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Joana Filipa Laranjeira Mendes Relatórios de Estágio e Monografia intitulada “Efeitos do Processamento nos Alimentos de Origem Vegetal Sobre as Eniantinas e a Beauvericina” referentes à Unidade Curricular “Estágio”, sob a orientação, respetivamente, da Dra. Cristiana Aveiro, da Dra. Olga Simões e da Professora Doutora Celeste Lino e apresentados à Faculdade de Farmácia da Universidade de Coimbra, para apreciação na prestação de provas públicas de Mestrado Integrado em Ciências Farmacêuticas Julho 2017

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Joana Filipa Laranjeira Mendes

Relatórios de Estágio e Monografia intitulada “Efeitos do Processamento nos Alimentos de Origem Vegetal Sobre as Eniantinas e a Beauvericina” referentes à Unidade Curricular “Estágio”, sob a orientação, respetivamente, da Dra. Cristiana Aveiro, da Dra. Olga Simões e da Professora Doutora Celeste Lino e apresentados à Faculdade de Farmácia da Universidade de

Coimbra, para apreciação na prestação de provas públicas de Mestrado Integrado em Ciências Farmacêuticas

Julho 2017

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Joana Filipa Laranjeira Mendes

Relatórios de Estágio e Monografia intitulada “Efeitos do Processamento nos Alimentos de Origem Vegetal Sobre as Eniantinas

e a Beauvericina”, sob a orientação, respetivamente, da Dra. Cristiana Aveiro, da Dra. Olga Simões e da

Professora Doutora Celeste Lino e apresentados à Faculdade de Farmácia da Universidade de Coimbra,

para apreciação na prestação de provas públicas de Mestrado Integrado em Ciências Farmacêuticas

Julho 2017  

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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AGRADECIMENTOS

À Dra. Paula Amaral e ao Dr. Pedro Andrade que me deram a oportunidade de realizar o

estágio na farmácia. Sem o apoio e disponibilidade deles não teria usufruído desta excelente

oportunidade. Por isso, o meu muito obrigado!

À Dra. Cristina Aveiro por toda a aprendizagem, ajuda, auxílio, preocupação, e,

principalmente, simpatia a que sempre me habituou.

Ao Dr. Pedro e à Dra. Cristiana também quero agradecer por se mostrarem sempre

disponíveis por alterar os horários do estágio, em função das minhas necessidades.

Em relação a toda a equipa da farmácia Das Amaral, não tenho palavras suficientes para

demonstrar o quanto estou grata por todo o ensino, ajuda, apoio, amizade e carinho. Sem

dúvida, adorei colaborar com a equipa da Farmácia Dias Amaral.

A quem ainda não mencionei, nomeadamente a Dra. Beatriz Garrote, Dra. Camila Maia, Dra.

Carla Oliveira, Dra. Dora Pereira e, por último, não menos importantes, as técnicas Cátia

Santos, Fábia Mendes e Isabel Santos, um grande obrigado.

Quanto ao estágio na PLURAL, CRL, não posso deixar de fazer um agradecimento muito

especial à Dra. Olga Simões, por toda a aprendizagem, ajuda, auxílio e simpatia que me

transmitiu, durante todo o estágio. É de acrescentar ainda, que estou grata pelo desafio que

me lançou, no qual sem a sua parceria, nunca teria sido tão bem sucedida.

A todos os colaboradores da PLURAL, CRL, deixo o meu mais sincero obrigado!

Não consigo nomear nomes, pois seriam mesmo muitos, uma vez que fui ensinada,

integrada, acolhida e acarinhada pela grande família da PLURAL, CRL.

Recordarei todos com muito carinho e saudade.

Ao meu colega estagiário Micael Gomes, também quero agradecer por todo o

companheirismo e entreajuda.

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Quanto à monografia quero deixar o meu especial agradecimento à Professora Doutora

Celeste Lino, a quem agradeço todo o apoio, orientação, simpatia e disponibilidade

demonstrada ao longo da realização da monografia.

À minha família, sobretudo pais e irmã, quero agradecer pelo constante apoio, carinho e, nos

últimos tempo, pela grande paciência que tiveram comigo.

Ao meu porto seguro, o Fred, que sempre me incentivou, consolou nos momentos menos

bons e esteve presente nos momentos marcantes da minha vida, agradeço de todo o

coração.

Aos amigos que Coimbra me deu, que me acompanharam nestes cinco anos de momentos

fantásticos e que ficarão sempre comigo, o muito obrigado!

Para as minhas amigas e amigos de infância, quero agradecer por todos os momentos de

companheirismo e ajuda. Um especial agradecimento à minha amiga Marisa, que sempre me

apoiou e ajudou nos momentos mais difíceis e alegrou os meus dias com a sua alegria

constante.

Finalmente, tenho a agradecer à Faculdade de Farmácia, nomeadamente ao corpo docente e

aos funcionários, por toda a disponibilidade e aprendizagem.

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ÍNDICE

Parte I – Relatório de Estágio em Farmácia Comunitária

RESUMO ....................................................................................................................................................... 8

ABSTRACT .................................................................................................................................................. 8

A FARMÁCIA DIAS AMARAL ................................................................................................................ 9

ANÁLISE SWOT ...................................................................................................................................... 10

1. Pontos Fortes ................................................................................................................................ 10

1.1 Localização da farmácia....................................................................................................... 10

1.2 Confiança dos utentes ........................................................................................................ 11

1.3 Integração na equipa ............................................................................................................ 11

1.4 Funções na farmácia ............................................................................................................ 12

1.5 Receção de encomendas diárias ....................................................................................... 13

1.6 Diversidade de produtos em stock ................................................................................... 13

1.7 Software Sifarma 2000®........................................................................................................ 14

2. Pontos Fracos................................................................................................................................ 14

2.1 Elevado número de produtos para o mesmo efeito .................................................... 14

2.2 Formação limitada em algumas áreas .............................................................................. 15

2.3 Denominação comercial dos medicamentos ................................................................. 15

2.4 Realização da encomenda diária ....................................................................................... 16

2.5 Receção de encomendas pontuais ................................................................................... 16

3. Oportunidades .............................................................................................................................. 17

3.1 Via Verde do Medicamento ............................................................................................... 17

3.2 Receita Sem Papel ................................................................................................................ 17

3.3 Formações ............................................................................................................................. 18

4. Ameaças ......................................................................................................................................... 18

4.1 Medicamentos rateados ...................................................................................................... 18

4.2 Preço referência de custo nas receitas eletrónicas ...................................................... 19

CASOS CLÍNICOS ................................................................................................................................... 20

1. Transtornos gastrointestinais .................................................................................................... 20

2. Infeção urinária ............................................................................................................................. 20

3. Pé de atleta .................................................................................................................................... 21

4. Hiperplasia Benigna da Próstata ................................................................................................ 21

CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................................................... 23

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ....................................................................................................... 24

ANEXOS .................................................................................................................................................... 26

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Parte II – Relatório de Estágio em Distribuição Grossista de Medicamentos

RESUMO ..................................................................................................................................................... 29

ABSTRACT ................................................................................................................................................ 29

A PLURAL – COOPERATIVA FARMACÊUTICA, CRL .................................................................. 30

ANÁLISE SWOT ...................................................................................................................................... 30

1. Pontos Fortes ................................................................................................................................ 30

2. Ponto Fracos ................................................................................................................................. 32

3. Oportunidades .............................................................................................................................. 33

4. Ameaças ......................................................................................................................................... 34

CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................................................... 35

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ....................................................................................................... 36

Parte III – Monografia

RESUMO ..................................................................................................................................................... 39

ABSTRACT ................................................................................................................................................ 40

1. Micotoxinas ........................................................................................................................................ 41

1.1 Origem ....................................................................................................................................... 41

1.2 Propriedades físico-químicas ................................................................................................. 41

1.3 Efeitos biológicos...................................................................................................................... 43

2. Efeitos do processamento em alimentos de origem vegetal .................................................. 44

2.1 Cerveja ............................................................................................................................................. 44

2.2 Pão..................................................................................................................................................... 52

2.3 Massa ................................................................................................................................................ 57

CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................................................... 60

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ....................................................................................................... 62

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Parte I

Relatório de Estágio em Farmácia Comunitária

Farmácia Dias Amaral

Orientadora:

Dra. Cristiana da Silva Aveiro

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LISTA DE ABREVIATURAS

FDA – Farmácia Dias Amaral

HBP – Hiperplasia Benigna da Próstata

MG – Medicamentos Genéricos

MNSRM – Medicamentos Não Sujeitos a Receita Médica

MR – Medicamentos de Referência

MSRM – Medicamentos Sujeitos a Receita Médica

PFM – Posto Farmacêutico Móvel

VVM – Via Verde do Medicamento

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RESUMO

A avaliação do meu estágio em farmácia comunitária baseia-se numa análise SWOT, onde

refiro os pontos fortes e fracos, as oportunidades e as ameaças que mais se distinguiram ao

longo do estágio. Em cada um destes pontos indico vários aspetos sobre a experiência na

farmácia, os quais estão descritos por ordem decrescente de impacto, isto é, dos aspetos

que considero serem de maior relevo para aqueles que tiveram um menor impacto durante

o estágio.

Toda a análise que faço engloba os utentes, a Farmácia Dias Amaral, a equipa da farmácia e

toda a envolvente da área farmacêutica, como as receitas sem papel, os distribuidores, os

medicamentos rateados e as formações.

Por último, menciono casos clínicos particulares, nos quais tive intervenção e prestei

aconselhamento farmacêutico. Ocorreram várias situações em que realizei intervenção

farmacêutica, contudo estes foram os casos clínicos mais comuns que acompanhei.

Palavras-chave: Análise SWOT, utentes, Farmácia Dias Amaral, equipa, receitas sem papel,

medicamentos rateados, formações, casos clínicos.

ABSTRACT

The evaluation of my internship in pharmacy is based on a SWOT analysis, where I mention

the strengths, weaknesses, opportunities and threats which were most important during this.

In each point I indicate several aspects of the pharmacy's experience, which are written in

descending order of impact.

All the analysis includes patients, Pharmacy Dias Amaral, pharmacy team and the entire

pharmaceutical area, such as medical prescriptions, distributors, prorated medications and

training.

Finally, I make reference to particular clinical cases in which I had intervention and provided

pharmaceutical advice. There were several situations that I performed pharmaceutical

intervention, however these were the most common clinical situations I followed.

Key words: SWOT analysis, patients, Pharmacy Dias Amaral, pharmacy team, medical

prescriptions, prorated medications, clinical cases.

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A FARMÁCIA DIAS AMARAL

A Farmácia Dias Amaral (FDA) está localizada na Rua Angelino Gomes Ferrão em Arazede,

concelho de Montemor-o-Velho. Mudou, recentemente, para esta localização,

aproximadamente há três anos, aquando da mudança de proprietários. Deste modo, a

“nova” farmácia cresceu em dimensões, tendo disponíveis inúmeros serviços e uma alargada

variedade de produtos para uma maior satisfação dos utentes.

É de acrescentar ainda que a farmácia tem um Posto Farmacêutico Móvel (PFM) associado

no Viso, freguesia de Liceia, o qual é destinado à dispensa ao público de medicamentos, a

cargo de um farmacêutico, e é dependente da farmácia em relação ao abastecimento (1).

Quanto aos utentes deste posto farmacêutico, a FDA presta o serviço de requisição da

medicação crónica no centro de saúde. Isto acontece devido à população ser,

maioritariamente, envelhecida e não possuir meios para deslocar-se a Arazede para

agendamento regular de consulta.

O horário de funcionamento semanal da FDA é das 9h00 às 21h00, sendo que aos fins de

semana e feriados é das 9h00 às 20h00.

A FDA funciona em turno de regime de disponibilidade quanto à assistência da população

em situações de emergência. Desta forma, a farmácia assegura que um farmacêutico ou um

outro funcionário legalmente habilitado está disponível para atender o público que a solicite

(2).

Quanto ao espaço, a FDA tem uma ampla sala de atendimento ao público onde estão

expostos produtos de ortopedia, higiene oral, higiene íntima e corporal, dermocosmética,

Fitoterapia, veterinária, homeopatia, suplementação, nutrição e puericultura. Nesta sala

existem cinco postos de atendimento e dois gabinetes onde se realizam serviços distintos.

Num dos locais ocorre a realização da medição de parâmetros bioquímicos e a

administração de injetáveis (serviços farmacêuticos). O outro gabinete é utilizado para

consultas de nutrição e podologia, por profissionais que se deslocam periodicamente à

farmácia. Quando surgem atividades de promoção de produtos de dermocosmética, em que

os utentes usufruem de algum tratamento/aconselhamento, sempre que há necessidade

também há o uso desta sala.

Relativamente aos serviços, a FDA dispõe ainda de três salas na parte posterior do edifício,

que não têm comunicação com o interior da farmácia, as quais são utilizadas para sessões de

Acupuntura, consultas de Psicologia, tratamentos de estética e, finalmente, aulas de zumba e

pilates. Desta forma, a FDA procura disponibilizar uma multidisciplinaridade de ofertas para

uma maior satisfação do cliente e para uma maior frequência à farmácia.

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Atrás do balcão situa-se a área de back office da farmácia onde ocorre a conferência/receção

e arrumação de encomendas. No primeiro andar encontra-se o armazém (para arrumação

de material/produtos excedentes e artigos de maiores dimensões que não sejam possíveis

armazenar no back office), a sala de refeições/descanso, o laboratório com matérias-primas e

químicos, as instalações sanitárias e o gabinete de direção.

Quanto à equipa, a FDA possui dez elementos que funcionam de forma dinâmica em relação

às várias funções a desempenhar na farmácia.

ANÁLISE SWOT

A análise SWOT é, provavelmente, a ferramenta mais comumente utilizada na gestão das

empresas para o diagnóstico do ambiente interno e externo. O termo SWOT é acrónimo

para Strengths, Weaknesses, Opportunities e Threats (3).

Desta forma, a avaliação do meu estágio em farmácia comunitária vai basear-se neste tipo de

análise, onde identifico as forças e fraquezas que influenciaram o meu desempenho e as

ameaças e oportunidades associadas ao meio envolvente que afetaram a minha prestação.

1. Pontos Fortes

1.1 Localização da farmácia

A FDA encontra-se localizada em meio rural e, desta forma, os utentes que frequentam a

farmácia são utentes regulares e familiares. Na minha opinião, esta condição foi um ponto

fortíssimo durante o estágio. Considero isto, pois foi-me possível realizar um contacto mais

próximo com os utentes, acompanhar a sua situação clínica e receber o feedback

relativamente a produtos que aconselhei ou dispensei através de receita médica. Julgo que

isto não aconteceria, tão frequentemente, numa farmácia citadina onde existe uma maior

concorrência a curta distância.

O facto de serem utentes fidelizados também permitiu uma melhor prestação do meu

desempenho. Digo isto, pois cada utente tinha uma ficha associada que permitia a consulta

de vendas anteriores, o que foi muito bom em diversos aspetos. Por um lado, quando o

utente se vinha queixar que continuava com determinada patologia, permitia verificar os

medicamentos/produtos que já tinham sido cedidos e que, aparentemente, não surtiam

efeito. Muitas vezes o utente nem sabia o nome do que já lhe tinha sido aconselhado e,

através do registo de vendas, não corríamos o risco de lhe dar um produto de composição

semelhante, que seria ineficaz naquele doente e que levaria à sua insatisfação.

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Outra perspetiva a considerar era quando o utente pretendia adquirir medicamentos cuja

receita permitia dispensar quer Medicamentos Genéricos (MG) quer Medicamentos de

Referência (MR). Para estes casos, o histórico de vendas permitia-me ver qual o laboratório

que costumava levar, no caso de MG, ou o MR que fazia. Isto pode parecer insignificante,

mas durante a minha experiência no estágio verifiquei que é de real importância na

população idosa. Para já, trata-se de uma população polimedicada, cuja maioria da medicação

é crónica. Deste modo, há anos que os utentes fazem aquela medicação, que têm as tomas

todas sequenciadas e organizadas, sendo que uma caixa ou várias caixas de medicamentos

com aspeto diferente cause impacto/confusão. Por outro lado, contactei com vários utentes

analfabetos que só reconheciam a forma de tomar e a indicação terapêutica do medicamento

pelo aspeto da caixa.

1.2 Confiança dos utentes

Pelo contacto diário com os utentes, fui-me apercebendo que a farmácia era o primeiro local

a que estes se dirigiam sempre que estavam com algum problema de saúde ou até pessoal,

ou sempre que precisavam de algum tipo de esclarecimento. Isto não acontecia só porque o

atendimento na farmácia era mais rápido do que no centro de saúde, mas porque havia

realmente confiança no aconselhamento farmacêutico. Digo isto, porque várias vezes utentes

mais idosos me disseram que não iam ao médico, porque não se sentiam verdadeiramente

escutados.

Na farmácia, o contacto mais frequente com os utentes, comparativamente aos

agendamentos de consulta médica, e o facto de ouvirmos tudo aquilo que nos têm para

contar, desde a(o) filha(o) ao neto(a) que acabaram o curso ou o(a) companheiro(a) que está

a fazer dieta, até muitas mais coisas que escutamos diariamente, conduz a uma maior

aproximação e, principalmente, a uma grande relação de confiança.

A confiança estabelecida entre a FDA e os utentes permitiu que estes também confiassem

em mim. Isto para um estagiário é muito gratificante, pois temos várias dificuldades,

inseguranças e esta relação valoriza-nos e estimula-nos para sermos cada vez melhores

profissionais.

1.3 Integração na equipa

Sem dúvida que tive a maior sorte em poder colaborar com a equipa da FDA. Não me

lembro de nenhum momento em que tivesse dúvidas e não houvesse alguém com vontade

de me ensinar e explicar. Até mesmo a Sra. Isabel, que é uma pessoa apressada e com um

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bocadinho de menos paciência, a quem tenho uma elevada estima, se mostrou sempre

disponível para me ajudar.

De início, não considerei fácil estagiar na farmácia. Em cada dia era bombardeada com muita

informação, o ambiente era, na maioria das vezes, agitado dado o grande volume de utentes

para atender e entre chamadas para fornecedores, delegados a contactar a farmácia e

pedidos de abastecimento do PFM, senti-me bastante assustada.

Com o passar do tempo fui ganhando confiança e experiência, fui percebendo melhor a

dinâmica e forma de trabalhar na farmácia e, aos poucos, pareceu-me que fui evoluindo

como futura profissional.

A dada altura comecei a trabalhar de forma mais autónoma e rapidamente me fizeram sentir

parte da equipa. A partir daqui foi-me depositada confiança para desempenhar, praticamente,

todo o tipo de tarefas da farmácia.

Deste modo, a forma como fui recebida, acarinhada e integrada na equipa permitiu um

percurso de estágio muito mais agradável.

1.4 Funções na farmácia

Cada membro da equipa da FDA sabe realizar todo o tipo de tarefas necessárias para o

normal funcionamento da farmácia. Alguns membros realizam mais frequentemente

determinadas tarefas em detrimento de outras, contudo não existe uma limitação e

especificação das funções de cada um. Deste modo, o mesmo se aplicou a mim, como

estagiária, e foi-me dada a conhecer e a aprender uma variedade de tarefas.

A nível do contacto direto com o utente realizei atendimento, dispensa de medicamentos e

produtos e medição de parâmetros bioquímicos, como a glicémia e o colesterol total.

Em relação ao back office, efetuei encomendas diárias e pontuais aos fornecedores,

conferência e receção de encomendas, arrumação dos produtos rececionados e

etiquetagem, quando eram produtos para expor na sala de atendimento. Ainda, realizei

devoluções ao fornecedor, regularização de notas de crédito de produtos devolvidos,

arrumação no armazém e verificação de prazos de validade. Finalmente, algumas vezes

contactei com delegados para esclarecer assuntos de promoções e devoluções de produtos.

Quanto ao PFM colaborei no seu abastecimento, dado que todos os dias retirávamos

produtos do stock para enviar, os quais eram transferidos através duma transação no Sifarma

2000®. É de acrescentar ainda que me desloquei, algumas vezes, ao centro de saúde de

Arazede para realizar a requisição da medicação crónica dos utentes deste local (documento

em anexo).

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Considero que a oportunidade de executar todas estas tarefas me deixou muito mais

consciente do modo de operar na farmácia e me preparou para no futuro, pelo menos, ter

uma noção de tudo o que posso vir a ter que executar.

1.5 Receção de encomendas diárias

A conferência e receção das encomendas diárias foi uma tarefa que aprendi rapidamente.

Dado que são situações que ocorrem todos os dias, a prática constante levou a que não

gerassem dúvidas e o soubesse fazer corretamente.

Desta forma, sei rececionar encomendas diárias, independentemente do fornecedor, ou seja,

inseri-las em stock através do software informático Sifarma 2000®. Para isto, é necessário

verificar alguns dados e inserir correções, nomeadamente, alteração ou inserção da validade

quando o stock do produto é nulo, inserção dos preços faturados e aplicação de margens de

acordo com os objetivos da farmácia.

No entanto, surge neste âmbito outra questão fulcral, nomeadamente os preços a que vêm

os produtos de venda livre. O Sifarma 2000® tem várias potencialidades e no momento da

receção de encomendas permite consultar os preços a que os artigos têm vindo em faturas

anteriores. Deste modo, consegue-se ter a perceção se o produto está a vir mais caro ou

não do que o habitual e se há necessidade de o devolver. Isto é bastante importante, porque

o objetivo da farmácia é satisfazer o cliente e, para isto, deve ocorrer, pelo menos, a

manutenção de preços, ou então subidas pequenas e graduais.

Concluindo, esta questão de verificar preços foi mais uma grande aprendizagem, na medida

que tem bastante impacto para a satisfação e manutenção de utentes.

1.6 Diversidade de produtos em stock

O facto da FDA ser de grandes dimensões e ter um elevado número de utentes conduz ao

aumento do volume de compras e à procura de uma maior diversidade de produtos. Isto

para mim trouxe determinadas vantagens, nomeadamente o conhecimento, cada vez mais

amplo, de marcas, laboratórios e tipos de produtos dentro das várias áreas. Por exemplo, a

nível da dermocosmética, a farmácia apresenta inúmeras marcas, tais como: AVEENO®, A-

DERMA®, Bioderma®, Lierac®, Uriage®, La Roche-Posay®, Avène®, Ducray®, Vichy®,

Caudalie®, Nuxe®, Anjelif®, Eucerin®, Martiderm®, Neutrogena®, entre outras. É de

acrescentar ainda, que dentro da própria marca existe a maioria das gamas de cuidado (pele

seca, mista, sensível, entre outras) com os vários tipos de referências.

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Concluindo, considero um ponto forte do estágio a possibilidade de ter um conhecimento

cada vez maior em relação aos produtos e marcas. Em relação ao momento de

aconselhamento/dispensa esta variedade já não é tão apreciada, como irei explicar.

1.7 Software Sifarma 2000®

Durante o estágio, foi o software Sifarma 2000® que me acompanhou, o qual tem diversas

competências. O ponto forte que mais destaco, sem qualquer dúvida, é a sua utilidade

durante o atendimento ao público. No atendimento, sempre que surgia alguma dúvida na

dispensa de Medicamentos Não Sujeitos a Receita Médica (MNSRM) ou, em alguns casos,

Medicamentos Sujeitos a Receita Médica (MSRM), em questões de posologia, precauções,

contra-indicações, composição ou interações entre medicamentos, conseguia consultar

rapidamente no Sifarma 2000® a informação científica do produto. Isto foi uma mais valia, na

medida em que me auxiliou e tranquilizou quanto à realização de um adequado

aconselhamento.

2. Pontos Fracos

2.1 Elevado número de produtos para o mesmo efeito

Como referi anteriormente, a FDA tem uma elevada diversidade de produtos, sendo,

provavelmente mais notável a nível de MNSRM, suplementos e dermocosmética.

Considerei esta caraterística como um ponto forte em relação ao conhecimento, contudo

no momento do atendimento, torna-se um ponto fraco na medida em que há vários

produtos para considerar.

A minha estratégia consistiu em aconselhar medicamentos e produtos que conhecia melhor

e que havia em maior quantidade na FDA. O grande senão é que os MNSRM, suplementos e

dermocosmética estão expostos ao público. Desta forma, rapidamente o utente olhava para

o lado e me perguntava sobre outro produto, se também era eficaz para o efeito pretendido.

Se eu dissesse que também era adequado, rapidamente me perguntava qual fazia melhor.

Esta pergunta era difícil, pois eu sabia que qualquer um fazia o efeito pretendido e que não

podia dizer isto ao utente, porque senão ele desconfiava do porquê de ter aconselhado

primeiramente um produto e não o outro, se eram igualmente eficazes.

Além de tudo isto, nem sempre era fácil explicar as diferenças entre os vários produtos,

dadas as elevadas semelhanças, e isto aumentava a desconfiança do utente.

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2.2 Formação limitada em algumas áreas

Como é esperado, a prática profissional é que nos permite um maior conhecimento e

formação em diversas áreas, em complemento com a formação académica. Contudo, ao

longo do período de estágio senti falta de formação ao nível de aconselhamento para

patologias/manifestações oculares e medicamento de uso veterinário.

Em relação às patologias/manifestações oculares senti maior dificuldade nas situações em que

era requerido um aconselhamento. São vários os MNSRM destinados a estas situações e

uma análise rápida da embalagem não permite perceber as diferenças existentes de

referência para referência. Deste modo, sempre que me era requerido um colírio tinha que

consultar as caraterísticas de diversos produtos para perceber qual o mais indicado.

Quanto aos medicamentos de uso veterinário, senti dificuldades na dispensa quer de MSRM

como de MNSRM. Em relação aos MSRM a dificuldade surgia, maioritariamente, na

posologia, no caso de formulações de toma oral. Mesmo que o médico veterinário

mencionasse a quantidade a administrar, a dose tinha que ser transposta em função do peso

do animal e era nesse sentido que os utentes nos pediam esclarecimentos. Os medicamentos

de uso veterinário não vêm com copos ou colheres doseadoras, como no caso de

medicamentos para uso humano, daí a dificuldade. Um exemplo, tinha que saber dizer ao

utente: misture X colheres de chá do medicamento em Y L de água do bebedouro, dado que

ninguém tem em casa uma balança que meça com rigor miligramas. Cada caso era um caso,

eu também não tinha a noção da quantidade de miligramas equivalente ao tamanho da

colher, sendo que estas dificuldades foram sendo batalhadas com o auxílio da equipa da

FDA.

Quando me pediam aconselhamento de MNSRM de veterinária, penso que o mais difícil era

entender a patologia de que o animal sofria. É de acrescentar ainda que as pessoas usavam

termos e expressões caraterísticas, não explicando exatamente a sintomatologia do animal,

o que tornava ainda mais difícil o aconselhamento.

2.3 Denominação comercial dos medicamentos

Durante o estágio, notei algumas dificuldades em assimilar a relação entre a denominação

comercial de medicamentos e os princípios ativos.

Foi muito comum o utente chegar ao balcão com a receita médica e solicitar o medicamento

que pretendia através do seu nome comercial. Nestas situações, a dificuldade não foi muita,

na medida em que ia à prateleira procurar o medicamento pelo nome de marca, percebia

pela caixa qual era o fármaco e confrontava com os dados da receita, nomeadamente a

dosagem.

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O grande problema relativamente à ausência da associação entre marcas e fármacos era

quando perguntava aos utentes, durante um aconselhamento, que problemas de saúde

tinham e qual a medicação que faziam. Quando me respondiam referindo-se aos nomes

comerciais dos medicamentos, ficava, por vezes, sem perceber de que patologias sofriam,

sendo necessário procurar os fármacos que constavam naqueles medicamentos de marca.

2.4 Realização da encomenda diária

Considero que a realização da encomenda diária, a qual fazíamos duas vezes ao dia para o

fornecedor principal, foi uma das tarefas em que tive alguma dificuldade. É de referir que só

comecei a realizá-la numa fase mais tardia do estágio e que com mais prática talvez não a

considerasse como um ponto fraco. Contudo, vou explicar as minhas dificuldades.

Primeiro, o próprio Sifarma 2000® em função das vendas e das quantidades mínimas e

máximas definidas de stock para cada medicamento/produto cria uma proposta de

encomenda diária. O primeiro problema surgia que nem todos os produtos faziam parte do

fornecedor principal e, por isso, alguns tinham que ser excluídos da encomenda. Deste

modo, tinha que fazer uma análise produto a produto e eliminar os que não interessavam.

Em segundo lugar, tinha que fazer uma análise das quantidades diárias vendidas, considerar,

caso fosse um produto de desconto de grupo, se tinha condições de encomenda mais

vantajosas, como a oferta de bónus ao encomendar determinadas quantidades. Este último

ponto tornava-se importante se fosse início de mês para se comprar quantidades maiores.

Finalmente, a quantidade de produtos que apareciam nesta proposta de encomenda era

enorme, daí que se tornasse um processo moroso e cansativo.

2.5 Receção de encomendas pontuais

Quanto a encomendas que eram feitas pontualmente, como as encomendas diretas ao

laboratório de MNSRM, suplementos ou dermocomética, senti dificuldades em realizar a sua

receção. Isto aconteceu, porque nestes casos há bónus, descontos e tem que se considerar

tudo isso para que o valor do que estamos a rececionar coincidia com o da fatura. É de

acrescentar ainda que se tem de realizar uma análise quanto aos preços, comparando o

preço que é costume ser praticado na farmácia e o preço a que veio na encomenda, e os

descontos a que a farmácia teve direito.

O grande objetivo da FDA passa sempre por tentar manter os preços e oferecer condições

mais vantajosas aos utentes, daí que nestas encomendas, por vezes, diluíam-se os bónus no

preço faturado. Cada caso era um caso, tudo isto dependia dos preços, daí que fosse um

procedimento em que tinha mais dificuldades.

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3. Oportunidades

3.1 Via Verde do Medicamento

A Via Verde do Medicamento (VVM) é um projeto recente que consiste numa via excecional

de aquisição de medicamentos. Desta forma, as farmácias quando não têm stock de um

determinado medicamento podem fazer o pedido através de uma receita válida a um

distribuidor. A única contrapartida é que só alguns medicamentos estão disponíveis na VVM

e em quantidades limitadas, o que é atribuído pelo titular de autorização de introdução no

mercado do medicamento (4).

Durante o estágio usufruí, algumas vezes, desta ferramenta para conseguir obter

medicamentos esgotados dos fornecedores, os quais nunca sabíamos quando voltavam a

estar disponíveis. Um exemplo foi o pedido do Eliquis®, nas dosagens quer de 2,5 mg como

de 5 mg.

Como é possível perceber, a obtenção de um medicamento que está esgotado e não é

possível adquirir é uma grande vantagem. Mas, sobretudo, temos que considerar o benefício

para o utente em obter um medicamento que lhe poderia faltar por tempo indeterminado, e,

consequentemente, prejudicar a sua saúde. No caso do Eliquis®, medicamento utilizado na

prevenção de acontecimentos tromboembólicos venosos (5), a falta deste medicamento

poderia levar a graves lesões ou, até mesmo, a fatalidades.

Concluindo, a VVM foi fundamental para conseguir alcançar, mais facilmente, as necessidades

dos utentes, contudo é, ainda, uma pequena ferramenta dado o número limitado de

medicamentos aqui disponíveis.

3.2 Receita Sem Papel

No início de abril de 2016 a Receita sem Papel adquiriu caráter obrigatório para todas as

entidades do Serviço Nacional de Saúde (6). Deste modo, durante o estágio foram poucas as

vezes que contactei com receitas manuais, comparativamente à quantidade de receitas

eletrónicas. Contudo, pela experiência com os dois tipos de receita, apercebi-me das

vantagens da receita eletrónica, quer para o utente, quer para a farmácia.

Em relação ao utente, a receita eletrónica permite que o doente vá adquirindo os

medicamentos faseadamente de acordo com as suas necessidades e possibilidades

financeiras.

Na perspetiva da farmácia, a possibilidade de aquisição gradual de medicamentos também é

benéfica quando há ausência de medicamentos em stock. Digo isto, pois é possível dispensar

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os medicamentos disponíveis e voltar a utilizar a receita numa outra vez para os que estavam

em falta, o que não era possível na receita manual.

Em relação à minha experiência a receita eletrónica permite minimizar erros de dispensa, na

medida em que permite o confronto entre a linha de prescrição médica inserida para

dispensa e o medicamento dispensado. É de acrescentar ainda que é muito mais fácil de

processar e que combate as dificuldades de leitura que surgiam em algumas receitas manuais.

3.3 Formações

Durante o meu período de estágio tive acesso a diversas formações, nomeadamente sobre

suplementos, dermocosmética, meias de compressão, vendas cruzadas e ampliadas e sobre

alguns MNSRM. Algumas destas formações foram na farmácia, no momento do estágio,

outras foram externas, tendo havido convite para a inscrição da farmácia.

Estas formações foram uma grande oportunidade para conhecer melhor os produtos e para

tirar algumas dúvidas acerca do aconselhamento. Outro aspeto que considerei vantajoso, foi

a apresentação de estudos clínicos para alguns suplementos, o que me dá confiança para

aconselhar este tipo de produtos.

É de referir ainda que, a nível das formações de cosmética, nos foi dado a conhecer os

produtos com o complemento de poder experimentá-los. Isto é bastante significativo, pois

muitas vezes pediam-me aconselhamento e eu nem tinha uma opinião própria dos produtos,

devido à falta de utilização. Isto é, sabia que era uma boa marca, que estava indicada para o

tipo de situação requerida, mas depois nem sabia como era a textura, aroma, entre outras

propriedades que poderiam interferir na preferência do utente.

4. Ameaças

4.1 Medicamentos rateados

Medicamentos rateados são fármacos que existem em quantidade limitada e, por isso, tem

que existir uma racionalização das vendas a farmácias, por parte dos distribuidores. Isto

pode ocorrer devido a vários fatores, sendo a exportação paralela o principal (7). Deste

modo, os distribuidores racionam de acordo com o volume de compras da farmácia, o que

nem sempre é suficiente para satisfazer as necessidades dos utentes.

Um exemplo de medicamento rateado, que várias vezes faltou na FDA, foi o Hygroton®,

medicamento utilizado para problemas cardíacos, acumulação de líquidos e prevenção de

cálculos de cálcio recorrente (8). Foram várias as vezes que disse a utentes que não tinha o

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medicamento e não tinha uma previsão da sua chegada. Houve, inclusivamente, pessoas a

queixarem-se que já não tomavam a medicação há mais de um mês.

A existência de medicamentos rateados é uma realidade dura e assustadora que nos deixa

bastante limitados quanto aos nossos deveres como profissionais de saúde.

4.2 Preço referência de custo nas receitas eletrónicas

A maioria das receitas eletrónicas apresenta os medicamentos na forma DCI, isto é, na

denominação comum internacional, que diz respeito ao princípio ativo do medicamento.

Nestes casos, o utente pode optar por um MG ou um MR.

Na receita eletrónica, em cada linha prescrita, há referência ao valor de custo máximo que

pode custar o medicamento.

No ato da dispensa, perguntava sempre ao utente se preferia um MG ou um MR. O que

várias vezes me aconteceu é que havia disparidade entre o valor a pagar e o valor que

constava na receita, fazendo com que os utentes me questionassem. Isto aconteceu nos

casos de dispensa de MG.

Cada MG tem um preço e esses preços são diferentes de laboratório para laboratório. A

grande preocupação durante o atendimento é ter em stock o medicamento que o utente

precisa. Deste modo, caso fosse medicação a levar pela primeira vez, dispensava um MG do

laboratório que a FDA tinha em maior quantidade, porque para uma próxima dispensa tinha

uma maior garantia de ter o medicamento em stock.

Quando os utentes me questionavam eu explicava das diferenças de preços entre os vários

laboratórios e tentava saber se preferiam outro medicamento mais barato. Caso o

preferissem via no stock que tinha qual é que ficava mais barato e alterava a venda.

Eu considero que, muitas vezes, os utentes ficavam com a sensação de que os estava a

enganar e a aproveitar-me. Deviam questionar-se o porquê de eu não ceder logo um

medicamento mais barato. Desta forma, este preço referência de custo da prescrição gerou-

me algumas dificuldades.

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CASOS CLÍNICOS

1. Transtornos gastrointestinais

Uma mãe chegou à farmácia com a sua filha de 7 anos e queixou-se que esta tinha diarreia e

dor abdominal, questionando-me sobre o que lhe podia dar para resolver o problema.

Primeiro tentei saber se a menina tinha outros sintomas como vómitos, febre ou sangue nas

fezes, ao que a mãe me respondeu que não. De seguida perguntei, há quanto tempo durava,

se mais alguém na família ou na escola apresentava a mesma sintomatologia e se, por acaso, a

menina estava a fazer algum tipo de medicação. A mãe disse-me que a menina estava assim

há um dia, que desconheciam mais alguém com o mesmo problema e que não estava a tomar

medicação.

Apresentada a situação, a maneira a atuar passa pela hidratação e normalização da flora

intestinal com probióticos. Deste modo, aconselhei o Bi-OralSuero® que é um suplemento

com uma combinação de líquidos e sais minerais com um probiótico potente, o Lactobacillus

reuteri Protectis (9). Adverti que a toma tinha que ser pela palhinha que o produto traz, uma

vez que é aí que está o probiótico regulador da flora intestinal.

É de acrescentar ainda que aconselhei a não beber leite e os seus derivados nas 24 h

seguintes à paragem da diarreia, para que houvesse a recuperação das enzimas intestinais

(lactases). A ingestão de leite deveria ser recomeçada lentamente e deveria beber muita

água.

Finalmente, informei que se a situação não regularizasse deveria consultar o médico.

2. Infeção urinária

Um jovem com cerca de 20 anos apareceu na farmácia e queixou-se que, recentemente,

tinha que ir com elevada frequência à casa de banho para urinar. Referiu-me que estava de

férias e que queria tratar o problema para poder usufruir.

Questionei o utente se a frequência à casa de banho era durante todo o dia ou se era mais

comum à noite. O utente respondeu-me que acontecia de forma semelhante durante todo o

dia. Desta forma, desconfiei de uma infeção urinária e aconselhei-lhe Arkocápsulas® Uva

Ursina. Este é um suplemento com arbutósido, o qual é um poderoso antiséptico urinário

ativo sobre as principais bactérias responsáveis pelas infeções urinárias (10).

O suplemento não tem nenhuma contra-indicação, mas como promove a diurese questionei

o utente se tinha algum problema renal ou tensão arterial baixa. Como me afirmou que não

tinha nenhum problema de saúde indiquei-lhe a toma de 2 cápsulas ao pequeno-almoço e 2

cápsulas ao almoço e que deveria beber bastante água. Aconselhei ainda um produto de

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higiene íntima específico para a patologia em causa e que caso se não melhorasse dentro de

dias deveria ir ao médico.

3. Pé de atleta

Uma senhora jovem, na casa dos 30, chegou à farmácia queixando-se de muita comichão nos

pés. Disse-me que tinha pequenas manchas vermelhas na planta do pé e que em algumas

zonas estava a ocorrer descamação da pele.

Em conversa com a utente perguntei a partir de que momento começaram esses sintomas.

A senhora explicou-me que foi a partir da altura em que veio mais calor e que se tornava

difícil utilizar as botas de biqueira de aço no trabalho. Rapidamente concluí que se tratava de

uma infeção fúngica, como já tinha suspeitado. Deste modo, expliquei-lhe que a utilização de

calçado fechado e ambientes quentes e húmidos era propício ao desenvolvimento dos

fungos.

O meu aconselhamento incidiu sobre o tratamento da infeção com Canesten® em solução,

dado que a utente preferia a formulação em spray do que creme. Expliquei-lhe que devia

aplicar o medicamento pelo menos de manhã e à noite nas lesões a tratar, durante 3 a 4

semanas (11). Contudo, disse-lhe que o tratamento não era uma medida suficiente para

acabar com o fungo. O que queria dizer com isto, é que era necessário eliminar o fungo do

calçado, uma vez que utiliza o mesmo calçado todos os dias. Desta forma recomendei-lhe

lavar e arejar sempre que possível o calçado e, caso tivesse um segundo par para calçar,

fosse alternando o seu uso. Recomendei ainda, um pó absorvente AKILEINE®, para aplicar

de manhã e à noite no calçado, com o objetivo de absorver a humidade, evitar um

sobreaquecimento e, assim, impedir o desenvolvimento fúngico (12).

4. Hiperplasia Benigna da Próstata

Um homem com cerca de 60 anos dirigiu-se à farmácia e queixou-se que ia várias vezes à

casa de banho durante a noite e que urinava muito pouco. Acrescentou ainda que está assim

há uma semana e que não tem mais nenhum sintoma.

A hiperplasia benigna da próstata (HBP) é uma patologia frequente com o envelhecimento e

resulta do aumento do número de células da próstata. É frequente que esta patologia

obstrua a uretra e comprometa o esvaziamento da bexiga (13). Deste modo, identifiquei esta

patologia como causa das queixas do doente.

Comecei por explicar-lhe medidas não farmacológicas que poderiam ajudar a melhorar a

situação, nomeadamente ingerir água de preferência de manhã, para diminuir a noctúria, e

evitar estimulantes como a cafeína e álcool que têm ação sobre a bexiga. De seguida,

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aconselhei-lhe o Prostamol®, um suplemento com 320 mg de Serenoa repens, de uma toma

diária após o pequeno-almoço, durante um mês (14). Adverti o utente que a situação clínica

tinha que ser vigiada e que deveria realizar regularmente exames, pois poderia tratar-se dum

problema com evolução crónica.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

O estágio na FDA foi o término de um longo percurso de aprendizagem. Mais do que isso,

foi uma oportunidade constante de melhoria a nível profissional, dado o confronto diário

com situações muito distintas. Quando eu considerava que já sabia lidar com a maioria dos

casos de utentes ou desempenhar corretamente as minhas funções, surgia sempre algo novo

e diferente para aprender.

O que quero dizer com tudo isto é que a farmácia comunitária é uma área em crescimento e

mudança constante. O farmacêutico de oficina tem que acompanhar o progresso, tem que se

adaptar ao utente que tem à frente e tem que se manter sempre atualizado. Deste modo, a

prática farmacêutica torna-se um trabalho dinâmico e muito interessante.

A formação constante e a prática que tive durante o estágio também foram alicerces

decisivos para um enriquecimento pessoal. Isto quer a nível da comunicação interpessoal,

quer a nível de me sentir útil e valorizada pelos utentes.

É de acrescentar ainda o grande valor do farmacêutico, o que constatei diariamente através

da atitude dos utentes. Por isto, é muito importante que todos os farmacêuticos

reconheçam este valor e o mantenham, procurando ser cada vez melhores na sua profissão.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

(1) Deliberação nº 1857/2013. [Acedido a 9 de julho de 2017]. Disponível na Internet:

https://dre.pt/application/dir/pdf2sdip/2013/10/199000000/3097530977.pdf

(2) Decreto-Lei n.º 53/2007. [Acedido a 9 de julho de 2017]. Disponível na Internet:

http://www.sg.min-saude.pt/NR/rdonlyres/B9EBB192-952E-4C97-94FD-6B54A9F75A58

/29730/172_2012.pdf

(3) HOUBEN, G., LENIE, K., VANHOOF, K. – A knowledge-based SWOT-analysis system

as an instrument for strategic planning in small and medium sized enterprises. Decision

Support Systems, 26 (1999) 125–135.

(4) INFARMED, I.P. – Circular Informativa: Projeto Via Verde do Medicamento. 15 de

Fevereiro de 2015. [Acedido a 9 de julho de 2017]. Disponível na Internet:

http://www.infarmed.pt/documents/15786/1147844/11702347.PDF/78e5f43c-c724-

41a2-aa08-62486796150a?version=1.0

(5) INFARMED, I.P. – Resumo das caraterísticas do Medicamento – Eliquis 2,5 mg.

[Acedido a 9 de julho de 2017]. Disponível na Internet: http://www.ema.europa.eu/docs

/pt_PT/document_library/EPAR_ProductInformation/human/002148/WC500107728.pdf

(6) Serviço Nacional de Saúde – Receita Sem Papel. [Acedido a 9 de julho de 2017].

Disponível na Internet: http://spms.min-saude.pt/product/receita-sem-papel/

(7) APIFARMA – Caraterização das falhas de abastecimento no mercado farmacêutico

nacional. [Acedido a 10 de julho de 2017]. Disponível na Internet:

http://www.apifarma.pt/publicacoes/siteestudos/Documents/Relat%C3%B3rio_Desabast

ecimento_2013_20052013_versao_publicacao.pdf

(8) INFARMED, I.P. – Resumo das caraterísticas do Medicamento - Hygroton 50 mg.

[Acedido a 10 de julho de 2017]. Disponível na Internet: http://app7.infarmed.pt/

infomed/download_ficheiro.php?med_id=4376&tipo_doc=rcm

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(9) Group Jaba Recordati – Bi-oral suero® frutas. [Acedido a 10 de julho de 2017].

Disponível na Internet: http://www.jaba-recordati.pt/produtos-farmaceuticos/

probioticos/bi-oral-suero-frutas

(10) Arkopharma Laboratórios – Arkocápsulas® Uva Ursina. [Acedido a 10 de julho de

2017]. Disponível na Internet: http://www.arkopharma.pt/productos/ficha-gayuba.html

(11) INFARMED, I.P. – Resumo das caraterísticas do Medicamento – Canesten® 10 mg/ml

solução para pulverização cutânea. [Acedido a 10 de julho de 2017]. Disponível na

Internet: http://app7.infarmed.pt/infomed/download_ficheiro.php?med_id=1412&tipo_

doc=rcm

(12) Laboratoires ASEPTA Monaco – Pó absorvente Akileine®. [Acedido a 10 de julho de

2017]. Disponível na Internet: http://www.asepta.com/pt/nossos-produtos/les-

gammes/akileine/akileine-soins-verts/poudre-absorbante/

(13) Group Jaba Recordati – Hiperplasia Benigna da Próstata. [Acedido a 11 de julho de

2017]. Disponível na Internet: http://www.jaba-recordati.pt/areas-terapeuticas/urologia/

hiperplasia-benigna-da-prostata-hpb

(14) Prostamol®. [Acedido a 11 de julho de 2017]. Disponível na Internet:

http://www.prostamol.pt/

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ANEXO

Anexo 1 – Requisição da medicação crónica dos utentes.

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Parte II

Relatório de Estágio em Distribuição Grossista de

Medicamentos

PLURAL – Cooperativa Farmacêutica, CRL

Orientadora:

Dra. Olga Simões

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LISTA DE ABREVIATURAS

BPD – Boas Práticas de Distribuição

DMs – Dispositivos Médicos

VVM – Via Verde dos Medicamentos

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RESUMO

A avaliação do meu estágio em distribuição grossista de medicamentos baseia-se numa

análise SWOT, onde refiro os pontos fortes e fracos, as oportunidades e as ameaças que

mais se distinguiram ao longo do estágio.

A análise que faço engloba o desafio que me foi lançado, de preparar uma formação interna

sobre Boas Práticas de Distribuição e Boas Práticas de Distribuição de Dispositivos Médicos.

A nível dos pontos fracos, refiro-me às tarefas que executei, as quais tinham pouca ou,

nenhuma, aplicação dos conhecimentos adquiridos na formação do Mestrado Integrado em

Ciências Farmacêuticas.

Quanto às oportunidades refiro-me ao conhecimento que obtive em relação a toda a cadeia

de distribuição dos medicamentos. E, finalmente, falo sobre a reduzida oportunidade da

carreira farmacêutica neste setor.

Palavras-chave: análise SWOT, formação interna, Boas Práticas de Distribuição, cadeia de

distribuição de medicamentos.

ABSTRACT

The evaluation of my internship in wholesale drug distribution is based on a SWOT analysis,

where I mention the strengths, weaknesses, opportunities and threats which were most

important during this.

My analysis includes the challenge I had, which was to prepare an internal training on Good

Distribution Practices and Good Practices in the Distribution of Medical Devices.

As weaknesses I refer to the tasks that I performed, which had little or no application of the

knowledge acquired in Pharmacy master degree.

As for the opportunities, I am referring to the knowledge I have gained in relation to the

whole distribution chain of medicines. Finally, I talk about the reduced opportunity of the

pharmaceutical career in this sector.

Key words: SWOT analysis, internal training, Good Distribution Practices, distribution

chain of medicines.

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A PLURAL – COOPERATIVA FARMACÊUTICA, CRL

A PLURAL – Cooperativa Farmacêutica, CRL, é uma cooperativa que resultou da fusão de

várias cooperativas, no ano de 2006 (1).

Durante o meu período de estágio a PLURAL, CRL, tinha sede na Rua Adriano Lucas, em

Coimbra, sendo que, recentemente, mudou de instalações para a Rua Manuel Madeira nº 35,

em Coimbra. Nas novas instalações os serviços administrativos e a parte social ocupam dois

edifícios reabilitados e para o armazenamento e distribuição de medicamentos foi construído

um armazém equipado com a última geração de automatismos (2).

Em inícios de 2008 a PLURAL, CRL, iniciou a sua expansão territorial, possuindo, hoje em

dia, seis armazéns, nomeadamente em Coimbra (sede da cooperativa), Tortosendo, Maia,

Caldas da Rainha, Faro e Montijo, garantindo uma vasta cobertura nacional (1).

A missão da PLURAL, CRL é: “aprovisionar, armazenar e distribuir medicamentos aos seus

cooperadores, nas melhores e mais adequadas condições, de acordo com as Boas Práticas

de Distribuição, e, no mais curto espaço de tempo” (1).

A sede da cooperativa é certificada em Qualidade a nível da ISO 9001:2015 (1) e,

atualmente, a PLURAL, CRL, conta com cerca de 1300 clientes, os quais têm tem vindo a

aumentar (2).

ANÁLISE SWOT

A análise SWOT é, provavelmente, a ferramenta mais comumente utilizada na gestão das

empresas para o diagnóstico do ambiente interno e externo. O termo SWOT é acrónimo

para Strengths, Weaknesses, Opportunities e Threats (3).

Desta forma, a avaliação do meu estágio em distribuição grossista de medicamentos vai

basear-se neste tipo de análise, onde identifico as forças e fraquezas que senti durante o

estágio, assim como as ameaças e oportunidades associadas ao meio envolvente dos

grossistas.

1. Pontos Fortes

Ao fim de alguns dias de estágio, em que já estava um pouco familiarizada com a atividade da

PLURAL, CRL, foi-me proposto elaborar uma apresentação sobre Boas Práticas de

Distribuição (BPD), de acordo com a Deliberação n.º 47/CD/2015 submetida pelo

INFARMED, I.P. em Março de 2015. Este documento compreende todos os requisitos que o

distribuidor por grosso tem que cumprir para poder executar a sua atividade (4).

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O trabalho era para ir sendo feito durante o período de estágio, podendo assim indo

intercalando com o desempenho de outras funções no armazém. Contudo, mais tarde,

houve a necessidade de concluir o trabalho antes do término do estágio e adicionar o

desenvolvimento de mais um assunto, para que fosse possível dar formação na área a todos

os trabalhadores da PLURAL, CRL. O assunto que foi adicionado baseou-se na Portaria n.º

256/2016, publicada em Setembro de 2016, que diz respeito às BPD de Dispositivos Médicos

(DMs), ou seja, todos os requisitos que a PLURAL, CRL, tem que ter para poder distribuir

estes artigos (5). A formação era necessária, tendo um caráter obrigatório, pois a

cooperativa perante a fiscalização do INFARMED, I.P. tinha como uma não conformidade a

ausência de registo de formação dos colaboradores na área das BPD.

A elaboração desta apresentação era da responsabilidade da Diretora Técnica, Dra. Olga

Simões, sendo que me delegou esta tarefa e cooperou comigo, no que fui precisando, para a

sua realização.

O trabalho que desenvolvi, no meu entender, teve vários pontos fortes. Em primeiro lugar,

realizei um trabalho destinado a um farmacêutico, ao contrário das restantes funções que

executei no estágio que compreenderam a arrumação, reposição e aviamento de

medicamentos e tratamento de devoluções/reclamações.

É de acrescentar ainda que a realização deste trabalho permitiu-me conhecer de uma forma

muito mais próxima todo o funcionamento da cooperativa. O trabalho sobre BPD

compreendeu vários capítulos, nomeadamente: Gestão da Qualidade, Pessoal, Instalações e

Equipamento, Documentação, Operações, Reclamações, Devoluções, Suspeitas de

Medicamentos Falsificados e Retiradas de Medicamentos, Atividades Subcontratadas,

Autoinspeções e Transporte. Desta forma, além de mencionar o conteúdo da deliberação,

incluí vários documentos da PLURAL, CRL, vídeos e imagens da sua atividade, tudo no

enquadramento dos assuntos mencionados. O mesmo se aplicou em relação às BPD de

DMs.

A apresentação que desenvolvi em relação às BPD e BPD de DMs, foi usada para dar

formação a toda a cooperativa. Isto é, a todos os funcionários dos armazéns que integram a

PLURAL, CRL. No caso da plataforma de Coimbra, tive o privilégio de ser eu a dar a

formação aos colaboradores, em parceria com a Dra. Olga Simões. Dividiram-se o total de

colaboradores por sete grupos, sendo que cinco dos grupos tiveram 9 horas de formação,

repartidas por três tardes, e os restantes dois grupos (motoristas) tiveram que ter um dia

inteiro de formação ao sábado.

Por último, a oportunidade de dar a formação foi uma oportunidade muito enriquecedora,

desde o convívio com os colaboradores até à experiência que adquiri ao realizar a exposição

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do trabalho várias vezes, num auditório, para grupos com várias pessoas, o que até então

nunca tinha realizado.

2. Ponto Fracos

Nos restantes momentos em que não estive a preparar a formação, realizei várias tarefas

que dizem respeito ao aviamento de medicamentos, ou seja, na concretização das

encomendas vindas das Farmácias.

A PLURAL, CRL, tem, de uma forma simplista, três tipos de formas de aviamento de

medicamentos/produtos. Uma consiste nos canais de medicamentos, em que o operador

tem que os carregar e, depois, informaticamente, a máquina faz o aviamento (mecanismo

automatizado). As outras duas são de aviamento manual por parte dos colaboradores

(mecanismo semi-automatizado). Vou explicar apenas os processos que executei. Num dos

casos, o operador tem que ir às várias prateleiras buscar os medicamentos/produtos com o

auxílio de um aparelho de rádio frequência (processo de picking), que lhe indica a quantidade

e localização destes. O outro caso, é o aviamento de medicamentos da cadeia de frio, em

que tem que se retirar medicamentos do sistema de frio MVC e ter as precauções

necessárias, nomeadamente ensacar e colocar num esferovite com uma cuvete congelada.

Durante o período de estágio fiz várias vezes as tarefas mencionadas, aponto como um

ponto fraco apenas pela pouca aplicação dos conhecimentos científicos de que tive formação

no percurso académico. Nestas tarefas apenas era necessário ter atenção aos medicamentos

e quantidades que eram pedidos nas encomendas e, ainda, ter o cuidado de repor

corretamente os canais e as prateleiras, para não gerar erros e, consequentemente,

devoluções de produtos pelas farmácias.

Outra função que executei foi o tratamento de devoluções/reclamações. Neste caso, apenas

fazia a triagem dos medicamentos/produtos de acordo com o motivo de devolução, ou seja,

danificados, fora da validade e produtos para reintegrar o stock, para que fossem tratados,

posteriormente, em função do destino de cada um. Esta tarefa, novamente, não exigia, da

minha parte, conhecimentos científicos.

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3. Oportunidades

O contacto com toda a atividade da PLURAL, CRL, desde a receção de mercadorias,

reposição de medicamentos/produtos, encomendas telefónicas e informáticas, aviamento de

medicamentos/produtos, transporte das encomendas até ao registo/tratamento de

devoluções/reclamações, permitiu-me ter noções muito importantes, com impacto no

estágio que realizei posteriormente em farmácia comunitária.

A nível da receção de mercadorias, a PLURAL, CRL, exige dos fornecedores de químicos e

matérias-primas o boletim de análise de cada produto, pois na farmácia, sempre que algum

destes produtos não traz este documento, há o pedido ao distribuidor.

Em relação à reposição de medicamentos, esta tarefa permitiu-me visualizar vários

medicamentos, conhecer diferentes laboratórios, relacionar fármacos e nomes comerciais e

conhecer medicamentos da cadeia de frio. Isto foi bastante importante para me familiarizar

com os medicamentos que iria dispensar na farmácia.

Quanto ao processo de aviamento, percebi o porquê de várias vezes surgirem

medicamentos/produtos danificados. As máquinas com canais de medicamentos e outros

tipos de máquinas utilizadas no aviamento, por vezes, danificam as embalagens. Deste modo,

consegui perceber que era apenas uma questão de estética, que os medicamentos estavam

em condições para serem vendidos e que, se as farmácias os devolvessem constantemente,

os produtos iriam para abate. O que era um verdadeiro desperdício e um crime dada a

existência de medicamentos rateados e esgotados. É de acrescentar ainda, que para realizar

devoluções/reclamações era necessário executá-lo em determinado período de tempo desde

a data da fatura da encomenda, para que estas pudessem ser aceites. Deste modo, na

farmácia tínhamos que ter uma ação rápida quanto ao tratamento deste tipo de questões.

Foi na PLURAL, CRL, que percebi a realidade dos medicamentos rateados, ou seja,

medicamentos que existem em pequena quantidade e, por isso, têm que ser racionados para

as farmácias. Isto pode ocorrer devido a vários fatores, sendo a exportação paralela o

principal (6). Esta é uma realidade dura, principalmente porque a definição da quantidade

deste tipo de medicamentos é em função do volume de compras das farmácias ao

distribuidor. Assim, cada farmácia estava num escalão que permitia obter determinada

quantidade destes medicamentos ou, então, nenhum destes medicamentos. Isto foi muito

importante para perceber a nível da farmácia, a quantidade que recebíamos de

medicamentos rateados.

Tive ainda acesso à zona da Via Verde do Medicamento (VVM) que é uma via excecional de

aquisição de medicamentos. Quando as farmácias não têm stock de um determinado

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medicamento podem fazer o pedido através de uma receita válida a um distribuidor. A única

contrapartida é que só alguns medicamentos estão disponíveis nesta via e em quantidades

limitadas, o que é atribuído pelo titular de autorização de introdução no mercado do

medicamento (7). O contacto com esta via preparou-me para utilizar esta oportunidade na

farmácia, sempre que me surgiam medicamentos esgotados que estavam disponíveis na VVM.

Concluindo, o estágio na PLURAL, CRL, foi uma grande oportunidade para conhecer todo o

circuito do medicamento na cadeia da distribuição, até chegar às farmácias.

4. Ameaças

A atividade de distribuição por grosso é uma área limitada para a carreira farmacêutica. A

Deliberação n.º 47/CD/2015, referente às BDP, apenas exige uma pessoa responsável,

designada por Diretor Técnico, que tem que ser farmacêutico (4). Já a Portaria n.º 256/2016,

referente às BPD de DMs, indica que a entidade que exerça a atividade de distribuição por

grosso de DMs deve dispor de um responsável técnico, ou seja, nem é necessário ser um

farmacêutico (5).

Pelo contacto que tive na PLURAL, CRL, são realmente poucos os farmacêuticos neste

setor. Existia, pelo menos, um farmacêutico em cada plataforma, de acordo com os

requisitos das BPD. Eram cargos de chefia, de organização de todo o trabalho de armazém e

de gestão da Qualidade.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

O estágio na PLURAL, CRL, foi muito enriquecedor a vários níveis. Pelo que já falei foi

realmente muito importante para perceber todo o processo da cadeia de distribuição de

medicamentos. Além disso, permitiu ter alguma bagagem importante para, posteriormente,

iniciar o estágio em farmácia comunitária.

A tarefa que mais me motivou foi, sem dúvida, a elaboração e preparação da Formação

sobre BPD e BPD de DMs. Além de me ter permitido adquirir muita informação sobre a

PLURAL, CRL, foi um trabalho totalmente diferente do que já tinha feito. Foram várias horas

de formação, com contacto com muitos colaboradores, e uma aprendizagem constante na

forma de expor o tema e cativar o público.

A nível pessoal, esta oportunidade fez-me adquirir experiência e crescer muito. Cheguei ao

fim de cada grupo de formação com a sensação de ter cumprido os objetivos que me foram

propostos, dado o feedback das pessoas. Ainda, fui muito acarinhada e agradecida por todo o

meu trabalho.

Concluindo, sem dúvida alguma, o estágio na PLURAL, CRL, foi uma mais-valia que me

valorizou muito.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

(1) PORTELO, J. – Manual de acolhimento – PLURAL Cooperativa farmacêutica, CRL.

Revisão 15. 2 de março de 2016.

(2) PLURAL Serviços Multipharma. [Acedido a 12 de julho de 2017]. Disponível na

Internet: http://www.plural.pt/Contactos/tabid/314/Default.aspx

(3) HOUBEN, G., LENIE, K., VANHOOF, K. – A knowledge-based SWOT-analysis system

as an instrument for strategic planning in small and medium sized enterprises. Decision

Support Systems, 26 (1999) 125–135.

(4) INFARMED, I.P. – Deliberação n.º 47/CD/2015. [Acedido a 27 de março de 2017].

Disponível na Internet: http://www.infarmed.pt/documents/15786/17838/11048532.

PDF/4bde6495-b33d-4311-8302-784be4a65971

(5) APIFARMA – Caracterização das falhas de abastecimento no mercado farmacêutico

nacional. [Acedido a 1 de abril de 2017]. Disponível na Internet:

http://www.apifarma.pt/publicacoes/siteestudos/Documents/Relat%C3%B3rio_Desabast

ecimento_2013_20052013_versao_publicacao.pdf

(6) INFARMED, I.P. – Circular Informativa: Projeto Via Verde do Medicamento. 15 de

fevereiro de 2015. [Acedido a 1 de abril de 2017]. Disponível na Internet:

http://www.infarmed.pt/documents/15786/1147844/11702347.PDF/78e5f43c-c724-41a2

-aa08-62486796150a?version=1.0

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Parte III

Monografia

Efeitos do Processamento nos Alimentos de Origem Vegetal

Sobre as Eniantinas e a Beauvericina

Tutora:

Professora Doutora Celeste de Matos Lino

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LISTA DE ABREVIATURAS

B - massa branca

BEA - beauvericina

BH e IH - massas que sofreram secagem a temperatura elevada

BM e IM - massas que sofreram secagem a temperatura média

CON - amostras de trigo da República Checa que cresceram de forma convencional

ENs - eniantinas

F. - Fusarium spp

FUN - amostras de cevada da República Checa que levaram tratamento com fungicidas

Gr-Fa - amostras de cevada da Alemanha variedade Grace inoculadas com F. avenaceum

I - massa de grão inteiro

n.d. - Não detetado

n.q. - Não quantificável

NON - amostras de cevada da República Checa que não levaram tratamento químico

ORG - amostras de trigo da República Checa que cresceram segundo condições orgânicas

Qc - parcelas controlo de cevada da Alemanha

QFa - parcelas de cevada da Alemanha inoculadas com F. avenaceum

QFc - parcelas de cevada da Alemanha inoculadas com F. culmorum

R - amostras da Alemanha que contêm uma mistura de farinha e farelo de centeio

S. - Saccharomyces cerevisiae

Sc-Fa - amostras de cevada da Alemanha variedade Scarlett inoculadas com F. avenaceum

W - amostras da Alemanha que contêm farinha de trigo

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RESUMO

As eniantinas (ENs) e a beauvericina (BEA) são micotoxinas produzidas por vários fungos do

género Fusarium spp, os quais infestam vários cereais e contaminam, consequentemente, os

produtos que derivam destes. Estas micotoxinas têm uma grande variedade de efeitos/ações

biológicas no Homem, a maioria tóxicos, daí que se torne fundamental quantificar a sua

presença nos produtos acabados.

A análise do percurso das ENs e BEA, até ao produto acabado, compreendeu métodos

fundamentais de processamento de cereais. Em relação à cerveja foram observados os

processos de maltagem e fermentação. No caso do pão foi a moagem, o processo de

cozedura e a fermentação secundária. Finalmente, foram analisados os processos de

formação da massa fresca e secagem da mesma.

Além dos efeitos produzidos no final de cada processo quanto à quantidade de micotoxinas,

foram analisadas as diferenças entre amostras distintas submetidas ao mesmo processo.

Desta forma, na cerveja analisaram-se amostras inoculadas com diferentes espécies de

Fusarium, amostras produzidas com variedades distintas de cereal, amostras submetidas a

tratamento químico com fungicida e amostras sem tratamento e amostras com estirpes

diferentes de levedura.

Em relação ao pão verificaram-se as diferenças existentes no cereal submetido a crescimento

convencional e orgânico, entre farinhas de constituição diferente e na utilização de leveduras

distintas em cada amostra. Para este alimento ainda se verificaram as alterações da

concentração da BEA para diferentes tempos e temperaturas de cozedura.

Finalmente, no caso da massa usaram-se amostras de massa de composição desigual para

verificar qual a alteração a nível da contaminação com micotoxinas. É de acrescentar ainda

que se submeteu a massa a processos de fabrico diferentes, o industrial e o tradicional, que

diferem em relação à temperatura e ao tempo de secagem, para perceber qual o impacto da

temperatura na redução da concentração das micotoxinas nos alimentos.

Palavras-chave: Eniantinas, beauvericina, Fusarium spp, cerveja, maltagem, fermentação,

pão, moagem, processo de cozedura, fermentação secundária, massa, massa fresca, secagem.

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ABSTRACT

Enniatins and beauvericin are mycotoxins produced by several Fusarium strains, which infest

different cereals and consequently its derived products. They have many biological effects,

mainly toxic, therefore is fundamental quantifying the presence of mycotoxins in final

products.

The ENs and BEA process analysis until the finished product comprised important cereal

processing technologies. Regarding beer, malting and brewing processes were observed. In

the case of bread the observed processes were milling, baking and sourdough baking. Finally,

the process of fresh pasta making and fresh pasta drying were also analyzed.

In addition to the effects produced at the end of each process on the amount of mycotoxins,

the differences between different samples submitted to the same process were examined.

Thus, in the beer case some samples were analyzed: samples inoculated with different strains

of Fusarium, samples with different cereal varieties, samples submitted to chemical treatment

fungicide and absent from treatment and also samples with different strains of yeast.

Regarding bread, some differences were observed in three different conditions: in cereal

submitted to conventional and organic growth, between flours of different nature, and in the

use of different yeasts in each sample. For this food, the BEA concentration changes were

observed for different baking times and temperatures.

Finally, at pasta’s case some different pasta composition samples were observed in order to

verify the variations in mycotoxins contamination. It should be noted that the pasta was

subjected to different manufacturing processes, industrial and traditional, which differ in

temperature and drying time. The aim of this method was to evaluate the impact of

temperature on reducing mycotoxins concentration in food.

Key words: Enniatins, beauvericin, Fusarium, beer, malting, brewing process, bread, milling,

baking, sourdough baking, pasta, fresh pasta, drying.

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1. Micotoxinas

1.1 Origem

As micotoxinas são compostos tóxicos que resultam do metabolismo secundário de fungos,

em condições ambientais favoráveis (JESTOI, 2008).

As eniantinas (ENs) e a beauvericina (BEA) são micotoxinas produzidas por fungos do

género Fusarium spp, os quais infestam vários cereais (HU et al., 2014a). A tabela I representa

as espécies de Fusarium responsáveis pela produção das micotoxinas mencionadas, sendo

que algumas produzem tanto ENs como BEA.

As ENs A, A1, B e B1 e a BEA têm vindo a emergir com maior frequência no trigo, cevada e

milho, assim como nos produtos que derivam destes. Estes compostos podem também

surgir noutros tipos de cereais, mas com uma menor frequência (HU et al., 2014a).

1.2 Propriedades físico-químicas

As ENs e a BEA são hexadepsipeptídeos cíclicos constituídos por três moléculas de ácido D-

2-hidroxicarboxílico e três moléculas de N-metil aminoácido (HU et al., 2014a), sendo este

grupo responsável pela distinção entre a BEA e os vários tipos de ENs (JESTOI, 2008). Na

BEA os três resíduos de aminoácidos consistem em N-metil-fenilalaninas aromáticas. A nível

das ENs existem quatro tipos A, A1, B e B1 dado que o conjunto de aminoácidos pode ser

N-metil-valina ou N-metil-isoleucina alifáticas ou uma combinação das duas moléculas

(JESTOI, 2008). A figura 1 retrata as diferenças a nível estrutural das micotoxinas

mencionadas.

Figura 1: Estrutura química da beauvericina e das eniantinas A, A1, B e B1 (adaptação de JESTOI,

2008)

Como moléculas ionóforas, as ENs e a BEA são capazes de formar complexos lipofílicos

estáveis com iões e transportá-los para a fase lipofílica. É exemplo a formação de complexos

Micotoxinas R1 R2 R3

Beauvericina Fenilmetilo Fenilmetilo Fenilmetilo

Eniantina A Sec-butilo Sec-butilo Sec-butilo

Eniantina A1 Sec-butilo Sec-butilo Iso-propilo

Eniantina B Iso-propilo Iso-propilo Iso-propilo

Eniantina B1 Iso-propilo Iso-propilo Sec-butilo

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com o sódio, potássio, rubídio, césio, cálcio, estrôncio, bário, entre outros. Desta forma, as

micotoxinas conseguem formar canais ao longo da membrana celular e realizar o transporte

dos iões acima mencionados. O transporte destas pequenas partículas conduz aos efeitos

tóxicos da BEA e das ENs (JESTOI, 2008).

Tabela 1 – Espécies de Fusarium produtoras de eniantinas e/ou beauvericina (adaptação de JESTOI,

2008)

Fusarium spp Eniantinas Beauvericina

F. acuminatum X X

F. acutatum X

F. anthophilum X

F. arthrosporioides X

F. avenaceum X X

F. beomiforme X

F. circinatum X

F. compactum X

F. concentricum X

F. culmorum X

F. dlamini X

F. equiseti X X

F. fujikuoi X

F. globosum X

F. guttiforme X

F. komzum X

F. kyushuense X

F. langsethiae X X

F. lateritium X

F. longipes X

F. merismoides X

F. nygamai X

F. oxysporum X X

F. poae X X

F. proliferatum X

F. pseudoanthophilum X

F. sambucinum X X

F. scirpi X

F. semitectum X

F. sporotrichioides X X

F. subglutinans X

F. torulosum X

F. tricinctum X X

F. venenotum X

F. verticillioides X

A extração das ENs e BEA é possível através de diferentes solventes desde o metanol até ao

clorofórmio. Embora sejam solventes com diferentes polaridades, o facto de estas

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micotoxinas apresentarem propriedades hidrofílicas e hidrofóbicas permite a utilização de

ambos os solventes. Estes compostos também são extraídos com misturas de solventes

como: metanol-água, acetonitrilo-água e acetonitrilo-metanol-água. Relativamente à BEA e

ENs a solubilidade na água é baixa (HU et al., 2014a; JESTOI, 2008)

Em suma, as ENs e a BEA são consideradas compostos lipofílicos devido ao facto das cadeias

laterais apolares estarem direcionadas para a superfície exterior das moléculas (JESTOI,

2008). Na tabela 2 encontram-se resumidas outras propriedades químicas das micotoxinas

em causa.

Tabela 2 – Propriedades químicas das eniantinas e beauvericina (adaptação de JESTOI, 2008)

1.3 Efeitos biológicos

As ENs e a BEA são responsáveis por uma diversidade de ações/efeitos a nível biológico, que

vão também incluir toxicidade quer a nível do Homem como de outras espécies animais.

Para algumas espécies de insetos, em determinados estadios de desenvolvimento, foi

reportado um efeito inseticida por parte destas micotoxinas. Para o camarão também se

verificaram efeitos tóxicos com uma DL50 de 21 µg/mL (HU et al., 2014a).

Relativamente à espécie humana, as ENs e a BEA são responsáveis por duas vias significativas

de toxicidade. Uma via consiste na inibição de uma enzima envolvida no armazenamento do

colesterol, a acil-CoA: colesterol aciltransferase (ACAT), o que acarreta alterações a nível

do metabolismo lipídico (HU et al., 2014a, 2014b). A outra forma de toxicidade reportada

consiste na indução de toxicidade em linhas celulares de origem humana, como é o caso da

linha Hep G2 de carcinoma hepatocelular e da linha celular MRC-5 de pulmão fetal do tipo

fibroblasto (HU et al., 2014a, 2014b).

Para a BEA foi verificada uma maior variedade de atividades biológicas. Acresce ao

mencionado anteriormente, uma ação antifúngica e potenciação desse efeito em terapias

combinadas com outros antifúngicos e, ainda, uma atividade antibacteriana (MECA et al.,

2012). É de salientar também a atividade antiproliferativa que a BEA tem para diferentes

linhas celulares de cancro. Isto é conseguido através da ativação das vias apoptóticas das

Micotoxinas Fórmula química Massa molar Ponto de fusão

Eniantina A C36H63N3O9 681,4564 g/mol 121-122 ºC

Eniantina A1 C35H61N3O9 667,4407 g/mol 66-67 ºC

Eniantina B C33H57N3O9 639,4094 g/mol 172-174 ºC

Eniantina B1 C34H59N3O9 653,4251 g/mol -

Beauvericina C47H57N3O9 783 g/mol 93-97 ºC

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células sensíveis ao cálcio e da inibição da motilidade direcional das células cancerígenas, uma

vez que é uma propriedade necessária para a formação de novos vasos sanguíneos nos

tumores, invasão de outros tecidos e formação de metástases (MECA et al., 2012).

2. Efeitos do processamento em alimentos de origem vegetal

2.1 Cerveja

Tendo em consideração a cevada dos campos da Alemanha utilizada na produção de cerveja,

foram feitos estudos para verificar a quantidade presente de ENs e BEA. A análise

compreendeu as várias fases do processo de produção da cerveja, sendo a maltagem e o

processo de fermentação as duas fases principais (HU et al., 2014a).

A maltagem inicia-se através da hidratação e germinação dos grãos de cevada, com a

formação do malte verde. De seguida, ocorre a secagem do produto obtido dando origem

ao malte seco, ao qual se retiram as radículas. A primeira etapa do processo de fermentação

consiste na brassagem, processo que transforma o malte em mosto. Depois, ocorre ebulição

do mosto e adição do lúpulo no início deste processo. Após esta etapa, há separação do

precipitado e do lúpulo não solubilizado do mosto e, consequentemente, o seu

arrefecimento. Por último, ocorre fermentação, maturação e filtração, obtendo-se a cerveja

como produto final (HU et al., 2014a).

Para verificar o caminho das micotoxinas durante todo o processo de fabrico foram

selecionadas, aleatoriamente, três porções diferentes de campo em floração, cada uma com

quatro replicados. Do campo escolhido, um total de 12 m2 foram artificialmente inoculados

com uma suspensão de macroconídios de F. avenaceum e F. culmorum numa densidade de 75

x 106 conídios qm-1. As parcelas inoculadas com F. avenaceum são designadas por QFa e as

parcelas inoculadas com o F. culmorum por QFc. As parcelas de terreno controlo (QC) não

foram inoculadas ficando apenas expostas à infestação natural. Cada parcela de terreno foi

colhida individualmente para evitar uma contaminação cruzada (HU et al., 2014a).

Para conhecer o nível de infestação natural dos campos de cevada selecionados foi feita a

quantificação do ADN de F. avenaceum e F. tricinctum, ambos produtores de ENs e BEA, pela

técnica de reação em cadeia de polimerase (PCR). Os resultados encontram-se na tabela 3 e

compreendem o grão de cevada e o malte verde (HU et al., 2014a).

Através de QC pode verificar-se que o ADN de F. avenaceum e de F. tricinctum está exposto

nos grãos de cevada numa concentração de 0,85 pg/ng ADN planta e de 0,39 pg/ng ADN

planta, respetivamente.

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Tabela 3 – Quantificação de ADN de F. avenaceum e F. tricinctum no grão de cevada e malte verde

(adaptação de HU et al., 2014a)

Amostra

F. avenaceum ADN

(pg/ng ADN planta)

F. tricinctum ADN

(pg/ng ADN planta)

Grão Malte verde Grão Malte verde

QC 0,85 (100%) 1,33 (155%) 0,39 (100%) 1,72 (445%)

QFc 0,38 (100%) 1,72 (448%) 0,25 (100%) 0,29 (118%)

QFa 34,20 (100%) 152,19 (445%) 0,25 (100%) 3,29 (1318%)

Relativamente à QFc os valores de infestação natural por F. avenaceum e F. tricinctum no grão

são de, aproximadamente, metade comparados com QC. Isto indica que há competição

entre diferentes espécies e que a inoculação artificial levou à diminuição do desenvolvimento

de fungos que existem naturalmente nos campos de cevada (HU et al., 2014a).

Quanto à QFa pode averiguar-se que existe um valor bastante superior de ADN de F.

avenaceum no grão, comparativamente aos restantes dados. Isto aconteceu uma vez que os

terrenos foram expostos de duas formas a esta espécie, nomeadamente através da

infestação natural e da inoculação artificial (HU et al., 2014a).

De uma forma geral, os dados também indicam que o F. avenaceum tem a capacidade de se

desenvolver em grande quantidade e produzir micotoxinas, mesmo quando o F. culmorum

está presente, o que é revelado pelo aumento de 348% do seu ADN do grão para o malte

verde. Já o F. tricinctum não tem essa capacidade na presença do F. culmorum, dado que

ocorreu um aumento de apenas 18% de ADN (HU et al., 2014a).

As três parcelas, QC, QFc e QFa, foram utilizadas como material de partida para o fabrico

da cerveja. Foram retiradas amostras de cada fase do processo de fabrico e foi feita a

quantificação das ENs e BEA. Os dados da tabela 4 remetem para a concentração destas

micotoxinas no início e final do processo de maltagem, sendo que no processo de

fermentação a concentração é referente ao início do processo e após o arrefecimento do

mosto (HU et al., 2014a).

Através dos dados obtidos na tabela 4, verifica-se que das três parcelas QFa apresenta a

maior contaminação de micotoxinas no início da maltagem, o que era expectável dado o

mencionado anteriormente. Deste modo, o F. avenaceum é responsável por uma grande

produção de ENs, sendo a produção de BEA mais escassa. Já os grãos de QFc apresentam a

menor contaminação de micotoxinas, dado que os QC apresentam uma contaminação acima

destes (HU et al., 2014a).

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46

Durante o processo de maltagem ocorre hidratação e germinação dos grãos. As ENs e BEA

têm uma baixa solubilidade em água por isso, durante a hidratação, não ocorreu redução da

concentração das micotoxinas. É de acrescentar ainda que a germinação leva ao aumento do

desenvolvimento fúngico, contribuindo para o aumento da concentração das micotoxinas,

sendo o crescimento mais acentuado nas ENs. Isto é possível verificar através dos dados da

tabela 3, em que o malte verde tem uma maior concentração de ADN do fungo

comparativamente ao grão (HU et al., 2014a).

Na tabela 4 pode verificar-se que para QC, QFc e QFa, em alguns casos, no fim do processo

de maltagem ocorreu redução dos níveis de micotoxinas com perdas de 12,9 % a 33,8 %.

Para os casos em que ocorreu aumento, tem que se ter em conta que durante a germinação

ocorreu aumento da concentração de ENs e BEA. Contudo, a partir da formação do malte

verde o processo de secagem levou à redução, em todas as situações, das concentrações das

micotoxinas, como é possível verificar na tabela 5. As perdas em ENs e BEA foram de 5,4 %

a 50,2 % devido à degradação térmica das micotoxinas (HU et al., 2014a).

Os dados da tabela 4 revelam que no final do arrefecimento do mosto não foram detetadas

EN A e BEA em nenhuma das amostras QC, QFc e QFa. Apenas permaneceram ENs A1, B

e B1 em QFa e ENs B e B1 em QFc, contudo ocorreu uma perda na ordem de 99,6 % a 99,7

% destas micotoxinas (HU et al., 2014a).

Em estudos posteriores à fermentação verificou-se que em QFc as ENs B e B1 passaram

para valores de 9,0 e 4,0 µg/kg, respetivamente, tendo reduzido de 35,3 % a 54,0 %. Em

relação a QFa a concentração de EN A1 diminuiu de 10,5 µg/kg para 6,0 µg/kg, a EN B de

297 µg/kg para 219 µg/kg e a EN B1 de 121 µg/kg para 61 µg/kg (HU et al., 2014a).

A cerveja acabada foi analisada e não foi detetada a presença de EN A1 em QFa e as ENs B e

B1 reduziram para 74,0 µg/kg e 14,0 µg/kg, respetivamente (HU et al., 2014a).

Uma análise semelhante ao descrito anteriormente foi feita nos campos de cevada floridos

da Alemanha, usando duas variedades do cereal, Scarlett e Grace, dos quais 11,25 m2 foram

inoculados artificialmente com suspensões de conídios de F. culmorum, F. sporotrichioides e F.

avenaceum. Foram considerados dois lotes controlo que cresceram nas mesmas condições

dos terrenos que sofreram inoculação (HABLER et al., 2016).

O objetivo do estudo foi de verificar o comportamento do ADN de Fusarium spp e das

várias micotoxinas produzidas pelo género, ao longo das diferentes fases do processo de

maltagem, tendo sido retiradas amostras em cada momento. Neste caso, só surgirá a

abordagem do F. avenaceum, pois foi o único considerado produtor de ENs e BEA (HABLER

et al., 2016).

Page 49: Joana Filipa Laranjeira Mendes Relatórios de Estágio e … · 2019-06-02 · Joana Filipa Laranjeira Mendes Relatórios de Estágio e Monografia intitulada “Efeitos do Processamento

47

Tab

ela

4 –

Efe

itos

do p

roce

ssam

ento

da

cerv

eja

dura

nte

a m

alta

gem

e p

roce

sso d

e ferm

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ção

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ntr

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das

EN

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Cerv

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Ceva

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ão

∙ Se

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14,5

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C/1

6 h

60 º

C/1

h

70 º

C/1

h

80 º

C/5

h

Enia

ntina

A

QC

= 1

3,8

QFc

= 4

,5

QFa

=38,8

Gr-

Fa

= 2

5,0

Sc-F

a =

4,4

NO

N =

361

FU

N =

390

QC

= 1

0,5

QFc

= 1

1,1

QFa

=25,7

Gr-

Fa

= 1

2,0

Sc-F

a =

8,4

NO

N =

14

FU

N =

97

23,9

-

33,8

52,0

-

96,1

75,1

-

146,7

- -

90,1

- -

HA

BLER

et al.,

2016

HU

et al.,

2014a

VA

CLA

VIK

OV

A

et a

l., 2

013

Enia

ntina

A1

QC

= 8

88,3

QFc

= 2

52,9

QFa

= 4

046,0

Gr-

Fa

= 3

40

Sc-F

a =

54

NO

N =

490

FU

N =

533

QC

= 7

34,3

QFc

= 6

70,3

QFa

= 2

915,0

Gr-

Fa

= 1

60

Sc-F

a =

100

NO

N =

41

FU

N =

141

17,0

-

28,0

52,9

-

91,6

73,5

-

165,0

- -

85,2

- -

Enia

ntina

B

QC

= 5

222

QFc

= 2

949

QFa

= 1

19 4

00

Gr-

Fa

= 1

4000

Sc-F

a =

1400

NO

N =

936

FU

N =

715

QC

= 5

226

QFc

= 4

690

QFa

= 9

2 6

90

Gr-

Fa

= 5

100

Sc-F

a =

4200

NO

N =

346

FU

N =

230

- -

22,4

63,6

-

63,0

67,8

1,0

59,0

- -

200,0

- -

Enia

ntina

B1

QC

= 3

515

QFc

= 1

576

QFa

= 4

0 6

90

Gr-

Fa

= 2

300

Sc-F

a =

390

NO

N =

695

FU

N =

648

QC

= 3

633

QFc

= 3

211

QFa

=35 4

60

Gr-

Fa

= 1

200

Sc-F

a =

890

NO

N =

163

FU

N =

199

- -

12,9

47,8

-

76,5

69,3

3,4

103,7

- -

128,2

- -

Beau

veri

cina

QC

= 9

,9

QFc

= 8

,0

QFa

= 1

4,8

QC

= 8

,3

QFc

= 6

,8

QFa

= 1

2,7

16,2

15,0

14,2

- - -

Page 50: Joana Filipa Laranjeira Mendes Relatórios de Estágio e … · 2019-06-02 · Joana Filipa Laranjeira Mendes Relatórios de Estágio e Monografia intitulada “Efeitos do Processamento

Tab

ela

4 –

Efe

itos

do p

roce

ssam

ento

da

cerv

eja

dura

nte

a m

alta

gem

e p

roce

sso d

e ferm

enta

ção, te

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m c

onsi

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ção a

conce

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ação

das

EN

s e B

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da

Ale

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inocu

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com

F. cu

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Fa

– p

arce

las

de c

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da

da

Ale

man

ha

inocu

ladas

com

F.

ave

nace

um

Gr-

Fa

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da

da

Ale

man

ha

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ladas

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um

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-Fa

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most

ras

de c

eva

da

da

Ale

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edad

e S

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ladas

com

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da

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ento

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N –

am

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ras

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Repúblic

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tra

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Cerv

eja

Cere

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Enia

ntina

A

QC

= 1

0,5

QFc

= 1

1,1

QFa

=25,7

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14

FU

N =

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QC

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QFc

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QFa

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.

FU

N =

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- - - - -

- - - - -

HU

et al.,

2014a

VA

CLA

VIK

OV

A

et a

l., 2

013

Enia

ntina

A1

QC

= 7

34,3

QFc

= 6

70,3

QFa

= 2

915,0

NO

N =

41

FU

N =

141

QC

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QFc

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.d.

QFa

= 1

0,5

NO

N =

n.d

.

FU

N =

n.d

.

- -

99,6

- -

- - - - -

Enia

ntina

B

QC

= 5

226,0

QFc

= 4

690,0

QFa

= 9

2 6

90,0

NO

N =

346

FU

N =

230

QC

= n

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QFc

= 1

3,9

QFa

= 2

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6

FU

N =

5

-

99,7

99,7

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- - - - -

Enia

ntina

B1

QC

= 3

633,0

QFc

= 3

211,0

QFa

=35 4

60,0

NO

N =

163

FU

N =

199

QC

= n

.d.

QFc

= 8

,7

QFa

= 1

21,3

NO

N =

n.d

.

FU

N =

n.d

.

-

99,7

99,7

- -

- - - - -

Beau

veri

cina

QC

= 8

,3

QFc

= 6

,8

QFa

= 1

2,7

QC

= n

.d.

QFc

= n

.d.

QFa

= n

.d.

- - -

- - -

48

Page 51: Joana Filipa Laranjeira Mendes Relatórios de Estágio e … · 2019-06-02 · Joana Filipa Laranjeira Mendes Relatórios de Estágio e Monografia intitulada “Efeitos do Processamento

49

Tabela 5 – Concentração (µg/kg) e percentagem (%) de eniantinas e beauvericina nos maltes verde

e seco, que tiveram origem em QC, QFc e QFa (adaptação de HU et al., 2014a)

QC – parcelas controlo de cevada da Alemanha; QFc – parcelas de cevada da Alemanha inoculadas com F.

culmorum; QFa – parcelas de cevada da Alemanha inoculadas com F. avenaceum.

As amostras referentes ao lote controlo indicaram baixos níveis de ADN de Fusarium spp,

sendo que no caso do F. avenaceum foi de 17,1 pg/ng ADN planta. Isto indica que neste ano

houve uma baixa taxa de infestação natural pelos fungos. Em contrapartida, nos lotes

inoculados verificou-se uma elevada taxa de contaminação, sendo de 89,3 pg/ng ADN planta

e de 15,0 pg/ng ADN planta a concentração de F. avenaceum no grão de cevada Grace e

Scarlett, respetivamente (HABLER et al., 2016).

Na tabela 4 encontram-se as concentrações de ENs no início e final da maltagem, sendo que

Gr-Fa é a amostra de cevada da Alemanha variedade Grace inoculada com F. avenaceum e Sc-

Fa a variedade Scarlett inoculada com a mesma espécie. Neste estudo, esta espécie de

Fusarium não produziu níveis detetáveis de BEA (HABLER et al., 2016).

Como é possível verificar, Gr-Fa apresentou no final da maltagem uma menor contaminação

com ENs, com perdas entre os 47,8 % e 63,6 %, contrariando o que se verificou com Sc-Fa

onde houve aumentos de 85,2 % a 200,0 %.

Neste estudo verificou-se que o processo de germinação levou ao aumento do

desenvolvimento fúngico e, consequentemente, ao aumento de produção de ENs, à

semelhança do que já foi referido anteriormente. Contudo, surgiu uma grande diferença

comparativamente à análise de HU et al. (2014a), nomeadamente o aumento da produção de

ENs, atingindo níveis máximos, no final do processo de secagem. Isto aconteceu nas duas

variedades de cevada, só que ocorreu numa maior proporção em Sc-Fa, levando a que o

balanço fosse de aumento da concentração de ENs. Desta forma, este estudo contraria a

instabilidade térmica das ENs abordada por HU et al. (2014a) (HABLER et al., 2016).

Eniantina A Eniantina A1 Eniantina B Eniantina B1 Beauvericina

µg/kg % µg/kg % µg/kg % µg/kg % µg/kg %

QC

Malte verde

Malte seco

20,4

10,5

100,0

51,5

1474,0

734,3

100,0

49,8

7973,0

5226,0

100,0

65,5

5697,0

3633,0

100,0

63,8

16,0

8,3

100,0

51,9

QFc

Malte verde

Malte seco

12,2

11,1

100,0

91,0

877,8

670,3

100,0

76,4

6052,0

4690,0

100,0

77,5

3540,0

3211,0

100,0

90,7

8,5

6,8

100,0

80,0

QFa

Malte verde

Malte seco

36,1

25,7

100,0

71,2

3449,0

2915,0

100,0

84,5

117800,0

92690,0

100,0

78,7

37480,0

35460,0

100,0

94,6

14,5

12,7

100,0

87,6

Page 52: Joana Filipa Laranjeira Mendes Relatórios de Estágio e … · 2019-06-02 · Joana Filipa Laranjeira Mendes Relatórios de Estágio e Monografia intitulada “Efeitos do Processamento

50

Na República Checa foi feito um estudo diferente em relação à cevada e à sua contaminação

com micotoxinas. Como se sabe, através de vários estudos realizados, as práticas agrícolas e

as condições meteorológicas têm uma grande influência no crescimento de fungos e,

consequentemente, na produção de micotoxinas. Dado isto, o crescimento do cereal foi

feito em condições agrícolas diferentes, nomeadamente, na presença de um tratamento

fungicida, amostras de cevada FUN, e na ausência de tratamento, amostras de cevada NON.

De seguida, foram feitas análises das concentrações de ENs nas várias fases dos processos de

maltagem e fermentação, para verificar as diferenças (VACLAVIKOVA et al., 2013).

Através dos dados da tabela 4, verifica-se que no fim do processo de maltagem as

concentrações de ENs em amostras FUN e NON decresceram. À semelhança do estudo de

HU et al. (2014), o processo de germinação levou a um aumento das concentrações de ENs

e o processo de secagem a uma redução significativa (VACLAVIKOVA et al., 2013).

Em relação à aplicação do tratamento fungicida verificou-se que as concentrações de ENs

não foram significativamente afetadas. Como se pode ver na tabela 4, o nível de EN B

decresceu de 936 µg/kg para 715 µg/kg e a concentração de EN B1 de 695 µg/kg para 648

µg/kg. Já no caso das ENs A e A1 ocorreu um aumento da concentração no grão de cevada

que sofreu tratamento fúngico (VACLAVIKOVA et al., 2013).

A nível do processo de fermentação verificou-se que, no final da ebulição e arrefecimento do

mosto, não foram detetadas ENs A, A1 e B1 em FUN e em NON. Apenas estava presente a

EN B, em concentrações de 5,0 µg/kg e 6,0 µg/kg em FUN e em NON, respetivamente. Na

cerveja final não foram detetadas quaisquer ENs.

Em suma, pode verificar-se que as ENs existem no grão de cevada, em concentração

decrescente, na seguinte ordem: ENs B, B1, A1 e A, o que é comum aos resultados obtidos

por HU et al. (2014a), HABLER et al. (2016) e VACLAVIKOVA et al. (2013). Na cerveja

acabada só se encontra praticamente EN B e em concentrações muito baixas relativamente à

concentração inicial no grão.

Para verificar o percurso da BEA durante o fabrico da cerveja foi realizado um estudo por

MECA et al. (2013), onde foram retiradas amostras após cada fase do processo e foi feita a

quantificação da micotoxina. A experiência iniciou-se com a contaminação da cevada com

BEA. De seguida, ocorreu o processo de torrefação, tendo sido efetuado para umas

amostras a baixa temperatura (40 ºC), durante dois dias, e para outras a temperatura média

(100 ºC), durante um dia. Foi feita esta diferenciação porque as duas condições são utilizadas

na indústria da cerveja. O produto formado sofreu ebulição com água durante 30 min e, de

seguida, foi adicionada a α-amilase para promover a hidrólise do amido, o que aconteceu a

63 ºC durante 30 min. Após este processo ocorreu centrifugação a 400 rpm, durante 5 min,

Page 53: Joana Filipa Laranjeira Mendes Relatórios de Estágio e … · 2019-06-02 · Joana Filipa Laranjeira Mendes Relatórios de Estágio e Monografia intitulada “Efeitos do Processamento

51

e adição do lúpulo. A fermentação foi o próximo passo e foram adicionadas três estirpes,

uma em cada amostra, de Saccharomyces cerevisiae denominadas LO9, A34 e QRI. O

processo decorreu durante 4 dias a 23 ºC, em condições anaeróbias. Finalmente, ocorreu

centrifugação e a cerveja acabada foi analisada em relação à concentração de BEA (MECA et

al., 2013).

A figura 2 indica os efeitos da degradação da BEA ao longo do processo de fabrico da

cerveja. A análise foi feita para cada estirpe de S. cerevisiae e para as duas condições de

torrefação (MECA et al., 2013).

Através dos dados da figura 2 verificou-se que as fases de torrefação e fermentação foram as

principais responsáveis pela degradação da BEA. Isto dado que em relação ao grão houve

uma degradação de 23 % a 38 % da BEA na fase de torrefação e de 70 % a 80 % até à fase de

fermentação, sendo que nas fases intermédias não houve alterações significativas. É de

salientar ainda a diferença verificada, nas várias amostras, em relação às duas condições de

torrefação. Esta fase a temperatura baixa (representado pelas colunas pretas) levou à

degradação da BEA de 23 % a 26 % e no caso da temperatura média (colunas brancas) a

degradação foi de 33 % a 38 % (MECA et al., 2013).

Finalmente, a utilização de diferentes estirpes de S. cerevisiae também levou a conclusões

distintas. Verificou-se que houve uma maior degradação da BEA na amostra que continha a

estirpe QRI, nomeadamente de 78 % a 82 % (MECA et al., 2013).

F

F

F

80,00

70,00

60,00

50,00

40,00

30,00

20,00

10,00

0,00

a)

E H L

c) 90,00 80,00

70,00

60,00 50,00

40,00 30,00 20,00

10,00

0,00

% D

egr

adaç

ão d

a B

EA

90,00 80,00

70,00

60,00

50,00

40,00

30,00

20,00

10,00

0,00

b)

T E H L

% D

egr

adaç

ão d

a B

EA

T E H L

% D

egr

adaç

ão d

a B

EA

Figura 2: Degradação da beauvericina durante o processo de fabrico da cerveja com três estirpes de S.

cerevisiae, nomeadamente A34 – a), LO9 – b) e QRI – c). As colunas brancas dizem respeito ao processo

de torrefação a temperatura média e as colunas pretas ao mesmo processo em baixas temperaturas. Cada

coluna representa uma fase do processo de fabrico nomeadamente: torrefação (T), ebulição (E), hidrólise

enzimática (H), adição de lúpulo (L) e fermentação (F) (adaptação de MECA et al., 2013)

T F

F F

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52

2.2 Pão

À semelhança dos estudos desenvolvidos para a cerveja, a presença de ENs e BEA durante

as fases de fabrico do pão também foi analisada.

Segundo VACLAVIKOVA et al., (2013) verificou-se a diferença existente nos níveis de

micotoxinas no trigo da República Checa que cresceu de forma convencional, representado

por CON, e o trigo que cresceu segundo condições orgânicas, denominado ORG.

Existem duas grandes etapas responsáveis pela formação do pão, nomeadamente a fase de

moagem e cozedura. O processo de moagem ocorreu num moinho de laboratório e

consiste na transformação do trigo em três tipos de frações, sendo apenas relevante a

farinha de trigo, pois é esta que vai ser utilizada na produção do pão. O processo de

cozedura compreende várias etapas, nomeadamente a formação da massa, fermentação,

divisão da massa em pequenas peças e fermentação final e, finalmente, cozedura

(VACLAVIKOVA et al., 2013).

Ao longo do estudo foram retiradas amostras em cada fase do processo de fabrico do pão,

isto para os dois tipos de trigo (CON e ORG). Os resultados obtidos relativamente à

concentração de micotoxinas no início e final dos processos de moagem e cozedura estão

representados na tabela 6 (VACLAVIKOVA et al., 2013).

Como se pode verificar, as amostras de trigo foram naturalmente contaminadas apenas com

ENs B e B1. No caso das amostras preparadas com trigo CON obteve-se 119 µg/kg de EN B

e 26 µg/kg de EN B1 e para as amostras preparadas com trigo ORG contaminações de ENs

B e B1 de 38 µg/kg e 22 µg/kg, respetivamente. O processo de moagem levou, em todos os

casos, a uma redução da concentração de ENs B e B1 de 25,2 % a 45,4 % na farinha de trigo

(VACLAVIKOVA et al., 2013).

Relativamente ao processo de cozedura verificou-se que o pão, como produto acabado, teve

uma redução de micotoxinas compreendida entre 9,1 a 37,2 %, considerando como ponto

de partida as ENs B e B1 presentes na massa de pão formada. As fases intermédias do

processo compreenderam a redução da concentração das micotoxinas, à exceção da fase de

divisão da massa e fermentação final, onde ao final de 1h ocorreu um aumento da

concentração destas, o que se pode ver na figura 3. É necessário realizar mais estudos para

perceber a origem deste aumento (VACLAVIKOVA et al., 2013).

Em suma, desde o trigo colhido para sofrer moagem até à formação do pão, ocorreu uma

redução, em média, de 60 % de EN B para as amostras CON e ORG; no caso da EN B1

ocorreu um decréscimo de 50%, em média, para ambas as amostras. Outro dado importante

Page 55: Joana Filipa Laranjeira Mendes Relatórios de Estágio e … · 2019-06-02 · Joana Filipa Laranjeira Mendes Relatórios de Estágio e Monografia intitulada “Efeitos do Processamento

53

é que a contaminação por ENs foi superior no trigo que cresceu pelo processo convencional

(VACLAVIKOVA et al., 2013).

Figura 3: Alterações da % de ENs B e B1 durante as fases do processo de cozedura, para amostras

submetidas a um crescimento convencional ou orgânico. Kd – Formação da massa, Fd – massa

fermentada, Pd – divisão da massa e fermentação final e B – pão (adaptação de VACLAVIKOVA et al.,

2013)

Num estudo na Alemanha foram analisadas amostras de trigo e centeio, as quais foram

naturalmente contaminadas com ENs B e B1. À semelhança do referido anteriormente,

ocorreu o processo de moagem dos cereais, através dum moinho de laboratório

(Quadrumat Junior, Brabender, Duisburg, Alemanha), levando à formação de farinha e farelo

de trigo e centeio. A farinha de trigo foi utilizada para a formação do pão de trigo, contudo

no caso do pão de centeio foi utilizada uma mistura de 1:1 de farinha e farelo de centeio,

com o objetivo de alcançar uma maior concentração de ENs no material de partida (HU et

al., 2014b).

A grande diferença neste estudo relativamente à análise de VACLAVIKOVA et al., (2013) é o

processo de fermentação secundária. Neste caso há utilização de massa leveda já fermentada

para a formação de uma nova massa que sofrerá o processo de fermentação secundária (HU

et al., 2014b).

A nível do processo de moagem verificaram-se concentrações de ENs desiguais na farinha e

farelo dos cereais. No caso da farinha de trigo a concentração de EN B foi de 105 µg/kg e

110 µg/kg para a EN B1. Já para o farelo de trigo foi de 1132 µg/kg e 864 µg/kg para as ENs B

e B1, respetivamente. Quanto à farinha de centeio a contaminação com ENs B e B1 foi de 24

µg/kg e 11 µg/kg, respetivamente, e para o farelo foi de 92 µg/kg para EN B e 43 µg/kg para

EN B1.

EN B

1

EN B

120

100

80

60

40

20

0

Farinha

de trigo Kd Fd Pd B B Pd Fd Kd

Convencional Orgânico

% de Micotoxinas

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Tab

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54

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55

Deste modo, tendo em consideração a relação de peso entre a farinha e o farelo quer do

trigo, quer do centeio, pode-se dizer que a moagem levou a uma redução de 70 % a 76 %

das ENs, na farinha de trigo, e de 81 % a 82 % na farinha de centeio (HU et al., 2014b). A

tabela 6 indica as concentrações das micotoxinas no início e final do processo de

fermentação secundária, tendo além das ENs B e B1 a BEA. Esta micotoxina não estava

presente no cereal, daí que não surja após o processo de moagem, mas foi adicionada

artificialmente no processo de fermentação secundária, apresentando variações de

concentração durante esta etapa (HU et al., 2014b).

Como se pode verificar no final do processo de fermentação secundária, ocorreu uma

redução de ENs entre 11,8 % e 18,8 %, em comparação com a farinha dos cereais. Durante

todo o processo ocorreu diminuição das micotoxinas, contrariamente ao que constatou

VACLAVIKOVA et al., (2013), e isto pode ser devido à utilização da massa leveda. É de

acrescentar ainda que foi feito o estudo da fermentação secundária final para uma

temperatura de 50 ºC, tendo-se verificado uma diminuição da concentração das ENs

relativamente à mesma etapa a 30 ºC. Isto sugere que uma maior temperatura de

fermentação é mais efetiva na redução da concentração das ENs (HU et al., 2014b).

Quanto à BEA também ocorreu redução da sua concentração ao longo do processo de

fermentação secundária, contudo foram reduções menos significativas, comparativamente às

ENs. Isto pode ser devido ao facto de esta micotoxina não existir naturalmente nos cereais,

tendo havido inoculação artificial (HU et al., 2014b).

A análise feita por MECA et al. (2013) ao longo do processo de fabrico do pão incidiu sobre

a quantificação da BEA, utilizando diferentes leveduras. A farinha do trigo foi previamente

contaminada com 25 mg/kg desta micotoxina. Foi formada a massa com 460 g farinha de

trigo, 255 ml água, 7 g açúcar e 3,5 g sal e ocorreu fermentação a 27 ºC, durante 2 h. Nesta

etapa utilizaram-se três estirpes de S. cerevisiae, uma para cada amostra, nomeadamente a

A34, LO9 e QRI. Finalmente, ocorreu cozedura do pão a 200 ºC durante 20 min, sendo

analisada a concentração da BEA no final desta etapa e no final da fermentação (MECA et al.,

2013).

Como é possível constatar pela figura 4 os processos de fermentação e cozedura foram

responsáveis por uma elevada redução da concentração da BEA no pão como produto final.

Durante a fermentação a estirpe que levou a uma maior redução da micotoxina em cerca de

82 % foi a S. cerevisiae A34, sendo que as restantes acarretaram uma redução da BEA entre

75 % e 76 %. No pão apenas ficou presente 5% a 8% de BEA (MECA et al., 2013).

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56

Figura 4: Degradação da beauvericina durante o fabrico do pão com S. cerevisiae A34, LO9 e QRI.

(adaptação de MECA et al., 2013)

Finalmente, MECA et al. (2012) quis verificar qual o efeito da temperatura na degradação da

BEA em pães preparados através de diferentes farinhas. Para isto, foram utilizadas farinhas de

milho, integral, trigo, trigo duro, soja e arroz (MECA et al., 2012).

O processo de fabrico consistiu na formação da massa através da mistura de 300 g de um

dos tipos de farinha com 180 ml água, 3 g açúcar e 6 g sal. Durante 5 min fez-se a mistura de

todos os ingredientes e foi adicionado à massa 5 mg/kg de BEA. Não houve o processo de

fermentação, de seguida apenas ocorreu a cozedura da massa para três temperaturas

distintas, nomeadamente 160, 180 e 200 ºC. Para cada temperatura foram efetuados cinco

tempos de incubação, tais como 3, 6, 10, 15 e 20 min, o que pode ser verificado através dos

dados da tabela 7 (MECA et al., 2012).

Tabela 7 – Degradação da beauvericina em tratamentos térmicos com diferentes condições

(adaptação de MECA et al., 2012)

Tratamento térmico Concentração

beauvericina

(mg/L) Temperatura

(ºC)

Tempo

(min)

160

3 2,89 ± 0,13

6 2,73 ± 0,20

10 1,73 ± 0,12

15 1,67 ± 0,14

20 1,32 ± 0,25

180

3 2,52 ± 0,21

6 2,20 ± 0,35

10 1,70 ± 0,17

15 1,32 ± 0,12

20 1,22 ± 0,10

200

3 1,84 ± 0,15

6 1,57 ± 0,13

10 1,04 ± 0,09

15 0,40 ± 0,05

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100,00

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57

Pode concluir-se, através da análise dos dados, que a degradação da BEA aumentou de forma

proporcional ao aumento da temperatura (Figura 5) e tempo de incubação (Tabela 7). Desta

forma, ocorreu uma degradação maior à temperatura de 200 ºC e para um tempo de 20

min, o que pode ser observado nas barras cinzentas da figura 5. Neste caso, a degradação da

BEA foi de 78,0 % a 87,6 %, em função do tipo de pão obtido. (MECA et al., 2012).

Figura 5: Percentagem de degradação da beauvericina presente em diferentes tipos de pães que

sofreram cozedura a 160, 180 e 200 ºC durante 20 min. Colunas pretas = 160 ºC, colunas brancas =

180 ºC e colunas cinzentas = 200 ºC (adaptação de MECA et al., 2012)

2.3 Massa

Relativamente à massa, SERRANO et al. (2016) desenvolveram um estudo com o objetivo de

verificar as diferenças existentes a nível da concentração das ENs para condições de fabrico

distintas e para alimentos com composição diferente. Para isto, usou semolina de grão duro

de trigo e inoculou-a, artificialmente, com F. tricinctum numa concentração de 106

conídios/mL, dado que é um fungo produtor de ENs. Ocorreu fermentação para dar-se a

contaminação da semolina e, de seguida, autoclavagem para promover a inativação fúngica.

No estudo consideraram-se dois tipos de massa, a massa branca (B) e, ainda, a massa de

grão inteiro (I), pois tem havido um aumento do consumo e usualmente são encontrados

maiores níveis de contaminação em alimentos de grão inteiro (SERRANO et al., 2016).

Como material de partida para a formação da massa utilizou-se uma semolina trabalhada, a

qual consiste numa mistura da semolina contaminada com semolinas comerciais branca ou

de grão inteiro, numa relação de 1/10 m/m, respetivamente. Isto aconteceu para alcançar

níveis de contaminação semelhantes aos obtidos em amostras reais (SERRANO et al., 2016).

O processo de fabrico da massa compreende duas etapas principais, nomeadamente a

formação da massa fresca e a secagem desta, o qual se encontra descrito na tabela 8. Em

relação à fase de secagem, esta foi feita de acordo com o processo de fabrico industrial e

tradicional, surgindo diferenças ao nível do tempo e temperatura de secagem. Para o

processo de fabrico tradicional utilizam-se baixas temperaturas (25 ºC) e tempos de

100,00

90,00

80,00

70,00

60,00

50,00

40,00

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10,00

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1

58

secagem longos (5 dias). No processo industrial ocorre secagem a tempos reduzidos e a

elevadas temperaturas, quando é feita a produção em grande escala. No caso de

pequenos/médios produtores ocorre fabrico da massa a temperaturas e tempos de secagem

médios (SERRANO et al., 2016).

Foi feito o estudo da degradação das ENs ao longo de todo o processo de fabrico, para os

dois tipos de massa, e para cada uma das temperaturas e tempos de secagem. A figura 6

indica os dados obtidos para o processo de fabrico tradicional e a tabela 8 para o processo

industrial (SERRANO et al., 2016).

Os resultados da figura 6 indicam que ao fim dos 5 dias de secagem a concentração de ENs é

semelhante à que existia na massa fresca. Os valores foram semelhantes quer para a massa

branca como para a de grão inteiro. Deste modo, verificou-se que o processo de fabrico

tradicional não provoca alterações significativas na concentração de ENs na massa,

relativamente ao material de partida para a sua formação.

Figura 6: Efeitos do processamento das massas branca e de grão inteiro no processo de fabrico

tradicional, em relação à presença de ENs (adaptação de SERRANO et al., 2016)

Quanto ao processo industrial de fabrico verificou-se que para a massa branca (B) ocorreu

uma redução de ENs de 37 % a 45 %, na secagem a temperatura média. Já na secagem a

temperatura elevada ocorreu uma maior degradação das ENs, nomeadamente de 60,0 % e

83,7 %. No caso da massa de grão inteiro (I) ocorreu uma perda de ENs de 36,9 % a 56,2 %

no processo de secagem a temperatura média e para o mesmo processo a temperatura

elevada a redução foi de 51,3 % a 83,7 % (SERRANO et al., 2016).

Desta forma verificou-se que as condições de secagem têm impacto na degradação das ENs,

nomeadamente a temperaturas elevadas. Quanto ao tipo de massa, os resultados foram

semelhantes independentemente da constituição da massa. É de acrescentar ainda, à

semelhança dos vários estudos apresentados, que as ENs se encontram presentes na

seguinte ordem decrescente de concentração: ENs B, B1, A1 e A (SERRANO et al., 2016).

10,00

8,00

6,00

4.00

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Dia 1

Secagem

Dia 3

Secagem

Dia 4

Secagem

Dia 5

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Tab

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Enia

ntina

B1

BM

= 6

,36

BH

= 6

,36

BM

= 3

,80

BH

= 1

,18

40,3

81,4

IM =

5,9

6

IH =

5,9

6

IM =

2,9

0

IH =

1,7

3

51,3

71,0

59

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Como se pôde verificar os processos de fabrico da cerveja, pão e massa (processo

industrial) levaram a que o produto final tivesse uma redução da concentração das

micotoxinas relativamente ao material de partida. Nem em todas as fases intermédias dos

processos ocorreu a redução, contudo o balanço final é de uma degradação muito elevada

das ENs e da BEA, relativamente às matérias-primas utilizadas.

Relativamente à amostra Sc-Fa apenas se estudou a maltagem e no final desta etapa surgiu

sempre um aumento da concentração das ENs, ao contrário do que aconteceu com a outra

variedade de cereal (Gr-Fa). Quanto a este caso não se pode avaliar o impacto do

processamento da cerveja, uma vez que o processo de fabrico ficou incompleto.

De uma forma geral, quanto à cerveja como produto acabado apenas foram detetadas a EN

B, EN B1 e BEA, considerando o total de amostras analisadas em cada estudo. O mesmo

ocorreu para as várias amostras de pão.

Quanto à massa, no final do seu processo de fabrico, permaneceram todos os tipos de ENs

que estavam presentes nas matérias-primas. Contudo, apresentaram reduções bastante

significativas.

É de salientar que a concentração de ENs nos materiais de partida para o fabrico da cerveja,

pão e massa estava presente na seguinte ordem decrescente: ENs B, B1, A1 e A. Este facto

explica a deteção de apenas ENs B e B1 no produto acabado, na maioria dos resultados.

Em relação às diferentes amostras submetidas ao mesmo processo de fabrico, em alguns

casos verificaram-se discrepâncias relativamente à contaminação pelas micotoxinas. Isto

verificou-se na cerveja a nível das parcelas QC, QFa e QFC, dado que estavam presentes

diferentes espécies de fungos produtores das micotoxinas e nas amostras Gr-Fa e Sc-Fa,

como foi mencionado anteriormente.

No caso do pão, as amostras submetidas a um crescimento convencional (CON)

apresentaram uma maior contaminação relativamente às amostras ORG. No caso das

amostras de farinha de trigo (W), a contaminação também foi maior relativamente à mistura

de farinha e farelo de centeio (R), o que era esperado dado que se fez a mistura para

conseguir alcançar maiores valores de contaminação.

A utilização de diferentes estirpes de levedura no fabrico da cerveja e do pão também foi

responsável por valores diferentes de degradação da BEA.

Em relação à análise feita para fases de fabrico a diferentes temperaturas verificou-se que a

degradação das micotoxinas é maior com o aumento da temperatura.

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Concluindo, o processamento dos alimentos leva a uma elevada degradação das ENs e BEA.

No entanto é motivo de preocupação o facto de estas micotoxinas serem, ainda, pouco

estudadas/quantificadas e não serem reguladas legislativamente. Desta forma, não existe um

controlo da concentração das micotoxinas no produto acabado para consumo no mercado.

Assim sendo, através do consumo da cerveja, pão e massa, podemos estar a ingerir,

cumulativamente, quantidades significativas de ENs e BEA responsáveis pelos vários efeitos

tóxicos descritos.

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