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49 Ciberteologia - Revista de Teologia & Cultura - Ano II, n. 13 Negros malês: a religiosidade islâmica atualizada no Instituto Cultural Steve Biko Gilberto Orácio de Aguiar * Resumo: A presente comunicação tem por objetivo realizar um paralelo entre a presença islâ- mica negra no Brasil através dos malês e a busca por cidadania do Instituto Cultural Steve Biko, de Salvador, como expressão da liberdade da comunidade afro-brasileira. Essa relação torna- se possível pelo fato de os malês terem possuído domínio da escrita e leitura, não só para en- tenderem o Alcorão Sagrado, mas também porque por esses mecanismos organizaram a maior revolta urbana de escravos, a Revolta dos Malês, em 1835, em Salvador. O Instituto Cultural Steve Biko, na atualidade, por meio do pré-vestibular para afro-descendentes e outras ativida- des educacionais, procura resgatar a história cultural dos povos africanos trazidos para o Brasil. Esse resgate se dá como reconhecimento da resistência diante dos maus-tratos sofridos por tais povos e da colaboração dos mesmos na elaboração da cultura afro-brasileira. Os mecanismos utilizados pelo Instituto Cultural Steve Biko têm como objetivo colocar as comunidades afro- brasileiras de Salvador numa busca cada vez maior da liberdade pela prática da cidadania. Palavras-chave: Religiosidades, cultura, liberdade para a cidadania. Introdução O presente ensaio tem por objetivo refletir os as- pectos (atos de ler e escrever) da religiosidade islâmi- ca dos negros malês capazes de articular mudanças sociais. Nesta mesma direção aparece, na atualidade, o Instituto Cultural Steve Biko – ICSB, que, com os seus projetos educativos, procura atualizar tal experi- ência de fé, cidadania e conquista de libertação. En- tre os projetos que mais se inserem neste contexto, situamos o Oguntec, que é um projeto educacional com a intenção de provocar a inserção de negros nos campos tecnológicos. O nome tem um imenso signifi- cado religioso por evocar o orixá Ogum, responsável, no candomblé, por aspectos relacionados à pesca, caça e agricultura. Ou seja: manipulação dos metais. A libertação que emana da atividade de busca da cidadania pela religiosidade nos aponta para uma fé engajada na realidade social. Isso nos oferece um ca- ráter horizontal da fé, ou um compromisso com rela- ção à história de sofrimento, de dor e de resgate da humanidade (Schlesinger e Porto, 1995, p. 2199). A religião islâmica na África A partir de sua entrada na África, os povos árabes do- minaram inicialmente a parte norte: Egito, Marrocos, Líbia, Tunísia, Argélia. O islã chegou à África Negra quando os bérberes conseguiram atravessar o deserto do Saara, atraídos pelo comércio do ouro e do mar- fim que florescia na África Ocidental: Gana, Sudão, Gâmbia... Acredita-se que os bérberes habitavam todo o território do norte da África forçando as populações negras a locomover-se para o sul através do deserto. Essa região foi conquistada pelos referidos povos en- tre os anos 670 e 700 EC (Lopes, 1988, pp.25-27). A África, mesmo sendo um continente e não um país, como muitos imaginam, apresenta característi- cas que unem suas populações no que diz respeito às práticas religiosas. Isso fez com que a aceitação ao islamismo pelos africanos não tenha sido pacífica e não sem adaptações dos símbolos maometanos à cultura africana. Nei Lopes (1988) nos diz que o is- lamismo, com sua pregação, não foi aceito pacifica- mente na África, encontrando resistências por parte das populações. Negros malês: religião, liberdade e cidadania O islamismo entrou no Brasil por meio de negros africanos trazidos para serem escravos. Aqui, esses negros recebem o nome de malê, designação prove- niente do iorubá imalé, ou fon, que significa muçul- mano (Monteiro, 1987, p.19). Portanto, malês eram os

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Negros malês: a religiosidade islâmica atualizada no Instituto Cultural Steve Biko

Gilberto Orácio de Aguiar*

Resumo: A presente comunicação tem por objetivo realizar um paralelo entre a presença islâ-mica negra no Brasil através dos malês e a busca por cidadania do Instituto Cultural Steve Biko, de Salvador, como expressão da liberdade da comunidade afro-brasileira. Essa relação torna-se possível pelo fato de os malês terem possuído domínio da escrita e leitura, não só para en-tenderem o Alcorão Sagrado, mas também porque por esses mecanismos organizaram a maior revolta urbana de escravos, a Revolta dos Malês, em 1835, em Salvador. O Instituto Cultural Steve Biko, na atualidade, por meio do pré-vestibular para afro-descendentes e outras ativida-des educacionais, procura resgatar a história cultural dos povos africanos trazidos para o Brasil. Esse resgate se dá como reconhecimento da resistência diante dos maus-tratos sofridos por tais povos e da colaboração dos mesmos na elaboração da cultura afro-brasileira. Os mecanismos utilizados pelo Instituto Cultural Steve Biko têm como objetivo colocar as comunidades afro-brasileiras de Salvador numa busca cada vez maior da liberdade pela prática da cidadania.Palavras-chave: Religiosidades, cultura, liberdade para a cidadania.

IntroduçãoO presente ensaio tem por objetivo refl etir os as-

pectos (atos de ler e escrever) da religiosidade islâmi-ca dos negros malês capazes de articular mudanças sociais. Nesta mesma direção aparece, na atualidade, o Instituto Cultural Steve Biko – ICSB, que, com os seus projetos educativos, procura atualizar tal experi-ência de fé, cidadania e conquista de libertação. En-tre os projetos que mais se inserem neste contexto, situamos o Oguntec, que é um projeto educacional com a intenção de provocar a inserção de negros nos campos tecnológicos. O nome tem um imenso signifi -cado religioso por evocar o orixá Ogum, responsável, no candomblé, por aspectos relacionados à pesca, caça e agricultura. Ou seja: manipulação dos metais.

A libertação que emana da atividade de busca da cidadania pela religiosidade nos aponta para uma fé engajada na realidade social. Isso nos oferece um ca-ráter horizontal da fé, ou um compromisso com rela-ção à história de sofrimento, de dor e de resgate da humanidade (Schlesinger e Porto, 1995, p. 2199).

A religião islâmica na ÁfricaA partir de sua entrada na África, os povos árabes do-

minaram inicialmente a parte norte: Egito, Marrocos, Líbia, Tunísia, Argélia. O islã chegou à África Negra

quando os bérberes conseguiram atravessar o deserto do Saara, atraídos pelo comércio do ouro e do mar-fi m que fl orescia na África Ocidental: Gana, Sudão, Gâmbia... Acredita-se que os bérberes habitavam todo o território do norte da África forçando as populações negras a locomover-se para o sul através do deserto. Essa região foi conquistada pelos referidos povos en-tre os anos 670 e 700 EC (Lopes, 1988, pp.25-27).

A África, mesmo sendo um continente e não um país, como muitos imaginam, apresenta característi-cas que unem suas populações no que diz respeito às práticas religiosas. Isso fez com que a aceitação ao islamismo pelos africanos não tenha sido pacífi ca e não sem adaptações dos símbolos maometanos à cultura africana. Nei Lopes (1988) nos diz que o is-lamismo, com sua pregação, não foi aceito pacifi ca-mente na África, encontrando resistências por parte das populações.

Negros malês: religião, liberdade e cidadania

O islamismo entrou no Brasil por meio de negros africanos trazidos para serem escravos. Aqui, esses negros recebem o nome de malê, designação prove-niente do iorubá imalé, ou fon, que signifi ca muçul-mano (Monteiro, 1987, p.19). Portanto, malês eram os

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seguidores da religião muçulmana, também conheci-da por islã, fossem eles escravos ou negros libertos, africanos ou brasileiros, provenientes de qualquer parte de África. Pode-se afi rmar, ainda, que a pala-vra malê não designa nenhum povo ou nação, mas um conjunto de pessoas, de diversas origens étnicas, que seguiam a religião islâmica. Havia entre os malês uma predominância de iorubás ou nagôs, vindos da África Ocidental, principalmente da Nigéria,

que foram os negros fulos, que comumente se chamou de filamim, e os tapas, mas foram os hauçás que se destacaram nas grande revoltas, embora a luta incluís-se grupos de raças nagô, jeje, minas, benim, mundubi, calabar, fulas e de tantas outras de menor densidade (Monteiro, 1987, p. 20).

A escravidão havia tirado destes povos o que pos-suíam de mais essencial: a liberdade de expressão. Os escravos tinham, muitas vezes, de inventar uma prática externa para satisfazer a sociedade à qual es-tavam acorrentados. O que sabemos de alguns mu-çulmanos é que externamente eram católicos, mas, internamente, eram da religião de Alá, mesmo sendo batizados e trazendo nomes do calendário cristão (Moura, apud Lopes, 1988, p.49).

Nesse contexto a religião tornou-se instrumento de luta e de resistência, expondo que a fé também poderia ser utilizada pelos escravos como meio de li-bertação. A religião islâmica é uma instância eminen-temente social e política. Toda a simbologia religiosa tende a levar a pessoa fi el para um relacionamento social mais elevado, buscando o bem da sociedade e o seu crescimento. Isso porque o islã, além de uma religião, “será também uma organização política e um mundo cultural [...]” (Jomier, 1992, p. 159). O is-lamismo foi para negros e negras marginalizados uma porta aberta, um local de chegada e de partida. A so-lidariedade, que fi gura como uma das expressões do islamismo, permitiu que surgisse uma comunidade reconciliada, onde ninguém deveria impor-se sobre os outros (Ibarrondo, 2004, p. 73).

Todo crente muçulmano deve ter como prioridade a criação de uma comunidade alicerçada na justiça, em que seus membros, principalmente os mais in-defesos, possam ser tratados com respeito. Logo, os negócios do Estado não seriam um desvio da espi-ritualidade, mas a concretização daquilo que Deus deseja para a comunidade islâmica. Para os negros malês, essa dinâmica religiosa que envolve o cotidia-no está claramente resolvida, pois lutar por liberdade da escravidão tem o mesmo peso e caráter que fazer as orações diárias. Os malês encontraram nos textos sagrados força para lutar contra a escravidão.

Esses povos foram responsáveis pela última revol-ta escrava urbana de Salvador, denominada revolta dos malês. Ao tratarmos dessa revolta neste trabalho, não queremos deter-nos nos relatos históricos, mas em sua base organizacional enquanto referência para os movimentos de resistência contra a discriminação racial. É nosso objetivo abordar os elementos que mi-naram a organização da guarda e monitoramento dos escravos e fi zeram dessa revolta um marco da evidên-cia da organização e infl uência religiosa tanto para os senhores do poder como para os escravos. A nossa atenção se voltará também para a estrutura de fundo que deu respaldo para que a revolta fosse situada no limite das revoltas e recebesse o peso histórico que recebeu. Os atos de ler e escrever que foram usados para a organização da revolta islâmica dos malês fi -guram como fortes exemplos de como tais compo-nentes podem favorecer a organização social e fazer dos dominados e discriminados senhores e senhoras de seus destinos.

A oração dos malês é um clamor por justiça, liber-dade e cidadania que sobe aos céus. Alá responde a essa oração manifestando o seu desejo em relação às pessoas que lhe dizem ser fi éis. “Alá jamais deseja a injustiça para a humanidade” (cf. Alcorão Sagrado 3, 180). Alá é misericordioso e defende os seus fi éis.

Saber ler e escrever: a luta atualizada do ICSB

O ICSB surgiu em julho de 1992, por iniciativa de professores afro-brasileiros, com “o objetivo de fortalecer a luta contra a discriminação [...] desen-volvendo atividades que buscam a reconstrução de identidade étnica, da auto-estima e cidadania dos afro-brasileiros em seu contexto de formação política e educacional” (ICSB, 2005).

O Instituto Cultural Steve Biko – ICSB recebeu este nome em homenagem ao advogado sul-africano ban-tu Stephen Biko, que, por causa de torturas recebidas durante o regime racista do apartheid, na África do Sul, morreu em 12 de setembro de 1978. Stephen Biko foi, também, o idealizador mais infl uente do movimento de consciência negra na África do Sul no período que antecedeu ao seu assassinato. Foi um dos idealizado-res do Movimento de Consciência Negra, movimento político sul-africano que objetiva unifi car a luta contra o regime de segregação racial da África do Sul, resga-tando a histórica resistência negra, inspirando-se na luta pela terra, o etiopismo e outros movimentos reli-giosos de matrizes africanas, bem como nas lutas pelo reconhecimento da contribuição dos sul-africanos mestiços e asiáticos na construção da África do Sul.

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Os muçulmanos, por saberem ler e escrever, ti-nham uma postura mais crítica diante de sua posição de escravos (Lopes, 1988, p.49). Conta-nos Nina Ro-drigues (1977, p. 56) que os povos nagôs que sabiam ler e escrever e faziam parte da insurreição malê não davam a mão a apertar nem se relacionavam bem com os outros negros que não fossem de seu grupo religioso. O fato de esses negros saberem ler e es-crever apresentava maior possibilidade de se orga-nizarem e terem a auto-estima mais elevada que os demais. Eles não se deixavam rebaixar. Conheciam o seu verdadeiro lugar na sociedade e sabiam que este lhe tinha sido tirado. Por isso lutaram para conquistar o seu espaço. Para as comunidades negras atuais, o exemplo dos malês se afi rma como importante sinal para se ter orgulho negro e auto-estima elevada (Lo-pes, 1988, p. 72).

Nos projetos educativos do ICSB, contempla-se a presença da fé associada à luta por liberdade para a cidade das populações afro-brasileiras. O ICSB man-tém vários projetos educativos, entre eles o Oguntec. Tal projeto, por exemplo, é a atuação da cidadania como expressão da resistência e da luta contra o ra-cismo através de alguns aspectos da religião dos ori-xás.

Segundo Reginaldo Prandi (2001, pp. 84-109), na coleta de seus mitos sobre Ogum, este pode ser apresentado como o senhor que domina sobre a agri-cultura, a caça e a guerra, pois conserva o segredo de como se fabricam os instrumentos relacionados a essas três atividades dos humanos e dos orixás. Con-tam, ainda, os mitos dos orixás, que Ogum é um ori-xá aterrador e violento e que sua importância “vem do fato de ser ele um dos mais antigos dos deuses iorubás e, também, em virtude da sua ligação com os metais e aqueles que os utilizam” (Verger, 2002, p. 88).

O projeto Oguntec responde a duas das fi nalidades propostas pelo ICSB, que são a promoção de “ações cooperativas com o objetivo de qualifi car, preferen-cialmente, jovens afro-brasileiros, possibilitando e potencializando o desenvolvimento de sua cidadania e consciência negra, com conseqüente inserção no mercado de trabalho” e a estimulação e participação “das crianças, adolescentes e jovens afro-brasileiros na conservação, proteção do meio ambiente e do res-peito das religiões tradicionais africanas” (Estatutos, 2004, p. 1).

Por meio da escrita e da leitura as populações ne-gras poderão apropriar-se de seu passado, reescreven-do, assim, a história dos povos negros, criando nela os heróis que foram a base do contexto de resistência nas lutas por liberdade na África e no Brasil.

ConclusãoA importância da valorização da religião dos po-

vos africanos no ICSB está no resgate que se faz das tradições dos antepassados, de sua cultura enquanto patrimônio. Ou seja: este resgate deve dar-se enquan-to atualização de “um bem, uma maneira que vem de trás, do interior de um contexto cultural determinado, e que penetra nessa terra de ninguém a que chama-mos de futuro” (Santos, 2005, p. 7). O resgate cultu-ral que se dá no presente pode ser entendido como projeção para um futuro próximo, onde se espera que uma reelaboração dos elementos destituídos de im-portância pela sociedade discriminatória manifeste a mesma força do passado.

O povo negro continua a sua caminhada em bus-ca de sua terra prometida na tentativa de resgatar sua identidade cultural enquanto expressão de vários po-vos que para este país foram trazidos. E a religião se apresenta como o ponto de encontro para esse resga-te na busca por cidadania, ou seja: busca de espaço para a participação social. Por isso podemos afi rmar que a cultura afro-descendente poderá ser expressão de luta enquanto for valorizada a religião dos ante-passados. Pois, foi na

religiosidade popular (praticada pelos antepassados) que particularmente os negros puderam expressar seus anseios de liberdade, escapando, assim, ao menos es-poradicamente, ao peso e à pressão da rigidez da es-trutura político-social e viver momentos de esperança messiânica (Azzi apud Costa, 2002, p. 362).

As situações de discriminações e preconceitos sofridas pelos povos afro-descendentes revelam um povo que, por onde passa, ocupa os piores lugares. A religião, nessas situações marginais, tem sido uma porta de acesso às situações de crescimento e de igualdade. É o espaço religioso que pode ser visto como um lugar de igualdade e de conquista de seu lugar social, onde se é chamado de irmão ou irmã.

A religião, no dizer de Clóvis Moura, poderá tor-nar-se forte instrumento de contestação aos projetos de opressão e de discriminação às populações afro-descendentes (Moura, 1981, pp. 61-62), transforman-do as realidades em que estão situadas. Por isso que, decorrente da experiência de fé dos antepassados que lutaram por melhores condições de vida a partir de sua religiosidade, pode-se atualizar essa mesma luta nos pré-vestibulares para afro-descendentes. A religião poderá, então, servir como instrumento para despertar a consciência das populações afro-descen-dentes contra os mecanismos de discriminação racial elaborados pela sociedade. A religião poderá tornar-se uma força libertadora para o povo. Foi isso que

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permitiu que africanos distintos se unissem numa luta por liberdade, tendo a triste sorte comum da escravi-dão. A fé islâmica se impôs com um “não” à situa-ção de rebaixamento a que foram reduzidos os povos africanos. O islamismo torna-se, então, um grito de guerra e de contestação às estruturas da discrimina-ção racial (Genovese, 1988, p. 282).

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Notas* Mestre em Ciências da Religião pela Universidade

Católica de Goiás. Coordenador da Comissão de Liturgia do CONIC – Conselho Nacional de Igrejas Cristãs e membro da Comissão de Direitos Humanos do mesmo Conselho.