Jornada inicial para a compreensão da relação Violência ... PAULA LOPES CECCOPIERI.pdf · É...
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Ana Paula Lopes Ceccopieri
Jornada inicial para a compreensão da relação Violência – Escola
UCAM – Universidade Candido Mendes Fevereiro/2003
Ana Paula Lopes Ceccopieri
Jornada inicial para a compreensão da relação Violência – Escola
Monografia apresentada como exigência parcial para pós-graduação em psicopedagodia, sob a orientação do professora Fabiane.
UCAM – Universidade Candido Mendes Fevereiro/2003
Dedicatória Aos meus pais, mais que especiais, pelo desvelo e pela confiança que depositaram
em mim, sempre crendo no meu potencial.
Que, apesar das dificuldades, me incentivaram para que mais uma etapa da vida
fosse vencida, concretizando mais um sonho.
Duas pessoas que amo e me orgulho muito, pois sei que foi Deus que os pôs em
minha vida, para que eu pudesse ser feliz e completa.
A vocês a minha dedicação Ana Paula Lopes Ceccopieri
Agradecimento especial Agradeço principalmente a meu Pai e Senhor Jesus Cristo, pois ele quem me
fortaleceu e me sustentou nos momentos de dificuldade, quebrando todas as barreiras para que
eu viesse a persistir e não desistisse dos meus sonhos.
Pela Sua fidelidade verdadeira e porque, mais uma vez, me provou que nunca
estarei sozinha, pois ele sempre estará comigo me tornando sempre mais que vencedora.
A Ele toda honra, toda glória e todo o louvor pois realmente até aqui me ajudou o
Senhor.
Por tudo o que tens feito
Por tudo o que vais fazer
Por tuas promessas e tudo o que és
Eu quero te agradecer
Com todo o meu ser te agradeço meu Senhor
Sua filha e serva Ana Paula Lopes Ceccopieri
Sumário
Introdução...............................................................................................................................5
Capítulo I
1 - O que se entende por violência..........................................................................................8
1.1 – O sentido da violência....................................................................................................8
1.2 – O que nos ensina a etimologia do termo........................................................................9
1.3 – Definições da violência................................................................................................11
1.4 – Violência da vida..........................................................................................................12
Capítulo II
2.1- A violência e a escola, uma análise crítica....................................................................16
Capítulo III
3.1 – O cenário da violência na escola..................................................................................22
Conclusão..............................................................................................................................29
Bibliografia...........................................................................................................................30
Introdução
O interesse de se fazer uma pesquisa com este tema teve inicio a partir de uma
curiosidade em desvendar algumas das principais crises de violência nas instituições de
ensino. Assim então poder contribuir, de alguma forma, para futuras pesquisas e práticas de
ensino que estejam direcionadas à construção de uma educação concientizadora e permanente.
Quem já não ouviu falar sobre as atribulações de professores agredidos ou
violentados, as brigas as extorsões ou as drogas?
O rumor público, amplificado pela mídia, não se cansa de repetir que a violência
aumenta nos colégios, cada fato é incansavelmente comentado.
As agressões cotidianas, os atos de 'pequena' diligência se multiplicam cada vez
mais.
A violência é para nós, em princípio, uma questão que não pode ser afastada.
Ao em vez de deixa-las nas margens ou de nos desviarmos dela confusamente,
convém trata-la.
E este é o objetivo desta monografia que abre para outras perspectivas, dando a
possibilidade de pensarmos melhor e tentarmos dar uma solução para este problema; portanto
estudando a violência na escola dentro do contexto da sociedade capitalista moderna. Ou seja,
acreditando que os casos de violência na escola podem ser compreendidos a partir de um
processo mais geral da crise da sociedade capitalista, um subproduto negativo da globalização.
No primeiro capítulo vamos observar as diversas forma, os verdadeiros
significados da palavra violência, que é o tema principal do trabalho.
O segundo capítulo irá tratar de uma análise crítica da violência e escola, buscando
destacar as principais visões que justificam a violência dentro dessas instituições.
No terceiro capítulo vamos observar o cenário da violência na escola, permitindo
assim que o leitor se situe melhor, com explicações de algumas questões fundamentais.
Assim este trabalho tem por finalidade levantar questões iniciais que possam
contribuir para uma reflexão sobre o fenômeno da violência e suas implicações na pratica
pedagógica das escolas, de modo particular do ensino fundamental.
Educar para a tolerância adultos que atiram uns nos outros por motivos étnicos ou religiosos é tempo de perdão. Tarde demais. A intolerância selvagem deve ser, portanto, combatida em suas raízes. Através de uma educação constante que tenha início na mais terna infância, antes que se torne uma crosta comportamental espessa e dura demais. (HUMBERTO ECCO 1997)
Capítulo I
1 -O QUE SE ENTENDE POR VIOLÊNCIA
Violência nas escolas... quem já não ouviu falar nas atribulações de certos
professores violentados, as brigas, as drogas?
Mas novas formas de violência aparecem nas escolas. As agressões cotidianas, os
atos de pequena delinqüência se multiplicam.
Não sabemos bem o que levam esses alunos a serem tão agressivos, se é por
problemas familiar, se é um problema psicológico ou se um problema com o próprio professor
ou com os profissionais das instituições.
A agressão física é a atitude mais freqüente entre os jovens que ingressam no
ensino médio, levando os educadores a se sentirem pressionados e ameaçados pelos alunos1.
1.1 -O SENTIDO DA VIOLÊNCIA E A ETIMOLOGIA
Uma boa maneira de entrar no assunto consiste em procurar usos correntes e a
etimologia da palavra violência.
De acordo com o Novo Dicionário Aurélio da Língua Portuguesa ( 1986)
encontramos a palavra violência definida como: I -Qualidade de ser violento; .11 -Ato de
violentar; III -Ato de violento; IV -Constrangimento físico ou moral; V -Uso da força2.
1 COLOMBTER, Claire / MANGEL, Gilbert / PERDRIAULT, Marguerite – A violência na escola (1989) p.17 2 FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. 1910-1989 Uma outra aproximação a este termo é a que apresenta o Dicionário do Pensamento
Marxista (1988)3 que define a violência como:
Por violência entende-se a intervenção física de um indivíduo ou grupo contra
outro grupo ou contra si mesmo. Para que haja violência é preciso que a intervenção física seja
voluntária (...) A intervenção física, na qual a violência física consiste ter por finalidade
destruir, ofender e coagir (...) A violência pode ser indireta ou indireta. É direta quando atinge
uma maneira imediata do corpo de quem sofre. É indireta quando opera através da destruição,
da danificação ou da subtração dos recursos materiais.
Em ambos os casos o resultado é o mesmo: uma modificação prejudicial do estado
físico do indivíduo ou do grupo, que é o alvo da ação violenta4.
Podemos então observar o sentido da violência levando-nos a considerar que por
um lado esse termo violência indica fatos e ações decorrentes, a partir das perturbações ou
problemas psicológicos, e de outro lado indica uma maneira brutal de ser, que acaba
desrespeitando as regras e passando dos limites.
1.2 - O QUE NOS ENSINA A ETIMOLOGIA DO TERMO
A palavra violência é esclarecida como uma palavra que vem do latim violentia,
que significa caráter violento ou bravio, força.
O verbo violare, significa tratar com violência, profanar, transgredir. Tais termos
devem ser referidos como vigor, força5.
3 CANDAU, Vera Maria / LUCINDA, Maria da Consolação/ NASCIMENTO, Maria das Graças – Dicionário do Pensamento Marxista – Escola e Violência – RJ (1999) p.22 4 MICHAUD, Yves – A violência / Tradução L. Garcia – Ática (1989) p.8 5 CANDAU, Vera Maria / LUCINDA, Maria da Consolação / NASCIMENTO, Maria das Graças – (1999) p.19 Para onde quer que nos voltemos, encontraremos uma noção básica da violência,
que nos dá a idéia de uma força natural, onde cujo simples fato de agir contra alguém acaba
tornando o caráter do indivíduo mais agressivo e violento.
A violência é antes de tudo uma questão de agressões, maus tratos e opressões. Por
isso a consideramos evidente. No entanto esta força assume sua qualificação de violência em
função de normas definidas que se variam.
Desse ponto de vista, pode haver quase tantas formas de violência quantas forem às
espécies de normas.
Como ao simples fato da agressividade, através de palavras ofensivas ou atitudes
inesperadas, que acabam muitas vezes causando perturbações ou traumas, levando os
indivíduos a terem problemas psicológicos.
A agressão pode ser um resultado de um estado de frustração, de rejeição, de
opressão. A agressão pode ser, ainda percebida como vencer a oposição pela força.
A frustração é o sentimento causado pela inibição dos desejos ou impulsos ou por
preceitos que essa pessoa tem de si mesma.
A rejeição é o resultado da preocupação de não ser aceito pelo que se é. O
indivíduo torna-se deslocado ou despersonalizado. Tornando-se ainda deprimido ou revoltado,
ficando cada vez mais agressivo.
A opressão, pode se verificar que, realmente, existem diversos fatores que
influenciam no comportamento agressivo para que a opressão interfere num estado emocional
que resulta a insatisfação de necessidades ou de bloqueios de uma atividade dirigida no
sentido da realização de um propósito inadiável.6
6 Ibid p. 58-60
1.3 -DEFINIÇÕES DE VIOLÊNCIA
Tal situação provoca a dificuldade de se definir violência e também as diversidades
das definições propostas.
Podemos tentar estabelecer uma definição objetiva levando em conta apenas os
fatos.
Assim o sociólogo H. L. NIELBERG (1963) define a violência como: Uma direta
ou indireta destinada a limitar, ferir ou destruir as pessoas de bens.
Por sua vez H. D. GRANAM e T. R. GURR (1971) descreve a violência como: Um
comportamento que visa causar ferimentos às pessoas ou prejuízos de bens. Coletiva ou
individualmente, podemos considerar tais atos de violência como bons, maus ou nem um nem
outro segundo quem começa contra quem.7
Há violência quando, numa interação ou de vários indivíduos agem de uma
maneira direta ou indireta, causando danos a uma ou várias pessoas em graus variáveis, seja
em sua integridade física, seja em sua integridade moral, em suas posses, ou em suas
participações simbólicas e culturais.
O Centro de Atendimento de Maus Tratos na infância (CRAMI) de Campinas,
aponta dados assustadores. Depois de dez anos de trabalho de pesquisa.
A cada ano cerca de 500 mil crianças são vitimas de violência doméstica no
Brasil. Metade delas são espancadas e em decorrência disto 25 mil acabam mortas ou com
seqüelas psicomotoras e neurológicas às vezes permanentes. O restante é de caso de
negligência e abandono (22%), tortura psicológica (11%) e abuso sexual (8%). A covardia e
a violência desses episódios ficam mais gritantemente quando verifica que a metade das
vitimas tem menos de 7 anos de idade, sendo que 17% são menores de 2 anos
7 Id. A violência Mas o horror se escancara quando se é informado que a maioria das agressões tem
por fonte os próprios pais, que com freqüência espancam os filhos, porque foram espancados
na infância, produzindo um círculo imenso de violência.
Cerca de 36 mil meninas e 4 mil meninos são violentados sexualmente por ano no
Brasil, e os principais agressores são os próprios pais, padrastos ou parentes próximos.
A maior parte e os piores casos de violência contra criança ocorrem no seio da
família e em 70% dos deles os agressores são os próprios pais.
É comum a idéia de que um tapinha não dói e que é bom para educar. Só que
quando esse tapa se repete 365 dias do ano, se converte numa tortura psicológica brutal; Diz o
pediatra Hélio de Oliveira Santos, diretor do CRIAM.8
1.4- VIOLÊNCIA DA VIDA
Tudo isso não significa que, afinal de contas, a violência seja indefinível, porque
implica divergências de pontos de vista radicais, mostrados através de itens.
a) É preciso estar consciente de que as definições objetivas, ainda que as mais
úteis, mas não isentas de pressupostos e também não apreendem o conjunto de
fenômenos.
8 DIAS, Kátia Pereira – Educação Física x Violência – RJ – Sprint (1996) p.49-51 b) A violência também pode prender-se aos valores pelos quais os grupos se
diferenciam e afirmam contra os outros, é o caso dos grupos envolvidos com o
crime.
Ansiosos por vencerem o destino para se libertarem dele, eles querem provocar
face a face a morte, numa perpétua busca ao acontecimento, que exige o riso e a
máscara, o humor, às vezes o cinismo a essa capacidade de fazer as leis virarem de
pernas para o ar, simplesmente por prazer, para que o jogo seja possível, para
confrontar-se com o arbítrio. Nesse ponto de confronto com o destino a morte surge de
um nada.
O certo é que a violência esta em toda parte e não escolhe suas vitimas.
Esta é a violência mais visível, escandalosa, aumentada pelas lentes da mídia. Mas
e os outros tipos de violência?
De qualquer forma, precisamos enfrentar a violência contra ela própria, fazendo a
violência gerar uma consciência dentre os limites9.
c) Não é possível haver um equilíbrio satisfatório entre um e outro ponto de vista;
pode-se corrigir um pelo outro adotando cada vez uma distância; isto é, mudando de
perspectiva.
d) É preciso estar pronto para saber que não há um saber universal completo sobre
a violência.
A sociedade está às voltas com a sua própria violência, segundos seus próprios
critérios e tratando de seus próprios problemas com maior e menor êxito.
9 Ibid (p.54) Às grandes questões filosóficas e às grandes respostas se substituíram e se substituem, cada vez mais, as ações através das quais as sociedades se administram. Para terminar esta revisão dos fenômenos de violência, é preciso chamar a atenção às variações que afetam a brutalidade da vida segundo as épocas, ou dos grupos sociais, que durante este percurso foi mostrado e que já podemos observar várias delas.
...Uma prevenção da violência, não importa em que domínio, passa necessariamente por um aprendizado decepcionante. A separação entre as pessoas deve ser garantida, não por palavras ou teorias, mas por instituições que estabeleçam a ordem da palavra. (JEAN LE DU)
Capítulo II
2.1 -A VIOLÊNCIA E A ESCOLA: UMA ANÁLISE CRÍTICA
A crescente onda de violência nas escolas tem alarmado a sociedade. A
perplexidade é tanto maior quanto à extensão do fenômeno que atinge todas as classes sociais.
Na sua dimensão territorial, o problema não é apenas nacional, mas mundial.
Há uma apreensão da violência um componente subjetivo que depende dos
critérios do grupo ou do subgrupo e até mesmo, disposições pessoais. Não se pode comparar
ingenuamente a violência na sociedade inglesa do século XIII, com a do século XX, porque
muitas normas mudaram. 10
Nas cenas de violência surge a cada momento na mídia, imprensa televisiva. Mas
qual seria a explicação para tanta violência? Como pensar a relação entre violência e escola, se
a educação tem por finalidade preparar o homem para a vida social?
Esta análise tem por caráter provocativo exploratório uma vez que pretende colocar
em discussão esta questão polemica, e ao mesmo tempo tentar reunir elementos teóricos e
conjunturais que possibilitem a elaboração de uma alternativa de abordagem do tema.
A literatura existente sobre a crise na educação e seus desdobramentos pode ser
dividida basicamente em duas grandes correntes, uma predominante economicista e outra
predominante sociológica.l1
10 Ibid Educação Física x Violência p.49 11 ibid p. 54
Podendo-se falar em outras subdivisões dentro de que nomeamos duas grandes
correntes, mas fugiria ao objetivo e ao limite deste trabalho.
A ênfase da primeira corrente recai na ingerência dos aspectos econômicos e o
processo pedagógico que alienaria o indivíduo. Nessa perspectiva, a crise educacional seria
reflexo de uma economia que transforma os valores morais e políticos em valores de mercado.
O ser humano é reduzido a um numero, e todo o sistema educativo está voltado para a
profissionalização ao indivíduo na sociedade. A crise se estabelece quando não existe mais
lugar no mercado para todos, e quando os indivíduos sem valor se revoltam contra esse
sistema que o oprime e o transforma em trabalhador. Mas, como explicar a violência em
escolas de classe média?
Na outra corrente privilegiam-se os aspectos sociológicos. A era da informação
teria difundidos tantos valores e hábitos sociais que a sociedade teria perdido seu sentido de
unidade moral e de valor. Nesse contexto, a educação está em crise permanente, seu objetivo
se perde na diversidade. Educar significa preparar o cidadão ou manter seres humanos, jovens
durante um período da escola? Ou seja, como não existe grande preocupação numa formação
humanista, a escola cabe apenas a adicionar informações ao aluno. Contudo, esta abordagem
trata o contexto escolar, minimizando os aspectos econômicos que tantas limitações impõem à
transformação desta mesma realidade.
A análise da violência na escola deve considerar essas contribuições dentro de uma
proposta pedagógica que forneça mudanças nos aspectos sociais e econômicos na nossa
sociedade.
Para nós, a ordem econômica caracterizada pela tecnologia e pela Globalização,
nos impõe uma série de questões, que não podem ser menosprezadas, nem mudadas a curto
prazo. Mas o desenvolvimento de uma nova cultura poderia trazer mudanças na economia, na
direção de uma sociedade mais harmônica.12
O desafio da sociedade moderna, encontra-se principalmente na integração mais
agradável entre indivíduo e mercado. O desenvolvimento social e econômico atingido, adquire
um formato próprio e hegemônico. Antes do Renascimento, tínhamos um mundo ordenado
com base em valores políticos e religiosos, com pouca atividade econômica e, principalmente
norteados por um padrão coletivo de convívio humano.
A sociedade moderna levou o indivíduo ao seu potencial máximo, mas ao fazê-lo,
consolidou uma ordem econômica que o transformou num numero estatístico. O espaço para a
produção e reprodução dos valores sociais tem diminuído em detrimento ao almejado estilo
moderno de vida, baseado no consumo de bens e mercadorias. Em outras palavras, sofremos
um processo de desumanização e crescente racionalização econômica, num nível mais elevado
do que o imaginado.13
O jovem se agrega a seus iguais formando gangues e se rebelam na escola, que a porta de
entrada da sociedade que eles ao mesmo tempo idolatram e repudiam. A juventude vive um
paradoxo de uma sociedade que oferece um horizonte ilimitado à ação humana, mas lhe deixa
sozinha durante as incertezas do cotidiano.
12 Programa de Combate à Violência 10/03/01 p. 01 www.unesco.com.br 13 Ibid p.02
Não podemos resumir nosso mundo a meras definições do mercado. Onde a etapa é
conceber a escola como centro de transmissão e elaboração dos valores sociais. Inserida na
economia do mercado, muitas vezes a escola se distancia do seu objetivo pedagógico e se fixa
nos objetivos comerciais. Porém os órgãos públicos, pais e professores do setor educacional
devem reclamar por um novo papel da escola, seja a transmissão do conhecimento, mas como
lidar com a violência e a formação psicológica do adolescente?
Entretanto vale ressaltar a influência das drogas enquanto fator, ao mesmo tempo
incrementada, e gerador da violência na escola do consumo com o tráfico de drogas têm
dinâmica própria, mas pode ser compreendida como uma questão social.
As estatísticas sobre homicídio no Rio de Janeiro indica que a maior concentração
de vítimas, encontra-se no sexo masculino e na faixa etária de 13 a 17 anos, denotando forte
relação com o tráfico drogas. 14
Em oposição a esta violência especuliar, o que acontece diariamente é a depressão,
o tédio e o desgosto. Geração de alunos passam, fechados em seu silêncio, bem comportados,
muito bem comportados, sem desejo, sem palavra. Eles sofrem é do sofrimento progressivo,
morte lenta. Esperam estar ao lado de fora para poder viver, se algum dia viesse a acordar.
É que a escola, e todos os demais projetos episódicos e fragmentados de
complementação escolar, passaram a ser entendidos meramente com o meio de tirar o menor
da rua, onde certamente cairia na criminalidade e na violência.
14 O GLOBO, 10/04/2001 Ela passou a ser um prédio onde se mantiveram ocupadas as crianças por algum
tempo ou por tempo integral até que as exigências da renda familiar ou a idade de trabalhar a
chamassem de volta a rua. Da parte dos educadores, a atitude de que para pobre qualquer
coisa serve ou não precisa muita coisa e eles já estão agradecendo infelizmente foi comum
nos projetos inovadores e salvadores por serem de tempo integral. 15
Com isso a pobreza perdeu o sinal positivo mais forte e adquiriu mais claramente o
sentido negativo de falta, estendida também ao plano moral, fazendo desaparecer as fronteiras
entre o pobre e o marginal ou criminosos.
Não ter dinheiro para consumir os bens cada vez mais oferecidos no mercado
equivale, para os pobres, especialmente se pertencentes a grupos raciais (como negros) e
residenciais (como favelas), a ser objeto da suspeita de cometa aos ilegais ou ilícitos ou, pior,
de ser agente da violência. 16
15 1bid, p.14 16-ZALUAR, Alba -exclusão social c violência -p. 39
A violência vivida e testemunhada fora da escola tem impacto direto e indireto sobre ela: afeta o desempenho escolar, as relações entre alunos e dos alunos contra os professores, e ajuda a gerar violência dentro da escola. (CARD1A, 1997, p.50)
Capitulo III
3.1 -O CENÁRIO DA VIOLÊNCIA NA ESCOLA
O cenário de um colégio, não se limita as suas paredes, aos seus objetivos. É
preciso saber o que circula entre as pessoas, um pouco de saber, sem dúvida, mas sobretudo
ódios, amores e agressões. 17
a) Salas de aulas
Mesas riscadas com canivetes, cadeiras quebradas, piso danificado, as paredes
rabiscadas. As portas, sobretudo, sofrem grandes buracos por causa de violentos
pontapés, fechaduras entupidas com chicletes, com cola ou quebradas.
b) Durante o dia
Nem uma só porta no banheiro dos meninos. Privadas entupidas propositalmente para
provocar uma inundação.
Tudo desaparece: os materiais, os manuais, as roupas, guardar sempre consigo, em sua
mochila, seu casaco se não quiser ficar sem nada. Na biblioteca os livros e apostilas
são roubados. As enciclopédias muito grandes são simplesmente rasgadas.
c) Durante a noite
Vidros quebrados, roubo de materiais de física, o material do cine-clube. Pilhagem
várias vezes por ano, na mesa do orientador educacional: fichários destruídos,
materiais incendiados.
Queixas sem fim dos funcionários. O marceneiro conserta, as faxineiras limpam: É a
lógica do oprimido que se torna opressor.
17 Ibid -Violência na escola -p. 54 Os alunos aumentam a carga horária de trabalho dos empregados, enquanto que as
supressões regulares dos pontos já criam uma situação bastante difícil.
d) Corredores
Um pontapé na escada: um aluno cai: desmaios e vômitos durante vários dias.
Um garoto sufoca: um outro acaba de estrangula-lo, ou quase, no canto do corredor.
Uma turma espera o professor. Ele se divide em dois para impedir a passagem dos
alunos que passam por lá.
Eles escolhem uma pequena bola de pingue-pongue, jogando-a de um lado para o
outro. Ele bate com a cabeça numa quina de uma mesa e cai. Enfermaria, hospital,
traumatismo craniano.
e) Sala dos professores
Um professor de inglês chega vermelho de raiva, a roupa toda manchada de tinta nas
costas. Um outro teve suas chaves roubadas durante a aula. O orientador educacional,
um funcionário, grosseiramente insultados por alunos da 5ªe 6ª séries. Um professor
levou vários pontapés na barriga ao tentar defender um pequeno contra a gangue.
f) Sala de aula
O tumulto é um espetáculo: dois garotos se enfrentam, cada um procura machucar o
outro. A tensão aumenta. Uma roda se volta ao redor deles. Chega um inspetor.
Um dos brigões é mandado para a enfermaria. O outro na hora da saída, é esperado
pelos amigos do adversário.
Eles o deixam estendido no chão, quase desacordado e desaparecem.
g) Durante a aula
Uma classe de 6a série: eles não param quietos no lugar, se agitam por todos os lados, se
levantam, discutem com seus vizinhos. Uma mochila cai. Seu conteúdo se espalha. Dois
alunos se batem. Ele não trouxe o livro, ela não trouxe o fichário.
- O que a senhora disse? Pode repetir?
- Mais devagar!
- Professora, ela pegou minha régua !
- Professora, ele está puxando meu cabelo!
Ele ou ela me trouxe o caderno.
- Assim está bom?
- De que cor tem que escrever?
- Professora, ela está me xingando !
Silêncio.
De repente, gargalhadas. Dispersão.
Maria está no mundo da lua. Marcos na janela faz muito devagarzinho a ponta do lápis.
Isabelle se irrita. Uma discussão lá no fundo da sala. Jean dá uma volta para ver
Fabrícia. Disfarçadamente, arranca a folha de Pilar.
- Professora...
No meio do barulho fica disponível.
Professor ou domador de feras? Como canalizar este excesso de vitalidade.
h) E do lado de fora
Atmosfera de fim de ano. Gisele, professora auxiliar de música, está passando ao longo da
grade. Três alunos vêm vindo em sentido inverso lá fora.
- O que vocês estão fazendo aí fora? Vocês deveriam estar na sala de aula!
-Vá à merda!... Não estamos no colégio! Você não tem nada com isso.
Gisele atravessa a cerca e quer pegar pelo braço o aluno. Que teve a coragem de lhe falar neste
tom. Ela quer leva-lo ao orientador educacional. Mas o aluno consegue se voltar e grita uma
ofensa pior ainda.
O tapa que recebe tem sobre ele o peso de uma grande injustiça, ser esbofeteado fora do
colégio por uma mulher, e acima de tudo na frente de seus amigos!
Ele pega um pau e atinge Gisele em plena testa. Os três alunos fogem correndo. Tumulto no
colégio. Chamam a polícia. O incidente será encerrado sem nenhuma conseqüência.
Do lado dos alunos, uma menina da 5ª série chega coberta de hematomas e um olho roxo. Seu
tio, ou tutor não gostou da sua caderneta.
Uma outra menina foi agredida pelo pai de sua amiga que achava que ela não era boa
companhia.
Num ônibus escolar, três garotos da 4a série batem numa menina da 6a. Ninguém se dá conta
de nada, ninguém intervém. Quando o ônibus chega, a menina não está enxergando, está muito
machucada.
i) Saída da escola
Volta de um passeio. Os alunos da 6ª série descem do ônibus na frente do colégio, em frente
ao prédio do primário. É a hora da saída. De repente ouve-se os gritos, agudos, mas grave,
muito sentido. Os alunos pararam de descer. Se escuta: Mais e teu pai Roberto!
Na rua no meio da calçada, um homem dá um pontapé no garoto caído no chão, todo
enrodilhado. A cabeça entre os braços. O garoto soluça e grita: Ai, ai, ai! É o irmãozinho de
Roberto. O adulto parece fora de si, ele bate dá pontapés. A criança berra, se debate...
A diretora adjunta do colégio tenta fazer alguma coisa. É empurrada: Me deixa em paz, ele é
meu filho. Você não tem nada a ver com isso, cai fora.
Ele empurra com raiva a criança, arruma a gravata e joga a mochila para a criança que sangra
e chora. Roberto olha para seu pai e chora pelo seu irmão.
- Ah, você está aí, vamos embora.
Roberto recebe um empurrão e perde o equilíbrio. O pai levanta o menino do chão, eles se
afastam. O pai estava dando uma lição no filho, ele tinha matado aula.
j) O caso de Maurício
Gritos nos corredores de um colégio de crianças e adolescentes problemáticos.
Um dos professores vai ver o que se passa. Maurício quer obrigar alguém a descer as escadas.
Ele já tinha se queixado um pouco antes. Maurício a beliscava e não parava de incomoda-la. O
professor manda Maurício descer e deixa-la em paz, mas ele continua a empurra-la.
O professor agarra então o garoto para obriga-lo a deixar Fátima. Maurício reage
violentamente, dá uma cabeçada no nariz do professor, o golpe é público.
Todos os alunos estavam reunidos para ver o que estava acontecendo. O inspetor geral chega,
pega Maurício que ainda reage com violência.
- Pega suas coisas e vá embora! Fala o inspetor geral, Maurício foge depois de um novo
tumulto, mas ele só tem 17 anos e o instituto não pode expulsa-lo de vez. Ele volta no dia
seguinte de manhã, passa pelo conselho de disciplina. Será suspenso por quinze dias,
repreendido várias vezes, impedido de sair livremente, ameaçado de expulsão definitiva ao
menor problema criado.
A violência de Maurício atingiu o professor, ferida feita a um indivíduo, mas
também a um corpo social, que só reencontra a sua unidade através da sua exclusão. A idéia é
bem essa para que o corpo social mantenha a sua integridade, ou melhor, construa a sua
coesão, não existe outro caminho a não ser o da exclusão.
Nestes casos de violência podemos observar que alguns voltam a sua agressividade
contra si mesmos.
Muitos são os ferimentos que os alunos se fazem mais ou menos acidentalmente:
cortes, queimaduras, fraturas diversas. As doenças crônicas de alguns, crianças ou adultos,
durante o período escolar, são o sinal visível do seu mal-estar.
• As fugas:
Alunos que desaparecem subitamente por alguns dias, uma semana... Mal-estar em todos os
lugares, na escola ou na família.
O que se destaca neste capítulo são as agressões e ameaças a professores, feitas por
alunos por parte de profissionais que atuam nas escolas.
Na visão dos adultos, tais manifestações de violência podem estar relacionadas à
falta de competência relacional do profissional que atua nas escolas com o fracasso na forma
dos papéis do professor e do aluno. Assim a violência do aluno manifesta-se a:
Forma de um transbordamento de tragédias de questões de conflitos, pouco
eficazes -quer sejam aquelas que se referem diretamente à idéia de competência relacional, ou
aquelas que enfatizam a construção precária de um papel profissional 18.
18 Ibid – Escola e Violência, p. 34
Podemos observar claramente que na visão dos alunos, estes tipos de violência
contra os professores são sempre motivados. Pois pode ser vista como uma forma de reclamar
dos educandos, contra o mau exercício ou pela sua exigência. Esta forma de violência é
compreendida pelos alunos como manifestações de resistência ao julgamento escolar ou de
protesto contra o mau professor ou qualquer outro profissional da educação. Com freqüência o
mau professor é descrito pelos alunos como aquele que não está presente às aulas, que não
consegue manter a disciplina na turma, que é injusto, principalmente no que se refere aos
resultados escolares, que não tem disponibilidade para os alunos, ou ainda não demonstra
entusiasmo pelo que faz.
Estas estratégias ofensivas podem ser vistas, então, como uma maneira de mostrar
aos colegas que podem ser sucedidos.
Nesta perspectiva, pode-se compreender tais atos como manifestação de uma
lógica, que é a de enfrentar o professor de frente.
Tanto o jovem quanto o adulto desenvolvem uma representação de papéis na
escola. Quando o profissional não corresponde às expectativas dos alunos, as atitudes e
comportamentos violentos podem ser entendidos como uma estratégia de construção destes
papéis.19
Assim sendo, determinada modalidade de violência pode afetar a vida particular,
talvez haja a necessidade da instituição buscar alternativas que possam transformar tais
relações, fazendo assim com que o ambiente escolar venha ser um local onde todos,
professores e alunos, tenham prazer e não de massacre20.
19 Ibid – p.34 20 Aqui a palavra massacre quer dizer penoso (incômodo, difícil)
Conclusão
A violência entre os alunos nas instituições escolares vem gerando transtorno
dentre os profissionais de educação e a saída está longe de ser enxergada.
A violência nas escolas está relacionada a muitos fatores, que não são só
educacionais, podemos observar, fatores psicológicos, sociais, familiares, políticos, e porque
não religiosos. Resolver estes fatores é uma questão de ordem mundial, pois não acontece
somente em países pobres, observa-se essas ocorrências em países de primeiro mundo como
Estados unidos, Inglaterra e outros. É difícil saber por onde começar, pois é necessário haver
um equilíbrio em todos os campos.
Para se combater a violência nas escolas primeiro devemos pensar em uma vida
equilibrada, onde se possa ter ao menos direito à cidadania, que todos pudessem ter acesso à
politização, para que se pudesse pensar como sociedade e ter o individualismo como extinto.
Muitos mestres ensinaram caminhos de uma vida equilibrada, senão perfeitas, pelo menos
próximo de uma vida com menos individualismo (...amar ao próximo como a si mesmo...),
mas em um mundo com tantas divisões é muito complicado pensar em solução imediata para
violência, não apenas nas instituições educacionais, como também no mundo em que vivemos.
Referências bibliográficas:
CANDAU, Vera Maria; NASCIMENTO, Maria das Graças. Escola e Violência. Rio de
Janeiro: DP&A, 1999.
DIAS, Kátia Pereira. Educação Física x Violência :Uma abordagem com meninos de rua. Rio
de Janeiro: Sprint, 1996
MICHAUD, Yves. A violência / Tradução L. Garcia. Ática, 1989
Programa de Combate a Violência nas Escolas. Disponível:<http://www.unesco.com.br>.
Acesso em: 10 abr. 2001
ZALUAR, Alba Maria. et al (org). Violência e Educação. SP: Livros do Tatu, Cortez ,1992