Jornal A Família Católica, 19 edição. dezembro 2014

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ORGANIZAÇÃO DA SAGRADA FAMÍLIA Os ensinamentos de Nazaré— Pe. Júlio Maria Lombarde SANTOS E FESTAS DO MÊS: 3– São Francisco Xavier; 4– São Pedro Crisólogo e Sta. Bárbara; 6– São Nicolau; 8– Festa da Imaculada Concei- ção; 12– Nossa Senhora da Guada- lupe; 13– Sta. Luzia; 25– Natal do Senhor; 26– Sto. Estevão; 27. São João, Apóstolo e Evangelista; 29– São Tomás de Canterbury. 31– São Silvestre I. NESTA EDIÇÃO: Nascimento de N. Senhor 1, 2 Soneto da Imaculada 3 Vida de São Nicolau 4 Comentário Apologético do Evangelho 5, 6 Escritos São Bernardo 6 Dezembro/ 2014 Edição 19 A Família Católica C A P E L A N O S S A S E N H O R A D A S A L E G R I A S E D I Ç Ã O E S P E C I A L D E N A T A L Senhor nos manifestou”. E foram com grande pressa: e encontraram Maria e José, e o Menino deitado na manjedoura. E vendo isto compreenderam o que lhes havia sido dito acerca deste Menino. E todos os que ouviram se admiravam das coisas que lhes diziam os pastores. Ora, Maria conservava todas estas coisas, meditando-as em seu coração” – (Lucas, II.6) Tal é a narração evangélica em sua sublime e sobrenatural sobriedade. Observemos nela o que se refere ao nosso as- sunto: o estabelecimento, a formação da Sagrada Família. Jesus vinha a este mundo para ser o modelo de todos: de todas as posições sociais, de todas as condições, de todas as idades e sexos. Como nobre: ele será de família real; como po- bre: ele estará na miséria mais absoluta; como menino: será humilde e submisso; mais tarde, como adolescente e como jovem: será a consola- ção de seus pais. E não podendo, ele só, ser o modelo da família cristã, escolheu uma família: pai e mãe, afim de lhes obedecer, e para apresentar, deste modo, à nossa imitação, a família modelo, a Sagrada Famí- lia. É pois, neste estábulo, nesta manjedoura, dian- te das adorações dos anjos e sob homenagens dos pastores, nos braços da Sma. Virgem, que se constituiu, definitivamente, a Sagrada Família. O Espírito Santo parece insistir neste ponto, recordando em minudências, que os pastores encontraram Maria e José com o menino. Ó santa, ó divina Família! Permiti que me prostre e vos apresente as minhas homenagens, imedia- tamente após a vossa formação, antes mesmo que o mundo conheça a vossa existência. Mas, retomemos o fio de nossas reflexões. Tudo estava preparado para o nascimento do Redentor. São José retirara-se a um canto para repousar um pouco das fadigas da viagem, depois de ter certificado de que nada faltava à sua santa Esposa. Era a noite entre 24 e 25 de dezembro. Celebra- va-se em Jerusalém a bela festa das luzes, instituí- da por Judas Macabeus. Fogos de alegria brilhavam nos arredores de Belém. Tudo estava pronto...tudo estava divinamente disposto para a realização do grande mistério. O templo de Jano estava fechado pela terceira vez. Augusto formará a unidade romana. Todos os povos estavam sob as asas da águia romana. A Judéia, então província romana, perdera a sua independência. Um príncipe de raça Iduméia assentara-se sobre o trono de Davi, e tinha nas mãos o cetro de Judá. A paz reinava em todo o império. Chegou, pois, o grande dia do despertar, anunci- ado pelos profetas: Impleti sunt dies. – (Luc. II.6) De fato, enquanto Roma queima incenso aos pés do seu imperador, deste deus, o único em quem ela crê, uma filha do povo, Virgem tímida e pobre, e um humilde operário, seu esposo, estão prostrados ante um presépio, em que repousa uma criancinha, a quem oferecem o verdadeiro incenso da adoração e do amor. Ouvi esta narração tocante do Evangelho: “E José foi também da Galileia, da cidade de Nazareth, à Judéia, à cidade de Davi, que se cha- mava Belém, porque era da casa e família de Da- vi, para se recensear juntamente com sua esposa Maria, que estava grávida. E estando ali, aconteceu completarem-se os dias para dar à luz. E deu à luz o seu filho primo- gênito, e o enfaixou e o reclinou numa manjedou- ra, porque não havia para eles lugar na estala- gem. Ora, naquela mesma região haviam pastores que vigiavam e faziam de noite guarda ao seu rebanho. E eis que apareceu junto deles um anjo do Senhor, e a claridade de Deus os cercou, e tiveram temor. Mas lhes disse o anjo: Não temais! Porque eis que vos anuncio uma grande alegria, que caberá a todo o povo: porque vos nasceu na cidade de Davi um Salvador que é o Cristo Senhor. E este sinal vos dou. Encontrareis um menino envolto em panos, e deitado numa manjedoura. E subitamente apareceu com o anjo uma multidão da milícia celeste, louvando a Deus, e dizendo: Glória a Deus no mais alto dos céus! E paz na terra aos homens de boa vontade! E depois que os anjos se retiraram deles para o céu, os pastores diziam entre si: “Vamos até Be- lém e vejamos o que ali sucedeu e o que é que o

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ORGANIZAÇÃO DA SAGRADA FAMÍLIA

Os ensinamentos de Nazaré— Pe. Júlio Maria Lombarde

SANTOS E

FESTAS DO MÊS:

3– São Francisco Xavier;

4– São Pedro Crisólogo e Sta.

Bárbara;

6– São Nicolau;

8– Festa da Imaculada Concei-

ção;

12– Nossa Senhora da Guada-

lupe;

13– Sta. Luzia;

25– Natal do Senhor;

26– Sto. Estevão;

27. São João, Apóstolo e

Evangelista;

29– São Tomás de Canterbury.

31– São Silvestre I.

N E S T A

E D I Ç Ã O :

Nascimento de N. Senhor 1, 2

Soneto da Imaculada 3

Vida de São Nicolau 4

Comentário Apologético do

Evangelho 5, 6

Escritos São Bernardo 6

Dezembro/ 2014 Edição 19

A Família Católica

C A P E L A N O S S A S E N H O R A D A S A L E G R I A S

E D I Ç Ã O E S P E C I A L D E N A T A L

Senhor nos manifestou”. E foram com grande

pressa: e encontraram Maria e José, e o Menino

deitado na manjedoura.

E vendo isto compreenderam o que lhes havia

sido dito acerca deste Menino. E todos os que

ouviram se admiravam das coisas que lhes diziam

os pastores. Ora, Maria conservava todas estas

coisas, meditando-as em seu coração” – (Lucas,

II.6)

Tal é a narração evangélica em sua sublime e

sobrenatural sobriedade.

Observemos nela o que se refere ao nosso as-

sunto: o estabelecimento, a formação da Sagrada

Família.

Jesus vinha a este mundo para ser o modelo de

todos: de todas as posições sociais, de todas as

condições, de todas as idades e sexos.

Como nobre: ele será de família real; como po-

bre: ele estará na miséria mais absoluta; como

menino: será humilde e submisso; mais tarde,

como adolescente e como jovem: será a consola-

ção de seus pais.

E não podendo, ele só, ser o modelo da família

cristã, escolheu uma família: pai e mãe, afim de

lhes obedecer, e para apresentar, deste modo, à

nossa imitação, a família modelo, a Sagrada Famí-

lia.

É pois, neste estábulo, nesta manjedoura, dian-

te das adorações dos anjos e sob homenagens

dos pastores, nos braços da Sma. Virgem, que se

constituiu, definitivamente, a Sagrada Família.

O Espírito Santo parece insistir neste ponto,

recordando em minudências, que os pastores

encontraram Maria e José com o menino.

Ó santa, ó divina Família! Permiti que me prostre

e vos apresente as minhas homenagens, imedia-

tamente após a vossa formação, antes mesmo

que o mundo conheça a vossa existência.

Mas, retomemos o fio de nossas reflexões.

Tudo estava preparado para o nascimento do

Redentor. São José retirara-se a um canto para

repousar um pouco das fadigas da viagem, depois

de ter certificado de que nada faltava à sua santa

Esposa.

Era a noite entre 24 e 25 de dezembro. Celebra-

va-se em Jerusalém a bela festa das luzes, instituí-

da por Judas Macabeus.

Fogos de alegria brilhavam nos arredores de

Belém.

Tudo estava pronto...tudo estava divinamente

disposto para a realização do grande mistério.

O templo de Jano estava fechado pela terceira

vez.

Augusto formará a unidade romana.

Todos os povos estavam sob as asas da águia

romana.

A Judéia, então província romana, perdera a sua

independência.

Um príncipe de raça Iduméia assentara-se sobre

o trono de Davi, e tinha nas mãos o cetro de Judá.

A paz reinava em todo o império.

Chegou, pois, o grande dia do despertar, anunci-

ado pelos profetas: Impleti sunt dies. – (Luc. II.6)

De fato, enquanto Roma queima incenso aos

pés do seu imperador, deste deus, o único em

quem ela crê, uma filha do povo, Virgem tímida e

pobre, e um humilde operário, seu esposo, estão

prostrados ante um presépio, em que repousa

uma criancinha, a quem oferecem o verdadeiro

incenso da adoração e do amor.

Ouvi esta narração tocante do Evangelho:

“E José foi também da Galileia, da cidade de

Nazareth, à Judéia, à cidade de Davi, que se cha-

mava Belém, porque era da casa e família de Da-

vi, para se recensear juntamente com sua esposa

Maria, que estava grávida.

E estando ali, aconteceu completarem-se os

dias para dar à luz. E deu à luz o seu filho primo-

gênito, e o enfaixou e o reclinou numa manjedou-

ra, porque não havia para eles lugar na estala-

gem.

Ora, naquela mesma região haviam pastores

que vigiavam e faziam de noite guarda ao seu

rebanho. E eis que apareceu junto deles um anjo

do Senhor, e a claridade de Deus os cercou, e

tiveram temor. Mas lhes disse o anjo: Não temais!

Porque eis que vos anuncio uma grande alegria,

que caberá a todo o povo: porque vos nasceu na

cidade de Davi um Salvador que é o Cristo Senhor.

E este sinal vos dou. Encontrareis um menino

envolto em panos, e deitado numa manjedoura. E

subitamente apareceu com o anjo uma multidão

da milícia celeste, louvando a Deus, e dizendo:

Glória a Deus no mais alto dos céus!

E paz na terra aos homens de boa vontade!

E depois que os anjos se retiraram deles para o

céu, os pastores diziam entre si: “Vamos até Be-

lém e vejamos o que ali sucedeu e o que é que o

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Nada interrompia o silêncio da noite, a

não ser, talvez, os cânticos rústicos, con-

fundidos com o som das flautas e das

charamelas.

Maria, dizem os pios autores, entrou

insensivelmente em êxtase, durante o qual

gerou sem dor, sem auxílios, e sem prejuí-

zo da sua virgindade, o Salvador do mun-

do, a luz do alto: Oriens ex alto. Como os

raios do sol atravessam o cristal puro sem

alterá-lo, assim vem à luz o divino infante.

(S. Basílio)

Maria vê o seu augusto Filho deitado

sobre a palha, mas circundado, sem dúvi-

da, pela auréola da divindade.

De que emoção não foi tomada!

Que sentimentos inefáveis devem ter

feito estremecer seu maternal coração!

Ela vê diante de si o seu Deus, pequeno,

fraco, débil, tremendo de frio.

Olha-o...contempla-o...fita-a Ele também.

É o primeiro olhar trocado entre o Deus

feito homem e a sua criatura.

Olhar de Deus...olhar da Virgem...

Um vagido comovedor escapa dos lábios

suavemente rosados da divina criança.

Vagit infans...Ele parece estender as

mãozinhas para sua Mãe.

Voltando a si, Maria toma nos braços

este Filho adorável e o aperta afetuosa-

mente contra o coração.

Que anjo nos poderá falar da suavidade

destes primeiros e castos abraços? Como

exprimir as impressões que Maria experi-

menta, bem como o transbordamento de

santificação e de graça, que se comunica

do Filho à Mãe?

Despertado pela voz da sua Esposa, José

se levanta e vê o estábulo inundado de

uma luz extraordinária.

Dirige-se imediatamente para junto da

santa companheira, em cujos braços vê o

Verbo feito carne.

“A língua humana, diz São João Crisósto-

mo, é incapaz de descrever os sentimen-

tos que nele despertou este espetáculo”. A

alegria, a admiração e o amor disputam

um lugar no seu coração.

Ele fica estarrecido, dominado por um

temor santo, ao pensar que tem diante de

si o Salvador, o Messias esperado desde

há séculos... ajoelha-se, inclina-se com

veneração, e deixa correr, ali aos pés de

seu Deus, as lágrimas que não mais pode

conter nos olhos.

- Meu Senhor e meu Deus, perdoai a

minha ousadia!

- Meu Senhor e Meu Deus, sou indigno

de aproximar-me de Vós!

Ó Mãe de Deus, devo afastar-me ou ocul-

tar-me? E, chorando de júbilo e de humil-

dade, ao mesmo tempo, São José nem

ousa fixar os olhos em tão inefável apari-

ção: Deus nos braços de sua Esposa.

Mas, chega, enfim o auge da felicidade!

Maria, ocupada em compor um berço para

o seu recém nascido, confia a José o Meni-

no-Deus. Ele pode, então, aproximá-lo do

coração, tocar com os seus lábios as mãos

sagradas da divina criança, e, com respei-

tosa confiança, prodigalizar-lhe as mais

ternas provas de amor.

A Sagrada Família estava constituída.

Assim devem constituir-se as nossas

famílias: Jesus Cristo deve ser o seu cen-

tro, o seu vínculo e o seu coroamento.

O centro:

É para Ele que tudo deve convergir.

Ele é a luz que ilumina.

Ele é o pão que sustenta.

Ele é o caminho que conduz ao céu.

O vínculo:

O seu amor deve prender os nossos

corações.

A sua voz deve cativar a nossa alma.

A sua contemplação deve fixar-nos

perto dele.

O coroamento:

Toda a nossa vida deve tender para

Ele.

Todos os nossos esforços devem ser

coroados por Ele.

Uma família em que Jesus é tudo isso, é

uma família feliz.

Mas não convém que o Messias fique

assim oculto. É preciso que o seu nasci-

mento seja conhecido e que a sua Família

sirva de modelo a todas as famílias.

O texto sagrado já no-lo disse.

Pastores que guardavam os seus reba-

nhos nas circunvizinhanças foram os pri-

meiros adoradores de Jesus Cristo.

Trouxeram-lhe os seus pequenos dons,

tão pobres como eles, mas o que a genero-

sidade e a boa vontade apresentam, é

sempre rico, porque elas dão tudo o que

tem.

Tal é, depois do mistério do seu nasci-

mento, o das adorações que recebeu o

Salvador do mundo, no seu berço, que são

os braços de sua Mãe.

É Maria quem o apresenta às adorações

dos pastores, Maria acompanhada de Jo-

sé. Eles são as duas testemunhas da sua

humanidade.

A humilde Virgem nos aparece aqui com

o ostensório de Jesus para os pastores, e,

por eles, para todos os adoradores que

virão mais tarde, pois os mistérios de Je-

sus Cristo são perpétuos; sempre encon-

tramos Jesus com Maria.

É a parte que Maria dá de si a este mis-

tério.

A parte que dele toma para si não é me-

nor.

É ela indicada por estas simples, mas

profundas palavras: “Maria conservava

todas estas coisas, meditando-as no seu

coração”.

É uma frase tão sóbria, quão significati-

va.

Estas palavras nos abrem o Coração de

Maria e nos mostram o que nele se encon-

tra e o que nele se passa. Ela conservou,

cultivou, fecundou, aumentou, pelo traba-

lho interior da sua fidelidade, as ações e

as palavras da Sabedoria eterna.

E, conservando estas coisas no seu cora-

ção, ela as conservava para nós, para a

Igreja e para o mundo, como a digna depo-

sitária destes mistérios, de que seria teste-

munha mais tarde.

Alguns dias depois dos pastores, vem os

Reis Magos. Depositam as suas oferendas

aos pés do Menino Deus e nas mãos da

Mãe virginal. Era provavelmente o terceiro

dia após o nascimento de Jesus.

A Sagrada Família, muito provavelmente,

ainda não tinha deixado a gruta do Nasci-

mento. Era, portanto, a pobreza mais com-

pleta que se oferecia aos olhos dos Magos.

Longe, porém, de recuar ante estas apa-

rências, a fé dos Magos parecia ficar mais

sólida ao contato delas.

Sem hesitar, entram na gruta subterrâ-

nea. Aí encontram uma pobre mãe, tendo

sobre os joelhos uma criancinha envolta

em faixas.

Convidados por este espetáculo, viva-

mente impressionados pelo olhar angelical

e pela beleza celeste das feições da Vir-

gem, deslumbrados e subjugados pelo

sorriso do divino Infante, os Magos se

prostram e adoram o Filho do Altíssimo.

Depois, abrindo os tesouros, oferecem-lhe

ouro, incenso e mirra: as mais ricas produ-

ções dos seus países.

De modo que todos são representados

junto ao presépio do Deus feito homem:

Os pobres, pelos pastores.

Os ricos, pelos Magos.

Todos, conforme os seus recursos, apre-

sentam a Jesus as suas oferendas.

E nós, que iremos oferecer-Lhe?

Porventura, nada mais possuís?

Examinai...ouvi:

Em uma noite de Natal, o Menino Jesus

apareceu ao grande São Jerônimo, o feliz

contemplativo de Belém.

- Jerônimo, que queres dar-Me no dia do

meu nascimento?

- Divino Infante, sabeis que deixei tudo

por Vós. Deixei a corte dos Pontífices, os

esplendores de Roma, e as delícias da

opulência. Abandonei tudo, só por ser vos-

so. O meu espírito, o meu coração, os

meus pensamentos, o meu amor, a minha

vida, tudo é vosso. Que mais vos posso eu

dar?

- Jerônimo, há alguma coisa de que te

esqueces, e é esta que me refiro.

- Mas, ó Menino que adoro e amo! Amor

de meu amor, coração de meu coração,

vida de minha vida! Que me resta que vos

possa dar? Seria eu então assaz infeliz e

traidor ao meu Deus, guardando ainda

algo do dom que fiz de mim mesmo?

- Dá-me os teus pecados...

- Meus pecados? Ó Deus três vezes san-

to! E o que quereis fazer deles?

- Dá-m’os todos, para eu os perdoar!

E à face desta prova de misericordiosa

ternura do seu Deus, rebentou em lágri-

mas de piedade e amor o coração do pie-

doso ancião.

Oh, vamos nós também a Ele! Procure-

mos Jesus com Maria e José! E, si já temos

a ventura de ter dado tudo como S. Jerôni-

mo, demos ainda os nossos pecados...para

que Jesus os perdoe todos!

Page 3: Jornal A Família Católica, 19 edição. dezembro 2014

“- Senhor, quem vos fez tão pequeno?Senhor, quem vos fez tão pequeno?Senhor, quem vos fez tão pequeno?

--- O amor, Bernardo”O amor, Bernardo”O amor, Bernardo”

Nosso Senhor à São Bernardo durante meditação do santo no Tempo de Natal.Nosso Senhor à São Bernardo durante meditação do santo no Tempo de Natal.Nosso Senhor à São Bernardo durante meditação do santo no Tempo de Natal.

“ Sou verdadeira mãe de um Deus que é filho

E sou sua filha, ainda ao ser-Lhe mãe;

Ele de eterno existe e é meu filho,

E eu nasci no tempo e sou sua mãe.

Ele é meu Criador e é meu filho,

E eu sou sua criatura e sua mãe;

Foi divinal prodígio ser meu filho

Um Deus eterno e ter a mim por mãe.

O ser da mãe é quase o ser do filho,

Visto que o filho deu o ser à mãe

E foi a mãe que deu o ser ao filho;

Se, pois, do filho teve o ser a mãe,

Ou há de se dizer manchado o filho

Ou se dirá Imaculada a mãe.”

Soneto composto pelo demônio, para demonstrar a veracidade da Ima-

culada Conceição, por ordem de dois sacerdotes exorcistas, e dito pela

boca de um possesso de 12 anos, em 1823.

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São Nicolau, bispo de Mira, na Lícia, tão celebrado em todo o

mundo pelo clarão das virtudes, pelo número dos milagres e pela

confiança do povo, pelo qual intercedia sempre, nasceu em Atáris,

cidade da Lícia, na Ásia Menor. Os pais eram riquíssimos; mais

ainda, piedosos. Quando já se encontravam desesperançados de

terem filho, nasceu-lhes Nicolau, que lhes foi um presente do Céu.

Deus dotou-o visivelmente de bênçãos, desde o nascimento. O

tio, também Nicolau, também bispo de Mira, indo à Igreja agrade-

cer a Deus por aquele nascimento, teve, durante a oração, uma

revelação, na qual ficou sabendo que aquela criança seria um

astro luminoso, que pela virtude iluminaria a terra toda.

Tais presságios da futura santidade do jovem Nicolau animaram

os virtuosos pais a redobrar de cuidados. E a educação que o me-

nino teve foi toda ela cristã, esmeradamente cristã.

Aplicando-se às ciências, em breve tornou-se sábio, mas, ao

mesmo tempo, mais santo. A doçura, a mansidão, a modéstia,

eram nele coisas tão características que impunham como modelo

aos moços. Todos lhe admiravam a regularidade, a meiga devo-

ção, a sabedoria, numa idade em que a vivacidade e o amor ao

prazer dominam, onde as paixões são, ordinariamente, a grande

impulsionadora das ações.

Era São Nicolau bastante jovem quando perdeu os pais. Sentiu a

perda grandemente, mas não foi ela obstáculo às virtudes. A mor-

te do pai e da mãe, aos quais amava ternamente e muito queria, e

que lhe legaram bem enorme, serviu para mais piedoso torná-lo,

mais arredio e retirado, mais caridoso do que já era.

Um dia, ao saber que um gentil homem da cidade, pobre, muito

pobre, estava a ponto de fazer prostituir as três filhas, porque não

tinha nada de seu para casá-las, São Nicolau ficou tremendamen-

te emocionado. Depois de pensar, esperou que a noite caísse, e,

enchendo de moedas de ouro uma grande bolsa, saiu em deman-

da da casa do desolado pai. Então, quando percebeu que estava

só, defronte à casa, diante de uma janela providencialmente aber-

ta, atirou a bolsa e deixou o local às carreiras, furtivamente, rente

à parede das casas, para que a escuridão mais o ocultasse.

No dia seguinte, quando o gentil homem deu com a bolsa, febril-

mente pôs-se a contar o dinheiro, certificando-se de que continha

uma grande quantia. Dando graças a Deus, pode dotar a filha mais

velha, procurando casá-la imediatamente, certo de que a Providên-

cia se ocuparia das outras duas.

E assim foi, porque, logo na noite seguinte, sempre à socapada,

o nosso bom santo arremessou pela janela outra bolsa, que conti-

nha a mesma soma da anterior.

O pai, no auge da alegria, pressentiu que quem assim fazia faria

ainda a terceira vez. E um grande insopitável desejo de conhecer o

benfeitor o levou a emboscar-se, bem caíra a noite.

São Nicolau, de fato, com uma terceira bolsa, protegido pela

escuridão, rumou para a casa do gentil homem e, nem sequer

caíra ainda a bolsa no cômodo costumeiro, já era efusivamente

abraçado pelo pai das três jovens, que saíra das sombras duma

porta, onde se ocultara e tudo vira.

São Nicolau, surpreso e, ao mesmo tempo, grandemente cons-

trangido por ver-se descoberto, sem saber o que dizer. Afinal, recu-

perando-se, ordenou, com veemência:

-Isto deve ficar absolutamente em segredo.

- Absolutamente!

O gentil homem prometeu-lhe que assim seria, categoricamente.

Mas, no dia seguinte, já de manhã, toda a cidade sabia, encanta-

da, daquela liberalidade, daquela caridade imensa.

Virtude tão resplandecente e tão pura não era para o mundo.

Com efeito, São Nicolau pensava em deixar o século. Deus esco-

lhera-o para dele fazer um dos mais belos ornamentos da Igreja. E

foi com a aprovação pública que o vira integrar o clero.

O bispo de Mira, conhecendo-lhe a grande piedade e a não me-

nor sabedoria, apressou-se em fazê-lo padre. Tal dignidade deu

um novo lustre à santidade de Nicolau, e o sacerdócio, encontran-

do meios tão puros e alma tão cristã, comunicou-lhe um novo bri-

lho à virtude, imprimindo novo vigor ao seu zelo.

O tio, pronto para fazer uma viagem de devoção à Terra Santa,

deixou a direção da diocese ao sobrinho. E Nicolau governou-a

com tanta sabedoria e edificação geral que todos passaram a de-

sejá-lo para bispo.

Falecendo o tio pouco depois do regresso, Nicolau, que nada

temia mais do que o episcopado, aproveitou-se para deixar o país

e demandou à Palestina. (…)

Após visitar os lugares santos, retirou-se ele a uma caverna onde

se diz que o Menino Jesus, Nossa Senhora e São José, ao fugirem

da Judéia, passaram uma noite, em demanda do Egito. Deseja ali

ficar para o resto da vida, mas Deus deu-lhe a conhecer que devia

retornar a Mira. E assim fez o santo.

Chegando a Mira, enfurnou-se num mosteiro, aspirando à obscu-

ridade, para dar-se aos exercícios das mais austeras penitências.

No entanto, o bispo João, que sucedera ao tio de Nicolau, vinha

a falecer. Os bispos da província reuniram-se em Mira para dar à

Igreja um bispo. A escolha ia difícil, não se chegava a um acordo,

quando um dos mais veneráveis da assembléia, por um movimen-

to do Espírito Santo, disse que Deus desejava que se escolhesse

para bispo de Mira o santo homem que primeiro entrasse na Igreja

para orar, no dia seguinte.

São Nicolau foi o eleito de Deus, porque, sem nada saber do que

se passava, certo dia, que era o que o velho bispo dissera, saiu do

mosteiro, o que raramente fazia, para rezar na Igreja.

Todos ficaram agradavelmente surpresos quando viram que era

Nicolau aquele que devia preencher a vaga deixada pelo bispo

morto.

Bem que o santo quis fugir, mas não houve alternativa, e foi, em

meio à ruidosa alegria do povo e do clero, sagrado bispo. (…)

Elevado ao episcopado, preparou-se para cumprir todos os deve-

res que se lhe impunham, e conquistar na perfeição todas as virtu-

des dum santo bispo. Passava quase toda a noite ao pé dos alta-

res a pedir por si e pelo povo. Quando rezava a Missa, um clarão

lhe iluminava o rosto, tão repleto lhe estava o coração dum fogo

sagrado. O fervor crescia-lhe dia a dia, e a solicitude pastoral es-

tendia-se por todas as necessidades do povo. O que recebia, dava-

o imediatamente aos pobres. (…)

A caridade do santo com todos os infelizes era extrema, e nada

podia detê-lo quando se tratava de ser útil aos irmãos. (…)

Tantas maravilhas tornaram o nome de Nicolau célebre por todo

o universo.

Quis o Senhor, então, recompensar todos os trabalhos do servi-

dor fiel, e deu-lhe a conhecer o dia e a hora da morte. Tal revela-

ção o encheu de alegria pouco conhecida dos homens.

Depois de ter dito adeus ao povo, ao fim duma Missa Pontifical,

retirou-se São Nicolau ao Mosteiro de Sião. Ali, depois de curta

enfermidade, administrados que lhe foram os últimos sacramen-

tos, entregou a santa alma a Deus. Era a 06 de dezembro de 327.

Ignora-se-lhe a idade. Enterrado na Igreja do mosteiro, do túmulo

logo principiou a correr um líquido miraculoso, que tinha virtude de

curar todas as doenças.

Pilhando os turcos toda a Síria, o corpo foi transportado para

Bári, na Apúlia, Itália, onde se conservou com grande veneração

numa Igreja magnífica em que o túmulo veio a ser dos mais céle-

bres pelo número de milagres prodigiosos que se deram.

SÃO NICOLAU SÃO NICOLAU SÃO NICOLAU ——— Bispo de MiraBispo de MiraBispo de Mira

Vida dos santosVida dos santosVida dos santos––– Pe. RohrbacherPe. RohrbacherPe. Rohrbacher

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Evangelho da festa de Natal

Comentário apologético do Evangelho Dominical— Pe. Júlio

Maria Lombarde

Nota da edição: Na festa do Santo Natal cada sacerdote celebra

três Missas. No Evangelho da 1ª missa a Igreja propõe à nossa

consideração o nascimento do Salvador na gruta em Belém. No

da 2º missa, a visita dos pastores. E no Evangelho da 3º missa,

nos faz considerar que este Menino, nascido da Santíssima Vir-

gem, é o Filho de Deus desde toda a eternidade. O comentário

que aqui se faz é referente a este 3º Evangelho.

Evangelho—(João, I. 1-14)

1. No princípio era o Verbo, e o Verbo estava em Deus, e o Ver-

bo era Deus.

2. Ele estava no princípio em Deus.

3. Todas as coisas foram feitas por ele: e nada do que foi feito,

foi feito sem ele.

4. Nele estava a vida, e a vida era a luz dos homens.

5. E a luz resplandeceu nas trevas, e as trevas não a compre-

enderam.

6. Houve um homem enviado por Deus, que se chamava João.

7. Este veio por testemunha, para dar testemunho da luz, afim

de que todos cressem por meio dele.

8. Ele não era a luz, mas era para dar testemunho da luz.

9. (O Verbo) era a luz verdadeira, que ilumina todo o homem

que vem a este mundo.

10. Estava no mundo, e o mundo foi feito por ele, e o mundo

não o conheceu.

11. Veio para o que era seu, e os seus não o receberam.

12. Mas a todos que o receberam, deu poder de se tornarem

filhos de Deus, aos que crêem em seu nome.

13. Os quais não nasceram do sangue nem da vontade da car-

ne, nem da vontade do homem, mas de Deus.

14. E o Verbo se fez carne e habitou entre nós: e nós vimos a

sua glória, glória como de (Filho) Unigênito do Pai, cheio de graça

e de verdade.

I. O DEUS CRIADOR

O Evangelho da 3ª missa é o grandioso e sublime início do Evan-

gelho de S. João.

Num voo de águia celeste, João penetra a eternidade, e ali

contempla o Verbo de Deus, dizendo que por Ele tudo foi feito, e

que é Ele o Deus Criador de tudo o que existe.

Depois desce num relance, da luz suprema da glória, até às

trevas deste mundo, e inclinando-se sobre um presépio onde

está deitada uma criancinha, o Evangelista exclama: O Verbo se

fez carne e habitou entre nós.

Isto é: o Criador de tudo o que existe, está ali deitado numa

gruta, feito homem.

Contemplemos hoje este sublime assunto, em continuação da

existência de Deus, que já provamos. Vejamos:

1º Que Deus é o Criador.

2º É o governador de tudo.

I. Deus é o Criador

A palavra Criador, aplicada a Deus, significa que Deus, por um

efeito da sua onipotência, fez existir o que não existia: o firma-

mento com seus astros luminosos, a terra com suas produções,

numa palavra: o universo.

O artista faz uma estátua de um bloco de mármore, porém

nunca fará uma estátua de mármore, sem mármore.

O homem apenas modifica, arranja; somente Deus pode criar.

O mundo não é eterno: isto salta aos olhos ao primeiro aspecto.

O que é eterno é necessariamente: imutável, necessário e inde-

pendente.

Ora, nenhum destes atributos convém ao mundo.

Vejamos que o universo está numa mudança contínua, pela

forma e pelas suas qualidades, enquanto a essência do ser eter-

no é de se sempre o que é, sem se poder mudar, aumentar ou

diminuir. O eterno é sempre o que é.

O universo não é necessário, pois um ser necessário não pode

ser concebido como não existente.

Ora, concebemos perfeitamente a não existência do universo,

enquanto não se pode conceber a não existência de um primeiro

ser, princípio e causa de tudo.

Logo, o universo teve um princípio, foi criado.

Um ser necessário deve ser independente, isto é, deve possuir

em si mesmo e por si mesmo tudo o que lhe é necessário, não

recebendo nada de ninguém, nem precisando de ninguém, e

continuando a existir, mesmo si fora dele nada mais existisse.

Ora, o universo não tem esta independência absoluta. Pode-

mos conceber a ideia do seu aniquilamento.

Logo, não é necessário: foi criado.

E o Criador de tudo o que existe fora dele, é Deus.

Se Deus é Criador, Ele é também o Senhor de tudo o que exis-

te, pois Deus devia, criando, propor-se um fim digno de si.

Este fim é a sua própria glória, como fim principal; e a felicida-

de dos seres racionais, como fim secundário.

II. O DEUS GOVERNADOR

Não somente Deus criou, mas governa tudo; e este governo

chama-se: a Providência.

Que se diria de um artista que, tendo criado uma obra prima de

pintura ou de escultura, ficasse completamente indiferente para

com ela, recusando ocupar-se dela, não tomando as precauções

para que não fosse destruída?

Que se diria de um roceiro, que comprasse um terreno fértil, e

depois abandonasse sem cultura?

Seriam ambos insensatos.

Deus é nosso Criador; nós somos a sua propriedade, o seu

bem.

Sendo Deus sapientíssimo, não pode desinteressar-se de nós,

que somos sua obra.

Na terra, muitos homens desejam ocupar-se mais das coisas

de que estão encarregados, porém não o podem por falta de

tempo, de força, etc.

Para Deus tal obstáculo não existe.

Ele vê tudo: logo, está ao par de tudo.

Ele é infinitamente bom: logo, quer prover as nossas necessida-

des.

Ele é todo-poderoso: logo, pode valer-nos.

Todas as perfeições de Deus exigem que se ocupe de nós, que

não nos abandone, depois de nos ter criado, mas preveja as

nossas necessidades e proveja a tudo.

Prever e prover; é a união destas duas palavras que vem o belo

nome de Providência—providere.

Deus é ainda infinitamente justo.

Ora, a justiça exige que o bem seja recompensado e que o mal

seja castigado: último motivo porque Deus não deixa a humani-

dade correr sem amparo, mas se faz o seu Governador, excitador

e Moderador, antes de ser o seu Juiz Supremo.

III. CONCLUSÃO

A Providência de Deus é, pois, Deus conservando e governando

o mundo por Ele criado, e conduzindo todos os seres ao fim que

Ele, na sua sabedoria, predeterminou.

Não é propriamente um atributo divino, desde que implica a

criação, mas é antes: o conjunto dos atributos de Deus: ciência,

sabedoria, poder, bondade, justiça, aplicados à regência do uni-

verso.

Page 6: Jornal A Família Católica, 19 edição. dezembro 2014

Não objetem a existência do mal neste mundo. Sim, o mal

existe e deve existir.

Há o mal moral, ou pecado. Deus não o quer, mas deve permi-

ti-lo, porque criou o homem livre, e o homem, a menos de deixar

de ser livre, pode abusar desta liberdade e cometer o mal moral.

Não pode ser imputado a Deus, mas unicamente a nós.

Há o mal psíquico. É também inevitável, porque Deus criou o

homem mortal. Ora, todo ser mortal, tende à decomposi-

ção...gasta-se, estraga-se, debilita-se. Ora, tal debilitação, tal

estrago causa, necessariamente, o sofrimento. É uma condição

da nossa vida.

Há desigualdades sociais, e deve haver. Pois, como poderia

haver ricos, se não houvesse pobres? Como poderia haver gran-

des, se não houvesse pequenos? Como poderia haver monta-

nhas se não houvesse vales?

Deus deve permitir tudo isso; mas sabe tirar o bem do mal.

São meios de expiração e de merecimento para conquistarmos

a felicidade eterna.

EXEMPLOS

1.No leme

Num navio, no meio de horrível tempestade, os passageiros

lançavam brados de aflição: só um menino de 12 anos perma-

necia calmo. Como todos ficassem admirados:

- Nada tenho a recear, disse ele, é meu pai que está no leme.

Porque temer? É o bom Deus que tem nas mãos o leme deste

mundo.

Confiemos-lhe também o leme da nossa alma, e Ele nos fará

alcançar o céu!

2.Apólogo de Tolstoi

Ouvem-se bastantes vezes murmúrios contra a Providência de

Deus. Provém geralmente da falta de reflexão, de não compre-

endermos o que Deus nos outorgou, e de vermos apenas o que

nos falta.

Tolstoi tem este expressivo apólogo a respeito:

Um homem, descontente da sua sorte, queixava-se de Deus.

- Deus, disse ele, dá as riquezas aos outros e a mim não dá na-

da! Como posso iniciar a minha vida, não tenho nada?

Um ancião ouviu estas queixas.

- És tu tão pobre como pensas? Responde. Deus não te deu saú-

de e força?

- Não digo que não, e ufano-me da minha saúde e força.

- Queres deixar cortar a tua mão direita por um conto de réis?

- Ah! Isso nunca! Nem por dez contos!

- E a mão esquerda?

- Nem esta!

- E os pés?

- Deus me livre! Por dinheiro nenhum!

- Olha, ajuntou o ancião, que fortuna Deus te deu, e estás te quei-

xando.

3. A lua

A torto e a direito, os homens reclamam contra a Providência

de Deus.

É pena não terem estado presentes quando Deus criou as coi-

sas! O verão é quente demais; o inverno tem um frio insuportá-

vel...É um capítulo que convém não começar, pois não acabaría-

mos.

Lembro-me de ter lido outrora num jornal esta palavra espiritu-

osa de um bebê de 3 anos de idade. O bebê estava com a ma-

mãe, no jardim da casa, ao cair da noite, para colher umas flores.

A lua estava no quarto crescente! O bebê olhou espantado e

disse à sua mãe: “Mamãe, olha lá em cima! O bom Deus não

teve tempo hoje de acabar a lua”.

Nós somos homens, mas falamos às vezes como bebês. Quan-

tas luas encontramos que o bom Deus não teve o tempo de aca-

bar!

Edição:

Capela Nossa Senhora das Alegrias - Vitória, ES.

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“Conhecemos uma tríplice vinda do Senhor. Entre a primeira e a última há uma vinda

intermediária. Aquelas são visíveis, mas esta, não. Na primeira vinda o Senhor apareceu

na terra e conviveu com os homens. Foi então, como ele próprio declara, que viram-no e

não o quiseram receber. Na última, todo homem verá a salvação de Deus (Lc 3,6)

e olharão para aquele que transpassaram (Zc 12,10). A vinda intermediária é oculta e nela

somente os eleitos o vêem em si mesmos e recebem a salvação. Na primeira, o Senhor

veio na fraqueza da carne; na intermediária, vem espiritualmente, manifestando o poder

de sua graça; na última, virá com todo o esplendor da sua glória. Esta vinda intermediária

é, portanto, como um caminho que conduz da primeira à última; na primeira, Cristo foi

nossa redenção; na última, aparecerá como nossa vida; na intermediária, é nosso repouso

e consolação.”

São Bernardo de Claraval