas com as quais o Homem trava a luta contra a doença acompanharam a evolução

deste e, muito à sua semelhança, cresceram, multiplicaram-se e diversificaram-se. Esta diferenciação é

notória quando se constata que a grande maioria das sociedades ocidentais tem o seu Sistema de Saúde

assente na chamada “medicina convencional” ao mesmo tempo que, a nível quase marginal, se vão

praticando outro tipo de técnicas terapêuticas, designadas durante muito tempo de “medicinas

alternativas” cuja origem deriva de culturas orientais (MEINES, 1999).

É essencial, na minha opinião, que esta dicotomia entre “medicinas” se desvaneça, porque ambas

partilham, no fundo, a mesma finalidade que é ajudar as pessoas a serem saudáveis. Se em vez de se

colocarem como obstáculos mútuos formarem uma parceria podem constituir uma grande mais-valia na

prevenção, tratamento e reabilitação da doença e contribuir para um maior equilíbrio e harmonia na

vida de todos os indivíduos. É por isso que não chamarei alternativa à técnica terapêutica sobre a qual

vou versar este trabalho. Considero-a sim, uma técnica complementar que pode (e deve) ser utilizada

durante a prática de enfermagem.

Escolhi a reflexologia dos pés como tema deste trabalho porque achei interessante o facto de se poder

“trabalhar” todo o corpo a partir dos nossos pés e igualmente porque esta é a principal base da prática

na reflexologia actual (CRANE, 2000). Tal deve-se ao facto das “representações das partes corporais

serem mais fáceis de localizar nos pés, onde abrangem uma área maior e se revelam mais específicas –

o que torna o trabalho mais fácil com elas. Os pés possuem, igualmente, uma sensibilidade especial,

devido à abundância de terminais nervosos” (DOUGANS et al, 1994). Esta sensibilidade pode estar

relacionada com o facto de os pés serem dos órgãos sensitivos mais negligenciados de todo o corpo

(KUNZ, 1984). A própria consciência que tenho deste “abandono” dos nossos pés às agruras da vida

(inclusive por mim próprio, tenho que o reconhecer) contribuiu para o meu interesse pela reflexologia

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nos pés em detrimento da reflexologia das mãos ou das orelhas, outros locais em que esta terapia se

pode aplicar. Quero aprender a cuidar melhor dos meus pés e transmitir este conhecimento a outras

pessoas, para que todos possamos desfrutar de uma vida mais equilibrada e saudável.

Considerei, portanto, que a realização deste estudo era uma boa oportunidade de aprender mais acerca

desta técnica, não apenas a nível teórico, mas também para a poder aplicar nos doentes mais tarde.

Assim sendo, pretendo, aquando do final deste trabalho, ter uma maior percepção e conhecimentos

acerca desta técnica terapêutica e do modo como a posso integrar ao contexto da enfermagem.

O QUE É A REFLEXOLOGIA?

A reflexologia é uma técnica holística em que se aplica pressão utilizando as mãos nuas sobre

pontos reflexos específicos, presentes nos pés, mãos e orelhas (CRANE, 2000).

Dito deste modo simplista, poder-se-ia correr o risco de confundir a reflexologia com uma mera

massagem. No entanto, existem diferenças entre estas duas técnicas. A massagem é o termo usado para

designar certas manipulações dos tecidos moles do corpo, que são efectuadas mais eficazmente com as

mãos e que são administradas com a finalidade de produzir efeitos sobre os sistemas nervoso, muscular

e respiratório e sobre a circulação sanguínea e linfática local e geral (SOUSA, 1999 cit BEARD, 1952).

Estas manipulações, no entanto, são executadas de uma forma indiferenciada sobre uma área

relativamente vasta do corpo sem levar em linha de conta os efeitos particularmente benéficos que

podem advir da pressão de determinados pontos reflexos.

É aqui que a reflexologia se destingue da massagem. Ela sustenta-se no princípio fundamental de que

certas regiões corporais, como os pés por exemplo, constituem um autêntico microcosmo ou “mapa”

perfeito do corpo. Assim, todos os órgãos, glândulas e outras partes do corpo têm a sua disposição

reflectida nos pés (DOUGANS et al, 1994). Deste modo, a pressão exercida sobre os pontos

reflexos presentes nos pés pode afectar as estruturas a que estes

pontos estão associados, contribuindo para a restauração ou

manutenção de um bem-estar físico e mental (CRANE, 2000).

Fig. 1: Os pés - microcosmos corporal

Fonte: http://www.reflexology-usa.net/facts.htm

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Alguns autores, como Cruz (1999) ou Dougans et al (1994) referem que a reflexologia é

simultaneamente uma ciência e uma arte.

É ciência porque se baseia em estudos fisiológicos e neurológicos que foram levados a cabo de forma

rigorosa, sistemática e objectiva e que conduziram a resultados capazes de serem comprovados

empiricamente e que merecem a aprovação da comunidade científica em geral, nomeadamente os

estudos relativos ao mecanismo do reflexo (CRUZ, 1999).

Segundo Seeley et al. (1997) um reflexo é uma resposta automática a um estímulo, que ocorre

sem pensamento consciente. Ao longo de toda a superfície da nossa pele existem células sensoriais do

tacto. Quando estas células são estimuladas geram-se impulsos electroquímicos que formam uma

“mensagem”. Essa mensagem é então transmitida através de fibras nervosas designadas por neurónios

aferentes ou sensoriais até aos “centros de controlo” situados na espinal medula ou no cérebro, que

imitem uma directriz de resposta, devolvendo-a através dos neurónios eferentes ou motores para um

órgão, músculo ou glândula, alterando a sua dinâmica de funcionamento.

Assim, a reflexologia actua principalmente por via do sistema nervoso autónomo, equilibrando

as acções opostas das suas subdivisões principais – o ramo simpático (que predomina em situações

de tensão) e o ramo parassimpático (mais frequente quando o corpo se encontra em repouso). No

entanto, sabendo que “o ramo simpático é o accionado com mais frequência na nossa vida moderna, é

geralmente a acção do sistema nervoso parassimpático que é estimulada pelo tratamento” (CRANE,

2000).

Fig. 2: Esquema simplificado do mecanismo reflexo

Fonte: http://www.isurp.com.br/aula/ciência/Marcio/osistema.html

Através da sua acção sobre o sistema nervoso autónomo a reflexologia é igualmente susceptível de

reequilibrar a actividade do hipotálamo – que regula o mecanismo da fome, sede, temperatura e

sono, estando também relacionado com a nossa actividade emocional (SEELEY et al, 1997) – bem

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como da glândula pituitária – que produz diversas substâncias, designadas de “hormonas de

libertação” e que vão por sua vez controlar a actividade de outras glândulas, implicadas em diversas

funções e locais do organismo. É sabido que o desequilíbrio destas hormonas pode conduzir

directamente a um agravamento do nosso estado de saúde (CRANE, 2000). Deste modo, a prática da

reflexologia dos pés não resulta apenas num efeito local, mas é sobretudo uma intervenção

sistémica em todo o corpo, podendo actuar a um nível muito profundo para tentar eliminar a

causa subjacente a um problema.

A prática da reflexologia moderna baseia-se igualmente nos estudos levados a cabo pelo Dr. William

Fitgerald (1872 – 1942) e Eunice Ingham (1889 – 1974).

O primeiro era um eminente médico americano que, no início do séc. XX, desenvolveu o conceito de

“terapia zonal”. Inicialmente através de evidências empíricas e posteriormente mediante múltiplas

experiências ele chegou à conclusão que aplicando pressão nas zonas que correspondiam,

longitudinalmente, ao local de uma lesão era não só possível aliviar a dor como também, caso a pressão

fosse suficientemente firme, eliminar a causa desta. (CRANE, 2000) Assim, ele “dividiu” o corpo em

dez zonas longitudinais que percorrem o corpo, desde

o alto da cabeça até às pontas dos dedos dos pés. As

partes do corpo pertencente a cada uma das zonas

estão ligadas entre si através de um fluxo energético

e podem afectar-se mutuamente (DOUGANS et al,

1994). Sabendo que cada uma das zonas correspondia a

um dedo da mão e do pé específico, o Dr. Fitzgerald

investiu muito da sua prática na manipulação destes

locais tendo desenvolvido toda a sua terapia neste

sentido – isto constituiu, sem dúvida, um contributo

muito importante na evolução da reflexologia.

Fig. 3: As 10 zonas de Fitzgerald

Fonte: OXENFORD, 1998. Página 9

Eunice Ingham, considerada por muitos a “Mãe da Reflexologia Moderna”, separou o trabalho

sobre os reflexos dos pés da terapia por zonas em geral, uma vez que considerou que estes deviam

constituir-se como alvos específicos da terapia devido à sua natureza altamente sensível. Ela

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aperfeiçoou e modernizou a teoria da reflexologia, tendo investido muitos anos da sua vida na árdua

tarefa de mapear os pés em relação às zonas e seus efeitos no restante organismo, até que finalmente

obteve um “mapa” de todo o corpo nos próprios pés (DOUGANS et

al, 1994). Para além disso, esta senhora teve o mérito de partilhar o seu

trabalho com o público em geral, dando a conhecer ao mundo a

reflexologia. Os dois volumes que publicou: Stories The Feet Can Tell

(1938) e Stories The Feet Have Told (1951) foram das primeiras obras

escritas sobre o assunto e tiveram enorme êxito, constituindo a base da

reflexologia moderna (CRANE, 2000).

Fig. 4: Eunice Ingham

Fonte: http://www.reflexology-usa.net/history.htm

Mas a reflexologia não está apenas relacionada com a ciência ocidental. Ela colheu ao longo da sua

história muitas influências de culturas orientais, estando particularmente ligada a três teorias: a teoria

do Yang e Yin, do Chi e dos Meridianos.

O Yang e o Yin são respectivamente a luz e a escuridão, o calor e o frio, a masculinidade e a

feminilidade, a aspereza e a suavidade, a actividade e a passividade, a ascensão e o declínio. São dois

princípios opostos, mas complementares representando duas forças que interagem e necessitam uma da

outra para a manutenção do equilíbrio, da harmonia e da saúde. Há sempre um embrião Yin dentro do

Yang e vice-versa (WILHELM, 2002). Do mesmo modo, podemos encontrar

este princípio de equilíbrio no cerne da teoria reflexologista.

Fig. 5: O símbolo do Tao: Yin e Yang são opostos que se complementam

Fonte: http://www.krapu4.com/taichi/talkguid.htm

O Chi é uma palavra de origem chinesa que tem vários significados, tais como “força vital, “energia

vital interna”, “ar” ou “fôlego” (CRANE, 2000) Esta energia é fundamental à vida e circula pelo

corpo ao longo de meridianos, semelhantes aos circuitos sanguíneos, nervosos e linfáticos, tal

como a água corre pelos rios. Uma deficiência de Chi ou um desequilíbrio na sua circulação vai

constituir a causa principal das doenças. Usando a analogia do rio, o facto de se criar um bloqueio ou

construir-se uma barragem num rio em que as águas claras corriam livremente vai fazer com que estas

estagnem e se sujem (sendo a doença a consequência inevitável). No entanto, existem determinados

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pontos, vulgarmente designados de “pontos de acupunctura”

que actuam como comportas no canal, permitindo que se

possa ajustar a qualidade e quantidade de Chi num

determinado meridiano quando necessário,

descongestionando o fluxo de Chi e permitindo a restauração

do equilíbrio e da saúde. Os defensores desta teoria acreditam

que o tratamento destes pontos no início e no fim dos meridianos

tem um efeito particularmente forte. Deste modo o tratamento

dos pés é considerado bastante benéfico, o que é

completamente consentâneo com a teoria reflexológica.

Fig. 6: Os meridianos energéticos

Fonte: http://www.mantra.com.ar/frame_acupuntura.html

Por outro lado a reflexologia é também uma arte porque a sua eficácia depende bastante da habilidade

com que o terapeuta aplica o seu conhecimento e da dinâmica que ocorre entre este e o utente (CRUZ,

1999). Independentemente dos fundamentos teóricos que alicercem a prática do profissional serem

mais direccionados para a terapia de zonas/método de Ingham ou para a reflexologia dos meridianos,

esta prática só terá sucesso caso o terapeuta assuma uma perspectiva holística que é essencial à

reflexologia. Deste modo ele deve procurar tratar a pessoa na sua totalidade, “empenhando-se em

chegar à causa, que é a raiz da doença, anulando-a – e não aos sintomas” (DOUGANS et al, 1997).

Assim, é essencial que o terapeuta desenvolva uma relação de empatia com a pessoa e procure uma

compreensão conjunta do porquê dos problemas que a afectam, isto porque “qualquer problema de

saúde, seja um sintoma físico ou mental, é na verdade uma condição da pessoa como um todo”

(CRANE, 2000). Para além disso, segundo o mesmo autor, também os factores sociais devem ser

levados em linha de conta na avaliação do terapeuta, uma vez que a tensão emocional e o esforço

mental contribuem para a enfermidade.

É de frisar, no entanto, que por mais compassivo, carinhoso e dedicado que o terapeuta seja em

relação ao bem-estar do utente este não deve, em momento algum, decidir pelo cliente em relação ao

início ou manutenção do tratamento. É, pois, promovida a autonomia e a liberdade de escolha do

cliente, que é o único responsável pela sua saúde (DOUGANS et al, 1994).

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Outro dos princípios no qual assenta a reflexologia e que deve ser sempre respeitado pelo terapeuta é

o conceito de auto-cura do organismo. De facto, o reflexologista não cura coisa alguma – ele apenas

facilita a cura. O corpo tem, de um modo geral, uma grande capacidade de recuperação, desde que os

seus sistemas não estejam a ser demasiado sobrecarregados (CRANE, 2000). A reflexologia, seja

através de impulsos electroquímicos e reacções neurofisiológicas seja mediante canais que facilitam os

fluxos energéticos, vai sem dúvida contribuir para a revitalização do organismo de forma a que a

sua capacidade natural de auto-cura possa funcionar (MATSUYAMA, 1998). Por outro lado, a adopção

de estilos de vida e comportamentos saudáveis também ajuda à manutenção de uma boa capacidade de

auto-cura do organismo. A adopção de uma dieta nutritiva, a manutenção de bons hábitos de postura

acompanhados de exercícios regulares e a promoção do desenvolvimento mental, evitando factores

de stress devem ser ensinados e incentivados por parte do terapeuta aos utentes.

ORIGEM DA REFLEXOLOGIA

As raízes da reflexologia são remotas e estão presentes em múltiplas civilizações diferentes, não

tendo ainda sido possível comprovar-se quando e de que maneira é que a reflexologia se tornou

no que é na actualidade.

Há quem acredite que esta técnica é originária do antigo Egipto, uma vez que foram encontradas

inscrições datadas da Sexta Dinastia (2423-2263 a.C.) num túmulo do “médico” Ankhm’ahor que

mostram “uma massagem ou manipulação no pé ou na perna e ombro, que podem indicar uma forma

de tratamento reflexológico” (CRANE, 2000).

Fig. 7: Os altos-relevos encontrados no túmulo de Ankhm’ahor

Fonte: http://www.reflexology-usa.net/history.htm

Por outro lado a arte das massagem e as técnicas de manipulação do corpo desenvolveram-se

principalmente na Grécia, Roma, Norte de África e Península Arábica, provando desde há milhares

de anos ter um efeito profundo e extremamente benéfico sobre a saúde. A título de exemplo, Hipócrates

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(o “pai da medicina”) já defendia no séc. I a. C o uso da fricção e manipulação para aliviar a dor nas

articulações (CRANE, 2000).

Também a oriente foi dada muita importância à manipulação do corpo durante a antiguidade. Há

diversos autores que defendem a ideia que a acupunctura e a reflexologia são dois “ramos” de uma

mesma árvore, tendo-se originado mais ou menos ao mesmo tempo na antiga China como duas

técnicas complementares no tratamento de desequilíbrios e doenças (MATSUYAMA, 1998). Supõe-se,

por exemplo, que os pés eram tratados primeiro para estimular todo o organismo e localizar zonas de

perturbação, utilizando-se depois as agulhas para os coordenar. O tratamento dos pés era também

praticado na Índia, na Indonésia e entre os Índios, que acreditavam que os pés são o nosso elo de

ligação com a terra e com as suas energias (OXENFORD, 1998).

Como já foi referido, só a partir deste século é que os investigadores ocidentais juntaram a sabedoria e

as técnicas das culturas antigas à moderna perspectiva do assunto. Distinguem-se, para além do Dr.

William Fitzgerald e Eunice Ingham, Robert St. Jonh, que foi o primeiro a explorar os efeitos

psicológicos e fisiológicos do tratamento e Inge Dougans que trabalhou para demonstrar a ligação em

termos interpretativos entre o que é hoje denominado reflexologia e a teoria dos meridianos

(OXENFORD, 1998).

BENEFICIOS DA REFLEXOLOGIA

A reflexologia confere vários benefícios à pessoa que a pratique. Assim, e segundo Dougans et al

(1994), esta técnica/ciência/arte:

Induz um estado de relaxamento profundo ao mesmo tempo que diminui o stress individual;

Melhora a circulação sanguínea e linfática local e geral;

Limpa o organismo de toxinas e impurezas;

Promove a diminuição do sofrimento nervoso;

Revitaliza a energia da pessoa;

Contribui para o equilíbrio geral de todo o organismo.

O stress assume-se cada vez mais como uma preocupação e uma constante do quotidiano que afecta

qualquer pessoa independentemente da idade, sexo, estatuto social ou cultural. Apesar deste fenómeno

poder ser estimulante e positivo para a vida de um indivíduo ele pode também ser (e muitas vezes é)

extremamente negativo, desgastante e destrutivo. Quando uma pessoa entra em stress ocorre um

processo dinâmico de activação que envolve todo o organismo – ele induz emoções, altera o

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comportamento observável e interfere com mecanismos biológicos e cognitivos (SERRA, 1999). Numa

primeira fase dá-se uma reacção de alarme que acontece quando um indivíduo toma consciência de

uma situação ameaçadora ou potencialmente perigosa para si: ocorre um aumento na segregação de

adrenalina e noradrenalina através das glândulas supra-renais o que vai levar a um aumento da

frequência cardíaca e respiratória, vasodilatação periférica e abrandamento das funções digestivas.

Isto vai permitir ao indivíduo estar preparado para um surto breve de actividade acentuada que

esperançosamente permitirá a resolução do problema. No entanto, às vezes tal não acontece e o ser

humano não consegue lidar nem adaptar-se à situação que induz o stress. Aí entra em exaustão

podendo a sua saúde sofrer sérias consequências a vários níveis: corre um maior risco de sofrer de

hipertensão arterial e de outros problemas cardiovasculares, de contrair diabetes, de adquirir infecções

devido à maior vulnerabilidade do seu sistema imunitário, de ter problemas gastrointestinais como

úlceras do duodeno, entre outras. Por outro lado, o stress afecta a pessoa não apenas no aspecto físico,

mas também psicologicamente: dele pode advir a fadiga, a ansiedade, a depressão e porventura

problemas de saúde mental muito graves (SERRA, 1999).

Assim, o primeiro benefício apontado anteriormente será provavelmente o mais importante da

reflexologia, porque esta técnica ajuda efectivamente a aliviar os efeitos do stress provocando uma

descontracção profunda, permitindo ao sistema nervoso funcionar com normalidade e libertar o

organismo para procurar alcançar de novo a sua homeostase. De facto, “quando o corpo está

relaxado tem oportunidade de se autocurar e funcionar melhor” (DOUGANS et al, 1994).

Outro benefício da reflexologia que se reveste de grande importância é o facto de melhorar a

circulação sanguínea e linfática do organismo. A função circulatória é fundamental ao funcionamento

humano. Qualquer falha, por mais curta que seja, pode ser fatal. É a circulação que estabelece a ligação

do oxigénio e nutrientes com as células, permitindo-lhes continuar a obter a energia essencial à vida.

Por outro lado, é também através da circulação que se eliminam as toxinas e as impurezas resultantes

do consumo dessa mesma energia. Ao reduzir o stress e a tensão, a reflexologia contribui para que

os vasos cardiovasculares transportem o sangue com uma maior facilidade, ao mesmo tempo que

ajuda a que os diversos aparelhos e sistemas orgânicos - incluindo os de rins – trabalhem bem e

os desperdícios sejam devidamente eliminados (DOUGANS et al, 1994).

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OS PÉS E A REFLEXOLOGIA

A importância que os nossos pés podem ter na nossa saúde – contribuindo para o nosso bem-estar

físico, mental e espiritual e para a manutenção de uma vida harmoniosa e em equilíbrio – é muitas

vezes ignorada pela população em geral. Na realidade poucos são os indivíduos que dão qualquer

espécie de atenção especial aos seus pés.

No entanto, os pés são essenciais ao Homem, não se podendo pensar neles como uma parte isolada e

estática do corpo, mas sim como elementos dinâmicos do nosso organismo, que interagem

constantemente com os órgãos e sistemas deste. Eles fazem parte do mecanismo de propriocepção do

corpo, actuando como órgãos sensitivos que auxiliam na detecção de possíveis alterações no meio

ambiente, recolhendo e trocando rotineiramente informações úteis ao resto do corpo com o objectivo de

assegurar a manutenção do equilíbrio de todo o organismo (KUNZ, 1984).

Por outro lado, autores como Dougans et al (1994) acreditam que os pés não só nos colocam em

contacto com o chão, mas ligam-nos à terra, literal e figurativamente. Eles constituem a nossa base e

alicerces, permitindo o nosso interacção com a Terra e com as energias que desta fluem (de acordo com

a medicina tradicional chinesa esta energia da Terra é Yin, tão necessária quanto a energia Yang

proveniente do Sol e do ar para o equilíbrio e harmonia de um indivíduo).

Para além de serem essenciais à nossa locomoção são também os pés que suportam o nosso peso e

postura incorrecta e que, de um modo geral, estão submetidos a uma pressão diária muito grande

ao longo de toda a nossa vida (MOTTA, 1999). Esta tensão acentua-se com o calçado (muitas vezes

demasiado apertado) que usamos, com as meias e as peúgas que, de certo modo, “sufocam” os nossos

pés não os deixando respirar, com o vaivém constante que as exigências da vida moderna nos impõe,

obrigando-nos a fazer marchas forçadas, que “cansam” os nossos pés sobremaneira. Há que referir

também que a esta espécie de “tortura” que exercemos em relação aos nossos pés acresce a

negligência que pode ser igualmente prejudicial quer directamente para esta região do corpo,

quer indirectamente para todo o organismo. Assim, os parcos cuidados de higiene dos pés –

relativos às unhas destes ou à hidratação da pele – e a exposição súbita destes a ambientes muito

diferentes e potencialmente adversos (por exemplo, andar descalço sobre superfícies com grandes

diferenças de temperaturas) podem afectar o equilíbrio da pessoa enquanto todo e ser propício ao

aparecimento de doenças de vários tipos (CRANE, 2000).

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Fig. 8: Mapa da planta dos pés e respectivos reflexos

Fonte: OXENFORD, 1998. Páginas 60 e 61

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Fig. 9: Mapa do peito e faces laterais dos pés e respectivos reflexos

Fonte: OXENFORD, 1998. Página 63

Como já foi referido anteriormente, segundo a teoria reflexologista o estado actual dos pés é um

indicador de saúde de todo o organismo, isto porque os pés constituem um microcosmo, ou mapa

miniatural perfeito do corpo, estando todos os seus órgãos e zonas reflectidos nos pés, assumindo as

suas posições um “padrão anatómico lógico semelhante ao do corpo” (DOUGANS et al, 1994). De

uma forma geral, à medida que se desce pelo corpo, as áreas reflexas vão-se deslocando da ponta dos

dedos para o calcanhar (CRANE, 2000). Assim, e como está ilustrado de uma forma clara nas figuras 8

e 9, as diferentes estruturas do corpo estão representadas nos pés da seguinte maneira (DOUGANS et

al, 1994):

Áreas reflexas do crânio e cérebro Dedos dos pés;

Área torácica antepé;

Área abdominal arco do pé;

Área pélvica calcanhar;

Área reprodutora tornozelo;

Coluna Vertebral face interna do pé;

Exterior do corpo face externa do pé;

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Área do peito e pontos circulatórios especiais peito do pé.

Utilizando os conhecimentos da reflexologia e as técnicas inerentes a esta ciência é possível obter

informação detalhada nos pés acerca do “bem-estar” das diversas partes do organismo. Aliada aos

benefícios globais que esta terapia traz à pessoa – quer ao seu corpo, quer à sua mente e espírito – não

se pode negar a importância que a prática da reflexologia pode ter no âmbito da prevenção primária

dos desequilíbrios, disfunções e doenças no Homem.

Por outro lado, a reflexologia permite tratar problemas ou doenças já existentes na pessoa através da

aplicação de pressão de uma forma sistemática e coerente em pontos reflexos precisos, podendo ser

utilizada igualmente no sentido de impedir o aparecimento de recaídas. Deste modo a reflexologia pode

também constituir-se como uma mais-valia no âmbito da prevenção secundária e terciária das

doenças (CRANE, 2000).

AS SESSÕES DE REFLEXOLOGIA – APLICAÇÃO NUM CASO

A reflexologia é uma técnica terapêutica que pode conduzida ou por um terapeuta – que a irá aplicar

num determinado indivíduo de acordo com as suas orientações ideo-metodológicas específicas; pode,

por exemplo, adoptar uma técnica de cariz ocidental (em que a pressão exercida é menor, o estímulo é

mais fraco, superficial, agradável e o resultado é mais demorado) ou oriental (em que a pressão é

mais firme, o estímulo é forte, profundo, havendo maiores probabilidades de ocorrer inicialmente uma

certa sensação de dor, mas os resultados são, normalmente, mais imediatos); pode também utilizar o

método de Ingham ou uma técnica correlacionada com a teoria dos meridianos, por exemplo – ou pela

própria pessoa que a aplica em si mesma (MATSUYAMA, 1998).

Se bem que pareça aliciante a perspectiva do auto-tratamento, quer pelo menor gasto monetário quer

pelo aparente ganho de tempo e evitar de incómodos que estão sempre associados ao acto de procurar

um profissional e marcar as respectivas consultas este processo tem várias desvantagens. Assim,

segundo Dougans et al (1994) é impossível obter deste modo o “supremo bem da reflexologia” – o

relaxamento, isto porque o factor conforto que é um dos pré-requisitos indispensáveis para que tal

suceda não se encontra presente devido às posições e movimentos contínuos que o indivíduo tem que

levar a cabo em si próprio. Por outro lado, não acontece a troca de energia vital entre profissional e

utente – não apenas devido ao facto de não haver contacto físico entre duas pessoas no acto de

execução da técnica, mas sobretudo devido à ausência daquilo que em enfermagem é vulgarmente

chamado de relação empática de ajuda em que o profissional ajuda a pessoa a ajudar-se, não apenas

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através do tacto, mas também da sua sabedoria – conhecendo bem a sua história de vida e o que está

na base dos problemas – e das suas palavras – dando conselhos úteis à pessoa, acalmando-a e

relaxando-a ainda mais mediante a utilização de tons brandos e suaves. Pode também afigurar-se

complicado ter um acesso rigoroso aos nossos próprios reflexos e conseguirmos efectuar alguns

movimentos da forma mais eficaz, podendo um tratamento completo demorar bem mais que uma

hora e requerer uma boa dose de agilidade. Assim, aquilo que parecia à primeira vista um ganho de

tempo, pode-se converter-se numa gasto razoável, ainda que positivo, pois apesar de todas estas

desvantagens não deixa de ser uma solução a levar em linha de conta no que diz respeito à prevenção

primária e ao alívio rápido de um dado problema.

A melhor opção em termos de sessões de tratamento de reflexologia não deixa de passar pela

actuação profissional de um reflexologista com formação. Aí os níveis de eficácia serão maximizados e

todos os objectivos e benefícios da reflexologia são passíveis de se concretizar em pleno. Sabendo isto,

tive algumas reticências em empregar esta técnica durante a fase inicial do meu estágio actual. Para

além de recear não a executar da melhor forma, desconhecendo o grau de eficácia que iria conseguir

obter havia igualmente a problemática de este meu Ensino Clínico se passar num serviço de Psiquiatria,

um serviço muito específico, em que a maior parte dos utentes têm problemas graves de ordem

psicológica, podendo ter reacções imprevisíveis durante as sessões. Felizmente, este meu estereótipo

desvaneceu-se pouco tempo depois de dar entrada no serviço porque, como constatei, muitos deles são

extremamente acessíveis, colaborantes e até predispostos a participar. No entanto, continuava com

receios e só durante as últimas semanas de estádio me arrisquei a experimentar esta técnica numa

senhora que, segundo ela, “adorava este tipo de coisas”.

Adoptei uma técnica de cariz mais ocidental, uma adaptação do método original de Ingham

expressa por Rosalind Oxenford no seu livro intitulado Reflexologia. A minha escolha baseou-se

no facto de este livro conter esquemas simples e objectivos, de fácil compreensão para um “leigo”

como eu, para além de possuir muitas ilustrações que me ajudaram bastante durante a execução da

terapia.

DIA ZERO

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Page 16: INTRODUÇÃO€¦  · Web viewÍNDICE. Introdução ……………………………………………………………………………………….. 3 O que é …

Por ser um estudante de enfermagem, sem qualquer experiência na área da reflexologia, salvo a

adquirida durante as aulas da disciplina de Terapias Complementares, procurei documentar-me bastante

acerca desta técnica/ciência/arte e ir o mais preparado possível para a minha “primeira sessão”.

Assim, procurei treinar em casa nos meus próprios pés algumas técnicas básicas de aplicação de

pressão, no sentido de evitar futuras dificuldades quando estivesse a aplicar a terapia à senhora. Há que

referir que a aplicação destas técnicas em mim próprio pouco relaxamento me suscitou – estava bem

mais preocupado em apreender a melhor maneira de as concretizar, devo admitir!

Das técnicas que procurei desenvolver constam:

a pressão alternada com o polegar ou com os dedos, que é uma técnica muito precisa para

trabalhar determinados pontos reflexos, em que se utiliza o polegar ou dedo para aplicar a

pressão alternada ou apalpação num dado ponto, por alguns momentos. A pressão é então

aliviada (embora o polegar ou dedo mantenha o contacto com a pele do pé), movendo-se o

polegar ou dedo para o ponto seguinte onde a pressão é novamente aplicada;

a pressão rotativa com o polegar, dedos ou nós dos dedos, uma técnica em que se deve

pressionar com firmeza o ponto reflexo e, mantendo uma pressão constante, fazer duas ou três

pequenas rotações no sentido dos ponteiros do relógio ou no sentido inverso. Deve-se então

aliviar a pressão e dirigir o polegar, dedos ou nós dos dedos para o ponto seguinte, como na

técnica da pressão alternada;

Figs. 10, 11 e 12: Pressão rotativa – com o polegar; com os dedos; com os nós dos dedos

Fonte: CRANE, 2000. Página 36

a fricção tem o objectivo de aquecer e descontrair os pés, gerando um efeito de atrito. Pode ser

usada cada um dos dedos dos pés em separado. Coloca-se o dedo entre o polegar e o indicador

como se fosse uma pinça e fricciona-se delicadamente, movendo-se o polegar e indicador em

direcções opostas;

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Page 17: INTRODUÇÃO€¦  · Web viewÍNDICE. Introdução ……………………………………………………………………………………….. 3 O que é …

o amassamento utiliza-se em áreas onde a estimulação exige uma maior pressão, em que a pele é

normalmente grossa ou áspera e menos sensível (ex. Calcanhar). Fecha-se a mão e com os nós dos

dedos executa-se um movimento circular simulando o amassar do pão, massajando todo o pé.

Pode-se também apertar e espremer o pé com a mão de apoio num movimento de vaivém;

o passeio pode ser usado para aplicar uma pressão suave sobre uma área extensa (no dorso do pé,

por exemplo). Pode ser executado por uma ou por ambas as mãos. O punho fechado da mão de

apoio deve ficar encostado à palma da mão ou à planta do pé para ampará-los – deve-se usar os

polegares caso se utilizem ambas as mão para levar a cabo esta técnica. Em seguida, com um, dois

ou três dedos (conforme der mais jeito) deve-se passear os dedos sobre o pé, de cima a baixo e a

toda a largura, em movimentos alternados.

Figs. 13, 14 e 15: Técnica da fricção; Técnica do amassamento; Técnica do passeio

Fonte: CRANE, 2000. Página 39

DIA UM

Neste dia passei à primeira fase da abordagem reflexológica que, curiosamente, não envolve qualquer

aplicação de contacto físico. Procurei, sim, como vários autores incluindo Crane (2000) e Dougans et al

(1994) conhecer bem a história de vida da senhora: compreender os seus problemas, o modo como

lida com eles, os seus hábitos e estilos de vida… em suma, fazer uma boa avaliação da situação e da

pessoa, uma vez que todas estas informações podem ser muito úteis para o planeamento e eficácia

das intervenções, quer a nível da reflexologia, quer inclusive dentro do contexto mais geral da

enfermagem.

18

Page 18: INTRODUÇÃO€¦  · Web viewÍNDICE. Introdução ……………………………………………………………………………………….. 3 O que é …

Assim, e apesar de já conhecer relativamente bem o seu historial, tive uma boa conversa com ela, de

modo a apurar o meu conhecimento da sua situação.

Dos dados que recolhi acho pertinente expor os seguintes:

A senhora Júlia (nome fictício) tem 40 anos de idade e deu entrada no serviço com um diagnóstico

de depressão major que surgiu na sequência de uma ruptura conjugal, aliada a uma sobrecarga

laboral (esta senhora é solicitadora);

Quando lhe propus esta actividade já se encontrava no serviço há cerca de duas semanas, sendo

visível a melhoria no seu estado de humor e redução da sintomatologia depressiva;

Referiu queixas relativas a dores de cabeças ocasionais (afirmando que sofre de enxaquecas há já

alguns anos) e a insónias que a têm incomodado bastante recentemente;

Confessou-me igualmente que, face à alta que se avizinha, já estava a ficar stressada só de pensar

em voltar ao seu emprego. Acredita que é possível que não se consiga adaptar novamente ao ritmo

frenético do seu trabalho, que entretanto se encontra em stand-by devido ao seu processo de baixa

psiquiátrica.

Com tudo o que a senhora me disse, achei necessário fazer uso de intervenções de enfermagem

complementares à reflexologia. Procurei, por exemplo, tranquilizá-la em relação à sua

sintomatologia, promovendo-lhe uma esperança realista – de facto, é possível atenuar ou suprimir

quer as insónias e dores de cabeça, quer o próprio stress de uma forma geral [factores que, por sinal,

podem (e muitas vezes estão!) associados entre si]. Para além disso dei-lhe algumas sugestões e

ensinei-lhe algumas estratégias para gerir o stress após a alta e conseguir desta maneira manter um

maior equilíbrio e harmonia na sua vida. Referi-lhe, por exemplo, a importância de a nível laboral não

se envolver em demasiados projectos ao mesmo tempo, devendo prosseguir no caminho da sua

recuperação total por “pequenos passos”, sem pressas. Para além disso, realcei a importância de ter

atenção à sua nutrição, de praticar exercício físico e de participar em actividades relaxantes.

Destas actividade relaxantes e terapêuticas não deixei de realçar a reflexologia. Aproveitei igualmente

para lhe explicar um pouco mais acerca do que consiste esta técnica, quais os seus objectivos,

benefícios e modo de actuação. Face ao seu interesse emprestei-lhe igualmente o livro Vida Nova –

Reflexologia de Rosalind Oxford para que o lesse e combinámos uma sessão para a manhã seguinte.

Durante esta explicação a senhora Júlia perguntou-me se esta técnica lhe faria algum mal. Dei-lhe a

conhecer as ideias de Crane (2000), Dougans et al (1994) e Matsuyama (1998) acerca deste assunto.

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Page 19: INTRODUÇÃO€¦  · Web viewÍNDICE. Introdução ……………………………………………………………………………………….. 3 O que é …

Estes autores estão de acordo no facto de que a reflexologia não traz malefícios à pessoa que a ela é

submetida, embora haja algumas precauções e eventuais contra-indicações à sua prática,

particularmente no que diz respeito a doenças que afectem especificamente os pés – como patologias

provocadas por fungos, por exemplo, ou infecções localizadas num determinado ponto do pé e que se

podem espalhar com a manipulação dos tecidos. Também há que se ter cuidado no tratamento de

determinados pontos reflexos. A título de exemplo, a sobrestimulação dos pontos relativos ao pâncreas

podem suscitar, num doente diabético, problemas no mecanismo de produção e regulação de insulina.

No entanto, não era o que se passava neste caso concreto, pois para além da depressão que trouxe a

senhora Júlia ao serviço e das enxaquecas de que se queixava, não existia nenhuma patologia orgânica

digna de registo, quer actualmente, quer no seu passado clínico.

Alertei-a também para a possibilidade de vir a experimentar sensações dolorosas em algumas zonas

dos pés durante as sessões iniciais, pois a sensibilidade dos pontos de reflexologia está intimamente

relacionada com o funcionamento dos órgãos que lhes estão associados (CRANE, 2000). Quanto

maior for o desequilíbrio e o congestionamento energético, maior será a sensibilidade de uma

determinada área à pressão (DOUGANS et al, 1994). Esta sensibilidade tenderá a diminuir e a

desaparecer à medida que as sessões de tratamento progridem.

Por outro lado, disse-lhe que normalmente as reacções que se seguem a um tratamento de

reflexologia são bastante agradáveis – calma e descontracção ou energia e rejuvenescimento, apesar

de poder ocorrer a chamada “crise de cura” nas primeiras sessões, que se deve à activação da

capacidade de auto-cura do organismo e que corresponde a uma limpeza das toxinas que nele se

haviam acumulado. A sintomatologia mais comum envolve um processo de depuração a nível dos

principais sistemas orgânicos de depuração – nos rins, intestinos, peles e pulmões . Assim pode

ocorrer uma maior frequência na micção com a eliminação de urina mais escura devido à elevada

concentração de toxinas, um aumento no peristaltismo intestinal e emissão de gases, uma transpiração

intensa e aumento na emissão das secreções mucosas do nariz, boca e brônquios; a pessoa pode

também sentir a cabeça pesada e os membros doridos e inclusivamente experimentar alterações do

humor, ficando ansiosa, por exemplo. O aparecimento destas reacções não deve ser motivo de grande

preocupação, dado que muitas vezes é um indicador positivo da eficácia da técnica, costumando

estes “sintomas” desaparecer após algumas horas. No entanto, dado que a perda de líquidos é frequente

é conveniente que a pessoa beba muita água para evitar o risco de desidratação (OXENFORD, 1998).

DIA DOIS

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Page 20: INTRODUÇÃO€¦  · Web viewÍNDICE. Introdução ……………………………………………………………………………………….. 3 O que é …

Neste dia levei a cabo a sessão de reflexologia propriamente dita. Procurei um lugar reservado, num

ambiente tranquilo e acolhedor para assegurar desde o início as condições propícias a um bom

relaxamento por parte da senhora Júlia. O seu quarto acabou por se revelar o mais adequado à prática

da sessão, por ser um sítio relativamente privativo e familiar para a utente.

Utilizei como materiais um colchão que poisei no chão para a senhora se deitar, diversas almofadas

que lhe garantiram uma posição e um “estar” confortável ao longo de toda a sessão, uma cadeira na

qual a utente assentou os seus pés e que também me permitiu eu acesso mais fácil a eles, três toalhas

que serviram para limpar e proteger os seus pés e também para manter quente o pé que não estivesse a

ser trabalhado, óleo de amêndoas doces e uma tina com água tépida, sabão e desinfectante

utilizadas para uma higiene inicial aos pés.

O conforto é condição essencial da reflexologia, sendo necessário quer ao utente quer ao profissional,

para que ambos se concentrem ao máximo na técnica, permitindo uma melhor eficácia desta. Este

conforto é assegurado não só com a ajuda de materiais como o colchão ou as almofadas, mas também

com o assumir de uma postura adequada por ambos. Foi isso que procurei fazer ao longo da sessão,

colocando quer a senhora Júlia quer eu próprio numa posição confortável e facilitadora para o

desenrolar da técnica – este posicionamento é semelhante ao patente na figura 16.

Fig. 16: Posição assumida por mim e pela utente; acresce a

utilização de um colchão para promover o conforto lombar e a

substituição deste tipo de banco por uma cadeira visto ser o único

material disponível na altura

Fonte: OXENFORD, 1998. Página 16

Após a lavagem e desinfecção procurei detectar marcas ou imperfeições nos pés e em todas as suas

estruturas que pudessem indicar um desequilíbrio no organismo. Observei a temperatura, cor, estado

da pele e tonicidade muscular dos pés. A senhora Júlia tinha os pés bem cuidados, relativamente

quentes e de cor normal (pés frios, azulados ou avermelhados são sinal de má circulação), cuja pele se

encontrava íntegra e hidratada (pele seca pode igualmente indicar problemas de circulação) e com uma

boa tonicidade muscular. Não possuía igualmente quaisquer calosidades, joanetes ou alterações na cor

e estrutura das unhas.

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Page 21: INTRODUÇÃO€¦  · Web viewÍNDICE. Introdução ……………………………………………………………………………………….. 3 O que é …

No entanto, quando procedi a uma palpação inicial dos pés em busca de pontos mais sensíveis à

pressão, verifiquei que a senhora Júlia referia um «incómodo» (segundo as suas próprias palavras)

quando a ponta dos cinco dedos de ambos os pés eram manipulados. Este evento afigurou-se-me com

sentido, uma vez que a zona em questão diz respeito à área do cérebro e cabeça – área esta que está sem

dúvida relacionada com a patologia depressiva que a trouxe ao serviço e eventualmente também com as

suas dores de cabeça e insónias recentes. Há inclusive uma forte possibilidade de todos estes problemas

estarem associados entre si.

Apesar de lhe ter detectado estes pontos sensíveis, atendi ao facto de ainda ser muito inexperiente

neste ramo e por isso decidi apenas levar a cabo nesta sessão inicial um tratamento geral de

reflexologia, sem levar em conta pontos reflexos específicos. Antes, porém, deste procedimento

procurei relaxar a senhora mediante o uso de palavras calmas e tranquilizadoras e também através da

aplicação de uma massagem de aquecimento dos pés, serviu também para preparar os pés para o

tratamento reflexológico subsequente. Esta técnica está descrita com mais pormenor no Anexo I deste

trabalho. Quando senti que a senhora Júlia estava preparada quer física, quer psicologicamente para a

aplicação do tratamento geral de reflexologia procedi então à mobilização da técnica descrita no

Anexo II. A sessão durou aproximadamente 50 minutos. Conclui-a com outra massagem breve, em que

utilizei óleo de amêndoas doces para hidratar a pele dos pés.

A doente revelou depois da sessão finalizada uma profunda descontracção. Manifestou igualmente o

seu contentamento por ter sido a «feliz contemplada» com uma técnica deste tipo, agradecendo por

várias vezes a atenção especial e o "jeitinho" que eu tive ao cuidar dos seus pés. No dia seguinte

falámos novamente e referiu-me que tinha andado relaxada durante o resto do dia. No entanto, à noite

as enxaquecas e as insónias regressarem em força. Não experiênciou nenhuma “crise de cura”. Propus-

lhe a realização de mais uma ou duas sessões na semana seguinte e ela aceitou de bom grado.

DIA TRÊS

Neste dia de início de semana, para além de ter realizado todas as técnicas que já descrevi no dia dois,

resolvi trabalhar melhor os pontos mais sensíveis presentes nos dedos dos pés da utente e acrescentei

três sequências específicas ao tratamento geral de reflexologia que julguei serem as mais adequadas

aos problemas que a senhora Júlia manifestava – nomeadamente uma sequência destinada ao alívio do

stress, outra tendo em vista o melhoramento do sono e a última tendo em vista o alívio das dores de

cabeça. Estas sequências estão descritas respectivamente nos Anexos III, IV e V. Durante a sessão e

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Page 22: INTRODUÇÃO€¦  · Web viewÍNDICE. Introdução ……………………………………………………………………………………….. 3 O que é …

especialmente quando trabalhei os seus pontos sensíveis queixou-se de uma «dor surda» constante, de

intensidade média enquanto lhe fazia pressão. No entanto, com a minha “insistência” na manipulação

desses pontos a dor acabou por se atenuar. Após a sessão a utente manifestou novamente descontracção

e relaxamento, tendo permanecido assim modo ao longo de todo o dia. Referiu ter ido à casa de banho

mais vezes do que era costume e ter suado intensamente à noite. Neste dia a senhora Júlia conseguiu

adormecer rapidamente tendo, no entanto, acordado a meio da noite completamente suada e com dores

de cabeça (embora mais fracas que anteriormente).

DIA QUATRO

Estávamos no final da semana. Esta seria a última sessão que iria aplicar à senhora, uma vez que ela

tinha alta marcada para o dia seguinte. Utilizei exactamente os mesmos procedimentos que no dia três.

Para além da já habitual descontracção e relaxamento que se prolongou até à noite, a senhora Júlia

referiu-me na manhã posterior (pouco antes de abandonar o serviço) que não experiênciou quaisquer

dores de cabeça (um facto que não era normal para si, mas muito bem-vindo, por sinal!), apesar de ter

tido dificuldades em adormecer. Por outro lado referia que estava calma e demonstrava uma atitude

positiva dizendo que tinha novamente «forças para viver» e para «ir à luta». Confessou-me ter

guardado a referência do livro de Rosalind Oxford para depois o adquirir e manifestou a sua intenção

de continuar a praticar a reflexologia em si própria. Aproveitei a “deixa” para lhe explicar as vantagens

e desvantagens desse método, para lhe fornecer outras referências bibliográficas acerca desta terapia e

também para lhe recomendar que procurasse um reflexologista profissional que conseguiria, sem

dúvida, obter resultados bem mais positivos que os por mim alcançados.

Com a alta da senhora Júlia acabou esta minha experiência com a reflexologia dos pés, da qual só

posso retirar um saldo positivo, uma vez que me permitiu evoluir na compreensão e na aplicação desta

técnica, para além de ter produzido bons resultados – que podiam ter sido melhores, na minha opinião,

caso eu tivesse mais experiência e formação e se houvesse tido a oportunidade de efectuar um maior

número de sessões. Apesar de tudo, sinto que contribui para um maior equilíbrio e harmonia da senhora

Júlia e que a ajudei a encarar a vida com um sorriso, o que muito me apraz.

RELAÇÃO ENTRE A REFLEXOLOGIA E A ENFERMAGEM

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Page 23: INTRODUÇÃO€¦  · Web viewÍNDICE. Introdução ……………………………………………………………………………………….. 3 O que é …

A reflexologia e a enfermagem têm mais em comum do que à primeira vista aparentam. Se por um

lado a primeira é simultaneamente uma ciência, técnica e arte, não é menos verdade que também a

enfermagem se pode descrever nestes moldes. De facto, para além desta profissão se basear em

conhecimentos científicos, tendo um enfermeiro que conhecer em detalhe factos respeitantes ao

comportamento normal e patológico do corpo humano e muita informação respeitante a farmacologia

(e isto é apenas um exemplo dentro de uma infinidade de knowledges que qualquer enfermeiro tem que

ter presente para poder prestar da melhor forma os seus cuidados), a enfermagem assenta também a sua

prática num vasto número de técnicas desde o puncionar de uma veia ou uma entubação nasogástrica

até uma das técnicas mais básicas e essenciais a qualquer profissão de interacção humana – a

comunicação. É exactamente com a capacidade de comunicação, de “saber estar” com as pessoas,

estabelecendo uma relação de compreensão e empatia com elas, que a enfermagem se pode definir

como uma arte por excelência (BOLANDER, 1998). A reflexologia pode sem dúvida ajudar a “refinar”

esta arte, uma vez que se constitui como uma (boa) maneira de comunicarmos com o utente, assumindo

um relevo diferente do que uma simples conversa porque se trata de comunicação não-verbal – e às

vezes «um acto vale mais que mil palavras». Assim, pode funcionar como um meio de entrarmos em

contacto com os utentes ou de o consolidarmos, permitindo-nos conhece-los e compreendê-los melhor

ao mesmo tempo que promove o estabelecimento de uma relação empática e terapêutica.

É inegável que “o desenvolvimento da disciplina de enfermagem tem sido no sentido de uma

abordagem em que o doente/utente tem um papel mais activo nas tomadas de decisão e em que a

relação enfermeiro/doente se guia por princípios como a intimidade, a reciprocidade e a parceria. Isto é

vital nessa relação” (SOUSA, 1999). Recentemente tem-se lutado contra uma prática de enfermagem

de cariz biomédico que se instalou no sistema de saúde ocidental e que perdura há já vários séculos,

uma vez que é reducionista, procurando tratar a doença do doente em vez de cuidar do todo que a

pessoa é; mecanicista porque assenta essencialmente em tarefas automáticas e rotineiras por parte do

pessoal de enfermagem, mais centradas sobre a tecnologia do que propriamente nos utentes; e

essencialmente pouco humana – porque a pessoa é muitas vezes ignorada enquanto tal e não lhe é dada

qualquer autonomia e liberdade de decisão em relação à sua saúde (WATSON, 1989). A melhor

alternativa assenta na adopção de uma filosofia holística em que não se dá somente importância à parte

da pessoa que está doente, mas em que se cuida dela como um todo, procurando o seu desenvolvimento

e equilíbrio a nível físico, mental e social (RIBEIRO, 1995). A reflexologia baseia-se nesta mesma

filosofia – de facto, como Crane (2000) refere, parafraseando um dito antigo, mas muitas vezes

esquecido «o todo não é meramente a soma das partes» e é sobre ele que tanto a reflexologia como a

enfermagem devem trabalhar.

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Page 24: INTRODUÇÃO€¦  · Web viewÍNDICE. Introdução ……………………………………………………………………………………….. 3 O que é …

Por outro lado é de realçar que nem a enfermagem nem a própria reflexologia pretendem sobrepor-se

ou constituir-se como uma alternativa à instituição médica. Não são os reflexologistas e muitos menos

os enfermeiros que “diagnosticam doenças, tratam um problema de saúde específico, receitam ou

corrigem medicações” (DOUGANS et al, 1994). No entanto, existem diagnósticos de enfermagem

(NANDA, 2001) e igualmente diagnósticos de reflexologia (DOUGANS et al, 1994). Estes têm uma

função muito importante, uma vez que permitem compreender melhor os problemas das pessoas e

organizar de uma forma mais coerente e eficaz as intervenções necessárias para os resolver

(intervenções que estejam dentro da esfera de competências de cada profissional, claro). Através deles,

por exemplo, os enfermeiros podem dar uma maior e melhor contributo à equipa interdisciplinar no

sentido de se ajudar a pessoa com problemas de saúde que é afinal, o objectivo último do nosso

trabalho.

Também os reflexologistas podem trabalhar em parceria com a chamada “medicina convencional” –

podem, por exemplo, detectar determinado tipo de problemas que requeiram uma confirmação através

de exames médicos ou receber pessoas já com desequilíbrios graves que não se conseguem resolver

apenas com uma acção reflexológica. Assim, eles servem como ponte de ligação entre as “medicinas

alternativas” (como popularmente são designadas) e a medicina convencional encaminhando as pessoas

para as instituições mais indicadas à restauração/manutenção do seu bem-estar. Infelizmente, esta

ligação é praticamente nula no sentido inverso, uma vez que os “técnicos convencionais” muitas vezes

não acreditam na utilidade e benefícios destas terapias e assumem algumas reservas em as admitir na

sua prática (SOUSA, 1999). É essencial promover o contacto e o diálogo entre as diferentes abordagens

porque, na minha opinião, o facto de se compreenderem e aceitarem, sendo complementares em relação

uma à outra só traria vantagens, não só para quem as pratica, mas sobretudo para os utentes que seriam

mais bem cuidados como um todo.

Apesar de tudo o recurso a terapias complementares por parte dos enfermeiros tem vindo a aumentar.

Isto deve-se, segundo Sousa (1999), ao facto de “estes profissionais estarem um pouco desiludidos, e

porque não dizê-lo frustados, com o impacte que os tratamentos, cada vez mais invasivos, têm sobre os

seus doentes. Procuram, por isso, encontrar uma abordagem menos traumatizante, mais suave de

cuidar, promovendo um maior envolvimento pessoal de quem cuida e de quem é cuidado”. A

reflexologia, enquanto terapia complementar, possui igualmente esta importante particularidade de ser

uma técnica holística não invasiva que procura conferir/manter um equilíbrio e harmonia na vida das

pessoas, assentando muito do seu “ser” no toque e na relação enfermeiro-utente. A introdução desta

técnica na prática diária de enfermagem não só é possível (como eu próprio pude constatar, ao aplicá-la

na senhora Júlia) como é aconselhável, pois pode levar por um lado à “melhoria dos cuidados

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Page 25: INTRODUÇÃO€¦  · Web viewÍNDICE. Introdução ……………………………………………………………………………………….. 3 O que é …

prestados, mas também a uma maior satisfação dos enfermeiros nessa mesma prática” (SOUSA, 1999).

Devido à sua natureza não-invasiva a reflexologia poderia até ser uma das terapias de eleição para o

uso em pessoas que sofrem de doenças terminais (cancro ou VIH, por exemplo) e pelas quais a

medicina dita convencional pouco ou nada pode fazer senão procurar aliviar o sofrimento.

Se não for por tudo o que já foi dito até agora, há outro motivo de peso pelo qual os enfermeiros não

devem pura e simplesmente ignorar as terapias complementares e a reflexologia. Este motivo prende-se

com o dever que os enfermeiros têm em estar constantemente inteirados de todos os recursos

disponíveis que possam contribuir para a melhoria da saúde dos utentes e de educar as pessoas em

relação a estes, de modo a permitir-lhes uma decisão informada e autónoma acerca do modo como

querem resolver os seus problemas. Mesmo que não acreditem inteiramente na eficácia das técnicas

devem-nas conhecer e fazer uso desses conhecimentos para orientar as pessoas, até porque há vários

utentes que decidem abandonar os tratamentos da medicina convencional quando acreditam que esta

não está a surtir o efeito desejado – podem assim recorrer, um pouco “às cegas” a um reflexologista

“charlatão”, isto é, um amador que não teve qualquer formação e que pode trazer danos às pessoas que

a ele se dirigem em busca de auxílio. Os enfermeiros devem estar atentos a este tipo de situações,

procurando incutir aos utentes a importância de uma complementaridade de tratamentos e, em caso de a

decisão destes de abandonar a terapia convencional ser irrevogável, respeitar a sua decisão e

encaminhá-los para um profissional que possa responder da melhor forma às suas solicitações

(MEINES, 1999).

CONCLUSÃO

Com a realização deste trabalho aprendi bastante acerca da reflexologia, não apenas em termos

teóricos, mas igualmente a nível prático. Na sua abordagem holística, centrada na pessoa e não na sua

doença, identifiquei o próprio conceito de enfermagem que me foi incutido desde que entrei para o

curso e que procurarei seguir ao longo de toda a minha vida profissional e pessoal.

Virei também o foco da minha atenção para os pés das pessoas, uma parte do corpo que (confesso) me

havia mais ou menos “esquecido” até aqui o que, infelizmente, não é só mal meu, mas um problema da

maior parte da população e ao qual a enfermagem não escapa. Não voltarei a cometer esse erro. Os pés

são uma parte essencial do corpo humano e podemos descobrir muitas coisas acerca do funcionamento

do organismo se os observarmos com atenção.

Para finalizar, tenho que referir que não só aprendi muito com a experiência prática, como também

gostei de a realizar. Fiquei feliz sobretudo porque verifiquei resultados positivos na utente e fui capaz

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Page 26: INTRODUÇÃO€¦  · Web viewÍNDICE. Introdução ……………………………………………………………………………………….. 3 O que é …

de lhe suscitar um sorriso. Penso que é essencial que se incorpore não só a reflexologia como outras

terapias complementares na enfermagem. Para que tal aconteça é necessário que haja uma formação e

um treino efectivo das mesmas no âmbito da disciplina e profissão (SOUSA, 1999), que é exactamente

o que acontece nesta unidade curricular.

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RIBEIRO, Lisete Fradique. Cuidar e tratar. Formação em enfermagem e desenvolvimento sócio-

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OUTRAS FONTES CONSULTADAS

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http://www.isurp.com.br/aula/ciencia/Marcio/osistema.htm

http://www.krapu4.com/taichi/talkguid.htm

http://www.mantra.com.ar/frame_acupuntura.html

http://www.reflexology_usa.net/facts.htm

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http://www2.uol.com.br/elle/edicao0100/bemestar.html

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