JANEIRO/FEVEREIRO 2013 ÁGUA E MEIO AMBIENTE … · ... Impactos para a Sociedade e ... para a...

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ÁGUA E MEIO AMBIENTE SUBTERRÂNEO 3JANEIRO/FEVEREIRO 2013

EDITORIAL

ÍNDICE

MERCADOPULVERIZADOO MERCADO BRASILEIRO DE PERFURA-

ÇÃO DE POÇOS É CARACTERIZADO POR

EMPRESAS DE PEQUENO E MÉDIO PORTE

E ENFRENTA DESAFIOS COMO CONCOR-

RÊNCIA DESLEAL, FALTA DE FISCALIZA-

ÇÃO E DE CAPACITAÇÃO

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2424242424

CA

PA

O mercado de perfuração de poços no Brasil está frag-mentado em razão do grande número de pequenas em-presas no setor. Concorrência desleal, altos encargos tri-butários, empresas informais, falta de fiscalização e bus-ca pelo menor preço por parte do consumidor são al-guns dos motivos apontados por especialistas e associa-ções na matéria de capa Mercado Pulverizado para operfil atual do mercado. Entre as consequências, alertam,estão o comprometimento da qualidade do poço e daágua, que é influenciada também por vários outros fato-res. Além dos estudos prévios, análise do projeto e méto-dos de perfuração, os materiais escolhidos para a insta-lação de um poço são essenciais e devem garantir a qua-lidade do serviço e da água a ser utilizada. Um elementode fundamental importância é o filtro, que na seção Per-furação, assinado por Joel Soares, ex-presidente da ABASe diretor da Trionic, ganha destaque técnico, pois é eleque vai garantir a captação da água subterrânea.

Em Conexão Internacional, um tema pouco discuti-do – e muito importante – é abordado na entrevista como Professor Raymond Flynn, da Queen’s UniversityBelfast, na Irlanda do Norte: a contaminação de águassubterrâneas por microrganismos patogênicos. Embo-ra haja a crença que essa seja uma preocupação paraas águas superficiais, nem sempre é assim. Além demostrar como os microrganismos se comportam em

superfície e as preocupações que devemos ter, Flynnindica as oportunidades para lidar com o problema.

Um estudo sobre as regiões metropolitanas de Curitibae São Paulo, que aponta para as semelhanças no solo dasduas cidades, é tema da matéria de meio ambiente. Ape-sar de sutis diferenças, a contaminação é realidade nasduas cidades e uma gestão adequada, que tenha um in-tercâmbio de ideias entre ambas, pode ser a solução paramuitos dos problemas existentes. Falando em intercâm-bio de ideias, reserve em sua agenda os dias 1, 2 e 3 deoutubro, para o III Congresso Internacional de Meio Ambi-ente Subterrâneo, o CIMAS, que ocorre na cidade de SãoPaulo. Durante os três dias de evento, representantes deuniversidades, legisladores, reguladores, consultores eprestadores de serviço em geral estarão reunidos parapalestras, mesas redondas e networking. Paralelamenteao evento, acontece a VIII Feira Nacional da Água –FENÁGUA – que já está com os estandes à venda.

Desejamos uma ótima leitura e convidamos você, lei-tor, para enviar sugestões sobre assuntos que gostariade ver abordados nas próximas edições.

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4 Agenda

5 Núcleos Regionais

6 ABAS Informa

8 Hidronotícias

30 Perfuração

32 Remediação

34 Opinião

MEIO AMBIENTEESTUDO MOSTRA QUE SOLOS DAS CIDADES DE CURITIBA

E SÃO PAULO TÊM SEMELHANÇAS EM SUA FORMAÇÃO

GEOLÓGICA E APRESENTAM PROBLEMAS DE CONTAMI-

NAÇÃO NA ATUALIDADE

CONEXÃO INTERNACIONALPROBLEMAS E SOLUÇÕES DE MICRORGANISMOS

PATOGÊNICOS EM ÁGUAS SUBTERRÂNEAS

Um abraço,Waldir Duarte Costa Filho

Presidente da ABASMarlene Simarelli, editora

DESTAQUES: DE MERCADO A INTERCÂMBIO DE IDEIAS

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4 ÁGUA E MEIO AMBIENTE SUBTERRÂNEO JANEIRO/FEVEREIRO 2013

AGENDA

EXPEDIENTE

EVENTOS PROMOVIDOS PELA ABAS

III CONGRESSO INTERNACIONALDE MEIO AMBIENTE SUBTERRÂNEOData: 1 a 3 de outubro de 2013Local: Centro FECOMERCIO de Eventos, São Paulo – SPInformações: Acqua ConsultoriaTelefone: (11) 3868-0726Email: [email protected]: [email protected]

EVENTOS APOIADOS PELA ABAS

FEIRA NACIONAL DE SANEAMENTO E MEIO AM-BIENTE (FENASAN)Data: 30 de julho a 1 de agosto de 2013Local: Expo Center Norte - Pavilhão Azul, São Paulo – SPInformações: Acqua ConsultoriaTelefone: (11) 3868-0726Email: [email protected]: www.fenasan.com.br

DIRETORIA EXECUTIVAPresidente: Waldir Duarte Costa Filho (PE)1º Vice-Presidente: Claudio Pereira Oliveira (RS)2º Vice-Presidente: Maria Antonieta Alcântara Mourão (MG)Secretário Geral: Débora Perozzo (MT/CO)Secretário Executivo: Everton de Oliveira (SP)Tesoureiro: José Lázaro Gomes (SP)

CONSELHO DELIBERATIVOCarlos Alberto de Freitas (MG), Carlos Eduardo Dorneles Vieira (PR),Cláudio Luiz Rebello Vidal (RJ), Elisa de Souza Bento Fernandes (RJ),Francisco de Assis Matos de Abreu (PA), Humberto Alves Ribeiro Neto(BA), João Bosco de Andrade Morais (CE)

CONSELHO FISCALTitulares: Álvaro Magalhães Junior (SC), Suely Schuartz Pacheco Mestrinho(BA), Gustavo Alves da Silva (SP)Suplentes: Helena Magalhães Porto Lira (PE), Maria do Carmo Neves dosSantos (AM), Maria da Conceição Rabelo Gomes (CE)

CONSELHEIROS VITALÍCIOS/EX-PRESIDENTESAldo da Cunha Rebouças (in memorian), Antonio Tarcisio de Las Casas,Arnaldo Correa Ribeiro, Carlos Eduardo Q. Giampá, Ernani Francisco da RosaFilho, Euclydes Cavallari (in memorian), Everton de Oliveira, Everton Luiz daCosta Souza, Itabaraci Nazareno Cavalcante, João Carlos Simanke de Souza,Joel Felipe Soares, Marcílio Tavares Nicolau, Uriel Duarte, Waldir Duarte Costa

NÚCLEOS ABAS – DIRETORESBahia: Zoltan Romero Cavalcante Rodrigues - [email protected] -(71) 9611-7222Ceará: Carlos Borromeu de Passos Vale - [email protected] - (98)3227-1069 / (98) 8896-3595Centro-Oeste: Nédio Carlos Pinheiro - [email protected] - (65) 9222-7374Minas Gerais: Carlos Alberto de Freitas - [email protected] -(31) 3250-1657 / (31) 3309-8000Paraná: Jurandir Boz Filho - [email protected] - (41) 3213-4744Pernambuco: Fernando Feitosa - [email protected] - (21) 9415-5727Rio de Janeiro: Gerson Cardoso da Silva Junior - [email protected] -(21) 2598-9481 / (21) 2590-8091Santa Catarina: Heloisa Helena Leal Gonçalves [email protected] - (47) 3341-7821/2103-5000Rio Grande do Sul: Mario Wrege – [email protected] – (51) 3406-7330

CONSELHO EDITORIALEverton de Oliveira, Gustavo Alves da Silva e Rodrigo Cordeiro

EDITORA E JORNALISTA RESPONSÁVELMarlene Simarelli (Mtb 13.593)

DIREÇÃO E PRODUÇÃO EDITORIALArtCom Assessoria de Comunicação – Campinas/SP(19) 3237-2099 - [email protected]

REDAÇÃOGabriela Padovani, Larissa Stracci e Marlene Simarelli

COLABORADORESCarlos Eduardo Q. Giampá, Juliana Freitas e Marcelo Sousa

SECRETARIA E [email protected] - (11) 3868-0723

COMERCIALIZAÇÃO DE ANÚNCIOSSandra Neves e Bruno Amadeu - [email protected]

IMPRESSÃO E ACABAMENTOGráfica Silvamarts

CIRCULAÇÃOA revista Água e Meio Ambiente Subterrâneo é distribuída gratuitamente pelaAssociação Brasileira de Águas Subterrâneas (ABAS) a profissionais ligados ao setor.

Distribuição: nacional e internacionalTiragem: 5 mil exemplares

Os artigos assinados são de responsabilidade dos autores e não refletem,necessariamente, a opinião da ABAS.Para a reprodução total ou parcial de artigos técnicos e de opinião énecessário solicitar autorização prévia dos autores. É permitida areprodução das demais matérias publicadas neste veículo, desde quecitados os autores, a fonte e a data da edição.

Acompanhe os detalhes no site:www.abas.org/cursos.php

•As Novas Legislações que Restringem o Uso deÁguas Subterrâneas - Impactos para a Sociedade epara o Setor Econômico•Capacitação sobre o Tema Água para Imprensa•Contaminação e Remediação de Solos e Águas Sub-terrâneas com Contaminantes Orgânicos•Instrumentos de Gestão de Águas Subterrâneas - Im-portância e Aplicação Prática•Legislação para a Captação e a Gestão das Águas Sub-terrâneas•Recarga Artificial de Aquíferos•Hidrogeologia para Não Geólogos•Avaliação de Risco Toxicológico•Hidrogeologia Avançada•Classificação, Enquadramento e Monitoramento deÁguas Subterrâneas•Introdução ao Geoprocessamento - Curso Básico deARC GIS•Interpretação de Testes de Vazão e Dimensionamentode Bombas•Formação de Preços para Empresas Perfuradoras de Poços•Hidrogeologia Isotópica de Contaminantes•O Setor de Águas Subterrâneas no Ano 2013

Importante: os temas estão sujeitos a alteração.

CURSOS ABAS PREVISTOS PARA 2013

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ÁGUA E MEIO AMBIENTE SUBTERRÂNEO 5JANEIRO/FEVEREIRO 2013

NÚCLEOS REGIONAIS

ABAS Núcleo MG renovadiretoria e reelege presidenteA ABAS Núcleo MG reelegeu Carlos Alberto de Freitas,daCompanhia de Saneamento de Minas Gerais (COPASA),como presidente. A chapa única Água Subterrânea eDesenvolvimento foi eleita em novembro para o biênio2013/2014. A nova diretoria é composta por: Décio Anto-nio Chaves Beato, 1º vice-presidente, Adelbani Braz daSilva, 2º vice-presidente, Danilo Carvalho de Almeida, se-cretário geral, Daniel Perez Bertachini, secretário executi-vo e Fernando Marinho de Oliveira, tesoureiro. Na oca-sião, foi realizada também uma confraternização de finalde ano e uma homenagem ao ex-presidente do núcleo eda ABAS Nacional, Antonio Tarcísio de Las Casas.

abastecimento de 30% da população de São Luís.“Na prática este é um primeiro passo de outros que

serão dados para a racionalização do uso das águassubterrâneas ludovicençes, que são de grande impor-tância para a agricultura irrigada, para o Distrito Industri-al, ambos totalmente abastecidos por água desubsuperfície, e para a população da Ilha Upaon-Açú,onde somando os Sistemas Sacavém, Paciência e ospoços isolados, totalizam 50% do abastecimento dosmunicípios de São José de Ribamar, Paço do Lumiar,Raposa e São Luís por água subterrânea”, esclarece

Eleita nova diretoria da ABAS Núcleo RJO professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro(UFRJ), Gerson Cardoso foi reeleito para a presidênciada ABAS Núcleo RJ, durante o biênio 2013/2014. A elei-ção, que teve a inscrição de uma única chapa, ocorreuem dezembro. A chapa tem como membros o vice-pre-sidente, Aderson Marques, a tesoureira Maria da GlóriaAlves e a secretária Elisa Bento Fernandes.

No processo eleitoral da nova diretoria foram adotadasas alterações feitas pelo Conselho Deliberativo da ABASem outubro, durante o XVII Congresso Brasileiro deÁguas Subterrâneas (CABAS), quando ficou definidoque, a partir deste ano, somente quatro membros com-poriam a diretoria dos núcleos regionais: presidente, vice-presidente, tesoureiro e secretário.

ABAS Núcleo Ceará defendea preservação do Parque Estadualdo BacangaA ABAS Núcleo Ceará, em parceria com a AssociaçãoBrasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental (ABES) ea Associação dos Geólogos do Maranhão (AGEMA),procurou o Governo do Estado do Maranhão, aAssembleia Legislativa e a Prefeitura Municipal de SãoLuís (MA), para que providências possam ser tomadaspara a preservação do Parque Estadual do Bacanga. Oparque abriga a Barragem do Batatã e a bateria de po-ços tubulares profundos do Sacavém, responsáveis pelo

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ABAS INFORMA

Venda de estandes para aFENÁGUA 2013 já começou

Estandes para a VIII Feira Nacional da Água –FENÁGUA – evento paralelo à terceira edição do Con-gresso Internacional de Meio Ambiente Subterrâneo(III CIMAS), que ocorrerá entre os dias 1 e 3 de ou-tubro de 2013, em São Paulo (SP), já estão sendocomercializados.

Contando com 35 estandes e ocupando espa-ço de aproximadamente 1 mil m², a FENÁGUA2013 terá como destaque produtos e serviços parao setor de meio ambiente. A comercialização dosestandes é feita pelo Departamento Comercial daAcqua Consultoria, pelo telefone: (11) 3868-0724 epelo e-mail: [email protected]. Mais in-

formações no site: www.abas.org/cimas. Não per-ca essa oportunidade e garanta já o seu espaço!

Novo presidente da ABAS toma possemento dos Núcleos e a realização de eventos degrande porte, através de parcerias. Segundo o pre-sidente, a divulgação do tema água subterrâneacontribuirá para a educação hidroambiental e inte-grará diversos setores. Ele garante também a im-plantação de uma assessoria parlamentar parasubsidiar a ABAS com os trâmites do PoderLegislativo e o fortalecimento dos canais de co-municação para maior visibilidade da associação,entre outras ações.

2013 é o Ano Internacionalpara a Cooperação pela Água

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A Organização das Nações Unidas (ONU) elegeu 2013como o Ano Internacional para a Cooperação pela Água,com o objetivo de promover uma maior interação entreas nações, além de realizar debates sobre os desafiosde manejo e conflitos pela água.

Durante o ano, serão destacadas iniciativas de suces-so sobre cooperação pela água, já que, segundo a ONU,existe um aumento da demanda pelo acesso, alocação

e serviços relacionados aos recursos hídricos. O con-trole das águas em áreas de fronteiras e possíveis con-flitos também serão temas debatidos pelo projeto.

Serão determinados novos objetivos que contribu-am para o desenvolvimento de recursos sustentáveisda água e revistos os compromissos firmados em2012 durante a Conferência Rio+20, realizada no Riode Janeiro.

No dia 28 de fevereiro, tomará posse o novo pre-sidente da Associação Brasileira de Águas Sub-terrâneas (ABAS), Waldir Duarte Costa Filho, emcerimônia a ser realizada em São Paulo (SP). Agestão da nova diretoria da ABAS teve início nodia 1 de janeiro, mas só será oficializada na datada cerimônia.

Entre os objetivos de sua gestão, Costa Filho des-taca o trabalho em prol dos associados da ABAS eda sociedade, projetos de capacitação e fortaleci-

Mapa da Fenágua até o fechamento da edição em 5 de fevereiro

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ABAS INFORMA

ABAS promove cursos em São PauloA ABAS realizou, entre os dias 26 e 28 de setembrode 2012, o curso Hidrologia Avançada: ModernasTécnicas para a Caracterização e o Monitoramentode Aquíferos, que foi ministrado pelo diretor do Cen-tro de Pesquisas de Águas Subterrâneas (CEPAS),professor e pesquisador do Instituto de Geociênciasda Universidade de São Paulo, Ricardo Hirata. Ocurso teve como objetivo apresentar novas soluçõespara os problemas reais hidrogeológicos, integran-do técnicas avançadas e clássicas e, permitindo aoaluno caracterizar os aquíferos, construir modelosconceituais de fluxo e mapas hidrogeológicos, utili-zando ferramentas geológicas, hidráulicas,geoquímicas e isotópicas. Realizado no Hotel Riema,em São Paulo (SP), o curso contou com 59 partici-pantes e teve uma avaliação muito positiva por partedos organizadores.

Entre os dias 4 e 6 de dezembro, a ABAS promo-veu também o curso Projeto, Construção e Opera-ção de Poços, ministrado pelo geólogo especialista

em definição de abastecimento através de águassubterrâneas e presidente da Associação Paulistade Geólogos (APG), João Carlos Simanke de Sou-za. O principal objetivo do curso foi capacitar e ofe-recer noções básicas sobre poços, água subterrâ-nea, métodos de perfuração, equipamentos de ex-ploração, projetos de poços e testes de vazão, alémde aspectos básicos das legislações estadual e fe-deral. O curso contou com a participação de 19pessoas, já que teve um número limitado de inscri-ções, pois, no último dia, foi realizada uma visitatécnica às instalações da fábrica de perfuratrizesProminas, em São Carlos (SP). As aulas expositivasforam realizadas no Hotel Riema, em São Paulo (SP)e o evento também teve uma avaliação positiva.

Os cursos foram organizados pela AcquaConsultoria e de acordo com Rodrigo Cordeiro, di-retor da empresa, ambos os cursos deverão ocor-rer novamente em 2013, porém as datas de reali-zação ainda não foram definidas.

ABAS estabelece novos valoresde anuidade para 2013

mente a secretaria da associação pelo [email protected] ou telefones (11) 3868-0723 / 3868-3390.

“É importante notar o crescimento da adimplênciana ABAS, o que demonstra a confiabilidade

do sócio na atuação da associação. Hoje,o associado tem direito a receber gra-

tuitamente o Guia de Compras, aRevista Água e Meio AmbienteSubterrâneo, além de ter des-contos na part icipação emeventos e cursos”, declarouRodrigo Cordeiro, diretor daAcqua Consultoria e responsá-vel pela secretaria da ABAS.Não houve alteração de valores

para o credenciamento de em-presas em relação ao ano passa-

do. Mais informações sobre ocredenciamento no site da ABAS

(www.abas.org).

A anuidade para os novos sócios e já associados em2013 está com novos valores, que foram aprovados du-rante a última reunião do Conselho Deliberativo da As-sociação Brasileira de Águas Subterrâne-as (ABAS), realizada no dia 12 de de-zembro de 2012, em São Paulo(SP). O valor da anuidade para ossócios da ABAS ficou assim es-tipulado: R$ 110,00, para es-tudantes; R$ 220,00, para pes-soa física e R$ 440,00, parapessoa jurídica, para paga-mento até o dia 30 de março.Após esta data, serão cobra-dos juros de 10%. Para os no-vos associados, os valores de-penderão do mês da adesão, tan-to para pessoas físicas e jurídicascomo para estudantes. Nesses casos,os interessados devem contatar direta-

Todas as informações são atualizadas constantemente no site da ABAS.

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8 ÁGUA E MEIO AMBIENTE SUBTERRÂNEO JANEIRO/FEVEREIRO 2013

HIDRONOTÍCIAS

Carlos Eduardo Quaglia Giampá,diretor da DH Perfuração de Poços

CIENTISTAS DEBATEM SEVIVEMOS UMA NOVAÉPOCA GEOLÓGICA

Há quem diga que este seria o último ato da arrogân-cia humana: tornar oficial nos registros geológicos queações antropogênicas – aquelas que são induzidasou alteradas pela presença e atividade do homem –já causaram, e ainda causarão, tamanho impacto nosciclos naturais do planeta que são suficientes paramarcar o surgimento de uma nova era na escala detempo da Terra.

É exatamente o que está sendo discutido por um gru-po de trabalho de cientistas na Comissão Internacionalde Estatigrafia – disciplina que analisa as marcas de pas-sagem do tempo no planeta. Segundo dados oficiais,estamos há cerca de 12 mil anos em uma era chamadaHoloceno, iniciada no fim da última era do Gelo e carac-terizada por uma relativa estabilidade climática. Confor-

me os Meios Acadêmicos, esse período teve início den-tro do Período Quaternário e da Era Cenozoica.

Para o climatologista Carlos Nobre, a importância deter a definição científica de que estamos vivendo umanova época é acima de tudo simbólica, pois mostra quenos transformamos em uma força telúrica, geológica. Oconceito de Antropoceno resume em uma palavra o fatode que a ação humana se tornou uma força deconsequência global, que modifica os ciclos naturais. Eo processo pode estar ocorrendo em uma velocidadesem precedentes. Enquanto mudanças naturais no pas-sado ocorreram em escalas de milhares de anos, a hu-manidade pode ter mudado o planeta em apenas 200anos. O Antropoceno é caracterizado mais pela veloci-dade que pela intensidade das transformações.

Fonte: O Estado de São Paulo 26/12/12 – Planeta – Giovana Girardi

NAÇÕES SE UNEM PARA FORMARMAPA GEOLÓGICO DA TERRA

Pesquisadores britânicos recolheram informações de 117 países para unir ima-gens de alta definição com detalhes geológicos. Há cinco anos foram mobiliza-dos centros de estudos de diversas partes do planeta para formar oONEGEOLOGY, um Mapa Geológico do Mundo.

Segundo Ian Jackson, coordenador do projeto, foi conseguida adisponibilização na internet de dados padronizados de 138 organizações des-sas 117 nações. Os dados que o Brasil disponibiliza através do Serviço Geoló-gico do Brasil (CPRM), estão na escala 1.1.000.000, considerados de alta qua-lidade pelos coordenadores do projeto.

Fonte: O Estado de São Paulo – Planeta- Bruno Deiro - 46° Congresso Brasileiro de Geologia

BRASIL ASSUME PRESIDÊNCIA DOCONSELHO MUNDIAL DA ÁGUAO engenheiro civil e ambiental, professor da Universidade de São Paulo (USP),Benedito Braga é o novo presidente do Conselho Mundial da Água (WWC), órgãoque visa debater a gestão dos recursos hídricos no mundo e sensibilizar os gover-nos para os problemas ligados a ele.

Benedito Braga durante palestra no II Congresso Internacional deMeio Ambiente Subterrâneo (II CIMAS), em 2011

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A seção Hidronotícias/Recordar é Viver é de responsabilidade do autor.

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ÁGUA E MEIO AMBIENTE SUBTERRÂNEO 9JANEIRO/FEVEREIRO 2013

HIDRONOTÍCIAS

RECORDAR É VIVER

ÁGUA E MEIO AMBIENTE SUBTERRÂNEO 9NOVEMBRO/DEZEMBRO 2012

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10 ÁGUA E MEIO AMBIENTE SUBTERRÂNEO JANEIRO/FEVEREIRO 2013

MEIO AMBIENTE

Comum de doisEstudo revela semelhanças geológicas nossolos das Regiões Metropolitanas de Curitibae de São Paulo e pode colaborar para agestão das águas nos dois estados

Gabriela Padovani

Curitiba São Paulo

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ÁGUA E MEIO AMBIENTE SUBTERRÂNEO 11JANEIRO/FEVEREIRO 2013

MEIO AMBIENTE

s terrenos geológicos das regiões de São Paulo e deCuritiba sofreram um processo de formação semelhan-

te. As bacias sedimentares foram formadas entre 20 e 15 mi-lhões de anos atrás, devido a um processo tectônico que atin-giu uma extensa faixa entre o leste do Paraná e o leste do Riode Janeiro. Ambas são preenchidas por sedimentos predomi-nantemente argilosos, mas com camadas ou lentes arenosasmais ou menos espessas e repousam em rochas cristalinasmuito antigas. A história geológica que se desenrola no últimomilhão de anos é similar e as duas bacias vêm sendo lenta-mente erodidas, inclusive com instalação de grandes rios emseu interior, como as bacias do Alto Tietê, em São Paulo, e AltoIguaçu, em Curitiba. As semelhanças são inclusivegeomorfológicas, pois, além de se constituírem como planíci-es, os rios que as cortam correm no sentido interior.Os aquíferos fraturados, relacionados com as rochas cristali-nas pré-cambrianas de São Paulo e Curitiba, são os principaismananciais subterrâneos explorados por poços profundos eapresentam vazões semelhantes, com média variando entre5 m3/h e 10 m3/h. Em ambas as regiões, a água subterrâneafunciona como fonte de abastecimento complementar, respon-dendo por cerca de 15% a 20% da demanda total de água, oque mantém o equilíbrio do abastecimento público.

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Estas e outras informações sobre as semelhanças dosolo das duas cidades formam o livro “Twin Cities – So-los das Regiões Metropolitanas de São Paulo e Curitiba”(ABMS, 2012), assinado por Arsenio Negro, MakotoNamba, Andrea Sell Dyminski, Vivian Leme Sanches eAlessander C. Morales Kormann, pré-lançado em SãoPaulo, em novembro de 2012. O editor-chefe do livro,Arsenio Negro, explica que a compilação dos estudostem como objetivo somar conhecimento adquirido nostemas de geologia, hidrogeologia e geotecnia e trocarexperiências entre os profissionais das duas cidades.“Em termos práticos, o livro se constituirá em uma im-portante fonte de informações para os profissionais queatuam nessas áreas.”

Regiões apresentam diferenças sutis“Em São Paulo, predominam as Formações São Pau-lo e Resende, e em Curitiba, a FormaçãoGuabirotuba. São constituídas por argilassiltosas e siltes argilosos sobreadensados, en-tremeados por pacotes de areias silto-argilosas.A diferença principal entre as bacias é que a deCuritiba é muito mais extensa, possuindo aproxi-madamente 3 mil Km2, enquanto a de São Paulopossui cerca de 1 mil Km2 ”, explicam os editoresdo livro. Em compensação, a espessura máximaatual da Bacia de Curitiba é menor, com aproxi-madamente 80 metros enquanto a de São Paulopossui cerca de 290, dizem os pesquisadores. Ascotas máximas atuais são semelhantes, sendo 840metros para São Paulo e 930 para Curitiba. “Esti-

ma-se que o número de poços tubulares em operaçãoseja de 12 mil na cidade de São Paulo e de 3 mil, emCuritiba (apenas no Aquífero Atuba), sendo grande par-te destes poços clandestinos e havendo ainda tendên-cia atual de exploração em profundidades crescentes”,acrescenta Negro.

Reginaldo Bertolo, professor e vice-diretor do Centrode Pesquisas de Águas Subterrâneas, do Instituto deGeociências da Universidade de São Paulo (CEPAS/USP), explica que os sedimentos da Bacia de Curitibasão mais delgados e argilosos, menos permeáveis e,portanto, funcionam como aquitardo. “Em São Paulo, oaquífero sedimentar é um importante manancial, embo-ra ocorram diversas áreas de superexplotação, cujospoços acabaram por drenar várias porções do aquífero”,completa o professor.

Contribuição para mudançasno uso do solo e subsoloA demanda por novas informações, cuja observaçãodeve ser em escala local, é uma realidade premente. Aobtenção de respostas a essa demanda permitirá amelhoria do planejamento urbano em seus vários níveis.”Os trabalhos apresentados, dos quais a geologia ehidrogeologia fazem parte, servem como referência téc-nica para a comunidade que atua em geotecnia nas re-giões”, afirma Bertolo, do CEPAS.

Na opinião de Eduardo Salamuni, professor da Uni-versidade Federal do Paraná (UFPR), quanto maior oaprofundamento do conhecimento de ambas as bacias

melhores e maisprecisas serão asdecisões que envol-vem o planejamen-to do uso de seusolo e de seusubsolo. “É precisoter em mente queas cidades constan-temente estãoreinventando e/ourequalificando omodo como ocu-

MEIO AMBIENTE

12 ÁGUA E MEIO AMBIENTE SUBTERRÂNEO JANEIRO/FEVEREIRO 2013

Eduardo Salamuni,professor da UFPR

Vivian LemeSanches, umadas autoras,durante pré-lançamentodo livro emSão Paulo

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pam o espaço onde estão instaladas.Com o adensamento urbano intenso, apartir da década de 1970, mais e maisse utiliza o subsolo não só como umespaço de serviços urbanos básicos,como a drenagem de águas pluviais eo esgotamento sanitário, mas tambémno uso mais nobre como o metrô e, re-centemente, até nichos de um comér-cio ainda incipiente. Em vista desse pro-cesso diferenciado torna-se ainda maisnecessária a obtenção de um conheci-mento bem detalhado tanto do perfil ge-ológico-geotécnico quanto dohidrogeológico. Isso vale para Curitibae São Paulo”, explana Salamuni.

Os editores do livro acreditam que acompilação de dados atualizados so-bre as duas bacias oferece à socieda-de informações acessíveis e valiosas,que possibilita avaliações e açõesotimizadas. Eles destacam quequando estas se relacionam comobras de infraestrutura, o benefíciode se dispor de projetos e obrasotimizadas é evidente, representan-do ganhos para toda coletividade.

Contaminaçãoalastrada exigefiscalização rigorosaSe a formação geológica é pareci-da, os problemas também podemser compartilhados. Em São Paulo eCuritiba a contaminação das áreas pre-judica a plena utilização dos recursosdisponíveis. “Problemas relacionadoscom superexplotação e contaminaçãodos aquíferos são motivos de preocu-pação para as duas cidades. Na Re-gião Metropolitana de Curitiba, asconsequências da superexplotaçãosão agravadas pela possibilidade deinstabilidades geotécnicas no AquíferoKarst. Em relação à qualidade da água

subterrânea, o diagnóstico atual das áre-as contaminadas no Estado de São Pau-lo e, principalmente, na capital tem pos-sibilitado a detecção de várias fontes decontaminação potenciais e confirmadas,chegando a ser necessária a definiçãode áreas de restrição para captação daágua subterrânea. No caso de Curitiba,as questões relacionadas à contamina-ção da água subterrânea ainda estãofocadas à presença de contaminantesde origem sanitária, como nitrato enitrito”, analisa Negro.

“A fiscalização é uma atividade crucialpara a manutenção da “saúde da cida-de” e passa pela revisão do uso do solo.O primeiro passo, no entanto, é não fe-char os olhos para uma realidade tãopresente quanto constrangedora: a con-taminação do solo e da água subterrâ-

nea é um fato e é tão ou mais gravequanto a contaminação da água super-ficial, visto que é de mais difícil corre-ção. Reconhecendo-se isso, voltamosao papel do poder público na sua açãoreguladora extremamente importantepara os munícipes. Não há necessida-de de criar novos mecanismos legaispara coibir abusos ou regenerar situa-ções, mas há necessidade de aplicar alegislação em vigor”, explana Salamuni.

MEIO AMBIENTE

Arsenio Negro, editor chefe do livro Twin Cities

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MEIO AMBIENTE

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Na mesma linha de pensamento, Negro aponta que oEstado de São Paulo deve dar prosseguimento às açõesde identificação e reabilitação das áreas contaminadas,aproveitando-se a tendência atual de ocupação dos imó-veis industriais desativados por empreendimentos imo-biliários residenciais e comerciais. “É importante quetodo o processo seja aprimorado visando à redução dosprazos associados à reabilitação de tais áreas.” Já paraCuritiba, o primeiro passo seriaestabelecer uma metodologia pró-pria de gerenciamento para se di-agnosticar eventuais áreas conta-minadas, seguindo o exemplo deSão Paulo.

Bertolo afirma que apesar doavanço na gestão das áreas con-taminadas em São Paulo, há pro-blemas na sua prática, especial-mente em função da grande quan-tidade de atividades econômicaspotencialmente contaminantes noEstado. “A aplicação plena envol-ve a devida priorização de açõesnas áreas críticas de contamina-ção por parte do Estado, na am-pliação de pessoal da área técni-ca para os trabalhos de fiscaliza-ção, assim como o aparelhamen-to e treinamento deste pessoal”,relata o vice-diretor do CEPAS.

O maior impacto é aalteração radical dociclo da águaAs duas cidades apresentam altíssima impermeabilizaçãoque alteraram as condições locais de clima e uso do soloe sofrem as consequências em épocas de chuvas, comoas enchentes e a formação de ilhas de calor. Com o estu-do, a situação pode ser melhorada. Para Bertolo, ahidrogeologia é uma peça neste quebra-cabeças e asinformações já disponíveis sobre a forma como se dá arecarga e a descarga dos aquíferos da região (naturaisou artificiais) são importantes para contribuir com ações

que minimizem os efeitos indesejáveis relacionados como ciclo hidrológico em meio urbano.

“Interessante é que, embora as recargas naturais(advindas da chuva) sejam reduzidas em áreas urbanas,devido a impermeabilização, a recarga total, entendidacomo a disponibilidade de água, aumenta, devido a fu-gas da rede de água e esgoto. Estudos, utilizando isótoposestáveis, conduzidos em nossos laboratórios no CEPAS,

têm mostrado que 60% darecarga vem das fugas de água eesgoto das concessionárias e quea recarga de hoje é maior do quea recarga antes da ocupação ur-bana. Isso é particularmente im-portante, pois se não fosse essarecarga extra, partes considerá-veis do aqüífero paulistano já es-tariam secos”, relata Bertolo.

Novamente citando a questãoda gestão adequada de locais,Salamuni diz que os alertas nãosão poucos e tampouco são re-centes, mas a ausência de verda-deiras políticas de controle e ori-entação da expansão urbana bar-ra qualquer iniciativa mais contun-dente de requalificar os ambien-tes urbanos. “Nesse aspectoCuritiba, depois de um longo tem-po de uso do marketing ecológi-co, vem se “paulistinizando”, ouseja, está em processopreocupante de perda de áreas

verdes e expansão acelerada, o que culmina comverticalização em bairros que outrora eram dominadospor casas com quintais que permitiam a recarga dofreático e, ao mesmo tempo, amenizavam as bolhas deconcentração de calor. As duas cidades estão perdendoo freio – ou já não o possuem - necessário para a mitigaçãodas consequências do aumento da temperatura global,seja qual for sua causa”, acrescenta o professor.

O maior impacto que se verifica no ambiente urbanodas duas cidades é a quebra ou a alteração radical dociclo da água. “Esse, por exemplo, é o motivo básico paraas recorrentes enchentes em episódios pluviométricosnem tão intensos”, assegura Salamuni.

Embora as recargasnaturais (advindas dachuva) sejamreduzidas em áreasurbanas, devido aimpermeabilização, arecarga total,entendida como adisponibilidade deágua, aumenta,devido a fugas darede de água e esgoto

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E m diversos setores da economia, a consolidaçãoe o crescimento das empresas se reflete na for-

mação de grandes grupos empresariais. Porém, issonão ocorre atualmente no setor de perfuração de po-

ços no Brasil, já que a maioria das empresas são depequeno e médio porte e as reais características do

mercado não permitem grandes investimentos e,assim, inibem o aparecimento de grandes orga-nizações. Apesar do aumento da demanda deágua subterrânea e do crescimento da econo-mia brasileira nos últimos anos, o mercado deperfuração ainda é considerado pulverizado efrágil em diversos aspectos.

Para o geólogo Arnaldo Correia Ribeiro, sócio-gerente da empresa Hidrocon e ex-presidente da As-

sociação Brasileira de Águas Subterrâneas (ABAS),a pulverização decorre, por um lado, da extensão con-tinental do país e por outro, pelos baixos investimen-tos públicos e privados dirigidos ao setor. “O baixovolume de recursos financeiros movimentados pelaperfuração de poços não estimula grandes empresá-rios. No mercado brasileiro, predominam empresasinformais e de pequeníssimo porte. Geralmente sãoempresas individuais, na qual o proprietário é o pró-

MERCADO MERCADO MERCADO MERCADO MERCADO Concorrência desleal, altos encargos tributários ebusca incessante do consumidor por produtos cadavez mais baratos são alguns dos motivos apontadospara o perfil atual do mercado de perfuração de poços

Larissa Stracci

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prio operador. Não estão submetidas a nenhum en-cargo social, apresentam baixo custo operacional,nenhuma tecnologia operacional e normalmente ge-ram produtos desqualificados”.

Mariano José Smaniotto, geólogo e diretor da em-presa Leão Poços Artesianos, afirma que o mercadode poços no Brasil se pulverizou nas regiões mais de-senvolvidas e concentradas devido ao aumento do con-sumo de água nessas áreas. “Esta demanda gerou oincremento do mercado”. Segundo ele, a prestação deserviços de perfuração de poços tubulares profundosvaria de acordo com o clima. “Nosperíodos de chuva o mercadodesaquece, mas quando ocorremperíodos de pouca chuva ou atéuma estiagem mais prolongada, omercado aquece. As empresasexistentes muitas vezes não conse-guem atender a demanda nestesperíodos, gerando espaço para osurgimento de outras empresas econsequentemente pulverizando omercado”, confirma.

Fragmentação e mudançade perfil são recentesO geólogo e presidente da Asso-ciação Paulista das Empresas Perfuradoras de Po-ços Profundos (APEPP), Wlamir Marins, comenta queo mercado tornou-se fragmentado há poucos anos.“No passado a situação era um pouco diferente. Ha-via empresas que poderiam ser consideradas gran-des e algumas chegaram a ter mais de 40 equipa-mentos de perfuração em operação. Porém, de 20anos para cá, devido à facilidade no financiamentode equipamentos, foram surgindo várias empresas.Além disso, a busca incessante do mercado consu-midor por produtos cada vez mais baratos inviabilizao crescimento de empresas de grande porte e bemestruturadas, além dos encargos tributários seremdesestimulantes”.

PUL PUL PUL PUL PULVERIZADOVERIZADOVERIZADOVERIZADOVERIZADO

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Conforme diz Fernando Mancini de Oliveira, pro-prietário da Constroleo Poços Artesianos, “diferenteda construção civil, a perfuração de poços demandainvestimento em maquinários específicos para a re-alização do serviço, o que demanda custos eleva-dos de investimento inicial. Empresas dispostas aaplicar vultosas quantias não são regra no mercado,principalmente quando o payback dos investimen-tos é longo. Empresas de grande porte visamlucratividade alta e retorno rápido, o que não é ca-racterística deste setor”.

Na opinião de Juares Albertode Oliveira, presidente da Asso-ciação dos Perfuradores de Po-ços Artesianos do Rio Grandedo Sul (APERGS), como a ativi-dade de prestação de serviçosé regionalizada “as empresasacabam se especializando emum tipo de geologia. Além dis-so, as pequenas empresas temmais flexibilidade de tomada dedecisões e mudança de rumo.A desvantagem é a falta deordenamento e cooperação en-tre os perfuradores como umtodo”. O ex-presidente da ABAS

e diretor da DH Perfuração de Poços, Carlos Eduar-do Giampá comenta que a partir do ano 2000, o mer-cado de perfuração de poços no Brasil passou a seratendido, em sua maioria, por empresas privadas.“As empresas públicas, em grande escala, principal-mente no Nordeste, foram sendo desativadas, ape-sar de ainda operarem em alguns estados. Essa pul-verização é explicada pela saída das empresas pú-blicas. Outra importante razão do aparecimento demuitas empresas é a falta de um controle público dasmesmas, que na sua maioria operam de forma irre-gular, tanto nos aspectos jurídico/administrativosquanto no aspecto técnico, sem profissionais respon-sáveis habilitados”, analisa ele.

As empresas públicas,em grande escala,principalmente noNordeste, foram sendodesativadas, apesar deainda operarem emalguns estados

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Crise, falta de controle, fiscalização ecapacitação afetam o setorArnaldo Correia Ribeiro aponta que, de um modo geral,as empresas de perfuração vivem em crise vagando denorte a sul do país em constantes deslocamentos, bus-cando atividades nas demandas localizadas, sem públi-co alvo definido ou área de atuação estabelecida.

“O índice de desemprego atual é o principal fato geradordesse tipo de atuação econômica. O sondador desempre-gado gera uma empresa individual, o geólogo ou o enge-nheiro também desempregado gera uma empresa depequeníssimo porte. Elas concorrem no mercado em iguaiscondições e geram no papel propostas que não ficam adever a nenhuma empresa formalizada”. Segundo o diretor,as empresas que operam atualmente são sobreviventes deum cenário econômico marcado pela sazonalidade de de-manda, por uma política tributária exorbitante e por umaconcorrência desqualificada e desigual.

Conforme afirma Smaniotto, diretor da Leão Poços,um dos maiores problemas atuais no setor é a falta decontrole da perfuração de poços no Brasil. “Hoje não hánenhum órgão para exercer este controle ou até mes-mo um centro de pesquisa para informações na área e,por isso, os dados são obtidos pela experiência de quemestá no ramo. Deveria existir um órgão específico decontrole e armazenamento de dados e não um órgãosimplesmente arrecadador de taxas. Com isso, estesdados poderiam ser acessados quando necessário, tra-zendo maior segurança tanto para o prestador de servi-ço como para o cliente”.

Na área privada, a falta de conhecimento e fiscalizaçãopor parte do contratante induz a realização de obras quecomprometem não só o resultado do poço, mas tambéma proteção e utilização adequada dos aquíferos, na visãode Giampá. Já na área pública, ele destaca como carac-

terísticas do mercado: a falta de profissionais capacita-dos para a elaboração de projetos adequados a seus lo-cais e objetivos, custeio das obras inadequadas, comvalores de materiais aquém de seus custos de aquisição,licitações em que não se valoriza a qualificação técnica,somente os preços, concorrências com requisitos e pre-ços aviltantes, preponderando a presença de empresascom baixa qualificação técnica e financeira.

Preços interferem na qualidade dos poçosA fragilidade do mercado e a luta das empresas pela so-brevivência resultam em uma concorrência cada vez maisacirrada, o que faz o preço pelo serviço despencar, alémde aflorar graves problemas nas relações de mercado.Segundo Mariano Smaniotto, diretor da Leão PoçosArtesianos, por ser hoje um mercado fragmentado e aconcorrência tão acirrada, não existe um parâmetro quedetermine um valor para este tipo de prestação de servi-ços. “Cada empresa coloca o valor que considera conve-niente e, na maioria das vezes, sem um cálculo correto,causando situações em que os valores não cobrem nemmesmo seu custo. A consequência é que não há investi-mento para ampliação e melhoria da empresa”.

Segundo a Associação Brasileira de Águas Subterrâne-as (ABAS), enquanto a obtenção da licença de perfuraçãoe a outorga para a perfuração de um poço regular leva porvolta 6 meses, o poço irregular é perfurado em 2 ou 3 diase naturalmente que a um custo muito menor, por isso, otempo de resposta dos estados tem sido um dos princi-pais fomentadores da perfuração ilegal no Brasil.

Conforme avalia Arnaldo Correa Ribeiro, da Hidrocon,“levam grandes vantagens as empresas informais debaixo custo operacional e mesmo as formalizadas, quan-do optam por reduzir custos, baixando a qualidade téc-nica do poço artesiano. Essa é a chamada concorrên-cia desigual que tanto reclamam as empresas mais qua-lificadas”. De acordo com Ribeiro, os órgãos estão re-duzindo cada vez mais seus preços de referência nasconcorrências públicas e, o mercado privado utiliza essemodelo para pagar cada vez menos por poços mais qua-lificados. “Esse parece um efeito prático até desejadopelas leis do mercado quando a disputa ocorre com o

mesmo nível técnico. Nesse caso, aconcorrência desleal é responsável poracarretar um desequilíbrio da relaçãoqualidade/preços que tem levado em-presas importantes a se retirarem domercado”, exemplifica.

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Arnaldo CorreiaRibeiro, diretorda Hidrocon eex-presidenteda ABAS

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Wlamir Marins, da APEPP, comenta que a única “van-tagem” com a pulverização do mercado é obtida peloconsumidor, que com a concorrência tem a oportunida-de de custos mais baixos. “Porém, o que parece ser van-tagem torna-se desvantagem, pois o produto entreguetem perdido qualidade de forma intensiva”, assegura.

Sem lucratividade, setor não investe emtecnologia emodernizaçãoOs baixos investimentospara o desenvolvimento denovas tecnologias, pesqui-sas e modernização dosequipamentos de perfura-ção pode ser consideradooutro empecilho para ocrescimento do setor. “Tal-

vez isso venha de encontro com a pulverização do mer-cado. Pequenas empresas e pouco investimento emtecnologia não geram uma demanda para que o merca-do de desenvolvimento de novas tecnologias se fortale-ça. Se não há mercado consumidor para gerar retornosfinanceiros, não há interesse no investimento em desen-volvimento de novas tecnologias”, explica Mariano JoséSmaniotto, da Leão Poços Artesianos.

Para Juares Alberto de Oliveira, da APERGS,“nossa indústria é fraca, pois tem que competircom produtos estrangeiros. No Brasil, os custossão altos e as indústrias não têm incentivos paracrescer e se fortalecer”. De acordo com Fernandode Oliveira, da Constroleo, “muitas das ferramen-tas de perfuração e peças de reposição depen-dem de fabricantes internacionais, o que mui-tas vezes impacta no prazo de execução da obraem razão do tempo que levam os procedimen-tos de importação”.

O geólogo Wlamir Marins, da APEPP, comen-ta que quaisquer setores que se utilizem detecnologia para execução de seus serviços pre-

Mariano Smaniotto, diretorda Leão Poços Artesianos

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cisam ter avanços tecnológicos paraobter crescimento tanto técnico comomercadológico. “Não é o que aconte-ce com nosso setor. Com a dificulda-de do mercado em criar grandes com-panhias - que teriam condições de in-vestir em novas pesquisas emetodologias - o mercado consumi-dor tem pouca chance de enxergar osetor e isto dificulta o seu crescimen-to”, acrescenta.

Smaniotto explica que no Brasil, todoequipamento mais moderno tem queser importado de países desenvolvidostecnologicamente, como Estados Uni-dos e China. Esses equipamentos im-portados sofrem uma grande incidência de impostos deimportação, o que aumenta o custo para as empresas.“Seria muito interessante se existisse empresas nacio-nais para fornecer os equipamentos necessários para osetor, mas pelo tamanho da maioria das empresas deperfuração de poços e a falta de recurso das mesmaspara investir em modernização, esse mercado detecnologia não tem uma demanda eficiente para ser atra-tivo para investidores”.

O setor de perfuração pode voltar a crescer?A existência de um mercado sedimentado e sólido naárea de perfuração de poços tubulares depende da ca-pacidade do segmento de solucionar os problemas atu-ais. Arnaldo Ribeiro, da Hidrocon, enumera procedimen-tos que o Brasil precisa desenvolver como: complemen-tar os estudos sobre recursos hídricos subterrâneos;divulgar o produto poço com suas vantagens em rela-ção a outros mananciais; estabelecer uma legislaçãovoltada para a qualificação do produto e a proteção domercado; desenvolver um programa para a formaçãodo setor; fortalecer as entidades de fiscalização da pro-fissão; definir linhas de financiamento específicas paraperfuração de poços, conscientizar as empresas públi-cas contratantes, introduzir o conceito “parceria” entrecontratante e contratado e, além disso, buscar junto aosórgãos governamentais o encaminhamento de muitosdesses problemas para obter, além de respaldo legal,as condições e recursos para implantação das reformasnecessárias. “Estabelecidas essas condições, é possí-vel em futuro bem próximo uma verdadeira corrida paraa utilização de água subterrânea e, assim, surgirá um

mercado de perfuração depoços que se estabeleceráde forma definitiva”, confir-ma Ribeiro.

Falta consciência queprestadores de serviços,comércio, indústria e uni-versidades formam umconjunto que deveriam serentendidos pelo Estado

como necessários para sociedade, ressalta JuaresAlberto de Oliveira, da APERGS. “Os perfuradores noRio Grande do Sul, por exemplo, são tratados ‘quasecomo contraventores’, quando na verdade atendemuma demanda da sociedade que os órgãos públicosnão conseguem”. Segundo ele, o segmento precisade um melhor planejamento na gestão dos recursoshídricos. “O setor não precisa de incentivos. Precisaapenas que os órgãos gestores não atrapalhem quemtrabalha corretamente”.

A falta de conhecimento é um dos grandes empecilhospara o desenvolvimento do setor no Brasil, na avaliaçãode Fernando Mancini de Oliveira, da empresa Constroleo.“Não existe em nosso país cursos e treinamento para qua-lificação de pessoal para atuar neste setor. O treinamentode mão de obra acaba sendo realizado em campo, du-rante a perfuração, por profissionais que foram adquirin-do conhecimento prático, e assim, os vícios vão se multi-plicando”. Outro fator, segundo Oliveira, é a carga tributá-ria dos equipamentos, que é muito alta. “Como a perfura-ção de poços envolve aaplicação de diversos tiposde materiais, indiretamentepaga imposto sobre impos-to e este custo necessaria-mente é repassado ao con-sumidor. Incentivos fiscais e

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Fernando Mancini deOliveira, diretor da

Constroleo Poços Artesianos

Juares Alberto Oliveira,da Associação dePerfuradores de PoçosArtesianos do Rio Grandedo Sul (APERGS)

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Wlamir Marins, presidente daAssociação Paulista das

Empresas Perfuradoras de PoçosProfundos (APEPP)

redução de impostos ajudariam substancialmen-te a alavancar a perfuração de poços no país”.

Para Carlos Eduardo Giampá, da DH Perfura-ções, o setor deve adotar ações como: “uma cam-panha institucional para o combate aos poçosclandestinos – sem licenças de perfuração e outorga deuso; a ABAS deve realizar em cima de seucredenciamento de empresas, a qualificação oficial dasmesmas, buscando implementar suas qualidade e quan-tidade; promoção de cursos para capacitação de pes-soal das empresas públicas contratantes e gestoras so-bre os projetos, custeios, operação e manutenção dospoços; campanhas institucionais com participação daSecretaria Nacional de Recursos Hídricos (SNRH) +Agência Nacional de Águas (ANA), órgãos gestores es-taduais, com cursos e divulgação na mídia sobre a im-portância da utilização adequada e conservação daságuas subterrâneas”.

“A única condição de evoluirmos o setor de perfu-ração de poços no Brasil seria a união entre todosos profissionais, empresas e órgãos reguladores quetrabalham na área. Enquanto os perfuradores pen-

sarem apenas emcomo obter lucros, osprofissionais em so-breviverem, os órgãosreguladores em criarmais obstáculos aomercado e os consumidores em buscar custo baixoa qualquer preço, não chegaremos a lugar algum. Épreciso desenvolver o setor para que novastecnologias possam dar condições para as empre-sas obterem lucros, para que os profissionais valori-zem seus serviços apresentando melhores resulta-dos e para que os órgãos reguladores “escutem” oque o setor precisa, fiscalizem e regulem com maioreficiência e que o consumidor final pague o justo peloproduto e esteja satisfeito”, finaliza o presidente daAPEPP, Wlamir Marins.

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CONEXÃO INTERNACIONAL

Raymond Flynn, Universidadede Queen’s Belfast

Microrganismos eáguas subterrâneas –Problema ou solução?Juliana G. Freitas - Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP – Diadema), Brasile Marcelo R. Sousa - Universidade de Waterloo, Canadá

contaminação de águas subterrâneas por microrganismos patogênicos é um problema que não costuma sermuito discutido, em parte porque acreditamos que essa seja uma preocupação para as águas superficiais. Mas

nem sempre é assim... Conversamos com o Professor Raymond Flynn, da Escola de Planejamento, Arquitetura e Enge-nharia Civil, da Queen’s University Belfast, na Irlanda do Norte, que possui muita experiência com essa questão, naEuropa e na África. Ray é hidrogeólogo e nos conta um pouco sobre como os microrganismos se comportam emsubsuperfície; preocupações que devemos ter, mas também as oportunidades que temos para lidar com isso.

A

Qual é a importância de vírus e bactérias para acontaminação de águas subterrâneas? Esse é umproblema comum?A contaminação das águas subterrâneas por microrganis-mos patogênicos é muito mais comum do que a maioriadas pessoas imagina. Uma busca na literatura científicainduz a pensar que agentes químicos são os principaispoluentes que impactam a qualidade de vida das pesso-as. No entanto, o consumo de água contaminada porpatógenos pode ter consequências muito mais graves paraa saúde humana. Estimativas recentes sugerem que maisde 1,5 milhão de pessoas morrem por ano por falta deacesso adequado à água, higiene e saneamento. De lon-ge, a maior parte dessas ocorrências é em países em de-senvolvimento, onde tecnologias para o tratamento de águanão estão presentes. Onde as tecnologias são usadas, emgeral, são barreiras efetivas para prevenir microrganismospatogênicos de entrarem no sistema de distribuição deágua. Ao mesmo tempo, frequentes epidemias de doen-ças transmissíveis pela água na Europa e na América doNorte nos lembram que a proteção contra patógenos nãoé universal. Aliás, a cloração é pouco efetiva na remoçãode vírus e protozoários patogênicos, como indicado porum recente surto de Criptosporidíase na Irlanda, pelo con-sumo de águas superficiais contaminadas.

Ao contrário das águas superficiais, com frequênciase assume que a água subterrânea bruta (não tratada) ésegura para o consumo humano. Infelizmente esse nãoé sempre o caso. Desde 1970, ouvimos casos de conta-minação microbiológica dos sistemas de abastecimen-to, várias vezes associados com surtos de doenças.

Os casos de contaminação de sistemas de abasteci-mento por águas subterrâneas são reportados?Acredita-se que a maior parte dos casos de contamina-

ção por patógenos de sistemas de abastecimento porágua subterrânea não são reportados, em parte porqueos principais agentes infectantes são vírus, que não sãoidentificados nos métodos de monitoramento e sãodirecionados para bactérias patogênicas. Apesar disso,os níveis de patógenos nos sistemas de águas subter-râneas costumam ser muito menores que nos de águassuperficiais. Acho que isso nos fornece uma base inte-ressante para desenvolver uma abordagem alternativapara fornecer água livre de patógenos. Entendendo osprocessos que contribuem para o declínio de patógenosentre a fonte de contaminação e a captação de águassubterrâneas, nos fornece subsídios para identificar re-servatórios onde o tratamento pode não ser necessário.Olhando por outro lado, se nós pudermos providenciarmedidas de proteção ao redor dos reservatórios de águasubterrânea, podemos reduzir ou eliminar a necessida-de de tratamento. Essa abordagem está sendo privilegi-ada na União Europeia, incluindo a Irlanda, onde esta-ções de tratamento são inviáveis economicamente emregiões agrícolas pouco habitadas; o mesmo princípiose aplica em qualquer área onde o tratamento sejalogisticamente desafiador.

Como é sua pesquisa e experiência lidando com esseproblema na Europa e na África?A pesquisa que desenvolvo na área da ocorrência depatógenos em sistemas de abastecimento com águassubterrâneas se baseia num simples modelo fonte-cami-nho-receptor, com a ênfase sendo colocada na caracteri-zação dos processos que acontecem no caminho entrea fonte (como esgoto ou esterco) e os sistemas de abas-tecimento de águas subterrâneas. Essa abordagem pro-porcionou uma estrutura robusta para entender contami-nação por patógenos na Irlanda e outros locais. Frequen-

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temente o método pode ser aplicado com baixo custo.Por exemplo, em um estudo recente, completamos umapesquisa de saneamento simples inspecionando as con-dições ao redor de poços de monitoramento e fontes naIrlanda do Norte. Isso indicou a construção inadequadados poços e o acesso sem restrição de gado em áreasao redor dos poços como sendo responsáveis pela mai-or parte dos casos de contaminação microbiológica dossistemas de águas subterrâneas. Na mesma linha, nossapesquisa na África numa ocupação urbana informal (fa-vela), mostrou que apesar do grande número de fontespotenciais como latrinas e fossas locadas próximas a umafonte, a qualidade microbiológica da água era boa namaior parte do ano. Deterioração ocorria esporadicamentedurante a estação de chuvas, quando pequenas quanti-dades de escoamento superficial, fortemente poluídascom indicadores patogênicos, passava direto pelas es-truturas de proteção nas cabeças dos poços e fontes.

O acesso dos patógenos aos sis-temas subterrâneos é simples?As condições geológicas tempapel em seu transporte?Infelizmente, entender a contami-nação de águas subterrâneas porpatógenos não é sempre tão sim-ples. Em alguns casos, ospatógenos podem entrar nos sis-temas de abastecimento em locaisdistantes, indicando que o acessodos patógenos aos sistemas sub-terrâneos pode ser mais complica-do. Uma pesquisa na qual estiveenvolvido na Suíça e Alemanha in-vestigando a mobilidade de vírus ebactérias em aquíferos arenosos ecom pedregulhos mostrou que os microrganismos po-diam se mover nessas unidades com velocidades maisde 100 vezes maior que a estimada por simples estima-tivas da hidrogeologia. Nesses casos, testes detraçadores forneceram evidências de zonas de fluxo pre-ferencial e mostraram que as zonas de proteção exis-tentes ao redor dos poços não eram adequadas. Foisomente por meio de observações geológicas comple-mentares que nosso time percebeu o papel dasheterogeneidades geológicas no transporte decontaminantes microbiológicos. As condições observa-das tiveram que ser consideradas para o desenvolvimen-to de alternativas de estratégias para a proteção daságuas subterrâneas. Se olharmos para essa questão poroutro lado, significa que se falharmos na hora de consi-derar as condições geológicas isso resulta num fraco

entendimento dos processos hidrogeológicos e desper-dício de recursos financeiros, muitas vezes escassos.

Quais são os principais mecanismos responsáveispela remoção de organismos patogênicos?Entender os processos responsáveis pela remoção depatógenos no subsolo envolve elementos biológicos, fí-sicos e químicos. Do ponto de vista biológico, ospatógenos podem servir como uma fonte de comida paraoutros microrganismos. Na verdade, esse processo éuma parte crítica no tratamento do efluente de fossassépticas e ajuda a proteger a qualidade da água subter-rânea recebendo o esgoto. Além da predação, do pon-to de vista físicoquímico, a filtração tem um papel funda-mental na remoção de matéria particulada, incluindomicrorganismos, à medida que fluem no meio poroso.Para entender o processo devemos pensar nos micror-ganismos como partículas. A remoção é considerada

como um processo em duas eta-pas: primeiro os patógenos coli-dem com uma superfície fixa comoo material do aquífero; a frequênciade colisões depende das proprie-dades do microrganismo, princi-palmente do seu tamanho, e daspropriedades físicas do solo. Umavez que houve a colisão, ele é reti-do na superfície dependendo daspropriedades químicas da água, dasuperfície dos grãos e da superfí-cie do microrganismo.Um último elemento que precisa serconsiderado para tentar entender odeclínio de patógenos emsubsuperfície é o fato que os micror-ganismos patogênicos perdem a

capacidade de infectar com o tempo, quanto estão forado hospedeiro, um processo chamado de inativação. Deforma similar a filtração, as taxas de inativação depen-dem tanto do microrganismo quanto das propriedadesfísicoquímicas do solo por qual eles passam. A taxa deinativação de microrganismos retidos em superfícies podeser diferente daquelas dos microrganismos em suspen-são. Onde as taxas são menores os microrganismos po-dem sobreviver por longos períodos (às vezes anos) e,portanto, ser uma ameaça maior a qualidade da água.

Como o tipo de solo pode interferir no destino dosmicrorganismos?O tipo de solo (ou rocha) tem um papel fundamental emdeterminar como os patógenos podem estar em solodeterminarão a eficácia do processo de filtração. As pro-

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Os microrganismospatogênicos perdema capacidade deinfectar com o tempo,quanto estão fora dohospedeiro, umprocesso chamadode inativação

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priedades físicas do solo como distribuiçãogranulométrica e conteúdo de água determinam o ca-minho da água nos poros, e a velocidade da água. Es-ses fatores influenciam a frequência com que os micror-ganismos irão colidir com superfícies nas quais podemse fixar, como grãos de solo e interfaces água-ar. Poroutro lado, as propriedades geoquímicas do solo e daágua determinam se os microrganismos colidindo comessas superfícies irão se fixar ou não. Em geral é esseprocesso complexo, envolvendo hidrodinâmica com aspropriedades físicas e químicas dos solos e dos micror-ganismos, que determinarão quanto será a atenuaçãodos microrganismos na subsuperfície.

Quais são os maiores desafios?Um dos desafios é distinguir qual é a importância relati-va de cada um dos vários processos interferindo no trans-porte e destino dos microrganismos no subsolo. Estu-dos em escala de laboratório per-mitem um nível de controle que nãoé possível no campo. Por outrolado, estudos em laboratório são àsvezes criticados por não utilizaremmeios realísticos (por exemplo,usando esferas de vidro ao invésde solos). Para investigar isso, euestou trabalhando com um time depesquisadores da Suíça, Inglater-ra e Uganda para examinar o pa-pel de diferentes minerais na ate-nuação de vírus em meios porosossaturados. Alguns dos nossos re-sultados têm relevância para aspartes do Brasil onde existem ossolos ricos em ferro. Uma pesqui-sa conduzida em solos tropicaisintemperizados indicou que alguns óxidos de ferro têmalta capacidade de remover bactérias e vírus. Em outraspalavras, o solo pode atuar como um desinfetante natu-ral. Olhando para esse processo em detalhe com basena teoria de filtração, temos indicação que em quasetodas as colisões entre os vírus e o solo, o vírus se fixouna superfície dos grãos. Além disso, quando os vírus sefixaram nas superfíciesdos minerais eles perderam acapacidade de infectar (foram inativados) numa taxamaior que quando na água. Essas descobertas ajudama explicar alta qualidade microbiológica da água emamostras de águas subterrâneas coletadas num ambi-ente urbano que eu mencionei na primeira questão.

Em sua opinião, quais serão as maiores mudançasna hidrogeologia no futuro?O mundo está mudando rapidamente e é difícil saber

qual questão ambiental será a principal no futuro. Dequalquer forma, é claro que muitas dessas questõesserão nas regiões em desenvolvimento, onde as altastaxas de crescimento populacional e rápido desenvolvi-mento econômico estão causando mudançasambientais. Mudanças nas condições econômicas es-tão sendo acompanhadas por altas taxas de urbaniza-ção que são maiores que a capacidade das cidades deoferecer abastecimento de água e saneamento em con-dições adequadas. Como as estatísticas que citei antessugerem; isso já está causando problemas de saúdepública severos. A forma como lidamos com isso podeinfluenciar o papel da hidrogeologia nos próximos anos.Muitas das abordagens para o abastecimento de águae disposição de esgotos que foram adotadas nos paí-ses desenvolvidos são inviáveis para regiões mais po-bres em curto e médio prazos. O uso (e controle) daágua subterrânea em zonas urbanas de baixa renda tem

um grande potencial para lidar,pelo menos em parte, com o pro-blema de abastecimento de águae saneamento. No entanto, ne-cessitamos de um conhecimentoaprofundado das influências emáreas densamente povoadas naqualidade física e química daágua; o que por sua vez impli-ca em mais pesquisas. Comoisso será f inanciado eimplementado depende princi-palmente de vontade políticanacional e internacional.

Um ponto mais positivo é queavanços tecnológicos recentesem outras disciplinas, indo de ele-trônica para técnicas de perfura-

ção, são promissores para gerar um conhecimento maisaprofundado dos processos hidrológicos ao redor domundo nos próximos anos. Melhoras nas tecnologiasde sensores já são capazes de gerar análises de quali-dade da água em alta resolução em vários sistemas deáguas superficiais. A adaptação para sistemashidrológicos tem grande potencial de melhorar nossacompreensão dos impactos de atividades naturais eantropogênicas nos sistemas de águas subterrâneas.Uma adaptação inicial desses sistemas em algumas fon-tes já melhorou significativamente nosso entendimentosobre aquíferos cársticos.

Você tem alguma sugestão ou recomendação paraum professional de água subterrânea no começode carreira? Desde que me graduei, a área de hidrogeologia tem se

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O uso da águasubterrânea em zonasurbanas de baixarenda tem um grandepotencial para lidarcom o problema deabastecimento deágua e saneamento

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expandido. Pessoas trabalhando em disciplinas que vari-am de direito a engenharia agora têm conhecimento daimportância das águas subterrâneas do ponto de vistahumano e também com uma visão ecológica mais am-pla. Vejo essa tendência continuando. Profissionais deáguas subterrâneas no começo de suas carreiras preci-sam considerar isso e incorporar isso na estratégia dedesenvolvimento de carreira, ao mesmo tempo em quemelhoram seus conhecimentos técnicos. Uma questãochave é a habilidade de usar as habilidades desenvolvi-das na educação superior para buscar e achar novas in-formações relevantes. Isso é mais difícil que parece. Como desenvolvimento contínuo de tecnologias, nós temosuma enorme quantidade de ferramentas de busca à dis-posição. A capacidade de fazer uma seleção crítica dasmelhores fontes para basear uma decisão informada éuma habilidade essencial para todos os profissionais deáguas subterrâneas. Tenho receio que isso não seja res-saltado suficientemente em algumas instituições acadê-micas, deixando os recém graduados acreditando queos conhecimentos técnicos que aprenderam são sufici-entes para desenvolver uma carreira de sucesso.

Num tópico relacionado, também vejo uma tendência

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perturbadora em algumas áreas do setor de águas sub-terrâneas. A representação gráfica agora é bastante so-fisticada. O desenvolvimento de softwares de modelagemagora permite gerar modelos com poucos dados, quesuperficialmente são convincentes. É uma grande tenta-ção não questionar as informações que sustentam essesmodelos. Como hidrogeólogos, precisamos sempre ques-tionar os dados usados para desenvolver os modelos (ecomo foram obtidos) para garantir que sejam realistas.Os melhores hidrogeólogos que conheci na minha car-reira seguem essa abordagem consistentemente.

Num sentido mais amplo, qualquer profissional deáguas subterrâneas precisa desenvolver habilidades decomunicação oral e escrita se tiver o desejo de se envol-ver em questões amplas que afetem a sociedade. Emmuitos casos, isso requer comunicar conceitos não fami-liares para não especialistas. Ao mesmo tempo, ohidrogeólogo precisa desenvolver um conhecimento so-bre as questões e perspectivas dos especialistas de ou-tras áreas. Dessa forma a importância das águas subter-râneas será melhor reconhecida pela sociedade. Pelaminha perspectiva pessoal, eu faço isso com freqüênciae acho o processo extremamente enriquecedor.

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PERFURAÇÃO

Joel Felipe Soares, diretor daTrionic – Produtos e Equipamentospara Perfuração Ltda

FILTROS, O CORAÇÃODOS POÇOS

perfuração de poços tubulares profundos exigeestudos prévios para a explotação de águas sub-

terrâneas. Baseado neles, executa-se o projeto do poçoa ser perfurado, que deve detalhar os materiais para suaconstrução, como tubos de broca, selo sanitário, tubu-lação final e, principalmente, os filtros.

O filtro deverá ser colocado em profundidade deter-minada pela perfilagem e terá a finalidade de captar aágua do aquífero. E será a passagem para que a águasaturada flua livremente para o poço.

Para se obter resultados positivos, o filtro deve ser pro-jetado para permitir a entrada da água livre de areia, emquantidades suficientes e com a mínima perda de car-ga. Portanto, podemos afirmar que o filtro é o “coração”do poço, ressaltando assim sua fundamental importân-cia no desempenho do mesmo.

No Brasil, são fabricados e oferecidos diversos tiposde filtros, de acordo com a conveniência de cada fabri-cante. Chega-se, inclusive, à oferta de tubos lisos perfu-rados, sendo ignoradas todas as especificações neces-sárias ao filtro; o que se observa é somente a questãofinanceira, comprometendo as características construti-vas do poço e prejudicando sua capacidade produtiva.

As características mínimas necessárias para um filtrocorretamente projetado são:1. abertura em forma de ranhuras contínuas eininterruptas ao redor da circunferência do filtro;2. pequeno espaçamento das aberturas permitindo amáxima porcentagem de área aberta (de acordo com agranulometria da formação);3. aberturas em forma de “V”, alargando-se internamente;4. construção com um só metal, prevenindo-se a corro-são galvânica;5. adaptabilidade a diferentes condições de profundi-dades de colocação;6. máxima área aberta, consistente, com resistên-cia adequada;7. ampla resistência para suportar os esforços aos quaiso filtro estará sujeito durante e após a instalação.

O filtro de abertura contínua é feito pelo enrolamentode arame trefilado a frio, de secção transversal triangu-lar. O enrolamento é em hélice, ao redor de um feixecircular de hastes longitudinais. Cada ponto em que oarame cruza as hastes, esses dois componentes sãofirmemente ligados. O método mais resistente para ligaro arame às hastes, em cada intersecção, é o da solda.

A O filtro assim construído torna-se uma peça rígida.O filtro pode ser fabricado em aço galvanizado de baixo

teor de carbono, em aço inoxidável tipo 304 ou 316. Nocaso de águas altamente corrosivas, podem ser utiliza-dos outros materiais especializados.

O espaçamento entre as espirais do arame pode servariável, em milímetros, conforme o caso. Um determi-nado filtro pode ser de abertura de espaçamento unifor-me ou ter aberturas diversas ao longo de seu compri-mento. Essas variações estão condicionadas às carac-terísticas geológicas. Cada abertura entre as espirais ad-jacentes apresenta transversalmente a forma em “V” re-sultante da secção também em “V”, do arame usado.Essa disposição é utilizada para se evitar o entupimentodas aberturas por sedimentos de granulação diversa.

Como se pode observar o projeto do filtro do tipo“abertura contínua” é feito de maneira a dificultar o fe-chamento das aberturas pelas partículas sedimentaresoriundas da formação. Esse tipo de filtro permite maiorárea relativa de entrada da água que qualquer outro.

Em função da estrutura do filtro e das característicasacima mencionadas, a água flui para o poço mais livre-mente e a velocidade de entrada é menor; assim, a per-da de carga de pressão para o filtro é mínima, o queimplica em uma redução do abaixamento no poço parauma dada taxa de bombeamento.

A grande área aberta e a baixa velocidade de entradada água prolongará a vida útil do poço, obtendo-se as-sim a desejada economia financeira, sem abrir mão daqualidade, pois a deposição de minerais incrustantes éretardada quando a velocidade da água é pequena.

As experiências de poços já construídos demonstrama maior eficiência do filtro espiralado quando confronta-do com outros tipos e pode ser o grande diferencial emseu poço tubular profundo. Se você olhar dentro da ter-ra, não encontrará um “rio subterrâneo” fluindo paradentro de seu poço. Sua água será encontrada nos pe-quenos espaços entre as rochas, no aquífero. Assim queo aquífero é atingido pela perfuração, o filtro deve serinstalado, para reter a areia e deixar a água fluir; semele, os sólidos rapidamente destroem a bomba e obs-truem o poço. A instalação do filtro correto em seu poçosignifica mais água, por mais tempo, ao menor custo.

Bibliografia:Água Subterrânea e Poços Tubulares – Johnson Screens

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O COPROCESSAMENTOE A PRESERVAÇÃO DOSRECURSOS NATURAIS

U

Bernadete Carvalho,supervisora comercialda Holcim Brasil S/A

ma das formas de ajudar a diminuir o descarte incorreto de resíduos industriais e lixo urbano é por meio docoprocessamento. A tecnologia consiste em receber itens que não têm mais utilidade para outras indústrias,

analisar e tratar esse material e utilizá-lo como combustível e matéria-prima na fabricação de cimento, proporcionan-do uma menor emissão de CO2 , benefícios ao meio ambiente e à saúde pública.

O coprocessamento é a técnica de destruição térmica a altas temperaturas em fornos de clínquer devidamentelicenciados para este fim, com aproveitamento de conteúdo energético e ou aproveitamento da fração mineral comomatéria prima, sem a geração de novos resíduos, com a total preservação da qualidade e característica do cimento.

Os benefícios do coprocessamento:• Uma solução permanente aos problemas degerenciamento de resíduos• Diminui a dependência de combustível fóssil• Preserva recursos naturais• Não gera novos resíduos• Reduz custos de energia térmica• Reduz emissões dos gases que causam o efeito estufa

Os principais resíduos que podem sercoprocessados:• Substâncias oleosas• Catalisadores usados• Resinas, colas e látex• Pneus e emborrachados• Madeiras contaminadas• Solventes• Borras Ácidas• Lodos de tratamentos• Terras contaminadas• Revestimentos de Cubas de Alumínio• Papel e papelão contaminados

A técnica do coprocessamento elimina completamenteo resíduo, sem a geração de outros tipos, como as cin-zas, por exemplo, tornando-se a melhor alternativa pararesíduos que não podem ser reciclados.

Todo o trabalho é licenciado e acompanhado pelosórgãos ambientais. O coprocessamento é dividido emvárias fases, desde análises laboratoriais, licenciamentosdos órgãos ambientais, transporte e armazenagem cor-retas, treinamento específico dos motoristas que trans-portam a carga, até a análise das amostras dos resídu-os coletados e processo de análise e tratamento antes

de ir para o forno. É preciso ainda emitir um certificadode responsabilidade que ateste que o material foi total-mente destruído após o coprocessamento.

No Brasil, apenas a indústria cimenteira está autoriza-da a realizar essa técnica, devido à alta tecnologia deseus fornos.

O coprocessamento é uma atividade segura pelasseguintes razões:• Sofisticado sistema de filtração de gases• Matérias primas em contracorrente com os gasesde exaustão• O turbilhonamento favorece a incorporação dascinzas do clínquer• Ambiente alcalino• Altas temperaturas 1450 -2000 °C• Alta permanência dos gases 4-6 seg e do materialaté 30 minutos• Forno e chaminé monitorados online 24 horas por dia

REMEDIAÇÃO

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OPINIÃO

Suraya Modaelli, diretora técnica do DAEE, secretáriaexecutiva do Fórum Nacional de Comitês de Bacias epresidente da Câmara Técnica CTEM/CNRH

SUPERANDOOS DESAFIOSPARA UMA GESTÃO DE FATOPARTICIPATIVA E INTEGRADA

uito se avançou, nos últimos 20 anos, naimplementação da política de recursos hídricos

no Brasil. Reconhecendo a importância da água, os 26Estados e o Distrito Federal possuem leis prevendo quea gestão das águas deva ser descentralizada, por baciahidrográfica; participativa, com a inclusão da sociedadena tomada de decisões; e integrada, quanto aos aspec-tos de qualidade e quantidade, águas subterrâneas esuperficiais, entre outros.

O ano de 2013 inicia com vários eventos críticos deorigem hídrica (como em anos anteriores) que demons-tram a urgência na mudança de posturas quanto às rela-ções que desenvolvemos entre nós mesmos e o meioambiente e no enfrentamento dos desafios pelos Gover-nos, com o apoio ou induzidos pelos 190 Comitês cadas-trados no Fórum Nacional de Comitês de Bacias. Oenfrentamento desses desafios requer, entre outros as-pectos, que os atores envolvidos estejam qualificados epreparados para atuar e tomar as decisões necessárias.

Por meio do Plano Nacional de Recursos Hídricos, asdemandas de educação e capacitação retornam à agen-da política governamental, em uma de suasmacrodiretrizes: “promover a formação de profissionaispara atuar em GIRH, atualizar os decisores públicos doprocesso de gestão em seus diversos níveis de atua-ção, como também qualificar membros da sociedade,incluindo-se grupos tradicionais e representantes dascomunidades indígenas, para participar de forma efeti-va dos colegiados do Sistema Nacional deGerenciamento de Recursos Hídricos”.

Nos processos de sensibilização e mobilização da so-ciedade para a gestão das águas, a Educação Ambientalassume papel estratégico e contribui para o desenvolvi-mento de capacidades dos indivíduos e qualificação dasinstituições, para a causa ambiental e o engajamentono enfrentamento dos problemas.

Dos projetos inscritos para apresentação no Encon-tro Nacional de Comitês de Bacias, promovido peloFórum Nacional, em 2012, 80% eram sobre educaçãoambiental, que estão sendo implementados como es-tratégicos para o fortalecimento dos Comitês.

Considerando que programas de educação ambientaldevem envolver os processos de ensino-aprendizagemque contribuam para o desenvolvimento de capacidadesde indivíduos e grupos sociais (Resolução no 98/CNRH),existem várias experiências exitosas no País, que po-

dem ser referência para outros projetos.No Mato Grosso do Sul, o Grupo Pró-Apa (Brasil) e o

Consejo de Águas (Paraguai), agentes promotores desustentabilidade na Bacia do Rio Apa no Brasil e noParaguai, com ações conjuntas, co-financiado pela UniãoEuropeia, e com apoio dos municípios que integram abacia, desenvolveram ações para sensibilizar a popula-ção sobre medidas a serem implementadas para o usoracional da água visando promover sua sustentabilidade.

Nos Estados do Ceará e Piaui, o projeto GestãoParticipativa nas Unidades de Conservação da Ibiapaba,proporcionou, entre outros resultados, a visibilidade dasunidades de conservação, ampliando a participação dascomunidades na gestão das áreas protegidas e oengajamento de instituições dos dois Estados em cur-sos de formação para o conselho consultivo, culminan-do com a criação de um grupo de comunicação e a ela-boração do planejamento estratégico das UnidadesConservação da Ibiapaba.

O projeto Vigilantes da Água, também no Ceará, insti-tuiu o monitoramento participativo comunitário da quali-dade de fontes de água para consumo humano, basea-do na capacitação e formação de agentes ambientaisda comunidade, visando a redução dos níveis de conta-minação e sua proteção. Encontros mobilizam as famíli-as para os problemas diagnosticados, seus impactossobre a saúde e o bem estar das pessoas, além da dis-cussão de soluções para recuperar e proteger as águas.

Já com o projeto Revitalização dos Rios deErechim (RS), o Instituto Sócio Ambiental Vida Verdeem parceria com 2a Vara de Execuções Criminais, como Ministério Público e o Comitê de Bacia Apuaê, reali-zou 64 oficinas temáticas (recursos hídricos e resíduossólidos) e 133 atividades de educação ambiental mobi-lizando toda a comunidade da Bacia.

Durante o ano em que a Cooperação pela Água – tam-bém tema do Dia Mundial da Água 2013 – deve ser temade muitos debates, documentos e ações, fica o convite:fazermos uma reflexão sobre qual é o nosso papel nes-te processo; como vemos, sentimos e vivemos nossacidadania e os compromissos que estamos dispostos aassumir, visando a superação de desafios comuns e apromoção do uso múltiplo e sustentável dos recursoshídricos, em quantidade e qualidade, para as presentese futuras gerações, em especial na bacia hidrográficaonde vivemos.

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