JANGA - PIONEIRO DA FÉ

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História do inicio do evangelho

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©Isaque de Borba Corrêa

Rua Antônio José Jorge Filho- 75-1

88.340-000 – Camboriú- sc

Janga Memórias de um pioneiro da fé.

A espetacular história de um pequeno grande homem com uma

extraordinária fé em seu Deus

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2001

Conheça o emocionante depoimento de um jovem negrinho,

franzino e pequeno, mas que não se intimidava por amor à

sua fé.

Enfrentou toda uma cidade: padres, delegados, parentes,

amigos que se tornaram gratuitamente inimigos. Apanhou

de quase todos eles, porém, sem se acovardar, dava a outra

face, mas continuava pregando para seus algozes.

Humildade e valentia numa mesma pessoa e num só

objetivo.

Atualmente, após 44 anos, conheça o que aconteceu com

seus algozes e o fruto desta missão ardorosa. O pequeno

vilarejo de pescadores do tempo da conversão do Janga é

atualmente o mais famoso Balneário do Cone Sul, e tem

uma fortíssima comunidade evangélica, cuja pedra

fundamental, a espinha dorsal, consiste na valentia e

humildade de um homem que não se intimidou, mas que

confiou sem nenhuma sombra de dúvidas em seu Deus.

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Nota do Autor

Como se trata de uma entrevista

descontraída, falada pelo entrevistado

em linguagem coloquial, lembramos

que nem todas as palavras desta

gravação foram transcritas para norma

culta, sendo que a grande maioria foi

colocada do jeito que foram

pronunciadas, em linguagem coloquial,

com pouco compromisso com regras

gramaticais, nem sequer foram

colocadas entre aspas.

Somente aquelas frases que continham

exageros coloquiais, procuramos

sutilmente enquadrar na forma erudita

sem ferir o termo ou a oração.

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PALAVRA DO JANGA

Quero homenagear nesta obra as pessoas que de alguma forma

contribuíram para a minha conversão e que culminou nesta obra.

Desde meu cunhado Geninho, que me falou da existência de uma

igreja .

A maioria das pessoas que influíram na minha fé já partiram para

a eternidade, mesmo assim, gostaria de fazer a minha homenagem

póstuma. Ao meu primeiro pastor Manoel Germano de Miranda,

Demétrio Cardoso, irmã Almira e Germano Corrêa, Liosa e

Marciano Silva.

Dos que Deus ainda conserva vivos não poderia esquecer dos meus

primeiros companheiros, o Genésio, o Gilberto e o Manoel Borba

Corrêa, Gregório e Antônio Silva, Irineu dos Santos e Moabel

Pereira, mas, principalmente a minha esposa Judite, que Deus tem

colocado ao meu lado como a melhor companheira que Ele

poderia me dar, e que nunca me desamparou mesmo nas piores

tribulações.

Das pessoas atuais que de alguma forma me ajudaram,

homenageio o Pastor Nelson Miranda e José Izidoro Cardoso.

Ao escritor, historiador acadêmico Isaque de Borba Corrêa a

quem Deus usou poderosamente para despertar a realização desta

obra.

A todos, meu mais sinceros agradecimentos.

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Prefácio A emocionante história de um jovem negrinho, de compleição

fraca, mas que se agigantava diante de seus perseguidores.

Enfrentou a ira de uma cidade inteira pelo amor a seu Deus e a

sua fé: padres, amigos que se tornaram gratuitamente inimigos e

até alguns delegados da cidade.

Apanhou de diversas pessoas, foi ameaçado com armas, pau e até

tamancos, mas não desistiu e não se intimidou.

Nem mesmo a sua adorada e meiga esposa Judite aceitou

inicialmente a sua pregação.

Apenas uma mulher, uma senhora na cidade, solidarizou-se com

ele. Esta senhora era a minha mãe, que já tinha ouvido falar do

evangelho. Havia se convertido alguns anos antes, mas por falta de

assistência religiosa, desviou-se do caminho.

Foi ela quem conseguiu convencer a Judite, meses mais tarde.

As três primeiras pessoas que ele conseguiu convencer foram três

meninos: três irmãos; meus três irmãos mais velhos.

O mais velho dos três não tinha ainda 15 anos e o mais moço

apenas nove anos. Eram apelidados de filhos de urubu, porque

eram brancos e ganharam um pai negro.

Meu pai ao saber da conversão deles, deu-lhes uma surra tão

grande que os dois mais velhos desistiram, apenas o menor de

nove anos permaneceu e permanece até hoje e é pastor da Igreja

Evangélica Assembléia de Deus, ministério catarinense.

Conheça as lutas e as vitórias deste pequeno grande homem,

destemido, desassombrado cujas únicas armas que usava eram

apenas a humildade, uma Bíblia e muita coragem.

Veja como ele enfrentou diversas pessoas sozinho, e, como

conseguiu convencê-los. Sempre firme na fé, construiu o

fundamento de uma igreja atualmente forte e poderosa, numa das

cidades mais importantes e sodomitas do país: Balneário

Camboriú em Santa Catarina.

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INTRODUÇÃO

Temos certeza de que esta história vai emocionar o leitor que ama

e gosta do evangelho de nosso senhor Jesus Cristo.

Contaremos a história de um homem paupérrimo, negro e

pequeno, que se converteu ao evangelho num lugar provinciano,

onde as pessoas eram mal instruídas, ignorantes, estúpidas,

idólatras e preconceituosas. Não tinham piedade em maltratar

qualquer pessoa que se destacasse em qualquer atividade que

viesse a romper com os conceitos preestabelecidos da sociedade

local.

João Boaventura Caetano, o Janga, nasceu aos 14 de março de

1932, num pequeno lugar, numa praia que nem nome tinha.

A localidade era chamada apenas de “Praia”, nome genérico de

um acidente geográfico para uma cidade do interior de Santa

Catarina.

Nasceu quase num quilombo, ou seja, um valhacouto de negros,

um clã de negros quase todos aparentados, quase todos de

sobrenome Boaventura Caetano, uma das famílias mais

numerosas da cidade e com certeza, a maior família de negros da

antiga cidade de Camboriú.

A Praia não tinha nome específico como dissemos, era apenas

conhecida como a maior entre todas as praias da cidade de

Camboriú.

Eu também nasci neste lugar, éramos vizinhos e na minha

certidão diz que nasci no “logar” Praia.

E se nasci em lar cristão e por sinal fui a primeira criança a

nascer em lar cristão nesta cidade, certamente foi pela fé e a

perseverança deste homem, personagem central desta história.

Mesmo sendo apenas um lugar qualquer, num bairro sem nome,

denominado apenas pela situação geográfica deste lugar:“Canto”,

também por ser posição geográfica. Canto “norte” da praia da

cidade de Camboriú

O “Canto da Praia”: assim era denominado o lugar onde

nascemos, tanto eu como meu irmão Janga.

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Irmão de fé, de lutas e de uma longa amizade, de muito respeito e

de muita consideração.

Apesar de morarmos num canto qualquer da praia sem nome, no

canto norte, mesmo assim, era ali um dos lugares mais povoados

da cidade, e com certeza, o mais povoado do Distrito da Praia de

Camboriú.

Ali foi um dos maiores redutos escravagísticos da Cidade de

Camboriú.

Atualmente seu clã é o maior, entre os renascentes de escravos da

cidade.

E o negro Janga é orgulhosamente, um dos remanescentes da

escravatura em nossa cidade.

Crescido assim, lhe haveria de recair toda a espécie de desprezo,

desconsideração e preconceito, especialmente no momento em que

quisesse romper com o “status quo”.

Tudo isto veio ainda mesmo antes de fazer a mais importante

decisão de sua vida: aceitar a Jesus como seu único e suficiente

salvador.

Moço ainda, João Boaventura Caetano seguiu o ofício de pintor de

paredes, sendo muito considerado nesta profissão, e sem alguém

ainda duvida, contrate-o e prove-o.

Janga ouviu pela primeira vez falar do evangelho, pela boca de

um homem chamado Eduviges. Com este nome de santa católica,

o homem mudou a vida do negrinho Janga quando pregou o

evangelho para este homem de coração fértil à semente da palavra

de Deus.

Eduviges era o dirigente dos cultos desta localidade pequena e até

insignificante, numa época quando o turismo ainda não havia

despertado no mundo, a consciência de fonte de riqueza e

necessidade fundamental na vida do homem.

A localidade onde ele vivia era fundamentalmente povoada por

pobres pescadores, que viviam para pescar num dia e ter aquilo

que comer no outro.

Por sinal, ser pintor de parede, já era uma profissão mais chique.

Já denotava determinada capacidade maior, que a de seus

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conterrâneos primitivos e originais. Este ofício ele foi aprender na

cidade de Itajaí com um tal Deda Zacarias.

Neste tempo o seu pequeno lugar começava a despertar o interesse

de pessoas ricas, provenientes do Vale do Itajaí, geralmente

alemães, teutos-brasileiros.

Mas o interesse desta gente era apenas para o veraneio e se

ocupavam da praia quase deserta apenas nos três principais meses

de verão.

Um relatório da prefeitura da época aponta que até 1950, apenas

45 casas havia nesta praia entre nativos e turistas.

No ano de 1952, quando já haviam desaparecidos todos os

estigmas promovidos pela II Grande Guerra, os alemães

começaram a incentivar o turismo na Praia de Camboriú.

O “intenso turismo teutônico” fez a Praia dar um pulo para 600

casas nos anos de 1952.

Janga neste tempo poderia dizer até que vinha muito bem.

A intensa atividade da construção civil, forçava o povo a

trabalhar neste ramo de atividade e principalmente nas épocas de

veraneio não havia desemprego no pequeno vilarejo.

Tudo parece muito bem, muito lógico, mas não para o Janga.

Num espaço tão circunspecto onde todo mundo conhece todo

mundo, não faltava quem boicotasse o serviço dele e a propaganda

contra a prosperidade do Janga.

Alguns chegavam a dizer-lhe cara-à-cara, que só lhe daria

emprego se desistisse da sua fé. Outros diziam que não daria a

pintura de sua casa a um crente.

A fome e a necessidade abateu-se sobre a casa do Janga, mas isto

também não foi motivo para que ele desanimasse.

Janga ouviu o evangelho e prometeu ir à Igreja. Foi e se

converteu.

No mesmo dia quando anunciou que iria assistir um culto, seus

“melhores” amigos, prepararam um batuque, pois sabiam que ele

gostava de um samba e foram até à porta da Igreja para demovê-

lo da idéia de se converter.

Até a sua esposa apesar de uma personalidade angelical, meiga,

dócil, apesar de não ter coragem de contrariá-lo em nada, de até

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passar-lhe as roupas para ele ir aos cultos, indignou-se quando a

convidou para assistir o primeiro culto.

Incrível que ninguém na comunidade inteira, tivesse apoiado o

nosso herói.

Não é difícil de imaginar como deveria estar amargurado este

coração, ao ver tamanha contrariedade. Ninguém, ninguém lhe foi

solidário. Nenhum amigo, nenhum parente, nem branco, nem

negro.

Emocionou-me sobremaneira quando, concedeu-me a entrevista, o

momento que Janga confessou-me que apenas a minha mãe, Dona

Almira, lhe fora solidária.

E parece que foi providencial, pois foi ela, a velha Mira, quem

Deus usou para convencer a Judite, a doce e meiga Judite, a

aceitar Jesus. Foi o primeiro sinal de melhoria.

O primeiro clarão naquela treva absoluta.

Até que um dia, João Boaventura conseguiu convencer três

meninos irmãos: Genésio Borba Corrêa, Gilberto Borba Corrêa

(Lela) e Manoel Borba Corrêa (Maneca). Eles são meus irmãos

mais velhos. Aliás, eu sou o mais moço dentre os nove irmãos.

A idade deles era de 14, 12 e 09 anos respectivamente. Três

crianças que foram os três primeiros fundamentos da fé cristã em

Balneário Camboriú.

Estes três meninos são meus irmãos, e meu pai ao saber da suas

conversões, deu-lhes uma surra tão grande que os dois maiores se

desviaram. Apenas o menor, um adolescente quase criança,

permaneceu e permanece até hoje. A minha mãe abria a janela da

casa para ele ir e vir da igreja à noite, depois que meu pai se

recolhia para dormir.

Manequinha como costumamos chamá-lo, é atualmente pastor da

Assembléia de Deus na cidade de Sombrio – SC

Depois a cidade foi crescendo e as coisas foram se ajeitando. Até o

Delegado Marciano que apesar de ser terrivelmente contra o

evangelho, convertera-se. A cidade cresceu, tornou-se município.

Hoje é uma das maiores praias do Brasil.

O maior pólo turístico do sul do País. Uma cidade eminentemente

sodomita, porém ali existe uma Igreja Evangélica Assembléia de

Deus, grande e poderosa, mais que teve no início, um homem

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pequeno, que se agigantou perante seus perseguidores e sustentou

a sua fé e a de seus discípulos e foram o firme fundamento desta

igreja. É até hoje, é considerado a “espinha dorsal” desta igreja.

Pai na fé de todos os primeiros crentes dali.

Até hoje, todos nós temos com ele um relacionamento respeitoso

de pai e filho, todos nós crentes e filhos dos crentes primitivos

desta cidade.

Agora, a igreja com mais de 40 anos, seus primeiros membros

ainda vivos testemunham esta história que serve além de tudo

para honra e a glória daquele que tudo pode, a ponto de usar o

mais tímido, o mais humilde para fazer dele o herói que vamos

relatar.

Nós que temos o privilégio e a honra de conhecer e conviver com o

nosso pioneiro, sentimo-nos imensamente honrados por este

privilégio de poder conviver no mesmo amor primitivo com o

nosso pai na fé.

Falta-nos ainda o dever de agradecê-lo em nome dos cristãos

primitivos todo o seu esforço e perseverança, que só quem

conviveu com este homem nos primórdios da fé, entende este

amor e o que quero dizer:

Obrigado ao Janga, nosso pai na fé, nosso irmão, amigo,

conselheiro...

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A ENTREVISTA.

Já falamos no início que a primeira pessoa que pregou para o

Janga foi um pregador de nome Eduviges.

A igrejinha distanciava-se uns três quilômetros de onde o Janga

residia. Naquele tempo esta igreja era apenas uma choupana no

meio de uma roça de cana, na localidade de Praia Brava.

Eduviges pregou para o Janga, na beira da praia e foi a primeira

pergunta que lhe fiz. Conheça o teor da entrevista que fiz com ele

e com a sua esposa Judite.

Isaque: ONDE, QUANDO E QUEM PREGOU O

EVANGELHO PARA O SENHOR PELA PRIMEIRA VEZ ?

Janga: Eu estava na beira da praia quando ouvi pela primeira

vez, foi um tal de Eduviges, ele era da localidade de Mato de

Camboriú e dirigia o trabalho na Praia Brava. Eu estava na beira

da praia quando ele falou de Jesus pra mim.

Falava palavras muito profundas pra mim e eu não compreendi o

que ele falava.

Isaque: QUANTOS ANOS O SENHOR TINHA NESTA

ÉPOCA?

Janga: Eu tinha nesta época 23 anos de idade.

Isaque: QUAL FOI A MENSAGEM, O QUE ELE PREGOU

PARA O SENHOR?

Janga:Ele falou de Jesus pra mim; mas, nada daquilo entrou na

minha mente.

Isaque: E QUANDO FOI QUE SUA MENTE SE ABRIU?

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Janga: Aí, passados alguns dias, um cunhado meu falou-me que

na Praia Brava tinha um negro que tocava gaita e que morava no

Ariribá. E fomos convidados a ouvir este negro tocar. Então

fomos à Praia Brava ouvir ele tocar.

Isaque: NÃO HAVIA NENHUM CRENTE POR AQUI?

Janga: Aqui nesta redondeza, crente pentecostal não existia

nenhum.

Isaque: QUEM FORAM OS PRIMEIROS CRENTES, DA

PRAIA BRAVA QUE O SENHOR SE LEMBRA?

Janga: Naquela época existia o Demétrio Cardoso (Chiquinho

Cardoso), que também dirigia os cultos; Genésio Caetano, o

Eduviges e ainda o Herculano ...

Judite (intervindo) : - O pai do Chiquinho também ...

Janga: (continuando): ... Sim o Isidoro Cardoso, o Zidorinho, a

mulher do Zidorinho, este negão do Ariribá e a mulher dele.

Isaque: E AÍ O SENHOR FOI ASSISTIR A UM CULTO LÁ?

Janga: Aí fui ver o culto

Isaque: O SENHOR NUNCA TINHA VISTO UM CULTO

ANTES?

Janga: Nunca tinha visto antes, nunca tinha entrado numa igreja

evangélica.

Isaque: E O SENHOR GOSTOU? Silêncio ....

Isaque: ASSUSTOU-SE COM ALGUMA COISA?

Janga: Não. Ali foi a primeira vez que eu ouvi a voz de Deus

falar com um homem, foi naquele dia ali.

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Isaque: O QUE É QUE DEUS TE DISSE?

Janga: Na hora da pregação, quando o Chiquinho estava

pregando, a sua mensagem falava do Profeta Jonas.

Enquanto ele falava esta mensagem, fiquei despertado, a minha

mente abriu e de repente a sua esposa que era batizada com o

Espírito Santo, ela veio ao meu lado, e falou uma língua que eu

nunca tinha ouvido falar.

E aquela língua veio por dentro de mim como facas, que

começaram a cortar o meu coração e comecei a sentir uma dor no

meu coração. Mas não entendia...

Terminou o culto e eu vim para minha casa. Eu morava no Canto

da Praia na casa do meu sogro Marcílio Estevão Costa.

Ao chegar em casa, sugeri para minha mulher: Vamos ficar

crentes amanhã?.

Ela disse: “vai tu”

Ali, a segunda voz falou comigo: “Tu compreendeste, mas ela não

compreendeu.”

No outro dia, saí de minha casa para pintar a casa de um padeiro,

confeiteiro de Itajaí, que eu já havia tratado. Aí eu saí para pintar

esta casa. Quando saí da minha casa, eu disse pra ela: Agora eu

vou pintar.

Eu já estava destinado a voltar à noite, para ir direto para aceitar

a Jesus naquela noite.

Quando eu saí de casa, ouvi a terceira voz. E quando aquela voz

que falou comigo, fiquei emocionado, fiquei espantado, assustado;

olhei para os lados, quando a voz me tinha dito: “Homem!!! Vem

e te entrega...”

E eu com aquela voz, comecei a chorar porque ela emocionou meu

coração e vi que era uma voz estranha, era uma voz divina, e

fiquei muito comovido, comecei a chorar e disse: esta noite eu

serei um crente em Jesus.

Foi o dia que eu mais me alegrei, que fiquei mais satisfeito, foi

naquele dia.

Voltei às cinco horas do serviço. Mas alguns que já sabiam que eu

ia lá para ficar crente nesta noite. Lá estavam o Otávio da

Agostinha, o Doro do Zé ventura, o Gonga e o Chiquinho da

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Bilina. Eles souberam que eu ia aceitar a Jesus, então eles vieram

para me perseguir, para não deixar eu aceitar.

Ao chegar em casa, eu disse pra minha mulher: Minha roupa já

está pronta?

Ela me disse: - “ Já está pronta a tua roupa”.

Eram 7 horas da noite. Era mês de Março.

Eu fui pra igreja, quando cheguei na beira da estrada, tinha uma

venda, que era de um tal Peia, onde era a antiga venda do Zé

Nicolau.

Quando eu passei, eles me chamaram. Perguntaram-me: “Tu vais

pra ‘leléia’ ?”

Eu disse: Estou destinado a aceitar a Jesus esta noite.

Eles então começaram a falar mal dos crentes, falaram coisas

feias, falaram blasfêmias e aí me deram um copo de cachaça para

eu beber.

Ainda tomei um pouco de cachaça. Mesmo assim naquela hora

que eles estavam zombando me veio uma coragem e uma palavra

saiu da minha boca: nesta noite eu vou aceitar a Jesus como meu

salvador e fui embora.

Eles saíram atrás de mim, fazendo batucada. Quando cheguei na

Igreja, já tinha outra turma me esperando...

Isaque: JÁ ESTAVAM LÁ TE ESPERANDO?...

Janga: Sim, já estavam na minha frente me esperando: O Doro,

o Otávio, o Gonga...

Dentro de uma semana vinha o “Baile de Aleluia” e eles me

perguntaram: “Aonde tu vais? ”

Eu disse: Vim para aceitar a Jesus.

Eles então me disseram: “Rapaz, calma aí! Vai vir o Baile de

Sábado de Aleluia, vamos ao baile primeiro, depois tu ficas

crente.”

O culto já tinha começado e ouvi quando veio uma voz que veio do

meio deles.

Aquela voz falou muito alta: “Homem! Te entregas senão eu

venho e tu ficas!”.

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Eu fiquei espantado e perguntei para eles: Você não ouviram

nada.? Eles arregalaram os olhos e disseram: - “Não, não ouvimos

nada.”

Eu disse: Ouvi uma voz e era a voz de Deus.

Dei adeus a cada um e disse: eu vou aceitar Jesus.

Quando entrei dentro da Igreja, que começaram a fazer o convite

para quem quisesse aceitar a Jesus Cristo, eu senti como se tivesse

amarrado. Mas eu olhava para alguém para que viesse ao meu

encontro que eu queria aceitar a Jesus.

De repente o pai do Pedro Cardoso viu o meu modo, chegou perto

de mim e me perguntou: “Queres aceitar a Jesus Cristo?”

Eu disse que queria e desmaiei. Daí me levaram, para frente e

oraram por mim. E disseram: “É o primeiro preto a ficar crente

nesta cidade, que Deus tenha misericórdia e que guarde o Janga

neste caminho”.

E logo atrás de mim, já vinha a batucada para que eu me

desviasse naquela noite mesmo.

E diziam atrás de mim: “Só mesmo este negro, este macaco”.

Quem dizia era o Otávio.

Uma voz me dizia: “Cala a boca, não diz nada”. O Diabo está

revoltado contigo porque hoje eu te tirei da mão dele.”

Os crentes me cercaram e me levaram até em casa.

Quando cheguei em casa uma outra voz me disse: “Olha lá”

E eu olhei. Quando eu olhei para aquele canto, vi duas

personagens, andando como homem, fino alto e os passos eram

iguais. Negros como carvão!!!

E a voz me disse: “Sabes o que era isto?”: Eu disse não .

Aí a voz me deu a resposta: “Eram dois demônios que te

acompanhavam, mas nesta noite eu te libertei”.

Aí comecei a chorar de alegria e emoção, porque agora era um

homem liberto pelo poder de Deus.

Continuei pintando e no outro dia procurei Demétrio Cardoso

como meu pai na fé para me regar.

Isaque: E CHEGANDO EM CASA, O TEU SOGRO NÃO

BRIGOU CONTIGO?

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Janga: não, ninguém brigou.

Isaque: HOJE, COMO BOM CRENTE, VOCÊ FOI UM BOM

CATÓLICO?

Janga: Não, eu nunca fui um bom católico, Eu anelava a

salvação, tinha um vazio dentro de mim que nunca encontrei.

O padre pregava na Igreja Católica que os discípulos foram

batizados com o Espírito Santo, que falavam línguas.

Mas ele dizia que não era esta língua que os crentes falam. Aquilo

ali fazia nascer uma pergunta dentro de mim. Mas se esta igreja é

a igreja dos apóstolos, porque não recebem o batismo com o

Espírito Santo como no passado.

Isaque: BEM VOLTANDO AO ASSUNTO, VOCÊ FOI AO

IRMÃO ISIDORO PRA ELE TE REGAR E...

Janga: É, aí eu saía da pintura e às 5 horas, chegava em casa, ia

pra lá pra Praia Brava, e lá, eles me regavam e de lá, eu saía às 9

ou 10 horas da noite, de volta pra minha casa e assim, passei uns

dois ou três meses.

Isaque: QUAL FOI ENTÃO A PRIMEIRA PESSOA QUE

VOCÊ TENTOU GANHAR?

Janga: Bem, daí eu não comecei a pregar pra ninguém, comecei

a cuidar de mim primeiro, comecei a me santificar.

Separei-me dos meus amigos, que eram os amigos das

madrugadas e comecei a me reviver, a buscar Deus na minha

vida, a me revestir para poder mais tarde pregar para os meus

amigos. Eu não pregava, só respondia pra quem me perguntava,

quando alguém me atacava, Deus me dava graça para me

defender.

Isaque: QUAIS FORAM AS PRIMEIRAS PESSOAS QUE TE

ATACARAM, ANTES DE VOCÊ GANHAR ALGUÉM.

Janga: Os primeiros que me atacaram, foram: O marido da

Gustinha (Otávio), o irmão dela o Digô, (Nildo), Valmor Corrêa,

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que me esbofeteou. (Mas nessa época o teu pai já era crente, ele

me esbofeteou dentro da canoa.)

Isaque: QUERO SABER ANTES...

Janga: Depois disso...

Isaque: NINGUÉM TE APOIOU AQUI, PELO MENOS,

DIZER ASSIM: ÔH! FIZESTE UMA COISA BOA...

Janga: Não, não. Ninguém.

Isaque: NÃO VEIO NINGUÉM TE DAR UMA FORÇA? Ninguém me apoiava. Até meus pais me abandonaram, me

chamaram de louco. Ninguém me apoiou.

Judite: Meu pai gostou, Janga.

Janga: Bom...Mas o teu pai...

Isaque: EU ME LEMBRO BEM DELE, ERA UM HOMEM

CALMO....

Janga: Claro...

Mas depois eu fui atacado. A primeira perseguição que eu tive foi

a Bicota. Foi às quatro horas da tarde.

Isaque: POR CAUSA DE QUÊ?

Janga: Por causa da fé verdadeira.

Isaque: POR CAUSA DA NOSSA SENHORA APARECIDA,

NÉ...

Janga: Claro, ela veio me atacar...

Isaque: MAS FOI O SENHOR QUE ATACOU A NOSSA

SENHORA APARECIDA PRIMEIRO, NÃO FOI?

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Janga: Aí quando ela me atacou, quando ela me disse que o santo

dela era o Bom Jesus de Iguape, eu mostrei o valor do Bom Jesus

de Iguape dela.

E aí ela quis me avançar no meio da estrada e nesta hora vinha o

padre de Camboriú, quando nós estávamos discutindo ela pulava

pra cima e berrava querendo me avançar.

E eu na frente dela, revestido pelo poder de Deus e lhe dizia:

“Avanças coisa nenhuma! Num homem de Deus tu não avanças

coisa nenhuma, por que não tem demônio que possa resistir um

homem de Deus.”

Quando o Padre viu aquilo, ele parou. Quando ele parou, o vidro

da porta do carro estava aberto e eu botei a cabeça pra dentro.

Ele arregalou os olhos pra mim e eu dei um soco no capô do carro

e disse: tenho uma mensagem pra ti falso profeta.

Ele tocou os pés no acelerador do carro e foi-se embora pra cidade

de Itajaí.

Isaque: ELE JÁ SABIA DA TUA FAMA?

Janga: Por certo que sim, já havia acontecido uma revolução na

Praia de Camboriú e a minha fama correu até a localidade de

Caetés. Ela revolucionou nos lugares mais perto.

Isaque: MAS LÁ JÁ TINHA EVANGELHO?

Janga: Lá já tinha, mas não tinha acontecido o que aconteceu

comigo em Balneário Camboriú.

Eles vinham me visitar, vinham me ver. Sabiam da minha fama e

da perseguição que acontecia.

Isaque: E QUANTO TEMPO O SENHOR AGÜENTOU ISSO

TUDO SOZINHO?

Janga: Eu agüentei sozinho mais ou menos, uns dois anos.

Isaque: SEM GANHAR NINGUÉM?

Janga: Sem ganhar ninguém.

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E comecei orar a Deus para que Deus mandasse alguém,

mandasse filhos na fé para me ajudar, porque a perseguição era

demais.

E foi ai então que Deus numa madrugada. . .

Judite: Não levou dois anos.

Janga: Mais ou menos...

Isaque: MAS EU QUERO SABER É QUEM FOI QUE O

SENHOR GANHOU PRIMEIRO?

Janga: A primeira alma que eu ganhei...

Isaque: NÃO, A PRIMEIRA PESSOA QUE VOCÊ FALOU E

ELA ACEITOU.

Janga: A primeira pessoa que eu preguei... Eu ainda morava

naquela casa do Cecílio. Foi quando, numa madrugada Deus me

enviou um anjo celestial e falou comigo numa visão na madrugada

no lado da minha mulher.

O anjo desceu e falou comigo, dando-me seu nome: “O Meu nome

é Rami”, disse-me ele cheio da glória de Deus e ali mesmo,

batizou-me com o Espírito Santo. Botou a mão sobre mim e me

batizou com o Espírito Santo, naquela madrugada e me enviou,

como evangelista para evangelizar e pregar a palavra de Deus na

Praia de Camboriú..

Isaque: COMO ERA MESMO O NOME DELE?

Janga: Chamava-se Rami.

Isaque: QUEM O ANJO?

Janga: Sim, o anjo do senhor.

Isaque: O SENHOR RECEBEU O BATISMO ATRAVÉS

DELE? Janga: Sim, claro. Na hora, naquela madrugada. Ele botou a

mão em mim e antes de chegar, ele chegou perto de mim,

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aquela(sic) personagem, todo branco celeste, ele disse: “Eu sou um

anjo, enviado de Deus, meu nome é Rami, fui enviado pra trazer

grandes novas de grande alegria”.

E eu tive a primeira chamada para o evangelho para pregar.

E daí, eu saí para a primeira chamada. Quando eu saí de casa, que

botei o pé na porteira, eu disse: “Senhor onde vou levar a tua

palavra agora?”.

Então veio uma voz do céu e disse-me: “Na casa do Marciano,

nesta manhã.”

A primeira alma que eu preguei, foi para o Gregório e Antônio.

A mãe deles me convidou para almoçar, eu almocei e fiquei até às

5 horas da tarde.

E tinha culto na Praia Brava naquela noite e eles vieram comigo, e

nós passamos na casa de te pai, Germano Corrêa e lá estava

também o seu filho Zé Corrêa e fomos para a Praia Brava e

quatro almas se entregaram para Jesus.

Isaque: E O LELA, E O MANECA E O GENÉSIO, NÃO

FORAM ANTES?

Janga: Há!!! Foram, foram. Foram antes sim.

Foram os três primeiros que eu ganhei.

Eram meninos de escola e eu os ganhei, com 10 anos de idade.

O Maneca e o Lela.

Isaque: O GENÉSIO TAMBÉM...

Janga: O Genésio Não... Foi o primeiro...

Isaque: O GENÉSIO E O LELA, OS TRÊS APANHARAM

UMA SURRA DO PAI E SE DESVIARAM.

Janga: Exato.

Isaque: E O MANEQUINHA CONTINUOU.

Janga: Foi, foi.

Eu os ensinei a dar “Paz do Senhor”. Quem regou o Maneca e o

Lela, fui eu.

21

Isaque: A MAMÃE CONTAVA QUE ABRIA A JANELA PRO

MANEQUINHA IR À IGREJA...

Janga: Foi, foi...

Isaque: OS OUTROS NÃO AGÜENTARAM A SURRA ...

Janga: Não agüentaram a surra.

Isaque: ESSA DO PAI, DO GREGÓRIO, DO ANTÔNIO E DO

ZECA, FOI DIA 19 DE NOVEMBRO DE 1959..

Janga: Eu creio que foi... Foi... Foi por aí mesmo...

Isaque: ELES CONTARAM ESTA HISTÓRIA NA IGREJA

UM DIA...BEM... TÁ, AÍ O SENHOR GANHOU O LELA E O

MANECA E O GENÉSIO. E O MEU PAI, NÃO BRIGOU

CONTIGO TAMBÉM?

Janga: Há!!! ... Enfrentei muita luta com o Germano, porque a

tua mãe aceitou primeiro que o Germano.

Isaque: SIM, EU SEI.

Janga: A tua mãe aceitou primeiro que o Germano...

Mas antes disso, me veio tanta luta, me veio uma fraqueza que eu

ia me desviando e numa tarde apareceu na minha casa a tua mãe.

Ela era conhecedora do evangelho há muito tempo. Quem veio

pregar para ela foi um tal João Ramos, que parece que tinha

aceitado ela e a Nina do Lauro Borba.

Isaque: NA CASA DO ZÉ VINTE E UM, NO CANTO DA

PRAIA, LÁ PERTO DA CASA DO MARCÍLIO.

Janga: Não eu sei onde era... Não era lá perto do Marcílio. Era

na casa de um tal “Barba Vermelha” que morava na casa do

senhor Grossivala.

22

Isaque: GROISWAILLER... O ZÉ VINTE-E-UM, MORAVA

NA CASA DO ALEMÃO GROSWAILLER.

Janga: Claro! Aqui perto de Edifício Siri. E a tua mãe se

converteu lá mais a Nina. Mas se desviaram. Porque eles nunca

mais vieram divulgar o evangelho.

Isaque: É... PORQUE ELES NÃO VOLTARAM MAIS...

Janga: Claro... Não vieram regar.

Foi aí que ela chegou na minha casa e disse: “O Homem ...!”

Porque ela foi a única pessoa que se alegrou com a minha

conversão, foi a tua mãe, ela disse: -“O Homem, permanece, fica

firme, porque nos fomos uma vez e nos desviamos”, com aquilo,

ela me deu uma coragem a fazer a minha caminhada, porque eu

morava ali sozinho, não havia crente, era só eu.

Logo em seguida eu preguei para uma senhora italiana que tinha

um irmão padre em Brusque e ela me disse que as minhas

palavras não lhe convenceriam, mas eu disse que Deus a

convenceria.

Ela disse que iria chamar seu irmão padre para discutir comigo.

Eu disse: Eu não discuto senhora, eu prego a verdade do

evangelho.

Um dia este homem chegou. Chegou e se reuniu num dia de tarde,

com o filho da Maria da Bilina,(o Maneca) o Nego Ageu e com o

Leo do Nim. E neste dia eu fui convidar o Tonho e o Gregório

para vim orar na minha casa.

Porque a perseguição era grande e eu tinha a missão de regar eles.

O Nena do Ludo (Irineu dos Santos), também tinha se entregado a

Jesus, quem o ganhou foi o Tonho. Ele estava pintado a casa do

Grossivala e ele recebeu o batismo lá em cima da casa, mas ele

ficou com medo, assustou-se e não recebeu. Ele também estava

nesta oração. E antes de orar estava: Germano Corrêa, Almira

Corrêa, estava Marcílio, estava a Romana, estava a Ana, a Nena.

A Nena eu não sei se estava e eles me disseram: “Irmão Janga, não

faz muito barulho.”

23

Mas eu já sabia que o inimigo estava preparando o ataque, mas eu

não revelei a eles. Deus já tinha me avisado que quando começasse

a oração a pedra ia comer solta em cima da casa, mas eu não

revelei a eles, porque eles iriam correr com medo, eles não iriam

agüentar porque eram novos crentes e não estavam preparados

para o ataque da noite.

Isaque: (Interrompendo...) DEPOIS NÓS VAMOS VOLTAR A

ESTA HISTÓRIA ... ANTES, PORÉM, EU QUERO RESGATAR

OS PRIMEIROS QUE O SENHOR GANHOU. COMO É QUE

FICOU:

Janga: O Genésio foi o primeiro. Depois o Lela e o Maneca.

Isaque: E A MINHA MÃE?...

Janga: Há! A tua mãe veio depois dos filhos, logo depois dos

filhos. Ela é quem ganhou a Judite pra Jesus.

Isaque: E DEPOIS ENTÃO QUE VIERAM OS FILHOS DO

MARCIANO, O PAI E O ZÉCA?

Janga: Exato, exato.

Isaque: E O SENHOR ENCAROU O MARCIANO?

Judite: Tens que contar a história do Marciano.

Isaque: É... VAMOS CONTAR A HISTÓRIA DO MARCIANO

QUE É UM PERSONAGEM IMPORTANTE PARA ESTA

HISTÓRIA.

Judite: Claro que é.

Isaque: ATÉ PORQUE O MARCIANO ERA O DELEGADO

DA CIDADE ...

24

Janga: Quando eu cheguei na casa do Marciano, que Deus me

enviou para a casa do Marciano, eu era um homem simples e no

caminho, Deus me deu a mensagem, Deus me abriu a mente e me

disse: “Lê 28 de Deuteronômios” Esta mensagem era consoante

uma enfermidade de ácido úrico que ele tinha e que não se curava

nunca. Ele fazia uma promessa de ir todo ano à Iguape para se

sarar e nunca recebeu a cura.

Deus me deu outra mensagem no ato dos Apóstolos que diz que

Jesus veio fazendo o bem, curando todos os oprimidos do Diabo,

porque Deus era com eles. Esta era a segunda mensagem.

Isaque: E ELE ACEITOU NUMA BOA?

Janga: Quando cheguei na casa dele, ele transformou-se numa

personagem diabólica e o espírito que tava nele, disse-me: “Tira

este homem da minha frente”.

E para não dizer que era um demônio que estava na sua vida, eu

disse para o espírito em parábola: tu me conhece e eu te conheço;

e de repente a irmã Liosa, a esposa dele, chegou chorando e disse:

“fica com nós meu querido.”

Isaque: E A LIOSA JÁ TINHA SE CONVERTIDO?

Janga: Também não... Era tudo no mesmo dia. O Tonho vinha

da cozinha mais o Gregório e eu já tinha falado de Jesus para os

dois. E quando olhei para eles, vi que o espírito de Deus foi neles e

eles se arrepiaram todos e o Espírito Santo disse pra mim: “Estes

dois já estão prontos”

Aí já vi que eles tinham se convertidos e fiz que nada entendi. E daí a irmã do Marciano, a Maria Umbelina, que cuidava das

imagens da Igreja Católica. Essa mulher botou o vestido na sua

cabeça, diante de todo mundo e ficou nua. Endemoniada por uma

personagem diabólica, que dava socos no meu peito e botava a

língua de fora e se babava e diante dela, eu a desafiava: “Te

manifesta demônio, que tu estás conhecendo um homem de Deus”.

E ela pulava, dançava e babava e levantava o vestido e mostrava

todo seu corpo diante de quem estava ali.

25

Isaque: ONDE FOI ISSO?

Janga: Neste mesmo dia, na casa do Marciano. E o Marciano

naquela hora se levantou e botou o rádio a tocar um dos samba de

carnaval que eu mais gostava..

E enquanto tocava aquele samba, ele olhou pra mim, (o que estava

nele) e eu disse: pode chamar o maior cantor do mundo, os

melhores samba do carnaval, porque não me convence e não

rouba a alegria que Deus botou no meu coração.

Depois de tudo que preguei pra ele, ele disse: “Vou pegar uma

Bíblia de 100 anos e se for verdade o que tu tas dizendo, esses

padres, esses miseráveis que nos enganaram eu vô brigá com eles.

O meu compadre Luís Pereira que tem um filho padre, se entrá

na minha casa, eu boto tudo pra rua.”

Eu disse na hora para ele: o senhor pode pegar uma Bíblia de 200

anos, porque as bíblias todas são iguais.

Mesmo assim voltei no outro dia naquela casa para regar aqueles

moços que tinham aceitado a Jesus e quando cheguei lá, a casa

dele esta revolucionada: Um terror de trevas e de brigas. Brigava

ele com sua esposa e com os seus filhos por ter aceitado a Jesus. O

Marciano Silva botava a mão na cabeça e dizia: “Preferia vê os

dois num caixão, morto a punhal” e diziam ainda para seus filhos:

“Seus terríveis, vocês não obedeceram o seu pai”, eu via que não

era o Marciano Silva, era uma personagem diabólica que domina

a sua vida.

Ele dizia para seus dois filhos: “Vocês vão pro pasto hoje arrancar

mata pasto com a mão, seus terríveis; deixam desse Jesus meus

filhos.”

E o Tonho e o Gregório diziam: “Desse Jesus ninguém deixa, nem

que tenhamos que morar debaixo de uma pedra”.

E eu do lado deles, dava Aleluias e Glória a Deus.

O Marciano se revoltou contra as minhas aleluias* e disse: “Eu

mi alivanto e vô dá um soco nesse nego”.

Diante das ameaças eu disse: seu Marciano Silva, se o senhor der

um tapa num crente pentecostal, eu vou dar um testemunho que o

seu Marciano Silva, o maior católico da Praia de Camboriú, deu

um soco num crente por falar do amor de Jesus para os seus

26

filhos. E naquela hora, ele caiu da cadeira abaixo e não teve

coragem de bater em mim.

Isaque: ENTÃO ELE NUNCA TE BATEU?

Janga: Não, ele nunca me bateu. Porque antes disso Deus já

havia me dado uma visão. Eu ia por uma estrada e vi uma

multidão de católicos romanos que vinham na estrada para a

Igreja Católica. Aí Deus me mostrou uma igreja no lado de cima

da estrada e esta igreja tinha uma placa onde estava escrito

“Assembléia de Deus” e o povo da frente desta multidão estava se

dirigindo para Assembléia, era o povo que ia se converter.

Isaque: ENTÃO ISTO SE CONCRETIZOU, POIS OS

PRINCIPAIS CATÓLICOS COMO O MARCIANO SE

CONVERTERAM.

Janga: É claro!

Isaque: E AQUELA HISTÓRIA QUE O SENHOR IA LEVAR

PEIXE PARA OS MOÇOS QUE FICARAM CRENTES E

ESTAVAM SEM COMIDA.

Janga: Há foi nesse dia...

Isaque: VOCÊ DISSE QUE IA LEVAR PEIXE PARA AS

OVELHAS. Janga: Foi nesse dia mesmo.

_______________ * Na gravação original ele falou “ os meus aleluias”.

Isaque: E ELE DISSE QUE OVELHA NÃO COME PEIXE.

Janga: Foi nesse dia que eu fui regar o Tonho e o Gregório.

Aí a irmã deles a Bola {Carmete Silva} que não era crente e nem a

Jurema me disseram: “Pelo amor de Deus, não entra daqui pra

27

dentro na casa de meu pai. Está um terror, a casa de meu pai esta

revolucionada, ele tá com um revolver para te matar.”

Quando ela disse assim, o poder da Glória de Deus entrou em

mim, me deu uma coragem e eu disse: Minha filha, isto para mim

é moleza, é como uma manteiga, são palavras belas, isto não me

atemoriza e continuei a minha caminhada.

Isaque: E ERA NA MESMA RUA DA IGREJA AINDA, (a rua

Noruega atualmente)

Janga: Na mesma rua da igreja e no lado da casa dele morava o

Vardimiro que era um macumbeiro e quando eu passava para

regar a família do seu Marciano, ele gritava da janela: “Macaco!

Negro! ”.

E eu dizia pra ele: Um dia terá uma mensagem pra ti, mas na

hora certa que o pai me mandar. E ele fez isto por alguns dias.

Isaque: ERA O VALDEMIRO DA VALA?

Janga: Era, era aquele mesmo...

E passando mais ou menos uma semana, eu estava na casa do seu

Marciano, quando ele chegou, na porta da casa com um tamanco

na mão dizendo: “Bota este nego pra rua, porque senão eu entro

pra dar de tamanco nele”.

Quando ele disse aquilo, eu pulei nele e disse: Demônio! Tu não

tens coragem de bater num homem de Deus.

Ele arregalou os olhos e disse: “Eu conto pra mãe... Ai, ai, ai que

eu vou cair.”

Eu disse: eu quero que tu caia, porque tu tens um demônio e o

Deus que tá em mim tem poder de te libertar, porque tu és

macumbeiro e ele correu e não teve coragem de bater com o

tamanco em mim.

Isaque: HOJE ELE MORA NO LADO DA IGREJA DA

ASSEMBLÉIA NA PRAIA BRAVA...

Janga: É ...

28

Isaque: E FOI NESTE DIA QUE O MARCIANO FOI NA

IGREJA?

Janga: Não, o Marciano não aceitou, ele levou mais ou menos de

um ano e meio para dois anos.

Mas ele deu a casa dele para fazer uma casa de oração e começou

a observar as coisas.

Depois ele deu aquele lote onde hoje está a igreja e mandou serrar

a madeira numa serraria na Praia Brava, onde o Genésio Caetano

trabalhava. Ele então deu a madeira e disse que “no dia que a

igreja estivesse feita, neste dia eu aceitarei a Jesus.”

E quando a igreja foi inaugurada o senhor Marciano Silva aceitou

a Jesus naquele dia.

Isaque: AGORA VAMOS VOLTAR AO ASSUNTO DAQUELA

PERSEGUIÇÃO, DAS PEDRADAS LÁ NA CASA DO CECÍLIO

Janga: A bom, e daí, a pedrada comeu solta....

Isaque: ERA UM CULTO, O QUE ERA...?

Janga: Não era uma oração, que eu fazia para regar os novos.

Estavam Antônio Silva, o Gregório, o Germano Corrêa, a Almira

Corrêa, o Irineu dos Santos e Marcílio Estevão Costa, sua mulher

a Romana e Ana Fuchs, talvez a irmã Nole ou a Irmã Nena, eu

acho que era a Nena.

Ali nós cantávamos hinos, eu os regava, os ensinava e na primeira

oração, dentro de 10 minutos, Jesus batizou o Irineu dos Santos

com o Espírito Santo da promessa e na hora daquele fogo, quando

o fogo caiu, a casa tornou-se em glórias, aleluias e em louvores.

Foi quando então eles já estavam ao redor da minha casa e

começaram a apedrejá-la e nesta hora caiu uma pedra no dedo da

irmã Ana e saiu um pouco de sangue e ela atemorizou-se, ela

pediu que parássemos e eu disse que aqui não pára ninguém.

29

Isaque: E QUEM ESTAVA APEDREJANDO?

Janga: Era aquele padre católico que veio de Brusque, estava o

nego Ageu Xavier, o Leo do seu Nim e o Maneca da Mana. Esses

eram os homens que estavam.

Aí quando começaram a quebrar as telhas e a minha mulher ficou

com muito medo que não matasse o meu menino. Eu tinha dois

filhos: Pedro e João.

Ela veio com Pedro e João, o Pedro foi botado debaixo da mesa.

Judite (Intervindo) Foram os dois meninos...

Janga: Quando ela vinha vindo, caiu duas pedras muito grandes,

eu olhei pra ela, sabia que ela medrosa, porque ela estava fraca

ainda na fé, não estava ainda preparada para uma grande luta

espiritual, e naquela hora, ela esmoreceu e dizia que iam matar os

meus filhos.

E naquela hora eu dei uma palavra de ânimo, usado por Deus e

disse: Não tenha medo, porque eles não matam o menino. Bota ele

debaixo da mesa.

Era uma noite de luar. Eu deixei a porta aberta, com os crentes

cantando dentro de casa, pulei pra rua e preguei o evangelho na

rua sozinho para os perseguidores.

Falei que aqueles que perseguiam a minha casa, dentro de pouco

tempos nós veríamos a sua morte, porque eles estavam entregues

na mão do Deus todo poderoso.

Isaque: E O QUE É QUE ACONTECEU COM ELES?

Janga: Todos esses morreram de câncer e sofreram grandes

sofrimentos e dores. E a Maria da Umbelina, foi morta debaixo de

uma carroça.

E de repente a perseguição começou às 10 horas da noite e foi até

as 3 horas da madrugada

Isaque: DAS 10 HORAS NOITE, ATÉ ÀS 3 HORAS DA

MADRUGADA!?

Janga: Até às 3 horas da madrugada e eu levei os crentes todos

em casa porque estavam com medo da perseguição.

30

Eram levados em casa, os irmãos.

As mulheres foram levadas pelos seus sobrinhos e depois nós

voltávamos e eles ficavam em casa e eu vinha pra casa sozinho.

Isaque: E QUANDO TERMINOU A PERSEGUIÇÃO?

QUANDO O POVO COMEÇOU A ACEITAR?

Janga: A perseguição durou mais ou menos uns cinco anos e

dentro desta perseguição foi o tempo que eu vi mais glória, mais

milagre de Deus e mais maravilhas de Deus.

Isaque: INCLUSIVE TEM UMA HISTÓRIA COM MEU

IRMÃO.

Janga: Exato. Seu irmão foi no começo da fé cristã em Balneário

Camboriú, quando levou uma esbarrada e foi arrastado por um

automóvel por mais ou menos uns cento e cinqüenta metros. Foi

levado para Blumenau e lá foi desenganado pela medicina de

Blumenau e de Itajaí.

Foi trazido pra casa e, dentro de poucos dias, ele morreria. Havia

muitos crentes orando ali, todos acompanharam a casa de

Germano Corrêa e da irmã Mira, que já eram crentes nesta época

orando e lamentando.

Eu morava na rua do Marciano Silva, dentro de um pasto e numa

madrugada, depois da minha oração, Deus me deu uma grande

visão, uma visão que me espantou: Uma personagem que entrou

na minha cozinha. Esta personagem passava a mão num monte de

tripa e caía muito sangue. Eu fiquei espantado: Que visão é esta?

Tripa? Mas tripa de quem?

Depois desta visão, batia em minha casa o Lela, o teu irmão

Gilberto Corrêa, mais ou menos, 3 ou 4 horas da madrugada,

batendo na minha porta para orar pelo seu irmão que estava

próximo à morte. Daí o Espírito de Deus me deu a entender que aquela tripa era a

cura que Deus haveria de fazer na casa de seu pai.

Daí eu falei: teu irmão não vai morrer, o teu irmão Jesus vai

curar.

31

E naquela hora mandei chamar, o Gregório e Antônio, João

Pereira que era um dirigente vindo de Blumenau, a mando do

pastor Satiro Loureiro que era o pastor Presidente do Campo.

Saímos pelas ruas, como tochas de fogo, cheios de glórias e dando

aleluias.

Eram como se fôssemos homens espirituais, parece que saíamos

arrebatados e quando chegamos na casa de Germano Corrêa,

todo mundo estava lamentando.

Nesta hora Antônio Marciano foi tomado por uma profecia em

línguas estranhas e naquele momento, Deus me deu a

interpretação. Entrei dentro do seu quarto e a casa de Germano

Corrêa, foi tomada em glória naquele dia e quando seu filho

começou a receber perfeitamente a cura, e o grande milagre

aconteceu.

Isaque: FOI MESMO UM MILAGRE, POIS, O MENINO DE

NOVE ANOS, JÁ NO TERCEIRO ANO PRIMÁRIO, VOLTOU

A APRENDER A ANDAR, FALAR E COMER. TEVE QUE

RETORNAR AO PRIMEIRO ANO NOVAMENTE. MAS

FICOU TÃO PERFEITO QUE ATÉ SERVIU AO EXÉRCITO.

MAS NOS CONTE, QUEM MAIS QUIS TE BATER?

Janga: Um tal de Bernardo, fora uma noite me esperar para me

bater.

Isaque: O SEU BERNARDO DA RUA TUBARÃO, PAI DO

ZÉPI?

Janga: O seu Bernardo, foi me esperar ao redor da igreja, para

bater em mim, no Tonho Marciano e no Gregório e daí ele mesmo

disse: “O mais sem-vergonha é o nego Janga, eu tenho uma coça

pra dar neste negro”.

Aí o Nêne, marido da Jurema, filha do Marciano, tinha se

convertido em São Paulo, era crente novo e o Nêne então disse pra

ele: “Bernardo, não bate no Janga”

E ele disse pro Nêne: “Oh, seu galhudo! Tu também és um deles?”

Ele disse, o Janga não briga, mas eu brigo Bernardo e pá!!!

Deu-lhe uma bomba e o Bernardo caiu.

32

No outro dia, um pintor com o nome de João Ruffo, trabalhava

com o Ricardo Fuchs, saiu anunciando pela Praia, dizendo : “Sabe

quem apanhou hoje? - O Bernardo recebeu uma bomba de

Jesus.”

Isaque: E O ARTINO, NÃO TE BATEU TAMBÉM?

Janga: Eu estava na beira da praia com o Irineu dos Santos,

havia ainda muita perseguição ao evangelho e ele deu um soco em

mim. Ele ia dando soco em mim e eu adiante dele ia entregando a

mensagem divina do Pai.

Depois de algum tempo, ele não resistiu a palavra e sentou-se na

beira da praia e mais tarde ele disse com a sua própria boca: “Eu

preferia ver todos os cabelos da minha cabeça caídos, do que ter

dado um tapa no Janga crente.”

Isaque: ARREPENDEU-SE, ENTÃO?

Janga: Arrependeu-se.

Isaque: VAI VER QUE É POR ISSO QUE ELE ESTÁ

BONZINHO POR AÍ E OS OUTROS QUE TE BATERAM JÁ

MORRERAM.

Janga: Claro!

Isaque: E O MEU TIO WALMOR CORRÊA, TAMBÉM NÃO

TE BATEU?

Janga: O Valmor me bateu, na beira da praia dentro de um

rancho de canoa.

Isaque: POR CAUSA DE QUÊ?

Janga: Por causa da pregação do evangelho. Eu tava pregando e

ele revoltou-se contra a realidade divina e eu mostrei pra ele a

realidade e ele não gostou e deu um tapa em mim.

Mas todos eles vivem com a consciência pesada e eu ando de

cabeça erguida e falo com eles sem rancor. A mulher do Artino

num outro dia, ela morava ao lado da Igreja Católica, caiu na

33

estrada e desmaiou e eu vinha passando, e ela me disse: “Me

ajuda homem de Deus, me ajuda!”.

Eu a levantei e orei por ela e pedi ajuda a mais duas mulheres que

passavam e levamos ela até a porta de sua casa.

Isaque: A DONA MARIA PEIXE, NÉ?

Janga : Sim a dona Maria Peixe, ela gosta muito de mim.

Isaque: E O SEU MANÉ CLEMENTE, COMO FOI?

Janga: Mais tarde eu apanhei do pai do Advogado Aristo

Pereira. Ele estava embriagado e me deu um tapa e quando ele me

deu um tapa, eu entreguei a mensagem e disse pra ele que não

havia padre, ninguém que pudesse perdoar ou apagar o pecado de

um tapa que ele deu num crente por falar no amor de Cristo.

Porque aquele tapa estava escrito no livro da vida, para a sua

condenação, se ele não se convertesse, no dia do juízo. Ele

esmoreceu e caiu pela parede abaixo.

Isaque: MAS O SENHOR APANHOU DO AGAPINHO

CORRÊA, TAMBÉM, NÃO FOI ?

Janga: Sim também apanhei do teu tio o Agapinho Corrêa, por

amor do evangelho, por querer pregar o evangelho para ele.

Isaque: E PADRE, NUNCA BATEU NO SENHOR?

Janga: Não, padre nunca.

Só uma vez fui enfrentado por um revólver, pelo seu Donatil.

Por causa de uma mulher que tinha se entregado a Jesus, não me

recordo mais quem era essa mulher, mas sei que morava com ele,

e esta mulher, era para eu regar no outro dia, e quando ali

cheguei, eles fecharam a porta, o homem me ameaçou com um

revólver e não me deixaram entrar. E então eu tive que voltar.

Isaque: MAS TEVE UM CASO QUE QUISERAM TE

ESFAQUIAR LÁ NA VILA REAL.

34

Janga: Há! Lá naquele tempo a barra era pesada, mataram

muito nego bom por lá. Tava eu e o Teodoro Corrêa, teu tio e o

teu pai. Daqui a pouco, chegou o capelão da Igreja Católica, o

nome dele era Geraldo. Depois ele se juntou com mais 3 pessoas,

inclusive a irmã do Zé da Bilica. Ele perguntou para mim: - De

quem é esta Bíblia?

Respondi: - É minha não tas vendo!

Ele perguntou: - Que religião tu eras?

Respondi: - Daquela que matou Jesus Cristo!

Dali em diante começaram a acusar os crente e foram me

encurralando e me ameaçando. Um deles sacou uma faca para me

sangrar. Teu pai e o Teodoro correram para junto de mim.

Aí eu parei, baixei a cabeça e elevei meu pensamento a Deus e

orei. Tive um arrebatamento de sentido e pulei em cima dos

quatros. E gritei: - Me sangra filho do Diabo! Tu não bota a mão

em mim. Nesse momento aconteceu um terremoto, a terra

estremeceu diante dos meus pés.

Isaque: MAS ISTO NÃO FOI UMA IMPRESSÃO TUA,

ELES TAMBÉM SENTIRAM.

Janga: Todos sentiram e estremeceram. Alguns chegaram a cair

no chão. Hô Glória!!! Porque eu tava revestido do poder de Deus.

O Pai nunca me desamparou, ele tava sempre comigo e eu com

ele. Eu não temia nada, porque tinha certeza que Deus estava

comigo.

Isaque: QUE OUTROS MILAGRES VOCÊ LEMBRA,

QUE TE MARCOU, DE CURAS OU DE

EXORCIZAÇÕES DE DEMÔNIOS, QUE EU SEI QUE

EXISTIRAM.

Janga: Certa vez fui convidado para um almoço na localidade de

Caetés, no tempo do Pastor Manoel Germano de Miranda, em

casa de um tal Narinho. Lá chegando, uma criancinha passou mal,

acabou a respiração, o coração parou de bater.

Isaque (interrompendo) VAI VER QUE FOI SÓ UM DESMAIO.

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Janga: Não, foi para cumprir a palavra. Ficaram todos apavorados e

entraram em pânico, e aí eu bradei: - Onde está seu Deus?! Onde está a

fé em vosso Deus?! Aí oramos e a criança reviveu.

Isaque: E AQUELA DA ENDEMONIADA QUE CRESCEU AS

UNHAS E BATEU UM VENTO, PARECE QUE FOI COM A

MARIA SARAGOÇA.

Janga: Não, foi com a Romana a minha sogra, a mãe da Judite. O bicho ficou tão feio, tão feio, mas tão feio. . . Ela mascava fumo.

O bico dela revirava para tudo que era lado. Ela roncava, urrava

e miava que nem gato que foi a coisa mais feia do mundo. Babava

e virava os olhos para trás. Foi lá na casa do Cecílio também. As

unhas delas cresceram que foi uma barbaridade e ela voava por

cima dos bancos, pulava um monte de banco de uma vez só, uma

velha daquela idade. E quando eu percebi que aquela potestade

não era um demônio comum, eu clamei o sangue de Jesus, me

agigantei, pulei nela e repreendi o demônio dizendo: Sai Diabo!

Sai demônio em nome de Jesus! Naquele momento saiu dela um

pé de vento tão grande, mas tão grande, que me atirou contra o

sofá e eu quase caí. O Marcilho meu sogro, gritava: Aí meu Deus a

minha casa vai cair! Isaque: CAPAZ QUE FOI ISSO TUDO!

Janga: O teu pai e a tua mãe tava junto.

Isaque: FOI ISSO TUDO JUDITE?

Judite: Foi o pé de vento mais forte que eu já vi em toda minha

vida, e eu nunca mais vô vê outro igual, estremeceu tudo, nós

pensamos que a casa ia cair, que o mundo ia se acabá. Ficamos

todos muito assustados, verdade!!! . A irmã Mira se agarrou em

mim e orava e chorava.

Janga: Eu já vi glórias, companheiro!

Isaque: E O ZÉ MARTINS, QUANDO É QUE ENTRA NESTA

HISTÓRIA? Janga: O Zé Martinho veio a se converter e passou a ser

dirigente da igreja, quando numa época em que Genésio Caetano

36

por causa de uma falsa doutrina que entrou dentro da igreja, ele

acabou se afastando.

Um camarada com o nome de pregador, enganou o Genésio

Caetano, que apoiou a suas doutrinas e, eu, vendo a Igreja

enganada e que uma boa parte já estava enganada e até já tinham

se desviados, de manhã cedo o Espírito de Deus me mandou à

cidade de Itajaí, quando eu fui chamar o Pastor Satiro Loureiro,

para acudir a Igreja de Balneário Camboriú, que estava sendo

enganada por um falso profeta.

Isaque: QUEM ERA ELE?

Janga: Um tal de Sólon, que era da Igreja do véu. Aí foi feita

uma reunião, o Genésio Caetano foi disciplinado e a Igreja ficou

na mão do Zé Martim Damasceno.

Isaque: SIM... O JOSÉ MARTINS JÁ ENTROU DIRIGENTE?

Janga: Isto foi depois de uns 4 anos, antes disto ele foi auxiliar, já

estava com uns quatro anos de fé e foi um grande batalhador.

Botava uma corneta em cima de seu caminhão e nós saíamos pela

Vila Real e pela Canhanduba, com um microfone, anunciando o

grande culto que haveria à tarde.

Isaque: E QUE FIM DEU A IGREJINHA DA ROÇA DE CANA

DA PRAIA BRAVA?

Janga: Ela passou para o lugar daquela onde está atualmente e o

nosso povo que estava lá, veio para cá, pra nossa igreja daqui. Daí

fizemos aquela igreja lá perto da “Caeira do Canziani”.

Isaque: E COMO FOI AQUELA HISTÓRIA NA CASA DA

IRMÃ AGOSTINHA?

Janga: Nós numa certa noite fomos visitar a irmã Agostinha

Corrêa, como crente nova, fomos cantar hinos em sua casa. Nesta

reunião estava eu, Germano Corrêa, Irmã Mira Corrêa e Genésio

Caetano. De repente chegou o seu irmão e o seu marido com um

revólver.

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Isaque: (interrompendo...) O SEU IRMÃO QUEM?

Janga: O Digô

Isaque: HÃ! O NILDO, IRMÃO DELA, DA IRMÃ

AGOSTINHA.

Janga: É claro. E o marido da irmã Gustinha, o Otávio, que me

perseguia lá no começo da história.

Bateram na porta dizendo: “Abre a porta pra botá estes crentes

pra rua, que eu tô armado.” E quando ela abriu a porta, ele

entrou com um revólver na mão.

O Genésio Caetano que era o responsável pela obra naquele

tempo, bateu com o pé no meu pé e piscou pra mim. Quando ele

piscou, eu reparei na sua covardia como homem de Deus e então

Deus me revestiu de uma glória divina, eu gritei um “Aleluia”

bem forte e disse: eu teria vergonha de dizer diante do Diabo que

eu sou um crente em Jesus.

E com esta mensagem, ele pulou pra rua, saiu e disse: “Fica

dentro de casa e faz o que vocês querem fazer”.

E não teve coragem de atirar.

Isaque: E QUE MAIS PROEZAS O SENHOR FEZ QUE SE

LEMBRE?

Janga: Vinha gente devido o que era proclamado, o que era

falado, acerca do que Deus estava fazendo através de um homem

simples no Balneário de Camboriú. Era divulgado em Gaspar,

Itajaí, Blumenau, Camboriú, Macacos, Caetés, Itapema; esses

lugares mais vizinhos, era conhecido, era falado, do que Deus

estava fazendo em Balneário Camboriú. Foi divulgado que aqui

tinha se convertido um negrinho, com nome de Janga, Deus estava

tomando em suas mãos, que era coisa admirável.

A Igreja de Balneário de Camboriú, foi uma das igrejas que mais

grau espiritual e que mais Deus operou.

Foi uma coisa admirável. Quando Cristo abriu o evangelho aqui,

ele abriu com um poder de glória tão grande que ninguém resistia.

38

Eu passava pelos caminhos, pelas estradas pra pregar o

evangelho, eles me esperavam na beira das ruas, com garrafa e

cachaça, para me oferecer. Mas a cada copo de cachaça que eles

me ofereciam, era uma mensagem que eu entregava pra eles e eles

não resistiam o poder de Deus. Porque as mensagens eram

divinas, elas vinham cortando como espada, portanto não havia

quem agüentasse. Seu Bernardo me esperou atrás de sua casa, uma semana

inteirinha, com um pau para me dar uma coça e eu passei um dia

pela rua e quando eu passei, que eu olhei pra ele, ele me disse: -

“Tas vendo isto aqui, tas vendo o que está preparado pra ti”.

Era um pau que tinha mais ou menos, uns dois metros.

Eu disse: estou vendo, mas ele disse: “Tu tens um anjo da graça

que te defende”. E eu disse: ALELUIA!!!

Ele tornou dizendo: “é a tua valença. Porque este relho está

preparado pra ti”.

Isaque: E VOCÊ NUNCA CHEGOU A SER DIRIGENTE

OFICIAL DA IGREJA?

Janga: Quando então a igreja cresceu e evoluiu, de tanta

perseguição que passei, não fui considerado, eu fui o último

auxiliar em Balneário Camboriú.

Meus filhos na fé, todos foram auxiliares primeiro, os dirigentes

me deixavam pra trás e botavam os meus filhos na fé como

auxiliar.

Mas um dia, eu indo à cidade de Itajaí, para orar na casa da irmã

Osória, uma profeta (sic) como nome de Mirian Travasso,

profetizou naquela manhã.

Na profecia ela viu uma visão e disse: “Serás convidado para uma

reunião.”

Logo em seguida houve esta reunião, quando o irmão Antônio

Marciano apresentou o João Boaventura Caetano como nosso pai

na fé. Para ser apresentado para o trabalho do senhor.

HÔ glória!!! Isto é que eram profecias de Deus. Vi coisas, que

tenho muitas saudades. Mas ainda sou o mesmo crente de 43 anos

atrás e até a esta data, nunca tive medo de proclamar o evangelho

genuíno de nosso senhor Jesus Cristo.

39

Depois, ele nunca me deixou sozinho, a sua fartura e sua

misericórdia estão sempre me amparando.

Aleluia!!! Louvado seja o nome de nosso senhor Jesus Cristo.

Isaque: E AQUELA HISTÓRIA DO DELEGADO MELO?

Janga: Há! Naquela época era dirigente o presbítero Gentil

Monteiro de Lima, (atualmente é Pastor jubilado) a igreja vivia

numa época de grau espiritual extraordinário.

Acontece que veio morar na rua detrás da igreja, um lageano, e

este homem se revoltou contra os louvores da igreja, a aleluia e a

Glória a Deus.

Ele chamou o dirigente e disse ao dirigente que levasse a

mensagem para a igreja, que os crentes deixassem de dar aleluias,

e glórias a Deus, porque ele iria perseguir a igreja e ia atirar nos

crentes, dentro da igreja.

O dirigente levou esta palavra pra igreja e atemorizou a igreja. Eu

achei que aquilo era uma covardia, de um homem que se diz

homem de Deus.

Um dia passava eu na estrada com o missionário Moabel (Moabel

Souza Pereira) que hoje é pastor missionário na América do

Norte, passava comigo mais ou menos 10 horas do dia, na rua da

igreja e quando este homem estava sentado e disse uma coisa pra

nós que eu não ouvi.

Mas o jovem me disse que ele tinha dito que o culpado disso tudo é

este “macaco”.

E quando o Moabel me disse, eu perguntei: Tu ouviste mesmo

isto? Ele disse: ouvi.

Então o irmão fica de lado, que o irmão não vai agüentar a bomba

do pai, que o pai tem pra ele, porque eu vou lá entregar a

mensagem para ele.

Naquela hora Deus me tomou e eu pulei no queixo do homem e

naquela hora Deus me deu a seguinte mensagem para ele: “Ou tu

pára de perseguir a Igreja, ou tu te convertes, ou eu vou orar a

Deus para Deus te matar.”

E ele então foi em casa buscar um revólver para me matar.

E eu fiquei diante das suas ameaças e não corri e naquela hora, a

irmã do pastor Gregório, a Jurema, disse para o velho: “Se tu

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batê no irmão Janga, nós te picamos de pau, seu velho sem-

vergonha.”

E fomos acabar na Delegacia de Polícia. E lá também fomos

ameaçados pelo senhor Melo, na época era o Delegado da Cidade

de Balneário Camboriú.

Estava eu, numa manhã de sexta-feira santa. Fomos zombados eu,

a igreja Evangélica Assembléia de Deus. A palavra do Delegado

era de fechar as portas da Igreja.

E as palavras do delegado eram de deboche e de zombaria.

-Que hora começa aquilo lá? Perguntou o Delegado.

Eu vendo a covardia de Gentil de Lima, a covardia de um homem

que dizia ser pastor para cuidar de um rebanho, naquela hora

Deus me tomou e eu fui diante do Delegado e disse pra ele: Eu

queria ser o primeiro homem a ir para a cadeia por amor de

Jesus. Bota este homem na cadeia se tu tens coragem. Porque eu

quero ter o prazer de lá de dentro dar Glória a Jesus e Aleluia;

Bota este negro, não como um ladrão, bota na cadeia como um

cristão. Ele nos dispensou, mas no outro dia intimou o pastor com o

seguinte recado: “Vem sozinho, não traz aquele negro, porque ele

tava doido”.

E depois de tempo ele tornou-se meu maior amigo.

Isaque: COMO É AQUELA HISTÓRIA QUE O SENHOR ME

CONTOU UM DIA, A HISTÓRIA DO PÁ!

O SENHOR OROU PELO CARA E ELE PÁ! CAIU DURO.

Janga: Foi o padre, foi o padre.

Isaque: O SENHOR NÃO ME CONTOU A HISTÓRIA TODA,

DA CONVERSA QUE TEVE COM O PADRE.

Janga: Ahhh... é muita coisa, eu não posso me lembrar de tudo,

uma coisa que faz mais de 40 anos.

Isaque: O SENHOR FOI LÁ CONVERSAR COM O PADRE...

Janga: Não. Depois das ameaças na minha casa, das telhas

quebradas, eu chamei o reverendo, na janela da sua casa, olhando

41

pra minha casa, eu disse: reverendo, faz favor... Quero perguntar

pro senhor, reverendo, se algum crente pentecostal, perseguiram a

Igreja Católica, com pedras.

Isto aqui são obras de filhos de Deus? São povos do seu rebanho?

Isto são filhos de Deus?

Foi quando de repente ele se levantou e começou a me benzer,

levantou a mão para me benzer e, naquela hora, foi me dado uma

mensagem divina do céu e eu levantei a minha mão em direção a

ele e ordenei: eu te repreendo, filho do Diabo! Sai demônio, em

nome de Jesus Cristo, agora, saia!!!

E ele caiu da cadeira abaixo e foi um estrondo, pááá!!!

Ele se levantou, baixou a cabeça, saiu por trás de casa e não o vi

mais.

Isaque: E A FOME, E O DESEMPREGO QUE TU ME

FALASTE UMA VEZ, CONTA!

Janga: Um homem veio de Caetés, eu morava na casa, na beira

estrada, naquela padaria velha do Néle, {Manoel Rodrigues}, mas

era um rancho que entrava um vento...

Isaque: A PADARIA IDEAL?

Janga: Isso, isso, era sim, a “Padaria Ideal”.

Isaque: LÁ NA AVENIDA CENTRAL, NÉ?

Janga: Que nada, aqui na frente da Assembléia de Deus. Ali eu

morei e de repente passei muita fome, eu batia na casa dos

católicos pra fazer pintura, e a palavra era essa:

- Você é crente?

- Sou.

-Só se quiser ser católico.

- Eu prefiro perder o serviço, mas de meu Jesus eu não deixo.

Judite (intervindo) Passou muita fome... A tua mãe... Quantas

comidinhas, paninhos, escondido do teu pai ela me deu.

42

Janga: Há sim...

Judite: Roupas pros meus filhos ela fazia e me dava.

Janga: Há sim, passei fome, rapaz...

Judite: Ela fazia aquelas roupinhas pro meus filhos, das camisas

da parte de trás do teu pai, assim das costas, ela fazia roupinhas,

pra mim vestir as crianças, né. Que os meninos nasciam, ela

pegava aqueles pedacinhos de fazenda assim, hó... Restinhos, tipo

costinhas de camisa, para fazer fraudinhas pras crianças, fazia

roupinhas de neném, mandava umas caixinhas cheias pros meus

filhos.

Eu era muito pobre, nego. Pó de café, a tua mãe me dava, peixe...

Janga: ( intervindo ) O que é que tu pensas, pintura eles não me

deram mais...

Judite: (continuando) Tua mãe... Meu Deus... Foi uma mãe pra

nós.. Tua mãe...

Janga: Foi, foi, foi...

Até a Tunica do Nim... Nós morávamos ali perto..

Judite: Mas o meu socorro foi a irmã Mira. Eu ia lá e a irmã

Mira dava de tudo pra mim.

Janga: Escondido do teu pai.

Judite: É escondido do teu pai; tadinha...

Janga: É... Ajudou-nos muito... Viu!?... A Irmã Mira, ajudou-nos

muito...

Intervalo....

Janga continuando a história... Eu cheguei um dia na minha casa, às 10 horas da manhã, tinha

um homem, da família do Gancheiro, dos Caetés. Cheguei, tava

este homem dentro de casa, eu não tinha açúcar e não tinha pó.

A vergonha... A vergonha... Ahh ... Se eu pudesse enterrar a

minha cabeça... A vergonha.... A pobreza...

Eu chorava e dizia: Irmão, eu não tenho uma xícara de café pra

lhe dar.

43

Ele disse: “Nós não viemos pra tomar café em sua casa. Viemos

pra conhecer quem é você. Porque o seu nome é muito falado

dentro dos Caetés, como Deus tem lhe usado como um grande

homem de Deus.”

Eu disse, sou este homem...

Isaque: E A HISTÓRIA DA NEGRA DO TREM?

Janga: Nós vínhamos de um estudo em Blumenau e quando

pegamos o trem em Blumenau até Gaspar, dentro do trem vinha

uma negra macumbeira.

Era uma mulher endemoniada de cor negra. E estava ela, o filho e

seu marido.

E um irmão por nome Manuel Rocha foi falar de Jesus para esta

endemoniada. E os demônios se revoltaram dentro do trem.

Ela chamava Jesus de “cavalo”, na frente de todo mundo.

E nesta viagem vinham o Pastor José Evaristo e algumas irmãs. E

se atemorizaram quando esta negra, com todos os demônios da

sua vida pulou dentro do trem e gritou que Jesus era um “cavalo”.

E naquela hora, o irmão foi tomado por uma força diabólica e

quase caiu dentro do trem e naquela hora, Deus me tomou, com

uma palavra do céu, com uma palavra de autoridade, uma

palavra divina e eu pulei naquela negra e em nome de Jesus eu

repreendi os demônios dela.

E naquela hora o trem tornou-se em glória e as irmãs diziam :

“Vamos pedir o batismo com o Espírito Santo”.

E o Germano Corrêa dizia: “Não mexe mais com esta negra,

irmão João da minh’alma, deixa esta nega irmão João.”

E eu dizia: esta nega, esta endemoniada, tem que saber que existe

homem de Deus. O Diabo que tá nela, tem que saber que existe

homem de Deus.

Naquela hora o maquinista se puniu pela negra e avançou em

mim, diante de todo mundo e dizia: “Aqui não se fala de religião”.

E eu disse: eu não estou falando de religião, eu tô dizendo que o

meu Jesus batiza com o Espírito Santo e que expulsa demônios”.

Então ele disse: “muito bem!”.

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E o filho da nega, também endemoniado, avançou em mim e eu

repreendi o demônio do filho da negra em nome de Jesus e a

glória do senhor se manifestou naquele trem. Tudo tornou-se em

“Glória e Aleluia”.

E quando parou o trem em Gaspar, para soltar a endemoniada,

eu ainda me levantei e fui perto da negra e disse: Te converte

negra endemoniada, deixa estes demônios, porque tu irás para o

inferno, se tu não te converteres.

E ela avançou no marido e disse: “ Negro, quando chegares em

casa tu vais ganhá uma coça de pau.”

Isaque: POR QUÊ?

Janga: Porque o negro não disse nada. Ela pensava que o nego ia

se punir por ela.

Isaque: E AQUELA DO SATANÁS QUE PULOU PELA

JANELA QUE O PEDRINHO DIZIA: “AI QUE CATINDA DE

TATANÁS”

Janga: Vimos coisas.... (risos)

Moabel Souza Pereira, missionário que está na América do Norte,

estava dentro da igreja mais de quinze anos endemoninhado. E ninguém sabia que ele era endemoninhado e numa madrugada

Deus me mostrou o demônio nele. E eu morava dentro do pasto do

irmão Marciano.

E naquele dia, apareceu Manoel Corrêa e ele, na minha casa, mais

ou menos 8 horas da noite, para orar comigo e eu ler a palavra de

Deus com eles. Naquela hora eu estava lendo, um livro “Curar os

enfermos e expulsar os demônios” de Jhon Bunian e na hora que

ele chegou perto de mim . E disse-me: “O que é que o irmão está

lendo?”

Eu fui tomado por um poder de Deus e gritei uma aleluia e

ordenei, porque Deus tinha me mostrado nele um demônio. E ele

caiu por terra e os meus filhos que eram pequenos disseram: “Pai

passou um demônio aqui por nós”

Judite: Foi o Pedrinho que disse.

Janga: Um satanás passou aqui, pai..

45

Judite: Pulou um satanás pai, pulou pela janela.

Janga: E a Glória de Deus caiu e ele se levantou de novo.

O poder de Deus caiu de novamente e, que quando ele caiu pela

segunda vez, Deus o libertou e batizou-o com o Espírito Santo. E

deu-lhe o dom de profecia e dom de intérprete pra ele.

O Manoel Corrêa estava junto naquela noite.

Quando então tornou-se glória a minha casa naquela noite.

Judite: O pedrinho, falava: “O Tataiás pai, o tataiás”. Era

pequeno né... “Pulou agora pai pela janela, pai; o tataiás, o

tataiás”. Criança fala o que sente. “Pulou fora, pai hó, o tataiás”.

Criança pequena, né... Ele viu...

Isaque: EU ME LEMBRO DISSO: ELE DIZIA: “QUE

TATINGA DE TATANÁS.” O BICHO DEIXOU CATINGA,

NÃO FOI? MAS... DESCREVE-NOS A IGREJINHA DA ROÇA DE CANA.

Janga: Naquela época, não havia luz elétrica, era luz de crosena

(querosene) e quem tinha comida dava pra quem não tinha.

Banco? Era tudo banquinho feito a machado.

É... Como Deus opera sempre na parte mais baixa, companheiro...

Judite: A tua mãe levava o João e eu levava o Pedrinho, era

assim que nós íamos para a igreja.

Janga: A tua mãe foi uma batalhadora. Tadinha da irmã Mira.

Judite: A tua mãe pra mim... Meu Deus!... Eu levava um filho,

ela levava outro. Nós tínhamos dois filhos

Ela levava uns paninhos, botava debaixo do banco pra crianças

dormir.

Janga: É... Jesus... Mas ela vai ganhar uma coroa bonita... O dia

do juízo a espera...

Judite: O Janga pregava pra mim, eu não queria, não queria,

não queria...

Um dia eu tava gorda pra tê o Pedrinho, né... Aí ela me disse:

“minha filha, aceita a Jesus, pois nessa hora ninguém, sabe...

Estamos ou pra viver ou pra morrer... Minha filha... E se tu

morrer no parto... E daí? Sem Jesus?”

46

Aí eu fiquei assim, pensando... É verdade... Isso foi na tua casa.

Teve um culto, com um irmão de Itajaí. Aí eu pensei...

É verdade.... Posso morrer mesmo. Aí aceitei. Ai ela me levou na

frente. Ele me levou pela mão. Aí eu me ajoelhei, ela comigo junto.

Naquele dia pra cá... Graças a Deus...

Janga: Eu carreguei a Judite, mais ou menos...

Quanto tempo Dite? Uns cinco ou seis meses?

Judite: É... Uns cinco ou seis, não queria não, eu fiquei braba.

Janga: Ficamos pra nos separar.

Judite: Fiquei braba, ele veio falá de Jesus pra mim, eu toquei

uma toalha nele. Eu mais ele nunca brigamos. Aí quando ele

aceitou Jesus nós brigamos.

Janga: Ôôôôh, Isto ficou tão braba...

Judite: Aí eu peguei né... Aí ele falou: “Vamo minha velha!”

Com todo carinho.

“Vamo minha velha, vamo aceitá a Jesus.”

Eu tava lavando a louça. “Vamo minha velha, vai sê tão bom

aceitá a Jesus.”

Ai eu disse: Que bom nada, peguei um pano de louça e pá!, pá!,

pá!

Na cara dele!!! Bati na cara dele, tadinho. Fiquei braba...

Janga: Eu só orava e jejuava por ela.

Judite: Agora tu vê, o que o Diabo faz... Bati com o pano nele...

Janga: Eu saia de casa, a Maria da Umbelina ia lá em casa dizê

pra ela que não aceitasse Jesus.

Judite: É eu não queria, não queria, não queria mesmo.

Janga: Eu só orava, orava muito, orava e jejuava por ela.

Judite: Eu arrumava ele, a roupinha dele, deixava tudo

arrumadinho, nunca falei de arrumá a roupinha dele.

Janga: Aí eu ficava calado, não falava nada, ai ela, dizia:

“Tás santo agora palhaço, tás santo é, não falas nada?”

Judite: É... eu dizia...: Tá santo agora, seu bobo, é...

Mas vê só como o Diabo é sem-vergonha. Um homem que só

queria bagunça, só queria mulheres, só farra, era endemoniado,

eu não falava nada.

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Agora, depois ele ficou santo, eu não queria mais esse homem.

Isaque: É JANJÃO... O SENHOR JÁ PASSOU UM BOCADO

DE COISAS...

Janga: O caso do Marciano. Quando eu saí de casa, saí um

homem sozinho, enviado por Deus é claro. Mas quando eu saí da

porteira, eu saí no meio de duas personagens, no meio de dois

anjos, um do lado esquerdo, outro do lado direito.

Eu via aqueles dois homens acompanhando ao meu lado. Eu fiquei

um homem gigante, gordo, cheio de glória e passavam uma

missidade de espírito pra mim. Eu olhava pra eles assim e eu

falava com eles.

10 horas do dia. Eu falava: anjo do senhor, tu estás comigo, eu sei

que estás comigo, tu não te revelas porque eu tô neste corpo de

pecado. Tô te vendo ao meu lado. Tô vendo a tua glória.

Quando eu entrei na casa do Marciano eu não entrei sozinho.

Que quando eu entrei na casa dele, ele tava com o Bom Jesus de

Iguape dele na parede e ele disse assim pra mim: “Aqui tá o meu

Deus hó! Meu Deus é este”.

Quando ele disse esse é o meu Deus, eu dei-lhe um tapa em cima

daquela cousa e disse assim: Isto não é Deus, isto é uma imagem

do demônio para enganar as pessoas. Deus é esse que eu trago na

sua casa, que está escrito em Atos dos Apóstolos, que Deus veio

fazendo o bem, curando todos os oprimidos do Diabo.

Você faz promessas mais de dez anos e tem ido a Iguape, para

curar este problema que o senhor tem, a lamentação e a tristeza

que o senhor tem passado, a tua casa é uma casa de terror: Mãe

brigando com o filho, marido excomungando a mulher, é uma

casa onde os demônios dominam. Aceita este Cristo, porque eu

vim aqui, porque Deus me mandou, porque se Deus não falasse,

não me mandasse eu não vinha na sua casa.,

Quando eu disse assim, ele se ajoelhou e tremeu, tremeu porque

ele viu a glória de Deus, eu entrei com armadura de Deus... Pensas

que eu fui sozinho!? Não... Fui com anjos... Hô Glória!

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Esta foi a entrevista que me concedeu o irmão Janga, no dia 03 de

outubro de 1999, faz parte de um projeto que pretende resgatar a

memória da Igreja Evangélica Assembléia de Deus de Balneário

Camboriú.

Como o leitor pode notar foi uma entrevista descontraída, onde eu

já conhecia uma parte da história, como se pode notar por

algumas perguntas, que fiz.

A linguajem é simples: algumas exageradamente coloquiais

convertemos para a norma culta, sem deixar que se perdesse o

encanto da conversa informal.

Algumas palavras, não tanto exageradas, conservamos fiel ao

original.

A entrevista é maior, cortamos alguns trechos que achamos

redundante, sem ferir nenhum assunto.

Os textos excluídos são supérfluos e não ferem a elucidação do

assunto.

Nenhum dos assuntos abordados foram censurados, todos são fieis

à gravação original.

Procuramos colocar da forma mais fiel possível, a simplicidade de

um homem que se tornava valente.

Que sabia quando ser tímido, quando devia humilhar-se, mas que

jamais se deixou vencer pelo temor.

O enfrentamento que teve com o velho Marciano Silva denotava o

seu encorajamento: Marciano Silva, homem que já tive a

oportunidade de expor a sua biografia em outro livro, era por

demais exaltado.

Alto, forte, robusto, valente, rico, poderoso para a pequena vila,

onde habitava o Janga.

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Marciano Silva era o Delegado, fora antes Inspetor de Quarteirão,

homem muito respeitado pelo poder que detinha, ousadia e

coragem.

Homem justo, extremamente honesto, tanto que não fez nenhum

mal ao Janga. Marciano Silva tinha um temperamento extremamente colérico.

De boca, “fazia e acontecia” porém tinha um coração benevolente.

A melhor frase que encontrei para descrever a o envolvimento de

Marciano Silva com a comunidade de Balneário Camboriú, foi

dizendo que ele foi o “maior benemerente que a cidade teve em

sua história”.

Abriu estradas, foi o primeiro a adquirir caminhões e carroças no

vilarejo. Foi encarregado da limpeza pública. Dono de muitas

terras era sempre ele quem ofertava os terrenos às entidades

públicas, pessoas pobres, etc. Os terrenos para a construção da

Igreja Católica de São Sebastião do Canto da Praia, como o da

Assembléia de Deus, foram doados por ele.

Nesta cumplicidade com o desenvolvimento do Distrito, crescia o

seu conceito para com a cidade e cada vez se mostrava mais forte

e poderoso.

Ousar desafia-lo, dizer o que o Janga disse para ele, só mesmo

muito revestido de uma força sobrenatural. Homem nenhum, da

capacidade do Janga, no lugarejo onde morava, ousaria enfrentar

o poderoso chefão. Ninguém seria capaz de desafiá-lo como o

Janga desafiou-o se não fosse por esta força extraordinariamente

sobrenatural que lhe sobrevinha.

Marciano era o verdadeiro “Coronel” de interior.

E nada do que o Janga disse tem sequer sombra de mentira, pois

nós o conhecemos desde criança e sabemos que é verdade. Aliás,

se for preciso, ele ainda age com a mesma força, com a mesma

petulância, com a mesma autoridade e a mesma coragem.

Apesar de que hoje não há mais esta necessidade.

Homem que não tinha medo de dar a cara para bater, apesar de

ele ter-me confessado particularmente, o quanto dói, levar um

tapa na cara e ter a coragem de oferecer a outra face por amor à

sua fé e no que tinha crido.

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A grande maioria do início desta história ainda está viva para

confirmar esta verdade:

Dos pioneiros citados nesta história, veja o que

aconteceu com eles:

Genésio Borba Corrêa: É funcionário público municipal em

Balneário Camboriú

Gilberto Borba Corrêa: Empresário em Balneário Camboriú.

Manoel Borba Corrêa: Pastor da Assembléia de Deus na cidade

de Sombrio – Sul do Estado de Santa Catarina.

José de Borba Corrêa: Aposentado residente em Marigá-PR.

Gregório Marciano Silva: Pastor da Assembléia de Deus em

Piçarras – Santa Catarina.

Antônio Marciano Silva: Pastor na cidade de Camboriú-SC.

Agostinha Corrêa, Anna Fuchs, Nole Santana, Residem em

Balneário Camboriú e são todas membros da igreja até hoje.

Irineu dos Santos – Pintor, residente em Balneário Camboriú é

ainda membro da Igreja.

Moabel de Souza Pereira - Missionário da Assembléia de Deus nos

Estados Unidos.

Arnaldo Borba Corrêa - O Menino do acidente - Membro da

Assembléia de Deus de Camboriú.

Nele da padaria. – Manoel Rodrigues, aposentado vive na cidade

de Bombinhas.

José Martins Damasceno – “Zé Martim”. É construtor e vive em

Balneário Camboriú

Maria Boaventura Caetano- Mãe do Janga- Converteu-se mais

tarde e vive ainda. Mora junto com o irmão Janga e a irmã Judite.

Valdemiro da Vala: reside ao lado da Assembléia de Deus na

Praia Brava.

Pastor Gentil Monteiro de Lima e o pastor Manoel Evaristo são

pastores jubilados do Ministério da A . D . de Santa Catarina.

Falecidos:

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Dos pioneiros a primeira a falecer foi Marcílio Estevão da Costa e

a Romana, sogros do irmão Janga.

Liliosa Silva - Esposa de Marciano Silva. Depois, pela ordem:

Marciano Silva, Almira Borba Corrêa, Germano Corrêa.

Falecidos também são os antigos dirigentes: Genésio Caetano,

Eduviges, Zé Agácio e João Pereira.

Protásio Boaventura - Pai do Janga Converteu-se mais tarde,

porém, já faleceu:

Jurema da Silva Rodrigues: Filha de Marciano Silva, faleceu em

1997

Maria Peixer. Faleceu em 1999.

Nêne- Cristiano Rodrigues- Residia na cidade de Governador

Celso Ramos – SC, quando faleceu no ano 2.000

Onêmia Corrêa: faleceu em janeiro de 2001.

Dos não crentes que ainda vivem: Artino Silva. Valmor Corrêa, Manoel Clemente, Doro do Zé-

Ventura. Todos residentes em Balneário Camboriú.

Manoel da Bilina, vive em Camboriú.

Dos não crentes falecidos: Leo do Nim – Vítima de câncer

Ageu Xavier( nego Ageu)- Morreu vítima de câncer

Seu Bernardo.

Nildo Pacheco Cardoso, Irmão da Agostinha.

Otávio - Marido da Agostinha, morreu vítima de um câncer.

Agapinho Corrêa e Maria Umbelina que morreu atropelada por

uma carroça.

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O AUTOR

Isaque de Borba Corrêa é natural do Canto da Praia de

Camboriú onde nasceu em 13 de novembro de 1960.

O autor é membro da Academia de Desterrense de Letras da

Capital Catarinense, onde ocupa a cadeira nº 16, patroneado pelo

ex - governador Hercílio Pedro da Luz.

Este é o 8º livro do autor, que escreveu a História das Cidades de

Balneário Camboriú e Camboriú em 1985.

Em 1990 publicou o Dicionário Papa-siri, em parceria com a

UNIVALI. Em 1999 publicou um belíssimo trabalho sobre a

Escravatura em Camboriú.

No ano 2.000, publicou um dos mais completos léxicos idiomáticos

do Brasil, o Dicionário Catarinense, publicado pela Editora

Insular em parceria com o grupo Zero Hora - RBS – Diário

Catarinense.

Em 2001 publicou Poranduba Papa-siri.

O autor mantém ainda inéditos mais dois trabalhos acerca da

antropologia social e cultural do homem praiano do centro do

litoral catarinense, em fase de revisão e levantamento de preço.