James Lowry - lmsdobrasil.com.br · forma de pensar com respeito a Deus e tudo o que está...

15
Primeira Edição www.LMSdobrasil.com.br São Paulo – SP LMS 2016 James Lowry

Transcript of James Lowry - lmsdobrasil.com.br · forma de pensar com respeito a Deus e tudo o que está...

Page 1: James Lowry - lmsdobrasil.com.br · forma de pensar com respeito a Deus e tudo o que está relacionado a ele. Com o passar dos anos, a igreja católica mudou ou esqueceu ... Já se

Primeira Edição

www.LMSdobrasil.com.brSão Paulo – SP

LMS2016

James Lowry

Page 2: James Lowry - lmsdobrasil.com.br · forma de pensar com respeito a Deus e tudo o que está relacionado a ele. Com o passar dos anos, a igreja católica mudou ou esqueceu ... Já se

No veNtre da baleia e outras histórias dos mártires James Lowry

Edição original: In the Whale’s Belly and Other Martyr StoriesChristian Light PublicationsHarrisonburg, VA 22801

A não ser que se indique o contrário, todas as citações bíblicas foram tiradas da versão Corrigida Fiel de João Ferreira de Almeida. Usado com permissão da Sociedade Bíblica Trinitariana.

Impresso no BrasilEsta edição de No ventre da baleia e outras histórias dos mártires foi publi-cada em 2016 pela

literatura monte sião do brasilCaixa Postal 241av. Zélia de lima rosa, 34018550-970 boituva – sP

Fone: 15-3264-1402e-mail: [email protected]

Tradução: Eduardo VieiraRevisores: DeD traduções Capa: Theodore YoderISBN: 978-85-64737-18-1Copyright © 2016 James Lowry

RESERVADOS TODOS OS DIREITOSNenhuma parte desta edição pode ser utilizada ou reproduzida em qual-quer meio ou forma — seja mecânico, eletrônico ou mediante fotocópia, gravação, etc. — nem apropriada ou estocada em sistema de banco de dados, sem a expressa autorização da Literatura Monte Sião do Brasil.

Page 3: James Lowry - lmsdobrasil.com.br · forma de pensar com respeito a Deus e tudo o que está relacionado a ele. Com o passar dos anos, a igreja católica mudou ou esqueceu ... Já se

Índice

Prefácio . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . vIntrodução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1

1. A notícia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 32. Fogo na Praça de Veerle . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .73. Seis cartas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 154. A reunião secreta . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .255. O ventre da baleia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .336. “A quem te pedir” . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 397. Fogo outra vez . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 438. Prisioneiro . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .539. Uma olhada da fogueira . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .59

Outras históriasUm bispo comido por leões . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 67No anfiteatro . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 69Provado pelo fogo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .71Todas as coisas contribuem para o bem . . . . . . . . . . . . . . . . . . .73Uma irmã corajosa . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 77Não tirou o chapéu . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 79Uma família desamparada . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 83Pelo fundo de uma agulha . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .87Ele tinha uma mansão celestial . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .91Traidor sem querer . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .95

Palavras escolhidas entre as cartas destes mártires . . . . . . . . 98O que é o Martyrs Mirror? . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 99Lista de ilustrações . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 103Guia do mapa da contracapa . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 106

Page 4: James Lowry - lmsdobrasil.com.br · forma de pensar com respeito a Deus e tudo o que está relacionado a ele. Com o passar dos anos, a igreja católica mudou ou esqueceu ... Já se
Page 5: James Lowry - lmsdobrasil.com.br · forma de pensar com respeito a Deus e tudo o que está relacionado a ele. Com o passar dos anos, a igreja católica mudou ou esqueceu ... Já se

v

Prefácio

Na Europa, durante muitos anos, a igreja católica dominou a forma de pensar com respeito a Deus e tudo o que está relacionado a ele. Com o passar dos anos, a igreja católica mudou ou esqueceu muitos ensinos bíblicos. O povo da Europa voltou-se às trevas e não conseguia mais encontrar a salvação em Cristo.

No início do século dezesseis, começou na Alemanha uma grande mudança denominada Reforma. Nesse país, Martinho Lutero, um monge católico, passou a estudar as Escrituras e viu que muitos ensinamentos da igreja não estavam de acordo com a Palavra. Ele se propôs a mudar alguns deles a fim de adequá-los à Bíblia, mas não estava disposto a fazer todas as mudanças que se faziam necessário. Concordou em manter o batismo infantil bem como outros ensinamentos falsos.

Outros homens também estudaram cuidadosamente as Escri-turas e decidiram seguir somente os ensinamentos e práticas estabelecidos no Novo Testamento, eliminando todas as crenças falsas da igreja católica. Para isso, tiveram de se separar das demais igrejas. Os anabatistas, como foram chamados, fundaram a pri-meira igreja na Suíça em 1525. Depois, fundaram igrejas com os mesmos princípios na Alemanha e na Holanda. A maioria das histórias escritas neste livro diz respeito a esse movimento.

A primeira história sucedeu em Flandres, região ocidental da Bélgica localizada entre Holanda e Alemanha. (Leia o mapa da próxima página.) A cidade de Amberes, lugar de duas histó-rias escritas neste livro, também fica na Bélgica. Por outro lado,

Page 6: James Lowry - lmsdobrasil.com.br · forma de pensar com respeito a Deus e tudo o que está relacionado a ele. Com o passar dos anos, a igreja católica mudou ou esqueceu ... Já se

vi

Amsterdã e Utreque são cidades da Holanda. Apesar da violenta perseguição ocorrida nesses países, a igreja anabatista cresceu e se difundiu.

Posteriormente, alguns descendentes dos anabatistas che-garam à América do Norte e, hoje, muitos deles são chamados de menonitas.

ALEMANHA

Mar do Norte

Mar Báltico

Amsterdã Utreque

HOLANDA

BÉLGICA

Amberes

Zurique

SUÍÇA

Page 7: James Lowry - lmsdobrasil.com.br · forma de pensar com respeito a Deus e tudo o que está relacionado a ele. Com o passar dos anos, a igreja católica mudou ou esqueceu ... Já se

1

Introdução Qual o sentido da vida?

Como posso encontrar a Deus?O que Deus quer de mim?

Alguma vez você já se deparou com tais perguntas? No ventre da baleia é um livro que contém histórias de homens

e mulheres que lutaram com as grandes questões da vida. Eles acharam as respostas para os seus questionadores amando e obe-decendo a Jesus Cristo.

A maioria destas histórias sucedeu no tempo da Reforma. Nesse período, um grupo de cristãos, chamados anabatistas, se dispôs a deixar tudo e seguir os ensinamentos de Jesus.

Os inimigos dos anabatistas os chamaram erroneamente de hereges, mas, na realidade, procuravam apenas seguir os ensina-mentos de Jesus em tudo, ainda que isso exigisse agir de forma contrária ao que se ensinava naquele tempo. O Novo Testamento era a regra deles.

As histórias escritas neste livro foram escolhidas do livro Martyrs Mirror (“O espelho dos mártires”) escrito pelos ana-batistas. Os desenhos também foram retirados de livros daquele tempo. Se desejar saber mais sobre o livro em questão, consulte as páginas 99 a 102 desta obra.

Mas, em primeiro lugar, leia estas histórias e permita-se ser desafiado por elas a tomar uma posição junto aos que serviram a Deus, mesmo estando “no ventre da baleia”.

Page 8: James Lowry - lmsdobrasil.com.br · forma de pensar com respeito a Deus e tudo o que está relacionado a ele. Com o passar dos anos, a igreja católica mudou ou esqueceu ... Já se

No ventre da baleia

2

Page 9: James Lowry - lmsdobrasil.com.br · forma de pensar com respeito a Deus e tudo o que está relacionado a ele. Com o passar dos anos, a igreja católica mudou ou esqueceu ... Já se

3

Capítulo 1

A notícia

— C láudio! Cláudio! Você ouviu? — disse Jorge quando entrou apressadamente pela porta da fábrica de queijo

e foi até onde Cláudio estava lavando uma grande caldeira de cobre. — Cláudio, ouviu a notícia?

— Não — respondeu Cláudio, erguendo os olhos. Cláudio, que recentemente tinha amadurecido bastante, já não se preocu-pava tanto como seu pequeno amigo.

— Acabaram de colocar um aviso nas portas da prefeitura. Jorge ainda ofegava devido à pressa com que tinha chegado. — O concílio de Flandres sentenciou os hereges e irá matá-

-los dentro de três dias. — Onde? — Na praça de Veerle.— Como vão executá-los? — Cláudio agiu com mais matu-

ridade ainda ao demonstrar seriedade neste momento.— Queimando-os vivos na fogueira, até as mulheres! Querem

que isso seja uma advertência para todos os hereges — respondeu

Page 10: James Lowry - lmsdobrasil.com.br · forma de pensar com respeito a Deus e tudo o que está relacionado a ele. Com o passar dos anos, a igreja católica mudou ou esqueceu ... Já se

No ventre da baleia

4

Jorge. — Provavelmente, isso indica que João van Overdam virá para a execução. Você quer vê-lo há muito tempo.

— Sim, quero. Tenho que ir a essa execução, pois, talvez, consiga encontrá-lo entre a multidão.

— Acha que poderá reconhecê-lo, Cláudio? Eu quase não consigo lembrar como ele era. Já se passaram seis anos desde que trabalhou aqui. Naquele tempo, você só ajudava durante à tarde porque frequentava a escola do mestre Adrian; ainda estava aprendendo a ler e a escrever.

— Não, Jorge, não o esqueci. Ele era um bom homem. É difícil entender esta mudança. Parece que nada anda bem desde que aquele inquisidor Titelman veio de Ronse para cá. Ouvi dizer que nem os oficiais da cidade o querem por aqui; não querem que um estranho se meta em Gante.

— Cláudio, acha que seu tio irá deixá-lo ir à execução? — Acho que sim. Ele vai dizer que é uma boa lição para eu

aprender o que acontece aos hereges e ver o destino das pessoas que deixam a igreja. Venha, Jorge, ajude-me a limpar estas caldeiras para irmos para casa.

Então, Jorge começou a limpar as caldeiras apressadamente e sem cuidado. Terminaram logo e tudo estava arrumado para os especialistas em fazer queijos, que chegariam pela manhã. Cláudio, um dos aprendizes, tinha de ficar durante a tarde para limpar. Ele e Jorge fecharam as portas com chave e foram para a casa, caminhando pelas ruas de paralelepípedos de Gante.

— Cláudio, por que quer ver João van Overdam? Só porque ele trabalhou na indústria de laticínios? — perguntou o rapaz mais novo, dando um pequeno pulo para ficar ao lado de seu amigo.

— Não. Há muito tempo penso que eu poderia fazer com que ele veja o erro de se unir a esta nova igreja. Quero perguntar--lhe como a sua igreja pode estar na verdade se ainda não tem

Page 11: James Lowry - lmsdobrasil.com.br · forma de pensar com respeito a Deus e tudo o que está relacionado a ele. Com o passar dos anos, a igreja católica mudou ou esqueceu ... Já se

A notícia

5

nem trinta anos de história. A nossa tem história desde o tempo dos apóstolos.

— Você entende muito de religião.— Minha mãe dizia que eu seria sacerdote porque, desde

muito pequeno, ia à missa pelas manhãs.— Mas agora, está aprendendo a ser queijeiro. Cláudio, minha

mãe diz que é melhor ficar longe desses anabatistas hereges, pois são muito hábeis para convencer os outros.

— Realmente, eu admiro o João van Overdam por sua valentia. Dizem que, com frequência, vem secretamente a Gante para visi-tar seus irmãos na fé. Pergunto-me se nossos sacerdotes fariam o mesmo por nós se estivéssemos na mesma situação de perseguição. Suponho que se capturassem João, o tratariam da mesma maneira que tratarão esses hereges dentro de três dias.

Os dois caminharam em silêncio pelas ruas quase desertas. Os últimos raios do sol alumiavam as fachadas desiguais dos altos edifícios de pedra enquanto as ruas sumiam na escuridão. Os rapazes passaram várias abóbadas católicas, construídas nas esquinas das ruas. Dentro de cada uma delas havia o quadro de alguma imagem, coberta com vidro e inclinada para frente a fim de ser vista por quem passava por lá.

Cláudio deteve-se diante de uma dessas abóbadas e olhou para cima. Seu amigo permaneceu ao seu lado. A pequena chama de um lampião a óleo, protegida do vento, brilhava em frente à imagem da Virgem Maria. Um halo dourado rodeava a cabeça da Virgem, e seus dois dedos estavam erguidos em sinal de bênção. Então, nessa rua vazia, ele se benzeu em silêncio e começou a rezar. Jorge seguiu o seu exemplo.

— Bendita Virgem, Mãe de Deus, ouve-me rogo-te… Um homem chegou por trás dos rapazes sem que eles se

dessem conta. De súbito, pôs cada uma das mãos sobre o ombro

Page 12: James Lowry - lmsdobrasil.com.br · forma de pensar com respeito a Deus e tudo o que está relacionado a ele. Com o passar dos anos, a igreja católica mudou ou esqueceu ... Já se

No ventre da baleia

6

dos rapazes. Assustados, eles se viraram rapidamente. Seu hálito desagradável exalava licor. Viram seu vestido longo e sua cabeça encapuzada; traje de monge.

A rapidez com que se viraram fez com que o monge perdesse um pouco o equilíbrio. Recuperando-se, falou, arrastando as palavras:

— Alegro-me sempre ao ver jovens rezando.Estendeu a mão lentamente. — Podem dar uma esmola a um pobre de Deus? Um olhar de desgosto cruzou o rosto de Cláudio. Ele agarrou

Jorge pelo braço e o puxou rapidamente rua abaixo. Da esquina, ao final da rua, viram o monge. Desequilibrado, apoiava-se contra o edifício e olhava para cima, para o rosto da imagem da Virgem Maria.

Mesmo que Cláudio nunca tivesse dito isso a ninguém, este tipo de acontecimento era uma das tantas razões pelas quais queria ver João van Overdam.

Page 13: James Lowry - lmsdobrasil.com.br · forma de pensar com respeito a Deus e tudo o que está relacionado a ele. Com o passar dos anos, a igreja católica mudou ou esqueceu ... Já se

7

Capítulo 2

Fogo na praça de Veerle

E ra sábado, 11 de abril de 1551. Às oito da manhã, Cláudio desceu por uma das ruas cheia de curvas que dava na praça

de Veerle. A execução pública estava marcada para as nove, e ele esperava encontrar João van Overdam em alguma parte no meio do povo.

Cláudio se apressou um pouco mais ao se aproximar da área da praça. A essa hora as ruas estavam mais apinhadas do que ele imaginava . Os sacerdotes, como de costume, tinham incentivado o povo a assistir à execução, caracterizando tal fato como uma lição edificante para os bons católicos.

Os sacerdotes tinham anunciado que dariam indulgências aos que assistissem à execução. A indulgência permitia à alma do pecador reduzir sua pena no purgatório, podendo chegar a uma redução de até 40 dias. Cláudio ficava perplexo com isso. O fato de um homem se queimar meia hora na fogueira poderia evitar que outro ficasse queimando por muitos dias no purgatório. A ideia parecia-lhe muito esquisita.

Page 14: James Lowry - lmsdobrasil.com.br · forma de pensar com respeito a Deus e tudo o que está relacionado a ele. Com o passar dos anos, a igreja católica mudou ou esqueceu ... Já se

No ventre da baleia

8

Nessa manhã, fecharam a indústria de laticínios para que os trabalhadores pudessem ir à execução. Logicamente, muitos dos vendeiros e comerciantes de peixe que tinham seus negócios do outro lado da praça estariam lá. Mas, quando Cláudio chegou à praça de Veerle, ficou surpreso ao ver a grande multidão. Os vendedores empurravam suas carrocinhas lentamente em meio ao tumulto. Era possível ver carruagens sendo puxadas por cavalos em toda a parte. Cláudio teria que se esforçar muito para encontrar João entre todas aquelas pessoas. Cláudio achou que o castelo ao norte da praça parecia muito tenebroso. Ao leste, as águas escuras e avermelhadas do Rio Lieve chegavam aos seus alicerces.

O castelo era cinza e tinha muitas janelas estreitas e, através delas, os vigias podiam disparar suas espingardas ou, como anti-gamente, lançar flechas. Ao redor da fortaleza, havia um muro largo com pequenas torres. Algumas delas eram redondas; outras eram de três lados; todas tinham as aberturas estreitas.

Neste castelo dos condes de Flandres, os prisioneiros eram torturados, julgados e, às vezes, executados secretamente. Dizia-se que em seu interior havia instrumentos terríveis de tortura, mas Cláudio nunca ultrapassou as maciças portas do castelo.

Cláudio abriu caminho entre a multidão, examinando atencio-samente cada rosto. De vez em quando, via uma feição conhecida, mas a maioria das pessoas não passava de estranhos: pescadores com baldes de peixes; granjeiros cujos sapatos de madeira ressoavam nos paralelepípedos; camponesas vendedoras de ovos; trabalhado-res vestidos com roupas do dia a dia; uns poucos cavaleiros bem vestidos; aqui e ali um sacerdote ou um monge com batina até os tornozelos, mas nada de João van Overdam.

O sol começou a brilhar, e com o seu resplendor nem mesmo o velho castelo parecia mais tão tenebroso. Com o passar do tempo, muitas casas e lojas foram construídas junto aos muros

Page 15: James Lowry - lmsdobrasil.com.br · forma de pensar com respeito a Deus e tudo o que está relacionado a ele. Com o passar dos anos, a igreja católica mudou ou esqueceu ... Já se

Fogo na praça de Veerle

9

do castelo, e a luz do sol parecia fazer com que se recostassem seguras na fortaleza.

Que estranho, pensou Cláudio. Em breve, à luz deste sol tão lindo, quatro vidas deixarão de existir. Olhando pela praça e por sobre os tetos das casas pôde ver, à distância, os pináculos bri-lhantes de duas igrejas.

Cláudio sentiu sua confiança restabelecida. Certamente, a santa igreja sabia o que era correto e fazia o melhor pelas almas dos homens. O povo e a atividade ao seu redor pareciam tão reais e o que estava prestes a acontecer era somente uma parte dessa vida real.

Mas Cláudio ainda não tinha achado João. Apressou-se, pois sabia que seria difícil encontrá-lo em meio a tantas pessoas. Ocupado com sua busca, não notou os soldados saindo em fila pela porta do castelo e se dirigindo para a plataforma no centro da praça. Mas, quando a multidão começou a se calar, ele olhou para o castelo.

Oito monges com batina de cor café escuro seguiam os sol-dados e, atrás deles, com passos dolorosos e vacilantes vinham os prisioneiros; dois homens e duas mulheres. Estavam acorrentados com as mãos para frente.

A multidão fez silêncio quando, a passos largos, os dois carras-cos saíram pela porta do castelo. Eram homens altos, musculosos e desprezados por todos. Somente pessoas da classe mais baixa da sociedade e de pouco respeito faziam esse trabalho. Eram tão frios e indiferentes ao sofrimento humano que podiam ver um homem queimar até à morte e ainda caçoar disso.

O sol ainda brilhava na Praça de Veerle. Os soldados ocuparam os quatro lados da plataforma feita de madeira pesada. O piso era feito de tijolo e estava molhado para que não se queimasse. Através de umas aberturas feitas nele, quatro estacas altas foram