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FACULDADE DE TECNOLOGIA UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA INVESTIGAÇÃO NUMÉRICA DO USO DA INTEGRAL – J NA AVALIAÇÃO DA INTEGRIDADE DE ESTRUTURAS SOB CARREGAMENTOS CÍCLICOS RICARDO FIUZA LIMA DISSERTAÇÃO DE MESTRADO EM ESTRUTURAS E CONSTRUÇÃO CIVIL DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA CIVIL E AMBIENTAL

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FACULDADE DE TECNOLOGIA

UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA

INVESTIGAÇÃO NUMÉRICA DO USO DA INTEGRAL – J NA AVALIAÇÃO DA INTEGRIDADE DE ESTRUTURAS SOB

CARREGAMENTOS CÍCLICOS

RICARDO FIUZA LIMA

DISSERTAÇÃO DE MESTRADO EM ESTRUTURAS E CONSTRUÇÃO CIVIL DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA CIVIL E AMBIENTAL

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UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA

FACULDADE DE TECNOLOGIA

DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA CIVIL E AMBIENTAL

INVESTIGAÇÃO NUMÉRICA DO USO DA INTEGRAL – J NA AVALIAÇÃO DA INTEGRIDADE DE ESTRUTURAS SOB

CARREGAMENTOS CÍCLICOS

ENG° RICARDO FIUZA LIMA

ORIENTADOR: LUCIANO MENDES BEZERRA

DISSERTAÇÃO DE MESTRADO EM ESTRUTURAS

PUBLICAÇÃO: E.DM - 014A/05

BRASÍLIA/DF: 19 DE DEZEMBRO DE 2005

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UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA FACULDADE DE TECNOLOGIA

DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA CIVIL E AMBIENTAL INVESTIGAÇÃO NUMÉRICA DO USO DA INTEGRAL – J NA

AVALIAÇÃO DA INTEGRIDADE DE ESTRUTURAS SOB CARREGAMENTOS CÍCLICOS

ENG° RICARDO FIUZA LIMA

DISSERTAÇÃO DE MESTRADO SUBMETIDA AO DEPARTAMENTO DE

ENGENHARIA CIVIL E AMBIENTAL DA FACULDADE DE TECNOLOGIA DA

UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA, COMO PARTE DOS REQUISITOS NECESSÁRIOS

PARA A OBTENÇÃO DO GRAU DE MESTRE EM CIÊNCIAS (M.Sc.).

APROVADA POR:

________________________________________________

LUCIANO MENDES BEZERA, Ph.D. (UnB)

(ORIENTADOR)

________________________________________________

PAUL WILLIAM PARTRIDGE, Ph.D. (UnB)

(EXAMINADOR INTERNO)

________________________________________________

JOSÉ EDUARDO DE ALMEIDA MANESCHY, D.Sc. (ELETRONUCLEAR)

(EXAMINADOR EXTERNO)

DATA: BRASÍLIA/DF, 19 DE DEZEMBRO DE 2005

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FICHA CATALOGRÁFICA

FIUZA LIMA, RICARDO Investigação Numérica do uso da Integral – J na Avaliação da Integridade de Estruturas sob Carregamentos Cíclicos [Distrito Federal], 2005. xxi, 116 p., 210 mm x 297 mm (ENC/FT/UnB, M.Sc., Estruturas, 2005) Dissertação de Mestrado – Universidade de Brasília. Faculdade de Tecnologia. Departamento de Engenharia Civil e Ambiental. 1. Mecânica da Fratura 2. Fadiga 3. Integral – J 4. Propagação de Trinca 5. Método dos Elementos Finitos

REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA FIUZA LIMA, R. (2005). Investigação Numérica do uso da Integral – J na Avaliação da

Integridade de Estruturas sob Carregamentos Cíclicos. Dissertação de Mestrado,

Publicação E.DM 014A/05, Departamento de Engenharia Civil e Ambiental, Universidade de

Brasília, Brasília, DF, 116p.

CESSÃO DE DIREITOS NOME DO AUTOR: Ricardo Fiuza Lima.

TÍTULO DA DISSERTAÇÃO DE MESTRADO: Investigação Numérica do uso da Integral-J

na Avaliação da Integridade de Estruturas sob Carregamentos Cíclicos.

GRAU/ANO: Mestre em Ciências (M.Sc.) /2005.

É concedida à Universidade de Brasília a permissão para reproduzir cópias desta dissertação

de mestrado e para emprestar ou vender tais cópias somente para propósitos acadêmicos e

científicos. O autor reserva outros direitos de publicação e nenhuma parte desta dissertação de

mestrado pode ser reproduzida sem sua autorização por escrito.

_________________________________ Ricardo Fiuza Lima SQS 405 Bloco I Ap. 305 Asa Sul 70239-090 – Brasília-DF - Brasil

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e-mail: [email protected]

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Aos meus pais,

José Ricardo e Vera.

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AGRADECIMENTOS

À vida.

Ao meu orientador, Prof. Luciano Mendes Bezerra, pela orientação, paciência, dedicação e

incentivo, dados para escolha do tema e elaboração do meu trabalho de dissertação.

Ao Dr. José Eduardo Maneschy, por ter disponibilizado sua tese de doutorado juntamente

com o programa computacional desenvolvido durante o andamento de sua tese, materiais

amplamente utilizados e referenciados nesta dissertação.

A todos os professores e funcionários do Departamento de Engenharia Civil da Universidade

de Brasília (UnB) por terem contribuído significativamente na minha formação profissional.

Aos amigos Daniel, Gustavo, Rommel, Rafael, Marcelo Gaúcho, André, Alessandro, Paulo

Pimenta, Luiz Otávio e Luis Carlos pelo incentivo de sempre.

Aos amigos de mestrado, Paulo Marcelo, Gabriel, Alexon, Eider, Elder, Elizandra e Li Chong

Lee pela valiosa amizade e momentos de descontração ao longo desses dois anos.

Ao amigo Sandro Petry Laureano Leme pelas orientações e conhecimentos transmitidos e, em

especial, ao amigo Arlindo Pires Lopes pela amizade incondicional e pelas orientações e

conhecimentos transmitidos em mais essa fase da minha vida (muito obrigado).

Aos meus irmãos, Marcelo e Fernanda, pela paciência e incentivo.

Aos meus pais, por toda ajuda, paciência, incentivo, apoio, em resumo, por terem realmente

participado de todos esses momentos comigo, sem os quais teria sido muito mais difícil.

À minha namorada, Luciana, por ter vivido comigo toda essa história e, também, por servir de

inspiração e estímulo para que eu a cada dia possa conquistar mais e mais, pois sinto que

essas conquistas não são apenas minhas (te amo) ...

Ao CNPq, pelo apoio financeiro.

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RESUMO

O emprego da mecânica da fratura na engenharia tem importância fundamental no

dimensionamento e no monitoramento de estruturas solicitadas por carregamentos

monotônicos e cíclicos, que estão sujeitas ao aparecimento de trincas. Diversos setores

tecnológicos tais como as indústrias nucleares e petroquímicas, a aviação, as usinas

hidrelétricas e termoelétricas e a engenharia naval são, entre outros, os maiores interessados

no controle da propagação de trincas em vasos de pressão, tubulações, fuselagens, cascos de

navio, turbinas, etc. O interesse de setores estratégicos para a economia de qualquer país

ocasionou um crescente desenvolvimento de técnicas de engenharia para previsão de falhas

dessas estruturas.

Os métodos numéricos mais utilizados no estudo da propagação de trincas em estruturas são o

Método dos Elementos Finitos (MEF) e o Método dos Elementos de Contorno (MEC). Este

trabalho utiliza o Método dos Elementos Finitos para calcular a integral – J, pelo Método da

Energia, para carregamentos monotônicos ( )J e para carregamentos cíclicos ( , por meio

da metodologia desenvolvida por Maneschy (1998). O Elemento Finito adotado foi o

elemento isoparamétrico implementado por Barsoum (1976).

)

)

J∆

Alguns estudos foram realizados ao longo deste trabalho. Foram feitas análises do Fator de

Intensidade de Tensão comparando os valores calculados com casos clássicos da

literatura. Avaliou-se também o parâmetro

( IK

J tanto aplicando-se tensão quanto aplicando-se

deslocamento na estrutura. Foram determinados valores de J∆ para diferentes valores de

razão de carga . Por fim, algumas aplicações foram analisadas como a estimativa do

tempo de vida de uma tubulação submetida a fadiga ou solicitada por transientes hidráulicos.

( )R

Os valores de J e obtidos pelo Método da Energia foram comparados com soluções

disponíveis na literatura e com respostas fornecidas pelo programa ANSYS, apresentando

compatibilidade em todos os casos analisados.

J∆

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ABSTRACT

The use of fracture mechanics in engineering is fundamentally important in the design and

monitoring of structures subject to monotonic and cyclical loadings in which cracks might

appear. Several technological sectors such as the nuclear and petrochemical industries,

aviation, hydroelectric and thermoelectric plants and naval engineering, among others, are the

most interested in preventing these cracks in pressure vessels, pipes, fuselages, hulls of ships,

turbines, etc. The interest of strategic sectors of the economy of any country caused an

increasing development in engineering techniques to predict flaws in these structures.

The numerical methods mostly used in the study to prevent cracks in these structures are the

Finite Element Method (FEM) and the Boundary Element Method (BEM). This work uses

Finite Element Method to calculate the J integral, by the Energy Method, to monotonic ( )J

and cyclical ( J∆ ) loadings, using the method developed by Maneschy (1998). The Finite

Element was the isoparametric element implemented by Barsoum (1976).

Analysis of the Stress Intensity Factor ( )IK

J

were done, comparing the calculated values to

classic cases in books. The J parameter was also evaluated by applying stress and

displacement to the structure. Values for ∆ were chosen for different values of load ratio

( )R . Some applications, such as lifetime of pipes subjected to fatigue or subject to hydraulic

transients were also analysed.

The J and values obtained by the Energy Method were compared to solutions available

in books and to results provided by the ANSYS program, presenting compatibility in all the

cases that were analyzed.

J∆

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ÍNDICE

1– INTRODUÇÃO ...................................................................................................................1

1.1 – GENERALIDADES.................................................................................................... 1

1.2 – BREVE HISTÓRICO DA MECÂNICA DA FRATURA .......................................... 2

1.3 – ABRANGÊNCIA, LIMITAÇÕES E OBJETIVOS DESTE TRABALHO................ 5

1.4 – ESTRUTURA DA DISSERTAÇÃO .......................................................................... 8

2 – FUNDAMENTOS TEÓRICOS DA MECÂNICA DA FRATURA LINEAR

ELÁSTICA (MFLE)......................................................................................................... 11

2.1 – INTRODUÇÃO........................................................................................................ 11

2.2 – MODOS DE CARREGAMENTO........................................................................... 11

2.3 – EQUAÇÕES QUE DESCREVEM O CAMPO DE TENSÕES E

DESLOCAMENTOS NA PONTA DA TRINCA PARA O MODO I DE

CARREGAMENTO ................................................................................................ 12

2.4 – EXPRESSÕES DE PARA PROBLEMAS COM GEOMETRIA FINITA....... 14 IK

2.5 – PLASTICIDADE NA PONTA DA TRINCA.......................................................... 15

2.6 – MÉTODOS DE OBTENÇÃO DO FATOR DE INTENSIDADE DE TENSÃO.... 16

2.6.1 – Cálculo de pelo Método da Extrapolação dos deslocamentos .............. 17 IK

2.6.2 – Cálculo de pelo Método da Integral – J................................................. 19 IK

3 - FUNDAMENTOS TEÓRICOS SOBRE A INTEGRAL – J......................................... 20

3.1 – INTRODUÇÃO........................................................................................................ 20

3.2 – FORMULAÇÃO ORIGINAL.................................................................................. 20

3.3 – INTEGRAL – J PARA CARREGAMENTOS CÍCLICOS ( )J∆ ............................ 23

3.4 – CÁLCULO DE .................................................................................................. 25 J∆

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4 – MÉTODO DOS ELEMENTOS FINITOS (MEF) APLICADO À MECÂNICA

DA FRATURA................................................................................................................. 29

4.1 – INTRODUÇÃO........................................................................................................ 29

4.2 – DESENVOLVIMENTO DA FORMA FRACA ...................................................... 29

4.3 – FUNÇÃO DA FORMA............................................................................................ 31

4.4 – ELASTICIDADE BIDIMENSIONAL: ESTADOS PLANOS DE

DEFORMAÇÕES E DE TENSÕES ....................................................................... 32

4.5 – ELEMENTO FINITO ISOPARAMÉTRICO DE OITO NÓS ................................ 34

4.6 – ELEMENTO FINITO MODIFICADO DE BARSOUM (Barsoum, 1976)............. 37

5 – ASPECTOS COMPUTACIONAIS E SOLUÇÃO NUMÉRICA ................................ 42

5.1 – INTRODUÇÃO........................................................................................................ 42

5.2 – ARQUITETURA DA METODOLOGIA UTILIZADA PARA OBTER A

INTEGRAL – J VIA MÉTODO DA ENERGIA..................................................... 42

5.3 – DETALHAMENTO DA ETAPA DE ANÁLISE VIA MEF (BLOCO 1) .............. 43

5.4 – DETALHAMENTO DA ETAPA DE CÁLCULO DE J E (BLOCO 2) ........ 47 J∆

5.5 – MACROS UTILIZADAS DO ANSYS ................................................................... 50

6 – RESULTADOS ................................................................................................................. 51

6.1 – INTRODUÇÃO........................................................................................................ 51

6.2 – ANÁLISE DO PARÂMETRO .......................................................................... 51 IK

6.3 – ANÁLISE DO PARÂMETRO J e J∆ .................................................................. 55

6.3.1 – Dados do problema ...................................................................................... 56

6.3.2 – Análise do parâmetro J aplicando-se tensão .............................................. 59

6.3.3 – Análise do parâmetro J aplicando-se deslocamento .................................. 63

6.3.4 – Análise do parâmetro J∆ aplicando-se tensão............................................ 66

6.4 – APLICAÇÕES ......................................................................................................... 69

6.4.1 – Estimativa da vida útil de uma tubulação submetida à fadiga ..................... 69

6.4.2 – Estimativa da vida útil de uma tubulação solicitada por transientes

hidráulicos .................................................................................................... 79

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7 – CONCLUSÕES E SUGESTÕES .................................................................................... 86

7.1 – CONCLUSÕES........................................................................................................ 86

7.2 – SUGESTÕES ........................................................................................................... 87

REFÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ....................................................................................... 89

APÊNDICE A DETALHES DAS SUB-ROTINAS INTERNAS (MACROS)

UTILIZADAS DO PROGRAMA ANSYS ............................................ 92

A.1 – LINHAS DE COMANDO DO ANSYS UTILIZADAS PARA DEFINIR O

COMPORTAMENTO DO MATERIAL........................................................................ 92

A.1.1 – Comportamento linear elástico (exemplo) ......................................................... 92

A.1.2 – Comportamento elastoplástico (exemplo).......................................................... 93

A.2 – LINHAS DE COMANDO DO ANSYS UTILIZADAS PARA DEFINIR A

GEOMETRIA ESTRUTURAL ...................................................................................... 93

A.3 – LINHAS DE COMANDO DO ANSYS UTILIZADAS PARA DEFINIR O

CARREGAMENTO QUE SOLICITA A ESTRUTURA .............................................. 94

A.3.1 – Carregamento monotônico aplicando-se tensão (exemplo) ............................... 94

A.3.2 – Carregamento monotônico aplicando-se deslocamento (exemplo) ................... 94

A.3.3 – Carregamento cíclico aplicando-se tensão ( 0=R ) (exemplo) .......................... 94

A.3.4 – Carregamento cíclico aplicando-se tensão ( 1−=R ) (exemplo) ........................ 95

A.4 – MACROS UTILIZADAS PARA CALCULAR A INTEGRAL - J............................... 96

A.4.1 – Macro que utiliza o método da extrapolação dos deslocamentos (exemplo)..... 96

A.4.2 – Macro que utiliza o método da integral de contorno (exemplo) ........................ 97

A.5 – EXEMPLO COMPLETO............................................................................................... 98

APÊNDICE B DESENVOLVIMENTO TEÓRICO SOBRE TRANSIENTES ........ 104

B.1 – DESCRIÇÃO DO FENÔMENO TRANSIENTE PARA O CASO DE UMA

INTERRUPÇÃO BRUSCA DE UM ESCOAMENTO................................................ 104

B.2 – HIPÓTESES E EQUAÇÕES FUNDAMENTAIS ....................................................... 108

B.3 – MÉTODO DE SOLUÇÃO DE ‘TRANSIENTES’ NO DOMÍNIO DO TEMPO ....... 109

B.3.1 – Método das Características (M. C.).................................................................. 109

B.3.2 – Condições de Contorno .................................................................................... 112

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LISTA DE TABELAS

Tabela Conteúdo Página 6.1 Resultados de erros de para painel com trinca central............................. 52 IK 6.2 Resultados de erros de para painel com trinca de bordo.......................... 52 IK 6.3 Resultados de erros de para painel com trinca de bordo IK

dupla ............................................................................................................... 53 6.4 Propriedades do aço inoxidável 304 a 21°C (Maneschy, 1998)..................... 56 6.5 Propriedades geométricas das placas com trinca central e trinca de bordo dupla...................................................................................... 57 6.6 Propriedades geométricas da placa com trinca de bordo................................ 57

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LISTA DE FIGURAS

Figura Legenda Página 1.1 Fator de Concentração de tensão segundo Inglis para um furo elíptico............. 3 2.1 Modos de Carregamento (ANSYS User’s Manual, 1995) ............................... 11 2.2 Sistema de coordenadas adotado na ponta da trinca ........................................ 12 2.3 (a) Placa com trinca central ................................................................................... 14 2.3 (b) Placa com trinca de bordo................................................................................ 14 2.3 (c) Placa com trinca de bordo dupla ...................................................................... 14 2.4 Zona plástica na ponta da trinca ....................................................................... 15 2.5 Extrapolação de K com base nos deslocamentos ............................................ 18 3.1 Caminho ao longo do qual a integral - J é calculada ........................................ 21 3.2 Energia de deformação para o cálculo da integral – J quando

o carregamento é monotônico (Maneschy, (1998) Modificado) ...................... 26 3.3 Energia de deformação para o cálculo de J∆ Caso linear elástico (Maneschy, (1998) Modificado) ...................................... 27 3.4 Energia de deformação para o cálculo de J∆

Caso elastoplástico (Maneschy, (1998) Modificado) ....................................... 27 4.1 Elemento Finito Isoparamétrico de 8 nós ......................................................... 35 4.2 Elemento Finito Isoparamétrico de 8 nós modificado

por Barsoum (1976).......................................................................................... 37 4.3 Exemplos de elementos singulares colapsados

(ANSYS User’s Manual, 1995)........................................................................ 41 5.1 Metodologia utilizada para obter a integral – J ( J e J∆ )

via método da energia....................................................................................... 42 5.2 Exemplo de painel com trinca central submetido à condição

de carregamento imposto.................................................................................. 44

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5.3 Detalhe da região próxima à ponta da trinca

(elementos com quarter – point) ...................................................................... 45 5.4 Detalhe da região próxima à ponta da trinca

(elementos sem quarter – point)....................................................................... 45 5.5 Exemplo de painel com trinca de bordo

(Elemento PLANE2) ........................................................................................ 46 5.6 Exemplo de painel com trinca de bordo dupla

(Elemento PLANE82) ...................................................................................... 46 5.7 Diagrama que ilustra o funcionamento do programa

em FORTRAN.................................................................................................. 48 6.1 Resultados de erros de para painel com trinca central............................... 52 IK 6.2 Resultados de erros de para painel com trinca IK

de bordo ............................................................................................................ 53 6.3 Resultados de erros de para painel com trinca IK

de bordo dupla .................................................................................................. 53 6.4 Malha usada no ANSYS para discretização da trinca de

bordo ( 1,0=Wa ) usando simetria. O elemento utilizado foi o triângulo de 6 nós ..................................................................................... 54

6.5 Malha usada no ANSYS para discretização da trinca central

( 1,0=Wa ) usando simetria. O elemento utilizado foi o triângulo de 6 nós ..................................................................................... 55

6.6 Malha usada no ANSYS para discretização da trinca de

bordo dupla ( 1,0=Wa ) usando simetria. O elemento utilizado foi o triângulo de 6 nós ..................................................................................... 55

6.7 Relação tensão x deformação dada pela relação de

Ramberg - Osgood para o aço inoxidável 304 ................................................. 57 6.8 Malha usada no ANSYS para discretização da trinca central

( 1,0=Wa ) usando simetria. O elemento utilizado foi o isoparamétrico de 8 nós (tamanho médio do elemento igual a 0,005 m) ................................................................................................ 58

6.9 Malha usada no ANSYS para discretização da trinca de bordo

( 1,0=Wa ) usando simetria. O elemento utilizado foi o isoparamétrico de 8 nós (tamanho médio do elemento igual a 0,005 m) ................................................................................................ 58

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6.10 Tensão Yσ aplicada em uma placa com trinca central sendo

linear elástico o comportamento do material.................................................... 59 6.11 Deslocamentos u da estrutura em resposta à solicitação de tensão ............... 59 Y

6.12 J x para placa com trinca central. Análise linear elástica F

(Tensão Imposta) .............................................................................................. 60 6.13 J x para placa com trinca central. Análise linear elástica F

e elastoplástica (Tensão Imposta)..................................................................... 60 6.14 J x para placa com trinca de bordo. Análise linear elástica F

(Tensão Imposta) .............................................................................................. 61 6.15 J x para placa com trinca de bordo. Análise linear elástica F

e elastoplástica (Tensão Imposta)..................................................................... 61

6.16 J x para placa com trinca de bordo dupla. Análise linear elástica F(Tensão Imposta) .............................................................................................. 62

6.17 J x para placa com trinca de bordo dupla. Análise linear elástica F

e elastoplástica (Tensão Imposta)..................................................................... 62 6.18 Placa com trinca central sendo solicitada por deslocamento

sendo linear elástico o comportamento do material ......................................... 64

6.19 Tensão Yσ da estrutura em resposta à solicitação de deslocamento................ 64 6.20 J x para placa com trinca central. Análise linear elástica F

(Deslocamento Imposto)................................................................................... 65 6.21 J x para placa com trinca central. Análise linear elástica F

e elastoplástica (Deslocamento Imposto) ......................................................... 65 6.22 Comparação entre , calculado pelo método da energia, J∆

com , calculado pelas Expressões (3.16) e (3.17)...................................... 67 eJ∆ 6.23 Laço de histerese σ x δ para 0=R ( MPaMAX 240=σ e

0=MINσ ) .......................................................................................................... 68 6.24 Laço de histerese σ x δ para 1−=R ( MPaMAX 120=σ e

MPaMIN 120−=σ ) ........................................................................................... 68 6.25 ∆ x ∆ para e J F 0=R 1−=R ( J∆ obtido pelo método da energia);

eJ∆ x F∆ para (0=R eJ∆ obtido pela Equação (3.16))............................... 69

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6.26 Metodologia para estimar o tempo de vida remanescente

de materiais submetidos à fadiga - Passo 1 (Liaw, et al. (1993b) Modificado) .................................................................... 70

6.27 Metodologia para estimar o tempo de vida remanescente

de materiais submetidos à fadiga - Passo 2 (Liaw, et al. (1993b) Modificado) .................................................................... 71

6.28 Metodologia para estimar o tempo de vida remanescente

de materiais submetidos à fadiga - Passo 3 (Liaw, et al. (1993b) Modificado) .................................................................... 71

6.29 Sistema estrutural a ser avaliado

(Liaw, et al. (1993b) Modificado) .................................................................... 72 6.30 Tubulação trincada sendo modelada por meio de

uma placa com trinca de bordo......................................................................... 73 6.31 Esquema de análise de integridade estrutural de tubulações

(Liaw, et al. (1993b) Modificado) .................................................................... 74 6.32 Esquema para estimar o tamanho crítico de trinca

(Liaw, et al. (1993b) Modificado) .................................................................... 75

6.33 Metodologia utilizada para estimar o crescimento de trinca por fadiga (Liaw, et al. (1993b) Modificado)................................................... 76

6.34 Relação tensão x deformação dada pela Expressão (6.2)

para o aço A106B ............................................................................................. 77 6.35 Estimativa do tempo de vida remanescente da tubulação

em estudo submetida à fadiga utilizando três maneiras distintas para o cálculo de J∆ .......................................................................... 78

6.36 Relação entre da tubulação calculado utilizando fN

a Expressão (3.20) e as Expressões do EPRI.................................................... 79 6.37 Fechamento parabólico de válvula .................................................................... 81 6.38 Gráfico Pressão x Tempo obtido pelo programa

PRONDAS-1D ................................................................................................. 81 6.39 Gráfico Velocidade x Tempo obtido pelo programa

PRONDAS-1D ................................................................................................. 82 6.40 Tubulação trincada, submetida a pressão interna,

sendo modelada por meio de uma placa com trinca de bordo ............................................................................................................ 82

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6.41 Gráfico Pσ x Tempo (carga cíclica que solicita a estrutura) ............................ 83 6.42 Estimativa do tempo de vida remanescente da tubulação

analisada submetida a carga de pressão transiente ........................................... 84 B.1 Sistema reservatório tubo................................................................................. 105 B.2a Fechamento instantâneo da válvula e surgimento

da onda de compressão ................................................................................... 105 B.2b Chegada da onda de pressão ao reservatório e surgimento

da onda de descompressão.............................................................................. 106 B.2c Chegada da onda à válvula e surgimento de

uma onda de baixa pressão ............................................................................. 106 B.2d Chegada da onda de baixa pressão e surgimento da onda

de pressão que restitui as condições iniciais................................................... 107 B.3 Evolução da pressão no meio do tubo em função

do tempo ......................................................................................................... 108 B.4 Método das diferenças finitas aplicado à solução

de problemas transientes................................................................................. 111 B.5 Reservatório com nível constante e válvula

a jusante inicialmente aberta........................................................................... 112

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LISTA DE SÍMBOLOS 1. Matrizes, Vetores e Tensores Símbolo Significado t Vetor de trações de superfície definido no plano da normal n u Componente do vetor deslocamento

mnσ∆ Variações nas componentes do tensor de tensão

mnε∆ Variações nas componentes do tensor de deformação

mt∆ Variações nas componentes do vetor de trações de superfície

mu∆ Variações nas componentes do vetor deslocamento D Matriz elástica (3x3)

2. Escalares Símbolo Significado a Comprimento da trinca

0a Tamanho inicial de trinca

cra Tamanho de trinca crítico

Wa Relação entre o comprimento da trinca e a largura da placa

'A Coeficiente de crescimento de trinca por fadiga

Xb Componente das forças de corpo na direção x

xvii

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Yb Componente das forças de corpo na direção y

da Variação no comprimento de trinca ds Elemento infinitesimal de arco ao longo do caminho Γ Πd Variação de energia

dMAX Deslocamento máximo dMIN Deslocamento mínimo D Coeficiente de plasticidade E Módulo de elasticidade do material

YSYf σ= Tensão de escoamento do material

uuf σ= Tensão de ruptura do material F Módulo plástico G Taxa de energia liberada

CG Taxa de energia liberada crítica J Integral – J para carregamentos monotônicos

ICJ Integral - J crítica associada com o modo I de carregamento ( )EK IC2

maxJ Integral - J referente à tensão máxima de um determinado ciclo de

carregamento

minJ Integral - J referente à tensão mínima de um determinado ciclo de carregamento

k Constante que depende do tipo de estado plano K Fator de intensidade de tensão

IK Fator de intensidade de tensão associado com o modo I de carregamento

IIK Fator de intensidade de tensão associado com o modo II de carregamento

IIIK Fator de intensidade de tensão associado com o modo III de carregamento

xviii

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CK Fator de intensidade de tensão crítico

ICK Fator de intensidade de tensão crítico associado com o modo I de carregamento também conhecido como Tenacidade à fratura

maxK Fator de intensidade de tensão referente à tensão máxima de um determinado

ciclo de carregamento

minK Fator de intensidade de tensão referente à tensão mínima de um determinado ciclo de carregamento

n Expoente de encruamento do material

1n Expoente de crescimento de trinca por fadiga

Xn , Cossenos diretores Yn

fN Tempo de vida remanescente do material P Pressão interna da tubulação R Razão de carga ( )maxmin σσ

Mr Raio médio da tubulação

pr Comprimento da zona plástica t Espessura da tubulação

Xu Deslocamento na direção x

Yu Deslocamento na direção y U Densidade de energia de deformação W Largura da placa u&& Aceleração na direção x v&& Aceleração na direção y β Fator de correção geométrica

F∆ Variação da força

K∆ Variação do fator de intensidade de tensão

xix

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J∆ Integral – J para carregamentos cíclicos

eJ∆ Integral – J para carregamentos cíclicos tendo regime linear elástico do material

monJ∆ Integral – J para carregamentos cíclicos estimada por meio de expressões

baseadas em solicitações monotônicas σ∆ Variação de tensão

ε Deformação

0ε Deformação de referência ( )EfY=0ε φ Função de forma de elementos finitos ρ Massa específica µ Módulo de Deformação Transversal ( )υ+= 12E Ω Domínio do problema Γ Contorno do problema υ Coeficiente de Poisson do Material σ Tensão

MAXσ Tensão máxima de fadiga

MINσ Tensão mínima de fadiga

Pσ Tensão circunferencial na tubulação

xx

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LISTA DE ABREVIAÇÕES

Abreviaturas CNEN Comissão Nacional de Energia Nuclear COD Crack Openning Displacement CPP Circuitos Pressurizados de Petróleo CQP Com Quarter Point DI Deslocamento Imposto FCT Fator de Concentração de Tensão FIT Fator de Intensidade de Tensão IPEN Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares MCT Ministério de Ciência e Tecnologia MEC Método dos Elementos de Contorno MEF Método dos Elementos Finitos MELF Mecânica Elástica Linear da Fratura MFLE Mecânica da Fratura Linear Elástica SQP Sem Quarter Point SIF Stress Intensity Factor TI Tensão Imposta

xxi

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1 – INTRODUÇÃO

Este capítulo tem a finalidade de mostrar, de maneira geral, a temática abordada neste

trabalho, fazendo uma breve introdução sobre sua relevância e aplicações. Além disso, será

apresentado também um histórico resumido sobre a mecânica da fratura e, por fim, os

objetivos e a estrutura da dissertação.

1.1 – GENERALIDADES

O emprego da mecânica da fratura na engenharia tem importância fundamental no

dimensionamento e no monitoramento de estruturas sujeitas ao aparecimento de trincas e

que são solicitadas por carregamentos monotônicos e cíclicos. Diversos setores

tecnológicos como as indústrias nucleares e petroquímicas, a aviação, as usinas

hidrelétricas e termoelétricas, e a engenharia naval são, entre outros, os maiores

interessados no controle da propagação de trincas em vasos de pressão, tubulações,

fuselagens, cascos de navio, turbinas, etc. O interesse de setores estratégicos para a

economia de qualquer país ocasionou um crescente desenvolvimento de técnicas de

engenharia para previsão de falhas nessas estruturas.

Nos Estados Unidos, a fratura em materiais promove um gasto anual em reparo de

aproximadamente 119 bilhões de dólares, o que corresponde a 4% do seu produto nacional

bruto em 2000. Conforme estimou Saouma (2000), seria possível reduzir os gastos em 35

bilhões apenas utilizando-se as tecnologias já disponíveis. Além disso, 28 bilhões ainda

poderiam ser economizados investindo-se em novas pesquisas. Tomando por base esses

valores, evidencia-se a importância do assunto e o interesse que ele desperta na

comunidade internacional. No Brasil, apesar de ser notável o prejuízo causado pela

presença de trincas e fraturas em estruturas, não há registros que os quantifiquem.

Os projetos estruturais da atualidade não podem mais desconsiderar a existência de trincas.

Negligenciar tais aspectos resultaria no desenvolvimento de projetos inseguros e

antieconômicos. Algumas estruturas especiais, como estruturas aeronáuticas e navais, que

possuem as características de serem esbeltas e estarem submetidas a cargas cíclicas, devem

ser dimensionadas considerando-se a presença de falhas. Mesmo em regime de pouca

carga, tais estruturas apresentam regiões com elevadas concentrações de tensão, podendo,

1

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com isso, ter início o processo de propagação de trincas, potencializando-as ao colapso

precoce.

Com o contínuo desenvolvimento dos computadores e com a aplicação de métodos

numéricos na resolução dos problemas de engenharia, ocorreu um avanço considerável na

precisão dos cálculos de parâmetros utilizados para a caracterização dos problemas na

mecânica da fratura. Parâmetros como o fator de intensidade de tensão (K) e a Integral – J

( J ) passaram a ser mais facilmente calculados com a aplicação, por exemplo, do método

dos elementos finitos (MEF) e, posteriormente, do método dos elementos de contorno

(MEC) (Saouma, 2000).

A mecânica da fratura avançou significativamente durante a Segunda Guerra Mundial,

quando um elevado número de estruturas de aço chegou ao colapso. Nesse período quase

700 navios de produção americana sofreram sérios problemas de fratura, sendo

impossibilitados de atuarem em guerra, e outros 145 simplesmente partiram-se ao meio em

seu primeiro contato com a água.

A investigação desses acidentes evidenciou que os processos de dimensionamento da

época apresentavam-se muito incipientes. Não se considerava a perda da capacidade

resistente causada por falhas estruturais que ocasionavam altas concentrações de tensão, as

quais eram intensificadas pelas condições de serviço. Dessa maneira, favorecia-se o

colapso antecipado da estrutura (Ewalds e Wanhil, 1984).

1.2 – BREVE HISTÓRICO DA MECÂNICA DA FRATURA

Em 1898, o engenheiro alemão Kirsch demonstrou que o fator de concentração de tensão

(FCT) para uma placa infinita com um furo circular é igual a três quando ela está sujeita a

tensão de tração uniforme (Timoshenko e Goodier, 1980). Em 1913, Inglis estendeu a

solução das tensões em volta de um orifício circular para o caso mais geral de uma elipse.

Ele demonstrou o valor do Fator de Concentração de Tensão para esse caso, apresentado

na Figura 1.1, onde a é a metade do comprimento do eixo maior, b é a metade do

comprimento do eixo menor e ab2=ρ é o raio de curvatura.

2

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O valor de FCT mostrado por Inglis tem um interesse especial para a mecânica da fratura

pois, quando b tende a zero ou b << a, o furo tende a se tornar uma trinca e o valor de FCT

tende ao infinito, ocorrendo o que se chama de singularidade de tensão.

ρaFCT 21+=

Figura 1.1 – Fator de Concentração de tensão segundo Inglis para um furo elíptico

Logo após e seguindo o trabalho de Inglis, Griffith, em 1921, contribuiu muito ao

desenvolvimento da Mecânica da Fratura. Sua primeira grande contribuição foi a sugestão

de que falhas internas agiriam como intensificadores de tensão em sólidos, afetando

fortemente suas resistências. A segunda foi a formulação do critério energético para a

fratura, que considera a mudança total na energia durante o processo de fratura. Durante a

extensão da trinca, a energia do sistema é liberada e transferida na forma de energia

superficial. Essa análise foi desenvolvida por meio de seus estudos de propagação de

trincas em materiais frágeis. A partir desse momento, foi possível estabelecer

procedimentos de análise e dimensionamento de estruturas considerando a presença de

trincas, o que ocasionou um significativo avanço na engenharia estrutural.

Após o trabalho de Griffith, a Mecânica da Fratura permaneceu relativamente inalterada

por aproximadamente 20 anos. Em 1939, Westergaard formulou a expressão para o campo

de tensão perto de uma ponta aguda de trinca.

Um grande número de fraturas catastróficas e repentinas que ocorreram durante e logo

após a Segunda Guerra Mundial motivou o desenvolvimento impetuoso da Mecânica da

Fratura. Depois da guerra, George Irwin, que estava no laboratório de pesquisa naval nos

3

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EUA, partiu da idéia de Griffith para propor os fundamentos da Mecânica da Fratura. Ele

fez três grandes contribuições:

1. Verificou e comprovou o conceito da taxa de energia liberada G.

2. Estendeu a teoria de Griffith para metais pela consideração da deformação na ponta da

trinca. Isto resultou na chamada Teoria de Griffith Modificada.

3. Alterou a solução geral de Westergaard pela introdução do conceito do Fator de

Intensidade de Tensão (SIF, do inglês Stress Intensity Factor ou, em português, FIT

que difere do FCT. O símbolo SIF posteriormente passou a ser chamado de K)

(Saouma, 2000).

Existe um limite para o valor de G para que o sistema não entre em instabilidade. Esse

limite é a quantidade máxima de energia que a estrutura pode liberar para que não ocorra a

propagação instável de trinca. Dessa maneira, pode-se dizer que existe um valor crítico,

, o qual deve ser superior a G para garantir a estabilidade do sistema. De acordo com

essa nova abordagem energética, a constante G é a resistência do material à fratura, que é

uma propriedade de cada material e deve ser determinada por meio de ensaios previstos em

normas.

CG

C

Irwin, ao final da década de 1950, formulou o conceito de fator de intensidade de tensão

(K) e demonstrou a equivalência entre K e G obtendo expressões matemáticas que

correlacionavam estes dois parâmetros. Demonstrações da equivalência de K e G foram a

base para o aparecimento da Mecânica da Fratura Linear Elástica. De acordo com essa

nova abordagem, a fratura ocorre quando se atinge determinada distribuição crítica do

campo de tensões na ponta da trinca, ou seja, quando K atinge determinado valor crítico. A

esse valor crítico deu-se o nome de , característico de cada material. , de maneira

similar a , também representa a resistência à fratura do material (Broek, 1988).

CK CK

CG

O crescimento subcrítico da trinca também vem sendo estudado. Sabe-se que ele acontece

quando a trinca sofre aplicação de carregamento cíclico (fadiga) ou é submetida a um

ambiente corrosivo. Em ambos os casos, o comprimento original da trinca e as condições

de carregamento estão abaixo dos valores críticos para a ruptura catastrófica. Em 1961,

4

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Paris propôs a primeira equação empírica relacionando a faixa do fator de intensidade de

tensão com a taxa de crescimento da trinca.

Outra grande contribuição foi feita por Erdogan e Sih em meados dos anos 60, quando foi

introduzido o primeiro modelo de propagação de trinca para modo misto (Saouma, 2000).

As primeiras pesquisas que foram desenvolvidas com o objetivo de produzir uma teoria

satisfatória que explicasse a mecânica da fratura em materiais com comportamento não

linear ocorreram no final da década de 1950. Tentou-se utilizar o fator de intensidade de

tensão K em modelos com não linearidade do material, porém tais modelos não obtiveram

sucesso (Ewalds e Wanhil, 1984).

Considerações não lineares foram propostas por Wells e Rice. Em 1963, Wells utilizou o

deslocamento da abertura da trinca (posteriormente conhecido como COD – Crack

Openning Displacement) como parâmetro que caracteriza a resistência à propagação da

trinca em sólidos elastoplásticos. Em 1968, Rice introduziu o conceito da integral – J, uma

integral de contorno independente do caminho por meio do qual se calcula, em relação à

extensão da trinca, a mudança de energia potencial para um sólido em regime linear

elástico e elastoplástico.

Na década de 1980, surgem pesquisas que visam desenvolver uma teoria de mecânica da

fratura aplicada a materiais cerâmicos e a compósitos.

Grandes contribuições em muito maior número aconteceram com a introdução dos

métodos numéricos na análise de estruturas trincadas (Saouma, 2000).

1.3 – ABRANGÊNCIA, LIMITAÇÕES E OBJETIVOS DESTE TRABALHO

Este trabalho de dissertação tem a finalidade de dar continuidade ao trabalho de doutorado

realizado pelo Eng° e Dr. José Eduardo Maneschy (Maneschy, 1998). Maneschy (1998)

desenvolveu sua tese de doutorado, intitulada “Integral – J para carregamentos cíclicos”,

no Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (IPEN) em São Paulo, órgão federal de

pesquisa pertencente a CNEN (Comissão Nacional de Energia Nuclear ligada ao MCT –

Ministério de Ciência e Tecnologia). Atualmente, o Dr. Maneschy trabalha na

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Eletronuclear, no Rio de Janeiro, prestando relevante trabalho na área de mecânica da

fratura.

Em sua tese de doutorado, Maneschy (1998) desenvolveu, utilizando a linguagem

FORTRAN, um programa computacional que calcula a integral – J (por meio do método

da energia) para uma placa com trinca central tendo como carregamento tensão aplicada

(monotônica ou cíclica). O presente trabalho utilizou tal programa para promover

modificações.

Tendo em vista a continuidade a ser dada no trabalho do Dr. Maneschy, modificou-se o

programa implementando-se o cálculo da integral – J para as placas com trinca de bordo e

trinca de bordo dupla. Além disso, implementou-se ainda a consideração de carregamento

com deslocamento aplicado. A sub-rotina de integração que utiliza o método de Gauss foi

completamente aproveitada do programa original. Detalhes do funcionamento do programa

serão discutidos no capítulo 5 desse trabalho.

Dessa maneira, esta dissertação tem o objetivo de estudar o comportamento de estruturas

trincadas submetidas a solicitações monotônicas e cíclicas. Serão analisadas algumas

estruturas modeladas em estado plano de tensão e de deformação com elementos finitos

utilizando o programa ANSYS em conjunto com o programa computacional mencionado

anteriormente. A metodologia de análise para avaliação das estruturas é a integral - J tanto

associada a carregamentos monotônicos ( )J quanto associada a carregamentos cíclicos

. Os principais objetivos desse trabalho são: ( J∆ )

• Calcular o fator de intensidade de tensão ( )IK (modo I de carregamento) para alguns

exemplos clássicos da literatura utilizando macros do programa ANSYS preparadas para

este trabalho de dissertação;

• Implementar modificações no programa computacional desenvolvido por Maneschy

(1998) para possibilitar o cálculo de J e J∆ para painéis com trinca de bordo e trinca

de bordo dupla. Além disso, implementar a consideração de carregamento com

deslocamento aplicado;

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• Analisar o parâmetro J , calculado pelo método da energia, para as placas com trinca

central, de bordo e de bordo dupla submetidas a carregamento monotônico com tensão

aplicada, em regime linear elástico e elastoplástico. Os resultados serão comparados

com expressões analíticas e com os valores obtidos com as macros do ANSYS;

• Estudar o parâmetro J , calculado pelo método da energia, para uma placa com trinca

central submetida a carregamento monotônico com deslocamento aplicado, em regime

linear elástico e elastoplástico. A condição de deslocamento imposto representa melhor

que a tensão aplicada os efeitos de temperatura. A principal fonte de fadiga em

componentes nucleares é resultante de transientes térmicos, que produzem tensões

controladas pela deformação imposta. Os resultados também serão comparados com as

macros do ANSYS;

• Avaliar o parâmetro (carregamento cíclico), calculado pelo método da energia, para

uma placa com trinca central em regime linear elástico e elastoplástico para o caso com

tensão aplicada;

J∆

• Estimar o tempo de vida de tubulações submetidas a fadiga e tubulações sob transientes

hidráulicos utilizando o parâmetro J∆ obtido pelo método da energia (estruturas como

oleodutos podem estar submetidas a carregamentos transientes ocasionados por

fechamentos de válvulas, despressurizações, etc; esses fenômenos transientes provocam

oscilações da pressão na estrutura que podem levá-la ao colapso).

É importante comentar que será utilizado o programa PRONDAS-1D, desenvolvido por

Fiuza Lima (2003), para gerar as pressões transientes que solicitarão a tubulação. As

pressões informadas pelo programa PRONDAS-1D serão levadas ao programa ANSYS

como condição de carregamento da estrutura analisada. A parte teórica sobre transientes

hidráulicos, mostrada em anexo, foi baseada em Streeter (1979), Nascimento (2002) e

Fiuza Lima (2003).

O cálculo de é um problema relativamente pouco estudado em mecânica da fratura.

Devido a esse motivo não existem expressões para a obtenção de facilmente

disponíveis na literatura. É prática comum nas indústrias estimar os valores de por

meio de expressões baseadas em solicitações monotônicas

J∆

J∆

J∆

( )monJ∆ . Muitas vezes, porém,

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esses resultados podem ser bastante conservadores, ou seja, essa aproximação nem

sempre pode ser considerada confiável. Dessa maneira é importante estudar novos critérios

de obtenção de ∆ . J

A utilização do parâmetro foi proposto inicialmente por Dowling e Begley (1976), que

determinaram valores de por meio das curvas F x d (força x deslocamento) obtidas

durante ensaios experimentais. Esse estudo difere-se do realizado por Maneschy (1998)

principalmente pelo fato de este último ter obtido as curvas F x d por meio de simulação

numérica.

J∆

J∆

Apesar de o emprego de não ter comprovação matemática rigorosa para a situação de

descarregamento, alguns resultados experimentais indicam que é válida a correlação entre

a integral – J para cargas cíclicas e a taxa de crescimento de trincas (Maneschy, 1998).

J∆

1.4 – ESTRUTURA DA DISSERTAÇÃO

Nesta seção será feita uma descrição resumida a respeito dos capítulos deste trabalho.

No primeiro capítulo são apresentados aspectos que tratam de generalidades sobre a

mecânica da fratura bem como um breve histórico desta. Além disso, são descritos os

objetivos desta dissertação mostrando de maneira resumida as abrangências e limitações

deste trabalho.

No segundo capítulo, mostra-se uma revisão bibliográfica sobre a Mecânica da Fratura

Linear Elástica (MFLE) apresentando os modos de carregamento mais discutidos na

literatura, as equações que descrevem o campo de tensões e deslocamentos na ponta da

trinca para o modo I de carregamento, expressões usuais para o cálculo do fator de

intensidade de tensão encontradas na literatura e alguns métodos de obtenção de .

Além disso, neste capítulo, apresenta-se um tópico a respeito do fenômeno de plasticidade

que ocorre na ponta das trincas.

( IK ) IK

No terceiro capítulo, apresenta-se uma revisão bibliográfica sobre o método da integral – J

mostrando a formulação original do método, o cálculo da integral – J utilizando a integral

de contorno, a obtenção da integral – J por meio do método da energia e o cálculo da

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integral – J para problemas com carregamento cíclico ( )J∆ por meio do método da

energia.

No quarto capítulo, apresenta-se uma revisão sobre o método dos elementos finitos (MEF)

aplicado à mecânica da fratura, mostrando a teoria geral do MEF aplicada à elasticidade

bidimensional e o modelo de elementos finitos, desenvolvido por Barsoum (1976), que

considera os campos de tensões singulares existentes na ponta de trincas.

No quinto capítulo, discute-se a parte numérica computacional utilizada para calcular a

integral – J. Inicialmente apresenta-se a solução por elementos finitos, mostrando os

modelos estruturais, a descrição dos elementos finitos e a metodologia utilizada para obter

a curva F x d (Esta parte é desenvolvida utilizando o programa ANSYS). Em seguida

descreve-se o programa computacional utilizado para calcular J e J∆ . Por fim, fornecem-

se algumas explicações sobre as macros do programa ANSYS utilizadas neste trabalho.

No sexto capítulo, apresentam-se as aplicações numéricas desenvolvidas neste trabalho.

Foram feitas análises do parâmetro comparando os valores calculados com casos

clássicos da literatura. Estudou-se também o parâmetro

IK

J tanto aplicando-se tensão quanto

aplicando-se deslocamento. Foram determinados valores de J∆ para diferentes valores de

razão de carga ( MAXMINR )σσ= . Por fim, algumas aplicações são avaliadas como a

estimativa da vida útil de uma tubulação submetida a fadiga ou solicitada por transientes

hidráulicos. Os resultados são obtidos com a utilização do programa ANSYS em conjunto

com o programa computacional desenvolvido em FORTRAN. As análises são realizadas

em regimes linear elástico e elastoplástico. Todos os resultados apresentados são discutidos

dentro de cada exemplo.

No sétimo capítulo, encontram-se algumas conclusões deste trabalho, assim como algumas

sugestões para trabalhos futuros.

No anexo A, mostram-se exemplos das macros do programa ANSYS que foram utilizadas

neste trabalho para calcular os valores de J (cargas monotônicas), bem como algumas

linhas de comando que foram utilizadas no programa ANSYS para gerar os modelos

estruturais estudados nesta dissertação (definições de geometria estrutural, carregamento,

9

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condições de contorno, definição de comportamento do material – linear elástico e

elastoplástico).

No anexo B, apresenta-se a fenomenologia e a formulação das equações fundamentais que

regem o problema de transientes hidráulicos.

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2 – FUNDAMENTOS TEÓRICOS DA MECÂNICA DA FRATURA

LINEAR ELÁSTICA (MFLE)

2.1 – INTRODUÇÃO

Neste capítulo serão abordados conceitos gerais envolvidos em problemas relacionados

com a mecânica da fratura linear elástica (MFLE), tais como os modos clássicos de

carregamento estudados em mecânica da fratura, o comportamento dos campos de tensões

e deslocamentos na ponta de trincas, algumas fórmulas analíticas conhecidas para obtenção

dos fatores de intensidade de tensão, alguns aspectos inerentes ao fenômeno de

plastificação que se desenvolve na região próxima à ponta da trinca e, por fim, será feita

uma introdução sobre os métodos numéricos de obtenção do fator de intensidade de tensão.

2.2 - MODOS DE CARREGAMENTO

Ao se analisar a orientação da carga externa com relação à trinca, podem-se considerar três

formas básicas sob as quais uma estrutura pode ser solicitada. Cada forma de solicitação

chama-se modo de carregamento. Conforme mostrado na Figura 2.1, tais modos são

caracterizados da seguinte maneira:

Modo I Modo II Modo III

Figura 2.1 – Modos de Carregamento (ANSYS User’s Manual, 1995)

Modo I: Também conhecido como modo de abertura. Neste caso as superfícies da trinca

são separadas por forças normais ao plano da trinca;

Modo II: Também conhecido como modo de deslizamento. Neste caso as superfícies da

trinca deslizam devido à ação de forças normais à frente da trinca;

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Modo III: Também conhecido como modo de rasgamento. Neste caso as superfícies da

trinca deslizam devido à ação de forças paralelas à frente da trinca.

Para cada modo de carregamento (modo I, modo II e modo III) está associado um fator de

intensidade de tensão ( , e , respectivamente). IK IIK IIIK

Serão apresentadas a seguir as equações que descrevem o campo de tensões e

deslocamentos para o modo I, pois esse é o modo de carregamento estudado neste trabalho.

Na prática, esse é o modo mais comum em muitos elementos estruturais. Além disso, em

geral, a resistência à abertura da fratura é menor que as resistências ao deslizamento e ao

rasgamento (Pastoukhov e Voorwald, 1995).

2.3 - EQUAÇÕES QUE DESCREVEM O CAMPO DE TENSÕES E

DESLOCAMENTOS NA PONTA DA TRINCA PARA O MODO I DE

CARREGAMENTO

Os campos assintóticos para as componentes de tensão e de deslocamento na ponta da

trinca estão representados nas Expressões (2.1) descritas por Broek (1988) e por Saouma

(2000). Na Figura 2.2 estão mostradas algumas das variáveis em questão.

12 Figura 2.2 – Sistema de coordenadas adotado na ponta da trinca

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−=

23sen

2sen1

2cos

2θθθ

πσ

rKI

X

+=

23sen

2sen1

2cos

2θθθ

πσ

rKI

Y

23cos

2sen

2cos

2θθθ

πσ

rKI

XY =

+

−=

2sen

21

2cos

22 θθ

πµkrKu I

X

+=

2cos

21

2sen

22 θθ

πµkrKu I

Y

(2.1)

onde: υ é o coeficiente de Poisson; E é o Módulo de Young; µ é o Módulo de

Deformação Transversal ( )υ+= 12E e é uma constante que depende do tipo de estado

plano (

k

( ) ( )υυ +−= 13k para Estados Planos de Tensões e υ43−=k para Estados

Planos de Deformações).

Analisando as Expressões (2.1) nota-se que as componentes de tensão e deformação têm a

singularidade do tipo r1 , ou seja, tais componentes tendem ao infinito quando r tende

a zero. As componentes de deslocamento tendem ao valor zero na ponta da trinca com r .

Percebe-se também que tanto as tensões quanto os deslocamentos são proporcionais ao

fator de intensidade de tensão e a uma função geométrica do tipo IK ( )θf

IK

. Dessa

maneira, para uma dada configuração geométrica, tem-se que os campos de tensão e

deslocamento são dependentes de . Conforme mencionado anteriormente, depende

da tensão solicitante e do tamanho da trinca. Portanto para uma placa infinita tem-se:

IK

aKI πσ= (2.2)

onde: =σ Tensão solicitante; a Comprimento da trinca. =

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Mais adiante serão apresentadas algumas expressões de para problemas com

geometria finita. Para muitas situações de geometria e carregamento, entretanto, não

existem soluções analíticas fechadas, o que provoca a busca de novas alternativas para se

analisar grande parte das estruturas reais. Uma das alternativas é a modelagem

experimental das estruturas e carregamentos, que leva à obtenção de expressões empíricas

de onde se pode estimar . Um outro caminho seria a modelagem numérica do problema,

podendo-se, por meio de técnicas computacionais, chegar ao valor de . Uma terceira

opção seria utilizar a modelagem experimental e numérica em conjunto, que permite

construir modelos computacionais, a partir de dados experimentais, para analisar situações

mais complexas (Pastoukhov e Voorwald, 1995; Cavalcanti, 1997).

IK

IK

IK

2.4 - EXPRESSÕES DE PARA PROBLEMAS COM GEOMETRIA FINITA IK

Serão apresentadas a seguir algumas expressões para o cálculo do fator de intensidade de

tensão que são bastante utilizadas na análise de projetos que envolvem a mecânica da

fratura (Broek, 1988).

O cálculo de para os casos de placa com trinca central, placa com trinca de bordo e

placa com trinca de bordo dupla é feito da seguinte maneira:

IK

aKI πβσ= (2.3)

onde β é o fator de correção geométrica que será expresso para cada caso.

Caso 1 Caso 2 Caso 3

Figura 2.3 (a) – Placa com

trinca central

Figura 2.3 (b) – Placa com

trinca de bordo

Figura 2.3 (c) – Placa com

trinca de bordo dupla

σ

σ

a

W

σ

σ

2a

W

σ

σ

a

W

a

14

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onde:

Caso 1 32

2.12152.1256.01

+

+=

Wa

Wa

Waβ

Caso 2 432

39.3072.2155.10231.012.1

+

+

−=

Wa

Wa

Wa

Waβ

válida para a relação ( )Wa / até 0,6

Caso 3

Wa

Wa

Wa

Wa

Wa

+

=1

19.0471.0205.0561.012.1432

β

2.5 - PLASTICIDADE NA PONTA DA TRINCA

Figura 2.4 – Zona plástica na ponta da

trinca

onde:

=pr Comprimento da zona plástica

=YSσ Tensão de escoamento do material

Analisando - se as Expressões em (2.1), de acordo com o que foi explicado anteriormente,

observa-se que as componentes de tensão vão para o infinito ao se aproximarem da ponta

da trinca. Na realidade, porém, tal comportamento das tensões não é verdadeiro, pois

nenhum material seria capaz de suportá-lo.

15

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A partir de determinado nível de tensões, a maioria dos materiais estruturais (materiais

dúcteis) se deforma plasticamente. Na região da ponta da trinca, o nível de tensões é

bastante elevado, provocando uma deformação plástica nesse local.

Os conceitos da MFLE são válidos quando as dimensões da zona plástica na ponta da

trinca são pequenas quando comparadas às demais dimensões do problema (Broek, 1988).

É importante comentar que existe uma discussão no meio acadêmico a respeito da maneira

correta de se abordar o tema “mecânica da fratura associada ao comportamento linear

elástico do material”. O termo mais comumente usado é Mecânica da Fratura Linear

Elástica (MFLE), termo este utilizado nesta dissertação, porém alguns pesquisadores

criticam esse termo argumentando que o correto seria Mecânica Elástica Linear da Fratura

(MELF), pois elástica linear é a mecânica e não a fratura.

2.6 – MÉTODOS DE OBTENÇÃO DO FATOR DE INTENSIDADE DE TENSÃO

O critério de Irwin (1957) supõe que a ruptura de um elemento estrutural ocorre quando o

fator de intensidade de tensão (modo I) atinge um valor crítico. O valor crítico do fator

de intensidade de tensão (modo I) é uma propriedade do material e é conhecido como

tenacidade à fratura ou resistência à fratura frágil (Pastoukhov e Voorwald, 1995).

IK

ICK

Em vista disso, o fator de intensidade de tensão representa um parâmetro fundamental

para avaliar a integridade estrutural de uma peça. Existem resultados experimentais e

analíticos tabelados em manuais para diversas geometrias preestabelecidas. À medida que

os conceitos e metodologias de análise se desenvolvem, porém, problemas mais complexos

de mecânica da fratura surgem, de maneira que as soluções presentes em ábacos e manuais

não suprem todas as necessidades de respostas requeridas. Dessa maneira, a partir da

década de 70, a pesquisa de processos numéricos de análise teve um grande impulso. Entre

as ferramentas numéricas existentes nesse período, o método dos elementos finitos, MEF,

apresentou-se como a mais adequada às necessidades dos pesquisadores e analistas

estruturais (Guimarães, 1992 revisto por Medeiros, 2000).

IK

Existem vários métodos de se obter o fator de intensidade de tensão. Foram apresentadas

expressões analíticas que permitem avaliar para algumas situações estruturais IK

16

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específicas. Como comentado anteriormente, porém, as soluções analíticas existentes não

atendem a todos os casos. Dessa forma, serão apresentadas algumas técnicas numéricas

que, em concordância com o MEF, estimam o fator de intensidade de tensão para situações

gerais.

2.6.1 – Cálculo de pelo Método da Extrapolação dos deslocamentos IK

Com base nas Equações mostradas em (2.1), o comportamento dos deslocamentos ao longo

de linhas radiais com origem na ponta da trinca pode ser expresso como:

+

−=

2sen

21

2cos

22 θθ

πµkrKu I

X

+=

2cos

21

2sen

22 θθ

πµkrKu I

Y

(2.4)

Este método consiste em calcular como função dos deslocamentos nodais ao longo de

uma linha radial que emana da ponta da trinca. Escrevendo, em (2.4), como função dos

deslocamentos e u , tem-se:

IK

IK

Xu Y

=

+

+

Y

X

I

u

u

rk

k

K πµθθ

θθ

2

2cos

21

2sen

2sen

21

2cos

2

2

(2.5)

Conforme apresentado na Figura 2.5, observa-se que o valor de varia com a distância IK

r e com o ângulo θ com relação à ponta da trinca. Assim, utilizando o MEF para obter os

valores de e para os pontos nodais que se encontram posicionados ao longo da

linha radial com origem na ponta da trinca, plotam-se os valores de em função da

distância

Xu Yu

IK

r . Desprezando os resultados obtidos de pontos nodais muito próximos à ponta

da trinca, pode-se extrapolar o valor de para IK 0=r .

17

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Figura 2.5 – Extrapolação de K com base nos deslocamentos

A grande vantagem da utilização dessa técnica está em sua simplicidade, uma vez que se

podem utilizar as rotinas convencionais da análise elástica bidimensional via MEF. Os

deslocamentos e são as únicas incógnitas da Equação (2.5), sendo estes calculados

por meio do MEF.

Xu Yu

Entre as desvantagens, pode-se citar o inconveniente de se precisar posicionar os

elementos finitos de uma maneira que estes sejam vizinhos à linha radial que emana da

ponta da trinca. Além disso, devido à necessidade de utilização da técnica de extrapolação

linear, espera-se que os resultados obtidos não tenham muita precisão comparados às

demais metodologias de obtenção de como, a integral – J, visto que pequenas IK 18

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alterações nos valores calculados dos deslocamentos podem levar a um valor final de

distante do real (Cavalcanti, 1997; Medeiros, 2000).

IK

2.6.2 – Cálculo de pelo Método da Integral – J IK

Rice (1968a) utilizou uma integral de contorno para determinar a alteração na energia total

do sistema causada pela existência de defeitos em materiais elásticos. Para problemas em

regime linear elástico, o valor da integral – J relaciona-se diretamente com o fator de

intensidade de tensão. Além disso, o conceito da integral – J permite estender a teoria da

mecânica da fratura para os casos em que a consideração de análise linear elástica deixa de

ser válida (Ewalds e Wanhill, 1984).

A avaliação da integral – J é o foco principal desse trabalho. Dessa maneira, no capítulo 3,

será mostrada com detalhes a metodologia para a análise de estruturas trincadas utilizando

o método da integral – J.

19

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3 - FUNDAMENTOS TEÓRICOS SOBRE A INTEGRAL – J

3.1 – INTRODUÇÃO

Este capítulo mostra a formulação original da integral – J juntamente com sua abordagem

numérica, além de apresentar a metodologia que será utilizada para problemas com

solicitações cíclicas.

3.2 - FORMULAÇÃO ORIGINAL

A integral - J foi proposta no trabalho de Rice (1968a), que utilizou uma integral de linha

para descrever a variação da energia total do sistema causada pela aplicação de forças em

estruturas trincadas.

Utilizando-se a integral - J, os conceitos da mecânica da fratura podem ser aplicados em

problemas em que a análise linear elástica não é válida (Ewalds e Wanhill, 1984).

A integral – J, associada a cargas monotônicas para problemas em duas dimensões, é

escrita da seguinte maneira:

∫Γ

∂∂

−= dsxutUdyJ

(3.1)

onde:

∫ ⇒=ε

εσ0

dU Densidade de energia de deformação;

σ e =ε Componentes de tensão e deformação, respectivamente;

=t Vetor de trações de superfície definido no plano da normal n;

=u Componentes do vetor deslocamento;

=ds Elemento infinitesimal de arco ao longo do caminho Γ .

Os termos da Equação (3.1) podem ser escritos de forma matricial:

[ ]

=

XY

YY

XX

XYYYXX

εεε

σσσσε2

21 ; t ; [ ]

=

XY

Y

X

XYYYXX

nnn

n0

0σσσ

∂∂

∂∂

=∂∂

xu

xu

xu

Y

X

(3.2)

20

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Conforme apresentado na Figura 3.1 e com o auxílio dos termos escritos na forma

matricial mostrados na Equação (3.2), a integral de contorno (3.1) pode ser obtida por meio

do método dos elementos finitos. Posicionando-se adequadamente os elementos ao longo

do caminho , calcula-se o valor da integral - J fazendo-se o somatório dos valores

parciais obtidos elemento a elemento (Cavalcanti, 1997).

Γ

[ ] [ ] Γ

∂∂

∂∂

=∑∫

= Γ

dx

ux

u

nnn

ndyJ

N

i i Y

X

XY

Y

X

XYYYXX

XY

YY

XX

XYYYXX1

00

221 σσσ

εεε

σσσ (3.3)

Os valores das parcelas xuX ∂∂ e xuY ∂∂ , denominados sensibilidade do deslocamento,

podem ser determinados de várias maneiras. O modo mais simples é sua avaliação por

meio do método das diferenças finitas.

Figura 3.1 – Caminho ao longo do qual a integral - J é calculada

Conforme mostrado por Ewalds e Wanhill (1984), a integral - J é independente do caminho

quando tomada ao longo de qualquer caminho Γ , portanto pode-se adotar um contorno

circular com raio r e seu centro localizado na ponta da trinca. Para esse caso,

( )( )θsenry = , então ( )( )( )θθ dr cos=dy e ( )( )θdrds = . Assim, a Expressão (3.1) torna-se:

θθεσπ

π

ε

rdxutdJ ∫ ∫

∂∂

= cos

0

(3.4)

21

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Analisando cada termo da Expressão (3.4), tem-se:

( )σεθαεσε

10

=∫ d ( )

( )εθσθ

2

1

cxuct

=∂∂=

( ) ( ) ( )σεθασεθθ 221 ==∂∂

⇒ ccxut

(3.5)

onde: ( )θα1 , ( )θα2 , ( )θ1c , ( )θ2c são valores constantes para um valor de θ

determinado.

Substituindo (3.5) em (3.4) e desenvolvendo, tem-se:

( ) ( ) ( ) θθσεαθθσεαπ

π

rdJ ∫−

−= 21 cos (3.6)

( ) ( ) rQrFdfrJ ... σεθσεθθσεπ

π

π

π

===−−

∫ (3.7)

Para rx = e , tem-se: 0=y

QrJ rrεσ= (3.8)

Usando a equação de Ramberg – Osgood para a curva tensão – deformação Fnσε =

(onde é o módulo plástico e n é o expoente de encruamento do material. O módulo

plástico é simplesmente o módulo de elasticidade

F

E elevado ao expoente ), chega-se a: n

FQrJ n

r1+= σ

(3.9)

11

+

=

n

r rQFJσ

(3.10)

Considerando comportamento linear elástico ( 1=n e EF = ), obtém-se:

22

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rQEJ

r =σ (3.11)

Comparando a Expressão (3.11) com a Expressão (2.1) para rx = e 0=θ , observa-se

que:

π2=Q e EJKI = (3.12)

Portanto, em regime linear elástico, o valor da integral - J relaciona-se diretamente com o

fator de intensidade de tensão K (Broek, 1988). Para o modo I de carregamento, tem-se a

seguinte relação:

+==

kJJEKI 1

8' µ (3.13)

onde: ='E E e ='E ( )21 υ−E respectivamente para os estados planos de tensão e de

deformação;

Rice (1968b) desenvolveu uma alternativa, baseada em métodos variacionais, equivalente à

integral de contorno mostrada na Expressão (3.1). A integral - J pode ser calculada pela

variação da energia potencial em relação ao crescimento do comprimento da trinca . Π a

dadJ Π

−= (por unidade de espessura do sólido) (3.14)

3.3 - INTEGRAL – J PARA CARREGAMENTOS CÍCLICOS ( )J∆

Os tópicos (3.3) e (3.4) deste trabalho foram baseados na revisão bibliográfica feita por

Maneschy (1998).

Uma das primeiras formulações analíticas/numéricas desenvolvida para a determinação de

foi proposta por Lamba (1975) da seguinte maneira: J∆

23

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( ) ( )∫

∂∆∂

∆−∆=∆ dsxutdyUJ m

mmnε (3.15)

onde:

( ) ( )⇒∆∆=∆ ∫∆ mn

mnmnmn dUε

εσε0

Variações na densidade da energia de deformação durante o

ciclo de carga;

mnσ∆ e =∆ mnε Variações nas componentes dos tensores de tensão e deformação;

=∆ mt Variações nas componentes do vetor de trações de superfície;

=∆ mu Variações nas componentes do vetor deslocamento;

=ds Elemento infinitesimal de arco ao longo do caminho Γ .

Conforme mostrado para o caso das solicitações monotônicas, Lamba (1975) provou que a

Equação (3.15) também independe do caminho por meio do qual é calculada.

Tanaka (1983) concluiu que, em regime linear elástico, a expressão proposta por Lamba

(1975) pode ser determinada de modo similar ao caso monotônico, ou seja, pode-se obter

em função da variação do fator de intensidade de tensões J∆ K∆ . Assim,

( )''

2minmax

2

EKK

EKJe

−=

∆=∆

(3.16)

onde: e são fatores de intensidade de tensões referentes, respectivamente, às

tensões máximas e mínimas de um determinado ciclo de carregamento.

maxK minK

De acordo com Maneschy (1998), a validade da Expressão (3.16) só é confirmada para

valores baixos de R ( maxmin )σσ= . Tal validação também foi confirmada nesta

dissertação.

O cálculo de ∆ conforme proposto por Lamba (1975) e Tanaka (1983) foi questionado

por Chow e Lu (1991) uma vez que a Equação (3.15) não considera toda a energia

disponível para propagar a trinca. Portanto, para o regime linear elástico, Chow e Lu

(1991) mostraram que pode ser calculado da seguinte forma:

J

J∆

24

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'

2min

2max

EKKJe

−=∆

(3.17)

Em presença de plasticidade elevada, o cálculo de J∆ não pode ser obtido de maneira

análoga ao caso linear elástico pois minmax JJJ −≠∆ . Assim, faz-se necessário

acompanhar a história das deformações na região próxima à ponta da trinca.

Existem equações encontradas em referências de mecânica da fratura elastoplástica, como

o manual do EPRI (apud Maneschy, 1998), que avaliam J∆ a partir de fórmulas para J

aplicadas aos casos monotônicos, denominadas monJ∆ , sendo tais equações utilizadas na

prática pela indústria. Segundo Maneschy (1998), em presença de plasticidade elevada, a

utilização de , para estimar o crescimento de trincas, leva a resultados bastante

conservadores.

monJ∆

3.4 - CÁLCULO DE J∆

Como comentado anteriormente, Rice (1968b), a partir do princípio dos trabalhos virtuais,

obteve a representação da integral – J em termos de energia. Na ausência de forças de

corpo, a energia potencial Π pode ser escrita da seguinte forma:

∫∫Γ

−=Π dsutUdA mmA

(por unidade de espessura do sólido) (3.18)

onde Área do corpo; demais termos já foram definidos anteriormente. =A

Conforme revisto por Maneschy (1998) e mostrado na Equação (3.14), a integral – J pode

ser obtida pela relação entre a variação de energia Πd e a variação no comprimento de

trinca , da dadJ Π−= (a variação de energia é calculada subtraindo a energia

armazenada em uma estrutura que possui uma trinca de comprimento a da energia

armazenada na mesma estrutura com comprimento de trinca a da+ ).

Para a situação monotônica e considerando uma estrutura submetida a um deslocamento

“d”, tem-se que o valor da integral – J é obtido por meio da variação da energia de

deformação calculado com as trincas a e U daa + , conforme mostrado na Figura 3.2

25

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(quando uma estrutura trincada é submetida a um deslocamento “d”, o segundo termo da

Equação (3.18) é nulo pois não há aplicação de força externa).

Figura 3.2 – Energia de deformação para o cálculo da integral – J quando o carregamento é

monotônico (Maneschy, (1998) Modificado)

Para a situação com carregamento cíclico caracterizado pela aplicação de deslocamentos

máximos e mínimos, dMAX e dMIN, respectivamente, obtém-se o valor de utilizando o

conceito da integral – J desenvolvido por Rice (1968b) e adaptado por Dowling e Begley

(1976) para os casos de cargas cíclicas com abordagem numérica desenvolvida por

Maneschy (1998).

J∆

Para os casos em que o material tem comportamento linear elástico, as curvas F x d

associadas aos tamanhos de trinca e a daa + são mostradas na Figura 3.3.

O valor de , para esse caso, é obtido pela área ABCD dividida por : J∆ da

daareaJ ABCD=∆ (por unidade de espessura do sólido)

(3.19)

A área ABCD representa a diferença entre as energias de deformação para uma estrutura

com trinca a e . daa +

26

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Figura 3.3 – Energia de deformação para o cálculo de J∆

Caso linear elástico (Maneschy, (1998) Modificado)

Para os casos em que o material tem comportamento elastoplástico, as curvas F x d

associadas se encontram na Figura 3.4.

Figura 3.4 – Energia de deformação para o cálculo de J∆

Caso elastoplástico (Maneschy, (1998) Modificado)

O valor de , para esta situação, é calculado da seguinte forma: J∆

daareaareaJ FEHGFEHG '''''''''''' −

−=∆ (por unidade de espessura do sólido) (3.20)

27

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Para a trinca de comprimento , a energia de deformação é obtida pela área definida pelo

laço de histerese G’H’E’ e pelo segmento de reta paralelo ao eixo dos deslocamentos, que

passa pela ponta inferior do laço, limitado por dMAX e dMIN. A energia de deformação para a

trinca de comprimento é obtida de maneira idêntica.

a

daa +

O parâmetro representa, fisicamente, a energia por unidade de espessura necessária

para estender a trinca em cada ciclo de carga.

J∆

28

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4 - MÉTODO DOS ELEMENTOS FINITOS (MEF) APLICADO À

MECÂNICA DA FRATURA

4.1 - INTRODUÇÃO

No decorrer deste capítulo, será mostrada, de maneira simplificada, a teoria geral de

elementos finitos aplicada à elasticidade bidimensional, que é utilizada na abordagem de

problemas de mecânica da fratura nesta dissertação, baseada nos trabalhos de Brebbia e

Connor (1973). Além disso, será apresentado o modelo de elementos finitos, desenvolvido

por Barsoum (1976), que leva em consideração os campos de tensões singulares existentes

na ponta de trincas.

4.2 – DESENVOLVIMENTO DA FORMA FRACA

Considerando as equações de equilíbrio e as condições de contorno em elasticidade 2D,

tem-se:

ubyx XXYXX &&ρσσ

=+∂

∂+

∂∂

vbyx YYYXY &&ρσσ

=+∂∂

+∂

(4.1)

onde:

Xb e b são as componentes das forças de corpo nas direções x e y, respectivamente; Y

u&& e são as acelerações nas direções x e y, respectivamente; v&&

ρ é a massa específica.

A Expressão (4.1) é a equação de equilíbrio geral para problemas de elasticidade em 2D.

Na análise estática, as acelerações, presentes nos termos do lado direito do sinal de

igualdade, são nulas. As condições de contorno são:

ii uu = (Deslocamento)

ii PP = (Tensões de Superfície)

(4.2)

29

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Usando as Equações (4.1) e as condições de contorno (4.2), escreve-se uma expressão de

Galerkin, conhecida como Resíduos Ponderados.

−+

∂∂

+∂

∂+Ω

−+

∂∂

+∂

∂∫∫ vdvb

yxudub

yx YYYXY

XXYXX δρσσδρσσ

&&&&

( ) ( ) Γ−++−+∫ dvPnnuPnn YYYYXXYXYXYXXX δσσδσσ

(4.3)

onde:

Xn e são cossenos diretores; Yn

uδ e vδ são funções de peso;

Ω representa o domínio do problema;

Γ representa o contorno do problema.

Na Equação (4.3), as expressões dentro dos parênteses são iguais a zero para valores exatos

de tensão e deslocamentos em uma estrutura. No caso de aproximações numéricas, os

valores não são exatamente zero, tendo-se, assim, um resíduo.

Integrando por partes ( )∫∫ −= vduuvudv os termos da Equação (4.3), tem-se:

∫ ∫ ∫ Ω∂∂

−Γ=Ω∂

∂ dxuudnud

x XXXXXXX δσδσδσ

∫ ∫ ∫ Ω∂∂

−Γ=Ω∂

∂ dyuudnud

y XYYXYXY δσδσδσ

∫ ∫ ∫ Ω∂∂

−Γ=Ω∂

∂ dxvvdnvd

x XYXXYXY δσδσδσ

∫ ∫ ∫ Ω∂∂

−Γ=Ω∂∂ d

yvvdnvd

y YYYYYYY δσδσδσ

(4.4)

Substituindo os valores de (4.4) em (4.3), cancelando os termos que aparecem nos dois

lados da igualdade e ajustando os sinais, obtém-se:

30

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( ) =Ω++Ω

∂∂

+∂∂

+∂∂

+∂∂

∫∫ dvvuudyv

xv

yu

xu

YYXYXYXX δρδρδσδσδσδσ &&&&

( ) ( )∫∫ Ω++Γ+ dvbubdvPuP YXYX δδδδ

(4.5)

Sabendo que as relações deformação-deslocamento são:

xu

XX ∂∂

=ε ; yv

YY ∂∂

=ε e xv

yu

XY ∂∂

+∂∂

=γ (4.6)

e considerando o caso estático ( 0)== vu &&&& , obtém-se:

[ ] =Ω++∫ dYYYYXYXYXXXX δεσδγσδεσ

( ) ( )∫∫ Ω++Γ+ dvbubdvPuP YXYX δδδδ

(4.7)

A Equação (4.7) é conhecida como Forma Fraca de Elementos Finitos para Problemas de

Elasticidade.

Para obter as matrizes de elementos finitos, precisa-se das funções de forma dos elementos.

4.3 – FUNÇÃO DE FORMA

A função de forma de elementos finitos expressa os valores das incógnitas em qualquer

posição num elemento em termos de valores nodais. Dessa maneira, pode-se escrever:

∑= niiuu φ (4.8)

onde: Incógnita; =u =iφ Função de forma de elementos finitos; u Valores nodais a

serem calculados.

=ni

A Expressão (4.8) é chamada de aproximação de elementos finitos. Quando substituído na

forma fraca, permite fazer diferenciações e, posteriormente, executar as integrações para

obter as equações matriciais.

31

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A função de forma é uma relação geométrica, depende do número e posição dos nós no

elemento.

4.4 – ELASTICIDADE BIDIMENSIONAL: ESTADOS PLANOS DE

DEFORMAÇÕES E DE TENSÕES

Com base na forma fraca bidimensional apresentada na Equação (4.7), considerando a

transposta das matrizes e lembrando que

εσ D= (4.9)

onde é a matriz elástica (3x3), D

pode-se escrever:

( ) ( ) ( ) Γ+Ω=Ω ∫∫∫ dPudbudD TTT δδεδε (4.10)

onde:

=

XY

YY

XX

γεε

ε u b

=vu

=Y

X

bb

=Y

X

PP

P

Para Estado Plano de Tensões, tem-se que a matriz é: D

( )

−−=

2100

0101

1 2 υυ

υ

υED

(4.11)

onde: =E Módulo de Elasticidade do Material; =υ Coeficiente de Poisson do Material.

Para Estado Plano de Deformações, faz-se a seguinte transformação:

( )21'

υ−=

EE υ

υυ−

=1

' (4.12)

32

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sabendo que

nXX u

xxu

∂∂

=∂∂

=φε

nYY v

yyv

∂∂

=∂∂

=φε

nnXY v

xu

yxv

yu

∂∂

+∂∂

=∂∂

+∂∂

=φφγ

nXX u

xxu δφδδε

∂∂

=∂∂

=

nYY v

yyv δφδδε

∂∂

=∂∂

=

nnXY v

xu

yxv

yu δφδφδδδγ

∂∂

+∂∂

=∂∂

+∂∂

=

(4.13)

onde: =φ Função de forma do elemento.

Escrevendo as Expressões (4.13) de forma matricial, tem-se:

∂∂∂∂∂∂

∂∂=

= n

n

XY

YY

XX

vu

xyy

x

φφφ

φ

γεε

ε 00

ou

nBu=ε

(4.14)

Considerando a matriz transposta, tem-se

[ ]

∂∂∂∂∂∂∂∂

=xyyx

vu nnT

φφφφ

ε0

0 ou

TTnT Bu=ε

(4.15)

Dessa maneira:

33

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( ) ( )∫∫ Ω=Ω nTTT udDBBudD .δεδε ou

[ ]( )

Ω

∂∂

∂∂

∂∂

∂∂

∂∂

∂∂

∂∂

∂∂

−= ∫ n

nnn

vu

d

xy

y

x

xy

yxvuE

φφ

φ

φ

υυ

υ

φφ

φφ

δδυ

0

0

.

2100

0101

.0

0

1 2

(4.16)

A matriz de rigidez ( )K de elementos finitos é representada da seguinte maneira:

( ) Ω= ∫ dDBBK T (4.17)

Para se calcular a matriz de rigidez ( )K , é necessário obter x∂∂φ e y∂∂φ para o

elemento e depois integrar sobre sua área.

4.5 – ELEMENTO FINITO ISOPARAMÉTRICO DE OITO NÓS

Elementos finitos isoparamétricos são utilizados em problemas que possuem geometrias

com espaços arbitrários, ou seja, faz-se necessário ajustar a geometria do elemento à

geometria do espaço em questão.

Utilizam-se as mesmas funções de forma para modelar tanto as incógnitas do problema

quanto sua geometria.

Cada elemento isoparamétrico é baseado em um elemento original sem distorção.

Para expressar os valores das incógnitas, utiliza-se a Expressão (4.8), mostrada

anteriormente. Para se expressar a geometria do problema, utiliza-se:

∑= nii xx φ ∑= n

ii yy φ (4.18)

onde: e são as coordenadas nix n

iy x e dos nós do elemento. y

Dessa maneira, os nós se tornam independentes uns dos outros. A Figura 4.1 mostra o

elemento isoparamétrico retangular de oito nós original, com sua conectividade. 34

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Figura 4.1 – Elemento Finito Isoparamétrico de 8 nós

Como será mostrado adiante, esse elemento foi modificado por Barsoum (1976) com a

finalidade de modelar um elemento finito capaz de representar a singularidade de tensões

que se apresenta na ponta da trinca, conforme Expressões (2.1).

As funções de forma do elemento isoparamétrico retangular de oito nós original em

coordenadas locais são:

( )( )( 11141

−+++= iiiii ηηξξηηξξφ ) nós 1, 2, 3, 4

( )( )21121 ηξξφ −+= ii nós 6, 8

( )( )21121 ξηηφ −+= ii nós 5, 7

(4.19)

onde: 11 ≥≥− ξ ; − 11 ≥≥η

Para este tipo de elemento é mais conveniente trabalhar com as coordenadas transformadas

do sistema global para o sistema ( yx, ) ( )ηξ , local, o que leva à necessidade de se

adaptarem algumas equações do problema.

A matriz Jacobiano é escrita da seguinte forma:

∂∂

∂∂

∂∂

∂∂

∂∂

∂∂

=

∂∂

∂∂

y

xyx

yx

φ

φ

ηη

ξξ

ηφ

ξφ

(4.20)

35

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onde:

∂∂

∂∂

∂∂

∂∂

=

ηη

ξξyx

yxJ det (4.21)

Invertendo, tem-se:

∂∂

∂∂

∂∂

∂∂−

∂∂−

∂∂

=

∂∂

∂∂

ηφ

ξφ

ξη

ξηφ

φ

xx

yy

Jy

x 1 (4.22)

Assim:

∂∂

∂∂

−∂∂

∂∂

=∂∂

ηφ

ξξφ

ηφ yy

Jx1

(4.23)

∂∂

∂∂

+∂∂

∂∂

−=∂∂

ηφ

ξξφ

ηφ xx

Jy1

(4.24)

∂∂

∂∂

−∂∂

∂∂

=ξηηξyxyxJ

(4.25)

Substituindo as Expressões mostradas em (4.18) nas Expressões (4.23), (4.24) e (4.25),

chega-se a:

∂∂

∂∂

−∂∂

∂∂

=∂∂

ηφ

ξφ

ξφ

ηφφ nn yy

Jx1

(4.26)

∂∂

∂∂

+∂∂

∂∂

−=∂∂

ηφ

ξφ

ξφ

ηφφ nn xx

Jy1

(4.27)

∂∂

∂∂

−∂∂

∂∂

= nnnn yxyxJξφ

ηφ

ηφ

ξφ

(4.28)

36

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Para se calcular a matriz de rigidez ( )K do elemento, também é preciso utilizar J nas

integrais:

∫∫ ∫∫= ηξddJdA (4.29)

4.6 – ELEMENTO FINITO MODIFICADO DE BARSOUM (Barsoum, 1976)

Com o objetivo de obter um elemento capaz de representar a singularidade do campo de

tensões na ponta da trinca, conforme visto nas Expressões (2.1), Barsoum (1976) moveu o

nó intermediário dos lados adjacentes à ponta da trinca para a posição de nó a um quarto

(quarter point), considerando como início do lado o nó posicionado na ponta da trinca,

conforme observado na Figura 4.2.

Figura 4.2 – Elemento Finito Isoparamétrico

de 8 nós modificado por Barsoum (1976)

onde:

ξ = 1 (nós 2, 3, 6) η = 1 (nós 3, 4, 7)

ξ = 0 (nós 5, 7) η = 0 (nós 6, 8)

ξ = -1 (nós 1, 4, 8) η = -1 (nós 1, 2, 5)

O elemento finito modificado por Barsoum possui as mesmas funções de forma do

elemento isoparamétrico de oito nós original mostradas nas Expressões (4.19).

A singularidade de tensões ocorre nos lados 1-5-2 e 1-8-4. Considerando o lado 1-5-2, será

apresentado a seguir o comportamento das tensões tanto estando o nó intermediário no

meio do lado ( )215 Lx = , quanto estando o nó intermediário na posição quarter point

( )415 Lx = .

As funções de forma ao longo do lado 1-5-2 ( )1−=η são:

37

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( ξξφ −−= 121

1 ) ; ( ξξφ += 121

2 ); 25 1 ξφ −=

(4.30)

A representação do deslocamento é feita de acordo com a Expressão (4.8):

( ) ( ) [ ] 52

21 11211

21 uuuuu ii ξξξξξφ −+

++

−−== ∑

(4.31)

Reordenando a Expressão (4.31) na potência de ξ , chega-se a:

( ) ( ) 2521125 2

121 ξξ

−++−+= uuuuuuu

(4.32)

Como a representação é isoparamétrica, tem-se também:

( ) ( ) 2521125 2

121 ξξ

−++−+= xxxxxxx

(4.33)

Para o nó intermediário no meio do elemento e considerando como o comprimento do

lado do elemento, tem-se:

L

01 =x ; 25Lx = ; Lx =2

(4.34)

A relação entre a posição no elemento ( )r e a variável ξ fica:

( ) ( ) 2521125 2

121 ξξ

−++−+= xxxxxxx

(4.35)

( ) ( ) 2

20

210

21

2ξξ

−++−+=

LLLLr (4.36)

1221

2−=→+=

LrLLr ξξ

=→=

=→=

−=→=

1

02

10

ξ

ξ

ξ

Lr

Lr

r

(4.37)

38

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12−=

Lrξ

(4.38)

Substituindo a Expressão (4.38) na formulação do deslocamento mostrada em (4.32),

chega-se a:

( ) ( ) 2

2

5215121 42243Lruuu

Lruuuuu −+++−−+=

(4.39)

Diferenciando a Expressão (4.39), obtém-se uma expressão linear para a deformação no

elemento:

( ) ( ) 2521512 844143Lruuu

Luuu

drdu

−+++−−==ε (4.40)

Sob condições elásticas lineares, as tensões são linearmente relacionadas às deformações,

portanto a distribuição de tensões também será linear em r .

Considerando agora que o nó intermediário seja movido para a posição quarter point, tem-

se:

01 =x ; 45Lx = ; Lx =2

(4.41)

A relação entre a posição no elemento ( )r e a variável ξ fica:

( ) ( ) 2521125 2

121 ξξ

−++−+= xxxxxxx

(4.42)

( ) ( ) 2

40

210

21

4ξξ

−++−+=

LLLLr (4.43)

2

41

21

4ξξ LLLr ++=

(4.44)

39

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( ) ( )22 14

214

ξξξ +=++=LLr

(4.45)

( ) 121214 2 −=→−=→+=LLr

Lr

Lr ξξξ

=→=

=→=

−=→=

1

04

10

ξ

ξ

ξ

Lr

Lr

r

(4.46)

12−=

LLrξ

(4.47)

Substituindo a Expressão (4.47) na formulação do deslocamento mostrada em (4.32),

chega-se a:

( ) ( )Lruuu

LLruuuuu 5215121 42243 −+++−−+=

(4.48)

Diferenciando a Expressão (4.48), obtém-se a seguinte expressão para a deformação no

elemento:

( )L

uuuLr

uuudrdu 142212

23

21

521512 −++

+−−==ε

(4.49)

Assim, com o nó intermediário do elemento movido para a posição quarter point, o

comportamento das deformações e, conseqüentemente, das tensões apresenta a

singularidade desejada r1 na ponta da trinca.

Outra vantagem desse elemento é que ele pode ser colapsado de modo a se transformar em

um triângulo de seis nós (colapso dos nós 1-8-4 – Figura 4.2), sem alterar suas funções de

forma. O elemento triangular tem a possibilidade de se posicionar na ponta da trinca

inscrito numa circunferência, como indicado na Figura 4.3, o que facilita o cálculo da

integral - J por meio do método dos elementos finitos.

Os elementos colapsados e não colapsados podem ser utilizados em uma mesma malha de

elementos finitos sem nenhum problema de acoplamento, o que permite que na ponta da

40

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trinca sejam utilizados elementos triangulares e no restante da malha sejam utilizados

elementos isoparamétricos de oito nós comuns.

Figura 4.3 – Exemplos de elementos singulares colapsados (ANSYS User’s Manual, 1995)

41

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5 – ASPECTOS COMPUTACIONAIS E SOLUÇÃO NUMÉRICA

5.1 – INTRODUÇÃO

Este capítulo tem como objetivo discutir a parte numérica computacional utilizada neste

trabalho para calcular a integral - J. Dessa maneira esse capítulo foi dividido em três partes

principais. A primeira apresenta a solução por elementos finitos no qual são mostrados os

detalhes dos modelos estruturais, a descrição dos elementos e a metodologia utilizada para

obter a curva F x d. A segunda descreve o programa computacional que foi utilizado para

calcular J e . A terceira fornece algumas explicações a respeito das macros do

programa ANSYS utilizadas neste trabalho.

J∆

5.2 – ARQUITETURA DA METODOLOGIA UTILIZADA PARA OBTER A

INTEGRAL – J VIA MÉTODO DA ENERGIA

O diagrama apresentado na Figura 5.1 ilustra a metodologia utilizada para obter os

parâmetros J e por meio do método da energia. J∆

Figura 5.1 – Metodologia utilizada para obter a integral – J ( J e J∆ ) via método da

energia

42

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A Figura 5.1 mostra dois blocos que ilustram a maneira de se executar a metodologia de

cálculo da integral – J utilizando o método da energia. O bloco 1 esquematiza a análise

preliminar que deve ser feita para obter a curva Força x Deslocamento (F x d) da estrutura

trincada a ser avaliada. Nesta dissertação, essa análise será feita usando o método dos

elementos finitos (MEF) por meio do código ANSYS. Nessa etapa, além de se definir o

modelo estrutural (placa com trinca central, placa com trinca de bordo, placa com trinca de

bordo dupla, etc), parâmetros como propriedades do material e tipo de carregamento

(monotônico ou cíclico) também são fixados. O bloco 2 ilustra o cálculo da integral – J por

meio de um programa feito em linguagem FORTRAN que utiliza a curva F x d, obtida no

bloco 1, para avaliar J e das estruturas desejadas. J∆

5.3 – DETALHAMENTO DA ETAPA DE ANÁLISE VIA MEF (BLOCO 1)

O cálculo de elementos finitos é executado por meio do programa ANSYS 5.4. O modelo

estrutural analisado é definido nesse momento. Os tipos de elementos selecionados, da

biblioteca do ANSYS, para analisar os problemas de mecânica da fratura e fadiga neste

trabalho foram o PLANE82 e o PLANE2 que correspondem, respectivamente, ao elemento

isoparamétrico bidimensional de 8 nós, mostrado na Figura 4.1, e ao elemento

isoparamétrico bidimensional triangular de 6 nós, ambos tendo como graus de liberdade

para cada nó as translações nas direções x e y. A malha de elementos finitos é construída

de maneira automática pelo ANSYS. Explicações mais detalhadas serão escritas adiante.

Conforme mencionado no capítulo 4, uma grande vantagem do elemento PLANE82 é que

ele pode ser colapsado de modo a se transformar no elemento PLANE2 sem alterar suas

funções de forma. Em alguns exemplos deste trabalho utilizou-se o elemento PLANE2 em

toda a malha da estrutura enquanto, em outros exemplos, optou-se por usar o elemento

PLANE2 apenas na região próxima a ponta da trinca e o PLANE82 no restante da estrutura

conforme apresentado na Figura 3.1. Vale ressaltar que os resultados obtidos tanto

utilizando o elemento PLANE82 quanto utilizando o elemento PLANE2 foram muito

próximos entre si para um número de nós equivalente.

De acordo com a revisão bibliográfica apresentada no capítulo 2, sabe-se que estruturas

trincadas estão sujeitas à concentração de tensões nas regiões próximas à ponta da trinca,

dessa maneira, conforme mostrado no capítulo 4, o elemento finito modificado por

43

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Barsoum (1976), apresentado nas Figuras 4.2 e 4.3, também será utilizado e comparado

com o elemento finito comum. Os elementos PLANE82 e PLANE2 têm a característica de

poderem se comportar tanto como elementos sem singularidade de tensões (sem quarter

point) quanto como elementos com singularidade de tensões na ponta da trinca (com

quarter point).

Os modelos estruturais utilizados nesta dissertação foram o painel com trinca central, o

painel com trinca de bordo e o painel com trinca de bordo dupla. Para os três modelos

foram obtidos valores de J aplicando-se tensão. Os valores de J foram calculados de

duas maneiras, pelo método da energia e por sub-rotinas (macros) internas do ANSYS

(detalhadas adiante) e foram comparados com valores obtidos de expressões da literatura.

Transientes térmicos em estruturas nucleares são importantes fontes de fadiga. A condição

de deslocamento imposto como carregamento representa os efeitos de temperatura em

sólidos de uma forma bastante adequada. Dessa maneira, estudou-se o comportamento de

J para um painel com trinca central por meio do método da energia e, também, das

macros do ANSYS. A Figura 5.2 mostra um exemplo de painel com trinca central sendo

submetido à condição de deslocamento imposto.

Figura 5.2 – Exemplo de painel com trinca central submetido à condição de carregamento

imposto

44

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Além disso, analisou-se o comportamento de J∆ para um painel com trinca central por

meio do método da energia. Tais resultados também foram comparados com resultados

obtidos por expressões da literatura. Para todos os casos analisados os estudos foram

efetuados considerando comportamento linear elástico e elastoplástico do material.

As Figuras 5.3 e 5.4 mostram com detalhes a região destacada em vermelho na Figura 5.2.

Observa-se, com a ajuda das condições de contorno, que os elementos próximos à ponta da

trinca, na Figura 5.3, são elementos com quarter point e, na Figura 5.4, sem quarter point.

Figura 5.3 – Detalhe da região próxima à ponta da trinca (elementos com quarter point)

Figura 5.4 – Detalhe da região próxima à ponta da trinca (elementos sem quarter point)

Conforme recomendação indicada no manual do ANSYS, a malha de elementos finitos na

região próxima à ponta da trinca deve ser circular com centro na ponta da trinca. O

primeiro círculo, formado pelos elementos triangulares, deve ter raio de tamanho

aproximadamente igual a 8a , onde é o comprimento da trinca. O ângulo interno de a

45

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cada elemento triangular, referente ao vértice coincidente com a ponta da trinca, deve ter

aproximadamente 30°, ou seja, a discretização deve ser formada por aproximadamente seis

elementos triangulares em volta da ponta da trinca.

Sobre os painéis estruturais, é importante comentar como foram modelados

numericamente. Devido à existência de simetria com relação aos eixos x e y, os painéis

estruturais foram modelados considerando-se apenas parte de sua estrutura. Para os nós

localizados sobre cada eixo de simetria, é imposta a condição de deslocamento nulo, com

exceção dos nós localizados ao longo do comprimento da trinca. Em relação aos painéis

com trinca central e trinca de bordo dupla, apenas um quarto da estrutura é modelada

devido à existência de dois eixos, x e y, de simetria. A Figura 5.2 mostra um exemplo de

placa com trinca central. O painel com trinca de bordo tem metade de sua estrutura

modelada. Para esse caso, a simetria só se apresenta com relação ao eixo x. As Figuras 5.5

e 5.6 apresentam exemplos de painéis com, respectivamente, trinca de bordo e trinca de

bordo dupla.

Figura 5.5 – Exemplo de painel com trinca

de bordo (Elemento PLANE2)

Figura 5.6 – Exemplo de painel com trinca

de bordo dupla (Elemento PLANE82)

46

A curva F x d é gerada com as forças e deslocamentos capturados na face superior da

estrutura analisada (as Figuras 5.5 e 5.6 apresentam uma linha em vermelho na face

superior das respectivas estruturas). Neste trabalho, as cargas sempre foram aplicadas na

face superior da placa na direção perpendicular ao plano da trinca (modo I), conforme

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mostrado nas Figuras 5.1 e 5.2. Para o caso de tensão (σ ) aplicada, automaticamente

obtém-se o valor da força equivalente (F) aplicada simplesmente multiplicando a área da

face superior da placa pelo valor de σ , enquanto o deslocamento é capturado diretamente

do programa ANSYS nos dois nós extremos da face superior da placa, conforme

apresentado nas Figuras 5.5 e 5.6, obtendo-se a média de seus valores para obter o valor de

“d” (foram realizados testes capturando valores de deslocamento em até dez nós da face

superior das placas estudadas obtendo poucas alterações nos resultados). Para o caso de

deslocamento “d” aplicado, o valor de σ é que passa a ser capturado diretamente do

programa ANSYS nos dois nós extremos da face superior da placa.

Para se garantir a precisão numérica, em especial na análise elastoplástica, é necessário que

o carregamento seja aplicado incrementalmente. Neste trabalho, o carregamento foi

aplicado dividindo-se o valor total da solicitação em no mínimo dez passos de carga com

incrementos idênticos, sendo os deslocamentos e tensões registrados em cada um dos

passos. O ANSYS utiliza o método iterativo de Newton-Raphson para verificar a

convergência da solução final de cada passo.

As curvas F x d obtidas nas análises com as trincas e a daa + são armazenadas em um

arquivo de entrada de dados, conforme será visto adiante, para posterior processamento.

5.4 – DETALHAMENTO DA ETAPA DE CÁLCULO DE J E J∆ (BLOCO 2)

Os valores de J e J∆ são calculados utilizando-se a técnica da extensão virtual da trinca.

Essa metodologia consiste em realizar duas análises, a primeira considerando o modelo

com comprimento de trinca e a segunda com tamanho de trinca . Para cada

modelo, obtém-se a curva F x d. De posse das duas curvas F x d, aplica-se a metodologia

apresentada no capítulo 3 para obter

a daa +

J e J∆ . Neste trabalho, utilizou-se da . Tal

valor de foi escolhido devido ao fato de já ter sido testado por Maneschy (1998) com

bons resultados. Outros valores de não foram analisados neste trabalho. Os valores de

a005,0=

da

da

J também foram obtidos por meio de macros do ANSYS. Esse procedimento será

comentado adiante.

47

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O cálculo de J e J∆ é realizado com a ajuda de um programa computacional, feito em

FORTRAN, produzido exatamente para essa finalidade. O diagrama de blocos, mostrado

na Figura 5.7, ilustra de maneira geral como esse programa funciona.

Figura 5.7 – Diagrama que ilustra o funcionamento do programa em FORTRAN

Os dois primeiros blocos, mostrados em vermelho na Figura 5.7, indicam a etapa de

transição entre a análise realizada com o programa ANSYS e o cálculo de J e J∆

executado por meio do programa computacional. Essa etapa está relacionada com a

montagem do arquivo de entrada de dados que será utilizado no processo de obtenção de

J e . O primeiro arquivo de entrada de dados é composto pelas forças e deslocamentos

(F x d) para a estrutura com trinca de tamanho obtidos por meio do programa ANSYS,

além da leitura de informações complementares como as características geométricas da

placa ( , ,

J∆

a

a

w B ). O segundo arquivo é formado apenas pelas forças e deslocamentos para

a estrutura com tamanho de trinca daa + . É importante comentar que apenas os pontos

referentes ao último ciclo do laço de histerese são considerados no processo de cálculo.

Além disso, a curva F x d deve ser toda deslocada para o 1° quadrante do gráfico com o

objetivo de facilitar o cálculo da área sob a curva, ou seja, o par F x d relacionado com os

valores mínimos da curva é deslocado para o ponto (0,0) do gráfico.

48

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O bloco seguinte está relacionado com o cálculo da energia de deformação, representado

pelas Figuras 3.2, 3.3 e 3.4. O método de integração Gauss é utilizado para determinar as

áreas sob a curva F x d relacionadas com as trincas e a daa + . A função a ser integrada é

definida pelos pares de pontos da curva F x d. O procedimento numérico de cálculo

consiste em integrar a função entre os pares de pontos especificados, armazenar os

resultados, e continuar o procedimento até que todos os pontos da curva tenham sido

considerados. Cada intervalo é subdividido em outros sub-intervalos (método de integração

de Gauss com quatro termos), sendo os valores intermediários de F x d obtidos por

interpolação linear. A obtenção de J e J∆ é obtida em uma mesma sub-rotina. Para

facilitar esse procedimento, conforme comentado anteriormente, o sistema de coordenadas

inicial da curva F x d é modificado, tendo como origem o par de pontos mínimos da curva

F x d.

A energia complementar é obtida pela diferença entre o trabalho das forças externas e a

energia de deformação calculada no passo anterior. A energia complementar deve ser

calculada tanto para a configuração estrutural com comprimento de trinca quanto para a

configuração com tamanho de trinca a

a

da+ . A Equação (3.18) representa o cálculo

mencionado. As Equações (3.19) e (3.20) foram definidas para o caso de aplicação de

deslocamento, ou seja, caso em que o trabalho das forças externas é nulo. Dessa maneira,

para a situação de tensão imposta, torna-se necessário modificar tais Equações

introduzindo o termo referente ao trabalho das forças externas. O programa efetua

automaticamente essa correção. Para o caso estudado com carregamento definido por um

deslocamento imposto, a energia complementar é igual à energia de deformação.

Por fim, tem-se o bloco de cálculo de J e J∆ . As Equações (3.19) e (3.20) são utilizadas

para obter J e para o caso com deslocamento imposto. Para a situação com tensão

imposta, o cálculo é realizado modificando as Equações (3.19) e (3.20) conforme

explicado no item anterior. É importante destacar que o incremento de área relacionado

com as Equações (3.19) e (3.20) é diferente para cada tipo de geometria estrutural. Para os

painéis com trincas central e de bordo dupla, nos quais a trinca é representada pela metade

do seu tamanho, a área associada é

J∆

( )da2B e, para o painel com trinca de bordo, a área

incremental é . ( )daB

49

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5.5 – MACROS UTILIZADAS DO ANSYS

Os valores de J (cargas monotônicas) foram calculados, também, por sub-rotinas internas

existentes no programa ANSYS e os resultados foram comparados com os resultados da

literatura e com os encontrados pelo método da energia. O manual do programa ANSYS,

versão 5.4, possui um exemplo de mecânica da fratura, VM143, com a macro que calcula a

integral – J. As sub-rotinas do programa ANSYS foram adaptadas para o problema

estudado nesta dissertação. Essas sub-rotinas serão mostradas em anexo. O capítulo 10, do

manual do ANSYS versão 5.4, possui um tutorial que esclarece de maneira mais detalhada

os procedimentos a serem executados no ANSYS para avaliar problemas que envolvem os

conceitos de mecânica da fratura.

Foram utilizadas duas macros do ANSYS neste trabalho. A primeira calcula o fator de

intensidade de tensão por meio do método de extrapolação dos deslocamentos e a

segunda calcula a integral – J utilizando o método da integral de contorno.

( IK )

50

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6 – RESULTADOS

6.1 – INTRODUÇÃO

Os resultados apresentados a seguir foram obtidos com a utilização do programa ANSYS

em conjunto com o programa computacional desenvolvido em FORTRAN (baseado no

programa produzido por Maneschy (1998)). As análises foram realizadas em regimes

linear elástico e elastoplástico. Foram feitas análises do parâmetro comparando os

valores calculados com casos clássicos da literatura. Estudou-se também o parâmetro

IK

J

aplicando-se tanto tensão quanto deslocamento. Foram determinados valores de para

diferentes valores de

J∆

R . Por fim, algumas aplicações foram avaliadas como a estimativa

da vida útil de uma tubulação submetida a fadiga ou solicitada por transientes hidráulicos.

6.2 – ANÁLISE DO PARÂMETRO IK

Para este caso foram analisados três exemplos clássicos de painéis com trincas: central, de

bordo e de bordo dupla. As características de geometria (W = 10 cm e altura de 30 cm),

tamanho de trinca (com “ ” = 1, 2, 3, 4 e 5 cm) e carregamento (σa a = 100 kN/cm2) estão

explicitadas nas Figuras 2.3(a), 2.3(b) e 2.3(c), respectivamente. O módulo de elasticidade

considerado é de 20500 kN/cm2 e o coeficiente de Poisson, de 0,3. Para esse problema, as

soluções analíticas são dadas pela Expressão (2.3).

As Tabelas 6.1, 6.2 e 6.3 mostram os valores dos erros obtidos para quando calculado

com o método dos elementos finitos (MEF) pelo programa ANSYS e comparado com as

expressões da literatura (Equações 2.3). As Figuras 6.1, 6.2 e 6.3 representam graficamente

tais valores. Observa-se que para, esse caso, foram rodadas cinco discretizações diferentes

para placa com trinca de bordo e quatro para as placas com trinca central e de bordo dupla,

variando o tamanho “ ” da trinca, representado pela relação

IK

a Wa .

Os métodos utilizados para obter foram a Extrapolação dos Deslocamentos e a Integral

– J, ambos calculados internamente pelo programa ANSYS. Os valores de foram

obtidos tanto utilizando elementos especiais quarter point (CQP = Com Quarter Point)

quanto sem o uso dos mesmos (SQP = Sem Quarter Point).

IK

IK

51

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Tabela 6.1 - Resultados de erros de para painel com trinca central IK

Extrapolação dos Deslocamentos Integral - J a/w

CQP SQP CQP SQP

0,1 0,332 -13,317 0,256 -0,104

0,2 0,372 -12,667 0,267 0,010

0,3 0,160 -13,172 -0,129 -0,396

0,4 6,601 -7,088 7,223 6,771

Trinca Central

-15-10-505

10

0.1 0.2 0.3 0.4a/w

erro

(%)

MEF - Extr. Desl. (CQP) MEF - Extr. Desl. (SQP)MEF - Int. J (CQP) MEF - Int. J (SQP)

Figura 6.1 – Resultados de erros de para painel com trinca central IK

Tabela 6.2 - Resultados de erros de para painel com trinca de bordo IK

Extrapolação dos Deslocamentos Integral - J a/w

CQP SQP CQP SQP

0,1 0,287 -12,873 0,642 0,239

0,2 -0,502 -13,504 -0,516 -0,796

0,3 -0,267 -13,313 -0,183 -0,443

0,4 0,116 -13,002 0,156 -0,131

0,5 -0,338 -13,439 -0,478 -0,765

52

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Trinca de Bordo

-15

-10

-5

0

5

0.1 0.2 0.3 0.4 0.5a/wer

ro (%

)

MEF - Extr. Desl. (CQP) MEF - Extr. Desl. (SQP)MEF - Int. J (CQP) MEF - Int. J (SQP)

Figura 6.2 – Resultados de erros de para painel com trinca de bordo IK

Tabela 6.3 - Resultados de erros de para painel com trinca de bordo dupla IK

Extrapolação dos Deslocamentos Integral - J a/w

CQP SQP CQP SQP

0,1 -1,894 -14,020 -1,248 -1,572

0,2 -0,809 -13,006 -0,776 -0,978

0,3 -0,257 -12,543 -0,157 -0,369

0,4 3,467 -9,399 4,161 3,792

Trinca de Bordo Dupla

-15-10-505

10

0.1 0.2 0.3 0.4a/w

erro

(%)

MEF - Extr. Desl. (CQP) MEF - Extr. Desl. (SQP)MEF - Int. J (CQP) MEF - Int. J. (SQP)

Figura 6.3 – Resultados de erros de para painel com trinca de bordo dupla IK

53

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Os erros do MEF obtidos utilizando a metodologia da integral – J foram, em média,

menores que 0,5% para a/w até 0,3. Com a integral – J, os erros observados tanto com o

uso de elementos especiais quarter point quanto sem o uso destes foram praticamente os

mesmos.

Como era de se esperar, utilizando o método da extrapolação dos deslocamentos,

observou-se uma grande diferença ao se utilizarem os elementos quarter point. Com o uso

dos elementos especiais, os erros encontrados foram muito próximos aos erros obtidos pela

integral – J, menores que 0,5% para a/w até 0,3. Ao se utilizarem, porém, apenas

elementos isoparamétricos normais, os erros aumentaram para, aproximadamente, 13%.

Para os casos de placas com trincas central e de bordo dupla, os erros para a/w igual a 0,4

aumentaram para, aproximadamente, 5%. Isso se explica pelo fato de que, nesses casos,

a/w igual a 0,4 representa apenas 20% de ligação remanescente na estrutura, ou seja, trata-

se de um problema altamente não linear devido aos elevados níveis de tensões e

deformações, que introduzem regiões de plastificação acentuadas.

Para o exemplo com trinca de bordo, a malha de elementos finitos, mostrada na Figura 6.4,

possui cerca de 2000 elementos, 4500 nós e, aproximadamente, 9000 graus de liberdade.

Esses números foram determinados após a geração automática de malha do ANSYS.

Para os exemplos com trincas central e de bordo dupla, as malhas de elementos finitos,

mostradas nas Figuras 6.5 e 6.6, possuem, aproximadamente, 1000 elementos, 2100 nós e e

4200 graus de liberdade. As condições de contorno foram mudadas de forma apropriada.

Figura 6.4 - Malha usada no ANSYS para discretização da trinca de bordo ( )1,0=Wa

usando simetria. O elemento utilizado foi o triângulo de 6 nós.

54

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Figura 6.5 - Malha usada no ANSYS para discretização da trinca central ( )1,0=Wa

usando simetria. O elemento utilizado foi o triângulo de 6 nós.

Figura 6.6 - Malha usada no ANSYS para discretização da trinca de bordo dupla

( 1,0=Wa ) usando simetria. O elemento utilizado foi o triângulo de 6 nós.

6.3 – ANÁLISE DO PARÂMETRO J e J∆

Para este caso, a análise foi, inicialmente, o estudo do comportamento da integral – J

aplicando-se tensão na extremidade superior das placas analisadas. Para essa situação,

foram estudados painéis com trincas central, de bordo e de bordo dupla. Posteriormente

analisou-se o comportamento de J aplicando-se deslocamento na extremidade superior da

placa. Para esse caso analisou-se apenas a placa com trinca central. Para os dois casos, as

55

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análises foram realizadas em regimes linear elástico e elastoplástico. Além disso, foram

utilizados, para todos os casos, tanto elementos especiais quarter point quanto elementos

isoparamétricos normais.

Em seguida, executou-se o estudo do parâmetro J∆ . As análises também foram feitas

considerando regimes linear elástico e elastoplástico do material. Para esse caso,

utilizaram-se apenas elementos especiais quarter point.

6.3.1 – Dados do problema

O material considerado para este caso é o aço inoxidável 304, cujas propriedades elásticas

e parâmetros da curva tensão x deformação são representadas pela relação de Ramberg –

Osgood mostrada abaixo. A Tabela 6.4 descreve as propriedades do aço inoxidável 304

(Maneschy, 1998).

n

YY ff

+=

σασεε

0

(6.1)

onde: σ é a tensão; ε é a deformação; é a tensão de escoamento do material; Yf 0ε é a

deformação de referência ( EfY=0 )ε ; E é o módulo de elasticidade do material; α é

uma constante adimensional e é o expoente de encruamento do material. n

Tabela 6.4 – Propriedades do aço inoxidável 304 a 21°C (Maneschy, 1998)

E (GPa) Yf (MPa) v n α

195 240 0,3 5,04 3,82

Todos os dados apresentados na Tabela 6.4 são válidos para a temperatura de 21°C.

Admite-se também que a resposta do material é estável durante a sua vida útil; dessa

maneira não é considerado endurecimento cíclico do material. A Figura 6.7 mostra a

relação tensão x deformação dada pela Expressão (6.1) para o aço em estudo. As análises

serão realizadas assumindo estado plano de deformações.

Os dados geométricos, mostrados na Tabela 6.5, referem-se às placas com trincas central e

de bordo dupla, representadas pelas Figuras 2.3(a) e 2.3(c), respectivamente. A Tabela 6.6

56

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apresenta a geometria da placa com trinca de bordo, representada pela Figura 2.3(b). A

variável B corresponde à espessura das placas.

050

100150200250300350

0 0.005 0.01 0.015 0.02 0.025 0.03 0.035

Deformação

Tens

ão (M

Pa)

Figura 6.7 - Relação tensão x deformação dada pela relação de Ramberg - Osgood para o

aço inoxidável 304

Tabela 6.5 – Propriedades geométricas das placas com trinca central e trinca de bordo

dupla

W (m) B (m) H (m) a (m)

0,254 0,00635 0,254 0,0254

Tabela 6.6 – Propriedades geométricas da placa com trinca de bordo

W (m) B (m) H (m) a (m)

0,254 0,00635 0,508 0,0254

A malha de elementos finitos para o exemplo com trinca central, mostrada na Figura 6.8,

possui, aproximadamente, 900 elementos, 2800 nós e 5600 graus de liberdade. O elemento

utilizado foi o isoparamétrico de 8 nós.

Para o exemplo com trinca de bordo dupla, a malha utilizada é a mesma apresentada na

Figura 6.8, porém tendo as condições de contorno alteradas consistentemente.

Para o exemplo com trinca de bordo, a malha de elementos finitos, mostrada na Figura 6.9,

possui, aproximadamente, 3300 elementos, 10100 nós e 20200 graus de liberdade.

57

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Figura 6.8 - Malha usada no ANSYS para discretização da trinca central ( )1,0=Wa

usando simetria. O elemento utilizado foi o isoparamétrico de 8 nós (tamanho médio do

elemento igual a 0,005 m)

Figura 6.9 - Malha usada no ANSYS para discretização da trinca de bordo ( )1,0=Wa

usando simetria. O elemento utilizado foi o isoparamétrico de 8 nós (tamanho médio do

elemento igual a 0,005 m)

58

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6.3.2 – Análise do parâmetro J aplicando-se tensão

Para este caso, o cálculo de J será realizado de três maneiras distintas. Conforme

apresentado na Expressão (2.3), o valor do fator de intensidade de tensão pode ser

calculado de maneira analítica para várias geometrias estruturais. Dessa maneira,

utilizando a Expressão (3.13), pode-se obter

IK

J analítico. Numericamente, a integral – J

será calculada tanto por rotinas internas do ANSYS, que utilizam a integral de contorno

apresentada na Expressão (3.1) para obter seus resultados, quanto pelo método da energia,

utilizando a Equação (3.14). Os estudos foram realizados com painéis com trincas central,

de bordo e de bordo dupla.

A Figura 6.10 mostra, como exemplo, uma placa com trinca central sendo solicitada por

uma tensão em sua extremidade superior sendo linear elástico o

comportamento do material. A Figura 6.11 apresenta os deslocamentos da estrutura em

resposta à aplicação da tensão. Na Figura 6.10 fica evidente a concentração de tensões

existente na ponta da trinca.

MPaY 240=σ

Yu

Figura 6.10 – Tensão Yσ aplicada em uma

placa com trinca central sendo linear elástico

o comportamento do material

Figura 6.11 – Deslocamentos u da

estrutura em resposta à solicitação de tensão

Y

As Figuras 6.12 a 6.17 mostram os valores de J em função da força aplicada . F

59

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Trinca Central

0

5

10

15

20

25

0 100 200 300 400F (kN)

J (k

J/m

²)

Linear Elástico (Analítico) Linear Elástico (Energia)

Linear Elástico (Macro ANSYS)

Figura 6.12 - J x para placa com trinca central. Análise linear elástica (Tensão

Imposta)

F

Trinca Central

0

50

100

150

200

250

0 100 200 300 400F (kN)

J (k

J/m

²)

Linear Elástico (Analítico) Linear Elástico (Energia)Linear Elástico (Macro ANSYS) Elastoplástico (Energia)Elastoplástico (Macro ANSYS)

Figura 6.13 - J x para placa com trinca central. Análise linear elástica e elastoplástica

(Tensão Imposta)

F

60

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Trinca de Bordo

0

5

10

15

20

25

30

35

0 100 200 300 400F (kN)

J (k

J/m

²)

Linear Elástico (Analítico) Linear Elástico (Energia)

Linear Elástico (Macro ANSYS)

Figura 6.14 - J x para placa com trinca de bordo. Análise linear elástica (Tensão

Figura 6.15 -

F

Imposta)

0

50

100

150

200

250

0 100 200 300 400F (kN)

J (k

J/m

²)

Linear Elástico (Analítico) Linear Elástico (Energia)

Linear Elástico (Macro ANSYS) Elastoplástico (Energia)Elastoplástico (Macro ANSYS)

Trinca de Bordo

J x para placa com trinca de bordo. Análise linear elástica e

F

elastoplástica (Tensão Imposta)

61

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Trinca de Bordo Dupla

05

10152025

3035

0 100 200 300 400F (kN)

J (k

J/m

²)

Linear Elástico (Analítico) Linear Elástico (Energia)

Linear Elástico (Macro ANSYS)

Figura 6.16 - J x para placa com trinca de bordo dupla. Análise linear elástica (Tensão

Imposta)

F

Trinca de Bordo Dupla

0

50

100

150

200

250

0 100 200 300 400F (kN)

J (k

J/m

²)

Linear Elástico (Analítico) Linear Elástico (Energia)Linear Elástico (Macro ANSYS) Elastoplástico (Energia)Elastoplástico (Macro ANSYS)

Figura 6.17 - J x para placa com trinca de bordo dupla. Análise linear elástica e

elastoplástica (Tensão Imposta)

F

62

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As Figuras 6.12, 6.14 e 6.16 apresentam a relação J x considerando comportamento

linear elástico do material. As Figuras 6.13, 6.15 e 6.17 mostram os resultados tanto para

análise linear elástica quanto para elastoplástica.

F

Para os casos com trinca central e de bordo, nota-se que, para a análise linear elástica, os

resultados obtidos tanto com as rotinas do programa ANSYS quanto com o método da

energia, apresentados no capítulo 3, encontram-se muito próximos aos resultados

analíticos.

Para a análise elastoplástica, os valores de J foram calculados utilizando as rotinas do

ANSYS e o método da energia. Comparando os resultados obtidos em cada método

observa-se um comportamento bastante similar entre os valores de J calculados. Como

esperado, para valores reduzidos de o comportamento do material é bem próximo ao

caso linear elástico. Para forças elevadas, porém, tem-se que

F

J elastoplástico se distancia

do caso linear elástico. Isso se deve ao fato de que, para forças elevadas, têm-se zonas

plásticas extensas comparadas com o tamanho da trinca.

O cálculo numérico da integral – J foi realizado com o uso de elementos especiais quarter

point e, também, com o uso de elementos isoparamétricos normais. Observou-se, para

todas as situações estudadas neste trabalho que a utilização de elementos especiais quarter

point ou de elementos isoparamétricos normais fornecem valores praticamente idênticos de

J .

Para o caso com trinca de bordo dupla, os resultados obtidos tanto pelo ANSYS quanto

pelo método da energia foram menos satisfatórios ao serem comparados com o resultado

analítico.

6.3.3 – Análise do parâmetro J aplicando-se deslocamento

Entre as principais fontes de fadiga que ocorrem em componentes estruturais nucleares,

pode-se destacar a expansão térmica causada por transientes térmicos existentes nos vasos

de reatores. A condição de deslocamento imposto assegura que a deformação em uma

estrutura trincada seja uniforme, representando de uma maneira mais adequada os efeitos

de temperatura em sólidos.

63

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Para este caso o cálculo de J será realizado por rotinas internas do ANSYS e pelo

método da energia, mostrado no capítulo 3. Os estudos foram realizados utilizando um

painel com trinca central cujos dados do problema foram apresentados no item 6.3.1.

A Figura 6.18 mostra, como exemplo, uma placa com trinca central sendo solicitada por

um deslocamento em sua extremidade superior sendo linear elástico o

comportamento do material. A Figura 6.19 apresenta as tensões

muY 00014,0=

Yσ da estrutura em

resposta à aplicação do deslocamento. Na Figura 6.19 fica evidente a concentração de

tensões existente na ponta da trinca.

Figura 6.18 – Placa com trinca central sendo

solicitada por deslocamento sendo linear

elástico o comportamento do material

Figura 6.19 – Tensão Yσ da estrutura em

resposta à solicitação de deslocamento

As Figuras 6.20 e 6.21 mostram os valores de J em função da força existente na

estrutura em resposta à aplicação do deslocamento . A estrutura foi submetida a um

deslocamento monotônico com o intervalo de 0 a 0,00014 m. Os gráficos apresentarão

também os resultados encontrados anteriormente ao se aplicar tensão para efeito de

comparação (TI = Tensão Imposta e DI = Deslocamento Imposto).

F

Yu

64

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Trinca Central

0

5

10

15

20

25

0 100 200 300 400F (kN)

J (k

J/m

²)

Linear Elástico - TI (Energia) Linear Elástico - TI (Macro ANSYS)

Linear Elástico - DI (Energia) Linear Elástico - DI (Macro ANSYS)

Figura 6.20 - J x para placa com trinca central. Análise linear elástica (Deslocamento

Imposto)

F

Trinca Central

0

5

10

15

20

0 50 100 150 200 250F (kN)

J (k

J/m

²)

Elastoplástico - TI (Energia) Elastoplástico - TI (Macro ANSYS)

Elastoplástico - DI (Energia) Elastoplástico - DI (Macro ANSYS)

Linear Elástico - DI (Energia) Linear Elástico - DI (Macro ANSYS)

Figura 6.21 - J x para placa com trinca central. Análise linear elástica e elastoplástica

(Deslocamento Imposto)

F

65

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A Figura 6.20 apresenta a relação J x considerando comportamento linear elástico do

material. A Figura 6.21 mostra os resultados tanto para análise linear elástica quanto para

elastoplástica.

F

Observa-se que, tanto para a análise linear elástica quanto para a análise elastoplástica, os

valores de J obtidos, para a situação de deslocamento imposto, são superiores aos obtidos

com tensão imposta. Dessa maneira, é importante ressaltar que problemas controlados por

deslocamento imposto em mecânica da fratura, como o caso de estruturas trincadas

submetidas a transientes térmicos, devem ser tratados cuidadosamente.

Da mesma maneira que na análise de estruturas solicitadas por tensão, o cálculo da integral

– J foi realizado tanto com o uso de elementos quarter point quanto com o uso de

elementos isoparamétricos normais. De acordo com o que se observou anteriormente, a

utilização de elementos especiais quarter point não alterou os resultados de forma

significativa se comparada com o uso de elementos isoparamétricos normais na obtenção

de J .

6.3.4 – Análise do parâmetro aplicando-se tensão J∆

Para este caso a obtenção de será feita utilizando o método da energia, mostrado no

capítulo 3. Os estudos foram realizados utilizando um painel com trinca central cujos

dados do problema foram apresentados no item 6.3.1. As análises foram efetuadas

considerando comportamento linear elástico e elastoplástico do material.

J∆

Para a análise linear elástica, comparou-se o valor de J∆ , obtido pelo método da energia,

Expressão (3.19), com o valor de eJ∆ , calculado tanto pela Expressão (3.16) quanto pela

Expressão (3.17). Os resultados são analisados em função do parâmetro R (que representa

a relação entre a mínima tensão aplicada e a máxima tensão aplicada no ciclo de carga da

estrutura).

Analisando a Figura 6.22, observa-se que o valor de J∆ pode ser calculado, com excelente

precisão, pela Equação (3.17), ou seja, a obtenção de J∆ para materiais que trabalham em

regime linear elástico pode ser feita de maneira monotônica simplesmente subtraindo o

valor de (que corresponde ao valor da integral – J calculada utilizando o valor MAXJ

66

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máximo de tensão do ciclo de carga) do valor de (que corresponde ao valor da

integral – J calculada utilizando o valor mínimo de tensão do ciclo de carga). A Equação

(3.16) só apresenta bons resultados para valores de

MINJ

R próximos de zero. Nas faixas de R

distantes de zero, a Expressão (3.16) possui valores inferiores aos valores obtidos pela

Expressão (3.17), ou seja, de acordo com os questionamentos apresentados por Chow e Lu

(1991) mostrados no capítulo 3, a energia disponível para propagar a trinca realmente não

é completamente considerada pela Expressão (3.16).

J∆

eJ

0

1

2

3

4

0 0.1 0.2 0.3 0.4 0.5 0.6R

∆J

/ ∆Je

(Energia) / (Eq. 3.16)

(Energia) / (Eq. 3.17)

Figura 6.22 – Comparação entre J∆ , calculado pelo método da energia, com ,

calculado pelas Expressões (3.16) e (3.17)

eJ∆

Para a análise elastoplástica, estudou-se o comportamento de J∆ para várias solicitações

cuja variação de tensão é σ∆ . Os valores de J∆ foram plotados em função da variação da

força aplicada , que pode ser correlacionada diretamente com F∆ σ∆ ( σ..BWF = ).

O estudo foi iniciado comparando os valores de obtidos para dois tipos de

carregamento, e 0=R 1−=R , com os valores de ∆ calculados pela Expressão (3.16).

O cálculo de ∆ foi feito utilizando-se o método da energia, conforme mostrado nas

Figuras 6.23 e 6.24. O cálculo de

J

eJ∆ foi realizado para o caso de . O emprego da

Equação (3.16) se justifica pelos resultados apresentados na Figura 6.22. Os laços de

histerese, mostrados nas Figuras 6.23 e 6.24, foram obtidos utilizando o programa ANSYS.

Em seguida, o valor de foi calculado extraindo a área abaixo da curva em vermelho, de

acordo com o que foi apresentado no capítulo 3.

0=R

J∆

67

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R = 0

0

50

100

150

200

250

0 0.2 0.4 0.6 0.8Desl (mm)

Tens

ão (M

Pa)

Figura 6.23 – Laço de histerese σ x δ para 0=R ( MPaMAX 240=σ e 0=MINσ )

R = -1

-150-100-50

050

100150

-0.15 -0.1 -0.05 0 0.05 0.1 0.15

Desl (mm)

Tens

ão (M

Pa)

Figura 6.24 – Laço de histerese σ x δ para 1−=R ( MPaMAX 120=σ e

MPaMIN 120−=σ )

A Figura 6.25 mostra os resultados alcançados para a análise elastoplástica. Pode-se

observar que a concordância entre J∆ e eJ∆ só se confirma para valores de não

muito elevados. Para , valor que corresponde à tensão de escoamento do

material para a situação de , nota-se uma diferença considerável entre ∆ e . Tal

fato se explica devido à forte influência da plasticidade do material para esse nível de

tensões.

F∆

eJ∆

kNF 1,387=∆

0=R J

68

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Comparando-se os valores de obtidos para J∆ 0=R e 1−=R nota-se uma grande

proximidade entre seus resultados para o nível de tensões estudado. Tal validação está de

acordo com Maneschy (1998).

0

10

20

30

40

0 100 200 300 400∆F (kN)

∆J

(kJ/

m²)

Energia (R = 0) Energia (R = -1) Eq. 3.16 (R = 0)

Figura 6.25 – x para J∆ F∆ 0=R e 1−=R ( J∆ obtido pelo método da energia);

eJ∆ x para F∆ 0=R ( eJ∆ obtido pela Equação (3.16))

6.4 – APLICAÇÕES

6.4.1 – Estimativa da vida útil de uma tubulação submetida à fadiga

Liaw, et al. (1993b) contribuíram para o desenvolvimento de uma metodologia que estima

a vida remanescente de tubulações a vapor que operam em elevadas temperaturas (comuns

em projetos nucleares). Os conceitos da mecânica da fratura elastoplástica foram utilizados

para determinar o tempo de vida dessas tubulações. As propriedades do aço A106B,

utilizadas nessa aplicação, serão descritas adiante.

A metodologia de previsão de vida de materiais que será apresentada pode ser usada para

quantificar a influência do modo de operação das peças estruturais além de avaliar o

comportamento de diferentes materiais no crescimento de trincas em estruturas contendo

defeitos e submetidas a carregamentos cíclicos.

As análises dos mecanismos de fratura podem ser utilizadas para determinar as estratégias

de inspeção em estruturas. Essa metodologia de previsão de vida de materiais submetidos a

69

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fadiga considera a existência de falhas estruturais não detectadas durante um trabalho de

inspeção. O intervalo máximo de inspeção é, em geral, igual ao tempo de vida

remanescente estimado. Alternativamente, se é desejado um intervalo de inspeção fixado,

as análises da mecânica da fratura podem ser usadas para determinar o tamanho máximo de

defeito permitido.

Na análise dos mecanismos de mecânica da fratura, alguns passos podem ser seguidos para

avaliar a segurança de um sistema estrutural em operação. O primeiro passo é composto de

testes dos materiais para determinar parâmetros requeridos nas análises. Como exemplo

podem-se citar o módulo de elasticidade, a tensão de escoamento e a tenacidade à fratura,

propriedades relacionadas com o crescimento de trinca por fadiga do material e constantes

que descrevem características cíclicas e monotônicas de materiais fraturados. O modo de

determinar tais propriedades foi descrito por Liaw, et al. (1993a). Para essa aplicação, as

propriedades dos materiais são conhecidas. O segundo passo envolve identificar os

seguintes parâmetros associados com a configuração estrutural trincada de interesse: fator

de intensidade de tensão e integral – J ( )K ( )J . O terceiro passo está associado com a

previsão de vida remanescente da estrutura trincada. Esse passo envolve estimar tanto o

tamanho de trinca crítico , utilizando as propriedades de tenacidade à fratura do

material, quanto o tempo de vida remanescente do material

( cra )

( )fN em número de ciclos do

carregamento de fadiga.

As Figuras 6.26, 6.27 e 6.28 ilustram os passos 1, 2 e 3, respectivamente.

Peça utilizada para ensaio de tenacidade a

fratura

ICJ ou ICK

1' nKAdNda

∆= (A’, n1)

nDE

σσε += ( ) '' mDE

σσε ∆+∆

=∆

Parâmetros requeridos para analisar

mecanismos de fratura

Figura 6.26 – Metodologia para estimar o tempo de vida remanescente de materiais

submetidos à fadiga - Passo 1 (Liaw, et al. (1993b) Modificado)

70

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Exemplo de estrutura trincada

Fator de Intensidade de Tensão ( )K

Integral – J ( )J

Parâmetros a se determinar para avaliar

a configuração estrutural de interesse

Figura 6.27 – Metodologia para estimar o tempo de vida remanescente de materiais

submetidos à fadiga - Passo 2 (Liaw, et al. (1993b) Modificado)

0a - Tamanho inicial da trinca

fN - Tempo de vida remanescente do

material

,0a ,cra ,dNda fN

Parâmetros a se determinar para se estimar o

tempo de vida remanescente da estrutura

trincada

Figura 6.28 – Metodologia para estimar o tempo de vida remanescente de materiais

submetidos à fadiga - Passo 3 (Liaw, et al. (1993b) Modificado)

71

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Conforme comentado anteriormente, os procedimentos experimentais associados com o

passo 1 foram descritos por Liaw, et al. (1993a). Os detalhes sobre os passos 2 e 3 serão

comentados adiante.

Considerando que o sistema estrutural que será avaliado é uma tubulação, é importante

ressaltar que, durante sua operação, é esperado que o crescimento da trinca aconteça em

duas direções, circunferencial e ao longo da espessura da parede. A Figura 6.29 mostra o

problema em questão.

Figura 6.29 – Sistema estrutural a ser avaliado

(Liaw, et al. (1993b) Modificado)

Quando o tamanho da trinca ( se torna igual ao de trinca crítico )a ( )cra , é esperado que ela

se propague na direção da espessura da parede. Nesse momento, a ruptura completa da

tubulação pode ocorrer ou ser precedida por um vazamento de fluido, caso o valor crítico

na direção circunferencial seja ou não atingido, respectivamente. No esquema

mostrado na Figura 6.29, a linha tracejada em vermelho mostra a maneira como a fratura

se propaga. Para esse caso, a propagação da trinca acontecerá inicialmente na direção da

espessura da parede.

( crC )

O comportamento de fratura e de fadiga para materiais em regime linear elástico é

caracterizado pelo parâmetro do fator de intensidade de tensão ( )K e pelo parâmetro do

fator de intensidade de tensão cíclico ( )K∆ , respectivamente. Similarmente, o

comportamento de fratura e de fadiga para materiais em regime elastoplástico é 72

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caracterizado pelos parâmetros J e J∆ , respectivamente. Dessa maneira, necessitam-se

expressões para estimar K e J das estruturas analisadas para poder avaliar a integridade

destas.

J∆

Para esse exemplo de aplicação, o tempo de vida remanescente do material ( )fN será

obtido utilizando os valores de J∆ calculados conforme a metodologia mostrada no

capítulo 3 desta dissertação e posteriormente serão comparados com os resultados

apresentados por Liaw, et al. (1993b), que calcularam J∆ por meio de expressões

tabeladas mostradas por Kumar e German (1988).

A Figura 6.30 mostra como a tubulação avaliada, submetida a um carregamento cíclico,

será modelada para estimar o seu tempo de vida utilizando o método da variação de

energia, apresentado anteriormente no capítulo 3. O modelo utilizado será uma placa com

trinca de bordo. O valor de será calculado utilizando a Expressão (3.20), mostrada

anteriormente.

Figura 6.30 – Tubulação trincada sendo modelada por meio de uma placa com trinca de

bordo

Para analisar um sistema estrutural em operação, é preciso detalhar os passos de avaliação

mencionados anteriormente. A Figura 6.31 apresenta um esquema que indica a seqüência

de passos a ser analisada.

73

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Figura 6.31 – Esquema de análise de integridade estrutural de tubulações

(Liaw, et al. (1993b) Modificado)

O primeiro passo é definir a geometria do sistema em estudo e o carregamento ao qual ele

estará submetido. Como a estrutura avaliada será uma tubulação, é preciso conhecer as

seguintes características:

• Diâmetro externo ; ( )eD

• Espessura da tubulação ( ; )t• Tamanho inicial da trinca ( ); 0a

• Tensão máxima de fadiga ( )MAXσ ;

• Tensão mínima de fadiga ( )MINσ .

O próximo passo é estabelecer as propriedades do material. São elas:

• Tensão de escoamento ; ( )Yf

• Tensão de ruptura ; ( )uf

• Coeficiente de plasticidade ( ; )D

• Expoente de plasticidade ( ; )n

• Módulo de Elasticidade ; ( )E

• Tenacidade à fratura ; ( )ICK

• Coeficiente de crescimento de trinca por fadiga ( )'A ;

74

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• Expoente de crescimento de trinca por fadiga ( )1n .

As constantes e são parâmetros que caracterizam a curva tensão x deformação do

material e estão relacionadas pela seguinte expressão:

D n

nDE

σσε += (6.2)

A razão de crescimento de trinca ( )dNda é representada como uma função de K∆ e é

escrita da seguinte maneira:

( ) 1' nKAdNda

∆= (6.3)

onde e são constantes do material, e 'A 1n JEK ∆=∆ ; J∆ será obtido utilizando a

Expressão (3.20).

A Figura 6.32 mostra um esquema para obter o tamanho de trinca crítico da

tubulação avaliada.

( cra )

Figura 6.32 – Esquema para estimar o tamanho crítico de trinca

(Liaw, et al. (1993b) Modificado)

75

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O tamanho de trinca crítico corresponde à situação na qual o valor de J se iguala a ,

onde

ICJ

EKJ ICIC2= . Uma condição importante para a obtenção de a é garantir que o

ligamento remanescente de material

cr

( )at − seja menor que ( )MÉDIOJ σ25 , onde

( uYMÉDIO ff += 5,0 )σ . Essa condição é necessária, pois a metodologia que está sendo

utilizada tem a restrição de deformação plástica reduzida. A determinação de a é feita

por meio de um cálculo iterativo no qual o valor máximo é limitado em

cr

t750 .,

A Figura 6.33 mostra a metodologia utilizada para estimar o crescimento de trinca por

fadiga.

Figura 6.33 – Metodologia utilizada para estimar o crescimento de trinca por fadiga

(Liaw, et al. (1993b) Modificado)

Os dados do problema em estudo são definidos adiante. Inicialmente, serão definidos a

geometria do sistema e o carregamento ao qual ele estará submetido.

• Diâmetro externo = 177,8 mm = 0,1778 ; ( eD ) m

• Espessura da tubulação ( = 17,8 = 0,0178 ; )t mm m 76

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• Tensão máxima de fadiga ( MAX )σ = 120 MPa ;

• Tensão mínima de fadiga ( MIN )σ = 0 MPa .

Em seguida, serão definidas as propriedades do material em estudo (aço A106B).

• Tensão de escoamento = 207 ( Yf ) MPa ;

• Tensão de ruptura = 517 ( uf ) MPa ;

• Coeficiente de plasticidade ( = ; )D 4610768,5 −x nPa −

• Expoente de plasticidade ( = 5,09; )n

• Módulo de Elasticidade = 20000 ( )E MPa ;

• Tenacidade à fratura = 257 ( ICK ) mMPa ;

• Coeficiente de crescimento de trinca por fadiga ( )'A = 1 3510434, −x ( )( ) 1nmPaciclo

m −;

• Expoente de crescimento de trinca por fadiga ( )1n = 3,73.

Utilizando a Expressão (6.2), obtém-se a curva tensão x deformação do material em

estudo.

0

100

200

300

400

500

600

0 0.05 0.1 0.15 0.2

Deformação

Tens

ão (M

Pa)

Figura 6.34 - Relação tensão x deformação dada pela Expressão (6.2) para o aço A106B

A metodologia mostrada na Figura 6.32 foi utilizada para obter o tamanho de trinca crítico

para o problema em estudo. O valor encontrado foi 12,7=cra mm 00712,0= m .

77

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A estimativa do tempo de vida remanescente da tubulação em estudo submetida à fadiga

está apresentada na Figura 6.35. O cálculo de J∆ foi realizado de três maneiras distintas e

os resultados finais foram comparados. Inicialmente, a estimativa de x obtida por

Liaw, et al. (1993b), que utilizaram expressões do EPRI (Kumar e German, 1988) para

obter os valores de

fN 0a

J∆ , foi plotada. Em seguida, obteve-se x calculando por

meio das Expressões (3.20) e (3.16).

fN 0a J∆

A placa com trinca de bordo utilizada para modelar a tubulação possui, aproximadamente,

1500 elementos, 4500 nós e 9000 graus de liberdade. As análises foram realizadas

assumindo estado plano de tensões e os resultados foram obtidos utilizando elementos

isoparamétricos de 8 nós com quarter point na ponta da trinca.

0123456

0 500 1000 1500 2000 2500

Nf x 1000

a (m

m)

Nf (EPRI) Nf (Eq. 3.20) Nf (Eq. 3.16)

Figura 6.35 - Estimativa do tempo de vida remanescente da tubulação em estudo submetida

à fadiga utilizando três maneiras distintas para o cálculo de ∆ J

Conforme previsto por Maneschy (1998), em presença de plasticidade significativa, o valor

de obtido por meio da Expressão (3.20) possui magnitude menor que o valor de J∆ J∆

calculado utilizando expressões do EPRI. Dessa maneira, observa-se que o tempo de vida

remanescente obtido por meio da Equação (3.20) possui valores menos conservadores

comparados com os valores obtidos por Liaw, et al. (1993b).

O cálculo de por meio da Equação (3.16) foi realizado apenas para efeito de

comparação. A Equação (3.16) calcula

fN

J∆ utilizando apenas os valores monotônicos de

J , assim, a magnitude de é ainda menor do que a obtida utilizando a Expressão (3.20). J∆

78

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O uso dessa expressão (3.16) só é recomendado para problemas nos quais se domina a

mecânica da fratura linear elástica.

A diferença entre os resultados ocorre também devido à aproximação realizada na

modelagem da tubulação fraturada. As Expressões (3.16) e (3.20) utilizam o modelo

apresentado na Figura 6.30, ou seja, utilizam o modelo de uma trinca de bordo para

representar uma tubulação trincada. As expressões do EPRI utilizam modelos específicos

de tubulações trincadas para estimar os valores de J∆ .

A Figura 6.36 mostra uma tendência de distanciamento entre os valores estimados de

pelas duas metodologias de cálculo quando se têm valores de mais distantes de .

Isso pode ser explicado pois, para valores de mais distantes de , tem-se um aumento

de plasticidade envolvida no problema e, para valores elevados de plasticidade, os valores

de calculados pelas Expressões do EPRI crescem rapidamente, diminuindo assim o

valor de correspondente.

fN

cra0a

a0a cr

J∆

fN

0

1

2

3

4

5

1 2 3 4 5 6

a0 (mm)

N (E

q. 3

.20)

/ N

(EPR

I)

Figura 6.36 – Relação entre da tubulação calculado utilizando fN

a Expressão (3.20) e as expressões do EPRI

6.4.2 – Estimativa da vida útil de uma tubulação solicitada por transientes hidráulicos

A segurança de circuitos pressurizados de petróleo (CPP), de reatores nucleares, e de

grandes instalações industriais, assim como de outros sistemas que comportam fluidos,

79

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impõe o conhecimento de certo número de fenômenos acidentais, bem como de suas

conseqüências sobre a resistência mecânica das estruturas.

Condutos forçados são estruturas tubulares percorridas por fluido sob pressão. Problemas

estruturais consideráveis podem surgir na tubulação devido à ocorrência de escoamentos

transientes.

Acidentes tais como ruptura de um circuito oleoduto/gasoduto ou de uma tubulação

primária de um reator nuclear, fechamento brusco de elementos de controle de

escoamentos, ou mesmo quando manobras previstas ou acidentais ocorrem, esses eventos

criam regimes transitórios intensos nos circuitos tubulares.

Com a utilização de recursos computacionais, torna-se possível a análise de circuitos mais

complexos para se estudarem transientes em condutos forçados. Nesse exemplo de

aplicação, como comentado no capítulo 1, será utilizado o programa PRONDAS-1D,

desenvolvido por Fiuza Lima (2003), para gerar as pressões transientes que solicitarão a

tubulação. As pressões informadas pelo programa PRONDAS-1D serão fornecidas ao

programa ANSYS para se realizar a análise da estrutura. A parte teórica sobre transientes

hidráulicos se encontra com mais detalhes no anexo B desta dissertação.

O sistema avaliado consiste de um reservatório com nível constante e um conduto reto

trincado com uma válvula (inicialmente aberta) na outra extremidade, conforme mostrado

na Figura B.1, no anexo B.

Os dados gerais do problema são:

Comprimento da tubulação = 100 m; ( )L•

Ponto de análise da tubulação = 50 m; ( )x

Diâmetro da tubulação = 0,5 m; ( )D

Altura da coluna d’água no reservatório ( )H = 2 m;

Fator de atrito ( = 0,019; )f•

• Velocidade do som na tubulação ( )c = 1350 m/s.

80

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Para esse caso, o fechamento de válvula avaliado é parabólico, de acordo com a Figura

6.37. No eixo vertical do gráfico apresentado na Figura 6.37, é representada uma referência

que indica o quanto a válvula bloqueia a passagem de fluido ao final da tubulação. Quando

TAU tem o valor de 1, a válvula se encontra completamente aberta; e, quando TAU tem o

valor 0, encontra-se completamente fechada.

Figura 6.37 – Fechamento parabólico de válvula

Os resultados obtidos pelo programa PRONDAS-1D, em termos de pressão e velocidade,

são apresentados, respectivamente, nas Figuras 6.38 e 6.39 para o ponto do conduto x =

50m.

-3-2-10123

0 0.5 1 1.5

Tempo (s)

Pres

são

(MPa

)

2

Figura 6.38 – Gráfico Pressão x Tempo obtido pelo programa PRONDAS-1D

Para esse exemplo de aplicação, o tempo de vida remanescente do material ( )fN também

será obtido utilizando os valores de J∆ calculados pelo método da energia, apresentado no

capítulo 3, similarmente ao caso 6.4.1.

81

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-3-2-10123

0 0.5 1 1.5

Tempo (s)

V (m

/s)

2

Figura 6.39 – Gráfico Velocidade x Tempo obtido pelo programa PRONDAS-1D

A Figura 6.40 mostra como a tubulação avaliada, submetida a uma pressão transiente, será

modelada para que seja estimado o seu tempo de vida utilizando o método da variação de

energia. O valor de J∆ será calculado utilizando a Expressão (3.20).

Figura 6.40 – Tubulação trincada, submetida a pressão interna, sendo modelada por meio

de uma placa com trinca de bordo

O valor de Pσ é calculado com a seguinte expressão:

trP M

P =σ (6.4)

82

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onde: P é a pressão interna da tubulação; é o raio médio da tubulação; t é a espessura

da tubulação e

Mr

Pσ é a tensão circunferencial na tubulação.

Utilizando os dados obtidos pelo programa PRONDAS-1D, apresentados na Figura 6.38, e

a Expressão (6.4), obtém-se a carga cíclica que solicita a estrutura. A Figura 6.41 mostra os

valores de Pσ ao longo do tempo.

-50

-30

-10

10

30

50

0 0.5 1 1.5 2

Tempo (s)

σ (M

Pa)

Figura 6.41 – Gráfico Pσ x Tempo (carga cíclica que solicita a estrutura)

De posse da carga que solicita a estrutura, aplica-se a metodologia apresentada na Figura

6.31 para obter o tempo de vida remanescente do material ( )fN . Os dados de geometria e

carregamento da estrutura são os seguintes:

• Raio médio = 250 = 0,25 ; ( Mr )

)

mm m

• Espessura da tubulação ( = 17,8 = 0,0178 ; )t mm m

• Tensão máxima de fadiga ( MAXσ = 40 MPa ;

• Tensão mínima de fadiga ( MIN )σ = - 40 MPa .

As propriedades do material são as mesmas do caso apresentado no item 6.4.1 (aço

A106B):

• Tensão de escoamento = 207 ( Yf ) MPa ;

• Tensão de ruptura = 517 ( uf ) MPa ;

83

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• Coeficiente de plasticidade ( = ; )D 4610768,5 −x nPa −

• Expoente de plasticidade ( = 5,09; )n

• Módulo de elasticidade ( = 20000 )E MPa ;

• Tenacidade à fratura = 257 ( ICK ) mMPa ;

• Coeficiente de crescimento de trinca por fadiga ( )'A = 1 3510434, −x ( )( ) 1nmPaciclo

m −;

Expoente de crescimento de trinca por fadiga ( )1n = 3,73. •

O valor de a , calculado por meio da metodologia apresentada na Figura 6.32, é

= 0 .

cr

11=cra mm 011, m

A Figura 6.42 mostra a estimativa do tempo de vida remanescente da tubulação analisada

submetida a carga de pressão transiente. O cálculo de J∆ foi realizado com a expressão

(3.20).

Da mesma maneira que no caso 6.4.1, a placa com trinca de bordo utilizada para modelar a

tubulação possui cerca de 1500 elementos, 4500 nós e 9000 graus de liberdade. As análises

foram realizadas assumindo estado plano de tensões e os resultados foram obtidos

utilizando elementos isoparamétricos de 8 nós com quarter point na ponta da trinca.

10

10.2

10.4

10.6

10.8

0 100 200 300 400 500Nf

a (m

m) Nf (Eq. 3.20)

Figura 6.42 - Estimativa do tempo de vida remanescente da tubulação analisada submetida

a carga de pressão transiente

Os resultados apresentados na Figura 6.42 se mostram bastante coerentes. Para valores de

mais próximos de , observa-se que o valor de se reduz. É importante comentar 0a cra fN

84

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que não foram realizadas comparações pois não se encontraram disponíveis na literatura

resultados que relacionassem mecânica da fratura com transientes hidráulicos. Para efeito

de comparação, sugere-se a realização de ensaios experimentais.

85

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7 – CONCLUSÕES E SUGESTÕES

7.1 – CONCLUSÕES

A seguir, são apresentados as conclusões e comentários sobre a pesquisa realizada.

Considerando a quantidade de casos analisados e as comparações feitas entre resultados

numéricos com soluções analíticas, pode-se chegar a algumas conclusões importantes.

O cálculo do fator de intensidade de tensão ( )IK utilizando as macros do programa

ANSYS, para os casos estudados nesta dissertação (placa com trinca central, placa com

trinca de bordo e placa com trinca de bordo dupla), mostrou-se muito eficiente, podendo,

dessa maneira, ser utilizado para avaliar problemas diversos relacionados com a mecânica

da fratura, como era de se esperar. Avaliando os resultados, observa-se que a macro que

calcula por meio do método da integral – J apresentou resultados excelentes tanto

utilizando elementos finitos com quarter point quanto sem quarter point. Dessa maneira,

um dos importantes questionamentos levantados nesta pesquisa é se a utilização do

elemento finito desenvolvido por Barsoum (1976) é realmente necessária para o cálculo de

por meio do método da integral - J. Por outro lado, a macro que utiliza o método da

extrapolação dos deslocamentos apresentou bons resultados apenas com o uso de

elementos com quarter point.

IK

IK

As modificações implementadas no programa computacional desenvolvido por Maneschy

(1998) foram realizadas com sucesso. Esse programa calcula os valores de J e para

placa com trinca central por meio do método da energia considerando a tensão aplicada.

Implementou-se o cálculo de

J∆

J e J∆ para placas com trinca de bordo e trinca de bordo

dupla para a condição de tensão aplicada. Vale ressaltar que a metodologia utilizada para o

cálculo de J e por meio do método da energia para placas com trinca de bordo e

trinca de bordo dupla foi aprimorada ao longo deste trabalho.

J∆

Para a condição de regime linear elástico do material, os valores de J obtidos pelo método

da energia foram comparados com expressões analíticas disponíveis na literatura e com os

valores calculados utilizando as macros do ANSYS. Para a condição de regime

elastoplástico, os valores de J obtidos pelo método da energia foram comparados apenas

86

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com os valores calculados utilizando as macros do ANSYS. Os resultados obtidos foram

muito coerentes entre si para todos os casos analisados.

Além disso, implementou-se também a condição de carregamento com deslocamento

aplicado utilizando o método da energia. Os valores de J foram obtidos para o caso de

uma placa com trinca central tanto para regime linear elástico do material quanto para

regime elastoplástico. Os resultados foram comparados com os valores obtidos utilizando

as macros do ANSYS, mostrando-se bastante satisfatórios.

O parâmetro também foi avaliado tanto considerando regime linear elástico do

material quanto considerando regime elastoplástico. Os valores de calculados pelo

método da energia foram comparados com as Expressões (3.16) e (3.17), apresentando

bons resultados. Dessa maneira, o parâmetro

J∆

J∆

J∆ mostra-se bastante adequado para avaliar

estruturas submetidas a carregamentos cíclicos.

Com o objetivo de avaliar a aplicabilidade do parâmetro J∆ , dois exemplos de aplicação

foram analisados. Estimou-se o tempo de vida remanescente ( )fN de tubulações

submetidas a fadiga e submetidas a transientes hidráulicos. No primeiro caso, os resultados

de encontrados, utilizando ∆ calculado pelo método da energia, foram comparados

com resultados obtidos por Liaw, et al. (1993b), que utilizaram expressões do EPRI para

obter os valores de

fN J

J∆ . A comparação dos resultados mostrou que o parâmetro obtido

por meio do método da energia é uma ferramenta simples e bastante útil para avaliar o

tempo de vida de componentes estruturais submetidos a fadiga. No segundo caso, avaliou-

se o tempo de vida de uma tubulação solicitada por um transiente hidráulico. Os resultados

obtidos se mostraram qualitativamente coerentes com os resultados esperados.

J∆

7.2 – SUGESTÕES

Considerando os resultados obtidos nesta dissertação, pode-se sugerir a realização dos

seguintes itens em trabalhos futuros:

Analisar o efeito do fechamento de trinca na obtenção do parâmetro , conforme

também sugerido por Maneschy (1998). A presença de plasticidade elevada influencia

Jƥ

87

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bastante o cálculo de e o efeito do fechamento de trinca está relacionado com o

aumento de plasticidade nos problemas que envolvem mecânica da fratura.

J∆

J∆

Estudar exemplos de aplicações práticas, em mecânica da fratura, que envolvam a

condição de deslocamento imposto. Uma das importantes conclusões deste trabalho foi

implementar o cálculo de J para a situação de deslocamento imposto e mostrar que

esse parâmetro responde satisfatoriamente a esta condição. Porém, nenhum caso

prático foi avaliado. Dessa maneira, seria interessante avaliar problemas nos quais esta

consideração se encontra presente, como no caso de componentes estruturais

solicitados por transientes térmicos;

Avaliar o parâmetro para valores de R diferentes de 0 e –1, conforme também

sugerido por Maneschy (1998);

Validar os casos estudados nesta dissertação por meio de ensaios experimentais. O

último exemplo de aplicação desenvolvido neste trabalho foi a avaliação da integridade

estrutural de uma tubulação solicitada por transientes hidráulicos. Não foi encontrado

na literatura nenhum caso que pudesse validar os resultados obtidos neste trabalho.

Dessa maneira, uma das sugestões é tentar validar e calibrar a metodologia apresentada

de forma experimental;

• Avaliar o tempo de vida de tubulações utilizando modelos 3D em elementos finitos.

88

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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Structural Engineers”, Butterworths, London.

Broek, D. (1988), “The Pratical Use of Fracture Mechanics”, Kluwer Academic

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Cavalcanti, M. V. S. (1997). Obtenção do Fator de Intensidade de Tensão utilizando

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and Propagation” In: Engineering Fracture Mechanics, 39, 1-20.

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the J-Integral” In: ASTM STP 590 – American Society for Testing and Materials, 82-

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EPRI – Electric Power Research Institute (1989). “Ductile Fracture Handbook”, NP-6301-

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Departamento de Engenharia Civil e Ambiental, Universidade de Brasília (UnB), 132p.

89

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Maneschy, J. E. (1998). Integral – J para Carregamentos Cíclicos, Tese de Doutorado,

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90

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91

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ANEXO A – DETALHES DAS SUB-ROTINAS INTERNAS

(MACROS) UTILIZADAS DO PROGRAMA ANSYS

Este anexo tem a finalidade de apresentar exemplos das macros do programa ANSYS que

foram utilizadas neste trabalho para calcular os valores de J (cargas monotônicas). Os

resultados gerados pelas macros foram usados para auxiliar na validação dos resultados

obtidos pelo método da energia. Além disso, também serão mostradas as linhas de

comando que foram utilizadas no programa ANSYS para gerar os modelos estruturais

estudados nesta dissertação (definições de geometria estrutural, carregamento, condições

de contorno, definição de comportamento do material – linear elástico e elastoplástico).

A.1 – LINHAS DE COMANDO DO ANSYS UTILIZADAS PARA DEFINIR O

COMPORTAMENTO DO MATERIAL

Nesta dissertação, o material estudado foi o aço. As análises foram realizadas tanto

considerando o aço com comportamento exclusivamente linear elástico quanto com

comportamento elastoplástico. As linhas de comando do ANSYS utilizadas para definir

tais comportamentos serão mostradas a seguir.

A.1.1 - Comportamento linear elástico (exemplo):

ET,1,PLANE2 ! Definição do tipo de elemento utilizado

UIMP,1,EX, , ,20500, ! Módulo de elasticidade do material

UIMP,1,DENS, , , ,

UIMP,1,ALPX, , , ,

UIMP,1,REFT, , , ,

UIMP,1,NUXY, , , ,

UIMP,1,PRXY, , ,0.3, ! Coeficiente de Poisson

UIMP,1,GXY, , ,8000, ! Módulo de deformação transversal

UIMP,1,MU, , , ,

UIMP,1,DAMP, , , ,

UIMP,1,KXX, , , ,

UIMP,1,C, , , ,

UIMP,1,ENTH, , , ,

UIMP,1,HF, , , ,

UIMP,1,EMIS, , , ,

UIMP,1,QRATE, , , ,

92

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UIMP,1,RSVX, , , ,

UIMP,1,PERX, , , ,

UIMP,1,VISC, , , ,

UIMP,1,SONC, , , ,

A.1.2 - Comportamento elastoplástico (exemplo):

ET,1,PLANE82,,,2 ! Definição do tipo de elemento utilizado

MP,EX,1,195000000000 ! Módulo de elasticidade do material

MP,NUXY,1,0.30 ! Coeficiente de Poisson

MP,ALPX,1,0

TB,KINH,1,1,16 ! Definição das propriedades da curva elastoplástica

TBTEMP,21

TBPT,DEFI,5.12821E-12,1 ! Curva que representa o comportamento do material

TBPT,DEFI,0.000258143,50000000 ! (Retirados da relação de Ramberg – Osgood)

TBPT,DEFI,0.000569834,100000000

TBPT,DEFI,0.001209254,150000000

TBPT,DEFI,0.002901355,200000000

TBPT,DEFI,0.007057596,250000000

TBPT,DEFI,0.016015058,300000000

TBPT,DEFI,0.033278029,350000000

A.2 – LINHAS DE COMANDO DO ANSYS UTILIZADAS PARA DEFINIR A

GEOMETRIA ESTRUTURAL

As linhas de comando utilizadas para definir a geometria estrutural de um dos exemplos

estudados nesse trabalho estão mostradas abaixo.

K,1,,,, ! Pontos chaves da geometria

K,2,0.1016,0,,

K,3,0.1016,0.127,,

K,4,-0.0254,0.127,,

K,5,-0.0254,0,,

L,1,2 ! Linhas criadas entre os pontos chaves

L,2,3

L,3,4

L,4,5

L,5,1

93

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ESIZE,0.005,0, ! Tamanho médio do elemento

KSCON,1,0.00254,1,8,0.5, ! Características dos elementos ao redor da trinca

AL,1,2,3,4,5

DL,1,1,SYMM ! Definição das condições de contorno

DL,4,1,SYMM

AMESH,1

A.3 – LINHAS DE COMANDO DO ANSYS UTILIZADAS PARA DEFINIR O

CARREGAMENTO QUE SOLICITA A ESTRUTURA

Os tipos de carregamento avaliados neste trabalho foram: carregamentos monotônicos,

aplicando-se tensão ou deslocamento, e carregamentos cíclicos, aplicando-se tensão

( e 0=R 1−=R ). As linhas de comando do ANSYS utilizadas para definir tais

carregamentos serão mostradas a seguir.

A.3.1 - Carregamento monotônico aplicando-se tensão (exemplo):

*DO,I,1,25

SFL,3,PRES,-10000000*(I-1)

/SOLU

SOLVE

*ENDDO

A.3.2 - Carregamento monotônico aplicando-se deslocamento (exemplo):

*DO,I,1,15

D,P51X, ,0.00001*(I-1), , , ,UY

/SOLU

SOLVE

*ENDDO

A.3.3 - Carregamento cíclico aplicando-se tensão ( 0=R ) (exemplo):

!!!!!!!!!!!1° CICLO!!!!!!!!!!!!!

*DO,I,1,25

SFL,3,PRES,-10000000*(I-1)

/SOLU

SOLVE

94

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*ENDDO

*DO,I,1,24

SFL,3,PRES,-10000000*(24-I)

/SOLU

SOLVE

*ENDDO

!!!!!!!!!!!2° CICLO!!!!!!!!!!!!!

*DO,I,1,24

SFL,3,PRES,-10000000*(I)

/SOLU

SOLVE

*ENDDO

!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!

A.3.4 - Carregamento cíclico aplicando-se tensão ( 1−=R ) (exemplo):

!!!!!!!!!!!1° CICLO!!!!!!!!!!!!!

*DO,I,1,4

SFL,3,PRES,-10000000*(I-1)

/SOLU

SOLVE

*ENDDO

*DO,I,1,3

SFL,3,PRES,-10000000*(3-I)

/SOLU

SOLVE

*ENDDO

*DO,I,1,3

SFL,3,PRES,10000000*(I)

/SOLU

SOLVE

*ENDDO

95

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*DO,I,1,3

SFL,3,PRES,10000000*(3-I)

/SOLU

SOLVE

*ENDDO

!!!!!!!!!!!2° CICLO!!!!!!!!!!!!!

*DO,I,1,3

SFL,3,PRES,-10000000*(I)

/SOLU

SOLVE

*ENDDO

!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!

A.4 – MACROS UTILIZADAS PARA CALCULAR A INTEGRAL - J

As macros utilizadas para calcular a integral – J (cargas monotônicas) neste trabalho foram

baseadas no exemplo VM143 do manual do ANSYS, versão 5.4. Duas macros foram

usadas, a primeira calcula o fator de intensidade de tensão ( )IK por meio do método de

extrapolação dos deslocamentos e a segunda calcula a integral – J utilizando o método da

integral de contorno. Essas macros serão mostradas a seguir.

A.4.1 - Macro que utiliza o método da extrapolação dos deslocamentos (exemplo):

/POST1

ETABLE,SENE,SENE

ETABLE,VOLU,VOLU

C*** IN POST1 DETERMINE KI USING KCALC !**

NSEL,S,LOC,Y,0

NSEL,R,LOC,X,0

*GET,NOD1,NODE,,NUM,MIN

NSEL,A,LOC,Y

NSEL,R,LOC,X,-.0006, -.002

*GET,NOD2,NODE,,NUM,MIN

NSEL,A,LOC,Y

NSEL,R,LOC,X,-.002,-.0026

*GET,NOD3,NODE,,NUM,MIN

96

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NSEL,ALL

PATH,KI2,3,,48

PPATH,1,NOD1

PPATH,2,NOD2

PPATH,3,NOD3

KCALC,,,1

*GET,KI1,KCALC,,K,1

A.4.2 - Macro que utiliza o método da integral de contorno (exemplo):

*CREATE,JIN1

STINFC

SEXP,W,SENE,VOLU,1,-1

PATH,JINT,4,50,48

PPATH,1,ARG1

PPATH,2,ARG2

PPATH,3,ARG3

PPATH,4,ARG4

PDEF,W,ETAB,W

PCALC,INTG,J,W,YG

*GET,JA,PATH,,LAST,J

PDEF,CLEAR

PVECT,NORM,NX,NY,NZ

PDEF,INTR,SX,SX

PDEF,INTR,SY,SY

PDEF,INTR,SXY,SXY

PCALC,MULT,TX,SX,NX

PCALC,MULT,C1,SXY,NY

PCALC,ADD,TX,TX,C1

PCALC,MULT,TY,SXY,NX

PCALC,MULT,C1,SY,NY

PCALC,ADD,TY,TY,C1

*GET,DX,PATH,,LAST,S

DX=DX/100

PCALC,ADD,XG,XG,,,,-DX/2

PDEF,INTR,UX1,UX

PDEF,INTR,UY1,UY

PCALC,ADD,XG,XG,,,,DX

PDEF,INTR,UX2,UX

PDEF,INTR,UY2,UY

97

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PCALC,ADD,XG,XG,,,,-DX/2

C=(1/DX)

PCALC,ADD,C1,UX2,UX1,C,-C

PCALC,ADD,C2,UY2,UY1,C,-C

PCALC,MULT,C1,TX,C1

PCALC,MULT,C2,TY,C2

PCALC,ADD,C1,C1,C2

PCALC,INTG,J,C1,S

*GET,JB,PATH,,LAST,J

JINT=2*(JA-JB)

PDEF,CLEAR

*END

A.5 – EXEMPLO COMPLETO

Com o objetivo de um melhor entendimento, um dos exemplos avaliados nesta dissertação

será apresentado integralmente a seguir. O exemplo escolhido foi de uma placa com trinca

central submetida à tensão monotônica e comportamento elastoplástico do material.

/CLEAR, NOSTART ! CLEAR DATABASE FOR 2ND SOLUTION

/PREP7

SMRT,OFF

/NOPR

/TITLE, PLASTICIDADE

C*** MODELO TENDO ELEMENTOS QUARTER POINT

C*** PROPRIEDADES E DEFINICAO DOS ELEMENTOS DE ACO

ET,1,PLANE82,,,2

MP,EX,1,195000000000

MP,NUXY,1,0.30

MP,ALPX,1,0

TB,KINH,1,1,16

TBTEMP,21

TBPT,DEFI,5.12821E-12,1

TBPT,DEFI,0.000258143,50000000

TBPT,DEFI,0.000569834,100000000

TBPT,DEFI,0.001209254,150000000

TBPT,DEFI,0.002901355,200000000

98

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TBPT,DEFI,0.007057596,250000000

TBPT,DEFI,0.016015058,300000000

TBPT,DEFI,0.033278029,350000000

K,1,,,,

K,2,0.1016,0,,

K,3,0.1016,0.127,,

K,4,-0.0254,0.127,,

K,5,-0.0254,0,,

K,5,-0.0254,0,,

L,1,2

L,2,3

L,3,4

L,4,5

L,5,1

ESIZE,0.005,0,

KSCON,1,0.00254,1,8,0.5,

AL,1,2,3,4,5

DL,1,1,SYMM

DL,4,1,SYMM

AMESH,1

OUTPR,ALL

FINISH

/COM

/OUTPUT,SCRATCH

/FORMAT,7,G,45,25

/CONFIG,NRES,1000000

*DO,I,1,25

SFL,3,PRES,-10000000*(I-1)

/SOLU

SOLVE

*ENDDO

SAVE

FINISH 99

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/OUTPUT

C***********************************ENTRANDO NO POST-1

/POST1

ETABLE,SENE,SENE

ETABLE,VOLU,VOLU

C*** IN POST1 DETERMINE KI USING KCALC !**

NSEL,S,LOC,Y,0

NSEL,R,LOC,X,0

*GET,NOD1,NODE,,NUM,MIN

NSEL,A,LOC,Y

NSEL,R,LOC,X,-.0006, -.002

*GET,NOD2,NODE,,NUM,MIN

NSEL,A,LOC,Y

NSEL,R,LOC,X,-.002,-.0026

*GET,NOD3,NODE,,NUM,MIN

NSEL,ALL

PATH,KI2,3,,48

PPATH,1,NOD1

PPATH,2,NOD2

PPATH,3,NOD3

KCALC,,,1

*GET,KI1,KCALC,,K,1

C*****************************MACRO DA INT-J*************************************

!******************************************************************************

!************************** J-INTEGRAL USER FILE ****************************

!******************************************************************************

! ****NOTE:- IN GENERAL USAGE, THE USER FILE WOULD BE AVAILABLE IN THE

! LOCAL DIRECTORY RATHER THAN BEING CREATED IN THE INPUT

!******************************************************************************

*CREATE,JIN1

STINFC

SEXP,W,SENE,VOLU,1,-1

PATH,JINT,4,50,48

PPATH,1,ARG1

PPATH,2,ARG2 100

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PPATH,3,ARG3

PPATH,4,ARG4

PDEF,W,ETAB,W

PCALC,INTG,J,W,YG

*GET,JA,PATH,,LAST,J

PDEF,CLEAR

PVECT,NORM,NX,NY,NZ

PDEF,INTR,SX,SX

PDEF,INTR,SY,SY

PDEF,INTR,SXY,SXY

PCALC,MULT,TX,SX,NX

PCALC,MULT,C1,SXY,NY

PCALC,ADD,TX,TX,C1

PCALC,MULT,TY,SXY,NX

PCALC,MULT,C1,SY,NY

PCALC,ADD,TY,TY,C1

*GET,DX,PATH,,LAST,S

DX=DX/100

PCALC,ADD,XG,XG,,,,-DX/2

PDEF,INTR,UX1,UX

PDEF,INTR,UY1,UY

PCALC,ADD,XG,XG,,,,DX

PDEF,INTR,UX2,UX

PDEF,INTR,UY2,UY

PCALC,ADD,XG,XG,,,,-DX/2

C=(1/DX)

PCALC,ADD,C1,UX2,UX1,C,-C

PCALC,ADD,C2,UY2,UY1,C,-C

PCALC,MULT,C1,TX,C1

PCALC,MULT,C2,TY,C2

PCALC,ADD,C1,C1,C2

PCALC,INTG,J,C1,S

*GET,JB,PATH,,LAST,J

JINT=2*(JA-JB)

PDEF,CLEAR

*END

C********************************END MACRO INT-J********************************

101

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C**************** IN POST1 DETERMINE KI FROM J-INTEGRAL !***********************

CSYS,1

NSEL,S,LOC,X,.006,.009 ! SELECT NODES FOR LPATH COMMAND IN STINFC

NSEL,R,LOC,Y,-1,1

*GET,NOD4,NODE,,NUM,MAX

NSEL,S,LOC,X,.006,.009

NSEL,R,LOC,Y,35,55

*GET,NOD5,NODE,,NUM,MAX

NSEL,S,LOC,X,.006,.009

NSEL,R,LOC,Y,120,145

*GET,NOD6,NODE,,NUM,MAX

NSEL,S,LOC,X,.006,.009

NSEL,R,LOC,Y,179,181

*GET,NOD7,NODE,,NUM,MIN

NSEL,ALL

CSYS,0

*ULIB,JIN1

*USE,STINFC,NOD4,NOD5,NOD6,NOD7 ! USE DATA BLOCK STINFC AND GIVE PATH NODES

CON1=195E9/(1-(0.3*0.3)) ! J-TO-KI CONVERSION FACTOR

KI2=SQRT(CON1*JINT) ! CALCULATE KI FROM J

C******************************************************************STATUS,JINT

/OUTPUT,SAIDA,TXT

*STATUS,KI1 ! VIEW RESULTS

*STATUS,KI2

*STATUS,JINT

*DIM,LABEL,CHAR,2,2

*DIM,VALUE,,2,3

LABEL(1,1) = 'BY DISP ','BY J-', ‘INT-J’

LABEL(1,2) = 'EXTRP ','INT'

*VFILL,VALUE(1,2),DATA,KI1,JINT

SAVE,TABLE_2

/COM

/OUT,INTEGRAL_J,VRT

/NOPR

RESUME,TABLE_2 102

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/GOPR

FINISH

*LIST,INTEGRAL_J,VRT

/DELETE,FRACT,MAC

103

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ANEXO B – DESENVOLVIMENTO TEÓRICO SOBRE

TRANSIENTES

Este anexo tem o objetivo de mostrar a fenomenologia e a formulação das equações

fundamentais que regem o problema de transientes hidráulicos e está baseado nos trabalhos

desenvolvidos por Streeter (1979), Nascimento (2002) e Fiuza Lima (2003).

B.1 – DESCRIÇÃO DO FENÔMENO TRANSIENTE PARA O CASO DE UMA

INTERRUPÇÃO BRUSCA DE UM ESCOAMENTO

Os movimentos dos fluidos, de modo geral, classificam-se em permanentes e variados:

• Movimento permanente: no escoamento permanente, parâmetros como velocidade e

pressão são invariáveis com o tempo.

• Movimento variado: no escoamento variado ou regime não permanente, tanto a

velocidade como a pressão variam de ponto para ponto além de variarem com o tempo.

O movimento variado de um líquido em um conduto forçado origina o fenômeno

transiente. A variação do regime no conduto pode ser provocada pelo acionamento de um

registro ou de uma válvula, pela mudança de rotação numa bomba ou por qualquer evento

que provoque alteração no valor da vazão e, portanto, na velocidade no conduto.

A variação da velocidade ao longo do tempo numa seção é acompanhada de uma variação

de pressão, tanto maior quanto mais rápida for a variação da velocidade. Essa perturbação

se propaga no conduto na forma de ondas, desde o ponto onde foi produzida até suas

extremidades, passando pelas bifurcações, curvas, mudanças de seção, etc, em que se

refletem parcial ou totalmente, mudando de sinal e retornando ao local de origem.

Supondo existir um conduto forçado saindo de um reservatório R , funcionando em regime

permanente e transportando uma vazão Q com velocidade média V0 0

r; seu comprimento é

, a pressão na embocadura é e, na extremidade a jusante, existe uma válvula de

fechamento capaz de obturar o escoamento instantaneamente, conforme ilustrado na Figura

B.1.

L 0P

104

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Figura B.1 – Sistema reservatório tubo

Ao se fechar a válvula da Figura B.1, instantaneamente tem-se a seguinte seqüência de

eventos, desprezando-se o efeito do atrito (Figuras B.2a, B.2b, B.2c e B.2d).

Figura B.2a - Fechamento instantâneo da válvula e surgimento da onda de compressão

No instante do fechamento , a camada de fluido mais próximo da válvula é frenado

e comprimido e a parede do tubo se distende. Tão logo a primeira camada seja

comprimida, o processo repete-se com a camada adjacente. O fluido a montante da válvula

continua movendo-se para jusante sem diminuição de velocidade até que camadas

sucessivas tenham sido comprimidas em toda extensão do conduto. A alta pressão move-se

para montante como uma onda de celeridade - , frenando e comprimindo o fluido e

expandindo o tubo durante sua passagem. Quando a onda atinge o início do conduto

( 0tt = )

c

+=

cLtt 0 , todo fluido encontra-se sob a pressão extra P , toda a quantidade de

movimento foi eliminada e toda a energia cinética transformou-se em energia elástica

(Figura B.2b).

Decorrido o intervalo de tempo cLT = , a partir do instante em que foi feita a manobra

de fechamento, a onda de pressão atinge o reservatório

0t

R no instante em que todo o 105

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líquido está comprimido. Nesse instante t T+0 , entretanto, a última camada de líquido,

situada na embocadura do conduto, está sob a pressão na face a montante e sob a

pressão +

0P

0P P na face a jusante. Esse estrato de líquido é impelido para o reservatório R

pela diferença de pressões, descomprimindo também o estrato subseqüente e dando origem

a uma onda de descompressão que se propaga para jusante, com celeridade c , até atingir

novamente o obturador. Esse escoamento alivia a pressão até o valor normal reinante antes

do fechamento, a parede do conduto volta a seu normal e o fluido assume a velocidade V

dirigida para o sentido contrário. Esse processo propaga-se para jusante, em direção à

válvula (Figura B.2c).

0

Figura B.2b - Chegada da onda de pressão ao reservatório e surgimento da onda de

descompressão

Figura B.2c - Chegada da onda à válvula e surgimento de uma onda de baixa pressão

No instante em que a onda chega à válvula, as pressões voltaram ao normal em

todo o conduto e a velocidade em todos os pontos é V no sentido de montante. Estando a

válvula fechada, não há fluido disponível para manter o escoamento na seção da válvula e

Tt 20 +

0

106

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uma baixa pressão se desenvolve ( )P− de modo a parar o fluido. Essa onda de baixa

pressão avança para montante à velocidade - , paralisa o fluido, ocasiona a sua expansão

em virtude da pressão mais baixa e permite que a parede do conduto se contraia (Figura

B.2d).

c

Figura B.2d - Chegada da onda de baixa pressão e surgimento da onda de pressão que

restitui as condições iniciais

No instante t , em que a onda de baixa pressão atinge o reservatório, a última camada

tem pressão a montante e -

T30 +

0P 0P P a jusante, sendo impulsionada para dentro do

conduto. Surge assim uma nova onda que avança para jusante com a velocidade ,

restabelecendo ao conduto e ao fluido as condições normais que prevaleciam no instante

do fechamento, t , segundos antes.

c

T40 +

Esse fenômeno é periódico com período T4 e formado por ondas de pressão e

descompressão, que se sucedem até o seu amortecimento total em razão das perdas de

energia na tubulação.

Tal fenômeno pode ser graficamente ilustrado, conforme mostrado na Figura B.3, por meio

da variação da pressão, em função do tempo, num ponto no meio do tubo.

107

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Figura B.3 – Evolução da pressão no meio do tubo em função do tempo

B.2 – HIPÓTESES E EQUAÇÕES FUNDAMENTAIS

Para o estudo do problema em questão, devem ser consideradas as seguintes hipóteses

básicas simplificadoras: fluido homogêneo, viscoso e compressível; escoamento

monofásico e isentrópico; pequenas deformações das tubulações; as pressões mínimas no

sistema sempre superiores à pressão de vapor d’água (sem cavitação).

As equações fundamentais que regem o problema são, respectivamente:

( ) 0=+∂∂ VDIV

tr

ρρ (Equação da continuidade) (B.1)

onde:

ρ = densidade do fluido;

Vr

= velocidade de escoamento do fluido;

( )zV

yV

xVVDIV

∂∂

+∂∂

+∂∂

=r

( ) ( ) ( )( ) 031

0 =

+∆−++

∂∂ VDIVGRADVPGRADVGRADV

tV rrrrr

µρρ

(Equação de movimento)

(B.2)

( ) 2, cPctePf ρρ =⇔= (linearizada) ρPc =2∴

(Equação de estado)

(B.3)

108

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onde = velocidade de propagação do som no fluido; c 0µ = viscosidade do fluido.

As equações mostradas acima regem, para um certo ponto dado, a pressão ( )P , a

velocidade ( , e a densidade )V ( )ρ do fluido.

B.3 – MÉTODO DE SOLUÇÃO DE ‘TRANSIENTES’ NO DOMÍNIO DO TEMPO

O Método das Características apresentado abaixo utiliza a técnica das diferenças finitas de

primeira ordem para resolver as equações diferenciais que governam o problema dos

transientes. A utilização desse método permite uma ampla simplificação das equações,

aspecto que permite implementá-las com facilidade num algoritmo computacional.

B.3.1 - Método das Características (M. C.)

Desenvolvendo-se as Equações (B.1), (B.2) e (B.3), chega-se às Equações (B.4) e (B.5),

que representam, respectivamente, a equação da quantidade de movimento e a equação da

continuidade, simplificadas para o problema em estudo. As Equações (B.4) e (B.5) são

necessárias à implementação do (M.C.).

( ) 02

sen =++++DVfV

gVVVPtX

X αρ

(Equação da quantidade de movimento)

(B.4)

02 =++ XtX VcPVP ρ

(Equação da continuidade)

(B.5)

onde α é o ângulo que a tubulação faz com a horizontal.

Fazendo a Equação (B.4) = e (B.5) = , então e passam a conter duas

incógnitas (V e

1L 2L 1L 2L

P ). As equações podem ser combinadas por meio de um multiplicador

desconhecido, como 2L1LL λ+= . Quaisquer dois valores reais distintos de λ fornecem

duas equações em V e P que representam o mesmo fenômeno físico que as duas

equações originais, e , e que podem substituí-las diante de qualquer solução. Pode 1L 2L

109

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acontecer que resultem uma grande simplificação se dois valores particulares de λ forem

encontrados. Com a substituição de e na expressão de e após algum rearranjo,

tem-se:

1L 2L L

+

+ λ

xP

tV

dtdx

∂∂

=

λρ1

=

cdtdx

=

sen+ g

02

sen12 =+

∂∂

+∂∂

∂∂

+∂∂

=DVfV

gtP

tVc

xVL α

ρλλρ

dtdV

dtdP

O primeiro termo entre parênteses é a derivada total dtdV se dtdxc =2λρ , pois do

cálculo,

tVc

xV

xV

dtdV

∂∂

+∂∂

=+∂∂

= 2λρ

Analogamente, o segundo termo entre parênteses é a derivada total dtdP se .dtdx1 ρλ

Para que ambas as relações sejam corretas,

λρ 2= cdtdx ou

cρλ 1

±= (B.6)

Então,

± (B.7)

A Equação agora fica L

( ) 02

1=+±=

DVfV

dtdP

cdtdVL α

ρ

(B.8)

sujeita às condições da Equação (B.7). Portanto foram achados dois valores reais e

distintos de λ que convertem as duas equações diferenciais de derivadas parciais no par de

equações diferenciais ordinárias (B.8).

110

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Como a Equação (B.8) só é válida quando a Equação (B.7) é satisfeita, é conveniente

visualizar a solução num diagrama de x e , como na Figura B.4. Pode-se considerar que

o tubo comece na origem O, a montante, e termine em , a jusante. Dessa forma,

t

L x

localiza um ponto no conduto e t , o instante no qual as variáveis dependentes V e P

devem ser determinadas.

Figura B.4 - Método das diferenças finitas aplicado à solução de problemas transientes

Para a dedução que está sendo apresentada, os pontos R e coincidem com os pontos

e

S A

B , respectivamente.

Com as Equações (B.4) e (B.5), aplica-se o método das características associado à técnica

das diferenças finitas e essas duas equações diferenciais são solucionadas numericamente

pela solução dos sistemas de equações obtidos. A seguir, tem-se o primeiro sistema a ser

resolvido:

( ) ( ) ( ) 02

sen1=∆+∆+−+− t

DVfV

tgPPc

VV AAAPAP α

ρ ( ) +c

( ) ( ) ( ) 02

sen1=∆+∆+−−− t

DVfV

tgPPc

VV BBBPBP α

ρ ( ) −c

(B.9)

A resolução desse sistema permite o cálculo de e V no instante a partir de

dois pontos cujos valores

PP P ( tt ∆+ )P e V são conhecidos em um mesmo instante t .

Somando a primeira equação com a segunda do conjunto de Equações (B.9), e isolando

, sendo que, neste trabalho PV 0=α , tem-se:

111

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( ) ( )

+

∆−−++= BBAABABAP VVVV

DtfPP

cVVV

21

21

ρ

(B.10)

E subtraindo a segunda equação da primeira no conjunto de Equações (B.9), tem-se:

( ) ( )

∆−−++= BBAABABAP VVVV

DtfcVVcPPP

221 ρρ

(B.11)

Conhecendo-se as condições iniciais do problema proposto e suas condições de contorno,

poder-se-á, por meio da repetição do sistema (B.9), determinar os valores de P e ao

longo da tubulação em função do tempo (múltiplo de

V

t t∆ ).

B.3.2 – Condições de Contorno

As condições de contorno irão definir os valores de P e V , em função do tempo, nas

extremidades da tubulação. Essas condições variam de acordo com cada tipo de problema.

B.3.2.1 – Reservatório com nível constante a montante da tubulação e válvula na

extremidade a jusante

Para esse caso, a bancada estudada está ilustrada na Figura B.5 e consiste de um tubo

submetido inicialmente a um escoamento permanente onde o transiente é ocasionado pelo

fechamento de uma válvula.

Figura B.5 – Reservatório com nível constante e válvula a jusante inicialmente aberta

A condição de contorno a montante, isto é, na parte de conecção do tubo com o

reservatório, é considerada constante ( . Para se calcular a velocidade do fluido nesta

posição no instante t basta substituir o valor de

)0P

,t∆+ P para 0=jL em na segunda PP

112

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Equação (B.9), sendo V e os valores da velocidade e pressão do ponto posterior ao

ponto inicial do conduto no instante de tempo .

B

( )

BP

t

1 Pc

−B

c1ρ

VB sen

t∆VB=

P6

γPo

Reescrevendo a segunda Equação (B.9), referente à característica negativa, tem-se,

( ) ( ) 02

sen =∆+∆+−− tDVfV

tgPVV BBBPP α

ρ

( ) ( ) tDVfV

tgPPV BBBPP ∆−∆−−+=

( )−c

A equação acima pode ser simplificada, fazendo-se,

( ) tDVfV

gPc

C BBB ∆−−−

2sen1

5 αρ

e cρ

16 =C

tendo-se,

PP CCV 5 += (B.12)

Observa-se que as funções e C são constantes e conhecidas ao longo do tempo. 5C 6

A condição de contorno a jusante é determinada pela velocidade de fechamento da válvula

na saída da tubulação. Caso ela seja fechada de uma forma instantânea, a condição de

contorno imposta V (velocidade de saída do fluido) igual a zero. Quando se fecha esta

válvula em função do tempo, entretanto, a condição de contorno a jusante varia em razão

do tempo.

S

A válvula será tratada como um orifício. A velocidade de escoamento de um fluido ( )0V

por um orifício, com pressão , é determinado por: 0P

gCVo d 2= (B.13)

113

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em que, “ ” é o coeficiente de descarga do orifício, “dC g ” é a aceleração da gravidade e

“γ ” é o peso específico do fluido.

Se, em uma tubulação, o fluido escoa a uma velocidade permanente Vo; em uma tubulação

de seção transversal Ao e na saída dessa tubulação há uma válvula que determina uma área

menor ; pela lei de continuidade e usando a Equação (B.13), tem-se: gA

Situação inicial (válvula aberta - 0AAg = ):

γ0

000 2)( PgACAV gd= (B.14)

Então, a velocidade de escoamento do fluido na saída, que será no N ésimo ponto, será:

Situação em instante qualquer (área é função do tempo - )0AAg <

γN

gdNPgACAV 20 =

(B.15)

Para que não seja necessário o cálculo de C , divide-se a Equação (B.15) pela (B.14) e

determina-se um valor de TAU

d

( )τ necessário para os futuros cálculos. Então:

γ

γτ00 P

P

VV

N

N = (B.16)

onde,

0)( gd

gd

ACAC

=τ (B.17)

Isolando da Equação (B.16), tem-se: nP

114

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220

02

τVPV

P NN =

(B.18)

Por outro lado, escrevendo de outra forma a equação referente à característica positiva,

tem-se:

PAA

AAP Pc

tDVfV

Pc

VVρρ1

21

−∆−+= (B.19)

Sendo, no contorno o índice P = e o = -1, tem-se: N A N

NN PCCV 23 −= (B.20)

onde,

cC

ρ1

2 = (B.21)

DVtV

fPCVC NNNN 2

111213

−−−−

∆−+=

(B.22)

Substituindo a Equação (B.18) na (B.20), obtêm-se uma equação do segundo grau em

razão de V :N

04342 =−+ CCVCV NN (B.23)

onde,

)( 02

220

4 PCVC τ

= (B.24)

que, resolvido, terá a seguinte solução:

115

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43

244

42CC

CCVN +±−=

(B.25)

No entanto, somente se utiliza o sinal (+), porque sendo (-) obtêm-se velocidades negativas

na saída da tubulação, que seria um absurdo no caso estudado. Logo,

43

244

42CC

CCVN ++−=

(B.26)

Substituindo V na Equação (B.18) ou (B.20), obtém-se o valor de . Portanto, havendo

a modificação da abertura da válvula de saída da tubulação na próxima unidade de tempo,

basta modificar o valor de

N NP

τ para determinar os novos valores de V utilizando a Equação

(B.26) e, por conseguinte, calcular o novo valor de .

N

NP

Portanto, para qualquer extremidade de tubo apenas uma das equações características,

(B.12) ou (B.20), estará disponível para as duas variáveis V ou . No caso de um

problema de contorno à esquerda (à montante), a Equação (B.12) será a equação utilizada,

ao passo que para um problema de contorno à direita (à jusante), a Equação utilizada será a

(B.20). Para solucionar as equações a fim de se obter o valor de uma das incógnitas, é

necessário conhecer-se uma das variáveis no ponto

P PP

P ou uma relação entre elas.

116