JOAQUIM CARDOZO: O ENGENHEIRO DA POESIA … · por cada una de las fases del movimiento modernista...
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Joaquim Cardozo: O Engenheiro da Poesia... – Silva & Luna
Revista Diálogos – n.° 18 – setembro / outubro – 2017 459
JOAQUIM CARDOZO: O ENGENHEIRO DA POESIA
MODERNISTA PERNAMBUCANA
d.o.i. 10.13115/2236-1499v2n18p459
Nadja Maira Baltazar da Silva1 UPE
Jairo Nogueira Luna2 UPE
Resumo: Este projeto de pesquisa tem por finalidade, demonstrar, a
importância de Joaquim Cardozo, o poeta engenheiro da poesia, na
literatura pernambucana modernista. Buscaremos mostrar esta
importância, por meio de seu trajeto altamente singular e engenhoso
por cada uma das fases por que passou do movimento modernista, a
partir da análise de poemas pertinentes a esses momentos, nos seus
respectivos livros: Poemas, Signo Estrelado, Mundos Paralelos, e
Trivium seu último livro publicado em vida. Trazendo nas análises
aspectos sintáticos / semânticos, (figuras de linguagens utilizadas), sem
esquecer, também de como a poesia moderna cardoziana, se
manifestava na forma (tom, ritmo, versificação.). Não deixando de
verificar, de forma especial, as relações intertextuais presentes nos seus
poemas, aspectos da poesia concreta e visual, e da poesia engajada,
vindo a trazer, portanto, a riqueza poética, de Joaquim Cardozo, que
“seguiu” seu caminho, de certa forma, após os intuitos da poesia
modernista. Procuramos mostrar a vastidão e qualidade da obra do
“Engenheiro Poeta”, posto que sendo ele pernambucano e um recifense
amante de sua cidade, escreveu sim, sobre a sua linda Recife, porém foi
também um poeta inovador, aquele que buscou o universal,
instaurando, com isso, uma lírica moderna em nosso estado. A partir de 1 Graduanda em Letras Português / Literatura pela Universidade de
Pernambuco(UPE) Campus Garanhuns e bolsista de iniciação cientifica (PIBIC/
CNPq). 2Pós doutor em Literatura Portuguesa pela Universidade de São Paulo e professor
ajunto da Universidade de Pernambuco(UPE), Campus Garanhuns.
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tais discussões, as nossas analises terão base nos pressupostos teóricos
de Norões (2008), D’Andrea (1993), Leal (2008), Do Serro (2012) e
Lima (2008).
Palavras-chave: Joaquim Cardozo; poesia modernista; modernismo
brasileiro; vanguardas poéticas; análise de poesia.
Resumen: Este proyecto de investigación tiene por finalidad demostrar
la importancia de Joaquim Cardozo, el poeta ingeniero de la poesía, en
la literatura pernambucana modernista. Buscaremos mostrar esta
importancia a partir de su trayectoria, altamente singular e ingeniosa,
por cada una de las fases del movimiento modernista por las que pasó;
y a través de análisis de poemas pertinentes a esos momentos, en sus
respectivos libros: Poemas, Signo Estrelado, Mundos Paralelos y
Trivium, su último libro publicado en vida. Los análisis traen aspectos
sintácticos y semánticos (figuras de lenguaje utilizadas), sin olvidar
cómo la poesía moderna “cardoziana” se manifestaba en la forma (tono,
ritmo, versificación). Además de verificar, de forma especial, las
relaciones intertextuales presentes en sus poemas, aspectos de la poesía
concreta y visual y de la poesía comprometida, trayendo, por lo tanto,
la riqueza poética de Joaquim Cardozo que "siguió" su camino, de
cierta forma, después de los intuitos de la poesía modernista. Buscamos
mostrar el alcance y la calidad de la obra del "Ingeniero Poeta” que,
como pernambucano y recifense, amante de su ciudad, escribió sí sobre
su hermosa Recife, sin dejar de ser un poeta innovador que buscó lo
universal, instaurando así una lírica moderna en nuestro estado. A partir
de tales discusiones, nuestros análisis se basan en los presupuestos
teóricos de Norões (2008), D'Andrea (1993), Leal (2008), Do Serro
(2012) y Lima (2008).
Palabras-clave: Joaquim Cardozo; Poesía modernista; Modernismo
brasileño; Vanguardias poéticas; Análisis de poesía
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1. Introdução
Nascido no Recife, em 26 de Agosto de 1897, e falecido em
1978, Joaquim Cardozo estudou Engenharia Civil pela antiga
Universidade do Recife, atualmente a UFPE, fez trabalhos como
engenheiro civil junto a Oscar Niemayer na construção do conjunto da
Pampulha e dos palácios de Brasília (a Catedral de Brasília, o Palácio
do Planalto, entre outros), o qual em favor disto é chamado de
Engenheiro da poesia. Logo cedo, revelou seu lado poeta, com uma
força surpreendente, não só por ter ótimo domínio das formas líricas,
porém também pela modernidade de sua escrita. Muito culto,
dominava por volta de doze idiomas, incluindo o chinês, o Russo e o
Sânscrito, por nascer na divisa de dois séculos, o autor teve contato com
as tendências parnasianas e simbolistas, brasileiras; foi contemporâneo
intelectual das vanguardas européias, no século XIX; bem como do
Modernismo brasileiro, ao qual pertenceu de forma irreverente,
conforme (NORÕES, 2008, p. 11): “Joaquim Cardozo foi uma espécie
de homem-universo, um humanista no sentido mais clássico. João
Cabral de Melo Neto declarou, certa vez, que não frequentara curso
superior, mas considerava equivalente a uma faculdade o que aprendera
com Willy Levin e, depois, com Joaquim Cardozo.”
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Em sua juventude, foi diretor de revistas literárias na capital
pernambucana, em especial, a revista O Norte3, embora não tenha
publicado nenhum livro nesta época. Isso ocorreu somente aos seus 50
anos, por ser incentivado por amigos, em especial, João Cabral de Melo
Neto, o qual foi quem compôs e imprimiu, em Barcelona, a edição do
livro denominado: Pequena antologia pernambucana, tirada a cem
exemplares. Essa amizade e admiração era tão forte, podendo ser vista
nas obras do colega e conterrâneo como nenhum outro amigo de João,
por exemplo, nestes versos de João a Joaquim: Escrever de Joaquim
Cardozo/ só pode quem conhece/ aquela luz Velásquez / de onde nasceu
e de que escreve [...] (MELO NETO, 1994, p.375). Neste poema, feito
em homenagem ao amigo, João Cabral de Melo Neto enaltece - o
dizendo que ele é cheio de “luz”, mas que só pode falar da dele e de sua
obra, quem sabe de onde está sua “luz”, ou seja, quem realmente o
conhece, por conseguinte sabe também de suas capacidades, e como diz
no poema: “Sua Luz!”. Joaquim Cardozo não foi somente poeta, mas
também: contista, crítico de arte, dramaturgo. Mas, neste estudo vamos
nos deter neste estudo à apenas a seu caminho poético o qual foi cheio
de autenticidade: “é possível ver alguns pontos de concordância de sua
poesia com o projeto regionalista e o modernista, com os quais Joaquim
Cardozo divide o solo comum da poética e da memória nacional, sem
3 A mais importante revista literária de Pernambuco da década de 20.
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se esquecer, todavia, da sua própria singularidade”. (D’ANDREA,
1993, p.120).
Singularidade decorrente de uma tamanha deliberação temática
guiada pela preocupação humanista com as grandes questões
brasileiras; por meio da temática regional sem desprender – se por
inteiro do sentimento de universalidade. Atribuição que o destaca o
entre os modernistas e traz também a possibilidade de o comparar com
Homero, Virgílio, Artur Rimbaud, William Shakespeare, com o francês
Paul Valéry, Manuel Bandeira e Carlos Drummond de Andrade.
Destaque designado principalmente a partir desse plano temático o qual
tem divisão em: urbano e rural “contracenando com o citadino e o
nacionalismo embutido nos versos do poeta pernambucano são também
materiais comuns à disposição dos modernistas: Oswald de Andrade,
Manuel Bandeira e Murilo Mendes.” (SERRO, 2012, p.11).
Desse modo, como bem diz (LAFETÁ, 2004, p. 27), Cardozo
apresenta dialeticamente, ou seja, dialoga e discute dois projetos na
análise que faz do modernismo brasileiro: o primeiro que era estético e
tinha por objetivo, segundo ele, renovar os meios de expressão e romper
com a linguagem tradicional; o segundo era ideológico, e estava ligado
a consciência do país novo. Sendo, assim é notável a posse da
libertação, de forma que, desapegou do pitoresco, se afastando do
localismo excessivo dos regionalistas e da cultura popular ou primitiva
e inicia esta pretensão ideológica mencionada acima, sem deixar de ser
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sensível a seu chão, mesmo em todos os tempos e contextos diversos
que atravessou. Poeta através do qual se deu segundo Alves(1976):
[...] uma nova tendência se delineia no nosso
Modernismo, não tanto para salva-lo do esvaziamento
causado pela exaustão dos temas glosados, mas,
sobretudo, para reestrutura- lo em suas próprias bases:
alude –se à necessidade, que se fazia urgente, de uma
retomada da poesia ás suas vertentes históricas, dotando
–a de motivações mais serias e mais vitais, bem como de
um posicionamento estético mais consentâneo com as
tradições da cultura ocidental. (ALVES, Audálio, 1976,
p, 28)
Assumindo, portanto um caminho perdurante por décadas, nas
quais engenhou por ser único e totalmente flexível pelo fato de ter
passado por todas essas décadas, que trouxeram consigo várias fases do
movimento, assumindo, nas variadas formas de sua escrita poética, o
dilema do sistema literário brasileiro: a inovação. Partindo da
observação de “As Alvarengas” para mais tarde viajar de forma literal
à uma poesia universal, que nos fará ter a “Visão Do Último Trem
Subindo Ao Céu”.
2-Poemas (1947): A Poesia Singela e Regional
Em Poemas(1947), livro que o assegurou na primeira linha
entre os poetas do nosso modernismo, sabendo que desde “1922, ele já
era um dos autores pernambucanos mais representativos, mas sua
poesia não era conhecida fora do Recife. Publicava, eventualmente, em
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revistas do Rio, mas poucos tiveram sensibilidade para perceber a
riqueza de sua língua poética.” (LEAL. Cesar, 2008, p.12). Nesta fase,
Joaquim apresenta uma poesia singela e regional, por que é marcada
pela presença do universo circundante: as alvarengas, as casuarinas, a
Rua da Aurora, o Recife, a Flora nordestina...
As Alvarengas
As Alvarengas!
Ei-las que vão e vem: outras paradas,
Imóveis. O ar silêncio. Azul céu, suavemente.
Na tarde sombra o velho cais do Apolo.
O sol das cinco acende um farol no zimbório.
Da assembleia.
As alvarengas!
Madalena. Deus te guie. Flor de zongue.
Negros curvando os dorsos nus
Impelem-nas ligeiras...
[...]
É o Moloch, é o abismo, é a caldeira...
Além, pelo ar distante e sobre as casas,
As chaminés fumegam e o vento alonga
O passo de parafuso
Das hélices de fumo;
E lentas
Vão seguindo, negras, jogando, cansadas;
E seguindo-as também em curvas n’água
propagadas,
A dor da Terra, o clamor das raízes. (CARDOZO.
2008, p. 33)
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Em “As Alvarengas” é possível enxergar a utilização de
recursos da poesia clássica, pois temos no poema o mencionar de nomes
da mitologia grega (recurso muito utilizado no Arcadismo), como do
deus “Apolo”, linha 3, e também recursos intertextuais com os textos
bíblicos, como do novo testamento: “Madalena. Deus te guie...” no
verso 7, e também do Antigo Testamento, em Levítico, na história de
Moisés com o demônio Moloch no verso 17: “É o Moloch, é o abismo,
é a caldeira...” Quanto à utilização da linguagem, no plano sintático,
acontece a exclusão do vínculo do verbo, e por consequência a
formação dos significantes nominais, além da utilização do discurso
imparcial (a exclusão do “eu”) e o uso do verso livre. As imagens que
o poema nos sugere remetem ao encadeamento de signos semelhante
ao que ocorre com um clipe cinematográfico, de forma mais precisa nas
linhas iniciais: “As Alvarengas! / Ei-las que vão e vem...” onde as
opostas conjugações do verbo ir: “vão” e “vem”, conseguem transmitir
ao leitor a imagem de um movimento de ida e vinda, em favor do caráter
semiótico conjugado nessa organização lírica onde as palavras são:
[...] símbolos, em que pese o fato de que numa obra
literária (num poema, por exemplo), uma figura como uma
metáfora é um ícone degenerado, no entanto, estamos por
enquanto nos atendo ao caráter próprio das palavras de
serem símbolos pela arbitrariedade com que representam o
que dizemos que elas significam. (Luna, 2006, p. 28)
Essa ideia sugestão simbólica ocorre também pelo uso
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estratégico /arbitrário, da pontuação, seja da virgula, e principalmente
do ponto final, como na terceira linha: “Imóveis. O ar silencio. Azul
céu...” causando pausas na leitura e essa consequente percepção de
imagem de cinema na mente do leitor, através de uma
convencionalidade semiótica, sabendo que a constituição do signo
poder partir desde “ o hábito natural ou convencional, e sem levar em
consideração os motivos que originariamente orientam sua seleção...”
(PEIRCE: 1977, p. 76, apud. LUNA, 2006, p. 28), na qual Cardozo
busca através dessa segunda vertente esse encadeamento imagético das
expressões nos versos.
Recife de Outubro
Ô cidade noturna!
Velha, triste, fantástica cidade!
Desta humilde trapeira sem flores, sem poesia,
Alongo a vista sobre as águas,
Sobre os telhados.
Luzes das pontes e dos cais
Refletindo em colunas sobre o rio
Dão a impressão de uma catedral imersa,
Imensa, deslumbrante, encantada,
Onde, ao esplendor das noites velhas,
Quando a noite está dormindo,
Quando as ruas estão desertas,
Quando, lento, um luar transviado envolve o casario,
As almas dos herois antigos vão rezar.
[...]
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Toda cidade, eu vejo, está transfigurada:
É um campo desolado, negro, enorme,
Onde rasteja ainda
O último rumor de uma batalha;
E a massa negra dos edifícios,
As torres agudas recortando o azul sombrio,
Cadáveres revoltos, remexidos,
Com os braços mutilados
Erguidos para o céu.
Ô minha triste e materna e noturna cidade
Reflete na minha alma rude e amargurada
O teu fervor católico, o teu destino, o teu heroísmo.
(CARDOZO, 2008, p. 158- 159)
No poema acima é possível observar também, aspectos do
universo circundante de Joaquim Cardozo, embora de maneira mais
particular, pois temos uma descrição comum nestes poemas que
trazem o nome da capital no título: as observações à sua cidade, as quais
sempre tinham um ponto de observação especifico: a ponte Mauricio
de Nassau, onde hoje, há uma estátua do escritor, lugar de inspiração,
do qual podia avistar o Rio Capibaribe, ver as tardes caírem, como os
versos do final da estrofe de “ Recife Outubro”, nos descrevem:
“Alongo a vista sobre as águas, /Sobre os telhados./Luzes das pontes e
dos cais/ Refletindo em colunas sobre o rio”. Antes de ser publicado no
livro Poemas (1947), este poema teve sua primeira publicação na
revista O Norte junto a mais sete títulos "As Alvarengas", (poema
analisado anteriormente), “Velhas Ruas", "Olinda”, "Tarde no Recife",
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"Recife Morto", "Inverno" e “Perdão". Nesta revista, foi também
ilustrador, são suas as ilustrações e o desenho de capa do livro Catimbó
(1927), de Ascenso Ferreira.
Ao retornar a leitura para o começo da sua primeira estrofe,
pode- se perceber, seu tom elegíaco, exprimido logo de início pelo uso
da interjeição em: “Ó minha cidade”, modo introdutório de versos
comum a este tipo poético, o uso dos adjetivos, “velha” e “triste”, veem
para reforçar esta ideia, no fim dessas duas primeiras linhas, há
novamente a utilização da exclamação, vindo a reforçar mais ainda, o
tom de clamor, de angustia do poema. No seguir dos versos, o eu lírico,
diz que em sua cidade não existem mais flores nem poesia, essa
expressão é passada e descrita ao leitor, por meio da repetição do termo
“sem”: “Desta humilde trapeira sem flores, sem poesia...”. Na década
em que “Recife de Outubro” foi escrito: 1930, foi o ano do fim da
Primeira República Brasileira, conhecida popularmente como
“República Velha” ou “República do Café com Leite”: Revolução de
1930, na qual Getúlio Vargas assume o poder em caráter provisório a 3
de novembro deste ano. Esse contexto histórico notadamente,
influenciou nessas primeiras produções de Joaquim Cardozo, visto que
ambas têm todo um notável engajamento literário, tendo em vista a
utopia democrática que defendeu o processo revolucionário desses
movimentos e frustrou – se mesmo depois de instalada a república, esta
consolidada pelo reformismo liberal das oligarquias. Dentro disso, a
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lírica que o engenheiro poeta nos traz, ocorre toda uma alegorização no
intuito de redefinir esses fragmentos históricos, bem explicados por
D´Andrea (1993):
É - notadamente - do conjunto de imagens, alegorias, e,
~enfim, da construção lírica de Joaquim Cardozo que o
problema se impõe e que se tenta redefinir esses
fragmentos históricos, insinuados no texto poético em
formas esgarçadas. A necessidade desses comentários
deriva, pois, das imagens com as quais o poeta
pernambucano recria no aqui e agora o heroísmo do
passado em poemas como "Recife de Outubro", "Recife
Morto”, “Olinda" e "1930", entre outros. (D´Andrea,
1993, p. 96)
Na última estrofe, há toda uma descrição da cidade, modificada
por esses avanços e suas revoluções e guerras, comparando -a com um
campo de guerra desolado, coberto pela escuridão, mas onde ainda
existe um grito, um rumor, como o mesmo afirma, de uma batalha:
“Toda cidade, eu vejo, está transfigurada: / É um campo desolado,
negro, enorme, /Onde rasteja ainda /O último rumor de uma batalha”.
Deixando claro o tom de clamor dessa elegia, diante de todas as
transformações que o Recife e o Brasil conheceram naquela década, o
eu lírico conclui os versos dizendo: “Ô minha triste e materna e noturna
cidade /Reflete na minha alma rude e amargurada/ O teu fervor católico,
o teu destino, o teu heroísmo”. Vindo a fechar, com isso, a reflexão
engajada da qual o seu desenvolvimento temático girou, falando do seu
fervor católico, tendo também certa conformismo com aquela situação,
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já que fala que esse era o destino, e por fim do heroísmo, recifense,
expressão final, reforçada pelo uso repetitivo do pronome possessivo
“teu”, sempre para reforçar, essa relação de poder e posse, para
evidenciar o enaltecimento à sua terra natal.
3.Signo Estrelado (1960): O Estranhamento Moderno
Afastando-se do universo regional assumido em Poemas,
Cardozo inicia em Signo Estrelado a experimentação de novas técnicas,
inclusive a “técnica da fusão”, atribuição de Hugo Friedrich4 para o uso
de palavras originadas dos mais diversos campos de sentido, que resulta
em um novo sistema metafórico, reconhecido de acordo com
(LEAL,2008, p. 14) recurso muito utilizado por Rimbaud.
Características nítidas em “Arquitetura Nascente & Permanente” é
dedicado a Oscar Niemeyer (a quem ele chama de “arquiteto-poeta”),
a Manuel Bandeira, a João Cabral de Melo Neto e a Thiago de Melo
(os chamados por Cardozo como “arquitetos da poesia”).
[...]
E nessa pedra inerte e fria,
Onda de magmas profundos
Filha do fogo e da agonia
De internas forças indormidas,
Que exerceram ação genésica
4 Linguista e pesquisador literário Alemão, que dava atenção à forma e estrutura da
literatura, pelo menos tanto quanto o seu conteúdo; com sua obra A Estrutura da
Lírica Moderna.
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Antes do amor, antes da vida;
Nessa pedra, hirta memória
Inclui, compõe, guarda silêncios
Das mais remotas harmonias;
Perenemente as noites guarda
Dos longínquos primeiros dias.
Atraídos pelo silêncio
E pela paz noturna os homens
Chegaram; por ínvias florestas
Abriram sendas, e passaram,
Das lianas através da renda,
Através das fendas das montanhas.
Mudos de medos e arrepios,
Guiados por bandeiras de vento,
Pelo coro dos rios selvagens...
Vieram de paragens flutuantes,
Andaram passos vacilantes,
Venceram espaços incertos
E inacessíveis, mas chegaram...
Chegaram e reacenderam
A pedra fria. Abriram portas
Cavaram profundas abóbadas,
Romperam pátios, galerias...
[...] (CARDOZO, 2008, p. 221-222).
A construção destes versos recebe subsídio da linguagem
metapoética, dentro dessas expressões originadas tanto do campo da
engenharia como “pedra” quanto daquelas mais comuns à prática lírica
“harmonias”, por exemplo. Perceptível logo na estrofe inicial do
fragmento: “[...] E nessa pedra inerte e fria, /Onda de magmas
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profundos [...] ... [...] Inclui, compõe, guarda silêncios /Das mais
remotas harmonias [...]”, onde por meio do uso do paralelismo, a
repetição da expressão “Nessa”, ocorre uma reflexão de que é “Nessa
pedra” que ocorrem varias das ações sugeridas nos versos (a escrita do
poema), ou seja, é nessa pedra que são escritos o sentimento (os
silêncios) do eu lírico.
Inovações técnicas como essa fazem de Cardozo “um bom
poeta do modernismo. É um dos poucos que conseguiu uma limpeza
clássica ao lado de certa prodigalidade imaginativa. Toda a parte de
‘Arquitetura Nascente e Permanente’ exibe sua ampla vocação de
instrumentalista sábio e fecundo.” (CHAMIE, 1964, p. 24). O
fragmento em análise é pertencente à segunda parte do poema, tendo
como temática a construção, a qual considera de acordo com o aqui
visto, que está pode se voltar também para a elaboração da sua própria
poesia, sem esquecer das atribuições e dedicatórias mencionadas logo
no início desta análise, apontadas para a relação nítida entre a
engenharia civil e poética presente neste poema. Para tal relação tem-
se a metalinguagem como fator imprescindível, de modo que “torna a
linguagem um elemento sem peso, flutuando sobre as coisas sem deixar
de dar espessura ao poema por meio da concretização das coisas, dos
corpos, das sensações, do concreto armado, do ferro.” (SERRO, 2012.
p.65).
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Nesse mesmo livro podemos localizar, no engenho poético de
Cardozo, poemas elegíacos, na parte do livro denominada Elegias, em
“O Canto do Homem Marcado” que introduz em Poemas um lirismo
que aos poucos se afastava da temática regional, introduzindo a busca
de novos recursos:
Canto do Homem Marcado
Sou um homem marcado...
Em país ocupado
Pelo estrangeiro.
Sou marinheiro
Desembarcado;
Marcho na bruma das madrugadas;
Mas —
Trago das águas
A substância
Da claridade.
DA CLARIDADE!
Sou o indefinido,
O inesperado
Viajante da tarde nua,
Que uma dor augusta comoveu...
Tudo a renuncia,
Tudo
O que eu conservo
[...]
Sou um homem manchado de sombra
No sonho, no sangue, no olhar,
Sou um homem marcado...
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Em país ocupado
Pelo estrangeiro. [...] (CARDOZO, 2008, p.
73).
Nesta elegia, temos a lamentação de um eu lírico que sente
como diz na linha 1: “Um homem marcado”, marcado pelas mudanças
causadas pelo avanço do capitalismo, a revolução industrial, e a
consequente imigração de trabalhadores, para as grandes metrópoles,
em favor do aumento da mão de obra implicado pela inovação, o que
classifica este poema, como um poema engajado, de modo que traz um
engajamento com este contexto histórico e político em quem aquela
obra foi escrita, os avanços sociais, e suas consequências, sentidas na
pele do “homem marcado”, lembrando que o engajamento desse tipo
lírico, se difere de uma simples crítica aos problemas da sociedade.
Nesse contexto, percebe- se isso, quando, observamos a
etimologia do termo engajar que se originou a partir do francês
engager, que significa “dar em garantia”, “empenhar” ou “dar como
caução”, ou seja, há todo um empenho, do poeta em trazer na arte a
realidade da sociedade, como bem diz Sartre (1948): “O escritor
‘engajado’ sabe que a palavra é ação: ele sabe que desvelar é mudar e
que não se pode desvelar a não ser projetando mudar.” (SARTRE,
1948, p 73). Vemos então, o acontecimento de toda uma projeção para
que haja a visibilidade da realidade social trazida no poema. Assim, se
observarmos o contexto, em que esse movimento surgiu na década de
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60 fica mais nítido seu intuito, o qual foi em um momento de
transformações histórico, sociais e políticas, como as vistas em “O
Canto de Um Homem marcado”, a Revolução Industrial, o surgimento
do Capitalismo, eventos que assumem relevância desde esses anos
60,do surgimento, até os atuais, por seus impactos na sociedade, e nas
suas ideologias, sem deixar de expor, 1960 foi o ano exato em que
Joaquim Cardozo produziu Signo Estrelado.
À respeito dos recursos técnico- semânticos utilizados, há
ênfase aos versos que trazem junto a si a frase é título do poema: “Sou
um homem marcado.../Em país ocupado/Pelo estrangeiro.” Através do
paralelismo semântico causado pela repetição destes mesmos versos,
na antepenúltima estrofe da elegia “Sou um homem manchado de
sombra /No sonho, no sangue, no olhar, /Sou um homem
marcado.../Em país ocupado /Pelo estrangeiro.”, bem como o uso da
assonância na troca da palavra: “marcado” por “manchado”, na
primeira linha da referida estrofe. Ao voltar ao início do poema, de
forma especifica à segunda estrofe, é visível a utilização da caixa alta
na segunda vez em que a expressão da claridade aparece no poema,
tendo assim também um recurso de paralelismo: “DA CLARIDADE”,
recursos usados para enfatizar uma crítica, à possível “claridade”, que
esses avanços tecnológicos trouxeram a sociedade naquela época.
O lirismo de Joaquim Cardozo não cabia apenas nas margens
formais do movimento modernista ou nos simples limites de uma
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poesia pernambucana, em outras palavras Cardozo ia além quando
escrevia, fazendo reflexões do fazer poético, neste próprio fazer poético
(metapoesia) como pode ser observado em “Arquitetura Nascente e
Permanente”, bem como toda sua obra carrega dentro de si, vários
poemas com relação, com outros textos (intertextualidade).
Continuando a análise do livro Signo Estrelado, temos no poema “A
Página”, um belo e digno exemplo, de uma reflexão metapoética do
autor:
A Página
Era uma página em branco,
Em branco de papel – papel de brancos modais:
De nuvem, de neve, de lã, de espuma,
Branco de açúcar – plumas de cisnes – branco de cal
Uma linha de escura tinta
Nasceu sobre essa página,
Uma linha de tinta amorosa,
De tinta sincera e banal.
Era uma curva indiscreta? Eram os sinais do
enigma?
Simulação? Efigie? ...
Quem poderia saber, sobre o papel,
Onde estava a malícia da linha
Conduzindo a tinta inocente?
E por que foi evoluindo e se aplicando numa
impressão fiel,
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Num acento se afirmando na alvura, incisa, fatal?
Alvura de pão. Brancura!
Brancura de duro marfim, de velas longínquas.
Sobrevividas do sul! Brancura de leite de sal?
Muitas outras brancuras:
A de dentes rilhados por ódios antigos,
A de ossadas estendidas ao sol,
A dos olhos abertos em desvairados medos,
Todas elas retidas na página, de um modo geral.
Seduzindo a brancura da tinta a linha insistia:
No verbo repetido, na palavra indistinta
Que exprime tudo, que nada exprime,
Que tudo abrange num símbolo total.
[...]
E a tinta cordata, paciente e modesta
Correu entre margens de alvura,
Revestindo de sonho o senso real.
De repente, porém, sucedeu uma grande aspereza,
Uma aridez profunda, morna sucção, vácuo de
tempo...
E um vento soprou: um vento outonal. [...]
Dispersaram-se os brancos, levados, batidos
No vento da voz, no chão do silêncio...
E as letras caíram no branco final. (CARDOZO,
2008, p.91-92)
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Neste poema, Joaquim Cardozo traz um singular exemplo de
obra metapoética, pois logo nos versos introdutórios, é visível a
reflexão poética, dentro da obra poética: “Era uma página em branco, /
Em branco de papel – papel de brancos modais...” (versos um e dois,
primeira estrofe). A página em que estava começando a ser escrito o
poema, esta ainda em branco... Logo mais, na segunda estrofe, Cardozo
começa a descrever o momento em que começa a escrever: “Uma linha
de escura tinta / Nasceu sobre essa página...” Quando a tinta da caneta
começa a tocar aquela folha, agora não mais branca, interrogando- se
na terceira estrofe, sobre essa escrita, essa curva de tinta: “Era uma
curva indiscreta? /Eram os sinais do enigma? / Simulação? Efigie?”
Vindo a intensificar, mais ainda essa reflexão do fazer poético.
Em “A Página”, o autor menciona muitas vezes a brancura dessa
página, comparando - a com outras brancuras (quarta e quinta estrofe):
“Alvura de pão. Brancura! / Brancura de duro marfim, de velas
longínquas...[...]Muitas outras brancuras:/A de dentes rilhados por
ódios antigos, /A de ossadas estendidas ao sol...” E por fim finaliza esta
estrofe, quando fala no fato de todas essas” brancuras” estarem retidas,
na página, ambas de um modo geral. O poema ganha um tom além: o
concretista, em favor de seus versos seguirem com desenhos, os
contornos da escrita sob a alvura da folha. Fazendo notáveis as fortes
marcas da poesia concreta e visual, pelo seu rompimento com a sintaxe
discursiva, ou seja, aquela obra poética em que o sentido está centrado,
Joaquim Cardozo: O Engenheiro da Poesia... – Silva & Luna
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na ordenação sintático-discursiva dos versos que a compõe (na sua
forma e sentido formal):
A poesia concreta, que acaba de romper as paredes da
experiência de um grupo para se tornar um
acontecimento, uma revolução, funda-se no trabalho
sobre a linguagem poética, é o fruto de pesquisas que,
partindo das conquistas válidas da poesia dita moderna
(Mallarmé, Joyce, Pound, Cummings, Oswald de
Andrade, Drummond, João Cabral de Melo Neto),
rompeu com a sintaxe discursiva, unidirecional, trazendo
em compensação para o campo da expressão poética as
estruturas pluridimensionais, criadas pela relação visual
dos elementos verbais e a exploração de suas cargas
sonoras." (DE CAMPOS, Augusto, 1978, p. 68)
A versificação segue na descrição, da delicada e fascinante
composição poética, mencionada pelo poeta como um revestimento de
sonho: “Correu entre margens de alvura, /Revestindo de sonho o senso
real.” Que faz com que o leitor e possa compreender essa descrição,
com a transcrição das figuras em relação ao momento em que a tinta da
caneta “insistia” em escrever os versos (sexta estrofe), e aquele que
representa o momento da finalização da composição o da última
imagem concreto – visual do poema.
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4.Mundos Paralelos (1970): Da Poesia Decadentista À Poesia
Experimental
Em mundos paralelos Joaquim Cardozo traz como o título do
livro sugere dois Mundos Paralelos, o primeiro a poética do
desencantamento aquela muito presente no movimento simbolista, na
qual ocorre um visão decadente da sociedade e da forma como se fazia
arte, isto desde seus propulsores na França: Charles Baudelaire (uma
das maiores influencias na poesia cardoziana) ao portugueses: Camilo
Pessanha e Antônio Nobre até no Simbolismo brasileiro de Cruz e
Sousa, período o qual segundo Antônio Candido vai de 1880 a 1922
destacando que “se poderia chamar Pós-romântico” (CANDIDO, 967:
133), caracterizado por ser o de uma “literatura de permanência” da
estética do século XIX, em que os traços singulares desta geração de
escritores seriam “o diletantismo, o purismo gramatical, o culto da
forma” (Idem, p. 136).
Partindo depois para a Poesia Experimental de 1956 que
almejava a construção de uma poética que rompesse com tradições
poéticas imediatamente anteriores, vindo a trazer rompimento do
isolamento político e o estimulo a inovação estética em vários países
(DA SILVA, 2005, p.23). No Brasil escritores do início do pós-guerra
como João Cabral de Melo Neto e Afrânio Coutinho “ficaram na linha
de fogo das vanguardas e foram combatidos também pela geração de
1956, momento da poesia experimental.” (SERRO, 2012, p.30). Em
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favor de sua aprofunda a depuração formal, que restaurava a dignidade
e severidade da linguagem e dos temas, policiando a emoção por um
esforço de objetivismo e intelectualismo.
Na fase decadentista os poemas de Joaquim Cardozo pertinentes
são aqueles comuns à sua última fase do Modernismo brasileiro,
poemas em que se percebe, no eu lírico, um profundo sentimento de
desencanto do mundo. Em “Sonetessom” Cardozo traz tal vertente
literária a partir de um pessimismo e desencantamento quanto aos
valores clássicos, visível logo na primeira estrofe, quando afirma que a
nova voz é uma imitação da voz antiga:
Sonetossom
I
Sonetossom é música – sonata –
Suíte da qual desponta o som da giga
Que o Novo a voz imita em voz antiga
E alude a um alaúde em tom de prata.
É canto inverso, divisão, cantata
Que do alto vem, do teto, minha amiga,
Onde a canção das cordas de uma viga,
Uma equação vibrante a mim relata.
Sonetossom é música, retrata,
[...]
II
Sonetossom é cor também... também...
Jalne sutil, rude açafrão, dossel
Que do animal, da planta, a cor contém:
Composição de púrpura e pastel.
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[...]
Sonetossom, também, de cor brasil
Tingido está, de índigo, de anil. . .
Cores que a um povo deu prazer perdido.
Branco de Kaolim; de jenipapo
Preto retinto: mínimo farrapo,
De morta luz, bem sei, constituído.
[...] (CARDOZO, 2008, p. 298).
No poema, há também uma escolha de um vocabulário mais
sofisticado, do que os dos demais poemas até aqui vistos, fazendo nesta
“arte desencantada”, com isto, uma relação de oposição entre “o novo”
e “o velho”, o moderno e o clássico e a quantidade de cores da segunda
parte que ornam em excesso, propositalmente, o poema. Intuito
revelado nos dois últimos tercetos do poema, que nos quais defende a
nacionalidade de sua literatura: “Sonetossom, também, de cor brasil
/Tingido está, de índigo, de anil...”. Acerca dessas implicações da
sociedade Moema D’Andrea nota:
[...] que o poema é aproximadamente dos anos setenta
(ou imediatamente anterior) e o desencanto do poeta não
descarta nem o processo econômico cumulativo, que
vem da Colônia (“Preto retinto: mínimo farrapo”), nem
do contexto especioso das décadas militares, com seu
aparato desenvolvimentista. Por último, note-se também
que toda a gama de cores em que o poema se equilibra,
declina nas estrofes finais, tingindo-se de branco
desbotado, que o “Kaolin” se encarrega de polir
mostrando a ilusão do metal inferior, até atingir “a morta
luz”. (D’ANDREA, 1993, p. 185).
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No decorrer do livro Joaquim Cardozo chega à percepção
própria e exata da poesia experimental de 56, perceptível, em especial
em “Poemas Sistema” parte de Mundos Paralelos dedicada à João
Cabral de Melo Neto, um dos propulsores dessa técnica poética no
Brasil, como já foi mencionado, e aquele pelo qual Cardozo cultivava
uma amizade distinta. Vemos essa poesia experimentalista de forma
irreverente no poema intitulado: “O Um e a sua Intimidade”. No qual
Joaquim tenta por meio de reflexões metafísicas e constatações físicas
e matemáticas definir o amigo João:
O Um e a sua intimidade
No Um está o ser isolado e
está o Universo.
Não é naquele ser, porém, nem neste Todo
Onde reside a sua intimidade
[...]
A sua intimidade é infinita singularidade
Do só, a infinidade da concreção do ser
É o ser: SER= UM
SER
[...]
Oscila eternamente, entre+1 e -1.
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[...] (CARDOZO, 2007, p. 303-304)
No poema há notável semelhança de recursos estéticos, com os
de “Poema Para Uma Voz e Quatro Microfones” e “Análise dos
tambores do Ruído”, em que através desses recursos de cunho futurista
o engenheiro-poeta busca inovar sua forma de expressão poética, fato
que se deve também a poética experimentalista, esta muitas vezes
fundida com a poesia concreta, como podemos ver em “O Um e a sua
Intimidade”, que através das linhas delineadas na quarta estrofe, bem
como das palavras em caixa alta (além das expressões no interior do
texto iniciadas em letra maiúscula como “ Todo” e “Um” ) o poeta
busca exprimir de forma real a “operação” matemática e metafísica em
busca da intimidade do “Ser” em questão no poema: João Cabral de
Melo Neto.
Com isso é visível que tanto os concretistas quanto os da Poesia
Experimental almejaram a construção de uma poética da ruptura com
tradições poéticas imediatamente anteriores. Onde propunham um anti
- discurso o qual de acordo com Sousa e Ribeiro (2004): “parecia
pretender transgredir, antes de mais, um secular ‘culto dos conteúdos’
e de toda a filosofia de arquétipos que lhe serviu de pano de fundo para
propor uma revolucionária e provocatória poesia ‘de formas’.”
(SOUSA; RIBEIRO, 2004, p. 30.). Poética revolucionária na qual
Cardozo demonstra uma notável afinidade com os números, formulas e
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formas isto devido ao fato, à sua profissão de engenheiro civil, fazendo
o leitor buscar a constatação da definição do “SER”, é certo que de
forma metafísica, mas esta subsidiada pelo raciocínio matemático, em
particular quando afirma que este tem oscilação entre “+1 e -1” na
última estrofe.
5.Trivium (1970): A Intersecção Entre Poesia, Ciência E Mito No
Ápice Modernista Cardoziano
O termo “trivium” que intitula este último livro publicado em
vida de Joaquim Cardozo é uma das três ou quatro expressões máximas
da poesia no Brasil. Essa expressão é atribuída ao ponto de intersecção
de três caminhos na qual se encontram seres ou coisas de uma mesma
linguagem: a linguagem poética, a ciências e a relação mítica, que
encontramos em a” Visão do Último Trem Subindo ao Céu”, e ainda
diz respeito, inclusive “às três artes liberais constituintes da primeira do
ensino universitário na Idade Média: Gramática, Lógica e Retórica”.
(LEAL, 2008, p. 16). Nesse livro o engenheiro poeta alcança o ápice da
poesia moderna experimentado em Mundos Paralelos, como foi
apresentado no capítulo anterior. Dentro disso, no poema há a
possibilidade de verificar uma constituição de uma espécie de
assimilação de linguagem matemática e de conceitos científicos, na
composição dos versos, onde especificamente “o poeta faz uma
aplicação poética da Teoria da Relatividade ao trem, como meio de
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transporte no espaço e no tempo.” (SERRO, 2012, p. 75), além dos
recorrentes símbolos e até operações matemáticas, que podem ser
vistos formalmente ao longo dos versos, que dão ao poema um inovador
teor Futurista semelhante ao de” Um Ser e sua Intimidade”. Vejamos:
Visão do Último Trem Subindo Ao Céu
Visão do último trem subindo ao céu
Tocando um sino de despedidas
– Saindo vai da última estação –
Através da noite vai... da noite iluminada
Pela luz do casario; vai, do povoado,
Passando ao longo dos quintais.
Pelas janelas do trem os passageiros
Espiam os afazerem das pessoas
[...]
Para a Viagem do sono através
do sono
< através
<
da noite
da noite
[...]
O trem noturno passa.
[...]
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II
Pouco e pouco, mais pouco, pouco a pouco
Ao trem se atrela, ao trem ligando o engate, e os
[freios
Ajustando ... ao trem disposto ao longo
[...]
Prontos estão os que vão partir / viajar.
Os que vão – flor – subir / perder -se.
Os que vão – flor –florir, murchar.
Homens, mulheres e meninos
[...]
fez
Já estão nos seus lugares. E a noite se
completa
faz
O tem vai partir, se identificar na fuga.
Passar, Partir? Passar?
Levando o seu jardim ao longo dos jardins
Dos quintais no povoado,
Ao longo das janelas iluminadas do casario
O trem vai partir
Para alcançar, conhecer o mistério do céu.
[...]
X
Pois tudo que é vivido é apenas sabido
E tudo que é sabido é apenas sonhado
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Saber do saber físico
Sonho do sonhar eterno
– Termo da vida – matéria; região dos sonhos
Sonho
Sonho do sonho
Sonho do sonho do sonho
.......................................... (Tudo é sonhado)
[...]
Viver é saber, sentir, sonhar.
[...] (CARDOZO, 2008,
p. 138- 165)
Nisso ocorre a possibilidade de observar logo no início
do poema entre as linhas 1 e 137 uma forma de ritual precedente
a entrada no sono, não de maneira explicita, mas a partir de uma
sintaxe encadeada de imagens, através de expressões com
significantes remetentes ao contexto do adormecer, como, noite,
sono sem esquecer metaforizarão de sono na expressão viagem,
notável especialmente na linha vinte e sete: "Para a viagem do
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sono... " através da noite. Acerca desse encadeamento sintático
de imagens Dantas (1985), explica:
Tal como num roteiro de cinema, a narrativa obedece a
uma sintaxe encadeada em função das imagens. Narrativa
sincopada, no ritmo das imagens que se sucedem como
tomadas de um sequência. Tudo é presente no aqui-e-
agora de cada imagem que se liga às outras pelo fio
temático da viagem, que é o passar do trem. (DANTAS,
1985, P.13)
Isto dentro de um contexto onírico que proporciona a continuação
entre o físico e o mítico, por meio do psíquico. Mas um onírico o qual
tem representação em uma contextualização carregada de
epistemologia cientifica, como bem disse Serro (2012). Acerca desse
plano de fundo que o eu lírico utiliza para construir o poema,
(DANTAS, 1985, p.16) defende que esta formação do poema não é
realizada apenas em favor de um conteúdo temático (o sonho), porém
através de uma linguagem-objeto, observando certos aspectos relativos
à Teoria da relatividade de Newton e principalmente àqueles que dizem
respeito à Metapsicologia de Freud, para explicar funções exclusivas
do funcionamento do inconsciente humano.
Linguagem através da qual é representada essa "viagem", onde
o sonho se comunica com o real, enquanto o trem percorre a linha que
é o verso, e no seu caminho muitas vezes o verso se quebra, se
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desconstrói, pela falta correspondência cronológica do sonhar, mas que
se reconstrói através dessa linguagem-objeto, mantendo um sentido e
uma direção. Por conseguir por meio dessa forma de comunicação um
equilíbrio entre relação inconsciente do sono com a noção consciente
de tempo, quando determina cronologicamente seu percurso desde o
momento da partida do trem ao céu: “– Saindo vai da última estação –
/Através da noite vai... da noite iluminada", a sua chegada à região dos
mortos na linha 473, até pouso na região dos sonhos: "Pois tudo que é
vivido é apenas sabido /E tudo que é sabido é apenas sonhado" (linha
756). Tendo em vista, que esses processos do sistema Inc. encontram -
se fora do tempo e necessitam relacionar- se com o real, "isto é, não
aparecem ordenados cronologicamente, não sofrem modificação
alguma pelo transcurso do tempo e carecem de toda uma relação com
ele. " 5
Nessa narrativa desenvolvida em torno da "viagem" do trem, que
já traz consigo conotações mitificadas. O trem obedece, em todo o seu
rigor, aos postulados científicos de Einstein, durante o seu caminho nas
geodésicas, de modo que o espaço euclidiano6 não tem mais
5 Sigmund. Freud. Metapsicologia. (Rio. Delta, s. d. ), p.469.
6 Precisamente um espaço vetorial real de dimensão finita munido de um produto
interno.
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consideração, isto sem “quase referir- se à Teoria da Relatividade, ele
a expõe com o reconhecimento do mais completo astrofísico". (LEAL,
2008, p.20). Cardozo no seu consciente papel de poeta tem o saber de
que o trem, como objeto material, jamais iria conseguir alcançar a
velocidade da luz, mas traz uma função fabuladora nos versos através
da linguagem-objeto nesse contexto onírico, no qual tempo e espaço
não são realidades divergentes. Relação espaço - temporal sempre
correspondente à imagem do trem, o trem - tempo, tempo - trem,
provocando um descarrilamento de usa imagem, como explica Lima
(2008):
[...] a imagem do trem-tempo, do tempo-trem, ao
provocar o descarrilamento da imagem do trem moderno
no espaço, provoca também uma possibilidade de
interferir no museu de cabeças da história como um
desejo, um rumor vigoroso, uma graça, um gesto ao
désouvrement entre peso e leveza, sem marcas e para
cumprir a desterritorialização. (LIMA, 2008, p.223)
Por fim, na chegada à região dos sonhos Cardozo reflete: " Viver
é saber, sentir, sonhar." (Linha 597), onde com base na linguagem -
objeto adotado ao longo do poema, na qual a partir dessa
metapsicologia freudiana, busca uma forma de relação entre os
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processos do sistema Inc. neste caso o "sonhar" os com os processos do
sistema Cc. o "saber", sem abrir mão do sensacionismo moderno de
Pessoa e Almada - Negreiros, o " sentir" o qual é encadeado no verso
como um meio de equilíbrio entre o consciente e o inconsciente
psíquico. Esta ênfase dada ao sentir aproxima " A Visão de o Último
Trem Subindo ao Céu” à "Passagem das Horas" de Álvaro de Campos,
dínamo do sensacionismo moderno e do Futurismo em Fernando
Pessoa: " Estiver, sentir, viver, for."(PESSOA, 2003, p.14). Além de
sua larga extensão semelhante ao do poeta português. O que contribuiu
para o teor moderno- futurista do poema de Cardozo, que alcança sua
mais aguçada expressão, que "parte" como um trem rumo a uma
literatura universal na poética pernambucana morder na, seja pela
precisão ao fazer - se essa tríade entre poesia, ciência e mito, ou, pelo
total desprendimento do universo temático regional do seu estado.
6. Conclusão
Joaquim Cardozo como engenheiro civil e mais tarde escritor,
foi poeta construtor um engenho poético único, na produção
modernista. Desde uma lírica calcada em temas regionais e ainda pressa
à valores estéticos clássicos, porém sem esquecer de engajar-se na
realidade de sua sociedade, vindo a expressar logo de início uma escrita
compromissada ou engaje. Nesse sentido, adentrando de forma
perspicaz no ideal de renovação proposto pelo movimento moderno,
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com elementos formais e temáticos novos, bem como pela utilização
de recurso da poesia concreta e visual, da metapoesia, do Futurismo e
do sensacionismo de Fernando Pessoa, além dos meios científicos
empregados na fase final de seu construto lírico, que remetem a uma
escrita de caráter universal e amadurecida em totalidade em
comparação com seus escritos iniciais.
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