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IRM naEsclerose Múltipla
Autor:Dr. David Araújo
Neurorradiologista do Hospital das Clínicas deRibeirão Preto da Universidade de São Paulo e
do Instituto de Diagnóstico por Imagem daSanta Casa de Ribeirão Preto, com doutoradoem neurologia pela USP e especialização em
neuroimagem pela Cleveland Clinic Foundation.
Esclerose Múltipla: guia para solicitação e interpretação de exames
Índice
Alterações sugestivas de desmielinização pela ressonância magnética
Diagnóstico diferencial da Esclerose Múltipla pela ressonância magnética
Mais informações
© Produzido em 2006 pelo Grupo Lopso de Comunicação
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Esclerose Múltipla: guia para solicitação e interpretação de exames
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O uso clínico da ressonância magnética, a partir
do final da década de 80 e início da década de 90,
modificou sensível e definitivamente o diagnóstico
e o tratamento da esclerose múltipla (EM). Apesar
de manter-se essencialmente clínico, o diagnósti-
co da EM tornou-se mais seguro a partir da docu-
mentação da disseminação no tempo e no espaço
pela neuroimagem estrutural. Houve também uma
significativa redução na importância de outros
exames complementares como a pesquisa de
bandas oligoclonais pelo líquor ou a pesquisa de
atraso de latência do P100 no potencial evocado
visual .
Na ressonância magnética, novas técnicas foram
desenvolvidas que extrapolaram as fontes de con-
traste T1, T2 e densidade de prótons, adicionando
seqüências de saturação, medidas quantitativas e
técnicas de avaliação neurofuncional .
No entanto, embora descritas e citadas na litera-
tura, a maioria dessas técnicas ainda permanece
restrita a ambientes de pesquisa e não foi incorpo-
rada aos critérios diagnósticos desenvolvidos
consensualmente para uso clínico.
Os aparelhos de ressonância também mudam
rapidamente, com melhorias no hardware (intensi-
dade de campo magnético, bobinas, gradientes) e
no software (seqüências, pós-processamento).
Os aparelhos de 3.0 Tesla (T) já estão em uso
clínico em algumas instituições, inclusive no
Brasil. Nos próximos anos devem surgir apare-
lhos de 4.0 e 7.0 T para uso clínico em humanos,
embora sua inocuidade ainda seja questionada.
Os estudos com novas técnicas de imagem
em EM são geralmente de longo prazo, por
necessitarem de tempo de seguimento e núme-
ro considerável de pacientes. Por isso, a maio-
ria dos avanços técnicos experimentais ainda
está por ser testada para uso clínico . Como
exemplos de técnicas bastante promissoras,
porém sem experiência clínica multicêntrica
adequada, podem ser citadas mais recente-
mente a tractografia baseada na imagem por
difusão e a ressonância magnética funcional .
Por essas razões é necessário estabelecer-
mos padrões aceitáveis de qualidade do exame
em um contexto clínico de rotina, tanto em sua
execução quanto em sua interpretação .
A intensidade do campo magnético determi-
na, em última instância, a qualidade da imagem
em termos de definição espacial, definição do
sinal e rapidez de aquisição. Portanto é lógico
imaginar que campos de maior intensida-
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de gerarão imagens de melhor qualidade. Isso já
foi comprovado em trabalhos utilizando aparelhos
de 1.5 e 3.0 T. A sensibilidade na detecção de
alterações em T2 compatíveis com EM foi maior
em aparelhos de mais alto campo, utilizando os
mesmos parâmetros de aquisição .
Não há limitação da intensidade de campo
descrita nos consensos internacionais sobre
diagnóstico de EM. O padrão atualmente mais
adequado para uso clínico e que tem a melhor
relação custo/benefício é o magneto de 1.5 T. É o
mais aconselhável, desde que haja disponibilida-
de e pessoal técnico capacitado. Quando essa
intensidade de campo não for disponível, as
seqüências básicas para o diagnóstico clínico
podem ser realizadas em aparelhos de baixo e
médio campo (0.2 a 1.0 T), desde que seja possí-
vel identificar com segurança placas de desmieli-
nização maiores que 0,3 cm, cavitadas e ínte-
gras, com e sem sinais inflamatórios, infratentori-
ais, supratentoriais e da medula espinhal.
Os tecidos cerebrais apresentam características
quando expostos a um campo magnético que
denominamos T1 e T2, chamadas magnetização
longitudinal e relaxação transversal. Além disso, a
densidade dos prótons presentes na amostra
influencia seu sinal, permitindo a definição de uma
terceira ponderação chamada densidade de pró-
tons (DP). Na dependência dos parâmetros de
seqüência que programamos no aparelho de
ressonância podemos observar predominante-
mente cada uma dessas características. É o
que chamamos de “ponderação”.
As placas de desmielinização são mais bem
vistas nas seqüências ponderadas em T2, pelo
aumento de seu conteúdo de água (maior sen-
sibilidade). Porém as seqüências ponderadas
em T1 apresentam boa especificidade para
placas ativas (com inflamação) ou cavitadas
(com lesão axonal e necrose).
A seqüência FLAIR (fluid attenuated inversi-
on recovery) foi desenvolvida na década de 90
e por suas características de sensibilidade para
lesões detectáveis em T2 tornou-se uma das
seqüências mais importantes para a detecção
de placas de desmielinização . Em sua execu-
ção aplicamos um pulso de pré-saturação para
água livre, reduzindo seu sinal. Com isso, o
sinal dos prótons de hidrogênio da água ligada
a macromoléculas, como em áreas de gliose,
edema ou inflamação, torna-se mais evidente.
Isso é especialmente importante na detecção
de lesões periventriculares, onde a proximida-
de do líquor ventricular pode ocultar pequenas
lesões. Em nosso serviço, como medida de
sensibilização, realizamos a seqüência
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FLAIR com injeção de contraste paramagnético
nos casos onde há suspeita de EM.
Apesar de ser altamente sensível na detecção
de lesões supratentoriais, a seqüência FLAIR é
particularmente susceptível a artefatos biológicos
como fluxo liquórico, pulso vascular e transições
abruptas de tecido. Todos esses fatores estão
presentes em grande quantidade na fossa posteri-
or e no canal vertebral. Nesses casos as seqüênci-
as ponderadas em T2 ou densidade de prótons
(DP) apresentam maior sensibilidade e devem ser
preferidas .
As principais características das placas ativas
de desmielinização da EM são a inflamação peri-
venular, a concomitante destruição das bainhas
de mielina e a quebra transitória da barreira hema-
toencefálica. O gadolíneo tem a capacidade de
atravessar a barreira danificada e ressaltar a
característica T1 dos tecidos. A sua injeção como
forma de contraste paramagnético permite a visu-
alização das áreas de quebra de barreira e a iden-
tificação indireta do componente inflamatório e
ativo das placas de desmielinização .
O uso do MTC (magnetization transfer contrast)
consiste na aplicação de um pulso de pré-
saturação para eliminar o sinal originado de pró-
tons de hidrogênio ligado a cadeias de alto peso
molecular, com tempos de relaxação muito curtos.
Seu uso pode ser qualitativo ou quantitativo . A
avaliação quantitativa é um procedimento com-
plexo que implica a aquisição de novas
seqüências com diferentes parâmetros e a
subtração matemática do sinal de imagens
adquiridas com e sem o pulso de MTC. Vários
trabalhos têm sido publicados utilizando essa
técnica no estudo da EM, porém seu uso ainda
é acadêmico e inviável clinicamente na rotina .
Qualitativamente podemos utilizar o pulso de
MTC em seqüências ponderadas em T1 da
rotina de EM, sem adição de tempo ou comple-
xidade ao exame. O seu uso qualitativo tem
como objetivo aumentar a sensi
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bilidade do
exame após a injeção do gadolíneo. Não é
técnica obrigatória nos exames para diagnósti-
co ou seguimento de EM, seu uso sendo facul-
tativo e dependente da experiência do serviço.
A espectroscopia por ressonância magnética
deriva de princípios físicos descritos na década
de 40 do século passado, e era originalmente
utilizada para análise de amostras in vitro.
Nessa técnica conseguimos calcular a concen-
tração de determinados metabólitos presentes
no tecido cerebral em um determinado volume
pré-selecionado. Embora também mais restrita
a centros de pesquisa, tem sido utilizada com
sucesso em alguns casos, principalmente
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