A família católica, 32 edição. janeiro 2016
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Santo Tomás de Aquino o que o incitou a pedir em 1936 sua admissão na Ordem dos Irmãos Pregadores, mas também a consonância desta vocação com seu entendimento do sacerdócio e seu amor pela verdade, verdade contemplada na oração e no estudo, e comunicada às almas pela pregação: Contemplari et contemplata aliis tra-dere. Revestido já do hábito branco de São Do-mingos, o jovem noviço foi enviado ao convento de estudos da Província de Toulouse. Ali pode beber na fonte o espírito próprio de sua Ordem e deixar-se formar pelo ideal de São Domingos, a quem admirava como homem de oração e um sacerdote de Deus.
Este homem extraordinário– dizia dele– tinha em grau excepcional o amor de Jesus Cristo, o sentimento da necessidade da Igreja no século XIII, o sentimento do valor das almas e do perigo da condenação eter-na que as expunha a peste da heresia: “Quid fient peccatores?”
Com estas disposições fez sua primeira profis-são em 1º de novembro de 1937, sua profissão perpétua em 1º de novembro de 1940 e recebeu a ordenação sacerdotal em 29 de março de 1941, sábado de Sitientes (o sábado da quarta semana da Quaresma, ou seja, o que antecede ao Domingo da Paixão). Assim, por ocasião de sua ordenação, relacionou-se providencialmente com as professoras Dominicanas do Santo No-
O padre Roger-Thomas Calmel O.P
Hojitas de Fé, nº 116, Credimus caritati SANTOS E
FESTAS DO MÊS:
01– Circuncisão de Nosso
Senhor;
03– Santíssimo Nome de
Jesus;
06– Epifania;
10– Sagrada Família;
13– Batismo de Nosso Senhor;
14– Santo Hilário;
15– São Paulo, 1º eremita;
21– Santa Inês;
23– São Raimundo de Penna-
fort;
25– Conversão de São Paulo;
26– São Policarpo;
27– São João Crisóstomo;
28– São Pedro Nolasco;
29– São Francisco de Sales;
N E S T A
E D I Ç Ã O :
Padre Roger Calmel 1,2
Declaração, Pe. Calmel 3
Sobre a História, Bossuet 4
São Pio X e o Catecismo 5
Notícias da Resistência 8
Janeiro/ 2016 Edição 32
A Família Católica C A P E L A N O S S A S E N H O R A D A S A L E G R I A S
Este ano (2015) se completaram os 40 anos de falecimento do Padre Roger Thomas Calmel (1914-1975), digno filho de São Domingos, de-fensor intrépido da Fé, da Missa e do sacerdócio em tempos de prova. Seguem-se aqui umas linhas para apresentar a figura deste sacerdote que soube reagir de maneira parecida com a que fez Monsenhor Lefebvre, por ter alimentado em sua alma um mesmo amor à Missa, ao Magisté-rio da Igreja e à doutrina pura e incontaminada de Santo Tomás de Aquino.
1º Nascimento e vocação, 1914-1933
Roger Calmel nasceu em 11 de maio de 1914 na fazenda familiar de Sauveterre-la-Lémance. Seus pais, cristãos admiráveis, educaram a seus quatro filhos no culto do bem e da verdade, do belo e do justo, conjugando a sabedoria campo-nesa da terra com a sabedoria superior da Cruz, e criando em seu lar um clima de fervor, alegria e sensatez.
Neste clima despertou a vocação do jovem Roger Calmel, que em 1926 entrou no seminário menor de Agen. Ali se entregou ao estudo com ardor e aplicação, pelo relato de seus antigos companheiros. À medida que estudava, sentia desejos de uma união mais intima com Deus, como prova o “contrato de amor” que fez com sua “boa Mãe, a Virgem Imaculada, em 1930, com a idade de 15 anos, depois de receber a batina:
Consagro-vos meu coração, meu corpo e minha alma; vos confio minha vocação, meus interesses no tempo e na eternidade. [...] Dai-me cada dia sua santa e maternal benção até o último dia, em que vosso Cora-ção Imaculado me apresentará no céu ao Coração de Jesus, para o amarmos e ben-dizê-lo sem fim.
Em 1933, seus superiores o mandaram ao Instituto católico de Toulouse, recentemente fundado, para seguir ali seus estudos. Nos anos em que se acelerava a infiltração do liberalismo e do modernismo na Igreja, o jovem seminarista se entregou à contemplação mais profunda e deleitosa dos mistérios divinos, tomando como guia o Doutor angélico, a quem se mostrou fiel até o fim de seus dias.
2º Na milícia de São Domingos, 1936-1946
Não foi só sua admiração pelo pensamento de
Contra esta imposição sua resposta não se fez esperar: era sua “Declaração”, protesto de fidelidade absoluta à missa de sua ordenação, escrita em 27 de novembro de 1969, três dias antes da entrada em vigor do Novus Ordo.
Desejoso de esclarecer, fortalecer e reconfortar as almas de-samparadas ante os avanços do laicismo, das ambiguidades doutrinais, da decadência dos costumes, das revoluções litúrgi-cas e do abandono de seus pastores, não hesitou em acudir a seu chamado.
Certo número de leigos –dizia–, nas trevas presentes, não se resignam em verem-se enganados; se dão conta de que o demônio quer amarrar e demolir a Igreja, e estão decidi-dos a combater; porém não encontram nenhum sacerdote que haja resistido à corrente progressista ou, ao menos, que tenha o valor e a fortaleza de enfrentá-la. Quando des-cobrem a um, se sentem reconfortados e dispostos a escu-tá-lo.— E concluía com simplicidade e sensatez-: Creio que sou um desses sacerdotes. Por isto tratarei de não defrau-dar suas esperanças.
Com delicadeza e paciência invencível, com firmeza e bondade ao mesmo tempo, alentava, admoestava, abençoava, aconselha-va. Com grande realismo preconizava a constituição de pequenos bastiões de cristandade: comunidades, escolas, famílias, publica-ções, que deveriam converter-se em outros tantos bastiões de santidade. Este mesmo realismo o fazia aspirar com todas suas forças à intervenção pública de um bispo que reconfortasse aos católicos perplexos: Monsenhor Lefebvre, com quem o Padre se encontrou pela primeira vez em Toulon, em 15 de agosto de 1970.
A firmeza de suas posturas lhe rendeu numerosos sofrimentos: além das provas devidas à fragilidade de sua saúde, teve que suportar numerosas condenações e sanções por parte de certas autoridades romanas, desconfianças e incompreensões dentro de sua querida Ordem, e o que ele chamava de uma “relegação sociológica”. E o que dizer de sua dor ante a traição dos pastores e das almas consagradas, o abandono de seus irmãos de armas, o estado de necessidade dos fiéis? Todas essas provas, sem embargo, o ajudaram a crescer no amor e no silêncio. Pois seu combate nada possuía de violento. Não se tratava de lutar pelo gosto da luta, nem para defender suas posturas pessoais, mas para defender a verdade e os direitos de Deus.
Rezai– dizia aos fiéis-. Que a oração os mantenha estáveis no amor infinito de Deus e os faça se unir de tal modo a ele, que possais saborear a paz, muito além de toda discussão. [...] Só a oração nos reconforta e pacifica, ao mesmo tempo em que nos incita a dar nossa vida, cada qual em seu lugar e na forma em que Deus determina, para o bem dos escolhi-dos. Só a oração nos faz permanecer, em silêncio e amor, nas chaga gloriosas de Jesus Crucificado.
5º Iluminar e desaparecer na luz, 1974-1975
Com a permissão de seus superiores, o Padre Calmel viveu os último meses de sua vida terrena em Saint-Pré (Brignoles) - atual-mente a Casa mãe de um ramo tradicional das Irmãs do Santo Nome de Jesus, às quais pertencem as Dominicanas de Anisaca-te e de La Reja-, para onde as ditas Irmãs haviam transladado a escola São Domingos de Toulon. O Padre Calmel as havia encora-jado a permanecerem fiéis à missa e à Liturgia tradicional, ao estado religioso dominicano e a concepção tomista da escola, sendo para elas até o fim um guia luminoso e seguro.
Deixou esta vida em 3 de maio de 1975, dia em que a Igreja celebra a Invenção da Santa Cruz, e foi enterrado no cemitério das Irmãs dois dias depois, em 5 de maio de 1975, festa de São Pio V.
Queria, segundo ele mesmo havia dito, iluminar e desaparecer na luz. Voltou à pátria totalmente absorto na verdade, beleza e simplicidade de Deus, e fascinado por sua luz. Mas a luz que nos deixou ainda segue brilhando.
me de Jesus, especialmente com a priora da comunidade de Toulon, a Madre Hélène Jamet, que de bom grado havia aceitado receber o recém ordenado e a sua família para a recepção que se seguiu à cerimônia. Não suspeitava a Madre o papel que este jovem dominicano desempenharia na Congregação, desde 1945 a 1975, nem os laços sobrenaturais que o uniria com as irmãs.
Ao final de 1941 foi enviado a Toulouse e após a Marselha, para ser encarregado da pregação oral em paróquias e escolas, retiros e peregrinações, e na pregação escrita por sua colabora-ção a duas revistas, a Vie dominicaine e a Revue thomiste.
3º Com as irmãs do Santo Nome de Jesus, 1946-1956
Em 1946 o Padre Calmel voltou à Toulouse. Como o convento dos padres estava próximo à Casa mãe das Irmãs do Santo No-me de Jesus, o padre foi solicitado para prestar seu ministério sacerdotal às Irmãs e noviças, e às alunas de que elas se encar-regavam. Não tardou para manifestar-se ali como guia experiente nos caminhos de união com Deus. Também por este tempo (1951-1952) trabalhou com a Madre Hélène Jamet, então Priora geral, na reforma das Constituições de sua Congregação, com objetivo de unificar a vida das Irmãs como religiosas dominica-nas docentes, e adaptá-la à sua missão de “mães das almas, consagradas ao Senhor para uma missão de educadoras cris-tãs.”
O novo texto das Constituições, concluído em novembro de 1952, recebeu em agosto de 1953 a aprovação da Sagrada Congregação dos Religiosos. Contudo, em 1954 o Padre recebeu de seus superiores a proibição de prosseguir com este apostolado frutuoso, já considerado demasiado tradici-onal, sendo então afastado das Dominicanas; logo, em 1956, foi enviado à Espanha, onde aproveitou seu exilio para meditar a doutrina e a vida de São João da Cruz e Santa Teresa de Jesus, e para descobrir os conventos domi-nicanos na Espanha, então florescentes.
4º Filho da Igreja em tempo de prova, 1957-1974
Em 1957 voltou à França, sendo designado para diversos luga-res e desgastando-se sem conta em todas as partes, clarividente dos perigos destes anos de crise política, social, moral e espiritu-al.
Com efeito, o Concílio Vaticano II, convocado pelo Papa João XXIII em 1962, não tardaria a fazer sentir seus efeitos desastro-sos e a impor seu espírito revolucionário.
O primeiro que sentiria o Padre Calmel seria a linguagem ambí-gua adotada em seus documentos, “as expressões vagas, escor-regadias e imprecisas, que podem ser interpretadas em todos os sentidos e das quais cada um pode dizer aquilo que queira”, e que produziam nele reações de perplexidade, indignação e dor. Por isso, sua principal arma, em consonância com o espírito da Igreja, seria uma linguagem clara e sem ambiguidades, em refe-rência às definições infalíveis e irreformáveis do Magistério.
Daí também seu trabalho de pregador infatigável pela pena, convertendo-se em assíduo colaborador da revista “Itineraires” desde 1958 até 1975, e publicando numerosos livros doutrinais entre os quais se sobressaem “Teologia da História”, “Breve Apologia pela Igreja de Sempre”, “ Os Mis-térios do Reino da Graça” e “As grandezas de Jesus Cristo”.
O mesmo sucedia com os ritos da Liturgia e as fórmulas dos sacramentos, que para sua eficácia e validez devem traduzir com exatidão e precisão a intenção da Igreja. Pois bem, em 1969, pela Constituição apostólica Missale Romanum, o papa Paulo VI impunha um Novus Ordo Missae, uma missa polivalente, “cujo vício radical—declarava em 1970– é de haver introduzido na celebração da missa o sistema de ritos e formulários facultati-vos, muitas vezes imprecisos, que dão aparências de legalidade à celebração tanto da missa verdadeira como do “memorial” herético”.
“Só a oração nos faz permanecer, em silêncio e amor, nas chagas gloriosas de Jesus Crucificado”
A Família Católica Janeiro/ 2016
DECLARAÇÃO
Rev. Padre Calmel, 27 de novembro de 1969
Eu conservo a MISSA TRADICIONAL, aquela que foi codificada, não fabricada, por São Pio V. no século XVI, con-
forme um costume multissecular. Eu recuso, portanto, o ORDO MISSAE de Paulo VI.
Por quê? Porque na realidade, este Ordo Missae não existe. O que existe é uma Revolução litúrgica universal e permanente, patrocinada ou desejada pelo Papa atual, e que se reveste, momentaneamente, da máscara de
Ordo Missae de 3 de abril de 1969. É direito de todo e qualquer padre recusar-se a vestir a máscara desta Revo-
lução litúrgica. Julgo ser meu dever de padre recusar celebrar a Missa num rito equívoco.
Se aceitarmos este rito, que favorece a confusão entre a Missa católica e a Ceia protestante — como o dizem
de maneira equivalente dois cardeais e como o demonstram sólidas análises teológicas — então cairemos sem
tardar de uma Missa ambivalente (como de fato o reconhece um pastor protestante) numa missa totalmente
herética e, portanto, nula. Iniciada pelo Papa, depois abandonada por ele às igrejas nacionais, a reforma revolu-cionária da Missa seguirá sua marcha acelerada para o precipício. Como aceitar ser cúmplice?
Perguntar-me-iam: Mantendo a Missa de sempre, em oposição a todos e contra todos, o senhor refletiu a que
se expõe? Sim. Eu me exponho, se assim posso dizer, a perseverar no caminho da fidelidade a meu sacerdócio,
e, portanto, prestar ao Sumo Sacerdote, nosso Supremo Juiz, o humilde testemunho de meu oficio de padre. Ex-ponho-me a dar segurança aos fiéis desamparados, tentados de cepticismo ou de desespero. De fato, todo e
qualquer padre que conserve o rito da Missa codificado por São Pio V, o grande Papa dominicano da Contra-
reforma, permitirá aos fiéis participar do Santo Sacrifício sem equívoco possível; comungar, sem risco de ser en-
ganado, o Verbo de Deus Encarnado e imolado, tornado realmente presente sob as sagradas espécies. Aliás, o
padre que se submete ao novo rito, inteiramente forjado por Paulo VI, colabora, de sua parte, para instaurar pro-
gressivamente urna Missa falsa, em que a presença de Cristo já não será real, mas transformada num memorial
vazio; e por isso mesmo o Sacrifício da Cruz já não será real e sacramentalmente oferecido a Deus; enfim, a co-
munhão não passará de uma ceia religiosa em que se comerá um pouco de pão e se beberá um pouco de vinho;
nada mais do que isso; como entre os protestantes.
Não consentir em colaborar para a instauração revolucionária de uma missa equívoca, orientada para a des-
truição da Missa, será entregar-se a certas desventuras temporais, e certas desgraças neste mundo? O Senhor o
sabe, e Sua graça basta. Na verdade, a graça do Coração de Jesus, que chega até nós pelo Santo Sacrifício e
pelos Sacramentos, sempre é suficiente. É por isso que Nosso Senhor nos diz tão tranqüilamente: “Aquele que
perder a sua vida neste mundo por minha causa, salva-la-á na vida eterna”.
Reconheço sem nenhuma hesitação a autoridade do Santo Padre. Afirmo, no entanto, que qualquer Papa, no
exercício de sua autoridade, pode cometer abusos de autoridade. Sustento que Paulo VI comete um abuso de
autoridade de gravidade excepcional quando constrói um rito novo da Missa baseado numa definição de Missa
que deixou de ser católica. “A Missa”, escreve ele em seu Ordo Missae, “é a reunião do povo de Deus, presidida
por um sacerdote, para celebrar o memorial do Senhor”. Esta definição insidiosa omite propositadamente aquilo
que faz católica a Missa católica, sempre irredutível à ceia protestante. Porque na Missa católica não se trata de
um memorial qualquer, o memorial é de tal natureza, que contém realmente o Sacrifício da Cruz, porque o Corpo
e o Sangue de Cristo se tornam realmente presentes por virtude da dupla consagração. Isto aparece, de modo a
não permitir engano, no rito codificado por São Pio V; mas aparece flutuante e equívoco no rito fabricado por
Paulo VI.
Da mesma maneira, na Missa católica o padre não exerce uma simples presidência; marcado com um caráter divino que o põe à parte por toda a eternidade, ele é o ministro de Cristo que, por si mesmo, realiza a Missa; é
inadmissível que o padre seja assemelhado a um pastor qualquer, delegado dos fiéis para liderar sua assem-
bléia. O que é perfeitamente evidente no rito da Missa ordenado por São Pio V torna-se dissimulado, senão esca-
moteado, no novo rito.
Portanto, não só a simples honestidade mas infinitamente mais: a honra sacerdotal, exigem de mim não ter a
imprudência de traficar a Missa católica, recebida no dia de minha ordenação. E porque se trata de ser leal, e
principalmente em matéria de gravidade divina, não há autoridade no mundo, ainda que seja a autoridade ponti-
fícia, que mo possa impedir.
Outrossim, a primeira prova de fidelidade e de amor que o padre deve dar a Deus e aos ho-
mens é guardar intacto o depósito infinitamente precioso que lhe foi confiado quando o bispo
lhe impôs as mãos. É primeiramente sobre esta prova de fidelidade e de amor que serei julga-
do pelo Supremo Juiz.
Espero, com toda a confiança, da Virgem Maria, Mãe do Sumo Sacerdote, que me conceda
permanecer fiel até à morte à Missa católica, verdadeira e sem equívoco.
Tuus sum ego, salvum me fac.
Pe. R.-TH. Calmel, O.P. Fonte: www.fsspx.com.br
“Daí verifica-se o que diz o Apóstolo (I Tm;VI,15), que Deus é bem-aventurado e o único poderoso, o Rei dos reis e o Senhor dos senhores. Bem-aventurado cujo repouso é inalterável, que vê mudar tudo sem mudar e que opera todas essas mudanças com o pensamento imutável; que dá e que tira o poder; que o transfere de um homem a outro, de uma casa a outra, de um povo a outro, para demonstrar que ninguém o detém senão por empréstimo e que Ele é o único em Quem esse poder reside naturalmente.
“Eis porque todos os que governam sentem-se sujeitos a uma força superior. Eles fazem mais ou menos o que pensam e seus pareceres não deixaram nunca de ter efeitos imprevistos. Nem eles são senhores de disposições que os séculos passados puseram nas questões, nem eles podem prever o curso que tomará o futuro, por mais que o queiram forçar. Somente Ele tem tudo em Sua mão, e sabe o nome do que é e do que não é ainda, e preside a todos os tempos e prevê todos os pensamentos.
“Alexandre não pensava que trabalhava para os seus capitães, nem que arruinaria sua casa pelas conquistas. Quando Brutus inspirou ao povo romano um imenso amor à liberdade, não imaginava estar lançando nos espíritos o princípio dessa licenciosidade sem freios pela qual a tirania que pretendia destruir seria restabelecida mais dura ainda que sob os Tarquínios. Quando os Césares elogiavam os soldados, não tinham a intenção de dar patrões a seus sucessores e ao império. Em uma palavra, não há poder humano que não sirva, a despeito dele mesmo, a outros desígnios que não são os seus. Somente Deus sabe submeter tudo à Sua vontade. Eis porque tudo é surpreendente, quando não se vêem senão as causas particulares, e todavia, tudo avança em uma sequencia ordenada. Estes ‘Discursos’ o fizeram entender. E, para não falar mais de outros impérios, considere-se por quantos pensamentos imprevistos, mas mesmo assim seguidos por eles mesmos, a sorte de Roma foi conduzida desde Rômulo até Carlos Magno.
“Talvez vos parecerá, monsenhor, que teria sido preciso falar algo mais de vossos franceses e de Carlos Magno que fundou o novo império. Mas, além de sua história fazer parte daquela da França escrita por vós mesmo e que vós já adiantastes bastante, reservo-me para fazer-vos um segundo Discurso, quando terei uma razão necessária de falar-vos da França e deste grande conquistador, que sendo igual em valor aos mais renomados da antiguidade, superou-os em piedade, em sabedoria e em justiça. (...) Enquanto vereis os impérios caírem quase todos por si, vereis a religião sustentar-se pela própria força, e então conhecereis facilmente qual é a consistente grandeur, onde um homem sensato põe sua esperança.”
Fonte: Entre Fátima e o Abismo– a crucial contagem regressiva. A. Daniele.
O bispo Bossuet, nomeado por Luís XIV preceptor do delfim de França, o monsenhor de seus discursos, prestou a esse rei o juramento de educar o real menino no amor e temor de Deus. Com este espírito, pois, lhe ensinará a história universal, através destes discursos, que constituem uma referência clássica para o entendimento do sentido cristão da História. Aqui faremos um resumo da conclusão deste trabalho, contida no último capítulo.
“Lembre-se, porém, monsenhor, que este longo encadeamento de causas particulares, que fazem e desfazem os impérios, depende das ordens secretas da Divina Providência. Deus detêm, desde o mais alto dos Céus, as rédeas de todos os reinos; tem todos os corações em Sua mão. Por vezes retêm as paixões, a outras abranda o freio, e desse modo move o gênero humano. Se quer fazer conquistadores, faz com que o temor saia da frente destes, inspirando-lhes, e a seus soldados, uma coragem invencível. Se quer fazer legisladores, envia-lhes Seu espírito de sabedoria e de previsão; faz com que previnam os males que ameaçam os estados, e estabeleçam os fundamentos da tranquilidade pública.
“Ele conhece a sabedoria humana, sempre escassa em algum aspecto; esclarece-a, estende-lhe a visão e depois a abandona a suas ignorâncias: Ele a cega e a precipita; a confunde por si só, então ela se enreda, confunde-se em suas próprias sutilezas e as suas precauções ser-lhe-ão uma cilada. Deus exerce deste modo Seus temíveis julgamentos, segundo as leis de sua justiça, sempre infalíveis.
“É Ele que prepara os efeitos nas causas mais remotas e desfere os grandes golpes, cujos contragolpes tem grande alcance. Quando quer assinalar o fim e derrubar os impérios, tudo será precário e irregular nas resoluções. O Egito, tão sábio no passado, marcha embriagado, atordoado e cambaleando porque o Senhor derramou o espírito de vertigem em seus projetos, ele não sabe mais o que faz, está perdido.
“Que os homens não se enganem, porém; Deus endireita quando quer o sentido perdido e quem insultava os outros pela sua cegueira, cai por sua vez nas trevas mais espessas, sem que seja preciso mais, para perturbar-lhe a mente, que sua longa prosperidade.
“É assim que Deus reina sobre todos os povos. Não falemos mais de acaso ou de sorte, ou falemos disso só para usar um nome com que encobrir nossa ignorância. O que é ‘acaso’, em relação a nossos pareceres incertos, é um desígnio preparado por um parecer superior, isto é, o desígnio eterno que encerra todas as causas e todos os efeitos em uma mesma ordem. Desse modo tudo concorre para o mesmo fim, e é pela incapacidade de entender o todo que nós encontramos o acaso e a falta de regularidade nas particulares ocorrências.
O discurso cristão sobre a História, Bossuet
1867 a 1875, anos
em que percebeu as
necessidades mais
prementes do povo.
“Rogo-vos e conjuro
que venham ao cate-
cismo. Se for preciso
faltar, faltem às vés-
peras, mas não ao
catecismo.” Dizia ele
continuamente a suas
ovelhas, certo de que
se frequentassem o
catecismo, ele logo as
veria também em
vésperas. Ele estava
persuadido de que a
ignorância religiosa é
a raiz de todos os
males. Foi em Salzano
que nasceu em seu
coração o desejo da célebre encíclica catequética Acerbo ni-
mis, e uma vez no Pontificado, ele irá apenas ratificar, com a
suprema autoridade do magistério, aquilo que tinha amadurecido
durante o período de seu ministério paroquial. Lembramos do
saboroso “catecismo dialogado” que ele dava na igreja com o
jovem dom Guiseppe Menegazzi, da cidade vizinha, Noale, a qual
acorriam, não apenas seus fiéis, mas ouvintes de toda redonde-
za.
Durante as aulas do “catecismo dialogado”, os dois padres
falavam entre si: um desempenhando o papel do ignorante e o
outro, do professor.
Naturalmente, certo ciúme surgiu entre os confrades das paró-
quias vizinhas e este método de catecismo tão estranho foi até
denunciado ao Bispo, que respondeu: “Façam assim vocês tam-
bém!”
Este curioso catecismo suscitou entusiasmo e interesse no
povo, porque o ignorante fazia-se o intérprete inteligente e eficaz
das dúvidas e das dificuldades dos ouvintes. O zelo catequético
do padre Sarto não o impediu de tomar consciência de uma dis-
sonância pedagógica: os textos catequéticos não correspondiam
à progressão intelectual das crianças que, entretanto, foram
julgadas pelo Bispo Zinelli, “muito bem instruídas na Doutrina
cristã”.
Em 18 de abril de 1885, Giuseppe Sarto foi eleito bispo de
Mântua. Sua primeira visita pastoral abriu-lhe os olhos sobre as
necessidades imediatas da diocese, de tal modo que ele tinha
sempre nos lábios, ao conversar com os padres, o refrão que
continuará repetindo quando subir ao trono de Pedro: “Doutrina
cristã! Doutrina cristã! Doutrina cristã!” Numa carta Pastoral aos
padres, em 1885, e durante o sínodo diocesano, celebrado em
Mântua a 10 de setembro de 1888, ele antecipará as regras
práticas da encíclica Acerbo nimis de 1905: “Que em todas as
paróquias seja instituída a Escola da Doutrina Cristã, e que em
todos os domingos e festa de guarda o catecismo seja dado em
todas as igrejas: o padre explicará a Doutrina cristã às crianças
e, logo depois, dará o catecismo ao povo, subindo ao púlpito.
Durante o Advento e a Quaresma, será preciso dar uma instrução
especial e quotidiana às crianças para prepara-las à confissão e
à comunhão. Os pais, tutores ou patrões que habitualmente im-
pedirem seus filhos ou subordinados de frequentar o ensino da
Doutrina cristã não poderão ser absolvidos.”
Esta solicitude pastoral o levará a prevenir o seu clero por oca-
sião da segunda visita pastoral: “Me alegrarei sobretudo com o
bom desenvolvimento do ensino da Doutrina cristã. É o assunto
de que vos falo desde minha chegada na diocese. É o que reco-
mendei vivamente em todas as paróquias desde minha primeira
Nota: O jornal A Família Católica se propõe neste ano de 2016 a
fazer uma pequena “cruzada” em prol do catecismo. Procurare-
mos inserir em todas as edições algum artigo sobre este assun-
to, tão importante para a salvação de nossas almas, pois como
disse São Pio X a principal causa da perda eterna das almas é a
ignorância religiosa. Que nos apliquemos, com ardor e com amor,
a estudar cada dia mais o catecismo em nossas famílias e cape-
las. Pedimos aos leitores que rezem nessa intenção durante este
ano: “Para que nossas famílias e capelas sejam redutos de sã
doutrina e que a Virgem Santíssima, sede da sabedoria, nos faça
amar e estudar, cada dia mais, o catecismo”
O magistério catequético de São Pio X Nas tardes dos dias de festa, durante os anos de 1903 a 1914,
algo inusitado acontecia os jardins do Vaticano: as portas se
abriam para acolher uma multidão sempre crescente que deseja-
va ver e escutar o Papa comentando o Evangelho e explicando o
catecismo, como tinha feito na época em que era capelão em
Tombolo e pároco em Salzano. Em seguida, ele dava a “bênção
apostólica”. O fato não era habitual nos meios do Vaticano, mas
sim para aquele que tinha nascido com o “catecismo no sangue”.
São Pio X foi a alma que interpretou profundamente o papel do
catecismo na Igreja e sua função salvífica na economia das al-
mas. Será útil seguir, nem que seja rapidamente, sua vocação
catequética exatamente como ela se apresenta quando nos de-
bruçamos sobre o mistério da vida.
Lembramos que ele foi, desde a infância, assíduo e apaixonado
frequentador da escola de Doutrina Cristã em sua cidadezinha
natal de Riese, onde se distinguiu entre todas as crianças de sua
idade; e quando era colegial, organizava durante as férias de
verão “catecismos ao ar livre” na esplanada do santuário da
“Madonna di Cendrole”, onde sutilmente explicava certos capítu-
los da doutrina cristã, escutado com prazer e fruto pelas crianças
do lugarejo. Eram lições “ativas”, acompanhadas de cantos alter-
nados com orações, e vivazes devido à gesticulação intuitiva do
jovem catequista.
Mas uma vez ordenado padre, foi nos anos de sua primeira
função como capelão em Tombolo, de 1858 a 1867, que ele
percebeu o alcance do problema catequético, tanto para a juven-
tude quanto para os adultos. Graças à visão prática que o minis-
tério paroquial lhe
dava, ele pôde consta-
tar que pode-se medir
o fervor de uma comu-
nidade cristã por sua
vitalidade catequética:
sem catecismo não se
fazem cristãos autênti-
cos. E foi durante es-
ses anos que, tendo
instituído uma escola
popular, ele acompa-
nhou de perto os pro-
blemas chave da edu-
cação e da pedagogia,
porque teve de substi-
tuir o professor da
escola primária da
cidadezinha. Mas a
consciência do ensino
catequético tornou-se
mais fina quando ele
ficou com a responsa-
bilidade direta da pa-
róquia de Salzano, de
ENSINAMENTOS CATEQUÉTICOS DE SÃO PIO X PARTE I
um grande número. Mons. Scalabrini, alma de equilíbrio e de
extrema delicadeza, manifestou seu temor “de que o congresso
viesse a atropelar a autoridade dos bispos” que têm o direito de
escolher e impor o texto de catecismo que consideram mais
adaptado a sua diocese. Mas quando em plena sessão executiva
foi lida a moção do bispo de Mântua, que lembrava um voto idên-
tico formulado pelos Padres do Concílio Vaticano I (1870), a opi-
nião geral se orientou a favor desse objetivo prático, e foi Mons.
Scalabrini o primeiro a manifestar sua opinião favorável. Apesar
de “ter decidido não fazer alusão ao catecismo único durante o
Congresso”, ele se mostrou muito contente de falar do assunto e
concluiu com uma petição a ser transmitida à Santa Sé. Os Atos
e documentos do Primeiro Congresso Catequético de Piacenza,
impressos pela Tipografia Episcopal dessa cidade e publicados
em 1890, contam o fato de modo preciso e reproduzem o texto
da moção de Mons. Sarto, que merece ser conhecido, ao menos
nos trechos mais interessantes.
“O bispo de Mântua, que assina esta moção, saúda com reve-
rência o Primeiro Congresso Catequético e faz uma proposição,
que deseja que seja discutida pelos sábios eclesiásticos que
tomarão parte do Congresso.
Diante da abundância de catecismos, particularmente os publi-
cados nesses últimos anos, em que falta, não apenas a forma,
mas também a exatidão dogmática, é desejável a formulação de
um texto único, que seja adotado para o ensino nas Escolas de
Doutrina Cristã.
Respondemos, antes que seja colocada, à objeção: essa não é
uma questão de que se possa tratar num Congresso particular,
porque os bispos, mestres dos fiéis confiados a seus cuidados,
têm o direito de apresentar, cada um em sua diocese, o catecis-
mo sob a forma que crêem ser a mais oportuna.
Não pedimos que o Congresso delibere, mas somente que ma-
nifeste seu voto sobre este assunto e que o exponha à Sé Apos-
tólica.
Na verdade, assim como a Santa Sé estabelece o
“Catechismus ad Parochos”, que pertence à Igreja Universal,
também seria desejável que existisse um catecismo popular his-
tórico, dogmático e moral, redigido em perguntas breves e res-
postas breves, que fosse ensinado em todas as escolas de Dou-
trina Cristã, traduzido em todas as línguas, a fim de que nessa
matéria também todos fossem ’labiis unius’; e isto seria o funda-
mento de todas as outras instituições mais numerosas que, em
função da idade, da inteligência e da condição dos ouvintes,
devem ser feitas pelo pároco e catequista.”
E ele embasava seu desejo em motivos de urgência prática
evidente:
A homogeneidade da linguagem catequética de uma criança
em sua família e em sua paróquia; a emigração frequente dos
fiéis de uma paróquia para outra—argumento fazendo alusão à
obra de Mons. Scalabrini para os emigrantes-, de um país a ou-
tro;
E o fato de que o “Livro da Doutrina Cristã” de São Roberto
Belarmino, apesar de ser redigido por ordem de Clemente VIII
“revela-se muito difícil para os espíritos simples, não somente
das crianças como dos adultos que nesse domínio são ’quase
geniti infantes’ ”.
Mons. Sarto não exclui algumas dificuldades que julga
“negligenciáveis em relação às grandes vantagens que seriam
obtidas”. E sugere o texto do voto na seguinte formulação: “O
Primeiro Congresso Catequético dirige uma súplica ao Santo
Padre, para que ordene a redação de um Catecismo da Doutrina
Cristã fácil e popular, em forma de perguntas e respostas muito
breves, dividido em diferentes partes, e para que o torne obriga-
tório em toda a Igreja”.
Ele acrescenta a seguir uma observação do maior interesse
biográfico e apostólico, por ser um elogio e um reconhecimento
indireto do que ele mesmo, ao tornar-se Pio X, faria para a reali-
zação prática dessa mesma moção episcopal: “Não seria a me-
nor das glórias de vosso Pontificado e o Primeiro Congresso Ca-
tequético de Piacenza teria o mérito de ter promovido uma obra
de imenso proveito para as almas”.
É a São Pio X que se deve essa petição que o congresso envia-
visita pastoral, e é este o assunto sobre o qual insistirei mais
do que qualquer outro por ocasião de minha segunda visi-
ta” (Carta nº 501)
Mons. Sarto tinha um sonho, e com entusiasmo ele o com-
partilhava com seus padres: o de ver as igrejas da diocese
transformadas em grandes escolas da Doutrina cristã para o
povo. E ele pedia ajuda a todos, declarando que “seu coração
ficaria vivamente grato pela ajuda prestada nesse aspecto tão
importante de seu ministério episcopal”: é o que escreveu
numa carta ao clero de 19 de abril de 1893. Essas magníficas
cartas catequéticas formam um conjunto prático de pedagogia
e de técnica pastoral do magistério religioso e, a meu ver, me-
receriam ser agrupadas, coordenadas num livro e publicadas,
porque são documentos de incrível atualidade. Há também
toda uma constelação de episódios que mostram o zelo e a
intervenção paternal e forte para o cumprimento desse grave
dever pastoral. Mons. Sarto foi um bispo corajoso que ousou
cavar a intimidade do ministério e mostrar seus aspectos me-
nos dinâmicos, sem hesitar denunciar certas formas larvadas
de eloquência eclesiástica que não correspondiam à necessi-
dade real das almas: “Prefiro que suprimam as conferências
de quaresma que, na maior parte das vezes se revelam absolu-
tamente infrutuosas, porque o povo não compreende certos
discursos, e o distinto orador prega no deserto, enquanto os
fiéis ficam sem a Doutrina cristã e sem o catecismo do páro-
co”, escrevia ele na carta ao clero de 12 de outubro de 1885.
A uma pergunta de prática pastoral, feita por alguns párocos,
sobre a possibilidade de substituir a explicação catequética
pela explicação do Evangelho, ele respondeu cruamente, na
carta citada: “Não, a explicação do Evangelho, apesar de ne-
cessária, não pode tomar o lugar da instrução catequética,
porque são dois deveres completamente diferentes. A explica-
ção ou discurso que se faz sobre o Evangelho, mesmo que se
adapte à pequena capacidade dos ouvintes, supõe sempre
que o fiel já esteja instruído dos rudimentos da fé, pois estes
são lembrados por alto; enquanto que a instrução catequética
deve propor uma verdade de fé ou moral cristã e explicá-la em
todos os seus aspectos... A preparação do catecismo exige
muito estudo e trabalho, bem mais do que para a preparação
de um discurso pomposo. Disseram com razão que é mais fácil
encontrar um pregador do que um catequista fazendo uma
boa instrução. Qualquer que seja a facilidade que alguém pos-
sa pensar ter, ele não poderá jamais fazer um catecismo frutu-
oso sem preparação diligente, e o pretexto que o povo é rude e
grosseiro reforça, ao contrário, a obrigação de empregar mais
tempo ao estudo do que se os ouvintes fossem pessoas culti-
vadas e instruídas”.
É necessário observar que o magistério catequético de Pio X
não foi um produto amadurecido na Sede pontifical, mas sim o
fruto laborioso e refletido de sua longa experiência pastoral no
mundo vivo das almas. A cada passagem, percebem-se corres-
pondências evidentes. Pio X é conhecido pela redação de seu
“catecismo”, que é formulário preciso da Doutrina cristã.
A origem do “catecismo único” remonta a setembro de 1889,
quando se reuniu em Piacenza o Primeiro Congresso Catequé-
tico Nacional, presidido por este insigne bispo e catequista que
foi Mons. Giovanni Battista Scalabrini, bispo de Piacenza.
Mons. Sarto estava ocupado em sua segunda visita pastoral e
não pôde comparecer ao Congresso. Entretanto, apresentou
uma moção e um voto para a redação de um catecismo que
fosse satisfatório por sua clareza e a simplicidade de suas
fórmulas, que pudesse ser posto nas mãos do povo e compre-
endido por todos. O catecismo usado na diocese de Mântua
não o satisfazia, nem os catecismos das dioceses vizinhas, que
ele tinha estudado atentamente, pois numa carta de 19 de
abril de 1893 ele confiou a seu clero: “com todo o respeito aos
conselhos e métodos, não encontrei nenhum até agora que,
mesmo com modificações, possa se adaptar às necessidades
e às condições de nossa diocese”. É preciso notar que durante
a fase preparatória do congresso catequético, discutiu-se so-
bre a possibilidade de incluir entre os assuntos abordados pelo
Congresso, a redação de um catecismo único, desejado por
ria à Santa Sé, e a glória pontifical será sua, 14 anos mais tarde,
quando subir ao trono de Pedro. O empreendimento não era fá-
cil, mas Pio X não temia tornar-se impopular, porque continuava
sendo Dom Giuseppe Sarto em sua alma, capelão de Tombolo e
pároco de Salzano: isto é, o homem de Deus e operário da Igreja.
Isso aconteceu em Mântua. Em Veneza, ao ocupar a Sede Pa-
triarcal, ele repetirá com uma energia extraordinária o magistério
catequético, estigmatizando um deplorável academismo oratório
que havia– dizia ele com malícia- “nas alturas aéreas do púlpito,
mais próximo dos tubos dos órgãos do que do coração dos fiéis”.
Assim se exprimiu numa carta ao clero em 17 de janeiro de
1895.
Há um documento de valor considerável e ainda cheio de atua-
lidade pastoral, assinado pelo cardeal Sarto depois de somente
dois meses de tomar posse da sede patriarcal: é uma carta ar-
dente de zelo, cheia de amargura paternal e digna da autêntica
literatura patrística. Nesse pastor de almas, domina a noção do
primado do ensino sobre o ministério cultural e sacramental -
tema que ele retomará com vigor profético na grande encíclica
que permanece soberana, entre os documentos pontificais que
concernem à catequese - porque remonta ao “docete” do Cristo
que vem antes do “baptizantes”. Ei-lo em seus trechos essenci-
ais: “Prega-se muito e se instrui pouco. Que se deixem de lado
esses discursos floridos, e que se pregue ao povo piedosa e sim-
plesmente as verdades da fé, os mandamentos da Igreja, os
ensinamentos do Evangelho, os vícios e as virtudes, porque
acontece frequentemente que as pessoas instruídas nas ciên-
cias profanas ignoram ou conhecem mal as verdades da fé, e
sabem do catecismo menos do que as crianças mais destituídas.
Que se pense no bem das
almas, mais do que na im-
pressão que se pretende dar.
O povo tem sede da verdade:
demos a ele aquilo de que
necessita para a salvação de
sua alma; e então, instruído
em sua própria linguagem,
penetrado e comovido, ele
chorará suas faltas e se apro-
ximará dos divinos Sacra-
mentos”.
Esses ensinamentos do
cardeal Sarto anunciam os
documentos de Pio X: o ponti-
ficado só aumentará a autori-
dade e a força dessas pala-
vras.
ATIVIDADE CATEQUÉTI-
CA DE SÃO PIO X O Papa da catequese
Há uma data na vida de Pio X e, consequentemente, na história
da Igreja, revestida de importância particular, porque irradia o
vigor apostólico de São Pedro e de São Paulo, de São João Crisó-
stomo e de Santo Agostinho: é o dia 15 de abril de 1905. O mun-
do católico recebeu de Pio X um dom eminente: a encíclica Acer-
bo nimis sobre o ensino da Doutrina cristã. Alguns de seus au-
gustos predecessores - devemos lembrar Bento XIV, Pio IX e Leão
XIII - deram regras de exortação para a catequese, mas foi ele
quem fez um desenvolvimento completo do ponto de vista teoló-
gico, moral, jurídico e pastoral. Sua encíclica hoje ainda é o códi-
go do catecismo para a Igreja Católica e as legislações seguintes
beberam nessa fonte, inclusive o Código de Direito Canônico,
redigido sob sua autoridade e promulgado por Bento XV.
Penso que uma pequena síntese do documento esclarecerá
eficazmente o conteúdo pastoral e social de seu pensamento
catequético, exprimido oficialmente num momento histórico em
que a maçonaria, que tinha tomado o poder em muitas nações
católicas, “ameaçava, sobretudo, a escola pública para suscitar
ali novas gerações não apenas ignorantes - observa Mons. Lo-
renzo Pavanelli, eminente especialista em problemas catequéti-
cos à luz do ensinamento de São Pio X - do verdadeiro e autênti-
co cristianismo, isto é, do catolicismo, mas também resoluta-
mente contrárias a ele. Mesmo na Itália, através de regulamen-
tos dissimulados e manobras violando o espírito e a letra da le-
gislação estatutária, todo o ensino cristão e toda oração cristã
foram desterrados de modo sectário de todas as escolas, desde
as classes das crianças menores”.
De um lado havia uma frente massiva e hostil ao catecismo
nas escolas, mesmo nas primárias, que utilizava como pretexto
falsas razões, como a de que o padre devia prover o ensino religi-
oso dentro do perímetro da igreja, sem profanar esse ensino
ministrando-o na escola pública; e de outro lado havia uma aver-
são não menos hostil pelo próprio texto catequético, redigido
segundo critérios didáticos muito inferiores aos que estavam em
vigor na escola. As duas teses eram apoiadas até por pessoas
católicas, talvez até por elementos do clero, que ignoravam o
jogo do adversário. Na verdade, a situação didática do catecismo
- um catecismo só para todas as classes - parecia delicada e
vulnerável. A catequese na escola não se sustentava no conjunto
didático das outras disciplinas devido a uma metodologia insufi-
ciente e primitiva, porque o critério catequético, de perguntas e
respostas exclusivamente, aprendidas de cor, não era o mais
indicado para a escola daquela época. Ocorreu até mesmo que
se denunciassem - pelas mesmas razões - as deficiências da
catequese paroquial, e do parlamento italiano elevou-se uma voz
blasfematória de condenação e desprezo que, rompendo os limi-
tes da metodologia, introduziu-se no conteúdo doutrinal e no
poder de ensino da Igreja. Finalmente o ensino religioso foi bani-
do da escola italiana.
Pio X foi o homem colocado pela Providência para salvar o des-
tino do catecismo, começando pelas paróquias e pelas dioceses,
para que então elas se tornassem aptas e ficassem prontas para
ocupar as escolas com dignidade e honra. Ele retoma, a partir do
pensamento e das regras de São Carlos Borromeu, o conceito de
escola de catecismo, mas uma escola conforme sua época, a
escola de então, com suas afirmações didáticas e técnicas, com
seu espírito pedagógico, apurado e afinado no tesouro educativo
da Igreja e dos santos educadores, aos quais ele se referirá com
fervor. Seria difícil fazer um aidéia justa da encíclica catequética
de Pio X, sem ter em mente esses fatores determinantes, dados
pelas circunstâncias e, sobretudo a acuidade pedagógica e apos-
tólica desse Pontífice que realizou o desejo de perfeição da Igreja
no domínio da catequese. A síntese desse documento é “renovar
o mandato de ensino da Igreja, desenvolvendo, no quadro da
época, melhores resultados pedagógicos e didáticos, e imprimin-
do à catequese uma feição organizada que transforma a paró-
quia num autêntico magistério catequético”. A encíclica é, por-
tanto, um pequeno tratado de pastoral catequética, de legislação
catequética e de organização catequética, necessário devido às
exigências do século XX nascente.
Seguiremos com o resumo da encíclica na próxima edição.
Fonte: SIM SIM NÃO NÃO – Ano XV nº 172, Maio/Junho-2010
Edição: Capela Nossa Senhora das Alegrias - Vitória, ES.
http:/www.nossasenhoradasalegrias.com.br
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Neste mês de Janeiro de 2015 tivemos a graça de receber ao Rev. Dom André, OSB, do mosteiro da Santa
Cruz. Por ocasião de sua visita, além das missas e Adoração Noturna, que comumente fazemos para desagra-
var ao Coração Sagrado de Jesus e ao Imaculado Coração de Maria, tivemos também a oportunidade de fazer
uma reparação pública pelos ultrajes feitos à Nossa Senhora no programa “Zorra Total”, da imunda Rede Glo-
bo, além da abominável Marcha de Satanás que ocorreu em diversas partes do país no dia 17 de janeiro. Fo-
mos aos pés de nossa padroeira, Nossa Senhora das Alegrias, reparar sua honra ultrajada e a de seu divino
Filho e implorar perdão e misericórdia para os blasfemos e sacrílegos.
***
Saiu o 2º boletim do Seminário Internacional São Luís Maria Grignion de
Montfort, da União Sacerdotal Marcel Lefebvre. Nele, Mons. Faure dirige
aos amigos e benfeitores algumas palavras sobre os seminaristas, que
estão recebendo (e receberão) uma sólida formação tomista no conven-
to dominicano de La Haye aux Bonshommes, e se preparam para a to-
mada de batina, que ocorrerá no início do mês de fevereiro. O padre
Mattieu Salenave evocou também a Providência Divina que dispôs os
elementos de modo a tornar possível a fundação do seminário, nestes
tempos em que “os últimos bastiões da cristandade se derrubam baixo
os golpes repetidos e sabiamente organizados pela anti-igreja”, e cujos
padres e fiéis já não conseguem reagir e parecem “abandonar o bom
combate para seguir silenciosamente esta política suicida do ralliement
com esta Roma modernista”. Que Nossa Senhora, Rainha da Igreja, pos-
sa dar a eles, e em especial aos sacerdotes, a força, o espírito de sacrifí-
cio e as convicções, que segundo o padre Salenave estão a faltar, para
que possam enxergar e reagir contra este “colapso espiritual” que está
a invadir a FSSPX.