Jeovah Mendes - 30 Papas Que Envergonharam a Humanidade.

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ISBN 85-87571-20-6

Jeovah Mendes

DOS PORES SOMBRIOS DO VATICANO.,

2a EDIA

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TSJlLEI*

Brasil 2000

Copyright 2000, by Jeovah Mendes/ Edies Tbuas da Lei e Tupynanquim Aldeia Mdia & Tal S/C Ltda.

Textos e pesquisa Jeovah Mendes Ilustraes Eduardo Azevedo/ Klvisson / Arquivo do Autor Reviso e preparao de originais Max Krichan Capa e conceito Jeovah Mendes e Klvisson Viana,sobre detalhe da tela O Triunfo da Morte de Pieter Brueghel (1525-1569)

Projeto grfico, editorao e tratamento de imagens Tupynanquim Editora (85) 248.4675 Co-edio e Distribuidora

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Tcnico

Rua: Dom Joaquim, 54 - Aldeota PABX: (85) 433.9494 - Fax: (85) 433.9495 CEP 60110-100 - Fortaleza - Cear www. livrotecnico.com.br [email protected] M538d Mendes, Jeovah Dos pores sombrios do vaticano... 30 Papas que Envergonharam a Humanidade/ Jeovah Mendes. - Fortaleza: Tbuas da Lei/ Edies Livro Tcnico, 2000. 241 p. 1. Papas I. Ttulos CDU 262-13

DEDICATRIA Aos meus preciosssimos filhos: Tennessee, E r o n , Margareth, Lvia, Eliziane e Ingrid, dedico esta obra como m o n u m e n t o em

memria dos nossos nomes.OBRA REGISTRADA N A BIBLIOTECA N A C I O N A L Proibida toda e qualquer forma de reproduo desta obra sem a devida autorizao das Edies Tbuas da Lei

AGRADECIMENTOSMinha primeira dvida de gratido com a madrinha Rachel de Queiroz, que tantas ve%es me incentivou. Que Cristo Jesus lhe restitua a sade e a Pa%. E ao grande comunicador Jo Soares por ter aberto as portas de seu programa minha pessoa.

N D I C E REMISSIVOPREFCIO APRESENTAO INTRODUO I - Papisa Joana (855-857) II - Estevo VI (896-897 III - Srgio III (904-911) IV - Lando (913-914) V - Joo X (914-928) VI - Leo VI (928-929) VII -Joo XI (931-935) VIII -Joo XII (955-964) IX - Leo VIII (963-965) X - Bento XI (972-974) XI - Bonifcio VII (984-985) XII - J o o XV (985-996) XIII - Bento VIII (1012-1024) XIV - Bento IX (1033-1045) X V - Inocncio III (1198-1216) XVI - Gregrio IX (1227-1241) XVII - Inocncio IV (1243-1254) XVIII - Nicolau III (1277-1280) X I X - Bonifcio VIII (1294-1303) XX - Clemente V (1305-1314) XXI - J o o XXIII (1410-1415) XXII - Pio II (1458-1464) XXIII - Paulo II (1464-1471) XXIV - Sixto IV (1471-1484) XXV - Inocncio VIII (1484-1492) XXVI - Alexandre VI (1492-1503) XXVII - Leo X (1513-1521) XXVIII - Paulo III (1534-1549) XXIX - Gregrio XIII (1572-1585) XXX - Pio XII (1939-1958) pg 11 pg 17 pg 19 pg 23 pg 33 pg 39 pg 45 pg 49 pg 57 pg 63 pg 69 pg 79 pg 85 pg 91 pg 97 pg 103 pg 107 pg 113 pg 121 pg 127 pg 137 pg 143 pg 149 pg 157 pg 161 pg 165 pg 169 pg 179 pg 183 pg 191 pg 197 pg 205 pg 219

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PREFACIO

O professor e historiador Jeovah Mendes, que recentemente nos ofereceu i mstigante coletnea Curiosidades da Bblia e da Histria: de Ado aos Nossos I `:,/s, apresenta-nos agora, em Dos Pores Sombrios do Vaticano... 30 Papas que I``.m>ergonharama Humanidade, um polmico e estarrecedot conjunto de fatos I lem ao estilo de seu irriquieto temperamento. Diriginco-se a um pblico igente e sequioso por encontrar novas angulaes em antigos relatos, que permitam ao pensamento alar vo na busca de concluses raras, o autor vem desta vez vasculhar o profundo ba que guarda alguns detalhes pouco r\piorados da Histria da Religio. Sempre em busca de confrontar-nos com assuntos mal esclarecidos ou de fazer emergir temas que outros escritores, por vrios motivos, procuram > vtar, o historiador pesquisou as obras mais diversas, iluminando recantos obscuros da memria da Humanidade ao selecionar informaes obtidas m i viagens e visitas realizadas ao longo de aproximadamente vinte anos. Como resultado, pela primeira vez so documentados, de forma concisa c organizada, os descalabros cometidos por alguns dos homens que tiveram cm suas mos o poder papal - nem sempre exercido cm' as convenes exigiriam. Para facilitar o acesso s fontes aqui mencionadas, o leitor brasileiro encontrar abundantes referncias bibliogrficas em Portugus. Outrossim, durante muito tempo a Igreja obedeceu tendncia de ocultar suas falhas, cegar os fiis e esconder-se atrs de uma muralha de aparncias. V I N C I T O M N I A VERITAS (bordo assumido pelo historiador)

aponta o necessrio caminho a ser seguido, por todos aqueles que intentam despojar de hipocrisia as suas mais elevadas crenas. Com a mesma perspectiva, vrios autores transcreveram no decurso dos ltimos 500 anos a afirmao de que, em termos de sexualidade, o clero catlico sempre foi 'capat^ de qualquer coisa'... * C o m o adendo, e admitindo-se que os costumes soem refletir-se na literatura, vamos encontrar na obra pornogrfica de Pietro Aretino publicada entre 1527 {Sonnetti Lussuros) e 1536 (Ragionamentt) , o relato da inocente novia Nanna, em sua experincia como freira em Veneza. Nanna descreve de que m o d o iniciou-se nos prazeres do sexo, a partir da observao das imagens que decoravam as paredes do convento e tambm espreitando cpulas pelas frestas das portas, tendo seus sentidos literalmente 'bombardeados pela luxria'... Os esforos empreendidos pela Inquisio e pelo Index para erradicar este tipo de literatura, dificultando sua aquisio junto aos livreiros da poca, outorgaram-lhe, ao invs, u m status ainda mais especial. E m b o r a os reformadores do Concilio de Trento combatessem a difuso pblica das imagens lascivas e imprprias para as massas iletradas, as emoes complexas associadas ao refinamento dos sentidos, que eram difundidas pelos livros 'banidos', continuaram sendo domnio das elites durante todo aquele perodo. A prostituio, no sem razo tomada como a mais antiga das profisses, encontra-se sempre como referncia em se tratando de controle sob a administrao das sociedades. A partir de 1790, e especialmente na Frana, ocorreria uma transformao na imagem da 'mulher-da-vida', que abandonaria seu pedestal social e passaria ao domnio de todos os homens... Entretanto, o leitor ideal de Aretino era suscetvel a toda viso, sons e cheiros. E m sua fico, muito adequadamente, Nanna receberia de um amante' Ver a coletnea organizada por Lynn Hunt, A inveno da pornografia - obscenidade e as origens da modernidade (1500-1800), Editora Hedra, So Paulo 2000, pp42-4, 65, 75-7, 82, 112,154-5,162, 175-6 e 255.

(...) um Hvro abarrotado defigurasdepessoas se divertindo nos modos e posturaspraticados pelasfreiras instrudas, disfarado como livro de oraes", para ela uma fonte vital de informaes. Por fim, depois de experimentar as frustraes do convento, bem como as do leito matrimonial, N a n n a faz sua opo pela prostituio... O que podemos extrair dessa imagem, concebida quela poca? Levemos cm conta que homossexuais e prostitutas personificavam, tanto na vida real c o m o na literatura, o vcio. T i d o s c o m o adversrios perigosos pelos magistrados urbanos, os primeiros eram perseguidos e at mesmo marcados a ferro quente (em cidades como Veneza), enquanto as autoridades tratavam de restringir a ao ostensiva das meretrizes. Como oufsdersda sexualidade desenfreada, tais personagens tinham viso privilegiada dos hbitos dos demais e podiam, destarte, retratar sem disfarces a sociedade em que viviam. E m b o r a seu olhar no fosse exatamente pornogrfico, existia, literariamente, para alimentar a pornografia... C o m o conseqncia, o olhar crtico do porngrafo transformou-se naquele que melhor captava a realidade humana e a mostrava aos homens, que no a queriam ver. S i m u l t a n e a m e n t e , os p o e t a s satirizavam a retrica m o n a r q u i s t a , enfatizando que o rei ignorava a poltica e que seus planos de ao determinavam-se apenas pela necessidade de ampliar e manter seus prazeres ou seja, obter recursos suficientes para sustentar suas prostitutas... Tematizando os excessos sexuais e o desperdcio de rendas pblicas, viriam a estabelecer uma indissolvel identidade entre catolicismo e absolutismo. Porm, a identidade entre papismo e tirania tida como lugar-comum da expresso do sculo XVII , era frgil. Era mais fcil identificar o Papa com o regicdio e o absolutismo. Entretanto, papismo e tirania puderam ser vinculados porque ambos se associavam libertinagem sexual que, por sua vez, mesclava-se ao catolicismo, em diversos nveis. N u m a sucesso dos eventos histricos que misturavam sexo e religio, figura, por exemplo, o julgamento de vrios aristocratas venezianos, os quais

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foram, na dcada de 1630, levados aos tribunais por terem, supostamente, copulado com uma esttua de Cristo... O povo das ruas no ignorava que os homens que ocupavam o posto mais importante da Igreja movimentavam bordis em Roma. Contudo, foram os polticos anglicanos, que mantiveram viva a pornografia utilizada com fins polticos os que mais colaboraram para manter intacta uma imagem sem mscara da moral e do comportamento social daqueles tempos. Tinha-se o catolicismo como uma religio que oferecia desculpas para que seus fiis fizessem tudo o que lhes apetecesse. "Os interesses dos catlicos e das prostitutas eram os mesmos", lia-se em carta supostamente escrita pela amante catlica do rei Carlos II, a condessa de Castlemaine, dirigida s prostitutas de Londres. N a mesma carta figurava a promessa da ampliao do nmero de teatros, por meio dos quais difundia-se a libertinagem - e tambm o catolicismo... A condessa esclarecia que "a opinio geral da Santa Me Igreja de que os prazeres venreos so pecados perdoveis, que os confessores podem relevar". Neste contexto, por vezes, a prostituio apresentava-se como uma religio idolatra; os bordis eram descritos como 'Templos de Vnus\ as prostitutas como 'freirai ou 'devotas de Vnus' e o sexo afigurava-se como sacrifcio ou um ato de venerao... Tudo isso instigou a tradio a referir-se Igreja Catlica como '`aprostituta de Roma', associada imagem de uma mulher muito poderosa, sexualmente devassa, obscena e rica. Igualmente, um rei libertino era, potencialmente, um rei catlico... Entre exemplos clssicos, a relao de Carlos II com suas devassas amantes catlicas - a duquesa de Castiemaine, a duquesa de Portsmouth e a duquesa de Mazarin - mostrou a trama do envolvimento da coroa com a citada instituio (Lyndal Roper, Discipline and Respectability: Prostitution and the Reformation in Augsburg, History Workshop Journal, 19, 1985, pp 3-28). N o cerne desta cultura de poder corrupto, a identificao da realeza com Prapo (o deus lbrico) encorajava as alucinadas pretenses de monarcas

(( omo o citado Carlos) de ascender divindade. Tal delrio era incensado pelos jesutas, tornados como representantes de uma religio idolatra e defensora dos direitos divinos da monarquia, o que colaborava ainda mais para a estranha proximidade entre os pecados do sexo e a religio. Via-se o destino das prostitutas como glamouroso; afinal, seus clientes contavam-se entre os ricos, os bem-nascidos e os bem-relacionados. Pois a Igreja no lhes forneceu inmeros desses cavalheiros?.. C o m o a fico C( >stumeiramente segue a realidade, na pornografia do sc. XVIII os homens de finanas, tanto quanto os clrigos, desempenhavam importante papel na configurao desse esteretipo, por sua impecvel assiduidade aos bordis. Ao mesmo tempo em que as elites apreciavam este sexo 'variado1 e 'suntuoso', requintado e restrito, a libertina expunha o mundo aristocrtico ao ridculo, vexando seus amantes, rindo de sua impotncia e zombando da adorao que tinham por ela - uma mera prostituta - , enganando-os e traindo-os impiedosamente, enquanto eles a sustentavam. Tais relatos, conservados anonimamente nos subterrneos da Histria, forneceriam as linhas de investigao que permitiram a reconstituio de muitas das histrias proibidas do Vaticano, 'segredos' vedados por sculos aos mortais comuns. Fluindo aos borbotes, como que a garantir a libertao de almas aprisionadas, eis os cenrios e figurinos que ajudaro a entrarem em cena os temas deste livro... Neste sculo zero de um N o v o Milnio, quando se reacendem na mdia as polmicas acerca da imposio do celibato aos sacerdotes, da recorrente h o m o s s e x u a l i d a d e e n t r e religiosos e da e x p l o s o i n c o n t r o l v l da concentrao de evanglicos Brasil afora, o Prof. Jeovah Mendes mostra sem pejo, em sua ofensiva integridade, a face oculta dos que um dia ousaram manipular os desgnios da Igreja em usufruto prprio. Estes so fatos notrios, compondo uma efgie manchada por iniqidades e encoberta pela mscara do Inquisidor, contumazmente associada ao furor d o escndalo e capaz de estilhaar a fachada angelical dos atos perversos,

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expondo a difuso de ideologias de 'oportunidades transcendentes, contrastadas funesta e dolorosa perda do controle sobre as paixes humanas... como nos diria entre dentes, esfregando os olhos extasiados pela luz do sol alencarina, o cineasta Orson Welles, banhado no prprio suor e pisando a areia fofa que emoldura as tpidas guas verde-esmeralda das nossas praias: - It's ali truelll Isto, a despeito dos muitos e muitos lustros de infames tentativas de fazer o lobo disfarar-se em cordeiro.

APRESENTAO

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Max KrichanJornalista e professor de idiomas

Fartamo-nos de ouvir atravs dos meios de comunicao, sejam el< 1 1 rdio, o jornal ou a televiso, o apelo do Papa Joo Paulo II, pedindo perd< i Humanidade pela intolerncia religiosa e crimes cometidos em nome dfl Igreja Catlica, ao longo de sua trajetria tenebrosa e sanguinria. A atitu< li do eminente Pontfice bastante louvvel, embora saibamos que a atual gerao nada tem a perdoar, uma vez que nada sofreu, mas sim aqueles que padeceram sob a opresso do catolicismo, nos sculos passados. Contudo, aqueles mrtires j nada mais podem perdoar, pois esto mortos, ficando sem efeito os rogos e as lgrimas do bom velhinho que, felizmente, no tem as mos manchadas de sangue, sendo (Graas a Deus!) um dos grande-. Papas da Histria. Numa srie de 'abacaxis' que a Santa S vem tentando 'descascar' neste final de milnio, encontra-se a omisso do Papa Pio XII diante do massacre de seis milhes e meio de judeus nas mos dos agentes hideristas, de 1939 a 1945, durante a Segunda Guerra Mundial. Pio XII foi ntimo de Hitler, Mussolini e Franco - o trio infernal que fez sangrar 50 milhes de seres humanos nos campos de batalha da Europa, sia e frica, com a anuncia e as bnos desse Papa das Trevas, to insensvel quanto seus parceiros ditadores. Da mesma forma, Inocncio III, Gregrio IX, Inocncio IV, Paulo III, Pio IV, Pio V e Gregrio XIII, com suas cruzadas sanguinolentas e seus infames tribunais inquisitoriais, foram responsveis pelo extermnio de dez milhes de supostos inimigos do clero romano, entre os anos de 1208 a 1820, at o desmantelamento do Tribunal do Santo Ofcio por Napoleo Bonaparte, o maior dos imperadores de Frana - quando a diablica Santa

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Inquisio chegou ao seu final. Como estes, h diversos outros latos, que, considerados gravssimas ofensas coexistncia humana, muitos gostariam de apagar da memria universal. , p o r t a n t o , c o m a i n t e n o de trazer a p b l i c o o n e c e s s r i o conhecimento destes terrveis episdios histricos, de modo organizado, conciso e metdico, que este trabalho foi concebido. Que os leitores sintamse livres, pois, para tirarem suas prprias concluses.

INTRODUONeste opsculo o pblico leitor informar-se- sobre a conduta imoral C i nminosa de 30 papas que guiaram os destinos da Igreja Catlica Romana, entre os anos 855 e 1958. Esta fase negra da histria humana tem incio com .i eleio da Papisa Joana "L'Anglos" jovem de ascendncia inglesa nasi ida em Mentz (Alemanha) por volta de 817 e falecida em 857 , que ocupe IU O trono papal por dois anos, sete meses e quatro dias. Segundo o historiado! I ,awrence Durrell^, Joana assumiu o papado por artes diablicas, pois, sendi i mulher, enganou a cpula cardinalcia e assumiu o trono do Pescadoi dfl Galilia como Joo VIII. Certo dia de 1517, durante visita a Roma, Lutero notou certa esttua, em uma das ruas pblicas que conduziam catedral de So Pedro: era i imagem de uma papisa. Uma vez que a mesma era objeto de desagravo pai a os papas, nenhum pontfice jamais passava por aquela rua. 'Estou atnlo\ disse Lutero. ' Como permitem que a esttua permanea?'. Quarenta anos aps sua morte, a referida escultura foi enfim removida, por Sixto V.

Fortaleza/CE, outubro de 2000 JEOVAH M E N D E S

A The CatholicEncyclopedia traz sobre o tema o seguinte resumo: "E>epoi deLeoIV(847-855), o'JooIngls (LAnglois) deMent% ocupou o trono papal j>oi quase trs anos, sendo ele, como alegado, uma mulher que, quando moa, foi leva tia a Atenas por seu amante com roupas de rapa% tendo ela aprendido as cincias dos grego to rpido que ningum a podia igualar. Veio para Roma, onde aperfeioou seus conhecimentos, atraindo a ateno de homens estudados (...) e sendofinalmenteescolhida como Papa. Ficando grvida de um dos seus atendentes de confiana, deu luv^ durattt uma procisso de So Pedro para o Lateran (Latro), morrendo quase instantaneamente em conseqncia do parto"? Houve realmente um Papa-mulher?

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Antes da reforma protestante, que exps tantos erros da Igreja romanista,. este evento era crido pelos cronistas, bispos e pelos prprios papas. Segue aThe Catholic Encyclopedia: "Nos sculos XIV e XV, a Papisa era citada como personagem histrico, de cuja existncia ningum duvidava. Ela teve seu lugar entre os bustos talhados queficavam na Catedral de Siena. Sob pedido de Clemente VII (15921595), Joana foi transformada no Papa Zacarias. O padre Joo Huss, ao defender sua doutrina diante do Concilio de Constana, referiu-se a ela, mas ningum questionou ofato de sua existncia".

"Realmente, alguns dosprimeiros pontfices foram verdadeiros mrtires, mpertrritos na defesa do Cristianismo. Mas, depois de ligada ao mundo por um conbio sacrilego, ao procurar` integrar-se ao Estado, aospoucos a Igreja Romanafoi perdendo sua espiritualidade, tom a finalidade de poder governar de modo absoluto. Ento, veio a derrocada geral, que ,i colocou num plano completamente oposto s coisas de Deus, transformada nessa coisa ttm sentido que ela hoje e que a levar cada vet^mais ao descrdito. Mas a humanidade, desiludida dos papas e de toda a hierarquia da Igreja Catlica, ter sempre o caminho Certo que a conduzir a Deus, porque Ele a sublime perfeio e dar sempre ao homem o ensejo de saber que no est s,porque O tem a acompanh-lo, em todos os momentos```.

Alguns estudiosos tm questionado de que modo pde o Papa Clemente VII 'transformar' uma Papisa chamada Joana em um Pontfice homem, chamado Zacarias, sculos aps ela ter morrido... Ora, se papas indignos como Srgio III (cognominado Boca de Porco), Joo X, Joo XI, Joo XII, Leo VI, Bonifcio VII, Bonifcio VIII, Benedito VIII, Alexandre VI, Clemente V, Joo XXIII, Inocncio VIU e tantos outros - , que se entregaram corrupo, volpia, ao luxo e concupiscncia, muitos obrando desonestamente e outros cometendo adultrio ou vivendo abertamente em pecado com mulheres de vida dissoluta (mantendo-as em harns particulares, espalhados por diversos lugares da Itlia e no restante da Europa, para encontros amorosos e bacanais), escandalizaram a Igreja Romana e macularam a S Doutrina de Cristo (Mt 18,7) impunemente, porque no poderia Clemente VII alterar este pequenino detalhe?... Embora abordando historicamente a grosseira imoralidade que existiu nas trajetrias de alguns papas, no desejamos causar a impresso de que todos os pontfices foram to maus quanto os que mencionamos. Salientamos que, dos 265 papas da histria da Igreja (Joo Paulo II includo), tivemos alguns que no souberam honrar as suas funes pontificais, sendo os demais homens santos e compromissados com a palavra de Deus. Os papas canalhas e salafrrios constituram apenas uma minoria, chegando ao mximo de 30, sendo o restante homens dignos e merecedores de todo o nosso respeito e admirao, muitos deles defensores zelosos do Evangelho e mrtires do Cristianismo nos primeiros sculos da Era Crist. Como afirma o renomadoescritor A. Campos Porto, "O papado, no se pode negar, foi herico na virtude e na consagrao das coisas referentes ao Evangelho" .c

Este autor no tem, portanto, a presuno de arvorar-se em dono da verdade e palmatria do mundo ao contrrio, tem plena conscincia de que nada , sendo vulnervel aos mesmos vcios e fracassos desta vida, cheia assa mal, ao presenci-lo expelindo o rebento adulterino por entre as vestes, supostamente sagradas. Todos se deram conta, ento, de que < | to VIII era na verdade uma mulher disfarada de homem exceo ilo camarista Floro, seu secreto amor, que j a houvera descoberto.... Refeita do susto, a cria romana decretou que a sacrlega mulher l < >sse atirada s guas do rio Tibre, juntamente com o seu Pipidio. E assim foi feito. Floro, o amante, fez-se ermito; e os piedosos peregrinos, a fim de no contaminarem as sandlias pisando nas pegadas da imunda mulher-Papa, passaram a utilizar, a partir deste incidente, outros caminhos para chegar ao Latro... 3

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DURRELL, Lawrence. Op. c/f., pp. 128-32.

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CAPITULO II

ESTEVO VI(de 8 9 6 a 897)

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Mancomunado com a amante Agiltrudes, desenterrou e julgou a carcaa de seu antecessor, o Papa Formosontre os anos 887 e 897, os Papas estiveram sob o c o m a n d o e a prepotncia de u m a mesma mulher: Agiltrudes, esposa de Guido de Spoleto, um frgil governante do ducado do mesmo nome, encravado no corao da Itlia e tutelado pelos mandatrios lombardos e bizantinos. Guido no passava de um mero boneco nas mos de sua arrogante mulher, que dele dispunha c o m o queria, servindo apenas para dizer sim a seus maquiavlicos desejos... E m 887, o conformado Guido, pressionado por sua tirana mulher, pede ao Papa Estevo II que o coroe como imperador do ducado de Spoleto. Este ato deu incio a uma dcada de terrveis conflitos entre a Igreja e a criminosa Agiltrudes, responsvel pelo encarceramento e morte de seis papas fantoches, quase todos eles seus amantes. Madame de Spoleto manobrou o papado e colocou os Estados da Igreja sob sua influncia, nomeando e demitindo prelados ao estalar de seus dedos. Sob a influncia desta mulher terrvel sucederam-se nove papas em 8 anos, tendo um governado 15 dias e outro 20 dias; trs deles morreram na priso e outros trs foram assassinados 4 ... Os motivos? Sempre os35

mesmos: impotncia sexual e genitlia inferior s dimenses exigidas por Agiltrudes... 5 Ela considerou inepta a maioria dos seus amantes; por conseguinte, foram r e p r o v a d o s p o r insuficincia genital e silenciosamente eliminados... O nico entre estes papas a satisfaz-la sexualmente foi Estevo VI, o sucessor do pontfice Formoso, morto em 896 por torturas e maus tratos infligidos por Agiltrudes. Estevo VI e sua insacivel amante viviam explicitamente em pecado de adultrio, ocasionando a censura dos habitantes de Roma e muita boataria, naqueles obscuros tempos... Exatamente por ter criticado a vida imoral de seus muitos amantes, o Papa Formoso foi jogado num calabouo e espancado por agentes a soldo de Agiltrudes, vindo a falecer. Oito meses depois, dominada pela ira, esta bestial mulher mandou desenterrar o cadver de Formoso e entregou-o ao povo, que o arrastou pelas ruas de Roma em execrao, para divertimento da plebe. N o satisfeita com toda esta barbrie, instou seu amante Estevo VI a submeter o Papa Formoso a um rigoroso julgamento por parte de bispos e cardeais todos 'meninos de recados' desta adltera mulher. O episdio do julgamento do prelado ancio passou aos anais da Histria como Concilio Cadavrico, uma vez que os restos mortais do eminente pontfice ainda exalavam insuportvel mau cheiro, atraindo enxames de moscas e varejeiras quando em exibio... Segundo Ralph Woodrow, "s famosa histria de um papa trazendo outro ajulgamento puro horror, pois o Papa Formosoj estava morto havia oito meses! No obstante, o corpo foi tirado do tmulo e colocado em um trono. i, diante de um grupo de bispos e cardeais, Formosofoi vestido com osricosparamentos4 5

i/o papado, recebeu uma coroa no crnio pelado, e o cetro do Santo Ofdo lhe foi posto nos dedos descarnados da mo apodrecida!``.b "Enquanto o julgamento se desenrolava, o fedor do corpo enchia o local da , tssemblia. O Papa Estevo VT adiantou-se e comeou o interrogatrio. _E claro que nenhuma resposta foi dada pelo morto, em relao s acusaes que se lhe l,i:jam... Assim sendo, ele foi considerado culpado de todas elas! Com isto, os brilhantes vestidos foram rasgados do seu corpo, a coroa foi arrancada de sua Cabea, os dedos que eram usados para dar a bno pontifcia foram retalhados e se ii cadverfoi jogado na rua. Arrastado por uma carreta pe Is artrias de Roma, foi finalmente lanado ao rio Tibre. Assim, um Papa condenou outra'''. Neste desenrolar de fatos, a The Catholic Encyclopedia complementa que "o segundo sucessor de Estevo fie^ com que o corpo de Formoso, que um monge havia tirado do Tibre, fosse novamente enterrado, com todas as honras, na Catedral de So Pedro. Ele posteriormente anulou, em um Snodo, as decises do tribunal de Estevo VT, e declarou vlidas todas as ordens concedidaspor Formoso. Joo IX confirmou estes atos em dois snodos... Posteriormente, Srgio III, o T>oca'` WOODROW, Ralph. Babilnia: A Religio dos Mistrios - Antiga e Moderna, Ralph Woodrow Evangelistic Association, EUA, 1966, pp.106-7.

NEGROMONTE, Pe. lvaro. Histria da Igreja, Jos Olympio Editora, Rio de Janeiro, 1957, p. 78. LACHATRE, Mauri. Histria dos Papas, Lisboa, 1949, p. 68.

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de Porco' (904-911), aprovou em um snodo romano as deses de Estevo contra Formoso... Srgio e seu grupo deram um severo tratamento aos bispos consagrados por Formoso, que, por sua ve% havia conferido ordens sobre muitos outros clrigos, poltica que deu origem a ainda mais confusd\.? A Igreja Catlica, que durante mais de um sculo tremeu sob o comando das poderosas meretrizes de Roma (887-997), viu bispos, cardeais e papas serem transformados em meros objetos de preferncias sexuais... Por fim, Joo XII (imoral neto de Marzia), em face de graves dificuldades polticas, chamou em seu auxlio Otto I, filho de Henrique, o Passarinhero, primeiro imperador da Alemanha, e coroou-o seu sucessor (962), assim restabelecendo o Imprio Catlico do Ocidente agora o Santo Imprio Romano-Germnico. O novo imperador parecia bastante forte para dominar as desordens que agitavam a Itlia, mas no conseguiu cont-las... Comprometeu-se a proteger a Igreja, porm a 'proteo' imperial constituiu-se em verdadeira dominao, pois o imperador apresentava o candidato, que recebia ento a votao... A Igreja nunca legitimou este procedimento, embora a frmula tivesse durado quase cem anos (967-1059), exigindo uma das mais enrgicas lutas da Igreja para extirpar tal abuso. "Nos primeiros tempos do Protetorado, a rivalidade entre os nobres italianos e o imprio germnico tumultuou a Igreja, inclusive com o surgimento de alguns antipapas, fuga e assassnio de papas".8

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CAPITULO III

SRGIO III(de 9 0 4 a 9 1 1 )7 8

Idem. NEGROMONTE, Pe. lvaro. Op. c/f., p. 78.

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O Boca de Porco, amante da infiel Teodora I e de sua filha Marziaom o reinado do Papa Srgio III, teve incio o perodo conhecido como governo dasprostitutas, domnio das meretr%es ou aindapornocraa (904 963) 9 : o papado era manobrado politicamente por rameiras, que se apossaram do patrimnio de So Pedro e passaram a ditar normas a seus amantes, transfigurados em marionetes a servio de seus desejos e favores sexuais. Srgio III chegou ao slio pontifcio passando antes por cima do l adver de um Papa anterior (Leo V, que foi por ele perseguido e encarcerado, falecendo em conseqncia de maus tratos), sujando de Bangue a Cadeira de Pedro, alm de transformar os labirintos do Vaticano em pontos de encontro amorosos entre ele e suas concubinas. I te papa adltero e fornicador no teve escrpulos ao apossar-se da mulher do senador romano Teofilato e de sua filha Marzia, vivendo ;imbas exclusivamente, a partir de ento, para o mesmo lascivo e devasso homem. Os arquivos da Igreja Romana relatam sua vida de ostensivo | >ecado com sua amsia, Marzia, que dele teve vrios filhos ilegtimos (entre os quais o Papa Joo XI).

" HALLEY, Henry H. Manual Bblico-Um Comentrio Abreviado da Bblia, Edies Vida Nova, 1995, p. 686.

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O senador Teoflato, esposo de Teodora I, sentindo-se impotente para enfrentar o usurpador de sua esposa e filha, desistiu de concorrer com o poderoso rival. O historiador italiano Barnio descreveu o Papa Srgio como "monstro", enquanto Gregorvio definiu-o como um "criminoso aterrori%ant`'.10 Diz um historiador: "Durante sete anos este homem (...) ocupou a Cadeira de So Pedro, enquanto sua concubina e sua me, semelhantemente a Semiramis, compartilhavam da corte com tal pompa e voluptuosidade que faliam relembrar os piores dias do antigo imprio1\11 Teodora I, a infiel esposa de Teoflato, parecia inspirar-se em Semiramis, por cultuar uma moral corrupta; junto com a filha Marzia, as concubinas do Papa Srgio "enchiam a cadeira do pontfice com suas imoralidades e seus filhos bastardos, transformando o Palcio de Latro em um covil de ladres". 12 Srgio I I I , que p a s s o u Histria c o m o Boca de Porco,13 a personificao da decadncia espiritual da Igreja naquele perodo crtico da histria humana, assolado por guerras civis e religiosas entre os nascentes Estados europeus especialmente a Frana e a Inglaterra. Embora as maiores dificuldades do papado tenham comeado no fim do sculo IX e terminado ao incio do sculo XI, foram de tal modo acentuadas no sculo X que este foi denominado como Sculo de Ferro.14 Aquela poca, as meretrizes tinham trnsito livre nos corredores do Vaticano. Uma delas chegou a ser bastante poderosa, o suficiente para entronizar e destronar papas, ao bel-prazer de seus caprichos: Agiltrudes, mulher de Guido de Spoleto, que por vrios anos controlou os destinos da Igreja Catlica. E m 887, Guido de Spoleto constrangeu o Papa Estevo II a coro-lo imperador: Principiava para a Igreja outra fase de desordens e escndalos.10 11 12

\ssim como cie, foram conduzidos ao trono pontifcio papas Indignos, por processos mais indignos ainda. Ao sabor de interesses diversos, tais papas eram eleitos, assassinados, depostos, encarcerados I profanados depois de mortos como o Papa Formoso, que, por haver incorrido na ira de Agiltrudes, teve seu cadver desenterrado e entregue populaa, que o atirou ao rio Tibre, em Roma (896). Sob a terrvel influncia desta mulher, sucederam-se ainda nove papas, no t1 1 ri o perodo de 8 anos; um governou 15 dias e outro 20, trs morreram na priso e trs foram assassinados... Ainda assim, o Papa Teodoro II teve coragem para reabilitar a memria de Formoso e j o o X procurou remediar os excessivos abusos daqueles tempos agitados.

WOODROW, Ralph. Op. c/f., p. 96. Idem, p. 96. Idem, p. 96. 13 DURRELL, Lawrence. Op. c/f., p. 113. " NEGROMONTE, Pe. lvaro. Op. cit, p. 76.

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CAPITULO IV

LANDO(de 9 1 3 a 914)

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Corrupto, criminoso e fornicadorurante o chamado governo das meretri%es (887996), a Igreja Catlica Apostlica e Romana s u p o r t o u u m a t e r r v e l l e v a de p a p a s desmoralizados e manipulados por devassas madames, destacando-se entre eles o terrvel e asqueroso Papa Lando, detentor de malficos predicados morais, alm de notrio corrupto, criminoso e fornicador.15 O pontificado de Lando antecedeu o de Joo X, amante de Teodora II, governando a Cadeira de Pedro p o r apenas u m ano t e m p o suficiente p a r a cobrir a humanidade de vergonha e estremecer os santos em suas sepulturas. Este papa encarnou o que mais de excrescente registrou-se nos anais da maldade humana, deixando para as geraes futuras u m pssimo exemplo como primaz da Itlia e da comunidade catlica Universal. Lando dirigiu a Santa S imprensado entre o martelo e a I igorna, ou seja, pressionado e hostilizado por trs mandonas da cadeira de So Pedro, Teodora I, Teodora II e Marzia, o triunvirato da i ulelagem, que queriam o Trono do Pescador para nele perpetuar o amsio de Teodora II, Joo X, assunto do prximo captulo. Para manter-se no comando da Santa S por este exguo perodo, o Papa Lando teve que costurar humilhante acordo com as trs meretrizes,11

HALLEY, HenryH. Op. cit, p. 686.

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comprometendo-se a entregar a elas toda a renda da Igreja proveniente dos dzimos, anatas, ofertas e coletas e fazer vistas grossas para as suas aventuras sexuais nos corredores do Vaticano que seguia sendo um antro de prostituio e roubalheira. Lando era amante da boa comida e do bom vinho, desfrutando estes prazeres, sempre que lhe era permitido, ao lado de Teodora me e suas filhas, Teodora II e Marzia, apreciadoras de robustas genitlias. A ocorrncia de bacanais e surubas nos luxuosos aposentos do Palcio de Latro, os amantes dessas rameiras intercediam junto ao Papa em exerccio na ocasio, para que este rogasse a Santo Odilon, protetor das almas e superintendente do Purgatrio, alm de aquecedor das Santas Caldeiras, um tratamento mais suportvel e menos severo, caso morressem naquela ocasio mundana, j que haviam contribudo financeiramente com o Tesouro de So Pedro, pagando o pedgio do santo coito, abenoado e referendado pelo 'generoso' pontfice. A Igreja carecia naquele momento como em tantos outros do exemplo de u m h o m e m santo e zeloso da doutrina crist, que recuperasse a dignidade daquela divina instituio, manchada pela impureza do pecado. Homens to mal escolhidos como Lando no davam o exemplo da virtude, como tambm no o fizeram Srgio III, Joo XII, Alexandre VI e vrios outros. A maioria dos pontfices que honraram seus ttulos teve que sofrer pela liberdade da Igreja; Urbano II foi refugiar-se na baixa Itlia, digno de seu grande antecessor. Pascoal II padeceu no crcere, nas mos de Henrique V, pois o outro j fora castigado com uma morte trgica. Houve momentos de indeciso e receio. Mas a prpria conscincia crist, ferida pelos escndalos e esclarecida pelos zelosos pregadores que surgiam, pedia uma reforma. Alguns anos antes, o grande So Jernimo lamentara "que a igreja houvesse cresdo em riqueza e poder, mas diminudo em virtudes!' O grande nmero de papas escandalosos e imorais enfraqueceu as estruturas doutrinrias e crists da Igreja, restando apenas os maus costumes, o luxo e a carnalidade. 1616

NEGROMONTE, Pe. lvaro. Op. c/f., pp.80-2 e 87.

Amante da prostituta Teodora II*

o ano 914, o Papa Joo X teve sua eleio apoiada por uma cortes romana - Teodora II, irm de outra meretriz, Marzia, de quem j falamos no captulo anterior -, ambas filhas do senador Teofilato e Teodora I, tambm j mencionada. Joo X governou a Igreja Catlica por 14 anos, desempenhando u m b o m p o n t i f i c a d o , frente aos i n m e r o s conflitos daqueles t e m p o s agitados que . m t e c e d e r a m as p r i m e i r a s c r u z a d a s . J o o X m a n t i n h a u m ulacionamento amoroso com Teodora II, 17 para o dio de Marzia, Sua irm, que desejava afast-lo da Cadeira de So Pedro ou, se possvel, elimin-lo por assassinato para, em seu lugar, assentar Leo VI, um de seus amantes (nomeado papa pela depravada Marzia, Leo VI tornouse praticamente um escravo no Palcio de Latro, como reserva de seus apetites carnais). Ela atiou ainda o fogo da intriga entre alguns de seus amantes e o Papa Joo X, no intuito de afast-lo do poderoso posto - que rendia no s dinheiro, mas tambm sexo e sangue. Naquela poca, as famlias ilustres da Europa matavam e morriam em defesa da Cadeira de So Pedro, a 'galinha dos ovos de ouro' da nobreza europia e outros"HALLEY, HenryH. Op. c/f., p. 686.

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segmentos da elite mercantilista, ambas com as mesmas pretenses: o comando da Santa S e sua principal fora alavancadora, o dinheiro. Joo X temia o filho de Marzia, Joo XI, que, com dezoito anos, tambm pretendia assumir, em pouco tempo, o Trono de Pedro - para isso esperando contar com o apoio de sua me. Por sua vez, Joo XI era filho adulterino do Papa Srgio III, o Boca de Porco, e de Marzia (captulo III). J Teodora II no tinha pressa em se desfazer do parceiro, pois o mesmo, alm de faz-la feliz, ainda arranjava outros amantes para complement-la em suas fantasias erticas. Teodora II ia constantemente aos aposentos de Joo X no Vaticano e o arrastava pelas vestes pontifcias para os macios colches de seu luxuoso dormitrio no Palcio de Latro, para mais uma sesso de sexo... Enquanto o casal gozava o tempo no Vaticano, Marzia e seu filho Joo XI preparavam uma conspirao para fazer Joo X esfumaar-se para sempre da terra dos vivos. Os dois arquitetaram vrios planos; nenhum deu certo, pois Teodora tinha agentes pagos para proteger Joo de possveis atentados de inimigos, provavelmente enviados por sua irm. Para evitar o pior, reforou a segurana no Latro e deu ordens aos guardas para afastar qualquer impostor ou penetra que ousasse aproximar-se da residncia do Pontfice. Se Locusta ou o escravo Palas estivessem vivos, talvez a execuo do Papa por envenenamento se tivesse consolidado, pois, no primeiro sculo da Era Crist, estes mercenrios criminosos destruram inmeros opositores de trs csares, Tibrio, Calgula e Cludio. Joo X, o Papa fornicador e adltero, prosseguia seu primado felicssimo da vida ao lado de Teodora II, sem se importar com o resto do mundo, mesmo sabendo dos perigos que rodeavam o palcio pontifcio. Nos meados do Sculo X, toda a Europa estava imersa em densas trevas, cercada por uma leva de povos semi-selvagens que viviam como

intropfagos e vagavam por vastas extenses da sia e da frica, i | talhando o medo entre os civilizados. Joo X desejava evangelizlos c batiz-los, trazendo-os para o aprisco catlico e assim transformais is em filhos de Deus. Pelo contrrio, sua concubina, Teodora II, era favorvel escravizao total dos povos aborgenes para trabalhos Forados nos campos do Velho Mundo. A famlia dos Teofilato era possuidora de grandes latifndios em vrias partes da E u r o p a , iR ] Hcialmente na Itlia, bero de seus ancestrais, favorecendo o emprego de mo-de-obra escrava em suas extensas lavouras. A mulher do senador Teofilato, Teodora I, bem como suas duas I ilhas Teodora II e Marzia, possuam vrios escravos, os quais eram Utilizados tanto para satisfazer suas necessidades materiais quanto as cxuais. Tais servos eram, na sua maioria, jovens de boa linhagem tnica, I ,ipturados nas florestas da Escandinvia ou na G e r m n i a dos Tcutnicos. Joo X era a favor da cristianizao e alfabetizao desses pobres infelizes adoradores de totens, que utilizavam os crnios de Seus inimigos mortos como recipientes em que bebiam gua e hidromel. E m meados de 928, Teodora II e Joo X encabearam a campanha l le alforriao dos escravos dos Teofilato, para descontentamento de Marzia e de seus cortesos, todos unidos para esmagar o odioso inimigo da prostituta e de seu filho Joo XI. Nesta poca, os senhores leudais em toda a Europa disputavam com os papas a posse das terras, muitas vezes indo ao campo de batalha para resolver suas querelas, fazendo correr rios de sangue sobre o solo do Velho Continente. Os vultosos lucros provenientes do arrendamento das terras da Igreja aos cavaleiros vassalos trouxe enorme prosperidade aos pontfices daquela poca como no caso de Joo X, que dissipava o tesouro de So Pedro com sua concubina Teodora II nas bacanais palacianas do Vaticano, enquanto muitos pobres pereciam pela fome. A poliandra Marzia e seus cortesos tramavam dia e noite a morte do Papa,

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aguardando pacientemente a ocasio propcia para o desfecho la(al, enquanto seu amante, Leo VI, ansiava um dia chegar a assumir o Trono de Pedro. N o natal de 928, o Palcio de Latro estava em festa. Joo X abriu os luxuosos sales da opulenta corte pontifcia e recebeu a alta elite europia da poca, para as comemoraes alusivas ao nascimento do Salvador Jesus. No necessrio dizer que s o que havia de melhor foi consumido naquela magna festa, de causar inveja aos deuses do Olimpo. Teodora II e o Papa Joo X encontravam-se luxuosamente vestidos (ele trajando resplandecente indumentria, como outrora Herodes Agripa I no anfiteatro de Cesaria; ela lembrando uma ninfa em dia de apoteose na morada dos deuses, no instante da chegada de Zeus...). O banquete festivo durou uma semana, com resultados onerosos para os j exauridos cofres do Vaticano, tantas vezes saqueados por essas ratazanas insaciveis, em seus apetites carnais e voluptuosos. Quando tudo passou, veio a ressaca da grande festa: Joo X e sua concubina, ainda sob os efeitos do vinho fermentado, recolheram-se aos seus aposentos no Latro e, aps entregaram-se mais uma vez aos apetites e prazeres carnais que o diabo tanto aprecia, dormiam um letrgico sono. Seus g u a r d a s , b a s t a n t e c a n s a d o s , cochilavam displicentemente ao lado de suas armas. O palcio papal estava vulnervel ao ataque do inimigo. Marzia, andando na ponta dos ps, entrou na residncia pontifcia e chegou silenciosamente aos aposentos onde Joo e Teodora dormiam nus, de costas um para o outro. Conduzindo embaixo das vestes um punhal cintilante, envenenado com arsnico, para empurr-lo na garganta do Papa se preciso fosse, Marzia ocultou-se entre as vrias cortinas e esperou pacientemente que sua irm se levantasse e se dirigisse ao seu prprio quarto, porta seguinte do dormitrio do Pontfice. A noite avanava com suas

tri vas aterrad( iras, tudo acontecendo exatamente como a ferina Marzia I irevira; Teodora, a amsia de Joo X, levantou-se do leito do parceiro i dirigiu-se aos seus aposentos privados, continuando a dormir como antes. Avanando a passos firmes e silenciosos, Marzia apanhou um travesseiro e, com as duas mos, cobriu o rosto do sonolento primaz da Itlia, comprimindo-lhe a garganta e sufocando-lhe a respirao, It mat-lo por asfixia. Com Joo X morto, o Trono de So Pedro passou agora a pertencer ;i seu amante Leo VI - que iria governar a Igreja por apenas um ano, vindo a falecer do mesmo m o d o que seu antecessor, asfixiado tambm por um travesseiro, nas mos da prostituta Marzia... 18

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WOODROW, Ralph. Op. c/f., p. 96.

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CAPTULO VI

LEO VI(de 9 2 8 a 929)

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Um dos amantes da polandra Marziaepois da supresso do Papa Joo X, pelas mos de sua amsia Marzia, filha do senador romano Teoflato e de Teodora I, Leo VI chegou ao trono papal e a Igreja Catlica Romana assistiu a uma interminvel seqncia de assassinatos brutais e de abominveis imoralidades, concretizando um perodo de inigualvel impiedade nos anais da Histria humana. Marzia logrou designar seu amante Leo VI como sucessor do pontfice Joo X, mas ele permaneceu no slio pontifcio por apenas um ano. Seu curto papado findou tambm por asfixia, quando Marzia soube que uma outra mulher, mais depravada do que ela, o havia conquistado. Durante 14 anos este infeliz viveu em Roma sob um regime de semi-clausura, num dos vrios palcios dos Teoflato, disposio de sua amante que o procurava para encontros amorosos e o mantinha estreitamente vigiado por seus criados, para evitar que o varo se relacionasse com outras mulheres. Marzia, como poliandra e devassa que era, sabia dividir bem seu tempo entre um amante e outro. Estes infestavam sua alcova palaciana, localizada nos arredores de Roma, para o n d e atraa os muitos

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pretendentes. Como os destinos da Igreja Romana estiveram, durante anos, sob a tutela desta meretriz devassa, foi fcil controlar, mar de seus caprichos, toda uma corja de papas desmoralizados e subservientes. Leo VI, por exemplo, sabia da conduta pregressa da amante com outros parceiros, mas continuava a partilhar do leito pecaminoso, deixando-se dominar pela influncia do dinheiro e do poder. Marzia ambicionava agora alar ao Trono de So Pedro seu filho de dezoito anos, Joo XI, e nomear o amante para outra funo, lotando-o merc de suas vontades numa das dependncias do Palcio de Latro ou, quem sabe, elimin-lo quando assim o entendesse. O u t r o filho de Marzia, de n o m e Alberico, tambm pleiteava o pontificado, j que a Cadeira de Pedro era excelente 'vaca leteim e todos desejavam ordenh-la, sempre que surgisse a ocasio. P o r m , e n q u a n t o Marzia estivesse viva, tal p r e t e n s o era praticamente impossvel, uma vez que ela mantinha ferrenho controle sobre os concorrentes; alm disso, a velha rameira dispunha de uma rede de espies e mercenrios a seu servio em toda a Itlia e pases circunvizinhos, pagos a preo de ouro. At mesmo os amantes da astuta meretriz eram vigiados. T o d o s eles t i n h a m seus passos incessantemente monitorados, facilitando a manuteno do poder em suas mos. Marzia, juntamente com a me Teodora I e a irm Teodora II, formavam uma espcie de Tunvirato da Prostituio, obrigando seus frgeis e desmoralizados amantes a rastejar debaixo de suas saias. N o exemplo, o Papa Leo VI, que vivia a mendigar aos ps de sua dona... E m meados do ano 929, Marzia a u m e n t o u seu squito de servidores sexuais, deixando de lado, por alguns meses, antigos parceiros da mocidade, entre os quais o Santo Papa Leo VI, o qual ficou enclausurado em seus aposentos no Vaticano, espera de sua vez,

i nquanto Marzia usufrua os prazeres carnais com seus inmeros ii >mpanheiros de vida mundana. Por essa poca, abundavam em toda a Europa levas de pregadores Itinerantes, anunciando suas prdicas escatolgicas temperadas por terrveis i m p r e c a e s c o n t r a os p e c a d o r e s . E r a m s e g u i d o s I icneticamente por uma multido de peregrinos penitentes, que v;igavam desordenadamente pelas estradas e caminhos do Velho Continente. Simultaneamente, faziam-se os preparativos para as primeiras cruzadas da Igreja contra os sarracenos, A maioria dos cristos daquele tempo acreditava piamente que o mundo acabaria no ano mil da nossa era o que levou muitos a se desfazerem de seus bens, entregando-os Igreja Catlica em troca de garantias de vida eterna, por esta prometida a seus devotos e fiis seguidores. Atravs desse procedimento nada louvvel conseguiu o clero acumular e n o r m e s fortunas, s o b r e t u d o em terras e ouro, transformando o Vaticano numa espcie de potncia religiosa detentora de direitos exclusivos sobre a alma dos homens. Desta forma, ao sabor de seus prprios interesses econmicos, a Santa S os mercadejava, chantageando nobres e burgueses. A corte papalina de Leo VI e seu antro de prostituio, dirigido por Marzia e outras meretrizes palacianas, distribua indulgncias a todos aqueles que estivessem dispostos a entregar seus bens Santa (?) Igreja Catlica. Murmurava-se que toda a Europa encontrava-se infestada de demnios, materializados em bruxas, lobisomens, mulassem-cabea e burras de padres, que arrastavam para os abismos infernais os pecadores no arrependidos especialmente aqueles ricos e avarentos, que se recusassem a doar seus bens para a Santa Madre Igreja... Estes queimariam ento suas almas no Inferno, por toda a Eternidade...

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Utilizando-se destes artifcios os Teoflato, representados por Teodora I, Teodora II e Marzia, transformaram o Vaticano em enorme posto de arrecadao pecuniria, tendo o Papa Leo VI como mero representante dos interesses econmicos da famlia. N o ms de novembro de 929, Marzia conquistou mais dois amantes, para melhor atender a seus insaciveis instintos carnais. Enquanto isso, continuou mantendo no Vaticano, enclausurado em seus aposentos, o Santo Padre Leo VI... Vingando-se de sua concubina, o suposto Sucessor de Pedro arranjou tambm uma amante, ainda mais depravada que Marzia! A Histria no declinou seu nome, mas acusou-a de praticar a sodomia e entregar-se aos pecados da carne com seus parceiros sexuais, na baixa zona do meretrcio romano. E mais: a mercenria rameira tinha por hbito despir vrios homens em sua alcova para, em seguida, submetlos ao ritual da felao, o ponto alto da bacanal. Essa era a substituta de Marzia na preferncia do Santo Padre Leo VI. A o descobrir a infidelidade de seu amante-Papa, Marzia convidouo para um encontro ntimo. Depois de embriag-lo em seus aposentos no Vaticano, sufocou-o com um travesseiro, matando-o. O Trono de So Pedro estava novamente vago; para ocup-lo, Marzia nomeou seu filho Joo XI, que encabeou um dos pontificados mais depravados e corruptos encontrados nos registros da Histria. Como se tantas iniqidades no bastassem, Joo XI tambm passou a viver maritalmente com a prpria me. 19

UMIQ

_

APTULQLVI

JOO XI(de 9 3 1 a 9 3 5 )WOODROW, Ralph. Op. cit, p. 96.

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Vivendo maritalmente com a prpria me^) ecorrido pouco tempo do assassinato do Papa Leo VI, a Igreja passou a ser dirigida por Joo XI - filho de sua algoz, Marzia, com o Papa Srgio III, o Boca de Porco -, inaugurando n o v a era de crimes e i m o r a l i d a d e s n o s corredores do Vaticano. E m se tratando de d e v a s s i d o e p e r v e r s o sexual, o n o v o Pontfice nada ficou a dever aos reis Bera, de S o d o m a e Birsa, de Gomorra, 2 0 os quais g o v e r n a v a m os seus r e s p e c t i v o s r e i n o s incentivando a luxria e o homossexualismo entre seus habitantes. N o pontificado de Joo XI as imoralidades e constrangimentos Igreja no eram diferentes dos praticados em Sodoma e Gomorra nos dias daqueles reis efeminados e promscuos da terra de Cana. Joo XI tambm equivaleu-se, na conduta dissoluta, a Bagas (amante de Alexandre, o Grande), ao imperador romano Calgula e a Tigelino (parceiro de Nero), que realizavam tremendas orgias e bacanais palacianas, juntando suas concubinas e seus pervertidos amsios. Joo XI, o Papa de apenas 18 anos, continuou a manter como grande prostbulo o Palcio de Latro (a residncia oficial dos pontfices), a servio da carnalidade e do mundanismo, promovendoD

Gn (14, 2)

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interminveis festas sexuais para deleite de seu pervertido squito de aliados. A primeira vtima de sua tara foi a prpria me, instada a aceit-lo como amante... "Srgio III vivia abertamente com a cortes Maro\ia, originando os maiores escndalos; seufilhotornou-se Papa com a idade de dezoito anos, com o nome de Joo XI, sendo acusado pelos Cardeais epelos Bispos de viver em incesto com apropria me e ser cmplice dos mais nefandos crimes de adultrio, tiro, homicdios eprofanaes".21 E mais: A The CatholicEncyclopedia diz: "Alguns, tomando Liutprandeo Liber^Pontificalis(Uvro dos Pontfices) como autoridade, afirmam que Joo XI erafilhonatural de Srgio III, o Boca de Porco. Atravs das intrigas de sua me, que reinava naquele tempo em Roma, ele chegou Cadeira de So Pedro. Mas, ao opor-se a alguns inimigos de sua me, Joo XI foi vencido e colocado na priso, onde morreupor envenenamento" ?2 Joo XI era hostilizado por seus muitos inimigos, que desejavam elimin-lo do convvio dos vivos, um modo seguro de afast-lo da Cadeira Pontifcia. Era preciso deixar vago o notavelmente rentvel Trono de Pedro, para que fosse ocupado por seus opositores. Por volta de 934, Joo XI pressionado pelo irmo Alberico, o qual pleiteava o trono papal para seu filho Joo XII, mil vezes mais devasso que seu tio Joo XI (o Pontfice mais salafrrio do sculo X, assunto do prximo captulo). Para Alberico, tambm filho de Marzia, o afastamento do irmo Joo XI da Cadeira de Pedro era uma garantia preservao dos interesses da famlia Teofilato, ameaados por vrios segmentos da oposio. E m agosto de 935, Joo XI, visando aumentar as receitas da Igreja, passou a cobrar impostos dos prostbulos, no s de Roma, mas de todas as cidades da Europa; viu, assim, engrossarem as fileiras da oposio ao seu prelado. Sequioso de amenizar os protestos dos opositores, prometeu-lhes o Paraso, caso contribussem para os cofres da Santa Igreja Catlica, que careciam de recursos capazes de reabilitar21 22

,i ..unir financeira do Vaticano. Os inimigos de Joo XI no lhe davam trgua, conspirando dia e noite para elimin-lo na primeira oportunidade, pois seus desatinos ultrapassaram todos os limites da tolerncia humana. N o ano 935, foo foi atacado em seu castelo residencial e levado como prisioneiro por um grupo de condottieri (mercenrios italianos que lutavam por dinheiro). Foi jogado numa imunda masmorra, acorrentado por ps e mos a um pesado tronco de madeira. Durante trs meses Joo XI ficou entregue cruel sanha de seus inimigos, que o torturavam pela fome e pela sede, sem que sua me Marzia pudesse fazer alguma coisa para tir-lo daquela desumana priso. Finalmente, em novembro de 935, Joo XI apareceu morto, ainda acorrentado ao tronco, do mesmo m o d o que seus inimigos o haviam deixado, totalmente entregue prpria sorte. Os adversrios o tinham eliminado aos poucos, utilizando dosagens controladas de veneno (arsnico), na alimentao. Ainda assim, seu irmo Alberico lutou durante vinte anos antes de finalmente conquistar a Cadeira de So Pedro para seu filho Joo XII, enfrentando a ferrenha oposio dos papas Leo VII, Estevo VIII, Martnho III e Agapito II, todos inimigos mortais dos Teofilato. A o assumir Joo XII o trono papal, o Vaticano prosseguiu sendo o mesmo velho cenrio de orgias e bacanais, como nos dias de Teodora I, Teodora II e Marzia, a trica pecaminosa e sanguinolenta cuja poderosa influncia manobrou o papado durante cerca de 30 anos. Joo XII, neto de Marzia, inspirou mais outra era de devassido total, que poderia ruborizar de vergonha as meretrizes Frinia, Aspsia, Clepatra e Messalina, nas regies baixas do Limbo...

PORTO, A. Campos. A Igreja Catlica e a Maonara, Aurora, Rio de Janeiro, 1957, p. 262. WOODROW, Ralph. Op. c/f., p. 96.

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CAPTULO VIII

JOO XII(de 9 5 5 a 964)

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Violando virgens e vivas e vivendo com a concubina de seu paiom a morte da prostituta Marzia, seu filho Alberico (sob influncia de So Odon, monge de Cluny), respeitou os processos cannicos da eleio. Os seguintes quatro papas assim eleitos foram h o m e n s dignos, a quem ele deixou o governo espiritual. 23 Mas fez eleger, por fim, seu filho de 18 anos Joo Otaviano, que tornou a manchar o trono papal com sua vida depravada... Mudou de nome, passando a chamar-se Joo XII, mas no mudou de vida, sendo outro dos mais indignos papas de toda a Histria. A The Catholic Encyclopedia descreve-o como "homem ordinrio e imoral, cuja vidafoi tal que era chamado de cafajeste, e a corrupo moral em Roma tornou-se o assunto do dio geral'. E m 6 de novembro, um snodo composto de cinqenta bispos italianos e alemes foi reunido na Baslica de So Pedro; Joo XII foi acusado de sacrilgio, simonia, perjrio, assassinato, adultrio e incesto. Pediram-lhe que fizesse sua defesa por escrito. E m vez disso, Joo XII, recusando-se a reconhecer a autoridade do snodo, pronunciou1

NEGROMONTE, Pe. lvaro. Op. c/f., p. 77.

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sentena de excomunho contra todos os participantes da assembl< ia, pela tentativa de eleger outro Papa em seu lugar. Vingou-se de maneira sangrenta nos lderes da oposio. O cardeal-dicono Joo teve sua mo direita arrancada. O bispo de Speyer foi chicoteado. Um alto paladino oficial perdeu o nariz e as orelhas. "Joo XII morreu em 14 de maio de 964, oito dias aps ter sido, de acordo com os boatos, paralisado por um ataque num ato de adultrio".2A O notvel Luitprand, bispo catlico de Cremona, contemporneo destes eventos, escreveu: "Nenhuma mulher honesta ousava aparecer em pblico, pois o papa Joo no tinha qualquer respeito, fossem elas moas solteiras, mulheres casadas ou vivas elas estavam certas de serem desonradas por ele, at mesmo sobre as tumbas dos Santos Apstolos, Pedro e Paulo". A coleo catlica da vida dos papas, o Liber Pontificalis, informa-nos: "Ele gastou toda a sua vida no adultrio". Fazendo jus a muitos de seus antecessores Joo XII mantinha, nas cercanias de Roma, um harm c o m dezenas de mulheres sua disposio. Era motivo de incessantes falatrios, por parte de seus inimigos, naquela grande cidade, cujo solo est encharcado com o sangue inocente dos mrtires do cristianismo. 25 Para cmulo, Joo XII viveu amasiado abertamente com sua prpria madrasta, provocando a indignao e o dio do povo romano. 26 Alberico, seu pai, era constantemente presenteado com valiosas peas de roupa banhadas a ouro e outros preciosos objetos, como lenitivo para suas aflies, enquanto seu rebento adulterino no hesitava em apossar-se de sua prpria concubina... Depois de usar e abusar de seus favores, devolvia-a ao ultrajado pai, que a recebia de braos abertos, desejando-lhe boas vindas...24 25 26

Para as donzelas de Roma, Joo XII oferecia riqussimos presentes, m troca de favores sexuais e freqncia a orgias, prometendo-lhes ftinda, como recompensa sublime, o perdo desses atos pecaminosos... < in ienas delas foram desvirginadas pelo Papa tarado e enviadas como (ivelhinhas, devidamente umedecidas com o santo smen do ungido Sucessor de Pedro, ao convento das monjas, para serem admitidas (i mio novias e posteriormente tornarem-se freiras. Joo XII, em suas bacanais, costumava levar suas amantes a seus luxuosos aposentos, onde as submetia a sesses de sexo oral. Referindose a ele, o bispo de Orleans definiu-o como "monstro da culpa, impregnado de sangue e impurezas" e como "anticristo sentado no Templo de Deus". Igualmente a outros antes e depois dele, tal Papa cometeu sacrilgio em relao ao uso indevido dos objetos sagrados da Igreja como o clice e o hostirio. Joo utilizou indiscriminadamente o clice da Igreja, nele b e b e n d o c o m suas c o n c u b i n a s o v i n h o da sua p r p r i a condenao. 27 Defendeu tambm, explicitamente, a venda de cargos eclesisticos (a chamada simoni) e a comercializao das ossadas dos mrtires cristos. E m 963, Joo XII autorizou que seus ordenanas exumassem milhares de caveiras de supostos mrtires dos cemitrios de Calixto e Marcelino, p o n d o - a s venda nas parquias da Itlia, a preos exorbitantes. Baixou ainda um decreto determinando, a quem quer que fosse, a absolvio dos pecados e a garantia da salvao eterna, bastando para isso tocar uma caveira de cristo e desde que uma quantia em dinheiro fosse endereada Igreja, mesmo que o mais aberrante dos crimes tivesse sido cometido... Foi esta a poca do maior trfico e comercializao de supostas ossadas de santos mortos nas perseguies dos imperadores anticristos, trazendo Igreja Catlica e aos seus

The Catholic Encyclopeda, n WOODROW, Ralph, op. c/f.. Ap (6, 9) HALLEY, HenryH. Op. cit, p. 686.

27

1Co(11,27)

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\

papas enorme prosperidade material, enrique* endo mais e mais o imoral fausto do Vaticano. Muitos europeus inescrupulosos fizeram grande fortuna traficando caveiras humanas, alegando estarem vendendo uma autntica relquia de um determinado santo ou santa da devoo de algum catlico fervoroso. Era comum em toda a Europa, quela poca, encontrar, em parquias e capelas, grande quantidade de ossadas venda, principalmente na Espanha, Portugal e Itlia, bero do catolicismo arcaico e conservador. Joo XII autorizara os bispos e clrigos a negociarem estes santos restos mortais por um valor o mais elevado possvel, tendo o cuidado de no vender ossos de hereges como sendo de cristos... As ossadas tinham que estar em boas condies, sem manchas e muito menos ferrugem; caso apresentassem tais defeitos, estaria ali o primeiro sinal de resqucios de heresia. Eram ento imediatamente encaminhadas ao Santo Papa para excomunho, maldio e anatematizao e incineradas, a seguir, numa das fogueiras do Vaticano. Quem no quisesse comprar relquias a vendedores ambulantes podia procur-la nos ossrios das capelas e p a r q u i a s da E u r o p a , sem a interferncia daqueles atravessadores e supostamente a preos bem mais em conta... Segundo Woodrow, "Havia deuses que presidiam cada momento da vida de um homem deuses da casa e dojardim, da comida e da bebida, da sade e da doenfa";28 c o m o esta idia das divindades associadas aos eventos cotidianos j se encontrava solidamente estabelecida na Roma paga, deu-se apenas um passo para que aqueles mesmos conceitos fossem incorporados aos interesses da Igreja de Roma. Uma vez que os pagos relutavam em abandonar seus deuses a menos que pudessem encontrar correspondentes no cristianismo ,28

ili usi s i deusas ganhavam novos nomes, como santos... A velha idia lli deuses ligados a certas profisses e datas do calendrio tem tinuado a crena catlica romana em santos, como a tabela abaixo nu istrar. Durante o pontificado de Joo XII, as parquias e capelas . I ' elha Europa proviam monges devotos para atender e explicar, aos i i>tupradores de santos, a especialidade que cada um deles exercia nas esferas i spirituais e no panteo catlico... Temos at hoje padroeiros de datas e categorias profissionais: 29 Atores, So Genrio, (25 de agosto); banqueiros, So Mateus (21 de setembro); Mendigos, So Lzaro (17 de dezembro); Atletas, So Sebastio (20 de janeiro); Pedreiros, Santo Estevo (26 de dezembro); Aougueiros, Santo Adriano (28 de setembro); Fabricantes de velas, So Bernardo (20 de agosto); Cozinheiros, Santa Marta (29 de julho); Dentistas, Santa Apolnia (9 de fevereiro); Comediantes, So Vi to (15 de junho); Floristas, Santa Dorotia (6 de fevereiro); Chapeleiros, So Tiago (11 de maio); Donas de casa, Sant'Anna (26 de julho); Caadores, So Hubert (3 de novembro); Bibliotecrios, So Jernimo (30 de setembro); Mineiros, Santa Brbara (4 de dezembro); Msicos, Santa Ceclia (22 de novembro); Tabelies, So Marcos (25 de abril); Pintores, So Lucas (18 de outubro); Estucadores, So Bartolomeu (24 de agosto); Marinheiros, So Brendan (16 de maio); Cantores, So Gregrio (12 de maro); WOODROW, Ralph. Op. ct, pp. 31-3.

WOODROW, Ralph. Op. ct, pp. 96-7.

7475

Cirurgies, So Cosme e So Damio (27 de setembro); Coletores de impostos, So Mateus (21 de setembro). Os catlicos romanos tambm tm santos ligados, entre outras, aos seguintes elementos e circunstncias do cotidiano: 30 Mulheres estreis, Santo Antnio; bebedores de cerveja, So Nicolau; Crianas, So Domenico; Animais domsticos, Santo Antnio; Migrantes, So Francisco de Assis; Problemas, So Eustquio; Fogo, So Loureno; Enchentes, So Colombo; Relmpagos, raios e troves, Santa Brbara; Amantes, So Rafael; Velhas, Santo Andr; Pobres, So Loureno; Mulheres grvidas, So Gerardo; Tentao, So Ciraco; Para prender ladres, So Gervsio; Para ter filhos, Santa Felicitas; Para ganhar um marido, So Jos; Para ganhar uma esposa, SantAnna; Para achar coisas perdidas, Santo Antnio; Dos endividados, Santa Edwirges; Das causas impossveis, Santo Expedito. D a mesma forma, os seguidores do catolicismo habituaram-se tambm a dirigir oraes a certos santos, no intuito de combater os .31 seguintes problemas de sader3 1

[rtrite, So Tiago; A lorddas de cachorro, So Hubert; l/s abutres vomitarem... Enquanto assim expunham as ossadas, < >utros dois auxiliares dos espertos frades pesavam, numa tosca balana, ;i quantidade solicitada pelos fiis - que piamente acreditavam estar, naqueles pedaos de osso, a garantia da salvao de suas almas... "Colees de relquias, tais como pedaos de cru^ e ossos de santos, tornaramse moda. O simples olhar s 5005 relquias de Frederico da Saxnia era tido como poderoso o suficiente para reduzir o tempo de uma pessoa no Purgatrio por cerca "32 de 2 milhes de anos.. Joo XII morreu do mesmo m o d o que viveu - em pecado. Ao ser flagrado por um conde italiano num ritual de felao com sua esposa, pego de surpresa e sob ameaa de ter seu corpo trespassado por uma lana, sofreu um enfarte e morreu sobre o corpo da amante, para a felicidade geral de centenas de mulheres, ex-presas fceis de suas investidas voluptuosas. 33

CAPITULO IX

LEO VIII(de 9 6 4 a 9 6 5 )32 33

CAIRNS, Earle E. O Cristianismo Atravs dos Sculos, Edies Vida Nova So Paulo 1992 227 WOODROW, Ralph. Op. cit., pp. 96-7. ' a , " " ' -

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Envenenando os inimigos de Marziaurante as gestes pontifcias de Agapito II (946-955) e Joo XII (955-964) houve uma pequena e quase imperceptvel interferncia poltica, da parte de um monge a servio da meretriz e assassina Marzia, nos negcios da Igreja. Seu nome: Leo VIII, um indivduo q u e foi - n a d a m a i s , n a d a m e n o s -, o | responsvel pelo envenenamento dos inimigos e at amantes daquela terrvel e assustadora mulher. Este obscuro monge esteve, durante muitos anos, a servio dos Teofilato, exercendo as funes de espio e agente secreto entre os corredores do Vaticano e as alcovas de Teodora I, Teodora II e sua protetora e confidente Marzia. Leo VIII destacava-se por trajar indumentria negra e um capuz de formato cnico, chegando a aterrorizar no s as crianas como tambm as pessoas adultas, com seu aspecto grosseiro e asqueroso. Por baixo de suas negras vestes, trazia um punhal afiado e envenenado com arsnico, para com ele atravessar o corpo daquele que fosse, inadvertidamente, escalado para morrer... Marzia costumava servir-se sexualmente de seus amantes por pouco tempo, logo se desfazendo deles e substituindo-os por outros,

entrando seus antigos parceiros na lista negra de Leo VIII, que 'organizava' o assassinato de mais uma inocente vtima. O s e x - p a r c e i r o s de M a r z i a d e s a p a r e c i a m sucessiva e misteriosamente, no deixando rastros que pudessem indicar seu paradeiro. A Histria indica que eram jogados nos precipcios da rocha Tarpia, habitat& chacais, hienas, lobos e lees, que viviam de alimentarse destes pobres infelizes.34 A meretriz assassina intercedia junto a seu amante, o Papa Srgio III, para que o mesmo facilitasse o acesso do Paraso Celestial s almas de seus ex-amsios, agora finados. Srgio a atendia, prometendo-lhe escancarar os portes do Cu para os outrora parceiros de fornicao e adultrio, conduzindo-os para junto de Deus e deixando Marzia radiante de alegria, por ter conquistado para o Cristo de Nazar outra leva de salvos e remidos do pecado, graas ao poder do Papa Boca de Porco... Com a morte natural de Marzia, Leo VIII tencionava assassinar o Papa Joo XII, seu neto, e ocupar a Cadeira de So Pedro, a Vaca leiteira' que atraa a cobia dos nobres e burgueses da velha Europa. O monge criminoso vinha arquitetando uma maneira de envenen-lo ou, quem sabe, apunhal-lo traioeiramente, quando a ocasio lhe fosse propcia. Com a sbita morte de Joo XII (num ato de adultrio em 964), o Trono de So Pedro pde finalmente ser ocupado pelo monge envenenador, que, a partir de ento, decidiu fornecer gratuitamente, a quem quer que fosse, seu perdo para os pecados e o salvo-conduto para as almas que almejassem os santos cus. Assim, milhares de pessoas de toda a Europa compareceram ao Palcio de Latro, no Vaticano, sequiosas de obter um passaporte para

| eternidade. A supersticiosa multido, espicaada pelo fanatismo fi ligioso, proclamava em altos brados: 'Salve Deus o Santo Papa, o protetor das almaspenadas!' ou ento 'Salve, Virgem Me, o Santo Padre da tspada dos sarracenos! \ 35 Lnquanto isso, o Pontfice hipcrita estendia as mos sobre a iI K >rosa gentalha, em sua maioria integrada por rezadores de novenas, peregrinos mendicantes, carolas devotos e pregadores itinerantes llm dos costumeiros vendedores de rosrios e benzedores de velas. Antes de dispersar a crdula multido, Leo VIII lanou seu apelo los catlicos de toda a E u r o p a , para que pegassem em armas e barrassem o avano dos demonacos turcos o t o m a n o s , que :iproximavam-se como um furaco irrompendo sobre os continentes asitico, africano e europeu, dizimando tudo que encontravam pelaI icnte.

O populacho, e m o c i o n a d o pelas sensibilizantes palavras do Salafrrio Pontfice, respondeu numa s voz: 'Salvaremos, O santo padre, ,i Madre Igreja das investidas de Satans', e 'Viva Nossa Senhora, a boa Me dos aflitos', enquanto alguns se chicoteavam, em sangrento ritual de auto-flagelao, penitenciando-se de seus pecados. 36 Leo VIII morreu no ano de 965, profundamente convicto da salvao de sua conturbada alma...

15 34

TRANQILO, Caio Suetno. A Vida dos Doze Csares, Ediouro, Rio de Janeiro, s/d, p. 37.

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Biografia dos Papas. Editora das Amricas, Vol. XVII, So Paulo, 1952. Idem.

02

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CAPITULO X

BENTO XI(de 972 a 974)

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Encarcerando os adversrios e matando-os pela fomeps a morte do 'imundo' Papa Leo VTII, a Igreja pensou respirar aliviada, ao livrar-se deste terrvel administrador que assolou a Europa e contaminou ainda mais o j impuro Vaticano. Mas em seu lugar foi eleito um no m e n o s salafrrio e c r e t i n o : B e n t o X I , herdeiro de Caim e afilhado de Sat, to negro e ambicioso c o m o Judas Iscariotes. Seu pontificado foi banhado no sangue dos seus adversrios e concorrentes ao trono papal, sendo quase todos mortos nas masmorras do Castelo de Sant'ngelo, vitimados pela fome e maus tratos infligidos pelos agentes deste suposto sucessor do Apstolo Pedro. Bento XI tinha dois fortes opositores: o burgus Crescncio e o cardeal Franco. O primeiro, chefe de uma faco poltica que lhe era desfavorvel. O segundo, seu c o n c o r r e n t e natural n o processo sucessrio. Com o acirramento da disputa, nasceram mais duas alas da oposio, que apoiavam os dois citados e repudiavam a permanncia de Bento XI frente da Igreja tantas vezes vilipendiada por maus pastores e outros pseudo-sucessores do Pescador da Galilia. Naquele final de milnio, encontrava-se a Europa ameaada por87

hordas brbaras vindas do Oriente Mdio, que se auto-denominavam (( uno Guerreiros de Al e Herdeiros de Maom

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CAPITULO X V

INOCENCIO III(Lotrio de S e g n i - de 1 1 9 8 a 1216)53

CAIRNS, Earle E. Op. cit, p. 164.

H2

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Afogando a Europa no sangue de inocentes cristos evanglicosapa de 1198 a 1216, Inocncio foi eminente terico da teocracia pontificial. A seu ver, o Papa era um intermedirio terreno entre D e u s e os reis. D e s t e p o n t o de vista decorreram seus desentendimentos com Filipe Augusto, da Frana. Ainda por sua iniciativa, foi empreendida a quarta cruzada que teve como nico resultado a tomada e o saque de Constantinopla (1204); a cruzada contra os albigenses, pela qual tambm foi responsvel, trouxe muito mais benefcios aos Capeto do que Igreja. Dos 265 papas entronizados at o momento (incluindo Joo Paulo II), Inocncio III foi o Pontfice que mais sangue derramou, ao longo da trajetria da Igreja Catlica, com suas sangrentas guerras, cruzadas, converses foradas, inquisies e autos-de-f, de que tivemos notcia pelos anais da Histria. Sua crueldade em nada ficaria a dever a genocidas como Genghis Khan, Hitler, Stlin e Pol Pot, os mais desumanos dos ditadores terrestres. Nicola Aslan enfatiza: "Estando em guerra com vrios bares e vassalos, o Conde Raimundo VI, de Toulouse, recebeu a visitado legado papal. Apresentandose como mediador, o enviado do Papa anunciou que seriam feitas a reconliao e apa% com a condio de que as tropas reunidas servissem para a destruio dos

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albigenses. Porm, o Conde Raimundo VI no quis darpa ragem em seus I Istados para que seus inimigos matassem os seus prprios sditos".5* Villemain, em Cours de Uttrature Franaise escreve, relativamente s conseqncias desse gesto de independncia e soberania: "Ento o sanguinrio pacificador declarou-o smtico e rebelde Igreja, lanando-lhe a antema, depois escreveu corte de Roma". O Papa Inocncio III, por sua vez, enviou a Raimundo uma carta cheia de insultos, ameaando-o de arrebatar-lhe os domnios "que recebera da Igreja Universal' (a Catlica, obviamente). Estamos no perodo mais alto da teocracia, que pretendia estender o seu domnio sobre toda a Cristandade, no somente de jure, mas tambm de fato. E m 14 de janeiro de 1208 - tendo um pequeno vassalo do Conde Raimundo VI morto o legado Pedro de Castelnau, que na vspera havia injuriado o Conde de Toulouse, porque este no se mostrava zeloso em cumprir sua promessa de exterminar os sditos herticos - , teve incio a Cruzada dos Albigenses. "No foi somente o assassinato adental do legado o fator que produziu esta guerra funesta", diz Villemain. A prpria heresia dos albigenses no foi a causa nica. Reinava, desde h muito tempo, uma luta entre o pensamento livre e o poder da Igreja, entre a poesia e a pregao. Deste entrechoque constantemente dardejavam palavras amargas e cruis, que feriam o poder de Roma e que pareceriam um escndalo em nosso tempo. A vida desordenada do clero fornecia copiosos elementos amargura desta censura leiga. J h muitos anos, os prprios santos se queixavam da conduta dos padres. "Quem me dar\ dizia So Bernardo de Claraval, "ver, antes de morrer, a Igreja de Deus como era nos seus primeiros dias?' O Papa Inocncio III escreveu ento ao clero e nobreza da Frana, para ordenar uma cruzada contra os herticos, a seguir desligando do juramento de fidelidade os sditos de Raimundo VI - mas, ao mesmo54

\Cruzados cristos foram organizados no apenas para libertar Jerusalm, mas tambm para massacrar hereges, como os Valdenses e os Albigenses. O Papa Inocncio III patrocinou a carnificina e deu garantias de vida eterna a todos que participaram da santa matana.

t e m p o , o f e r e c e n d o os seus Estados a qualquer catlico que os quisesse conquistar. Durante todo o ano, os emissrios do Papa p e r c o r r e r a m a Frana, pregando aos semi-brbaros do n o r t e a c r u z a d a c o n t r a os herticos do sul. Concederlhes-iam, para isso, os mesmos direitos e as mesmas indulgncias de que gozavam os cruzados da Terra Santa. Uma multido de prelados e de bares ps-se ento em marcha, seguidos por vassalos, mercenrios, aventureiros e bandidos de todas as naes. Tais tropas, segundo alguns historiadores, chegaram a atingir a cifra de 500.000 homens. O exrcito dos cruzados reuniu-se em Lio. Para esta expedio, que foi julgada extremamente rendosa, banqueiros, usurrios e ricos mercadores adiantaram capitais, como se a mesma fosse uma empresa puramente comercial. Deveriam ser reembolsados com vinho, trigo, estofos e mesmo domnios e castelos tomados aos albigenses. Isto, de certo modo, explicaria a inclemncia da represso a eles movida. N o entanto os cruzados, embora tendo assumido compromissos comerciais com os agiotas, combatiam primordialmente pela pureza da F. E m 21 de Julho de 1209, sob o comando de Raimundo de Toulouse que se tinha finalmente s u b m e t i d o , i m p r e s s i o n a d o c o m as

ASLAN, Nicola. Histria Geral da Maonaria: Perodo Operativo, Aurora, pp. 106-8.

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providncias tomadas por Inocncio III , o exrcito dos cruzados faz o cerco a Beziers. Intimados por seu prprio bispo a fazer a entrega dos herticos, os habitantes da cidade recusaram-se com energia e responderam: "Re/atai aoLegadoque a nossa dade boa e forte, que Nosso Senhor no deixar de nos trazer socorros e que, antes de nos entregarmos, comeremos nossosprprios-filhos''\55 Um grupo de defensores, burgueses clebres em todo o sul pela sua energia, saiu em ataque aos aventureiros cruzados. Surpreendidos de incio, os cruzados repeliram finalmente os habitantes de Beziers e penetraram na cidade. Uma parte do exrcito seguiu-os, dando incio ao massacre. A cidade foi saqueada e depois incendiada, queimando durante dois dias. Ningum escapou. Fernand Niel, em bigeois et Cathares, faz o seguinte comentrio: "Herticos, catlicos, mulheres e crianas, todosforam confundidos neste gigantesco massacre, que relembrou os dias das invases brbarai\ Os chefes catlicos aplaudiram esta milagrosa vitria e cada qual exagerou o mais que pde o nmero de vtimas. Foram at a cifra de 100.000, mas 30.000 parece ser uma avaliao razovel. Existe, contudo, um fato certo: o de que todos os habitantes foram mortos. Prossegue Niel: "No decorrer do massacre, coloca-se uma rcunstna sobre a qual houve prolongadas dissertaes. Foi perguntado ao abade de Cister, Arnaldo Amalrico, legado do Papa, de que maneira os herticos seriam distinguidos dos catlicos, para que estes fossempoupados. Arnaldo Amalrico teria respondido: Matai-os todos, Deus reconhecer os seus?' Naturalmente esta frase foi violentamente controvertida. A maioria dos historiadores a considera apcrifa, mas os seus argumentos repousam, aqui tambm, sobre razes sentimentais. Reproduzida por um monge alemo, Cesrio Heisterbach, que no participara da cruzada, mas a quem fora relatada, no existe nenhuma prova histrica de que no tenha sido pronunciada. Ela , ao contrrio, cruelmente confirmada pelos fatos. "Qualquer que seja a autoridade dos escritores que lhe negam a autentidade, sem dvidaprudente ater-se opinio do beneditino Dom Vaissette, o grande historiador da provncia do Languedoc, o qual, sem aceit-la55 56

incondicionalmente, no a coloca completamente em dvida"'. Os homens que participaram do sangrento massacre receberam do Papa Inocncio III a certeza de que iriam direto para o Paraso, sem escala, desviando-se do purgatrio. "Em Lavaur, em 1211, o governador foi enforcado e a esposa lanada dentro de um poo e esmagada com pedras. Quatrocentas pessoas nesta cidadeforam queimadas vivas. Os cruzados assistiram missa solene pela manh e, em seguida, passaram a tomar outras cidades da rea. Neste cerco, estima-se que 100.000 albigenses (protestantes) caram em um s dia. Seus corpos foram amontoadosjuntos e queimados" ?1 Inocncio III continuou incentivando o total extermnio de hereges, apstatas e opositores da Igreja R o m a n a , g a r a n t i n d o aos que executassem as matanas dos inimigos da F, o privilgio de, no Cu, sentarem-se ao lado de Jesus, da Virgem Maria e do castssimo So Jos... Os catlicos e outros fanticos daqueles tempos acreditavam piamente que o Papa tivesse o poder de abrir e fechar os Portes da , Salvao, quando bem entendesse...

Idem. Ibidem

WOODROW, Ralph. Op. c/f., p.113.

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CAPITULO XVI

GREGRIO IX(Ugo, Conde de Segni - de 1227 a 1241)

1 2 1

Proibindo a leitura da Bblia aos leigos e empilhando cadveres de hereges e apstatasom a morte de Inocncio III, ocorrida em 1216, seu sucessor H o n r i o III (Cencio Savelli) governou a Igreja Romana por um perodo de 11 anos de 1216 a 1227 , tendo exercido dignamente a funo pontifcia, numa poca em que a satnica inquisio preparava o terreno para nele semear o pavor e a morte contra aqueles que se opunham doutrina catlica e aos vigrios de Cristo na Terra os papas. Honrio III foi substitudo por Gregrio IX, este uma besta-fera sanguinria e sedenta de violncia, dedicado a exterminar, pelo poder de seu mandato, alguns milhares de opositores do credo romano, dentre os quais os albigenses e os valdenses (ambos crentes evanglicos), que praticavam um cristianismo quase nos moldes da primitiva Igreja Crist, sem nenhum vnculo com o sistema pecaminoso e inquo deste mundo, com sua glria efmera e seu injusto poder. Gregrio IX contava, naquele momento, com o apoio de So Luiz (Luiz IX) da Frana, filho da rainha Branca de Castela e inimigo mortal de quem quer que se opusesse Santa Igreja Romana e ao representante58 Biografia dos Papas. Editora das Amricas, Vol. XVII, So Paulo, 1952, p. 222.

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de Cristo na Terra, o Papa.58 Com o crescimento acelerado dos gru] > < iS evanglicos em vrias partes da Europa, especialmente naquele pas, a Igreja de Roma une suas foras s do rei Luiz IX e esmaga cruelmente os redutos protestantes, no sendo poupadas nem mesmo as inocentes criancinhas, exterminadas como pestilentas herticas. Gregrio IX e seus sanguinrios agentes faziam pilhas e mais pilhas de cadveres de supostos hereges em vrios lugares da Frana, no sendo permitido pela Igreja Romana o sepultamento desses injustiados irmos, vtimas do dio e do fanatismo doentio deste insano Papa, devoto e seguidor de Belial. Seus corpos mutilados e putrefatos permaneciam margem das estradas e caminhos, servindo de alimento a abutres e outros animais. Os habitantes de Albi e Toulouse, indignados com as maldades daquela scia de criminosos, levantaram o estandarte da revolta e partiram para a revanche, atacando os cnicos agentes de Gregrio IX e matando vrios deles. E m Avignonet, todos os membros do infame tribunal inquisitorial foram massacrados pela turba revoltada. Em 1244, os irmos albigenses se refugiaram na montanha-fortaleza de Montsgur, local considerado mais adequado para sua defesa, em caso de ataque do inimigo. Naquele ano, o infame Gregrio IX organizou uma poderosa cruzada, integrada por milhares de bandoleiros mercenrios, todos pagos a preo de ouro e indultados em seus pecados por aquele Pontfice das trevas, a servio no do cristianismo, e sim, de seus interesses. A fortaleza de Montsgur foi ento ferozmente atacada pelos selvagens cruzados, que, apesar de sofrerem muitas baixas, conseguiram tom-la dos albigenses e pass-los no fio da espada. Cerca de 2.000 homens e mulheres foram amarrados em estacas e brutalmente queimados por ordem de Gregrio IX, que autorizou a corja de assassinos a saquear os bens daqueles infelizes irmos levando-os para si.59

N o d e c o r r e r d o s a n o s , a i n q u i s i o c a o u os a l b i g e n s e s temanescentes. O ltimo deles foi supostamente queimado na estaca em Languedoc, em 1330. O livro Medieval Heresy menciona: "A. queda do albigensismo foi a principal medalha da inquisio'. Gregrio I X afogou a E u r o p a n o sangue daqueles inocentes seguidores do Salvador Jesus, deixando sobre o solo do Velho Mundo milhares de cadveres insepultos destes humildes irmos, que nenhum delito cometeram para merecer tamanha maldade pelo contrrio, amaram com fervor seus semelhantes e viveram como os primitivos cristos, que tudo partilhavam, igualmente, entre si. (At 4, 32)

59

HALLEY, Henry. Op. cit, p, 689.

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CAPITULO XVII

INOCENCIO IV(Sinibaldo Fieschi - de 1243 a 1254)

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Aprovando o emprego da torturao m a morte do sanguinrio Gregrio IX, ocorrida em 1241, Celestino IV (Goffredo Castiglioni) assumiu seu lugar por apenas 2 w / meses, vindo a falecer em seguida. Com a g*.i^ vacncia da Cadeira de So Pedro, Inocncio fti IV passa a dirigir o Vaticano, com u m JB^Mae^^l ferrenho propsito no corao: introduzir &o o e m p r e g o da t o r t u r a n o s t r i b u n a i s Jr~~j inquisitoriais que at ento eram funo exclusiva dos juizes leigos e no dos inquisidores religiosos.'^;```".., : : ; . ; ` - " . ;

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Alguns anos antes de Agostinho, em 382, o Snodo Romano, sob a presidncia do Papa Dmaso, remeteu alguns cnones aos bispos da Glia (hoje Frana), declarando expressamente que "No so livres de pecado os funcionrios civis que condenaram pessoas morte, deram sentenas injustas e exerceram a torturajudiciria'''.60 Vinte anos depois daquele Snodo, ocorreu uma virada de 180 no pensamento do magistrio pontifcio da Igreja. O Papa Inocncio I, em sua epstola de n. VI, declara: "Pediram-nos a opinio sobre aqueles que, aps haverem recebido o batismo, tiveram cargos pblicos e exerceram a

60

Brasil: Nunca Mais. 13.' ed. Vozes, Petrplis, 1985, pp. 284-6.

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tortura, ou aplicaram sentenas capitais. A esse respeito nada nos foi transmitido". Tinha incio, pois, o consentimento implcito s normas processuais romanas, mesmo com a suposta cristianizao do imprio. Alguns achavam que a Igreja no devia reprovar o uso da espada no Direito Penal, uma vez que isso decorria da prpria 'vontade' de Deus. E, considerando-se que o Estado, aps Constantino, contava com um nmero sempre maior de funcionrios cristos, exigir que se mantivesse frente a ele a mesma atitude crtica de Tertuliano de Cartago, de Lactncio, de Agostinho e de todos os que sentiam de p e r t o a perseguio, significava - aos olhos da nova teologia do poder - impedir a justia penal de seguir o seu curso 'normal'. Com as invases brbaras, a tortura diminui e as fontes conhecidas s retomaram o tema por ocasio da converso dos blgaros, em 866. A eles escreveu o Papa Nicolau I, para esclarec-los sobre questes dogmticas e morais - entre as quais o costume que tinham, antes de abraar a f crist, de torturar os criminosos. O Papa insistiu na supresso da tortura, acentuando que "a confisso deve ser espontnea, pois a tortura no admitida nempela lei divina e nempela lei humand\ Recomenda ainda que, em lugar dos suplcios, apele-se s testemunhas e exija-se o juramento sobre os Evangelhos. A reintroduo da tortura nos processos penais N o sculo XII, o Direito Penal Ocidental retoma princpios do Direito Romano Imperial e reintroduz a tortura judiciria - apesar de, mesma poca, afirmar o Decretum Gratiani: "A confisso no deve ser obtidapela tortura", como escreve o Papa Alexandre. N o sculo seguinte, no entanto, a tortura passaria a fazer parte dos cdigos processuais, especialmente nos dos Estados centralizados, como a Castella de Afonso X, a Siclia de Frederico II e a Frana de Lus IX (So Luiz).

TORTURA DA RODA E DO FOGO A Igreja Catlica pede desculpas humanidade por atrocidades como esta, representativa do furor dos inquisidores, que, sedentos de sangue e represlias, banhavam-se em satnico prazer sempre que lhes fosse dado estender suas garras para triturar indefesas criaturas - cujo crime nico seria o de possuir crena religiosa distinta da que seus algozes entendiam como sendo a nica divina e verdadeira. 131

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AVIRGEM DE FERRO Espcie de continer oco, com o tamanho e a forma de uma mulher, trazia facas fixadas em seu interior, de tal maneira e sob tal presso que a vtima era lacerada por seu abrao mortal. Este instrumento de tortura era aspergido com 'gua benta' e trazia uma inscrio em Latim que, em sua traduo, significava "Glria seja dada somente a Deus".

Sentindo por todo o corpo as ardncias decorrentes dos mtodos bestiais e desumanos empregados pelos carrascos, a mando dos inquisidores, a pobre vtima sofria tambm as 'dores da alma', enquanto os algozes arrancavam-lhe pedaos de carne com tenazes em brasa. Estas prticas ocorriam nos pores da Casa dos Tormentos, edfco-sede do terrvel tribunal, em Lisboa, onde as maiores crueldades eram praticadas na pessoa dos condenados pela mesma instituio. AMANJEDOURA Um dos mtodos de tortura mais populares era o uso deste terrvel aparelho, uma longa caixa dentro da qual o acusado era amarrado, pelas mos e ps, de costas, e esticado por cordas. Este processo deslocava as juntas e causava grande sofrimento. Usava-se enormes torqueses para arrancar as unhas ou ferros aquecidos ao rubro eram aplicados s partes sensveis do corpo. Havia ainda o 'Parafuso de Polegares', para desarticular os dedos, e as chamadas 'Botas Espanholas', empregadas para esmagar as pernas e os ps.

VO DA MORTE Era um dos mtodos de tortura infligidos pelos inquisidores, a servio da Igreja Catlica Romana, para arrancar confisses dos acusados.

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Simultaneamente, a Igreja passa a admitil o uso processual da tortura: em 1244, o Papa Inocncio IV aprova a legislao penal de Frederico II e, em 1252, em seu Ad Extrpanda, aceita que uos hereges, sem mutilao e sem perigo de vida, podem ser torturados, afim de revelar os prprios erros e acusar os outros, como sefa% com os ladres e salteadores". o retorno oficial ao sistema penal romano, fundado na auto-acusao e na confisso do ru. Esta trgica involuo reflete-se na obra do maior pensador medieval, Toms de Aquino. E m fins do sculo XIII, ao tratar das injrias contra as pessoas, na parte moral de sua Suma Teolgica (questo 64), ele se refere mutilao, flagelao dos filhos e dos servos e ao encarceramento. Mas no menciona a tortura, exceto em sua Expositio Super]ok "Sucede s ve%es que, quando um inocente acusadofalsamente perante umjui% este, para descobrir a verdade, o submete tortura, agindo segundo a justia; mas a causa disso a falta de conhemento humano". So Toms admite pois que, no havendo outro recurso para se apurar a verdade, justa a aplicao da tortura, mesmo sobre um inocente. Tal posio inaugura, na Igreja, a adoo da tortura como prtica sistemtica de preservao da disciplina religiosa e passa a ser oficialmente aceita nos processos de heresia, no obstante no ser recomendada sua aplicao, de forma direta, por religiosos, padres e bispos. A inquisio faz escola na arte de torturar A mais notria obra sobre o uso da tortura pela Igreja o Manual dos Inquisidores, de Nicolau Emrico (1320-1399). Sobre o interrogatrio do acusado, o inquisidor recomenda: "Aplicar-se-lhe- a tortura, afim de se lhe poder tirar da boca toda a verdade". O captulo 5, que traz como ttulo "Sobre a tortura'., tem como frase introdutria:`"Tortura-se o acusado, com o fim de ofa^er confessar os seus crimes". Quem tortura, os eclesisticos Ou o

brao secular:' A esta indignao responde o frade italiano que comand< u a Inquisio na regio espanhola de Aragn: "Quando comeou a estabelecerse a Inquisio, no eram os inquisidores que aplicavam a tortura aos acusados, com medo de incorrerem em irregularidades. Esse cuidado incumbia aosjuizes leigos, conforme a Bula Ad Extirpanda, do Papa Inocncio TV, na qual esse Pontfice determina que devem os Magistrados obrigar com torturas os hereges (esses assassinos das almas, esses ladres daf crist e dos sacramentos de Deus) a confessar os seus crimes e a acusar outros hereges seus cmplices". Isto no princpio; posteriormente, tendo-se verificado que o processo no era assaz secreto e que isso era inconveniente para a F, achou-se que era mais cmodo e salutar atribuir aos inquisidores o direito de serem eles mesmos a infligir a tortura, sem ser preciso recorrer aos juizes leigos - sendo-lhes ainda outorgado o poder de mutuamente se relevarem das irregularidades e m que, s vezes, p o r acaso, incorressem. Prossegue a Bula de Inocncio: "De ordinrio, utilizam os nossos inquisidores cinco espcies de to