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JECA TATUADO ( O HERÓI SEM RAZÃO DE SER) FABIO DAFLON

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Quem nunca

tem razão sempre

enlouquece.

Stanislaw Balner

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Nota do autor: Em um tempo em que o cidadão comum, o homem do povo, é tratado como Zé Ninguém, em programas como o Big Bosta Brasil, e outros assemelhados como o Penico na TV, em um livro de poemas surge Jeca Tatuado, estudante de Zootecnia, que veio da ambiência rural para a cidade, onde, ao chegar, tatuou um tatu no deltoide musculoso e se enturmou com a turma do Boteco Sovaco das Estrelas, onde é a sede da Academia de Biriteiros de Boteco, lugar em que Stanislaw Balner, radialista amador, gerente de promoções do Boteco e aposentado, fundou a filosofia hidropônica-etílica dos que mantém a crença de que cachaça é água, algo já provado cientificamente a partir da premissa de que tanto a cachaça como a água fazem flutuar, mas em excessos fazem afundar. Foi no Boteco que conheceu alguns personagens como Meril Striper, Shandra Brega, sua namorada por um bom tempo, Megan Bite, uma gata nômade virtual, o Professor Ismar Tiffone, pai adotivo de Megan, um velha guarda egresso dos alcoólicos anônimos e abstêmio há alguns anos, meses, dias, horas e segundos. Mas neste livro de poemas em que apresentamos o Jeca, sujeito bom, ingênuo, forte como um touro, exatamente por isso contratado como segurança do Boteco, não falaremos das suas aventuras de bar. Procuraremos traçar um perfil dinâmico do personagem e elencar figuras femininas que se tatuam como se fossem jarras chinesas ou não, que frequentam as mesas onde lhe são feitas três perguntas: qual sua cor predileta, sua flor preferida e o perfume mais eletivo? A partir das respostas traçamos alguns perfis falados dessas mulheres, garotas, minas, como preferirem.

Com exceção do Jeca Tatuado e dos personagens citados como Meril Striper que é uma espiã, party girl, ao estilo Mata Hari, hari, hari, hari khrishna, infiltrada em casas de massagens e bordéis para descobrir podres de políticos e figurões, os poemas perfis falados são inspirados em pessoas reais de sítios da internet na intenção de tratar perfis da alma feminina para além das três perguntas simples, às quais são respondidas às vezes muito longamente, em conversas mais amplas.

Os poemas são sem títulos, embora inicialmente os tenha tido. Julgamos que tenha sido oportuno ter colocado o subtítulo O herói sem razão, porque

quem nunca tem razão sempre enlouquece. Em um tempo em que o gosto não se discute, tentamos ironizar o gosto não discutido. Sabemos que assim podemos magoar o Jeca Tatuado, mas faz parte do amadurecimento sofrer por alguma coisa em que não se tem razão nunca, embora se tenha razão sempre. Jeca Tatuado tem um metro e oitenta e sete e meio; pode ter qualquer idade entre dezoito e oitenta e quatro anos e meio. Canastrão do próprio intelecto recentemente se tornou um estudioso da mitologia brega, desde que um dia leu em um para-choque de caminhão a frase Se mulher fosse madeira eu seria pica-pau, mas neste livro não trataremos dessa mitologia, porque quem dá asa a chifres é unicórnio.

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Trouxe Jeca Tatuado para apresentar ao povo, homem nunca amuado; caipira mudou da casa onde galinha pôs ovo e a menino deu asa, veio morar na cidade, animado como brasa! Tem fortaleza nos braços onde tatuou o tatu, animal com quem tem laços pois o comia com o angu. Filho forte como touro gente que ao mal não dá asa, é um rapaz só de ouro, animado como brasa! Na chegança à cidade foi estudar zootecnia, numa bela faculdade paga por madrinha e tia; feliz aqui na cidade, sentindo como em casa logo fez boa amizade, animado como brasa! Sendo um arroz de festa, no forró Jeca arrasa, esquece de quem não presta, animado como brasa!

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A dulcíssima prisão do útero, onde a pena de nove meses foi cumprida, era a de um adultério - mãe fecundada por prazer hostil – para levar rebento à solidão do não convívio fraterno com os outros filhos e ao com o pai e a mãe dos meus irmãos, amados desde antes do nosso desencontro.

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Quem range os dentes na noite insone? É o pesadelo de um menino ainda com terror noturno em um mar que sobe em maré montante até à sua cama e o afoga em medo. Quem range os dentes na noite insone? É a mulher no espelho que se transformava em primata feia e terrificante, com urros de raiva para mostrar poder e autoridade quando o garoto esperava por uma palavra. Quem range os dentes na noite insone? É o adolescente que deitou com a puta, que gostosa vestia uma calça branca, sobre as tamancas uma belezura de carnes desabadas quando fica nua. Quem range os dentes na noite insone? É o homem calado por uma mordaça imposta na infância e na puberdade, que bebe com a moça para um falar confuso quando tenta destravar a boca. Quem range os dentes na noite insone? É o maremoto dentro de uma alma que espuma na boca o enjoo do medo, do homem que se joga ao mar sem boia em sua paranoia de que a vida é isso! Quem range os dentes na noite insone? É o velho no mar que sobrevivente de um pesadelo que perdeu o medo de virar delírio, navega num oceano de sons da nona sinfonia de Bheetoven.

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A casa abandonada não estava do lado de fora, nem do outro lado da rua se via a porta da saída, a panela no fogo era um caldeirão vazio até de sopa de pedra. Ou era panela de pressão enorme com tampa retirada no instante da fervura, sem que houvesse apito vindo de algum ponto. Boca da hostilidade hospitaleira.

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Pari e passu, pari poema macho, guri que ao crescer complementou leitura, deu luz a um garoto que da luz fez facho para iluminar a noite em secura da febre nesses lábios fissurados pela ausência de contato imediato erro básico, erros dos mais siderados, que ao não incendiarem o próprio tato são inconvenientes e vulgares; cooptando miasmas aos lúgubres ares de os mares infestado por cadáveres, com quem não quis lidar por medo dos lugares, com que estes mortos, mortos não vindo das garres, só fizeram piorar todos os seus pesares.

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Entre o acalanto que à lembrança chega mais como ficção do que realidade, canção não mais tocada com suavidade e o espaço da memória c’ uma área cega oferecido à andança como se o espaço desse um desequilíbrio ao invés de chão ao guri que não quis adiantar o passo, que para ter inércia quebrou pulso e mão, viver no improviso de estar machucado, sem saber arrancar da vida o seu bocado, o convite da dança ao início causou susto; sentiu-se diminuído acolhido ao busto, até a dança selvagem deixá-lo emborcado no meigo seio da terra onde há negro arbusto.

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Conversar com o tempo de triste treva ou luz fugaz descontente a partir de um batimento de pálpebras excitadas; antes de olhar teus olhos e não precisar falar mais nada além do esquecimento momentâneo que abre o instante. Depois escrever essa vitória inexistente no espírito do tempo. Momento de prazer onde a escrita da conversa independe das previsões do tempo e seus súbitos acidentes. Sem porquês o alinhamento da fibra não serve como linha.

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Jeca tatuado, hoje, na vida contemporânea, quis a ilusão calcânea cor de burro quando foge, de duas asas tatuadas no calcanhar ligeiro; para assim em viagens aladas visitar charques dianteiros; em canteiros, em jardins plantando aipim nas flores margaridas carmesins, de odores plantados por quem nunca perfumado, por falta de fino trato, sempre foi enamorado por flor de perfume barato; Jeca Tatuado, hoje, não encontra quem lhe possa ser solidário nem no câncer; é herói que só usa o escudo embora tenha afiada a ponta de prata da lança.

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Sou Jeca Tatuado, amo uma cachaça, bebo e ainda fumo cigarro de palha, tatu subiu no pau, digo não é mentira, mantenho uns costumes, não só de pirraça, às vezes fico bravo se o isqueiro falha, corto tripa de porco e estiro em tira, sou bastante capiau, essa é a minha graça, cigarro acendo em brasa, sem fogo de palha, odeio gente falsa que conta mentira, quem quiser me encarar venha para a praça, possuo muita força mas não me atrapalha, somente o amor ao chão o corpo me estira, tenho minhas leituras, embora sem jaça, escrevo uns rabiscos, isso nunca falha.

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Ó, é que eu queria ser o teu celular; pra que com seu nariz pertinho ao me olhar, o piercing nasalado eu poder retirar, mas com muito carinho muito a admirar como uma gata linda usa essa meleca metálica na fuça assim tão mais porquinha que se só fosse orgânica a tal meleca seria mais natural e bem mais bonitinha; atchim!... Pronto, viu, caiu no chão, nem doeu, mas já estava inflamado, baby, ó baby, baby, baby; você é ainda um bebê, tira esse piercing que paro de beber, dê uma chance à paz, essa meleca não! Piercing, não, não, não, baby, não baby!

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Quem gosta de deserto é camelo, odeio solidão e o amor para mim é tudo, venha a mim o homem a que ofereço o seio seja por fibra óptica ou em estudo olho no olho, assim, sem cuspe a distância de baba baby baba a criança é crescida, bom ser adulta jovem, ter a importância da inflorescência plena amada e querida, embora velho tu sejas mesmo é vira-lata, motor que bate pino onde camelo aguenta atravessar deserto e chegar bem perto sem demandar reboque até à casa e a prata da casa ser a quem o aquém não se faz certo o que aqui é certo quando nem se tenta.

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De falar puxei fio desde o cordão do umbigo, mas sempre optei caminho lido ou escrito, talvez tenha errado ao esconder o grito, ninguém me obriga a nada, mas sou quem me obrigo. Errar nem sempre é humano, sei bem; se o digo. No meu jeito calado sempre compareço, se precisar de ajuda sei também que peço desde que não me tratem igual a mendigo. O amigo só é amigo quando é solidário, sempre dá um jeitinho ainda que seja o mínimo, de estender a mão em tudo que ele possa; odeio o que arrota discurso de mimo ao próprio ego inflado e atrabiliário, sem dar a mão amiga a naufragado em poça.

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O sim não senão assim sim até o fim, a fim de afins em sins e nãos que sim, nas mãos sem nãos que assim são sins e não, dos nãos afins de a fim não ser sim na mão, faz, faz farfalhar falhas nas folhas se a olhas folhas antes fechadas sob as flechadas fagulhadas se a olhas fazendo fogo em folhas faixo de flechas em forma de fornadas de dedilhadas danças de dádivas doces dentro das dualidades dando dentro das diferenças domadas das duas destras distinções denteadas dando outra vez dentro dolentes indolentes doces mentes doces, de dínamo a dar feed back doído e doido.

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Meu pai foi traficante, minha mãe drogada, mas meu pai é o cara, amo e admiro, esteve na cadeia, chegou de madrugada quando foi libertado, mamãe é apaixonada, também sou, nunca guardei segredo que faço programa, papai faz tudo e assim trabalha, apoia o que faço, tem nervos de aço sofreu muito, não tem preconceito nem falha comigo, compõe músicas, toca violão, seus melhores poemas fez dentro da prisão, amo-o de paixão; mas só quer que eu cresça em iguais condições, pois não quero de mão beijada nenhum favor, homem que é machão estou fora do carro, pare pra que eu desça.

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O sal de queimar a pele como gelo seco não tem a ardência nem as fumarolas do mar expirado, desde às estações de trem até a este inverno tenebroso frio. Ser a poesia é a única saída para ser logo mais compreensível em um cais que abrigue o trem da esquadra.

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O preto me dá sorte, se for um vestido pretinho então tipo tubinho, arraso, apesar de mulher nunca me atraso, assim ajudo o mundo a ser mais divertido; se queres me dar flor que me dê uma orquídea, pois só aceito flores de cuidar em casa, e um sachê de avenca também é boa ideia; o meu único esporte é a pole dance, nunca fui de curtir muita danceteria, bebida destilada é minha preferida, mas bebo uma cerveja em que ninguém se canse de papear gostoso e a sonho dar asa, celebrando o amor que mais celebre a vida, sob este sol verão que em tudo nos abrasa.

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Juntos somos mais, bem mais meu bem, mas também como não ser também? Se o trem for só a cabine e a bolha de sabão na mão que a afine seja assim bem tênue que aos olhos caia bem como se fosse lente ou vidro de janela onde o vapor de dentro, aos olhos embaçar, traga ao olhar mais turvo a paisagem bela nascida atrás do espelho como imenso mar, copo onde a pedra seja o falso gelo que suor traga à pele sem que a derreta mas sempre a refresque, onde o peixe pesque com as mãos barbatanas medida do degelo ser a ressureição; meu bem, sem indireta, que bom ser teu defeito o amor sem copidesque.

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Trilhas na natureza, rapel e voo livre e o cheiro da terra cada vez mais longe, gosto da flor de lótus, me contento c’ a orquídea, se for budista admiro esse monge, porque li muito Osho desde cedo e a meditação faz parte do meu credo, tento ser poliglota em Torre de Babel, só creio em palavra escrita em papel se nem em língua pátria a gente se entende o sorriso amarela como a margarida, que é a flor da humildade entre todas, não gosto de tatuagem nem das atuais modas de piercing no nariz, temo fazer ferida, se vocês não me entendem, quem é que se entende?

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Cair embriagado foi algo em vão: um dia o sol nascido pareceu não querer mais se pôr no oeste distante do oceano, e as ondas à beira-mar dançaram tontas. A ausência era a libido a serviço do medo de amar e dessa covardia. Medo, ao se esconder no tesão, seria agora apenas para perverter o verso. Poesia é quem você gostaria de ser para se compreender? E de ti mesmo qual a sua última (sei do cacófato) versão?

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Nas margens depiladas do Lago Néscio onde ainda encontramos muita grana verde, o monstro que lá habita nunca se esconde e lá mulher bonita além da honra só perde a luz que tem de bela e se envolve em sombra que cobre as suas pálpebras com parca maquiagem, c’ uma tristeza imensa que ombreia e assombra o amor que a possuiria numa outra viagem, não fosse Stanislaw me retirar do bordel ainda estaria lá chupando até o céu da boca os foguetes de todo tamanho, por isso é que a alegria que sinto é carrossel, porque encontrei homem pra chamar de meu e mato os políticos, bato e não apanho!

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Musa da vaquejada nascida em Xerém, sei que a carne é fraca mas o molho é ótimo, sei que muita vegana nunca quis teu bem, mas o meu sentimento por ti é o amor último da temporada toda que houve este ano, desde ontem quando nos beijamos na tua festa, rapidamente fui às teclas do piano, e os teus olhos brilharam sob a tua testa, bebemos juntos caipirinha minha musa, e a feijoada toda ainda lambuza o céu da minha boca; quente céu que se fez chuva de onde caíram beijos sobre o batom uva, sabor que vou guardar até estar ao léu, sob o azul do céu e o que houve em tua blusa.

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Fico triste, pois ser bode expiatório, desse tempo ruim espelhado na pele, onde o piercing vem à furo e expele a identidade feia do cão giratório às vezes do revolver, outras da história, onde tudo se esquece por falta de tempo de estarmos atrás sem fazer memória quando viermos a ser só em pó, sem pé e nem cabeça, mas com muita pressa pois nascidos em culpa do que foi legado pelos velhos insólitos e coroas ninfetas, onde tudo revela mais de mil mutretas, onde o que paga é nenhum recado, porque é por demais chato ter papo cabeça.

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O pensamento roto do céu ao esgoto abraça a imensidão que não consegue, mas enquanto a flor ainda der um broto poete seguirei mesmo montado em jegue, sou Jeca Tatuado, o poeta roceiro, migrei para a cidade faz quase dez anos, comi, bebi, fodi, sem ter dinheiro, hoje procuro ter redução de os danos não mais persecutórios me darem a paz, fumei, bebei, cheirei, perdoem a franqueza, por isso meu poema é ao rés do chão, hoje moro no abrigo que a poesia faz, na vida abro picada com a cabeça lesa, não me prostituí porque não sou beleza.

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Aqui onde o ladrão faz as oportunidades sonho em plantar mais flor, respeito, humanidades, amor à natureza e ao sexo com amor que é o das alegrias que vivem sem dor onde a jovem em flor não seja amarrada na orgia de um buquê sem personalidade, onde amarre a cara de si desgarrada no desperdício feio do amor à beldade da juventude linda, que é como comigo sempre aconteceu, mas nunca aos domingos, entre êxtases gozosos e pingos de lágrimas sem sóis de amor qualquer ao destruído umbigo e as despesas em casa com sobras e respingos das contas da minha mãe e muitas outras lástimas.

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Fazer tudo nas coachings, coaxar sobre alta escarpa para sentir o erre do som esfarrapado - (elevação do tom além do quando em quando a constância é nunca sempre) – frustração da água para sede rútila ser perene inacabada e não um enxurro entre o galope e o grito em sua irradiação por sucessivos ecos das pedras geminadas aos espelhos de outras pedras sem cavadas cavernas, onde há o mofo da arrogância em arcadas subterrâneas do tecido esgarçado do sentimento do nada, antes da fase amarela ser o sol primaveril e vero do outro lado do mundo, quando os dentes vêm a furo como operários de um vazio terreno nem baldio nem antropoceno feito de edifícios onde era pântano: sapo maior mestre do coaching.

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Agora há exigência da blandície na doce imundice que implora que a hora seja feita sem demora a fim de que o segundo delicie em construir minuto diminuto que se estenda e alargue em uma hora, que faz até gozar se a alma chora ao consentir o amor no estado bruto, de em se querer, querer desajeitado, indefinidamente, magro ou gordo, capaz de fazer mel de chá de boldo e pálpebra ao sol abrir o toldo subindo ambos pés em largo salto rubro que traz beleza ao amor no espelho que descubro.

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Querida Megan Bite, o meu amor daltônico não sabe do arco-íris as cores naturais, nem dos novos temperos nenhum pó-de-mico desses que há em gôndola com muitos dos sais do Himalaia. Sou muito alérgico ao novo e o ovo de codorna em conserva é o que aprovo; mas sou o teu futuro levado à furo quando o pai ausente levantou no escuro falta de alternativas desde antes jovem te tornastes a sexy ninfeta vulgar, com quem não quis a cama nem pude julgar, embora atraído, lágrimas que chovem em chuva de verão me fazem te ajudar a não ser prostituta, o que vai te mudar.

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Meu condicionamento ganhei com a prática de crossfit; mas por ser alérgica aos pólens das frutas preferir chocolate sem desdéns do fundo d’ alma às flores não admite réplica, porque doença é doença, flores lá e eu cá; e é assim que eu consigo tratar as rivais que sempre querem flores, sempre mais e mais, mas como me garanto ele vem e me busca, e em sua companhia, Jeca Tatuado imito Meril Striper sem ser Megan Bite que pra mim são duas deusas do grande Boteco Sovaco das Estrelas, onde, embriagado, poeta anota tudo em prancha galalite, enquanto danço samba ao som do reco-reco.

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Os ovos do testículo pedem ao ninho que tu sejas o ninho onde outras não mais haja, e que isso seja agora e seja pra já, e que sendo pra já eu tenha teu carinho; o céu é agora estranho sem a tua presença, o rio que te trouxe foi feito de brisa, onde tua água tépida curou a doença de ser pra ventania inútil para-brisa; e se a tua mão alisa agora o meu pelo sinto que atenderás ao rogo e ao apelo de deitar-se ao meu lado para a bebida pra que eu sinta o cheiro doce do cabelo, e pra que a tua boca em minha seja o anelo, que no vira e mexe celebre a vida.

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De baixo para cima da linha d’ água vista desejada a saciar todos os instintos, mulher luxuriosa em fins de labirintos fez vir à tona o instinto em que se não invista se morre de matar-se em atração e fúria, se houver antes do amor apenas a libido, sentimentos pueris gerados em incúria onde o desafio é só ser atrevido na primária investida de se saciar, como se essa fome desnutrisse espírito, e o animal faminto só soubesse o grito a ser calado sempre, a exigir um rito, enquanto a linha d’ água com a mão agito, vindo à tona o gozo como se fosse ar.

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O status de estudante universitário não estava estampado em rosto juvenil, com as pernas cruzadas mostrava o pernil a moça desdenhando o guri otário, tão novo quanto a noite era para o guri e a moça era novinha para rapaz e o mundo, mas quem comeu angu sabe que a sucuri só dá bote certeiro, tudo em segundo, chamado para dançar a moça rejeitou-o mas logo um amigo perguntou se estava tudo legal com ele na universidade; moça chamou guri para dançar beijou-o, agora com status o guri prestava, mulher gosta de tutu, essa que é a verdade.

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Assim desajeitado como um Jeca porque é mesmo Jeca e Jeca Tatuado, Jeca não usa piercing porque é meleca igual canzil que é usado em gado, um dia inté brigô com Shandra Brega que quis usar meleca no clitóris, Jeca disse aguentar todas as dores, mas disse não isso não, vem me chamegá que se piercing nasal já é uma merda de uma meleca escrota e muito feia, arre égua sai dessa e num se arreia assim nunca tu vais ver pé de meia e as terra toda que o Jeca herda porque merda é merda, merda é merda!

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O sonho de Vanessa é possuir cãozinho Lulu da Pomerânea anão e uma Cacatua Alba, de certos exotismos cada um sozinho, imaginem os dois sobre a mesma tábua ou régua ou o que seja que estabeleça o que espera de um homem mulher como essa que ama os animais assim como Vanessa uma administradora, antes que se esqueça, que a essa profissão não quis abraçar nunca, ao preferir tornar-se assistente em prática d’ uma veterinária que agora é o seu sonho, e assim cobre de beijos a ave que é adunca, e cuida do cãozinho e limpa a sua titica, porque não ser o que se ama é muito tristonho.

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Do roxo ao lilás, antes de passear no azul e noutras cores, entendo ser local de esmaecer vermelho ao o arroxear na experiência toda antes da pá de cal trazer ao invés do tinto à mesa o vinho branco para conversação de paz convicção roxa capaz de se tornar lilás sem nenhum tranco, no diálogo da pira com a tocha. Sou, no fundo, clichê, gosto da rosa de variadas cores e o dente de leão muito me emociona em sua beleza, se estou com tudo e não estou que é toda prosa, é que falta alguém para a conversação, na muita realidade e pouca realeza.

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Quando saiu de dentro do palco o cavalo branco árabe, Shandra me disse ao ouvido: - Ele é a atração da noite, meu querido. E continuou a escrita após este resvalo, quando roçou o braço em meu cotovelo, enquanto anotava valores de lances, cada um mais absurdo que só não revelo porque se dei um lance foi por não ter chances nem de uma mula xucra por no meu quintal, mas a Shandra riu tanto, tanto, tanto, tanto! Que os dentes revelavam todo seu encanto: cavalo dado não se olha os dentes, o mal foi que nunca escondi de Shandra o esmalte, quando pulava a cerca e a ouvia me dizer: - Salte!

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Se quer me agradar me mande chocolates, sofro de alergia ao pólen das flores embora sejam belas em vários quilates há outras coisas belas signos de amores, algo como uma joia, um gesto, uma atitude, que me hipnotize como um bom perfume, um chamego bem clássico a que me acostume, ou mesmo uma piada que o humor mude de forma elegante, piada de salão; escrevo poesia e estudo teatro, sei representação em beco ou em átrio, quero subir montanha, ir à beira do rio mais próximo ao mar no mesmo entreato, com que à arte dramática dou o meu coração.

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Levar o gozo às unhas no sexo manual é como inicio minhas funções de hetaira, entre risos e chistes em festa de luau durante essa orgia onde se trairá quem bate em retirada por ter seus motivos, sendo mulher da vida e também detetive nas investigações mantenho os olhos vivos, cliente acidental muitos deles já tive, quando em mau momento procuram o bordel, a esses que dedico atuação mais pura após trazer às unhas minhas obrigações, Eles ao me comerem, têm que ir ao céu, porque com frustrações perderam a candura, e, assim, dou lhes de volta mais que ejaculações.

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Não sou o que te falta para teres posse, pena que passes mal ao ouvir a verdade, procure um lenitivo para a tua tosse o céu pode esperar que caia pedra jade, mas não creio em milagre em cabeça de bagre preso nalgum puçá sem ter onde fuçar local de um não local onde injusto o bocal fale palavra luz que nunca lhe fez jus; é amarelo mostarda o cetim nos teus olhos, teu bafo é nicotina, teus dentes escolhos, és Jeca Tatuado da cabeça aos pés, penetra em minha festa a comer canapés, por favor, vá embora, sujas os assoalhos, teus pés me trazem lama de muitos borralhos.

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Se há o Lua preta avoado em corvos, o cara que é de Lua e coleciona equívocos, o homem dos expurgos cheio de estorvos sujeito a voos tristes pensamentos ocos, sob nuvens rasteiras que lhe esconde abismos, mesmo em beira de cais onde do quebra-mar no absurdo da tormenta vá à paroxismos até que mais que o mar possa convulsionar que o faça aqui em cima de Meril Striper, em grove carioca ou hip-hop ou blues até que esteja cool e o cul-de-sac exploda o físico do rolo e aceite psyche- du-role êxtase, cósmico, cômico de cools pós-coito em prolegômenos d’outro cheque.

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Em cada ilusão que pinto de azul desde o início entre tons de lírios e orquídeas, ou um buquê de rosas para sentir-me cool estão coisas que sinto sejam boas ideias, mesmo porque não gosto muito de esportes e sou mesmo dolente, bela e preguiçosa de gostar dum sofá para a boa prosa e até esperar que haja boas sortes, porque se há rótulo é o La vie est belle, que é o pouco perfume que ponho nesta pele cheirosa de mulher c’ eventuais florais, só para em teu ouvido dizer muitos ais, sussurros e gemidos c’ os quais me revele em hálito perfeito que ao beijo se espelhe.

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O grito da arara entre os pios dos pássaros parece ser nervoso, mas não é desespero, o semelhante humano nunca espero, às vezes é do que dorme em colchão cheio de ácaros. O primo da arara é o papagaio, e o semelhante humano é o moleque punk, quase tudo é feio no universo funk, não há desses que dance sem que parta um raio se a apologia for do que nunca presta, pois não é que um dia o Jeca Tatuado quis ir à um gafieira para ficar feliz, e retirou três piercings do meio do nariz, sem mostrar rato tatuado em um dos pernis, e trouxe mina ao samba onde é melhor a festa.

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Quem se diz que é canalha com sinceridade é bem mais mentiroso que Pantaleão, canalha sempre mente, não tem coração, esse sim é o canalha da maior verdade: Congresso Nacional: tá cheio de canalha, a marcha das vadias deve ter algumas canalhas, canalhinha, que nem uma gralha desafinada e chata, ou cheia de plumas; Natália não é canalha, apenas se diz ser, e ai de quem profligue e diga o contrário, sofre de hemorroidas, mas escreve diário; e o lance dela é só contradizer, mas toma um cuidado com o pecuniário, guarda trinta por cento de todo salário.

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A inferioridade é a condição humana mais bela que existe em um paranoico, onde há na cabeça muito pó de mico que faz cara sentir-se mesmo é um banana, mas como ouve vozes c’ elas dialoga, e é sempre demérito o que sempre escuta, e é assim que pensa em que aposta ou joga, e é assim que se motiva para ir à luta; nem todo mundo sabe, Jeca tem problemas, e a maioria tem mas esconde-os nos hábitos; mas Jeca Tatuado ouve vozes, tem manias, e às vezes mesmo até tem megalomanias, de ouvir voz de sua amada em momentos aflitos, podendo ir namorar sempre sem ter dilemas.

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Despir-se das mais feias fantasias, ser nua com essas matas dos países baixos preservadas e belas de onde há de nascer o filho do futuro entre os cabisbaixos homens desse presente sem qualquer futuro; sendo a mulher sexy mas sem ser vulgar, é onde quero ser, é onde quero estar, bem longe da visão da parede com furo desse olhar voyeur que assola o mundo com câmaras gravando o reto até o fundo, entre os mais perversos males estares, mas sim toda a nudez do amor e do eu profundo, em que após o amor em sonho me aprofundo, é à que o vestido abro para me olhares.

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De qualificação mundana sabe tudo: dançar, jogar conversa fora e é bom copo, cultura popular e a cujo escopo é bem impressionar c’ erudição de topo; de quando subiu em escola de samba lembra de Shandra Brega e seu rebolado, suor em boa mistura c’ o almiscarado perfume que guardava em pequena caçamba, um dia Shandra Brega quis jabuticaba com sua polpa doce igual branco dos olhos, problema que era época só de goiaba, e, assim, por causa fútil um amor acaba, nem sempre são possíveis os melhores molhos, não dá pra fazer mágica em chapéu sem aba!

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Ganhar vestido branco sendo prostituta fez-me sentir a noiva do pedaço todo, diz que se apaixonou por mim, cara biruta, mas tocou-me no fundo de algum modo, diz que vai tatuar meu nome lá no membro superior esquerdo, não pensem besteira, odeio tatuagens, de qualquer maneira emoção igual essa ainda não me lembro, foi carinhoso em cama mas deu a gafe que me provou profundo encantamento, ao me chamar de Dama das Camélias, bom que registre o fato e, então desabafe, não posso me envolver com Jeca, no momento, mas esse sim vai ter todas as regalias.

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Senhor tende piedade de quem usa piercing e tatua o traseiro achando que é bonito; tende piedade da criança com que o pai não brinque, mais ainda senhor do coração aflito da criança sem pai, que a mãe cria sozinha, cujo pai viciado morreu de overdose; tende piedade, deus, de quem rosto não rose por não possuir pudor nenhum no comezinho corpo na internet sempre exibido, tende muita piedade senhor do celeste firmamento repleto de lixo espacial; do rio de pungente multidão em mau- lençol como imigrante obrigada a ser fugido da guerra lá e acolá presente como peste.

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Que chique, Chanel número Cinco é o teu perfume? Então tens muita essência minha bela sugar, é um perfume de deusa, que após se enxugar sairá do banho pura essência para em lume de girassóis no olhar, olhar de Leste a Oeste que sem um estrabismo é diversionista antes de entrar no assunto a que atenção empreste um pouco da semente da flor que se invista nalguma caminhada um encontro comigo em tarde de domingo sem nada na agenda, para mostrar ao mundo um amor sem lenda em que se possa ainda obter com venda perfume que com graça passe no umbigo, onde haja justiça de um beijo em prenda.

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Fragrância leve ou doce para os perfumes, cores preta ou branca, mas em outros gostos sou eclética, sem ter grandes manias, costumes ou hábitos de vida. Evito assim desgostos, tenho certeza. Ler é minha maior paixão. Faço o que é necessário para ter trabalho, pratico futsal, se tenho tempo malho para obter no time a minha escalação. Sonho em viver no campo como uma agrônoma, mas se puder também serei uma psicóloga, se for viver no campo escreverei uma écloga para todas as frutas primeiro a romã, porque com a natureza quem bem dialoga recebe muitas dádivas por quais nem roga!

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Sou a mão não conquistada de uma garota, meu corpo libertado é o seu programa, aceito o porco imundo que ao gozar arrota sua obesidade em cima da cama; só faço ao que ao cliente garanta a volta, vivo em necessidade mas vou ser psicóloga, já tive língua presa agora a língua solta a tuas entranhas todas se faz colagoga, em forma de orgasmo queimo calorias, mando a tristeza embora faço que sorrias, quadris ao rebolar são mais que terremoto, bunda que sobe e desce até o raiar dos dias, depois da faculdade é que transo as porfias, depois com xibiu bem quente vou embora de moto.

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Desenho interiores porque sou designer, retrato em branco e preto de causar espécie, amo rosas vermelhas e também verbenas, na moda uso o perto e a minha preferência para decorações é o branco sobre o branco; cliente satisfeito e um Martini Bianco c’ a cereja do bolo no drinque do tintim de um tilintar de taças pra você e pra mim, notas de coração em perfume Gardênia e notas de fundo aquosas em puro almíscar no perfume Jour d’ Hermès porque feita de musica danço o ballet clássico para o perfumista saber que sou assim, além de mais mulher como me reconheço ao espelhar a vida.

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Fora da realidade, cheia de afazeres expressa a sua carência ao querer de tudo e cavalga os dentes do que são os dizeres com que faz quem a ouve calado e mudo; na atropelada agenda cheia de shows e artes só não quer quem não a tem jamais tão dividido quanto ela dividida em mil e uma partes a quem diga algo de útil no pé do ouvido; ao ser forçada à escolha por não ser ubíqua, hora em que dividida vê que a bola quica, após escolha feita vê reles descarte ao que não pode ir que então desqualifica, e se avisada disso o próprio lábio imbica até que contradita tudo em forma de aparte.

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Reconstruir um lar a partir de um chão que viu o desabar das estruturas todas é como o puxar de um carro sem rodas, frisson de fissurado que à sós no colchão debate-se de um lado antes de ir pro outro, sem nunca refletir o que o levou a estar, tão frouxo e tão sofrível sem ter bem-estar, que então isso não vá além do mês de outubro, fica feio um homem assim se entregar só à recordação de amor que não deu certo, por um amor que se possuiu sete vidas foi um amor sem paz, sem momento de trégua, que sem qualquer momento produzisse excerto de trecho de diálogo entre línguas ávidas.

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Se melão fosse abacaxi teria cabo espinhoso e crescia num arbusto feio, combinação ruim, não levada à cabo, misturar abacaxi com melão receio é como casamento ruim duma égua com o pior pangaré pé de pano e mansinho, bom pra criança montar, ruim pra passar régua na fêmea a dar a cria de cavalo mais baixinho, perto de ser um burro, xucro pra carroça, sem aguentar trabalho duro aqui da roça, onde a terra endurada pede arado fundo, por isso é meió num ter pressa na escolha da esposa que pode ser linda, de família, uma rosa, burra como uma porta aberta ao fim do mundo.

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O que é particular em mim é que não tenho as grandes preferências que tem as mulheres entre perfumes caros jantar com talheres de prata ou de ouro sem quais franzo o cenho, posso vestir o azul, sendo só o azul sem interiorizar a cor do meu vestido, melhor é viajar sempre de norte à sul do que ter no oeste um sol sempre caído com girassóis tristonhos de olhares fixos sempre do leste ao rumo onde o sol se põe, quando no pantanal há flora e bichos e jacarés enormes com que se supõe bolsas de couro caras e antiecológicas quando nas coisas simples é que estão as mágicas.

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Água dentro do balde cujas às mãos farfalha molhai os lírios do campo em dia de sol e chuva, que se não houver o casamento da viúva rasgo essa poesia e a transformo em tralha; o balde veste a água e o humor derrama, onde escorrega o ranço do ressentimento sol vira caramelo quando cai da cama; e aí, e aí, o bom é tocar um instrumento onde os lírios se rasguem em seda e o mundo não tenha mais gente lesa a gerar gente lesa, por um segundo só e outros trilhões de segundos, quantos trilhões minutos, quando o amor vai fundo, que assim estupidez do mundo na asa não pesa nos corações mais puros, que são vagabundos.

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Faminto pela vida e sedento pelo rio distante como a cicatriz da idade escrita por todo o meu rosto a guerra ainda está raivosa dentro de mim ainda sinto o arrepio enquanto revelo minha vergonha a você eu a uso como uma tatuagem Eu a uso como uma tatua eu a uso como uma tatoo

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Se destruiu por dentro por não fazer nada entre a hora do parto e a do fim da estrada, mas de repente a estrada estava aberta e era deliciosa a hora mais incerta, vingança não comida em prato frio ou quente tornou-se o melhor vinho do perdão sereno de si para si mesmo ao tratar-se igual gente sem mais diminuir-se ou sentir-se pequeno; e o que era ódio ao outro, ódio a si mesmo, que conspurcava a ira em sua fúria santa, reaprendeu a ira que os males espanta, mesmo o sol de manteiga que morria à esmo na estranha algaravia que o poeta canta, enquanto a solidão vem lhe servir a janta.

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Dentro da juventude incompleta o canto da dançarina corre o mundo quase todo, e o canto nunca é pranto, sempre é encanto de um charme especial feito de um modo que não há escura nuvem em seu estrelato de canto em movimento em folhas de som, e um ano sem chuva não secaria o mato muito menos a flor nem quando o sol se põe, pois entre as estrelas dançarinas todas de primeira grandeza a feminilidade faz que então ela seja desde a tenra idade uma estrela do mundo, do mar e das rodas onde a beleza tem a universalidade de ser protagonista além da fatuidade.

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O cansaço que chega não cessa o incômodo de o ser revelado pela experiência não ter conforto em casa e em contingência para levar a vida de um outro modo, a moça afetuosa era passageira mas foi tão generosa o tanto quanto pode que aqui deixou de molho a barba do bode, que já teve alguém para uma vida inteira embora a vida tenha feito cair barreira na estrada paralela à qual andava a minha, no feitiço inteiriço de acabar feitiço; e agora o ciúme é inútil e apegadiço do que ao lado esteve mas só esteve à beira de ser uma afeição sincera e comezinha.

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O que vier de dentro do vazio e não for mais silêncio, como o mar que sai da concha ao ouvido, abrindo o momento há de causar impacto na redoma de ruídos onde a surdez a tudo não quer passar a limpo a gigantesca noite vinda à madrugada irrefletida dessa trágico-média-orgia de uma pátria assim assomada por barulhento mar que já não muda tudo, cais de onde veio ao mundo a voz insone que não se cala nunca, indo a lugar nenhum, sem fechar a boca até ensurdecer quem ao abrir os olhos vai matar o ódio sem matar a ira, entre os desvãos do tempo onde o vazio, felizmente, nunca silencia, sempre silencia.

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Talvez a alienação seja o melhor remédio, se esquecer do mundo, se esquecer de si, subi os todos degraus, logo depois os desci, por que bombardeiam tanto o meu tédio? Os sonhos continuam a assombrar-me a alma, mas vazam teorias que escorrem ao ralo, e tudo é argumento porco e ralo, e o orgulho do porco causa nojo e trauma. Quisera minha mente como luz de casa, acesa e apagada no interruptor, com uma disciplina sem papagaiada desses homens felizes que têm podres asas e solução pra tudo que interrompa a dor, uns pavões amputados que são uma piada.

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Suas veias se fossem um caminho teriam de ser abertas, mas não. o são, às vezes são saltadas, mas querem dessa fúria uma total distância... Elas não têm o vermelho da cereja, o sangue que as percorre é mais vermelho escuro; carregam o sangue-pisado de nenhum crepúsculo; são como as rédeas bambas do cavalo que já fez o percurso pelo corpo; no entanto os poetas dizem e o povo também que está nas veias o vício e o dom; felizes são eles: poetas e povo, credores das palavras pertencidas, que não se afogam em dívidas consigo mesmo, nem são quem as perpassa em melancolia; até serem reconhecidas sem o pulso que nunca tiveram e jamais terão.

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Desde que c’ a estopa friccionei a lâmpada e o gênio ofereceu, após ter libertando-o; e ter comido, em bar, deliciosa empada, satisfazer os três desejos que em voo às asas do desejo quisesse ofertar; amando a azeitona dentro do pastel, provando a caipirinha para reconfortar de o tempo de milênios sem ver, livre, o céu, pedi tempo maior para pensar desejos e conquistei no engodo da conversa fiada a sua amizade de gênio intrigado em saber quais desejos meus queriam ensejos para realizarem-se em sina completada de me erguer pescoço, tirando-me do gado que é essa manada que tem ignorado sua condição humana, miserabilidade, de estar sobre o chão, sem sempre estar deitado, seja no campo ou dentro da cidade, onde no campo há flor e também fealdade, onde a flor, foi flor, brotada do asfalto, onde o homem bebe a dura realidade onde a mulher só é sobre o salto alto, também de pés descalços nalgum balneário pra turismo de par que seja abonado, onde as anotações escritas no diário não sinta o coração a sós e abandonado por ter nascido pobre filha de operário, que foi embora de casa por muito mal parado entre casa e cozinha e pequeno alambrado, sentir-se em casamento com mulher leviana pior do que assentia (muito mal-amado) ter que sair de casa, virar um pé-de-cana, de espantar espantalho em que se tornara, sujo e desgrenhado com poeira nas unhas, tendo em seu deltoide tatuagem de arara, e perto da virilha dois mamões pupunhas, primeiras tatuagens de um corpo todo, todas as cicatrizes, assim, bem desenhadas, sem que ninguém lavasse, passando o rodo,

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promovesse sumiço dessas marcas todas, vindas de muitas dores das águas passadas, quando os moinhos eram movidos por rodas. Meu nome é Megan Bite, a flor que, hoje, podas, Jeca Tatuado é o pai que ainda não conheço, dos automóveis não quero a pressa das rodas, mas quero antes do fim a história c’ o começo, entrada, execução e saída da dança, com graciosidade e bastante leveza, porque isso me traz alegre esperança de na vida encontrar um pouco de beleza; então preste atenção, gênio, aos quais desejos o Jeca Tatuado há de realizar, a fim a fim de que se possam por meio dos ensejos a filha encontrar seu paizinho chinfrim, que se, possivelmente, não é o melhor do mundo, é o pai que aconteceu de ser um pai pra mim!

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Procuro uma mulher que me retire o pé que ando a enfiar na jaca, não acidentalmente; com charque dianteiro chão e beleza à frente do seu tempo ao ser mais nova do que não é, nem quer uma novinha menor do que trinta, basta ser a ninfeta aos quarenta e cinco, que ao invés de piercing prefira usar brinco, podendo ser branquela ou negra retinta, mas se for japonesa precisa ser gueixa porque sexualmente do Zeca não há queixa, que seja boa de samba, bolero e forró; que saiba enroscar perna até dar o nó e tenha no sovaco odor da flor da ameixa e que na hora do amor no beijo lábio enfeixa.

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Seria um erro crer na liberdade da vontade, não houvesse uma mulher em erro ser acerto em busca da verdade, ao ser uma filósofa que, ao não se tolher viu outro amanhecer sem filho ou rédea, em relação com gênios e amor a poeta, que se fez aos seus pés mero esteta com quem não dividiu o teto e a côdea, para ir como diva ao divã Freud, entender-se enfim melhor que pode, entre nem ser viril nem paranoide mas ser mulher total no polaroide dos seus autorretratos onde fez por onde o nada e o tudo que a si ainda responde.

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Em que a tensão ainda possa ser o espelho a tremular do medo e a precaução medrosa estragar a prudência até sangue vermelho jorrar em borbotões pelo botão de rosa, porque quando a prudência é estragada ocorre que o medo exige ao álcool boa dose de força e a força reforçada é fraca se de porre o urso de prepúcio vira vulnerável corça e o prepúcio do urso vê os bagos em pelúcia e a mulher empurra a masculinidade pela ladeira abaixo, mas fica na ilusão de topo de ladeira, tragédia que anuncia degradação do medo, do medo de verdade, um dia simples medo, hoje convulsão.

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Na hora em que a tristeza for maior que toda a agitação que habita o espírito, será e é agora que o amor precisa ser mais alto do que todo grito do que reclama espaço dentro d’ alma, por ser lodo das ruas, lama de pântano, a exigir com fome o prazer e o láudano, na falsificação do que seria a calma. Luxúria ofertará mil soluções, álcool ocupará lugar das abluções, até o corpo cair e a alma levantar-se na visagem do corpo sem disfarce, para alma reentrar corpo e a essas aflições expulsar sem querer delas mais lições.

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Ao conseguir de graça o amor pago, moço foi namorar a prostituta, mas a necessidade é força bruta e a moça foi levada por um trago de cigarro e cachaça de um cliente, ciúme não foi o que veio à cabeça, no jogo dessa vida cada um é uma peça, embora prostituta também seja gente e haja quem retire do bordel mulher que vá levá-lo à inferno ou céu, ao cair do cavalo foi embora, e não fez da sua puta sua senhora nem da linha da história carretel, quis da vida pra si mesmo outro papel.

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Dançarina fitdance e futura advogada, não me dê flor, me dê comida e um beijo, ãh..., ãh, primeiro pão, o pãozinho de queijo, juro que aí então, não me farei de rogada; futura promotora, está pensando o quê? É pipoca, pipoca, pipoca, que hoje é dia de festa na comunidade, o ruge em meu rosto foi o sol, tudo isso só então que não tenho grana; quero alguém pra me bancar, ãh, ãh, larga o meu pé, por enquanto quem pode brincar de te alisar teu queixo são meus dedos, meus medos, são meus medos, guardados segredos; se não tratar direito, posso te desbancar; é pipoca, não faz cara de bode, pode?

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Rasgar o ar com páginas viradas, lidas por desatenciosa mente incorruptível, como se o amor corroído sem abrir mais feridas torna-se a bondade aos olhos d’outros crível, sem mais compreensão da dor e da tragédia; é como abrir à música uma outra partitura, onde só há o som de tudo que assedia como se não bastasse a realidade dura; sem se pensar em fuga, sem se repensar nada! Que não consiga ser resignada bondade de não ser ruim c’ o que é bosta, autoconvencimento da mais falsa aposta, de ser mais que a própria flor consignada de pétala futura em um livro prensada.

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Poesia nunca vive de milagres e Sagres fez o Portugal grande das navegações, e Antônio Conselheiro, no nordeste agres- te, guerra de apocalipse de colorações terríveis sobre a terra seca. É de fogos de artifícios que o poema é conseguido, a poesia é humana, nunca é feita em rogos e se há epifanias é o que é arguido no poema não é o dito, é a colmeia do mel sem o zumbido e a orquestração dos possíveis sentidos do som ao ouvido entre os corais cantantes e a ideia desses espaços pássaros vindos do olvido, no cosmo inconsútil da imperfeição.

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No meio das lombrigas gigantes tatuadas na pele da garota de programa estava escrito em cifradas mensagens suadas palavras bem difíceis de língua em trava; agora um que Foda-se! Se me vier zoar não vou arrazoar mais porríssima alguma que nenhuma é difícil pra eu não ordenhar se sou a vaca boqueteira e sem pluma do cão sem pluma do João, mulher da vida tão negada a tantos que temam as lombrigas que em mágica sumiram com um vermicida, raio laser retira tatuagens, fui atrevida, mas agora, casada, fujo de intrigas somente o primo tem ainda mulher da vida.

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Tapioca recheada com carne ou palmito é coisa capixaba que a garota vende, saber que o peroá pode fazer bonito se frito num quiosque em porção que rende bom papo com cerveja na Curva da Jurema, forró bem sertanejo, sem vaca ir pro brejo antes da vida bela que renda um poema e a garota vejo como a desejo; com seu jeito brejeiro goiabada com queijo que quis saborear desde o primeiro beijo, nas Dunas de Itaúnas onde um vaga-lume me leve essa moleca onde ao pedir moqueca aos seus pés também traga as conchas dessa terra pra que ela da amarugem traga a mim perfume.

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Lá do lado de dentro o medo vê o medo que a realidade impinge sem mais fingimento, como esconder o medo que não é mais segredo? Somente governantes o escondem no momento. A segurança é pífia e o medo de dentro dos traumas infantis intrafamiliares em que bronquite esconde suas faltas de ares? Como sempre em fuga encontrará o centro quem seu medo confunde com medo de fora, se já não há desabafo nem quem o escuta, se a sobrevivência é a única luta e o presente eterno é somente agora? Quando o pensamento cede à força bruta, somente resta a guerra pelo mundo afora.