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\ CUMPRIMENTANDO KARDEC (No prelo) O Evangelho é a base do sentimento. “ O Livro dos Espíritos" é o alicerce da razão. So- bre ambos se constrói o edifício da verdade. As bases têm que ser inamovíveis, jamais superadas. Cabe à evolução acrescentar coisas novas, esclarecimentos que acordem as verda- des a dormitar ao pé da letra. “CUMPRIMENTANDO KARDEC", é o primei- ro livro da série de 15, da coleção que se inti- tula “ ENTREVISTANDO KARDEC". Cada livro apresenta 50 perguntas, com as respectivas respostas, as quais servem como tema principal a ser desenrolado em 3 páginas, plenas de esclarecimentos científico - filosófi - cos . Vê-se, em “ CUMPRIMENTANDO KARDEC", a atualização dos ensinos legados pelo codifica- dor, através do “O Livro dos Espíritos", abrindo um prisma novo, todo luz, a iluminar a fé pela razão. Hyarbas

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CUMPRIMENTANDO KARDEC (No prelo)

O Evangelho é a base do sentimento. “ O Livro dos Espíritos" é o alicerce da razão. So­bre ambos se constrói o edifício da verdade.

As bases têm que ser inamovíveis, jamais superadas. Cabe à evolução acrescentar coisas novas, esclarecimentos que acordem as verda­des a dormitar ao pé da letra.

“ CUMPRIMENTANDO KARDEC", é o primei­ro livro da série de 15, da coleção que se inti­tula “ ENTREVISTANDO KARDEC".

Cada livro apresenta 50 perguntas, com as respectivas respostas, as quais servem como tema principal a ser desenrolado em 3 páginas, plenas de esclarecimentos científico - filosófi­cos .

Vê-se, em “ CUMPRIMENTANDO KARDEC", a atualização dos ensinos legados pelo codifica­dor, através do “ O Livro dos Espíritos", abrindo um prisma novo, todo luz, a iluminar a fé pela razão.

Hyarbas

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jOÃO NUNES MAIA

«ALGUNS â n g u l o s DOS ENSINO S

DO M ESTR E”

DITADOPELO ESPÍRITO

MIRAMEZ

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ALGUNS ÂNGULOS DOS ENSI. NOS DO MESTRE

É do conhecimento comum que as Sagradas Escrituras se prestam às mais diversas inter­pretações. Jesus, o Mestre, e em torno do qual se tecem to­das as considerações evangé­licas. sempre foi consciente de que os Seus ensinos se vesti­ríam com a policromia de to­das as épocas, com as formas de todas as tradições e pre­conceitos.

Era necessário. Consideran. do-se a doutrina das vidas múl­tiplas, ou da reencarnação. há de se convir que somente a evolução permite entendimen. tos elevados. Com efeito, os povos evoluem e, no seu evo­luir incessante, garimpam nos campos da existência, colecio­nando as gemas preciosas guar­dadas no Evangelho.

Há, contudo, muitos tesouros a serem descobertos, que ha. verão de enriquecer os cora­ções. Todos eles se encontram resguardados pela letra. E "os espíritos do Senhor, que são as virtudes celestes", sob a égide do Cristo vêm nos auxi­liar. guiando-nos os passos ru­mo à vivência do Evangelho

Nosso irmão maior. Miramez, é um dos grandes missionários de Jesus, a trazer-nos revela, ções interessantíssimas, vesti, das de nova luz. a iluminar e aquecer os corações.

"ALGUNS ÂNGULOS DOS ENSINOS DO MESTRE" nos fa­la com amor e simplicidade, acerca das verdades eternas, únicas a nos propiciarem a li­bertação.

Hyarbas

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JOÃO NUNES MAIA

“ A L G U N S Â N G U L O S D O S E N S I N O S D O M E S T R E ”

DITADO PELO ESPÍRITO MIRAMEZ

Direitos reservados à "EDITORA O CONSOLADOR"

Departamento da Sociedade Espírita Maria Nunes Rua Esmaltina, 149 e Rua Superática, 150Pedidos pelo reembolso postal, desta ou

de outras obras, paraCaixa Postal, 61 - Belo Horizonte - Minas Gerais

1.’ EDIÇÃO: 5.000 exemplaresToda a primeira edição se destina ao financiamento da 5.' "CAMPANHA NACIONAL DO LIVRO ESPÍRITA GRATUITO"

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UM LIVRO

Eis um livro mediúnico,

Livro nobre, edificante

Para os que buscarn a verdade

Da vida santificante.

Este nos traz “ a mensagem'

Do mundo superior,

De nosso irmão Miramez,

Servo humilde do Senhor.

É centelha do Infinito,

que conforta e que renova.

São flores do céu caídas

Nas sendas da Boa Nova.

Oh ! bendito o que semeia

O livro de Fé e Luz,

Libertando almas cativas

Para o redil de Jesus.

J. Alencar Barreto.

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Í N D I C E

Prefácio ...............................A força do perdão..............Jesus é filho de DeusA bondade de Deus ...........Tolerância ...........................Os frutos da fé ..................Visão espiritual ................O espírito imortal ..............Dádiva f e l iz .........................O valor da oraçãoIgualdade ...........................Conduta c r is tã ....................Dar a vida .........................Ouro do m undo .............Curar os enfermos O primeiro mártirA coragem .......................O espinho .........................Compreensão ....................Como anunciar JesusVigilância ...........................Para curar os enfermos ..Bênção maior ....................Jesus ensina ......................O poder da fé ....................Atacar ...............................Conduta no templo .........

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Na escola da vida Retorno à casa paternaGratidão ....................Intelectualidade .........Como decidir .............Obediência ................Dívida ......................Como proceder .........Como perdoar .............Para que sofrer ? .......Como d a r .....................Fugir do mal ..............Abnegação ..................O que convém fazer ..Cautela ......................A fruta quando madura Paulo fala com Jesus . Evolução progressiva . ..Estímulos ....................O alimento da alma ..A vida em família .......Conduta na velhice . ..Reencarnação ...........Prudência ..................Como deveis orar .......

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EXPLICANDO

"Alguns ângulos dos Ensinos do Mestre” é um livro ditado pelo espírito Miramez, o qual nos concita à me­ditação profunda.

O convite para enxergarmos novas modalidades de interpretação evangélica não se faz esperar.

É imperioso que lancemos mãos do trabalho renova­dor e aproveitemos esta valiosa oportunidade de apren­dermos com o Cristo.

Este livro é o primeiro de uma série. E todos eles fundamentados nos mais lindos preceitos de Jesus.

Deve ser lido, principalmente, no culto do Evange­lho, no lar. Porque o lar representa uma escola-oficina, como preceitua o Mentor espiritual, onde a alma come­ça a sentir que é necessário amar, para se conhecer a Deus.

Miramez amolda as lições do Divino Mestre, com ta­manha simplicidade, que qualquer de nós pode assimi­lá-las, com prazer, e sem perca de tempo.

Faz-nos ainda, vibrar com a beleza do alimento psico- literário, o qual transmite ricos ensinamentos, tanto à nossa mente quanto ao nosso coração. Eis porque con­sideramos "Alguns ângulos dos ensinos do Mestre" de real valor.

Leitor amigo : se ainda não fazes o culto do Evan­gelho em teu lar, procura fazê-lo, o quanto antes. Assim terás maior assistência no reduto doméstico.

Procura não esquecer o dia e a hora prefixados, por­quanto a disciplina é norma que muito agrada aos espí­ritos superiores.

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Já nos foi dado saber que existem muitas falanges de benfeitores espirituais, encarregados, por determina­ção do Cristo, da assistência e cooperação junto aos la­res onde se pratica o culto evangélico.

É imprescindível que a prece comunitária se torne um hábito nos lares da terra; este será um meio precur­sor para a implantação definitiva do reino de Deus, em toda a casa planetária.

É lícito tocar a campainha de alerta. E Miramez o (az, para todos os corações, na esperança de que eles ouçam os chamados do Senhor e construam um cami­nho de paz que haverá de conduzir-nos ao grande aprisco de luz.

Confrade amigo : a maior parte da tua evolução de­pende de ti mesmo. No entanto, a cooperação dos outros é indispensável para que te realizes, pois, um homem ilhado é u’a mão que não se abre; é um deserto sem oásis; é um “ eu” que morre, sem conhecer a grandiosi­dade do “ nós".

Este livro é mais do que uma ajuda. É uma mensa­gem que te abrirá novos rumos, que te levará a uma vi­da maior !

Se todos os dias os teus familiares se reúnem em torno de u'a mesa para a alimentação do corpo, é justo que, no tocante à alimentação do espírito, se reunam pelo menos uma vez por semana.

Faze-te presente, entre os convertidos, escolhidos e chamados para a renovação em Cristo Jesus, porque Ele já está ao teu lado, e vê em ti um amigo.

1LZA LÚCIA MAIA.

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PREFÁCIO

“Alguns ângulos dos Ensinos do Mestre" é um li­vro portador de um valor incontesté. Suas páginas são convites permanentes para uma reforma moral nas ba­ses do evangelho do nosso Divino Amigo, e quem pe*- lustrar por esses ângulos se sentirá bafejado pela luz espiritual.

A leitura deve ser meditada. A meditação deve ser assimilada pelo irmão que tiver a felicidade de lê-lo. É mais um pingo de luz do céu para a terra. O nosso que­rido Miramez, dentro da sua simplicidade, entrega, para os estudantes da verdade, uma força nova para a transfor­mação íntima, como enviado de Jesus, com a tarefa de reunir os animais das selvas dos nossos corações. Não para expulsá-los, mas para educá-los; não para maltra­tá-los, mas para amá-los; não para trancafiá-los em es­conderijos tenebrorsos, mas para libertá-los, transforma­dos em ovelhas, destinadas ao grande aprisco de virtu­des evangélicas. Este livro não é endereçado aos que não conhecem o evangelho, ou duvidam das belezas da hoa nova; ele é dirigido aos irmãos acostumados com a voz do Pastor inconfundível.

Não procureis nele elevadas considerações filosófi­cas nem intrincados assuntos científicos, pois não sereis satisfeitos. O autor espiritual fez da inteligência o ins­trumento para escrevê-lo e do coração a tinta do amor.

As duas forças, juntas, dando harmonia e cadência es­piritual às vinte e poucas letras do alfabeto humano, que se multiplicam em um poema que leva à felicidade. Um punhado de riscos, obedientes a determinadas for­mas, aqui se reuniram, compondo nomes e frases, tex­tos e páginas e, finalmente, o próprio livro, oriundo de uma mente que vive e pensa, trabalha e age a serviço de Nosso Senhor Jesus Cristo.

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No trabalho de difusão da Doutrina Cristã rediviva há milhares de espíritos empenhados. Eles buscam ti­rar o ouro do espírito da ganga da letra, para que todos tenham a oportunidade de sentir Deus e Cristo na pleni­tude da glória. E que a humanidade, ao fim deste segun­do milênio, não reclame por não conhecer o evangelho. Para tanto, a profecia nos incumbiu de pregar o evan­gelho por toda a parte, para todas as criaturas. Quando assim acontecer, eis os fins dos tempos : o terceiro milênio nos acena. Vamos para lá, mas cuidemos de não penetrar no portal desse terceiro dia da criação com as mãos vazias e os corações ressequidos de amor. Amor a Deus, sobre todas as coisas; e ao próximo, como a nós mesmos.

Os médiuns escreventes são escritores em outra di­mensão, atendendo às necessidades dos corações em busca da verdade que liberta. Mas não são os únicos. Todos aqueles que se candidatarem, por compromisso ou de boa vontade, para a difusão das verdades espirituais, vêm integrar a grande falange da verdade, pois são tam­bém gotas do imenso oceano do saber, que é o Cristo de Deus.

A preocupação maior dos céus, por enquanto, é a disseminação do lado moral dos preceitos de luz. “Al­guns Ângulos dos Ensinos do Mestre", certamente, vai agradar aos que procuram novos aspectos dos ensina­mentos evangélicos. Miramez viaja, aqui e ali, reunindo e comentando tópicos assaz interessantes, que vêm ao encontro das nossas necessidades espirituais.

Pode parecer que já existem muitas obras no sentido evangélico. É certo que existem, mas não podemos nos esquecer de que cada escritor espiritualista, encarnado ou não, sabe libertar da letra o perfume do Cristo, cada um em dimensão diferente. Lembremo-nos também que um livro a mais sempre constitui um passo à frente no aperfeiçoamento da nossa cultura evangélica.

Não devemos acrescentar nos nossos escritos nada de ranço humano e sim difundir as belezas evangélicas, ilustrando-as e amoldando-as ao entendimento de cada ser. Leitor amigo, fica sabendo que ao leres estas pá­

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ginas não encontrarás a pretensão de converter-te, de re- formar-te, de um dia para outro. Mas, sinceramente, en­contrarás um convite para caminhares com Jesus, e, se passares por esses prismas, certamente encontrarás o Mestre.

Se alguém, que não conhece Espiritismo, mediunida- de, evangelho e reencarnação quiser 1er este livro, seja benvindo em nome de Deus; o autor e todos os compa­nheiros do nosso plano, sentir-se-ão jubilosos, ao verem mais um interessado, por Cristo e para Cristo.

Saudemos esse prestimoso benfeitor espiritual que, espontâneamente, deixa derramar, do seu magnânimo co­ração, essa água luminosa dos céus, para todos nós, se­quiosos de luz. Compete-nos fazer a caridade conosco mesmos, estudando, meditando, e iniciando a viver o que nos é exposto.

Viva Deus e Salve Jesus Cristo ! ! !

BEZERRA

Belo Horizonte, 30 de junho de 1971.

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A FORÇA DO PERDÃO

“ Naquele mesmo dia, Herodes e Pilatos se reconciliaram, pois antes viviam inimizades um com o outro” .

— Lucas : Cap. 23, v. 12.A presença do Mestre em qualquer lugar era moti­

vo de paz. Vejamos um exemplo :Sendo Jesus galileu, não podia ser julgado

cm Jerusalém. A habilidade política de Pilatos fez com que o Nazareno chegasse às mãos de Herodes que, por­ventura, achava-se a passeio pela cidade, onde a grande águia romana simbolizava o domínio. Este já ouvira fa­lar sobre o filho do carpinteiro. Mas nunca tivera opor­tunidade de conhecê-lo. Despertava em seu coração o ciúme, por ouvir falar da personalidade e da força, que o Mestre possuía, de atrair o povo.

Em seus ouvidos, ressoavam as advertências dos seus servos : "ele cura os enfermos, levanta os mortos, dá vista aos cegos; a sabedoria que sai de seus lábios, nunca foi vista e ouvida nestas regiões; cuidado Hero­des, cuidado Pilatos, cuidado governadores e altos re­presentantes de Roma : os senhores poderão perder seus lugares” . ..

Para se convencer de que o anunciado a respeito da­quele homem era verdadeiro, Herodes queria assistir a um sinal, que Jesus pudesse fazer no céu. Não era pro­feta ? Não se dizia filho de Deus ? "Quero assistir algo prodigioso, conversar com ele. Quem sabe se ele não é mesmo possuidor de poderes que possam, de algum mo­do, garantir-me na minha posição, eternamente ? Caso isso aconteça, terei provas de que é mesmo enviado de Deus I ” . ..

Herodes, como relata o texto evangélico, estava ini­mizado com Pilatos. A manha da velha raposa e a astú­cia e força da água eram incompatível. Cada um queria o cetro do comando total da massa sofredora, da qual, Jesus, pelas bocas dos profetas, havia de ser o coman­

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dante supremo, em todos os quadrantes do globo; não somente rei dos judeus, mas de toda a humanidade.

Herodes abriu alas por entre os guardas, ansioso por falar com o Mestre; de muitos modos o interrogou, mas Jesus nada lhe respondeu. Os sacerdotes e escri- bas ali presentes, acusavam Jesus. O Mestre enfrenta­va tranquilo os punhos cerrados e as feições ferozes, que transmitiam, em meio a uma e outra cuspada, o ve­neno do ódio maledicente.

Protegido do povo em fúria por sua numerosa guar­da, Herodes tratou a Cristo com desprezo; este, lendo seus pensamentos, conhecendo seu coração, nada res­ponde. Deixa suas perguntas no ar, por serem elas en- vernizadas pelo egoísmo, nascidas da vaidade, sem ne­nhum sentido altruístico.

Na sua mudez, todavia, Jesus fez a Herodes um bem muito maior ao seu coração torturado, imprimindo, na mente psicofísica do velho psicopata, a força do perdão, que apagou para sempre seu ódio contra Pilatos.

Eis porque falamos da necessidade do perdão. Não somente quando sofremos as tramas dos Pilatos e dos Herodes. mas em todas as partes a que a vida nos cha­mar, o perdão é portador da semente dos céus. Onde passa, garante a amizade, refrigera o coração. Perdoar deve ser o gesto por excelência do homem de bem; per­doar, deve ser o clima do cristão, verdadeiro sinal dos céus de que o coração se encontra preparado para a academia do amor.

Experimenta, meu filho, perdoar por onde transitares e verás; oferta o perdão aos que te ofendem, e sentirás o céu, com Deus e Cristo no coração.

Herodes, andando de um lado para outro, inquieto por não ter atingido seu intento, mandou vestirem o Cristo de um manto aparatoso, e devolveu-o a Pilatos. Sem sabê-lo, apresentou u’a mensagem de reconciliação com o embaixador de Roma nas terras do Oriente, e. desde então, Pilatos não mais odiou a Herodes.

A força do perdão, desprendida do Cristo, ao receber o escárnio e o desprezo, fez com que Pilatos e Herodes se tornassem amigos, conforme relata a evangelho :

“ Naquele mesmo dia Herodes e Pilatos se reconciliaram, pois antes, viviam inimizados um com o outro” .

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JESUS É FILHO DE DEUS“ E sei que o Seu mandamento é a vida eter­na. As cousas, pois, que eu falo, como o Pai mo tem dito, assim falo” .

— João — Cap. 12, v. 44.

O Mestre jamais afirmou que era Deus. Não obs­tante, há grande confusão entre certos espiritualistas, que tomam a Jesus como um Deus. Longe estamos da época faraônica, quando os deuses eram venerados e faziam guerras entre si; vão distantes os tempos do an­tigo legislador hebreu, que sobe ao monte e dá conse­lhos ao seu Deus, visando aplacar-lhe a fúria. Mas, ain­

da hoje persiste a idéia, acalentada por muitos, da divin­dade do Messias. A esse respeito, preferimos afirmar, como Moisés : há um só Deus verdadeiro, senhor supre­mo, que se manifesta através dos efeitos, cuja causa pri­mária foge, inteiramente, à nossa compreensão. Senti­mos em nós Sua penetração, que se acentua a cada passo da escada que subimos.

Aceitamos, sim, um Deus que não fala diretamente pela boca de seus profetas, mas que tem condições de se fazer presente aos dotados de razão, pelos canais sen­síveis da lei, Seu agente mais poderoso em toda a cria­ção.

Jesus Cristo é nosso irmão maior. Sua alta condi­ção evolutiva, que a fraca concepção de tempo e espa­ço, próprios da humanidade, não permitem compreender, interpreta com fidelidade a vontade de Deus, emanada como hálito Divino, em ondas etéreas, como se fôra um anúncio permanente da própria voz do Todo-Poderoso.

Jesus clamava no meio de seus seguidores, que pensavam ser ele o Deus único propagado pelos profe­tas : "quem crê em mim, crê, não em mim, mas nAque- le que me enviou". E continuava : “eu sou o espelho,

pelo qual podereis ver Aquele que é meu e vosso Pai” .

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Afirmava, diariamente, que fora enviado : por con­seguinte, não era Deus. Operava em nome do Pai Celes­tial; era Seu filho amado, por ser o mais obediente e o mais evoluído que, até então, pisara o solo terreno. Sun missão diferia da de todos os outros mensageiros : o próprio Mestre anunciou que veio como a luz, para que ninguém ficasse nas trevas. Se os outros eram refle­tores, Jesus era o agente da claridade; se os outros eram portadores da paz, Jesus era a própria paz; se os outros eram caminhos para a verdade, Ele era a própria verdade, pois de sua boca, canal cósmico de Deus, saiu esta assertiva : ninguém vai ao Pai senão por mim”.

O Messias, na terra, é a fonte da água da vida, on­de saciamos nossa sede. com o líquido espiritual que procede de Deus. Ele representa o regulador de volta­gens da natureza Divina. Absorve trilhões de volts, no nascedouro, e os distribui, equitativamente, de acordo com a capacidade de cada um. Essa distribuição é que permite ao homem os meios para viver, evoluindo, c sentir a grandeza dos céus, de acordo com a visão que possui. Isso, o grande Mestre faz, desde os primórdios do nosso planeta.

Por isso, repetimos, com os que disseram primeiro ; Cristo é o governador da terra, desde a aparição dessa nas franjas douradas do Sol.

A alguns, que o ouviam, e logo se esqueciam dos seus ensinamentos, o Nazareno, com todo amor, despren­dendo forças sutis que ganhavam os corações, dizia : se alguém ouvir as minhas palavras, e não as guardar, eu não o julgo; pois eu não vim para julgar o mundo, mas para salvá-lo".

Sabia Jesus que nem todos possuíam o mesmo desenvolvimento na escala espiritual. Aqueles que ti­nham ouvidos para entender, corações preparados para sentir suas palavras, é que iriam aceitá-lo, em espírito e em verdade; quem rejeitasse, iria se arrepender com o passar dos tempos : esses, quem vai julgar são as mi­nhas próprias palavras”. No último dia, na última reen- carnação do espírito nas hostes do mal, começa a jul­gamento : as verdades que ouviu ressoarão na acústica

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A BONDADE DE JESUS

“ Pergunto, pois : terá Deus, porventura, re­jeitado o seu povo ? De modo nenhum; por­que eu também sou israelita da descendên­cia de Abraão, da tribo de Benjamin” .

— Paulo aos Romanos — Cap. 11, v. 1.

Os judeus, em todos os tempos, principalmente de Moisés para cá, tinham-se na conta de uma raça eleita por Deus. para que por ela se fizesse a luz na terra. Lembram-se eles do drama divino do Monte Sinai. Das tábuas da lei, entregues ao legislador, como sendo ins­trumento que a Divindade lhe emprestara a fim de que ele libertasse o povo de Deus, escravizado pelas mãos dos poderosos da terra, no velho Egito.

Não se esqueciam, os judeus, das promessas, que se iam cumprindo, ouvidas por Moisés e relatadas aos libertos da casa de servidão. Lembravam-se das curas contadas nos velhos escritos desenhados pelo seu dis­cípulo predileto, Essen, fundador da Ordem dos Essê- nios.

Moisés, homem de desenvoltura física rara, quase não dormia. Ora andava, de barraca em barraca, acal­mando o povo; ora subia às alturas dos penhascos, ano­tando o que lhe diziam as vozes dos céus, para transmi­t ir à sua gente.

Não raro, Moisés enfrentava agitações da massa, causadas pela impaciência e pela desesperança. Sua torça, no entanto, serenava os ânimos. E o passar do tempo amadurecia os corações dos libertados, para o im­pacto de acontecimentos futuros. Na ausência do gran­de chefe, elementos subversivos procuravam plantar a semente da revolta, pondo os ex-escravos contra o seu salvador. A muitos, faltaram a coragem e a persistên cia, preferindo voltar à casa de serviço no Egito. Pou­

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cos foram os judeus em cujos pensamentos não passou a idéia de que Deus os havia abandonado, tendo em vis­ta o sofrimento, a fome, a sede e as doenças que os afligiam.

Moisés, pulso forte, vontade férrea, não sem grandes dificuldades, restabelecia a paz, sempre confiante na voz dos céus, e, assim, cumpriu galhardamente sua mis­são de timoneiro dos hebreus, no êxodo histórico.

Só aos altamente evangelizados é que é dado tra­duzir os anúncios do mundo espiritual, pois a dúvida não encontra lugar nos seus corações. Os demais, crêem e descrêenv, afirmam e negam: abençoam e apedrejam:humilham-se e revoltam-se: gostam da luz, mas adoram as trevas: dão alguns passos à frente, outros para trás: faltam-lhes qualidades espirituais desenvolvidas. Por is­so, precisam de guias, pois não sabem andar sozinhos. Assim são os povos, assim as nações, assim as comuni­dades.

Paulo, emissário do saber Divino junto às coletivi­dades cristãs, inclusive Roma, dedicava-se integralmen­te ao seu apostolado. Quando ausente, enviava epístolas cheias de fé e sabedoria, como forças de amparo aos novos adeptos de Cristo. Dirigindo-se aos romanos evangélicos, procurava esclarecer que o sofrimento não traduzia esquecimento por parte de Deus, mas sim. lem­brança viva dos céus, pois a dor abre a visão ao sofre­dor cristianizado, propiciando-lhe venturas espirituais que o mundo desconhece. Apesar dos esforços de Paulo, muitos abandonavam as lides do Cristo pelas gordas me­sas dos césares.

Até hoje, é comum acreditarem que Deus abando­nou seus filhos, porque esses sofrem do berço ao tú­mulo. E a lei do renascimento, propagada desde o prin­cípio das coisas, em todo o mundo ? A própria ciência sabe que tudo se desfaz, para se fazer novamente: alei é a mesma para o ser humano. O que se sente e o que se pensa, muda dia a dia, tomando novas dimen­sões, e novas atitudes renascem no campo mental. O espírito muda de corpo, como este muda de roupa.

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Deus não esquece ninguém, pois somos todos iguais, sem exceção: as diferenças, são relativas às Ida­des de cada um, no pentagrama divino da evolução.

Deus não rejeitou seu povo, afirma o apóstolo dos gentios; e, tampouco, esquece povo algum; dá, porém, a cada um, de acordo com seu merecimento. “Aqueles que têm, mais lhes será dado", afirmava Jesus. A épo­ca de Sua vinda à Terra, o povo judeu recebeu a luz da presença do Cristo, porque tinha mais maturidade. Es­peranças e promessas não significam que ficaremos P- vres do sofrimento; consttiuem sim, um aviso de que es­tamos preparados para atravessar as provas, num ambi­ente de paz e alegria; sem nos preocuparmos com as trevas; sem nos assustarmos, como crianças na escu­ridão.

Meus filhos, se Moisés veio libertar os judeus da es­cravidão fisica, Cristo surgiu, como um sol espiritual, para fazer livres todos os espíritos que queiram conhe­cê-lo.

Não deis expansão aos vossos problemas; resolvei- os em silêncio, sem multiplicá-los. Não deis liberdade às idéias de enfermidade na área mental, para que elas não multipliquem o vosso sofrer. Não deis razão à dis­cussão infrutífera, para que não floresça, em vosso co lação, a melancolia. Sentir-vos-eis na plenitude do amor.

Não desconfieis de Deus, e nunca faleis : Ele se es­queceu de mim. Meditemos, novamente, sobre as pala­vras de Paulo :

"Pergunto, pois: terá Deus, porventura, re­jeitado o seu povo ? De modo nenhum, por­que eu também sou israelita, da descendên cia de Abraão, da tribo de Benjamin” .

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TOLERÂNCIA

“ Ele, porém, respondeu : senhor, deixa-aainda este ano, até que eu escave ao re­dor dela, e lhe ponha adubo” .

— Lucas — Cap. 13, v. 8.

Onde não existe a tolerância, desaparece por com­pleto a esperança, e a caridade fica impedida de con­fortar os corações.

Cada um de nós representa uma figueira na imen­sa vinha de Deus, onde temos direitos e deveres. Fo­mos plantados no meio cósmico, para crescer e frutifi­car, pelos nossos próprios esforços, embora as bênçãos exteriores do agricultor divino nunca faltem.

O dono da vinha criou as leis com base nas fun­ções da própria vida, e seus filhos maiores inspeccionam o plantio da verdade, em todos os campos de germina­ção. Trazendo em seus corações a pureza do amor, em forma de variadas virtudes, os mensageiros divinos es­truturaram, por ordem da Grande Luz, um reino que ser­visse de sustentáculo aos homens nas suas fraquezas, nas suas dores, nos seus conflitos. Esse recanto divi­no, mesmo no chão do mundo, tem o nome de Evanqe- Iho.

As leis representam juizes severos, mas justiceiros. Os filhos maiores, cheios de tolerância, e amor, imbuí­dos de misericórdia e plenos de discernimento, fazem o papel de reguladores de forças. Dão a cada um a quantidade que ele possa assimilar, sem se perturbar; absorver, sem se abater: apreender, sem se transtor­nar. A própria psicologia nos ensina, que é sofrendo que a alma se torna mansa; é a dor que a faz amar com desapego; é o padecimento que a faz meditar com mais profundidade, na vida que leva e na morte que vem.

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Eis porque, não deixamos de lembrar aos irmãos estudiosos que, quando a lei do retorno atinge um ser, a misericórdia não o esquece; a tolerância dos céus apro- xima-se do seu coração. Não existe magia mais podero­sa que a dor, para alargar a visão do espírito, possibiii- tando-lhe sentir Deus, amar a Deus, e buscar a Deus.

Cristo, regulador da lei do Senhor na Terra, Mestre por excelência e jardineiro da Divindade, narra a parir bola da figueira estéril, plantada em u'a vinha, cujo dono, não encontrando o fruto desejado, intentou cortar. Mas o dedicado responsável pela vinha, com os pode­res do amor, revestido da soberania imperturbável da tolerância, faz cumprir sua augusta missão de controla­dor da vida, servindo-se da própria vontade do Criador de todas as coisas.

A lei age sobre todos nós com uma justiça impla­cável, mas tolerante. Suponhamos por exemplo que um título por nós assinado, com data certa de vencimento, não possa ser pago à época aprazada. A intervenção de alguém que nos ama, e que possui condições para in­terceder por nós, coneguindo u'a moratória em boas condições, representa a tolerância da vida para conosco, os filhos de Deus.

Como já dissemos, somos as figueiras na grande vinha de Deus, o Senhor Justiceiro, que criou a lei dos reinos todos. E Cristo, o filho maior é o jardineiro com­passivo que, ao cuidar das plantas com toda a dedica­ção, nota que alguns estão sendo atacados pela própria natureza; interfere, com seus recursos, solicitando mais tempo e novas oportunidades para as figueiras humanas, na esperança de que elas possam vir a dar frutos, nes­sa mesma existência. Quando não consegue este resul­tado. plasma, em sua mais íntima estrutura, o amor, que servirá de alicerce para novas etapas.

Em todos os bastidores da vida, Deus estatuiu a lei justiceira. Mas, ao lado dela, com todos os poderes, co­locou os filhos de seu coração, testificando amor e to­lerância junto aos homens, a fim de que eles possam, assim, sentir a bondade do Pai celestial.

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Se alguém te ofender, espera um pouco, e faz algo em beneficio dele que, de algum modo, também pode­rá ser útil a outros.

Se alguém só produz frutos corrompidos, ou está como a figueira estéril, tolera-o, como benfeitor, e adu­ba suas qualidades boas, na esperança de que, algum, dia, possa ele se incluir no grande pomar de Deus.

Se alguém torce a verdade, para que tu sofras, to­lera em silêncio. Espera mais um pouco, e verás que amanhã estará tudo mudado.

Abençoemos nossos irmãos ignorantes e cuidemos oeles com carinho, imbuídos de tolerância cristã. Se nos faltar algum ânimo, leiamos novamente esse versí­culo, que nos alegra, de forma especial :

“ Ele, porém, respondeu : Senhor, deixa-aainda este ano, até que eu escave ao redor dela, e lhe ponha adubo” .

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OS FRUTOS DA FÉ

“ Assim, as Igrejas eram fortalecidas na fé. e aumentavam em número, dia a dia".

— Atos — Cap. 16, v. 5.

O grande convertido de Damasco, conhecido como o tufão da nova idéia renovadora do Cristo, passava por inúmeras cidades, desfazendo todo o pedestal dos anti­gos conceitos embrionários sobre Deus e a vida. Argu­mentava nas praças públicas, nas sinagogas, nas escolas, nas hospedarias, com a alta filosofia, que rutila, e com a ciência firme, que espera.

Paulo era doutor da lei. E, como tal, se constituía, certamente, numa ventania muito forte para aquêles que ainda ofereciam, em seus mundos mentais, ninho para os pássaros das idéias, que, comparadas com a menta­lidade cristã, eram assentadas na areia, com fraturas em todas as suas conjunções.

O gigante do Evangelho, em alta função doutrinária, passa nas cidades de Listra e Derbe, aldeias onde o discípulo Timóteo já havia introduzido a palavra de reno­vação do Mestre. Esse companheiro era filho de uma judia com um varão grego. Enriquecia sua alma, de fi­lho de duas raças, com as qualidades indispensáveis aos grandes labores. Timóteo, paciente e valoroso, tinha na oração um sustentáculo para as decisões maiores e, no ambiente agressivo dos contraditores. lançava mãos da arma prodigiosa da fé, que soubera herdar do grande Mestre, vencendo todos os adversários da idéia de Cris­to.

Paulo estava em uma excursão, onde deveria, em nome de Jesus, percorrer várias cidades e ilhas. Eram todas distantes da sua terra natal, onde voltara, com humildade, depois de convertido, a pregar a verdade, com as qualidades que o coração oferece ao cristão

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nascente. As distâncias que o antigo perseguidor do Evangelho se dispunha a perlustrar eram Imensas, mas a fé que Paulo havia grangeado do clarão dos céus, no deserto, e a sua realidade interna, faziam com que o mundo coubesse nas suas mãos. Com essa mesma fé, em Cristo e por Cristo, êle poderia ver todas as cidades o aldeias, com suas respectivas necessidades. Nunca temeu afronta nenhuma ao ser apedrejado e massacrado pelos fariseus de todos os lugares e de todas as épo cas. Era o cálice escolhido, no dizer do Mestre, para a glória de Deus.

Timóteo também dava ótimos testemunhos em Icô- nio. Em vista disso, Paulo queria que ele o acompanhas­se e, como todos sabiam da descendência de Timóteo, prlncipalmente os judeus que ali habitavam, sugeriu Pau­lo que Timóteo fosse circuncidado, obedecendo a lei ju- dáica. Com a circuncisão estariam dando “ a César o que ó de César”, sem nenhuma necessidade de mudar suas convicções acerca dos autênticos ensinos de Jesus Cris­to, a quem Paulo havia dado tantos testemunhos.

E um dia, o apóstolo dos gentios, encontrando Ti móteo meio triste, lendo seus pensamentos, responde, sem ser Interrogado, nesses termos : Timóteo, não afli­jas o coração por teres sido circuncidado, meu filho. Tem este fato como um símbolo : cortado algo em tua carne, estejas livre também das forças inferiores que te prendem ao mundo, e verás quantos prismas novos se te abrirão, de valores incalculáveis, nascidos de uma pe­quena contrariedade". E Timóteo, antes tristonho, levan­ta a cabeça e sorri para Paulo, como se fosse uma cri­ança a encontrar um paraíso de fadas.

Sua mente foi tocada pela luz, e, de fato, encontrou um novo céu, onde sua fé se firmou, fulgurante e sem par. Batendo, de leve, no ombro do campeão do Evange­lho, articulou baixinho em seu ouvido : irei com o Se­nhor, para onde for e para onde desejar. Pisando na terra, mas vivendo no céu, porque agora compreendí que os nossos irmãos em Cristo não existem somente em Listra, Derbe e Icônio, mas em todo o mundo” . Deixan­do escorrer nos grandes olhos lágrimas incontidas de grandes emoções espirituais, remata sua conversa : “ de

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0 valoroso discípulo cambaleou de emoção, alvo de tremendo impacto. Considerar alguns animais imundos vinha de Moisés, mas ele achava bom aquele preceito. Por outro lado, se todas as coisas foram feitas por Deus, pertenciam também a Jesus; como fazer agora ? Já havia o Mestre falado antes a todos os discípulos que nada há imperfeito na criação de Deus, que as imundícies e as imperfeições estavam em cada um de nós, na maneira pela qual sentíamos e observávamos as coisas. Por que leria o legislador separado alguns dos animais, qualifi­cando-os como imundos em relação aos que figuravam passivamente nas mesas dos que temiam a Deus ?

O espírito do mal queria confundir a Pedro, mos­trando contradições nas leis espirituais de Moisés e Je­sus. É o mesmo que alguns menos avisados querem fa­zer hoje com Jesus e Kardec, mostrando confusão on­de nunca existiu, esquecendo-se de comparar as neces­sidades de duas épocas, separadas por vários séculos.

Quem viaja com Cristo e Kardec no bôjo da lei, sentirá, no Espiritismo, o mesmo calor, o mesmo ambi­ente do Cristianismo primitivo, a renascer no mundo com maiores esplendores. Mas nunca deixam de apare­cer os espíritos do mal, nos caminhos dos discípulos, para confundir as coisas de somenos importância. Os céus o permitem, no sentido de testar quem se propôs a seguir o Mestre.

Pedro, a sós, passeia os olhos molhados pelo céu — dlr-se-ia mais uma estátua do que um homem — e abre os lábios, compassivamente : "Senhor, queria saber a verdade sobre o que acabo de ver e ouvir; não posso ir ter com os meus antes disso. Se necessário, ficarei aqui, qual Moisés, horas a fio, ou dias incontáveis, mas quero conhecer a verdade sem rasuras, estar contigo em Deus; faze de mim o que te aprouver".

Diante de uma grande pedra, Pedro debruça como menino faminto, a esperar um pedaço de pão. Aguarda a resposta do Mestre, porquanto, raciocinando, descon­fiara de tudo o que acontecera. Uma luz profusa parte do alto, divide-se em três, bafeja o velho apóstolo, bri­lha com variações nunca vistas em matéria de luzes, torna a se fundir, serenamente, perdendo-se no infinito.

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Pedro fica em lugar destacado no meio das coisas, e uma voz, muito sua conhecida, fala : “ Pedro, acalma teu coração, desperta teu interesse pela obra de Deus e segue-me; não confundas amor, com seperação; ser-teá dado tudo para viveres; o teu e o nosso Deus, de amor e bondade, nunca deixa nada sem valor. Os que queres afirmar como imundos são os que te dão, na verdade, a vida. Foram qualificados como imundos, vindos de ou­tras bandas, mas se não fosesm eles, a vida seria im­possível; abençoemos, pois, esses animais. A velha proibição visava a que eles não diminuíssem em quan­tidade, para uma operação limpeza completa, entendeste?' E a voz, meiga, terminou : “se não queres, não comas, mas não odeies aqueles que, nos rudimentos da vida, fazem os melhores dos bens’ .

Pedro, chorando, agora de alegria, entendeu qus deveria orar, mas acima de tudo, vigiar. Com a ajuda da razão, selecionar os alimentos espirituais e não os ma­teriais, porque destes está encarregado o organismo.

"No dia seguinte, indo êles de caminho e estando já perto da cidade, subiu Pedro ao eirado, por volta da hora sexta, a fim do orar” .

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O ESPÍRITO IMORTAL

"Estando elas possuídas de temor, baixan­do os olhos para o chão, eles lhes falaram : Por que buscais entre os mortos ao que vive ?”

— Lucas — Cap. 24, v. 5.

Enquanto muitos choram nos túmulos dos seus mor­tos, no de Jesus ocorreu diferente. Talvez as mulheres fossem ali com essa intenção, mas o ambiente do Cris­to não favoreceu a tristeza.

Joana, mãe de Tiago, e Maria Madalena, acompanha­das de outras companheiras de ideal, conduziam essên­cias para o campo santo. Queriam que o sepulcro do seu Mestre recendesse aromas agradáveis, como grati­dão dos que ficaram. Lá chegando, cercariam o lugar onde se achava o corpo do Divino amigo, para chorar, em lamentações sagradas, a perda irreparável da luz do mundo. Não tinham mais em mente nenhuma das profe­cias; somente palpitava, em seus ardentes corações, a eterna gratidão para com aquele que distribuira tanta esperança para os desesperados, tanto alívio para os en­fermos, tanta sabedoria para os ignorantes.

Todas juntas, com mãos firmes, puxam a tampa tío túmulo, já meio removida por alguém, e se espantam ; “ Para onde teria ido o Mestre?" A essa interrogação, aparecem dois espíritos resplandescentes, mensageiros do Cristo, dizendo : “ Ele não está aqui, mas ressuscitou Lembrais-vos de como vos preveniu, estando ainda na Galiléia?” Elas se lembraram e, em vez de se lamentarem, sorriram. Agora, as lágrimas que molhavam seus cândi­dos rostos eram temperadas em outro calor emotivo, de alegria pura e da certeza de que o espírito é imortal. Os anunciantes acrescentaram: “ Por que buscais entre os mortos, ao que vive ?”

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O espírito fulgurante de Jesus deixa a maior mensa­gem da imortalidade da alma para Madalena e suas con- freiras : renasce o Mestre para outras dimensões cós­micas, deixando um rastro de esperanças para todos os seus companheiros de jornada, ensejando a que esses pudessem anunciar, ao mundo, a inigualável herança dos céus para a terra. A morte não existe ! Somente a vida ! Somente a vida ! . . . canta, em todas as latitudes, a cria­ção de Deus.

O mundo ainda não tem idéia de quanto significou, para os discípulos, a notícia, transmitida pelas mulheres, de que o Cristo tinha subido aos céus e que, na fria laje de seu túmulo, só as vestes havia. Completando a mensagem, o grande amor, que Jesus dedica à huma­nidade, fez aparecerem dois varões resplandenscentes, permtitindo-nos deduzir : aquele que aqui falta, não foi tetirado por ninguém desse sepulcro; não foi removido por mãos humanas. Desapereceu para dar cumprimento à profecia que anunciava sua ressurreição, ao terceiro dia.

O colégio apostolar de Jesus criou vida nova com o anunciado. Pedro, correndo ao sepulcro para certitfi- car-se da verdade, fica maravilhado. Volta à companhia dos seus amigos, e comprova o fato. Os apóstolos, an­tes acabrunhados e completamente abatidos com a perda do Senhor, sentem-se renovados, corre-lhes nas veias novo sangue, novas esperanças tomam-lhes os corações, para outras vidas. Vejam, meus irmãos, quanto vale uma gota de esperança na taça do coração torturado.

Depois desse dia, Cristo não se fez esperar ; come­çou a aparecer todos os dias, para todos os seus servi­dores, discípulos ou não, nas cercanias de Jerusalém ou em outras terras, não importando distâncias e na­ções. Importava, sim, que fossem servos que pudessem compreender a mensagem do perdão, as belezas da ca­ridade e a salvação pelo amor.

Invade o Mestre, de momento a momento, o conví­vio dos apóstolos, com uma essência que perfuma eter­namente. Vai aqui e ali, abrindo lareiras nos coraçõas, que se dispuseram a servir, para o plantio do amor que nunca morre.

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E, como padrão universal da doutrina de luz, ao in­vés de recolher, como a galinha, somente os seus pinti- nhos, abre as asas para toda a humanidade: chama Este vão para as lides: convida Abigail à renúncia: mostra a Paulo, no deserto escaldante, que existe outro reino: es­timula os discípulos, trancafiados por temer perseguição, dando-lhes sinal de combate, como o maior dos generais: continua as curas, através do próprio colégio apostolar.

Cumprindo a promessa de ressuscitar ao terceiro dia, deixou claro que cumprirá as outras, pois disse : "Eu sou a verdade". E uma delas, entre muitas, é esta : "Voltarei e ficarei convosco eternamente".

O Mestre está voltando em um corpo ciclópico dou­trinário, para permanecer eternamente com toda a hu­manidade: e essa, ainda possuída de temor, levantará os olhos para o céu e sentir-lhe-á o bafejo divino, pois ninguém morre, e a vida continua sempre.

“ Estando elas possuídas de temor, baixando os olhos para o chão, eles lhes falaram : Por que buscais entre os mortos ao que vive ?"

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DÁDIVA FELIZ

“ E disse : verdadeiramente vos digo que es­ta viúva pobre deu mais do que todos” .

A caridade, em todas as épocas, constitui motivo de atração para as almas que têm maior sensibilidade para as coisas de Deus. As formas de praticá-la va­riam, de acordo com o meio em que as pessoas se en­contram, desde o pedinte das ruas, até os círculos coruscantes de pedrarias daqueles que se congregam no calor social. Entre esses dois polos, pede-se, para alguém, ou para alguma coisa. O ato de dar, com cer­teza, alivia, de maneira sutil, e conforta o coração que oferta.

Como todas as coisas, aperfeiçoa-se a caridade. Nos que distribuem por vaidade, chama-se alívio temporário de consciência; nos religiosos que dão, esperando ga­nhar alguma coisa no céu, empréstimo a longo prazo; os que oferecem com amor aos necessitados, sem espe­rar nenhuma recompensa, estes estão fazendo a verda­deira caridade.

O ser humano não evolui de um dia para outro, co­mo ninguém sobe uma grande escada, saltando do pri­meiro ao último degrau, mas sim, lance a lance; eis porque a natureza, também, usa esse método no campo da evolução espiritual.

O “ não julgueis para não serdes julgados”, cons­titui uma disciplina para todos nós. Não fora isso, o cristão descambaria para o terreno da maledicência, a julgar desenfreadamente, porque o semelhante ajuda esperando recompensa, dá na certeza de receber e abençoa para ser garantido pelo céu. Essas almas, na verdade, iniciam seus passos nas hostes do Cristo, â procura de Deus. E qual de nós tem autoridade para julgar, se o Mestre não procedeu dessa forma com a mulher adúltera ?

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Deus, antes que os olhos humanos, vê tudo, e ainda tavorece meios de vida saudáveis para os comerciantes desonestos, para os trapaceiros, para os ignorantes, para os que roubam, para os que negam suas próprias proce­dências. Então, nós outros é que vamos persegui-los, julgá-los ? Se assim procedermos, estaremos nos desfa­zendo do honroso título de companheiros de Cristo, porque quem ataca o comércio das coisas de Deus, ni­vela-se aos errados; quem persegue os trapaceiros, comunga com eles; quem massacra o ignorante, é seu igual; quem não esclarece aos que roubam, quer ter ladrão para sempre; quem amaldiçoa os que negam a Deus, está construindo o verdadeiro materialismo, roupa velha já deixada pelos filhos pródigos.

A caridade não tem dono nem obedece aos homens; é filha do amor, e portanto, universal. Não há quem a tenha definido melhor que Paulo de Tarso, quando disse : ‘‘Ela tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta".

Passando Jesus por perto de um templo, vê filas de pessoas a depositar dinheiro no gasofilácio, que tilin­tava mais, ou menos, de acordo com a quantidade de dádiva ofertada. Os que tinham posses, despejavam grande quantidade de denários, e os sons anunciavam as ofertas dos ricos. Mas acontece passar uma viúva pobre, colocando sua última moeda no cofre do templo. O Nazareno percebeu, com interesse, e sentiu o amor daquela mulher que ofertara tudo o que possuía, sem pensar em recompensas.

Jesus não ofende os ricos, não julga os poderosos. Mas, no meio dos seus, estimula a verdadeira caridade.

"E disse : verdadeiramente vos digo que esta viúva pobre deu mais do que todos. "

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O VALOR DA ORAÇÃO“ Portanto, vós orareis assim : Pai nosso que estais nos céus, santificado seja o vosso nome".

— Mateus — Cap. 6, v. 9.

Pelo que disse Jesus, a oração não pode ser moti­vada pela vaidade. Representando uma linguagem do ho­mem ao Criador, a oração deve ser revestida de toda humildade e boa vontade, visando aprender, para servir.

No ato de orar, um dos mais sagrados da vida, o Pai espera dos filhos os cuidados correspondentes aos seus valores. “ Entra para o teu aposento, fecha a porta, e ora a teu Pai, que vê, em segredo". Não em longas e barulhentas orações em praças públicas, para chamar a atenção dos que passam, por vaidade. Essa prece não passa dos lábios e, no fundo, trata-se de simples pedidos interesseiros, a exemplo das dádivas estridentes coloca­das no gasofilácio, sem nenhuma participação do senti­mento. Assim ocorre com as orações por vaidade.

O ato de orar constitui uma permuta de valores, da vida com vidas, de irmão com irmãos, do filho com Deus; mas eis que isso se processa por conta da lei, da justiça e da misericórdia. Todavia, o homem é mais ou menos consciente da bondade do Criador, mormente quando se encontra em estado de graça, em pleno fer­vor da oração.

Ao nos sentarmos, em torno de uma mesa, na hora do repasto, alimentamos o corpo; ao entrarmos em nos­so aposento, fechando a porta e orando ao pai, em segre­do, estamos alimentando a alma. Nem corpo nem alma alcança a felicidade, sem esses indispensáveis atos de alegria e humildade, de reconhecimento a Deus. A ora­ção tem longa e porfiada viagem, começando no trabalho rude de cada dia, e terminando no êxtase de refusão da alma com o Senhor.

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Alguns dirão que Deus é pai e onisciente, conhece todas as nossas necessidades e, por isso, nada preci samos pedir-lhe. Estão, em parte, certos, mas a vontade Divina espera, por lei, o esforço de cada um, no sentido de suprir suas necessidades. Coloca a água nas fontes, mas os homens, para saciar a sede, terão que buscá- la, para beber. Espraia os raios solare3, com uma tem­peratura que um ser encarnado não suportaria, parado o dia todo, em um só lugar; mas esse, movendo-se, su­porta e se beneficia.

Guardou Deus, no seio da terra, todos os elementos indispensáveis ao bem estar da huminidade, esperando que esta se movimente e descubra condições para o con­forto próprio, obedecendo a lei de esforçar-se para viver melhor. São os rudimentos da verdadeira prece; é o “batei e abrir-se-vos-á"; é o “ pedi e dar-se-vos-á” ; é o cai e achareis". A lei soberana de Deus rege todos os quadrantes da vida, dando a cada um segundo o seu merecimento. Não há perda das aquisições, nem des­vios da justiça. As leis nunca foram burladas; mas sim, dirigidas por um amor que, jamais, foi insensível aos corações que sofrem.

A sinfonia da vida universal é uma eterna oração : a a perda se esvai, sem ter condições de exigir algo em troca do seu sacrifício. Mas a lei não a abandona, e lhe dará, no futuro, uma evolução superior. A árvore se desfaz, até o pó; o animal é arrastado ao sacrifício, pelo sustento dos homens. Mas o amanhã lhe reserva o amparo da justiça.

E o homem, que tem superioridade sobre todas as coisas do mundo, não deve buscar a humildade, a re signação e a esperança ? Deve, sim. E, avantajando-se aos outros reinos, passo a passo, há de chegar à pleni­tude da caridade, que sempre se confunde com a ciên­cia da oração.

“ Pai nosso que estais nos céus, santificado seja o vosso nome” .

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IGUALDADE

"Tudo quanto, pois, quereis que os homens vos façam, assim fazei-o vós também a eles; porque esta é a lei, e os profetas” .

— Mateus : Cap. 7, Vers. 12.

Fazer aos outros o que queremos que nos façam é o respeito aos direitos alheios. É sentir no semelhante um ser igual a nós mesmos, com os mesmos deveres e direitos, perante a lei. Essa atitude estando em prática, não haverá discórdia, não haverá maldade, não haverá maledicência, porquanto a igualdade de deveres e direi­tos nivela as criaturas. Cada um de nós pode agir de várias maneiras, como sejam : aceitar ou não opiniões, apresentar idéias ou adiá-las para outra oportunidade; usar de energia ou continuar paciente, falar ou silen­ciar e assim sucessivamente. Tudo depende daquele a quem estamos nos dirigindo e de sua sensibilidade. A lei nos traçou metas determinadas para que deixemos de ser motivo de escândalo. Fazendo aos outros somen­te aquilo que gostaríamos nos fosse feito e, mesmo assim, feríssemos alguém, embora não fosse essa a nossa intenção, a lei tem recursos para socorrer o ofen­dido.

Prestemos bem atenção : quando premeditamos uma coisa, principalmente em se tratando de ofender alguém, nossas palavras se tornam veículo de um fluído intoxicante. Ativamos em nosso coração, como no da vítima, uma série de maldades atávicas, acordando nas almas um passado muito distante, onde as duas pessoas se envenenam, criando um clima maldizente e eliminando todo o bem que porventura existisse entre as duas al­mas. Tudo isso, por faltar determinado conhecimento das verdades evangélicas. Tudo isso, por não conhecermos ou deixarmos de praticar os rudimentos do amor. Tudo isso, por termos nos esquecido da lei que a todos dá direito

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de viver com iguais deveres e com idêntico respeito de uns para com os outros. Ser-nos-á fácil respeitar os df reitos dos semelhantes se conhecermos a Cristo, ini­ciando o aprendizado com Ele.

E ser-nos-á difícil viver o que o Mestre expõe para a humanidade, se ainda nos sentimos ligados ao primi- tivismo, dando sequência aos impulsos dos nossos an­cestrais, impulsos de vingança, de ódio, de força bruta, onde há mais sede de sangue do que propriamente de água. O evangelho não é para esta ordem de pessoas. Ele é um testamento deixado para os herdeiros do reino de Deus.

Quem não se interessar por esse reino, não pode­rá herdar os valores imortais da boa nova. O Cristo não é o mensageiro para os indiferentes, mas representa uma luz benfazeja para os homens de boa vontade. Não veio dar pérolas aos porcos, nem coisas santas aos cães. Surgiu, por misericórdia de Deus, no panorama do mundo, como Mestre incomparável. Quem ainda não chegou à idade de entiar na escola do Senhor, que se entregue ao tempo, preparador de almas, mas não sir­va de pedra de tropeço aos outros, nem motivo de es­cândalo, para muitos, porquanto é, ainda, o Cristo, que nos fala acerca dessa classe de espíritos : — “Antes não tivesesm nascido!” .

Se é necessário o escândalo, ai daquele por inter­médio do qual o escândalo vier !

Deus fundou a academia do amor, colocando Jesus como Mestre dos mestres, reduzindo milhares de livros em um só : O Evangelho. Nessas poucas páginas estão o céu e os anjos; a luz e a verdade; a caridade e o amor; a paciência e a humildade; o sorriso e a tranqui­lidade; a alegria e a mansidão; a confiança e o perdão, em bênçãos de luz.

Fazer aos outros somente o que queremos para nós é regra áurea do Cristo. É o começo da caridade e, ao pensarmos nesse caminho, outros preceitos surgirão a nos preparar para o amor.

Cada qual possui direitos limitados, dentro de deve­res sem limites. Os sábios não se preocupam em au-

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mentar os limites dos direitnc o

precisão, até onde vão esses limité"1' Pr° CUram’ con'Peito seja hábito de cada dia. ^ qUe ° rCS’

Todavia, não vos perturbeis com liantes dos deveres.

Procurai ser úteis, a toda hora e toda a vida.

O Evangelho nos chama a tnnW j ferindo igualdade a todos os esnfritaí ' 6 ,rma°S’ C° " ‘ procedência única. t08, cm considerando a

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CONDUTA CRISTÃ

“ Em tudo dai graças, porque esta é a von­tade de Deus em Cristo Jesus para convos- co".

— Tessalonicenses - Cap. 5 v. 18.

Uma das coisas mais difíceis, nas relações com os nossos semelhantes, é dar conselhos. Quando o conse­lheiro não segue os preceitos que indica para os outros, gera uma grande desconfiança no irmão que está ouvin­do, que passa a espreitar a vida que é levada pelo seu guia espiritual. Essa vida tem que ser reta, obedecer à conduta indicada, iluminada pela sinceridade. Se as­sim não for, o trabalho ficará perdido.

A palavra é o veículo daquilo que somos; os sons que articulamos, mesmo interpretados de maneira dife­rente da que sentimos, conduzem fluidos que nunca po­dem ser mudados. Eles levam a mensagem do sentimento íntimo de quem emite as palavras para o coração dos ouvintes, fazendo-os sentir a realidade do que pensa e vive o conselheiro.

O importante é viver, antes de falar, para que a pa­lavra encontre a segurança do coração. O cristão dos nossos dias não têm desculpas a dar, porque já se pas­saram dois mil anos de fermentação dos preceitos evan­gélicos, no laboratório do raciocínio e no céu do cora­ção. A meditação foi prolongada, para tomarmos boas diretrizes.

O Cristo nunca pediu sacrifício total, de um dia pa­ra outro. Todavia, não é por causa da misericórdia des­sa tolerância que vamos esquecer de aplicar aquilo que é do nosso dever : o esforço próprio, todos os dias. Es­perar que o tempo se encarregue disso, e que a natu­reza inconsciente selecione nossos caminhos, não deve ser pensamento do cristão. Está a cargo da sensibilida-

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de interna fazer muita coisa, contudo, ela só agirá com o comando mental, com a decisão tomada pelo espírito, pois a vontade é tudo nesse campo.

Querendo, andareis; querendo, falareis coisas úteis; querendo, reconstruireis a vós mesmos. O céu, na ter­ra, depende desse reino em cada alma, e o esforço ó imprescindível nessa conquista.

Quando encontrardes um irmão que aconselha, vi­vendo, acatai esse amigo, e agradecei a Deus, Já que es­se irmão representa uma dádiva dos céus para a terra, uma presença mais direta do Senhor, para com os ho­mens.

Falar muito, além do conveniente, tanto esgota o fí­sico de quem fala, quanto desorienta a quem ouve. O policiamento das conversações pode, e deve, ser feito constantemente, para que elas construam, edifiquem e iluminem. O verbo é sagrado, e a nossa vontade ó di­vina; saber usar um e outro, é compreender o chama­mento do Cristo, para a verdadeira vida. Eis as boas normas : falar pouco, mas sentindo; falar pouco, mas limpando, como se a palavra fosse água e sabão.

O apóstolo Paulo recomenda a todos a retribuir o mal com o bem, porque este último tem o poder do isolar o primeiro. O perdão constitui a segurança para os ofendidos. "Regozijai-vos sempre, e orai sem ces­sar", preceitua a Boa Nova. O regozijo, em tudo, faz ge­rar em nós a humildade, ao ponto de reconhecermos que ninguém recebe o que não merece. Orar sempre é procurar, através da prece, o ambiente espiritual, no sentido de resistirmos às tentações, afastando-as, com eficiência, do nosso caminho.

Não julgueis aos outros, porque não conheceis bem os vossos semelhantes; julgai a vós mesmos, por co­nhecerdes melhor os vossos atos.

Não desprezeis as profecias; elas, como árvores, ofertam frutos; necessário se fazer bom discernimento na escolha que fizerdes.

Abster-vos de todo mal é prova de já conhecerdes, por experiência, sua ação degradante e subversiva.

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Vivei com o amor, em todos os casos, em todas as horas, na certeza de que ele vos defende de todo o mal, preparando-vos para o ingresso no reino dos céus.

Se, por acaso, surgir em vosso caminho variadas tempestades para vos desviar do Cristo, não vos deis por vencidos. Mesmo enfermos, mesmo mutilados, mes­mo caindo aos pedaços, mesmo morrendo, procedei co­mo escreve o apóstolo. Escutêmo-lo :

"Em tudo dai graças, porque esta é a von­tade de Deus em Cristo Jesus para con- vosco” .

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DAR A VIDA

"Porque muitos dos judeus, por causa dele, voltavam crendo em Jesus” .— João - Cap. 12, v. 11.

Narra o Evangelho que, em Betânia, havia um ho­mem, de nome Lázaro, que estava em chagas. Era ir­mão de Maria e Marta, mulheres que criam em Jesus como enviado de Deus, para salvação dos homens, e buscavam entender os ensinos evangélicos, em espírito e verdade.

Certamente, aceitamos que o espírito de Lázaro, an­tes de reencarnar-se, compromissou-se com o mundo es­piritual, de compartilhar com o Cristo, na sua rutilante missão de difundir a verdade. Serviria ele, Lázaro, como instrumento para a glória de Deus, nas mãos do Naza- zeno. Ser-lhe-ia dada essa oportunidade para, ao lado do Mestre, ser útil ao sustento da fé, perante os que duvidassem da procedência do Messias prometido pe­los céus.

Assim, a alma de Lázaro, já carregando consigo de­ficiências nos órgãos espirituais, tomou um corpo físi­co, de maneira que, à época marcada, e no devido mo­mento, a carne refletisse a enfermidade planejada no mundo dos espíritos, para que todos os moradores de Betânia e adjacências pudessem constatar a doença in­curável pelos terapeutas da época, ficando Lázaro rele­gado ao esquecimento, pelos seus semelhantes. Desa­pareceram os amigos e muitos dos parentes. Somente Marta e Maria não o abandonaram.

Jesus, conhecendo esse leproso, dedicou-lhe grande amizade, não só pelos dotes de seu coração, mas também por estar consciente da função de Lázaro no esquema das curas a serem efetuadas pelo seu estuante poder magnético, a esplender o puro amor, como fonte ines­gotável, por todos os lados.

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Lázaro não sofria por resgate; aceitou aquela tarefa, por missão. Existem vários tipos de dor, nos diversos caminhos da terra. A do irmão de Maria e Marta, não era dívida. Cooperava ele, por aquele meio, com o pla­no esquematizado pelos engenheiros siderais, de ligação do céu com a terra, por intermédio de Jesus Cristo. O Mestre não derrogou a lei, curando a Lázaro, dando saúde a quem não merecia. Jamais faria tai injustiça. Curava sempre os enfermos que sabia estarem esgo­tando seus carmas, ou então, como no caso de Lázaro, de sofrimento por missão. Aos que padeciam provas in­dispensáveis aos seus progressos, somente aliviava, di­zendo : “vai, e não peques mais, para que não te acon­teçam coisas piores".

O amor, regulando a lei, oferta ao sofredor a mise­ricórdia do alívio, porquanto a dor, em muitos casos, representa o verdadeiro remédio para os sofredores, e somente ela, com seu aguilhão, desperta nos corações os sentimentos de amor e caridade.

Jesus não deu a vida a Lázaro. Apenas fê-io voltar à vida terrena, pois quem dá a vida é só Deus. Cristo, chamando o espírito de Lázaro para retomar o corpo, es­tava, com isso, ressuscitando a fé nos corações e con­vertendo os judeus à sua doutrina de amor e de perdão. O Mestre tinha milhares de espíritos superiores às suas órdens, para concretizarem suas vontades, em instantes. Nada existiu fora da lei, tudo foi planejado antes da sua vinda à terra, para glória da vida imortal.

Querer julgar o Cristo, com o curto raciocínio que o homem possui, como diz Guerra Junqueiro, ’ é o mesmo que querer apagar o Sol, com o apagador de lata de uma igreja” . E como os principais sacerdotes da época não podiam operar com a divindade do Mestre, decidi­ram matar Lázaro. Notamos o ciúme do mundo farisál- co : quando não entendem uma missão divina, como foi a de Jesus, querem destruí-la.

Assim acontece com a revivência do Evangelho, no clarão bendito da Doutrina dos Espíritos. Como não foi entendida, arvoraram-se, com a mesma linguagem fari- sáica, para destruí-la, e, não o conseguindo, buscam, no silêncio, deturpá-la.

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Mas o Deus verdadeiro não precisa receber adver­tências dos homens, nem ter cuidado com os fariseus modernos. Ele sabe o que faz, tudo vê, tudo prevê, dis­tribuindo pela lei, seu maior agente em toda a criação, os recursos indispensáveis para a defesa da verdade, que haverá de fulgurar, cumprindo-se a profecia de que só ela ficará de pé.

E, permita Deus que apareçam, nas hostes espíritas, muitos Lázaros, por intermédio dos quais a fé se esten­da, sem limites.

“ Porque muitos dos judeus, por causa dele, voltavam crendo em Jesus".

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OURO DO MUNDO

“ Então disse Jesus a seus discípulos : emverdade vos digo que um rico dificilmente entrará no reino dos céus” .

— Mateus — Cap. 19, v. 23.

O Messias não disse que era impossível um rico entrar no reino dos céus. Não iria o Mestre dizer uma inverdade. As dificuldades são inúmeras, para os ricos de todas as ordens. Nesse texto, escrito por Mateus, não encontramos o Evangelho afirmando que o pobre te ria entrada franca no reino de Deus. Se, dificilmente, um rico entraria nos céus, as mesmas dificuldades en­contraria um pobre, por ser, tanto quanto o rico, espírito devedor, sujeito às mesmas leis do Senhor.

Se a riqueza é uma provação, igualmente o é a po­breza, talvez pior. Tudo depende do modo pelo qual re­cebemos, quando no mundo, tanto a pobreza, quanto a liqueza. São duas forças poderosas, que margeiam o espí­rito na terra e que poderão, ou não, ser bem usadas. Só o espírito evoluído sabe aproveitar uma e outra, é difí­cil entrar no reino divino um rico avarento, que não sa­be fazer uso de sua fortuna.

Os valores materiais, principalmente nos nossos tempos, nunca são inúteis pois, de qualquer forma, es­tão em função do bem. Milhares de famílias vivem dos salários que os bancos pagam aos seus funcionários, outro tanto das fábricas, e até mesmo o luxo propicia serviço digno a muita gente.

O ouro é uma energia poderosa, correndo nas veias da evolução e, sem ele, voltaríamos às cavernas. Sem dúvida, poderá um operário ter melhor lugar no mundo espiritual, mas acontece também o contrário; quem conhece a lei da reencarnação, sabe de sobra, que um pobre poderá ser mais usurário que um abastado, e tal­

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vez seja isso que o tenha colocado no lugar onde se encontra. O espírito tem que percorrer todos os caminhos, que constituem escolas, onde a alma vai aprendendo, de degrau em degrau, até escalonar o ápice da perfei­ção.

Na falta de grandes empresas, surgidas pela força do ouro, como disseminaríamos o Evangelho ? Hoje, com as luzes do progresso, seria ridículo, se não Im­possível, copiar os livros a pena de pato. A inteligên­cia abriu clareiras novas, enriquecendo os meios de, com a rapidez vertiginosa das máquinas, produzir-se mi­lhares e milhares de livros por minuto. Isso não se faz sem o ouro, canalizado para as bênçãos do trabalho. O mundo não teria condições de equilíbrio, se nele vives­sem ricos, e regrediría a humanidade às suas mais atrasadas origens, se todos fossem pobres.

Ler o Evangelho superficialmente, é o mesmo que comer um bom pedaço de bolo sem fome. perdendo o seu verdadeiro sabor. Importa que o conheçamos em espírito e em verdade, para o nosso próprio bem. A le­tra foi para ontem; hoje. é o espírito que vivifica. Po­bres e ricos devem ser irmãos na grande jornada, sem um querer ser mais que o outro, já que todos são fi­lhos de Deus.

Às vezes, um rico em que o pobre destila o veneno da maledicência, foi ontem seu pai, ou mãe, ou filho, ou irmão; muitas vezes, o pobre que hoje o rico persegue e despreza foi, em etapas passadas, alguém que muito o amou.

Todos fazemos parte de uma grande corrente univer­sal, e cada elo precisa do outro. A fraternidade não é um mito, constitui uma realidade, em todos os ângulos da criação. Compreendemos, pois, as necessidades da ajuda de uns para com os outros, pobres e ricos. Avan­cemos, de mãos dadas, em busca da verdadeira felici­dade, que, se não está no dinheiro, também não mora na pobreza : é um estado de alma, que se chama evo­lução.

Na verdade, muitos espíritos descambaram para os precipícios inferiores, por mau uso das possibilidades

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que o ouro lhes conferia; por outro lado, quantos po­bres não foram parar em zonas inferiores, depois do desencarne, por se revoltar com a miséria temporária em que se encontravam na terra ? As bem-aventuranças foram ofertadas para os que sofrem, para os que cho­ram, para os humildes, porque esses já se encontram às portas do arrependimento. Os ricos que entram nos céus sem dificuldades são os ricos de virtudes; os po­bres que entram no reino de Deus, são os pobres de ignorância.

Se Deus confiou aos pobres os serviços mais ru­des, enviou os ricos, em missão de ajudar, nas horas difíceis. Se o Cristo entregou aos poderosos o campo direcional dos bens terrenos, espera dos pobres a ajuda compreensiva, sem a aqual nada será feito. Se não é fácil, a um rico, entrar no reino de Deus, um pobre, também, lutará com grandes dificuldades, mas a nenhum será impossível.

"Então disse Jesus a seus discípulos : Em verdade vos digo que um rico dificilmente entrará no reino dos céus” .

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CURAR OS ENFERMOS

“ À vista deste acontecimento, os demais enfermos da iiha vieram e foram curados".— Atos - Cap. 28, v. 9.

Nada existe que maior atração exerça sobre a mas­sa humana, que o poder de curar. Esse dom desperta, em todos, profundo interesse : os que sofrem, querem ficar livres de seus padecimentos; os sãos, vêem-se mo­tivados pela crença nas coisas misteriosas. Mesmo aqueles que negam a verdade, já o fazem no Intuito de combater algo da afirmação que existe dentro de si, nu­ma espécie de revolta, diante da existência de fatos inexplicáveis.

Nenhum filho espiritual pode negar por muito tempo a existência do Criador Divino, porque todos fomos fei­tos com o mesmo amor. A semente, se fosse dotada da razão, revoltar-se-ia, quando lançada no escuro seio do solo, para sofrer a opressão da natureza da terra, a fermentar suas entranhas, como se fosse uma intrusa. No entanto, passados os dias de hospitalização no leito escabroso do solo, começa uma vida nova para a se. mente. Pela força das necessidades, ela rompe os pe­sados torrões e vislumbra a claridade, contempla os céus, respira na terra, e deseja algo mais. Sua ânsia é de crescer, e a certeza latente da existência de Deus é tanta, que os galhos, em forma de mãos, esticam-se para o alto, como em preces ao Criador. E as raízes, semelhando unhas, agarram-se às profundezas da argila, sugando desta o alimento vivificante, vencendo a morte a toda hora, a sonhar com a vida eterna.

O espírito representa uma semente, que os agricul­tores divinos, por ordem da lei, plantam na carne. Por já ter conquistado a razão, ele intenta estendê-la além dos limites, tentando ultrapassá-los. Acha que é dotado de liberdade infinita, e não procura os conhecimentos da

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lei de Deus; nega sua procedência, procura os caminhos que lhe apraz, traça os roteiros que acha melhor, pensa que é de superioridade incomum; revolta-se, quando so­fre, por não entender a dor, mas nunca consegue fazer o que deseja.

Os obstáculos, as dores, os reveses, as decepções, amadurecem o espírito. As forças das necessidades explodem em seu íntimo, fazendo crescer o pendão da esperança e, aí, retoma a verdadeira vida. Mesmo liga­do à terra, começa a contemplar os céus, a sentir o Se­nhor, a viver feliz. A dor sempre faz parte da evolução dos reinos, e fará eternamente, mesmo que mude de feição, de vez em quando. E todos, de quaisquer reli­giões, lutam à procura dos fenômenos de cura, porque ela eterniza a alma nos princípios do amor. O dever do enfermo é procurar se curar, trilhando o caminho da esperança.

Notemos que o Cristo deu início à sua Boa Nova, curando os doentes. Ainda criancinha de colo, certa feita, nos braços de um ladrão enfermo, tomba a cabe- cinha divina, rente à chaga que José procurara tratar e, como por encanto, faz desaparecer a enfermidade; o do­ente, tomado de alegria, suspende o menino, como se es­tivesse em êxtase, e profetiza : “ este é o verdadeiro Cristo, que o povo de Israel espera, há tanto tempo... este é o anunciado pelos profetas". E, nunca mais, rou­bou, daquele dia em diante. O menino Jesus curara, pela primeira vez na terra, duas enfermidades, ao mesmo tempo: a do corpo e a da alma.

Foi a partir daí que seu nome começou a se espa­lhar por toda a terra, como mensageiro do céu. Tocava os corpos e esses ficavam curados; tocava, com o ver­bo, as almas, e essas, vivendo seus preceitos, curavam- se a si mesmas. Seus discípulos seguiram os mesmos caminhos, notadamente o colégio apostolar. Por onde passavam, curavam os enfermos, davam vistas aos ce­gos, e faziam voltar almas aos corpos.

A cura é o alicerce da doutrina cristã. A fé se ro- bustece quando testa um fenômeno de cura e a razão amplia os conhecimentos sobre a ciência da vida. Não

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existem materialistas, pois a sabedoria dos homens fez com que essa convicção negativa desaparecesse, dando lugar a uma essência de fé, com variadas dimensões. Todos os homens são adoradores de mistérios que, pa­ra felicidade deles, nunca vão acabar.

Paulo, em caminho, descansa em um sítio, cujo dono sofria, por ver seu pai enfermo; o apóstolo, ciente da si tuação, procura o doente, apõe-lhe as mãos e restabele­ce-lhe a saúde. A notícia corre, e todos os que foram tocados por ele, sairam curados. Não existe mensagem mais viva que esta, no preparo da alma para ingressar na escola evangélica.

A Doutrina Espírita, por reviver o Cristianismo, ó portadora da mesma Boa Nova e tem, em mãos, poderes para curar toda ordem de doenças. E, para isso, distri­bui os medicamentos para os enfermos do mundo, em formas variadas, lembrando Jesus ; dá pão a quem tem fome, veste os nus, visita os encarcerados e cura os en­fermos. Mais ainda : articula o verbo, em todos os tons, para que os espíritos enfermos sejam despertados para a cura de todos os seus males. Comparando-se a terra a uma ilha no centro do cosmo, ouvimos a palavra de Paulo :

“ À vista deste acontecimento, os demais enfermos da ilha vieram e foram curados” .

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0 PRIMEIRO MÁRTIR

"E, lançando-o fora da cidade, o apedrejaram. As testemunhas deixaram suas vestes aos pés de um jovem, chamado Saulo".

— Atos - Cap. 7, v. 58.

Estêvão era um jovem varão, filho de um camponês, que vivia do árduo trabalho do amanho da terra. Tendo perdido a mulher, restavam-lhe dois filhos, tesouros do seu melancólico coração. Na casa de Estêvão, todas as noites, era feito o serão religioso; liam e reliam todos os textos dos antigos profetas, oravam e meditavam, comungando com os enviados de Deus, no anúncio das coisas divinas.

Estêvão, como era um enviado dos céus, compreen­dia com mais perspicácia a verdade contida no livro sa­grado. Não lhe faltava intuição, quando a letra escondia a revelação divina. Também a irmã aceitava a verdade de coração aberto. Mas o velho pai, ao contrário, reluta­va, sem assimilar coisa alguma das verdades expostas no velho testamento. Porém não contradizia, deixando que os moços enriquecessem as leituras com os seus fáceis argumentos, nascidos da amplitude do entendimento de que eram possuidores.

Estêvão demorava-se em meditações acerca da ver­dade e sabia, não só pela leitura dos escritos de Isaías, mas também por intuição, faculdade que lhe era ineren­te, da vinda de um Messias ao mundo para dar início à salvação de todo o rebanho. Tinha em mente que, quan­do o Cristo pisasse o áspero chão do planeta, iria res­suscitar os mortos, dar vistas aos cegos e fazer os pa­ralíticos andarem. Mais ainda : iria ser o sábio dos sá­bios; portanto, quando aparecesse alguém com esses po­deres, seria o Cristo, anunciado, há muito tempo, pelos homens de Deus.

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Freqüentando sempre a sinagoga, Estêvão teve o es­pírito despertado para defender com grande sabedoria, um tal Nazareno, chamado por muitos de o Cristo, que estava prometido. Estevão defende Jesus das acusa­ções farisáicas. E o faz com tal inteligência, com tão profundas argumentações, que não deixava lugar para contradições lógicas. O mancebo ganhava, em sabedoria, dos principais sacerdotes, lia os velhos pergaminhos e neles baseava suas ricas exposições, dizendo que Jesus era o enviado de Deus, o prometido do Senhor.

A ignorância, quando não compreende, quando é vencida com fatos, usa da violência. Isso aconteceu na época de Estêvão e continua, sem limite de tempo. Os sacerdotes e a malta venenosa dos contraditores, não tendo outra saída, senão aceitar as interpretações de Estêvão, agarraram-no e lançaram-no fora da cidade, dando cabo do homem que defendia as verdades cristãs. Sem ter, pessoalmente, se encontrado com o Cristo, foi o primeiro a ser sacrificado, como semente da grande árvore do cristianismo.

A fé de Estêvão fê-lo, às portas da morte, vislum­brar o reino de Jesus e o mundo dos anjos. O jovem, na agonia das últimas horas, contempla a Paulo como irmão, ensinando-lhe a perdoar. Arrancam-lhe as vestes e jogam-no aos pés do carrasco, que se chamava Saulo de Tarso. Desde essa hora, a consciência do doutor da lei mosáica não teve mais sossego; os fantasmas do ódio, as sombras da vingança, atormentavam-no, dia e noite. Tornando-se um andarilho perseguidor, não pára. indo daqui para ali, como fera faminta de carne humana e sangue dos cristãos. Um dia, arregimenta uma cara­vana, no intuito de trucidar Ananias, velho servidor de Cristo, cujo verbo, que sensibilizava os corações, havia convertido sua amada. Em segundos, no caminho de Damasco, o terrorista Saulo tornou-se num vaso escolhi­do para glória de Deus, com o nome de Paulo de Tarso, um dos maiores expoentes das idéias aceitas e pregadas pela sua vítima.

Meus filhos, todos temos alguma coisa em nós da fúria de Saulo, da ignorância farisáica, e da ganância ro­mana. E, se hoje somos chamados em pleno deserto da

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vida, para seguir o Cristo, já não é mais com o sacrifí­cio do corpo na afirmação da fé, mas sacrificando ins­tintos inferiores, e pregando a Boa Nova, com a vida que deveremos levar.

Eduquemo-nos, de maneira que possamos ser partes do sol do saber; instruamo-nos, de maneira que possa­mos ser uma fonte de educação.

Não devemos esquecer, pois, que a vida reta é mo­tivo de alegria; e que a alegria cristã é porta para a fe­licidade.

Para chegarmos até à perfeição, os caminhos são longos e, pelos percursos das jornadas terrenas, vamos passar muitas e muitas vezes.

"E, lançando-o fora da cidade, o apedreja­ram. As testemunhas deixaram suas vestes aos pés de um jovem, chamado Saulo".

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A CORAGEM

"Então Pedro se lembrou da palavra que Jesus lhe dissera : antes que o galo cante tu me negarás três vezes. E saindo dali, chorou amargamente".

— Mateus - Cap. 26, v. 75.

Uma das fraquezas mais terríveis do ser humano, é o medo. Ele impede que muita coisa seja realizada, tanto para o bem, como para o mal.

O conjunto de leis funciona, na consciência, como o próprio Criador. Tanto a coragem pode ser estimulada, quanto apagada, dependendo do carma de cada espírito; O medo, tanto pode ser limpo do coração, quanto incen­tivado, dependendo, igualmente, de quem se trata. So­mos em número incontável dentro da criação do Senhor, obedecendo às mesmas leis e saídos do mesmo princí­pio. No entanto, para cada um, de acordo com o grau já alcançado, a força disciplinadora age de um modo, razão por que não podeis reclamar. É a justiça, em relação di­reta com o amor.

Se bem notardes, podereis encontrar uma explica­ção dos fatos, mesmo entre os animais, que apresen­tam diversificações da natureza, tal qual nos homens. Existem animais medrosos, outros valentes; animais in­teligentes. outros estultos: animais retardados, outros ativos e, assim, sucessivamente. No gênero humano, é quase a mesma coisa; a diversidade ainda cresce mais, dado o campo de evolução ser muito maior.

Tanto o medo, quanto a coragem, podem ser dividi­dos, na casa humana, em duas partes : material e espi­ritual. Há pesoas que dispõem de uma coragem impres­sionante, em relação às coisas do mundo; para brigar, enfrentar negócios perigosos, viajar por todos os cantos da terra. Tratando-se da linha de acontecimentos físicos,

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são campeões. Mas, se olhadas sob o prisma da área espiritual, são verdadeiras negações. Perdem por com­pleto o entusiasmo de prosseguir, não suportam uma dor com coragem, não compreendem o ofensor, acovardam- se diante da dor moral e, às vezes, tiram a própria vida física, com a impressão de que estão fugindo dos proble­mas extra-materiais.

E vice-versa : há irmãos que chegam ao cúmulo de ter medo de ir pagar um simples imposto, e esse mesmo homem enfrenta problemas morais que derrubariam uma cidade inteira. Animais há, que saltam no cangote de um touro, abatendo-o, mas correm, espavoridos, ao som das palmas das mãos de um homem. De vez em quando, coragem e medo se misturam, e o embaraço da alma é inexplicável, perdendo-se em labirintos sem igual.

Um dos maiores guerreiros da antiga Roma, cuja fa­

ma, por si só, já matava, não dormia sozinho em um quarto, com medo de fantasma e, quando escurecia, re­colhia-se sem raciocínio, tomado de pavor. Foi o seu mal, pois quando alguém lhe descobriu essa fraqueza, com poucos homens encapuçados, alta madrugada, fez render-se a fera do dia.

Jesus conhecia, como por encanto, as qualidades e defeitos do ser humano, principalmente dos seus discí­pulos. Para testificar isso, falara a Pedro: “ antes que o galo cante, me negarás três vezes” ; O próprio apóstolo não desconfiava da fraqueza de temer os perseguidores do Mestre, e negar que era companheiro de Jesus. Pe­dro tinha medo da perseguição, dos processos terríveis usados pelos fariseus e romanos, contra os que eram acusados de subversivos. Paulo, pelo contrário, já não temia Roma nem o mundo, quando se dispôs a servir ao Cristo.

O problema de como adquirir coragem e aplicá-la da forma mais útil, foi a grande luta dos espiritualistas de lodo o mundo. Como colocar a coragem a serviço da fé, como colocar a coragem a favor da liberdade, como colocar a coragem para introduzir o amor.

Somente o Cristo trouxe a solução : derrubou Pau­lo no deserto de Damasco, mostrando-lhe a nova dire­ção para sua impetuosa coragem; lembrou a Pedro que

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ele poderia negá-lo, antes que o galo anunciasse novo dia, despertando-lhe a consciência para a verdadeira co­ragem; buscou a Ananias em oração, para oferecer amor a Paulo, mas beber deste, coragem. Madalena tinha medo de sair do antro de perdição. Cristo injeta-lhe a coragem de se salvar, pelo amor. Cristo fala a Nicode- mòs das verdades, sem temor. A qualquer hora da noi­te prepara seus discípulos, divide-os em grupos e man- da-os pregar o Evangelho, já com preparo de consciên­cia, para usar da coragem na hora certa, e temer-se a si mesmos, no sentido de conhecer-se bem.

Devemos nos esquivar de falar da vida alheia, mas ter bastante coragem para combater erros; devemos temer ofender nossos semelhantes, mas ser intransigen­tes conosco mesmos, no sentido de aprendermos a co­ragem cristã, porque só ela nos colocará no lugar de vencedores da vida.

Fazei da vosas vida um completo testemunho da fé que esposais, porque antes que alguém vos pergunte,já viveis.

"Jesus lhe dissera : antes que o galo cante, tu me negarás três vezes. E, saindo dali, chorou amargamente".

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0 ESPINHO

“ E, para que não me ensoberbecesse com a grandeza das revelações, foi-me posto um espinho na carne, mensageiro de Satanás, para me esbofetear, a fim de que não me exaltasse".

— Il Corintios - Cap. 12, v. 7.

Somente da dor nascem as coisas belas, mormente nos planos em que temporariamente habitamos"

Quando, no mundo, planejamos uma grande cons­trução, não pode faltar a dor, que se manifesta já nos rudimentos do arcabouço planejado. Tritura-se a pedra, transformando-a em cimento; tritura-se a pedra, para que a brita apareça; trabalham as marretas, e a mesma pedra vem a ser o alicerce que garante o imponente edifício. A pedra se desfaz, para dar lugar à expressão bela, que todos contemplarão com felicidade. O ferro, que vai se confraternizar com o cimento, e a pedra em pedaços, passou igualmente por temperaturas insuportá­veis, até chegar ao estado desejado, dando sua coope­ração à feitura da casa. A madeira passou por reveses indescritíveis e, nessa fileira de coisas cooperadoras, baseia-se o milagre do edifício. A dor foi a luz, a dor foi o agente, a dor foi a inteligência, que plasmou a obra e deu um misto de beleza e sabedoria à concret! zação do trabalho planejado.

Jesus Cristo planejou o maior edifício doutrinário da terra e, como a casa é de outra ordem, os elementos usados são diferentes. Lançou mão das pedras huma­nas. Escolheu um punhado de homens que pudessem servi-lo com dedicação, que pudessem viver as leis anun­ciadas por Ele, como agente direto de Deus. Alicerçou, com esses homens, a casa de Deus na terra, sem me­do de desmoronamento. Confiava na vitória, porquanto nunca errara, em planos como esse. Mas não se esque­

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ceu da energia vivificante, a dor, para todos os seus se­guidores. Iniciou com seu próprio testemunho, para que não viessem a falar : ele não sofreu, e espera de nós dores insuportáveis.

Foi marcante sua vida no seio da família humana, dando provas de todos os valores, para que esses fos­sem imitados pelos seguidores do seu manso e humilde coração. Não houve e não haverá companheiro do Mes­tre sem o espinho na carne, mensageiro das trevas, aguilhão estuante que, na sua expressão de fantasma, mata a vaidade e destrói o egoísmo.

Conhecia Jesus, como grande psicólogo, a necessi­dade da dor para o ser humano. Ela ajusta a alma, fa­zendo-a pensar com maturidade. Aprendemos tudo, em teoria, pelo amor; depois esse amor transforma-se em dor, gravando em fatos, no recesso do ser, o que já existia como sonhos. A realidade é essa, e não podere­mos fugir das suas diretrizes.I Aqueles que nos revelam os nossos defeitos, em muitas ocasiões nos são mais úteis, pois os amigos são tolerantes, e a vaidade cresce nesse clima; o orgulho toma proporções indizíveis, que embrutecem o espírito na jornada.

Todo ser humano é portador de espinhos na carne, sem os quais não se educaria. As perseguições dos fa­riseus aos cristãos nascentes é que propagaram as idéias do Cristo; as perseguições à Doutrina dos Espí­ritos, codificada por Allan Kardec, é que a fez espraiar- se por toda a superfície do globo, vertiginosamente. Se guardarmos um frasco de essência rara, sem conhecer­mos o conteúdo, logo nos esquecemos e nos desinte ressamos dele: mas, se quebramos esse frasco e somos molhados pelo seu líquido, a desprender doces fragân- cias, sentimos a realidade, e anunciamos suas qualida­des. O espírito representa um perfume no frasco da carne: quando essa é torturada, desprende ele aromas dos céus, deixando lembranças inesquecíveis.

Todos temos problemas a resolver e é na opres­são da dor, nas lutas pela vida, entre lágrimas e pro­vas, que a alma adquire forças e valores imortais, com­petindo assim na existência que passa, em busca da felicidade que a espera.

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Se tendes problemas, não desespereis, procurai so­lucioná-los com ponderação e discernimento.

Se tiverdes ódio de alguém, não continueis assim, nem mais um segundo : procurai a solução, perdoando sem condições.

Se tiverdes muitos espinhos na carne, em variadas formas, consultai a consciência, que o Cristo falará por ela o que deveis fazer.

Não queirais fugir da dor, antes de compreender sua valorosa mensagem. Escutemos o que diz Paulo aos Coríntios :

“ E, para que não me ensoberbecesse com a grandeza das revelações, foi-me posto um espinho na carne, mensageiro de Satanás, para me esbofetear, a fim de que não me exaltasse” .

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COMPREENSÃO

“ Disse-lhe João : Mestre, vimos um homem que em teu nome expelia demônios, o qual não nos segue; e nós lhe proibimos, porque não seguia conosco” .

— Marcos - Cap. 9, v. 38.

Nos bastidores de todas as religiões há uma falta de compreensão enorme, cada uma quer ser herdeira di­reta das qualidades de Jesus. A ignorância humana faz, do grande Mestre, um joguete, como se ele fosse orien­tado pelos embotados raciocínios de vários seres dese­quilibrados. Falam de Moisés, que subiu ao monte para acalmar a fúria do seu Deus e, depois de mais de três mil anos, querem fazer o mesmo com Jesus. Reúnem um grupo de homens escorraçados de outras tribos re­ligiosas, traçam planos envernizados pela vaidade e pela vingança, e afirmam, aos quatro ventos, que têm a chan­cela do Cristo.

Quantas dissidências, meu Deus, já surgiram, por falta de humildade e compreensão dos novos seguidores da doutrina cristã? Milhares e milhares... cada uma apresentando teorias as mais obscuras, nascidas das discórdias. Mas Jesus já previra isso, dizendo-nos para termos cuidado com os fariseus, que haveriram de dis­seminar-se como o pó, por todos os quadrantes da es­fera terrestre.

Eis que aí estão eles, a proferir impropérios, a le­vantar seus castelos de certa beleza aparente, mas em cima da areia. Se vêem outros curando, em nome de Jesus, falam que é Satanás. Se vêem alguns dando pão a quem tem fome, anunciam, com todos os poderes que possuem que, da mesma forma, age o espírito do mal, para enganar até aos escolhidos que, nesse caso, se­riam eles.

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Quando surgem explicações dos Evangelhos, suplan­tando as de todas as outras correntes juntas, asseveram, com eloqüência, que o espírito das trevas faz-se sábio, veste-se de luz, para que a humanidade se perca. Fe­cham o coração e a inteligência, dizendo que ninguém se salva pelas obras, nem pelo muito saber, somente pelo arrependimento, e aceitando a Cristo. Para esses, vale a palavra de Jesus : “cego que guia cego, ambos caem no buraco". Esquecem-se. esses irmãos, do Deus universal, do Cristo cósmico, que opera em toda parte e por todos os meios.

Todas as religiões são raios do mesmo sol, Deus. Cada uma com o destino de aquecer em um lugar. Mas as divisões são trevas nascidas da pura ignorância hu­mana, e talvez sejam necessárias, pois o próprio Cristo nos revela que é imprescindível o escândalo, mas acrescenta: “ ai daquele que escandalizar". Também di­remos : ai daquele que intentar enfraquecer uma dou­trina planejada nas luzes espirituais. Até hoje, todos têm caído como frutos imprestáveis.

Quanto aos religiosos, cada um acha que está cer­to. no curto raciocínio que faz das leis de Deus, e, co­mo fizeram os discípulos, querem proibir a quem cura em nome de Jesus. Ainda dispõem de tempo para ir contra os que consolam os desesperados. Ainda procu­ram empanar a explicação, em espírito e em verdade, dos escritos evangélicos. Graças a Deus, nunca conse­guiram, e jamais conseguirão, tal absurdo. Esquecem a verdade dos espíritos supereriores de que todos, mas todos aqueles que tiverem como princípio o bem comum, se fgndirão em um só saber, em uma só religião, em uma só ciência, porque adquiriram, por experiência com Jesus, a grande virtude denominada COMPREENSÃO.

Se alguém está fazendo o bem, em nome de Je­sus, no catolicismo, não repilais, porquanto é também seu discípulo. Se, porventura, alguns estimulam a cari dade, em nome do Cristo, com a Bíblia nas mãos, não repudieis, pois esses, igualmente, procuram ao Senhor.

Se procurardes servir, sem recompensa, a todos, com compreensão, em torno do Mestre, eles, os outros

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seguidores do Nazareno, não vos impedirão, porque não houve, da parte de Jesus, nenhum impedimento, quando alguém, que ele não conhecia, operava em seu nome.

Esforcemo-nos, para nunca fazer como procederam os discípulos, neste versículo :

Disse-lhe João : “ Mestre, vimos um ho­mem que em teu nome expelia demônios, o qual não nos segue; e nós Iho proibimos» porque não seguia conosco".

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COMO ANUNCIAR JESUS

"Teve Paulo durante a noite uma visão em que o Senhor lhe disse : Não temas; pelo contrário, fala e não te cales” .

— Atos - Cap. 18, v. 9.

Anunciar Jesus Cristo através da palavra, não cons­titu i dificuldade. Talvez seja até uma fonte de bem es­tar, se não de vaidade, para aqueles que têm o dom de falar bem, de atrair as massas com a força do verbo, profundamente eivado do magnetismo de várias nature­zas.

Torna-se. no entanto, um método de grande alcance, quando a palavra procede de um coração em estado de vivência com as coisas de Deus. Ouem vive e anuncia coisas de natureza elevada, não dá lugar para orgulho e vaidade. Era dessa forma que Paulo falava; de outra forma não conseguiría arrebatar as multidões, como fa­zia. O apóstolo de Tarso deu o mais importante teste­munho, não só da natureza do Cristo como mensageiro de Deus, como espírito de alta envergadura espiritual, como também da sua comunicação espiritual, depois da morte.

Paulo era contra as idéias cristãs, ao extremo de tirar as vidas dos seguidores das novas idéias. Doutor da lei, com posição firmada nas sinagogas, como iria abandonar tudo isso, renunciar à vida de fausto que le­vava, para recolher-se a um deserto, faminto, humilde, engrossando as mãos no trabalho árduo de cada dia, por amor a uma causa ? Sem ela existir ? Seria loucura pro­ceder dessa forma, mas os fatos comprovam que Paulo estava em pleno exercício das suas faculdades, com alto discernimento. A conversão de Paulo às idéias re­novadoras é a prova mais elevada do valor do Evangelho e de que Jesus realmente era o Cristo que havia de vir, anunciado pelos profetas do velho testamento.

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VIGILÂNCIA

“ Mas, vós, irmãos, não estais em trevas, para que esse dia como ladrão vos apanhe de surpresa".

— I Tessalonicenses - Cap. 5, v. 4.

Se o homem fosse espírito puro, não estaria reen- carnado na terra, sofrendo as duras conseqüências deste plano. A evolução é uma lei criada por Deus, e é con­templando os horizontes da terra que os espíritos se tornam conscientes da necessidade das lutas que devem empreender, para se libertar do pesado fardo da ignorân­cia em que se encontram.

Viver no mundo, é lutar e sofrer. Desde os primei­ros instantes em que ingressa pelas portas da reencar- nação, o espírito carrega consigo a bagagem das expe­riências e das necessidades, e se vê ante as lutas in­dispensáveis que vai enfrentar, com o dragão dos seus instintos inferiores. A consciência representa o general implacável que não dá tréguas, dirigindo a guerra íntima, única capaz de levar à vitória, abrindo novos prismas para a alma erguer-se para Deus.

Para o combate, a primeira arma necessária é a vi­gilância. Quem não aprendeu a vigiar, continua caindo nas armadilhas dos lobos. E como o Evangelho diz que só lobos caem em armadilha de lobos, os que não con­seguem vigiar, continuam a ser lobos. Eis um jogo di­fícil de ser assimilado : nunca seremos eternamente lo­bos. Nos primeiros anos de escola, as crianças apren­dem apenas os rudimentos do saber. Com a idade, elas vão crescendo também no tamanho dos conhecimentos.

O espírito não foge a essa regra; as primeiras en­carnações servem para ambientá-lo com as roupas físi­cas, que não conhecia. Com as trocas incessantes, quantas forem necessárias, vai assimilando os princípios

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da verdade, com maior interesse e, notadamente, com mais amor. A natureza material não dá saltos, muito menos a espiritual: a evolução é gradativa, mas perfeita: demorada, mas permanente: sofre reveses variados, mas vence a necessidade e encontra a plenitude da paz.

Paulo escreve aos tessalonicenses, argumentando sobre a necessidade da vigilância, não somente como de­fesa dos valores daqueles espíritos, como também por­que chegara a hora desse exercício para aquelas almas, já maduras para Cristo. Vigiar, constitui a primeira defesa da alma, na batalha consigo mesma : policiar suas mais caras experiências, que a consciência selecionou, con­tra as investidas do mal, que deturpa: da ignorância, cia que desestimula; da sombra, que entristece.

O exercício do pensamento poderá ser uma lavoura de conhecimentos inesgotáveis e, deste manejo individual, tiraremos lições valiosas, porque a razão constitui pro­fessor insubstituível, no templo do coração.

Por incrível que pareça, não conseguimos fazer na­da disso sozinhos, alguém coopera conosco e Deus com todos. Prestemos um pouco de atenção às coisas da terra, e daremos maior valor à vigilância. Se não fosse a vigilância da casca da fruta, não teríamos seu conteú­do; se não fosse a vigilância das grossas cascas das árvores, nunca teríamos os frutos; se não fosse a vigi­lância do ar, que circunda a terra, não haveria vida. Os raios do Sol, portadores de elementos indispensáveis às existências físicas, sem a vigilância, que regula, po­dem queimar e produzir a morte. Por esses prismas, podereis tirar inúmeros outros, para ilustração mais ampla.

Assim também ocorre com as almas. A vigilância é imprescindível nas lutas empreendidas em busca do Se­nhor. Comecemos a vigiar nossos pensamentos, que não devem ser deformados pelo verbo, pois no campo em que estais, na carne, a palavra, conforme sua estrutura, pode servir de escândalo, e a vigilância tem o poder de silenciar o pensamento nascido no fermento do mal. Com esse exercício, os sentimentos tomarão outros rumos, e a alma entrará na era dos pensamentos puros, frutos da vigilância com Jesus, ensinada pelo Evangelho.

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A vigilância é a força que constrói ,nas aimas, as boas tendências. Deveis vigiar no pensar, no falar, e no viver, para que não sejais apanhados, de surpresa, pelo ladrão da maledicência.

“ Mas vós, irmãos, não estais em trevas, para que esse dia como ladrão vos apanhe de surpresa” .

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PARA CURAR OS ENFERMOS

"Pedro, porém, lhe disse : Não possuo nem prata nem ouro, mos o que tenho, isso te dou; em nome de Jesus Cristo, o Nazareno, levanta-te e anda ! ”

— Atos - Cap. 3, v. 6.

Enfermidades sempre existiram no mundo, algumas desafiando os poderes curativos das plantas, sem contu­do, desmoralizar a ciência. Os homens do saber conhe­cem casos em que intervieram poderes maiores que a ação terapêutica conhecida. A solução ainda vibra em outros campos, não atingidos pelas pesquisas dos espe­cialistas.

A dor se constitui num fenômeno não explicado pe­la medicina, dentro dos seus objetivos. Mas o futuro nos dará resposta às nossas indagações, explicando a missão da dor no corpo humano. Quase todos os gênios do mundo acreditam em Deus. Porém, perguntam-se; porque Ele deixa a dor instalar hospitais, abrir indús­trias de medicamentos, e apodrecer homens, seus fi­lhos, nas sargetas ? Se cremos nele, só poderemos acei­tá-lo como mais sábio que os sábios, mais gênio que os gênios, mais justiceiro que a justiça, mais verdade que as verdades, mais amor que os amores. Não sente, no entanto, as misérias dos homens ? Por que será que Deus recorre a esses paliativos, de remédios para re­mediar, de consolos para consolar ? Com a inteligência de que é dotado, não poderá acabar com as enfermida­des e com as tristezas? Certo que sim.

A ciência do mundo é, por natureza, fria e descon­fiada, por não ter encontrado ainda a resposta a essas interrogações, em razão de seu desinteresse pela ciên­cia divina que, certamente, lhe permitiría conhecer o porque da dor, os objetivos do desequilíbrio humano, e as lições aprendidas pelos espíritos, com o aguilhão na

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carne. Procurai, irmãos da ciência, estudar o porquê da vida, e ser-vos.ão apresentadas as outras coisas, por misericórdia da própria vida.

Todo o saber do homem é expressão, mui pálida, da ciência divina. Estudai, analisai, comparai, e vereis ou­tros ângulos a carrear luzes para vossas pesquisas. Viajar à Lua e a outros planetas, trará muitas alegrias aos homens, mas viajar nas regiões desconhecidas do coração, e conquistá-lo para Cristo, representará mais alegria nos céus. Paralelamente, há duas espécies de cura : uma, transitória, a cargo da ciência da terra, e a outra, divina, incentivada no mundo espiritual e execu­tada pelo próprio enfermo, tendo em mãos somente uma receita: o Evangelho do Nosso Senhor Jesus Cristo. Os remédios, encontrá-los-ei na flora mental, e no labora­tório do coração.

O fenômeno da dor explica a existência mais positi­va de Deus, mormente nas horas supremas, quando des­pertam, no ser humano, grandes qualidades espirituais.

Quando os moradores de um edifício são cientifica­dos de que o mesmo será demolido, por necessidade, extravazam o ódio e a incompreensão. Mas no entanto, depois de pronto o novo prédio, quando convidados a residir novamente naquele lugar, abençoam os engenhei­ros, da mesma forma que antes odiavam os demolido- res. Ouem necessita viver no mundo das formas é obri­gado, por lei que rege a evolução, a percorrer variadas fases, todas passageiras, e para formar e deformar, apa­rece o fenômeno da dor, único que nos mostrará Deus mais de perto.

O cavalo selvagem só se amansa, quando o peão trepa em seu lombo, com chicote e esporas, aplicando- lhe taladas e riscos, de onde surgem a dor e o sangue, na velha simbologia da mansidão. O homem representa no mundo um animal, com necessidades bastante ex­travagantes, cuja educação só se faz pela dor, que ces­sa quando não é mais necessária.

Enquanto isso não chega, busquemos remediar nos­sos males. Lembremo-nos de quantos procuravam a Pe­dro e João, principalmente quando os apóstolos iam

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entrar no templo famoso de Salomão, para orar. A multidão cercava os discípulos, em busca de cura. Eram os tais enfermos que, havendo recorrido a todos os meios terapêuticos, sem resultados positivos, procu­ravam as curas espirituais. Mas nem sempre eram todos atendidos. Somente aqueles já livres do fardo, e com su­avidade do jugo. Os outros, eram almas que necessita­vam da dor como processo de evolução, razão por que Cristo dizia a muitos : “vai e não peques mais, para que não aconteçam coisas piores”, certificando assim, que a dor é gerada pelo erro.

Conscientes disso, errando, encontrareis coisas pio­res. Os discípulos curavam os que já estavam com o carma limpo pela dor e pelo tempo, e os fenômenos funcionavam como provas da glória de Deus. Para que nos tornemos instrumentos das curas divinas, é ne­cessário que a boca só fale o bem, que as mãos só fa­çam a caridade, que o coração só irradie o amor de Deus, e que os pés só andem com Cristo.

Deste modo, podereis curar as chagas de todas as ordens, dizendo, como falou Simão, à porta famosa :

“ Pedro porém, lhe disse : Não possuo nem prata nem ouro, mas o que tenho, isso te dou : em nome de Jesus Cristo, o Nazareno, levanta-te e anda".

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BÊNÇÃO MAIOR

“ Novo mandamento vos dou : que vos ameis uns aos outros; assim como eu vos amei, que vos ameis uns aos outros".

— João - Cap. 13, v. 34.

Para viver com sabedoria, o homem obedece a cer­tos preceitos, sem os quais, nunca poderia vislumbrar a felicidade. À primeira vista, parece-lhe melhor a liberda­de total; mas, com o tempo, convence-se do contrário ; a liberdade, com responsabilidade, abre perspectivas maiores à visão panorâmica do espírito, e esse logo sentirá que o mundo não é tão pequeno como pensava, e que a bondade de Deus se avoluma, diante de tanta igno­rância humana, fazendo presentes, para os filhos que o queiram, os meios de engrandecimentos sem limites.

Comungando sempre com o progresso, a disciplina é a segurança, em todos os reinos da natureza.

Vemos as pedras, solidificadas aos montões, nas serras, ofertar meios fáceis de serem deslocadas para o trabalho de construção, pois se estivessem espalhadas pela superfície da terra e nas profundezas dos oceanos, seria bastante difícil, se não impossível, ajuntá-las. A facilidade que encontramos decorre da obediência à lei da harmonia, da disciplina que, em espírito, poderiamos chamar de amor.

Os homens ficam satisfeitos ao verem, no reino ve­getal, as matas se agruparem em profusão, seguindo a mesma lei de afinidade, que não deixa de ser o amor, nos rudimentos do sonho. Os animais vivem em mana­das, por lei da espécie, convívio que lhes permite me­lhor defesa e mais rápida evolução. Em todos os rei­nos essa convivência com os semelhantes exige, ne­cessariamente, uma disciplina, a que todos obedecem. Sem ela, viría o caos no seio das vidas.

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Para o homem, essa disciplina é mais acentuada, com vistas ao progresso. A começar do índio, que va­mos encontrar em tribos, com leis a respeitar. Existe já certa liberdade, porém sujeita a preceitos irremoví- veis, sem o que seria desfeito todo o agrupamento da sociedade em formação, e não haveria progresso, nem teríamos civilização.

Os mais afamados projetistas e construtores da ge­ração atual têm seus ancestrais nos homens rudes, que faziam sua choça de pau e barro batido. As grandes me­trópoles têm suas reminiscências no povoadozinho in­dígena, e o mais afamado aparelho, que já alcança ou­tros planetas, em viagens vertiginosas, tem alguma li­gação com o tosco carro faraônico, puxado por animais. Tudo se interliga por necessidade, se não por afinidade ou. se quiserem, por amor. Tudo que vive no mundo im- prescinde do amor, força de Deus, que desceu ao mun­do, nos cambiantes de várias virtudes.

Dos dez mandamentos, transmitidos pelos mensagei­ros dos céus a Moisés, no Monte Sinai, o primeiro, ba­liza de luz imortal, é eterno. Passarão o céu e a terra, mas não passará esse ensinamento do mundo espiritual para o planeta: “Amar a Deus sobre todas as coisas” .

Quando o povo encontrava dificuldade de praticar esse mandamento, e impregnava os céus de lamentos, ignorando como amar a Deus, sem ferir os homens, o mundo espiritual compadeceu-se do povo que habita a terra, aparecendo o Cristo, que abre as portas de luz pa­ra a humanidade, dizendo: “ Não choreis por isso, vinde a mim os cansados e oprimidos, que eu vos aliviarei.E um novo mandamento vos dou, que vos ameis uns aos outros, como eu vos amei".

Se não amardes ao próximo, nunca podoreis amar a Deus, pois Ele, o Senhor de todos nós, está em tudo o em todos. Não foi por outro motivo que Jesus disse: “ eu sou o caminho, a verdade e a vida: quem não pas­sar por mim, não irá ao Pai”. Moisés, em cima do mon­te, levantou o dedo em riste, apontou o céu para o po­vo, dizendo : “Ama, povo meu, a Deus sobre todas as coisas, esse o primeiro mandamento".

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E Jesus Cristo desce das alturas, confabula com os homens, chama-os de irmãos, vive com eles, e aponta para a terra : se quereis, meus filhos, conhecer a Deus, nosso Pai, um novo mandamento vos dou : “que vos ameis uns aos outros, como eu vos tenho amado; somen­te assim, ser-vos-ão dados os meios de compreender e amar o Pai celestial.

Dentre as bênçãos das virtudes, a maior é o amor.

“ Novo mandamento vos dou : que vos ameis uns aos outros; assim como eu vos amei, que também vos ameis uns aos outros” .

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JESUS ENSINA

“ A estes doze enviou Jesus, dando-lhes as seguintes instruções : Não tomeis rumos aos gentios, nem entreis em cidade de samari- tanos".

— Mateus - Cap. 10, v. 5.

A maior parte da vida do Mestre foi utilizada no pre­paro dos seus discípulos, para o grande trabalho a de­sempenhar diante do mundo. O preparo de alguma coi­sa, ou de alguém, não é tarefa muito fácil : depende de tempo, maturidade, e ordem de Deus. Fora disso, não poderemos garantir prontidão para os lutas. Seria difí­cil enumerar, aqui, tudo que se requer para chegarmos ao tempo certo, tudo o de que se precisa para alcançar a maturidade, e o indispensável para receber as ordens do Criador. Citamos essas três condições para o pre­paro das almas, no sentido de facilitar-lhes a tomada de posição, para o grande combate consigo mesmas.

Pensar que Jesus só teve contacto com seus segui­dores no curto espaço de tempo que permaneceu na terra, é alimentar muita ignorância. Todo espiritualista deve saber das variadas etapas de vidas, físicas e espi­rituais, de que o espírito necessita, para chegar à per­feição, assim mesmo relativa, porque a procura de ou­tros planos maiores é um esforçar e um subir infinitos.

Daí, deduzimos que os discípulos de Jesus já vi­nham recebendo instruções do Mestre, há milênios, para melhor desempenho de um curto, mas decisivo papel, na face da terra. O tempo que o Cristo demorou-se co­nosco, por misericórdia, teria a função precípua de avivar, nas almas dos companheiros, o grande dever de disse­minar a Boa Nova, em todos os corações, como alimento do espírito. Aquele “ seguí-me”, de Jesus para seus dis­cípulos, foi o toque em seus corações já preparados pa­ra o amor.

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Ouanto se gasta de tempo, material e inteligência na feitura de uma grande represa ? Ouantas máquinas quantos fios e reguladores, até que a energia che­gue, para beneficiar a cidade e a indústria ? Todavia, durante o tempo gasto nos preparativos, tanto a cidade quanto a fábrica, se mantêm com a chave de ligação da força elétrica desligada, esperando o dia da inauguração- a mão que vai dar passagem a essa luz é a do diretor, eu do mais alto mandatário da cidade, do Estado ou do País.

Analogamente, no campo espiritual, depois de tudo preparado, planejado, estudado, para a instalação da luz na terra, é que veio o diretor do planeta, fulgurante e feliz, dar o toque de amor, e fazer iluminarem-se todas as casas e indústrias espirituais, restabelecendo a paz.

Ouando o Cristo, na terra, deu instruções a seus discípulos, complementava o que eles já haviam assimi­lado, no plano espiritual. Ouanto eles já não sabiam das leis de Deus ? O ensinamento, aqui, foi apenas um to­que, um "abre-te Sésamo", nos corações repletos de coisas divinas.

Escutemos a belíssima instrução de Cristo aos dis­cípulos : “ Não tomeis rumos aos gentios, nem entreis em cidades de samaritanos". Aí está a profundidade da orientação de Jesus para seus seguidores. O Mestre assim falou, não por desprezar gentios e samaritanos, mas porque esses pouco precisavam de advertências morais acerca da vida. O esclarecimento continuou :' dai preferência às ovelhas perdidas da casa de Is­rael” . Jesus incentivou o colégio apostolar a amparar o caído, dar pão a quem tivesse fome, vestir os nus, c visitar as encarcerados.

Ele veio como o Sol, para espancar as trevas. Con­versando com seus amigos do coração, recomenda : “ Ide, curai os enfermos, ressuscitai os mortos, limpai os leprosos, convertei os demônios, e dai de graça, o que de graça recebestes; abençoai as cidades por onde passardes, e anunciai que está próximo o reino de Deus” .

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Nós outros, meus irmãos, não podemos proceder de outra forma, se o Evangelho redivivo nos toca, co­mo outrora fizera Jesus com os discípulos. Procedamos da mesma forma que eles, avançando contra todos os obstáculos e sendo fiéis ao chamado do céu, renovando nossas idéias, ampliando nossos conhecimentos e ofer­tando, de graça, o que de graça recebemos, por bon­dade de Deus. Esforcemo-nos, tendo o espiritismo como estandarte, na cura da enfermidade moral, na ressusci- tação dos mortos do entendimento, na purificação dos leprosos da alma, e no domínio da força demoníaca dos nossos instintos inferiores, transformando-os nos anjos das virtudes, em direção à vida eterna.

E que o tempo nos seja favorável, a fim de ouvir­mos a instrução que segue :

“ A estes doze enviou Jesus, dando-lhes as seguintes instruções : Não tomeis rumosaos gentios, nem entreis em cidade de samaritanos".

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0 PODER DA FÉ

“ TENDO OUVIDO A FAMA DE JESUS, VIN­DO POR TRÁS DELE, POR ENTRE A MULTI­DÃO, TOCOU-LHE A VESTE” .

— Marcos — Cap. 5 vers. 27.

Jamais apareceu alguém, no mundo, que conseguis­se colocar limites à fé. O seu poder suplanta quaisquer fronteiras, que o homem, por ignorância, queira lhe im­por. Não há criatura que possa viver sem fé. Muitos julgam não a possuírem, mas se enganam completamen­te. Ela vive dentro de todos os seres, variando sua in­tensidade numa escala progressiva, e de acordo com a evolução espiritual de cada um. Dessa forma, espírito al­gum tem o mesmo quilate de fé que seu semelhante, in­do sua variação, de parcela mínima, até o infinito. Po­rém, só Deus possui a totalidade dessa virtude.

Várias dúvidas persistem no meio humano. Pergun­ta-se se em outros reinos, abaixo do homem, existe a fé. Deus não Se esquece de nada que foi criado e é sustentado por Ele. Porém, a fé, mais pura ou menos pura, só surge no sêr quando já dotado de razão. Isso é da lei. Nos outros degraus evolutivos, à retaguarda do homem, há rudimentos da fé que, algum dia, irão bro­tar com a força da razão. Como se comparássemos o ins­tinto do animal com a razão humana. Ambas as forças procedem da mesma fonte: mas, no ser humano, esse dom já mostra claridades do aperfeiçoamento.

A fé, para o espírito, é tão necessária como o ar o é para o corpo. A ciência do mundo já quis destruir a fé dos homens em um Deus e na vida que continua depois do túmulo. Jamais conseguiu e nem conseguirá, pois, ao invés de combatê-la, está avivando ainda mais, nas almas, essa certeza de que nada morre.

Tudo viveu, vive e continuará a viver sempre.

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As leis de Deus não podem ser mudadas. Há que compreendê-las. E sua descoberta requer muita ciência e bastante fé. Que o Senhor abençoe os homens, fa­zendo com que a ciência procure os olhos da fé; para não perderem muito tempo em vislumbrar Deus, por onde passarem. Não existe outro caminho, e o tempo espera esse acontecimento. A ciência material representa a ré humana, enquanto a ciência espiritual, a fé divina. Ne­cessário se faz que as duas se unam, completando-se, para maior felicidade dos homens e do mundo.

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Estudemos, com Jesus Cristo, o poder da fé.Havia uma mulher que, há doze anos, estava desenga­

nada pelos médicos, — narra o Evangelho. Desesperada, ela tem notícias de que Jesus estava operando maravi­lhas, e vai à procura do Mestre, enfrentando todas as di­ficuldades, pois outros também O procuravam.

Avança daqui, força dali, varando a multidão, até que conseguiu tocar na orla das vestes do Nazareno. Sen­tiu, então, um bem estar estranho penetrar-lhe o corpo e alojar-se, demoradamente, em suas entranhas.

Cristo possuía, em torno de Si, um manancial de forças magnéticas indescritíveis. Era um potencial de luzes nunca visto, nem sentido por seres humanos, por­quanto o Mestre procedia de regiões divinas. Mas o poder da fé levanta o padrão vibratório, nivelando quem de que se pelo menos tocasse Jesus, ficaria curada. E a possui, com quem já vive naquele estado de perfeição espiritual. E a mulher tinha o mais alto grau de certeza os seus dedos, quando, de leve, tocaram as vestes do Cristo, da poderosa aura do Mestre fluiu certa quanti­dade de magnetismo espiritual que, bafejando todo o seu ser, alojou-se, como por encanto, no lugar enfermo, atendendo a seu pensamento que se fixava na região doentia, e restabelecendo o órgão em desequilíbrio.

Jesus, sentindo o fenômeno, pergunta : — “ Quem tocou em mim ?" Ao que, assustados, responderam os discípulos : — “ O povo é que te comprime, Senhor".

Jesus não se dá por satisfeito, olha em torno para reconhecer quem o havia tocado e depara com a mu-

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Iher que, meio trêmula, de joelhos, Lhe diz: — “ Fui eu, Senhor’ .

O Mestre, olhando-a compassivo, deixa entreabrir os lábios com um leve sorriso e afirma : — “ A tua fé te salvou. Vai em paz e fica livre de teu mal".

O poder da fé é sem limites e, assim reconhecendo- a, cientes de que ela dormita em nós, despertêmo-la. E já que não podemos tocar as resplandescentes vestes de Jesus, toquemos, com os dedos dos sentimentos, sua roupagem evangélica, esperando provar a ventura de ou­vir, a exemplo da mulher enferma citada no Evangelho : — “A tua fé te curou'.

"TENDO OUVIDO A FAMA DE JESUS, VINDO POR TRAS DELE, POR ENTRE A MULTIDÃO, TOCOU-LHE A VESTE” .

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ATACAR

“ Vendando-lhe os olhos, diziam : Profetiza- nos quem é o que te bateu".— Lucas — Cap. 22 — v. 64.

O mundo continua repleto desses fariseus, que não só zombam da obra do Cristo, como também atacam tu­do aquilo de que seu corrosivo interesse não se faz só­cio. A sinceridade está escassa, mormente neste fim de tempos apocalíptico. O mundo espiritual abriu as por­tas das trevas, por misericórdia, dando a última oportu­nidade a esses fariseus aprimorados no escárnio, na zombaria e na maledicência. O interesse próprio deles intenta derrubar qualquer obra que se fundamente na fraternidade. São cegos, que só vêem seu próprio mun­do. Mas não conseguem nada, além de complicarem seus próprios padecimentos, pois ninguém pode fugir à lei: são irmãos ainda penhorados na casa de valores e, a qualquer hora, serão chamados às contas.

Os fariseus modernos estão espalhados por toda a parte, tanto nas batalhas do mundo, quanto nas fileiras espirituais, como parente ou amigo, como rico ou pobre. A seleção já deu vários sinais de começo, e os ladrões, no dizer do Evangelho, aproximam-se da casa, sem que ninguém os veja; mas algum dia, em algum lugar, sentirão o mesmo fenômeno dos ofendidos, e buscarão algo mais, que lhes possa acalmar o coração. Onde estiverem, se­rão como ovelhas no meio de lobos, sofrendo o escár­nio e a zombaria, a maledicência e a cegueira de inte­resse próprio, que lá devem existir, com abundância.

Os soldados romanos, antes de invadirem uma ci­dade, vila ou país, já haviam decretado estado de cala­midade pública, no sentido zombeteiro, da águia para com os oprimidos; chegavam ao ponto de dar cuspadas nos rostos torturados pela covardia, e ainda exigiam que a vítima dos maltratos pedisse desculpas aos cen- turiões eretos, que passavam tilintando coisas

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Assim diz uma das profecias : “ai daqueles que ser­virem de pedra de tropeço para os que servem e me chamam, para os que me ajudam e me acompanham; an­tes não tivessem nascido". Muitos dos que procuravam a Jesus, escondidos pelas noites de Jerusalém, para não serem vistos quando o Cristo lhes curava os males, eram os mesmos que, depois, atiravam pedras e paus no Mes­tre e ainda pediam que ele profetizasse quem eram. O silêncio foi a resposta do enviado de Deus, porquanto somente ele e o tempo, através de longas e porfiadas reencarnações, poderão responder quanto vale o ódio, o preço de u'a maledicência, o valor de uma ingratidão e, no fim, o interesse que haverão de ter por toda a hu­manidade.

Meus filhos, o tempo corre célere, procuremos apro­veitá-lo, não somente nas nossas mesquinhas necessi­dades, mas com maior interesse nas coisas de Deus. O próprio Evangelho, é que diz: “ Fazei a vontade de Deus e sua justiça, que o resto vem, por acréscimo de mise­ricórdia".

Quando deparardes com um caso que incentiva ao julgamento, não o façais, porquanto o próprio Cristo não procedeu assim, com a mulher adúltera. Quando vos sentirdes ofendidos pela ignorância, perdoai, ajudando, porque todos somos irmãos, e sempre nos encontramos, uns com os outros, nas ruas da evolução, em plena tro­ca de valores. Quando alguém vos surripiar bens ma­teriais, não façais o mesmo com os outros. Lembrai-vos de Jesus, quando ensinou : “quando vos tomarem a tú­nica, dai também a capa". Esquecei as ofensas, sem peso no coração, porque, se a vida é infinita, com que sentido vamos nós colecionar coisas incômodas ?

Procuremos avançar, servindo. Procuremos avançar, ajudando. Procuremos avançar, perdoando, e o resto oer-nos-á acrescentado pelo Pai celestial, no plano da luz. De lá, poderemos recordar a barbárie dos tempos idos, lendo este versículo :

“ Vendando-lhe os olhos, diziam : Profetiza-nos quem é o que te bateu” .

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CONDUTA NO TEMPLO

“ Oue fazer, pois, irmãos ? Quando vos reu­nis, um tem salmo, outro doutrina, este traz revelação, aquele outra língua, e ainda ou­tro interpretação. Seja tudo feito para edi ficação".

— I Coríntios - Cap. 14, v. 26.

As igrejas cristãs primitivas tinham normas bem definidas, acerca da conduta : Todos, no anúncio do Evangelho, cooperavam com a ordem, e conseqüente- mente, propiciavam u’a maior propaganda doutrinária Dava gosto a disciplina de uma igreja, principalmente as que o apóstolo Paulo orientava. Havia oportunidade para todos os cristãos operarem, desde que tivessem o dom. As variedades dos dons eram muitas, e a todos era dado o que fazer, para complemento da obra de Jesus Cristo.

Paulo não poderia recolher-se a uma pequena cida­de, e se fazer dirigente de apenas uma igreja, pois seu trabalho teve ordem diferente. Os espíritos que o cer­caram, em nome do Cristo, deram-lhe instruções no sentido de que avançasse mundo afora, não somente pre­gando a boa nova, como também abrindo novas igre­jas por onde transitasse, em nome de Jesus e de Deus.

Paulo, depois de chamado para novos campos de batalha, muitas vezes, no mundo físico, estava só. Mas no plano espiritual contava com milhares de obreiros, de todas as ordens, de todos os graus, de todos os dons, uma profusão de variedades : era um exército de almas, unificadas em nome de Nosso Senhor Jesus Cristo, sol de todos os ideais juntos. Como esses espíritos preci­savam de um líder, no plano terrestre, para concretização da obra, Paulo foi o escolhido, dentre muitos. A ele cabería a maior expressão do ideal do Mestre; a ele competiria a implantação da disciplina e da ordem, bem

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como a expansão vigorosa da boa nova, nos bastidores políticos dos chefes e dos reis, e a introdução das ver­dades espirituais, no seio dos césares da Roma antiga.

Se não fora Paulo, e se não aparecesse outro da sua têmpera, não existiría cristianismo na terra, neste século vinte. Se hoje conhecemos as fulgurações do Evangelho, com toda a sua pureza, rendamos graças aos céus, e à férrea vontade da alma de Paulo, que conse­guiu escrever o nome de Jesus, por onde passou, com a tinta do próprio sangue e a pena do amor.

A Doutrina Espírita, revivendo o cristianismo, não poderá trilhar outros caminhos; a luta continua, em ou­tros quadrantes, e a missão do Espiritismo é fazer com que os homens respirem aquela mesma atmosfera dos primeiros obreiros do Senhor, nas cercanias de Jerusa­lém. Começa ele a dividir as funções dos dons, na nova Igreja, que hoje denominais de “ Centro Espírita". O dom de outrora é a mediunidade de hoje, expressão do codificador do Espiritismo. Allan Kardec estruturou tudo o que deu nascimento à nova revelação, conservando como centro, a luminosa personalidade de Jesus. Orga­nizou estatutos, ampliou conceitos, e incentivou a fun­dação de templos que pudessem difundir as idéias nas­cidas no mundo espiritual, por ordem do próprio Mes­tre, cumprindo a profecia antiga, de que enviaria outro consolador, para ficar eternamente com a humanidade.

Vendo a necessidade de uma conduta cristã, nos templos, Kardec também organizou, com a supervisão do Espírito da Verdade, o código de ética mais lindo do mundo, "O Evangelho Segundo o Espiritismo", para que, antes dos trabalhos, os irmãos pudessem beber desta água de luz, procedente dos céus.

É por aquela via do Evangelho de Jesus, em espírito e verdade, que os espiritistas de hoje, os cristãos de ontem, iniciaram a luta mais dura da história, a batalha consigo mesmos, no afã de destruir o inimigo da cóle­ra, exterminar o monstro da luxúria, despedir a velha companheira, que se chama usura, e, dentro dos tem­plos, não esquecer o que não faltou na memória de Paulo: estabelecer a harmonia. Que cada um exercite

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o seu dom, sua mediunidade, com zelo e sem vaidade, somente para servir à causa de Jesus, que é a paz na terra.

Que não haja discussão entre irmãos. Cada um procure compreender o que mais lhe convém, cooperando com o silêncio, quando esse não fere, e falando, quando a palavra construir. A caridade deve ser a ginástica de todas as almas, como o era nas igrejas primitivas; e o amor por todos, sem distinção, deve ser o emblema dos que são discípulos do verdadeiro Cristo.

A oração seja a lâmpada que ilumine vossos passos, nas trevas da vida. Obedecendo aos preceitos acima, podereis novamente 1er a advertência de Paulo, aos ir­mãos da igreja :

“ Que fazer, pois, irmãos ? Quando vos reu­nis, um tem salmo, outro doutrina, este

traz revelação, aquele outra língua, e ainda outro interpretação. Seja tudo feito para edi­ficação” .

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"N A ESCOLA DA V ID A"“ Mas o espirito maligno lhes respondeu : Conheço a Jesus e sei quem é Paulo : mas vós, quem sois ?”

— Atos - Cap. 19, v. 15.

Éfeso era uma cidade que. à época do Mestre, mar­geava o Mediterrâneo, plantada entre Mileto e Esmirna, perto da ilha de Patmos, Sardes, no famoso continente asiático.

Ali, Paulo de Tarso permaneceu mais de dois anos, pregando a boa nova do Cristo e advertindo o povo, acerca do reino de Deus, e da sua justiça. Muitos cre­ram: outros, corações empedernidos, começaram as con­tendas, zombando dos ensinos ministrados pelo apóstolo. Este, quando pregava na sinagoga, reconheceu ali o am­biente desfavorável, retirando-se, com seus discípulos, i para uma escola de um tal Tirano. Nessa escola perma­neceu muito tempo, pregando e curando, vivendo e con­versando com todos os que entravam no templo-escola, on­de Jesus era o único Mestre de todos os corações.

Assegura o Evangelho que verdadeha multidão pro- procurava a Paulo, e, no seu contato com o povo, apare­ciam milagres extraordinários, chegando ao ponto de muitos levarem aventais e lenços do convertido de Da­masco, para que fossem tocados por enfermos de ou­tras plagas, sendo curados. Eis porque todos criam no Jesus propagado pelo homem santo de Éfeso.

Alguns, das sinagogas, vendo o poder de Paulo e o explendor de Jesus Cristo na cura dos enfermos e na ex­pulsão dos demônios, procuraram fazer o mesmo que Paulo, advertindo os demônios em nome do Cristo, no sentido de abandonarem suas vítimas, e procurando curar enfermos, com o toque das mãos, em nome do Deus de Jesus. Tudo em vão; nada conseguiam, por não se encontrarem em plena sintonia com o amor. Falta­vam neles a vivência na caridade, a maturidade do co­ração.

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Para um trabalho dessa ordem, faz-se necessário muito preparo, muita obediência, muito perdão, muito desprendimento, muita paz, caso contrário, as forças su­periores não encontrarão ambiente nas reservas internas da alma, e o resultado é a distonia psicofísica do indiví­duo, nada operando no campo do espírito, nem tampouco na engenhosa argamassa somática. Além do mais, os ho­mens da sinagoga procuravam curar os enfermos, para desmoralizar Paulo, ao passo que o apóstolo entrou em Éfeso sem alimentar ideal semelhante. Queria, o mestre da retórica, naquela cidade, arrebanhar almas para Je­sus, reformar corações para Deus, o único verdadeiro no céu e na terra.

Antes, para curar um enfermo possesso de um espí­rito imundo, era imprescindível expulsá-lo da casa físi­ca, em nome de Jesus Cristo. Depois que foram funda­das centenas de igrejas, que se estendiam até Roma, Já possuía, a comunidade cristã, meios de adotar outros métodos. Paulo foi inspirado em outros campos de ação, chamou Timóteo e Erasto, argumentou com os dois, so­bre a maneira pela qual deveriam proceder, com os en­fermos possessos e endemoninhados. “ Esses espíritos imundos, diz Paulo, "são também nossos irmãos infeli­zes, que não tiveram a oportunidade de conhecer a Je­sus, cujo amor é ilimitado, não deixando de atender, quaisquer sejam as condições dos sofredores. Portanto, doravante, vamos convertê-los, em nome do mesmo Cris­to de Deus, das trevas da morte, para a luz da vida.

“Tudo, meus caríssimos Timóteo e Erasto, foi feito por Deus, nosso Pai celestial: por conseguinte, os de­mônios são nossos irmãos, que carecem mais da nossa ajuda. Não disse o Mestre que nenhuma das ovelhas que o Pai entregou a ele, se perderia ? Por acaso esses espíritos imundos são ovelhas à parte do grande apris- co ? Não creio: aceito sim, o que fala o Pai Nosso, ora­ção que Jesus nos ensinou, nestes termos : "Assim na terra, como nos céus” . Se o que está na terra, movendo um corpo físico, em quaisquer condições, morais ou ma­teriais, arrependendo-se e não pecando mais, é aceito como salvo para Jesus, porque o espírito, ou demônio, não pode igualmente arrepender-se, e deixar de fazer o

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mal ? É notório que pode. A misericórdia de Jesus não tem limites. A nossa ignorância, sim, é que coloca entra­ves ao seu atendimento.

“Conversemos, pois, com todos, sem distinção. Ho­mens ou espíritos, demônios ou imundos, não importa; im­porta, sim, que ganhemos todos para Cristo’ .

Desta data em diante, passaram quase todas as igre­jas a converter, não somente aos homens, mas também às almas, com as quais debatiam longas e perfladas horas. Muitas das igrejas primitivas tinham esse hábito, herda­do de Paulo, inspirado em Jesus.

A Doutrina Espírita, revivendo Jesus, faz o mesmo, no mecanismo da mediunidade; não se expulsam demônios, nem espíritos imundos, porquanto todos eles são nossos irmãos. Conversamos com eles e convertemo-los para o bem, possibilitando-lhes o ingresso no reino de Deus. Mas, para conversar com eles e convertê-los, é neces sário que vos torneis um misto de homens e anjos, sentindo o perdão, vivendo a caridade e irradiando o pu­ro amor, por tudo e todos.

Sem o que, mesmo inconscientes, os maus espíri­tos ainda encontrarão forças, para responder-vos, nestes termos :

"Mas o espírito maligno lhes respondeu : Conheço a Jesus e sei quem é Paulo; mas vós, quem sois ?”

— Filipenses - Cap. 4, v. 2.

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RETORNO À CASA PATERNA

"Entretanto, era preciso que nos regozijás­semos e nos alegrássemos, porque esse teu irmão estava morto e reviveu, estava perdi­do e foi achado".

— Lucas - Cap. 15, v. 32.

Tão grande é aquele que perdoa, quanto o que re­conhece o erro, lançando mão da corrigenda. Acertar e errar são condições evolutivas das almas, em todas as latitudes cósmicas da criação, na volta a Deus.

A mitologia greco-romana avivou mais ainda as anti­gas idéias da Indochina, e essa da Lemúria-Atlântida, da existência de um inferno eterno, para onde os espíritos condenados fossem cambiados, não mais saindo dali. A inverdade ficou de tal forma plasmada no psiquismo do povo, que todas as religiões começaram a ensiná- la como verídica, aproveitando o ensejo para amedron­tar os mansos e assustar os endurecidos, meios quo vigoraram durante muito tempo.

Os poderosos da terra sempre compreenderam que o medo faz com que a massa humana, de autoritária e valente, torne-se submissa e covarde. O medo do in­ferno foi um dos chavões, usados na época, que fez com que os espíritos sofressem muito tempo, à espera da verdade, para que ela os tornasse livres. O inferno foi mal compreendido, por todas as gerações; as zonas infernais sempre existiram, e continuarão eternamente, nos mundos e nas zonas que circulam em torno de Deus. De fato, o inferno é eterno. Todavia, a alma habita-o temporariamente, até saldar seus débitos, por que essa é a justiça, essa é a misericórdia.

Desde o princípio existiram espíritos inferiores, e Para eles sempre foram reservados lugares compatíveis com seus merecimentos. Se assim não fora, onde estaria

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a justiça ? Sempre existiram, e existirão, espíritos supe­riores, e a esses dar-se-ão os céus, reino de luz, em consonância com suas sensibilidades. Tanto a luz, como as trevas, têm altas funções na grande casa de Deus : uma, como corrigenda; outra, como prêmio; uma, ilu­são; outra, como realidade; uma, como morte; outra, como vida: uma como passageira, outra, como eterna.

Jesus, com a imagem do filho pródigo, veio escla­recer a não permanência eterna do que erra, nas zonas de sofrimento. O rapaz, depois de muito sofrer, retornou à casa do Pai; esse o recebeu com festas, abraçando-o e beijando-o, assinalando gratidão a Deus, por ter achado o filho perdido; e o filho aprendeu a humildade, na via­gem que fez, porquanto chegou querendo misturar-se aos escravos e se fazer um deles; o irmão que ficou, chegando à casa, da vinha onde trabalhava, encontrando alegria na família, por ter vivido o que estava morto, en­trou a blasfemar contra o pai, por não ser ele o alvo das atenções, apesar do muito que tinha feito pela família.

Ainda existem na terra algumas religiões que acre­ditam em falsas profecias, em que só elas, ou seus crentes, têm a senha de entrada no reino dos céus. Es- quecem-se de que Deus é todo bondade, é todo amor. Os pais, na terra, como assevera o Evangelho, quando os filhos lhes pedem pão, não lhes dão pedras, nem quando pedem peixes, lhes dão escorpiões. Quanto mais o Pai celestial, maior que todos os pais juntos, cujo amor pela humanidade suplanta o de todas as mães, unidas umas às outras. Como, então, levantais essa idéia de alguns irem para o inferno, por não aceitarem vossas crenças ? E, por julgamento humano, perder-se eternamente ?

Meus filhos, atentai para isto : o próprio Cristo não se sentiu em condições de julgar, no caso da mulher adúltera ! Se Deus fosse lançar no fogo do inferno eter­no os que não cumprissem sua magnânima lei, não exis­tiría ninguém salvo das manobras de Satanás; no entan­to, mesmo errando e acertando, estamos com direito à vida, e ainda se nos oferecem tantas outras oportunida­des, quantas necessárias, para o nosso soerguimento.

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Isso sim, é que representa bondade. Isso sim, é que é tolerância. Isso sim, é que constitui amor sem limi­tes. Todavia, em meio a tudo isso. Deus limitou nosso livre arbítrio, para que a consciência pudeses nos ativar nos serviços de rcaproximação do Cristo interno, e, po.' nós mesmos, engrandecermo-nos; por nosso mérito, ilu- minarmo-nos; por nosso próprio esforço, conhecermos a verdade.

Com todo o labor, com o cultivo das virtudes evan­gélicas, chegamos à conclusão que o céu e o inferno estão é dentro de nós; vivemos no inferno, quando desco­nhecemos a luz e ativamos os instintos inferiores; go­zamos o reino de Deus, onde estivermos, quando res­plandecerem, na nossa consciência, todas as diretrizes do Mestre Jesus.

Quando convertemos alguém para Cristo, com o exemplo da nossa transformação moral, a alegria é gran­de para nossos corações, e nos regozijamos a toda ho­ra. E, para que possamos nos ufanar para sempre, lem­bremo-nos da anotação de Lucas, que assim nos relata ;

“ Entretanto, era preciso que nos regozijás­semos e nos alegrássemos, porque esse teu irmão estava morto e reviveu, estava per­dido e foi achado” .— Lucas, Cap. 15, v. 32.

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GRATIDÃO

“ Digo isto, não por causa da pobreza, por­que aprendi a viver contente em toda e qualquer situação” .— Filipenses - Cap. 4, v. 11.

A gratidão é uma disposição espiritual poderosíssima, que devemos cultivar.

Não aquela que se transforma em bajulação, nem tampouco a que incentiva a vaidade, mas o reconheci­mento íntimo e sincero, ao coração que nos serviu com desprendimento. A gratidão barulhenta perturba a sensi­bilidade de quem serviu como instrumento para nosso bem estar; ela constrange, depaupera, deprime e açoita o coração, com o látego da doação interesseira. Grati­dão cristã é aquela que reconhece, com bases na prece, demonstrando com atos que facilitem a permuta de ele­mentos de vida.

Um sorriso de gratidão, quando esse está funda­mentado no puro amor do que foi servido, vale muito mais do que escrever um livro, ramificado na mais alta verbosidade para com isso mostrar, a todos, valores que nem um nem outro possuem. Aqui es incluem as longas preces em público, como os vaidosos fariseus dos rela­tos evangélicos. Os vossos valores eternos estão na vida que levastes, com a profunda influência de Jesus Cristo; fora dele, ficaríais séculos incontáveis à procura da luz, sem contudo enxergar as portas da eternidade.

Nesta epístola, de Paulo aos filipenses, demonstra-se- nos a verdadeira gratidão. O apóstolo da boa nova e seu companheiro, Timóteo, sentiram-se felizes e agradecidos, não por receberem dádivas da Igreja de Filipos, mas por reconhecerem o interesse dos filipenses em ajudar, por amor, exclusivamente. Pois Paulo e Timóteo passa­vam dificuldades em outras regiões, como portadores da luz, em árdua demanda com as trevas.

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A caridade é uma ciência muito perfeita; um sim­ples raciocínio e veremos que, ao se reunirem os ir­mãos de Filipos, com o objetivo exclusivo de servir a alguém, abriram-se clareiras no mundo interno de cada um, modificando a atmosfera ambiente e criando, com is­so, campo propício à manifestação de inteligências su­periores. Eis aí um exemplo do que pode produzir a afi­nidade. As almas afins se atraem, reciprocamente. E, ao se unirem, proporcionam-se uma troca de valores, a mais perfeita conhecida, dentre todas.

O laboratório do coração, com as mãos sábias da inteligência, em nome de Deus age sobre as energias disponíveis, transformando-as em forças divinas, proje­tando-as em direção àquele a que se pretende ajudar. Servir, assim, com desinteresse, sem trocas transitórias; ajudar, sem esperar recompensa, possibilitam ao favore­cido, se seu coração já estiver preparado, sentir o ver­dadeiro reconhecimento, com júbilo, não pelo que rece­beu de valores transitórios, mas por lhe ser dado sentir as bênçãos que acompanham as dádivas. Aí, a profu­são de alegria é imensurável; a gratidão se processa como por encanto, no silêncio das coisas, pelas vias sutis do pensamento, na abstratividade do coração.

A gratidão prepara o espírito para desfrutar da vi­da em outras dimensões, que só ela consegue atingir. E o espírito, assim preparado, vê as coisas pelo prisma do equilíbrio :

Não se perturba, com muita alegria. Não sofre mais, com a escassez. Não chora, por lhe faltar tudo. Não se desinquieta, com grande abundância. Não se assombra, com a dor. Não se tranquiliza demais, com a saúde. Mas, de tudo, tira o bem, vivendo com o que lhe é In­dispensável.

Sejamos bons para com os que nos servem, sem esperar bondade dos que servimos. Sejamos tolerantes para com os que nos ajudam, sem esperar tolerância daqueles a quem ajudamos. Sejamos amorosos com tu­do e com todos, sem exigir comércio, no intercâmbio de valores. Porque é dando, mas dando muito, que desco­brimos quanto ainda temos de servir com o Cristo.

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Uma gratidão, com as bênçãos de Deus, nos colo­cará no domínio das nossas forças, de maneira que, em tudo, sentiremos felicidade. Inclusive, quando ouvimos isto :

“ Digo isto, não por causa da pobreza, por­que aprendí a viver contente em toda e qualquer situação".

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INTELECTUALIDADE

“ Dando Deus testemunho juntamente com eles, por sinais, prodígios e vários milagres, e por distribuições do Espírito Santo se­gundo a sua vontade".

—Hebreus - Cap. 2, v. 4.

Supor que a alma evolua somente por um prisma é, certamente, querer aniquilar a grandeza de Deus. Supor que a sabedoria dos céus está arrumadinha, dentro das páginas de um livro, é muita ignorância, porquanto o sa­ber do Senhor não tem limites. Só temos notícias daqui­lo que suportamos; de vez em quando, as revelações têm que sofrer renovações, no sentido de atualizar seus princípios: isso não é corromper as coisas santas, é atualizar as verdades.

A inteligência tem uma grande função nos reajustes religiosos, nas seleções científicas, e no aprimoramento filosófico; sem ela, não haveria progresso. Contudo, é indispensável que seja auxiliada pelo coração. O senti­mento do bem enriquece a inteligência, dando-lhe uma visão mais segura dos princípios das coisas, seus valo­res e o respeito que merecem. A inteligência, sozinha, não realiza grandes coisas pois, ao tocar-lhe ou sentir-lhe os frutos, todos notam que falta algo.

O raciocínio aprimorado cria um pedestal, que ele mesmo, com o tempo, resolve derrubar, pois anseia por uma companhia que lhe fale mais ao íntimo. E essa com­panhia, só o coração lhe pode oferecer. O coração, por sua vez, no ritmo acelerado de sustentar a vida, busca senti-la. Sai em campo para encontrá-la, e acha a inte­ligência, essência do seu porfiado labor. Eis o ideal maior : quando os dois trabalham por um só objetivo, ir­manam-se em plena fidelidade. Uníssonos, apresentam- nos o prelúdio da inteligência e do amor supremos. O Evangelho fala dos perigos da inteligência e, notadamen-

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te, da tibieza do coração; um e outro precisam educar-se elevando as qualidades que possuem. Para tanto, recebe­rão o complemento espiritual, desde que se disponham a estudar e analisar o Cristo.

Com Jesus, a inteligência toma dimensões incomen- surávels; o coração atinge valores incalculáveis. Mas sem esse enxerto divino, ser-nos-á difícil aproveitar to­talmente essas duas forças. É, de fato, perigosa, a in­teligência, sem o Mestre; no entanto, é quase inútil o coração, sem sua magnânima presença. Mas cada um, mesmo sob a influência do Cristo, tem ação diferente, na extensão da vida ; um ensina, o outro educa; um am­plia os conhecimentos, o outro distribui os valores; um discorre sobre as forças da natureza, o outro revela o amor de Deus, para com todas as suas criaturas.

Meus filhos, ficai sabendo que a inteligência deve servir como vislumbre prismático, para que, observando a, encontremos a grande sabedoria de Deus; e não deveis ficar sem saber que os dotes de um coração deverão servir, para quem os possui, como brechas grandiosas, pelas quais poderão sentir o grande amor do Pai celes­tial, por todos os seres que existem. Não combatais a inteligência, mas dai-lhe boa direção; não desprezeis o coração, mas aquecei-o com o amor.

A Doutrina dos Espíritos, caminhando junto com a humanidade, dando a essa o vigor necessário, nunca es­queceu a conquista milenária do ser humano, que é a inteligência. Procura, por todos os meios, aprimorá-la; procura, por todas as formas, mostrar-lhe o cristianismo primitivo, para que ela sinta, com amor, a presença dos semelhantes. Demonstra, também, que a inteligência é um dos talentos a que se refere a parábola evangélica :

A cada um foi dado, por misericórdia, um punhado de talentos, representados por faculdades que devem ser exercitadas, carreando valores imortais, para os seus possuidores. Os talentos, anunciados por Jesus, foram e são distribuídos entre os chamados e os escolhidos para servir na grande vinha do Senhor. Necessário se faz proceder, não como o último da parábola, enterrando os talentos. Mas sim, como o primeiro; exercitando-os,

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multiplicando-os, para a glória de Deus e felicidade dos corações. Através da mediunidade, que o Espiritismo va­loriza e educa, ampliamos os nossos conceitos sobre os talentos, cultivando a inteligência, intercambiando-a com o coração e o Cristo.

Nesta nova fase, com a revelação Espírita, desapa­recerão as mazelas morais, pelo próprio esforço conju­gado, da inteligência com o coração. E passareis a fazer sinais, de novas conversões; passareis a fazer prodígios, no campo da caridade; passareis a produzir milagres, de compreensão e de alegria, por influência dos espíritos puros, em nome de Jesus Cristo e de Deus.

E já não achareis estranho, ouvir isto :

“ Dando Deus testemunho juntamente com eles, por sinais, prodígios e vários milagres, e por distribuições do Espirito Santo se­gundo a sua vontade".

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COMO DECIDIR

“ Vendo Pilatos que nada conseguia, antes pelo contrário, aumentava o tumulto, man­dando vir água, lavou as mãos perante o povo, dizendo : Estou inocente do sangue deste, fique o caso convosco.”— Mateus - Cap. 27, v. 24.

A águia romana pousou na Judéia, c um dos deveres do governador consistia em observar a atitude dos judeus com relação ao império dominante, a fim de se abafar to­da e qualquer revolta, que pudesse surgir, visando a li­berdade para o povo oprimido. Investigações com essa finalidade eram determinadas por Pôncio Pilatos, em no­me de César, e se realizavam periodicamente.

Naquela ocasião, surgiu um homem, com o nome de Jesus, filho de um carpinteiro, que foi crescendo em ta­manho e virtude, andarilho por natureza, e muito amado pelo povo. Alguns o tinham na conta da profeta; outros diziam que era o Cristo que havia de vir, para libertar seu povo, oprimido e escravizado; outros ainda, anuncia­vam que aquele seria o rei dos judeus, que haveria de provar a supremacia da raça eleita :

As notícias cruzaram a Palestina, atingindo até mes­mo Roma. que viu a necessidade de enviar um seu emissário até à Judéia, pois o governador demorava a enviar um relatório que esclarecesse acerca do novo pro­feta que ali aparecera. Pilatos, antes, dava pouco crédi­to às notícias, por saber que Jesus era da família de João Batista e não reunia condições para subversão; se chegasse a interferir, seria na conduta do povo, e não na política de Roma. Mas Roma não se faz quieta; teme a demora de Pilatos e manda vigiá-lo. Desconfiado, o gover nador inicia uma investigação mais minuciosa e, além do que já sabia, pôde acrescentar : o homem era inofen­sivo. Dava-se mais a anunciar um tal de reino de Deus, ilusão de todos os profetas e adivinhos; não se intro­metera em política, e nem conhecia tal coisa.

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Roma podería ficar descansada; mas Roma não f i­cou. A águia voava por todas as bandas, rapinando e vi­giando os estrangeiros dominados, razão por que as no­tícias sobre Jesus assustaram bastante os altos dignatá- rios da velha loba. Pilatos teve que tomar providências, para não perder seu trono. Submete Jesus à vergonha pública, prendendo-o e fazendo-o passar por interrogató­rios. O Mestre, conhecendo a covardia do agente da corrupção, nada responde; em fúria, Pilatos lava as mãos, mesmo sabendo tratar-se de um justo; o medo fê-lo en­tregar Jesus aos fariseus, cujos principais sacerdotes almejavam ver-se livres do novo profeta, que já come­çara a fazer reformas morais no seio da família judáica, com base no mesmo livro que tantos adoravam.

E o retrato de grande parte da humanidade, nos nossos dias, ainda se assemelha ao da época de Pôncio Pilatos, governador da Judéia : quando, na hora da de­cisão, em casos que carecem de uma ajuda maior; quando a estabilidade individual corre risco, muitos se acovardam, lavando as mãos, pensando que esse gesto pode livrá-los das responsabilidades. Quanto se enga­nam! A fidelidade e a justiça constituem emblemas sagra­dos dos corações. Fugir ao cumprimento do dever, aos ditames da consciência, é tentar escapar da própria vi­da; não conseguimos isso, e sim, complicamos as situa­ções, com a força negativa da covardia vaidosa.

Quantas vezes a vida convoca os nossos corações para uma decisão de grande importância e, na hora, la­vamos as mãos, qual Pilatos ? E o Cristo ainda não nos acusa, permanece em silêncio. Quantas vezes, impulsio­nados pelo orgulho e pela vaidade, intentamos trocar vi­das preciosas, por lugares de conforto transitórios ? Ouantas vezes desprezamos os caminhos do amor e da concórdia, para abraçarmos os Barrabás da subversão e e do crime? Quantas e quantas vezes o Cristo perlustrou por nosso mundo íntimo, parando aqui e ali, nos pontos cardeais da nossa sensibilidade, sem poder articular uma palavra sequer, dado o nosso desinteresse por Ele?

Falamos muito de Jesus, neste século. Escrevemos páginas inumeráveis sobre sua vida, dizemos sempre aos outros que Cristo é a salvação. Mas ainda o carre-

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gamos, crucificado, em nosso ser, com os cravos do pecado e a cruz da covardia. Libertar Jesus, em nós, se­rá motivo de glória. Para esse trabalho, contudo, é ne­cessário que conheçamos a verdade, porque somente ela liberta. Ninguém conhece a liberdade, tendo fortes ten­dências para a mentira.

Ninguém conhece a verdade, acalentando a maledi­cência. ou desviando, por vontade própria, sua direção, dos caminhos da caridade e do amor. Se não quereis julgar, não julgueis. Isso será bom; mas, quando cha­mados à decisão, decidi, sem lavar as mãos, e sem dei­xar, premeditadamente, o fardo nos ombros dos outros.

Nunca imiteis o gesto do governador, como escreve Mateus :

“ Vendo Pilatos que nada conseguia, antes pelo contrário, aumentava o tumulto, man­dando vir água, lavou as mãos perante o povo, dizendo : Estou inocente do sangue des­te, fique o caso convosco".

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OBEDIÊNCIA

"Ao saírem, encontraram um cireneu, cha­mado Simão, a quem obrigaram a carregar- lhe a cruz".

— Mateus - Cap. 27, v. 32.

Somente Deus não tem necessidade de obedecer a <|uem quer que seja. Nós outros carecemos da obediência, já que somos inferiores, e com ela estaremos abrindo ca­nais para o aprendizado de outras virtudes. Somente Deus prescinde da ajuda de outros seres, porque é per­feito. Os demais filhos da criação não vivem sem o es­forço mútuo, sem troca permanente, de uns para com os outros, no afã de atingir u'a meta evolutiva conside­rada infinita.

Somente Deus dispensa completar suas qualidades, porque Ele é a perfeição absoluta. Os espíritos, herdei­ros do Senhor, por esforços individuais e coletivos, che­garão à plenitude da felicidade. Mas isso, em permanen­te permuta das conquistas dos valores imortais. E o amor de uns para com os outros nasce da necessidade de nos completarmos, com as experiências e conquistas de cada um constituindo patrimônio de todos.

Essa é a lei de Deus, essa é a função da vida. To­dos os espíritos, mesmo nos rudimentos da razão, con­duzem consigo a síntese divina de todas as leis, bru- xuleando pelas vias dos instintos. Se tudo vive em agrupamento, não é por força de uma obediência im­posta por lei ? As pedras, as estrelas, tudo obedece a uma lei, a uma vontade soberana; tudo se agrupa, para melhor harmonia da criação.

O Sol, como centro de forças a se expandirem no cosmo, tem em torno de si os cireneus, em forma de planetas, absorvendo sua luz e calor como formas de vi­da, para então ajudá-lo a cumprir sua majestosa mis­são, no conserto das coisas criadas. Entre os planetas

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existem trocas incalculáveis, das quais pouco conhece a ciência; se assim não fora, não haveria equilíbrio. O sistema solar, como cireneu maior, gira em torno de ou­tros sistemas, com o mesmo objetivo, de ajudar sendo ajudado, de ombrear um pouco da cruz do seu compa­nheiro em dificuldades. As constelações giram em torno das galáxias, em profunda simbiose, em trocas permanen­tes de energias vivificantes, seivas de Deus que garan­tem a vida, em toda parte.

Eis porque o cireneu é o símbolo da obediência e da ajuda, para que a fraternidade se entrelace, entre os ho­mens e os anjos, entre a vida e as coisas. Da coopera­ção fraterna, da ajuda mútua, nascem as coisas mais be­las da vida. Mesmo no mundo, vemos o alfabeto, alguns poucos garranchos em harmonia, e dessa cooperação de uns para com os outros, surgem lindas peças literárias; dessa conjunção nascem poesias, que arrebatam; com essa mesma democracia fraterna, imprimem-se livros e mais livros, que educam e iluminam a humanidade. Com esses poucos riscos, em harmonia divina, Deus, através de Jesus Cristo, nos ensinou o amor.

Somente Deus, repitamos, não precisa de outros deuses. Mas nós outros precisamos de outros espíritos para, por intermédio das permutas efetuadas com eles, encontrarmos mais facilidades na nossa evolução. Ao receber, um, a mão amiga de outro, nascem o afeto e o gratidão eterna, de coração para coração.

Sejamos, meus irmãos, cireneus, na hora que a lei nos convidar para levar algum peso, que por acaso o semelhante não suporta sozinho. Todavia, não podemos esquecer que se a vida e a lei demorarem com seu con­vite, devemos fazer algo por nós mesmos, em benefí­cio dos que choram e sofrem, porque é deles, no dizer do Evangelho, a entrada para o reino dos céus. Ajudan­do a alma, nessa fase, estamos cooperando para a sal­vação de mais uma. Se algum cireneu procura vos aju­dar, aceitai sem murmuração, porquanto o próprio Cristo silenciou quando da cooperação de Simão, no trajeto com a cruz para o calvário.

Se quiserdes entrar na evolução reta, não o conse­guireis sem a obediência. Porquanto não há fé, sem

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obediência; não existe caridade, sem obediência; não aparece amor, sem obediência. Sede um sol, obedientes a uma rota traçada pela Inteligência soberana, um cire­neu divino, livres das conseqüências mundanas. Ao sair­des, no vosso giro habitual, fazei luz, sem esperar serdes obrigados a isso, como no caso narrado por Mateus :

“ Ao sairem, encontraram um cireneu cha­mado Simão, a quem obrigaram a carregar- lhe a cruz".

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DÍVIDA“ Responderam : De César. Então lhes disse -.Dai, pois, a César o que é de César, e aDeus o que é de Deus” .

— Mateus - Cap. 22, v. 21.

Ouase todos os que renascem na terra, têm pesa­dos tributos para com ela, dentro da feição de discipli­na que César instituiu. Não estais envolvidos na carne para gozar as delícias do paraíso, e sim, para verter, nos campos desta seara, suor e lágrimas, na proporção que vossas necessidades evolutivas requererem. Todos os soldados que são chamados para a guerra têm uma área de função definida para lutar, para defender, onde e quando o comando achar conveniente.

A alma, no mundo, tem uma tarefa semelhante; muitos de vós conheceis as dificuldades encontradas por um espírito, para escolha e ajustamento reencarnató- rio. Há muitos métodos de preparo para o retorno à carne e, muitas vezes, todo esforço é frustrado; não se deixa de aprender algo nas páginas da vida. que sempre ensina. Mas, às vezes, deixa-se de realizar uma tarefa, com muito maior rapidez. Nesses casos, para recupe­rar o tempo, haverá sofrimento, acentuadamente maior, e a batalha será bem mais difícil.

Na anotação de Mateus, Jesus foi tentado pelos fa­riseus e herodianos. Mas, conhecendo seus pensamen­tos, fê-los voltar sem argumentos, respondendo que, nem de leve, não se deve querer derrogar a lei, mesmo a de César. Quem conhecería, mais que o Mestre, as necessi­dades do tributo, do povo para com o governo ? Não so­mente pelas despesas de uma nação, mas também pe­los portes evolutivos dos espíritos que nasceram sob aquele jugo.

Uma e outra necessidades se completam, parecendo que, no fundo, ninguém paga imposto como se estivesse pagando uma roupa, ou comprando um pão. Contudo, na

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verdade, a carência é a mesma. O tributo tem o seu de­vido lugar, no campo dos deveres humanos. Quanto ao julgardes sobre a aplicação indevida dos impostos, não cabe aos contribuintes julgar os mandatários, pois eles, como vós, respondem pelos seus atos perante a vida. O governo precisa dos governados, como estes têm grande necessidade de um bom orientador. Uns e ou­tros se completam, para o surgimento da harmonia, pa­ra a felicidade dos povos.

Jesus ensinou a todos os governados, que dessem a César o que é de César, e a Deus o que é de Deus, abrindo, assim, duas alas de deveres para a humanidade. O ser humano, constituído de espírito e corpo, tem, no sentido mais comum, duas carências : a física e a espiritual. As necessidades materiais impetram, nos ca­minhos dos homens, problemas de variadas ordens, que estes, como bons soldados no mundo, têm de resolver. Abster-se dos deveres da terra, é o mesmo que deser­tar das lutas, quando chamados para elas. E os deveres espirituais não podem ser relegados ao esquecimento, sob pena disso vos custar muito suor e sangue.

Se há leis para o corpo físico, também as há para a organização espiritual. Se as primeiras são ensinadas, do berço ao túmulo, principalmente no lar e na escola, também o são as espirituais. A oração, que principiamos a balbuciar com os nossos pais, são rudimentos da lei espiritual, e o Evangelho de Jesus, disseminado por to­do o mundo, é a cátedra maior, que nos ensina as leis espirituais.

Ignorar esses dois deveres, ou obedecer só a um deles, é andar torto de um lado. Sofremos as conse- qüências dos nossos desleixos, porquanto, há dois mil anos, o Mestre ensinava o cumprimento desses precei­tos : "Dai a César o que é de César, e a Deus o que o de Deus’ .

Ouando o corpo físico sente necessidade do pão de trigo, a alma sente fome da palavra de Deus. Quan­do o corpo de carne se inquieta com a nudez, o espírito anseia, aqui e ali, pelas roupas da moral. Quando o cor­po material busca u'a moradia no mundo, a organização

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psíquica requer o amparo da amizade. Quando a alma, no mundo, precisa alisar bancos no aprendizado do “ abc", força que abrirá novos roteiros para a vida, o espírito imortal carece da escola do Evangelho, onde sua mento espiritual atingirá as culminâncias do céu. Quando o es­pírito reencarnado procura resgatar os tributos de Cé­sar, a alma anseia pelos resgates perante a consciência. Quando a humanidade sente o enfado de se comunicar somente entre si, busca o complemento, comunicando se com os espíritos. É quando os encarnados atendem ao Cristo.

Para finalizar, os preceitos espirituais fazem do repas- to do mundo uma prece, e da prece um alimento para a alma. Porque assim estatuiu Jesus, quando disse :

“ Responderam : "De César. Então lhes disse: Dai, pois, a César o que é de César, e a Deus o que é de Deus” .

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COMO PROCEDER

“ Agora vos digo : dai de mão a estes ho­mens, deixai-os; porque se este conselho ou esta obra vem dos homens, perecerá”.— Atos - Cap. 5, v. 38.

O impulso de quem está no comando é o de ali per­manecer toda a vida, sem pelo menos considerar a for­ça do tempo e as necessidades da evolução. Os homens dos poderes, sejam eles de quaisquer ordens, tornam-se insensíveis aos anseios da evolução, pressupondo que nasceram para aquele mister, até os fins dos dias, na face da terra. A inteligência, nestas horas, não lhes mostra os caminhos mais acertados, por não encontrar meios para remoção do orgulho e da vaidade, barreiras entravantes, que induzem ao retardamento. Quase todos os políticos caem nessa obsessão, embrenham-se na ce­gueira de serem os mandatários até às cinzas, sem con­tudo notar que existem, à sua retaguarda, muitos ou­tros dotados de melhores condições.

Na área religiosa é a mesma coisa : o lugar de des­taque é disputado, e quando um assume o comando, a intriga e a política são as armas usadas para ali per­manecer, até a morte física. Tudo isso representa a for­ça nefasta da vaidade orgulhosa; o dirigente se sente diminuído e abatido, quando desce da posição de che­fia. não aceitando , de maneira nenhuma, ser um dos simples irmãos da comunidade.

Dir-se-ia uma calamidade do coração, quando um deixa a posição de comando para se assentar nos últi­mos bancos, esquecendo os ensinos do Divino Mestre, quando dizia ; "Ao entrardes em um banquete, não pro­cureis os primeiros lugares, para que o dono da casa não vos mande assentar no último; revesti-vos de hu­mildade e procurai os últimos bancos ; porquanto, mui­tas vezes, o dono da festa poderá convidar-vos para os primeiros assentos, e seja isso, para vós, motivo de glória” .

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Gamaliel, o grande rabino e acatado mestre das sinagogas, um dos maiores doutores da lei antiga, era homem de muita humildade. Ao ver e ouvir notícias do famoso Nazareno e sua nova doutrina, notando que a quantidade de discípulos se avolumava, todos os dias, e que os outros doutores da lei se preparavam para com­bater e perseguir o Cristo, não aprovou tais atitudes. Paulo, aluno do convívio íntimo de Gamaliel, era um dos contraditores das idéias cristãs. Gamaliel chama-o e fa- la-lhe : “ Se a doutrina que este nazareno propaga vem de Deus, as mãos humanas são frágeis para combatê-la; se não vem dos céus, o próprio tempo se encarregará de destruí-la. Esperar é o melhor remédio". Mas seu dis­cípulo não gostou da atitude do mestre, tomou outros rumos, e sentiu, na própria carne, as verdades percebi das por Gamaliel.

O professor de Paulo de Tarso pregava e ensinava as leis do velho testamento, mas sempre com restrição a alguns pontos doutrinários, compreendendo que o povo já se encontrava preparado para coisas mais elevadas De vez em quando, Gamaliel descortinava fora da letra e filosofava, por entre os reinos do espírito, revelando fatos novos para os mais ansiosos por alimento espiri­tual. Mas, se assim o fazia, tinha seus métodos, para que não fosse considerado fora da lei mosáica. A ponde­ração era a sua virtude maior; nunca ofendia, nem tão pouco desacreditava; se, porventura, observava erros, si­lenciava, procurando avivar nos outros as coisas boas. Gamaliel era um espírito de hierarquia elevadíssima, pai por excelência da ponderação, nos bastidores das sina­gogas. Todos vinham a ele, procurando conselhos, e nunca saíam sem saber o caminho a tomar.

Eis o que todos nós devemos aprender ; nunca sair em combate às idéias alheias, nunca nos inquietarmos com o modo diferente de pensar de nossos semelhantes, nunca perseguir nossos irmãos, por comungarem eles fé diferente da nossa. O respeito para com o que os ou­tros fazem e pensam, faz com que eles tomem idêntica atitude, em relação a nós. Ao ouvirdes alguém pregar o Evangelho de modo contrário ao vosso, ajudai pelo silên-

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cio, e cooperai pela oração; já que aquele modo não vos agrada, não atrapalheis, procurando desfazer; aproveitai o tempo, fazendo da maneira pela qual entendeis.

Ouando lerdes alguns artigos que achardes inconve­nientes, não refuteis. Aproveitai o tempo, escrevendo coisas úteis, porquanto, primeiro Deus está vendo o deixando, e quem sois vós para passar na frente dEle ? Se encontrardes alguns livros nocivos, no vosso modo de ver, não julgueis nem entreis em combate contra eles: aproveitai vosso tempo, escrevendo um, com fun­damentos educativos, e sereis bem aquinhoados. Se, por acaso, surgirem novas religiões, não difameis tais atitudes; não deveis dissolver o vosso tempo, que vale ouro, em combates, que podem ser nascidos da força do orgulho e da embriaguez da vaidade. Vivei felizes na vossa doutrina; amai-a e segui com fidelidade seus pre­ceitos, sem contudo servir de pedra de tropeço, para ninguém.

Se conheceis Jesus, aceitais o amor; se aceitais o amor, aprendestes a tolerância, a compreensão, a con­córdia e a fraternidade. Porque, fora disso, não poderá existir Deus em vosso coração. Não combatais o mal dos outros. Porque, se na verdade for o m al... escutai o

que diz o Evangelho :

"Agora vos digo : dai de mão a estes ho­mens, deixai-os; porque se este conselho ou esta obra vem dos homens, perecerá” .

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"Respondeu-lhe Jesus: Não te digo que até sete vezes, mas até setenta vezes sete” .

— Mateus - Cap. 18, v. 22.

O perdão sempre se constituiu em motivo de co­mentário, em todos os meios religiosos e familiares. Ele é o traço de união entre pessoas que se aborrecem umas com as outras. O perdão tem superioridade so­bre a maledicência e a ignorância; é o senhor que o coração, formado no bem, anseia. Perdoar é começar a viver o céu, mesmo aqui na terra; é mostrar aos seme­lhantes que já se despediu do atavismo milenar dos que ofendem.

Antes de Jesus Cristo o perdão não era bem com­preendido; falava-se nele nas escolas, nos lares, nos duelos, nas guerras, até mesmo nas casas, onde a mo­ral não existia como pedra angular da vida. O esqueci­mento de uma falta se dava com restrições; dependia muito do ofensor, ou do ofendido, os quais perdoavam ou eram perdoados, mais ou menos prolongadamente, de acordo com o procedimento e estado de espírito do que ia abençoar pelo perdão. O modo pelo qual era entendi­do estava longe de chegar aos moldes ensinados pelo Cristo, a seus discípulos. Mas como o perdão também evolui, embarquemos nas asas dessa virtude singular, aproveitando suas paradas, e desfrutando das suas su­bidas e planuras no campo dos entendimentos huma­nos.

Mesmo na época dos ancestrais da humanidade, com todos os seus “ porquês” , era ele que dava ao sofre­dor algum alívio. Por conseguinte, abençoemo-lo. De qualquer forma, o perdão, na terra, é o céu procurando ambiente nos corações, para se instalar em definitivo, ensejando-nos o legado de Jesus. O grande Nazareno, além de ensinar que deveriamos esquecer as faltas.

COMO PERDOAR

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quando ofendidos, e ajudar aos ofensores, instruiu-nos também para caminharmos com eles, quando juntos no caminho. O perdão, antes do Cristo, era transitório e duvidoso, poderia durar meses ou anos. minutos ou ho­ras, dependendo do perdoado e do bom ânimo do que se dizia dono da lei.

Nas épocas recuadas dos faraós, às vezes, uma na­ção inteira recebia o perdão, cessando-se a subjugação presenteava-se o faraó com uma linda jovem. E o rei, se gostasse, concedia o perdão aos subjugados. É o sen­sualismo despertando o interesse, e a embriaguez dos sentidos conduzindo à indulgência. Esse tipo de perdão não deixou de ser útil a milhares de pessoas, mas não é o verdadeiro, porque, mesclado nele, vibra a troca, a usura do ouro e da carne. Ouem não tivesse nada para oferecer, sofreria eternamente. Além do mais, a nação perdoada não esquecia o velho ofensor. Quando tivesse oportunidade, viria a campo para a desforra, porque junto ao indulto, faltara o complemento do coração: operdão sem exigência, o perdão sem busca de direito, o perdão sem espera de troca. Descansa o inimigo, mas nunca acaba a inimizade; paralisa um pouco o ódio, mas perdura a vingança; dá-se um pouco de vertência à ação democrática, mas não se abraça a verdadeira fra­ternidade.

Com Jesus Cristo, tudo tomou forma diferente; o perdão tomou linha reta, ampliando, aqui e ali, todas as qualidades embrionárias que possuía. E os discípulos, ainda confusos acerca da indulgência, interrogam o Mes­tre : “ Como perdoar? Até sete vezes?" Jesus, tomando a palavra, com ênfase, discorre, e seus seguidores es­cutam : “ Não, não só sete vezes, mas setenta vezes sete” . O perdão, desse dia em diante, começou a to­mar proporções sem limites; e acrescentou o Mestre que, para o perdão ser verdadeiro, não podia exigir, nem ser comerciado, nem ter opressão.

O perdão divino teria suas bases na verdadeira fra­ternidade; perdoar, por amor à criatura, e por respeito a Deus. Os discípulos sairam pelo mundo como mestres do perdão. E os chamados pelas consciências, por esta­rem preparados para compreender o Cristo, saíam em

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campo, à procura dos mensageiros da luz, perguntando- lhes como deveríam perdoar. Todos eles, há quase dois mil anos, espalhados na terra e no céu, ensinam : o perdão não pode exigir, não pode gloriar, não pode co­merciar, não pode envaidecer; tem de ser humilde, fraterno, caridoso, compreensivo e amoroso, estendendo- se em todos os caminhos, de bênçãos e de trabalho, pa­ra que o Cristo de Deus se alegre conosco, e nós com a consciência.

Se, às vezes, por invigilância, perdoardes e ainda sentirdes rancor pelo irmão, tornai a 1er este texto evan­gélico :

“ Respondeu-lhe Jesus: Não te digo que até sete vezes, mas até setenta vezes sete".

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PARA QUE SOFRER?

"Se um dos teus olhos te faz tropeçar, ar- ranca-o e lança-o fora de ti; melhor é en­trares na vida com um só dos teus olhos, do que, tendo dois, seres lançado no infer­no de fogo".— Mateus - Cap. 18, v. 9.

O sofrimento constitui um ponto de interrogação para a Ciência, e o "por que sofremos" paira no ar, de­safiando não somente os cientistas, mas toda a huma­nidade, exceção feita àqueles dados ao misticismo mais profundo. A Medicina tem a missão de debelar o sofri­mento, pouco conseguindo, até hoje, no campo das curas, por não poder atingir as causas, que são de dificílimo diagnóstico. A enfermidade é condição natural das almas em evolução, e o espírito, na sua jornada ascendente, passa por fases numerosas, a cada uma delas somam- se muitos sacrifícios, correspondendo a muitos sofri­mentos.

A ciência médica, com o perpassar dos anos, adota a psicologia como agente, nas interrogações demoradas: usa a psicanálise, a psiquiatria. Nos dias correntes está quase adotando a parapsicologia, ou criando uma simi­lar, no sentido de aprofundar-se mais ainda nas causas das enfermidades. É a dor, que faz com que ela cami­nhe em todas as direções, em busca de socorro que lhe possibilite debelar os males. Deus não deixará esse es­forço em vão; dará ajuda a todos os empreendimentos aue visem o alívio dos que sofrem, desde que não inter­firam no carma individual, força poderosíssima que não respeita nenhuma das fórmulas medicamentosas, nem qualquer método terapêutico, porque o próprio carma é a bênção do elixir da verdadeira cura.

Os ramos "psis" da medicina estão em direção cer­ta, mas andando devagar. O espiritismo cristão espera que eles cheguem perto, para que possa ajudá-los, dar-

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lhes a mão, nesse roteiro difícil da procura das causas de todas as doenças. As portas de pesquisas da Doutri­na Espírita são largas, ampliando conceitos, dando visão mais segura a todos os estudiosos do assunto, para uma solução definitiva, na cura das dores e no entendimento de suas consequências. A ciência médica nunca conse­gue, em campo nenhum, curas definitivas. Sua grandiosa missão é remediar males, é dar alguma esperança, o que já corresponde a muita coisa; a cura verdadeira está na ciência interna, no remédio elaborado pelo coração, com as mãos sábias da inteligência, servindo como livro divino, escrito por Deus, para consultas às fórmulas me­dicamentosas.

Existem dois roteiros da dor : a dor evolução e a dor provação; uma e outra têm o mesmo objetivo ; melho­rar as condições do espírito, sem o que não haverá fe­licidade. Os pais da medicina, escolhidos pelo mundo, sofreram, e os que aí estão sofrem enfermidades pro­longadas, problemas de todas as ordens e desinquieta- ções ininterruptas. Se assim não fora, não havoria um mo­tivo para as grandes descobertas. O ser humano ainda precisa do guante da dor : só ela o impulsiona para a frente e para o alto. A missão do dor termina quando começa a superioridade do espírito. Mas, enquanto isso não chega, todos os remédios e diagnósticos são palia­tivos .

A bondade de Deus é tamanha que, vendo o sofri­mento dos seus filhos a passar dos limites de suas for­ças, por misericórdia, dotou Igualmente as religiões com o poder de aliviar os enfermos, despertando, nas almas, forças tais, com as quais podereis aliviar a vós mesmos, como também acelerar o progresso, objetivando a verda­deira cura. A alma não nasce com o corpo, por isso os ho­mens são desiguais e cada um carrega aquilo que é, expressando, no mundo físico, o que foi, antes de tomar novo corpo. É na ciência da reencarnação que poderemos encontrar as raízes de muitos males; essa é a opera­ção da lei da justiça : respondemos por todos os nossos atos.

Quando alguém aparece no mundo sem uma perna, só encontrareis a causa na lei da reencarnação. Se al-

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guém surgiu na terra sem os olhos, só podereis diag­nosticar o “ por quê” da cegueira, como justiça, analisan­do as vidas passadas. Se alguém se apresenta com en­fermidades incuráveis, no seio de família sã, somente sentireis alívio quando conhecerdes os processos das vidas múltiplas.

Se estiverdes incluídos em alguns desses dolorosos dramas, meus filhos, revesti-vos de compreensão e to­lerância, porque só tendo caridade convosco mesmos é que aliviareis os vossos fardos e suavizareis os vossos jugos.

Ouem disse o que segue abaixo, foi o maior Mestre de todos os tempos :

"Se um dos teus olhos te faz tropeçar, ar­ranca-o, e lança-o fora de ti; melhor é en­trares na vida com um só dos teus olhos, do que, tendo dois, seres lançado no infer­no de fogo” .

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COMO DAR

“ E quem der a beber ainda que seja um copo de água fria a um destes pequeninos, por ser este meu discípulo, em verdade vos digo que de modo algum perderá o seu ga­lardão".

— Mateus - Cap. 10, v. 42.

Recompensa é o que todos esperam, quando come­çam a dar. Porventura não é assim que aprendem a dis­tribuir verdadeiramente ? Dar, como convém ? Só com o tempo, forjados na têmpera do amadurecimento espiritual e destilando amor sem condições, é que podereis dar. dentro do padrão evangélico, sem vos mesclardes com o interesse comercial. Antes da razão, a natureza e os ins­tintos nos ensinam, em trocas sutilíssimas, como deve ser dada alguma coisa, como se deve trocar, se assim podemos dizer, sem alterar a vida interna das coisas, sem colocar medidas e pesos, com interesse no que se vai receber. É verdade que tudo ocorre assim por não haver raciocínio, mas é por isso que as lições são belas. Flui dessa amizade, que considerais inconsciente, o in­teresse único de servir, de cooperar com o vizinho ou igual.

A obediência à lei é totalmente cumprida, sem o que não haveria vida e não compreenderiamos Deus. A planta recebe do sol, da água e do ar, uma cooperação espontânea, mas retribui com dádivas de compensação, sem comércio, sem exigências, sem alterar o mundo ce­lular com seu engenhoso metabolismo vegetal.

Ninguém foge às leis de recompensa, mas essas nunca devem ser dirigidas por quem dá; existe, para is­so, a força de Deus, vibrando do átomo às galáxias, sem deixar despercebido um til, que seja, da lei. Quando o ser espiritual ergue a mente, com o prêmio da razão, sente- se como um deus e, julgando erradas as leis, começa a

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dar-lhes novas direções, como se fosse um criador de coisas; é aí que a vida toma formas monstruosas, che­gando a ponto de não parecer vida, mas expressar a morte. As fibras mais íntimas dos contudos da existên­cia são torcidas, pela vaidade e pelo orgulho, e só depois de os espíritos sofrerem as consequências das suas mal­fadadas vontades é que, pouco a pouco, vão compreen­dendo seus erros, e começam a acertar.

E por que Deus o permite ? Essa é sempre a per­gunta; mas esta é sempre, também, a resposta : deixa, porque são lições imprescindíveis às ascenções das al­mas; deixa, porque é errando que se acerta, em todos os ângulos da criação onde haja raciocínio, onde haja ra­zão, como ângulo supremo das conquistas dos espíritos.

A verdade é que o Evangelho veio ao mundo depois da razão desenvolvida, elastificada, com tendências pa­ra o amadurecimento; se assim não fora o trabalho de milhares de espíritos, empenhados na execução da Boa Nova nos planos espirituais, estaria perdido. Ninguém efetua um plantio, sem que as terras estejam em con­dições; as sementes só frutificam em terreno adubado, regado e cuidado. Isso aconteceu com as almas : como sementes Divinas foram preparadas devidamente, tra­tadas e adubadas com todo carinho, pelos jardineiros es­pirituais para, quando amadurecidas, receberam as idéias das leis de Deus, trazidas pelo grande Mestre de todos nós: Jesus Cristo. Agora, depois de árvores frondosas, usando todo o material ofertado pela vida, dão os frutos que lhes convierem, contanto que respondam por eles A princípio, são frutos venenosos. O uso da razão é torcido. Mas as conseqüências da dor fazem com que o coração oriente o raciocínio, que toma novos rumos, principalmente nas trocas de valores, de uns para com os outros. É o Evangelho pontificando.

Lembremo-nos de um velho aforismo ; "Quando o poço está pronto, a água aparece” . Um e outro resplen- dem a mesma coisa : ao amadurecer o espírito, o Cristo aparece em seu coração, como disciplinador das suas for­ças, no grande transformismo íntimo, fazendo com que as almas retornem, mais conscientes, ao seu "dar" em­brionário, de quando pedra, de quando planta, e de quan­do animal.

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Antes, era a força de Deus mais presente no cora­ção das coisas; agora, como senhor do si, dotado de ra­zão ampliada, de consciência fermentada pela prática do bem e do amor, com a liberdade disciplinada nas áreas livres da vida, a alma pode e deve trocar os seus bens, sem, contudo, fazer exigências. Deve doar o que possui para doar, sem alterar seus sentimentos, à espera de algo em seu favor; deve compreender que é dando, sem medidas e sem espírito de usura, que se recebe melhor, que é dando, por caridade, que se encontra a paz; que é dando, sem peso e por amor, que se encontra a felicida­de. Mas nunca pensando que, por darmos, algum dia venha a nós o que se deu para outro reino.

Jesus mostrou a seus discípulos a imagem perfeita dos seres aptos a ingressarem no céu, pegando uma cri­ança, levantando-a nos braços e dizendo : "Contemplai, é dessas o reino dos céus; observai uma criancinha, que chamais inocente, e segui-a; aprendei o que nela existe de divino, que sereis anjos". Ai, qualquer coisa que der­des em nome do Cristo tem explêndido valor, porque aprendestes a dar com discernimento e amor. E para vosso maior conforto, escutai novamente o que diz o Mestre, quanto ao conceito de dar :

"E quem der a beber ainda que seja um copo de água fria, a um destes pequeninos, por ser este meu discípulo, em verdade vos digo que de modo algum perderá seu galar­dão".

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FUGIR DO MAL

“ E murmuravam os fariseus e os escribas, dizendo : Este recebe pecadores e come com eles” .

— Lucas - Cap. 15, v. 2.

Com a idéia de pecado mortal e de inferno eterno seria difícil, senão impossível, o pecador regenerar-se. To. das as portas se fechariam para ele; a misericórdia, nes­te sentido, não existiría; a bondade de Deus se tornaria um mito, no campo da terra, para os sofredores, que se esforçam, sofrem, lutam, querendo aprender uma lição mais edificante. Estariam bloqueadas todas as oportuni­dades para o soerguimento; a última coisa que poderiam fazer seria morrer, mesmo assim, sem honra. Até seus corpos seriam relegados ao esquecimento, fardos im­prestáveis atirados aos corvos famélicos da putrefação.

E a alma ? Para onde iria ? Ficaria vagando no es­paço cósmico, procurando, aqui e ali, alguém que tives­se compaixão de seus dissabores; encontrar esse alguém, onde ? Só se fosses nas mesmas condições. Estaria mes­mo no inferno ? Parece que sim. Desinquietar-se-ia seu co­ração, com essa idéia já plasmada nas suas fibras mais íntimas, só pensando mesmo no inferno eterno, no sofri­mento sem remissão. De vez em quando, erguería a mente, e gritaria, no vazio da vida : meu Deus, será que estou mesmo perdido, eternamente ?

O tempo passa, o espírito se transforma, a luz bafe­ja seu torturado coração, que é assistido. Sente Deus e conhece a luz; nota que alguém lhe concede ajuda, vê esses espíritos. Mais tarde, candidata-se ao serviço de socorro, em amparo a outros irmãos que também so­frem nas regiões purgatoriais, como ele havia sofrido. Anseia voltar à terra para anunciar a não existência do inferno eterno, no sentido da permanência eterna das al­mas.

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Vimos, meus irmãos, como uma só idéia errônea faz almas sofrerem. Vemos quanto o Cristo libertou os espíritos da dúvida, da mentira e do medo, rasgando, pa­ra toda a humanidade, horizontes de alegria e esperanças. Ouiseram interceptar a mensagem de Jesus, sem resul­tado; ela vara os séculos e alcança seu objetivo, de transformar o homem em super-homem, e este cm anjo.E isso está se processando na consciência de todos, em­bora poucos tenham consciência disso, pois constitui aqui­sição espiritual, e não estatutos forjados pelas mãos dos homens.

A idéia de Deus é a verdade, só ela ficará de pé. Je­sus, na sua grandiosa mensagem ao mundo, já dissera que veio para os oprimidos, para os sofredores, para os cansados, para achar quem está perdido, para anunciar a boa nova de Deus. E ainda profetizou a vinda de ou­tro consolador que, em seu nome, relambraria tudo o que Ele tinha dito, e ainda muito mais. Esse consolador daria continuidade, como espirito da verdade, à mesma doutrina de perdão e de amor; daria um traço de união entre todas as religiões do mundo, pela força da cari­dade, e se faria conhecido como cumprimento do anun­ciado pelo Cristo, pelo amor despertado nos corações, de uns para com os outros.

O consolador veio propagar, com toda segurança, que ninguém morre, que a vida continua em toda parte, dando provas disso, pelos fatos. Ele anunciou, em nome de Jesus, que não existe eternidade dos sofrimentos, nos caminhos da alma; que as dores são condições evoluti­vas de todos. Ele veio anunciar a todas as almas, encar­nadas e desencarnadas, que todos temos oportunidades de ser úteis, na grande vinha de Deus, sem distinção de valores, mas visando somente o que cada um pode dar. Desapareceu com ele o pecado mortal, e todos têm opor­tunidades de regenerar-se; graças a ele, o Espiritismo, as bênçãos de Jesus atingiram, com maior calor, toda a humanidade, com a promessa de com ela permanecer até à consumação dos séculos.

Quando o Mestre estava pregando, aproximavam-se dele todos os publicanos e pecadores, para ouvi-lo; e Jesus não agiu qual os escribas e fariseus, escorraçan­

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do-os; abraçou-os, comeu com eles e ensinou a todos, com paciência e amor. E entre dois ladrões, no topo do calvário, desprendeu-se para a luz imortal.

Partiu, concitando-nos, não a fugir do mal, mas a convertê-lo no bem. Partiu, convidando-nos, não a amal­diçoar a preguiça, mas a transformá-la em trabalho. Par­tiu, impulsionando-nos, não a julgar os que erram, mas a ensiná-los a acertar, pelo exemplo. Partiu, advertindo-nos de que não devemos ser influenciados pelos ambientes de ódio, mas deixá-los, em silêncio, impregnando esses lugares de amor. Partiu, abrindo nossa visão para saber­mos que os pecadores não estão perdidos, e sim, pre­cisando da força do nosso exemplo cristão, para se re­generarem. Partiu, ensinando- nos que, mesmo na últi­ma hora, de despedida do mundo, há oportunidade de se salvar alguém. Se assim acontecer convosco, fazei-o com segurança, porquanto, mesmo na cruz da redenção. Jesus encontrou forças para regenerar a Dimas.

Se, por acaso, fordes procurados pelos pecadores, não desdenheis suas presenças. Procurai dar o melhor de vós para esses irmãos e, se possível for, comei tam­bém com eles, porque, muitas vezes, pela comida, as bênçãos de Deus podem atingir-lhes os corações. Fugir do mal não é o plano de Jesus; a idéia do Mestre é transformá-lo no bem. Se alguém vos vir com pecadores, e murmurar, lembrai-vos deste texto de luz :

“ E murmuravam os fariseus e os escribas, dizendo : Este recebe pecadores e come com eles".

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ABNEGAÇÃO

"E qualquer que não tomar a sua cruz, e vier após mim, não pode ser meu discípulo” .

— Lucas - Cap. 14, v. 27.

O Cristo exigiu dos seus discípulos uma decisão das mais difíceis, caso quisessem segui-lo : "aquele que não tomar a sua cruz e não vier após mim, não poderá ser meu discípulo". Os encargos a desempenhar, como dis­cípulo de Jesus, não são poucos; a transformação, na vida de cada um, terá que ser substancial, sem meios termos, não por imposição do Cristo, mas sim, por exi­gência da tarefa grandiosa, e pela responsabilidade da consciência de cada um. O impulso de todo ser humano é fugir das responsabilidades; mesmo os mais evoluídos assim agem, a não ser quando recebem em troca bons rendimentos. Jesus era conhecedor das fraquezas dos homens, e precisava deles, para a disseminação da boa nova do reino de Deus. Chamando um a um, reuniu a to­dos, e disse ; “Assim pois, todo aquele que dentre vós não renunciar a tudo quanto tem, não pode ser meu dis­cípulo".

A renúncia era a base do alicerce doutrinário; quem não a concretizasse, poderia voltar aos seus trabalhos, onde se encontrava antes. Jesus nunca impunha suas idéias; expunha suas convicções, sem oprimir a vontade tíe ninguém e esclarecia, a todos, os planos de Deus. Não queria perturbar as atividades dos discípulos na terra, mas intruía-os sobre como dar início aos deveres para com Deus, na transformação das almas.

Não resta a menor dúvida que o encontro de Jesus com seus discípulos já estava escrito no livro de Deus. Mas, mesmo assim, não havia imposição da parte do Mes­tre, que era todo amor, todo bondade. O respeito à vontade de cada um era ponto alto da doutrina do Naza­reno e, sendo assim, decidiam acompanhar ou não o

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Cristo, por sua livre e espontânea vontade. Porém, os que fossem, tinham de ombrear as cruzes de pesados deveres perante Deus e a consciência, e renunciar às alegrias transitórias do mundo, por não serem compatíveis com as alegrias do reino de Deus. Era encargo pesado, mas valoroso, batalha dura. mas promissora. Era, na verdade, sacrifício de uma existência. Mas redundaria na libertação eterna. Não tinham outro caminho a seguir, a não ser acampanhar o Nazareno, no sentido de prepa­rar a terra para o plantio da luz; daquele dia em diante, pelo amor de Jesus Cristo, estava estabelecida uma ponte, de Deus ao mundo, do céu à terra.

Os discípulos do Mestre, e os seus mais altos segui­dores, simbolizaram sementes do reino da luz que, plan­tadas no mundo, multiplicaram-se, de uma por cem, e de cem por milhares. Todos os cristãos, de hoje e de ama­nhã, são ramificações daquela descendência, competin­do, pois, a todos nós, ao ouvirmos o Mestre, acompa- nhá-lo decididos, deixando tudo que tivermos de impres­tável, para grangear, com Jesus, as coisas eternas. Essa respeitabilidade deve ter, de nossa parte, um interesse maior, porque as nossas provas representam a cruz que temos de levar, até o calvário da nossa redenção. A abnegação é o caminho do discípulo; vejamos bem que Jesus disse : “ Se alguém vem a mim, e não aborrecea seu pai, e sua mãe, e sua mulher, e filhos, e irmãos, e ainda a sua própria vida, não pode ser meu discípulo".

Cristo, a princípio, assustou a seus discípulos. Mas depois, esclareceu-os acerca dos aborrecimentos : eranecessária uma total abnegação, no sentido de suportar duros reveses. Os discípulos de ontem, como os de ho­je, tinham e têm de aborrecer os pais, quando esses só visam os interesses mesquinhos do mundo, sem se lem­brarem das leis de Deus, anunciadas e testificadas pe­lo Cristo. Os discípulos, de ontem e de hoje, tinham e têm de abandonar mulheres e filhos, não no sentido de quebrar o vínculo do compromisso pelo casamento, mas abandonar as velhas tradições que porventura eles ali­mentem, herdadas dos seus ancestrais, querendo obrigar, a quem conhece Jesus, a repudiar as idéias de luz, para vestir velhas roupas doutrinárias, onde nem o remendo dá mais certo. O desapego entre irmãos e irmãs, é no

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âmbito compreensivo de somente ligar-se a elos pelos sentimentos profundos do Evangelho; quando os parentes fornicarem entre si, deturpando os conceitos emitidos pela Boa Nova. sem querer se corrigir, façamos que não os conhecemos, e trabalhemos secretamente, para o bem de todos.

A própria vida do candidato ao discipulado do Mes tre tem de ser totalmente transformada, tem de ser abor­recida, por meios diversos, sem o que não poderemos ser discípulos do Divino Senhor. E sem abnegação, nun­ca conseguiremos viver, no meio dos nossos, sem ofen­dê-los. A abnegação é a força do amor de Deus a Cris­to. de Cristo aos discípulos, e desses aos seus seme­lhantes; e daí advem a paz. Mas sempre lembremos que. para sermos fiéis discípulos de Jesus, temos de aten­der a esse chamado ;

"E qualquer que não tomar a sua cruz, e vier após mim, não pode ser meu discípu­lo".

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0 QUE CONVÉM FAZER

“ Se alguém dentre os incrédulos vos con­vidar, e quiserdes ir, comei de tudo o que for posto diante de vós, sem nada pergun­tardes, por motivo de consciência” .

— I Coríntios - Cap. 10, v. 27.

Todas as coisas são licitas, mas nem todas as coi­sas convém que sejam feitas. O mundo não poderia ser feito somente com as coisas de que gostais, porque ne­le vivem bilhões de espíritos reencarnados, com os direi­tos, opiniões e gostos diferentes.

Se uma religião proibe a carne como alimento, e vos convém abster-vos de comê-la, fazei-o, sem contudo, jul­gar a quem come, porquanto, em regiões trevosas há muitos vegetarianos, e no campo da luz, como servidores fiéis do Cristo, há muitos e muitos que, quando no cor­po físico, comiam carne, nos seus repastos; e vice-ver­sa. Se a vida situou alguém na embriaguez permanente, não desdenheis dele, nem o maltrateis, porque muitos dos embriagados, conhecidos como delirantes do vício, modificaram-se com maior rapidez, do que muitos, que nunca, naquela existência, levaram um copo com álcool aos lábios; mas há também o contrário. Ao conhecerdes um assassino, não o julgueis como pária da sociedade, sem salvação aos olhos de Deus; muitos deles tornar-se- -ão espíritos de luz, com pouco tempo; a força da rege­neração transmuta a ganga da alma em jóias preciosas de valores ilimitados, e alguns dos que se consideram portadores das leis, ainda viajam nos campos das som­bras, sem saber quando, e de que maneira, poderão li­vrar-se delas; mas encontra-se, também, o caso inverso

Se possuís vultosa fortuna, e com ela movimentais meio mundo, não julgueis os que nada têm, acreditando que os pobres o são de tudo, até da graça de Deus; existem muitos que foram pobres na terra, mas a reslg-

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nação, a humildade, o esforço no bem, mesmo em situa­ção penosa, fizeram-nos chegar à plenitude espiritual; e muitos ricos, que esbanjaram fortunas e mais fortunas no mundo, pensando que continuariam com as mesmas riquezas depois da morte, enganaram-se, sofrendo e cho­rando no vale das sombras, querendo retornar, sem po­der, ao corpo físico, mesmo que seja na miséria, e ate mendigando de porta em porta; mas há casos, igualmen­te, do reverso da medalha. Se observardes mulheres que se degradaram mais do que os animais, também não as julgueis, orai por elas, porque há casos em que, de uma hora para outra, às vezes às portas da morte física, elas se transformam no coração e, com pouco tempo, es­tão nas lides do Cristo, não raro ajudando aos próprios' julgadores. Os que se julgaram muito puros vão encon­trar dificuldades no mundo espiritual, de ajudarem, qual elas auxiliam, com desembaraço; como há, também, o contrário.

Se a vossa consciência julga que não deveis fazer determinada coisa, não a façais, mas não queirais distri­buir essa regra para as consciências alheias, por não estarem todas as pessoas no mesmo nível espiritual que o vosso. Todas as coisas são lícitas, mas nem tudo po­de ser feito por todos; cada um faça o que lhe convém fazer, eis a melhor maneira de se viver em paz com a consciência. Muitos dos que vivem distribuindo conse­lhos a mancheias, vivem, em muitos casos, carecendo deles. Não procureis ninguém para orientar; caso ve­nham ao vosso encontro, fazei o que puderdes, e cuidai de ver o limite de ajudar. A maior ajuda é a que cada um faz a si mesmo. Tolo é aquele que se transforma em espelho, para ver os defeitos dos semelhantes, fazendo- se de magistrado; cuidado, porque alguém pode estar focalizando-o, com o mesmo interesse.

Jesus já asseverava, há muito tempo que “ não é o que entra pela boca que macula a alma, e sim o que sai do coração". Isso não quer dizer que podeis tomar estanho derretido e veneno em altas doses; tudo, como diz o Evangelho, é como convém fazer, nas doses certas; tudo é útil, tanto para o corpo, quanto para as almas; o exagero é que perturba os espíritos, onde estiverem. As regras evangélicas, somente os espíritos superiores as

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compreendem e vivem; da sua escala para baixo, tanto a compreensão quanto a vivência são relativas ao tama­nho espiritual em que cada um se encontra. Nem Deus, nem Jesus Cristo, vai amaldiçoar a quem ainda não con­seguiu viver todas as virtudes da Boa Nova; e a tolerân­cia e o amor pregados pelos céus ? Isso é o que não falta, porque há milhares de anos os mentores espirituais vêm tendo e continuam a ter para com todos nós; so­mente o completista vive e prega em verdade o Evan­gelho.

Porventura podemos exigir de uma criança a mesma coisa que um adulto já aprendeu, em todo sua existência? Seria isso justiça ? O que nos convém fazer é aquilo que podemos realizar. O que nos convém fazer é o que a consciência ditar, ou aprovar. O que nos convém fazer é cumprir com os deveres, onde eles nos chamarem Mas sempre no reto pensar, na reta consciência e no reto proceder. E nunca, mas nunca, esquecer de nos esforçarmos para atingir as culminâncias de todas as vir­tudes evangélicas, pois é com, e através dos próprios es. forços, que pisamos, de degrau em degrau, e galgamos os cimos da superioridade.

Mas antes disso acontecer, se alguém vos convidar para alguma coisa, sêde metódicos e prudentes, sabendo que tudo é lícito, mas nem tudo convém que seja feito.

"Se alguém dentre os incrédulos vos con­vidar, e quiserdes ir, comei de tudo o que for posto diante de vós, sem nada pergun­tardes, por motivo de consciência” .— Mateus - Cap. 16, v. 12.

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CAUTELA

“ Então entenderam que não lhes dissera que se acautelassem do fermento de pães, mas da doutrina dos fariseus e saduceus” ".

— Mateus - Cap. 16, v. 12.

Jesus, sabendo das fraquezas dos discípulos, adver­tia-os, quanto às investidas dos fariseus e saduceus, di­zendo : “ cuidado com o fermento desse povo, é perigo­so para quem procura a verdade; vós todos sois crian­ças, e ainda estais sob a minha tutela; é necessário que eu esteja vigilante, no tocante aos fariseus e saduceus, velhas raposas, corvos sem par que, já estando sem ca­minhos, sentem aflições em ver os outros marchando em paz e segurança".

Os discípulos eram sobremaneira ingênuos, enten­dendo que o Cristo falara de fermento de pão de trigo; mas o Mestre não os deixou enganados, explicando : “O fermento de que vos falo, é de ordem doutrinária, cuidado com a doutrina dessa gente". Aí é que eles compreen­deram e se preveniram, com vigilância redobrada, orando, no sentido de fugir às tentações deturpadoras da pala­vra de Deus.

Os fariseus e saduceus eram homens cultos e de muito raciocínio; confabulavam entre si, procurando tex­tos, aqui e ali, no velho livro, para pegar o Mestre em contradições; várias vezes tentaram a Jesus; nada con­seguindo com o Senhor, estavam dispostos a investir contra os discípulos, e esses poderíam se confundir. Mas, advertidos, seriam preparados contra todas as investidas desses lobos. E assim, os companheiros de Jesus, com a advertência do Mestre, sabiam ouvir e responder às perguntas maldosamente formuladas pelos inimigos do Evangelho, saindo sempre vitoriosos, pelo muito que aprenderam com o Cristo, de amor e caridade, de compre­ensão e tolerância, de vigilância e prece . É a razão pe­la qual todos eles figuraram como estrelas, no céu da Boa Nova.

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Essa cautela, nós outros devemos ter, para com os novos fariseus e os novíssemos saduceus. Não por tê- los na conta de párias da sociedade; não por compará- los como inferiores em relação a nós, nem julgando que o modo certo de pensar é o nosso. Não é esse o obje­tivo da vigilância, e sim, que não nos perturbemos com o fermento mental dessa gente, pois estamos nos inici­ando nas grandezas doutrinárias de Jesus Cristo, coisa bastante difícil de ocorrer, nos caminhos das almas. Es­tamos começando a despertar, e nesse começo, é neces­sário muita vigilância e oração; do contrário, seremos en­volvidos nas malhas e artimanhas dos que ainda estão na retaguarda. Sejamos fortes e decididos, para não cairmos em novas tentações. Não discutindo com eles, mas anali­sando suas vidas sem julgá-las, retirando delas o que acharmos útil para nós.

Se já encontramos no Evangelho toda nossa felicida­de, não nos preocupemos com argumentos dos contra- ditores; respeitemos, sem aceitar. Convidados a comer ou viajar com eles, se a consciência aprovar, atendamo- los, sem nos irritarmos com as conversações, nem tão pouco aprovar as coisas ditas pelas suas refinadas malí- cias. Sejamos sinceros em nossas convicções, mas amá­veis nos gestos; se provocados à violência, lembremo- nos do Mestre. Preguemos e vivamos a prudência, a to­lerância, e a força da convicção, baseadas na verdade e no amor; não há quem suporte, sem ceder, diante dessas armas divinas.

Quando o assunto descambar para a maledicência e para as piadas que esquecem o pudor, existe uma atitu­de, um silêncio que não aprova, muito conhecido do cris­tão; e esse proceder ficará plasmado no adversário da boa conduta, para sempre. Quando falardes, temperai a palavra com amor, ao ilustrardes os tópicos evangélicos; e com energia branda, ao recusardes o fermento.

Neste convívio, com os novos fariseus e saduceus, eles não suportarão, quando em casa, no trabalho, e nas ruas, lembrarem-se de vós; sentir-se-ão envergonhados, pois também são dotados de consciência e, desta forma, ao invés de fermentar a massa dos que querem contra­dizer, são tocados pela luz da conduta cristã. E a semen-

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te que colocastes, na vinha de cada um, vai crescendo, co­mo força de Deus, ganhando mais gente para Cristo.

Não deveis procurar guerras, mas caso chamados para ela, não a enjeiteis, desde que tenhais em mãos as armas doadas por Cristo. Armados com segredos da Boa Nova, não tenhais medo, que vencereis toda e qual­quer batalha com as trevas.

O cristão de hoje tem de se guardar dos fariseus e saduceus que agem em outras dimensões. São eles, os fariseus e saduceus da luxúria, da intolerância, da es­tupidez, de infidelidade, da indisciplina, da incompreensão, da violência, do orgulho, do egoísmo, e da ingratidão. E se quereis entender, esse é um dos fermentos, e dos piores. Eis porque Jesus precisou explicar novamente aos discípulos, e eles,

“ Então entenderam que não lhes dissera que se acautelassem do fermento de pães, mas da doutrina dos fariseus e saduceus".

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A FRUTA QUANDO MADURA

“ Ao que Jesus lhe respondeu : porque te disse que te vi debaixo da figueira, crês ? Pois maiores coisas do que estas verás".

— João - Cap. 1, v. 50.

A fruta só dá total aproveitamento quando madura, tudo obedecendo às regras da colheita; se fugirmos a isso, pouco ou nada será aproveitado. As leis, na lavoura, devem ser obedecidas, quando o agricultor se interessa por uma boa colheita; e qual deles não se preocupa em colher muito ? Conhecer o terreno é o primeiro trabalho, depois vem o preparo, a espera das chuvas, e por fim, o lavrador entrega as sementes aos cuidados da terra, confiando que fez a parte que lhe tocou. Pois bem, quando tudo corre normal, o dono da vinha sabe a épo­ca da colheita, de maneira que não se perca nenhum dos frutos, que são retirados na data adequada, no senti­do do proveito ser total.

No reino espiritual, as leis são as mesmas, com ajus­tes mais perfeitos, carecendo de maior cuidado, por se tratar de coisas mais elevadas. O plantio da verdade, na argila do coração, é feito com todo o esmero, que o Evangelho administra. Os mentores espirituais, em no­me de Deus e Jesus, são os agricultores, a semear as idéias elevadas, como sementes dos céus, na terra dos homens. E quem. mais do que o Cristo, sabe da época certa para a colheita? Na data prevista, Ele dá o toque, através dos seus mensageiros, para que os frutos madu ros sirvam para muitos se alimentarem e progredirem.

Eis porque focalizamos Jesus, descendo de Betsaída, cidade de André e de Pedro, para Galiléia, onde encon­trou Felipe, a quem disse : “Segue-me". Este obedeceu imediatamente ao convite do Senhor. Felipe já estava maduro de espírito, esperando somente o toque do Se­nhor da vinha, agricultor Divino, para desprender-se da

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árvore da vida, na terra, e servir, mesmo andando no mundo, aos céus; não havia outra solução, o discípulo estava pronto. Aparecendo o Mestre, a instalação estava preparada, bastava a ligação da chave, e essa foi feita pelo Cristo em Felipe, iluminando o seu mundo íntimo. Dir-se-ia um novo astro a refletir a claridade de um ma­jestoso sol, a polarizar sua luz em benefício de milhares de irmãos, ainda envolvidos nas trevas.

Felipe sentiu a alegria divina em seu coração; ao encontrar Natanael, companheiro de estudo do velho tes­tamento de Moisés, disse-lhe, com ênfase: “ Encontrei o Cristo, aquele que havia de vir, para salvar a humani­dade, ensinando os homens a se libertarem das cadeias da ignorância". Natanael responde: “ De Nazaré não po­de sair coisa boa", ao que Felipe lhe pede : "Vem e vê". Natanael, ao contemplar o grande Mestre, ficou sem po­der articular palavras, e Cristo, profundo conhecedor do ser humano, vislumbrou o mundo íntimo de Natanael, di­zendo-lhe : “Aproxima-te, israelita, sem medo, porquanto antes de Felipe te encontrar, eu já te havia visto, de­baixo de uma figueira”. Natanael gritou para o discípulo: "Este é o Cristo verdadeiro” . Ao que Jesus retrucou : "Só porque disse que te vi debaixo de uma figueira, crês? " E, na verdade, Natanael havia crido por esse simples fato da clarividência descomunal do Mestre, em 1er o presente, o passado e o futuro dos seres sob sua tutela.

Mas o que ocorreu é que Natanael já estava madu­ro na árvore da existência, e a um toque do jardineiro dos céus, a alma caiu em suas mãos, desligando-se do corpo ciclópico do mundo físico para, com Jesus, alimen­tar corações, rumo à eternidade. Analisai que, quando o fruto está verde, podeis dar muitas varadas para derru­bá-lo, e ele resiste, e quando cai, quase nada é aprovei­tado do seu conteúdo; quando maduro, somente com um toque desprega-se de onde estava, já quase a cair.

Todos os discípulos eram espíritos já amadurecidos para o trabalho a desempenhar com Jesus; e quem os conhecia mais do que Ele, dono e preparador da terra, de todos os corações ? O Pastor, por excelência, de to­do o rebanho ? Só Judas não tinha o preparo suficiente,

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como discípulo em completa redenção espiritual, mas para que a lei se cumprisse, o fruto caiu antes do tem­po, desligação que lhe atordoou a mente centenas de anos, de corpo em corpo, até explender, em meio aos outros, como verdadeiro companheiro do Divino Senhor.

Meus filhos, não vos impacienteis em converter al­mas para o vosso convívio espiritual; em muitos casos, elas não estão maduras para o modo a que vós vos dis­pondes a viver, e vice-versa. Se, por acaso, ficardes em dúvida, dai um pequeno toque, pois estando preparadas, vêm logo às vossas mãos. Se perceberdes que não se movem, com os toques das grandes coisas, deixai, que o tempo se encarregará delas, ou de vós; não vos per­turbeis, se não modificardes a ninguém para o modo pe­lo qual pensais; segui avante, amando, perdoando, traba­lhando e servindo, porquanto os que estão maduros, com simples coisas aceitam a verdade, como aconteceu a Natanael.

“Ao que Jesus lhe respondeu : Por que te disse que te vi debaixo da figueira, crês ? Pois maiores coisas que estas verás".

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PAULO FALA COM JESUS

“ Na noite seguinte, o Senhor, pondo-se ao lado dele, disse : Coragem ! Pois do modo por que deste testemunho a meu respeito em Jerusalém, assim importa que o faças em Roma".

— Atos - Cap. 23, v. 11.

De onde vem a inteligência ? Os homens da Ciência brincam com essa interrogação, com o dedo da ironia, mas nunca puderam explicar tal fato. Sobre esse enigma, têm surgido deduções e mais deduções, sem que ne­nhuma delas pudesse assegurar uma convicção. De on­de vem a inteligência ? É um mistério, e por muito tem po ficará sendo, porque os homens de saber procuram, na imensa escuridão da sabedoria do mundo, com os acanhados recursos de uma simples vela acesa.

A inteligência, figurando como essência, no ser hu­mano vibra em outra faixa. Está escondida em outra di­mensão, e já percebemos, em alguns estudiosos do mun­do, um vislumbre da verdade espiritual. A lei é esta : que a Ciência caminhe para o espírito e, com o tempo, encontrará o trono da inteligência. Por enquanto, somen­te seus efeitos estão sendo analisados; conhecem e re­conhecem sua existência, sem contudo saber ao certo de onde vem.

Nós antecipamos as pesquisas para os homens, di­zendo que ela se localiza no cérebro, mas não é pro­duto dele; aguça mais o sistema nervoso, mas não s ele; permite ao ser humano ações e reações sem con­ta, mas não se confunde com nenhuma delas. Há um dito popular muito certo, que expressa : “ Quereis ver o valor da alma? Observai um corpo sem ela". A inteli­gência, irmã da Ciência, vem do espírito que a conquista, com o tempo e o espaço, de séculos e séculos, do existências e existências. A reencarnação constitui um li­

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vro, pelo qual podeis saber como apareceu a inteligên­cia, e a quais reinos ela pertence. Assim como não se aprende uma ciência de um dia para outro, também não podei aprender, como num passe de mágica, a reencar nação, que se constitui numa ciência profunda. Estudai e vereis a verdade que afirmamos; estudai o que estamos expondo; estudai e vereis o que outros viram, há milha­res de anos.

Jesus, há quase dois mil anos, já entendia a ciên­cia da reencarnação, porquanto, em um dos tópicos evangélicos, Ele responde a seus discípulos, desta ma neira : "Se quereis entender, João Batista é o Elias que havia de vir". Nesta mensagem, e com bases no próprio Evangelho, vamos mostrar a clareza da sobrevivência do espírito, depois do fenômeno a que chamais morte : o Senhor, muito depois da Sua crucificação, aparecendo a Paulo, achando bom o testemunho dado pelo apóstolo em Jerusalém, mandou que o mesmo seguisse para Ro­ma; e o episódio do caminho de Damasco ? E a aparição do Mestre aos discípulos, quando esses estavam reuni­dos em uma casa fechada ? E Maria Madalena? Essa foi a primeira que viu o Senhor, dando testemunho. E após isso, Ele apareceu e continua a aparecer, milhares e milhares de vezes. Provou o Cristo que a Morte não existe.

Se adotais a Bíblia, é nela mesma que essas verda­des estão expostas, desde Moisés até João Evangelista. Em quase todos os textos sagrados encontramos comu nicação dos homens com anjos, espíritos ou almas, co­mo se queira chamar, porquanto uns e outros são a mesma coisa. Moisés era portador de grande faculda­de mediúnica e conversava com os mensageiros dos céus, interpretando a linguagem deles para os homens.

Quando quereis conversar com um estrangeiro, cuia língua não falais, não buscais um intérprete ? Moisés era o intérprete entre os anjos e os homens. Esse inter­câmbio, encontrareis em todas as religiões. Se quiser­des, dai a isso qualquer nome, que a verdade não se altera : será sempre comunicação entre um plano e ou­tro, entre os homens e os espíritos, entre a terra e o céu.

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Compete pois, à Ciência, averiguar. Não negar sem examinar, porque isso não é próprio do ser superior. Acima de tudo, deveremos estudar o objetivo das co­municações. Mas a resposta já se encontra no próprio Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo. Quando Ele aparece aos seus seguidores, qual é o seu incentivo, qual a sua orientação ? Qual é o móvel de todas as Suas comunicações ? Vereis que todas elas redundam na esperança e na paz, na realidade e no amor, além de tra­zer, para os que sofrem, a alegria eterna de que a vida continua depois do túmulo.

Qual é a mãe, que tendo perdido alguns filhos nas lutas do mundo, não quer saber notícias deles ? Qual dos parentes ? Qual dos filhos ? Qual das esposas, e es­posos ? Eis porque constitui um grande objetivo, o sa­ber notícias do continente espiritual, para onde todos, sem exceção, tereis de ir, algum dia. Não é bom que a própria Ciência ajude as religiões a pesquisar esses mistérios ? Quanto mais gente estudar, com sinceridade, a ciência espiritual, mais depressa encontrareis a ver­dade, e essa vos libertará.

Sabeis ao certo o que os espíritos superiores man­dam fazer ? Que os filhos respeitem mais ainda a seus pais. Que os pais cuidem mais da educação de seus f i­lhos, em todos os campos a seu alcance. Que as mu­lheres, tanto quanto os homens, se entendam uns com os outros, na conquista de um lar perfeito, dentro da pura harmonia e da fraternidade recíproca. Que nunca os seres mais aquinhoados da vida se esqueçam dos menos afortunados. Que deveis cuidar mais dos animais, que também são criados por Deus, e que não existe nada inútil na face da terra. Que os governos devem tratar o povo como seus próprios filhos, e esse povo respeitar o governo, como aos próprios pais. Que as nações se confraternizem, sem as barreiras de cor, facção religio­sa, saber ou glória, dando-se as mãos nas horas neces­sárias, para que não falte nada em ponto nenhum do globo. Que os professores vejam, em suas salas de au­la, um prolongamento dos seus próprios lares, e que os alunos tenham essa mesma visão. Que os ricos au­xiliem os pobres, e que esses abençoem os ricos. Que

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ninguém fique na terra sem carinho e proteção, princi­palmente crianças e velhos. Que não deveis fazer guer­ras, por causa de um simples pedaço de terra, ou alguns quilos de ouro. porque isso tudo fica à retaguarda do túmulo. Que deveis perdoar, quando ofendidos; ajudar o oprimido, vestir os nus, dar pão a quem tem fome, instruir o ignorante e aliviar os sofredores.

E ainda muito mais, homens de todos os quilates de saber : eles, os espíritos, vêm vos dizer que existe um Deus todo poderoso e justo, todo amor e fraternidade, que sustenta a vida para que possamos viver. Que Jesus é uma realidade e que os homens, algum dia, vão ser igualmente anjos. Que quereis mais? Analisai o fruto das comunicações de um mundo com o outro, e vereis que nenhuma ciência dará mais resultados que essa; e sentireis vontade, como homens, de falar com os anjos.

Foi para trazer todos esses benefícios à terra, que Jesus veio ao mundo. Foi por causa desse ideal, que to­dos os discípulos se sacrificaram. E é com o objetivo de sustentar esses ensinos que nós, espíritos, continuamos até o fim, a nos comunicar com os homens.

É através da Doutrina Espírita, codificada por Allan Kardec, que encontramos o ambiente mais adequado pa­ra dar continuidade à revelação cristã. E se já vos de­cidistes a escutar as vozes espirituais, no tocante ao bem, vede que Paulo já o fazia, há muito tempo ;

"Na noite seguinte, o Senhor, pondo-se ao lado dele, disse : Coragem ! Pois do modo por que deste testemunho a meu respeito, em Jerusalém, assim importa que o faças em Roma” .

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EVOLUÇÃO PROGRESSIVA

“ Tenho ainda muito que vos dizer, mas vós não o podeis suportar agora".

— João - Cap. 16, v. 12.

A evolução é progressiva, em todos os ângulos da criação. Ninguém pode negar esta verdade e, se assim não fora, já surgiriamos evoluídos, nós e as coisas, per­manecendo estatizados; e pelo que a razão nos tem re­velado, a vida e as coisas a ela relacionadas progridem intensamente, deixando um traço, por onde perlustram, como mensagem de otimismo e de consolo, para os que vêm à retaguarda. Os que já evoluiram parecem dizer : Segui as minhas pegadas, caminhai na senda do meu ro­teiro, que tereis a mesma sorte.

Esta é a razão por que encontramos vestígios desta força poderosa, que se chama evolução, em toda parte. As pirâmides do Egito são um traço de luz, um bilhete do passado, de uma época a outra, mostrando que al­guém inteligente passou por ali, evoluindo; daquele es­forço gigantesco, quanto não progrediu a engenharia, em todos os seus campos ? Foi dos primeiros rudimentos da palavra, quando uns se esforçavam para transmitir a outros o que pensavam, que chegastes, pela mesma tr i­lha, à técnica do palavreado moderno do rádio e da tele­visão. Por causa do esforço contínuo dos primeiros ci­entistas nas experiências com balões, é que hoje po­deis viajar para outros mundos, em possantes jatos aéreos.

As pesquisas andaram, a evolução abriu novos ho­rizontes. As conquistas de hoje são heranças para o amanhã, que há de se elevar mais ainda. Das antigas mí­micas é que chegastes à escrita aperfeiçoada destes dias em que viveis. Em tudo, podeis notar a marcha da evolução, dos átomos aos sois, dos homens aos seres angélicos.

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A ciência encontra, no chumbo, u'a mensagem do urânio, a dizer-lhe : passei por aqui, isso que encontras é um degrau da minha subida. O homem, ao contemplar o macaco, sentindo-se assemelhado com ele, pergunta- se, no íntimo : meu Deus, será que já fui aquele bicho? No amanhã, muito próximo, a verdade vai libertar-vos des­sa interrogação, e vos dirá : passastes, sim, por ele; quando subis uma escada, não podeis observar o degrau anterior ? Pois o animal é um desses degraus, por onde já passastes; ele corresponde a u'a mensagem da lei da evolução, força a que todos, e tudo, obedecem.

Os espíritos superiores, os seres angélicos, traba­lhando na ajuda aos homens, reconhecem por onde pas­saram, e continuam em busca do mais além, sem deten- ça. Se tudo evolui, tudo se transforma; se tudo se trans­forma, tudo muda de face. Por isso, não encontramos a verdade que sirva tanto para os adultos, quanto para as crianças. Todos os conhecimentos são gradativos, de acordo com a idade e o preparo de cada um; é por isso que não deveis julgar, como errôneo, nada que surgir de novo, sem antes examinar. Ainda assim, quem sabe se não sois ainda muito crianças, e que não podeis su­portar a revelação que refutais ?

A vida nos pede muita tolerância, muita prudência, muita meditação, porquannto pouco conhecemos das coi­sas que ainda nos compete saber. Se consideramos Je­sus como o maior dos sábios que já desceu a Terra, va­mos escutar novamente o que Ele disse : “Tenho ainda muito que vos dizer, mas vós não podeis suportar ago­ra '. Percebeis o que o Mestre dos mestres asseverou a Seus discípulos ? Se o pouco que Ele falou deu ense­jo a tanto barulho, provocou tantas guerras ideológicas, muito mais se Ele tivesse falado tudo. Os homens não estavam preparados para receber toda a verdade de que o Cristo era portador. Porisso, o Mestre tinha de enviar outro Consolador, Espírito da Verdade, em outra época, quando os homens já possuíssem condições para assimi­lar outras revelações, progressivas.

Esse Consolador veio como força do progresso, dando cumprimento à palavra do Senhor. E o Espírito da Verdade continua a falar que outros virão, para dar

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novos impulsos ao sistema de revelações.A Doutrina Espírita, revivendo o Evangelho na subida

do progresso, mostra-nos que, se o perdão de ontem era articulado com palavras, o perdão com o Espiritismo é procurando esquecer-se das faltas sofridas. Se ontem o amor existia na base da troca interesseira, o amor com o Espiritismo é baseado na fraternidade sem limi­tes, nada exigindo em troca. Se ontem o insultado era honrado quando tirava a vida do seu inimigo, com o Espiritismo ele é glorificado por não revidar ofensas, respeitando os direitos dos mais fracos, com amor. Se ontem os seres humanos somente defendiam os próprios lares, com o Espiritismo todos os homens reconhecem que o lar é a Terra, e a humanidade é uma só família, e que o Pai de todas as coisas é Deus, em Ouem deve­mos depositar todo nosso amor, acima de todas as coi­sas.

Essas, e muitas outras, eram as coisas que o Cris­to tinha para dizer-nos e não pôde fazê-lo, naquela épo­ca, com clareza. Mas hoje já temos o Espiritismo, que nos faz revelações em milhões de páginas, representan­do o Espírito da Verdade.

Se quereis saber de outras coisas de grande inte­resse, lede, procurai meditar, examinando as escrituras. Mas nunca vos esquecendo que ainda tereis muito que aprender, porquanto o progresso evolutivo não tem fim, e sempre ouvireis uma voz a vos dizer isto. Ouvi :

“ Tenho ainda muito que vos dizer, mas vós não o podeis suportar agora” .

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ESTÍMULOS

"O que vos digo às escuras, dize,-o à plena1 * : V 0 que se v° * diz ao ouvido, procla- ma|,o dos eirados”.

Mateus • Cap. 1 0 , v. 27.

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des alegria ao comerdes um fruto amargo, ou um ali­mento sem tempero, ou respirardes um ar fétido ? Eis o caso : se somos nós que revelamos, antes que os ou­tros as conheçam, as nossas qualidades, elas se apre­sentam amargosas, sem tempero e fétidas, não podendo agradar. Se a humildade nos ensina a fazer uso da to­lerância e da compreensão, esperando que sejam outros os garimpeiros de nossas qualidades, estas surgirão saborosas, distribuindo prazeres, e recebendo perfume agradável.

Neste campo, de mais alta vivência dos ensinos do Mestre, serão distribuídos estímulos em profusão, de qualidades superiores conquistadas, sem pretensão de imprimi-las nos outros; revelar-se-ão, por si mesmas, na nobreza de valores; não por imposição da vaidade or­gulhosa.

Gasta um pouco de trabalho, mas compensa ser humilde. Gasta um pouco de lutas, mas compensa apre­sentar-se como o menor, sem pretensão de figurar co­mo o maior de todos. Gasta um pouco de exercício, mas compensa ser compreensivo para com os outros. Gasta um pouco de tempo, mas compensa sermos indulgentes para com os semelhantes. Gasta um pouco de tempo, mas compensa esperar que o próprio tempo diga para os outros, quem somos nós, e o que haveremos de ser. para sempre.

A palavra é uma arma poderosa, que obedece à von­tade : se usada para a guerra, mata; se usada para a paz, dá vida. O verbo é um estimulante incomparável, quando manipulado com a ajuda do Cristo, mas se esque­cemos a tarefa do Mestre em nós, poderemos inverter os valores e criar barreiras intransponíveis. Se alguém quiser esquecer o valor do estímulo nas boas coisas, que o faça; mas nunca o cristão. Esse, por lei da cons­ciência e por obediência a compromissos, não pode dei­xar de estimular o companheiro para a caridade, ao fa­zê-la. Não pode deixar de estimular o amigo ao amor fraterno, ao amá-lo. Não pode deixar de estimular o irmão à tolerância, ao tolerá-lo. Não pode deixar de es­timular a humanidade à instrução, ao instruí-la.

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Falar da bondade é de grande proveito, mas sempre esquecendo a nossa. Falar de inteligência é sempre útil, mas nunca mencionando a nossa. Falar de caridade é coisa grandiosa, mas nunca lembrando aos outros o que fazemos. Falar de amor puro é assunto altamente com­pensador, mas nunca apresentando-nos como padrão des­ta incomparável virtude. Não podemos esquecer essa verdade : nós irradiamos aquilo que realmente somos: se publicamos as qualidades boas que julgamos possuir, sem tê-las conquistado, os outros o descobrem primeiro que nós, porquanto não sentem o que falamos. Se já somos portadores de altas qualidades evangélicas, nun­ca devemos nos interessar em divulgá-las como nossas, porque sentimo-las desprender-se de nós, em favor dos outros, que as reconhecerão, sem intervenção da nossa palavra.

O verbo tem muito valor, mas quando cheio do es­tímulo do bem, de todas as ordens, para todas as cria­turas. Vede o que anotou Mateus, do Divino Mestre : "O que vos digo às escuras, dizei-o à plena luz". Quan­do a pessoa fala aos outros sem palavras, por vibração, vivendo o que aprendeu nos Evangelhos, diz às escuras, sem precisar da palavra, nem das letras; os que sen­tem, reproduzirão em plena luz, falarão aos outros, usando a palavra e a escrita, por estarem no tempo, e por não ser o próprio portador, que anuncia suas quali­dades.

‘‘O que vos digo às escuras, dizei-o à plena luz; e o que se vos diz ao ouvido, procla­mai-o dos eirados".

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0 ALIMENTO DA ALMA

“ Então Jesus tomou os pães e, tendo dado graças, distribuiu-os entre eles ; e também igualmente os peixes, quanto queriam” .

— João - Cap. 6, v. 11.

O Divino Mestre não ficava em um só lugar, por muito tempo. O Cristo, pelo que parece, sentia necessi­dade de variação de ambientes, e, encontrava, nas Suas caminhadas, pessoas diferentes; essas, que não tinham ainda ouvido Suas palavras, ouviam e viam a grande per­sonalidade. de formosura incomparável e presença fas­cinante. Certo é que o majestoso cientista das almas era, como já dissemos, um andarilho sem par, a serviço da luz.

Depois de um trabalho intenso, nas cercanias da Ga- liléia, o Mestre atravessa o mar de Tiberíades, seguido por uma multidão de pessoas, sabedoras das curas por Ele realizadas. Sendo o dia exaustivo — e os que seguiam o Mestre eram quase cinco mil pessoas — Jesus preo- cupou-se com a alimentação do povo, pedindo a Felipe e André para tomarem as necessárias providências. Sem recursos para adquirir alimentos, os discípulos sentiram- se constrangidos, dizendo um deles: "Mestre, não te­mos o necessário para a compra de pães, que faremos ?" Um outro discípulo informou que junto deles havia um rapaz, conduzindo um cesto com alguns pães e peixes, mas que isso não bastaria para toda a multidão. Jesus, ouvindo, manda vir o cesto, abençoa-o, dando graças a Deus. E toda a multidão comeu pão e peixe com far­tura, sobrando ainda muitos cestos com pedaços, que o Mestre pediu para recolher, providenciando para que nada se perdesse.

Ai estava concentrado o milagre da natureza, ao produzir o trigo, talvez uma das maravilhas da criação. Como, certamente, a essência divina agira para o proces-

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so da multiplicação, nada poderia ser desperdiçado. Os pedaços seriam de grande proveito, para quem quer que tosse, por estar inoculada neles a força de Deus, canali­zada pelo coração do Cristo. Ademais, ficaria para a posteridade a lição da economia, entrando, em alta fun­ção com Jesus, o senso do valor de todas as coisas.

O Evangelho tem inúmeras interpretações; esse grande livro de Deus acompanha o processo evolutivo das criaturas, e o sentido se amolda às necessidades das épocas e dos corações. Querer limitar, em uma só escala, as interpretações da Boa Nova, é a mesma coisa que querer apagar o sol com as pontas dos dedos, co­mo se ele fosse uma simples vela. Esse livro vara ge­rações e gerações e, em cada uma delas, poderá, se necessário, vestir roupas diferentes, sem contudo mu­dar o conteúdo; a essência divina é a mesma.

Já pensaram se aprendéssemos a magia divina da multiplicação, e em todos os casos de desajustes so­ciais, multiplicássemos alimentos com fartura, qual fez o Mestre, no meio da multidão faminta ? Se, porventura, faltando casas, tocássemos com o dedo em um local, e ali surgissem inúmeras habitações? Não se falando de roupas, remédios, dinheiro, etc. Como esses espíritos se comportariam, diante do mundo ? Qual o processo de evolução a que iriam obedecer, se tirássemos todos os obstáculos dos seus caminhos ? A ociosidade faria está­gio na terra, à espera de grandes calamidades, em for­mas diversas, para que houvesse reação.

A guerra, na verdade, é a catástrofe moral de um po­vo; todavia, é esse mesmo povo que a provoca. Os vul­cões e terremotos matam milhões, e colocam outro tan­to em desespero. Contudo, é essa gente mesma que incentiva suas ações. Todos os espiritualistas conhecem esta verdade : quando os homens têm ódio, vingança, luxúria, egoísmo em demasia, vaidade orgulhosa, enfim, quando os seres fogem dos preceitos da consciência, es­tão faturando desgraças e mais desgraças, calamidades e mais calamidades, que arrebentarão um dia em tormen- ata, para eles mesmos.

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É científico que, para pensarmos, temos de usar al­gum fluido, que chamamos de éter cósmico, e que pe­netra em nós como bênçãos dos céus, na sua pureza imaculada. Nós. como espíritos inferiores, inverteremos seus elementos mais sagrados, e então, essa luz se des­prende de nós cansada, empastada com os resíduos in­feriores da nossa personalidade desenfreada e perversa. Tudo isso constitui processo da evolução da vida; esta­mos apenas explicando que é por nossa própria culpa que as dores e os sofrimentos vêm nos afligir.

Esses fenômenos não podem ser tirados dos cami­nhos das almas. Ninguém caminha sem eles. São espi­nhos de satanás na carne, no dizer de Paulo; necessá­rios. como lições inesquecíveis. À época de Jesus, os milagres eram feitos para despertar as almas para a crença em Deus e nos espíritos, e eles abririam brechas nos corações, a fim de o Evangelho penetrar. Está pres­tes a se encerrar esse ciclo de fenômenos para fazer crer.

O terceiro milênio nos espera e, com ele, o Cristo, soberano e feliz, não só no meio de cinco mil pessoas, esperando milagres, pão e peixe, mas junto a toda a humanidade, que espera, na terra, para agradecer ao Se­nhor a multiplicação das virtudes, pelo milagre do Evan­gelho no mundo dos corações, festejando a páscoa do desaparecimento total da fome, sem mais nunca preci­sar disso :

“ Então Jesus tomou os pães e, tendo dado graças, distribuiu-os entre eles; e também igualmente os peixes, quanto queriam".

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A VIDA EM FAMÍLIA

"Não obstante, vós caria umbérn m de per Si' tam‘bem ame a sua própria esposa como a si

m° 6 a esposa respeite a seu marido".Efésios - Cap. 5 , v. 33

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as criaturas. Todavia, não poderá ser atitude dos que já entendem Jesus, cruzar os braços, sem querer cooperar em alguma coisa, em face do restabelecimento da paz nos corações. Desde quando existem homens e mulhe­res no mundo, existem dissenções entre eles. O Cristo, contudo, nunca deixou de operar a favor de todos, e continua sempre, até libertá-los, mostrando-lhes os ca­minhos que eles mesmos têm de percorrer, para alcan­çar os céus, na plenitude do amor verdadeiro.

Examinando as leis antigas, dos países que servi­ram como pais para a humanidade, vemos que os regu­lamentos, para os lares, eram mais grosseiros. A biga­mia, entre outras coisas, ontem era comum no seio dos povos. Mas hoje é classificada como atentado à família; por exemplos assim, podeis notar a melhoria gradativa da humanidade, e consequentemente, dos la­res. A mulher, ontem, era escrava do homem; hoje é companheira. O homem, antes, ao encontrá-la em adulté­rio, podia apedrejá-la; hoje, isso é crime, e o Evange­lho mostra para amanhã novos horizontes para os la­res, que vão atingir a plenitude da paz, sem discórdia para os cônjuges, por ter, toda a humanidade, saldado, pela ajuda do Cristo, todos os débitos perante a lei.

Aí então, será dado, por acréscimo de misericórdia, tudo o que fôr de bom, aos corações, por compreenderem que toda a terra é um lar de Deus, e que as criaturas são irmãs, necessitando de amor, mas de amar muito, umas às outras. Para as criaturas em desequilíbrio, não adianta que se escrevam livros e mais livros, condenan­do os erros e os lares em desajustes, se não explicam o “ porquê" dessas dissenções. A psiquiatria, a psica­nálise e outras ciências afins, avançam no reino do sa­ber, sem no entanto, trazer uma solução, que se encon­tra figurada por uma simples palavra : evolução.

A ignorância é que causa todos esses dissabores, necessários ao reajustamento das criaturas. Levantaria o dedo, em nome de Deus, alguém que não tenha passado por todos os desequilíbrios, de todas as ordens, no percurso evolutivo ? Deus, consciente e sábio, não sa­bia disso, ao criar as almas? Sabia. Tanto que estatuiu as leis, como disciplina. Por isso, o julgamento nosso,

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perante nossos irmãos, é falho; compete-nos viver den­tro dos preceitos evangélicos que já conseguimos com­preender. porque esses ensinos do Cristo estendem-se da Terra ao infinito, com modalidades da verdade para todos os planos de vida.

, A vida em família deve ser de paz, não resta dúvi­da. e isso é porta para a felicidade; mas, na verdade, digo-vos que já está chegando o tempo dessa paz se estender a todos os lares, porque o objetivo de um, bem fundamentado em Cristo, é o ideal de Deus. para todos. Pede-se que sejais bons maridos, mas esse pedido é extensivo à mulher. Pede-se que os filhos respeitem os pais. mas que estes não esqueçam seus deveres para com os filhos. Pede-se que os genros tenham tolerân­cia para com os sogros, mormente quando precisarem morar juntos, mas que eles também vejam os direitos dos genros.

E quando não for possível a materialização de tudo isso que expomos, esforçai-vos ao máximo, para que esse ideal se realize, ao menos em parte; e que, em ou­tras existências, completeis esse ideal, porquanto ele não é vosso; é de Deus, com grande interesse de Cristo. De qualquer forma, lede novamente esta advertência do Evangelho, que ela ajudará. Ei-la :

Não obstante, vós, cada um de per si, tam­bém ame a sua própria esposa como a si mesmo, e a esposa respeite a seu marido".

es.

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CONDUTA NA VELHICE

“ Quanto aos homens idosos, que sejam tem­pérantes, respeitáveis, sensatos, sadios na fé, no amor e na constância".

— Tito - Cap. 2, v. 2.

O Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo, neste tópico, traz uma mensagem especial aos velhos, às pes­soas de mais idade, que por bênção de Deus, consegui­ram chegar até aí, pois, a essas almas, a voz do Cristo atinge, por intermédio de Paulo, seu servo fiel, nas pro­fundezas do coração.

Homens de idade avançada : escutai com interesse essa exortação da Boa Nova, em espírito e verdade; se no transcorrer da existência não conseguistes, na juven­tude, uma vida pura, ou mais ou menos correta, atentai para isto ; procurai, doravante, abrir os olhos e apurar os ouvidos aos conselhos do Mestre; procurai refrear os instintos, amansar os impulsos, apaziguar o coração, im­pedindo que a paixão faça morada em vossas vidas. Meditai na caridade, extraindo dela o perfume da com­preensão, e então, podereis servir de instrumentos para a educação dos que vêm à vossa retaguarda; filhos e filhas, netos e netas. Que o vosso proceder revele, pa­ra os que vos ouvem e vêem, uma árvore de bons frutos; meditai no amor, para que essa virtude, pelo vosso es­forço ingente, faça parte da vossa vida e seja um cami­nho benfeitor para os que vos cercam. Se, por acaso, na flor da juventude, esquecestes do amor fraterno, procurai, antes que passe o tempo, sentir essa virtude maior en­volvendo o coração, para que ele desprenda a luz, em todos os cambiantes, como se fôra alimento para os que seguem vossas pegadas.

Sêde simples e prestativos, por onde andares, no sentido de espelhardes segurança para os que vos es­preitam e confiam em vós. Porque, se quiserdes, sereis

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exemplos benfeitores para essas almas, que ainda va gueiam sem rumo. Se, quando moços, não chegastes à altura de serdes úteis, sem exigências, esforçai-vos ago­ra; os cabelos brancos significam muitas experiências, e essas devem ser ofertadas, por amor, aos que se ini­ciam nos roteiros do mundo, e que, no amanhã, recebe­rão os mesmos pedidos, pelos que estão degraus abaixo.

Homens de idade avançada, não procureis ambien­tes de má fé, para vossas conversações, evitando que os jovens façam o mesmo, seguindo vosso exemplo. Sê- de respeitadores, pondo medidas nas palavras; elas de­vem ser temperadas com o sal da prudência, e revesti­das do verniz da caridade, sem o que não teremos, no amanhã, homens de caráter e de bom senso. Se, até hoje. por acaso, não conseguistes isso, não deveis ignorar que o querer é poder; iniciai logo vosso esforço, nesse cam­po de auto-educação. e começai a exemplificar, com bons costumes. Já pensastes se todos os velhos lutassem para a realização desse objetivo cristão ? A batalha do bem é demorada, mas nunca vencida; a idade avançada representa um chamado para a renovação com Jesus Cristo.

Se por acaso, quando moços, fizestes alguns danos, procurai, como velhos, repará-los sem esmorecimento. com bom ânimo, porquanto esse vosso esforço encoraja os jovens no bom combate. Como homens de idade, ao fazerdes parte de grupo de jovens que estejam na cala­midade moral, fazei um gesto no rosto, desaprovando, porque esse estado de alma imprime no ambiente certo respeito, que permanece, sem contudo, ofendê-los. Quando os moços estiverem com planos altruísticos, es­timulai-os o mais que puderdes; se possível, andai com eles, escalando todos os planos, como principais in­teressados. Esta é a forma mais conveniente de plasmar, em corações na flor da idade, o bem, que nunca morre, como semente a renascer eternamente.

Se tendes tendências para a literatura e possuís dom, não deixeis de escrever páginas que poderão aju­dar à juventude em seus ideais e inspirações. Não se­jais daqueles que combatem a evolução; pode-se ser um velho de corpo, mas renovado de alma. Rejeitai ape­

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nas o que a moral não aprova e o que a consciência adestrada no bem não consente; isso, no entanto, sem ferir os corações na dinâmica da juventude. Os homens de idade avançada, refundidos pelo esforço no Evange­lho do Mestre, não combatem as idéias; tiram delas, com o bom senso já conquistado, as coisas boas. o que agrada aos jovens, que ficam certos de estarem tam­bém cooperando com a vida.

A alegria dos jovens é a de cooperar, de alguma forma, com a renovação das coisas; se quiserdes ajudá- los, esforçai-vos, do vosos lado, pelo aprimoramento das suas idéias. Sêde sinceros, cuidadosos e prestativos. porque os jovens são bons amigos e é nas mãos deles que estão entregues, por ordem da lei que tudo renova, a direção das coisas e dos povos.

Homens idosos : procurai tornar-vos bons conselhei­ros para os jovens, em palavras e atitudes. A reencarna- cão poderá colocar-vos. amanhã, em posição inversa, co­mo moços necessitados da orientação daqueles mesmos que aconselhastes ontem.

Se ainda não podeis fazer nada nesse campo, em benefício da juventude, esforçai-vos um pouco e escu­tai, mais uma vez, este versículo :

"Quanto aos homens idosos, que sejam tem­pérantes, respeitáveis, sensatos, sadios na fé, no amor e na constância".

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REENCARNAÇÃO

“ Eis que eu vos enviarei o profeta Elias, antes que venha o grande e terrível dia do Senhor".— Malaquias - Cap. 4, v. 5."E, se o quereis reconhecer, ele (João Ba­tista) mesmo é Elias, que estava para v ir” .

— Mateus - Cap. 11, v. 14.

As vidas sucessivas constituem assunto comentado no mundo inteiro, principalmente nos meios espiritualis­tas. Alguns negam, outros afirmam com todo ardor. Os que desaprovam essa lei são fanáticos religiosos, ou es­píritos que encontram seu próprio mundo na profissão que exercem. Negar a reencarnação, é negar a vida, é negar a bondade de Deus. No entanto, não condenamos ninguém por isso; todos temos direito e liberdade de pensar e aceitar o que nos convier. Também há os que têm na reencarnação uma das leis mais justiceiras Igualmente, estão seguros do direito de defendê-la, não com o sentido de ter medo de que ela desapareça. Isso nunca passa pela cabeça dos que aceitam a reeecarna- ção, porque, quando se trata de lei de Deus, trata-se de eternidade.

A verdade não precisa de defesa dos homens, em tempo algum. Os homens e os espíritos desencarnados é que imprescindem dos clarões da verdade. Se alguém se sente no direito de combater a reencarnação, achando tratar-se de uma mentira, nós outros, que a aceitamos como uma lei, em todos os mundos, revestimo-nos dos mesmos direitos, ao afirmá-la.

Se aceitamos que Deus é justiceiro, é todo amor, como compreender essa justiça e esse amor, vendo cri­aturas com aleijões e faltas de membros, do berço ao túmulo ? Essas coisas são incompatíveis com a bondade do Criador. Por que uma família goza, a vida inteira,

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Cura

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de saúde e fortuna, e ainda morre em plena tranquilidade, enquanto outra começa e termina seus dias na doença e na miséria ? Sendo o Senhor o Pai de todos, e todos sendo filhos, com os mesmos direitos ? Por que muitos milhares e milhões são trucidados nas guerras, sem di­reito nenhum à vida, enquanto outros nunca foram a tais lugares, e gozam de todos os direitos, sobrando ainda felicidade em seus caminhos ? Tendo o Pai celestial fei­to todos iguais, e amando a todos no mesmo nível ?

Por que uns nascem e morrem nos centros das mais selvagens matas e desaparecem por lá, sofrendo todos os rigores miasmáticos do ambiente, não conhecendo hi­giene nem civilização, enquanto outros nascem no cen­tro das grandes metrópoles, instruindo-se nas me­lhores universidades, conquistando a luz do saber, como bênçãos dos céus ? Sendo o Grande Arquiteto do Uni. verso, justiça com Moisés e amor com Jesus ? Por que nasce um Francisco de Assis, personificação do amor, e um Atila, rei da maldade ? Por que apareceu, na Ale­manha, um Hitler, e na índia um Gandhi ? Sendo filhos do mesmo Deus, criados com o mesmo amor ?

E os "porquês” são infinitos, e é por causa deles que deveis, os rafratários à reencarnação, estudar essa teoria, lei para nós. Não andeis por caminhos trevosos, negando sem examinar, pois existem muitos mistérios. Disso não temos dúvida, mormente no campo das inves­tigações espirituais. Mas cada ser humano e cada espí­rito, tem de se esforçar para desvendá-los. Vós, também, não podeis ignorar isso. Sejamos sinceros nas nossas deduções, não negando por paixão, ou por fanatismo; sejamos livres, para que possamos aceitar a verdade sem mesclagem.

Lembremo-nos de Jesus, quando disse: “ Conhece­reis a verdade, e ela vos tomará livres". Procuremos o conhecimento das verdades com a consciência livre, que seremos bem sucedidos. O que há de mais em o espí­rito reencamar ? Ele não encarna ? Qual é o impedimen­to de a alma, livre do corpo físico, voltar e se comu­nicar com os que ficaram no mundo ? Pois Cristo não o fez, deixando uma mensagem de esperança para toda

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a humanidade ? E isso podeis ver, folheando com inte­resse os livros de todas as religiões, de toda a história universal.

A reencarnação não é de agora, não foi inventada por ninguém. É lei de Deus, resposta dos “porquês” , an­tes que eles aparecessem nas idéias dos homens. Ela já era conhecida dos Lemurianos, do continente submer­so que denominais Atlântida, na antiga Caldéia, do velho Egito, da milenar China, do Japão, e hoje espalha­da em todo o mundo, como crença firme em muitos bas­tidores filosóficos e religiosos.

A Doutrina Espírita se alicerça nela, como uma das idéias irrefutáveis, e como explicação de todas as de­sigualdades, em todas as vivências humanas.

Jesus, respondendo a Nicodemos, doutor da lei, de como se deveria fazer para entrar no reino do céu, as­sim se expressou : "Em verdade, em verdade te digo que, se alguém não nascer de novo, não pode ver o rei­no de Deus". Precisa mais ? Pensamos que não. De­pende, agora, da boa vontade do estudante, da lealdade do vosso coração nas pesquisas, e das orações, pedindo o Deus e a Jesus, no sentido de iluminar vossa inteligên­cia e vosso coração, para sentirdes essa lei. Assim, te­mos certeza de que sereis atendidos.

Analisai, se quereis compreender os tópicos que va­mos tornar a mencionar, do velho e do novo testamen to, que rezam nestes termos :

“ Eis que eu vos enviarei o profeta Elias, antes que venha o grande e terrível dia do Senhor” .

“ E, se o quereis reconhecer, ele (João Ba­tista) mesmo é Elias, que estava para vir” .

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PRUDÊNCIA“ A VOSSA PALAVRA SEJA SEMPRE AGRA­DÁVEL, TEMPERADA COM SAL, PARA SA- BERDES COMO DEVEIS RESPONDER A CA­DA UM” .— Colossenses - Cap. 4, v. 6.

Quem já aprendeu a prudência evita muitos dissabo­res, não somente na vivência física como, e principal­mente, no tocante ao coração. Ser prudente é ser feliz, porque a felicidade tem algo de prudente. Jesus Cristo usou de uma figura muito linda, quando asseverou, no Seu Evangelho: — "Meus filhos, sêde mansos como as pombas e prudentes como as serpentes” . A mansidão é indispensável para todos os espíritos adestrados nos conceitos do Cristo, mas a prudência não pode faltar, certamente, em seu convívio. São duas forças que mar­geiam o espírito, policiando-lhe os atos, para que con­serve êle o perfume da simplicidade e o sal da prudên­cia.

Paulo fala aos colossenses, pedindo-lhes que v i­giassem a palavra, a fim de que esta não servisse de motivo de escândalo. O verbo não pode servir a dois senhores, no sentido de fazer e desfazer, construir e destruir, curar e adoecer, animar e esmorecer, sorrir e chorar, abençoar e maldizer, amar e odiar, encorajar e amedrontar, elevar e rebaixar. Não, o verbo planifica- do no Evangelho de Jesus só deve servir a um senhor : o da verdade e do amor; somente movimentar-se no ser­viço do bem, todas as vezes que sair nos portais dos lábios. Fora desta conduta não pode haver tranqilidade na consciência.

A prudência é a eterna vigilância de um ser, na es­calada para Deus. Ela conserva a candidez das almas, brinca nas feições dos que a conquistaram, tornando- as simples como pombas; reajusta os espíritos seus possuidores, de maneira que a segurança nos caminhos difíceis não falte, criando um clima, para essas almas,

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de perfeito equilíbrio espiritual e felicidade conscien- cial. Bem-aventurados os prudentes, porque deles são os reinos da tranquilidade. Bem-aventurados os prudentes, porque deles são as alegrias duradouras. Bem-aventura­dos os prudentes, porque deles são as amizades profun­das. Ouando abrirdes a boca para falar alguma coisa, seja no lar ou na rua, no trabalho ou no templo, aten­tai no que vades dizer. Sêde comedidos no que vades fa lar, de modo que a palavra não sirva de pedra de trope­ço. Seja ela bem examinada, temperada com o sal da pru­dência, articulada com os sons da simplicidade, de ma­neira que não fira a quem quer que seja, mas desperte, seja em quem fôr, o bem.

Sêde cuidadosos no falar com os subalternos, não criando neles clima negativo, de superioridade por im­posição; se conversardes com todos, deixai extra­vasar vossos sentimentos puros de amor e de dever cum­prido para com eles. Todos reconhecerão que estais na direção. Quando necessitardes conversar com vossos superiores, sêde prudentes, medi as palavras, articulai com paciência e baseai-vos na sinceridade, desde quando essa não nasça do ciúme e da inveja. Guardai o que escutardes, e não o passeis para frente, sem primeiro examinar o que pode ser falado. Prudência... prudên- cia. É o melhor.

Não julgueis as coisas pelas primeiras aparências; e_podeis, com a prudência, saber melhor de que lado está :ga razão. As serdes atacados, não revideis com o mesmo calor da ofensa. Esperai, prudentemente, porque, às ve­zes, o ofensor está doente. Quando caluniados, não vos irriteis com o maledicente; em muitos casos, a ignorân­cia está agindo. E o cristão não perturba seu equilíbrio por causa de umas poucas palavras, que o vento leva.

A prudência é a chave com a qual podeis trancar as portas, a fim de não serdes atacados. Se vossa vida é muito atribulada, se tiverdes de falar com muita gente todo o dia, ouvi o conselho do Evangelho e repeti-o quantas vezes forem necessárias :

“A VOSSA PALAVRA SEJA SEMPRE AGRA­DÁVEL, TEMPERADDA COM SAL, PARA SA- BERDES COMO DEVEIS RESPONDER A CA- ;ur,DA UM” .

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COMO DEVEIS ORAR

“TU, PORÉM, QUANDO ORARES, ENTRA NO TEU APO­SENTO, E, FECHADA A PORTA, ORARAS A TEU PAI, OUE ESTÁ EM SECRETO; E TEU PAI, QUE VÊ EM SE­CRETO, TE RECOMPENSARA”. (Mateus, 6.6).

■PORTANTO, VÓS ORAREIS ASSIM: PAI NOSSO OUEESTAIS NOS CÉUS; SANTIFICADO SEJA O VOSSO NOME;

Pai de amor e bondade, derramai sobre todos nós as bênçãos do trabalho, que equilibra; o amor da caridade, que conforta; e a caridade do amor, que ilumina; e tam­bém, Senhor, se fõr hora, bafejai.nos com a Vossa sabedo­ria, desde quando acheis que possamos Vos respeitar, com a força soberana do saber. Contudo, faça-se a Vossa vontade, e não a nossa.

“VENHA O VOSSO REINO, FAÇA-SE A VOSSA VONTADE, ASSIM NA TERRA COMO NO CÉU".

Que o Vosso reino apareça entre os homens, pela Vossa excelsa misericórdia, despertando em cada cora­ção os sentimentos mais puros que ali dormitam, fazendo com que o reino da Boa Nova se instale nesse símbolo da vida e que a Vossa vontade seja lei em toda a terra, e a Vossa paz, um clima permanente em toda a vida.

“ O PAO NOSSO DE CADA DIA, DAI-NOS HOJE";

Suprema Inteligência do Universo, abençoai nossos caminhos e deixai que o suprimento divino farte as nos­sas necessidades humanas, para que, envolvidos nessa força misericordiosa do amor, possamos entender um Pai tão justo e bom, que antes ignorávamos. Pedimos que nos deis hoje — todavia, Vós sabeis mais do que nós o que nos falta.

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“ E PERDOAI-NOS AS NOSSAS DÍVIDAS, ASSIM COMO NÓS TEMOS PERDOADO AOS NOSSOS DEVEDORES":

Inteligência maior, causa primária de todas as coi­sas, pelo Vosso amor para com os espíritos que criastes, perdoai nossas faltas, não as tirando, como em um pas­se de mágica, mas dando-nos oportunidades de resgatá- las. Permiti que fiquemos livres dos nossos ofensores transformando-os em companheiros do nosso coração, para a jornada de cada dia. E que a visão da verdade, nascida do Vosso amor para conosco, encontre, nas fibras mais íntimas dos nossos seres, ressonâncias correspon­dentes, na certeza de que, conliecendo-as, estejamos na plenitude da felicidade. Mesmo assim, cumpra-se a Vossa vontade e não a nossa.

“ E NÃO NOS DEIXEIS CAIR EM TENTAÇÃO; MAS LIVRAI.NOS DO MAL; POIS VOSSO É O REINO, O PODER E A GLÓRIA, PARA SEMPRE. ASSIM SEJA:”

Soberano Arquiteto do Universo, criastes leis para nos proteger, ampliastes conceitos, através dos Vossos emissários, para nos amparar, e estabelecestes, no mun­do íntimo de cada ser, uma consciência, para nos guiar.Mas permiti, Pai Celestial, que possamos compreender as Vossas leis e obedecê-las. Permiti, Senhor, que possa­mos sentir os Vossos conceitos e vivê-los. Permiti, Luz Inconfundível, Sol Eterno de todos os universos, que possamos sentir, ouvir e obedecer a Vossa vontade, pelos canais sublimados da consciência. Porque Vós sois o po­der de todas as coisas, porque Vossa é a glória de todos os reinos. Assim seja.

Très.“ TU, PORÉM, QUANDO ORARES, ENTRA NO TEU APOSENTO, E FECHADA A PORTA,ORARÁS A TEU PAI, QUE ESTÁ EM SECRE­TO; E TEU PAI, OUE VÈ EM SECRETO, TE RECOMPENSARÁ".

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