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António Marto

IR AO CORAÇÃO DA IGREJA

Comunhão e corresponsabilidade na comunidade cristã

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António MartoBispo de Leiria-Fátima

IR AO CORAÇÃO DA IGREJA

Comunhão e corresponsabilidade na comunidade cristã

Diocese de Leiria-Fátima

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Ficha TécnicaTítuloIR AO CORAÇÃO DA IGREJAComunhão e corresponsabilidade na comunidade cristã

AutorAntónio Marto, Bispo de Leiria-Fátima

Grafismo, paginação e capaPaulo Adriano

ImpressãoGráfica de Coimbra

Tiragemxxxxxxxxxxxxxxxx exemplares • 1ª edição • Setembro de 2009

Depósito Legalxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx

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Caríssimos diocesanos,Irmãos e Irmãs na graça da fé no Senhor Jesus

“A vós graça e paz. Damos continuamente graças a Deus por vós, recordando-vos sem cessar nas nossas orações; guardamos na memória a vossa fé activa, o esforço da vossa caridade e a constância da vossa es-perança, que vêm de Jesus Cristo” (1Ts 1, 1-3).

Com esta saudação de S. Paulo desejo manifestar toda a estima e todo o afecto que tenho por vós como vosso bispo.

Antes de mais, quero dar graças a Deus, com S. Paulo e convosco, pelas bênçãos e pelos frutos do ano pastoral findo. Vivemo-lo na companhia do Apóstolo. Segura-mente, a experiência contagiante do fascínio de Paulo por Jesus Cristo e o ensino dos seus escritos contribu-

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íram para dar um novo impulso à nossa fé. Ajudaram muitos cristãos e muitas comunidades a “ir ao coração da fé”, à formação para uma fé adulta, a fim de per-manecerem firmes e sólidos na fé, nos difíceis dias de hoje.

Como S. Paulo, também eu guardo na memória e no coração, de modo particular, o entusiasmo da fé mani-festado nas comunidades que receberam a visita pas-toral; os encontros de formação a que presidi, em cada vigararia, com a participação de 3.000 colaboradores das paróquias; os ecos positivos dos grupos do “retiro popular”, durante a quaresma, que abrangeu umas 5.000 pessoas; a bela exposição artístico-catequética sobre “Paulo, o Apóstolo” e o encerramento festivo do Ano Paulino. São acontecimentos gratificantes que nos alegram e dão esperança.

O novo ano pastoral, seguindo a orientação do Sínodo diocesano, será dedicado à edificação da comunidade cristã, à revitalização do seu tecido interior e das suas estruturas e à (re)organização pastoral que isso exige.

Na verdade, a fé cristã, enquanto fé professada, cele-brada e testemunhada, vive-se em comunidade. Como diz um antigo provérbio patrístico: “Unus christianus, nullus christianus”, isto é, um cristão isolado não é cristão. Ou, dito de outro modo: não pode existir um cristão sozinho sem Igreja. Como não existe Cristo

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sem a sua Igreja.

A comunidade cristã, como expressão concreta e espe-cífica da Igreja, é a nossa casa espiritual. Todos temos necessidade de uma casa para habitar, para ter abri-go e apoio, encontrar acolhimento e amor, partilhar a vida e os dons, alimentar as nossas forças e a nossa esperança. O mesmo se passa em relação à vivência da fé. Temos de sentir esta casa como nossa. Todos so-mos chamados a um maior empenho na edificação de comunidades cristãs vivas, na base do duplo princípio da comunhão e da corresponsabilidade.

Nesta perspectiva, escrevi esta carta pastoral para vos apresentar o percurso da nossa Igreja diocesana para o ano pastoral de 2009/2010. O título “Ir ao cora-ção da Igreja” foi sugerido pelos meus colaboradores mais próximos, porque muitos cristãos só conhecem a Igreja por fora e, por isso, não conhecem o seu coração, a sua beleza interior, não lhe têm afecto, nem têm mo-tivação interior para lhe dedicar a sua colaboração.

Como lema bíblico escolhemos uma frase dos Actos dos Apóstolos, que caracteriza a primitiva comunida-de cristã: “Viviam unidos e punham tudo em comum” (2, 44). E como símbolo escolhemos o ícone do “partir e repartir o pão”, que evoca tanto a comunhão fraterna como a comunhão eucarística, fundamento da ante-rior.

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1. PARA ONDE VAIS, IGREJA? QUE DIZES DE TI MESMA?

Muitos, cristãos e não cristãos, põem-se hoje esta interrogação acerca da Igreja, de forma explícita ou latente. É uma pergunta provocada, de certo modo, pelas profundas e vertiginosas mutações culturais do nosso tempo e pelo clima de desorientação e de incer-teza perante o futuro. Já em 1947, o célebre cardeal de Paris, Mons. Suhard, despertava as mentes e os corações dos cristãos perante uma sociedade em mu-dança, com uma profética carta pastoral “Pujança ou declínio da Igreja?” .

“Numa situação de crise e de mudança é preciso so-bretudo uma visão. Cada pessoa, cada comunidade e cada povo só podem sobreviver se são animados por uma visão, se cultivam um sonho. Isto vale também para a Igreja” (W. Kasper).

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A visão ou compreensão que a Igreja tem de si mes-ma é determinante para a sua vitalidade, para toda a sua actividade evangelizadora, para a sua presença no mundo, para a sua organização pastoral.

A Igreja não precisa de inventar a sua visão, porque esta já se encontra no Evangelho. Mas tem necessi-dade de a redescobrir e aprofundar em cada tempo perante novas situações e novos desafios.

1.1 O despertar de uma nova consciência de Igreja: a graça do Concílio Vaticano II

Logo após a primeira guerra mundial, um grande te-ólogo e homem de fé escrevia: “um acontecimento re-ligioso de alcance imprevisível está em curso: a Igreja desperta nas almas” (R. Guardini).

O mundo dividido e em ruínas clamava por uma nova comunhão. A Igreja de Jesus sentia-se desafiada a corresponder a este grito. Começou então um movi-mento de renovação espiritual da consciência da Igre-ja em si mesma, que culminou no Concílio Vaticano II. Neste Concílio, a Igreja é redescoberta e apresentada como mistério de comunhão de Deus com os homens e dos homens entre si. Comunhão é como que a palavra “mágica” para compreender o que é a Igreja.

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A partir daí cresceu uma consciência profunda de que todos somos membros vivos da Igreja, povo de Deus. Assistiu-se a um despertar de energias espirituais e pastorais. Novas formas de corresponsabilidade dos fiéis nasceram a todos os níveis da vida da Igreja. Co-meçou a lançar raízes a ideia da “participação activa” que não se restringiu à liturgia, mas se estendeu a toda a actividade pastoral. Muitos e bons frutos cres-ceram e amadureceram nas comunidades cristãs.

Como poderia existir a nossa Igreja sem o empenho de milhares de catequistas, leitores, acólitos, ministros extraordinários da comunhão, membros dos grupos corais e dos conselhos paroquiais e diocesanos, ani-madores de vários sectores da pastoral, grupos mis-sionários, novos movimentos e comunidades de evan-gelização e sem o incalculável ‘exército’ da Caridade e do voluntariado ao serviço dos pobres, dos doentes e do apoio à vida humana e tantos outros?

Devemos alegrar-nos por esta enorme vitalidade. É sinal da presença activa do Espírito de Deus na sua Igreja. Quantas graças temos de dar a Deus por tudo isso! Deixo aqui expresso também o meu agradeci-mento incomensurável a todos estes trabalhadores da vinha do Senhor!

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1.2 Enfraquecimento da consciência eclesial

Porém, quarenta e cinco anos após a conclusão do Concílio, verificamos que ainda há muito caminho para andar. “Há caminhos não andados que esperam por alguém”!

Em muitas comunidades, a um período de entusias-mo, de fervor e de iniciativa sucedeu um tempo de enfraquecimento na participação e no empenho, uma situação de certo cansaço, de estagnação e até de re-sistência à renovação.

Muitos baptizados não se sentem membros vivos e participativos da comunidade cristã. Vivem à mar-gem dela. Só se dirigem às paróquias em determina-das circunstâncias para receberem serviços religiosos. Também são poucos os fiéis leigos – em proporção ao número de habitantes de cada paróquia – que se manifestam disponíveis para trabalhar nos diversos campos apostólicos.

Nota-se ainda, a nível europeu, o enfraquecimento e até a perda da consciência eclesial, isto é, da consci-ência do verdadeiro sentido da Igreja e da pertença afectiva e efectiva a ela.

Diversos factores de ordem cultural e social contri-buem para isso, sobretudo o crescente individualismo da cultura contemporânea que enfraquece os laços in-

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terpessoais e o sentido de pertença.

A fragmentação, a dispersão, a mobilidade da vida moderna marcam também a psicologia das pessoas. Hoje há uma multiplicidade de pertenças: pertence-se, ao mesmo tempo, a grupos e a ambientes diversos, distantes e até contraditórios. Com isso sofrem as re-lações pessoais, familiares e sociais e, por conseguin-te, também a vitalidade das paróquias.

Mas um dos factores que mais mina a consciência de Igreja e que está na base da falta de afecto à Igreja é uma visão demasiado humana, meramente sociológi-ca sobre ela, que é muito redutora. A opinião pública fixa-se, normalmente, no seu aspecto institucional. Ora, a relação com uma instituição é sempre mais fria, mais distante e formal.

1.3 Imagens desfocadas da Igreja

Deparamo-nos ainda com uma série de imagens des-focadas ou mesmo deturpadas da Igreja. Isto depende de vários factores, a saber: da imagem que a paróquia dá de si mesma; de certa configuração que a Igreja as-sumiu na história; da maneira como os grandes meios de comunicação social apresentam certos aspectos da vida da Igreja.

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A primeira forma da Igreja que se encontra na vida e se experimenta é, normalmente, a paróquia. Ela é a figura da Igreja mais próxima de cada um. Todavia, na mente de muitas pessoas, o modelo mais comum é o da paróquia-estação ou agência de serviços, uma es-pécie de supermercado religioso. Tal como se vai com-prar o que faz falta, assim se vai à Igreja ‘encomendar’ o baptismo, o crisma, o casamento, o funeral etc. O padre é visto como funcionário do culto e os cristãos como clientes ou consumidores do religioso.

Há também, e até concomitantemente, o modelo de paróquia-arquipélago, constituída por uma série de lugares, associações, grupos, movimentos, confrarias, em que cada uma destas realidades constitui uma ilha fechada sobre si mesma. Todos caminham por linhas paralelas, sem um espírito de comunhão e sem um projecto pastoral comum que os una, anime e galva-nize o caminhar juntos na mesma direcção. Quantas rivalidades, quantos conflitos e ciúmes podem surgir dentro das comunidades e entre elas por causa desta atitude?!

Encontramos ainda a concepção da paróquia-ilha ou feudo isolado, em que o pároco é, por vezes, o único soberano e onde se ignora, completamente, a relação da comunhão pastoral com as paróquias da vigararia, com a Igreja diocesana e com a Igreja universal.

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Passando agora do terreno paroquial para o univer-sal, a imagem da Igreja, muitas vezes transmitida pelos meios de comunicação, é a de uma grande e po-derosa organização internacional da religião cristã: à semelhança de outras grandes organizações, é repre-sentada por especialistas (os altos cargos oficiais) e é competente para satisfazer as necessidades religio-sas. Assemelhar-se-ia a uma multinacional cuja cen-tral seria Roma e cujas filiais ou sucursais seriam as dioceses e as paróquias.

Por vezes, também se veicula a ideia da Igreja como uma Organização Não Governamental (ONG) de be-neficência ou solidariedade social, uma espécie de “Cruz Vermelha” para os males sociais; ou ainda como uma agência de moralidade, qual polícia que vela pe-los bons costumes.

Quem vê a Igreja assim, com o olhar desfocado, não lhe descobre a beleza, não lhe encontra gosto, não sen-te afecto por ela nem alegria em pertencer-lhe.

Torna-se pois urgente uma renovada consciência da dimensão espiritual da Igreja, do nosso ser Igreja e da corresponsabilidade pastoral.

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2. IR AO CORAÇÃO DA IGREJA: O MISTÉRIO DA IGREJA-COMUNHÃO

Só se pode apreender correctamente a Igreja, se a olhar-mos com lentes bifocais, aptas a ver ao perto e ao longe. Com o olhar terrestre, mas também com os olhos da fé, para contemplar a sua face humana e divina.

2.1 A Igreja tem um coração

Na Igreja visível habita um mistério que só a fé pode captar. Acontece como com os vitrais duma catedral. Só se contemplam bem a partir de dentro e ilumina-dos pelo sol: só assim se vêem com nitidez as figuras, as cores, a beleza e os defeitos. Também a realidade profunda da Igreja só pode ser captada por um olhar iluminado pela fé. Como diz o Principezinho de Saint Exupéry: “O essencial é invisível aos olhos; só se vê bem com o coração” .

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Vista de fora, a Igreja aparece apenas como um gru-po humano com finalidades religiosas e com maior ou menor relevância cultural, social ou política. Mas, por este caminho, não se chega à sua verdade e profundi-dade, ao seu mistério e ao seu coração.

Santa Teresa do Menino Jesus deixou-nos uma pági-na admirável em que conta como descobriu o coração da Igreja, ao ler o capítulo 13 da primeira carta aos Coríntios:

“Compreendi que, se a Igreja apresenta um corpo for-mado por membros diferentes, não lhe falta o mais ne-cessário e mais nobre de todos; compreendi que a Igreja tem coração, um coração ardente de amor; compreendi que só o amor fazia actuar os membros da Igreja e que, se o amor viesse a extinguir-se, nem os Apóstolos continuariam a anunciar o Evangelho nem os márti-res a derramar o seu sangue; compreendi que o amor encerra em si todas as vocações, que o amor é tudo e que abrange todos os tempos e lugares, numa palavra, que o amor é eterno. Então, com a maior alegria da minha alma arrebatada, exclamei: ... Sim, encontrei o meu lugar na Igreja, e este lugar, ó meu Deus, fostes Vós que mo destes: no coração da Igreja, minha Mãe, eu serei o amor; com o amor serei tudo; e assim será realizado o meu sonho” .

A Igreja de Jesus, que somos nós, é a Igreja do amor.

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Sem ele seria como um corpo sem alma, um esqueleto sem carne, uma instituição meramente burocrática.

O coração pulsante da Igreja é o Amor que lhe vem do Alto e que habita em nós e nos une; palpita com o amor divino-humano do Crucificado e Ressuscitado. “Com efeito, do lado de Cristo adormecido na Cruz nasceu o admirável sacramento da Igreja inteira” (Constituição sobre a Liturgia, n. 5).

2.2 A Igreja ,” Mistério da Lua”

A Igreja é toda ela relativa a Cristo. É d’Ele que tudo recebe e só se compreende à sua luz. Os Padres da Igreja usam uma imagem muito bela para exprimir este aspecto: “o mistério da Lua” (mysterium lunae). Quer dizer, a Igreja, no seu rosto humano, está em re-lação ao Senhor Jesus como a lua em relação ao sol. Ela recebe de Cristo, verdadeiro Sol, os raios da luz que ilumina o mundo na noite do tempo. Eis como Santo Ambrósio no-la apresenta: “Esta é a verdadeira lua. Da Luz sem ocaso do Astro fraterno, ela recebe a luz da imortalidade e da graça. De facto, a Igreja não resplandece com a sua própria luz, mas com a luz de Cristo. Tira o seu esplendor do Sol da justiça, para po-der dizer: eu vivo, mas já não sou eu que vivo, é Cristo que vive em mim” .

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Para melhor compreensão podemos aplicar à Igreja as diferentes fases da lua: lua nova, quando anuncia a Palavra da Vida nova em Cristo; lua cheia, quan-do celebra na fé os santos mistérios da presença do Senhor; lua crescente, quando irradia a caridade; lua minguante, quando, na sua pequenez e debilidade, deixa brilhar os raios da esperança no “Deus sempre maior” do que a fraqueza e o pecado dos homens.

A Igreja é toda de Cristo, com Cristo e para Cristo e, por isso mesmo, toda dos homens, com os homens e para os homens.

2.3 “Povo reunido pela unidade do Pai, do Filho e do Espírito Santo”

Assim, à luz do mistério de Cristo, podemos tomar consciência da origem divina da Igreja. Ela é projecto e obra de Deus. Não é invenção dos homens. Não é uma associação humana nascida da convergência de ideias ou interesses religiosos comuns, à maneira de um clube.

As suas origens remontam ao coração de Deus, ao mistério da sua comunhão de Amor Trinitário. Po-demos pois afirmar: no princípio está a Comunhão. Quer dizer, na origem está o Amor eterno e santo de Deus que como Pai nos quer abraçar e comunicar o

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seu amor através dos “dois braços” do Filho e do Es-pírito Santo.

Em Jesus Cristo, Deus abre-nos o mistério da sua intimidade, do seu Amor, da sua comunhão íntima. Esta é a verdade central da nossa fé: “o Verbo fez-se carne” . Deus fez-se homem, totalmente homem como nós, e une-se a cada homem.

Este Amor eterno, que se comunica aos homens, conti-nua vivo e actuante porque Cristo ressuscitado conti-nua a contagiá-lo, como aos discípulos de Emaús, com o calor da sua Palavra e a força do seu Espírito que o derrama nos nossos corações, como sarça ardente que nunca se consome.

A Igreja nasce do acolhimento, na fé e em acção de gra-ças, deste dom da comunhão de Deus com os homens. Nasce, pois, como comunhão de filhos de Deus Pai no seu Filho, Jesus Cristo, e na força do seu Espírito de amor, e como comunhão de irmãos no mesmo Espí-rito. Aqui está o coração da Igreja, a sua vocação e a sua missão !

Eis a razão por que S. Cipriano a apresenta como “povo reunido (gerado e convocado) pela comunhão do Pai, do Filho e do Espírito Santo”: uma comunhão de pessoas que, pela acção do Espírito Santo, formam o Povo de Deus, que é ao mesmo tempo o Corpo de Cris-

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to. Unidos a Cristo e em Cristo formamos um só corpo, tornamo-nos todos realmente o Povo de Deus: desde o Papa até à última criança baptizada.

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3. O ROSTO DA IGREJA DOS APÓSTOLOS: TRÍPTICO SOBRE A IGREJA

No início do livro dos Actos dos Apóstolos, S. Lucas ilustra as origens e a vida da Igreja de Jerusalém, logo após a Ascensão de Jesus, com a promessa aos discí-pulos de que receberiam uma força do alto para serem suas testemunhas.

A apresentação da comunidade de Jerusalém é-nos oferecida em três grandes quadros – um tríptico – que dizem mais do que se poderia exprimir em conceitos; e serve de modelo para as diferentes comunidades.

3.1 A assembleia em oração no Cenáculo (Act 1, 12-26)

O primeiro quadro apresenta-nos o grupo dos discípu-los (“umas 120 pessoas” diz o texto) reunido na sala da ceia – o grupo dos apóstolos, referidos pelo nome, e

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a companhia dos fiéis de Jesus, juntamente com Ma-ria – unidos pelo mesmo sentimento e unânimes na oração. Este quadro vivo é o espelho da Igreja, da sua fisionomia enquanto:

– assembleia da nova aliança: evocada pelo lu-gar onde permaneciam, o cenáculo em que Je-sus celebrou a ceia da nova aliança, que dá vida a uma nova comunidade;

– assembleia unida em oração: unificada es-sencialmente a partir da oração na abertura comum a Deus. “Todos unidos pelo mesmo sen-timento, entregavam-se assiduamente à ora-ção”: a comunhão entre eles e a comunhão com Deus na oração são dois elementos distintivos. A oração exprime a confiança no Senhor que não os abandona. A força prometida que vem do alto deve encontrar corações abertos e dis-poníveis.

– comunidade reunida à volta dos apóstolos: no meio dos discípulos está o núcleo central dos “Doze”, garantes da fé e da unidade em Cristo;

– comunidade participativa: sob a orientação de Pedro procedem à escolha de Matias, procu-rando a obediência à vontade de Deus. Mesmo neste assunto, a comunidade “permanece em

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oração” e não se transforma em parlamento.

“A Igreja começou quando os apóstolos se reuniram todos no cenáculo e rezavam. É sempre assim que a Igreja começa. É na oração à volta do Espírito que ela recomeça todos os dias” (J. Ratzinger).

3.2 A Igreja na força do Espírito (Act 2, 1-41)

Neste segundo quadro, S. Lucas põe à nossa contem-plação o inaudito acontecimento do Pentecostes, como celebração do dom do Espírito enquanto “alma” da Igreja, fonte da sua riqueza interior e da sua unidade na universalidade e diversidade dos povos. Aí se res-pira a frescura matinal do primeiro amor-comunhão como dádiva do Ressuscitado.

À primeira vista parece uma espécie de terramoto (forte rajada de vento e fogo) que se ouviu em toda a Jerusalém e atraiu muita gente para ver o sucedido. Imediatamente se verificou que não se tratava de um terramoto normal. Houve um grande abalo, mas nada ruiu. Porém, podemos dizer que foi um terramoto in-terior que mudou o coração e a vida dos discípulos e teve consequências mesmo fora do cenáculo, na praça da cidade.

Dentro do cenáculo, ” todos ficaram cheios do Espírito Santo” . Esta é a frase central da narração. “O vento

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impetuoso” e “as línguas de fogo sobre cada um” são imagens eloquentes para expressar a força interior e o calor do Espírito que vence todos os medos e todas as portas fechadas, e dá uma nova capacidade de comu-nicar o Evangelho.

Fora do cenáculo, a multidão representativa dos di-versos povos, escuta e entende, cada um na sua lín-gua, a mesma Palavra sobre as maravilhas de Deus e professa a mesma fé. O Espírito torna-se fonte de uni-dade e harmonia entre as pessoas dos diversos povos, línguas e culturas. N’Ele todas as diferenças se con-vertem numa expressão da beleza divina, formando a harmonia na unidade do amor.

De seguida, o Apóstolo Pedro, discursando, explica o Pentecostes dentro da história da salvação. Aí vemos como a participação neste acontecimento salvífico se realiza através das seguintes mediações:

– o anúncio do mistério de Cristo como Senhor e Salvador, feito por Pedro que está com os ou-tros onze apóstolos;– o acolhimento do anúncio na fé e na conver-são do coração;

– a celebração do baptismo e do dom do Espírito;

– a formação da comunidade dos baptizados, unida à célula apostólica, célula mãe da Igreja.

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O grupo apostólico é parte essencial da Igreja no seu surgir à luz do dia.

Nesta perspectiva, a Igreja toma a sua forma inicial numa Comunhão cujo laço profundo e invisível é o Es-pírito Santo e cujo centro visível é o grupo dos apósto-los, garante da ligação histórica com Cristo.

3.3 A comunidade fraterna (Act 2, 42-7; 4, 32-35)

Após o discurso de Pedro, o livro dos Actos dos Apósto-los oferece-nos dois sumários sobre a vida das primei-ras comunidades cristãs.

De forma sintética, apresenta a vivência do mistério da comunhão na vida da comunidade, como fruto do Pentecostes. A comunhão é a alma da comunidade; manifesta-se e alimenta-se em certas formas e estru-turas visíveis. Os primeiros cristãos

– “eram perseverantes no ensino dos Apóstolos” que anunciavam a Palavra de Deus e testemu-nhavam a vida, o ensino e o mistério de Jesus – a unidade na mesma fé;

– “eram perseverantes na união fraterna” pelo amor recíproco, pela generosidade na partilha dos bens, pela solidariedade e pelo serviço ao próximo, sobretudo aos pobres – a unidade no

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amor fraterno;

– “eram perseverantes na fracção do pão (Euca-ristia) e nas orações” como forma de vida na co-munhão com Cristo fonte de toda a comunhão – a unidade de culto;

– “tinham a simpatia de todo o povo”, pelo tes-temunho irradiante de Cristo, da fé e do amor no ambiente da vida – a unidade na missão;

– estavam unidos ao ministério apostólico (como se vê na primeira característica), como centro e garante visível da unidade de toda a comunidade.

Estes sumários mostram-nos os cinco elementos fun-damentais da vida comunitária, inseparáveis e consti-tutivos da ossatura de toda e cada comunidade cristã.

Merece um comentário particular a “perseverança na fracção do pão”, isto é, na Eucaristia.

A comunhão dos fiéis em Cristo exige, por natureza, a assembleia à volta de Cristo ressuscitado e a comu-nhão com Ele. Esta é absolutamente necessária para a Igreja como tal e para cada cristão. A Igreja não é uma ‘internacional’ à qual se possa pertencer à distância, por inscrição e pagamento de cotas, nem uma socieda-de de telespectadores, teleouvintes ou cibernautas. Não há Igreja de Cristo sem assembleia eucarística.

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“Nenhuma comunidade cristã se edifica sem ter a sua raiz e o seu centro na celebração da santíssima Euca-ristia, a partir da qual, portanto, deve começar toda a educação do espírito comunitário” (Vaticano II, Minis-tério dos Presbíteros, nº6).

3.4 O Mistério da Comunhão na Igreja local: a Diocese e a Paróquia

A Igreja de Deus como mistério de comunhão no meio dos homens não é uma sociedade anónima, sem ros-to. Surge em toda a parte em que a comunhão toma forma e corpo em homens e mulheres que, pela fé e pelo baptismo, recebem o dom do Espírito, acolhem a Palavra do Evangelho, celebram a Santa Eucaris-tia e os sacramentos da graça de Deus, vivem o amor fraterno, reunidos à volta do ministério apostólico do bispo com o seu presbitério.

Assim, a Igreja de Deus torna-se presente, realiza-se e cresce num determinado lugar (geográfico, humano e cultural) onde a vida torna as pessoas próximas, for-mando a Igreja local ou diocesana. É aí que Cristo nos convoca, reúne na comunhão e envia em missão.

Todavia, o mistério da comunhão, para se tornar mais concreto e incarnado, realiza-se também nas comuni-dades locais mais pequenas, a que normalmente cha-

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mamos paróquias. A paróquia é uma comunidade de fiéis onde se gera a fé no dia-a-dia da vida das pessoas, onde se vive a alegria da comunhão e da participação na vitalidade da comunidade cristã. É a Igreja enrai-zada num lugar, presente no meio das casas dos ho-mens, mais próxima à vida das pessoas: “a família de Deus, como uma fraternidade animada pelo espírito de unidade” . Porém, não é uma ilha ou feudo isolado e auto-suficiente. É antes uma célula viva da Igreja diocesana; por isso mesmo, só encontra a sua plena realização na comunhão com ela.

A comunhão eclesial encontra também uma expressão específica nas comunidades dos religiosos/as, nas co-munidades cristãs próprias dos emigrantes, nos mo-vimentos e nas novas comunidades de evangelização, quando reconhecidos pela Igreja. Todos são “sinal da comunhão e da unidade da Igreja em Cristo”, partici-pando com o seu carisma próprio na vida e missão da Igreja diocesana.

3.5 A beleza e a alegria de ser e sentir-se Igreja

“A Igreja não é uma comunidade daqueles que ‘não têm necessidade do médico’, mas sim uma comunidade de pecadores convertidos que vivem da graça do perdão, transmitindo-a por sua vez a outros” (J. Ratzinger).

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Em recente alocução, o Papa Bento XVI referia-se à beleza da Igreja nestes termos:

“A propósito da Igreja, os homens são levados a ver sobretudo os pecados, o negativo. Mas, com a ajuda da fé, que nos torna capazes de ver de modo autênti-co, podemos também hoje e sempre ver nela a beleza divina.

É na Igreja que Deus se torna presente, se oferece a nós na Santa Eucaristia e permanece presente para a adoração. Na Igreja, Deus fala connosco; na Igre-ja, Deus passeia connosco, como diz S. Germano. Na Igreja, recebemos o perdão de Deus e aprendemos a perdoar.

Peçamos a Deus que nos ensine a ver na Igreja a sua presença, a sua beleza, a ver a sua presença no mundo e nos ajude a ser transparentes à sua luz” .

Além disso, numa sociedade, como a nossa, de relações frágeis e efémeras, muitas vezes competitivas e confli-tuais, o Senhor chama-nos a mostrar que o Evangelho vivido constrói (cria) uma rede de relações autênticas, gratuitas, baseadas no espírito das bem-aventuran-ças. O fruto disto chama-se Igreja, como comunidade alternativa de relações fraternas de comunhão e par-tilha, belas, verdadeiras, próximas, suscitadoras de confiança, de ternura, de serviço e de alegria.

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Por este caminho, podemos e devemos experimentar a beleza e a alegria de sermos e nos sentirmos Igreja de Jesus.

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4. A IGREJA, CASA E ESCOLA DA COMUNHÃO

À luz de tudo o que dissemos, compreende-se que a co-munhão não se reduz a um afecto vago, psicológico ou sentimental. É um modo de ser, de viver, de relacio-nar-se e trabalhar em Igreja, de construir comunida-de cristã. Deve configurar um estilo e modelo de pas-toral. Faz parte da santidade dos cristãos. Por isso, é necessário, antes de mais, cultivar o espírito de comu-nhão como dom de Deus, numa atitude de conversão individual e comunitária, com a consciência de que “se o Senhor não edificar a casa, em vão trabalham os que a constroem” (Sl 126, 1).

4.1. Espiritualidade da comunhão

Neste contexto, somos chamados a acolher a recomen-dação de João Paulo II, na sua Carta Apostólica para

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o início do novo milénio. Aí afirma: “Antes de progra-mar iniciativas concretas, é preciso promover uma espiritualidade de comunhão” . E, de seguida, indica quatro características desta espiritualidade:

Significa, em primeiro lugar, ter o olhar do coração voltado para o mistério da Trindade que habita em nós e cuja luz há-de ser percebida também no rosto dos irmãos que estão a nosso lado.

Significa também a capacidade de sentir o irmão na fé como “um que faz parte de mim” para partilhar as suas alegrias e os seus sofrimentos, para intuir os seus anseios e dar respostas às suas necessidades.

É ainda a capacidade de ver, antes de mais nada, o que há de positivo no outro para o acolher e valorizar como dom de Deus.

Por fim, significa criar espaço para o irmão, levando o peso uns dos outros e rejeitando as tentações egoístas que continuamente nos ameaçam (cf NMI 43).

Quanto necessitamos desta espiritualidade de comu-nhão, a nível individual, de grupos, de lugares e de co-munidades, em todos os sectores da pastoral! Por isso, na Quaresma, continuaremos a propor o “retiro do povo de Deus”, sob a forma de encontros da lectio divina, orientados nesta perspectiva. Os grupos de leitura oran-te da Palavra de Deus são células vivas de comunhão.

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4.2. Comunhão e corresponsabilidade

A comunhão implica a participação activa na vida da comunidade, onde todos recebemos e damos de tal modo que “o bem de todos torna-se o bem de cada um e o bem de cada um torna-se o bem de todos” . “Na Santa Igreja – escreve S. Gregório Magno – cada um é apoio dos outros e os outros são o seu apoio” (ChL 28). Isto inclui a participação e a corresponsabilidade de todos no crescimento da vida da comunidade, segundo a diversidade e complementaridade dos dons, funções e ministérios.

Neste sentido, S. Paulo compara a Igreja a um corpo com muitos membros, cuja cabeça é Cristo (cf 1Cor 12) Nem todos desempenham a mesma função. Mas todos são indispensáveis e contribuem para o bem-estar do todo, isto é, da comunidade. Esta visão da Igreja re-quer que passemos de uma Igreja baseada só no clero (o padre faz-tudo) a uma Igreja apoiada na correspon-sabilidade comum de todos os cristãos.

Esta foi a indicação que o Papa Bento XVI deu aos bispos portugueses na última visita ad limina: “A palavra de ordem era e é construir caminhos de co-munhão. É preciso mudar o estilo de organização da comunidade cristã e a mentalidade dos seus membros

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para se ter uma Igreja ao ritmo do Concílio Vaticano II, na qual estejam bem estabelecidas a função do cle-ro e do laicado, tendo em conta que todos somos um, desde que fomos baptizados e integrados na família dos filhos de Deus e todos somos corresponsáveis pelo crescimento da Igreja” .

Esta indicação torna-se ainda mais urgente pela di-minuição acentuada do número de padres no serviço pastoral, por motivos de idade ou doença, e pela es-cassez de vocações ao sacerdócio. Mas, em qualquer circunstância, toda a reorganização pastoral deve operar-se sob a chave de comunhão, redescobrindo o papel activo e responsável dos fiéis leigos na edifica-ção da comunidade.

Para isso há que promover, em cada paróquia, a cons-tituição ou revitalização de grupos ou movimentos que colaborem nos vários sectores da pastoral da comu-nidade: no anúncio da fé, na preparação e celebração dos sacramentos, no serviço da caridade, da partilha de bens e na sua administração, para que o Pastor se dedique ao que lhe é específico.

A realização de uma ou duas assembleias paroquiais por ano, com os principais colaboradores da paróquia ajuda, sem sombra de dúvida, a despertar e reforçar o sentido de família, a comunhão, a fraternidade e a corresponsabilidade.

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4.3. Órgãos de corresponsabilidade

Para que a comunhão construtora da comunidade se exerça realmente, de modo orgânico e articulado, deve ter expressão em dois organismos principais de participação onde se realiza a partilha de intenções e de projectos pastorais e se distribuem responsabilida-des: o conselho pastoral e o conselho para os assuntos económicos, presididos pelo pároco. Estes conselhos são uma estrutura decisiva para configurar a Igreja –comunhão. A sua ausência é sintoma grave de uma falta de comunhão e participação na comunidade cris-tã.

Ao longo deste ano propomo-nos a implementação ou revitalização destes conselhos em cada paróquia. Para esse efeito realizaremos uma acção de formação, a ní-vel vicarial.

4.4. Modelo de pastoral integrada e integral

Do ponto de vista pastoral, estamos hoje perante uma nova paisagem do mundo: uma nova situação carac-terizada pelas mudanças culturais, por maior mobi-lidade das pessoas no território e nos ambientes, por novos desafios à missão, pelo menor número de sacer-dotes disponíveis, pela escassez de recursos humanos

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em certas comunidades, pelo surgir de novos movi-mentos e novas comunidades eclesiais.

Tudo isto veio pôr em evidência que acabou o tempo da paróquia e do pároco auto-suficientes e isolados, que respondiam sozinhos a todos os problemas, exi-gências e situações. Exige-se uma reorganização e reconfiguração das comunidades cristãs através de um novo modelo de acção: uma pastoral integrada e integral.

Por pastoral integrada entendemos a inserção da actividade pastoral da paróquia dentro do agregado mais vasto da relação com as paróquias vizinhas (na vigararia ou noutras formas de unidades pastorais). Assim põem-se em rede os múltiplos recursos de que se dispõe nesse agregado: humanos, espirituais, cul-turais, pastorais. E é possível valorizar mais as com-petências, permutar dons e ministérios, partilhar e poupar recursos, reequilibrar encargos e trabalho.

A pastoral integral envolve os vários sujeitos (pesso-as, grupos, movimentos) e os vários ministérios num projecto pastoral interparoquial, comum e partilhado, que valoriza as sensibilidades e os recursos específicos de cada um.

Com isto não se trata de criar uma espécie de super-paróquia. Mas pretende-se tirar as paróquias do iso-

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lamento e abri-las a uma dimensão mais vasta, capaz de responder às exigências e necessidades da evange-lização. As paróquias que têm mais dificuldades em meios ou pessoas receberão mais apoio e encoraja-mento nesta colaboração.

Amadurecer em cada um de nós e nas nossas comu-nidades este modelo de pastoral é uma exigência do ser Igreja-comunhão: “Ama a paróquia do outro como a tua”!

Os vigários deverão ser os primeiros “apóstolos” da comunhão eclesial na sua vigararia! Peço aos padres de cada vigararia que escrevam “uma carta de comu-nhão”, elaborando um compromisso pastoral comum do presbitério local. Será ocasião para pensar formas de pastoral de conjunto para as paróquias e imaginar ou lançar alguma iniciativa nova e corajosa.

4.5 Três “sins” e três “nãos”

Tudo o que desenvolvemos anteriormente, implica dizer com a vida três grandes “sins” e três grandes “nãos” .

O tríplice sim é à comunhão, à corresponsabilidade e à renovação inspirada pelo Evangelho e pela leitura dos sinais dos tempos.

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O tríplice não é à divisão, à desresponsabilidade (indi-ferença) e à estagnação ou ao imobilismo.

Através deste tríplice “sim” e do tríplice “não”, a Igre-ja constrói-se como comunhão de homens e mulheres, adultos e responsáveis na fé e no dinamismo da vida comunitária.

Estamos conscientes de que são necessárias uma mudança de mentalidade, criatividade e conversão pastoral que mexe com hábitos adquiridos. Mas uma simples “pastoral de conservação”, além de ser estéril, mostra-se irresponsável e, ouso dizer, objectivamente pecaminosa, porque surda, se não mesmo hostil à voz de Deus e ao seu chamamento na hora actual.

4.6 O Presbitério em comunhão e ao serviço da comunhão: Ano Sacerdotal

“Ir ao coração da Igreja” permite-nos também “ir ao co-ração do sacerdócio ministerial”, sobretudo neste Ano Sacerdotal proposto pelo Santo Padre para toda a Igre-ja. Leva-nos a compreender melhor o dom do sacerdó-cio e a sua beleza dentro e ao serviço da Igreja, misté-rio de comunhão, e da sua missão. É nesta perspectiva que João Paulo II no-lo apresenta, numa bela síntese, na Exortação Apostólica “Dar-vos-ei Pastores”:

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“O sacerdote ministro é servo de Cristo, presente na Igreja mistério, comunhão e missão. Pelo facto de participar da unção e da missão de Cristo, ele pode prolongar na Igreja a sua oração, a sua palavra, o seu sacrifício e a sua acção salvífica. É, portanto, servidor da Igreja mistério porque realiza os sinais eclesiais e sacramentais da presença de Cristo ressuscitado. É servidor da Igreja comunhão porque – unido ao Bis-po e em estreita relação com o presbitério – constrói a unidade da comunidade eclesial na harmonia das diferentes vocações, carismas e serviços. É finalmente servidor da Igreja missão porque faz com que a comu-nidade se torne anunciadora e testemunha do Evan-gelho” (n.16)

Nós, padres e bispo, só poderemos realizar plenamen-te este serviço formando um presbitério em comunhão, sendo os primeiros a dar exemplo dela, servindo-a e promovendo-a nas comunidades. Por isso, este Ano Sacerdotal servirá para reforçar a nossa fraternida-de sacramental que nos torna irmãos no mesmo dom do sacerdócio e na mesma missão, para cultivar mais e melhor a vida espiritual, para promover a corres-ponsabilidade dos fiéis leigos e para cuidar particular-mente das vocações ao sacerdócio.

Tudo isto faz parte da santificação do padre dentro e através do próprio ministério. Para isso aproveitare-

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mos a celebração da Missa Crismal, as assembleias do clero, as reuniões de vigararia, a semana de formação permanente, a ampla oferta das recolecções mensais e de retiro espiritual em Fátima. Peço, encarecidamente, a todos os padres que valorizem todas estas ocasiões para que este Ano Sacerdotal seja para eles um salto qualitativo na sua vida espiritual e pastoral.

Na sequência do ano passado continuaremos a refle-xão em ordem à implementação do Diaconado perma-nente. Publicaremos um breve documento em ordem à informação e formação das comunidades, para ser reflectido sobretudo nos conselhos pastorais.

Para corresponder a uma sugestão do Santo Padre, também nós faremos, em devido tempo, a evocação de duas figuras do nosso presbitério que deixaram mar-cas pelo seu testemunho e pela sua acção pastoral: D. João Pereira Venâncio (1904-1985) e Padre Rogério Pedro de Oliveira (1946-1989), por ocasião dos 25 e 20 anos da sua morte, respectivamente.

4.7 Família, renova o dom da comunhão que está em ti!

O ano pastoral coincide também com o Ano comemo-rativo do centenário do nascimento da Beata Jacinta Marto, exemplo de como uma criança é capaz de ter o

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verdadeiro sentido da Igreja, de a amar e se sacrificar por ela. O programa do Santuário de Fátima já foi di-vulgado. É uma ocasião para descobrir e valorizar o lugar e o protagonismo das crianças na Igreja. E, con-sequentemente, o papel importante da família como “Igreja doméstica”, isto é, Igreja presente na casa fa-miliar, primeira célula viva da família maior que é a Igreja, primeira expressão incarnada da comunhão que caracteriza a comunidade cristã: ” perseveran-te no ensino da fé, na comunhão e partilha fraterna, na Eucaristia e na oração, no testemunho do amor e do serviço” . A cada família deixo um apelo vibrante: “Família, reaviva o dom da comunhão que está em ti! Cultiva a espiritualidade da comunhão”!

Desde já, faço o convite para que as crianças da ca-tequese com os seus pais participem na peregrinação das crianças a Fátima, no dia 10 de Junho. É uma festa muito bela em que se faz experiência do que é a Igreja-comunhão. Peço aos catequistas que entusias-mem as crianças e preparem com elas, bem e anteci-padamente, esta peregrinação.

4.8 Festa da Fé: Rosto(s) da Igreja Diocesana

O presente ano pastoral culminará com um Grande Encontro Diocesano, na cidade de Leiria, nos dias 21,

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22 e 23 de Maio de 2010. Damos-lhe o título “Festa da Fé: Rosto(s) da Igreja diocesana” . Será um grande momento de encontro da nossa Igreja diocesana, onde se dê visibilidade ao seu rosto na variedade das suas comunidades, movimentos, grupos e serviços, e da sua vitalidade. Será a expressão da nossa Igreja viva e em comunhão. Queremos que seja uma verdadeira festa de comunhão na fé!

Realizar-se-á em vários espaços da cidade de Leiria e com múltiplas actividades celebrativas, culturais e festivas. Nesses dias virá em peregrinação à cidade e à Sé a imagem de Nossa Senhora de Fátima, da Capeli-nha das Aparições, como Padroeira da Diocese.

Esta festa destina-se a toda a gente e haverá propos-tas para crianças, adolescentes, jovens e adultos orga-nizadas por diferentes serviços, movimentos e grupos. O programa será divulgado oportunamente, mas, des-de já, aqui fica o meu convite pessoal a todos para este grande encontro diocesano.

4.9 Creio na Igreja! Amar a Igreja como Cristo a amou!

Quando na proclamação do Credo dizemos “Creio na Igreja”, estamos a afirmar o seguinte: creio que a Igre-ja é obra de Deus e não do homem; que ela é morada de

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Deus no meio dos homens; creio que o Espírito Santo a mantém unida a Cristo e em Cristo, que a santifica, que dá vida à sua comunhão universal, que a conserva fiel à fé dos apóstolos e a torna missionária.

Este acto de fé implica, contudo, um acto de amor. Por isso, para terminar, tenho um pedido a dirigir a todos vós: Amai a Igreja! Tende carinho para com ela!

O amor à Igreja nasce do amor a Cristo. Amo-a porque e “como Cristo amou a Igreja e se entregou por ela” (Ef 5, 25) para a purificar, santificar, alimentar e embe-lezar o seu rosto. É este amor de Cristo que nos leva a reconhecer a Igreja como Corpo de Cristo, por vezes ferido e humilhado, e como nossa Mãe na fé, que traz no rosto as rugas da nossa pobre humanidade e dos pecados dos seus filhos. Mas é no seu seio que somos gerados e crescemos na fé em Cristo Salvador, que en-tramos a fazer parte da família dos filhos de Deus e recebemos os dons da salvação. E quanto bem irradia para o mundo!

Ela é nossa Mãe! Sem ela ficamos órfãos. Tantas ve-zes é mal amada pelos seus. Como se explica que o nosso amor pela nossa mãe seja tão lento, hesitante e débil? Porque não temos coragem de o manifestar e afirmar alto e bom som?

Peçamos ao Senhor, por intercessão de Maria, Mãe da

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Igreja, a graça de amar a nossa Igreja, a nossa comu-nidade concreta, com todo o coração, com o dom da nossa vida e segundo os dons que recebemos. Que cada um de nós possa dizer, em cada dia, como Santa Te-resinha: “No coração da Igreja, minha Mãe, eu serei o amor”!

Sirva-nos de estímulo uma nota pessoal do grande Papa Paulo VI, no seu Diário: “Amar, servir, suportar, edificar a Igreja com todo o talento, com toda a dedica-ção, com inesgotável paciência e humildade, eis o que resta fazer sempre, começando, recomeçando, até que tudo seja consumado e alcançado quando Ele (Cristo) voltar. Com toda a confiança, como sempre” .

Terminemos com uma oração de um santo bispo afri-cano, mártir, São Quodvultdeus de Cartago, para a profissão de fé dos candidatos ao baptismo:

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“Concede, Senhor, a todos nós amar a Tua Igreja, a Tua amada.Faz com que lhe permaneçamos inabalavelmente fiéis Como a uma mãe amorosa, solícita e benigna, Para que, com ela e por seu intermédio, possamos ser de casa Junto de Ti, Deus e Pai nosso. Ámen!”

Feliz Ano Pastoral! Um abraço amigo do vosso irmão bispo,

† António Marto, Bispo de Leiria-Fátima

Leiria, 28 de Agosto de 2009 Festa de Santo Agostinho, Padroeiro da Diocese

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Índice

Caríssimos diocesanos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .5

1. PARA ONDE VAIS, IGREJA? . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .81.1 O despertar de uma nova consciência de Igreja . . . . . . . . . . 91.2 Enfraquecimento da consciência eclesial . . . . . . . . . . . . . . 111.3 Imagens desfocadas da Igreja . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 12

2. O MISTÉRIO DA IGREJA-COMUNHÃO . . . . . . . . . . .152.1 A Igreja tem um coração . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 152.2 A Igreja ,” Mistério da Lua” . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 172.3 “Povo reunido pela unidade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 18

3. O ROSTO DA IGREJA DOS APÓSTOLOS . . . . . . . . .213.1 A assembleia em oração no Cenáculo (Act 1, 12-26) . . . . . 213.2 A Igreja na força do Espírito (Act 2, 1-41) . . . . . . . . . . . . . 233.3 A comunidade fraterna (Act 2, 42-7; 4, 32-35) . . . . . . . . . . 253.4 O Mistério da Comunhão na Igreja local . . . . . . . . . . . . . . 273.5 A beleza e a alegria de ser e sentir-se Igreja . . . . . . . . . . . 28

4. A IGREJA, CASA E ESCOLA DA COMUNHÃO. . . . .314.1. Espiritualidade da comunhão . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 314.2. Comunhão e corresponsabilidade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 334.3. Órgãos de corresponsabilidade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 354.4. Modelo de pastoral integrada e integral . . . . . . . . . . . . . . 354.5 Três “sins” e três “nãos” . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 374.6 O Presbitério em comunhão e ao serviço da comunhão . . . 384.7 Família, renova o dom da comunhão que está em ti! . . . . . 404.8 Festa da Fé: Rosto(s) da Igreja Diocesana . . . . . . . . . . . . . 414.9 Creio na Igreja! Amar a Igreja como Cristo a amou! . . . . . 42

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