ItALO tELES MACHADO

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Fatores facilitadores e dificultadores do fluxo de atendimento para a prevenção e o controle do câncer de mama na perspectiva de usuárias de uma unidade terciária da rede pública de saúde de Goiânia-GO* Thuane Bandeira Cortes 1 , Nilza Alves Marques Almeida 2 , Silvia Rosa Souza Toledo 3 , Marta Rovery de Souza 4 Faculdade de Enfermagem /UFG, Goiânia-GO 74605-080, Brasil Email: [email protected] Descritores: Câncer de mama. Sistema Único de Saúde. Saúde Pública. INTRODUÇÃO O câncer de mama é uma das doenças de maior impacto devido à elevada incidência entre as mulheres de todo o mundo. Segundo dados divulgados pela Organização Mundial da Saúde, estima-se que no ano 2030, ocorra 27 milhões de casos incidentes de câncer, 17 milhões de mortes por câncer e 75 milhões de pessoas vivas, anualmente, com câncer em todo o mundo (OMS, 2012). É um problema de saúde pública pelo aumento consistente nas taxas de morbidade, mortalidade e pelo seu elevado custo no tratamento (PAULINELLI et al., 2003). No Brasil, o câncer de mama ocupa o segundo lugar em incidência, sendo ultrapassada apenas pela neoplasia de pele do tipo não melanoma. É a maior causa de mortalidade por câncer na população feminina nas regiões Sudeste, Sul, Nordeste e Centro-Oeste e a segunda na região Norte, nesta última precedida apenas pelo câncer do colo uterino (BRASIL, 2011). *Revisado pelo orientador. 1 Acadêmica da Faculdade de enfermagem Universidade Federal de Goiás. Orientanda do Programa Institucional de Iniciação da UFG, modalidade PIVIC. E-mail: [email protected] 2 Doutora em Ciências da Saúde. Professor Adjunto da Faculdade de Enfermagem da Universidade Federal de Goiás (FEN/UFG). Membro de Grupo de Pesquisa do Programa de Mastologia do Hospital das Clinicas da UFG. E-mail: [email protected] 3 Enfermeira. Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Saúde Coletiva da UFG. 4 Doutora em Ciências Sociais. Professor Associado do Instituto de Patologia Tropical e Saúde Pública da UFG. Capa Índice 8571 Anais do Congresso de Pesquisa, Ensino e Extensão- CONPEEX (2012) 8571 - 8580

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Fatores facilitadores e dificultadores do fluxo de atendimento para a prevenção e o

controle do câncer de mama na perspectiva de usuárias de uma unidade terciária da

rede pública de saúde de Goiânia-GO*

Thuane Bandeira Cortes1, Nilza Alves Marques Almeida2, Silvia Rosa Souza Toledo3, Marta

Rovery de Souza4

Faculdade de Enfermagem /UFG, Goiânia-GO 74605-080, Brasil

Email: [email protected]

Descritores: Câncer de mama. Sistema Único de Saúde. Saúde Pública.

INTRODUÇÃO

O câncer de mama é uma das doenças de maior impacto devido à elevada incidência

entre as mulheres de todo o mundo. Segundo dados divulgados pela Organização Mundial da

Saúde, estima-se que no ano 2030, ocorra 27 milhões de casos incidentes de câncer, 17

milhões de mortes por câncer e 75 milhões de pessoas vivas, anualmente, com câncer em todo

o mundo (OMS, 2012). É um problema de saúde pública pelo aumento consistente nas taxas

de morbidade, mortalidade e pelo seu elevado custo no tratamento (PAULINELLI et al.,

2003).

No Brasil, o câncer de mama ocupa o segundo lugar em incidência, sendo ultrapassada

apenas pela neoplasia de pele do tipo não melanoma. É a maior causa de mortalidade por

câncer na população feminina nas regiões Sudeste, Sul, Nordeste e Centro-Oeste e a segunda

na região Norte, nesta última precedida apenas pelo câncer do colo uterino (BRASIL, 2011).

*Revisado pelo orientador. 1 Acadêmica da Faculdade de enfermagem Universidade Federal de Goiás. Orientanda do Programa Institucional de Iniciação da UFG, modalidade PIVIC. E-mail: [email protected] 2 Doutora em Ciências da Saúde. Professor Adjunto da Faculdade de Enfermagem da Universidade Federal de Goiás (FEN/UFG). Membro de Grupo de Pesquisa do Programa de Mastologia do Hospital das Clinicas da UFG. E-mail: [email protected] 3 Enfermeira. Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Saúde Coletiva da UFG. 4 Doutora em Ciências Sociais. Professor Associado do Instituto de Patologia Tropical e Saúde Pública da UFG.

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Estima-se que para 2012/2013 ocorrerão 52.680 casos novos de câncer de mama, com

risco estimado de 52 casos para cada 100 mil mulheres. Na região Centro-Oeste, a taxa de

incidência estimada é de 48/100.000 mulheres. No estado de Goiás, a estimativa de casos

novos para 2012 é de 1.320 e para Goiânia 450 novos casos. Nas últimas três décadas, notou-

se aumento de sua taxa de mortalidade com a estimativa de ocorrência de 15,6 óbitos por

100.000 mulheres/ano (BRASIL, 2011).

As condições socioeconômicas, o confinamento geográfico e étnico, além das diversas

formas de acesso das usuárias aos serviços de saúde tem dificultado o diagnóstico precoce de

doenças, em especial das neoplasias (OLIVEIRA et al., 2011). Diante desse contexto, as taxas

crescentes de mortalidade por câncer de mama no Brasil, em parte, devem-se a descoberta

tardia, pois o câncer de mama quando diagnosticado e tratado precocemente possui melhor

prognóstico (BRASIL, 2010).

Embora as neoplasias malignas sejam a segunda causa de morte no país, as estratégias

para seu controle enfrentam problemas que afetam desde os mecanismos de formulação de

políticas, até a mobilização da sociedade, incluindo a organização e o desenvolvimento das

ações e serviços e as atividades de ensino e pesquisa (OLIVEIRA et al., 2011).

Dois aspectos caracterizam o câncer como um problema de saúde pública no Brasil.

Primeiro, o aumento gradativo da incidência e mortalidade por câncer, proporcionalmente ao

crescimento demográfico, o envelhecimento populacional e ao desenvolvimento

socioeconômico. Segundo, o desafio que isso representa para o sistema de saúde no sentido de

garantir-se o acesso pleno e equilibrado da população ao diagnóstico e tratamento dessa

doença (OLIVEIRA et al., 2011).

A Organização Mundial de Saúde ressalta a importância da detecção precoce do

câncer e enfatiza, também, que para um efetivo controle deve ser garantida uma atenção

integral ao indivíduo em todos os níveis, desde a prevenção, detecção precoce, diagnóstico e

tratamento até os cuidados paliativos (OMS, 2002). Nessa perspectiva, para melhor

compreender e controlar as doenças malignas os serviços de saúde devem ser eficientes,

eficazes e efetivos de forma a utilizarem os recursos disponíveis para o planejamento,

execução e avaliação das estratégias de controle do câncer (BRASIL, 2009).

Diante dos recursos disponíveis para o tratamento do câncer, um fator facilitador foi à

lei 11.664/2008 que garante acesso gratuito à mamografia reforçando o estabelecido pelo

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princípio do SUS: Direito universal a saúde. Democratizando o acesso ao tratamento

(BRASIL, 2010).

A mamografia é considerada o principal método diagnóstico do câncer em estágio

inicial, por possibilitar a detecção de alterações ainda não palpáveis, favorecendo um

tratamento mais efetivo e menos agressivo (SCLOWITZ et al., 2005).

O recomendado para controle do câncer da mama é o exame clínico anual das mamas,

a partir dos 35 anos, para mulheres que possuem riscos elevados (história familiar de câncer

de mama) e, a partir dos 40 anos, para as mulheres que não possuem história familiar de

câncer de mama e o exame mamográfico, a cada dois anos, para mulheres de 50 a 69 anos

(BRASIL, 2009).

O contexto atual do sistema de saúde evidencia como a rede de serviços de saúde no

país tem sido construída e implantada ao longo dos anos. No decorrer desse processo foi

considerada a lógica da oferta e não da necessidade de saúde da população. Isso resultou na

estruturação fragmentada da rede, caracterizada por comunicação insuficiente entre os

diferentes pontos de atenção, o que tem interferido na eficiência, eficácia e efetividade das

ações e serviços de saúde (CONASS, 2008).

A eficiência do sistema de saúde esta relacionada com a competência para se produzir

resultados com dispêndio mínimo de recursos e esforços. Eficácia, por sua vez, remete aos

resultados desejados de experimentos obtidos em condições controladas. Quanto à

efetividade, essa se relaciona com a capacidade do sistema em alcançar resultados pretendidos

(RIBEIRO, 2006).

Diante destas evidências, torna-se relevante conhecer as dificuldades e as facilidades

do fluxo de atendimento de usuárias do Sistema Único de Saúde (SUS) a fim de colaborar

para o fortalecimento de seu ordenamento e consequentemente promover mudanças positivas

para a redução da mortalidade por câncer de mama.

OBJETIVO

Descrever os fatores facilitadores e dificultadores do fluxo de atendimento para a

prevenção e o controle do câncer de mama, na perspectiva de usuárias de uma unidade

terciária da rede pública de saúde de Goiânia-Go.

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METODOLOGIA

Trata-se de uma pesquisa transversal analítica de abordagem quantitativa, executada

em uma unidade terciária de referencia no atendimento de doenças mamárias da rede pública

de saúde do município de Goiânia-GO, no período entre janeiro a abril de 2012.

Este estudo foi realizado como sub-projeto do projeto de pesquisa “Fluxo de

atendimento para a prevenção e o controle do câncer de mama na perspectiva de usuárias de

uma unidade terciária da rede pública de atenção a saúde de Goiânia-GO”, aprovado pelo

Comitê de Ética em Pesquisa do Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Goiás

(HC/UFG), sob o protocolo n. 162/2011.

Foram incluídas no estudo as usuárias do serviço, que atenderam aos seguintes

critérios: idade maior de dezoito anos; residência no município de Goiânia; diagnóstico de

câncer de mama; tratamento ambulatorial ou cirúrgico para o câncer de mama. Foram

considerados os seguintes critérios de exclusão para seleção dos sujeitos de pesquisa: ter

deficiência cognitiva e mental e ter abandonado o tratamento no período vigente da coleta de

dados da pesquisa.

Os procedimentos de operacionalização da pesquisa envolveram: 1) teste piloto para

ajustamento do instrumento de coleta de dados; 2) triagem dos sujeitos de pesquisa baseada

nos critérios de elegibilidade, por meio de leitura dos prontuários das usuárias agendadas no

ambulatório do PM; 3) convite às usuárias do PM para participação voluntária no estudo por

meio do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido – TCLE, em conformidade com o que

estabelece a legislação vigente na Resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde

(BRASIL, 1998); 4) preenchimento, juntamente com a participante, do questionário referente

dificuldades e facilidades do fluxo de atendimento para a prevenção e o controle do câncer de

mama; e 5) Análise e discussão dos dados.

Para atingir o objetivo proposto foram selecionadas as seguintes variáveis para o

estudo:

1) acessibilidade e acesso ao fluxo de atendimento – idade da 1ª consulta ginecológica

(anos), meios de agendamento de consulta na atenção básica;

2) Facilidades, dificuldades e fatores considerados indiferentes no fluxo de

atendimento – local de referência para exames, deslocamento para realizar exames, acesso

aos resultados dos exames, retorno ao médico, acesso à consulta especializada, tempo

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agendamento/consulta especializada, tempo para realizar os exames, início do tratamento,

tempo inicio/continuidade do tratamento, apoio do governo, continuidade do tratamento,

realizar exames na unidade hospitalar.

Para a análise dos dados utilizou-se como ferramenta os programas Microsoft Excel

2003 e SPSS Statistics 15.0. Os dados foram categorizados e apresentados em tabelas, com

frequência simples e percentual, sendo analisados por meio de procedimentos de estatística

descritiva.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

No período de coleta de dados foram elegíveis 107 usuárias da unidade de estudo, que

atenderam aos critérios de inclusão. Dentre essas, 102 consentiram voluntariamente em

participar na pesquisa e 5 se recusaram. Das 102 que aceitaram, as 10 primeiras fizeram parte

do teste piloto e as outras 7 foram excluídas em decorrência de perdas de informações durante

o procedimento de coletas de dados. Ao final, para a análise dos dados, totalizaram-se 85

participantes no estudo.

Entre as 85 usuárias da unidade de estudo que foram entrevistadas a idade média foi

de 56,26 anos idade, sendo que a menor faixa etária foi de 29 e maior de 82 anos. A maioria

delas apresentou entre 40 a 59 anos de idade (48 – 56, 4%).

Ao serem questionadas sobre a acessibilidade e ao acesso aos serviços de saúde, 87%

das participantes apontaram que realizaram avaliação ginecológica em idade fértil, entretanto,

menos da metade realizou avaliação das mamas na atenção básica. Sabe-se que o exame

clínico da mama (ECM) é parte fundamental da propedêutica para o diagnóstico de câncer.

Deve ser realizado como parte do exame físico e ginecológico, e constitui a base para a

solicitação dos exames complementares (BRASIL, 2009).

Para mulheres com idade entre 40 a 49 anos a rotina de rastreamento preconizada é a

realização anual do clínico da mama (ECM) e, nos casos alterados, a complementação com o

exame mamográfico. Mulheres de 50 a 69 anos a rotina de rastreamento preconizada é a

realização anual do ECM e da mamografia a cada dois anos (BRASIL, 2009).

À medida que as mulheres têm acesso mais fácil à consulta ginecológica e aos exames

complementares como a mamografia, preocupam-se menos com a prática do auto-exame e do

exame clinico das mamas (SCLOWITZ et al., 2005).

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Na figura 1 estão apresentadas as facilidades e as dificuldades percebidas pelas

entrevistadas em relação ao fluxo de atendimento para prevenção e o controle do câncer de

mama, assim como os fatores que foram considerados indiferentes por elas no processo de

atendimento.

Figura 1. Facilidades, dificuldades e fatores considerados indiferentes no fluxo de

atendimento na perspectiva das usuárias para prevenção e o controle do câncer de mama em

Goiânia-Go, 2012.

O tempo de início e continuidade do tratamento foi considerado a principal facilidade

e o acesso ao benefício previdenciário foi à dificuldade mais apontada pelas usuárias.

Com base em dados disponíveis em registros hospitalares, 60% dos tumores mamários

em média são diagnosticados em fases avançadas. Por isso a importância de obter facilidades

no início e continuidade do tratamento, para reduzir os estágios avançados da doença

(FOGAÇA, GARROTE, 2004).

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O SUS por tratar-se de um sistema novo, vem buscando estruturar-se, tanto do ponto

de vista organizacional, quanto dos recursos humanos (FADEL et al., 2009). O grande desafio

é proporcionar maior efetividade.

Identificou-se que uma das dificuldades apresentadas pela maioria das entrevistadas

em relação a seu fluxo de atendimento na rede de saúde tem relação com a baixa renda, pois o

apoio do governo no que tange a benefício previdenciário como auxílio doença foi apontado

como meio de garantia de deslocamento para realização de exames, consultas e tratamento e

compra de remédios. Esse fator foi apontado por 69,41% das entrevistadas.

O fluxo de atendimento de usuárias com câncer de mama ocorre da seguinte maneira:

através das unidades básicas de saúde, respeitando a área que a usuária habita e na ausência da

mesma o agendamento deverá ser realizado por telefone (FADEL et al., 2009). A consulta

poderá ser realizada por clínicos gerais, e o encaminhamento deve ser para o ginecologista ou

mastologista, caso os resultados dos exames apresentem alguma alteração, como sinais de

malignidade.

Os fatores apontados como principais facilitadores do fluxo de atendimento foram o

acesso à consulta especializada (69,41%), realização de exames na unidade hospitalar

(63,52%), acesso aos resultados dos exames (69,41%), início do tratamento (60%), tempo

entre inicio e continuidade do tratamento (74,1%) e continuidade do tratamento (61,17%). A

realização de exames na unidade hospitalar torna–se um fator facilitador, pois, o SUS

disponibiliza acesso gratuito à mamografia. Democratizando o acesso ao tratamento

(BRASIL, 2010).

Quanto aos fatores de deslocamento para realização de exames nas clínicas de

referência e localização geográfica das mesmas, chamou atenção o fato de haver um

percentual aproximado entre estes no que refere a facilidades (40% e 42,3%) e a dificuldades

(43,5% e 36,4%), respectivamente. Isto pode representar uma variação nos trajetos, realizados

pelas usuárias na rede de atenção a saúde, quanto ao fluxo de atendimento associado à

acessibilidade e ao acesso para prevenção e controle do câncer de mama.

Neste sentido, a localização do serviço e dos usuários, os meios de transporte

disponíveis, à distância, o tempo e o as dificuldades financeiras para o deslocamento devem

ser considerados, pois afetam a continuidade do tratamento (OLIVEIRA et al., 2011). Vale

destacar que a identificação precoce é um requisito importante para a redução das taxas de

mortalidade por câncer de mama.

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Os resultados revelam que as usuárias encontram dificuldades no fluxo de

atendimento. Entre as dificuldades apontadas estão àquelas relacionadas a fatores financeiros,

de deslocamento e negligência dos profissionais na realização do exame clínico das mamas

nas consultas ginecológicas. Porém de acordo com os dados das entrevistadas as facilidades

no fluxo de atendimento foram mais evidentes. Isso retrata que o SUS necessita de alguns

reajustes para um funcionamento eficiente.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Apesar dos dados analisados retratarem que o programa de prevenção ao câncer mama

em Goiânia-GO, encontra-se estruturado quanto ao fluxo de atendimento, ainda apresenta

grandes desafios no sentido de proporcionar maior efetividade.

O estudo mostra que a maior parte das dificuldades quanto ao atendimento foram

sobrepostas pelas facilidades identificadas pelas entrevistadas com menor influência de

fatores indiferentes no atendimento.

Isto reforça a relevância da integração entre os diferentes níveis de atenção para o

adequado funcionamento da rede de atenção a saúde, com vistas a garantir a efetividade do

Sistema Único de Saúde e a integralidade das ações de prevenção e o controle do câncer de

mama a todas as usuárias.

Nessa perspectiva, tornam-se necessárias abordagens inovadoras que levem a

conscientização profissional e a transformação da realidade do SUS que tem prosperado, mas

que ainda precisam ser melhoradas para obtermos o SUS que queremos e que cotidianamente

vem sendo construído por aqueles que nele acreditam.

REFERÊNCIAS

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e Manuais Técnicos de Atenção Primária. Brasília –DF. n. 29, p.1-97, 2010. Disponível

em: <http://189.28.128.100/dab/docs/publicacoes/cadernos_ab/abcad29.pdf>.Acesso 03

agosto de 2012.

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BRASIL. Ministério da Saúde. Conselho Nacional de Saúde. Resolução nº 196, de 10 de

outubro de 1996. Diretrizes e normas regulamentares da pesquisa envolvendo seres

humanos. Brasília. 1998, v.1, Jul.,p. 34-42. (Cadernos de ética em pesquisa). Disponível em:

<http://conselho.saude.gov.br/resolucoes/reso_96.htm>. Acesso 03 agosto de 2012.

BRASIL. Ministério da saúde. Instituto nacional do câncer Jose Alencar Gomes da Silva.

Coordenação Geral de Ações Estratégicas. Coordenação de Prevenção e Vigilância.

Estimativas 2012: incidência do câncer de mama no Brasil. Rio de Janeiro: INCA, 2011.

Disponível em: < http://www.inca.gov.br/estimativa/2012/index.asp?ID=5 >. Acesso 03

agosto de 2012.

BRASIL. Parâmetros para o rastreamento do câncer de mama: recomendações para

gestores estaduais e municipais. Rio de Janeiro: INCA, 2009. Disponível em: <

http://www1.inca.gov.br/inca/Arquivos/publicacoes/Parametros_Prog_e_rastreamento_Ca_de

_Mama_.pdf>. Acesso 03 agosto de 2012.

CONASS - Conselho Nacional de Secretários de Saúde. Oficina Rede de Atenção a Saúde

no SUS. Guia do participante. Secretaria de Estado da Saúde do Piauí. Teresina. 2008.

FADEL, C. B. et al. Administração Pública: o pacto pela saúde como nova estratégia de

racionalização das ações e serviços em saúde no Brasil. Rev. Adm. Pública. v. 43, n. 2,

p.445-56, 2009. Disponível em:< http://www.scielo.br/pdf/rap/v43n2/v43n2a08.pdf> . Acesso

03 de agosto de 2012.

FOGAÇA, E. I. C; GARROTE, L. F. Câncer de mama:atenção primária e detecção precoce.

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Acesso 03 agosto de 2012.

OLIVEIRA, E. X. G. et al. Acesso à assistência oncológica: mapeamento dos fluxos origem-

destino das internações e dos atendimentos ambulatoriais. O caso do câncer de mama. Cad.

Saúde Pública. v. 27, n.2, p. 317-326, 2011. Disponível em:

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OMS. Organização Mundial de Saúde. Cuidados inovadores para condições crônicas:

componentes estruturais de ação: Relatório Mundial / Organização Mundial da Saúde –

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Brasília, 2002. Disponível em:

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OMS. Organização Mundial de Saúde. Dados e análises sobre a mortalidade por câncer e

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<http://www.who.int/gho/ncd/mortality_morbidity/cancer/en/index.html >. Acesso 03 agosto

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PAULINELLI, R. R. et al. A situação do câncer de mama em Goiás, no Brasil e no mundo:

tendências atuais para a incidência e a mortalidade. Rev. bras. saúde matern. infant.,

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http://www.scielo.br/pdf/rbsmi/v3n1/a04v03n1.pdf>. Acesso 03 agosto de 2012.

RIBEIRO, E. A. W. Eficiência, efetividade e eficácia do planejamento dos gastos em saúde.

HYGEIA, Revista Brasileira de Geografia Médica e da Saúde, v. 2, n. 2, p 27-46, jun

2006. Disponível em: <http://www.hygeia.ig.ufu.br/>. Acesso 03 agosto de 2012.

SCLOWITZ, M. L. et al. Condutas na prevenção secundária do câncer de mama e fatores

associados. Rev. Saúde Pública. v. 39, n.3, p.340-9, 2005. Disponível em:

<http://www.scielo.br/pdf/rsp/v39n3/24786.pdf>. Acesso 03 agosto de 2012.

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Estudo estrutural da infecção por Candida albicans no epitélio urogenital do gerbilo

Meriones unguiculatus por microscopia de luz

Thálitta Hetamaro Ayala Lima1, Lucia Kioko Hasimoto Souza2, Fernanda Cristina Alcantara

dos Santos3, Josiane Faganello4

1Bolsista PIVIC, acadêmica do curso de Biomedicina, Instituto de Ciências Biológicas,

Universidade Federal de Goiás, Goiânia – GO; 2 Docente do Instituto de Patologia Tropical e

Saúde Pública/UFG, Goiânia – GO; 3Docente do Instituto de Ciências Biológicas/UFG,

Goiânia – GO, 4∗ Orientadora, docente do ICB/UFG, Goiânia – GO

Endereços eletrônicos: [email protected] e [email protected]

PALAVRAS – CHAVE : candidíase vulvovaginal, Candida albicans, modelo de infecção.

INTRODUÇÃO

A candidíase vulvovaginal (CVV) é causada principalmente por Candida

albicans, um fungo oportunista, que habita de forma comensal o trato gastrointestinal e

vaginal. A infecção pelo fungo pode estar relacionada com alguns fatores de predisposição

tais como: oscilações hormonais, gravidez, uso de contraceptivos orais, uso de antibióticos,

terapia de reposição hormonal, fase lútea do ciclo menstrual dentre outros (Sobel, 1992). A

infecção resulta de um crescimento anormal da levedura no trato genital.

A CVV afeta cerca de 75% das mulheres em idade reprodutiva e já é considerada

um problema de saúde pública sendo considerada a segunda infecção vaginal mais freqüente,

perdendo apenas para vaginites causadas por bactérias (Sobel, 1993; Sobel, 2007). A

candidíase vulvovaginal recorrente (RVVC) atinge de 5% a 10% das mulheres e consiste na

manifestação da doença mais de uma vez ao ano, sendo que geralmente a paciente apresenta

de 3 a 4 episódios/ano.

C. albicans apresenta a capacidade de se desenvolver em diferentes formas

(levedura, pseudo-hifa e hifa), enquanto C. glabrata apresenta forma de levedura e foi

demonstrado até o momento que pode formar pseudo-hifas apenas em condições de redução

de nitrogênio (Kaur et al ., 2005; Wells et al., 2007). Informações como genes expressos pelas

diferentes formas do fungo e características bioquímicas da parede celular têm sido de grande

∗ Texto revisado pela orientadora

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valia para o melhor entendimento dos mecanismos de adesão e invasão do fungo, bem como

da patogenicidade (Zhu e Filler, 2010).

Diversos estudos têm analisado os fatores relacionados com a patogenicidade da

levedura. Observou-se até o momento que a transição de levedura para hifa é essencial para a

virulência do fungo (Melo et al., 2003). A hifa mostra-se mais agressiva para causar danos nas

superfícies celulares do que as leveduras e isso ocorre devido a produção de enzimas líticas

como aspartil proteinases (SAPs) (Hube et al., 1997; Naglik et al., 2003). A presença de

estradiol estimula a transição da forma de levedura para hifas, podendo aumentar assim a

virulência do fungo (White e Larsen, 1997).

Pequenos mamíferos, principalmente os ratos Wistar e camundongos, foram até o

momento os animais mais utilizados como modelo de infecção por C. albicans devido à

similaridade morfofuncional com a espécie humana (Samaranayake e Samaranayake, 2001;

Yano e Fidel, 2011). O estabelecimento da candidíase vulvovaginal nos roedores depende de

um pseudoestro prolongado, geralmente induzido com 1,7-β – estradiol, o que demonstra uma

similaridade importante entre humanos e os modelos utilizados na experimentação animal

(Dennerstein e Ellis, 2001). Um dado importante a ser considerado é que na ausência dos

fatores de predisposição a CVV costuma ocorrer na fase luteal, quando a concentração de

estrógeno e progesterona estão altos (Carrara et al., 2010).

O roedor gerbilo (Meriones unguiculatus) tem sido adotado em experimentos

biológicos e biomédicos devido às semelhanças morfológicas e fisiológicas quanto ao sistema

reprodutor feminino deste animal com a espécie humana (Nolan et al., 1990). Contudo, até o

momento, nenhum estudo utilizou o gerbilo como modelo de infecção vaginal por C.

albicans. Em decorrência das semelhanças morfofuncionais, o presente estudo dedicou-se

também à análise da próstata do gerbilo fêmea. A próstata humana feminina foi

primeiramente descrita por Reinier de Graaf no século XVIII, demonstrando a homologia

com a próstata masculina (Zaviacic, 1999). Nas fêmeas essa glândula está localizada na

parede uretral e exibe as mesmas estruturas que a versão masculina: epitélio colunar

pseudoestratificado e os componentes celulares, enzimáticos e estromais necessários à sua

função (Custodio et al., 2004; Santos et al., 2006; Zaviacic et al., 2000).

Considerando o que há descrito na literatura sobre modelos de infecção com C.

albicans, este estudo procurou estabelecer um novo modelo de CVV in vivo, utilizando

fêmeas do gerbilo, que apresenta sistema reprodutor com características mais próximas ao de

humano, e avaliou os efeitos da interação do fungo com os tecidos do hospedeiro.

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OBJETIVOS

Objetivos gerais:

• Estudar os aspectos estruturais da adesão de C. albicans ao epitélio do trato urogenital

utilizando como modelo de infecção in vivo fêmeas do gerbilo Meriones unguiculatus.

Objetivos específicos:

• Desenvolver um modelo de infecção experimental por Candida albicans em sistema

reprodutor feminino utilizando fêmeas do gerbilo M. unguigulatus;

• Avaliar a adesão, a internalização de células e a formação de pseudo-hifas por C.

albicans no epitélio urogenital de fêmeas do gerbilo empregando microscopia de luz;

• Estudar os efeitos provocados sobre os tecidos dos diferentes órgãos do tratao genito-

urinário do hospedeiro após a interação com o fungo.

MATERIAIS E MÉTODOS

Migrorganismos e condições de cultivo

Foi utilizado um isolado de C. albicans proveniente de CVV humana e

identificado previamente por métodos bioquímicos. Os isolados foram cedidos pelo

Laboratório de Micologia do Instituto de Patologia Tropical e Saúde Pública da Universidade

Federal de Goiás, onde também foram mantidos. Os isolados foram cultivados em ágar

Sabouraud dextrose suplementado com 50 µmg/mL cloranfenicol e incubados a 30° C por 48-

72 horas.

Animais

As fêmeas de gerbilo (Meriones unguiculatus), utilizadas no experimento foram

provenientes do Centro de Bioterismo da Universidade Estadual Paulista, campus de São José

do Rio Preto (SP). Foram mantidas em caixas de polietileno, com substrato de maravalha, sob

condições controladas de luminosidade e temperatura média de 23°C, sendo fornecidas água

filtrada e ração “ad libitum”. Esta pesquisa foi aprovada pela Comissão de Ética no Uso de

Animais da UFG (Protocolo Nº 330/2010). Foram utilizadas 17 fêmeas adultas (com

aproximadamente 120 dias de idade) pesando em torno de 50-60 g.

Capa Índice 8583

Page 14: ItALO tELES MACHADO

Infecção experimental do trato urogenital

Para estabelecer a infecção, foi feita uma aplicação intravaginal de 20 µL da suspensão

da levedura em cada animal. Essa suspensão foi preparada em solução salina estéril na

concentração de 5x108 células/mL. A manutenção da infecção foi monitorada semanalmente

por três semanas depois da indução da infecção. Com o auxílio de micropipeta, foram

introduzidos 100 µL de solução salina estéril na vagina e imediatamente removidos. Parte

deste volume foi espalhado em placas de Petri contendo ágar Sabouraud dextrose com

clorafenicol, que foram incubadas por 48-72 h a 30°C. Considerou-se infecção positiva

quando pelo menos uma colônia cresceu em cada contagem e a média de todas as culturas de

cada gerbilo foi maior ou igual a 100 UFC/mL (Damke et al.,2010). Também foi realizado

espalhamento de 10 µL do lavado vaginal das fêmeas em lâminas de vidro semanalmente

durante o período de infecção e antes do sacrifício. O material foi corado com azul de

toluidina e observado em microscópio de luz para visualizar as características das células

descamadas e verificar a presença de leveduras, hifas e leucócitos.

Os animais foram eutanaziados três semanas após a infecção com overdose de

anestésicos (Cetamina e Xilazina). A vagina, a uretra, a bexiga, o útero e a próstata foram

coletadas e devidamente fixados, conforme descrito a seguir, para análise em microscopia de

luz.

Grupos experimentais

As fêmeas de gerbilo foram divididas em três grupos:

• Grupo 1: Quatro (04) fêmeas foram utilizadas. Os animais deste grupo foram

inoculados (aplicação intravaginal) com C. albicans uma vez por semana, durante 21 dias. A

primeira inoculação foi durante a fase de estro. Os animais foram eutanasiados após este

período.

• Grupo 2: Nove (09) fêmeas foram utilizadas. Os animais deste grupo receberam uma

aplicação semanal subcutânea de 0,1 mg de beta-estradiol por 4 semanas e foram inoculados

apenas uma vez com C. albicans, uma semana após a primeira aplicação de hormônio. Os

animais foram eutanasiados 21 dias após a inoculação com a levedura.

• Grupo 3 (controle) : Quatro (04) fêmeas foram utilizadas. Estes animais receberam

uma aplicação semanal de 0,1 mg de beta-estradiol por 4 semanas mas não foram inoculados

com a levedura.

Capa Índice 8584

Page 15: ItALO tELES MACHADO

Análise em microscopia de luz

O material coletado foi fixado por 3 horas em solução contendo 60% de metanol,

30% de clorofórmio e 10% de ácido acético. Após desidratação do material em concentrações

crescentes de etanol, o material foi diafanizado em xilol e incluído em parafina histológica

(Histosec - MERK). Foram produzidos cortes de 5µm em micrótomo rotativo a partir do

material incluído. Estes cortes foram coletados em lâminas de vidro.

Após desparafinização as lâminas foram coradas com hematoxilina e eosina (HE)

ou com ácido periódico e reativo de Schiff (PAS). As lâminas foram montadas com lamínula

usando bálsamo do Canadá ou Entellan (Merck). O material foi analisado em microscópio

Leica CME com sistema de captação de imagens Leica DFG 300 FX e as imagens

digitalizadas com o software Leica Application Suite V 2.8.1.

RESULTADOS

Observação do lavado vaginal e cultivo para controle da infecção

O espalhamento do lavado vaginal das fêmeas dos grupos 1 e 3 foi sempre negativo

para a presença de hifas ou leveduras. No grupo 2 foi observada a presença de hifas

juntamente com células epiteliais características da fase estro (células queratinizadas e sem

núcleo) nos diferentes momentos de coleta de material (Figura 1A).

Para o grupo 1, todas as culturas realizadas a partir de lavado vaginal foram negativas.

As culturas do lavado vaginal foram positivas (UFC ≥ 100 leveduras/mL) para as fêmeas do

grupo 2, que receberam hormônio beta-estradiol. O exemplo de um cultivo positivo está

representado na Figura 1B.

Figura 1. Confirmação da infecção por C. albicans. A partir de lavado vaginal foram observadas inúmeras colônias em cultivo (A) e a presença de hifas e esporos (setas amarelas) e células epiteliais da vagina (setas pretas) na lâmina corada com azul de toluidina (B, objetiva 40x).

Capa Índice 8585

Page 16: ItALO tELES MACHADO

Análise dos tecidos por microscopia de luz

Foram realizadas análises comparativas entre os três grupos experimentais para cada

um dos órgãos estudados: vagina, útero, uretra, bexiga e próstata.

O grupo 1, constituído de fêmeas apenas inoculadas com C. albicans, sem tratamento

hormonal, não apresentou alterações significativas nos tecidos dos órgãos estudados, sendo

observadas apenas características histológicas normais, conforme exemplos ilustrados na

Figura 2.

O grupo 2, constituído de fêmeas tratadas com hormônio e inoculadas com C.

albicans, apresentou algumas alterações histológicas importantes. O útero apresentou

polimorfonucleares em grande quantidade no tecido conjuntivo e no epitélio de revestimento

(Figura 3A e 3B). O epitélio estratificado pavimentoso da vagina apresentou grande

quantidade de queratina na superfície, indicativo da presença de estro no momento do

sacrifício dos animais, mantido com a aplicação de estradiol, além de polimorfonucleares no

epitélio e na luz do órgão (Figura 3C e 3D).

Figura 2. Cortes histológicos de vagina (A), útero (B), bexiga (C) e próstata (D). Observar o aspecto normal dos epitélios estratificado pavimentoso, cilíndrico, misto ou polimorfo e colunar pseudoestratificado, respectivamente, em A-D. HE, objetiva 40x.

Capa Índice 8586

Page 17: ItALO tELES MACHADO

Na próstata foi observada a presença de leucócitos na secreção dos alvéolos

prostáticos, além de espessamento do epitélio e intensa vascularização (Figura 4). Em todos

estes órgãos citados foi observada vascularização maior no tecido conjuntivo adjacente ao

epitélio de revestimento interno do órgão, bem como um número maior de capilares

sanguíneos.

Nos órgãos vagina e útero dos animais do grupo 3, somente tratados com estradiol,

foram observadas algumas características histológicas semelhantes àquelas observadas no

grupo 2, conforme visualizado na Figura 5 (A-C). Porém, observou-se que o processo

inflamatório foi mais intenso no grupo de animais tratados com hormônio e infectados com C.

albicans (grupo 2, figura 3). Na próstata das fêmeas deste grupo 3 não foi observada a

presença de leucócitos na secreção (Figura 5D).

Figura 3. Micrografias representativas do útero (A e B) e vagina (C e D) das fêmeas tratadas com estradiol e infectadas com C. albicans. Observar a presença de muitos polimorfonucleares no epitélio uterino e no tecido conjuntivo (setas pretas) em A –B e os polimorfonucleares presentes na cavidade vaginal (setas pretas, C) e no epitélio de revestimento do órgão (setas pretas, D). Presença de queratina espessa na superfície do epitélio vaginal (seta branca). A, B e C: HE, D: PAS.

Capa Índice 8587

Page 18: ItALO tELES MACHADO

Figura 4. Cortes histológicos representativos da próstata das fêmeas tratadas com estradiol e inoculadas com C. albicans. Em A, imagem em menor ampliação mostrando os alvéolos prostáticos. Em B e C é possível observar a presença de grande quantidade de leucócitos na secreção (setas vermelhas). Em C e D, intensa vascularização, com capilares grandes (setas amarelas) e o espessamento do epitélio alveolar com presença de leucócitos (setas pretas). PAS.

Figura 5. Micrografias representativas da vagina (A), útero (B e C) e próstata (D) das fêmeas tratadas apenas com estradiol. A presença de queratina na luz da vagina (seta branca, A) indicativa do estado de estro, presença de polimorfonucleares no epitélio uterino (setas pretas, B e C) e a ausência de leucócitos na secreção prostática (seta vermelha, D). HE (A, B e D), PAS (C).

Capa Índice 8588

Page 19: ItALO tELES MACHADO

Em bexiga e uretra dos animais dos três grupos estudados, não foram observadas

alterações histológicas significativas. Na Figura 6 estão ilustrados os cortes histológicos da

bexiga dos grupos 2 e 3. As variações morfológicas observadas nas imagens da Figura 6 entre

os grupos são normais para este tecido.

Nos cortes histológicos obtidos até o momento, não foi observada a presença de

leveduras ou hifas nos tecidos dos animais estudados, portanto ainda não foi possível avaliar

as características de interação do fungo com o hospedeiro. A metodologia de coloração por

ácido periódico e reativo de Schiff (PAS), empregada para a observação de polissacarídeos e

que ajudaria na identificação de hifas ou leveduras, demonstrou resultados semelhantes aos

obtidos com hematoxilina e eosina (HE).

DISCUSSÃO

Considerando-se a importância dos estudos a respeito de CVV, este trabalho, buscou

desenvolver um modelo de infecção in vivo utilizando fêmeas do gerbilo Meriones

unguiculatus, importante modelo de estudo do sistema reprodutor. Com base no modelo

desenvolvido, procurou-se também avaliar as alterações histológicas presentes nos tecidos do

hospedeiro frente à presença do fungo, a adesão de células e a formação de pseudo-hifas por

C. albicans utilizando microscopia de luz.

As características de inflamação de tecidos, como a presença de polimorfonucleares no

epitélio e aumento da vascularização do tecido conjuntivo, observada nos tecidos da vagina,

Figura 6. Cortes histológicos de bexiga das fêmeas do grupo 2 (em A) e grupo 3 (em B). Observar o epitélio misto ou polimorfo e o tecido conjuntivo com características normais. Os capilares sanguíneos observados no tecido conjuntivo também apresentam aspecto normal. HE.

Capa Índice 8589

Page 20: ItALO tELES MACHADO

útero e próstata das fêmeas do grupo tratado com estradiol e inoculado com C. albicans

(grupo 2) é indicativo de que a interação do fungo com os tecidos do hospedeiro provocou um

processo inflamatório maior do que aquele observado em decorrência do uso apenas de

hormônio estradiol (grupo 3). A diferença entre os efeitos do hormônio e do hormônio

associado à infecção pôde ser observada mais claramente nas análises histológicas da próstata.

Segundo Harriott et al. (2010), nas mulheres suscetíveis, a CVV sintomática está

associada com uma migração agressiva de neutrófilos para a vagina e uma subsequente

resposta inflamatória se inicia pela interação de C. albicans com as células epiteliais vaginais.

Tal resposta inflamatória não desempenha papel protetor, mas parece estar relacionado com o

aparecimento de sintomas da infecção. A proteção contra a infecção é não inflamatória,

enquanto a susceptibilidade a infecção está associada com resposta inflamatória mediada por

polimorfonucleares que está diretamente correlacionado com o aparecimento de sintomas nas

vaginitis (Fidel, 2005).

Os dados obtidos para estes grupos descritos ainda foram comparados com as análises

realizadas anteriormente em outro trabalho para fêmeas não tratadas com hormônio e não

inoculadas com C. albicans (dados não mostrados). Essa análise comparativa reforçou as

observações descritas acima sobre as alterações histológicas provocadas em presença de

estradiol e, principalmente, estradiol e inoculação com C. albicans.

Neste trabalho observou-se que, na ausência de estradiol, não houve positividade para

o cultivo do lavado vaginal. Com a aplicação semanal subcutânea de 0,1 mg de beta-estradiol

foi possível manter a infecção nas fêmeas de gerbilo por 4 semanas e houve recuperação de

células a partir do lavado vaginal. Estudos prévios descreveram que a infecção em

camundongos persiste por períodos maiores apenas em presença de estradiol, e que a infecção

é suprimida quando o tratamento com hormônio cessa (Fidel et al., 2000). Acredita-se que o

estrógeno seja o fator primário na suscetibilidade à vaginite durante a fase luteal do ciclo

menstrual, mesmo com altos níveis de progesterona presentes neste momento (Fidel et al.,

2000). Além disso, altos níveis de hormônios femininos aumentam a disponibilidade de

glicogênio no ambiente vaginal, o qual serve como excelente fonte de carbono para o

crescimento e a germinação das leveduras (Sobel, 1990).

Na análise das imagens ao microscópio de luz não se encontrou nenhuma indicação de

adesão do fungo ao epitélio, nenhuma hifa foi visualizada, sendo a confirmação da infecção

feita através do resultado positivo para o cultivo do lavado vaginal, conforme já descrito em

outros trabalhos (Damke, et al., 2010; Yano e Fidel, 2011). Em análises realizadas com

Capa Índice 8590

Page 21: ItALO tELES MACHADO

microscopia eletrônica de varredura observou-se a presença de hifas na luz da vagina de

fêmeas de gerbilo tratadas com estradiol e infectadas com C. albicans (dados não mostrados).

A observação de hifas é importante porque as hifas têm maior capacidade de aderir e

penetrar nas células epiteliais humanas do que os blastoconídios (Hammer et al., 2000; Odds

et al., 1988). Segundo estudos, apenas as pontas das hifas em crescimento e não os

blastósporos parecem penetrar diretamente na superfície das células epiteliais (internalização)

e em suas junções (tigmotropismo) (Jayatilake et al., 2005 ; Vitkov et al., 2002). Percebe-se

então, que há a necessidade de aprofundar os estudos de microscopia de luz e utilizar outras

metodologias como imunohistoquímica e microscopia eletrônica de transmissão.

CONCLUSÕES

Até o momento não se observou a presença de C. albicans nos cortes histológicos

estudados. Porém, mais cortes histológicos do material preparado precisam ser analisados

para que se possa avaliar a viabilidade da técnica para o estudo da interação do fungo com os

tecidos. O uso de métodos imunohistoquímicos que identifiquem o fungo nos tecidos também

poderá auxiliar na caracterização dos achados histológicos.

Este foi o primeiro estudo que investigou os efeitos da infecção por C. albicans sobre

a próstata feminina e que avaliou características dos tecidos do hospedeiro durante a infecção.

O modelo de infecção foi desenvolvido e com os dados obtidos neste trabalho verificou-se

que, apesar do uso de estradiol provocar alterações nas características do epitélio vaginal que

podem atrapalhar os estudos de interação patógeno-hospedeiro, o desenvolvimento de

infecção no modelo experimental depende do uso deste hormônio também em fêmeas de

gerbilo. Além disso, este modelo poderá ser utilizado para desenvolver estudos mais

aprofundados sobre CVV e a próstata feminina.

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Capa Índice 8593

Page 24: ItALO tELES MACHADO

UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS

INSTITUTO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS

Goiânia, 01 de julho de 2012.

Aos examinadores do relatório final PIBIC/PIVIC,

Venho por meio desta justificar as alterações realizadas no projeto da aluna Thalitta

Hetamaro Ayala Lima, bolsista PIVIC, no decorrer das atividades e consequente alteração do

plano de trabalho inicial da aluna.

1. No plano de trabalho inicial, estava prevista a realização de análises por microscopia

eletrônica de transmissão. Como a instalação do microscópio eletrônico de

transmissão no Laboratório Multiusuário de Microscopia de Alta Resolução da UFG

foi concluída somente no mês de junho deste ano, a aluna Thalitta Hetamaro Ayala

Lima desenvolveu as atividades previstas inicialmente para o plano de trabalho de

Camila Vilela de Oliveira (que foi desvinculada do programa logo no início do

periodo), sem prejuízos para o seu desempenho e aprendizado como iniciação

científica.

2. O estudo comparativo da infecção por Candida albicans e C. glabrata não foi

realizado em função da dificuldade inicial e demora para estabelecer o modelo de

infecção, dados estes não mostrados em detalhes no relatório.

Se necessário, estou à disposição para maiores esclarecimentos.

Atenciosamente,

Profª Josiane Faganello

Instituto de Ciências Biológicas

Capa Índice 8594

Page 25: ItALO tELES MACHADO

VARIABILIDADE ESPACIAL DE PROPRIEDADES QUÍMICAS DE SOLOS SOB

PASTAGEM

ANDRADE, Tiago Henrique de(1); NUNES, Guilherme Henrique da Costa(2); SANTOS,

Felipe Corrêa Veloso dos(3); CORRECHEL, Vladia(4)

Escola de Agronomia e Engenharia de Alimentos – Universidade Federal de Goiás

[email protected]; 2guilhermenunes. [email protected]; [email protected];

[email protected]

Palavras-chave: Fertilidade do solo, Latossolo Vermelho Distrófico, Geoestatística.

___________________________

Revisado pela orientadora

Identificação dos autores:

1Orientando: Graduando do curso de Agronomia da Universidade Federal de Goiás.

PIVIC/CNPq. 2Graduando do curso de Agronomia da Universidade Federal de Goiás. PIVIC/CNPq. 3Doutorando do Curso de Pós-Graduação em Agronomia (Solo e Água). Bolsista CNPq e

Capes. 4Orientadora: Engenheira Agrônoma, Drª., Professora Adjunto III da Área de Solos da Escola

de Agronomia e Engenharia de Alimentos da Universidade Federal de Goiás. Caixa Postal

131, CEP: 74690-900, Goiânia, GO.

Capa Índice 8595

Anais do Congresso de Pesquisa, Ensino e Extensão- CONPEEX (2012) 8595 - 8606

Page 26: ItALO tELES MACHADO

1 Introdução

Uma característica importante da pecuária brasileira é ter a maioria de seu rebanho

criado a pasto (Ferraz e Felício, 2010), que se constitui na forma mais econômica e prática de

produzir e oferecer alimentos para os bovinos. Em função dessa realidade, o Brasil tem um

dos menores custos de produção de carne do mundo (Carvalho et al. 2009; Deblitz, 2009;

Ferraz e Felício, 2010).

Com o decorrer do desenvolvimento de novas técnicas de manejo do rebanho e uso de

áreas que antes eram consideradas inutilizáveis para agricultura, a pecuária se instalou no

cerrado brasileiro. Atualmente a área ocupada por pastagens cultivadas é cerca de 54,2

milhões de hectares na região do Cerrado, isso representa 26,4% da superfície desse bioma

(Sano et al., 2008).

Apesar da grande importância para o sucesso da criação de bovinos, as áreas

destinadas à produção de pastagens vêm sofrendo rápida e acentuada diminuição em seu

potencial produtivo, isso devido à aceleração dos processos de degradação do solo que muitas

vezes inviabilizam o cultivo de forrageiras na área e consequentemente a atividade pecuária,

onde 80 % das pastagens do Brasil Central apresentarem-se com algum grau de degradação

(Yokoyama, 1995).

Após pastejo intensivo, Tanner & Mamaril (1959) encontraram redução de 20% na

produção de pastagens. Isso se dá pelo fato de o sistema radicular das plantas responderem a

valores críticos, a partir dos quais se iniciam restrições ao seu crescimento.

A produtividade agropecuária é influenciada, dentre outros fatores, pelas propriedades

químicas, físicas e biológicas dos seus solos, ou seja, pela fertilidade dos mesmos, podendo o

solo ser naturalmente fértil ou se tornar fértil através do manejo adequado (SANTOS et al.,

2010). Assim se torna fundamental o manejo correto do solo a fim de se manter a fertilidade

natural ou até mesmo promover incremento de fertilidade a esses solos onde são cultivadas as

forrageiras.

A geoestatística pode ser definida como conjunto de técnicas estatística que visam a

solução de problemas de estimativa envolvendo variáveis espaciais (ASCE, 1990). O uso da

geoestatística pode apontar pontos falhos dentro de uma área de pastagem possibilitando

assim uma correção pontual, seja física ou química, com maior eficiência na utilização de

insumos e consequente redução nos custos de recuperação e manutenção de pastagens

degradadas. Por isso, compreender o comportamento e a distribuição espacial da fertilidade

Capa Índice 8596

Page 27: ItALO tELES MACHADO

do solo (Silva et al., 2010) sob pastagens pode auxiliar as tomadas de decisão sobre o manejo

mais adequado das mesmas pelo pecuarista ou produtor.

2 Objetivos

O trabalho realizado teve como objetivo caracterizar e avaliar a variabilidade espacial da

fertilidade de um Latossolo Vermelho distrófico sob pastagens e mata em Goiânia – GO.

3 Metodologia

As amostragens foram realizadas em uma pastagem localizada na Escola de

Veterinária e Zootecnia da Universidade Federal de Goiás, no município de Goiânia – GO,

nas coordenadas geográficas: latitude 16°35’12” S, longitude 49°21’14” W, altitude 730m. O

clima da região se caracteriza pelo tipo Aw (quente e semi-úmido, com estação seca bem

definida de Maio à Setembro), temperatura média em torno de 22,3ºC, umidade relativa do ar

média 87%, de acordo com a classificação de Köppen.

O solo em que foram realizadas as amostragens foi caracterizado com Latossolo

Vermelho distrófico, com textura média e relevo suavemente ondulado (Brasil, 1992;

Embrapa, 1999).

Para realização das amostragens, na área foram delimitadas dez transeções paralelas

(figura 1) entre si, acompanhando o declive da área no sentido do ponto mais alto ao mais

baixo finalizando assim no interior da mata, na área experimental há uma voçoroca que se

iniciou nos dois primeiros pontos da terceira transeção até o terceiro ponto da quarta

transeção, cada transeção possui 5 pontos de coleta de solo, totalizando assim 50 pontos de

amostragem, sendo esses 40 localizados na pastagem e voçoroca e 10 localizados no interior

da mata.

Em todos os pontos das transeções foram coletadas as coordenadas geográficas com

auxílio de técnicas de localização através do sistema de posicionamento global (GPS), nesse

caso um aparelho de navegação para posteriormente gerar os dados de variabilidade na área,

para obtenção de uma malha regular e paralela foi usado uma trena para demarcação dos

pontos distantes 21 metros entre si, por fim foram obtidos 50 pontos com coordenadas X e Y.

Em cada ponto das transeções foram coletadas duas amostras deformadas, sendo uma

amostra na profundidade de 0-20 cm e outra 20-40 cm onde as mesmas foram armazenadas

em saco plástico, e logo em seguida encaminhadas ao Laboratório de Física do solo da

Capa Índice 8597

Page 28: ItALO tELES MACHADO

Universidade Federal de Goiás, com isso totalizando a quantidade de 100 amostras coletadas

na área.

Figura 1. Esquema de amostragem nos diferentes usos do solo.

Após coletadas e secas ao ar, as amostras de solos foram destorroadas e passadas em

peneiras de 2 mm de abertura de malha, obtendo-se a terra fina seca ao ar (TFSA), após esse

processo as amostras foram encaminhadas ao Laboratório de Análise de Solo e Foliar da

Escola de Agronomia e Engenharia de Alimentos – UFG, a partir da qual foram realizadas as

análises químicas, como preconiza o Sistema manual de Métodos Analíticos da Embrapa

(1997). Obtendo-se assim os resultados dos teores de Cálcio (Ca), Magnésio (Mg), Fósforo

(P), Potássio (K), Saturação por bases (V%) e Capacidade de troca de cátions (CTC).

A variabilidade dos atributos químicos foi avaliada pela análise exploratória dos

dados, onde foi calculado média, máximo, mínimo, amplitude e coeficiente de variação,

sendo as profundidades de 0-20 cm e 20-40 cm calculadas separadamente. A dependência

espacial foi analisada por meio de ajustes de semivariogramas (VIEIRA et al., 1983;

ROBERTSON, 1998), com base na pressuposição de estacionariedade da hipótese intrínseca,

a qual é estimada por:

Capa Índice 8598

Page 29: ItALO tELES MACHADO

Em que N (h) é o número de pares experimentais de observações Z(xi) e Z (xi + h) separados

por uma distância h. O semivariograma é representado pelo gráfico versus h. Do ajuste de um

modelo matemático aos valores calculados são estimados os coeficientes do modelo teórico

para o semivariograma (o efeito pepita, C0; patamar, C0+C1; e o alcance, a). Os modelos de

semivariogramas considerados foram o esférico, o exponencial, o linear e o gaussiano. Para

realização desses cálculos foi utilizado o software GS + 7 (Geostatistcs for the Environmental

Sciences).

3 Resultados e Discussão

Na tabela 1, são apresentados os dados da análise exploratória que foi realizada, sendo

estes: média, valor mínimo, valor máximo, amplitude e coeficiente de variação (CV%), dos

seguintes atributos químicos: Cálcio, Magnésio, Fósforo, Potássio, V% e CTC.

Foi observado que os teores de cálcio foram maiores nas duas profundidades

amostradas no solo de voçoroca, sendo a média 1,1 cmolc/dm3 na profundidade de 0-20 cm e

0,9 cmolc/dm3 na profundidade de 20-40 cm, os valores de máximo e mínimo nas

profundidades de 0-20 e 20-40 cm foram de 0,2 cmolc/dm3 e 2,6 cmolc/dm3 e 0,2 cmolc/dm3

e 4,2 cmolc/dm3 respectivamente.

O menor teor de cálcio encontrado foi no solo de mata onde foi encontrado a média

de 0,5 cmolc/dm3 à 0-20 cm de profundidade e 0,4 cmolc/dm3 na profundidade de 20-40 cm.

Resultado que entra em desacordo com encontrado por Gomide et al. (2011), que verificou

que a remoção da camada superficial e subsuperficial do solo e, consequentemente, da

vegetação, os teores de P, K, Ca, Mg e MOS e os valores de soma de bases (SB), CTC total

(T) e CTC efetiva (t), foram significativamente reduzidos pelo processo erosivo.

Os maiores valores de magnésio encontrados nas amostras foram relacionados aos

pontos situados no solo de voçoroca obtendo a média de 0,8 cmolc/dm3 na profundidade 0-20

cm, 0,6 cmolc/dm3 a 20-40 cm de profundidade, os menores valores foram encontrados no

solo de mata sendo 0,3 cmolc/dm3 em média a 0-20 cm e 0,2 cmolc/dm3 a 20-40 cm,

condizendo com encontrado por Carneiro et al. (2009), que encontrou 0,2 cmolc/dm3 em

Latossolo Vermelho distrófico sob vegetação nativa, os valores encontrados na pastagem

foram próximos ao encontrado por Moreira et al. (2004), que verificaram em pastagem

Capa Índice 8599

Page 30: ItALO tELES MACHADO

degradada teores de Ca + Mg na média de 0,6 cmolc/dm3 na profundidade de 20-40 cm.

Tabela 1.Valores médio, mínimo e máximo das propriedades químicas do Latossolo Vermelho

sob pastagem no campus experimental da Escola de Veterinária da UFG.

Pastagem (profundidade 0-20 cm) Estatística Ca¹ Mg² P³ K4 V%5 CTC6

Média 0,8 0,4 0,5 33,7 31,7 3,9 Mínimo 0,2 0,2 0,3 26 13,4 2,6 Máximo 2,6 1,1 0,8 72 65,2 6,3

Amplitude 2,4 0,9 0,5 46 51,8 3,7 CV, % 0,7 0,6 0,4 0,3 0,41 0,2

Pastagem (profundidade 20-40 cm) Média 0,6 0,3 0,5 29,5 28 3,6

Mínimo 0,2 0,1 0,3 25 12 2,6 Máximo 4,2 0,7 1,7 42 77,3 7,5

Amplitude 4,0 0,6 1,4 17 65,3 4,9 CV, % 1,07 0,44 0,5 0,11 0,41 0,25

Mata (profundidade 0-20 cm) Média 0,5 0,3 0,5 38,9 21,3 3,9

Mínimo 0,1 0,1 0,3 26 7,1 2,8 Máximo 1,5 0,7 0,8 59 43,1 5,5

Amplitude 1,4 0,6 0,5 33 36,0 2,7 CV, % 0,97 0,62 0,43 0,28 0,41 0,25

Mata (profundidade 20-40 cm) Média 0,4 0,2 0,4 38,4 17,8 3,9

Mínimo 0,1 0,1 0,3 27 10,2 2,3 Máximo 1,1 0,5 0,6 77 40,1 4,8

Amplitude 1,0 0,4 0,3 50 29,9 2,5 CV, % 0,88 0,52 0,36 0,38 0,51 0,2

Voçoroca (profundidade 0-20 cm) Média 1,1 0,8 0,4 39,3 55 3,6

Mínimo 0,9 0,7 0,3 28 51 3,5 Máximo 1,3 0,8 0,6 54 59,9 3,7

Amplitude 0,4 0,1 0,3 26 8,9 0,2 CV, % 0,18 0,07 0,43 0,33 0,08 0,03

Voçoroca (profundidade 20-40 cm) Média 0,9 0,6 0,6 34,7 52,9 3,1

Mínimo 0,8 0,5 0,3 26 49,7 2,8 Máximo 1,1 0,7 0,8 45 57,8 3,3

Amplitude 0,3 0,2 0,5 19 8,1 0,5 CV, % 0,16 0,17 0,45 0,27 0,08 0,08

CV,% = Coeficiente de variação. 1 Cálcio. 2 Magnésio.3 Fósforo. 4 Fósforo. 5 Potássio. 6 Saturação por bases. 7 Capacidade de troca de cátions. Os valores de fósforo encontrados na profundidade de 0-20 cm foram maiores na

pastagem e pontos da mata sendo 0,5 mg/dm3, na profundidade de 20-40 cm foram maiores

nos pontos situados na voçoroca sendo 0,6 mg/dm3, valores parecidos foram encontrados por

Capa Índice 8600

Page 31: ItALO tELES MACHADO

Pereira et al. (2011), que obtiveram em média 0,86 mg/dm3 de fósforo em voçoroca instalada

em Latossolo Vermelho distrófico típico.

Os teores de potássio encontrados a 0-20 cm de profundidade foram parecidos quando

comparamos as amostras do solo de mata com as amostras da voçoroca sendo em média 38,9

mg/dm3 e 39,3 mg/dm3 respectivamente, logo na profundidade de 20-40 cm os teores foram

maiores no solo de mata com 38,4 mg/dm3, sendo maiores que os teores na pastagem 29,5

mg/dm3 e na voçoroca 34,7 mg/dm3.

Os valores médios de saturação por bases (V%) encontrados no solo de pastagem

foram de 31,7 % a 0-20 cm e 28 % a 20-40 cm, Segundo Raij et al. (1996), é classificado

como baixo valor para cultivo de forrageiras, que possivelmente foi causado pelas altas taxas

de lotação e falta de manejo da pastagem aliado à falta de correção do solo. Os maiores

valores encontrados foram nas amostras da voçoroca sendo 55% de 0-20 cm e 52,9 % de 20-

40 cm de profundidade, os menores valores foram encontrados na mata com 21,3 % de 0-20

cm e 17,8 % de 20-40 cm. Carneiro et al. (2009), também encontraram valores baixos das

bases cálcio, magnésio, potássio em mata nativa, sendo 0,14 cmolc/dm3, 0,2 cmolc/dm3, 23,0

mg/dm3 respectivamente, consequentemente resultando em baixa saturação por bases.

A capacidade de troca de cátions corresponde à soma das cargas negativas no solo

retendo os cátions, tais como cálcio, magnésio, potássio, sódio, alumínio e hidrogênio. No

presente trabalho os valores encontraram foram próximos quando comparados entre si, visto

que as amostras da mata apresentaram valores maiores (tabela 1), isso possivelmente devido a

área não apresentar manchas de solo, assim possuindo a mesma classe textural que é um dos

fatores determinantes na constituição da CTC, quanto ao valor da mata pode ser devido ao

acréscimo de matéria orgânica que ocorre na área com a deposição de folhas aumentando

assim os valores da CTC.

O uso dos semivariogramas para a análise geoestatística permitiu verificar a presença

de dependência espacial nas propriedades analisadas, a partir de parâmetros de ajuste do

modelo matemático que melhor ilustrasse o comportamento espacial da variável em função da

distância. Os semivariogramas experimentais apresentaram patamares definidos e ajustaram-

se em todos os modelos (Esférico, Gaussiano, Exponencial e Linear).

Segundo Cambardella et al. (1994), considera-se dependência espacial forte quando a

razão é inferior ou igual a 25%, dependência espacial moderada, quando a razão é superior a

25% e inferior ou igual a 75%, e dependência fraca, quando a razão é maior que 75%. As

análises do grau de variabilidade dos atributos químicos mostraram grau de dependência

espacial variando entre forte e moderado, apenas fósforo na profundidade de 0-20 cm e 20-40

Capa Índice 8601

Page 32: ItALO tELES MACHADO

cm mostrou fraca dependência espacial, o que é observado nas Tabelas 2 e 3, também na

Figura 1 que mostras os semivariogramas gerados.

Tabela 2. Parâmetros dos modelos (Co, Co + C1 e alcance), grau da variabilidade [(Co/(Co + C1)x100] , R2 e modelos dos semivariogramas ajustados aos atributos químicos de um Latossolo sob pastagem, mata e voçoroca na profundidade de 0-20 cm.

Atributo Efeito Pepita (C0)

Patamar (C0+ C1)

[C0 /(C0 + C1)] x 100 IMA Alcan

ce Modelo R²

Ca1 0,027000 0,356000 7,58 9,644E-04 41,40 Exponencial 0,591

Mg2 0,023500 0,076300 30,8 2,669E-05 104,80 Esférico 0,965

P3 0,036043 0,036043 100 1,444E-05 113,66 Linear 0,085

K4 82,800000 205,600000 40,27 215, 822,60 Exponencial 0,729

V%5 89,600000 241,300000 37,13 686, 94,80 Esférico 0,888

CTC6 0,009000 0,614000 1,46 0,0211 42,90 Exponencial 0,164

1 Cálcio. 2 Magnésio.3 Fósforo. 4 Fósforo. 5 Potássio. 6 Saturação por bases. 7 Capacidade de troca de cátions.

Tabela 3. Parâmetros dos modelos (Co, Co + C1 e alcance), grau da variabilidade [(Co/(Co + C1)x100] , R2 e modelos dos semivariogramas ajustados aos atributos químicos de um Latossolo sob pastagem, mata e voçoroca na profundidade de 20-40 cm.

Atributo Efeito Pepita (C0)

Patamar (C0+ C1)

[C0 /(C0 + C1)] x 100 IMA Alcance Modelo

Ca1 0,068000 0,440000 15,45 0,0103 43,6 Esférico 0,245

Mg2 0,012380 0,029160 42,45 3,637E-06 100,7 Esférico 0,951

P3 0,009100 0,068800 13,22 3,309E-04 21,30 Gaussian

o 0

K4 59,222914 83,049161 71,31 1067, 113,66 Linear 0,118

V%5 89,000000 201,800000 44,10 1406, 95,00 Esférico 0,676

CTC6 0,112000 0,848000 13,20 1,665E-03 48,90 Exponen

cial 0,892

1 Cálcio. 2 Magnésio.3 Fósforo. 4 Fósforo. 5 Potássio. 6 Saturação por bases. 7 Capacidade de troca de cátions.

Capa Índice 8602

Page 33: ItALO tELES MACHADO

Figura 1. Semivariogramas das variáveis (profundidades de 0-20 e 20-40 com): Cálcio, CTC, Fósforo,

Magnésio, Potássio e Saturação por bases em um Latossolo Vermelho Distrófico.

Capa Índice 8603

Page 34: ItALO tELES MACHADO

Nas Tabelas 2 e 3 pode-se observar que o alcance da dependência espacial foi superior ao

adotado na amostragem que foi de 21 x 21 m, o que mostra a validade da malha utilizada nas

amostragens, visto que o alcance da dependência espacial representa a distância máxima a

qual um atributo está correlacionado espacialmente, ou seja, o seu valor garante que todos os

vizinhos situados dentro de um círculo, com raio igual ao alcance, sejam similares, e que

possam ser usados para estimar valores em qualquer ponto entre eles (Vieira & Lombardi

Neto, 1995).

Como as análises geoestatísticas mostraram dependência espacial, sugere-se a utilização

do alcance destes atributos na realização de futuras amostragens. Segundo McBratney &

Webster (1983), o conhecimento do alcance é importante na definição da ótima intensidade de

amostragem, visando reduzir o esforço de trabalho e o erro-padrão da média, além de

aumentar a representatividade da amostra. Por isso, recomendam um intervalo entre pontos

amostrais superior ao dobro do alcance da dependência espacial, o que, associado ao número

de pontos amostrais estimado pela estatística clássica, permite maximizar a eficiência da

amostragem.

3 Conclusões

Os atributos químicos variaram entre os tratamentos, havendo assim diferença entre

seus valores;

Não foram encontradas diferenças dos valores de CTC entre os tratamentos;

A grade utilizada para amostragem foi suficiente, visto que a dependência espacial foi

menor que a grade utilizada;

O estudo de variabilidade química se faz necessário para exata determinação dos

atributos químicos da área de cultivo.

O uso de ferramentas de geoestatísticas se mostrou de grande importância para a

execução do trabalho e para formulação de dados para uso na agropecuária no geral.

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Capa Índice 8606

Page 37: ItALO tELES MACHADO

AVALIAÇÃO BROMATOLÓGICA E DA DEGRADABILIDADE DO

RESÍDUO DO PEQUI

Tiago Ronimar Ferreira Lima1; Thiago Moraes de Faria2; Deibity Alves Cordeiro2;Ana Luisa Aguiar de Castro3

1 – acadêmico do curso de Zootecnia – Universidade Federal de Goiás, Campus Jataí, bolsista PIBIC. Email: [email protected]

2 – acadêmico do curso de Zootecnia – Universidade Federal de Goiás, Campus Jataí.

3 – professora do curso de Zootecnia – Universidade Federal de Goiás, Campus Jataí, orientadora.

Palavras-chave: composição química; fruto do cerrado; resíduo agrícola; resíduo de pequi

1. Introdução

O cerrado possui grande área ocupacional no território brasileiro, resultando assim em

variedade de climas e solos e culminando em rica biodiversidade de fauna e flora (Silva et al.

1994, Ribeiro & Walter 1998, Klink et al. 2003). Árvores frutíferas presentes nesse bioma são

usadas com frequência na alimentação da população na forma in natura ou em preparações

culinárias (Almeida et al. 1987, Almeida et al. 1998). Dentre essas espécies frutíferas, se

destaca o pequizeiro (Caryocar brasiliense camb.) devido seu grande potencial econômico

(Vera et al.,2005).

O pequizeiro ocorre em áreas do cerrado e em zonas de transição para a Caatinga e a

Floresta Amazônica (Lorenzi , 2002). Apresenta safra entre os meses de setembro e fevereiro

(Araújo, 1995; Almeida et al., 1998; Lorenzi, 2000) e, o fruto (pequi) pode ser separado em

pericarpo ou exocarpo, mesocarpo externo e mesocarpo interno, de coloração amarelada,

sendo a parte comestível do fruto (Lima et al. 2007).

O fruto do pequizeiro é do tipo drupa globular, grossa, áspera, verde acinzentada de

aspecto lobulado em função da presença de até quatro caroços reniformes em seu interior. É

constituído pelo exocarpo ou pericarpo, de coloração esverdeada ou marrom esverdeada, pelo

mesocarpo externo, com polpa branda de coloração parda acinzentada e pelo mesocarpo

interno (“caroço”), com coloração amarelada e separada facilmente do mesocarpo externo. O

endocarpo, espinhoso, protege a semente ou amêndoa, revestida por um tegumento fino e

marrom, sendo também porção comestível (Lima et al. 2007).

Capa Índice 8607

Anais do Congresso de Pesquisa, Ensino e Extensão- CONPEEX (2012) 8607 - 8620

Page 38: ItALO tELES MACHADO

O produto primário do pequi é o fruto (“caroço”) que apresenta em sua composição

bromatológica elevados teores de extrato etéreo e baixos de proteína. Almeida (1998) e Vilas

Boas (2004) encontraram os seguintes valores de composição química do caroço do pequi:

2,64% de proteína; 20% lipídios; 13% de fibra bruta; 19,6% de carboidratos; 2,23% de

pectina; 7,46% de caroteno/100mg; 78,72 mg de vitamina C/100g.

Após a extração do caroço do pequi para consumo humano, descarta-se o pericarpo e o

mesocarpo externo, fração denominada de “resíduo”. Se não tratada de forma correta, este

resíduo entra em deterioração e rancificação, devido à quantidade de lipídios presente na

mesma. Como apresenta elevado teor de nutrientes, serve de ambiente favorável à

proliferação de microrganismos, podendo acarretar em danos à saúde da população. Além

disso, o cheiro desagradável produzido pelo processo de putrefação pode trazer desconforto

aos habitantes que moram perto aos vários locais de descarte desse resíduo.

Em cenário paralelo, a bovinocultura vem utilizando co-produtos da indústria e da

agricultura para a alimentação dos rebanhos, uma vez que não só a produtividade está sendo

buscada, mas também sustentabilidade ambiental (Euclides Filho, 2004). A utilização de co-

produtos preserva o meio ambiente e fornecem nutrientes aos animais à menores custos para o

produtor, tornando, possivelmente, a atividade mais rentável.

2. Objetivo

Objetivou-se determinar a composição bromatológica do pericarpo e mesocarpo

externo do pequi (resíduo do pequi) e a degradabilidade desse resíduo.

3. Material e Métodos

O experimento foi realizado na Fazenda Experimental Santa Rosa do Rochedo e no

Laboratório de Nutrição Animal da Universidade Federal de Goiás – Campus Jataí. Foram

coletados resíduos de pequi na cidade de Jataí – GO no período de dezembro de 2011 e

janeiro de 2012, pois em 2011 o comércio do fruto no Município de Jataí iniciou-se em

novembro/2011 e findou no início de fevereiro/2012.

A cada mês, coletou-se amostras em cinco diferentes pontos da cidade. Após

coletados, os resíduos de pequi foram acondicionados em sacos plásticos e identificados. Os

mesmos foram cortados em pedaços menores para pré-secagem em estufa de ventilação

Capa Índice 8608

Page 39: ItALO tELES MACHADO

forçada (65 °C) e moídos em moinho tipo Willie para obtenção de partículas de tamanho 1

mm.

Após seu processamento e posterior identificação, foram realizadas as análises de

matéria seca (MS), extrato etéreo (EE), proteína bruta (PB), fibra em detergente neutro

(FDN), fibra em detergente ácido (FDA), hemicelulose (Hcel) e cinza (MM) segundo

metodologia descrita por Silva e Queiroz (2002). Os carboidratos totais foram calculados

segundo Sniffen et al. (1992), em que os CT das amostras foram obtidos pela fórmula:

CT = 100 – (PB+EE+MM)

As médias obtidas das coletas 1 e 2 foram analisadas através de modelo descritivo.

Para o ensaio de degradabilidade in situ foram utilizados três bovinos adultos, da raça

Nelore, com peso médio de 800 kg, fistulados no rúmen, mantidos em base de ração total

contendo silagem e concentrado à base de milho e soja grão, simulando teor lipídico

semelhante ao consumo de 3 kg de resíduo de pequi/animal/dia. A composição bromatológica

dos ingredientes da ração encontra-se na Tabela 1. A ração foi fornecida à vontade, uma vez

ao dia, no período da tarde, sendo a quantidade ajustada em período de adaptação de 10 dias.

Tabela 1. Composição percentual dos ingredientes utilizados na ração experimental

Alimentos MS PB¹ EE¹ FDN¹ FDA¹

Milho 87,00 9,11 4,07 13,98 4,08

Soja grão 91,18 39,01 19,89 17,52 13,18

Silagem de milho 31,26 7,27 2,80 55,41 30,63 ¹ Porcentagem da MS

A determinação da degradabilidade in situ foi realizada segundo Mehrez e Orskov

(1977), obedecendo a recomendações propostas por Nocek (1988). Os tempos avaliados

foram 0, 4, 8, 12, 24, 36, 48, 72, 96 e 120 horas. Para cada tempo de incubação, foram

colocadas em cada animal, amostras do alimento com três repetições. Para o cálculo do

material imediatamente solúvel (tempo zero), os sacos de náilon foram introduzidos no rúmen

e retirados imediatamente. Para os demais tempos de incubação, os sacos foram

Capa Índice 8609

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gradativamente colocados em ordem reversa, pelo qual o foram introduzidos primeiramente

aqueles que permaneceram mais tempo no rúmen e retirados todos de uma só vez.

A degradabilidade da matéria seca (MS) e da matéria orgânica (MO) foram estimadas

pela técnica de in situ de saco de náilon. Os sacos lacrados à quente, confeccionados de

náilon, com porosidade de, aproximadamente, 50,0 µm e dimensão 7 x 12 cm para os tempos

0, 4, 8, 12 e 24 e de 14 x 12 cm para os tempos 36, 48, 72, 96 e 120 foram utilizados para

incubação ruminal. As amostras com peso na matéria pré-seca, de aproximadamente 2,0 e 4,0

gramas para os sacos menores e maiores, respectivamente, foram acondicionadas nos sacos,

que foram fechados com argolas e elásticos.

Após o término do tempo de incubação, os sacos de náilon contendo o material não

degradado foram imediatamente colocados em balde contendo água gelada para cessar a

atividade dos microrganismos e lavados manualmente até o total clareamento. Na sequência

foram secos em estufa de ventilação forçada (65 °C/72 horas) e em estufa não ventilada (105

°C/45 minutos), acondicionados em dessecador e pesados.

Após a pesagem, foram obtidas amostras compostas formadas pelas três repetições por

animal, que foram utilizadas para as análises de MS e MO. Para ajustamento dos dados na

curva de degradação dos nutrientes será utilizada a equação proposta por Oskov & Mc Donald

(1979):

DEG = a + b (1 – e – c*t), onde:

DEG = degradabilidade acumulada do componente nutricional, após um tempo t;

a = intercepto da curva de degradabilidade quando t = 0, correspondendo à fração solúvel (FS)

do componente nutritivo analisado;

b = degradabilidade potencial da fração insolúvel do componente nutritivo (FI), que é

degradado a uma taxa (TD);

c = taxa de degradação (TD) por ação fermentativa da fração FI;

t = tempo de incubação (h); a soma de a + b, corresponde a degradabilidade potencial, a

degradabilidade máxima alcançada se o alimento permanecer por tempo indeterminado no

rúmen.

Capa Índice 8610

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A degradabilidade efetiva (DE) da MS (DEMS) e da matéria orgânica (DEMO) foi

estimada de acordo com a equação proposta por Orskov e Mc Donald (1979):

DE = a+ (b x c)/(c + k), onde:

DE = degradabilidade ruminal efetiva do componente nutritivo analisado;

a, b, e c = como descritos anteriormente;

k = taxa de passagem ruminal do alimento (%/h).

Para o cálculo de passagem será adotada taxa de passagem de 5% por hora, como

sugerido pelo ARC (1984) e AFRC (1993).

O ajustamento dos dados ao modelo não-linear será realizado pelo método interativo

de Gauss-Newton. A qualidade do ajustamento das equações não-lineares será avaliada por

intermédio do desvio-padrão assintótico (DPA) e do resíduo padronizado (RP) conforme

Draper & Smith (1966). A comparação entre os parâmetros dos modelos será realizada por

variável dummy (Schabenberger, s/d) e pelo método de comparação descritivo.

Capa Índice 8611

Page 42: ItALO tELES MACHADO

4. Resultados e Discussão

Os valores da composição bromatológica do pericarpo e mesocarpo externo

(“resíduo”) do pequi encontram-se na Tabela 2.

Tabela 2. Composição bromatológica do pericarpo e mesocarpo externo do pequi

(Caryocar brasiliense camb.) amostradas nos períodos dezembro 2011 (coleta

1) e janeiro 2012 (coleta 2), no Município de Jataí – GO.

MS1 MM MO EE PB FDN FDA HCel CT

Coleta 1

1 10,87 3,09 96,91 15,52 2,36 46,23 41,33 4,90 79,03 2 12,99 3,05 96,95 15,98 2,03 46,44 40,79 5,65 78,94 3 10,78 3,03 96,97 14,26 2,23 43,96 37,12 6,84 80,48 4 15,80 3,23 96,77 14,94 1,38 42,23 33,86 8,37 80,45 5 11,75 2,77 97,23 14,77 2,13 44,35 41,15 3,20 80,33

Médias 12,44 3,03 96,97 15,09 2,03 44,65 38,85 5,80 79,85

Coleta 2

1 14,47 2,90 97,10 16,16 1,47 41,79 35,19 6,60 79,47 2 13,82 3,68 96,32 15,40 1,48 36,62 27,71 8,91 79,44 3 14,88 3,72 96,28 14,97 1,45 39,60 37,48 2,12 79,86 4 14,67 2,78 97,22 15,65 1,79 40,91 34,7 6,21 79,78 5 14,92 3,73 96,27 15,72 1,83 36,84 31,21 5,63 78,72

Médias 14,55 3,36 96,64 15,08 1,61 32,63 27,72 4,91 79,45 1MS = matéria seca; MM = matéria mineral; MO = matéria orgânica; EE = extrato etéreo; PB = proteína bruta; FDN = fibra detergente neutro; FDA = fibra detergente ácido, HCel = hemicelulose; CT = carboidratos totais

O resíduo de pequi apresentou valores de matéria seca (MS) de 12,44 e 14,55%,

respectivamente, nas coletas 1 e 2. Não foi encontrado, na literatura consultada, artigos que

contivessem a composição bromatológica do pericarpo e mesocarpo externo do pequi,

(“resíduo” do pequi) sendo, portanto, os valores relatados na presente pesquisa, referência

inédita para posteriores estudos na área.

Valores relatados por Vera et al (2007), para matéria seca do caroço do pequi variaram

de 45,66 a 51,87%. Outros autores (Vera, 2005; Ferreira et al., 1987 e Miranda et al., 1987)

observaram teores médios de umidade maiores, 58,82%, 76,00% e 48,74 %, respectivamente;

enquanto Ramos Filho (1987) obteve valor inferior de umidade, 57,50% . Cabe salientar que

os autores citados trabalharam com o caroço do pequi e a variação observada entre a literatura

e os dados desse estudo deve-se à diferente natureza entre o “resíduo” e o caroço do pequi.

Capa Índice 8612

Page 43: ItALO tELES MACHADO

Comparando os teores de MS com os frutos abacate (Persea americana), observa-se

que Tango et al (2004), relataram valores de umidade da polpa de diversas variedades de

abacate entre 57,2 e 87,9% (CV = 10,6%). Gondim et al (2005), avaliando o teor de nutrientes

das partes comestíveis do abacate (polpa), relataram valores de MS de 16% (sem considerar a

casca do fruto).

Almeida (1998) relatando trabalho de avaliação de várias espécies nativas do Cerrado

brasileiro (Araticum, Baru, Buriti, Cagaita, Jotobá e Mangaba), comentou que a polpa do

pequi se destaca com 2,64% de proteína bruta, valor inferior apenas ao Jatobá (6,00%) e ao

Baru (3,87%). Em relação ao conteúdo de lipídios, a polpa de pequi apresenta o maior valor

(20 %) em relação às demais espécies que variaram de 5 % a menos de 1 %. Segundo o autor,

o teor de gordura compara-se ao do abacate, açaí e buriti. Cabe ressaltar que Almeida (1998)

avaliou a composição bromatológica do o caroço do pequi (denominado, no trabalho, como

polpa do pequi) e, comparando, respectivamente, a composição bromatológica do caroço com

o resíduo do pequi, observa-se valores próximos de proteína bruta (2,64 e 1,82%) e extrato

etéreo (20,00 % e 15,34%).

Em relação ao teor de EE no fruto do pequi, Vilas Boas (2004) relatou teor de lipídios

de 20 % para o caroço do pequi, diferente dos valores obtidos no resíduo tanto para a primeira

(15,09%) quanto para a segunda coleta (15,08%). Como, fisiologicamente, a deposição de

lipídios é mais concentrada no caroço dos frutos, os valores observados no estudo estão de

acordo com a literatura. Tango et al (2004), relataram valor médio de extrato etéreo nas

variedades de abacate de 16,00%. Já Gondim et al (2005) relataram valores de 11,04% e

8,00% de lipídios na polpa e casca do abacate, respectivamente.

Observam-se diferentes valores nas médias de PB obtidas na primeira coleta (2,03%) e

na segunda coleta (1,61%). Além da variação de composição devido à falta de domesticação

do pequizeiro, o fato da segunda coleta ter passado um tempo maior exposta ao ar, sofrendo

deterioração e rancificação, pode ter afetado a composição das amostras.

Cabe salientar que, no presente estudo, são desconhecidas informações sobre a origem

do fruto (local de coleta), do tempo transcorrido entre a coleta no campo e a comercialização e

do tempo exato transcorrido entre o descarte e a coleta dos resíduos para a avaliação (“essa

casca é de hoje”). Também merece destaque que o armazenamento do resíduo do pequi, nos

locais de venda, é feito em sacos de alvenaria, sem cuidado com a conservação ou

preservação das qualidades do resíduo. Esses fatores, juntamente com relato de Vera et al.

Capa Índice 8613

Page 44: ItALO tELES MACHADO

(2005), que explicam a variação da composição qualitativa e quantitativa dos pequis pelo

pequizeiro ser uma cultura nativa, apresentando grande variação nas características físicas de

seus frutos, podem explicar a variação descrita na composição bromatológica do resíduo do

pequi entre e dentro as coletas.

Também observou-se variação no teor minerais (MM) entre as amostras da primeira

coleta (3,03%) e segunda coleta (3,36%), e, por conseqüência, nos valores de MO da primeira

(96,97%) e segunda (96,64%) coletas.

Não foram observados na literatura valores de hemicelulose, FDN, FDA e

carboidratos totais para o resíduo do pequi ou frutos semelhantes, portanto os valores

relatados no presente estudo, respectivamente, 5,84%; 41,90%; 36,05%; e 79,65% servirão

para referencias futuras. Observa-se teor de carboidratos totais interessante, indicando,

provavelmente alto teor de amido nesse resíduo.

A utilização de resíduos agrícolas é regional e muitas vezes, não documentada ou

fundamentada em estudos científicos e não foram encontrados relatos na literatura científica

dos parâmetros de degradação ruminal do pequi, seja na forma do caroço ou do resíduo. Há

descrição da cinética ruminal de algumas polpas de frutas (manga, maracujá, caju) e de

alimentos ricos em extrato etéreo, tradicionalmente utilizados na alimentação de rebanhos

(caroço de algodão, soja grão e tortas de oleaginosas de forma geral).

Os valores das frações solúvel (a) e insolúvel potencialmente degradável (b), da taxa

de degradação (c), degradabilidade potencial (DP) e degradabilidade efetiva (DE) com taxa de

passagem variáveis (2, 5 e 8%/h) estão apresentados na Tabela 3.

Tabela 3. Parâmetros da degradação ruminal da matéria seca (MS) do resíduo do pequi.

Parâmetros1 Amostra 1 Amostra 2 Amostra 3 Amostra 4 Amostra 5 Médias

a (%) 29,151,84 30,042,13 29,232,26 35,832,17 27,422,25 30,33

b (%) 61,282,08 59,032,49 60,262,62 53,772,52 62,112,57 59,23

c (%/h) 0,0480,0044 0,0410,005 0,0420,005 0,0420,0056 0,0450,005 0,04

DP (%) 90,43 89,76 89,49 89,60 88,53 89,56

DE2 (%) 72,33 70,14 70,14 72,31 69,76 70,94

DE5 (%) 59,07 56,91 56,84 60,44 56,40 57,93

DE8 (%) 52,04 50,24 50,07 54,40 49,45 51,24 1a = fração solúvel; b = degradabilidade potencial da fração insolúvel; c = taxa de degradação da matéria seca da casca do pequi; DP = degradabilidade potencial; DE2, DE5, DE8 = degradabilidade efetiva considerando a taxa de passagem de 2, 5 e 8 %/h, respectivamente

Capa Índice 8614

Page 45: ItALO tELES MACHADO

Para as frações solúveis (a), o resíduo do pequi obteve uma média de 30,33%,

diferente do encontrado por Fortaleza et al (2009) que, ao estudarem a degradabilidade in situ

de diversos concentrados energéticos, encontraram valores da fração solúvel de 53,67% para

o grão de girassol, de 25,48% para o caroço de algodão integral e de 34,18% para a torta de

nabo forrageiro. Todos os alimentos avaliados pelos autores possuíam, em sua composição,

elevados teores de EE, respectivamente, 32,65%; 15,42%; 14,26%, sendo a torta de nabo

forrageiro semelhante, em teor de EE, ao resíduo do pequi (15,85%). Estudo realizados por

Beran et al (2005), avaliando a degradabilidade ruminal in situ de alguns suplementos

concentrados usados na alimentação de bovinos, relataram valores da fração solúvel de

32,47%; 30,45% e 35,64% para caroço de girassol parcialmente desengordurado, caroço e

farelo de algodão, respectivamente.

Em relação à fração insolúvel potencialmente degradável (b), relata-se valor de

59,23%, sendo consideravelmente superior ao observado por Fortaleza et al (2009) para o

caroço de algodão integral e grão de girassol (36,01% e 19,43%, respectivamente) e

semelhante ao da torta de nabo forrageiro (57,90%). Cunha et al (1998) relataram valores da

fração b para o caroço de algodão quebrado de 48,11%, valor inferior ao obtido no presente

estudo para o resíduo de pequi. Já Beran et al (2005), relataram valores da fração insolúvel

potencialmente degradável de 58,90% para soja parcialmente desengordurada.

Salienta-se que a composição bromatológica dos alimentos comparados difere entre si,

bem como a resposta de aproveitamento de seus nutrientes no ambiente ruminal, sendo

somente utilizados para comparação devido seu elevado teor de lipídios.

Para a taxa de degradação da matéria seca do resíduo de pequi (c), o valor encontrado

de 0,44% assemelhou-se ao obtido por Cunha et al (1998) que obtiveram valores de 0,057 e

0,058% para caroço de algodão integral e quebrado, respectivamente, mas diferiu dos valores

observados por Fortaleza et al (2009), que encontraram valores de fração c de 39,57% para

caroço de algodão, 26,89% para grão de girassol e 10,83% para torta de nabo forrageiro.

Para a degradabilidade potencial (DP) do resíduo de pequi, o valor calculado de

89,56% foi superior aos relatados por Fortaleza et al (2009) para caroço de algodão, grão de

girassol e torta de nabo, que apresentaram valores de 59,57%; 72,86% e 82,36%,

respectivamente. Também foram superiores ao obtidos por Cunha et al (1998), que obtiveram

valores de 21,16% para o caroço de algodão e 54,17% para o caroço de algodão quebrado.

Capa Índice 8615

Page 46: ItALO tELES MACHADO

Também Beran et al (2005), não relataram degradação potencial semelhante à do estudo para

alimentos ricos em EE. A DP atingida com 120 horas de incubação demonstrou que, mesmo

com o elevado teor de lipídios na amostra em estudo, o aproveitamento dos nutrientes foi

satisfatório.

Mir et al (1984) relataram que o elevado teor de óleo de um alimento pode obstruir os

poros do saco de náilon resultando assim, numa menor degradação do mesmo. Apesar da

casca do pequi apresentar um valor elevado de lipídios (15,08%), não se observou

interferência do mesmo na degradabilidade potencial.

Para as degradabilidades efetivas (DE) nas taxas de passagem 2, 5 e 8%/h, os valores

encontrados de 70,94; 57,93 e 51,24%, respectivamente, foram superiores ao obtidos por

Fortaleza et al (2009) para caroço de algodão integral, que apresentou valores de DE para 5 e

8%/h de 40,93 e 36,93%, respectivamente; mas foi inferior ao obtidos do grão de girassol

(63,38% e 61,18% para DE 5 e 8%/h, respectivamente) e da torta de nabo (63,65% e 54,79%

para DE 5 e 8%/h, respectivamente). O autor não utilizou a DE para 2%/h, impossibilitando a

comparação com a mesma. Comparando os resultados com os obtidos por Beran et al (2005),

a degradabilidade efetiva do resíduo de pequi foi semelhante ao farelo de algodão (58,76%) e

torta de girassol com 1 prensagem (58,38%), para taxa de passagem de 5%/h e semelhante ao

farelo de algodão (54,6%) para taxa de passagem de 8%/h.

5. Conclusões

O resíduo de pequi, pelos valores de composição bromatológica e cinética ruminal

observados, tem potencial para ser utilizado como alimento concentrado em bovinos. O

mesocarpo precisa de mais estudos, para obtenção de valores nutricionais não abordados

no projeto, podendo assim ser efetivamente incluído na dieta de bovinos de corte.

6. Considerações Finais

1) Sugere-se a continuação da pesquisa com a utilização do resíduo de pequi avaliando

consumo, ganho em peso, características de carcaça e custo da alimentação para

bovinos, recebendo dietas à base desse resíduo.

2) Considerando que não foram encontrados, na literatura consultada, artigos científicos

sobre a utilização do resíduo de pequi como alimento para animais ruminantes, foi

Capa Índice 8616

Page 47: ItALO tELES MACHADO

necessária a utilização de resumos para realizar comparações com os resultados obtidos

na presente pesquisa.

7. Referencial Teórico

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VERA, R.; R.V. NAVES; NASCIMENTO, J.L. et al. Caracterização física de frutos do

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VERA, R.; SOUZA, E. R. B. de; FERNANDES, E. P. et al. Caracterização Física e Química

do Pequizeiro (Caryocar brasiliense Camb.) oriundos de duas regiões no Estado de Goiás,

Brasil. Pesquisa Agropecuária Tropical. V. 37(2): 93-99, Junho 2007.

“revisado pelo orientador”

Capa Índice 8620

Page 51: ItALO tELES MACHADO

1

Atividade ovicida e larvicida de IP 46 em formulado aquoso e oleoso em

Amblyomma cajennense

Tavares, Tássio Lima a, c, 1; Barreto, Macsuel Corado b, c; D’Alessandro, Walmirton Bezerra c;

Luz, Christian c, 2.

a Faculdade de Medicina, Universidade Federal de Goiás. b Instituto de Ciência Biológica, Universidade Federal de Goiás. c Instituto de Patologia Tropical e Saúde Pública, Universidade Federal de Goiás.

Endereço eletrônico: [email protected]; [email protected]

Palavras-chave: carrapatos, Metarhizium anisopliae, controle microbiano.

1. INTRODUÇÃO

Amblyomma cajennense é um carrapato de ciclo trioxeno (BARROS-BATTESTI,

TUCCI E GUIMARÃES, 2001) passando por quatro estágios: ovo, larva, ninfa e adulto. Esta

espécie é considerada como uma praga de grande importância em áreas rurais atuando como

espoliadora dos rebanhos equinos e bovinos (LOPES et al., 1998). Também é um importante

transmissor da febre maculosa em humanos.

A maior parte da vida desse artrópode é passada no meio ambiente onde está

exposto a inimigos naturais (CAMARGO-NEVES et al., 2004). O combate de carrapatos no

meio ambiente visa reduzir a exposição, tanto dos animais como do homem, a acaricidas.

O surgimento de resistência de carrapatos a acaricidas químicos, os danos que

esses produtos causam ao meio ambiente e a baixa eficácia de vacinas anti-carrapato

requerem novas medidas eficientes para o combate (MENDES et al., 2011).

Medidas de controle microbiano especialmente com fungos que tem grande

capacidade de sobrevivência no ambiente do seu hospedeiro, penetram a cutícula e matam

1 Aluno de Iniciação Científica (PIVIC) 2 Professor Orientador

APROVADO E REVISADO PELO ORIENTADOR (06/09/2012)

Capa Índice 8621

Anais do Congresso de Pesquisa, Ensino e Extensão- CONPEEX (2012) 8621 - 8634

Page 52: ItALO tELES MACHADO

2 vários estágios do ciclo de vida de ixodídeos são promissores para um controle biológico de

carrapatos.

Metarhizium anisopliae e Beauveria bassiana infectam ovos, larvas, ninfas e

fêmeas ingurgitadas de carrapatos em condições de laboratório (FERNANDES e

BITTENCOURT, 2008; GARCIA et al., 2004,2005; OJEDA-CHI et al., 2011). A atividade

ovicida e larvicida do isolado M. anisopliae IP 46foi relatada recentemente em Rhipicephalus

sanguineus quando formulado em água é aplicado em solo e papel filtro e testado a umidade

perto de saturação (BARRETO, D’ALESSANDRO e LUZ, 2010; D’ALESSANDRO e LUZ

dados não publicados).

Muitos fungos são suscetíveis a raios UV e precisam de umidade elevada para

germinar e esporular sobre o hospedeiro morto. Aditivos a formulações fúngicas visam

melhorar o desempenho de fungos.

Novos conhecimentos sobre a atividade de IP 46 formulado em água e óleo-água

e aplicado direta e indiretamente em ovos de A. cajennense em condições de laboratório e a

sobrevivência de larvas eclodidas irão esclarecer melhor o potencial desse fungo para um

combate biológico desse carrapato importante no Centro-Oeste do Brasil.

2. OBJETIVOS

Objetivo Geral: Contribuir com o desenvolvimento de novas medidas para controle de

carrapatos.

Objetivos Específicos: Avaliar o efeito ovicida e larvicida de IP 46 formulado em óleo e água

em A. cajennense, inicialmente com conjunto de 25 ovos, e posteriormente, ovipostura

completa.

3. MATERIAIS E MÉTODOS

3.1 Origem, obtenção e preparação de ovos: Fêmeas ingurgitadas de A. cajennense foram

coletadas em cavalos numa fazendo próxima a Terezópolis, Goiás. No laboratório, as fêmeas

foram lavadas com água estéril e secas em papel. Depois foram acondicionadas em placas de

Petri (100 x 15 mm) sobre papel e incubadas a 25 ± 1ºC e umidade relativa (UR) 75 ± 10%

para oviposição (Fig. 1). Nos testes foram utilizados ovos com idade de 1 a 3 dias, para o

Capa Índice 8622

Page 53: ItALO tELES MACHADO

3 estudo envolvendo 25 ovos, e 7 a 9 dias, no estudo com a ovipostura completa. Conjuntos de

25 ovos foram preparados com ajuda de uma lupa e pincel desinfetado (D’ALESSANDRO e

LUZ dados não publicados). Oviposturas completas foram retiradas e transferidas das placas

de Petri, sem modificações (Fig. 2).

3.2 Origem, cultivo do fungo e preparação dos formulados: IP 46 foi isolado em 2001 de

amostra de solo coletada no cerrado do estado de Goiás, Brasil e está armazenado na Coleção

de Fungos do IPTSP/UFG. Antes dos testes será passado em fêmeas de A. cajennense,

reisolado e cultivado em placa de Petri com meio de cultura BDA (batata, dextrose, ágar)

durante 15 dias a 25ºC, UR 70 ± 10% e fotofase de 12 h.

Para preparação das suspensões de conídios, eles foram raspados na superfície de

cultura com uma espátula e suspendidos em 0,1% de Tween 80. A suspensão foi agitada com

pérolas de vidro em vórtex por 3 minutos, filtrada por algodão hidrófilo e os conídios,

quantificados com câmara de Neubauer. A partir da suspensão Mãe, foram obtidas as

concentrações finais adicionando água destilada para o formulado aquoso e água destilada

mais óleo vegetal emulsionável (Graxol® a 10%) para o formulado óleo-água. Para o estudo

com a ovipostura completa, testou-se apenas o formulado óleo-água, por ter se mostrado o

formulado mais eficiente no estudo com 25 ovos.

Fig. 1: Fêmeas de A. cajennense em

placa de Petri com papel filtro, após

terem sido lavadas e secadas.

3.3 Aplicação do formulado aquoso e óleo-água: 50 μL dos formulados foram aplicados

com auxilio de uma micropipeta semiautomática. Foram testados dois tipos de aplicação:

aplicando diretamente o formulado sobre os ovos (1) e tratando o papel filtro e expondo o

conjunto de ovos sobre papel tratado, aplicação indireta (2) (Fig. 3). No grupo controle foi

utilizado somente água para o formulado aquoso e óleo-água para o formulado oleoso. Após o

Capa Índice 8623

Page 54: ItALO tELES MACHADO

4 tratamento os papéis filtro com os ovos foram transferidos, cuidadosamente, para tubos de

cultura de células (TPP, Suíça), permeáveis para ar, com áreas totais de 63,6 cm2 de superfície

(Fig. 4). Os tubos foram incubados em umidade de >98% e a 250C, por 45 dias. O

desenvolvimento de micélio e conídios na superfície dos ovos, a eclosão e a sobrevivência de

larvas foram avaliados diariamente. Realizadas quatro repetições independentes.

Fig. 2: Transferência da ovipostura completa de A. cajennense das placas de Petri

para o papel-filtro do teste, sem modificações em forma e quantidade.

Fig. 3: Aplicação direta (A) e indireta (B) do formulado óleo-água nas Oviposturas

completas de A. cajennense.

A

B

Capa Índice 8624

Page 55: ItALO tELES MACHADO

5

Fig. 4: Papéis-filtro com as oviposturas dentro dos tubos de

cultura de célula.

4. RESULTADOS

4.1 Desenvolvimento de micélio e conídios nos ovos

No estudo com amontoado de 25 ovos, o desenvolvimento do fungo nos ovos foi

mais rápido testando formulação óleo-água do que formulação aquosa de conídios

independentemente da aplicação. Os primeiros micélio e conídios visíveis na superfície

apareceram na base dos conjuntos de ovos para os dois tipos de tratamento testados. Micélio e

conídios de IP 46 apareceram na superfície dos ovos a partir de 6,5 e 8,5 dias de incubação,

respectivamente, na concentração mais alta testada (3,3x105 conídios/cm2) e aplicando os

conídios diretamente sobre os ovos (Tabela 1). O tempo entre tratamento e aparecimento de

micélio e conídios sobre os ovos aumentou em concentrações mais baixas de conídios

formulados em água aplicados direta ou indiretamente e para conídios formulados em óleo-

água e aplicados indiretamente sobre os ovos. Testando conídios em óleo-água sobre os ovos

(aplicação direta) não teve efeito da concentração de conídios sobre o tempo (Tabela 1).

Para o estudo envolvendo a ovipostura completa, a concentração de 3,3x105

conídios/cm2 em formulação óleo-água foi a concentração escolhida por ter se mostrado mais

eficiente nos 25 ovos. Houve o aparecimento de micélio e/ou conídios nas oviposturas em

92,6% dos amontoados de aplicação direta, e 88,9% dos amontoados de aplicação indireta.

Dos amontoados em que ocorreu emergência do IP 46, essa emergência ocorreu nos dias 8,2 e

Capa Índice 8625

Page 56: ItALO tELES MACHADO

6 8,7 e formação de conídios nos dias 13,5 e 12,1 para as aplicações diretas e indiretas,

respectivamente (Tabela 1). A análise estatística mostrou que não há diferença entre as

aplicações (p = 5,1).

4.2 Eclosão e sobrevivência de larvas

No estudo com 25 ovos aglomerados, testando conídios formulados em óleo-água

a eclosão foi <20% e 100% das larvas morreram em até 10 dias após a eclosão

independentemente do tipo de aplicação (Fig. 5 a-d). No controle com óleo-água estéril a

eclosão foi de 88% e 78%, respectivamente, para a aplicação indireta e direta, e todas as

larvas eclodidas sobreviveram até os 45 dias avaliados. Conídios formulados em água e

aplicados diretamente em ovos apresentaram maior efeito ovicida e larvicida comparado com

conídios aplicados indiretamente sobre os ovos. A eclosão chegou até 84% quando conídios

formulados somente com água foram aplicados diretamente e 20, e 42% de larvas

sobreviveram, respectivamente, na maior e menor concentração (Fig. 6 a,b). Na aplicação

indireta de formulado aquoso a eclosão mínima foi de 60% com sobrevivência de grande

parte das larvas eclodidas >36% (Fig. 6 c,d) até o último dia de observação. A eclosão no

controle com água foi maior que o controle com óleo-água. No controle somente com água a

eclosão foi de 96% e 98% na aplicação direta e indireta, respectivamente, com 100% das

larvas vivas até o final do experimento. Micélio e conídios também apareceram sobre todas as

larvas mortas independentemente da aplicação e tipo de formulação de conídios testada (Fig.

7). A concentração de conídios teve efeito significativo sobre a eclosão quantitativa de larvas

a partir de ovos (entre 24 e 34 dias de exposição) independentemente do tratamento para a

formulação aquosa e óleo-água. Os valores de CIE50 e CIE90 para conídios formulados em

água e aplicados diretamente foram 4,6x104 (IC 2,6x104-8,3x104) e 7,7x105 (IC 3,1x105-

4,6x106). Para a formulação oleosa os valores de eclosão encontrados para as diferentes

concentrações de conídios foram insuficientes para calcular os valores de CIE50/90. Para

conídios formulados em água e aplicados indiretamente não foi encontrada relação entre

concentração de conídios e a eclosão.

Para o estudo com ovipostura completa, as eclosões foram de 90% para o grupo

controle, 68,9% para as oviposturas tratadas com a aplicação direta e 66,7% na aplicação

indireta (Fig. 8a). Aplicação indireta mostrando uma leve vantagem frente à aplicação direta,

fato não observado com o estudo dos 25 ovos, mas essa diferença estatisticamente se mostrou

Capa Índice 8626

Page 57: ItALO tELES MACHADO

7 irrelevante. Das larvas eclodidas no grupo controle, 100% se encontravam vivas, após os 45

dias de observação. Para a aplicação direta, a sobrevivência de larvas foi de 65,2% ao fim dos

45 dias, enquanto na aplicação indireta, a sobrevivência foi de 68,1% (Fig. 8b), novamente a

diferença é insignificante estatisticamente.

Fig. 5: Eclosão (a,c) (%) e sobrevivência (b,d) (%) de larvas de Amblyomma cajennense após aplicação direta (a,b) e indireta (c,d) de Metarhizium anisopliae formulado em óleo-água em cinco concentrações (3,3x103 a 3,3x105 conídios/cm2).

(b)

(c) (d)

(a)

Aplicação indireta

Aplicação direta

Capa Índice 8627

Page 58: ItALO tELES MACHADO

Estudo Conídios

/cm2 nível

Tratamento

direto indireto

aquoso oleoso aquoso oleoso

M C M C M C M C

25 ovos

0 - - - - - - - - -

3,3x103 - 17,5±10,6 19,0±11,3 9,0±1,4 11,5±2,1 - - 10,5±0,7 16,0±4,2

1,0x104 - 17,5±9,1 19,0±8,4 11,0±5,6 17,0±0,0 18,0±0,0 19,0±0,0 9,5±0,7 13,5±0,7

3,3x104 - 15,0±8,4 17,0±8,4 11,5±3,5 16,0±0,0 15,0±0,0 17,0±0,0 8,0±1,4 13,5±2,1

1,0x105 - 8,0±1,4 10,5±0,7 14,5±9,1 16,5±9,1 22,5±0,7 26,5±4,9 7,0±0,0 14,0±7,0

3,3x105 - 6,5±0,7 8,5±2,1 8,0±1,4 11,5±2,1 12,0±4,2 17,0±0,0 7,0±0,0 13,0±0,0

Ovipostura

completa 3,3x105

2 * * 9,7±4,9 14,2±3,0 * * 8,7±4,8 15,8±5,7

1 * * 8,2±5,6 13,5±4,1 * * 9,4±6,2 12,1±2,9

0 * * 9,4±4,4 14,3±3,9 * * 8,9±5,4 12,1±3,9

Legenda: - Dados nulos; * Estudo não realizado.

Tab.01: Inicio (dias de exposição) da visualização de micélio (M) e conídios (C) nos conjuntos de ovos de Amblyomma cajennense tratados diretamente ou indiretamente com conídios de Metarhizium anisopliae IP 46 formulados em água ou óleo-água em diferentes concentrações, para o estudo com 25 ovos e para o estudo de ovipostura completa.

Capa Índice 8628

Page 59: ItALO tELES MACHADO

(a) Aplicação direta

Fig. 6: Eclosão (a,c) (%) e sobrevivência (b,d) (%) de larvas de Amblyomma cajennense após aplicação direta (a,b) e indireta (c,d) de Metarhizium anisopliae formulado em água em cinco concentrações (3,3x103 a 3,3x105 conídios/cm2).

(b)

(c) (d) Aplicação indireta

Fig. 7: Larvas mortas de Amblyomma cajennense por infecção de Metarhizium anisopliae.

Capa Índice 8629

Page 60: ItALO tELES MACHADO

Dias de incubação20 22 24 26 28 30 32 34 36

Eclo

são

(%)

0

20

40

60

80

100

Controle

Aplicação direta

Aplicação indireta

Dias de incubação28 30 32 34 36 38 40 42 44

Sobr

eviv

ênci

a (%

)

0

20

40

60

80

100 Controle

Aplicação direta

Aplicação indireta

Fig. 8: Eclosão (a) e sobrevivência (b) das larvas de A. cajennense do grupo controle,

aplicação direta e aplicação indireta.

5 DISCUSSÃO

Este é o primeiro estudo com formulação oleosa de conídios em ovos e larvas de

A. cajennense. Até o momento existe apenas um único trabalho com atividade ovicida de B.

bassiana e M.anisopliae em A. cajennense. E nesse trabalho os conídios foram preparados em

(a)

(b)

Capa Índice 8630

Page 61: ItALO tELES MACHADO

água e os ovos foram tratados por submersão na suspensão por cinco minutos (SOUZA et al.,

1999), o que resultou numa exposição mais alta aos conídios comparada com os dois métodos

de aplicação no presente trabalho. Em condições reais de campo a exposição mais provável

dos ovos é quando uma fêmea grávida ovipõe numa área previamente tratada com conídios

(aplicação indireta).

Conídios formulados com óleo-água foram mais ativos independentemente da

aplicação do que conídios formulados somente com água, em condições de umidades>98% a

25°C. Estes se desenvolveram mais rapidamente sobre ovos de A. cajennense mostrando

maior eficiência em infectar os ovos e impedir a eclosão de larvas. Para impedir 100% da

eclosão o fungo teve que desenvolver-se rapidamente e cobrir, com micélio e conídios, o

conjunto de 25 ovos antes da eclosão o que foi encontrado apenas com formulado de IP 46

preparado em óleo-água e não com conídios formulados em água. O óleo, portanto, acelerou o

desenvolvimento do fungo sobre ovos de A. cajennense impedindo a eclosão significativa de

larvas.

O tipo de aplicação não interferiu no desenvolvimento de micélio e conídios para

a formulação óleo-água mostrando favorável para uso tanto em aplicações indiretas, como,

por exemplo, tratando uma área com conídios em que posteriormente a fêmea irá colocar

ovos, ou aplicando diretamente sobre os ovos.

A eclosão mais baixa no controle com óleo-água, comparada com o controle somente com

água não está relacionada com um efeito ovicida do óleo, mas sim a um efeito mecânico. O

óleo interfere no filme na superfície dos ovos reduzindo a adesão, entre os ovos, favorecendo

uma desestruturação do conjunto de 25 ovos preparados, contribuindo para que alguns deles

ressecassem.

O estudo com a ovipostura completa simula uma situação mais próxima da real,

onde a quantidade de ovos postos por fêmeas (5-10 mil ovos) (OLIVIERI E SERRA-

FREIRE, 1984b) é muito superior aos 25 ovos testado no primeiro experimento. Este estudo

foi realizado com apenas uma concentração de conídios (3,3x105 conídios/cm2) por ter se

mostrado a mais eficaz nos 25 ovos. Porém, como visualizado nos resultados, os valores de

eclosão e sobrevivência são altos, mostrando uma eficiência muito baixa do IP 46 como

ovicida/larvicidas, nessa concentração. Entretanto, o tempo de incubação dos ovos é

possivelmente maior em condições naturais, com temperaturas inferiores a 25°C,

possibilitando ao fungo mais tempo para agir e infectar um maior número de ovos, como

ocorrido em alguns casos isolados no experimento (Fig. 8), onde o crescimento de micélio e

Capa Índice 8631

Page 62: ItALO tELES MACHADO

conídios foi efetivo, levando a uma sobrevivência de 0% para as larvas que conseguiram

eclodir.

A conidiogênese de M. anisopliae nos ovos e larvas mortas contribui para a

disseminação de novos conídios no habitat do carrapato, podendo contaminar e infectar outros

indivíduos em diferentes fases de desenvolvimento (Fig. 9) (ALVES, 1998).

Fig. 8: Micélio e conídios de M. anisopliae IP 46

crescendo sobre uma ovipostura completa de A.

cajennense, aumentando ainda mais a disseminação do

fungo e seu efeito ovicida/larvicidas.

Fig. 9: Eclosão de larvas de A. cajennense de uma ovipostura

integra que apresenta crescimento de micélio e conídios de IP

46, mostrando a possível contaminação das larvas com o fungo,

pelo simples caminhar pelo papel-filtro e amontoado.

Capa Índice 8632

Page 63: ItALO tELES MACHADO

6. CONCLUSÃO

Os resultados do estudo com 25 ovos deixaram claro que apenas a formulação

óleo-água de M. anisopliae IP 46 consegue eliminar um conjunto de número reduzido de ovos

de A. cajennense. Formulações aquosas desse fungo provavelmente não têm efeito

significativo contra ovos em condições de campo e não deveriam ser utilizadas.

Seguindo a ideia anterior, e realizando o estudo com o amontoado completo,

utilizando apenas a formulação óleo-água do fungo, na maior concentração efetiva do estudo

anterior (3,3x105 conídios/cm2), verificou-se que não há efeito significativo do fungo sobre a

eclosão e sobrevivência das larvas, mostrando-se ineficiente para o controle do vetor.

7. CONSIDERAÇÕES FINAIS

O efeito ovicida do IP 46 foi verificado para amontoados pequenos de ovos de A.

cajennense, mas para a ovipostura completa, já se mostrou ineficiente em condições de

laboratório. Recomenda-se então novos testes de laboratório utilizando-se maiores

concentrações do fungo em formulado óleo-água, seguidos de testes de campo, se essa se

mostrar eficiente.

8. REFERÊNCIAS

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larvas de Rhipicephalus sanguineus a solo tratado com conídios de Metarhizium anisopliae

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CAMARGO-NEVES V. L. F.; VIEIRA A. M. L.; SOUZA C. E.; LABRUNA M. B.;

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2011.

Revisado e aprovado pelo orientador

Wolf Christian Luz

06 de setembro de 2012

Capa Índice 8634

Page 65: ItALO tELES MACHADO

SELETIVIDADE DE HERBICIDAS APLICADOS EM PRÉ E PÓS-EMERGÊNCIA

NA CULTURA DO CRAMBE

Valdiney Ferreira Alves1, Paulo César Timossi2, Elias Brod3, Uadson Ramos da Silva4

1 Discente do Curso de Agronomia do Campus Jataí/UFG – Bolsista PIVIC 2 Docente do Curso de Agronomia do Campus Jataí/UFG – Orientador 3 Discente do Curso de Agronomia do Campus Jataí/UFG 4 Discente de Mestrado em Agronomia/Produção Vegetal do Campus Jataí/UFG

Universidade Federal de Goiás - Campus Jataí, CEP 75800-000, Brasil

e-mail: [email protected]; [email protected]

Palavras-chave: Crambe abssynica, fitotoxicidade, controle químico, manejo.

INTRODUÇÃO

O crambe (Crambe abssynica) é uma oleaginosa pertencente à família Brassicaceae,

nativa do Mediterrâneo (Weiss, 2000). É uma cultura que apresenta características

importantes como ciclo curto, tolerância a seca e as baixas temperaturas (Roscoe et al., 2010),

possibilitando adoção no cultivo de segunda safra.

Segundo Pitol & Roscoe (2010), as pesquisas com crambe iniciaram-se a partir de

1995 no Estado Mato Grosso do Sul, pela Fundação MS, quando desenvolveram a cultivar

FMS Brilhante, objetivando-se a produção de biodiesel e avaliação da mesma como planta de

cobertura (Casão Júnior et al., 2006), com a finalidade de proteção superficial, assim como a

manutenção e melhoria das propriedades físicas, químicas e biológicas do solo.

Estudos em várias culturas agrícolas, para a avaliação de seletividade de herbicidas,

são de extrema importância para o desenvolvimento de programas de controle de plantas

daninhas em culturas anuais e de rotações de culturas (Souza et al., 2001). Conforme relatam

Velini et al. (2000), para serem recomendados de forma definitiva e indiscriminada para uma

determinada cultura, um herbicida deve demonstrar seletividade aos cultivares mais comum

dessa cultura. Entende-se por seletividade a capacidade de um determinado herbicida eliminar

as plantas daninhas que se encontram em uma cultura sem reduzir-lhe a produtividade. Ainda,

de acordo com os autores, há a necessidade de avaliar os efeitos de tais sintomas visualmente

Capa Índice 8635

Anais do Congresso de Pesquisa, Ensino e Extensão- CONPEEX (2012) 8635 - 8645

Page 66: ItALO tELES MACHADO

detectáveis e de outros imperceptíveis, sobre o crescimento e produtividade da cultura. Para a

cultura do crambe, essas informações ainda são raras, carecendo de mais pesquisa científica.

OBJETIVOS

Objetivou-se nesta pesquisa avaliar a seletividade de herbicidas aplicados em pré e

pós-emergência na cultura de Crambe abssynica, cultivar FMS-Brilhante.

MATERIAL E MÉTODOS

O experimento foi conduzido na área experimental do Campus Jataí da Universidade

Federal de Goiás, entre os meses de agosto de 2011 a junho de 2012.

O projeto foi composto por ensaios realizados em casa de vegetação, no período de

Setembro à Dezembro (estação primavera/verão) e, a campo, no período Fevereiro à Junho

(estação outono).

Ensaios em casa de vegetação

A partir do levantamento feito no sistema AGROFIT do Ministério da Agricultura,

Pesquisa e Abastecimento, selecionou-se herbicidas com possibilidade de extensão de uso na

cultura do Crambe. Dos 136 grupos químicos de herbicidas, apenas seis apresentaram

características almejadas para a pesquisa (AGROFIT, 2012).

No ensaio em casa de vegetação, as unidades experimentais foram constituídas por

vasos com capacidade de 2,8 kg. O substrato para enchimento dos vasos foi constituído por

solo e composto orgânico na proporção de 3:1 (v/v). Foram semeadas 20 sementes por vaso

da cultivar FMS Brilhante a 2 cm de profundidade no dia 18 de novembro de 2011. O

experimento foi disposto em delineamento inteiramente casualizado (DIC), com quatro

tratamentos e cinco repetições para herbicidas de pré e pós-emergência (tabela 1 e 2).

Tabela 1. Descrição dos tratamentos com herbicidas de PRE e respectivas doses ministradas no ensaio em casa de vegetação. Jataí, GO, 2012.

Tratamentos Nome Técnico Nome Comercial Dose

(L.ha-1)

Dose

(g i.a. ha-1)

1 Diuron Diuron Nortox 4,8 2400

2 Sulfentrazona Boral 1,0 500

3 Trifluralina Trifluralina Gold 1,8 800

4 Testemunha --- --- ---

Capa Índice 8636

Page 67: ItALO tELES MACHADO

Tabela 2. Descrição dos tratamentos com herbicidas de POS e respectivas doses ministradas no ensaio em casa de vegetação. Jataí, GO, 2012.

Tratamentos Nome Técnico Nome Comercial Dose

(L.ha-1)

Dose

(g i.a. ha-1)

5 Haloxifope-P-metílico Verdict R 0,4 50

6 Nicossulfurom Sanson 1,25 50

7 Tembotriona Soberan 0,24 100

8 Testemunha --- --- ---

Nos tratamentos um a três, os produtos foram aplicados em pré-emergência, um dia

após data da semeadura e nos tratamentos cinco a sete foram aplicados em pós-emergência,

aos 20 DAS (Dias Após a Semeadura da cultura).

Em ambos os ensaios conduzidos em casa-de-vegetação, as aplicações foram

realizadas com pulverizador costal pressurizado a CO2, utilizando barra com um bico e ponta

DG9502E, à pressão 2,1 bar e taxa de aplicação a 200 L ha-1. Na aplicação em pré-

emergência, as condições atmosféricas no momento da aplicação (19/11/11 entre 9h e 10h)

foram: temperatura do ar de 24,6 ºC; umidade relativa do ar 62%; ventos intermitentes de até

1 ms-1; cobertura por nuvens com 30%. Na aplicação em pós-emergência, as condições

atmosféricas no momento da aplicação (06/12/11 entre 11h e 11h30min) foram: temperatura

do ar de 29ºC; umidade relativa do ar 63%; ventos intermitentes de até 1 ms-1; cobertura por

nuvens com 90%.

Ensaio de Campo

No ensaio a campo, a semeadura do crambe foi realizada em 22 de março de 2012, em

plantio direto, a até 3,0 cm de profundidade, no espaçamento de 0,45 metros entre linhas. A

adubação de plantio foi realizada a lanço com 360 kg ha-1 da fórmula comercial 02-20-18. O

tratamento das sementes foi realizado com o inseticida Cropstar a 0,5 L por 100 kg de

sementes.

O delineamento experimental utilizado foi o de blocos ao acaso, com quatro

tratamentos e cinco repetições. As dimensões das parcelas experimentais foram 3 x 5 m,

totalizando 15m2. Na tabela 3, estão descritos os herbicidas testados.

A dessecação da área experimental foi realizada com o herbicida Roundup Ultra® a 2,5

kg ha-1, antecedendo em 7 dias a semeadura da cultura de crambe. Os herbicidas diuron e

Capa Índice 8637

Page 68: ItALO tELES MACHADO

trifluralina foram aplicados em pré-emergência da cultura, por época da semeadura, enquanto

que o herbicida haloxifope-P-metílico foi aplicado em pós-emergência, aos 20 DAS.

Tabela 3. Descrição dos tratamentos com herbicidas de PRÉ e POS e respectivas doses ministradas no ensaio a campo. Jataí, GO, 2012.

Tratamentos Herbicidas Dose

(L ha-1)

Dose

(g i.a. ha-1)

1 Testemunha --- ---

2 Diuron 4,8 L 2400

3 Trifluralina 1,8 L 800

4 Haloxifope-P-metílico 0,4L 50

Em ambas as aplicações, foram realizadas com pulverizador costal pressurizado a

CO2, utilizando barra com seis bicos e ponta DG11002, à pressão 210 kPa e taxa de aplicação

a 120 L ha-1. As condições atmosféricas inerentes ao momento da aplicação dos herbicidas de

PRE e POS são apresentadas na tabela 4.

Tabela 4. Dados referentes às condições atmosféricas no momento da aplicação dos herbicidas. Jataí-GO, 2012.

Condições atmosféricasAplicação pré-emergência

(22/03/12 entre 12h e 14 h)

Aplicação pós-emergência

(21/04/12 entre 11h e 11h30min)

Temperatura do ar 33°C 27,3 °C

Umidade relativa 45% 82%

Ventos Intermitentes de até 2 m s-1 Intermitentes de até 1 a 2 m s-1

Cobertura por nuvens 20% 90%

Umidade do solo Úmido à superfície Úmido à superfície

Avaliações

Ensaios em casa-de-vegetação

Nos ensaios conduzidos em vaso, para o grupo de herbicidas aplicados na pré-

emergência (PRE) das plantas de crambe, foi realizada a contagem de plantas emergidas aos

15 e 30 dias após aplicação dos herbicidas (DAA). Aos 30 DAS, coletou-se as plantas de

cada vaso, cortando-as rente ao solo, com acondicionamento do material coletado em sacos de

papel e levando-as para secagem em câmara de circulação forçada de ar a 70ºC por 72 horas.

Em seguida, foi pesado o material para a determinação do acúmulo de massa seca das plantas.

Capa Índice 8638

Page 69: ItALO tELES MACHADO

Para o ensaio com herbicidas de POS (pós-emergência das plantas), aos 7, 14, 21 e 28

DAA foram feitas avaliações visuais dos sintomas de fitotoxicidade, em porcentagem, onde

0% significa efeito nulo de dano às plantas e 100%, morte total das mesmas. Ainda, aos 30

DAA, também foi determinado o acúmulo de massa seca das plantas, seguindo os mesmos

procedimentos supracitados.

Ensaio de campo

As avaliações basearam-se na determinação dos estandes inicial e final de plantas, aos

30 e 90 dias após a semeadura (DAS) respectivamente. Para tal, foi feita contagem do número

de plantas normais emergidas em 2,5 metros de duas linhas de plantio (totalizando 5 metros),

dentro da área útil da parcela. Aos 60 DAS, foi determinado o acúmulo de massa seca de

plantas. Para essa avaliação, adotou-se quadro metálico com dimensões de 0,5 x 0,5 m, o qual

foi disposto sobre uma linha central, por duas vezes, coletando as plantas de crambe

existentes, dentro da área útil de cada quadro, totalizando 1,0 m.

Aos 90 DAS, foram coletadas as plantas existentes em duas linhas centrais, em 2,5

metros, totalizando 5 metros, na área útil da parcela. Para a estimativa de produtividade (kg

ha-1) de crambe, as plantas foram trilhadas, separando os frutos e pesando-os.

Os dados obtidos nas avaliações de controle foram submetidos à análise de variância

pelo teste F e, para comparação das médias utilizou-se do teste de Tukey ao nível de 5% de

probabilidade.

RESULTADOS E DISCUSSAO

Foi feito um levantamento de todos os herbicidas registrados no sistema AGROFIT

do Ministério da Agricultura, Pesquisa e Abastecimento, de acordo com o mecanismo de

ação, de quais os possíveis herbicidas que poderiam ser adotados na cultura do crambe, com o

intuito de selecionar um herbicida por mecanismo de ação, visando extensão de uso. Dos 136

grupos químicos existentes, apenas seis mostraram potencial seletivo para o crambe, dentre os

quais diuron (grupo químico uréia), sulfentrazona (grupo químico triazolinona), trifluralina

(grupo químico dinitroanilina), haloxifope-P-metil (grupo químico ácido

ariloxifenoxipropiônico), nicossulfuron (grupo químico sulfoniluréia) e tembotriona (grupo

químico tricetona), foram os que apresentaram possibilidade de serem testados na cultura.

Com o intuito de dinamizar a discussão dos resultados obtidos nos ensaios realizados

em casa de vegetação e á campo, os mesmos são apresentados em subcapítulos.

Capa Índice 8639

Page 70: ItALO tELES MACHADO

a) Ensaios conduzidos em casa de vegetação

Na tabela 5 são apresentadas as médias de plantas crambe emergidas, obtidas nas

avaliações de 15 e 30 DAA.

Tabela 5. Médias do número de plantas de crambe emergidas, obtidas aos 15 e 30 dias após aplicação (DAA). Jataí-GO, 2012.

Tratamentos Herbicidas* Plantas por vaso

15 DAA 30 DAA

1 Diuron 12,2 a(1) 9,2b

2 Sulfentrazona 3,4 b 3,4 c

3 Trifluralina 12,0 a 10,6 ab

4 Testemunha 13,2 a 13,4 a

F Trat. --- 23,53** 22,75**

Dms --- 3,81 3,58

CV (%) --- 20,6 21,6

*Herbicidas aplicados em pré-emergência da cultura. (1) Médias seguidas por mesma letra, na mesma coluna, não diferem entre si pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade.

Foram observadas, nas duas épocas, que o tratamento com sulfentrazona resultou na

redução acentuada no número de plantas de crambe, demonstrando a baixa seletividade desse

herbicida para a cultura. Já o diuron e trifluralina, aos 15 DAA, não apresentaram diferenças

significativas em relação à testemunha. Esses resultados corroboram com os encontrados por

Oliveira Neto et al. (2011), onde também foi caracterizada a tolerância do crambe para

aplicação de trifluralina em pré-emergência.

Aos 30 DAA, o diuron apresentou redução no número de plantas. Tal resultado

confirma a ação do produto aplicado, atuando no processo fotossintético, interrompendo o

transporte de elétrons até a plastoquinona (Rodrigues & Almeida, 2011). Desse modo, a

planta emergiu, consumiu seu material de reserva na fase de plântula e, após iniciar o

processo fotossintético, ocorreu o efeito fitotóxico do herbicida, causando a morte de plantas.

Na avaliação de massa seca, realizada aos 30 DAS (Tabela 6), verifica-se reduções na

massa seca das plantas que foram submetidas aos herbicidas sulfentrazona e trifluralina, sem,

no entanto, diferenciar-se estatisticamente da testemunha.

Capa Índice 8640

Page 71: ItALO tELES MACHADO

Tabela 6. Médias do acúmulo de massa seca de plantas de crambe, obtidas aos 30 dias após a semeadura (DAS). Jataí-GO, 2012.

Tratamentos Herbicidas* Matéria seca (g)

1 Diuron 14,3 a(1)

2 Sulfentrazona 8,6b

3 Trifluralina 9,3b

4 Testemunha 12,0 ab

F Trat. --- 8,49**

Dms --- 3,68

CV (%) --- 18,4

*Herbicidas aplicados em pré-emergência da cultura. (1) Médias seguidas por mesma letra, na mesma coluna, não diferem entre si pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade.

Para os herbicidas de PÓS, na avaliação de massa seca, realizada aos 30 DAA (Tabela

7), os herbicidas nicossulfurom e tembotriona, proporcionaram significativas reduções na

massa seca das plantas, caracterizando esses herbicidas como não seletivos à espécie

estudada. O herbicida haloxifope-P-metílico apresentou comportamento semelhante a

testemunha, mostrando ser seletivo para a cultura

Tabela 7. Médias do acúmulo de massa seca de plantas de crambe, obtidas aos 30 dias após a aplicação (DAA). Jataí-GO, 2012.

Tratamentos Herbicidas* Matéria seca (g)

5 Haloxifope-P-metílico 43,5 a

6 Nicossulfurom 3,2 b

7 Tembotriona 7,7 b

8 Testemunha 46,8 a

F Trat --- 120,73**

Dms --- 8,49

CV (%) --- 18,5

*Herbicidas aplicados em pós-emergência da cultura. (1) Médias seguidas por mesma letra, na mesma coluna, não diferem entre si pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade.

Os tratamentos com nicossulfurom e tembotriona proporcionaram os mais elevados

níveis de fitointoxicação à cultura, durante todas as fases de avaliação (Tabela 8). Aos 7

DAA, o tembotriona apresentou 74% de injuria, significativamente superior aos demais.

Como sintoma constatou-se a intensa coloração esbranquiçada nas folhas, evoluindo, em

Capa Índice 8641

Page 72: ItALO tELES MACHADO

alguns casos, aos 21 DAA, para uma seca e morte subsequente das plantas, sintomas

considerados típicos dos herbicidas inibidores da síntese de carotenos (Rodrigues & Almeida,

2011). No caso do nicossulfurom, aos 7 DAA, apresentou 60% de injuria, e no decorrer das

avaliações os sintomas foram aumentando chegando a 100% de injuria a partir dos 21 DAA,

ocasionando morte de todas plantas. Os sintomas observados foi amarelecimento das

estruturas novas, folhas mais desenvolvida com manchas de coloração marrom.

Ao contrário dos resultados encontrados para nicossulfurom e tembotriona, o

haloxifope-P-metílico proporcionou menor nível de injuria (8%) aos 21 DAA, não

apresentando diferença significativa quando comparado a testemunha. O crambe mostrou-se

bastante tolerante a esse herbicida, podendo-se afirmar que não foram constados efeitos

negativos no desenvolvimento das plantas de crambe.

Tabela 8. Porcentagem de fitointoxicação nas plantas de crambe aos 7, 14, 21 e 28 DAA, submetidas à aplicação em pós-emergência.

Herbicidas % de fitointoxicação

7 DAA 14 DAA 21 DAA 28 DAA

Haloxifope-P-metílico 0,0 c(1) 0,0 b 8,0 c 8,0 c

Nicossulfurom 60,0 b 68,0 a 100,0 a 100,0 a

Tembotriona 74,0 a 76,0 a 83,0 b 89,8 b

Testemunha 0,0 c 0,0 b 0,0 c 0,0 c

F Trat 158,6 ** 132,47 ** 242,88 ** 541,83 **

Dms 12,57 14,67 13,28 9,18

CV (%) 20,7 22,5 15,4 10,3 (1) Médias seguidas por mesma letra, na mesma coluna, não diferem entre si pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade.

b) Ensaios cultivados a campo

Quanto à avaliação do estande de plantas (Tabela 9), aos 30 DAS, dentre todos os

tratamentos, apenas o herbicida diuron apresentou efeito fitotóxicos e consequente redução no

estande inicial em comparação com os demais tratamentos. Entretanto, pode-se constatar

resultado semelhante entre os tratamentos na avaliação do estande final, realizada aos 90

DAS, não se diferindo estatisticamente.

Capa Índice 8642

Page 73: ItALO tELES MACHADO

Tabela 9. Médias do estande iniplantas de crambe.

Herbicidas Estande Inicial

(plantas

Testemunha

Diuron

Trifluralina

Haloxifope-P-metílico

F Trat.

Dms

CV (%) (1) Médias seguidas por mesma letra, na mesma coluna, não diferem entre si pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade.

Aos 60 DAS foi determinada a massa seca de plantas de crambe

verificar que não houve diferenças estatísticas entre os tratam

demonstrando pouca influência dos herbicidas testados no estabelecimento da cultura do

crambe. Isso demonstra que a cultura apresenta alto

Na figura 1, são apresentados os resultados de produtividade de frutos de crambe.

Figura 1. Médias da produtividade de frutos de crambe, obtidas aos 90 dias após a semeadura, submetidas aos seguintes tratamentos herbicida: T1 – Diuron; T3 – Triflural

Verifica-se que os tratamentos herbicidas assemelharam

testemunha, o que nos possibilita afirmar que os herbicidas testados são seletivos para a

Médias do estande inicial (30 DAS), final (90 DAS) e massa seca. Jataí-GO, 2012.

Estande Inicial

(plantas m-1)

Estande Final

(plantas m-1)

30,6 ab(1) 19,0 a

16,6b 14,0 a

31,0 ab 16,4 a

32,4 a 21,8 a

3,88* 1,52 ns

15,79 11,44

30,4 34,2

Médias seguidas por mesma letra, na mesma coluna, não diferem entre si pelo teste de Tukey a 5% de

Aos 60 DAS foi determinada a massa seca de plantas de crambe (Tabela 9). Pode

verificar que não houve diferenças estatísticas entre os tratamentos herbicidas e a testemunha,

demonstrando pouca influência dos herbicidas testados no estabelecimento da cultura do

Isso demonstra que a cultura apresenta alto fator de compensação.

Na figura 1, são apresentados os resultados de produtividade de frutos de crambe.

Médias da produtividade de frutos de crambe, obtidas aos 90 dias após a semeadura, submetidas aos seguintes tratamentos herbicida: T1

Trifluralina; T4 – Haloxifope-P-metílico. Jataí-GO, 2012.

se que os tratamentos herbicidas assemelharam-se estatisticamente a

testemunha, o que nos possibilita afirmar que os herbicidas testados são seletivos para a

e massa seca (60 DAS) de

Massa Seca

(kg ha-1)

2706,8 a

3200,4 a

3217,4 a

3305,0 a

0,34 ns

1957,91

33,6

Médias seguidas por mesma letra, na mesma coluna, não diferem entre si pelo teste de Tukey a 5% de

(Tabela 9). Pode-se

entos herbicidas e a testemunha,

demonstrando pouca influência dos herbicidas testados no estabelecimento da cultura do

Na figura 1, são apresentados os resultados de produtividade de frutos de crambe.

Médias da produtividade de frutos de crambe, obtidas aos 90 dias após a semeadura, submetidas aos seguintes tratamentos herbicida: T1 – testemunha; T2

GO, 2012.

se estatisticamente a

testemunha, o que nos possibilita afirmar que os herbicidas testados são seletivos para a

Capa Índice 8643

Page 74: ItALO tELES MACHADO

cultura. Tais resultados confirmam os obtidos por Oliveira Neto et al. (2011), que

demonstraram a seletividade de trifluralina ao crambe.

CONCLUSÃO

Os herbicidas diuron, trifluralina e haloxifope-P-metílico, embora tenham apresentado

sintomas iniciais de intoxicação, mostraram-se seletivos a cultura do crambe.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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<http://agrofit.agricultura.gov.br/agrofit_cons/principal_agrofit_cons>. Acessado em: 18

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OLIVEIRA NETO, A. M.; GUERRA, N.; MACIE, C. D. G.; SILVA, T. R. B.; LIMA, G. G.

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PITOL, C; ROSCOE, R. Introdução e melhoramento de crambe no Brasil. In: Tecnologia e

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2010. 60 p.

RODRIGUES, B.N.; ALMEIDA, F.L.S. Guia de herbicidas. 6.ed. Londrina: Livroceres,

2011. 697p.

ROSCOE, R.; BROCH, D. L.; NERY, W. S. L. Análise de sensibilidade dos modelos agrícola

e industrial de utilização do óleo de crambe na cadeia produtiva de biodiesel em Mato Grosso

do Sul. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE MAMONA, 4 & SIMPÓSIO

INTERNACIONAL DE OLEAGINOSAS ENERGÉTICAS, 1., 2010, João Pessoa. Inclusão

social e energia: Anais Campina Grande: Embrapa Algodão, 2010. p. 332-340.

SOUZA, L. S.; MARTINS, D.; CAMPOSILVAN, D.; VELINI, E.D.; PALMA, V.

Seletividade do halosulfuron isolado ou em mistura com glyphosate para culturas anuais.

Planta Daninha, Viçosa-MG, v.19, n.3,p.351- 358, 2001.

Capa Índice 8644

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CARVALHO, J. C. Avaliação da seletividade da mistura de oxyfluorfen e ametryne, aplicada

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v. 18, n. 1, 2000.

WEISS, E.A. Oilseedcrops. London: Blackwell Science, 2000. 364p.

“Revisado pelo Orientador”

Prof. Dr. Paulo César Timossi Docente de Agronomia / CAJ

Capa Índice 8645

Page 76: ItALO tELES MACHADO

1- Aluno bolsista de iniciação científica 2- Aluno de Mestrado 3- Professor colaborador do projeto 4- Orientadora Revisado pela orientadora

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Anais do Congresso de Pesquisa, Ensino e Extensão- CONPEEX (2012) 8646 - 8654

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GOIANOS(AS) PELO MUNDO: DIAGNÓSTICO DOS PROCESSOS MIGRATÓRIOS

INTERNACIONAIS

DIAS, Vivian Maria da Silva1

DIAS, Luciana de Oliveira2

Palavras-chave: Diagnósticos, Fluxos Migratórios, Goiás.

1 – Introdução

Migração internacional é o movimento de entrada e saída de indivíduos, ou grupos de

indivíduos, de um país para outro, geralmente em busca de melhores condições de vida, tornando-se

parte das estratégias que este grupo migrante cria em sua experiência de viagem, que vão se

construindo desde a partida da terra natal, da travessia das fronteiras, da chegada e tentativa de

permanência em um lugar estranho.

O fator estabelecido para a interpretação relacionada aos diagnósticos fornecidos pelo

Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) do censo 2010 indica que a emigração de

brasileiros não apresenta algo de novo para um país que teve como referência a formação de

emigrantes, e que a cada dia aumenta significativamente o número de pessoas entrando e saindo do

país, sendo que as pessoas migram por vários motivos. Para Néstor García Canclini,

As imigrações não são um fator recente. No final do século passado, aproximadamente 52

milhões de pessoas deixaram a Europa em direção aos Estados Unidos, América Latina e

Austrália. Uma diferença entre esta imigração realizada no final do século e a que

presenciamos agora em direção à Europa diz respeito ao fato de que os primeiros

imigrantes permaneciam desconectados de sua terra, enquanto que os imigrantes atuais

conseguem manter uma comunicação razoavelmente fluida com seus lugares de origem.

Em grande medida, isto é possível em função dos avanços da tecnologia informacional,

permitindo a um imigrante ter acesso aos fatos ocorridos em sua terra natal quase

simultaneamente (CANCLINI,1998, p.4).

Desta perspectiva, foi realizado no âmbito do projeto de iniciação científica o

mapeamento dos processos migratórios de goianos (as) que se encontram no exterior. Vale destacar

que a proposta foi buscar interlocução com emigrantes, familiares de emigrantes, consulados,

Ministério Público, Ministério das Relações Exteriores, associações etc. Estimativas atuais, do

IBGE, indicam que se encontram na condição de emigrantes mais de três milhões de brasileiros. A

1 Acadêmica do curso de Ciências Sociais da UFG/CAC. Pesquisadora de Iniciação Científica PIVIC/CNPq. Endereço eletrônico: [email protected]

2 Doutora em Ciências Sociais pela UnB. Professora Adjunta do Curso de Ciências Sociais UFG/CAC. Orientadora de iniciação Científica. Endereço eletrônico: [email protected]

Capa Índice 8655

Anais do Congresso de Pesquisa, Ensino e Extensão- CONPEEX (2012) 8655 - 8666

Page 86: ItALO tELES MACHADO

América do Norte recebe a maior quantidade de emigrantes brasileiros, depois encontram a Europa

e os países da América Central são os menos procurados brasileiros. Por isso os países de origem e

destino estão distribuídos da seguinte forma:

- EUA - principal destino da população oriunda de todos os estados, especialmente de

Minas Gerais (43,2%), Rio de Janeiro (30,6%), Goiás (22,6%), São Paulo (20,1%) e Paraná

(16,6%);

- Japão - segundo país que mais recebe emigrantes de São Paulo e Paraná,

respectivamente 20,1% e 15,3%;

- Portugal - segunda opção da emigração originada no Rio de Janeiro (9,1%) e em

Minas Gerais representa 20,9%;

- Espanha – notório que os indivíduos que partiram de Goiás elegeram a Espanha como

o segundo lugar preferencial de destino, o que representou 19,9% da emigração. Esse país aparece

como segunda ou terceira opção de uma série de outras unidades da Federação, o que, segundo o

IBGE, permitiria concluir que a proximidade do idioma estaria entre as motivações da escolha.

Países vizinhos:

- Guiana Francesa - o principal destino da emigração proveniente do Amapá;

- Venezuela - recebe a maior parte dos fluxos que partem de Roraima;

- Bolívia - atrai maior volume de emigrantes do Acre;

Apresenta-se também que nas fronteiras do centro-sul do País, Argentina, Uruguai,

Paraguai e Bolívia figuram como quinta opção preferencial dos emigrantes. Ressalte-se que o

resultado do Censo 2010 indica que haveria 4.926 brasileiros residentes no Paraguai, número muito

inferior às estimativas do MRE e da rede consular. Apenas nas jornadas de regularização migratória

dos últimos dois anos, foram atendidos mais de 10 mil nacionais naquele país, o que comprova forte

subestimação do número real. Outro dado relevante que demonstra a subestimação dos números do

IBGE seria o caso do Japão. Segundo dados oficiais do Ministério da Justiça daquele país, havia,

em setembro de 2011, 215.134 brasileiros residentes no arquipélago. As respostas dadas pelos

entrevistados ao IBGE, no entanto, indicam que haveria apenas 36.202 nacionais no Japão em 2010,

o que representa 1/6 do número real.

As experiências migratórias chamam a atenção e fazem problematizar e pensar em

outros tipos de experiências da contemporaneidade e que gravitam em torno da migração

internacional. Assim adentramos em um conjunto de territórios construídos no movimento

cotidiano, nas relações existenciais, dado em sua forma funcional ou simbólica na transposição de

limites e fronteiras.

As rotas em que os brasileiros, e em especial os (as) goianos (as) se encontram divididos

no mundo, também possibilitam identificar faixas etárias tendenciais, o que permite afirmar que a

Capa Índice 8656

Page 87: ItALO tELES MACHADO

maioria dos imigrantes é mais jovem com idades oscilando entre 20 e 34 anos de idade. Em relação

ao sexo, observamos que as mulheres adquiriram certa vantagem em relação aos homens e

verificamos também as regiões do estado que mais migram para outros países.

No estado de Goiás as pessoas embarcam em busca da tão sonhada viagem como

experimento, o caminhar e o permanecer, os encontros e as conversas, o ato de falas etc. No caso da

migração de goianos (as) para os Estados Unidos da América, por exemplo, chama a atenção um

fato que implica consideráveis mudanças demográficas e sócio espaciais em Goiás, pois este se

tornou o segundo estado da federação em número de origem dos migrantes internacionais, para a

necessidade de melhor apreciação de vínculos existentes entre migração internacional,

desenvolvimento e direitos humanos.

Considerando-se a população dos estados nacionais e sua relação com indivíduos

emigrantes, Goiás foi o estado de origem com a maior proporção de emigrantes (5,92 pessoas para

cada mil habitantes), seguido por Rondônia (4,98 por mil habitantes), Espírito Santo (4,71 por mil

habitantes) e Paraná (4,39 por mil habitantes). Sobrália, São Geraldo da Piedade e Fernandes

Tourinho (cidades mineiras) foram as cidades brasileiras com maiores proporções de emigrantes

(88,85 emigrantes por mil habitantes; 67,67 por mil; e 64,69 por mil, respectivamente).

2 - Objetivos

Para diagnosticar os processos migratórios internacionais envolvendo goianos (as) no

mundo, foi realizado um criterioso levantamento bibliográfico além de levantamento e leitura dos

dados do Censo 2010. Esta última atividade foi realizada no portal do site do IBGE. O diagnóstico

dos processos migratórios internacionais foi alcançado após o levantamento de dados bibliográficos.

Perceberemos que Goiás é o estado mais representativo quanto à migração juvenil.

94,3% da emigração brasileira encontram-se (na data de partida do Brasil) na faixa etária de 15 a 59

anos, e na 20 a 34 anos corresponde a 60% do total, a maior parte deles saindo do estado de Goiás.

As mulheres representam a maioria em todas as faixas etárias. Com base nesses resultados, o IBGE

infere que a principal motivação pelo deslocamento de brasileiros ao exterior foi a busca de

emprego de forma individual, em grande medida sem o acompanhamento de outros membros da

família.

Um dos objetivos anunciados, todavia ainda não alcançados a partir das atividades

desenvolvidas, foi analisar as demandas sociais que contribuem para a formulação de políticas

públicas para a migração. Os argumentos analíticos foram sustentados em afirmações como a de

Mary Garcia Castro (2001), coordenadora do Grupo de Trabalho de Migrações Internacionais da

Comissão Nacional de População e Desenvolvimento - CNPD, que diz que “o migrante é, antes de

tudo, uma construção social”.

Capa Índice 8657

Page 88: ItALO tELES MACHADO

3 – Metodologia

A metodologia proposta compreendeu um criterioso levantamento bibliográfico para a

consolidação de um estado da arte das migrações internacionais. Todavia o recurso metodológico

mais recorrente foi a leitura de dados obtidos junto ao IBGE. A leitura do material bibliográfico

utilizado e dos dados estatísticos selecionados colaborou fortemente para mapear e diagnosticar as

rotas escolhidas pelos (as) goianos (as) que se encontram no exterior. Além do IBGE, o Ministério

das Relações Exteriores (MRE) também colaborou para a consolidação do banco de dados que foi

montado. O MRE reconhece que suas estimativas talvez não representem exatamente a realidade

devido a diversos fatores, dentre eles o fato de muitos brasileiros estarem em situação de

irregularidade no país receptor e terem receio de se expor.

Diante de uma considerável bibliografia sobre processos migratórios internacionais, e

diante também dos bancos de dados construído iniciou-se a atividade de interpretação e análise que

culminou na elaboração deste documento que informa sobre uma conexão feita entre fenômenos

migratórios ligando goianos (as) a outros países, abordando expectativas, desejos, sonhos e

imaginações sobre lugares, pessoas, culturas, eventos.

Especialmente quando se trata da sonhada viagem daqueles que partem em busca do seu

principal destino, destacam-se como principais destinos: Estados Unidos (23,8%), Portugal

(13,4%), Espanha (9,4%), Japão (7,4%), Itália (7,0%) e Inglaterra (6,2%). Esse grupo de países

representa 70% do total. Laços históricos e redes sociais previamente estabelecidas explicariam a

preferência por esses países mais distantes em detrimento de países fronteiriços. Cabe ressaltar que,

somados, os primeiros 10 países europeus na lista de preferências (Portugal, Espanha, Itália,

Inglaterra, França, Alemanha, Suíça, Irlanda, Bélgica, Holanda) representam 49% do total, mais do

que o dobro da cifra referente aos EUA. Este diagnóstico dos processos migratórios internacionais

foi tornado possível graças à metodologia selecionada que, destacamos mais uma vez, compreende

levantamento bibliográfico e construção de um bando de dados estatísticos que tiveram como fonte

primária o IBGE e o MRE.

4 – Resultados

O mapeamento do perfil dos(as) emigrantes goianos(as) quanto às variáveis

demográficas, socioeconômicas, de contexto e de rede social, pelos resultados dos dados copilados

demonstrou as causas e motivações que levaram os brasileiros (as) goianos (as) para o exterior.

Merece destaque o desejo de consumo de automóveis e da casa própria, sendo que também

apareceram como motivadores o casamento, o estudo, o trabalho regulamentado no exterior.

Os dados do IBGE, a seguir apresentados, apontaram a estrutura por sexo e idade dos

Capa Índice 8658

Page 89: ItALO tELES MACHADO

emigrantes e revela uma faixa etária que vai de 15 a 59 anos de idade (como dito anteriormente),

segmento das pessoas em idade ativa, reunindo cerca de, 91,3% da emigração. Já os emigrantes

com idade entre 20 a 34 anos representaram com 60% do total de emigrantes. Vale destacar que o

IBGE não inclui nesse resultado os domicílios em que todas as pessoas do núcleo familiar podem

ter emigrado.

Por meio da análise dos dados coletados, percebemos que o principal destino dos

brasileiros foram: os Estados Unidos, seguido de Portugal, Espanha, Japão, Itália e Inglaterra, que

juntos receberam 70,0% dos emigrantes brasileiros. Este diagnóstico possibilita a visualização das

rotas preferenciais e pode ser observado mais detalhadamente na tabela abaixo.

Tabela 1 - Principais destinos de emigrantes brasileiros, 2010

Destino dos brasileiros Porcentagem (%)

Estados UnidosPortugalEspanhaJapãoItáliaInglaterra

23,813,49,47,47,06,2

Fonte: Elaboração própria com base em dados do IBGE, 2010.

Uma análise dos fluxos migratórios envolvendo a distribuição de brasileiros (as) no

exterior apresenta a seguinte configuração em ordem decrescente: 1º América do Norte, 2º Europa e

3º América Central, totalizando 2.146.394 pessoas que saem do seu lugar de origem em busca de

sucesso no exterior. Uma consideração importante é que esses emigrantes jamais esquecem seus

traços de cultura mesmo nos lugares mais distantes (MONTEIRO, 1994). Atenção para a tabela

abaixo que demonstra as afirmações neste parágrafo apresentadas.

Tabela 2 - Total de emigrantes para exterior, brasileiros, 2010

Emigrantes Brasileiros no Exterior Total de pessoas

América do Norte 1.325.100

Europa 816.257

América Central 5.037

Fonte: Elaboração própria com base em dados do IBGE, 2010

A seguir apresentamos as regiões demográficas e alguns estados brasileiros de onde

mais saíram pessoas, ainda de acordo com os dados do IBGE, foram as seguintes:

Capa Índice 8659

Page 90: ItALO tELES MACHADO

• Região Sudeste - 49% do total (240 mil). Sendo 21,6% provenientes de São Paulo

(106 mil, primeiro lugar), 16,8% de Minas Gerais (82,7 mil, segundo lugar) e 7,1%

do Rio de Janeiro (34,9 mil, quinto colocado);

• Região Sul - 17,2% do total. Desse total 9,3% (46 mil pessoas) saíram do Paraná

(terceiro estado na classificação geral);

• Região Nordeste - 15% do total. Destaque-se que 1/3 desse percentual saiu do Estado

da Bahia (5,3%);

• Região Centro-Oeste - 12% do total. Merece destaque o estado de Goiás que contou

com 35,5 mil emigrados (7,2%), quarto lugar na classificação dos estados;

• Região Norte - 6,9% do total.

Somados, os primeiros seis estados da classificação acima apresentada (São Paulo,

Minas Gerais, Paraná, Goiás, Rio de Janeiro e Bahia) representam 67,3% do total de emigração no

Brasil. Uma atenção especial para o fato de que, no que tange à região norte do país, a Venezuela

recebe a maior parte dos fluxos que partem de Roraima; e a Bolívia atrai o maior volume de

emigrantes do Acre.

Outro diagnóstico curioso possibilitado pela análise dos dados foi o fato de o Japão ter

se tornado o segundo país a receber emigrantes oriundos de São Paulo (20,1%) e Paraná (15,3%). O

Rio de Janeiro (9,1%) e Minas Gerais (20,9%) são os estados que apresentam como rota

preferencial Portugal. Demais dados revelam que as pessoas que saíram do Estado de Goiás e que

tiveram como lugar de chegada a Espanha ocupam o segundo lugar de preferência, os (as) goianos

(as) que escolhem a Espanha para morarem representam de 19,9% do total de emigrantes. Análises

apresentadas por Benito, Silva e Monsueto (2010) indicam que o fator motivador dessa preferência

está relacionado à proximidade dos idiomas português e espanhol. Os EUA parecem emergir como

lugar de mais vantagens financeiras, enquanto que a Itália ofereceria para aqueles que tem

ascendência italiana o encontro com suas raízes e maiores garantias social pela possibilidade de

trabalharem como cidadãos e conseguirem inclusive uma aposentadoria.

A tabela a seguir apresenta dados percentuais que indicam quais os estados brasileiros

que mais enviam brasileiros(as) para o exterior e ajuda no exercício de diagnosticar os processos

migratórios internacionais possibilitando visualizar a colocação ocupada pelo Estado de Goiás neste

ranking nacional.

Capa Índice 8660

Page 91: ItALO tELES MACHADO

Tabela 3 - Percentual de emigrados por estado, Brasil, 2010

Estados Brasileiros que mais emigraram Porcentagem (%)

Minas GeraisRio de JaneiroGoiás

43,230,622,6

São PauloParaná

20,116,6

Fonte: Elaboração própria com base em dados do IBGE, 2010

Quanto à variável sexo, destacamos que dos 491.243 mil brasileiros (as) residentes em

193 países do mundo no ano de 2010, 264.743 eram mulheres, o que representa 53,8% e 226.743

homens (46,2%). Esse índice de mulheres migrantes é inovador para o IBGE que pela primeira vez

divulga informações mais pontuais como origem, destino, perfil etário e sexo dos emigrantes.

O perfil dos emigrantes em relação ao sexo com a alta incidência de mulheres em todos

os grupos de idade é um indício de insegurança ao se pensar em emigrante ilegal que envolve um

risco ainda maior de exploração. Se mais da metade dos (as) emigrantes brasileiros (as) são

mulheres são estas que aumentam sua vulnerabilidade no exterior.

De acordo com o IBGE essas variáveis se tornam presentes no momento em que o

censo desenvolve pesquisas para buscar o verdadeiro número de brasileiros (as) no exterior,

mostrando como as relações de sexo estão presentes e descritas. Uma explicação possível é o fato

de as mulheres terem se tornado protagonistas das famílias e buscarem trabalho fora de seu país. As

relações de gênero no âmbito das migrações internacionais demandam por maior reflexão sobre as

mudanças nas relações entre homens e mulheres. O MRE reconhece que suas estimativas talvez não

representem exatamente a realidade, mas enfatizam a necessidade de maiores reflexões acerca das

relações de gênero quando analisamos o fenômeno migratório.

Continuando a pensar sobre a variável sexo nos processos de migração internacional

apresentamos a tabela a seguir que indica o total de emigrantes internacionais, por sexo, segundo os

continentes e os países estrangeiros de destino.

Tabela 4 - Emigrantes internacionais por sexo no mundo

Continentes países estrangeiros de destino Emigrantes internacionais

Total Sexo

Homens Mulheres

Total 491 645 226 743 264 902

Capa Índice 8661

Page 92: ItALO tELES MACHADO

ÁfricaÁfrica do SulAngolaOutrosAmérica CentralAmérica do NorteCanadáEstados UnidosMéxicoAmérica do SulArgentina

8 2862 4793 6962 1113 199129 94010 450117 1042 38638 8908 631

5 8491 6172 9501 2822 09864 0045 06157 8571 08620 8203 875

2 4378627468291 10165 9365 38959 2471 30018 0704 756

ContinuaBolíviaChileGuiana FrancesaParaguaiSurinameUruguaiVenezuelaOutrosÁsiaChinaJapãoOutrosEuropaAlemanhaÁustriaBélgicaEspanhaFrançaHolandaIrlandaItáliaNoruegaPortugalReino UnidoSuéciaSuíçaOutrosOceaniaAustráliaNova ZelândiaOutrosSem declaração

7 9192 5333 8224 9263 4161 7032 2973 64343 9122 20936 2025 501252 89216 6371 4855 56346 33017 7435 2506 20234 6521 39865 96932 2701 72312 1205 55013 88010 8362 98064646

4 4341 1652 1562 8632 0148291 4062 07825 3411 27921 1892 873101 0175 7196072 41316 8337 4761 7683 29111 98138228 77115 4195923 1942 5717 2335 5811 62329381

3 4851 3681 6662 0631 4028748911 56518 57193015 0132 628151 87510 9188783 15029 49710 2673 4822 91122 6711 01637 19816 8511 1318 9262 9796 6475 2551 35735265

Fonte: IBGE, Censo Demográfico 2010.

O espírito empreendedor de muitos (as) brasileiros (as) chama a atenção. A dissertação

de doutorado do geógrafo Alan Patrik Marcus, defendida em 2010, revelou que muitos brasileiros

de Goiás estão se instalando no estado de Massachusetts (EUA), ocupando o segundo lugar em

termos de imigração brasileira à Massachusetts, esse resultado surpreende já que Governador

Capa Índice 8662

Page 93: ItALO tELES MACHADO

Valadares - Minas Gerais, sempre foi tida como a maior exportadora de imigrantes brasileiros para

os Estados Unidos.

A proximidade geográfica do Estado de Goiás com a cidade mineira pode explicar o

fenômeno. De acordo com a pesquisa do geógrafo (MARCUS, 2010) Goiás está ocupando o

segundo lugar em termos de imigração brasileira à Massachusetts, com os valadarenses liderando a

lista. A maioria dos brasileiros que moram em Framingham, cidade com grande número de

brasileiros, é originária de Governador Valadares. Ainda de acordo com aquela dissertação, a

Irlanda tem sido o destino da maioria dos goianos, onde trabalham como empacotadores de carne. A

fim de entender melhor o fenômeno envolvendo goianos (as) destacamos a cidade de Piracanjuba

com 24.000 habitantes. Esta cidade goiana está se tornando o símbolo de goianos (as) que tentam a

vida no exterior. Segundo autoridades locais, 12% da população estariam vivendo fora do Brasil.

No caso da migração internacional de goianos (as) para os Estados Unidos da América,

ganha notoriedade o fluxo direcionado para o Estado da Califórnia, pontualmente para a cidade de

San Francisco (iniciado nos anos 1960). Um destaque especial é para os imigrantes oriundos de

Goiânia, capital do Estado de Goiás, que a partir desse processo migratório recebe notória atenção

como espaço onde se desenlaça a vida, os encontros, as possibilidades de subversão, de transgressão

das fronteiras e limites que se configuram em determinados contextos metropolitanos.

5 - Discussão

A mais recente estimativa do MRE de brasileiros (as) no exterior vem sendo revisada

para incluir dados referentes ao retorno, considerando o bom momento que vive a economia do

Brasil em contrate com países ricos, onde reside o maior percentual de brasileiros. Por esse motivo,

acredita-se que o número de brasileiros (as) no exterior tenha caído de 3 milhões em 2008 para

cerca de 2,5 milhões atualmente. O IBGE também reconheceu o desafio de estimar o número de

brasileiros (as) no exterior, à luz da significativa variação das cifras de uma economia que se

robustece.

Ao divulgar o resultado do Censo referente ao número de nossos conacionais no

exterior em 2010, o IBGE destaca 491.645 (residentes em 193 países) número muito inferior às

estimativas apresentadas no parágrafo acima. Autores dos relatórios do instituto fazem a ressalva de

que já se sabia previamente que o volume de emigrantes internacionais estaria subdimensionado. Os

relatórios apontam algumas limitações que poderiam explicar esse subdimensionamento, entre as

quais a possibilidade de todas as pessoas que residiam em determinado domicílio terem emigrado,

eventual falecimento, ao longo dos anos, dos parentes daquelas que permaneceram em território

brasileiro e a existência de pessoas que emigraram rumo ao exterior há muito tempo e que foram

desconsideradas nas respostas. O Censo 2010 também não inclui os filhos de brasileiros nascidos no

Capa Índice 8663

Page 94: ItALO tELES MACHADO

exterior, dados que os Consulados podem estimar melhor devido aos registros de nascimentos.

A complexidade que envolve a temática objeto deste trabalho demanda por estudos mais

aprofundados inclusive nas demandas por políticas públicas tanto nas sociedades de origem e de

destino, a migração internacional no contexto goiano pode ser um instrumento para se pensar e

planejar as cidades, conhecer os modos de vida, humanizar o trabalho, a saúde e amparar

subjetivamente estes sujeitos que estarão de partida ou que irão chegar, em busca de melhores

condições de vida, em direção a outros países.

Um desafio a ser enfrentado em um futuro próximo diz sobre a necessidade de traçar o

perfil do (a) emigrante goiano (a), verificando suas demandas por políticas públicas nas sociedades

tanto de origem quanto de destino, adensando as reflexões com destaques para os principais

deslocamentos realizados, os grupos sociais a que se vinculam, as rotas escolhidas e também a faixa

etária, todavia interrelacionando-os com ações direcionadas para este segmento em foco que

argumenta migrar sobretudo para trabalhar.

Elie Chidiac (2011) informa que nos dez últimos anos chegaram ao Estado de Goiás, em

forma de divisas dos emigrantes goianos (as), bilhões de reais. O secretário de assuntos

internacionais do Estado de Goiás informa ainda que, em relação à ocupação profissional dos (as)

goianos (as) no exterior, há casos muito particulares, como o dos açougueiros de Piracanjuba

concentrados na Irlanda. Mas, em geral, as principais ocupações são as de pedreiro, entregador de

pizzas, arrumadeiras (faxina em geral), garçonetes, cabeleireiras e cabeleireiros, dançarinas e,

prostituição. Um caso que merece destaque ainda é o dos jogadores de futebol, que vão para a

Europa ou para Oriente Médio, para a Arábia, sobretudo.

As discussões ensaiadas no âmbito deste documento são ainda merecedoras de

aprofundamento investigativo, analítico e reflexivo, sobmaneira se considerarmos que um

diagnóstico dos fluxos migratórios internacionais envolvem complexidades conceituais e

investigatórias que extrapolam os limites de um relatório de iniciação científica. Fica, portanto, o

registro da instigante curiosidade acerca das temáticas que envolvem goianos (as) no mundo e a

promessa de futuramente estudar de maneira avançada e interdisciplinar tão envolvente área

temática.

6- Considerações Finais

O secretário de assuntos internacionais do governo do Estado de Goiás, Elie Chidiac,

estima, em entrevista (2011), que há 300.00 goianos (as) no exterior. Desses, algo menos de

200.000 estão nos Estados Unidos e algo mais 100.000 estão na Europa. Na Europa, os principais

destinos são Portugal, Espanha, Itália, Inglaterra e França; nos Estados Unidos, as cidades de

Atlanta, São Francisco, Nova Iorque e Boston. Na eleição dos destinos há uma inflexão no final de

Capa Índice 8664

Page 95: ItALO tELES MACHADO

2005, início de 2006, sendo que até aquele momento, os Estados Unidos eram, claramente, o

principal destino.

Os (As) goiano (as) chegavam aos EUA por via terrestre, através do México. A partir de

2006 o México começou a exigir visto, com esta ação, o destino principal se converte para a União

Europeia, com a qual o Brasil mantém um acordo que permite que o visto se obtenha ao chegar, no

aeroporto. Elie Chidiac (2011) destaca que essa circunstância reflete-se nas ocorrências, de qualquer

tipo, que chegam à Secretaria. Antes de 2006, 80% das ocorrências tinham a ver com trabalhadores

(as) goianos (as) nos EUA; a partir daquele ano, de 80% a 90% dos casos de ocorrências partem da

Europa.

A crise econômica internacional, bem como o desenvolvimento da economia brasileira,

afeta o fluxo migratório internacional. Por isso apresentamos como proposta de continuidades

desses estudos, alinhada com as preocupações do IBGE e do MRE desenvolver estudos sobre os

retornados. Sobremaneira nos interessa os que entre 2009 e 2010 retornaram a Goiás, ou por

regresso voluntário ou via deportação, o que soma 20.000 pessoas (CHIDIAC, 2011). Por ora,

ficamos com o diagnóstico apresentado que apresenta um bom panorama das rotas preferências, das

causas e motivações apresentadas como justificativa para o ato de sair do país, das principais

tendências quanto à sexo e faixa etária e atividades de trabalho desenvolvidas.

O diagnóstico realizado dos fluxos migratórios de brasileiros (as), e em especial dos

goianos (as), no exterior, permitiu o mapeamento e análise das variáveis demográficas, de contexto

e de rede social. Ainda que consideremos desencontros nos números apresentados por diferentes

institutos e órgãos competentes que colaboraram para montar o banco de dados, fato é que as

análises dos processos migratórios de goianos (as) que saem do Estado para viverem em outros

países demandam por discussões aprofundadas e interdisciplinares capazes de capturar toda a

complexidade que o fenômeno abriga.

7 - Referências Bibliográficas

BENITO, Santos Ruesga; SILVA, Julimar Bichara da; MONSUETO, Sandro Eduardo. Trabalho e

Salário dos Imigrantes Brasileiros na Espanha. Cadernos PROLAM/USP. Ano 9, Vol. 2, 2010. pp.

101-118.

CANCLINI, Néstor García. Culturas Híbridas: Estratégias para Entrar e Sair da Modernidade, São

Paulo: EDUSP, 2008.

CASTRO, Mary Garcia. Migrações internacionais, direitos humanos ordem político social

internacional: por um novo paradigma. In: Encontro Nacional de Estudos Populacionais da ABEP,

15, março 2006, Caxambu, MG. Anais. Caxambu, MG: ABEP, 2006.

Capa Índice 8665

Page 96: ItALO tELES MACHADO

CASTRO, Mary Garcia (coord). Migrações Internacionais – Contribuições para Políticas.

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CHIDIAC, Elie. Migrações e Relações Internacionais. Revista UFG. Goiânia, Julho XIII nº 10, p.

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FAZITO, D.; RIOS-NETO, E. L. G. Emigração internacional de brasileiros para os Estados Unidos.

R. bras. Est. Pop., São Paulo, v. 25, n. 2, p. 305-323, jul./dez. 2008. Disponível em:

<http://www.abep.nepo.unicamp.br/docs/rev_inf/vol25_n2_2008/vol25_n2_2008_8artigo_p305a32

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IBGE. Censo Demográfico. 2010. Disponível em: <http://www.censo2010.ibge.gov.br/amostra/>.

Acesso em: mai. 2012.

MARCUS, Alan Patrik. Back to Goiás and Minas Gerais: Returnees, Geographical Imaginations

and its Discontents. Tempo e Argumento: Revista do programa de pós-graduação em história.

Florianópolis, v. 2, n. 2, p. 121 – 134, jul. / dez. 2010.

MONTEIRO, Paulo Filipe. Emigração, o Eterno mito do retorno. Oeiras: Celta Editora, 1994.

RIBEIRO, Miriam Bianca; MEDEIROS, Domingos Ferreira. Redescobrindo Goiás: geografia e

cultura. São Paulo: FTD, 2006.

“Revisado pela orientadora”.

Capa Índice 8666

Page 97: ItALO tELES MACHADO

ANÁLISE DO PROCESSAMENTO DE PEDIDOS DE EMPRESAS DE UMA

MESMA CADEIA DE SUPRIMENTOS – ESTUDO DE CASO

Wagner França Quadros – [email protected]

Maico Roris Severino (orientador) – [email protected]

Universidade Federal de Goiás – Campus Catalão (UFG–CAC)

Palavras-chaves: Gestão da Cadeia de suprimentos, Processamento de pedidos, Indústria

Automobilística.

1. Introdução

A gestão da cadeia de suprimentos (GCS) é um tema de bastante relevância na

atualidade. O objetivo da GCS é de suprir todas as exigências do consumidor com o menor

custo possível. Para tanto, uma das atividades primárias é o Processamento de Pedidos. O

tempo despendido no processamento de pedidos está diretamente relacionado com o tempo de

resposta ao cliente, e um bom gerenciamento desta atividade implica alcançar um nível eficaz

de serviço prestado ao cliente. Dentre algumas tarefas que devem ser realizadas temos:

preparação de documentos para embarque, coordenação de liberação de crédito, verificação

de erros nos pedidos, transmitir informações aos clientes e interessados, situação de pedidos e

dispersão da informação do pedido para vendas, atualização de registros de estoque, dentre

outros (PRUSAK, 1994).

Buscando vantagens competitivas sobre seus concorrentes as empresas vêm tratando a

gestão do fluxo informacional como algo de muita importância, pois é essencial para alcançar

o grau de competência relativa ao desempenho de atendimento aos pedidos e a eficiência

oferecida com a redução dos custos e melhoria dos processos internos a empresa. A (TI)

tecnologia de informação é a ferramenta de auxilio que busca garantir o fluxo de informações

eficiente. O processamento de pedidos necessita das informações referentes a todo o ciclo do

negócio, de modo a caracterizar procedimentos e parametrizar eventuais sistemas de

informação. Com isso, o uso de Sistemas de Informação proporciona informações de forma

rápida, completa e eficiente.

Este estudo tem como objetivo analisar como são realizados os processamentos de

pedidos em uma cadeia de suprimentos, bem como, desenvolver uma proposta de

processamento mais efetiva aos olhos da coordenação de fluxo da cadeia de suprimentos.

Este é focado no processamento de pedidos realizados por empresas de uma mesma

cadeia de suprimentos. Assim são analisadas as práticas de algumas empresas de tal cadeia e

Capa Índice 8667

Anais do Congresso de Pesquisa, Ensino e Extensão- CONPEEX (2012) 8667 - 8681

Page 98: ItALO tELES MACHADO

após a coleta de dados é elaborada uma proposta de processamento de pedidos e avaliação da

mesma.

Quando se fala em processamento de pedidos tem-se que levar em consideração tudo

que engloba um pedido, qual frequência se realiza estes pedidos, se há a utilização de alguma

tecnologia de informação no auxilio ao acesso e controle das informações, aos relatórios e

quais camadas da cadeia ele engloba, conhecer quais os procedimentos para a transformação

dos pedidos em uma ordem de produção, quanto tempo se leva entre a realização de pedidos

pelo cliente e a entrada da ordem de produção pelo fornecedor, qual o tempo entre a

realização do pedido pelo cliente ou entrada da ordem de produção e a entrega do mesmo e

quais os critérios que são utilizados, considerados para a aceitação, alterações ou recusa dos

pedidos.

Para melhor compreensão deste trabalho, ele está organizado do seguinte modo: na

seção 1 foi apresentada uma contextualização, o objetivo e justificativa do estudo; na seção 2

é apresentada a metodologia utilizada; na terceira seção é apresentada uma revisão

bibliográfica do tema; na seção 4 é apresentado o estudo de caso; e por fim na última seção

são apresentadas as considerações finais.

2. Metodologia

Para a realização deste trabalho foi utilizada como metodologia a pesquisa teórico-

empírica. Em termos da parte teórica foi realizada uma busca em artigos científicos dos

principais congressos de engenharia de produção, o Encontro nacional de engenharia de

produção (ENEGEP), no Simpósio de engenharia de produção (SIMPEP) e no Simpósio de

administração da produção, logística e operações internacionais (SIMPOI) nas edições dos

anos de 2001 a 2011. As buscas foram focadas em artigos que tratavam dos seguintes temas:

processamento de pedidos, gestão da cadeia de suprimentos e logística. Os artigos

pesquisados tratavam tanto de cunho teórico quanto de aplicação e análise da prática (estudos

de casos) dos temas mencionados. Destacam-se artigos que relatavam a competitividade das

empresas na área logística, outros que abordavam utilização de TI (tecnologia de informação)

para melhores desempenhos.

A partir do aporte bibliográfico, em termos empíricos, foi realizado um estudo de caso

em uma empresa montadora de automóveis localizada fora da grande São Paulo. Estudo de

caso é definido como uma abordagem metodológica de investigação especialmente adequada

quando procuramos compreender, explorar ou descrever acontecimentos e contextos

complexos, nos quais estão simultaneamente envolvidos diversos fatores (YIN, 1994). Este

Capa Índice 8668

Page 99: ItALO tELES MACHADO

estudo visa entender como é realizado o procedimento de processamento de pedidos da

empresa junto aos seus diversos fornecedores e clientes, qual a relação da empresa com os

mesmos, para a realização destes quais sistemas são utilizados, quais as dificuldades

enfrentadas pela empresa/funcionários e os fornecedores. Ou seja, um estudo do

processamento de pedidos em uma cadeia de suprimentos específica.

Para a coleta de dados foram realizadas visitas com entrevistas e acompanhamento da

rotina de trabalho, tendo assim observação direta de alguns relacionamentos da cadeia de

suprimentos estudada. A partir da coleta de dados e do diagnóstico da situação da cadeia de

suprimentos estudada, realizou-se uma análise comparativa entre o caso estudado e o que a

literatura propõe como melhores soluções. A partir disto, foi feito um levantamento de

propostas e ações para melhoria no processamento de pedidos da cadeia de suprimentos em

questão.

3. Revisão Bibliográfica

Por definição logística é a “parte da gestão da cadeia de suprimentos responsável por

planejar, desenvolver e controlar de forma eficiente e eficaz o fluxo e a armazenagem de

produtos, bem como os serviços e informações relacionados” (CSCMP, 2010), avaliando

desde o ponto de origem até o ponto de consumo, com a finalidade de atender as necessidades

e exigências do consumidor. Christopher (2002) e Novaes (2001) acrescentam ainda que a

logística tem como objetivo aumentar a lucratividade e a redução dos custos ao longo do

processo, tendo em vista o atendimento das necessidades e preferências do consumidor final.

Uma vez que cada elo da cadeia logística é cliente de seus fornecedores, torna-se necessário

conhecer as necessidades de todos os componentes do processo, para proporcionar total

satisfação. Para Moura (2003) “consiste em dispor dos materiais necessários no momento

apropriado e no lugar certo, ao menor custo global para a empresa.” “O processo de gerir

estrategicamente a aquisição, a movimentação e o armazenamento de matérias, peças e

produtos acabados (e os fluxos correlatos) por meio da organização e de seus canais de

marketing, de modo a poder maximizar a lucratividade presente e futura com o atendimento

dos pedidos de baixos custos” (GOMES & RIBEIRO, 2004).

As organizações vêm em busca de diferenciação, competitividade, buscam participar

de cadeias produtivas competitivas, onde todos os elos queiram buscar a excelência. A

logística permeia esse cenário como importante elemento enquanto considerada o estágio

avançado da gestão. A logística empresarial, segundo Ballou (2006), é dividida entre a

administração de materiais e a distribuição física. Esta última tem especial importância ao

Capa Índice 8669

Page 100: ItALO tELES MACHADO

nível de serviço por tratar-se da etapa que o cliente observa. Bertaglia (2003, p.170) descreve

que “a vantagem competitiva de uma empresa pode estar na forma de distribuir, na maneira

com que faz o produto chegar rapidamente, na qualidade de seu transporte e na eficiência de

entrega de um material”.

Bowersox e Closs (2006, p.80) afirmam que “é a função marketing que determina o

desempenho logístico apropriado”. Portanto, o estabelecimento do nível de serviço ao cliente

reflete diretamente nos resultados na organização, onde a busca por resultados positivos é

aguardada por todos os envolvidos (stakeholders).

Uma atividade inicial e de vital importância no planejamento logístico de distribuição

de uma empresa é o processamento de pedidos, este é caracterizado pelo conjunto de

atividades relacionadas à coleta, verificação e transmissão de informações sobre as vendas

efetuadas, sendo o ponto inicial para o atendimento das requisições dos clientes. Neste ponto

ocorre a entrada e a manutenção dos pedidos dos clientes através do uso de tecnologias de

comunicação (BOWERSOX e CLOSS, 2006). Os sistemas de processamento de pedidos são

projetados de modo a interagir diretamente com o cliente, a fim de elevar o nível de qualidade

do serviço oferecido. O processamento eficaz dos pedidos reduz o tempo de resposta ao

cliente, aumentando a confiabilidade deste em relação ao serviço, além de auxiliar na

organização do fluxo das mercadorias (BALLOU, 1993).

Para o varejo virtual, o processamento de pedidos necessita de equipamentos de

telecomunicação e sistemas capazes de administrar uma grande quantidade de pedidos,

compostos de um pequeno número de itens, e efetuados muitas vezes por novos clientes em

qualquer lugar do planeta, conectados com os portais de venda de produtos.

Na opinião de Lee e Whang (2002), os dois conceitos centrais para tornar eficiente a

conclusão dos negócios on-line são: Utilizar mais os fluxos de informação do que os fluxos

físicos e capitalizar ao máximo os meios e infraestruturas físicas atuais para a reta final da

entrega. Esse aumento de importância do e-atendimento para o varejo virtual acontece devido

a diversas características como: a quantidade de vendas que o varejo virtual realiza em um

único dia, a quebra das barreiras geográficas, as exigências dos consumidores virtuais, que

tendem a ser maiores, as operações de devoluções, que podem ser onerosas, e outros.

Processamento de pedidos é uma das três atividades primárias da logística, e o tempo

despendido nesta atividade pode influenciar diretamente nos custos e níveis de serviços

oferecidos ao cliente. Com base neste contexto pode-se perceber a importância de um sistema

eficaz. As atividades primárias são consideradas o “ponto crítico” das operações logísticas, os

clientes buscam o produto certo na hora e no lugar desejado, e a missão da logística é

Capa Índice 8670

Page 101: ItALO tELES MACHADO

promover isso aos clientes. Fleury (2003) considera que a velocidade, a abrangência e a

qualidade do fluxo de informações ao longo do processo interferem diretamente no custo e na

qualidade das operações logísticas. Percepções conflitantes sobre o real desempenho do ciclo

do pedido, ocorrência de variabilidades significativas nos tempos de ciclo e flutuações

exageradas da demanda ao longo do tempo são problemas que ocorrem com frequência

durante o ciclo do pedido. Tais situações podem ser amenizadas ou resolvidas ao desenvolver

o senso de cooperação entre clientes e fornecedores, além da troca contínua de informação,

em projetos conjuntos.

O principal desafio da gestão da cadeia de suprimentos é atingir os requerimentos do

cliente em relação ao pedido que foi feito. Atender o suposto pedido requer integração da

manufatura, da logística e do marketing. A empresa deve desenvolver parcerias com os

principais membros da cadeia na intenção de atender os requerimentos do cliente de forma

que consiga reduzir o custo ao cliente final. Responder pela entrega precisa e no tempo

correto dos pedidos, com o objetivo de atender as datas das necessidades dos clientes.

Lambert (1998, p.518) diz o seguinte sobre o ciclo do pedido: “O ciclo do pedido

consiste dos seguintes componentes: (1) preparação e transmissão do pedido; (2) recebimento

e entrada do pedido; (3) processamento do pedido, (4) resgate no estoque e embalagem; (5)

expedição do pedido e (6) entrega e descarregamento no cliente”.

Segundo Ballou (2005) e Fleury (2012) são inúmeros os fatores com peso suficiente

para acelerar ou retardar o tempo de Processamento de Pedidos, dentre eles pode-se citar:

Prioridades no processamento, processamento paralelo versus sequencial, exatidão no

atendimento de pedidos, padrão das condições dos pedidos, atrasos na transmissão dos

pedidos, aprovação de créditos, descontos, estabelecimento de prioridades, falta de Estoque.

Uma ferramenta que tem se destacado e está sendo tomada como indispensável para

aumentar o desempenho das empresas no desenvolvimento tanto de seus processos produtivos

quanto na gestão empresarial é a Tecnologia da Informação - TI, como um conjunto

tecnológico constituído de hardware, software, redes de comunicação eletrônica de dados,

redes digitais de telecomunicações, protocolos de transmissão de dados e outros serviços. A

competição, a necessidade de conquistar mercados, atender às demandas por produtos, a

busca de melhores margens, melhoria da qualidade e da produtividade tem levado as

empresas a investirem ao longo do tempo em processos informatizados, que melhorem a

gestão da produção.

Capa Índice 8671

Page 102: ItALO tELES MACHADO

Com a nova geração de tecnologias da informação, mais precisamente os sistemas de

gestão empresarial – ERP – Enterprise Resource Planning, esse descompasso da informação

entre as áreas da empresa poderia ser solucionado.

Resta então resolver uma ligação crucial, aquela entre as tecnologias da informação e

de automação implantadas no chão de fábrica e o ERP, cuja falta ou deficiência se evidencia

entre os processos automatizados e informatizados do chão de fábrica com as demais áreas,

indo da gestão da produção (PCP, Logística, suprimento) à área comercial, passando por

recursos humanos (RH) e finanças.

Drucker (1995) argumenta que o mundo está migrando para uma sociedade do

conhecimento, devido à automação dos processos de trabalho. Nessa nova sociedade, a TI

pode trazer um diferencial para as organizações que souberem utilizá-la de forma adequada,

sendo mais um recurso para competir e permanecer no mercado.

Desse modo a presença cada vez maior da tecnologia da informação nas empresas

tem-se dado por razões estratégicas fundamentais: a competitividade crescente leva à

necessidade de maior domínio sobre os parâmetros que estão em jogo, maior flexibilidade

para adaptar-se às novas condições do mercado e maior capacidade de absorção de novas

técnicas e tecnologias. (SPINOLA; PESSOA, 1997). A TI passa a ter a função de estabelecer

uma estratégia integrada de negócios, da organização e da tecnologia propriamente dita.

O sucesso de uma organização depende da habilidade de gerenciamento para integrar

outras organizações da cadeia, ou seja, formar e coordenar sua rede de relacionamentos

(LAMBERT & COOPER, 2000; MENTZER et. al., 2001). Assim, insere-se a necessidade de

desenvolvimento de relações mais próximas e colaborativas entre fornecedores e clientes,

sendo tais relações enquadradas no conceito ou paradigma de Gestão da Cadeia de

Suprimentos, um conceito holístico de gestão de relacionamentos, relativo a uma série de

atividades de gerenciamento interconectadas (MOURITSEN, SKJOTT-LARSEN &

KOTZAB, 2003).

Comparando os fatores que influenciam no tempo de processamento de pedidos, pode-

se concluir que estes podem ser minimizados ou resolvidos com o auxilio dos sistemas de

informação e também com o estabelecimento de controles e parâmetros desenvolvidos pelo

gestor de logística.

As organizações buscam competitividade, buscam participar de cadeias produtivas

competitivas, onde todos os elos fomentem a busca por excelência. A logística permeia este

cenário como importante elemento enquanto considerada o estágio avançado da gestão.

Capa Índice 8672

Page 103: ItALO tELES MACHADO

São diversos os casos de busca pelos melhores desempenhos logísticos como:

aquisição de ERP’s para acelerar o fluxo de informações, integrações verticais entre outros,

tudo visando um diferencial. Varias empresas buscam melhorias devido a competitividade dos

mercados.

A partir da revisão bibliográfica apresentada, nota-se que para um processamento de

pedidos efetivo têm-se alguns elementos principais, estes estão expostos na primeira coluna

da TABELA 1 apresentada na seção 4.

Estes elementos comprovam o quanto a integração da etapa de processamento de

pedidos é importante dentro de uma cadeia de suprimento. A partir destes tem-se um controle

total de todo o processo dos pedidos e dos ciclos dos mesmos. As empresas normalmente se

preocupam somente com seus processamentos individuais e esquecem que dependem do bom

funcionamento de todos os demais elos da cadeia e que é necessário ter esta preocupação,

fazer uma análise completa de como está o andamento deste processamento nos diversos elos.

O processamento de pedidos engloba desde o cliente até os fornecedores da empresa,

então tem que haver um cuidado com todo o processo e verificar constantemente como está

sua execução em cada setor, para que isso não interfira no processo produtivo e este possa

fluir normalmente, acarretando no cumprimento dos prazos.

A seção a seguir apresenta um estudo de caso detalhado onde se analisa como é

realizado o processamento de pedidos em uma cadeia de suprimentos, levando em

consideração alguns dos elos da cadeia, montante e jusante, desde os pedidos dos clientes,

como esses pedidos são recebidos pelos fornecedores da empresa, como são realizadas essas

trocas de informações até a entrega dos mesmos.

4. Estudo de caso

Tem-se como estudo de caso a cadeia de suprimentos de uma montadora de

automóveis. Localizada fora da grande São Paulo, a unidade em questão está em

funcionamento desde o ano de 1998 e em 2012 empregava 3000 funcionários. Neste mesmo

período a produção variava entre 180 à 210 unidades por dia. Para tanto, a empresa contava

com cerca de 160 fornecedores de material direto (material que é utilizado na produção).

Dentre eles, alguns estavam localizados dentro da sua própria planta (in plant), sendo

fornecedores exclusivos que recebem pedidos e entregam produtos diariamente.

Faz parte também desta cadeia uma unidade central, a comercial que cuida de toda a

parte burocrática da empresa, dos pedidos junto às concessionárias. É esta que realiza as

previsões de vendas anuais e mensais que é encaminhada à montadora.

Capa Índice 8673

Page 104: ItALO tELES MACHADO

Outro elo dessa cadeia são as redes de concessionárias, estas lidam diretamente com o

atendimento aos clientes e oferecem os produtos aos mesmos. São 182 unidades, dentre elas

estão as centrais que gerenciam todas as filiais, sendo responsáveis tanto pelas questões

burocráticas como no contato direto com a montadora que é a fornecedora de seus produtos.

O processamento de pedidos da cadeia estudada se inicia nas concessionárias, é

através delas que os clientes têm acesso aos produtos e podem realizar seus pedidos. Para as

analises escolheu-se uma das unidades de uma das redes de concessionárias que trabalham

diretamente com a montadora estudada e pode-se assim iniciar a coleta dos dados.

A rede de concessionárias em questão possui 4 unidades, cada uma em uma cidade

distinta. Por estarem em áreas de atuação diferentes, é natural que as unidades lidem com

mercados e demandas distintas. Considerando essa diferença cada filial tem um contrato de

concessão junto à montadora, contrato este que é estabelecido pela direção geral das

concessionárias e área comercial da montadora, e então recebem atribuições fixas mensais, ou

seja, quantidades fixas de cada modelo de carro para serem vendidos por mês.

A unidade visitada trabalha com estoques de 50 a 60 veículos, visa sempre atender a

pronta entrega os clientes. Quando não há o produto que o cliente quer a pronta entrega,

através de um sistema de comunicação interno entre as unidades o vendedor tem acesso aos

estoques das outras lojas da rede de concessionária e caso ele encontre o veículo que procura

solicita a entrega imediata do mesmo a respectiva unidade, esse lead time é de no máximo 1

dia.

Se os produtos não forem encontrados em nenhuma das unidades os vendedores então

realizam os pedidos junto a central, através de telefonemas e e-mails, os pedidos chegam às

mãos do gerente geral. É através da direção geral que os pedidos chegam à área comercial da

montadora e esta repassa via e-mails a montadora para serem fabricados. Pedidos feitos

diretamente a montadora tem um lead time de entrega de 30 a 45 dias.

O setor de planejamento e controle da produção (PCP) da montadora é responsável por

todo o funcionamento da linha de montagem, e o encarregado de fazer toda a programação da

produção (Scheduling). A partir das previsões anuais, e posteriormente as mensais enviadas

via e-mail pela unidade comercial, o PCP vai tem um panorama inicial do que terá que ser

produzido. Porém estes números oscilam muito, a variação de produção da fábrica chega a

70% em um mês o que força o Planejamento a buscar sempre números diários.

Trabalhando com esses números mensais o PCP realiza via o sistema ERP da empresa

seus pedidos ao pessoal do Planejamento de Compras e Materiais (PCM), para que eles

realizem as compras das peças e reabasteçam os estoques.

Capa Índice 8674

Page 105: ItALO tELES MACHADO

Já com os números diários vão ser executadas as ordens de produção junto aos

fornecedores que entregam produtos direto na linha de montagem e ao setor de pintura que

trabalha no fornecimento das carrocerias pintadas direto na área de seletividade (área onde

ficam as carrocerias prontas para a montagem), são enviados e-mails de 30 em 30 minutos

com o sequenciamento atualizado da linha, para que o fornecimento seja na ordem correta e a

linha flua normalmente.

Esse sequenciamento é realizado levando em consideração os pedidos via comercial,

os modelos já pintados que estão na seletividade, as peças que se tem em estoque e o Takt-

Time da linha. Para o balanceamento ideal da linha, os modelos são montados de forma

intercalada levando em consideração os tempos de montagem de cada um.

O departamento de PCM também trabalha diretamente com o setor de logística para

selecionar os melhores fornecedores, aqueles que são pontuais para não prejudicar a produção

e que seus produtos sejam de qualidade. O setor de suprimentos, que faz parte do PCM que é

responsável pelas negociações com os fornecedores, determinando assim os lotes mínimos, as

datas de entrega dos pedidos.

A partir da consulta da programação da produção mensal de cada produto, o PCM

realiza as compras do mês junto a cada fornecedor. Os pedidos são realizados baseados nas

necessidades, nos estoques de segurança, estes que variam de acordo com cada

produto/espaço/preço e duram cerca de 4 a 8 dias. Destaca-se que o controle dos fornecedores

é realizado via planilhas eletrônicas.

Um mecanismo de controle de pedido que merece destaque é com o fornecedor de

peças usinadas. Pelo fato de fornecer uma grande quantidade de itens utiliza-se o sistema

KANBAN eletrônico. Este sistema é atualizado manualmente o que facilita na prevenção de

erros nos pedidos. É uma ferramenta de fácil controle porque é visual, considera a quantidade

de peças em trânsito, quais foram as compras realizadas, emite as necessidades de compras

(baseadas nos estoques), mostra a pontualidade de cada fornecedor (se as peças estão sendo

entregues dentro dos prazos) e se a qualidade está dentro das especificações. Para auxiliar o

sistema kanban e ter uma visão geral de como está a variação de entregas de cada fornecedor

o sistema gera histogramas e estes auxiliam na tomada de decisões quanto a pontualidade,

qualidade e outros.

Dentre os 160 fornecedores, cerca de 10 a 12 são de total confiança da empresa. Estes

conseguem exatamente seguir o padrão de qualidade estipulado pela marca. Assim, são

autorizados a entregar suas peças diretamente na linha de montagem e não passam por

conferências. Destes fornecedores de confiança, escolheu-se o que fornece peças plásticas

Capa Índice 8675

Page 106: ItALO tELES MACHADO

para estudar como é realizado seu processamento de pedidos. Só este fornece cerca de 120

itens como: para-choques, painel dos veículos, protetores laterais da lataria, retrovisores, forro

de teto interno entre outros. É um fornecedor de grande importância e foi integrado a planta

da montadora visando facilitar, agilizar esse fornecimento.

Para que o fornecimento destas peças seja em quantidades e tempos corretos o

processamento de pedidos é realizado mensalmente pelo PCM através de e-mails, e

atualizados após 15 dias baseando-se nos estoques. No caso de peças como os painéis, os

pedidos também são realizados via e-mails, mas são gerados diretamente do PCP como uma

ordem de produção. De 15 em 15 dias o pessoal do planejamento passa uma visão do que vai

ser produzido nos próximos dias e suas respectivas quantidades para que o fornecedor se

programe. Mas há também uma comunicação diária via intranet, onde é passado todas as

informações da produção diária juntamente com o sequenciamento da produção atualizado.

Isto é realizado para que um pequeno estoque seja formado na linha de montagem e não haja

paradas na produção por falta de peças.

Para conseguir atender aos pedidos da montadora, o fornecedor de peças plásticas

conta com 10 fornecedores nacionais e 2 do exterior. Os pedidos junto a estes são realizados

via e-mails diretos, para as peças importadas é adotado um lead time de 60 dias, para as peças

nacionais o lead time é bem menor e varia de cada fornecedor. A principal matéria prima

utilizada é a fibra de vidro, esta é trazida da unidade principal e seu lead time é de 15 dias. Por

mês a unidade consome cerca de 120 toneladas deste material.

Para a realização dos pedidos respeita-se além das ordens do PCP da montadora

também seus estoques que possuem um giro de uma semana, o que vai depender do mix de

produção estipulado. Utiliza-se também de estoques de segurança para atender pedidos extras

que não estavam programados (o que ocorre com grande frequência). Logo as ordens de

produção variam de acordo com a demanda e os pedidos são realizados de acordo com as

necessidades e dos estoques que são sempre mantidos.

Para melhor compreensão, a FIGURA 1 apresenta a configuração da cadeia de

suprimentos estudada, a FIGURA 2 apresenta como é realizado o processamento de pedidos

neste estudo de caso e a TABELA 1 apresenta uma síntese da análise realizada na pesquisa de

campo.

Capa Índice 8676

Page 107: ItALO tELES MACHADO

FIGURA 1: Configuração da cadeia de suprimentos estudada. Fonte: Elaborado pelos autores.

FIGURA 2: Representação do processamento de pedidos na cadeia de suprimentos estudada. Fonte: Elaborado pelos autores.

Capa Índice 8677

Page 108: ItALO tELES MACHADO

TABELA 1: Análise dos elementos do processamento de pedidos na cadeia estudada. Elementos de Análise Concessionárias Montadora Fornecedor

Verificação e transmissão de informações sobreas vendas efetuadas, transmissão dos pedidos; Via e-mail e telefone. Via e-mail e telefone. Via e-mail e telefone.

Recebimento, entrada e manutenção dospedidos; Os pedidos são feitos pelos clientes. As concessionárias realizam os pedidos de

acordo com as necessidades. Recebe as previsões de vendas.

Expedição dos pedidos; Via email e telefone. Via email e telefone. Via email e telefone.

Situação do pedido e dispersão das informações; Acompanhamento on line sem dispersão.Acompanhamento via ERP. Dispersão quando

não é realizada a baixa no estoque dos componentes.

Quanto o acompanhamento: para importados rastreamento via código de importação; para nacionais não há. Dispersão insignificante.

Atualização de registros de estoques; Em tempo real. Em tempo real. Em tempo real.

Entrega e descarregamento no cliente; A cada 2 dias. Para painéis diariamente. Para demais itens semanalmente

Para importados semanal. Para nacionais a cada 2 dias.

Frequência dos pedidos; Atribuição fixa mensal e mais pedidos extras. Para painéis diária. Para demais itens quinzenlmente.

Para importados mensais. Para naciais quinzenalmente.

Há a utilização de TI? Utilizam um sistema interno de controle de estoque entre as lojas da concessionárias

Entre a àrea comercial e o PCP não existe um sistema integrador. Entre o PCP e o PCM utiliza-

se um ERPComunicação via e-mails

Quais os procedimentos para transformação dopedido em uma ordem de produção; Não há

Através da análise do PCP sobre a vendas realizadas e a disponibilidade de materiais

inserem a ordem no ERP

Para painéis gera a ordem de produção baseada no sequenciamento da montadora. Para os

demais itens gera a ordem de produção baseado nos pedidos, capacidade produtiva e estoques.

Quanto tempo entre a realização do pedido pelocliente e a entrada do ordem de produção pelofornecedor;

30 dias Para painéis 1 dia. Para os demais itens 10 dias. Para importados 15 dias. Para nacionais 10 dias.

Quanto tempo entre a realização do pedido pelocliente e a entrega do mesmo; 45 dias Para painéis 1 dia. Para os demais itens 15 dias. Para importados 60 dias. Para nacionais 15 dias.

Quanto tempo entre a entrada da ordem deprodução do pedido e a entrega do mesmo; 15 dias Para painéis 12 horas. Para os demais itens 5

dias. Para importados 45 dias. Para nacionais 5 dias.

Quais os critérios para aceitação, recusa oualteração do pedido;

O pedido tem que estar de acordo com as opções disponíveis.

O pedido tem que estar de acordo com as opções disponíveis.

O pedido deve estar de acordo com os projetos de componentes desenvolvidos conjuntamente.

Fonte: Elaborado pelos autores

Capa Índice 8678

Page 109: ItALO tELES MACHADO

5. Considerações finais

O objetivo deste trabalho foi realizar um estudo de caso onde se analisava como são

realizados os processamentos de pedidos em uma cadeia de suprimentos, bem como,

desenvolver propostas de processamento mais efetivas aos olhos da coordenação de fluxo da

cadeia. O estudo foi direcionado no processamento de pedidos realizados por empresas de

uma mesma cadeia de suprimentos.

Após a realização do estudo pode-se concluir que na cadeia analisada há muitos

pontos a serem pensados e modicados. O principal deles é coordenação do fluxo de

informações entre os elos, todo o sistema é interligado via e-mails e estes atualizados

manualmente várias vezes ao dia, isso retarda o processamento dos pedidos e as chegadas de

informações aos seus destinos finais. A solução para este e muitos outros problemas seria a

aquisição de um sistema que integrasse toda a rede, ou pelos menos entre a montadora (PCP,

PCM), os fornecedores mais diretos que recebem pedidos e entregam peças diariamente e a

rede de concessionárias.

Um ERP para fazer essa ligação entre esses elos é o ideal e fará com que todos eles

tenham acesso às informações em tempo real: vendas das concessionárias, quantidades de

peças ainda em estoque, o que foi pedido aos fornecedores e o que eles têm em estoque, entre

outros. Existe uma série de vantagens na utilização da tecnologia da informação e no caso de

processamento de pedidos é de grande importância, pois, da agilidade ao processo, passa

informações atualizadas e acaba sendo um diferencial competitivo para a empresa.

As principais limitações do estudo foram devido à consideração de apenas alguns elos

da cadeia em questão, foi analisado o processamento de pedidos de apenas um dos 160

fornecedores e apenas uma das 182 lojas de concessionárias que trabalham com a marca. Tal

fato pode levar ao questionamento se tais comportamentos se repetem para os demais. Desta

forma, sugere-se como estudos futuros, aumentar a abrangência de um estudo desta mesma

natureza, podendo ter uma visão mais ampla do processamento de pedidos em uma cadeia de

suprimentos.

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“REVISADO PELO ORIENTADOR”

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Page 112: ItALO tELES MACHADO

Uso da goma de caju em substituição ao ágar em meio de cultura

Wendell Jacinto Pereira, Karla de Aleluia Batista e Kátia Flávia Fernandes

Instituto de Ciências Biológicas (ICB II), Departamento de Bioquímica e Biologia Molecular

Endereços eletrônicos: [email protected] (autor principal);

[email protected] (orientadora)

Palavras-chave: polissacarídeos, cultivo microbiológico, Anacardium occidentale.

Introdução

As gomas podem ser definidas de forma ampla como substâncias incolores, inodoras,

insípidas e não tóxicas, sendo substâncias poliméricas que em solvente apropriado podem

formar soluções altamente viscosas ou até mesmo géis (ALI, ZIADA e BLUNDEN; 2009)

termo goma denota especificamente um grupo de polissacarídeos (glicanas) e seus derivados,

que hidratam em água quente ou fria, formando uma solução viscosa ou dispersão de baixa

concentração (ZOHURIAAN E SHOKROLAHI, 2004). São substancias químicas de elevada

massa molecular, hidrofílicas, com propriedades coloidais, produzindo em solventes

orgânicos como clorofórmio, acetona, etanol suspensões altamente viscosas, com funções

espessantes, gelificantes, emulsificantes, estabilizantes e aglutinantes (LIMA, 2001). Vários

vegetais possuem a capacidade de exsudar estas gomas que atuam como material selante,

além de possuírem agentes com atividade biocida. Das plantas que apresentam exsudato,

merece destaque o cajueiro (Anacardium occidentale, L.), cuja goma e rica em

monossacarídeos e oligossacarídeos (LIMA, 2001).

O cajueiro da espécie Anacardium occidentale pode ser encontrado em várias regiões

do país, produzem exsudato com grande número de polissacarídeos. Anderson e Bell, 1975,

caracterizaram o exsudato gomoso de cajueiro como contendo 61% de galactose, 14% de

arabinose, 7% de ramnose, 8% de glicose e 5% de ácido glicurônico, além de traços de

manose, xilose e ácido 4-O-metilglicuronico (menor que 2%). O principal ácido

aldobiuronico presente é o ácido 6-O-β-D glicopiranosiluronico-D- galactose; pequenas

amostras de análogos de 4-O-metil também estão presentes. Uma banda da hidrólise ácida

mostrou somente duas galactobioses, 3-O- β -D- galactopiranosil-D-galactose (maior

componente) e 6-O- β - D- galactopiranosil – D- galactose (menor componente). A analise da

goma de Anacardium occidentale L. indica uma estrutura de galactana altamente ramificada

consistindo de cadeia com ligacoes β- (1-3) e β- (1-6) Dgalactose. A arabinose esta presente

Capa Índice 8682

Anais do Congresso de Pesquisa, Ensino e Extensão- CONPEEX (2012) 8682 - 8693

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como grupo terminal ou em ramificacoes curtas (1- 2) ligadas com cinco unidades longas.

Glicose, ramnose, manose, xilose e acido urônico estão presentes como grupos terminais.

A caracterização estrutural por cromatografia gasosa e ressonância magnética mostra

que o polissacarídeo e composto por três tipos de unidades de galactana ligadas por C1 e C3,

C1 e C6 e C1, C3 e C6, estando à glicose presente na cadeia lateral, com cinco unidades.

Estão presentes no heteropolissacárideo sais de cálcio, magnésio, potássio e sódio, conferindo

a goma uma massa molecular media de 1,5 x 104 kDa (MONTHE E RAO, 1999). A Figura 1

apresenta uma possível estrutura da goma de cajueiro (ANDERSON E BELL, 1975).

A estrutura e composição da goma do cajueiro, repleta de carboidratos, sugere que

assim como outras gomas já descritas na literatura, esta possui grande potencial para

utilização como fonte de polissacarídeos de aplicação biotecnológica (WU et al, 2009)

(KASHYAP et al, 2001). Contudo, a grande disponibilidade de espécies desse gênero no país

e sua ampla faixa geográfica de obtenção fazem com que o polissacarídeo presente em seu

exsudato seja uma alternativa de substituição a outros polímeros cuja obtenção é mais

onerosa. É o caso do ágar, mistura dos polissacarídeos agarose e agaropectina, sendo um

produto utilizado em laboratórios de cultivo de microbiologia como gelificante para a

elaboração de meios de cultura sólidos (WU, et al., 2009). Todo o ágar consumido nos

laboratórios do Brasil é importado, o que agrega mais custo às pesquisas tornando-se fator

limitante, além de provocar evasão de capital de pesquisa.

O grande numero de sacarídeos presentes na goma de cajueiro indica uma boa

capacidade de formar soluções com alta viscosidade e possivelmente a formação de géis.

Partindo dessa constatação, o trabalho em questão testou os polissacarídeos da goma do

cajueiro da espécie Anacardium occidentale e como colóide em meio de cultura visando

diminuir a dependência e custos com ágar.

Objetivos

Objetivo geral

Avaliar a viabilidade de substituição do ágar por goma de cajueiro em meios de

cultura sólidos.

Objetivos específicos

Extração de polissacarídeo de exsudato de plantas do gênero Anacardium, buscando

obter o melhor rendimento;

Capa Índice 8683

Page 114: ItALO tELES MACHADO

Avaliar a substituição de ágar por goma de cajueiro em diferentes meios de cultura:

Batata Dextrose Ágar (BDA);

Yeast Peptone Dextrose (YPD);

Luria-Bertani (LB);

Caracterizar os meios substituídos quanto a capacidade de armazenamento, dureza e

capacidade de permitir o crescimento dos microorganismos.

Testar os meios de cultura contendo goma de cajueiro para crescimento de fungos,

leveduras e bactérias.

Avaliar por microscopia ótica se o meio promove alterações morfológicas nos

microrganismos testados.

Material e Métodos

1. Origem e purificação do PEJU

A goma bruta foi coletada de cajueiros na fazenda da CIALNE, município de Pacajus no

estado do Ceará. Os nódulos foram triturados e dissolvidos em agua destilada na proporção de

20% (p/v) e a mistura mantida em temperatura ambiente por 24 horas para completa

dissolução. A solução obtida foi filtrada em nylon (90 fios) e em seguida foi adicionado

etanol absoluto, na proporção de 1:3 e a suspensão obtida mantida em temperatura ambiente

por 24 horas. Após decantação, o sobrenadante foi descartado e o precipitado (PEJU) lavado

com etanol absoluto, para em seguida, ser filtrado em nylon (110 fios). O PEJU obtido foi

seco, triturado e armazenado em frascos hermeticamente fechados, em temperatura ambiente

até a sua utilização.

2. Substituição em meio de cultura

Os meios selecionados para avaliação da substituição foram: Luria-Bertani (LB), Yeast

Peptone Dextrose (YPD) e Ágar Batata Dextrose (BDA). Foram testadas substituições de ágar

por PEJU de forma que a porcentagem final da mistura ágar + PEJU atingisse 1,5% (m/vol)

do volume total do meio de cultura. O delineamento de substituição e os meios avaliados esta

representado na tabela 1. Para o teste inicial utilizou-se 3 placas de petri para cada meio de

cultura relacionado na tabela. Os meios foram autoclavados a 120ºC por 15 min e em seguida

foram vertidos em 3 placas de petri medias, sendo que cada placa recebeu 25 mL de meio.

Como critério de seleção inicial observou-se o tempo para solidificação do meio, o aspecto

Capa Índice 8684

Page 115: ItALO tELES MACHADO

visual comparando-se os meios alterados com o controle e o aspecto da textura ao perfurar o

meio com alça de platina.

A substituição com características mais próximas do meio controle foi à selecionada para

a realização dos demais testes para validação do PEJU como substituinte ao ágar na

formulação dos meios de cultura sólidos.

Tabela 1- Meios avaliados quanto à capacidade de substituição ao ágar.

Meio de cultura % ágar* %PEJU* Massa ágar + PEJU para

100 ml de meio. (g)

LB CONTROLE 100 0 1,5

LB PEJU 25 75 25 1,5

LB PEJU 50 50 50 1,5

LB PEJU 75 25 75 1,5

LB PEJU 100 0 100 1,5

YPD CONTROLE 100 0 1,5

YPD PEJU 25 75 25 1,5

YPD PEJU 50 50 50 1,5

YPD PEJU 75 25 75 1,5

YPD 100 0 100 1,5

BDA CONTROLE 100 0 1,5

BDA PEJU 25 75 25 1,5

BDA PEJU 50 50 50 1,5

BDA PEJU 75 25 75 1,5

BDA PEJU 100 0 100 1,5

*% em relação à massa final utilizada como agente gelificante (ágar + PEJU).

3. Avaliação das características do meio selecionado.

3.1 Textura.

Capa Índice 8685

Page 116: ItALO tELES MACHADO

Para as concentrações de substituição selecionadas foram preparados a cada dois dias

placas contendo os meios LB, YPD e BDA controles e PEJU substituídos .Os meios foram

armazenados a 4 °C pelo período de doze dias, sendo que no décimo segundo dia foram

submetidos ao teste em aparelho texturômetro TA-XT (Extralab Brasil), com probe cilíndrico

de 6,0 mm de diâmetro e velocidade de movimentação de 1,0 mm/s. O ponto de parada da

probe foi fixado em 3,0 mm após a tensão de ruptura e a grandeza analisada foi força máxima

de resistência à penetração (CARUSO, 2009).

3.2 Capacidade de manutenção higroscópica (umidade).

Para as concentrações de substituição selecionadas foram preparadas três placas contendo

os meios LB, YPD e BDA controles e PEJU substituídos. Os meios foram armazenados a 4°C

pelo período de doze dias. A cada dois dias as placas foram pesadas em balança analítica e a

perda da umidade foi calculada de acordo com a equação, onde n é o dia após a confecção do

meio.

100)100*inicial dia no Peso

n dia no Peso( = X% de perda na umidade.

4. Avaliação da capacidade de promover o crescimento de microrganismos.

Utilizando os meios de cultura com a % de substituição selecionada anteriormente,

avaliou-se a capacidade de crescimento dos microrganismos comparando-se com os meios

controles. Os testes para crescimento de microrganismos foram realizados com culturas já

disponíveis no laboratório. Foram testadas varias espécies de microrganismos que se

enquadram nas categorias: bactérias, fungos filamentosos e leveduras. As bacterias foram

inoculadas em meio LB, os fungos filamentosos e a espécie de levedura Candida albicans

foram inoculados em meio BDA, e as leveduras (exceto C. albicans) em meio YPD,

conforme Tabela 2. O crescimento de cada espécie no meio contendo a substituição de ágar

por PEJU foi comparado ao respectivo meio controle utilizando a técnica de unidades

formadoras de colônia (UFC) e/ou medição do crescimento do halo (média de duas medições

do diâmetro em eixos transversais) como critérios de avaliação.

Tabela 2. Organismos utilizados para avaliação do crescimento, meio utilizado, método de

avaliação e tempo de crescimento.

Espécie Categoria Meio de Tempo Análise de

Capa Índice 8686

Page 117: ItALO tELES MACHADO

cultura crescimento

Staphylococcus aureus Bactérias LB 24 h UFC

Eschericcia coli

Bacillus subtilis

Saccharomyces

cerevisiae

Leveduras YPD 48 h

Pichia pastoris 96 h

Candida albicans BDA 48 h

Aspergillus niger Fungos

filamentosos

96 h Diâmetro do halo

Penicillium sp.

5. Analise estatística.

Todos os testes foram realizados em triplicata, com repetições. Os dados obtidos

foram submetidos à análise de variância (ANOVA) e teste Tukey para comparação das

médias, utilizando nível de significância de 0,05. O programa utilizado para a análise dos

dados foi o Statistica 6.0 (StatSoft Inc, Tulsa, OK, USA).

Resultados e Discussão

Após a extração obteve-se o polissacarídeo denominado PEJU conforme visualizado

na imagem abaixo:

Capa Índice 8687

Page 118: ItALO tELES MACHADO

Figura 1. Coma do cajueiro (esquerda) e polissacarídeo extraído (PEJU [direita]).

Ao avaliar-se as características de o tempo para solidificação do meio, o aspecto visual

comparando-se os meios alterados com o controle e o aspecto da textura ao perfurar o meio

com alça de platina dos meios contendo substituição por PEJU constatou-se que os meios

PEJU50% foram os que apresentaram maior capacidade de substituição mantendo

características próximas as características dos meios controle.

Os meios contendo 75 % de substituição apresentaram capacidade de solidificação do

meio de cultura, no entanto, apresentaram tempo elevado de solidificação (>40min) quando

comparado com os meios controles (< 10min). Além do tempo de solidificação, os meios

com 75% de PEJU apresentaram baixa resistência ao manuseio com alça de platina, portanto

não seriam práticos quanto a inoculação de microrganismos. Já os meios contendo 100% de

PEJU não foram capazes de solidificarem.

Quanto à perda de umidade, os meios BDA, LB e YPD contendo a substituição não

apresentaram diferença significativa quando comparados com os meios controles em nenhum

dos pontos avaliados (Tabela 2, figura 1).

Tabela 2. Perda de umidade nos meios contendo a substituição e nos meios controles.

Meio de

cultura

Perda de

umidade até

o dia 2 (%)

Perda de

umidade até

o dia 4 (%)

Perda de

umidade até

o dia 6 (%)

Perda de

umidade até

o dia 8 (%)

Perda de

umidade até

o dia 10 (%)

Perda de

umidade até

o dia 12 (%)

BDA PEJU

50%

3,22i±0,27 5,75g±0,44 9,45e,f±0,65 12,23d±0,84 14,76b,c±1,12 17,34a±1,54

BDA 4,15i,g±0,18 5,92g±0,29 8,88f±0,05 11,27d,e±0,29 13,20c,d±0,57 15,34a,b±0,74

Capa Índice 8688

Page 119: ItALO tELES MACHADO

CONTROLE

YPD PEJU

50%

2,47g±0,22 4,75f±0,43 8,26e±0,44 10,88d±0,69 13,18b,c±0,81 15,52a±1,01

YPD

CONTROLE

2,70g±0,33 4,94f±0,41 8,55e±0,68 11,40c,d±0,91 13,47b±0,84 15,91a±0,72

LB PEJU

50%

2,67f±0,43 4,99e±0,49 8,34d±0,24 10,86c±0,34 12,92b±0,43 15,13a±0,52

LB

CONTROLE

2,77f±0,12 5,16e±0,28 8,59d±0,40 11,16c±0,32 13,51b±0,18 15,87a±0,36

Letras minúsculas na mesma coluna indicam que não houve diferença significativa.

Figura 2. Gráfico da perda de umidade durante os dias para os meios contendo substituição e

para os meios controles.

Quanto a textura os meios BDA, LB e YPD contendo a substituição apresentaram

textura significativamente menor quando comparados com os meios controles em todos os

períodos avaliados. Contudo esta diminuição na textura não ocasionou dificuldades nos

procedimentos de manuseio e inoculação dos microrganismos (Tabela 3, figura 2).

Tabela 3. Textura dos meios contendo a substituição e meios controles após armazenamento.

0,00

2,00

4,00

6,00

8,00

10,00

12,00

14,00

16,00

18,00

20,00

dia 2 dia 4 dia 6 dia 8 dia 10 dia 12

BDA PEJU 50%

BDA CONTROLE

YPD PEJU 50%

YPD CONTROLE

LB PEJU 50%

LB CONTROLE

Capa Índice 8689

Page 120: ItALO tELES MACHADO

Meio de

cultura

BDA PEJU

50%

BDA

CONTROLE

YPD PEJU

50%

YPD

CONTROLE

LB PEJU

50%

LB

CONTROLE

Força máxima

24h (N)

6,09f±0,08 20,80d±0,66 6,72e±0,12 26,67b,c,d±0,38 6,10c±0,08 26,83a,b±1,35

Força máxima

72h (N)

6,09f±0,21 22,02c,d±0,22 5,94e±0,01 25,14d±0,50 5,87c±0,15 31,12a±0,24

Força máxima

120h (N)

6,36e,f±0,10 21,71c,d±0,32 6,30e±0,06 25,27c,d±0,41 6,42c±0,30 24,21b±0,43

Força máxima

168h (N)

6,30e,f±0,10 24,63b±1,15 6,71e±0,18 26,96b,c,d±0,27 6,26c±0,10 27,97a,b±0,61

Força máxima

216h (N)

6,42e,f±0,50 23,18b,c±1,24 7,57e±0,48 30,50a±0,41 7,12c±0,46 29,71a,b±0,45

Força máxima

264h (N)

7,99e±0,53 27,52a±0,84 6,55e±0,49 28,50a,b,c ±0,99 6,46c±0,43 28,11a,b±1,90

Força máxima

312h (N)

7,31e,f±0,09 27,31a±0,52 6,55e±0,49 29,68a,b±3,82 7,33c±0,12 29,07a,b±7,79

Letras minúsculas iguais na mesma linha indicam que não houve alteração significativa.

Figura 3. Textura dos meios contendo a substituição e meios controles após armazenamento.

Todos os microrganismos utilizados para o teste mostraram capacidade de

desenvolvimento semelhante aos seus controles (Tabela 4), de modo que não houve

demonstração de inibição ou dificuldade de crescimento nos meios contendo a substituição de

ágar por PEJU (Figura 4).

Tabela 4 – Crescimento das culturas microbiológicas nos meios substituídos e controles.

0,00

5,00

10,00

15,00

20,00

25,00

30,00

35,00

40,00

24h 72h 120h 168h 216h 264h 312h

BDA PEJU 50%

BDA CONTROLE

YPD PEJU 50%

YPD CONTROLE

LB PEJU 50%

LB CONTROLE

Capa Índice 8690

Page 121: ItALO tELES MACHADO

Espécie Meio de cultura Critério Tipo do meio Valor médio

(número de colônias

ou diâmetro)

Staphylococcus

aureus LB UFC Controle 3,0 ± 1,0

Substituído 5,7 ± 3,0

Eschericcia coli LB UFC Controle 7,0 ± 1,0 Substituído 9,0 ± 5,0

Bacillus subtilis LB UFC Controle 3,7 ± 2,1 Substituído 4,7 ± 1,5

Saccharomyces

cerevisiae

YPD UFC Controle 5,0 ± 1,0 Substituído 4,3 ± 2,3

Pichia pastoris YPD UFC Controle 7,0 ± 2,0 Substituído 6,7 ± 3,0

Candida albicans BDA UFC Controle 2,7 ± 1,2 Substituído 3,3 ± 0,6

Aspergillus niger BDA Diâmetro halo Controle 4,4 ± 0,1 Substituído 5,0 ± 0,4

Penicillium sp. BDA Diâmetro halo Controle 5,2 ± 0,3 Substituído 4,6 ± 0,1

Figura 4. Comparativo do crescimento de microrganismos nos meios substituídos e meios

controles.

De cima para baixo T. asperellum, S. cerevisae, E. coli

Capa Índice 8691

Page 122: ItALO tELES MACHADO

Conclusões

A substituição parcial do ágar por polissacarídeo de PEJU mostra-se viável para a

formulação de meios de cultura sólidos. Com excessão da textura avaliada pela forma máxima

de rompimento os meios de cultura contendo a substituição a 50% não tiveram alterações

significativas nas características estudadas. Os meios substituídos demonstraram não

interferirem no crescimento dos microrganismos sendo, portanto adequados para a utilização

em atividades que exijam o cultivo de bactérias, fungos filamentosos e leveduras. A

substituição de ágar por PEJU é uma alternativa viável para reduzir os custos com a

fabricação de meios de cultura, proporcionando ainda valorização de matéria prima abundante

no Brasil em detrimento do consumo de ágar que é um produto de alto valor agregado de

origem extrangeira.

Referências Bibliográficas

ALI, B. H.; ZIADA, A.; BLUNDEN, G. Biological effects of gum Arabic: a review of some

recent research. Food and Chemical Toxicology, v. 47, n. 1, p. 1-8, 2009.

ZOHURIAAN, M.J.; SHOKROLAHI, F.; Thermal studies on natural and modified gums

Polymer Testing 23, 575-579, 2004.

LIMA, A.C.; SANTOS, R.A.; ALMEIDA, F.A.G.; BANDEIRA, C.T.; Estimulantes químicos

na extracao da goma de cajueiro (Anacardium occidentale,L.), Ciencia rural, v. 31, n.3,

p.409-415, 2001.

MONTHE, C.G.; RAO, M.A.; Rheological behavior of aqueous dispersions of cashew gum

and gum arabic: effect of concentration and blending, Food Hydrocolloids, 13, 501-506,

1999.

ANDERSON, D. M.; BELL, P. C. Structural analysis of the gum polysaccharide from

Anacardium occidentale. Analytica Chimica Acta, v. 79, p. 185-197, 1975.

KASHYAP, D. R.; VOHRA, P. K.; CHOPRA, S.; TEWARI, R. Applications of pectinases in

commercial sector: a review. Bioresource Technology, v. 77, p. 215-227, 2001.

Capa Índice 8692

Page 123: ItALO tELES MACHADO

WU, Y.; GENG, F.; CHANG, P. R.; YU, J.; MA, X. Effect of agar on the microstructure and

performance of potato starch film. Carbohydrate Polymers, v. 76, p. 299-304, 2009.

CARUSO, M. W. Análise do efeito combinado da irradiação e do tratamento

hidrotérmico nas características de qualidade de mangas para exportação. 2009. 61f.

Dissertação (Mestrado em Ciências) – Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares, São

Paulo, 2009.

Revisado pelo orientador.

Capa Índice 8693

Page 124: ItALO tELES MACHADO

DESSECAÇÃO DE CAPIM-BRAQUIÁRIA EM DIFERENTES QUANTIDADES DE

MASSA FRESCA COM GLYPHOSATE

Werley Soares Silva1, Paulo César Timossi2, Uadson Ramos da Silva3, Dieimisson Paulo

Almeida 3

1 Discente do Curso de Agronomia do Campus Jataí/UFG – Bolsista PIVIC. 2 Docente do Curso de Agronomia do Campus Jataí/UFG – Orientador. 3 Discente de Mestrado em Agronomia/Produção Vegetal do Campus Jataí/UFG.

Universidade Federal de Goiás - Campus Jataí, CEP 75800-000, Brasil

e-mail: [email protected]; [email protected]

Palavras-chave: Herbicida, Brachiaria ruziziensis, plantas de cobertura.

INTRODUÇÃO

A Brachiaria ruziziensis hoje e considerada, por muitos produtores, como a cobertura

vegetal mais adequada para a execução do sistema plantio direto em regiões de clima tropical.

Esta espécie possui crescimento prostrado, com menor entrouceiramento, o que facilita o

desempenho das semeadoras. É sensível ao glyphosate, com morte rápida, o que favorece as

operações de dessecação e plantio mecanizado. A planta apresenta alta relação C/N, o que

garante a presença da cobertura por um longo período (Giancotti, 2012). Alguns

pesquisadores como Franco et al. (2010) e Brighenti et al. (2011) afirmam que a Brachiaria

ruziziensis apresenta maior viabilidade para a implantação de sistemas sustentáveis, uma vez

que necessita de menor quantidade de glyphosate para seu controle.

Segundo Kluthcouski et al. (2003), espécies do gênero Brachiaria levam em torno de

vinte dias para morrer, requerendo maior antecipação da dessecação em relação a semeadura.

Entretanto, Nunes et al. (2010), constataram que para Brachiaria decumbens o manejo químico

pode ser entre 7 e 14 dias anterior à semeadura da soja, sem causar danos na produtividade. A

velocidade com que ocorre a morte das plantas pode variar de acordo com a espécie (Brighenti

et al., 2011) e também com a quantidade de massa acumulada pelas plantas (Timossi et al.,

Capa Índice 8694

Anais do Congresso de Pesquisa, Ensino e Extensão- CONPEEX (2012) 8694 - 8702

Page 125: ItALO tELES MACHADO

2006). Entretanto, ainda são poucas as pesquisas que demonstram essa premissa, sendo

necessário, mais pesquisas científicas.

OBJETIVOS

O objetivo deste trabalho foi avaliar a quantidade do herbicida glyphosate a ser

adotado na dessecação de Brachiaria ruziziensis em diferentes quantidades de massa, na

estação de primavera/verão (safra) e verão/outono (safrinha).

MATERIAL E MÉTODOS

O presente trabalho foi realizado na Universidade Federal de Goiás, Campus Jataí,

situado as margens da BR-364. A região conta com uma altitude de cerca de 680 metros e

uma precipitação pluviométrica anual de cerca de 1800 milímetros, distribuída entre os meses

de Setembro a Abril e a temperatura media deste período está em torno de 25 ºC. O solo do local

de estudo é considerado Latossolo Vermelho distroférrico.

O projeto foi realizado a campo, durante o período de safra (estação primavera/verão),

sendo repetido no período de safrinha (verão/outono). Para a implantação dos ensaios, fez se a

escolha de área com cobertura homogênea de B. ruziziensis, a qual parte foi manejada com

roçadora tratorizada, simulando áreas de pastagens superpastejadas e parte foi mantida

natural, ou seja, sem pastejo, as quais apresentavam respectivamente média de altura de 10 e

35 cm. O acúmulo de massa vegetal de capim-braquiária foi determinado com o lançamento

ao acaso, por duas vezes por parcela de quadro metálico com dimensões de 0,25 m2, por

época de implantação do ensaio. No primeiro ensaio, a massa seca encontrada no rebaixado

foi de 1,4 t ha-1, no natural 2,3 t ha-1. No segundo ensaio a massa seca encontrada foi de 0,8 t

ha-1 e 3,2 t ha-1 respectivamente.

No experimento utilizou o delineamento de blocos ao acaso num esquema de parcelas

subdivididas 2x4, totalizando oito tratamentos, com quatro repetições (parcelas de 3,5m x

7,5m). As parcelas foram divididas em plantas em pleno desenvolvimento (natural) e

rebaixadas (simulação de superpastejo). Quanto às subparcelas, foi utilizado Roundup Ultra®

nas dosagens 1, 2, 3 kg ha-1, além de testemunha mantida sem aplicação de herbicidas. A

formulação de Roundup Ultra apresenta 650 g e.a. kg-1 do produto comercial (Agrofit, 2012),

além de possuir a vantagem de rápida absorção pelas plantas, o que impede perda por chuvas

torrenciais, após uma hora de aplicação (Monsanto, 2012).

As condições climáticas encontradas na implantação dos ensaios 1 e 2 estão

mencionadas na Tabela 1.

Capa Índice 8695

Page 126: ItALO tELES MACHADO

Tabela1. Condições atmosféricas inerentes ao momento da aplicação do herbicida.

ÉpocaT1

(ºC)T2

(ºC)UR1

(%)UR2

(%)HA1

(h)HA2

(h)VV

(km/h)CN(%)

Primavera/Verão 24,3 26 70 68 08:40 09:10 0 5Verão/Outono 27 29 75 70 15:40 16:30 6 75

Temperatura (T), Umidade Relativa (UR), Horário de Aplicação (HA), Velocidade do Vento (VV), Cobertura de Nuvens (CN). (1) Inicial, (2) Final.

As avaliações foram feitas aos 7, 14, 21, 28, 35 dias após a aplicação dos herbicidas,

baseando-se na porcentagem de controle de 0% a 100%. A nota zero equivale ao não controle

da cobertura vegetal, e 100 a morte total da mesma. Após á ultima avaliação (35 DAA) em

ambos os ensaios foi realizado registro fotográfico da massa vegetal remanescente (rebrotes),

dando nota de 0 a 100 da área da parcela que havia de plantas apresentando rebrotes.

Com as informações obtidas realizou-se análise de variância pelo teste F e para

comparação de médias adotou o teste de Tukey a 5% de probabilidade (Banzato & Kronka,

1989), adotando-se o programa estatístico ESTAT.

As médias mensais das condições climáticas inerentes ao período de condução

experimental, obtidas no INMET, estação de Jataí, são apresentadas na Figura 1.

Figura 1. Médias mensais das condições climatológicas inerentes à precipitação pluviométrica,

temperatura máxima e temperatura mínima, obtidas durante os meses de novembro de 2011

a junho de 2012 na estação meteorológica de Jataí-GO.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Os resultados obtidos para os ensaios desenvolvidos em suas respectivas épocas,

primavera/verão e verão/outono, são apresentados e discutidos em subcapítulos.

0,0

5,0

10,0

15,0

20,0

25,0

30,0

35,0

0

50

100

150

200

250

300

350

nov dez jan fev mar abr mai jun

Tem

pera

tura

(°C

)

Prec

ipit

ação

(mm

)

Precipitação Temperatura máxima Temperatura mínima

Capa Índice 8696

Page 127: ItALO tELES MACHADO

a) Ensaio Primavera/Verão (Safra)

Na tabela 2, pode-se verificar interação significativa aos 7 e 14 DAA, as quais são

apresentadas nas tabelas 3 e 4. Nota-se na tabela 3, que a eficácia de controle aos 7 DAA foi

mais lenta quando a cobertura vegetal apresentava-se no estágio natural a partir de 2 kg ha-1 de

Roundup Ultra. No entanto, aos 14 DAA tal diferença foi inexistente, com bom nível de

controle para ambos os estágios testados.

Tabela 2. Valores de F calculado, coeficientes de variação (CV%) das porcentagens de eficácia do

controle das diferentes coberturas nas dosagens de 0, 1, 2 e 3 kg ha-1 do herbicida Roundup

Ultra, conduzido na estação Primavera/Verão. Jataí - GO, 2011.

Variável 7 DAA 14 DAA 21 DAA 28 DAA 35 DAA

FCoberturas (C) 5,25 ns 10,49* 1,12ns 67ns 05ns

Dosagens (D) 372,20** 1035,4** 793,18** 713,31** 450,07**C x D 8,22** 8,67** 1,40ns 77ns 03ns

CoberturaRebaixada 70,31 a 71,13 a 69,63 aNatural 68,00 b 69,56 a 69,06 a

DMS 6,95 6,08 8,06CV(%) parcelas 8,93 7,68 10,33

Dosagens

0,0 kg ha-1 00,00 c 00,00 c 00,00 c1,0 kg ha-1 77,87 b 81,88 b 77,88 b2,0 kg ha-1 99,00 a 99,50 a 99,50 a3,0 kg ha-1 99,75 a 100,00 a 100,00 a

DMS 6,70 7,14 8,93CV(%) Subparcelas 6,86 7,17 9,11

(1)Médias na mesma linha, seguidas de letras maiúsculas iguais e, na mesma coluna, seguidas de letras minúsculas iguais, não diferem entre si pelo teste de Tukey (P≤0,05).

Tabela 3. Desdobramento da interação significativa para os resultados obtidos na avaliação visual de dessecamento das coberturas vegetais, realizada aos 7 dias após a aplicação do herbicida Roundup Ultra. Jataí-GO, 2011.

Dosagem do HerbicidaRoundup Ultra

Dessecamento das coberturas vegetais

Rebaixada Natural

0 kg ha-1 00,00 d A1 00,00 c A 1 kg ha-1 52,50 c A 55,00 b A 2 kg ha-1 83,70 b A 71,25 a B 3 kg ha-1 97,25 a A 75,00 a B

DMS (5%)Herb. dentro de Coberturas 11.36

11.02Cob. Dentro de herbicidas(1)Médias na mesma linha, seguidas de letras maiúsculas iguais e, na mesma coluna, seguidas de letras minúsculas iguais, não diferem entre si pelo teste de Tukey (P≤0,05).

Capa Índice 8697

Page 128: ItALO tELES MACHADO

Tabela 4. Desdobramento da interação significativa para os resultados obtidos na avaliação visual de dessecamento das coberturas vegetais, realizada aos 14 dias após a aplicação do herbicida Roundup Ultra. Jataí-GO, 2011.

Dosagem do HerbicidaRoundup Ultra

Dessecamento das coberturas vegetais

Rebaixada Natural

0 kg ha-1 00,00 c A1 00,00 c A1 kg ha-1 85,00 b A 66,25 b B2 kg ha-1 98,75 a A 92,75 a A3 kg ha-1 100,0 a A 98,25 a A

DMS (5%)Herb. dentro de Coberturas 8,13

6,97Cob. Dentro de herbicidas(1)Médias na mesma linha, seguidas de letras maiúsculas iguais e, na mesma coluna, seguidas de letras

minúsculas iguais, não diferem entre si pelo teste de Tukey (P≤0,05).

Verifica-se que aos 21 DAA há diferença significativa entre as médias de controle das

vegetações pesquisadas, indicando maior rapidez no controle da cobertura rebaixada. A partir

de 28 DAA, os resultados se igualam. Constata-se também que a dose de 1 kg ha-1 de

Roundup Ultra mostrou-se ineficiente no controle da cobertura. Verifica-se ainda na tabela 2

que o controle eficiente da cobertura vegetal ocorreu a partir de 28 DAA, com a aplicação de

2 kg ha-1 de Roundup Ultra, para ambas as situações pesquisadas.

b) Ensaio Verão/Outono (safrinha)

Na tabela 5 pode-se verificar a interação significativa aos 7, 21, 28 e 35 DAA. Tais

interações são apresentadas nas tabelas 6, 7, 8 e 9. Aos 7 DAA (tabela 6), constata-se que a

vegetação natural apresenta controle inicial mais lento. No entanto, a partir dos 21 DAA, tal

diferença assemelha-se a vegetação rebaixada. Verifica-se também que a dose de 1 kg ha-1

mostra-se inferior as doses de 2 e 3 kg ha-1 respectivamente. O mesmo pode ser constatado

aos 21, 28 e 35 DAA.

Pode-se observar que tanto no ensaio safra quanto no de safrinha, o controle da

Brachiaria, em ambas as situações (rebaixado e natural), o controle foi satisfatório a partir dos

14 DAA atingindo medias maior que 90% de controle, a partir de 2 kg ha-1 do produto

comercial utilizado. Tais resultados corroboram com Nunes et al. (2009) que afirmam que

para um bom manejo da Brachiaria decumbens torna-se necessário realizar o manejo

químico entre 7 e 14 dias antes da semeadura da soja. Nepomuceno (2011), também sinaliza

que para o manejo da B. ruziziensis, torna-se necessário realizar o controle químico entre 10 e

20 dias antes da semeadura para maiores produtividades de soja RR. Para o Girassol, segundo

Giancotti (2012), a partir dos 7 dias do controle químico não causa efeito na produtividade.

Capa Índice 8698

Page 129: ItALO tELES MACHADO

Para o Milho, segundo Silva (2011), para o plantio direto, em campo, recomenda-se o plantio

com 22 dias após o controle químico na Brachiaria ruziziensis. Vários autores já pesquisaram

a influencia do período correto da dessecação para não afetar a produtividade de culturas. No

entanto, a influência da quantidade de massa vegetal na dosagem de glyphosate a ser aplicada,

ainda não havia sido pesquisada.

Tabela 5. Valores de F calculado, coeficientes de variação (CV%) das porcentagens de eficácia do controle das diferentes coberturas nas dosagens de 0, 1, 2 e 3kg ha-1 do herbicida Roundup Ultra. Jataí - GO, 2012.

Variável 7 DAA 14 DAA 21 DAA 28 DAA 35 DAA

FCoberturas (C) 176,33** 48,24** 16,16* 20,11* 19,26*Dosagens (D) 574,92** 65,89** 531,49** 408,69** 361,57**

C x D 13,15** 2,31ns 4,72* 4,72* 5,36**

CoberturaRebaixada 68,31 a Natural 62,63 b

DMS 2,61 CV(%) parcelas 3,54

Dosagens

0,0 kg ha-1 00,00 c 1,0 kg ha-1 71,25 b 2,0 kg ha-1 92,25 a 3,0 kg ha-1 98,38 a

DMS 7,04 CV(%) Subparcelas 7,60

Tabela 6. Desdobramento da interação significativa para os resultados obtidos na avaliação visual de dessecamento das coberturas vegetais, realizada aos 7 dias após a aplicação do herbicida Roundup Ultra. Jataí-GO, 2012.

Dosagem do HerbicidaRoundup Ultra

Dessecamento das coberturas vegetais

Rebaixada Natural

0 kg ha-1 00,00 c A1 00,00 c A1 kg ha-1 62,50 b A 47,50 b B2 kg ha-1 78,75 a A 56,25 a B3 kg ha-1 82,50 a A 62,50 a B

DMS (5%)Herb. dentro de Coberturas 7,86

5,51Cob. Dentro de herbicidas(1)Médias na mesma linha, seguidas de letras maiúsculas iguais e, na mesma coluna, seguidas de letras minúsculas iguais, não diferem entre si pelo teste de Tukey (P≤0,05).

Capa Índice 8699

Page 130: ItALO tELES MACHADO

Tabela 7. Desdobramento da interação significativa para os resultados obtidos na avaliação visual de dessecamento das coberturas vegetais, realizada aos 21 dias após a aplicação do herbicida Roundup Ultra. Jataí-GO, 2012.

Dosagem do HerbicidaRoundup Ultra

Dessecamento das coberturas vegetais

Rebaixada Natural

0 kg ha-1 00,00 c A1 00,00 c A1 kg ha-1 83,75 b A 65,00 b B2 kg ha-1 99,75 a A 94,00 a A3 kg ha-1 100,0 a A 99,75 a A

DMS (5%)Herb. dentro de Coberturas 11,43

7,98Cob. Dentro de herbicidas(1)Médias na mesma linha, seguidas de letras maiúsculas iguais e, na mesma coluna, seguidas de letras minúsculas iguais, não diferem entre si pelo teste de Tukey (P≤0,05).

Tabela 8. Desdobramento da interação significativa para os resultados obtidos na avaliação visual de dessecamento das coberturas vegetais, realizada aos 28 dias após a aplicação do herbicida Roundup Ultra. Jataí-GO, 2012.

Dosagem do HerbicidaRoundup Ultra

Dessecamento das coberturas vegetais

Rebaixada Natural

0 kg ha-1 00,00 c A1 00,00 c A1 kg ha-1 83,25 b A 62,00 b B2 kg ha-1 99,75 a A 94,75 a A3 kg ha-1 100,0 a A 99,75 a A

DMS (5%)Herb. dentro de Coberturas 13,04

8,88Cob. Dentro de herbicidas(1)Médias na mesma linha, seguidas de letras maiúsculas iguais e, na mesma coluna, seguidas de letras minúsculas iguais, não diferem entre si pelo teste de Tukey (P≤0,05).

Tabela 9. Desdobramento da interação significativa para os resultados obtidos na avaliação visual de dessecamento das coberturas vegetais, realizada aos 35 dias após a aplicação do herbicida Roundup Ultra. Jataí-GO, 2012.

Dosagem do HerbicidaRoundup Ultra

Dessecamento das coberturas vegetais

Rebaixada Natural

0 kg ha-1 00,00 c A 00,00 c A1 kg ha-1 82,50 b A 58,75 b B2 kg ha-1 100,0 a A 96,75 a A3 kg ha-1 100,0 a A 99,75 a A

DMS (5%)Herb. dentro de Coberturas 13,92

9,46Cob. Dentro de herbicidas(1)Médias na mesma linha, seguidas de letras maiúsculas iguais e, na mesma coluna, seguidas de letras minúsculas iguais, não diferem entre si pelo teste de Tukey (P≤0,05).

Os resultados obtidos em ambos os ensaios demonstra que houve necessidade da

aplicação de pelo menos 2 kg ha-1 de Roundup Ultra para alcançar 100% de controle da

Capa Índice 8700

Page 131: ItALO tELES MACHADO

cobertura vegetal. Entretanto, Vieira et al.(2008), obtiveram resultados semelhantes, porém

com dosagem inferior ao referendado nesta pesquisa. Vale salientar que na situação em que

foi desenvolvida esta pesquisa, a Brachiaria estava estabelecida por mais de 10 anos, o que

pode ter influenciado na necessidade de maior dosagem de glyphosate. Pôde-se observar

também que a dosagem de 1 kg ha-1 do produto comercial, não foi suficiente para controlar

totalmente a vegetação, possibilitando cerca de 6% de rebrote em ambos os ensaios.

Conclusões

Conclui-se que a dosagem de 1 kg ha-1 de Roundup Ultra, não foi suficiente para

proporcionar controle total das coberturas vegetais estudadas, ocasionando rebrotes. Até os 14

DAA a vegetação natural, ou seja, com maior quantidade de massa apresenta velocidade de

controle mais lenta que na rebaixada.

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GIANCOTTI, P.R.F. Período de Dessecação de Brachiaria Ruziziensis e B. Brizantha

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SILVA, A. P. Período de dessecação da Brachiaria ruziziensis no desenvolvimento e

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Ciências Agrárias e Veterinárias – UNESP – Campus de Jaboticabal, Jaboticabal.

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(Doutorado). Faculdade de ciências Agrárias e Veterinárias – UNESP – Campus de

Jaboticabal, Jaboticabal.

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Capa Índice 8701

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fins de plantio direto. VI Seminário de Iniciação Científica da UEG e III Jornada de

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FRANCO, C. F.; FREITAS, T. T.; TIMOSSI, P. C.; GONÇALVES, R. N.; BARRETTO, V.

C. M. Racionalização no uso de glyphosate com a adoção de Brachiaria como plantas de

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http://extranet.agricultura.gov.br/agrofit. Acessado em: 17 de Julho de 2012.

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KLUTHCOUSKI, J.; STONE, F. L.; AIDAR, H. Integração Lavoura Pecuária. Santo

Antonio de Goiás: Embrapa Arroz e Feijão, 2003.p.456-457.

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cobertura. Planta Daninha, Viçosa. MG, v.24, n.3,p.475-480, 2006.

“Revisado pelo Orientador”

Prof. Dr. Paulo César Timossi Docente de Agronomia / CAJ

Capa Índice 8702

Page 133: ItALO tELES MACHADO

Relações entre Transtorno Distímico, Atividades Laborais e Qualidade de Vida

Wesley Marques Ponte

Aluno do Curso de Psicologia da UFG (094500)

[email protected]

Prof.ª Drª. Mara Rúbia de Camargo Alves Orsini

Professora Orientadora

[email protected]

Curso de Psicologia

Faculdade de Educação/UFG

Introdução

Melancolia, do grego melagkholía, na atual edição do dicionário Michaelis (1998) é

definida da seguinte maneira, “estado de humor caracterizado por uma tristeza vaga e

persistente”. Vê-se que o atual significado da palavra melancolia não se alterou de forma

significativa desde o seu primeiro uso, por Hipócrates, para definir o estado de humor no qual

o sujeito se encontra em uma situação de letargia, humor decaído, redução de suas

capacidades de interação social e de trabalho (SPANEMBERG; JURUENA, 2004).

A personalidade “melancólica” do humor tem sido alvo de estudos e reflexões desde a

Grécia antiga, quando Hipócrates determinou quatro humores ou fluidos básicos que regiam,

segundo o seu equilíbrio, a personalidade humana, sendo eles o expansivo e otimista para o

sanguíneo, cujo fluido representativo é o sangue; pacífico e dócil para o fleumático, cujo

fluido atribuído é a linfa; ambição e explosões de humor para o colérico, que tem por fluido a

bílis; e o melancólico, que é triste e mal-humorado, sendo seu fluido a atrabílis ou bílis negra,

provavelmente o nome dado ao sangue coagulado (DALGALARRONDO, 2000). O tipo

melancólico na Grécia clássica era tido como característica comum aos intelectuais vista

como fonte de status social e imagem de inteligência e refinamento. Entretanto, com o passar

Capa Índice 8703

Anais do Congresso de Pesquisa, Ensino e Extensão- CONPEEX (2012) 8703 - 8714

Page 134: ItALO tELES MACHADO

do tempo, foi assumindo um caráter sintomático e, gradativamente, tomando o status de

síndrome, e mais tarde de transtorno (RODRIGUES, 1999).

O termo melancolia percorreu uma trajetória histórica, assumindo diversos

significados e, com isso, diversos impactos sociais em seu uso e significação. Surgiu na

Grécia, como uma forma de humor que correspondia a sujeitos de castas nobres e intelectuais,

depois seguindo pela idade média como uma influência maligna de forças místicas. Reaparece

no renascimento como um fenômeno cerebral multifacetado e digno de investigação, e hoje,

como um transtorno de humor a ser mais bem investigado e conhecido como depressão

(SPANEMBERG; JURUENA, 2004).

A partir dos estudos sobre melancolia, em 1863, o cientista Karl Ludwig Kahlbaum,

na Alemanha, determinou para a doença uma divisão definida por dois termos: a ciclotimia

para as flutuações do humor em suas formas mais leves e a distimia para a forma que se

apresenta de maneira contínua e atenuada (SPANEMBERG; JURUENA, 2004). Hoje, a

distimia é considerada pelo Manual Diagnóstico e Estatístico dos Transtornos Mentais

(DSM), atualmente em sua 4ª edição, uma depressão de sintomatologia leve e crônica.

Esses pacientes são tidos como indivíduos demasiadamente autocríticos que

apresentam baixo interesse, autoimagem distorcida, baixa autoestima, fraca concentração,

dificuldade em tomar decisões, manter e estabelecer relações sociais. Spanemberg e Juruena

(2004) afirmam, a partir dos estudos de Akiskal e colaboradores (1978), que o Transtorno

Distímico situa-se na categoria dos transtornos de humor, pois a “depressão neurótica”,

categoria dentro da qual a distimia era considerada anteriormente, não apresentava

características fenomenológicas suficientes para constituir-se como uma entidade nosológica

separada das demais formas transtornos de humor. Tal reconsideração da distimia representa

um avanço, uma vez que sendo considerada fora dos ditos transtornos de personalidade,

ocorreu a despatologização de traços que se constituem como algo possivelmente normal à

personalidade humana (SPANEMBERG; JURUENA, 2004).

O Transtorno distímico apresenta um diagnóstico relativamente complexo, devido à

forma como o portador assimila a ideia dos seus sintomas, de forma a criar uma autosugestão

que pode ser descrita como “É assim que eu sou”. Tal assimilação pode se relacionar ao fato

de que a apresentação do transtorno se dá de forma predominantemente subjetiva, com uma

maior presença de sintomas ao invés de sinais, oposto do que ocorre, por exemplo, com o

transtorno depressivo maior que apresenta nítidos sinais neurovegetativos (CASTEL;

Capa Índice 8704

Page 135: ItALO tELES MACHADO

SCALCO, 1997). Além disso, há o fato de, geralmente, o paciente com distimia procurar

auxílio com queixas pouco específicas como letargia ou mal humor. Outro fator complicador

do diagnóstico é a alta taxa de comorbidades, que deixam o quadro ainda mais sério, como o

caso em que o paciente distímico apresenta “depressão dupla”, quadro no qual transtorno

distímico e transtorno depressivo maior ocorrem simultaneamente (SPANEMBERG;

JURUENA, 2004).

Cavalheiro e Tolfo (2011) citam dados epidemiológicos sugerindo que a depressão

pode se constituir como um problema de saúde pública, dados o alto sofrimento pelo qual

passa o paciente depressivo, bem como a alta taxa de suicídios decorrentes da doença. Ainda

nesta via, Moraes et al (2006) citam alguns estudos que propõem que 75% dos suicídios

cometidos têm relação com a depressão e que, dependendo dos critérios diagnósticos, pode

chegar-se a 20% da população mundial o diagnóstico de depressão. Segundo dados da

Organização Mundial da Saúde (OMS)1, a depressão se associa à perda de, pelo menos,

850.000 vidas por ano. Lidera, também, como principal causa de incapacidade laboral no

mundo e se encontra na quarta posição como causa de perda de dias de produção.

Dados da Dataprev (BRASIL, 2011) evidenciam que, em 2009, transtornos mentais e

de comportamento ocuparam o terceiro lugar como causa dos auxílios-doença concedidos no

Brasil, sendo que 40% destes são depressões. Apresenta, também, dados dos anuários

estatísticos de acidentes no trabalho (BRASIL, 2006, 2007, 2008) que mostram um aumento

vertiginoso nos índices de sujeitos avaliados com depressão relacionadas com a sua situação

laboral, sendo que em 2006 eram 359 casos, após o aperfeiçoamento dos nexos técnicos

epidemiológicos em 2007 chegam à 3.601 casos de episódios depressivos e 291 de transtornos

depressivos recorrentes; e em 2008 eram 5.208 casos de episódio depressivo e 981 casos de

transtorno recorrente. Complementando estas estatísticas, Spanemberg e Juruena (2004),

afirmam que 3 a 6% da população, em geral, sofre com a distimia e que a mesma, como uma

forma subsindrômica, frequentemente aparece associada com outras formas de depressão,

dentre elas um vínculo de 40% de relação com o Transtorno Depressivo Maior.

Segundo Spanemberg e Juruena (2004), o paciente distímico pode investir em seu

trabalho ou atividades laborais a energia que antes seria colocada no estabelecimento de

relações sociais e manutenção das mesmas. Entretanto, por mais que sejam considerados

1WORLD HEALTH ORGANIZATION. Depression. Disponível em:

http://www.who.int/mental_health/management/depression/definition/en>.Acesso em: 08 jan. 2011.

Capa Índice 8705

Page 136: ItALO tELES MACHADO

excelentes trabalhadores, há de se ter em vista o típico grau de insatisfação com as próprias

atividades, como fruto de uma autocrítica exacerbada ou de um pronunciado perfeccionismo

que levaria o portador de distimia a não reconhecer como suficientemente boa ou relevante a

sua produção. Pode-se, ainda, analisar o trabalho, em geral, como função organizadora da

vida dos sujeitos, tornando-se necessário analisar de que forma as pessoas se colocam frente à

sua atividade laboral e como organizam a sua vida em torno dela (BORSOI, 2007).

O trabalho também apresenta uma interface complexa no que diz respeito a

psicopatologias. O sujeito que desenvolve alguma forma de transtorno mental, ou já é

portador quando inicia a sua atividade laboral, raramente relaciona-a com a sua atividade de

trabalho. Isso se dá pela presença de um pensamento generalizado de que a vida pessoal não

deve misturar-se ao trabalho, assim deixando tais assuntos fora da jornada laboral (BORSOI,

2007).

Segundo Cunha (2000), um dos principais aspectos a serem investigados na vida do

paciente, durante a formulação do psicodiagnóstico, é a sua situação ocupacional, suas

experiências anteriores e atuais com o trabalho, relações sociais estabelecidas durante o

mesmo, status do cargo, situação econômica, em suma, a construção do panorama mais

completo possível sobre os aspectos da vida laboral deste paciente. Isto indica o quanto a

atividade laboral é um setor relevante da vida do indivíduo. Pode-se mesmo dizer que o ser

humano apresenta um caráter comum de reconhecimento em suas produções, no sentido de

constituição de uma identidade, a partir de sua interação com o trabalho. Assim, justifica-se a

importância da investigação de tal campo na formação de um psicodiagnóstico.

O trabalho representa, então, parte integrante no que diz respeito à vida e dinâmica

psicológica humana, e como tal se apresenta como variável importante e significativa quando

se fala em qualidade de vida, uma vez que é parte constituinte do cotidiano da maior parte da

humanidade, bem como em sua história. Porém, nos dias atuais, há de se observar que abordar

o tópico “qualidade de vida” é algo complexo e, às vezes, controverso, uma vez que não se

pode, ainda, falar em uma determinação exata deste conceito. Existe uma série de modelos

que definem tal constructo. Tais modelos não necessariamente se contradizem, mas

apresentam semelhanças entre si que permitem delimitar as principais características desse

conceito (LIMA; FLECK, 2007).

Quando se fala em qualidade de vida, uma das dificuldades em sua definição está em

conceitos próximos que, porém, são por vezes confundidos como seus sinônimos, por

Capa Índice 8706

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exemplo, estado de saúde e bem-estar. Tais termos se diferenciam no sentido de que estado de

saúde diz de como o sujeito encontra-se prejudicado ou disfuncional, e bem-estar de como o

sujeito encontra-se afetivamente ou emocionalmente (LIMA; FLECK, 2007).

A partir do que Lima e Fleck (2007) apresentam, pode-se inferir que, apesar da

indeterminação presente na construção do conceito de qualidade de vida, quatro premissas

perpassam os modelos já apresentados sobre este constructo que são: a sua variabilidade em

relação ao tempo; a subjetividade presente em sua medida, uma vez que a perspectiva de

qualidade de vida parte do paciente; varia conforme o estado do paciente na sua relação com

uma patologia, pois esta não depende da apresentação ou ausência de sintomas; e que a

qualidade de vida se apresenta como um espectro, pois pode ser avaliada globalmente como

constructo ou em campos específicos que a compõem.

Tendo em vista que a qualidade de vida de um sujeito é avaliada a partir de sua

subjetividade na sua relação com contexto que compõe a sua vida em um dado momento,

pode-se estabelecer uma relação entre patologias como a depressão, que afetam o

autoconceito e as formas de avaliação de si e do mundo, e a queda dos índices de qualidade de

vida de pacientes que portam tal doença (LIMA; FLECK, 2007).

Spitzer et al (1995) observaram que diversas psicopatologias, dentre elas a depressão,

aumentam as possibilidades de queda da qualidade de vida de sujeitos mais do que as demais

formas de patologia. Sugerem, também, que sujeitos que apresentam estados comórbidos,

assim como acontece com frequência no transtorno distímico, têm uma maior perda do que

sujeitos com um transtorno puro.

Sabe-se que a distimia se constitui como um fator limitante em diversas áreas da vida

do paciente. Este apresenta um autoconceito negativamente distorcido, bem como perda na

qualidade de vida, a partir do momento em que se sente cerceado nas suas possibilidades de

realização ou satisfação. Assim, percebendo como o sujeito distímico é afetado na sua relação

com a vida e com o mundo, é possível observar o quanto é importante a análise de qualquer

tema que possa relacionar esta forma de depressão com a qualidade de vida do paciente.

Tendo em vista o que foi apresentado, observa-se a relevância de estudos que

relacionem a variável depressão ao ambiente de trabalho, uma vez que a mesma se configura

como um problema de saúde pública, tanto no que concerne ao alto índice de suicídios, assim

como na incapacidade laboral gerada por seus sintomas em sujeitos trabalhadores. Dentro

Capa Índice 8707

Page 138: ItALO tELES MACHADO

deste aspecto, encontra-se a distimia que, devido à sua alta dificuldade de diagnóstico e ao

alto impacto em termos epidemiológicos (3% a 6% da população, em geral) demanda estudos

que abordem questões de como este transtorno se relaciona ao ambiente laboral do paciente,

bem como se dão os impactos deste em sua qualidade de vida.

Assim, com o presente estudo espera-se um maior entendimento sobre as relações

estabelecidas entre o paciente distímico e a sua vida ocupacional, tendo o objetivo de

possibilitar uma compreensão mais ampla dos fatores relacionados à qualidade de vida destes

pacientes, no que se refere ao impacto do transtorno nas atividades laborais.

Metodologia

Tratou-se de uma pesquisa de cunho exploratório e bibliográfico, que buscou um

maior conhecimento sobre o tema, tendo em vista a sua divulgação e possibilitando maiores

estudos sobre o mesmo. Consistiu no levantamento bibliográfico de informações pertinentes

já publicadas sobre o assunto e catalogação das mesmas, constituídas principalmente de

livros, artigos de periódicos e materiais disponibilizados na internet.

Foi feita, ainda, a partir das entrevistas de 24 sujeitos distímicos, uma inspeção dos

conteúdos relativos à relação do paciente e suas atividades laborais. Buscou-se, assim, o

levantamento e comparação de informações pertinentes às suas vidas ocupacionais, de forma

a se elaborar um panorama de como se dá a relação paciente e trabalho. Tais entrevistas são

parte integrante do projeto maior (Análise lexical das queixas relatadas por pacientes

distímicos e suas relações com o Transtorno Distímico) ao qual se vincula o presente trabalho

de Iniciação Científica.

Resultados e discussão

A partir das análises realizadas e do cruzamento de seus dados com o material

encontrado na bibliografia sobre o tema, foi possível se chegar a resultados que apontam para

a confirmação de informações presentes na bibliografia pesquisada.

Percebeu-se que parte dos sujeitos portadores de distimia investe de forma tão fixa em

seu trabalho que acabam por perder de vista a manutenção de relações sociais e familiares,

Capa Índice 8708

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isso acarreta conflitos e isolamento, por vezes expressos em comportamentos irritadiços. Em

sua atividade laboral o distímico preenche o seu tempo e se ocupa de forma que possa evitar

tais contatos sociais, com isso apresentando um comportamento de fuga e antipatia com os

quais se relaciona. Ao colocar o trabalho como uma prioridade, acaba por investir muito de

suas forças nele, empobrecendo as demais áreas de sua vida.

Alguns exemplos de falas analisadas podem expressar tais comportamentos:

“A situação da empresa me preocupa demais e acabo não tendo toda a disposição que precisava para fazer outras coisas da minha vida de uma maneira mais tolerante.” (Paciente sexo masculino, 39 anos).

“Eu me envolvo tanto com uma coisa que eu esqueço da família, talvez seja uma fuga, não sei, mas eu costumo fazer isso, não deixo de fazer as minhas coisas no trabalho.” (Paciente sexo feminino, 46 anos).

“Eu achava que o fato de trabalhar com tantos homens me deixava com uma barreira. Eu criei uma barreira para poder fazer valer o meu trabalho, mas hoje eu percebo que não, eu tenho mesmo essa dificuldade de me relacionar.” (Paciente sexo feminino, 46 anos).

“Nos finais de semana às vezes eu descanso, mas sei que tenho que fazer muitas coisas, como trabalhos, e acaba que o final de semana, para mim, também não descanso.” (Paciente sexo masculino, 26 anos).

“Eu trabalhava de segunda a segunda e, ainda domingo, eu levantava três horas da manhã para sair para lanchonete onde também trabalhava e ficava quatro horas lá.” (Paciente sexo feminino, 43 anos).

“Eu quase não sou de sair, eu só trabalhava e vivia só por conta de trabalhar.” (Paciente sexo feminino, 54 anos).

“Eu visto mesmo a camisa da empresa, não interessa qual a empresa onde eu estou trabalhando.” (Paciente sexo feminino, 46 anos).

Também se observaram resultados que corroboram um autoconceito distorcido do

paciente distímico, esse fortemente aliado à demasiada autocobrança e a uma profunda

insatisfação com os resultados do próprio trabalho, normalmente executado com

predominante perfeccionismo, porém, raramente, reconhecido como suficientemente bom

pelo seu executor.

O que se pode observar é um sujeito que apresenta frágil autoconceito no tocante à

eficácia e eficiência, que sempre busca demonstrar perfeição para o outro e que, quando

criticado ou abalado de alguma forma, ao apresentar resultados ou ao analisar os próprios

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produtos de sua atividade laboral, demonstra sofrimento condizente com o de uma situação

depressiva.

As falas, presentes nas entrevistas, que melhor demonstram tal situação são:

“Eu não podia ser criticada ou me chamarem a atenção que já ficava toda envergonhada e queria sair de onde estava, já pensava logo em abandonar o serviço, que eu não prestava, que minha família ia ter vergonha de mim e dos meus atos [...]” (Paciente sexo feminino, 52 anos).

“[...] quando eu olho e vejo que não estou sendo produtiva, aí eu começo a me sentir um peso pro meu marido, que dependo para tudo, dependo para remédio [...]” (Paciente sexo feminino, 33 anos).

“Todo lugar que eu trabalhava eu conquistava a confiança dos meus patrões porque eu sempre fui muito correta com as minhas coisas.” (Paciente sexo feminino, 55 anos).

“Sou muito detalhista e isso me prejudica, quando vejo algo errado fico cismada e acabo cobrando demais de mim mesma e de outras coisas, com outras pessoas.” (Paciente sexo feminino, 52 anos).

“Eu sou muito elétrica quando eu estou trabalhando, cumprindo meu trabalho, fazendo serviço para empresa [...]” (Paciente sexo feminino, 46 anos).

“Sei que nunca vou conseguir ser um profissional.” (Paciente sexo masculino, 26 anos).

“[...] aquela sensação de não ser tão boa igual aos outros fica vindo na cabeça e deixa a gente muito para baixo.” (Paciente sexo feminino, 43 anos).

Tendo em vista as situações acima como precipitadoras, bem como mantenedoras de

sofrimento, é possível observar-se o quanto os pacientes distímicos são cerceados em suas

possibilidades de realização frente ao trabalho, o que afeta diretamente a sua qualidade de

vida, transpassando a esfera do laboral e se manifestando em diversos outros aspectos de sua

vida. A insegurança presente nestes sujeitos assume uma característica que se generaliza não

somente no agora, mas também nos planos futuros o que pode acabar por levar estes pacientes

a um ciclo de insegurança, autocobrança demasiada e frustração, ocasionando assim ainda

mais sofrimento, caracterizando a típica dimensão de cronicidade deste transtorno.

“Eu tento sabe, Doutor? Mas sempre fico sem forças e quando já vejo, eu parei de tentar. Foi assim no meu casamento e está sendo assim na minha vida geral, com meus filhos e meu emprego [...]” (Paciente sexo feminino, 43 anos).

“[...] tenho muito medo de tudo em relação ao meu futuro. É o meu grande problema. Sou insegura, pessimista, acho que vai dar tudo errado. Isso tinha lá,

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Page 141: ItALO tELES MACHADO

insegurança quanto ao futuro. Não esqueço a expressão porque ela diz direitinho de mim. [...]” (Paciente sexo feminino, 31 anos).

“Isso me causa sofrimento. São coisas simples, desde jogar bola, a faculdade, trabalho. Tudo me causa sofrimento, me causa tristeza.” (Paciente sexo masculino, 26 anos).

Pode-se também perceber as razões de tal transtorno caracterizar-se como um

problema referente à saúde pública, pois o mesmo se apresenta como limitador e, por vezes

incapacitante, no que diz às capacidades do sujeito para o trabalho o que, por sua vez, se

relaciona com as estatísticas da Dataprev (Brasil, 2011) de transtornos mentais como sendo a

terceira maior causa de auxílios-doença concedidos no Brasil, sendo que 40% destes

correspondem à depressão e da OMS de que, anualmente, 850.000 vidas são perdidas devido

à depressão.

“Olha, eu não conseguia mais trabalhar, eu não conseguia mais ter domínio de sala de aula, eu não tinha energia para ir, eu não tinha carro naquela época e não tinha energia física para andar.” (Paciente sexo feminino, 54 anos).

“Estava ficando sem condição de nada mais, tanto de trabalhar, quanto de estudar. Pessoalmente, de mim e das minhas coisas, dos meus filhos e de ter um dialogo com eles, de chegar na escola e expor para a diretora que eu não podia mais trabalhar [...]” (Paciente sexo feminino, 54 anos).

“Também perdi o trabalho e comecei a não ter rendimento na faculdade. Meu rendimento caiu para zero, não estava absorvendo, não estava aprendendo.” (Paciente sexo feminino, 33 anos).

Considerações Finais

Os dados observados no presente estudo revelam o quanto o sofrimento decorrente do

funcionamento distímico – com as formulações do sujeito sobre si e suas formas de vivenciar

a realidade – prejudica a qualidade de vida destes pacientes, perpassando o mundo do trabalho

e acabando por cerceá-lo em suas possibilidades de planejamento e realização pessoal.

Tal transtorno configura-se como um sério problema de saúde pública, devido à sua

prevalência epidemiológica (3% a 6% da população em geral), à sua incapacitância para o

trabalho e outras atividades cotidianas que compõem a vida de um sujeito, além do potencial

gerador de sofrimento subjetivo e do poder desagregador que exerce sobre as relações

pessoais do paciente distímico.

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Page 142: ItALO tELES MACHADO

Faz-se relevante a ampliação da pesquisa sobre o tema, especialmente em âmbito

nacional, dado que a bibliografia a respeito do Transtorno Distímico, muitas vezes, limita-se a

uma descrição geral de suas características sintomatológicas. No entanto, o que se observa

nos poucos estudos da literatura da área, é uma ausência de referência à sua dinâmica e ao seu

desenvolvimento em âmbitos específicos. A análise de variáveis como trabalho, vivências

familiares, entre outros aspectos dinâmicos e históricos do sujeito, mostra-se necessária, de

forma que se possibilitem o desenvolvimento de novas estratégias que favoreçam um melhor

manejo do transtorno e ampliem as possibilidades de redução do sofrimento desses pacientes.

Capa Índice 8712

Page 143: ItALO tELES MACHADO

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REVISADO PELO ORIENTADOR

Capa Índice 8714

Page 145: ItALO tELES MACHADO

Suplementação de fósforo disponível em dietas para alevinos de Pacu (Piaractus

mesopotamicus)

Weslley Fernandes Braga1, Thiago Q. de Arantes1, Silvio L. de Oliveira², Igo G.

Guimarães3

1 Laboratório de Pesquisa em Aquicultura – LAPAQ, UFG, Jataí - GO

² Universidade Federal de Goiás – Campus Avançado de Jataí, Centro de Ciências Agrárias e

Biológicas - Depto de Biologia, [email protected]

3 Universidade Federal de Goiás – Campus Avançado de Jataí, Centro de Ciências Agrárias -

Depto de Zootecnia, [email protected]

Palavras chaves – nutrição, minerais, peixes nativos, fase inicial

INTRODUÇÃO

Nos últimos anos, no Brasil, tem sido crescente o cultivo intensivo e semi- intensivo

de espécies de peixes nativas tropicais. Dentre as espécies nativas cultivadas no Brasil, o pacu

(Piaractus mesopotamicus) vem sendo bastante comercializado nas regiões Centro-Oeste e

Sudeste do país. Apresenta grande potencial para a piscicultura intensiva, principalmente de-

vido a sua boa adaptabilidade ao sistema de cultivo, ao seu rápido crescimento, a sua facilida-

de na aceitação da alimentação artificial e também devido ser bastante utilizado para a pesca

esportiva (Castagnolli & Zuim, 1985). Outra vantagem é o fato de possuir uma carne de exce-

lente qualidade, aumentando ainda mais o seu valor comercial.

Na natureza, o pacu possui um espectro alimentar bastante amplo, variando sua dieta

alimentar de acordo com a sazonalidade. Segundo Medeiros (2009), os principais alimentos

observados no estômago do pacu na bacia do rio Cuiabá, no pantanal mato-grossense, são

constituídos por folhas, caules, frutos, sementes, restos vegetais, insetos e microcrustáceos,

demonstrando que se trata de uma espécie com hábito alimentar onívoro.

Apesar dos alimentos naturais proporcionarem bom desenvolvimento para as diversas

espécies de peixes que vivem na natureza, sua influência é muito pequena no crescimento dos

peixes mantidos em sistema de criação intensiva. Pois nesse sistema, os peixes são

alimentados com rações, que visam atender as exigências que cada espécie apresenta nas

diferentes fases da vida.

Capa Índice 8715

Anais do Congresso de Pesquisa, Ensino e Extensão- CONPEEX (2012) 8715 - 8725

Page 146: ItALO tELES MACHADO

A correta determinação das exigências nutricionais, bem como a disponibilidade dos

nutrientes em cada alimento a ser utilizado na ração das diferentes fases de criação dos peixes,

é necessária para se ter uma ração mais completa, melhor balanceada e ecologicamente

correta. Reduzindo assim custos na sua formulação, além de minimizar a descarga de

nutrientes em efluentes da piscicultura, promovidos principalmente pelo excesso de

alimentos, e o uso de alimentos na formulação das rações que não são digestíveis e que se

encontram na forma indisponível.

Peixes na fase inicial de desenvolvimento possuem uma elevada exigência nos níveis

de nutrientes. Dentre os nutrientes exigidos pelos peixes nessa fase, o fósforo (P), é um

macromineral importante para o adequado crescimento dos peixes e essencial como

constituinte estrutural do tecido esquelético (Roy & Lall, 2003), além de ser fundamental nos

processos metabólicos e na transferência de energia química no organismo através do ATP

(Lehninger et al., 1995).

Os peixes possuem a capacidade de absorver o fósforo da água, porém a concentração

desse mineral é baixa em água doce o que torna a ração a principal fonte desse mineral para

os peixes (Roy & Lall, 2003). O excesso de fósforo em rações comerciais pode aumentar as

perdas urinárias e fecais, comprometendo a qualidade da água de cultivo, já que o fósforo e o

nitrogênio são uns dos nutrientes que mais eutrofizam a água.

Assim são necessários mais estudos que determinem qual a exigência de fósforo para a

produção de peixes nas suas diferentes fases de produção. Esses estudos são necessários para

melhorar o desempenho produtivo de forma economicamente viável, por meio do adequado

crescimento dos peixes e com o menor impacto ambiental.

OBJETIVO

Este trabalho foi realizado com o objetivo de determinar a exigência de fósforo

disponível para alevinos de pacu (Piaractus mesopotamicus).

METODOLOGIA

Este estudo foi conduzido na Universidade Federal de Goiás – UFG, Campus de Jataí,

no Laboratório de Pesquisa em aqüicultura – LAPAQ. O experimento foi conduzido de

acordo com os princípios éticos de pesquisa em animais, após avaliação e aprovação pelo

Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Federal de Goiás.

Capa Índice 8716

Page 147: ItALO tELES MACHADO

Foram utilizados 100 alevinos de pacu (Piaractus mesopotamicus), machos e fêmeas,

provenientes de uma piscicultura especializada na reprodução e venda de alevinos na região

de Jataí - GO. Estes foram selecionados de forma a apresentarem maior homogeneidade

possível. No sentido de se evitar o estresse provocado pela excessiva manipulação dos

alevinos que compuseram o estudo, os valores iniciais de peso foram determinados,

respectivamente, utilizando-se 20 alevinos do lote, com o emprego de balança analítica, sendo

esses peixes descartados posteriormente.

Os alevinos com o peso médio inicial de 1,31±0,04g foram distribuídos em um

delineamento inteiramente casualizado com cinco tratamentos e cinco repetições. Os alevinos

foram alojados em 25 aquários experimentais com capacidade de 3 litros numa densidade de

04 alevinos por aquário, sendo considerada como unidade experimental cada aquário com 04

alevinos.

Esses aquários foram ligados ao sistema de recirculação forçada de água com filtro

físico e biológico para manutenção da qualidade físico-química da água, assim como

termostato regulado para manter a temperatura em torno de 28 ºC. A temperatura da água dos

aquários foi mantida dentro da faixa de conforto para a espécie (28,0 ± 2,0°C).

As dietas que compuseram os tratamentos foram elaboradas com ingredientes

convencionais para conter aproximadamente 3250 Kcal ED/kg da dieta, 28% de proteína

digestível e 0,35; 0,60; 0,85; 1,10 e 1,35% de fósforo disponível na dieta (Tabela 1). Para

confecção dos grânulos experimentais, os alimentos utilizados nas rações experimentais foram

moídos em moinho de facas, com peneira apresentando diâmetro menor que 0,7mm. Os

alimentos foram homogeneizados em um balde utilizando a própria mão e, posteriormente,

submetidos à peletização utilizando moinho de carne adaptado, empregando-se matrizes para

obtenção de grânulos com os diâmetros de 3,5mm. Após a peletização os grânulos foram

desidratados a 55,0ºC por 12 horas em estufa com circulação de ar forçada e, após secagem

foram desintegrados e o tamanho do pélete ajustado ao tamanho do peixe, sendo armazenados

por resfriamento a -5,0ºC.

Foram utilizadas dietas práticas a base de farelo de soja, quirera de arroz, fubá de

milho e farinha de peixes, formuladas de forma a conter os níveis preestabelecidos de fósforo

e atender as exigências nutricionais do pacu para os demais nutrientes.

Os peixes foram arraçoados três vezes ao dia. O arraçoamento foi realizado

manualmente e à vontade até a saciedade aparente, de forma a não haver sobras excessivas

nos aquários. Realizou-se semanalmente o sifonamento manual dos aquários para retirada das

fezes acumuladas no fundo dos aquários.

Capa Índice 8717

Page 148: ItALO tELES MACHADO

Tabela 1. Composição centesimal e proximal das rações com diferentes níveis de fósforo

disponível na alimentação de pacu (Piaractus mesopotamicus)

Ingredientes (%)Níveis de P total (%) na Dieta0,35% 0,60% 0,85% 1,10% 1,35%

Composição centesimal

Farelo Soja 43,00 43,00 44,30 44,10 45,80Antifungico 0,10 0,10 0,10 0,10 0,10Farelo Algodão 14,00 14,35 14,35 14,35 14,35Fubá Milho 26,81 22,71 17,31 13,81 10,41Farelo Trigo 4,05 4,00 4,00 4,00 2,00Quirera Arroz 5,00 5,00 5,00 5,00 4,20Farinha Peixe 5,00 5,00 5,00 5,00 5,00Aglutinante 0,30 0,30 0,30 0,30 0,30Cr2O3 0,10 0,10 0,10 0,10 0,10Óleo Soja 0,00 1,00 2,50 3,50 5,00Fosfato Bicálcico 0,00 3,10 6,00 9,00 12,10Calcário 1,00 0,70 0,40 0,10 0,00Vitamina C 0,05 0,05 0,05 0,05 0,05Sal comum 0,07 0,07 0,07 0,07 0,07Premix vitam/min1 0,50 0,50 0,50 0,50 0,50BHT2 0,02 0,02 0,02 0,02 0,02Total 100,00 100,00 100,00 100,00 100,00Composição proximal2

Energ Dig (Kcal/kg) 2954,52 2926,36 2936,98 2912,96 2910,10Prot Dig (%) 27,40 27,22 27,37 27,04 27,15Prot Bruta (%) 30,94 30,73 30,87 30,49 30,60Fibra Bruta (%) 5,05 5,03 5,02 4,96 4,80Extrato Etéreo (%) 2,47 3,32 4,64 5,50 6,82Cálcio total (%) 0,85 1,50 2,10 2,72 3,44

Fósforo disp (%) 0,34 0,61 0,85 1,10 1,36Metionina (%) 0,39 0,38 0,38 0,37 0,37Fósforo total (%) 0,63 1,20 1,73 2,28 2,83Lisina (%) 1,73 1,72 1,74 1,72 1,74Triptofano (%) 0,41 0,41 0,41 0,40 0,41Treonina (%) 1,19 1,18 1,19 1,17 1,18

1Níveis de Garantia: PREMIX: ácido fólico 600 mg, biotina 24 mg, cloreto de colina 54 g, niacina 12000 mg, pantetonato de cálcio 6000 mg, vit.A 600000 UI, vitB1 2400 mg, vitB12 2400 mg, vitB2

2400 mg, viB6 2400 mg, vitC 24 g, vitD3 100000 UI, vitE 6000 mg, vitK3 1200 mg. Co 1 mg Cu 300 mg, Fe 5000 mg, iodo 10 mg, Mg 2000 mg, Se 10 mg, Zn 3000 mg.2Valores de exigências calculados de acordo com Abimorad et al. (2010), Bicudo et al. (2010), Robin et al. (1987). Valores de digestibilidade calculados de acordo com Abimorad et al. (2004;2008), Guimarães et al. (2012), Araújo et al. (2012).

As análises químico-bromatológicas das dietas e das carcaças foram realizadas no

Laboratório de Nutrição Animal do Departamento de Zootecnia da Universidade Federal de

Goiás – UFG, Campus de Jataí, segundo metodologia descrita por Silva (2006).

Capa Índice 8718

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Ao final de 40 dias, foram determinados os resultados do consumo de ração aparente

(CRA), ganho de peso (GP), ganho de peso diário (GPD), peso final (PF), conversão

alimentar aparente (CAA), taxa de crescimento específico (TCE), taxa de eficiência protéica

(TEP), taxa de retenção protéica (TRP).

Os dados foram submetidos à análise de variância e quando observado diferença

significativa, as médias foram comparadas pelo teste de Student Newman Kews ao nível de

5% de probabilidade. Ainda, um modelo de regressão múltipla ou polinomial foi avaliado

para determinar o modelo que melhor se ajusta para os dados avaliados. O software utilizado

para as análises foi o SAS (versão 9.3).

RESULTADO

A qualidade da água manteve-se estável durante o experimento, e as médias dos parâ-

metros monitorados nos aquários durante o período experimental foram: pH = 6,8; temperatu-

ra= 27,4±0,68°C; oxigênio dissolvido = 7,4±0,35 mg/L e amônia = 0,05 mg/L.

Os valores médios dos parâmetros de desempenhos em função dos níveis crescentes de

fósforo disponível para alevinos de pacu estão apresentados na Tabela 2.

Tabela 2. Valores médios de peso final (PF), consumo de ração aparente (CRA), ganho de peso diário (GPD), conversão alimentar aparente (CAA), taxa de crescimento específico (TCE), taxa de eficiência protéica (TEP), taxa de retenção protéica (TRP) de pacu (Piaractus

mesopotamicus), alimentados com dietas contendo diferentes níveis de fósforo disponível (P)Nível de P (%)

PF CRA (g)GPD

(g/px/dia)CAA TCE (%) TEP (%) TRP

0,35 12,61±0,40 5,59±0,33 0,19±0,01b 0,75±0,02 2,99±0,13 3,75±0,11 65,62±4,87

0,60 13,20±0,46 5,21±0,35 0,20±0,01ab 0,66±0,02 3,01±0,13 4,36±0,15 76,05±6,67

0,85 13,85±0,47 5,71±0,27 0,21±0,01a 0,68±0,05 3,18±0,18 4,12±0,34 67,21±1,46

1,10 12,90±0,45 5,25±0,21 0,19±0,01b 0,68±0,05 3,03±0,12 4,16±0,31 72,51±8,07

1,35 13,02±0,30 5,41±0,23 0,20±0,01ab 0,69±0,04 3,11±0,08 4,40±0,28 79,42±8,18

EfeitoLinear NS NS NS NS NS (P<0,05) (P<0,05)Quadrático (P<0,05) NS NS (P<0,05) NS (P<0,05) NS

Médias seguidas da mesma letra na coluna, não diferem entre si pelo teste SNK ao nível de 5%.NS – Não significativo

Pôde-se observar que o nível de fósforo disponível das dietas influenciou todos os

parâmetros de desempenhos produtivos do pacu, com exceção do consumo de ração aparente

e da taxa de crescimento específico que não apresentaram diferença entre os tratamentos

Capa Índice 8719

Page 150: ItALO tELES MACHADO

avaliados. Para o parâmetro ganho de peso diário, observou-se através do teste SNK, que os

melhores valores encontrados, foram para os peixes que receberam as dietas contendo os

níveis de 0,60; 0,85; 1,35 de fósforo disponível.

Após submissão dos dados à regressão, foi possível observar que o modelo polinomial

de segunda ordem foi o que melhor se ajustou aos dados de peso final, conversão alimentar

aparente e taxa de eficiência protéica. Para a taxa de retenção protéica o que melhor se ajustou

foi o modelo linear.

Para a conversão alimentar aparente (Figura 1), o nível de fósforo que proporcionou a

melhor conversão alimentar aparente foi o de 0,95%.

Figura 1. Efeito do nível de fósforo disponível da dieta sobre a conversão

alimentar aparente para alevinos de pacu.

De acordo com o gráfico e a equação de regressão apresentados na Figura 2, o nível de

fósforo disponível que proporcionou maior peso final do pacu após 40 dias experimentais foi

o de 0,86%.

Capa Índice 8720

Page 151: ItALO tELES MACHADO

Figura 2. Efeito do nível de fósforo disponível da dieta sobre o peso final

para alevinos de pacu.

Na Figura 3 é apresentada a correlação entre o nível de fósforo disponível e a taxa de

eficiência protéica. De acordo com a equação, o nível de P disponível que proporcionou maior

transformação da proteína em peso vivo dos peixes foi o de 1,27%.

Figura 3. Efeito do nível de fósforo disponível da dieta sobre a taxa de eficiência

protéica para alevinos de pacu.

Na figura 4 está apresentada a correlação entre o nível de fósforo disponível e a taxa

de retenção protéica.

Capa Índice 8721

Page 152: ItALO tELES MACHADO

Figura 4. Efeito do nível de fósforo disponível da dieta sobre a taxa de retenção

protéica para alevinos de pacu.

DISCUSSÃO

Normalmente, peixes alimentados com dietas que contêm baixos níveis de fósforo

apresentam piores respostas de desempenho (Tabela 2). Podemos observar que os peixes que

receberam dietas contendo valores baixos de fósforo disponível, apresentaram uma pior

conversão alimentar (Figuara1) e pior ganho de peso diário. Em estudo realizado por Pezzato

et al. (2006) com alevinos de tilápias, foi encontrado valores superiores ao deste trabalho,

onde eles observaram que níveis inferiores aos de 0,50% de fósforo disponível prejudicaram o

ganho de peso e a conversão alimentar dos peixes, recomendando a utilização de no mínimo

0,75% de fósforo disponível na dieta.

Para variável peso final foi observado efeito quadrático (Figura 2). Este resultado

demonstra que o fósforo é importante para fase inicial dos peixes, onde baixos níveis de

fósforo na dieta promovem baixo crescimento nos peixes, porém níveis muito elevados deste

mineral na dieta acabam alterando a relação de cálcio e fósforo no organismo do animal,

comprometendo também o seu crescimento. Portanto, uma adequada relação entre os minerais

cálcio e fósforo é importante para que os peixes possam obter adequado crescimento, sendo

observado neste estudo o nível estimado em 0,86% de fósforo disponível.

A piora no desempenho dos peixes alimentados com níveis baixos de fósforo nas

dietas pode ser explicada devido o fósforo estar intimamente associado ao metabolismo do

animal e a sua deficiência acaba ocorrendo perda de apetite e prejudicando a eficiência de

Capa Índice 8722

Page 153: ItALO tELES MACHADO

utilização do alimento, conseqüentemente há deficiência energética para o metabolismo e isto

leva as perdas de peso e redução do seu desempenho.

Em relação ao consumo de ração neste estudo, não houve redução no consumo pelos

peixes alimentados com a dieta com menor valor de fósforo disponível, entretanto, como foi

observado uma elevada conversão alimentar para os peixes que se alimentaram de dietas

deficientes em fósforo, isso pode indicar que estava ocorrendo sobras de ração nos aquários

que receberam este tratamento, em decorrência da perda do apetite dos peixes.

Os valores para taxa de crescimento específico em função dos diferentes níveis de

fósforo disponível, não foram diferentes (P>0,05) entre os tratamentos. Resultados

semelhantes foram encontrados, com alevinos de tilápia do nilo por Ribeiro et al. (2006),

onde também observaram que os peixes alimentados com diferentes níveis de fósforo nas

dietas, não tiveram influencia sobre a taxa de crescimento específico.

Foi observado uma menor eficiência de utilização da proteína da dieta, pelos peixes

alimentados com níveis de 0,35% de fósforo disponível (Figura3). Segundo Onishi et al.

(1982), tal resultado pode ser explicado devido o fósforo ser importante para ocorrência da ß-

oxidação dos ácidos graxos. Estando em baixas quantidades no organismo do animal, resulta

em um menor aproveitamento dos lipídeos para a produção de energia através da ß-oxidação,

fazendo com que os aminoácidos derivados da proteína da dieta seja direcionados para a

produção de energia, ao invés de ser utilizado para síntese corporal. O que pode explicar a

maior taxa de eficiência protéica pelos peixes alimentados com a dieta com 1,27% de fósforo

disponível.

Com relação a taxa de retenção protéica, foi observado efeito linear (Figura 4) em

função do crescentes níveis de fósforo na dieta. Porém, Ribeiro et al. (2006), estudando níveis

de fósforo em dietas para alevinos de tilápia do Nilo, obtiveram efeito quadrático, sendo o

melhor nível estimado de 1,10% de fósforo total na dieta.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

São encontradas poucas informações sobre o requerimento de fósforo em dietas para

as espécies nativas. A determinação da exigência deste mineral para cada espécie é fundamen-

tal para a formulação de rações com menor custo de fabricação, que visa proporcionar o me-

lhor desempenho para o animal, sem agredir o meio ambiente.

Capa Índice 8723

Page 154: ItALO tELES MACHADO

CONCLUSÃO

Os níveis de fósforo disponível na dieta para alevinos de pacu (Piaractus

mesopotamicus) que mostraram melhores resultados no desempenho produtivo, nas condições

experimentais do presente estudo, foi entre os níveis de 0,85 a 0,95%.

REFERÊNCIA

ABIMORAD, E. G.; CARNEIRO, D. J. Métodos de coleta de fezes e determinação dos coefi-

cientes de digestibilidade da fração protéica e da energia de alimentos para o pacu Piaractus

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2004.

ABIMORAD, E.G.; SQUASSONI, G.H.; CARNEIRO, D.J. Apparent digestility of protein,

energy, and amino acids in some selected feed ingredients for pacu Piaractus mesopotamicus.

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ABIMORAD, E.G.; FAVERO, G.C.; SQUASSONI, G.H.; CARNEIRO, D.J. 2010 Dietary

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of pacu Piaractus mesopotamicus (Holmberg 1887) in response to dietary protein and energy

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o pacu Colossoma mitrei (BERG, 1895), p. 26. FCAV/UNESP. Jaboticabal, SP, Brazil.

LEHNIINGER, A.L. et al. Principios de 10ioquímica. São Paulo: Sarvier, 1995.

MEDEIROS, R. F.; MORAIS, R. F.; MATEUS, L. A. F.; COSTA, R. M. R. Hábito alimentar

de pacu – Piaractus mesopotamicus (Holmberg,1887) na bacia do rio Cuiabá no pantanal

mato – grossense, Mato Grosso. In: Anais do IX Congresso de Ecologia do Brasil, 2009. São

Lourenço, Anais..., São Lourenço, MG, Brasil: SEB, 2009.

Capa Índice 8724

Page 155: ItALO tELES MACHADO

ONISHI, T.; SUZUKI, M.; TAKEUCHI, M. Change in carp hepatopancreatic enzyme activit-

ies with dietary phosphorus levels. Bulletin of Japanese Society of Science and Fisheries,

v.47, p.353-357, 1982.

PEZZATO, L.E.; ROSA, M.J.S.; BARROS, M.M.; GUIMARÃES, I.G. Exigência em fósforo

disponível para alevinos de tilápia do Nilo. Ciência Rural, v.36, n.5, p.1600-1605,2006.

RIBEIRO, F.B; LANNA, E.A.T.; BOMFIM, M.A.D. et al Níveis de fósforo total em dietas

para alevinos de tilápia-do-Nilo. Revista Brasileira de Zootecnia, v.35, n.4, p.1588-1593,

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SILVA, D. J.; QUEIROZ, A. C. Análise de alimentos. Minas Gerais: Editora UFV 2006.

REVISADO PELO ORIENTADOR

Capa Índice 8725

Page 156: ItALO tELES MACHADO

ELETROFORESE DE PROTEÍNAS SÉRICAS E LIPIDOGRAMA EM BOVINOS

ALIMENTADOS COM FENO DE BRACHIARIA SP SUBMETIDOS A

TRATAMENTOS COM DIFERENTES ANTIOXIDANTES

Weyguer Cirilo FERNANDES1, Gustavo Lage COSTA1, Roberta Dias da SILVA1, Maria

Clorinda Soares FIORAVANTI1

1Escola de Veterinária, Universidade Federal de Goiás

E-mail: [email protected] / [email protected]

Palavras-chave: Bovino de corte, proteinograma, desempenho

INTRODUÇÃO

A pecuária de corte é extremamente importante para a economia brasileira

(LUCHIARI FILHO, 2000). Por outro lado, a baixa produtividade do rebanho brasileiro torna

parte importante dos criatórios inviáveis e despreparados para competir com rebanhos e

segmentos mais eficientes e organizados (CARNEIRO, 2001). Portanto, pesquisas que

procurem identificar os mecanismos envolvidos na baixa eficiência produtiva dos rebanhos

são de extrema importância para o país.

Uma vez que a suplementação na alimentação alguns minerais resulta em ganho

para os produtores (PILATI et al., 1997; PEIXOTO et al., 2005; WUNSCH et al., 2005), a

suplementação adicional de minerais com efeitos antioxidantes poderá ser benéfica, pois

muitas doenças e processos degenerativos estão associados a superprodução de espécies

reativas de oxigênio (EROs), incluindo inflamações, isquemia cerebral, mutagenecidade,

câncer, demência e envelhecimento (REN et al., 2001).

Isto ocorre devido à sobrecarga do organismo com radicais livres formados a

partir da resposta inflamatória. Em situações normais estes radicais livres são neutralizados

com antioxidantes naturais. Na ausência destes, a alta concentração de radicais livres irá

causar danos às células vizinhas, podendo ocorrer alterações em todas as estruturas da célula,

porém a mais susceptível e atacada é a membrana plasmática devido à peroxidação lipídica

(ALESSIO, 1993).

Capa Índice 8726

Anais do Congresso de Pesquisa, Ensino e Extensão- CONPEEX (2012) 8726 - 8738

Page 157: ItALO tELES MACHADO

Os antioxidantes são agentes responsáveis pela inibição e redução das lesões

causadas pelos radicais livres nas células. Uma ampla definição de antioxidante é “qualquer

substância que, presente em baixas concentrações quando comparada a do substrato oxidável,

atrasa ou inibe a oxidação deste substrato de maneira eficaz” - detoxificação (SIES & STAHL,

1995). Esses agentes que protegem as células contra os efeitos dos radicais livres podem ser

classificados em antioxidantes enzimáticos ou não-enzimáticos (SIES, 1993), em que o sistema

enzimático antioxidante parece ser o principal meio de remoção de EROs formadas durante o

metabolismo intracelular (YU, 1994). As enzimas antioxidantes, por sua vez, parecem possuir a

capacidade de se adequar ao aumento na produção de EROs, através do aumento na sua

atividade.

Dentre os antioxidantes que apresentam ação biológica pode-se citar: a catalase,

glutationa, glutationa peroxidase, vitamina C, vitamina E, microminerais (selênio, zinco) e

superóxido dismutase (HÖER et al., 2000; AMES et al., 1993; RIEGEL, 2002). O primeiro

mecanismo de defesa contra os radicais livres é impedir a sua formação, principalmente pela

inibição das reações em cadeia com o ferro e o cobre. Outro mecanismo de proteção é o reparo

das lesões causadas pelos radicais. Esse processo está relacionado com a remoção de danos da

molécula de DNA e a reconstituição das membranas celulares danificadas. Segundo TRABER

(1997), em algumas situações pode ocorrer uma adaptação do organismo em resposta a geração

desses radicais com o aumento da síntese de enzimas antioxidantes (superóxido dismutase,

catalase e glutationa peroxidase).

Acredita-se, de modo geral, que as doenças subclínicas, ou as ineficiências de

produção, que muitas vezes não determinam sinais clínicos reconhecíveis, são importantes

contribuintes para a redução da produção (FIORAVANTI, 1999). Algumas doenças estão

ligadas ao próprio sistema de manejo e criação, outras ligadas ao sistema de produção. Na

cadeia produtiva brasileira os bovinos são criados a pasto, o que gera uma importante

vantagem competitiva, contudo esse sistema de criação pode acarretar certas ineficiências na

produção pela presença de contaminantes nas pastagens, ou mesmo pelo desenvolvimento de

fungos.

A análise bioquímica é um importante método para traçar um perfil com relação

às atividades metabólicas do organismo, pois a mesma reflete de maneira confiável o

equilíbrio entre o ingresso, o egresso e a metabolização dos nutrientes nos tecidos animais

(GONZÁLEZ, 2000). Essa avaliação é também uma importante ferramenta para diagnosticar

enfermidades subclínicas que podem acometer o rebanho diminuindo assim a produtividade

(PEIXOTO, 2004).

Capa Índice 8727

Page 158: ItALO tELES MACHADO

A eletroforese de proteínas é um método mais eficaz de separação das proteínas

totais existente na patologia clínica (KANEKO, 1997). Dependendo da técnica e da espécie

utilizada, estas poderão ser divididas em até 15 frações. A técnica que utiliza gel de agarose,

fraciona as proteínas séricas de bovinos em seis bandas, denominadas de pré-albumina,

albumina, alfa1, alfa2, beta e gama (KANEKO, 1997; NAOUM, 1999).

A literatura científica é escassa quanto aos valores de referência de perfil lipídico

em bovinos, pois a maioria das pesquisas não tem como intuito estabelecer valores de

referência ou de avaliar fatores fisiológicos que possam interferir nos valores de normalidade

do lipidograma (POGLIANI & JUNIOR, 2007).

Com os resultados obtidos por meio da eletroforese das proteínas séricas e do

lipidograma é possível estabelecer perfil metabólico dos bovinos, que pode ser utilizado para

identificar possíveis alterações decorrentes do tipo de alimentação e de suplementos utilizado,

podendo assim fornecer parâmetros confiáveis para a avaliação do efeito dos tratamentos.

OBJETIVOS

Este projeto teve como objetivo a avaliação laboratorial de bovinos confinados

alimentados com feno Brachiaria sp, submetidos a tratamentos com diferentes antioxidantes,

por meio da eletroforese de proteínas séricas e lipidograma.

METODOLOGIA

O estudo foi desenvolvido na Fazenda Tomé Pinto de propriedade da Escola de

Veterinária e Zootecnia da Universidade Federal de Goiás, localizada no Município de São

Francisco de Goiás, Estado de Goiás, distante a 110 km da capital.

Durante o período de experimentação, os animais permaneceram alojados em

baias de confinamento e foram alimentados com volumoso (feno de braquiária) e concentrado

(ração). A dieta obedeceu à proporção entre volumoso e concentrado de 70:30, sendo que o

concentrado foi balanceado para atender as exigências nutricionais dos animais, de acordo

com o NRC (1996). O feno de B. brizantha foi produzido e armazenado em uma área da

Fazenda da Escola de Veterinária da UFG. O manejo, vacinação, tratamento com ecto e

endoparasiticidas foi similar para todos os grupos.

Capa Índice 8728

Page 159: ItALO tELES MACHADO

Foram utilizados 40 bovinos de peso aproximado de 360 kg e idade entre 24 a 36

meses, criados em pastos de Brachiaria sp. O delineamento experimental foi inteiramente

casualizado, com cinco tratamentos e oito repetições, em que cada repetição foi representada

por um animal. Os tratamentos foram representados pelos diferentes antioxidantes e pelo

grupo controle. Após um período de adaptação de 14 dias nas instalações e com a

alimentação, os animais foram divididos em cinco grupos, que receberam os tratamentos

seguintes:

QUADRO 1 - Tratamentos oferecidos individualmente para os bovinos dos diferentes grupos do experimento

GRUPO TRATAMENTO

Grupo 1 Controle (sem suplementação)

Grupo 2 Suplementação com 1000UI de vitamina E e 10mg de selênio (2g na forma de

acetato de α-tocoferol à 50% e 10g na forma de selênio metionina)

Grupo 3 Suplementação de 600mg de zinco/animal/dia (6g na forma de zinco metionina)

Grupo 4 Suplementação com selênio 10mg de selênio/animal/dia (10g na forma de

selênio metionina)

Grupo 5 Suplementação com 1000UI de vitamina E/animal/dia (2g na forma de acetato

de α-tocoferol a 50%)

Os antioxidantes foram pesados em uma balança de precisão da marca

Shimadzu®, modelo AY 220, diariamente em copos descartáveis, nas quantidades de 10g de

selênio, 6g de zinco, 2g de vitamina E, de forma a propiciar que cada animal recebesse a

quantidade de antioxidante diariamente conforme o seu tratamento no cocho. Para melhorar o

consumo, o antioxidante era ofertado individualmente e os demais animais eram impedidos de

se alimentarem no mesmo momento, garantindo o consumo total de cada animal. Os animais

foram mantidos confinados em grupo, de acordo com o tratamento, em baias providas de

bebedouros, comedouros e áreas de sombra. Após o período de adaptação, os animais

permaneceram confinados por mais 105 dias para determinação do consumo voluntário dos

grupos e desempenho animal.

Os animais foram alimentados duas vezes ao dia, às 8:00 e às 15:00 horas. A

alimentação foi fornecida sob a forma de dieta total. As sobras de alimentos foram pesadas e

descartadas diariamente antes do fornecimento matinal, para se determinar o consumo de

alimento pelo grupo e evitar que as sobras não ultrapassassem mais de 10% do total

Capa Índice 8729

Page 160: ItALO tELES MACHADO

fornecido. A água foi fornecida à vontade. As colheitas se sangue foram realizadas a cada 28

dias conforme o Quadro 2.

QUADRO 2 - Momento das pesagens

Pesagem 1ª (M0) 2ª (M1) 3ª (M2) 4ª (M3) 5ª (M4)

Colheitas

Colheita 1

Início

13/08/11

Colheita 2

28 dias

10/09/11

Colheita 3

56 dias

08/10/11

Colheita 4

84 dias

05/11/11

Colheita 5

105 dias

26/11/11

O sangue foi colhido por venopunção jugular em tubo sem anticoagulantes

previamente identificados, após as pesagens, para a realização das provas de função hepática e

proteinograma e lipidograma sérico. O sangue foi centrifugado após retração do coágulo. O

soro fora separado em alíquotas em tubos plásticos e congelado à –20°C até o momento da

realização dos exames.

As proteínas séricas foram determinadas pelo método colorimétrico, por reação

com o biureto (Labtest). A leitura foi feita em espectrofotômetro com comprimento de onda

de 545nm.

As frações proteicas albumina e globulinas foram separadas pela técnica de

eletroforese em gel de agarose, utilizando-se tampão tris pH 9,5 gelado (2o a 8°C), sendo

corados em negro de amido (amido black 10-B – art.1810 – CELM) a 0,1% em ácido acético

a 5%. A leitura do filme foi realizada por densitometria em 520nm, utilizando o sistema SE-

250 da CELM, de acordo com metodologia descrita pelo fabricante.

A concentração sérica de colesterol foi determinada pelo método enzimático

colorimétrico (Labtest), em uma reação catalisada pela colesterol oxidase e a dos

triglicerídeos pelo método enzimático colorimétrico, em uma reação catalisada pela

lipoproteína lípase (Labtest), ambos com leitura em analisador automático de química clínica.

Inicialmente, a análise dos dados foi realizada pela estatística descritiva (média,

desvio padrão e coeficiente de variação) dos parâmetros estudados. Posteriormente, foi

utilizado o teste de Kolomogorov-Smirnov para a verificação da normalidade, e o teste de

Bartlett para a verificação da homogenidade. Como todas as variáveis utilizadas seguiram a

distribuição normal e foram homogêneas, foi realizada a análise de variância (ANOVA), e

utilizado o teste de Tukey como pós-teste. Em todos os testes estatísticos o grau de

significância adotado foi de P=0.05.

Capa Índice 8730

Page 161: ItALO tELES MACHADO

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Até o momento foram avaliadas amostras obtidas até a 3ª colheita, em decorrência

de problemas técnicos na fonte e cuba de eletroforese, o que atrasou o cronograma de análise,

inviabilizando a execução da eletroforese das proteínas séricas das amostras das últimas duas

colheitas (4º e 5ª). Os resultados obtidos na eletroforese estão detalhados na tabela 1.

TABELA 1 - Valores médios ( X ), desvio padrão (S) e coeficiente de variação (CV) de proteína, albumina e globulina de bovinos da raça Nelore alimentados com feno de Brachiaria sp e diferentes antioxidantes, Goiânia, 2012

Colheitas Proteína total (g/dl) Albumina (g/dl) Globulina (g/dl)

X ±S CV X ±S CV X ±S CV

Gru

po

cont

role

1° 6,62 0,66 9,97 2,42 0,27 11,26 4,20 0,47 11,20

2° 7,78 0,91 11,72 2,87 0,25 8,82 4,91 0,73 14,88

3° 7,68 0,44 5,71 2,93 0,26 9,03 4,75 0,27 5,72

Gru

po

Se +

vit.

E

1° 7,19 0,49 6,76 2,63 0,20 7,61 4,56 0,37 8,18

2° 7,75 0,93 12,00 2,63 0,24 9,03 4,84 0,50 10,26

3° 8,00 1,37 17,17 2,86 0,41 14,50 5,15 1,11 21,6

Gru

po

Zn

1° 6,95 0,37 5,30 2,58 0,29 11,19 4,37 0,24 5,55

2° 7,63 1,63 21,42 2,77 0,57 20,73 4,82 1,22 25,27

3° 8,09 1,61 19,89 3,11 0,58 18,74 4,98 1,05 21,06

Gru

po

Se

1° 7,13 0,84 11,82 2,55 0,32 12,65 4,58 0,59 12,80

2° 7,69 0,63 8,17 2,81 0,19 6,77 4,88 0,59 12,03

3° 7,71 0,57 7,37 2,91 0,20 6,80 4,8 0,51 10,59

Gru

po

vit.

E 1° 7,36 0,55 7,51 2,68 0,17 6,22 4,78 0,45 9,38

2° 7,25 1,00 13,75 2,72 0,33 12,09 4,79 0.20 4,33

3° 8,62 0,94 10,95 3,30 0,38 11,47 5,32 0,58 10,94

Em todas as colheitas avaliadas não houve diferença significativa entre os grupos (p>0,05)

Os valores médios da proteína, da albumina e da globulina sérica ficaram

próximos aos obtidos por CANAVESSI (1997) e por SILVA (2003). Os valores médios de

proteína não sofreram alterações significativas entre os grupos, mas houve um aumento sutil

com o decorrer do experimento conforme observado na figura 1.

Capa Índice 8731

Page 162: ItALO tELES MACHADO

FIGURA 1 - Valores médios de albumina e globulina de bovinos da raça Nelore

alimentados com feno de Brachiaria sp e diferentes antioxidantes, Goiânia, 2012

Os valores encontrados para alfa1-globulina, alfa2-globulina, beta-globulina e

gama-globulina (Tabela 2) foram semelhantes aos citados por CANAVESSI (1997), SOUZA

(1997) e FIORAVANTI (1999).

0,00

0,50

1,00

1,50

2,00

2,50

3,00

3,50

1º 2º 3º

Albumina

Controle

Se+vitE

Zinco

SelÊnio

Vit E

0,00

1,00

2,00

3,00

4,00

5,00

6,00

1º 2º 3º

Globulina

Controle

Se+vitE

Zinco

SelÊnio

Vit E

Capa Índice 8732

Page 163: ItALO tELES MACHADO

TABELA 2 - Valores médios, desvio padrão (S) e coeficiente de variação (CV) de globulinas

(alfa-1, alfa-2, beta e gama) de bovinos da raça Nelore alimentados com feno de Brachiaria sp e diferentes antioxidantes, Goiânia, 2012

Colheitas

alfa-1 (g/dl) alfa-2 (g/dl) Beta (g/dl) Gama (g/dl)

X ±S CV X ±S CV X ±S CV X ±S CV

Gru

po

cont

role

1° 0,40 0,09 21,91 0,82 0,10 12,39 0,90 0,18 20,04 2,02 0,44 21,88

2° 0,42 0,04 9,95 0,98 0,04 9,95 0,94 0,16 16,99 2,56 0,44 17,01

3° 0,42 0,08 19,45 0,92 0,09 9,79 0,94 0,09 9,97 2,47 0,17 6,82

Gru

po

Se +

vit.

E 1° 0,44 0,07 14,93 0,87 0,07 8,48 0,82 0,09 11,24 2,43 0,25 10,48

2° 0,50 0,08 16,13 0,90 0,11 12,41 0,87 0,11 12,53 2,32 0,78 33,58

3° 0,38 0,08 21,43 0,92 0,06 6,04 0,98 0,16 16,55 2,64 0,35 13,14

Gru

po

Zn

1° 0,44 0,08 19,19 0,88 0,06 6,90 0,90 0,24 26,97 2,14 0,29 13,38

2° 0,47 0,19 40,65 0,97 0,24 25,01 0,87 0,13 15,19 2,52 0,68 26,88

3° 0,49 0,12 25,02 0,94 0,19 20,52 0,96 0,28 29,66 2,59 0,50 19,13

Gru

po

Se

1° 0,48 0,08 16,49 0,86 0,13 15,58 0,89 0,22 24,85 2,35 0,29 12,54

2° 0,42 0,07 16,54 0,91 0,11 11,93 0,89 0,11 12,29 2,67 0,44 16,55

3° 0,49 0,21 44,04 0,89 0,11 12,52 0,94 0,11 11,87 2,58 0,32 12,31

Gru

po

vit.

E 1° 0,48 0,09 18,71 0,94 0,09 9,38 1,05 0,53 49,99 2,31 0,43 18,55

2° 0,45 0,12 25,96 0,91 0,13 13,97 0,85 0,11 12,95 2,33 0,42 17,97

3° 0,44 0,09 19,28 1,05 0,15 13,94 1,03 0,14 13,36 2,80 0,23 8,37

Em todas as colheitas avaliadas não houve diferença siguificativa entre os grupos (p>0,05)

Os valores do colesterol (Tabela 3) são semelhantes ao valor de referência

utilizado nos estudos de FIORAVANTI (1999), SANDRINI (2006) e AMORIM et al. (2007).

Os valores dos triglicérides (Tabela 3) se encontram bem próximos aos observados por

FIORAVANTI (1999).

Capa Índice 8733

Page 164: ItALO tELES MACHADO

TABELA 3 - Valores médios, desvio padrão (S) e coeficiente de variação (CV) de triglicérides e colesterol de bovinos da raça Nelore alimentados com feno de Brachiaria sp e diferentes antioxidantes, Goiânia, 2012

Triglicérides Colesterol

1ª 2ª 3ª 4ª 5ª 1ª 2ª 3ª 4ª 5ª

Gru

po

cont

role

X 15,67 15,16 15,31 11,14 16,02 85,42 68,58ª 90,62 70,54 77,94 ±S 3,30 3,34 3,30 4,82 4,40 12,56 10,37 15,41 9,78 15,20 CV 21,08 22,06 21,54 43,23 27,48 14,70 15,13 17,01 13,87 19,51

Gru

po

Vit.

E +S

e X 19,27 20,01 18,58 11,69 10,93 74,99 92,72b 80,44 73,38 71,25 ±S 3,88 4,36 2,78 3,87 3,96 15,41 17,18 12,56 7,89 19,02 CV 20,15 21,81 14,97 33,08 36,18 20,55 18,52 15,62 10,76 26,70

Gru

po

Zn X 16,03 19,35 14,51 12,74 16,86 84,59 75,44ª,b,c 97,64 70,76 73,36

±S 4,53 9,05 3,41 4,60 4,90 15,43 4,75 9,94 12,62 14,31 CV 28,25 46,74 23,47 36,08 29,05 18,24 6,30 10,18 17,84 19,51

Gru

po

Se X 15,57 19,98 16,21 10,26 15,71 95,33 81,90 ª,b,c 85,01 70,87 79,85

±S 2,61 4,39 3,18 3,77 6,11 16,81 17,26 27,77 4,08 10,71 CV 16,76 21,94 19,61 36,75 38,87 17,63 21,07 32,67 5,75 13,41

Gru

po

Vit.

E X 16,51 21,08 17,71 15,74 16,58 69,01 90,71c 65,48 75,66 77,80

±S 5,92 5,80 6,30 4,23 6,14 15,78 11,01 20,91 12,33 14,18 CV 35,88 27,50 35,58 26,89 37,04 22,87 12,14 31,93 16,30 18,23

Significância p=0,39 p=0,29 p=0,25 p=0,12 p=0,16 p=0,05 p=0,01 p=0,05 p=0,80 p=0,76

Foi observado aumento significativo com relação ao grupo controle na

concentração de colesterol, na segunda colheita, no grupo 2 onde houve a administração de

selênio e vitamina E, e no grupo 5 onde houve a administração apenas de vitamina E.

Praticamente não existem publicadas informações para bovinos que possam servir como

parâmetro de comparação, entretanto existe relatos, em humanos, de aumento de vitamina E

acompanhado de elevação de colesterol (STRANGES et al., 2009). Também em humanos foi

descrita a relação entre o aumento de selênio e a elevação do colesterol (PAN et al., 2004).

Como em ambos os grupos onde a diferença foi observada, os bovinos estavam recebendo

vitamina E, provavelmente a vitamina E é a responsável por essa alteração, tendo o selênio

menor efeito.

CONCLUSÃO

A administração de antioxidantes não altera o proteinograma e o lipidograma de

bovinos mantidos em regime de confinamento.

Capa Índice 8734

Page 165: ItALO tELES MACHADO

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Capa Índice 8738

Page 169: ItALO tELES MACHADO

1  Orientanda  e  graduanda  em  medicina  pela  Universidade  Federal  de  Goiás  2  Orientador,  professor  doutor  e  médico  oftalmologista  responsável  pelo  Núcleo  de  Telemedicina  e  Telessaúde  da  Universidade  Federal  de  Goiás    

 

ESTUDO DE PREVALÊNCIA E TRIAGEM DE RETINOPATIA DIABÉTICA EM

MUNICÍPIOS GOIANOS ATRAVÉS DA TELEMEDICINA

Wildlay dos Reis Lima¹, Juliana Silva Dias1, Alexandre Chater Taleb2

 

Núcleo  de  Telemedicina  e  Telessaúde  da  Universidade  Federal  de  Goiás  

FACULDADE  DE  MEDICINA  

UNIVERSIDADE  FEDERAL  DE  GOIAS  

CEP:  74000-­‐000  Brasil    

Email:  [email protected]  

Palavras-­‐chave:   Telemedicina,  Retinopatia  Diabética,   Prevenção  de   cegueira,  Diagnóstico  à  

distância,  Tele-­‐Oftalmologia.  

Capa Índice 8739

Anais do Congresso de Pesquisa, Ensino e Extensão- CONPEEX (2012) 8739 - 8750

Page 170: ItALO tELES MACHADO

 

 

INTRODUÇÃO

O diabete melito (DM) é uma síndrome metabólica complexa em que ocorre uma deficiência

relativa ou absoluta de insulina afetando o metabolismo dos carboidratos, lipídios e proteínas¹.

Cerca 85 a 90% dos pacientes portadores de DM possuem o chamado DM tipo 2, previamente

denominado DM não dependente de insulina¹. Uma das complicações microvasculares mais

importantes do DM é a retinopatia diabética (RD), que é hoje a principal causa de cegueira

legal em indivíduos de 25 a 74 anos nos países desenvolvidos¹,². A RD ocorre em algum

momento da vida de cerca de 95% dos pacientes com diabetes melito tipo 1 (DM1) e em mais

de 60% dos pacientes com diabetes melito tipo 2 (DM2)² . Estes dados explicam o risco 25

vezes maior de cegueira em pacientes com DM do que na população em geral².Quando a RD

culmina em perda visual é considerada trágica e constitui fator importante de morbidade de

elevado impacto econômico, uma vez que é a causa mais freqüente de cegueira adquirida3,4,

além de serias implicações pessoais e sociais. A RD se caracteriza por uma microangiopatia dos vasos da retina que determina alterações

típicas da RD. A hipóxia tecidual, acompanhada da perda da auto-regulação dos vasos

retinianos é o fator desencadeante da RD, que tem início nos capilares retinianos por meio do

comprometimento da barreira hematorretiniana. As alterações fundoscópicas seguem curso

progressivo, desde o aumento da permeabilidade vascular até a oclusão vascular e

conseqüente proliferação fibrovascular (neovasos na retina e face posterior do vítreo) e

cicatrização. Estas alterações ocorrem apenas na presença de hiperglicemia sustentada,

estando intimamente relacionada à RD3,4.

Recentemente, a incorporação de tecnologias de informação e comunicação na saúde tem

propiciado o desenvolvimento da Telemedicina, que pode ser definida como a oferta de

serviços ligados aos cuidados com a saúde, nos casos em que a distância é um fator crítico5.

Tais serviços são oferecidos por profissionais da área de saúde, usando tecnologias de

informação e de comunicação, visando o intercâmbio de informações válidas para pesquisas,

diagnósticos, prevenção e tratamento de doenças e contínua educação de provedores de

cuidados com a saúde6,7. A teleoftalmologia representa um setor emergente, é uma área que

Capa Índice 8740

Page 171: ItALO tELES MACHADO

 

 

pode possibilitar diagnóstico, tratamento, pesquisa, rastreamento de doenças, além de segunda

opinião médica especializada e educação médica continuada6.

Triagem, avaliação e tratamento de pacientes com retinopatia diabética são algumas das

aplicações mais populares da teleoftalmologia, por meio da análise de imagens obtidas por

câmeras de retina portáteis, em lugares remotos, e mostram eficácia semelhante aos métodos

tradicionais e presenciais8,9.

O uso de retinógrafo não midriático para triagem de RD foi validado, e mostrou a mesma

sensibilidade e especificidade no diagnóstico de RD com a tradicional oftalmoscopia. É um

procedimento, no qual fotografias do fundo de olho são capturadas para permitir o estudo das

alterações da retina, coróide e nervo óptico.

Considerando a RD uma das complicações microvasculares mais significantes da DM, assim

como suas repercussões para o sistema de saúde do país e qualidade de vida do paciente, é

fundamental a ampliação do acesso ao diagnóstico e aos tratamentos disponíveis, para que se

identifique melhor e o mais precocemente a doença, diminuindo as consequências sobre a

visão e qualidade de vida do paciente.

OBJETIVOS

1- Realizar, na atenção básica, exame de retinografia digital em pacientes diabéticos e envio

das imagens obtidas para segunda opinião médica (laudos à distância) com o uso dos recursos

da telemática.

2-Verificar a viabilidade do diagnóstico de especialidade mesmo em locais em que não há a

presença de um especialista.

3- Realizar o estudo da prevalência de retinopatia diabética na população atendida na atenção

primária à saúde em dezoito municípios goianos.

4- Fornecer informações que possam contribuir para implementar e/ou aperfeiçoar programas

e ações preventivas e de controle das retinopatias.

METODOLOGIA

Realizou-se um estudo epidemiológico descritivo transversal, com coleta e análise de imagens

retinográficas de pacientes diabéticos vinculados à Atenção Primária a Saúde de dezoito

municípios goianos, durante o período de agosto de 2011 a março de 2012.

Capa Índice 8741

Page 172: ItALO tELES MACHADO

 

 

População: A amostra foi composta de retinografias de 3.870 de pacientes cadastrados nas

áreas de abrangência do Programa de Saúde da Família dos municípios goianos de:

Abadiânia, Anápolis, Cachoeira Dourada, Cristalina, Edéia, Goianésia, Guaraíta, Itumbiara,

Joviânia, Montevidiu do Norte, Morrinhos, Palmeiras de Goiás, Paraúna, Piracanjuba,

Planaltina, Rio Quente, Rio Verde, São Francisco, São Simão, Senador Canedo.

Critérios de inclusão e exclusão do estudo: Critérios de inclusão: 1) pacientes sabidamente

diabéticos mediante comprovação, por receita médica ou exame de glicemia, 2) estar de

acordo com o consentimento livre e esclarecido (TCLE) desta pesquisa; Critérios de

exclusão: 1) pacientes analfabetos desacompanhados de um responsável que possa assinar o

TCLE.

Coleta de dados: A coleta de dados foi realizada pela equipe do NUTTs FM-UFG através da

realização do exame de retinografia (fotografia do fundo de olho) com um retinógrafo não-

midriático, o qual capta imagens oculares para posterior avaliação e laudo por oftalmologista,

de todo paciente diabético atendido pela Atenção Primária a saúde (APS) das áreas de

abrangência dos municípios selecionados que preenchiam os critérios de inclusão. A

acadêmica autora deste trabalho auxiliou no envio e transmissão dos dados para a análise das

retinografias à distância. Realizou-se um levantamento de todos os dados encontrados para

determinar a prevalência da retinopatia através de um estudo epidemiológico descritivo

transversal.

Análise das retinografias e dados encontrados: A equipe de oftalmologistas da unidade de

Retina e Vítreo do Centro de Referência em Oftalmologia (CEROF-UFG) avaliou as imagens

de cada paciente, para avaliar se as retinografias têm a qualidade adequada e se há algum grau

de retinopatia diabética, emitindo o devido laudo. Aos pacientes cujos exames serão

analisados pelos pesquisadores é assegurado o sigilo das informações. Os dados estatísticos

obtidos com os questionários foram analisados mediante teste qui-quadrado para o

diagnóstico. Os dados foram tratados estatisticamente com auxílio do programa Microsoft

Excel® e Biostat 5.0®.

Contrapartida para o paciente em estudo: Os laudos das retinografias de todos os pacientes

em estudo foram enviados ao médico de família do PSF que acompanha o respectivo

paciente. Nos casos em que o oftalmologista identificou patologia ocular que necessitasse de

uma investigação mais específica, foi sugerido no laudo oftalmológico, que o médico do PSF

Capa Índice 8742

Page 173: ItALO tELES MACHADO

 

 

encaminhasse o paciente ao oftalmologista de acordo com o sistema de referência-

contrarreferência do SUS.

RESULTADOS

Foram analisadas 3.671 retinografias de pacientes dos municípios de Abadiânia, Anápolis,

Cachoeira Dourada, Cristalina, Edéia, Goianésia, Guaraíta, Itumbiara, Joviânia, Montevidiu

do Norte, Morrinhos, Palmeiras de Goiás, Paraúna, Piracanjuba, Rio Quente, Rio Verde, São

Francisco, São Simão, sendo identificados 155 casos de pacientes com Retinopatia Diabética.

A Tabela 1 mostra o quantitativo de casos de retinopatia diabética por município em relação

ao número total de pacientes avaliados em cada município.

Tabela 1- Pacientes examinados e pacientes com Retinopatia Diabética

Cidades Pacientes Examinados

Pacientes Diabéticos

Pacientes com Retinopatia Diabética

Abadiânia 188 52 5 Anápolis 427 115 14

Cachoeira Dourada 251 95 8 Cristalina 130 44 5

Edéia 267 1 16 Goianésia 22 21 5 Guaraita 153 26 6

Itumbiara 281 102 16 Joviania 236 83 8

Montevidiu do Norte 166 22 2 Morrinhos 235 115 10

Palmeiras de Goias 318 129 11 Parauna 232 114 8

Piracanjuba 281 105 24 Rio Quente 166 39 2 Rio Verde 112 218 5

São Francisco 121 41 7 São Simão 85 30 3

Total 3671 1352 155

Todas as 155 retinografias compatíveis com RD foram classificadas quanto à localização

(olho direito e olho esquerdo); em proliferativas e não proliferativas e em relação à presença

Capa Índice 8743

Page 174: ItALO tELES MACHADO

 

 

de edema macular diabético (EDM), conforme ilustra a Tabela 2, a qual mostra em detalhes

os laudos de acordo às cidades. Foram encontrados 138 casos de RD no olho direito, destes 91

casos eram compatíveis com RD não proliferativa e 19 casos de RD proliferativas. Ainda

foram encontrados no olho direito 5 casos de RD com neovasos de disco óptico e nenhum

caso de edema macular diabético, dados estes representados pelo Gráfico 1.

Em relação ao olho esquerdo, a RD estava presente em 138 pacientes, dos quais 94 casos

foram classificados como RD não proliferativa e 20 casos de RD proliferativa. Foram

encontrados no olho esquerdo 3 casos de RD com neovasos de disco óptico e 46 casos de

edema macular diabético, como pode ser observado no Gráfico 2. Gráfico  1  

Capa Índice 8744

Page 175: ItALO tELES MACHADO

 

 

Gráfico  2  

Tabela 2- Número de laudos e número de casos de Retinopatia Diabética

n Retinopatia Diabética Retinopatia Diabética

Cidades OD NP P ND EMD OE NP P ND EMD Abadiânia 188 5 6 5 0 0 0 4 4 0 0 2 Anápolis 427 14 13 7 3 1 0 13 10 1 1 4

Cachoeira 251 8 9 6 2 1 0 8 6 2 1 3

Dourada Cristalina 130 5 5 4 1 0 0 4 3 1 0 2

Edéia 267 16 12 3 0 0 0 14 3 1 0 0 Goianésia 22 5 5 3 1 0 0 4 2 1 0 0 Guaraita 153 6 5 4 1 0 0 5 4 1 0 0

Itumbiara 281 16 12 8 3 2 0 15 13 2 0 7 Joviania 236 8 6 6 0 0 0 6 5 1 1 3

Montevidiu do Norte 166 2 1 0 0 0 0 1 0 0 0 0

Morrinhos 235 10 12 10 1 0 0 11 10 1 0 6

Palmeiras de Goiás 318 11 10 10 0 0 0 9 8 1 0 4

Parauna 232 8 6 6 0 0 0 7 7 0 0 6 Piracanjuba 281 24 21 10 2 0 0 21 10 4 0 1 São Simão 85 3 3 3 0 0 0 2 2 0 0 2 Rio Quente 166 2 2 2 0 0 0 2 2 0 0 0 Rio Verde 112 5 6 1 4 0 0 6 1 4 0 3

São Francisco 121 7 4 3 1 1 0 6 4 0 0 3 Total 3671 155 138 91 19 5 0 0 138 94 20 3 0 46

Capa Índice 8745

Page 176: ItALO tELES MACHADO

 

 

 

No cálculo da prevalência o numerador abrange o total de pessoas que se apresentam doentes

num período determinado (casos novos acrescidos dos já existentes). Por sua vez, o

denominador é a população da comunidade no mesmo período. Dessa forma, o presente

estudo apresentou uma prevalência de 11,46% para RD entre os diabéticos e uma prevalência

de 4,22% sobre a população geral examinada, com 29,67% de edema macular diabético desse

total de pacientes com RD; o que justifica o uso da telemedicina como ferramenta importante

no processo de rastreamento e diagnóstico desta patologia, para posterior tratamento e

programas de prevenção. Itumbiara foi o município com maior numero de casos absoluto o e

Goianésia foi o município com maior numero de casos proporcional.

DISCUSSÃO

A RD é a complicação ocular mais importante de qualquer das formas de diabetes mellitus.  A

retinopatia diabética é a manifestação retiniana de uma microangiopatia sistêmica

generalizada que pode ser observada na forma de edema de retina, exsudatos (os quais

refletem a quebra da barreira hematoretiniana) e hemorragias. Hemorragias intra-retinianas

apresentam-se em formatos variados e são características desta fase. O formato e o aspecto

clínico da hemorragia são determinados pela localização do extravasamento sangüíneo.

Estas alterações ocorrem apenas na presença de hiperglicemia sustentada, estando

intimamente relacionada à RD. A classificação da RD, adotada pela Academia Americana de

Oftalmologia considera a presença destes estágios evolutivos, conforme está descrito no

Quadro 1. Em qualquer estágio da RD pode ocorrer diminuição importante da acuidade visual

causada por edema macular.

OD: Olho direito

NP: não proliferativa

P:proliferativa

ND: Neovasos de Disco

EDM: edema macular diabético

OE: Olho esquerdo

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Page 177: ItALO tELES MACHADO

 

 

A RD é clinicamente dividida em dois estágios principais, RD não-proliferativa (RDNP), e

RD proliferativa (RDP)10,11.

A RDNP é caracterizada por alterações intra-retinianas associadas ao aumento da

permeabilidade capilar e à oclusão vascular que pode ou não ocorrer nesta fase.

Encontraremos, portanto, nesta fase, microaneurismas, edema macular e exudatos duros

(extravasamento de lipoproteínas)11.

Quadro1. Classificação de retinopatia diabética

Classificação Características fundoscópicas Retinopatia diabética não proliferativa Mínima Raros microaneurismas Leve Poucas hemorragias dispersas e microaneurismas Moderada Moderadas hemorragias dispersas e microaneurismas,

podem estar presente exsudatos duros e algodonosos. Grave ou muito grave Veias em rosários em pelo menos 2 quadrantes.

Anormalidades microvasculares intra-cranianas em pelo menos 1 quadrante.

Retinopatia diabética proliferativa Baixo risco Neovascularizaçãoretiniana ou do disco óptico, sem

atingir característica de alto risco.

Alto risco

Neovasos no disco óptico maior do que 1/3 de sua área.

Hemorragia pré-retiniana ou vítrea acompanhadas de neovasos de disco óptico menores do que 1/³ de área de disco ou neovascularizaçãoretiniana maior do que ½ área de disco.

Em um estudo clássico, o EarlyTreatmentofDiabeticRetinophathyStudy (ETDRS), em que

foram estudados prospectivamente 3.711 pacientes com DM1 e DM2, as alterações no fundo

de olho foram avaliadas por meio de fotografias de campos visuais padronizados. A

classificação de RD utilizada neste estudo, embora complexa, passou a ser o critério de

referência para estudos sobre RD. NaTabela3 está descrita esta classificação que define cinco

estágios de acometimento retiniano com base na gravidade da RD.

Capa Índice 8747

Page 178: ItALO tELES MACHADO

 

 

Tabela 3.Diagnóstico e classificação da retinopatia diabética

Grau de retinopatia Achados observados à fundoscopia

Sem RD Ausência de anormalidades. RD não proliferativa leve Apenas microaneurismas. RD não proliferativa moderada Mais do que apenas microaneurisma, mas menos do

que RD não proliferatva grave. RD não proliferativa grave Aus~encia de RD proliferativa e qualquer das

alterações a seguir: mais de 20 hemorragias intra-retianians em cada um dos 4 quadrantes; dilatação venosa em 2 ou mais quadrante. Anormalidades microvasculares intra-retinianas em 1 ou mais quadrantes.

RD proliferativa Neovascularização, hemorragia vítrea pré retiniana

Os fatores de risco para de RD podem ser classificados como genéticos e não genéticos.De

forma sucinta, podemos citar como fatores não genéticos aqueles relacionados à presença do

DM, como duração do DM, controle glicêmico e nefropatia diabética, e fatores não

relacionados diretamente ao DM, como a hipertensão arterial sistêmica (HAS), dislipidemia,

fatores ambientais e fatores oculares. Níveis elevados de hemoglobina glicada (HbA1c) são

associados com a incidência e a progressão de qualquer tipo de RD e se correlacionam

positivamente com a presença de edema macular . Em relação à HAS, pode-se concluir que o

aumento dos níveis pressóricos é um importante fator de risco independente para o

desenvolvimento e a progressão da RD em pacientes com DM, visto que seu controle retarda

a evolução da RD. Já a hiperglicemia é um fator de risco modificável e existem várias

evidências que demonstram a importância do bom controle glicêmico para a prevenção da

RD.

O controle dos principais fatores de risco conhecidos para RD não é capaz de prevenir o

aparecimento ou progressão da RD na totalidade dos casos, como já foi demonstrado em

grandes ensaios clínicos multicêntricos tanto para pacientes com DM tipo 1 quanto para

pacientes com DM tipo 2. Ainda, alguns grupos étnicos têm maior freqüência de RD.

Pacientes hispânicos e afro-americanos apresentam maior freqüência de RD quando

comparados a pacientes caucasianos10. Estas observações sugerem a existência de fatores

genéticos relacionados à RD.

Não há dados na literatura sobre a prevalência de retinopatia diabética em nosso país

tampouco em nosso Estado. O presente estudo objetivou fazer este levantamento nos dezoito

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Page 179: ItALO tELES MACHADO

 

 

municípios goianos auxiliando na estimativa mais próxima da realidade dessa prevalência em

nosso Estado.

Com os dados já apresentados nos resultados, e sabendo do impacto da RD na saúde mundial

e na qualidade de vida dos pacientes, o diagnostico precoce da RD é fundamental para iniciar

o tratamento e melhorar a qualidade de vida desses pacientes.

Estudos avaliam a eficácia da telemedicina como método diagnóstico encontra resultados

semelhantes ou inferiores ao método convencional, porém dentro de limites aceitáveis5.

CONCLUSÃO

A oftalmologia é uma área bastante propícia para o desenvolvimento da telemedicina, já que é

uma especialidade em que o diagnóstico pode ser feito, em muitos casos, apenas através de

imagens¹³, como por exemplo, no caso deste presente estudo, que propiciou o diagnóstico de

Retinopatia Diabética em pacientes residentes do interior do estado de Goiás através da

utilização da telemedicina.

No presente estudo, a prevalência foi de 4,18% para RD. Essa doença continua sendo um

grave problema de saúde pública e deve sempre ser entendida como uma doença de

abordagem multidisciplinar. A detecção precoce da RD é importantíssima para a eficácia dos

tratamentos, pois quanto maior sua gravidade pior é o resultado da terapia12, desta forma é

imprescindível o diagnostico precoce desta patologia e a telemedicina pode constituir um

mecanismo de atendimento contínuo para sua prevenção, diagnóstico e tratamento.

RERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS

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Oftalmol. [periódico na Internet]. 2003 [citado 2012 Set 19] ; 66(2): 239-247. Disponível

em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0004-

27492003000200024&lng=pt . http://dx.doi.org/10.1590/S0004-27492003000200024.

2-ESTEVES, Jorge et al . Fatores de risco para retinopatia diabética. Arq Bras Endocrinol

Metab [periódico na Internet]. 2008 Abr [citado 2012 Set 19] ; 52(3): 431-441.

Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0004-

27302008000300003&lng=pt . http://dx.doi.org/10.1590/S0004-27302008000300003

Capa Índice 8749

Page 180: ItALO tELES MACHADO

 

 

3.Fundus photographic risk factors for progression of diabetic retinopathy. ETDRS Report

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1991;98:823-33.

4 - BOSCO, Adriana et al. Retinopatia diabética. Arq Bras Endocrinol Metab [online]. 2005,

vol.49, n.2, pp. 217-227. ISSN 0004-2730. http://dx.doi.org/10.1590/S0004-

27302005000200007 .

5. FINAMOR, Luciana Peixoto dos Santos et al. Teleoftalmologia como auxílio diagnóstico

nas doenças infecciosas e inflamatórias oculares. Rev. Assoc. Med. Bras. [online]. 2005,

vol.51, n.5, pp. 279-284. ISSN 0104-4230. http://dx.doi.org/10.1590/S0104-

42302005000500020.

6. Cuzzani O. Teleoftalmología, presente y futuro. Arch Soc Esp Oftalmol 2000;1:1-3.

7. Taleb AC, Ávila M, Almeida R, Bicas H. As Condições de Saúde Ocular no Brasil - 2007.

1ª Edição. Conselho Brasileiro de Oftalmologia. São Paulo, pág-20-1.

8. Taleb AC, Ávila M, Moreira H. As Condições de Saúde Ocular no Brasil - 2009. 1ª Edição.

Conselho Brasileiro de Oftalmologia. São Paulo.

9. TelessaudeGoias. Telemedicina:definições [online]. [citado 2012 agosto 06]. Disponível

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10- Emanuele N, Sacks J, Klein R, et al. Ethnicity, race, and baseline retinopathy correlates in

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11. Ferris III FL. Diabetic retinopathy. Diabetes Care 1993;16:322-5

12. Early Treatment Diabetic Retinopathy Study Research Group: ETDRS Report No. 4:

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13.Organização Mundial de Saúde. Telemedicina: definições [online].1997. [citado 2012

agosto 06]. Disponível em: http://www.unifesp.br/dis/set/oquee.html

Capa Índice 8750

Page 181: ItALO tELES MACHADO

A utilização de recursos não convencionais no aprimoramento da experiência de jogo

Wilson de Medeiros Sousa Cleomar Rocha (orientador)

Faculdade de Artes Visuais – FAV [email protected]

[email protected]

Palavras Chave: Jogos, sensor de movimento, game design, gameplay.

Introdução

O uso de recursos não convencionais em jogos tem sido uma constante desde o aparecimento do

Wii, da Nintendo. O Kinect, da Microsoft foi o passo decisivo para o uso de sensores de

movimento, recurso principal desta pesquisa. A pesquisa procurou compreender as

especificidades para este tipo de game, principalmente sobre os modelos de interação com o

sistema, controle e interface gráfica. Para isto foram realizadas análises de similares e leituras de

trabalhos, artigos e livros sobre o tema, aprofundando a pesquisa no objeto específico. Ao final

foi proposto um jogo, formatado enquanto documento de game design, que é o documento

técnico de concepção de um game.

Objetivo

Essa pesquisa teve como objetivo a aquisição de conhecimentos relacionados ao processo de

planejamento e construção de games, abrangendo desde a parte teórica e criativa até a parte

técnica, além de pesquisar os modos de interação usuário (jogador) / sistema (jogo) e,

finalmente, a criação de um jogo que utilize recursos não convencionais para aprimorar a

experiência de jogo.

Metodologia

A metodologia utilizada foi a metodologia de projeto, especificamente para projetos de game. A

orientação metodológica prevê as fases de conceitualização, problematização, análise de

Capa Índice 8751

Anais do Congresso de Pesquisa, Ensino e Extensão- CONPEEX (2012) 8751 - 8762

Page 182: ItALO tELES MACHADO

similares, geração de alternativas projetuais e desenvolvimento do documento de game design da

melhor proposta, seguindo para a prototipação do projeto.

Resultados e discussão - Documento de Game Design

O desenvolvimento da pesquisa teve início com a revisão bibliográfica, quando obras que

questionam os mais diversos aspectos envolvendo o jogo foram discutidas. A primeira foi Homo

Ludens, de Huizinga (2008) que, embora demonstre alguns conceitos duvidosos e se contradiga

em certos momentos, é referência quando se trata do aspecto filosófico do jogo, tanto em seu

aspecto lúdico como em seu aspecto competitivo. O autor relaciona o jogo à guerra , ao direito e

até mesmo à poesia, evidenciando tais aspectos.

Outra obra que foi de grande importância foi Videogame Arte, de Arthur Bobany (2008). Essa

obra trata do jogo como uma forma de arte, equiparando-o, e até mesmo tratando-o como

superior às outras manifestações da arte, como o cinema. O autor ainda desconstrói e analisa toda

a estrutura que compõe um jogo, desde seus personagens ao cenário, reservando um capítulo

para a análise de cada um. O livro conta ainda com a dica de vários profissionais da área para

começar a trabalhar com games.

Mas a obra mais completa com certeza foi Game design: theory and practice, por Richard Rouse

(2004). Essa é uma referência para o design de games, e conta com entrevistas de grandes nomes

como Will Wright (criador dos games The Sims e Sim city), Jordan Mechner (de Prince of

Persia) e Ed Logg (de Centípede), Sid Meier (de Civilization), além de fazer uma análise de

vários jogos de sucesso, mostrando porque eles são tão divertidos, analisando os diferentes

elementos que os compõe, como HUD, dificuldade, tecnologia usada, história, inteligência

artificial e gameplay. Conta ainda com uma sessão dedicada ao documento de game design.

A segunda parte observada na pesquisa aconteceu com o levantamento de processos interativos

com interfaces baseadas em movimento - análise de similares; Os seguintes jogos foram

analisados: Kinect adventures (fig. 1) e Gunstringer (fig. 2), ambos para o console Xbox 360. No

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Page 183: ItALO tELES MACHADO

primeiro, o jogador participa de diversas atividades e aventuras, usando o movimento do corpo

como controlador de comandos para o sistema; no jogo, há um avatar que executa os mesmos

movimentos que o jogador, em um espelhamento de movimento executados. No segundo, o

jogador controla uma marionete em um cenário de velho oeste, usando a mão esquerda estendida

para controlar a direção que ela irá seguir e levantando-a para fazer a marionete saltar, e a direita

para mirar e atirar. Novamente os gestos são a base de interação, identificadas como sistemas

não-convencionais. Neste sentido apontam-se o teclado, mouse e joystick como sistemas

convencionais de interação, enquanto visão computacional, sensores e hardwares específicos de

games são classificados enquanto não convencionais.

Fig. 1 – Interface gráfica de jogo Kinect adventures Fig. 2 –Interface do jogo Gunstringer Finalizada a pesquisa bibliográfica, ocorreu a pesquisa tecnológica, explorando algumas

possibilidades de uso de ferramentas disponíveis. Nessa etapa foi escolhida uma game engine

para adquirir alguma noção do processo técnico que envolve a criação de um jogo, no caso a

engine escolhida foi o GameMaker. O jogo criado foi The eternal fight, um game multiplayer

onde dois jogadores controlam criaturas voadoras semelhantes a morcegos que devem se

enfrentar em vários níveis diferentes, coletando armas para se destruírem e kits médicos para se

curarem. Essa parte foi crucial para se ter uma noção do que seria possível fazer no protótipo do

jogo final. A instância tecnológica é base para a concepção de desenvolvimento de games

(BOBANY, 2008).

Depois desse primeiro contato com uma game engine, ocorreu o desenvolvimento de um

gamedesign - projeto de design de game propriamente dito. Enquanto resultado desta pesquisa,

apresenta-se resumidamente sua concepção, já na forma do game design document:

Let’s ride to Metal Land – Documento de Game Design

Capa Índice 8753

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1. Visão Geral 1.1- Introdução – Let’s ride to Metal Land coloca o jogador em uma jornada para salvar Metal Land, a terra sagrada dos headbangers, da corrupção causada pelo PopMaster. Na pele de um misterioso personagem trajando uma máscara e um balde na cabeça, o jogador deve avançar por todos os setores de Metal Land, até finalmente se encontrar com PopMaster e salvar a terra sagrada da corrupção.

1.2- Descrição – Let’s ride to Metal Land é um jogo de plataforma para PC – personal computer -, cuja atmosfera faz com que o jogador se sinta na terra do metal, tanto a partir da trilha sonora como também dos personagens e cenário. O jogo possui as características e objetivos básicos de um jogo de plataforma: o jogador deve avançar através dos níveis (ou fases) cada vez mais difíceis, contando com diversos itens para ajudar no caminho, assim como muitos inimigos para dificultar a jornada. Poderá ser jogado tanto no teclado como no Kinect, o sistema não convencional baseado em sensores e visão computacional da Microsoft desenvolvido para o console Xbox 360..

1.3 – Gênero – Aventura/Plataforma.

1.4 – Público alvo – O jogo tem como audiência o público jovem: crianças e adolescentes.

1.5 – Aspectos visuais que conduzem a sensações – O jogo possui um clima comum a esse estilo de jogo (plataforma): cenários coloridos com cores saturadas, plataformas flutuantes e inimigos que ficam perambulando de um lado para o outro. A principal diferença acontece na trilha sonora (versões em 8 bit de músicas clássicas de metal) e na aparência dos inimigos. 2. Escopo do projeto 2.1 – Número de locais –7 Os locais são um conjunto de níveis com características específicas. Cada local possui uma média de 2 a 3 níveis.Os locais onde ocorrem lutas contra bosses possuem apenas um nível.2.2- número de níveis- 122.3 – Número de Itens – 5Alguns itens poderão ser encontrados ao longo do jogo, sendo eles: -Guitarra: permite ao jogador atirar notas musicais para destruir inimigos. Ao ser equipada, o Sprite do personagem muda. Cada vez que é coletada, ela concede ao jogador 10 notas musicais, e quando não há mais nenhuma restando, o sprite do personagem volta ao normal. -Cogumelos: aumentam o score do jogador. -Metal hand- deixa o jogador invulnerável por alguns segundos, fazendo com que os inimigos sejam destruídos ao contato. Ao ser coletado , o personagem fica com um campo de energia amarelo em volta. -Marcador de vida- aumenta a vida do jogador em um. -Dragonslayer- espada que permite matar dragões com um golpe.

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2.4 - Número de NPC - 12 Qualquer personagem que não seja controlado pelo próprio jogador é um NPC (Non Player Character). Esse termo abrange todos os inimigos e bosses (chefões) , além de qualquer outro personagem não combativo. Neste jogo os NPC se compõem de:: - Popboy: criatura sem grande poder, trajando roupas coloridas. - Flyer: criatura voadora que se assemelha a um dinossauro. - Troll: ser robusto e grande, trajando armadura, escudo e espada. - Metalhead: músico corrompido, de cabelos longos e roupas negras. - Skeleton: esqueleto humano que utiliza uma espada como arma . - Black Troll: versão mais poderosa do Troll, conta com uma coloração mais escura. - Epic Troll: versão épica do Troll, conta com equipamentos dourados e uma aura radiante. - Dragon: dragão vermelho, capaz de voar e soltar bolas de fogo. - Informer: únicos NPCs que possuem falas, e também os únicos não hostis. Usam vestes brancas. Além desses, o jogo conta ainda com 3 Bosses, descritos adiante.

3. Gameplay e mecânicas 3.1 – Gameplay 3.1.1 – Progressão no jogo – Enquanto os primeiros níveis apresentam apenas inimigos sem grande dificuldade para serem derrotados e o cenário não exige uma estratégia complexa para que se avance de nível, os níveis mais avançados são infestados por inimigos poderosos, sendo que muitas vezes o jogador não contará com os itens apropriados para derrotá-los. Além disso, outro marco de dificuldade são os bosses(chefões), no final de cada cenário.

3.1.2 – Objetivos do jogo – Destruir o Pop Master, acabando assim com a corrupção de Metal Land. Mecanicamente, o objetivo é avançar através dos níveis, alcançando a placa que funciona como um portal para o nível seguinte. Um objetivo secundário é acumular o máximo de pontos possível, mantendo o nome do jogador na tabela de high score.

3.2 - Mecânicas 3.2.2 Movimento geral – Há duas maneiras de o jogador se movimentar no jogo, sendo uma delas com o teclado, utilizando as setas para correr e pular e a barra de espaço para atirar. A outra é com o movimento do próprio corpo, movendo o personagem com a mão esquerda e atirando com a direita. O uso preferencial será do corpo, sendo utilizado o sistema convencional apenas quando houver problemas com o sistema principal.3.2.3 Física – Como na maioria dos jogos de plataforma, a física é bem surreal, com os personagens saltando várias vezes mais alto do que um humano normal, além de não morrer devido a quedas altas.3.2.4 Combate – Há três maneiras de se derrotar um inimigo: saltando em cima, atirando notas musicais (ação possível depois de coletar uma guitarra) ou enquanto está sob o efeito da invulnerabilidade proveniente da metalhand. Contato frontal faz com que o jogador perca uma vida (inicialmente o jogador possui o correspondente a 3 vidas, mas vidas adicionais podem ser coletadas ao longo do jogo através dos marcadores de vida) e renicie o nível atual, e nem todos os inimigos podem ser mortos saltando por cima. A

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nota musical e o salto reduzem em uma unidade de vida o quantitativo mantido por cada NPC. Todos os inimigos são afetados pela metalhand, com exeção dos bosses.

Inimigo Afetado por salto Unidade de vidaPopboy sim 1Flyer não 1Troll não 5

MetalHead, skeleton sim 2Black Troll não 7Epic Troll não 10

Dragon sim 10

3.2.5 – Coletando objetos – Para coletar qualquer item, o jogador deve posicionar o avatar acima do item desejado.

4.1 Descrição das telas – Propósito de cada tela 4.1.1 – Menu principal – A tela do menu principal consiste em uma imagem do personagem principal ao fundo e um botão de start no centro. Um pouco abaixo há o botão de ajuda. Nessa tela, toca-se ao fundo a música “cowboys from hell” em uma versão 8 bits.

4.1.2 Start- Ao clicar, o jogo inicia no Nível 1.

4.1.3 Ajuda- Aqui são explicados os comandos para movimento.

4.1.4 Mapa- um mapa aparece entre cada stage para que o jogador se situe e veja o quanto já avançou no game. Uma seta bem grande e brilhosa indica a localização do jogador. A tela fica presente até que o jogador aperte Enter ou levante os 2 braços para cima , caso esteja jogando com o Kinect.4.1.5 tela final - as palavras “the end” aparecem na tela, e o jogador pode apertar enter para colocar o nome no highscore. Enquanto permanecer ativa , a versão 8 bit de Stairway to heaven é tocada..

5. Ações5.1 escalar- a ação de escalar acontece quando o personagem entra em contato com o objeto escada. A Sprite do personagem muda para ele de costas, e o jogador, ao usar o Kinect, poderá mover a mão esquerda para cima e para baixo ou poderá apertar as setas do teclado para cima e para baixo, para mover o personagem.

5.2 conversar- Qualquer diálogo aparece automaticamente na tela , em uma caixa de texto , e o jogador tem a opção de apertar ‘’ok’’ ou ‘’enter’’ para fechar a conversa, ou levantar o braço direito, para ser mostrada a próxima fala.

6. Sessão 3 – Estória , narrativa e personagem.

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6.1. Estória e narrativa6.1.1. Estória de fundo- Há um terra chamada Metal Land , uma espécie de paraíso musical com vários setores dedicados para cada vertente do metal. O personagem principal está em uma jornada para lá , mas quando chega descobre que a região foi corrompida por um ser denominado ‘’PopMaster’’, fazendo com que os habitantes do local ficassem agressivos.

6.1.2. Progressão no jogo- O personagem não sabe da invasão da back story, até conversar com um NPC no nível 5. A partir daí , a história não progride.

6.2. Mundo de Jogo 6.2.1. Local #1 Road to metal Land 6.2.1.1.Descrição geral- Essa área é a única que não se passa em Metal Land, possui um clima bem colorido e como background um céu azul. 6.2.1.2.Características físicas - plataformas verdes e blocos de pedra formam a maior parte do cenário. 6.2.1.3.Níveis que usam esse local- 1, 2 e 3. 6.2.1.4.Inimigos- Popboy , flyer , troll. 6.2.2. Local #2 Metal Land Gate 6.2.2.1.Descrição geral- Essa área é onde acontece a luta contra o primeiro boss. No background pode ser visto o portão de ML.6.2.2.2.Características físicas- Possui alguns blocos de pedra que funcionam como proteção contra as bolas de fogo do dragão e também para ajudar a saltar em cima do mesmo.6.2.2.3.Inimigos - Guardian Dragon.6.2.2.4 - Níveis que usam esse local - 4

6.2.3. Local#3 Thrash Metal quarter- 6.2.3.1. Descrição geral - Essa é a primeira área em ML, possui uma aparência rústica. Possui um background de cor metálica. Logo no começo do nível 5, um NPC explica a back history para o personagem e, no final do nível 6, outro diz que Popmaster se encontra em outro quarter da ML.6.2.3.2 - Características físicas- Os blocos parecem todos feitos de metal ou ossos.6.2.3.3 – Inimigos - metalhead, troll.6.2.3.4 - Níveis que usam esse local - 5 e 6.

6.2.4 – Local #4 - Black metal quarter6.2.4.1 – Descrição geral - a parte mais sombria de ML, com um background totalmente negro. No final do nível 8, um NPC explica que Popmaster está tentando chegar na “stairway to heaven” e, para chegar até lá, o personagem deve antes passar pela power metal land.6.2.4.2 – Características físicas - Tudo parece feito de trevas, exceto pelos blocos, que são feitos de pedra para evitar que o jogador fique totalmente perdido.6.2.4.3 - Inimigos: Black Troll, Metalhead, Skeletons6.2.4.4 - Níveis que usam esse local: 7 e 8

Capa Índice 8757

Page 188: ItALO tELES MACHADO

6.2.5 - Local #5 Power Metal quarter-6.2.5.1- Descrição geral- Essa é a parte épica de ML, habitada pelas mais perigosas criaturas. No final do stage 10 , um dragão se oferece para levar o personagem até a stairway.6.2.5.2-Características físicas- tudo é feito de material dourado e brilhante, com muitas torres enormes.Essa área exige uma precisão grande nos saltos. 6.2.5.3- inimigos- Dragon , epic troll 6.2.5.4- Níveis que usam esse local: 9 e 10.

6.2.6 Local# 6 Through the fire and flames6.2.6.1 Descrição geral- nessa area ocorre a batalha contra o epic dragon, e é a única área aérea. O personagem está montado no dragão do stage 10, e deve lutar contra outro em uma batalha no ar. 6.2.6.2 Características físicas- não possui blocos de apoio, apenas os blocos que marcam os limites da room. 6.2.6.3-Inimigos: Epic dragon Níveis que usam esse local: 11

6.2.7 - Local# 7 stairway to heaven 6.2.7.1 Descrição geral- essa é a ultima área do jogo, possui como background algumas nuvens com uma espécie de luz sagrada saindo por detrás. Quando Popmaster é derrotado, a tela fica preta por alguns instantes e então é exibida a tela final. 6.2.7.2 Características físicas- blocos dourados colocados na disposição de uma escada. 6.2.7.3 Inimigos - Pop Master.Níveis que usam esse local: 12

6.3. Personagens6.3.1. Buckethead 6.3.1.1 - A personalidade não é desenvolvida na história , assim o jogador tem mais facilidade de se identificar com o personagem. Ele se demonstra prestativo em ajudar os habitantes de ML.6.3.1.2. Aparência 6.3.1.2.1 - Características físicas – Cabelos longos, usa um balde e uma máscara branca, além de uma capa de chuva amarela. Tamanho médio.6.3.1.2.2 - Animações- Andando , escalando , segurando guitarra, empunhando espada, envolto por um escudo protetor e montando dragão.6.3.1.3 - Habilidades especiais- Pulo alto.7. - Interface 7.1. Sistema visual 7.1.1. HUD - No canto superior esquerdo da tela, ficam as informações de vidas restantes, itens ativos e score.7.1.2. Câmera - A câmera segue o personagem, de modo que ele ainda tenha uma visão um pouco à frente e atrás.

Capa Índice 8758

Page 189: ItALO tELES MACHADO

7.2. Sistema de controle7.2.1 Comandos para teclado: setas esquerda e direita para movimentação do personagem, seta para cima para saltar e subir escadas , seta para baixo para descer escadas e barra de espaço para atirar.

7.2.2 Comandos para Kinect: o jogador deve ficar com a mão esquerda estendida à frente, movimentando um pouco para os lados para a movimentação do personagem, para cima e para baixo para saltar , subir e descer escadas. O alcance efetivo para a movimentação tem um raio de 25cm partindo da mão esticada. A mão direita , quando esticada à frente , atira as notas musicais.Nos menus , o jogador controla o mouse com a mão esquerda , enquanto executa o comando de clicar levantando a mão direita para cima. 7.3. Sistema de ajuda- A tela de ajuda pode ser encontrada clicando no botão ‘’Ajuda’’ no menu principal.

8. Inteligência artificial 8.1. AI inimiga – Monstros e vilões 8.1.1Bosses8.1.1.1 Guardian Dragon- Esse é o dragão que guarda a entrada de Metal Land. Na batalha, fica voando de um lado para o outro enquanto joga três bolas de fogo em direções aleatórias a cada 3 segundos. Quando ele perde metade de seus PVs, começa a voar mais rápido.8.1.1.2 Epic Dragon- Dragão dourado, o dragão mais poderoso de toda Metal Land. Fica voando para cima e para baixo soltando bolas de fodo explosivas.8.1.1.3 Popmaster- Um ser duas vezes maior que o personagem, trajando manto negro e que solta notas musicais pop.

8.2. Non-combat Characters os únicos NPC que não lutam são os informers, que ficam no começo ou final de níveis específicos para dar alguma informação ao personagem.9. Sonoridades9.1. Som9.1.1 -Sons dos itens Guitarra: ao atirar uma nota musical, um som dos instrumento é emitido.Metalhand: enquanto durar o efeito, uma versão 8 bit da música ‘’Jordan’’ é tocada.

9.2. Música 9.2.1.AmbienteLocal 1 Cowboys from hell (8 bit)Local 2 Bloodmeat (8 bit)Local 3 Killing is my business (8 bit)Local 4 Gateways (8 bit)Local 5 Emerald sword (8 bit)Local 6 Through the fire and flames (8 bit)Local 7 Rainning blood. (8 bit)

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Page 190: ItALO tELES MACHADO

Figuras 3, 4 e 5: estudos para cenários e personagens do game.

Para a elaboração desse Game design document , foram feitas as análises de jogos de plataforma,

como Super Mario, Demon’s Crest, Donkey Kong, Sonic e Contra, além da leitura de artigos

sobre game design.

Depois de feito o GDD, a prototipação do jogo pôde ser iniciada, utilizando a mesma engine

citada anteriormente. Para a utilização do kinect em um computador , foi necessário instalar

alguns drivers , sendo eles: OpenNI Unstable Build for Windows v1.0.0.25 , PrimeSense NITE

Unstable Build for Windows v1.3.0.18 e SensorKinect Module.

Resultados e considerações finais

Os resultados esperados eram que, no final do projeto, tivesse-se um protótipo de jogo completo,

que utilizasse os recursos propostos e ter um melhor conhecimento dos processos de criação de

jogos e como utilizar de forma adequada os diversos recursos citados. Ambos foram alcançados.

Mesmo tendo sido concluído, o jogo apresenta alguns resultados não satisfatórios: embora a

jogabilidade ocorra de maneira razoável, algumas questões não foram pensadas ao planejar o

game, como, por exemplo, a necessidade de um espaço grande para que o Kinect reconheça os

movimentos perfeitamente (de em média 3 metros), distância essa que faz com que detalhes do

jogo sejam perdidos, e, dependendo do tamanho do monitor e espaço disponível, pode-se dizer

que ao invés de ocorrer o aprimoramento da experiência de jogo, aconteça justamente o

contrário. Além disso, a escolha desse estilo de jogo (plataforma) não se mostrou muito

interessante ao ser relacionado com o sensor de movimento, pois os personagens são muito

pequenos para se enxergar a uma distância tão grande. Enquanto testava o protótipo, o Kinect foi

Capa Índice 8760

Page 191: ItALO tELES MACHADO

conectado a um notebook, e esse conectado a uma televisão através de um cabo HDMI, com isso

o gameplay melhorou consideravelmente, mas mesmo assim alguns detalhes (como quando

ocorre algum diálogo e o texto fica ilegível) se perderam, além da impossibilidade de escrever o

nome no highscore usando apenas o movimento corporal.

Como consideração final, gostaria de deixar registrada minha frustração em relação ao uso dos

equipamentos básicos necessários para a efetuação da pesquisa. Embora tenham sido adquiridos,

eles nunca chegaram ao laboratório, o que resultou em atraso no cronograma e na realização de

todos os testes com equipamento pessoal.

Referências

ALLMER , Matt. The 13 Basic Principles of Gameplay Design. Disponível via URL <http://www.gamasutra.com/view/feature/3949/the_13_basic_principles_of_.php>. Acesso em 27 de fev de 2012.

ANHUT, Anjin. Big and scary: the science of size in video games. Disponível via URL <http://howtonotsuckatgamedesign.com/?p=1473>. Acesso em 02 de dez de 2011.

BOBANY, Arthur: Video game arte. Teresópolis: Novas Ideias, 2008.

HUIZINGA, Johan. Homo Ludens: o jogo como elemento da cultura. São Paulo: Perspectiva, 2008.

KONCEWICZ, Radek. What Made Those Old, 2D Platformers so Great? Disponível via URL <http://www.significant-bits.com/what-made-those-old-2d-platformers-so-great>.Acesso em 13 de mai. 2012.

KONCEWICZ, Radek. Super Mario bros 3 level design lessons. Disponível via URL <http://www.significant-bits.com/super-mario-bros-3-level-design-lessons>. Acesso em 30 de dezembro de 2011.

MOLES, Abraham. Arte e Computador. Trad. Pedro Barbosa. Porto: Afrontamento, 1990.

ROCHA,Cleomar. Estratégias tecnológicas de produção de encanto: as interfaces computacionais. Relatório de pós-doutorado realizado no PACC/UFRJ, 2011. Gentileza do autor.

ROUSE, Richard. Game design: theory and practice. Cambridge: Wordware, 2001

Capa Índice 8761

Page 192: ItALO tELES MACHADO

WALKER, John. Rules for games: Do & don’t. Disponível via URL <http://www.rockpapershotgun.com/2010/07/02/rules-for-games-do-dont-1/>. Acesso em 2 de jul. 2011.

Capa Índice 8762

Page 193: ItALO tELES MACHADO

Orientadora: Miriam C Leandro Dorta Aluna: Yasmim Natividade Fonseca Major Revisado pelo orientador

Avaliação da imunogenicidade das proteínas recombinantes TSA e LACK de

L.(V).braziliensis.

Yasmim Natividade Fonseca Major, Grazzille Guimarães Mato, João Pedro Torres

Guimarães, Miriam Leandro Dorta

Instituto de Patologia Tropical e Saúde Publica, Universidade Federal de Goiás

E-mail: [email protected]

Palavras-chave: Leishmania (V.) braziliensis, TSA, LACK, imunogenicidade

1 INTRODUÇÃO

As leishmanioses compreendem um grupo de doenças que apresentam características

clínicas, histopatológicas e imunológicas distintas, sendo uma protozoose causada por

parasitos intracelulares do sistema fagocítico mononuclear pertencentes ao gênero

Leishmania. Essa doença é uma zoonose primariamente de animais silvestres, sobretudo

roedores, sendo transmitido por flebotomíneos de florestas tropicais.(Gontijo & Carvalho,

2003; Ameen, 2010).

As espécies de Leishmania patogênica para o homem, presentes na América Latina,

pertencem a dois subgêneros: (1) Viannia representado por L. braziliensis, L. panamensis, L.

guyanensis e L. peruviana, causam lesões cutâneas e mucocutâneas e (2) Leishmania

representado por L. mexicana e L. amazonensis, causam envolvimento cutâneo localizado ou

difuso (Silveira e cols, 2009). Na leishmaniose Visceral (LV) os parasitos apresentam elevado

tropismo pelo sistema fagocítico mononuclear do baço, fígado, medula óssea e dos tecidos

linfóides. As espécies envolvidas são L.donovani, L.infantum e L.chagasi (Handman, 2000).

A doença é transmitida pela picada de fêmeas de insetos da subfamília Phlebotominae,

representados pelo gênero Phlebotomus e Lutzomia. A infecção se dá durante o repasto

sanguíneo, e a saliva do inseto desempenha um papel relevante na infecção.

Cerca de 90% dos casos de Leishmaniose Tegumentar Americana (LTA) no Brasil são

causados por L. (V.) braziliensis, e esta é a espécie que desenvolve as lesões mais graves e

que está frequentemente associada à invasão de mucosas (Degrave & Romanha, 1999;

Silveira e cols, 2009).

Capa Índice 8763

Anais do Congresso de Pesquisa, Ensino e Extensão- CONPEEX (2012) 8763 - 8777

Page 194: ItALO tELES MACHADO

Estudos têm demonstrado que o espectro clínico da doença está relacionado com as

diferentes espécies de Leishmania (Laisson & Shaw, 1987; Silveira e cols, 2009) e com a

interação entre o parasito e o hospedeiro (Ameen, 2010).

Os antimoniais pentavalentes são indicados para o tratamento de todos os tipos de

manifestações clínicas de leishmaniose, embora as formas mucosas e mucocutâneas exijam

maior cuidado, por apresentarem resposta mais lenta e maior possibilidade de recidivas. Não

havendo resposta satisfatória com o tratamento pelos antimoniais pentavalente, as drogas de

segunda escolha são a Anfotericina B e a Pentamidina (Stebut, 2007; Tuon e cols., 2008).

Podem ocorrer um ou mais efeitos colaterais, tais como artralgias, mialgia, inapetência,

náuseas e outros. Os antimoniais pentavalentes vêm sendo usado para tratar leishmaniose por

mais de 70 anos, e não surpreendentemente, resistência a essas drogas tem aumentado (Duthie

e cols, 2011).

A quimioterapia utilizada é severamente limitada por fatores como alto custo, toxidade

e vias de administração (Duthie e cols.; 2011). A ausência de medidas profiláticas eficientes e

de uma vacina efetiva justifica a necessidade de mais estudos sobre a resposta imune durante

a leishmaniose que sirvam como base para o desenvolvimento de novas formas de

imunoprofilaxia e imunoterapia (Silveira e cols, 2009; Modabber, 2010).

Se disponível, a vacinação poderia ser uma ferramenta promissora para o controle da

LTA. Com os avanços das técnicas moleculares, peptídeos e antígenos derivados de DNA

recombinante têm sido produzidos e estudos com estes têm se tornado um importante

instrumento para identificar possíveis candidatos para uma vacina protetora contra a

leishmaniose (Coler & Reed, 2005; Khamesipour e cols, 2006; Salay e cols, 2007).

Tentativas de vacinação profilática em seres humanos contra as leishmanioses têm

sido realizadas em diferentes partes do mundo (El-On, 2009; Nascimento e cols, 2010).

Durante os últimos vinte anos, MAYRINK e cols (1979; 2006; Botelho e cols, 2009) deram

sequência a estes estudos e desenvolveram a primeira geração de vacina composta de cinco

diferentes espécies de leishmânias mortas, que já foi submetida a triagens clínicas e

atualmente tem sido utilizada na imunoprofilaxia da LTA, associada ao tratamento

convencional (Cardoso e cols, 2003). Uma versão mais simplificada desta vacina foi

padronizada, utilizando apenas uma espécie de parasito, L. (L.) amazonensis

Capa Índice 8764

Page 195: ItALO tELES MACHADO

(IFLA/BR/67/PH8), vacina monovalente (BIOBRÁS) que está sendo testada e tem

apresentado resultados similares à fórmula original, porém estudos sobre o seu potencial

imunogênico e diferentes esquemas de imunização ainda estão sendo avaliados (De Luca e

cols, 1999; Armijos e cols, 2004)

A vacinação genética contra leishmaniose cutânea experimental em camundongos

BALB/c altamente suscetíveis à infecção por L.(L.)major foi descrita com um plasmídio

contendo o gene do antígeno LACK (“Leishmania Activated C Kinase”) de L.(L.)major,

L.(L.) amazonensis, L. infantum, L. mexicana, L donovani e L. chagasi (Dumonteil, 2007). Os

animais imunizados apresentaram uma resposta imune do tipo Th1 semelhante à de animais

imunizados com a proteína LACK recombinante, juntamente com IL-12 recombinante

(Gurunathan e cols, 1997, Perez-Jimenez e cols, 2006). Foi demonstrado que a vacinação

genética com plasmídios contendo os genes do antígeno TSA (“Thiol Specific Antioxidant”)

ou LmSTI1 (“Leishmania major Stress Inducible protein 1”) foi capaz de induzir resposta

imune protetora contra a infecção por L.(L.)major em camundongos altamente suscetíveis

BALB/c (Mendez e cols, 2001 e 2002; Badiee e cols, 2007).

Além da vacinação genética, os antígenos TSA, LmSTI1 e Leif (“Leishmania

elongation initiation factor”) de L.(L.)major estão sendo utilizadas em estratégias de

imunização em formulações separadas ou conjuntas de poliproteínas, mostrando-se em todos

os casos, capazes de conferir proteção (Cooler & Reed, 2005; Coler e cols, 2007; Chakravarty

e cols, 2011).

Dados demonstram que as diferentes leishmanioses cutâneas são distintas em sua

etiologia, epidemiologia, transmissão e distribuição geográfica e que durante o curso da

infecção, cada fase é desencadeada por interações de grupos distintos de moléculas do

parasito com um compartimento da resposta imune específico. Num segundo nível de

regulação estariam os fatores genéticos do hospedeiro e fatores ambientais (Chang &

Mcguire, 2002). Assim, é de grande importância para o controle da LTA no Brasil, que

estudos sejam realizados com o objetivo de identificar proteínas imunogênicas para que sejam

testadas e utilizadas como potenciais antígenos para o desenvolvimento de uma vacina

protetora e duradoura para a LTA.

2 OBJETIVOS

Capa Índice 8765

Page 196: ItALO tELES MACHADO

Avaliar a imunogenicidade das proteínas recombinantes LACK e TSA de

L.(V.)braziliensis.

2.1 OBJETIVOS ESPECÍFICOS

Os objetivos específicos alcançados no presente projeto foram:

Produção em grande escala das proteínas recombinantes LACK e TSA de L.(V.)braziliensis.

Purificação das proteínas recombinantes produzidas em grande escala e quantificação das

proteínas recombinantes solúveis.

Caracterização da imunogenicidade das proteínas rLACK e rTSA pela imunização de

camundongos BALB/c.

Detecção de anticorpos específicos contra rLACK e rTSA produzidos por camundongos

imunizados utilizando Western Blotting.

3 METODOLOGIA

3.1 Produção de proteínas recombinantes (LACK e TSA) por bactérias E.coli em

grande escala

Inicialmente foi feito o pré-inóculo, colocou-se uma colônia de E.coli transformada em

50 mL de meio Lb (Invitrogen) contendo ampicilina (100 mg/mL) e este foi incubado por 18 hs

sob agitação (shaker) a 37ºC. Em seguida foi adicionado 3 mL do pré-inóculo em quatro (4)

erlenmayer de 250 mL contendo meio de cultura e este foi mantido sob agitação (shaker) por 2

hs a 37ºC. A D.O. foi aferida a cada 30 minutos no espectofotômetro, e depois de cerca de 2-3

hs, quando a D.O. atingiu entre 0,4-0,6 foi adicionado 200 μL de IPTG 1 M nos 4 erlenmayers.

Após incubação sob agitação a 37ºC por 3 hs, as bactérias foram colocadas em tubos de plástico

de 50 mL e centrifugadas a 5.000rpm por 20 min a 10ºC. O sobrenadante foi descartado e o

pellet ressupenso em 15 mL de solução de Binding Buffer Uréia 8 M. As amostras foram

preparadas contendo 900 μL das proteínas e 100 μL de Tampão de Amostra (5x) com β-

mercaptoetanol e fervidas por 3 minutos à 100°C. Foram feitos géis grandes de poliacrilamida

10% onde por meio de eletroforese durante 6 horas e 30 minutos à 110 V, purificou-se as

proteínas recombinantes. Para evidenciar a proteína no gel e extraí-la para sua eluição,

adicionou-se uma solução gelada de cloreto de potássio sobre o gel de poliacrilamida,

evidenciando uma banda opaca, onde foi cortada, macerada e colocada em um tubo de 50 mL

contendo 5 mL de água Milli-Q e este foi deixado sob agitação no shaker à temperatura de

Capa Índice 8766

Page 197: ItALO tELES MACHADO

20°C à 156 rpm por 18 hs. Em seguida coletou-se o sobrenandante e este foi colocado em um

saco de diálise e este foi colocado dentro de um béquer contendo 2 litros de PBS (1x). Deixou-

se a uma temperatura de 4°C, sob agitação, trocando-se a solução de PBS (1x) 3 vezes por dia,

durante 48 horas. As proteínas foram estocadas em eppendorfs de 500 μL contendo 10 μL de

“Inibidores de proteases”, as amostras foram congeladas a -20oC para posterior dosagem de

proteínas pelo método de Bradford segundo protocolo descrito pelo fabricante.

3.2. Imunizações:

Foram utilizados 24 camundongos, fêmeas, de linhagem BALB/C para as imunizações

com rLACK e rTSA. Estes foram divididos em 3 grupos com oito animais cada seguindo as

imunizações: Grupo 1= 100 ul de uma solução contendo Adjuvante de Freund Incompleto

(AIF) diluído em salina (G1); Grupo 2= 100 ul de uma solução contendo 10ug/ml rTSA

+AIF diluídos em salina (G2); Grupo 3= 100 ul de uma solução contendo 10ug/ml rLACK +

AIF diluídos em salina (G3). Os animais foram previamente imunizados com Adjuvante

Completo de Freund 21 dias antes de começar o esquema de imunização com as proteínas.

Após esses 21 dias, os animais foram imunizados três vezes pela via subcutânea (no dorso do

animal), com intervalo de 21 dias. A cada esquema de imunização dois camundongos eram

eutanasiados para a obtenção do sangue para a posterior avaliação da imunogenicidade.

3.3 Avaliação da imunogenicidade das proteínas recombinantes por Western blotting:

A avaliação da produção de anticorpos específicos para as proteínas recombinantes

utilizadas durante a imunização dos animais foi feita pela técnica de Western Blotting.

Inicialmente foi feito SDS-PAGE com as proteínas recombinantes rTSA e rLACK. Após

eletroforese as proteínas separadas no gel de poliacrilamida foram transferidas para membrana

de nitrocelulose através de uma cuba de transferência à 100 V. Após a transferência para a

membrana de nitrocelulose por meio de cuba eletroforética, contendo tampão de transferência, a

100 V durante 60 minutos. Em seguida esta foi corada com Ponceau Red 0,1% para evidenciar as

banda e cortada em tiras de acordo com as bandas demarcadas, especificadas para o tipo de

proteína que continha, se rLACK ou rTSA.

Capa Índice 8767

Page 198: ItALO tELES MACHADO

A membrana foi incubada em solução de bloqueio (PBS contendo 6% de soro fetal

bovino) durante 18 horas a temperatura ambiente (ta) sob agitação. Em seguida a membrana

foi incubada com o soro dos camundongos diluído na solução de bloqueio (PBS contendo 3%

de soro fetal bovino) na diluição de 1/100. A membrana foi lavada 6 vezes com PBS contendo

0,01% de tween 20 (PBS-T20), sendo que a duração de cada lavagem foi de 5 minutos. O

conjugado (anti-IgG de camundongo marcado com peroxidase – Bio-Rad), diluído na solução

de bloqueio, na concentração de 1/1000 foi adicionado e incubado por 1 hora sob agitação.

Novamente a membrana foi lavada 6 vezes com PBS/T20, sendo 5 minutos cada lavagem.

Após a última lavagem acrescentou a solução reveladora (H202 e DAB) sob agitação até que

as bandas fossem observadas. A reação foi parada com água.

4 RESULTADOS

4.1 Obtenção das proteínas recombinantes LACK-His e TSA-His produzidas por

bactérias competentes E.coli Bl-21 DE3

Segundo dados da literatura, a proteína LACK de L. major é expressa como corpos de

inclusão e apresenta peso molecular de 34 kDa (Gonzalez-Aseguinolaza et al, 1999). No

presente trabalho avaliamos a expressão da LACK recombinante tanto no sobrenadante

quanto no pellet das culturas e verificamos que a maior parte da proteína estava presente no

pellet e as amostras induzidas com IPTG expressaram uma concentração maior de proteína

(Fig 1).

A confirmação da produção em grande escala foi verificada através de SDS-PAGE

conforme mostra a Figura 1.

Segundo dados da literatura, a proteína TSA de L. major é parcialmente solúvel e

apresenta peso molecular de cerca de 22 kDa (Webb, John et. al,1998), podendo dessa forma

ser encontrada não só no “pellet” analisado, como também no sobrenadante. No presente

trabalho avaliamos a expressão da TSA recombinante tanto no sobrenandante quanto no

“pellet” das culturas e verificamos que as amostras induzidas com IPTG expressaram uma

concentração maior de proteína no pellet (Fig. 2).

O pellet das culturas de bactérias E. coli Bl 21 DE3 obtidas em grande escala foram

congelados e foram processados posteriormente para purificação das proteínas recombinantes,

rLACK e rTSA.

Capa Índice 8768

Page 199: ItALO tELES MACHADO

Figura 1. Avaliação da expressão da proteína recombinante, rLACK, por bactérias

competentes, E.coli, Bl21-DE3 através de SDS-PAGE. Gel de Poliacrilamida 12% foi

utilizado para analisar a expressão de rLACK em cultura produzida em grande escala.

Canaletas: 1- Padrão de peso molecular, 2- Proteína LACK, 3- Pellet da cultura tratada com

Uréia induzida com IPTG 0,1M. Gel corado com solução corante Comassie Blue.

Figura 2. Avaliação da expressão da proteína recombinante, rTSA, por bactérias

competentes, E.coli, Bl21-DE3 através de SDS-PAGE. Gel de Poliacrilamida 12% foi

utilizado para analisar a expressão de rTSA em cultura produzida em grande escala.

Canaletas: 1- Padrão de peso molecular, 2- Proteína TSA, 3- Pellet da cultura tratada com

Uréia induzida com IPTG 0,1M. Gel corado com solução corante Comassie Blue.

60-

kDa 1 2 3

20-

40-

kDa 1 2 3

20-

Capa Índice 8769

Page 200: ItALO tELES MACHADO

4.2 Purificação e eluição das proteínas recombinantes produzidas em grande escala.

As amostras obtidas foram submetidas a eletroforese em gel de poliacrilamida e as

bandas precipitadas com KCL foram cortadas e em seguida as proteínas foram eluídas. A

Figura 3 mostra as proteínas rLACK e rTSA obtidas.

Figura 3. Proteínas recombinantes, rLACK e rTSA de L.(V.) braziliensis. Gel de Poliacrilamida

12% foi utilizado para analisar a pureza das proteínas rLACk e rTSA obtidas em cultura produzida de

E. coli em grande escala. Canaletas: 1- Padrão de peso molecular, 2- Proteína rLACK, 3- Proteína

rTSA. Gel corado com solução corante Comassie Blue.

4.3 Avaliação da imunogenicidade das proteínas recombinantes LACK e TSA de

L.(V).braziliensis.

As proteínas rTSA e rLACK purificadas foram inoculadas no dorso de camundongos

BALB/c em três doses. Para as imunizações essas proteínas foram preparadas juntamente com

o Adjuvante Incompleto de Freund, uma emulsão que estimula a resposta inflamatória. Após

as imunizações, os soros dos camundongos imunizados foram obtidos para avaliar a presença

de anticorpos específicos para rTSA e rLACK. Foi feita a avaliação da imunogenicidade das

proteínas pela técnica de Western Blott.

A Figura 4 mostra a eficácia da transferência das proteínas rLACH e rTSA do gel de

poliacrilamida para a membrana de nitrocelulose.

29--

kDa 1 2 3

43-

66-

Capa Índice 8770

Page 201: ItALO tELES MACHADO

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15

Figura 4. Membrana de Nitrocelulose após transferência das proteínas rTSA e rLACK.

Canaletas: De 1 a 8 - Demarcações contendo a proteína rTSA-His, De 9 a 15 - Demarcações

contendo a proteína LACK-His impregnada. Membrana de nitrocelulose corada com solução

Ponceau Red.

Depois de transferir as proteínas para membranas de nitrocelulose, estas foram

cortadas em tiras e através de Western blott, avaliou-se a sua reatividade com o soro dos

camundongos imunizados com as respectivas proteínas. Os resultados podem ser observados

nas Figuras 5 e 6 para a proteína rTSA e rLACK, respectivamente.

Analisando as Figuras 5 e 6 observa-se que os anticorpos dos soros dos imunizados

com as proteínas rTSA e rLACK reconheceram de forma bastante específica as proteínas

produzidas e purificadas no presente projeto.

22 kDa 34 kDa

Capa Índice 8771

Page 202: ItALO tELES MACHADO

1 2 3 4 5

Figura 5. Reconhecimento da proteína recombinante TSA por anticorpos de

camundongos imunizados com rTSA pela técnica de Western Blott. Canaletas: 1

Controle positivo. Canaletas 2 a 4: Soro dos camundongos imunizados com a rTSA., 5-

Controle negativo da reação. Foi utilizado DAB para revelar a reação.

22 kDa

Capa Índice 8772

Page 203: ItALO tELES MACHADO

1 2 3 4 5

Figura 6. Reconhecimento da proteína recombinante TSA por anticorpos de

camundongos imunizados com rLACK pela técnica de Western Blott. Canaletas: 1

Controle positivo. Canaletas 2 a 4: Soro dos camundongos imunizados com a rLACK., 5-

Controle negativo da reação. Foi utilizado DAB para revelar a reação.

5 DISCUSSÃO

O presente trabalho teve como objetivo principal a avaliação da imunogenicidade das

proteínas recombinantes LACK e TSA de L.(V.)braziliensis e esta foi demonstrada pela

presença de anticorpos específicos contra estas proteínas no soro de camundongos imunizados

com as respectivas proteínas. Quando animais foram imunizados com as proteínas

recombinantes, detectamos por Western blotting que anticorpos específicos foram gerados em

todos os grupos de animais.

Houve um reconhecimento das proteínas recombinantes por anticorpos IgG

produzidos durante a imunização dos camundongos, o que corrobora dados da literatura que

relatam que essas proteínas de superfície da Leishmania são imunogênicas, o que as tornam

34 kDa

Capa Índice 8773

Page 204: ItALO tELES MACHADO

boas candidatas a vacina para leishmaniose. Segundo Ahmed (2008), vacinas com proteínas

recombinantes em comparação com vacinas inativadas são mais simples e baratas de se

produzir e foi desmontrado que são capazes de induzir uma resposta imune tanto de células T

CD4+ quanto CD8+.

Embora seja desmonstrado a sua capacidade de gerar anticorpos IgG não se sabe se

estas proteínas sejam capazes de gerar uma resposta imune completa e duradoura. A

Leishmania é composta por diversos antígenos que conseguem driblar o sistema imune. Por

isso a associação de diversos antígenos numa mesma vacina pode representar uma boa

estratégia para melhorar a resposta imune (Ahmed, 2008). A associação destas proteínas

recombinantes com adjuvantes pode melhorar a resposta imunológica, pois esses antígenos

quando administrados sozinhos propicia uma baixa atividade imunológica. Estudos anteriores

comprovam que o uso de adjuvantes aumentou em 82% a eficácia destes antígenos nas

vacinas (Mohammand e cols, 2011).

6 CONCLUSÕES/CONSIDERAÇÕES FINAIS

Foram obtidas proteínas recombinantes rLACK e rTSA através da produção em

grande escala, analisadas por SDS-PAGE.

A reação de Western Blotting demonstrou o reconhecimento das proteínas produzidas

e purificadas no presente projeto por anticorpos do soro de pacientes com LTA,

concluindo que as proteínas LACK-His e TSA-His produzidas são imunogênicas.

No presente estudo foi possível comprovar a imunogenicidade das proteínas

recombimantes TSA e LACK demonstrada pela reação de Western Blotting. Estas proteínas

são candidatas a vacinas, entretanto é necessário que sejam feitos mais estudos para se avaliar

melhor o perfil da resposta imune induzida e se são capazes de gerar uma resposta imune

protetora e duradoura.

7 REFERÊNCIAS

Capa Índice 8774

Page 205: ItALO tELES MACHADO

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Capa Índice 8777

Page 208: ItALO tELES MACHADO

METODOLOGIA PARA ELABORAÇÃO DE DIAGNÓSTICO DE SISTEMAS

DE TRANSPORTES FERROVIÁRIOS DE CARGAS

1Ítalo Teles Machado, 2Cristiano Farias Almeida e 3Juliana Gomes Gularte

Palavras-chave: Planejamento de transporte, sistema de transporte ferroviário de carga,

diagnóstico, anamnese.

1. Introdução

Sabe-se que as atividades de uma sociedade sempre dependerão dos

deslocamentos de pessoas e mercadorias. Especialmente no Brasil, o qual é

caracterizado por ser um país de dimensões continentais, há um grande potencial em se

utilizar o modo de transporte ferroviário, especificamente no que se refere ao

deslocamento de cargas (IPEA, 2010).

Sendo o Brasil, um país com tal potencial, é pertinente lembrar que são poucos

os estudos voltados para SFTC. Para que um sistema de transporte funcione é

importante que seja feito um planejamento, o qual dependerá de um diagnóstico,

processo esse que identifica e aponta informações importantes que dão forma ao sistema

de transporte ao longo do tempo.

O processo de planejamento de transportes, atualmente desenvolvido, tem sido

criticado pela forma que vem sendo proposto, o qual tende a gerar um plano específico

para se ajustar a um particular uso de solo, negligenciando fatores econômicos,

populacionais, valores sociais, uso do solo e as funções dos diferentes modos de

transporte (BRUTON, 1979).

Com isso os STFC vêm sendo esquecidos pelos profissionais, e sendo o

diagnóstico a peça chave para se desenvolver um planejamento, sem o qual não é

possível traçar as metas e objetivos ou estabelecer a situação desejada, pois qualquer

decisão a ser tomada está calcada no resultado do diagnóstico. Só é possível identificar

os problemas e encontrar as soluções mais adequadas por meio de um diagnóstico que

reflita o estado do objeto (TEDESCO, 2008).

Assim, surge à necessidade de se propor uma metodologia, com o objetivo de

simplificar o estudo dos aspectos envolvidos em um planejamento de um STFC

(elaboração de um diagnóstico), metodologia essa baseada nas ciências da saúde,

                                                                                                                         1 Aluno, Escola de Engenharia Civil, UFG, e-mail: [email protected] 2 Professor Orientador, Escola de Engenharia Civil, UFG, e-mail: [email protected] 3 Pesquisadora, UnB, e-mail: [email protected]

Capa Índice 8778

Anais do Congresso de Pesquisa, Ensino e Extensão- CONPEEX (2012) 8778 - 8791

Page 209: ItALO tELES MACHADO

especificamente na medicina. Ciência que já trata do assunto há muito mais tempo que

os estudos da área de transporte.

2. Objetivos

O objetivo principal desse estudo é desenvolver uma metodologia para a

elaboração de diagnóstico de STFC a fim de auxiliar no seu planejamento. Como

objetivos específicos, têm-se:

¥ Identificar os elementos do sistema ferroviário de cargas a serem diagnosticados;

¥ Elaborar a rede semântica do sistema ferroviário de cargas;

¥ Caracterizar o sistema de transporte ferroviário de cargas.

3. Metodologia da Pesquisa

A metodologia do trabalho é baseada em técnicas de documentação direta e

indireta. Quanto à técnica a ser aplicada é a documentação indireta, por meio de

pesquisa bibliográfica e documental, e documentação direta por meio de pesquisa de

campo, além do procedimento a ser realizado por meio de consultas exploratórias com

profissionais e técnicos da área relacionada ao objeto de pesquisa. A metodologia é

constituída pelas etapas seguintes.

Etapa 1: Revisão Bibliográfica

Com o objetivo de dar subsídios teóricos ao desenvolvimento do projeto, os

principais conceitos serão revisados sobre os temas: sistemas de transporte; sistema de

transporte ferroviário de carga; rede semântica; diagnóstico; e anamnese. Tais conceitos

permitem esboçar um cenário de compreensão do tema de pesquisa e subsidiar a

metodologia proposta.

Etapa 2: Metodologia para elaboração de diagnóstico de sistemas de transportes

ferroviários de cargas

Nessa etapa é desenvolvido uma metodologia para elaboração de diagnóstico de

sistemas de transportes ferroviários de cargas. Tal metodologia é baseado nos conceitos

estudados na revisão bibliográfica. Nessa etapa são realizadas as seguintes atividades:

¥ Subetapa 1: Definição do objeto de estudo;

¥ Subetapa 2: Definição do objetivo;

¥ Subetapa 3: Determinação área de estudo;

Capa Índice 8779

Page 210: ItALO tELES MACHADO

¥ Subetapa 4: Avaliação histórica do objeto em função da alteração dinâmica da

área de estudo;

¥ Subetapa 5: Avaliação dos sistemas das regiões adjacentes;

¥ Subetapa 6: Avaliação da operação.

Etapa 3: Conclusões e recomendações

Nessa etapa são identificadas as dificuldades encontradas durante a elaboração

do projeto, apresentadas e analisadas as limitações da proposta. Além disso, são

apresentados os objetivos alcançados, e sugestões e recomendações para trabalhos

futuros a serem desenvolvidos sobre o tema em análise.

4. Revisão Bibliográfica

Nessa seção são descritos os principais fundamentos teóricos que embasaram o

desenvolvimento da pesquisa. Inicialmente será introduzido conceitos relacionados ao

sistema de transporte, com ênfase no sistema de transporte ferroviário de carga,

posteriormente serão descritas as principais caraterísticas das rede semânticas de

estruturação do conhecimento, e finalmente, serão apresentados os conceitos referentes

a diagnóstico e anamnese.

4.1. Sistemas de transporte

A palavra transporte origina-se do latim, a partir da união de trans, que significa

“de um lado a outro”, e portare, que traz a ideia de “carregar”. O ato de transitar

extrapola o aspecto meramente utilitário da locomoção (CEFTRU, 2009).

Um sistema é definido como um conjunto de partes e/ou procedimentos

logicamente ordenados que se integram de modo a atingir um determinado fim, de

acordo com um plano ou princípio. Sua abordagem é um processo de análise no qual se

procura através do raciocínio lógico uma analise formal do problema, tendo como seus

principais elementos: entrada (recursos), saída (resultados) e retroalimentação (controle)

(KAWAMOTO, 1994).

Apesar de se conhecer varias abordagens do conceito de sistemas de transporte,

tanto conceitos filosóficos, quanto práticos, o importante é compreender que, as funções

de um sistema de transporte são definidas pela área geográfica na qual está inserido, e

onde todo tipo de deslocamento é realizado (ALMEIDA, 2008).

4.1.1. Estrutura dos Sistemas de Transportes e seus Componentes

Capa Índice 8780

Page 211: ItALO tELES MACHADO

Como abordado anteriormente um sistema é definido como um conjunto de partes

logicamente ordenadas. Analisando desta forma, as parte são os componentes dos

sistemas de transporte, que na visão clássica são classificados como: veículos, vias,

terminais e plano operacional. Definidos como: (CEFTRU, 2009).

¥ Veículos: são os elementos utilizados para movimentar pessoas e cargas de uma

origem a um dado destino. Exemplos: navios, trens, ônibus, caminhões, entre outros;

¥ Vias: compreendem as conexões que unem dois ou mais pontos, definindo o

trajeto a ser percorrido no deslocamento. É o caso das estradas, hidrovias e ferrovias;

¥ Terminais: são pontos da via em que os fluxos têm origem, destino ou sofrem

transferência de veículo (p.ex.: aeroportos, portos, terminais de ônibus);

¥ Plano operacional: refere-se ao conjunto de facilidades e procedimentos usados

para se obter um funcionamento eficiente e eficaz do sistema.

Com as definições citadas acima, vários autores criaram um série de conceitos a

respeito da classificação e o modo e interação entre as partes, a ideia é criar um modelo

que possa ser usado como base para o estudo. Com a Figura 1, pode-se compreender a

inter-relação entre as partes.

Figura 1: Sistema de transporte e seus componentes (ALMEIDA, 2008).

4.1.2 Sistema de Transporte Ferroviário de Cargas (STFC)

De forma geral, é possível definir uma ferrovia como um “caminho de ferro”.

Especificamente, é um caminho formado por trilhos paralelos de aço, assentados sobre

dormentes de madeira, concreto ou outros materiais (Figura 2). Sobre estes trilhos

correm máquinas de propulsão elétrica, hidráulica ou combustível que tracionam

comboios de passageiros acomodados em vagões-cabines e cargas acondicionadas em

caçambas, contêineres ou tanques (IPEA, 2010).

Capa Índice 8781

Page 212: ItALO tELES MACHADO

Figura 2: Seção transversal de uma ferrovia (RODRIGUES, 2008).

O sistema de transporte ferroviário de carga apresenta como uma das principais

características o alto custo fixo representado pelo arrendamento da malha e dos

terminais – quando eles são operados pelo setor privado, como no Brasil – e elevado

volume de capital imobilizado, com a compra de material rodante. Por outro lado, os

custos variáveis (mão de obra, combustível e energia) são relativamente baixos,

tornando-o eficiente para o transporte de mercadorias de baixo valor agregado e com

grande peso e volume específico.

Assim, o aumento constante na demanda do transporte ferroviário é fundamental

para a diluição dos custos fixos e o aumento da margem de lucro das ferrovias, uma vez

que os retornos são crescentes até que se atinja a capacidade máxima de operação (REIS

apud IPEA, 2010).

Considerando a definição clássica do sistema de transporte, podem-se apresentar

os componentes de um sistema de transporte ferroviário de carga da seguinte forma:

(LEITE, 2010).

¥ Veículos: são as locomotivas e os vagões, sendo a primeira o veiculo que faz a

propulsão para que haja movimento;

¥ Vias: são os trilhos, onde as locomotivas podem se deslocar, porém há uma

superestrutura para a instalação dos trilhos, dividida em: aterro/corte, sublastro, lastro e

dormentes (Figura 2);

¥ Terminais: local onde há entrada e saída de pessoas e cargas que utilizam o

sistema (elemento que conecta os mesmos ao sistema), local onde ocorre basicamente

embarque e desembarque de passageiros e cargas bem como acomodação dos mesmos,

venda de passagens, acomodação e manobra de veículos;

¥ Plano de operação: visa criar facilidades para coordenar e permitir o

deslocamento de cargas e pessoas;

Capa Índice 8782

Page 213: ItALO tELES MACHADO

¥ Eletrificação: em alguns casos, quando a locomotiva é movida à energia

elétrica, o sistema de eletrificação do sistema, que segue em paralelo aos trilhos, é um

dos elementos que faz parte do STF.

4.2. Redes semânticas

Para Real (2003), uma rede semântica é uma notação gráfica composta por nós e

links interconectados. As redes semânticas podem ser usadas para representação de

conhecimento, ou como ferramenta de suporte para sistemas automatizados de

inferências sobre o conhecimento.

Em 1968, Quillian tentou representar a semântica das palavras da língua inglesa

de forma esquemática, como as palavras ficavam armazenadas na memória. Assim ele

construiu uma rede, como um fluxograma mais aprimorado, de como o cérebro tratava

as palavras e chamou o modelo de hierarquia semântica, onde se tinha dois tipos de

correlação: relação hierárquica entre os conceitos e relação das características entre os

objetos (VILLELA; TEDESCO, 2011).

Uma rede semântica não é utilizado apenas para organizar conceitos e

características de certo objeto, vai mais além, ou seja, é usado para correlacionar as

informações, fazer uma ligação entre os aspectos e saber quais as relações entre si,

como mostrado na figura 3.

Figura 3: Rede semântica do fórum “Adolescente e os espaços de aprendizagem

virtuais” (PEPSIS, 2010).

Capa Índice 8783

Page 214: ItALO tELES MACHADO

4.3. Diagnóstico e planejamento de sistemas de transporte

Atualmente o diagnóstico é uma atividade que faz parte do planejamento de

sistemas de transporte, visto como uma das principais ferramentas para se obter

informações suficientes para se elaborar planos eficientes de forma a auxiliar nas

soluções de problemas de transporte.

No entanto, antes de realizar qualquer diagnóstico dentro, torna-se necessário

definir o objeto que se pretende planejar e consequentemente diagnosticar. Nesse

sentido, Galindo (2009) propõe que o diagnóstico deve apresentar uma visão completa e

detalhada de forma suficiente do estado do objeto do planejamento, para que seja

possível comparar o estado atual com a imagem-objetivo. O autor complementa dizendo

que a imagem-objetivo é o estado em que se deseja atingir com a aplicação do plano.

Para Tedesco (2008), o diagnóstico de um sistema de transportes é interpretado

como a avaliação das condições de atendimento das necessidades de transporte, a partir

de parâmetros de referência pré-estabelecidos. A autora afirma também que usualmente

considera-se apenas a oferta e a demanda manifesta (usuários atuais) como a base para a

elaboração do diagnóstico do sistema de transportes e para gerar os parâmetros segundo

os quais as propostas serão estruturadas.

Para Leite (2010) e Almeida (2008), o diagnóstico trata da análise das

características dos elementos contidos na área (geográfica) de estudo, dividindo-se esta

etapa do planejamento em quatro: definição de elementos; levantamento de dados;

descrição dos aspectos dos elementos; avaliação dos elementos (Figura 4). E a partir da

definição e conhecimento dos elementos é possível identificar quais os aspectos mais

relevantes a serem levantados, descritos e avaliados em relação às condições atuais dos

elementos inseridos na área de estudo.

Figura 4: Estruturação da etapa de diagnóstico (LEITE, 2010).

Capa Índice 8784

Page 215: ItALO tELES MACHADO

Analisando as definições citadas anteriores, percebe-se que todas as definições

levam em consideração o levantamento de dados e analise baseados na situação atual do

objeto a ser diagnosticado, sem se preocupar com as alterações dinâmicas que ocorrem

no objeto ao longo de um determinado horizonte de tempo, o que dificulta a

identificação exata dos problemas inerentes ao objetivo, afetando consequentemente o

seu funcionamento. Esse tipo de metodologia já vem sendo utilizada desde o início dos

estudos em planejamento de transporte.

4.4. Diagnóstico na medicina e anamnese

Sabe-se que uma das ciências pioneiras no estudo do diagnóstico é a medicina,

desde o início da convivência social entre os seres humanos, médicos estudam

diferentes formas de se diagnosticar diferentes enfermidades, o que denota um

conhecimento aprofundado nos métodos desenvolvidos para diagnosticar objetos

desconformes. Nesse sentido, nos próximos parágrafos busca-se entender com a

medicina trata o diagnóstico.

O que é saúde, o que é doença? Segundo definição da Organização Mundial de

Saúde (OMS), saúde é um estado completo de bem-estar físico, mental e social, e não

mera ausência de doença ou invalidez. Porto (2001) conclui que a saúde é resultante da

interação de fatores relativos ao indivíduo e à comunidade (resistência, condição de

trabalho, estilo de vida), ao ambiente (dimensões ecológicas e sociais) e ao agente

(físico, químico ou biológico).

Para se elaborar um diagnóstico da doença, como dito em parágrafos anteriores,

o profissional necessita de um método. A metodologia para diagnósticos na medicina é

chamada de semiologia, e a principal ferramenta proposta pelo método é a anamnese.

A palavra anamnese vem do latim e significa aná = trazer de volta e mnesis =

memória. Ou seja, significa trazer de volta à memória os fatos relacionados à doença e a

pessoa doente, que para Porto (2001), é a parte mais importante da medicina.

De forma sintética, pode-se resumir o processo de anamnese, como sendo um

diálogo entre o médico e seu paciente, uma entrevista pautada no conhecimento médico.

Deve ser realizada em um ambiente que traga calma e tranquilidade para o paciente,

pois se trata de uma entrevista que levanta aspectos técnicos e psicológicos. (SILVA,

2005).

Para Silva (2005), a entrevista feita com o paciente pode ser dividida em tópicos.

Em cada tópico são feitas perguntas que podem gerar respostas diretas e objetivas,

Capa Índice 8785

Page 216: ItALO tELES MACHADO

como também podem ser de forma que o paciente relate-a como uma estória.

Lembrando que todo o processo dependerá de como o médico irá conduzir a entrevista,

a autora propõe os seguintes tópicos, os quais podem ser compreendidos com sequencia

de atividades a serem realizadas pelo responsável:

1. Identificação: tem por objetivo identificar o paciente como um todo, são feitas

perguntas como: nome; idade; gênero; grupo étnico; estado civil; profissão/ocupação;

naturalidade/nacionalidade e procedência;

2. Queixa principal: é o motivo pelo qual o paciente procura assistência médica,

pergunta-se do que a pessoa está sentindo para precisar de um médico;

3. História da doença atual: considerado o tópico mais importante da anamnese,

descreve como os sintomas e sinais apareceram, seu comportamento e associação com

outras queixas do paciente.

4. Interrogatório sobre os diversos aparelhos e sistemas: o médico questiona o

paciente sobre inúmeros sinais e sintomas.

5. História mórbida pregressa: tem o objetivo de identificar manifestações

clínicas presentes tendo relação com acontecimentos passados, ou pela presença de

doenças crônicas, ou por condições fisiológicas, ou seja, tenta associar a doença

presente com uma doença ou manifestação do passado;

6. História mórbida familiar: questiona-se sobre doenças presentes em

progenitores, avós, irmãos e cônjuge.

7. História fisiológica e social do paciente: etapa onde são coletados dados sobre

os hábitos do paciente que possam ter repercussão em sua saúde. Hábitos como prática

de exercícios físicos, consumo de bebidas alcoólicas, tabagismo e alimentação.

A partir do momento que o médico consegue executar os procedimentos

inerentes a anamnese seguindo a estruturação acima, pode-se passar para o exame

físico, e assim é possível obter condições de elaborar o diagnóstico. Deve-se ressaltar

que o processo de realização do diagnóstico na medicina utiliza fatos atuais tendo como

referência o passado do paciente em análise.

5. Metodologia para Diagnosticar Sistemas de Transportes Ferroviários de Cargas

O método foi desenvolvido a partir do comparativo entre as formas usuais de se

diagnosticar sistemas de transportes e a forma com que os médicos usam para se

diagnosticar um paciente, a anamnese, que tem como sua principal característica a

utilização de informações do passado. Com isso foi possível criar um paralelo e elaborar

uma metodologia baseada em técnicas e métodos elaborados na medicina para a

Capa Índice 8786

Page 217: ItALO tELES MACHADO

realização da anamnese. A metodologia elaborada é constituída por seis etapas, que são

e descritas detalhadamente a seguir.

1ª Etapa - Definição do objeto

Esta etapa consiste em identificar e definir qual o sistema de transporte que será

diagnosticado e seus principais componentes, o objetivo principal é deixar claro o que

vai ser estudado limitando-o, para que não haja desvio do foco. De maneira geral esta

etapa limita-se em descrever e identificar o objeto de estudo para tal é necessário

caracterizá-lo, descrevendo seus principais componentes e aspecto. Tal caracterização

será feita por meio de uma rede semântica do objetivo em estudo (figura 5).

Figura 5: Exemplo de estrutura semântica de um STFC.

2ª Etapa – Definição do objetivo

Defini qual objetivo final que pretende-se atingir com a elaboração do

diagnóstico. A definição do objetivo será feita de acordo com a necessidade do objeto,

como por exemplo, maior eficiência do sistema quanto a velocidade.

3ª Etapa – Definição da área de estudo

Essa etapa tem por objetivo delimitar o espaço geográfico onde será trabalhado.

Quando se elabora um diagnóstico é importante limitar a área e tratá-la como um

Capa Índice 8787

Page 218: ItALO tELES MACHADO

sistema fechado, pois é nessa área que serão coletados os dados. Assim é possível

mensurar os dados e criar indicadores, mesmo sabendo que o sistema pode sofrer

influencias das áreas adjacentes.

4ª Etapa – Avaliação histórica do objeto em função da alteração dinâmica da área

de estudo

Essa etapa é responsável por obter e tratar (avaliar) informações da região a

cerca do objeto estudado, visando criar uma correlação entre o objeto e suas regiões

adjacentes. O levantamento de informações não é feito meramente de como a região

está no momento. As informações são levantadas de forma cronológicas, e avaliadas

simultaneamente com as informações levantadas sobre o objeto. Tem por objetivo

buscar um padrão de desenvolvimento para região e como isso influenciou o sistema ao

longo dos anos.

5ª Etapa – Avaliação dos sistemas das regiões adjacentes

Esta etapa trata de um levantamento de informações para uma avaliação dos

sistemas que influenciam o objeto. Um sistema de transporte ferroviário de cargas não

funciona de forma independente, para que as cargas cheguem a um terminal, outros

sistemas ou diferentes modos são usados.

Para levantar as informações dos sistemas das regiões adjacentes, deve-se levar

em consideração quais características influenciam o sistema em estudo. Nesse sentido a

região é caracterizada como na etapa 4, porém não tem a mesma riqueza de detalhes,

apenas o que for relevante para o objeto que se deseja diagnosticar e planejar.

6ª Etapa – Avaliação da operação

Em um sistema de transporte de cargas, a operação é uma das atividades

essenciais para o bom funcionamento. No diagnostico a avaliação da operação é feita

com o objetivo de procurar os problemas e gargalos internos. Em muitos casos um

sistema é subutilizado de forma que não aproveite totalmente sua infraestrutural

instalada.

Nessa etapa são levantados dados sobre a rotina de operação do sistema, e como

nas etapas anteriores, os dados devem ser levantados de forma cronológica, pois é

importante saber como a operação sofreu mudanças ao longo do tempo. Em alguns

casos o problema pode ter origem em tomadas de decisões feitas no passado.

Capa Índice 8788

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6. Conclusões

A proposta para a elaboração deste estudo nasceu da grande demanda por

planejamento de transportes que o mundo contemporâneo traz consigo. No entanto,

nota-se que o mesmo propôs uma metodologia voltada para o Sistema de Transporte

Ferroviário de Cargas, o porquê da escolha estão relacionados a dois fatores, a vontade

de aplica-la no corredor centro-norte que tem como um dos terminais o porto seco de

Anápolis-GO e o outro fator é que existe uma maior facilidade de se determinar os

fatores que contribuem para o diagnóstico de um sistema de transporte de cargas. A

ideia de se elaborar tal metodologia também foi para auxiliar no processo de

planejamento de sistemas de transportes.

Tal metodologia pode ser aplicado em qualquer SFTC, recomenda-se por esse

motivo que o método seja testado para que o mesmo seja validado e possa auxiliar o

desenvolvimento e crescimento do país. Assim, tal metodologia será aplicada no futuro

um estudo de caso referente ao porto seco da cidade de Anápolis-GO.

Como apresentado nos tópicos anteriores o diagnóstico é uma ferramenta usada

por várias ciências, cujo objetivo é apontar os problemas e suas possíveis causas,

através de métodos que evoluíram com o tempo. A tabela 1, a seguir, mostra o paralelo

de como esse estudo se baseou para elabora uma nova metodologia de diagnóstico de

STFC.

Tabela 1: Paralelo entre as metodologias usuais e anamnese.

Etapas Medicina (Anamnese) STFC (Metodologia)

1º Etapa Identificação Definição do Objeto

2º Etapa Queixa Principal Definição do Objetivo

3º Etapa História da doença atual / Interrogatório

sobre os diversos sistemas Definição da área de estudo

4º Etapa História mórbida pregressa

Avaliação histórica do objeto

em função da alteração

dinâmica da área de estudo

5º Etapa História mórbida familiar Avaliação dos sistemas das

regiões adjacentes

6º Etapa História fisiológica e social Avaliação da operação

A partir desse estudo percebe-se que a integração entre as ciências pode trazer

vários benefícios. Apesar da metodologia não ter sido aplicada em estudo de caso, isso

não a torna inválida assim como o estudo proposto, de forma oposta, a maior

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contribuição obtida com a execução do trabalho foi justamente desenvolver uma

metodologia de diagnóstico baseada nos conceitos de anamnese das ciências sociais.

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