Jacob Munhak

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C7 - O Paraná Domingo, 9/5/2010 [email protected] máquina do tempo 15 de maio de 1976 Em 1976, surgia o jornal O Paraná: na inauguração, o discurso de Arnaldo Busato, representando o governador Jayme Canet HISTÓRIA Munhak, vereador de dois municípios Líder da colônia eslava na região, ele foi eleito vereador de Foz do Iguaçu em 1951 e de Cascavel em 1952 Cascavel - A situação era inusitada: favorecido pela de- sorganização institucional do pós-ditadura Vargas, Jacob Munhak se elegeu vereador pelo Município de Foz do Igua- çu em 1951 e no ano seguinte ao mesmo cargo, mas pelo Município de Cascavel. Também o favoreceu a re- gião de moradia: Munhak re- sidia em São João, comunida- de que pertencia ao distrito de Cascavel, que era parte, por sua vez, do Município de Foz do Iguaçu. Nas eleições de 1951 ele se elegeu vereador de Foz com os votos da região distrital de Cascavel. E no ano seguinte, quando Casca- vel se tornou Município, teve o mandato renovado para a nova Câmara sem que seu di- reito sobre o primeiro manda- to fosse questionado, ao me- nos imediatamente. Considerando que tinha di- reito a ser vereador pelo Mu- nicípio de Foz do Iguaçu e que também havia sido eleito para a primeira legislatura de Cas- cavel, Munhak insistiu em manter os dois mandatos. A bordo de seu carroção, ele ru- mava a Foz para participar das eventuais reuniões legis- lativas, enquanto também comparecia às sessões da Câ- mara de Cascavel. A situação parecia fadada a não perdurar, mesmo porque os suplentes na Câmara de Foz reivindicaram a cadeira, con- siderando que a nova eleição de Munhak anulava o manda- to exercido em outro Municí- pio. Mas assim foi por três anos, quase todo o mandato Na confusão que se estabe- leceu, Munhak foi obrigado a escolher um dos dois manda- tos e a solução mais adequa- da venceu: ele abriu mão de ser vereador em Foz do Igua- çu e manteve o mandato ape- nas em Cascavel, uma vez que São João pertencia agora não mais a Foz do Iguaçu, mas ao Município de Cascavel. Jacob Munhak nasceu em 10 de maio de 1901 em Itaió- polis (SC), filho do carroceiro e agricultor João e de Maria Reva Munhak. Tinha oito ir- mãs e três irmãos. Aos 35 anos, acompanhado pela famí- lia, Munhak se deslocou de Canoinhas (SC) ao Paraná. Jacob Munhak: um vereador para duas câmaras Geralmente com um carroção, Munhak seguia de São João a Foz do Iguaçu para as sessões da Câmara Primeiramente se transferiu para a Colônia Mallet (Laran- jeiras do Sul) e em seguida para a o interior do Municí- pio de Cascavel. “Primeiro fizemos um ran- chão grande, onde nós nos agasalhamos todos”, disse, em depoimento ao professor Ivo Oss Emer. “Aí cada um foi apartar sua posse. Cada um tirava uma boa área de terra. No mês de dezembro, fizemos uma roça (coletiva) para plan- tar milho e feijão. Plantamos e continuamos a construção nas propriedades. Aí fomos informando os amigos lá de Santa Catarina que tinha ter- ras muito boas... Aí começou a vir gente, cada vez entran- do mais pessoas”. Nas eleições de 1951, Munhak se elegeu vereador de Foz com os votos da região distrital de Cascavel O drama dos colonos palotinenses, que haviam comprado suas terras de modo ab- solutamente regular, desencadeou-se em ja- neiro de 1958. A colonizadora garantia a legitimidade dos títulos. Não era a proprie- tária dos lotes rurais, mas tinha procura- ção e autorização para proceder à venda dos imóveis. Mas os artifícios utilizados pe- los ladrões de terra pareciam inesgotáveis. “A situação de insegurança entre os posseiros é patente, devido às graves ir- regularidades havidas com desonestos funcionários da Fundação Paranaense de Colonização e Imigração que estão titu- lando terras ilegais a terceiros em detri- mento destes posseiros. Creio mesmo que o foco de revolta do Sudoeste surgiu devido à falta de Histórias do Paraná (101) Na Internet: http://cascavel.dihitt.com.br E-mail: [email protected] Delegado (municipal) de polícia ação dos funcionários daquele órgão, pois elementos corruptos vicejam como erva daninha em toda aquela região” (Alir Silva, funcionário da Fundação de Colonização, depoimento ao jornal Diário da Tarde, de Curitiba). Enquanto isso, o Estado do Paraná ne- gava legitimidade ao proprietário da área de Palotina, Ruy Castro, devido às desa- propriações feitas em 1940 e 1950. Todas as pessoas que compraram parcelas de ter- ras pertencentes a Ruy Castro estavam, repentinamente, ameaçadas de perder tudo. (A seguir: Gritos, risos e tiros) Nota: na edição anterior, as imagens do médico Benoit Mure e do padre José Backes foram trocadas Logo no princípio, Jacob Munhak se estabeleceu na Colônia Esperan- ça, para dali se dirigir à Colônia São João, onde a família se fixou. Ao contrário de outros filhos de colonos no início do século, Munhak chegou a obter alguma instrução, o equivalente às primeiras séries do 1º grau. Foi por isso que além de agricultor, sua ocupação princi- pal, também exerceu as funções de delegado de Polícia, por indica- ção da Prefeitura de Foz do Iguaçu, no distrito de Cascavel. Munhak era casado com Genoveva Bioleski, com quem teve sete filhos: Eduardo, Vitória, Albino, Tereza, Daniel, Leonilda e Antô- nio. Foi eleito vereador pelo distrito de Cascavel na Câmara de Foz do Iguaçu pelo PR em 1951, com 50 votos. Munhak, na condição de vereador em Foz, sempre esteve em- penhado na luta pela criação do Mu- nicípio de Cascavel, ao lado de outros cascavelenses. Conquistado o Muni- cípio, Jacob Munhak foi eleito para a Câ- mara de Cascavel com 64 votos, mas desta vez pelo PTB. Munhak morreu em 17 de setembro de 1987, aos 86 anos. Nos anais, Munhak aparece como verea- dor simultaneamente em Cascavel, de 1952 a 1956, e Foz do Iguaçu, de 1952 a 1955 (ou 1958, para o site da Câma- ra de Foz). Jornal Correio d’Oeste noticia projeto de Munhak para a construção do Aeroporto de Cascavel, em 1953 Calendário 9 de maio de 1930 Nasce em Curitiba Odilon Damaso Corrêa Reinhardt, que viria a ser o quarto prefeito de Cascavel, em 1964. 10 de maio de 1947 Fundação de Maringá, então como distrito de Mandaguari. 11 de maio de 1991 Prefeitura de Cascavel, Ocepar, Se- cretaria do Estado da Ciência e Tecno- logia, Acic e Sociedade Rural do Oes- te, promovem o 1° Encontro de Inte- gração Brasil-Paraguai. 12 de maio de 1970 Câmara aprova proposta do prefeito Octacílio Mion para constituir o pri- meiro Distrito Industrial de Cascavel. 13 de maio de 1947 Decreto-Lei n.º 614 cria a Secretaria de Estado de Educação e Cultura do Paraná. O decreto 615 criou a Secre- taria da Saúde. 13 de maio de 1980 Criado o Município de Jesuítas, com a lei 7.304, emancipando-se de For- mosa d’Oeste. 14 de maio de 1941 Getúlio Vargas cria com o Decreto-lei n° 3.196 a Comissão de Estradas de Rodagem para os Estados do Paraná e Santa Catarina (CCERFSC), que se- ria encarregada de construir a atual BR-277. 14 de maio de 1980 Criado o Município de Três Barras do Paraná com a lei n° 7.305. 14 de maio de 2007 O Palácio das Araucárias, no Centro Cívico de Curitiba, se torna a nova sede do governo do Estado do Paraná, em substituição ao palácio Iguaçu. 15 de maio de 1972 Decreto federal 70.521 autoriza o fun- cionamento da Fecivel (hoje incorpo- rada à Unioeste). divulgação divulgação

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A trajetória singular de um líder comunitário polonês no Oeste paranaense

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C7 - O Paraná Domingo, 9/5/2010

[email protected]áquina

do tempo

15 de maio de 1976Em 1976, surgia o jornal OParaná: na inauguração, odiscurso de Arnaldo Busato,representando o governadorJayme Canet

HISTÓRIA

Munhak, vereador de dois municípiosLíder da colônia eslava na região, ele foi eleito vereador de Foz do Iguaçu em 1951 e de Cascavel em 1952

Cascavel - A situação erainusitada: favorecido pela de-sorganização institucional dopós-ditadura Vargas, JacobMunhak se elegeu vereadorpelo Município de Foz do Igua-çu em 1951 e no ano seguinteao mesmo cargo, mas peloMunicípio de Cascavel.

Também o favoreceu a re-gião de moradia: Munhak re-sidia em São João, comunida-de que pertencia ao distrito deCascavel, que era parte, porsua vez, do Município de Fozdo Iguaçu. Nas eleições de1951 ele se elegeu vereador deFoz com os votos da regiãodistrital de Cascavel. E noano seguinte, quando Casca-vel se tornou Município, teve

o mandato renovado para anova Câmara sem que seu di-reito sobre o primeiro manda-to fosse questionado, ao me-nos imediatamente.

Considerando que tinha di-reito a ser vereador pelo Mu-

nicípio de Foz do Iguaçu e quetambém havia sido eleito paraa primeira legislatura de Cas-cavel, Munhak insistiu em

manter os dois mandatos. Abordo de seu carroção, ele ru-mava a Foz para participardas eventuais reuniões legis-lativas, enquanto tambémcomparecia às sessões da Câ-mara de Cascavel.

A situação parecia fadada anão perdurar, mesmo porqueos suplentes na Câmara de Fozreivindicaram a cadeira, con-siderando que a nova eleiçãode Munhak anulava o manda-to exercido em outro Municí-pio. Mas assim foi por trêsanos, quase todo o mandato

Na confusão que se estabe-leceu, Munhak foi obrigado aescolher um dos dois manda-tos e a solução mais adequa-da venceu: ele abriu mão deser vereador em Foz do Igua-çu e manteve o mandato ape-nas em Cascavel, uma vez queSão João pertencia agora nãomais a Foz do Iguaçu, mas aoMunicípio de Cascavel.

Jacob Munhak nasceu em10 de maio de 1901 em Itaió-polis (SC), filho do carroceiroe agricultor João e de MariaReva Munhak. Tinha oito ir-mãs e três irmãos. Aos 35anos, acompanhado pela famí-lia, Munhak se deslocou deCanoinhas (SC) ao Paraná.

Jacob Munhak: um vereador para duas câmaras

Geralmente com um carroção, Munhak seguia de São João a Fozdo Iguaçu para as sessões da Câmara

Primeiramente se transferiupara a Colônia Mallet (Laran-jeiras do Sul) e em seguidapara a o interior do Municí-pio de Cascavel.

“Primeiro fizemos um ran-chão grande, onde nós nosagasalhamos todos”, disse, emdepoimento ao professor IvoOss Emer. “Aí cada um foiapartar sua posse. Cada um

tirava uma boa área de terra.No mês de dezembro, fizemosuma roça (coletiva) para plan-tar milho e feijão. Plantamose continuamos a construçãonas propriedades. Aí fomosinformando os amigos lá deSanta Catarina que tinha ter-ras muito boas... Aí começoua vir gente, cada vez entran-do mais pessoas”.

Nas eleições de1951, Munhak

se elegeuvereador de Fozcom os votos daregião distrital

de Cascavel

O drama dos colonos palotinenses, quehaviam comprado suas terras de modo ab-solutamente regular, desencadeou-se em ja-neiro de 1958. A colonizadora garantia a

legitimidade dos títulos. Não era a proprie-tária dos lotes rurais, mas tinha procura-ção e autorização para proceder à venda

dos imóveis. Mas os artifícios utilizados pe-los ladrões de terra pareciam inesgotáveis.

“A situação de insegurança entre osposseiros é patente, devido às graves ir-regularidades havidas com desonestos

funcionários da Fundação Paranaense deColonização e Imigração que estão titu-lando terras ilegais a terceiros em detri-mento destes posseiros.Creio mesmo que o focode revolta do Sudoestesurgiu devido à falta de

Histórias do Paraná (101)

Na Internet:http://cascavel.dihitt.com.br

E-mail: [email protected]

Delegado (municipal) de políciaação dos funcionários daquele órgão, poiselementos corruptos vicejam como erva

daninha em toda aquela região”(Alir Silva, funcionário da Fundação de

Colonização, depoimento ao jornal Diárioda Tarde, de Curitiba).

Enquanto isso, o Estado do Paraná ne-gava legitimidade ao proprietário da áreade Palotina, Ruy Castro, devido às desa-propriações feitas em 1940 e 1950. Todas

as pessoas que compraram parcelas de ter-ras pertencentes a Ruy Castro estavam,

repentinamente, ameaçadasde perder tudo.

(A seguir: Gritos, risos e tiros)Nota: na edição anterior, asimagens do médico Benoit

Mure e do padre José Backesforam trocadas

Logo no princípio, Jacob Munhak se estabeleceu na Colônia Esperan-ça, para dali se dirigir à Colônia São João, onde a família se fixou.Ao contrário de outros filhos de colonos no início do século, Munhakchegou a obter alguma instrução, o equivalente às primeiras sériesdo 1º grau. Foi por isso que além de agricultor, sua ocupação princi-pal, também exerceu as funções de delegado de Polícia, por indica-ção da Prefeitura de Foz do Iguaçu, no distrito de Cascavel.Munhak era casado com Genoveva Bioleski, com quem teve setefilhos: Eduardo, Vitória, Albino, Tereza, Daniel, Leonilda e Antô-nio. Foi eleito vereador pelo distrito de Cascavel na Câmara deFoz do Iguaçu pelo PR em 1951, com 50 votos.Munhak, na condição de vereador em Foz, sempre esteve em-

penhado na lutapela criação do Mu-nicípio de Cascavel,ao lado de outroscascavelenses.Conquistado o Muni-cípio, Jacob Munhakfoi eleito para a Câ-mara de Cascavelcom 64 votos, masdesta vez pelo PTB.Munhak morreu em17 de setembro de1987, aos 86 anos.Nos anais, Munhakaparece como verea-dor simultaneamenteem Cascavel, de1952 a 1956, e Fozdo Iguaçu, de 1952a 1955 (ou 1958,para o site da Câma-ra de Foz).

Jornal Correio d’Oeste noticia projeto deMunhak para a construção do Aeroporto deCascavel, em 1953

Calendário9 de maio de 1930Nasce em Curitiba Odilon DamasoCorrêa Reinhardt, que viria a ser oquarto prefeito de Cascavel, em 1964.

10 de maio de 1947Fundação de Maringá, então comodistrito de Mandaguari.

11 de maio de 1991Prefeitura de Cascavel, Ocepar, Se-cretaria do Estado da Ciência e Tecno-logia, Acic e Sociedade Rural do Oes-te, promovem o 1° Encontro de Inte-gração Brasil-Paraguai.

12 de maio de 1970Câmara aprova proposta do prefeito

Octacílio Mion para constituir o pri-meiro Distrito Industrial de Cascavel.

13 de maio de 1947Decreto-Lei n.º 614 cria a Secretariade Estado de Educação e Cultura doParaná. O decreto 615 criou a Secre-taria da Saúde.

13 de maio de 1980Criado o Município de Jesuítas, coma lei 7.304, emancipando-se de For-mosa d’Oeste.

14 de maio de 1941Getúlio Vargas cria com o Decreto-lein° 3.196 a Comissão de Estradas deRodagem para os Estados do Paraná

e Santa Catarina (CCERFSC), que se-ria encarregada de construir a atualBR-277.

14 de maio de 1980Criado o Município de Três Barras doParaná com a lei n° 7.305.

14 de maio de 2007O Palácio das Araucárias, no CentroCívico de Curitiba, se torna a nova sededo governo do Estado do Paraná, emsubstituição ao palácio Iguaçu.

15 de maio de 1972Decreto federal 70.521 autoriza o fun-cionamento da Fecivel (hoje incorpo-rada à Unioeste).

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