Jaques Derrida - A Voz e o Fenômeno

113
Jacques Derrida A O FE N Ô /fAJ3./}.J O I - - - Jorge Zahar Editor

description

Introdução ao problema do signo na fenomenologia de Husserl.

Transcript of Jaques Derrida - A Voz e o Fenômeno

JacquesDerrida Av o ~ J PO F E N /fAJ3./}.J O I - --Jorge Zahar Editor AVOZEO FENMENO Introduoaoproblemadosigno na fenomenologiadeHusserl [2 JACQUESDERRIDA A VOZEOFENMENO Introduoao problema dosigno na fenomenologiadeHusserl Traduo: LUCYMAGALHES Jorge Zahar Editor RiodeJaneiro Ttulooriginal: Lavoixet/ephnomene Traduo .autorjzadada segundaediofrancesa, publicaaaem1993por PressesUniversitairesdeFrance de Paris,Frana. CopyrightPressesUniversitairesdeFrance,1967. Copyright1994, da edio emlnguaportuguesa: Jorge Zahar Editor Ltda. ruaMxico31sobreloja 20031-144Riode Janeiro,RJ Te!.:(021)240-0226 I Fax:(021)262-5123 Todos osdireitosreservados. Areproduono-autorizada destapublicao, notodo ou emparte,constituiviolao docopyright.(Lei5.988) Editorao eletrnica:TopTextosEdies GrficasLtda. lm!Jresso:Tavares eTristoLtda. ISBN:2-13-044702-3(ed.original) ISBN:85-7110-291-0(JZE,RJ) D48v CIP-Brasil.Catalogao-na-fonte SindicatoNacionaldosEditoresdeLivros,RJ. Derrida,J acques,1930-Avoz eo fenmeno:introduo ao problema dosignonafenomenologiadeHusserl1 Jacques Den:ida;traduo,LucyMagalhes.- Riode Janeiro: Jorge ZaharEd.,1994. Traduo de:Lavoix etlephnomne ISBN85-7110-291-0 I.Fenomenologia.2.Filosofiamoderna.I. Ttulo. 94-0592 _CDD- 142.7 DU- 162.62 .. Quando lemos a palavra eu sem saber quem aescreveu, temosumapalavra,senodesprovidadesignificao,no mnimo estranhasua significao normal." Recherches logiques .. Umnomepronunciadodiantedenstransporta-nos galeriadeDresdeeltimavisitaquefizemosaela: erramospelassalasedetemo-nosdiantedeumatelade Tniersquerepresentaumagaleriadequadros.Supomos, ademais,queos quadrosdessagaleria representam, por sua vez,quadrosquerevelaminscriespassveisdeserdeci-fradasetc." Ides ...I .. Falei ao mesmo tempo de som e de voz. Quero dizer que o som era de uma silabao distinta, e mesmo terrivelmente, assustadoramentedistinta.Osr.Valdemar falava,claro, pararesponderpergunta ...Neste instante, ele dizia: - Sim,- no,- eudormi,- eagora,agoraestou morto." Histrias extraordinrias INTRODUO As Recherches logiques (1900-1901) abriram umcaminho pelo qualtodaafenomenologiaenveredou,como se sabe.At a4!! edio(1928),no houvenenhumdeslocamentofundamental, nenhumquestionamentodecisivo.Houve,certamente,refor-mulaeseumslidotrabalhodeexplicitao:ldes ... le Logique formelle et logiquetranscendantale desenvolvem sem rupturaosconceitosdesentidointencionalounoemtico,a diferena entre os dois estratos da analtica no seu sentido forte (morfologia pura dos julgamentos elgica da conseqncia), e suprimemalimitaodedutivistaounomolgicaqueafetava, atento,oconceitodecinciaemgeral.'EmKrisisenos textosanexos,especialmenteemOriginedelagomtrie,as premissasconceituaisdeReclzerchesaindaopetam,emparti-cular quando concemematodososproblemas da significao edalinguagem. emgeral.Nessareamaisdoqueemoutras, umaleituraeacienteevidenciariaJemReclzerches,aestrutura germinaidetodoopensamentohusserliano.Acadapgina pode-seleanecessidade- ouaprticaimplcita- das redueseidticasefenomenolgicas,apresenadiscernve detudoaquilo ague elas daro acesso. Ora, aprimeira das Recherches(Ausdruck und Bedeutung)2 comeacomumcaptulodedicadoa"distinesessenciais" ILogique forme l/e et logique transcendantale, 35b,trad.Suzanne Bachelard, PUF,p. l37. :! exceo de algumas aberturas ou anteci paes indispensveis,opresente 9 lOA VOZE O FENMENO que comandamrigorosamentetodasas anlises ulteriores.Ea coerncia desse captulo deve tudo a uma distino P.roosta j noprimeirorgrafo:apalavra"signo"(Zeichen)teriaum "duplo sentid?" (einDoppelsinn).O signo "signo" pode signi-fjcar "expresso"(Ausdruck)ou "ndice"Apartir dequequestoreceberemoseleremosessadistin-o cujo objeto parece assimtosrio? Ants de propor essa distino puramente "fenomenolgica" entre os doissentidos dapalavra"signo", ou melhor,antes de reconhec-la,de destac-laemumtexto que se pretende uma simples descrio,Husserlprocedeaumaespciedereduo fenomenolgicaavant lalettre:descartatodosaber constitu-do,insistenanecessriaausnciadepressuposies(Voraus-setzungslosigkeit),quervenhamdametafsica,dapsicologia oudascincias danatureza.Opontodepartida no"Fakium" da lngua no uma pressuposio, desde que se atentepara a contingnciado exemplo.As anlises, assim conduzidas, con-servamseu"sentido"eseu"valor epistemolgico"- seuva-lor na ordem da teoria do conhecimento (erkenntnistheoretisch-enWert)-quer existamouolnguas, quer seres comoos 'homenssirvam-seounodelas,sejamoshomens_,ouuma natureza, reais, ou existam anas "najmaginao ou..nomodo dapossibilidade". A formamais geral de nossa questo assim prescrita:ser queanecessidadefenomenolgica,origoreasutilezada anlisehusserliana,asexignciassquaiselarespondees quais devemosantesdemaisnadafazer justia,nodissimu-lam,entretanto,umapressuposiometafsica?Serqueno ensaio analisa a doutrina dasignificao,talcorno esta se constitui j na primeira dasReclrerches/ogiques.Paramelhoracompanharoseuitinerriodifcile tortuoso,abstivemo-nosgeralmentedecomparaes,paralelosoa oposiesque pareceriamocasionalmenteimpor-seentrea fenomenologiahusserlianae outras teorias,clssicasou modernas,dasignificao.Cadavezqueultrapassamoso textodeRechercheslogiques/,paraindicaro.princpiodeurnainterpretao geraldopensamentodeHusserleesboaraleiturasistemticaqueesperamos tentarumdia. INTRODUOli escondemuma adernciadogmtica ou especulativa que, cer-tamente, no reteria a crtica fenomenolgica fora de si mesma; no seria um resduo de ingenuidade desapercebida, mas cons-tituiriaafenomenologia em seu ntimo, em seu projeto crtico e no valor instituidor de suas prprias premissas:precisamente noqueelareconhecerlogocomofonteegarantiadetodo . valor- "princpiodosprincpios"-, isto,aevidncia doadora originria, opresente oua presena dosentido auma intuioplenaeoriginria.Emoutraspalavras, no o ~ ind,a-garemos se esta ou aquela herana metafsica~ eagui ou ali, limitaravigilnciadeumfenomenlogo,masseaforma fenomenolgicadessa vigilncia j no estar comandadala prpria metafsi.ca.Nas all':atriaslinhas evocadas hpouco, a desconfiana em relao pressuposio metafsica j se apre--sentava como acondio para uma autntica "teoria do conhe-cimento",comoseoprojetodeumateoriadoconhecimento - mesm quando este se livrou, atravs da "crtica.. , desse ou daquele sistema especulativo- nopertencesse,logo de sa-1. da,histriadametafsica.'Aidiadoconhecimentoeda teoria do conhecimento no em simetafsica?c.. Tratar-se-iapois,apartir doexemploprivilegiadodocon-ceitodesigno,dever acrticafenomenolgicadametafica anunciar-se como momento no interior da seguranametafsi-ca;melhorainda:decomearaverificarqueorecursoda crticafenomenolgicaoprprioprojetometafsicoemsua conclusohistricaenapureza,apenasrestaurada,desua origem. Em outro trabalho,3 tentamos seguir omovimentopelo qual Husserl, criticando sem trguas a especulao metafsica, visa-va,naverdade,apenasaperversoouadegenerescncia daquiloqueelecontinuaapensareaquererrestaurarcomo metafsicaautnticaouphilosophiaprote. Concluindosuas Mditationscartsietines,Husserlope,ainda,a metafsica 3Laphnomnologieetfa cituredela mtaphysique,inEilOXEE, Atenas, fevereirode1966. 12AVOZEOFENMENO autntica(que dever sua realizao fenomenologia) meta-fsicano sentido usual.Os resultados que apresenta so, como elemesmo diz, "metafsicos, se que ao conhecimento ltimo do ser deva chamar-se metafsica.Mas eles no so nadamais doquemetafsica,no sentidousualdotermo;essametafsica degenerada nodecorrer de sua histria no est absolutamente de acordocomoespritonoqualfoioriginariamente fundada enquantofilosofiaprimeira.Omtodointuitivoconcreto-mas tambm apodtico - da fenomenologia exclui toda 'aven-tura metafsica',todos os excessosespeculativos"(60).deramosperceberomotivonicoepermanentedetodosos errosedetodasasperversesqueHusserldenuncia nameta-fsica"degenerada" atravsde uma multiplicidade de campos, temas e argumentos: h sempre uma espcie de cegueira diante domodoautnticodaidealidade,aquelaque,quepode ser repetidaindefinidamentenaidentidadedasuapresenapelo prprio fato de que ela noexiste, no real, .irreal,no no sentidodafico,masemoutrosentidoquepoderreceber vriosnomes,cujapossibilidadepermitir falardano-reali-dade eda necessidade da essncia, do noema, do objeto gveledano-mundanidadeem geral.Essano-mundanidade no sendouma outramundanidade, essa idealidade no sendo umexistente cadodo cu, asuaorigemser sempre apossi-bilidade da repetio deum atoprodutor.Para que apossibili-dadedessarepetiopossaabrir-seidealiteraoinfinito, precisoqueurnaformaidealassegure essaunidade doindefi-nidamente edo idealiter:opresente, ou antes, apresena do presente vivo. A forma ltima da idealidade, na qual, em ltima instncia,pode-se antecipar ou lembrar toda repetio;aidea-lidade daidealidadeopresentevivo,apresena asidavida transcendental.Apresena . semprefoiesempreser,ato infinito, aforma na qual, como podemos dizer apoditicamente, se produziradiversidadeinfinita dos contedos.A oposio inauguraldametafsicaentreformaematriaencontrana idealidadeconcretadopresentevivoasualtimaeradical justificao.Voltaremos afalar do enigma do conceito de vida nasexpressesdepresentevivoedevidatranscendental. INTRODUO13 Observemosapenas,paraprecisaranossainteno,quea . fenomenologianospareceatormentada,senocontestada,i: ternamente,porsuasprpriasdescriesdomovimentoda temporalizaoedaconstituiodaintersubjetividade.No ntimodaquiloqueuneesses doismomentosdecisivosda descrio,umano-presenairredutveltemumvalorconsti-tuintereconhecido,ecomelaumano-vidaouumano-pre-senaou no-pertinncia asidopresente vivo, umainextirp-vel no-originalidade. Os nomes que ela recebe s tornam mais viva a resistncia forma da presena: emduas palavras, trata-se:1.dapassagemnecessriadaretenoparaare-presenta-o(Vergegenwrtigung)naconstituiodapresenadeum objeto(Gegenstand)temporalcujaidentidadepossaser repe-tida;2.dapassagemnecessriapelaapresentaonarelao comoa/terego,isto,narelaocomoquetomapossvel tambm uma objetividade ideal em geral, sendo aintersubjeti-vidadeacondio -daobjetividadeeesta s sendoabsoluta no caso dos objetos ideais.Nos dois casos, o que chamado como modificaodaapresentao(re-presentao,a-presentao), (Vergegenwrtigungou Apprsentation)no sobrevm apre-sentao,mascondiciona-a,fissurando-aapriori.Issono contestaaapoditicidadedadescriofenomenolgico-trans-cendental,nocomprometeovalorfundadordapresena. "Valor fundador dapresena", alis, uma expresso pleons-tica.Trata-sesomentedemostraroespaooriginaleno empricodeno-fundamentosobrecujovazioirredutvelse decide ese retira asegurana dapresena na formametafsica daidealidade.nessehorizontequeinterrogamos,aqui,o conceito fenomenolgicode signo. Oconceitodemetafsicacomoqualoperamosdeverser determinado,eaexcessivamentegrandegeneralidadedessa questodeveaquiintensificar-se.Nocasopresente: . como --justificar adecisoque submeteumareflexosobre osignojl uma lgica? E se o conceito de signo precede a reflexo g i c ~ lhe dado, entregue sua crtica, de onde vem ele?De onde vemaessncia desinosobre aualsereulaesse conceito? Ogueautoridadeaumateoriadoconhecimentopara i 14A VOZE O FENMENO determinara deciso,noaatribumosaHusserl;eleaassumemente;ou antes,ele assumeexpressamente asua herana ea suavalidade.Asconseqnciassoilimitadas.Porumlado, Husserlteve que diferir, de umextremo a outro do seu itiner-rio, toda meditao explcita sobre a essncia da linguagem em geral.EleaindaadescartanaLogiqueformelleetlogique transcendantale(Consideraespreliminares,2).E,como Finkmostrou,HusserlnuncalevantouaquestodoJogos transcendental,dalinguagemherdada,na qualafenomenolo-gia produz e exibe os resultados de suas operaes de Entrealinguagemcomum(oualinguagemdametafsica tradicional) ealinguagem da fenomenologia, aunidade nunca rompida, apesar das precaues, dos parnteses, das renova-_esoudasinovaes.Transformarumconceitotradicional emconceito indicativooumetafricono absolve aherana e impequestes squaisHusserlnuncatentouresponder.Isso Q;se deve aque,por outrolado,interessando-sepelalinguagem tf.apenas no horizontedaracionalidade,determinando oJogosa ?f "'"partir da lgica, Husserl, narealidade ede maneira tradicional ....#determinouaessnciadalinguagemapartirdalogicidade I.como danormalidade doseu telas.Que esse telas seja o do ser comopresena, oque queramos sugerir aqui. Assim,por exemplo, quando se tratadere-definir arelao entreogramaticalpuroeolgicopuro(relaoquealgica tradicionalnoteriaestabelecido,pervertidaqueestavapor pressuposies metafsicas), quando se trata, pois, de constituir umamorfologiapuradasBedeutungen(notraduzimosessa palavrapor razesque apresentaremos em breve),deretomar agramaticalidadepura,osistemadasregrasquepermitam recobhecer se um discurso em geralrealmenteum discurso, seeletemsentido,seafalsidade,aabsurdezdecontradio (Widersinnigkeit)no otomamininteligvel,nooprivamda qualidadedediscursosensato,nootomamsinnlos,entoa purageneralidadedessagramticameta-empricanocobre todoocampodepossibilidadesdalinguagememgeral,no esgotatodaaextensodoseua priori.Elasdizrespeitoao INTRODUO15 a priori lgico da linguagem, ela gramtica pura lgica. Essa restriooperadalogonoincio,emboraHusserlnotenha insistidonesseponto na primeira edio dasRecherches:"Na primeiraedio,faleidegramticapura',nomecriadopor analogia com acincia pura danatureza' emKant, eexpres-samentedesignadocomotal.Mas,namedidaemquenose pode absolutamente afirmar que amorfologia pura das Bedeut-ungen englobe todo oa priori gramatical em sua universalida-de,jque,porexemplo,asrelaes decomunicaoentre sujeitospsquicos,toimportantesparaagramtica,compor-tam uma priori prprio, a expresso de gramtica pura lgica mereceapreferncia...... 4 Orecorte do a priori lgico no interior do a priorigeral da linguagem nodestaca umaregio;designa, como veremos,a dignidade de um telas, apureza de uma norma eaessncia de umadestinao.Queesse gesto,emque se empenhaatotali-dadeda repeteaintenooriginaldaprpria metafsica,justo oquequeramosmostrar aqui,detectando naprimeiradasRecherchesrazesqueodiscursoulteriorde Husserlnuncamaisabalar.Ovalordepresena,ltimains-tnciajurdica detodoessediscurso,modifica-seasimesmo semperder-se,acadavezquesetrata(nosdoissentidos conexos da proximidade do que exposto como objeto de uma intuioedaproximidadedopresentetemporalquedsua formaintuioclaraeatualdoobjeto)dapresenadeum objetoqualquernaconscincia,naevidnciaclaradeuma intuiocumpridaoudapresenaasinaconscincia,"cons-cincia..no significando nada mais do que apossibilidade da presenaasidopresentenopresentevivo.Semprequeesse valor depresenaforameaado,Husserlodespertar,ocon-vocar,ofarvoltar sobaformadotelas;isto,daIdiano sentidokantiano.NohidealidadesemqueumaIdiano 4Trad.francesadeH.Elie,L.Kelkel,R.Schrer,t.ll,21 parte,p.l36.Sempre quecitarmosessa traduo,usaremosaindicaotr.fr.".Substitumos,nessa traduo,a palavrasignificaes" por Bedeutungen. -- - -u 16A VOZ E OFENMENO sentido kantiano esteja em ao, abrindo apossibilidade de um indefinido, infinidade de um progresso prescrito ou infinidade derep0tiespermitidas.Essa idealidae aprpria formana qualapresenade umobjeto emgeralpode,indefinidamente, serrepetidacomoamesma.A no-realiade daBedeutung,a doobjetoideal,ano-rc:-alidadedainclusodo sentido ou do noema na conscincia (Husserl dir que o noema nopertence realmente- rcell- consdncia) daro pois a :.;cgurana de que apresena na conscincia poder ser repetida indefinidamente.Presenaidealemumaconscincia idealou transcendental.Aidealidadeasalvaoouodomnioda presenanarepetio.Emsuapureza,essapresenano presena denada queexista nomundo, da est em correlao cotaatosderepetio,elesprpriosideais.Serqueisso significa queoqueabrearepetioatoinfinito,c:.Iabre-se aliquandoseasseguraomovimentodaidealizao,uma certarelao de um"existente"com suamorte?Eque a"vida transcendental"opalcodessarelao?cedodemaispara dizer.preciso,antes,passarpeloproblemadalinguagem. Queningumsesurpreenda:alinguagemrealmenteome-diumdesseiooodaresenaedaausncia.Noest:!rintrn-secolinguagem,alinguagemnoseriaprimoramentea instnciaemquepoderiam,aparentemente,unir-sea;idaca idealidade?Ora,devemosconsiderar,porumlado,queo elementodasignificao- ouasubstnciada -queparecemelhorpreservartantoaidealidadequantoapre scnavivasobtodasassuasfom1asapalavraviva,a do sopro como plwne;eque,por outrolado,a fcomenolo!n, metafsica da presena na formada idealidade, I tambm uma filosofia davida. Filosofiadavida,nosporgueemseucentroamorte , reconhecidaapenasComoumasignificao empricaeextrn-seca deacidentemundano,masporqueafontedo sentidoem geralsempredeterminadacomooatodeumvzver,como ,o ato de ser vivo, como Lebendigkeit.Ora, aunidade doviver,o ncleodaLebendigkeaquedtfrataastialuzemtodosos INTRODUOl7 conceitosfundamentaisdafenomenologia(Leben,Erlebnis, lebendige Gegenwart,Geistigkeit etc.), escapa reduo trans- . cendentale,comounidadedavidamundanaedavidatrans-cendental, abre-lhe,inclusive,ocaminho.Quando avidaem-prica,oumesmoaregiodopsquicopuro,sopostasentre parnteses,aindaumavidatranscendentlou,em . ltima instncia, atranscendentalidade de umpresentevivoque Hus-serldescobre.Equeeletematiza sem, nempor isso,levantar aquestodessaunidadedoconceitode vi4a.A.. conscincia sem alma" (seelenloses), cuja possibilidade essencial exposta em JdesI( 54), , entretanto, uma conscincia transcenden-talmenteviva.Seconclussemos,comumgestodeestilo efetivamente muito husserliano,queos conceitosdevidaem-prica(ouemgeralmundana)edevidatranscendentaiso radicalmente heterogneos, eque os dois nomes mantm entre siumarelaopuramenteindicativaou metafrica,entoa prpria possibilidade dessa relao que carrega todo opeso da questo.A raiz comum que toma possveis todas essas metfo-rasnosparece,ainda,seroconceitodevida.Emltima instncia,entre opsquicopuro- regiodomundooposta conscinciatranscendentaledescobertapelareduodatota-lidade do mundo natural etranscendente- eavidatranscen-dental pura, h, segundo Husserl, uma relao de paralelidade. Apsicologiafenomenolgicadever,com efeito,len;tbrar a todapsicologia atuante oseu capitaldepressuposies eidti-cas e as condies de sua prpria linguagem. a ela que caber fixar osentido dos conceitos dapsicologia, e, antes de tudo, o sentido do que se chama psych. Mas o que permitir distinguir essapsicologiafenomenolgica,cinciadescritiva,eidticae apriorstica,daprpriafenomenologiatranscendental?Oque irdistinguiraepochequedescobreodomnioimanentedo psquicoeaprpriaepochetranscendental?Poisocampo abertopor essapsicologiapuratemumprivilgio emrelao a todas as outras regies, e sua generalidade as domina a todas. Todososvividosdependemnecessariamentedelaeosentido detodaregiooudetodoobjetodeterminadoseanuncia atravsdela.Tambmadependnciadopuropsquicoem 18AVOZ EOFENMENO relaoconscinciatranscendentalcomoarqui-regioab-solutamentesingular.Odomniodaexperinciapsicolgica purarecobre,efetivamente,atotalidadedo . domniodoque Husserlchamaexperinciatranscendental.Entretanto,no obstante esse recobrimento perfeito, uma diferena radical, no tem nada de comum com nenhuma outra diferena, nece;diferenaquenodistinguenadadefato,diferenaque no separa nenhum ente, nenhum vivido, nenhuma significao determinada; diferena que, no entanto, sem nada alterar,. muda todos os signos, e s nela resideoss1de de uma questo transcendental.Isto,aprrialiberdade.Diferenafunda-mental,pois,semaqualnenhumaoutrai:iiferenanomundo teria sentido ou ocasio de aparecer comotal..Semapossibili-dadee.semoreconhecimentodeumatalduplicao(Verd-oppelung), ., cujorigornotoleranenhurpa .duplicidade,sem essa invisvel distncia estabelecida entre.os dois atos de ep(x:he, afenomenologiatranscendentalseria destruda emsuaraiz. Adificuldadeestemqueessaduplicaodosentidono devecorresponder anenhumduplo ontolgico.Em resumo,e por. exemplo, omeuEutranscendental radicalmente diferen-te,precisaHusserl,domeuEunaturalehumano;5 entretanto, umnose-distinguedo- outr9emnada,nadaquepossaser determinadonosentidonaturaldadistino.OEu(transcen-dental) no um outro.Sobretudo, no o fantasma metafsico ouformaldoeuemprico.Issolevariaadenunciar aimagem teortica e a metfora do Euespectador absolvto do seu prprio eupsquico, toda essa linguagem analgica de que devemos s vezes nos servirpara anunciar areduo transcendental epara descrever esse"objeto" inslitoque oeu psquico diante.do egotranscendentalabsoluto.Naverdade,nenhuma linguagem pode medir-se com essa operao pela qualo ego transcenden-talconstituieopeasioseu eu mundano, isto,asua alma, refletindo a si mesmo em uma verweltlichende Selbstapperzep-5PhnomenologisclrePsyclrologie,' VorlesungenSommersemester,1925,Hus-serlianaIX,p.342. INTRODUO19 Aalmapuraessaestranhaobjetivaodesi(Selbst-objektivierung)damnadapor eemsimesma.7 AquiaAlmaprovmdo .Uno (egomondico)epodeseconverter livremente nele em ,umaReduo. Todas essas dificuldades se concentram no enigm-tico de "paralelismo". Husserl evoca8 a surpreendente, a admi-rvel"paralelidade"., e at, "se assimpodemos dizer, o recobri-mento"dapsicologiafenomenolgicaedafenomenologia transcendental,compreendidas como disciplinaseid-ticas" .. ''Uma habita aoutra,por assimdizer,implicitamente." Essenadaquedistinguenada,semoqual, justameqte, nenhumaexplicitao, isto,nenhumaljngua,gem poderiase desenvolve_rlivrementenaverdadeserdefqr-mada .por meioreal,essenadasem.oqualnenhuma questo isto,poderianascer,esse nada .surge,pprassimdizer,atotalidadedomundo neutralizadaemsuaexistnciaereduzidaaoseufenmeno. Essaoper.aoadaredu{otranscend_ental,.elanopode ser,emcasoadaredu_opsico-fenomenolgica.A eidtica .pur:adovividopsquicoreferea nenhumadeten;ninada,aneQhumafactualidadeem-prica;_ela t;torecqrre anenhuma significao transce_ndente conscincia.Mas asessncias que elafixapressupemintrin-secame!Jteadomur:tdosobaespciecJ:ess.aregio mundana. chamada psique._Alis,notvelque paralelis-mo_faamaisdoqueliberarotertranscendental:eletoma maismisteriosoainda(esele. capazdefaz-lo)o _sentido dopsquicoedavidapsquica,isto,de ..mundanidade capazdeportar ou nutrir,de algummodo,a _trarzscendentali-dade, de igualar fia extnso do seu dela, sem entretantoconfumlirem-se,emalgumaadequaototal.Con-cluiruma apartirdesse. paralelismoamais '., 6Mditationscartsiennes, 45. 7lbid.57. 8PhnomenologischePsychologie,p.34.3. 20AVOZ EOFENMENO tentadora, amais sutil, mas tambm amais obscura das confu-ses: o psicologismo transcendental. contr ele que preciso manter adistncia precria eameaada entre os paralelos,e contra ele que preciso interrogar incessantemente. Ora, como a conscincia transcendental no atingida em seu sentido pela hiptese de uma destruio domundo (ldesI, 49)," certo que se pode pensar uma conscincia sem corpo, e tambm, por maisparadoxalquepossaparecer,semalma(seelenloses)'? Entretanto, aconscinciatranscendentalno nadamais nem outracoisasenoaconscinciapsicolgica.Opsicologismo transcendentaldesconheceisto:seomundotemnecessidade deum. suplementodealma,aalma,queestnomundo,tem necessidade dessenadasuplementar queotranscendentale semoqualnenhummundo apareceria.Mas, em contrapartida, se formosatentos renovao husserliana da noo de "trans-cendental", devemos abster-nos de atribuir algumarealidade a essadistncia,desubstancializaressainconsistnciaoude fazer dela, ainda que fossepor simples analogia, alguma coisa ou algummomentodomundo.Seriacomocongelar aluzem suafonte. ~ e alinuaemescaaamaisanaloiase filis,eladeumextremoaoutroanalogia.eladeye.tendo chegadoaesseponto,aessaponta,assumirlivrementeasua prpriadestruioelanar asmetforascontraasmetforas; issoobedecer ao mais tradicional dos imperativos, que rece-beusuaformamaisexpressa,masnoamaisoriginal,nas. Ennades, enuncadeixoudeser fielmentetransmitidoat - lntroductionlamtaphysique(principalmentedeBergson}. Graasaessaguerradalinguagemcontrasimesma,sero pensados osentido eaquesto da sua origem.V-seque essa . guerra no uma guerra entre outras.Polmica para apossibi-lidade do sentido edo mundo, ela se situa nessa diferenaque nopode habitar omundo,comovimos,mas apenas alingua-gem, em sua inquietao transcendental.Na verdade,. longe de 9Ides I,54, trad.P.Ricoeur,p.l82. INTRODUO21 apenas habit-lo,ela tambmasua origem easuamorada. A linguagem guarda adiferena queguarda aMais tarde, no seu Nachwort zu meinen ldeen ...(1930) enas Mditationscartsiennes(14e57),Husserlevocarde novo, brevemente, esse "paralelismo exato.. entre a"psicologia puradaconscincia..ea"fenomenologiatranscendentalda conscincia ...Direle,ento,pararecusaropsicologismo transcendentalque"toma impossvelumafilosofiaautntica" (MC, 14), que devemos atodo preo praticar aNuancierung (Nachwort... ,p.557),quedistingueparalelas,dasquaisuma estnomundo eoutra .forado mundo, sem, contudo, estar em umoutromundo,isto,semcessardeestar,comotoda paralela,ao 1ado,nopontomais prximodaoutra.Devemos necessariamenterecolhereabrigaremnossodiscursoessas .. nuancesaparentementefteis .. ,frvolas,sutis(geringfgigen), que"determinamdemododeeisivoasviasedesvios(Wege undAbwege)dafilosofia"(MC,14).Nossodiscursodeve abrigaremsiessasnuances,eassimconsolidarnelasasua possibilida'deeoseurigor.Mas .aestranhaunidadedessas duasparalelas- oqueasrelacionaumaoutra- nose deixadividir porelas,e,dividindo-seasimesma,funde, finalmente,otranscendentalaoseuoutro;avida.Efetiva-mente,logo sev que oniconcleo do conceitode psique avida como relao asi, quer esta se faaou no na forma da conscincia.Q_ "viver"' poisonomedaqyiloQYeprecedea reduo eescapa,finalmente,atodas aspartilhas que esta faz arecer.Istoporqueelesuaprpriapartilhaesuaprpria oposioao seu outro.Determinando assimo"viver",acaba-mospoisdenomearorecursodeinseguranadodiscurso, pontoem que,precisamente, ele nopode maisconsolidar na nuance a sua possibilidade e o seu rigor.Esse conceito de vida entoretomadoemumainstnciaquenomaisada ingenuidadepr-transcendental, nalinguagemdavidacomum ou da cincia biolgica.Mas esse conceito ultratranscendental davida,sepermitepensaravida(nosentidocorrenteouno sentidodabiologia)ese nuncafoiinscritonalngua,requer talvez umoutronome. 22A VOZ EOFENMENO - menos surpreendente oesforo tenaz, oblquo elaborioso dafenomen