JACIETE BARBOSA DOS SANTOS REPRESENTAÇÕES … · A Dadá, pelo apoio doméstico imprescindível....

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE FEIRA DE SANTANA UEFS-BRASIL CENTRO DE REFERENCIA LATINOAMERICANO PARA LA EDUCACIÓN ESPECIAL CELAEE-CUBA JACIETE BARBOSA DOS SANTOS REPRESENTAÇÕES SOCIAIS DOS ESTUDANTES DE PEDAGOGIA SOBRE “ALUNOS COM DEFICIÊNCIA” Feira de Santana – Bahia 2002

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE FEIRA DE SANTANA UEFS-BRASIL

CENTRO DE REFERENCIA LATINOAMERICANO PARA LA EDUCACIÓN ESPECIAL CELAEE-CUBA

JACIETE BARBOSA DOS SANTOS

REPRESENTAÇÕES SOCIAIS DOS ESTUDANTES DE PEDAGOGIA SOBRE “ALUNOS COM DEFICIÊNCIA”

Feira de Santana – Bahia 2002

Biblioteca Central da UNEB

371.9 Santos, Jaciete Barbosa dos S237 Representações sociais dos estudantes de pedagogia sobre “alunos com deficiência”/ Jaciete Barbosa dos Santos. – Salvador: J. B. dos Santos, 2002. 111 p. Dissertação (mestrado) – Universidade Estadual de Feira de Santana, Centro de Referencia Latinoamericano para la Educación Especial Orientadores: Christine Jacquet, Oilda Orozco Hechavarría 1.Ensino superior 2. Educação especial 3. Estigma(Psicologia social) 4. Educação Especial - Formação de professores 5. Analise de interação em educação

UNIVERSIDADE ESTADUAL DE FEIRA DE SANTANA UEFS – BRASIL

CENTRO DE REFERENCIA LATINOAMERICANO PARA LA EDUCACIÓN ESPECIAL

CELAEE – CUBA

JACIETE BARBOSA DOS SANTOS

REPRESENTAÇÕES SOCIAIS DOS ESTUDANTES DE PEDAGOGIA SOBRE “ALUNOS COM DEFICIÊNCIA”

Dissertação de Mestrado apresentada ao CELAEE como requisito parcial para obtenção do título de Mestre em Educação Especial.

Orientadores:

Profª Dra. Christine Jacquet Profª Dra. Oilda Orozco Hechavarría

Feira de Santana – Bahia 2002

JACIETE BARBOSA DOS SANTOS

REPRESENTAÇÕES SOCIAIS DOS ESTUDANTES DE PEDAGOGIA SOBRE “ALUNOS COM DEFICIÊNCIA”

Local e data de defesa: Feira de Santana, 08 de agosto de 2002

BANCA EXAMINADORA

___________________________________________ Presidente

Prof. Dra. Carmen Alvaréz Cruz CELAEE – Cuba

__________________________________________ Membro

Prof. Dra. Rosa Maria Carvalho Castellano Pérez CELAEE – Cuba

__________________________________________ Membro

Prof. Dra. Rosa Elisa Mirra Barrone UEFS – Brasil

AGRADECIMENTOS

A Deus, criador da vida! Aos meus pais, Lau e Jana, que me deram a vida! Aos meus irmãos, Gene, Jarbas e Ladi, que comungaram comigo da mesma fonte de vida. A Sílvio, que escolhi para partilhar minha vida. A Sônia, pela espiritualidade. A Dadá, pelo apoio doméstico imprescindível. A Mêre, pela cumplicidade. À Prof. Irani, pela dedicação. À Prof. Christine, pela competência. À Prof. Oilda, pela responsabilidade. A Fátima, pela disponibilidade. Aos professores cubanos, pela determinação. Aos professores da FES, pela credibilidade. Aos estudantes da FES, especialmente Mig, Manu e Mid, pela solidariedade. Às colegas do estudo, Mêre, Virgínia, Cláudia e Desirée, pelas trocas. Às colegas companheiras de viagem: Cátia, Mawis, Helena e Paty, pela forca. Às estudantes de Pedagogia da UFBA, da UCSAL e da UNEB, pela confiança. Aos meus amigos e, também, professores, Malena, André, Regina, Jailson, Lu, Roberto,

Ana, Jocélio, Miron, pela amizade.

Há momentos na vida onde a questão de saber se podemos

pensar de outro modo que não pensamos e perceber de outro

modo que não vemos é indispensável para continuar olhar e

refletir.

Michel Foucault

RESUMO

A presente dissertação analisa as representações sociais sobre “alunos com

deficiência”, produzidas por estudantes de Pedagogia de três universidades

baianas. Os fundamentos deste estudo encontram-se na teoria da Representação

Social e em postulados da teoria Sócio-Histórico-Cultural. A pesquisa de campo

foi realizada através de entrevistas semi-estruturadas com estudantes do último

semestre do curso de Pedagogia. A análise de dados demonstrou que as

representações sociais dos estudantes de Pedagogia sobre “alunos com

deficiência” orientam e/ou podem orientar atitudes com relação à inclusão desses

alunos. Com efeito, a implementação da proposta de Educação Inclusiva no Brasil

depende das atitudes dos futuros docentes e não apenas de exigências impostas

pelas políticas públicas de educação. A pesquisa aponta a necessidade de se

investir na formação inicial docente, no sentido de disponibilizar informações e

propor uma formação universitária de qualidade, baseada em ensino, pesquisa e

extensão. Enfim, considera-se que a formação docente deve abarcar não só

habilidades e conhecimentos técnicos, mas, também, os conteúdos internos dos

futuros profissionais, oriundos de seu próprio universo psicossocial, no qual

encontram-se as representações sociais.

PALAVRAS-CHAVE: inclusão, exclusão, deficiência, curso de Pedagogia,

diversidade, representações sociais, Educação Inclusiva, formação docente.

ABSTRACT

This present thesis analyses the social representations on “studentes with

deficiency” produced by Pedagogy students of three Universities in Bahia. The

bases of this study are found in the theory of Social Representation and in

postulates of Sociocultural and Historical theory. The field research was made

through semi-structured interviews with last-semester Pedagogy couser students.

The data analysis showed that social representations of Pedagogy students on

“students with deficiency” determine and/or can determine attitudes in the

educating practice in face of the inclusion of “students with deficiency”. In effect,

the implementation of Brazilian Inclusive Education proposal depends on attitudes

of future teachers and not only of imposed demands of education public policies.

The research indicates the necessity of investment on initial formation of teachers

in the sense of opening up information and suggesting a university formation of

quality, based on teaching, research and extension. At last, it is considered that

teaching formation must embrace not only skills and tecnical knowledge but also

internal contents of the future professionals from their own psychosocial universe

in which the social representations are found.

KEY WORDS: inclusion, exclusion deficiency, Pedagogy course, diversity, social

representations, Inclusive Education, , teaching formation.

SUMÁRIO

Introdução .......................................................................................10

Capítulo I: Inclusão de “alunos com deficiência” e curso de

Pedagogia em tessitura com a teoria da Representação Social ........19

1. Trajetória da deficiência: da marginalização à inclusão de

“alunos com deficiência” ..........................................................21

1.1 A “dialética exclusão/inclusão” na história da educação de

“alunos com deficiência” .......................................................21

1.2 A inclusão de “alunos com deficiência à luz da teoria

Sócio/Histórico/Cultural de Vigotsky ....................................29

2. Análise das políticas de inclusão de “alunos com deficiência” e

a formação inicial em Pedagogia ..............................................33

2.1 Políticas de inclusão de “alunos com deficiência” no

Brasil.......................................................................................33

2.2 Trajetória do curso de Pedagogia e o tratamento dado aos

“alunos com deficiência” nessa formação .............................38

3. Teoria da Representação Social: uma alternativa para conhecer

atitudes dos estudantes de Pedagogia com relação à inclusão de

“alunos com deficiência” .............................................................47

3.1 Aspectos relevantes da teoria da Representação Social ..47

3.2 As representações sociais nas pesquisas educacionais ....52

Capítulo II - Itinerário de pesquisa - Representações sociais dos

estudantes de Pedagogia sobre “alunos com deficiência” ................57

1. Cenário da pesquisa .................................................................60

1.1 População e amostra ........................................................61

1.2 Métodos utilizados ...........................................................65

2 . Análise dos dados .................................................................71

2.1 Descortinando representações sociais dos estudantes de

Pedagogia sobre “alunos com deficiência” ............................72

2.2 Desnudando atitudes dos estudantes de Pedagogia com

relação à inclusão de “alunos com deficiência” ....................83

2.3 Cruzando representações sociais com atitudes ................88

Capítulo III: PPACP - Proposta Pedagógica de Aperfeiçoamento do

curso de Pedagogia - Recomendações para formação de educadores

necessária à inclusão de “alunos com deficiência”...........................93

1. Justificativa ..............................................................................93

2. Metas ........................................................................................99

3. Estrutura e modo de funcionamento ......................................101

4. Validação................................................................................105

Conclusão ......................................................................................108

Recomendações .............................................................................110

Referências Bibliográficas........................................................112/121

Anexos......................................................................................122/159

Anexo A – Operacionalização de termos...................................123

Anexo B – Ficha de identificação do entrevistado(a).................125

Anexo C – Roteiro de Entrevista................................................126

Anexo D – Guia de análise de conteúdo.....................................133

Anexo E – Perfil das Entrevistadas............................................134

Anexo F – PPACP......................................................................135

Anexo G – Guia de critério para avaliação de especialista........140

Anexo H - Apreciação dos Especialistas....................................144

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CAPÍTULO I

INCLUSÃO DE “ALUNOS COM DEFICIÊNCIA”1 E CURSO DE PEDAGOGIA EM

TESSITURA COM A TEORIA DA REPRESENTAÇÃO SOCIAL

Qualquer idéia que te agrade,

Por isso mesmo...é tua

O autor nada mais fez que vestir a verdade Que dentro de te se achava inteiramente nua.

Mário Quintana, Antologia Poética.

O objetivo do presente capítulo é traçar um marco teórico que possa dar

sustentação ao estudo das representações sociais dos estudantes de Pedagogia sobre

‘alunos com deficiência’. Neste estudo, procuramos articular a proposta de inclusão de

“alunos com deficiência” com a formação inicial em Pedagogia, por meio das teorias

Sócio-Histórico-Cultural e Representação Social. Na primeira parte do capítulo, buscamos

tecer uma reflexão sobre as atitudes sociais apresentadas historicamente no tratamento dado

às pessoas com deficiência, desde a Antigüidade Clássica até o contexto contemporâneo de

implementação de políticas educacionais voltadas para proposta de inclusão de “alunos

com deficiência”. Ressaltamos que a efetivação dessa proposta educativa implica a

aquisição de uma concepção otimista do potencial educativo dos “alunos com deficiência”

por parte dos educadores, conforme estabelece os pressupostos da teoria Sócio-Histórico-

Cultural de Vigotsky.

Na segunda parte do capítulo, analisamos as políticas de Educação Inclusiva e a

trajetória do curso de Pedagogia no contexto educacional brasileiro, pois a inclusão de

“alunos com deficiência” depende de uma prática educativa baseada nessa concepção

otimista que começa a ser construída na formação inicial docente. Em síntese, podemos

afirmar que a profissionalização docente é um dos momentos mais importantes para

garantir alicerces necessários a construção de uma prática educativa inclusiva. Optamos por

1 Conforme nota 1 da INTRODUÇÃO deste trabalho, o uso da expressão “alunos com deficiência” é produto de uma reflexão teórico/ metodológica que está explicitada na página 28.

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analisar a formação inicial em Pedagogia porque é o curso de nível superior responsável

pela formação inicial da maioria dos educadores que atuam na Educação Infantil e nas

séries iniciais do Ensino Fundamental, níveis de ensino nos quais está concentrado o maior

número de “alunos com deficiência” do sistema educacional brasileiro. Trata-se, também,

do único curso de nível superior com experiência paralela na profissionalização de

educadores para os ramos de ensino regular e especial. Há uma tendência desses ramos de

ensino se unirem com a implementação das políticas de inclusão de “alunos com

deficiência”, para instaurar uma “escola para todos”, como estabelece o MEC – Ministério

da Educação e Cultura do Brasil.

Na terceira e última parte do capítulo, ressaltamos que a formação inicial docente

deve abarcar, não só habilidades e conhecimentos técnicos, mas também os conteúdos

internos2 dos profissionais em formação, que constituem as representações sociais.

Partimos do pressuposto de que as representações sociais orientam as atitudes dos

indivíduos e/ou grupos sociais porque

se uma representação é uma preparação para ação, ela não o é somente na medida em que guia o comportamento, mas sobretudo na medida em que remodela e reconstitui os elementos do meio ambiente em que o comportamento deve ter lugar. (Moscovici, 1978, p. 49)

Para compreender como as representações sociais ocorrem na formação inicial docente,

propomos uma exploração dos aspectos mais relevantes da teoria da Representação Social:

desde uma rápida exposição da pesquisa de Moscovici (1961) sobre a Representação Social

da Psicanálise, que inaugurou a referida teoria, até pesquisas recentes que tratam das

representações sociais na educação. Os resultados dessas pesquisas indicam que as

representações sociais exercem um papel importante na orientação das atitudes dos

educadores. Portanto, tais investigações podem ser utilizadas para analisar os mecanismos

que interferem na eficácia do processo educativo.

2 Trata-se das concepções, sentimentos, desejos, valores, emoções, percepções, etc. que orientam as atitudes sociais dos indivíduos e/ou grupos sociais.

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1. Trajetória da deficiência: da marginalização à inclusão de “alunos com

deficiência”

Como trágica ladainha a memória boba se repete. A memória viva,

porém, nasce a cada dia, porque ela vem do que foi e é contra o que foi.

Aufheben era o verbo que Hegel preferia, entre todos os verbos do

idioma alemão. Aufheben significa, ao mesmo tempo, conservar e

anular; e assim presta homenagem à história humana, que morrendo nasce e rompendo cria.

Eduardo Galeano, O Livro dos Abraços.

1.1 - A “dialética exclusão/inclusão”3 na história da educação de “alunos com deficiência”

A Educação Especial contemporânea passa por um momento muito importante,

que se caracteriza pelo seu encontro com a Educação Comum, inaugurando um novo

movimento denominado Educação Inclusiva. Este movimento não surgiu ao acaso, mas é

conseqüência das transformações ocorridas nas atitudes sociais que foram se estabelecendo

ao longo da história, em relação ao tratamento dado às pessoas com deficiência. Afinal, não

se pode falar sobre a Educação Especial sem se pensar na questão da deficiência.

Nas sociedades ocidentais não existem muitas informações disponíveis sobre o

tratamento dado às pessoas com deficiência no decorrer do tempo. Há um grande silêncio

na história oficial quando se trata de abordar a trajetória de sujeitos excluídos da vida

política, econômica e social, como ocorria com as pessoas com deficiência. Nas

informações disponíveis no Brasil, destacam-se o trabalho de Amaral (1994, 1995 e 1997),

que apresenta um percurso histórico sobre as representações da deficiência e o trabalho de

Mazzota (1993 e 1996), que retrata de forma sucinta as atitudes sociais subjacentes ao

tratamento dado às pessoas com deficiência. Amaral relaciona as representações sobre a

deficiência com concepções bíblica, filosófica e científica presentes em diferentes

3 Expressão utilizada por Sawaia para definir a exclusão como processo dialético de “inserção social perversa” (Sawaia, 1999, p. 08). No decorrer desse capítulo, a referida expressão será descrita de forma mais aprofundada.

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contextos históricos. Na Antigüidade Clássica, a segregação e o abandono das pessoas com

deficiência eram institucionalizados: na Grécia, pessoas com deficiência eram mortas ou

abandonadas à própria sorte, numa espécie de exposição; os Romanos tinham uma lei que

dava o direito ao pai de eliminar a criança logo após o parto. A concepção filosófica dos

greco-romanos legalizava a marginalização das pessoas com deficiência, à medida que o

próprio “Estado tinha o direito de não permitir cidadãos disformes ou monstruosos e, assim

sendo, ordenava ao pai que matasse o filho que nascesse nessas condições” (Amaral, 1995,

p. 43). Na Idade Média, a visão cristã correlacionava a deficiência, especialmente a

cegueira, à culpa, pecado ou qualquer transgressão moral e/ou social. Predominava a

concepção bíblica, segundo a qual as pessoas com deficiência eram vistas como portadoras

de culpa ou pecado. A deficiência era a marca física, sensorial ou mental desse pecado, que

impedia o contato com a divindade, porque conforme os escritos bíblicos:

O Senhor disse a Moisés: dize a Arão o seguinte: homem algum de tua linhagem, por todas as gerações, que tiver um defeito corporal, oferecerá o pão de Deus. Desse modo, serão excluídos todos aqueles que tiverem uma deformidade: cegos, coxos, mutilados, pessoas de membros desproporcionados. (Levítico, 21: 16-19)

A concepção bíblica legitimava a segregação das pessoas com deficiência em nome de uma

“lei divina”, presente nas escrituras sagradas. A primeira tentativa científica de estudo das

pessoas com deficiência surgiu, no século XVI, com Paracelso e Cardano, médicos

alquimistas que defendiam a possibilidade de tratamento da pessoa com deficiência. Mas a

consolidação da concepção científica sobre a deficiência só aconteceu no século XIX, com

os estudos de Pinel, Itard, Esquirol, Seguim, Morel, Down, Dugdale, Froebel,

Guggenbuehl, entre outros, que passaram a descrever cientificamente a etiologia de cada

deficiência numa perspectiva clínica. Cabe ressaltar que, apesar dessas contribuições

científicas, a primeira metade do século XX ainda ficou marcada pela a eliminação bárbara

das pessoas com deficiência pelo Nazismo. Verifica-se que, paralelamente à consolidação

da concepção científica da deficiência, ainda ocorrem atitudes sociais de marginalização

das pessoas com deficiência, vividas na Antigüidade Clássica.

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Os estudos de Mazzota (1993) apontam que três atitudes sociais marcaram a

história da Educação Especial no tratamento dado às pessoas com deficiência:

marginalização, assistencialismo e educação/reabilitação. A marginalização é

caracterizada como uma atitude de descrença na possibilidade de mudança das pessoas com

deficiência, o que leva à completa omissão da sociedade em relação à organização de

serviços para essa população. O assistencialismo é uma atitude marcada por um sentido

filantrópico, paternalista e humanitário, porque permanece a descrença na capacidade de

mudança do indivíduo, acompanhada pelo principio cristão de solidariedade humana, que

busca apenas dar proteção às pessoas com deficiência. A educação/reabilitação se

apresenta como uma atitude de crença na possibilidade de mudança das pessoas com

deficiência e as ações resultantes dessa atitude são voltadas para a organização de serviços

educacionais. Cabe ressaltar que o fato de uma concepção ou atitude social predominar em

determinado período não significa que as concepções e atitudes não convivam juntas em

um mesmo contexto.

Diante do exposto, verifica-se que existe uma relação entre as representações

sociais sobre a deficiência (descritas por Amaral) e as atitudes sociais no tratamento dado

às pessoas com deficiência (descritas por Mazzota). A convergência desses estudos permite

fazer uma leitura mais aprofundada da história da educação dos “alunos com deficiência”

no contexto de implementação das políticas de Educação Inclusiva. Numa rápida

retrospectiva histórica, é possível identificar que o período que antecede o século XX é

marcado por atitudes sociais de exclusão (Mazzota, 1996) de “alunos com deficiência”,

porque as representações nessa época consideravam esses alunos indignos de uma educação

escolar (Amaral, 1997). Apesar dos estudos científicos da época tentarem demonstrar as

possibilidades de tratamento da deficiência, predominavam as concepções filosóficas e

bíblicas de marginalização e segregação das pessoas com deficiência. Na década de 50,

começaram a surgir as primeiras escolas especializadas e as classes especiais; a Educação

Especial se consolidou, como um subsistema da Educação Comum. As representações

sobre “alunos com deficiência” baseavam-se numa visão clínica da deficiência, pois o

aluno era tido como um doente e a escola especializada era o local de tratamento dessa

“doença”. Nesse período predominava a concepção científica da deficiência, acompanhada

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pela atitude social do assistencialismo presente na Idade Média e reproduzido pelas

instituições filantrópicas de atendimento aos “alunos com deficiência”.

Na década de 70, os “alunos com deficiência” começaram a ser admitidos nas

classes comuns com o surgimento da proposta de integração. Os avanços dos estudos nas

áreas da Psicologia e Pedagogia passaram a demonstrar as possibilidades educativas desses

alunos, pois, nesse contexto, predominava uma atitude de educação/reabilitação como

proposta educacional. Entretanto, coexistia também uma atitude de marginalização por

parte dos sistemas educacionais, que não ofereciam condições necessárias para os “alunos

com deficiência” terem sucesso na escola regular. Segundo Mrech (1998), a proposta de

Educação Inclusiva surgiu nos Estados Unidos, em 1975, com a lei pública de nº 94.142,

que abriu possibilidades para a entrada de “alunos com deficiência” na escola regular. Os

pressupostos que levaram os Estados Unidos a implementarem tal proposta tem raízes nas

tendências pós-guerra. O governo norte-americano procurava minimizar os efeitos da

guerra por meio de um discurso que prometia assegurar direitos e oportunidades em plano

de igualdade para todos os cidadãos. Os “alunos com deficiência” foram inseridos nesse

plano de igualdade e conquistaram o direito de estudar em escolas regulares. Contudo, a

Educação Inclusiva norte-americana limitava-se apenas à inserção física de “alunos com

deficiência” na rede comum de ensino, nos mesmos moldes da proposta de integração:

esses alunos só eram considerados “integrados”, quando conseguiam se adaptar à classe

comum, como esta se apresentava, sem fazer modificações no sistema de ensino já

estabelecido. Portanto, os sistemas educacionais não precisavam fazer nenhuma

modificação para receber os “alunos com deficiência”. Verifica-se outra vez a coexistência

de atitudes sociais: educação/reabilitação e marginalização se cruzam num mesmo

contexto educacional.

Nas décadas de 80 e 90, apareceu a proposta de inclusão de “alunos com

deficiência”, numa perspectiva inovadora com relação à proposta de integração da década

de 70, cujos resultados não conseguiram modificar a realidade educacional dos “alunos

com deficiência”. O que muda na proposta de inclusão é que os sistemas educacionais

passam a ser responsáveis por criar condições de promover uma educação de qualidade

para todos e fazer adaptações que atendam às necessidades educativas especiais dos “alunos

com deficiência”. Nessa perspectiva, os sistemas educacionais devem assumir que “as

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diferenças humanas são normais e que a aprendizagem deve se adaptar às necessidades das

crianças ao invés de se adaptar a criança a assunções preconcebidas a respeito do ritmo e da

natureza do processo de aprendizagem” (Declaração de Salamanca, 1994, p. 04). Portanto,

a proposta de inclusão se contrapõe à homogeneização padronizada de alunos, conforme

critérios que não respeitam a diversidade humana: a deficiência deve ser considerada

sempre como uma “diferença” que faz parte dessa diversidade e não pode ser negada. Com

o surgimento dessa proposta educativa, o conceito da Educação Inclusiva se amplia na

década de 90 – deixa de ser “apenas” a inserção física de “alunos com deficiência” – e

passa a ser entendido como:

A inserção escolar de pessoas com deficiência nos níveis pré-escolar, infantil, médio e superior. Esse paradigma é o da inclusão social – as escolas (tanto comuns como especial) precisam ser reestruturadas para acolherem todo espectro da diversidade humana representado pelo alunado em potencial, ou seja pessoas com deficiências físicas, mentais, sensoriais ou múltiplas e com qualquer grau de severidade dessas deficiências, pessoas sem deficiências e pessoas com outras características atípicas, etc. É o sistema educacional adaptando-se às necessidades de seus alunos (escolas inclusivas), mais do que os alunos adaptando-se ao sistemas educacional (escolas integradas). (Sassaki, 1998, p. 09)

Nessa perspectiva, a Educação Inclusiva visa reduzir todas as pressões que levam à

exclusão e todas as desvalorizações atribuídas aos alunos, seja com base em sua

incapacidade física, rendimento cognitivo, raça, gênero, classe social, estrutura familiar,

estilo de vida ou sexualidade.

O educador cubano Rafael Bell Rodríguez adverte que falar da Educação

Inclusiva, sem pensar na realidade social de exclusão a que a maioria dos povos estão

condenados, representa uma ingenuidade intelectual. As estatísticas de desemprego, fome,

analfabetismo e violência revelam um cenário internacional dominado pelas diferentes

formas de exclusão social, em que “realidades como estas, lamentablemente, no son

excepción sino más bein regla de un mundo caracterizado por la globalización neoliberal,

en el que hablar de diversidad es casi una paraoja” (Rodriguéz, 2001, p. 63). Como

desenvolver a Educação Inclusiva dentro de uma realidade social que exclui boa parte da

população por questões sócio-econômicas, enquanto propõe incluir alunos que

historicamente foram excluídos do sistema regular de ensino? Será que se devem negar as

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possibilidades da proposta de Educação Inclusiva devido ao contexto social de exclusão da

sociedade contemporânea? Ou será que é possível aproveitar a proposta de Educação

Inclusiva para criar mecanismos de ação que levem à construção de uma sociedade

inclusiva? Questionamentos como esses encaminharam a problemática da inclusão de

“alunos com deficiência” para a análise da “dialética exclusão/inclusão”. De acordo

Sawaia, a expressão “dialética exclusão/inclusão” é utilizada para explicitar as contradições

e complexidades da exclusão social. Trata-se de um “conceito processo” capaz de indicar o

“movimento” e não a “essencialidade” que as palavras “inclusão” e “exclusão” assumem no

contexto contemporâneo:

ambas não constituem categorias em si, cujo significado é dado por qualidades especificas e invariantes, contidas em cada um dos termos, mas que são da mesma substância e formam um par indissociável, que se constitui na própria relação. (Sawaia, 1999, p. 108)

A história da educação dos “alunos com deficiência” apresenta as mesmas

evidencias caracterizadas pela análise da “dialética exclusão/inclusão”. Os estudos de

Sawaia indicam que, na sociedade ocidental contemporânea, as formas de incluir e

reproduzir a miséria variam e podem se manifestar de maneira contraditória: “quer

rejeitando-a e expulsando-a da visibilidade, quer acolhendo-a festivamente, incorporando-a

à paisagem como algo exótico” (Sawaia, 1999, p. 108). O tratamento dado aos “alunos com

deficiência” expressa semelhança com as formas de inclusão e reprodução da miséria:

historicamente esses alunos foram rejeitados e expulsos da visibilidade do sistema regular

de ensino, e no contexto educacional contemporâneo, eles devem ser “acolhidos” e

“incorporados” à paisagem da escola regular. Quando se articulam os princípios teóricos da

Educação Inclusiva com a realidade educacional de países marcados pelas desigualdades

sociais, as contradições da proposta de inclusão aparecem. A análise da “dialética

exclusão/inclusão” permite compreender as diferentes dimensões da exclusão dos “alunos

com deficiência”, evidenciando que a proposta de inclusão pode ter

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a qualidade de conter em si a sua negação e de não existir sem ela, isto é, ser idêntico a inclusão (inserção social perversa). A sociedade exclui para incluir e esta transmutação é condição da ordem social desigual, o que implica o caráter ilusório da inclusão. (Sawaia, 1999, p. 08)

Os estudos do sociólogo francês Robert Castel (1997), citado por Sawaia (1999)

ao abordar a “dialética da exclusão/inclusão” e por Gentili (2001) para tratar da

“normalização da exclusão” na sociedade ocidental contemporânea, possibilitam ampliar

essa reflexão. Segundo Castel (1997) podem-se reconhecer três formas qualitativamente

diferenciadas de exclusão: exclusão como aniquilamento, que é a expulsão ou extermínio

de indivíduos e/ou grupos sociais por meio da morte, através do que se busca apagar os

rastros e as identidades dessas pessoas; exclusão por confinamento e/ou reclusão, que é o

isolamento de indivíduos e/ou grupos sociais do convívio social em instituições

especialmente pensadas para que esses indivíduos não se misturem com os outros, os

incluídos; e exclusão includente, que constitui na aceitação de determinados indivíduos

e/ou grupos sociais – marcados por um estigma – para conviverem no meio social,

incluídos, só que numa condição inferiorizada e subalterna, em que é permitido um

convívio comum a todos, porém apenas alguns terão a possibilidade de acesso a

determinados bens e benefícios sociais. Uma vez que a inclusão de “alunos com

deficiência” não se constituiu numa atitude de “educação/reabilitação” (Mazotta, 1993),

ocorre uma “indiferença diante da exclusão” educacional dos referidos alunos (Gentili,

2001, p. 54), conforme demonstra a análise da “dialética exclusão/inclusão”.

Na trajetória que vai da falta de atendimento educacional de “alunos com

deficiência”, seguida pela consolidação da Educação Especial, enquanto subsistema, até

chegar à proposta de Educação Inclusiva, verificamos que muitas barreiras foram

derrubadas. Contudo, ainda existem muitas barreiras a serem enfrentadas, pois a segregação

e a marginalização das pessoas com deficiência permanecem no imaginário sociocultural de

indivíduos e/ou grupos sociais. As denominações utilizadas para se referir às pessoas com

deficiência no decorrer da história revelam essas barreiras e expressam limites na proposta

de inclusão. No contexto contemporâneo é possível encontrar no mesmo cenário

educacional expressões como: inválidos, anormais, excepcionais, incapacitados,

subnormais, deficientes, portadores de NEE – Necessidades Educativas Especiais –,

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portadores de deficiência, etc. Cabe ressaltar que a denominação utilizada nos documentos

oficiais das políticas de Educação Inclusiva é “portadores de NEE”. Essa expressão surgiu

nas propostas de integração e inclusão para designar “a pessoa que apresenta, em caráter

permanente ou temporário, algum tipo de deficiência física, sensorial, cognitiva, múltipla,

condutas típicas ou altas habilidades” (PNEE, 1994, p. 22). Trata-se de uma denominação

nova, que procura minimizar os efeitos estigmatizadores das terminologias anteriores,

desfocando a deficiência do aluno. Contudo, será que uma simples mudança de

terminologia pode diminuir o problema da estigmatização dos “alunos com deficiência”?

Existem posicionamentos críticos que consideram a expressão “portadores de NEE”

excessivamente vaga. Bueno (1997) alerta para o perigo dessa expressão, que, ao abrigar

uma diversidade de sujeitos, pode ganhar na amplitude de sentidos e na quebra da

estigmatização, mas perde muito na precisão de seus significados. Essa imprecisão

conceitual pode abrir espaços para que um grande grupo de alunos, que não apresentam

deficiência, sejam excluídos das escolas regulares, em algum momento, com a justificativa

de que são portadores de NEE, sem que se evidencie que o problema nada tem a ver com as

características do aluno, mas com as características do processo pedagógico inadequado da

escola. Em contrapartida, alunos portadores de NEE que apresentam uma deficiência a qual

exige maiores cuidados, podem, também, ser relegados pela falta de atenção a sua

especificidade. Outra crítica a respeito dessa terminologia refere-se ao vocábulo

“portadores”, que antecede a sigla NEE, pois a cegueira, a síndrome de down, a paralisia

cerebral, a surdez, etc. são condições que integram os seres e não podem ser vistas como

um fardo a ser carregado. A deficiência faz parte da identidade desses seres; negá-la é

colocar, mais uma vez, a inclusão de “alunos com deficiência”, na análise da “dialética

exclusão/inclusão”.

Diante das reflexões apresentadas, verifica-se que é preciso cuidado na escolha da

terminologia porque esta pode determinar representações e atitudes que contradizem seu

próprio discurso. No presente estudo, optou-se pela expressão “aluno com deficiência”, por

permitir uma identificação imediata dos sujeitos dessa investigação, quais sejam: alunos

com deficiência sensorial (auditiva ou visual), física, mental e/ou múltipla. Considera-se

que a utilização do termo aluno “portador de NEE” é um fator complicador para essa

pesquisa, uma vez que exige sempre uma explicação ou adjetivação do termo. A testagem

21

do instrumento de coleta de dados dessa investigação revelou que a referida expressão era

desconhecida para a maioria das entrevistadas. Tal fato confirmou a opção pela expressão

“alunos com deficiência”. Como bem assinalou Jannuzi (1999), a variação terminológica é

uma constante e mais parece destinada a minimizar a forma pejorativa como essas pessoas

são concebidas socialmente. Uma vez que um dos objetivos do presente estudo é trazer à

tona essa realidade, torna-se coerente assumir a expressão “alunos com deficiência” porque

imprime um sentido claro, objetivo, direto e imediato da problemática abordada.

1.2 – A inclusão de “alunos com deficiência” à luz da teoria Sócio-Histórico-

Cultural de Vigotsky

Um dos pilares básicos da proposta de Educação Inclusiva4 é o respeito à

diversidade, segundo o qual “la escuela debe ser una instituición abierta a la diversidade

que se responsabilice com garantizar educación de calidad para todos sus alumnos, a pesar

de sus diferencias” (Machín, 1995, p. 05). Estudiosos da Educação Inclusiva – Rodríguez

(2001), Illán (2001), Molla (2001), Edler (2000), Werneck (1999), Sassaki, (1998),

Mantoan (1997), Machin (1995), entre outros, assinalam que, para viabilizar as estratégias

transformadoras e concretizar as ações práticas que a situação de cada instituição

educacional exige, é preciso vontade política dos dirigentes, recursos econômicos e

competência dos sistemas educacionais. A conquista dessas condições passa

necessariamente pela elaboração de um projeto educacional coletivo, com a participação de

todos os integrantes da escola: alunos, professores, pais, funcionários e comunidade, em

prol de uma educação de qualidade para todos. Portanto, a inclusão de “alunos com

deficiência” pressupõe, antes de tudo, a participação de educadores comprometidos com

uma prática educativa orientada por concepções otimistas sobre o potencial educativo dos

alunos, especialmente dos “alunos com deficiência”.

Para poder atender às necessidades da Educação Inclusiva, a prática educativa dos

educadores deve estar fundamentada no legado psicológico e pedagógico do russo Lev

4 Embora ocorra uma transgressão na terminologia “portadores de NEE”, o presente estudo compartilha com os pressupostos teóricos da proposta de Educação Inclusiva.

22

Semenovich Vigotski (1896-1934) e de seus seguidores. O paradigma Sócio-Histórico-

Cultural proporcionou a construção de um novo olhar sobre o desenvolvimento psíquico do

ser humano, especialmente no que se refere ao desenvolvimento de “alunos com

deficiência”. Infelizmente o referido paradigma ficou silenciado durante muitos anos,

porque as obras de Vigotsky foram proibidas, devido aos problemas políticos na Rússia.

Seus escritos só começaram a circular abertamente por volta da década de 80, mesmo

período em que surgiu o movimento de inclusão. A teoria Sócio-Histórico-Cultural de

Vigotsky deu bases científicas para a construção de uma concepção otimista sobre o

potencial educativo dos “alunos com deficiência”. Portanto, o principal sustento teórico-

metodológico para a compreensão da pedagogia da diversidade está apoiado na tese de

Vigotsky sobre a natureza social do desenvolvimento psíquico do sujeito.

De acordo com o paradigma Sócio-Histórico-Cultural, as funções psicológicas

superiores de todos os seres humanos são de origem sociocultural, porque o homem é um

ser social por natureza, produto da sua história e sujeito ativo das relações sociais. Pode-se

afirmar que Vigotsky foi o grande precursor da proposta de Educação Inclusiva, porque ele

demonstrou que o desenvolvimento das crianças com deficiência é semelhante ao

desenvolvimento das crianças “ditas normais”. Postulava que a educação daquelas não se

diferenciava da educação destas, pois:

el niño com defecto no es indispensablemente un niño deficiente. El grado de su anormalidad o normalidad depende del resultado de la compensación social, es dicir, de la formación final de su personalidad en general. (Vigotsky, 1995, p. 10)

Para Vigotsky, a educação das crianças com deficiência era um poderoso fator

para correção ou compensação das suas dificuldades, porque os estímulos do meio social

são determinantes para o desenvolvimento humano. Os estudos desse autor demostraram a

possibilidade de desenvolvimento e de compensação do defeito físico, mental e sensorial

por meio do desenvolvimento e aperfeiçoamento das funções psíquicas superiores. Os

postulados da escola Sócio-Histórico-Cultural são revolucionários para a prática educativa

de educadores que atuam com “alunos com deficiência”. Antes dos estudos de Vigotsky, a

prática educativa era orientada para o entretenimento das funções elementares dos “alunos

23

com deficiência”. Com os estudos de Vigotsky criaram-se condições para a busca de uma

prática educativa voltada para o desenvolvimento das funções psíquicas superiores dos

“alunos com deficiência”, independentemente das limitações apresentadas. As implicações

pedagógicas desses estudos são inúmeras e seus pressupostos sustentam pedagogicamente a

proposta de Educação Inclusiva: comprovaram que o potencial educativo de todos alunos

pode ser desenvolvido a depender dos estímulos oferecidos pelo contexto sociocultural de

cada sujeito e/ou grupo.

O trabalho de Vigotsky é fundamental para a construção e/ou reconstrução de uma

prática educativa voltada para inclusão de “alunos com deficiência”, pois o autor defendia a

tese de que o processo de ensino/aprendizagem é determinante para o desenvolvimento

humano. De acordo com os pressupostos da escola Sócio-Histórico-Cultural, o docente tem

a função de provocar os avanços na aprendizagem dos alunos, pois estes não ocorrem

espontaneamente. Para favorecer esses avanços é imprescindível que os docentes

compreendam como se processam os níveis de desenvolvimento descritos por Vigotsky. O

primeiro é o que chamou de nível de desenvolvimento real: quando o sujeito realiza suas

ações de forma autônoma porque o resultado do seu ciclo de desenvolvimento já foi

completado. O segundo é o nível de desenvolvimento potencial: quando o sujeito só realiza

suas ações acompanhado por um companheiro mais competente porque o seu ciclo de

desenvolvimento não foi completado. O entendimento desses níveis de desenvolvimento

permite ao docente compreender que boas situações de aprendizagem podem acionar um

terceiro nível: ZDP – zona de desenvolvimento proximal dos seus alunos, que é:

A distância entre o nível de desenvolvimento real, que se costuma determinar através da solução independente de problemas, e o nível de desenvolvimento potencial, determinado através da solução de problemas sob a orientação de um adulto ou em colaboração com companheiros mais capazes. (Vigotsky, 1998. p. 112).

.

A compreensão do conceito de zona de desenvolvimento proximal permite ao

docente trabalhar com a diversidade de alunos, por meio do processo de mediação em

diferentes situações da prática educativa. Com mediação é possível chegar à zona de

desenvolvimento proximal do aluno aprendiz, com a orientação do docente ou de colegas

24

mais experientes, independentemente das limitações apresentadas por esse aluno aprendiz.

A mediação é o caminho mais rápido para se chegar à zona de desenvolvimento proximal

num contexto de sala de aula e ajudar todos os alunos a avançarem, especialmente os

“alunos com deficiência”. O conhecimento aprofundado da teoria Sócio-Histórico-Cultural

é essencial para a formação docente de qualquer educador. Essa teoria demonstra o papel

social da escola, que é acionar o desenvolvimento dos alunos através do processo

ensino/aprendizagem. Cada aprendizagem conquistada pelo processo de mediação da ZDP

abre novas possibilidades de aprendizagens, pois:

aquilo que é zona de desenvolvimento proximal hoje será nível de desenvolvimento real amanhã – ou seja, aquilo que uma criança pode fazer com assistência hoje, ela será capaz de fazer sozinha amanhã. (Vigotsky, 1998. p. 98)

Segundo Vigotsky, o objeto de estudo da Defectologia5 não é a deficiência por si

mesma, e sim as possibilidades de compensação dessa deficiência através de uma via

indireta, de caráter social e psicológico. Antes dos estudos de Vigotsky, a Defectologia

trabalhava com o isolamento das funções psíquicas superiores e se satisfazia com a

caracterização puramente descritiva da patologia de cada deficiência. O trabalho de

Vigotsky possibilitou uma compreensão dialética do desenvolvimento psíquico e

demonstrou o caráter interativo como ponto de partida para o tratamento com a diversidade.

Para esse autor existem sempre possibilidades de modificar ou compensar a deficiência,

porque se algum órgão, devido a uma deficiência funcional ou morfológica, não cumpre

por completo suas tarefas, o sistema nervoso central e o aparelho psíquico do homem

assumem a tarefa de compensar o funcionamento deficiente do órgão. As implicações

pedagógicas e psicológicas dos estudos de Vigotsky podem revolucionar a prática

educativa, por mais difícil que ela se apresente ao “olhar” do docente.

De acordo com Mantoan (1997), essa mudança de “olhar” sobre o potencial

educativo dos “alunos com deficiência” é o principal desafio a ser enfrentado pelos

docentes na proposta de Educação Inclusiva. Para conquistar esse desafio é necessária uma

5 Defectologia era a terminologia usado na época de Vigotsky (1896-1934), para referir-se a ciência que estudava questões relacionada à deficiência.

25

atualização constante de informações sobre as possibilidades de aprendizagem dos “alunos

com deficiência” à luz do paradigma Sócio-Histórico-Cultural. A atividade de ensinar é

complexa e exige conhecimentos que muitas vezes contradizem o que foi ensinado ou

silenciado na formação dos docentes. Daí se insere a importância do estudo aprofundado do

paradigma Sócio-Histórico-Cultural de Vigotsky no processo de formação docente –

especialmente na formação inicial, quando os valores da prática educativa são construídos

e/ou reconstruídos nas experiências de aprendizagem e nas diferentes leituras que são

compartilhadas no contexto universitário. Illán reafirma essa idéia quando diz: “la

formación del profesorado es un elemento crucial se si quiere que la atención a la

diversidad traspase los límites legales y descienda a la cotidianidad de los centros y de las

aulas” (Illán, 2001, p. 46).

Essa formação deve propiciar um aprendizado sobre como funciona o processo de

construção de conhecimento dos alunos, incluindo aí os “alunos com deficiência”, que

devem ter os mesmos direitos de acesso e permanência na escola regular. O silêncio sobre

temas relacionados à educação de “alunos com deficiência” nos cursos de formação inicial

de educadores contribui para a reprodução de concepções e atitudes sociais de

marginalização e segregação da deficiência. Os docentes acabam por repetir experiências

construídas social e historicamente no tratamento dado às pessoas com deficiência. Essas

experiências dificultam o processo de escolarização dos “alunos com deficiência”, porque

os docentes não conseguem conduzir a prática educativa com base no respeito à diversidade

e na crença do potencial educativo desses alunos. Daí a necessidade imediata em se pensar

a proposta Educação Inclusiva articulada com a formação inicial de docentes.

26

2. Análise das políticas de inclusão de “alunos com deficiência” e da formação inicial

em Pedagogia

Somos, enfim, o que fazemos para transformar o que somos. A identidade

não é uma peça de museu, quietinha na vitrine, mas a sempre assombrosa

síntese das contradições nossas de cada dia.

Eduardo Galeano, O livro dos Abraços.

2.1 – Políticas de inclusão de “alunos com deficiência” no Brasil

O Brasil assumiu legalmente a proposta de Educação Inclusiva, à medida que

compartilhou com os princípios da Declaração de Educação para Todos (Brasil, UNICEF:

Fundos das Nações Unidas para Infância, 1990) e da Declaração de Salamanca (Brasil,

MINISTÉRIO DA JUSTIÇA/CORDE. Secretaria dos Direitos de Cidadania, 1994),

documentos internacionais que lançaram raízes para a expansão da proposta de inclusão de

“alunos com deficiência” no mundo inteiro. A proposta de Educação Inclusiva foi

introduzida nas políticas públicas do sistema educacional brasileiro através da PNEE –

Política Nacional de Educação Especial (Brasil, MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO.

Secretaria de Educação Especial, 1994), da nova LDB - Lei de Diretrizes e Bases da

Educação Nacional (Brasil, SENADO FEDERAL: Lei de nº 9394/96,1997), do PCN -

Parâmetro Curricular Nacional - de Adaptações Curriculares para a Educação de alunos

com NEE (Brasil, MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO. Secretaria de Educação

Fundamental/Secretaria de Educação Especial, 1999), da publicação da Portaria de nº 1.679

(Brasil, MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO, 1999) e do PNE - Plano Nacional de Educação

(Brasil, SENADO FEDERAL, 2000). Esses documentos demonstram que a proposta de

inclusão de “alunos com deficiência” está oficialmente instituída no sistema educacional

brasileiro.

A PNEE – Política Nacional de Educação Especial - constitui um grande avanço

em relação à compreensão do papel da Educação Especial no processo de inclusão. O

documento apresenta um mapeamento da situação da Educação Especial no Brasil, faz uma

27

revisão conceitual das terminologias e propõe objetivos para a política de Educação

Especial, no que se refere à inclusão de “alunos com deficiência”. Sugere que a

concretização desses objetivos depende da participação conjunta dos três níveis

governamentais (federal, estadual e municipal) e da sociedade como um todo. Entretanto, a

PNEE não determina oficialmente o cumprimento das responsabilidades concernentes a

esses objetivos e ainda traz muito do caráter assistencialista da Educação Especial, pois

enfatiza o atendimento clínico em detrimento do tratamento educacional dos “alunos com

deficiência”. Esse documento retrata uma fase de transição entre a “assistência aos

deficientes” e a “educação escolar”.

A nova LDB - Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional - possui um

capítulo dedicado à educação de “alunos com deficiência” que prevê, em seu Artigo 58, §

1º e § 2º, o atendimento dos “portadores de NEE”, preferencialmente na rede regular de

ensino, em classes regulares, onde devem ser oferecidos, quando necessário, serviços de

apoio especializado para atender às peculiaridades do alunado. O atendimento em classes,

escolas ou serviços especializados só deverá ser oferecido quando não for possível a

integração destes alunos em classes regulares, devido às suas condições específicas6. No

Artigo 59, a Lei prevê, entre outras condições, que sejam assegurados, pelos sistemas de

ensino: currículos, métodos, técnicas, recursos educativos e organização específica para o

atendimento aos portadores de NEE

O PCN – Parâmetro Curricular Nacional – de Adaptações Curriculares e

Estratégias para a Educação de alunos com NEE, apresenta informações e orientações para

o professor do ensino regular atender às necessidades educativas especiais dos “alunos com

deficiência”, a partir da consolidação da política de Educação Inclusiva no Brasil. Esse

documento apresenta um rol de estratégias para os docentes utilizarem em classe, de acordo

com os diferentes tipos de “necessidades educativas especiais”, descritas no corpo do

documento. Para favorecer a inclusão são apresentados vários procedimentos de ensino,

recomendados pelo sistema educacional brasileiro na perspectiva de assegurar uma

educação aberta à diversidade. De modo geral, o referido documento dá uma ênfase muito

grande ao papel do professor, ainda que permaneçam inalteradas as condições de formação,

6 As condições específicas se referem às necessidades especiais advindas da deficiência que exigem um tratamento mais clínico.

28

especialização e remuneração do docente. Contudo, apenas a “boa vontade” docente não dá

conta de superar os desafios da prática educativa de inclusão de “alunos com deficiência”.

São necessários investimentos na formação inicial e continuada dos docentes, bem como

melhoria das condições materiais de trabalho. Infelizmente o documento é omisso nessa

questão.

A Portaria de nº 1.679, exige que as Instituições de Ensino Superior ofereçam

condições de acessibilidade para os portadores de NEE, como requisito para o seu

credenciamento legal, junto ao Ministério da Educação. Com essa portaria, o sistema

educacional brasileiro abriu possibilidades para a entrada de “alunos com deficiência” no

ensino superior. Algumas universidades removeram barreiras arquitetônicas para atender ao

requisito estabelecido. Contudo, os docentes do ensino superior ainda não foram preparados

para atuar com a inclusão de “alunos com deficiência”. As experiências de inclusão no

ensino superior demonstram que os referidos alunos enfrentam muitas barreiras

pedagógicas7. Além dessas barreiras, falta formação e qualificação dos docentes do ensino

superior para atuar com a inclusão de “alunos com deficiência” na prática educativa.

O PNE – Plano Nacional de Educação – sugere uma interação entre docentes da

Educação Especial e docentes da Educação Regular, como uma das ações necessárias para

efetivação da Educação Inclusiva. Enfatiza ainda a importância de se redefinirem os

conceitos sobre deficiência no Brasil, sugerindo o uso das novas tecnologias da

comunicação e da informação para favorecer a inclusão de “alunos com deficiência”. O

documento propõe, inclusive, o estabelecimento de parcerias para melhorar o atendimento

dos referidos alunos por meio de adaptações de veículos, ambientes, materiais, etc.

Contudo, no que se refere à formação de docentes para atuar na Educação Inclusiva, o PNE

deixa um grande silêncio. Outra crítica feita ao PNE refere-se ao seu caráter meramente

descritivo, porque não são amarradas as responsabilidades para garantir o cumprimento

dessas ações.

As conquistas legislativas apresentadas nos documentos acima demarcam a

“intenção” do governo brasileiro em implantar a proposta de Educação Inclusiva em seu

7 Essas barreiras se traduzem pela indiferença das instituições de ensino superior em atender às necessidades educativas especiais dos “alunos com deficiência”. Tais como: tradução e transcrição de textos escritos em braille para alunos cegos, contratação de tradutores da língua de sinais para alunos surdos, etc.

29

sistema educacional. Entretanto, existe uma distância muito grande entre a “intenção” e a

efetivação da ação no sistema educacional brasileiro, pois, mudanças legislativas não

implicam, necessariamente, em alterações na prática educativa. O Brasil é um país de

dimensões continentais com uma área de 8.511.965 km2 e uma população de 169.799.170

habitantes, conforme dados do último censo. Implementar políticas de Educação Inclusiva

num país com essas dimensões, marcado por elevados índices de pobreza, exige

competência e compromisso político dos dirigentes desse sistema. Os dados estatísticos

revelam que a exclusão escolar ainda é um problema grave no sistema educacional

brasileiro. No ensino regular, “de 1000 crianças que tinham sete anos de idade em 1980 e

conseguiram entrar na primeira série do Ensino Fundamental, apenas 148 conseguiram

chegar à oitava série em 1987, quando então, tinham completado quatorze anos.” (Xavier,

1994, p. 15). Portanto, na década de oitenta, 852 crianças foram excluídas da vida escolar.

Enquanto isso, dados da Secretária de Estatística e Educação8 indicaram que, no ensino

especial, do total de 334.507 “alunos com deficiência”, que conseguiram se matricular no

ano de 1997, 161.725 foram atendidos em escolas não-governamentais especializadas; isso

equivale a dizer que 48,34% da população de “alunos com deficiência” não são atendidos

nas escolas do governo. Uma análise qualitativa desses números revela que as

desigualdades na escolarização e a seletividade do sistema educacional brasileiro dificultam

a concretização das políticas públicas de Educação Inclusiva.

Como viabilizar uma proposta de Educação Inclusiva na realidade educacional

brasileira, que apresenta níveis tão altos de exclusão escolar? Para transformar uma escola

que exclui numa escola que inclui é preciso mudanças estruturais na prática social do

sistema educacional. Se os alunos “ditos normais” são excluídos da escola, o que esperar

dos resultados da inclusão dos “alunos com deficiência”? Promover Educação Inclusiva

numa sociedade marcada pela exclusão social não é uma tarefa fácil. O sistema educacional

brasileiro possui muita discrepância, algumas podem ser reveladas estatisticamente, mas

outras são silenciadas institucionalmente. A desarticulação entre a política de Educação

Inclusiva com as demais políticas educacionais desenvolvidas pelo MEC traduz esse

silêncio institucionalizado. A publicação dos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs) é

8 Dados publicados no Informe Estatístico do MEC/INEP/SEEC (1998), referentes ao ano de 1997.

30

um exemplo claro dessa desarticulação: os PCNs de Educação Infantil (1998), Ensino

Fundamental (1997), Ensino Médio (1998) e os Referenciais para Formação de Professores

(1999), não abordaram a Educação Inclusiva, apesar desses documentos serem gestados no

mesmo contexto de implementação da proposta de Educação Inclusiva, conforme se

verifica nas datas de publicação. Para compensar tal “esquecimento”, o MEC publicou

isoladamente o PCN de Adaptações Curriculares para os alunos com NEE (1999), com

orientações pedagógicas para os docentes executarem a proposta de Educação Inclusiva

espontaneamente. Essa atitude do MEC demonstra como a “dialética exclusão/inclusão”

(Sawaia, 1999) permeia o sistema educacional brasileiro que, ora incluiu a Educação

Inclusiva com a criação de um PCN específico de Adaptações Curriculares para

“portadores de NEE”, ora excluiu a Educação Inclusiva quando omitiu sua abordagem nos

demais PCNs do ensino regular. Se os PCNs dos diferentes níveis de ensino não

apresentaram nenhuma abordagem sobre a inclusão de “alunos com deficiência”, como

esperar que os docentes do ensino regular incluam as informações do PCN de Adaptações

Curriculares em sua prática educativa? Paralelamente, temas referentes à educação de

“alunos com deficiência” permanecem silenciados na formação dos docentes do ensino

regular, enquanto temas relativos à Educação Comum continuam excluídos da formação

dos docentes do ensino especial.

Portanto, a implementação da Educação Inclusiva no sistema educacional

brasileiro implica muitos desafios, dentre os quais romper com um silêncio instaurado

historicamente sobre questões relativas à educação de “alunos com deficiência” no

processo de formação docente. Esse silêncio dá lugar à reprodução de concepções e atitudes

sociais de marginalização e segregação no tratamento dado aos “alunos com deficiência”,

pois:

O fato da Educação Especial está virtualmente excluída do debate educativo é a primeira e mais importante discriminação sobre a qual, depois, se projetam sutilmente as demais discriminações [...] civis, legais, laborais, culturais, etc. (Skliar, 1992, p. 14)

31

2.2 - Trajetória do curso de Pedagogia e o tratamento dado aos “alunos com

deficiência” nessa formação

A prática educativa das escolas regulares indicam que os docentes não possuem

preparação mínima para trabalhar com “alunos com deficiência”. Não se trata apenas de

falta de habilidade e/ou conhecimento técnico, mas da reprodução de representações e

atitudes sociais construídas historicamente no tratamento dado às pessoas com deficiência.

Em contrapartida, a prática educativa das escolas especiais indicam que os docentes

também não estão preparados para o trabalho pedagógico desenvolvido no ensino regular,

porque construíram suas práticas nas dificuldades específicas de cada deficiência. Ambas

estão imobilizadas diante da inclusão de “alunos com deficiência” porque historicamente

não foi permitido o diálogo entre a Educação Especial e a Educação Comum. Para

estabelecer esse diálogo, é necessário uma mediação entre essas modalidades de ensino que

foram tradicionalmente separadas: o especial e o regular. Claudia Werneck (1999), uma das

estudiosas da proposta de Educação Inclusiva no Brasil, defende a tese de que a escola

regular e a escola especial representam uma farsa, porque reproduzem a humanidade de

maneira anômala. Para essa autora, a Educação Inclusiva apresenta-se como alternativa

fundamental para o homem encontrar sua verdadeira humanidade. A formação inicial tem

um papel importante na preparação de docentes responsáveis em consolidar a prática

educativa de inclusão de “alunos com deficiência”.

Dentre os cursos de formação inicial de educadores, o curso de Pedagogia é o que

oferece as melhores condições para construir esse diálogo, pois promoveu a “consagração

da discriminação já na própria formação” (Cartolano, 1998, p. 32), com o surgimento da

habilitação em Educação Especial na década de 70. À medida que a formação inicial

passou a ser uma habilitação do curso de Pedagogia, oficializaram-se dois ramos de ensino

nessa graduação: um que tratou a formação docente como um subproduto do especialista,

contribuindo para que se formasse um docente especializado na deficiência e com pouca

formação como professor; e o outro ramo que atendia exclusivamente aos interesses

burocráticos do ensino regular e excluía a educação especial da formação docente. Essa

formação diferenciada de docentes para o ensino especial e para o ensino comum no curso

de Pedagogia confirma que “a Educação Especial, tal como o deficiente, é segregada,

32

isolada, em vários aspectos. Seus alunos, seus profissionais, suas instalações e às vezes suas

próprias reflexões vivem um espaço comum, mas separado” (Romero, 1993, p. 67). Por que

o curso de Pedagogia assumiu a formação desses dois níveis de ensino separadamente?

Como se encontra o curso de Pedagogia no contexto contemporâneo de implementação das

políticas de Educação Inclusiva? Para responder esses questionamentos é necessário fazer

um passeio pela história do curso de Pedagogia.

De acordo com Silva (1999), o curso de Pedagogia surgiu junto com os cursos de

Licenciaturas, instituído pela antiga Faculdade Nacional de Filosofia, da Universidade do

Brasil, com o Decreto-lei nº 1190 de 1939, que tinham como objetivo preparar docentes

para a escola secundária (Ensino Médio). Essas licenciaturas seguiam a fórmula conhecida

como “3+1”, em que se formava o bacharel nos primeiros três anos do curso e,

posteriormente, formava-se o licenciado com o estudo das disciplinas de natureza

pedagógica, cuja duração prevista era de um ano. Como bacharel, o pedagogo poderia

ocupar cargo de “técnico de educação”, e, como licenciado, poderia exercer a função de

“docente nas escolas normais”, um campo não exclusivo dos pedagogos, uma vez que a Lei

Orgânica do Ensino Normal, daquela época, só exigia um diploma de nível superior.

Esse quadro durou até 1969, quando a lei nº 5540/68 extinguiu a distinção entre

bacharelado e licenciatura e criou as famosas “habilitações”9 para o curso de Pedagogia.

Com esse direcionamento, o curso assumiu o papel de formador de diferentes “especialistas

em educação”, conforme determinava cada uma de suas habilitações. Paralelamente,

continuava a ofertar, agora em forma de habilitação, a “licenciatura em ensino das

disciplinas e atividades práticas dos cursos normais”, que garantia uma formação

alternativa para a “docência nas séries iniciais do Ensino Fundamental”. A consolidação da

habilitação em Educação Especial surgiu em 1973, impulsionada pela criação do CENESP

– Centro Nacional de Educação Especial – que propunha a formação de professores

“especiais”, no ensino superior. Até então, a formação desses profissionais era feita no

Ensino Médio10. O que mais caracterizava o curso de Pedagogia com habilitação em

9 As principais habilitações criadas nesse período foram: Supervisão Escolar, Orientação Educacional, Administração Escolar, Coordenação Pedagógica, Educação Especial, etc. 10 Os cursos normais de Ensino Médio foram responsáveis pela formação inicial dos docentes da Educação Infantil e das séries iniciais do Ensino Fundamental até a promulgação da LDB nº 9394 de 1996. Entretanto, contraditoriamente, a flexibilidade da referida lei ainda permite a realização desses cursos no Sistema Educacional Brasileiro.

33

Educação Especial era o fato de, geralmente, ter como “principal elemento identificado:

pertencer a faculdades particulares e funcionar no período noturno” (Enumo, 1995, p. 06).

Essas características, que ainda se encontram presentes no contexto contemporâneo,

revelam a indiferença das políticas públicas com relação à profissionalização de docentes

para atuar com “alunos com deficiência”. À medida que o governo brasileiro delega essa

formação inicial à rede privada, demonstra desrespeito com relação a proposta de inclusão

de “alunos com deficiência” e insere a profissionalização docente na análise da “dialética

exclusão/inclusão” (Sawaia, 1999).

Na década de 80, o curso de Pedagogia passou a ser alvo de muitas críticas, devido

ao caráter tecnicista de suas habilitações, que não atendiam às necessidades da realidade

educacional brasileira, dentro da formação docente. Por isso, os professores das Faculdades

de Educação começaram a se reunir para discutir a formação do pedagogo. Desses

encontros realizados em diferentes universidades do Brasil, surgiu o “Movimento de

reconfiguração do curso de Pedagogia” (Silva, 1999). O debate sobre a formação inicial em

Pedagogia expressava um conflito de posições teóricas, metodológicas e epistemológicas a

respeito do papel do pedagogo no contexto educacional daquela época. Na tentativa de

mediar esse debate, foi criada, em 1983, a “Comissão de Especialistas de Ensino de

Pedagogia” (Silva, 1999). Essa Comissão procurou integrar posições de diferentes grupos e

recolheu mais de 500 propostas de instituições de Ensino Superior, para reconfiguração do

curso de Pedagogia do Brasil. As propostas recolhidas foram sistematizadas numa única

proposta, que passou a orientar as mudanças curriculares do curso de Pedagogia em

diferentes contextos universitários. A partir das orientações contidas na referida proposta, o

curso de Pedagogia rompia com a tradição tecnicista de separar o saber e o fazer, a teoria da

prática, e assumia o compromisso de promover a formação de um profissional habilitado

para atuar no ensino, na organização e na gestão de sistemas, unidades e projetos

educacionais. O ponto mais importante dessa proposta é que o curso de Pedagogia passou a

assumir a docência como base obrigatória de sua formação e identidade profissional. O

campo de atuação do pedagogo ampliava-se para atender à formação de docentes para

Educação Infantil, para as séries iniciais do Ensino Fundamental e para o Magistério de

Ensino Médio.

34

Paralelo ao debate sobre a reconfiguração do curso de Pedagogia, surgiram os

primeiros cursos de pós-graduação em Educação Especial no Brasil. O resultado desses

cursos implicou a produção de pesquisas que denunciavam a realidade educacional dos

“alunos com deficiência” no Brasil. No final da década de 80 e na década de 90, as

primeiras produções dos cursos de Especialização, Mestrado e Doutorado em Educação

Especial trouxeram à tona a situação da educação de “alunos com deficiência” no país,

silenciada historicamente pelas políticas públicas de educação e, também, pelos estudos

acadêmicos. De acordo com Glat (1998), a publicação dessas pesquisas começou a

desnudar a situação da Educação Especial no sistema educacional brasileiro. Como a

maioria dos estudantes desses cursos de pós-graduação eram docentes de universidades em

diferentes Estados do Brasil, o debate sobre Educação Especial passou a circular em

algumas universidades brasileiras, especialmente naquelas onde os referidos profissionais

estavam inseridos. Enquanto isso, o governo brasileiro era contaminado com a proposta de

Educação Inclusiva, divulgada nos encontros promovidos pela UNESCO, ONU e demais

agências internacionais, que orientam e/ou determinam as políticas públicas de educação

em países de Terceiro Mundo, como o Brasil. Nesses encontros, foram assumidos os

compromissos da Declaração de Educação para Todos (1990) e da Declaração de

Salamanca (1994), que oficializaram a posição do Brasil em relação à proposta de

Educação Inclusiva.

À medida que a proposta de Educação Inclusiva passava a incorporar as políticas

públicas do sistema educacional brasileiro, as primeiras experiências de mudança curricular

começavam a ocorrer nos cursos de Pedagogia de algumas universidades. Contudo, estas

mudanças curriculares não aconteceram de forma linear. Cada universidade procurou

adaptar a proposta apresentada pela Comissão de Especialistas conforme sua realidade,

interesses e necessidades. Como conseqüência, o curso de Pedagogia chegou ao final da

década de 90 com diferentes fluxogramas.11 A abertura para mudanças curriculares levou

algumas universidades a desativarem habilitações – a exemplo da habilitação em

Supervisão Escolar, considerada tecnicista – e a criarem novas habilitações – como a

habilitação em Educação Infantil e Séries Iniciais do Ensino Fundamental, considerada

11 Em termos didáticos, fluxograma é a representação gráfica da organização curricular de um determinado curso, com a distribuição de disciplinas dentro de uma carga horária definida.

35

importante para o contexto educacional contemporâneo. O resultado desse processo de

reconfiguração é que algumas universidades mantiveram suas habilitações, outras criaram

novas habilitações incorporadas às antigas e outras excluíram habilitações antigas e

implantaram novas habilitações. A Comissão de Especialistas no ensino de Pedagogia

realizou encontros regionais, estaduais e nacionais, a fim de avaliar os resultados dessas

mudanças.

Dessa forma o curso de Pedagogia buscava encontrar seu rumo, pois as

experiências das mudanças curriculares combinavam com as exigências da nova LDB, que

determinava: “A formação de docentes para atuar na educação básica far-se-á em nível

superior, em cursos de licenciatura, de graduação plena” (Art. 62, da Lei de n° 9.394/96).

Cabe ressaltar que essas mudanças curriculares, apesar de inovadoras, não contemplavam

as necessidades da proposta de inclusão. Ressaltem-se algumas exceções, advindas das

experiências na pós-graduação em Educação Especial de universidade brasileiras que

ofereciam, paralelamente, cursos de graduação em Pedagogia e cursos de pós-graduação

em Educação Especial – UNICAMP/SP, UFSM/RS, UFRJ/RJ, UFSCar/SP, UNESP de

Marília/SP, entre outras. No contexto das universidades baianas, o máximo que se

conseguiu sobre educação de “alunos com deficiência” no curso de Pedagogia, foi a oferta

da disciplina Educação Especial em algumas universidades que ousaram criar novas

habilitações no currículo do referido curso. Contudo, a ementa dessa disciplina, em geral,

apareceu carregada pela concepção clínica da deficiência, conforme se verifica na ementa

oferecida em uma das novas habilitações12 do curso de Pedagogia da UNEB/BA:

Estuda os fundamentos da Educação Especial. As etiologias das diversas afeções responsáveis pela conseqüente condição de aluno especial. Discute o conceito de Ensino Especial. Estuda as diversas abordagens que instrumentalizam bem a inserção social do aluno atendido pela Educação do tipo especial. Analisa o fenômeno da aprendizagem na perspectiva da Educação Especial. (Ementa da disciplina Educação Especial, 1999 - grifos nossos)

12 Retirada do curso de Pedagogia com Habilitação em Administração e Coordenação de Projetos Pedagógicos (Departamento de Educação - Campus XI, UNEB). É uma disciplina oferecida no 5º semestre dessa nova habilitação.

36

Essa ementa expressa uma visão de “aluno especial” como um sujeito doente, que merece

um atendimento clínico e, por isso, deve-se conhecer as “etiologias das diversas afeções”.

Portanto, a deficiência é considerada uma doença e não uma diferença e a “aprendizagem”

desses alunos que analisada como um “fenômeno” e não como um processo de construção

e/ou reconstrução de conhecimentos. Contudo, a existência da disciplina pelo menos rompe

o silêncio acadêmico sobre essa temática no curso de Pedagogia.

Nesse sentido, não se pode negar que o curso de Pedagogia teve muitos avanços

nesse contexto de reconfiguração iniciado na década de 80. Inclusive, os representantes dos

docentes das Faculdades de Educação no final da década de 90 já discutiam a

reestruturação do curso de Pedagogia com CNE – Conselho Nacional de Educação –, na

tentativa de consolidar a formação do docente de Educação Infantil e das séries iniciais do

Ensino Fundamental no referido curso. Existia até um consenso entre representantes dos

docentes do curso de Pedagogia e representantes do Conselho Nacional de Educação de que

o processo de reestruturação do curso de Pedagogia visava atender às necessidades da

formação sugerida pela nova LDB.

Entretanto, o debate sobre a reestruturação do curso de Pedagogia para atender à

docência da Educação Infantil e das séries iniciais do Ensino Fundamental foi atropelado

em dezembro de 1999, com a publicação de um Decreto Presidencial que determinava: “A

formação em nível superior de professores para atuação multidisciplinar, destinada ao

magistério na Educação Infantil e nos anos iniciais do Ensino Fundamental, far-se-á

exclusivamente em Cursos Normais Superiores13 (Decreto nº 3.276, 1999). A palavra

“exclusivamente” decretou o fim dos cursos de Pedagogia como formadores de docentes e

liquidou o trabalho desenvolvido pelo movimento de reconfiguração do curso de Pedagogia

desde a década de 80. Devido à forte pressão dos educadores e da opinião pública, o

governo publicou um outro Decreto, em agosto de 2000, que apenas trocava a palavra

“exclusivamente” pela palavra “preferencialmente”. Essa simples mudança vocabular

restituiu ao curso de Pedagogia a possibilidade de continuar com sua formação voltada para

a docência. Mas não resolveu a situação da formação do profissional docente da Educação

13 Trata-se de um novo curso de licenciatura previsto na LDB, Lei de nº 9394/96, voltado para formação inicial de professores da Educação Infantil e das séries iniciais do Ensino Fundamental.

37

Infantil e das séries iniciais do Ensino Fundamental, pois ainda não ficou definido o lugar

dessa formação no sistema educacional brasileiro.

Cabe ressaltar que a principal crítica que desencadeou a reconfiguração do curso

de Pedagogia, nos anos 80, foi sua formação ser considerada excessivamente tecnicista, que

não propiciava uma visão integrada da educação. Entretanto, parece que os Cursos Normais

Superiores, “recomendados” pelo governo federal, repetem o mesmo erro: trata-se de uma

formação baseada no aprendizado de técnicas de ensino, sem uma visão do conjunto

educacional. O Movimento Nacional dos Docentes das Faculdades de Educação considera

que os Cursos Normais Superiores não passam de uma nova roupagem dos Cursos Normais

de Ensino Médio. Dessa forma, pouco contribuirá para a formação profissional dos

docentes de Educação Infantil e das séries iniciais do Ensino Fundamental. Outro dado

importante nessa análise é que esses Cursos Normais Superiores, em geral, funcionam em

Institutos Superiores de Educação – instituições isoladas do ambiente universitário – e

limitam-se apenas às atividades de ensino. Sem contato com a pesquisa e/ou a extensão, a

formação inicial docente sofre uma grande perda, pois essas atividades acadêmicas

favorecem o diálogo com a diversidade, fundamental para a construção de uma prática

educativa inclusiva. Enquanto a formação inicial de docentes da Educação Infantil e das

séries iniciais do Ensino Fundamental permanece indefinida, novos cursos são criados –

especialmente pela rede privada –, sem a devida preocupação com as conseqüências que

uma formação inicial docente desqualificada pode acarretar para a educação do país. A

legislação deixou essa formação inicial em aberto para que os Cursos Normais Superiores e

os Cursos Normais de Ensino Médio formassem profissionais com uma baixa qualificação

em relação à formação inicial propiciada pelo ambiente universitário. A indefinição na

formação inicial de docentes para a Educação Infantil e as séries iniciais do Ensino

Fundamental pode contribuir para ampliar, ainda mais, o quadro de exclusão escolar no

contexto contemporâneo da Educação Inclusiva.

A retrospectiva histórica do curso de Pedagogia com relação à Educação Especial

e, mais recentemente, à Educação Inclusiva, retrata uma completa desarticulação entre a

formação docente e as políticas de Educação Inclusiva. Essa desarticulação nas políticas

públicas do sistema educacional brasileiro foi construída historicamente. No que se refere

ao curso de Pedagogia, foi produzida desde a criação do curso, uma vez que faltava uma

38

definição clara sobre a sua função social no processo de formação docente. As reformas

educacionais sofridas pelo curso, no decorrer de sua história, pouco contribuíram para criar

e/ou delimitar sua identidade. Contudo, as críticas que lhe foram atribuídas na década de 80

levaram o referido curso a se olhar, a perceber a necessidade de reformulação. Foram duas

décadas de trabalho para construir o processo de reconfiguração do curso de Pedagogia. O

resultado é que o curso de Pedagogia começou a descobrir sua identidade e delinear sua

opção pela docência. Mas a falta de articulação, nas políticas públicas do sistema

educacional brasileiro, interrompeu bruscamente o processo de reconfiguração do curso de

Pedagogia com a força de um Decreto imposto, no final da década de 90. A pressão dos

educadores conseguiu derrubar esse Decreto. Entretanto, o destino da formação inicial do

docente da Educação Infantil e das séries iniciais do Ensino Fundamental não foi resolvido

e o curso de Pedagogia continua com a identidade indefinida na legislação educacional

brasileira.

Enquanto isso, a proposta de Educação Inclusiva permanece indefinida porque

depende, também, de uma formação inicial qualificada. Parece contraditório que a

Educação Inclusiva seja instaurada num contexto em que a formação profissional do

docente da Educação Infantil e das séries iniciais do Ensino Fundamental enfrenta essa

crise de paternidade. O curso de Pedagogia poderia resolver a questão, pois é responsável

pela formação inicial da maioria dos professores que atuam na Educação Infantil e nas

séries iniciais do Ensino Fundamental, níveis de ensino em que se encontra o maior número

de alunos da Educação Inclusiva. Segundo o Informe Estatístico do MEC/INEP (1998), no

ano de 1997, dos 334.507 alunos matriculados na Educação Especial no Brasil, 25,67%

estavam na Educação Infantil, 40,44% estavam no Ensino Fundamental, 33,25% recebiam

outros atendimentos e apenas 0,63% estavam no Ensino Médio. Esses dados sugerem a

necessidade de investimento na formação inicial dos profissionais que vão atuar na

Educação Infantil e no Ensino Fundamental para incorporar os princípios da proposta de

inclusão em suas práticas educativas. Contudo, o CNE – Conselho Nacional de Educação –

permitiu que o caráter provisório e flexível das leis educacionais brasileiras atropelassem o

processo de reconfiguração do curso de Pedagogia e, paralelamente, deixassem em aberto a

situação do Curso Normal de Nível Médio e criassem Cursos Normais Superiores. A falta

39

de comunicação entre as políticas de Educação Inclusiva e a formação inicial em Pedagogia

indicam que,

no que tange a uma política de formação docente, estamos longe de alcançar níveis de qualidade mínimos para a consecução de uma Educação Inclusiva, não por genérica falta de condições, mas por falta de vontade política, tanto por parte dos órgãos governamentais como pelas Instituições de Formação, em especial as universidades. (Bueno, 1999. p. 156)

Todavia, as universidades brasileiras não podem se furtar do compromisso social e

político de assumirem uma posição diante da formação inicial de docentes no contexto

contemporâneo de implementação da proposta de Educação Inclusiva. A retrospectiva do

curso de Pedagogia e a história da Educação Especial no Brasil demonstram que ainda

existe um silêncio pairando sobre a educação de “alunos com deficiência”. Em

contrapartida, o curso de Pedagogia tem uma dívida social com a formação de docentes

para atuar com “alunos com deficiência”, já que, em sua trajetória histórica, assumiu

paralelamente a formação profissional de “especialistas em Educação Comum” e de

“especialistas em Educação Especial”. Trata-se da única formação inicial docente de nível

universitário com instrumentos teóricos e experienciais necessários para integrar o ensino

especial com o ensino regular. Como ainda não existe uma formação instituída para o

exercício da Educação Inclusiva, o curso de Pedagogia é a graduação que se encontra mais

próxima para instaurar esse processo. Contudo, a preparação profissional para Educação

Inclusiva vai exigir do curso de Pedagogia, não só a abordagem de habilidades e

conhecimentos técnicos sobre “alunos com deficiência”, mas também o levantamento de

conhecimentos oriundos das representações e atitudes construídas historicamente no

tratamento dado às pessoas com deficiência.

40

3. Teoria da Representação Social: uma alternativa para conhecer atitudes dos

estudantes de Pedagogia em relação à inclusão de “alunos com deficiência”

Esse homem, ou mulher, está grávido de muita gente. Gente que sai por

seus poros. Assim mostram, em figuras de barro, os índios hopis, do Novo

México: o narrador, o que conta a memória coletiva, está todo brotado de

pessoinhas.

Eduardo Galeano, O Livro dos Abraços

3.1 – Aspectos relevantes da teoria da Representação Social:

Diante da realidade educacional brasileira, em que não existe uma formação

inicial para os docentes atuarem segundo os princípios da proposta de inclusão, ocorre

uma tendência dos educadores recorrerem às representações sociais sobre “alunos com

deficiência”, para orientar suas atitudes com relação a essa proposta educativa. Portanto,

conhecer as representações sociais de futuros educadores constitui-se numa alternativa

necessária para repensar a formação inicial docente no contexto de implementação das

políticas públicas de Educação Inclusiva. O conceito de Representação Social é

entendido como “uma modalidade de conhecimento particular que tem por função a

elaboração de comportamentos e a comunicação entre indivíduos” (Moscovici, 1978, p.

26). As representações sociais são constituídas por um conjunto de informações, idéias,

crenças, opiniões, concepções e valores partilhados por um grupo sociocultural a

respeito de um dado objeto social. Mas não se trata apenas de informações, valores,

crenças, opiniões, concepções ou idéias aleatórias, e sim, de teorias coletivas sobre o

real, sistemas que têm uma lógica e uma linguagem própria, uma estrutura de

implicações baseada em valores e conceitos que “determinam o campo das

comunicações possíveis, dos valores ou das idéias presentes nas visões compartilhadas

pelos grupos, e regem, subseqüentemente, as condutas desejáveis ou admitidas”

(Moscovici, 1978, p. 51).

41

Para compreender como ocorre a construção das representações sociais e o seu

significado na orientação das atitudes sociais dos indivíduos e/ou grupos, faz-se

necessário conhecer os conceitos básicos que estruturam essa teoria e um pouco da sua

trajetória histórica. A teoria da Representações Social não surgiu a partir do nada, num

“vazio cultural” (Farr, 1995), ela foi precedida por estudos da Sociologia, Antropologia

e Psicologia. Essas ciências preocupavam-se em compreender as relações entre os

aspectos individuais e sociais do sujeito. Os estudos elaborados pelas referidas ciências,

entretanto, apresentavam uma visão dicotômica, ora priorizando os aspectos sociais, ora

os aspectos individuais, conforme os interesses de sua área específica de conhecimento.

Durkheim foi o primeiro teórico a utilizar o conceito de representação, em seus estudos

sobre “representações coletivas”. Defendia a tese de que o conhecimento social era

determinante no processo de construção das “representações coletivas”. Para Durkheim,

o conhecimento das “representações individuais” era de domínio da Psicologia e se

diferenciava do conhecimento das “representações coletivas”, que era de domínio

exclusivo da Sociologia.

Moscovici partiu do referencial de Durkheim, apesar de reconhecer que este tinha

uma concepção bastante estática da sociedade e apresentava uma visão dicotômica entre o

individual e o social. Entretanto, Moscovici queria se contrapor à tendência individualista e

psicologizante da Psicologia Social Norte-Americana que atribuía ao indivíduo a

responsabilidade de todos os problemas. Por isso, o referido autor criou um novo modelo

teórico para dialetizar as relações entre o indivíduo e a sociedade; afastou-se tanto da visão

sociologizante de Durkheim, quanto da visão psicologizante da Psicologia Social Norte-

Americana. O brilhantismo inédito na obra de Moscovici foi ultrapassar as barreiras

acadêmicas da Psicologia e da Sociologia – ciências que se apresentavam de forma

dissociada e independente – para criar uma nova teoria, capaz de explicar os mecanismos

psicológicos e sociais que atuam na produção das representações sociais, em suas

operações e funções.

A teoria da Representação Social foi inaugurada por Moscovici em 1961, com a

publicação da sua pesquisa sobre “Representação Social da Psicanálise”. O objetivo

principal dessa pesquisa, era saber o que pensava o grande público da cidade de Paris

sobre a Psicanálise, mais especificamente, que imagem fazia o homem leigo das diversas

42

camadas da sociedade parisiense – o trabalhador, o estudante, o profissional liberal, o

católico, o ateu, o burguês, o comunista, entre outros – acerca da finalidade da

psicanálise. Moscovici utilizou a entrevista combinada com questionário e apoiou-se nas

técnicas de pesquisa de opinião para fazer a coleta de dados. Trabalhou com uma

amostra formada por 2.265 sujeitos e fez um levantamento do material publicado pela

imprensa sobre o tema da Psicanálise, no período de janeiro de 1952 a julho de 1956.

Para interpretar os dados coletados na entrevista, usou a técnica de análise de conteúdo.

Os resultados da pesquisa de Moscovici demonstraram que o processo de absorção da

Psicanálise pelo senso comum se dava através da linguagem e da comunicação, sendo

que a socialização do conhecimento implicava sempre a reelaboração de atitudes num

grupo social específico e restrito – o dos que produziam a ciência – por outros grupos

sociais diversos, em ambientes sociais mais amplos.

A pesquisa de Moscovici estabeleceu um modelo teórico para explicar os

mecanismos sociais e psicológicos que atuam na produção das representações sociais. O

autor partiu da premissa de “que não existe um corte dado entre o universo externo e o

universo interno do indivíduo” (Moscovici, 1978, p.48), para descrever como as

representações sociais são produzidas. De acordo com Moscovici dois processos geram

as representações sociais: objetivação e ancoragem. A objetivação é o processo pelo qual

as noções abstratas, as idéias, as imagens não-familiares são transformadas em algo

concreto que molda e constrói a realidade. A ancoragem se reflete na classificação e

nomeação dos objetos não-familiares ao compará-lo com categorias similares de objetos

sociais já existentes. A classificação implica sempre na comparação do objeto

representado com o protótipo ou modelo, visando criar uma rede de significados a partir

de determinados fatores sociais. Moscovici utilizou os dois processos em sua pesquisa

porque tratava-se de um estudo de grande porte, que durou aproximadamente cinco anos

para sua concretização. Seus estudos foram aprofundados e complementados por vários

pesquisadores, dentre os quais cabe destacar as contribuições de Denise Jodelet (1998).

Jodelet é a principal colaboradora de Moscovici na análise dos aspectos

constitutivos da teoria da Representação Social. Para essa autora, as representações

sociais contribuem para elaborar os comportamentos porque são sistemas de referência e

de significação que permitem interpretar, entender, explicar e classificar as informações,

43

os eventos, os indivíduos, etc. – é uma maneira de apreender e de pensar a realidade

cotidiana, com o objetivo de dar sentido e coesão à referida realidade – enfim, trata-se de

um conhecimento prático, espontâneo que tem incidência no comportamento social. Os

sistemas de referencia fornecido pelas representações sociais tem uma função mediadora

entre o indivíduo e o seu meio e entre os membros de um mesmo grupo, por isso

contribuem para afirmar a identidade grupal e o sentimento de pertencimento do

indivíduo. Para compreender como isso ocorre Jodelet retomou aos processos básicos de

produção das representações sociais: objetivação e ancoragem. Tais processos são

responsáveis pela constituição das representações sociais e foram abordados por

Moscovici (1978).

Para Jodelet, a objetivação é a transformação de um conceito ou de uma idéia

em algo concreto, uma vez que as informações que circulam sobre esse objeto sofrem

uma triagem em função dos condicionantes culturais e, sobretudo, dos critérios

normativos, guiados pelo sistema de valores do grupo, para proporcionar uma imagem

coerente do objeto representado. Consideram-se como condicionantes o acesso

diferenciado às informações em decorrência da inserção social do sujeito. A ancoragem

é a inserção orgânica de um conhecimento novo em um repertório de crenças já

constituído; ancorar é classificar, rotular, é o processo utilizado para o sujeito se

familiarizar com algo que lhe é estranho e conseqüentemente ameaçador. Em síntese,

ancoragem é o enraizamento social da representação por meio da integração cognitiva

do objeto representado no sistema de pensamento preexistente a partir dos fatores sociais

determinantes. De acordo com a autora, a interação dialética entre os processos de

objetivação e ancoragem permitem compreender de forma mais ampla como a

significação é conferida ao objeto representado e como a representação social é utilizada

como um sistema de interpretação do mundo. Na objetivação a intervenção dos fatores

sociais se dá no agenciamento e na forma dos conhecimentos relativos ao objeto

representado. Na ancoragem, essa intervenção se traduz na significação e na utilidade

que os fatores sociais conferem ao objeto representado, em que os elementos da

representação não apenas exprimem as relações sociais, mas contribuem para constituí-

la. A estrutura imaginante que é produzida no processo de ancoragem torna-se um guia

de leitura, uma referência para a compreensão da realidade. Para estudar as

44

representações sociais os pesquisadores podem optar por um dos processos, ou por

ambos, a depender do objeto de estudo que se pretende investigar.

Desde a publicação da pesquisa de Moscovici e a ampliação de seus estudos por

Jodelet, a teoria da Representação Social tem se propagado pelo mundo e conquistado

novos seguidores, especialmente após a década de 80. Numa revisão bibliográfica sobre

a referida teoria, verificou-se uma fertilidade muito grande na produção de estudos e

pesquisas em diferentes áreas do conhecimento que utilizam as representações sociais.

Os resultados das pesquisas indicam que trata-se de “uma teoria boa para pensar e, assim

apontar soluções, dar respostas para ação concreta”. (Arruda, 1998, p. 11). Contudo, a

expansão da teoria da Representação Social não impediu o surgimento de críticas sobre

sua validade científica no mundo acadêmico. Em geral, essas críticas se referem à falta

de rigor dos métodos utilizados na pesquisa, à falta de clareza na definição dos

conceitos, à qualidade hermenêutica da análise e à falta de hipóteses que possam ser

submetidas à verificação empírica. Na qualidade de criador da teoria, Moscovici tem

procurado responder as críticas, esclarecendo alguns pontos da teoria que foram mal

compreendidos e, por isso, combatidos. No prefácio da obra organizada por Guareschi e

Jovchelovitch (1994), Moscovici retomou e aprofundou alguns aspectos teóricos e

metodológicos acerca da teoria da Representação Social e defendeu a tese de que esta

deve permanecer criativa e aproveitar as contribuições de diferentes métodos, embora

suscitem resistências ou discordâncias. Para Moscovici, cabe ao cientista descobrir

novos princípios, novas teorias, novos métodos de verificação e isso não se aprende com

o método e sim com o exercício da pesquisa. A defesa apresentada pelo autor da teoria é

importante para consolidar o referencial de pesquisadores comprometidos com o uso das

representações sociais em investigações científicas. Porém, não se pode negar que

existem pesquisas sobre representações sociais que não usam nem mesmo os conceitos

básicos da referida teoria, limitando-se a arrolar falas dos entrevistados, com pouca ou

nenhuma tentativa de interpretação dos resultados. Na realidade, os resultados dessas

pesquisas não passam de “opiniões sobre” ou “imagens de”, sem nenhuma análise

teórica. Para evitar incorrer nos mesmos erros, é necessário que pesquisadores,

interessados em trabalhar com essa teoria, busquem um rigor metodológico coerente

com os pressupostos apresentados por Moscovici.

45

3.2 – As representações sociais nas pesquisas educacionais

As representações sociais interferem nas práticas sociais porque cada grupo

sociocultural tem seu sistema de significação construído e partilhado socialmente. Esse

sistema de significação orienta as atitudes sociais desejáveis e/ou admitidas em cada

segmento social. Uma vez em que essas representações interferem e/ou podem determinar

comunicações e atitudes sociais de indivíduos e/ou grupos sociais, fica patente a

importância desse conhecimento para as práticas sociais, especialmente a prática educativa

que atua na formação da personalidade humana. Simone Baillauquès (2001), num artigo

intitulado “Trabalho das representações na formação dos professores”, defende a tese

segundo a qual as representações devem ser vistas como algo relevante na formação dos

educadores. A autora apresenta inúmeros estudos que comprovam o efeito das

representações sociais na prática educativa e no exercício profissional dos docentes.

Destaca através de uma citação que as representações sociais são “instrumentos cognitivos

de apreensão da realidade e de orientação das condutas, as representações dos professores

podem ser consideradas como um dos meios a partir dos quais eles estruturam seu

comportamento de ensino e de aprendizagem” (Baillauqués, 2001, p. 35, apud, Charlier,

1989, p. 46).

A teoria da Representação Social oferece elementos essenciais para analisar os

mecanismos que interferem na eficácia do processo educativo, devido ao seu papel na

orientação de atitudes na prática educativa. Os educadores, enquanto grupo

socioprofissional, constroem representações sociais sobre sua profissão e os diferentes

aspectos da prática educativa, a partir de referenciais e experiências determinadas pelo

contexto sociocultural em que se encontram inseridos. A evolução histórica, no tratamento

dado às pessoas com deficiência, demonstra o efeito das representações nas atitudes sociais

de cada época, refletidas no contexto contemporâneo. De acordo com os pressupostos de

Moscovici, as representações sociais orientam e/ou geram as atitudes dos indivíduos e/ou

grupos sociais com relação aos diferentes aspectos da sua realidade cotidiana. Por isso,

pesquisar as representações sociais dos futuros docentes sobre “alunos com deficiência” se

constitui num aspecto importante, quando se deseja conhecer suas atitudes com relação à

inclusão de “alunos com deficiência”. Se os sistemas educacionais levassem em conta as

46

representações sociais dos docentes – antes de impor mudanças legislativas alheias à

realidade educacional – talvez houvesse maiores possibilidades de associar políticas

públicas de educação com práticas educativas.

As questões norteadoras do presente estudo se identificaram com a teoria da

Representação Social porque ela permite aos pesquisadores da educação investigar como se

formam e funcionam os sistemas de referência utilizados pelos docentes para classificar os

indivíduos e/ou grupos, interpretar os acontecimentos da realidade educacional cotidiana e

promover a orientação de atitudes dos educadores. As pesquisas14 educacionais brasileiras

que se utilizaram dessa teoria demostram suas vantagens para refletir acerca de aspectos da

prática educativa que fogem a visibilidade acadêmica. Como ilustração, vale destacar as

pesquisas de Alves-Mazzoti (1996 e 1998) que denunciam como os meninos de rua são

vistos socialmente no Brasil e revelam, dentre outras coisas, o impacto “dessa visão” na

orientação das atitudes sociais dos indivíduos e/ou grupos sociais que atuam com esses

sujeitos. As atitudes dos educadores, empregadores e familiares dos meninos de rua estão

coerentes com suas representações sociais sobre “meninos de rua” e interferem na forma de

agir desses sujeitos com relação aos referidos meninos. Essas pesquisas também apontam

algumas alternativas para repensar a educação dos meninos de rua, no contexto educacional

contemporâneo, e demonstram que os estudos sobre representações sociais devem estar

comprometidos com as mudanças sociais. Nessa perspectiva, as pesquisas educacionais,

que utilizam essa abordagem teórica, podem indicar caminhos para o sistema educacional

brasileiro repensar suas atitudes com relação à formação inicial docente, no contexto de

implementação das políticas de Educação Inclusiva.

Neste trabalho, procuramos conhecer as representações sociais dos estudantes de

Pedagogia sobre “alunos com deficiência”, a partir do contexto sociocultural da formação

inicial no ambiente universitário e das práticas educativas de contato com pessoas com

deficiência. A pesquisa partiu do pressuposto que “segundo o que o indivíduo diz, pode-se

deduzir o que ele vai fazer” (Moscovici, 1978, p. 46) para propor a seguinte idéia a

defender: as representações sociais dos estudandes de Pedagogia sobre “alunos com

deficiência” orientam suas atitudes com relação à inclusão desses alunos. Essa investigação

14 Trata-se de pesquisas realizadas por Madeira (2000), Dauster (2000), Teves (1999), Rangel (1999), Eizirik (1999), Alves-Mazzoti (1996 e 1998), Gama (1991), Penin (1998), entre outras.

47

buscou provocar a fala dos informantes, para fazê-los produzir discursos que permitissem

apreender suas representações sociais sobre “alunos com deficiência”. Pois os discursos

produzidos pelos futuros pedagogos são elementos importantes para descobrir suas

representações sociais sobre “alunos com deficiência” e conhecer suas atitudes com relação

à inclusão dos referidos alunos. Cabe ressaltar que, neste estudo, foram descritos os dois

processos de produção das representações sociais – objetivação e ancoragem – mas o

processo de ancoragem não chegou a ser utilizado porque as questões norteadoras da

pesquisa estão contempladas no processo de objetivação. Neste processo, ocorre a

passagem de conceitos e idéias para esquemas e imagens concretas de um dado objeto

social. O presente estudo procurou identificar o processo de objetivação das representações

sociais sobre “alunos com deficiência” nos discursos dos estudantes de Pedagogia.

No decorrer da pesquisa, verificou-se ainda a necessidade de ampliar o referencial

das representações sociais com o estudo sobre estigma, para interpretar melhor as atitudes

apresentadas pelos estudantes de Pedagogia com relação à inclusão de “alunos com

deficiência”. A obra de Goffman, intitulada “Estigma: notas sobre a manipulação da

identidade deteriorada”, permitiu um avanço nas reflexões teóricas e metodológicas dessa

pesquisa. Segundo Goffman o termo estigma foi criado pelos gregos para se referir a

“sinais corporais com os quais se procurava evidenciar alguma coisa extraordinária ou mau

sobre o status moral de quem os apresentava” (Goffman, 1988, p. 11); na era cristã esses

sinais passaram a ter uma conotação divina. No contexto contemporâneo, esse termo é

usado de forma semelhante ao sentido original, ou seja, trata-se de um “atributo

profundamente depreciativo” (Goffman, 1988, p. 13).

A análise das representações sociais sobre a deficiência (Amaral, 1995)

demonstrou a presença de estigmas que se constituíram historicamente, no tratamento dado

as pessoas com deficiência, nas sociedades ocidentais. Tais estigmas contribuíram, também,

para a produção de atitudes sociais (Mazzota, 1993 e 1996) que marcaram diferentes

contextos socioculturais, reproduzidos na sociedade contemporânea. Para Goffman (1988),

a sociedade estabelece os meios de categorização das pessoas conforme atributos

considerados comuns e naturais para os membros de cada uma dessas categorias. Portanto,

nos ambientes sociais se estabelecem categorias de pessoas que têm probabilidade de serem

neles encontradas. Os “alunos com deficiência” sempre foram socialmente excluídos dos

48

ambientes das escolas regulares e a proposta de inclusão busca romper com essa prática.

Contudo, as “expectativas normativas”15 dos educadores exigem sempre uma determinada

identidade social dos educandos, especialmente quando se trata de educandos com

deficiência. De acordo com os estudos de Goffman, a identidade social de um indivíduo

e/ou grupo social só é aceita socialmente quando ocorre uma confluência entre sua

“identidade social real16” e sua “identidade social virtual”17. Quando um indivíduo e/ou

grupo social tem um atributo que o torna diferente de outros – da categoria de incluído – ele

passa a pertencer à categoria dos que não podem ser incluídos.

Assim, deixamos de considerá-lo criatura comum e total, reduzindo-o a uma pessoa estragada e diminuída. Tal característica é um estigma, especialmente quando seu efeito de descrédito é muito grande [...] e constitui uma discrepância específica entre a identidade social virtual e a identidade social real. (Goffman, 1988, p. 12)

Esse processo pode ocorrer com os “alunos com deficiência” na proposta de

inclusão, caso não se acorde para a necessidade de uma formação inicial de docentes que

leve em consideração os conteúdos internos dos sujeitos. Por isso, fez-se necessário ampliar

o marco teórico desse estudo com as contribuições de Goffman (1988). Analisar as

representações sociais sobre “alunos com deficiência”, e suas atitudes com relação à

inclusão dos referidos alunos sem o referencial de Goffman, poderia limitar as reflexões

dessa investigação. Na realidade, há uma tendência nas pesquisas educacionais em se

associar elementos da teoria da Representação Social de Moscovici e seguidores com os

estudos sobre estigma de Goffman. Com essa interlocução teórica buscamos ampliar as

possibilidades de análise e interpretação dessa investigação.

Para finalizar, o presente trabalho visa identificar as representações sociais dos

estudantes de Pedagogia sobre “alunos com deficiência”, a fim de conhecer suas atitudes

15 A expressão “expectativas normativas” é utilizada por Goffman para indicar as preconcepções que indivíduos e/ou grupos sociais apresentam diante de um estranho, buscando “prever a sua categoria e os atributos, a sua identidade social (Goffman, 1988, p. 12). 16 “Identidade social real” é uma expressão usada por Goffman para apontar no indivíduo “a categoria e os atributos que ele, na realidade, prova possuir” (Goffman, 1998, p. 12). 17 “Identidade social virtual” é uma expressão usada por Goffman se referir as cobranças feitas “em relação àquilo que o indivíduo que está à nossa frente deveria ser” (Goffman, 1998, p. 12).

49

com relação à inclusão dos referidos alunos, com base nos pressupostos teóricos

apresentados no decorrer deste capítulo. Especificamente objetivamos responder a duas

questões: a) Como se apresentam as representações sociais dos estudantes de Pedagogia

sobre “alunos com deficiência”? e b) Quais as atitudes dos estudantes de Pedagogia com

relação à inclusão desses alunos? Enfim, a partir dos dados encontrados na pesquisa

pretendemos responder essas questões e contribuir para aperfeiçoar o curso de formação

inicial em Pedagogia, no contexto de implementação das políticas de Educação Inclusiva

no Brasil.

50

II CAPÍTULO

ITINERÁRIO DE PESQUISA: REPRESENTAÇÕES SOCIAIS DOS ESTUDANTES

PEDAGOGIA SOBRE “ALUNOS COM DEFICIÊNCIA”

Já trazes, ao nascer tua filosofia

As razões? Essas vêm posteriormente

Tal como escolhes, na chapelaria,

A fôrma que mais te assente.

Mário Quintana, Antologia Poética

Fazer uma opção metodológica para pesquisas de cunho educacional não é uma

tarefa muito fácil, conforme aponta Brandão (2000), porque a área de educação ainda não

possui uma tradição disciplinar de pesquisa. Em função disso é necessário se recorrer aos

referenciais e instrumentos gerados por outros campos de conhecimento. Apesar dessa

limitação de ordem metodológica, existem pesquisas educacionais que apresentam um rigor

metodológico invejável e não deixam nada a desejar às pesquisas de áreas de conhecimento

que já apresentam uma tradição disciplinar de pesquisa. O pesquisador educacional precisa

ter clareza de que sua escolha metodológica deve estar coerente com as características do

seu objeto de estudo. Por isso, a metodologia mais adequada será sempre aquela que possa

melhor responder à investigação do objeto de estudo do pesquisador e a seleção dos

instrumentos de coleta de dados deve estar em consonância com o problema que se deseja

investigar. Ou seja, o mais importante na escolha metodológica do pesquisador educacional

é encontrar técnicas de pesquisa que possam representar as “soluções apropriadas à

natureza do seu objeto de estudo” (Lüdke, 1986, p.63).

As questões norteadoras da presente investigação se identificaram com a abordagem

qualitativa, porque se trata de uma pesquisa centrada na produção de discursos, visando

apreender as representações sociais dos sujeitos pesquisados. Cabe ressaltar que optamos

51

por abordar as representações sociais a partir do processo de objetivação, um dos

responsáveis pela produção das representações. O motivo dessa opção deve-se ao objeto de

estudo, cujos elementos essenciais estão contemplados no processo de objetivação. É uma

investigação que exige um mergulho no discurso dos informantes para obtenção de dados

em profundidade com base no que é dito e/ou silenciado. As representações sociais são

objetivadas quando ocorre a transformação de um conceito ou de uma idéia em algo

concreto, através da interação de aspectos sociais e psicológicos. A escolha metodológica

para uma pesquisa dessa natureza precisa estar amparada num referencial que ultrapasse o

nível da constatação, para poder descortinar as representações sociais dos estudantes de

Pedagogia sobre “alunos com deficiência” e desnudar atitudes relativas à inclusão desses

alunos. Procede, então, que a metodologia adotada esteja baseada nos princípios que

enfatizam as representações sociais, que precisam ser entendidas no contexto que as

constituem, em suas interações sociais cotidianas. No entendimento de Spink (1995), as

representações sociais inserem-se entre os estudos que buscam a desconstrução da retórica

da verdade e a hegemonia da causalidade. Por isso, as pesquisas que utilizam à teoria da

Representação Social necessitam de um rigor metodológico apurado, que leve em conta as

especificidades do contexto e as interações sociais cotidianas dos sujeitos pesquisados com

relação ao objeto de estudo representado.

Para se estudar as representações sociais são necessários dois requisitos básicos: 1)

Os sujeitos do grupo social pesquisado devem ter sentimento de pertencimento em relação

ao grupo no qual se encontram inseridos, ou seja, devem apresentar características que

determinem uma identidade grupal; e 2) O objeto social representado deve estar inserido,

de alguma forma, no imaginário social desse grupo. A análise de dados da investigação

pode ficar comprometida se esses requisitos não forem devidamente observados. Esse fato

ficou evidenciado na presente pesquisa, pois o objeto de estudo que se pretendia investigar

inicialmente era as Representações sociais dos estudantes de Pedagogia sobre Educação

Inclusiva. Entretanto, os dados recolhidos indicaram que a temática da Educação Inclusiva

não estava devidamente inserida no universo dos sujeitos pesquisados. Os estudantes de

Pedagogia não apresentavam representações sociais sobre a Educação Inclusiva porque

desconheciam o significado dessa expressão no contexto educacional. Quando eram

questionadas sobre o que entendiam da Educação Inclusiva, em geral, as entrevistadas nos

52

pediam uma explicação sobre o significado da referida expressão e/ou faziam inferências a

partir da associação dos vocábulos “Educação” e “Inclusiva”, com as questões tratadas na

entrevista.

Portanto, a realidade encontrada na análise de dados não conferiu com o objeto de

estudo previamente estabelecido. Diante dessa situação foi necessário retomar a trajetória

da pesquisa. Verificamos que um dos requisitos necessários ao estudo das representações

sociais foi desrespeitado na delimitação do problema e, por isso, a análise de dados ficou

comprometida: a proposta de Educação Inclusiva não se encontrava devidamente inserida

no imaginário social dos estudantes de Pedagogia. Contudo, uma análise mais aprofundada

do material revelou que os estudantes de Pedagogia expressavam, em seus discursos,

imagens, informações, crenças e concepções sobre “alunos com deficiência”, aspectos

necessários à apreensão das representações sociais. Dessa forma, optou-se por fazer evoluir

o objeto de estudo desta pesquisa, que deixou de ser Representações Sociais sobre

Educação Inclusiva e passou a ser Representações Sociais sobre ‘alunos com deficiência’.

A evolução do objeto de estudo desta pesquisa levou a seguinte idéia à defender: as

representações sociais dos estudantes de Pedagogia sobre “alunos com deficiência”

orientam suas atitudes com relação à inclusão desses alunos.

Esse fato demonstra que a pesquisa nem sempre segue a linearidade descrita nos

manuais de investigação científica. Por isso, o processo de investigação científica leva

tempo, exige reflexão, sintonia e muita atenção do pesquisador para tratar os dados

apresentados sobre seu objeto de estudo. Quando o objeto de estudo não se enquadra nos

dados coletados na pesquisa, é necessário rever a trajetória da investigação para procurar

alternativas que levem em conta os dados, mesmo correndo riscos de atrasar o percurso

delimitado no trabalho. Cabe ressaltar que a evolução do objeto de estudo da presente

investigação não alterou seu marco teórico/metodológico, pois o aspecto mais importante

da investigação manteve-se intacto: refletir sobre a relação entre a formação inicial em

Pedagogia e inclusão de “alunos com deficiência”, com base no referencial da teoria da

Representação Social.

53

1. Cenário da Pesquisa

Da minha Aldeia vejo o quanto da terra se pode ver no universo.

Por isso a minha Aldeia é tão grande como outra terra qualquer.

Porque eu sou do tamanho do que vejo.

E não do tamanho da minha Aldeia.

Fernando Pessoa, Obra Poética.

Esta pesquisa foi realizada com estudantes do curso de Pedagogia, em três

universidades da cidade de Salvador, no Estado da Bahia. As universidades selecionadas

foram consideradas tradicionais, porque são as mais antigas e bem conceituadas Instituições

de Ensino Superior responsáveis pela formação inicial da maioria dos docentes da capital

baiana. Essas instituições já desenvolvem trabalhos de pesquisa e/ou extensão na área de

formação docente e, paralelamente, oferecem cursos de pós-graduação voltados para

docência. As referidas universidades abrangem o universo do curso de Pedagogia em

diferentes vertentes institucionais: uma é da rede Pública Federal, outra é da rede Pública

Estadual e a terceira é da rede Privada. A título de informação, segue uma breve

caracterização do curso de Pedagogia em cada instituição pesquisada:

UFBA – Universidade Federal da Bahia

Foi criado em 1944, na Faculdade de Filosofia, unidade isolada de ensino, que, a

partir de 1946, passou a integrar a então Universidade da Bahia. O curso de Pedagogia,

como todos daquela época, tinha como objetivo preparar professores para as matérias

pedagógicas das Escolas Normais de Ensino Médio. Em 1969, com a reforma universitária,

o curso transferiu-se para a Faculdade de Educação, onde permanece até hoje. Nessa

ocasião, o Currículo do curso foi reformulado e passou a oferecer as habilitações em

Orientação Educacional, Supervisão Educacional e Magistério das Matérias Pedagógicas.

Esse Currículo permaneceu durante trinta anos, até o segundo semestre de 1999, quando foi

implantada uma nova proposta curricular que extinguiu as habilitações antigas. Tal

reformulação seguiu as orientações da Comissão de Especialistas no ensino de Pedagogia.

54

Entretanto, as estudantes pesquisadas são, em sua maioria, remanescentes das habilitações

antigas.

UCSAL – Universidade Católica de Salvador

O curso de Pedagogia da UCSAL começou a funcionar na Faculdade Católica de

Filosofia, em 1956. Com a reforma universitária de 1968, a UCSAL passou por uma

reestruturação e o curso de Pedagogia passou a funcionar na Faculdade de Educação. O

reconhecimento do curso Pedagogia ocorreu em 1970 e instituiu as habilitações em

Magistério das Matérias Pedagógicas, Administração, Supervisão e Orientação

Educacional. Essas habilitações ainda permanecem no curso de Pedagogia, pois a UCSAL

não empreendeu as mudanças curriculares relativas ao processo de reconfiguração iniciado

na década de 80. A finalidade da instituição, segundo regimento do curso de Pedagogia, é

formar profissionais da Educação para as funções específicas da docência e para coordenar

atividades pedagógicas.

UNEB – Universidade do Estado da Bahia

O curso de Pedagogia da UNEB foi criado em 1983, com o oferecimento de 80

vagas, em caráter experimental. Nessa época, a autorização para o funcionamento do curso

designou-o de Licenciatura plena em Educação com habilitação em Pré-Escolar e Séries

Iniciais. Em 1984, foi aprovada a Resolução de nº 1.339/84 que legalizou a situação do

curso; em 1985, realizou-se o primeiro vestibular para o curso de Pedagogia da UNEB. Em

1991, foi criada a habilitação em Magistério das Matérias Pedagógicas do 2º grau,

acrescentando-se mais 80 vagas para o curso de Pedagogia, o que perfez um total de 160

vagas, anualmente distribuídas nos três turnos. Em meados de 1999, foi implementado um

Currículo Novo no curso de Pedagogia da UNEB, que extinguiu as antigas habilitações.

Vale ressaltar que os alunos entrevistados são remanescentes das antigas habilitações.

55

1.1 - População e Amostra

A população escolhida para realização desta pesquisa foram os estudantes do último

semestre do curso de Pedagogia das instituições descritas. A escolha pelos alunos do último

semestre se deu porque nesse período do curso esses estudantes já passaram por todas as

etapas curriculares da formação inicial e estão pedagogicamente autorizados para assumir a

prática educativa. Em geral, os estudantes do último semestre de Pedagogia já atuam e/ou

devem atuar como educadores em escolas que recebem e/ou podem receber “alunos com

deficiência”, pois a legislação educacional brasileira determina a inclusão desses alunos no

ensino regular. Trata-se de uma população que já se deparou e/ou pode se deparar a

qualquer momento com a inclusão de “alunos com deficiência” em sua prática educativa.

Por isso, é importante apreender suas representações sociais sobre tais alunos, a fim de

conhecer e prever suas atitudes com relação à inclusão. Estudos recentes apresentados por

Baillauquès (2001) demonstram o impacto das representações sociais nas atitudes da

prática educativa docente. Portanto, “levar em consideração as representações contribui

para formação de professores profissionais ao longo de toda a sua evolução” (Baillauquès,

2001, p. 49), a começar pela formação inicial docente. Uma vez que as representações

sociais construídas ou reconstruídas na formação inicial podem se prolongar por toda a vida

profissional dos educadores e determinar suas atitudes com relação a inúmeros fatores da

prática educativa.

Para selecionar a amostra, visitamos as instituições escolhidas e comunicamos

nossa intenção de pesquisa à direção do curso de Pedagogia de cada universidade, a fim de

receber autorização para realizar a investigação. Após a autorização da direção, entramos

em contato com as turmas que estavam concluindo o curso de Pedagogia, no primeiro

semestre de 2001. Fizemos uma rápida explanação da pesquisa e solicitamos a participação

dos estudantes no trabalho de campo. Nas universidades públicas, houve em média 80% de

aceitação dos estudantes em participarem da pesquisa, enquanto na universidade privada a

aceitação caiu para 40%. Esses dados já apontam uma diferença na postura dos estudantes

das universidades públicas, em relação aos estudantes da universidade privada. Cabe

ressaltar que, em média, 95% dos estudantes matriculados estavam presentes, quando essa

explanação foi feita, conforme verificou-se na caderneta dos docentes de cada instituição

56

pesquisada. Os estudantes interessados em participar da pesquisa preencheram uma ficha

(anexo B), para serem contatados posteriormente, após a conclusão da disciplina de estágio

supervisionado, que geralmente é a única disciplina oferecida no último semestre do curso

de Pedagogia. Com as fichas de identificação dos estudantes, entramos em contato com

cada estudante, individualmente, para explicar o procedimento da entrevista, o horário

previsto para sua realização, solicitar sua autorização para gravação e agendar local e

horário, conforme disponibilidade de cada um.

Inicialmente definimos uma amostra formada por 10 alunos de cada instituição,

pois pretendíamos ter um número igual de participantes por universidade. Entretanto, na

testagem dos instrumentos, verificamos a necessidade de diminuir a amostra, porque

transcrever e analisar 30 entrevistas em profundidade, exigiria o dobro do tempo

estabelecido para a análise de dados. Em contrapartida, nos contatos individuais, alguns

estudantes desistiram de participar da pesquisa, alegando incompatibilidade com o tempo

previsto para realização da entrevista. Esses aspectos nos levaram a optar pela seleção de

uma amostra de 10% do total da população pesquisada, porque esse percentual permite um

nível equilibrado de participação de entrevistadas, conforme o número de estudantes

concluintes em cada instituição. Assim, a amostra desta pesquisa ficou constituída

conforme a tabela abaixo:

ESTUDANTES DE PEDAGOGIA DE UNIVERSIDADES DE SALVADOR-BA

INSTITUIÇÃO CONCLUINTE ENTREVISTADO

UFBA 48 5

UNEB 35 4

UCSAL 76 8

TOTAL 159 17

Período relativo ao semestre letivo de 2001.1

A caracterização dessa amostra foi organizada através do levantamento do perfil das

entrevistadas em quatro aspectos: pessoal, acadêmico, docente e nível de contato com

pessoas com deficiência (anexo E). Esse perfil buscou apresentar as entrevistadas e

57

identificar fatores do contexto sociocultural que interferem nas suas representações sociais.

Inicialmente, o sexo foi escolhido como um dos fatores, mas no decorrer da pesquisa esse

fator foi abandonado porque a amostra contemplada é formada basicamente por estudantes

do sexo feminino. A presença do sexo masculino é reduzida dentro do curso de Pedagogia e

não foi possível entrevistar nenhum estudante porque estes não se dispuseram a participar

da entrevista, alegando falta de tempo. De qualquer forma, a entrevista manteve algumas

questões referentes à concepção de gênero, para verificar como as estudantes do curso de

Pedagogia encaram a presença masculina na área da Educação. A maioria das estudantes

atribuiram a ausência de colegas do sexo masculino a questões de preconceitos, pois

consideram a sociedade brasileira muito machista. Na análise do perfil pessoal, verificamos

que a maioria das estudantes estão na faixa etária dos 20 anos, são solteiras e não possuem

filhos. Conforme os dados recolhidos na entrevista, das 17 estudantes apenas três se

encontram acima da faixa etária dos 20 anos. Outro fato interessante é que apenas três são

casadas, sendo que duas dessas possuem filhos. Dentre as solteiras, uma delas possui filhos.

Os dados indicam uma certa mudança no comportamento feminino dessas estudantes: o

casamento e a realização profissional passam por uma reelaboração de valores, sendo esta

privilegiada em relação àquele. Quanto ao perfil acadêmico, verificamos que a maioria das

estudantes entrou no curso após o ano de 1997. Das 17 entrevistadas, apenas cinco

ingressaram no curso antes desse período. Essa informação sugere que a maioria das

estudantes está concluindo o curso no tempo regular. Quanto ao perfil docente, a pesquisa

demonstra que, das 17 entrevistadas, cinco já tinham atuado como docente antes de

ingressar no curso, e sete fizeram o curso de Magistério no 2º grau. Por outro lado, muitas

das entrevistadas passaram a atuar como docente após o ingresso no curso, identificando-se

com a profissão. A maioria das entrevistadas aponta a desvalorização profissional e salarial

como o aspecto negativo mais gritante da carreira docente. Entretanto, consideram sua

formação importante para a sociedade e vêem a Educação como uma necessidade essencial

aos seres humanos. Geralmente fazem uma diferenciação entre Educação Formal e

Educação Informal, reconhecem o valor de ambas e apontam para a necessidade dos

governos valorizarem os educadores. A análise sobre os níveis de contato que as estudantes

de Pedagogia tiveram e/ou tinham com pessoas com deficiência revelou que existe uma

relação entre as representações sobre a deficiência com os níveis de contato com pessoas

58

com deficiência. Quanto mais contato das entrevistadas com pessoas com deficiência,

maiores são as possibilidades de aceitação social destas pessoas no universo psicossocial

daquelas. A maioria delas já teve um contato social com “alunos com deficiência”: os

dados indicam que, das 17 entrevistadas, 15 já tiveram algum tipo de contato social. Tal

contato é entendido como superficial, por ser de caráter informal, ocorrido no ambiente

social mais amplo: rua, ônibus, vizinhança, etc. Quando se trata do contato profissional e

familiar, entretanto, os discursos se modificam. Contato profissional, é entendido aqui

como um contato docente, no qual a entrevistada experimentou a docência com “alunos

com deficiência”. Os dados indicam que, das 17 entrevistadas, nove atuaram como docente

desses alunos, sempre em classes regulares, ou seja, trabalharam com a Educação Inclusiva,

apesar da maioria delas desconheceram completamente o significado desta expressão. O

nível de contato profissional demonstrou dois tipos de reação: de um lado, seis estudantes

relataram que tiveram essa experiência durante o estágio, em escolas públicas, sem

orientação acadêmica e consideraram a experiência difícil, inclusive uma delas chegou a

desistir do estágio, porque se sentiu incompetente para trabalhar com essa realidade. De

outro lado, três alunas que tiveram a experiência de atuar com “alunos com deficiência”,

em classe inclusivas em seu local de trabalho – duas como docentes de Escolas Privadas e

uma como instrutora de uma Empresa, em um curso de profissionalização – consideraram a

experiência rica para sua ação docente e para a formação de seus alunos. Reconhecem,

contudo, que não estavam preparadas para essa experiência e que não atenderam às

necessidades educativas especiais dos “alunos com deficiência”. No nível de contato

familiar, verificamos que, das 17 entrevistadas, duas possuíam pessoas com deficiência na

família. O nível de contato familiar apareceu como um determinante nas representações e

atitudes das estudantes de Pedagogia sobre “alunos com deficiência”, pois seus discursos

expressaram uma crença muito forte no potencial das pessoas com deficiência e uma

descrença muito grande nas políticas públicas de atendimento a essas pessoas no Brasil.

Essas entrevistadas tiveram contato familiar nos papéis de mãe e irmã e afirmam que

buscaram o curso de Pedagogia como meio para poder ajudar na educação de seus

familiares, uma vez que não contaram com profissionais qualificados nas instituições que

tiveram acesso.

59

1.2 - Métodos utilizados

A investigação está pautada num estudo descritivo de caráter explicativo porque

procurou descrever e caracterizar as representações sociais dos estudantes de Pedagogia

sobre “alunos com deficiência”, visando conhecer suas atitudes com relação à inclusão

desses alunos. Para conquistar os objetivos propostos na pesquisa tomamos por base

métodos teóricos e métodos empíricos, definidos na seqüência:

Métodos Teóricos

Os métodos teóricos foram utilizados com o objetivo de sistematizar, analisar, explicar,

comparar e tirar conclusões referentes às representações sociais dos estudantes de

Pedagogia sobre “alunos com deficiência”. Esses métodos “posibilitan, a partir de los

resultados obtenidos, sistemazarlos, analizarlos, explicarlos, descubrir qué tienen en común,

par llegar a conclusiones confiables que nos permitan reolver el problema” (Mezquita e

Rodríguez, 2001, p. 23). A presente pesquisa utilizou os seguintes métodos teóricos:

- Análise e síntese

Com esse método, buscamos valorar os elementos do problema e relacioná-los com os

aspectos da realidade estudada, a fim de interpretar com profundidade as características do

objeto de estudo. Esta pesquisa parte da análise geral dos elementos da realidade dos

“alunos com deficiência” e da formação inicial em Pedagogia, para estabelecer relações

com elementos mais específicos da prática educativa, a partir da caracterização das

representações sociais dos estudantes de Pedagogia sobre “alunos com deficiência”. Com

base nessa análise, elaboramos uma síntese: as atitudes que orientam e/ou podem orientar a

prática educativa dos estudantes de Pedagogia com relação à inclusão de “alunos com

deficiência” são determinadas pelas representações sociais.

60

- Histórico-lógico

Esse método foi usado porque o presente estudo partiu da análise do problema da educação

dos “alunos com deficiência” e da formação inicial em Pedagogia, numa perspectiva

histórica, com que buscamos demonstrar como as mudanças e as permanências interferem

na construção das representações sociais dos estudantes de Pedagogia sobre “alunos com

deficiência”. A utilização desse método visa compreender a lógica do problema a partir de

sua contextualização histórica. O presente estudo procurou abordar as concepções sobre a

deficiência, as políticas de Educação Especial e/ou Educação Inclusiva, a trajetória do curso

de Pedagogia e a teoria da Representação Social na perspectiva do método histórico lógico.

- Hipotético-dedutivo

Esse método foi usado na presente investigação porque se partiu do modelo teórico

sustentado na teoria da Representação Social – o que permitiu seguir as regras lógicas da

dedução – para defender a idéia de que as representações sociais dos estudantes de

Pedagogia sobre “alunos com deficiência” orientam suas atitudes com relação à inclusão

dos referidos alunos. Essa idéia apareceu como uma predição amparada em pressupostos da

própria teoria, que foi submetida à verificação no decorrer da pesquisa. A predominância

do método hipotético-dedutivo não implicou a ausência absoluta do método indutivo, pois

nessa investigação houve necessidade de repensar os caminhos delineados no itinerário da

pesquisa e fazer evoluir seu objeto de estudo. Portanto, a articulação desses métodos pode

ampliar as possibilidades de estudo numa pesquisa científica.

Métodos Empíricos

Os métodos empíricos permitem aos pesquisadores levantar os dados para realização das

pesquisas e verificar as hipóteses indicadas no problema. Nesta pesquisa, os métodos

empíricos foram responsáveis pela comprovação da idéia a defender, a partir da qual

afirmamos que as representações sociais dos estudantes de Pedagogia sobre “alunos com

deficiência” orientam suas atitudes com relação à inclusão dos referidos alunos. Os

métodos empíricos servem para

61

descubrir y acumular un conjunto de hechos y datos como base para verificar la hipótesis o dar respuesta a las preguntas científicas de la investigacion, pero que no son suficientes para profundizar en las relaciones esenciales que se dan en los processos pedagógicos (Mezquita e Rodríguez, 2001, p. 23).

A presente pesquisa utilizou os seguintes métodos empíricos:

- Entrevista semi-estruturada

A entrevista semi-estruturada se constituiu no instrumento mais apropriado para a coleta de

dados da presente pesquisa, porque ela permite focalizar as condições de produção do

discurso, não apenas, o conteúdo das respostas. Outro aspecto que reforçou essa escolha é,

porque se trata de um instrumento que permite uma compreensão do problema da presente

pesquisa, ou seja, permite uma identificação dos significados dos discurso e suas lógicas de

produção. Para aplicar a técnica da entrevista semi-estruturada o pesquisador precisa ter um

certo rigor metodológico, pois seu uso exige uma atenção permanente por parte do

entrevistador, no sentido de relacionar sempre as respostas dos entrevistados aos objetivos

da pesquisa. O entrevistador/pesquisador deve colocar-se intensamente na escuta do que é

dito, a fim de refletir sobre a forma e o conteúdo da fala do entrevistado, sobre os

encadeamentos, as indecisões, as contradições, as expressões e os gestos. A condução do

processo de entrevista semi-estruturada requer do pesquisador equilíbrio para manter, ao

mesmo tempo, uma relação de engajamento e distanciamento com o entrevistado, o que

evita deformar as informações. O pesquisador/entrevistador precisa estar sempre atento ao

ritmo da entrevista para buscar a coerência, controlar o periférico e eliminar o supérfluo na

fala do entrevistado, a fim de atender sempre aos objetivos da sua pesquisa. Foi elaborado

um roteiro de entrevista (Anexo C), com 50 questões relativas à temática investigada com o

intuito de conduzir o processo de entrevista. Esse roteiro foi testado com quatro estudantes,

matriculadas no último semestre do curso de Pedagogia da UEFS – Universidade Estadual

de Feira de Santana – no segundo semestre de 1999. No processo de testagem, o roteiro

sofreu algumas alterações, pois verificamos que alguns termos dificultavam a comunicação

com os entrevistados. Tal fenômeno já representava um indício sobre a necessidade de

62

fazer evoluir o objeto de estudo desta pesquisa. Entretanto, naquele momento, só atentamos

para a expressão aluno com NEE – Necessidades Educativas Especiais – que era utilizada

em todas as questões para se referir aos “alunos com deficiência”. A testagem revelou que

essa expressão era desconhecida para as estudantes de Pedagogia porque as entrevistadas

sempre solicitavam uma explicação conceitual. Como “toda generalização gera o

empobrecimento da compreensão” (Amaral, 1994, p. 29), resolvemos transgredir o uso da

expressão oficial de aluno com NEE para garantir uma melhor comunicação. A expressão

“aluno com deficiência” permitiu uma interlocução produtiva com os entrevistados, fator

imprescindível numa investigação que tem a produção de discurso como elemento de

análise. A expressão “aluno com deficiência” foi inspirada na terminologia “pessoa com

deficiência”18, usada por alguns autores, como Claúdia Werneck (1999), Geraldo Bueno

(1997 e 1999) e Ligia Assumpção do Amaral (1995 e 1997), entre outros, que foram

citados na construção do marco teórico do presente estudo. À medida que essa pesquisa

trata de aspectos relativos à prática educativa, o uso da expressão “aluno com deficiência”

torna-se mais adequado por permitir uma identificação imediata do seu significado. Juntar

os vocábulos “aluno” e “deficiência” é uma forma de trazer tais alunos para a prática

educativa. Inclusive, o uso dessa terminologia pode provocar concepções e atitudes sociais

enraizadas historicamente no tratamento dado às pessoas com deficiência. As reações

diante dessa terminologia constituem-se indícios que podem revelar diferentes

representações sociais sobre os referidos alunos. Outro aspecto apontado na testagem desse

roteiro foi a necessidade de reduzir a amostra. As questões da entrevista suscitavam uma

imensa produção de discursos, impossíveis de serem analisados no tempo previsto para

análise de dados, trabalhando-se com uma amostra de 30 informantes. Optamos por reduzir

a amostra para 17 informantes, número equivalente ao percentual de 10% da população

pesquisada. O roteiro de entrevista foi organizado em duas partes e as questões seguem

uma ordem de aprofundamento: na primeira parte ficaram as questões que tratam de

aspectos relativos à identificação do entrevistado e a sua escolha profissional pelo curso de

Pedagogia; na segunda parte, ficaram as questões relativas à prática educativa com relação

18 Essa expressão é utilizada para se referir a pessoa que “apresenta, em comparação com a maioria das pessoas, significativas diferenças físicas, sensoriais ou intelectuais, decorrentes de fatores inatos e/ou adquiridos, de caráter permanente e que acarretam dificuldades em sua interação com o meio físico e social” (PNEE, 1994, p. 22).

63

aos “alunos com deficiência”. As entrevistas foram realizadas entre os meses de junho e

agosto de 2001, após o encerramento do estágio em cada uma das universidades

pesquisadas. O estágio é acompanhado pela disciplina de estágio supervisionado,

considerada o passaporte na profissionalização do docente, porque confere a comprovação

da experiência na prática educativa institucionalizada. De modo geral, esse estágio acontece

de forma isolada no último semestre do curso de Pedagogia, conforme se verificou na

experiência das estudantes pesquisadas nessas três instituições universitárias. Por fim, cabe

ressaltar que o tempo de realização das entrevistas durou, em média, uma hora e trinta

minutos, confirmando a previsão feita na testagem do roteiro de entrevista.

- Análise de Conteúdo

A metodologia adotada na análise de dados da presente investigação teve como

procedimento básico o método de análise de conteúdo, baseado nos estudos de Bardin

(1977). A análise de conteúdo

é um conjunto de técnicas de análise das comunicações, visando obter, por procedimentos, sistemáticos e objetivos de descrição do conteúdo das mensagens, indicadores (qualitativos ou não) que permitam inferência de conhecimentos relativos às condições de produção/recepção (variáveis inferidas) destas mensagens (Bardin, 1977, p. 42).

Esse procedimento permite que se trabalhe com um corpus reduzido de material,

estabelecendo-se categorias nas quais é mais relevante a presença do que a freqüência de

um elemento. A validade da análise de conteúdo decorre, sobretudo, das deduções

específicas propiciadas a partir das inferências acerca do fenômeno estudado. A análise de

conteúdo empreendida neste estudo foi do tipo temática conforme descrição de Bardin

(1977). É temática porque o tema é considerado como a unidade de significado e guia de

leitura para conhecer as representações sociais que emergem do discurso das entrevistadas.

Por meio desse procedimento, buscamos analisar o processo de objetivação, que é um dos

responsáveis pela produção das representações sociais.

64

2. Análise de resultados

Se as coisas são inatingíveis...ora!

Não é motivo para não querê-las...

Que triste os caminhos, se não fora

A presença distante das estrelas!

M. Quintana, Antologia Poética

Inicialmente transcrevemos as entrevistas e submetemos estas a uma primeira

leitura para estabelecer o perfil das entrevistadas (fase de pré-análise). Em seguida

procedemos a leitura flutuante19 das entrevistas para obter uma impregnação de seu

conteúdo, com base no olhar temático, e registramos as primeiras pistas da análise de

conteúdo (fase de exploração do material). Em seguida, fizemos uma releitura do material e

estabelecemos os significados que as entrevistadas atribuíam aos “alunos com deficiência”.

Esses significados foram agrupados por ordem de semelhanças, categorizados e nomeados

de acordo com o discurso produzido pelas entrevistadas (fase de tratamento dos dados). Por

fim, elaboramos a descrição e a explicação do conteúdo das categorias encontradas, a partir

do processo de objetivação (fase de inferências), descrito por Moscovici (1978), em sua

pesquisa sobre Representação social da Psicanálise. Ressaltamos que as representações

sociais dos estudantes de Pedagogia sobre “alunos com deficiência” foram levantadas de

acordo com os procedimentos apresentados na obra de Bardin (1977) e sistematizadas

conforme nosso Guia de Análise de Conteúdo (anexo D).

Empreendemos uma nova análise sobre o material com o objetivo de identificar

atitudes sociais dos estudantes de Pedagogia com relação à inclusão de “alunos com

deficiência”. Nessa etapa, buscamos verificar se as representações sociais dos estudantes de

Pedagogia sobre “alunos com deficiência” orientam suas atitudes com relação à inclusão

desses alunos. Fizemos uma releitura das entrevistas de acordo com as representações

sociais levantadas na etapa anterior e identificamos as atitudes sociais produzidas em cada

19 Leitura flutuante é o cruzamento da leitura vertical; onde lê-se individualmente cada entrevista, com a leitura horizontal; onde lê-se o conjunto das entrevistas na ordem das questões do roteiro de entrevista

65

representação. Para encerrar, comprovamos a idéia a defender nesse presente estudo,

cruzando - as representações sociais sobre “alunos com deficiência” e as atitudes com

relação à inclusão dos referidos alunos - apresentadas pelas estudantes de Pedagogia nas

etapas anteriores.

2.1 - Descortinando as representações sociais dos estudantes de Pedagogia sobre

“alunos com deficiência”

Descortinar as representações sociais dos estudantes de Pedagogia sobre “alunos

com deficiência” implica, antes de tudo, reconhecer como a sociedade contemporânea tem

representado as pessoas com deficiência. Nesse sentido, cabe trazer os estudos de Goffman

(1988), para clarificar que a sociedade sempre estabelece os meios de categorização das

pessoas, conforme atributos considerados como comuns e naturais para os membros de

cada uma das categorias socialmente construídas. A partir dessa categorização, são

produzidas as “preconcepções” sociais que, posteriormente, serão transformadas em

“expectativas normativas” (Goffmann, 1988). As pessoas com deficiência pertencem a uma

categoria de sujeitos que fogem às “expectativas normativas”, porque não atendem aos

atributos de beleza, perfeição, funcionalidade, força e eficiência cultuados nas sociedades

ocidentais. Ao pesquisar as formas de representações da deficiência no universo mais

amplo da cultura ocidental, Amaral constatou que:

O outro, o deficiente, o diferente, representa muitas e muitas coisas. Representa a consciência da própria imperfeição daquele que se vê, espelha suas limitações, suas castrações. Representa também o sobrevivente, aquele que passou pela catástrofe e a ela sobreviveu, com isso acenando com a catástrofe em potencial, virtualmente suspensa sobre a vida do outro. Representa também uma ferida narcísica em cada pai, em cada profissional, em cada comunidade. Representa um não camuflável, não escamoteável – explícito – em cada dinâmica de interrelações. (Amaral, 1994, p. 30)

Por estarem inseridos nessa sociedade, os estudantes de Pedagogia partilham das

“preconcepções” – enraizadas historicamente – que determinam padrões de normalidade,

conforme os atributos estabelecidos socialmente. Para compreender a origem das

66

representações sociais apresentadas pelas estudantes sobre “alunos com deficiência”, fez-se

necessário recorrer ao estudo sobre estigma. Uma vez que os “alunos com deficiência”

apresentam atributos divergentes daqueles exigidos pela sociedade, as representações

sociais das estudantes sobre os referidos alunos podem se constituir em estigmas. Segundo

Goffman (1988), o estigma ocorre porque a sociedade impõe aos seus membros uma

“identidade social virtual”, para modelar a “identidade social real” dos indivíduos e/ou

grupos sociais. Quando existe alguma discrepância entre essas duas categorias de

identidades, aparece o estigma, como “atributo profundamente depreciativo” (Goffman,

1988, p. 13). Os “alunos com deficiência” podem ser estigmatizados porque seus atributos

não são aceitos socialmente, ou seja, ocorre uma incongruência entre a “identidade social

real” e a “identidade social virtual” desses alunos.

Em geral, as instituições de ensino reproduzem o comportamento da sociedade com

relação aos indivíduos estigmatizados. Há uma tendência dessa situação ocorrer no

processo de formação inicial docente e se perpetuar em diferentes aspectos da prática

educativa. A transgressão da reprodução da ordem social ameaça as estruturas de poder, nas

quais as próprias instituições de ensino se encontram inseridas. O curso de Pedagogia

constitui-se num espaço potencialmente favorável à produção de representações sociais

sobre “alunos com deficiência”, embora o contexto de formação universitária seja

dialeticamente um espaço destinado a construção e/ou reconstrução de conhecimentos.

Contudo, à medida que as representações sociais das estudantes de Pedagogia sobre

“alunos com deficiência” são desalojadas, a questão do estigma pode ser denunciada e

enfrentada no próprio processo de formação docente. Esta pesquisa oferece pistas para se

pensar sobre o impacto das representações sociais nas atitudes dos futuros docentes.

Esperamos que os dados permitam uma reflexão crítica sobre essa realidade. Na análise de

conteúdo do discurso das estudantes sobre os referidos alunos, verificamos muitas

semelhanças com as categorias apresentadas por Amaral, em sua pesquisa sobre

representações sociais da deficiência, no contexto mais amplo da cultura ocidental. A

autora aponta que as pessoas com deficiência são representadas segundo os moldes pré-

estabelecidos de “normalização, heroicidade ou vitimização” (Amaral, 1994, p. 45). Apesar

das semelhanças, o presente estudo optou por nomear as representações sociais, conforme

aparecem no discurso das entrevistadas: As estudantes de Pedagogia representaram os

67

“alunos com deficiência” como: aluno carente, aluno super-herói, aluno comum e aluno

com necessidades e potencialidades. Cabe ressaltar que essas expressões aparecem de

forma textual no discurso das entrevistadas. Segue a descrição e a caracterização de cada

uma das representações sociais sobre “alunos com deficiência” apresentadas pelos

estudantes de Pedagogia, conforme a freqüência indicada na tabela abaixo:

REPRESENTAÇÕES SOCIAIS SOBRE “ALUNOS COM DEFICIÊNCIA”

Aluno carente Aluno super-herói Aluno comum Aluno com potencialidades e necessidades

4 3 8 2

- Aluno carente

A representação social de aluno carente aparece de forma declarada na fala de

algumas das estudantes. Essa fala evidencia que existe uma falta, uma privação, uma

necessidade no “aluno com deficiência” que o faz carente. Essa carência desloca o “aluno

com deficiência” do padrão de normalidade humana. De acordo com Goffman (1988), a

normalidade humana é imprimida por determinados atributos que padronizam um ideal de

perfeição. Nesse ideal aparece a figura do homem perfeito, vidente, ouvinte, falante,

inteligente, heterossexual, branco, rico, etc. Como a deficiência foge ao ideal esperado de

simétrico, de belo, de eficiente, de perfeito, etc., ela ameaça, desorganiza e provoca uma

hegemonia emocional nos sujeitos e/ou grupos considerados “normais”. Assim, a

representação social de “aluno com deficiência” como carente evidencia sentimentos de

pena, repulsa e medo, conforme denuncia o discurso dessas entrevistadas:

Não é querendo ser pessimista, eu acho assim positivo pessoas (com deficiência), que tão conseguindo ser independente, mas é eu acho que é muito difícil pra pessoa. Se eu puder, eu não quero ter relação com essas pessoas porque me passa um sentimento de angustia... (Aluna M, UFBA – grifos nossos)

...uma vez, me disseram que a professora estava com um projeto de botar alunos com deficiência, com debilidade, né, pra estudar na sala, né, dos alunos normais. E de certa forma, você sabe que esses alunos às vezes eles tem uma certa agressividade, meu temor seria no tocante a isso... (Aluna C.C, UCSAL – grifos nossos)

68

A representação social de aluno carente desloca o “aluno com deficiência” para

uma posição de rebaixamento. Esse aluno passa a ser categorizado como um ser

incompleto, um ser que está em falta e, por isso, é representado como carente. Nessa

representação, o “aluno com deficiência” é visto com alguém que sempre apresenta uma

falta, é incompleto, impotente e encontra-se aquém do humano. No discurso da

entrevistada, é possível objetivar o significado que o vocábulo “carente” assume nessa

representação :

Quando eu digo assim: aquele menino é deficiente, é que aquele menino está carente de alguma coisa, é um deficiente físico, que tá faltando uma perna ou um braço, as vezes um olho, uma audição... (Aluna M, UCSAL – grifos nossos).

Os argumentos utilizados para vitimar os “alunos com deficiência” e representá-los

como carentes, aparecem amparados por concepções filosóficas, bíblicas e religiosas que

marcaram diferentes contextos históricos. No discurso das estudantes de Pedagogia é

possível identificar essas concepções. Elas aparecem na figura do sofredor, do prisioneiro,

do coitadinho, do bichinho, conforme apresentava os religiosos da Idade Média que

amparavam pessoas com deficiência em suas instituições de caridade. É interessante

observar como essas concepções aparecem, sutilmente, no discurso das estudantes, no

contexto de implementação da proposta de Educação Inclusiva:

Lá na faculdade a gente tinha um colega que é deficiente visual (...), eu notava, o meu colega, eu notava que os professores não ligavam para o rapaz, ele lá sentado coitado, ele participava, ele perguntava para caramba, sabe? (...) Os professores cortavam o menino falando, ele nem completava o raciocínio, sei lá, e a gente ficava: Meu Deus do céu, o bichinho não tem direito a falar e o professor mostrava mesmo impaciência, sabe? (Aluna M, UCSAL – grifos nossos)

Cabe ressaltar que as estudantes de Pedagogia, que expressam a representação social de

aluno carente, geralmente, colocam-se na posição de alunas e não de educadoras, que

69

assumem e/ou devem assumir a prática educativa, no contexto de implementação da

proposta de Educação Inclusiva no Brasil.

- Aluno super-herói

Em oposição à representação social de aluno carente, aparece a representação de

aluno super-herói. Aparentemente essa representação social é o inverso da representação

do aluno carente, porque o super-herói é visto como aquele que tudo pode. Contudo, essas

duas representações sociais são semelhantes porque ambas afastam o “aluno com

deficiência” da possibilidade de ser reconhecido como pessoa. Ambas retiram do sujeito a

sua verdadeira humanidade, ou seja, a possibilidade de ser aceito simplesmente como uma

criatura humana, que tem limites e potencialidades. Enquanto o carente é considerado

impotente porque se encontra aquém das “expectativas da normalidade” (Goffman, 1988),

o super-herói é considerado onipotente porque encontra-se muito além das expectativas

humanas. Na realidade, a diferença que separa essas duas representações é que uma

focaliza apenas a falta e a outra exige sempre o excesso, o que encontra-se acima dos

limites humanos do “aluno com deficiência”.

A representação social de aluno super-herói implica deslocar o “aluno com

deficiência” de sua condição humana e colocá-lo numa posição de mito, de semideus, de

pessoa incomum, um descendente da divindade que não faz parte da humanidade. O super-

herói representa a superioridade desprovida de inteligência e dirigida apenas por forças

espirituais. O “aluno com deficiência” é representado como super-herói porque passa a ser

visto como aquele que transcende sua condição humana através de uma força sobrenatural

que lhe é atribuída de forma inexplicável.

Teve um indivíduo lá no CAP (Centro de Apoio Pedagógico), né, que ele tinha deficiência visual e o que é que ele fez? Ele reconhecia as pessoas pelo toque, eu achei isso fantástico, porque ele encontrou uma professora, isso eu estava presente e observei, que ele abraçou essa pessoa e ele disse: você deve ter perdido os 2 quilos, fulana! Eu achei aquilo fantástico... (Aluna P, UNEB – grifos nossos)

70

É como se o “aluno com deficiência” fosse dotado de um poder sobrenatural e não

tivesse que fazer um esforço individual para desenvolver suas funções psíquicas superiores,

a fim de compensar e/ou transformar suas limitações. A representação social de super-herói

exige muito do “aluno com deficiência”. Para ser “reconhecido” e “valorizado” socialmente

ele terá que atender às expectativas de um “olhar” de superioridade que o “outro” lhe

imprimiu. Nesse “olhar”, o desempenho do “aluno com deficiência” é considerado como

algo externo a ele, uma concessão “divina” como recompensa porque, como super-herói, o

referido aluno suporta exemplarmente um destino incomum, como, por exemplo, um

extremo infortúnio ou sofrimento provocado pela própria deficiência. Esse discurso retrata

como a representação social de aluno super-herói está presente na prática educativa:

No meu estágio na escola pública eu também tive contato com alunos cegos, de outras classes diferente daqui eu estagiei. Eu achava essas alunas umas heroínas. (Aluna C, UFBA – grifos nossos)

Representar o “aluno com deficiência”, como super-herói, significa ocultar suas

fragilidades humanas, enquanto pessoa, gente. O “aluno com deficiência” precisa se

esforçar muito para assumir o papel de super-herói, porque esse papel implica em negar

e/ou camuflar seus limites humanos, inclusive os limites provocados pela própria

deficiência. A representação social de aluno super-herói retira a identidade histórica da

deficiência e mascara a realidade desses alunos com uma superioridade que não é comum à

visão estereotipada que lhe foi conferida socialmente. Portanto, tal representação exige que

o “aluno com deficiência” supere todos os limites e obstáculos gerados pela sua condição

humana de pessoa com deficiência. À medida que os obstáculos sociais tornam-se imensos,

só sendo super-herói para poder ultrapassá-los.

Eu tive um contato com um colega meu de faculdade, ele é deficiente visual, né, e eu me admirei com a capacidade dele de... de... entender as coisas de aprendizagem. Ele é super-esforçado, super-estudioso, e (...) como a deficiência às vezes não atrapalha a questão da capacidade quando a pessoa tem força de vontade. Então esse colega meu, ele é assim: super-inteligente, super-dedicado, tem um conhecimento bastante profundo das coisas e isso daí me surpreendeu bastante. (Aluna MG, UCSAL – grifos nossos)

71

Contudo, essa heroicidade requer que o “aluno com deficiência” esteja sempre na

frente, rompendo com sua condição de pessoa com deficiência e se transformando em mito.

Mas a posição de mito faz com que o “aluno com deficiência” continue segregado do

convívio social, pois o mito fica sempre distante da realidade para ser idolatrado. Quando o

mito se aproxima da realidade é porque ele deixou de ser mito e aí, geralmente, o mito

passa a ser marginalizado.

- Aluno comum

Em contraposição a essas duas representações sociais aparentemente antagônicas

sobre “alunos com deficiência”, aparece a representação de aluno comum. Cabe ressaltar

que essa representação foi a que mais se sobressaiu no material analisado. Tal

representação busca traduzir a expressão “normificação”, usada por Goffman (1988), para

explicar o esforço do indivíduo estigmatizado, em apresentar-se como uma pessoa comum.

Esse esforço leva o indivíduo a negar sua diferença. A representação social de aluno

comum aparece quando esse fenômeno explicado por Goffman (1988) ocorre no discurso

das entrevistadas, ou seja, quando as estudantes de Pedagogia se esforçam em apresentar os

“alunos com deficiência” como uma “pessoa comum” e negam a deficiência. Essa

representação é tão dissimulada que não foi identificada de forma imediata, inicialmente

consideramos como uma representação inovadora. O debruçar-se nas entrelinhas do

discurso das entrevistadas, sob a ótica de Goffman (1988), fez com que a representação

social de aluno comum fosse descortinada. Sempre que ocorre a neutralização das

diferenças que marcam a identidade do “aluno com deficiência” surge a representação

social de aluno comum. Tal representação social implica numa exigência de adequação do

“aluno com deficiência” a padrões de normalidade estabelecidos socialmente. Nessa

representação, a aparência, a aprendizagem e o desempenho do “aluno com deficiência”

devem aproximá-lo ao máximo do esteticamente usual e do pedagogicamente tradicional.

Quando o “aluno com deficiência” é representado como aluno comum, sua deficiência é

negada.

72

Eu não acho que existe aluno com deficiência, eu acho que existem alunos diferentes, como existem pessoas diferentes, como existem pessoas diferentes, né? Normal, mas, assim, eu acho essa palavra muito pesada, não faz parte do meu cotidiano, não gosto de usar, entendeu, nem por brincadeira, eu acho que essa palavra traumatiza porque separa... Pra mim, não existe deficiência, pra mim a gente tem que saber lidar com as diferenças. A questão da dificuldade de aprendizagem, eu acho a dificuldade de aprendizagem, ela tá pra todos, tá pra mim, tá pra você, tá pra todos, né? Eu acho que a questão da dificuldade de aprendizagem acontece só quando você não é... como é que eu posso dizer, é quando você ainda não absorveu aquele conhecimento, que na medida que você absorve a dificuldade acaba, entendeu? (Aluna P, UCSAL – grifos nossos)

A negação da deficiência aparece camuflada pelo discurso moderno de respeito à

diversidade. Considerar o “aluno com deficiência” como uma pessoa diferente é uma coisa,

negar que essa diferença é uma deficiência é outra coisa completamente diferente. Porque a

deficiência existe e interfere na forma de ser, de aprender e fazer dos sujeitos. Então, não dá

para colocar a deficiência no mesmo lugar das dificuldades de aprendizagem. Mesmo

porque a deficiência nem sempre implica uma dificuldade de aprendizagem, embora

implique sempre numa “necessidade educativa especial” do sujeito.

As entrevistadas, em muitas situações, utilizam a estratégia do

“encobrimento”(Goffman, 1988), para mascarar a realidade dos “aluno com deficiência”.

Nessa estratégia, as “pessoas íntimas” do indivíduo estigmatizado podem “servir como um

círculo protetor que lhe permite pensar que é mais amplamente aceito como pessoa normal

do que ocorre na realidade” (Goffman, 1988, p. 109). Tal estratégia expressa uma posição

de ambigüidade porque as estudantes de Pedagogia procuram se aproximar dos “alunos

com deficiência” por meio do discurso da “valorização das diferenças” e dialeticamente

negam a existência da deficiência porque anulam a identidade e transformam os referidos

alunos num aluno comum:

Por um lado eu acho interessante eles (“os alunos com deficiência”), serem encarados assim como pessoas normais como são, mas por outro lado, eu fico preocupado com o fato deles estarem numa classe dos ditos normais, onde as necessidades especiais desses alunos não fossem consideradas e eles ficassem isolados e colocados a parte da turma, isso seria péssimo, né?... Na realidade, eu acho que esse aluno deve ser encarado sempre como um aluno comum (Aluna G, UNEB – grifos nossos)

73

Essa ambigüidade é fruto do processo de simulação comum na sociedade

contemporânea. O discurso das entrevistadas pode levar os “alunos com deficiência” a

pensar que eles são amplamente aceitos como uma “pessoa comum”. Tal discurso pode

mascarar uma realidade sociocultural que segrega e marginaliza os referidos alunos. A

representação de aluno comum nega essa realidade sociocultural, manipulando a identidade

do “aluno com deficiência” para fazer de conta que a deficiência não existe. Nessa

representação, as diferenças provocadas pela deficiência são neutralizadas ao máximo: a

aparência, a aprendizagem e o desempenho do “aluno com deficiência” deve aproximar-se

ao máximo dos “parâmetros de normalidade” (Amaral, 1994) impostos pela sociedade.

Acrescenta-se a isso o fato desses parâmetros serem sempre mais rígidos e estáticos com

relação à pessoa com deficiência do que seriam de forma geral. Portanto, a representação

social de aluno comum pressupõe uma falsa aceitação do “aluno com deficiência”, revelada

nas entrelinhas de um discurso moderno de respeito às diferenças. Entretanto, por trás desse

discurso se esconde a negação do “aluno com deficiência” em sua mais alta subjetividade:

Como eu falei todo aluno apresenta a gente uma deficiência, não precisa ser uma síndrome de down ou uma encefalia, tem crianças tímidas, tem crianças extrovertidas e mais tem crianças que tem hiperatividade... Todo mundo tem uma deficiência, eu acho que é difícil pegar uma sala homogênea, todo mundo tem sua especificidade Então o aluno com deficiência é simplesmente um aluno comum, uma pessoa, né? ( (Aluna C, UFBA – grifos nossos)

Nesse discurso de que “todo mundo tem uma deficiência”, encontra-se uma negação

da subjetividade da pessoa com deficiência em sua escala mais alta, porque mascara uma

identidade falsa com relação ao “aluno com deficiência”. Comparar a deficiência com a

timidez é uma forma de minimizar e/ou simular as necessidades educativas especiais desses

alunos. A representação social de aluno comum dita as normas e o preço que os “alunos

com deficiência” têm que pagar para serem aceitos socialmente e, ao mesmo tempo,

favorece a omissão dos governos no atendimento às necessidades educativas especiais dos

referidos alunos.

74

- Aluno com necessidades e potencialidades

A representação social do aluno com necessidades e potencialidades é a que menos

se sobressaiu na análise de dados. Nessa representação, os discurso das entrevistadas

assumem a deficiência como uma diferença característica dos “alunos com deficiência” que

implica, geralmente, numa limitação física, sensorial e/ou cognitiva. Entretanto, essas

estudantes procuram ressaltar que as limitações provocadas pela deficiência não impedem o

desenvolvimento do potencial educativo dos “alunos com deficiência”. O discurso das

entrevistadas, que apresentam essa representação, demonstra uma certa indignação com

relação ao tratamento dado aos “alunos com deficiência” pela sociedade. Nesse sentido, a

representação social de aluno com necessidade e potencialidade destoa das demais

representações identificadas na presente investigação. As estudantes de Pedagogia que

apresentam tal representação falam de uma posição muito próxima dos “alunos com

deficiência”, pois convivem com pessoas com deficiência na família de forma muita

próxima: uma é mãe e a outra é irmã. Essa experiência de contato familiar - muito próximo

- interfere de forma significativa na produção dos discursos das entrevistadas, pois ambas

assumem uma posição muito clara com relação à deficiência:

Pra mim eu acho que é uma deficiência é muito complicada porque isso pode acarretar em problemas para o aluno. Você pode tratar desses problemas, mas é muito complicado porque cada aluno tem um problema complemente diferente do outro. Cada um demonstra a você de uma forma completamente diferente, entendeu? Mas, isso não significa que esse aluno não tenha capacidade para aprender. (Aluna M, UNEB - grifos nossos) Pelo o que eu vivi, pelo o que eu já li e pelo que eu conheço um pouco, penso que para atuar com um aluno que tenha uma deficiência é preciso, antes de tudo, saber diagnosticar. Para diagnosticar é preciso ter um conhecimento sobre a deficiência. Eu penso que as potencialidades e necessidades desses alunos precisam ser bem compreendidas pelos professores. (Aluna T, UNEB - grifos nossos)

Essas entrevistadas se colocam no discurso de forma veemente, fato marcado pela repetição

do pronome na primeira pessoa do singular. As estudantes que apresentam a representação

75

social de aluno com necessidade e potencialidade encaram a deficiência de frente, sem

subterfúgios: reconhece as limitações e as possibilidades dos “alunos com deficiência”. O

discurso permanece na primeira pessoa, mesmo quando uma das entrevistadas se coloca na

posição de educadora e assume que:

Nós que trabalhamos com esse aluno, percebemos que ele tem necessidade e tem potencialidade. Ele tem a capacidade, agora...às vezes o que falta é a nossa capacidade para despertar esse potencial. Eu acho que a gente precisa enfrentar nossa deficiência educativa enquanto professores. (Aluna M, UNEB - grifos nossos)

Ao representar os “alunos com deficiência” como aluno com necessidade e

potencialidade, as entrevistadas reconhecem os limites e as possibilidades desse aluno, sem

colocá-lo acima ou abaixo de padrões sociais determinados. Essa representação implica

uma aceitação da identidade desse aluno, independentemente da sua deficiência e/ou

diferença.

Eu acho assim, aquela criança que...a criança, o adulto, a pessoa, seja lá quem for, a pessoa chamada de deficiente, é porque ela não segue as regras né, da normalidade social. No caso, né, o que socialmente se acredita que seja o normal. Não é? E quem garante o que é normal? (...) Pra mim ela é deficiente, no sentido que ela tem algumas limitações diante das pessoas ditas normais. Mas porém, elas tem outras habilidades que as ditas normais não tem tanta competência quanto elas. (Aluna T, UNEB - grifos nossos)

O material analisado indica que a representação social dos “alunos com deficiência”

como aluno com necessidade e potencialidade não é comum no discurso das estudantes de

Pedagogia. As entrevistadas que apresentaram tal representação social não reagiram de

forma negativa ao ouvirem a expressão “alunos com deficiência”. Em contrapartida, as

demais entrevistadas que revelaram outras representações - identificadas nessa investigação

– criticaram o uso da referida expressão: “aluno com deficiência, eu acho essa expressão

feia, ela acaba completamente com as perspectivas de crescimento daquele aluno, ela

traumatiza. Por que você não usa aluno especial ou aluno excepcional?” (Aluna P, UNEB)

76

Enfim, as representações sociais das estudantes de Pedagogia sobre “alunos com

deficiência” são um reflexo do caldeirão psicossocial em que as entrevistadas encontram-se

inseridas: histórico, social e culturalmente. O conhecimento dessas representações

permitiram desnudar olhares inconscientes e/ou inconfessos das estudantes de Pedagogia

com relação aos “alunos com deficiência”. É importante deixa fluir esses olhares, mesmo

que revelem preconceitos e estereótipos enraizados socialmente sobre “alunos com

deficiência”. Existem também os olhares que encaram de frente o problema da deficiência e

rompem com preconceitos e estereótipos. Esperamos que o descortinar dessas

representações desperte uma reflexão na qual os “alunos com deficiência” sejam olhados e

possam olhar para si mesmos, de forma menos maniqueísta: nem pior, nem melhor, nem

mais ou menos. É preciso coragem de olhar de frente a deficiência para conviver com a

des-semelhança sem cobranças de adequação a moldes preestabelecidos, sejam

“normatização, heroicidade ou vitimação” (Amaral, 1994). Na realidades, os olhares se

diferenciam pela transparência nas relações estabelecidas por meio do respeito à

diversidade, pois diferenças sociais valorativas podem determinar o lugar social dos

“alunos com deficiência” de maneira muito mais forte do que diferenças físicas, mentais ou

sensoriais.

2.2 - Desnudando atitudes dos estudantes de Pedagogia com relação à inclusão de

“alunos com deficiência”

Há uma tendência nos indivíduos e/ou grupos sociais em responder, de forma

positiva, negativa ou indiferente, conforme normas de proceder ou pontos de vista

construídos socialmente no decorrer da história. Essa tendência de agir de maneira coerente

com referência a certos objetos, pessoas ou situações determina uma atitude social.

Portanto, tomar uma atitude significa – antes de tudo – decidir-se por um parecer e agir de

acordo com ele. Para Moscovici, uma atitude expressa um posicionamento, uma orientação

positiva ou negativa em relação ao objeto representado. Nesse sentido, pode-se afirmar que

77

uma atitude é considerada unicamente do lado da resposta enquanto “uma preparação para ação”, comportamento em miniatura. Por esta razão, nós lhe atribuímos uma virtude preditiva, uma vez que, segundo o que um indivíduo diz, pode-se deduzir o que ele vai fazer. (Moscovici, 1978, p. 46 – grifos nossos)

As representações sociais sobre “alunos com deficiência” – de aluno carente,

aluno super-herói, aluno comum e aluno com necessidades e potencialidades –

apresentadas na primeira etapa da análise indicaram caminhos, para identificar atitudes nas

estudantes de Pedagogia, com relação à inclusão dos referidos alunos. Para conhecer essas

atitudes, fez-se necessário reorganizar as entrevistas e efetuar uma nova análise no material,

de acordo com as representações sociais descortinadas nesta pesquisa. Essa análise teve

como objetivo identificar, no discurso das entrevistadas, suas atitudes com relação à

proposta de inclusão. Foram desnudadas três atitudes: Aceitação, Negação e Indiferença.

Uma análise mais detalhada do material demonstrou que alguns discursos expressavam

posições de ambigüidade. Contudo, a análise exaustiva desses discursos confirmou os

resultados apresentados na tabela abaixo:

ATITUDES C/ RELAÇÃO À INCLUSÃO DE “ALUNOS COM DEFICIÊNCIA”

NEGAÇÃO ACEITAÇÃO INDIFERENÇA

4 5 8

- Atitude de Negação

A atitude de Negação apresentada pelas estudantes de Pedagogia com relação à

inclusão de “alunos com deficiência” é resultado da descrença no potencial educativo dos

referidos alunos. Essa atitude é proveniente das concepções construídas socialmente no

tratamento dado às pessoas com deficiência, em que verificamos a predominância de

“atitudes de marginalização e segregação” (Mazzota, 1993) dessas pessoas na trajetória

histórica das sociedades ocidentais. Portanto, as entrevistadas que apresentaram a atitude de

Negação desacreditam no potencial dos “alunos com deficiência” e defendem a segregação

desses alunos como o melhor caminho para favorecer sua “aprendizagem”. Trata-se de uma

78

atitude que revela a existência de barreiras – por parte das entrevistadas – em aceitar os

“alunos com deficiência” em sua prática educativa. Tais barreiras podem ser traduzidas

pela falta de preparação profissional, carência de informações e/ou inaptidão pedagógica

das futuras pedagogas para atuar numa prática educativa inclusiva. Os discursos das

informantes revelam a rejeição das estudantes de Pedagogia em acolher os “alunos com

deficiência” na escola regular e traduzem uma atitude de Negação com relação à proposta

de inclusão:

Não é questão que seja discriminação, não é isso, é que ele (aluno com deficiência) não vai conseguir se adaptar dentro daquela classe, (...) então ele não vai ter que ter aquele domínio. Mesmo assim tem menino que é apagado, é....fechado no mundo dele, então tem que estar de junto das pessoas que são também deficientes e estar com um profissional que também domine essa área de deficiência.(...) São pessoas que tem é... uma regressão de ensino, de aprendizado entendeu, ela pega com dificuldade, leva vários meses pra pegar uma coisa, entendeu? São pessoas... lá na escola já teve, na escola da minha mãe já teve uma. A gente pegou e chamou os pais da criança e disse que aquela criança não poderia estar no meio de pessoas normais entendeu? (...) Mainha pegou, chamou, conversou e ainda deu o nome do lugar pra ela procurar, de uma entidade pra levar a criança... (Aluna D, UCSAL – grifos nossos)

Meu Deus, eu ia ficar doida (risos), eu ia me preocupar bastante viu, não sei. (...) eu nem sei se ia assumir essa sala (risos), eu ia ter medo porque eu não sou, não sei como é, eu desconheço, assim ia pedir, que colocasse outra professora... (Aluna S, UCSAL - grifos nossos)

- Atitude de Aceitação

A atitude de Aceitação, apresentada pelas estudantes de Pedagogia, com relação à

inclusão de “alunos com deficiência”, é resultado de uma concepção otimista sobre o

potencial educativo desses alunos. As entrevistadas que apresentaram essa atitude

acreditam nesse potencial e defendem a interação de “alunos com deficiência” nas escolas

regulares. Tal atitude indica uma postura de acolhimento nas estudantes de Pedagogia, pois

elas aprovam a presença de “alunos com deficiência” em sua prática educativa. Em geral,

as entrevistadas que evidenciam uma atitude de Aceitação com relação à inclusão revelam

uma certa abertura para aceitar, acolher, dar crédito, aplaudir e aprovar o potencial

79

educativo desses alunos. Porém, na presente pesquisa essa atitude aparece de duas formas

no discurso das entrevistadas.

Na primeira forma, trata-se de uma Aceitação passiva, que confia cegamente na

capacidade de auto-superação dos “alunos com deficiência”, independentemente das

condições socioculturais desses alunos. Essa atitude considera a proposta de inclusão

“ótima”, a despeito das condições oferecidas pelo sistema educacional vigente, pois

deposita, exclusivamente, nos “alunos com deficiência” a responsabilidade pelo seu

desenvolvimento educacional. As necessidades educativas especiais dos referidos alunos

são ocultadas com argumentos que desconsideram a realidade educacional brasileira:

A inclusão hoje é uma ótima opção, os alunos especiais podem acompanhar tranqüilamente a escola. A inclusão é uma realidade tão... tão forte, eu como pedagoga só posso dizer que tá mais do que justo, que tá certo. Eu acho que uma pessoa com deficiência numa sala, só vai enriquecer o desempenho daquela turma. (Aluna G, UNEB – grifos nossos)

...porque eu acho que tem incluir mesmo entendeu, assim.. eu acho que a escola... a escola tá muito melhor, a escola cresceu muito, sabe? Eu acho que a situação evoluiu muito e eu acho que tem que tá mesmo incluindo, tem que tá sim. (Aluna M, UFBA – grifos nossos)

A segunda forma de Aceitação dos “alunos com deficiência”, que aparece no

discurso das entrevistadas, indica uma certa indignação com relação às condições

apresentadas pelo sistema educacional brasileiro, para atender às necessidades educativas

dos referidos alunos. Nessa atitude, as entrevistadas valorizam as potencialidades dos

“alunos com deficiência”, mas reconhecem também suas necessidades educativas e cobram

uma posição dos governos no atendimento dessas necessidades. Os discursos revelam uma

aceitação da proposta de inclusão, mas tal atitude vem acompanhada pela indignação. As

entrevistadas enfatizam a omissão do sistema educacional brasileiro, que não garante as

devidas condições para o desenvolvimento de uma prática educativa coerente com os

princípios da proposta de inclusão. Pode-se observar nesses discursos que a atitude de

aceitação está associada à valorização das potencialidades e à defesa do respeito às

necessidades educativas especiais dos “alunos com deficiência”.

80

O convívio com outros alunos eu acho que seria o ideal, agora desde quando se oferecesse condições próprias pra isso, porque você jogar a criança portadora de cuidados especiais numa sala sem oferecer condições eu acho muito complicado. Porque eu fui numa escola da prefeitura de Salvador que tinha 6 crianças portadoras de deficiência, de cuidados especiais, com problemas totalmente diferentes, gravíssimos, dentro de uma sala de crianças normais. Essa inclusão aí não funciona, sinceramente, na minha visão não funciona... (Aluna M,

UNEB – grifos nossos)

- Atitude de Indiferença

A atitude de Indiferença foi a que mais se sobressaiu nessa análise. Contudo, essa atitude

deu muito trabalho para ser detectada, pois apareceu de forma dissimulada nos discursos

das entrevistadas. Tanto que, inicialmente, ela foi denominada como uma atitude de

Indefinição. Havia uma ambigüidade nos discursos das informantes que confundiu o

processo de análise. Chegamos a analisar separadamente as atitudes de Aceitação e

Negação – com relação à inclusão de “alunos com deficiência” em si – e a proposta de

inclusão desses alunos no Brasil, até descobrirmos que se tratava de uma atitude de

Indiferença. Para identificar essa atitude, uma outra análise aprofundada foi empreendida

sobre a representação social que mais se sobressaiu - aluno comum -, para buscar, nas

entrelinhas desses discursos, elementos que desnudassem as normas de proceder e de agir

das estudantes com relação à inclusão de “alunos com deficiência”. A atitude de

Indiferença apareceu por meio das posturas de indefinição das estudantes que

evidenciavam, nas entrelinhas do discurso, uma posição de desinteresse e negação da

deficiência. Uma vez que a indiferença é uma qualidade atribuída a quem não se define,

não apresenta motivos de preferência e/ou se desinteressa pelo outro. O outro, nesse

contexto da pesquisa, refere-se aos “alunos com deficiência”, que foram indefinidos e/ou

ignorados de forma dissimulada no discurso dessas estudantes. A atitude de Indiferença

pode ser identificada nos discursos das informantes que defendem o respeito à diversidade

e, contraditoriamente, negam a deficiência, como se esta não fizesse parte da diversidade

humana. Observa-se uma posição de descompromisso com relação à inclusão de “alunos

com deficiência”, nas entrelinhas do discurso abaixo:

Eu não vejo a Educação inclusiva como uma educação voltada para atender à deficiência, vejo como uma educação para atender a todas as diferenças, né? Todos nós somos pessoas

81

diferentes, né? E como pessoas diferentes, cabem em qualquer lugar, cabe a mim, cabe a você, cabe em qualquer relação grupal social, né? Então, quando a gente fala essa palavra diferente, eu já estou abordando que não é uma pessoa... ele não é uma pessoa deficiente, é uma pessoa que ele pode... como é que eu posso dizer assim.... não é uma pessoa deficiente, e sim, uma diferente. Como outros alunos. Então essas pessoas diferentes devem ser tratadas dessa forma e não como deficientes, entendeu? Eu entendo que inclusão é isso, mas não sei assim falar sobre inclusão porque não trabalho com isso. (Aluna P, UCSAL - grifos nossos)

A análise de conteúdo desse discurso revela que a deficiência não cabe dentro da

“diversidade” apresentada pela entrevistada. Trata-se de um discurso que procura simular a

proposta de Educação Inclusiva, por meio da imposição de uma prática educativa, que

promove a exclusão da deficiência. À medida que a deficiência é negada, nega-se também a

identidade do “aluno com deficiência”. O discurso de valorização das diferenças, que não

admite a presença da deficiência, constitui-se num discurso politicamente perigoso. Atrás

de uma pseudo-aceitação das diferenças, pode-se esconder concepções e atitudes sociais de

marginalização e segregação da deficiência. Enfim, essa atitude de Indiferença reflete uma

postura de desatenção, desinteresse, apatia e negligência das estudantes de Pedagogia com

relação à inclusão de “alunos com deficiência”.

2.3 - Cruzando representações sociais com atitudes

O cruzamento das representações sociais das estudantes de Pedagogia sobre “alunos

com deficiência” com as atitudes com relação à inclusão desses alunos comprovou a idéia

defendida na presente pesquisa: as representações sociais dos estudantes de Pedagogia

sobre “alunos com deficiência” orientam suas atitudes com relação à inclusão desses

alunos. O resultado dessa análise pode ser visualizado no quadro abaixo:

82

CRUZAMENTO ENTRE REPRESENTAÇÕES SOCIAIS E ATITUDES

Atitudes dos estudantes de Pedagogia com relação à inclusão de “alunos com deficiência”

Representações sociais dos estudantes de Pedagogia so-bre “alunos com deficiência”

Aceitação Negação Indiferença

Aluno carente - 04 -

Aluno super-herói 03 - -

Aluno comum - - 08

Aluno com necessidades e potencialidades

02 - -

TOTAL 05 04 08

Na análise do quadro, verifica-se que existe uma coerência entre as representações

sociais sobre “alunos com deficiência” e as atitudes com relação à inclusão desses alunos,

ou seja, para cada representação corresponde uma determinada atitude.

O grupo de estudantes de Pedagogia que representou os “alunos com deficiência”

como aluno carente apresentou atitudes de Negação com relação à proposta de inclusão. A

representação social de aluno carente colocou o “aluno com deficiência” como um doente,

sofredor, frágil, alguém que possui uma falta, etc. Portanto, essa representação não pode

suportar a proposta educativa de inclusão desses alunos. A atitude de Negação apareceu

porque essas estudantes não acreditam no potencial educativo dos “alunos com

deficiência”. Nessa atitude, o potencial educativo desses alunos é desvalorizado. Eles são

tratados como impotentes e não são aceitos na prática educativa. A representação social de

aluno carente pressupõe um atestado de incompetência cognitiva ao “aluno com

deficiência” porque suas potencialidades são sempre negadas. Uma vez que o “aluno com

deficiência” é representado como carente, nada será exigido dele e, em contrapartida, nada

lhe será dado. Para essas entrevistadas, as instituições e profissionais responsáveis pelos

“alunos com deficiência” devem trabalhar com “amor e resignação”, porque as limitações

geralmente são consideradas definitivas. Quando o “aluno com deficiência” é representado

como carente, fica implícito que falta algo, no seu corpo e/ou na mente, que impede seu

desempenho de ser humano. A atitude de Negação aponta uma rejeição explicita do “aluno

com deficiência” da prática educativa dessas entrevistadas.

83

Em contrapartida, o grupo de estudantes de Pedagogia, que representou os “alunos

com deficiência” como aluno super-herói, apresentou atitudes de aceitação com relação à

inclusão desses alunos. Essa representação implica uma atitude de Aceitação ilimitada da

proposta de inclusão de “alunos com deficiência”, pois o potencial educativo desses alunos

é sempre supervalorizado, independentemente das suas condições socioculturais. A

representação de “super-herói” faz com que o ‘aluno com deficiência” seja consagrado

onipotente e a atitude de Aceitação da proposta de inclusão de “alunos com deficiência”

aparece de forma irrestrita.

As entrevistadas, que representaram os “alunos com deficiência” como aluno

comum, apresentaram uma atitude de Indiferença com relação à inclusão dos referidos

alunos. A representação de aluno comum foi difícil de analisar, porque os discursos das

entrevistadas apresentaram-se ambivalentes: ao mesmo tempo que defendiam o respeito à

diversidade, negavam a deficiência. Contudo, verificamos que havia uma certa coerência

que ligava a representação de aluno comum com a atitude de Indiferença com relação à

inclusão desses alunos. As diferenças dos “alunos com deficiência” só eram aceitas se a

deficiência fosse escondida. A atitude de Indiferença aparece no discurso das entrevistada

porque estas procuram impor um padrão de normalidade para os referidos alunos, sem levar

em conta a identidade e/ou a subjetividade apresentada por eles. Na representação social de

aluno comum, há uma certa negligência por parte das informantes em não se posicionar em

relação à inclusão desses alunos. Tal negligência implica uma atitude de indiferença

reconhecida, também, nas posturas dos sistemas educacionais que implementam as

políticas de Educação Inclusiva e, contraditoriamente, não oferecem as condições

necessárias para inclusão dos “alunos com deficiência”. Uma vez que os sistemas não

oferecem condições materiais e pedagógicas, para inclusão de “alunos com deficiência”,

demonstram uma atitude de indiferença que serve como modelo na promoção da exclusão

desses alunos, conforme análise da “dialética da inclusão/exclusão” (Sawaia, 1999). Essa

atitude dos sistemas educacionais pode contribuir para ampliar a propagação da

representação social de aluno comum nos futuros docentes.

A representação social de aluno com necessidades e potencialidades produz uma

atitude de Aceitação com relação à inclusão de “alunos com deficiência”. As entrevistadas

que apresentaram essa representação assumem que a presença da deficiência pode gerar

84

limitações no desenvolvimento do sujeito. Porém, defendem que tais limitações não

impedem o desenvolvimento das potencialidades dos “alunos com deficiência”. A atitude

de Aceitação com relação à inclusão demonstra uma concepção otimista dessas

entrevistadas com relação ao potencial educativo dos referidos alunos. Verifica-se uma

coerência nesse discurso porque essas entrevistadas enfrentam a deficiência de frente:

admitem as limitações geradas pela deficiência, sem negar as possibilidades dos “alunos

com deficiência”. Outro fato relevante em seus discursos é que elas denunciam, por meio

de suas experiências, as péssimas condições de atendimento dos “alunos com deficiência”

no sistema educacional brasileiro. As informantes reconhecem a Educação Inclusiva como

proposta ideal para promover a interação e o desenvolvimento das funções psíquicas

superiores dos “alunos com deficiência” e apontam, em seus discursos, a necessidade do

governo brasileiro oferecer condições educacionais adequadas para a inclusão educacional

e social dos “alunos com deficiência”.

Os resultados dessa pesquisa confirmam que o sistema educacional brasileiro

encontra-se desarticulado em termos de políticas públicas de educação e de práticas

educativas. Uma visita ao site do MEC20 demonstra como estamos avançados em termos

das políticas públicas de Educação Inclusiva no Brasil. Contudo, em termos de práticas

sociais estamos muito distantes de conquistar o cumprimento mínimo de tais políticas. No

que se refere à formação inicial de docentes, para atuar com a proposta de inclusão, esse

fato pode ser comprovado nessa pesquisa. Numa mesma instituição formadora, é possível

encontrar diferentes representações sociais sobre “alunos com deficiência”, conforme

indica a tabela abaixo:

20 O site http://www.mec.gov.br apresenta a organização do sistema educacional brasileiro – em suas diferentes modalidades e níveis de ensino – e as principais políticas públicas de educação vigentes no contexto educacional contemporâneo.

85

REPRESENTAÇÕES SOCIAIS SOBRE “ALUNOS COM DEFICIÊNCIA”

Aluno carente Aluno super-herói Aluno comum Aluno com necessidade e potencialidade

UFBA 1 - 4 -

UNEB - 1 1 2

UCSAL 3 2 3 -

Essas representações expressam que temas relativos à educação de “alunos com

deficiência” ainda estão distantes do espaço acadêmico das instituições universitárias que

foram pesquisadas. Como as entrevistadas estão na etapa final do curso, não terão mais

tempo para construir e/ou reconstruir suas representações. Contudo, a pesquisa pode

provocar uma reflexão sobre a necessidade de se pensar nas representações das estudantes

que estão entrando nessas universidades, uma vez que as representações sociais orientam as

atitudes dos estudantes de Pedagogia com relação à inclusão de “alunos com deficiência”.

Para incorporar as políticas públicas de Educação Inclusiva, na prática educativa dos

futuros educadores do curso de Pedagogia, é preciso, também, conhecer suas atitudes com

relação à referida proposta. Na tabela abaixo, verificamos quais foram as atitudes

apresentadas em cada instituição, de acordo com a análise empreendida nas representações

sociais:

ATITUDES DOS ESTUDANTES DE PEDAGOGIA COM RELAÇÃO À INCLUSÃO DE “ALUNOS COM DEFICIÊNCIA”

NEGAÇÃO ACEITAÇÃO INDIFERENÇA

UFBA 1 - 4

UNEB - 3 1

UCSAL 3 2 3

O fato da atitude de indiferença se sobressair é um dado que merece uma séria reflexão por

parte das instituições universitárias e dos sistemas educacionais. Como podemos

86

implementar à inclusão de “alunos com deficiência” no sistema regular de ensino, se os

futuros docentes estão indiferentes diante dessa proposta?

Para reverter esse quadro, é preciso buscar alternativas que contribuam para

melhorar a formação inicial no curso de Pedagogia em instituições universitárias. Os

resultados dessa pesquisa indicam que a implementação da proposta de inclusão de “alunos

com deficiência” não pode ocorrer de forma dissociada das políticas educacionais de

formação inicial de docentes. É necessário que se ampliem estudos para instrumentalizar a

prática educativa dos futuros docentes, a fim de que, a inclusão de “alunos com

deficiência”, ocorra de forma responsável. Este estudo demonstrou que o curso de

Pedagogia tem possibilidades de oferecer uma formação inicial coerente com os princípios

da proposta de inclusão. Nesse sentido, os resultados dessa pesquisa oferecem um

referencial teórico-metodológico para se pensar uma proposta de recomendações para o

curso de Pedagogia articulada as representações sociais e as atitudes dos estudantes, com

relação a prática educativa de inclusão de “alunos com deficiência”.

87

CAPÍTULO III

PPACP21 - RECOMENDAÇÕES PARA UMA FORMAÇÃO INICIAL DE

EDUCADORES, NECESSÁRIA À INCLUSÃO DE “ALUNOS COM

DEFICIÊNCIA”

Este capítulo tem como objetivo apresentar a PPACP – Proposta Pedagógica de

Aperfeiçoamento do Curso de Pedagogia - Recomendações para uma formação inicial de

educadores, necessária à inclusão de “alunos com deficiência” (anexo F). A referida

proposta consiste num conjunto de recomendações em forma de sistema, que visa promover

o aperfeiçoamento do curso Pedagogia, no contexto de implementação das políticas de

Educação Inclusiva no Brasil. Na realidade, trata-se de uma proposta de modificação

curricular não significativa, pois seu funcionamento não depende da aprovação

institucional, mas sim, da vontade coletiva dos sujeitos envolvidos no curso de formação

inicial em Pedagogia de instituições universitárias. Na seqüência, encontram-se:

justificativa, metas, estrutura e modo de funcionamento - pressupostos, operacionalização,

resultados desejados, avaliação e validação da proposta.

1. Justificativa

A política de Educação Inclusiva do sistema educacional brasileiro assumiu o

compromisso de incluir os “alunos com deficiência” nas classes regulares, conforme indica

a nova LDB, lei de nº 9394 (1996) e o PNE - Plano Nacional de Educação (2000). A

efetivação das ações apresentadas nesses documentos oficiais implica, obrigatoriamente, na

reformulação do processo de formação docente. No entanto, o sistema educacional

brasileiro ainda não apresentou uma proposta de mudança curricular para os cursos de

formação de docentes atuarem conforme princípios da proposta de Inclusão. Apesar das

21 A sigla PPACP significa Proposta Pedagógica de Aperfeiçoamento do Curso de Pedagogia.

88

Diretrizes Nacionais para Educação Especial na Educação Básica, aprovada pelo Conselho

Nacional de Educação em 03/07/2001, prever no seu Art. 18, § 1º que:

São considerados professores capacitados para atuar em classes comuns com alunos que apresentam necessidades educacionais especiais, aqueles que comprovem que, em sua formação, de nível médio ou superior, foram incluídos conteúdos sobre educação especial adequados ao desenvolvimento de competência e valores para: I – perceber as necessidades educacionais especiais dos alunos e valorizar a Educação Inclusiva; II – flexibilizar a ação pedagógica nas diferentes áreas de conhecimento de modo adequado às necessidades educacionais especiais de aprendizagem; III – avaliar continuamente a eficácia do processo educativo no atendimento de necessidades educacionais especiais; IV – atuar em equipe, inclusive com professores especializados em educação especial. (Diretrizes Nacionais para a Educ. Especial na Educ. Básica, 2001 – grifos nossos)

À medida que a proposta de inclusão de “alunos com deficiência” perpassa

transversalmente todos os níveis de ensino, a formação de educadores, em todas as

instâncias, deveria estar de acordo com essas Diretrizes.

Contudo, nossa experiência indica que a formação inicial de docentes em nível

superior, para atuar na Educação Básica, não está adequada com as orientações do

documento acima citado. As universidades baianas permanecem indiferentes às exigências

das políticas públicas de Educação Inclusiva no Brasil, pois o modelo curricular da

formação inicial docente não contempla, ainda, os princípios da proposta de inclusão de

“alunos com deficiência”. Os cursos de licenciaturas parecem insatisfatórios, para garantir

uma profissionalização docente que atenda às necessidades educativas especiais dos

referidos alunos. Uma vez que a preparação profissional, para atuar com essa proposta,

deve abarcar não só habilidades e conhecimentos técnicos, mas, também, os conteúdos

internos dos futuros profissionais, oriundos do próprio universo pessoal e/ou decorrentes

de atitudes construídas no contexto sociocultural em que estão inseridos.

Por isso, é urgente repensar a formação inicial docente no contexto de

implementação das políticas de inclusão de “alunos com deficiência”. Sabemos, contudo,

89

que mudanças curriculares não ocorrem de uma hora para outra, é preciso tempo para

reflexão, estudo, pesquisa etc. Exceto, quando os governos impõem, autoritariamente,

mudanças fadadas ao insucesso porque não correspondem à realidade da prática educativa

docente. Nesse sentido, antes de apresentar a PPACP, consideramos importante abordar

alguns aspectos da pesquisa - Representações sociais dos estudantes de Pedagogia sobre

‘alunos com deficiência’ – responsável pela elaboração da referida proposta. Os resultados

dessa pesquisa permitiram conhecer o perfil profissional das estudantes de Pedagogia,

descobrir o que pensam sobre “alunos com deficiência” e quais as possíveis atitudes com

relação à inclusão dos referidos alunos.

A pesquisa – Representações sociais dos estudantes de Pedagogia sobre ‘alunos

com deficiência’ – demonstrou um grave problema a ser enfrentado pelas instituições

universitárias: a exclusão na abordagem de temas referentes ao processo educacional de

“alunos com deficiência”, no curso de formação inicial em Pedagogia, em pleno contexto

de implementação das políticas de Educação Inclusiva no Brasil. A PPACP surgiu para

contrapor a manutenção de representações e atitudes que contribuem para reforçar a

segregação e/ou marginalização dos referidos alunos, na profissionalização do pedagogo.

Elaboramos algumas recomendações para o aperfeiçoamento do curso de Pedagogia, no

sentido de incluir a temática da educação de “alunos com deficiência”, nas diferentes

disciplinas, oferecidas no decorrer da graduação e nas diversas atividades desenvolvidas no

contexto universitário: núcleo de pesquisa e/ou extensão, eventos específicos com

funcionários do corpo técnico-administrativo, eventos abertos à comunidade, cursos de pós-

graduação, entre outros. Propomos uma formação inicial que contemple o desenvolvimento

de competências para os futuros pedagogos atuarem em classes inclusivas. Enfatizamos que

a PPACP consiste numa proposta que busca as experiências dos docentes de diferentes

disciplinas, oferecidas no curso de Pedagogia, em parceria com estudantes, colegiado,

departamento, núcleo de pesquisa e/ou extensão, funcionários do corpo técnico-

administrativo das universidades, entre outros, para articular a abordagem da educação de

“alunos com deficiência”, na formação inicial em Pedagogia.

O contexto de reconfiguração demarcado pela história recente do curso de

Pedagogia confere-lhe condições para implementar a PPACP. Essa formação tem uma

dívida social com a profissionalização de educadores, para atuar com “alunos com

90

deficiência”. Trata-se do único curso de nível superior que separou a formação docente em

duas categorias: especial e regular. Uma vez que consagrou essa separação, o curso de

Pedagogia deve assumir o compromisso de promover a interação entre educação especial e

regular. Seu currículo já oferece uma formação generalista, aspecto fundamental na

formação de educadores, para atuarem na inclusão de “alunos com deficiência”, que exige

um profissional mais polivalente. Outro fato importante, é que os estudantes de Pedagogia

geralmente atuam e/ou devem atuar na Educação Infantil e nas séries iniciais do Ensino

Fundamental, níveis de ensino nos quais está concentrada a maioria dos “alunos com

deficiência”, conforme dados de 199722. Portanto, essa formação inicial deve assumir o

compromisso de prepará-los para atuar segundo os princípios da proposta de inclusão de

“alunos com deficiência”. O papel da PPACP será contribuir para que o referido curso

possa assumir esse espaço de formação com competência técnica, compromisso político e

sensibilidade humana.

Contudo, para assumir a responsabilidade da formação inicial de educadores para a

Educação Inclusiva, o curso de Pedagogia precisa se amparar em pressupostos teóricos que

fundamentem a prática educativa com relação à inclusão de “alunos com deficiência”. O

referencial teórico construído no decorrer da pesquisa - Representações sociais de

estudantes de Pedagogia sobre ‘alunos com deficiência’ - apresenta muitas contribuições

no que tange aos aspectos da prática educativa, para atuar com os referidos alunos.

Verificamos que os princípios pedagógicos da proposta de inclusão de “alunos com

deficiência” fundamenta-se no legado psicológico e pedagógico de S. L. Vigotsky (1896-

1934) e de seus seguidores, à luz teoria Sócio-Histórico-Cultural.

A assimilação da teoria Sócio-Histórico-Cultural, na formação inicial de

educadores, implica na construção de uma credibilidade dos docentes, para apostar no

potencial educativo dos “alunos com deficiência”. Essa teoria oferece sustentação teórica e

metodológica para a compreensão da pedagogia da diversidade, porque está apoiada na tese

de Vigotsky sobre a natureza social do desenvolvimento psíquico do sujeito. O autor

22 Esses dados publicados no Informe Estatístico (MEC/INEP/SEEC, 1998), indicam que, no Brasil, dos 334.507 “alunos com deficiência” que conseguiram se matricular, 25,26% freqüentavam a Educação Infantil, 40,44% freqüentavam o Ensino Fundamental, 33,26% recebiam outros atendimentos e apenas 0,63% freqüentavam o Ensino Médio. Não foram localizados dados sobre o Ensino Superior.

91

apresentou uma argumentação sólida e coerente sobre a natureza social do desenvolvimento

humano: demonstrou que o desenvolvimento das crianças com deficiência é semelhante ao

das crianças ditas “normais”, porque as funções psíquicas superiores de ambas são de

origem sociocultural. Seus estudos apresentam bases científicas que comprovam a

possibilidade de desenvolvimento e de compensação dos “alunos com deficiência”, por

meio do estímulo das funções psíquicas superiores.

Os pressuposto teóricos da proposta de Educação Inclusiva estão ancorados na

teoria Sócio-Histórico-Cultural de Vigotsky e de seus seguidores, porque esse enfoque

permitiu a construção de uma visão otimista do potencial educativo de todos os alunos,

incluindo os “alunos com deficiência”, pois “la zona de desarrollo próximo y la pedagogia

de la diversidad parten del mismo soporte ético principal: la igualdade” (Rodríguez, 2001:

p. 105). Os estudos de Vigotsky indicam que o papel dos educadores é acionar a zona de

desenvolvimento proximal dos educandos, por meio do processo de mediação,

independente das limitações apresentadas pelos referidos alunos. O aprofundamento dos

conhecimentos produzidos pela referida teoria é indispensável para implementação da

PPACP, uma vez que esta proposta visa aperfeiçoar o curso de Pedagogia, para atender à

formação inicial de educadores para Educação Inclusiva. Ressaltamos que a modificação

das representações sociais sobre “alunos com deficiência”, e conseqüentemente, a

transformação de atitudes com relação à proposta de inclusão depende da crença no

potencial educativo dos “alunos com deficiência”.

Destacamos, também, as contribuições de educadores brasileiros – Mrech (1997 e

1998), Mantoan (1997 e 1998), Bueno (1997 e 1999), Cartolano (1998), Ferreira (1999),

Jannuzzi (1999), entre outros – na construção desta proposta. Esses educadores

pesquisaram e esboçaram linhas, para se traçar um projeto político-pedagógico de formação

inicial para educadores, no contexto de implementação das políticas de inclusão de “alunos

com deficiência”, no Brasil. Inclusive, Bueno e Cartolano chamam à atenção sobre a

especificidade na educação dos “alunos com deficiência”, o ensino de braille para cegos, o

ensino de libras para surdos, etc. que requerem um tratamento diferenciado dos

profissionais da área. O curso de Pedagogia não pode assumir essa especificidade. Por isso,

sugerimos uma formação continuada em pós-graduação, como busca de desenvolvimento

profissional, para o educador tornar-se um especialista em cegos, surdos ou outras

92

categorias de deficiência. Compreendemos que a formação de educadores espe-cializados

nos diferentes tipos de deficiência deve estar em permanente sintonia e interação com a

formação inicial em Pedagogia. Do contrário, será mantido o modelo tradicional de

formação, que reafirma a segregação de dois tipos de educação: especial e regular.

Para finalizar, enfatizamos que a PPACP visa contribuir para formação de um

educador comprometido, aberto a fazer revisões no seu referencial teórico, de modo a

acompanhar o desenvolvimento das ciências e as descobertas da tecnologia para seu campo

de ação. Mas que seja, acima de tudo, um educador sensível às necessidades do ser

humano, que veja a deficiência como parte integrante da diversidade e que acredite sempre

no potencial educativo dos “alunos com deficiência”.

2. Metas:

• Instrumentalizar os profissionais do curso de Pedagogia a desenvolverem uma prática

educativa que possibilite a construção de conhecimentos de forma significativa e pensante,

levando em consideração os princípios da proposta de inclusão “alunos com deficiência” e

as necessidades do mundo social contemporâneo;

• Promover uma formação inicial, no curso de Pedagogia, que permita ao pedagogo

desempenhar o papel de mediador, ou seja, da pessoa que se interpõe entre o estímulo e o

organismo, enviando, de forma sistemática ou assistemática, situações que levem ao

desenvolvimento do potencial educativo dos “alunos com deficiência”, independentemente

de suas limitações;

• Promover a realização de atividades de estudo, pesquisa e/ou extensão que envolvam

temas relacionados com a inclusão de “alunos com deficiência”, à luz da teoria Sócio-

Histórico-Cultural de Vigotsky e seus seguidores;

93

• Estabelecer relações de parceria e colaboração com diferentes instituições educativas, de

modo a promover um contato direto dos estudantes de Pedagogia com “alunos com

deficiência”, em escolas especiais e/ou inclusivas;

• Contribuir para que os sujeitos do curso de Pedagogia possam manejar deferentes

estratégias de comunicação do conteúdo, sabendo eleger as mais adequadas, considerando a

diversidade dos alunos, os objetivos das atividades propostas e as características do próprio

conteúdo;

• Possibilitar aos sujeitos do curso de Pedagogia a aquisição de competências para analisar

o percurso de aprendizagem formal e informal dos “alunos com deficiência”, identificando

características cognitivas, afetivas, sensoriais, físicas e formas de acessar e processar

conhecimentos, possibilidades e necessidades;

• Possibilitar aos docentes e estudantes do curso de Pedagogia orientar suas escolhas e

decisões metodológicas, a partir de princípios da proposta de inclusão de “alunos com

deficiência” à luz da teoria Sócio-Histórico-Cultural de Vigotsky;

• Contribuir para que docentes e estudantes do curso de Pedagogia possam utilizar

conhecimentos da realidade brasileira (econômica, cultural, educacional, política, social

etc.), para compreender o contexto de relações em que encontra-se inserida a proposta de

inclusão de “alunos com deficiência”.

94

3. Estrutura e modo de funcionamento

3.1 - Pressupostos

• O curso de Pedagogia deve manter uma formação generalista calcada em pressupostos da

teoria Sócio-Histórico-Cultural de Vigotsky, uma vez que a demanda da Educação

Inclusiva exige a atuação de um profissional polivalente, instrumentalizado para atuar com

a diversidade;

• O curso de Pedagogia deve desenvolver competências intelectuais que permitam ao

professor fazer análises e gerar proposições que contemplem o contexto histórico, social e

político contemporâneo, a partir de uma dimensão ético-valorativa, na qual a Educação

Inclusiva está colocada numa perspectiva emancipatória dos homens;

• O curso de Pedagogia deve levar os estudantes à aquisição de uma competência reflexiva

que lhes permita, autonomamente, tomar sua prática educativa como objeto de análise.

3.2 - Operacionalização

• Contato com a coordenação do Colegiado do curso de Pedagogia propor a apresentação

da pesquisa de mestrado - Representações sociais dos estudantes de Pedagogia sobre

“alunos com deficiência”;

• Apresentação da pesquisa;

• Discussão e esclarecimentos de dúvidas sobre a pesquisa;

• Apresentação geral da PPACP – Proposta Pedagógica de Aperfeiçoamento do curso de

Pedagogia – Recomendações para uma formação inicial necessária à inclusão de “alunos

com deficiência”;

95

• Apreciação da PPACP. Sugerimos que se deixe um tempo de aproximadamente um mês

para os docentes apresentarem uma apreciação mais aprofundada da PPACP;

• Detalhamento da PPACP em grupo de professores por disciplina;

• Detalhamento da PPACP no Departamento;

• Detalhamento da PPACP junto aos funcionários do corpo técnico-administrativo;

• Detalhamento da PPACP no núcleos de pesquisa e/ou extensão;

• Detalhamento da PPACP no diretório acadêmico dos estudantes de Pedagogia;

• Realização de reunião, em pequenos grupos por área de conhecimento, para

esclarecimentos específicos da PPACP, conforme as necessidades de cada grupo;

• Discussão da PPACP em pequenos grupos;

• Levantamento das possibilidades e limites da PPACP em suas respectivas ações,

conforme as necessidades de cada grupo;

• Delimitação do papel de cada disciplina no processo de execução da PPACP;

• Encaminhamento por escrito do que foi delineado pelos docentes de cada disciplina do

curso de Pedagogia com relação a PPACP;

• Realização de contatos individuais com os docentes do curso de Pedagogia para

esclarecimentos de dúvidas sobre PPACP;

96

• Apreciação aprofundada da PPACP, na qual serão ouvidas as posições dos docentes,

estudantes, funcionários do corpo técnico-administrativo, diretor(a) de Departamento,

coordenador(a) de Colegiado, coordenadores de núcleos, entre outros, a fim de fazer os

ajustes necessários para colocar a proposta em prática;

• Realização de cursos, seminários, grupos de estudo etc. a fim de subsidiar o

aprofundamento da temática da inclusão de “alunos com deficiência”, à luz da teoria Sócio-

Histórico-Cultural de Vigotsky;

• Criação de cursos de pós-graduação nas áreas de Deficiência Visual, Deficiência Auditiva

e/ou Deficiência Mental, a fim de possibilitar a formação de profissionais especializados

para subsidiarem os docentes responsáveis pela inclusão de “alunos com deficiência”.

• Realização de atividades de pesquisa e/ou extensão, envolvendo comunidade na

conscientização sobre a realidade educacional de “alunos com deficiência”;

• Criação de um núcleo de apoio pedagógico para promoção da proposta de inclusão de

“alunos com deficiência”;

• Promoção de experiências na prática educativa de “inclusão de alunos com deficiência”

de que resultem trabalhos monográficos;

3.3 - Resultados desejados

• Ampliação da formação inicial em Pedagogia, para além das atividades de ensino, ou seja,

articulação entre ensino, pesquisa e extensão, na preparação profissional de educadores

para Educação Inclusiva;

• Atualização da literatura sobre o processo de ensino e aprendizagem ”, com base nos

novos paradigmas educacionais, a fim de atender às necessidade da proposta de inclusão de

“alunos com deficiência;

97

• Desenvolvimento de projetos e pesquisas em escolas e instituições que trabalhem na

perspectiva da inclusão de “alunos com deficiência”;

• Intercâmbios de cooperação técnico-científica com instituições nacionais e internacionais

ligados à educação;

• Intercâmbios entre formação inicial em Pedagogia e formação continuada de educadores,

para atuarem na inclusão de “alunos com deficiência”, por meio da criação do núcleo de

apoio pedagógico para Educação Inclusiva ;

• Promoção de cursos, seminários, grupos de estudos e reuniões sistemáticas no núcleo de

apoio pedagógico para Educação Inclusiva, para análise da prática educativa de inclusão de

“alunos com deficiência”;

• Constituição de um acervo de trabalhos internos e externos ao curso de Pedagogia com

informações sobre prática educativa de inclusão de “alunos com deficiência” em:

- outros centros que estão desenvolvendo estudos e pesquisas sobre a Educação

Inclusiva;

- documentos de organismos nacionais e internacionais sobre a Educação

Inclusiva;

- documentos legais que defendem os direitos de pessoas com deficiência;

- monografias e teses referentes à Educação Inclusiva.

3.4 - Avaliação

• A avaliação se dará em todos os momentos de execução da proposta. Serão utilizados

registros escritos, para acompanhar o processo de desenvolvimento das ações previstas na

PPACP.

98

4. Validação da Proposta:

A validação dessa proposta ocorreu através de uma avaliação feita por uma

comissão formada por oito especialistas da área de formação de professores. Os critérios

para escolha desses especialistas consideraram os seguintes aspectos: apresentar, no

mínimo, cinco anos de experiência comprovada na formação inicial em Pedagogia; atuar

como docente em universidades; ter feito um curso de mestrado e/ou doutorado na área de

formação de professores e/ou em áreas afins; possuir alguma experiência de contato com

pessoas com deficiência. Os especialistas selecionados são docentes de universidades com

mais de oito anos de experiência na formação inicial de educadores, quatro são mestres e

quatro são doutores na área de Educação e/ou em áreas afins, conforme se verifica no item

de apresentação do Guia com critério para Avaliação de Especialista (anexo G),

preenchido pelos especialistas no processo de validação da proposta. Esse guia apresentou

questões para conduzir o processo de validação da PPACP pelos especialistas consultados.

Na seqüência, após a apresentação do especialista, a guia contém 10 questões de apreciação

da proposta para os especialistas se posicionarem. As questões de 1 a 7 são de assinalar e as

questões de 8 a 10 exigem uma posicionamento escrito do especialista.

Na tabela abaixo, encontram-se os resultados da apreciação dos oito especialistas referentes às questões de assinalar:

APRECIAÇÃO DA PROPOSTA PELOS ESPECIALISTAS

QUESTÕES

SIM

NÃO

1. Considera a proposta importante? 8 -

2. É compreensível? 8 -

3. Seus objetivos são coerentes? 6 2

4. Possui aplicabilidade? 7 1

5. É possível identificar seus pressupostos teóricos?

6 2

6. Os procedimentos da PPACP estão coerentes?

7 1

7.Oferece novidades? 7 1

Referente às questões de 1 a 7, no guia com Critério para Avaliação de

Especialista

99

A tabela demonstra, nas questões 1 e 2, que os oito especialistas selecionados

apresentaram uma posição de unidade: consideram a PPACP importante e compreensível.

Nas questões 3 e 5 - que se referem a coerência dos objetivos e a visibilidade acerca dos

pressupostos teóricos da proposta - houve uma variação nas respostas, pois dos 8

especialistas consultados, 6 assinalaram sim e 2 assinalaram não. Esses dados levaram a

uma revisão nos objetivos da PPACP e uma maior ênfase nos seus pressupostos teóricos.

Numa freqüência pequena, apenas 1 especialista, assinalou não para as questões 4, 6 e 7.

Uma releitura da PPACP possibilitou algumas reformulações no sentido de tornar mais

clara sua aplicabilidade e seus procedimentos. Quanto a questão, que se refere a novidade

da PPACP, não foi possível fazer reformulações, porque essa proposta é o resultado de um

trabalho de pesquisa e as novidades, que apresentamos, resultaram da produção da

investigação acerca das Representações sociais dos estudantes de Pedagogia sobre “alunos

com deficiência”.

As questões de 8 a 10 foram escritas pelos especialistas. O item 8, que se refere ao

que os especialistas gostariam de retirar da PPACP, apenas 1 especialista sugeriu retirar “o

foco no conteúdo das disciplinas e na fragmentação do processo educacional. A dicotomia

“objetivos – proposta” (Especialista da UFBA, Doutora em Educação Especial). Cabe

ressaltar que o foco no conteúdo das disciplinas ocorreu porque o tema sobre educação de

“alunos com deficiência” encontra-se ausente no processo de formação inicial do pedagogo.

Paralelamente, sugerimos a implementação de ações que ultrapassam o foco das

disciplinas: divulgação da pesquisa, criação de um núcleo de apoio à Educação Inclusiva,

promoção de eventos abertos à comunidade com temas sobre a educação de “alunos com

deficiência”, criação de cursos de pós-graduação na área de educação especial, etc. Na

questão 9, os especialistas expressaram sugestões sobre o que gostariam de acrescentar a

PPACP. Dos 8 especialistas consultados, 6 apresentaram as seguintes sugestões:

- Contemplar na proposta o uso das “novas tecnologias, no sentido de descobrir

novas/diferentes formas de aprender/incluir” (Especialista da UNEB, Mestre em

Educação);

- Acrescentar à proposta uma ênfase para o estudo e a prática de atividades de

diagnóstico, a fim de que os futuros pedagogos possam diagnosticar e encaminhar

mais rapidamente os “alunos com deficiência”, para o tratamento com especialistas

100

capacitados. (Especialista da UEFS, UNEB e UECE, Mestre em Educação Especial

e Doutor em Ciências Pedagógicas)

- Ampliar a discussão sobre a formação do professor no curso de Pedagogia nos

seguintes aspectos: “a) O que precisa o professor para a sua prática?; b) A quem se

destina o curso?; c) Qual o perfil desse profissional?” (Especialista da UFBA,

Doutora em Educação Especial);

- “Propor que antes dos seminários e eventos abertos a toda comunidade acadêmica,

sejam previstas atividades especificamente dirigidas ao corpo técnico-

administrativo” (Especialista da UNEB, Mestre em Educação);

- Propor aos docentes de disciplinas relacionadas a Arte, que incluam a abordagem de

temas, que tratem da educação de “alunos com deficiência”, numa dimensão de

integrar arte/educação/deficiência/diferenças (Especialista da UEFS, Doutora em

História da Educação);

- “Reorganização da proposta para revelar melhor suas contribuições e ações

inovadoras” (Especialista da UNEB, Mestre em Educação).

Essas sugestões foram incorporadas à proposta (anexo F). Todos os especialistas

recomendaram e aprovaram a PPACP, conforme verifica-se no parecer

Científico/Acadêmico, no Guia com critério para avaliação de especialistas (apreciação

dos especialistas). Cabe ressaltar que a validação da proposta se constituiu num momento

importante porque permitiu nossa reflexão e crescimento profissional. Voltamos à prática

educativa com uma proposta, ouvimos a análise dessa por parte de colegas experientes,

competentes, responsáveis e comprometidos em melhorar a formação inicial de educadores

do curso de Pedagogia.

101

CONCLUSÃO

A pesquisa empírica, apresentada nesta dissertação, comprovou a seguinte idéia a

defender: as representações sociais dos estudantes de Pedagogia sobre “alunos com

deficiência” orientam suas atitudes com relação à inclusão desses alunos. Os resultados da

investigação levaram à construção da PPACP – Proposta Pedagógica de Aperfeiçoamento

do Curso de Pedagogia: Recomendações para formação inicial de educadores necessária à

inclusão de “alunos com deficiência”. Portanto, os objetivos do trabalho estão cumpridos:

1) conhecemos as representações sociais, dos estudantes de Pedagogia, sobre “alunos com

deficiência” e identificamos suas atitudes com relação à inclusão desses alunos; 2)

apresentamos uma proposta pedagógica de aperfeiçoamento para o curso de Pedagogia

contribuir na formação inicial de educadores, no contexto de implementação das políticas

de Educação Inclusiva no Brasil. As tarefas científicas foram executadas com dedicação,

procuramos aprofundar ao máximo os referenciais que subsidiaram este trabalho, desde a

consolidação do marco teórico/metodológico da pesquisa até a elaboração e validação da

proposta. Nesse sentido, temos a consciência do dever cumprido e o desejo de melhorar a

realidade educacional brasileira, pois o destino de uma dissertação de mestrado não pode se

limitar, apenas, ao cumprimento de um ritual acadêmico. Esperamos que os resultados

deste trabalho possam contribuir, de alguma forma, para inclusão de temas relativos à

educação de “alunos com deficiência”, na formação inicial em Pedagogia. A universidade

não deve silenciar diante da situação educacional desses alunos, especialmente no contexto

de implementação das políticas públicas de Educação Inclusiva no Brasil. Ressaltamos que,

no início do século passado, os estudos de Vigotsky já evidenciaram as possibilidades de

desenvolvimento do potencial educativo desses alunos. Produções científicas mais recentes

comprovam as possibilidades de desenvolvimento e aperfeiçoamento das funções psíquicas

superiores, através dos estudos da plasticidade cerebral e da modificabilidade cognitiva. As

universidades têm o papel social de disseminar essas informações e promover uma

formação docente comprometida com a inclusão social e educacional dos “alunos com

deficiência”. É função dessas instituições, também, cobrar das autoridades competentes,

condições necessárias para a concretização responsável de uma “educação para todos”,

enfatizando que os “alunos com deficiência” fazem parte desse “todos”. É importante

102

salientar que a presente pesquisa revelou a predominância de atitudes de negação e

indiferença nos estudantes de Pedagogia, com relação à inclusão de “alunos com

deficiência”. Esse dado é um alerta para as instituições universitárias e os governos,

responsáveis pela implementação das políticas de Educação Inclusiva, repensarem sobre a

necessidade de articular políticas públicas, reflexões teóricas, formação inicial docente,

representações sociais e prática educativa. As representações sociais dos estudantes de

Pedagogia sobre “alunos com deficiência” podem “denunciar a rejeição, quer

inconsciente, quer inconfessa, identificar seus disfarces, propiciar o arrancar de máscaras”

(Amaral, 1994, p. 33) das reais condições da formação inicial docente, no contexto de

implementação das políticas de Educação Inclusiva no Brasil e/ou na Bahia. A modificação

das representações sociais e das atitudes de negação e indiferença, com relação à inclusão

de “alunos com deficiência”, implica em confrontar preconceitos construídos socialmente

no decorrer da história. Esse confronto deve estar sustentado em novos paradigmas

educacionais, dando ênfase aos pressupostos da teoria Sócio-Histórico-Cultural de

Vigotsky, precursora da visão otimista sobre o potencial educativo dos “alunos com

deficiência”. Nesse sentido, buscamos subsidiar a presente investigação com estudos de

paradigmas educacionais, coerentes com as produções científicas mais recentes e

comprometidos com os princípios da proposta de inclusão de “alunos com deficiência”.

Enfim, esperamos que o presente estudo possa ajudar na construção/reconstrução de

práticas educativas inclusivas, por meio da formação inicial de educadores no curso de

Pedagogia, em universidades baianas.

103

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WERNECK, Claúdia. Sociedade Inclusiva. quem cabe no seu todos. Rio de Janeiro: WVA

Editora, 1999.

111

XAVIER, Maria Elizabete. História da Educação: a escola no Brasil. São Paulo: FTD,

1994.

Outras referências;

TEXTOS complementares das disciplinas: Fundamentos Pedagógicos e Psicológicos da

Educação Especial; Problemas Contemporâneos da Educação Especial ministradas pela

professora Josefina Franco no curso de Mestrado em Educação Especial: UEFS/Brasil e

CELAEE/Cuba;

TEXTOS Complementares das disciplinas: Metodologia da Investigação I e II ministradas

pelo professor Luiz Rodriguez Alvaréz no Curso de Mestrado em Educação Especial:

UEFS/Brasil e CELAEE/Cuba;

TEXTOS Complementares das disciplinas: Deficiências Auditiva e Visual ministradas pela

professora Rosa Maria Castellanos Peréz no Curso de Mestrado em Educação Especial:

UEFS/Brasil e CELAEE/Cuba;

TEXTOS Complementares das disciplinas: Psicoterapia Familiar e a Familia e a

Comunidade do aluno com Necessidades Educativas Especiais ministradas pelo professor

Félix M. Diaz Rodríguez no Curso de Mestrado em Educação Especial: UEFS/Brasil e

CELAEE/Cuba;

TEXTOS Complementares das disciplinas: Desvios da Linguagem e Deficiência Físico-

motora ministradas pelo professor Santiago A. Borges no Curso de Mestrado em Educação

Especial: UEFS/Brasil e CELAEE/Cuba;

TEXTOS Complementares das disciplinas: Avaliação e Diagnóstico e Taller I ministradas

pela professora Carmen Alvaréz Cruz no Curso de Mestrado em Educação Especial:

UEFS/Brasil e CELAEE/Cuba.

112

WEBSITES:

URL: <http://www.caleidoscópio.aleph.com.br>

URL: <http://www.bauru.unesp.br/fc/boletim/indices/edusp>

URL: <http://www.mec.gov.br>

URL: <http://www.ines.org.br>

URL: <http://www.regra.com.br/educação>

URL: <http://www.nuteses.ufu.br>

URL: <http://www.niee.ufrgs.br>

URL: <http://www.mec.gov.br/seesp>

URL: <http://inep.gov.br>

URL: <http://ibge.gov.br>

URL: <http://estatisticaseducacionais.gov.br>

113

ANEXO A

OPERACIONALIZAÇÃO DE TERMOS

Na seqüência abaixo, encontram-se os significados dos termos-chave do presente

trabalho, com o objetivo de favorecer uma melhor compreensão na sua leitura.

- Teoria da Representação Social

“É uma modalidade de conhecimento particular que tem por função a elaboração de

comportamentos e a comunicação entre indivíduos” (Moscovici, 1978, p. 26). Tal

conhecimento é constituído por um conjunto de informações, crenças, opiniões e atitudes

partilhadas por um grupo a respeito de um dado objeto social. Não se trata apenas de

“opiniões sobre” ou “imagens de”, mas de teorias coletivas sobre o real que “determinam

um campo das comunicações possíveis, dos valores ou das idéias presentes nas visões

compartilhadas pelos grupos, e regem, subseqüentemente, as condutas desejáveis ou

admitidas” (Moscovici, 1978, p. 51): “segundo o que o indivíduo diz, pode-se deduzir o

que ele vai fazer” (Id., p. 46).

- Teoria Sócio-Histórico-Cultural de Vigotsky

É o enfoque teórico que deu bases científicas (Neurologia, Psicologia e Pedagogia) para a

construção de uma concepção otimista sobre o potencial educativo dos alunos com

deficiência, pois defende a tese que “el niño com defecto no es indispensablemente un niño

deficiente. El grado de su anormalidad depende del resultado de la compensación social , es

dicir, de la formación final de su personalidad en general.” (Vigotsky, 1995, p. 10)

- Aluno com deficiência

É o aluno que apresenta em caráter permanente ou temporário alguma deficiência física,

sensorial (auditiva e visual), mental e/ou múltipla, e por isso, necessita de apoio pedagógico

para superar e/ou compensar suas necessidades educativas especiais.

114

- Inclusão de “alunos com deficiência”

É uma proposta educativa que visa incluir os “alunos com deficiência” na rede regular de

ensino comum, em todos os níveis de ensino, da Educação Infantil ao Ensino Superior. Esta

proposta parte do pressuposto de que “as diferenças humanas são normais e que a

aprendizagem deve se adaptar às necessidades” (Declaração de Salamanca, 1994, p. 04) dos

alunos, independente de seus limites.

115

ANEXO B

FICHA DE IDENTIFICAÇÃO DO ENTREVISTADO

Nome .........................................................................................................................

Endereço ...................................................................................................................

....................................................................................................................................

....................................................................................................................................

Telefone residencial ........................................... Celular ..........................................

E-mail .................................@...................................................................................

Melhor horário para contato por telefone ..................................................................

Data prevista para conclusão do estágio ....................................................................

116

ANEXO C

ROTEIRO PARA ENTREVISTA COM ESTUDANTES DE PEDAGOGIA

APRESENTAÇÃO

Esta entrevista faz parte do nosso trabalho de pesquisa no Mestrado em Educação

da Universidade Estadual de Feira de Santana. A pesquisa aborda temáticas referentes à

formação inicial em Pedagogia. Solicitamos sua autorização para gravar a entrevista, a

fim de não distorcer o que for dito. Asseguramos o anonimato das pessoas entrevistadas,

devendo este instrumento ser utilizado apenas para intenção científica deste trabalho.

Parte I – Dados de Identificação dos Ingressos no Curso de Pedagogia

01. Sexo:

02. Idade:

03. Estado civil:

04. Possui filhos?

Se sim: Quantos filhos?

Qual a idade dos seus filhos?

05. Qual foi o seu curso(s) de formação no ensino médio?

06. Quando você iniciou o curso de Pedagogia?

07. O que o levou a ingressar nesse curso?

08. Antes de iniciar no curso de Pedagogia, você já atuou como professor(a)?

Se sim: Onde?

Quando?

Por quanto tempo?

117

Em que turmas?

Como avalia a experiência?

09. Antes de ingressar no curso de Pedagogia, você tentou outro(s)vestibular(s)?

Se sim: Para qual(s) curso(s)?

Em que universidades ou Faculdades?

Quando?

Foi aprovado?

Se foi aprovado e não cursou, o que o levou a desistir?

Se ingressou: Como avalia a experiência?

Chegou a se formar?

10. Antes de ingressar no curso de Pedagogia, já participou de seminários, palestras,

simpósios ou cursos de aperfeiçoamento na área de educação?

Se sim: Quais?

Onde?

Quando?

Como você avalia essa experiência?

11. Antes de ingressar no curso de Pedagogia você conhecia pessoas da área de Educação?

Se sim: Quem eram essas pessoas?

Qual era a atividade dessas pessoas na área de Educação?

Qual era o tipo de relacionamento que você tinha com

essa(s) pessoa(s)?

12. Na história de aluno(a), desde a educação infantil até o momento atual, algum(a)

professor(a) lhe marcou?

Se sim: Como era esse(a) professor(a):

Seu contato com ele se deu em que momento de sua formação?

Sua relação com esse professor foi predominantemente positiva ou

negativa?

118

13. Aspectos que lhe agradam no curso de Pedagogia:

14. Aspectos que lhe desagradam no curso de Pedagogia:

15. Desde que iniciou o curso de Pedagogia, aconteceu alguma mudança em você?

Se sim: Qual?

16. Você está concluindo o curso de Pedagogia no tempo regular?

Se não: Por que não o fez no tempo regular?

17. Já possui alguma atividade profissional paralela ao curso de Pedagogia?

Se sim: Qual?

Onde?

Desde quando?

Qual a carga horária da sua atividade profissional?

18. Como aluno(a) que está concluindo o curso de Pedagogia, na sua opinião, o que

representa a Educação?

19. Que características deve ter um bom professor:

20. Que características deve ter um professor para atuar com crianças:

21. Que características deve ter um professor para atuar em equipe dentro de uma Escola?

22. Na sua opinião, as mulheres exercem o trabalho docente de maneira diferente dos

homens?

119

Se sim: Em quê?

23. O curso de Pedagogia é freqüentada sobretudo por mulheres. Você acha que isso

deveria ser mudado ou que não há razão de mudar?

24. De modo geral, os homens ocupam, com mais freqüência, empregos de

responsabilidade. Na sua opinião, quais são as razões?

25. Para os entrevistados que tem filhos: Você interrompeu suas atividades profissionais

quando seus filhos nasceram?

E seu marido (ou mulher)?

Se não: Ele(a) já pensou em interromper?

26. Para os entrevistado que não possuem filhos: Você pensa em interromper suas

atividades profissionais quando seus filhos nascerem?

E seu marido (ou mulher)?

27. Se seus filhos escolhessem a profissão de professor você ficaria satisfeito(a)?

Se não: Por quê?

Que profissões você gostaria que seus filhos escolhessem?

28. Na sua opinião, uma pessoa que estuda Pedagogia é mais preparada para criar seus

filhos?

29. Na sua opinião, para uma mulher ter um emprego é tão indispensável ou menos

indispensável que para um homem?

120

30. O que você acha mais importante: uma realização profissional ou uma realização

familiar?

Parte II – Prática Educativa

31. Você já ouviu falar na expressão “pessoa com deficiência”?

Se sim: Onde?

Quando?

Se foi no curso de Pedagogia, esclarecer em que disciplina como o assunto

foi abordado?

32. Você já teve algum contato com alguma “pessoa com deficiência”?

Se sim: Com quem?

Quando?

Onde?

Como foi a experiência?

33. Você possui alguma pessoa com deficiência na sua família?

Se sim: Quem?

Que relação você tem com ele (a)?

34. Conhece alguém que tem um (a) filho (a) com deficiência?

121

Se sim: Quem?

Que relação você tem com essa família?

35. O que você entende pela expressão “aluno com deficiência”?

36. Na sua opinião, o “aluno com deficiência” apresenta dificuldades de aprendizagem?

Se sim: Qual (s)?

Por quê?

37. Você já teve algum contato com alunos com de deficiência?

Se sim: Onde?

Quando?

Obs: Se foi através do curso de Pedagogia, esclarecer em que disciplina e como foi a

experiência.

38. Você já teve alguma experiência como professora de “aluno com deficiência”?

Se sim: Onde?

Quando?

Como você avalia essa experiência?

Obs: Caso essa experiência esteja vinculada ao curso de Pedagogia, esclarecer mais

detalhes sobre como se deu a referida experiência;

122

39. Como você se sentiria, na condição de mãe, se na classe de seu filho estudasse um

aluno com deficiência?

40. Como você se sentiria, na condição de colega de classe, de uma pessoa com

deficiência?

41. Na sua opinião, quais os lugares mais adequados para se educar um aluno com

deficiência?

42. Como se sentiria na condição de professora de ensino regular, se tivesse que receber

em sua classe um “aluno com deficiência”?

43. Você já ouviu falar na expressão “aluno portador de Necessidade Educativa

Especial”?

Se sim: Onde?

Com quem?

Quando?

Se foi no curso de Pedagogia, esclarecer em que disciplina e foi a respeito

de quê?

44. O que você entende pela expressão “aluno portador de Necessidade Educativa

Especial”?

45. Você estabelece alguma relação entre a expressão “aluno portador de Necessidade

Educativa Especial” e “aluno com deficiência”?

Se sim: Que relação?

123

46. Você já ouviu falar na expressão “Educação Inclusiva”?

Se sim: Onde?

Quando?

Se foi no curso de Pedagogia, esclarecer em que disciplina ou curso e de

que forma essa informação foi passada:

47. O que você entende pela expressão “Educação Inclusiva”?

48. Na sua opinião, é necessário que o curso de Pedagogia ofereça possibilidade para se

estudar temáticas referentes à Educação Inclusiva?

Se sim: De que forma?

49. Que características deve ter um professor para atuar na “Educação Inclusiva”?

50. Você considera a “Educação Inclusiva” uma proposta adequada para a realidade

educacional brasileira? Em quê?

124

ANEXO D

GUIA DE ANÁLISE DE CONTEÚDO

01. Pré-análise:

- Transcrição das entrevistas;

- Leitura das entrevistas para caracterização do perfil das entrevistas;

- Elaboração do perfil das entrevistadas conforme quadro em anexo;

02. Exploração do material:

- Leitura flutuante das entrevistas – deixar-se invadir pelo texto das entrevistas para

identificar as linhas gerais material através da leitura vertical (ler individualmente cada

entrevista) e da leitura horizontal (ler o conjunto das entrevistas de acordo com a ordem

das questões levantadas no roteiro da entrevista);

- Preparação do material para análise de conteúdo (fazer anotações sobre os discursos

com base na problemática da pesquisa);

03. Tratamento dos dados:

- Fazer releituras no material acompanhado das anotações, a fim de extrair as unidades de

registro (temática), que servirão para compor as categorias;

- Definição de categorias;

- Codificação das categorias com recortes do discurso que servirão de unidade de análise

do tipo temática;

04. Inferências:

- Descrição do conteúdo das categorias de acordo com o referencial da teoria das

representações sociais;

- Explicação do conteúdo das categorias de acordo com todo o referencial teórico da

pesquisa;

- Comprovação da idéia defendida na pesquisa;

125

ANEXO E

PERFIL DAS ENTREVISTADAS

IDADES DAS ENTREVISTADAS TRAJETÓRIA

PESSOAL

21 - 22 - 24 - 25 - 26 - 27 - 29 - 31 - 42 - 45 - 49

Nº de alunas

Estado Civil

Possui Filhos

02 01 02 02 01 02 02 01 01 01 01

S S S S S S C S C C C

N N N N N S N N S S N

TRAJETÓRIA ACADÊMICA

ANO DE INGRESSO 1994 1995 1996 1997 1998

UCSAL 01 - - 03 04

UNEB 01 - - 03 -

UFBA - 01 02 02 -

TRAJETÓRIA DOCENTE

INSTITUIÇÃO UCSAL UNEB UFBA

ATUOU COM DOCENTE 03 02 -

FEZ MAGISTÉRIO 04 02 01

CONTATO COM PESSOAS COM DEFICIÊNCIA

ONDE UCSAL UNEB UFBA

Na família 01 03 02

No trabalho 04 03 02

Na comunidade 06 04 05

126

ANEXO F

PPACP - Proposta Pedagógica de Aperfeiçoamento do Curso Pedagogia –

Recomendações para formação inicial de educadores necessária à inclusão de “alunos

com deficiência”

01. Objetivos gerais

- Contribuir para o aperfeiçoamento do curso de Pedagogia por meio de um conjunto

de recomendações que favoreça a formação inicial de educadores, com competência

para atuar na prática educativa, conforme princípios da proposta de inclusão de

“alunos com deficiência”.

- Propor ao curso de Pedagogia uma formação inicial, com preparação teórica e

didática, que leve em consideração as representações sociais dos estudantes de

Pedagogia sobre “alunos com deficiência” e suas atitudes com relação à inclusão

dos referidos alunos.

- Propiciar aos docentes e discentes do curso de Pedagogia uma reflexão sobre a

prática educativa necessária à inclusão de “alunos com deficiência”, à luz da teoria

Sócio-Histórico-Cultural de Vigotsky e de seus seguidores.

- Favorecer a formação de um educador comprometido, sensível às necessidades do

ser humano e aberto a fazer revisão no seu referencial teórico, de modo a

acompanhar o desenvolvimento das ciências e das novas tecnologias no seu campo

de trabalho

127

- 02. Operacionalização

OBJETIVOS

(para que fazer?)

CONTEÚDOS (o que fazer?)

ESTRATÉGIAS

(como fazer?)

(com o que fazer?)

Propor ao Colegiado do curso de Pedagogia a apresentação da pesquisa - Representações sociais dos estudantes de Pedagogia sobre “alunos com deficiência” - responsável pela elaboração da PPACP

Importância da pesquisa - Representações sociais dos estudantes de Pedagogia sobre “alunos com deficiência” - para repensar a formação inicial do pedagogo no contexto de implementação das políticas de inclusão de “alunos com deficiência” no Brasil

1.Sensibilização dos membros do Colegiado do curso de Pedagogia para refletir sobre a importância dessa pesquisa 2.Apresentação da pesquisa como requisito necessário para compreensão da PPACP 3.Discussão 4.Esclarecimento de dúvidas

Transparências com resumo dos resultados da pesquisa Retroprojetor Quadro Piloto

Ampliar a discussão da pesquisa - Representações sociais dos estudantes de Pedagogia sobre “alunos com deficiência” - com os docentes do curso de Pedagogia enfatizando as

• Trajetória do curso de Pedagogia no Brasil de acordo com o marco teórico da pesquisa • Características do perfil profissional das estudantes de Pedagogia de acordo com os dados recolhidos

1.Exposição participada sobre a trajetória do curso de Pedagogia e as características do perfil profissional das estudantes do referido curso 2.Provocação dos docentes, no sentido de pensar numa proposta de aperfeiçoamento

Transparências com resumo da trajetória do curso de Pedagogia e as características do perfil profissional das estudantes do referido curso Retroprojetor Transparências Quadro Piloto

128

seguintes questões: 1) a quem se destina o curso de Pedagogia; 2) qual o perfil desse profissional; e 3) o que os professores precisam para atuar na prática educativa de inclusão de “alunos com deficiência”

na investigação • PPACP – Proposta Pedagógica de Aperfeiçoamento do curso de Pedagogia – Recomendações para formação inicial de educadores necessária à inclusão de “alunos com deficiência”

para o curso de Pedagogia atender às necessidades das políticas de Educação Inclusiva no Brasil 3. Levantamento dos conhecimentos prévios dos docentes acerca dessa proposta

Criar condições para os docentes do curso de Pedagogia relacionar suas disciplinas com o conjunto de recomendações apresentadas pela PPACP

PPACP – Proposta Pedagógica de Aperfeiçoamento do curso de Pedagogia – Recomendações para formação inicial de educadores necessária à inclusão de “alunos com deficiência

1.Apresentação geral da PPACP • Objetivos • Pressupostos teóricos • Operacionalização • Validação 2.Discussão 3.Esclarecimento de dúvidas

Transparências com resumo da PPACP em Retroprojetor Quadro Piloto

129

OBJETIVOS (para que fazer?)

CONTEÚDOS (o que fazer?)

ESTRATÉGIAS

(como fazer?)

(com o que fazer?)

Propor aos docentes da disciplina de Didática a promoção de experiências que favoreçam a prática educativa dos estudantes de Pedagogia com a inclusão de “alunos com deficiência” e a socialização dessas experiências à luz da teoria Sócio-Histórico-Cultural

Prática educativa de inclusão de “alunos com deficiência” à luz da teoria Sócio-Histórico-Cultural de Vigotsky e de seus seguidores

1.Visitas às escolas inclusivas 2.Relatos de docentes que atuam com a inclusão de “alunos com deficiência” 3.Leitura de pesquisas que abordem a prática educativa de inclusão de “alunos com deficiência” à luz da teoria Sócio-Histórico-Cultural de Vigotsky e de seus seguidores

TV Vídeo Papel Lápis Quadro Piloto Caderno de registro

Sugerir aos docentes da disciplina de Estágio Supervisionado à inclusão de contatos diretos com “alunos com deficiência” nas atividades de estágio desenvolvidas no curso de

Princípios da proposta de Inclusão de “alunos com deficiência”

1. Exposição sobre os princípios da proposta de Inclusão de “alunos com deficiência” 2. Debate da temática Educação e Diversidade - com base nos princípios da proposta de Inclusão

Transparências com resumo dos princípios da proposta de Inclusão Retroprojetor Quadro Piloto

130

Pedagogia Sensibilizar os docentes da disciplina Estrutura e Funcionamento de Ensino da necessidade de abordar as políticas de Inclusão de “alunos com deficiência” no Brasil, como parte integrante do estudo das Políticas Públicas do Sistema Educacional Brasileiro

Políticas de Inclusão de “alunos com deficiência” no Brasil

1.Exposição das políticas de Inclusão de “alunos com deficiência” no Brasil 2.Debates 3.Entrevistas com representantes da Secretaria de Educação (Estado e Município), responsáveis pela implementação das referidas políticas

Transparências com resumo dos documentos das políticas de Inclusão de “alunos com deficiência” no Brasil Retroprojetor Quadro Piloto Lápis Papel

131

OBJETIVOS (para que fazer?)

CONTEÚDOS (o que fazer?)

ESTRATÉGIAS

(como fazer?)

(com o que fazer?)

Propor aos docentes das disciplinas de História da Educação e Filosofia da Educação o acréscimo de temas relativos aos aspectos históricos e filosóficos da educação de “alunos com deficiência”

Aspectos históricos e filosóficos na educação de “alunos com deficiência” em diferentes contextos socioculturais

1.Exposição participada sobre os aspectos históricos e filosóficos da educação de “alunos com deficiência” em diferentes contextos socioculturais 2.Relação desses aspectos no contexto de implementação das políticas de inclusão de “alunos com deficiência” no Brasil 3.Debates

Transparências com resumo dos aspectos históricos e filosóficos da educação de “alunos com deficiência” Retroprojetor Quadro Piloto Lápis Papel .

Propor aos docentes da disciplina de Psicologia a abordagem de temas referentes à prevenção, diagnóstico e tratamento da deficiência

Prevenção, diagnóstico e tratamento das deficiências

1.Exposição participada sobre as possibilidades prevenção, diagnóstico e tratamento da deficiência 2.Debates

Transparências com resumo acerca das possibilidades de prevenção, diagnóstico e tratamento da deficiência Retroprojetor Quadro Piloto

132

Enfatizar o estudo e a prática de atividades de diagnóstico inicial na disciplina de Avaliação para os futuros pedagogos descobrirem precocemente as necessidades educativas especiais dos “alunos com deficiência”

Atividades de diagnóstico inicial

1.Exposição acerca da importância das atividades de diagnóstico inicial na formação do pedagogo 2.Apresentação de algumas atividades de diagnóstico inicial necessárias a prática educativa de inclusão de “alunos com deficiência”

Retroprojetor Transparências Quadro Piloto Lápis Papel TV Vídeo

133

OBJETIVOS (para que fazer?)

CONTEÚDOS (o que fazer?)

ESTRATÉGIAS

(como fazer?)

(com o que fazer?)

Contemplar o uso das Novas Tecnologias para descobrir novas/diferentes formas de aprender/incluir na prática educativa de inclusão de “alunos com deficiência”

Novas Tecnologias e prática educativa de inclusão de “alunos com deficiência”

1.Apresentação de experiências com o uso das novas tecnologias na educação de “alunos com deficiência” 2.Debates

TV Vídeo Computador Quadro Piloto

Realizar atividades específicas com o corpo técnico administrativo da universidade, relativas à inclusão de “alunos com deficiência” no sistema educacional brasileiro

1.Sensiblização do corpo técnico- administrativo da universidade para apresentação dos princípios da proposta de inclusão de “alunos com deficiência” 2.Apresentação breve da PPACP

Transparências com resumo dos princípios da proposta de inclusão de “alunos com deficiência” Retroprojetor

Quadro Piloto

Propor ao Colegiado do curso de Pedagogia a realização de eventos aberto a toda comunidade

Seminário Cursos Palestras Simpósios Jornadas Pedagógicas

Cartazes de divulgação Boletins informativos

134

universitária que tratem de temas relacionados à inclusão de “alunos com deficiência”

Sugerir ao Departamento do curso de Pedagogia a criação de cursos de Pós-graduação para atender, inicialmente, à formação de especialistas nas áreas de deficiência visual, auditiva e/ou mental

1.Apresentação das experiências de universidades brasileiras que oferecem cursos de pós-graduação para formação de especialistas nas áreas de deficiência visual, auditiva e/ou mental

Transparências com resumo das experiências de universidades brasileiras que oferecem os referidos cursos; Retroprojetor

Quadro

Piloto

Sugerir aos núcleos de pesquisa e/ou extensão que estimulem o desenvolvimento de atividade que envolvam “alunos com deficiência”.

1.Apresentar experiências de atividades de pesquisas e/ou extensão envolvendo “alunos com deficiência”.

Transparências Retroprojetor Papel Lápis Quadro Piloto

ANEXO G

135

GUIA COM CRITÉRIO PARA AVALIACÃO DE ESPECIALISTA

01. APRESENTAÇÃO DO ESPECIALISTA

Nome_____________________________________________________________

Formação__________________________________________________________

Universidade onde leciona____________________________________________

Curso e disciplinas que leciona ________________________________________

Tempo de experiência no Magistério Superior ____________________________

02. APRECIAÇÃO DA PROPOSTA

Analise a PPACP - Proposta Pedagógica de Aperfeiçoamento do curso de Pedagogia:

recomendações para formação inicial necessária à prática educativa de inclusão de

‘alunos com deficiência’. Marque sim ou não:

01. Considera a Proposta importante? ( ) SIM ( )NÃO

02. É compreensível? ( ) SIM ( )NÃO

03. Seus objetivos são coerentes? ( ) SIM ( )NÃO

04. Possui aplicabilidade? ( ) SIM ( )NÃO

05. É possível identificar seu enfoque principal? ( ) SIM ( )NÃO

06. Os procedimentos da PPACP estão coerentes? ( ) SIM ( )NÃO

07. Oferece novidades? ( ) SIM ( )NÃO

136

08. O que você gostaria de retirar da PPACP?

______________________________________________________________

______________________________________________________________

______________________________________________________________

______________________________________________________________

______________________________________________________________

______________________________________________________________

09. O que você gostaria de acrescentar na PPACP?

______________________________________________________________

______________________________________________________________

______________________________________________________________

______________________________________________________________

______________________________________________________________

______________________________________________________________

10. Parecer Científico/Acadêmico:

______________________________________________________________

______________________________________________________________

______________________________________________________________

______________________________________________________________

______________________________________________________________

______________________________________________________________

______________________________________________________________

______________________________________________________________

_____________________________________________________ Assinatura do Especialista

137

Salvador, ________de _______________de____________

Prezado Especialista,

Solicito sua colaboração na análise da presente proposta que se destina ao curso de

formação inicial em Pedagogia de universidades. Trata-se de uma proposta elaborada, a

partir do trabalho de pesquisa no Mestrado em Educação Especial, realizado na UEFS –

Universidade Estadual de Feira de Santana – Brasil, em convênio com o CELAEE – Centro

de Referencia Latinoamericano para la Educación Especial – Cuba. Esta investigação teve

como objetivo identificar as representações sociais dos estudantes de Pedagogia sobre

“alunos com deficiência” e conhecer suas atitudes com relação à inclusão dos referidos

alunos. Os resultados da pesquisa apontaram muitas pistas para repensar o curso de

Pedagogia, no contexto de implementação das políticas de Educação Inclusiva no Brasil.

Tais pistas propiciaram a construção da PPACP – Proposta Pedagógica de

Aperfeiçoamento do curso de Pedagogia: Recomendações para a formação inicial

necessária à inclusão de “alunos com deficiência”. Na certeza de contar com sua

competência para fazer a apreciação desta proposta, segue Guia com Critério para

Avaliação de Especialista.

Atenciosamente,

Jaciete Barbosa dos Santos

138

ANEXO H

APRECIAÇÃO DOS ESPECIALISTAS

139

RECOMENDAÇÕES

Em termos da pesquisa:

- Entregar uma cópia do trabalho para Direção de Departamento do curso de

Pedagogia das universidades onde a pesquisa foi realizada;

- Colocar-se à disposição para esclarecimentos e/ou apresentação da pesquisa

nessas universidades;

- Ampliar análise da pesquisa, estudando o processo de ancoragem das

representações sociais apresentadas pelos estudantes de Pedagogia sobre “alunos

com deficiência”;

- Reformular a tese numa linguagem apropriada para publicação de artigo e/ou

livro.

Em termos da Proposta:

- Aplicar a PPACP – Proposta Pedagógica de Aperfeiçoamento do curso de

Pedagogia: recomendações para formação inicial de educadores necessária à

inclusão de “alunos com deficiência”, no Departamento de Educação do

Campus XI da UNEB, onde atuamos como docente no curso de Pedagogia;

- Enriquecer a PPACP – Proposta Pedagógica de Aperfeiçoamento do curso de

Pedagogia: recomendações para formação inicial de educadores necessária à

inclusão de “alunos com deficiência”, a partir das experiências apresentadas em

sua execução;

- Propor a aplicação da PPACP – Proposta Pedagógica de Aperfeiçoamento do

curso de Pedagogia: recomendações para a formação inicial de educadores

necessária à inclusão de “alunos com deficiência”, nos diferentes Departamentos

da UNEB que oferecem o curso de graduação em Pedagogia;

140

- Divulgar os resultados da aplicação da PPACP – Proposta Pedagógica de

Aperfeiçoamento do curso de Pedagogia: recomendações para formação inicial

de educadores necessária à inclusão de “alunos com deficiência”, em seminários

organizados para discutir a formação inicial de docentes no contexto da

Educação Inclusiva;

- Sugerir a realização de outros estudos dessa natureza em cursos de licenciaturas

em Língua Portuguesa, Matemática, Ciências, Geografia, História e Artes, a fim

de ampliar esta proposta a partir da contribuição desses estudos.